segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

OS ORIXÁS - OGUM

 

Religião Afro-brasileira. Candomblé e Umbanda. www.brasilescola.uol.com.br. Por Rainer Sousa. OS ORIXÁS. "A chegada dos escravos africanos ao Brasil foi responsável pela consolidação de uma nova experiência religiosa em nosso território. Contudo, ao contrário do que muitos chegam a imaginar, não podemos supor que esse movimento simplesmente instalou a mesma lógica e as mesmas divindades cultuadas no território africano. Ao mesmo tempo em que alguns deuses ficaram para trás, outros foram criados para compor uma experiência singular. Desse vasto panteão de divindades, os orixás se tornaram os mais conhecidos entre os praticantes e não praticantes das religiões de origem e influência africana. Segundo os ensinamentos do candomblé, todas as pessoas são filhas de orixás. Para que seja possível determinar a quais orixás um indivíduo pertence, ele precisa recorrer aos saberes oferecidos pelo jogo de búzios. O jogo de búzios consiste basicamente no lançamento de dezesseis conchas, também conhecidas como cauris, em uma peneira. O pai de santo é o único capaz de realizar o lançamento das conchas e realizar a correta leitura da posição de cada búzio. Além do jogo, os praticantes do candomblé também associam a pessoa ao seu orixá através das características físicas e psicológicas do praticante. Segundo a crença, cada pessoa recebe a influência de dois orixás principais. O primeiro é conhecido como o “orixá da frente” e o segundo como o “orixá de trás”, “segundo santo” ou “jutó”. Esse casal de divindades promove a proteção de seu seguidor e são reverenciados pelo pai de santo quando, este, toca a testa, para o orixá da frente, e a nuca para o orixá de trás. Além dessas duas divindades, uma pessoa pode incorporar a proteção de outros deuses, completando o número máximo de sete orixás." "No conjunto das religiões afro-brasileiras, os orixás podem assumir diferentes nomenclaturas segundo a crença que o adota. Na umbanda, os orixás não são diretamente incorporados pelas pessoas com aptidões mediúnicas. Geralmente, o orixá envia um representante, o falangeiro, que tem a função de repassar as ordens e orientações do orixá que o domina. Entre os mais conhecidos orixás podemos destacar as figuras de Exu, orixá mensageiro sem o qual nenhuma transformação acontece: Ogum, divindade que está correntemente associada às guerras e à agricultura. Oxossi, reconhecido como irmão de Ogum e associado à caça e proteção. Além disso, podemos destacar Omulu, poderosa divindade responsável pelos poderes de cura e doença. Xangô, senhor dos raios e trovões, Iemanjá, a mãe de todos os orixás. E Oxalá, o grande orixá da criação”.

 

OGUM. "Ogum é um orixá costumeiramente associado à guerra e ao fogo. Sendo geralmente representado sob a figura de um guerreiro, Ogum estabelece um arquétipo de luta e conquista aos que se dedicam à sua adoração. Seu grau de importância é tamanho, pois ele é o orixá que possui maior proximidade com os seres humanos depois de Exu. Conhecedor de segredos, ele sabe muito bem como fabricar os instrumentos necessários para a batalha e para o trabalho com a terra. Por conta dessas habilidades, observamos que as várias representações dessa divindade costumam colocá-lo empunhando uma espada, uma enxada ou uma pá. De acordo com a mitologia africana, Ogum era filho do rei Odudua, fundador da cidade de Ifé. Apesar de viver os privilégios de um príncipe, Ogum era uma figura bastante inquieta e gostava muito de representar seu pai nas lutas pela conquista de novos territórios. Logo assim, ele se tornou uma divindade que inspira a constante tomada de atitudes. Nas várias descrições que tentam falar sobre Ogum, percebemos que, o mesmo, aglomera um claro universo de comportamentos impulsivos e, ao mesmo tempo, pragmáticos. Ao mesmo tempo em que luta com bravura e se entrega ao amor intensamente, Ogum também é bastante reconhecido pelo seu gosto pela presença dos amigos e a alegria de viver. Apesar de ser tão temperamental como seu irmão, o orixá Exu, este não possui a mesma sagacidade e malícia. As oferendas dedicadas a Ogum são costumeiramente organizadas durante as terças-feiras, dia em que é feita sua consagração. Praticamente todas as danças que evocam a figura deste orixá são marcadas por gestos de luta. Além disso, os alimentos que são elaborados para suas oferendas não possuem uma preparação muito complexa. No ritual jeje, Ogum é equivalente ao vodum Doçu. Já entre os praticantes do rito angola, esse mesmo orixá é conhecido como Roxo Mucumbe ou Incoce. Em terras brasileiras, Ogum acabou sendo facilmente associado à história dos vários santos guerreiros que integram o cristianismo. Nessa situação sincrética, acabou sendo relacionado à imagem de São Jorge, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Essa aproximação pode ser historicamente reconhecida na Guerra do Paraguai, quando vários negros participantes do conflito professaram que a vitória na Batalha de Humaitá teria sido fruto da proteção do santo que simbolizava o orixá. www.brasilescola.uol.com.br. Abraço. Davi

 

Questionário – ORIXÁ

1.A que é atribuído a chegada dos escravos africanos ao Brasil?  A responsabilização pela consolidação de uma nova experiência religiosa em nosso território. 2.O que não podemos supor quanto a esse deslocamento de povos? Que essa “emigração” simplesmente instalou a mesma lógica e as mesmas divindades cultuadas no território africano. 3.O que realmente aconteceu nessa transposição? Ao mesmo tempo em que alguns deuses ficaram para trás, outros foram criados para compor uma experiência singular. 4.Desse vasto panteão de divindades quais são os mais conhecidos? Os Orixás. 5.Quais são as principais religiões de origem e influência africana dentre as quais os orixás são conhecidos? A Umbanda e o Candomblé. 6.O que diz o candomblé quanto a influência dos orixás? Todas as pessoas são filhas de orixás. 7.Como é possível determinar a qual Orixá um indivíduo pertence? Ele precisa recorrer aos saberes oferecidos pelo jogo de búzios. 8.Em que consiste o jogo de búzios? Basicamente no lançamento de dezesseis conchas, também conhecidas como cauris, em uma peneira. 9.Quem é o único capaz de arremessar as conchas e determinar a correta leitura da posição de cada búzio. O Pai de Santo. 10.Que outro aspecto determina o Orixá do indivíduo? No candomblé também associam as características físicas e psicológicas do praticante. 11.O que diz mais a crença nesse sentido? Cada pessoa recebe a influência de dois Orixás. 12.Como é conhecido o primeiro Orixá? O de frente. 13.E o segundo Orixá? O de trás. 14.Além destas duas divindades o que ocorre igualmente? Uma pessoa pode incorporar a proteção de outros deuses, completando o número máximo de sete Orixás. 15.O que podem assumir os Orixás no conjunto das religiões Afro-brasileiras? Diferentes nomenclaturas segundo a crença que o adota. 16.Como ocorre o amálgama dos Orixás na Umbanda? São diretamente incorporados pelas pessoas com aptidões mediúnicas. 17.O que geralmente sobrevêm quanto a este aspecto? O Orixá envia um representante, chamado de falangeiro, que tem a função de repassar as ordens e orientações do Orixá que o domina. 18.Qual é a função básica da figura de Exu? Orixá mensageiro sem o qual nenhuma transformação acontece. 19.A divindade Ogum está associada a quê? Ligada a guerra e a agricultura. 20.Reconhecido como irmão de Ogum, o Orixá Oxossi, tem qual função? A caça e proteção. 21.Qual a divindade responsável pelos poderes de cura e doença? Omolu. 22.Quem é o senhor dos raios e trovões? A divindade Xangó. 23.A mãe de todos os Orixás, qual seu nome? Iemenjá. 24.O grande Orixá da criação é? Oxalá. 25. O que significa o termo substantivo Orixá? “A luz que se revela”, ou seja, no princípio da criação, DEUS, manifestou sua intenção. E sua intenção são os Orixás, denominados divindades. E esses em termos africanizados, significa “ori” – cabeça e “xá” – iluminação. Então temos: “cabeças iluminadas ou espíritos iluminados”. 26.Qual a definição de Falangeiro? Termo próprio da religião Umbanda – mensageiro de Orixá.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

A FONTE FUNDAMENTAL DO SUCESSO

 

Budismo. Livro A Vida de Compaixão. Autor Tenzin Gyatso. O Décimo Quarto Dalai-Lama. Capítulo IC. A FONTE FUNDAMENTAL DO SUCESSO. Como seres humanos, temos o potencial para sermos pessoas felizes e compassivas. Também para sermos infelizes e prejudiciais para os outros. O potencial para todas essas coisas está sempre presente em nós. Se quisermos ser felizes, então o importante é tentar estimular os aspectos positivos e úteis em cada um de nós e tentar reduzir os aspectos negativos. Fazer coisas negativas, como roubar e mentir, pode às vezes parecer proporcionar um tipo de satisfação a curto prazo, mas a longo prazo elas sempre nos trarão tristezas. Ações positivas sempre nos trarão força interior. Com ela, temos menos medo e mais autoestima, tornando-se muito mais fácil estender nossos sentimentos de afeição aos outros sem barreiras. Sejam elas religiosas, culturais ou de qualquer outro tipo. Assim, é muito importante reconhecer nosso potencial tanto para o bem quanto para o mal. Em seguida observá-lo e analisá-lo cuidadosamente. Isso é o que chamo de promoção do valor humano. Minha principal preocupação é sempre como promover uma compreensão do valor humano mais profundo. Esse valor humano mais profundo é a compaixão, o sentimento de afeição e o compromisso. Não importa qual seja sua religião, ou se você é crente ou não, sem eles não consegue ser feliz. Vamos examinar a utilidade da compaixão e de um bom coração na vida cotidiana. Se estivermos de bom humor ao acordar, se houver um sentimento generoso dentro de nós. Automaticamente nossa porta interior está aberta para aquele dia. Mesmo que encontremos uma pessoa agradável, não ficaremos muito perturbados e poderemos até conseguir dizer algo simpático para essa pessoa. Poderemos conversar com ela, ainda que não seja tão agradável e talvez até ter uma conversa significativa. Quando criamos uma atmosfera agradável e positiva, isso automaticamente ajuda a reduzir o medo e a insegurança. Desse modo podemos fazer mais amigos e criar mais sorrisos com facilidade. Mas no dia em que nosso humor estiver menos positivo e nos sentindo irritados, automaticamente nossa porta interior se fecha. O resultado disso é que, mesmo que encontremos nosso melhor amigo, sentimo-nos pouco à vontade e tensos. Esses exemplos mostram como nossa atitude interior faz muita diferença em nossas experiências diárias. Para criar uma atmosfera agradável dentro de nós mesmos, dentro de nossas famílias, dentro de nossa comunidade. Precisamos nos dar conta de que a fonte fundamental dessa atmosfera está dentro do indivíduo, de cada um de nós – bom coração, compaixão humana e amor. A compaixão não tem apenas benefícios mentais, contribui também para a saúde física. Segundo a medicina contemporânea, assim com em minha experiência pessoal. A estabilidade mental e o bem-estar físico estão diretamente relacionados. Não há dúvida de que a raiva e a agitação nos tornam mais suscetíveis às doenças. Por outro lado, se a mente estiver tranquila e ocupada com pensamentos positivos. O corpo não sucumbirá a doença com facilidade. Isso mostra que o corpo físico em si aprecia e reage à afeição humana, à paz de espírito humana. Outra coisa que me parece bastante clara é que, no instante em que você pensa apenas em si mesmo. O foco de toda a sua realidade se restringe, e por causa desse foco, mais restritos coisas desagradáveis podem parecer enormes e causar medo, desconforto e uma sensação de estar soterrado pela tristeza. Entretanto, no instante em que você pensa nos outros com um sentimento de afeição, sua visão se amplia. Nessa perspectiva mais ampla, seus próprios problemas parecem ter pouco significado, e isso faz uma grande diferença. Se você tiver um sentimento de afeição em relação aos outros vai, manifestar uma espécie de força interior apesar de suas próprias dificuldades e problemas. Com essa força, seus próprios problemas parecerão menos importantes e incômodos para você. Ao ir além de seus próprios problemas e cuidar dos outros, você ganha força interior, autoestima, coragem e uma maior sensação de calma. Esse é um exemplo claro de como o modo de pensar realmente pode fazer diferença. A realização dos interesses próprios e desejos de alguém é um subproduto de um verdadeiro trabalho em prol de outros seres sencientes, ou seja, que sentem. Como assinala o renomado mestre do século XV Tsongkhapa, em sua obra Grandes Exposição do Caminho da Iluminação “Quanto mais o praticante desenvolve atividades e pensamentos que estejam focalizados e dirigidos para a realização do bem-estar dos outros. O preenchimento ou a realização e suas próprias aspirações virá como consequência. Sem que ele precise fazer um esforço separado”. Alguns de vocês podem já ter me ouvido observar, coisa que faço com bastante frequência. Que em certo sentido os bodisatvas, os praticantes compassivos do caminho budista, são pessoas “sabiamente egoístas”. Enquanto pessoas como nós somos “totalmente egoístas”. Pensamos em nós mesmos e não consideramos os outros, e o resultado é que permanecemos infelizes e temos uma vida triste. Outros benefícios do altruísmo e de um bom coração podem não ser tão evidentes para nós. Um dos objetivos da prática budista é obter um nascimento favorável em nossa próxima vida. Objetivo que só pode ser alcançado evitando-se cometer atos que sejam prejudiciais aos outros. Assim, mesmo no contexto de tal objetivo, vemos que o altruísmo e o bom coração estão em sua origem. Também está muito claro que, para um bodisatva conseguir alcançar a prática das seis perfeições: Generosidade, Disciplina Ética, Tolerância, Esforço Entusiasta, Concentração e Sabedoria. A cooperação e a gentileza em relação a seus semelhantes são extremamente importantes. Vemos, portanto, que a gentileza e um bom coração formam a base de nosso sucesso nesta vida. De nosso progresso no caminho espiritual e da realização de nossa aspiração fundamental: a obtenção da iluminação completa. Por isso, a compaixão e um bom coração não são apenas importantes no início, mas também no meio e no fim. Sua necessidade e seu valor não se limitam a nenhum momento, lugar, sociedade ou cultura específicos. Assim, não apenas precisamos de compaixão e afeição humana para sobreviver. Mas elas são as fontes fundamentais de nosso sucesso na vida. Maneiras egoístas de pensar não apenas prejudicam os outros como impedem a própria felicidade que desejamos. Chegou a hora de pensar com mais sensatez, não? É nisso que acredito. Livro A Vida de Compaixão. Abraço. Davi

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

SONHOS

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. SONHOS. Os sonhos vêm fascinando os homens ao longo da História. Tornaram-se símbolos de esperança de um futuro melhor, inspiraram místicos e poetas, cientistas e filósofos. E, desde as mais remotas épocas, o homem tem procurado entender as mensagens E significados desses fenômenos intrigantes, envoltos em mistério. Os sonhos vêm fascinando os homens ao longo da História. Tornaram-se símbolos de esperança de um futuro melhor, inspiraram místicos e poetas, cientistas e filósofos. E, desde as mais remotas épocas, o homem tem procurado entender as mensagens E significados desses fenômenos intrigantes, envoltos em mistério. O que tem variado, ao longo do tempo, é a importância que lhes é atribuída e a compreensão que se tem dos mesmos. No judaísmo, sempre tiveram um papel importante. Para os profetas da Torá, prediziam o futuro, trazendo advertências e mensagens Divinas. Para o Talmud, os sonhos são um meio de comunicação entre o Divino e os homens. O Zohar leva este conceito mais adiante, afirmando que num mundo onde não há mais profetas, a Sabedoria Divina pode vir a ser revelada através dos sonhos. Numa visão mais terrena, mais concreta, são vistos como a chave para uma auto avaliação pessoal pois, ainda segundo o Livro do Esplendor - o Zohar, já citado, tem o potencial de nos auxiliar em nosso cotidiano. Mas, alertam nossos sábios, nem todos os sonhos são mensagens e nem todas as mensagens são verdadeiras. Por isso, antes de adentrar neste mundo e na riqueza de suas interpretações, precisamos de muita cautela e uma certa desconfiança. A própria Torá nos exorta a ficar longe de quem usa os sonhos como presságios, bem como daqueles que afirmam ver a presença Divina em seus sonhos, usando tal argumento como "prova" para apregoar que D'us os teria investido de algum tipo de autoridade. NA HISTÓRIA. As culturas antigas os consideravam portadores de importantes mensagens. Diziam que seus ancestrais e deuses se comunicavam através dos sonhos. Mas, a partir da Era Moderna, do cientificismo, o homem ocidental abandonou a idéia de que os sonhos podiam ter algum significado e suas interpretações passaram a ser vistas como meras superstições. Quando Sigmund Freud (1856-1939) começou a pesquisar a literatura médica de sua época em busca de informações sobre os sonhos, descobriu que pouco havia sobre o tema. Em 1899, ao publicar "A interpretação dos sonhos", foi ridicularizado por seus pares e sua teoria de que continham significados foi considerada absurda, durante vários anos. Hoje, a ciência moderna, principalmente a psicologia, vê os sonhos como poderosa ferramenta para aperfeiçoar o bem-estar emocional e físico do homem. Afinal, o sono e a produção da mente humana durante esse período desempenham um papel vital em nossa vida, pois passamos um terço da mesma dormindo e, durante o sono, sonhamos em um quarto desse tempo. A ciência caminhou bastante no conhecimento dos mecanismos do sono e seus ciclos. Sabemos que nele há duas fases: A primeira, chamada NREM - em português, Não-REM, de Non-Rapid Eye Movement, movimentos oculares não rápidos - que ocupa 75% do tempo que dormimos. Nesta fase, a pressão sanguínea e o batimento cardíaco decrescem e o cansaço físico é eliminado. A segunda, a fase REM, de movimentos rápidos dos olhos, ocupa os restantes 25%. Esta fase é a base de nossa recuperação psíquica e é nela que ocorrem os sonhos. Após a ciência ter estabelecido que todo homem sonha, cientistas e psicólogos vêm tentando explicar a razão e o mecanismo que nos fazem sonhar. Várias são as teorias sobre o assunto. Umas afirmam que sonhar nos permite processar as experiências de nosso cotidiano; outras que os sonhos podem, de forma simbólica e em linguagem própria, revelar questões de nossa personalidade que precisam ser trabalhadas, além de apresentar soluções para os problemas do cotidiano e regular emoções internas. De forma simplista, os sonhos são "avisos" de que algo precisa ser feito. Outra linha de pensamento os vê como uma forma de acessar nosso inconsciente coletivo. Numa visão mais biológica, o sonhar permite ao sistema nervoso livrar-se de memórias "desnecessárias" e, ao fazê-lo, estimula a mente. O judaísmo leva muito a sério este assunto, sendo surpreendente a quantidade de referências que há sobre o fenômeno, na Torá, no Talmud, noMidrash, assim como em obras filosóficas, códigos de leis judaicas e especialmente na Cabalá e na Chassidut. Nestas e em outras obras, os sábios discutem e tentam responder a perguntas do tipo "como e por quê sonhamos"; "como e quem pode interpretar um sonho"; "qual a importância que se deve atribuir aos sonhos", se é que se deve. E, finalmente, "o que fazer quando ficarmos perturbados por um sonho negativo". O SONO: VIAGEM DA ALMA. De acordo aos textos sagrados do judaísmo, o sono e os sonhos desempenham um papel importante em nossa vida. O primeiro contribui diretamente à saúde física e mental. Por isso, o ser humano não deve negar a si próprio um descanso adequado, pois é através deste que recuperamos energias e abrimos nossa mente a influências superiores. Além do mais, ensina a Cabalá, o sono tem um propósito espiritual, como também o têm outras atividades necessárias ao corpo, tais como comer e beber. Quando dormimos, explica o Zohar, algo extraordinário nos acontece: a alma - que pode ser comparada a um periscópio que tudo vê, até mesmo o que os olhos não alcançam - liberta-se das limitações e vínculos que o corpo lhe impõe enquanto acordado e se eleva em direção à sua fonte espiritual. Lá se "recarrega" e, ao despertarmos, retorna para começar um novo dia. Apenas uma pequena parte de nossa alma fica ligada ao corpo enquanto dormimos. O quanto a alma consegue se elevar e atingir esferas espirituais superiores depende das ações e conduta do homem, durante o dia. Quanto mais puro for o coração de uma pessoa e quanto mais honesta sua vida, mais altas serão as esferas com as quais sua alma conseguirá conectar-se. Enquanto está em sintonia com sua fonte - onde não há limitações de tempo e espaço impostas por nosso mundo material - a alma recebe avisos ou visões de eventos futuros. Mas, se a alma não atingir igual pureza e as ações do homem não tiverem igual retidão, sua alma fica retida em uma esfera mais baixa, onde forças impuras a impedem de se elevar. Estas próprias forças impuras podem revelar à alma certos assuntos mundanos e terrenos. Muitas das "revelações" são falsas, enquanto outras podem conter algum fundo de verdade. Há sábios que dizem que estas forças negativas são o nosso próprio ego. Todos esses vislumbres são, em seguida, filtrados de volta para o corpo. E, após serem mentalmente "processados" e transformados em símbolos, tomam a forma de sonhos. TIPOS DE SONHOS. Segundo o Talmud, um sonho é uma forma menor de profecia (Berachot, 57b). Desta afirmação pode-se concluir que o mesmo pode conter predições ou advertências, mas há que se fazer a respeito importantes ressalvas. Todos os sonhos, alertam nossos Sábios, mesmo os que vêm das esferas mais elevadas, contêm alguma coisa inverossímil, algo que não é verdade. "Assim como é impossível encontrarem-se espigas de milho sem palha", ensina o Talmud, "assim também não existem sonhos sem aspectos vãos". Há que se diferenciar, também os sonhos proféticos de outro tipo de sonhos. Mesmo em se tratando de sonhos decorrentes de alguma conexão da alma com esferas espirituais superiores, nem todos os sonhos são iguais. Raros são os sonhos proféticos que transmitem a Voz e a Vontade Divina. Maimônides, em cuja obra podemos encontrar vasta análise sobre sonhos proféticos, afirmava que muitos profetas "viram" suas profecias em sonho. Numa categoria inferior estão os sonhos que contêm visões. Apesar destes terem um significado básico positivo ou negativo, não têm, como os proféticos, um significado absoluto. Podem, portanto, ser influenciados de alguma forma pela interpretação que lhes é atribuída. Como vimos anteriormente, nem todo sonho é de origem Divina. Alguns ocorrem quando a alma fica à mercê de forças espirituais negativas, das quais recebe, por assim dizer, "informações". Há uma outra categoria de sonhos, aqueles que são simples reflexos de nossa mente. Resultam de pensamentos e acontecimentos do cotidiano de cada um de nós. Nada mais são do que consequências naturais de nossa constituição psicológica e física, "incrementadas" pelo pode de nossa imaginação. Um acontecimento que deixe forte impressão, ou uma refeição pesada, podem ser responsáveis por um sonho perturbador. A maior parte de nossos sonhos é composta por uma mistura de imagens criadas pela mente com algum vislumbre vivenciado pela alma. Para os místicos, deve-se atentar mesmo para os sonhos que são reflexos de nossa mente, já que podem revelar emoções profundas e ocultas que devem ser confrontadas. Não é correto ignorá-los ou descartá-los como "irrelevantes". Outra característica básica dos sonhos é seguirem uma lógica diferente da que elaboramos quando despertos, na qual podem coexistir opostos, paradoxos e contradições. Quando estamos acordados, somos seres racionais, realistas, ao passo que ao sonhar vivemos experiências totalmente diferentes, sem limitações temporais ou espaciais. SONHOS PROFÉTICOS NA TORÁ. São de nossos patriarcas os primeiros sonhos proféticos relatados na Torá. O primeiro é de Abraão. Ao cair em sono profundo, ouviu D'us lhe prometer que seria pai de uma grande nação e lhe mostrar o futuro de sua descendência, assegurando-lhe que deles seria a Terra de Israel. O segundo pertence a Jacó. Enquanto dormia, viu uma escada que se erguia do solo e cujo topo chegava aos Céus, pela qual anjos subiam e desciam. No alto, estava o Eterno, que falou a Jacob (Gênese, 28: 12-13). Prometeu-lhe proteção e assegurou-lhe que a terra pertenceria à sua descendência. Através desse sonho extraordinário, D'us desvenda a Jacob não apenas o seu próprio destino, mas principalmente o futuro de seus descendentes. O terceiro sonho profético relatado na Torá é de José, que sonhou com os feixes nos campos. Chamado por seus irmãos de "sonhador" e "mestre dos sonhos", José, que tanto em seus sonhos como em suas interpretações via a Mão de D'us, é sem dúvida o mais famoso interpretador de sonhos de toda a Torá. Estes têm um papel muito importante em sua vida e, consequentemente, na história do povo judeu. Se por causa de um sonho iniciaram-se suas atribulações, a solução do enigma contido em vários outros sonhos funcionou como um tapete voador em seu caminho rumo ao poder, no Egito. Outras figuras bíblicas receberam mensagens Divinas em seus sonhos, entre os quais o Rei David, o Rei Salomão e os profetas Samuel e Daniel. Outros ouviram a Voz de D'us através de sonhos e receberam mensagens que sustentaram o povo judeu particularmente no exílio. Ensina o Talmud, "Mesmo que esconda Meu rosto a Israel, comunicar-Me-ei com ele por meio de sonhos" (Talmud Chaguigá, 5b). INTERPRETAÇÃO DE SONHOS. Se os sonhos têm fascinado os homens através dos tempos, tentar desvendar suas mensagens constituíram um fascínio ainda maior. O tratado Berachot, do Talmud, que consagra muitas páginas à sua interpretação, afirma que "Um sonho não interpretado é como uma carta não aberta" (Talmud Berachot, 55a). Mas quem estaria habilitado a interpretá-los? Houve sábios judeus que se dedicaram ao estudo dos sonhos e de suas interpretações. Os reis da antiga Israel contavam com assessores que possuíam o dom e o conhecimento para fazê-lo. Sabiam que os sonhos clarividentes só podiam ser interpretados por alguém com espírito elevado e em conexão com a Fonte Divina. Pois que é D´s, Ele Mesmo, em Sua Plenitude, quem provê a chave para se deslindar o segredo dos sonhos. O Todo Poderoso, se comunica através de imagens e a solução do enigma de cada sonho nele mesmo é contida. Mas, se a maioria deles não são proféticos, como interpretá-los? O Talmud ensina que "o sonho segue o poder dos lábios" - ou seja, segue a interpretação que lhe for dada, contanto que esta seja consistente com seu conteúdo. Pois está escrito que "assim como nos foi interpretado, assim aconteceu". Sendo assim, temos que procurar sempre interpretar os sonhos para o bem. Somente os sonhos proféticos, que transmitem a Voz e Mensagem Divina, têm significado absoluto. Isto quer dizer que não podem ser mudados por diferentes interpretações, como no caso dos sonhos dos patriarcas. Por outro lado, mesmo os que são definidos como "visões" e que contêm avisos e um significado básico, podem ser, de alguma forma, influenciados por diferentes interpretações. Os sonhos chamados de "falsos"ou "comuns" são sujeitos a distintas interpretações. Não podem ser entendidos como presságio definitivo sobre algum evento futuro, nem como significado único. Têm uma multiplicidade de significações plausíveis. Neste caso, lhe é atribuída uma explicação, e, enquanto o sonho não for interpretado, oculto permanecerá o seu significado. O Talmud relata que na época do Segundo Templo havia em Jerusalém 24 pessoas com o dom de interpretar sonhos. Houve mesmo situações em que para um mesmo sonho foram dadas 24 interpretações diferentes, todas consistentes - e, o que mais impressiona - todas se realizaram (Berachot, 55b). Perguntamo-nos, por quê? Os sábios explicam que a maioria dos sonhos contêm vários significados possíveis, que são "acionados" por suas respectivas interpretações. Mas, como é possível que a palavra tenha o poder de definir o significado de um sonho? Esta pergunta foi amplamente discutida. Segundo o Zohar e o Talmud, sua interpretação tem um papel decisivo em seu significado porque o sonho é uma "profecia menor" - ou, para sermos mais exatos, o sonho é o nível mais baixo da Revelação Divina. Sua mensagem resulta de uma mistura de "revelações" com os produtos de nossa imaginação. É sobre este último aspecto do sonho que o poder da palavra exerce influência determinante. A palavra, arma potente que pode ser usada pelo homem tanto para o bem como para o mal, tem o poder de influenciar o aspecto espiritual da realidade. No caso dos sonhos, a palavra os concretiza, dá-lhes forma e "direção". É como se fosse o primeiro passo para sua materialização. Isto posto, não é difícil entender por que nossos sábios nos alertam sobre com quem devemos compartilhá-los. Não devemos fazê-lo com qualquer pessoa, pois, como vimos, sua importância depende não só da compreensão de quem os sonhou, como também da interpretação que outros lhe possam acrescentar. O Zohar nos exorta a revelar nossos sonhos apenas ao amigo mais próximo, a alguém que zele por nosso bem. Tamanha cautela decorre do medo de que o ouvinte perverta seu significado. Um sonho ruim pode transformar-se em bom, desde que seja interpretado para o bem - e vice-versa. A preocupação com a inveja, o charlatanismo e o "comércio da espiritualidade" está presente nessas advertências. Ao ler as páginas do Talmud, podemos observar que a interpretação dos sonhos sempre foi "um bom negócio", como na história de Bar Hedia (Berachot, 56a). Especializado em interpretar sonhos, ele o fazia de uma forma bem peculiar: quanto melhor o pagamento, mais favorável a revelação do sonho (...). TRANSFORMANDO SONHOS. Uma das perguntas mais frequentes é o que se deve fazer ao ter um sonho bom. E quando for ruim? Ensina o Zohar que se o sonho é bom, devemos lembrá-lo para que se realize, pois "um sonho esquecido nunca se cumpre". Mas, nunca se cumprirá em sua totalidade, pois como Rav Chisda afirmava, "um sonho positivo não se destina a se realizar em toda a sua plenitude, assim como um negativo tampouco se cumprirá em sua totalidade (Berachot, 55a)". E os sonhos ruins? Como vimos acima, há sonhos que nada significam, são simples fruto de nossa imaginação ou de algum mal-estar físico. Aliás, os sábios alertam que, se durante o dia tivermos sérias preocupações ou motivos para angústia, não devemos preocupar-nos com um eventual sonho negativo. Além do mais, até que seja interpretado, o sonho não é nem positivo nem negativo. Relata o Talmud: quando Samuel tinha um sonho ruim, recitava o seguinte verso "Os sonhos contam-nos mentiras". E, com isso, desmistificava a noção de que tinham um significado. Por outro lado, quando se via diante de um sonho positivo, dizia: (...). "Mas será que mentem os sonhos? Pois que está escrito que 'Em um sonho Eu falarei a ele (...)” - o que implícita que os sonhos podem conter mensagens verdadeiras". Há, também, inúmeros exemplos no Talmud do que dissemos acima, que um sonho negativo pode ser transformado em positivo pela interpretação que recebe, e vice-versa. Por exemplo, há uma passagem em que Bar Kapará disse ao Rebi: "Em sonhos, vi que minhas mãos haviam sido cortadas". E Rebi lhe respondeu que "isto significa que você não mais precisará do trabalho de suas mãos". Em outras palavras, ele ia prosperar e, no futuro, não precisaria executar trabalho manual para garantir seu sustento. Mesmo os sonhos negativos têm, na literatura rabínica, o seu lado positivo. Podem levar-nos a uma autoanálise, a rever nossas ações. Consta, também, que a tristeza ou o sofrimento mental que sentimos no decorrer do sonho serve como forma de expiação de nossas falhas. Mas, se apesar de todas essas explicações - de certa forma "aliviadas" - a pessoa continua impressionada com algum sonho, há várias formas de se despreocupar. Entre outras, a oração e a tzedaká, pois ambas têm o poder de afastar "decretos negativos". Há também uma oração descrita no Talmud para "remediar" os supostos maus desígnios contidos em um sonho. Durante a oração intitulada Hatavat Chalom - o "aperfeiçoamento do sonho" - aquele que teve um sonho ruim apresenta-se diante de três amigos que, por meio de fórmulas rabínicas e combinações dos Salmos, simbolicamente "revertem" o aspecto negativo do sonho, restaurando a confiança na pessoa angustiada. www.morasha.com.br. Abraço. Davi.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

DE PRINCIPIIS - LIVRO IV - PARTE II

 

Cristianismo. Orígenes de Alexandria (185-254). DE PRINCIPIIS – LIVRO IV – PARTE II. Feito este breve comentário sobre a inspiração das Sagradas Escrituras pelo Espírito Santo, parece-nos agora necessário explicar por que motivo alguns, ignorando o caminho pelo qual se alcança o entendimento das letras divinas, não as lendo corretamente, caíram em tantos erros. Os judeus, pela dureza de seu coração, querendo parecer sábios diante de si mesmos, julgando que as coisas que foram ditas de Cristo deviam ser entendidas segundo a letra, não creram em nosso Senhor e Salvador. Julgaram que Ele pregaria a libertação aos cativos de modo sensível e visível, que deveria antes edificar a cidade que verdadeiramente consideram a cidade de Deus, exterminando simultaneamente as carroças de Efraim e os cavalos de Jerusalém (Zacarias 9, 10), e que comeria manteiga e mel para que, antes que soubesse rejeitar o mal, escolhesse o bem (Isaías 7, 15). Também julgaram ter sido profetizado que, quando do advento de Cristo, o lobo, este animal quadrúpede, seria apascentado com os cordeiros, que o leopardo repousaria com os cabritos, que o bezerro e o touro se alimentariam junto com os leões e que seriam conduzidos ao pasto por uma criança pequena. Que o boi e o urso descansariam juntos nas pastagens e que suas crias seriam alimentadas igualmente. Que os leões frequentariam as mesmas manjedouras que os bois e se alimentariam de palha (Isaías 11, 6-9). Vendo que nenhuma destas coisas que foram profetizadas se realizaram segundo a história, coisas que, consideravam eles, seriam os principais sinais que se observariam quando do advento de Cristo, não quiseram aceitar a presença de nosso Senhor Jesus Cristo. Ao contrário, como se ele, contra o direito e o lícito, isto é, contra a fé da profecia, tivesse assumido para si o nome de Cristo, o crucificaram. Os hereges, por outro lado, lendo o que está escrito na Lei: "O fogo de meu furor se acendeu"; (Jeremias 15, 14) e também "Eu sou o Senhor teu Deus forte e zeloso, que vingo a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me odeiam" (Êxodo 20, 5) "Arrependo-me de ter ungido rei a Saul"; (I Samuel 15, 11) "Eu sou o Senhor, que faço a paz, e que crio os males"; (Isaías 45, 7) "Haverá algum mal na cidade que não tenha sido feito por Deus?" (Amós 3, 6) "Desceram do Senhor os males sobre as portas de Jerusalém"; (Miquéias 1, 12) "O espírito maligno, mandado por Deus, sufocava Saul" (I Samuel 18, 10) e muitas outras coisas passagens semelhantes a estas, não ousaram dizer que elas não fossem escrituras de Deus.Mas as julgaram que fossem daquele Deus criador que os judeus cultuam, do qual afirmaram que seria apenas justo, não, porém, bom. Julgaram dever crer também que o Salvador teria vindo para anunciar-nos um Deus mais perfeito, que negam ser o criador do mundo, havendo, porém, entre eles, até mesmo a este respeito, diversas opiniões discordantes. Uma vez que, afastando-se da fé do Deus criador que o é de todas as coisas, na medida em que a fantasia e a vaidade de suas almas sugeriam, entregaram-se a diversas fábulas e ficções e disseram que algumas coisas seriam visíveis e criadas por um Deus, enquanto outras seriam invisíveis e criadas por outro. Alguns, entretanto, dos mais simples entre eles, os quais parecem manter-se dentro da fé da Igreja, julgam que não há nenhum Deus maior do que o Criador, conservando a este respeito uma reta e sadia sentença; julgam, porém, coisas tais sobre este Deus que não poderiam ser julgadas sequer de um homem extremamente injusto e cruel. A causa do entendimento errôneo de todas estas coisas por parte daqueles a quem mencionamos acima não é outro senão que a Sagrada Escritura não é por eles entendida segundo o sentido espiritual, mas segundo o som da letra. Por isso nos esforçaremos em demonstrar, segundo a pequenez do nosso sentir, aos que creem que as Sagradas Escrituras não foram compostas por palavras humanas, mas redigidas por inspiração do Espírito Santo e transmitidas e confiadas a nós por vontade de Deus Pai pelo seu Filho unigênito Jesus Cristo, o que a nós parece ser a reta via dos que observam a inteligência. Aquela regra e disciplina transmitida por Jesus Cristo aos apóstolos os quais, por sucessão, a transmitiram também aos seus pósteros que haveriam de ensinar a santa Igreja. Todos, conforme penso, até mesmo os mais simples dos fiéis, creem que há certas dispensações místicas assinaladas pela Sagrada Escritura. Quais sejam estas, porém, ou o que são, quem possuir reta mente e não for oprimido pelo vício da jactância será religiosamente obrigado a confessar ignorá-lo. Se alguém, por exemplo, nos questionar sobre as filhas de Ló, que contra o direito se aproximaram carnalmente do pai, ou sobre as duas esposas de Abraão, ou sobre as duas irmãs que se casaram com Jacó, ou sobre as duas servas que lhes aumentaram a numerosidade dos filhos, o que mais poderá ser respondido senão que estas coisas são certos sacramentos e formas de coisas espirituais, que nós todavia ignoramos quais sejam? Quando lemos sobre a construção do tabernáculo, temos como certo também que estas coisas que são escritas são figuras de outras coisas ocultas. Adaptar, porém, cada uma ao seu modo e abrir e dissertar sobre cada uma delas, considero ser coisa imensamente difícil, para não dizer impossível. Todavia, conforme disse, é algo que não escapa até mesmo da inteligência comum que aquela descrição é repleta de mistérios. Todas aquelas narrativas que parecem terem sido escritas sobre núpcias, sobre procriação de filhos, sobre guerras diversas ou quaisquer outras histórias, que outra coisa devemos crer que sejam senão formas e figuras de coisas ocultas e sagradas? Todavia, devido ao fato de que os homens usam de tão pouca aplicação para exercitar o engenho e que, antes que aprendam, já consideram que sabem, decorre que nunca começam a saber. No entanto, se não faltar o estudo nem o mestre, e se estas coisas forem buscadas como divinas, isto é, religiosa e piamente, com autêntica esperança de que muitas sejam abertas pelo Deus que revela, ainda que para o entendimento humano sejam imensamente difíceis e ocultas, talvez quem assim as busque facilmente encontrará o que é lícito buscar. Mas para que não se julgue que a dificuldade esteja apenas nos discursos proféticos, já que para todos é certo que o estilo profético está semeado de figuras e enigmas, o que deveremos dizer quando nos aproximamos do Evangelho? Não se esconde ali também um sentido interior, como que um sentido divino, que somente é revelado por aquela graça que a recebeu aquele que dizia: "Nós, porém, temos o pensamento de Cristo, para que conheçamos as coisas que por Deus nos foram dadas. Falamos não com palavras aprendidas de humana sabedoria, mas na doutrina do Espírito". (I Coríntios 2, 16-12-4) E quanto às coisas que foram reveladas a João, como não se admirará, quem as ler, de que haja ali ocultos tantos inefáveis mistérios, nos quais tão manifestamente também aqueles que não podem entender o que neles se esconde, entendem, todavia, que algo se esconde? Também as cartas dos apóstolos, as quais a alguns parecem que sejam mais fáceis, não estão elas igualmente repletas de sentidos tão profundos que, para aqueles que podem entender o sentido da sabedoria divina, parece que se lhes infunde, por um pequeno receptáculo, a claridade de uma luz imensa? Já que estas coisas são assim e há tantos que erram nesta vida, julgo que não é coisa destituída de perigo que se declare facilmente que alguém as conhece ou as entende. Trata-se de coisas que, para que possam ser abertas, é preciso usar a chave da ciência, chave que o Salvador dizia estar com os doutores da lei. Embora estejamos nos desviando de nosso tema, considero que deveria ser assunto de reflexão para aqueles que dizem que antes do advento do Salvador não havia verdade junto aos que eram versados na Lei, como é possível que Jesus Cristo, Nosso Senhor, diga que as chaves da ciência estejam junto aos que tinham os livros dos profetas e da Lei em suas mãos? De fato, é assim que ele diz: "Ai de vós, doutores da Lei, que usurpastes a chave da ciência, e nem entrastes vós, nem deixastes entrar os que queriam entrar" (Lucas 11, 52). Retornando, porém, ao nosso assunto, conforme começávamos a dizer, julgamos que a via que nos parece ser reta para entender as Escrituras e buscar o seu sentido é aquela que é ensinada pela própria Escritura quando está nos mostra como devemos sentir sobre ela mesma. No livro de Provérbios encontramos Salomão ter preceituado o seguinte sobre a consideração da Sagrada Escritura: "E tu", diz ele, "descreve para ti estas coisas três vezes, em conselho e ciência, para que respondas as palavras da verdade aos que as propuserem a ti". (Provérbio 22, 20-21) Cada um, portanto, deve descrever três vezes em sua alma a inteligência das letras divinas. Deve fazê-lo, primeiro, para que os mais simples sejam edificados pelo próprio corpo das Escrituras, por assim dizer. É deste modo que chamamos ao entendimento comum e histórico. Se, porém, eles já começam a adiantar-se um pouco, de tal modo que possam entender algo mais profundamente, que sejam edificados também pela própria alma das Escrituras. Quanto aos que, porém, forem perfeitos e semelhantes àqueles de quem diz o Apóstolo: "Não obstante, é a sabedoria que pregamos entre os perfeitos; não, porém, uma sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que serão destruídos; mas falamos da sabedoria de Deus encoberta no mistério, e que Deus predestinou antes dos séculos para a nossa glória"; (I Coríntios 2, 6-7) que sejam estes edificados, como que pelo seu espírito, pela própria lei espiritual que possui a sombra dos bens futuros. Assim como o homem é dito ser constituído de corpo, alma e espírito, assim também o é a Sagrada Escritura que pela liberalidade divina foi concedida para a salvação dos homens. Tudo isto pode ser visto assinalado também no livro chamado "O Pastor", que parece ser desprezado por alguns. Nele, com as seguintes palavras, está escrito ter sido ordenado a Hermas que escreva dois livros, e que depois anuncie aos presbíteros da Igreja aquilo que aprendeu pelo Espírito: "Escreve", diz o livro, "dois livros, e darás um a Clemente, e outro a Grapte. Que Grapte advirta as viúvas e os órfãos. Clemente seja enviado por todas as cidades de fora. Tu, porém, as anunciarás aos presbíteros da Igreja". (L. 1 Vis. 2,4) Grapte, ao qual se ordena que advirta os órfãos e as viúvas, é o puro entendimento da própria letra, pela qual são advertidas as almas infantis que ainda não mereceram ter Deus como pai, e que por causa disso são chamados de órfãs. Já as viúvas são aquelas que se separaram do homem iníquo ao qual foram unidas contra a Lei, permanecendo, todavia, viúvas, pelo fato de ainda não se terem unido ao esposo celeste. A Clemente ordena-se que envie as coisas que foram ditas às cidades de fora, que são aqueles que já se afastam da letra, aquelas almas que começaram a ser edificadas fora dos cuidados do corpo e além dos desejos carnais. Aquilo que, porém, Hermas aprendeu do Espírito Santo, não por letras, nem por livros, mas por viva voz, é-lhe ordenado que o anuncie aos presbíteros da Igreja de Cristo, isto é, aos que possuem um maduro sentido da prudência capaz da doutrina espiritual. Não se deve, todavia, ignorar que há algumas coisas nas Escrituras em que nem sempre pode ser encontrado o que chamamos de corpo, isto é, o que se segue ao entendimento da história, nas quais, conforme demonstraremos a seguir, somente deverão ser entendidas as coisas às quais chamamos de alma ou espírito. Penso que isto é apontado também no Evangelho, quando este diz que haviam sido postas para a purificação dos judeus seis talhas de pedra, nas quais cabiam, cada uma, duas ou três metretas (João 2, 6). Nesta passagem a palavra evangélica parece referir-se aos que são chamados pelo Apóstolo de judeus que o são em oculto, os quais se purificam pela palavra da Escritura, contendo às vezes duas metretas, isto é, recebendo o entendimento da alma ou do espírito, contendo outras vezes três metretas, quando a leitura pode conter, para a edificação, também o entendimento corporal, que é a história. As seis talhas de pedra, por conseguinte, se referem aos que, colocados neste mundo, buscam a purificação. De fato, lemos ter-se consumado em seis dias, que é número perfeito, este mundo e tudo o que nele existe. A multidão de todos os fiéis testemunha quanta utilidade há neste primeiro entendimento que chamamos de histórico, o qual pode ser suficientemente crido com fidelidade e simplicidade sem necessidade de muitas explicações, conforme é bastante evidente para todos. Quanto à inteligência da qual dissemos acima ser como que a alma da Sagrada Escritura, o apóstolo Paulo dela nos deu numerosíssimos exemplos, como quando escreve na Primeira Epístola aos Coríntios: "Está escrito na Lei de Moisés: `Não amordaçarás o boi que tritura o grão'". (I Coríntios 9, 9) Em seguida, explicando como este preceito deveria ser entendido, acrescenta dizendo: "Porventura Deus tem cuidado dos bois? Não é antes por nós mesmos que Ele diz isto? Sim, é por causa de nós que isto foi escrito, porque o que lavra deve lavrar com esperança, e o que debulha deve-o fazer com esperança de participar dos frutos". (I Coríntios 9, 10) Assim também uma multidão de outras coisas que são assim interpretadas da Lei conferem aos ouvintes muitíssimo entendimento. Quanto à explicação espiritual, esta é aquela pela qual alguém pode mostrar quais são as coisas celestes às quais os que são judeus segundo a carne servem como imagens e sombras, coisas futuras das quais a Lei é sombra, e outras tantas semelhantes que se encontram nas Santas Escrituras. A inteligência espiritual é também aquela pela qual buscamos qual seja a sabedoria escondida no mistério "que Deus predestinou antes dos séculos para a nossa glória e nenhum dos príncipes deste século conheceu". (I Coríntios 2, 7) É também aquela a que se refere o próprio Apóstolo quando usa de alguns exemplos de Êxodo ou de Números e diz que "estas coisas lhes aconteciam em figura, mas foram escritas por causa de nós, para quem o fim dos séculos chegou", (I Coríntios 10, 11) oferecendo-nos ocasião à inteligência para que possamos entender do que estas coisas que lhes aconteciam eram figuras, quando nos diz também que "bebiam da pedra espiritual que os seguia, e esta pedra era Cristo". (I Coríntios 10, 4) Quanto ao tabernáculo, o mesmo apóstolo nos lembra em outra epístola aquelas palavras que foram preceituadas a Moisés: "Farás todas as coisas segundo a forma que te foi mostrada no monte". (Hebreus 8, 5) Escrevendo aos Gálatas, e repreendendo pela palavra a alguns que a si mesmos pareciam que liam a Lei mas, por ignorarem haver alegorias nas coisas que foram escritas, não a entendiam, assim lhes diz com uma certa repreensão: "Dizei-me vós, os que credes estar debaixo da Lei, não lestes a Lei? De fato, está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre. Mas aquele que nasceu da escrava, nasceu segundo carne; aquele, porém, que nasceu da livre, nasceu segundo a promessa. Estas coisas são alegorias. De fato, estes são os dois testamentos". (Gálatas 4, 21-24) Nisto deve-se também considerar o quão cautelosamente o Apóstolo falou, ao dizer: "Vós, que estais sob a Lei, não ouvistes a Lei?" `Ouvistes', isto é, `entendestes e conhecestes'. E, na Epístola aos Colossenses, abraçando e resumindo brevemente o sentido de toda a Lei: "Ninguém, pois, me condene pelo comer e pelo beber, ou pelos dias solenes, ou pelas neomênias, ou pelo sábado, que são sombra de coisas futuras". (Colossenses 2, 16- 17) É ele também que, escrevendo aos Hebreus e aos que são da circuncisão, diz: "Eles que servem à imagem e à sombra das coisas celestes". (Hebreus 8, 5) Tudo isto talvez não pareça matéria de dúvida, para aqueles que recebem os escritos do Apóstolo como sentenças divinas, no que diz respeito aos cinco livros de Moisés. Mas se investigarmos o que se refere à história restante, veremos que mesmo as coisas que ali estão contidas deverão também ser ditas terem acontecido em figura para aqueles dos quais são escritas. É o que se encontra escrito na Epístola aos Romanos, quando o Apóstolo coloca um exemplo tirado do Terceiro Livro dos Reis, dizendo: "Eu reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal". (Romanos 11, 4) Paulo toma estas palavras como ditas figurativamente daqueles que são chamados israelitas segundo a eleição, para que fosse mostrado que o advento de Cristo não aproveita somente agora aos gentios, mas a muitos outros chamados à salvação também da descendência de Israel. De Principiis – Livro IV – Parte II. Abraços. Davi

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

OS ORIXÁS - XANGO

 

Religião Afro-brasileira. Candomblé e Umbanda. www.brasilescola.uol.com.br. Por Rainer Sousa. OS ORIXÁS. "A chegada dos escravos africanos ao Brasil foi responsável pela consolidação de uma nova experiência religiosa em nosso território. Contudo, ao contrário do que muitos chegam a imaginar, não podemos supor que esse movimento simplesmente instalou a mesma lógica e as mesmas divindades cultuadas no território africano. Ao mesmo tempo em que alguns deuses ficaram para trás, outros foram criados para compor uma experiência singular. Desse vasto panteão de divindades, os orixás se tornaram os mais conhecidos entre os praticantes e não praticantes das religiões de origem e influência africana, dentre elas a Umbanda e o Candomblé. Segundo os ensinamentos do candomblé, todas as pessoas são filhas de orixás. Para que seja possível determinar a quais orixás um indivíduo pertence, ele precisa recorrer aos saberes oferecidos pelo jogo de búzios. O jogo de búzios consiste basicamente no lançamento de dezesseis conchas, também conhecidas como cauris, em uma peneira. O pai de santo é o único capaz de realizar o lançamento das conchas e realizar a correta leitura da posição de cada búzio. Além do jogo, os praticantes do candomblé também associam a pessoa ao seu orixá através das características físicas e psicológicas do praticante. Segundo a crença, cada pessoa recebe a influência de dois orixás principais. O primeiro é conhecido como o “orixá da frente” e o segundo como o “orixá de trás”, “segundo santo” ou “jutó”. Esse casal de divindades promove a proteção de seu seguidor e são reverenciados pelo pai de santo quando, este, toca a testa, para o orixá da frente, e a nuca para o orixá de trás. Além dessas duas divindades, uma pessoa pode incorporar a proteção de outros deuses, completando o número máximo de sete orixás." "No conjunto das religiões afro-brasileiras, os orixás podem assumir diferentes nomenclaturas segundo a crença que o adota. Na umbanda, os orixás não são diretamente incorporados pelas pessoas com aptidões mediúnicas. Geralmente, o orixá envia um representante, o falangeiro, que tem a função de repassar as ordens e orientações do orixá que o domina. Entre os mais conhecidos orixás podemos destacar as figuras de Exu, orixá mensageiro sem o qual nenhuma transformação acontece. Ogum, divindade que está correntemente associada às guerras e à agricultura. Oxossi, reconhecido como irmão de Ogum e associado à caça e proteção. Além disso, podemos destacar Omulu, poderosa divindade responsável pelos poderes de cura e doença. Xangô, senhor dos raios e trovões. Iemanjá, a mãe de todos os orixás. E Oxalá, o grande orixá da criação”.

 

XANGO – É um orixá que tem o controle sobre os raios e trovões e que também expele fogo pela boca. Ele aparece com um machado de duas faces em virtude de sua inclinação "Conhecido como o rei de Oyó. Xangô é um poderoso orixá que tem o controle sobre os raios e trovões, e que também expele fogo pela boca. Quando fora rei, segundo a lenda. Xangô não poupava esforço para conquistar outros territórios para o seu poderoso reino. Apesar de ser guerreiro e muito violento, fazia questão de tratar com justiça todas as questões que apareciam entre os seus súditos. Certa vez, interessado em buscar novas armas de conquista, o rei Xangô pediu para que sua esposa, Iansã, trouxesse uma poção mágica do reino dos baribas. No caminho de volta para casa, ela não resistiu à própria curiosidade e experimentou o líquido poderoso que carregava na cabaça. Sentido um gosto terrível na boca, cuspiu a poção. Entretanto, ao invés de expelir o líquido, ela soltou uma grande labareda. Ao saber da novidade, Xangô ficou empolgado e vaidoso com a nova arma. Em pouco tempo, decidiu exercitar os poderes daquele fantástico encantamento. Enquanto Xangô utilizava a poção, o povo morria de medo dos enormes estrondos e do brilho causado pelas chamas. O barulho produzido pela incrível arma ficou conhecido como trovão. Em contrapartida, o brilho das chamas ganhou o nome de raio." "Em mais um dia que testava o poder do fogo, Xangô acabou provocando um enorme incêndio que destruiu toda a cidade de Oyó. Mesmo não tendo a intenção, os sacerdotes resolveram retirá-lo do governo e obrigá-lo a se suicidar na floresta. Após cumprir a pena, ninguém encontrou os restos mortais do antigo rei. Naquele instante, vários boatos sugeriram que os deuses teriam transformado Xangô em orixá. Com o passar do tempo, toda vez que os trovões e relâmpagos tomavam os céus, o povo de Oyó lembrava que seu rei continuava vivo. Nos vários rituais afro-brasileiros, Xangô aparece com um machado de duas faces por causa de sua inclinação guerreira. Paralelamente, o domínio dos raios e trovões também se associou a essa prestigiada divindade africana. No Brasil, observamos que vários santos católicos estão diretamente associados ao culto a Xangô. São Jerônimo, usualmente se aproxima de Xangô por estar próximo ao leão, um animal que reafirma a condição de realeza para os africanos. Também podemos assinalar a celebração a Xangô no dia de São Pedro, considerado um guardião dos céus, equivalente ao orixá." www.brasilescola.uol.com.br. Abraço. Davi.

 

Questionário – ORIXÁ

1.A que é atribuído a chegada dos escravos africanos ao Brasil?  A responsabilização pela consolidação de uma nova experiência religiosa em nosso território. 2.O que não podemos supor quanto a esse deslocamento de povos? Que essa “emigração” simplesmente instalou a mesma lógica e as mesmas divindades cultuadas no território africano. 3.O que realmente aconteceu nessa transposição? Ao mesmo tempo em que alguns deuses ficaram para trás, outros foram criados para compor uma experiência singular. 4.Desse vasto panteão de divindades quais são os mais conhecidos? Os Orixás. 5.Quais são as principais religiões de origem e influência africana dentre as quais os orixás são conhecidos? A Umbanda e o Candomblé. 6.O que diz o candomblé quanto a influência dos orixás? Todas as pessoas são filhas de orixás. 7.Como é possível determinar a qual Orixá um indivíduo pertence? Ele precisa recorrer aos saberes oferecidos pelo jogo de búzios. 8.Em que consiste o jogo de búzios? Basicamente no lançamento de dezesseis conchas, também conhecidas como cauris, em uma peneira. 9.Quem é o único capaz de arremessar as conchas e determinar a correta leitura da posição de cada búzio. O Pai de Santo. 10.Que outro aspecto determina o Orixá do indivíduo? No candomblé também associam as características físicas e psicológicas do praticante. 11.O que diz mais a crença nesse sentido? Cada pessoa recebe a influência de dois Orixás. 12.Como é conhecido o primeiro Orixá? O de frente. 13.E o segundo Orixá? O de trás. 14.Além destas duas divindades o que ocorre igualmente? Uma pessoa pode incorporar a proteção de outros deuses, completando o número máximo de sete Orixás. 15.O que podem assumir os Orixás no conjunto das religiões Afro-brasileiras? Diferentes nomenclaturas segundo a crença que o adota. 16.Como ocorre o amálgama dos Orixás na Umbanda? São diretamente incorporados pelas pessoas com aptidões mediúnicas. 17.O que geralmente sobrevêm quanto a este aspecto? O Orixá envia um representante, chamado de falangeiro, que tem a função de repassar as ordens e orientações do Orixá que o domina. 18.Qual é a função básica da figura de Exu? Orixá mensageiro sem o qual nenhuma transformação acontece. 19.A divindade Ogum está associada a quê? Ligada a guerra e a agricultura. 20.Reconhecido como irmão de Ogum, o Orixá Oxossi, tem qual função? A caça e proteção. 21.Qual a divindade responsável pelos poderes de cura e doença? Omolu. 22.Quem é o senhor dos raios e trovões? A divindade Xangó. 23.A mãe de todos os Orixás, qual seu nome? Iemenjá. 24.O grande Orixá da criação é? Oxalá. 25. O que significa o termo substantivo Orixá? “A luz que se revela”, ou seja, no princípio da criação, DEUS, manifestou sua intenção. E sua intenção são os Orixás, denominados divindades. E esses em termos africanizados, significa “ori” – cabeça e “xá” – iluminação. Então temos: “cabeças iluminadas ou espíritos iluminados”. 26.Qual a definição de Falangeiro? Termo próprio da religião Umbanda – mensageiro de Orixá.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

A FORÇA DO ESPÍRITO

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. A FORÇA DO ESPÍRITO. O Dr. Abraham J. Twerski (1930-  ) é o fundador e diretor-médico emérito do Centro de Reabilitação Gateway, na Pensilvânia, Estados Unidos. A entidade, especializada no tratamento de dependentes químicos, é citada por publicações americanas como um dos doze melhores centros para tratamento anti álcool e drogas do mundo. Ele é, também, um dos fundadores do JACS (Jewish, Alcoholics, Chemically Dependent Persons and Significant Others). Twerski tem 31 livros publicados, dois deles com ilustrações de Charles M. Schulz (1922-2000), que trazem os personagens Charlie Brown e Snoopy. É o fundador do primeiro programa da Pensilvânia para enfermeiras com problemas de álcool ou drogas, denominado Nurses Off Chemicals - Enfermeiras Longe de Substâncias Químicas. Também participou do Conselho Governamental sobre Drogas e Abuso de Álcool e foi presidente do Comitê da Sociedade Médica da Pensilvânia sobre Médicos Incapacitados. Em 1997, recebeu a maior honraria da Sociedade Médica da Pensylvania, o The Distinguished Service Award, por sua dedicação no combate à dependência química. Em 1988 foi agraciado pela Fundação Filantrópica Católica com o prêmio Charitas. No entanto, antes de se tornar um dos maiores especialistas dessa área, o dr. Abraham J. Twerski, ordenou-se rabino. Descendente de quarta geração do líder chassídico Baal Shem Tov (1698-1760) e filho de um rabino, Twerski um dia percebeu que queria fazer algo mais, durante sua vida, do que oficiar serviços religiosos e cerimônias de Bar Mitzvá. Sua experiência como líder espiritual já lhe vinha mostrando que, às vezes, quando as pessoas procuram um rabino para conversar, querem algo mais. Na verdade, estão em busca de alguém que as ouça e que procure entendê-las, uma espécie de psicólogo. E foi no estudo da medicina e da psiquiatria que foi buscar as respostas para tentar compreender e ajudar os indivíduos, sem no entanto, abrir mão, a nenhum instante, de sua formação religiosa e de sua herança judaica. Ao contrário, o Rabino Twerski, já então com o título de médico, fez de sua bagagem espiritual um dos principais instrumentos de seu dia-a-dia profissional. Sua crença no ser humano e em sua capacidade de superar desafios, desde que encarados de frente, são os princípios que norteiam o seu trabalho junto a dependentes de álcool e de drogas. Sua fé em que a vida espiritual dos indivíduos – não importa qual a sua religião é fundamental para a recuperação dos dependentes, é um dos pilares que sustenta, há décadas, suas teorias. A maior prova da eficiência destes conceitos são os resultados obtidos pelo Centro de Reabilitação Gateway e em outras instituições que usam o seu método. Em entrevista concedida ao Projeto Morashá, algumas horas, após a sua chegada a São Paulo, recentemente, Twerski falou um pouco sobre os seus primeiros anos como médico. “Logo percebi que nem a universidade, nem mesmo a especialização em psiquiatria, iriam mostrar-me qual o melhor caminho para lidar com os dependentes químicos. Isso era algo que eu iria aprender gradativamente, no contato com os pacientes, através de longas conversas, tentando descobrir e entender as razões que os haviam levado ao vício. Mesmo sem nem sempre entendê-los, percebi que era muito importante ouvi-los, para então tentar conhecer o porquê e ajudá-los a trilhar o caminho da volta”, lembra Twerski. Através do contato com os pacientes, o rabino psiquiatra reafirmou sua certeza de que o caminho da sobriedade - ou o fim de qualquer dependência - passa necessariamente pela motivação dos indivíduos e pelo seu desejo autêntico de mudança. Sua crença nesse princípio fortaleceu-se após um contato mais estreito com a Associação Alcoólicos Anônimos (AAA), em 1961, uma entidade de autoajuda criada em meados de 1930 por duas pessoas que não conseguiam deixar de beber. “Eu sempre acreditei que a maioria das pessoas possui personalidade, força e recursos suficientes para lidar com os desafios da vida. Se falhamos, é porque não temos consciência da nossa capacidade e de nossos recursos. No meu contato com os pacientes, sempre trabalho no sentido de fazer com que descubram sua força e também mostrar-lhes que, às vezes, é preciso buscar uma ajuda externa com pessoas com as quais possam compartilhar suas experiências. Com isso, sentem-se iguais e não inferiorizados por estarem nessa situação. Instituições como a AAA desempenham um papel muito importante neste contexto, pois, além de estimularem a autoajuda, enfatizam a igualdade entre todos os membros. Lá, todo mundo é igual, todo mundo tem um problema que pode resolver e todo mundo precisa de ajuda. Isto se chama ‘compartilhar’ e, de modo geral, as pessoas dependentes são solitárias. O fato de compartilhar traz resultados positivos”. Segundo Twerski, no entanto, o processo de recuperação deve ser ordenado para que os objetivos sejam atingidos. Foi dentro deste espírito que elaborou um programa de “doze passos” que conduz a uma vida mais feliz e realizada. O método não possui nenhuma base religiosa específica, porém tem um componente espiritual, já que a oração e fé são essenciais para o sucesso do tratamento. “Acho fundamental que as pessoas acreditem em alguma coisa, que tenham crenças e procuro transmitir isso aos meus pacientes. Ao pensar em cada uma das etapas do programa de recuperação, eu tinha um objetivo definido: ajudar os indivíduos a corrigir sua visão distorcida da realidade e a obter uma conscientização plena da mesma e de si próprios”, ressalta o rabino psiquiatra. Ele falou, também, sobre o papel da família e do contexto social no processo de recuperação dos dependentes do álcool e das drogas. Segundo Twerski, é muito comum que as pessoas mais próximas dos viciados, inconscientemente, mascarem a realidade, preferindo ignorar a gravidade da situação. “Este é um comportamento que só prejudica a todos. Por mais doloroso que seja, é preciso enfrentar a situação e fazer com que o dependente confronte a si mesmo e àqueles com os quais convive. O relacionamento sincero e aberto entre todos os envolvidos, fazendo inclusive com que o dependente ouça e sinta como seu comportamento afeta e preocupa os demais, é um dos pontos de partida para o processo de recuperação. Sabemos que isto é muito difícil, principalmente porque, em geral, o dependente não admite que tem o problema e não reconhece sua impotência diante do elemento de dependência. Se conseguirmos fazer com que ele aceite esse fato, o caminho já começou a ser trilhado”. O caminho, no entanto, enfatiza Twerski, é longo e penoso e não termina nunca, pois cada dia é um novo dia e os indivíduos não devem jamais se desviar de suas metas. É neste processo constante de busca da sobriedade, que afirma ele, a crença na força interior, uma vida espiritual rica e a fé são fatores de grande importância. Em seu livro “Despertando na hora certa”, ele afirma que “as doze etapas do programa são como degraus de uma escada que devemos estar constantemente subindo, sempre reexaminando e colocando tudo em discussão. Assim, percebemos tudo o que há de melhor em nós e damos o máximo possível de nós mesmos”. Este programa, segundo Twerski, pode ser aplicado a qualquer tipo de dependência, não apenas química, pois tudo que passa de um determinado limite e que não pode mais ser controlado pelo indivíduo torna-se um vício. Quando questionado se até a Internet não se encaixa nisto, respondeu que provavelmente sim e mencionou o fato de ter descoberto, recentemente, um site sobre este tema - netaddiction.com. “O ponto fundamental quando se analisa a questão da dependência é justamente o que se refere à falta de controle. Ou seja, quando o elemento da dependência exerce tanto controle sobre os indivíduos que provoca mudanças significativas de comportamento, como agressividade e até lapsos de memória. É aí que se deve estar atento e não relevar qualquer mudança”. Como evitar comportamentos autodestrutivos. Especial para a Revista Morashá meu envolvimento no tratamento de alcoólatras tem sido uma forma de aprendizado muito valiosa. Indivíduos que levam a sério sua recuperação, e que fazem grandes esforços para eliminar em seu caráter as falhas que marcaram sua história com a bebida, podem ser vistos como uma rica fonte de mussar - disciplina. São exemplos vivos do que deve se fazer para evitar comportamentos autodestrutivos. Se substituirmos a palavra avera - transgressão - por álcool, podemos ver que existe uma similaridade muito grande entre um programa efetivo de recuperação para alcoólatras e muitos dos ensinamentos do mussar. É muito comum, por exemplo, ouvir de um alcoólatra que conseguiu se recuperar, a afirmação de que “na vida não há coincidências. Coincidências nada mais são do que milagres nos quais D’ us quis ficar anônimo”. A transição do alcoolismo para a sobriedade requer que o indivíduo aceite o quanto ele tem sido impotente perante certos aspectos de sua vida. Ao se conscientizar de sua própria falta de poder, ele poderá então aceitar a existência de uma Força Superior. Ao mesmo tempo em que temos livre arbítrio para termos comportamentais e morais, devemos compreender que existem muitas coisas que são obras de D’us. Muitos acontecimentos em nossas vidas parecem ser “fenômenos naturais”, mas na realidade são atos de D’us nos quais Ele prefere permanecer anônimo. A Torá é repleta de milagres, mas é importante notar que nem todos são comemorados. Não temos uma festa para celebrar a ocasião na qual o profeta Yoshua parou o sol e a lua, para que o Povo de Israel pudesse continuar guerreando numa sexta à noite, sem violar o Shabat. Mesmo Pessach é celebrada como a Festa da Liberdade, e não como a Festa dos inúmeros milagres descritos na Torá. Chanucá e Purim são celebradas como as Festas dos Milagres porque os acontecimentos de ambas as ocasiões podem ser facilmente interpretados como eventos naturais. Afinal, não há nada de excepcional na história de um rei bêbado se livrar de sua rainha e casar-se com uma mulher mais jovem que acaba defendendo a causa de seu povo. O triunfo dos Macabeus, celebrado em Chanucá, pode ser visto como o sucesso de guerrilhas numa luta. Mas, estes “acontecimentos naturais” devem ser compreendidos como intervenções Divinas. Mesmo se D’us preferiu permanecer anônimo em tais situações, não devemos permitir que assim sejam considerados. Você deve estar se perguntando por que um psicanalista está escrevendo sobre um assunto que a rigor deveria ser deixado para os rabinos? Porque enquanto há ansiedades patológicas que requerem tratamento médico ou psicológico, também há muitos tipos de estresse que são decorrentes da realidade que nos cerca. Estes são acompanhados por ansiedade e tensão que na realidade são respostas normais para eventos ou acontecimentos que nos incomodam, nos pressionam e nos estressam. São condições normais que não exigem “tratamento”. Este tipo de ansiedade pode ser atenuado pelo apoio de amigos com os quais podemos contar, e pela segurança que podemos ter através da fé e da confiança em D’us (emuná e bitachon). Devemos sempre lembrar que D’us está “tomando conta” e que Ele é Infinitamente Bom. Um paciente cuja insônia era resultante de uma situação que o deixava muito estressado me disse: “Eu finalmente consegui dormir quando percebi que D’us está sempre acordado, e que não há necessidade que ambos façamos o mesmo”. Tranquilizantes são remédios e estes só servem em caso de doenças. Porém, quando as realidades de nosso cotidiano nos deixam insatisfeitos e podem nos causar ansiedade e tensão, não devemos recorrer imediatamente a medicamentos. Talvez, confiar em D’us e se apoiar em um amigo que nos ouça e que compartilhe conosco nossa angústia, não sejam “tratamentos”, mas acreditem, podem ser atitudes de extrema eficácia. www.morasha.com.br. Abraço. Davi

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

NOSSA NECESSIDADE DE AMOR

 

Budismo. Livro A Vida de Compaixão. Autor Tenzin Gyatso (1935 - ). O Décimo Quarto Dalai-Lama. Capítulo IB. NOSSA NECESSIDADE DE AMOR. Uma grande pergunta permeia nossa experiência, quer pensemos nela de forma consciente ou não: qual o sentido da vida? Acredito que o sentido de nossa vida seja ser feliz. Desde o instante em que nasce, todo ser humano quer a felicidade e não o sofrimento. Nem o condicionamento social, nem a educação, nem a ideologia afetam isso. No âmago de nosso ser, simplesmente desejamos o contentamento. Não sei se o universo, com suas incontáveis galáxias, estrelas e planetas. Tem ou não um significado maior, mas pelo menos está claro que nós humanos, que vivemos nesta Terra, temos a tarefa de criar uma vida feliz para nós mesmos. Não somos como os objetos feitos por máquinas. Somos mais do que simplesmente matéria, temos sentimentos e experiências. Se fossemos entidades meramente mecânicas, então as próprias máquinas poderiam aliviar todo nosso sofrimento. Realizando todos os nossos desejos. Mas o conforto material por si só não basta. Nenhum objeto material por mais belo ou valioso, é capaz e fazer com que nos sintamos amados. Precisamos de algo mais profundo, ao qual geralmente me refiro como afeição humana. Com a afeição humana ou compaixão, todas as vantagens materiais que temos à nossa disposição podem ser muito construtivas e produzir bons resultados. Sem ela, no entanto, as vantagens materiais sozinhas não vão nos satisfazer. Nem tampouco produzirão em nós qualquer tipo de paz ou felicidade mental. Na verdade, vantagens materiais sem afeição humana podem até criar problemas adicionais. Então, quando consideramos nossas origens e nossa natureza, descobrimos que ninguém nasce livre da necessidade de amor. E, embora algumas Escolas de pensamento procurem fazer isso, os seres humanos não podem ser definidos como apenas físicos. Em última instância, a razão pela qual o amor e a compaixão trazem a maior felicidade é simplesmente que nossa natureza os valoriza mais do que tudo. Por mais capaz e habilidoso que seja um indivíduo, caso seja deixado sozinho, não sobreviverá. Por mais vigorosos e independentes que nos sintamos durante os períodos mais prósperos de nossas vidas, quando ficamos doentes ou quando somos muito jovens ou muito velhos. Dependemos do apoio de outras pessoas. Vamos observar mais de perto as maneiras como a afeição e a compaixão nos ajudam em nossas vidas. Nossas crenças podem divergir quando se trata de questões relativas à criação e à evolução de nosso universo. Mas podemos pelo menos concordar que cada um de nós é produto de nossos país. Em geral, nossa concepção aconteceu não apenas no contexto do desejo sexual. Mas Também devido à decisão de nossos pais terem um filho. Tal decisão se baseiam em responsabilidade e em altruísmo – no compromisso compassivo dos pais de cuidar daquele filho até ele ser capaz de cuidar de si mesmo. Assim, desde o instante de nossa concepção, o amor de nossos pais está diretamente envolvido em nossa criação. Ao me encontrar com alguns cientistas, especialmente os que trabalham na área da neurobiologia, aprendi que há fortes indícios científicos de que. Mesmo durante a gravidez, o estado de espírito da mãe, seja ele calmo ou agitado. Tem grande efeito sobre o bem-estar físico e mental da criança que está para nascer. Parece vital a mãe manter um estado de espírito calmo e relaxado. Depois do nascimento, as primeiras semanas são as mais cruciais ao desenvolvimento saudável da criança. Durante esse período, segundo me disseram, um dos fatores mais importantes para garantir um crescimento rápido e saudável do cérebro do bebê é o toque físico constante da mãe. Se a criança for deixada sozinha e sem cuidados durante essa fase crítica. Embora os efeitos em seu bem-estar mental possam não ser imediatamente óbvios, os danos físicos que podem ser causados por esse fato ficarão bastante visíveis mais tarde. A importância central do amor e do carinho continua ao longo da infância. Quando uma criança vê alguém com um comportamento aberto e carinhoso. Alguém que sorri ou que tenha uma expressão de amor e carinho, ela se sente naturalmente feliz e protegida. Por outro lado, se alguém tentar machucar a criança, ela será dominada pelo medo, o que trará consequências prejudiciais para o seu desenvolvimento. Hoje em dia, muitas crianças crescem em lares infelizes. Se não receberem afeição adequada, mais tarde na vida raramente amarão seus pais e, muitas vezes, terão dificuldades para amar outras pessoas. Isso, claro, é muito triste. À medida que as crianças crescem e entram para a escola, sua necessidade de apoio deve ser suprida por seus professores. Se um professor não transmite apenas conhecimento pedagógico. Mas também assume a responsabilidade de preparar os alunos para a vida. Seus alunos sentirão confiança e respeito nele. E aquilo que foi ensinado deixará uma impressão indelével em suas mentes. Por outro lado, matérias ensinadas por um professor que não demonstra uma verdadeira preocupação com o bem-estar geral de seus alunos serão consideradas temporárias. Não serão lembradas por muito tempo. Da mesma maneira, se alguém está doente e recebe tratamento em um hospital de um médico que manifesta sentimento de calor humano. A pessoa se sente tranquila, e o desejo do médico de dispensar o melhor tratamento possível, por si só, já é curativo. Independentemente de seu grau de conhecimento técnico. Por sua vez, se o médico de alguém não tiver sentimento humano e exibir uma expressão pouco amistosa. Demonstrar impaciência ou descaso casual. A pessoa se sentirá ansiosa, mesmo que esteja diante do mais qualificado dos médicos, que sua doença tenha sido corretamente diagnostica e que os remédios certos tenham sido prescritos. Inevitavelmente, os sentimentos de um paciente fazem a diferença para a qualidade e a perfeição de sua recuperação. Mesmo em conversas normais na vida cotidiana, quando alguém fala com sentimento humano, gostamos de ouvir e respondemos da mesma maneira. Toda a conversa se torna interessante, por mais insignificante que seja o seu assunto. Por outro lado, se uma pessoa fala de maneira fria ou ríspida. Ficamos pouco à vontade e desejamos terminar logo a interação. Do acontecimento menos importante ao mais importante, a afeição e o respeito dos outros são vitais para a nossa felicidade. Recentemente, encontrei outro grupo de cientistas nos Estados Unidos da América que disseram que a taxa de doenças mentais no seu país era bastante alta. Cerca de doze por cento da população. Durante nossa conversa, ficou claro que a depressão não era causada por uma falta de bens materiais. Mas mais por uma dificuldade de dar e receber afeição. Assim, como você pode ver em todos esses exemplos, desde o dia em que nascemos. A necessidade de afeição está em nosso sangue, quer estejamos conscientes disso ou não. Mesmo que a afeição venha de um animal ou de alguém que normalmente consideraríamos um inimigo. Tanto crianças como adultos vão naturalmente gravitar em sua direção. Livro A Vida de Compaixão. Abraço, Davi

sábado, 11 de fevereiro de 2023

DE PRINCIPIIS - LIVRO IV - PARTE I

 

Cristianismo. Orígenes de Alexandria (185-254). DE PRINCIPIIS – LIVRO IV – PARTE I. Para tratar de tantas e tais coisas não basta confiar a sumidade deste assunto aos sentidos humanos e à inteligência comum, discorrendo, por assim dizer, visivelmente sobre as coisas invisíveis. Devemos tomar também, para a demonstração das coisas de que falamos, os testemunhos das Divinas Escrituras. No entanto, para que estes testemunhos possam oferecer-nos uma fé certa e indubitável, tanto nas coisas que haveremos de dizer, como nas que já dissemos, parece-nos ser necessário mostrar antes que as próprias Escrituras são divinas, isto é, inspiradas pelo Espírito de Deus. Mostraremos, tão brevemente quanto pudermos, o que as próprias Escrituras nos dizem a este respeito e que nos possa mover competentemente. Falaremos, pois, de Moisés, o primeiro legislador do povo hebreu, e das palavras de Jesus Cristo, autor e príncipe da religião e do dogma dos cristãos. Entre gregos e bárbaros. de fato, existiram muitos legisladores e inúmeros doutores e filósofos afirmando oferecer a verdade. Não nos lembramos, porém, de nenhum legislador que tenha podido produzir tal afeto e dedicação nas almas dos povos estrangeiros a tal ponto que estes aceitassem livremente as suas leis ou com toda a alma defendessem as suas intenções. Ninguém houve também que tenha podido sugerir ou dar a conhecer aquilo que lhe pareceu ser a verdade, não digo a muitas nações estrangeiras, mas nem mesmo sequer a um só povo, para que todos alcançassem a sua ciência ou a sua fé. E, no entanto, não se pode duvidar que os legisladores gostariam que suas leis fossem obedecidas por todos, se isto fosse possível, e que os mestres apreciariam que aquilo que lhes pareceu ser a verdade fosse também conhecido por todos. Sabendo, porém, que não seria de nenhum modo possível que neles subsistisse tamanha virtude que fosse capaz de convidar as nações estrangeiras à observância de suas leis ou de suas afirmações, nem sequer ousaram começar a fazê-lo, para que não ficassem conhecidos como imprudentes por semelhantes iniciativas ineficazes e inexecutáveis. São, no entanto, multidões inumeráveis, em toda a face da terra, em toda a Grécia e em todas as demais nações estrangeiras, aqueles que, abandonando as leis de sua pátria e aqueles que consideravam deuses, se entregaram à observância da lei de Moisés e ao discipulado e ao culto de Cristo, e isto não sem um grande ódio levantado contra si por parte daqueles que veneram os simulacros, a ponto de serem frequentemente atormentados por parte destes e algumas vezes inclusive conduzidos à morte. Mesmo assim, abraçam e observam com todo o afeto a palavra do ensinamento de Cristo. É verdadeiramente admirável como em tão breve tempo está religião cresceu pelo sofrimento e pelo martírio de seus seguidores, pela violência que lhes foi feita e pela paciência com que toleraram todo gênero de suplícios. Mais admirável ainda é que seus doutores não são nem eruditos nem numerosos e, no entanto, esta palavra é pregada em toda a terra, de modo que gregos e bárbaros, sábios e ignorantes, recebem a doutrina cristã. Não há dúvida de que isto não se realiza por força ou obra humana. A palavra de Cristo Jesus se fortalece com toda a fé e poder junto a todas as mentes e junto a todas as almas. Ademais, é manifesto que todas estas coisas foram preditas e confirmadas por Ele, quando disse em seus divinos oráculos: "Por causa de mim sereis conduzidos à presença de governadores e juízes, para dar testemunho perante eles e perante as nações". (Mateus 10, 18) Também: "Este evangelho será pregado em todas as nações". (Mateus 24, 14) E novamente: "Muitos me dirão naquele dia: `Senhor, Senhor, porventura não foi em teu nome que caminhamos e bebemos, e em teu nome que expulsamos demônios?' E eu lhes direi: `Afastai-vos de mim, vós que operais a iniquidade, nunca vos conheci". (Mateus 7, 22-23) Se todas estas coisas tivessem sido ditas por Ele, mas sem que se tivesse realizado o que havia sido predito, pareceriam talvez menos verdadeiras, embora tivessem mesmo assim alguma autoridade. Agora, porém, preditas com tanto poder e autoridade e tendo chegado à sua realização, fica manifestamente declarado ser verdade que Ele, ao fazer-se homem, veio trazer aos homens os preceitos da salvação. E o que deveremos dizer sobre o que, antes dEle, os profetas predisseram sobre Ele? Estava escrito que não cessariam os príncipes de Judá, nem os soberanos de seu meio, até que chegasse aquele a quem teria sido confiado o reino, e até que viesse a expectação dos povos (Gênesis. 49, 10). Pelo que hoje pode observar-se, tudo isto é mais do que manifesto pela própria história. Desde os tempos de Cristo não há mais reis entre os judeus. Todas aquelas ambições judaicas nas quais tantos se jactavam e se exaltavam, seja do decoro do Templo, seja dos famosos altares, de todos aqueles aparatos sacerdotais e vestimentas pontifícias, tudo isto foi destruído. Consumou-se assim a profecia que dizia: "Os filhos de Israel ficarão durante muitos dias sem reis e sem príncipes, sem sacrifício e sem altar, sem sacerdócio e sem respostas". (Oseias 3, 4) 10 Utilizamos estes testemunhos para aqueles que, no que diz respeito às coisas que foram ditas no Gênesis por Jacó ao falar de Judá (Gênesis. 49, 10), parecem afirmar que ainda haveria um príncipe da descendência de Judá, que seria aquele que é o príncipe de seu povo e ao qual chamam de Patriarca, os quais afirmam também que não poderá faltar alguém que permaneça de sua descendência até o advento do Cristo, conforme o descrevem para si mesmos. Mas se é verdadeiro o que diz o Profeta, segundo quem "por muitos dias os filhos de Israel, permanecerão sem rei e sem príncipe, nem haverá sacrifício, nem altar, nem sacerdócio", e se, de fato, desde que foi destruído o Templo, não se oferecem mais sacrifícios, nem se encontram altares, e se consta também não haver sacerdócio, é mais do que certo que "faltam os príncipes de Judá", assim como estava escrito, "nem há soberanos em seu meio, até que venha aquele a quem foi confiado o reino". (Gênesis 49, 10) Consta, porém, que já veio Aquele a quem foi confiado, Aquele em que reside a expectação das nações, e que tudo isto parece manifestamente consumado pela multidão daqueles que, de diversas nações, por meio de Cristo, creram em Deus. 4. Mas no Deuteronômio também nos é assinalado, por meio de uma profecia, que pelos pecados do primeiro povo haveria a futura eleição de um povo insensato, eleição esta que não é outra senão a que foi realizada por Cristo. Assim, de fato, está escrito: "Eles provocaram-me com o que não era Deus, e irritaram-me com os seus simulacros; e eu os provocarei em meu zelo, e os irritarei com um povo insensato". (Deuteronômio 32, 21) É bastante evidente que os hebreus, dos quais se diz terem provocado a Deus com aqueles que não são deuses e terem-no irritado com os seus simulacros, irritaram-se também eles em ciúmes por um povo insensato, que Deus escolheu pelo advento de Jesus Cristo, e pelos seus discípulos. De fato, assim diz o Apóstolo: "Vede a vossa vocação, irmãos, como entre vós não há muitos sábios segundo a carne, nem muitos nobres, mas aqueles que são estultos para o mundo, estes Deus escolheram, e os que não são, para destruir os que eram primeiro". (I Coríntios 1, 27-28) Não se glorie, portanto, o Israel carnal. Assim é, de fato, que este é chamado pelo Apóstolo, "para que não se glorie a carne na presença de Deus". (I Coríntios 1, 29). O que se deverá dizer, também, do que é profetizado de Cristo nos Salmos, principalmente naquele que levou o título de `Cântico pelo Amado', onde se diz: "Sua língua é como a pena de um escriba que escreve velozmente; ultrapassa em formosura aos filhos dos homens, pois a graça derramou-se sobre os seus lábios"? (Salmos 44, 2-3) O sinal da graça derramada em seus lábios é que, passado tão breve tempo, pois ensinou Ele por apenas um ano e alguns poucos meses, toda a terra encheu-se com a doutrina e a fé da sua piedade. Floresceu, portanto, "em seus dias a justiça, e a abundância da paz", (Salmos 71, 7) que durará até o fim, fim este que no salmo é designado como "até que a lua deixe de existir" (Salmos 71, 7). "E dominará de mar a mar, e desde o rio até as extremidades da terra". (Salmos 71, 8) Foi dado também este sinal à casa de Davi: "Uma virgem conceberá, e dará à luz a um filho, cujo nome será Emmanuel, que quer dizer Deus conosco". (Isaías 7, 14) "Ajuntai-vos, povos, e sereis vencidos" (Isaías 8, 9). Fomos vencidos e superados, nós que somos dos gentios, e somos como que despojos de sua vitória, nós que dobramos nosso pescoço à sua graça. Mas também o lugar de seu nascimento foi predito pelo profeta Miquéias, ao dizer: "E tu, Belém, terra de Judá, não és a menor entre as cidades de Judá. De ti, de fato, sairá o condutor que regerá o meu povo de Israel". (Miquéias 5, 2) Completaram-se também as semanas de anos até o Cristo condutor que haviam sido preditas pelo profeta Daniel. Está também presente aquele que em Jó é dito que haveria de vencer a enorme besta, o qual também deu poder aos seus discípulos de "calcar aos pés serpentes e escorpiões, e todo o poder do inimigo, sem que nada lhes fizesse dano". (Lucas 10, 19) Se alguém considerar igualmente os discursos dos apóstolos de Cristo, pelos quais estes pregaram o Evangelho de Cristo por cada um dos lugares aos quais foram por Ele enviados, encontrará que o que eles ousaram começar é algo sobre humano e o que eles puderam realizar provém de Deus. Se considerarmos como os homens os receberam, ao ouvirem que eles lhes anunciavam uma nova doutrina; ou melhor, como frequentemente os homens, querendo fazer-lhes o mal, foram impedidos 12 por uma força divina que neles havia, veremos que nada nesta causa foi realizado por forças humanas, mas tudo pelo poder e pela providência divina, o que sem dúvida, por sinais e portentos evidentes, testemunha em favor de sua palavra e de seus ensinamentos. Demostradas previamente estas coisas, isto é, a deidade de Jesus Cristo e a realização de todas as coisas que dele foram profetizadas, julgo que com isto provamos também que as próprias Escrituras que sobre Ele profetizaram são divinamente inspiradas. Elas predisseram o seu advento, o poder de sua doutrina e a assunção de todos os povos. Devemos acrescentar também que é principalmente pelo advento de Cristo ao mundo que se ilumina e prova-se que tanto os vaticínios dos profetas como a Lei de Moisés são divinos e divinamente inspirados. Antes que se tivessem realizado as coisas que haviam sido por eles preditas por eles, embora estes fossem verdadeiros e inspirados por Deus, não podiam, todavia, ser mostrados como verdadeiros, pelo fato de que ainda não podiam ser provados realizados. O advento de Cristo, porém, manifestou serem verdadeiras e divinamente inspiradas as coisas que eles haviam dito, já que antes era incerto se as coisas que haviam sido preditas seriam realizadas com êxito. Mesmo assim, porém, se alguém considerar os escritos proféticos com toda a aplicação e reverência de que são dignos, no próprio ato de lê-los e de examiná-los diligentemente, reconhecerá certamente, tocado por alguma inspiração divina em sua mente e em seus sentidos, que aquilo que lê não foi dito humanamente, mas que é palavra de Deus. Sentirá por si mesmo que estes livros foram escritos não por uma arte humana, nem por discurso de mortais, mas pela excelência de uma arte divina. O esplendor do advento de Cristo, iluminando pelo fulgor da verdade a lei de Moisés e retirando o véu que estava sobreposto à sua letra, descobriu a todos os que creem Nele toda a multidão de bens que o invólucro da palavra escondia. É algo verdadeiramente trabalhoso enumerar cada uma das coisas que outrora foram ditas pelos profetas, e como e quando cada uma se realizou, para que por elas vejamos confirmarem-se aqueles que duvidam. Para quem queira conhecê-las mais diligentemente, será possível reunir abundantemente estas provas dos próprios livros da verdade. Não se admirem, porém, se perceberem que as coisas divinas são transmitidas ao homem com alguma lentidão, quando aos que são menos eruditos nas 13 disciplinas divinas não se lhes descobre imediatamente, logo na primeira leitura, o sentido que está acima do homem. Tudo isto está tanto mais escondido quanto mais incrédulo ou indigno for o homem. É coisa certa que tudo o que está ou se faz neste mundo é dispensado pela providência divina. Algumas, porém, manifestam de modo bastante evidente serem governadas pela providência, enquanto outras têm uma explicação tão oculta e tão incompreensível que nelas a razão da divina providência é-nos inteiramente oculta, e de tal modo que às vezes alguns nem creem que pertençam à providência. A razão pela qual, por uma inefável arte, a obra da divina providência é dispensada, permanece escondida; esta razão, todavia, não está igualmente oculta para todos. Entre os homens ela é considerada por uns menos, por outros mais, e é mais conhecida pelos que habitam no céu do que por todos os homens que habitam na terra. A natureza dos corpos é clara para nós de modo diverso pelo qual é a natureza das árvores, dos animais e da alma. A maneira pela qual os diversos movimentos das mentes racionais são atribuídos pela divina providência está mais escondida para os homens do que para os anjos, embora também para eles julgo que não o esteja pouco. No entanto, assim como a existência da divina providência não é refutada por aqueles que estão certos de sua existência, mas que não podem compreender sua obra e dispensação pelo engenho humano, assim também nem a inspiração divina da Sagrada Escritura, que se estende através de todo o seu corpo, pode ser considerada inexistente porque a enfermidade de nossa inteligência não é capaz de investigar as sentenças ocultas e escondidas em cada singular palavra. O tesouro da divina sabedoria está escondido nos recipientes mais vis e grosseiros das palavras, como o próprio Apóstolo o afirma, dizendo: "Trazemos este tesouro em vasos de barro". (II Coríntios 4, 7) Não misturando nenhum ornamento da eloquência humana na verdade dos dogmas, mais, resplandece com isto a virtude da potência divina. Se, de fato, nossos livros tivessem sido escritos de modo que levassem os homens a crer seduzindo-os pela astúcia filosófica ou pela arte retórica, sem dúvida a nossa fé seria considerada estar fundamentada na arte das palavras ou na sabedoria humana e não no poder de Deus. Agora, porém, é conhecido por todos que a palavra desta pregação foi recebida por muitos em todo o mundo de tal modo que os que creram entenderam que ela se fundamenta não em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas na demonstração da força e do espírito. Pelo que, conduzidos por uma celeste virtude, ou até mais do que celeste, à fé e à aceitação pela qual adoramos nosso Deus como o único Criador de todas as coisas, procuremos agora esforçar-nos para que, abandonando a palavra dos inícios de Cristo que são os primeiros princípios da ciência, sejamos conduzidos à perfeição, para que aquela sabedoria, que é transmitida aos perfeitos, também seja transmitida. Assim, de fato, foi afirmado por aquele a quem foi confiada a 14 pregação desta sabedoria: "No entanto, é da sabedoria que falamos entre os perfeitos, não a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que serão destruídos". (I Coríntios 2, 6) Ele nos mostra, com estas palavras, que está nossa sabedoria nada tem em comum, no que nos diz respeito à beleza do fraseado, com a sabedoria deste mundo. Esta sabedoria será inscrita mais clara e perfeitamente em nossos corações se nos for manifestada segundo a revelação do mistério que ficou oculto desde os tempos eternos, e que foi agora manifestado pelos escritos proféticos e pelo advento do Senhor e Salvador nosso Jesus Cristo, a quem seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém. DE PRINCIPIIS. LIVRO IV – PARTE I. Abraço. Davi

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

OS BENEFÍCIOS DA COMPAIXÃO

 

Budismo. Livro A Vida de Compaixão. Autor Tenzin Gyatso (1935 - ). O Décimo Quarto Dalai-Lama. Capítulo IA. OS BENEFÍCIOS DA COMPAIXÃO. Minhas experiências não têm nada de especial, são apenas experiências humanas normais. Entretanto, graças ao meu treinamento budista, aprendi um pouco sobre compaixão e com desenvolver um bom coração. Essa experiência revelou-se muito útil na minha vida cotidiana. Por exemplo, a região do Tibet, de onde venho, chama-se Amdo, e geralmente os nativos são considerados pessoas de pavio curto. Então, no Tibet, quando alguém perde a paciência, as pessoas muitas vezes consideram isso um sinal de que é originário de Amdo ! No entanto, quando comparo meu temperamento de hoje ao que tinha entre meus quinze e vinte anos, vejo uma diferença flagrante. Hoje em dia quase não fico irritado e, mesmo quando isso acontece, a irritação dura pouco. Esse é um dos benefícios maravilhosos da minha própria prática e treinamento – agora estou sempre alegre ! Durante a minha vida, perdi meu país e fui obrigado a tornar-me totalmente dependente da boa vontade das pessoas. Também perdi minha mãe, e a maioria dos meus preceptores e lamas já morreu. É claro que são incidentes trágicos, e fico triste quando penso neles. No entanto, não me sinto soterrado pela tristeza. Rostos velhos, conhecidos, desaparecem, e surgem novos rostos, mesmo assim mantenho minha felicidade e minha paz de espírito. Para mim, a capacidade de encarar os acontecimentos com uma perspectiva mais ampla é uma das maravilhas da natureza humana e acredito que esteja enraizada em nossa capacidade de compaixão e bondade para com os outros. Nossa Natureza fundamental. Alguns dos meus amigos me disseram que, embora o amor e a compaixão sejam maravilhosos e bons, eles não são realmente relevantes. Nosso mundo, dizem eles, não é um lugar onde tais virtudes tenham muita influência ou poder. Eles alegam que a raiva e o ódio fazem parte da natureza humana a tal ponto que a humanidade será sempre dominada por eles. Não concordo. Nós, humanos, existimos em nossa forma atual há cerca de cem mil anos. Acredito que durante esse tempo, se a mente humana houvesse sido controlada principalmente pela raiva e pelo ódio, nossa população teria diminuído. Mas hoje em dia, apesar de todas as nossas guerras, vemos que a população humana está maior do que nunca. Isso para mim indica claramente que, embora a raiva e a agressão sem dúvida estejam presentes, o amor e a compaixão predominam no mundo. É por isso que o que chamamos de “notícia” compõe-se em sua maioria de acontecimentos desagradáveis ou trágicos. As atividades de compaixão fazem parte da vida cotidiana a tal ponto que são consideradas naturais e, assim, são em grande parte ignoradas. Se considerarmos a natureza humana básica, podemos ver que ela é mais gentil do que agressiva. Por exemplo, se examinarmos diversos animais, perceberemos que ele tem temperamentos pacíficos. Têm uma estrutura corporal correspondente, enquanto os predadores têm uma que se desenvolveu de acordo com seu temperamento. Comparece o tigre e o cervo: há grandes diferenças em suas estruturas físicas. Quando conferimos nossa estrutura corporal com a deles, vemos que nos parecemos mais com os cervos e com os coelhos do que com os tigres. Até nossos dentes se parecem mais com os de um coelho, não é? Não se assemelham com os de um tigre. Nossas unhas são outro bom exemplo. Não consigo sequer fazer mal a um rato só com um arranhão. É claro que, por causa da inteligência humana, somos capazes de inventar e usar várias ferramentas, assim como adotar métodos para realizar aquilo que seria difícil de ser conseguido sem eles. No entanto, por causa de nossa situação física, pertencemos à categoria dos animais gentis. Afinal, somos animais sociais. Sem a amizade humana, sem o sorriso humano, nossas vidas se tornam infelizes. A solidão torna-se insuportável. Essa interdependência humana é uma lei natural, ou seja, de acordo com a lei natural, dependemos dos outros para viver. Se em determinadas circunstâncias, porque algo não vai bem dentro de nós. Nossa atitude se torna hostil em relação aos seres humanos, nossos semelhantes, dos quais dependemos. Como podemos esperar alcançar a paz de espírito ou uma vida feliz? Segundo a natureza humana básica, ou lei natural, a interdependência – dar e receber afeição – é a chave para a felicidade. Esse fato pode se tornar mais evidente se refletirmos sobre o padrão básico de nossa existência. De modo a fazer mais do que apenas sobreviver, precisamos de abrigo, de comida, de parceiros, de amigos, da estima dos outros, de recursos e assim por diante. Não podemos obter essas coisas sozinhos, mas dependemos todos dos outros. Suponhamos que uma única pessoa fosse viver sozinha em um lugar distante e desabitado. Por mais forte, saudável ou educada que fosse, não haveria nenhuma possibilidade de ela ter uma existência feliz e gratificante. Se, por exemplo, uma pessoa estiver vivendo em algum lugar remoto da selva africana e for o único ser humano em uma reserva de animais. Devido a inteligência e perspicácia dessa pessoa, o melhor que poderá fazer será tornar-se, talvez, rei da selva. Essa pessoa poderá ter amigos? Poderá conquistar renome? Poderá se tornar um herói, se desejar? Penso que a resposta para todas essas perguntas seja definitivamente não. Pois todos esses fatores só existem em relação a outros seres humanos semelhante. Quando você é jovem, saudável e forte, algumas vezes pode ter a sensação de que é totalmente independente e não precisa de mais ninguém. Mas isso é uma ilusão. Mesmo na flor da idade, pelo simples fato de ser humano, você precisa de amigos, não precisa? Isso é particularmente verdadeiro quando ficamos velhos. Por exemplo, no meu caso pessoal, o Dalai-Lama, agora na casa dos sessenta anos, ano de 1995, começa a dar sinais de que a velhice está chegando. Posso ver mais cabelos brancos surgirem na minha cabeça e estou começando a ter problemas nos joelhos algumas vezes quando me levanto ou me assento. Conforme ficamos velhos, precisamos cada vez mais da ajuda dos outros. É essa a natureza de nossas vidas como seres humanos. Em pelo menos um sentido, podemos dizer que os outros são realmente a principal fonte de todos as nossas experiências de alegria, felicidade e prosperidade. Não apenas no que diz respeito ao nosso trato cotidiano com outras pessoas. Podemos ver que todas as experiências desejáveis que valorizamos ou às quais aspiramos dependem da cooperação e da interação com os outros. É um fato óbvio. Do mesmo modo, do ponto de vista de um praticante do budismo, muitos dos altos níveis de realização que você pode alcançar e do progresso que faz em sua jornada espiritual. Dependem da cooperação e da interação com os outros. Além disso, no estágio da iluminação completa, as atividades de compaixão de um buda só podem surgir espontaneamente em relação à outros seres, por serem os receptores e beneficiários dessas atividades iluminadas. Mesmo de um ponto de vista totalmente egoísta – querer apenas nossa própria felicidade, conforto e satisfação na vida. Sem consideração pelo bem-estar dos outros. Ainda argumentaria que a realização de nossas aspirações depende da existência deles. Por exemplo, para poder trapacear, você precisa de alguém que seja o objeto de sua ação. Todos os eventos e incidentes da vida estão tão intimamente ligados ao destino dos outros que uma única pessoa sozinha não pode sequer começar a agir. Muitas atividades humanas comuns, tanto positivas quanto negativas. Não podem ser concebidas separadamente da existência de outras pessoas. Por causa dos outros, temos a oportunidade de ganhar dinheiro, se é isso que desejamos da vida. Do mesmo modo, apoiando-se na existência dos outros, a mídia torna-se capaz de criar fama ou desgraça para alguém. Sozinho, é impossível criar qualquer fama ou desgraça, por mais alto que você grite. O máximo que conseguirá fazer é criar um eco de sua própria voz. Assim a interdependência é uma lei fundamental da natureza. Não apenas as formas de vida mais avançadas, mas também muitos dos insetos mais diminutos são seres sociais que. Sem nenhuma religião, lei ou educação, sobrevivem graças à cooperação mútua baseada em um reconhecimento inato da relação existente entre eles. O nível mais sutil de fenômenos materiais também é governado pela interdependência. Todos os fenômenos, desde o planeta onde vivemos até os oceanos, nuvens, florestas e flores que nos cercam. Surgem dependentes de padrões sutis de energia. Sem sua interação adequada, eles se dissolvem e se deterioram. Livro A Vida de Compaixão. Abraço. Davi