quinta-feira, 7 de maio de 2015

Bhagavad Gita. O Conhecimento nos conduz ao Caminho da Liberdade Espiritual.



Neste segundo capítulo do Bhagavad Gita se ensina como se pode, por meio da meditação filosófica, obter a verdadeira concepção do Universo, isto é, o conhecimento da nulidade e instabilidade de todas as formas que existem no mundo dos fenômenos, em contraste com o Ser Eterno, e como este conhecimento nos conduz ao caminho da liberdade espiritual e da imortalidade. "A consequência de tal corrupção é o aniquilamento dos destruidores da raça e dos direitos eternos da família. Os homens que destroem a religião da família, vão para o inferno. Assim nos ensinam os nossos livros sagrados. Ai de mim! Ai de nós, que nos estamos preparando para cometer o horrível crime de matar os próprios parentes e consanguíneos pela bagatela de obter o domínio pelo desejo do poder! Eu preferiria entregar o meu peito descoberto às armas dos Kurus, e deixá-los beber o sangue do meu coração. Eu preferiria esperar a sua chegada, desarmado, e receber deles o golpe mortal, sem me defender. De certo, isto seria melhor para mim do que cometer esse horrível crime! Ai de mim! Ai! de nós todos! Assim clamando, sentou-se Arjuna no banco do carro e deixou cair o arco e as flechas da sua mão, todo entregue à aflição e ao desespero que lhe consumiam o coração. Continuou Sanjaya a contar: Krishna, cheio de amor, piedade e compaixão, disse a Arjuna, vendo a sua pungente tristeza e as lágrimas nos seus olhos: Donde te vem, ó Arjuna, essa pusilanimidade (covardia, frouxidão)? Esta fraqueza, indigna de um homem, faz-te infeliz, pois te fecha as portas do céu (1).  (1). O homem que está cheio de medo e dúvidas afasta-se por si mesmo do céu da bem aventurança, que é próprio à alma que conhece a verdade. Não te entregue a ela; sacode de ti essa cisma desprezível; levanta-te resoluto e bravo, Seis vencedor de inimigos Um. Respondeu Arjuna: OH! meu caríssimo. Como posso eu atacar e combater a Bishma e Drona, quando a ambos respeito e estimo?! Seria melhor, para mim, comer o pão seco e sem sabor de mendigo, do que ser o instrumento de morte a estes nobres e respeitáveis homens, que eram meus preceptores e mestres! É verdade que eles são ávidos dos meus bens; mas como poderia eu gozar a riqueza e o poder, sobre os quais há manchas de sangue dos meus queridos?! Não posso dizer se Seis melhor que nós os vençamos ou que eles nos vençam a nós. Mas sei que eu visse morrer os meus parentes e amigos, os filhos do rei Dhritarashtra e o povo de Kuru. Compaixão e ânsia comprimem o meu coração, e a minha mente vacila diante do problema que se lhe apresenta. Não sei o que devo fazer. Dissipa tu, ó Krishna, estas dúvidas; dize-me, qual é o meu dever. Eu sou teu discípulo; prostrado perante Ti, peço que dês as instruções de que careço. Tão confuso está o meu entendimento, que não posso descobrir nada que acalme a febre da minha mente; o meu interior está em fogo que seca as minhas faculdades. Ainda que eu ganhasse um reino como  o sol excede às estrelas, ou conseguisse o poder dos deuses e o domínio sobre os exércitos celestes, minha aflição não diminuiria. Não, eu não quero combater. Continua Sanjaya: Depois de ter falado assim ao Senhor da Criação, Arjuna caiu em silêncio. Então Krishna, sorrindo ternamente, dirigiu ao desanimado as seguintes palavras, achando-se ambos no meio do espaço entre os dois exércitos: Palavras do Verbo Divino (2). Sem necessidade te entristeces e afliges; contudo, as tuas palavras tem grãos de verdade. Elas exprimem a sabedoria do mundo interior (esotérica), mas não satisfazem à mente interior; são, pois, apenas a expressão de uma parte da verdade. Os sábios não se entristecem nem por causa dos vivos em por causa dos mortos. (2). Krishna é o representante do Verbo Divino ou Logos o Christo em nós. Sabe, Oh! príncipe de Pându, que nunca houve tempo em que não existíssemos eu ou tu, ou qualquer destes príncipes  da terra; igualmente, nunca virá tempo em que algum de nós deixe de existir. (3).  (3). O que no homem é divino, o seu Ser Verdadeiro, é Eterno (0). (0) Observe o que é dito em Eclesiastes 3;11 “Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade; contudo, o ser humano não consegue perceber completamente o que Deus realizou”. Não nasce nem morre, e forma a sua individualidade, que aparece periodicamente, vestida de corpo material, mas é independente dele. Assim como a alma, vestindo este corpo material, passa pelos estados de infância, mocidade, virilidade e velhice, assim, no tempo devido, ela passa a um outro corpo, e em outras encarnações, viverá outra vez. Os que possuem a sabedoria da doutrina esotérica (interior), sabem isto é, não se deixam influenciar pelas mudanças a que está sujeito este mundo exterior. Os sentidos dão-te, pelas apropriadas faculdades mentais, o sentimento do calor e do frio, do prazer e da dor. mas estas mudanças vêm e vão, porque pertencem ao temporário, impermanente, inconstante. Suporta-as com equanimidade (temperamento ou ânimo que não se altera em qualquer situação), valentia e paciência, Oh! príncipe! O homem que não se deixa mais atormentar por essas coisas, que se conserva firme e inabalável no meio do prazer e da dor, que possui a verdadeira igualdade de ânimo; esse, crê-me, (em Krishna) entrou no caminho que conduz à imortalidade. Aquilo que é irreal, ilusório, não tem em si o Ser Real, não existe na realidade, e sim só na ilusão; e aquilo que é o Ser Real, nunca cessa de Ser, nunca pode deixar de existir, apesar de todas as aparências contrárias. Os sábios, Oh! Arjuna, fizeram pesquisas relativas a isto e descobriram a verdadeira Essência e o sentido interior das coisas. (4).  (4). Só aquele Ser, no homem que é penetrado pela Verdade, pode conhecê-la, porque a Verdade é a sua essência e conhece-se, no homem, a si mesma. Sabe que o Ser Absoluto, de que todo o Universo tem o seu princípio, está em tudo, e é indestrutível. Ninguém pode causar a destruição desse Imperecível. (5).  (5). O corpo é o instrumento do espírito, é a sombra incorporizada, em que a Luz se esforça por manifestar-se. Estes corpos caducos, que servem como envoltório para as almas que os ocupam, são coisas finitas, coisas do momento, e não são o verdadeiro homem real. Eles perecem, como todas as coisas finitas; deixa-os perecer, Oh! príncipe de Pandu, e, sabendo isto, prepara-te para o combate. Aquele que pensa, em sua ignorância: Eu mato ou Eu serei morto, procede como criança que não tem conhecimento da verdade, porque o que É na realidade, é eterno, e o Eterno não pode matar nem ser morto. Conhece esta verdade, Oh! príncipe! O Homem Real, isto é, o Espírito do homem, não nasce nem morre. Inato, imortal, perpétuo e eterno, sempre existiu e sempre existirá. O corpo pode morrer ou ser morto e destruído; porém, aquele que ocupou o corpo, permanece depois da morte deste. (6).   (6). O Espírito é a vida mesma; isto é, a Vida Eterna, de que a vida exterior, corporal, é só um reflexo, uma manifestação de ordem inferior. Quem conhece a verdade de que o Homem Real é eterno, indestrutível, superior ao tempo, à mudança e aos acidentes, não pode cometer a estultice (tolice) de pensar que pode matar ou ser morto. Como a gente tira do corpo as roupas usadas e as substitui por novas e melhores, assim também o habitante do corpo (que é o Espírito). tendo abandonado a velha morada mortal, entra em outra, nova e recém preparada para ele. (7).  (7). A reencarnação é uma lei universal em toda a natureza. O espírito do homem desencarnado volta, depois de um tempo de descanso, a ocupar um novo corpo, formando assim nova pessoa. Enquanto a alma não tem conhecimento espiritual de si mesma este processo é inconsciente. Em sua essência, é invisível, inconcebível, incognoscível (8). Sabendo isto, não te entregues à aflição pueril (infantil)!  (8). Isto é, para o intelecto exterior, mas é cognoscível (que se consegue conhecer) para a percepção interior de homem espiritualmente iluminado. Se, porém, não o crês, e pensas que nascimento e morte são reais, mesmo assim te pergunto: porque te lamentas e entristeces? Pois, em verdade, a morte deriva do nascimento, e o nascimento demanda (exigir) da morte. Não te aflijas, pois, pelo inevitável. Aqueles que carecem da Sabedoria Interior, ignoram de onde vimos e para onde vamos; conhecem só aquilo que é transitório. No Ser Eterno, todas as coisas são compreendidas no estado invisível; depois se fazem visíveis, e na morte tornam a ser invisíveis. Por que então, lamentar? Quanto à alma, o Homem Real, Espírito ou Ser Eterno, alguns o tomam por  coisa maravilhosa; outros ouvem falar e falam dele como de uma maravilha, com incredulidade e sem compreensão. Mas a mente mortal não compreende esse mistério, nem o conhece em sua natureza verdadeira e essencial, apesar de tudo o que foi dito, ensinado e pensado a seu respeito (9).  (9). Só pode compreender o Ser Eterno, quem o realizou em si mesmo. O Espírito, esse Homem Real que habita o corpo, é invulnerável e indestrutível: é a vida mesma. Não há, pois, motivo para te abandonares à aflição e tristeza. Deves estar atento ao teu dever. Tu, que és um príncipe da casa dos guerreiros, tens por dever combater com resolução e heroísmo. O dever de um soldado é combater, e combater bem. O combate justo honra o guerreiro e abre-lhe a porta do céu. Se desistires da legítima luta pela verdade e pelo direito, cometerás um grande crime contra a tua honra, contra o teu dever e contra o teu povo. Os homens de perto e de longe falarão de ti com desprezo, classificando de vergonhoso o teu proceder; e a vergonha e a desonra são piores do que a morte para quem é de nobre nascimento. Todos os generais pensarão que foi por medo que fugistes do campo de batalha, e te tratarão como covarde; e aqueles que até agora te estimam, desprezar-te-ão. Os teus inimigos espalharão má fama a teu respeito; com burla e com desdém falarão de ti e de tua falta de coragem. Poderia acontecer-te coisa pior?". Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Tradução Francisco Valdomiro Lorenzo. Editora Pensamento. São Paulo - Brasil. Abraço. Davi.

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