Budismo. www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Nitiren Daishonin (1222-1282). Texto de Greg Martin. MESTRE E
DISCÍPULO. Gostaria de referir-me sobre a relação de Mestre e Discípulo. Tenho
vários motivos para escolher este assunto. Em primeiro lugar, porque ouvimos
falar muito a respeito disso nesses últimos dias. Na realidade, e na opinião de
alguns, ouvimos falar muito sobre o assunto. De fato, passaram-se trinta anos
quando comecei a praticar, e já se falava sobre esse assunto, hoje ouço falar
muito mais de que naquele tempo e, para ser honesto, este assunto de Mestre
Discípulo me incomodou durante muito tempo. Não sei exatamente porque me
incomodava, mas posso lhes dizer que me alegrou quando deixamos de chamá-lo
"Mestre Discípulo" e passamos a chamá-lo "Mentor
Discípulo", me deu um certo alívio. Mas continuava a me preocupar. Somente
a ideia do Mentor, a simples imagem dessa pessoa, era muito difícil de aceitar. Mas paralelamente, ao estudar, algo que desfruto fazendo,
quando lia o Gosho, quando lia o Sutra de Lótus ou a orientação do
presidente Ikeda, ficava evidente que não podia descartar esta parte do
ensinamento. Não podia ignorá-la: era importante. Realmente, o Sutra de Lótus
na sua totalidade gira em torno da relação, diálogo e interação entre
o Budha Sakyamuni e seus discípulos. O Gosho de Nitiren
Daishonin é constituído de cartas escritas de um mestre aos seus alunos e
pelo diálogo que ele criava nos seus escritos. Defrontava-me,
então, com um verdadeiro dilema: por um lado, tinha aqui algo que não podia
realmente compreender e que me sentia incomodado. Por outro lado, era
consciente da extrema importância de entender este ponto para poder compreender
o budismo. Portanto, gostaria de referir-me a alguns aspectos de
minha atual (já que ela continua crescendo e desenvolvendo-se) perspectiva
sobre a relação Mentor Discípulo. E antes de mais nada desejaria ler um
fragmento de uma orientação do presidente Ikeda extraída de Fé em ação: "O
sangue vital do Budismo existe somente dentro da fé correta e manifesta-se na
Lei. Uma correta fé, veículo da corrente vital do Budismo, só se transmite
através da relação Mentor Discípulo. Nitiren Daishonin escreveu
no Gosho Advertências sobre os atos contra a Lei: “Se alguém esquecer
o mestre original que trouxe a água da sabedoria desde o grande oceano do Sutra
de Lótus, para seguir a outro certamente se afundará no interminável sofrimento
da vida e da morte. E minha análise sobre o assunto tem me levado à
conclusão de que Mestre Discípulo é, de fato, um modelo de fé religiosa válido
para o próximo milênio. E não somente para nós, constitui um modelo de postura
religiosa orientadora para todas as filosofias. Até agora, o modelo
aceito de fé religiosa em quase todas as tradições tem sido aquele de relação
entre "ser superior e ser inferior". Com grande frequência o mestre
se eleva ao nível de um deus, deixa de ser um ser humano para situar-se num
posto elevado. O mesmo encontramos dentro do ser humano em sua postura da fé:
olhar para cima procurando alguma entidade maior ou poderosa. Não só "esta
pessoa" encontra-se sobre nós, ela é melhor do que nós, mais poderosa do
que nós, mais sábia do que nós, mas também supõe que estejamos "aqui
embaixo". Esta relação "mais alto e mais baixo" conduz ao modelo
básico de fé religiosa: o de adoração. Acaba-se adorando a este ser, esta
entidade ou qualquer que seja o nome que queiram lhe dar. Será este
o modelo correto de fé religiosa válido para nossos dias, para esta época?
Minha conclusão é "Não". No exato momento em que o fundador de uma
religião, por mais grandioso que tenha sido, é colocado num pedestal (...) o
que acontece conosco? Somos situados embaixo. Isto nada mais é do que o
resultado de uma tendência humana profundamente enraizada que é a falta de fé
em nós mesmos, e a dificuldade de acreditar nas nossas próprias possibilidades.
É algo difícil, certo? Recitamos o Nam myo horengue kyo, fazemos
o Gongyo de manhã e à noite, aprendemos que nós somos
o Budha (...), mas é difícil acreditar. É difícil de vivê-lo
colocando em prática. Para os seres humanos é difícil aceitar nossa
grandiosidade. Existe uma citação atribuída a Nelson Mandela (1918-2013) que
afirma que não é da nossa fraqueza que temos medo, e sim de nossa luz, de nossa
grandeza. Tememos que possamos chegar a ser, de fato, muito mais do que
acreditamos ser. Temos a tendência de considerar outros como melhores, mais
benevolentes, mais sábios, etc, e os colocamos num pedestal. Depositamos
neles nossa confiança, esta é a história das religiões humanas. Em
algumas tradições religiosas, se o fiel simplesmente pensasse em estar "lá
em cima", esta arrogância já constituía uma heresia. Houve uma época na
era Cristã em que torturavam e queimavam vivas às pessoas que afirmavam isso. Na
A Sabedoria do Sutra de Lótus, o presidente Ikeda trata sobre esse ponto. Em
referência ao Budha Sakyamuni (563 AC 480), Sensei cita
a Jawaharlal Nehru (1889-1964), discípulo de Gandhi e primeiro
governante da Índia após sua independência da Inglaterra em 1947, que afirmou
uma vez que: no momento em que Sakyamuni foi elevado ao status de ser
sobre humano pelos seus discípulos, sem dúvida cheios de boas intenções, e
deixou de ser um ser humano para converter-se num deus, numa divindade, alguém
melhor do que vocês e eu, foi nesse instante que desapareceu o humanismo do
budismo. As pessoas começaram a venerar e buscar os poderes do Budha e,
nesse processo, implicitamente aceitaram que eles mesmos careciam de poder.
Viram como funciona? No mesmo instante em que começamos a buscar
"fora", já estamos auto negando-nos. E quanto mais o fazemos, mais difícil
é acreditar naquilo que poderíamos ser. A maioria das religiões concluem que
"nós não somos isso", "nós não podemos fazer" e que a única
esperança que podemos ter é que, ao morrer, acabaremos indo para um lugar
melhor. Ralph Waldo Emerson (1803-1882) afirmou que nos Evangelhos
sempre lemos a respeito da grandiosidade do homem (...), mas na igreja somente
escutamos sobre a grandiosidade de Jesus. É aqui onde está o problema: devemos
implorar a Jesus que nos devolva o poder, que nos permita que Deus entre em
nossas vidas (...). Esta é uma visão muito pessimista da condição humana! Num
sábado à noite, há dois anos atrás, estava na minha casa quando recebi um
chamado de um membro da Califórnia, ela trabalhava como produtora de um
programa de televisão do Reverendo Lawson, um ministro batista de Los
Angeles. Um convidado agendado não poderia ir ao programa, então me convidou no
lugar dele para o programa do Domingo, que seria transmitido por um canal
cristão. "Mas antes de responder a ela, ela advertiu-me" devo lembrá-lo
que amanhã é domingo de Páscoa e o Reverendo certamente perguntará: O que
pensam vocês os budistas a respeito da ressurreição de Cristo? Respondi
a esta senhora: "A verdade é que não pensamos frequentemente sobre este
assunto!". Ela disse: "Mas, Greg, esta seria uma grande oportunidade
para estabelecer um vínculo, porque você se lembra que o Rev. Lawson, que
foi um dos discípulos do famoso libertário Martin Luther King (1929-1968), e já
ouvirá falar a respeito da SGI". Então eu disse: "Não tenho a mínima
ideia do que possa falar com ele". E ela me respondeu: "Bom, acredito
que você pensará em alguma coisa" (conhecia-me muito bem!). Acabei
aceitando. Então comecei a orar sobre o assunto e a pensar. E o que
eu faço se me fizer esta pergunta? O que vou responder?. Eu acabava de terminar
um novo fragmento de "A sabedoria do Sutra de Lótus" que aborda o
modelo de fé religiosa de Mestre Discípulo e segundo o qual poderíamos
considerar Jesus, sua vida e sua ressurreição como um mestre, um guia, um
modelo para nossa própria vida e não como alguém especial a quem não nos
parecemos. Então disse a mim mesmo: "Teremos que ir corajosamente onde
nenhum budista jamais foi e vejamos no que acontecerá!". Iniciou-se
o programa e começamos a conversar, tal como havíamos previsto, olhou-me e me
perguntou: "O que os budistas pensam a respeito da crucificação e da
ressurreição de Cristo?". Respondi baseando-me no conceito de "Mentor
Discípulo" como modelo de fé religiosa para o século XXI. (Nesse momento,
o programa estava sendo assistido em 15 milhões de lares nos Estados Unidos,
tinha certeza de que haviam vários cristãos me vendo e avisando: "Olha o
que vai responder!. De todos os modos, fui em frente: "Bem, meu Mestre
ensina que o modelo correto de fé religiosa deveria ser o de Mentor Discípulo e
não o de Deus Seres humanos. Portanto, se estudamos a vida e a morte de Jesus
como ser humano e modelo de vida para nos ensinar sobre nossas próprias vidas,
então podemos ter algumas conclusões. Antes de mais nada, ele foi ressuscitado.
Isso significa que a vida não termina com a morte, e sim que há algo além:
voltaremos a renascer. E, também, ele ressuscitou em melhores circunstâncias,
não é mesmo? Sentou-se à direita de Deus, se meu conhecimento sobre
cristianismo não estiver errado: uma esplêndida circunstância para renascer. O
que o fez merecedor de tal magnífico renascimento? Como ganhou isso?" E
logo acrescentei: "Para compreendê-lo, deveríamos analisar sua vida". "Algumas
conclusões são: primeiro, o simples fato de que alguém viva por muitos anos não
determina em que condições renascerá. A duração da própria vida não constitui o
ponto, porque Jesus não viveu muitos anos. Segundo, quanto sofrimento nós
podemos evitar, ou quão fácil e cheia de conforto seja sua vida, também não
constitui o ponto, porque Jesus, pelo contrário, viveu e morreu com sofrimento
e dificuldades. Em compensação, deveríamos analisar a história de sua vida e
tentar perceber a verdadeira mensagem que ela transmite, encontra-se em como
ele tratou aos outros, especialmente àqueles que as pessoas ignoravam,
discriminavam ou marginalizavam: aos doentes, aos que sofriam, aos pobres,
aqueles das camadas mais baixas da sociedade. E a maneira com que ele tratou
seus semelhantes é que define a dimensão deste homem. É devido a isso que
renasceu numa circunstância melhor". Portanto nós, como budistas,
poderíamos considerar Jesus como um grande mestre e encontraríamos sabedoria
neste ponto. Podemos extrair o sábio ensinamento de que a maneira como vivemos
esta vida determinará a próxima, qualquer que esta seja. E, que o ponto chave é
a maneira como atravessamos esta vida, deveríamos seguir seu comportamento, ser
nós mesmos Jesus, em vez de venerar seu poder. Por isso, poderíamos considerar
Jesus um mestre. O Reverendo Lawson olhou-me firmemente e
eu pensei: "Ah aqui vai ter encrenca". Mas disse: "Isto é
absolutamente correto! Como lhe ocorreu isso?" Tinha tido a mesma conversa
com Dean Carter no fim de semana passado e ele tinha me confessado: "Sim,
isto é absolutamente correto. O triste é que a maioria dos cristãos não o
sabem". Do ponto de vista do modelo Mentor Discípulo, o Mentor nunca deixa
de ser um ser humano, e devido ao Mentor continuar sendo um ser humano, é que
faz o modelo transforma-se em algo que podemos alcançar. Não somente temos a
possibilidade, mas encontra-se imbuído da imagem de que nós estamos fazendo o
mesmo que ele.Assim como o presidente Ikeda diz no "A sabedoria do Sutra
de Lótus": a relação de Mentor Discípulo nos desafia como discípulos a ter
uma visão fundamentalmente diferente de nós mesmos. Podemos deixar de nos ver
como inadequados, incapazes, ou não possuidores das mesmas qualidades que ele.
Como discípulos, como estudantes, se optarmos pelo modelo Mentor Discípulo, ao
reconhecer que o Mestre põe uma meta muito alta, ele acaba por nos mostrar a
incrível capacidade do ser humano. O propósito da vida do Mestre (Sakyamuni,
T'ienTai, Nitiren Daishonin, o presidente Ikeda ou quem for) não é dizer:
"Olhem como sou grande!". E sim expressar: "Considerem-me como um
exemplo de o quão grandes vocês podem chegar a ser!". Isto constitui uma
visão completamente diferente do assunto: é um desafio, é difícil de acreditar. Quando
admiramos um grande Mentor e aquilo que têm conseguido com o seu incentivo, sua
coragem, sua benevolência e sua sabedoria, a primeira coisa que pensamos é
dizer: "Ele deve ser diferente de nós" porque sentimos uma lamentável
consciência de nossas fraquezas, limitações, maldades, pensamentos negativos e
tudo mais, é impossível imaginar, que dentro de nossa vida humana, existam
exatamente as mesmas qualidades. Aí reside o ponto: a possessão mútua dos Dez
Estados, ela nos ensina que o Budha se manifesta como um mortal comum
mesmo que cheio de fraquezas, preguiça e todo tipo de tendências negativas, e que
também possui todas as qualidades de um Budha. Sakyamuni no Sutra de
Lótus tentava nos ensinar à sua maneira não somente o quanto era grande sua
vida, mas o mais importante era que o quanto grande é a vida de cada ser humano
individual, já que eternamente possuímos a natureza de Budha e
podemos manifestá-la na nossa vida cotidiana. Infelizmente, poucos
anos após sua morte, seus discípulos perderam esta visão e começaram a
acreditar que Sakyamuni era alguém especial, diferente, alguém que vocês e
eu jamais poderíamos alcançar. Foi então, evidentemente, que o Budha
histórico foi promovido a algo superior e nós fomos rebaixados, esta é a lacuna
que existe entre ele e nós. E quem apareceu convenientemente entre ele e nós?
Os sacerdotes: eles mesmos criaram seus próprios empregos. Se eles nos tivessem
elevado ao mesmo nível do fundador, não teria existido o negócio. Portanto, se
nos basearmos nas suas fracas naturezas, não está entre os principais
interesses dos sacerdotes lembrar-nos que nós leigos também possuímos esse
poder. Assim foi que os sacerdotes transformaram-se em emissários,
em enviados. Eles dizem: "Não se preocupe, irei à cima da montanha e
regressarei trazendo-lhe a mensagem do Budha, confie em mim. Lhe contarei
o que ele me disse, mas você (...) não, você não pode ir,
nãonão não". No instante em que isto aconteceu, o humanismo do
Budismo se perdeu. Centralizou-se nos sacerdotes e intermediários, enquanto que
para as pessoas comuns, você e eu, que vivemos vidas comuns, o budismo
transformou-se em algo impraticável em nossa vida diária, e assim nos tornamos
dependentes dos "intermediários", que diziam, interpretavam, ajudavam
a entender e nos "concediam" a sabedoria. Pedíamos ajuda a eles, e
eles oravam por nós, por algum motivo sua oração era mais poderosa que a nossa.
Eles estavam mais próximos de Deus porque encontravam-se sempre em cima da
montanha. O mesmo aconteceu com Jesus. O Jesus humano converteu-se assim no
"Senhor Jesus Cristo". Um exemplo muito interessante
desse modelo de fé religiosa é estabelecido no feudalismo. Do mesmo modo, há um
Senhor Jesus Cristo, um Senhor Sakyamuni e nós não somos mais do que os
camponeses "vassalos da fé", não é assim? E eternamente permaneceremos
como vassalos ou meeiros da fé, por assim dizer. E sempre estaremos endividados
com o armazém da companhia e o mesmo acontecerá com os nossos filhos, que
herdarão nossa dívida. O Budha possui três virtudes: a de pai,
mestre e soberano. Graças ao fato de Nitiren Daishonin inscrever
o Gohonzon, este também possui essas três virtudes. Mas isto gera três
relações: a de Pai Filho, a de Mestre Estudante a de Amo Subordinado. Então,
se o budismo tem a função de pai, então seus discípulos são os filhos do Budha.
Frequentemente ouvimos que "todos somos filhos do Budha". Na
verdade, se o budismo influenciou o cristianismo, assim como dizem que fez,
então isto equivale ao "Filho de Deus". Todos somos filhos e filhas
de Deus sob este aspecto. Mas o modelo de Pai Filho é o mais adequado para a fé
budista? Apesar de constituir um aspecto importante, para que o
Gohonzon funcione como um pai que nos abraça com amor e benevolência, que
cumpra as funções que todo pai deve cumprir (...) então deve existir um filho.
Portanto, um aspecto da fé consiste em aproximar-se do Gohonzon e à
prática, e confiantes como crianças. Não quero dizer que permaneçamos sendo
infantis, mas que a pureza e a sinceridade da confiança
no Budha constituem um importante aspecto da fé e assim entendemos
porque as dúvidas interferem na fé. Se o bebê duvidar do leite materno e falar:
"Espera um minuto, quero uma análise disso antes de bebê-lo", então
se defrontaria com um verdadeiro problema! Claro que não se trata
de fé cega e de confiança cega. Não deveríamos ser incondicionais, mas possuir
confiança. Quantas vezes nossos antecessores nos pedem que "confiemos
no Gohonzon?". Para ser capaz de confiar, é necessário impedir e
ultrapassar as próprias dúvidas, sem escondê-las. Casualmente numa destas noites
me perguntava como seria ter uma fé livre de dúvidas. Escutamos muito
frequentemente que "Se realmente tivéssemos fé, se verdadeiramente
fôssemos sérios, nunca deveríamos duvidar". Então, assim que temos dúvida,
nós sentimos envergonhados por isso, ou escondemos, ou queremos suprimir, não
podemos contar a ninguém porque estaríamos evidenciando algo que anda mal em
nós mesmos. E isto é incorreto. Todos duvidamos. De fato, o Budha usou a
dúvida no Sutra de Lótus para despertar o espírito de procura dos seus
discípulos e ajudá-los a atravessar o lugar no qual se encontravam crentes de
que já tinham atingido um novo estágio na fé. A dúvida constitui o primeiro
passo para aprofundar nossa fé, portanto, não deveríamos nos envergonhar de
nossas dúvidas, pelo contrário deveríamos ser honestos, assumi-las,
enfrentá-las, explorá-las, porque uma fé mais profunda nos aguarda no final
desse processo. Quanto mais profundas são nossas dúvidas, mais profunda é a fé
que conquistamos uma vez que as vencemos. Portanto, deveríamos nos
esforçar para ter uma fé "libertadora de dúvidas". Não livre de
dúvidas e sim "libertadora de dúvidas", porque ao aplicar a força de
nossa fé e prática para resolver nossas dúvidas nasce uma fé mais profunda.
Esse é o verdadeiro aspecto de uma "criança". Mas a
relação Pai Filho possui suas implicações. Uma criança depende do seu pai, não
é igual ao pai. E, por isso, não constitui o modelo adequado de fé religiosa
para nós, já que não desejamos ser dependentes de nosso mentor, sempre
obrigados a lhe pedir nosso alimento, sempre escutando o que temos que fazer e
necessitando da sabedoria necessária para decidir por nós mesmos. Ser
dependente do Mentor também não é o modelo correto de fé. Por outro lado,
existe a relação Soberano Súdito. Este é o modelo feudal do senhor e seus
vassalos. A função do senhor feudal é proteger. No sistema feudal, os senhores
tinham as armas e os soldados e assim protegiam as aldeias. Os vassalos faziam
suas tarefas, cultivavam os campos e serviam ao seu senhor feudal. Este, em
troca, os protegia. Portanto, a função de proteção surge quando participamos na
nossa fé como bons soldados, como bons cidadãos da comunidade budista. Em
nossos dias de democracia, predomina o pensamento de que a união dos budistas é
o verdadeiro soberano, e não um indivíduo em particular. Na medida em que
servimos a um grande objetivo, participando na grande tarefa
do Kossen-rufu e concretizando o desejo do Budha como bons
cidadãos da comunidade, estaremos protegidos. Mas a relação
Soberano Súdito também tem implicações que não são apropriadas para um modelo
de fé religiosa. O sujeito, o vassalo, nunca chegará a ser um senhor do sistema
feudal: existe uma diferenciação entre classe alta, classe baixa, poderoso e
fraco: definitivamente não é uma relação igualitária. Por isso, é importante
servir à comunidade isso é correto e não o descartamos, mas também não
constitui o modelo principal. O principal modelo de fé religiosa é
o de Mestre Estudante porque constitui uma relação humana dentro da qual o
estudante pode aspirar não somente se igualar ao seu mestre como também até
ultrapassá-lo podendo ir mais longe do que ele. De fato, o desejo do mestre é
que o estudante não só alcance ser igual a ele, partindo do que o mestre o
ensinou, mas que o leve ainda a um nível mais alto. Este é o modelo correto de
fé religiosa. Nós não escolhemos nossos pais, não escolhemos nosso
soberano, ainda que desde o ponto de vista cármico o façamos, mas nós
escolhemos nosso mestre. É uma escolha voluntária que fazemos e, devido ao fato
de ser voluntária, constitui uma das relações mais importantes que podemos vir
a ter na nossa vida. Existe um termo japonês chamado "judoshu" que
significa "espírito de procura ao longo de uma vida". Não é nada
fácil manter o espírito de procura ao longo da vida, é mais fácil quando somos
jovens. Mas à medida que envelhecemos, torna-se mais difícil continuar buscando
esse espírito, permanecer no caminho sem fim do crescimento pessoal e nunca
chegar a um ponto no qual estamos satisfeitos e dizer: "eu consegui". De
fato, minha própria experiência me ensina que quando penso que
"Consegui" é onde corro mais perigo, isto porque é evidente que não o
consegui, pelo contrário estou continuamente "conseguindo". Estou
buscando constantemente e este é um aspecto importante de nossa fé. Existe um
termo chamado "juji soku ganjin" que significa: abraçamos
o Gohonzon com estas três orientações espirituais que acabamos de
ver: como crianças, buscamos e confiamos no Gohonzon. Como estudantes,
buscamos e confiamos no Gohonzon, buscamos nosso
mentor Nitiren Daishonin ou o presidente Ikeda, que encarna o
mentor porque é um excelente exemplo do que deve ser um discípulo. O presidente
Ikeda está nos mostrando "Assim é como devemos caminhar nesta vida como
discípulos de Nitiren Daishonin. Observem-me, eu lhes ensinarei. Lhes
explicarei, lhes direi como serem excelentes discípulos". E
"excelente discípulo" significa para Sensei "compartilhar o
mesmo coração de Nitiren Daishonin". Os discípulos
de Sakyamuni Budha, sem dúvida que por causa da sua sincera devoção,
o elevaram a um plano especial, como alguém que se encontrava acima do ser
humano comum e, nesse momento, a humanidade do budismo perdeu-se de
vista. Nitiren Daishonin compreendeu perfeitamente este ponto. No Gosho "Sobre
atingir o estado de Budha", Nitiren Daishonin afirma
"Jamais pense que os 80.000 ensinos de Sakyamuni, assim como todos
os Budhas e Bodhisattvas do universo, existem fora de sua
vida". Está enfatizando esse exato ponto. O Budha Sakyamuni não
está fora de nós, e sim que ele, o estado deBudha, encontra-se dentro de nós, e
repete esta mensagem sempre em todos os seus Goshos. Nitiren
Daishonin escreveu o Gosho "A abertura dos olhos" para
abrir os olhos das pessoas para o seu próprio estado de Budha. Então, quem
é o pai, mestre e soberano de todos os seres vivos?
É Nitiren Daishonin. Mas essa não foi a única razão pela qual ele
escreveu este tratado, e também o fez para abrir nossos olhos para as nossas
próprias possibilidades. Mas, pouco após à sua morte e no fim de poucas
gerações, Nitiren Daishonin, um ser humano incrível, benevolente,
sábio, etc., mas ser humano em última instância, foi endeusado e nós começamos
a nos auto degradar e a ideia do Budha Verdadeiro ou do tesouro
do Budha deixou nos excluídos a vocês e a mim. Aquele ser humano
converteu-se em algo "especial" e seus discípulos tinham esquecido
sua mensagem. O 26º Sumo Prelado, Nitikan Shonin, lembrou
isto e retornou ao ponto primordial. Ele disse: "O estado de vida
de Nitiren está dentro de vocês, dentro das vidas de todas as pessoas
que recitam o Nam myoho renguekyo ao Gohonzon: vocês
são Nitiren Daishonin". Mas, logo, esta mensagem voltou a ficar de
lado. E então não foi um monge quem a reencontrou, e
sim Tsunessaburo Makiguti (1871-1944), e depois a transmitiu para
Jossei Todda (1900-1958). E Todda pela sua vez a transmitiu ao
presidente Ikeda e ele está hoje tentando transmiti-la a todos nós. A chave é:
nunca, mas nunca, jamais permitam a ninguém que se coloque acima de vocês mesmos.
A relação Mentor Discípulo constitui um vínculo humano. É verdade que os
grandes mentores são pessoas incríveis que elevam os padrões até uma altura que
às vezes é difícil de alcançar. Mas o propósito e significado de suas vidas e
ensinos não é a respeito deles mesmos, e sim de nós. Trata-se de nos
imaginarmos fazendo o mesmo que eles, encontrando dentro de nós suas
maravilhosas qualidades. O Mentor nos diz: "Observem-me, lhes
mostrarei o que podem chegar a fazer (...) o que podem chegar a ser". Mas,
de novo, nos custa acreditar. Muitas vezes tenho ouvido os membros referirem-se
ao presidente Ikeda com frases do tipo : "O presidente Ikeda pode fazer
isso, mas eu não poderia". Falamos dele como se fosse alguém especial.
Sim, é verdade que ele é grande, e eu também sinto-me assim com respeito a ele,
mas no mesmo instante em que pensei que ele tem algo que eu não tenho (...) ele
realiza e eu ainda estou na possibilidade. E tenho o mesmo potencial dentro de
mim ao ponto que posso aprender com ele através de seu exemplo, das suas
orientações e das suas ações que me mostram o que posso fazer e como posso
desafiar meus próprios limites para chegar a ser um dos milhares de milhões de
presidentes Ikeda e Shin iti Yamamoto que vivemos neste planeta.
Devo me tornar num deles, não simplesmente buscar seu poder. Neste
sentido, a relação Mentor Discípulo é realmente um modelo de fé religiosa.
Representa uma orientação diferente e desafia o discípulo a pensar por si mesmo
de uma perspectiva completamente diferente, e possuir um paradigma próprio a
respeito de si mesmo. Um dia desses li um livro interessante:
"Por que o cristianismo deve mudar ou morrer", escrito por um bispo
episcopal, um tanto radical, de nome Spong. Ele enumera uma série de
pontos importantes: primeiro, Deus deve deixar de ser visualizado ou idealizado
sob o que ele chama de "imagens elevadas". Enquanto os cristãos
continuarem considerando que Deus está "lá em cima" e "lá
fora", a igreja estará condenada a morrer porque fica claro que não há
nenhum lugar "lá em cima". E onde mais poderia estar? E responde numa
linguagem muito interessante: "Devemos começar a pensar em Deus do ponto
de vista de imagens de profundidade, e acrescenta "Devemos pensar em Deus
como uma força que emerge da terra". Segundo, devemos deixar
de considerar a Jesus como Deus e, ao contrário, começar a vê-lo como um
mestre. Na medida em que os cristãos não o façam, a igreja seguirá o caminho
para a sua própria morte. Os velhos modelos não funcionam mais. As pessoas já
têm evoluído além do modelo feudal". Terceiro, "devemos
deixar de pensar na igreja como numa instituição ou uma entidade formal e
começar a vê-la como um conjunto de seres humanos". Interessante, não é
mesmo? Quando terminei o livro, disse a mim mesmo: "Nós vemos
o cristianismo converter-se em budismo porque é exatamente isso o que estamos
presenciando. E é precisamente esta a razão pela qual, quando os budistas
acabam descobrindo uma linguagem comum, poderemos comunicar-nos com tantos e
tantos cristãos. Spongtambém escreve: "Existem milhões que chamamos
cristãos no exílio que possuem uma crença básica, mas não conseguem ligarem-se
com os ensinamentos que descem do púlpito nos nossos dias". Quando
encontrarmos a linguagem precisa que necessitamos usar, quando começarmos a nos
ligar à eles, emergindo da terra, e Jesus como mestre e tudo isso, então haverá
muitas pessoas que se sentirão como no seu próprio lar conosco. Outro
livro, "Soka Gakkai na América", é um estudo de nossa
organização realizado por Phillip Hammond (1962- ) da Universidade
de Califórnia em Santa Bárbara. Ele fez um levantamento de nossos membros e
conseguiu uma análise muito boa de nossa organização. Há muito para aprendermos
e faz uma observação muito interessante: Existem investigações demográficas que
mostram a identificação de três linhas básicas de pensamento na América do
Norte atualmente. A primeira é representada pelo que se nomeou como
"Habitantes Primordiais", que são os fundamentalistas. Essas pessoas
tendem a viver à margem das mudanças do mundo. Cerca de 30% dos norte-americanos
são "Habitantes Primordiais". Estas pessoas gostariam que retornassem
os valores de antigamente, são os que acreditam que o passado é melhor do que o
presente e que a questão é regredir àquele tipo de vida. São tradicionalistas, do
ponto de vista religioso são fundamentalistas. O segundo grupo
constituem os "Modernistas". Cerca de 40% dos norte-americanos são
"Modernistas". Essas pessoas acreditam no progresso e na ciência e,
vivem atrás do dinheiro e do êxito, e todas essas coisas, acreditam que
obtendo-as serão felizes. O restante 30% dos norte-americanos são
os denominados "Trans modernistas". Esse grupo acredita na
ciência, no progresso e tudo mais, mas sabem que não conseguirão o que o grupo
anterior acredita que conseguirá e, por isso, vão além: dão grande importância
à espiritualidade. Esse grupo se aproxima de nossas crenças quase que
exatamente. Acredita-se que existam aproximadamente 44 milhões de
norte-americanos que se poderiam chamar de "pró budistas". Já são
budistas, mas ainda não o sabem. Hammond também ressalta que a maioria de
nós, quando encontramos o budismo, não experimentamos uma mudança radical de
pensamento. Pelo contrário, quando temos encontrado este Budismo, nos sentimos
em casa desde o começo. Sentimos: "Isto é o que eu vinha
acreditando!". Hammond diz que, surpreendentemente, não existe
um processo de conversão definido, mas há um processo de descobrimento e a
sensação de que "finalmente encontrei um grupo, um local, um ensinamento
de acordo com aquilo que venho acreditando esse tempo todo". Ele acredita
que existam 44 milhões de pessoas esperando somente descobrir que nós
existimos. É um pensamento muito estimulante se o analisarmos profundamente. Por
último, creio que a relação Mentor Discípulo trata principalmente a respeito do
desenvolvimento espiritual, moral e de caráter do discípulo. Constitui um
desafio para todos nós. É um modelo que nos exige pensemos de maneira
diferente, para irmos além de nossos limites. Já rejeitamos o conceito
tradicional de ser humano, e também deixamos de implorar a algum poder externo
para que nos ajude porque sentimos que não somos capazes em conseguir outro
conhecimento. Então, agora o desafio que enfrentamos está em aceitar e olhar no
nosso interior e descobrir a grandeza que existe nas profundezas e nos corações
de cada um dos seres humanos, as imensas qualidades de coragem, autoconfiança,
esperança, sabedoria e perseverança que todos possuímos em idêntica medida, mas
que teimamos em negar. Vivíamos na descrença pois nunca tínhamos encontrado um
método pelo qual pudéssemos abrir a chave de nosso depósito de grandeza para
deixá-lo fluir livremente. Pelo contrário, a religião, a filosofia,
a educação, vêm nos ensinando que somos limitados. Que é arrogância pensar o
contrário, que tais aspirações estão além de nossas possibilidades humanas.
Então acabamos depositando nossa confiança e nossa fé naqueles que acreditamos
serem melhores do que nós. É preciso que isto mude. O estado
de Budha reside no despertar para o nosso verdadeiro eu. NitirenDaishonin nos
transmitiu a prática do auto despertar. Inscreveu sua vida noGohonzon, mas não
para que venerássemos sua vida e seu poder, e sim para que, quando defrontamos
o Gohonzon, possamos perceber que a chave está ali. E a chave é "Nammyoho rengue kyo Nitiren".
Devotem-se com suas mentes, suas vozes, com seus corpos à Lei Mística de causa
e efeito e manifestarão a vida de Nitiren Daishonin no seu
interior.A Lei e o Budha dentro de nossas vidas são um só. O Gohonzon é
uma mensagem às gerações futuras pois Nitiren compreendeu a natureza
humana: sabia que a chave se perderia assim que ele desaparecesse. Imagino o
que ele se perguntou: "Como posso enviar uma mensagem ao futuro de maneira
tal que, ainda que percam a chave, qualquer um possa redescobri-la para revelar
o grande significado, o grande poder do Budismo e da prática budista?"
Então a colocou diante de nós. Sim, à nossa frente está a chave.
Mas se recitarmos daimoku frente ao Gohonzon pensando que o poder
está fora de nós, achando que o Gohonzon irá sair por aí para fazer
as coisas por nós, então não compreendemos a chave. Com certeza, o
clero da Nitiren Shoshu tem mal interpretado a chave. Eles acreditam
(e é o que ensinam) que o Dai-Gohonzon constitui a raiz, que o Sumo
Prelado é o tronco e que o sacerdote é o galho. Que nosso Gohonzon é a
folha e que o poder de nossos Gohonzon provêm dele . Acreditam que
Nam myoho renguekyo significa "Eu o tenho" em vez de
"Nós o temos". Acham que "Nammyoho rengue kyo Nitiren"
significa "Eu sou o Budha Verdadeiro" em vez de "Todos
nós somos os BudhasVerdadeiros e Originais". (Diga-se de passagem, as
"folhas" de nossos Gohonzon caíram da árvore (segundo disse o
reverendo Nagasaki em New York). Obviamente, isto é incorreto. Se vocês leem
o Gosho fica claro que não é este o caso. Mas é compreensível porque,
nas profundezas dos seres humanos sempre existe esta absurda descrença em nós
mesmos, esta falta de vontade e este impulso de confiar em alguém para que
dirija nosso leme. "Estou rodeado de todas estas pessoas (os bonzos)
que parece que sabem o que fazem, por isso depositarei minha confiança
neles". E este é um grande erro. O verdadeiro benefício da
problemática do clero reside em que finalmente podemos aprender o verdadeiro
modelo de fé religiosa, porque nós, antes desta ruptura, também depositamos
nossa fé neles. Se bem que a confiança constitui um aspecto importante da fé,
devemos usá-la para confiar nos nossos antecessores, para confiar nas outras
pessoas mas, sem perder de vista que, em última instância, nós somos os únicos
responsáveis de nossa própria vida. A vida é uma viagem. Existem passageiros e
existem motoristas. Mas necessita-se de motoristas. Existem muitas,
muitíssimas pessoas que são simples passageiros de suas próprias vidas,
deixando sempre que outro as conduza. Quantas vezes a gente diz: "Você
está me deixando bravo (...). Chega!"? Quem fala isto é alguém que está
atrás do motorista. Esse é um passageiro. O que estamos dizendo é: "Você
tem poder sobre às minhas emoções. Não tenho controle. Você conduz minha ira, e
enquanto continuar fazendo o que está fazendo, eu continuarei a me sentir
irado. Chega!". E assim a vida transforma-se num passageiro que obedece ao
motorista. Nós nos vemos obrigados a manipular o comportamento dos outros, a
dar-lhes instruções, a pedir-lhes que façam o que necessitamos para que nossas
emoções não fujam do controle. É um conceito totalmente absurdo. Não há dúvida
de que, com esta maneira de pensar, entregamos o volante de nossa vida a
outros, e agora nos sentimos frustrados e furiosos porque não dirigem bem.
Recuperemos a direção. Comecemos a conduzir e dirigir nossas próprias vidas.
Possuímos o poder mais importante do universo que é o poder que se encontra
dentro de nossas vidas, podemos escolher nosso estado de vida. Quando alguém
fizer algo que não gostemos, não é necessário que fiquemos bravos. Sempre nos
comportamos assim porque acreditávamos que era a única opção, mas temos dez
opções. Se alguém faz algo que não gostamos, podemos ir para o Inferno. Podemos
comer algo. Vejamos (...) animalidade (...) poderíamos maltratar ou algo
parecido, poderíamos ficar irados, essa também é uma escolha. Podemos nos
retirar, nos retirar ao nosso quarto, pôr os fone de ouvido e escutar música.
Ou entrar em êxtase e dizer: "Oh, adoro quando você faz isso". Ou
poderíamos até ser um pouco mais provocadores: "Bom, realmente estou
aprendendo graças ao que você faz". E ainda mais, "estou sentindo um
despertar", ou poderíamos sentir benevolência "Realmente gostaria de
poder te ajudar" (...) ou poderíamos alcançar o estado de Budha.
Todas estas opções estão ao nosso alcance. Mas enquanto
acreditarmos que não temos opção, estaremos presos nos seis estados mais baixos
e continuaremos sendo somente passageiros de nossas próprias vidas. O
Nam myoho rengue kyo trata a respeito do instante, de
escolher a cada instante, de escolher a cada pequeno e único instante de nossas
vidas, de retomar o controle e o poder sobre nossas opções. Nós não
determinamos o comportamento dos outros, nem sequer podemos controlá-los. E
isto é algo bom porque francamente não acredito que faríamos um bom trabalho
controlando a vida de outra pessoa. Recuperemos o controle de nossas vidas.
Desejemos ardentemente ao maior. Isto está no nosso interior, não há nada que
nos falte. Tudo o que necessitamos para ser absolutamente felizes já se achava
em nós desde o primeiro dia das nossas vidas. O que acontece é que não
acreditamos nisso. Não confiamos. Nos custa aceitá-lo. Parece que não
possuímos, parece que nos falta algo. Pelo motivo de que nós estivemos passando
por coisas ruins ao longo dos anos, sentimos que algo anda mal com nós mesmos. Mas
não há absolutamente nada de mal em nós. Se existe algo errado é a nossa
maneira de pensar, contudo não há nada de errado "conosco". E esta distinção
marca a diferença: podemos facilmente mudar nossa maneira de pensar. Mudar a
nós mesmos por completo seria muito mais difícil, mas não é necessário, porque
não há nada de errado conosco. Os budistas vieram em diferentes medidas, formas
e estilos, com muitas variações de caráter e todos vivemos imersos na ilusão. Concluindo,
minha esperança é que, de alguma forma, este conceito de Mentor-Discípulo
esteja agora um pouco mais claro, ou ao menos um pouco mais fácil de
compreender. Creio firmemente que, em última instância, seguimos a Lei. Mas a
Lei não nos fala, então precisamos de mestres. Também podemos aprender uns com
outros, mas no fim, só resta mesmo eu, meu carma e o Gohonzon. Ninguém
mais. Somente eu mesmo posso ultrapassar minhas próprias dificuldades. Somente
eu mesmo posso ultrapassar minhas ilusões. Só eu mesmo posso abrir e revelar
minha grandeza interior. A prática budista é o método, e é sensacional ter um
treinador que nos diga como alcançá-lo. Que nos incentive quando estamos
desanimados, sem esperança, quando nos esquecemos, quando não acreditamos que
somos Budas. É maravilhoso quando lemos algo que nos incentiva, que nos lembra:
"Sim, você é um Buda". É esse o papel de um bom mestre. O
Budha é o treinador, mas somos nós os que devemos jogar a partida e
ninguém pode jogar por nós. Então, a partir de agora, se ainda
vocês não têm conseguido experimentar a relação Mentor Discípulo nas suas
vidas, pelo menos, desejo que possam terminar este dia sentindo: "Bom,
acho que pelo menos vale a pena tentar". Pode ser que tenha que lutar
corpo a corpo com minhas dúvidas e incertezas, talvez tenha que tentar
compreender aquilo que me faz sentir incomodado. Não devo disfarçar este
assunto, não devo achar que desaparecerá sozinho nem devo encará-lo de maneira
superficial ou simplesmente seguir o hábito como os outros". Acredito
que a relação Mentor Discípulo é a chave para ter acesso aos nossos tesouros,
para nos enxergar de uma perspectiva diferente, para despertar de nosso sonho e
descobrir o Budha Verdadeiro, o estado original de Budha que existe
dentro de todas as pessoas. Muito obrigado e tenha um grande dia! http://www.maisbelashistoriasbudista.com.br.
Abraço. Davi.