quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Existe A Verdade. Parte V.

Filosofia. Escrito por Ubaldo Nicola. Os Sofistas; Protágoras (490 AC 420) e Górgias (485 AC 380). Em meados do século V, em Atenas, um grupo de intelectuais escandalizou os filósofos da época ao fazer do saber uma profissão, oferecendo aulas de retórica e de eloquência aos jovens da classe dirigente que pretendiam dedicar-se a carreira política. Esse grupo era chamado de Sofista, do grego sophistés, que significa sábio. como os atenienses de boa condição social achavam indecoroso pagar para serem servidos, os Sofistas foram tratados com desprezo pela elite intelectual. De fato, eram todos Metecos, ou seja, estrangeiros, excluídos, portanto, da vida política e dos direitos derivados da posse da cidadania. Obrigados pela sua profissão a deslocar-se continuamente de cidade em cidade, contribuíram enormemente para que a cultura grega não se mantivesse nos limites das províncias e afirmaram, pela primeira vez, o princípio do cosmopolitismo. a importância do Movimento Sofista na história do pensamento não pode ser subestimada. Seus fundadores foram os primeiros a colocar os problemas do homem no centro da reflexão filosófica, antecipando assim a iminente revolução Socrática; também forjaram o fundamental conceito de cultura, ou seja, da formação integral do indivíduo no quadro da sociedade à qual pertencia, e passaram a utilizar a razão com tal desembaraço que mereceram, na posteridade, o epíteto de Iluministas Gregos. Protágoras (490 AC 420), o mais conhecido dos Sofistas, nasceu em Abdera, cidade grega na Trácia. O apreço que mereceu dos contemporâneos é testemunhado pela amizade pessoal de Péricles e pela incumbência de escrever as leis para a colônia de Turim, fundada em 480. Esse prestígio social, todavia, não o poupou de grandes problemas com a justiça ateniense; após ter escrito que não se pode afirmar que os deuses existem, nem que não existem, foi acusado de sacrilégio, condenado e banido de Atenas, e as suas obras foram queimadas na praça da cidade. Morreu em um naufrágio, durante a fuga para a Sicília (Itália). Gorgias (485 AC 380) nasceu em Leontinos, na Sicília, vivendo mais de noventa anos com perfeita saúde. Sua vida foi marcada por sucessos e reveses; viajou por toda a Grécia, exercendo com grande sucesso a arte da retórica; acumulou uma vasta fortuna, e conduziu a formação de numerosos seguidores. Era acompanhado da merecida fama de dialético, capaz de cogitar raciocínios irrefutáveis para sustentar opiniões muito distantes do bom senso e dos valores comuns, por exemplo, a de que nada existe, a sua tese mais célebre, ou, então, que Helena, a adúltera responsável pela guerra de Troia, não era culpada. O homem é a medida de todas as coisas. Existe uma verdade não opinável? No que consiste o conhecimento humano? A experiência pessoal é o único critério real da verdade. Não existem leis eternas e verdades objetivas, somente opiniões. Mas a relatividade de todo o juízo não deve levar ao derrotismo; o livre choque de opiniões (dialética) seleciona sempre a melhor solução, a mais útil. Por isso, mesmo não existindo qualquer verdade, a tarefa educativa do filósofo permanece essencial, é significativo que Platão (428-347) respeitasse Protágoras a ponto de dedicar-lhe um dos seus diálogos. Como todos os Sofistas, Protágoras sustentava a inexistência de uma verdade objetiva válida, mas afirmava também a necessidade do estudo e da educação, na medida em que, se não existem preposições verdadeiras em absoluto, deve-se saber diferenciar entre as opiniões melhores e piores, mais ou menos úteis aos indivíduos e as sociedades. A tarefa do Sofista abrange, portanto, também um aspecto construtivo e socialmente fecundo ao encaminhar os cidadãos par os valores e as opções mais adequadas a um determinada situação. O testemunho, extraído do diálogo Teeteto, de Platão, é uma apologia, ou seja, tenta exprimir os discursos que Protágoras, se ainda estivesse vivo, faria as objeções de Sócrates (469 AC 399). Não existe um critério de juízo objetivo; toda verdade é verdade para um sujeito. Sócrates. Protágoras afirma que a medida de todas as coisas é o homem; daquelas coisas  que são, pelo que são, daquelas que não são, pelo que não são, entendendo por medida  a norma de juízo e por coisas os fatos em geral. Logo, o homem é a norma que julga todos os fatos; daqueles que são pelos que são, daqueles que não são pelo que não são. Por isso, ele admite somente aquilo que parece a cada indivíduo, introduzindo, dessa forma, o princípio de relatividade. Segundo ele, portanto, quem julga as coisas é o homem. De fato, tudo o que parece aos homens também é, e o que não parece a nenhum homem tampouco é. Todas as sensações são subjetivas. Cada indivíduo percebe o mundo a sua maneira. Protágoras. Eu afirmo, sim, que a verdade é mesmo como escrevi; que cada um de nós é a medida das coisas que são e que não são; mas existe uma diferença infinita entre os homem e homem, e exatamente por isso as coisas parecem e são de um jeito para uma pessoa e, de outro jeito, para outra pessoa. Ensinar, portanto, significa não buscar uma impossível verdade, mas predispor o interlocutor a melhorar os seus conceitos. Estou longe de negar que existam a Sabedoria e o homem sábio, ou, antes, que chamo sábio aquele que, transmudando aquilo que em certas coisas parece e é ruim, consegue fazer com que essas mesmas coisas pareçam e sejam boas. E tu não combatas o meu raciocínio se detendo em palavras, mas vê de entender assim, cada vez mais claramente, o que quero dizer. O diferente sabor que os indivíduos  encontram nos alimentos é uma prova do subjetivismo perceptivo e não pode constituir critério de Sabedoria. Lembras aquilo que já dissemos antes? Para alguém que está doente, os alimentos parecem e são amargos; ao contrário, para alguém que está bem, eles são e parecem agradáveis. Mas não é licito inferir disso que entre esses dois um é mais sábio que o outro (porque não é possível) e tampouco se deve dizer que o doente, por ter tal opinião, é ignorante e que o são é sábio, por ter opinião contrária, mas sim que é preciso mudar de um estado para outro, porque o estado de saúde é melhor. E assim, também na educação é preciso mudar o homem de um hábito pior para um hábito melhor. O sábio é como um médico, deve prescrever a receita mais adequada ao interlocutor. Ora, nessas mudanças, o Sofista utiliza os discursos como o médico usa os medicamentos. Mas ninguém jamais induziu quem quer que seja a ter opiniões falsas e a ter opiniões verdadeiras; nem é possível, com efeito, que alguém pense coisas que, segundo ele, não existem ou coisas estranhas aquelas sobre as quais ele tenha, naquele momento, uma dada impressão, porque estas são verdadeiras somente para ele, a cada vez. Deve usar as almas como o médico cura o corpo. Pois bem, aquele que por um estado de ânimo, inferior tem opiniões conforme a natureza do seu ânimo, pode, creio eu, ser induzido por um ânimo superior a ter opiniões diversas, conformes a esse ânimo superior; são exatamente aquelas fantasias que alguns, por ignorância, definem verdadeiras, mas digo que são simplesmente melhores; nenhuma é mais verdadeira. É como um agricultor, intervém conforme a necessidade. E quanto aos sábios, amigo Sócrates, eu estou bem longe de considerá-los batráquios (rãs ou sapos). Quando cuidam dos corpos, eu os chamo de médicos; quando cuidam das plantas; agricultores. E digo que esses agricultores introduzem nas plantas, quando alguma adoece, sensações boas e salutares, não somente verdades, em vez de sensações ruins; e os sábios e bons oradores fazem com que pareça justo às cidades o bem em vez do mal. 1. Fenomenismo. Em filosofia, o termo fenômeno indica o que é aparente em uma coisa, em contraposição ao que ela é em si mesma. Chama-se de Fenomenismo a ideia de que o conhecimento humano jamais pode levar em consideração a realidade de modo absoluto e objetivo, mas somente perceber as suas aparência, ou seja, exatamente os fenômenos. Os Sofistas lançaram a doutrina fenomenista conferindo a esta um forte significa subjetivista, relativista e cético; não existem verdades e tampouco afirmações universais, tudo depende do sujeito e da situação em que ele se encontra. 2. Relativismo. Teoria segundo a qual não existem verdades absolutas, porque qualquer afirmação que se queira é sempre relativa a um ponto de vista pessoal, à sociedade a que pertence, ao modo de pensar típico da espécie humana. Às considerações relativistas de Protágoras e dos Sofistas pareciam encontrar confirmação na diversidade dos usos e costumes dos diferentes povos. 3. Retórica. Os Sofistas descobriram que o Logos pode ser usado também para mentir, para seduzir e impressionar favoravelmente os ouvintes. Portanto, a linguagem não é simplesmente o espelho da realidade, como supôs Parmênides, mas um meio pelo qual os homens estabelecem as posições recíprocas de poder. Quem pensa possuir a verdade pode buscar argumentos convincentes, fundados na evidência de raciocínios resolutivos; quem, ao contrário, não possui a verdade, empregará argumentos persuasivos, válidos somente para um auditório particular, nem sempre baseados na lógica, mas tocantes, ou seja, dirigidos ao coração, às emoções. Frequentemente, o segundo método obtém maior sucesso que o primeiro. Livro Antologia Ilustrada de Filosofia. Das origens à Idade Média. Abraço. Davi.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Final de 2015. Os Rumos da Economia Brasileira.

Amigos leitores do Mosaico Espiritual, chegamos ao final do ano de 2015. Agradeço a perseverança em ler os textos desta mídia social. Felicito aos ledores de fora do Brasil (Índia, China, Estados Unidos da América, Alemanha, França, Ucrânia, Portugal, México, Rússia, Argentina, Colômbia) e outros, que de vez em quando, acessam essa página. Sinto-me honrado por alcançar tantas pessoas de diferentes nacionalidades, idade, perfil comportamental, religião, classe social, poder aquisitivo, sexo (homo ou hétero), estado civil, profissão, cultura e costumes. Em última análise, somos um, mesmo sendo diferentes e de temperamentos desiguais. A separação de idioma, naturalidade e familiaridade esconde o que de mais precioso temos, nosso desejo de harmonia e sintonia com o Universo representado pela Terra, a Natureza e a Humanidade. Assim cada um, como parte do Todo, expressa um aspecto da verdade, não importando sua tonalidade se radiante ou opaca, obscura ou clarificada. Todos estamos aumentando nossa luminosidade espiritual cada um dentro de seu prisma e na sua atual encarnação evoluindo ao encontro do Ser Supremo. Evidentemente nesse percurso, alguns se adiantarão e outro, por motivos pedagógicos e disciplinares retardarão esse tempo. Mas de uma coisa tenho certeza todos sem distinção alcançarão a completude, o Nirvana ou Samadhy com o Divino, mergulhando no oceano da Sabedoria e no incomensurável mistério do Eterno. Desejo aos amigos de outros países um novo ano (2016) com saúde, paz e harmonia, estendendo esses votos à seu familiares e amigos. Abraços e beijos a todos. Particularmente para os brasileiros, que no hemisfério sul do planeta, entraram no dia 22 de dezembro no verão mais quente das últimas décadas, conforme os meteorologistas, esperamos que essa estação traga bom presságio e esperança de um ano novo onde os velhos desafios econômicos e políticos sejam superados, ou pelo menos amenizados, para que nosso povo tenha mais tranquilidade e confiança em dias melhores para 2016. Todos sabem que nossas verdadeiras dificuldades estão no campo econômico. Há vários governos (os dois anos do ex presidente Fernando Collor (1990-1992); os três do ex presidente Itamar Franco (1992-1995); os oito anos do ex presidente Fernando Henrique (1995-2003); os oito anos do ex presidente Luis Inácio Lula (2003-2011) e os cinco da presidente Dilma Rousseff (2011-2016) os fatores de crise tornaram-se endemia constante. Até que foram tentadas iniciativas de recuperação do desnivelamento estrutural de nossa macro economia, mas todas foram barradas na burocracia administrativa, gigantismo estatal e falta de flexibilidade entre os poderes constitucionais executivos na esfera federal, estadual, municipal e distrital. Esse descompasso é visível quando políticas públicas implementadas pelo Governo Federal não tem o mesmo tratamento nos estados, municípios e Distrito Federal. Isso quando os recursos desses projetos, com finalidade específica, acabam sendo desviados para outros campos sociais menos emergenciais criando uma insolvência em necessidades básicas da população. As transferências constitucionais (fundo de participação dos estados, municípios e o Distrito Federal) repassadas pela União, proporcional ao número de habitantes dos Estados (FPE), Municípios (FPM) e o Distrito Federal chegam aos cofres públicos desses Entes, mas sem a garantia de que irão realmente ser alocados nas respectivas áreas destinadas a saúde, educação e segurança. Como o Governo Federal tem a primazia sobre esses recursos advindos da tributação de impostos e taxas de sua competência no território nacional, é o principal interessado e articulador dessa movimentação financeira sendo também responsabilizado, em sua medida, pela incompetência no gerenciamento desse montante que tem previsão para 2016 de mais de R$ 140 bilhões. Os problemas econômicos brasileiros podem ser visto de várias frentes, mas escolhemos para uma rápida olhada  e uma possível análise amadora, aqueles relacionados ao âmbito do universo de abrangência do território nacional. Nessa perspectiva enumerarei quatro itens básicos dessa problematização. 1. "A falta de investimento em infra estrutura que tem levado o país a perder competitividade tanto no ambiente interno como externo". É sabido que nossa opção pelas rodovias para transporte de cargas e mercadorias foi um investimento equivocado, de alto custo e ineficientemente mobilizadora. Esse engano atendeu a pressões internacionais a época no então governo do ex presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), dentre outros fatores para implementação do parque industrial brasileiro com a vinda de companhias automobilísticas norte americanas, francesas e alemãs. Nossa opção estrutural já estava programada e seriam as ferrovias federais para o escoamento das matérias primas aos portos e as rodovias estaduais para o transito de mercadorias e produtos internos. Um custo a longo prazo muito inferior as auto estradas e economicamente mais viável e de manutenção bem inferior aos exorbitantes volumes usados todo ano na recuperação das malhas rodoviárias federais. 2. "Falta de planejamento estratégico de longo prazo para a economia. O Governo Federal vem trabalhando com uma estratégia de reação aos fatos, onde medidas emergenciais vem sendo adotadas para tratar problemas que seriam resolvidos se houvesse um planejamento macro". Como vimos essa questão é complexa envolvendo coordenação na esfera federal, estadual, municipal e distrital, sendo que esses Entes tem problemas de diálogo e destinação correta dos recursos. Sinto que esse planejamento macro sugerido pode não ter sucesso pois a cada governo, os programas tem prioridades divergentes não se sustentando aqueles iniciados em exercícios anteriores. Assim a implementação, a meu ver, deve preterir apenas o período do mandato presidencial em curso com opção de continuidade no governo posterior caso o projeto tenha relevância e abrangência no território nacional. Algo que seria proveitoso para os programas de sustentabilidade continuada como os sociais (para as populações de baixa renda ou que vivem na linha abaixo da pobreza) que foram aplicados em Governos posteriores. Como exemplo temos o bolsa família iniciado (2001) no governo do ex presidente Fernando Henrique e mantido até hoje como precedência por todos os Governos. Um país com tanta desigualdade, discriminação e poucas oportunidades para os menos favorecidos, programas como esse salvam famílias da miséria, fome extrema e sub nutrição. Ainda encontramos vozes desconfiadas que querem acabar com o que chamam de clientelismo e assistencialismo eleitoreiro. Convido esses a visitarem o agreste pernambucano o sertão nordestino e os ribeirinhos que vivem as margens do rio Amazonas na região norte para com seus próprios olhos constataram a penúria e carência em que vivem esses nossos irmãos. E creiam, se não fosse o bolsa família, comunidades inteiras já teriam desaparecido dessas regiões brasileiras. São R$ 28 bilhões de reais já incluídos pelo relator da comissão de orçamento no Congresso para o ano de 2016. Os cadastrados no programa somam quase 14 milhões de famílias recebendo rendimento médio de R$ 160,00, é pouquíssimo mas ajuda. Se pensarmos que cada família tenha 4 integrante serão aproximadamente 56 milhões de pessoas contempladas diretamente. 3. "Submissão da política econômica a política partidária. Isso tem levado a uma desestruturação da máquina pública que vem prejudicando todos os setores da sociedade". Essa afirmativa podemos considerá-la em partes, pois na atual conjuntura política não podemos atrelar a economia a uma polarização partidária relacionada ao partido da Situação (PT) que mantém coligações com outras siglas. É mais justo e honesto, em minha opinião, analisar a questão a luz da descentralizada da política, pois na conjuntura parlamentar em que a crise econômica se instalou, não existe princípio nem consenso político para gerenciar a crise, assim a ideologia e gerenciamento ficam comprometidos. Acusamos o partido da Situação pela atual crise, mas não percebemos que existe um entrave titânico realizado pelos partidos de Oposição. Que contrários ao resultado legítimo das urnas que reconduziu a presidente Dilma ao comando do Governo Federal, boicotam a forma de expressão da ideologia que deseja restabelecer e fazer voltar a normalidade nossa economia superando esse grave descompasso que retarda nosso crescimento nacional. A tese da suposta ilegitimidade do segundo mandato fez ressurgir o instituto do impeachment, que como temos estudado nessa mídia, segundo juristas renomados não tem base legal nem jurídica para ser aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados instalada para analisar o processo. Também não há âmbito na sociedade civil nem apoio popular para esse procedimento, por isso alguns o tem chamado de golpismo à democracia com razão. Os partidos coligados com a Situação (Governo Federal) também são culpados por não conseguir através do diálogo e consenso suplantar esse vazio de valores em nossas agremiações parlamentares. Assim ficamos num impasse imobilizando a máquina pública. Infelizmente, pra nossa tristeza, o interesse particular e corporativista tem tido supremacia sobre os problemas nacionais. O ressentimento e mágoa pela perda da eleição de outubro de 2014 pelos partidos de Oposição, especialmente o (PSDB) que concorreu diretamente no segundo turno, decidido voto a voto, tem custado um preço muito alto para todo o povo brasileiro. Pois grande parte  dos congressistas da Oposição no parlamento perderam precioso tempo nesse ano de 2015 tentando reunir hipotéticas provas que justificasse ante a Câmara dos Deputados o pedido de impeachment. Enquanto temas importantes como o orçamento da União, ajuste fiscal, reforma política, novas regras para benefícios previdenciários, seguro desemprego, aposentadoria, pensão por morte, desvinculação da receita da União com gastos adicionais de 20%, ficaram parados aguardando o destrancamento da pauta para votação em plenário. 4. "Falta de credibilidade com os escândalos se acumulando e a impunidade gracejando". Ressalvando o honroso trabalho do Ministério Público, Supremo Tribunal, Polícia Federal e a Justiça Federal de 1ª Instância na condução do Mensalão, Petrolão e Operação Lava Jato com indiciamento, denúncia e prisão de alguns dos mais de 40 parlamentares congressistas envolvidos nos escândalos de lavagem de dinheiro, peculato, corrupção passiva, formação de quadrilha e outros crimes correlatos. Essa situação cria um ambiente de incerteza, insegurança e aparente descontrole da administração federal. Os empresários e industriais nacionais ficam na espera da definição política que sinalizará os rumos a serem tomados. Enquanto isso aguardam o momento de segurança para voltarem a investir seus capitais no mercado interno produzindo emprego, salário e renda às famílias brasileiras, que sofrem vendo as vagas no mercado formal de trabalho diminuírem a cada dia. Subiu drasticamente o endividamento pessoal, o crédito financeiro foi reduzido e a taxa de juros de operações de créditos chega a 14,25% ao ano, numa inflação anual projetada pelo Banco Central para 2015 de 11%. Nesse perigoso quadro onde o produto interno bruto brasileiro (PIB) recuou quase 3%, os investidores e o capital internacional começa a pensar duas vezes antes de aplicar seus dólares em suas filiais no Brasil. O PIB é definido como a soma de todos os bens e serviços produzidos num período (mês, ano, semestre) numa determinada região (país, estado, cidade, continente). O PIB é expresso em valores monetários (no caso do Brasil em Reais). Ele é um importante indicador da atividade econômica de uma região, representando o crescimento econômico. Vale dizer que no caso do PIB não são considerados os insumos de produção (matérias primas, mão de obra, impostos e energia). As principais empresas brasileiras com ações em Bolsas de Valores veem seus papeis perderam lucratividade nos principais mercados do mundo, dentre essas citamos: Petrobras, Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Vale do Rio Doce, AB inBev, Odebrecht, JBS, Grupo Pão de Açúcar, ultrapar, Gerdau, Brasken e Eletrobras. O tão falado ajuste fiscal que "é o nome dado ao esforço para equilibrar as contas do Estado Brasileiro, voltando a fechar no azul, após anos de gestão econômica criticada. A meta é chegar a um superavit primário de 1,1% do PIB no Governo Federal. Trata-se de receita menos despesa, excluído o gasto do Executivo Federal com o pagamento de juros da dívida pública. O argumento é que o Governo, depois de anos de políticas expansivas e aumento de despesas, principalmente do déficit de 0,63% do ano passado, não pode gastar mais do que arrecada. Uma gestão austera enviará aos mercados financeiros e investidores uma mensagem positiva sobre a condução da economia. No médio prazo, se o ajuste fiscal der certo, o Governo promete que a economia voltará a crescer de maneira sustentável. Para este ano (2015) a perspectiva é de uma queda do PIB de 3,7% ao ano". Os economistas dizem que o Brasil entrou num período de recessão técnica. "Ela é caracterizada por uma forte queda no crescimento de sua economia nacional, sendo definida por um conjunto de indicadores. O termo recessão técnica é um jargão usado pelos economistas para definir um período de dois trimestres consecutivos de queda do PIB. Os dois trimestre consecutivos de queda do PIB brasileiro foram um reflexo da crise econômica mundial que se agravou a partir de setembro de 2008 levando vários países a entrar em recessão". A crise mundial (problemas globais) tem influenciado negativamente nossa economia. O Brasil teve sua nota de credito de bom pagador rebaixada pelas principais agencias de risco nesse setor como as Moody, Fitch e Standard and Poor's.  "Os reflexos dessa crise se dão devido ao reordenamento da geopolítica mundial, fortalecimento do papel do Estado, busca de um novo modelo sustentável como evidencia de um movimento de reestruturação das economias. Três evidências disso chamam a atenção tanto pela rapidez como se difundem, como pela dimensão estrutural que se apresentam, nem sempre percebida pelo conjunto da sociedade. Primeiro: a conformação de outra partilha mundial decorrente do esvaziamento relativo do poder dos Estados Unidos da América no exercício de uma ordem unipolar. Em contrapartida o avanço do mundo policêntrico, com novas regiões exercendo a promoção do desenvolvimento supranacional, apresenta-se para o contexto sul americano a inédita oportunidade do Brasil contribuir na integração regional desse desenvolvimento. Segundo: fortalecimento do papel do Estado, associado em parte, ao apoio de grandes empresas na competição global e a conformação de novo padrão de políticas públicas matriciais. A forte transferência de recursos públicos às grandes corporações transnacionais (bancos e empresas não financeiras) indica tanto o aprofundamento da concorrência inter capitalista como a maior competição entre os Estados Nacionais. Em relação ao Brasil maior fortalecimento das ações para as micro e pequenas empresas no espaço nacional. Terceiro: concentração de esforços técnicos científicos voltados para a geração de um novo modelo de produção e consumo menos degradante do meio ambiente. Isso por que a eficácia das ações públicas que procuram minorar as emissões de gazes por meio da conscientização, tributação e promoção de alternativas ambientais sustentáveis pressupõem outra base tecnológica para produção e distribuição".  Entraremos em 2016 com todos esses problemas a serem solucionados. Somos uma nação que sempre enfrentou crises e sempre soube superá-las; creio que desta vez não será diferente. Mas como os leitores viram a situação requer disposição e comprometimento dos políticos, empresários, industriais, banqueiros e toda a sociedade civil engajada nesse projeto de fazer com que o Brasil volte aos trilhos. Iniciando seu processo de recuperação econômica dando uma salto para o progresso e desenvolvimento. Que cada um de nós faça a sua parte não ficando na espreita apenas criticando o governo e os políticos. Mas também cooperando de maneira solidária e harmoniosa controlando nossos gastos, diminuindo o excesso de consumismo, poupando em investimentos rendáveis e seguros, os Bancos Oficiais (BB e CEF) tem excelentes oportunidades nessa questão, inclusive com ganhos superiores em relação a Caderneta de Poupança que hoje chega a 8% ao ano de lucro. Esses fundos de investimentos oficiais proporcionam ganhos de 12% ao ano. Dica: procure sempre os mais seguros e de menos risco em relação a perdas. Alguns oferecem ganhos maiores mas com altos risco, caso dos fundos cambiais que trabalham com a valorização do dólar; chegaram ao final desse ano com inéditos ganhos de 50%. Mas calma amigos, os especialistas recomendam cautela nesse tipo de investimento, pois estipulam que a moeda americana chegará ao final de 2016 com supostos US$ 3,26 em relação a R$ 1,00. Uma depreciação considerável em relação a cotação de hoje (28/12) estipulada em US$ 3,91 que rebaixará sensivelmente o lucro desse fundo. Isso na perspectiva otimista contando com a retomada do crescimento econômico do Brasil.  Caso você é um poupador de caderneta tradicional confira no site desses bancos a melhor opção de investimento. Lembrando o conselho dos economistas: diversifique seus investimentos. Pratique a compaixão para com os necessitados e desvalidos da sociedade. Interaja  com ONGs (Organização Não Governamental), OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e OSs (Organização Social) além de igrejas e comunidades espirituais que estão envolvidas com a fraternidade e voluntariedade. Concluo com as palavras de lama tibetano Kenchen Palden Sherad Rinpoche (1941-  ). "Amor, Compaixão e Sabedoria são a essência de qualquer prática espiritual diária. Lembre-se dessas três mentes do Budha de manhã, de tarde e ao anoitecer. Transforme todas as suas atividades com o seu poder. Não é que você tenha que ficar sentado em meditação o tempo todo; você pode gerar essas qualidades supremas durante todas as suas atividades diárias. Considera os méritos gerados por sua prática de noite, e então, antes de se recolher. Medite de novo de manhã para que você esteja efetivamente honrando essas três mentes todo o tempo. Estabeleça suas atividades dentro desse estado para que o que quer que faça reflita essas três (Amor, Compaixão e Sabedoria) qualidades preciosas. No início pode ser difícil realmente senti-las constantemente. Mas se pudermos aprender a iniciar nossas atividades com a disposição das três mentes do Budha, ajudamos a criar as condições em que todos os fenômenos podem ser transformados em seu estado puro. Eventualmente, você não terá que pensar sobre essas três qualidades todo o tempo para invocar sua presença em seu fluxo mental. Porque cada uma de suas atividades já terá perfeitamente se fundido com a mente do Budha. O Budha Sakyamuni disse que quando você tem essa atitude de Bodhicitta continuamente, mesmo seus gestos causais ficam naturalmente saturados de Amor, Compaixão e Sabedoria. O olhar dos seus olhos revela essas qualidades; sua própria presença movimento e voz transmitem poder especial aos outros. Tudo não pode ser descoberto de uma vez, mas se você continuar por esse caminho, vai cada vez mais irradiar e ampliar as qualidades puras da mente do Budha. Que sendo iluminada e perfeita, é o estado último de consciência plena livre de ilusões e obscurecimentos. Ela é totalmente desperta e brilha de modo desobstruído por todas as direções, para que todos possam receber suas bênçãos. Com prática, você pode viver no mundo e ser de ajuda para os outros enquanto continua a manter suas realizações". Do livro: Door To Inconceivable Wisdom And Compassion. Feliz 2016. Abraços e beijos. Davi.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Existe A Verdade. Parte IV.



Filosofia. Escrito por Ubaldo Nicola. Como os Homens inventaram a Linguagem. Existe correspondência entre as palavras e as coisas? A linguagem tem origem natural ou convencional? Contrariando a opinião dominante no mundo antigo, Demócrito (460 AC 360) afirma que as palavras são estranhas as coisas que representam e são sinais puramente convencionais. De fato, nas diversas línguas empregam-se nomes diferente para indicar o mesmo objeto. Pela primeira vez na história, coloca-se a tese do convencionalismo linguístico, as palavras não possuem, em si, como som, nenhum significado; são puras convenções que adquirem sentido somente pelo uso comum com base no critério de utilidade recíproca. O temor e a utilidade recíproca fizeram nascer a sociedade. Os homens das gerações primitivas, levando uma vida sem leis, semelhante a vida das feras, saiam para os pastos, dispersos, colhendo a erva que era mais agradável ao paladar e os frutos que as árvores produziam. Eram continuamente agredidos pelas feras; a utilidade ensinou-os a ajudarem-se mutuamente, e, reunindo-se em sociedade sob o impulso do temor, começaram pouco a pouco a reconhecer-se pelo aspecto. A natureza das palavras é puramente convencional. Enquanto antes pronunciavam palavras desarticuladas e desprovidas de significado, aos poucos passaram a articular as palavras, estabelecendo entre si expressões convencionais para designar cada objeto. Dado que o ser humano não se origina de um único tronco, não existe uma língua universal. Mas posto que tais agrupamentos de homens se formaram em todas as regiões habitadas da Terra, não pode existir uma língua de igual som para todos, pois cada um daqueles grupos combinou os vocábulos ao acaso, eis porque são variadíssimas as características das línguas e porque os primeiros grupos deram origem as diversas nações. A invenção da linguagem favoreceu o nascimento das técnicas e, portanto, da civilização. Aqueles primeiros homens, portanto, viviam em meio a dificuldades, porque nada ainda se encontrara de tudo quanto é útil a vida; eram desprovidos de qualquer vestimenta, não estavam acostumados a ter uma habitação e a usar o fogo, além de desconhecer totalmente alimento que não fosse selvagem. Não faziam qualquer provisão de frutos para a eventualidade de que estes viessem a faltar, motivo pelo qual, durante o inverno, muitos deles morriam, fosse de frio, fosse por falta de alimento. Todos os conhecimento foram aprendidos por meio da experiência. A inteligência reside tanto nas mãos quanto na cabeça. Mas não tardou muito e eles, instruídos pela experiência, se refugiaram nas cavernas durante o inverno e guardavam aqueles frutos que eram próprios para serem conservados. Conhecidos depois o fogo e as outras coisas úteis à vida, encontraram pouco mais tarde também as artes e todos os meios que podem trazer benefício à vida em sociedade. Assim, o uso em si foi mestre de todas as coisas para os homens, tornando familiar o aprendizado de cada habilidade a estes seres bem dotados e que têm as mãos, a razão e a versatilidade da mente como colaboradores para todas as eventualidades. Como a Vida Nasceu do Vórtice (redemoinho) atômico. A hipótese atomista explica a estrutura dos corpos, mas pode explicar também a sua origem? O que leva os átomos a se agregarem para formarem compostos estáveis? Para responde a essas perguntas Demócrito (460 AC 370) formulou a teoria dos Vórtices, que obteria  um grande sucesso no meio científico; a agregação dos átomos em corpos sólidos e compactos deve a fenômenos puramente mecânicos, particularmente a força centrípeta agregadora desenvolvida pelo movimento em vórtice. Antes de tudo, Demócrito tinha interesse em trazer a luz a afirmação de que o nascimento da vida depende de processos automáticos (putrefação, fermentação), os quais não requerem a intervenção de qualquer inteligência divina. No Caos Inicial não existiam Corpos Diferenciados. Na primitiva comunhão de todas as coisas, o céu e a terra tinham um pouco aspecto, sendo misturada a sua matéria. O Diferente peso dos átomos produziu uma primeira separação. Em seguida, separando-se os corpos uns dos outros, o mundo foi assumindo todo esse ordenamento que nele se vê; o ar recebeu um movimento ininterrupto e a sua porção ígnea (fogo) recolheu-se as regiões mais altas da atmosfera, pois essa matéria tendia para o alto devido a sua leveza. Os corpos celestes formaram-se em consequência de um movimento em vórtice.  Por essa razão, o Sol e a multidão de astros foram apanhados no vórtice geral; a parte lamacenta e turva, com mescla de elementos úmidos, depositou-se inteiramente em um lugar graças a sue peço e, girando e volvendo-se continuamente sobre si mesma, com o elemento líquido formou o mar. Com as partes mais sólidas, formou a terra, lamacenta e mole. O nascimento da vida explica-se com processos de putrefação e fermentação. E a terra, inicialmente sob o ardor do fogo solar, tomou consistência, em seguida, o calor provocou fermentações em sua superfície; em muitos lugares, as partes úmidas incharam, produzindo-se em torno delas putrefações envoltas em sutis membranas. Isso pode ser observado ainda hoje nos charcos e pântanos; depois que essas regiões se resfriam, o ar torna-se imediatamente escaldante, em vez de aquecer-se gradualmente. A ação do calor e do frio explica a evolução dos processos vitais. E posto que aquelas partes úmidas produziam embriões (pela elevação do calor) do modo que foi dito, esses embriões recebiam alimento da neblina que descia da atmosfera à noite e se consolidavam com o calor do Sol durante o dia, enfim, a medida que esses fetos tão fechados completavam o seu crescimento e as membranas dissecadas se dilaceravam, vinham a luz as variadíssimas espécies de animais. As diferenças entre os animais dependem da estrutura atômica. Dentre esses, aqueles que possuíam mais calor se alçaram nas regiões do ar, tornando-se voláteis, aqueles que tinham uma constituição terrosa foram incluídos na ordem dos répteis e de outros animais terrestres; aqueles que alcançaram característica particularmente úmida voltaram-se para o elemento próprio de sua natureza e foram denominados aquáticos. A terra, que se tornara cada vez mais dura pela ação do calor solar e dos ventos, não teve mais condições de produzir nenhum dos animais, mas cada uma das espécies dos que estavam vivos começou a se propagar pela mútua união dos próprios seres. Materialismo. É a convicção de que todos os fenômenos inclusive aqueles espirituais e psíquicos, são resultado final de processos materiais e mecânicos. Os materialistas negam a existência da alma e das substâncias espirituais, reconhecendo somente a existência das substâncias corpóreas. Apesar de o termo ter sido cunhado no século XVII, adapta-se bem a doutrina de Demócrito (460 C 370), segundo a qual também à alma, o pensamento e até mesmo os deuses são compostos de átomos materiais. Livro Antologia Ilustrada de Filosofia. Das origens à Idade Moderna. Abraço. Davi.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Existe A Verdade. Parte III.

Filosofia. Texto escrito por Ubaldo Nicola. Demócrito (460 AC 360). Conhecemos apenas duzentos curtos fragmentos dos escritos de Demócrito, mas isso basta para provar que foi um dos pensadores mais versáteis da história, a partir dos títulos de suas obras (cerca de setenta) nota-se o seu interesse por música, matemática, astronomia, geometria, geografia, meteorologia, linguística e arte da guerra, além da filosofia, naturalmente. Com efeito, é mais fácil citar as duas únicas disciplinas que negligenciou: política e religião. A amplitude desse programa de investigação levou o filósofo a realizar numerosas viagens ao Egito e a Pérsia, talvez até mesmo a Etiópia e a Índia. Com certeza também esteve em Atenas, mas é igualmente certo que a sua presença passou despercebida. Aristóteles (384 AC 322) e o médico Hipócrates (460 AC 370) citaram-no várias vezes, mas Platão (428 AC 347), seu contemporâneo, jamais falou a seu respeito. Demócrito conseguiu combinar o interesse enciclopédico a um excelente nível de informação, demonstrando estar sempre atualizado no campo científico e ser sensível as instâncias culturais da sua época. A própria concepção atomística, o fruto mais conhecido do seu pensamento, deve ser vista no quadro do desafio teórico lançado por Parmênides e Zenão. De fato, justamente para resolver os paradoxos derivados da hipótese de uma divisibilidade infinita do espaço, Demócrito chegou a elaboração da noção de átomo: a partícula mínima, o material indivisível e invisível do qua é formada a realidade. Estabelecida a existência do átomo, era preciso, em seguida, explicar o mundo a luz da nova hipótese. Se os átomos podem movimentar-se, premissa que deve ser levada em consideração quando desejamos explicar a morte (separação de átomos), a compacidade (característica do que é compacto) dos corpos (agregação de átomos), o seu Devir (recombinação de átomos) e uma quantidade heterogênea de outros fenômenos (a percepção visual, as leis da mecânica), devemos admitir a existência de um espaço livre, vazio de matéria; o pleno e total ser do átomo contrapõe-se ao Não Ser do vazio. A Alma também é feita de átomos. É possível subdividir uma porção de espaço físico ou um objeto material qualquer ao infinito, em partes cada vez menores? Ou existe um limite último? Demócrito chegou a elaboração da hipótese atômica tentando escolher os paradoxos postos por Parmênides. Encontrou a solução ao negar que, para a matéria do mundo físico, valesse a mesma divisibilidade infinita de que gozam os elementos matemáticos. Pode-se subdividir um número ao infinito, mas partindo-se de uma partícula de matéria progressivamente chegas-se a um mínimo indivisível (e invisível); o átomo, expressão grega que significa, literalmente, sem divisão. O átomo identificado dessa forma, torna-se, com Demócrito o elemento básico para uma série de complexas especulações; a sua existência pressupõe, antes de tudo o vazio (no qual os átomos possam movimentar-se), implica também na homogeneidade estrutural do universo, formado por combinações diversas dos mesmos átomos, e sugere a existência de infinitos átomos. Não há senão átomo e vazio. Princípio de todas as coisas são os átomos e o vazio.Todo o resto é opinião subjetiva. Existem infinitos mundos, os quais são gerados e corruptíveis; nada vem do Não Ser, nada pode perecer e se dissolver no Não Ser. Um Vórtice cósmico seleciona os átomos segundo a grandeza, originando os quatro elementos. Os átomos são infinitos sob o aspecto da grandeza e do número. Eles se movimentam no universo girando em vórtice e, desse modo, geram todos os compostos: fogo, água, ar, terra e o éter. Todas as coisas são combinações de átomos. Por também os compostos (fogo, água, ar, terra) são conjuntos de certos átomos em particular, os quais, no entanto, não são decompostos nem alterados, exatamente pela sua solidez. Também a alma e os corpos celestes são combinações de átomos. O Sol e a Lua também são compostos por tais átomos, ou seja, por aqueles lisos e redondos; e igualmente a alma, que foram uma unidade com o intelecto. A diferente combinação de átomos explica todos os fenômenos. Tudo se produz conforme a necessidade, porque a causa da formação de todas as coisas é esse movimento em vórtice (redemoinho) que ele denomina exatamente necessidade. Determinismo. Consiste na convicção de que todos os fenômenos, tanto os naturais quanto os psíquicos, estão ligados entre si por conexões necessárias e dependentes da lei de causa e efeito, excluindo qualquer explicação que introduza as noções de acaso. Segundo os Deterministas, conhecendo com precisão qualquer processo em curso, é sempre possível prever, com igual precisão, os seus resultados. Após ter sido enunciada pela primeira vez por Demócrito, a posição determinista ressurgiu com grande força no século XVII, durante a denominada Revolução Científica, e no século XIX, com o pensamento positivista. Não há senão átomo e vazio. Se cada coisa é constituída  por uma agregação de átomos, como se explica a diversidade das próprias coisas? Para responder a essa objeção é suficiente, segundo Demócrito, pensar como as poucas letras que compõem um alfabeto podem, combinando-se em si formar um infinito número de palavras. Entre os átomos existem apenas diferenças quantitativas (grandeza, forma geométrica) e, portanto, a diversidade qualitativa das coisas (aparentes) explica-se pelo grande número de combinações possíveis. As qualidades sensíveis são aparentes. Opinião é a cor, opinião é o doce, opinião é o amargo, verdade são os átomos e o vazio, diz Demócrito, considerando que todas as qualidades sensíveis, que ele supõe relativas a nós, das quais temos as sensações, decorrem da variada combinação dos átomos, mas que, por natureza, não existem absolutamente branco, preto, amarelo, vermelho, doce, amargo (...). Não há senão átomo e vazio, portanto, as percepções também são combinações de átomos. Os homens acreditam que o branco e o preto, o doce e o amargo, e todas as outras qualidades do gênero, são algo de real, quando na verdade só o que existe é o ente e o nada. Demócrito também usava esses outros termos, chamando os átomos de entes e  vazio de nada. O átomo não têm qualidades sensíveis, perceptíveis somente nos compostos. Todos os átomos, sendo corpos minúsculos, não possuem qualidades sensíveis, e o vazio é um espaço em que tais corpúsculos se movimentam para cima e para baixo eternamente ou se entrelaçando de diversas maneiras ou se chocando e ricocheteando, de modo a irem se desagregando e se agregando em tais compostos, e, desta forma, produzem todas as outras maiores agregações e os nossos corpos e as suas afeições e sensações. O átomo jamais sofre qualquer tipo de modificação. Supõem, também, que os corpos primeiros são inalteráveis (alguns dentre os atomistas, mais precisamente os seguidores de Epicuro (341 AC 270), porque acreditam que sejam infringíveis pela sua dureza; outros, os seguidores de Leucipo (480 AC 420), porque indivisíveis pela sua pequenez, ou melhor, que tampouco sofrem (por meio de alguma forma externa) as modificações as quais todos os homens (que extraem a sua ciência das sensações) acreditam que eles estão sujeitos. O átomo não sente os efeitos do ambiente em que se encontra. Nenhum átomo pode aquecer-se ou resfriar-se, ressecar-se ou umedecer-se, tornar-se branco ou preto ou receber outras qualidades por qualquer modificação que se queira. Livro Antologia Ilustrada de Filosofia. Das origens à Idade Moderna. Beijo. Davi.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O Presente de Natal.



Texto escrito pelo norte americano O. Henry, pseudônimo de William Sidney Porter (1862-1910). “Um dólar e oitenta e sete centavos. Era tudo. E, desse valor, sessenta centavos eram em moedinhas de um. Moedinhas poupadas uma ou duas de cada vez, pechinchando na mercearia, no verdureiro, no açougueiro, até o rosto arder com a imputação calada de parcimônia (ato de economizar) que essas duras negociações envolviam. Della contou três vezes. Um dólar e oitenta e sete centavos. E o dia seguinte seria Natal. Era claro que não havia nada a fazer senão cair no sofazinho puído (desgastado) e chorar. E foi o que Della fez. E isso instiga a reflexão moral de que a vida é formada por soluços, fungadas (aspirar fortemente pelo nariz) e sorrisos, com predomínio de fungadas. Enquanto a dona da casa passa gradualmente do primeiro para o segundo estágio, deem uma olhada na casa. Um apartamento mobiliado que custa oito dólares por semana. Não é muito extraordinário descrevê-lo. No vestíbulo do andar térreo havia uma caixa de correio na qual nenhuma carta entrava e um botão elétrico do qual nenhum dedo mortal arrancaria um som de campainha. Também havia um cartão com o nome “Sr. James Dillingham Young”. O “Dillingham” fora mostrado ao mundo durante um período anterior de prosperidade em que pagavam ao seu possuidor 30 dólares por semana. Contudo, agora que sua renda encolhera para 20 dólares, eles pensavam seriamente em adotar um modesto e despretensioso D. Mas, sempre que chegava e se dirigia ao apartamento no andar de cima, o Sr. James Dillingham Young era chamado de “Jim” e muito abraçado pela Sra. James Dillingham Young, já apresentada aqui como Della. O que é tudo muito bom. Della parou de chorar e cuidou das bochechas com pó de arroz. Ficou em pé junto à janela e olhou à toa o gato cinzento que andava numa cerca cinzenta num quintal cinzento. Amanhã seria o dia de Natal e ela só tinha US$ 1,87 para comprar um presente para Jim. Economizara cada centavo que conseguira durante meses, e era esse o resultado. Vinte dólares por semana não dão para muita coisa. As despesas tinham sido maiores do que ela calculara. Sempre são. Apenas US$ 1,87 para comprar um presente para Jim. O seu Jim. Muitas horas felizes passou ela planejando algo agradável para ele. Algo fino, raro, esterlino – algo apenas um tiquinho próximo de ser merecedor da honra de pertencer a Jim. Havia um espelho de parede entre as janelas da sala. Talvez os senhores já tenham visto um espelho de parede num apartamento de oito dólares. Uma pessoa magérrima e agilíssima, ao observar seu reflexo numa rápida sequência de tiras longitudinais, pode obter uma concepção bastante exata da própria aparência. Della, por ser magra, dominara a arte. De repente, ela rodopiou e parou diante do espelho. Os olhos faiscavam brilhantes, mas o rosto perdera a cor em vinte segundos. Rapidamente, ela soltou o cabelo e o deixou cair. Havia duas posses das quais os Dillingham Young se orgulhavam muito. Uma era o relógio de ouro de Jim, que fora do pai e do avô dele. A outra era o cabelo de Della. Se a rainha de Sabá morasse no apartamento ao lado, Della deixaria o cabelo pender da janela só para depreciar as joias e os dons de Sua Majestade. Se o rei Salomão fosse o zelador, com seus tesouros empilhados no porão, Jim tiraria o relógio toda vez que passasse só para vê-lo puxar a barba de inveja. Assim, agora o lindo cabelo de Della caía em torno da moça, ondulando e luzindo como uma cascata de águas castanhas. Chegava abaixo do joelho e quase seria como vestido para ela. E então ela o prendeu de novo, nervosa e rapidamente. Vacilou um minuto e ficou imóvel enquanto uma ou duas lágrimas respingavam no gasto tapete vermelho. Ela vestiu o velho casaco marrom e colocou o velho chapéu marrom. Com um rodopio de saias e a faísca brilhante ainda nos olhos, Della tremulou pela porta e desceu a escada até a rua. Onde parou, a placa dizia: “Madame. Sofronie. Todos os tipos de produtos de cabelo”. Um lance de escada Della subiu correndo e se recuperou, ofegante. Madame, grande, branca demais, gelada, mal parecia “Sofronie”. Compra o meu cabelo? Perguntou Della. Compro cabelo – disse Madame. – Tire o chapéu e vamos dar uma olhada no jeito dele. E lá desceu ondulante a cascata castanha.  Vinte dólares – disse Madame, erguendo a massa com mão treinada. Dê aqui, depressa – disse Della. Ah, e as duas horas seguintes atropeladas por asas cor-de-rosa. Esqueça a metáfora rebuscada. Ela esquadrinhava as lojas atrás do presente de Jim. Finalmente o encontrou. Sem dúvida fora feito para Jim e para mais ninguém. Não havia nada parecido em nenhuma das lojas, e ela virara todas do avesso. Era uma corrente de relógio de platina, de desenho simples e casto, que proclamava com propriedade o seu valor apenas pela substância e não pela ornamentação barata – como tudo o que é bom deveria ser. Era até merecedora d’O Relógio. Assim que a viu, soube que tinha de ser de Jim. Era como ele. Tranquilidade e valor – a descrição se aplicava a ambos. Vinte e um dólares tiraram dela pela corrente, e ela correu para casa com os 87 centavos. Com aquela corrente no relógio, Jim, com toda a propriedade, poderia ficar ansioso em ver a hora estando em companhia de qualquer pessoa. Por mais grandioso que fosse o relógio, ele às vezes o olhava com timidez por conta da antiga correia de couro que usava em vez de uma corrente. Quando Della chegou em casa, o estado inebriante deu lugar a um pouco de prudência e razão. Ela pegou os ferros de cachear, acendeu o gás e se pôs a trabalhar para reparar a devastação feita pela generosidade somada ao amor. O que é sempre uma dura tarefa, caros amigos – uma tarefa mastodôntica (agigantado). Em quarenta minutos, sua cabeça estava coberta de minúsculos cachinhos que a deixavam parecida com um menino travesso. Ela olhou o reflexo no espelho longa, cuidadosa e criticamente. “Se Jim não me matar”, disse a si mesma, “antes de dar uma segunda olhada em mim, dirá que pareço uma garota do coro de Coney Island (é uma península localizada no distrito do brooklin, New York – USA). Mas o que eu poderia fazer (...).  Ah! O que poderia fazer com um dólar e oitenta e sete centavos”? Às sete horas da noite, o café estava pronto e a frigideira, na parte de trás do fogão, quente e preparada para receber as costeletas. Jim nunca se atrasava. Della dobrou na mão a corrente do relógio e sentou-se no canto da mesa perto da porta por onde ele sempre entrava. Então ouviu os passos dele na escada, lá embaixo no primeiro lance, e ficou branca apenas um instante. Era um hábito seu dizer uma pequena oração silenciosa pelas coisas mais simples e cotidianas, e nesse momento sussurrou: “Deus, por favor, faça com que ele ainda me ache bonita”. A Porta se abriu, Jim entrou e a fechou. Parecia magro e seriíssimo. Pobre rapaz, tinha apenas 22 anos – e sobrecarregado com uma família! Precisava de um sobretudo novo e estava sem luvas. Jim parou à porta, já dentro da sala, tão imóvel quanto um cão de caça ao sentir o cheiro da presa. Os olhos estavam fixos em Della, e havia neles uma expressão que ela não conseguia ler, e isso a aterrorizou. Não era raiva, nem surpresa, nem desaprovação, nem horror, nem qualquer dos sentimentos para os quais ela se preparara. Ele apenas a fitava fixamente com aquela expressão peculiar no rosto. Della se contorceu para sair da mesa e foi até ele. Jim, querido – ela disse, angustiada –, não me olhe desse jeito. Mandei cortar o cabelo e o vendi porque não conseguiria passar o Natal sem lhe dar um presente. Ele crescerá de novo. Você não se importa, não é? Eu tive de fazer isso. O meu cabelo cresce muitíssimo depressa. Diga “Feliz Natal!”, Jim, e sejamos felizes. Você não sabe que presente bom, que presente bom e lindo tenho para você. Você cortou o cabelo? – perguntou Jim com esforço, como se ainda não tivesse chegado àquele fato nem depois da mais dura labuta mental. Cortei e vendi – respondeu Della. – Você não gosta de mim de qualquer forma? Continuo a mesma sem o cabelo, não? Jim deu uma olhada na sala. Está dizendo que seu cabelo se foi? Perguntou com um ar quase idiota. Não precisa procurar por ele – disse Della. Foi vendido, estou lhe dizendo. É véspera de Natal, rapaz. Seja bom comigo, porque ele se foi por você. Talvez os fios de cabelo da minha cabeça pudessem ser contados – continuou ela, com doçura séria e súbita –, mas ninguém jamais conseguiria medir o meu amor por você. Posso pôr as costeletas no fogo, Jim? Jim pareceu despertar do transe e abraçou sua Della. Durante dez segundos, olhemos com atenção discreta algum objeto inconsequente na outra direção. Oito dólares por semana ou um milhão por ano: qual é a diferença? Um matemático ou um espirituoso lhes dariam a resposta errada. Os reis magos deram presentes valiosos, mas esse não estava entre eles. Essa afirmação sombria será esclarecida mais adiante. Jim tirou um pacote do bolso do sobretudo e o largou em cima da mesa. Não se engane comigo, Dell – disse ele. – Não acho que haja nada parecido com um corte, raspagem ou lavagem de cabelo que possa me fazer gostar menos da minha garota. Mas se desembrulhar esse pacote, verá por que me deixou perplexo a princípio. Dedos brancos e ágeis rasgaram o barbante e o papel. E então um grito extático de alegria, seguido por uma rápida mudança feminina para lágrimas e gemidos histéricos, exigindo o emprego imediato dos poderes consoladores do senhor do apartamento. Pois lá estavam As Presilhas – o conjunto de presilhas, lateral e traseira, que Della adorara por muito tempo numa vitrine da Broadway. Lindas presilhas, de pura tartaruga, com a borda cravejada – do tom exato para usar no lindo cabelo desaparecido. Eram presilhas caras, ela sabia, e o seu coração simplesmente desejara e ansiara por elas sem a mínima esperança de posse. E agora eram dela, mas as tranças que receberiam os cobiçados adornos tinham-se ido. Assim mesmo, ela as abraçou junto ao peito, e finalmente foi capaz de erguer os olhos turvos com um sorriso e dizer: Meu cabelo cresce tão depressa! Então Della pulou de pé como um gatinho chamuscado. Jim ainda não vira o seu lindo presente. Ela o entregou ansiosa, na palma da mão aberta. O metal fosco e precioso pareceu relampejar com um reflexo do seu espírito claro e ardente. Não é linda, Jim? Procurei‑a pela cidade inteira até encontrar. Agora você terá de olhar as horas cem vezes por dia. Dê-me o seu relógio. Quero ver como fica. Em vez de obedecer, Jim se recostou no sofá, pôs as mãos na nuca e sorriu. Dell – disse ele –, vamos deixar de lado nossos presentes de Natal e guardá-los por algum tempo. São bons demais para usar neste momento. Vendi o relógio para ter dinheiro para comprar suas presilhas de cabelo. E agora acho que você pode pôr as costeletas no fogo. Os reis magos, segundo a tradição, eram homens sábios – maravilhosamente sábios – que levaram presentes ao bebê na manjedoura. Eles inventaram a arte de dar presentes de Natal. Por serem sábios, seus presentes, sem dúvida, eram sábios, possivelmente com o privilégio da troca em caso de duplicação. E aqui, inepto, contei-lhes a crônica rotineira de dois jovens tolos num apartamento que, de forma nada sábia, sacrificaram um pelo outro os maiores tesouros da casa. Mas, numa última palavra aos sábios de hoje em dia, é bom que se diga que, de todos os que dão presentes, esses dois foram os mais sábios. De todos os que dão e recebem presentes, os que são como eles são os mais sábios. Em toda parte são os mais sábios. São eles os reis magos”. http://www.seleçoes.com.br. Abraço. Davi.      

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O Natal Como Símbolo Do Renascimento.



Texto da psicóloga jungiana Juliana Pereira dos Santos. A mística da gravides. O natal como símbolo do renascimento da nossa criança interior. Em tempos de atitudes polarizadas a necessidade de transformação e renovação se faz presente. Algumas datas específicas são um convite para que algumas reflexões e mudanças possam ser feitas. O natal é uma delas. Segundo a tradição cristã, o natal marca o nascimento de Jesus, o filho de Deus. Independente de ser ou não cristão, a encarnação do Verbo simboliza psicologicamente para toda a humanidade a síntese dos símbolos fundamentais do universo: o céu e a terra, que une divino e humano. O Cristo, por sua totalidade pode ser considerado o arquétipo do Si mesmo, o centro regulador da psique. Aquele que vem para promover a mudança, reestabelecer o equilíbrio e oferecer um novo padrão de consciência, mais adequado às necessidades de amor e preservação. A estrela que guiou os reis magos até o menino, certamente é o símbolo do espírito, farol projetado na noite do inconsciente (Chevalier, 2009). Assim, não seria o natal tempo oportuno para seguirmos a estrela rumo ao nosso interior? Mais do que nos preocuparmos com os presentes ou nos deixarmos seduzir pelas brilhantes estratégias comerciais que querem a todo custo lucrar e lucrar, poderíamos aproveitar deste momento para, assim como os reis magos, levarmos presentes à nossa criança interior. A nossa criança é o lugar da origem onde tudo já existe. Olhar para ela é como voltar onde tudo começou, não no sentido de regressão, mas para se encontrar com a verdade esquecida ou negligenciada por conta de nossos tropeços e falta de consciência. Assim como Maria, é como se estivéssemos todos grávidos, no sentido místico, gerando a criança que nos trará coisas novas. “Eis que faço nova todas as coisas”. Apocalipse 21:6. O local singelo onde ocorreu o nascimento simboliza que precisamos resgatar em nós aqueles aspectos mais simples e para os quais, muitas vezes, não damos o valor devido. Alguns estudos sobre Jesus dizem que ele nasceu numa gruta. Ela simboliza um útero materno. Portanto é o lugar da iniciação. Nas tradições do extremo oriente, a caverna é o símbolo do mundo, a imagem do centro do coração. Simbolicamente, o coração é onde homens e mulheres podem gerar todas as coisas (Chevalier 2009). Há temo para nascer e tempo para morrer. Esta é a proposta do natal. Celebramos com nossos familiares o que pudemos viver, e desejamos um ano novo cheio de sonhos e expectativas. Apesar de em nosso calendário celebramos o dia 25 de dezembro, todos os dias pode ser natal dentro de nós. http://www.psiqueemequilibrio.com.br. Nesse texto da Juliana, a meu ver, podemos refletir numa perspectiva humanista dentro da subjetividade (algo trabalhado pelo ser individualmente envolvendo suas sensações, emoções e percepções) espiritual, que sinto devemos singularizar em nossa experiência. A objetividade (o lado do ser marcado pela teleologia, finalidade como o principal fator de motivação existencial. Os ganhos e perdas se misturam num emaranhado do cientificismo e tecnicismo duma praticidade estressante e entediante) que vivenciamos representa nossa fascinação no entendimento embotado. Onde nossa compreensão é obstaculizada pelo que enxergamos do todo, e ficamos com o fracionamento, um quebra cabeça que geralmente não conseguimos montar. Abordagem diferente costuma abrir nossos olhos para outros panoramas, quebrando nossos paradigmas, tornando-nos maleáveis e em sintonia com o universo. Não fugimos do princípio da natividade (o nascimento virginal do Cristo) e ganhamos contextualizando o tema para um humanismo contemporâneo. Geralmente tendemos a pensar o natal de fora pra dentro nos preocupando em oferecer algo (presentes) aos nossos queridos familiares e amigos. Isso faz com que percamos de vista o verdadeiro sentido dessa data, que é apresentar ao nosso consciente o caminho da mudança interior, valorizando pela meditação a busca pelo divino e conhecendo maneiras seguras e firmes de produzir nosso desenvolvimento espiritual. Grifarei alguns pontos que a psicóloga compartilhou em sua dissertação. As atitudes polarizadas mencionada é uma realidade que enfrentamos. O eu e o objeto se contrapõem numa dualidade que encerra um materialismo de forte egocentrismo narcisista. Expressamos emoções e sensações distorcidas, pois estão embasadas em apegos e futilidades mundanas. O nascimento de Jesus como a síntese dos símbolos denota o arquétipo  universal em todas as tradições espirituais da união do divino com o humano. A divindade sem forma se humanizou em forma precária e temporária dando-nos a lição de que todos os seres existentes possuem a partícula do Logos Eterno indivisível e indestrutível em sua substância. O Cristo é o princípio do Si mesmo, aquele capaz de trazer a harmonia e equilíbrio ao nosso ser tão envolto em turbulências e inquietação. Efésios 5:18 “(...) enchei-vos do Espírito”. Essa é a medida recomendada à que saiamos da condição de desarmonia interior e assumamos uma rotação condizente com o eixo no qual devemos está fixados. Mas na experiência diária não é fácil desenvolvermos esse processo em nossa convivência. Ora estamos abaixo do nível permitido ora estamos acima dele. Penso ser recorrente a simbologia da estrela com o espírito. Ao olharmos os astros no céu temos a impressão que estão bem perto, não estão imensuravelmente distantes. Ao continuar olhando o espaço sideral, em nosso inconsciente, não diferenciamos perceptivelmente o tempo do espaço. Parece que são a mesma coisa, estando no mesmo plano. Assim é o espírito que na sua infinitude acoplou-se na finitude humana sendo um guia em nossos momentos de escuridão. Levar presentes a nossa criança interior passa pela valorização do ser “in natura”, seu estado puro como substancia desarraigado da forma e característica mundana impregnada da sócio cultura moderna. Esse conceito de limpeza espiritual é trabalhado quando assumimos uma postura de desapego a dogmas, crenças e superstições. Chamando para nós a responsabilidade pelo crescimento rumo a uma experiência mística com o Espírito crístico em nossa alma. A criança é a origem onde tudo já existe. Esse conceito é da filosofia orienta, onde é mostrado que em nosso ser interior temos as resposta para todos os questionamento e caminhos para nos desvencilharmos  das coisas que trazem apegos: desejo, vontade e prazer acima do padrão saudável da vida. Como se estivéssemos todos grávidos, aqui podemos fazer um paralelo com o que a Juliana falou, introduzindo o trecho bíblico de Gálatas 4:19 “Meus filhinhos por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja gerado em vós”. Essa criança precisa ser formada em nosso interior em cada experiência humana e espiritual, simbolizando nossa mudança e transformação até a plenitude de Cristo. Inferimos que o verdadeiro proselitismo (discipulado) deve ser realizado conosco mesmo;  devemos formar Cristo em nós que é a esperança da glória é não necessariamente nos outros, pois todos os seres humanos tem Cristo como princípio, bastando ter consciência disso para aprender a gera-lo, transparecendo essa glória a outros. Nossa espirituosidade baseada em supostas verdades e conceitos exclusivistas fecham nossa mente e coração para aqueles que pensam e praticam conceitos diferentes dos nossos. Isso bloqueou nossa comunicação e sintonia em relação aos desiguais em termos de espiritualidade. Perdemos o rico acervo místico depositado em outras culturas e religiosidades. O resgate dos aspectos simples dito pela psicóloga começam, imagino, a partir do momento que conciliamos nossas diferenças com as divergências de noções e pressupostos contrários aos nossos. Esse conceito é um arquétipo da visita dos três reis magos ao menino Jesus, onde os astrólogos Melchior, Gaspar e Baltazar como símbolos do consciente coletivo representam as principais religiões monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. Todas de comum acordo em sintonia, se respeitando e proclamando a divindade suprema, em sua característica e peculiaridade própria com nomes diferentes como Jesus, Mohammad ou Messias, mas sendo o mesmo Espírito de Luz e revelação para o mundo.  Esse trabalho de interação e prolongamento da “verdade”, visto na revelação de outras culturas espirituais leva tempo, mas devemos ter isso em mente. Esta aproximação leva-nos a praticar a fraternidade, coerência e harmonia com os desiguais. Certos de que Cristo, Budha, Aláh e o Messias nascem diariamente em nossos corações nos trazendo felicidade e compaixão para com todos os seres humanos e não humanos.  Abraço. Davi.