terça-feira, 30 de novembro de 2021

O PEQUENO BUDHA

 

Editor do Mosaico. Cinema. O  premiado cineasta italiano Bernardo Bertolucci (1940-   ) é o produtor do filme O PEQUENO BUDHA do qual faremos algumas ponderações. Ele tem formação acadêmica na Universidade de Roma, Itália. Sendo suas principais obras inclusive, que concorreram ao Oscar da Academia de Cinema: O Conformista (1970), O Último Tango em Paris (1972) filme que escandalizou o mundo nos anos 70 e o ambicioso 1900, filme épico do gênero drama produzido em (1976). Todas essas pelicas valem conferir tal a riqueza sócio, histórico e cultural. O filme O Pequeno Budha (1993) nosso texto tema, me parece, devido ao seu conteúdo espiritualista da tradição do Budismo Tibetano, realizado preliminarmente em forma de investigação e pesquisa, levando-se um considerável tempo para esse propósito tal os conceitos religiosos envolvidos. Desse modo, separando-se os temas da doutrina filosófica budista, e organizando-os dentro da linha do roteiro que foi sugerido para ser apresentado ao público. Os leitores do Mosaico que estão estudando o Budismo, perceberão que os pressupostos elaborados estão perfeitamente dentro da filosofia religiosa da tradição do Budismo Tibetano. A temática do enredo introduz reflexões pontuais que analisaremos a partir de agora, enumerando-as para uma melhor ordenação dos fatos narrados na filmagem. 1. A REENCARNAÇÃO. Esse assunto é fundamento das tradições e religiosidades orientais, principalmente no budismo e hinduísmo. Temos visto no Mosaico que o ciclo do Samsara (nascimento, morte e renascimento estão inseridos no processo de sofrimento humano) representando a trajetória pela qual o discípulo na Senda Espiritual, passará para completar sua libertação total, alcançando o Nirvana, que é o estado de gozo e plenitude da sabedoria humana e divina. Budha ensinou em seus Sutras que podemos "apressar" esse processo através da prática das Quatro Nobres Verdades e exercitando O Caminho Octuplo. Também a meditação proporciona avanços consideráveis para chegarmos a Iluminação. Budha disse que um período de meditação, comparado ao percurso que uma formiga faz do alto de nossa testa, a ponta do nariz, repara muitos dos nossos carmas negativos, aumentando nossa possibilidade de entrar na Iluminação. Na reencarnação está implícito que todos os seres têm a semente divina (eterna) implantada em sua substância originária. Nesse processo ao exercitarmos a compaixão à todos os seres, inclusive os não humanos (sencientes), bem como praticarmos atos de justiça, virtudes, méritos e fraternidade, permanecemos num estado   búdhico experimentando por antecipação o Nirvana.  2. A INVASÃO DO TIBETE (1950-1951) por tropas chineses. Esse episódio marcou a intransigência e intolerância do governo chinês a época com os tibetanos, sua cultura, tradição e religiosidade. Essa é uma questão discutível pois envolve o aspecto político que o Governo Central de Pequim acusa os tibetanos de violarem, quando reivindicando para si o território tibetano, auto proclamando sua independência, separaram-se da dominação e tutela administrativa dos chineses. A administração de Pequim não querendo perder essa enorme porção de terra, que eles consideram como região perpetuamente incluída no território chinês; a invadiram destruindo monastérios, templos e muitos monges e milhares de tibetanos perderam suas vidas. O atual Dalai Lama Tenzin Gyatzo (1935-   ), na época com 15 anos conseguiu fugir com milhares de tibetanos.  3. OS TIBETANOS NO EXÍLIO. O exílio dos tibetanos é marcado pela transferência de sua cultura e religiosidade em países que já praticam o budismo a milênios, caso da Índia, Nepal e Butão. Grande parte desses exilados hoje vivem em Dharamsala, no norte da Índia, cidade que o governo indiano permitiu que os tibetanos se instalassem, e também é a residência oficial do Dalai Lama, e sede administrativa e religiosa do suposto Governo Tibetano no exílio, mas é importante dizer que atualmente milhares continuam em sua província, no Tibete, principalmente na capital Lhassa e outras cidades tradicionalmente budistas e hinduístas, sob a tutela dos chineses. Evidentemente os cargos administrativos e sócio políticos são dados aos chineses que moram por lá, enquanto que os tibetanos geralmente, trabalham como subalternos em posição inferiores, sendo camponeses, artesãos e comerciantes.  A querela política entre chineses e tibetanos está centrada também no aspecto de que o governo comunista, não admite a figura política do Dalai Lama, como chefe de Estado e de Governo do Tibete autônomo. Assim países que recebem o Dalai Lama como figura política são "censurados" por Pequim, e perdem privilégios econômicos e incentivos comerciais e industriais de uma das maiores economias do planeta. 4. O BODHISATTIVA, como a encarnação de um lama (líder espiritual) para continuar conduzindo o povo pelo caminho da Iluminação. O Bodhisattiva é um ser iluminado, uma pessoa que movida por grande compaixão gera bodhichitta, que é o desejo espontâneo de atingir o mesmo status de Budha, para benefício de todos os seres senciente (humanos e não humanos). De acordo com o budismo tibetano, Bodhisattiva é um dos quatro estados sublimes que um ser humano pode alcançar em vida; sendo os outros Arhat, Budha e Pratyekabudha. A religiosidade tibetana concebe a ideia da reencarnação dos Lamas; assunto chave na espiritualidade desse povo e explorado de forma precisa e contextualizada no roteiro do filme. Para averiguação da fidedignidade do assunto o atual Dalai Lama Tenzin Gyatso (1935-   ) é considerado a 14ª reencarnação dos Lamas, sendo o primeiro Dalai Lama Gedrum Drub (1391-1474), da dinastia tibetana. Assim no filme Lama Norbu, que está doente e reconhecendo a eminência de sua passagem para o outro mundo, começa a procurar a reencarnação do Lama Dorje, examinando e averiguando evidenciais de candidatos à ser futuro substituto. 5. O PROCESSO DE ESCOLHA desse lama. Kenpo Tenzin e seu mestre Lama Norbu saem do monastério no Butão, e viajam, em direção a cidade americana de Seattle, onde supõem haver indícios que um menino (Jesse) tem as características exigidas para ser a encarnação do Lama Dorje. Como Tenzin é professor de astrologia na escola em que a mãe de Jessé dar aula de matemática, marcam um encontro na casa dela. Estando sentados tradicionalmente ao chão na sala de Susan, o Lama Norbu faz observações quanto ao vazio da sala de visitas. O vazio no budismo se refere a doutrina do Anatta, isto é, a falta de substância em todos os fenômenos. Não é que nada existe, como podemos incorretamente ser levados a pensar. Mas a noção de vazio refere-se a que a realidade última de cada ser ou objeto é destituída de características próprias individuais e definidas. Os objetos existem apenas enquanto realidades convencionais, limitadas, espaço temporais, condicionados e contextualizados; não existem separadamente e independentemente do observador.  6. A VIDA NO MONASTÉRIO budista do Butão. O filme é introduzido pelas crianças, noviços de monges, ouvindo de Lama Norbu, a parábola da cabra e do sacerdote, onde é tematizado a reencarnação e a necessidade da compaixão à todos os seres. Era uma vez numa aldeia na Índia antiga onde havia uma cabra pequena e um sacerdote. Este queria sacrificá-la aos deuses. Ele ergueu o braço para cortar o pescoço da cabra, quando de repente a cabra começou a rir. O sumo sacerdote parou espantado e perguntou à cabra. Por que está rindo, não sabe que estou a ponto de cortar seu pescoço? Sei, disse a cabra. Após ter nascido 499 vezes e renascido como cabra vou finalmente renascer como ser humano. Então, a pequena cabra começou a chorar. O sacerdote disse: por que está chorando? Por você, pobre sacerdote. 500 vidas atrás, eu também era um sumo sacerdote e sacrificava cabra aos deuses. O sacerdote ajoelhou-se dizendo: Suplico que me perdoe, de hoje em diante, serei o guardião de todas as cabras da região. Então, o que está antiga fábula nos ensina? que nenhuma criatura viva deva ser sacrificada e que toda forma de vida deve ser preservada!. 7. O CENTRO DHARMA NA CIDADE de Seattle no USA. O budismo se expandiu à América após a instalação de bases militares no Japão, logo depois da 2ª Guerra mundial (1939-1945). Assim desde a segunda metade do século XX praticamente todas as tradições e escolas budistas estão presentes em solo americano, e muitas delas no Canadá. Inclusive alguns monastérios budistas foram estabelecidos nesses países. Há um expressivo número de monges, monjas, bhikkus e lamas americanos e canadenses atualmente, dessa maneira criando um ambiente de harmonia e mútua compreensão espiritual. Esse intercambio facilita a troca de conhecimento filosófico do oriente para o ocidente. Razão pela qual as tradições e filosofias orientais têm mais acesso a cultura capitalista americana que a Europeia, ainda fechada e isolada em seu ceticismo cristão; dogmas e crenças preconceituosas. Uma exceção a esse contexto é a Alemanha, que desde o final do século XVIII, com o filósofo Arthur Schopenhauer (1788-1860), vem estudando conceitos budistas que foram incorporados em sua filosofia e tradição ocidental. Também os filósofos Immanuel Kant (1724-1804) e Friedrich Nietzchen (1844-1900) continuaram essa tendência. Assim o povo alemão, têm mais aberturas em relação as tradições orientais, e mais facilidade em vivenciar essas experiências psicológicas transcendentes. Há em Berlim, um centro de referência budista O Budha Haus, que pode ser visitado por pessoas de todas as religiões e credos, sendo um valioso contato com essa importante tradição espiritual em solo alemão. O Budismo tem tido também dificuldades de penetrar na América do Sul, isso em parte, herdado do colonialismo europeu e a tradição cristã do catolicismo. Isto desde as capitanias hereditárias portuguesas, e processo similar no resto do continente classificava as filosofias orientais como primitivas e selvagens, desprovidas de elementos divinos. Mas hoje os tempos mudaram e a sociedade ocidental tem percebido o grande valor espiritual e psicológico que as tradições orientais têm passado para o mundo contemporâneo, em crise e carente de um novo modelo de realidade religiosa.  8. O CASAL AMERICANO DEAN E SUSAN e seu filho Jesse. O casal americano pais de Jesse, de classe média, viviam confortavelmente numa recém construída casa. Dean como engenheiro está profissionalmente estabelecido, até que problemas com seu sócio o perturbam tirando seu sono; quase desestabilizando a harmonia do casal. Mas a questão de Jesse ser um candidato à encarnação de um famoso Lama, apesar de a princípio trazer confusão e estranheza, logo depois as coisas se consolidam. Assim de comum acordo o casal, mesmo não acreditando na doutrina da reencarnação decidiram que iriam levar Jesse ao Nepal, para passa um período de avaliação e adaptação em Katmandu a capital desse país. 9. JESSE E AS DUAS CRIANÇAS hindus selecionadas à candidato para indicação de Bodhisattava. Susan não vai ao Nepal. Contudo Dean e Jesse tomam o avião seguindo para esse país. Ao chegarem ficam encantados com a beleza dos templos e monumentos na cidade, bem como a simplicidade do povo. O menino desgarra-se de seu pai começando a passear pela cidade; logo encontrando a outra criança candidata à ser o Bodhisattiva. Nesse ínterim surge uma nova concorrente, uma garota adolescente que segundo sua mãe, recebera a visita em sua casa do Lama Dorje pouco antes de sua morte, segundo ela, ele tocou em sua barriga sabendo que estava grávida.  O lama Norbu e alguns assistente, junto como Dean e as duas crianças seguem para a casa dessa senhora, para se certificar da veracidade dos fatos. Ao final após o examine empírico doutrinário e a consulta ao oráculo, as três crianças foram habilitadas a serem a encarnação do Lama Dorje. Lama Norbu disse que esse fato pode acontecer, mas é raro, como no caso dos três pretendentes. Assim em uma cerimônia simples, eles foram introduzidos como Lamas, onde o lama Norbu os considerou seus mestres. 10. A MANDALA BUDISTA. Ela aparece duas vezes no filme, e seu significado em sânscrito é círculo, Entretanto possui outras representações – círculo mágico, concentração de energia e universalmente ela é o símbolo da integração e da harmonia. Referencialmente são diagramas geométricos ritualísticos; alguns deles correspondem concretamente a determinado atributo divino e outros são a manifestação de certa forma de encantamento. 11. O NASCIMENTO DE SIDDHARTA GAUTAMA. A rainha Maha Maya queria ter um filho e ansiava que fosse um menino. Assim em sonho, viu chegar perto dela um bebe elefante, que com sua tromba tocou lhe o corpo. Esse presságio positivo foi interpretado como uma revelação que ela ganharia uma criança, e meses depois nasce Sidharta. 12. O REI SUDHODANA pai de Siddartha, imaginando que ele o sucederia no trono, o capacita de todos os meios disponíveis em seu reino à prepará-lo para ser o futuro soberano. 13. O PREPARO FÍSICO INTELECTUAL de Sidharta. Gauthama como um arqueiro e jovem lutador. Desde a mocidade estava integrado a comunidade em seu reino, dividindo com os demais jovens os deveres sociais e preparando seu corpo para  as batalhas que teria que enfrentar. 14. O CANTO MÁGICO QUE FASCINOU SAKIAMUNY, mudando sua vida. Em sua mocidade um fato deu novo rumo as suas pretensões com o reino de seu pai. Ao ouvir o canto de um instrumento de corda sintonizada com uma voz feminina, ficou deslumbrado, querendo saber de onde era aquela música, sendo-lhe dito que era de um reino distante do seu. 15. SAKIAMUNY SAI DO PALÁCIO para conhecer o mundo exterior. O episódio da música, o encorajou a conhecer o que estava além dos muros de seu palácio real. Isso a contra gosto de seu pai que o projetara como soberano, insistindo pra que ficasse, pois tinha família e filhos que precisavam dele. Todavia nada desses deveres e apegos familiares e sociais o impediram de seu propósito de conhecer a natureza humana suas fraquezas, dor e sofrimento. Assim Sidharta ou Sakiamuny, encontrou pela primeira vez, a dor da realidade humana. Saindo do palácio deparou-se com uma pessoa doente, um idoso e um cadáver. Essa situação do testemunho da vulnerabilidade da vida humana deixou Sakyamuni triste e decepcionado. Ele, então, determinou-se à encontrar a completa liberdade do sofrimento. A cena onde uma pessoa é incinerada numa pira de madeira, faz o príncipe Gauthama derramar lágrimas. Nós ocidentais estranhamos cenas espontâneas de incineração, pois nossa tradição concebe, que após a morte de uma pessoa devemos preparar seu sepultamento, num cortejo de pranto e lamento. Isso tem relação com o conceito inerte e passivo de morte que foi implantado em nosso consciente. Um processo no qual a antiga pessoa, deve ficar aguardando um veredito de condenação ou salvação, para depois ser levada ao céu - para gozo e desfrute ou inferno – sofrimento e dor. No budismo como temos visto, a morte é o processo que nos introduz no "outro mundo"; onde começamos o outro lado da "vida", passando a viver um novo estágio que pode ser iniciado no Devachan. Uma espécie de céu, ou se não praticamos atos dignos e nobre de fraternidade em nossa vida anterior, iniciamos um processo de disciplina corretiva, que após completada entramos no Devachan. Sendo esse período deduzido de nosso mal carma da vida passada. Após esse intervalo, renasceremos para continuar nosso processo evolutivo até conseguirmos a iluminação e libertação completa; a condição de Budha. Desse modo a filosofia budista vê a morte num aspecto mais racional e lógico; menos sentimental e emocional como os ocidentais, que parece, não ter certeza do que acontecerá no pós morte, e o que enfrentarão nesse novo estágio da existência. 16. SIDHARTA ENTRE OS ASCETAS e sua iluminação. Sidharta queria descobrir uma maneira de eliminar os sofrimento. Como sua vida luxuosa não poderia livrá-lo da doença, velhice e morte, Sidharta trocou a vida palaciana pela vida ascética na floresta. Algum tempo depois, ele encontrou dois monges, que lhe ensinaram avançadas técnicas de meditação. Porém, eles não conseguiram satisfazer as dúvidas de Sidharta quanto a natureza do Eu, nem responder a pergunta como extinguir o sofrimento. Por seis anos Sidharta foi acompanhado por outros cinco ascetas; quando percebeu que o ascetismo não traria o resultado que procurava, ele abandonou este estilo de vida. Assim compreendeu que a vida palaciana e a vida ascética são dois extremos, sendo o ideal seguir o caminho do meio, o do despertar. Uma jovem ofereceu comida para Sidharta se alimentar normalmente. Os cinco asceta pensaram que ele tinha abandonado sua busca pela iluminação e partiram sem ele. Após recuperar a sua saúde, Sidharta foi para uma região chamada de círculo da iluminação, onde os iluminados atingiram o despertar. Próximo a um rio, sentou-se em postura de meditação, jurando para si mesmo que só se levantaria após atingir a iluminação. Com 36 anos de idade Sidharta compreendeu sua própria natureza bhúdica, e consequentemente compreendeu o sofrimento, sua causa, sua extinção e o meio para extingui-lo. Desse modo alcançou a iluminação, passando a ser conhecido como Budha o Desperto, o sábio dos Sakyas ou Sakyamuni. Ele continuou meditando por 49 dias. Nesse período ele sentiu compaixão por todos os seres sencientes (humanos e não humanos), decidindo ensinar o caminho a outras pessoas. 17. O BARQUEIRO DIZ AO SEU PUPILO: não estique a corda do instrumento para não quebras, e não afrouxe-a para que não consiga tocar. Essa foi a lição que Gauthama aprendeu ao viver com os ascetas, pois nenhum extremo é razoável para se ter equilíbrio espiritual e emocional. Precisa-se de autocontrole e harmonia para uma vida pautada pelo conhecimento e a sabedoria. 18. O DEMÔNIO MARA TENTA DESVIÁ-LO de seu nobre propósito. Mara tentou Sidharta com a ilusão (Maya) deste mundo. Essa doutrina de Maya tem significado complexo no budismo pois não pode ser real se considerarmos o Absoluto (Parabrahman), como a única realidade, mas não pode ser irreal pois é a base de todo o universo objetivo. A realidade última envolve assim a compreensão da natureza de Maya sem sua negação, mas distinguindo-a do Absoluto. 19. QUANDO LAMA NORBU MORRE, é incinerado e suas cinzas são entregue aos três garotos considerados a encarnação do Lama Dorje; três corpos com um espírito formando a unidade existencial. Rajul o menino nepalês solta as cinzas pelos ares em três pequenos balões. Gita a menina nepalesa joga as cinzas na raiz da árvore parecida com a que Sidharta recebeu a iluminação de Budha. E Jesse o menino americano, coloca no mar, dentro de uma tigela as cinzas do lama Norbu que é levada pelas ondas sumindo no horizonte. Gênesis 3,19 “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela fostes tomado; porquanto és pó e em pó te tornaras”. Eclesiastes 12,7 “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. 20. QUASE AO TÉRMINO DO FILME é recitado algumas frases do Sutra do Coração. "Oh! Shariputra, forma não se diferencia do vazio. Vazio não se diferencia da forma. Forma é exatamente vazio, vazio é exatamente forma. O mesmo é para sentido, impulso, percepção e consciência. Oh! Shariputra, todos os Dharmas, são marcados pelo vazio, não aparecem e nem desaparecem, não são puros e nem impuros, sem perda e nem ganhos. Portanto, no vazio não há formas, nem sensações, percepções, impulsos e consciências; não há olho, ouvido, nariz, língua, corpo e mente; não há cor, cheiro, sabor, tato, objeto do pensamento; sem o mundo da visão, sem o mundo da consciência, sem ignorância e o fim da ignorância; sem velhice, sem morte, e sem  fim da velhice e da morte. Sem sofrimento, sem causa de sofrimento, sem a sua extinção e sem objetivo; sem conhecimentos e sem ganhos; sem nada obter o Bodhisattiva em paz pratica o Prajna Paramitta". http://www.sotozencuritiba.org.br. Esse Sutra é muito lindo, e queria ter discernimento para falar um pouco dele. No entanto, minha experiência é superficial para abarcar tão grande conhecimento filosófico. Contudo posso apreciar essa beleza poética, e com o tempo ter experiências de viver esse Sutra. Encorajo a todos os leitores assistirem. O Filme está disponível no youtube, dublado em vários idiomas. Abraço. Davi.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

PARÁBOLA DOS TALENTOS

 

Cristianismo. Editor do Mosaico. Estive num culto à noite chegando na hora da mensagem por circunstâncias justificáveis. A palavra compartilhada nas Escrituras Sagradas, mencionou o evangelho de Mateus 25:14-30, o famoso texto da PARÁBOLA DOS TALENTOS. “Digo também que o Reino será como um senhor que, ao sair da viagem, convocou seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro um talento: a cada um conforme a sua capacidade pessoal. E, em seguida, partiu de viagem. O que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente. Investiu-os, e ganhou mais cinco. Da mesma forma, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Entretanto, o que tinha recebido um talento afastou-se, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro que o seu senhor havia confiado aos seus cuidados. Após um longo tempo, retornou o senhor daqueles servos e foi acertar contas com eles. Então, o servo que recebera cinco talentos, informando: O senhor me confiou cinco talentos; eis aqui mais cinco talentos que ganhei. Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Assim também, aproximou-se o que recebera dois talentos e relatou: Senhor, dois talentos me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que ganhei. O senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Assim também, aproximou-se o que recebera dois talentos e relatou: Senhor dois talentos me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que ganhei. O senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Chegando, finalmente, o que tinha recebido apenas um talento, explicou: Senhor, eu te conheço, sei que és um homem severo, que colhe onde não plantou e ajunta onde não semeou. Por isso, tive receio e escondi no chão o teu talento. Aqui está, toma de volta o que te pertence. Sentenciou-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente! Sabias que colho onde não plantei e ajunto onde não semeei! Então, por isso, ao menos devíeis ter investido meu talento com os banqueiros, para que quando eu retornasse, o recebesse de volta, mais os juros. Sendo assim, tirai dele o talento que lhe confiei e dai-o ao servo que agora está com dez talentos. Pois a quem tem, mais lhe será confiado, e possuirá em abundância. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o para fora, às trevas. Ali haverá muito pranto e ranger de dentes. O juízo final”. Pastor Caio Fábio começou citando o Texto de Colossenses 3:15 “Seja a paz de Cristo o juiz em vossos corações, tendo em vista que fostes convocados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sede agradecidos”. A gratidão é um dom que todos os humanos têm, mas que precisa ser exercitado nos momentos e ambientes onde estamos inseridos. Um coração agradecido produz paz a nós e aqueles com os quais mantemos contato, seja direta ou indiretamente. Ao contrário a ingratidão demonstra nossa ignorância e mesquinhez de querer satisfazer nosso desejo pessoal, não se importando com atitudes que elevam nossa alma e produzem bem estar contínuo. O pregador por ter formação psicanalítica abordou o assunto de maneira nova, a margem dum viés teologizado, dando oportunidade ao ouvinte de entender o assunto dentro de sua limitação, sem a conclusão prefixada do credo cristão implantado no inconsciente coletivo. Segue as impressões que tive quanto ao panorama usado na explanação. Enfatizou o ser e o ente (grosso modo na filosofia o ser é o indivíduo e o ente são as coisas e objetos) na perspectiva existencial. O grupo de pessoas na parábola, a qual foi dado os talentos representam nossa experiência vivencial. Falou-se sobre um despertar da vida que todos precisamos em algum momento atingir em nossa passagem pela terra. Como ele é manauara, nascido na cidade de Manaus, contou seu insight revelado quando tinha 7 anos no pátio do colégio onde estudava, brincando com saúvas que carregavam folhas dez vezes maiores que elas. Ele bloqueava a passagem delas com obstáculos, dificultando-lhes o trabalho que tinham de levar as folhas ao formigueiros. Também colocava-as para lutarem; reconhecendo instantes depois sua maldade com seres senscientes (que percebem pelos sentidos através de impressões) tão envolvido em objetivos comuns. De repente, olhando pro céu, viu  um infinito azul que atingia toda abóbada celeste. Sua escola estava numa elevação da capital do estado do Amazonas. Caindo em si, percebeu seu ignóbil ato contra os insetos, e viu que, de alguma forma poderia ajudar a humanidade das pessoas em sua caminha pela vida. Esse insight existencial, segundo abordou, determina os talentos que teremos e como aumentá-lo para o bem daqueles a nossa volta. Os talentos não são uma manufatura em série ou uma especificação de um produto espiritual como geralmente somos induzidos a imaginar. Porém um dom que está latente em nós; exemplificando um desejo de aprender a dançar, escrever poesia, tocar um instrumento musical, praticar o voluntariado dando assistência à alguma casa de criança carente ou de idoso, praticar atos generosos. Além de muitos outros “ofícios” escondidos em nós, esperando que o despertemos. Esse se “descobrir” ou descortinar-se para ocorrer, é antecipado por provas ou eventos marcantes que enfrentamos, alguns dentro duma perspectiva de angústia, tristeza ou sofrimento capazes de mudar a trajetória que estávamos percorrendo, outros, normalmente em nossa caminhada pela vida. Cada um tem esse potencial oculto (dom ou talento) na medida da proporção do desenvolvimento existencial. A quantidade, tamanho ou volume não tem relevância  como projeção individual, já que todos prestaremos contas daquilo que recebemos do Senhor, conforme é claramente ensinado pelo Mestre. Uma coisa é certa devemos duplica-lo como visto na alegoria bíblia. Caso contrário enfrentaremos a consequência da passividade e negligência de nossos atos. O que recebeu cinco multiplicou outros cinco, o que teve dois granjeou outros dois; adquirindo esses o direito de entrar no gozo do Senhor. Aqui está implícito que nada nos é concedido além de nossas possibilidades, pois a justiça divina usa a equanimidade como modelo para medir nossas atitudes, palavras e pensamentos. Devemos interiorizar nosso ser para ter a experiência do eu absoluto, do contrário, desfragmentado pela exteriorização da nossa natureza, fica impossível sermos um todo no meio das partes. Na prática não conhecemos nossa essência divina, pois priorizamos o ter, o prazer, o desejar, o apegar; mas ao constatar num vislumbre quem somos tendemos a fugir da imagem refletida no invisível espelho da vida. A partir de nossa auto aceitação começamos a pluralizar os talentos adquiridos não almejando nenhuma recompensa ou troca, apenas o desejo pelo serviço realizado na virtuosidade. O “entrar no gozo” é a alegria e felicidade de poder ser útil a alguém ou fazer-se agradável a qualquer ser ou ente que necessite da expressão de amor ou compaixão. Aqui não é uma esfera física de conforto ou refrigério, mas uma sensação produzida pelo consciente de paz e harmonia com a natureza em suas variadas manifestações. Essa sensibilidade do “entrar” é a ponte que une o eu inferior (personalidade) terreno; purificada pela beatitude espontânea do Eu superior (individualidade) celestial. O que recebeu um talento com medo de seu senhor, o enterrou na terra. Aqui inferimos que a atitude desse servo é um retrato de seu desinteresse em desenvolver sua espiritualidade, vivendo na timidez e tendo o medo como empecilho para encontrar seu dom. Uma covardia que estereotipava sua compreensão da realidade do seu senhor que não era nada daquilo que ele imaginava ser. Ele tinha uma visão de Deus como um carrasco tirânico, implacável e impiedoso juiz. Não percebia, em sua cegueira e ignorância, que a misericórdia e graça divina são infinitamente maiores que nossas falhas e pecados. Sendo que o Inominável e Incognoscível não tinha e nem tem o desejo de “lançar” nenhuma de suas criaturas viventes “nas trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes”. Somos responsáveis pelo que fazemos à todos os seres, tendo nossas ações consequências no mundo físico e espiritual como é dito em Lucas 6:43 “ Não existe árvore boa produzindo fruto mau, nem inversamente, uma árvore má produzindo bom fruto. Pois cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto”. Gálatas 6:7 “Não vos enganeis: Deus não se permite zombar. Portanto, tudo o que o humano semear, isso também colherá!” Esse ajuste de contas à pagar podemos pensá-lo, para efeito duma melhor compreensão num aspecto metafórico existencial. Suponho não ser baseado no conceito do maniqueísmo do bem e mal, certo ou errado que tendem a manifestar o materialismo e determinismo teológico. Entretanto, de conformidade com o monismo que percebe o sumo bem, sendo o mal uma ausência do bem e não seu oponente confrontador. Encaminhando esse processo (bem) à interação e harmonia do homem com a natureza onde há uma dependência dum em relação ao outro. O acerto vem no tempo e espaço, no aqui e agora sem a futurologia teleológica (finalidade) que o dogma costuma trazer como explicação desse evento bíblico. Se temos dívida à acertar limitadas pelo tempo e espaço em que existimos como quitar esse débito num âmbito eterno? Isso não é justo e nem razoável dentro do entendimento humano. Assim, esse ônus espiritual, ocorre “momentos” antes de temporariamente interrompida nossa existência na terra. Quando damos nosso último suspiro, nossa consciência, mesmo que em fração de segundo, perpassa aquilo que fizemos ou deixamos de fazer (multiplicando ou enterrando o dom ou talento) agradando ou desagradando ao Senhor da vida. Assim, quanto antes despertarmos ou sermos iluminados para a necessidade de desenvolvermos esse carisma, estaremos ganhando tempo e desenvolvendo nossa salvação. O orador disse que esse processo é realizado diferentemente em cada indivíduo. Alguns tem esse despertar ainda criança, outros quando adolescentes, também na fase adulta e ainda na velhice. Acontece que quanto mais o “procedimento” é retardado se perde precioso tempo com futilidades (trivialidades) da vida acentuando-se o maniqueísmo (bem e mal), desviando-se do propósito original pelo qual os viventes foram criados e estão em fase de crescimento e aumento da consciência interior. A demora nos expõe a temeridade abrindo nosso ser a energias negativas que captada pelo inconsciente produz o tédio, ansiedade e abatimento. Uma situação anormal que é revertida com a coragem de assumirmos quem somos, mesmo não sabendo exatamente o que somos. O eu inferior é representado pela personalidade, que transitória vai se desfazendo na medida que a velhice e morte vão se aproximando. Numa leitura mística é como alguém que se veste pela manhã (nascimento) e a noite se despe desse manto quando vai dormir (morte). O Eu Superior é nossa individualidade manifesta em nosso espírito incriado perene e eterno. É nele que os talentos se manifestam ganhando expansão de nossa interioridade, uma auto multiplicação de Deus em nossa natureza humana. Eles (talentos) não podem ter a materialização da recompensa, pois teoricamente são substâncias informes sem uma significação material. A expansão do divino na fragilidade existencial tem, imagino, por objetivo  absolver o humano completamente no divino. Filipenses 2:12-13 “Sendo assim, meus amados, como sempre obedecestes, não somente na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, colocai em prática a vossa salvação com reverência e temor a Deus. Pois é Deus quem produz em vos tanto o querer como o realizar, de acordo com a sua vontade”. Abraço. Davi.

sábado, 27 de novembro de 2021

O KAMA LOKA

 

Teosofia. www.verdademundial.com.br. O OCEANO DA TEOSOFIA – O KAMA LOKA. Tendo passado por todo o campo da evolução das coisas e seres de uma maneira geral, vamos considerar agora os estados do homem após a morte do corpo e antes do nascimento. Isso nos traz de imediato as seguintes questões: Há algum paraíso ou inferno, e onde eles ficam? Eles são lugares ou estados? Há um ponto no espaço onde eles possam ser encontrados e para os quais nós vamos, ou de onde nós viemos? Também devemos retomar o assunto do quarto princípio da constituição humana, aquele princípio chamado Kama em sânscrito, e Paixões ou Desejos nos idiomas ocidentais. Tendo em mente o que foi dito sobre aquele princípio, e também o ensinamento a respeito do corpo astral e da Luz Astral [1] será mais fácil entender o que é ensinado sobre os dois estados, anterior e posterior à morte. Em ordem cronológica, nós vamos para o kama-loka – ou o plano do desejo – logo após a morte do corpo, e mais tarde os princípios mais elevados, que formam o homem real, entram no estado de devachan. Depois de tratar do kama-loka, será mais fácil estudar a questão do devachan. O sopro deixa o corpo e dizemos que o homem está morto, mas isso é apenas o começo da morte; ela prossegue em outros planos. Quando a estrutura física está fria e os olhos fechados, todas as forças do corpo e da mente se lançam através do cérebro, e através de uma série de imagens toda a vida recém-terminada é impressa indelevelmente no homem interior; não apenas em linhas gerais, mas até o mínimo detalhe, e mesmo no caso de impressões minúsculas e passageiras. Nesse momento, embora todas as indicações levem o médico a declarar o óbito, e embora do ponto de vista prático externo a pessoa já esteja morta, o homem real está ocupado em seu cérebro, e só depois do trabalho ali ser concluído é que a pessoa se vai. Quando esse trabalho solene está terminado, o corpo astral se destaca do físico, e a energia vital tendo partido, os quatro princípios remanescentes [2] ficam no plano de kama-loka. A separação natural dos princípios, trazida pela morte, divide o homem total em três partes: Primeiro, o corpo visível com todos os seus elementos deixados para posterior desintegração no plano terrestre, onde tudo que o compõe será a seu tempo dissolvido nos diferentes aspectos da natureza. Segundo, o Kama rupa, constituído do corpo astral e das paixões e desejos, que também começa logo a se desintegrar no plano astral. Terceiro, a tríade superior, Atma-Buddhi-Manas, o homem real. Ele não está morto, mas agora está fora das condições terrestres, desprovido de corpo, e começa a funcionar no devachan apenas como mente. Ele fica então coberto por uma veste muito etérea, que irá abandonar quando tiver chegado a hora de retornar à terra. O kama-loka ou o lugar dos desejos é a região astral que permeia e rodeia a terra. Como lugar, ele está acima, dentro e em volta da terra. Sua extensão vai até uma distância mensurável da terra, mas as leis habituais que agem aqui não agem lá, e as entidades lá não estão sob as mesmas condições de espaço e tempo em que nós estamos.  Como um estado, ele é metafísico, embora esta metafísica se relacione com o plano astral. É chamado de plano do desejo porque se relaciona com o quarto princípio, e nele a força dominante é o desejo destituído de inteligência manásica e divorciado dela. É uma esfera astral intermediária entre a vida terrena e a celeste. Sem sombra de dúvida, esta é a origem da teoria cristã do purgatório, onde a alma passa por punições pelo mal feito, e do qual ela pode ser liberada pela oração e outras cerimônias e oferendas. O fato subjacente a essa superstição é que a alma pode ficar detida em kama-loka pela força de algum enorme desejo insatisfeito, sem poder se livrar das vestimentas astrais e kâmicas até que o desejo seja satisfeito por alguém na terra, ou pela alma em si. Mas se a pessoa tinha a mente pura e altas aspirações, a separação dos princípios naquele plano é completada logo, permitindo que a tríade superior siga para o devachan.  Como este plano é feito apenas de esfera astral, ele partilha da natureza da matéria astral que é essencialmente terrestre e maldosa. Nela todas as forças agem sem a direção da alma ou da consciência no sentido superior.  Este astral é o esgoto, por assim dizer, da grande fornalha da vida, que a natureza provê para lançamento dos elementos que não terão lugar no devachan, e por essa razão deve ter vários estágios, cada um dos quais foi observado pelos antigos. Esses estágios são conhecidos em sânscrito como lokas ou lugares, em um sentido metafísico. A vida humana é muito variada, e para cada uma das suas potencialidades é dado um lugar apropriado após a morte, o que faz de kama-loka uma esfera infinitamente variada. Na vida, algumas das diferenças entre os homens são modificadas e algumas são inibidas por uma similaridade de corpo e de hereditariedade, mas em kama-loka todas as paixões e  desejos ocultos são liberados em consequência da ausência de corpo, e por essa razão o estado é imensamente mais diversificado do que no plano da vida. Não apenas é necessário enfrentar as diferenças e variedades naturais, mas também aquelas causadas pelo tipo de morte, sobre o que algo deve ser dito. E todas essas divisões são apenas o resultado natural dos pensamentos durante a vida e dos últimos pensamentos de cada pessoa que morre na terra. Está além do alcance deste trabalho entrar na descrição de todos esses estágios, já que volumes inteiros seriam necessários para descrevê-los, e, ainda assim, poucos entenderiam. Lidar com o Kama-loka nos obriga a lidar também com o quarto princípio na classificação da constituição do homem, e cria um conflito com as ideias e a educação modernas quanto ao tema de desejos e paixões. Em geral se supõe que os desejos e as paixões são tendências inerentes ao indivíduo. O tema tem uma aparência irreal e nebulosa para o estudante comum. Mas de acordo com esse sistema filosófico, elas não são apenas inerentes ao indivíduo, nem são devidas ao corpo em si.  Enquanto o homem está vivendo no mundo, os desejos e as paixões – o princípio kama – não têm vida separada do homem astral e interior. Eles estão, por assim dizer, distribuídos por todo o seu Ser. Mas como eles se unem ao corpo astral depois da morte, desta maneira formando uma entidade com seu prazo próprio de vida embora sem alma [3], questões muito importantes surgem. Durante a vida mortal, os desejos e paixões são guiados pela mente e pela alma; após a morte eles funcionam sem a direção do antigo mestre. Enquanto vivemos, somos responsáveis por eles e por seus efeitos, e quando deixamos essa vida ainda somos responsáveis, embora eles continuem a trabalhar e a provocar efeitos nos outros enquanto durarem nas condições que descrevi, e sem o nosso comando direto. Nisso é vista a continuidade da responsabilidade. Eles são uma parte dos skandhas [4] – bem conhecidos na filosofia oriental – que são os agregados formadores do homem. O corpo inclui um conjunto de skandhas, o homem astral outro, o princípio kama é outro conjunto, e ainda outros se referem a outras partes. Em kama estão aqueles realmente ativos e importantes, que controlam os renascimentos e levam a todas as variedades de vida e circunstâncias a cada renascimento. Eles são formados no dia-a-dia de acordo com a lei segundo a qual todo pensamento se combina instantaneamente com uma das forças elementais da natureza, tornando-se nesta medida uma entidade que irá durar de acordo com a força do pensamento com que deixa o cérebro, e todos eles estão inseparavelmente conectados com o ser que os produziu. Não há modo de escapar; tudo o que podemos fazer é ter pensamentos de boa qualidade, pois mesmo os maiores Mestres não estão excluídos dessa lei, mas eles “povoam sua corrente no espaço” com entidades potentes apenas para o bem. Em kama-loka, essa massa de desejos e pensamentos existe de modo muito definido até o término de sua desintegração, e então os remanescentes consistem da essência desses skandhas, conectados, é claro, com o ser que os teve e que os produziu. Eles não podem ser apagados, assim como não se pode desmanchar o universo. Então se diz que eles permanecem até que o ser saia do devachan. Quando isso ocorre, eles são levados imediatamente até o ser, pela lei da atração.  Eles servem como base ou germe, e a partir deles o ser constrói um novo conjunto de skandhas para a próxima vida. O kama-loka é, portanto, diferente do plano terreno porque nele a massa de paixões e desejos está descontrolada e sem direção. Mas ao mesmo tempo a vida terrestre é também um kama-loka, já que é largamente governada pelo princípio kama, e assim o será até o dia distante em que no curso da evolução, as raças dos homens terão desenvolvido o quinto e o sexto princípios, limitando desta forma  kama à sua própria esfera e livrando a vida terrestre da sua dominação. Os restos do homem astral em kama-loka são apenas uma casca desprovida de mente e de alma, sem consciência e também incapaz de agir, a menos que seja vivificada por forças externas.  A casca tem algo que se parece com uma consciência animal ou automática, apenas por causa da sua associação muito recente com um Eu humano. Pois de acordo com o princípio exposto em outro capítulo, todo átomo que vai integrar um homem tem uma memória própria, a qual é capaz de durar um período de tempo proporcional à força dada a ele. No caso de uma pessoa muito material e bruta, ou egoísta, a força dura mais do que em qualquer outra, e assim nesse caso a consciência automática será mais definida e desorientadora para alguém que, por não ter conhecimento, se envolve com necromancia.  Sua porção puramente astral contém e carrega o registro de tudo que se passou perante a pessoa enquanto viva, pois uma das funções da substância astral é absorver todas as cenas, quadros e impressões de todos os pensamentos, para retê-los, e lançá-los adiante por reflexo, quando as condições o permitirem. Essa casca astral, deixada para trás por todo homem ao morrer, seria uma ameaça a todos os homens, não fosse desprovida, em todos os casos − exceto em um que deverá ser mencionado − dos princípios superiores, que são os diretores. Mas como os elementos que servem de guia já estão separados da casca, ela tremula e flutua de um lugar ao outro sem qualquer vontade própria, mas governada apenas pelas atrações dos campos astrais e magnéticos. É possível ao homem real – chamado de “espírito” por alguns – comunicar-se conosco imediatamente após a morte, por uns poucos breves instantes; mas, quando estes passaram, a alma nada mais tem a ver com a terra até reencarnar. O que pode influenciar e de fato influencia o médium e o sensitivo a partir dessa esfera são as Cascas que descrevi. Sem alma e sem consciência, elas não são, em sentido algum, os espíritos dos nossos mortos. Elas são os trajes jogados fora pelo homem interior, a porção grosseiramente terrena descartada no voo para o devachan, e sempre foram consideradas pelos antigos como demônios – nossos demônios pessoais – porque são essencialmente astrais, terrenas e passionais. Seria estranho, de fato, se uma tal Casca, depois de ser por tanto tempo o veículo do verdadeiro homem na terra, não retivesse uma memória e consciência automáticas.  Se vemos o corpo decapitado de uma rã ou de um galo se movendo e atuando por um tempo com uma inteligência aparente, por que então não seria possível para a forma astral, mais fina e sutil, agir e mover-se com um grau muito maior de aparente direcionamento mental? Na esfera de kama-loka − como, de fato, também em todas as partes do globo e do sistema solar − estão os elementais, ou forças da natureza. Eles são inumeráveis e seus tipos são quase infinitos, uma vez que são, em certo sentido, os nervos da natureza. Cada classe tem seu próprio trabalho tal como o tem cada coisa ou elemento natural. Assim como o fogo queima e a água rola para baixo e não para cima de acordo com a lei geral, assim também os elementais agem sob a lei, mas como eles estão mais acima na escala do que a água e o fogo brutos, suas ações parecem guiadas por uma mente. Alguns deles têm uma relação especial com as operações mentais e com as ações dos órgãos astrais, quer estejam ligados ou não a um corpo. Quando um médium forma o canal, e também por outros processos, esses elementais fazem uma conexão artificial com a casca da pessoa morta, ajudados pelo fluido nervoso do médium e dos outros que estão por perto. Assim a casca é galvanizada para que tenha uma vida artificial. Através do médium, é feita uma conexão com as forças físicas e psíquicas de todos os presentes.  As impressões antigas do corpo astral projetam suas imagens sobre a mente do médium, e as antigas paixões são atiçadas. Várias mensagens e relatos são então obtidos daí, mas nenhum deles é original, nenhum é do espírito. Por sua estranheza, e em consequência da ignorância daqueles que se envolvem nesse campo, isso é encarado como obra do espírito, mas tudo vem dos vivos, quando não é uma mera coleta, na luz astral, de imagens do que aconteceu no passado. Em certos casos a serem mencionados, há uma inteligência trabalhando que é total e intensamente ruim, à qual todo médium está sujeito, e isso explica por que tantos deles sucumbiram ao mal, como têm confessado. Uma classificação simples dessas cascas que visitam os médiuns será como se segue: (1) As cascas de pessoas recentemente falecidas, cujo local de sepultamento não está muito longe. As cascas desse tipo são bem coesas e correspondem à vida e ao pensamento do antigo dono. Uma pessoa boa, não-materialista e espiritualizada deixa uma casca que logo se desintegrará. A casca de uma pessoa bruta, má, egoísta e materialista será pesada, consistente e duradoura, e isso ocorre com todas as variedades. (2)  As cascas de pessoas que morreram longe do lugar onde o médium está. O lapso de tempo permite que escapem das cercanias de seus antigos corpos, e ao mesmo tempo traz um grau maior de desintegração, que corresponde no plano astral ao que é a putrefação no físico. Estas cascas são vagas, sombrias, incoerentes; respondem apenas brevemente a estímulos psíquicos, e são dispersas por qualquer corrente magnética. Elas são galvanizadas momentaneamente pelas correntes astrais do médium e daquelas pessoas presentes que eram relacionadas com o falecido. (3) Remanescentes puramente sombrios, aos quais mal se pode atribuir um local. Não há uma palavra nos idiomas ocidentais para descrevê-los, embora sejam fatos reais nessa esfera. Pode-se dizer que são o mero molde ou impressão deixada na substância astral pela casca anteriormente coesa e há muito desintegrada. Tais cascas estão, por conseguinte, tão próximas de serem fictícias que quase merecem essa designação. Como fotografias sombrias, elas são ampliadas, embelezadas e lhes é dada uma vida imaginária pelos pensamentos, desejos, esperanças e ideações do médium e dos assistentes da sessão. (4) Entidades definidas, consistentes, almas humanas desprovidas de vínculo espiritual, tendendo agora ao pior estado de todos, avitchi, onde a aniquilação da personalidade é o fim. Tais seres são conhecidos como magos negros. Tendo concentrado a consciência no princípio kama, preservaram o intelecto, divorciaram-se do espírito, e são os únicos seres condenados que conhecemos. Em vida, tiveram corpos humanos e alcançaram seu estado terrível através de vidas em que persistiram na maldade pela maldade. Alguns seres, já condenados a se tornarem o que é descrito aqui, estão hoje entre nós na terra. Estas não são cascas comuns, pois centraram toda a sua força em kama, jogaram fora qualquer fagulha de bom pensamento ou aspiração e têm completo domínio da esfera astral. Eu coloco tais seres na classificação de Cascas porque o são, no sentido de que estão condenados à desintegração consciente, enquanto as outras terão o mesmo fim apenas mecanicamente. Estas cascas podem durar, e duram de fato ao longo de muitos séculos, satisfazendo seus apetites através de qualquer sensitivo de quem possam se apoderar, e onde o mau pensamento lhes abra uma brecha.   Eles presidem quase todas as sessões espíritas, adotando nomes importantes e assumindo o comando de modo a manter o controle e continuar a ilusão do médium, assim se habilitando a ter um canal conveniente para seus próprios objetivos maldosos. De fato, usando as cascas dos suicidas, ou daqueles pobres coitados que morrem sob as penas da lei, ou dos bêbados e dos glutões, esses magos negros que vivem no mundo astral se apoderam do campo da mediunidade e são capazes de invadir a esfera de qualquer médium, por melhor que ele seja. A porta, uma vez aberta, está aberta para todos. Esse tipo de Casca perdeu o manas superior, e não só na luta após a morte, mas também na vida. A porção inferior de manas, que deveria ter sido elevada a uma excelência divina, foi arrancada do seu senhor e agora dá inteligência a essa entidade, que é desprovida de espírito mas tem a possibilidade de sofrer, e o fará quando seu dia final chegar. No estado de kama-loka, os suicidas e aqueles que são subitamente expulsos da vida por acidente ou assassinato, legal ou ilegal, passam um período quase igual à duração da vida que teriam se não tivesse ocorrido a sua interrupção súbita. Estes não estão realmente mortos. Para haver uma morte normal, deve estar presente um fator não reconhecido pela ciência médica. Os princípios do ser, conforme descritos nos capítulos anteriores, têm seus próprios prazos de coesão. Quando chega o seu final natural, eles se separam uns dos outros de acordo com suas próprias leis. Isso envolve o grande tema das forças coesivas no indivíduo humano, o que necessitaria um livro à parte.  Devo me contentar, portanto, com a afirmação de que essa lei de coesão atua nos princípios humanos.  Antes daquele fim natural, os princípios são incapazes de se separar. Obviamente, a destruição normal das forças coesivas não pode ser conseguida por processos mecânicos, exceto no que diz respeito ao corpo físico. Assim, um suicida, ou um indivíduo morto por acidente ou assassinado por outro homem −  ou por imposição da lei humana − não chegou ao término natural das forças de coesão que unem os seus outros elementos constituintes, e é lançado ao estado de kama-loka apenas parcialmente morto. Lá os princípios remanescentes têm que esperar até que o fim natural da vida seja alcançado, seja isso um mês ou sessenta anos. Mas os graus de kama-loka atendem as muitas variedades de cascas mencionadas acima. Algumas passam o período em grande sofrimento; outras, em um tipo de sono com sonhos, cada uma de acordo com a responsabilidade moral. Os criminosos executados são em geral lançados para fora da vida cheios de ódio e vingança, sofrendo uma penalidade na qual eles não reconhecem justiça. Eles ficam sempre reencenando no kama-loka o seu crime, seu julgamento, sua execução e sua vingança. E sempre que podem ter contato com uma pessoa viva sensitiva, médium ou não, tentam injetar pensamentos de assassinato e outros crimes no cérebro do infeliz. O fato de que eles obtêm sucesso em tais tentativas é conhecido pelos estudantes mais sérios de Teosofia. Agora nos aproximamos do tema do devachan. Depois de certo tempo no kama-loka, o indivíduo saudável alcança um estado de inconsciência que precede a mudança para o próximo estado. É como o nascimento para a vida, após um período de escuridão e sono pesado. Ele então acorda para a felicidade do devachan. [5] NOTAS: [1] Veja os capítulos anteriores da presente obra. (NT) [2] “Quatro princípios remanescentes”. Esta é a correção de um erro. No original em inglês, lemos, certamente por um erro de revisão, “cinco princípios remanescentes”. Ocorre que há sete princípios, e o terceiro princípio, linga-sharira, é inseparável do segundo princípio, prana, morrendo junto com ele e com o corpo físico. Nas Cartas dos Mahatmas, lemos: “Quando o homem morre os seus segundo e terceiro princípios morrem com ele; a tríade inferior desaparece, e o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo princípios formam o quaternário sobrevivente.” A afirmação está na resposta 5 da Carta 68, em “Cartas dos Mahatmas para Alfred  Percy Sinnett (1840-1921)”, Ed. Teosófica, Brasília, vol. 1, primeiras linhas da p. 302.  Confirmando este fato, nas próximas frases W. Q. Judge não menciona como sobrevivente o terceiro princípio, linga-sharira.  (NT) [3] A “ausência de alma” ocorre porque o foco central de consciência elevou-se em direção ao Devachan. Esta Casca abandonada pode ser chamada de “Elementário”.  Ela vagueia algum tempo antes de desfazer-se. Veja a resposta 5, na Carta 68, de “Cartas dos Mahatmas”, obra citada. (NT) [4] Skandhas – registros cármicos. (NT) [5] O próximo capítulo de “O Oceano da Teosofia” é dedicado ao Devachan – o “plano  sagrado”  em que a alma vive entre uma encarnação e outra. (NT). www.verdademundial.com.br. Abraço. Davi

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

DEUS RESPONDE AS NOSSAS ORAÇÕES

 

Cristianismo. www.suaescolha.com. Texto de Marilyn Adamson. DEUS RESPONDE AS NOSSAS ORAÇÕES. Você conhece alguém que realmente confia em Deus? Quando era ateia, uma grande amiga minha costumava me contar toda semana algo específico pelo que ela estava orando, na certeza de que Deus iria tomar providências. E toda semana eu costumava contemplar Deus agindo de maneira incomum para responder suas orações. Você sabe como é difícil para uma ateia observar fatos como esses, semana após semana? Depois de um certo tempo, dizer que não passava de “coincidências” se tornou um argumento muito fraco. Então, por que Deus respondia as orações da minha amiga? A maior razão para isso é porque ela tinha um relacionamento íntimo com Ele, desejava segui-lo e, realmente ouvia o que Ele tinha a dizer. Em sua mente, Deus tinha o direito de dirigir sua vida e ela o fazia se sentir bem-vindo para fazer justamente isso! Quando ela orava por determinada coisa, era porque, de certa forma, se sentia muito confortável ao se achegar a Deus com suas necessidades, suas preocupações, ou qualquer assunto referente a sua vida. Além disso, estava convencida, pelo que lia na Bíblia, que Deus queria mesmo que ela descansasse nele assim. Ela basicamente colocava em prática o que esta frase bíblica diz: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve.” (1 João 5,14) “Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos à sua oração, mas a face do Senhor está contra os que praticam o mal.” (1 Pedro 3,12). Então, por que Deus nem sempre responde às orações de todos? Pode ser porque nem todos tenham um relacionamento com Ele. Eles devem saber que Deus existe, devem até adorar a Deus de vez em quando. Mas esses que nunca parecem ter suas orações respondidas, provavelmente não desenvolveram um relacionamento com Deus. Além disso, eles nunca devem ter recebido de Deus perdão completo de seus pecados. “O que uma coisa tem a ver com a outra?”, você deve estar se perguntando. Aqui está a explicação: “Certamente, o braço do Senhor não está encolhido para salvar, nem seu ouvido fechado para ouvir. Mas suas iniqüidades separaram vocês de Deus. Seus pecados esconderam a face dele de vocês, então ele não os irá ouvir.” (Isaías 59,12). É muito natural sentir essa separação de Deus. Quando as pessoas se voltam para Ele a fim de colocá-lo a par de algo, ou para pedir algo, o que geralmente elas fazem? Começam dizendo: “Deus, eu realmente preciso da tua ajuda neste problema (…)”. E aí há uma pausa, seguida de: “Eu sei que não sou uma pessoa perfeita, que realmente não tenho direito nenhum de te pedir isso (…)”. Existe um conhecimento pessoal de pecados e fracassos. E a pessoa sabe que Deus está ciente disso também. Há uma noção de: “Com quem penso que estou brincando?”. O que eles não devem saber é como podem receber o perdão de Deus por todos os seus pecados e como podem desenvolver um relacionamento pessoal com Deus, para que então Ele possa ouvi-los. Este é o fundamento básico para que Deus responda suas orações. Como Orar: O Fundamento Básico. Primeiro você deve começar um relacionamento com Deus. Imagine que um rapaz chamado Marcos decide pedir ao reitor da Universidade de Federal do Rio de Janeiro (alguém que ele nem ao menos conhece) que autorize o empréstimo de um carro para ele. Marcos teria chance nula de conseguir ser atendido. (Estamos presumindo que o reitor da UFRJ não seja idiota). Por outro lado, se a filha deste mesmo reitor pedisse a seu pai que autorizasse um empréstimo de carro para ela, não haveria problema algum. Um relacionamento pessoal conta muito. Com Deus, quando alguém é verdadeiramente seu filho, quando alguém pertence a Ele, Ele o conhece e ouve suas orações. Jesus disse: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão.” (João 10,14, 27-28). Quando o assunto é Deus, você realmente o conhece? E Ele conhece você? Você tem um relacionamento com Ele que garanta a resposta de suas orações? Ou Deus está bem distante, sendo apenas um conceito em sua vida? Se Deus está distante, ou você não tem certeza de que o conhece, aqui está uma maneira de começar a se relacionar com Ele agora mesmo: Conhecendo Deus pessoalmenteSerá que Deus vai responder sua oração definitivamente? Para aqueles que realmente o conhecem e descansam nele, Jesus parece ser muito generoso em sua oferta: “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido.” (João 15,7) “Permanecer” em Cristo e ter as palavras dele dentro de nós significa que conduzimos nossas vidas sob o comando dele, descansando nele, ouvindo o que Ele tem a dizer. Assim, estaremos aptos a pedir a Deus qualquer coisa que desejarmos e Ele responderá. Aqui está outra vantagem: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos.” (1 João 5,14-15) Deus responde nossas orações de acordo com a sua vontade (e de acordo com a sua sabedoria, seu amor por nós, sua santidade (…). Nós erramos ao assumirmos que sabemos qual é a vontade de Deus, quando somente alguma coisa faz sentido para nós! Nós assumimos que há somente uma “resposta” correta para cada oração específica, tendo a certeza de que AQUELA é a vontade de Deus. E é aí que fica mais difícil. Nós vivemos dentro dos limites do tempo e do conhecimento. Temos apenas informações limitadas sobre cada situação e sabemos algumas implicações de ações futuras nessas determinadas situações. O entendimento de Deus é ilimitado. Como um evento ocorre no curso da vida ou da história é apenas algo que Ele já sabe. E Ele deve ter propósitos muito além daqueles que podemos imaginar. Logo, Deus não fará algo simplesmente porque determinamos que essa deveria ser a sua vontade. O que é preciso? O que Deus está inclinado a fazer? Páginas e páginas poderiam ser preenchidas com as intenções de Deus para nós. A Bíblia inteira é uma descrição do tipo de relacionamento que Deus quer que experimentemos com Ele e do tipo de vida que Ele quer nos dar. Aqui estão alguns exemplos: “(…) o Senhor espera o momento de ser bondoso com vocês; ele ainda se levantará para mostrar-lhes compaixão. Pois o Senhor é Deus de justiça. Como são felizes todos os que nele esperam!” (Isaías 30,18 ) Você captou isso? Como alguém que se levanta de sua cadeira para oferecer ajuda, “Ele se levanta para lhe mostrar compaixão”. “Este é o Deus cujo caminho é perfeito; a palavra do Senhor é comprovadamente genuína. Ele é um escudo para todos os que nele se refugiam.” (Salmo 18,30) “O Senhor se deleita naqueles que o temem [reverenciam], que colocam sua esperança em seu leal amor.” (Salmo 147,14).De qualquer maneira, a maior demonstração do amor e da compaixão de Deus por você é expressa pelas seguintes palavras de Jesus: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (João 15,13 ), que nada mais é do que o que Cristo fez por nós. Então, “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará, juntamente com ele, gratuitamente todas as coisas?” (Romanos 8,32). E o que dizer das orações “não respondidas”?Certamente as pessoas ficam doentes e até morrem; problemas financeiros são reais, e toda sorte de situações difíceis é passível de acontecer na vida de qualquer um. O que fazer então? Deus nos diz para levar todas as nossas preocupações a Ele. Mesmo quando a situação parecer irremediável, “Lancem sobre ele toda ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.” (1 Pedro 5,7) As circunstâncias podem parecer estar fora de controle, mas não estão. Quando o mundo inteiro estiver desabando, Deus ainda pode e sempre poderá segurá-lo em suas mãos. É aí que uma pessoa pode se sentir muito agradecida por ter o privilégio de conhecer a Deus. “Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus.” (Filipenses 4,5-7) Deus pode providenciar soluções para os seus problemas além do que você considera ser possível. Provavelmente, qualquer cristão pode listar exemplos como esse em suas próprias vidas. Mas se as circunstâncias não melhorarem, Deus ainda pode nos dar a sua paz em meio a tudo isso. Jesus disse: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo.” (João 14,27). É neste ponto (quando as circunstâncias ainda estiverem difíceis) que Deus nos pede para continuar a confiar nele – para “andar pela fé, não pela visão”, diz a Bíblia. Mas não é uma fé cega; é baseada no caráter de Deus. Um carro viajando pela ponte Rio-Niterói é totalmente sustentado pela integridade da ponte. Não importa o que o motorista possa estar sentindo, ou pensando, ou discutindo com o passageiro do outro assento. O que faz o carro chegar seguramente ao outro lado da ponte é a integridade dela, na qual o motorista resolveu confiar. Do mesmo modo, Deus nos pede para confiarmos em sua integridade, seu caráter, sua compaixão, amor, sabedoria, retidão e justiça em nossa defesa. Ele diz: “Eu tenho amado com amor eterno; com amor leal a atraí.” (Jeremias 31:3 ) “Confie nele todo o tempo, ó povo. Coloque diante dele o coração, pois ele é o nosso refúgio.” (Salmo 62,8). Em Resumo (…) Como Orar. Deus se ofereceu para responder as orações de seus filhos (aqueles que receberam Jesus em suas vidas e buscam segui-lo). Ele nos pede para levar qualquer preocupação até Ele em oração, pois Ele agirá por nós de acordo com a sua vontade. Enquanto lidamos com dificuldades, temos de lançar sobre Ele nossas aflições e receber dele a paz que desafia as circunstâncias. A base da nossa esperança e fé é a pessoa de Deus. Quanto mais o conhecermos, mais aptos estaremos a confiar nele. Para saber mais sobre o caráter de Deus, por favor leia o artigo “Quem é Deus?” ou outros artigos neste site. A razão das nossas orações é o caráter de Deus. A primeira oração que Deus responde é a oração em que você expressa o seu desejo de começar um relacionamento com Ele. www.suaescolha.com. Abraço. Davi

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O MUNDO DOS ORIXÁS - IANSÃ

 

Religião Afrodescendente. Candomble. www.ocandomble.com. O MUNDO DOS ORIXÁS – IANSÃ. A missão divina da Mãe Terra (Edan – Onile). Quando a divina e poderosa mãe Edán (Onile Ogboduora) fez sua aparição nesta Terra, ela fez isso com um propósito específico e sagrado. Sua manifestação nesta Terra sinalizou uma nova oportunidade para a humanidade se renovar, progredir e ter uma vida equilibrada. Sua aparição marcou um novo começo para toda a humanidade e não apenas o povo privilegiado dos yorùbá. Seu objetivo e propósito era, e é, de alcance universal. Èdán veio para trazer cura, ordem, harmonia, abrigando preceitos divinos e equilíbrio para as comunidades da Terra em geral e cada ser humano em particular. Você deve se lembrar e ter em mente que Èdán não é um ser humano. Èdán não é yorùbá, chinês, americano, oriental ou ocidental. Èdán é uma personagem divina de habilidades extraordinárias e poderes supra-humanos. Èdán não é deste mundo. Ela vem de um reino glorioso e inconcebível de santidade, beleza e poder. A inteligência, compreensão, força, atratividade e carisma da mãe divina Èdán é extraordinária, penetrante e excepcional. Èdán pode ver a profundidade e a realidade das coisas. Ela não pode ser enganada, manipulada ou subornada, ela não comete erros na administração de sua dispensação (ato de dividir). Ela está além do alcance da influência humana. Ela nunca cairá ou balançará à mesquinhez e a inconstância, que é comum entre a humanidade. Sua visão divina nunca é obstruída e sua atividade não pode ser prejudicada. Sua virtude, caráter, personalidade e carisma são sem igual. Mesmo Ọrúnmìlà reconheceu sua grandeza, eficiência, capacidade e singularidade. Foi, afinal, Ọrúnmìlà quem invocou Èdán, sua amiga e sócia divina para apoio, soluções e alívio! Quando Èdán desceu do reino dos Irunmọlẹ a esta Terra, ela apareceu com a plenitude da autoridade divina, poder e comando. Todos Ajogùn interno, externo e Elénìní fugiram diante dela. Com o poder de sua majestosa personalidade, divinamente atraente, beleza, carisma e àşé ela foi capaz de libertar e entregar os corações e as mentes dos pensamentos negativos, atitudes e energias prejudiciais que oprimiam e dominavam os seres humanos. Èdán foi capaz de desarmar as pessoas de suas preocupações, medos e inseguranças. Para aqueles que faziam, que se deliciavam em fazer o errado, o engano, a opressão e a corrupção ela colocava medo nos seus corações para que talvez eles pudessem mudar suas maneiras sob sua administração do perdão, da ordem, da capacitação e da renovação. Tais era, e é, o poder e a influência da mãe divina Èdán. Juntamente com o inseparável, a importação do ase aos membros sensíveis da humanidade, ela deu preceitos e injunções divinas para seus alunos-discípulos para praticar e implementarem em todos os níveis da sociedade e da vida pessoal. Estes seguidores obedientes e confiáveis ​​de Èdán são os Ogboni porque só existe sabedoria, saúde e longa vida com Èdán se as pessoas obedecerem e praticarem seus preceitos. Do lado de fora uma pessoa constituiria um Ogberi (ignorante) porque aparentemente tinha conhecimento e não praticava a verdade, o que é isso, se não o maior ignorância, infelicidade e loucura. Os princípios divinos de Èdán tornaram-se os veículos de sua divina presença, carisma, poder, apoio e influência-retificando a cura. Ter vivido na época do aparecimento de Èdán sobre esta Terra sagrada foi a experiência mais extraordinária, gratificante e maravilhosa. Isto é, a forma divinamente sancionada, a vida que ela estava revelando à humanidade e continua revelando à humanidade. O teimoso, obstinado e beligerante que não fizer, não vai durar muito tempo sob a administração de Èdán. Èdán é naturalmente amável, justa e compreensiva, como a Sagrada Mãe preciosa e amável que ela é, ela proporcionou a todos o perdão, um novo começo sem referência a erros do passado, uma oportunidade para mudar e a bênção para fazer uso de seu apoio pessoal, garantia, inspiração e poder. Èdán está ciente de nossas fragilidades e fraquezas como seres humanos. Ninguém precisa ter medo por causa de suas fraquezas ou falhas. Èdán não pareceu para fazer-nos ricos e famosos. Èdán apareceu para nos fazer participantes da verdadeira vida, saúde, paz, segurança e prosperidade através da prática de seus ensinamentos claros. Èdán apareceu para nos permitir descobrir a nossa nobre e bela natureza divina. Ela veio para restaurar a dignidade, clareza, transparência, saúde moral e limpeza moral de nossas vidas. Èdán inculca a verdade divina para seus seguidores inteligentes e humildes, quando estamos individual e coletivamente para a direita e para dentro, em seguida, nesta ordem interna, a saúde e a retidão serão reveladas e expressas no mundo. As instruções de Èdán não foram e não são sugestões, mas comandos divinamente concedidos e leis. Eles são vinculativos e obrigatórios para toda a humanidade e especialmente para aqueles que se dedicam a Èdán. Para ser Ogboni significa ser o melhor dos melhores. Significa ser um modelo de impecabilidade, idoneidade e confiabilidade. Para ser Ogboni significa estar pessoalmente convencido a perseguir e fazer o que é certo, correto e adequado independentemente de tempos, lugares e / ou circunstâncias. Para ser Ogboni significa ter auto iniciativa, ser responsável e fazer o que é certo para o bem do amor da verdade e não ser visto, elogiado e aplaudido por outros. Iniciação formal sozinha não faz de você um seguidor de Èdán. O que é importante não é que outras pessoas te chamem de Ogboni, mas que Èdán te reconhece e o aceita como um dos seus verdadeiros, leais e obedientes filhos. O que é importante é que você seja Ogboni 24 horas por dia em seus pensamentos, atitudes, ações e relacionamentos. Ogboni é uma forma global e abrangente de viver. Uma delas é ser Ogboni o tempo todo para que Èdán, ela mesma, possa garantir que você é um Ogboni genuíno, verdadeiro, com honra, humildade, alegria e realização digna. Os ritos de iniciação Ogboni foram desenvolvidos mais tarde por Èdán e seus seguidores, mas, inicialmente, a verdadeira iniciação era uma mudança espiritual de coração, mente e vida como um resultado do encontro com Èdán, sua personalidade, seu caráter, seu carisma, encantamento, inspiração, autoridade e poder, tudo foi expresso e manifestado através de tudo que Èdán fez. Tudo que Èdán fez foi cheio de graciosidade, dignidade e poder. Não foi através de ritos e rituais que Èdán mudou o mundo, mas pela graça divina, pelas maneiras, inteligência e conduta. Èdán por suas maneiras, caráter, personalidade e conduta comandou o respeito, reverência, confiança e obediência de todos aqueles com coração sincero e bom. O verdadeiro símbolo de honra e título de um Ogboni autêntica o caráter, a virtude, a bondade e a imparcialidade que ele pratica. Conformidade exterior e aderência superficial com o protocolo Ogboni para o bem das pessoas não faz de você um Ogboni, não importa o seu título ou o quanto você está velho. Èdán deu seu amor, vida e foco total e dedicação à humanidade. Para ser Ogboni você tem que dar o seu tudo para a missão divina de Èdán e você deve procurar com sua força, habilidade, atividade e meios transferir o conhecimento de Èdán a todos os povos do mundo. Isto é o que é significa ser Ogboni. Ogboni não é uma instituição humana. Ogboni não é um negócio. Ogboni não é um clube. Ogboni é uma vocação divina e sagrada. Èdán era uma revolucionária espiritual, divina, missionária, diplomática e embaixadora da boa vontade e da esperança. Nós também devemos ser isso. Devemos buscar a propagação do Ogbonismo. Não os chamados clubes Ogboni e instituições formais, devemos propagar a verdade e a realidade que Èdán promoveu e instituiu para toda a humanidade. A humildade e o serviço vêm antes da honra, do orgulho, da presunção. Èdán diz que a indiferença precede a queda. Ancestral Pride Temple. Templo Orgulho Ancestral. ORIXÁ IANSÃ. Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá, aproxima-os dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, espaços físicos e até horários. Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem os seus deuses vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente. Estes deuses da Natureza são divididos em 4 elementos – Água, Terra, Fogo e Ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo, 100 da Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3 da Terra, 3 do Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 deuses. Eles também estão associados à corrente energética de alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias. No Candomblé cultuam-se muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por serem menos populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito forte para os adeptos dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente cultuados, devido à ligação com trabalhos específicos que regem, para a saúde, morte, prosperidade e diversos assuntos que afligem o dia-a-dia das pessoas. Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus, e por possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer os nossos caprichos, os nossos amores, os nossos desejos. É muito frequente dizer-se que as personalidades dos seus filhos são consequência dos orixás que regem as suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes deuses africanos. Apresento a seguir as descrições dos 16 Orixás mais cultuados. Recordo, no entanto, que existem diversas correntes no Candomblé e por essa razão as informações poderão ser diferentes de acordo com a tradição ou região. ORIXÁ IANSÃ. Dia: Quarta-feira. Cores: Marrom, Vermelho e Rosa. Símbolos: Espada e Eruexin. Elementos: Ar em movimento,qualquer tipo de vento, Fogo. Domínios: Tempestades, Ventanias, Raios, Morte. Saudação: Epahei! O maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn). Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, está relacionada com o elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do fogo-Omo Iná. A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover. Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiantes, na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as atividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento. O fato de estar relacionada com funções tipicamente masculinas não afasta Iansã das características próprias de uma mulher sensual, fogosa, ardente; ela é extremamente feminina e o seu número de paixões mostra a forte atracção que sente pelo sexo oposto. Iansã (Oyá) teve muitos homens e verdadeiramente amou todos. Graças aos seus amores, conquistou grandes poderes e tornou-se orixá. Assim, Iansã tornou-se mulher de quase todos os orixás. Ela é arrebatadora, sensual e provocante, mas quando ama um homem só se interessa por ele, portanto é extremamente fiel e possessiva. Todavia, a fidelidade de Iansã não está necessariamente relacionada a um homem, mas às suas convicções e aos seus sentimentos. Algumas passagens da história de Iansã relacionam-na com antigos cultos agrários africanos ligados à fecundidade, e é por isso que a menção aos chifres de novilho ou búfalo, símbolos de virilidade, surgem sempre nas suas histórias. Iansã é a única que pode segurar os chifres de um búfalo, pois essa mulher cheia de encantos foi capaz de transforma-se em búfalo e tornar-se mulher da guerra e da caça. Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence. Características dos filhos de Iansã / Oyá. Para os filhos de Oyá, viver é uma grande aventura. Enfrentar os riscos e desafios da vida são os prazeres dessas pessoas, tudo para elas é festa. Escolhem os seus caminhos mais por paixão do que por reflexão. Em vez de ficar em casa, vão à luta e conquistam o que desejam. São pessoas atiradas, extrovertidas e diretas, que jamais escondem os seus sentimentos, seja de felicidade, seja de tristeza. Entregam-se a súbitas paixões e de repente esquecem, partem para outra, e o antigo parceiro é como se nunca tivesse existido. Isso não é prova de promiscuidade, pelo contrário, são extremamente fiéis à pessoa que amam, mas só enquanto amam. Estas pessoas tendem a ser autoritárias e possessivas; o seu génio muda repentinamente sem que ninguém esteja preparado para essas guinadas. Os relacionamentos longos só acontecem quando controlam os seus impulsos, aí, são capazes de viver para o resto da vida ao lado da mesma pessoa, que deve permitir que se tornem os senhores da situação. Os filhos de Oyá, na condição de amigos, revelam-se pessoas confiáveis, mas cuidado, os mais prudentes, no entanto, não ousariam confiar-lhe um segredo, pois, se mais tarde acontecer uma desavença, um filho de Oyá não pensará antes de usar tudo que lhe foi contado como arma. O seu comportamento pode ser explosivo, como uma tempestade, ou calmo, como uma brisa de fim de tarde. Só uma coisa o tira do sério: mexer com um filho seu é o mesmo que comprar uma briga de morte: batem em qualquer um, crescem no corpo e na raiva, matam se for preciso. Orikí de Oyá. Eèpàrìpàà! Odò ìyá! “ORI O! ORI OYA, MO GBE DE. OYA MESAN, MESAN, MESAN. OYA ORIRI, O, O, O. OYA MESAN, A JI LODA ORISA. ORI O. ORI OL’ OYA, MO GBE DE. ORI MI! ORI OYA , MO GBE DE.” “O ORI do iniciado, O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui. OYA , que se desdobra em nove partes. OYA , a grande mulher, charmosa e elegante. OYA , que se desdobra em nove partes. ORISA que usa a espada ao acordar. O ORI do iniciado, O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui. Meu ORI. O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui”. www.ocandomble.com. Abraço. Davi

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

APÓSTOLO PAULO O INICIADO

 

Fraternidade Rosa Cruz. www.fraternidaderosacruz.org. Livreto Introdutório aos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Por Antônio de Macedo. APÓSTOLO PAULO – O INICIADO. Esta mística inserção dum veio comum tradicional tem levado certos estudiosos a pensar que os Mistérios cristãos se inspiraram formalmente nos mistérios do mundo antigo: A acrescentar às tradições do Antigo Testamento e respectiva liturgia sinagogal, as tradições dos cultos mistéricos helenísticos também foram absorvidas e reinterpretadas segundo fórmulas cristãs. Assim, dentre as tradições tomadas das religiões mistéricas contam-se por exemplo: a disciplina arcana com a distinção entre os verdadeiros mystai (os iniciados nos segredos da fé cristã) a quem era permitido participar no serviço esotérico (isto é, a Eucaristia), e os catecúmenos; a introdução de hinos cantados cuja forma dependia do estilo melódico dos hinos mistéricos (além dos Salmos judeus); a manutenção do antigo gesto de mãos erguidas durante a epiclese sacramental que invoca a infusão do Espírito Santo no pão e no vinho no momento da consagração; e muitos outros. Chegado a este patamar peço licença para fazer uma pausa. Talvez não seja má ideia, depois de tantas vezes ter falado em «mistério» e «mistérios», determo-nos um pouco para tentar descobrir o que se esconde por trás de tais palavras, e digo bem, palavras, e não apenas uma palavra só usada umas vezes no plural, outras no singular. Mais do que um ideólogo do saudosismo e um filósofo da estética e da simbólica, Afonso Botelho (1919-1996) questiona-se com frequência, nos seus escritos, acerca das origens e dos arquétipos, e deixa-nos uma primeira observação, límpida e motivadora, sobre a distinção singular plural a que acabo de me referir: (…). O essencial do mistério cristão, para além da separação intransponível da natureza dos dois mundos, está na oferta cativante de uma via para a transpor. (…). Inversa é a configuração do mistério ou dos mistérios gregos. Verdadeiramente, só existem mistérios e não mistério na Grécia, só existem atos de um ritual secreto praticados pelos mystai. O mistério como caminho entre dois mundos naturalmente incomunicáveis só depois da Encarnação do Homem-Deus, só depois de Cristo, se completa. Recuando no tempo, e incorrendo embora no pecado de aqui repetir enxutamente o que vem em diversos livros e dicionários, começarei por esclarecer ao leitor menos lidado nestas porfias que a palavra mistério tem a sua origem primeira na raiz mu-, ou my- (em grego mu), donde derivam dois verbos: mueô , que significa iniciar, sagrar, instruir, e muô, que significa fechar a boca ou os olhos, guardar silêncio. Da mesma raiz deriva o latim mutus, mudo, e o grego muthos ou mythos, o que nos ensina que o silêncio se associa ao mito, tal como silenciosa deverá ser a Iniciação menor, muêsis, que se completa pela Iniciação maior, teletê, sendo que esta última deriva do verbo teleô, que significa simultaneamente «concluir» e «iniciar», ou seja, «iniciar nos mais altos Mistérios», ou nos Mistérios de plenitude ou de perfeição. O mais alto grau de Iniciação também se chamava epopteia, já notaremos adiante porquê. Avançando um pouco mais no mesmo terreno, observamos assim que os mistérios (ta mystêria) são por conseguinte a teoria de ritos (ta drômena, “actos”) que conduzem iniciaticamente do silêncio à perfeição, e isto tanto no Egito antigo como na Pérsia ou na Grécia. O iniciado tem acesso, por secretos cultos, a regiões — ou melhor: a níveis de ser — inexprimíveis ou inefáveis , o que em grego se dizia arrhêta, que por sua própria natureza indizível se tornam naturalmente incomunicáveis, não por qualquer imposição ou obrigação externa de «manter segredo, mas porque o iniciado ao atingir o cerne do sagrado atinge o «inefável», e faltam-lhe meios de expressão adequados para comunicar ao mundo profano o que, na linguagem e segundo a razão desse mundo, seria incompreensível, e sobretudo porque a Iniciação não é uma cerimónia externa, mas, nunca será demais repeti-lo, uma experiência interna. Em todos os mistérios da Antiguidade (Isíacos, Mitríacos, Órficos, Eleusinos, etc.) vigorava a lei dos três graus, que remonta aos tempos miticamente Atlantes e do seu símbolo sacerdotal, o enigmático Tabernáculo no Deserto, configurado no Templo de Salomão pela confraria de «construtores de Templos» regulada por Hiram, símbolo que se prolonga pelos Collegia Fabrorum romanos e medievais e teve o seu apogeu na Ordem de Construtores e Arquitetos (Ordem Maçónica), que foi a escola dos construtores de templos góticos contemporâneos dos Templários. Esses três graus eram, para os mistérios antigos: postulante (o exô, o de fora), neófito ou misto (mystês, plural mystai), e epopta (epoptês, plural epoptai). Ou seja, mediante o rito que lhe proporciona o arrebatamento ao mundo sensível (ekstasis), o postulante torna-se um neófito ou antes um misto, ou aquele que ainda tem os olhos fechados, para se converter finalmente em epopta — da raiz ops, «olho» —, ou aquele que vê as coisas tais quais são. Do mesmo modo se distinguem os graus dos Iniciadores: o dos mystai será o mystagogos, para a Iniciação menor (muêsis), enquanto o dos epoptai é o telestês, para a Iniciação maior (teletê, ou epopteia como dissemos acima). Desde relativamente cedo se começou a observar nas primitivas comunidades cristãs uma graduação igualmente tripartida, tanto nas fases eclesiais atinentes ao culto externo como na fase interna, mais elevada e menos visível. Na fase externa encontramos as seguintes gradações, se assim se po dem chamar: o catecúmeno (katêchoumenos), o batizado ou neófito (neophytos — 1 Timóteo 3, 6), e o presbítero (presbyteros) ou bispo (episkopos, equipolente a epoptês). Os presbíteros podiam transmitir dons espirituais (charismata) por imposição das mãos (meta epitheseôs tôn cheirôn), conforme lemos no epistolário do Novo Testamento (1 Timóteo 4, 14; 2 Timóteo 1, 6). O catecúmeno era o equivalente a postulante, recebia instrução religiosa durante três anos a fim de se preparar para o baptismo e podia assistir a certos ritos do culto. Por sua vez, o presbítero ou bispo (parece que inicialmente ambas as palavras designavam a mesma função) contava com um grau intermédio, o diácono, para o auxiliar sacerdotalmente no seu ministério —, se bem que a palavra diakonos, então, assumisse por vezes o sentido mais amplo de «servidor» (lat. minister) que se poderia aplicar aos sacerdotes, ou ao ministério sagrado, duma forma geral. Está, portanto, a fase formal — externa. Por sua vez os Mistérios cristãos constituem a fase oculta — mais elevada e interna. Dela trataremos, um pouco mais detalhadamente, na segunda e na terceira partes deste livro. Que sempre existiu um esoterismo cristão é indiscutível, embora a Igreja católica se esforce por desmenti-lo, sobrevalorizando o lado exotérico da catequese e da liturgia. Não há que negar a legitimidade do formalismo exotérico da religião cristã, pelo contrário: se bem que as bases iniciais sejam, tudo atesta, esotéricas, a formulação exotérica da doutrina torna-se indispensável para que a chama da respectiva linhagem tradicional não se extinga no mundo — paradoxo que, sendo impossível de se tornear, acarreta consigo um pesado ónus, pois essa formulação exotérica acaba por se constituir, praticamente, na sua única “verdade oficial”. Certas confusões são perniciosas e devemos a todo o custo areá-las e esclarece-las: sem dúvida que falar-se em Cristianismo esotérico, não sendo, em rigor, um erro, pode induzir em erro, porque o Cristianismo em si não é exclusivamente esotérico, é uma religião dada por Cristo para a salvação de todos e comunicável a todos. O que não significa, porém, que não exista um «esoterismo cristão», acessível apenas aos que queiram aprofundar os mistérios do Reino de Deus, como refere Orígenes de Alexandria (184-253) no seu livro Contra Celsum. O próprio Jesus fazia a distinção entre o que podia transmitir às multidões e o que reservava aos discípulos, a quem dizia: “A vós deu-vos a conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes foi dado” (Mateus 13, 11). No passo paralelo do Evangelho de Marcos, Jesus define claramente quem são aqueles a quem tal não é dado: “Aos de fora [gr. tois exô] tudo se lhes dá em parábolas, a fim de que olhando, olhem e não vejam, e ouvindo, ouçam e não entendam, não suceda que se convertam e se libertem” (Marcos 4, 11-12). Os de fora (oi exô), são os profanos ou ainda só postulantes, isto é, os que ficam “fora do Templo” e a quem, portanto, apenas se lhes podem ministrar instruções exotéricas. Paulo dizia o mesmo por outras palavras: «E eu, irmãos, não pude falar-vos como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Leite vos dei a beber, não comida sólida, pois ainda não éreis capazes» (1 Coríntios 3, 1-2). Alguns mais radicais, como René Guénon (1886-1951), vão mais longe e pensam que as verdadeiras origens do Cristianismo — e sobre as quais o Novo Testamento, na forma como chegou até nós, é esclarecedor sem ser claro — teriam sido de facto esotéricas, mas não na linha de Annie Besant (1847-1933), cuidado!, e que a divulgação generalizada constituiria um fenómeno posterior: Será provavelmente impossível determinar o momento preciso em que o Cristianismo se transformou numa religião no sentido próprio do termo bem como numa forma tradicional destinada a toda a gente, sem distinção. Seja como for tratava-se dum fato consumado na época de Constantino e do Concílio de Niceia, de tal sorte que este não fez mais do que «sancioná-lo», por assim dizer, inaugurando a era das formulações «dogmáticas» destinadas a constituir uma apresentação puramente exotérica da doutrina. (…). É pois evidente que a natureza do Cristianismo original, sendo essencialmente esotérica e iniciática, devia permanecer completamente ignorada por parte daqueles que passaram a ser admitidos no Cristianismo agora exotérico; por conseguinte, tudo quanto pudesse evidenciar ou sequer sugerir o que tinha sido realmente o Cristianismo nas suas origens deveria ser recoberto, aos olhos daqueles, por um véu impenetrável. Sobre a existência de Mistérios cristãos testificam-nos alguns autores antigos, de forma mais ou menos translúcida dentro dos limites em que era possível falar-se de tais matérias. Costumam ser muito invocados, a este respeito, dois teólogos de inspiração platónica da Escola de Alexandria, dos séculos II e III, preocupados com os mistérios alegóricos contidos na essência do Cristianismo e que não excluem uma interpretação esotérica das Sagradas Escrituras. Refiro-me a Clemente de Alexandria (150-216) e ao seu discípulo Orígenes (185-253). Uma das obras mais conhecidas do primeiro, Stromateis (Miscelâneas), é particularmente importante pelo testemunho que nos oferece da existência de Mistérios associados ao Cristianismo primitivo, e a um ensinamento secreto; por exemplo: O Senhor não nos impediu de fazer o bem por causa das leis do sábado; Ele concordou que os que são capazes de compreender partilhassem dos mistérios de Deus e da sua santa luz. Além disso não revelou ao homem vulgar o que não era para ele; revelou-o, sim, a alguns poucos, a quem sabia que tal revelação lhes seria apropriada, e capazes de aceitar os mistérios e de se coadunar com eles. As coisas secretas, tal como o próprio Deus, não se devem confiar por escrito, mas sim exprimirem-se pelo Logos (ou: por palavra). E se alguém nos contrapõe citando a Escritura: «Nada há encoberto que se não descubra, nem nada escondido que se não dê a conhecer» (Mateus 10, 26), responder-lhe-emos que nesta frase (Jesus) predisse que os segredos ocultos serão revelados aos que escutam em segredo, e que tudo o que é velado, como a verdade, será descoberto aos que são capazes de receber as tradições sob um véu, e o que é incompreensível à maioria será claro para a minoria. (…) Os mistérios são transmitidos misteriosamente, de boca a ouvido, ou melhor, não nas vozes do que fala e do que escuta, mas nas suas mentes. Deus concedeu à Igreja que uns sejam «apóstolos, outros profetas, outros evangelistas, outros pastores e instrutores, para aperfeiçoamento dos santos na obra do seu ministério, e para edificação do corpo de Cristo (Efésios 4, 11-12). Estou bem consciente da pobreza desta minha compilação de notas comparada com a graça do Espírito que me considerou digno de o escutar. Mas ao menos será como que uma imagem, que lembrará o arquétipo original àquele que tiver sido tocado pelo tirso. “Dá ao sábio, e tornar-se-á mais sábio ainda”, diz a Escritura (Provérbios 9, 9), e “ao que tem, se dará e terá em abundância” (Mateus 13, 12). Há aqui uma promessa, não de dar uma plena interpretação dos segredos — longe disso —, mas de oferecer um vislumbre para quando nos esquecemos, ou para evitar que isso aconteça. Vejamos um outro elucidativo passo do mesmo livro de Clemente Alexandrino (150-215): Uma vez que a nossa tradição não é recebida em comum nem aberta a todos, e muito menos quando nos damos conta da magnificência do Logos, segue-se que temos de manter secreta “a sabedoria de Deus em mistério, a oculta”, ensinada pelo Filho de Deus. O próprio profeta Isaías precisou de ter a língua purificada pelo fogo para poder revelar a sua visão. Nós também precisamos de ser purificados tanto de ouvido como de língua, se nos propomos partilhar da verdade. Só de pensá-lo, tolhe-se a mão para o escrever, e, observando as palavras da Escritura, cuidarei de não lançar as pérolas aos porcos, não aconteça que as pisem aos pés e, acometendo-nos, nos despedacem. É difícil apresentar argumentos puros e lúcidos, a respeito da verdadeira luz, a pessoas que são como cevados na sua falta de educação. Quase nada há que pareça mais ridículo aos homens vulgares do que estes discursos, nem mais maravilhoso e divinamente inspirado para os que sejam de nobre natureza. “Mas o homem vivente não capta as coisas do Espírito de Deus, pois são loucura para Ele”; os sapientes não anunciam em público o que discutem em concílio. “O que vos digo às escuras, dizei -o à luz do dia, e o que escutais ao ouvido, proclamai-o de cima dos terraços”, diz o Senhor (Mateus 10, 27). Ele quer dizer que recebamos as tradições secretas do conhecimento revelado, interpretadas com a máxima elevação, e, uma vez que as ouvimos murmuradas aos nossos ouvidos, que as transmitamos a quem delas seja digno, e não que as espalhemos sem reserva a qualquer um, quando Ele, para estes, o fez em parábolas. Quanto a Orígenes, um dos maiores eruditos da Patrística grega e profundo conhecedor dos mistérios pagãos, é autor dalgumas obras monumentais — e essenciais — de que se destacam os Hexapla, por exemplo, primeiro intento de se estabelecer um texto crítico do Antigo Testamento a partir de seis versões correntes gregas e hebraicas, que cotejou em seis colunas paralelas e cuja organização lhe consumiu praticamente a vida inteira, além do denso tratado Peri archôn (Acerca dos princípios), que a Igreja considera discutível e que o ascético Rufino de Aquileia (345- 410) traduziu com o título De principiis adulterando-o e eliminando intencionalmente as passagens e as fórmulas mais «suspeitas». Entretanto, e para o que ora nos importa, basta que nos abeiremos do seu elucidativo tratado Contra Celsum, escrito provavelmente no ano 248 em refutação do livro Discurso verídico, ataque demolidor que o filósofo Celso, igualmente neoplatónico como Orígenes mas ferozmente anticristão, desfere contra o Cristianismo. Naquele, Orígenes revela algumas coisas: E nada digo por ora do estudo cuidadoso de tudo quanto está escrito no Evangelho. Cada ponto contém muitas razões difíceis de entender, não só para o vulgo, mas incluso para algumas pessoas inteligentes. Tal, a densa exposição das parábolas que Jesus fazia aos de fora, guardando a explicação delas para os que tinham ultrapassado a audição exotérica e se aproximavam privadamente d’Ele, em casa. Celso admirar-se-ia se conseguisse compreender o motivo que há para se chamar a uns “de fora”, e a outros «de casa». E quem, sendo capaz de contemplar os vários passos de Jesus, não se maravilhará de vê-lo ora subir à montanha para proferir este discurso ou para realizar aquelas outras ações ou transfigurar-se, ora para, em baixo, curar os enfermos, incapazes de subir aonde o seguiam os seus discípulos? Não é porém este o momento de explicar quanto de verdadeiramente venerável e divino contêm os Evangelhos ou o sentido que Paulo tem de Cristo, isto é, da Sabedoria e do Logos de Deus. Baste o que se disse, para contrapor a essa galhofa, indigna dum filósofo, de Celso, que ousa comparar os íntimos mistérios da Igreja de Deus «com os gatos, macacos, crocodilos, bodes e cães dos egípcios. Realcemos, de passagem, a antiga e clássica distinção esotérica que Orígenes faz entre «subir à montanha» (o caminho da Iniciação!), e o que se pode claramente fazer “na planície” aos “enfermos”, isto é, aos incapazes de atingir, enquanto não «curados e purificados, a sublimação dos Mistérios. Noutro passo do mesmo livro, Orígenes aponta sem ambiguidades algumas chaves dos Mistérios com que podemos deparar nas Escrituras judaico-cristãs: Se alguém deseja iniciar-se numa ciência misteriosa sobre o acesso das almas ao divino, não pelo que nos oferece a mais obscura seita citada por Celso, mas por livros originariamente judeus, lidos nas sinagogas, e que são aceites pelos cristãos, e por outros exclusivamente cristãos, leia as visões do profeta Ezequiel no final da sua profecia; ou leia também, no Apocalipse de João, a descrição da Cidade de Deus, a Jerusalém Celeste, bem como a descrição dos seus fundamentos e das suas portas. E se é capaz de entender por símbolos a senda assinalada aos que se hão de encaminhar para o divino, leia o livro de Moisés que tem por título Números e procure quem o introduza nos mistérios que se encontram ocultos nos acampamentos dos filhos de Israel; averigue de que natureza eram os acampamentos ordenados às bandas do Oriente, que são os primeiros; de que natureza eram os orientados para Sul e Sudoeste, os que estavam junto ao mar e os que, por fim, se ordenavam a Norte. Nestas passagens achará decerto ideias não despiciendas, e não, como imagina Celso, ideias que pedem ouvintes néscios e escravos. Compreenderá de quem nelas se fala bem como a natureza dos números aí indicados e que convêm a cada tribo. Expor aqui cada um destes pontos parece-nos inoportuno. Finalmente, Orígenes não pode ser mais límpido quando afirma: E de mais, que haja pontos além do exotérico que não chegam aos ouvidos do vulgo não é coisa exclusiva do Cristianismo, mas também corrente entre os filósofos, que tinham doutrinas exotéricas, e também outras esotéricas. Assim, de Pitágoras havia quem apenas ouvisse dizer: «Ele disse-o»; outros porém eram secretamente iniciados em doutrinas que não deviam chegar aos ouvidos profanos e não purificados. E quanto aos mistérios que se praticam em toda a Grécia e nas terras bárbaras, embora sejam ocultos, não os ataca Celso; por isso em vão tenta desacreditar o que há de oculto no Cristianismo e que não pode entender. A necessidade da reformulação exotérica que vimos acima levou a Igreja a proceder a uma espécie de movimento translacional quanto ao sentido da palavra mistério, e aqui voltamos à tal distinção a que aludimos entre «mistério» e “mistérios” que a Igreja oficialmente adoptou e ensina: por um lado os mistérios enquanto grandes acontecimentos históricos da vida de Jesus ou da Virgem Maria, por exemplo os mistérios da Cruz ou os mistérios do Rosário; por outro, no mistério singularizado como por exemplo o mistério da Encarnação de Cristo, o mistério da Santíssima Trindade, o mistério da Eucaristia ou da Transubstanciação, o mistério Pascal, o mistério da Ressurreição. A palavra “mistério” ocorre 28 vezes no Novo Testamento, 21 das quais nos textos paulinos, e em nenhum caso para exprimir o que acabámos de enumerar e que a Igreja oficializou: com o decorrer do tempo, o duplo significado de verdade divina e de rito sacro que o termo «mistério» abrangia acabou por se repartir por duas palavras, mysterium e sacramentum, ficando a primeira a designar as verdades ocultas do Cristianismo e a segunda os ritos ou as realidades sagradas. O que não exclui o poder que a Igreja detém para estabelecer, pelo mysterium, uma ponte real com o divino, poder que Cristo transmitiu aos apóstolos e que, por sucessão apostólica, é transmitido por sua vez ao longo dos séculos a todo o sacerdote regularmente ordenado. É tempo entretanto de regressarmos a Paulo, que, confirmando quanto mais acima se disse sobre o originário esoterismo cristão, mui lisamente declara: “Se o nosso Evangelho está porém velado, está velado para os que se encontram no caminho da destruição, para aqueles incrédulos cujos pensamentos o deus deste século [gr. aiônos] cegou, para que neles não brilhasse a iluminação do Evangelho da glória de Cristo, o qual é imagem [gr. eikôn] de Deus” (2 Coríntios 4, 3-4). É importante pôr em relevo que foi o mesmo Paulo quem formulou, na sua primeira carta aos Coríntios e em duas frases fundamentais, que as Escrituras cristãs nos dão dois Evangelhos, um exotérico e relacionado com a personalidade mundana: “Resolvi não saber coisa alguma, entre vós, senão Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Cor 2, 2), e outro esotérico e relacionado com a individualidade espiritual: “Não sabeis que sois templo de Deus?” (1 Coríntios 3, 16). Destes “dois Evangelhos” foi o primeiro, como já fizemos notar, que a Igreja católica trouxe à luz da ribalta, e manteve, com o carácter que conhecemos e que tem sido a permanente tónica da sua doutrina cristã. Inácio, bispo de Antioquia (35-108) martirizado em Roma no ano 107 ou 108, foi Padre Apostólico (vir apostolicus), isto é, conheceu e conviveu pessoalmente com alguns apóstolos, afirma-o João Crisóstomo (347-407): Inácio, em primeiro lugar, conviveu nobremente com os Apóstolos e das presenças deles se gozava como fontes do Espírito. Ora pois, que muito é que quem com eles convivia e com eles a todas as horas lidava, e participava dos seus públicos e secretos pensamentos, fosse finalmente tido por digno de tão alta dignidade?»[33]. Inácio, na sua juventude, decerto teria conhecido Paulo (além de João, e talvez outros), sendo Antioquia a sua pátria, e tendo sido de Antioquia que irradiou para o mundo mediterrânico a mensagem de Paulo, os seus caminhos, com toda a probabilidade, ter-se-iam cruzado. O testemunho de Inácio, portanto, convém considerar-se com especial atenção, nomeadamente — e para o caso que nos importa — o seguinte passo duma carta que endereçou à comunidade cristã de Éfeso, onde a recordação de Paulo permanecia muito vívida: «Sois passagem para os que se elevam a Deus, iniciados com Paulo nos mesmos mistérios [gr. Paulou summusai]» (Carta aos Efésios XII, 2). Aquelas palavras gregas, Paulou symmysai, também se podem traduzir por companheiros de iniciação de Paulo. Ou seja, os Mistérios cristãos eram um facto, e uma das provas mais evidentes dá-nos o próprio Paulo, quando auto afirma: Sei de um homem, em Cristo, que há catorze anos — ignoro se no corpo, ou fora dele, Deus o sabe — foi arrebatado até ao Terceiro Céu. E sei desse homem — se no corpo ou fora dele, não sei, Deus o sabe — que foi arrebatado ao Paraíso e ouviu palavras inexprimíveis [gr. arrhêta rhêmata, lat. arcana verba] que não é permitido a um homem divulgar. — 2 Coríntios 12, 2-4. Este texto surpreendente de Paulo revela um facto em que muitos cristãos certamente nunca pensaram, e dá sobretudo conta, com muita força, do que é o segredo iniciático, as tais «palavras inexprimíveis que o Iniciado recebe e não pode repetir no mundo profano. Recordemos que a expressão que Paulo usa para o inexprimível e incomunicável — arrhêta —, é a mesma que é utilizada nos mistérios antigos exatamente com o mesmo significado. Não deixa de ser sintomático que São Jerônimo (347-420), conhecedor dos primitivos Mistérios cristãos, tenha traduzido, na sua Vulgata Latina, aqueles dois vocábulos gregos, arrhêta rhêmata (palavras impronunciáveis ou inefáveis), por arcana verba, expressão muito mais forte, pois significa «palavras ocultas ou secretas». A crítica positivista, ignorando o alcance iniciático deste texto, assume perante ele uma de duas atitudes: ou opina que se trata apenas dum ancestral tema mítico (as esferas do céu!) que permaneceu no Novo Testamento a par doutros como por exemplo a batalha celestial entre anjos e demónios (Apocalipse 12, 7-9); ou limita-se a constatar que Paulo mentiu, porquanto, a fazer fé no Evangelho de João, «ninguém subiu ao Céu a não ser Aquele que desceu do Céu, o Filho do homem» (João 3, 13). Pois nem uma coisa nem outra: por esta revelação ficamos a saber que Paulo era um Iniciado com o grau equivalente à 5.ª Iniciação menor da Ordem Rosacruz: esta é a Iniciação que dá acesso ao Mundo do Pensamento Abstrato, ou Terceiro Céu, na terminologia iniciática cristã e Rosacruciana. E tal como nas doutrinas Rosacruzes, Paulo admite deidades ou Hierarquias a que chama «deuses», inferiores ao Deus único e a Ele submetidos: «Porque, se há aqueles que são chamados deuses, tanto no céu como na terra, havendo assim muitos deuses e muitos senhores, para nós porém não há senão um Deus, o Pai, de quem procedem todas as coisas» (1 Coríntios 8, 5-6). Muito exemplos se poderiam colher dos textos de Paulo; remato com o seguinte passo da primeira carta aos Coríntios, que bem merece leitura atenta e profundada, e que já vimos, atrás, ter sido objeto de misterioso exame tanto de Clemente de Alexandria como de Orígenes: Entre os perfeitos [gr. en tois teleiois] porém, falamos sabedoria; não a sabedoria deste século nem a dos chefes deste século condenados a perecer; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, a oculta, que Deus predestinou antes dos séculos para glória nossa; que nenhum dos chefes deste século conheceu; pois se a tivessem conhecido, nunca teriam crucificado o Senhor da glória. Mas como está escrito: O que olho não viu nem ouvido ouviu, Nem subiu ao coração do homem, Essas coisas preparou Deus aos que o amam (Isaías 64, 3). A nós revelou Deus por meio do Espírito; porque o Espírito tudo penetra, mesmo as profundezas de Deus. Quem pois conhece dos homens as coisas próprias do homem, a não ser o espírito do homem que nele se encontra? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém não captamos o espírito do mundo mas o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos as coisas que Deus graciosamente nos deu, as quais falamos não com aprendidas palavras de sabedoria humana, mas com aprendidas do Espírito, agregando o espiritual ao espiritual. Mas o homem vivente [gr. psychikos anthrôpos, lat. animalis homo] não capta as coisas do Espírito de Deus, pois são loucura para ele, nem é capaz de entendê-las pois só espiritualmente é possível examiná-las. Em contrapartida o homem espiritual [gr. pneumatikos, lat. spiritalis] ajuíza todas as coisas, mas ninguém é capaz de ajuíza-lo. Quem pois conheceu o pensamento do Senhor, para que o instrua? Nós, porém temos o pensamento [gr. noûn, lat. sensum] de Cristo. — 1 Coríntios 2, 6-16. Os «perfeitos» a que se refere Paulo são os Iniciados (teleioi) dos Mistérios Maiores, os mesmos “perfeitos” que Orígenes invoca num outro texto seu que também a este se reporta e que só o entenderá quem disso for capaz, como ele próprio adverte: (…) Platão (428 AC 347) põe em terceiro lugar a imagem; nós porém, aplicando o nome de imagem a outra coisa, diremos mais claramente que a impressão das chagas que depois do Logos se dá na alma, é o Cristo que mora em cada um, e vem do Cristo Logos. Ora bem, a sabedoria, que é Cristo e mora nos perfeitos [gr. en tois teleiois] de entre nós, corresponde ao quarto elemento platónico, que é a ciência, entenda -o quem disso for capaz. Nos livros canónicos do Novo Testamento não se dá conta de como Paulo terminou os seus dias. O que se sabe, ou julga saber, é-nos transmitido pelos apócrifos, nomeadamente os Acta Pauli, que incluem o Martyrium Pauli, e os fragmentos que nos restam dos Atos de Pedro e Paulo: teria sido levado para Roma e decapitado no ano 67 nas Aquae Salviae, na localidade que hoje se chama Tre Fontane. A descrição da sua morte no Martyrium Pauli inspirou, ao longo dos tempos, tanto a arte como a liturgia: Paulo então pôs-se de pé e olhou para leste, ergueu as mãos ao céu e orou demoradamente. Nas suas orações falava em hebraico com os Padres; depois, sem proferir palavra, ofereceu o pescoço ao verdugo. E quando este lhe cortou a cabeça, salpicou leite sobre a túnica do soldado. Os poetas, no entanto, têm uma visão diferente. Tal como Elias, tal como Enoch, o trespasse de Paulo, o Iniciado, não podia acrisolar-se em cadinho de terrestre cruz, mas apenas em luminoso raio de celestial mistério: “Paulo não podia morrer, como Pedro. Desapareceu nas alturas donde recebera a inspiração. O seu amor a Jesus Cristo alcançou a Eternidade e todos os atributos de Deus. Paulo é imortal em Jesus Cristo. Não morreu, desapareceu. Aparecer é ganhar forma no espaço, e duração no tempo. Desaparecer é ficar invisível, simplesmente”. www.fraternidaderosacruz.org. Abraço. Davi