sábado, 30 de dezembro de 2023

O DILÚVIO UNIVERSAL

 

Editor do Mosaico. Que Alá, Deus, Krishna, Muhammad, Mashiache, Brahma, Cristo, Zoroastro, Buda, Shakti, Confúcio. A Santíssima Imaculada Virgem Maria e demais avatares de todas as espiritualidades vos abençoe. Dispensando seu amor, graça e misericórdia nesse final de 2023. Que o ano de 2024 seja marcado pela proteção dos anjos da guarda, enviados por essas divindades mencionadas. Dando a todos sabedorias e coração fraterno para amarmos todos os nossos irmãos dos variados lugares deste planeta terra. Componentes dessa morada que Deus nos deu para vivermos em harmonia, tolerância e respeito. Até o próximo ano. Feliz 2024. Abraço a todos os leitores dessa página. 

 

www.adalbernardes.blogspot.com. Postado por Adalberto Bernardes. O DILÚVIO UNIVERSAL. Os "antropologistas" dizem que há mais de 270 narrativas do dilúvio em povos e culturas diferentes do mundo, e todas elas, coincidentemente, são no início destas civilizações. Mas não é somente no Oriente Médio - leste do mar Mediterrâneo ao golfo Pérsico - onde ficou persistente um dilúvio que assolou a terra. Com a exclusão das culturas africanas, exceto naturalmente a egípcia, que não costumam referir se ao dilúvio. Todas as demais têm constância de que num dado momento de sua história a água supôs um cataclismo que arrasou o planeta e com ele toda a humanidade. Das quatro vezes que segundo o calendário asteca - continente americano - terminou o mundo, uma foi por causa da água. Os índios americanos, os poucos que restam, pensam que o mundo fica velho e vai se gastando paulatinamente, até que as cordas que o sustentam são rompidas e se afunda irremissivelmente no oceano que o rodeia, de onde voltará a surgir jovem e pujante. Para a civilização Ocidental, a história mais conhecida a respeito do dilúvio é a da Arca de Noé, segundo a tradição judaico-cristã. O Dilúvio também é descrito em fontes americanas, asiáticas, sumérias, assírias, armênias, egípcias, persas, gregas e outras, de forma basicamente semelhante ao episódio bíblico. Todavia algumas civilizações se relata sobre inundações em vez de chuvas torrenciais. Uma divindade decide limpar a Terra de uma humanidade corrupta, ou imperfeita, e escolhe um homem bom aos seus olhos para construir uma arca para abrigar sua criação enquanto durasse a inundação. Na mitologia judaica, Jeová - Deus estava disposto a acabar com toda a humanidade, mas Noé foi agraciado por Ele, pois era um varão temente a seu Deus e não se deixou corromper. Após um certo período, a água baixa, a arca fica encalhada numa montanha - Ararat - região da Anatólia, Turquia. Os animais repovoam o planeta e os descendentes de Noé geram todos os povos do mundo. Dilúvio Hebraico. Segundo a Bíblia, Noé, seguindo as instruções divinas, constrói uma arca para a preservação da vida na Terra, na qual abriga um casal de cada espécie animal, bem como a ele e sua família. Enquanto Deus, exercendo julgamento sobre os anti-diluvianos (povo de ações perversas), inundava toda a Terra com uma chuva que duraria quarenta dias e quarenta noites. Após alguns meses, quando as águas começaram a baixar, Noé enviou uma pomba, que lhe trouxe uma folha de oliveira. A partir daí, os descendentes de Noé teriam repovoado a Terra, dando origem a todos os povos conhecidos. Na esfera cultural hebraica primitiva, o evento do Dilúvio contribuiu para o estabelecimento de uma identidade étnica entre os diferentes povos semíticos (todos descendentes de Sem, filho de Noé). Bem como sua distinção dos outros povos ao seu redor (cananeus, descendentes de Canaã, neto de Noé, núbios ou cuxitas, descendentes de Cuxe, outro neto de Noé, etc.). No Antigo Testamento, Noé amaldiçoa Canaã e abençoa Sem, o que serviria mais tarde como uma das justificativas para a invasão e conquista da terra dos cananeus pelas Tribos de IsraelApós o período diluviano, procura-se até os dias de hoje os restos da Arca, que segundo alguns historiadores realmente encontra-se no Monte Ararat. Mas não existe como precisar a localização, já que a região é bem acidentada e vasta. Dilúvio Sumério. O mito sumério de Gilgamesh conta os feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh. Que parte em uma jornada de aventuras em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas pessoas imortais: Utanapistim e sua esposa, estes contam à Gilgamesh como conquistaram tal sorte, esta é a história do dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade ao sobreviver ao dilúvio que consumiu a raça humana. Na tradição suméria, o homem foi dizimado por incomodar aos deuses. Segundo este mito, o deus Ea, por meio de um sonho, apareceu a Utanapistim e lhe revelou as pretensões dos deuses de exterminar os humanos através de um dilúvio. Ea pede a Utanapistim que renuncie aos bens materiais e conserve o coração puro. Utanapistim, então, reúne sua família e constrói a embarcação que lhe foi ordenada por Ea. Estes ficam por sete dias debaixo do dilúvio que consome com os humanos. Aqui um trecho de tal história: "Eu percebi que havia grande silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da janela chorei, pois as águas haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por terra, somente consegui descobrir uma montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos e ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma pomba, que voou para longe, não encontrando local para pouso retornou (…). Então soltei um corvo, este voou para longe encontrou alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992). Dilúvio Hindu. Nas escrituras védicas da Índia encontramos um rei chamado Svayambhuva Manu, que foi avisado sobre o dilúvio por uma encarnação de Vishnu (Matsya Avatar). Matsya arrastou o barco de Manu e lhe salvou da destruição. Este aviso veio através de um peixe, que foi poupado da morte, que advertiu que se avizinhava um dilúvio de grandes proporções que destruiria a raça humana. Manu construiu uma nave e arrastou-a até o ponto mais alto, e foi assim que ele salvou-se da grande tragédia. Dessa forma ele, fez um sacrifício aos deuses, usando azeite e nata azeda, sobre as águas, de onde da mesma emergiu uma mulher conhecida pelo nome de Filha de Manu, com o qual se uniu e deu início à nova geração da raça humana. Dilúvio Grego. A mitologia grega relata a história de um grande dilúvio produzido por Poseidon, que por ordem de Zeus havia decidido pôr fim à existência humana, uma vez que estes haviam aceitado o fogo roubado por Prometeu do Monte Olimpo. Deucalião e sua esposa Pirra foram os únicos sobreviventes. Prometeu disse a seu filho Deucalião que construísse uma arca e nela introduzisse um casal de cada animal, de forma análoga à Arca de Noé. Assim estes sobreviveram. Ao terminar o dilúvio, a arca de Deucalião pousou sobre o Monte Parnaso, onde estava o Oráculo de Temis. Deucalião e Pirra entraram no templo, para que o oráculo lhes dissesse o que deviam fazer para voltar a povoar a Terra, e a deusa somente lhes disse:"Voltem aos ossos de suas mães" Deucalião e sua mulher adivinharam que o oráculo se referia às rochas. Destas formas, as pedras tocadas por Deucalião se converteram em homens, e as tocadas por Pirra em ninfas ou deusas menores, por que ainda não se havia criado a mulher. Dilúvio Mapuche. Nas tradições do povo Mapuche igualmente existe uma lenda sobre uma inundação do lugar deste povo (ou do planeta). A lenda se refere à história das serpentes, chamadas Tentem Vilu e Caicai Vilu. Dilúvio Pascuense. A tradição do povo da Ilha de Páscoa diz que seus ancestrais chegaram à ilha escapando da inundação de um mítico continente, ou ilha, chamado Hiva. Dilúvio Maia. A mitologia do povo maia relata a existência de um dilúvio enviado pelo deus Huracán. Segundo o Popol Vuh, livro que reúne relatos históricos e mitológicos do grupo étnico maia-quiché, os deuses, após terminarem a criação do mundo, da natureza e dos seres vivos, decidiram criar seres capazes de lhes exaltar e servir. São criados então os primeiros seres humanos, moldados em barro. Porém, esses seres de barro não eram resistentes ao clima e à chuva e logo se desfizeram em lama. Então, os deuses criaram o segundo tipo de seres humanos, à partir de madeira. Essa segunda humanidade, ao contrário da primeira, prosperou e rapidamente se multiplicou em muitos povos e cidades. Tudo indica que é nessa época da segunda humanidade que se passam as aventuras dos gêmeos heróis Hunahpú e Ixbalanqué contra os senhores de Xibalba. Mas esses seres feitos de madeira não agradaram aos deuses. Eles eram secos, não temiam aos deuses e não tinham sangue. Se tornaram arrogantes e não praticavam sacrifícios aos seus criadores. Então, os deuses decidem exterminar essa segunda humanidade através de um dilúvio. Ao contrário da maioria dos outros relatos conhecidos sobre dilúvios, nenhum indivíduo foi poupado. Após a catástrofe, a matéria prima utilizada para moldar os novos seres humanos foi o milho. Foram criados quatro casais, que são considerados os oito primeiros índios quiché. Eles deram origem às três famílias fundadoras da Guatemala, pois um dos casais não deixou descendência. Dilúvio Asteca. No manuscrito asteca denominado como Código borgia, há a história do mundo dividido em idades, das quais a última terminou com um grande dilúvio produzido pela deusa Chalchitlicue. Dilúvio Inca. Na mitologia dos incas, Viracocha destruiu os gigantes com uma grande inundação, e duas pessoas repovoaram a Terra, Manco Capac e Mama Ocllo mais dois irmãos que sobreviveram. A religião é um forte elo de ligação entre as várias culturas andinas, sejam elas pré-incaicas ou incas. A imposição do Deus Sol é um forte elemento da crença e dominação através do mental, ou seja, daquilo que permanece impregnado por gerações nas concepções e mentalidades destas culturas, adorando o Deus imposto e entendendo ser ele o mais importante. Pedro Sarmiento de Gamboa, cronista espanhol do século XVI, relata como os Incas narravam sua criação e as lendas que eram passadas através da oralidade de geração em geração. Desde o surgimento de Viracocha e seus ensinamentos, procurando definir um homem que o venerasse e fosse pregador de seus conhecimentos. Em algumas tentativas de criar este homem, Viracocha acaba punindo-o com um grande dilúvio pela não obediência como comenta Gamboa (2001). Mas como entre ellos naciesen vicios de soberbia y codicia, traspasaron el precepto del Viracocha Pachayachachi ,que cayendo por esta trasgresión en la indignación suya, los confundió y maldijo. Y luego fueron unos convertidos en piedras y otros en formas, a otros trago la tierra y otros el mar,y sobre todo les envió un diluvio general, al cual llaman uñu pachacuti , que quiere decir “agua que trastornó la tierra”. Y dicen que llovió sesenta días y sesenta noches, y que se anegó todo lo creado, y que solo quedaron algunas señales de los que se convierteron en piedras para memoria del hecho y para ejemplo a los venideros en los edificios de pucara que es sesenta leguas del Cuzco. (p. 40). A narração do dilúvio está presente entre muitos povos e culturas por todo o mundo. O início de tudo, ou seja, a criação, é um fator muito importante para estabelecer relações e explicações sobre o que não se conhece e o que não foi vivido. Assim, os mitos e lendas buscam criar uma ancestralidade, um ponto em comum que defina a origem e o começo do cosmos e tudo existente nele. Ou seja, o conhecer de si mesmo, do próprio homem inserido na natureza, buscando sua sobrevivência e continuidade de sua existência e a harmonia com os elementos naturais e sobrenaturais. Dilúvio Uro. O povo uro (ou uru), que habita próximo ao Lago Titicaca - Peru e Bolívia, crê numa lenda que diz que depois do dilúvio universal, foi neste lago onde se viram os primeiros raios do Sol. Dilúvio Chinês. Porém onde nos encontramos com uma figura sugestivamente paralela à de nosso bíblico Noé, é na China. Onde a água sempre esteve em estreita relação com o nascimento da terra e o gênero humano. Foi o grande herói YÜ, o domador das águas, quem conseguiu que estas se retirassem para ornar, logrando assim que as terras ficassem aptas para o cultivo, contribuindo ao engrandecimento da população. Dos distintos relatos do dilúvio temos o de Fah-le, ocasionado pelo crescimento dos rios ao redor de 2.300 AC. Mas a tradição mais extensa é a que tem a Nu-wah como protagonista, que se salvou junto com sua mulher, seus três filhos e as esposas destes. Em uma nave construída para eles e para dar capacidade e salvamento a um par de cada espécie animal que habitava a terra. Tão arraigada está a lenda de Nu-wah que hoje em dia é escrita a palavra "nave" em chinês, representada por uma barca com oito bocas dentro, aludindo aos oito navegantes que foram salvos da catástrofe. Também o Gênesis diz que Noé foi salvo juntamente com outras sete pessoas. O DESAPARECIMENTO DE ATLÂNTIDA. Alguns alegam que o Dilúvio foi a causa do desaparecimento de um grande continente que foi engolido pelas águas. No caso nos vem a mente Atlântida, outros referem-se a Lemúria (Império Mu), que é anterior aos atlantes. De qualquer forma parece que todos os povos falam da fatalidade da humanidade com o elemento água. www.adalbernardes.blogspot.com. Abraço. Davi

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

O QUE É O BUDISMO

 

Livro O Budismo Moderno – O Caminho de Compaixão e Sabedoria. Por Geshe Kelsang Gyatso. O QUE É O BUDISMO? Budismo é a prática dos ensinamentos de Buda, também denominados “Dharma”, palavra que significa “proteção”. Praticando os ensinamentos de Buda, os seres vivos ficam permanentemente protegidos do sofrimento. O fundador do Budismo é Buda Shakyamuni, que, em 589 a.C., em Bodh Gaya, na Índia, mostrou como alcançar a meta suprema dos seres vivos, a conquista da iluminação. Por solicitação dos deuses Brahma e Indra, Buda começou, então, a expor seus profundos ensinamentos, ou seja, “girou a Roda do Dharma”. Buda deu 84 mil ensinamentos, e, a partir desses preciosos ensinamentos, o Budismo se desenvolveu neste mundo. Podemos ver, atualmente, muitos tipos diferentes de Budismo, como o Budismo Zen e o Theravada. Esses diferentes aspectos são, todos eles, práticas dos ensinamentos de Buda, e todos são igualmente preciosos: eles são apenas apresentações diferentes. Neste livro, explicarei o Budismo de acordo com a Tradição Kadampa, que eu tenho estudado e praticado. Esta explicação não é dada com o objetivo de um entendimento intelectual, mas para que se obtenham profundas realizações através das quais possamos solucionar os nossos problemas diários das delusões e realizar o verdadeiro sentido de nossa vida humana. Há dois estágios na prática dos ensinamentos de Buda: as práticas de Sutra e as de Tantra, ambas explicadas neste livro. Embora as instruções aqui apresentadas venham de Buda Shakyamuni e de mestres budistas como Atisha, Je Tsongkhapa e de nossos professores atuais, este livro é intitulado Budismo Moderno porque sua apresentação do Dharma foi concebida especialmente para as pessoas do mundo moderno. A minha intenção ao escrever este livro é dar ao leitor um forte encorajamento para que desenvolva e mantenha compaixão e sabedoria. Se cada um praticar sinceramente o caminho da compaixão e da sabedoria, todos os seus problemas serão solucionados e nunca mais voltarão a surgir. Isto, eu posso garantir. Precisamos praticar os ensinamentos de Buda porque não existe nenhum outro método verdadeiro para solucionar os problemas humanos. A tecnologia moderna, por exemplo, não pode ser considerada um método autêntico para solucionar os problemas humanos pelo fato de ela, frequentemente, ocasionar ainda mais sofrimentos e perigos. Embora queiramos ser felizes o tempo todo, não sabemos como conseguir isso e estamos sempre destruindo a nossa própria felicidade gerando raiva, visões negativas e intenções negativas. Até em nossos sonhos, estamos sempre tentando fugir dos problemas, mas não sabemos como nos libertar do sofrimento e dos problemas. Como não compreendemos a verdadeira natureza das coisas, estamos sempre criando o nosso próprio sofrimento e problemas ao executar ações inadequadas ou não virtuosas. A fonte de todos os nossos problemas e sofrimentos do dia a dia é o nosso desejo descontrolado, também conhecido como “apego”. Desde tempos sem início, porque temos tido desejos descontrolados, visando a satisfação dos nossos próprios desejos, executamos diversos tipos de ações não virtuosas – ações que prejudicam os outros. Como resultado, experienciamos continuamente diversos tipos de sofrimento e condições de infelicidade vida após vida, sem-fim. Quando nossos desejos não são satisfeitos, normalmente experienciamos sensações desagradáveis, como infelicidade ou depressão: as sensações desagradáveis são o nosso problema, isto é, o problema que verdadeiramente nos pertence – a razão disso é que somos muito apegados à satisfação dos nossos desejos. Quando perdemos um amigo próximo, experienciamos dor e infelicidade, mas isso somente acontece porque não temos habilidade de controlar nosso desejo. Quando perdemos nossas posses e as coisas de que gostamos, experienciamos infelicidade e ficamos perturbados e com raiva. Isso acontece porque nossos desejos pelas coisas são descontrolados. Se fôssemos capazes de controlar nosso desejo, não haveria base para experienciarmos esses problemas. Muitas pessoas envolvem-se em lutas, ações criminosas e até mesmo em guerras: todas essas ações surgem de seu desejo descontrolado em satisfazer seus próprios desejos. Assim, podemos ver que não há um único problema experienciado pelos seres vivos que não venha de seus desejos descontrolados. Isto prova que, a menos que controlemos nosso desejo, os nossos problemas nunca irão cessar. Portanto, qualquer pessoa – budista ou não budista – que não deseje experienciar problemas e sofrimentos deverão aprender a controlar seu desejo por meio do treino nas meditações específicas que são apresentadas nos ensinamentos de Buda. Precisamos entender que os nossos problemas não existem fora de nós, mas fazem parte da nossa mente, que está experienciando sensações desagradáveis. Por exemplo, quando nosso computador tem um problema, costumamos dizer “eu tenho um problema”, mas na realidade o problema é do computador e não nosso. O problema do computador é um problema exterior, e o problema que verdadeiramente nos pertence – ou seja, a nossa própria sensação desagradável – é um problema interior. Esses dois problemas são totalmente diferentes. Precisamos solucionar o problema do computador consertando-o, e precisamos solucionar o problema que verdadeiramente nos pertence por meio de controlarmos o nosso desejo de que o problema do computador seja solucionado. Mesmo se conseguirmos solucionar o problema do computador, se formos incapazes de controlar nosso desejo pelo computador, continuaremos a experienciar novos problemas relacionados com o computador. O mesmo acontece com a nossa casa, o nosso dinheiro, os nossos relacionamentos, e assim por diante. Como a maioria das pessoas acredita equivocadamente que os problemas exteriores são os seus próprios problemas, elas buscam refúgio em objetos errôneos. Como resultado, o seu sofrimento e os seus problemas nunca acabam. Enquanto formos incapazes de controlar as nossas delusões, como o nosso desejo descontrolado, teremos de experienciar sofrimentos e problemas continuamente nesta vida e vida após vida, sem-fim. Como estamos firmemente atados pela corda do desejo descontrolado que temos pelos prazeres do samsara (o ciclo de vida impura), para nós é impossível ficarmos livres de sofrimentos e problemas a não ser que pratiquemos os ensinamentos de Buda – o Dharma. Entendendo isso, devemos desenvolver e manter o forte desejo de abandonar a raiz do sofrimento – o desejo descontrolado. Esse forte desejo de abandonar a raiz do sofrimento é denominado “renúncia”, e surge da nossa sabedoria. Os ensinamentos de Buda são métodos científicos para solucionar permanentemente os problemas de todos os seres vivos. Colocando os seus ensinamentos em prática, seremos capazes de controlar o nosso desejo e, como consequência disso, ficaremos permanentemente livres de todos os nossos sofrimentos e problemas. Podemos então entender, apenas com esta explicação, como os ensinamentos de Buda – o Dharma – são preciosos e importantes para todos. Como foi mencionado acima, uma vez que todos os nossos problemas vêm do desejo descontrolado, e visto que não existe outro método que não os ensinamentos de Buda – o Dharma – para controlar nosso desejo, fica claro que somente o Dharma é o verdadeiro método para solucionar os nossos problemas do dia a dia. Por praticar os ensinamentos de Buda sobre a visão profunda da vacuidade, apresentados no capítulo Treinar a Bodhichitta Última, podemos solucionar permanentemente nossos problemas diários que surgem do apego, da raiva e da ignorância do agarramento ao em si. A raiz do desejo descontrolado e de todo o nosso sofrimento é a ignorância do agarramento ao em-si, a ignorância sobre o modo como as coisas realmente existe. Sem nos apoiarmos nos ensinamentos de Buda, não conseguiremos identificar essa ignorância; e, sem praticar os ensinamentos de Buda sobre a vacuidade, não poderemos abandoná-la. Consequentemente, não teremos a oportunidade de alcançar a libertação do sofrimento e dos problemas. Por meio desta explicação, podemos compreender que todos os seres vivos precisam praticar o Dharma, uma vez que todos – sejam eles humanos ou não-humanos, budistas ou não- budistas – desejam ser livres do sofrimento e dos problemas. Não existe outro método para conquistar esse objetivo. Livro O Budismo Moderno – O Caminho de Compaixão e Sabedoria. Abraço. Davi

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

OS PRINCÍPIOS CONFUCIONISTAS DA IDEOLOGIA CHINESA ATUAL

 

Confucionismo. Texto de Jacques Gernet (1921-2018). I OS PRINCÍPIOS CONFUCIONISTAS DA IDEOLOGIA CHINESA ATUAL. "Não há quase nenhum pormenor no comportamento de um bom comunista que não faça lembrar exatamente aquele de um bom neo confucionista”. Jacques Gernet (1921-2018).  Introdução. A seguir à Implantação da República Popular da China, em 1949, o Japão, um país que havia invadido recentemente o território chinês, foi o primeiro país a levantar-se para defender, mesmo contra a maior potência mundial não comunista - os Estados Unidos - que a ideologia adotada por esta era um comunismo de raízes chinesas, não se tratando de comunismo soviético puro. Tal como tem a História da China testemunhado, poucas são as culturas e estilos de vida que ao entrarem em território chinês mantêm as suas características originais inalteráveis. Este povo de civilização milenária tende a absorver os valores e formas de vida, adaptando-se imediatamente à realidade local, sinalizando-os. Como não podia deixar de ser, também a ideologia comunista, adotada pela liderança chinesa pós 1949, sofreu algumas alterações e adaptações à particular situação do país. É exemplo explícito desta adaptação a adoção de uma “economia socialista com características chinesas” (中国特色社会主义的经济), medida tomada pelo governo chinês desde o Congresso de 1987. Inserida na política de reformas e abertura levada a cabo pela liderança. E porque esta ideologia teve uma adaptação tão rápida e eficiente ao povo chinês? A verdade é que muitos dos princípios base da ideologia comunista estão em conformidade com os valores tradicionais chineses, nomeadamente os valores confucionistas, e poder-se-ia mesmo dizer que algumas medidas tomadas pelo governo chinês são confucionistas em gênese. Como tal, apesar de em tempos, o confucionismo ter sido um dos principais alvos das críticas dos ideólogos comunistas, a verdade é que estas duas formas de encarar a vida se separaram e antagonizam para encontrar finalmente um ponto de encontro comum, dinâmico e mesmo muito útil na atualidade caracterizada pela globalização económica e o espírito de modernização. Trata-se afinal da filosofia chinesa da unidade dos contrários, do yin e do yang, em que estes polos nunca estão em completa oposição, mas sim se entrecruzam e se interpenetram, sucedendo-se um ao outro. As raízes do confucionismo. Confúcio. "Mais que um homem ou que um pensador, e mesmo mais que uma escola de pensamento, Confúcio representa um verdadeiro fenómeno cultural que se confunde com o destino de toda a civilização chinesa." Anne Cheng (1955 - ) A vida. Embora o seu nascimento esteja envolto em algumas histórias fantásticas, como de resto é comum encontrar-se associado a personagens importantes da História da China, Confúcio (Kongzi, 孔子) teria vivido entre (551 AC 479) numa época conturbada, dominada pela desordem do fim da Dinastia Zhou (1100 AC 476). Então, os diversos reinos em que se encontrava dividido o território chinês rivalizavam pelo domínio, desencadeando conflitos violentos, daí que este período seja conhecido como os Reinos Combatentes (475 AC 221). Mais tarde, o lugar de domínio dentre estes seria alcançado pelo Reino Qin, que acabou por unificar todos os reinos sob a liderança do cruel Qin Shi Huangdi, fundando a conhecida Dinastia Qin (221 AC 206). Interessa aqui sublinhar que este foi um período de convulsões internas originadas pelas degradantes condições de vida e pelo poderio crescente que os príncipes vinham conquistando no interior dos seus reinos. Estas condições dinamizaram o pensamento da época, surgindo diversos pensadores que procuravam propor a melhor forma de governar. A abundância de escolas de pensamento durante este período fez com que lhe fosse atribuída a designação de “Período de Ouro da Filosofia Chinesa”, ou período das “Cem Escolas de Pensamento”. Surgiram nesta época as sementes do que haveria de se tornar nas importantes filosofias do Confucionismo, Tauísmo, Moísmo e Legismo. Com exceção desta última, nenhuma das outras ideias foi imediatamente adotada pelos imperadores. Somente sob a Dinastia Han (206 AC 220 DC), viriam o Confucionismo e o Tauísmo a atingir estádios mais adiantados de desenvolvimento teórico. Confúcio nasceu na pequena cidade de Qufu (曲阜), no Reino de Lu (鲁国), na atual Província de Shandong (), em agosto de 551 AC., mas pouco se sabe da sua vida. Uma das fontes a que se pode recorrer para traçar a sua biografia é o livro "Memórias Históricas" ( ) do grande historiador que viveu no século II AC, Sima Qian (马迁), mas ainda assim esta é uma fonte pouco segura devido à dificuldade em provar os factos descritos. Aparentemente a sua família era pobre e modesta, ainda que os seus ascendentes pertencessem à família dos Duques do Estado dos Song, a qual descendia da família real da Dinastia Zhou. Como o pai de Confúcio, que era chefe do exército, tinha já uma certa idade quando se casou pela segunda vez com a que viria a ser a sua mãe, conta a lenda que ela se dirigiu a um monte para orar, para pedir que tivesse um filho. Aí ela viu um licorne e atou-lhe uma fita bordada à volta do corno para que o seu desejo se concretizasse. Quando deu à luz à sombra de uma amoreira teria sido velada por dois dragões. Por esse motivo ou talvez porque quando Confúcio nasceu tinha uma protuberância na fronte, foi-lhe dado o nome de Qiu (), que significa colina. Apenas com três anos de idade, Confúcio perdeu o pai e, como a sua mãe tinha somente 18 anos, teve que se dedicar ao trabalho agrícola nas terras que tinha recebido como qualidade de viúva de funcionário público para poder dar ao filho a educação que pretendia. E parece que Confúcio correspondeu às suas expectativas pois com 15 anos já frequentava a escola dos letrados e, dois anos mais tarde, recebia lições particulares, ao mesmo tempo que se iniciava na vida militar e no cerimonial da Corte. E é o próprio Confúcio que, nos "Analectos", nos descreve com determinação a sua vida: "Aos quinze anos, resolvi aprender. Aos trinta anos, firmei-me no Caminho. Aos quarenta anos, já não tinha nenhuma dúvida. Aos cinquenta anos, conhecia os decretos do Céu. Aos sessenta anos, tinha um discernimento perfeito. Aos setenta anos, agia em toda a liberdade, sem por isso transgredir nenhuma regra." (Analectos de Confúcio II-4) 4 Aos 19 anos casou-se, do qual resultaram dois rebentos: um menino e uma menina. Continuou a conciliar o trabalho com os estudos, sendo que aos 22 anos servia como intendente dos celeiros e, mais tarde, como inspetor da distribuição das mercadorias, ao mesmo tempo que abria a sua própria escola. Quando tinha 24 anos, a sua mãe faleceu, pelo que, segundo a prescrição dos ritos, não exerceu nenhuma atividade durante os devidos três anos de luto. Contudo, a história antiga e a literatura continuaram a ocupar o seu espírito, seguindo estudando os Clássicos com afinco. Posteriormente e devido ao prestígio que começou a alcançar, o Mestre Kong Zi (孔子) foi convidado para ocupar alguns cargos de destaque na Corte. Assim, aos 30 anos, foi para a Corte de Lu, e, mais tarde, com o apoio do Duque King de Qi, entrou na Corte do Imperador Zhou, em Luoyang. Foi nesta altura que se deu o célebre encontro entre Kongzi e Laozi (604 AC.). "Conta-se que Laozi recebeu Confúcio com severidade e frieza, incentivando-o a procurar o Tao. Confúcio, por seu turno, teria ficado bem impressionado com o Velho Sábio, pois segundo o relato, referiu a seus discípulos que havia visto Laozi e lhe havia parecido um dragão, que se eleva sobre as nuvens mas que não pode ser perseguido." Devido ao período de convulsões e de conflitos entre os reinos vizinhos que caracterizaram a região entre 520 e 510 AC. Confúcio teve que mudar-se por diversas vezes, acompanhando o Duque de Lu, o qual lhe chegou a confiar o governo da cidade de Tchung-tu que se tornou modelo de prosperidade. Devido a este feito, foram-lhe atribuídos locais de destaque na administração do território, primeiro como intendente dos trabalhos públicos e, depois, como ministro da Justiça. Foi durante este período que desenvolveu máximas relativas à arte de governar, que vêm descritas no capítulo XII dos "Analectos". Com 56 anos, teve a oportunidade de pôr em prática a sua doutrina de governo, quando exerceu o cargo de primeiro-ministro de Lu. Devido a uma certa independência econômica adquirida por Confúcio e também porque a sua doutrina não correspondia às exigências do seu tempo, em 495, Confúcio resolveu ausentar-se, passando a levar uma vida errante acompanhado pelos seus discípulos. Iniciou, assim, uma série de longas viagens pelos reinos de Qi, Song e Wei, ensinando a sua doutrina pela palavra e pelo seu próprio exemplo. Ao mesmo tempo que se dedicava ao ensino, o Mestre Kong oferecia também os seus serviços aos príncipes feudais que disputavam um lugar de destaque entre os restantes reinos, em plena época de decadência da Dinastia Zhou. Durante estas viagens ocorreram diversos episódios, alguns dos quais vêm descritos nos Analectos. Após todas estas aventuras, Confúcio regressou finalmente a Lu cerca de 515 AC. Tinha alcançado um tal prestígio que, segundo alguns autores, teria conseguido reunir cerca de 3000 discípulos, entre jovens letrados vindos das melhores famílias, filhos de homens de destaque do Reino, com uma grande influência na Nação, assim como de famílias mais pobres. Contudo, unia-os o respeito ao mestre e ao seu ensinamento, sendo de destacar que Confúcio tratava-os individualmente, aconselhando-os de acordo com as suas características específicas. Confúcio ensinava-lhes poesia, história, o cerimonial da Corte e música, 70 dos quais conheciam a fundo os Cinco Clássicos. Com 72 anos faleceu no Reino de Lu, em abril de 479 AC. mas parece que a "morte do Sábio não ocorreu sem grandiosidade, e a lembrança que nos transmitiu a tradição autoriza as seguintes reflexões: a) O seu apelo ao respeito filial não foi em vão no que a si lhe calhava. Se o filho, que provavelmente morreu antes dele, parece não ter sido tocado pela graça do pai, o neto [Zi Si] esteve presente para recolher as suas últimas palavras. b) O seu pensamento tinha o vigor bastante para levá-lo a esperar com serenidade os derradeiros momentos. Nenhuma revolta diante da morte, nenhum apelo a intermediários entre o Céu e ele. Capaz de afrontar sozinho a vida, também foi capaz de afrontar sozinho a morte. c) Tendo atingido uma idade respeitável e, ao que parece, gozando sempre de boa saúde, Confúcio morreu em plena posse das suas faculdade. Pronunciando as palavras: «A minha doutrina chegou ao seu termo», dá desde logo razão àqueles seus comentadores que porão em evidência a íntima conformidade entre a vida e o ensino do Sábio, a tal ponto que é impossível interpretar a sua doutrina sem ser em função da sua vida. OS ESCRITOS A doutrina proposta por Confúcio pode ser encontrada de forma fragmentária nos que ficaram conhecidos como os "Quatro Livros" (), nenhum dos quais teria sido escrito por si na sua totalidade. Os "Quatro Livros" incluem: "O Grande Aprendizado" (大学), em parte escrito por Confúcio; a "Doutrina do Meio" (中庸), escrito pelo neto de Confúcio, Zi Si; "Os Analectos" (论语), que teriam sido escritos por alguns dos seus discípulos; e o "Livro de Mêncio" (孟子), escrito pelo seu seguidor Mêncio (372 AC 289). À semelhança do filósofo grego Sócrates (470 AC 399), Confúcio pouco ou nada escreveu sobre a sua filosofia e o seu método baseava-se no diálogo, a partir do qual os seus discípulos puderam retirar ensinamentos para elaborar "Os Analectos". A relação que Confúcio estabelecia com os seus alunos era exemplar, um modelo a ser seguido. Dirigia-se com afetividade e, ao mesmo tempo, cordialidade, simplicidade e, ao mesmo tempo, a dignidade necessária ao respeito existente numa relação entre professor e alunos, tal como ele mesmo ensinava. O seu método de ensino permitia o diálogo com os alunos, em que estes podiam colocar questões ao seu Mestre e, mesmo, dar opiniões e fazer críticas. Esta abertura e o tratamento personalizado que Confúcio dava aos seus discípulos suscitava a sua admiração, que não chegaria contudo aos extremos da deificação, que se deu muito mais tarde quando o confucionismo se tornou numa religião do povo. Este relacionamento cordial que tinha com os seus alunos era também o modelo que estes deviam adotar entre si e com as outras pessoas. Trata-se do ren (), o não fazer aos outros o que não gostamos que nos façam a nós mesmos. Para além destas considerações sobre o relacionamento entre as pessoas, os discípulos de Confúcio consagraram nos "Analectos" alguns capítulos sobre os Sábios da Antiguidade e sobre a Missão Celeste, em que apresenta a forma de governação dos Imperadores antigos como o modelo a ser seguido pelos governadores contemporâneos. Quanto ao "Grande Aprendizado" (大学), trata-se de um tratado moral elaborado em parte pelo próprio Confúcio e que sublinha a capacidade do homem de ser responsável pela sua própria salvação. Assim, Confúcio preocupa-se com a formação de uma elite, assim como com a educação dos príncipes, com o fim último de promoção do bem das massas. E a verdade é que se o soberano for justo, conforme a ordem cósmica, logo os seus súbditos o seguirão de bom grado e isso promoverá a prosperidade do reino. Por isso, conhecer a ordem natural dos fenômenos é a base da grande sabedoria, este é o ensino supremo - Da Xue. Segundo Confúcio, cabe-lhe transmitir este conhecimento pois ele é o porta-voz da sabedoria antiga, é esta a sua vocação ética. Da autoria do neto de Confúcio Zi Si, a "Doutrina do Meio" (中庸)procura sublinhar o equilíbrio que deve existir na personalidade dos homens. Mas este equilíbrio deve ser atingido sem esforço, o que não significa que seja alcançado sem ação, como ensinam os tauístas. Na realidade, este equilíbrio deve ser procurado intensivamente, através de uma reflexão profunda e deve ser colocado em prática de uma forma séria. Zi Si, na senda de seu Mestre, não fecha as portas de entrada deste equilíbrio a nenhuma classe de pessoas, pois todos podem chegar a esta via, mas só quem a alcança poderá apreender o sentido da ordem do Céu e da Terra, o Dão (道). Assim aparece o junzi (君子), o homem de bem cuja vida é uma imagem da ordem moral universal, segundo Confúcio. É esta a norma da harmonia do Universo, ou seja, a regra central – zhong (中) - e constante – yong (庸). Finalmente, o "Livro de Mêncio" (孟子) traduz a abordagem de Mêncio ao confucionismo, inspirado também no livro de Zi Si. Trata-se de uma perspectiva que sublinha a bondade natural do homem e que será desenvolvida adiante no capítulo respeitante a Mêncio. Abraço. Davi

 

sábado, 23 de dezembro de 2023

A ESPIRITUALIDADE DO NATAL

 

Cristianismo. www.cnbb.org.br. Por Cardeal Orani João Tempesta. Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro – Brasil. A ESPIRITUALIDADE DO NATAL. Aproxima-se o Natal. A maioria das pessoas já envolvidas pelo clima comum de fim de ano estejam preocupadas com presentes, amigo oculto, viagens para rever familiares, enfeitar a casa com luzes, uma roupa nova e o que comprar para a ceia natalina. São preocupações que revelam a natureza externa e econômicas do Natal. Nesta oportunidade seria bom refletir sobre o sentido cristão do Natal e a espiritualidade emergente que “depois da celebração anual do mistério pascal, nada na Igreja é mais venerável do que a celebração do Natal do Senhor e das suas primeiras manifestações: é o que se faz no Tempo de Natal”[1].

Para entendermos, compreendermos e vivermos o Natal do ponto de vista da espiritualidade cristã e em conformidade com a Tradição da Igreja, necessário se faz revisitar a história. “por volta do ano 336, temos notícia de uma festa do Natal em Roma, onde era celebrada a 25 de dezembro. Por Santo Agostinho (354-430) conseguimos saber que, também na África, mais ou menos na mesma época, se celebrava o Natal em data idêntica. Por volta do fim do séc. IV (301-400) a festa já se acha estabelecida no norte da Itália e é considerada uma das grandes solenidades; é o que aconteceu também na Espanha. No mesmo período, como ficamos sabendo por um discurso de São João Crisóstomo (347-407), também em Antióquia se celebrava o natal a 25 de dezembro como festa vinda de Roma, porém diferente da epifania, celebrada a 6 de janeiro”[2].

“Segundo uma tradição, que encontramos expressa no tratado De solstitiis et aequinoctiis e repetida frequentemente por Santo Agostinho, Jesus teria sido concebido no mesmo dia e mês em que depois teria sido morto, isto é, no dia 25 de março. Em consequência disso, o nascimento acabaria caindo no dia 25 de dezembro. Mas, ao que tudo indica, essa tradição não está na origem da festa, e talvez quer ser muito mais uma tentativa de explicação com base num misticismo numérico muito em voga na época. Outra explicação, que historicamente parece mais provável, é a que vê na festa do Natal uma ação da Igreja romana para suplantar, cristianizando-a, a festa do “Novo Sol”, ou seja, do Natalis Invicti, como se dizia. Inspirado nas Escrituras, mas também sob o estímulo das circunstâncias ambientais, o simbolismo da luz e do sol em referência a Cristo havia se desenvolvido muito e acabou sendo considerado sagrado para os cristãos. Alguns textos bíblicos – dentre os quais: “Ele fez do sol a sua morada”(Salmos 18); “Surgirá para vós o sol da justiça” (Mateus 4,2); “Virá a visitar-nos o sol que surge para iluminar aqueles que estão nas trevas” (Lucas1,78) etc.- eram um chamado natural para ver o sol o símbolo de Cristo. Além disso, o próprio costume de rezar voltado para o Oriente era tão difundido entre os cristãos a ponto de fazer crer a muitos pagãos que eles o faziam em sinal de culto e devoção ao sol. É eloquente o testemunho de São Máximo de Turim (falecido em 380): Em certo sentido, com razão esse dia do Natal de Cristo é chamado vulgarmente também de “novo sol” (…). De bom grado aceitamos esse modo de falar, porque ao nascimento do Salvador responde não só a salvação do gênero humano, mas também a luz do sol. Com certeza, talvez nem todos vissem com bons olhos o surgimento de uma festa cristã simplesmente como substituição de uma festa pagã. É compreensível, portanto, que recorrendo a cálculos agudíssimos, semelhantes aos usados na tradição rabínica, alguns se esforçassem em demonstrar que o dia 25 de dezembro, mais do que uma relação com o sol, fixasse o dia verdadeiro do nascimento do Senhor. O tema é encontrado no Oriente, por exemplo, em São João Crisóstomo, mas também no Ocidente e na própria Roma, onde o Cronógrafo de 336 assinala, no calendário civil (Fasti consulares), que Jesus “nasceu no dia 25 de dezembro, sob o consulado de César e Paulo”.[3]

A realidade celebrada na solenidade do Natal, a “vinda” do Filho de Deus na carne, se concretiza no nascimento de Jesus por Maria e de Maria, e nos acontecimentos de sua infância. A celebração do Natal, porém, não se detém no fato histórico, mas desta passa ao seu verdadeiro fundamento, o mistério da encarnação.

O mistério do Natal não nos oferece somente um modelo a ser imitado na humildade e na pobreza do Senhor que jaz na manjedoura, mas dá-nos a graça de sermos semelhantes a ele. A manifestação do Senhor leva o homem à participação na vida divina. A espiritualidade do Natal é a espiritualidade da adoção como filhos de Deus. Isso deve acontecer não por uma imitação de Cristo ‘de fora para dentro’, mas no viver Cristo que está em nós e no manifestá-lo virgem, pobre, humilde, obediente. São Leão Magno convida o cristão a reconhecer a própria dignidade, a fim de que, tornando-se participante da natureza divina, não queira voltar a abjeção de outrora com uma conduta indigna.

A noite de Natal

No espaço de tempo que vai das I Vésperas de Natal à celebração Eucarística da noite de Natal, juntamente com a tradição dos cânticos natalinos, que são dos mais belos e poderosos veículos da mensagem de alegria e de paz do Natal, a piedade popular propõe algumas das suas expressões de oração, diferentes de pais para pais, que é oportuno valorizar e, se for o caso disso, harmonizar com as próprias celebrações da Liturgia. O espírito da missa da noite de Natal, a “missa do galo”, é de mistério: a luz que brilha na noite; o anjo que, durante a noite, aparece aos pastores; a alegria que ilumina os entristecidos; a mensagem dirigida aos mais humildes, os pastores que passam a noite junto aos seus rebanhos. É a luz divina que brilha para a humanidade que, sem ela, ficaria envolta em noite escura. O próprio drama litúrgico deve sustentar este simbolismo (cf. Lucas 2,1-14). Tradicionalmente, este simbolismo se relaciona com o nascimento da nova luz, para nós é a noite mais luminosa do ano.

Dentro da atmosfera do Mistério, desenvolve-se o anúncio do Natal do Messias e Salvador, Jesus, filho de Maria e José, mas, sobretudo, filho de Deus. O centro da celebração é o Evangelho, o anúncio do Salvador. José e Maria, vivendo uma situação de migração, como muitas famílias hoje em dia. Despojados de tudo e enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto, e Maria deus a luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro de casa (cf. Lucas 2, 6-7). A salvação manifesta-se lá onde menos se espera. As primeiras testemunhas, escolhidas a dedo pelo anjo de Deus, são os que, aos olhos da gente de bem, vivem uma existência dúbia à margem da sociedade, pernoitando com os animais no campo e quase identificados socialmente com eles: os pastores.

Nesta noite santa, noite de luz, a liturgia deverá ser bem-preparada, para fazermos uma experiência profunda do encontro pessoal como Menino Deus, nosso Salvador. Preparemos as pessoas para que num gesto de entrega, acolhida e adoção filial solenizar a presença da imagem do Menino Deus a ser colocada na manjedoura. E para dar força a esta ação ritual, os coros celestes juntam suas vozes à nossa voz e entoemos o majestoso hino: “Glória a Deus nas alturas, e paz à gente que ele quer bem”. Nesta glória envolta de humanidade realiza-se a paz messiânica.

Nesta noite santa, noite de luz, não há pessoa no mundo que não pare para contemplar a presença do Menino Deus, na manjedoura. O Papa Francisco (1936 - ) em sua Carta Apostólica “Admirabile signum”, sobre ao significado e valor do presépio, afirma, no número 8 que: “ O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja. O nascimento duma criança suscita alegria e encanto, porque nos coloca perante o grande mistério da vida. Quando vemos brilhar os olhos dos jovens esposos diante do seu filho recém-nascido, compreendemos os sentimentos de Maria e José que, olhando o Menino Jesus, entreviam a presença de Deus na sua vida. «De fato, a vida manifestou-se» (1 João 1, 2): assim o apóstolo João resume o mistério da Encarnação. O Presépio faz-nos ver, faz-nos tocar este acontecimento único e extraordinário que mudou o curso da história e a partir do qual também se contam os anos, antes e depois do nascimento de Cristo. O modo de agir de Deus quase cria vertigens, pois parece impossível que Ele renuncie à sua glória para Se fazer homem como nós. Como sempre, Deus gera perplexidade, é imprevisível, aparece continuamente fora dos nossos esquemas. Assim o Presépio, ao mesmo tempo que nos mostra Deus tal como entrou no mundo, desafia-nos a imaginar a nossa vida inserida na de Deus; convida a tornar-nos seus discípulos, se quisermos alcançar o sentido último da vida”.

Nesta noite santa, noite de luz, semelhante aos pastores somos chamados a anunciar ao mundo que Deus se encarnou e a salvação chegou até nós e em nosso tempo. Uma tradição que marca essa ação de peregrinar neste tempo são os mais diversos grupos da Companhia de Reis ou Folia de Reis, que tem assinalada na sua missão de anunciar de porta em porta o nascimento do Salvador. Os foliões são para nós a imagem do discípulo missionário que marca a vida de uma Igreja em saída, levando a todos sem distinção a grande mensagem: o Menino Deus nasceu e veio trazer para sua família, sua casa a paz e as bênçãos para que vivas feliz e colabore na missão de evangelizar.

A essência da celebração da noite de Natal, da missa da aurora ou da missa do dia, bem como das celebrações familiares é a figura central do Menino Jesus. Vamos adorá-lo. Ele é o centro do Natal e está espiritualidade natalina nos leva a adorar o Senhor que se fez carne para nos salvar!

Feliz e abençoado Natal para todos! Deixe Jesus habitar o seu coração e seja transmissão viva das alegrias natalinas a todos os homens e mulheres de boa vontade! Cantemos jubilosos: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados!” (cf. Lucas 2,1-14).

 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A PROTEÇÃO AMBIENTAL NA SHARIA ISLÂMICA

 

Islamismo. www.mesquitadobraz.org.br. Por Al–Balagh Foudation. Tradução Ahmed Ismail. A PROTEÇÃO AMBIENTAL NA SHARIA ISLÂMICA. Em Nome de Deus, o Clemente o Misericordioso. "E não causeis corrupção na terra, depois de ter sido pacificada..." Alcorão (A`raf 7:56).  Uma Palavra da Fundação. "Enobrecemos os filhos de Adão e os conduzimos pela terra e pelo mar, agraciamo-los com todo o bem e os preferimos acima da maior parte do que criamos." Alcorão (Isra` 17:70). Por certo que Deus Onipotente depositou suas bênçãos e riquezas neste mundo, de modo excedente às necessidades humanas, para que o homem vivesse tranquilo e livre de problemas, e também, criou-o na mais apropriada forma e deu-lhe uma mente e um corpo que o auxiliam a utilizar as bênçãos concedidas; como o dia e a noite, a terra e o céu, os rios e as árvores, o sol e a lua (...) etc. Porém, com todas essas bênçãos e tesouros que nos rodeiam, presentes na superfície e no interior da terra, um quinto da população mundial, isto é, um bilhão e duzentos milhões de pessoas, vivem à beira da miséria. Não obstante todo avanço tecnológico na atualidade, com a diversificação dos produtos industriais e dos serviços, um temor obsessivo ainda está presente na mente do homem do ocidente e do oriente, no qual ele se vê mais ansioso do que seus antepassados, em razão do que o ameaça: os perigos da poluição ambiental, da radioatividade nuclear, da carência de recursos naturais e da guerra. Neste mundo atual, uma pessoa que tenha abundância de alimentos não pode ser considerada alguém que vive confortavelmente, porque é possível que uma epidemia, doenças ou outros elementos destrutivos, como micro radiações imperceptíveis, a ataquem sob condições em que ela esteja familiarizada ou não, que podem entrar em seu lar por meio de (por exemplo) recipientes de leite contaminados ou pelo ar envenenado que respire. Portanto, não é surpresa que o presidente da "Conferência para o Desenvolvimento Social" realizada em Copenhague em março de 1995, tenha anunciado aos líderes mundiais que o objetivo da conferência era "reduzir a intranquilidade e a insegurança que ameaça as pessoas por todo o mundo e dedicar mais esforços para assegurar uma vida digna para a sociedade." E antes disso, outra conferência foi realizada, que enfatizou a quase impossibilidade de separar os fatores do desenvolvimento e do ambiente em quaisquer circunstâncias. Então, existem os perigos da poluição ambiental, a infiltração de raios solares destrutivos à camada de ozônio, o risco da deformidade em crianças e o crescimento da incidência de câncer provocado por contaminação nuclear, acrescidos dos riscos de secas com o desaparecimento de rios, o desflorestamento e a extinção de plantas e animais não estão confinados a uma região particular, nem ao hemisfério norte nem ao hemisfério sul, quer seja nos países desenvolvidos ou nos subdesenvolvidos. Assim, há uma séria necessidade de um esforço coletivo para se cumprir as resoluções internacionais para a proteção do meio ambiente e das espécies vegetais e animais, a fim de se proteger e garantir a existência humana. A qual também é a resolução da ONU, UNESCO e da Décima Segunda Conferência da Terra. Mas, infelizmente, alguns países, sobretudo os industrialmente desenvolvidos, não estão respeitando essas resoluções e continuam seus testes nucleares e a produção de outros elementos destrutivos em nome de seus interesses materiais, sem a menor consideração pelos seres humanos e o futuro do mundo. Isso é o que é confirmado pela UNESCO em sua análise dos problemas ambientais no mundo: "Certamente, a questão da produção e do consumo dos países industrializados influencia sobremaneira todos esses problemas, nessa questão o esforço no sentido de auferir grande lucro e muito rapidamente desconsidera os problemas e as dificuldades decorrentes da desordem ambiental... e esse tipo de procedimento e comportamento criará um grande dano, que virá a provocar a exaustão dos fatores naturais nos países em desenvolvimento..." A evidência da ação desumana e do egoísmo dos países desenvolvidos pode ser percebida na insistência da França em realizar testes nucleares no mar do Caribe, e na manutenção de testes nucleares pelos norte-americanos depois de todos os acordos contrários que foram assinados e o risco da propagação dos armamentos nucleares. Os acidentes em usinas nucleares, na América em 1985, que confirma somente a ocorrência de 2.300 eventos, a exportação de resíduos nucleares, como também a destinação de lixo nuclear para alguns países do terceiro mundo, e a perigosa exploração dos recursos naturais em alguns países africanos sem qualquer consideração aos riscos ambientais. E ainda, a exportação britânica de carne contaminada (a doença da vaca louca) a outros países, e outros inúmeros exemplos que vemos, estão causando grande prejuízo e desconforto a existência humana neste planeta. Al-Balagh Foundation. Definição de Ambiente. "Ambiente é o complexo de fatores físicos, químicos e biológicos (clima, solo e seres vivos) que interagem num organismo ou comunidade ecológica e que principalmente determina sua forma e sobrevivência; (ambiente) o agregado de condições sociais e culturais que influenciam a vida de um indivíduo ou comunidade. Trata-se das condições e circunstâncias naturais em que as pessoas, os animais e os vegetais vivem, condições e circunstâncias que se referem ao ambiente natural, social e político. Portanto, o ambiente significa as condições e circunstâncias que rodeiam algo em particular. O meio ambiente é um entorno natural, e se refere às condições naturais, a atmosfera e as circunstâncias que estão relacionadas ao homem, e isso inclui os vegetais, as florestas, a água, o ar, os oceanos, os animais e as outras formas de vida, a natureza da terra e o que há nela, como as montanhas, os rios, os pântanos, os desertos, e abrange a água quente ou fria, a chuva e as nuvens, os raios solares... etc. Todas as criaturas e entidades estão inter-relacionadas e produzem efeitos recíprocos, e isso também age positiva ou negativamente na vida do homem, sobretudo na atualidade, depois do avanço industrial e o aumento da interferência humana e de suas ações transformadoras na condição natural. Outras fontes científicas definiram o ambiente como "a condição em que o homem vive e obtém os componentes de sua vida, como o alimento, a moradia e os medicamentos, e que conduz a relação com seu semelhante”. Assim, esta é a definição de ambiente que considera o homem um ponto central dentro dele. O Homem e o Meio Ambiente. O homem é parte do mundo natural em sua formação, crescimento e na continuidade de sua existência nesta terra; interage com os componentes naturais e suas condições ambientais a todo momento. O Alcorão, em muitas passagens, se referiu ao relacionamento do homem com a natureza e o ambiente. Aqui, citamos alguns desses versículos: "E Deus vos produziu da terra, paulatinamente…" (Nuh 71:17). "...e criamos todos os seres vivos da água ..." (Anbiya 21:30. "E ao povo de Çamud enviamos seu irmão Saleh, que lhes disse: Ó povo meu, adorai a Deus porque não tereis outra divindade além Dele. Ele foi quem vos criou da terra e nela vos enraizou. Implorai, pois, seu perdão, voltai a Ele arrependidos, porque meu Senhor está próximo e é exorável." (Hud 11:61). "Criou os céus sem colunas aparentes, fixou na terra firmes montanhas, para que não oscile convosco, e disseminou nela animais de toda espécie; e emviamos a água do céu, com que fazemos brotar toda a nobre espécie de casais." (Lukman 31:10). "Não reparais em que Deus vos submeteu tudo quanto há nos céus e na terra, e vos cumulou com Suas mercês, conhecidas e desconhecidas? Sem dúvida, entre os humanos há os que disputam nesciamente acerca de Deus, sem orientação ou Livro lúcido." (Lukman 31:20). "...e enviou-vos água do céu, para com ela vos purificardes, vos livrardes da imundície de Satã ..." (Anfal 8:11). "...e enviamos do céu, água pura." (Furqan 25:48). "(...). Submeteu a vós os navios que, com Sua anuência, singram os mares, e submeteu a vós, os rios." (Ibrahim 14:32). "E foi Ele quem submeteu a vós, o mar, para que dele comêsseis carne fresca..." (Nahl 16:14). "Dela vos criamos e a ela retornareis, e dela vos faremos surgir outra vez." (Taha 20:55). "E quando se retira, eis que sua intenção é percorrer a terra para causar corrupção, devastar as semeaduras e o gado (...)" (Baqara 2:205). Os textos alcorânicos acima tratam do homem como uma parte do ambiente natural, que interage com o mesmo; tirando proveito dele e de modo similar, fornecendo algo a ele. O homem é também, responsável pelo desenvolvimento desse ambiente e o zelo por sua incorruptibilidade. O homem, esta criatura viva, representa uma parte do sistema natural que age em seus componentes no sentido de entendê-los e coordená-los. O mundo natural pode ser definido como o equilíbrio calculado, científico e acurado do Ser mais Sábio e Prudente. A quantidade de água em estado sólido, a salinidade de um mar, a água doce de um rio, o índice de oxigênio, o grau dos raios solares, de calor ou a quantidade de chuva, de peixes, de animais ou plantas (...) tudo isso é perfeitamente calculado sem o mínimo erro. A terra e sua força gravitacional, a taxa de movimento, a força de absorção, agem na vida do homem, dos animais e dos vegetais, e sua continuada existência neste universo demonstra que o Sábio Criador ordenou tudo isso cuidadosamente. Por conseguinte, os versículos citados abordaram a realidade da vida humana - no que tange a natureza e o ambiente, ou seja: (1) Que o homem foi criado da terra e se desenvolve por meio dela, como as plantas; que a água é uma base para a vida, e que Deus Onipotente colonizou a terra com o homem; isto é, confiou ao homem o desenvolvimento dela utilizando de seus recursos naturais e condições ambientais - para o correto entendimento humano do poder de Deus Onipotente e de suas bênçãos. (2) Que o ambiente natural deste mundo, como as montanhas, têm por razão a proteção do equilíbrio da terra e dos seres viventes, pela produção e consumo, do que vive sob o sistema de equilíbrio da vida. As chuvas que caem, as plantas que crescem, tudo isso é uma prova da Grandeza, do Poder, da Sabedoria e da Prudência de Deus, e que qualquer ação do Sábio Conhecedor é calculada sem a mínima contradição, e que mesmo se houver abuso de algum recurso o mesmo produzirá o efeito de acordo com o sistema natural resguardando o equilíbrio ambiental, de um do modo ou de outro, é a evidência da grandeza e da sabedoria do Criador Tudo neste mundo e em seu entorno natural, como a água, os animais, as florestas e as plantas, as criaturas aquáticas, os raios solares, o calor, a chuva, a salinidade do mar e a água doce dos rios, foi criado para o homem, para tornar sua vida melhor. Em vista disso, o Alcorão ordena ao homem que reflita sobre as bênçãos de Deus e o convoca ao monoteísmo, ao louvor e a adoração de Deus somente. Este é o modo que o Alcorão põe o homem no ambiente natural: como parte dele. Entretanto, depois de explicar essa relação entre a vida, o intelecto e a natureza, o Alcorão discute as atividades, as responsabilidades e os sistemas sociais que protegem o bem estar do meio ambiente e a vontade divina do mundo da existência sob a autoridade da Shari'ah. Organização e Equilíbrio Natural do Ambiente. O meio ambiente é um preciso e equilibrado mundo que está edificado na experiência, no conhecimento e na sabedoria. Assim, a natureza, o ambiente e a vida são uma unidade completa e inter relacionada, como um único corpo; água, terra, ar e vento (...) etc, são todos criados com um propósito e objetivo. Não existe nada criado na terra sem um objetivo, ou incompleto, ou com metas contraditórias. Glória seja dada a Deus que criou todas as coisas, moldou-as e as fez cuidadosamente equilibradas. Os teólogos discutiram duas questões fundamentais nos princípios islâmicos que tratam das ações e da sabedoria de Deus, que são: 1 - Deus predestinou a criação de cada coisa, o que é benéfico para as criaturas, e a vida não pode prescindir delas. 2 - As ações de Deus são intencionais (ou seja, não existem sem um objetivo) e que todas Suas ações se fundamentam na sabedoria. Em vista disso, a escola dos Ahlul Bayt entabulou um debate candente com outras escolas de pensamento islâmico com respeito a essa questão controversa no mundo natural, intelectual e social, que o conhecimento humano e os pesquisadores confirmam, para maior esclarecimento da análise islâmica desse assunto, devemos examinar os livros que abordam essas duas questões ideológicas. As ações de Deus são claramente dotadas de propósito, porque Ele é Sábio em suas ações, e as ações um sábio não contrariam a sabedoria. Aquele que age sem um propósito é um tolo, Deus está muito acima disso. "Não criamos os céus, a terra e tudo que há entre eles por diversão" Alcorão (Dukhan 44:38) "...`Senhor Nosso! Não criaste tudo isso em vão! Glorificado Sejas!...” Alcorão (Al-i-Imran 3:191) Todo esse propósito e benefício não produz retorno em benefício a Deus, porque Ele se encontra isento de qualquer necessidade em relação a suas criaturas, antes, produz benefício para elas próprias mediante a aquisição do Paraíso e o contentamento de Deus, além da salvação do castigo e da perdição sem que ocorra nenhum decréscimo da parte de Deus Onipotente, porque Ele é perfeito e completo em Sua essência e em todos os aspectos. Porém, os asha'ritas sustentam que: "é impossível que Deus faça algo com um propósito, e não por algum interesse. É possível e permissível para Ele punir Seus servos sem qualquer benefício ou interesse." (n.2) Os asha'ritas tinham rejeitado o princípio da finalidade e interpretado erroneamente o fato de que qualquer um que realize uma ação com um propósito necessita desta mesma ação. Entretanto, como já vimos, o propósito e a meta são pelo interesse das criaturas, e Ele (Deus), o Altíssimo, está muito acima da necessidade. O filósofo islâmico, Nasruddin Tusi, escreveu enfatizando a necessidade do interesse (maslaha): "O interesse pode ser necessário devido a existência da razão e da ausência (não-existência) do que possa restringir sua realização." Allamah Hilli comenta essa afirmação dizendo:" As pessoas divergem, Abu Ali, Abu Hashim e seus companheiros dizem, "interesse não é necessário para Deus Onipotente," e Balkhi os contradiz afirmando, "interesse é necessário e este é o entendimento adotado pelas pessoas de Baghdad e alguns de Basra," enquanto Abul Hassan Basri conclui: "é necessário sob certas circunstâncias, mas não todas." Esta é, também, a opinião do escritor." (n3) Assim, podemos deduzir que o pensamento ideológico, no Islam, já confirmou o princípio ideológico, que é: "Deus Onipotente não faz ou cria coisa alguma neste universo natural ou no mundo do homem senão com um propósito ou interesse que produza benefício ao homem ou as demais criaturas. E, naturalmente, sábios e pesquisadores em diferentes campos científicos têm apoiado essa opinião ideológica, o que, de um modo ou de outro, afirma a autenticidade dessa opinião e idéia. Para um maior entendimento da questão, citaremos o que o químico Thomas David Parkinson, escreveu: "Porém o sistema que testemunhamos à nossa volta não é um sinal do poder das coisas, mas, está acima disso em sabedoria e se move no sentido do estabelecimento dos interesses do homem, o que confirma que a preocupação do Senhor Deus em relação a Seus servos não é menor do que Sua preocupação com os sistemas e as leis que governam o universo." Atente para a perfeita sabedoria que está imprimida a seu redor, que às vezes contradiz o habitual, por exemplo, a água. Uma pessoa espera encontrar o peso molecular (da água) (18) gasoso ao ponto do congelamento, e por exemplo, o peso molecular da ammonia (17) gasoso ao ponto imperfeito de fervura (73) na atmosfera normal, e o hidrogênio sulfídrico, que aproximadamente possui as mesmas características da água, com um peso molecular de (53), gasoso ao ponto imperfeito de fervura (53), em vista disso, o estado de liquefação da água ao ponto contrastante de fervura, a deixará confusa. Além disso, a água possui outra importante característica, que somente por observá-la, a pessoa compreenderá que se trata de algo bem planejado. A água cobre 3/4 da superfície terrestre, e em razão disso, tem um grande efeito na atmosfera geral e no grau da temperatura, que se for reduzida, uma grande e indesejável mudança ocorrerá. Uma outra preciosa característica que a água possui, e que indica que o Criador deste universo a ordenou a fim de servir aos interesses de Suas criaturas, é que a água é o único elemento conhecido cuja densidade diminui quando se solidifica, e essa característica tem grande influência e importância na vida (no planeta). E assim, o gelo, que flutua na superfície da água quando a temperatura esfria, em vez de afundar se torna um bloco sólido que nem derrete nem se fende. Assim, o gelo, água em seu estado sólido, flutua na superfície e cria uma camada que protege a água embaixo dele. Com isso, os peixes e as demais criaturas aquáticas subsistem e na primavera o gelo derrete rapidamente. (n4) De sua parte, Dr. Christie Morrison em sua obra "Science call for Faith", ao discutir o equilíbrio natural, a coordenação entre seus componentes, a precisão e a perfeição do sistema ambiental, a proteção do sistema da vida e a Grandeza do Criador, escreveu: "O ar denso, possuindo a necessária magnitude retirada da passagem dos raios químicos, necessário para as plantas, que destrói os micróbios e produz vitaminas, sem o mínimo dano ao homem, a não ser na ocorrência de um longo tempo de exposição, permanece puro (sem contaminação) e inalterável em seu equilíbrio natural para a existência do homem. O grande (fator) de equilíbrio é a superfície de água, ou seja, o entorno natural em que a vida, o alimento, a chuva, o clima equilibrado, as plantas e o próprio homem, se desenvolvem. Certamente, aquele que compreender isso, ficará perplexo com a Sua Grandeza (de Deus) e se submeterá à Sua Ordem." Dr. Lawrence Kolino Woker, botânico, fisiologista, conferencista na Universidade de Geórgia, escreveu: "Estou escrevendo um artigo como especialista em pesquisa florestal, e também, como alguém que dá muita atenção aos estudos ambientais e a fisiologia vegetal, para mostrar a importância da floresta como prova da existência de Deus. Mais adiante, discutiremos mais sobre isso, quando discutirmos o Sagrado zelo e o Poder Divino que se manifesta na restauração da fertilidade da terra. Numa floresta virgem que não sofre nenhuma ação humana, as árvores crescem e suas diferentes espécies se desenvolvem de geração em geração até que seu número aumente; exceto se as atividades humanas interfiram nisso, ou que sejam destruídas pelo fogo ou outra calamidade sobrevenha. A interrupção pelas atividades humanas da floresta natural, suas plantas e fertilidade, levará a redução de sua fertilidade e por fim, perderemos as árvores e o solo, o que dará oportunidade à ocorrência de enchentes. Então, ele acrescenta: "O homem gasta uma imensa quantia de dinheiro construindo grandes represas a fim de impedir as enchentes, mas, esta é apenas uma solução temporária para essa gigantesca força que nem barreiras de pedra, nem grandes edificações podem repelir. Portanto, é necessário encontrar uma solução real para esse problema a partir de sua fonte, e isso não pode ser realizado por meio da construção de represas, nem por meio do florestamento, é algo que somente a própria natureza pode realizar." (n5) Dr. Christie Morison, ao discutir o sistema ambiental da terra e dos seres viventes, escreveu: "Certamente, a admirável relação que existe entre o oxigênio e o dióxido de carbono, no que tange a (vida) animal e vegetal, atrai a atenção de toda pessoa sensata.". E continua: "Este é o modo que todo vegetal e planta, bem como toda forma de vida primária, etc., surge do carbono e da água. Ademais, o oxigênio atmosférico é convertido em dióxido de carbono na respiração animal e regenerado pelas plantas na fotosíntese. Daí que, sem o relacionamento cordial, a vida dos animais e das plantas se exauriria, ou seja, sempre que o equilíbrio da vida se alterar a condição de ambos será inteiramente modificada." (n6) O Que Surpreende no Equilíbrio Sistêmico. O seguinte fato é um claro exemplo de um importante critério com respeito à existência humana. Há alguns poucos anos atrás, um tipo de cacto foi cultivado na Austrália, e logo, essa planta cobriu uma extensa área de terra ao ponto de perturbar toda a comunidade e suas atividades agrícolas. Todos os esforços para impedir seu alastramento foram inúteis, e a Austrália continuou afetada por essa praga. Posteriormente, as pesquisas conduzidas por alguns entomologistas descobriram que um inseto, que dependia desse cacto para sobreviver, se reproduzira rapidamente por toda a Austrália. Em breve tempo, esse inseto destruiu o cacto. Assim sendo, eis o critério e como o equilíbrio foi alterado. (n7) O Meio Ambiente e as Práticas Destrutivas. Um levantamento ou uma acurada análise no mundo natural, em seus componentes, na relação, no equilíbrio e nas mudanças que ocorrem nele, mostrará a sabedoria, a precisão e a perfeição que o envolve, porque, não há nada criado inutilmente ou para o prejuízo de alguém, e mesmo se prejudicar os seres humanos, é um prejuízo relativo, devido o fato de que o ser humano foi primeiramente proibido de praticá-lo. E frequentemente, tal elemento prejudicial é alterado por processos naturais para ser útil ao vegetais, a terra e mesmo ao próprio homem. Por certo, se for permitido que as leis naturais ajam segundo foram criadas por Deus, protegerão a sanidade, a beleza natural e ambiental e a vida de todos. A distribuição da água, das montanhas, das florestas, das correntes de vento, das faixas climáticas, da proporção de gases, dos raios solares, etc.. atua sob um sistema inter-relacionado e bem organizado, como as bactérias e o cadáver de um animal ou uma planta morta entram nos processos químicos naturais para o reconhecimento dos interesses ambientais e a garantia do bem estar do entorno natural. O Alcorão, quando desenvolve o tema do meio ambiente, e a perfeição natural, como também o papel destrutivo do homem, diz: "E quando se retira, eis que sua intenção é percorrer a terra para causar corrupção, devastar as semeaduras e o gado..." (Baqara 2:205) "E não causeis corrupção na terra, depois de ter sido pacificada, mas invocai-o com temor e esperança, porque sua misericórdia está próxima dos benfeitores." (A`raf 7:56) O Alcorão enfatiza que a terra e seus componentes de vida e natureza são perfeitos e saudáveis; e que é o homem que atua em sua perfeição e os destrói. Em razão disso, vemos esse cenário ampliado no homem atuando na capacidade da terra em sua forma natural, como um elemento destrutivo; ceifando a vida dos vegetais, dos animais e dos seres humanos. Nosso mundo atual tem testemunhado os mais temíveis tipos de corrupção sobre a terra e o meio ambiente, como também, a destruição do que o homem recebeu a ordem de proteger e cuidar. Deus criou o homem da terra como um de seus componentes e ordenou a ele que a protegesse. Deus Onipotente enfatiza essa responsabilidade, através do Profeta Salih que diz: "E ao povo de Çamud enviamos seu irmão Saleh, que lhes disse: Ó povo meu, adorai a Deus porque não tereis outra divindade além Dele. Ele foi quem vos criou da terra e nela vos enraizou. Implorai pois, seu perdão, voltai a Ele arrependidos, porque meu Senhor está próximo e é Exorável." (Hud 11:61) Este é o aviso alcorânico sobre a corrupção na terra e a destruição ambiental; o chamado para a implementação e a proteção de suas leis equilibradas. A terrível e destrutiva ação humana se manifesta na produção de armamentos químicos, nucleares e biológicos, que provocam grande dano ao mundo; e também na destruição da natureza que se manifesta no corte de árvores (em grande escala) e na poluição atmosférica através da combustão e da produção (crescente) de lixo. Estudos científicos e estatísticas dirigidos por especialistas demonstram que a interferência humana nas leis naturais pela destruição ambiental, e mesmo em ações supostamente benéficas ao homem, como o uso de fertilizantes químicos e outras substâncias tóxicas para controlar as pragas; causam grande dano ao equilíbrio ambiental, e à estabilidade da vida no planeta. O problema mais evidente de nossa era é a poluição, causada pela indústria e mesmo pela ação bélica. Assim, a poluição, mediante a utilização do carbono e do dióxido de carbono, a destruição da camada de ozônio ou a poluição química provocada por substâncias tóxicas, pela radioatividade, a água poluída por óleo cru ou lixo produzido pelo homem, o uso de fertilizantes agrícolas como os compostos de fosfato e nitrato, etc.. são provas contundentes do que Deus Onipotente proíbe ao dizer: "E não causeis corrupção na terra, depois de ter sido pacificada..." Alcorão (A`raf 7:56) Entretanto, tudo no mundo natural age de acordo com o sistema de pureza, perfeição e equilíbrio. Daí que, a proporção natural de carbono é fixa e equilibrada, de modo que as plantas absorvam uma grande quantidade de dióxido de carbono natural para o seu crescimento. Os estudos científicos confirmam que a quantidade média de carbono no mundo natural é aproximadamente 300 partes em cada 10.000 partes de ar. Contudo, essa proporção aumentou em 1984 para 354 partes em cada 10.000; e esta proporção atual dobrará por volta de 2020 se a combustão mecânica e a queima de florestas continuarem (nos mesmos índices). (n8)  Mencionamos aqui, que há um grande aumento na proporção do dióxido de carbono na atmosfera, e isso se deve ao calor atmosférico, que pode ser detectado e que trará um grande prejuízo num futuro próximo. Causará o derretimento do gelo polar e uma elevação descomunal do nível das águas, o que afetará o equilíbrio natural, mudará a composição natural da terra, o que por sua vez provocará um grande dano ao homem… para sempre. (n9) Em seu relatório sobre as práticas destrutivas para a Conferência do Clima da Terra e Direitos Humanos, a Liga árabe para os Direitos Humanos escreveu: "As estatísticas mostram que 160.000 gases tóxicos estão pondo em risco a camada atmosférica somente nos EUA. Por exemplo, os EUA estão usando 350 milhões de toneladas de Hidro-floro carbonos, que são utilizados na manufatura de aerossóis, isto é, a média de 25% da utilização mundial que chega a 1.400 milhões de toneladas. Esta ação, apenas, causará o enfraquecimento da camada de ozônio. Ao mesmo tempo, os países desenvolvidos, sozinhos, produzem 800.000 toneladas de lixo tóxico, o que é aproximadamente 30% do lixo produzido no mundo, e esses países descartam esse lixo no Saara e nos rios dos países subdesenvolvidos." A Liga ainda diz em seu relatório que 600 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, 100 milhões de africanos estão morrendo de fome, 43 milhões de acres de floresta são devastados anualmente e 80% da população mundial enfrentará dificuldades e inutilização em termos de terras cultiváveis, de alimentação e água potável no próximo século. Porém, sobre essa dura realidade, a linha geral do clima terrestre impõe aos países pobres o ônus dessa destruição da camada de ozônio. Além do que foi mencionado antes, a conferência demonstra que os países do terceiro mundo importam mercadorias dos países do norte, que provocam poluição ambiental. E ao mesmo tempo, enfatiza que mãos estrangeiras realizam esse projeto naqueles países em vista de sua necessidade por trabalho industrial, baixos salários e impostos, matérias primas disponíveis e leis liberais, onde não serão questionados ou forçados a proteger o meio ambiente ou enfrentar duras penalidades por abusar disso. O que podem os países pobres fazer para enfrentar esse grave problema, diante de sua pobreza, subdesenvolvimento, seus problemas diários e a fome que atinge seus cidadãos? Podem superar sozinhos tais problemas? Para enfrentar esse terrível perigo, se presumiu que a soma de aproximadamente 600 bilhões de dólares fosse suficiente para curar o problema, mas, a maioria dos países industrializados se recusa a acatar a proposta da ONU, que declara que os países ricos devem sacrificar 7% de sua renda anual até 2000, para auxiliar os países pobres em seus projetos de desenvolvimento. Todavia, a organização fica mais preocupada quando o governo americano se recusa a assinar o acordo alcançado com o intuito de parar a difusão de armamentos biológicos. Ademais, o governo norte-americano não somente se recusa a assinar o acordo, como também se recusa a se comprometer com a meta de decréscimo da emissão do dióxido de carbono no meio ambiente ao fim deste século. E, na verdade, enfatiza que essa emissão poderá aumentar 1,76 % nos próximos oito anos. Sem dúvida, as atividades humanas atualmente são os fatores responsáveis da produção de aproximadamente 7,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono lançado no meio ambiente, que, é o principal fator na mudança do clima mundial e causa da poluição do ar. Não obstante a proteção do meio ambiente seja considerada um fator básico no processo econômico e no desenvolvimento social, atividades humanas que incluem a destruição das florestas, a poluição marinha, os produtos agrícolas químicos e outras invenções modernas, levam a fonte biológica, as plantas, os animais e os outros fenômenos naturais a um perigoso estágio, que pode ameaçar a própria existência do homem. Entretanto, se diz que o homem seja o responsável pelo crime de poluição do ar, da terra, da água e de todo o meio ambiente, mas quem é este homem? É o homem da Somália, da Índia, do Sudão ou do Iêmen, ou o homem que vive na América, no Canadá ou no Japão? Uma análise mais cuidadosa e uma reflexão sobre as estatísticas nos dará maior esclarecimento sobre a importância da injunção alcorânica com respeito a destruição ambiental e a poluição. E também teremos um bom entendimento sobre a diferença entre a civilização islâmica e a civilização ocidental (materialista) que ameaça a sanidade do meio ambiente e a existência humana, revelando a tendência legislativa islâmica e sua precisa solução para as questões culturais e sociais, e sua preocupação com as questões humanas e ambientais. Como Proteger o Ambiente Humano. A proteção do ambiente natural e social está entre as mais importantes metas existenciais islâmicas, bem como a explicação do sentido de seu cuidado e preocupação com o bem estar humano e a proteção do meio ambiente, a aderência ao sistema da vida, a felicidade humana e sua existência permanente. A razão disso é que o bem estar da espécie humana e dos seres viventes e inanimados ao redor dela, como a terra, a água e o ar dependem da proteção em relação a poluição e a destruição. O Islam adotou algumas medidas para a proteção ambiental. Eis algumas delas: 1. Esclarecer e educar o homem no sentido de como zelar pela saúde e a natureza, como proteger as criaturas da terra. E isso está baseado no princípio de que tudo o que Deus Onipotente criou é perfeito, preciso e possui o propósito da reforma; não há nada criado em vão ou por mera diversão. O Alcorão explicou esse ponto quando disse: "...Tal é a obra de Deus, que tem disposto prudentemente todas as coisas..." (Naml 27:88) Porém, quando o homem se torna egoísta e agressivo, tais posicionamentos o inclinam à destruição do meio ambiente e a poluição da natureza. A esse respeito, o Alcorão considera o homem responsável pela poluição ambiental, ao dizer: "A corrupção surgiu na terra e no mar por causa do que as mãos dos humanos lucraram...." (Ar Rum 30:41) E além disso, se dirige ao homem e o encoraja a proteger a natureza e a levar uma vida saudável , quando diz: "E não causeis corrupção na terra, depois de ter sido pacificada..." (A`raf 7:56) "E quando se retira, eis que sua intenção é percorrer a terra para causar corrupção, devastar as semeaduras e o gado (...)" (Baqara 2:205) 2. A exortação à pureza: O mais evidente processo de proteção do ambiente humano é a orientação islâmica para a educação do homem na pureza e na higiene e seu apelo para a purificação do corpo, das roupas, dos utensílios, etc; Deus Onipotente diz: "E tuas vestes, purifica !" (Muddathir 74:4) "(...) E quando estiverdes impuros, higienizai-vos (...)" (Ma'ida 5:6) "(...) Deus não deseja impor-vos carga alguma; porém, quer purificar-vos e agraciar-vos, para que Lhe agradeçais." (Ma`ida 5:6) Em vista disso, a pureza e a proteção do ambiente contra a poluição são consideradas bênçãos de Deus, e que devem ser apreciadas. Daí, entendemos que bênçãos como por exemplo, a saúde, o bem viver e os bens materiais, etc, são incompletas sem a pureza do meio ambiente e sua proteção contra a poluição e a destruição, porque, sem isso, continuaremos à mercê dos riscos e ameaças da destruição e da extinção. O Profeta (saas), falando sobre a proteção da saúde, da pureza do ambiente que rodeia o homem, diz, "Em verdade, vosso corpo tem um direito sobre vós." (n10) E disse também, quando explicava a importância da proteção da natureza: "Varrei vossos quintais e não sejais como os judeus." (n11) Imam Ali Bin Musa Al Rida (as), falando da pureza e da higiene, diz: "A purificação está entre os princípios dos profetas." (n12) Jabir Bin Abdullah Ansari relatou o repúdio do Santo Profeta (saas) à falta de higiene, e diz: "Um dia o Santo Profeta (saas) veio ao nosso encontro e viu um homem com os cabelos desgrenhados e mal cuidados. Então disse: Este não tem com que se pentear?" (n13) E também foi relatado dele (saas) o seguinte dizer quando viu um outro homem vestido com roupas sujas: "Este não tem algo para lavar suas roupas?” (n14) Sem dúvida, o pensamento e a civilização islâmica estão muito acima dos demais, no que tange a sua ênfase de que Deus Onipotente deseja para seus servos uma vida prazeirosa, a pureza e um ambiente isento de poluição. O Profeta (saas) explicou esse ponto ao dizer: "Certamente que Deus é bom e Ele ama a bondade; Ele é puro e ama a pureza." (n15) E quando falando da pureza e da higiene no Islam, convocando à limpeza do ambiente, ele (saas) diz: "Em verdade o Islam é puro, portanto sede puros, porque não entrará no Paraíso quem não for puro, (n16) 3. Proibindo a poluição ambiental: Como o Islam exorta seus seguidores à purificação, também, proíbe a poluição e a destruição ambiental. Sobre essa questão, foi relatado do Santo Profeta (saas) que ele tenha proibido o cuspir na terra, em razão de seus efeitos prejudiciais à saúde e sua contradição com a natureza humana. O Santo Profeta (saas) também proibiu e alertou para que não se defecasse sob uma árvore frutífera ou se urinasse num local de água parada, na água corrente ou no caminho, para que se protegesse o ambiente da poluição, e se mantivesse a saúde e a pureza. Podemos destacar a importância dessa recomendação se entendermos o perigo que o lixo produzido pelo homem representa para nossa saúde e para o meio ambiente, sobretudo, o papel que esses contaminantes na água desempenham na propagação de doenças para a comunidade que a consome, seja bebendo, se banhando ou consumindo frutos regados com essa água. Relatou-se de Imam Sádiq (as) que: "O Santo Profeta (saas) proibiu a defecação na beira de um poço, rio ou debaixo de uma árvore frutífera." (n17) Também relatou do Profeta (saas) que tenha dito: "é proibido urinar na água estagnada." (n18) E ele (as) mencionou ainda do Profeta (saas) que tenha dito: "em verdade, Deus vos alerta, "Oh, minha nação! Eu vos proíbo vinte e quatro coisas," e ele recitou-as até que disse, "Ele vos previne contra o ato de urinar à beira de um rio." (n19) 4. A proibição de permanecer em estado de "najasah" (estado de impureza) e a purificação: Quando estudamos a filosofia das leis islâmicas, percebemos a preocupação e o cuidado dessas leis com a proteção do homem. Os juristas resumiram a filosofia das leis islâmicas e as analisaram numa fórmula simples, que é, "atrair o melhor interesse (masalaha) e repelir o mal (a corrupção) (mafasid)." Assim sendo, "masalaha" e "mafasada" são dois critérios de uma lei particular e a razão de sua legislação. E, naturalmente, quando da prática desse princípio legislativo sobre coisas que a lei islâmica prescreve, como a impureza de determinadas coisas, e a proibição de consumí-las ou vendê-las, e a necessidade de purificar-se delas antes da oração, uma pessoa compreenderá o valor das leis islâmicas e sua exortação contra o mal que é prejudicial à saúde. Em vista disso, a shari'ah denomina as seguintes coisas de "najis" e exige a purificação em relação a elas antes da oração ou do tawaf (o ato de rodear a Kaaba): 1. A urina e as fezes humanas, bem como os dejetos dos animais que sejam proibidos para o consumo. 2. O cadáver humano, dos animais cujo sangue jorra quando sacrificados. 3. O esperma humano e o dos animais cujo sangue jorra quando sacrificados. 4. O sangue humano e o sangue dos animais cujo sangue jorra quando sacrificados. 5. As bebidas alcoólicas. 6. Os porcos e os cães. Sem dúvida, o atual problema humano, especialmente nas grandes cidades, se trata de como nos livrar dos dejetos humanos e animais e de como dar uma correta destinação aos cadáveres, pois constituem fontes evidentes de micróbios e de perigosas doenças que acometem o ser humano. Além disso, a utilização das impurezas acima mencionadas, poluindo o meio ambiente foi proibida e o homem recebeu a ordem de se livrar delas. Deus Onipotente diz: "...Deus não deseja impor-vos carga alguma; porém, quer purificar-vos e agraciar-vos, para que Lhe agradeçais." (Ma`ida 5:6) Com efeito, a pessoa que examinar cuidadosamente essas normas de purificação, perceberá que o método de purificação islâmico é o mais perfeito sistema para proteção da saúde e do meio ambiente. Menciona a água, a terra, o sol como sendo purificadores naturais de todos os elementos impuros, como os dejetos humanos, os cadáveres, o sangue e o sêmen de alguns animais. Também considera a transformação (istihala) de um determinado estado para outro, como a transformação de um cadáver em cinzas pela combustão, um dos elementos de purificação. Ademais, o método de purificação islâmico é composto de diferentes modalidades, que se encontram entre os mais perfeitos processos e práticas de proteção ambiental, que são: a. O Islam, ao considerar os cadáveres, o sangue, o sêmen e os dejetos do homem e de alguns animais como "najis" (impuros), o que as pesquisas científicas confirmam serem fontes de algumas doenças e de poluição ambiental, ordena que sua purificação e remoção do corpo humano e de utensílios como as roupas, os tapetes, etc, pelo uso da água e dos demais purificadores como obrigatório. O Islam também legisla a purificação de alguns "mutanajjisat" (objetos que se tornam impuros pelo contato com impurezas) por meio da terra, dos raios de sol, elementos que cientificamente são provados serem microbicidas. Mediante esta medida, o Islam preconiza a purificação do ambiente e a proteção do mesmo em relação aos riscos da poluição. b. A inumação dos cadáveres: o Islam tornou obrigatória a inumação dos cadáveres humanos, que é uma das mais importantes medidas no sentido da eliminação dos micróbios e a proteção do ambiente humano. c. O banho: O Islam legislou diferentes tipos de banho (ghusl) para a limpeza e proteção do corpo em relação as impurezas e demais fontes de doenças, com isso, tornou compulsório o "ghusl" e outras práticas, recomendadas. As compulsórias são: Ghusl al Janabah: É obrigatório para um "junub" (uma pessoa em estado de impureza ritual devido a ejaculação ou relação sexual) se purificar através do banho ritual para que possa realizar o sallah (a prece) ou o jejum. O Islam legislou como "makruh" indesejável, que uma pessoa em estado de impureza durma, coma ou beba algo sem antes realizar o banho ritual. Ghusl al-Haidh. Ghusl al-Istihadhah. Ghusl-e-Massil-e-Mayyit. Ghusl an-Nifas. Os banhos mustahab (meritórios) que o Islam recomenda que se faça, são muitos, o mais importante deles é o ghusl da sexta-feira para a purificação do corpo. d. A ablução (wudhu): a ablução na perspectiva islâmica, é o método mais evidente de purificação do homem. O Islam tornou compulsórias aos muçulmanos cinco preces diárias (a partir dos nove anos para as meninas e dos quinze anos para os meninos) e essas preces não podem ser cumpridas sem o devido estado de ablução. Assim, a pessoa se ablui cinco ou pelo menos três vezes ao dia para a prece, quer seja a compulsória ou a voluntária, que sem o estado de pureza ritual não é válida. Por conseguinte, a ablução é considerada purificação, na qual o ato de lavar a face e as mãos é compulsório e o enxaguar a boca e lavar as narinas são práticas recomendadas. Além de legislar como obrigatória a ablução, o Islam exorta os fiéis para que estejam em estado de pureza ritual quando realizarem alguns atos recomendados de adoração, como a leitura do Alcorão, e também recomenda a realização da ablução antes de dormir. e. A limpeza dos móveis e dos demais utensílios domésticos: a preocupação do Islam com a limpeza do ambiente pode ser atestada também por sua proibição do consumo de coisas impuras ou que tenham sido contaminadas por coisas impuras. Portanto, é obrigatório para aquele que deseja comer ou beber utilizando um prato ou um copo, que eventualmente tenha sido contaminado por algo impuro, purificá-lo com água, ou em alguns casos, com água e areia (terra limpa), antes de utilizá-lo. Os livros de jurisprudência discutiram o método de purificação de tais itens quando entram em contato com substâncias impuras (para maiores detalhes, favor pesquisar os livros sobre o assunto). 5. A proibição de alguns alimentos e bebidas e algumas outras práticas, como o se alimentar da carne de animais mortos por razões desconhecidas (ou sacrificados de modo incorreto), beber o sangue, as bebidas inebriantes ou o uso de drogas, que são elementos destrutivos da saúde e do bem estar da sociedade. 6. A proibição das relações sexuais (ou prática sexuais) ilícitas, como a homossexualidade, o lesbianismo, a masturbação, etc. 7. A criação do conceito de "nem dano ou prejuízo deliberado” (ladharara wa la dhirara). Com este grande conceito ou princípio que dá o direito de impedimento de qualquer prática ou ato que produza algum resultado prejudicial, podemos dizer que o Islam proibiu qualquer coisa que seja danosa ao ambiente. Portanto, cabe aos sábios e eruditos religiosos, em outras palavras, é sua responsabilidade especificar tais atos ou práticas prejudiciais. Em seguida, se torna responsabilidade do governo proibi-los, como também proteger o bem estar e a coexistência pacífica de seus cidadãos. 8. A responsabilidade de "ordenar o bem e proibir o mal" (al amru bil ma'rufi wan nahayi anil munkar): esta injunção, bem como o direito e a jurisdição dada a um governante pelo Islam para o cumprimento de seus deveres, forma uma atmosfera reformadora na sociedade islâmica. E isso compreende todos os requerimentos necessários que possam assegurar a proteção do ambiente e seu desenvolvimento para o interesse dos seres humanos. Assim, as leis islâmicas se baseiam na fórmula: "Atrair os melhores interesses e repelir a corrupção." E que o princípio de "auxiliai-vos mutuamente no bem e na piedade, e não auxiliai-vos no pecado e na agressão" é uma ampla base para a proteção do ambiente (social) e para a preservação do sistema natural, pois o versículo proíbe a agressão à natureza e à vida e exige um relacionamento coletivo em prol da bondade e da reforma. A Flora. "É Ele quem envia a água do céu, da qual bebeis, e por meio da qual brotam arbustos com que alimentais o gado. E com ela faz germinar a plantação, a oliveira, a tamareira, a videira, bem como toda a sorte de frutos, Nisto há um sinal para os que refletem." (Nahl 16:10-11). Em nossa discussão anterior, apresentamos a opinião e o ponto de vista de alguns eruditos e pesquisadores na área da botânica, e a relação dos vegetais e o equilíbrio ambiental. Também, demonstramos o papel das plantas na vida dos animais e do homem, não no campo têxtil, alimentar ou medicinal, mas na organização e no equilíbrio do meio ambiente. A importância do equilíbrio da proporção de oxigênio e dióxido de carbono, da prevenção e debelação de enchentes, da retificação da atmosfera e da renovação da fertilidade do solo, foram também destacadas. Os vegetais são a terceira criatura vivente neste mundo e a primeira forma de vida, criatura produzida, são companheiras dos homens e dos animais. Sobre essa questão, em diferentes passagens o Alcorão trata das plantas, das colheitas, das árvores, das terras aráveis, do ambiente vegetal e da relação do homem e as plantas. A mensagem islâmica encoraja a agricultura e o plantio de árvores, e proíbe o corte e a remoção de árvores durante a guerra como alguns governantes de nosso tempo praticam, devido a sua brutalidade. Portanto, o Islam apela para a proteção da flora e o cultivo de árvores para a preservação da sanidade ambiental. Ademais, o Islam considera o plantio de árvores e a preservação da terra como um ato de adoração e uma caridade, um ato que se conforma com a condição de companheirismo do homem, das plantas e dos animais. Deus evidencia isso, dizendo: "Ele foi quem vos criou da terra e nela vos enraizou." (11: 61) Também na tradição profética, narrou-se do Santo Profeta (saas) que: "Não há muçulmano que cultive uma planta ou semeie uma safra que pássaros, animais ou pessoas comam dela, que não tenha uma recompensa por isso. (n20) "Nenhum homem cultiva uma planta a menos que Deus registre uma recompensa para ele, tanto quanto os frutos que cresçam dela" (n21) O Profeta(saas) enfatiza ainda o plantio quando diz: "Se uma pessoa possui uma semente de palmeira e pode semeá-la antes de ser ressuscitada no Dia do Julgamento, ela deve fazê-lo." (n22) E foi relatado dele (saas) que tenha dito: "Um muçulmano não cultivará uma planta que um homem ou animal coma de seus frutos, sem que tenha uma recompensa por isso." (n23) Ibn Umar relata: "Estávamos na presença do Santo Profeta (saas) quando um caroço de tâmara foi trazido, então ele (saas) disse: "Em verdade, entre as árvores, há uma que é como um muçulmano," e eu quis dizer que era a plameira, mas quando olhei em volta percebi que eu era o mais jovem dos presentes ali. Então, o Santo Profeta (saas) disse: "É a tamareira." (n24)  Esta foi a maneira que o Profeta (saas) tornou a agricultura e a preocupação com a proteção ambiental para o benefício do homem e dos animais um ato de adoração, uma caridade e por outro lado, comparou a tamareira com o muçulmano que proporciona um grande benefício à comunidade. Quando discute a questão do crime ou da agressão contra a vida, o Alcorão condena os destruidores do ambiente animal, humano e vegetal, denomina tal agressão como um agressão a humanidade, pois, a agressão contra as fontes da vida do ser humano é uma agressão contra ele próprio. Com respeito a isso o Alcorão diz: "E quando se retira, eis que sua intenção é percorrer a terra para causar corrupção, devastar as semeaduras e o gado (...)" (Baqara 2:205) Neste versículo, o Alcorão compara a destruição das plantas e dos animais com a corrupção da terra, e a considera uma agressão contra o sistema da vida, um mal que deve ser eliminado. Portanto, a partir disso, podemos perceber como os princípios da lei islâmica e suas ideologias correspondem às leis naturais e do sistema equilibrado da vida. Esses dois pontos mostram bem a sabedoria e a vontade de Deus em Sua legislação e criação. Protegendo a Fauna. "Na criação dos céus e da terra ; na alteração do dia e da noite; nos navios que singram o mar para o benefício do homem; na água que Deus envia do céu, com a qual vivifica a terra, depois de ter sido árida e onde disseminou toda espécie animal; na mudança dos ventos; nas nuvens submetidas entre o céu e a terra, (nisso tudo) há sinais para os sensatos." (Baqara 2:164) "Não existe seres que andem sobre a terra, nem que voem no céu, que não constituam nações semelhantes a vós. Nada omitimos no Livro; então, serão congregados ante seu Senhor." (An`am 6:38) "Não existe criatura sobre a terra cujo sustento não dependa de Deus; Ele conhece sua estância temporal e permanente; porque tudo está registrado num Livro lúcido." (Hud 11:6) "Não reparas acaso, em que tudo o que há nos céus e tudo o que há na terra se prostra diante de Deus? O sol, a lua, as estrelas, as montanhas, as árvores, os animais e muitos humanos?... (Hajj 22:18) "Não reparas, acaso, em que tudo o que há nos céus e na terra glorifica a Deus, inclusive os pássaros, ao estenderem suas asas? Cada um está ciente de seu(modo de ) orar e louvar (...)” (Nur 24:41) "(...) Nada existe que não glorifique Seus louvores; porém, não compreendeis suas glorificações" (Isra` 17:44) "E criou o gado, do qual obtendes vestimentas, alimento e outros benefícios. E tendes nele encanto, que quando o conduzis aos apriscos, quer quando, pela manhã, os levais para o pasto." (Nahl 16:5-6) "E (criou) o cavalo, o mulo e o asno para serem cavalgados e para o vosso deleite, e cria coisas mais, que ignorais." (Nahl 16:8) "É Ele quem envia água do céu, da qual bebeis e mediante a qual brotam arbustos com que alimentais o gado. E com ela faz germinar a plantação, a oliveira, a tamareira, a videira, bem como toda sorte de frutos. Nisto há um sinal para os sensatos." (Nahl 16:10-11) "E fixou na terra sólidas montanhas, para que ela não estremeça convosco, bem como os rios e caminhos pelos quais vos conduzis." (Nahl 16:15) "Bem como em tudo o que vos multiplicou na terra, de variegadas cores, certamente nisto há um sinal para os que meditam." (Nahl 16:13) "E foi Ele quem submeteu a vós, o mar, para que dele comêsseis carne fresca e retirásseis certos ornamentos com que vos enfeitais. Vedes nele os navios sulcando a água, à procura de algo de Sua graça; quiçá sejais agradecidos." (Nahl 16:14) "Se pretendeis contar as mercês de Deus, nunca podereis enumerá-las. Sabei que Deus é Indulgente, Mui Misericordioso." (Nahl 16:18) Nesta coletânea de versículos, o Alcorão descreve o meio ambiente de um modo admirável, e reúne seus diferentes componentes, o homem, a terra, o ar, a atmosfera, os rios, os mares, a chuva, as plantas, os animais, os pássaros, os peixes, etc, numa mesma circunstância e numa perfeita e complexa formação servindo um propósito interrelacionado e específico. Daí que, tudo isso tenciona o interesse e o bem estar do homem, e por isso ele é o centro e o responsável pela proteção do meio ambiente. Relacionado a isso, o Alcorão alerta aqueles que destróem e poluem o meio ambiente, da seguinte maneira: "E não corrompais a terra , depois dela ter sido pacificada..." (A`raf 7:56) Em outra passagem, o Alcorão descreve os que espalham a corrupção na terra e tratam o sistema da vida na terra e no mar de modo irresponsável, como pessoas nefastas e pervertidas, o Alcorão declara: "A corrupção surgiu na terra e no mar por causa do que as mãos dos humanos lucraram...." (Ar Rum 30:41) "E quando se retira, eis que sua intenção é percorrer a terra para causar corrupção, devastar as semeaduras e o gado..." (Baqara 2:205) De fato, a partir desses versículos, podemos compreender a preocupação do Islam com o mundo animal e com todo ambiente da vida. O Islam se dirige ao homem e apresenta a ele uma fórmula essencial de como viver com as outras criaturas que compartilham o mesmo ambiente, a fim de estar apto a dispô-las à seu serviço, com a permissão de Deus. O Alcorão descreve essa questão dizendo: "Para que vos acomodásseis sobre eles, para assim recordar-vos das mercês de vosso Senhor, quando isso acontecesse. Dizei: Glorificado seja Quem no-los submeteu, o que nunca teríamos conseguido fazer." (Zukhruf 43:13) Na mesma consideração, porém, o Alcorão descreve o mundo animal como um mundo independente, que tem seu próprio sistema, suas próprias leis, formações sociais e relações entre seus elementos, com seu Senhor, com o homem, as plantas e o mundo material. O Alcorão descreve isso dizendo: "Não existem seres que andem sobre a terra, nem que voem no céu, que não constituam nações semelhantes a vós. Nada omitimos no Livro; então, serão congregados ante seu Senhor." (An`am 6:38) Portanto, os animais são criaturas como nós, que possuem seus próprios sistemas, dos quais até agora o homem não foi capaz de descobrir muito. O Alcorão retrata os animais como criaturas que conhecem seu Senhor, se dirigem a ele e têm suas próprias formas de oração, "dhikr" e prostração de acordo com a sua existência, ainda que os homens, em sua maioria, não sejam capaz de perceber isso. E como o homem, os animais possuem sua própria riqueza no mundo natural, que é o propósito de Deus Onipotente para eles. Além disso, Deus, através de Sua graça e bençãos, criou animais para o serviço do homem, para que se sirva de suas carnes e derivados, utilize seu pêlo e outras partes (para vestimenta e propósitos de agricultura) ou os use como montaria, transporte ou no cultivo da terra, ou ainda, os mantenha como fonte de beleza, decoração ou riqueza. O Alcorão põe o mundo animal lado a lado com o mundo dos homens, para que o homem viva com essa criatura como parte de seu ambiente, e ainda, que seja responsável por sua proteção. Por isso o Islam proíbe a agressão e a crueldade com os animais e proíbe sua caça (exceto em época de necessidade) ou matança inútil. O direito e a superioridade dada ao homem sobre os animais consiste em que os use com bondade e tolerância. As leis islâmicas advertem contra o dano aos animais ou a seu ambiente, como por exemplo, a destruição de suas pastagens ou a matança (injustificada); com exceção dos animais que são prejudiciais ao homem, quando necessário. Em situações que matá-los significa preservar a saúde e a vida (serpentes, escorpiões, etc). Com efeito, quando analisamos as leis islâmicas, percebemos as admiráveis razões para a proteção dos animais. Narrou-se do Santo Profeta (saas) que ele advertiu contra a matança das abelhas e dos asnos selvagens (para comer sua carne). Mencionou-se que a segunda proibição teria sido para impedir a extinção desses muares. Em outra tradição, proíbe-se o pegar os pássaros em seus ninhos durante a noite ou antes de que tenham crescido o suficiente para voar. A razão disso é que os princípios islâmicos respeitam a lei do equilíbrio ambiental entre o homem e os animais, por conseguinte, os animais possuem o direito de se protegerem de qualquer intruso quer seja pela fuga ou revoada, sendo que na situação mencionada não podem exercê-lo. A lei que mencionamos anteriormente,"la dharara wa la dhirara" tem um efeito predominante no campo da proteção e da preservação do ambiente animal. Como na proibição da caça e da pesca na estação reprodutiva, ou na proibição de se lançar substâncias venenosas nos rios para matar os peixes, ou da destruição das árvores e colheitas, ou de se provocar o alastramento da corrupção na terra. Dessa descrição alcorânica, podemos inferir a visão islâmica com respeito aos animais e nossa responsabilidade com este universo, e de como devemos conviver com ele. Já vimos a tradição profética que diz: "Um muçulmano não cultivará uma planta que um homem ou animal coma de seus frutos, sem que tenha uma recompensa por isso." Portanto, toda boa ação que um homem realiza, como proteger um outro ser humano ou algum animal, tem uma recompensa. O que demonstra que o Islam se preocupa e encoraja a proteção e a preservação dos animais, e que estes possuem seus próprios direitos e recursos, como os seguintes versículos afirmam: "Comei e apascentais vosso gado! Em verdade, nisto há sinais para os sensatos." (Taha 20:54) "E o fruto e a forragem, para o vosso uso e do vosso gado." (Abasa 80:31-32) "Não existe criatura alguma sobre a terra cujo sustento não dependa de Deus..." (Hud 11:6) Do ponto de vista islâmico a proteção e a alimentação dos animais são atos de caridade e a matança (desnecessária) e o tratamento cruel a eles é uma ação proibida (passível de severa punição). Por outro lado, as leis islâmicas proíbem a mutilação dos animais ou a mudança de suas formas, como corte de orelhas, a castração, etc., quer seja manual ou mecanicamente, com o uso de instrumentos modernos. Deus amaldiçoou Satã que ilude o homem, que tenta seduzi-lo para realizar esse ato agressivo, e Deus Onipotente, citando a astúcia de Satã contra o homem, diz: "(Disse Satã) Ordenarei a eles aparar as orelhas do gado e os incitarei a desfigurar a criação de Deus! Contudo, aquele que tomar Satã por protetor , em vez de Deus, claramente ter-se-á perdido." (Nisa` 4:119) Mediante esses textos, leis e conceitos podemos compreender os princípios islâmicos que conclamam à proteção dos animais e do meio ambiente. O Governo e a Proteção Ambiental. O Islam denomina como governo uma força política responsável pela proteção do bem estar de seus cidadãos, pela administração e o planejamento das questões da sociedade. Essa orientação ou proteção abrange todos esses diferentes empreendimentos, políticos, financeiros, sociais e sanitários... etc, para preservar o sistema da vida, o qual inclui a personalidade, o físico, o intelectual e o âmbito material. Os eruditos islâmicos resumiram esse conceito como o principal componente no sistema social do Islam, e o que possui o princípio mais amplo e universal, que é: O Islam veio com o intuito de proteger os melhores interesses do homem e repelir a corrupção da terra. De modo semelhante, esses princípios agem no sentido de organizar as leis naturais, a lei do "la dharara wa la dhirara", que um texto profético, que atua no campo da vida legislativa do homem. Assim sendo, existem normas ou princípios intelectuais e legislativos que habilitam o governo, e o obrigam à proteção ambiental, que são: La dharara wa la dhirara" 2. O Islam veio com o intuito de proteger os melhores interesses do homem e repelir a corrupção da terra. 3. O governo islâmico é responsável pela proteção do bem-estar de seus cidadãos e por seus interesses gerais, como o Santo Profeta (saas) disse: "O líder é um pastor e é responsável por seu rebanho. "De acordo com esses princípios, um governo, do ponto de vista islâmico, é responsável pela preservação do ambiente e da natureza, pois a preservação do ambiente humano, dos animais e dos vegetais é o mais evidente aspecto dos interesses do homem, da preservação e o impedimento da corrupção na vida material. Assim, essas normas intelectuais e legislativas habilitam o governo a proibir o corte de florestas, ou a destruição das árvores frutíferas, a caça ou a pesca nas estações reprodutivas, ou a caça em regiões que o número de animais é menor, para preservá-los da extinção (...) etc. O governo também é responsável pelo impedimento ou proibição de qualquer ato que seja prejudicial ao meio ambiente, como o uso de substâncias tóxicas ou venenosas, ou que contenham micróbios com o risco de contágio, ou a construção de indústrias que causem poluição dentro da cidade depositando resíduos na proximidade de habitações ou comunidades. Porque todas essas práticas são danosas e destrutivas do sistema da vida e espalham a corrupção na terra, após ela ter sido bem organizada e edificada, o Alcorão proíbe isso em sua declaração: "E não corrompais a terra, depois dela ter sido pacificada..." (A`raf 7:56) Louvado seja Deus, o Senhor dos Mundos. www.mesquitadobraz.org.br. Abraço. Davi