domingo, 31 de maio de 2020

MASSADÁ, EPOPEIA TRÁGICA


Judaísmo. www.morasha.com.br. MASSADÁ, EPOPEIA TRÁGICA. A alguns quilômetros do Mar Morto estão as ruínas de Massada, onde ocorreu um dos mais dramáticos episódios da história judaica. Foi lá que, no ano 73 desta Era, 960 judeus optaram pelo Kidush Hashem, a morte em santificação do Nome Divino, à submissão a Roma. Massada, palavra que em hebraico significa fortaleza, é um dos pontos mais visitados em Israel, apenas perdendo para Jerusalém. Sua beleza singular, que desponta em meio ao deserto da Judéia, aliada à força de seu passado, é apenas um dos elementos que atraem milhares de viajantes. A partir do século 20, o sítio arqueológico se tornou símbolo do heroísmo nacional judaico, exercendo um forte apelo à liberdade e à independência de Israel. Em 2001, a UNESCO designou Patrimônio Histórico da Humanidade o Parque Nacional de Massada, no qual estão as ruínas da fortaleza construída por Herodes, o Grande. A aventura em Massada começa com a viagem em meio à maravilhosa paisagem pelo deserto da Judéia, margeado pelas dunas de areia e salinas do Mar Morto. Para chegar ao topo da montanha, pode-se usar um serviço de teleférico ou se aventurar pela trilha, também conhecida como Caminho da Serpente. Em algumas épocas do ano, principalmente durante o verão, há espetáculos noturnos, com luzes. Além das ruínas, o local abriga um museu, uma sala de exibição, uma loja de suvenires e um restaurante. O museu foi inaugurado em maio de 2007, em memória de Yigael Yadin (1917-1984), (Ver página 35), arqueólogo israelense que dirigiu as expedições na década de 1960. Combinando artefatos arqueológicos e uma atmosfera teatral, com narrativas de áudio, o museu cria uma experiência única e inesquecível para os visitantes. A fortaleza. Massada é uma fortaleza natural, com penhascos íngremes em um terreno acidentado. Na parte leste, a face do penhasco se eleva 400 m acima da planície circundante. As vertentes norte e sul são igualmente escarpadas, mas o lado oeste é mais facilmente alcançável. O platô de Massada tem o formato de um losango, com cerca de 600 m de comprimento e 300 m em sua parte mais larga. Segundo o historiador Flávio Josefo (38-100), Herodes construiu a fortaleza entre os anos 37-31 antes da Era Comum. Escolhido por Roma para ser rei da Judéia, não era benquisto pela população judaica e fez do lugar seu refúgio pessoal. Exímio construtor, fez erguer uma dupla muralha de pedra, com quatro portões e mais de 30 torres, com 140 m de extensão e quase 6 m de altura em alguns pontos, estendendo-se por todo o perímetro do platô. O complexo da fortaleza incluía depósitos para guardar armas e alojar as tropas, enormes cisternas escavadas na pedra para coletar água da chuva, com capacidade para mais de 40 milhões de litros, armazéns, casas de banho, sinagogas e micvês, além de dois palácios com todo conforto e luxo para a época: pisos de mosaicos, afrescos e colunatas. Para vencer o clima quente e árido da região, os edifícios foram construídos com camadas de sólidas pedras de dolomita recobertas com gesso. Nada nas obras de Herodes era feito com descaso. Seu gosto pelo luxo e pela sofisticação, além da perfeição nos detalhes, era notório. A face norte da montanha, que oferece uma paisagem fantástica, foi a escolhida por Herodes para erguer um dos dois palácios da fortaleza. Este possuía várias construções, como um centro administrativo e quarteirões residenciais para oficiais e suas famílias. Separados do restante do complexo por um muro, que garantia-lhes total privacidade e segurança, havia três terraços luxuosos interligados por uma escadaria. No superior, vários quartos serviam como alojamento e eram decorados com mosaicos pretos e brancos, em padrão geométrico. Tudo indica que os dois terraços inferiores eram usados como área de lazer, pois incluíam uma pequena casa de banho particular. Ao longo das escavações realizadas na década de 1960 por Yigael Yadin cada novo achado foi desvendando a história de Massada. Entre as ruínas da fortaleza foram encontrados restos de uma ampla sinagoga, voltada para Jerusalém, incorporada à seção norte do muro da casamata. Encontraram-se vários indícios de que teria sido usada durante a Revolta Judaica. Nesse local havia uma placa com a inscrição hebraica Me'aser Cohen - Lugar do Sacerdote, além de fragmentos de duas Torot, partes de Deuteronômio e Ezequiel, escondidos em covas abaixo do chão de um pequeno recinto dentro da sinagoga. Esta construção é considerada o melhor exemplo da arquitetura das sinagogas anteriores à destruição do Templo de Jerusalém, em 70 desta Era. Ânforas, restos de armas - principalmente flechas, roupas e alimentos da época dos zelotes foram também descobertos nas ruínas da fortaleza durante as escavações, além de cartas em hebraico, moedas e shekhalim datados da época da 1ª Revolta Judaica. Despertou especial interesse entre os estudiosos uma ânfora usada para importação de vinho de Roma, com a inscrição "Para Herodes, Rei dos Judeus". A ânfora trazia também uma inscrição com o nome de Caio Sentius Saturininus, cônsul durante o ano 19 dC. Duas micvês, ou piscinas para a imersão ritual de purificação judaica, foram também encontradas. Com emoção, Yadin recorda, em seu livro Massada, Última Fortaleza de Herodes e Última Posição dos Zelotes: "Estas micvês atestam que os defensores de Massada eram judeus devotos, pois que até aqui, na inóspita Massada, eles se deram ao árduo trabalho de construir esses banhos rituais em escrupulosa conformidade com as exigências da Lei judaica". Antecedentes da tragédia. Com o início da 1ª Revolta Judaica, em 66 da nossa Era contra o Império Romano, um grupo de judeus conhecidos como sicários consegue tomar a fortaleza de Massada, então sob controle de uma guarnição romana. A Grande Revolta Judaica termina no ano 70 da Era Comum, com a destruição de Jerusalém e do Segundo Templo pelas tropas do imperador romano Vespasiano (9-79), comandadas por seu filho, Tito (39-81). Rebeldes zelotes e suas famílias que haviam conseguido se salvar da fúria romana procuram abrigo em Massada. Fazendo da fortaleza a sua base, realizam uma série de operações conjuntas contra os romanos. A queda de Massada tornou-se uma questão de honra para Roma, que incumbe o general Lucius Flavius Silva (40-81), governador da Judéia e cônsul, de dar um fim à rebelião. À frente da 10ª Legião e de várias unidades de apoio, Flavius Silva marcha contra Massada. Lá no alto da montanha, os judeus resistiram durante quase três anos ao cerco da 10ª Legião. Em torno de Massada, Flavius Silva construiu oito acampamentos de base, cujos restos podem ainda ser vistos, de maneira a acompanhar as atividades dos rebeldes. O general romano estabeleceu seu quartel-general em um dos acampamentos maiores, a noroeste da fortaleza. Sua primeira meta era impedir a fuga dos rebelados e, para isso, construiu uma muralha de três quilômetros de extensão e quase dois metros de espessura, circundando toda a montanha. O segundo objetivo era transpor a muralha defensiva, no alto da montanha, e assim penetrar na fortaleza. Sabia que um cerco prolongado era inconcebível, pois Massada tinha abundante reserva de água e provisões. Decide, então, construir uma rampa sobre a elevação natural na encosta oeste da fortaleza, que era a mais acessível. O plano inclinado foi concluído e a potente máquina de guerra romana entra em ação. À medida que acompanhavam a movimentação no sopé da montanha, os zelotes sabiam que era uma questão de tempo para que o inimigo conseguisse alcançá-los. Além de um exército numeroso, os romanos dispunham de armas, munições, grandes catapultas e estrategistas de guerra. Ademais, estavam determinados a não permitir que um pequeno grupo de judeus desafiasse o poderio do maior império da época. Diante do lento e inevitável avanço dos romanos, crescia rapidamente entre os judeus a certeza de que o desfecho seria apenas um: escravidão e morte sob as armas dos inimigos - o mesmo destino do qual haviam fugido ao deixar Jerusalém. Últimos suspiros de resistência. Ao compreender que os judeus de Massada viviam um dos últimos atos de sua epopeia, o líder Elazar ben Yair os reuniu. Disse-lhes não haver outra saída a não ser a morte Al Kidush Hashem, o suicídio para santificar o Nome do Eterno. "Antes morrer do que sermos escravizados por nossos inimigos. Deixaremos este mundo como homens livres", disse no discurso feito na última noite antes do ataque derradeiro. Quando os romanos finalmente alcançaram a fortaleza e derrubaram suas muralhas, encontraram os corpos de 960 homens, mulheres e crianças. Haviam deixado intactas as provisões de água e alimentos, para que Roma tivesse a certeza de sua escolha pela morte à escravidão. Ademais, haviam incendiado a fortaleza. A principal fonte de informações sobre os fatos relativos a Massada é a obra do historiador judeu Flávio Josefo, baseada no depoimento de uma sobrevivente. Segundo esta testemunha, mais seis pessoas conseguiram salvar-se - uma mulher e cinco crianças, que se esconderam durante o suicídio coletivo e, depois, dos romanos. Em seu livro Guerras dos Judeus, Josefo dedica amplo espaço ao episódio de Massada. Na obra, ele inclui parte do suposto discurso de Elazar ben Yair na fatídica noite: "De acordo com a decisão que tomamos, há muito tempo, de nunca servir aos romanos, nem a qualquer outro deus além do Todo Poderoso, somente Ele é o Verdadeiro e Justo Senhor da Humanidade, é chegado o momento que nos obriga a transformar nossa resolução em prática (...). Fomos os primeiros que se revoltaram (contra Roma) e somos os últimos que a combateram, e só posso considerar isto como um privilégio que o Eterno nos concedeu de decidir morrer bravamente e em liberdade (...). Vamos permitir que nossas esposas morram antes de serem violentadas e, nossos filhos, antes de provarem o gosto amargo da escravidão e, depois que os tivermos matado, vamos dar este glorioso benefício mutuamente, uns aos outros". Ainda segundo o relato, Elazar teria então ordenado que todos os bens dos judeus, com exceção dos alimentos, fossem destruídos, "pois (a comida intacta) será testemunha de que ao morrer não estávamos passando necessidade. Mas que, de acordo com a nossa decisão original, preferimos morrer a ser escravizados". Um encontro de emoções. Poucos são os lugares nos quais o passado foi resgatado com tanto realismo quanto em Massada. Os achados foram considerados extraordinários por estudiosos do mundo inteiro. O sítio foi inicialmente identificado em 1842, mas somente na década de 1960, quando das primeiras escavações na área por Yadin, foi revelada ao mundo, em toda a sua pungente dignidade, a história de um dos mais trágicos acontecimentos da história judaica da Antiguidade. O projeto foi resultado de uma parceria da Universidade Hebraica de Jerusalém com a Sociedade de Exploração de Israel e o Departamento de Antiguidades e Museus de Israel (atual Departamento de Antigüidades de Israel). Durante as escavações, Yadin explorou os restos dos acampamentos romanos, instalados no sopé da montanha, e a rampa construída para possibilitar a subida de suas máquinas de guerra até o topo do rochedo. Um dos momentos mais emocionantes de suas descobertas, segundo o próprio Yadin, foi quando se deparou, em frente ao palácio da ala norte, em meio a camadas de cinzas, com 11 pequenos fragmentos de cerâmica, ou óstracos, com nomes inscritos nos mesmos. Em um deles aparece o nome "ben Yair" e pode referir-se ao nome de Elazar ben Yair, líder dos judeus rebelados. Estudiosos acreditam que são os fragmentos de cerâmica com os quais os judeus podem ter sorteado qual dentre eles seria o último a morrer. Nada melhor do que as próprias palavras de Yigael Yadin para descrever o a dramaticidade da descoberta em Massada: "Ficamos sem ação diante de uma descoberta difícil de ser descrita em termos arqueológicos, pois tal experiência não é frequente nas escavações arqueológicas. Mesmo os mais veteranos e mais céticos entre nós ficaram paralisados, olhando estupefatos para o que tinha sido desenterrado; pois, ao fixar o olhar, revivíamos os momentos finais e mais trágicos do drama maior de Massada. Sobre os degraus que levavam à piscina de água fria e no chão, ali ao lado, jaziam os esqueletos de três pessoas. Um, de um homem de uns 20 anos - talvez um dos comandantes de Massada. Perto dele, encontramos centenas de escamas prateadas de armaduras, uma enorme quantidade de flechas, fragmentos de um talit e também um óstraco, ou fragmento de cerâmica com uma inscrição em letras hebraicas. Não muito distante dali, também nos degraus, jazia o esqueleto de uma mulher jovem, com o couro cabeludo intacto em virtude da extrema secura do ar. Seus cabelos escuros, lindamente trançados, pareciam ter sido penteados há pouco (....). Ao seu lado, delicadas sandálias de mulher, ao gosto da época. O terceiro esqueleto era de uma criança. Não havia dúvida de que o que viam nossos olhos incrédulos eram os despojos de alguns dos valentes defensores de Massada". Yadin concluiu: "Graças a Elazar ben Yair e seus camaradas e à sua heróica posição; graças ao fato de terem optado pela morte sobre a escravidão e a terem queimado seus humildes bens como derradeiro ato em desacato ao inimigo foi que eles conseguiram elevar Massada ao patamar de símbolo imorredouro da coragem desesperada - um símbolo que mobilizou os corações ao longo dos últimos 19 séculos. Foi isso o que levou estudiosos e leigos a subirem o caminho de Massada. Foi isso o que levou o moderno poeta hebreu a bradar: 'Massada não voltará a cair!'. É isso o que levou a juventude judaica de nossa geração, aos milhares, a ascender a seu topo em solene peregrinação. E é isso o que leva os recrutas das unidades blindadas das Forças de Defesa do moderno Israel a fazerem nas alturas de Massada seu juramento de lealdade. 'Massada não voltará a cair!'" www.morasha.com.br. Abraços. Davi.
Bibliografia:
Yadin, Yigael, Naveh, Joseph, Meshorer, Yaacov, Masada: The Yigael Yadin Excavations 1963-1965, Final Reports, Biblical Archaeology Society, 1989. Shanks, Hershel, Yigael Yadin 1917-1984, Biblical Archaeology Review, set/out. 1984 publicado no site http://cojs.org/cojswiki http://www.mfa.gov.il


quinta-feira, 28 de maio de 2020

II. O PODER LATENTE DA ALMA


Cristianismo. Texto de Watchman Nee (1903-1972). II. O PODER LATENTE DA ALMA. VISTO SOB O ASPECTO RELIGIOSO. TODAVIA ISTO não acontece apenas no cristianismo. Os babilônios, os árabes, os budistas, os taoístas e os hindus, todos tentam, por seus próprios modos, liberar o poder que Adão legou à nossa alma. Em qualquer religião, sejam quais forem os meios ou modos de instrução, jaz um princípio comum por trás de todas as aparentes diferenças. Este princípio comum visa subjugar a carne exterior, com a finalidade de libertar o poder da alma de todos os tipos de escravidão, para uma expressão mais livre. Algumas lições de instrução dadas nessas religiões visam destruir a obstrução do corpo, outras a união do corpo e da alma e outras mais o fortalecimento da alma por meio de treinamento, capacitando-a assim, a vencer o corpo. Sejam quais forem os meios, o princípio por trás de todos eles é o mesmo. É importante que saibamos isso, caso contrário seremos enganados. Eu não sei como as pessoas são informadas a respeito desse maravilhoso poder latente na alma do homem, cuja liberação, atualmente limitada pela carne, resultará na demonstração de poder miraculoso, alcançando até mesmo a posição de um "mágico" ou "Budha". Provavelmente elas são informadas pelo diabo, o espírito maligno. Suas explicações podem variar, mas o princípio básico é o mesmo, a saber, o uso de meios especiais para liberar o poder da alma. Elas podem não usar como nós o termo poder da alma, porém, o fato é evidente. Por exemplo: no budismo e no taoísmo, e igualmente em algumas seitas do cristianismo, poder especial sobrenatural está disponível a todos eles, para efetuar milagres na cura de doenças e na predição do futuro. Tome como exemplo as práticas ascéticas e os exercícios do taoísmo, ou até mesmo a forma mais simples de meditação abstrata: tudo isso é executado segundo o princípio de subjugação do corpo sob a alma, visando à liberação do seu poder. Não é de se admirar que muitas coisas miraculosas têm acontecido, as quais não podemos rejeitar como superstições. Gautama (Budha) Sidharta foi um ateísta. Este é um consenso de muitos eruditos e críticos com respeito aos ensinamentos do budismo. Ele cria na transmigração da alma, bem como no nirvana (esse estado, segundo o Dicionário Herança Americana da Língua Inglesa, é "de absoluta ventura, caracterizando pela liberação do ciclo de reencarnações e conquistas, através da extinção do ego-Tradutor). Não tenho a mínima intenção de dissertar sobre o budismo; só quero explicar porque e como muitas maravilhas têm sido realizadas nessa religião. Existe, no budismo, um ensinamento sobre a fuga do mundo. Aqueles que aceitam o voto budista devem se abster do casamento e da comida. Não devem matar nenhuma coisa vivente. Devido às práticas ascéticas, iludem, eventualmente, alcançar a eliminação de todo alimento. Alguns monges de alto grau podem até mesmo penetrar o passado desconhecido e predizer o futuro. Eles realizam muitas maravilhas por meio da mágica budista. São capazes de profetizar coisas vindouras quando o que eles chamam de "coração de sangue" jorra. O empenho em todos estes tipos de abstinência e práticas ascéticas flui de um único princípio dominante: o budista está tentando quebrar todos os laços físicos e materiais, com o fim de liberar o poder da sua alma. Conheço algumas pessoas mais idosas do que eu, que se ligaram ao Clube da Unidade. Elas e seus colegas membros do clube praticam a meditação abstrata e assim por diante. Eles me contam que cada degrau que penetram tem sua própria dimensão de luz. A luz que eles percebem segue a verdade que penetram. Creio no que dizem, pois são capazes de serem liberados da repressão do corpo e assim, libertam o poder que Adão possuía antes da sua queda. Não há nada de extraordinário nisso. A moderna Igreja da Ciência Cristã foi fundada pela senhora Mary Baker Eddy (1821-1910). Ela negou a existência das doenças, do sofrimento, do pecado e da morte (embora ela já tenha morrido). Visto que, segundo seus ensinamentos, não existe tal coisa como doença, sempre que alguém estiver doente ele só precisa exercitar sua mente contra qualquer reconhecimento de dor e estará curado. Isto significa então, que se alguém crê que não existe nenhuma doença, ele não ficará doente. Do mesmo modo, se alguém não crê no pecado ele não pecará. Pelo treinamento da mente, emoção e vontade do homem, ao ponto da negação absoluta da existência destas coisas, considerando-as falsas e ilusórias, descobrir-se-á que elas realmente não existem. Quando este ensinamento foi a princípio publicado, muitas pessoas se opuseram a ele. Os médicos, em especial, fizeram oposição, pois se isso fosse verdade, não haveria mais nenhuma necessidade deles. Todavia, ao prosseguirem seus exames nas pessoas que haviam sido curadas pela Ciência Cristã, aqueles médicos não puderam repudiá-la como falsa. Por conseguinte, mais e mais pessoas creem e mais médicos e cientistas famosos abraçam este ensino. Isto não é de tudo surpreendente, porque existe um reservatório de tremendo poder na alma, esperando apenas ser libertado do confinamento da carne. VISTO CIENTIFICAMENTE. VEJAMOS AGORA este assunto cientificamente. O campo da psicologia tem empreendido pesquisas sem precedentes na era moderna. O que é psicologia? A própria palavra em si é uma combinação de duas palavras gregas: "psiquê", que significa alma, e "logia" que significa discurso. Portanto, psicologia é a "ciência da alma". A pesquisa utilizada pelos cientistas modernos é apenas uma sondagem na parte da alma do nosso ser. Ela se limita a esta parte, não chegando a tocar no espírito. A parapsicologia moderna começou com Franz Anton Mesmer (1734-1815). Sua primeira descoberta, feita em 1778, é agora conhecida como Mesmerismo (hipnotismo conforme praticado pelo próprio Mesmer). Seus discípulos superaram-no através de suas próprias descobertas, assim como o verde é derivado do azul, mas supera o azul. Alguns dos seus experimentos são quase incríveis em seus resultados. O método deles, não de modo imprevisto, visa descarregar aquele poder oculto dentro da alma humana. Na clarividência, por exemplo, (que é o poder de perceber coisas que estão fora do alcance natural dos sentidos), ou na telepatia (comunicação pelo cientificamente desconhecido ou meios inexplicáveis, como pelo exercício do poder místico), pessoas são capazes de ver, ouvir ou sentir o cheiro de coisas que estão há milhares de quilômetros. Tem se afirmado que o Mesmerismo "é a rocha da qual todas as ciências mentais foram cortadas" (J. Penn Lewis). Antes da época de Mesmer, a pesquisa psíquica não era uma ramificação independente da ciência; ela ocupava um lugar insignificante na ciência natural. Mas, devido a estas surpreendentes descobertas, ela veio a ser um sistema em si mesma. Desejo atrair sua atenção não ao estudo da psicologia, mas ao fato de que todos aqueles fenômenos miraculosos são obtidos através da liberação do poder latente da alma do homem, aquela capacidade que ficou oculta no homem após a queda. Por que isto é chamado de poder "latente"? Porque na queda de Adão, Deus não havia removido aquele poder "sobrenatural" que certa vez ele possuíra. Em vez disso, este poder caiu com ele e ficou aprisionado em seu corpo. O poder estava lá, só que não podia ser manifestado. Daí o termo poder latente. Os fenômenos da nossa vida humana tais como falar e pensar, são habilidades bastante notáveis; porém, o poder latente que está oculto no homem é também impressionante. Se este poder fosse ativado, muitos outros fenômenos notáveis seriam manifestados em nossas vidas. As muitas ocorrências miraculosas que a parapsicologia moderna descobre, de modo algum atestam seu caráter sobrenatural. Elas simplesmente provam que o poder latente da alma pode ser liberado pelos meios apropriados. Uma das 'descobertas' que seguiram após Mesmer ter obtido o conhecimento básico das forças misteriosas latentes na constituição humana, mostrou como o movimento avançou de modo surpreendente, uma vez que a chave foi obtida. Em 1784, um aluno de Mesmer descobriu a clarividência como resultado do sono Mesmérico e acidentalmente tropeçou na Leitura do Pensamento: Jesse Penn Lewis(1861-1927) “A telepatia é a comunicação entre mente e mente de forma diferente e não pelos conhecidos canais dos sentidos. Ela capacita uma pessoa a usar sua própria força psíquica para determinar o pensamento dos outros, sem a necessidade de ser informada. O Hipnotismo, a Neurologia e a Psicometria... e outras inumeráveis ‘descobertas’ se seguiram à medida que os anos passaram". A Hipnose é uma condição de sono artificialmente induzida, na qual um indivíduo fica extremamente responsivo às sugestões feitas pelo hipnotizador. E a Neurologia e Psicometria é a descoberta de que a mente pode agir do lado de fora do corpo humano e de que a Psicometria sensitiva' pode ler o passado como um livro aberto. Depois veio uma descoberta chamada patetismo, significando uma condição peculiar produzida pela vontade, em que o sujeito pode 'lançar sua mente' a algum lugar distante e ver, ouvir, sentir, cheirar e provar o que está acontecendo lá. Depois ...veio uma descoberta ...chamada Patetismo pela qual a mente poderia retirar de si mesma a consciência de sofrimento e curar doenças. No início os homens de ciência apenas seguiram estas 'descobertas' como ramificações da Ciência Natural" (J. Penn Lewis). Mas, devido à multiplicação desses fenômenos miraculosos, a parapsicologia logo se tornou uma ciência própria. Para os praticantes dessa ciência, estes fenômenos são bastante naturais. Para nós são ainda mais naturais, por sabermos que são simplesmente as consequências da liberação do poder latente. Os psicólogos afirmam que no interior do homem existe uma tremenda ordem de poder: o poder do autocontrole, o poder criativo, o poder reconstrutivo, o poder da fé, o poder de estimular e o poder de revivificar. Tudo isso pode ser libertado pelos homens. Um livro de psicologia vai tão longe a ponto de proclamar que todos os homens são deuses, só que este deus está aprisionado dentro de nós. Sendo ele libertado dentro de nós, nos tornamos todos deuses. Quão semelhantes são estas palavras àquelas de Satanás! A REGRA COMUM. SEJA NA China ou nos países ocidentais, todas estas práticas de respiração, exercício ascético, hipnotismo, predições, reações e comunicações, são apenas a liberação e manifestação do poder interior. Imagino que todos já ouvimos algo dos atos miraculosos do hipnotismo. Na China existem adivinhos cujos atos de predição são bem conhecidos. Todo dia eles entrevistam apenas uns poucos clientes. Devotaram muito tempo e energia no aperfeiçoamento de sua arte, e suas predições são maravilhosamente exatas. Os budistas e taoístas têm suas proezas miraculosas. Embora não faltem evidências de engano, as manifestações sobrenaturais são aparentemente inegáveis. A explicação para estes fenômenos é simples: eles, por acaso ou dirigidos pelo espírito maligno, descobrem algum método ou métodos de práticas ascéticas que os capacitam a executar proezas extraordinárias. Pessoas comuns não sabem que possuem este poder nelas. Outras, com algum conhecimento científico, sabem que este poder está oculto nelas, embora não possam dizer como é isso. Nós que temos sido ensinados por Deus sabemos que esta capacidade é o poder latente da alma do homem, o qual está agora confinado pela carne, através da queda de Adão. Este poder caiu com o homem de tal modo que, de acordo com a vontade de Deus, não deveria ser mais usado. Mas é o desejo de Satanás desenvolver esta capacidade latente, a fim de fazer o homem sentir-se tão rico quanto Deus, segundo o que havia prometido. Assim o homem adorará a si mesmo, embora indiretamente seja uma adoração a Satanás. Por isso, Satanás está por trás de todas estas pesquisas para psíquicas. Ele está fazendo o melhor que pode para usar a energia latente da alma, para alcançar seu alvo. Por esta razão, todos os que desenvolvem seu poder da alma, não podem evitar a comunicação com o espírito maligno e de serem usados por ele. George Hawkins Pember (1836-1910), em seu livro "As Eras Mais Primitivas da Terra"; mencionou este assunto de outro ângulo: "Dois métodos parecem existir, através dos quais os homens podem alcançar conhecimento e poder proibidos e obter acesso a uma relação proibida. Aquele que seguir o primeiro (...) deve colocar seu corpo sob o controle de sua própria alma, a fim de poder projetá-la (...) o desenvolvimento dessas faculdades é, sem dúvida, possível somente a poucos, e até mesmo no caso deles, só podem ser alcançados por meio de um longo e severo curso de treinamento, cujo propósito é quebrar o corpo levando-o a uma completa sujeição e produzir uma perfeita apatia com respeito a todos os prazeres, dores e emoções desta vida, a fim de que nenhum elemento perturbador possa desordenar a tranquilidade da mente do aspirante e impedir seu progresso (...) o segundo método é por meio de uma submissão passiva ao controle de inteligências exteriores (...)" Devemos prestar atenção aqui principalmente no primeiro método, isto é, a ativação do poder latente da alma de alguém. Seu ponto de vista coincide com o nosso completamente. As práticas ascéticas dos budistas, a respiração abstrata do taoísmo, a meditação e concentração mental e a meditação dos hipnotizadores, a sessão silenciosa dos pertencentes ao Clube da Unidade e todas as variedades de meditações, contemplações, os pensamentos concentrados em não pensar em absolutamente nada, e centenas de atos semelhantes que as pessoas praticam, seguem a mesma regra, não importando quão variados sejam seus conhecimentos e fé. Todas estas coisas fazem nada mais do que levar os pensamentos externos e confusos, as emoções instáveis e a vontade fraca do homem a um lugar de tranquilidade, com sua carne totalmente subjugada, tornando assim possível a liberação do poder latente da alma. A razão porque tal coisa não se manifesta em todos, é porque nem todas as pessoas podem romper a barreira da carne e levar todas as expressões físicas comuns à perfeita tranquilidade. ALGUNS FATOS. HÁ MUITOS anos passados eu travei conhecimento com um indiano. Ele me falou sobre um amigo no hinduísmo que podia revelar, com precisão, os segredos das pessoas. Certa vez ele desejou testar a capacidade do seu amigo hindu. Convidou-o então, à sua casa e com toda certeza o hindu pode revelar tudo o que tinha sido colocado dentro de uma gaveta na casa. Mais tarde, meu conhecido indiano solicitou a seu amigo hindu para ficar do lado de fora e aguardar, enquanto ele embrulhava um valioso objeto em pano e papel antes de colocá-lo dentro de uma caixa e pô-lo numa gaveta trancada. Seu amigo retornou ao interior da casa e disse qual era o objeto valioso sem errar. Isto era inquestionavelmente devido ao exercício do poder da alma, que podia penetrar através de todas as barreiras físicas. A senhora Jessie Penn-Lewis (1861-1927), a quem citamos atrás, certa vez escreveu o seguinte: "Uma vez encontrei, no norte da índia, um homem que tinha acesso aos mais altos círculos da sociedade em Simla, a residência de verão do governo da índia, o qual me contou certa noite sobre sua conexão com os Mahatmas da índia e em outros países da Ásia. Ele disse que conhecia os grandes eventos políticos semanas e meses antes deles ocorrerem. ‘Eu não dependo de notícias em telegramas e jornais. Eles registram acontecimentos passados, mas nós os conhecemos antes de ocorrerem' disse ele. Como pode um homem em Londres saber o que acontece na Índia e vice-versa? Explicaram-me que era devido à ‘força da alma' sendo projetada pelo homem que conhecia o segredo dos Mahatmas" (Revista O Vencedor de 1921-23, citado em "Alma e Espírito" por J.P. Lewis). Citando o livro "Dinâmicas Espirituais" de Wild, G. H. Pember (1836-1910) registrou que um perito "pode conscientemente ver as mentes dos outros, agir através da sua força da alma sobre espíritos externos, acelerar o crescimento de plantas, apagar o fogo e, como Daniel, subjugar animais selvagens e ferozes. Pode também enviar sua alma a uma distância e de lá, não apenas ler os pensamentos dos outros, mas falar e tocar naqueles objetos distantes; não apenas isso, pode manifestar a seus amigos distantes seu corpo espiritual na semelhança exata daquela da carne. O perito pode, além do mais, criar, da múltipla atmosfera circunstancial, a semelhança de qualquer objeto físico ou ordenar a eles que nenhuma à sua presença": (Pember op cit. pag. 252). A ATITUDE DO CRISTÃO. ESTES FENÔMENOS miraculosos na religião e na ciência são apenas a manifestação do poder latente do homem, o qual, por sua vez, é usado pelo espírito maligno. Todos eles seguem uma regra comum: romper o cativeiro da carne e liberar o poder da alma. A diferença entre nós (os cristãos) e eles, encontra-se no fato de que todos os nossos milagres são realizados por Deus através do Espírito Santo. Satanás usa a força da alma do homem para manifestar sua força. O poder da alma do homem é o instrumento de operação de Satanás, através do qual ele realiza seus fins malignos. Deus, entretanto, nunca opera com o poder da alma, pois é sem utilidade para Ele. Quando nascemos de novo, nós nascemos do Espírito Santo. Deus opera pelo Espírito Santo em nosso espírito renovado. Ele não tem nenhum desejo de usar o poder da alma. Desde a queda Deus proibiu o homem de usar novamente seu poder original da alma. Por essa razão é que o Senhor Jesus frequentemente declara como precisamos perder nossa vida da alma, isto é, nosso poder da alma. Deus deseja que nós, hoje, não usemos este poder de modo algum. Não podemos dizer que todas as maravilhas realizadas no mundo são falsas; temos que admitir que muitas delas são reais. Porém, todos estes fenômenos são produzidos pelo poder latente da alma após a queda de Adão. Como cristãos, devemos ser cautelosos nesta última era, para não despertarmos a energia latente da alma, seja proposital ou involuntariamente. Voltemo-nos novamente para as Escrituras lidas no começo. Notamos que no fim da era a obra particular de Satanás e dos espíritos malignos sob sua direção será comerciar com o poder da alma do homem. A intenção é simplesmente encher este mundo com o poder latente da alma. Um correspondente de uma revista fez a seguinte comparação "as forças da psique (alma), dispostas contra as forças do pneuma (espírito)". Todos os que têm discernimento espiritual e sensibilidade, conhecem a realidade dessa declaração. O poder da alma lança-se sobre nós como uma torrente. Fazendo uso da ciência (psicologia e parapsicologia), religião e até mesmo de uma igreja ignorante (em sua busca exagerada de manifestações sobrenaturais e na ausência de controle quanto a dons sobrenaturais segundo a direção da Bíblia), Satanás está levando este mundo a se encher do poder das trevas. Todavia este é apenas o preparo último e final de Satanás para a manifestação do anticristo. Aqueles que são realmente espirituais (isto é, aqueles que rejeitam o poder da alma), percebem tudo ao redor deles, a aceleração da oposição dos espíritos malignos. A atmosfera inteira está tão escurecida que eles acham difícil avançar. Porém, esta é também a preparação de Deus para o arrebatamento dos vencedores. Precisamos entender o que é poder da alma e o que esta força da alma pode fazer. Deixe-me dizer que, antes da volta do Senhor, coisas semelhantes a estas serão grandemente aumentadas, talvez mais do que cem vezes. Satanás realizará muitas proezas surpreendentes através do uso do poder da alma, a fim de enganar os eleitos de Deus. Estamos aproximando agora do tempo da grande apostasia. "O mover está aumentando rapidamente", observou a Sra. Penn Lewis. “A mão do arque inimigo de Deus e do homem está no leme e o mundo se apressa para a hora negra, quando, por um breve período, Satanás será então o deus desta era', governando através de um super-homem cuja ‘parousia'(aparecimento) não poderá demorar". O que é o poder da alma? Indo às Escrituras e sob a iluminação do Espírito Santo, os crentes devem reconhecer que este poder é tão infernal, ao ponto de se espalhar sobre todas as nações sobre a terra e transformar o mundo inteiro num caos. Satanás está utilizando agora este poder da alma para servir como um substituto para o evangelho de Deus e seu poder. Ele tenta cegar os corações das pessoas por meio dos prodígios do poder da alma para aceitar uma religião Sem sangue. Ele usa também as descobertas da ciência psíquica para lançar dúvidas sobre o valor de ocorrências sobrenaturais no cristianismo, levando pessoas a considerá-las como sendo de igual modo, nada mais do que o poder latente da alma. Ele visa substituir a salvação de Cristo pela força psíquica. O esforço moderno de mudar maus hábitos e temperamentos pela hipnose é um precursor a este objetivo. Os filhos de Deus só podem ser protegidos pelo conhecimento da diferença entre espírito e alma. Se a obra profunda da cruz não for aplicada à nossa vida adâmica, e se pelo Espírito Santo uma união de vida real não for realizada com o Senhor ressurreto, podemos inconscientemente desenvolver nosso poder na alma. Aqui pode ser útil citar novamente a Sra. Penn Lewis: "O Campo de batalha hoje é 'a força da alma' versus 'a força do espírito'. O Corpo de Cristo está, pela energia do Espírito Santo nele, avançando para o céu. A atmosfera do mundo está obscurecendo-se com as correntes psíquicas, atrás das quais estão concentrados os inimigos dos ares. A única segurança para o filho de Deus é um conhecimento experimental da vida de união com Cristo, onde ele habita com Cristo em Deus, acima dos ares envenenados, nos quais o príncipe das potestades do ar realiza seu trabalho. Somente o Sangue de Cristo para purificação, a Cruz de Cristo para identificação na morte e o poder do Senhor Ressurreto e Assunto pelo Espírito Santo, continuamente declarado, revestido e exercido, conduzirá os membros do corpo em vitória para se unirem ao Cabeça que ascendeu ao céu." Minha esperança para hoje é que você possa ser ajudado a conhecer a fonte e as operações do poder latente da alma. Que Deus possa nos impressionar com o fato de que onde a força da alma está, aí está também o espírito maligno. Não devemos usar o poder que provém de nós, devemos antes, usar o poder que procede do Espírito Santo. Que nós possamos recusar principalmente o poder da alma, a fim de que não venhamos a cair nas mãos de Satanás, pois, o poder da alma devido ao pecado de Adão, já caiu sob o domínio de Satanás e se tornou seu último instrumento de trabalho. Nós, por essa razão, precisamos exercer grande cuidado contra o engano de Satanás. Livro O Poder Latente da Alma. Abraço. Davi.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

O ESPAÇO E O TEMPLO SAGRADO V


Religião Afro-brasileira. O Candomblé da Bahia – Rito Nago. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018). Capítulo II. O ESPAÇO E O TEMPLO SAGRADO V. Segundo a opinião dos próprios membros dos candomblés mais tradicionais, é a religião católica que explica a ligação entre Oxalá e a sexta-feira. Oxalá é o filho do grande deus Olorun. Seu equivalente católico é Jesus Cristo, e Jesus Cristo morreu numa sexta-feira. Os africanos de Porto Alegre festejam-no, ao contrário, no domingo. E todavia me derem razão análoga: o domingo é o dia da missa. Nos dois casos, a situação de Oxalá durante a semana é determinada por sua equivalência com Cristo. Portanto, para a Bahia, a sexta-feira é o dia do culto do céu. Sábado é o dia da água em forma dupla: de água salgada com Yemanjá e de água doce com Oxun. A gente da Bahia as reúne facilmente num mesmo culto. É assim que a festa da Purificação, que é consagrada a Oxun, é também a do presente de Yemanjá, pelo menos num dos candomblés derivados do chamado “Língua de Vaca”. Entre os cânticos recolhidos no decorrer da oferenda à deusa do mar, notei um que é de adoração à deusa da água doce. Iê – iê – quêê – êêdêê. Ê iê – ê minha xau êlê. Onde mora iê – iêê. Ora iê ê Oxun. Finalmente o domingo reúne uma mesma adoração Todos os Orixá, os que foram celebrados no decorrer da semana e aqueles que nela não encontraram lugar. No interior de um mesmo dia, há pois como que uma harmonia entre as divindades que reúne. Mas encontrarem também uma ordem lógica se passarmos à sucessão dos dias da semana? Os escravos que vieram para o Brasil estavam habituados a semana de quatro dias e, devendo se adaptar a semana de sete dias, redistribuíram seus deuses de modo diferente. É claro que tal não se deu sem confusões, o que explica as variações encontradas de cidade para cidade. Poder-se-ia seguir uma ordem genealógica, e encontramos efetivamente fragmentos dela: a quarta-feira liga marido e mulher, Xangô e Yansan; a quinta-feira, dois irmãos, Oxossi e Ogun. Mas Nanan é a mãe de Omolú e encontra-se colocada depois de seu fi1ho. Oxalá é o pai de Yemanjá, que o segue imediatamente na semana; contudo, todos os filhos de Yemanjá se situam muito antes dela. A ordem da adoração não segue, pois, a dos casamentos, dos nascimentos e das fraternidades divinas· Poder-se-ia supor que a importância é dada aos quatro elementos, que efetivamente se encontram em nossa classificação: a terra (segunda-feira), o fogo (quarta-feira), o ar (sexta-feira) e a água (sábado). Aos quais se juntaria a sociedade dos homens (quinta-feira), cortando os quatro elementos em dois casais ou pares divinos, como se a sociedade humana se encontrasse em sua intersecção. Mas ainda aqui deparamo-nos com uma objeção que torna esta interpretação difícil de sustentar, e é que o primeiro par está separado em dois pela terça-feira, na qual se presta homenagem a uma divindade da água e ao deus que transporta a água da terra até o céu. Uma terceira possibilidade seria considerar que a ordem de distribuição dos Orixá obedece a um plano progressivo, que nos levaria pouco a pouco do homem suplicante ao deus que abençoa, e parece mesmo que, em certa medida, aqueles que organizaram o calendário das festas teriam pensado nisso. A divisão seria então em duas séries de três dias, separadas muito naturalmente por um dia de transição: Três dias para as relações entre os homens e os deuses, isto é: segunda-feira, consagrada às divindades que iniciam o tempo; terça-feira, consagrada às divindades que intercedem pelos vivos; quarta-feira, àquelas que punem os homens quando não se desempenham de seus deveres religiosos, apesar das intercessões na Bahia como na África, efetivamente, a morte pelo raio é considerada castigo e punição de más ações). O fim da semana seria consagrado às divindades cujo caminho nos foi aberto por Exu, até os quais Oxun marê levou nossas orações, e que não aturam nossa falta de fé ou nossa infidelidade: deuses do céu, do mar, dos rios, conjunto dos Orixá. A quinta-feira forma realmente uma transição entre dois grupos, pois reúne divindades ligadas aos homens que, na terra, rezam, celebram cultos, organizados em clãs de caçadores ou castas de ferreiros. Mas ainda assim há qualquer coisa que nos atrapalha neste tipo de organização, o último grupo, das . divindades das águas, aparece depois do das divindades do céu; Oxalá estaria muito mais no seu lugar no sábado, para que a gradação fosse mais marcada. Das divindades sociológicas passar-se-ia para as das águas, que ainda tocam a sociedade na medida em que a Bahia é cidade de marinheiros e de pescadores, depois para as do céu, mais elevadas de todas e que, no domingo, presidiriam à reunião de todos os Orixá. Sente-se que a influência do catolicismo ambiente trouxe aqui um elemento de perturbação, pois, sem aquela única mudança, esta ordem seria uma ordem lógica. Na África, os quatro dias da semana, se ligam aos quatro pontos cardeais: o primeiro a leste, onde habita Exú. O segundo ao norte, onde habita Ogun. O terceiro a oeste, onde habita Xangô. O quarto ao sul, onde habita Oxalá. E a ordem de sua distribuição é a mesma das filhas de santo dançando em torno do poste sagrado. Ora, encontramos justamente na Bahia a ordem africana, com algumas complicações, como nos mostra o exemplo do candomblé de Opo Afonjá. A segunda-feira é o dia de Exú e de Omolú. A terça-feira é o dia de Ogun, de Nanan Buruku e de Oxunmarê. A quarta-feira é o dia de Xangô e de sua mulher Yansan, que também lhe é associada na região yoruba. A quinta-feira é o dia de Oxossi. A sexta-feira é o dia de Oxalá. O sábado é o dia de Yemanjá e de Oxun. A distribuição dos Orixá segundo os dias da semana, com exceção da quinta-feira e do sábado que constituem os dias suplementares da semana ocidental, segue exatamente a distribuição dos deuses africanos: Exú, Ogun, Xangô, Obatalá. Não seria, pois, o acaso dos acontecimentos, mas um plano teológico que teria inspirado os afro-brasileiros. Seja como for, o que para nós é importante é que cada dia tem sua coloração religiosa para definir o tempo sagrado, acarretando uma diversidade correspondente, a dos rituais privados. Os estudos antigos sobre os candomblés ficaram hipnotizados pelas grandes festas públicas; ora, estas deixam escapar o que me parece realmente essencial, a profundidade da influência que a religião africana exerce sobre seus membros. Que se diria de uma descrição do catolicismo que se contentasse em narrar todos os pormenores da missa, deixando na sombra os comportamentos cotidianos dos fiéis? O culto individual ou doméstico ocupa, entre os africanos da Bahia, lugar infinitamente maior do que o culto público. Começa-se agora a compreendê-lo, ao que parece, e os livros mais recentes trazem já certo número de dados sôbre o assunto, ainda muito incompletos e não muito aprofundados. Cada filha de santo tem o seu Orixá, o qual está ligado a um dia da semana; nesse dia, deve ela prestar-lhe culto articular. Além de se abster de qualquer relação sexual, renovará a água ou as oferendas de seu pegi doméstico. Pois toda filha de santo possui num canto de sua casa, o altar consagrado à divindade de sua cabeça. Assim, a sucessão dos dias está marcada por toda uma série de "obrigações", como se diz na Bahia, por tabus e gestos sacramentais. Mas que, em cada dia que se renova, estão a cargo de pessoas diferentes. Eis a cidade diante de nós, com suas vielas que se despenham morro abaixo, casas pintadas de vermelho sangue, amarelo dourado, azul rei, pátios barulhentos formigando de crianças seminuas. Pode-se assegurar que a qualquer momento numa dessas ruas, numa dessas casas, no fundo de um desses pátios, uma filha de santo está em vias de cumprir seus deveres religiosos. Cada dia é uma que o faz, de acordo com o Orixá que possui. Podem se conhecer umas às outras, podem se ignorar; podem habitar no mesmo bairro ou em bairros diferentes: seus gestos não deixam de ser complementares. Pois necessitamos que todas as divindades nos sejam favoráveis e, para tanto, é preciso que cada santo tenha seu rebanho diligente de filhos que, no dia consagrado e para o bem comum de todos os descendentes de africanos, desempenhe exatamente os deveres do culto privado. Talvez nossa tentativa de querer encontrar uma ordem de distribuição dos Orixá ao longo dos dias da semana seja um pouco ridícula. Pois o que conta é unicamente isto, esta complementaridade de gestos e de "obrigações" pessoais para o bem comum, a fim de que o conjunto de deuses fiquem satisfeito com os fiéis e lhes agradeça, enviando-lhes sua bênção. A ordem das adorações tem pequena importância; o que importa é que todos os deuses recebam, no fim de contas, o que lhes é devido. Eis porque cada dia certo número de yaos, de ogans e também de babalaos, etc., celebram seus Orixá.  O Orixá correspondente àquele dia, de tal modo que cada qual faça suas oferendas numa data fixa, constituindo a semana, toda ela, uma única e mesma adoração. Mas além dos pegi individuas há, no pegi do candomblé, pedras que durante o bori ou a iniciação foram postas em relação com os membros da seita ou foram "feitas" ao mesmo tempo que eles. Por sua vez estas pedras, a fim de não perderem seu poder de encarnação, devem receber alimentos determinados. Uma série de cerimônias privadas tem lugar também no interior do candomblé, que poderia se estender como as outras ao longo da semana, mas que tende a se concentrar num dia determinado, geralmente a sexta-feira, em que se renovam as oferendas do pegi. É a cerimônia de ossé quando se trata de oferendas para Oxalá, Ogun, etc. E de amalá quando se trata de oferecer a Xangô seu prato preferido de quiabos. Neste caso de concentração dos cultos privados num só dia, ou mais exatamente, num quarto de dia de dezoito às vinte e uma horas, têm lugar. 1) consulta aos búzios para saber qual a filha de santo – filha de Yemanjá, filha de Oxossi, etc – que deve ser encarregada de atirar fora as oferendas antigas, que os deuses já comeram; 2) segunda consulta para saber em que lugar devem ser jogadas: no mar, no meio de um caminho, no mato, etc. 3) preparação das novas oferendas. 4) deposição das novas oferendas diante das pedras divinas, onde ficarão uma semana, até o ossé ou amalá seguintes. Não é tudo; uma vez por ano, escolhendo-se, bem entendido, o dia do Orixá que é o "dono da cabeça", deve-se oferecer à divindade um sacrifício sangrento no interior do candomblé. Pois o sangue, muito mais do que o alimento, é o princípio da vida, e as divindades não podem passar sem ele. A importância das obrigações, assim como sua quantidade, varia, bem entendido, com o lugar que o fiel ocupa na seita. As filhas de santo têm mais deveres, por exemplo, do que os ogans. Uma filha de Xangô que conheço ia todas as terças-feiras ao santuário passar a noite e preparar, na quarta-feira de manhã, os alimentos de sua divindade. Na primeira quarta-feira de cada mês, se desincumbia de uma "obrigação" maior e, no dia 29 de junho, finalmente, oferecia um sacrifício. Os oba não vão ao santuário toda a semana, mas somente uma vez por mês, e além do mais, oferecem o sacrifício anual. Finalmente, os ogans não têm que oferecer senão o sacrifício anual; nos dias de seus santos, fazem as oferendas no interior das próprias casas onde, pode haver também, além destas cerimônias obrigatórias, "obrigações extraordinárias", por exemplo quando se faz promessa a uma divindade para obter uma graça ou quando se quer agradecer-lhe a graça concedida. Nos dois casos, a obrigação dura o dia inteiro, com sacrifício feito de manhãzinha e danças rituais à noite. Além disso, os amigos que acompanham a pessoa que oferece o sacrifício não podem se retirar, têm de ficar no candomblé até terminada a festa. Como se vê, a duração é uma continuidade temporal, na qual todos os momentos têm valor místico; mas sobre este fundo contínuo, embora heterogêneo, destacam-se momentos de maior consagração. A duração religiosa contínua é formada pela multiplicidade dos cultos individuais que se sucedem dia após dia. Os momentos de consagração mais pronunciada, que se destacam nesta continuidade, são os cultos privados das sextas-feiras, por exemplo, feitos no candomblé, no interior do pegi comum. Depois ainda as festas privadas dos aniversários dos membros das seitas, que oferecem sacrifícios sangrentos às suas pedras, festas que podem se suceder de mês em mês, e finalmente, em terceiro lugar, as grandes cerimônias anuais da seita, que são públicas e marcam o ponto mais alto deste continuum, com a representação dramática constituída pelas danças extáticas. Vem-nos a tentação de definir o candomblé como uma sociedade de auxílio mútuo. Cada filha de santo só tem obrigações para com o seu Orixá unicamente, mas não os desempenha somente para si mesma, e sim também para as filhas que pertencem a outras divindades, contando, naturalmente, com a reciprocidade do favor. Espera, com efeito, que também as outras se desempenhem de suas obrigações respectivas durante os outros dias da semana, para que o benefício destes gestos, nos quais não toma parte, se derrame sobre o santuário. A sociedade se organiza, pois, à imagem do tempo, do mesmo modo que o santuário, como vimos, é a imagem do cosmos. A continuidade religiosa é formada pela complementaridade dos ritos cotidianos e sucessivos, pela heterogeneidade destes momentos do tempo numa unidade superior que os une para formar um só todo. Do mesmo modo, a comunhão social repousa, em última análise, nesta diversidade das funções litúrgicas, cada filha de santo trabalhando para as outras, como as outras trabalham para ela. Resulta que nenhuma pode dispensar as companheiras. A solidariedade mística deriva da divisão do trabalho religioso. E é preciso acrescentar que a distinção célebre de Georges Gurvitch (1864-1965), entre comunidade e comunhão, esses dois graus de solidariedade, corresponde em nossa categoria do tempo sagrado. Os momentos de mais baixa ou de mais intensa consagração. A comunidade se realiza na complementaridade dos gestos individuais; acompanha a continuidade dos dias da semana e é um efeito desta continuidade. A comunhão tem lugar na unificação de todos os êxtases particulares, de todas as filhas possuídas por seus Orixá, no decorrer da cerimônia anual pública, isto é, no momento da mais alta consagração do tempo. Mas os conceitos sociológicos sempre se reduzem a conceitos religiosos. O social é fruto do místico ou, como indica Marcel Griaule (1898-1956), a organização material reflete a organização espiritual. Página nº 133. Livro O Candomblé da Bahia – Rito Nagô. Abraços. Davi.

terça-feira, 26 de maio de 2020

IMAGINAÇÃO E FANTASIA


Gnosticismo. www.gnosisonline.com.br. Texto de Samael Aun Weor (1917-1977). Falaremos sobre o que são a IMAGINAÇÃO E FANTASIA, ou Memória Positiva e Memória Mecânica. Convém que façamos uma plena diferenciação entre a imaginação dirigida voluntariamente e a imaginação mecânica. Inquestionavelmente, a imaginação dirigida é imaginação consciente. Para o sábio, imaginar é ver. A imaginação consciente é o meio translúcido que reflete o firmamento, os mistérios da vida e da morte, o Ser, o Real. Imaginação mecânica é diferente. É formada pelos resíduos da memória; é a fantasia. Convém investigá-la profundamente! É óbvio que as pessoas, com sua fantasia, com sua imaginação mecânica, não vêm a si próprias como realmente são, mas sim de acordo com sua forma de fantasia. Existem várias formas de fantasia e é inquestionável que uma delas consiste na pessoa não se ver a si mesma tal e qual é. Poucos são os que têm o valor de verem a si mesmos no mais cru realismo. Estou absolutamente seguro de que os aqui presentes nunca viram a si mesmos tal e qual são. A imaginação mecânica faz com que confundam gato com lebre. Com sua imaginação mecânica, ou fantasia, veem-se com uma forma que não coincide com a realidade. Se eu na verdade dissesse a cada um de vocês como é certamente, qual é sua característica psicológica específica, estou absolutamente seguro de que se sentiriam magoados. É claro que vocês têm sobre si mesmos um conceito equivocado; nunca viram a si próprios. Sua forma de fantasia faz com que se vejam como não são. Falando de forma alegórica, simbólica, vou tratar unicamente de fazer uma exploração psicológica, grosso modo, sem citar nomes ou sobrenomes, usando nomes simbólicos, e que cada um dos aqui presentes entenda e escute. Que diríamos de Cícero? Que grande varão! Lapidar em suas Catilinárias (…). Inteligente, quem o negaria? Grandiloquente como nenhum, apedrejador terrível (…). Mas, estamos seguros de que tudo nele é benevolência? Reflitamos (…). Se expuséssemos a gravidade de suas fantasias, se sentiria magoado. Se assinalássemos isso, protestaria violentamente (…). Nunca assassinou Pompeia! Esse trabalho foi deixado para Nero (37-68), foi este que com um estilete de madeira fez sangrar o coração de sua Pompeia (…). Mas ele, de modo algum se sentiria realmente referido. Sente-se magnânimo, bondoso, e essa é a sua característica fantástica: ver-se equivocadamente através do prisma de uma benevolência extraordinária. Isso é óbvio. E que diríamos nós, por exemplo, daquele que aspirando a luz do espírito falhasse em sua base? Não dizem que Ícaro elevou-se até os céus com asas de cera? Como se derreteram, foi lançado no abismo. No entanto, ele não pensa assim de si mesmo. Supõe ser alguém fiel nas fileiras, está seguro de que segue o Caminho Reto, de que é probo como nenhum outro. A continuar assim, por esse caminho, que restará a Ícaro, depois de ter sido precipitado no Averno? Não dizem que Ganímedes subiu até o Olimpo para beber o vinho? Mas Ganímedes também pode ser jogado ao fundo do precipício. Chamemos agora simbolicamente o discípulo de Justiniano. Quantas vezes justificou a si mesmo, convencido de que estava a andar muito bem? Talvez nos últimos tempos tenha melhorado um pouco. Porém, por acaso, não protestou em determinados momentos? Por acaso não protestou diante da ara do sacrifício? No entanto, ele está seguro de que nunca protestou, de que sempre tudo fez em favor da Grande Causa, sem nunca falhar. Em nome da verdade, ainda que lhes pareça difícil de aceitar, são raros os que se viram como realmente são. Aristóteles, uma e outra vez em sua filosofia, convencido de que sua sapiência é formidável, de ser um consorte magnífico (…). Fez sofrer, mas ele vive convencido de que jamais procedeu mal, está seguro de ser magnífico, benevolente, doce etc. Em nome da verdade, poderia dizer a vocês o seguinte: só há uma pessoa que viu a si mesma tal e qual é, nada mais do que uma entre todos os aqui presentes, uma só. Todos os demais têm sobre si mesmos uma imagem fantástica. Sua imaginação mecânica faz com que se vejam não como são, mas sim como aparentemente são. Assim, meus queridos irmãos, convido todos a refletir. Pensem se alguma vez, em verdade, se viram como realmente são. Os historiadores, por exemplo, o que é que escreveram? Fantasias e nada mais. Que dizem de Nero? Que era um homossexual e que chegou a se casar com outro homossexual. De onde os historiadores tiraram isso? Têm provas por acaso? Em nome da verdade, tenho a dizer que estive reencarnado na época de Nero, que de homossexual não tinha nada. Muitas vezes o vi sair pelas portas da velha Roma, sentado em sua liteira, sobre os ombros dos escravos. Homem de testa ampla, robusto, corpo hercúleo, não era como os historiadores afirmam. Eles enfatizam a ideia de um poeta abominável. Em vez de ser visto rodeado, como muitos julgam, de homossexuais, eu o vi sempre rodeado de suas mulheres. Eu vivi na época e dou testemunho disso. Os historiadores falsearam os dados a respeito desse homem. Não acusam, por acaso, Maria Antonieta de prostituta, de adúltera e não sei o que mais? Ninguém ignora que houve um grande escândalo por causa do colar da rainha, jóia que ela havia dado para ajudar outros. Porém, entre isso e a hipótese de que ela tenha sido infiel a Luís XVI (1754-1793) há uma grande distância. Nós a submetemos à prova nos Mundos Superiores e ela revelou ser terrivelmente casta, com todo o direito de usar a túnica branca. Eu a vi passar por Paris, rumo ao cadafalso, heroica, com a cabeça erguida, nada devia, nada tinha a temer, entregou sua vida pela França; nunca souberam apreciar realmente seu valor. Muita coisa que foi escrita na História está bastante deformada, não vale a pena ser estudada. Do que há ali, apenas as datas são úteis e, mesmo assim, nem sempre. Vejam quão absurdo seria se aceitássemos a data de 1325 aproximadamente como a da fundação do Império de Anáhuac, para vê-lo lá pelo ano de 1500 e tanto desaparecer sob a bota de Cortez e seus sequazes! Vocês pensam que em dois séculos poderia ser levantada uma poderosa civilização como aquela da grande Tenochtitlan? Se para levantar uma única pirâmide passaram-se gerações inteiras… Vocês acham que uma poderosa civilização dessas pode se levantar em dois séculos? Assim, os historiadores alteram as datas, falsificam-nas… Por isso, em matéria de história, há que se andar com muito cuidado. Entendam o que é a memória mecânica e o que é a Memória do Trabalho Esotérico Gnóstico. A memória mecânica sempre leva alguém a conclusões errôneas. Estão seguros de recordar realmente sua vida tal qual foi? Não estou perguntando pelas suas vidas passadas, e sim pela presente. Impossível, há coisas que surgem desfiguradas na memória mecânica. Se alguém, quando pequeno, embora tenha nascido em plena classe média, vivido em uma casa limpa, asseada, onde não faltou jamais pão, agasalho e refúgio, viu umas quantas moedas, pode acontecer que, com a volta do tempo e dos anos, guarde em sua memória mecânica lembranças deformadas: umas quantas notas de dinheiro podem parecer milhões, uma pequena cerca ao redor do pátio ou perto da janela pode nos parecer um muro colossal. Nosso corpo era pequeno, pois não seria estranho que, já adultos, disséssemos: de pequeno, quando era criança, vivia em tal lugar, minha casa era magnificamente arrumada, tinha grandes muros, que mesa tão bonita, quanto dinheiro (…). É uma lembrança mecânica, infantil e absurda. Assim, pois, a única memória real é a do trabalho Esotérico Gnóstico. Se através do Exercício Retrospectivo recordássemos em parte, veríamos que essa casa de garotinhos da classe média não era o palácio que antes pensávamos que fosse e sim uma humilde casa de um pai trabalhador e sincero. As fabulosas somas de dinheiro que nos rodeavam eram apenas pequenas quantias para pagar o aluguel da casa e para comprar os alimentos. A memória mecânica é mais ou menos falsa. Vejamos o caso dos famosos testes psicológicos; se um grupo faz uma excursão a Yucatán, verá exatamente os mesmos fragmentos e pedras. No regresso para cá, cada um dará uma versão diferente. Que prova isso? Que a memória mecânica é infiel. Quantas vezes já lhes aconteceu o seguinte: contaram algum relato a um tal ou qual amigo, o qual por sua vez contou a outro. Porém, ao contar, acrescentou alguma coisa ou retirou um pouquinho. Já não é o mesmo relato, está desfigurado. Se esse outro, por sua vez, conta a mais alguém, o relato segue se desfigurando e, com o passar do tempo, nem vocês mesmos reconheceriam mais a narrativa. Ficou tão desfigurada que em nada se parece ao que vocês relatavam. Assim é a memória mecânica, não serve. Acontece que na memória mecânica existe a fantasia. Memória mecânica e fantasia estão muito associadas. Como controlar então a fantasia? Não há senão um modo de controlá-la: através da Memória do Trabalho. A memória mecânica faz com que vejamos a nossa vida como não é ou como não foi. Por intermédio do Trabalho, vamos dissecando a nossa própria vida e chegamos a descobri-la tal e qual é. O que quero dizer com isto? Que com a memória que guardamos depois do trabalho realizado é possível controlar a fantasia, eliminá-la, e eliminá-la radicalmente. É então conveniente eliminar essa imaginação mecânica, porque de modo algum permite o progresso esotérico. Vejam a mulher que se enfeita diante do espelho, que pinta os seus grandes olhos, que afina suas sobrancelhas, que põe enormes pestanas postiças, que tinge os lábios com cores vermelhas … Vejam-na vestida de acordo com a última moda, como se olha diante do espelho, enamorada de si mesma (…). Ela está convencida de que é belíssima. Se lhe disséssemos que é espantosamente feia, sentir-se-ia mortalmente ferida em sua vaidade. Ela tem uma fantasia terrível e sua forma de fantasia faz com que se veja como não é, faz com que se veja com uma beleza extraordinária. Cada um tem sobre si mesmo um conceito bem equivocado, totalmente equivocado; isso é terrível! Alguém pode se considerar genial, capaz de dominar o mundo, dono de uma brilhante intelectualidade. Está convencido disso, mas, se visse a si mesmo com o mais cru realismo, se descobrisse que o que tem em sua personalidade não é dele e sim alheio, que suas ideias não são próprias, porque as leu em algum livro, que está cheio de chagas morais terríveis… No entanto, poucos são os que têm o valor de se despirem ante si mesmos para se verem tais como são. Cada um projeta uma forma de fantasia sobre si mesmo e vê essa forma como a realidade; nunca, jamais, viram a si mesmos… isso é terrível, espantoso. Pensando em voz alta, para compartilhar com vocês, diremos que, enquanto a pessoa não vá dissolvendo essas formas da fantasia, permanecerá muito longe do Ser, mas, conforme alguém for eliminando mais e mais todas as formas da fantasia, o Ser irá se manifestando mais e mais nele. Quando alguém se aprofunda nisso que é a vida, o mundo, descobre que francamente nunca viu o mundo como é verdadeiramente; viu-o apenas através das formas da fantasia e nada mais. Imaginação mecânica, quão grave é isso, esses sonhos da fantasia (…). Algumas vezes, nos sonhos, permanece calada. Outras vezes, conversa, e noutras quer nos levar à prática. Obviamente, no terceiro caso, a questão é séria. Quando um sonhador quer converter seus sonhos em realidade, comete loucuras espantosas, pois seus sonhos não coincidem com a mecânica da vida. O sonhador silencioso gasta muita energia vital, mas não é muito perigoso. O que fala os sonhos, sonhos fantásticos, pode contagiar outras psiques, outras pessoas. Contudo, aquele que quer converter francamente seus sonhos  em fatos práticos da vida, está com a mente bem comprometida, está louco. Isso é óbvio. Continuando, já vimos claramente que a imaginação mecânica ou fantasia nos mantém muito longe da realidade do Ser, e isso é de fato lamentável. As pessoas caminham pelas ruas sonhando, seguem com suas fantasias; trabalham sonhando, casam-se sonhando, vivem uma vida de sonhos e morrem sonhando. Vivem no mundo do irreal, da fantasia, nunca viram a si próprias, jamais, sempre viram uma forma da sua fantasia. Tirar essa forma de fantasia de alguém é algo espantosamente forte, terrivelmente forte. Naturalmente, há várias formas de fantasia. Cada um dos aqui presentes tem um eu fantasia, uma pessoa fantasia que não coincide com a realidade. A pessoa fantasia de cada um existe desde um princípio, existe agora e existirá amanhã. E vocês estão convencidos de que essa pessoa fantasia é a realidade e resulta que não é, eis aí o grave. Repito: como controlar a fantasia? Não há senão uma maneira de controlá-la: a Memória do Trabalho. Precisamos ser sinceros conosco mesmos e trabalhar para eliminar de nós os elementos indesejáveis que temos. À medida que os formos eliminando, iremos descobrindo uma ordem no trabalho. Quem vem a estabelecer essa ordem no trabalho esotérico? O Ser. Ele estabelece essa ordem, e essa Memória-Trabalho nos permite eliminar a fantasia. Porém, é necessário ter um grande valor para romper o eu fantasia que possuímos, a pessoa fantasia. Vocês estão aqui escutando-me e eu estou aqui lhes falando. E estou seguro de que, por exemplo, nosso irmão Arce está convencido de ser o que ele é. Diz : “Sou Arce, sou um homem de negócios, meu modo ser é este, e este e este”(…). Quem poderia dizer a Arce que ele não é Arce? Quem poderia dizer-lhe que não é um homem de negócios? Quem se atreveria a dizer-lhe isto? E ele, acreditaria? Poderia aceitar a ideia de que não é homem de negócios, de que não é Arce, de que ele não é quem pensa que é? – E tu, Arce, que dirias? – Venerável, ante vosso ensinamento não há lugar para dúvidas. E que tal se um dos aqui presentes rompe esse Eu fantástico que tu crês que és, está seguro que és, o destroça e lhe diz: “Esse não és tu”! Pode ser que você aí me diga: “Se você diz assim, Mestre, estou de acordo. Mas quem sabe se à parte, frente a frente com o interlocutor (…). quem sabe se não contestaria fulano ou fulana, dizendo: “Bom, este é um conceito seu… Eu sou Arce e sou como sou”. Isso é óbvio. Como sempre te conhecestes, não é? Pois bem, eu te digo que esse que sempre conheceste, esse que tu crês que seja, não é, não existe, é uma fantasia sua. Custa trabalho aceitar isso que estou dizendo, é espantosamente difícil. Mas, mais tarde, quando te explorares psicologicamente, verás que tinhas sobre ti mesmo um conceito equivocado. E assim acontece com cada um dos aqui presentes, nunca viram a si mesmos, sempre viram uma forma de sua fantasia. Cada um tem um Eu fantasia, uma pessoa fantasia que não é a realidade. Há momentos terríveis na vida, bastante raros, nos quais alguém consegue, por um instante, ver como é ridículo; são momentos em que  consegue perceber seu eu fantasia, sua pessoa fantasia. Quando isto ocorre, verifica-se uma dor moral muito profunda. Porém, logo o sonho retorna novamente e a pessoa busca uma maneira de endireitar a coisa. Por fim, se autoconsola de 50 mil maneiras, esquece a questão e o mundo segue em paz como sempre. São raros despertares, bem raros, mas todos já os tivemos alguma vez. Vale a pena ser sinceros para conosco mesmo. Trata-se simplesmente de nos autoconhecermos, se é que de verdade queremos manifestar o Ser que levamos dentro, se é que de verdade aspiramos algum dia ter a realidade, nada mais do que a realidade em nós, sem um Átomo de Fantasia. Precisamos ter o valor de nos desgarrar, de romper com essa pessoa-fantasia que não existe. Os outros sabem que ela não existe, porém nós acreditamos que existe. Claro que é necessário utilizar o bisturi da autocrítica, do contrário não seria possível a autocrítica de fundo, e não de superfície. Se procedermos assim, conseguiremos quebrar o eu-fantasia, conseguiremos destroçá-lo, reduzi-lo a cinzas, a poeira cósmica. Objetivo: descobrir o Ser. Mas o eu-fantasia eclipsa o Ser, mantém a pessoa tão fascinada em si mesma com o que não é real que não a deixa descobrir o Ser, o Ser que há nela mesma, em suas profundidades. Não se esqueçam, queridos irmãos, de que o Reino dos Céus está dentro de nós mesmos e que tem vários níveis. O reino da terra também está aqui em nós e o nível mais elevado do homem da terra é ainda menor, não chega nem aos pés do menor que vive no Reino dos Céus. Como sair dos diversos níveis do reino da terra para entrar ao menos no nível inferior do Reino dos Céus? Na primeira escala do Reino dos Céus que está dentro de nós e não fora? Como se dá esse passo do reino da terra ao dos Céus? O reino da terra tem vários níveis, uns mais elevados, outros mais refinados, porém o mais refinado dos níveis da terra ainda não é o Reino dos Céus. Para passar do mais alto degrau do reino da terra para o mais baixo do Reino dos Céus, precisa-se de uma mudança, de uma transformação, precisa-se renascer da Água e do Espírito, precisa-se se desdobrar em dois: a personalidade terrena e o homem psicológico, o homem interior. Como poderia esse desdobramento se produzir? Um homem inferior terreno colocado no nível comum e corrente e um outro numa oitava superior dentro de si mesmo? Como poderia na verdade se produzir essa separação em nós, entre esses dois tipos de homens? Julgam que isso seria possível se continuássemos fascinados com esta personalidade fantástica que cremos ser a verdadeira e não é? Enquanto alguém estiver convencido de que a forma como está vendo a si mesmo é verdadeira, o desdobramento psicológico não será possível, não será possível que o homem interior se separe do exterior, não será possível a entrada no primeiro degrau do Reino dos Céus. Obviamente, é a fantasia que mantém a humanidade absorta no estado de inconsciência em que se encontra. Enquanto existir a fantasia, a consciência continuará adormecida. Temos que destruir a fantasia! Em vez de fantasia, devemos ter imaginação consciente, imaginação dirigida. A fantasia é imaginação mecânica … Em vez de memória mecânica, devemos ter em nós a memória do trabalho esotérico, a memória consciente. Quem pratica o Exercício Retrospectivo a fim de revisar sua vida, termina com a memória mecânica e estabelece em si a memória consciente, a memória do trabalho. Aquele que, mediante o Exercício Retrospectivo, pode recordar suas vidas anteriores, acaba com a fantasia.Deste modo, a memória do trabalho e a imaginação consciente nos permitirão chegar muito longe no caminho do autodescobrimento. Aqui termina nossa conferência. Se alguém tiver algo para perguntar, pode fazê-lo com a mais absoluta liberdade. PERGUNTAS E RESPOSTAS: Pergunta: Mestre, quais seriam os melhores exercícios para desenvolver a imaginação? Resposta: Considerando que imaginação consciente e imaginação dirigida, indubitavelmente temos de aprender a dirigir a imaginação. Por exemplo, se relaxamos o corpo, e focamos nossa imaginação no processo do nascer e morrer de todas as coisas, a imaginação consciente se desenvolverá. Imaginemos a semente de uma roseira, como germina, como depois vai crescendo o talo, as folhas, como vai soltando os brotos, galhos, flores (...). Em seguida, ao inverso, o processo involutivo: como vão murchando as pétalas da rosa, como vão caindo as folhas da roseira e como ela no fim fica reduzida a um monte de galhos. Este é um exercício maravilhoso! Com ele se consegue o desenvolvimento da imaginação de forma positiva, com ele se consegue a imaginação consciente, que é a que vale. P: Como eliminar a fantasia em nós? SAW: Simplesmente dissolvendo primeiro de tudo o eu fantasia. Temos de começar por nos ver como somos e não como aparentemente julgamos que somos. É difícil para alguém se ver tal como é; normalmente as pessoas se veem como não são, de acordo com a sua fantasia. Por aí é que se começa para romper a fantasia. Quando alguém se viu de verdade como é, no seu mais cru realismo, geralmente sofre uma terrível decepção com relação a si próprio, uma espantosa decepção, mas depois lhe resta o consolo da sabedoria. Se alguém acaba com a memória mecânica e estabelece a Memória do Trabalho, elimina a Fantasia, porque na memória mecânica mora a fantasia. Já falei do caso dos historiadores e de seus escritos; são pura fantasia. Por acaso eles estiveram presentes na Revolução Francesa? Conheceram Carlos V (1500-1558) da Espanha? Felipe (1268-1314), O Belo? Eles escrevem versões desfiguradas pelo tempo, mero produto da fantasia. Se nós, em vez da memória mecânica, que é pura fantasia, estabelecêssemos a memória do Trabalho, trabalhando sobre nós mesmos, dissolvendo os elementos indesejáveis que carregamos, obviamente iríamos adquirindo memória consciente, Memória do Trabalho. A memória consciente ou Memória do Trabalho é maravilhosa. Ao ser aplicada à história universal, permitirá o estudo dos diferentes acontecimentos, da crua realidade da Revolução Francesa, de Maria Antonieta (1755-1793) ou de qualquer outra página da vida em geral.  Portanto, a memória consciente aplicada sobre nós mesmos nos levará muito longe, e aplicada ao universo permitirá o conhecimento dos registros akáshicos da Natureza. Então, à medida que se for eliminando tudo o que se tem de fantasia, a imaginação consciente irá se tornando mais e mais ativa. www.gnosisonline.com.br. Abraço. Davi

segunda-feira, 25 de maio de 2020

I. O PODER LATENTE DA ALMA


Cristianismo. Texto de Watchman Nee (1903-1972). O PODER LATENTE DA ALMA. Comentários dos Editores (Edição brasileira - Editora dos Clássicos). Muito se fala hoje sobre guerra espiritual. Há, no entanto, uma ênfase desequilibrada no assunto, pois nada é dito sobre o poder inato da alma do homem. Nesta preciosa obra, veremos que uma das grandes estratégias do adversário é levar os homens a liberar o poder latente da alma. Esse é um dos seus mais fortes e eficazes instrumentos para falsificar a obra de Deus, enganar os homens, iludir os cristãos e preparar o mundo para o recebimento do anticristo. O resultado é que não apenas no mundo, mas também entre os filhos de Deus, vêm-se muitas manifestações da alma sendo consideradas como obra de Deus. De fato, como alerta o autor, “a situação hoje é perigosa”. Por essa razão, esta mensagem é uma poderosa advertência profética sobre os sutis perigos com respeito ao especial relacionamento, nos últimos dias, entre a alma do homem e Satanás. Ao iniciar a Série Alimento Sólido, a qual visa atender à necessidade de suprir os santos com alimento espiritual mais profundo, consideramos um grande privilégio publicar esta obra singular. Tendo sido publicado pela primeira vez em 1988 por Edições Parousia, O Poder Latente da Alma é uma das obras mais sérias sobre a batalha espiritual dos últimos dias e uma das mais procuradas pelo público cristão brasileiro. Agora, em sua versão revisada e enriquecida com notas de rodapé e apêndices de A. W. Tozer (1897-1963) –  como Provar os Espíritos) e D. M. Panton (1870-1955) – Testes Para o Sobrenatural, artigo este acrescido de uma carta de Margaret Barber (1866-1929), é, com certeza, uma indispensável ferramenta para pastores, líderes e cristãos que buscam uma vida séria com Deus. Uma vez que “o alimento sólido é para os maduros” Hebreus 5.14, provavelmente somente aqueles que têm avançado da superfície da vida espiritual para o estágio da vida cristã mais profunda poderão tocar na realidade espiritual dessa mensagem. Diante desse desafio, somos encorajados a ir ao Senhor e humildemente pedir Sua iluminação enquanto meditamos no que o autor nos apresenta. Com temor e tremor Daquele que está no trono, Os editores Alfenas – MG, Brasil, outubro de 2000. TRADUZIDO DA VERSÃO ORIGINAL EM CHINÊS “O Poder Oculto da Mente” (1933) O PODER LATENTE DA ALMA. Nesta obra o autor chama a atenção para uma pequena frase que se encontra no Livro de Apocalipse 18, onde se diz que a Babilônia comercializa com escravos e até almas de homens. “Depois destas coisas vi descer do céu outro anjo que tinha grande autoridade, e a terra foi iluminada com a sua glória. E ele clamou com voz forte, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e guarida de todo espírito imundo, e guarida de toda ave Imunda e detestável. Porque todas as nações têm bebido do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias. Ouvi outra voz do céu dizer: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos sete pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Porque os seus pecados se acumularam até o céu, e Deus se lembrou das iniquidades dela. Tornai a dar-lhe como também ela vos tem dado, e retribuí-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber dai-lhe a ela em dobro. Quanto ela se glorificou, e em delícias esteve, tanto lhe dai de tormento e de pranto; pois que ela diz em seu coração: Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e de modo algum verei o pranto. Por isso, num mesmo dia virão as suas pragas, a morte, e o pranto, e a fome; e será consumida no fogo; porque forte é o Senhor Deus que a julga. E os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em delícias, sobre ela chorarão e prantearão, quando virem a fumaça do seu incêndio; e, estando de longe por medo do tormento dela, dirão: Ai! Ai da grande cidade, Babilônia, a cidade forte! Pois numa só hora veio o teu julgamento. E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém compra mais as suas mercadorias: mercadorias de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho fino, de púrpura, de seda e de escarlata; e toda espécie de madeira odorífera, e todo objeto de marfim, de madeira preciosíssima, de bronze, de ferro e de mármore; e canela, especiarias, perfume, mirra e incenso; e vinho, azeite, flor de farinha e trigo; e gado, ovelhas, cavalos e carros; e escravos, e até almas de homens.” Apocalipse 18: 1-13. Após ser criado por Deus, Adão foi dotado com grandes poderes em sua alma, porem ao cair em desobediência, seus poderes não foram perdidos; eles apenas passaram a um estado de “sono” ou “latente” dentro do homem. Desde então, Deus tem rejeitado usar tais habilidades da alma em sua obra. Satanás ao contrario tem procurado despertar estes poderes adormecidos no homem. Seu alvo é falsificar as operações do Espírito Santo, levando o homem a crer que tudo provém da alma humana. Nisso temos também a explicação para os fenômenos da parapsicologia. O autor adverte seriamente os filhos de Deus com respeito ao perigo do uso dos poderes da alma na obra de Deus. O contato com o inimigo, será inevitável. Exemplos são dados com vistas à identificação das obras que procedem do poder latente da alma e das que são realizadas pelo poder do Espírito Santo: Sem dúvida, esta é uma mensagem atual para a igreja de Jesus Cristo. PREFÁCIO. Em 1924, quando eu chamei pela primeira vez a atenção dos filhos de Deus para a divisão do espírito e alma, vários irmãos bem relacionados pensaram que era apenas um jogo de palavras sem grande significado. Eles não puderam ver que o nosso conflito não está relacionado com a palavra, mas sim com o que está por detrás dela. O espírito e a alma são dois órgãos totalmente diferentes: um pertence a Deus e o outro ao homem. Sejam quais forem os nomes que dermos a eles, a distinção dos mesmos em substância é completa. O perigo do crente está no confundir o espírito com a alma e a alma com o espírito e ser consequentemente enganado, aceitando as falsificações dos espíritos malignos, alterando a obra de Deus. Originalmente, a intenção era escrever esta série de artigos imediatamente após a conclusão em 1928 de "O Homem Espiritual", mas por motivo de fraqueza física e o pesado encargo de outros serviços, só fui capaz de publicá-los na última edição da revista Revival (Reavivamento). Em resposta aos pedidos dos seus leitores público agora está pequena obra. A maior vantagem em conhecer a diferença entre alma e espírito está na percepção do poder latente da alma e no entendimento da sua falsificação do poder do Espírito Santo. Tal conhecimento não é teórico, mas prático, ajudando as pessoas a andarem no caminho de Deus. Na noite passada eu estava lendo o que E. B. Meyer disse certa vez em uma reunião, logo antes de sua partida da terra. Aqui está uma parte do que ele disse: "Este é um fato sublime, que nunca houve tanto espiritualismo fora da Igreja de Cristo como vemos hoje. Não é um fato que nas áreas inferiores da nossa natureza humana o estímulo à alma é bastante predominante? Hoje em dia a atmosfera está tão carregada com a comoção de todos os tipos de imitação, que o Senhor parece estar chamando a Igreja para um nível mais alto". (Visto que a citação original não pôde ser encontrada, esta porção tem sido traduzida livremente do chinês - N.T.). A situação hoje é perigosa. Que nós possamos “provar todas as coisas e reter o que é bom” (1 Tessalonicenses. 5:21). Amém. Watchman Nee - 8 de março de 1933. O PODER LATENTE DA ALMA "E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias (...) e mercadorias de cavalos, de carros, de corpos e de almas de homens" (Apocalipse 18:11-13). Por favor, observe que aqui nesta passagem, a lista de mercadorias começa com ouro e prata, cavalos e carros e todos os artigos naturais que podem ser comerciados, Escravos sempre puderam ser comerciados ou trocados, porém, isto é um comércio com corpos humanos. Mas, além disso, existe um mercado de almas de homens como mercadoria. Assim também está escrito: "o primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão tornou-se espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual senão o animal (natural); depois o espiritual" (1 Coríntios. 15:45,46). E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente (Gênesis. 2:7). No decorrer dos dois últimos anos eu tenho sentido intensamente a necessidade de dar uma mensagem conforme será dada agora. Ela é tanto complexa quanto profunda. Para aquele que fala não será fácil, nem para os que ouvem entender. Por esta razão não inseri esta mensagem na terceira parte de "o Homem Espiritual". Todavia, sempre tive o sentimento de entregá-la, especialmente após ter lido vários livros e revistas e ter tido contato até certo ponto com pessoas deste mundo. Eu sinto quão preciosa é a mensagem que tivemos o privilégio de conhecer. Em vista da situação e tendência atual da Igreja como também do mundo, somos constrangidos a compartilhar o que nos é dado. De outro modo estaremos escondendo a lâmpada debaixo do alqueire. O que vou mencionar na mensagem para nossa consideração hoje, tem relação com o conflito espiritual e o fim desta era. Por causa dos que não leram O Homem Espiritual, tocarei brevemente na trilogia do espírito, alma e corpo (O Homem Espiritual). A TRILOGIA DO ESPÍRITO, ALMA E CORPO. "Então formou o Senhor Deus o homem do pó da terra..." (Gênesis. 2:7). Esta passagem refere-se ao corpo do homem. "E lhe soprou nas narinas o fôlego de vida...". Isto descreve como Deus deu o espírito ao homem; era o espírito de Adão. Dessa forma o corpo do homem foi formado do pó da terra e o espírito lhe foi dado por Deus. “... e o homem passou a ser alma vivente: Após o fôlego de vida ter entrado em suas narinas, o homem tornou-se alma vivente. O espírito, a alma e o corpo são três entidades separadas.”... E vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros" (I Tessalonicenses. 5:23). O espírito é dado por Deus; a alma é uma alma vivente e o corpo é formado por Deus. Segundo o entendimento comum, a alma é a nossa personalidade. Quando o espírito e o corpo foram unidos, o homem tornou-se alma vivente. A característica dos anjos é espírito e a dos animais inferiores, tais como as feras, é a carne. Nós humanos, temos ambos: espírito e corpo. Mas nossa característica não é nem o espírito nem o corpo, mas a alma. Temos uma alma vivente. Por isso a Bíblia chama o homem de alma. Por exemplo: quando Jacó desceu ao Egito com sua família, as Escrituras dizem que "todas as almas da casa de Jacó que entraram no Egito eram trezentas e dez" (Gênesis. 46:27). Aqueles que receberam a palavra de Pedro no dia de Pentecostes foram batizados "e naquele dia agregaram-se quase três mil almas" (Atos 2:41). De modo que, a alma representa a nossa personalidade, pela qual faz de nós homens. Quais são as várias funções do espírito, alma e corpo? Tal explicação foi dada na primeira parte do “O HOMEM ESPIRITUAL”, porém, um dia fiquei sobremodo feliz ao encontrar na estante um volume dos escritos de Andrew Murray (1828-1917), o qual continha uma explanação para o espírito, alma e corpo nas notas suplementares, bastante semelhantes à nossa interpretação. O que se segue é uma citação de uma das notas: "Na história da criação do homem, lemos que o Senhor Deus formou o homem do pó da terra - desta maneira seu corpo foi formado; e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, ou, espírito de vida - assim seu espírito veio de Deus; e o homem tornou-se alma vivente. O Espírito, vivificando seu corpo, fez do homem uma alma vivente, uma pessoa consciente de si mesma. A alma era o ponto de encontro, o lugar de união entre o corpo e o espírito. Através do corpo, o homem (alma vivente), mantinha seu relacionamento com o mundo exterior dos sentidos e podia influenciá-lo, ou ser influenciada por ele. Através do espírito ele mantinha relacionamento com o mundo espiritual e com o Espírito de Deus, de onde tinha sua origem e podia ser recipiente e ministro de sua vida e poder. Permanecendo, portanto, o meio caminho entre dois mundos, e pertencendo a ambos, a alma tinha o poder de autodeterminação, de escolher ou recusar os objetos que a rodeavam e com os quais mantinha relacionamento. “Na constituição destas três partes da natureza do homem, o espírito era o mais elevado, por ligá-lo com o Divino; o corpo era o inferior pela ligação com o que é sensível e animal; entre eles permanecia a alma, participante da natureza dos outros, o elo que os ligava e através dos quais eles poderiam agir um sobre o outro. Seu trabalho, como poder central, era mantê-los em seu devido relacionamento; conservar o corpo, como inferior, sujeito ao espírito; a própria alma devia receber do Espírito Divino, através do espírito, o que lhe faltava para sua perfeição e transmitir assim, ao corpo, aquilo que poderia fazer deles um corpo espiritual, pela participação da perfeição do Espírito de Deus." O que é o espírito? Aquilo que nos dá consciência de Deus e nos relaciona com Ele. O que é a alma? Aquilo que nos relaciona conosco mesmos e nos dá a autoconsciência. O que é o corpo? Aquilo que nos leva a estar relacionados com o mundo. Cyros Ingerson Scofield (1843-1921), em sua Bíblia de referência; explica que o espírito dá a consciência de Deus, a alma a autoconsciência e o corpo a consciência do mundo. Um cavalo e um boi não têm consciência de Deus, porque não têm espírito. Eles só têm consciência dos seus próprios seres. O corpo nos leva a sentir o mundo, assim como ver as coisas do mundo, o sentimento do frio ou quente e assim por diante. O que foi mencionado acima se refere às funções do espírito, alma e corpo. Menciono agora um problema muito importante. Muitos consideram este assunto do espírito, alma e corpo, como tendo relação apenas com à vida espiritual; mas precisamos reconhecer sua relevância para nossa obra e batalha espiritual. Nossa tendência é comparar-nos como sendo quase iguais a Adão antes da queda. Supomos que, sendo seres humanos da mesma forma que Adão era, não existe muita diferença entre nós. Achamos que aquilo que não podemos fazer Adão também não podia. Mas não vemos que existem duas coisas aqui: (a) por um lado é verdade que não podemos fazer o que Adão podia; e também (b) que aquilo que não podemos fazer Adão podia. Infelizmente não reconhecemos quão capaz Adão era. Se estudarmos a Bíblia cuidadosamente, entenderemos que espécie de homem Adão era realmente, antes da sua queda. A AUTORIDADE E DESTREZA FÍSICA DE ADÃO. "Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra" (Gênesis 1:27,28). Tenham domínio sobre a terra, diz Deus. Amigos, vocês já pensaram na imensidão da terra? Suponhamos que um patrão solicite ao seu servo para administrar duas casas. Ele faz a designação baseado na habilidade do servo para cuidar delas. Servo algum é capaz de administrar todas as casas localizadas numa rua, pois não pode fazer além da sua habilidade. Um patrão duro pode exigir do seu servo mais do que sua obrigação requer, mas nunca exigirá que seu servo se comprometa a realizar algo acima da sua capacidade. Deus pediria então, que Adão fizesse algo fora da sua capacidade? Portanto podemos concluir que se Adão era capaz de governar a terra, suas habilidades certamente eram superiores às nossas hoje. Ele tinha poder, habilidade e perícia. Todas estas habilidades ele recebeu do Criador. Embora não possamos taxar o poder de Adão como sendo um bilhão de vezes acima do nosso, podemos, não obstante, e com segurança, supor ser um milhão de vezes acima do nosso. De outra forma ele não seria capaz de realizar a tarefa a ele designada por Deus. Quanto a nós hoje, entretanto, se nos fosse exigido varrer uma alameda três vezes por dia, depois não seríamos capazes de endireitar nossas costas. Como poderíamos então governar a terra? Todavia, Adão não somente governou a terra, como também teve domínio sobre os peixes do mar, os pássaros do ar e sobre todo ser vivente sobre a terra. Governar não é apenas assentar sem fazer nada. Exige-se chefia e trabalho. Vendo isso, devemos reconhecer o poder superior que Adão de fato possuía. Ele excede em muito a nossa situação atual. Mas você pensa que esta compreensão é algo novo? Na verdade este é o ensinamento da Bíblia. Antes da sua queda, Adão tinha tal força que nunca se sentia cansado depois de trabalhar. Só depois da queda foi que Deus lhe disse: "Do suor do teu rosto comerás o teu pão". O PODER INTELECTUAL E A MEMÓRIA DE ADÃO. "Da terra formou o Senhor Deus todos os animais do campo e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome" (Gênesis 2:19). Meus amigos, não é isto maravilhoso? Suponhamos que você pegasse um dicionário e lesse os nomes de todos os animais; você não confessaria não poder reconhecer nem memorizar todos eles? Entretanto Adão deu nomes a todos os pássaros e animais. Quão inteligente ele deve ter sido! Aqueles dentre nós que não são tão brilhantes, sem dúvida abandonariam rapidamente o estudo da zoologia, logo que vissem sua incapacidade para memorizar todos os detalhes. Mas Adão não foi alguém que memorizou estes nomes zoológicos; foi ele quem deu nomes a todos eles. Por isso sabemos quão rico e perfeito era o poder racional de Adão. O PODER ADMINISTRATIVO DE ADÃO. "Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden, para lavrá-lo e guardar" (Gênesis 2:15). Examinando como Adão governava a terra, vamos meditar um pouco nas coisas que Deus lhe encarregou de fazer. Deus ordenou que ele lavrasse o jardim do Éden. Isto precisava ser feito sistematicamente. De que tamanho era o jardim? Gênesis 2:10-14 menciona o nome de quatro rios, a saber: Pison, Gion, Tigre e Eufrates. Todos eles fluíam do Éden e se dividiam em quatro regiões pluviais. Você pode imaginar quão grande era o jardim? Quão grande devia ser a força de Adão, para ser encarregado de lavrar uma terra que era cercada por quatro rios! Ele não devia apenas lavrá-la, mas também guardá-la; guardar o jardim para não ser invadido pelo inimigo. Portanto, o poder que Adão tinha naquele tempo deve ter sido tremendo. Ele deve ter sido um homem com habilidades assombrosas. Todos os seus poderes estavam inerentes na sua alma vivente. Podemos considerar o poder de Adão como sendo sobrenatural e miraculoso, mas no tocante a Adão, estas habilidades não eram miraculosas e sim humanas; não sobrenaturais, mas naturais. Adão usou todos os seus poderes naquele tempo? Pelo que pode ser visto do nosso estudo de Gênesis, ele não esgotou seu poder. Pois logo depois de ser criado por Deus, e mais que pudesse manifestar todas as suas habilidades, ele caiu. Qual foi a isca que o inimigo usou para seduzir Eva? O que o inimigo prometeu a ela? Foi isto: "No dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal" (Gn.3:5) "Ser igual a Deus" foi a promessa do inimigo. Ele disse a Eva que, a despeito do poder que ela já possuía, ainda havia entre ela e Deus um grande abismo. Mas se comesse desse fruto, ela teria a autoridade, sabedoria e poder de Deus. E naquele dia Eva foi tentada e caiu. O PODER QUE DEUS DEU A ADÃO. Investigando desse modo, não estamos de modo algum sendo desordenadamente curiosos; só desejamos conhecer o que Deus deu a Adão. "E Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gênesis 1:26). As palavras "imagem" e "semelhança" podem parecer iguais no significado e daí repetitivas. Mas no Hebraico a palavra "imagem" não indica semelhança física, antes denota semelhança moral ou espiritual. Alguém expressou assim: "transformado na semelhança"; isto é, "ser conformado a uma semelhança". O propósito de Deus ao criar o homem é para que este seja transformado segundo Sua imagem. Deus queria que Adão fosse como Ele. O diabo disse: "Sereis como Deus:" Mas a intenção original de Deus era que Adão fosse transformado para se tornar como Ele. Disso concluímos que antes da queda, Adão tinha nele o poder de tornar-se como Deus. Ele possuía uma habilidade oculta que lhe tornava possível tornar-se como Deus. Ele já era como Ele na aparência externa, mas Deus lhe tinha ordenado que fosse como Ele moralmente (uso a palavra "moralmente" para indicar aquilo que está acima do material, e não aquilo que aponta para a boa conduta do homem). Assim nos é mostrado quanta perda sofreu a humanidade através da queda. A extensão do prejuízo está provavelmente além da nossa imaginação. A QUEDA DO HOMEM. Adão é uma alma. Seu espírito e corpo estão unidos em sua alma. Aquele poder extraordinário que mencionamos está presente na alma de Adão. Em outras palavras, a alma vivente, que é resultante da união do espírito e do corpo, possui um poder sobrenatural incalculável. Entretanto, na queda, o poder que diferenciava Adão de nós foi perdido. Agora, isto não significa que não haja mais tal poder; apenas indica que, embora esta habilidade ainda esteja no homem, ela está, contudo, "congelada" ou imobilizada. De acordo com Gênesis 6, após a queda o homem se torna carne. A carne engloba o ser total e o subjuga. Originalmente o homem era uma alma vivente. Agora; tendo caído, ele se torna carne. Sua alma fora destinada a se submeter ao controle do espírito; agora ela está sujeita ao domínio da carne. Por isso o Senhor disse: "Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne" (Gênesis 6:3). Ao mencionar o homem aqui, Deus o chamou de carne; pois aos Seus olhos era isto que o homem era agora. Por conseguinte, está registrado na Bíblia que "toda carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra" (Gênesis 6:12); e também: "não se unirá com ele a carne do homem (o óleo santo da unção, representando em tipo o Santo Espírito - Êxodo 30:32), e mais: "pelas obras da lei não será justificada nenhuma carne em sua presença" (Romanos 3:20). Por que enfatizo isso de forma demorada? Em Apocalipse 18 são mencionadas coisas que deverão ocorrer nos últimos dias. Eu mostrei bem no início como a alma do homem se tornará uma mercadoria na Babilônia algo que pode ser vendido e comprado. Mas, por que a alma do homem é tratada como uma mercadoria? Porque Satanás. E seu fantoche, o anticristo, deseja usar a alma humana como um instrumento para suas atividades no fim dessa era. Quando Adão caiu no jardim do Éden, seu poder foi imobilizado. Ele não perdeu esse poder totalmente; ele estava apenas enterrado dentro dele. Geração sucedeu geração e o resultado foi que, está habilidade inicial de Adão tornou-se uma força "latente" em seus descendentes. Veio a ser um tipo de poder "oculto". Não está perdido para o homem, mas apenas confinado pela carne. Hoje, em toda e cada pessoa que vive na terra, repousa este poder adâmico, embora esteja confinado nela e não seja capaz de se expressar livremente. Entretanto, tal poder está na alma de todo homem, assim como estava na alma de Adão no princípio. Visto que a alma de hoje está sob o cerco da carne, este poder está do mesmo modo confinado pela carne. A obra do Diabo hoje em dia é despertar a alma do homem e liberar este poder latente em seu interior, como uma falsificação do poder espiritual. Menciono estas coisas porque precisamos ser advertidos com respeito ao relacionamento especial entre a alma do homem e Satanás nos últimos dias. Já vimos como Adão possuía habilidade especial e sobrenatural, todavia o que ele tinha realmente não era de todo especial ou sobrenatural, ainda que assim nos pareça hoje. Adão, antes da queda, podia exercitar com facilidade, de modo completo e natural, esta habilidade, visto que ela estava contida em sua alma. Mas, após sua queda este poder ficou confinado por seu corpo. Antes o corpo era uma ajuda para a alma poderosa de Adão; agora havia caído e seu poder foi limitado pela casca da carne. Satanás, entretanto, tenta romper esta casca carnal e liberar o poder latente na alma do homem, a fim de obter o controle sobre ele. Muitos não entendem esta estratégia e são enganados, aceitando-a como sendo de Deus. Livro O Poder Latente da Alma. Abraço. Davi.