segunda-feira, 18 de maio de 2015

Escolher a Paz e Rejeitar a Espada.



Leiamos Mateus 10: 34-36, texto da Bíblia Sagrada Católica na versão Nova Tradução na Linguagem de Hoje das Edições Paulinas. "Não pensem que vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada. Eu vim para por os filhos contra os pais, as filhas contra as mães e as noras contra as sogras. E assim os piores inimigos de uma pessoa serão os seus próprios parente". Essas palavras foram ditas pelo Mestre Jesus num momento em que a fé cristã tomava forma como ensinamento exotérico (revelado), mas precisava concretizar-se como pensamento esotérico (oculto). Dai estranharmos, o tom incisivo e persuasivo chamando a uma responsabilidade pessoal. O Mestre precisa de pessoas de confiança ao seu lado, dispostas a serem iniciadas nos mistérios da Senda Espiritual, onde existem restrições para prosseguir como é falado em Mateus 7: 13 "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso  o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz a vida, e poucos há que os encontrem". Os obstáculos visíveis e invisíveis, fortalecem o discípulo iniciado a combater com coragem e determinação os inimigos que estão dentro dele próprio. A porta espaçosa e o caminho largo representam a involução da Vida, um regresso devido a um descompromisso daqueles que não percebem que somente a revelação exterior é insuficiente para trilhar o caminho apertado que conduz a Vida. A confiança vêm quando tomamos a posição de assumir um andar cadenciado e ordeiro que manifesta nossa evolução espiritual, onde o preço da abnegação pessoal trará a experiência dos mistérios ocultos somente encontrados quando trilhamos pelo caminho estreito. Em Mateus 10: 16 "Escutem! Eu estou mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos. Sejam espertos como as cobras e sem maldades como as pombas". Esse capítulo 10 traz observações que o discípulo deve perceber caminhando pela Senda Espiritual, e o primeiro ponto é que nossa condição deve ser comparada a de uma ovelha. Um animal que singulariza simplicidade e submissão, dois aspecto que trabalhados em nós serão importantes para nossos relacionamentos com o próximo onde nossa condição deve expressar mais a de um servo que a de um mestre. Lembrando que Thomas Hobbe (1588-1679) disse "O homem é o lobo do homem". Nossa natureza desumana e viciosa deseja "devorar" a nós mesmo e até o nosso próximo, isso quando praticamos deméritos como mentiras, roubos, calúnias, falso testemunho e outros. Precisamos  aprender a amordaçar e segurar essa fera que vive em nós. Há também uma natureza venenosa em nós e precisamos aplicar o antídoto para impedir que esta peçonha maligna alcance o nosso semelhante. Sigmund Freud diz “Os estados de possessão correspondem às nossas neuroses, para cuja explicação mais uma vez recorremos aos poderes psíquicos. A nossos olhos, os demônios são desejos maus e repreensíveis, derivados de impulso instintivos que foram repudiados e reprimidos. Nós simplesmente eliminamos a projeção dessas entidades mentais para o mundo externo, projeção esta que a Idade Média fazia; em vez disso, encaramo-las como tendo surgido na vida interna do paciente, onde têm sua morada. Freud (1856-1939) considerava que essa questão sobrenatural entre deuses e demônios era um resultado da ambivalência do filho (a) para com o seu pai: o filho (a) anseia pelo seu genitor, assim como tem medo de desafiá-lo. O pai da psicanálise entendia que as representações mentais do demônio maligno, constituíam-se exatamente a antítese de Deus, e que a entidade oposta estava muito perto do Divino, em sua natureza. Uma coisa não se pode negar: é a de que a guerra entre deuses e demônios vem se travando nas mentes dos religiosos fundamentalistas desde épocas remotas. Com a descoberta do inconsciente ficou claro que esses deuses e demônios que os antigos percebiam, nada mais são que produtos da psique humana, traduzidos por eles como forças externas personificadas do mal e do bem. A figura do capeta, diabo ou demônio, ainda hoje, entre os fundamentalistas, é traduzida como potestades do ar que invadem a mente humana para guerrear contra os deuses imaginários. É nesse grande palco mental que o apóstolo Paulo denominou de “lugares celestial”, conforme Efésios 1:3, que se trava a imaginária luta entre as forças divinas e diabólicas. Nas narrativas das Escrituras Sagradas os deuses se transformam em demônios maus quando novos deuses os expulsavam. Quando determinado povo era conquistado por outro, seus deuses caídos, não raramente, se transformavam em demônios  aos olhos dos conquistadores. Diz a história que nas épocas primitivas da religião, o próprio Deus possuía todo os aspectos terrificantes que mais tarde se combinariam para formar uma contraparte Dele. A psicanálise tornou-se arqui-inimiga da religião, ao desvendar que é do porão obscuro (inconsciente) do sectário, que se projetam os impulsos inaceitáveis de sua vida pregressa sob a forma simbólica de demônios. Sendo assim, a religião parece funcionar como um sistema repressivo que aparentemente protege o indivíduo das ameaças de suas pulsões instintivas e agressivas, à custa do sacrifício do prazer. Pelo fato do inconsciente ser percebido como algo além da vontade consciente, é que os antigos atribuíam ao mundo sobrenatural do além, a origem dos seus demônios e anjos internos”. http:///www.cpfg.blogspot.com.br. Freud até parece que entrou em contato com a filosofia budista, quando postula que anjos e demônio são representações mentais, um estado de não realidade e não vazio que está conceituado na doutrina da vacuidade. Aquilo que vemos e percebemos não necessariamente deve ser o objeto visualizado ou sentido. Por outro lado o vazio se manifesta nas formas e ideias que a princípio não são mensurados como imagens, mas quando transportadas para o mundo das percepções alcançam essa conotação imagética. Assim tudo seria um estado de consciência, que criando os objetos pelo inconsciente como um mundo invisível, mas colocado no universo pelos pensamentos, ideias e imagens vindas do inconsciente se materializam ou desmaterializam num mundo "real e irreal". Realmente são jogos de palavras difíceis de atingirmos uma compreensão racional, mas no fundo, a filosofia tanto budista quanto psicanalítica coincidem em muitos pontos, principalmente, em relação a consciência coletiva e sua representação individual no tempo passado, presente e futuro. Esse conceito foi mais desenvolvida com os trabalhos de Carl Gustav Jung (1875-1961).  A vacina eficiente, contra esses males do psiquismo humano, é praticarmos atos de justiça manifestados na fraternidade à favor daqueles com quem convivemos. A pomba podemos pensar no aspecto de um olhar fixo e interessado, para com aqueles que sofrem e precisam de uma ajuda direta fazendo o bem sem esperar alguma recompensa, tirando de nosso coração qualquer sentimento de barganha ou favorecimento, pois isso traz um carma negativo pra nossas vidas. Mateus 10: 22 diz "Todos odiarão vocês por serem meus seguidores. Mas quem ficar firme até o fim esse será salvo". O ódio é um vício (pecado) que o iniciado na Senda Espiritual aprenderá que é inerente a ele, mas situações virão onde este ódio será provado e as sucessivas aprovações esvaziarão o ódio, transformando-o em uma expressão do amor Divino. Esse é o desejo de Deus mudar nossa polaridade negativa, que (regride) involuindo nosso ser, para uma polaridade positiva que desenvolve e expande nossa Vida Espiritual. A salvação aqui é do ódio, ira e raiva que estão latentes em nosso corpo físico e emocional, produzindo patologias e situações emotivas estressantes, ansiosas, depressivas e as vezes compulsivas que são tratadas, muitas vezes, com terapias e medicamentos. Uma ótima maneira de nos desviarmos desses vícios é praticarmos a Meditação, sendo também um pressuposto de reparação e retificação de carmas negativos, evoluindo nosso ser espiritual. Nos capacitando a uma Vida equilibrada e conectada com todos os seres sencientes; liberando energia positiva para aqueles que estão sofrendo, através da compaixão e enternecimento. Também ajudando na evolução daqueles que estão encarnados nos reinos inferiores da existência, pois nossa condição de doador de amor e misericórdia possibilita que esses seres presos a roda do Samsara, como nós, minimizem suas situações de disciplina e repreensão. Apressando assim o estágio à um reino de existência mais consistente, onde a consciência poderá desenvolver conexões com reinos mais evoluídos. Há vários tipos de Meditação no budismo e podemos escolher a que melhor nos adaptemos. Mas precisamos entender que Meditar, não é apenas estar na posição em que o Budha chegou a Iluminação. Nós ocidentais, temos enormes dificuldade em mantermos uma regularidade na Meditação, mas precisamos ter paciência e perseverança nesse importante e decisivo aspecto espiritual. Dentre outros motivos, penso que, um deles é nossa crença e dogmatismo, imaginando que toda atitude espiritual deve ter como objetivo à recompensa exterior. Uma ideia que precisamos nos desvencilhar, advinda do cristianismo, quando estivermos em Meditação ou em qualquer prática espiritual. Pra isso devemos valorizar todos os seres, dispensando a eles nosso amor e paz. Reconhecendo que estamos interligados e conectados um ao outro, todos sendo indispensáveis em nosso processo de evolução para chegarmos ao Nirvana. Por isso esse amor Divino é o verdadeiro antídoto, remédio, contra essas disfuncionalidades humanas que afligem nosso corpo e nossa alma. Mateus 10: 26 fala "Não tenham medo de ninguém. Tudo o que está encoberto vai ser descoberto e tudo o que está escondido será conhecido". A meu ver um dos versículos mais importante deste capítulo, pois quando confrontamos esse texto com Deuteronômio 29: 29 que diz: "As coisa encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e nossos filhos", ficamos confusos e concluímos que Deus têm mistérios que não são acessíveis aos mortais. Mas o Mestre está dizendo exatamente o contrário que para o discípulo que entra pela porta estreita e prossegue no caminho apertado nenhum mistério lhe será ocultado, o Mestre deseja abrir completamente seu coração para que todos os seus mistérios mais profundos estejam ao alcance do seu amado discípulo e iniciado. O Mestre nos encoraja a entrarmos nos mistérios ocultos do reino de Deus sem nenhum medo ou receio. Mas a pureza e santidade são requisitos imprescindíveis para se adentrar nesse portal, e nem todos estão dispostos a pagar esse preço. Haja vista que dos doze discípulos que conviviam com o Mestre, apenas três, Pedro, Tiago e João foram convidados a subir ao monte da transfiguração e contemplarem a encarnação de Moisés e Elias. Mateus 17:1-5 "Seis dias depois, tomou Jesus a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e o conduziu em particular a um alto monte. E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com eles. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui, se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias. E, estando ele ainda a fala, Eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu filho amado, em quem me comprazo; escutai-o. Aqui a fala do Mestre tem supremacia sobre o que é dito na antiga aliança do Velho Testamento, representada por Moisés tipificando a lei, e Elias como arauto símbolo dos profetas. Esse texto de Mateus 17 têm semelhança com a iluminação do Budha, que em uma árvore conquistou a vitória sobre os inimigos terrenos, que eram a ilusão, as tentações dos apegos sentimentais enviadas pelo demônio Maya e sua perseverança em manter-se firme e compenetrado em sua estado de meditação. Assim alcançou a sabedoria do Nirvana e total libertação dos ciclos de nascimento, mortes e renascimento. O rosto do Mestre tornou-se parecido com o Sol, demonstrando que essa experiência mística e contemplativa o incluía como um Arhant ou Bodhisattva do povo Hebreu (judeu), encarnado como homem e não Deus. Os outros dois personagem, que estavam no monte, também passaram por circunstâncias semelhantes. No caso de Moisés no início de seu processo de iluminação, estava perante uma árvore, sarça, no deserto, que pegando jogo não se consumia. E uma voz de dentro dela dizia: tira a sandália de seus pés pois o lugar que pisas é santo. A morte de Moisés foi envolta em mistério, pois do alto de um monte avistando a terra de Canaã, morre, e no Novo Testamento, satanás e o arcanjo Miguel disputavam sobre seu o corpo.  Elias também teve um contato direto com o Numinoso e transcendente representando, segundo uma possível leitura budista um Bodhisattva. No incidente com os profetas de baal, ele luta sozinho contra 400 deles. A questão colocada nesse evento era que o deus que respondesse com fogo, queimando o altar de holocausto seria o verdadeiro deus. Assim segundo as Escrituras Sagradas os profetas de Baal rogaram de manhã até tardinha para que o fogo caísse no altar, mas nada aconteceu. A partir daqui Elias, mandou que o altar fosse todo encharcado d'água, e cavado valas ao redor também sendo colocadas águas. Assim levantou suas preces e Deus fez com que o fogo caísse, e todo o holocausto foi consumido pelas chamas. Sua morte segundo consta na bíblia, provavelmente um alegoria com sentido oculto, foi singular, sendo levado aos céus por uma carruagem de fogo  puxada por cavalos. Alguns eventos relatados nas Escrituras Cristãs são mitológicos carecendo de uma explicação simbólica para uma compreensão plausível, pois a literalidade apenas confunde produzindo crença e superstições, que enfraquecem o entendimento do leitor criando dogmas exclusivitas e inconciliáveis com opiniões discordantes. Mateus 10: 34 assim se expressa "Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. não vim trazer paz mas espada" . O filósofo judeu Baruc de Spinoza (1632-1677) disse "Paz não é ausência de guerra, é uma virtude um estado mental, uma disposição para a benevolência, confiança e justiça". Spinoza compartilha do mesmo sentimento do Mestre, pois a espada, guerra, está latente, apenas esperando o momento para se manifestar como um vulcão que aguarda pacientemente o instante para entrar em erupção, destruindo tudo o que está a sua volta. Assim o Mestre quis mostrar que para não permitirmos o aparecimento da espada, guerra, devemos desenvolver as virtudes mentais; a benevolência para com o próximo, a compaixão em relação a todos os seres humanos e não humanos, a justiça e a confiança numa igualdade representada pela fraternidade universal. Mateus 10: 39 continua "Quem procura os seus próprios interesses nunca terá a vida eterna, mas quem esquece a si mesmo, porque é meu seguidor  terá a vida verdadeira". A ideia passada aqui é que a Vida eterna, não é necessariamente um lugar, um período de tempo, mas uma condição baseada na motivação de altruísmo e abnegação. Assim, nesse momento, no aqui e agora, podemos desfrutar da Vida eterna se praticamos beatitudes e condescendência à todos aqueles que estão ao nosso redor e derredor. Todo o desenrolar desse texto mostra que precisamos viver uma Vida de amor e solidariedade para com o nosso próximo. Em nossa ignorância discriminamos aqueles que não coincidem suas opiniões com as nossas, pois imaginamos que nossas possíveis crenças são supra valores sendo irrefutáveis, principalmente, quando confrontados com crenças que consideramos inferiores. O Mestre nos revelou que o discípulo iniciado nos mistérios do reino de Deus precisa aceitar o seu semelhante como ele é, sem querer modificá-lo com seus dogmas, superstições e preconceitos. Sem coagi-lo, à que se adeque aos seus hipotéticos valores. O ideal é que o discípulos se abstenha que qualquer crença ou dogma que o diferencie de seu semelhante. Podendo assim ter transito livre para relacionamentos saudável, e maior possibilidade de interação com todas as correntes de ideias e opiniões, superando a fase dos preconceitos e "verdades" que tanto dividem os homens. O esquecer a si mesmo é uma atitude altruísta de renúncia as conjecturas pessoal, dando lugar ao dialogo e entendimento naquilo que é imprescindível, recebendo também o acessório do outro. E com o tempo veremos que os assuntos periféricos dos dois lados cimentarão os relacionamentos tornando-os agradáveis e harmoniosos. Essa é a verdadeira Vida de que o Mestre fala aqui, tendo preponderância sobre a Vida eterna, pois que sentido têm a eternidade se no tempo finito, nesse mundo, não conseguimos unir-nos para viver em concordância e conciliação. O Mestre deseja que estendamos a mão para todos aqueles de quem discordamos de suas opiniões aprendendo a respeitá-los por aquilo que são e  por aquilo que eles pensam. Abraço. Davi.

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