Leiamos Mateus 10: 34-36, texto da Bíblia Sagrada Católica na versão Nova Tradução
na Linguagem de Hoje das Edições Paulinas. "Não pensem que vim trazer paz
ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada. Eu vim para por os filhos contra
os pais, as filhas contra as mães e as noras contra as sogras. E assim os
piores inimigos de uma pessoa serão os seus próprios parente". Essas
palavras foram ditas pelo Mestre Jesus num momento em que a fé cristã tomava forma como
ensinamento exotérico (revelado), mas precisava concretizar-se como pensamento
esotérico (oculto). Dai estranharmos, o tom incisivo e persuasivo chamando a
uma responsabilidade pessoal. O Mestre precisa de pessoas de confiança ao seu
lado, dispostas a serem iniciadas nos mistérios da Senda Espiritual, onde
existem restrições para prosseguir como é falado em Mateus 7: 13 "Entrai
pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que
conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a
porta e apertado o caminho que conduz a vida, e poucos há que os
encontrem". Os obstáculos visíveis e invisíveis, fortalecem o discípulo
iniciado a combater com coragem e determinação os inimigos que estão dentro
dele próprio. A porta espaçosa e o caminho largo representam a involução da Vida, um
regresso devido a um descompromisso daqueles que não percebem que somente a
revelação exterior é insuficiente para trilhar o caminho apertado que conduz a
Vida. A confiança vêm quando tomamos a posição de assumir um andar cadenciado e
ordeiro que manifesta nossa evolução espiritual, onde o preço da abnegação
pessoal trará a experiência dos mistérios ocultos somente encontrados quando
trilhamos pelo caminho estreito. Em Mateus 10: 16 "Escutem! Eu estou
mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos. Sejam espertos como as cobras
e sem maldades como as pombas". Esse capítulo 10 traz observações que o
discípulo deve perceber caminhando pela Senda Espiritual, e o primeiro ponto é
que nossa condição deve ser comparada a de uma ovelha. Um animal que singulariza
simplicidade e submissão, dois aspecto que trabalhados em nós serão importantes
para nossos relacionamentos com o próximo onde nossa condição deve expressar
mais a de um servo que a de um mestre. Lembrando que Thomas Hobbe (1588-1679)
disse "O homem é o lobo do homem". Nossa natureza desumana e viciosa
deseja "devorar" a nós mesmo e até o nosso próximo, isso quando praticamos
deméritos como mentiras, roubos, calúnias, falso testemunho e outros.
Precisamos aprender a amordaçar e segurar essa fera que vive em nós. Há
também uma natureza venenosa em nós e precisamos aplicar o antídoto para
impedir que esta peçonha maligna alcance o nosso semelhante. Sigmund Freud diz
“Os estados de possessão correspondem às nossas neuroses, para cuja explicação
mais uma vez recorremos aos poderes psíquicos. A nossos olhos, os demônios são
desejos maus e repreensíveis, derivados de impulso instintivos que foram
repudiados e reprimidos. Nós simplesmente eliminamos a projeção dessas
entidades mentais para o mundo externo, projeção esta que a Idade Média fazia;
em vez disso, encaramo-las como tendo surgido na vida interna do paciente, onde
têm sua morada. Freud (1856-1939) considerava que essa questão sobrenatural entre deuses e
demônios era um resultado da ambivalência do filho (a) para com o seu pai: o
filho (a) anseia pelo seu genitor, assim como tem medo de desafiá-lo. O pai da
psicanálise entendia que as representações mentais do demônio maligno,
constituíam-se exatamente a antítese de Deus, e que a entidade oposta estava
muito perto do Divino, em sua natureza. Uma coisa não se pode negar: é a de que
a guerra entre deuses e demônios vem se travando nas mentes dos religiosos
fundamentalistas desde épocas remotas. Com a descoberta do inconsciente ficou
claro que esses deuses e demônios que os antigos percebiam, nada mais são que
produtos da psique humana, traduzidos por eles como forças externas
personificadas do mal e do bem. A figura do capeta, diabo ou demônio, ainda
hoje, entre os fundamentalistas, é traduzida como potestades do ar que invadem
a mente humana para guerrear contra os deuses imaginários. É nesse grande palco
mental que o apóstolo Paulo denominou de “lugares celestial”, conforme Efésios
1:3, que se trava a imaginária luta entre as forças divinas e diabólicas. Nas
narrativas das Escrituras Sagradas os deuses se transformam em demônios maus
quando novos deuses os expulsavam. Quando determinado povo era conquistado por
outro, seus deuses caídos, não raramente, se transformavam em demônios
aos olhos dos conquistadores. Diz a história que nas épocas primitivas da
religião, o próprio Deus possuía todo os aspectos terrificantes que mais tarde
se combinariam para formar uma contraparte Dele. A psicanálise tornou-se
arqui-inimiga da religião, ao desvendar que é do porão obscuro (inconsciente)
do sectário, que se projetam os impulsos inaceitáveis de sua vida pregressa sob
a forma simbólica de demônios. Sendo assim, a religião parece funcionar como um
sistema repressivo que aparentemente protege o indivíduo das ameaças de suas
pulsões instintivas e agressivas, à custa do sacrifício do prazer. Pelo fato do
inconsciente ser percebido como algo além da vontade consciente, é que os
antigos atribuíam ao mundo sobrenatural do além, a origem dos seus demônios e
anjos internos”. http:///www.cpfg.blogspot.com.br. Freud até parece que entrou em contato com a filosofia budista, quando postula que anjos e demônio são representações mentais, um estado de não realidade e não vazio que está conceituado na doutrina da vacuidade. Aquilo que vemos e percebemos não necessariamente deve ser o objeto visualizado ou sentido. Por outro lado o vazio se manifesta nas formas e ideias que a princípio não são mensurados como imagens, mas quando transportadas para o mundo das percepções alcançam essa conotação imagética. Assim tudo seria um estado de consciência, que criando os objetos pelo inconsciente como um mundo invisível, mas colocado no universo pelos pensamentos, ideias e imagens vindas do inconsciente se materializam ou desmaterializam num mundo "real e irreal". Realmente são jogos de palavras difíceis de atingirmos uma compreensão racional, mas no fundo, a filosofia tanto budista quanto psicanalítica coincidem em muitos pontos, principalmente, em relação a consciência coletiva e sua representação individual no tempo passado, presente e futuro. Esse conceito foi mais desenvolvida com os trabalhos de Carl Gustav Jung (1875-1961). A vacina
eficiente, contra esses males do psiquismo humano, é praticarmos atos de justiça manifestados na fraternidade à favor
daqueles com quem convivemos. A pomba podemos pensar no aspecto de um olhar
fixo e interessado, para com aqueles que sofrem e precisam de uma ajuda
direta fazendo o bem sem esperar alguma recompensa, tirando de nosso coração
qualquer sentimento de barganha ou favorecimento, pois isso traz um carma
negativo pra nossas vidas. Mateus 10: 22 diz "Todos odiarão vocês por
serem meus seguidores. Mas quem ficar firme até o fim esse será salvo". O
ódio é um vício (pecado) que o iniciado na Senda Espiritual aprenderá que é
inerente a ele, mas situações virão onde este ódio será provado e as sucessivas
aprovações esvaziarão o ódio, transformando-o em uma expressão do amor Divino.
Esse é o desejo de Deus mudar nossa polaridade negativa, que (regride)
involuindo nosso ser, para uma polaridade positiva que desenvolve e expande
nossa Vida Espiritual. A salvação aqui é do ódio, ira e raiva que estão
latentes em nosso corpo físico e emocional, produzindo patologias e situações
emotivas estressantes, ansiosas, depressivas e as vezes compulsivas que são
tratadas, muitas vezes, com terapias e medicamentos. Uma ótima maneira de nos
desviarmos desses vícios é praticarmos a Meditação, sendo também um pressuposto
de reparação e retificação de carmas negativos, evoluindo nosso ser espiritual.
Nos capacitando a uma Vida equilibrada e conectada com todos os seres
sencientes; liberando energia positiva para aqueles que estão sofrendo, através
da compaixão e enternecimento. Também ajudando na evolução daqueles que estão
encarnados nos reinos inferiores da existência, pois nossa condição de doador
de amor e misericórdia possibilita que esses seres presos a roda do Samsara, como nós,
minimizem suas situações de disciplina e repreensão. Apressando assim o estágio à um reino de existência mais consistente, onde a consciência poderá
desenvolver conexões com reinos mais evoluídos. Há vários tipos de Meditação no
budismo e podemos escolher a que melhor nos adaptemos. Mas precisamos entender
que Meditar, não é apenas estar na posição em que o Budha chegou a Iluminação.
Nós ocidentais, temos enormes dificuldade em mantermos uma regularidade na
Meditação, mas precisamos ter paciência e perseverança nesse importante e decisivo aspecto espiritual. Dentre outros motivos, penso que, um deles é nossa crença e dogmatismo,
imaginando que toda atitude espiritual deve ter como objetivo à recompensa
exterior. Uma ideia que precisamos nos desvencilhar, advinda do cristianismo, quando estivermos em
Meditação ou em qualquer prática espiritual. Pra isso devemos valorizar todos
os seres, dispensando a eles nosso amor e paz. Reconhecendo que estamos
interligados e conectados um ao outro, todos sendo indispensáveis em nosso
processo de evolução para chegarmos ao Nirvana. Por isso esse amor Divino
é o verdadeiro antídoto, remédio, contra essas disfuncionalidades humanas que afligem nosso corpo e nossa alma.
Mateus 10: 26 fala "Não tenham medo de ninguém. Tudo o que está encoberto vai
ser descoberto e tudo o que está escondido será conhecido". A meu ver um
dos versículos mais importante deste capítulo, pois quando confrontamos esse
texto com Deuteronômio 29: 29 que diz: "As coisa encobertas pertencem ao
Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e nossos
filhos", ficamos confusos e concluímos que Deus têm mistérios que não são
acessíveis aos mortais. Mas o Mestre está dizendo exatamente o contrário que
para o discípulo que entra pela porta estreita e prossegue no caminho apertado
nenhum mistério lhe será ocultado, o Mestre deseja abrir completamente seu
coração para que todos os seus mistérios mais profundos estejam ao alcance do
seu amado discípulo e iniciado. O Mestre nos encoraja a entrarmos nos mistérios
ocultos do reino de Deus sem nenhum medo ou receio. Mas a pureza e santidade são requisitos imprescindíveis para se adentrar nesse portal, e nem todos estão dispostos a pagar esse preço. Haja vista que dos doze discípulos que conviviam com o Mestre, apenas três, Pedro, Tiago e João foram convidados a subir ao monte da transfiguração e contemplarem a encarnação de Moisés e Elias. Mateus 17:1-5 "Seis dias depois, tomou Jesus a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e o conduziu em particular a um alto monte. E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com eles. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui, se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias. E, estando ele ainda a fala, Eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu filho amado, em quem me comprazo; escutai-o. Aqui a fala do Mestre tem
supremacia sobre o que é dito na antiga aliança do Velho Testamento, representada por Moisés tipificando a lei, e Elias como arauto símbolo dos profetas. Esse texto de Mateus 17 têm semelhança com a iluminação do Budha, que em uma árvore conquistou a vitória sobre os inimigos terrenos, que eram a ilusão, as tentações dos apegos sentimentais enviadas pelo demônio Maya e sua perseverança em manter-se firme e compenetrado em sua estado de meditação. Assim alcançou a sabedoria do Nirvana e total libertação dos ciclos de nascimento, mortes e renascimento. O rosto do Mestre tornou-se parecido com o Sol, demonstrando que essa experiência mística e contemplativa o incluía como um Arhant ou Bodhisattva do povo Hebreu (judeu), encarnado como homem e não Deus. Os outros dois personagem, que estavam no monte, também passaram por circunstâncias semelhantes. No caso de Moisés no início de seu processo de iluminação, estava perante uma árvore, sarça, no deserto, que pegando jogo não se consumia. E uma voz de dentro dela dizia: tira a sandália de seus pés pois o lugar que pisas é santo. A morte de Moisés foi envolta em mistério, pois do alto de um monte avistando a terra de Canaã, morre, e no Novo Testamento, satanás e o arcanjo Miguel disputavam sobre seu o corpo. Elias também teve um contato direto com o Numinoso e transcendente representando, segundo uma possível leitura budista um Bodhisattva. No incidente com os profetas de baal, ele luta sozinho contra 400 deles. A questão colocada nesse evento era que o deus que respondesse com fogo, queimando o altar de holocausto seria o verdadeiro deus. Assim segundo as Escrituras Sagradas os profetas de Baal rogaram de manhã até tardinha para que o fogo caísse no altar, mas nada aconteceu. A partir daqui Elias, mandou que o altar fosse todo encharcado d'água, e cavado valas ao redor também sendo colocadas águas. Assim levantou suas preces e Deus fez com que o fogo caísse, e todo o holocausto foi consumido pelas chamas. Sua morte segundo consta na bíblia, provavelmente um alegoria com sentido oculto, foi singular, sendo levado aos céus por uma carruagem de fogo puxada por cavalos. Alguns eventos relatados nas Escrituras Cristãs são mitológicos carecendo de uma explicação simbólica para uma compreensão plausível, pois a literalidade apenas confunde produzindo crença e superstições, que enfraquecem o entendimento do leitor criando dogmas exclusivitas e inconciliáveis com opiniões discordantes. Mateus 10: 34 assim se expressa "Não
pensem que eu vim trazer paz ao mundo. não vim trazer paz mas espada" . O
filósofo judeu Baruc de Spinoza (1632-1677) disse "Paz não é ausência de
guerra, é uma virtude um estado mental, uma disposição para a benevolência,
confiança e justiça". Spinoza compartilha do mesmo sentimento do Mestre,
pois a espada, guerra, está latente, apenas esperando o momento para se
manifestar como um vulcão que aguarda pacientemente o instante para entrar em erupção, destruindo
tudo o que está a sua volta. Assim o Mestre quis mostrar que para não
permitirmos o aparecimento da espada, guerra, devemos desenvolver as virtudes
mentais; a benevolência para com o próximo, a compaixão em relação a todos os
seres humanos e não humanos, a justiça e a confiança numa igualdade
representada pela fraternidade universal. Mateus 10: 39 continua "Quem procura
os seus próprios interesses nunca terá a vida eterna, mas quem esquece a si
mesmo, porque é meu seguidor terá a vida verdadeira". A ideia
passada aqui é que a Vida eterna, não é necessariamente um lugar, um período de
tempo, mas uma condição baseada na motivação de altruísmo e abnegação. Assim,
nesse momento, no aqui e agora, podemos desfrutar da Vida eterna se praticamos
beatitudes e condescendência à todos aqueles que estão ao nosso redor e
derredor. Todo o desenrolar desse texto mostra que precisamos viver uma Vida de
amor e solidariedade para com o nosso próximo. Em nossa ignorância
discriminamos aqueles que não coincidem suas opiniões com as nossas, pois
imaginamos que nossas possíveis crenças são supra valores sendo irrefutáveis,
principalmente, quando confrontados com crenças que consideramos inferiores. O
Mestre nos revelou que o discípulo iniciado nos mistérios do reino de Deus
precisa aceitar o seu semelhante como ele é, sem querer modificá-lo com seus
dogmas, superstições e preconceitos. Sem coagi-lo, à que se adeque aos seus
hipotéticos valores. O ideal é que o discípulos se abstenha que qualquer crença
ou dogma que o diferencie de seu semelhante. Podendo assim ter transito livre
para relacionamentos saudável, e maior possibilidade de interação com todas as
correntes de ideias e opiniões, superando a fase dos preconceitos e
"verdades" que tanto dividem os homens. O esquecer a si mesmo é uma atitude altruísta de renúncia
as conjecturas pessoal, dando lugar ao dialogo e entendimento naquilo que é imprescindível,
recebendo também o acessório do outro. E com o tempo veremos que os assuntos
periféricos dos dois lados cimentarão os relacionamentos tornando-os agradáveis
e harmoniosos. Essa é a verdadeira Vida de que o Mestre fala aqui, tendo
preponderância sobre a Vida eterna, pois que sentido têm a eternidade se no
tempo finito, nesse mundo, não conseguimos unir-nos para viver em concordância
e conciliação. O Mestre deseja que estendamos a mão para todos aqueles de quem
discordamos de suas opiniões aprendendo a respeitá-los por aquilo que são
e por aquilo que eles pensam. Abraço. Davi.
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