sexta-feira, 30 de março de 2018

A MORTE DA MINHA MÃE E O AMULETO MÍSTICO.


Livro Autobiografia de um Iogue – Paramanhasa Yogananda. Capítulo 2. A MORTE DE MINHA MÃE E O AMULETO MÍSTICO. O MAIOR DESEJO DE MINHA MÃE era ver casado meu irmão mais velho. Ah, quando eu contemplar a face da esposa de Ananta, terei encontrado o céu nesta Terra! Frequentemente ouvi mamãe expressar com essas palavras o seu arraigado sentimento hindu pela continuidade da família. Eu tinha onze anos quando se realizaram os esponsais de Ananta. Mamãe estava em Calcutá, supervisionando alegremente os preparativos para o casamento. Papai e eu ficamos sozinhos em nossa casa em Bareilly, ao norte da Índia, para onde ele tinha sido transferido após dois anos em Lahore. Anteriormente eu havia presenciado o esplendor dos ritos nupciais de minhas duas irmãs mais velhas, Roma e Uma. Para Ananta, entretanto, como primogênito, os preparativos eram realmente meticulosos. Mamãe, em Calcutá, recepcionava numerosos parentes que chegavam diariamente de regiões distantes. Alojava-os confortavelmente em uma casa ampla, recém-adquirida, situada em Amherst Street, 50. Tudo estava pronto: as iguarias do banquete, o trono vistoso no qual meu irmão seria carregado até a casa da noiva. As fileiras de luzes coloridas, os gigantescos elefantes e camelos feitos de papelão, as orquestras indiana, inglesa e escocesa. Os artistas encarregados de alegrar a festa, os sacerdotes celebrantes dos antigos ritos. Papai e eu, com espírito festivo, planejávamos nos reunir à família em tempo oportuno para a cerimônia. Entretanto pouco antes do grande dia, tive uma visão de mau presságio. Foi em Bareilly, à meia-noite: eu dormia ao lado de meu pai no terraço de nosso bangalô, quando fui acordado pelo tremular peculiar do mosquiteiro sobre a cama. As finas cortinas abriram-se e vi a amada figura de minha mãe. Acorde seu pai! Sua voz era apenas um sussurro. Tomem o primeiro trem, o das quatro da madrugada. Corram a Calcutá se quiserem me ver! A aparição desvaneceu-se. Pai, papai! Mamãe está morrendo! O terror em minha voz despertou-o instantaneamente. Em soluços comuniquei-lhe a notícia fatídica. Esqueça esta alucinação sua. Meu pai, como de costume, deu sua negativa a uma situação nova. Sua mãe está em perfeita saúde. Se recebermos notícias ruins, partiremos amanhã. O senhor nunca se perdoará por não ir agora! E a angústia me fez acrescentar amargamente: Eu também jamais o perdoarei! A manhã seguinte despontou melancolicamente com as explícitas palavras: Mamãe gravemente enferma, casamento adiado, venham imediatamente. Papai e eu saímos transtornados. Um de meus tios veio ao nosso encontro numa estação onde tínhamos de baldear. Estrondoso trem vinha em nossa direção, aumentando seu tamanho telescopicamente. De meu tumulto interior brotou a determinação repentina de me atirar aos trilhos do trem. Já me sentindo destituído de minha mãe, eu não podia suportar um mundo que de repente perdera todo o sentido. Eu amava minha mãe como a amiga mais querida sobre a Terra. Seus confortadores olhos negros tinham sido meu refúgio nas insignificantes tragédias de minha infância. Ela ainda está viva? Detive-me para fazer esta última pergunta a meu tio. Ele interpretou com rapidez o desespero em minha face. Claro que sim! Mas eu não consegui acreditar. Quando chegamos à nossa casa em Calcutá, foi só para nos defrontarmos com o chocante mistério da morte. Entrei em colapso, mergulhando em estado de quase torpor. Muitos anos decorreram antes que meu coração se conformasse. Atacando os próprios portões do céu, minhas súplicas afinal impeliram a Mãe Divina a se apresentar. Suas palavras trouxeram cura definitiva às feridas ainda abertas. Sou eu que tenho velado por ti, vida após vida, na ternura de muitas mães! Vê em meu olhar os dois olhos negros, os belos olhos perdidos que andas buscando! Papai e eu regressamos, a Bareilly logo após os ritos crematórios da bem-amada. Todas as madrugadas, bem cedo, eu fazia uma patética peregrinação em sua memória à frondosa árvore sheoli, que sombreava o prado auriverde em frente ao nosso bangalô. Em momentos poéticos, imaginava que as flores brancas de sheoli se derramavam com espontânea devoção sobre o altar do prado. Misturando minhas lágrimas ao orvalho, frequentemente observei uma estranha luz sobrenatural emergindo da aurora. Dores me assaltavam, intensas, de saudades de Deus. Sentia-me fortemente atraído para o Himalaia. Um de meus primos, recentemente chegado de uma viagem às montanhas sagradas, visitou-nos em Bareilly. Escutei ansiosamente suas histórias sobre a alta cordilheira, morada de iogues e swamis (1). Vamos fugir para o Himalaia! Minha sugestão, feita um dia a Dwarka Prasad, jovem filho de nosso caseiro em Bareilly, foi mal recebida. Ele revelou o plano a meu irmão mais velho, recém-chegado para visitar papai. Em vez de sorrir com tolerância do projeto impraticável de um menino. Ananta aproveitou o fato para me ridicularizar. Onde está sua túnica alaranjada? Você não pode ser um swami sem ela. Suas palavras, porém, provocaram em mim inexplicável comoção. Fizeram com que visse uma nítida imagem: de mim mesmo como monge, percorrendo a Índia. Talvez as palavras de Ananta despertassem lembranças de uma vida anterior, em todo caso, percebi com que naturalidade eu usaria a túnica daquela ordem monástica, de fundação antiquíssima. Conversando certa manhã com Dwarka, senti que o amor por Deus descia sobre mim com a força de uma avalanche. Meu companheiro mal prestou atenção à eloquência que se seguiu, mas eu me ouvia atentamente. Fugi naquela tarde para Naini. Tal, no sopé do Himalaia. Ananta perseguiu-me com determinação; fui forçado a regressar tristemente a Bareilly. A única peregrinação permitida era o passeio habitual à arvore sheoli todas as madrugadas. Meu coração chorava pelas duas mães perdidas, a humana e a Divina. A morte de mamãe deixou no tecido da família um rasgão irreparável. Papai nunca voltou a se casar nos quase quarenta anos que ainda viveu. Assumindo o difícil papel de pai e mãe de seu pequeno rebanho, ele se tornou perceptivelmente mais terno, mais acessível. Com serenidade e discernimento, resolvia os vários problemas da família. Após as horas de trabalho no escritório, retirava-se como um eremita à cela de seu quarto, praticando KRYA YOGA em doce tranquilidade. Muito depois da morte de mamãe, tentei contratar uma enfermeira inglesa para cuidar dos detalhes que tornariam mais confortável a vida de meu pai. Mas ele abanou a cabeça negativamente. Os cuidados para comigo terminaram quando sua mãe se foi. Seus olhos estava distantes, cheios de devoção perpétua. Não aceitarei os serviços de nenhuma  outra mulher. Catorze meses depois da partida de minha mãe, eu soube que ela havia me deixado uma importante mensagem. Ananta estivera presente no seu leito de morte e registrara suas palavras. Embora ela tivesse recomendado que a revelação me fosse feita um anos após sua morte, meu irmão a retardou. Em breve ele partiria de Bareilly para Calcutá, para casar-se com a jovem escolhida por mamãe (2). Uma noite, chamou-me para junto dele. Mukunda, tenho relutado em dar-lhe uma estranha mensagem. Sua voz tinha um tom de resignação. Temi avivar seu desejo de abandonar a casa. Mas, de qualquer jeito, você está revestido de fervor divino. Quando o capturei recentemente a caminho do Himalaia, tomei uma resolução definitiva: não adiarei por mais tempo o cumprimento de uma promessa solene. Entregando-me uma caixinha, meu irmão transmitiu a mensagem de mamãe. Deixe que estas palavras sejam minha benção final, meu amado filho Mukunda! Dissera minha mãe. Chegou a hora em que devo relatar alguns fenômenos extraordinários acontecidos após o seu nascimento. Conheci a Senda reservada a você quando ainda era um bebê em meus braços. Naquela época, levei-o no colo à casa de meu guru em Benares. Eu mal podia ver Lahiri Mahasaya, sentado em meditação profunda, quase escondido atrás de uma multidão de discípulos. Enquanto o acalentava, eu orava para que o grande guru nos percebesse e abençoasse. À medida que meu silencioso pedido devocional crescia em intensidade, ele entreabriu os olhos e fez sinal para que me aproximasse. Os outros abriram caminho; curvei-me diante dos pés sagrados. Lahirir Mahasaya colocou você no colo dele, pousando a mão em sua fronte, à guisa de batismo espiritual. Mãezinha, teu filho será um iogue. Como uma locomotiva espiritual, levará muitas almas ao reino de Deus. Meu coração saltou de alegria ao perceber que minha súplica secreta tinha sido atendida pelo guru onisciente. Pouco antes de seu nascimento, Mukunda, Lahiri Mahasaya me disse que você seguiria o caminho dele. Mais tarde, meu filho, sua visão da Grande Luz foi testemunhada por mim e por sua irmã Roma; de um quarto próximo, nós observávamos você imóvel na cama. Seu rostinho iluminou-se; sua voz soou com determinação férrea quando falou em ir para o Himalaia em busca do Divino. Por esses meios, filho querido, eu soube que seu caminho está muito além das ambições mundanas. O mais singular evento de minha vida trouxe-me confirmação posterior – um evento que agora me impele a dar-lhe esta mensagem em meu leito de morte. Foi uma entrevista com um sábio, no Punjab. Quando nossa família, vivia em Lahore, a criada entrou certa manhã em meu quarto. Senhora, um estranho sadhu (3) está aqui. Ele insiste em ver a mãe de Mukunda. Estas singelas palavras tocaram uma corda profunda dentro de mim. Fui imediatamente cumprimentar o visitante. Curvando-me a seus pés, senti que estava na presença de um verdadeiro homem de Deus. Mãe – disse ele – os grandes mestres desejam que saiba que sua permanência na Terra não será longa. Sua próxima doença será a última (4). Houve um silêncio durante o qual não me senti alarmada, apenas senti uma vibração de grande paz. Finalmente ele voltou a falar. A senhora deve ser a guardiã de certo amuleto de prata. Não lhe darei o talismã hoje; para demonstrar a veracidade de minhas palavras, ele vai se materializar em suas mãos, amanhã, quando estiver meditando. De seu leito de morte, deverá instruir seu filho mais velho, Ananta, para que guarde o amuleto durante um ano e então o entregue a seu segundo filho. Mukunda entenderá o significado do talismã, proveniente de grandes seres. Ele deve recebe-lo na época em que estiver pronto para renunciar a todas as esperanças mundanas e começar a sua busca vital de Deus. Depois de haver conservado o amuleto por vários anos e quando ele tiver servido a seu propósito, desaparecerá. Mesmo que esteja guardado no esconderijo mais secreto, voltará ao lugar de onde veio. Ofereci esmolas (5) ao santo e me inclinei diante dele com grande reverência. Sem aceitar minha oferenda, abençoou-me e partiu. Na noite seguinte, quando eu estava sentada em meditação, um amuleto materializou-se entre as palmas de minhas mãos entrelaçadas, tal como o sadhu prometera. Fez-se notar por seu contato liso e frio. Guardei-o zelosamente durante mais de dois anos, e agora o deixo sob a custódia de Ananta. Não lamente minha partida, pois serei introduzida por meu grande guru nos braços do Infinito. Adeus, meu filho: a Mãe Cósmica o protegerá. Um raio de iluminação desceu sobre mim quando peguei o amuleto, muitas recordações adormecidas despertaram. O talismã, redondo e autenticamente antigo, estava coberto de caracteres sânscritos. Compreendi que procedia de mestres de vidas anteriores, que invisivelmente guiavam meus passos. Havia outro significado ainda, mas não se pode revelar completamente a essência de um amuleto (6). Como o talismã afinal desapareceu em meio a circunstâncias profundamente infelizes de minha vida, e como a sua perda foi o arauto da chegada de um guru, não será contado neste capítulo. O menininho, frustrado em suas tentativas de chegar ao Himalaia, apesar disso viajava para longe, todos os dias, nas asas de seu amuleto. REFERÊNCIAS: 1. Swa, a raiz sânscrita de Swami, significa – aquele que se uniu ao seu Eu. 2. O costume indiano segundo o qual os pais escolhem o cônjuge de seus filhos  tem resistido às rudes investidas do tempo. Elevada é a percentagem de casamentos indianos felizes. 3. Anacoreta – pessoa dedicada ao ascetismo e à disciplina espiritual. 4. Quando descobri, por essas palavras, que mamãe tinha conhecimento secreto da breve duração de sua vida, compreendi pela primeira vez por que ela insistira tanto em apressar os planos para o casamento de Ananta. Embora ela tivesse morrido antes do casamento, seu desejo materno natural fora o de assistir aos ritos. 5. Um gesto habitual de respeito para com os sadhus. 6. O amuleto era um objeto produzido astralmente. De estrutura evanescente, tais objetos precisam um dia desaparecer do nosso mundo físico. Inscrito no talismã havia um mantra ou letra de um cântico sagrado. Em nenhuma outra parte os poderes do som e de yach, a voz humana, foram tão profundamente pesquisados quanto na Índia. A vibração de OM que reverbera em todo o Universo – o Verbo ou Voz de muitas águas – da Bíblia, tem três manifestações ou gunas: criação, preservação e destruição: Taittirya Upanishad 1,8. Sempre que o homem pronuncia uma palavra, aciona uma das três qualidades de OM. Esta lei está por trás do mandamento que, em todas as Escrituras, diz que o home deve falar a verdade. O mantra sânscrito inscrito no amuleto, quando pronunciado de modo correto, possuía uma potência vibratória espiritualmente benéfica. O alfabeto sânscrito, de construção ideal, compreende 50 letras, tendo cada qual uma pronúncia determinada, fixa. George Bernard Shaw (1856-1950) escreveu um ensaio sagaz e, logicamente, satírico sobre a inadequação fonética do alfabeto Inglês de base latina. No qual 26 letras se esforçam para carregar, sem êxito, o pesado fardo do som. Com sua habitual impiedade – “se a apresentação de um alfabeto inglês, para o idioma inglês, custar uma guerra civil – não o lamentarei. O senhor Shaw insistia na adoção de um novo alfabeto de 42 letras – ver seu prefácio no livro The Miraculous Birth of Language. Semelhante alfabeto se aproximaria da perfeição fonética do sânscrito, cujo emprego de 50 letras evita erros de pronúncia. Livro Autobiografia de um Iogue – Paramahansa Yogananda. Abraço. Davi

quinta-feira, 29 de março de 2018

A RESISTÊNCIA JUDAICA DURANTE O HOLOCAUSTO.


Judaísmo. www.morasha.com.br. A RESISTÊNCIA JUDAÍCA DURANTE O HOLOCAUSTO. Recentemente os historiadores passaram a considerar o número de judeus brutalmente assassinados pelo Terceiro Reich em torno de 7milhões – e não mais 6 milhões. A pergunta muitas vezes feita é por que estes não resistiram? Por que não lutaram? Por que se deixaram levar “como ovelhas”? Quem pergunta tem a objetividade do tempo transcorrido desde então e nenhuma vivência pessoal de um horror que a mente humana não consegue assimilar. Mas a pergunta precisa ser respondida. Uma guerra sem fronteiras havia sido declarada pela Alemanha de Hitler contra o Povo Judeu, sem restrição de homens ou armamentos. O fato colocava os judeus numa situação extremamente difícil. Eles não possuíam um Estado, tampouco forças de combate treinadas; e nem aliados. Eram uma minoria civil desarmada, espalhada em todos os países da Europa. No Leste Europeu eram desprezados. Hoje, temos provas e testemunhos de que houve centenas de atos, individuais e de grupo, de resistência judaica aos nazistas nos países da Europa Ocidental e Oriental. Essa resistência se manifestou de forma diferente dependendo do país, do grau de antissemitismo da população local e do momento histórico. Um dos grandes desafios na historiografia da resistência judaica durante o Holocausto é a definição do que deve ser considerado como “resistência” a um poder opressor. Deve-se considerar apenas a ação armada? Historiadores concordam que há duas categorias básicas: a resistência civil, não violenta, e a armada. E, mesmo a armada é subdividida entre a ofensiva e a chamada acorrentada. A resistência ofensiva inclui operações armadas não convencionais, ações de guerrilheiros ou de sabotagem. Um exemplo da resistência ofensiva foi a luta dos partisans1 nos territórios sob domínio alemão. A acorrentada, por sua vez, implica em ações armadas em situações em que são praticamente nulas as esperanças de sobrevivência. O Levante do Gueto de Varsóvia, há 75 anos, em abril de 1943, assim como os levantes ocorridos em outros guetos e campos de concentração, são exemplos de resistência acorrentada. Há testemunhos sobre centenas de atos individuais de mulheres e homens judeus, que, sendo levados à morte, tentaram ferir seus algozes com facadas e até mesmo mordidas. E, é um fato histórico de que dezenas de milhares de judeus participaram da resistência armada, engrossando as fileiras dos movimentos nacionais de resistência, os partisans, na luta contra o inimigo comum. (Apenas em território polonês, com raríssimas exceções, os grupos de resistência não aceitavam judeus em suas fileiras). Nunca é demais enfatizar que os partisan superavam apenas em ações de guerrilhas. Um enfrentamento aberto, com armas em punho, contra os alemães ocorreu em apenas três ocasiões – em Varsóvia, Paris e Eslováquia, no final do verão europeu de 1944. Nas três ocasiões os resistentes sabiam que as forças Aliadas estavam próximas. Em toda a Europa sob domínio nazista foram muito frequentes os casos de ajuda por parte de judeus a seus correligionários “em perigo ou em fuga”, de salvamento de crianças, de proteção aos que se escondiam. E, enquanto aumentavam os esforços nazistas para erradicar os judeus da História, dia após dia eles registravam a vida sob ocupação nazista, inclusive nos campos de concentração. Escrever era uma forma de resistir, era deixar a prova dos crimes nazistas. Na Polônia, trancafiados em guetos, isolados e sem qualquer meio de comunicação com o exterior, os judeus criaram uma ativa resistência civil, entre outras, organizações assistenciais, religiosas e educacionais clandestinas. E conseguiram realizar levantes armados em cinco dos principais guetos, em 45 dos menores, em cinco campos de concentração e extermínio, e em 18 campos de trabalhos forçados. A fuga era uma maneira de resistir. Mas, mesmo quando os judeus tinham os meios e a oportunidade, as dificuldades eram enormes. A pergunta era “para onde ir? ”. Praticamente nenhum país lhes abrira suas portas. Os que tiveram tempo de escapar para outros países da Europa não foram rápido ou longe o suficiente; judeus alemães e austríacos foram capturados na França, Bélgica e assim por diante. Sem ajuda era quase impossível se esconder, e sobreviver. A população não judaica muitas vezes era hostil; no melhor dos casos, indiferente a eles e à sua sorte. Em sua caça aos judeus, os nazistas contavam com a ajuda entusiasmada de ucranianos, lituanos e poloneses. E aquele que decidisse ajudar um judeu, sabia que, se descoberto, seria executado. Ademais, qualquer tipo de resistência por parte de uma nacionalidade qualquer era fortemente inibido pela polícia nazista e seus métodos de terror. Porém, aos judeus os nazistas reservavam um “tratamento especial”. A punição a um não judeu suspeito de um ato de resistência era, em muitos casos, a execução sumária; a tortura era usada para extrair informações. Porém, para um resistente judeu a execução sumária era a melhor opção, pois, via de regra, ele devia “ser morto da maneira que mais conduzisse à disciplina e que impedisse qualquer outro tipo de resistência”. O sadismo nazista não teve limites. No Leste da Europa, os resistentes judeus eram esfolados, queimados vivos, jovens judias recebiam injeções de veneno que provocavam espasmos musculares antes da morte. Em Minsk, o comandante das SS cegava os judeus capturados com ferro em brasa e os enviava de volta para seus companheiros, como um “alerta”. Mas, acima de tudo, a resistência era inibida pela política alemã de “responsabilidade coletiva”. Essa tática de retaliação atribuía a responsabilidade a famílias, até a comunidades inteiras por atos individuais de resistência. No caso judaico, a retribuição podia atingir todos os habitantes de um gueto. Caso um judeu fosse encontrado fugindo, de posse de um rádio, um telefone ou uma arma, dezenas ou até centenas de judeus eram assassinados em represália. E, na eventualidade de um judeu ferir ou matar um alemão, os números chegavam a milhares. Portanto, a pergunta a ser feita é “como pôde haver uma resistência? ”. NA EUROPA OCIDENTAL. Nos países da Europa Ocidental são muitos os exemplos de resistência judaica – individual e organizada, civil e armada. Na França, por exemplo, às vésperas da eclosão da 2ª Guerra, quando as autoridades francesas anunciaram que evacuariam crianças francesas de Paris, os líderes dos Éclaireurs Israélites, (Escoteiros Judeus) organizaram a saída das crianças judias das famílias de imigrantes e montaram lares de infância coletivos no sul da França. Os Éclaireurs Israélites e outros movimentos judaicos juvenis tiveram papel crucial quando a perseguição ativa aos judeus chega ao país. Por toda a Europa havia judeus engajados em ajudar seus correligionários “em perigo ou em fuga”. A partir da França, a entidade judaica Oeuvre de Secours aux Enfants (OSE), adotando o lema “Il faut sauver les enfants! ” (É preciso salvar as crianças), organizou uma rede clandestina de resgate de crianças judias de toda Europa, que ficou conhecida como Circuit Garel. A OSE os transportava para o sul da França, acomodando-os em lares e orfanatos. Em 1943, com a intensificação das deportações, conseguiram contrabandeá-las para a Suíça. Como mencionamos acima, milhares de judeus combateram nas fileiras dos movimentos nacionais de resistência na França, Bélgica, Itália, Iugoslávia, Grécia e Eslováquia. Na França, foi grande o número de judeus na Resistência Francesa, La Résistance. Muitos inclusive ocuparam posições de liderança. Um dos grupos da Résistance era a Armée Juive (Exército Judeu), que operava no sul da França. Quando os britânicos criaram a Special Operations Executive (SOE) para espionar os inimigos e organizar os movimentos de resistência, entre os agentes de campo infiltrados atrás das linhas alemãs havia muitos judeus, principalmente mulheres. Na Grécia, o rabino Barzilai e os líderes comunitários que faziam parte do Judenrat de Atenas decidiram não atender nenhuma exigência nazista e agiram rapidamente. Foram queimadas todas as informações sobre a comunidade, o rabino raspou a barba, juntando-se aos partisans nas montanhas e incentivando todos os judeus a fugir. Entre os que se juntaram aos partisans gregos, destacam-se 40 indivíduos integrantes do grupo que explodiu a ponte da principal ferrovia, ligando o norte ao sul da Grécia. A RESISTÊNCIA NÃO ARMADA NO LESTE EUROPEU. Os guetos no Leste Europeu eram centros de morte lenta. Os judeus morriam de fome e de frio, pois a quantidade oficial de alimentos e combustível que os nazistas destinavam a eles era ínfima e constantemente reduzida. Morriam nas ruas por nenhum motivo além de serem judeus. Em Varsóvia, a taxa de mortalidade chegou a mil por semana. Os judeus procuraram resistir à política nazista de inanição e desumanização. No início do seu confinamento – quando ninguém podia sequer imaginar a possibilidade de um extermínio em massa ou de câmaras de gás – a preocupação girava em volta da sobrevivência física, moral e espiritual. Na maioria dos guetos maiores, uma “comunidade paralela”, uma rede de organizações sócias, assistências, e políticas underground, incluindo movimentos juvenis, passou a funcionar. Seus líderes haviam saído das fileiras das instituições judaicas, dos movimentos juvenis sionistas e dos partidos de esquerda do pré-guerra. Alimentos, mercadorias e medicamentos eram contrabandeados para dentro dos muros do gueto, muitas vezes por crianças. Era o contrabando que mantinha o gueto vivo. A “comunidade paralela” criou refeitórios, orfanatos, clínicas e abrigos para refugiados e os mais pobres. Organizava ensino clandestino e atividades culturais. Em Varsóvia, os “comitês das residências” atuavam para cuidar dos que moravam em seus complexos habitacionais. Em muitos casos, as atividades sociais davam cobertura a movimentos políticos ilegais. Sendo a prática da religião judaica proibida, uma resistência religiosa entra em ação para ajudar os judeus a observarem leis e feriados religiosos. Em casa de orações clandestinas havia diariamente minyanim; apenas em Varsóvia eram cerca de 600. Os rabinos continuavam a lecionar, a escrever comentários, a realizar casamentos, Brit milotBar Mitzvás. Jovens continuaram a estudar em yeshivot clandestinas. Os médicos judeus não tinham acesso a medicamentos para salvar os doentes já enfraquecidos pela fome. Ao se dar conta de que a guerra contra a fome estava perdida, passaram a estudar os efeitos da inanição em seu próprio corpo e nos cadáveres. Suas conclusões foram publicadas após a guerra, em Paris. Sob domínio nazista era “ilegal” que os judeus possuíssem rádio, telefone ou que publicassem um jornal. No entanto, a maioria dos grupos políticos clandestinos lutava contra o isolamento judaico publicando jornais e boletins clandestinos. As notícias eram compiladas de transmissões soviéticas ou da BBC, em rádios escondidos. Muitos, judeus e não judeus, registram a vida sob julgo nazista, mas os arquivos mais completos foram coletados pelo grupo “Oyneg Shabbes “, fundado em Varsóvia pelo historiador Emanuel Ringelblum (1900-1944). As palavras de ordem de Ringelblum eram “reunir material, juntar impressões e registrá-las, imediatamente”. Ele acreditava que os arquivos permitiriam ao mundo pós-guerra ouvir as vozes dos que foram silenciados. Eram registros dos crimes cometidos pelos nazistas, e da vida, e morte dos judeus no gueto de Varsóvia e no resto da Polônia. Um parêntese precisa ser aberto a respeito dos Judenrats, os Conselhos Judaicos criados pelos nazistas para executarem suas ordens. As atitudes de vários desses Conselhos são até hoje questionadas e criticadas, mas não cabe aqui analisar suas ações ou razões. Porém, é preciso ressaltar que muitos foram forçados a assumir o cargo, sob pena de morte, e que os Conselhos eram impotentes frente aos nazistas. Suas tentativas de aliviar as condições de vida nos guetos raramente tinham sucesso. O PONTO DE INFLEXÃO. A operação Barbarossa, a invasão da União Soviética iniciada em junho de 1941, marcou o ponto de inflexão da política alemã em relação aos judeus. Com a invasão, dá-se início à matança rápida e indiscriminada de todo e qualquer judeu, independente de idade ou sexo. Crianças de colo não eram poupadas. A velocidade, e sigilo e ardis usados pelos alemães e seus colaboradores eram essenciais para o “bom andamento das operações”. Quando havia qualquer tipo de resistência, esta era brutal e imediatamente silenciada. Dia após dia, cidade após cidade, os nazistas destruíram sistematicamente comunidades judaicas inteiras. Não foram poucas as vezes em que foram “ajudados” pela população local. Os alemães sabiam e exploraram ao máximo o antissemitismo reinante no Leste europeu. Apesar do esforço alemão para manter a “Solução Final” em sigilo absoluto, alguns judeus rastejaram com vida das valas onde os nazistas os havia jogado junto com centenas de outros que haviam sido mortos a tiro. Eles revelavam aos judeus que os encontraram “o crime sem nome” que vivenciaram. A princípio, a maioria dos líderes dos movimentos judaicos clandestinos receberam os relatos dos assassinatos em massa com ceticismo; os que acreditaram não conseguiram interpretar o verdadeiro alcance dos acontecimentos. Em 1942, os testemunhos de judeus que haviam fugido de campos de extermínio fizeram-nos estremecer. A resistência polonesa também alertara seus contatos em Varsóvia sobre o que acontecia com os judeus em Treblinka. Um dos membros do Bund é então enviado para investigar, e volta com a confirmação de que se tratava de um campo de morte, onde os judeus eram assassinados em câmaras de gás. Outros couriers, foram despachados paraaveriguar e repassar as informações. Eles também voltam com a confirmação dos massacres. Esses jovens, em sua maioria mulheres, haviam criado uma rede de comunicação para conectar vários guetos. Com documentos falsos viajavam por toda a Polônia levando informações, jornais clandestinos e dinheiro; compravam e contrabandeavam armas para dentro dos guetos e organizavam rotas de fuga. Ao receber confirmação dos assassinatos em massa e das câmaras de gás, as lideranças compreenderam a realidade da “Solução Final”. Perceberam que para evitar uma revolta em massa, os judeus eram ludibriados de forma a pensar que apenas estavam sendo levados a campos de trabalho. Os nazistas eram “ajudados” pela tendência do ser humano de racionalizar e de negar o pior. “Por que os nazistas nos matariam se podiam explorar nossa mão de obra? Vamos trabalhar nas piores condições possíveis, como escravos, mas vamos sobreviver”. Para os movimentos clandestinos, a estratégia de não-provocação até então adotada, facilitava os planos dos nazistas. Decidiram que era imprescindível convencer outros judeus a resistir às deportações, convencendo-os de que eram o passo inicial para a liquidação judaica. E decidiram que era preciso enviar as informações para os Aliados, na esperança de que algo fosse feito em seu socorro. Iludiam-se pensando que a falta de ajuda decorria da falta de conhecimento (...). RESISTÊNCIA ARMADA. Vimos acima que a ferramenta nazista mais potente contra a resistência era a tática da “responsabilidade coletiva”. A pessoa podia estar decidida a lutar, a enfrentar a tortura e a morte. Mas estaria preparado para ver que suas decisões levaram os nazistas a assassinar seus familiares, seus amigos, quem sabe, o gueto inteiro? Os inimigos eram implacáveis e as represálias, selvagens. E, o crime supremo – matar um alemão – era vingado com rios de sangue judaico. Os exemplos não terminam. Em Dolhyhnov, próximo a Vilna, toda a população do gueto foi assassinada após a fuga de dois meninos que se recusaram a voltar atrás. Em Bialystok os alemães atiraram em 120 judeus, em plena rua do gueto, após um judeu ter matado um policial alemão, e ameaçaram destruir o gueto inteiro se ele não se rendesse – o que acabou acontecendo (...). Os movimentos juvenis e os partidos de esquerda e o Judenrat – que diferiam em muitos assuntos – estavam de acordo em que uma resistência armada só poderia acabar em morte para os judeus. E, enquanto houvesse a possibilidade de sobrevivência, ainda que para uma minoria, teriam que aguardar. Mas eles se preparariam (...). Em 1942 são criadas organizações de resistência armada. A primeira delas, a FPO, Organização dos Partisans Unidos, foi formada em Vilna. Um de seus comandantes, o poeta Abba Kovner, foi um dos primeiros a entender as intenções nazistas. Num discurso inflamado em uma reunião underground, Kovner conclama seus irmãos, judeus, a resistir. “Não acredite naqueles que pretendem enganar-nos (...). O plano de Adolf Hitler (1889-1945) é eliminar todos os judeus da Europa. É melhor cair como guerreiros do que viver à mercê dos assassinos. Levantem-se! Ergam-se com suas últimas forças” O ZOB (Zydowska Organizacja Bojowa, Organização de Combatentes Judeus, em polonês) deu seus primeiros passos em Varsóvia, em 1942, após a Grande Deportação. Esse movimento de resistência seria decisivo na organização do Levante do Gueto de Varsóvia. A finalidade e velocidade da Solução Final deixava duas opções aos grupos de resistência – que sobreviveram às deportações: organizar fugas em massa ou ficar nos guetos e lutar. Os que optaram pela fuga, procuraram abrigo nas florestas. Alguns juntaram-se às unidades de partisans soviéticos, outros conseguiram formar grupos separados. Mas, muitos morreram de fome ou pelas mãos de partisans ou camponeses poloneses: o ódio da população em relação aos judeus era mais forte do que o ódio que nutriam pelos alemães. A situação dos que ficaram para lutar era desesperadora e o tempo corria contra eles. Rodeados por uma força militar alemã treinada e equipada estavam em inferioridade numérica e seu “armamento” era irrisório; e era extremamente difícil e perigoso obter armas. Os combatentes judeus não recebiam armas, alimentos ou remédios “caídos dos céus”, jogados pelos Aliados, como os demais grupos de resistência. Os couriers ou os judeus que viviam no lado “ariano” tinham que comprar ou roubar armas, e contrabandeá-las para dentro dos guetos sem serem detectados. No entanto, estavam preparados para lutar e morrer; sua honra e a honra do Povo Judeu estavam em jogo. Sabiam que não sobreviveriam, mas “por que não resistir quando a alternativa era a morte em momento e local escolhidos pelos nazistas? escreveu um dos combatentes do Levante do Gueto de Varsóvia, “Estamos sendo impelidos pelo desespero aliado ao desejo de vingança. Nossos familiares foram abatidos como gado e atirados em covas sem nome. O simples pensamento de dar um fim à vida de alguns alemães, que fosse, já é um poderoso incentivo”. Nos guetos maiores, os combatentes das organizações clandestinas sabiam que não podiam contar, de modo geral, com o apoio dos Judenrat, nem com a população geral do gueto. Muitos líderes desses conselhos eram ambivalentes quanto a ajudar a resistência porque esperavam que a maior parte da população do gueto pudesse ser salva com seu trabalho, e viam a rebelião armada como um plano suicida. Apenas em Kovno e Minsk, os líderes do Judenrat cooperaram com o movimento clandestino. A resistência mais bem-sucedida, uma fuga em massa, ocorreu em Minsk. Entre 6 mil a 10 mil judeus fugiram para as densas matas, e alguns milhares sobreviveram até o final da guerra. Em muitos guetos menores, nos territórios ocupados no leste da Polônia e da então URSS, os membros dos Judenrat eram atuantes no movimento ou cooperavam com a resistência. Em muitos desses guetos irromperam revoltas espontâneas durante sua liquidação final. O exemplo mais famoso e dramático de resistência judaica armada durante o Holocausto foi o Levante do Gueto de Varsóvia, em abril e maio de 1943, que assumiu um significado muito além da revolta em si. Tornou-se um momento decisivo na História Judaica, como reconheceu Mordechai Anielewicz, líder da ZOB, ao escrever sua derradeira carta duas semanas antes de sua morte. REVOLTA NOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO. Durante a Guerra, no período de 1939-1945, milhões de pessoas passaram por uma extensa rede de milhares de diferentes campos erguidos na Alemanha e nos países europeus ocupados por esse poder. Acredita-se que 5,7 milhões de judeus, entre homens, mulheres e crianças foram mortos nos campos nazistas. A maioria foi envenenada por gás Zyklon-B logo após sua chegada em um dos seis campos de extermínio estabelecidos em território polonês: Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz-Birkenau e Majdanek. A atmosfera de total terror e isolamento, nos campos, bem como a inanição crônica da maioria dos prisioneiros inibiram completamente sua vontade e suas possibilidades de resistir. A rotina diária nos campos era organizada de forma brutal. Incluía um sistema elaborado de duros castigos pelas menores “infrações”, vigilância acirrada e intermináveis chamadas para a contagem dos prisioneiros. Cercas de arame farpado e de alta voltagem, cães selvagens amestrados e torres de segurança deixavam pouca esperança de fuga. Quem tentava resistir ou fugir era morto de imediato. Mas, apesar desses enormes obstáculos, houve vários atos de resistência em diversos campos. Mesmo nos de extermínio, à sombra das câmaras de gás e crematórios, os judeus encontraram formas de resistir a seus opressores: lutar contra a desumanização. Havia tentativas organizadas pelos movimentos clandestinos para informar ao mundo a brutalidade nazista, as cruéis condições físicas e a sistemática aniquilação de judeus nesses campos do inferno. Os judeus rezavam, acendiam velas de Chanucá; um par de tefilin era um bem precioso (...). Três levantes corajosos e ousados ocorreram nos centros de morte de Treblinka, Sobibor e Auschwitz-Birkenau. De forma semelhante às rebeliões nos guetos, as revoltas organizadas nesses centros, onde a humanidade chegou ao seu nível mais baixo, surgiam do puro desespero e desesperança. Yehuda Bauer (1926-  ), Professor Emérito de História e Estudos do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, e Consultor Acadêmico no Yad Vashem, é um dos historiadores e pesquisadores que, em seu livro Rethinking the Holocaust (“Repensando o Holocausto”), respondeu à pergunta: “Por que os judeus não resistiram? ”. Ele escreveu: “A análise sobre a reação ativa judaica à opressão nazista poderia resumir-se de maneira quase triunfalista: havia uma resistência não armada, havia a santificação da vida, havia a resistência armada (...). Ao se revoltar contra o regime hitlerista, que visava exterminar toda a população judaica, os judeus não se envolveram em um ato de heroísmo. Eles simplesmente quiseram preservar a substância moral e material de nosso povo. Seu sucesso lhes garantiu a imortalidade”. www.morasha.com.br. Abraço. Davi

quarta-feira, 28 de março de 2018

SOMOS ETERNOS


Rosa Cruz. www.fraternidaderosacruz.org. Livreto Introdutório aos Ensinamentos da Sabedoria do Ocidente. Texto de Max Heindel (1865-1919).  SOMOS ETERNOS. “Numa nuvem tormentosa sibilando; na asa de Zéfiro, O coro do espírito canta os hinos sacros do mundo, alegremente Escuta! Ouve suas vozes: "Pelas portas da morte nós passamos, a Morte não existe; alegrai-vos a vida continua eternamente". Somos, sempre fomos e sempre o seremos. Somos uma parte da Eternidade, Mais velha que a Criação, a parte de Um Grande Todo, Cada Alma é Individual, na sua imortalidade. No tear farfalhante do Tempo, nossa roupagem formamos, A rede do Pensamento urdidos eternamente; O que é modelada na Terra, é no céu que planejamos E ao nascer, nossa raça e nossa pátria, já as trazemos na mente. Brilhamos em uma joia e sobre a onda dançamos e cintilamos em pleno fogo, a tumba desafiamos através de formas várias em tamanho, gênero e nome A essência individual é a mesma, é a que sempre carregamos. E quando alcançarmos o mais elevado grau, 29 A gradação do crescer com nossas mentes relembraremos para que, elo por elo, possamos juntá-los todos E passo a passo tragar o caminho que percorremos. Com o tempo saberemos, o que realmente foi feito O que eleva e enobrece, o certo e a verdade Sem malicia com ninguém, sempre agindo com bondade, Em e através de nós, a Deus será feita a Vontade”. Aventuramo-nos a dizer que há somente um pecado: a ignorância; e só uma salvação: o conhecimento aplicado. Ainda o mais sábio dentre nós sabe muito pouco de tudo quanto se pode aprender, e ninguém alcançou a perfeição, nem esta pode ser conseguida numa só e curta vida. Mas observamos que tudo na Natureza tende a se desenvolver lenta e persistentemente, procurando alcançar estados cada vez mais elevados; a esse processo chamamos de Evolução. Uma das principais características da evolução está no fato de que ela se manifesta em períodos alternados de atividade e repouso. O ativo verão, no qual todas as coisas sobre a Terra se multiplicam e procriam, é seguido pelo descanso e a inatividade do inverno. As atividades do dia alternam-se com a quietude da noite. O fluxo dos oceanos é seguido pelo refluxo das marés. Assim, como todas as coisas se movem em ciclos, não é razoável supor-se que a vida, que se manifesta sobre a Terra durante uns poucos anos, se acabe, quando a Morte chega, mas que tão seguramente como o Sol reaparece pela manhã, depois de ter-se ocultado ao chegar a noite, também a vida que terminou com a morte de um corpo há de manifestar-se outra vez num novo veículo e num ambiente diferente. Nossa Terra pode ser comparada a uma Escola a qual voltamos, vida após vida, para aprender novas lições, da mesma forma que nossos filhos vão à escola, dia após dia, para aumentar seus conhecimentos. A criança dorme durante a noite que medeia entre dois dias de escola, e o espírito também tem seu descanso da vida ativa entre a morte e um novo nascimento. Há, também, diferentes classes nesta escola do mundo, que correspondem aos diferentes graus, desde o jardim de infância até a Universidade. Nas classes inferiores encontramos Espíritos que só frequentaram a Escola da Vida poucas vezes; estes são os atuais selvagens, mas com o tempo, far-se-ão mais sábios e melhores do que nós somos agora, e nós mesmos progrediremos em vidas futuras a alturas espirituais que atualmente nem podemos conceber. Se formos aplicados na aprendizagem das lições da vida, progrediremos muito mais depressa nessa escola da vida do que se folgarmos e desperdiçarmos nosso tempo. Isso obedece aos mesmos princípios que governam nossas instituições de ensino. Nós não estamos aqui pelo capricho de Deus. Ele não colocou uns num jardim e outros num deserto, nem tampouco deu a alguns corpos saudáveis, de modo a poderem viver livres de dores e enfermidades, enquanto outros foram colocados em pobres circunstâncias que nunca se vêm livres da dor. Mas o que somos devemos à nossa diligência ou negligência, e o que seremos no futuro dependerá do que queiramos ser, e não do capricho de um Deus ou de um destino inexorável. Não importa quais sejam as circunstâncias; está em nós mesmos o poder de dominá-las, ou seremos dominados por elas, de acordo com a nossa vontade. Sir Edwin Arnold (1832-1904) exprime esta ideia de modo magnífico em seu livro A Luz da Ásia: "Os Livros dizem bem, meus Irmãos a vida de cada homem de sua anterior existência vemos bem o resultado; Trazem dores e misérias os erros que praticaram, trazem bênçãos infinitas, os acertos do passado. Cada um tem sua dignidade, como os mais altivos a tem 30 ao redor, acima e abaixo, com poderes ao dispor, sobre toda a humanidade e sobre tudo o que vive cada um livremente age causando alegria ou dor. Quem labutou, um escravo, como príncipe poderá voltar por virtudes alcançadas e por nobre merecer, quem governou, um rei, em farrapos poderá vagar por todas as coisas que fez e as que deixou de fazer." Ou então, como disse Ella Wheeler Wilcox (1850-1919): "Um barco sai para Leste e para o Oeste um outro sai com o mesmo vento que sopra, numa única direção. E a posição certa das velas e não o sopro do vento que determina, por certo, o caminho em que eles vão. Os caminhos do destino são como os ventos do mar conforme nós navegamos ao longo e através da vida. É a ação da alma que a meta nos vai levar e não a calmaria ou o constante lutar." Quando queremos que alguém se encarregue de uma determinada missão, escolhemos uma pessoa que nos pareça particularmente capacitada para cumpri-la e, assim, havemos de supor que um Ser Divino usaria pelo menos o mesmo bom-senso, e não escolheria qualquer um para levar esta mensagem se não estivesse capacitado para isso. Assim, pois, quando lemos na Bíblia que Sansão foi escolhido para destruir os Filisteus, e que Jeremias foi predestinado a ser profeta, é muito lógico supor-se que estavam particularmente aptos para levar a cabo sua missão. João, o Batista, também nasceu para ser o arauto do Salvador que estava para chegar e para pregar o Reino de Deus, que deve ocupar o lugar do reinado dos homens. Se essas pessoas não tivessem recebido uma preparação prévia, como poderiam ter-se desenvolvido para cumprir suas várias missões e, se foram treinadas, de que modo o foram, se não em vidas anteriores? Os judeus acreditavam na Doutrina do Renascimento ou, do contrário, não perguntariam a João, o Batista, se ele era Elias, como está no primeiro Capitulo do Evangelho de são João. Os Apóstolos de Cristo também sustentavam essa crença, como podemos ver pelo incidente relatado no Cap.16 de são Mateus, onde Cristo pergunta-lhes: "Que dizem os homens que Eu, o Filho do Homem, sou?" E os apóstolos responderam: "Alguns dizem que Tu és João Batista, outros que es Elias, e outros que es Jeremias, ou um dos profetas". Nesta ocasião, Cristo assentiu tacitamente com o ensino do Renascimento, porque não corrigiu seus discípulos, como seria seu dever, em sua qualidade de Mestre, se verificasse que seus discípulos tinham uma ideia errônea. Mas a Nicodemos Ele disse inequivocamente: "A não ser que um homem nasça outra vez, não poderá ver o reino de Deus", e no Cap.11 de São Mateus, no versículo 14, disse Cristo, referindo-se a João, o Batista: "Este é Elias". No Cap.17 de São Mateus, no versículo 12, Ele disse: "Elias já veio, e eles não o conheceram, mas fizeram com ele o que quiseram...". "então os discípulos compreenderam que Ele lhes falava de João, o Batista." Assim, pois, nós sustentamos que a Doutrina do Renascimento oferece para o problema da vida a única solução que está em harmonia com as Leis da Natureza, que responde aos requisitos éticos da questão, e nos permite amar a Deus sem anular nossa razão, diante das desigualdades da vida e das circunstâncias diversas que dão comodidade e bem-estar, saúde e riqueza a poucos, enquanto tudo isso é negado a tantos outros. A teoria da hereditariedade, lançada pelos materialistas, aplica-se somente à forma pois, da mesma maneira que um carpinteiro usa material de determinada pilha de madeira para construir uma casa na qual há de viver, também o espírito toma de seus pais a substância com a qual há de construir sua casa. O carpinteiro não poderia construir uma casa resistente e durável usando madeira imprópria; e da mesma maneira, o espírito só pode construir um corpo semelhante ao daqueles de quem tirou o material. Mas a teoria da hereditariedade não se aplica ao plano moral, pois é fato notório que nas galerias dos criminosos da América e da Europa não há um caso em que estejam juntos pai e filho. Assim, embora os filhos dos criminosos tenham herdado tendências para o crime, podem manter-se fora das malhas da Lei. A hereditariedade também não é vitoriosa no plano intelectual, porque podem ser citados muitos casos em que um gênio e um idiota saem da mesma origem. O grande Cuvier, cujo cérebro era aproximadamente da mesma capacidade do de Daniel Webster (1782-1852) e cujo intelecto foi igualmente grande, teve cinco filhos que morreram de paralisia geral. O irmão de Alexandre, o Grande, foi um idiota; em suma, nos sustentamos que deve ser encontrada outra solução que possa esclarecer esses fatos da vida. A Lei do Renascimento, junto com sua companheira, a Lei da Causa, explicam tais fatos satisfatoriamente. Depois de morrermos, após uma vida, tornamos a voltar mais tarde a Terra, sob circunstâncias determinadas pelo modo pelo qual vivemos antes. O jogador é atraído para os cassinos e para os hipódromos, para associar-se a outros de igual gosto; o músico é atraído para as salas de concertos e conservatórios, para Espíritos que lhe são afins, e o Ego que volta traz consigo os gostos e aversões que o obrigam a procurar seus pais entre aqueles da classe a que ele pertence. Mas alguém pode nos apontar agora casos em que se encontram juntas pessoas de gostos inteiramente diversos, vivendo vidas torturadas, pelo fato de se verem agrupadas na mesma família, forçadas pelas circunstâncias a permanecerem ali contra a sua vontade. Isso, porém, não invalida a Lei, de modo algum. Em cada vida contraímos certas obrigações que não podemos cumprir na ocasião. Talvez tenhamos fugido a um dever como, por exemplo, o de atender a um parente inválido, e a morte chegou antes de termos a compreensão desse nosso erro. Esse parente, por sua vez, pode ter sofrido muito por nossa negligência e armazenou contra nós uma grande dose de amargura, antes que a morte terminasse o seu sofrimento. A morte, e a consequente mudança para outro ambiente, não liquida nossas dívidas desta vida, assim como a mudança de uma cidade na qual vivemos atualmente não liquida as dívidas que tenhamos contraído antes da mudança. É, portanto, perfeitamente possível que aqueles dois que se prejudicaram mutuamente, como descrevemos, venham a ser reunidos como membros de uma mesma família. Então, mesmo que não se lembrem do mal que fizeram, a antiga inimizade se manifestará e fará com que se odeiem novamente, até que a aflição resultante os obrigue a se tolerarem mutuamente e, por fim, talvez, aprendam a se amar, em vez de se odiarem. Na mente do pesquisador também se apresenta essa pergunta: Seja estivemos aqui antes, por que não nos lembramos disso? Mas a essa pergunta podemos responder que, embora a maioria das pessoas não seja consciente do modo pelo qual passaram suas vidas anteriores, outras há que tem nítida lembrança de suas vidas passadas. Uma amiga do autor, por exemplo, quando vivia na França, começou, certo dia, a descrever a seu filho coisas a respeito de uma certa cidade na qual iam fazer uma excursão de bicicleta, e o menino exclamou: "Mãe, não precisa me dizer nada disso; eu conheço essa cidade, porque nela vivi, e nela me mataram". E começou a descrever a cidade, falando de certa ponte. Posteriormente, o rapaz levou a mãe até essa ponte e mostrou-lhe o lugar onde havia encontrado a morte há alguns séculos. Outra amiga, por ocasião de uma viagem a Irlanda, viu uma cena que reconheceu, e também descreveu aos companheiros uma paisagem que seria vista atrás de uma volta do caminho, que ela nunca havia visto antes nesta vida; assim, é preciso admitir que ela havia conservado a memória de uma vida anterior. Inúmeros outros exemplos poderiam ser citados, nos quais essas minúcias de memória e vislumbres repentinos revelam-nos fatos de uma vida anterior. O caso comprovado, no qual uma menina de três anos de idade, em Santa Bárbara, descreveu sua vida e sua morte já foi relatado no Conceito Rosacruz do Cosmos. Esta é, talvez, a evidência mais positiva, pois se baseia na narração de uma menina demasiado pequena para que pudesse ter aprendido a mentir. Porém, essa teoria da vida não repousa em mera especulação. Este é um dos primeiros fatos da vida demonstrados ao discípulo de uma Escola de Mistérios. Ensina-o a observar uma criança a hora da morte, e depois de observá-la no mundo invisível dia após dia, até que ela volte a renascer um ou dois anos mais tarde. Então, ele sabe com absoluta certeza que nós voltaremos a Terra, para colher numa vida futura o que semeamos agora. A razão de escolher-se uma criança de preferência a um adulto é porque a criança renasce muito rapidamente, pois sua curta vida na Terra deu muito poucos frutos, e estes são logo assimilados, enquanto o adulto, que viveu uma longa vida e tinha muita experiência, permanece nos mundos invisíveis por séculos, de modo que o discípulo não poderia observá-lo desde a morte até o renascimento. A causa da mortalidade infantil será explicada posteriormente. Por enquanto, só queremos deixar bem assentado o fato de que está dentro das possibilidades de cada homem, sem exceção, tornar-se capaz de chegar ao conhecimento direto daquilo que aqui estamos ensinando. O intervalo médio entre duas vidas terrestres é de cerca de mil anos. Isto é determinado pelo movimento do Sol, chamado pelos astrônomos de precessão dos equinócios, movimento pelo qual o Sol se move através de cada um dos Signos do Zodíaco cerca de 2.100 anos aproximadamente. Durante esse tempo, as condições sobre a Terra terão mudado de tal maneira que o Espírito encontrará aqui experiências inteiramente novas e por isso voltará. Os Grandes Guias da Evolução sempre conseguem o máximo benefício através das condições que Eles planejam e, como as experiências nas mesmas condições sociais são muito diferentes para o homem e para a mulher, o Espírito Humano renasce duas vezes durante os 2.100 anos medidos pela precessão dos equinócios acima mencionada, nascendo uma vez como homem e outra como mulher. Esta é a regra, mas ela está sujeita às modificações que sejam necessárias a fim de facilitar a ceifar aquilo que o Espírito semeou, como requer a Lei da Causa, que atua em conjunto com a Lei do Renascimento. Desse modo, um espírito pode ser levado a renascer muito tempo antes que haja expirado os mil anos, a fim de cumprir certa missão, ou pode ser retido nos mundos invisíveis até depois do tempo em que deveria renascer, se essa lei fosse uma lei cega. Mas as Leis da Natureza não são cegas. São Grandes Inteligências que sempre subordinam as considerações de menor importância aos fins superiores, e sob sua benéfica orientação estamos progredindo constantemente, vida após vida, nas condições exatamente adaptadas a cada indivíduo, até que, com o tempo, alcancemos uma evolução mais elevada e nos convertamos em Super homens. Oliver Wendel Holmes (1809-1894) expressou tão magistralmente esta aspiração e sua realização nestas linhas: "Oh! Minh'alma, constrói para ti mansões mais majestosas, enquanto as estações passam ligeiramente! Abandona o teu invólucro finalmente; Deixa cada novo templo, mais nobre que o anterior com cúpula celeste, com domo bem maior, e que te libertes, decidida, largando tua concha superada nos agitados mares desta vida." Da obra “Mistérios Rosacruzes”, Cap. II, Max Heindel. Ed. Pensamento. Livro imprescindível na compreensão da Fraternidade Rosacruz, Escola Preparatória para a Ordem Rosacruz, a Escola de Mistérios do Ocidente Nos anos 1907-1908, após ser testado em sinceridade de propósitos, desprendimento e desejo de servir a humanidade, Max Heindel foi escolhido pelos Irmãos da Rosa Cruz para divulgar publicamente os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que ajudariam a preparar a humanidade para a próxima Era de Fraternidade Universal. Através de intensa autodisciplina e devoção ao serviço, conquistou o grau de Irmão Leigo ( Iniciado ) na augusta Ordem Rosacruz, a Escola de Mistérios do Mundo Ocidental. A LEI DIVINA E NOSSAS NECESSIDADES COTIDIANAS. A LEI de consequência ou de Causa e Efeito é, sem dúvida alguma, a mais fundamental das leis no destino humano. Convém lembrar, todavia, que não é uma lei estática. Frequentemente a utilizamos para acionar novas causas que irão criar novo destino para equilibrar e melhorar o antigo destino que trouxemos do passado. A Lei de Consequência está intimamente ligada à Lei do Renascimento, chamada também como de Lei da Reencarnação. Todos nós já vivemos, no passado, muitas outras vidas na Terra, e haveremos, no futuro, de viver muitas outras ainda. Em cada uma delas pusemos em ação diversas causas, algumas das quais só efeitos. Tais efeitos são denominados dívidas do destino. Assim é que estamos pagando débitos e colhendo prêmios do passado. É a isso que damos o nome de destino mau ou bom. Cabe nos compreender desde logo, que "caráter é destino". Destino é reflexo de caráter. Nosso meio ambiente é um espelho no qual vemos o nosso caráter refletido. Não obstante, existe uma exceção a essa regra geral. É que em nosso último renascimento pudemos certamente haver-nos reformado de tal sorte que agora possuímos o que se pode chamar de um bom caráter, embora possamos continuar tendo sofrimentos e dívidas na presente existência, apesar de havermos remodelado nossa índole. Isto se deve ao fato de termos trazido débitos anteriores, os quais estamos pagando, e, como é do conhecimento geral, quando alguém resgata o que deve, considera, geralmente, que tal processo é restritivo, limitado e desagradável. Tem, contudo, o consolo de saber que as dívidas, uma vez quitadas, não mais podem ser pagas outra vez, ficando, portanto, livre delas por todas as vidas futuras. As tendências de caráter que mais frequentemente causam mal destino são: a cólera, o temor, o orgulho, o ódio, a vingança, a sensualidade, o egoísmo, a inveja e a intolerância. Por conseguinte, a primeira coisa a fazer é analisar nossos pensamentos habituais e ver se mostram algumas dessas tendências, ainda que seja em pequena escala. Se assim acontece, comecemos imediatamente a trabalhar para eliminá-las. Os dois meios principais para obtê-los são uma mudança de pensamentos e de ação, especialmente para com as demais pessoas. O "pensamento" é o primordial, e se corrigirmos veremos quase automaticamente que nosso modo de agir está de acordo com esse pensamento. Isto nos leva a um fator mais importante da situação, ou seja, o PODER CRIADOR DO PENSAMENTO. Este poder é o fator mais potente e fundamental da vida humana. O ditado, segundo o qual "os pensamentos são coisas tangíveis" quase palpáveis, é uma verdade incontestável. Cada vez que pensamos em algo criamos uma forma de pensamento que se pode converter em uma força vivente. Flutuam em redor de nós, em nossa aura, e se torna parte de nossa atmosfera mental, por consequência, integrante de nossa própria vida. O passo seguinte é a atividade do pensamento criador que se reveste da substância do desejo e da emoção. Isso apresenta dois efeitos: primeiro, que pode conduzir-nos à ação correspondente; segundo, as formas de pensamento que não são acionadas de imediato se armazenam na memória como normas para uso futuro. Temos-lhes acesso a qualquer tempo. Podem, portanto, surgir como realidades físicas em nosso meio ambiente, tornando o bom ou mau, conforme o pensamento que as criou. Assim, se você deseja mudar a atmosfera em que vive e sua sorte, "mude seus pensamentos". Desse modo você estará elaborando para si mesmo um novo e melhor destino que oportunamente surgirá e se manifestará de forma melhor ou de meio abundante e capaz de suprir as necessidades de sua existência. Os desejos destrutivos, como sejam, a cólera, a vingança, o ódio, o ressentimento, principalmente a cólera e o egoísmo, desfiguram e destroem as boas formas de pensamento que tenhamos formado previamente, retardando-se, desse modo, sua materialização. Quando nos deixamos arrastar pela cólera ou pela vingança, por exemplo, dissipando alguma edificante criação mental, a configuração da correspondente forma de pensamento deve esforçar-se no sentido de uma restauração para concretizar o bem que anelamos, cuja marcha fora interrompida. Isso demanda tempo e faz retardar o período em que possa ocorrer uma mudança favorável em nossa vida, em nossa situação e em nosso ambiente geral. Veja, então, a grande importância de vigiar nossos pensamentos e emoções. Alguns perguntarão: "Como possa evitar os maus pensamentos e desejos, mantendo-os distantes de minha mente?" De fato, às vezes parece impossível evitar que se infiltrem em nós, mas a resposta é "substituição de pensamentos". Esta prática se funda no fato de que dois pensamentos não podem ocupar ao mesmo tempo a mente, à semelhança daquele princípio de física que diz que dois corpos não podem simultaneamente ocupar o mesmo espaço. Quando você se sentir perturbado por maus pensamentos de qualquer índole, "substitua-os" simplesmente "por outros" e concentre -se nestes tão positivamente que o pensamento ruim ali não possa penetrar. É muito simples e requer apenas prática para comprovar a singeleza do tratamento. Os maus desejos são excluídos da mente pelo mesmo processo. O PODER INTERNO – A existência desse poder é o próximo e mais importante ponto a considerar. Isso é algo acerca do qual os homens em sua maioria não possuem o mínimo conhecimento, de cuja realidade sequer suspeitam. Não obstante, o PODER INTERNO é um estupendo fator na vida humana e sobre ele se apóia o êxito na vida. O PODER INTERNO é o Ego, o Espírito, o Eu Superior, a Vida que vem de Deus e o poder essencial que mantém o homem ativo. O PODER INTERNO é o Deus Interno, e o Deus Interno é parte do Deus Externo, o DEUS do Universo. O PODER INTERNO é o traço pessoal que nos une a Deus. Para tanto, reflita quão poderoso é este Eu Superior. É "Onipotente", porque é parte do DEUS do Universo. Esta onipotência, contudo, está mais ou menos, latente na humanidade de hoje. É função da evolução desenvolver e converter numa positiva e dinâmica onipotência. Eis o que gradativamente estamos aprendendo a fazer em nossa vida diária e por meio de sucessivos renascimentos. Este Poder Interno afeta a personalidade e a vida cotidiana da seguinte maneira: O Deus Interno que é onipotente e possuidor ao mesmo tempo de toda sabedoria, está de contínuo enviando mensagem à mente consciente em forma de intuições, inspirações e idéias originais. Elas nos dizem o que nosso Eu Superior, em sua sabedora, deseja que façamos. Se seguirmos essas sugestões e as praticarmos, os resultados em nossa vida serão construtivos. O fracasso se transformará em vitória, os obstáculos que se apresentam desaparecerão aos poucos e veremos que tudo começa a atuar conjuntamente para o bem e para o êxito em todas as coisas da vida. Se não fizermos caso das intuições do Poder Interno e seguirmos nossos desejos inferiores, bem como as extraviadas inclinações da personalidade, observaremos que nossas dificuldades aumentarão e nossa caminhada pela vida será mais árdua. Vemos quão importante é estar alerta para captar as ideias e intuições do Poder Interno e pô-las em execução. Essas mensagens podem perceber-se de modo mais efetivo, quando a mente consciente se acalma e, muito em particular, quando estabelece momentos de quietude absoluta para a meditação, a fim de que, uma vez repousada a mente, o Poder Interno possa falar-nos e "nós ouvi-lo". Não obstante, esse Poder nos fala e envia-nos mensagens durante todo o tempo, apesar de estarmos ativos. A Consciência é outra das mensagens do Poder Interno que faríamos bem em obedecer. Se seguíssemos exclusivamente as direções desse Poder, cada vez se tornariam mais claros seus tons, reformando gradualmente nossas vidas e convertendo em sucessos nossos fracassos. Devemos cultivar a crença na existência do Poder Interno e acreditar em sua habilidade para transformar nossas vidas. Esta crença é o cabo, o circuito elétrico que nos põe em contato com o referido Poder. Se estabelecemos nítida ligação entre esse Poder e nossa consciência (mente consciente) os resultados serão melhores porque então o Ego pode emitir suas mensagens com maior limpidez e efetividade. O descrer dessas coisas fundamentais impede a ligação e pode ainda chegar a destruí-la. Então isso nos deixa mais ou menos sem a orientação e a sabedoria do Deus Interno, ficando ao desamparo e expostos a todas as decepções. Veja como a crença nesse Poder é de grande importância. Alguns o chamam FÉ, fé em DEUS; porém, é a mesma coisa, ou seja, fé no Deus Interno e em seu poder, que é parte integrante do DEUS Externo e Sua Onipotência. Se ouvirmos e obedecermos às sugestões e direções que emanam do Poder Interno, o temor e a ansiedade desaparecem por completo e obtemos equilíbrio, fator indispensável para um desfecho feliz. Perdemos todo temor à vida e mesmo à morte. Sabemos que tudo está determinado com sabedoria e que o resultado será BOM. Por estar o Banco Universal amparado pelo Universo jamais poderá falir. Você nunca pode rá perder ou ser iludido em algo que realmente lhe pertence. "Só se realizará a própria vontade". Não há, em hipótese alguma, erros no crédito cósmico, no qual esse Banco se desenvolve e opera. Se seu destino e seu progresso não são o que você gostaria que fossem é sem dúvida porque seu crédito no Banco Universal esgotou-se temporariamente. Neste caso, não há outro remédio senão apressar-se a fazer novos depósitos. Como já dissemos, os depósitos a seu favor se realizam por meio de um trabalho edificante, altruísta e autodisciplinado. Você pode estar certo de que seu empenho nesse sentido logo melhorará grandemente AS OPORTUNIDADES E AS CIRCUNSTÂNCIAS. Veja você como seu destino é criado "por você mesmo", que a sorte e a casualidade são apenas aparentes e que na realidade foram criadas por você no passado. Você está envolto na materialização de seus próprios atos e pensamentos. Vencer tendências indesejáveis e reconstruir e reformar seu caráter, eis o meio mais indicado para efetuar depósitos no BANCO UNIVERSAL. O "provimento universal" do qual falam tão frequentemente os estudantes de Metafísica é simplesmente outro dos nomes do BANCO UNIVERSAL. Muitos estudantes parecem acreditar que podem obter um provimento completo de tudo o que necessitam com o só repetir algumas afirmações. Enganam-se, todavia, quando julgam que podem sacar contra o BANCO sem fazer antes a cobertura necessária. Isto equivale a "procurar obter as coisas gratuitamente". Ninguém deve exigir a concretização de um desejo específico sem antes deixá-lo em mãos do Senhor, que pode atuar sabiamente. Nós não possuímos nem o direito nem a Sua Sabedoria. Porque, se exigirmos a realização de alguns de nossos pensamentos, expomo-nos a equivocar-nos e obter algo que "verdadeiramente" não desejamos. Algumas pessoas não conseguem ter progresso espiritual e material, porque inconsciente ou ignorantemente violam a Lei de Causa e Efeito, a Suprema Lei de DAR E RECEBER. Há, sem dúvida, uma lei cósmica administrada por Forças Invisíveis, segundo a qual para receber é necessário primeiro dar. Compartindo o que possuímos, abrimos o canal que nos permite uma inundação de coisas almejáveis em nossas vidas. CRISTO, o Divino Mestre do gênero humano, ensina a existência desta lei no Evangelho de S. Lucas, quando diz "Dai e ser-vos-á dado; boa medida concentrada, sacudida e transbordante vos deitarão no vosso regaço, porque com a mesma com que medirdes também vos medirão" (6-38). A compreensão, a aceitação desta lei e um esforço inteligente por obedecê-la trarão, a seu devido tempo, mudança favorável em nossas vidas. A Regra de Ouro (Lucas 6-31) "E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma forma fazei-lhes vós" contém, igualmente, um importante princípio psicológico. Esta regra é inequívoca; ela nos diz em definitivo que façamos sempre o bem aos demais, sejam quais forem as circunstâncias, apesar do que eles nos façam a nós. A regra é impessoal; a conduta de outrem nada tem a ver com nosso caso. Se desrespeitarmos essa regra, obteremos infalivelmente maus resultados. Pondo -a em execução, à época oportuna ela nos trará um efetivo melhoramento em nosso ambiente e em nossas condições materiais e espirituais. Ela nos dá individualidade atrativa, magnética, o que nos torna atraentes para os demais e, ao mesmo tempo, não nos deixará faltar ajuda e a cooperação na realização de nossos projetos e anseios. Cria ainda uma força magnética que é o meio de aumentar o êxito sob todos os aspectos. Não permitamos nunca que o rancor por alguma desconsideração que tenhamos recebido nos impeça de fazer o que gostaríamos que outros nos fizessem. É realmente benéfico seguir a Regra de Ouro, que não é um simples ideal religioso. Há outros dois ou três princípios metafísicos ou psicológicos que devemos conhecer e que aumentarão nosso progresso em matéria de trabalho, bem como no abastecimento de nossas necessidades de ordem material e espiritual. Procurar o BEM em todas as coisas e em todas as situações, apesar da adversidade das aparências é um deles. O simples fato de BUSCAR O BEM constrói uma forma de pensamento que com o tempo se converterá em um bem maior, mais sucesso e condições favoráveis. BUSCAR O BEM é como começar uma bola de neve que aumenta de tamanho à medida que desce de uma montanha. Essa é também a propriedade de toda forma pensamento. Todas as da mesma índole se combinam e crescem rapidamente. Isso se aplica na busca do bem, o qual pode ser aumentado, em nossa esfera social, de modo definido, com a prática desse princípio. O elogio ao Bem, é uma extensão do mesmo princípio e um raio de sol, a luz da alma. Ele propicia o bom augúrio e o êxito a tudo que é superior. Incentive tudo de bem que encontre nas demais pessoas, ainda que o motivo seja insignificante e, sobretudo, não se esqueça de louvar e agradecer ao PODER INTERNO, cada dia, por sua vida, sua orientação e pelo abastecimento de todas as necessidades espirituais e materiais. Tudo se origina desse PODER. O PERDÃO é outra prática que não devemos esquecer. O perdão é científico. Ele traz consigo as forças dos planos invisíveis que nos cercam. Dissolve as formas de pensamento de ódio, vingança, egoísmo e má vontade, assim como impede que se materialize em adversidade. O rancor, a inveja, o egoísmo, a vindita frequentemente se transmudam em alguma das condições mais infelizes da vida, especialmente se se continua habitualmente a emitir pensamentos nesse sentido. O ódio é a força mais destrutiva do Universo, e o rancor e a vingança são fases do ódio. A vingança é a mais mortal das paixões, é absolutamente certo que impede o sucesso em todos os campos. Apesar do que possa acontecer, não se deve ter rancor nem ceder a pensamentos negativos. Você pode ter certeza de que se alguém lhe fez injustiça, a Lei invisível trará a ele merecida retribuição. Diz a Bíblia "Amados, não vos vingueis. Eu recompensarei a cada um, segundo o seu merecimento", disse o Senhor. Não tome a vingança por suas próprias mãos, porque a única coisa que você obterá é desencadear forças psicológicas que mais tarde ou mais cedo reagirão sobre você mesmo, com desvantagem. Diz a regra: "Perdoa tudo e mantém-te perdoando sempre, apesar de toda inclinação pessoal, e nada perderás, como erroneamente possas supor". Isso evoca à mente um princípio de vital importância e interesse sobre o êxito: "Fazer a vontade de outra é o ácido para provar o amor". A Bíblia o confirma ao ensinar: "Faze as pazes com teu adversário". A vontade própria é o amor próprio e o amor próprio é uma fase do ódio para com os outros. A aplicação deste princípio é particularmente valiosa quando queremos evitar desmandos e extinguir os que tenha começado. Naturalmente não devemos fazer a vontade a quem comete uma injustiça conosco ou em relação a terceiros. Devemos sacrificar as nossas inclinações e vantagens, ajustando-nos quanto possível às ideias de nosso adversário, satisfazendo-lhe o sentido de justiça. Por esse meio converteremos em nosso amigo. Fazer com que predomine sempre a nossa vontade é obstruir o restabelecimento do êxito da cooperação amistosa. Muito se tem falado sobre a CONFISSÃO. É provável que você não conceda a menor importância. Deve ter pensado, com certeza, que confessar as más ações a um sacerdote ou a um ministro não tem qualquer efeito. Não obstante, há notável princípio metafísico oculto na confissão, que é o seguinte: a confissão faz desaparecer a força emocional constituída por formas de pensamento sobre as nossas faltas do passado, liberando e ajudando-nos a restaurar o equilíbrio e a calma. Quando se comete uma falta que produz temor, vergonha, cólera, etc, essa forma de pensamento penetra profundamente na subconsciência e ali fermenta. Especialmente se o mal não foi sanado na época oportuna. Formas de pensamento de tal natureza podem fermentar no subconsciente durante anos e com o tempo gerar o que se conhece por "complexos" e "neuroses". Se temos muitos desses complexos enterrados na subconsciência, perdemos gradativamente o equilíbrio e nos tornamos nervosos e neuróticos. Eis onde a confissão atua. Por seu intermédio liberta-se a energia emocional dos complexos que se dissolvem, não voltando a molestar-nos. A confissão não precisa ser necessariamente feita a um sacerdote ou ministro de qualquer religião. Pode-se fazer diretamente à pessoa a quem se prejudicou ou ainda a alguém de absoluta confiança. Podemos também auto confessarmos ao EU SUPERIOR. Chamamos a esse confessório de "Retrospecção". Devemos realizá-lo toda as noites ao deitar-nos, começando por analisar os últimos acontecimentos do dia té chegar aos primeiros da manhã. Para que a Retrospecção surta efeito é indispensável o maior sentimento de contrição, uma vez que através dele nos purificamos, desfazendo a força emocional contida nos complexos ocultos. Grande número de pessoa têm encontrado na confissão, em qualquer da formas, alívio incrível, e sempre é seguida por singular aumento de êxito em todos os setores da vida. Donde se conclui que será uma ideia excelente a de estender o princípio da confissão ou retrospecção aos anos anteriores de nossa existência, a fim de esclarecer os complexos que penetram em nosso subconsciente, impedindo -nos totalmente qualquer evento feliz. Tal processo pode chamar-se de retrospecção retardada, conforme ensina a Filosofia Rosacruz. A melhor forma de efetuá-la será por escrito. Sente -se e escreva em linhas gerais os acontecimentos do passado que lhe tenham causado temor, cólera, vergonha, etc, etc. Faça o máximo possível cada vez e assim continue até que haja revisado toda a sua vida. Aos poucos notará maravilhoso alívio mental e emocional, que oportunamente se refletirá em forma de melhoria das condições materiais e espirituais. Esses escritos devem fazer-se em segredo, omitindo os nomes de seus personagens. Terminada, essa autoconfissão escrita deve ser destruída. Durante a vida não se pode obter êxito verdadeiro se não se possui razoável saúde, motivo por que devemos considerar a SAÚDE como fator de importância para a satisfação das necessidades de ordem material. Devemos ter sempre em mira a força vital emanada de nosso PODER INTERNO, o Ego. Se algo se interpõe entre a influência desta vida em nosso corpo e nossa personalidade, isso acarretará uma saúde precária. É possível aprisionar o Ego atrás de uma nuvem de errôneas formas de pensamento, falsas crenças, etc., de sorte que a corrente constitutiva da força, da vida do Ego, se reduz decididamente. Se emitirmos formas de pensamentos destrutivas, como temor, cólera, sensualidade, egoísmo, etc. que limitam e se acreditarmos no poder do mal sobre nós, tudo isso tende a encerrar o Ego, e "como crê" que está limitado na vida, realmente o estará. Para a SAÚDE é necessário que a pessoa, a mente e a vontade cooperem com o Ego e se repilam toda forma de pensamento restritivo. Além disso, é possível construir um instrumento com o qual se perfure e destrua a atual nuvem de pensamentos. Tal instrumento são NOVAS formas mentais de fé, de fortaleza, de otimismo, de onipotência do PODER INTERNO, do êxito e de certeza de que todas as coisas boas são atingíveis. Construa novas formas de pensamentos nessa direção e elas se combinarão entre si, constituindo uma forma de grande potência e força. Eis o instrumento que perfurará essa nuvem mental e libertará o Ego. Fique certo de que apenas pensamentos errôneos podem bloquear esse poder. Mude, pois, seus pensamentos, e essa faculdade o livrará, operando milagres em sua vida. Restaurará sua saúde. Modificará suas condições mentais. Use a IMAGINAÇÃO para criar quadros de saúde abundante e de grande poder do Ego interno e esses quadros se confundirão com outras formas de pensamento de força e valor, convertendo-se em parte do instrumento de libertação. Então, verificará que terá deixado de ser um escravo da falta da saúde. Você verá que ela é complemento normal do repouso (calma) e de outras condições emocionais equilibradas. Juntamente com esse estado sadi o virá maior disposição para o êxito no trabalho de ordem material e espiritual. A FELICIDADE RESIDE APENAS NA MENTE - As condições externas têm uma influência na felicidade somente onde se lhes tenha permitido afetar as formas de pensamento. Essas formas têm a propriedade de cobrir-se com essa substância do plano invisível que conhecemos como Emoção. Se pensamos em otimismo e felicidade, substância emocional dessa natureza invade-nos a mente, e somos FELIZES, apesar de todas as condições materiais ou corporais. Se, ao contrário, elaboramos formas mentais de temor e de fracasso, elas constroem substância emocional de infelicidade e seremos infelizes, ainda que tenhamos todas as riquezas do mundo e uma saúde perfeita. Fica, portanto, demonstrado que a FELICIDADE só reside na mente e que pelo controle dos pensamentos e substituição deles temos sempre a chave da felicidade e do progresso. Em conclusão, dar-lhes-emos três pequenas fórmulas para ajuda própria que estão baseadas em sadios princípios metafísicos e que têm demonstrado sua valia. PRIMEIRO, PENSAMENTO CONSTRUTIVO, POSITIVO – Mantenha sua mente sempre positiva e aberta, não imóvel e inerte. O pensamento construtivo fecha automaticamente a receptividade ao enxame de pensamentos que, impedidos de entrar, cessam de influir na vida, e as criações mentais melhoram consideravelmente através da decisão de concretizar as boas coisas. SEGUNDO, A CHAVE DE OURO – Quando você se achar em dificuldades, quando tema perder algo valioso, não continue a construir formas mentais negativas, porque elas apenas contribuirão para que você se deprima. Ao contrário, inverta o processo e não faça senão PENSAR EM DEUS. Ele envolve todas as coisas desejáveis. Recusando-se a pensar na desgraça e pensando em Deus, você estará construindo pensamentos de força, bondade e sucesso, ainda que não perceba. Eles, a seu tempo, se concretizarão em forma de bem, e a calamidade que você temia se terá dissipado. TERCEIRO, O PODER DO DEVER – O Dever cumprido um dia, e oportunamente, tem o poder de criar bem suficiente para acompanhá-lo durante o dia inteiro. E amanhã será outro dia no qual você pode repetir o processo. Os deveres cumpridos com amor são um caminho para a libertação. Esta é uma chave vital de êxito em todos os planos, material e espiritual, conforme prega a Filosofia Rosacruz, para qualquer outro período da vida. O sucesso que se obtém como resultado do dever cumprido não será sempre a classe do êxito que você mesmo teria escolhido, mas será o verdadeiro êxito sob o ponto de vista do Espírito, e isso é o que importa. Ainda mais, examinado a seu tempo, este êxito se converterá em uma forma tal que será facilmente reconhecida e admitida como a melhor. Entretanto, você estará livre do temor e da ansiedade porque saberá, finalmente, que "tudo" sairá BEM. Assim, por intermédio do poder do dever cumprido, você se capacitará para VIVER PELA FÉ NO PODER INTERNO, que é o segredo fundamental do êxito da vida, e no cumprimento das necessidades ordinárias da existência material e espiritual. www.fraternidaderosacruz.org. Abraço. Davi

terça-feira, 27 de março de 2018

MEUS PAIS E MINHA INFÂNCIA


Livro Autobiografia de Um Iogue. Paramahansa Yogananda (5 de janeiro de 1893 a 7 de março de 1952) foi um iogue e guru indiano. É considerado um dos maiores emissários da antiga filosofia da Índia para o Ocidente. Através da Self Realization Fellowship (SRF), a organização que fundou ao chegar aos Estados Unidos da América. Foi pioneiro ao promover a prática da meditação por meio das lições que os estudantes recebiam em casa, pelo correio, para cumprir a sua missão mundial de difundir as técnicas de KRIYA YOGA. Paramahansa Yogananda teve sua singular história de vida imortalizada no best-seller Autobiografia de um Iogue. Capítulo 1. MEUS PAIS E MINHA INFÂNCIA. OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA CULTURA INDIANA têm sido, desde sempre, a busca das verdades últimas e a concomitante relação entre guru (1) e discípulo. Meu próprio caminho conduziu-me a um sábio semelhante a CRISTO. Sua bela vida foi modelada para o benefício de todas as épocas. Foi ele um dos grandes mestres que constituem a mais autêntica riqueza da Índia e que, surgindo em todas as gerações, ergueram as fortificações que evitaram para sua terra o destino que sofreram o antigo Egito e a Babilônia. Minhas recordações mais antigas abrangem traços anacrônicos de uma encarnação anterior. Lembro-me claramente de uma existência longínqua em que era um iogue (2) entre as neves do Himalaia. Esses lampejos do passado, por alguma ligação não dimensionável, permitiram-me também vislumbres do futuro. Antes me lembro das indefesas humilhações da infância. Era com ressentimento que eu tinha consciência de ser incapaz de me locomover e de me expressar livremente. Sucessivas ondas de oração erguiam-se dentro de mim ao reconhecer essa impotência física. Minha forte vida emocional exprimiu-se mentalmente em palavras de muitas línguas. Entre a confusão interna de idiomas, habituei-me, pouco a pouco, a ouvir as sílabas bengalis do meu povo. Como se enganam os adultos ao avaliar o alcance da mente infantil considerando-a limitada aos brinquedos e aos dedinhos dos pés! A efervescência psicológica e meu corpo desobediente levaram-me a muitas e obstinadas crises de choro. Recordo-me da desorientação e do assombro que meu desespero provocava em toda a família. Lembranças mais felizes também se acumulam: os caminhos de minha mãe, as primeiras tentativas que fiz para balbuciar frases e dar os primeiros passos. Esses triunfos infantis, normalmente logo esquecidos, nos dão, entretanto, um alicerce natural de autoconfiança. O grande alcance de minha memória não é caso único. Sabe-se de muitos iogues que conservaram ininterruptamente a consciência de si mesmos durante a dramática transição da VIDA para a MORTE e de uma VIDA para OUTRA. Se o homem é apenas um corpo, a perda desse corpo realmente seria para ele o fim de sua identidade. Se, porém, no decurso de milênios os profetas falaram a verdade, o homem é essencialmente uma ALMA, INCORPÓREA e ONIPRESENTE. Apesar de insólitas, recordações nítidas da primeira infância não são extremamente raras. Durante minhas viagens por numerosos países, ouvi, de lábios de homens e mulheres verazes, o testemunho de recordações que remontam à mais tenra idade. Nasci em 5 de janeiro de 1893, Gorakhpur, no nordeste da Índia, perto das montanhas do HIMALAIA. Ali passei meus primeiros oito anos. Éramos oito irmãos: quatro meninos e quatro meninas. Eu, Mukunda Lal Ghosh (3), fui o quarto a nascer e o segundo varão. Meu pai e minha mãe eram bengalis, da casta xátria (4). Ambos foram abençoados com uma natureza santa. O mútuo amor que os uniu, tranquilo e digno, nunca se expressou com frivolidade. Sua harmonia conjugal perfeita era o foco de serenidade em torno do qual girava o tumulto de oito filhos pequenos. Meu pai, Bhagabati Charan Ghosh, era bondoso, sério, as vezes rigoroso. Embora lhe tivéssemos muito amor, nós crianças mantínhamos para com ele certa distância que beirava a reverência. Excepcional em matemática e lógica, ele guiava-se principalmente por seu intelecto. Minha mãe, porém, era uma rainha de coração e nos educou inteiramente pelo amor. Depois que ela morreu, papai externou mais sua afeição interior. Notei que seu olhar muitas vezes parecia metamorfosear-se no olhar de minha mãe. Foi em presença de mamãe que travamos os primeiros contatos agridoces com as Escrituras. Ela recorria ao Mahabharata e ao Ramayana (5) para dali retirar histórias adequadas às exigências disciplinares. Nessas ocasiões, instrução e castigo caminhavam de mãos dadas. Em sinal de respeito por meu pai, mamãe nos vestia cuidadosamente, todas as tardes, para recebe-lo ao regressar do escritório. O cargo por ele ocupado era equiparável ao de vice-presidente, em uma das maiores companhias ferroviárias da Índia – a de Bengala Nagpur. Seu trabalho implicava fazer viagens; nossa família viveu em diversas cidades durante minha meninice. Mamãe tinha mão aberta para os necessitados. Papai também era caridoso, mas seu respeito à lei e à ordem se estendia ao orçamento doméstico. Certa quinzena, mamãe gastou, alimentando os pobres, mais do que a renda mensal de papai. Por favor, tudo o que peço é que seja caridosa dentro de limites razoáveis. Mesmo uma repreensão suave de seu esposo era de suma gravidade para minha mãe. Sem revelar aos filhos seu desacordo com papai, ela fez vir uma carruagem de aluguel. Adeus, vou-me embora para a casa de minha mãe. Antiquíssimo ultimato! Rompemos em lamentos, estupefatos. Nosso tio materno chegou no momento oportuno. Segredou a meu pai algum sábio conselho, certamente provindo de priscas eras. Depois de papai ter pronunciado algumas palavras de conciliação, mamãe alegremente dispensou a carruagem. Assim terminou a única divergência de que tive conhecimento entre meus pais. Mas recordo-me de uma discussão característica: Por favor, preciso de dez rupias para dar a uma pobre mulher que veio bater à nossa porta. O sorriso de mamãe era persuasivo. Por que dez rúpias? Uma é o bastante. Papai acrescentou uma justificação. Quando meu pai e meus avós faleceram subitamente, eu soube pela primeira vez o que era a pobreza. De manhã, comia unicamente uma pequena banana, antes de caminhar vários quilômetros até a escola. Mais tarde, na Universidade, sofri tantas privações que me vi forçado a pedir a um abastado juiz o auxílio de uma rupia por mês. Ele recusou, declarando que mesmo uma rupia era  importante.  Com que amargura você se lembra da recusa dessa rupia! O coração de minha mãe teve uma lógica instantânea. Você quer que essa mulher também se lembre dolorosamente da recusa das dez rupias que ela necessita com urgência? Você ganhou! Com o gesto imemorial dos derrotados, meu pai abriu a carteira. Aqui está uma nota de dez rupias. Entregue-a com os meus votos de felicidade. Papi tinha a tendência de primeiro dizer “não” a qualquer proposta nova. Sua atitude perante aquela desconhecida, que tão depressa conquistara a compaixão de minha mãe, era um exemplo de sua cautela habitual. Na verdade, a aversão à aceitação imediata é apenas uma homenagem ao princípio da “reflexão necessária”. Sempre achei meu pai justo e equilibrado em seus julgamentos. Se eu pudesse reforçar meus numerosos pedidos com um ou dois bons argumento, ele invariavelmente poria ao meu alcance o objetivo ambicionado – fosse uma viagem de férias ou uma nova motocicleta. Meu pai foi um austero disciplinador de seus filhos quando pequenos. Mas sua atitude para consigo mesmo era verdadeiramente espartana. Por exemplo, nunca frequentou o teatro, mas buscava recreação em várias práticas espirituais e na leitura do Bhagavad Gita (6). Repudiando qualquer luxo, usava um mesmo par de sapatos velhos até que se tornassem imprestáveis. Seus filhos compraram automóveis depois que seu uso se tornou popular, mas papai contentava-se com o bonde para ir diariamente ao escritório. Ele não tinha interesse em acumular dinheiro por amor ao poder. Certa ocasião, depois de organizar o Banco Urbano de Calcutá, recusou beneficiar-se disso e não guardou para si nenhuma das ações do banco. Desejara apenas cumprir um dever cívico nas horas de folga. Vários anos depois de meu pai ter-se aposentado, um contador veio da Inglaterra para a Índia a fim de examinar os livros da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur. Surpreso, o auditor descobriu que papai jamais havia requerido suas bonificações vencidas. Ele fez sozinho o trabalho de três homens! O contador informou à companhia. Tem em haver 125.000 rupias – 41.250 dólares de remunerações atrasadas. O tesoureiro enviou-a papai um cheque com esse valor. Meu pai deu tão pouca importância ao assunto que se esqueceu de mencioná-lo à família. Muito tempo depois, meu pai foi interrogado por Bishnu, meu irmão mais moço, que havia notado a grande quantia depositada ao ver um extrato do banco. Por que me exaltar com lucro material? Papai respondeu. Quem procura alcançar a serenidade mental não se rejubila com o lucro nem se desespera com a perda. Sabe que o homem chega sem dinheiro a este mundo e dele parte sem levar uma única rupia! Pouco depois de seu casamento, meus pais tornaram-se discípulos do grande mestre Lahiri Mahasaya (1828-1895), de Benares. Essa associação fortaleceu o temperamento naturalmente ascético de meu pai. Certa ocasião, mamãe fez uma confidência notável à minha irmã mais velha, Roma: Seu pai e eu nos unimos como maridos e mulher apenas uma vez por ano, com o intuito de termos filhos. Meu pai conheceu pela primeira vez Lahiri Mahasaya por intermédio de Abinash Babu (7), funcionário de um ramal da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur. Em Gorakhpur, Abinash Babu instruía meus jovens ouvidos com cativantes histórias sobre muitos santos da Índia. Concluía, invariavelmente, prestando tributo às glórias superiores de seu próprio guru. Alguma vez lhe contaram em que circunstâncias extraordinárias seu pai se tornou discípulo de Lahiri Mahasaya? Era  uma preguiçosa tarde de verão e estávamos sentados na varanda de minha casa quando Abinash fez esta pergunta em tom intrigante. Neguei com a cabeça, sorrindo, antecipadamente de satisfação. Anos atrás, antes de você nascer, supliquei a meu chefe – seu pai – uma licença de sete dias a fim de visitar meu guru em Benares. Seu pai ridicularizou meu plano. Vai se converter num fanático religioso? Perguntou-me. Concentre-se em seu trabalho no escritório, se quiser progredir. Naquele dia, voltando tristemente para casa por uma vereda no bosque, encontrei-me com seu pai, que era transportado numa liteira. Ele dispensou servidores e a liteira, passando a caminhar a meu lado. Procurando me consolar, começou a discorrer sobre as vantagens de lutar pelo sucesso mundano. Mas eu o escutava sem prestar atenção. Meu coração repetia: Lahiri Mahasaya, não posso viver sem te ver. O caminho levou-nos à orla de um campo tranquilo, onde os raios do Sol ao entardecer coroavam a ondulante elevação do capim) bravo. Paramos, em admiração. E ali, no campo, a alguns metros de nós, apareceu subitamente a forma de meu grande guru (8). Bhagabati, você é muito duro com seu funcionário”” A voz ressoava em nossos ouvidos atônitos. Meu guru desapareceu tão misteriosamente como viera. De joelhos, eu exclamava: Lahiri Mahasaya! Lahiri Mahasaya! Durante alguns momentos seu pai ficou imobilizado pelo assombro. Abinash, além de conceder a sua licença, concedo também a minha, a fim de irmos amanhã para Benares. Preciso conhecer esse grande Lahiri Mahasaya, capaz de se materializar à vontade para interceder por você! Levarei minha esposa e pedirei a esse mestre que nos inicie na Senda Espiritual. Levarei minha esposa e pedirei a esse MESTRE que nos inicie na Senda Espiritual. Você nos levará até ele? Sem dúvida! Eu transbordava de alegria ante a resposta miraculosa à minha prece e a rápida e favorável alteração no curso dos acontecimentos. Na noite seguinte seus pais e eu viajamos de trem para Benares. Chegando lá no outro dia, contratamos um trole para cobrir parte do caminho, e depois tivemos de andar por ruelas estreitas para chegar à isolada moradia de meu guru. Entrando em sua pequena sala, fizemos uma reverência ao mestre, firme na habitual postura de lótus. Ele piscou os olhos penetrantes e os fixou em seu pai: Bhagabati, você é muito duro com seu funcionário! As palavras eram as mesmas pronunciadas dois dias antes no campo de Gorakhpur. E acrescentou: Alegro-me por haver permitido a Abinash visitar-me e terem vindo, você e sua esposa, em companhia dele. Para alegria dos dois, iniciou-os na prática KRYIA YOGA (9). Seu pai e eu, condiscípulos espirituais, temos sido amigos íntimos desde o memorável dia da visão. Lahiri Mahansaya manifestou particular interesse em seu nascimento, Mukunda. Sua vida estará certamente relacionada com a dele; as bênçãos do mestre nunca falham. Lahiri Mahasaya deixou este mundo pouco depois de eu nele haver entrado. Seu retrato, em moldura ornamentada, sempre honrou o altar de nossa família nas várias cidades para onde meu pai era transferido pelo escritório. Muitas manhas e noites nos encontraram, à minha mãe e a mim, em meditação ante o improvisado altar, oferecendo flores aromatizadas com pasta de sândalo. Juntando incenso e mirra às nossas devoções, honrávamos a Divindade que se manifestara plenamente em Lahiri Mahasaya. Sua fotografia teve influência extraordinária em minha vida. A medida que eu crescia, o pensamento focalizado no mestre crescia comigo. Em meditação, via com frequência sua imagem fotográfica destacar-se da pequena moldura e, assumindo forma vivente, sentar-se diante de mim. Quando tentava tocar os pés de seu corpo luminoso, ele voltava a se transformar em fotografia. Com o passar da infância para a adolescência, Lahiri Mahasaya deixou de ser em minha mente uma pequena imagem emoldurada, passando a ser presença viva e iluminadora. Eu frequentemente orava para ele nos momentos de provação ou confusão, encontrando em meu interior sua orientação confortadora. No início, sofria por ele não mais estar fisicamente vivo. Quando comecei a descobrir sua secreta onipresença, não me lamentei mais. Ele muitas vezes escrevia aos discípulos demasiadamente ansiosos em visita-lo: Por que vir me contemplar em carne e osso, quando estou sempre dentro do raio de visão de seu Kutastha (olha espiritual)? Aos oito anos de idade aproximadamente, fui abençoado com uma cura maravilhosa graças ao retrato de Lahiri Mahasaya. Essa experiência, intensificou meu amor. Quando estávamos na propriedade familiar de Ichapur, em Bengala, contraí a cólera asiática. Fui desenganado pelos médicos, que nada podiam fazer. A minha cabeceira, mamãe incitava-me freneticamente a olhar para a fotografia de Lahiri Mahasaya presa à parede, acima de minha cabeça. Curve-se diante dele mentalmente! Ela sabia que eu estava fraco demais, até para erguer as mãos em saudação. Se realmente mostrar sua devoção e se ajoelhar interiormente diante dele, sua vida será poupada! Olhei fixamente a fotografia e vi uma luz cegante, que envolvia meu corpo e o quarto inteiro. O enjoo e outros sintomas incontroláveis desapareceram: eu estava curado. Imediatamente senti força suficiente para inclinar-me e tocar os pés de minha mãe, em gesto de reconhecimento por sua fé incomensurável no guru. Minha mãe comprimiu a cabeça várias vezes contra o pequeno retrato: Ó Mestre Onipresente, agradeço-te por sua luz ter curado meu filho! Compreendi que ela também havia presenciado o resplendor luminoso que tinha me recuperado instantaneamente de uma doença quase sempre fatal. Um de meus bens mais preciosos é essa mesma fotografia. Dada a meu pai pelo próprio Lahiri Mahasaya, ela irradia uma santa vibração. O retrato teve origem miraculosa. Ouvi a história contada por Kali Kumar Roy, condiscípulo espiritual de meu pai. Parece que Lahiri Mahasaya tinha aversão a ser fotografado. Sob seus protestos, certo dia tiraram um retrato do mesmo com um grupo de devotos, inclusive Kali Kumar Roy. Foi com surpresa que o fotógrafo descobriu que a chapa, que continha nítida imagens de todos os discípulos, revelou apenas um espaço vazio no centro, onde ele logicamente esperava que aparecesse a figura de Lahiri Mahasaya. O fenômeno foi muito comentado. Ganga Dhar Babu, discípulo e fotógrafo perito, gabou-se de que o vulto fugidio não lhe escaparia. Na manhã seguinte, quando o guru estava em posição de lótus num assento de madeira com um biombo por trás. Ganga Dhar Babu chegou com seu equipamento. Tomando todas as precauções para ser bem-sucedido, sofregamente bateu doze chapas. Em todas, encontrou a impressão do assento de madeira com o biombo, mas de novo faltava a figura do mestre. Em lágrimas e com o orgulho despedaçado. Ganga Dhar Babu apelou ao guru. Passaram-se muitas horas antes que Lahiri Mahasaya quebrasse o silêncio com um significativo comentário. Eu sou Espírito. Pode sua câmera fotográfica refletir o invisível Onipresente? Vejo que é impossível! Mas, santo senhor, desejo amorosamente um retrato de seu templo corpóreo. Minha visão era limitada: até hoje não tinha percebido que o Espírito habita plenamente no senhor. Então regresse amanhã de manhã. Posarei para você. O fotógrafo novamente focalizou sua máquina. Desta vez a sagrada figura, não coberta de imperceptibilidade misteriosa, apareceu nítida na chapa. O mestre jamais posou para outro retrato; pelo menos, eu nunca vi outro. A fotografia é reproduzida neste livro (10). Os traços fisionômicos de Lahiri Mahasaya, de casta universal, dificilmente indicam a raça a que pertencia. A alegria da comunhão com Deus é ligeiramente revelada em seu sorriso enigmático. Seus olhos, semiabertos para indicar um interesse nominal pelo mundo externo, também estão semicerrados, revelando sua absorção na bem-aventurança interior. Alheio às insignificantes atrações do mundo, ele estava sempre plenamente alerta aos problemas espirituais dos que buscavam sua generosidade. Pouco depois de minha cura por meio do poder da fotografia do guru, tive uma visão espiritual que muito me influenciou. Sentado em minha cama certa manhã, entrei em profundo devaneio. Que haverá por trás da escuridão dos olhos fechados? Este pensamento inquiridor entrou com força em minha mente. Um imenso clarão de luz manifestou-se instantaneamente em minha visão interior. Divinas figuras de santos, sentados na postura de meditação em cavernas de montanhas, passavam, como imagens de um filme em miniatura na grande tela brilhante dentro de minha testa. Quem são vocês? Perguntei em voz alta. Somos iogues do Himalaia. É difícil descrever a resposta celestial; meu coração vibrava. Ah, como anseio ir ao Himalaia e tornar-me um de vocês!  A visão desapareceu, mas os raios prateados expandiram-se em círculos cada vez maiores, até o infinito. Que maravilhoso esplendor é este? Eu sou Ishwara (11). Eu sou Luz! A voz era de nuvens murmurantes. Quero unir-me a Ti! Do lento desvanecer-se do meu êxtase divino ficou-me um legado permanente de inspiração para buscar a Deus. Ele é Alegria Eterna, sempre renovada” Esta lembrança perdurou longamente após o dia do arrebatamento místico. Outra recordação de minha infância é literalmente marcante, tanto que carrego sua cicatriz até hoje. Certa manhã, bem cedo, minha segunda irmã mais velha. Uma, estava sentada comigo sob uma árvore em nossa casa de Gorakhpur. Ela me ajudava no estudo de minha primeira cartilha em bengali (idioma hindu), nos momentos em que eu consentia desviar minha vista de alguns papagaios que, ali perto, bicavam os frutos maduros da amargoseira. Queixou-se Uma de inchaço em sua perna e foi buscar um frasco de unguento. Untei meu antebraço com um pouco da pomada. Por que esfrega remédio num braço sadio? Bem, mana, sinto que amanhã vou ter um furúnculo. Estou experimentando o unguento no lugar onde a inflamação vai aparecer. Seu mentirosinho! Mana, não me chame de mentiroso até ver o que acontecerá amanhã. A indignação tomou conta de mim. Sem se deixar impressionar, Uma repetiu três vezes a ofensa. Uma resolução inflexível soou em minha voz quando lhe disse lentamente. Pelo poder da vontade em mim, afirmo que amanhã terei um enorme furúnculo exatamente neste lugar de meu braço. E o seu furúnculo estará duas vezes mais inchado que hoje! A manhã seguinte me encontrou com um robusto furúnculo no lugar indicado, o de Uma tinha duplicado suas dimensões. Com um grito, minha irmã correu para mamãe. Mukunda converteu-se em adepto da magia negra! Muito séria, mamãe instruiu-me a jamais usar o poder da palavra para fazer o mal. Sempre recordei seu conselho e o segui. Um cirurgião lancetou meu furúnculo. Uma cicatriz visível até hoje mostra onde o médico fez a incisão. Em meu antebraço direito existe um constante lembrete do poder existente na pura palavra humana. Aquelas frases simples e aparentemente inofensivas a Uma, pronunciadas com profunda concentração, tiveram suficiente força oculta para explodir como bambas e produzir efeitos definidos, embora prejudiciais. Mais tarde compreendi que o explosivo poder vibratório da fala poderia ser sabiamente dirigido para libertar nossa vida de dificuldades e, assim, operar sem deixar cicatrizes ou censuras (12). Nossa família transferiu-se pra Lahore, no Punjab (um estado a noroeste da Índia). Lá comprei uma gravura da Mãe Divina sob a forma de Deusa Kali (13), que santificou um pequeno altar informal na sacada de nossa casa. Fui tomado pela inequívoca convicção de que todas as orações que eu fizesse naquele lugar sagrado seriam atendidas. Certo dia, de pé na sacada, em companhia de Uma, observei dois meninos empinando pipas sobre o telhado de dois edifícios vizinhos, separados de nossa casa por uma rua extremamente estreita. Por que está tão quieto? Perguntou-me Uma, dando-me um empurrão de brincadeira.  Estou pensando como é maravilhoso que a Mãe Divina me dá tudo o que quero. Suponho que Ela lhe daria aquelas duas pipas! Minha irmã riu, caçoando de mim. Por que não? Inicie silenciosas orações para obtê-las. Na índia, os meninos fazem competições com pipas cujas linhas são recobertas de cola e vidro moído. Cada jogador procura cortar a linha de seu adversário. Uma pipa solta voa sobre os telhados, é muito divertido ir apanhá-la. Estando Uma e eu numa sacada interna, recoberta de telhas, parecia impossível que uma pipa solta viesse cair em nossas mãos; sua linha naturalmente passaria flutuando sobre o telhado. Do outro lado da estreita viela os competidores começaram o combate. Uma das linhas foi cortada, imediatamente a pipa flutuou em minha direção. Em razão de uma súbita ausência de brisa, a pipa permaneceu imóvel por um momento. Nessa pausa, a linha enroscou-se em um cacto que havia no terraço da casa em frente. Um longo e perfeito laço se formou para que eu a pegasse. Passei o troféu para Uma. Foi apenas um acidente fora do comum, não uma resposta à sua oração. Se a outra pipa vier até você, então acreditarei. Os olhos negros de minha irmã denunciavam mais assombro que suas palavras. Continuei a orar intensamente. Um puxão mais forte do outro jogador causou a brusca perda de sua pipa. Ela veio em minha direção, dançando com o vento. Meu prestativo ajudante, o cacto, novamente prendeu a linha da pipa com  o laço suficientemente longo para que meu braço a alcançasse. Apresentei o segundo troféu a Uma. Realmente a Mãe Divina o escuta! É tudo misterioso demais para mim! E minha irmã disparou a correr como uma corça assustada. REFERÊNCIAS: 1. Mestre Espiritual. O Guru Gita (verso 17) descreve de modo adequado o guru como “o que dissipa as trevas” (do sânscrito gu, “trevas” e ru “o que dissipar”). 2.  Praticante de yoga, “união”, antiga ciência de mediação em Deus. (Ver capítulo 26 “A ciência da KRYIA YOGA). 3. Meu nome de família foi substituído pelo de Yogananda em 1915, quando ingressei na antiga ordem monástica dos Swamis. Em 1935, meu guru conferiu-me um título religioso mais elevado, o de Paramahansa. 4. A segunda casta, tradicionalmente de governantes e guerreiros. 5. Esses antigos poemas épicos são um tesouro da história, mitologia e filosofia da Índia. 6. Este nobre poema sânscrito, que faz parte do épico Mahabharata, é a Bíblia hindu. Mahatma Gandhi (1869-1948) escreveu: “Aqueles que meditarem no Bhagavad Gita retirarão dele novas alegrias e novos significados todos os dias. Não há nenhum emaranhado espiritual que o Gita não possa desembaraçar”. 7. Babu (senhor) é colocado ao final dos nomes em bengali. 8. Os fenomenais poderes possuídos pelos grandes mestres são explicados no capítulo 30: “A lei dos milagres”. 8. Os fenomenais poderes possuídos pelos grandes mestres são explicados no capítulo 30 – A Lei dos Milagres. 9. Uma técnica iogue ensinada por Lahiri Mahasaya, acalma o tumulto sensorial, permitindo ao homem alcançar identidade crescente com a consciência cósmica. 10. Ver página 360. Quando foi à Índia em 1935-6, Sri Paramahansa Yogananda deu instruções a um artista bengali para que pintasse uma reprodução da foto original (ver página 392). Designando-a mais tarde como o retrato formal de Lahirir Mahasaya a ser usado nas publicações da SRF – Self Ralization Fellowship. Este quadro encontra-se em Mount Washington – Kentucky – USA, na sala de estar de Paramahansa Yogananda. 11. Nome sânscrito para indicar Deus em seu aspecto Regente Cósmico, da raiz is, reger. As Escrituras hindus contém milhares de nomes para designar Deus. Cada um correspondendo a um diferente matiz de significado filosófico. Deus, sob o aspecto de Ishwara, é quem cria e dissolve por sua vontade todos os universos, em ciclos regulares. 12. As potencialidades infinitas do som derivam do Verbo Criador. OM, o poder cósmico vibratório por trás de toda energia atômica. Qualquer palavra proferida com clara compreensão e concentração profunda tem valor materializante. A repetição oral ou silenciosa de palavras inspiradoras provou sua eficácia em sistemas psicoterápicos como o de Emile Coué (1857-1926). O segredo reside em introduzir um “crescendo” na frequência vibratória da mente. 13. Kali – é um símbolo de Deus sob o aspecto da Eterna Mãe Natureza. Livro Autobiografia de Um Iogue – Paramahansa Yogananda. Abraço. Davi