Religião
Afrodescendente. Livro UMBANDA. A Proto-Sintese Cósmica. PREFACIANDO. Sim,
Caboclo pede licença aos poderes das divindades, ou seja, aos Orishas
Superiores, para expressar para a coletividade umbandista as verdades, ou
melhor, levantar um pouco do véu dos arcanos, para reafirmar ou mesmo revelar
muitas coisas que fazem o mistério da vida deste mundo e do outro. Esses
ensinamentos que o leitor vai encontrar nesta obra foram transmitidos por
intermédio dos canais mediúnicos de E Rivas Neto, filho do meu "Santé",
ou seja, coroado em nosso Santuário de Itacuruçá. Ele é um Mestre de Iniciação
de 72 grau, no grau de mago, e com a outorga do Astral Superior de promover a
Iniciação de seus médiuns. Assim, desejamos que o leitor se conscientize de que
esse "Caboclo" (Entidade Espiritual que usa a roupagem fluídica de
índio), que pede agô (licença) para transmitir o que vai transmitir, traz
ensinamentos da doutrina esotérica da Umbanda. Quando qualificamos de Umbanda
Esotérica, queremos que fique bem claro que ela não tem nada em comum com o
"Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento". É só o leitor abrir um
dicionário e verificar o que significam os termos esotérico e exotérico, que
são as coisas internas e externas, respectivamente. Assim é que, como Umbanda
em seus aspectos externos, entendemos os rituais que são produzidos pelos
atabaques ou palmas, quer seja nos terreiros, praias, cachoeiras, etc,
alimentados por crenças, crendices e superstições, sem querermos apontar
diretamente para o animismo vicioso que pode se manifestar nesses setores ditos
dos cultos afro-brasileiros. Então, "Caboclo" vem através de seu
médium autenticar os ensinamentos mais límpidos, que são eternais ou de todas
as escolas esotéricas ou filosóficas de conceito da antiguidade. Assim é que ele
fala primeiro da Divindade Suprema sem que com isso queira defini-la, e rasga
os véus de certos mistérios que eventualmente foram ditos muito por alto em
obras de outros autores conceituados. Assim é que fala do Além, isto é,
"do outro lado da vida", das vivências grosseiras que existem e
aguardam os Seres Espirituais imprevidentes que se mancharam de vícios,
egoísmos, ódios, ambições, luxúria, e que são imediatamente atraídos para
campos de teor vibratório de energias degradantes e morbosas após o desencarne.
Eles são reconhecidos devido a aura de seus corpos astrais, ou seja, pela cor
vibratória que modela suas características psicoastrais. Esta obra é de certa
forma um pouco contundente, porque revela conceitos que podemos chamar até de
inéditos. Em Umbanda — A Proto-Síntese Cósmica o leitor vai verificar como essa
entidade fala das 7 fases da Umbanda no Brasil, como tem um ensinamento muito
preciso sobre os Exus, como aborda a questão do desencarne, etc. Caboclo 7
Espadas, que é como se identifica essa Entidade, fala com muita propriedade da
ancestralidade da Umbanda, vindo até a comprovar a sua origem no seio da Raça
Vermelha, em pleno solo brasileiro. Faz o mesmo com a origem do termo Exu,
coordenação precisa de termos que sofreram ligeiras alterações semânticas, mas
que no fundo são a mesma coisa. Inumeráveis leitores de nossas obras vão
encontrar semelhanças no que escrevemos e no que está nesta obra.
Evidentemente, a verdade não são duas, é uma só. Uns alcançam-na até certo
ponto e outros ainda vão além, dentro de sua relatividade. Finalizando este
prefácio, queremos dizer aos nossos leitores que nos sentimos até certo ponto
envaidecido com o que Umbanda — A Proto-Síntese Cósmica ensina. Portanto,
leia-o leitor, atentamente, porque vai ficar plenamente satisfeito. Mestre
Yapacany Woodrow Wilson da Matta e Silva. São Paulo 18 de dezembro de 1987. NO
LIMIAR DE UMA NOVA ERA. Escrever um livro talvez não seja tarefa das mais
fáceis, mormente em se tratando de assunto tão pouco aceito pela maioria das
humanas criaturas, mesmo aquelas que se dizem umbandistas. Acreditamos que seja
esta uma das raras oportunidades em que a Cúpula da Corrente Astral da Umbanda
se predispõe a informar seus prosélitos e Filhos de Fé através de uma forma
não-habitual que chamaremos dimensão-mediunidade. Propositadamente, deixaremos
aqui o linguajar tão comum nos terreiros que atendem a grande massa de seres
que, por motivos vários, se situam na faixa kármica afim à Sagrada Corrente
Astral de Umbanda. Mas urge que esclareçamos que essa é apenas uma das formas
de comunicação entre nós, "Guias" de Umbanda, e os inumeráveis Filhos
de Fé que peregrinam por esses "terreiros". Assim, Filho de Fé,
entregamos a ti, agora, um pequeno volume que outra pretensão não tem a não ser
a de mostrar que Umbanda se agita e se expressa de mil formas e que, neste
clarear de uma Nova Era, queremos tornar mais esclarecida e espiritualizada a
nossa grande família umbandista. Claro que de inédito esta obra não terá nada.
Outros já com louvor escreveram os reais fundamentos de nossa Doutrina, que
ainda infelizmente custa a ser assimilada pelos melhores e mais entendidos
Filhos de Fé. Nossa gratidão a todos aqueles que já escreveram, pela obra
benemérita, pelo compromisso e pela missão. De nossa parte, queremos transmitir
notícias-ensino de caráter bem abrangente, que possam preencher a lacuna de
todos aqueles que esbarram logo de início nas lições mais simples desta nossa
tão sagrada Umbanda. Assim, este pequeno volume visa ser informativo, buscar
novos enfoques. Como dissemos, a Doutrina em seu bojo já foi descrita e
esmiuçada por Filhos de Fé que ainda se demoram no plano físico em missão de
esclarecimento e auxílio a essa grande coletividade universal, que hoje é
denominada adepta dos cultos afro-brasileiros. Filho de Fé, que a Suprema Luz
do Senhor Jesus inunde todo o teu ser em Paz, Amor e Harmonia, e que estas
notas possam despertar-te para as coisas maiores da vida e de nossa Doutrina.
Que este pequeno volume fale por si mesmo. Que suas letras, frases e capítulos
sejam o rumo para uma vida de umbandista mais aberta, mais consciente e mais
ligada aos nossos verdadeiros fundamentos. Nesta obra não estamos interessados,
como dissemos, em grandes revelações, mas deixamos a critério do
"Caboclo" que escreve o livro se aprofundar naquilo que achar
necessário, e que o mesmo possa, como velho participante ativo desse Movimento,
estender sobre todos seu entendimento e atenção. A esse nosso "mano"
de Corrente, nosso sincero saravá e agradecimento. Assim Urubatão da Guia
agradece a atenção de todos os que lerem esta obra. Queiram receber desse
humilde Caboclo votos de assistência e paz de Oxalá em seus caminhos. Creiam
que o Caboclo guardará no coração todos que, ao lerem este livro, fizerem-no
por amor às coisas da Umbanda, ou mesmo por mera curiosidade. Assim, que o
SENHOR JESUS te cubra com Seu manto de Luz, Paz e Amor. E vamos às palavras de
Caboclo, que já pediu agô... Anauan ... Savatara ... Samany ... Urubatão da
Guia. Arashamanan. CABOCLO PEDE AGÔ. O inabitual sempre traz espanto e quase
sempre descrença! Por mais bem-intencionada que seja a maioria dos Filhos de Fé
que se agrupam nos mais variados terreiros, raros deles podem crer que Caboclo
deixe o terreiro, o charuto, a vela, e troque a pemba de giz pela pemba de
lápis ou caneta. De fato não trocamos, apenas usamos, também, quando temos
oportunidade, o lápis, em algum recinto do terreiro ou em qualquer local em que
o "cavalo" (médium) sentir-se bem à vontade — vibratoriamente
falando. Assim, sabemos que muitos de nossos "Filhos de Terreiro" não
estão habituados a observar um Caboclo de Umbanda fazer uso do lápis. De fato,
não nos é comum expressarmo-nos nesta modalidade mediúnica, que é a
dimensão-mediunidade, que também pode ser traduzida como psicografia dimensional
e sensibilidade psicoastral. A grande maioria dos Filhos de Fé, bem como a
grande massa de crentes, está acostumada a ver Caboclos "montarem" em
seus "cavalos" através da mecânica de incorporação. Não raras vezes,
falamos de maneira que nem sempre quem nos ouve nos entende, precisando da
ajuda imprescindível do cambono. Muitas vezes usamos este artifício visando nos
tornar bem próximos do consulente, bem como permitir que o cambono aprenda e
observe as mazelas humanas, e saiba como encará-las de frente, segundo nossas
próprias atitudes perante cada consulente. Outros, menos ligados aos fenômenos
da Ciência do Espírito, não conseguem entender como um Caboclo (Entidade
Espiritual que usa a vestimenta fluídica de um Ser Espiritual da Raça Vermelha)
pode escrever através de seu "cavalo" ou dizer coisas que só o homem
civilizado conhece. Como pode um Caboclo escrever? No tempo em que ele vivia na
Terra era analfabeto, nem sabia que tinha escrita, muito menos ciência,
filosofia, etc. E, muitos Filhos ainda pensam assim! Pura falta de informação
sobre as leis da reencarnação e sobre a lei dos ciclos e dos ritmos. Caboclo
acredita que realmente à primeira vista, isto pode suscitar dúvida e descrença,
tanto sobre o Caboclo como sobre o intermediário entre os dois planos — o
médium ou cavalo. A grande maioria tem em mente que o Caboclo não fala
português, é bugre da mata virgem; como, de repente, já vem ele ditando
normalmente o português, ou, o que é mais estranho, escrevendo? Realmente
muitos pensarão: Ou o cavalo é mistificador, ou essa Entidade que diz ser um
Caboclo não o é. Pode até acontecer que algum cavalo seja mistificador e que
algum Caboclo não seja Caboclo, mas palavra de Caboclo que o Caboclo que aqui
escreve é o mesmo que baixa no terreiro, e que o cavalo é o mesmo que nos
"recebe" nas sessões semanais, tanto no "desenvolvimento"
mediúnico como nas sessões de caridade, onde atendemos grande número de
consulentes, por meio da mecânica de incorporação. Os mecanismos são
diferentes, mas as finalidades não, pois ambas visam direcionar os Filhos de
Fé, dirimindo as suas dúvidas. Imaginem, como simples exemplo, se de repente,
em todas as "giras", o Caboclo se apresentasse não na incorporação,
mas completamente materializado, isto é, se todos os Filhos de Fé, sem
precisarem fazer uso da mediunidade que lhes dilatasse os poderes de alcance
visual, nos vissem em corpo astral densificado?! Provavelmente, de início,
ficaríamos com pouquíssimos ou nenhum Filho de Fé no terreiro! Uns sairiam
correndo apavorados e tresloucados. Outros ficariam extáticos, em profunda
hipnose, tal o choque psíquico. Outros mais, peto estresse, teriam fortes
descargas de adrenalina, podendo ter crises de arritmias graves e até espasmos
coronarianos, distúrbios que poderiam levá-los ao desencarne. Com isso,
afirmamos que tudo que foge do habitual traz espanto, traz dúvidas. Isso é
naturalíssimo! Mas um dia teríamos que começar a nos manifestar sob outras
formas não-habituais. E de há muito já começamos! Esta é mais uma dessas
formas. Mas, com o decorrer do tempo, tudo tornar-se-á comum. Esperemos! Os
tempos são chegados! Para muito breve, veremos que muitos dos Filhos de Fé se
acostumarão a ver seu próprio Caboclo também ditando um livro, uma mensagem.
Chegará o tempo em que as mensagens ditadas serão tão habituais como a
importantíssima mecânica de incorporação em nosso ritual. Filhos de Fé!
Entendam que o Caboclo que ora escreve é um desses mesmos Caboclos que
"baixam no terreiro" e atendem aos Filhos de Fé, nas tão costumeiras consultas,
conselhos, passes, etc. Este Caboclo é o mesmo 7 Espadas de Ogum, que
"baixa" nas sessões de nossa humilde tenda, e que agora, nestas
pequenas lições, vez por outra usará termos tão comuns em nossas "giras de
terreiro". Os Filhos de Fé de nossa humilde choupana de trabalhos já estão
acostumados com as variações da mediunidade e entendem que o ser espiritual
pode usar a vestimenta astral que melhor lhe aprouver, tudo visando ser melhor
compreendido quando se dirigir aos filhos da Terra, ainda presos a certos conceitos
arraigados sobre Caboclos, Pretos Velhos, etc. Devemos entender também que a
mediunidade é fruto do perfeito entrelaçamento vibratório entre o cavalo
(médium) e a entidade atuante, através de sutis laços fluídico-magnéticos, e
principalmente através da sintonia e dos ascendentes morais-espirituais. Quando
queremos ditar, escrever ou levar o cavalo a certos transes mediúnicos
(dimensão-mediunidade), emitimos certa ordem de fluidos que se casam com os do
cavalo, tanto em seu mental como em seu emocional (corpo astral), fazendo com
que ele sinta nossa presença, em forma de "um quê" que o emociona até
as fibras mais íntimas de seu ser, e "um quê" que o deixa levemente
ansioso, devido a vibrarmos com alguma intensidade em certas regiões de seu
sistema nervoso central e nos centros superiores da mente, principalmente nos
lobos frontais e temporais e em todo o complexo celular neuronal
moto-sensitivo. Por processos astrais técnicos que regem o mecanismo mediúnico,
e mesmo etérico físicos, que deixaremos de explicar por fugir da singeleza
destas lições, o cavalo conscientemente sente-nos a presença e, como servidor
leal, aquiesce de boa vontade à tarefa que irá desempenhar em comunhão conosco.
Não raras vezes, nos vê através da clarividência, e a maior parte das vezes
pela sensibilidade psicoastral. Pronto! Entidade e cavalo agora formam um
complexo em perfeita simbiose espiritual, todo favorável aos trabalhos que irão
ser desenvolvidos. Ativamos certas zonas em seu corpo mental e em todo o
sistema nervoso periférico, para que não haja excessos de desgaste energético
em sua economia orgânica. Desde a epífise, a glândula da vida espiritual,
passando por complicada rede hipotalâmica, chegamos a promover esta ou aquela
ativação ou inibição hormonal. Tudo é criterioso; não podemos lesar nem
sobrecarregar tão abnegado cavalo que montamos e dirigimos. Em rápidas
palavras, apresentamos resumidamente os cuidados e as técnicas para a execução
deste livro. Foi dessa forma que surgiu este pequeno volume que agora está em suas
mãos. Nele, procuramos um enfoque simplificado dos tópicos mais complicados, em
que muitos Filhos de Fé desanimam em progredir em seus estudos e conclusões.
Esperamos alcançar o objetivo. Já é alta madrugada, Caboclo falou demais... O
dia já vai clarear e o galo vai cantar, anunciando um novo dia de bênçãos
renovadas que vai chegar. Povo d'Aruanda, lá no Humaitá (plano do astral em que
vibram as entidades de Ogum), já está me chamando... Antes de Caboclo
"subir", ir a "oló", quer deixar fixado no papel as
vibrações de amizade e simpatia por todos os Filhos de Fé. Que Oxalá os abençoe
sempre. — Filho de Fé — Caboclo fala sussurrando para não te assustar. —
Acorda, é novo dia. Os clarins estão tocando e a todos chamando. Abre os olhos.
Abre os ouvidos. E muito principalmente o coração. Caminha trabalhando e
aprendendo sempre. Um novo dia está surgindo. Vamos, desperta! Testemunha com
trabalho o raiar da Nova Era... Filho de Fé, saravá... Estarei sempre contigo.
Fica sempre comigo. Que TUPÃ nos abençoe a tarefa que temos de cumprir. Iremos
cumpri-la. Vamos às lições de Caboclo, que espero serão bem assimiladas por
todos, umbandistas ou não. Assim, Umbanda — Caboclo Pede Agô... Saravá Oxalá –
Senhor do planeta Terra. Saravá Ogum. Yama Uttara ... Ogum ... E... Ê... OGUM.
Caboclo 7 ESPADA (Orishivara). São Paulo, 28 de setembro de 1987. UMBANDA.
Livro A Proto-Síntese-Cósmica. Abraço. Davi
segunda-feira, 30 de setembro de 2019
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
SÓ A COMPAIXÃO É TERAPÊUTICA
Espiritualidade.
Texto de Osho (1931-1990). Amado Osho. Você disse: SÓ A COMPAIXÃO É TERAPÊUTICA. Você poderia comentar sobre a palavra 'compaixão', compaixão por
si mesmo e compaixão pelos outros? "Sim,
somente a compaixão é terapêutica, porque tudo o que é doença no homem é
causado pela falta de amor. Tudo o que está errado com o homem, está de alguma
forma associado ao amor. Ele não tem sido capaz de amar ou ele não tem sido
capaz de receber amor. Ele não tem sido capaz de compartilhar o seu ser. Essa é
a miséria. Isso cria toda sorte de complexos internamente. Aquelas feridas
internas podem vir à superfície de várias maneiras: elas podem se tornar doenças
do físico e doenças mentais, mas no fundo o que o homem sofre é de falta de
amor. Assim como o alimento é necessário para o corpo, o amor é necessário para
a alma. O corpo não consegue sobreviver sem alimento e a alma não consegue
sobreviver sem o amor. Na verdade, sem o amor a alma nunca nasce e nem há essa
questão de sua sobrevivência”. Você simplesmente pensa que tem uma alma. Você
acredita que você tem alma devido ao seu medo da morte. Mas você não a conheceu
a não ser que você tenha amado. Somente no amor a pessoa vem a sentir que ela é
mais do que o corpo, mais do que a mente. É por isso que eu digo que a
compaixão é terapêutica. O que é compaixão? Compaixão é a forma mais pura de
amor. No sexo, o contato é basicamente físico, na compaixão o contato é
basicamente espiritual. No amor, compaixão e sexo estão misturados. O amor está
no meio do caminho entre sexo e compaixão. Você também pode chamar a
compaixão de prece. Você também pode chamar a compaixão de meditação. A forma
mais elevada de energia é a compaixão. A palavra 'compaixão' é bela. Metade
dela é 'paixão'. De alguma forma a paixão se tornou tão refinada que ela não é
mais como uma paixão. Ela se tornou compaixão. No sexo, você usa o outro,
você reduz o outro a um meio, você reduz o outro a uma coisa. É por isso que
numa relação sexual você se sente culpado. Essa culpa nada tem a ver com
ensinamentos religiosos, essa culpa é mais profunda que os ensinamentos
religiosos. Numa relação sexual, enquanto tal, você se sente culpado. Você se
sente culpado porque você está reduzindo um ser humano a uma coisa, a uma
mercadoria para ser usada e jogada fora. É por isso que no sexo você também tem uma sensação de escravidão,
você também está sendo reduzido a uma coisa. E quando você é uma coisa, a sua
liberdade desaparece, porque a sua liberdade somente existe quando você é uma
pessoa. Quanto mais você for uma pessoa, mais livre será; quanto mais você for
uma coisa, menos livre será. Os móveis de seu quarto não são livres. Se você deixar o quarto
fechado e voltar muitos anos depois, os móveis estarão nos mesmos lugares, com
a mesma disposição, eles não se arrumarão numa nova disposição. Eles não têm
liberdade. Mas se você deixar um homem num quarto, você não irá encontrá-lo do
mesmo jeito, nem mesmo no dia seguinte, nem mesmo no momento seguinte. (...). Para uma coisa, o futuro está fechado. Uma pedra
permanecerá uma pedra. Ela não tem qualquer potencial para o crescimento. Ela
não pode mudar, ela não pode evoluir. O homem nunca permanece o mesmo. Ele pode
retornar, ele pode ir adiante, ele pode ir para o inferno ou para o céu, mas
nunca permanece o mesmo. Ele segue se movendo, deste ou daquele
jeito. Quando você tem uma relação sexual com alguém, você reduz aquela
pessoa a uma coisa. E ao reduzi-la, você também se reduz a uma coisa, porque
isso é um acordo mútuo do tipo: 'Eu lhe permito reduzir-me a uma coisa e você
me permite reduzi-lo a uma coisa. Eu lhe permito usar-me e você me permite
usá-lo. Nós usamos um ao outro. Nós ambos nos tornamos coisas'. É por isso (...). Observe dois amantes: enquanto
eles ainda não se acomodaram, o romance ainda está vivo, a lua de mel não
termina e você vê as duas pessoas vibrando com a vida, prontas para
explodir-se, prontas para explodir-se no desconhecido. E depois, observe um
casal de marido e mulher, e você verá duas coisas mortas, dois cemitérios, lado
a lado, ajudando um ao outro a se manter morto, forçando um ao outro a se
manter morto. Esse é o conflito constante no casamento. Ninguém quer ser
reduzido a uma coisa. O sexo é a forma mais baixa daquela energia 'X'. Se
você é religioso chame isso de 'Deus"; se você é um cientista, chame isso
de 'X'. Essa energia, X, pode se tornar amor. Quando ela se torna amor, então
você começa a respeitar a outra pessoa. Sim, algumas vezes você usa a outra
pessoa, mas você se sente agradecido por isso. Você nunca diz muito obrigado a
uma coisa. Quando você está amando uma mulher e você faz amor com ela, você lhe
diz: muito obrigado. Quando você faz amor com sua esposa, alguma vez você lhe
disse muito obrigado? Não, você não dá valor algum. A sua esposa já lhe disse
alguma vez obrigado? Talvez, muitos anos atrás, você consegue se lembrar de um
tempo quando vocês ainda estavam indecisos, quando estavam experimentando,
fazendo a sorte, seduzindo um ao outro, talvez. Mas uma vez que vocês se
acomodaram, ela disse alguma vez muito obrigado a você por alguma coisa? Você
tem estado fazendo tantas coisas por ela, ela tem estado fazendo tantas coisas
por você, vocês ambos têm vivido um para o outro (...) mas a gratidão
desapareceu. No amor existe
gratidão, existe uma profunda gratidão. Você sabe que a outra pessoa não é uma
coisa. Você sabe que o outro tem uma grandeza, uma personalidade, uma alma, uma
individualidade. No amor você dá liberdade total ao outro. Na verdade você dá e
você recebe, é uma relação de dar e receber, mas com respeito. No sexo há
uma relação de dar e receber, mas sem respeito. Na compaixão, você simplesmente
dá. Não há qualquer ideia, em lugar algum em sua mente, de receber algo em
troca. Você simplesmente compartilha. Não que nada retorne. Mil desdobramentos
retornam, mas espontaneamente, simplesmente como uma consequência natural. Não
há qualquer espera por isto. No amor, se você dá alguma coisa, no fundo você fica esperando aquilo
que deve vir em troca. Se aquilo não vem, você percebe uma reclamação interna.
Você pode não dizer, mas de mil e uma maneiras você pode insinuar que você não
está satisfeito, que você está se sentindo traído. O amor parece ser uma
barganha sutil. Na compaixão, você simplesmente dá. No amor, você está
agradecido porque o outro deu alguma coisa a você. Na compaixão você está
agradecido porque o outro recebeu alguma coisa de você, porque o outro não
rejeitou você. Você veio com energia para dar, você veio com muitas flores para
compartilhar e o outro lhe permitiu, o outro estava receptivo. Você está
agradecido porque o outro estava receptivo. A compaixão é a mais elevada forma de amor. Muita coisa vem em troca,
mil desdobramentos eu digo, mas esse não é o ponto, você não fica esperando por
isto. Se não vier, não há qualquer reclamação. Se vier, você simplesmente fica
surpreso. Se vier, isso será inacreditável. Se não vier, não há qualquer
problema, você nunca dá o seu coração a alguém por qualquer barganha. Você
simplesmente distribui porque você tem. Você tem tanto que se você não
distribuir, você se sentirá sobrecarregado. É exatamente como uma nuvem
carregada que tem que chover. E da próxima vez quando uma nuvem estiver
chovendo observe atentamente e você sempre ouvirá; quando a nuvem estiver
chovendo e a terra tiver absorvido, você sempre ouvirá a nuvem dizendo à terra
'muito obrigado'. A terra ajuda a nuvem a se descarregar. Quando uma flor
desabrocha, ela tem que compartilhar a sua fragrância ao vento. Isso é natural.
Não é uma barganha, não é um negócio. Isso é simplesmente natural. A flor está
repleta de fragrância. O que fazer? Se a flor mantiver a fragrância para si
mesma, ela irá se sentir muito, muito tensa, em angústia profunda. A maior
angústia na vida é quando você não pode expressar, quando você não pode
comunicar, quando você não pode compartilhar. O homem mais pobre é aquele que nada
tem a compartilhar, ou aquele que tem algo a compartilhar mas que perdeu a
capacidade, a arte, a maneira de como compartilhar, aí o homem é pobre. O
homem sexual é muito pobre. Em comparação, o homem amoroso é mais rico. O homem
de compaixão é o homem mais rico, ele está no topo do mundo. Ele não tem
qualquer confinamento, qualquer limitação. Ele simplesmente dá e segue o seu
caminho. Ele nem mesmo espera você lhe dizer um muito obrigado. Com tremendo
amor ele compartilha a sua energia. É isso que eu chamo terapêutico.
(...). Para ser compassivo é preciso que se tenha, em primeiro lugar, compaixão
por si mesmo. Se você não amar a si mesmo, você nunca será capaz de amar um
outro alguém. Se você não for amável consigo mesmo, você não conseguirá ser
amável com ninguém mais. Os seus chamados santos, que são muito duros consigo
mesmos, estão simplesmente fingindo que são amáveis com os outros. Isso não é
possível. Psicologicamente isso é impossível. Se você não puder ser amável
consigo mesmo, como você poderá ser amável com os outros? Qualquer coisa que você for consigo mesmo, você
será com os outros. Deixe que isso seja um ditado básico. Se você se detesta,
você irá detestar os outros. E foi-lhe ensinado detestar a si mesmo. Ninguém
jamais disse a você 'ame a si mesmo'. Essa própria ideia parece absurda: amar a
si mesmo? A própria ideia não faz sentido: amar a si mesmo? Nós sempre pensamos
que, para amar, nós precisamos de uma outra pessoa. Mas se você não aprender
consigo mesmo, você não será capaz de praticar com os outros. Foi-lhe dito
constantemente, você foi condicionado, que você não tem qualquer valor. De
todas as direções lhe foi mostrado, lhe foi dito que você é sem valor, que você
não é o que deveria ser, que você não é aceito como você é. Existem muitos
'deves' pendurados sobre a sua cabeça e todos esses 'deves' são quase
impossíveis de serem satisfeitos. E quando você não consegue satisfazê-los,
quando você tem um pequeno tropeço, você se sente condenado. Uma profunda raiva
surge em você em relação a si mesmo. Como você pode amar os outros? Tão
cheio de ódio, onde você irá encontrar amor? Assim, você simplesmente finge,
você simplesmente demonstra que está amoroso. No fundo você não está amoroso
com ninguém, você não pode estar. Esses fingimentos são bons por uns poucos
dias, depois o colorido desaparece, então a realidade se revela por si
mesma. Todo caso amoroso está em cima de pedras. Mais cedo ou mais tarde,
todo caso amoroso se torna muito envenenado. E como ele se torna tão
envenenado? Ambos fingem que estão amando, ambos seguem dizendo que amam. O pai
diz que ama a criança, a criança diz que ama o pai, a mãe diz que ama a filha e
a filha segue dizendo a mesma coisa. Irmãos dizem que amam um ao outro. Todo o
mundo conversa a respeito de amor, canta canções de amor, e você poderia
encontrar outro local tão destituído de amor? Nem uma pitada de amor existe,
e montanhas de falatórios, um Himalaia de poesias a respeito do amor. Parece que todas essas poesias são apenas
compensações. Porque nós não conseguimos amar, nós temos que acreditar de
alguma maneira, através da poesia, da canção, que nós amamos. Aquilo que nos
falta na vida, nós colocamos na poesia. O que nós vamos perdendo na vida, nós
colocamos no filme, na novela. O amor está absolutamente ausente porque o
primeiro passo ainda não foi dado. O primeiro passo é: aceite-se como você
é. Abandone todos os “deves". Não carregue qualquer 'deve' em seu coração.
Não é para você ser algo diferente do que é. Não é de se esperar que você faça
algo que não pertença a você. Você existe para ser exatamente você mesmo.
Relaxe e seja simplesmente você mesmo. Seja respeitoso para com sua
individualidade e tenha a coragem de assinar a sua própria assinatura. Não siga
copiando as assinaturas de outros. Não é de se esperar que você se torne
um JESUS ou um BHUDA ou um RAMAKRISHNA. O que se espera é que você se
torne simplesmente você mesmo. Foi bom que RAMAKRISHNA nunca tentou se tornar
alguma outra pessoa, assim ele se tornou RAMAKRISHNA. Foi bom que JESUS nunca
tentou tornar-se ABRAÃO ou MOISÉS, assim ele se tornou JESUS. E é bom que BHUDA
nunca tenha tentado tornar-se PATANJALI ou KRISHNA. Foi por isso que ele se
tornou BHUDA. Quando você não
está tentando se tornar um outro alguém, então você simplesmente relaxa e uma
graça surge. Então você está cheio de grandeza, esplendor e harmonia, porque aí
não existe qualquer conflito. Nenhum lugar para ir, nada pelo qual brigar, nada
para forçar nem para obrigar-se violentamente. Você se torna inocente. Em
tal inocência, você sentirá compaixão e amor por si mesmo. Você se sentirá tão
feliz consigo mesmo que ainda que Deus venha bater em sua porta e diga: 'Você
gostaria de se tornar uma outra pessoa?, você dirá: 'Você ficou louco? Eu sou
perfeito! Obrigado, e nunca mais tente fazer isso, eu sou perfeito como sou.'
(...). As rosas
desabrocham tão lindamente porque elas não estão tentando se tornar lótus. E a
flor de lótus desabrocha tão lindamente porque ela nunca ouviu as lendas a
respeito das outras flores. Tudo na natureza segue tão belamente em harmonia
porque ninguém está tentando competir com algum outro, ninguém está tentando se
tornar algum outro. Tudo é do jeito que é. Simplesmente veja o ponto! Seja apenas você mesmo e lembre-se de que
você não pode ser alguma outra coisa, faça o que você fizer. Todo esforço é
fútil. Você tem que ser simplesmente você mesmo. Existem dois caminhos: um é: rejeitando, você pode permanecer o mesmo;
condenando, você pode permanecer o mesmo. Ou, aceitando, entregando-se,
curtindo, deliciando-se, você pode permanecer o mesmo. A sua atitude pode ser
diferente, mas você vai continuar do jeito que você é, a pessoa que você é. Uma
vez que você aceite, a compaixão surge. E então, você começa a aceitar os
outros. (...). Mova-se lentamente, alerta, observando, estando amoroso. Se você
for sexual, eu não digo para abandonar o sexo; eu digo faça-o mais alerta,
faça-o como uma prece, faça-o mais profundo, assim ele pode tornar-se amor. Se
você está amando, então faça isso com mais gratidão, traga uma gratidão, uma
alegria, uma celebração e uma prece mais profunda ao amor, traga meditação para
ele, assim ele pode se tornar compaixão. A não ser que a compaixão tenha
acontecido para você, não pense que você viveu corretamente, ou que você viveu
de alguma maneira. Compaixão é o florescimento. E quando a compaixão acontece
para uma pessoa, milhões são curadas. Qualquer um que chegue ao seu redor será
curado. A compaixão é terapêutica”. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
BUDISMO E CRISTIANISMO
Budismo. www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. BUDISMO E CRISTIANISMO. Texto de Greg Marin (1984- ). Esta abordagem inicia uma nova série
que enfocará esclarecer dúvidas frequentes que surgem entre os que propagam o
Budismo Nitiren no ocidente. Durante muito tempo, os membros têm procurado
assistência para responder perguntas a respeito da visão budista sobre Deus,
Jesus, Satanás, o céu, etc. Durante os próximos meses, nosso foco será
oferecer-lhes respostas diretas. Ao examinar sob a
perspectiva budista palavras e significados fundamentais da fé cristã,
esperamos que esta série ajude aos membros da SGI (comunidade budista
americana) a transmitir da melhor maneira o Budismo Nitiren aos seus familiares
e amigos cristãos. Esperamos também ajudar aos membros com antecedentes
culturais cristãos a compreender melhor o Budismo Nitiren, as semelhanças e
diferenças deste Budismo com o Cristianismo, e igualmente esperamos que o
resultado seja uma melhoria na eficácia da prática budista. Além disso,
desejamos estabelecer pontes que ajudem os cristãos e não-membros em geral a
compreender melhor e criar vínculos com o Budismo, e talvez para alguns
facilitar-lhes a transição para a prática do Budismo. Porém, antes de começar, gostaria de oferecer algumas explicações para
esclarecer o contexto de nossa análise. Primeiro, nos
focaremos no que acreditamos são princípios do Cristianismo geralmente aceitos,
sem deixar de reconhecer que dentro da fé cristã existe uma grande diversidade
de opiniões. Dentro do alcance desta série, seria impossível examinar
plenamente todas as variantes da doutrina cristã. Solicitamos a indulgência
(tolerância) do leitor ou leitora pelas inevitáveis generalizações no que
refere-se a conceitos que obrigatoriamente nosso enfoque tem que adotar. Segundo, nossa intenção também não é assumir um enfoque de refutação
perante o Cristianismo. Não vemos a necessidade, nem o valor, em tentar socavar
uma tradição religiosa que tem ampla aceitação e é de valor palpável. Ao mesmo
tempo, não podemos evitar a evidência histórica dos aspectos menos nobres desta
tradição (cristianismo), aspectos que deram lugar à propagação violenta e à
Inquisição, assim como o uso desta tradição como ferramenta de colonização e
subjugação. Finalmente, não assumimos uma posição exclusivista, aquela de que o
Budismo Nitiren é o único veículo capaz de levar seus seguidores e seguidoras
aos pináculos da verdade e à beira da felicidade. Ao mesmo tempo que certamente
acreditamos que existe uma única realidade máxima, reconhecemos que as
principais tradições religiosas, desde distintos níveis, também buscam e
entendem esta verdade. E mais, a maioria das tradições religiosas
compartilham com o Budismo Nitiren a intenção de levar os praticantes para esta
verdade e para atingir o objetivo de conquistar o desenvolvimento humano, assim
como estabelecer uma comunidade harmoniosa. Portanto, ao mesmo tempo que não
reclamamos ser os únicos possuidores da verdade (de todos modos, quem pode
possuí-la?), o que mais nos interessa é o grau em que a tradição religiosa
possa cumprir com o que promete. Na realidade, quantas pessoas podem superar suas
tendências mais obscuras e viver segundo as doutrinas daquilo no que acreditam,
para assim transformar-se em pessoas de caráter genuinamente digno, com
intenções sábias, e comportamento benevolente? Serve uma prática religiosa em
particular como veículo maior ou como um veículo menor no caminho para
conquistar estas metas? Desde há muito tempo, nós budistas temos
discutido este ponto com o uso de analogias tais como a de uma balsa para
atravessar o mar do sofrimento, ou como a de um veículo para fazer a viagem
para a iluminação. Por exemplo, em vez de rejeitar como falsos os ensinos dos
anciãos na fé, os Budistas do Mahayana caracterizavam as práticas desses
anciãos como práticas de “veículo menor” que somente podia levar a uns poucos,
monges e monjas de muita dedicação, para alcançar o objetivo da iluminação. Em
contraste, com o enfoque em desenvolver práticas para monásticos, leigos e
leigas, e igualmente com a intenção de incluir todas as pessoas na viagem, a
designação de “veículo maior”, ou Mahayana, aplicou-se às práticas e ensinos
posteriores. Neste contexto, todas as religiões principais são veículos; alguns maus,
alguns bons, e alguns melhores que os outros, mas veículos em última instância.
Nós também acreditamos que não existe veículo maior que o Budismo de Nitiren
Daishonin, o veículo capaz de incluir nessa viagem a todas as pessoas, e não
somente a uns poucos. Para a maioria daqueles que ainda não estão
familiarizados com o Budismo, a ideia de que a viagem para a iluminação é algo
que somente uns poucos podem fazer e que está reservado para santos e sábios
tem se convertido numa crença amplamente aceita. Isto sugere que para a maioria
das pessoas, a própria existência de um grande veículo para alcançar a
Budicidade e a felicidade absoluta é um conceito alheio que não faz parte da
experiência religiosa cotidiana. Porém, atualmente no Budismo Nitiren, o
veículo para fazer esta viagem está disponível para todas as pessoas, sem
importar gênero sexual, raça, condição social, nível de escolaridade ou econômico,
preferência sexual, nem idade. E assim, com isto como pano de fundo, comecemos a
examinar nossa primeira interrogante. Os budistas
Nitiren acreditam em Deus? Como conceituamos, Deus tem grande peso na
resposta a esta pergunta. Uma pesquisa informa que 99% dos norte-americanos
declara acreditar em Deus. Porém, não obstante a magnitude da religiosidade nos
USA, a ascendente taxa de criminalidade, crescente adição aos narcóticos,
epidemia de aflições mentais, e o reatamento da pena capital, para só enumerar
alguns sintomas, não são exemplos de uma sociedade espiritualmente saudável.
Por outra parte, os europeus apresentam um crescente vácuo, um vazio com forma
de deus, onde uma vez existiu Deus na consciência humana. Algo que também parece estar claro é que o conceito de Deus não é algo
uniforme. Existem tantas versões de Deus como pessoas que acreditam nessas
versões, já que o conceito de Deus nunca tem sido algo estático. Tal e como
escreve Karen Armstrong (1944- ) em A History of
God (Uma história de Deus): “Porém, parece que criar deuses é algo que
os seres humanos sempre têm feito. Quando uma ideia de deus deixa de funcionar,
simplesmente é substituída. Estas ideias desaparecem tranquilamente e sem
grandes estardalhaços, tal e como aconteceu com a ideia do Deus do Firmamento.
Em nossos tempos atuais, muitas pessoas diriam que o Deus adorado durante
séculos por judeus, cristãos e muçulmanos tornou-se tão distante como o Deus do
Firmamento”. Armstrong conclui como segue: “Os seres humanos não podem resistir o
vácuo e a desolação, e preencherão esse vácuo com a criação de um novo foco
para dar sentido às coisas. Os ídolos do fundamentalismo não são bons
substitutos para Deus. Se devemos criar uma vibrante nova fé para o século 21,
talvez deveríamos ponderar a história de Deus para extrair algumas lições e
alertas. Quanto aos budistas nos perguntam se acreditamos em Deus, tendemos a
responder com nossa própria pergunta: A que Deus se refere? Trata-se do Deus de Abraham, o Deus do Velho Testamento? Este deus era
um pai rigoroso, criador, protetor, que castigava e outorgava leis. Este deus
também exigiu a Abraham que sacrificasse seu filho, Isaac, e autorizou a
conquista e chacina de milhares de pessoas. Trata-se do Deus
de Santo Agostinho (354-430), o Deus da Igreja Cristã primitiva? Este era o
deus da igreja poderosa, herdeira dos remanescentes do império romano. Este
Deus julgava à toda a humanidade, baseado no pecado original de Adão. A
religião baseada neste deus exige que nos consideremos como fundamentalmente
falhos e originalmente pecaminosos. Trata-se do Deus
de Michelangelo (1475-1564), um deus pessoal, tal e como aparece pintado no
teto da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma - Itália? Este conceito de Deus
ajudou a desenvolver o humanismo liberal tão altamente valorizado no Ocidente.
Ajustou-se bem a uma Europa que despertava e expandia-se. Este deus ama, julga,
castiga, vê, ouve, cria e destrói, tal e como nós o fazemos. Este deus inspira.
Porém, isto também poderia significar um impedimento se presumimos que este
deus quer o que nós queremos, e detesta o que nós detestamos, o que validaria
nossos preconceitos, em vez de incentivar-nos a superá-los. O fato de que este
Deus “pessoal” é homem (e usualmente da raça branca) tem criado profundos
problemas existenciais tanto para as mulheres, como para aqueles que não são de
raça branca. Trata-se do Deus onipotente que alguns teólogos acreditam morreu em
Auschwitz, o campo de concentração alemão que exterminou milhões de judeus em
suas câmara de gás e fornos a carvão vegetal extremamente aquecidos. Uma
atrocidade que a humanidade nunca esquecerá. Para alguns, a ideia de um Deus
todo sapiente e todo poderoso é difícil de reconciliar com a maldade do
Holocausto. Isto é assim, já que se Deus é verdadeiramente onipotente, ele
poderia ter evitado essa desgraça. E se não conseguiu evitá-la, é impotente; e
se podia evitá-la, mas optou por não fazê-lo, não é benevolente. Igualmente, nosso rápido avanço no conhecimento científico sobre o
universo torna aparente que Deus já não está “lá em cima”, nem “lá fora”.
Nos céus parece estar ausente a protetora, julgadora, e zelosa presença
divina, tal e como a concebia o mundo antigo. Segundo John Shelby Spong
(1931- ), bispo episcopal e autor de Why Christianity Must
Change or Die (Por quê o Cristianismo tem que mudar ou morre), o
resultado disto é que dezenas de milhões de pessoas são “crentes no exílio”,
que têm perdido contato com estas imagens de Deus, tal e como são ensinadas
desde os púlpitos tradicionais; porém, esses mesmos crentes não estão
preparados para abandonar o conceito de Deus em sua totalidade. Tal e como uma serpente muda a pele no processo de crescimento, no
presente, somos testemunhas do crescimento de nosso conceito coletivo de Deus,
ao deixar para trás a antiga, e para alguns, inadequada noção que tínhamos,
enquanto nasce um novo conceito que ainda não está claro? Há quem acredita que,
de fato, nesta era pós-moderna uma nova visão de Deus está em processo de
emergir. Esta visão deixa para trás as imagens do teísta, histórico e externo
Deus das alturas, e as substitui por imagens com profundidade interna de um
deus que não está fora, mas que é parte integrante e fundamental de nós. Esta é
uma perspectiva muito consistente com o conceito budista da Lei Mística. Esta Lei Mística é a entidade ou verdade máxima que impregna todos os
fenômenos no universo, e não é um ser personificado. O ser humano e esta Lei
máxima são supremamente inseparáveis, não existe brecha alguma entre os seres
humanos (todos, sem exceção) e esta ideia de Deus como uma Lei Mística. Esta verdade eterna e inalterável que reside dentro de nós é a fonte
onde podemos obter a sabedoria benevolente que concorda com as circunstâncias
cambiantes (transformadora), assim como conquistar a coragem e confiança para
viver de acordo com essa sabedoria. É mística, e não mágica, já que a
totalidade desta Lei está além da concepção humana, e os esforços por
enquadrá-la em forma humana, por assim dizê-lo, somente a restringe e a limita.
É uma lei porque é manifestamente verificável nas vidas cotidianas de cada ser
humano. Esta realidade máxima, verdade máxima, pureza máxima, existe nas
profundezas de cada ser humano. Por isto nós budistas consideramos que toda
pessoa é sagrada e está igualmente dotada com o potencial de atingir a
iluminação e ser maravilhosamente feliz. Não existe tal coisa como nós aqui e
eles lá, nem tampouco os fiéis e os incrédulos, todos somos filhos e filhas de
Deus, entidades da Lei Mística. Enquanto outros olharam para os céus, Budha olhou
para dentro e encontrou a inestimável joia da maravilha e o potencial humano.
Reconheceu que nós também somos feitos da “matéria prima” divina da qual é
feito o universo. Simplesmente, esquecemos quem éramos. Portanto, acreditamos em Deus? Segundo a maioria das definições
tradicionais, não. Mas em termos de como um crescente número de cristãos
conceitua Deus, acreditamos sim. Nosso nome para Deus é Nam myoho rengue kyo, a
Lei Mística. Acreditamos que existe tanto “aqui dentro”, como “lá fora”, e que
esta luz interior pode brilhar de dentro quando nos conscientizamos dela e lhe
abrimos nosso coração através do ato de recitar Nam myoho rengue kyo. Certamente, haverá muita gente para quem esta maneira de compreender
Deus será inaceitável. Tudo bem. Mas também haverá muitos, e segundo um estudo esta cifra alcança algo como
25% de todos os adultos dos USA, para os quais isto repercutirá. Gente que
encontrará que realmente deixou de aceitar as versões iniciais de Deus; que têm
começado a conceber o universo de forma diferente; e que o conceito de Deus
como Lei Mística equipara-se com o entendimento que têm alcançado por conta
própria. Descobrirão, tal e como podem testemunhá-lo a maioria dos membros da
SGI-USA, uma comunidade budista americana que procura promover a paz e o
relacionamento entre as religiões, que de maneira muito precisa, em nosso ser
espiritual a Lei Mística pode preencher o vácuo com forma de deus. http://maisbelashistoriasbudistas.com.br.
Abraço. Davi.
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
DEUS E O FACEBOOK PODEM SER AMIGOS?
Judaísmo. www.pt.chabad.org. Por
Roched Hotzkenner. DEUS E O FACEBOOK PODEM SER AMIGOS? Eis aqui algo para se
pensar: a tecnologia ajudou ou atrapalhou o comprometimento religioso? A
Ciência e religião há muito têm tido um relacionamento tumultuado. No Século 16
as descobertas de Copérnico e Galileu deram um arrepio na espinha dos
religiosos, e a ciência ameaçava substituir D'us pela razão. Mas a religião não
foi deixada de lado. Na verdade, as descobertas científicas com frequência
mostram o brilhante projeto de D'us para o universo. Vamos correr até o Século
21. A essa altura a ciência tem desvendado impressionantes desenvolvimentos que
alteraram radicalmente as nossas vidas, e o progresso continua a toda
velocidade. Os cientistas dizem que nos anos 1990-2000 houve mais avanços
científicos que em toda a história combinada! Aqui surge a pergunta
contemporânea: A tecnologia e a religião podem trabalhar em uníssono? Por um
lado, a alta tecnologia parece na maior das hipóteses uma distração para
aqueles que buscam o espiritual. Na pior, desvenda todo um mundo novo de
tentação. Um judeu tem algo de significativo a ganhar de uma página de
Facebook, o iPad com 3G, ou um smartphone Black Berry? Por mais vital que a
comunicação instantânea possa ser, ela realmente torna o mundo um lugar melhor?
O Zohar, escrito há quase dois mil anos, tem algo surpreendente a dizer sobre o
valor da tecnologia. Segundo o Zohar, o desenvolvimento da tecnologia leva ao
crescimento espiritual sendo na verdade um prelúdio para a vinda de Mashiach. O
Zohar vê esta previsão na descrição vívida da Torá sobre o dilúvio de Nôach:
“No ano 600 da vida de Nôach (…) todas as fontes da grande profundeza
irromperam, e as janelas do céu se abriram.” A água jorrou dos céus e brotou da
terra através de fontes naturais. Espelhando essa descrição, o Zohar prevê um
futuro dilúvio – apenas este dilúvio seria um derramar de sabedoria. (A água é
um símbolo cabalístico para sabedoria). Cada parte do futuro dilúvio está
previsto na Torá: “No ano 600 da vida de Nôach (…)” Os seiscentos anos da vida
de Nôach aludem ao sexto milênio da existência do mundo, mais especificamente o
ano seiscentos do sexto milênio. Transposto para o Calendário Gregoriano, é a
metade do Século 19, mais especificamente o ano 1840 EC. “As fontes da grande
profundeza irrompem (…)” – Isto, diz o Zohar, é uma alusão ao desenvolvimento
científico que vai emergir da engenhosidade humana e vai inudar a terra no
sexto milênio. “E as janelas do céu se abriram.” – Os céus também brotarão com
sabedoria esotérica e mística, uma referência ao profundo entendimento da Torá,
a Cabalá. O Zohar conclui: Tanto a sabedoria elevada como a inferior virão para
preparar o mundo para o sétimo milênio, a Era Messiânica, quando “o mundo
estará repleto com o conhecimento de D'us como as águas cobrem o leito do oceano.”
Mil e quinhentos anos após serem
escritas, as previsões do Zohar começaram a se desenrolar. Como um prelúdio
desta mudança cósmica, passaremos a conhecer alguns empolgantes avanços. O ano
1820 marcou o surgimento da Revolução Industrial, também conhecida como
Revolução Tecnológica. Os avanços tecnológicos começam a surgir num movimento
espiral ascendente. Estradas de ferro, eletricidade, telefone, e por fim
automóvel e avião mudaram a vida como a conhecíamos. O início do século 19
também assinalou uma reviravolta maciça na sociedade judaica. Um século antes o
Baal Shem Tov (1698-1760) tinha catalisado a Revolução Chassídica, e por volta
de 1800, os ensinamentos mais profundos da Torá, conhecidos como Cabalá e
Chassidismo, começaram a ser largamente estudados e disseminados. Os rituais
judaicos que tinham sido entendidos de maneira mecânica por milênios agora eram
ensinados com profundidade e amplitude inteiramente novas, vistos através da
lente do misticismo judaico. Os segredos do universo que antes eram
exclusividade para os místicos começaram a saturar a sociedade judaica na
Europa e em outros locais. Duas escolas de sabedoria tinham surgido
poderosamente. Assim como o Zohar tinha previsto, a metade do sexto milênio
trouxe um diluvio torrencial de conhecimento. O Zohar previu que tanto o
conhecimento elevado como o inferior viriam como um prelúdio da Era Messiânica.
Na verdade, há um antigo costume de provar a comida do Shabat na sexta-feira.
Da mesma forma, D'us está nos dando um sabor da sabedoria abundante que estará
disponível no sétimo milênio, a época de Mashiach, um pouco mais cedo, no sexto
milênio. Mas como a Revolução Tecnológica é parte de um prelúdio ao profundo
conhecimento de D'us que estará disponível nos tempos de Mashiach? Como a
tecnologia reforça uma realidade centrada em D'us? Como as “águas” superiores e
inferiores trabalham em uníssono? Talvez você não perceba que acaba de se
juntar à maior congregação virtual judaica do mundo. Bem-vindo ao nosso site
que você agora está visitando. Talvez você não perceba que acaba de se juntar à
maior congregação virtual judaica do mundo. Com milhões de visitantes por mês e
milhares de artigos de Torá, a tecnologia permitiu que a esfera de influência
da Torá se expandisse em proporções gigantes. Por muitos anos agora,
transmissões ao vivo de rádio e televisão e a internet têm sido usadas para
divulgar os ensinamentos da Torá e Chassidismo. Eles atingem pessoas que de
outra forma não teriam acesso ou interesse no estudo de Torá. A tecnologia é
como uma tela que avança em 3D criando uma rede enorme de influência sempre em
expansão para saturar o mundo com a vibração judaica; no celular, ipad, em
todas as formas e formatos possíveis sempre sendo redesenhados, ganhando sempre
mais velocidade e fácil acesso. Além disso, a tecnologia nos ensina sobre D'us
de maneira mais palpável do que poderíamos ter conhecido a partir de um texto
filosófico. Os livros dizem que D'us tem “um olho que vê e um ouvido que
escuta.”3 Ele é onipresente,
observando a todos ao mesmo tempo. Há cem anos aceitávamos a palavra dos livros
para isso, mas com o Google Earth, de repente não está mais tão longe de
procurar. Os livros dizem que D'us dá vitalidade contínua às Suas criações. Cem
anos atrás acreditávamos nisto. Agora entendemos isto. Se uma usina elétrica
energiza milhões de aparelhos elétricos com uma corrente consistente passando
através de cada aparelho, então o processo criativo de D'us se torna mais
compreensível. É claro, D'us não pode dublar Sua criação. Portanto em vez de
tornar óbvio que a principal função da tecnologia é espalhar o conhecimento de
D'us, Ele lhe deu uma fachada humana. Para manter o equilíbrio entre bem e mal
no mundo, D'us também deu às forças do mal a oportunidade de colocar seu dedo
negro na torta da tecnologia – daí a Internet, “crackberries”, (pessoas
viciadas em seus Black Berrys), e muita imoralidade para esconder a verdadeira
natureza do nosso diluvio tecnológico. A Cabalá, no entanto, é inequívoca em
sua declaração de que a tecnologia não apenas é boa, mas espetacular. Para isto
é só selecionar, filtrar e transformar o mundo para o bem. E a favor dele. www.pt.chabad.org. Abraço. Davi
terça-feira, 24 de setembro de 2019
SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO
Catolicismo. www.w2.vatican.va.
Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para a Celebração do Dia Mundial da Paz. 01
de janeiro de 2010. SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO. 1. Por
ocasião do início do Ano Novo, desejo expressar os mais ardentes votos de paz a
todas as comunidades cristãs, aos responsáveis das nações, aos homens e
mulheres de boa vontade do mundo inteiro. Para este XLIII Dia Mundial da Paz,
escolhi o tema: Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. O
respeito pela criação reveste-se de grande importância, designadamente porque
«a criação é o princípio e o fundamento de todas as obras de Deus»[1] e
a sua salvaguarda torna-se hoje essencial para a convivência pacífica da
humanidade. Com efeito, se são numerosos os perigos que ameaçam a paz e o
autêntico desenvolvimento humano integral, devido à desumanidade do homem para
com o seu semelhante – guerras, conflitos internacionais e regionais, actos
terroristas e violações dos direitos humanos –, não são menos preocupantes os
perigos que derivam do desleixo, se não mesmo do abuso, em relação à terra e
aos bens naturais que Deus nos concedeu. Por isso, é indispensável que a
humanidade renove e reforce «aquela aliança entre ser humano e ambiente que
deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos
a caminho».[2]
2. Na encíclica Caritas in veritate, pus em realce que o
desenvolvimento humano integral está intimamente ligado com os deveres que
nascem da relação do homem com o ambiente natural, considerado como
uma dádiva de Deus para todos, cuja utilização comporta uma responsabilidade
comum para com a humanidade inteira, especialmente os pobres e as gerações
futuras. Assinalei também que corre o risco de atenuar-se, nas consciências, a
noção da responsabilidade, quando a natureza e sobretudo o ser humano são
considerados simplesmente como fruto do acaso ou do determinismo evolutivo. [3] Pelo
contrário, conceber a criação como dádiva de Deus à humanidade ajuda-nos a
compreender a vocação e o valor do homem; na realidade, cheios de admiração,
podemos proclamar com o salmista: «Quando contemplo os céus, obra das vossas
mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos
lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?» (Sl 8,
4-5). Contemplar a beleza da criação é um estímulo para reconhecer o amor do
Criador; aquele Amor que «move o sol e as outras estrelas».[4]
3. Há vinte anos, ao dedicar a Mensagem do Dia Mundial da Paz ao tema Paz com Deus criador, paz com toda a criação,
o Papa João Paulo II chamava a atenção para a
relação que nós, enquanto criaturas de Deus, temos com o universo que nos
circunda. «Observa-se nos nossos dias – escrevia ele – uma consciência
crescente de que a paz mundial está ameaçada (…) também pela falta do respeito
devido à natureza». E acrescentava que esta consciência ecológica «não
deve ser reprimida mas antes favorecida, de maneira que se desenvolva e vá
amadurecendo até encontrar expressão adequada em programas e iniciativas
concretas».[5] Já
outros meus predecessores se referiram à relação existente entre o homem e o
ambiente; por exemplo, em 1971, por ocasião do octogésimo aniversário da
encíclica Rerum novarum de Leão
XIII, Paulo VI houve por bem sublinhar que, «por
motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o homem] começa a correr o
risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação». E
acrescentou que, deste modo, «não só o ambiente material se torna uma ameaça
permanente – poluições e lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto – mas é
o próprio contexto humano que o homem não consegue dominar, criando assim para
o dia de amanhã um ambiente global que se lhe poderá tornar insuportável.
Problema social de grande envergadura, este, que diz respeito à inteira família
humana».[6]
4. Embora evitando de intervir sobre soluções técnicas específicas, a Igreja,
«perita em humanidade», tem a peito chamar vigorosamente a atenção para a
relação entre o Criador, o ser humano e a criação. Em 1990, João Paulo II falava de «crise ecológica»
e, realçando o caráter prevalecente ético de que a mesma se revestia, indicava
«a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade».[7] Hoje,
com o proliferar de manifestações duma crise que seria irresponsável não tomar
em séria consideração, tal apelo aparece ainda mais premente. Pode-se
porventura ficar indiferente perante as problemáticas que derivam de fenómenos
como as alterações climáticas, a desertificação, o deterioramento e a perda de
produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de
água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o
desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenómeno
crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da
degradação do ambiente onde vivem, se veem obrigadas a abandoná-lo – deixando
lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as
incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os conflitos, já
em acto ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais?
Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício
dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à
saúde, ao desenvolvimento. 5. Entretanto tenha-se na devida conta que não se
pode avaliar a crise ecológica prescindindo das questões relacionadas com ela,
nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das
suas relações com os seus semelhantes e com a criação. Por isso, é decisão sensata
realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de
desenvolvimento e também reflectir sobre o sentido da economia e dos
seus objetivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Exige-o o
estado de saúde ecológica da terra; reclama-o também e sobretudo a crise
cultural e moral do homem, cujos sintomas há muito tempo que se manifestam por
toda a parte.[8] A
humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural;
precisa de redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce
firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos. As
situações de crise que está atravessando, de carácter económico, alimentar,
ambiental ou social, no fundo são também crises morais e estão todas
interligadas. Elas obrigam a projetar de novo a estrada comum dos homens.
Impõem, de maneira particular, um modo de viver marcado pela sobriedade e
solidariedade, com novas regras e formas de compromisso, apostando com
confiança e coragem nas experiências positivas realizadas e rejeitando
decididamente as negativas. É o único modo de fazer com que a crise atual se
torne uma ocasião para discernimento e nova projetação. 6.
Porventura não é verdade que, na origem daquela que em sentido cósmico chamamos
«natureza», há «um desígnio de amor e de verdade»? O mundo «não é fruto duma
qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso, (…) procede da vontade
livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua
sabedoria e da sua bondade».[9] Nas
suas páginas iniciais, o livro do Génesis introduz-nos no
projeto sapiente do cosmos, fruto do pensamento de Deus, que, no vértice,
colocou o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Criador, para
«encher e dominar a terra» como «administradores» em nome do próprio Deus
(cf. Gênesis 1, 28). A harmonia descrita na Sagrada Escritura
entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e
Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando
reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a
tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito
entre eles e o resto da criação (cf. Gênesis 3, 17-19). O ser
humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus,
e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo
exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do
mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Génesis,
não consistia numa simples concessão de autoridade, mas antes num apelo à
responsabilidade. Aliás, a sabedoria dos antigos reconhecia que a natureza está
à nossa disposição, mas não como «um monte de lixo espalhado ao acaso», [10] enquanto
a Revelação bíblica nos fez compreender que a natureza é dom do Criador, o Qual
lhe traçou os ordenamentos intrínsecos a fim de que o homem pudesse deduzir
deles as devidas orientações para a «cultivar e guardar» (cf. Gênesis n 2,
15).[11] Tudo
o que existe pertence a Deus, que o confiou aos homens, mas não à sua
arbitrária disposição. E quando o homem, em vez de desempenhar a sua função de
colaborador de Deus, se coloca no lugar de Deus, acaba por provocar a rebelião
da natureza, «mais tiranizada que governada por ele».[12] O
homem tem, portanto, o dever de exercer um governo responsável da criação,
preservando-a e cultivando-a.[13]
7. Infelizmente temos de constatar que um grande número de pessoas, em vários
países e regiões da terra, experimenta dificuldades cada vez maiores, porque
muitos se descuidam ou se recusam a exercer sobre o ambiente um governo
responsável. O Concílio Ecuménico Vaticano II lembrou que
«Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e
povos».[14] Por
isso, a herança da criação pertence à humanidade inteira. Entretanto o ritmo
actual de exploração põe seriamente em perigo a disponibilidade de alguns
recursos naturais não só para a geração actual, mas sobretudo para as gerações
futuras.[15]
Ora não é difícil constatar como a degradação ambiental é muitas vezes o
resultado da falta de projectos políticos clarividentes ou da persecução de
míopes interesses económicos, que se transformam, infelizmente, numa séria
ameaça para a criação. Para contrastar tal fenómeno, na certeza de que «cada
decisão económica tem consequências de carácter moral»,[16] é
necessário também que a actividade económica seja mais respeitadora do
ambiente. Quando se lança mão dos recursos naturais, é preciso preocupar-se com
a sua preservação prevendo também os seus custos em termos ambientais e
sociais, que se devem contabilizar como uma parcela essencial da atividade
económica. Compete à comunidade internacional e aos governos nacionais dar os
justos sinais para contrastar de modo eficaz, no uso do ambiente, as
modalidades que resultem danosas para o mesmo. Para proteger o ambiente e
tutelar os recursos e o clima é preciso, por um lado, agir no respeito de
normas bem definidas mesmo do ponto de vista jurídico e económico e, por outro,
ter em conta a solidariedade devida a quantos habitam nas regiões mais pobres
da terra e às gerações futuras. 8. Na realidade, é urgente a obtenção de uma
leal solidariedade entre as gerações. Os custos resultantes do uso
dos recursos ambientais comuns não podem ficar a cargo das gerações futuras.
«Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos
contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos
desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo da família
humana. A solidariedade universal é para nós não só um facto e um benefício,
mas também um dever. Trata-se de uma responsabilidade que as gerações
presentes têm em relação às futuras, uma responsabilidade que pertence
também a cada um dos Estados e à comunidade internacional».[17] O
uso dos recursos naturais deverá verificar-se em condições tais que as
vantagens imediatas não comportem consequências negativas para os seres vivos,
humanos e não humanos, presentes e vindouros; que a tutela da propriedade
privada não dificulte o destino universal dos bens;[18] que
a intervenção do homem não comprometa a fecundidade da terra para benefício do
dia de hoje e do amanhã. Para além de uma leal solidariedade entre as gerações,
há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade
entre os indivíduos da mesma geração, especialmente nas relações entre os
países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados: «A
comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias
institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a
participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o
futuro».[19] A
crise ecológica manifesta a urgência de uma solidariedade que se projete no
espaço e no tempo. Com efeito, é importante reconhecer, entre as causas da
crise ecológica atual, a responsabilidade histórica dos países
industrializados. Contudo os países menos desenvolvidos e, de modo particular,
os países emergentes não estão exonerados da sua própria responsabilidade para
com a criação, porque o dever de adoptar gradualmente medidas e políticas
ambientais eficazes pertence a todos. Isto poder-se-ia realizar mais facilmente
se houvesse cálculos menos interesseiros na assistência, na transferência dos
conhecimentos e tecnologias menos poluidoras. 9. Um dos nós principais a
enfrentar pela comunidade internacional é, sem dúvida, o dos recursos
energéticos, delineando estratégias compartilhadas e sustentáveis para
satisfazer as necessidades de energia da geração atual e das gerações futuras.
Para isso, é preciso que as sociedades tecnologicamente avançadas estejam
dispostas a favorecer comportamentos caracterizados pela sobriedade, diminuindo
as próprias necessidades de energia e melhorando as condições da sua
utilização. Ao mesmo tempo é preciso promover a pesquisa e a aplicação de
energias de menor impacto ambiental e a «redistribuição mundial dos recursos
energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam ter acesso aos
mesmos».[20] Deste
modo, a crise ecológica oferece uma oportunidade histórica para elaborar uma
resposta coletiva tendente a converter o modelo de desenvolvimento global
segundo uma direção mais respeitadora da criação e de um desenvolvimento humano
integral, inspirado nos valores próprios da caridade na verdade. Faço votos,
portanto, de que se adopte um modelo de desenvolvimento fundado na centralidade
do ser humano, na promoção e partilha do bem comum, na responsabilidade, na
consciência da necessidade de mudar os estilos de vida e na prudência, virtude
que indica as ações que se devem realizar hoje na previsão do que poderá
suceder amanhã.[21]
10. A fim de guiar a humanidade para uma gestão globalmente sustentável do
ambiente e dos recursos da terra, o homem é chamado a concentrar a sua
inteligência no campo da pesquisa científica e tecnológica e na aplicação das
descobertas que daí derivam. A «nova solidariedade», que João Paulo II propôs
na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990,[22] e
a «solidariedade global», a que eu mesmo fiz apelo na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2009,[23] apresentam-se
como atitudes essenciais para orientar o compromisso de tutela da criação
através de um sistema de gestão dos recursos da terra melhor coordenado a nível
internacional, sobretudo no momento em que se vê aparecer, de forma cada vez
mais evidente, a forte relação que existe entre a luta contra a degradação
ambiental e a promoção do desenvolvimento humano integral. Trata-se de uma
dinâmica imprescindível, já que «o desenvolvimento integral do homem não pode
realizar-se sem o desenvolvimento solidário da humanidade».[24] Muitas
são hoje as oportunidades científicas e os potenciais percursos inovadores,
mediante os quais é possível fornecer soluções satisfatórias e respeitadoras da
relação entre o homem e o ambiente. Por exemplo, é preciso encorajar as
pesquisas que visam identificar as modalidades mais eficazes para explorar a
grande potencialidade da energia solar. A mesma atenção se deve prestar à
questão, hoje mundial, da água e ao sistema hidro geológico global, cujo ciclo
se reveste de primária importância para a vida na terra, mas está fortemente
ameaçado na sua estabilidade pelas alterações climáticas. De igual modo deve-se
procurar apropriadas estratégias de desenvolvimento rural centradas nos
pequenos cultivadores e nas suas famílias, sendo necessário também elaborar
políticas idóneas para a gestão das florestas, o tratamento do lixo, a
valorização das sinergias existentes no contraste às alterações climáticas e na
luta contra a pobreza. São precisas políticas nacionais ambiciosas, completadas
pelo necessário empenho internacional que há-de trazer importantes benefícios
sobretudo a médio e a longo prazo. Enfim, é necessário sair da lógica de mero
consumo para promover formas de produção agrícola e industrial que respeitem a
ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos. A questão
ecológica não deve ser enfrentada apenas por causa das pavorosas perspectivas
que a degradação ambiental esboça no horizonte; o motivo principal há-de ser a
busca duma autêntica solidariedade de dimensão mundial, inspirada pelos valores
da caridade, da justiça e do bem comum. Por outro lado, como já tive ocasião de
recordar, a técnica «nunca é simplesmente técnica; mas manifesta o homem e as
suas aspirações ao desenvolvimento, exprime a tensão do ânimo humano para uma
gradual superação de certos condicionamentos materiais. Assim, a
técnica insere-se no mandato de “cultivar e guardar a terra” (cf. Gn 2,
15) que Deus confiou ao homem, e há de ser orientada para reforçar aquela
aliança entre ser humano e ambiente em que se deve reflectir o amor criador de
Deus».[25].
11. É cada vez mais claro que o tema da degradação ambiental põe em questão os
comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e
de produção hoje dominantes, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista
social, ambiental e até económico. Torna-se indispensável uma real mudança de
mentalidade que induza a todos a adoptarem novos estilos de vida,
«nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros
homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as
opções do consumo, da poupança e do investimento». [26] Deve-se
educar cada vez mais para se construir a paz a partir de opções clarividentes a
nível pessoal, familiar, comunitário e político. Todos somos responsáveis pela
proteção e cuidado da criação. Tal responsabilidade não conhece fronteiras.
Segundo o princípio de subsidiariedade, é importante que cada um,
no nível que lhe corresponde, se comprometa a trabalhar para que deixem de
prevalecer os interesses particulares. Um papel de sensibilização e formação
compete de modo particular aos vários sujeitos da sociedade civil e às
organizações não-governamentais, empenhados com determinação e generosidade na
difusão de uma responsabilidade ecológica, que deveria aparecer cada vez mais
ancorada ao respeito pela «ecologia humana». Além disso, é preciso lembrar a responsabilidade
dos meios de comunicação social neste âmbito, propondo modelos positivos que
sirvam de inspiração. É que ocupar-se do ambiente requer uma visão larga e
global do mundo; um esforço comum e responsável a fim de passar de uma lógica
centrada sobre o interesse egoísta da nação para uma visão que sempre abrace as
necessidades de todos os povos. Não podemos permanecer indiferentes àquilo que
sucede ao nosso redor, porque a deterioração de uma parte qualquer do mundo
recairia sobre todos. As relações entre pessoas, grupos sociais e Estados, bem
como as relações entre homem e ambiente são chamadas a assumir o estilo do
respeito e da «caridade na verdade». Neste contexto alargado, é altamente
desejável que encontrem eficaz correspondência os esforços da comunidade
internacional que visam obter um progressivo desarmamento e um mundo sem armas
nucleares, cuja mera presença ameaça a vida da terra e o processo de
desenvolvimento integral da humanidade atual e futura. 12. A Igreja tem
a sua parte de responsabilidade pela criação e sente que a deve
exercer também em âmbito público, para defender a terra, a água e o ar, dádivas
feitas por Deus Criador a todos, e antes de tudo para proteger o homem contra o
perigo da destruição de si mesmo. Com efeito, a degradação da natureza está
intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana, pelo que, «quando
a “ecologia humana”é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a
ecologia ambiental».[27] Não
se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente, se não são ajudados, em
família e na sociedade, a respeitar-se a si mesmos: o livro da natureza é
único, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a da ética pessoal,
familiar e social.[28] Os
deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada
em si mesma e no seu relacionamento com os outros. Por isso, de bom grado
encorajo a educação para uma responsabilidade ecológica, que, como indiquei na
encíclica Caritas in veritate, salvaguarde uma
autêntica «ecologia humana» e consequentemente afirme, com renovada convicção,
a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a
dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o
amor ao próximo e o respeito da natureza.[29] É
preciso preservar o património humano da sociedade. Este património de valores
tem a sua origem e está inscrito na lei moral natural, que é fundamento do
respeito da pessoa humana e da criação. 13. Por fim não se deve esquecer o
facto, altamente significativo, de que muitos encontram tranquilidade e paz,
sentem-se renovados e revigorados quando entram em contato direto com a beleza
e a harmonia da natureza. Existe aqui uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos
da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós. Por outro
lado, uma visão correta da relação do homem com o ambiente impede de
absolutizar a natureza ou de a considerar mais importante do que a pessoa. Se o
magistério da Igreja exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente
inspirada no eco centrismo e no bio centrismo, fá-lo porque tal concepção
elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros
seres vivos. Deste modo, chega-se realmente a eliminar a identidade e a função
superior do homem, favorecendo uma visão igualitarista da «dignidade» de todos
os seres vivos. Assim se dá entrada a um novo panteísmo com acentos neo pagãos
que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente
naturalista, a salvação para o homem. Ao contrário, a Igreja convida a colocar
a questão de modo equilibrado, no respeito da «gramática» que o Criador
inscreveu na sua obra, confiando ao homem o papel de guardião e administrador
responsável da criação, papel de que certamente não deve abusar mas também não
pode abdicar. Com efeito, a posição contrária, que considera a técnica e o
poder humano como absolutos, acaba por ser um grave atentado não só à natureza,
mas também à própria dignidade humana.[30].
14. Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. A busca da paz
por parte de todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada
pelo reconhecimento comum da relação indivisível que existe entre Deus, os
seres humanos e a criação inteira. Os cristãos, iluminados pela Revelação
divina e seguindo a Tradição da Igreja, prestam a sua própria contribuição.
Consideram o cosmos e as suas maravilhas à luz da obra criadora do Pai e
redentora de Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, reconciliou com Deus
«todas as criaturas, na terra e nos céus» (Cl 1, 20). Cristo
crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito
santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o
regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados «novos céus e uma nova terra» (2
Pedro 3, 13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim,
proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a
pessoa. Trata-se de um desafio urgente que se há de enfrentar com renovado e
concorde empenho; é uma oportunidade providencial para entregar às novas
gerações a perspectiva de um futuro melhor para todos. Disto mesmo estejam
cientes os responsáveis das nações e quantos, nos diversos níveis, têm a peito
a sorte da humanidade: a salvaguarda da criação e a realização da paz são
realidades intimamente ligadas entre si. Por isso, convido todos os crentes a
elevarem a Deus, Criador omnipotente e Pai misericordioso, a sua oração
fervorosa, para que no coração de cada homem e de cada mulher ressoe, seja
acolhido e vivido o premente apelo: Se quiseres cultivar a paz,
preserva a criação. Vaticano, 8 de dezembro de 2009. www.w2.vatican.va. Abraço. Davi.
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
HUMILDADE E BEM CONSIGO
Hare Krishna. www.voltaaosupremo.com.br. Texto de
Archana Siddhi Devi Dasi. HUMILDADE E BEM CONSIGO. Confundir a HUMILDADE que
surge do amor espiritual com uma postura de baixa autoestima que nos torna
presas fáceis de exploradores, é um equívoco perigoso que precisamos
evitar. Como terapeuta de famílias, eu aconselho tantos
membros do Movimento HARE KRISHNA como pessoas de fora do Movimento.
Recentemente, recebi um e-mail de
uma jovem devota que estava infeliz em seu casamento devido à POSTURA ABUSIVA
QUE SEU ESPOSO tinha, mas estava em conflito quanto a deixá-lo. “Talvez seja
bom que eu me sinta mal comigo mesma”, ela escreveu, “porque isso me fará
desenvolver HUMILDADE”. Não foi a primeira vez que eu ouvi essa lógica. A Bhagavad-gita ensina que HUMILDADE é essencial para o progresso espiritual.
Algumas vezes, os devotos, infelizmente, pensam que se sentir mal é um
pré-requisito para a HUMILDADE. Diversas vezes, me deparo com devotos se
complicando com o conceito de autoestima. Tendo lido as orações de santos de
nossa linha, eles, algumas vezes, pensam que seus sentimentos deveriam se
enquadrar nas declarações autodepreciativas de tais grandes almas. Por
associarem baixa autoestima com avanço espiritual, tais devotos podem perpetuar
por toda a vida o sentimento de estarem mal consigo. Eles podem acabar por
atrair pessoas para suas vidas que lhes tratarão de acordo com a maneira que
eles mesmos se sentem e se percebem. A confusão começa por tentarmos igualar
sentimentos que se originam de nosso eu puro com sentimentos que se originam de
nosso ego material, ou falso. As grandes almas expressam sentimentos que nascem
do ego espiritual puro, sentimentos que não são contaminados pelas qualidades
da natureza material. Quando eles se sentem, nas palavras do Senhor Chaitanya
Mahaprabhu (1486-1534), “mais baixos que a palha na rua”, é uma emoção plena de
prazer. O devoto puro vê a grandeza do Senhor e vê todos como mais qualificados
do que ele próprio. Eles estão imbuídos de amor e apreciação por toda a criação
de KRISHNA. Bhaktivinoda Thakura (1838-1914), um destacado mestre devotado a
KRISHNA, escreveu belas canções expressando sua atração e seu amor por KRISHNA,
músicas sobre alcançar a meta do coração – amor incondicional pelo Senhor – e
canções autodepreciativas, nas quais ele lamenta sua falta de devoção. Como uma
alma pura, ele expressa seu apego e amor pelo Senhor e, ao mesmo tempo, sua
angústia de sentir-se desqualificado e sem esperança de atingir tal amor. Esses
são SENTIMENTOS autênticos que NASCEM DA HUMILDADE e do APEGO e AMOR pelo SENHOR. RECONHECENDO
NOSSAS FALHAS. Nas primeiras fases de nossa jornada espiritual, talvez
experimentemos rapidamente essas emoções por KRISHNA estar preparando a terra
de nossos corações para cultivar nossa devoção. Eu me lembro de uma importante
experiência que tive antes de me tornar devota. Eu tinha grande dificuldade de
aceitar críticas e achava que minha opinião era absolutamente certa. Essa
mentalidade criou inúmeros problemas, tanto na área profissional quanto
pessoal. Por meses, eu contestei as recomendações de meu supervisor quanto a
como fazer meu trabalho como diretora residente de um dormitório universitário.
Minha obstinação estava fazendo o meu trabalho muito difícil, e eu estava
aflita por isso. Finalmente, um dia eu tive a poderosa realização de que eu
estava errada. Não só eu estava errada quanto a esse problema em particular,
mas em relação a várias outras coisas. É-me impossível descrever quão
libertador foi para mim aceitar minha natureza falível. Eu não precisava mais
carregar o peso de estar sempre certa em relação a tudo. Eu me senti pequena,
mas, ao mesmo tempo, muitas possibilidades se abriram para mim. Pela primeira
vez na minha vida adulta, eu pude ver meu autoritarismo assumir uma posição
verdadeiramente submissa. Essa mudança de postura mental me preparou para tomar
refúgio em meu mestre espiritual e nos devotos de KRISHNA de maneira geral.
KRISHNA nos ajuda a ficarmos livres por um instante do falso prestígio para que
possamos, como encorajamento, provar a doçura da HUMILDADE. Algumas vezes,
todavia, quando ainda estamos contaminados pelos modos da natureza material e
identificados com nosso corpo e mente materiais, sentirmo-nos inferiores à
palha na rua pode nos tornar desmotivados, entediados ou deprimidos. Esses
sentimentos, então, impedem nossas práticas devocionais. Nós temos que julgar
se, para nossa psique específica, tal psicologia é favorável à consciência de
KRISHNA ou se é um impedimento no momento. Paradoxalmente, muitas pessoas
precisam desenvolver um saudável ego material antes de transcendê-lo e realizar
seu eu espiritual. Eu ouvi uma vez um palestrante motivacional dizer que as
pessoas com autoestima saudável pensam menos em si mesmas, e não menos de si
mesmas. Quando nos sentimos bem quanto a nós mesmos, nós podemos devotar mais
tempo e energia doando-nos aos outros, ao invés de absorvermo-nos em auto
piedade. Alta autoestima também nos dá liberdade para agirmos de acordo com
nossos valores e convicções. Quando nos sentimos mal conosco, às vezes fazemos
coisas para agradar ou apaziguar os outros. Em um esforço para satisfazer o
desejo dos outros, nós podemos acabar sendo influenciados a fazer coisas
conflitantes em relação às nossas crenças e valores. SENTINDO-SE DIGNO
E QUALIFICADO. Nathaniel Branden (1930-2014), um famoso psicólogo,
define autoestima como “a disposição de sentir-se bem consigo e qualificado
para lidar com os desafios básicos da vida e como sendo digno de ser feliz”.
Como esses aspectos da autoestima – autoconhecimento e amor próprio – têm
relação com a consciência de KRISHNA? KRISHNA quer que todas as almas
aprisionadas no mundo material sejam pacíficas e felizes. A vida humana nos
possibilita a oportunidade de ocuparmos nossos talentos e habilidades no
serviço ao Senhor. Quando oferecemos a servir o Senhor, sentimos grande
alegria. Um amigo, certa vez, deu ao meu esposo um quadrinho com os dizeres: “O
que você é, torna-se um presente de Deus para você, e o que você se torna é seu
presente para Deus”. Além de confundirem HUMILDADE com baixa autoestima, os devotos,
às vezes, correlacionam o conceito de autoestima com orgulho e egoísmo. Mas é,
de fato, o contrário. Pessoas que exibem alta autoestima também exibem uma
atitude mais HUMILDADE perante os outros. Eles são mais inclinados a admitir e
corrigir erros, enquanto pessoas com baixa autoestima são muitas vezes
defensivas e têm a necessidade de provarem que estão certas. Em uma famosa
história do Mahabharata, KRISHNA
encontrou certa vez com Yudhisthira Maharaja e Duryodhana. Desejando glorificar
seu devoto Yudhisthira, Krishna pediu a ele que encontrasse uma pessoa mais
baixa que ele, e pediu ao pecaminoso Duryodhana para que procurasse uma pessoa
mais gloriosa que ele. Yudhisthira tinha todas as boas qualidades. Ele era
pacífico e auto satisfeito. Sem dúvida, ele possuía uma saudável autoestima.
Mesmo assim, ele não conseguiu encontrar ninguém mais baixo que ele. Mais uma
vez, aqui se tem o exemplo de uma vaishnava avançado
que porta HUMILDADE GENUINA. Por outro lado, o perverso Duryodhana procurou por
todo o seu reino o dia todo e não conseguiu encontrar ninguém que ele
considerasse superior a ele mesmo. Duryodhana estava contaminado com orgulho e
vaidade. Ele invejou e ofendeu grandes almas. Ele vivia em constante ansiedade
para manter sua posição, sempre tentando eliminar seus competidores. Sua
autoestima dependia de fatores externos como posição e poder, e assim ele não
conhecia tal coisa como PAZ INTERIOR. Ele era atormentado por sua própria luxúria e ambição. ORGULHO
VERSUS AUTO ESTIMA. Pensar em si mesmo como grandioso é orgulho, não
autoestima. Uma pessoa com alta autoestima demonstra HUMILDADE. A perfeição da
autoestima é percebida em pessoas completamente livres do falso ego, nas quais
a humildade é produto da realização espiritual. No nosso estado condicionado,
nós possivelmente nos identificaríamos mais com a mentalidade de Duryodhana do
que com a de Yudhisthira Maharaja, mas, no nosso progresso na jornada
espiritual, nós começamos a nos ver de forma diferente. Quanto mais realizamos
não sermos o executor independente, mas o instrumento, mais saudável nossa
autoestima se torna. Na vida material, os modos da bondade, paixão e ignorância
nos influenciam. Esses modos se misturam e competem entre si para moldar nossa
mente, incluindo o modo como nos sentimos em relação a nós mesmos. Pessoas no
abismo do modo da ignorância se sentem felizes e bem em relação a si mesmas
quando seus sentidos estão satisfeitos. Pessoas imersas no modo da paixão estão
felizes e bem consigo mesmas quando outros valorizam e reconhecem suas
atividades. Nesses modos inferiores, nossa ideia de eu oscila o tempo todo. Pessoas no modo da bondade são felizes e
sentem-se bem em relação a si mesmas quando agem em conhecimento, de acordo com
seus códigos e valores. Elas são menos reativas a estímulos externos, assim, a
autoestima de tais pessoas depende mais de sua própria vida interior –
consequentemente, têm mais controle sobre como se sentem. Pessoas em bondade
pura, percebem a si mesmas como instrumentos do Senhor. Elas não se identificam
mais como o agente de suas atividades. O EXEMPLO DE PRABHUPADA. Nosso
mestre espiritual, Srila Prabhupada, demonstrou alta autoestima. Embora de
baixa estatura, ele parecia grande para nós. Ele sempre mantinha sua cabeça
alta e se movia com objetivo e confiança. Ele fala de forma direta, com
convicção e coragem. Suas ações eram intrépidas e ousadas, e mesmo assim ele
tinha uma atitude humilde, sabendo que seu sucesso era devido à providência do
Senhor. Sua humildade é exemplificada em suas orações abordo do navio, quando
ele estava vindo pela primeira vez aos Estados Unidos: “Ó Senhor, eu sou como
uma marionete em Tuas mãos. Então, se me trouxeste aqui para que eu dance,
faze-me dançar, faze-me dançar, ó Senhor, faze me dançar como quiseres. Não
tenho nenhuma devoção, tampouco conhecimento, mas tenho grande fé no santo nome
de KRISHNA. Eu fui designado como Bhaktivedanta, e agora, se assim quiseres,
podes cumprir o verdadeiro propósito Bhaktivedanta”. Com grande HUMILDADE,
Prabhupada finaliza sua carta assinando como “o mais desafortunado e
insignificante mendigo, A. C. Bhaktivedanta Svami”. De um lado, essas preces
demonstram que Prabhupada se sentia muito baixo, mas, por outro lado, ele
confiava poder fazer qualquer coisa com a MISERICÓRDIA DO SENHOR. A ORAÇÃO
também nos dá a chave para desenvolvermos PURAS QUALIDADES DEVOCIONAIS: fé no
santo nome. Quanto mais forte a nossa fé na capacidade de purificação dos
santos nomes, maior será nossa dedicação ao processo de cantar. Nós cantaremos
com tanto foco e atenção quanto pudermos e evitaremos com muito cuidado as
ofensas que retardam nosso progresso espiritual. Nós ficamos menos propensos a
explorar os outros quando vemos a nós mesmos como servos, realizando a nossa
natureza espiritual – bem como a dos outros – como servos de Deus. Nós somos
gloriosas centelhas da energia espiritual, com todas as boas qualidades, embora
sintamo-nos pequenos na presença do mais glorioso, nosso Senhor. Com esse
verdadeiro conhecimento, a alma pura pode ter alta autoestima e HUMILDADE
simultaneamente. Quando eu compartilhei alguns destes pontos com a jovem que
havia me enviado sua pergunta por e-mail, ela me
escreveu de volta: “É-me um grande alívio entender esses pontos dessa
perspectiva. Agora eu entendo que não tenho que continuar convivendo
desonrosamente com todo o tipo de abusos para ser espiritual”. Ela me sugeriu
escrever um artigo sobre o tema para a revista Volta ao Supremo. Eu aceitei de todo o coração sua sugestão, uma vez que
outros devotos haviam feito perguntas similares ao longo dos anos. Espero que o
artigo seja útil para todos. www.voltaaosupremo.com.br. Abraço. Davi.
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