Comento
o filme Irmão Sol Irmã Lua baseado em dois texto sobre a vida de
São Francisco e Santa Clara de Assis. Um dos textos é do escritor católico
brasileiro Leonardo Boff (1938- ) idealizador da teologia da
libertação, que devido a uma interpretação livre das escrituras sagradas e
envolvimento com movimentos eclesiásticos de base, priorizando ajuda aos pobres e necessitados
com direcionamento à cidadania, conscientização social e política, foi condenado pela
igreja católica (1985) a um ano de silêncio obsequioso (censura, investigação).
Publicou um polêmico livro, aqui no Brasil, chamado Igreja Carisma e Poder,
(1981) que causou inquietação no meio intelectual da Cúria Romana. Nele é
esboçado a necessidade de mudanças na estrutura eclesiástica e administrativa
da igreja católica, bem como a inserção participativa dos leigos e mulheres nas
atividades pastores e ofícios religiosos. O responsável por esse processo de
excomunhão foi o cardeal alemão Joseph Ratzinger (1927- ), a época
coordenador da Congregação para a Doutrina da Fé, tornando-se logo depois o
Papa Bento XVI (2005-2013), renunciando ao pontificado. Em 1992, frei Leonardo
Boff, ante novo risco de punição, desligou-se da Ordem Francisca e pediu dispensa
do sacerdócio. Historicamente o século XII e XIII, tempo em que a trama
do filme é relatada, foi palco de um processo de expansão das religiões
monoteístas (crença em um só Deus, sendo as três expressões o cristianismo, o
judaísmo e o islamismo. Como particularidades judeus e muçulmanos não acreditam
na divindade de Jesus, considerando-o como profeta, nos termos de Abraão e
Moisés). Já o cristianismo o inclui na Santíssima Trindade como sua segunda pessoa, sendo assim Deus. Esse alargamento religioso deu-se através das beligerâncias; expandindo ou
mantendo seus domínios e influências espirituais, culturais e tradicionais
entre os povos de outros continentes. Os cristãos em mais mil anos de história, através de sua
organizada instituição, igreja católica, sofria com dissensões internas,
facções externas e a cobiça por cargos eclesiásticos em suas fileiras, sendo que,
muitos eram vendidos à revelia (simonia) aos que pagassem o maior preço. Numa
degradante e corrupta situação espiritual a igreja definhava, mantendo-se
apenas pelo nome e a tradição. Mas em meio a tanto descompromisso e indignidade
com seus fieis, ainda mantinha sua posição decisória e autoritária nos reinos
italianos e demais reinos da Europa Medieval. Os Sarracenos ou pagãos, nome que eram chamados equivocadamente os árabes ou muçulmanos, foram povos guerreiros,
que organizados em exércitos empreendiam campanhas militares contra os reinos
europeus, alcançando expressivas conquistas e expandindo sua influência pelo
velho mundo. Esse engano fez com que os italianos e outros povos, impingindo
neles esse cognome “muçulmano”, generalizando-os, consideravam os Sarracenos
com bárbaros e selvagens, sendo inimigos da fé cristã e da cruz de Cristo,
podendo ser mortos para “glória” do evangelho. A igreja, nessa época além de
corrupta, era impiedosa e implacável com todos os que desafiavam sua suposta
autoridade civil e eclesiástica. Nesse período aludido na pelica, iniciava-se a
“Santa Inquisição Católica” (1184), que levou a morte milhões de judeus,
dissidentes cristão, ciganos e desafetos da igreja, também milhares de pessoas eram
queimadas vivas, injustamente consideradas bruxas e bruxos. A Cruzada das
Crianças (7 a 12 anos), é um misto de fantasia e fatos. A circunstância baseia-se em duas
movimentações separadas com origem na França e na Alemanha, no ano de 1212.
Esta cruzada teria ocorrido entre a Terceira e a Quarta Cruzada e seria um movimento
extraoficial, com apoio do clero superior, baseado na crença que apenas as
almas puras (no caso as crianças) poderiam libertar Jerusalém do jugo dos muçulmanos. A ideia teria
surgido após a notícia de que Constantinopla, uma cidade cristã, tinha sido
saqueada pelos cruzados árabes, fazendo os cristãos crerem que não se poderia confiar em
adultos. 50 mil crianças teriam sido arregimentadas e colocadas em navios, saindo do porto de
Marselha, França, rumo a Jerusalém. O resultado foi um desastre, pois a grande
maioria das crianças morreu no caminho de fome, frio e inanição. As que sobreviveram
foram vendidas como escravas pelos turcos no Norte da África. Alguns chegaram
somente até a Itália, outros se dispersaram, e houve aqueles que foram
sequestrados e escravizados pelos árabes. O Papa Inocêncio III (1161-1216) um
de nossos personagens nesse filme, juntamente com o alto clero da igreja
católica manchou suas mãos e seu coração com sangue dos inocentes. "Há
800 anos, na noite de 19 de março de 1212, dia seguinte à festa de Domingos de
Ramos, Clara de Assis, toda adornada, fugiu de casa para unir-se ao grupo de
Francisco de Assis na capelinha da Porciúncula que ainda hoje existe. As
clarissas do mundo inteiro e toda a família franciscana celebram esta data que
significa a fundação da Ordem de Santa Clara, espalhada pelo mundo inteiro.
Clara junto com Francisco, nunca devemos separá-los, pois se haviam prometido,
em seu puro amor, que “nunca mais se separariam” segundo a bela legenda da
época, representa uma das figuras mais luminosas da Cristandade. É bom lembrá-la
no mês de março, dedicado às mulheres. Por causa dela, há milhões de Claras e
Maria Claras no mundo inteiro. Ela, de família nobre de Assis, dos Favarone, e
ele, filho de um rico e influente mercador de tecidos, dos Bernardone. Com 16
anos de idade quis conhecer o então já famoso Francisco com cerca de 30 anos.
Bona, sua amiga íntima, conta, sob juramento nas atas de canonização, que entre
1210 e 1212 Clara “foi muitas vezes conversar com Francisco, secretamente, para
não ser vista pelos parentes e para evitar maledicências”. Destes dois anos de
encontro nasceu grande fascínio um pelo outro. Como comenta um de seus melhores
pesquisadores, o suíço Anton Rotzetter (1939- ) em seu livro “Clara de
Assis: a primeira mulher franciscana” Editora Vozes, Brasil, 1994: “neles
irrompeu o Eros no seu sentido mais próprio e profundo pois sem o Eros nada
existe que tenha valor, nem ciência, nem arte, nem religião. Eros que é a
fascinação que impele o ser humano para o outro e que o liberta da prisão de si
mesmo”, página 63 do referido livro. Esse Eros fez com que ambos se amassem e
se cuidassem mutuamente, mas numa transfiguração espiritual que impediu que se
fechassem sobre si mesmos. Francisco afetuosamente a chamava de a “minha
Plantinha”. Três paixões cultivaram juntos ao longo de toda vida: a paixão pelo
Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a paixão um pelo outro. Mas nesta ordem.
Combinaram então a fuga de Clara para unir-se ao seu grupo que queria viver o
evangelho puro e simples sem glosas (censuras) e interpretações que lhe
tirariam o vigor. A cena não tem nada a perder em criatividade, ousadia e
beleza, das melhores cenas de amor dos grandes romances ou filmes. Como poderia
uma jovem rica e bela fugir de casa para se unir a um grupo parecido com os
“hippies” dos anos 60? Pois assim devemos representar o Movimento inicial de
Francisco. Era um grupo de jovens ricos, vivendo anteriormente em festas e
serenatas, que resolveram fazer uma opção de total despojamento e rigorosa
pobreza nos passos de Jesus pobre. Não queriam fazer caridade para pobres, mas
viver com eles e como eles. E o fizeram num espírito de grande jovialidade, sem
sequer criticar a opulenta Igreja dos Papas. Na noite do dia de 19 de março de
1212, Clara, escondida, fugiu de casa e chegou à Porciúncula. Entre luzes
bruxoleantes (brilhar tremulamente), Francisco e os companheiros a receberam
festivamente. E em sinal de sua incorporação ao grupo, Francisco lhe cortou os
belos cabelos louros. Em seguida, Clara foi vestida com as roupas dos pobres,
não tingidas, mais um saco que um vestido. Depois da alegria, das canções dos
trovadores franceses que Francisco tanto gostava e das muitas orações, foi
levada para dormir no convento das beneditinas a 4 km de Assis. 16 dias após,
sua irmã mais nova, Inês, também fugiu, unindo-se à irmã. A família Favarone
tentou, até com violência, retirar as filhas. Mas Clara se agarrou às toalhas
do altar, mostrou a cabeça raspada e impediu que a levassem. O mesmo destemor
mostrou quando o Papa Inocêncio III (1161-1216) não quis aprovar o seu voto de
pobreza absoluta. Lutou tanto até que o Papa enfim consentisse. Assim nasceu a
Ordem das Clarissas. Seu corpo intacto depois de 800 anos comprova, uma vez
mais, que o amor é mais forte que a morte". http://laurocampos.org.br. Essa narrativa,
supostamente, tem um cunho humanista passional, pois entende Francisco e Clara
envolvido numa emotividade que oblitera a espiritualidade de ambos. Parece que
o autor implicitamente quis dar esse enfoque, para acentuar o lado humano e
sentimental dos personagens. Uma abordagem corajosa, já que, quando falamos de
pessoas que deixaram pegadas por esse mundo como Jesus, por serem espirituais e
religiosas, tendo expressado uma profunda comunhão mística com o divino, os
"rotulamos" como pessoas perfeitas e incapazes de contagiarem-se com
qualquer sentimento "íntimo" de afetividade, que não seja relacionado
ao amor santo e absoluto proveniente de Deus. As palavras paixão e Eros,
pensadas pelo senso comum, são pejorativamente carregadas de preconceito.
Alguns até poderiam criticar o autor, quando aplica esses termos em relação aos
dois personagens citados. Mas convenhamos, sinceramente, que essas ideias
passam-se pela mente de qualquer mortal quando em proximidade de convivência
com o sexo oposto. A história demonstrou, porém, que o amor de Francisco por
Clara, era sublime e transcendente, pois o amor aos pobres e a fraternidade universal os uniu no propósito maior da propagação do evangelho ao mundo
europeu da Idade Média. Nada além desse amor supremo, os ligava tão fortemente,
ao ponto de fundirem suas almas em busca dos pobres perdidos e necessitados da
compaixão e misericórdia do Jesus pobre, o Salvador da humanidade. "Irmão
Sol. Giovanne de Pietro de Bernardone, mais conhecido como São Francisco de
Assis (1182-1226), foi um frade católico da Itália. Depois de uma juventude
irrequieta e boêmia, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza,
fundando a Ordem Mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos,
que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Com a habilidade da pregação
itinerante, quando os religiosos de sua época estavam mais ligados aos
mosteiros rurais, e com sua crença de que o evangelho devia ser seguido à
risca, imitando-se a vida de Cristo. Francisco desenvolveu uma profunda
identificação com os problemas do seu semelhante e com a humanidade do próprio
Cristo. Sua atitude foi original quando afirmou também a bondade e a maravilha
da criação, quando se dedicou aos mais pobres dos pobres, e quando amou todas
as criaturas (minerais, vegetais, animais e humanos) chamando-as de irmãos.
Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva da natureza e do homem,
impregnou a imaginação de toda a sociedade de sua época, sendo uma das forças primeiras
que levaram a formação da Filosofia da Renascença. Irmã Lua. No domingo de
Ramos de 1212, uma nobre senhora, chamada Clara de Favarone (hoje conhecida por
Santa Clara (1194-1253) ou Clara de Assis), foi procurar Francisco pra abraçar
a vida de pobreza. Alguns dias depois, Inês de Favarone (1198-1253), sua irmã,
segue o caminho. Surge a Fraternidade das Pobres Damas, uma das três ordens
ligadas a São Francisco". http://textoparareflexao.com.br.
Esse segundo texto, parece, mais centrado numa proposta condizente com a
experiência de São Francisco e Santa Clara. Aja vista, está baseado no filme
Irmão Sol Irmã Lua do cineasta italiano Franco Zeffirelli (1923- ), ele
constando hoje 92 anos, sendo a pelica uma de suas obras prima. O filme é
tocante, transparecendo em suas tomadas de cena a espiritualidade estampada em
cada fase do enredo. Nessa situação específica, o personagem principal,
Francisco, é enaltecido, pela amizade sincera e franca com Clara. As várias
biografias escritas de ambos, comprovam sua fé cristã e dedicação exclusiva à
causa do evangelho, principalmente, entre os mais pobres, fracos, doentes e
necessitados. Também dizem, esses biógrafos, que eles trocavam cartas, sendo
estas, enviadas secretamente para não suscitar má interpretações entre os
irmãos. Quando necessitavam de conversar assuntos importantes relacionados a
ordem religiosa, marcavam encontros, ora no convento onde Clara (mosteiro de
São Damião) estava servindo, enclausurada, ora onde Francisco se encontrava.
Clara era amiga "íntima" e confessora de Francisco, conservando essa
posição até a morte de seu irmão. O filme começa com Francisco em uma cama
tendo alucinações de guerra, e sua mãe o assistindo nessa situação, pois sendo
de família nobre os Bernardones, fora convocado para defender a santa igreja
católica nas cruzadas contra os curdos muçulmanos, que liderados por Saladino
(1138-1193) conquistara a cidade de Jerusalém. Após sua recuperação deste
incidente traumático, Francisco, tem uma experiência de encontrar alguns indigentes nas vielas da cidade
de Assis, causando-lhe uma forte impressão. Mas antes, percebe um pássaro na janela de seu quarto e seguindo-o
pelo telhado de sua casa, praticamente hipnotizado, quase cai daquela altura. Quando Francisco se converte
à Cristo, estando em uma missa por imposição de seu pai, olhando pro altar vê
os olhos do Cristo se abrirem, sendo que, em consequência dá um grito,
assustando os presentes que ouviam um cântico em latim. Por esse motivo a
homilia foi interrompida dispersando os fiéis. Esse evento da conversão, juntamente
com a experiência do contato com os pobres de Assis, desencadeou uma estranha
maneira de demonstrar sua alegria e contentamento, pois quando foi levado por seu
pai diante do bispo da cidade para ser disciplinado por sua atitude irreverente
e insubmissão desfazendo-se dos tecidos do genitor; despe-se de suas roupas, e,
estando nu, insolitamente percorre o centro da cidade da Assis, saindo pelo portão principal, à vista de
alguns transeuntes que presenciava a controvérsia levantada por seu pai. Assim, posterga a tutela de seu pai, iniciando sua vida cristã devota junto aos leprosos e
pobres, que usavam o casebre em ruínas (antiga igreja de São Damião) como moradia. Em nosso senso comum,
julgaríamos o fato de sua nudez como um pecado grosseiro, algo imoral e
escandaloso ante o convencionado padrão de comportamento vigente, que fere os bons costumes sociais. Mas esse evento, significava,
que Francisco a partir daquele instante, assumiria por toda sua vida um
compromisso, voto, de despojamento material e extrema pobreza, vivendo com os
pobres, como pobre e pelos pobres. Ele costumava dizer que sua esposa era a
pobreza. Outra cena interessante é quando Francisco as margens de um lago, em
contemplação, avista Clara vindo ao seu encontro por entre as margaridas, jasmins e begônias. Ela lhe diz que deseja entrar
para a vida cristã, monástica, entregando-se completamente a Cristo. Em outra
cena Francisco adentra num belo campo florido na periferia de Assis contatando
borboleta, lagarta, besouro; vê-se também cavalos, éguas e potro. Um coelho
surge dos arbustos, e Francisco toma uma pedra na mão e aprecia suas
particularidades. "Francisco fez muitas viagens pelo oriente, e segundo estudiosos conheceu o lado esotérico do Islamismo chamado de Sufismo, mas precisamente a Ordem dos Dervixe. Os pontos de coincidência entre a Ordem Franciscana e os Dervixe são muito. 1. Ambas as ordens pregam a ajuda ao próximo como fator de salvação. Um dos pilares do Islã é justamente a "esmola", erroneamente traduzida na sociedade capitalista como dar dinheiro. Entretanto, o sentido original desse pilar religioso diz respeito a ajudar ao próximo, não necessariamente financeira. Tanto os Franciscanos como os Sufis, inicialmente saíam as ruas, teorizando e praticando seus ensinamentos, isto é, pregando o evangelho e o Alcorão; ajudando os necessitados, curando, consolando, dando abrigo e comida, afinal, não há melhor maneira de praticar os ensinamentos de Deus do que com o próximo. Outro ponto interessante é a saudação franciscana: "Que a paz de Deus estava convosco". Segundo Francisco esta é a bênção que Deus lhe enviou, entretanto, a mesma bênção está presente no Islã com a famosa frase: "Sallam Aleikun", que também significa: Que a paz de Deus estava convosco. Do ponto de vista histórico esta é mais uma prova do contato de Francisco com os povos árabes, que o influenciaram não só na doutrina, mas também na ética e moral franciscana. Do ponto de vista filosófico isto mostra, que Deus se revelou tanto no cristianismo como no islamismo". http://www.oiluminador.blogspot.com.br. Junto com seus companheiros, Francisco, restaura a igrejinha que está em
ruínas. Quando Francisco se converte a Cristo, por ser da elite social da
cidade de Assis, seus antigos amigos lentamente se juntam a ele, desse modo,
criando um impasse político religioso. O orgulhoso e soberbo bispo de Assis, ao
receber a autoridade civil vinda de Roma diz que Francisco estava persuadindo
os jovens à um movimento separatista, mas o representante do governo insiste
que esse fato está sob a responsabilidade da igreja, cabendo a ela tratá-lo.
Assim numa atitude covarde, o bispo manda que a igrejinha (Porciúncula) seja
incendiada. Interessante que esse momento da assinatura do edito clerical, impressão em tinta do seu anel no documento oficial, para
frear as pretensões “dissidentes” de Francisco, este, junto com seu grupo e grande
multidão, comemoravam com uma festa, tendo os sacramentos como destaque, a
reabertura da igreja de São Damião, restaurada por eles. O que impressiona
nessa cena, é a simplicidade com que se celebra esse ato místico, pois no altar
dividindo a mesma posição do pão e vinho, haviam um cordeiro mansamente
agachado e vários patos grasnando, acompanhado a música cantada pelos presentes
na missa inaugural, em sua língua paterna; diferentemente do oficioso ritualismo litúrgico em latim celebrado à comunidade em Assis nas missas paroquianas. Em outro momento, enquanto Francisco e seus irmãos
juntamente com Clara atendiam os leprosos, doentes e necessitados de Assis; as
margens de uma cachoeira, o atentado se consumava. São avisados do ocorrido e
chegando encontram a igreja em chamas, e Francisco não entende tanto ódio
e maldade; a igreja que ele e a comunidade dos pobres restauraram com tanto amor e carinho agora parcialmente destruída. Ele entra em crise, e depois de orações e conversar com Clara,
resolve ir a Roma visitar o Papa Inocêncio III pra saber dele que posição tomar
quanto a essa questão. Nas ruas de Roma, ele e seu grupo parecem mais mendigos
e indigentes que pessoas comuns. Um de seus amigos que era aliado do bispo
arquiteta um plano, para que Francisco não encontre aquiescência do Papa em
suas pretensões quanto a Nova Ordem Religiosa que deseja iniciar. Assim, após
convencê-lo, lhe arranja audiência com o santo padre, mas com a condição, que
ele leia um texto em latim, declarando sua total e absoluta obediência a
igreja. Quando Francisco e seus companheiros entram na igreja de São Pedro, no
Vaticano, é notório o contraste da extrema pobreza dos mendicantes, com suas
vestes esfarrapadas e o clero romano em sua opulência, riqueza e soberba. De
joelhos Francisco começa a ler o texto, mas repentinamente, muda sua orientação
recitando partes das sagradas escrituras em Mateus 6:19-26 “Não ajunteis
tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões
minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem
consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso
tesouro, ai estará também o vosso coração. (...). Ninguém pode servir a dois
senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e
desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. Pois isso vos digo: Não
andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que
haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a
vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as
aves do céu, que nem semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai
celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?”, que
dizem respeito ao desapego ao materialismo, vivendo em modéstia e singeleza,
confiando apenas no suprimento dado por Deus. De início Sua Santidade ouve,
juntamente com seus cardeais e bispos auxiliares surdamente; alguns até falando
que isso era um insulto contra o papa e a santa igreja. Quem é esse, para nos
ensinar o evangelho? Mas quando é ordenado que Francisco e seus irmãos sejam
presos; em êxtase, o Papa reconhece que cometeu um erro “pecado” contra alguém,
que de forma simples e extraordinariamente condizente com o evangelho,
procurava viver a vida cristã; e ele e seu séquito esbanjando conforto e
ostentação. Desse modo, arrepende-se e imediatamente manda chamar Francisco.
Quando este chega e novamente ajoelha-se diante do trono do Sumo Pontífice,
Inocêncio III desce e percorrendo as escadarias aproximasse de Francisco. Os
dois em pé conversam sobre o porque da vinda deles, e num gesto imprevisível, o Papa ajoelhasse e humildemente
beija os pés de Francisco. Ao final despede-se do grupo, abençoando-os à
prosseguirem em sua missão de propagar o evangelho conforme a orientação que
receberam de Jesus, e aprova as pretensões de Francisco quanto ao estabelecimento da Nova Ordem Religiosa. Também, depois de convertido ao cristianismo, Francisco, discutia com
seu pai, pois como de família abastada (muitas posses), eram mercadores de tecidos e
comerciantes, e agora Francisco queria dividir sua fortuna com os pobres de
Assis; coisa que seu pai não admitia de forma nenhuma. Mas ele, aproveitando a
ausência temporária do pai, que estava em viagem a negócios, joga pela janela
de sua casa grande quantidade de tecidos aos pobres. Quando seu pai chega,
sabendo do ocorrido, o castiga e o expulsa de sua casa. Francisco em nenhum
momento de sua vida segundo seus biógrafos, criticou a autoridade da igreja,
sendo sua submissão incondicional aos superiores eclesiásticos até o fim.
Algumas das regras dos Franciscanos, como voto, incluíam a pobreza extrema, a
castidade, os jejuns regulares e a obediência ao evangelho particularizado na
vida de Jesus. Francisco foi um místico cristão, pois sua experiência de
meditação e contemplação levaram-no à numinosidade (estado de vivência que o indivíduo possui acerca de questões sobrenaturais, transcendentes ou de divindades,
comportando-se e sendo influenciado por elas) espiritual e contemplativa.
Também frequentemente conversava com animais, pássaros, plantas, árvores e
ouvia sons vindo dos ventos trazendo presságios bons ou ruins. Em algumas
ocasiões, interpretava ruídos das rochas ou montanhas. Costumava fazer leitura
"criptográfica" nos espelhos d'água, e espantosamente, dialogando com
seus irmãos, de repente desaparecia, sendo visto noutro lugar diferente. Muitos desses "poderes" taumaturgos Francisco aprenderá com a tradição Islã do Sufismo. As
chagas (feridas) de Francisco encontradas em seu corpo após sua morte; bem
parecidas com aquelas feita em Jesus em seu calvário, desde o julgamento
religioso pelos judeus (sumo sacerdotes), e o político pelo governo romano
(Pôncio Pilatos), onde fora chicoteado e espancado. Essas marcas foram
imprimidas com sangue, conforme a tradição da igreja, quando Jesus, ao ser
sepultado por Nicodemos e José de Arimatéia, envolveram seu corpo em um lençol,
provavelmente branco, que depois de sua ressurreição ficou no sepulcro. Marcos 15:46 "E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José de Arimatéia. O qual comprará um lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num sepulcro lavrado numa rocha; e revolveu uma pedra para a porta do sepulcro". Esse
tecido acabou sendo conhecido como o manto sagrado ou sudário de Turim,
guardado na Catedral de Turim - Itália, desde o século XIV. Assim, também, o
corpo de Francisco tinha marcas semelhantes com as estampadas no "manto
sagrado". Evidentemente o assunto é discutível até hoje, não havendo um
posicionamento científico da veracidade quando ao fato do "manto
sagrado" de Jesus, e de igual modo, as chagas encontradas no corpo de
Francisco. Mas a igreja em ambos os casos, assevera por crença e fé a
verossimilhança desses eventos. Santa Clara, também, em sua vida religiosa foi
uma mística dedicando-se a oração, e a obras de caridade. Participou ativamente
do emergente Movimento Franciscano em sua versão feminina, cooperando, para que
o evangelho livre e compromissado com a vida de Jesus, alcançasse todas as
regiões da Europa e outros continentes. "O seu primeiro milagre em vida
demonstra sua grande fé. Conta-se que uma das irmãs da sua congregação saíra
para pedir esmolas para os pobres que iam ao mosteiro. Como não conseguiu quase
nada voltou desanimada e foi consolada por Santa Clara que lhe disse: confia em
Deus. Quando a santa se afastou, a outra freira foi pegar no embrulho que
trouxera, e não conseguiu levantá-lo, pois tudo havia se multiplicado. Em outra
ocasião quando da invasão da cidade de Assis pelos Sarracenos, no ano de 1240,
Santa Clara apanhou o ostensório com a hóstia consagrada e enfrentou o chefe
deles, dizendo que Jesus Cristo era mais forte que eles. Os agressores, tomados
de repente por inexplicável pânico, fugiram. Por este milagre Santa Clara é
representada segurando o ostensório na mão". Fonte Wikipédia. A
Basílica de Santa Clara, na cidade de Assis - Itália, é um belíssimo santuário
católico, que os amigos do Mosaico, principalmente europeus, que tiverem
oportunidade de conhecer, ficarão vislumbrados. Há uma forte energia positiva
no recinto, e um sentimento profundo de amor à Deus e ao próximo nos perpassa
ao olhar cada imagem, pintura e expressão religiosas e artística do
Renascimento. O túmulo de São Francisco dentro da cripta, causa-nos uma forte impressão;
motivando-nos a uma vocação e devoção íntima ao nosso Deus e Pai. O corpo de
Santa Clara continua intacto, conforme Frei Vitório Mazzuco Filho, OFM
(1953- ). "Em 11 de agosto de 1253, Santa Clara entra na
glória eterna; já no dia seguinte seu corpo é levado para a igreja de São Jorge
onde também repousa Francisco. No dia 3 de outubro de 1260, o corpo é exumado e
colocado na Basílica de Santa Clara; ali permanece perto do altar com uma
simples inscrição: "Aqui jaz o corpo da Virgem Santa Clara",
protegido pelo brilho de uma lâmpada e as preces silenciosas de suas filhas que
guardaram este fato no segredo de seus corações. Um relicário de vidro protege
os ossos de Santa Clara. A lateral esquerda deste "corpo" encontra-se
aberta. Assim, apenas as Irmãs Clarissas vêm, de dentro da clausura, os ossos
da santa. Ao chegarmos a Assis e orarmos, rezarmos, diante de Clara devemos
lembrar que uma vida como a dela é sempre fecunda, nunca se decompõe. Num
coração aberto para o Absoluto, Deus sempre deposita a sua Beleza. Diante de
seu corpo temos que ter o desejo de rezar, orar. É preciso sempre desejar o
espírito! Orar é abrir os olhos, abrir nossas faculdades humanas e todo o nosso
ser e deixar que Deus se estabeleça ai. Rezar é ver e auscultar, perceber que o
espírito sempre trabalha na imagem. Diante do corpo de Clara, é preciso
redescobrir a espiritualidade da ternura, da pequenez, da pobreza. Clara,
mulher e santa, não é um aprendizado intelectual, mas um conhecimento afetivo.
Por que Clara é bela? Porque o Espírito imprime sempre no corpo a sua forma. O
Amor pelo Esposo tomou forma em seu corpo! Após 750 anos, cuidou-se muito dos
restos mortais de Clara para não se deixar lembrar a sua forma de vida, modo
como ela "eternizou-se" no tempo". No fim de 1224, com quarenta
e dois anos, Francisco estava muito doente. Sofria de malária, não conseguindo
comer, e o pior, além de não enxergar quase nada, nem aguentava a luz do sol ou
do fogo em seus olhos. O cardeal Hugolino, que se tornou o Papa Gregório IX (1170-1241) sendo era seu amigo, estava sempre
procurando algum médico melhor para ele. Nessa ocasião, mandou dizer que tinha
encontrado um bom doutor em Sena, onde estavam o papa e seus cardeais.
Francisco aceitou o convite e quis ir pra lá. Mas foi primeiro a São Damião,
despedir-se de Clara. Chegou lá tão mal que Clara e os frades que o
acompanhavam decidiram que ele não podia viajar. Ainda mais com aquele inverno
pesado, com todas as estradas cobertas de neve. Clara mandou fazer uma
cabaninha para ele, junto da casa dos frades que ajudavam em São Damião. Foi um
dos tempos piores de sua vida, apesar do carinho de Clara, das irmãs e dos
frades. Ele estava doente no corpo e na alma. Um desânimo enorme o abatia profundamente. Lembrava que muitas coisas não estavam indo bem no meio da multidão dos
seus irmãos e pensava que tinha feito muitas coisas erradas na vida. Uma
certeza cruel esmagava-o dia e noite; ele tinha perdido a vida e ainda iria
para o inferno. Para completar, o lugar estava cheio de ratos, que ficavam a
noite inteira andando por cima dele. Francisco sempre foi humano como nós, passando por tristeza, desilusão, inconformismo, rejeição, mas desfrutou grandes momentos de paz, alegria, gozo, contentamento. De acordo com o seu desejo, morreu deitado
na terra. Foi então que as multidões começaram a chegar e se deram conta de que
aquele homem só podia ser extraordinário: tinha até as chagas de Jesus
crucificado. A vida de Francisco e Clara é emocionante e comovente, como
vimos sucintamente, desde o primeiro momento em que se encontraram, pois
cultivaram entre si uma amizade pura, sincera, franca e espiritual. Francisco
sofreu muito nos anos que antecederam sua morte, mas a amiga e irmã Clara nunca
o abandonou, assistindo-o em suas dores físicas e distúrbios psicológicas. Também ouvia
pacientemente suas confissões, ajudando-o em suas crises, intercedendo por ele
em oração ao Eterno Pai. Finalmente, depois de muita agonia e dor, Clara foi
chamada à reconhecer, na Porciúncula, que seu grande amigo Francisco havia
partido para estar com Cristo na eternidade. Abraço. Davi.
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