quarta-feira, 30 de março de 2016

Paternidade.



Budismo Nitiren Daishonin. Por Daisaku Ikeda (1928-  ).  Quando eu estava na quarta ou quinta série escolar, eu estava brincando com meu amigo, perto de um grande reservatório de água e acabei caindo. Eu poderia facilmente ter morrido, pois eu não possuía muita força. Mas, meu amigo correu rapidamente até o meu pai, que ao ouvi-lo, rumou para o reservatório. Assim, ele acabou me resgatando. Ele era tão robusto – para uma criança, seu pai sempre parece grande – que eu me lembro a sensação de seus braços me puxando, um senso de ter sido salvo do perigo. Eu nunca esquecerei este fato. Neste momento eu pensei – isto é ser um pai, este é o tipo de pai que eu gostaria de ser quando crescer. Não havia nada de extraordinário em meu pai. Ele era um homem de poucas palavras, mas seu amor por seus filhos era profundo e certo. Em minha própria família, eu sempre estive extremamente ocupado e minha esposa, Kaneko, agia como uma "central de informações" entre eu e os meus três filhos. Ela lhes dizia aonde eu estava, o que e a razão das minhas atividades e sobre os meus sentimentos. Além disso, ela sempre me atualizava, pelo telefone, como eles estavam e eu sempre busquei enviar constantes cartões-postais, sempre endereçado para cada um deles. Eu sentia que o meu papel era ensinar os meus filhos a viver como seres humanos de forma respeitável e esperava que todos possuíssem a força física e espiritual para conduzir qualquer profissão que escolhessem no futuro. Eu somente era bastante severo em um ponto: nunca dizer mentiras. Afora, eu acredito que fui bastante liberal e tolerante. Eu percebi que os filhos podem se tornar retraídos, caso seus pais os repreendam constantemente. Geralmente, os filhos estão seguros do amor maternal, tanto que até a bronca por parte da mãe pode ser vista como uma expressão de amor. Em contraste, ser censurado pelo pai é realmente amedrontador. Esta dor e pressão pode até mesmo provocar a rebelião por parte dos filhos. Em particular, eu acredito que ambos os pais devem ser cuidadosos em nunca repreender o filho ao mesmo tempo, pois esta situação pode deixá-los desamparados e com a sensação de estar num beco sem saída. É fundamental que, não importando o quão ocupado o pai possa estar, deve-se achar algum tempo para conversar e estar junto com seus filhos. Por experiência própria, é um erro pensar que os filhos irão de alguma forma pensar automaticamente que nós os amamos. É necessário esforços conscientes para compartilhar nossos verdadeiros sentimentos e pensamentos com nossos filhos através das palavras, de uma maneira aberta e confortável. Há diversas formas para se manter a comunicação fluindo, como por exemplo o de Indira Gandhi (1917-1984) e seu pai, Jawaharlal Nehru (1861-1931), o primeiro primeiro-ministro da Índia. Ele foi aprisionado por nove vezes durante a luta indiana pela independência, e embora ele estivesse na prisão, Nehru e sua única filha frequentemente trocavam correspondências. Certa vez, Indira escreveu: Eu sinto tanto a sua falta. Eu mantenho o seu quarto fechado, pois eu odeio entrar lá e vê-lo totalmente vazio e sem vida. Em resposta, Nehru lhe respondeu: Devo lhe dizer como eu reagi (...) quando você estava estudando na Suíça ou Inglaterra? Eu mantinha a porta do seu quarto e da minha bem aberta. Todas as manhãs eu ia até o seu quarto e todas as noites eu caminhei até lá para dar boa noite. Eu queria que seu quarto fosse brilhante e arejado (...) como se você tivesse acabado de sair e fosse retornar a qualquer momento. Após receber esta carta, Indira seguiu o seu conselho e arrumou todo o quarto do seu pai. Não importa o quão alto sejam as muralhas de separação física, a porta entre os corações do pai e filha estava sempre abertas. As dificuldades enfrentadas pelos pais que trabalham para sustentar suas famílias são imensuráveis. Eles têm que lutar em meio a constantes mudanças no plano econômico e exaurem seus cérebros para serem bem-sucedidos no local de serviço em prol da sua família. Mas, as crianças geralmente não tem muitas oportunidade de ver seus pais – em ação – no trabalho. A vasta maioria não faz a mínima ideia do esforço empreendido por seus pais. Assim, tudo o que eles veem é um figura exausta, que após chegar em casa, somente se espreguiça e vê televisão. Qualquer que seja a responsabilidade imposta por sua carreira, eu acredito que um pai deve se manter firme, enquanto tolera as agruras que a vida nos traz. Assim, ele irá sempre ser o pilar da família. Eu ouvi uma comovente história sobre uma jovem estudante que tinha vergonha por seu pai trabalhar como rebocador, enquanto os pais de suas amigas usavam terno e gravata para trabalhar. Ela confessou seus sentimentos para sua mãe, que a levou até o local onde seu pai estava trabalhando. Lá, ela viu seu pai sobre o teto de uma obra que crepitava com o calor, mergulhado em suor, mas imerso em seu trabalho. Observe bem o seu pai que está trabalhando arduamente neste calor, disse sua mãe. Posteriormente, a filha perguntou ao seu pai a razão dele não trabalhar em um escritório, assim ele poderia estar trabalhando sob um local com teto, ao invés de estar sentado sobre ele. O pai sorriu e disse: Diferentes tipos de serviço servem para diferentes pessoas. Todos estão dando o melhor de si para viver. Mas, nenhum emprego é tão fácil como parece para um mero observador. Eu estou realmente orgulhoso do meu trabalho. Por favor, não julgue as pessoas por sua aparência. A garota refletiu sobre este fato e começou a compreender o significado das palavras do seu pai. Ela chegou a conclusão: Não resta a menor dúvida de que meu pai é o melhor do mundo. Eu vou ser como ele e seja o que for eu darei o melhor de mim. Pais – e mães – que estão imbuídos do orgulho por suas vidas, não importando o caminho que escolheram e que enfrentam cada desafio com confiança e altivez – deixam um verdadeiro e inestimável legado para seus filhos. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.
Fonte: Mirror Weekly, 20 de julho de 1998

terça-feira, 29 de março de 2016

Diálogo Islâmico Budista.



Budismo Tibetano. Palavras do Dalai Lama. Transcrito por Alexander Berzin. Envolvimento Pessoal. O meu envolvimento pessoal no diálogo islâmico budista desenvolveu-se gradualmente ao longo de muitos anos. Nas minhas viagens à volta do mundo ensinando budismo, visitei vários países muçulmanos. Em alguns deles, não me dirigi diretamente a audiências muçulmanas. Por exemplo, na Malásia e na Indonésia, dirigi-me a grupos budistas chineses, embora ocasionalmente discutisse com eles as suas relações com a maioria muçulmana nos seus países. Eu também falei com grupos de estudantes universitários, faculdades e buscadores espirituais nas Repúblicas Islâmicas da Ásia Central do Cazaquistão, Quirguistão, e Uzbequistão que sabiam muito pouco acerca da herança islâmica do seu país. Estavam interessados em aprender o que o budismo e outras religiões e filosofias do mundo tinham a oferecer, a fim de lidarem com os problemas pós-soviéticos. Eu só entrei num diálogo especificamente islamo-budista depois de uma extensa excursão por toda a Ásia Central, em 1994, quando me tornei mais consciente sobre o potencial da cooperação islamo-budista para lidar com algumas das questões sociais ali mais prementes. Maurício. Mais tarde, nesse ano, comecei esse diálogo durante uma viagem pela África, especificamente à Maurício e Zanzibar. Estas duas ilhas são os principais pontos intermediários para o tráfico de heroína do sul da Ásia para o continente africano. Numa reunião com o Presidente Mauriciano, um indiano de cultura muçulmana, eu discuti o problema do abuso de drogas entre a juventude desmoralizada e desempregada do Tibete. E como a sua comunidade religiosa estava lidando com semelhante problema no seu país. Ele partilhou a minha preocupação sobre o problema e concordou com a importância da religião no estímulo à autoestima, apoio comunitário e ética para erguer aqueles que tinham sido afetados. Mais tarde, ­na Universidade da Maurício, dei uma palestra sobre "Readquirir Valores Morais na Idade Moderna: O Que o Budismo Tibetano Pode Oferecer". Houve uma resposta entusiástica. Zanzibar. Em Zanzibar, que a população  é de 95% muçulmana, encontrei-me com os chefes locais que me falaram sobre o modesto sucesso do uso do islão na ajuda àqueles que desejam abandonar o seu hábito da heroína. Quando os ex viciados são mantidos ocupados com lavagens e orações rituais cinco vezes por dia, não têm muito tempo vago e inativo para o preencherem com drogas. Este exemplo dá-nos que pensar sobre os possíveis benefícios de atividades físicas, como as prostrações, para viciados de cultura budista. Turquia. Na primavera de 1995, durante uma visita a Istambul, Turquia, encontrei-me com o decano e um grupo de professores de Lei Islâmica e Filosofia de Religião, da Faculdade Ilahiyat de Teologia Islâmica da Universidade de Marmara. Eu tinha pedido a reunião a fim de falar sobre a perspectiva da lei islâmica em relação ao budismo, como uma forma de ajudar e apoiar a harmonia religiosa islâmico budista face à situação atual de grande afluência de migrantes Hui (chineses muçulmanos) no Tibete. Uma comunidade de muçulmanos tem vivido no Tibete desde o século XVII, bem integrada na comunidade predominantemente budista, e gozando por tradição de especiais privilégios legais, concedidos pelo V Dalai Lama. No entanto, a atual situação de grande estresse no Tibete, com a grande transferência populacional das áreas da China Han, produziu compreensíveis tensões. Os professores sentiram que não havia nenhum problema do lado do islão em relação à harmonia com os budistas, e citaram três razões. Certos eruditos islâmicos modernos afirmaram que o Profeta Dhu'l Kifl – o "homem de Kifl" – mencionado duas vezes no Quran [Alcorão] se refere a Budha, sendo Kifl a interpretação árabe do nome do reino nativo de Budha, Kapilavastu. A menção Quranic [alcorâ nica] da figueira, continuaram eles, refere-se à árvore bodhi sob a qual Budha manifestou a sua iluminação. O Quran [Alcorão] diz que os seguidores de Dhu'l Kifl são pessoas justas. Segunda; al-Biruni e al-Shahrastani, dois eruditos islâmicos que visitaram a Índia nos séculos XI e XII, respectivamente. E escreveram sobre as suas religiões, chamaram "Profeta" o Budha, no contexto da explicitação de como os indianos consideravam Budha. E terceira, os muçulmanos caxemirianos, que se estabeleceram no Tibete a partir do século XVII, casaram com mulheres tibetanas budistas dentro do contexto da Lei Islâmica. Os professores explicaram que o islão tolera todos os "povos do Livro", definido como povos que aceitam um Deus criador. Porém, a Lei Islâmica, especificamente durante o domínio árabe de Sindh, século VIII ao X, ampliou o conceito de "povos do Livro" aos budistas dali, concedendo-lhes o mesmo estatuto e direitos que os cristãos e os judeus tinham sob o domínio árabe. Eu salientei que os árabes muçulmanos, na sua expansão à Ásia Central, no século VIII, primeiro tiveram contato com o budismo no atual Uzbequistão e norte do Afeganistão. Ali, os textos budistas mais extensamente usados encontravam-se traduzidos em turco antigo e, mais tarde, em sogdiano. Nestas línguas, "Dharma" foi traduzido pela palavra emprestada do grego "nom", que significa "lei". Os turcos e os mongóis uigures foram buscar este termo ao sogdiano, e usaram-no também para significar "livro". Assim, por toda a Ásia Central medieval, os budistas, como "povos do Dharma", podem ter sido também entendidos como "povos do Livro". Indonésia. O Estado da Indonésia, na sua maior parte muçulmano, oficialmente permite seis religiões – islamismo, catolicismo, protestantismo, hinduísmo, budismo, e confucionismo – porque todas elas aceitam um Deus criador. A fim de preencherem esses requisitos, os budistas da Indonésia postulam Adibudha. O Budha primordial do Kalachakra Tantra, como o criador. Os ensinamentos de Kalachakra tinham florescido na Indonésia, especialmente durante o final do século X, conforme relatado por Atisha durante a sua visita. Hoje em dia, há lá muito pouco conhecimento desses ensinamentos. Em 1988, durante uma excursão de palestras pela Indonésia, tive muitas conversas com monges budistas sobre a questão de Deus no budismo. Uma vez que Adibudha pode ser interpretado como a consciência primordial de luz clara, e como todas as aparências do Samsara e Nirvana são o brincar ou a "criação" dessa mente. Concluímos que não há razão para nos sentirmos desconfortáveis ao dizermos que o budismo aceita um Deus criador. O fato do budismo afirmar que Adibudha não é um ser individual separado, mas algo presente em cada ser senciente (capaz de sentir ou perceber através dos sentidos), é apenas uma questão de diferenças teológicas a respeito da natureza de Deus. Muitos pensadores judeus, cristãos, islâmicos e hindus afirmam que Deus é abstrato e está presente em todos os seres. Como os muçulmanos dizem: "Aláh tem muitos nomes". Por conseguinte, da minha experiência na Indonésia, concordei, com base em Adibudha, que o budismo aceita um Deus criador, mas com a sua própria interpretação. Assim que esta base comum foi estabelecida, pude facilmente iniciar um diálogo confortável com os teólogos islâmicos na Turquia. Convidaram-me a regressar mais tarde, nesse ano, à sua universidade para ensinar o budismo e a relação entre o islamismo e o budismo ao corpo de estudantes e à faculdade. O Diálogo entre Sua Santidade o Dalai Lama e um Mestre Sufi da África Ocidental. Sua Santidade o Dalai Lama tem tido contatos com líderes islâmicos por todo o mundo, durante muitos anos. Depois do meu regresso da Turquia à Índia, acompanhei o Dr. Tirmiziou Diallo (1938-  ), o hereditário líder religioso Sufi da Guiné, África Ocidental, a Dharamsala, para o seu encontro com Sua Santidade. Nos dias que antecederam a audiência, ele e eu debatemos ainda mais o significado de "povos do Livro". O Dr. Diallo achou que se refere a pessoas que seguem a "Tradição Primordial". Isto pode ser chamado a sabedoria de Aláh ou de Deus, ou da profunda consciência primordial, como em termos budistas lhe sugeri. Assim, ele prontamente aceitou que a tradição primordial de sabedoria foi revelada não só por Moisés, Jesus e Maomé (ou Muhammad), como também ao Budha. Se os povos seguirem esta inata tradição e sabedoria primordial, eles serão "povos do Livro". Mas, se forem contra esta boa e sábia natureza básica da humanidade e do Universo, elas não serão do "Livro". Nesse sentido, então, é aceitável dizer-se que Budha era um profeta de Deus e isto encaixa bem com a interpretação dos professores [universitários] turcos, segundo a qual "povos do Livro" se refere àqueles que aceitam o Deus criador. Adibudha, como mente de luz clara, é não só a profunda consciência primordial, como o criador de todas as aparências. O Dr. Diallo ficou muito feliz com esta conversa e citou um hadith (provérbio pessoal de Maomé) mandando seus seguidores procurarem a sabedoria por todo o caminho até à China. O próprio Dr. Diallo seguiu os princípios deste hadith. Assistiu ao último dia do discurso de Sua Santidade sobre Bodhicharyavatara (Engajando no Comportamento do Bodhisattva), de Shantideva, incluindo o empoderamento de Avalokiteshvara dado por Sua Santidade. Ele ficou especialmente comovido com os votos do Bodhisattva. Nas tradições sufistas da África Ocidental, há também um total compromisso na procura da perfeição que está para além de palavras, e no servir de toda a criação. No último dia da sua visita, o Dr. Diallo teve a sua audiência privada com Sua Santidade. Vestido com elegantes mantos brancos, o majestoso líder espiritual africano ficou tão comovido no primeiro momento da presença de Sua Santidade, que começou a chorar. Sem pedir ao seu assistente, como normalmente faria, Sua Santidade foi pessoalmente à sua antecâmara e trouxe de lá um lenço, que ofereceu ao mestre sufista para limpar as suas lágrimas. O Dr. Diallo ofereceu a Sua Santidade um tradicional turbante muçulmano, que Sua Santidade sem hesitação usou durante o resto da audiência. Sua Santidade abriu o diálogo explanando que se ambos, budistas e muçulmanos, permanecessem flexíveis nos seus pensamentos, seria possível um diálogo aberto e frutífero. O encontro foi extremamente caloroso e emocionalmente tocante. Sua Santidade fez numerosas perguntas sobre a tradição de meditação sufista, especificamente sobre as linhagens da África Ocidental que enfatizam a prática do amor, compaixão e serviço. O Dr. Diallo tem vivido muitos anos no exílio, na Alemanha, após a conquista comunista do seu país. Houve muitas coisas em comum em que os dois compartilharam. Sua Santidade e o Dr. Diallo prometeram continuar no futuro com o diálogo islâmico budista. Tornando a Visitar a Turquia. Nos finais de 1995, tornei a visitar o Médio Oriente. Regressando à Faculdade Islâmica Ilahiyet, da Universidade Marmara, Istambul, dei aulas aos acadêmicos e estudantes universitários do Departamento de Filosofia. Este departamento prepara professores de religião islâmica, assim como professores do ensino secundário de islamismo e de outras religiões, incluindo o budismo para toda a Turquia. Os professores estavam muito entusiasmados no estabelecimento de um diálogo islâmico budista, e nós debatemos temas tais como a criação, revelação, e a origem da ética. O islamismo postula Deus não como uma pessoa, mas como um princípio criador abstrato, e algumas escolas de teologia islâmica postulam que a criação não tem início. Falando em termos de mente de luz clara como o criador sem início de aparências também sem início. E de Buda como um revelador de verdades superiores, tivemos uma boa base para um diálogo animado e amigável. A entrevista que tinha dado nesta universidade, durante a minha anterior visita, havia sido publicada numa revista muito popular entre os fundamentalistas islâmicos locais. Lida não só na Turquia, mas por todas as Repúblicas Islâmicas da Ásia Central. O coordenador universitário à minha visita disse que publicaria, na mesma revista, uma tradução turca do escrito preparatório para a palestra que desta vez dei sobre os princípios e a história do budismo. Especialmente a sua história entre os povos turcos da Ásia Central, e a situação atual do budismo por todo o mundo. Fui convidado não só a regressar a esta faculdade islâmica para outras palestras no final de 1996. Como também a ter reuniões semelhantes com líderes religiosos sufistas, em Konya, e com acadêmicos e estudantes de outras universidades da Turquia. Egito. Depois da Turquia fui ao Egito, onde havia sido convidado a ensinar na Universidade do Cairo. O primeiro grupo com o qual me encontrei foi o dos académicos do Centro de Estudos Asiáticos, da Faculdade de Economia e Ciência Política. Tinham-me pedido que ensinasse sobre "O Impacto do Pensamento Budista no Desenvolvimento Político e Econômico Asiático". Estavam especialmente interessados em saber como os princípios budistas tinham contribuído para o sucesso econômico das nações do "tigre asiático". A fim de poderem de algum modo usar o islamismo como suporte a um semelhante fenômeno na transformação do Egito num "tigre africano e do médio oriente". Desejavam também compreender a Ásia e as suas religiões de forma a estabelecerem melhores ligações políticas e econômicas com a região. Não desejavam estar isolados sob o conceito incorreto de que todos os muçulmanos são terroristas fundamentalistas e fanáticos. Esta foi a primeira aula dada nesta faculdade sobre o pensamento budista, e o interesse e entusiasmo foram enormes. Pediram-me que submetesse um trabalho sobre as bases dos ensinamentos budistas, apresentado de maneira facilmente compreensível numa perspectiva islâmica. Isso para publicação, em inglês e em árabe, na sua Série de Monografias Asiáticas, distribuída por todo o mundo de língua árabe. Isto foi publicado em Junho de 1996. No dia seguinte, dei uma palestra sobre as bases dos ensinamentos budistas a trezentos estudantes universitários do primeiro ano de um curso de filosofia asiática na Faculdade das Artes. Foi seguida por uma palestra num seminário de pós-graduados em filosofia. Os estudantes e o pessoal estavam tão sedentos de informação sobre a Ásia quanto as pessoas do mundo ex comunista costumavam estar. Contudo, isto não era em termos de uma busca espiritual como nos países ex comunistas, mas mais em termos de estabelecer contato com o resto do mundo através, da compreensão e respeito mútuos. Na manhã destas duas últimas palestras, quinze diplomatas egípcios foram mortos numa explosão terrorista, na Embaixada Egípcia no Paquistão. Houve um grande protesto na universidade pelos estudantes. Havia uma enorme presença de militares e polícias, com veículos armados, prisões e assim por diante, que tivemos de contornar a fim de entrarmos na universidade. Apesar do que se estava passando fora do edifício da sala de aulas, foi agradável verificar como havia tanto interesse no budismo. Jordânia. A minha última paragem nessa excursão foi em Mafraq, Jordânia, onde tinha sido convidado pela Universidade Al al-Bayt. Esta Universidade internacional, construída na sua maior parte pelo Governo da Jordânia, foi inaugurada em 1994. Tem dois mil estudantes, metade dos quais originários de outros países muçulmanos, com alguns cristãos europeus e norte-americanos, e uma grande equipe de funcionários estrangeiros. Foi fundada para aumentar a mútua compreensão entre todas as sete tradições do islamismo e entre o islamismo e as outras religiões do mundo. Eu encontrei-me com o Presidente da Universidade, que estava de partida para o Japão, em Dezembro de 1995, como o apresentador principal e organizador de uma conferência sobre a compreensão islâmico budista. Ele expressou interesse em realizar tal conferência na Jordânia no futuro. Convidou-me a regressar à Universidade no final de 1996, para apresentar uma série de palestras sobre o budismo e o Tibete, a sua relação com o islamismo, e para continuar com o diálogo. Ele deseja construir uma seção budista na biblioteca da Universidade e pediu-me para preparar uma lista de livros para esse efeito. Tive um diálogo com o Corpo Docente do Instituto Superior de Ciência Política Bayt al-Hikmah, da Universidade, sobre a interação entre o islamismo e o budismo na antiga e moderna Ásia. Eles estão principalmente focalizados na região da Malásia Indonésia, mas estão muito interessados em aprender sobre outras regiões. Pediram informação sobre os muçulmanos tibetanos para a sua base de dados pan islâmica e convidaram-me a regressar para debater o papel da ética budista no desenvolvimento econômico. Encontrei-me também com professores universitários visitantes de Marrocos e da Síria, que estavam igualmente muito interessados num diálogo semelhante. Perspectivas Futuras. O objetivo principal do diálogo islâmico budista, então, como o experienciei, é educacional – para se aprender mais sobre as crenças e a cultura um do outro. A Biblioteca de Obras e Arquivos Tibetanos, em Dharamsala, Índia, tem desempenhado um papel principal no alcance deste objetivo. Iniciaram um programa de permuta de jornais acadêmicos e livros com as várias Universidades dos países islâmicos com que estabeleci contato. Do mesmo modo, estão estabelecendo programas de cooperação com Instituições das Repúblicas Islâmicas da Ásia Central, da ex União Soviética (Rússia), para pesquisas adicionais sobre a história da interação entre budistas e muçulmanos nessa parte do mundo. As perspectivas de maior contato e cooperação são vastas. http://www.berzinaches.com.br.  Abraço. Davi.

segunda-feira, 28 de março de 2016

A Filosofia Hermética.



Filosofia Hermética. Do velho Egito saíram os preceitos fundamentais esotéricos e ocultos que tão fortemente têm influenciado as filosofias de todas as raças, nações e povos, por vários milhares de anos. O Egito, a terra das Pirâmides e da Esfinge, foi a pátria da Sabedoria secreta e dos Ensinamentos místicos. Todas as nações receberam dele a Doutrina Secreta. A Índia, a Pérsia, a Caldéia, a Média, a China, o Japão, a Assíria, a antiga Grécia e Roma e outros países antigos aproveitaram lautamente dos fastos do conhecimento, que os Hierofantes e Mestres da Terra de Isis tão francamente ministravam aos que estavam preparados para participar da grande abundância de preceitos místicos e ocultos, que as mentes superiores deste antigo país tinham continuamente condensado. No antigo Egito viveram os grandes Adeptos e Mestres que nunca mais foram superados, e raras vezes foram igualados, nos séculos que se passaram desde o tempo do grande Hermes. No Egito estava estabelecida a maior das Lojas dos Místicos. Pelas portas dos seus Templos entraram os Neófitos que mais tarde, como Hierofantes, Adeptos e Mestres, se espalharam por todas as partes da Terra, levando consigo o precioso conhecimento que possuíam, ansiosos e desejosos de ensiná-los àqueles que estivessem preparados para recebe-los. Todos os estudantes do Oculto conhecem a dívida que tem para com os veneráveis Mestres deste antigo país. Mas entre estes Grandes Mestres do antigo Egito, existiu um que eles proclamavam como o Mestre dos Mestres. Este homem, se é que foi verdadeiramente um homem, viveu no Egito na mais remota antiguidade. Ele foi conhecido sob o nome de Hermes (3) Trimegisto. (3) Entre as obras atribuídas a Hermes podemos citar as seguintes: A Tábua de Esmeralda, O Poimandres. O Asclépios, e a Minerva Mundi ou Coré Cosmou, todas conhecidas pelos leigos. Destas obras temos a elegante tradução francesa de Louis Ménard (1822-1901). Além destas existem outras obras que são do uso exclusivo dos iniciados. O nome de Hermes foi dado também à Universidade do Egito, e é por isso que são atribuídas a Hermes mais de 2000 obras. Ele foi considerado o pai da Ciência Oculta, o fundador da Astrologia, o descobridor da Alquimia. Os detalhes da sua vida se perderam devido ao imenso espaço de tempo, que é de milhares de anos, e apesar de muitos países antigos disputarem entre si a honra de ter sido a sua pátria. A data de sua existência no Egito, na sua última encarnação neste planeta, não é conhecida agora, mas foi fixada nos primeiros tempos das mais remotas dinastias do Egito, muito antes de Moisés. As melhores autoridades consideram-no como contemporâneo de Abraão, e algumas tradições judaicas dizem claramente que Abraão adquiriu uma parte do seu conhecimento místico do próprio Hermes. Depois de ter passado muitos anos da sua partida deste plano de existência (a tradição afirma que viveu trezentos anos) os egípcios deificaram Hermes e fizeram dele um dos seus deuses sob o nome de Thoth. Anos depois os povos da Antiga Grécia também o deificaram como o nome de Hermes, o Deus da Sabedoria. Os egípcios reverenciaram por muitos séculos a sua memória, denominando-o o mensageiro dos deuses, e ajuntando-lhe como distintivo o seu antigo título Trimegisto, que significa o três vezes grande, o grande entre os grandes. Em todos os países antigos, o nome de Hermes Trimegisto foi reverenciado, sendo esse nome considerado como sinônimo de Fonte de Sabedoria. Ainda em nossos dias empregamos o termo hermético no sentido de secreto, fechado de tal maneira que nada escapa, etc., pela razão que os discípulos de Hermes sempre observaram o princípio do segredo nos seus preceitos. Eles ignoravam aquele não lançar as pérolas aos porcos, mas conservavam o preceito de dar leite as crianças, e carne aos homens feitos, máximas que são familiares, a todos os leitores das Escrituras Cristãs, mas que já eram usadas pelos egípcios, muitos séculos antes da era cristã. Os Preceitos Herméticos estão espalhados em todos os países e em todas as religiões, mas não pertencem a nenhuma seita religiosa particular. Isto acontece por causa das advertências feitas pelos antigos instrutores com o fim de evitar que a Doutrina Secreta fosse cristalizada em credo. A Sabedora desta precaução é clara para todos os estudantes de história. O antigo Ocultismo da Índia e da Pérsia degenerou-se e perdeu-se completamente, porque os seus instrutores tornaram-se padres, e misturaram a teologia com a filosofia, vindo a ser, por consequência, o Ocultismo da Índia e da Pérsia, gradualmente perdido no meio das massas de religiões, superstições, cultos, credos e deuses. O mesmo aconteceu com a antiga Grécia e Roma e também com os Preceitos Herméticos dos Gnósticos e Cristãos primitivos, que se perderam no tempo do imperador Constantino, e que sufocaram a filosofia com o manto da teologia. Fazendo assim a Igreja perder aquilo que era a sua verdadeira essência e espírito, e andar às cegas durante vários séculos, antes de tomar o seu verdadeiro caminho. Porque todos os bons observadores deste vigésimo século dizem que a Igreja está lutando para voltar aos seus antigos ensinamentos místicos. Apesar de tudo isso sempre existiram algumas almas fiéis que mantiveram viva a Chama, alimentando-a cuidadosamente e não deixando a sua luz se extinguir. E graças a estes firmes corações e intrépidas mentes, temos ainda conosco a verdade. Mas a maior parte desta não se acha nos livros. Tem sido transmitida de Mestre a Discípulo, de Iniciado a Hierofante, dos lábios aos ouvidos. Ainda que esteja escrita em toda parte, foi propositalmente velada com termos de alquimia e astrologia, de modo que só os que possuem a chave podem na ler bem. Isto era necessário para evitar as perseguições dos teólogos da Idade Média que combatiam a Doutrina Secreta a ferro, fogo, pelourinho, força e cruz. Ainda atualmente só encontramos alguns valiosos livros de Filosofia Hermética, apesar das numerosas referências feitas a ela nos vários livros escritos sobre diversas fases do Ocultismo. Contudo, a Filosofia Hermética é a única Chave Mestra  que pode abrir todas as portas dos Ensinamentos Ocultos.! Nos primeiros tempos existiu uma compilação de certas Doutrinas básicas do Hermetismo, transmitida de mestre a discípulo, a qual era conhecida sob o nome de Caibalion, cuja significação exata se perdeu durante vários séculos. Este ensinamento é, contudo, conhecido por vários homens a quem foi transmitido dos lábios aos ouvidos, desde muitos séculos. Estes preceitos nunca foram escritos ou impressos até chegarem ao nosso conhecimento. Erma simplesmente uma coleção de máximas, preceitos e axiomas, não inteligíveis aos leigos, mas que eram prontamente entendidos pelos estudantes. E além disso, eram depois Neófitos. Estes preceitos constituíam realmente os princípios básicos da Arte da Alquimia Hermética que, contrariamente ao que geralmente se crê, baseia-se no domínio das Forças Mentais. Em vez de no domínio dos Elementos materiais, na Transmutação das Vibrações mentais em outras, em vez de na mudança de uma espécie de metal em outra. As lendas da Pedra Filosofal, que transformava qualquer metal em ouro, eram alegorias da Filosofia Hermética perfeitamente entendidas por todos os estudantes do verdadeiro Hermetismo. Neste livro, cuja primeira lição é esta, convidamos os estudantes a examinar os Preceitos Herméticos tal como são expostos no Caibalion e explicados por nós, humildes estudantes desses Preceitos, que, apesar de termos o título de Iniciados, somos simples estudantes aos pés de Hermes, o Mestre. Nós lhe oferecemos muitos axiomas, máximas e preceitos do Caibalion, acompanhados de explicações e comentários, que cremos servir para tornar os seus preceitos mais compreensíveis ao estudante moderno, principalmente porque o texto original é vedado de propósito com termos obscuros. As máximas, os axiomas e preceitos originais do Caibalion são impressos em tipo diferente do tipo geral da nossa obra. Esperamos que os estudantes a quem oferecemos esta obra possam tirar muito proveito do estudo das suas páginas, como o tiraram muito proveito antes pelo Caminho do Adeptado, nos séculos decorridos desde o tempo de Hermes Trimegisto, o Mestre dos Mestres, o Três Vezes Grande. Diz o Caibalion “Em qualquer lugar que estejam os vestígios do Mestre, os ouvidos daquele que estiver preparado para receber o seu Ensinamento se abrirão completamente. Quando os ouvidos do discípulo estão preparados para ouvir, então vêm os lábios para os encher com Sabedoria”. De modo que, de acordo como o indicado, só dará atenção a este livro aquele que tiver uma preparação especial para receber os Preceitos que ele transmite. E, reciprocamente, quando o estudante estiver preparado para receber a verdade, também este livro lhe aparecerá. Esta é a Lei. O Princípio Hermético de Causa e Efeito, no seu aspecto de Lei de Atração, levará os ouvidos para junto dos lábios e o livro para junto do discípulo. Assim são os átomos! Do Livro Caibalion – Os três Iniciados. Abraço. Davi.

sexta-feira, 25 de março de 2016

E A Igreja se Fez Povo. Cântico de Libertação.

Cristianismo. Bispo Dom Mauro Morelli (1935-  ). “Ao irmão Leonardo. Paz e Bem no Senhor Jesus! Companheiros do mesmo Caminho e peregrinos da Esperança, partilho das tuas alegrias e dores. São as dores e as alegrias do nosso tempo sofrendo o parto da libertação. No silêncio da noite, contemplas o Mistério da Palavra que se faz carne, morando numa tenda nos acampamentos dos peregrinos da Vida. Cantas, como Maria, a visita do Senhor a seu Povo. Com ternura e reverente anuncias que, na força e na sabedoria do Espírito, a Igreja se Fez Povo, semente de uma nova sociedade e sacramento da vida em dignidade e liberdade. Profeta da mudança e evangelista de um tempo novo, caminha, irmão, servindo com simplicidade, sem arrogância, ou desânimo, à causa da libertação. Caminha na certeza que vai raiar o dia em que o povo dançará de alegria sobre os escombros da tirania e da opressão. Não estás sozinho. Em cada  geração, os pequenos e simples louvam o Senhor da História com o Cântico de Maria (Lucas 1:39-56). Enquanto grandes e fariseus se perturbam, vamos crescer em esperança, com os pobres do mundo. Na fé, no testemunho e no serviço de Maria, encontramos alento e alimento para servir com alegria e felicidade à causa do Reino e à caminhada do Povo do Evangelho. Simples e pobre, Maria encantou os olhos de Deus. Cheia de graça e de beleza, despida de presunção e de cobiça, canta as maravilhas da presença de Deus na história. O Senhor faz maravilhas! Santo é Seu Nome! Maria contempla o mistério da vida, não como olhos românticos, mas com os olhos aguçados das pessoas profundas e comprometidas com a verdade, a justiça e a solidariedade. A sua consciência e seu compromisso se manifestam em palavras e se traduzem em gestos singelos e discretos de fraternidade. Acolhe o dom da vida em seu seio de mulher. A vida brota e vinga no mundo quando há acolhimento e fidelidade. Faça-se em mim, segundo Tua Palavra! Eis aqui uma servidora. Dizendo sim à vida, Maria conheceu a humilhação, a perseguição e o exílio. Porém, com o sim de Maria, a força de Deus penetra no mundo para que haja Vida na Terra. A Palavra acolhida no coração e no seio de Maria, despertou nela a energia transformadora do mundo. Levantou-se e foi às pressas às montanhas . A pressa de Maria é serviço à vida. A pressa do mundo é mãe da violência! O Reino de Deus é revelado presente no mundo quando a fraternidade acontece entre as pessoas e os povos. Na fraternidade de Maria, Isabel percebeu que Deus chegara em visita a Seu Povo. Bendita és Tu entre as mulheres. Bendito é o Fruto do teu ventre! Maria é uma mulher feliz. Vai dar à luz uma criança que trata muita alegria aos pequenos e pobres da Terra. A minha alma engrandece o Senhor. Exulta meu espírito, em Deus meu Salvador! Maria é uma mulher feliz. Na história do mundo aconteceu uma reviravolta. Os pequenos são portadores da Paz. A Sabedoria de Deus pousou os olhos numa mulher do povo. Deus entra na história pela porta de um casebre, pelo barraco de um carpinteiro. O Senhor do céu e da Terra não se interessa pelos palácios dos reis. O Criador de tudo não se impressiona com as obras dos grandes do mundo. Ele dispensa palácios, templos e exércitos. Pôs os olhos na humildade de sua serva!  Deus escolhe uma mulher do povo. Quebra duas vezes o protocolo do império. Escolhe como parceiros os fracos e simples. Gente que tem amor à vida. Escolhe gente como a mulher, mãe. Detesta a sabedoria e a força daqueles que fabricam a morte. Doravante toda a Terra cantará os meus louvores! A Terra geme aguardando a salvação. A Terra toda, no Cântico de Maria, se enche de alegria porque os caminhos de Deus trarão paz no mundo. A Terra não será mais violentada pelos negócios, será mãe da vida. A Terra não será mais um deserto, mas um jardim cheio de flores, pássaros e crianças sadias. A Terra não sofrerá mais as explosões da morte. Do seu seio brotarão torrentes e germinarão sementes de vida. O Senhor faz em mim maravilhas! Santo é Seu Nome. Maria, acariciando com as mãos o seio prenhe de vida, não tem medo do futuro. Deus vai entrar na história pra valer. Ele ouviu os clamores de Seu Povo. As injustiças e a opressão vão cessar. Ele vai cortar pela raiz a árvore da morte. Tombarão os gigantes do mundo, aqueles que oprimem os pequenos e destroem a vida na Terra. Manifestando o poder de Seu Braço, dispersou os soberbos de corações orgulhosos! Abate os poderosos de seus tronos e eleva os humildes. O Cântico de Libertação, manifestação da alegria e da esperança de Maria, é uma profecia que revela o projeto de Deus. Um mundo sem senhores e escravos. Um mundo de irmãos. Deus quer vida na Terra. Maria que eu aprendi a amar desde criança e, entre os pobres do mundo, descobri como mulher que caminhou na Fé, ministra do Evangelho e servidora do Reino, anuncia a verdadeira revolução que trará igualdade e participação aos filhos da Terra. Seremos todos irmãos. Seremos todos cidadãos do Reino. Ave Maria, mãe de Jesus! Assim tu és saudada em cada geração. Sinto alegria em te saudar com os pobres da Terra. Nem sempre entendo, às vezes me aborrece, a saudação de alguns poetas e cineastas. Menos, ainda, partilho dos louvores e cantos piedosos que outras vozes entoam com horror do mundo e da história em que mergulhou Teu Filho. Ave Maria, mãe de Jesus! Poesias, flores e incenso te oferecem como se fosses deusa de uma religião. Ave Maria, mãe de Jesus! Junto da Cruz vencendo a morte, contemplas, no sofrimento, o amanhecer do novo! Ave Maria, mãe de Jesus! Companheira dos peregrinos que caminham para a vida em liberdade. Ave Maria, mãe de Jesus! Na penumbra do século vinte, creio e anuncio: raiará o dia em que ninguém passará fome. Nenhuma criança nascerá condenada à morte. Os favelados terão casas bonitas e cheias de luz, como os motéis que escondem os barracos à beira de avenidas e estradas. Ave Maria, mãe de Jesus! Os latifundiários e grandes fazendeiros perderão as Terras no Dia do Jubileu! Haverá verdadeira reforma agrária. A Terra será ocupada para o trabalho, moradia e lazer. Não haverá mais blasfêmia contra Deus e atentado à dignidade humana. Ave Maria, mãe de Jesus! Deus será fiel a seu Povo, o Povo do Evangelho, o Povo da Fraternidade. Canta, irmão Leonardo, as canções de Maria! No silêncio, na prece e na profecia revela por toda a Terra que o povo faminto de vida, no campo e na cidade, levanta e caminha em busca de um tempo novo. Revela, irmão Leonardo, aos grandes do império, do templo e dos exércitos que o povo faminto de vida acolhe com amor as crianças que nascem. Reparte as migalhas de pão, lutando sempre para que todos tenham vida. Anuncia, companheiro de caminhada, que o povo faminto de vida é o Povo do Evangelho. O Povo do Evangelho, nas casas e nas comunidades, conhece a Deus, o Pai que ama com coração de Mãe. O Povo do Evangelho caminha na Luz de Jesus Cristo. O Povo do Evangelho é aliado do Senhor da Vida, caminhando na Terra em direção à Casa do Pai. O Povo do Evangelho não adora ídolos, nem se curva diante do poder do ouro e da vaidade. O Povo do Evangelho é um povo de irmãos. Na Terra do Evangelho há lugar e vida para todos. O Povo do Evangelho não ajunta tesouros, mas reparte o pão com a criança, o jovem e o idoso. O Povo do Evangelho não é dono de nada, nem faz escravos. O Povo do Evangelho acredita que a Terra a Deus pertence. A Terra é posse de quem nela trabalha para o sustento da vida. O Povo do Evangelho acredita que o lucro do trabalho é a saúde e a vida das crianças de todo o mundo. O Povo do Evangelho, nas suas comunidades, dá o primeiro lugar ao pequeno e ao fraco, ao doente e ao idoso. O Povo do Evangelho, batizado em Nome de Jesus, caminha na Terra como sinal de um tempo novo. Pelo Batismo, cidadãos do Reino, o Povo do Evangelho sabe que, na história de cada ida, marcada pela dor ou alegria, continua a missão de Jesus. O Povo do Evangelho, vivendo em união com Cristo, conhece, vive, celebra e anuncia o Reino da Vida. Entre o Povo do Evangelho todos têm a mesma dignidade. Cada um é ministro e servidor da vida. Na oração de cada dia, com a força da Palavra e com a participação na comunidade e no coração do mundo, o Povo do Evangelho anuncia e constrói o futuro. Irmão e pastor, no meio do povo, sinto alegria e esperança, pois tenho certeza de que a Terra será lugar de vida. Leonardo, companheiro e irmão, vamos chamar todo o mundo, no campo e na cidade, na periferia e nas favelas, para a conquista da Terra em favor de toda a família humana. Levantemos e caminhemos para construir juntos a sociedade justa e fraterna, sinal do Reino. No amor de Cristo, venceremos o medo e as forças que ameaçam a vida no mundo. Haverá paz na Terra. Com um abraço de irmão e amigo, desejo-te Paz e Bem no Senhor”. Do livro E A Igreja se Fez Povo do frei Leonardo Boff (1938-  ). Invocação a Bendita Virgem e Imaculada Maria. Ave Maria, cheia de graça. O Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres. Bendito é o fruto de vosso ventre Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus. Rogai por nós pecadores. Agora e na hora de nossa morte. Amém!. Abraço. Davi.