Dia 29/08/16 no Plenário do Senado Federal a Presidenta afastada
Dilma Rousseff fez sua defesa pessoal perante os senadores da República. O
discurso teve um tom emotivo, histórico e temporâneo, pois enfatizou sua
resistência quanto a imputação do crime de responsabilidade do qual está sendo
julgada. Devido, notoriamente, a seu passado de lutas e coragem, teve forças
para enfrentar à exposição deste evento que infringe desgaste e fricção
psicológicas. Ela foi capaz de manter-se firme e resoluta diante da bancada de
senadores, principalmente os que querem o impedimento, não por meios legais e
meritórios que não existem; mas num contexto sócio político que vem sendo
arquitetado pela elite brasileira de Direita, desde o final das eleições (outubro de 2014) passadas, quando a então candidata, venceu no segundo
turno o Senador Aécio Neves. O ministro do TCU José Múcio Monteiro
(30/08) desabafou dizendo: "que se fosse o ex presidente Lula seria
diferente" em relação as pedaladas fiscais. Ele, possivelmente, tomaria o
dinheiro emprestado dos Bancos Oficiais (Banco do Brasil e Caixa Econômica
Federal) quitando o valor ainda no exercício financeiro vigente. Segundo o
Ministro, a Presidente afastada” fez pouco caso do fato”, saldando a dívida no
exercício seguinte. Disse que “houve soberba, arrogância e falta de humildade”
na condução desse desvio de finalidade, que é um dos fatores que embasa o
impeachment; segundo ele um “excesso de autoridade”. Houve também a edição de
decretos suplementares ao Orçamento da União que não foram aprovados pelo
Congresso Nacional. Mas a incoerência desse pressuposto dos favoráveis ao
impedimento, está em que a Lei de Responsabilidade Fiscal autoriza a edição dos
decretos suplementares, adicionais e especiais desde que se justifique a sua
necessidade. E, segundo a Presidente afastada, foram usados para cobrir as
despesas faltantes dos programas sociais: bolsa família, bolsa escola, fies,
proune, pronatec e outros. Estes consolidam o suposto crime de
responsabilidade, segundo os Opositores, pelo qual Dilma estar sendo inquirida.
Pondero que as explicações técnicas do Ministro tenham sentido prático em alguns pormenores, mas por
trás dessa fala, se esconde o machismo, sexismo e discriminação do lado
feminino pela nossa sociedade, ainda arraigada numa masculinidade autoritária e
excludente. Os dois argumentos acima são factíveis de contraposição, e
largamente foram enfatizados nesse processo desde sua autorização na Câmara dos
Deputados. Lamentamos profundamente, essa perseguição velada da liderança da
Esquerda no Brasil. O enfraquecimento da ala política que defende os pobres,
necessitados e que trabalha para a inserção dos humanos e natureza na preservação
do meio ambiente, nos causa tristeza. Que desse revés ressurja uma militância
mais comprometida com as causas sociais e o desejo de justiça (no campo e na
cidade) e paridade entre as classes sociais. Priorizando sempre os menos
favorecidos e os desprovidos de conhecimentos, educação e formalidade
profissional. Esses devem ser os alvos preferenciais de nossos recursos
orçamentários, para que eles ascendam na sociedade, exercitando sua individualidade como seres singulares que são. A Presidente afastada abrilhantou mais sua biografia, nestes
momentos que antecedem a finalização do processo de impeachment quando esteve
no Plenário do Senado. Hoje 31/08/16, a partir das 11 horas, os senadores farão
a decisiva sessão onde votarão a cassação do mandato ou o retorno ao cargo de
Presidente da República de Dilma Rousseff. Serão necessários 54 votos dos 81 senadores,
para que, se confirme o afastamento definitivo seguido de inelegibilidade por
oito anos. Essa hipótese, validada, efetiva o Presidente Interino Michel Temer
como o novo Presidente da República Federativa do Brasil. A história será nosso
juiz quanto a esse desfecho da condenação ou absolvição da Presidente afastada
Dilma Rousseff. Qualquer que seja o resultado deste julgamento, invocamos aos
deuses (Christo, Deus, Masiach, D'us, Mohammad, Aláh, Krishna, Brahman, os
Budhas) que estejam conosco nesse delicado momento político e econômico da
vida nacional brasileira. Impeachment de Dilma é aprovado e põe fim a era do Partido dos Trabalhadores (PT). Placar registrou 61 votos a favor, 20 contra, 0 ausência e 0 abstenção. Os direitos políticos da ex presidente Dilma foram mantido pelo Senado Federal, contrariando assim o antigo procedimento questionável da inelegibilidade por oito anos. Um comportamento que abre precedente para futuros julgados como esse. Abraço. Davi.
“Leia abaixo a íntegra do discurso da Presidente afastada Dilma Rousseff:
"Excelentíssimo
Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski
Excelentíssimo
Senhor Presidente do Senado Federal Renan Calheiros,
Excelentíssimas
Senhoras Senadoras e Excelentíssimos Senhores Senadores,
Cidadãs e
Cidadãos de meu amado Brasil. No dia 1º de janeiro de 2015 assumi meu
segundo mandato à Presidência da República Federativa do Brasil. Fui eleita por
mais 54 milhões de votos. Na minha posse, assumi o compromisso de manter,
defender e cumprir a Constituição, bem como o de observar as leis, promover o
bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a
independência do Brasil. Ao exercer a Presidência da República respeitei
fielmente o compromisso que assumi perante a nação e aos que me elegeram. E me
orgulho disso. Sempre acreditei na democracia e no Estado de direito, e sempre
vi na Constituição de 1988 uma das grandes conquistas do nosso povo. Jamais atentaria contra o que
acredito ou praticaria atos contrários aos interesses daqueles que me elegeram.
Nesta jornada para me defender do impeachment me aproximei mais
do povo, tive oportunidade de ouvir seu reconhecimento, de receber seu carinho.
Ouvi também críticas duras ao meu governo, a erros que foram cometidos e a
medidas e políticas que não foram adotadas. Acolho essas críticas com
humildade. Até porque, como todos, tenho defeitos e cometo erros. Entre os
meus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Não traio os compromissos
que assumo, os princípios que defendo ou os que lutam ao meu lado. Na luta
contra a ditadura, recebi no meu corpo as marcas da tortura. Amarguei por anos
o sofrimento da prisão. Vi companheiros e companheiras sendo violentados, e até
assassinados. Na época, eu era muito jovem. Tinha muito a esperar da vida.
Tinha medo da morte, das sequelas da tortura no meu corpo e na minha alma. Mas
não cedi. Resisti. Resisti à tempestade de terror que começava a me engolir, na
escuridão dos tempos amargos em que o país vivia. Não mudei de lado. Apesar de
receber o peso da injustiça nos meus ombros, continuei lutando pela democracia.
Dediquei todos esses anos da minha vida à luta por uma sociedade sem ódios e
intolerância. Lutei por uma sociedade livre de preconceitos e de
discriminações. Lutei por uma sociedade onde não houvesse miséria ou excluídos.
Lutei por um Brasil soberano, mais igual e onde houvesse justiça. Disso tenho orgulho. Quem
acredita, luta. Aos quase setenta anos de idade, não seria agora, após ser mãe
e avó, que abdicaria dos princípios que sempre me guiaram. Exercendo a
Presidência da República tenho honrado o compromisso com o meu país, com a
Democracia, com o Estado de Direito. Tenho sido intransigente na defesa da
honestidade na gestão da coisa pública. Por isso, diante das acusações que
contra mim são dirigidas neste processo, não posso deixar de sentir, na boca,
novamente, o gosto áspero e amargo da injustiça e do arbítrio. E por isso, como
no passado, resisto. Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes. No
passado, com as armas, e hoje, com a retórica jurídica, pretendem novamente
atentar contra a democracia e contra o Estado do Direito. Se alguns rasgam o
seu passado e negociam as benesses do presente, que respondam perante a sua
consciência e perante a história pelos atos que praticam. A mim cabe lamentar
pelo que foram e pelo que se tornaram. E resistir. Resistir sempre. Resistir
para acordar as consciências ainda adormecidas para que, juntos, finquemos o pé
no terreno que está do lado certo da história, mesmo que o chão trema e ameace
de novo nos engolir. Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao
poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a
conquistar. Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça. Luto pelo povo
do meu País, pelo seu bem-estar. Muitos hoje me perguntam de onde vem a minha
energia para prosseguir. Vem do que acredito. Posso olhar para trás e ver tudo
o que fizemos. Olhar para a frente e ver tudo o que ainda precisamos e podemos
fazer. O mais importante é que posso olhar para mim mesma e ver a face de
alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças para defender suas ideias e
seus direitos. Sei que, em breve, e mais uma vez na vida, serei julgada. E é
por ter a minha consciência absolutamente tranquila em relação ao que fiz, no
exercício da Presidência da República que venho pessoalmente à presença dos que
me julgarão. Venho para olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências, e
dizer, com a serenidade dos que nada tem a esconder que não cometi nenhum crime
de responsabilidade. Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e
arbitrariamente. Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam e aguardam o
desfecho deste processo de impeachment. No passado da América Latina e
do Brasil, sempre que interesses de setores da elite econômica e política foram
feridos pelas urnas, e não existiam razões jurídicas para uma destituição
legítima, conspirações eram tramadas resultando em golpes de Estado. O
Presidente Getúlio Vargas, que nos legou a CLT e a defesa do patrimônio
nacional, sofreu uma implacável perseguição; a hedionda trama orquestrada pela
chamada "República do Galeão, que o levou ao suicídio. O Presidente Juscelino
Kubitscheck, que construiu essa cidade, foi vítima de constantes e fracassadas
tentativas de golpe, como ocorreu no episódio de Aragarças. O
presidente João Goulart, defensor da democracia, dos direitos dos trabalhadores
e das Reformas de Base, superou o golpe do parlamentarismo mas foi deposto e
instaurou-se a ditadura militar, em 1964. Durante 20 anos, vivemos o silêncio
imposto pelo arbítrio e a democracia foi varrida de nosso País. Milhões de
brasileiros lutaram e reconquistaram o direito a eleições diretas. Hoje, mais
uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da
elite econômica e política nos vemos diante do risco de uma ruptura
democrática. Os padrões políticos dominantes no mundo repelem a violência
explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de
pretextos constitucionais para que se empreste aparência de legitimidade ao
governo que assume sem o amparo das urnas. Invoca-se a Constituição para que o
mundo das aparências encubra hipocritamente o mundo dos fatos. As provas
produzidas deixam claro e inconteste que as acusações contra mim dirigidas são
meros pretextos, embasados por uma frágil retórica jurídica. Nos últimos dias,
novos fatos evidenciaram outro aspecto da trama que caracteriza este processo
de impeachment. O autor da representação junto ao Tribunal de Contas da União
que motivou as acusações discutidas nesse processo, foi reconhecido como
suspeito pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal. Soube-se ainda, pelo
depoimento do auditor responsável pelo parecer técnico, que ele havia ajudado a
elaborar a própria representação que auditou. Fica claro o vício da
parcialidade, a trama, na construção das teses por eles defendidas. São
pretextos, apenas pretextos, para derrubar, por meio de um processo de impeachment
sem crime de responsabilidade, um governo legítimo, escolhido em eleição direta
com a participação de 110 milhões de brasileiros e brasileiras. O governo de
uma mulher que ousou ganhar duas eleições presidenciais consecutivas. São pretextos para viabilizar
um golpe na Constituição. Um golpe que, se consumado, resultará na eleição
indireta de um governo usurpador. A eleição indireta de um governo
que, já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios,
quando o povo, nas urnas, escolheu uma mulher para comandar o país. Um governo
que dispensa os negros na sua composição ministerial e já revelou um profundo
desprezo pelo programa escolhido pelo povo em 2014. Fui eleita presidenta por
54 milhões e meio de votos para cumprir um programa cuja síntese está gravada
nas palavras "nenhum direito a menos". O que está em jogo no processo
de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às
urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição. O que está em
jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos da população, das pessoas
mais pobres e da classe média; a proteção às crianças; os jovens chegando às
universidades e às escolas técnicas; a valorização do salário mínimo; os
médicos atendendo a população; a realização do sonho da casa própria. O que
está em jogo é o investimento em obras para garantir a convivência com a seca
no semiárido, é a conclusão do sonhado e esperado projeto de integração do São
Francisco. O que está em jogo é, também, a grande descoberta do Brasil, o
pré-sal. O que está em jogo é a inserção soberana de nosso país no cenário
internacional, pautada pela ética e pela busca de interesses comuns. O que está
em jogo é a autoestima dos brasileiros e brasileiras, que resistiram aos ataques
dos pessimistas de plantão à capacidade do País de realizar, com sucesso, a
Copa do Mundo e as Olimpíadas e Paraolimpíadas. O que está em jogo é a
conquista da estabilidade, que busca o equilíbrio fiscal mas não abre mão de
programas sociais para a nossa população. O que está em jogo é o futuro do
País, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais. Senhoras e senhores
senadores. No presidencialismo previsto em nossa Constituição, não basta a
eventual perda de maioria parlamentar para afastar um Presidente. Há que se
configurar crime de responsabilidade. E está claro que não houve tal crime. Não
é legítimo, como querem os meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de
governo pelo "conjunto da obra". Quem afasta o Presidente pelo
"conjunto da obra" é o povo e, só o povo, nas eleições. E nas
eleições o programa de governo vencedor não foi este agora ensaiado e desenhado
pelo Governo interino e defendido pelos meus acusadores. O que pretende o
governo interino, se transmudado em efetivo, é um verdadeiro ataque às
conquistas dos últimos anos. Desvincular o piso das aposentadorias e pensões do
salário mínimo será a destruição do maior instrumento de distribuição de renda
do país, que é a Previdência Social. O resultado será mais pobreza, mais
mortalidade infantil e a decadência dos pequenos municípios. A revisão dos
direitos e garantias sociais previstos na CLT e a proibição do saque do FGTS na
demissão do trabalhador são ameaças que pairam sobre a população brasileira
caso prospere o impeachment sem crime de responsabilidade. Conquistas
importantes para as mulheres, os negros e as populações LGBT estarão
comprometidas pela submissão a princípios ultraconservadores. O nosso
patrimônio estará em questão, com os recursos do pré-sal, as riquezas naturais
e minerárias sendo privatizadas. A ameaça mais assustadora desse processo de
impeachment sem crime de responsabilidade é congelar por inacreditáveis 20 anos
todas as despesas com saúde, educação, saneamento, habitação. É impedir que,
por 20 anos, mais crianças e jovens tenham acesso às escolas; que, por 20 anos,
as pessoas possam ter melhor atendimento à saúde; que, por 20 anos, as famílias
possam sonhar com casa própria. Senhor Presidente Ricardo Lewandowski, Sras. e
Srs. Senadores, A verdade é que o resultado eleitoral de 2014 foi um rude golpe em
setores da elite conservadora brasileira. Desde a proclamação dos
resultados eleitorais, os partidos que apoiavam o candidato derrotado nas
eleições fizeram de tudo para impedir a minha posse e a estabilidade do meu governo.
Disseram que as eleições haviam sido fraudadas, pediram auditoria nas urnas,
impugnaram minhas contas eleitorais, e após a minha posse, buscaram de forma
desmedida quaisquer fatos que pudessem justificar retoricamente um processo de
impeachment. Como é próprio das elites conservadoras e autoritárias, não viam
na vontade do povo o elemento legitimador de um governo. Queriam o poder a
qualquer preço. Tudo fizeram para desestabilizar a mim e ao meu governo. Só é
possível compreender a gravidade da crise que assola o Brasil desde 2015,
levando-se em consideração a instabilidade política aguda que, desde a minha
reeleição, tem caracterizado o ambiente em que ocorrem o investimento e a
produção de bens e serviços. Não se procurou discutir e aprovar uma melhor
proposta para o País. O que se pretendeu permanentemente foi a afirmação do
"quanto pior melhor", na busca obsessiva de se desgastar o governo,
pouco importando os resultados danosos desta questionável ação política para
toda a população. A possibilidade de impeachment tornou-se assunto central da
pauta política e jornalística apenas dois meses após minha reeleição, apesar da
evidente improcedência dos motivos para justificar esse movimento radical.
Nesse ambiente de turbulências e incertezas, o risco político permanente
provocado pelo ativismo de parcela considerável da oposição acabou sendo um
elemento central para a retração do investimento e para o aprofundamento da
crise econômica. Deve ser também ressaltado que a busca do reequilíbrio fiscal,
desde 2015, encontrou uma forte resistência na Câmara dos Deputados, à época
presidida pelo Deputado Eduardo Cunha. Os projetos enviados pelo governo foram
rejeitados, parcial ou integralmente. Pautas bombas foram apresentadas e
algumas aprovadas. As comissões permanentes da Câmara, em 2016, só funcionaram
a partir do dia 5 de maio, ou seja, uma semana antes da aceitação do processo
de impeachment pela Comissão do Senado Federal. Os Srs. e as Sras. Senadores
sabem que o funcionamento dessas Comissões era e é absolutamente indispensável
para a aprovação de matérias que interferem no cenário fiscal e encaminhar a
saída da crise. Foi criado assim o desejado ambiente de instabilidade política,
propício a abertura do processo de impeachment sem crime de responsabilidade.
Sem essas ações, o Brasil certamente estaria hoje em outra situação política,
econômica e fiscal. Muitos articularam e votaram contra propostas que durante
toda a vida defenderam, sem pensar nas consequências que seus gestos trariam
para o país e para o povo brasileiro. Queriam aproveitar a crise econômica,
porque sabiam que assim que o meu governo viesse a superá-la, sua aspiração de
acesso ao poder haveria de ficar sepultada por mais um longo período. Mas, a
bem da verdade, as forças oposicionistas somente conseguiram levar adiante o
seu intento quando outra poderosa força política a elas se agregou: a força
política dos que queriam evitar a continuidade da "sangria" de
setores da classe política brasileira, motivada pelas investigações sobre a
corrupção e o desvio de dinheiro público. É notório que durante o meu governo e
o do Presidente Lula foram dadas todas as condições para que estas
investigações fossem realizadas. Propusemos importantes leis que dotaram os
órgãos competentes de condições para investigar e punir os culpados. Assegurei
a autonomia do Ministério Público, nomeando como Procurador Geral da República
o primeiro nome da lista indicado pelos próprios membros da instituição. Não
permiti qualquer interferência política na atuação da Polícia Federal.
Contrariei, com essa minha postura, muitos interesses. Por isso, paguei e pago
um elevado preço pessoal pela postura que tive. Arquitetaram a minha
destituição, independentemente da existência de quaisquer fatos que pudesse
justificá-la perante a nossa Constituição. Encontraram, na pessoa do
ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha o vértice da sua aliança
golpista. Articularam e viabilizaram a perda da maioria parlamentar do governo.
Situações foram criadas, com apoio escancarado de setores da mídia, para
construir o clima político necessário para a desconstituição do resultado
eleitoral de 2014. Todos sabem que este processo de impeachment foi aberto por
uma "chantagem explícita" do ex-Presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
como chegou a reconhecer em declarações à imprensa um dos próprios
denunciantes. Exigia aquele parlamentar que eu intercedesse para que deputados
do meu partido não votassem pela abertura do seu processo de cassação. Nunca
aceitei na minha vida ameaças ou chantagens. Se não o fiz antes, não o faria na
condição de Presidenta da República. É fato, porém, que não ter me curvado a
esta chantagem motivou o recebimento da denúncia por crime de responsabilidade
e a abertura deste d processo, sob o aplauso dos derrotados em 2014 e dos
temerosos pelas investigações. Se eu tivesse me acumpliciado com a improbidade
e com o que há de pior na política brasileira, como muitos até hoje parecem não
ter o menor pudor em fazê-lo, eu não correria o risco de ser condenada
injustamente. Quem se acumplicia ao imoral e ao ilícito, não tem
respeitabilidade para governar o Brasil. Quem age para poupar ou adiar o
julgamento de uma pessoa que é acusada de enriquecer às custas do Estado
brasileiro e do povo que paga impostos, cedo ou tarde, acabará pagando perante
a sociedade e a história o preço do seu descompromisso com a ética. Todos sabem
que não enriqueci no exercício de cargos públicos, que não desviei dinheiro
público em meu proveito próprio, nem de meus familiares, e que não possuo
contas ou imóveis no exterior. Sempre agi com absoluta probidade nos cargos
públicos que ocupei ao longo da minha vida. Curiosamente, serei julgada, por
crimes que não cometi, antes do julgamento do ex-presidente da Câmara, acusado
de ter praticado gravíssimos atos ilícitos e que liderou as tramas e os ardis
que alavancaram as ações voltadas à minha destituição. Ironia da história? Não,
de forma nenhuma. Trata-se de uma ação deliberada que conta com o silêncio
cúmplice de setores da grande mídia brasileira. Viola-se a democracia e pune-se
uma inocente. Este é o pano de fundo que marca o julgamento que será realizado
pela vontade dos que lançam contra mim pretextos acusatórios infundados.
Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura institucional. Estamos a
um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado. Senhoras e Senhores
Senadores, Vamos aos autos deste processo. Do que sou acusada? Quais foram os
atentados à Constituição que cometi? Quais foram os crimes hediondos que
pratiquei? A primeira acusação refere-se à edição de três decretos de crédito
suplementar sem autorização legislativa. Ao longo de todo o processo, mostramos
que a edição desses decretos seguiu todas as regras legais. Respeitamos a
previsão contida na Constituição, a meta definida na LDO e as autorizações
estabelecidas no artigo 4° da Lei Orçamentária de 2015, aprovadas pelo
Congresso Nacional. Todas essas previsões legais foram respeitadas em relação
aos 3 decretos. Eles apenas ofereceram alternativas para alocação dos mesmos
limites, de empenho e financeiro, estabelecidos pelo decreto de
contingenciamento, que não foram alterados. Por isso, não afetaram em nada a
meta fiscal. Ademais, desde 2014, por iniciativa do Executivo, o Congresso
aprovou a inclusão, na LDO, da obrigatoriedade que qualquer crédito aberto deve
ter sua execução subordinada ao decreto de contingenciamento, editado segundo
as normas estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. E isso foi
precisamente respeitado. Não sei se por incompreensão ou por estratégia, as
acusações feitas neste processo buscam atribuir a esses decretos nossos
problemas fiscais. Ignoram ou escondem que os resultados fiscais negativos são
consequência da desaceleração econômica e não a sua causa. Escondem que, em
2015, com o agravamento da crise, tivemos uma expressiva queda da receita ao
longo do ano — foram R$ 180 bilhões a menos que o previsto na Lei
Orçamentária. Fazem questão de ignorar que realizamos, em 2015, o maior
contingenciamento de nossa história. Cobram que, quando enviei ao Congresso
Nacional, em julho de 2015, o pedido de autorização para reduzir a meta fiscal,
deveria ter imediatamente realizado um novo contingenciamento. Não o fiz porque
segui o procedimento que não foi questionado pelo Tribunal de Contas da União
ou pelo Congresso Nacional na análise das contas de 2009. Além disso, a
responsabilidade com a população justifica também nossa decisão. Se
aplicássemos, em julho, o contingenciamento proposto pelos nossos acusadores
cortaríamos 96% do total de recursos disponíveis para as despesas da União.
Isto representaria um corte radical em todas as dotações orçamentárias dos
órgãos federais. Ministérios seriam paralisados, universidades fechariam suas
portas, o Mais Médicos seria interrompido, a compra de medicamentos seria prejudicada,
as agências reguladoras deixariam de funcionar. Na verdade, o ano de 2015
teria, orçamentariamente, acabado em julho. Volto a dizer: ao editar estes
decretos de crédito suplementar, agi em conformidade plena com a legislação
vigente. Em nenhum desses atos, o Congresso Nacional foi desrespeitado. Aliás,
este foi o comportamento que adotei em meus dois mandatos. Somente depois que
assinei estes decretos é que o Tribunal de Contas da União mudou a posição que
sempre teve a respeito da matéria. É importante que a população brasileira seja
esclarecida sobre este ponto: os decretos foram editados em julho e agosto de
2015 e somente em outubro de 2015 o TCU aprovou a nova interpretação. O TCU
recomendou a aprovação das contas de todos os presidentes que editaram decretos
idênticos aos que editei. Nunca levantaram qualquer problema técnico ou
apresentaram a interpretação que passaram a ter depois que assinei estes atos.
Querem me condenar por ter assinado decretos que atendiam a demandas de
diversos órgãos, inclusive do próprio Poder Judiciário, com base no mesmo
procedimento adotado desde a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade
Fiscal, em 2001? Por ter assinado decretos que somados, não implicaram, como
provado nos autos, em nenhum centavo de gastos a mais para prejudicar a meta
fiscal? A segunda denúncia dirigida contra mim neste processo também é injusta
e frágil. Afirma-se que o alegado atraso nos pagamentos das subvenções
econômicas devidas ao Banco do Brasil, no âmbito da execução do programa de
crédito rural Plano Safra, equivale a uma "operação de crédito", o
que estaria vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Como minha defesa e
várias testemunhas já relataram, a execução do Plano Safra é regida por uma lei
de 1992, que atribui ao Ministério da Fazenda a competência de sua
normatização, inclusive em relação à atuação do Banco do Brasil. A Presidenta
da República não pratica nenhum ato em relação à execução do Plano Safra.
Parece óbvio, além de juridicamente justo, que eu não seja acusada por um ato
inexistente. A controvérsia quanto a existência de operação de crédito surgiu
de uma mudança de interpretação do TCU, cuja decisão definitiva foi emitida em
dezembro de 2015. Novamente, há uma tentativa de dizer que cometi um crime
antes da definição da tese de que haveria um crime. Uma tese que nunca havia
surgido antes e que, como todas as senhoras e senhores senadores souberam em
dias recentes, foi urdida especialmente para esta ocasião. Lembro ainda a
decisão recente do Ministério Público Federal, que arquivou inquérito
exatamente sobre esta questão. Afirmou não caber falar em ofensa à lei de
responsabilidade fiscal porque eventuais atrasos de pagamento em contratos de
prestação de serviços entre a União e instituições financeiras públicas não são
operações de crédito. Insisto, senhoras senadoras e senhores senadores: não sou
eu nem tampouco minha defesa que fazemos estas alegações. É o Ministério
Público Federal que se recusou a dar sequência ao processo, pela inexistência
de crime. Sobre a mudança de interpretação do TCU, lembro que, ainda antes da
decisão final, agi de forma preventiva. Solicitei ao Congresso Nacional a
autorização para pagamento dos passivos e defini em decreto prazos de pagamento
para as subvenções devidas. Em dezembro de 2015, após a decisão definitiva do
TCU e com a autorização do Congresso, saldamos todos os débitos existentes. Não
é possível que não se veja aqui também o arbítrio deste processo e a injustiça
também desta acusação. Este processo de impeachment não é legítimo. Eu não
atentei, em nada, em absolutamente nada contra qualquer dos dispositivos da
Constituição que, como Presidenta da República, jurei cumprir. Não pratiquei
ato ilícito. Está provado que não agi dolosamente em nada. Os atos praticados
estavam inteiramente voltados aos interesses da sociedade. Nenhuma lesão
trouxeram ao erário ou ao patrimônio público. Volto a afirmar, como o fez a
minha defesa durante todo o tempo, que este processo está marcado, do início ao
fim, por um clamoroso desvio de poder. É isto que explica a absoluta
fragilidade das acusações que contra mim são dirigidas. Tem-se afirmado que
este processo de impeachment seria legítimo porque os ritos e prazos teriam
sido respeitados. No entanto, para que seja feita justiça e a democracia se imponha,
a forma só não basta. É necessário que o conteúdo de uma sentença também seja
justo. E no caso, jamais haverá justiça na minha condenação. Ouso dizer que em
vários momentos este processo se desviou, clamorosamente, daquilo que a
Constituição e os juristas denominam de "devido processo legal". Não
há respeito ao devido processo legal quando a opinião condenatória de grande
parte dos julgadores é divulgada e registrada pela grande imprensa, antes do
exercício final do direito de defesa. Não há respeito ao devido processo legal
quando julgadores afirmam que a condenação não passa de uma questão de tempo,
porque votarão contra mim de qualquer jeito. Nesse caso, o direito de defesa
será exercido apenas formalmente, mas não será apreciado substantivamente nos
seus argumentos e nas suas provas. A forma existirá apenas para dar aparência
de legitimidade ao que é ilegítimo na essência. Senhoras e senhores senadores,
Nesses meses, me perguntaram inúmeras vezes porque eu não renunciava, para
encurtar este capítulo tão difícil de minha vida. Jamais o faria porque tenho
compromisso inarredável com o Estado Democrático de Direito. Jamais o faria
porque nunca renuncio à luta. Confesso a Vossas Excelências, no entanto, que a
traição, as agressões verbais e a violência do preconceito me assombraram e, em
alguns momentos, até me magoaram. Mas foram sempre superados, em muito, pela
solidariedade, pelo apoio e pela disposição de luta de milhões de brasileiras e
brasileiros pelo país afora. Por meio de manifestações de rua, reuniões,
seminários, livros, shows, mobilizações na internet, nosso povo esbanjou
criatividade e disposição para a luta contra o golpe. As mulheres brasileiras
têm sido, neste período, um esteio fundamental para minha resistência. Me
cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade. Parceiras incansáveis
de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras, as
brasileiras expressaram, neste combate pela democracia e pelos direitos, sua
força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever
de representar como primeira mulher Presidenta do Brasil. Chego à última etapa
desse processo comprometida com a realização de uma demanda da maioria dos
brasileiros: convocá-los a decidir, nas urnas, sobre o futuro de nosso País.
Diálogo, participação e voto direto e livre são as melhores armas que temos
para a preservação da democracia. Confio que as senhoras senadoras e os
senhores senadores farão justiça. Tenho a consciência tranquila. Não pratiquei
nenhum crime de responsabilidade. As acusações dirigidas contra mim são
injustas e descabidas. Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a
uma pena de morte política. Este é o segundo julgamento a que sou submetida em
que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Na primeira vez,
fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas
dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante
de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto
eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela
história. Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura,
meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à
Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida,
olhando nos olhos dos meus julgadores. Apesar das diferenças, sofro de novo com
o sentimento de injustiça e o receio de que, mais uma vez, a democracia seja
condenada junto comigo. E não tenho dúvida que, também desta vez, todos nós
seremos julgados pela história. Por duas vezes vi de perto a face da morte:
quando fui torturada por dias seguidos, submetida a sevícias que nos fazem
duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida; e quando uma doença grave e
extremamente dolorosa poderia ter abreviado minha existência. Hoje eu só temo a
morte da democracia, pela qual muitos de nós, aqui neste plenário, lutamos com
o melhor dos nossos esforços. Reitero: respeito os meus julgadores. Não nutro
rancor por aqueles que votarão pela minha destituição. Respeito e tenho
especial apreço por aqueles que têm lutado bravamente pela minha absolvição,
aos quais serei eternamente grata. Neste momento, quero me dirigir aos
senadores que, mesmo sendo de oposição a mim e ao meu governo, estão indecisos.
Lembrem-se que, no regime presidencialista e sob a égide da nossa Constituição,
uma condenação política exige obrigatoriamente a ocorrência de um crime de
responsabilidade, cometido dolosamente e comprovado de forma cabal. Lembrem-se
do terrível precedente que a decisão pode abrir para outros presidentes,
governadores e prefeitos. Condenar sem provas substantivas. Condenar um
inocente. Faço um apelo final a todos os senadores: não aceitem um golpe que,
em vez de solucionar, agravará a crise brasileira. Peço que façam justiça a uma
presidenta honesta, que jamais cometeu qualquer ato ilegal, na vida pessoal ou
nas funções públicas que exerceu. Votem sem ressentimento. O que cada senador
sente por mim e o que nós sentimos uns pelos outros importa menos, neste
momento, do que aquilo que todos sentimos pelo país e pelo povo brasileiro. Peço: votem contra o
impeachment. Votem pela democracia. Muito obrigada." http://www.uol.com.br. Abraço.
Davi.