Cristianismo. Livro O
Terceiro Milênio – e as Profecias do Apocalipse. Por Alejandro Bullón (1947 -
). POR QUE OS INOCENTES SOFREM? Era véspera de Natal e as famílias se
preparavam para celebrar a data festiva de maneira especial. Fazia anos que os
irmãos não se viam, mas desta vez todos viajaram para a casa paterna, e a
família estava feliz. Eram muitos. Filhos, noras, genros e netos. Todos vivendo
a alegria do espírito natalino. De repente, aconteceu algo trágico. Ouviu-se o
barulho de um tiro de revólver e os gritos desesperados de um garoto. Quando os
familiares entraram no quarto, viram um quadro horroroso. Felipe estava no
chão, com o rosto ensanguentado. Faria nove anos no mês seguinte. Seu primo e
melhor amigo, Luís, gritava tomado pelo pânico em frente ao guarda-roupa onde o
pai guardava o revólver calibre 38, carregado. Nenhum adulto viu o momento em
que a arma disparou. As duas crianças brincavam de índio, polícia, bandido e
super-herói, quando a tragédia aconteceu. Esse foi o início de um Natal que
ninguém da família poderá esquecer. A mão de Felipe gritava aos prantos: “Por
que, Senhor? Por que teve que ser meu filho?”. O ser humano de nossos dias não
consegue tirar do inconsciente essa pergunta terrível. Todos carregamos os
nossos porquês. O sofrimento não tem explicação aparente, mas dói, perturba e
não nos deixa ser feliz. Como posso comer em paz, quando há no mundo milhões de
crianças que perecem de fome? Como desfrutar do calor de um
cobertor, no inverno, quando tem gente morrendo de frio nas ruas das grandes
cidades? Não existe um Deus de amor? Por que, então, existe sofrimento? A
injusta que revolta. No capítulo seis do Apocalipse, ao abrir-se o quinto selo,
João vê pessoas cansadas de sofrer. Elas perguntam: “Até quando, ó Soberano
Senhor, santo e verdadeiro, não julgas nem vingas o nosso sangue dos que
habitam sobre a terra?”. Essas pessoas são símbolo de todos os que sofrem na
Terra, sem motivo aparente. Se você olhar para o mundo, perceberá que existe
muita injustiça. O mal parece triunfar sobre o bem. A pessoa honesta é
considerada boba, enquanto o desonesto é tido como esperto. Até o profeta
Habacuque indagou um dia: “Por que, pois, toleras os que procedem perfidamente,
e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?” A
injustiça e o sofrimento dos inocentes revolta, mas é preciso entender esse
assunto no contexto de Apocalipse. Em primeiro lugar, Deus não é o autor do
sofrimento. Nenhuma tragédia nasce na mente divina. A morte, a doença, a
traição, a desgraça, a injustiça, as enchentes, secas, terremotos, furações e
guerras. Enfim, tudo aquilo que traz dor ao ser humano tem origem na mente e no
coração do inimigo de Deus. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso
respeito, diz o Senhor, pensamentos de paz e não de mal”, Jeremias 29,11. A
Bíblia é clara ao declarar que este mundo saiu das mãos de Deus como um mundo
perfeito, Gênesis 1,31. Não existia orgulho, nem ciúmes, nem traição. A dor, a
morte, a tragédia e o sofrimento não faziam parte do mundo perfeito idealizado
pelo Criador. Mas a Bíblia também diz que Deus confiou este mundo aos cuidados
do ser humano. “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no Jardim do
Éden para o cultivar e o guardar. E p Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda
árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente morreras”.
Infelizmente, Adão e Eva venderam este planeta ao inimigo de Deus. E o venderam
barato. Por um minuto de curiosidade, prazer ou descontrole. Tanto faz. O fato
é que o venderam barato demais. Andando sobre as mesmas pegadas. Às vezes
pensamos: Como é que Adão e Eva foram tão incautos a ponto de trocar um mundo
tão belo e perfeito por um minuto de aventura? A realidade é que não foram só
eles. Fomos nós também. Você, eu e todos os seres humanos. Porque ainda hoje
continuamos fazendo a mesma troca. O homem arruína a família por um minuto de
curiosidade. Estraga seu futuro por causa de uma aventura. Vende seus valores,
seus princípios e até o próprio respeito. Ah, ser humano incoerente, que não
valoriza o que tem, que só percebe o quanto perde, depois que o perdeu, que
busca desesperadamente a morte, quando Deus lhe confiou a vida! Depois do
pecado, o diabo introduziu no mundo o ciúme, a inveja, o egoísmo, a exploração,
a morte, a dor, as enfermidades, furacões, terremotos, enchentes, secas e tudo
aquilo que traz sofrimento e desgraça ao ser humano. A única motivação dele é
fazer sofrer a criatura, porque sabe que por trás da criatura está o Criador. O
diabo é o arqui-inimigo de Deus. Todavia sabe que na luta corpo a corpo está
perdido. Já foi expulso uma vez dos Céus. Portanto, a melhor maneira de fazer o
Pai sofrer é provocando dor nos seus filhos. Por outro lado, Satanás quer
desvirtuar o caráter de Deus. Esse é o seu grande objetivo, e sabe que,
finalmente, a criatura atribuirá todos os sofrimentos ao Criador. Porventura,
não se perguntou você alguma vez por que Deus permite que crianças indefesas
morram de fome enquanto os adultos brigam? Por que Deus permite que crianças
inocentes nasçam defeituosas? Deus não é o autor dessas tragédias. Mas o ser
humano as atribui a Ele inconscientemente. O inimigo conseguiu o que queria:
apresentar a imagem de um Deus mau e arbitrário. O dono do mundo. Surge, então,
outra pergunta: “Não é Deus mais poderosos que o diabo? Não pode Ele impedir
que o sofrimento toque nossas vidas?” Pode sim. Mas já dissemos que Adão e Eva
passaram o título de propriedade deste mundo ao inimigo. E Satanás sente-se tão
dono que, quando Jesus esteve aqui, teve a ousadia de mostrar-lhe todos os
reinos do mundo e a glória deles, e dizer: “Tudo isto Te darei se, prostrado,
me adorares”, Mateus 4,9. O diabo não é dono de nada. Ele é um ser criado como
qualquer outra criatura, porém acha-se no direito de sentir-se dono do mundo e
colocar dor e tristeza naquilo que ele considera sua propriedade. Foi por isso
que Deus nunca prometeu que seus filhos não sofreriam neste mundo. Analisemos
os seguintes casos. Sofrendo amparados. 1. Um dia, Lázaro, amigo de Jesus
estava enfermo e as irmãs dele enviaram mensageiros com o seguinte recado:
“Senhor, está enfermo aquele a quem amas. João 11,3”. Quer dizer que aqueles a
quem Jesus ama também podem ficar enfermos? O que você acha? Mas a história
bíblica diz mais. Ela afirma que Lázaro morreu e Maria reclamou dizendo:
“Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido? João 11,32”. Maria era
o típico ser humano que acha que ter a Jesus constitui-se num seguro de vida.
2. O salmista Davi escreveu, entre outros, o salmo 23, que é considerado o
“salmo de ouro”. Nele, Davi expressa sua confiança no Senhor como seu grande
Pastor. Mas apesar disso, ele declarou: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra
da morte, não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo. Salmos 23,4”. Davi
não afirma que os que confiam no Senhor não morrerão. Ele diz que aqueles cujo
Pastor é o Senhor, nunca estarão a sós no meio da escuridão e das trevas. O
Pastor sempre os acompanhará. 3. Em outra ocasião, Jesus estava com os
discípulos em alto mar, quando sobreveio uma tempestade. A noite ficou escura.
Os ventos sopravam contrários. Os trovões e relâmpagos ameaçavam e “o barco era
varrido pelas ondas. Mateus 8,24”. Onde estava Jesus naquele momento? Ali, no
barco. Mas apesar disso, tinha-se a impressão de que o barco ia afundar. Quer
dizer, mesmo quando Jesus está presente na sua vida, pode haver momentos
tormentosos? Claro que pode. Só que a embarcação não afunda, porque “até os
ventos e o mar lhes obedecem. 4. Existe outro salmo extraordinário na Bíblia. É
o Salmo 46. Nele, o autor afirma: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro
bem presente nas tribulações” Salmos 46,1. Perceba a promessa. Aqui não diz que
os filhos de Deus não terão tribulações. A promessa é clara: Deus será o nosso
refúgio e fortaleza. Socorro presente em meio à dor. E se você alguma vez já
foi surpreendido por uma tormenta no meio da rua ou do campo, sabe o que significa
ter um refúgio. 5. Falando da atitude dos cristãos diante da morte, o apóstolo
Paulo aconselha: “Não queremos, todavia, irmãos, que sejais ignorantes com
respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não
tem esperança. I Tessalonicenses 4,13”. Aqui, Paulo fala de duas maneiras de
entristecer-se: com esperança e sem esperança. Como se entristecem os que não
tem esperança? Amaldiçoam a Deus, clamam por vingança, ficam envenenados e, as
vezes, até enlouquecem e morrem. E como reagem diante da morte de um ente
querido aqueles que tem esperança? Choram, naturalmente, porque tem
sentimentos. Sentem saudades, sofrem, mas sabem que, em meio ao sofrimento, não
estão sozinhos. Jesus está com eles. Porventura está você vivendo um momento difícil
em sua vida? A morte arrancou de você um ente querido e está doendo muito? Não
rejeite a dor. Aceite-a e tente administrá-la com o conforto divino. Criados
para não sofrer. Outro dia recebi a carta de um amigo que estava passando pelo
vale da sombra da morte. Tudo estava escuro ao seu redor e ele não enxergava
saída alguma para seu problema. Na carta ele relatava todo o drama que estava
vivendo e, no final, dizia: “O que mais me dói não são as tribulações que estou
enfrentando, sobretudo a minha maneira de reagir diante delas. Eu acho que,
como cristãos, deveria alegrar-me com as provações e sofrimentos. No entanto eu
não consigo alegrar-me, e sinto que nunca fui um bom cristão”. Alguma vez você
experimentou esse mesmo sentimento? Então permita-me dizer-lhe algo. Sabe quem
é que se alegra e até desfruta do sofrimento? O masoquista – aquele que procura
prazer na dor ou sofrimento, uma patologia – doença. Um desvio de
personalidade. Cristão não age desse modo. Nenhum ser humano normal buscará,
nem se alegrará ou desfrutará da dor. Sabe por quê? Porque a dor e o sofrimento
são experiências intrusas na existência humana. Deus não nos criou para sofrer,
mas para ser eternamente felizes. Cardos e espinhos, dor, enfermidades e morte
são consequências da entrada do pecado. Portanto, nunca se encaixarão
confortavelmente na experiência humana. Sempre molestarão. Podemos conviver com
tudo isso, no entanto, será sempre desconfortável. O conselho bíblico é que
devemos regozijar-nos “em meio à dor” e não “por causa da dor”. Ou seja, é
possível para o cristão conviver vitoriosamente com o sofrimento, por causa da
presença de Jesus em sua vida. Os seres humanos, simbolizados no capítulo seis
de Apocalipse, perguntam: “Até quando, ó Soberano Senhor, Santo e Verdadeiro, não
julgas nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra”. Aquelas
pessoas tinham sido mortas, por causa da Palavra de Deus e por causa do
testemunho que sustentavam. Apocalipse 6,9”. Você pode perceber que, embora
eles tivessem sido cristãos vitoriosos ao ponto de morrer por Cristo, nunca
aceitaram o sofrimento como algo normal e. Mais ainda, eles achavam que havia
chegado o momento de pôr fim à história do pecado. Lembra-se da acusação de
Lúcifer no Céu? Ele colocou em tela de juízo o caráter divino. Ele acusou o
Criador de não querer a felicidade da criatura. Deus podia ter destruído o
inimigo ali mesmo, mas teria ficado para sempre a interrogação: “Será que ele
tinha razão ou não?”. Portanto, era preciso que o tempo transcorresse. Que a
história do mal e do sofrimento seguisse seu curso. E hoje podemos observar a
insustentabilidade das acusações do diabo. Olhe a dor a sua volta. Observe até
os seus entes mais próximos sofrendo. Vá ao outro lado do mundo e veja crianças
morrendo de fome, exploradas e abusadas, e responda: deve a história do mal
continuar? Deve Deus permitir que o inimigo continue com sua obra perniciosa e
egoísta? Ouro purificado no fogo. Egoísmo! Essa é a palavra certa para tentar
compreender as motivações do diabo ao provocar sofrimento no ser humano. Ele
nos faz sofrer pelo puro prazer de ver o sofrimento. Ele causa dor só para
destruir. Mas Deus, em seu infinito amor, toma esse sofrimento que sai da mente
do inimigo para destruir, e o transforma num instrumento de edificação. Assim,
o ouro entra no fogo, sendo que não se queima com a madeira. Pelo contrário,
ele sai mais purificado. O diamante bruto é colocado sob o esmeril e não
desaparece como pedra comum. Ao contrário, sai transformado num diamante
valioso de facetas luminosas. Todo aquele que confia no Senhor Jesus é ouro e
pedra preciosa. O sofrimento pode vir, todavia não será capaz de destruí-lo.
Ele sairá vitorioso, puro como o ouro e brilhante como o diamante. Abraço.
Davi.