quinta-feira, 29 de abril de 2021

OS DEZ ESTADOS DA VIDA

 

Budismo Nitiren Daishonin. www.belashistoriasbudistas.com.br. "OS DEZ ESTADOS DA VIDA, também conhecidos por Dez Mundos, compõem a base da filosofia de vida elucidada pelo budismo. É uma teoria profunda e prática que esclarece, com simplicidade, as complicadas questões da vida. Os diversos estados da vida, ou reações da vida que se manifestam em resposta às ações externas, foram escalonados em dez categorias básicas: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Budha. Estes estados não são condições fixas em que uma pessoa terá de viver por toda a sua existência, mas condições fundamentais que existem em forma latente na vida de todas as pessoas, sejam budistas ou não. O conhecimento desta teoria pode ajudar as pessoas a adquirirem perfeita compreensão e domínio sobre as diversificadas questões da vida, além de fazer com que reconheçam o estado de Budha como a mais suprema condição de vida que as conduz para a felicidade absoluta. Por outro lado, com a compreensão dos Dez Estados da Vida, pode-se aprender um modo correto de viver como também criar um destino melhor. De uma forma mais ampla, é uma filosofia que ajudará os homens a estabelecer um mundo de humanismo. A vida de uma pessoa tem ambos os aspectos, positivo e negativo, e está constantemente se transformando de momento a momento. Quando as pessoas tomarem consciência dos potenciais inerentes em sua vida, terão melhores chances de controlar a si mesmos, ainda que sua vida esteja submetida a constantes mudanças. Além disso, com a prática do Verdadeiro Budismo, as pessoas podem obter força e sabedoria necessárias para elevar sua condição de vida nos estados mais baixos, libertando a si próprios de futuros sofrimentos. Os Dez Estados da Vida não são sentimentos meramente emocionais, espirituais ou físicos. Esses estados estão latentes na vida e manifestam-se do interior de uma pessoa como uma reação imediata e diretamente proporcional às influências externas, negativas ou positivas. Com a prática do budismo, uma pessoa pode elevar, cada vez mais, o potencial do estado de Budha a ponto de conseguir manter um domínio maior deste sobre os demais estados da vida, não sendo facilmente arrastada à mercê das condições externas da vida. O potencial do estado de Budha possibilita também a manifestação da sabedoria inata que ajuda as pessoas a ultrapassarem as mais duras realidades da vida. Por essas razões, o ato de praticar o budismo é a mais elevada causa que gera os mais elevados benefícios. Este é o motivo básico da recitação do Nam myoho rengue kyo e o motivo de encorajar outras pessoas a fazerem o mesmo. Coexistência dos Dez Estados da Vida. Este princípio filosófico, também conhecido por possessão mútua, esclarece a inter-relação entre os Dez Estados da Vida. Significa que numa determinada condição de vida coexistem os demais estados na forma latente. Esta teoria confirma o fato de que os estados da vida não são condições fixas, mas que um estado torna-se mais evidente do que outro de acordo com as causas externas que o motivaram, deixando os demais estados na condição não manifesta. A importância maior desse princípio é esclarecer que todas as pessoas, mesmo aquelas que se encontram predominantemente nos estados mais baixos, estão dotadas com a suprema condição de vida chamada estado de Budha. Em outras palavras, significa que uma pessoa que se encontra na mais terrível condição de vida possui inerentemente a possibilidade de manifestar o potencial do estado de Buda e alcançar a felicidade absoluta. Os Estados de Vida.  1- Estado de Inferno: É a condição de vida mais baixa entre os demais estados. É um estado de sofrimento constante em que as pessoas não têm forças para influenciar suas circunstâncias de vida, nem esperança com relação ao futuro, não podem fazer nada de que gostariam de fazer, nem mesmo gritar para desabafar suas angústias. Esse incontrolável e inextinguível sofrimento caracteriza o estado de Inferno. 2- Estado de Fome: É caracterizado pela obsessão de realizar os desejos e pela incapacidade de satisfazê-los. Neste baixo estado de vida, as pessoas são completamente controladas e dominadas por seus desejos insaciáveis e por terríveis insatisfações, são infelizes e impedidas de se desenvolverem e prosperarem. 3- Estado de Animalidade: É também um estado baixo de vida em que as pessoas são conduzidas unicamente por seus instintos, agem impulsivamente com irracionalidade e sem moralidade. O critério de suas ações é aproveitar-se dos mais fracos e bajular os mais fortes. As pessoas no estado de Animalidade perdem o sentido da razão, e suas emoções são facilmente dominadas pelo medo e pela covardia. Além disso, não conseguem encontrar soluções nem esperanças e resignam-se diante do destino. Os estados de Inferno, Fome e Animalidade formam os Três Maus Caminhos porque são estados de sofrimento. 4- Estado de Ira: É o quarto mais baixo estado de vida que, associado aos Três Maus Caminhos, formam as Quatro Tendências Maléficas. Neste estado, as pessoas possuem consciência de seus atos embora baseados em pontos de vista distorcidos do que é certo ou errado, enquanto nos três anteriores não têm controle sobre sua vida pois são dominadas completamente pelos desejos. No estado de Ira, as pessoas preocupam-se única e exclusivamente consigo mesmas, com seus próprios benefícios, pouco se importando com os demais ou com seu ponto de vista. São conduzidas pelo egoísmo e pela ambição de ser superior derrubando outras pessoas. 5- Estado de Tranquilidade: Esta é uma condição em que a pessoa pode controlar temporariamente seus impulsos e desejos através da razão. Assim, uma pessoa passa a ter uma vida tranquila e em harmonia com seu meio, que inclui as pessoas e o ambiente. Nesse estado, as energias da vida estão sob considerável controle. Porém, pode cair instantaneamente para os Três ou Quatro Maus Caminhos pelo mais leve desvio ocorrido em suas circunstâncias de vida. 6- Estado de Alegria: É uma condição de vida de contentamento que se origina na concretização dos desejos e na solução dos problemas. A alegria nesse estado de vida é efêmera e desaparece com o passar do tempo ou com a transformação das circunstâncias. Estes seis primeiros estados de vida compõem os Seis Maus Caminhos. São estados em que as pessoas são arrastadas exclusivamente pelas influências externas, ficando privadas da liberdade de manter autocontrole sobre as circunstâncias de sua vida. Os próximos quatro estados de vida formam os Quatro Nobres Caminhos, pois são condições alcançadas pelos esforços desenvolvidos pelas próprias pessoas. 7- Estado de Erudição: É a condição experimentada por uma pessoa quando luta por um estado duradouro de contentamento e estabilidade através da auto reforma e do desenvolvimento próprio. É o estado em que o indivíduo dedica-se à criação de uma vida melhor através da aquisição de ideias, conhecimentos e experiências de seus predecessores. 8- Estado de Absorção: As pessoas neste estado podem alcançar a percepção parcial de algumas verdades por si mesmas através da observação direta dos fenômenos da natureza. A Erudição e Absorção compõem os Dois Veículos pois conduzem as pessoas para uma certa independência na vida pela percepção obtida da verdade parcial. Contudo, na condição de Dois Veículos, as pessoas ficam apegadas à percepção para o bem de si mesma e não lutam para beneficiar os outros. 9- Estado de Bodhisattva: Uma pessoa neste estado manifesta uma vida plena de benevolência e sua característica é dedicar-se à felicidade de outras pessoas promovendo ações de altruísmo. Esta benevolência difere essencialmente do conceito de caridade ou compaixão, e sua definição exata é retirar o sofrimento e dar felicidade. A caridade e a compaixão podem aliviar o sofrimento, mas não conseguem retirá-lo nem oferecer a felicidade. A característica maior do estado de Bodhisattva é a busca constante do estado de Budha, ao mesmo tempo em que procura ensinar esse caminho para que as pessoas tornem-se capazes de manifestar a força inerente da vida para conquistarem a felicidade absoluta. 10- Estado de Budha: Constitui-se numa condição de vida em que a pessoa adquire a sabedoria que lhe permite compreender a verdadeira essência da sua vida, manifestar a profunda benevolência para com todas as pessoas e ter a percepção sobre as três existências da vida e sobre a Lei básica do universo. É uma condição de vida no estado de felicidade absoluta que nada pode corromper. Da mesma forma como nenhum estado de vida é estático, o estado de Budha é experimentado no decurso das contínuas atividades de altruísmos cotidianas. Portanto, não se deve considerar o estado de Budha como objetivo máximo a ser alcançado no final da vida. http://www.belasbistoriasbudistas.blogspot.com.br. Abraço. Davi.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

BUDISMO ESOTÉRICO

 

Texto produzido por Ricardo Chioro. BUDISMO ESOTÉRICO. O Budismo Tibetano também é chamado de Vajrayana, que significa Veículo do Diamante. É veículo num sentido que ele nos leva à iluminação, então é um precioso transporte à iluminação. O Budismo Tibetano também é chamado de Budismo Esotérico (hermético; que pode ser compreendido ou entendido por poucas pessoas, sendo ensinado a um grupo restrito e fechado de pessoas chamadas de iniciadas nos mistérios). Ele possui muitos elementos esotéricos que temos no esoterismo ocidental como é o caso de visualizações, viagem astral, astrologia, mantras, mandala, hipnose, mediunidade e até coisas que são difíceis de acreditar como telepatia, levitação e clarividência. Apesar de existirem as mesmas práticas esotéricas no Tibete e no ocidente, o Tibete possui suas próprias visualizações, astrologia e mantras, diferentes das visualizações, astrologia e mantras do ocidente. A astrologia, a viagem astral e a mediunidade são práticas espirituais que faziam parte da religião Bon, a principal religião no Tibete antes da entrada do Budismo no país. Essas práticas foram absorvidas pelo Budismo Tibetano que, na minha opinião, ficou muito melhor. Agora falaremos um pouquinho das práticas do Budismo no Tibete: 1) Viagem Astral: É a viagem fora do corpo físico, onde com meditação ou com a mandala a alma consegue sair fora do seu corpo físico e ir para diversos lugares na velocidade do pensamento. Assim como no esoterismo do ocidente já estamos acostumados com a ideia de que o corpo físico está preso na alma por um fio de prata que se estica quanto necessário nas viagens astrais; no Tibete também se fala isso, e eles podem ver este fio quando saem fora do corpo físico. 2) Divindades Meditacionais: Existem no Budismo Tibetano divindades. Assim não se falar num Deus criador do universo, mas sim de divindades que são seres iluminados. As divindades são utilizadas em visualizações para conseguir trabalhar suas próprias emoções, dominar a própria mente, adquirir sabedoria e compaixão. Essas divindades são chamadas de Yidams. 3) Oráculo: O oráculo é o “médium” que incorpora espíritos. Lá no Tibete eles são muito rápidos, a entidade vem, fala o que tem que falar e vai embora. Aqui no ocidente o processo é bem mais demorado. 4) Yôga: O Budismo que penetrou no Tibete é o Budismo Hindu, então o Yoga que é uma pratica Hindu também penetrou no Tibete. Lá eles praticam posturas, exercícios de respiração e Meditação do Yoga. 5) Astrologia: É extremamente usada no Budismo Tibetano. Eles conferem à vida das pessoas, para que elas já saibam o que a vida espera delas e quais serão suas missões. Também vêm a vida passada das pessoas. Os signos do Budismo são: Lebre, Dragão, Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Ave, Cão, Porco, Rato, Boi, Tigre e Lebre. Cada um respectivo a um ano. 6) Mantra: O mantra é uma prática espiritual feita com a fala ou o pensamento em uma fala. Por exemplo: a fala do mantra OM MANI PADME HUNG. Quando falando o mantra tem mais força, mas quando não se pode falá-lo, se pode fazer em pensamento, que apesar de ser mais fraco o mantra ainda funciona. O mantra mexe com energias invisíveis para os nossos olhos físicos e com outras dimensões, já que enxergamos somente o plano tridimensional. Não é possível ver o mantra, mas é possível senti-lo quando estamos praticando. 7) Mandala (símbolo hindu ou budista do universo; em especial um círculo com um quadrado inscrito, tendo uma divindade a cada lado): Para nossos olhos físicos é apenas uma imagem, mas quando ligada a mente produz energias invisíveis que pode auxiliar as pessoas em diversos processos como limpeza energética, cura, iluminação, resolver problemas etc. 8) Medicina Budista Tibetana: É a medicina com os princípios Budistas unido com a Aiuriveda (Medicina Hindu) e com a Medicina Chinesa, muito conhecida aqui no ocidente. O princípio fundamental é do caminho do meio, que é o equilíbrio, pois o desequilíbrio gera doença. Sendo assim, segundo o budismo a doença nasce da cabeça do ser humano. Eles usam muitas ervas, muito mesmo; algumas até desconhecidas para nós ocidentais. 9) Meditação: Existem muitos métodos de meditação praticados no Budismo Tibetano. Um método muito interessante é que eles deitam-se nus no gelo, em Meditação, e o corpo deles aquecem com a Meditação e o gelo em volta deles começa a derreter. Na revista Época de abril de 2006, na Matéria de capa se diz que, sua santidade o Dalai-Lama, Tenzin Gyatso (1935-   ) tem ajudado a ciência em pesquisas que na meditação pode aumentar a temperatura do corpo em até dez graus. 9) Técnicas Secretas: Existe no Budismo Tibetano técnicas que são secretas e só um número pequeno de pessoas as aprendem. Quem aprende essas técnicas são pessoas chamadas de iniciadas, pois elas foram iniciadas no conhecimento secreto.  O próprio Dalai Lama já expôs que existe de fato conhecimento secreto, mas não diz que conhecimento é este. Alguns autores escrevem sobre este conhecimento secreto. Muitas pessoas duvidam que este conhecimento se trate de algo real e outros acreditam piamente nele. Estes autores falam sobre hipnose (sono ou transe causado por meios artificiais), clarividência (visão clara e penetrante das coisas), telepatia (comunicação de pensamentos, sentimentos ou conhecimentos de uma pessoa pra outra, sem o uso dos sentidos da audição, visão, olfato, paladar ou tato), levitação (ato de levantar um corpo pelo simples poder da vontade) e psicometria (medida da força e duração dos fenômenos mentais. Medida do grau de inteligência). Coisas que são difíceis de acreditar, pois fogem ao conhecimento de mundo que estamos acostumados a pensar desde criança. Falaremos agora destes conhecimentos esotéricos: a) Hipnose: É ensinada somente para pessoas de caráter puro, para que não façam mal uso desta prática. No Tibete, acredito pelo que li a respeito, que a hipnose tibetana é mais avançada que a da ciência ocidental. Lá quando é necessário, com a Medicina Tibetana eles até amputam uma perna sem que a pessoa sinta dor. b) Clarividência: É o dom de enxergar o espiritual ou a energia invisível que fica ao redor da pessoa; a aura (espécie de halo que envolve o corpo, visível somente aos iniciados nas ciências ocultas). A pessoa já nasce com este dom da clarividência, mas costuma ser fraco; a pessoa só consegue ver algumas coisas às vezes. Existem técnicas que podem abrir a terceira visão e a pessoa enxerga quase tudo que lhe passa a frente. É muito útil na Medicina Tibetana, e no aconselhamento, poder enxergar a aura da pessoa, pois ela diz como está o emocional, o mental, o físico e o espiritual. Aqui no ocidente a clarividência é conhecida no Esoterismo, no Espiritismo, na Umbanda e no Candomblé. c) Telepatia: É o dom de ouvir pensamentos. Não sei se ele é natural ou se pode ser desenvolvido. No Budismo Tibetano eles usam os Monges Telepatas em rituais de morte para guiarem os mortos em seus caminhos, pois os mortos se comunicam pelo pensamento, segundo o budismo tibetano, eles não usam a fala. d) Levitação: É uma prática dificílima com meditação. A pessoa estando em meditação adequada pode levitar, mas exige específica técnica espiritual da pessoa. Apenas os iogues iniciados conseguem transpor essa limitação física. Também não é uma prática usual na espiritualidade tibetana. d) Psicometria: É a arte de pegar qualquer objeto ou ser e conseguir extrair qualquer informação dele; tudo que aconteceu com aquilo desde as mais remota eras passadas. Necessário dizer aqui, que no budismo há o conceito da evolução de todas as substâncias, minerais, vegetais, animais e humanas visíveis; também os seres imateriais invisíveis evoluem em seus mundos, os quais não acessamos, ainda, mas em nossas sucessivas encarnação perceberemos esse processo, reconhecendo que fazemos parte dele na lei de transmissão cármica. Técnicas fantásticas como estas não foram aprendidas somente no Tibete, mas em outros dois lugares no mundo: O Egito Antigo e a Índia. São lugares cheios de mistérios e de coisas impressionantes, que ninguém consegue explicar sendo tema de muitos filmes como: O Rapto do Menino Dourado, Shangrilá, O Monge a Prova de Balas  e O Pequeno Buda. Além destas práticas, o Budismo Tibetano conta com ensinos Budistas como As Quatro Nobres Verdades, O Caminho do Meio, Karma, Dharma, Reencarnação, Temporalidade, Desprendimento, Insatisfação, Sofrimento e muitos outros de mesma importância. Budismo Tibetano no Brasil. O Budismo Tibetano dos templos, aqui no Brasil não possui as práticas similares tibetanas. Nos Templos aqui no Brasil tem Meditações; não as que fazem o gelo derreter, mas existem outras; tem os Yidams (divindades), as Divindades Meditacionais, tem Yoga, mandalas e mantras, mas não tem viagem astral, levitação, hipnose, clarividência, telepatia e oráculos (Na Antiguidade, a resposta dada pela divindade, quando alguém a consultava). Temos aqui muito pouco da astrologia deles, como os signos do zodíaco e algumas informações mais. Desse modo aqui no Brasil, temos um Budismo Tibetanos peculiar. Naturalmente, é impossível apropriar-se de todos os conhecimentos exotéricos (doutrina, ensino revelado ao público) e esotéricos (os mistérios ocultos que apenas os iniciados da religião tinham acesso) do Budismo Tibetano, sendo esse processo lento e demorado. Talvez muitas encarnações ainda serão necessárias para alcançar a completude dessa vasta riqueza espiritual. O Budismo do Tibete se unifica com outras crenças, uma prova disso é o Namastê, tanto dito por eles, que significa: "meu Deus interno saúda o seu Deus interno". No Budismo não se fala num Deus pessoal como o criador. Pra eles Deus é o criador e também a criação. Eles aceitam outras crenças para se completar. No Brasil o Budismo está crescendo de forma fechada, sem se completar com outras crenças, isso não é bom, pois acaba elitizando essa tesouro espiritual, mas iniciativas de universalização em blogs e sites têm se multiplicado, espalhando o conhecimento budista em outras áreas espirituais como o cristianismo, tanto católico como protestante; assim esses elementos da espiritualidade oriental vão, aos poucos, se incorporando aos dogmas e axiomas das religiões ocidentais. Existem textos  de alguns autores criticando quem acredita em um Deus criador de tudo, dizendo que isto não é possível. Isso demonstra um sentimento dogmático de egoísmo, e ignorância quanto a necessidade de superar os preconceitos, unificando as divindades, valorizando as concepções diferentes que cada um pratica em seu círculo de comunhão religiosa. Desse modo, criticar a crença dos outros é colocar a sua como melhor, algo que o Buddha reprovou num de seus  primeiros (ensinos) sutras, logo depois de sua iluminação, conversando com um grupo de anacoretas (pessoa que leva vida religiosa solitária, retirada do convívio social) as margens de um rio. Os Lamas. No Budismo Tibetano existem os Lamas (na prática Vajrayana, o lama é frequentemente um guia espiritual tântrico, o guru à o aspirante de iogue budista) sacerdotes religiosos do mais alto grau. Acredita-se que a alma de Sidarta Gautama, o Buddha, tenha se dividido em milhares de partes e essas partes reencarnam como Lamas para propagar e ensinar o Budismo. Uma crítica pessoal do autor do texto. "Talvez este seja o único erro do Budismo, pois me foi revelado através de oráculo na manifestação de um Buda (um ser iluminado) que diz o que eu penso e o que eu faço sem que eu lhe conte, que Sidarta Gautama, o Buda, não se dividiu em milhares de seres, mas que tudo existe dentro de nós, e eles usam o Sidarta Gautama dentro deles, fazendo o que ele fazia". Não tenho condições para contra argumentar a posição do autor dessa dissertação, mas até aqui, os textos que temos lido no Mosaico, não trazem essa perspectiva da fragmentação do Buddha. Pelo contrário, percebemos que Buddha na experiência de cada indivíduo, deve ser entendido como um estado de consciência (inanente e transcendente) iluminada, que devemos em nossa encarnação atual perseguir como meta para alcançarmos o nirvana em nossa jornada espiritual. Assim, não temos Buddha, como uma parte exterior à ser incorporada em nossa experiência, mas esse aprendizado pedagógico é inerente ao nosso ser, bastando pela pureza, santificação e conhecimento d'alma adentrarmos esse portal da sabedoria divina. Essa é minha opinião quanto a esse crítica feita pelo senhor Ricardo Chioro ao Budismo Tibetano.  O próprio Dalai Lama, que como o nome já diz é um Lama, fala que não tem iluminação suficiente para se tornar um Buda (Informação da revista Época de abril de 2006, matéria da capa). Existe ainda a ideia de Lamaismo, dos ensinamentos dos Lamas. Eles dizem que a alma, quando encarna forma um reflexo dela, um fantasma além da alma encarnada. Esse reflexo acontece pelas paixões e apegos das pessoas. Então na alma se forma um duplo etérico. Este conceito hoje é amplamente aceito no Esoterismo e no Espiritualismo Ocidental. Sua Santidade, o Dalai Lama, Tenzin Gyatso (1935-  ) é considerado o mais importante de todos os Lamas, sendo o líder do povo tibetano. Fuga do Tibete. Em 1949, começou a ocupação chinesa no Tibete e a intolerância com o Budismo Tibetano. Aproximadamente 1 milhão e 200 mil tibetanos morreram e 6.200 monastérios foram destruídos, restando apenas 13. Infelizmente muitos (monges e monjas) religiosos foram mortos. A Potala, o palácio mais precioso onde morava o Dalai Lama, é um grande símbolo do Tibete e do Budismo. Em Março de 1959, o Dalai Lama saiu disfarçado como uma pessoa comum para não chamar a atenção, pois os chineses queriam prendê-lo. Nesta época a Potala (palácio onde morava o Dalai Lama na cidade tibetana de Lhasa capital dessa província chinesa) estava protegida por 400 soldados, e o Dalai Lama conseguiu fugir, enganando essa guarnição militar. Em quinze dias de caminhada o Dalai Lama e diversos tibetanos atravessaram o Tibete chegando à Índia. Em julho deste mesmo ano o número de refugiados à Índia que foram à mesma cidade que o Dalai Lama era de 20 mil. A cidade se chama Dharmsala, onde os tibetanos se refugiaram, sendo atualmente a morada do Dalai Lama e a sede do governo tibetano no exílio. Abraço. Davi.

terça-feira, 27 de abril de 2021

O QUE FAZER DIANTE DA EMERGÊNCIA AMBIENTAL

 

Budismo. www.bodisatva.com.br. Por Emerson Karma Konchog. O QUE FAZER DIANTE DA EMERGÊNCIA AMBIENTAL. Nesse texto, o monge Emerson Karma aborda como movimentos coletivos são capazes de pressionar e trazer as mudanças urgentes necessárias para a Terra. O que praticantes de um caminho espiritual podem fazer em relação à atual emergência climática e ecológica? Basicamente o mesmo que qualquer pessoa preocupada com a questão. Mas o engajamento pode ser um pouco mais fácil e natural para quem tem um compromisso com valores altruístas como compaixão e solidariedade. Para todos nós no geral, como há pouco tempo e os métodos convencionais falharam em trazer mudanças efetivas, a melhor — e talvez última — chance que temos é nos organizarmos coletivamente e pressionar os governos e empresas por mudanças. Isso é o que tem surtido efeito em países onde a informação está melhor distribuída, como na Europa e EUA. Se não fizermos isso, outras opções seriam:  ONGs e assinar petições ambientais; votar em políticos ‘verdes’; divulgar conteúdo ecológico, por exemplo nas redes sociais; tentar ser mais compassivo e atento; tornar-se vegano. O elemento comum nessas abordagens é a incerteza se o número necessário de pessoas para uma mudança efetiva vai colaborar ou não. Não estou criticando essas iniciativas, que são ótimas. Eu mesmo pratico todas. Mas isso em si tem pouca chance de reverter a catástrofe que se anuncia, pois é improvável uma disseminação massiva no curto prazo. Estamos esperando a boa vontade dos governos, empresas e pessoas, para que não destruam o ambiente onde vivemos desde os primórdios do movimento ecológico. E apesar de pequenas vitórias, no geral, a situação só piora. Já no caso de uma política governamental, por exemplo, que proíba a emissão de gases do aquecimento e o ecocídio, há muito menos incerteza: é lei e pronto. Com pressão suficiente da sociedade, essas mudanças são possíveis, e já estão acontecendo em outras partes do mundo, devido aos movimentos que estão cobrando isso ativamente. É essa abordagem que vou apresentar neste texto, com argumentos sobre porque não há mais tempo para um foco principal em abordagens convencionais como mudanças de hábitos. É essa a proposta também dos novos movimentos climáticos — como Rebelião ou Extinção (XR, ou Extinction Rebellion) e Greve pelo Clima, nos quais ajudo — que se engajam em ação direta não violenta como a maneira mais eficaz de trazer as mudanças urgentes necessárias. Esses movimentos surgiram justamente devido à frustração com a ineficácia das abordagens convencionais, e têm tido sucesso em trazer mudanças rápidas. Por exemplo, devido em grande parte a esse tipo de mobilização, a União Europeia decretou emergência climática, atendendo essa demanda tanto do XR quanto da Greve pelo Clima. E na Inglaterra, o governo também concordou com outras duas exigências: medidas ambientais urgentes e a criação de uma assembleia cidadã para a deliberação dessas medidas (mais sobre isso adiante). No entanto, uma mobilização muito maior é necessária para que a transformação se espalhe pelo globo, especialmente no Brasil, onde esse tipo de abordagem ainda engatinha. Espiritualidade engajada. Para praticantes espirituais, esse tipo de engajamento pode ser muito mais fácil. Primeiro porque provavelmente já pertencemos a alguma comunidade. Então reunir pessoas interessadas em algum espaço é algo muito simples. Segundo, a motivação de ajudar os outros já existe. Essa é uma das principais barreiras para o ativismo em geral: acreditar que vale a pena se envolver em alguma ação de transformação coletiva. Então basta atuar de fato conforme nossos compromissos. Terceiro, porque o aspecto interno e compassivo da transformação, em tese, já está sendo trabalhado. Sem isso, o engajamento pode acabar sendo algo estéril: ficamos agindo por uma mudança que não existe em nós mesmos. Além disso, lidar com a frustração e esgotamento emocional constantes do ativismo, sem uma prática interna de compaixão é uma tarefa quase impossível. Então, para praticantes espirituais, como já há meio caminho andado, ações efetivas são apenas uma questão de arregaçar as mangas e pôr a mão na massa. Por exemplo, juntar-se a um movimento, ou reunir interessados e criar um grupo local de ação direta (no final do texto, há referências nessa área). No entanto, não há respostas fixas para a pergunta “o que posso fazer?”. Cada contexto é diferente, e qualquer iniciativa é válida. O que vou sugerir a seguir são recomendações genéricas do ponto de vista da urgência por ação, em que cada semana conta, e dessa abordagem mais direta dos novos movimentos ambientais. Informar-se. Sem conhecimento, não há ação. Então talvez a primeira coisa a ser feita é informar-se sobre a gravidade da situação, já que quem não está alarmado, provavelmente não conhece o nível da catástrofe, ou então, por algum motivo, não acredita nisso. Temos poucos anos (provavelmente menos de dez) para tentarmos garantir um futuro mais ou menos habitável para as gerações futuras. E há a possibilidade real de que já tenhamos passado de certos pontos sem volta, alterando o clima de tal modo que grandes desastres socioambientais são inevitáveis — mas mitigar e reduzir danos sempre é possível. Sem uma mudança radical, provavelmente já em 2050 as sociedades estarão sofrendo dificuldades imensas. Pode parecer longe, mas é lá que nossos filhos e netos estarão tentando viver. Falamos em “salvar o planeta, a natureza, a humanidade”, mas isso é só figura de linguagem. O planeta vai continuar aí, assim como a vida, que sobreviveu e se adaptou após cinco extinções em massa na Terra. E nós? Mesmo nos piores cenários, provavelmente ainda haverá humanos — apesar de haver estudos que projetam uma chance de 19% de extinção humana antes de 2100. A questão é: como estaremos sobrevivendo? O que está em risco são as condições de vida adequadas para as gerações futuras e, claro, as milhões de espécies de vida sendo extintas num ritmo como não se via há dezenas de milhões de anos, durante a última grande extinção. Assim, não há como praticarmos compaixão sem incluir os seres do futuro em nosso círculo. No budismo, a compaixão não é um sentimento, mas uma força ativa de amor e cuidado. Como disse o professor budista e também ativista do Extinction Rebellion, David Loy, durante uma conversa recente com Lama Samten, “prática, prática, todo mundo sempre fala de prática, o que realmente gostaria de saber é quando ocorrerá a atuação”. Silêncio climático da mídia. Se você se sente cético diante dessas previsões mais apocalípticas, pensando que “não pode ser tão grave assim, afinal ninguém está falando disso”, essa é uma reação completamente natural. É como a maioria das pessoas reage. E isso acontece principalmente por um motivo: o “silêncio climático” da mídia, que propaga um silêncio ainda maior sobre essa questão em toda sociedade. Na verdade, muita gente está falando sobre isso sim, incluindo os mais renomados intelectuais e cientistas, como os selecionados para os painéis da Organização das Nações Unidas. Mas, sem uma cobertura responsável da mídia, o debate não chega ao público em geral. Basicamente, nossas conversas giram em torno dos assuntos do noticiário. Quando ouvimos falar algo que não está na mídia, a primeira reação é o ceticismo — e isso sem nem falar no novo fenômeno das realidades paralelas nas mídias sociais, em que tudo que vai contra determinada opinião é tratado como conspiração ou fake news. Esse silêncio climático, especialmente em países como o Brasil, também é extremamente prejudicial pois acaba alimentando teorias conspiratórias. É difícil de entender, mas há realmente muitas pessoas que acreditam que aquecimento global é uma boato, ou uma conspiração para enriquecer empresas verdes. Em países onde a emergência climática já é um assunto na boca do povo, como na Europa, não há espaço para esse negacionismo conspiratório, justamente porque ele soa tão lunático quanto de fato é, diante dos fatos. Já aqui, sem a devida informação, ainda há amplo espaço para essas teorias do tipo terraplanismo. Então, infelizmente, para se informar sobre isso no Brasil por enquanto não podemos contar com o noticiário, com algumas exceções. No final deste texto, há diversas referências para quem quiser saber mais sobre esta emergência, incluindo casos isolados de boa cobertura da mídia. À seguir, vou resumir os principais fatos sobre a emergência em que nos encontramos, baseados nos dados científicos citados nessas referências. O desastre. O fato de que a ação humana vem causando aquecimento global já há quase um século é consenso entre 97% dos climatologistas do planeta. Estamos sentindo os efeitos disso em todos países, principalmente em lugares como Oriente Médio, África central e Bangladesh, que já estão em estado de calamidade pública, devido a inundações, calor mortal, desertificação e suas graves consequências — fome, migrações em massa e conflitos civis. Esses desastres são consequência de um aumento na temperatura média global de 1,1°C. Caso as emissões de gases do efeito estufa não sejam cortadas em 45% em dez anos, e zeradas até 2050, haverá um aumento entre 2° a 3°C. Pode parecer pouco, mas como média global isso significa aumentos de temperatura de até 10ºC em muitas cidades. Por exemplo, no Brasil já temos picos de temperatura 5°C acima dos registros de 20 anos atrás. A concentração excessiva de CO2 na atmosfera, que junto com outros gases causa o aquecimento, foi a responsável por cinco extinções em massa na história da Terra. Há consenso entre especialistas em extinção de que já entramos na 6ª grande extinção. A perda definitiva da biodiversidade é um fenômeno ligado não somente à crise climática, mas também ao desmatamento, caça e pesca. É por isso que se fala em emergência não apenas climática, mas também ecológica. A longo prazo, as consequências dessa crise ameaçam a civilização humana como a conhecemos. Sem uma mudança radical, as sociedades daqui há 50 anos não vão ser muito diferentes dos cenários distópicos que vemos nos filmes de ficção científica. Entre os efeitos estão: 1. novas epidemias e pandemias (quando vírus, bactérias e animais-vetores migram para cidades após perderem seu habitat. Vale lembrar que a Covid-19 é resultado do desequilíbrio ecológico); 2. guerras civis devido à seca, falta de comida e água e migrações em massa (como o caso recente da Síria, que explodiu em conflito após uma seca sem precedentes); 3. áreas costeiras permanentemente inundadas e seu enorme custo financeiro; 4. clima extremo sem precedentes (tempestades, furacões, incêndios…); 5. crise econômica e convulsão social;  6. ascensão do autoritarismo nesses momentos de vulnerabilidade (cada vez mais comum no mundo todo); 7. efeitos-bola-de-neve, quando pontos críticos de aquecimento são atingidos e as mudanças começam a se retroalimentar em um padrão fora de controle. Na verdade, a quantidade de gases do aquecimento (não apenas como fruto da queima de combustíveis, mas também da criação de animais para abate e da monocultura extensiva) que soltamos já atingiu um ponto sem volta: mesmo se parássemos completamente de emiti-los hoje, o planeta continuaria aquecendo por décadas, já que o CO2 se acumula e permanece na atmosfera por muito tempo. A ONU vem divulgando ultimatos cada vez mais alarmantes sobre as consequências dessa crise. Por exemplo, recentemente o secretário-geral António Guterres pediu para que todos os países decretem emergência climática. O colapso socioambiental da civilização humana está se desdobrando bem na nossa frente. É a história do século. Não é incrível que isso não esteja nas capas dos jornais? Que pouca gente esteja falando sobre isso? Silêncio e negacionismo. Como extinção em massa e mudanças climáticas são processos que se desdobram lentamente, não há muito apelo noticioso. É mais ou menos a mesma lógica do comentário “hoje está tão frio, cadê o aquecimento global que estão falando?”. Essas  mudanças não vêm da noite para o dia. No entanto, aparecem de maneira óbvia quando, por exemplo, comparamos as temperaturas extremas de hoje com as de 20 anos atrás. Outro exemplo: quem tem mais de 30 anos já deve ter reparado como praticamente não vemos mais sapos e rãs. 70% das espécies de anfíbios foram extintas nas últimas décadas. Além do desinteresse da mídia em consequências de longo prazo, há o falso questionamento sobre a ciência que comprova a mão humana nas mudanças climáticas. A mídia acaba comprando essa desinformação e a repassa para o público. Esse negacionismo é orquestrado pelas empresas que se beneficiam das emissões de gases do aquecimento (e da devastação natural também). Elas financiam governos e os poucos cientistas que negam a responsabilidade humana, afirmando que o aquecimento que sentimos hoje é “algo natural”. Assim, eles acabam ganhando na mídia um espaço desproporcional em relação à minúscul a fatia que representam entre a comunidade científica.Fica a impressão de que não há consenso científico, exatamente da mesma maneira como a indústria do cigarro orquestrou por décadas a falsa controvérsia de que não haveria ligação comprovada entre cigarro e câncer (inclusive, profissionais da desinformação que trabalharam para os fabricantes de cigarro também trabalharam na campanha que semeia dúvidas sobre as causas do aquecimento global). Felizmente, esse tipo negacionismo já está sumindo um pouco da mídia (mas não do discurso político e da realidade paralela das mídias sociais), dando lugar agora à negação sobre a gravidade da crise, que se expressa mais ou menos assim: “Isso é alarmismo. A situação não é tão grave. Podemos resolver isso com desenvolvimento sustentável, consumo consciente e plantando árvores”. Ligar o alarme quando nossa casa está pegando fogo jamais seria chamado de “alarmismo”. E é exatamente isso que está acontecendo. O silêncio climático é particularmente maior em países como o Brasil. Em comparação com Europa e EUA, é impressionante a ausência no noticiário sobre essa ameaça ao nosso futuro. E quando desastres ambientais como desmatamento e ondas de calor são noticiados, isso aparece como se fossem fenômenos sem causa humana, cujas graves consequências e possíveis soluções nem são mencionadas. Já a jovem ativista sueca Greta Thunberg é apreciada mais como uma celebridade excêntrica, ou prodígio, do que pela mensagem que traz. Mudanças de hábitos. Diante do pouco tempo que (não) temos, tentar lidar com essa crise através de iniciativas como reciclagem, campanhas sobre consumo consciente, horta orgânica etc não vai fazer diferença, apesar de serem hábitos essenciais. Movimentos ambientais mais recentes como 350.org e Rebelião ou Extinção estão há anos tentando demonstrar que focar em mudanças de hábitos individuais não apenas é ineficaz diante da emergência em nos encontramos, como também é contra produtivo, pois desvia a atenção sobre as mudanças necessárias: políticas públicas como corte obrigatório de emissões e fim do desmatamento e quaisquer atividades que contribuam para as mudanças climáticas e extinção de espécies.  Focar em mudanças de hábitos favorece, na verdade, as corporações e governos responsáveis, empurrando a responsabilidade para o consumidor (ela existe, mas é pequena em comparação com o que políticas públicas fazem). Novas medidas governamentais surgem quando a sociedade se organiza e pressiona, como os protestos climáticos na Europa têm demonstrado. Já o foco em mudanças individuais só poderia funcionar se tivéssemos tempo de sobra. Uma cena no dia seguinte à devastação causada pelo furacão Sandy em Nova York, em 2012, ilustra bem esse ponto. Havia na região costeira um centro comunitário que era referência em práticas sustentáveis: horta orgânica, reciclagem exemplar, consumo consciente, uso eficiente de energia… Quando o furacão arrasou a cidade, esse centro foi reduzido a uma pilha disforme de areia, deixando seus membros sem saber o que pensar, afinal não estavam fazendo tudo certo? Diante da devastação de um clima completamente alterado, não há ‘hábitos ecológicos’ que resistam. Eventos climáticos extremos como esses furacões e tempestades estão se multiplicando tanto em número e intensidade a cada ano. No Brasil, um dos motivos porque não sofremos com isso é o efeito de regulação do clima proporcionado pela Amazônia. No ritmo atual de devastação das florestas, até quando teremos essa proteção natural, que também impede a formação de um deserto no centro-oeste e sudeste? Aja em grupo. Tudo isso tem provocado, pela primeira vez na história, uma revolta global contra esse ciclo de autodestruição em que nos fechamos. Esses movimentos são fortes nos países onde há maior consciência sobre a emergência climática, mas em menor escala já se espalharam por todo o planeta, já que essa crise também atravessa todas as fronteiras. São mobilizações como a Greve pelo Clima, de Greta Thunberg, Rebelião ou Extinção (Extinction Rebellion, ou XR), 350.org, Sunrise e vários outros movimentos climáticos e ecológicos similares. No Brasil, há também iniciativas brasileiras como Liberte o Futuro e os diversos coletivos interseccionais, que abraçam a causa ambiental sem se restringir  a isso, da mesma forma como os movimentos ambientais também já integraram as causas racial e contra a desigualdade. Ao se juntar a algum grupo ou movimento, fica muito mais simples se engajar em ação direta de pressão ao governo e corporações. A maioria desses movimentos tem caráter descentralizado e viral: se em sua cidade não houver um grupo local, é fácil criar um. Por exemplo, no XR (Rebelião ou Extinção) funciona assim: quem quer que aja pelas três demandas e dez princípios do movimento, pode atuar em nome do XR, sem precisar pedir autorização para ninguém. Após os membros serem treinados nesses fundamentos e diretrizes, é só começar a implementá-los localmente. A expansão desse tipo de movimento é crucial para a causa particularmente no Brasil, já que ainda não contamos com a mobilização massiva e auto-organizada dos movimentos no Norte Global. Sobre como se envolver em algum movimento climático, o climatologista da NASA, Peter Kalmus, que também integra o coletivo End Climate Silence, escreveu um texto bastante útilAmazônia e emissões. No Brasil, além da pauta global das mudanças climáticas, uma questão central é a preservação dos biomas e dos povos indígenas. Isso porque o desmatamento da Amazônia e do Cerrado respondem por 44% das emissões de gases do efeito estufa, segundo dados do Observatório do Clima de 2019. Como a agropecuária responde por 28% das emissões, 72% da contribuição do Brasil para o aquecimento global vem do desmatamento e do agronegócio. Há um discurso político e empresarial que enfatiza o fato de que o Brasil possui uma matriz energética limpa, devido à predominância das hidrelétricas na geração de energia. No entanto, a destruição ambiental causada por essas usinas está muito longe de ser algo insignificante. E uma matriz supostamente limpa acaba não fazendo muita diferença já que o Brasil é o 5º país que mais emite gases do aquecimento. Com a atual situação política brasileira, ativistas podem imaginar que não há como um governo negacionista desse nível fazer algo positivo em relação ao meio ambiente, sendo então inútil fazermos exigências ambiciosas. No entanto, mobilizações atraem atenção e disseminam a mensagem. Como governar abertamente contra a sociedade é algo que mesmo os governos mais autoritários tentam evitar, protestos que chamam a atenção sempre ajudam os movimentos. Além disso, as demandas não precisam necessariamente focar na administração federal. Por exemplo, no XR e na Greve pelo Clima uma demanda central é que os governos municipais também decretem emergência climática. Com base nessa medida simbólica, se abre um debate público mais intenso e urgente pelas medidas necessárias, aumentando a cobertura da mídia e, consequentemente, o engajamento da sociedade nessa questão. Inclusive, no Brasil, já há uma cidade que decretou espontaneamente emergência climática: Recife. Além das mudanças climáticas, há vários outras graves consequências da extinção da biodiversidade, como falta d’água, desertificação, genocídio indígena e quilombola, e racismo ambiental (mais sobre isso adiante). Assim, as ações dos movimentos climáticos no Brasil também unem a agenda global com as questões mais locais como as causas indígena, racial e de inclusão social. Curto prazo. Entre as demandas de curto prazo desses movimentos, além do reconhecimento de emergência climática pelo governo e pela mídia, estão também a questão da justiça climática e do racismo ambiental. Em um nível local, isso se refere ao fato de que as pessoas que mais sofrem com desastres ligados a mudanças climáticas estão nas comunidades excluídas, por exemplo em áreas de risco, ou indígenas e quilombolas. Em um nível global, as nações que mais estão sofrendo não contribuíram quase nada para o problema. Historicamente, cinco países ricos (Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália e Japão) são responsáveis por 92% das mudanças climáticas/aquecimento global. Países na América Latina, África e Oriente Médio — os que mais sofrem com isso — respondem por apenas 8% dos gases do efeito estufa (dados são citados pelo antropólogo econômico Jason Hickel, em “Less is More”). Então as pessoas e sociedades mais vulneráveis precisam ter prioridade nas medidas de mitigação e reparação de injustiças. Longo prazo. Já entre as medidas de longo prazo que precisamos exigir, está a transição do sistema econômico para modelos mais humanos e compassivos, como decrescimento ou economia donut. Isso porque por mais que cortemos emissões e façamos a transição para energia renovável, o sistema extrativista que busca um lucro infinito sobre a natureza escassa continuará o mesmo, sendo assim uma questão de tempo para que as crises socioambientais voltem a explodir. Outra mudança estrutural que é abordada em movimentos ambientais mais holísticos como XR ou Trabalho que Reconecta (TQR) é a mudança interior, de visão de mundo, substituindo a atual visão de supremacia em relação a outras espécies animais e vegetais, pela visão de uma interdependência compassiva, que abraça e cuida de toda a vida, nos reconhecendo como uma parte dessa teia, e não como donos. Esse é um exemplo claro de como a visão budista especificamente pode transformar o ativismo, não estando limitada ao contexto budista. Joanna Macy, a idealizadora do TQR, demonstra de modo brilhante em seu trabalho como essa filosofia enriquece o ativismo ambiental. Reforma política. Além da reforma econômica, uma medida de longo prazo essencial é consertar nossas democracias. A atual crise pode ser muito útil já que expõe a falência completa de nossos sistemas coletivos e individuais, nos empurrando para um colapso sistêmico inevitável. Assim, fica óbvio que não há como haver vida em equilíbrio natural sem uma mudança completa dos sistemas. No movimento XR especificamente, não há ênfase em quais deveriam ser as mudanças de longo prazo para resolver essa crise existencial. No lugar disso, propomos a criação de assembleias cidadãs para que a própria sociedade discuta e decida o que é melhor para nós, em vez de deixar essas decisões na mão de políticos comprometidos e empresários. Tal sistema de democracia direta está na origem da própria democracia, há 2.500 anos, e vem sendo redescoberto como uma ótima ferramenta para lidarmos com problemas aparentemente insolúveis pela política partidária, que costuma terminar atada por interesses que não são os da sociedade. Escrevi sobre assembleias cidadãs neste artigo. Como mencionei no artigo anterior, visões de mundo como a do budismo ou das culturas de povos nativos, em que reconhecemos como uma vida maior, que se entrelaça em todas as direções, podem exercer um papel fundamental neste momento em que ou mudamos ou perecemos. E as pessoas que já cultivam tal visão, ou uma compaixão universal, podem exercer um papel-chave nessa possível transição.

 

Para encerrar ainda nessa direção otimista, segue um refrão favorito de música pop, das inglesas do Big Moon, na canção Your Light:

“Então talvez este seja o fim, porque não parece uma parada,

Mas toda geração provavelmente imaginou ser a última.

Mas em dias como estes, eu esqueço da minha escuridão,

E me lembro da tua luz,

Me lembro da tua luz…” www.bodisatva.com.br.