quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A QUESTÃO CENTRAL DO SÉCULO XXI.



Espiritualidade. Texto de Leonardo Boff (1938-  ). A questão central no século XXI. A questão de vida e morte que nos vai atormentar durante o século XXI (2001-2100) será, seguramente, esta: Que tipo de sociedade urge inventar na qual todos possam caber a natureza incluída? Para uma resposta sustentável precisamos da sinergia de todos os saberes e sistemas. O modelo não pode ser a sociedade vigente, estruturada pelo capitalismo de mercado. Por ser extremamente competitiva e não cooperativa, ela mais exclui que inclui. Confirma-o o Relatório sobre Desenvolvimento Humano da ONU de 1999. A diferença entre os 5% mais ricos da população mundial e os 5% mais pobres era em l960 de 1 para 30; em 1990, de 1 para 60 e em 1995, de 1 para 74. O conhecido biólogo da biodiversidade Edward Osborne Wilson (1929-  ) comenta: “para que o resto do mundo atingisse o nível de consumo dos Estados Unidos com a tecnologia existente, seriam necessários quatro planetas iguais à Terra”. (O futuro da vida, Rio 2002, página 170). Mas dela devemos incorporar as muitas conquistas que alcançou. Para uma alternativa viável, os economistas do sistema não são conselheiros fiáveis. Eles trabalham com números que ocultam as contradições. Para eles, a economia real, a de mercado, medida pelo PIB (produto interno bruto das nações: representa a soma em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um determinado período) e pelo consumo per capita, produz riqueza que aumenta dia a dia. E como vimos acima, aprofundando a desigualdade. Para a outra economia, a da natureza, medida pelo Índice do Planeta Vivo e pelo estado geral da biosfera, a riqueza está diminuindo dia a dia. O Fundo Mundial pela Natureza calculou que entre 1970 e 1994 a economia natural caiu 30%. A partir de 1990 a taxa de queda era de 3% ao ano. E esse nível persiste ainda ou piorou. Tais dados que para a economia de mercado são chamados de “externalidades” têm pesadas consequências: poderão ameaçar a biosfera e inviabilizar o futuro da humanidade e com ele a economia dos economistas. Apesar disso, a maior colaboração para a humanidade não vem da economia de mercado mas da economia da natureza. Há cálculos macroeconômicos que calcularam o valor dos serviços prestados à humanidade pelo conjunto dos ecossistemas. Em 1977 um grupo de ecologistas e de economistas sensíveis a estas questões estimaram em 33 trilhões dólares/ano o valor da contribuição da natureza. Isso representa quase duas vezes o produto mundial bruto que foi da ordem de 18 trilhões de dólares. Em outras palavras: se a humanidade quisesse substituir os serviços da natureza por recursos artificiais, precisaria acrescentar ao PIB mundial pelo menos 33 trilhões de dólares, sem dizer que esta substituição seria praticamente impossível. A resposta à pergunta acima só poderá vir de um novo paradigma de sociedade mundial, de uma nova ótica das coisas que dê origem a uma nova ética (vale o trocadilho). Sobre isso voltaremos proximamente. Enquanto esse processo já em curso não triunfar, precisamos cobrar do sistema imperante tudo o que ele pode dar. E ele tem muito a dar, embora dê muito pouco, como se viu na Conferência da ONU em Monterrey – México. Para ajudar os pobres que são maioria, o governo norte-americano destina apenas 0,01% de seu PIB, enquanto os europeus, mais “generosos” não chegam a 1%, exceto a Dinamarca com 1,06%. Em grande parte a preocupação salvacionista está a cargo de grupos privados, as grandes agências de proteção à natureza. Estima-se que existam atualmente mais de 30.000 ONGs com engajamentos humanitários e ecológicos. Mas essa responsabilidade deveria ser de todos, da humanidade e dos Estados. Por exemplo, para implementar uma política de conservação global bastariam 30 bilhões de dólares/ano. Isso representaria apenas um milésimo do PIB mundial. Um cientista Daniel H. Janzen (1939-  ) sugeriu a introdução do imposto de um centavo por xícara de café, que seria suficiente para financiar a conservação e a administração das reservas naturais existentes. Terminemos com as palavras de otimismo de Edward Osborne Wilson (1929-  ): “Uma civilização capaz de intuir a existência de Deus e iniciar a colonização do espaço certamente encontrará um meio de salvar a integridade deste Planeta e as formas de vida magníficas que ele abriga”(obra citada, página 208). Bem haja! E se o ser humano desaparecer? Poderia o ser humano desaparecer por causa de seu poder destrutivo e de sua falta de sabedoria? Nomes notáveis das ciências não excluem esta eventualidade. Stephen Hawking (1942-  ) em seu recente livro O Universo numa casca de noz reconhece que em 2600 a população mundial ficará ombro a ombro e o consumo de eletricidade deixará a Terra incandescente. Ela poderá se destruir a si mesma. O prêmio Nobel, Christian de Duve (1917-2013), em seu conhecido Poeira Vital (1997) atesta que “nosso tempo lembra uma daquelas importantes rupturas na evolução, assinaladas por extinções maciças”. E Theodore Monod (1902-2000), talvez o último grande naturalista, deixou como testamento um texto de reflexão com esse título: “E se a aventura humana vier a falhar”(2000). Assevera: “somos capazes de uma conduta insensata e demente; pode-se a partir de agora temer tudo, tudo mesmo, inclusive a aniquilação da raça humana”. Se olharmos a crise social mundial e o crescente alarme ecológico esse cenário de horror não é impensável. Edward Wilson atesta em seu último e alarmante livro O futuro da vida: “O homem até hoje tem desempenhado o papel de assassino planetário…a ética da conservação, na forma de tabu, totemismo ou ciência, quase sempre chegou tarde demais; talvez ainda haja tempo para agir”. Lógico, precisamos ter paciência para com o ser humano. Ele não está pronto ainda. Tem muito a aprender. Em relação ao tempo cósmico possui menos de um minuto de vida. Mas com ele, a evolução deu um salto, de inconsciente se fez consciente. E com a consciência pode decidir que destino quer para si. Nesta perspectiva, a situação atual representa antes um desafio que um desastre possível, a travessia para um patamar mais alto e não um mergulho na autodestruição. Mas haverá tempo para tal aprendizado? Na hipótese de que o ser humano venha a desparecer como espécie, mesmo assim o princípio de inteligibilidade e de amorização ficaria preservado. Ele está primeiro no Universo e depois nos seres humanos. Emergiria, um dia, em algum ser mais complexo. Theodore Monod tem até um candidato já presente na evolução atual, os cefalópodes, isto é, os moluscos como os polvos e as lulas. Possuem um aperfeiçoamento anatômico notável, sua cabeça é dotada de cápsula cartilaginosa, funcionando como crânio e possuem olhos como os vertebrados. Detém ainda um psiquismo altamente desenvolvido, até com dupla memória, quando nós possuímos apenas uma. Evidentemente, eles não sairão amanhã do mar e entrarão continente adentro. Precisariam de milhões de anos de evolução. Mas já possuem a base biológica para um salto rumo à consciência. De todas as formas, urge escolher: ou o ser humano e seu futuro ou os polvos e as lulas. Somos otimistas: vamos criar juízo e aprender a ser sábios. Mas importa já agora mostrar amor à vida em sua majestática diversidade, ter compaixão com todos os que sofrem, realizar rapidamente a justiça social necessária e amar a Grande Mãe, a Terra. Incentivam-nos as Escrituras judaico-cristãs: “Escolha a vida e viverás”. Andemos depressa, pois não temos muito tempo a perder. Fim da espécie e teologia. Sempre que uma cultura entra em crise, como a nossa, faz suscitar mitos de fim do mundo e de destruição da espécie. Usa-se, então, recurso literário conhecido: relatos patéticos de visões e de intervenções de anjos que se comunicam para anunciar mudanças iminentes e preparar a humanidade. No Novo Testamento esse gênero ganhou corpo no livro do Apocalipse e em alguns trechos dos Evangelhos que colocam na boca de Jesus predições de fim do mundo. Hoje prolifera vasta literatura esotérica (interna) que usa códigos diferentes como passagem a outro tipo de vibração e comunicação com extraterrestres. Mas a mensagem é idêntica: a viragem é iminente e há que estar preparado. Importante é não deixar-se iludir por esse tipo de linguagem. É linguagem de tempos de crise e não uma reportagem antecipada do que vai ocorrer. Mas há uma diferença entre os antigos e nós hoje. Para os antigos, o fim do mundo estava no imaginário deles e não no processo realmente existente. Para nós está no processo real, pois criamos de fato o princípio de autodestruição. E se desaparecermos, como se há de interpretar? Chegou a nossa vez no processo de evolução já que há sempre espécies, desparecendo naturalmente? Que diz a reflexão teológica? Rapidamente diria: se o ser humano frustrar sua aventura planetária significa, sem dúvida, uma tragédia inominável. Mas não seria tragédia absoluta. Essa, ele já a perpetrou um dia. Quando o Filho de Deus se encarnou em nossa miséria, nós o assassinamos, pregando-o na cruz. Só então se formalizou o pecado original que é um processo histórico de negação da vida. Mas ocorreu outrossim a suprema salvação, creem os cristãos, pois onde abundou pecado, superabundou também graça. Maior perversidade que matar a criatura é matar o Criador encarnado. Mesmo que a espécie mate a si mesma ela não consegue matar tudo dela. Só mata o que é. Não pode matar aquilo que ainda não é: as virtualidades escondidas e que querem se realizar. E aqui entra a morte em sua função libertadora. A morte não separa corpo e alma, pois, no ser humano não há nada a separar. Ele é um ser unitário com muitas dimensões. O que a morte separa é o tempo da eternidade. Ao morrer, o ser humano deixa o tempo e penetra na eternidade. Caindo as barreiras espaço temporal, as virtualidades aprisionadas podem irromper em sua plenitude. Só então acabaremos de nascer como seres humanos plenos. Portanto, mesmo com a liquidação criminosa da espécie, o triunfo da espécie não é frustrado. A espécie sai tragicamente do tempo pela morte, morte esta que lhe concede entrar, gloriosa, na eternidade. Alimentamos otimismo. Assim como o ser humano domesticou outros meios de destruição como o primeiro deles, o fogo, (que originou aos mitos de fim do mundo) assim agora domesticará os meios que nos poderão destruir. Não acaba o mundo, mas acaba este tipo de mundo insensato que ama a guerra e a destruição em massa. Vamos inaugurar um mundo humano que ama a vida, dessacraliza a violência, tem cuidado e piedade para com todos os seres, faz a justiça verdadeira, enfim, que nos permite estarmos no monte das bem aventuranças e não, degradados, no vale de lágrimas. Cristianismo: mínimo do mínimo. Se um imigrante coreano que nada sabe de cristianismo me pegasse pelo colarinho e me perguntasse: “vem cá, me diga em duas palavras, o que é o cristianismo”? Que diria? Não sei. Talvez para sair da perplexidade o mandaria para uma favela onde trabalham as Irmazinhas de Jesus, do Padre Charle de Foucauld (1858-1916), no meio dos mais pobres dos pobres. Ai pelo menos veria o que pode o cristianismo em termos de amor e compaixão para com os que mais sofrem. Ou os mandaria para Ouro Preto – Minas Gerais – Brasil  para ver o que a fé cristã produziu em termos de arte. Ou os mandaria ouvir a missa do Padre Maurício, cantada pelos Canarinhos de Petrópolis para deixar-se tomar pelo enlevo espiritual que ela suscita. Mas se ele me dissesse: “fora com tudo isso, pois você me apresenta apenas expressões culturais. O eu quero é saber o mínimo do mínimo do cristianismo. Que propõem, finalmente, os cristãos? Em duas palavras”! Seguramente é possível dizer em duas palavras o que seja o cristianismo. Senão que sentido teria para uma pessoa comum, que não é teóloga? É uma questão que muitos colocam também os cristãos. As Igrejas complicaram tanto a resposta que elas mesmas perderam o sentido do essencial. Geralmente anunciam a si mesmas ao invés do cristianismo. Ou nos apresentam o Catecismo da Igreja Católica com 744 páginas e 2858 números. Ai, se crê que está todo o arsenal da fé cristã. Mas, perdoa-me Deus, não vou castigar o coreano com esse Catecismo. Seguramente sairia correndo, assustado, ou colaria arma sobre minha cabeça. Essa questão me reporta ao primeiro século de nossa era, quando um dos torturadores de cristãos perguntou de chofre a um mártir: “afinal o que é o cristianismo”? Esse respondeu secamente: ”dico tibi mysterium simplicitatis”, “digo-te um mistério de simplicidade”. Que mistério é esse? As Atas dos Mártires não recolheram a resposta. Talvez porque era tão evidente que nem valia a pena registrá-la por escrito. Mas nós que perdemos a inocência matinal, não sabemos mais nada. Por isso, a questão do torturador e do coreano permanece ainda válida. Mas podemos imaginar o que o mártir teria dito: “Deus nos amou tanto que se fez também um de nós. E nos amou até o fim, mesmo quando nos fizemos seus inimigos. Pois, o pregamos na cruz. Mas, por surpresa de todos, ressuscitou ao terceiro dia. E agora está aqui em nosso meio. De sua boca ouvimos e de sua vida aprendemos: quem tem o amor tem tudo, pois, o amor é o nome próprio de Deus. Por isso, devemos amar a todos, incondicionalmente, como te amo a ti que me torturas e me condenas à morte”. Bem, se sob “mistério da simplicidade” entendermos tal coisa, podemos dizer que se trata do mínimo do mínimo. E essa resposta honra os cristãos. Pena que não vivemos conforme esse minimalismo essencial. Teríamos menos ódios e menos impiedade face aos pobres e excluídos. Hoje, depois de tantos séculos, sentimos necessidade de dizermos a nós mesmos o que significa esse “mistério de simplicidade”. Por minha parte, repetiria a mesma lição do mártir: quem tem amor tem tudo, tem o próprio Deus. E mais não digo, pois seria supérfluo e tagarelice de teólogo. www.leonardoboff.com.br. Abraço. Davi.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O JUDAÍSMO E OS SIGNOS DO ZODÍACO.



O Mosaico Espiritual se junta aos brasileiros nesse sentimento de tristeza e consternação devido a tragédia ocorrida nesta madrugada (30/11) com o voo da empresa Lamia, proveniente da Bolívia, que transportava 9 tripulantes e 72 passageiros, incluindo neste número toda a delegação da Associação Chapecoense de Futebol. O time iria disputar a primeira partida da final da Copa Sul americana de Futebol nesta quarta feira, quando a 50 Km do aeroporto de Medelin - Colômbia, a aeronave sofreu um pane elétrico, segundo a imprensa local, fazendo um pouso forçado que praticamente destruiu o avião. Apenas cinco pessoas foram resgatadas com vida, sendo eles o jornalista Rafael Hensel, os jogadores Alan Luciano Ruschel, Jackson Ragnar Follmann e Marcos Danilo Padilha; além da tripulante Ximena Suarez. Que a providencia divina acolha e conforte os parentes, familiares e amigos dos vitimados. Dando força e graça para suportar a perda e consolo para resistir a inigualável dor da partida para o outro lado da vida. Que o Senhor Cristo, Krisna, Alláh, Budha e todos os seres iluminados abênçoe aqueles que partiram e aos que continuam sua missão divina nesta Terra.. O JUDAÍSMO E OS SIGNOS DO ZODÍACO. Segundo a Torá é totalmente proibido consultar astrólogos ou horóscopo, entretanto, o Talmud nos diz que astros e planetas oferecem influência sobre criaturas e que o astro (mazal) pode tornar a pessoa mais rica e mais sábia. O judaísmo acredita na influência dos astros sobre as pessoas e as criaturas em geral? O judaísmo não duvida que há um sistema inteiro de constelações, astros e planetas que exercem influência sobre as criaturas. Aliás, o Talmud nos diz que "Malchuta deará ke'en malchuta derakiá". "O reinado aqui é um reflexo do Reinado Celeste", da mesma forma que um rei possui ministros e tem a sua corte, assim também funciona nas alturas. Então, não há dúvida de que os habitantes da "mansão Celeste" têm influência. O Talmud, no Tratado Shabat, ensina que o mazal, o astro, exerce influência sobre a pessoa. Rabi Chanina disse que o mazal pode tornar a pessoa mais rica ou mais sábia. Nossos sábios dizem que não se deve tirar sangue de uma pessoa na terça-feira, pois este dia recebe influência do planeta Marte (o planeta vermelho), astro ligado a assuntos de guerra, sangue, pragas e desastres. A influência dos astros sobre o mundo mineral e vegetal é óbvia. As marés e até o ciclo menstrual dependem dos planetas. O Talmud afirma que não há grama que cresça sem que o seu astro a influencie. Aliás, um dos sinais da Galut é que os fluxos e energia Divina passem por um encadeamento do qual fazem parte as constelações, os astros e os anjos padrões que influenciam todas as criaturas físicas. Existe, sim, uma influência celeste sobre todas as criaturas, desde os minerais até os seres humanos. O grande mestre, Rabi Isaac Luria (1534-1572), o Arizal, disse que o embrião só se torna perfeito a partir do sétimo mês, quando já passou pela influência de sete planetas principais e importantes. Até lá, pode faltar algo no desenvolvimento do embrião. Rabi Avraham Ibn Ezra (1089-1167) diz que cada povo e cada lugar físico é dependente do seu astro. Por exemplo, o povo de Yishmael = Ismael (os árabes) depende de escorpião. Já os persas são influenciados por sagitário, os romanos por libra, e assim por diante. Se há uma influência celeste e uma predestinação, como fica o livre-arbítrio e a responsabilidade do indivíduo? A influência celeste é apenas uma tendência, pois a pessoa pode ter uma inclinação para certos hábitos, certos comportamentos, mas nada é absoluto e a pessoa pode combatê-la. O livre-arbítrio, a livre escolha, continua sempre e a pessoa pode lutar contra a sua inclinação tentando melhorar. Por exemplo, o Talmud ensina que aquele que nasce na terça-feira, dia sob a influência do planeta Marte (Marte em hebraico é maadim, que se origina da palavra dam, sangue ou o planeta vermelho), terá um caráter sanguinário e apreciará o sangue de tal maneira que poderá chegar a ser um assassino. Dizem os nossos sábios que, para o seu bem, ele deveria tornar-se um mohel ou um shochet; em outras palavras, deveria canalizar essa tendência. Ou seja, não há nada absoluto e a influência astrológica é apenas uma tendência eventual. Prova disto é o dito dos nossos sábios: "Tudo está nas mãos de D'us, exceto o temor a D'us." O comportamento correto está totalmente entregue ao homem. O Zohar, livro básico da Cabalá, menciona algo muito interessante. Diz que: "O povo de Israel ficou sob a influência dos astros até a outorga da Torá no Monte Sinai. A partir do momento em que recebeu a Torá, o povo deixou de depender das estrelas e constelações. Obviamente, quando alguém se afasta dos caminhos da Torá, volta a receber esta influência natural dos astros." Isto fica claro nas palavras dos nossos sábios: "Ein mazal leIsrael", ou seja, o povo de Israel não depende do mazal e das constelações. Cada um continua com o seu livre-arbítrio. Através da oração e dos bons atos é possível modificar o mazal (influência astral) para o bem. A melhor prova bíblica disto está no fato de o próprio Abraão, pai da nação judia, ter visto nas estrelas que não teria filhos. D'us elevou-o acima das estrelas e mostrou-lhe que Abraão teria filhos, como de fato nasceu já na sua velhice o segundo patriarca, Isaac. É permitido a um judeu consultar astrólogos ou horóscopos? Totalmente proibido. Encontramos em vários lugares na própria Torá e no Talmud proibições sobre este procedimento. Na Torá está escrito explicitamente: "Tamim tihiê im Hashem Elokecha." (Deuteronômio 18:13). "Seja íntegro com Hashem, seu D'us." Consultar astrólogos ou horóscopos demonstra falta de integridade. Devemos ter fé absoluta em D'us, que Ele dirige o mundo e sabe como e quando fazer, sempre da melhor forma para o ser humano. O homem não deve procurar conhecer e prever o futuro ou os desígnios Divinos. Também consta na Torá claramente (Deuteronômio 18:10) que não haverá entre nós feiticeiros, quiromantes e assim por diante. Também o Talmud nos diz que não podíamos consultar os caldeus, que eram astrólogos. Da mesma forma, mencionamos de passagem que os judeus não procuram necromantes (Deuteronômio 18:11), as pessoas que chamam os mortos através do espiritismo. Aliás, o próprio Talmud fala que esta técnica não funciona no Shabat, nem esses médiuns conseguem chamá-los, uma prova clara de que o Shabat é realmente o descanso das almas. Esta proibição em consultar astrólogos não diminui em nada os conhecimentos da astronomia e astrologia. Os judeus sempre possuíram conhecimentos profundos nestas ciências, como os grandes rabinos Saadia Gaon (882-942), Shmuel HaNaguid (993-1056), Ibn Ezra (1089-1167), Gershônides (1288-1344), Nachmânides (1135-1204), Isaac Abarbanel (1437-1508), Isaac Abohab (1605-1693) e assim por diante. Isto, porém, ocorria apenas no âmbito do conhecimento. Por exemplo, Pedro Álvares Cabral (1467-1520), para chegar ao Brasil, utilizou mapas do famoso rabino Abraão Zacuto (1450-1522), grande erudito em astronomia e cartografia. O conhecimento não implica em comportamento. Os judeus nunca consultaram a astrologia para determinar se deviam ou não exercer determinada atividade, cientes de que, afinal, o comportamento do homem era o determinante, a cada instante, do seu destino. Judeus não consultam quiromantes e astrólogos, nem sequer os horóscopos impressos nos jornais. Isto não faz parte dos nossos hábitos de leitura. Muitas vezes alguém lê o horóscopo pela manhã e lá está escrito que não terá sucesso em seu trabalho durante o dia. Este fato o deixa deprimido, o que ocasiona, realmente, um dia fracassado (...). É por este motivo que nos refreamos de qualquer leitura para deixar o nosso livre-arbítrio intacto, para optar sempre pelo bem, mantendo a confiança e o otimismo. É permitido aos não judeus consultar os astros? Sim. De acordo com o código da lei judaica, não há proibição para um não judeu consultar astrólogos, horóscopos ou até mesmo se comportar de acordo com a influência dos astros, os desígnios celestes. Prova disto é um versículo explícito na Torá (Deuteronômio 4:19) onde D'us diz: "Você poderia levantar seus olhos para o céu e, ao ver o sol, a lua, as estrelas e todas as hostes celestes, deixar-se induzir (...) todavia o Eterno, teu D'us os deu e repartiu para as nações abaixo do céu." Também encontramos um versículo parecido nos livros dos profetas, onde Jeremias (10:2) diz: "Assim, disse o Eterno, (...) não se deixem impressionar perante os signos celestiais porque as nações se deixam impressionar perante eles." Então, não é proibido que as nações consultem o horóscopo. E os símbolos do zodíaco? Têm ligação com o judaísmo? Sem dúvida. Já que o nosso calendário é lunar, e os símbolos do zodíaco correspondem ao mês lunar, então cada um dos nossos meses corresponde a um desses símbolos. Isto não ocorre por acaso, como é possível perceber em alguns exemplos. O primeiro mês do ano, Nissan, o seu signo é capricórnio – carneiro – e, justamente no mês de Nissan, sabemos que há o cordeiro pascal; o carneiro é o mês do corban de Pessach. É o mês no qual nós também vencemos os egípcios, que adoravam e veneravam este animal. O segundo mês do ano é touro. Observando bem, podemos notar que os dois primeiros meses do ano são animais. Isto porque nestes dois meses trabalhamos com a nossa alma animal a fim de melhorar a nossa má inclinação para receber a Torá no terceiro mês, que é o mês de Sivan, gêmeos. E gêmeos, que são dois, representam a comunicação, a outorga da Torá, o casamento entre D'us e o povo de Israel, que muitas vezes seus amores são semelhantes a gêmeos. Gêmeos também representa a Torá escrita e a Torá oral, pois a Torá sempre foi dupla, e foi outorgada por uma dupla, Moshé e Aaron, parecidos como gêmeos. O signo do sexto mês, o mês de Elul, é virgem, que representa a pureza, o branco, a santidade. O mês de Elul é exatamente o mês da pureza, da teshuvá, do retorno a D'us. O mês no qual fazemos os preparativos para Rosh Hashaná. O mês seguinte é balança, Tishrei, quando D'us julga a humanidade e coloca os nossos atos em uma balança e realmente decide como será o próximo ano. Segue-se Cheshvan, cujo símbolo é escorpião, um inseto que vive nas águas. Cheshvan, de fato, é o mês do dilúvio, quando começou a famosa inundação que quase destruiu a humanidade. Sabemos que, em hebraico, escorpião é acrav, que se escreve também acar beit, aquele que destrói a casa, destrói o mundo. O dilúvio quase destruiu o beit, o universo. E poderíamos prosseguir com cada um dos meses para demonstrar como eles correspondem entre si. Aliás, temos dois destes símbolos do zodíaco que estão no plural: gêmeos, que é o mês de Sivan, e peixes, o mês de Adar. Peixes vivem na água, um símbolo de pureza e Adar é o mês da festa de Purim, o mês da volta, da pureza, do retorno a D'us na época de Mordechai. Adar, entretanto, possui o símbolo no plural porque de vez em quando subdivide-se em Adar I e Adar II. Por isto o signo de peixes, no plural, é mantido para ambos os meses, quando ocorre um ano bissexto, com 13 meses. Os nossos sábios nos dizem que quando Yaacov (Jacó) e Essav (Isaque) resolveram dividir a sua influência sobre os meses, Yaacov escolheu Nissan e Iyar, carneiro e touro, enquanto Essav ficou com Tamuz e Av, câncer e leão. Como vimos, estes são meses difíceis para o nosso povo, são meses nos quais os descendentes de Essav - Roma - causaram uma grande aflição para o povo de Israel. Ocorre que no mês de Sivan ambos têm a mesma influência. Por isso, o signo é gêmeos, pois Yaacov e Essav eram irmãos gêmeos. Existe uma correlação entre os doze signos do zodíaco e as doze tribos de Israel? É óbvio que existe uma correlação entre ambos. Há doze meses judaicos e doze signos do zodíaco, denominados mazalot, e há doze tribos de Israel e o Arizal explica que há uma correlação, uma afinidade entre eles. Vejamos alguns exemplos: O mês de Nissan, cujo símbolo é carneiro, representa a tribo de Yehudá, que é a dinastia que gerou o rei David. Os reis, os monarcas, os líderes, são sempre descendentes da tribo de Yehudá. Nissan é o primeiro mês, a Torá (Êxodo 12:2) diz: "Hachodesh haze lachem rosh chodashim", este mês será para vocês o líder dos meses. Lachem tem as mesmas letras que melech, rei, e aqui percebemos a conexão com Yehudá, que sempre foi o primeiro a viajar no deserto e cujos descendentes são os reis de Israel. O segundo mês é touro, o mês de Iyar, que de acordo com os nossos sábios representa a tribo de Yissachar. Iyar representa o preparo para receber a Torá; é o mês no qual as pessoas se imergem no estudo da Torá ao máximo. Esta é a tribo de Yissachar, pois os nossos sábios ensinam que Yissachar era composta por grandes eruditos, já que todos eram muito diligentes no estudo da Torá. (Pelo fato de eles serem financiados por Zevulun, que eram os armadores e os comerciantes. Aliás, disto surge o assunto de gêmeos. Zevulun e Yissachar são como gêmeos, o símbolo do próximo mês.) Yissachar são os grandes sábios que exceleram no conhecimento da astronomia, sendo representados pelo mês de Iyar, o mês de preparo para o recebimento da Torá, o mês do Ômer. Então temos o próximo mês, Sivan, gêmeos, o mês de Zevulun. Zevulun vem da palavra zevul, firmamento, uma das conotações de céu. E justamente neste terceiro mês se juntaram céu e terra e houve comunicação entre a parte espiritual e material na revelação do Sinai. O quarto mês é Tamuz, cuja tribo é Reuven. Temos aqui, novamente, uma alusão interessante, porque os próximos meses, Reuven e Shimon, câncer e leão, são dois meses que demonstram ser negativos e sob a influência de Essav. Dois episódios aconteceram com a tribo de Reuven e de Shimon, que corresponde a Tamuz e Av. Infelizmente, parte da tribo de Reuven rebelou-se contra Moshe na época da revolta de Corach, fato que resultou, obviamente, em coisas negativas para o povo de Israel. Também no mês de Av nós temos uma relação com Shimon. Sabemos que a tribo de Shimon também enfrentou um episódio negativo quando um de seus líderes se juntou abertamente com uma midianita, filha de um príncipe de Midian, a famosa Cozbi, um episódio assimilatório que resultou em muitos mortos. Estes dois eventos com Reuven e Shimon correspondem ao que ocorreu com o povo de Israel em Tamuz e Av, os dois meses de câncer e leão. Da mesma maneira poderíamos prosseguir com todos os meses do calendário, demonstrando que há, sem dúvida alguma, uma correlação entre os doze signos e as doze tribos. Ao nos aprofundarmos no zodíaco, veremos que também cada um dos 12 meses sofre uma influência de um planeta específico. O mês de Nissan, por exemplo, é o planeta Marte, Iyar é Vênus, Sivan é Mercúrio e assim por diante. Cada mês judaico, que já possui o seu símbolo e já tem a sua tribo, também corresponde a uma parte do corpo humano. Por exemplo, o mês de Nissan é a cabeça, Tamuz (Reuven) corresponde à visão, e Av (Shimon) é o sentido da audição. O coração é o mês de Tishrei, o famoso mês das festas que está se aproximando. Que D'us ajude o nosso coração a se voltar para o Todo Poderoso neste mês de Tishrei, o mês do balanço (ça), no qual D'us julga a humanidade. Que todos tenham um ano feliz, um shaná tová umetuká, amém! www.morasha.com.br. Abraço. Davi.