Islamismo. www.ccib.org.br. Texto de Yusuf al-Qaradawi.
III. A MULHER NO ISLAM – MITO E REALIDADE. A VOZ DA MULHER NO ISLAM. Muitos
muçulmanos adotaram a ética judaico-cristã, que vê a mulher como fonte da
tragédia humana por causa de seu papel bíblico de sedutora, que levou Adão a
desobedecer ao seu Senhor. Ao convencer seu marido a comer do fruto proibido,
ela não só desafiou Allah como também causou a expulsão da humanidade do
Paraíso, determinando, assim, todo o sofrimento temporal humano. Aqueles que
defendem este mito bíblico, se apoiam em arquivos da literatura pseudo
islâmica, como, por exemplo, alguns ahadith falsos ou fracos. Este mito do
Velho Testamento é uma crença largamente difundida na comunidade islâmica,
apesar de Allah salientar no Alcorão que Adão foi o único responsável por seu
erro. "Havíamos firmado o pacto com Adão, porém, ele esqueceu-se
dele; e não vimos nele firme resolução" (Alcorão 20:115). "E ambos
comeram (os frutos) da árvore, (...). Adão desobedeceu a seu Senhor e foi
seduzido. Mas logo o seu Senhor o elegeu, absolvendo-o e encaminhando-o."
(Alcorão 20:121-122). Portanto, não há nada na doutrina islâmica ou no Alcorão
que considere a mulher como responsável pela expulsão de Adão do Paraíso ou
pela miséria da humanidade. Contudo, a misoginia prolifera nos pronunciamentos
de muitos "sábios" e "imams" islâmicos. Como resultado
dessa má interpretação de ahadith, sociedades inteiras têm maltratado seus
membros femininos não obstante o fato de o Islam ter dignificado e fortalecido
a mulher em todas as esferas da vida. A mulher na lei islâmica é igual ao homem.
Ela é tão responsável por seus atos como o homem o é. Seu testemunho é
solicitado e valido na corte. Suas opiniões são buscadas e seguidas.
Diferentemente do pseudo hadith que diz "Consultem as mulheres e façam o
oposto", o Profeta (sas) consultou sua esposa, Um Salama, sobre uma das
mais importantes questões para a comunidade muçulmana. As referências às
atitudes positivas do Profeta em relação às mulheres desacreditam o hadith,
erroneamente atribuído a Ali bin Abu Talib: "A mulher é toda um mal e o seu
maior mal é que o homem não faz nada sem ela". A divulgação de tal
negatividade contra a mulher levou muitos "sábios" e
"imams" a fazer regras inconsistentes sobre a fala das mulheres.
Afirmam que a mulher deve baixar sua voz, ou mesmo silenciar, exceto quando falar
com seu marido, seu guardião ou outras mulheres. Para alguns, o simples ato de
se comunicar transformou a mulher em fonte de tentação e fascinação do homem.
No entanto, o Alcorão menciona, especificamente, que aqueles que buscavam
informação das esposas do Profeta podiam fazê-lo, desde que atendidas
determinadas condições. "(...) E se desejardes perguntar algo a elas (suas
esposas), fazei-o detrás de cortinas." (Alcorão 33:53) Na medida em que
perguntas exigem respostas, as Mães dos crentes ofereciam fatwas àqueles que
perguntavam e narravam ahadith a todo aquele que desejasse transmiti-los. Além
do mais, as mulheres estavam acostumadas a questionar o Profeta (sas) mesmo na
presença dos homens. Nem elas ficavam constrangidas por se fazerem ouvir nem o Profeta
as impedia de indagar. Mesmo no caso de Omar, quando ele foi desafiado por uma
mulher durante o seu sermão no minbar, ele não retrucou, pelo contrário,
admitiu que ela estava certa e ele errado e disse: "Todo mundo é mais
instruído do que Omar." Um outro exemplo alcorânico de uma mulher falando
em público é o mencionado no versículo 28:23. Além desse, o Alcorão relata a
conversa entre Salomão e a Rainha de Sabá, assim como entre ela e seus
subordinados. Todos esses exemplos demonstram que as mulheres podem expressar
suas opiniões publicamente porque o que quer que tenha sido prescrito a elas
antes de nós está prescrito para nós, a não ser que seja unanimemente rejeitado
pela doutrina islâmica. Portanto, a única proibição é a mulher se comportar de modo
a se insinuar ou tentar o homem. Isto está expresso no Alcorão, onde Allah diz:
"Ó esposas do Profeta, vós não sois como as outras mulheres; se sois
tementes, não sejais insinuantes na conversação, para evitardes a cobiça
daquele que possui morbidez no coração, e falai o que é justo." (Alcorão
33:32) Assim, o que é proibido é o falar insinuante que induz aqueles que têm
os corações doentes a se comportarem de forma inadequada. Mas, isto não quer
dizer que toda conversa com as mulheres seja proibida, porque Allah completa o
versículo "(...) mas falai o que é justo." (Alcorão 33:32). Buscar
desculpas para silenciar as mulheres é apenas uma das injustiças que certos
sábios e imams tentam impor às mulheres. Eles assinalam que tais ahadith foram
narrados por Bukhari sobre o Profeta, que diz: "As mulheres são o perigo
maior que deixei para os homens." Eles afirmam que esse perigo quer dizer
que as mulheres são uma maldição a ser tolerada da mesma forma que a pobreza, a
fome, a doença, a morte e o medo. Esses "sábios" ignoram o fato de
que o homem é testado mais por suas bênçãos do que por suas tragédias. E Allah
diz: "(...) e vos provaremos com o mal e com o bem." (Alcorão 21:35)
Em apoio a este argumento Allah diz no Alcorão que as duas maiores bênçãos da
vida, riqueza e filhos, são provas. "E sabei que tanto vossos bens como
vossos filhos são para vos pôr à prova" (Alcorão 8:28) Umas mulheres, não
obstante as bênçãos que ela espalha em seu ambiente, também pode ser uma prova,
posto que ela pode desviar um homem de sua obrigação para com Allah. Assim,
Allah cria a consciência de como as bênçãos podem ser extraviadas a ponto de se
tornarem maldições. Os homens podem usar suas esposas como uma desculpa para
não cumprir a jihad ou para fugir do sacrifício de produzir riqueza. No Alcorão
Allah avisa: "Ó fiéis, em verdade, tendes adversários entre as vossas
mulheres e os vossos filhos" (Alcorão 64:14) A advertência é a mesma para
aqueles abençoados com riqueza e descendência abundantes (63:9). Além disso, o hadith
diz: "Por Deus não receio a pobreza para vós, mas sim que o mundo vos seja
abundante como o foi para aqueles antes de vós e assim que luteis pela
abundância da mesma forma que aqueles antes de vós lutaram e assim que sejais
destruídos assim como eles foram destruídos." Este hadith não quer dizer
que o Profeta encorajasse a pobreza. A pobreza é uma maldição contra a qual o
Profeta buscava refúgio em Allah. Ele não pretendia que sua Ummah se privasse
da riqueza e da abundância- "O melhor da boa riqueza é para o justo."
As mulheres também são um presente para o justo, porque o Alcorão diz que o
muçulmano e a muçulmana, o crente e a crente, são ajuda e conforto um para o
outro, aqui e no além. O Profeta não condenou as bênçãos que Allah propiciou
para a sua Ummah. Antes pelo contrário, ele desejava afastar os muçulmanos e a
sua Ummah dos caminhos escorregadios, cujo fosso insondável é uma lama de
crueldade e desejo. MULHERES QUE FIZERAM HISTÓRIA NO ISLAM. Khadija bint Khuwaili (555-620). Fatimah Bint Muhammad (604-632). Aishah
Bint Abu Bakr (605-678). Umm Salamah (580-608). Zaynab al-Ghazali (1917-2005). O Islam, hoje, é uma
grande força no mundo. Mas, houve um tempo em que, quando ele ainda
engatinhava, precisou de proteção contra os ventos da idolatria e do politeísmo.
Os muçulmanos não podem se esquecer de uma figura importante na construção dos
alicerces do Islam: Khadija bint Khuwaili. Khadija foi testemunha ocular do
nascimento do Islam. Foi em sua casa que o Islam foi sendo esculpido e moldado.
Foi a partir de sua casa que o Islam "alçou voo". Sua casa foi o lar
do Alcorão, o Livro de Deus e código religioso e político do Islam. Durante 10
anos as mensagens foram sendo trazidas pelo anjo Gabriel e Khadija foi quem
mais colecionou essas primeiras revelações vindas de Deus. Ela foi a primeira
esposa do último dos profetas de Deus. Ela foi a primeira crente. Foi ela o
primeiro ser humano a declarar que o Criador era Um e que Mohammad era Seu
profeta. Ela foi a companheira constante de Mohammad. Até a sua morte, Mohammad
dedicou exclusivamente a Khadija todo o seu amor, afeto e amizade. Ela foi a
primeira pessoa a oferecer preces a Deus juntamente com seu marido. Afif
Al-Kanadi relatou: "Cheguei a Macca durante os dias de ignorância e queria
vender algumas roupas e perfumes em nome de minha família. Fui até Al-Abbas b.
'Abdul-Mutalib." Ele conta: "Enquanto estava em sua casa, olhei para
a Caaba. O sol saiu quando um homem chegou, até aproximar da Caaba. Então ele
levantou sua cabeça para o céu e olhou para a Caaba. Então, um jovem chegou e
ficou à sua direita. Não levou muito tempo e uma mulher chegou e ficou atrás
deles. Então o homem se curvou e o jovem e a mulher se curvaram. Então o homem
levantou sua cabeça e o jovem e a mulher fizeram o mesmo. Então o homem se prostrou
e o jovem e a mulher se prostraram também." Ele continuou: "Então, eu
disse: 'Ó Abbas! Na verdade, vejo um grande homem.' E Abbas disse: 'Sabe quem é
aquele homem?' Eu respondi: 'Não, não sei.' Ele disse: 'É Mohammad b.'Abdullah
b.'Abdul-Mutalib, meu sobrinho. Sabe quem é aquela mulher?' Eu disse: 'Não
sei.' Ele disse: 'Aquela é Khadija bint Khuwaylid, a esposa do meu sobrinho.
Este meu sobrinho que você vê nos contou que seu Senhor é o Senhor dos céus e
da terra e que Ele lhe ordenou esta religião que ele está seguindo. Juro por
Allah que não conheço ninguém mais sobre a face da terra que esteja seguindo
esta religião além daqueles três.' E Afif disse: “Gostaria de ser o
quarto.” Quando Mohammad proclamou sua missão
como o mensageiro de Deus e disse aos árabes para não adorarem ídolos e os
convocou para se unirem em torno da bandeira do Tauheed, uma onda de
infortúnios se abateu sobre ele. Os politeístas quiseram beber seu sangue.
Inventaram novas e engenhosas formas de atormentá-lo e fizeram inúmeras
tentativas para sufocar sua voz para sempre. Naqueles tempos de tristeza e
tensão, Khadija nunca lhe faltou. Foi somente por causa dela e de Abu Talib que
os politeístas não conseguiram destruir o trabalho de pregação e divulgação do
Islam. Desta forma, é dela a mais importante contribuição para a sobrevivência
do Islam. Khadija criou os padrões básicos que traduzem a paz, harmonia,
felicidade e satisfação domésticas e os aplicou em sua própria vida. Ela
demonstrou que a chave para a felicidade familiar é a proximidade entre seus
membros. Ela mostrou os direitos e deveres de maridos e esposas. O modelo
criado por ela tornou-se um "esquema" de vida familiar para o Islam.
Mohammad e Khadija ficaram juntos por 25 anos e durante esses anos formularam
as "leis" que tornam um casamento bem-sucedido e a vida mais feliz.
Desde então, mesmo que em termos temporais, o resto do mundo jamais foi capaz
de encontrar regras de convivência melhores. Khadija transformou em realidade
as abstrações do idealismo. Sua vida com Mohammad é uma prova concreta deste
fato. O que ela deu ao mundo não foi apenas um conjunto de princípios ou ideias
teóricas, mas toda uma experiência, rica em momentos de puros encantamentos com
o Islam e de um amor penetrante por Deus e Seu Mensageiro. Os árabes pagãos
tinham um sentido de honra distorcido. Era esse "sentimento de honra"
que os levava a matar suas filhas. O Islam, é claro, pôs um fim a essa prática
bárbara, transformando-a em pecado contra Deus e em crime contra a humanidade. Além
de acabar com o infanticídio feminino, o Islam também concedeu dignidade, honra
e direitos a todas as mulheres, garantindo esses direitos. Deus quis demonstrar
que as leis do Islam eram todas praticáveis. Para demonstrar a praticabilidade
dessas leis e mostrar esse "Projeto de Vida" islâmico, Ele escolheu a
casa de seus servos Mohammad e Khadija. Sem Khadija, as leis do Islam teriam
permanecido sem sentido. Na verdade, é até possível que Mohammad não pudesse
promulgar aquelas leis sem ela. Uma das grandes bênçãos que Mohammad e Khadija
receberam de Deus foi sua filha, Fatima Zahra. Ela nasceu após a morte de seus
irmãos, Qasim e Abdullah. Ela tinha apenas 11 anos quando sua mãe morreu e
Mohammad se transformou em pai e mãe para ela. Foi educando sua filha que o Mensageiro
de Deus demonstrou a aplicabilidade das leis do Islam. Uma vez que ele é o
modelo para todos os muçulmanos, eles devem imitá-lo em todos os seus atos. Ele
dedicou um amor extremado e mostrou o maior respeito por sua filha. Tanto em
Meca como em Medina, muitas pessoas importantes, líderes de tribos poderosas,
vinham ver o Mensageiro de Deus. Ele jamais se levantava do chão para
cumprimentá-los. Mas se ele sabia que sua filha Fatima estava chegando para
vê-lo, ele corria para cumprimentá-la, acompanhava-a e lhe dava o lugar de
honra para se sentar. Jamais ele mostrou tanta estima e respeito por qualquer
um em toda a sua vida - homem ou mulher. É inegável que o Islam significa
a prática da casa de Khadija e sem dúvida o Alcorão foi o "dialeto"
de sua família. Sua filha Fatima, e seus netos Hasan e Husain, cresceram
falando o Alcorão. Não existem palavras adequadas que possam expressar os
méritos de Khadija. Mas Deus prometeu sua recompensa aos Seus servos amados,
como Khadija, nos seguintes versículos de Seu livro: "Por outra, os fiéis,
que praticam o bem, são as melhores criaturas, cuja recompensa está em seu
Senhor: Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão
eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n'Ele. Isto acontecerá
com quem teme o seu Senhor." (Alcorão 98:7-8). O Mensageiro de Deus
honrava e estimava Khadija. Jamais discordou dela antes de receber a revelação.
Mesmo após a sua morte, ele sempre se lembrar dela e não se cansava de
exaltá-la. Certa vez, Aisha enciumada, disse ao Profeta: "Na verdade, Deus
não lhe deu nada melhor do que uma velha." O Profeta se irritou e disse:
"Não, por Deus, juro que Allah jamais me concedeu nada melhor do que ela.
Ela foi a esposa que acreditou em mim quando ninguém acreditava. Ela confirmou
minha honestidade quando todos me acusavam de mentiroso. Ela me sustentou
quando todos me despojaram. Através dela, Allah me concedeu os filhos que
nenhuma outra mulher me deu." O Profeta estava tão irritado que sua testa
tremia e então eu disse para mim mesma: "O Deus, se a raiva do Profeta se
aplacar nunca mais repetirei o que disse." E Aisha também disse:
"Nunca tive ciúmes das outras esposas do Profeta como tive de Khadija. Eu
não a conheci mas o Profeta costumava se lembrar sempre dela. Quando ele
sacrificava um carneiro, era comum ele cortar algumas partes e mandar para os
amigos de Khadija. Algumas vezes eu dizia a ele: “É como se não houvesse outra
mulher no mundo além de Khadija.' E ele respondia: 'Como posso esquecê-la? Ela
me deu os filhos mais amados." Aisha (605-678) também disse: "O
Mensageiro de Deus quase sempre antes de deixar a casa citava Khadija e a
louvava." Khadija, a Mãe dos Crentes, morreu ajudando o Mensageiro de Deus
a transmitir o chamado do Islam. Tinha, então, 65 anos e sua morte se deu três
anos antes da migração para Medina. O próprio Profeta a enterrou com suas mãos.
Sua morte representou uma grande perda para ele. Fatimah Bint
Muhammad. Fátima foi o quinto filho de Mohammad e Khadija. Ela nasceu na época em
que seu pai começou a passar longos períodos em solidão nas montanhas perto de
Macca, meditando e refletindo sobre os grandes mistérios da criação. Sua irmã
mais velha tinha se casado com seu primo, al-Aas ibn ar-Rabiah. Em seguida veio
o casamento de suas duas outras irmãs, Ruqayah e Umm Kulthun, com os filhos de
Abu Lahab, um tio paterno do Profeta. Tanto Abu Lahab quanto sua esposa, Umm
Jamil, tornaram-se inimigos ferozes do Profeta quando este iniciou sua missão.
Assim, a pequena Fátima viu suas irmãs deixaram a casa paterna, uma após a
outra, para irem viver com seus maridos. Ela era muito nova para compreender o
significado do casamento e as razões pelas quais suas irmãs estavam indo
embora. Fátima devotava grande amor às irmãs e se sentiu muito só. Conta-se que
uma certa tristeza se abateu sobre ela. É claro que naquele tempo, mesmo depois
do casamento de suas irmãs, ela não ficou sozinha em casa de seus pais.
Barakah, a serva de Aminah, mãe do Profeta, que tinha cuidado dele desde o seu
nascimento, Zayd ibn Harithah e Ali, o filho de Abu Talib, faziam parte da casa
de Mohammad. É claro que tinha sua amada mãe, Khadija. Fátima encontrou em
Barakah e em sua mãe grande consolo. Em Ali, que era dois anos mais velho do
que ela, encontrou um "irmão" e amigo que, de alguma forma, havia
ocupado o lugar de seu irmão al-Qasim, que havia morrido cedo. Abdullah, seu
outro irmão, conhecido como o Bom e Puro, que nasceu depois dela, também havia
morrido ainda criança. No entanto, ninguém da casa de seu pai lhe dera tanta
alegria e felicidade como suas irmãs. Ela era uma criança muito sensível para a
sua idade. Quando estava com 5 anos, soube que seu pai tinha se tornado Rasul
Allah, o Mensageiro de Deus. Os primeiros a receberem as boas novas do Islam
foram sua família e os amigos mais chegados. Eles deviam adorar a Deus Todo
Poderoso somente. Sua mãe, que era um baluarte de força e amparo, explicou a
Fátima o que seu tinha que fazer. A partir daquele momento ela ficou mais
intimamente ligada a ele, devotando-lhe um profundo e respeitoso amor. Muitas
vezes ela sairia pelas ruas estreitas de Meca, visitando a Caaba ou assistindo
aos encontros secretos dos primeiros muçulmanos que haviam abraçado o Islam e
prometido fidelidade ao Profeta. Um dia, quando ainda não tinha dez anos, ela
acompanhou seu pai à mesquita de al-Haram. Ele ficou no lugar conhecido como
al-Hijr, de frente para a Caaba e começou a rezar. Fátima ficou de pé a seu
lado. Um grupo de coraixitas mal intencionados começou a confabular sobre ele.
Entre aquelas pessoas estavam Abu Jahl ibn Hisham, tio do Profeta, Uqbah ibn
Abi Muayt, Umayyah ibn Khalaf, e Shaybah e Utbah, filhos de Rabi'ah.
Ameaçadoramente, o grupo se dirigiu ao Profeta e Abu Jahl, líder do grupo,
perguntou: "Quem de vocês pode trazer as tripas de um animal morto e
atirá-las sobre Mohammad?" Uqbah ibn Abi Muayt, um dos mais infames do
grupo, se apresentou como voluntário e saiu correndo para providenciar. Voltou
trazendo a porcaria e a atirou sobre os ombros do Profeta que jazia prostrado em
adoração. Abdullah ibn Masud, um companheiro do Profeta a tudo assistiu,
impotente para fazer ou dizer qualquer coisa. Imagine-se os sentimentos de
Fátima, vendo seu pai ser tratado desta maneira! O que podia uma menina de 10
anos fazer? Aproximou-se do pai, retirou aquela sujeira e, então, firme e
furiosamente ficou diante do grupo de fascínoras e começou a gritar com eles.
Não disseram uma palavra. O Profeta levantou sua cabeça completando a
prostração e seguiu com a oração. Então disse: "Ó Senhor, que os coraixitas
sejam punidos!" e repetiu esta imprecação por três vezes. Depois
continuou: "Que Utbah, Abu Jahl e Shaybah sejam punidos." (Esses três
morreram mais tarde na Batalha de Badr). Em outra ocasião, Fátima estava com o
profeta enquanto ele fazia tawaf em volta da Caaba. Uma turba de coraixitas se
juntou em volta dele. Eles o agarraram e tentaram estrangulá-lo com suas
próprias roupas. Fátima gritou por socorro. Abu Bakr correu até eles tentando
libertar o Profeta, enquanto implorava: "Vocês querem matar um homem que
diz 'Meu Senhor é Deus?' " Longe de desistir, o grupo se voltou para Abu
Bakr e começou a bater nele até que o sangue começou a escorrer de sua cabeça e
rosto. Tais cenas de oposição feroz e perseguição contra seu pai e os primeiros
muçulmanos foram testemunhadas pela jovem Fátima. Jamais ficou impassível a
tudo isso, pelo contrário, partiu para a luta na defesa de seu pai e de sua
nobre missão. Ela era ainda uma menina e ao invés das brincadeiras alegres,
próprias das crianças de sua idade, Fátima presenciou e participou de tais
provações. É claro que ela não estava sozinha. Toda a família do Profeta
sofreu com essa insana violência dos coraixitas. Suas irmãs, Ruqayyah e Umm
Kulthum, também sofreram. Nessa época elas estavam morando no ninho de ódio e
intriga contra o Profeta. Afinal, os maridos eram Utbah e Utaybah, filhos de
Abu Lahab e Umm Jamil. Umm Jamil era conhecida por ser uma mulher mesquinha e
inflexível, que tinha uma língua ferina. Tinha sido exatamente por causa dela
que Khadija não tinha ficado satisfeita com o casamento das filhas. Deve ter
sido doloroso para Ruqayyah e Umm Kulthum viver na casa desses inimigos que, ao
invés de se juntarem ao seu pai, empreenderam uma terrível campanha para
destruí-lo. Como sinal da desgraça sobre Mohammad e sua família, Utbah e
Utaybah foram obrigados por seus pais a se divorciarem das esposas. Isto fazia
parte do processo de lançar Mohammad ao total ostracismo. O Profeta, na
verdade, recebeu suas filhas de volta com alegria, felicidade e alívio. Fátima,
com certeza, mais feliz ainda, por estar de novo com suas irmãs. Agora todos na
família queriam que a irmã mais velha, Zaynab, também se divorciasse do marido.
De fato os coraixitas fizeram pressão para que Abul Aas se divorciasse da filha
do Profeta, mas ele se recusou. Quando os líderes dos coraixitas vieram ter com
ele e lhe prometeram a mais bela e mais rica mulher como esposa se ele se
divorciasse de Zaynab, ele respondeu: "Amo minha esposa profunda e
apaixonadamente e tenho grande respeito por seu pai, muito embora eu não tenha
entrado para a religião do Islam." Tanto Ruqayyah quanto Umm Kulthum
estavam felizes com o retorno para a casa dos pais e por estarem livres da
insuportável tortura mental a qual foram submetidas na casa de Umm Jamil. Um pouco
depois, Ruqayyah se casou de novo com o jovem Uthman ibn Allan, que estava
entre os primeiros a aceitar o Islam. Eles seguiram para Abissínia juntamente
com os primeiros muhajirin que buscaram refúgio naquelas terras e ficaram por
lá muitos anos. A perseguição ao Profeta, sua família e seguidores continuou,
piorando depois da migração dos primeiros muçulmanos para a Abissínia. No
sétimo ano de sua missão, o Profeta e sua família foram forçados a deixar a
casa e buscar refúgio num pequeno e escarpado vale circundado por montanhas por
todos os lados e um desfiladeiro, que só podia ser alcançado através de uma
passagem estreita. Neste vale árido, Mohammad e os clãs de Banu Hashim e
al-Muttalib foram forçados a viver com alimentação racionada. Fátima era um dos
membros mais jovens dos clãs - cerca de 12 anos - e teve que suportar meses de
sofrimento e privação. O choro das mulheres e crianças famintas podia ser
ouvido em Macca. Os coraixitas não permitiam qualquer contato com os
muçulmanos, cujo sofrimento diminuía um pouco durante o período da
peregrinação. Esse boicote durou três anos. Quando foi suspenso, o Profeta teve
que enfrentar mais provas e dificuldades. Khadija, a amada e fiel esposa,
morreu um pouco depois. Com sua morte, o Profeta e sua família perdeu uma das
suas maiores fontes de conforto e força, que os sustentou durante os dias de
grandes dificuldades. O ano em que Khadija, e logo depois Abu Talib, morreram é
conhecido como o "Ano da Tristeza". Fátima, agora uma adolescente,
sofreu com a morte de sua mãe. Ela chorou muito e durante algum tempo ficou tão
abalada que isso teve repercursões sobre sua saúde. Temia-se até que ela
pudesse morrer de tristeza. Embora sua irmã mais velha, Umm Kulthum, estivesse
em casa, Fátima percebeu que agora ela tinha uma responsabilidade maior com a
morte da mãe. Ela sentia que tinha que dar um apoio maior a seu pai. Com
ternura e carinho ela se dedicou a cuidar de suas necessidades. Ela era tão
preocupada com o seu bem estar que chegou a ser chamada de "Umm Abi-ha"
(a mãe de seu pai). Ela também o amparou nos difíceis tempos de provas e
crises. Muitas vezes as provações eram demais para ela. Certa vez, uma turba de
insolentes atirou poeira e terra sobre a cabeça do Profeta. Quando ele entrou
em casa, Fátima chorou muito, enquanto tiram a poeira da cabeça de seu pai.
"Não chore, minha filha, porque Deus protegerá seu pai." O Profeta
tinha um carinho especial por Fátima. Uma vez ele disse: "Quem quer que
agrade Fátima, na verdade agrada a Deus e quem quer que lhe cause tristeza na
verdade desagrada Deus. Fátima é uma parte de mim. O que quer que lhe agrade me
agrada e o que quer que lhe desagrade me desagrada." Também disse:
"As melhores mulheres do mundo são quatro: a Virgem Maria, Aasiyaa, esposa
do Faraó, Khadija, Mãe dos Crentes, e Fátima, a filha de Mohammad." Assim,
Fátima conquistou um lugar especial no coração do Profeta, antes ocupado apenas
por sua esposa Khadija. Por causa de seu rosto brilhante, que parecia uma luz
radiante, Fátima recebeu o título de "az-Zahraa", que significa
"a resplandescente". Conta-se que quando ela ia rezar, o mihrab
refletia a luz de seu semblante. Também era conhecida por "al Batul"
por causa de seu asceticismo. Ao invés de ficar na companhia das mulheres, passava
a maior parte do seu tempo em oração, lendo o Alcorão e assistindo os pobres.
Fátima tinha uma forte semelhança com seu pai. Aisha, a esposa do Profeta,
disse sobre ela: "Jamais vi nada na criação de Deus que lembrasse mais o
Mensageiro de Deus na palavra, nas conversas e no modo de sentar, do que
Fátima. Quando o Profeta a via chegar, ele a cumprimentava, se levantava e a
beijava, tomava-a pela mão e a fazia sentar-se no lugar onde ele estava
sentado." Ela fazia a mesma coisa quando ele ia visitá-la. Ela se
levantava, cumprimentava-o com alegria e o beijava. O modo fino e gentil de
falar era parte de sua personalidade afetuosa e amorosa. Ela era especialmente
amável com os pobres e indigentes e algumas vezes distribuía toda a comida que
tinha para aqueles necessitados, ainda que ela mesma ficasse com fome. Não
tinha desejos pelas coisas deste mundo nem almejava uma via luxuosa e
confortável. Vivia de maneira simples, embora em certas ocasiões, que veremos
adiante, as circunstâncias pareciam ser muito difíceis para ela. Ela herdou
de seu pai uma eloquência persuasiva, cheia de sabedoria. Quando falava, as
pessoas muitas vezes chegavam às lágrimas. Tinha a habilidade e a sinceridade
de despertar as emoções, levar as pessoas às lágrimas e encher seus corações
com louvor e gratidão a Deus por Suas graças e inestimáveis bênçãos. Fátima
migrou para Medina poucas semanas após o Profeta. Ela foi com Zayd ibn
Harithah, que havia sido mandado pelo Profeta para trazer o resto de sua
família. O grupo incluía Fátima e Umm Kulthum, Sawdah, a esposa do Profeta,
Barakah, a esposa de Zayd e seu filho Usamah. Viajando com eles, também estava
Abdullah, o filho de Abu Bakr, que acompanhava sua mãe e tia, Aisha e Asma. Em
Medina, Fátima viveu com seu pai numa casa simples que tinha sido construída perto
da mesquita. No segundo ano depois da Hégira, ela recebeu várias propostas de
casamento. Ali, o filho de Abu Talib, armou-se coragem e foi pedir ao Profeta a
mão de sua filha em casamento. No entanto, quando na presença do Profeta, Ali
ficou paralisado. Olhava para o chão e não conseguia dizer nada. O Profeta,
então, lhe perguntou: "Por que você veio? Está precisando de alguma
coisa?" Mas Ali não conseguia dizer uma palavra e então o Profeta sugeriu:
"Talvez você tenha vindo para propor casamento a Fátima."
"Sim", ele respondeu. Em seguida, de acordo com relatos, o Profeta
disse simplesmente "Marhaban wa ahlan" (seja bem-vindo). Um outro
relato conta que o Profeta aprovou e perguntou a Ali se ele tinha alguma coisa
para dar como dote. Ele respondeu que não tinha. O Profeta o fez lembrar-se de
que tinha um escudo que podia ser vendido. Ali vendeu-o a Uthman por 400
dirhams e voltou correndo ao Profeta dando a ele a quantia apurada como dote.
Uthman interrompeu-o e disse: "Devolvo-lhe seu escudo como meu presente de
casamento." Fátima e Ali se casaram provavelmente no início do segundo ano
após a Hégira. Ela devia ter perto de 19 anos e Ali 21. O próprio Profeta
celebrou a cerimônia de casamento. Os convidados foram servidos com tâmaras,
figos e "hais" (uma mistura de tâmaras e manteiga). Um membro dos
ansar deu de presente um carneiro e os outros ofertaram grãos. Toda Medina se
rejubilou. Diz-se que o Profeta presenteou o casal com uma cama de madeira,
entrelaçada com folhas de palmeira, uma manta de veludo, uma almofada de couro,
uma pele de carneiro, um vaso e um moedor de grãos. Pela primeira vez Fátima
deixou a casa de seu amado pai para começar uma nova vida com o marido. O
Profeta estava nitidamente preocupado com ela e mandou Barakah para ajudá-la em
caso de necessidade. Sem dúvida, Barakah foi uma inestimável fonte de conforto
e consolo para Fátima. E o Profeta rezou por eles: "Ó Senhor, abençoe a
ambos, a sua casa e a sua descendência." Na casa humilde de Ali, só havia
uma pele de carneiro para a cama. Na manhã seguinte ao casamento, o Profeta foi
até lá e bateu na porta. Barakah veio atender e o Profeta lhe disse: "Ó
Umm Ayman, chame meu irmão para mim." "Seu irmão? Aquele que se casou
com sua filha?" perguntou Barakah algo incrédula, como se quisesse dizer:
Por que o Profeta chama Ali de seu irmão? (Ele se referia a Ali como seu irmão
porque depois da Héjira os muçulmanos estavam ligados numa fraternidade, assim
o Profeta e Ali estavam ligados como "irmãos"). O Profeta repetiu o
que tinha dito numa voz mais alta. Ali chegou e o Profeta invocou as bênçãos de
Deus sobre ele. A seguir, ele perguntou por Fátima. Ela apareceu quase que se
encolhendo, entre espantada e tímida, e o Profeta lhe disse: "Eu casei
você com o mais querido de minha família." Desta forma, ele procurou
tranquilizá-la. Ela não estava começando uma vida nova com alguém estranho, mas
sim com um que havia sido criado na mesma casa, que estava entre os primeiros a
abraçarem o Islam ainda muito novo, que era conhecido por sua coragem, bravura
e virtude, e a quem o Profeta descrevia com seu "irmão neste mundo e no
outro." A vida de Fátima com Ali foi tão simples e frugal como havia sido
em casa de seu pai. Na verdade, ao invés de conforto material foi uma vida de
dificuldades e privações. Durante toda a vida em comum, Ali permaneceu pobre e
não conseguiu fazer uma fortuna material. Fátima era a única de suas irmãs que
não tinha se casado com um homem rico. Pode-se dizer que a vida de Fátima com
Ali foi até mais severa do que a que levava em casa de seu pai. Pelo menos,
antes do casamento, enquanto vivia na casa do Profeta, não lhe faltavam
inúmeras mãos sempre prontas para ajudar. Mas agora, ela tinha que administrar
tudo por conta própria. Para diminuir a extrema pobreza, Ali trabalhava como carregador
de água enquanto ela moía o milho. Um dia ela disse a Ali: "Tenho
trabalhado a terra até fazer bolhas em minhas mãos". "Eu tenho tirado
água até meu peito doer." respondeu. Ali, então, sugeriu a Fátima:
"Deus deu a seu pai alguns prisioneiros de guerra, portanto, vá e peça a
ele para lhe ceder um servo." Relutante, ela foi ter com o Profeta, que
disse: "O que a traz aqui, minha filhinha?" "Vim lhe apresentar
minhas saudações de paz," ela respondeu, porque, com vergonha dele, não
conseguiu dizer o que estava pretendendo. "O que você fez?",
perguntou Ali quando ela voltou sozinha. "Eu fiquei envergonhada de pedir
a ele", ela disse. Então, os dois foram juntos, mas o Profeta sentiu que
eles tinham menos necessidade do que os outros. "Não lhes darei", ele
disse, "os Ahlas Suffah (muçulmanos pobres que ficavam na mesquita) estão
atormentados pela fome. Não tenho o bastante para (...)" Ali e Fátima
retornaram para casa, sentindo-se um pouco rejeitados, mas naquela noite, após
terem ido para cama, eles ouviram a voz do Profeta pedindo permissão para
entrar. Puseram-se de pé e ele lhes disse: "Fiquem onde estão" e
sentou-se ao lado deles. "Posso dizer-lhes alguma coisa melhor do que
aquela que vocês me pediram?" Eles responderam "Sim" e ele
disse: "As palavras que Gabriel me ensinou, que vocês devem dizer
"Subhana Allah" (Glorificado seja Deus) dez vezes depois de cada
oração, e dez vezes "Alhamdul lillah "Louvado seja Deus) e dez vezes
"Allahu Akbar" (Deus é o maior). E que quando vocês forem para a cama
devem dizer trinta e três vezes cada uma." Alguns anos mais tarde, Ali
costumava dizer: "Desde que o Mensageiro de Deus nos ensinou aquelas
palavras, nunca deixei de dizê-las uma única vez." Existem muitos relatos
sobre os tempos difíceis que Fátima enfrentou. Muitas vezes não havia comida em
sua casa. Certa vez o Profeta estava com fome. Ele foi a casa de cada uma de
suas esposas, mas não havia comida. Então, foi até a casa de Fátima, e, também
lá não havia comida. Quando finalmente ele conseguiu alguma coisa, ele mandou
dois pães e um pedaço de carne para Fátima. Uma outra vez, ele foi a casa de
Abu Ayyub al-Ansari e, da comida que lhe deram, ele separou um pouco para ela.
Fátima tanbém sabia que o Profeta ficava sem alimento por longos períodos e, em
troca, lhe mandava comida quando conseguia alguma. Uma vez ela lhe levou um
pedaço de pão de cevada e ele lhe disse: "Este é o primeiro alimento que
seu come em três dias." Através desses gestos de delicadeza, ela mostrava
como amava o pai e ele a amava também. Uma vez, ele voltava a Medina de uma de
suas viagens, e se dirigiu primeiro para a mesquita, rezou duas
"rakat", como era de seu costume. Em seguida, como sempre fazia, foi
à casa de Fátima antes de ir ver suas esposas. Ela o recebeu, beijou seu rosto
e sua face e chorou. "Por que você está chorando?" perguntou o
Profeta. "Estou olhando para você, ó Rasul Allah, amarelo, pálido, suas
roupas estão gastas e esfarrapadas." "Ó Fátima" o Profeta
respondeu ternamente, "não chore, porque Deus enviou seu pai com uma missão
que influenciará cada casa sobre a face da terra, seja nas cidades, vilas ou
tendas (no deserto), trazendo glória ou humilhação até que esta missão esteja
completa, como a noite, que sempre chega (inevitavelmente)." Com tais
comentários, Fátima muitas vezes se esquecia da realidade dura da vida diária e
conseguia vislumbrar a grandeza da missão confiada a seu nobre pai. Finalmente,
Fátima voltou a morar numa casa próxima à do Profeta. O lugar foi doado por um
ansar que sabia que o Profeta ficaria contente em ter sua filha perto dele.
Juntos, eles dividiram as alegrias e triunfos, as tristezas e dificuldades
daqueles anos graves e turbulentos em Medina. Em meados do segundo ano após a
Hégira, um pouco antes da campanha de Badr, sua irmã Ruqayyah ficou doente, com
febre e sarampo. Uthman, seu marido, ficou com ela e acabou não indo para os
campos de batalha. Ruqayyah acabou morrendo um pouco antes do retorno de seu
pai. Quando ele chegou a Medina, um de seus primeiros atos foi o de visitar
túmulo da filha, na companhia de Fátima. Esta foi a primeira perda de um
parente próximo, desde a morte de Khadija. Fátima ficou profundamente triste
com a morte da irmã. Ao chegarem ao túmulo de Ruqayyah, as lágrimas corriam de
seus olhos e o Profeta a confortou e procurou enxugar suas lágrimas com a ponta
de seu manto. O Profeta havia se manifestado anteriormente contra as
lamentações pelos mortos, mas isto levou a uma interpretação errada e, quando
eles retornavam do cemitério, a voz de Umar se fazia ouvir, imprecando contra
mulheres que choravam pelos mártires de Badr e por Ruqayyah. "Umar,
deixe-as chorar", ele disse e, em seguida, acrescentou: "O que vem do
coração e do olho, é de Deus e de Sua Misericórdia, mas o que vem da mão e da
língua, é de Satanás." Por mão, ele queria se referir àquelas pessoas que
batem no peito e arranham o rosto, e por língua queria se referir aos lamentos
das carpideiras. Uthman mais tarde se casou com a outra filha do Profeta,
Umm Kulthum, e por causa disso, ficou conhecido como Dhu-n Nurayn, o possuidor
de Duas Luzes. O luto sofrido pela família com a morte de Ruqayyah foi seguido
de grande felicidade, quando Fátima deu à luz um menino, no mês de Ramadã do
terceiro ano após a Hégira. O Profeta disse as palavras de Adhan no ouvido do recém-nascido
e deu-lhe o nome de Al-Hasan, que significa o Belo. Um ano mais tarde, nasceu
outro menino que se chamou Al-Husayn, que significa "o pequeno
Hasan". Seguidamente Fátima trazia seus dois filhos para visitarem o avô,
que era extremamente carinhoso com eles. Mais tarde, ele os levava à Mesquita e
eles subiam em suas costas enquanto estava prostrado. Ele também fazia o mesmo
com a neta Umamah, filha de Zaynab. No oitavo ano após a Hégira, Fátima deu à
luz uma menina, a quem ela deu o nome de sua irmã mais velha, Zaynab, que havia
morrido um pouco antes de seu nascimento. Esta filha de Fátima ficou famosa
como a "Heroína de Karbala". O quarto filho de Fátima foi uma menina
a quem ela deu o nome de Umm Kulthum, em homenagem à irmã que havia morrido
depois de uma doença. Foi apenas através de Fátima que a descendência do
Profeta se perpetuou. Todos os filhos de Mohammad morreram ainda na infância e
os dois filhos de Zaynab, de nome Ali e Umamah, morreram jovens. O filho de
Ruqayyah também morreu quando ainda não tinha dois anos de idade. Esta é mais
uma razão de reverência que é concedida à Fátima. Embora Fátima fosse muito
ocupada cuidando das crianças, ela tomou parte, na medida do possível, nos
assuntos afetos ao crescimento da comunidade muçulmana de Medina. Antes de seu
casamento, ela era uma espécie de protetora dos pobres e desvalidos. Assim que
a Batalha de Uhud terminou, ela foi com outras mulheres ao campo de batalha e
chorou pelos mártires mortos e ainda arrumou tempo para cuidar das feridas de seu
pai. Na Batalha de Ditch, ela desempenhou um papel muito importante, juntamente
com outras mulheres, preparando comida durante o longo e difícil cerco. Ela
orientou as mulheres nas orações e naquele lugar existe uma mesquita com o nome
de Masjid Fatimah, uma das setes em que os muçulmanos guardavam e praticavam
suas devoções. Fátima também acompanhou o Profeta quando ele fez a Umrah, no
sexto ano após a Hégira, depois do Tratado de Hudaybiyyah. No ano seguinte, ela
e sua irmã Umm Kulthun estavam entre os muçulmanos que participaram, junto com
o Profeta, da libertação de Macca. Diz-se que naquela ocasião, tanto Fátima
como Umm Kulthun, visitaram a casa de sua mãe, Khadija, e rememoram os tempos
da infância e da jihad, das longas lutas nos primeiros anos da missão do
Profeta. No Ramadã do décimo ano, um pouco antes de ela fazer a Peregrinação do
Adeus, o Profeta confidenciou à Fátima, como segredo que ainda não podia ser
revelado aos outros: "Gabriel recitava o Alcorão para mim e eu para ele,
uma vez a cada ano, mas este ano ele recitou duas vezes. Acho que minha hora
chegou." Na sua volta da Peregrinação do Adeus, o Profeta ficou seriamente
doente. Seus últimos dias foram passados na casa de sua esposa Aisha. Quando
Fátima vinha visitá-lo, Aisha deixava os dois sozinhos. Um dia ele chamou
Fátima. Quando ela chegou, ele a beijou e sussurrou algumas palavras em seu
ouvido. Ela chorou. De novo ele sussurrou em seu ouvido e ela sorriu. Aisha viu
e perguntou: "Você chorou e sorriu ao mesmo tempo, Fátima. O que o Mensageiro
de Deus lhe disse?" Ela respondeu: "Primeiro ele me disse que irá se
encontrar com o seu Senhor daqui a pouco, e eu chorei. Depois ele me disse:
'Não chore porque você será a primeira de minha casa a se juntar a mim', e eu
sorri." Não demorou muito e o nobre Profeta morreu. Fátima ficou muito
abalada e muitas vezes ela foi vista chorando profusamente. Um dos companheiros
percebeu que nunca mais viu Fátima sorrir depois da morte de seu pai. Uma
manhã, no início do mês de Ramadã, um pouco menos de 5 meses depois da morte do
pai, Fátima acordou parecendo muito feliz e cheia de alegria. Na tarde desse
dia, conta-se que ela chamou Salma bint Umays, que cuidava dela, e pediu para
se banhar. Depois vestiu roupas novas e se perfumou. Em seguida pediu a Salma
que levasse sua cama para o quintal da Casa. Com o rosto voltado para o céu,
ela pediu que chamasse o marido Ali. Ele se surpreendeu quando viu a cama no
meio do quintal e perguntou a ela o que havia de errado. Ela sorriu e disse:
"Tenho um encontro hoje com o Mensageiro de Deus." Ali chorou e ela
tentou consolá-lo. Ela lhe disse para cuidar dos filhos al-Hasan e al-Husayn e
pediu para ser enterrada sem cerimônias. Olhou para cima mais uma vez e então
fechou os olhos e entregou sua alma ao Criador Todo Poderosos. Fátima, a
Resplandescente, tinha apenas 29 anos de idade. Aishah Bint Abu
Bakr. A vida de Aisha é a prova de que uma mulher pode ser bem mais instruída
do que os homens e que ela pode ser a mestra de pensadores e sábios. Sua vida
também é a prova de que uma mulher pode exercer influência sobre homens e
mulheres e proporcionar-lhes inspiração e liderança. Além disso, sua vida
também é uma prova de que uma mesma mulher pode ser totalmente feminina e fonte
de prazer, alegria e conforto para seu marido. Ela não se formou por qualquer
universidade. Na sua época não elas não existiam pelo menos da forma como
conhecemos hoje. Mas suas expressões são estudadas nas faculdades de
literatura, seus pronunciamentos legais são estudados nas faculdades de direito
e sua vida e trabalhos são estudados e pesquisados por professores e alunos de
história muçulmana da forma como aconteceram há mais de 1000 anos. Esse vasto
tesouro de conhecimentos foi obtido quando ela era ainda muito jovem. Ela foi
criada por seu pai, que era muito querido e respeitado por ser um homem de
grande conhecimento, maneiras gentis e presença agradável. Além do mais, ele
foi o amigo mais próximo do nobre Profeta, que era um frequentador assíduo de
sua casa desde os primeiros dias de sua missão. Na juventude, já conhecida por
sua beleza impressionante e sua formidável memória, ela chamou a atenção do
Profeta. Como sua esposa e companheira chegada, ela adquiriu dele conhecimento
e compreensão tais como nenhuma outra mulher jamais teve. Aisha se tornou a
esposa do Profeta em Macca, quando provavelmente tinha 10 anos mas seu
casamento só aconteceu no segundo ano depois da hijrah, quando devia ter uns 14
ou 15 anos. Antes e depois de seu casamento, ela manteve uma jovialidade e
inocência naturais e não parecia nada intimidada com o fato de estar casada com
Mohammad, o Mensageiro de Deus, a quem todos os companheiros, incluindo seus
próprios pais, tratavam com o máximo de amor e reverência. A respeito de seu
casamento, ela contou que um pouco antes de ela deixar a casa de seus pais, ela
saiu para o quintal para brincar com uma amiga que passava. "Eu estava
brincando de balanço e meus longos cabelos ondeados estavam despenteados",
ela disse. "Eles vieram e me tiraram da minha brincadeira e me aprontaram."
Eles a vestiram com um vestido de casamento feito de um tecido listrado de
vermelho do Bahrein e então sua mãe a levou para a casa recentemente
construída, onde algumas mulheres dos Ansar estavam esperando do lado de fora
da porta. Todas a cumprimentaram com as palavras "Que tudo corra bem para
a felicidade!" A seguir, na presença do Profeta sorridente, uma tigela com
leite foi trazida. O Profeta bebeu e ofereceu a Aisha. Ela timidamente recusou
mas quando ele insistiu ela bebeu e ofereceu a sua irmã que estava sentada a
seu lado. As outras pessoas também beberam o leite este foi o momento solene e
simples de seu casamento. Não houve festa de bodas. O casamento com o Profeta
não mudou seus modos alegres. Suas amigas jovens vinha frequentemente visitá-la
em sua própria casa. "Eu estava brincando com minhas bonecas" ela
disse, "com as meninas que eram minhas amigas e o Profeta chegou. Elas se
retiraram da casa e ele foi atrás delas e as trouxe de volta, porque ele ficava
contente por minha causa de tê-las ali." Algumas vezes ele dizia
"Fiquem onde estão" antes que elas tivessem tempo de se retirar e
também se juntava à brincadeira. Aisha disse: "Um dia, o Profeta chegou
quando eu estava brincando com as bonecas e ele disse: 'Ó Aisha, que brincadeira
é essa?' 'Cavalos de Salomão' eu disse e ele riu." Algumas vezes ele
chegava e se escondia em seu manto para não perturbar Aisha e suas amigas. O
início de vida de Aisha em Medina também teve seus momentos críticos e de
apreensão. Certa vez seu pai e dois companheiros que estavam com ele ficaram
doentes com uma febre perigosa, o que era comum em Medina em certas estações do
ano. Certa manhã, Aisha foi visitá-lo e ficou consternada ao encontrar os três
homens deitados, completamente fracos e exausto. Ela perguntou a seu como
estava passando e ele lhe respondeu com um versículo mas ela não entendeu o que
ele estava dizendo. Os outros dois também lhe responderam com algumas estrofes
de um poema que lhe pareceu mais um murmúrio sem sentido do que qualquer outra
coisa. Ele ficou tão profundamente preocupada que foi procurar o Profeta,
dizendo: "Eles estão delirando, fora de si, por causa da febre alta."
O Profeta lhe perguntou o que eles haviam dito e ficou de alguma forma
tranquilo quando ela repetiu quase que palavra por palavra das estrofes que
eles haviam proferido e que faziam sentido, muito embora ela não os
compreendesse muito bem. Esta foi uma demonstração da grande capacidade de
retenção de sua memória, que com o passar dos anos foi de inestimável valor
para preservar os inúmeros ditos do Profeta. Das esposas do Profeta em Medina,
está claro que Aisha foi a que ele mais amou. De tempos em tempos, um ou outro
de seus companheiros lhe perguntava: "Ó Mensageiro de Deus, a quem você
mais ama neste mundo?" Nem sempre ele dava a mesma resposta para esta
pergunta porque ele sentia grande amor por muitas de suas filhas e netos, por
Abu Bakr, por Ali, Zayd e seu filho Usamah. Mas, de suas esposas, a única que
ele citava era Aisha. Ela também o amou demais e muitas vezes buscou nele a
certeza de seu amor por ela. Certa vez ela lhe perguntou: "Como é seu amor
por mim?" "Como o nó da corda", ele respondia, querendo com isso
dizer que era forte e seguro. De tempos em tempos, Aisha perguntava-lhe:
"Como vai o nó?" e ele respondia "do mesmo jeito." Como ela
amasse muito o Profeta, ela sentia ciúmes e não suportava que as atenções dele
se voltassem para as outras mais do que lhe parecia suficiente. Ela lhe
perguntou: "Óh Mensageiro de Deus, diga-me, se você estivesse entre duas
vertentes de um vale, e uma delas não tivesse sido roçada e outra sim, para
qual delas você levaria seus rebanhos"? "Para aquele que não tivesse
sido roçado", ele respondeu. "Mesmo assim", ela disse, "eu
não sou como as suas outras esposas. Todas tiveram um marido antes de você,
menos eu. O Profeta sorriu e não disse nada. De seu ciúme, Aisha diria anos
mais tarde: "Jamais tive ciúmes de qualquer das esposas do Profeta como eu
tive de Khadija, porque constantemente ele falava nela e porque Deus lhe havia
ordenado comunicar a ela a boa nova de uma mansão de pedras preciosas no
Paraíso. E sempre que ele sacrificava um carneiro ele mandava uma boa parte
para aqueles que haviam sido seus amigos íntimos. Muitas vezes eu disse a ele:
"É como se nunca tivesse havido outra mulher no mundo além de
Khadija." Uma vez, quando Aisha se queixou e perguntou por que ele falava
tanto de "uma velha coraixita", o Profeta se ofendeu e disse:
"Ela foi a esposa que acreditou em mim quando os outros me rejeitaram. Quando
as pessoas me chamaram de mentiroso e confirmou minha sinceridade. Quando fui
abandonado ele gastou de sua fortuna para aliviar o peso de minha tristeza
(...)" Apesar de seus sentimentos de ciúme, que não eram de forma alguma
destrutivos, Aisha era realmente uma alma generosa e paciente. Ela suportou,
juntamente com a família do Profeta, pobreza e fome que, muitas vezes, duravam
longos períodos. Vários dias se passavam sem que o fogo fosse aceso para
cozinhar ou assar o pão e eles viviam apenas de tâmaras e água. A pobreza não
lhe provocou tristeza ou humilhação e não corrompeu seu estilo de vida. Uma vez
o Profeta ficou afastado de suas esposas por um mês, porque elas o haviam
aborrecido, exigindo dele o que não tinha. Este fato aconteceu após a expedição
de Khaybar, quando um aumento das riquezas despertou a cobiça dos muçulmanos.
Retornando de retiro auto imposto, ele foi primeiro à casa de Aisha. Ela ficou
muito contente em vê-lo mas ele lhe disse que havia recebido uma revelação, na
qual lhe era pedido que colocasse para ela duas opções. E ele recitou os
versículos: "Ó Profeta! Diga a suas esposas: Se você desejar a vida deste
mundo com todos os seus adornos, então venha e Eu concederei esses bens sobre
você e a libertarei. Mas, se você preferir Deus e Seu Mensageiro e a morada no
Paraíso, então Deus guardou uma imensa recompensa por isso, porque você
escolheu o melhor." A resposta de Aisha foi: "Na verdade, eu escolho
Deus e Seu Mensageiro e a morada no céu", e sua resposta foi seguida por
todas as outras esposas. Ela manteve sua escolha tanto durante a vida do
Profeta como depois. Certa vez os muçulmanos foram favorecidos com enormes
riquezas e lhe deram de presente 100.000 dihams. Ela estava jejuando quando
recebeu o dinheiro e distribuiu toda a quantia entre os pobres e necessitados,
meuito embora em sua casa não houvesse qualquer provisão. Um pouco depois, uma
serva lhe disse: "Você não poderia ter comprado carne com 1 dirham e assim
quebrado o jejum?" E ela respondeu: "Eu poderia ter feito isso, mas
não me lembrei." A afeição do Profeta por Aisha permaneceu até o fim.
Durante sua doença, foi na casa de Aisha que ele ia por sugestão das outras
esposas. Lá, ele ficava muito tempo, deitado num sofá, com a cabeça descansando
em seu colo. Foi ela quem pegou uma escova de dentes de seu irmão, mordeu
cuidadosamente e a deu para o Profeta. Apesar de sua fraqueza, ele escovou os
dentes com bastante vigor. Um pouco mais tarde, ele perdeu a consciência e
Aisha achou que ele estava morrendo, mas, após uma hora, ele abriu os olhos. Foi
Aisha quem preservou para nós estes últimos momentos de nosso amado Mensageiro.
Quando ele abriu seus olhos de novo, Aisha lembrou-se de Iris ter dito a ela:
"Nenhum Profeta é levado pela morte até que lhe tenha sido mostrado seu
lugar no Paraíso e então ele escolha entre viver ou morrer." "Ele não
nos escolherá", ela disse para si mesma. Então, ela o ouviu murmurar:
"Com a comunhão suprema no Paraíso, com aqueles a quem Deus derramou seus
favores, os profetas, os mártires e os justos (...)" De novo ela o ouviu
murmurar: "Ó Senhor, em comunhão suprema" e estas foram as últimas
palavras que ela ouviu ele dizer. Aos poucos, sua cabeça foi ficando mais
pesada sobre seu peito até que os outros na sala começaram a lamentar e Aisha
deitou sua cabeça sobre um travesseiro e se juntou aos lamentos. No chão do
cômodo de Aisha, próximo ao sofá onde ele estava deitado, foi aberta uma cova
na qual o último dos profetas foi enterrado em meio a muita tristeza e grande
dor. Aisha ainda viveu quase 50 anos depois da morte do Profeta. Ela foi sua
esposa por cerca dez anos. Muito desse tempo ela passou estudando e adquirindo
conhecimento das duas mais importantes fontes da orientação de Deus, o Alcorão
e a Suna de Seu Profeta. Aisha foi uma das três esposas do Profeta (as outras
fuas foram Hafsah e Umm Salamah) a memorizar a Revelação. Assim como Hafsah,
ele tinha seu próprio exemplar do Alcorão, escrito depois que o Profeta morreu.
Segundo os ahadith e ou ditos do Profeta, Aisha foi uma das quatro pessoas (as
outras foram Abu Hurayrah, Abdullah ibn Umar e Anas ibn Malik) a transmitir
mais de 2000 ditos. Muitos deles se referem a aspectos íntimos do comportamento
pessoal do Profeta, que somente uma pessoa que ocupasse a posição que ela
ocupou poderia ter legado. O que é mais importante é o fato de que seu
conhecimento foi passado sob a forma escrita por pelo menos três pessoas,
inclusive seu sobrinho Urwah, que se tornou um dos maiores pensadores da
geração seguinte à dos companheiros. Muitos dos companheiros do Profeta e seus
seguidores se beneficiaram do conhecimento de Aisha. Abu Musa al-Ashari certa
vez disse: "Se nós, os companheiros do Mensageiros de Deus tínhamos alguma
dificuldade sobre qualquer assunto, nós perguntávamos à Aisha." Seu
sobrinho Urwah assegura que ela foi competente não só em fiqh como também na
medicina e na poesia. Muitos dos companheiros mais velhos do Profeta costumavam
procurá-la para pedir orientação a respeito de questões de herança, matéria que
exigia grande habilidade matemática. Os pensadores islâmicos a respeitam como
uma das primeiras fuqaha, juntamente com pessoas como Umar ibn al-Khatab, Ali e
Abdullah ibn Abbas. Conta-se que o Profeta, referido ao seu grande conhecimento
sobre Islam teria dito: "Aprendam uma parte de sua religião (din) com esta
humayra." Aisha não só possuía um grande conhecimento como teve
participação ativa na educação e na reforma social. Como professora ela tinha
um modo claro e persuasivo de falar e seu poder de oratória foi descrito em
termos superlativos por al-Ahnaf, que disse: "Já ouvi discursos de Abu
Bakr e Umar, Uthman e Ali, mas jamais ouvi algo mais persuasivo e mais bonito
da boca de qualquer pessoa do que da boca de Aisha." Homens e mulheres
vinham de longe para se beneficiarem de seu conhecimento. Diz-se que o número
de mulheres era maior do que os homens. Tomou para si o cuidado e a orientação
de meninos e meninas, alguns órfãos, a quem ministrava ensinamentos. Sua casa
se transformou numa escola e numa academia. Alguns de seus estudantes foram
notáveis. Seu sobrinho Urwah se destacou como um grande narrador de hadith.
Entre as mulheres que foram suas alunas, está o nome de Umrah bint Abdur
Rahman. Ela é respeitada pelos pensadores islâmicos como uma das mais fiéis
narradoras de hadith e diz que ajudava Aisha recebendo e respondendo às cartas
que endereçadas a ela. O exemplo de Aisha na promoção da educação,
principalmente na educação da mulher muçulmana, deve ser seguido. Depois de
Khadija (a Grande), e de Fátima (a Resplandescente), Aisha (aquela que afirma a
Verdade) é respeitada como a melhor mulher do Islam. Por causa da força de sua
personalidade, ela foi uma líder em diversos campos do conhecimento, na
sociedade, na política e na guerra. Muitas vezes se arrependeu de seu
envolvimento na guerra, mas viveu o bastante para reconquistar a posição de a
mulher mais respeitada de seu tempo. Ela morreu no ano de 58, depois da Hégira,
no mês de Ramadã, e quis ser enterrada em Medina, ao lado de outros
companheiros do Profeta. Umm Salamah. Umm Salamah! Que vida notável ela teve!
Seu nome verdadeiro era Hind. Ela era a filha de um dos notáveis da tribo
Makhzun, apelidada de "Zad ar-Rakib", porque ela era conhecida por
sua generosidade, principalmente com os viajantes. O marido de Umm Salaman era
Abdullah ibn Abdulasad e ambos estavam entre os primeiros a aceitar o Islam.
Apenas Abu Bakr e uns poucos, que podiam ser contados nos dedos da mão, se
tornaram muçulmanos antes deles. Assim que a notícia da conversão deles ao
Islam se espalhou, os coraixitas reagiram com uma raiva incontida. Começaram a
perseguir ferozmente Umm Salamah e o marido, mas o casal não vacilou nem se
desesperou, permanecendo firme em sua nova fé. A perseguição ficou mais e mais
intensa e a vida em Macca tornou-se insuportável para muitos dos novos muçulmanos.
O Profeta, então, deu-lhes permissão para emigrarem para a Abissínia. Umm
Salamah e seu marido estavam na dianteira daqueles muhajirun que buscaram
refúgio em terra estrangeira. Para Umm Salamah, isto significava deixar sua
casa espaçosa e abandonar os laços tradicionais de família e honra por uma nova
esperança e uma recompensa de Allah. Apesar da proteção que Umm Salamah e seus
companheiros receberam do monarca da Abissínia, o desejo de voltar para Macca
persistia, para estar perto do profeta e fonte de revelação e orientação.
Finalmente, notícias chegadas de Macca davam conta de que o número de
muçulmanos estava aumentando. Entre os novos convertidos estavam Hamzah ibn
Abdulmuttalib e Umar ibn al-Khattab. A fé tinha fortalecido a comunidade e diziam
que os coraixitas, de alguma forma, estavam relaxando a perseguição aos
muçulmanos. Assim, um grupo de muhajirun, animados por ardente desejo em seus
corações, decidiram voltar a Macca ou Meca. No entanto, o relaxamento da
perseguição foi breve, conforme o grupo logo logo descobriu. O aumento
dramático do número de novos muçulmanos, seguido da aceitação do Islam por
Hamzah e Umar só serviu para enfurecer os coraixitas ainda mais. Intensificaram
a perseguição e a tortura de uma forma nunca vista antes. Em razão disso, o
Profeta deu permissão a seus companheiros para emigrarem para Medina. Umm
Salamah e seu marido estavam entre os primeiros a deixarem Meca. No entanto, a
hijrah de Umm Salamah e de seu marido não foi tão fácil como eles haviam
imaginado. Na verdade, foi a mais amarga e dolorosa experiência, e,
principalmente, a mais dilacerante para ela. Que Umm Salamah conte a sua
estória: Quando Abu Salamah (meu marido) decidiu ir para Medina, ele preparou
um camelo para mim, me colocou em cima dele e o nosso filho Salamah em meu
colo. Ele foi na frente, sem parar ou esperar por qualquer coisa. Ainda não
tínhamos deixado Macca ou Meca quando alguns homens de minha tribo nos pararam
e disseram para meu marido: "Embora você seja livre para fazer o que quiser
com sua vida, você não tem poder sobre sua esposa. Ela é nossa filha e você não
pode esperar que lhe demos nossa permissão para que ela nos deixe." Então,
lançaram-se sobre ele e me arrebataram dele. A tribo de meu marido, Banu
Abdulasad, presenciou tudo, vermelhos de raiva. "Não, por Deus",
gritaram, "não vamos abandonar o menino. Ele é nosso e temos direitos
sobre ele." Pegaram a criança pela mão e a arrancaram de mim. De repente,
em fração de segundos, me encontrei sozinha e abandonada. Meu marido tinha ido
para Medina e sua tribo tinha arrebatado meu filho. Minha própria tribo, Banu
Makhzum, tinha me subjugado e forçado a ficar com eles. Desde aquele dia em que
meu marido e meu filho se separaram de mim, passei a ir todo dia, à tarde, até
aquele vale e me sentava no lugar onde essa tragédia tinha ocorrido. Eu me
lembrava daqueles terríveis momentos e chorava até a noite cair sobre mim.
Continuei assim por um ano ou mais, até que um dia um homem da tribo Omíada
passou e viu minha condição. Ele foi, então, até minha tribo e disse: "Por
que vocês não libertam essa pobre mulher? Vocês são os responsáveis pelo
aconteceu ao marido e ao filho dela." Aquele homem continuou tentando
abrandar seus corações e sensibilizá-los. Por fim eles me disseram "Vá e
junte-se a seu marido se esse é o seu desejo. "Mas, como podia me juntar a
meu marido em Medina e abandonar meu filho em Meca com a tribo de Abdulasad,
uma parte de meu próprio corpo, carne da minha carne, sangue do meu sangue?
Como podia me libertar da angústia e os meus olhos das lágrimas e alcançar o
lugar da hégira sem saber nada sobre meu filho, deixado para trás em
Macca? Alguns deles perceberam o que eu estava sofrendo e seus corações se
condoeram. Pediram, então, aos membros da tribo Abdulasad que me devolvessem
meu filho. Agora eu já nem queria permanecer em Macca até encontrar alguém para
viajar comigo, pois eu receava que alguma coisa pudesse acontecer que atrasasse
ou me impedisse de encontrar meu marido. Assim, imediatamente arrumei meu
camelo, coloquei meu filho no colo e parti em direção a Medina. Eu tinha
acabado de alcançar Tan'im (cerca de 3 milhas de Macca) quando encontrei Uthman
ibn Tallah. Ele era um dos guardiães da Caaba nos tempos pré-islâmicos e ainda
não tinha abraçado o Islam. "Para onde você está indo, Bint Zad
ar-Rakib?", ele perguntou. "Estou indo encontrar-me com meu marido em
Medina." "E ninguém a acompanha?" "Não, exceto Deus e meu
filho aqui." "Por Deus, não a abandonarei até que vocês cheguem a Medina."
ele prometeu. Então ele pegou as rédeas de meu camelo e nos conduziu. Por Deus
que jamais encontrei um árabe mais nobre e generoso do que ele. Quando fizemos
uma parada para repouso, ele fez meu camelo se ajoelhar, esperou que eu
desmontasse, levou-o até uma árvore e o prendeu ali. Então ele procurou a
sombra de uma outra árvore e quando estávamos descansados ele aprontou o camelo
e seguimos viagem. E assim ele fez todos os dias até chegarmos a Medina. Quando
alcançamos um vilarejo próximo a Quba (cerca de 2 milhas de Medina), que pertencia
à tribo Amr ibn Awf, ele me disse "Seu marido está nesta vila. Vá com as
bênçãos de Deus." Deu meia volta e retornou a Macca. Seus caminhos
finalmente haviam se encontrado após a longa separação. Umm Salamah ficou feliz
em ver seu marido e ele maravilhado em abraçar sua esposa e o filho. Grandes e
importantes eventos se seguiram um após o outro. Houve a batalha de Badr, onde
Abu Salamah lutou. Os muçulmanos retornaram a Medina vitoriosos e fortalecidos.
Então, veio a batalha de Uhud, na qual os muçulmanos foram duramente testados.
Abu Salamah voltou dessa batalha seriamente ferido. De início parecia responder
bem ao tratamento mas suas feridas nunca cicatrizaram completamente e ele ficou
entrevado. Certa vez, quando Umm Salamah estava cuidando dele, ele lhe disse:
"Ouvi o Mensageiro de Deus dizer. Sempre que uma calamidade nos afligir
devemos dizer, 'Certamente viemos de Deus e para Ele com certeza retornaremos.'
E ele orou. 'Ó Senhor, dai-nos em troca alguma coisa boa que somente Vós, o
Exaltado, o Poderoso, podeis dar." Abu Salamah ficou de cama por muitos
dias. Certa manhã, o Profeta veio vê-lo. A visita foi mais longa do que o
habitual. E Abu Salamah morreu enquanto o Profeta estava a seu lado. Com suas
mãos abençoadas, o Profeta fechou os olhos de seu companheiro morto, e em
seguida levantou suas mãos aos céus e orou: "Ó Senhor, concedei o perdão a
Abu Salamah. Levai-o para junto daqueles que estão próximos a Vós. Cuidai
sempre de sua família. Perdoai-nos e a ele, Ó Senhor dos Mundos. Ampliai seu túmulo
e tornai-o leve para ele." Umm Salamah se lembrava da oração que seu
marido havia mencionado em seu leito de morte e começou a repeti-la: "Ó
Senhor, deixo convosco esta minha aflição para Vossa consideração (...)"
Mas, ela não conseguia continuar... "Ó Senhor, conceda-me algo de
bom", porque ela continuava se perguntando "Quem pode ser melhor do
que Abu Salamah?" Mas, não ficou muito tempo sem completar sua súplica. Os
muçulmanos estavam muito condoídos da situação de Umm Salamah. Ela ficou
conhecida como "Ayyin al-Arab", aquela que perdeu o marido. Ela não
tinha ninguém em Medina exceto seu filho, era como uma galinha sem penas. Tanto
os muhajirun quanto os ansar sentiam que tinham uma obrigação para com Umm
Salamah. Quando ela completou o Iddah (três meses e dez dias), Abu Bakr pediu-a
em casamento, mas ela recusou. Umar, então, pediu para se casar com ela mas
também foi recusado. Então, o Profeta se aproximou e ela respondeu: "Ó
Mensageiro de Deus, eu tenho três características. Sou uma mulher extremamente
ciumenta e tenho medo de que veja em mim algo que o irrite e que provoque a
punição de Deus sobre mim. Sou uma mulher de idade já avançada e tenho uma
família jovem." O Profeta respondeu: "Com relação ao ciúme de que
você fala, pedirei a Deus, o Todo Poderoso, para que o afaste de você. No
tocante à idade, também eu sofro do mesmo problema que você. No que se refere à
uma família dependente, sua família é a minha família." E eles se casaram
e assim Deus respondeu às preces de Umm Salamah e lhe deu uma pessoa melhor do
que Abu Salamah. Daquele dia em diante, Hind al-Makhumiyah não foi apenas a mãe
de Salamah, mas a mãe de todos os crentes, Umm al-Mu'mineen. Zaynab al-Ghazali.
Zainab al-Ghazali é uma mulher especial. Assim como Aisha Abd al-Rahman,
ela é uma egípcia que defende os direitos das mulheres muçulmanas, em
consonância com o que ela percebe ser a doutrina islâmica correta. Foi uma
ativista islâmica. Nasceu no Egito em 1917 e ainda na sua juventude, foi um
membro ativo da União Feminista Egípcia, fundada por Huda al-Sha'rawi, em 1923.
Renunciou ao cargo por discordar das opiniões e ideais do movimento de
libertação das mulheres e, aos 18 anos, em 1936, ela fundou a Associação das
Mulheres Muçulmanas, a fim de organizar as atividades femininas, de acordo com
as normas e propostas islâmicas. Esta organização prestou serviços inestimáveis
aos pobres, órfãos e desvalidos. Embora ela conhecesse Hasan al-Banna
(1906-1949), o fundador da Fraternidade Muçulmana, desde os anos 30, e tivesse
participado ativamente de muitos programas islâmicos, somente em 1948 ela vai
se juntar à Fraternidade. Quando a Sociedade dos Irmãos Muçulmanos
(Fraternidade) foi dissolvida, em 1948, ela se empenhou pessoalmente no
compromisso de fidelidade a Hasan al-Banna, apoiando-o nos esforços de
estabelecer um estado islâmico. Embora ele tenha sido assassinado logo em
seguida, ela permaneceu fiel aos sucessores de Hasan al-Banna e ajudou seus
membros, principalmente depois que foram jogados na clandestinidade, durante o
regime de Gamal Abdel Nasser (1918-1970). Em 1965, ela foi presa sob alegação
de conspirar contra Gamal Abdel Nasser e seu governo. Ela foi libertada durante
o governo de Anwar Sadat em 1971. Além de ser muito ativa no trabalho de
Da'wah, Zainab al-Ghazali foi uma escritora fecunda, contribuindo regularmente
para a maioria dos jornais e periódicos islâmicos. Em seu último livro,
"Return of the Pharoah", ela relata como, falsamente acusada de
conspiração contra Nasser, foi detida e levada a prisão. Enquanto aguardava o
julgamento na prisão, foi submetida às mais terríveis e desumanas torturas. Ao
invés de diminuir seu entusiasmo pelo Islam e pelo movimento islâmico, a
selvageria e abuso que lhe dispensaram só serviu para aumentar o seu
compromisso e dedicação pela causa do Islam. Numa entrevista concedida em sua
casa em Heliópolis, Egito, em 1981, Zainab disse: "O Islam concedeu tudo
tanto a homens como a mulheres. Deu tudo às mulheres - liberdade, direitos
econômicos, políticos, sociais, direitos públicos e privados. O Islam concedeu
às mulheres direitos na família jamais assegurados por nenhuma outra sociedade.
As mulheres podem falar de liberação nas sociedades cristã, judaica ou pagã,
mas na sociedade islâmica é um grave erro falar da liberação das mulheres. A
mulher muçulmana precisa estudar o Islam e assim ela saberá que foi o Islam
quem lhe concedeu todos os direitos." Este é o cerne do pensamento de
Zaynab al-Ghazali, com relação à condição das mulheres, conforme expressado em
suas palestras públicas e em seus artigos para a revista al-Da'wa, na qual ela
foi editora de uma seção voltada para os ideais de um lar muçulmano. O objetivo
de seu ativismo e o de sua associação é educacional: incutir nas mentes
femininas a doutrina do Islam, ensinar seus direitos e deveres e conclamá-las
para mudanças na sociedade que levem ao estabelecimento de um estado islâmico,
governado pelo Alcorão e pela Sunna do Profeta. Zainab al-Ghazali acredita que
o Islam permite às mulheres uma participação ativa na vida pública, trabalhar,
entrar na política e expressar suas opiniões. Ela crê que o Islam permite que
elas tenham seus próprios bens, façam transações comerciais e que podem ser o
que queiram a serviço da sociedade islâmica. Acredita, ainda, que a primeira
obrigação da mulher muçulmana é ser mãe e esposa e que nenhuma outra atividade
deve interferir no desempenho desse papel, porque esta deve ser a sua
prioridade acima qualquer outra. Se ela dispuser de tempo para participar da
vida pública, tendo sempre em vista a obrigação primeira, ela pode porque o
Islam não a proíbe. Zainab al-Ghazali acredita firmemente no dever social e
religioso do casamento. Em seu primeiro casamento, seu marido discordava de seu
ativismo religioso e por causa disso ela se divorciou. Seu segundo marido era
mais compreensivo, auxiliou-a em sua missão e jamais a impediu de lutar pela
causa islâmica. Em seu livro autobiográfico, ela conta como, embora preocupado
com ela, seu marido continuou a apoiá-la em suas atividades. No entanto, ela
enfatiza que jamais deixou de lado suas obrigações para com a família, ainda
que continuasse a exercer a presidência da Associação das Mulheres Muçulmanas,
a trabalhar longas horas em seu escritório e a estar pessoalmente envolvida nas
atividades clandestinas da Sociedade dos Irmãos Muçulmanos. Após a morte de seu
segundo marido, ela sentiu que havia cumprido com os seus deveres no casamento
e que, por isso, estava livre para se devotar integralmente à causa do Islam.
Desencantada com os rumos da revolução egípcia de 1952, que havia contado com o
apoio de muitos muçulmanos no seu início, Zainab al-Ghazali (1917-2005) passou
a considerar Gamal Abdel Nasser e seu regime como inimigos do Islam. Depois que
alguns membros da Sociedade dos Irmãos Muçulmanos foram sentenciados à morte e
muitos outros condenados à prisão, ela criou programas para amparar os órfãos e
viúvas daqueles ativistas, para alimentar os necessitados e desempregados entre
os libertados, para ajudar suas famílias e, fortalecer sua posição como
presidente da Associação das Mulheres muçulmanas no sentido de fazer o trabalho
social tão necessitado. Ela também intensificou suas atividades educacionais e
participou de grupos secretos de estudos islâmicos, orientados pelos irmãos
muçulmanos que se encontravam na prisão. Em 1962, ela entrou em contado com
Sayyid Qutb (1906-1966) na prisão através de duas irmãs e obteve a sua
concordância para a realização de um curso de leitura de comentários sobre o
Alcorão e os Hadith, assim como sobre jurisprudência islâmica. Ele também lhe
deu partes de um livro que ele estava escrevendo na prisão para ser publicado
mais tarde sob o título Ma'alim fil Tariq. Páginas deste livro e instruções de
Sayyid Qutb, ainda na prisão, além de um conjunto de versículos do Alcorão,
seriam estudados por grupos de 5 a 10 jovens em encontros durante à noite na
casa de Zainab al-Ghazali. As discussões se seguiram e pontos de vista foram
estabelecidos e opiniões formadas. Com a concordância de Sayyd Qutb e das
lideranças da Fraternidade, decidiu-se que este programa de treinamento
islâmico deveria continuar por 30 anos, que foi o tempo de duração do chamado
do Profeta Mohammad em Macca, antes de ele se mudar para Medina e instituir o
estado islâmico. Decidiu-se também que, ao fim deste período, uma pesquisa
deveria ser realizada no Egito para saber se pelo menos 75% dos egípcios
estavam convencidos da necessidade de se estabelecer um estado islâmico. Em
caso positivo, eles deveriam providenciar a realização dessa pesquisa, e em
caso negativo, deveriam continuar com os estudos e aprendizado por mais 30
anos, que deveria ser repetido até que a nação estivesse pronta para aceitar um
governo islâmico, implementando a lei islâmica, de acordo com o Alcorão e a
Sunnah do Profeta. Quando o governo egípcio começou a suspeitar desses grupos e
a tratá-los como células políticas revoltosas, aconteceu um racha na
Fraternidade em 1965. As Irmãs Muçulmanas não foram poupadas, a Associação das
Mulheres Muçulmanas foi dissolvida e Zaynab al-Ghazali, entre outros, foi
presa. Em 1966, ela foi levada a julgamento com muitos outros e sentenciada a
trabalhos forçados por toda a vida. Mas, em 1971, ela foi libertada. No
ressurgimento islâmico no Egito, que se tornou mais forte após a morte de
Nasser, em 1970, e depois que Sadat assumiu a presidência, ela continuou a ser
uma oradora ativa e professora de Islam, conclamando o estabelecimento de um
estado islâmico com o ideal de que todos os muçulmanos deviam se empenhar, a
fim instituir uma sociedade que fosse guiada pelo Alcorão e pela Sunna do Profeta.
As ideias de Zaynab al-Ghazali em relação a um estado islâmico são muito gerais
e carecem de especificidade em muitos pontos. Sua crença nesse ideal, no
entanto, não é menos fraca por causa disso. Ela acha que não existe um estado
verdadeiramente islâmico sob a face da terra no momento, isto é, onde a
shari'ah esteja completamente implementada, nem mesmo o Paquistão ou a Arábia
Saudita podem se dizer islâmicos em seu modo de ver. Ela apoia a revolução
iraniana e espera que seu regime logo esteja implantado, a fim de que os
iranianos possam canalizar seus esforços na solução de seus problemas externos
e internos. O código penal da shari'ah islâmica não deve ser aplicado agora,
mas sim quando o estado estiver completamente estabelecido e a shari'ah puder
ser aplicada. A fidelidade ao governante islâmico deve ser obtida através de
eleições gerais ou por um grupo composto de pessoas sábias, experientes e
justas. Ela acha que o Islam proíbe que a chefia do estado islâmico seja uma
herança que passa de pai para filho. O chefe de estado pode ser chamado de
califa ou presidente e é possível a existência de dois califas de uma só vez
por causa da expansão do mundo islâmico, mas os dois devem estar unidos e seus
exércitos devem lutar pela mesma causa. Um califa deve ter um conselho cujos
membros devem ser peritos em vários campos, a fim de que ele possa permanecer
leal e querido pelas pessoas que o elegeram. De acordo com ela, o Islam não
aceita um sistema pluripartidário porque o sistema em si já é completo, com os
muçulmanos tendo o direito de escolher seu governante e o dever de obedecê-lo
enquanto ele permanecer fiel ao Islam. Outros sistemas ou regimes foram feitos
pelo homem e são inferiores ao Islam, que foi feito por Deus. Não muçulmanos de
outras religiões ou ateus serão tratados pelo estado islâmico de acordo com as
prescrições do Alcorão e da Sunna. Zaynab al-Ghazali pensa que o sistema
islâmico trará justiça a todos, mas os muçulmanos precisam primeiro permanecer
unidos. Pode haver diferenças de opiniões entre os muçulmanos a respeito de
questões desde que não haja divisões em suas fileiras: eles podem divergir nos
meios mas não nos fins, onde a meta deverá sempre ser a unidade. A poligamia e suas
vantagens. A poligamia é uma prática muito antiga, encontrada em muitas sociedades
humanas. A Bíblia não condenou a poligamia. Pelo contrário, o Velho Testamento
e os escritos rabínicos frequentemente atestam a legalidade da poligamia. Dizem
que o Rei Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas (Reis 11:3). Também o Rei
Davi teve muitas esposas e concubinas (2 Samuel 5:13). O Velho Testamento tem
algumas injunções em como distribuir a propriedade de um homem entre seus
filhos de diferentes mulheres (Deuteronômio 22:7). A única restrição com
relação à poligamia é a proibição de tomar uma irmã da esposa como uma esposa
rival (Levítico 18:18). O Talmud aconselha a um máximo de 4 esposas. Os judeus
europeus continuaram a praticar a poligamia até o século XVI. Os judeus
orientais praticavam a poligamia regularmente até a chegada a Israel, onde ela
foi proibida por lei. Contudo, na lei religiosa, que sobrepuja a lei civil em
tais casos, a poligamia é permitida. E com relação ao Novo Testamento? De
acordo com o padre Eugene Hilman (1923-
), em seu penetrante livro, a poligamia é reconsiderada, "Em parte
alguma do Novo Testamento há uma orientação expressa de que o casamento deve
ser monogâmico ou qualquer orientação que proíba a poligamia". Além disso,
Jesus não falou contra a poligamia, embora ela fosse praticada pelos judeus de
sua época. O padre Hillman chama a atenção para o fato de que a Igreja de Roma
proibiu a poligamia, a fim de se adequar à cultura Greco-romana (que prescrevia
somente uma esposa legal, enquanto que tolerava o concubinato e a
prostituição). Ele citou Santo Agostinho (354-430), "Agora, em nosso
tempo, e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar uma outra
esposa". As igrejas africanas e os cristãos africanos muitas vezes lembram
a seus irmãos europeus que a proibição da poligamia é mais uma tradição
cultural do que uma autêntica injunção cristã. O Alcorão também permitiu a
poligamia, mas não sem algumas restrições: "Se vós temeis não serdes
capazes de conviver justamente com os órfãos, casai com mulheres de sua
escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes; mas se temerdes que não sereis capazes de conviver
justamente com elas, então casai somente com uma" (4:13). O Alcorão, ao
contrário da Bíblia, limitou o número de esposas a 4, sob a estrita condição de
que as esposas sejam tratadas igualmente. Isto não deve ser entendido como uma
exortação a que os crentes pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja
considerada como um ideal. Em outras palavras, o Alcorão "tolera" ou
"permite" a poligamia. Por que a poligamia é permitida? A resposta é
simples: há lugares e épocas em que razões morais e sociais compelem para a
poligamia. Como os versos do Alcorão acima indicam, a questão da poligamia no
Islã não pode ser entendida como parte das obrigações da comunidade com relação
aos órfãos e viúvas. O Islã, como uma religião universal, aplicável para todos
os lugares e tempos, não poderia ignorar essas pressões. Em muitas sociedades
humanas, as mulheres superam os homens em quantidade. Em um país como a Guiné,
há 122 mulheres para cada 100 homens. Na Tanzânia, há 95,1 homens para 100
mulheres . O que uma sociedade deve fazer para resolver esse desequilíbrio?
Existem várias soluções, e alguns podem sugerir o celibato, outros preferem o
infanticídio feminino (que ainda acontece no mundo de hoje em alguns lugares).
Outros, ainda, podem achar que a única saída é a sociedade tolerar todas as
formas de permissividade sexual: prostituição, sexo fora do casamento,
homossexualismo, etc. Para outras sociedades, como a maior parte das sociedades
africanas de hoje, a saída mais honrosa é permitir o casamento poligâmico, como
uma instituição culturalmente aceita e socialmente respeitada. A questão, que é
muitas vezes incompreendida no ocidente, é que muitas mulheres de outras
culturas necessariamente não vêm a poligamia como um sinal de degradação da
mulher. Por exemplo, muitas jovens noivas africanas, sejam cristãs ou
muçulmanas, prefeririam se casar com um homem casado, que tenha provado a ele
mesmo, ser um marido responsável. Muitas esposas africanas persuadem seus
maridos a tomar uma segunda esposa e assim eles não se sentem sozinhos. Uma
pesquisa realizada na segunda maior cidade da Nigéria com 600 mulheres, com
idades entre 15 e 59 anos, mostrou que 60% dessas mulheres não se importariam
que seus maridos tivessem uma outra esposa. Somente 23% expressaram raiva ante
a ideia de dividirem seus maridos com outras mulheres. 76% das mulheres que se
manifestaram numa pesquisa realizada no Quênia, viram a poligamia
positivamente. Em outra pesquisa realizada no campo, 25 de 27 mulheres consideraram
a poligamia melhor do que a monogamia. Estas mulheres sentiram que a poligamia
pode ser uma experiência feliz e benéfica se as co esposas cooperarem umas com
as outras. A poligamia, na maior parte das sociedades africanas é uma
instituição tão respeitada, que algumas igrejas protestantes começaram a
tolerá-la, "Embora a monogamia possa ser ideal para a expressão do amor
entre o marido e a esposa, a igreja deve considerar que em certas culturas a
poligamia é socialmente aceitável e que a crença de que a poligamia é contrária
ao cristianismo não se sustenta por muito tempo". Depois de um cuidadoso
estudo sobre a poligamia africana, o Reverendo David Gitari (1937-2013), da
Igreja Anglicana, concluiu que a poligamia, como idealmente praticada, é mais cristã
do que o divórcio e o novo casamento, porque há uma preocupação com as esposas
e crianças abandonadas. Eu pessoalmente conheço algumas esposas africanas,
finamente educadas, que apesar de terem vivido no Ocidente por muitos anos, não
fazem qualquer objeção à poligamia. Uma delas, que mora nos USA, solenemente
estimula seu marido a tomar uma segunda esposa para ajudá-la na criação das
crianças. O problema do desequilíbrio entre os sexos começa na verdade nos
problemáticos tempos de guerra. Os índios nativos americanos costumavam sofrer
com essa desigualdade de número entre homens e mulheres, principalmente após as
perdas dos tempos de guerra. As mulheres dessas tribos, que na verdade
desfrutavam de uma alta posição, aceitavam a poligamia como a melhor proteção
contra a tolerância por atividades indecentes. Os colonos europeus, sem
oferecerem qualquer outra alternativa, condenavam a poligamia indiana como
"incivilizada" .Após a segunda guerra mundial, havia na Alemanha
7.300.000 mais mulheres do que homens (3.3 milhões delas eram viúvas). Havia
100 homens na idade de 20 a 30 anos para cada 167 mulheres naquele mesmo grupo
de idade. Muitas dessas mulheres necessitavam de um homem, não apenas como uma
companhia mas, também, como um mantenedor para a casa, num tempo de miséria e
injustiça sem precedentes. Os soldados do exército aliado vitorioso exploravam
a vulnerabilidade dessas mulheres. Muitas jovens e viúvas tinham ligações com
membros das forças de ocupação. Muitos soldados americanos e britânicos pagavam
por seus prazeres com cigarros, chocolates e pães. As crianças ficavam felizes
com os presentes que os estrangeiros traziam. Um menino de 10 anos, vendo esses
presentes com outras crianças, desejava ardentemente um "inglês" para
a sua mãe e assim, ela não precisaria passar fome por tanto tempo. Devemos
perguntar para nossa consciência sobre esta questão: O que dignifica mais uma
mulher? Uma segunda esposa, aceita e respeitada, ou uma prostituta virtual,
como no caso da abordagem "civilizada" das forças aliadas na
Alemanha? Em outras palavras, o que dignifica mais uma mulher, a prescrição
Alcorânica ou a teologia baseada na cultura do império romano? É interessante
notar que, em uma conferência da juventude internacional, acontecida em
Munique, em 1948, o problema alemão do desequilíbrio no número de homens e
mulheres foi discutido. Quando ficou claro que não havia solução consensual,
alguns participantes sugeriram a poligamia. A reação inicial da reunião foi uma
mistura de choque e repugnância. Contudo, após um estudo cuidadoso da proposta,
os participantes concordaram que a poligamia era a única solução possível.
Consequentemente, a poligamia estava incluída entre as recomendações finais da
conferência. Atualmente, o mundo possui mais armas de destruição em massa
do que jamais houve em qualquer tempo e as igrejas europeias podem, mais cedo
ou mais tarde, se ver obrigadas a aceitar a poligamia como o único caminho. O
Padre Hillman, após muito pensar, admitiu este fato, "É quase concebível
que aquelas técnicas genocidas (nuclear, biológica, química...)” podem produzir
um desequilíbrio tão drástico entre os sexos que o casamento plural poderia ser
um meio necessário de sobrevivência (...). Em tal situação, os teólogos e os
líderes das igrejas deveriam rapidamente produzir razões importantes e textos
bíblicos que justifiquem um novo conceito de casamento". Nos dias
atuais, a poligamia continua a ser a solução viável para alguns males das
sociedades modernas. As obrigações comunitárias a que o Alcorão se refere, juntamente
com a permissão da poligamia, são mais perceptíveis atualmente nas sociedades
ocidentais do que na África. Por exemplo, nos USA de hoje, há uma séria crise
na comunidade negra. Um em cada 20 jovens rapazes negros podem morrer antes de
atingir a idade de 2l anos. Para aqueles que estão entre os 20 e 35 anos, o
homicídio lidera a causa da morte. Além disso, muitos rapazes negros estão
desempregados, na prisão ou são viciados. Como consequência, uma em 4 mulheres
negras, na idade de 40 anos, nunca se casaram, enquanto que este número é de 1
para 10 mulheres brancas. Além do mais, muitas jovens negras se tornam mães
solteiras antes dos 20 anos e se encontram na situação de serem mantidas. O
resultado final dessas trágicas circunstâncias é que há um aumento no número de
mulheres negras comprometidas com "homem-partilhado". Isto é, muitas
dessas infelizes mulheres negras solteiras estão envolvidas em casos com homens
casados. As esposas muitas vezes não têm consciência do fato de que outras mulheres
estão dividindo seus maridos com elas. Alguns observadores da crise do
"homem-partilhado" na comunidade africana na América têm recomendado
a poligamia consensual, como uma resposta temporária para a diminuição do
número de homens negros, até que reformas mais abrangentes na sociedade
americana sejam tomadas. Esses observadores entendem poligamia consensual como
a poligamia sancionada pela comunidade e na qual todas as partes envolvidas
concordem, em oposição ao segredo dos casos com homens casados, os quais sempre
prejudicam tanto a esposa como a comunidade em geral. O problema do
"homem-partilhado" na comunidade africana da América foi ponto de
discussão em um painel realizado na Universidade de Temple, na Filadélfia, em
27.01.93 . Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia como um remédio
potencial para a crise. Eles também sugeriram que a poligamia não podia ser
banida por lei, particularmente em uma sociedade que tolera a prostituição e o
concubinato. O comentário de uma das mulheres participantes, de que os negros
americanos precisavam aprender com a África, onde a poligamia era praticada
responsavelmente, conseguiu entusiásticos aplausos. Philip Kilbride, um
antropólogo americano, de tradição católica romana, em seu livro provocativo,
"Casamento Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como
solução para alguns dos males da sociedade americana. Ele argumenta que o
casamento plural pode servir como uma alternativa potencial para o divórcio em
muitos casos, a fim de eliminar o impacto danoso do divórcio sobre as crianças.
Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo número de casos
extraconjugais ocorridos na sociedade americana. De acordo com Kilbride,
transformar um caso extraconjugal em um casamento poligâmico, ao invés do
divórcio, é melhor para as crianças. Além disso, ele sugere que outros grupos
também se beneficiarão do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas,
que enfrentam uma crônica diminuição de homens e os negros americanos, que
estão envolvidos com o "homem-partilhado". Em 1987, uma votação
conduzida por um estudante de jornalismo da Universidade de Berkeley,
perguntava aos estudantes se eles concordavam que os homens poderiam ser
autorizados, por lei, a terem mais de uma esposa, tendo em vista a visível
diminuição do número de candidatos masculinos para o casamento na Califórnia.
Quase todos os votantes aprovaram a ideia. Uma estudante chegou a declarar que
o casamento poligâmico preencheria suas necessidades físicas e emocionais,
porque lhe daria maior liberdade do que uma união monogâmica. Na verdade, o
mesmo argumento foi usado por alguns poucos remanescentes das mulheres
praticantes Mormom, que ainda praticam a poligamia nos USA. Elas acreditam que
a poligamia é um caminho ideal para a mulher ter, tanto profissão como
crianças, uma vez que as esposas se ajudam umas às outras no cuidado com os
filhos. Deve-se acrescentar que a poligamia no Islã é questão de consenso
mútuo. Ninguém pode forçar a mulher a se casar com um homem casado. Além disso,
a esposa tem o direito de estipular que seu marido não deve se casar com outra
mulher. A Bíblia, pôr outro lado, algumas vezes vale-se da poligamia forçada.
Uma viúva sem filhos deve se casar com o seu cunhado, mesmo que ele já seja
casado (ver a seção "A condição das Viúvas") e independente de seu
consentimento (Gênesis 38:8-10). Deve-se notar que, em muitas sociedades
muçulmanas de hoje, a prática da poligamia é rara, uma vez que a diferença
entre os sexos não é grande. Pode-se dizer que o número de casamentos poligâmicos
no mundo muçulmano é muito menor do que o de casos extraconjugais no ocidente.
Em outras palavras, os homens no mundo muçulmano são muito mais monogâmicos do
que os homens no mundo ocidental. Billy Graham (1918-2018), o eminente
evangélico cristão, reconheceu este fato: "O cristianismo não pode se
comprometer com a questão da poligamia. Se hoje o cristianismo não pode fazer
isso, é em seu próprio detrimento. O Islã permitiu a poligamia como uma solução
para os males sociais e reconheceu um certo grau de latitude da natureza
humana, mas, somente dentro da estrutura estritamente definida na lei. Os
países cristãos fazem um estardalhaço sobre a monogamia, mas, na verdade, eles
praticam a poligamia. Ninguém ignora a existência das amantes na sociedade
ocidental. A esse respeito, o Islã é fundamentalmente uma religião honesta, que
permite a um muçulmano se casar uma segunda vez se ele precisar, mas proíbe
rigorosamente todas as associações clandestinas, a fim de salvaguardar a
probidade moral da comunidade". Nota-se que a nova lei civil
brasileira já admite a poligamia ao estabelecer a lei de concubinato onde
estabelece direitos para tais amantes depois de provarem a existência de
enxergar, como filhos ou tempo de convivência com homens já casados, isto na
minha visão é uma poligamia não declarada e hipócrita. Releva notar que muitos
países no mundo de hoje, muçulmanos ou não, proibiram a poligamia. Tomar uma
segunda esposa, ainda que com o livre consentimento da primeira, é uma violação
da lei. Por outro lado, trair a esposa, com ou sem o seu conhecimento e/ou
consentimento, é perfeitamente legitimada. Qual é a sabedoria legal por detrás
de tal contradição? A lei foi feita para premiar a decepção e punir a
honestidade? Este é um dos paradoxos fantásticos de nosso mundo
"civilizado". www.ccib.org.br.
Abraço. Davi
sexta-feira, 29 de junho de 2018
quinta-feira, 28 de junho de 2018
O QUE É O ZOHAR.
Judaísmo. www.morasha.com.br. O
QUE É O ZOHAR. O Sefer ha-Zohar - o Livro do Esplendor - É, sem sombra de
dúvida, a obra principal e mais sagrada da Cabalá, a dimensão mística do
judaísmo. De autoria do grande Rabi Shimon bar Yochai, permanece inacessível
até os dias de hoje para a grande maioria dos que tentam transpor o mistério
que encerra. Quem sabe se por esta razão, ou apesar desta, nenhuma outra obra
mística jamais despertou tanta curiosidade e exerceu tão grande influência? O Zohar é a coluna vertebral da Cabalá, também chamada de Chochmat
ha-Emet - a Sabedoria da Verdade. Na língua hebraica, Cabalá significa
"recebimento" ou "o que foi recebido". Por ser parte
integral da Torá, tem origem e natureza Divina. Apesar de seus ensinamentos
terem sido transmitidos a Adão e aos patriarcas do povo judeu, foi Moisés quem
os recebeu diretamente de D'us durante a Revelação no Monte Sinai e os
instituiu formalmente como parte da história do povo de Israel. Desde então,
está sabedoria mística vem sendo repassada de geração em geração para uns
poucos escolhidos entre os líderes espirituais do povo judeu. Chamados de nistarim (literalmente "os ocultos"), os primeiros
cabalistas preservaram zelosamente esses ensinamentos, transmitindo-os
oralmente às gerações seguintes. Somente no século II da era comum, surgiria no
seio de Israel um homem que possuía os dons espirituais e intelectuais que lhe
permitiram dar forma a essa sabedoria milenar. Seu nome era Rabi Shimon bar
Yochai, uma das personalidades mais reverenciadas na história judaica. A ele
coube o zechut, o honroso mérito de revelar a Luz Divina em todo a sua
majestade e esplendor. Grande líder e um dos maiores sábios
talmúdicos, Rabi Shimon viveu em uma época muito conturbada. Durante sua
geração, Israel penava sob o jugo romano, tendo que se sujeitar à proibição do
estudo da Torá, esta apenas uma entre as inúmeras imposições de Roma. A
gravidade da situação levou os mestres da Lei a adotarem medidas excepcionais.
Preocupados que a perseguição e a dispersão dos judeus pudessem resultar na
perda parcial dos ensinamentos da Torá Oral, os sábios deram seu consentimento
para que os fundamentos de seu conteúdo fossem transcritos. Portanto, o Talmud,
seus comentários, o Midrash e os ensinamentos cabalísticos começaram a ser compilados
e escritos. E foi Rabi Shimon bar Yochai quem estruturou a tradição mística
através do Zohar. No entanto, havia um grande problema
na transcrição dos segredos da Cabalá. Os sábios temiam que pessoas sem preparo
espiritual tivessem acesso aos segredos da Criação e do Universo. Para evitar
que isso acontecesse, O Livro do Esplendor foi escrito de forma praticamente
indecifrável para os não iniciados. E a primeira condição para se fazer parte
desse grupo pequeno e seleto era possuir um vasto e profundo conhecimento sobre
a Torá e sobre a tradição cabalística. Livro
fechado. O Sefer ha'Zohar é um livro fechado e as chaves para sua compreensão
permanecem em mãos de um número reduzido de sábios. Esta obra pode ser
comparada a um sistema codificado, de extrema complexidade, que esconde
tesouros inestimáveis. Rabi Shimon era um daqueles seres pertencentes a um
plano espiritual tão elevado que, entre os que estudam a sua obra, são poucos
os que conseguem assimilar parte de seus ensinamentos. Não obstante, mesmo com
apenas um pouco desse conhecimento, constroem-se montanhas de sabedoria. Como vimos, para os não iniciados, o Zohar é misterioso e praticamente
impenetrável. As dificuldades de compreensão estão presentes em quase todos os
níveis da obra. Além da insondável profundidade de seus preceitos, seu estilo
literário peculiar e sua dialética dificultam a compreensão. Seus textos,
escritos em hebraico ou em aramaico antigo, estão "codificados",
impossibilitando, assim, que pessoas leigas entendam seu significado. Imagens
simbólicas são usadas no lugar de uma terminologia racional e tópicos
independentes são tratados em conjunto, colocando lado a lado assuntos
aparentemente sem relação entre si. Muitas
das passagens do Zohar são compostas por combinações de alusões fragmentadas,
que somente podem ser conectadas por associações secretas. Mas, na realidade,
as conexões existem e são bastante claras para aqueles que entendem seu
simbolismo e significado. Um sábio familiarizado com os segredos místicos da
Torá entende perfeitamente seu conteúdo, seu estilo e sua estrutura
aparentemente ilógica. Se para os não iniciados muitos de seus ensinamentos
carecem de significado, estes mesmos preceitos são, para os que podem
decifrá-los, a chave para desvendar os maiores e mais profundos segredos da
existência e do universo. Apesar de terem sido traduzidos para
o hebraico moderno e para outros idiomas, os verdadeiros ensinamentos do Sefer
ha-Zohar continuam sendo praticamente incompreensíveis. Mesmo para a maioria
dos eruditos na Torá, o Livro do Esplendor continua sendo um enigma. O Talmud e
outras obras da lei judaica são acessíveis e compreensíveis; não apenas é
permitido o seu estudo, como também é incentivado e é uma obrigação colocar-se
em prática os seus ensinamentos. Já o Zohar continua além do alcance
intelectual e espiritual da maioria dos judeus - pelo menos por enquanto.
Grandes cabalistas sempre alertaram que o privilégio de estudar e entender esta
obra era reservado para muito poucos. O
cuidado e o resguardo em relação ao Zohar sempre foram impostos com o propósito
de preservar não só a obra, mas também a alma daqueles que se aventurassem a
estudá-la. Temia-se que seus ensinamentos e revelações pudessem ser mal
interpretados ou usados de forma inadequada. Infelizmente, esses temores se
confirmaram no decorrer da história. Houve vários casos de indivíduos e até
mesmo de grupos que, após mergulharem nas águas do misticismo judaico sem o
preparo adequado, acabaram por se perder. Ainda mais grave: seus ensinamentos
místicos foram utilizados por falsos messias e distorcidos por místicos
não-judeus e por adeptos da ciência do ocultismo. Os resultados foram
catastróficos. Por isso, cabe alertar o leitor que o estudo do Zohar e da
Cabalá somente deve ser conduzido na companhia de um professor que, além de
instruído, tenha atingido um equilíbrio espiritual e mental; que entenda e siga
a Lei Judaica em todos os seus minuciosos pormenores. Seu conteúdo. O
Zohar é fonte de inspiração e sabedoria para os iniciados que ousam adentrar
seus segredos. Seus principais focos são a teosofia - a interação das sefirot e
seus mistérios, a conduta humana e o destino dos judeus neste mundo bem como no
mundo das almas. São raras as ocasiões em que discute de forma explícita a
meditação ou a experiência mística. Ao
penetrar na superfície literal da Torá, O Livro do Esplendor revela as
profundezas místicas de suas histórias, leis e segredos. Transforma a narrativa
bíblica em uma "biografia de D'us". Toda a Torá é lida como
permutações de Nomes Divinos. Cada uma de suas palavras ou de suas mitzvot
simbolizam algum aspecto das sefirot - que representam as maneiras pelas quais
D'us interage com Sua Criação. O Zohar revela que o real significado da Torá
reside em sua parte oculta - chamada de nistar - e em seus segredos místicos. Mas esta obra grandiosa não trata apenas de assuntos esotéricos e
místicos. Não há uma única preocupação sobre a existência humana que permaneça
intocada em suas páginas. Apesar da aura de mistério que a cerca, muitos de
seus ensinamentos têm servido de guia para várias gerações de judeus. De um
lado, o Zohar se aprofunda nos maravilhosos mistérios da alma e do Criador; do
outro, aborda assuntos como o poder do mal e a necromancia, proibida pelo
judaísmo. Nele encontram-se visões da Redenção Messiânica, assim como soluções
para as complexas relações entre seres humanos e os problemas de seu cotidiano. Alicerçado principalmente na Torá, o Zohar é uma obra imensa, dividida
em três trabalhos principais que são, por sua vez, subdivididos em outros
segmentos. Trata-se principalmente de uma exegese - uma dissertação de homilias
- e suas idéias emergem através de comentários e discursos. Nele estão as
interpretações místicas e os comentários das sidrot - as leituras semanais da
Torá. A obra não se restringe aos Cinco Livros de Moisés; também aborda outros
livros da Torá, inclusive o Cântico dos Cânticos, o Livro de Ruth e as
Lamentações. Não cabe enfatizar em demasia que a Cabalá é a parte secreta da
Torá e, portanto, não poderia ser estudada ou seguida à parte da Torá revelada.
Acreditar ou estudar a Cabalá sem o respaldo da Torá Escrita e Oral é, no
mínimo, incongruente, pois não há um único trabalho cabalístico que não
contenha citações dos 24 livros da Torá Escrita, do Talmud e do Midrash. Assim como o Talmud, o Zohar cobre todas as manifestações do espírito
judaico. Porém, enquanto o primeiro é essencialmente uma obra sobre a Lei
Judaica, com pitadas de misticismo, o segundo é principalmente um trabalho
místico que aborda e elabora sobre algumas leis do Torá. O Zohar descreve a
realidade esotérica subjacente à experiência cotidiana. Nele, temas e histórias,
tópicos legais e assuntos litúrgicos são vistos e expostos através de uma
interpretação mística. Um breve
histórico. Como vimos acima, os ensinamentos da
Cabalá começaram a assumir uma forma estruturada através do Livro do Esplendor,
de Rabi Shimon bar Yochai. Segundo o Talmud, após ter fugido das autoridades
romanas que queriam matá-lo, Rabi Shimon e seu filho, Rabi Eleazar ben Azariah,
esconderam-se em uma caverna nas montanhas da Galileia. Pai e filho lá
permaneceram durante treze anos, dedicando-se completamente ao estudo da Torá.
Certamente Rabi Shimon já havia sido exposto aos ensinamentos místicos
judaicos. Mas, enquanto estavam na caverna, ele e seu filho foram visitados
pelas almas de Moisés e do profeta Eliahu, que lhes revelaram muitos outros
preceitos cabalísticos. É possível que outros sábios, antes e depois dele,
também tenham tido os dons intelectuais e espirituais para transmitir os
ensinamentos da Cabalá. Mas foi Rabi Shimon, devido à sua luz, à pureza de sua
alma e aos seus méritos, o escolhido por D'us para fazê-lo. Como atesta a própria obra, coube a Rabi Abba, um dos alunos de Rabi
Shimon, a tarefa de registrar por escrito os ensinamentos de seu mestre. Parte
do Zohar não foi transcrita na época; foi preservada e transmitida de forma
oral pelos discípulos de Rabi Shimon, conhecidos como "a Chevraiá". Mas apesar de transcrito, ainda não havia chegado a hora de ser
divulgado o seu conteúdo. Segundo a tradição, seus manuscritos originais
ficaram escondidos durante mil anos e foram descobertos apenas no século XIII.
Durante as décadas de 1270 e 1280, estes manuscritos ficaram restritos a
círculos cabalistas. Finalmente, chegaram às mãos de um místico judeu espanhol,
Rabi Moshe de Leon (1238-1305), que os editou e publicou na década de 1290. Por que teria essa obra magna permanecido escondida por tanto tempo? O
próprio Livro do Esplendor revela a razão ao afirmar que sua sabedoria e luz
seriam reveladas como preparação para a Redenção Final, que deveria ocorrer
1.200 anos após a destruição do Templo Sagrado. E é exatamente o que aconteceu
! O Grande Templo de Jerusalém foi destruído no ano 70 da nossa era, o que
significa que, segundo as previsões do Zohar, seu conteúdo deveria ser revelado
no ano de 1270. O estudo da Cabalá floresceu na
Espanha e na Provença, mas até a expulsão dos judeus da Península Ibérica, o
Zohar só era conhecido no meio de restritos círculos de sábios e cabalistas.
Após a expulsão, ele emerge desses círculos e passa a exercer uma grande
influência sobre os judeus sefaraditas. Perseguidos e expulsos, os judeus da
Espanha encontraram em seus ensinamentos sobre a Redenção Messiânica uma grande
fonte de conforto e esperança e tanto a obra como seu autor passaram a ser
reverenciados por eles. Até hoje, o Zohar está presente no dia-a-dia dos judeus
dessa origem, pois seus ensinamentos moldaram grande parte de suas tradições e
seus costumes religiosos. Muitos dos cabalistas forçados a sair
da Península Ibérica se estabeleceram na cidade sagrada de Safed, em Israel,
que se tornou um centro de estudos místicos. Em Safed, o Sefer ha'Zohar serviu
de base para os ensinamentos de dois dos maiores cabalistas - ambos sefaraditas
- da era moderna: Rabi Moshe Cordovero (falecido em 1570), conhecido como o
Ramak; e o grande Rabi Yitzhak Luria (1534-1572), o Arizal. Foi em Safed – Israel, que o Arizal transmitiu seus conhecimentos sobre
o Livro do Esplendor e a Cabalá. Desenvolveu um novo sistema para a compreensão
de seus mistérios, chamado de Método Luriânico. Seus ensinamentos são
reconhecidos como a autoridade máxima da Cabalá, tendo sido estudados pelas
gerações de cabalistas que o seguiram. A partir de seus ensinamentos, a Cabalá
se tornou mais acessível e passou a ser disseminada por sábios e místicos
judeus. O próprio Arizal afirmara que havia chegado a era na qual não só seria
permitido revelar a sabedoria da Cabalá, mas tornar-se-ia uma obrigação
fazê-lo. Mas, foi na primeira metade do século
XVIII, com o surgimento do chassidismo - como passou a ser chamado o movimento
iniciado no leste da Europa pelo Rabi Baal Shem Tov - que a Cabalá que fora
ensinada pelo Arizal passou a atingir um número ainda maior de judeus. A
principal contribuição do chassidismo foi sua adaptação da doutrina da Cabalá a
uma linguagem cotidiana e de fácil compreensão. Desta maneira, a profunda
sabedoria de Rabi Shimon bar Yochai passou a influenciar as massas de judeus
asquenazitas do leste Europeu. Com a expansão do chassidismo os ensinamentos do
Zohar passaram a influenciar um número cada vez maior de judeus. A santidade da obra. Chamada também de Ha'Zohar ha-Kadosh - O Sagrado Zohar - esta obra é
envolta por uma aura de suprema santidade. Sua natureza misteriosa e seu
conteúdo inacessível só acrescentaram reverência ao respeito que provoca entre
judeus e não-judeus. Como vimos anteriormente, o Zohar é a suprema autoridade
no campo do misticismo judaico, é a face mística da Revelação Divina
manifestada por meio da Torá. Em termos de santidade, o Zohar foi posto em um
nível ainda maior do que o Talmud, pois enquanto as leis deste último representam
o corpo da Torá, os mistérios do Zohar representam sua alma. Mas, o Livro do
Esplendor nunca se opõe à autoridade do Talmud nem às suas leis. Assim como
alma e corpo são interdependentes; apenas quando unidos e em harmonia podem
proporcionar ao homem uma vida significativa. Da mesma forma, o Zohar e o
Talmud não podem cumprir sua missão, nem sobreviver de forma separada e sem uma
mútua interligação. O Zohar tem sido aceito por todo o
povo judeu, independentemente de seu passado e tradições. Embora apenas um
número limitado de judeus o tenha estudado de fato, continua a influenciar de
maneiras que sequer podem ser imaginadas. Uma história do Baal Shem Tov revela
o amor dos chassidim pelo Zohar e é também um exemplo de sua santidade e poder.
Sabe-se que o Baal Shem Tov (1698-1760) sempre levava uma cópia desta obra com
ele, sendo capaz de realizar milagres e prever o futuro através da força
espiritual do livro. Um dia lhe perguntaram como tinha sido capaz de,
simplesmente olhando para o Zohar, descrever os passos de um homem que havia
desaparecido. E ele respondeu com uma citação do Talmud: "A luz que D'us
fez em seis dias de Criação permitiria ao homem enxergar de um lado do mundo
para o outro, mas esta luz tem sido guardada para os justos no Mundo Vindouro".
E onde está esta luz guardada", perguntou o Baal Shem Tov, respondendo ele
próprio: "Na Torá. Então, quando eu abro o Zohar, eu posso ver o mundo
todo". www.morasha.com.br. Abraço.
Davi
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