sábado, 9 de maio de 2015

Filme Irmão Sol Irmã Lua.



Comento o filme Irmão Sol Irmã Lua baseado em dois texto sobre a vida de São Francisco e Santa Clara de Assis. Um dos textos é do escritor católico brasileiro  Leonardo Boff (1938-   ) idealizador da teologia da libertação, que devido a uma interpretação livre das escrituras sagradas e envolvimento com movimentos eclesiásticos de base, priorizando ajuda aos pobres e necessitados com direcionamento à cidadania, conscientização social e política,  foi condenado pela igreja católica (1985) a um ano de silêncio obsequioso (censura, investigação). Publicou um polêmico livro, aqui no Brasil, chamado Igreja Carisma e Poder, (1981) que causou inquietação no meio intelectual da Cúria Romana. Nele é esboçado a necessidade de mudanças na estrutura eclesiástica e administrativa da igreja católica, bem como a inserção participativa dos leigos e mulheres nas atividades pastores e ofícios religiosos. O responsável por esse processo de excomunhão foi o cardeal alemão Joseph Ratzinger (1927-   ), a época coordenador da Congregação para a Doutrina da Fé, tornando-se logo depois o Papa Bento XVI (2005-2013), renunciando ao pontificado. Em 1992, frei Leonardo Boff, ante novo risco de punição, desligou-se da Ordem Francisca e pediu dispensa do sacerdócio.  Historicamente o século XII e XIII, tempo em que a trama do filme é relatada, foi palco de um processo de expansão das religiões monoteístas (crença em um só Deus, sendo as três expressões o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Como particularidades judeus e muçulmanos não acreditam na divindade de Jesus, considerando-o como profeta, nos termos de Abraão e Moisés). Já o cristianismo o inclui na Santíssima Trindade como sua segunda pessoa, sendo assim Deus. Esse alargamento religioso deu-se através das beligerâncias; expandindo ou mantendo seus domínios e influências espirituais, culturais e tradicionais entre os povos de outros continentes. Os cristãos em mais mil anos de história, através de sua organizada instituição, igreja católica, sofria com dissensões internas, facções externas e a cobiça por cargos eclesiásticos em suas fileiras, sendo que, muitos eram vendidos à revelia (simonia) aos que pagassem o maior preço. Numa degradante e corrupta situação espiritual a igreja definhava, mantendo-se apenas pelo nome e a tradição. Mas em meio a tanto descompromisso e indignidade com seus fieis, ainda mantinha sua posição decisória e autoritária nos reinos italianos e demais reinos da Europa Medieval. Os Sarracenos ou pagãos, nome que eram chamados equivocadamente os árabes ou muçulmanos, foram povos guerreiros, que organizados em exércitos empreendiam campanhas militares contra os reinos europeus, alcançando expressivas conquistas e expandindo sua influência pelo velho mundo. Esse engano fez com que os italianos e outros povos, impingindo neles esse cognome “muçulmano”, generalizando-os, consideravam os Sarracenos com bárbaros e selvagens, sendo inimigos da fé cristã e da cruz de Cristo, podendo ser mortos para “glória” do evangelho. A igreja, nessa época além de corrupta, era impiedosa e implacável com todos os que desafiavam sua suposta autoridade civil e eclesiástica. Nesse período aludido na pelica, iniciava-se a “Santa Inquisição Católica” (1184), que levou a morte milhões de judeus, dissidentes cristão, ciganos e desafetos da igreja, também milhares de pessoas eram queimadas vivas, injustamente consideradas bruxas e bruxos. A Cruzada das Crianças (7 a 12 anos), é um misto de fantasia e fatos. A circunstância baseia-se em duas movimentações separadas com origem na França e na Alemanha, no ano de 1212. Esta cruzada teria ocorrido entre a Terceira e a Quarta Cruzada e seria um movimento extraoficial, com apoio do clero superior, baseado na crença que apenas as almas puras (no caso as crianças) poderiam libertar Jerusalém do jugo dos muçulmanos. A ideia teria surgido após a notícia de que Constantinopla, uma cidade cristã, tinha sido saqueada pelos cruzados árabes, fazendo os cristãos crerem que não se poderia confiar em adultos. 50 mil crianças teriam sido arregimentadas e colocadas em navios, saindo do porto de Marselha, França, rumo a Jerusalém. O resultado foi um desastre, pois a grande maioria das crianças morreu no caminho de fome, frio e inanição. As que sobreviveram foram vendidas como escravas pelos turcos no Norte da África. Alguns chegaram somente até a Itália, outros se dispersaram, e houve aqueles que foram sequestrados e escravizados pelos árabes. O Papa Inocêncio III (1161-1216) um de nossos personagens nesse filme, juntamente com o alto clero da igreja católica manchou suas mãos e seu coração com sangue dos inocentes.  "Há 800 anos, na noite de 19 de março de 1212, dia seguinte à festa de Domingos de Ramos, Clara de Assis, toda adornada, fugiu de casa para unir-se ao grupo de Francisco de Assis na capelinha da Porciúncula que ainda hoje existe. As clarissas do mundo inteiro e toda a família franciscana celebram esta data que significa a fundação da Ordem de Santa Clara, espalhada pelo mundo inteiro. Clara junto com Francisco, nunca devemos separá-los, pois se haviam prometido, em seu puro amor, que “nunca mais se separariam” segundo a bela legenda da época, representa uma das figuras mais luminosas da Cristandade. É bom lembrá-la no mês de março, dedicado às mulheres. Por causa dela, há milhões de Claras e Maria Claras no mundo inteiro. Ela, de família nobre de Assis, dos Favarone, e ele, filho de um rico e influente mercador de tecidos, dos Bernardone. Com 16 anos de idade quis conhecer o então já famoso Francisco com cerca de 30 anos. Bona, sua amiga íntima, conta, sob juramento nas atas de canonização, que entre 1210 e 1212 Clara “foi muitas vezes conversar com Francisco, secretamente, para não ser vista pelos parentes e para evitar maledicências”. Destes dois anos de encontro nasceu grande fascínio um pelo outro. Como comenta um de seus melhores pesquisadores, o suíço Anton Rotzetter (1939-   ) em seu livro “Clara de Assis: a primeira mulher franciscana” Editora Vozes, Brasil, 1994: “neles irrompeu o Eros no seu sentido mais próprio e profundo pois sem o Eros nada existe que tenha valor, nem ciência, nem arte, nem religião. Eros que é a fascinação que impele o ser humano para o outro e que o liberta da prisão de si mesmo”, página 63 do referido livro. Esse Eros fez com que ambos se amassem e se cuidassem mutuamente, mas numa transfiguração espiritual que impediu que se fechassem sobre si mesmos. Francisco afetuosamente a chamava de a “minha Plantinha”. Três paixões cultivaram juntos ao longo de toda vida: a paixão pelo Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a paixão um pelo outro. Mas nesta ordem. Combinaram então a fuga de Clara para unir-se ao seu grupo que queria viver o evangelho puro e simples sem glosas (censuras) e interpretações que lhe tirariam o vigor. A cena não tem nada a perder em criatividade, ousadia e beleza, das melhores cenas de amor dos grandes romances ou filmes. Como poderia uma jovem rica e bela fugir de casa para se unir a um grupo parecido com os “hippies” dos anos 60? Pois assim devemos representar o Movimento inicial de Francisco. Era um grupo de jovens ricos, vivendo anteriormente em festas e serenatas, que resolveram fazer uma opção de total despojamento e rigorosa pobreza nos passos de Jesus pobre. Não queriam fazer caridade para pobres, mas viver com eles e como eles. E o fizeram num espírito de grande jovialidade, sem sequer criticar a opulenta Igreja dos Papas. Na noite do dia de 19 de março de 1212, Clara, escondida, fugiu de casa e chegou à Porciúncula. Entre luzes bruxoleantes (brilhar tremulamente), Francisco e os companheiros a receberam festivamente. E em sinal de sua incorporação ao grupo, Francisco lhe cortou os belos cabelos louros. Em seguida, Clara foi vestida com as roupas dos pobres, não tingidas, mais um saco que um vestido. Depois da alegria, das canções dos trovadores franceses que Francisco tanto gostava e das muitas orações, foi levada para dormir no convento das beneditinas a 4 km de Assis. 16 dias após, sua irmã mais nova, Inês, também fugiu, unindo-se à irmã. A família Favarone tentou, até com violência, retirar as filhas. Mas Clara se agarrou às toalhas do altar, mostrou a cabeça raspada e impediu que a levassem. O mesmo destemor mostrou quando o Papa Inocêncio III (1161-1216) não quis aprovar o seu voto de pobreza absoluta. Lutou tanto até que o Papa enfim consentisse. Assim nasceu a Ordem das Clarissas. Seu corpo intacto depois de 800 anos comprova, uma vez mais, que o amor é mais forte que a morte". http://laurocampos.org.br. Essa narrativa, supostamente, tem um cunho humanista passional, pois entende Francisco e Clara envolvido numa emotividade que oblitera a espiritualidade de ambos. Parece que o autor implicitamente quis dar esse enfoque, para acentuar o lado humano e sentimental dos personagens. Uma abordagem corajosa, já que, quando falamos de pessoas que deixaram pegadas por esse mundo como Jesus, por serem espirituais e religiosas, tendo expressado uma profunda comunhão mística com o divino, os "rotulamos" como pessoas perfeitas e incapazes de contagiarem-se com qualquer sentimento "íntimo" de afetividade, que não seja relacionado ao amor santo e absoluto proveniente de Deus. As palavras paixão e Eros, pensadas pelo senso comum, são pejorativamente carregadas de preconceito. Alguns até poderiam criticar o autor, quando aplica esses termos em relação aos dois personagens citados. Mas convenhamos, sinceramente, que essas ideias passam-se pela mente de qualquer mortal quando em proximidade de convivência com o sexo oposto. A história demonstrou, porém, que o amor de Francisco por Clara, era sublime e transcendente, pois o amor aos pobres e a fraternidade universal os uniu no propósito maior da propagação do evangelho ao mundo europeu da Idade Média. Nada além desse amor supremo, os ligava tão fortemente, ao ponto de fundirem suas almas em busca dos pobres perdidos e necessitados da compaixão e misericórdia do Jesus pobre, o Salvador da humanidade. "Irmão Sol. Giovanne de Pietro de Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis (1182-1226), foi um frade católico da Itália. Depois de uma juventude irrequieta e boêmia, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a Ordem Mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Com a habilidade da pregação itinerante, quando os religiosos de sua época estavam mais ligados aos mosteiros rurais, e com sua crença de que o evangelho devia ser seguido à risca, imitando-se a vida de Cristo. Francisco desenvolveu uma profunda identificação com os problemas do seu semelhante e com a humanidade do próprio Cristo. Sua atitude foi original quando afirmou também a bondade e a maravilha da criação, quando se dedicou aos mais pobres dos pobres, e quando amou todas as criaturas (minerais, vegetais, animais e humanos) chamando-as de irmãos. Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva da natureza e do homem, impregnou a imaginação de toda a sociedade de sua época, sendo uma das forças primeiras que levaram a formação da Filosofia da Renascença. Irmã Lua. No domingo de Ramos de 1212, uma nobre senhora, chamada Clara de Favarone (hoje conhecida por Santa Clara (1194-1253) ou Clara de Assis), foi procurar Francisco pra abraçar a vida de pobreza. Alguns dias depois, Inês de Favarone (1198-1253), sua irmã, segue o caminho. Surge a Fraternidade das Pobres Damas, uma das três ordens ligadas a São Francisco". http://textoparareflexao.com.br. Esse segundo texto, parece, mais centrado numa proposta condizente com a experiência de São Francisco e Santa Clara. Aja vista, está baseado no filme Irmão Sol Irmã Lua do cineasta italiano Franco Zeffirelli (1923-   ), ele constando hoje 92 anos, sendo a pelica uma de suas obras prima. O filme é tocante, transparecendo em suas tomadas de cena a espiritualidade estampada em cada fase do enredo. Nessa situação específica, o personagem principal, Francisco, é enaltecido, pela amizade sincera e franca com Clara. As várias biografias escritas de ambos, comprovam sua fé cristã e dedicação exclusiva à causa do evangelho, principalmente, entre os mais pobres, fracos, doentes e necessitados. Também dizem, esses biógrafos, que eles trocavam cartas, sendo estas, enviadas secretamente para não suscitar má interpretações entre os irmãos. Quando necessitavam de conversar assuntos importantes relacionados a ordem religiosa, marcavam encontros, ora no convento onde Clara (mosteiro de São Damião) estava servindo, enclausurada, ora onde Francisco se encontrava. Clara era amiga "íntima" e confessora de Francisco, conservando essa posição até a morte de seu irmão. O filme começa com Francisco em uma cama tendo alucinações de guerra, e sua mãe o assistindo nessa situação, pois sendo de família nobre os Bernardones, fora convocado para defender a santa igreja católica nas cruzadas contra os curdos muçulmanos, que liderados por Saladino (1138-1193) conquistara a cidade de Jerusalém. Após sua recuperação deste incidente traumático, Francisco, tem uma experiência de encontrar alguns indigentes nas vielas da cidade de Assis, causando-lhe uma forte impressão. Mas antes, percebe um pássaro na janela de seu quarto e seguindo-o pelo telhado de sua casa, praticamente hipnotizado, quase cai daquela altura. Quando Francisco se converte à Cristo, estando em uma missa por imposição de seu pai, olhando pro altar vê os olhos do Cristo se abrirem, sendo que, em consequência dá um grito, assustando os presentes que ouviam um cântico em latim. Por esse motivo a  homilia foi interrompida dispersando os fiéis. Esse evento da conversão, juntamente com a experiência do contato com os pobres de Assis, desencadeou uma estranha maneira de demonstrar sua alegria e contentamento, pois quando foi levado por seu pai diante do bispo da cidade para ser disciplinado por sua atitude irreverente e insubmissão desfazendo-se dos tecidos do genitor; despe-se de suas roupas, e, estando nu, insolitamente percorre o centro da cidade da Assis, saindo pelo portão principal, à vista de alguns transeuntes que presenciava a controvérsia levantada por seu pai. Assim, posterga a tutela de seu pai, iniciando sua vida cristã devota junto aos leprosos e pobres, que usavam o casebre em ruínas (antiga igreja de São Damião) como moradia. Em nosso senso comum, julgaríamos o fato de sua nudez como um pecado grosseiro, algo imoral e escandaloso ante o convencionado padrão de comportamento vigente, que fere os bons costumes sociais. Mas esse evento, significava, que Francisco a partir daquele instante, assumiria por toda sua vida um compromisso, voto, de despojamento material e extrema pobreza, vivendo com os pobres, como pobre e pelos pobres. Ele costumava dizer que sua esposa era a pobreza. Outra cena interessante é quando Francisco as margens de um lago, em contemplação, avista Clara vindo ao seu encontro por entre as margaridas, jasmins e begônias. Ela lhe diz que deseja entrar para a vida cristã, monástica, entregando-se completamente a Cristo. Em outra cena Francisco adentra num belo campo florido na periferia de Assis contatando borboleta, lagarta, besouro; vê-se também cavalos, éguas e potro. Um coelho surge dos arbustos, e Francisco toma uma pedra na mão e aprecia suas particularidades. "Francisco fez muitas viagens pelo oriente, e segundo estudiosos conheceu o lado esotérico do Islamismo chamado de Sufismo, mas precisamente a Ordem dos Dervixe. Os pontos de coincidência entre a Ordem Franciscana e os Dervixe são muito. 1. Ambas as ordens pregam a ajuda ao próximo como fator de salvação. Um dos pilares do Islã é justamente a "esmola", erroneamente traduzida na sociedade capitalista como dar dinheiro. Entretanto, o sentido original desse pilar religioso diz respeito a ajudar ao próximo, não necessariamente financeira. Tanto os Franciscanos como os Sufis, inicialmente saíam as ruas, teorizando e praticando seus ensinamentos, isto é, pregando o evangelho e o Alcorão; ajudando os necessitados, curando, consolando, dando abrigo e comida, afinal, não há melhor maneira de praticar os ensinamentos de Deus do que com o próximo. Outro ponto interessante é a saudação franciscana: "Que a paz de Deus estava convosco". Segundo Francisco esta é a bênção que Deus lhe enviou, entretanto, a mesma bênção está presente no Islã com a famosa frase: "Sallam Aleikun", que também significa: Que a paz de Deus estava convosco. Do ponto de vista histórico esta é mais uma prova do contato de Francisco com os povos árabes, que o influenciaram não só na doutrina, mas também na ética e moral franciscana. Do ponto de vista filosófico isto mostra, que Deus se revelou tanto no cristianismo como no islamismo". http://www.oiluminador.blogspot.com.br. Junto com seus companheiros, Francisco, restaura a igrejinha que está em ruínas. Quando Francisco se converte a Cristo, por ser da elite social da cidade de Assis, seus antigos amigos lentamente se juntam a ele, desse modo, criando um impasse político religioso. O orgulhoso e soberbo bispo de Assis, ao receber a autoridade civil vinda de Roma diz que Francisco estava persuadindo os jovens à um movimento separatista, mas o representante do governo insiste que esse fato está sob a responsabilidade da igreja, cabendo a ela tratá-lo. Assim numa atitude covarde, o bispo manda que a igrejinha (Porciúncula) seja incendiada. Interessante que esse momento da assinatura do edito clerical, impressão em tinta do seu anel no documento oficial, para frear as pretensões “dissidentes” de Francisco, este, junto com seu grupo e grande multidão, comemoravam com uma festa, tendo os sacramentos como destaque, a reabertura da igreja de São Damião, restaurada por eles. O que impressiona nessa cena, é a simplicidade com que se celebra esse ato místico, pois no altar dividindo a mesma posição do pão e vinho, haviam um cordeiro mansamente agachado e vários patos grasnando, acompanhado a música cantada pelos presentes na missa inaugural, em sua língua paterna; diferentemente do oficioso ritualismo litúrgico em latim celebrado à comunidade em Assis nas missas paroquianas. Em outro momento, enquanto Francisco e seus irmãos juntamente com Clara atendiam os leprosos, doentes e necessitados de Assis; as margens de uma cachoeira, o atentado se consumava. São avisados do ocorrido e chegando encontram a igreja em chamas, e  Francisco não entende tanto ódio e maldade; a igreja que ele e a comunidade dos pobres restauraram com tanto amor e carinho agora parcialmente destruída. Ele entra em crise, e depois de orações e conversar com Clara, resolve ir a Roma visitar o Papa Inocêncio III pra saber dele que posição tomar quanto a essa questão. Nas ruas de Roma, ele e seu grupo parecem mais mendigos e indigentes que pessoas comuns. Um de seus amigos que era aliado do bispo arquiteta um plano, para que Francisco não encontre aquiescência do Papa em suas pretensões quanto a Nova Ordem Religiosa que deseja iniciar. Assim, após convencê-lo, lhe arranja audiência com o santo padre, mas com a condição, que ele leia um texto em latim, declarando sua total e absoluta obediência a igreja. Quando Francisco e seus companheiros entram na igreja de São Pedro, no Vaticano, é notório o contraste da extrema pobreza dos mendicantes, com suas vestes esfarrapadas e o clero romano em sua opulência, riqueza e soberba. De joelhos Francisco começa a ler o texto, mas repentinamente, muda sua orientação recitando partes das sagradas escrituras em Mateus 6:19-26 “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, ai estará também o vosso coração. (...). Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. Pois isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?”, que dizem respeito ao desapego ao materialismo, vivendo em modéstia e singeleza, confiando apenas no suprimento dado por Deus. De início Sua Santidade ouve, juntamente com seus cardeais e bispos auxiliares surdamente; alguns até falando que isso era um insulto contra o papa e a santa igreja. Quem é esse, para nos ensinar o evangelho? Mas quando é ordenado que Francisco e seus irmãos sejam presos; em êxtase, o Papa reconhece que cometeu um erro “pecado” contra alguém, que de forma simples e extraordinariamente condizente com o evangelho, procurava viver a vida cristã; e ele e seu séquito esbanjando conforto e ostentação. Desse modo, arrepende-se e imediatamente manda chamar Francisco. Quando este chega e novamente ajoelha-se diante do trono do Sumo Pontífice, Inocêncio III desce e percorrendo as escadarias aproximasse de Francisco. Os dois em pé conversam sobre o porque da vinda deles, e num gesto imprevisível, o Papa ajoelhasse e humildemente beija os pés de Francisco. Ao final despede-se do grupo, abençoando-os à prosseguirem em sua missão de propagar o evangelho conforme a orientação que receberam de Jesus, e aprova as pretensões de Francisco quanto ao estabelecimento da Nova Ordem Religiosa. Também, depois de convertido ao cristianismo, Francisco, discutia com seu pai, pois como de família abastada (muitas posses), eram mercadores de tecidos e comerciantes, e agora Francisco queria dividir sua fortuna com os pobres de Assis; coisa que seu pai não admitia de forma nenhuma. Mas ele, aproveitando a ausência temporária do pai, que estava em viagem a negócios, joga pela janela de sua casa grande quantidade de tecidos aos pobres. Quando seu pai chega, sabendo do ocorrido, o castiga e o expulsa de sua casa. Francisco em nenhum momento de sua vida segundo seus biógrafos, criticou a autoridade da igreja, sendo sua submissão incondicional aos superiores eclesiásticos até o fim. Algumas das regras dos Franciscanos, como voto, incluíam a pobreza extrema, a castidade, os jejuns regulares e a obediência ao evangelho particularizado na vida de Jesus. Francisco foi um místico cristão, pois sua experiência de meditação e contemplação levaram-no à numinosidade (estado de vivência que o indivíduo possui acerca de questões sobrenaturais, transcendentes ou de divindades, comportando-se e sendo influenciado por elas) espiritual e contemplativa. Também frequentemente conversava com animais, pássaros, plantas, árvores e ouvia sons vindo dos ventos trazendo presságios bons ou ruins. Em algumas ocasiões, interpretava ruídos das rochas ou montanhas. Costumava fazer leitura "criptográfica" nos espelhos d'água, e espantosamente, dialogando com seus irmãos, de repente desaparecia, sendo visto noutro lugar diferente. Muitos desses "poderes" taumaturgos Francisco aprenderá com a tradição Islã do Sufismo. As chagas (feridas) de Francisco encontradas em seu corpo após sua morte; bem parecidas com aquelas feita em Jesus em seu calvário, desde o julgamento religioso pelos judeus (sumo sacerdotes), e o político pelo governo romano (Pôncio Pilatos), onde fora chicoteado e espancado. Essas marcas foram imprimidas com sangue, conforme a tradição da igreja, quando Jesus, ao ser sepultado por Nicodemos e José de Arimatéia, envolveram seu corpo em um lençol, provavelmente branco, que depois de sua ressurreição ficou no sepulcro. Marcos 15:46 "E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José de Arimatéia. O qual comprará um lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num sepulcro lavrado numa rocha; e revolveu uma pedra para a porta do sepulcro". Esse tecido acabou sendo conhecido como o manto sagrado ou sudário de Turim, guardado na Catedral de Turim - Itália, desde o século XIV. Assim, também, o corpo de Francisco tinha marcas semelhantes com as estampadas no "manto sagrado". Evidentemente o assunto é discutível até hoje, não havendo um posicionamento científico da veracidade quando ao fato do "manto sagrado" de Jesus, e de igual modo, as chagas encontradas no corpo de Francisco. Mas a igreja em ambos os casos, assevera por crença e fé a verossimilhança desses eventos. Santa Clara, também, em sua vida religiosa foi uma mística dedicando-se a oração, e a obras de caridade. Participou ativamente do emergente Movimento Franciscano em sua versão feminina, cooperando, para que o evangelho livre e compromissado com a vida de Jesus, alcançasse todas as regiões da Europa e outros continentes. "O seu primeiro milagre em vida demonstra sua grande fé. Conta-se que uma das irmãs da sua congregação saíra para pedir esmolas para os pobres que iam ao mosteiro. Como não conseguiu quase nada voltou desanimada e foi consolada por Santa Clara que lhe disse: confia em Deus. Quando a santa se afastou, a outra freira foi pegar no embrulho que trouxera, e não conseguiu levantá-lo, pois tudo havia se multiplicado. Em outra ocasião quando da invasão da cidade de Assis pelos Sarracenos, no ano de 1240, Santa Clara apanhou o ostensório com a hóstia consagrada e enfrentou o chefe deles, dizendo que Jesus Cristo era mais forte que eles. Os agressores, tomados de repente por inexplicável pânico, fugiram. Por este milagre Santa Clara é representada segurando o ostensório na mão". Fonte Wikipédia.  A Basílica de Santa Clara, na cidade de Assis - Itália, é um belíssimo santuário católico, que os amigos do Mosaico, principalmente europeus, que tiverem oportunidade de conhecer, ficarão vislumbrados. Há uma forte energia positiva no recinto, e um sentimento profundo de amor à Deus e ao próximo nos perpassa ao olhar cada imagem, pintura e expressão religiosas e artística do Renascimento. O túmulo de São Francisco dentro da cripta, causa-nos uma forte impressão; motivando-nos a uma vocação e devoção íntima ao nosso Deus e Pai. O corpo de Santa Clara continua intacto, conforme Frei Vitório Mazzuco Filho, OFM (1953-   ). "Em 11 de agosto de 1253, Santa Clara entra na glória eterna; já no dia seguinte seu corpo é levado para a igreja de São Jorge onde também repousa Francisco. No dia 3 de outubro de 1260, o corpo é exumado e colocado na Basílica de Santa Clara; ali permanece perto do altar com uma simples inscrição: "Aqui jaz o corpo da Virgem Santa Clara", protegido pelo brilho de uma lâmpada e as preces silenciosas de suas filhas que guardaram este fato no segredo de seus corações. Um relicário de vidro protege os ossos de Santa Clara. A lateral esquerda deste "corpo" encontra-se aberta. Assim, apenas as Irmãs Clarissas vêm, de dentro da clausura, os ossos da santa. Ao chegarmos a Assis e orarmos, rezarmos, diante de Clara devemos lembrar que uma vida como a dela é sempre fecunda, nunca se decompõe. Num coração aberto para o Absoluto, Deus sempre deposita a sua Beleza. Diante de seu corpo temos que ter o desejo de rezar, orar. É preciso sempre desejar o espírito! Orar é abrir os olhos, abrir nossas faculdades humanas e todo o nosso ser e deixar que Deus se estabeleça ai. Rezar é ver e auscultar, perceber que o espírito sempre trabalha na imagem. Diante do corpo de Clara, é preciso redescobrir a espiritualidade da ternura, da pequenez, da pobreza. Clara, mulher e santa, não é um aprendizado intelectual, mas um conhecimento afetivo. Por que Clara é bela? Porque o Espírito imprime sempre no corpo a sua forma. O Amor pelo Esposo tomou forma em seu corpo! Após 750 anos, cuidou-se muito dos restos mortais de Clara para não se deixar lembrar a sua forma de vida, modo como ela "eternizou-se" no tempo". No fim de 1224, com quarenta e dois anos, Francisco estava muito doente. Sofria de malária, não conseguindo comer, e o pior, além de não enxergar quase nada, nem aguentava a luz do sol ou do fogo em seus olhos. O cardeal Hugolino, que se tornou o Papa Gregório IX (1170-1241) sendo era seu amigo, estava sempre procurando algum médico melhor para ele. Nessa ocasião, mandou dizer que tinha encontrado um bom doutor em Sena, onde estavam o papa e seus cardeais. Francisco aceitou o convite e quis ir pra lá. Mas foi primeiro a São Damião, despedir-se de Clara. Chegou lá tão mal que Clara e os frades que o acompanhavam decidiram que ele não podia viajar. Ainda mais com aquele inverno pesado, com todas as estradas cobertas de neve. Clara mandou fazer uma cabaninha para ele, junto da casa dos frades que ajudavam em São Damião. Foi um dos tempos piores de sua vida, apesar do carinho de Clara, das irmãs e dos frades. Ele estava doente no corpo e na alma. Um desânimo enorme o abatia profundamente. Lembrava que muitas coisas não estavam indo bem no meio da multidão dos seus irmãos e pensava que tinha feito muitas coisas erradas na vida. Uma certeza cruel esmagava-o dia e noite; ele tinha perdido a vida e ainda iria para o inferno. Para completar, o lugar estava cheio de ratos, que ficavam a noite inteira andando por cima dele. Francisco sempre foi humano como nós, passando por tristeza, desilusão, inconformismo, rejeição, mas desfrutou grandes momentos de paz, alegria, gozo, contentamento. De acordo com o seu desejo, morreu deitado na terra. Foi então que as multidões começaram a chegar e se deram conta de que aquele homem só podia ser extraordinário: tinha até as chagas de Jesus crucificado.  A vida de Francisco e Clara é emocionante e comovente, como vimos sucintamente, desde o primeiro momento em que se encontraram, pois cultivaram entre si uma amizade pura, sincera, franca e espiritual. Francisco sofreu muito nos anos que antecederam sua morte, mas a amiga e irmã Clara nunca o abandonou, assistindo-o em suas dores físicas e distúrbios psicológicas. Também ouvia pacientemente suas confissões, ajudando-o em suas crises, intercedendo por ele em oração ao Eterno Pai. Finalmente, depois de muita agonia e dor, Clara foi chamada à reconhecer, na Porciúncula, que seu grande amigo Francisco havia partido para estar com Cristo na eternidade. Abraço. Davi.      

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