Budismo Nitiren Daishonin. Por Daisaku
Ikeda (1928- ). Quando eu estava na quarta ou quinta série
escolar, eu estava brincando com meu amigo, perto de um grande reservatório de
água e acabei caindo. Eu poderia facilmente ter morrido, pois eu não possuía muita
força. Mas, meu amigo correu rapidamente até o meu pai, que ao ouvi-lo, rumou
para o reservatório. Assim, ele acabou me resgatando. Ele era tão robusto –
para uma criança, seu pai sempre parece grande – que eu me lembro a sensação de
seus braços me puxando, um senso de ter sido salvo do perigo. Eu nunca
esquecerei este fato. Neste momento eu pensei – isto é ser um pai, este é o
tipo de pai que eu gostaria de ser quando crescer. Não havia nada de
extraordinário em meu pai. Ele era um homem de poucas palavras, mas seu amor
por seus filhos era profundo e certo. Em minha própria família, eu sempre estive
extremamente ocupado e minha esposa, Kaneko, agia como uma "central de
informações" entre eu e os meus três filhos. Ela lhes dizia aonde eu
estava, o que e a razão das minhas atividades e sobre os meus sentimentos. Além
disso, ela sempre me atualizava, pelo telefone, como eles estavam e eu sempre
busquei enviar constantes cartões-postais, sempre endereçado para cada um
deles. Eu sentia que o meu papel era ensinar os meus filhos a viver como seres
humanos de forma respeitável e esperava que todos possuíssem a força física e
espiritual para conduzir qualquer profissão que escolhessem no futuro. Eu
somente era bastante severo em um ponto: nunca dizer mentiras. Afora, eu
acredito que fui bastante liberal e tolerante. Eu
percebi que os filhos podem se tornar retraídos, caso seus pais os repreendam
constantemente. Geralmente, os filhos estão seguros do amor maternal, tanto que
até a bronca por parte da mãe pode ser vista como uma expressão de amor. Em
contraste, ser censurado pelo pai é realmente amedrontador. Esta dor e pressão
pode até mesmo provocar a rebelião por parte dos filhos. Em particular, eu
acredito que ambos os pais devem ser cuidadosos em nunca repreender o filho ao
mesmo tempo, pois esta situação pode deixá-los desamparados e com a sensação de
estar num beco sem saída. É fundamental que, não importando o quão ocupado o pai possa estar,
deve-se achar algum tempo para conversar e estar junto com seus filhos. Por
experiência própria, é um erro pensar que os filhos irão de alguma forma pensar
automaticamente que nós os amamos. É necessário esforços conscientes para
compartilhar nossos verdadeiros sentimentos e pensamentos com nossos filhos
através das palavras, de uma maneira aberta e confortável. Há diversas formas para
se manter a comunicação fluindo, como por exemplo o de Indira Gandhi
(1917-1984) e seu pai, Jawaharlal Nehru (1861-1931), o primeiro
primeiro-ministro da Índia. Ele foi aprisionado por nove vezes durante a luta
indiana pela independência, e embora ele estivesse na prisão, Nehru e sua única
filha frequentemente trocavam correspondências. Certa vez, Indira escreveu: Eu
sinto tanto a sua falta. Eu mantenho o seu quarto fechado, pois eu odeio entrar
lá e vê-lo totalmente vazio e sem vida. Em resposta, Nehru lhe respondeu: Devo
lhe dizer como eu reagi (...) quando você estava estudando na Suíça ou
Inglaterra? Eu mantinha a porta do seu quarto e da minha bem aberta. Todas as
manhãs eu ia até o seu quarto e todas as noites eu caminhei até lá para dar boa
noite. Eu queria que seu quarto fosse brilhante e arejado (...) como se você
tivesse acabado de sair e fosse retornar a qualquer momento. Após receber esta
carta, Indira seguiu o seu conselho e arrumou todo o quarto do seu pai. Não importa o quão alto
sejam as muralhas de separação física, a porta entre os corações do pai e filha
estava sempre abertas.
As dificuldades enfrentadas pelos pais que trabalham para
sustentar suas famílias são imensuráveis. Eles têm que lutar em meio a
constantes mudanças no plano econômico e exaurem seus cérebros para serem
bem-sucedidos no local de serviço em prol da sua família. Mas, as crianças
geralmente não tem muitas oportunidade de ver seus pais – em ação – no
trabalho. A vasta maioria não faz a mínima ideia do esforço empreendido por
seus pais. Assim, tudo o que eles veem é um figura exausta, que após chegar em
casa, somente se espreguiça e vê televisão. Qualquer que seja a
responsabilidade imposta por sua carreira, eu acredito que um pai deve se
manter firme, enquanto tolera as agruras que a vida nos traz. Assim, ele irá
sempre ser o pilar da família. Eu ouvi uma comovente história sobre uma jovem estudante que
tinha vergonha por seu pai trabalhar como rebocador, enquanto os pais de suas
amigas usavam terno e gravata para trabalhar. Ela confessou seus sentimentos
para sua mãe, que a levou até o local onde seu pai estava trabalhando. Lá, ela
viu seu pai sobre o teto de uma obra que crepitava com o calor, mergulhado em
suor, mas imerso em seu trabalho. Observe bem o seu pai que está trabalhando
arduamente neste calor, disse sua mãe. Posteriormente, a filha perguntou ao seu
pai a razão dele não trabalhar em um escritório, assim ele poderia estar
trabalhando sob um local com teto, ao invés de estar sentado sobre ele. O pai sorriu e disse:
Diferentes tipos de serviço servem para diferentes pessoas. Todos estão dando o
melhor de si para viver. Mas, nenhum emprego é tão fácil como parece para um
mero observador. Eu estou realmente orgulhoso do meu trabalho. Por favor, não
julgue as pessoas por sua aparência. A garota refletiu sobre este fato e começou
a compreender o significado das palavras do seu pai. Ela chegou a conclusão:
Não resta a menor dúvida de que meu pai é o melhor do mundo. Eu vou ser como
ele e seja o que for eu darei o melhor de mim. Pais – e mães – que
estão imbuídos do orgulho por suas vidas, não importando o caminho que
escolheram e que enfrentam cada desafio com confiança e altivez – deixam um
verdadeiro e inestimável legado para seus filhos. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.
Fonte: Mirror Weekly, 20 de julho de 1998