Ao
aprofundar nossa compreensão da existência, abrimos a porta que leva à
compaixão. O desenvolvimento de uma consciência da dor e da ignorância que nós,
bem como os outros, vivemos, estimula simpatia e, depois empatia. Esse
crescente interesse pelos outros inspira um sentimento de amor, um amor que
perde suas ligações com os nossos conceitos e sentidos, um amor que é sem
sujeito nem objeto. A compaixão é a capacidade de sentir plenamente a situação
de uma outra pessoa. Relacionamentos familiares próximos ajudam a desenvolver
essa capacidade, mas hoje em dia, o senso de união da família não é forte. Sem
o apoio da família tendemos a nos retrair para dentro de nós mesmos. Já que
achamos tão difícil nos relacionar com os outros, mesmo com nossos amigos, dedicamos
nossos esforços para proteger a nós e aos nossos bens materiais. Nosso
interesse raramente vai além de nós mesmos, além das nossas necessidades e
desejos pessoais. O cuidado para com os outros e a sensibilidade em responder a
eles, ambos fundamentais à compaixão, têm pouca chance de se desenvolver. Um
modo de aprender compaixão é cultivar o desejo de ajudar os outros. Este
simples gesto abre, automaticamente, o coração. Nós alargamos nossas
perspectivas e aumentamos nossa sensibilidade às necessidades dos outros, e
isso, então, nos leva a desenvolver a capacidade de, efetivamente, servir de
ajuda. Por fim, podemos aprender a amar sem qualquer motivo ulterior ou
qualquer sentido de Ego. Esse sentimento de amor altruísta estimula uma
abertura que permite à compaixão surgir naturalmente. Podemos, então, agir com
habilidade e compaixão em todas as circunstâncias. 1. Como aprendemos a pôr de
lado o fato de sermos centrados em nós mesmos? Quanto mais aberto você se
deixar ser, mais você será capaz de se comunicar com seus amigos, com sua
família, com qualquer pessoa. Abertura, num sentido último, significa
compaixão. Em vez de reprimir ou tentar evitar seus sentimentos, abra tanto
quanto puder seu coração, seus sentimentos toda a sua personalidade. Abra-se
para seus níveis mais fundos de sentimentos. Você pode fazer isto por meio do
relaxamento, que é a chave da meditação. Fique muito quieto, respire muito
delicada e suavemente, e mantenha sua mente na presença da atenção pura. Uma
vez que o relaxamento tenha se estabelecido deste modo, você irá curar seus
sentimentos interiores. Então, um calor interior virá. Com este calor e este
relaxamento interiores, você sentirá mais abertura e, com essa abertura, mais
comunicação. Visto que o calor interior se transmuta em sabedoria, você será
capaz de ver as situações das outras pessoas mais claramente, e, com essa
clareza, poderá também aprender mais sobre você mesmo. Você poderá abrir-se
para sua natureza interior. Quando seu coração se abre verdadeiramente, você
pode se comunicar com todos os seres humanos e não humanos, com toda a
existência. Pode ver a natureza do Samsara. A aberturas é a chave da compaixão,
de modo que, quando você conseguir desenvolver uma abertura maior, o Ego e a
tendência a agarrar as coisas para si perdem sua força. Quando estiver assim
menos autocentrado, poderá ver que cada indivíduo tem que passar por este ciclo
do Samsara (são os nascimentos, mortes e renascimentos pelos quais todos os
seres passarão para alcançar sua evolução espiritual, atingindo no futuro a
libertação total, o Nirvana). Você aprende a ter mais aceitação, e a compaixão
cresce em profundidade e se torna mais abrangente. A compaixão autêntica está
além dos pensamentos, além do Ego, livre de qualquer crença de que há um Eu
presente no ato da compaixão. A verdadeira compaixão, portanto, gera um sentido
profundo de aceitação, e mesmo de perdão, com
relação àqueles que nos causaram dor ou infelicidade. Quando somos
sensíveis às fraquezas e egoísmo dos outros, percebemos que o mal que fazem é
feito simplesmente por ignorância (falta de conhecimento). 2. Como posso
desenvolver um coração mais compassivo? Trabalhe com alegria junto com as
outras pessoas e coloque tanta energia em seu coração quanto puder. Seja
natural e jovial. Aprenda a aceitar os outros mesmo com suas falhas. Embora o
mais alto sentimento positivo seja chamado de amor, até mesmo o amor é limitado
pela relação sujeito objeto: tentamos fazer com que aqueles que nos são
próximos se enquadrem dentro do que sentimos devam ser. Eles podem ser nossos
amigos, nossos namorados, nossos filhos, ou mesmo Christo ou Budha. A compaixão
aceita os outros como eles são. A pessoa que compreende a compaixão por inteiro
não vê mais qualquer separação entre Eu e Outros. A compaixão é a resposta
saudável e espontânea a todas as situações. 3. Parece importante ajudar o
próximo por compaixão. No entanto, muitas vezes não sei o que fazer: sinto-me
ignorante e impotente na maioria das situações. A melhor maneira de mostrar
compaixão é por meio do desejo de ajudar. Quando você não puder fazer nada numa
situação, simplesmente deseje com sinceridade poder ajudar. Embora esses sejam
apenas pensamentos, ter bons pensamentos é algo que tem valor. Você pode também
se dar conta de que o motivo pelo qual não consegue ajudar é porque lhe faltam
sabedoria e força espiritual. Mas o desejo irá encorajá-lo e fortalecerá a sua
prática. Quanto mais você desenvolver a sua prática, mais força terá para
ajudar os outros. O desejo consiste não apenas em palavras, mas em um
sentimento profundo que vem do fundo do seu coração. Quando você tiver
cultivado esse sentimento com vigor, então a disposição virá, e, depois a
abertura. A esta altura, você consegue agir de modo eficaz. É assim que a
compaixão começa. Você vê os problemas dos outros, sente sua dor, sua mágoa seu
sofrimento. Seu desejo de ajudar se torna mais forte, conforme você se abre
mais e sente com maior profundidade. 4. Às vezes, parece muito egoísta dizer:
Não posso fazer nada. Não quando você, de fato, quer ajudar com todas as suas
forças, mas sabe que, na realidade, simplesmente não há nada que possa fazer.
Para ajudar os outros, você precisa ter, ao mesmo tempo, sabedoria e força, o
que significa compaixão. Quando uma destas qualidades ou ambas estão faltando,
é difícil ser bem sucedido. Apesar de você ter boas intenções, a falta de força
significa falta de eficácia. É melhor desenvolver sua atenção plena, sua força,
sua capacidade de agir. Primeiro você precisa adquirir sensibilidade para ver o
que uma situação contêm dentro de si; então, poderá lidar com ela de modo
apropriado. Sem preparação, é difícil levar a cabo boas ideias. 5. Sabedoria e
a Meditação soam muito semelhantes para
mim. Qual é exatamente a ligação entre elas? Sabedoria e Meditação se tornam
muito semelhantes. Meditação é atenção pura; e, quando esta atenção se
desenvolve, ela se transforma em Sabedoria. Quando entendemos o sofrimento dos
outros, podemos cultivar o desejo de ajudar; depois, a disponibilidade para
ajudar; então, nosso coração se abre. A Sabedoria nos permite ver o que pode
ser feito e nos dá a capacidade de aliviar o sofrimento dos outros. Do livro A
Expansão da Mente de Tarthang Tulku (1935-
). http://nossacasa.net/shunya/.
Abraço. Davi.
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