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Autobiografia de um Iogue – Paramanhasa Yogananda. Capítulo 2. A MORTE DE MINHA
MÃE E O AMULETO MÍSTICO. O MAIOR DESEJO DE MINHA MÃE era ver casado meu irmão
mais velho. Ah, quando eu contemplar a face da esposa de Ananta, terei
encontrado o céu nesta Terra! Frequentemente ouvi mamãe expressar com essas
palavras o seu arraigado sentimento hindu pela continuidade da família. Eu
tinha onze anos quando se realizaram os esponsais de Ananta. Mamãe estava em
Calcutá, supervisionando alegremente os preparativos para o casamento. Papai e
eu ficamos sozinhos em nossa casa em Bareilly, ao norte da Índia, para onde ele
tinha sido transferido após dois anos em Lahore. Anteriormente eu havia
presenciado o esplendor dos ritos nupciais de minhas duas irmãs mais velhas,
Roma e Uma. Para Ananta, entretanto, como primogênito, os preparativos eram realmente
meticulosos. Mamãe, em Calcutá, recepcionava numerosos parentes que chegavam
diariamente de regiões distantes. Alojava-os confortavelmente em uma casa
ampla, recém-adquirida, situada em Amherst Street, 50. Tudo estava pronto: as
iguarias do banquete, o trono vistoso no qual meu irmão seria carregado até a
casa da noiva. As fileiras de luzes coloridas, os gigantescos elefantes e
camelos feitos de papelão, as orquestras indiana, inglesa e escocesa. Os
artistas encarregados de alegrar a festa, os sacerdotes celebrantes dos antigos
ritos. Papai e eu, com espírito festivo, planejávamos nos reunir à família em
tempo oportuno para a cerimônia. Entretanto pouco antes do grande dia, tive uma
visão de mau presságio. Foi em Bareilly, à meia-noite: eu dormia ao lado de meu
pai no terraço de nosso bangalô, quando fui acordado pelo tremular peculiar do
mosquiteiro sobre a cama. As finas cortinas abriram-se e vi a amada figura de
minha mãe. Acorde seu pai! Sua voz era apenas um sussurro. Tomem o primeiro
trem, o das quatro da madrugada. Corram a Calcutá se quiserem me ver! A
aparição desvaneceu-se. Pai, papai! Mamãe está morrendo! O terror em minha voz
despertou-o instantaneamente. Em soluços comuniquei-lhe a notícia fatídica.
Esqueça esta alucinação sua. Meu pai, como de costume, deu sua negativa a uma
situação nova. Sua mãe está em perfeita saúde. Se recebermos notícias ruins,
partiremos amanhã. O senhor nunca se perdoará por não ir agora! E a angústia me
fez acrescentar amargamente: Eu também jamais o perdoarei! A manhã seguinte
despontou melancolicamente com as explícitas palavras: Mamãe gravemente
enferma, casamento adiado, venham imediatamente. Papai e eu saímos
transtornados. Um de meus tios veio ao nosso encontro numa estação onde
tínhamos de baldear. Estrondoso trem vinha em nossa direção, aumentando seu
tamanho telescopicamente. De meu tumulto interior brotou a determinação
repentina de me atirar aos trilhos do trem. Já me sentindo destituído de minha
mãe, eu não podia suportar um mundo que de repente perdera todo o sentido. Eu
amava minha mãe como a amiga mais querida sobre a Terra. Seus confortadores
olhos negros tinham sido meu refúgio nas insignificantes tragédias de minha
infância. Ela ainda está viva? Detive-me para fazer esta última pergunta a meu
tio. Ele interpretou com rapidez o desespero em minha face. Claro que sim! Mas
eu não consegui acreditar. Quando chegamos à nossa casa em Calcutá, foi só para
nos defrontarmos com o chocante mistério da morte. Entrei em colapso,
mergulhando em estado de quase torpor. Muitos anos decorreram antes que meu
coração se conformasse. Atacando os próprios portões do céu, minhas súplicas
afinal impeliram a Mãe Divina a se apresentar. Suas palavras trouxeram cura
definitiva às feridas ainda abertas. Sou eu que tenho velado por ti, vida após
vida, na ternura de muitas mães! Vê em meu olhar os dois olhos negros, os belos
olhos perdidos que andas buscando! Papai e eu regressamos, a Bareilly logo após
os ritos crematórios da bem-amada. Todas as madrugadas, bem cedo, eu fazia uma
patética peregrinação em sua memória à frondosa árvore sheoli, que sombreava o
prado auriverde em frente ao nosso bangalô. Em momentos poéticos, imaginava que
as flores brancas de sheoli se derramavam com espontânea devoção sobre o altar
do prado. Misturando minhas lágrimas ao orvalho, frequentemente observei uma
estranha luz sobrenatural emergindo da aurora. Dores me assaltavam, intensas,
de saudades de Deus. Sentia-me fortemente atraído para o Himalaia. Um de meus
primos, recentemente chegado de uma viagem às montanhas sagradas, visitou-nos
em Bareilly. Escutei ansiosamente suas histórias sobre a alta cordilheira,
morada de iogues e swamis (1). Vamos fugir para o Himalaia! Minha sugestão,
feita um dia a Dwarka Prasad, jovem filho de nosso caseiro em Bareilly, foi mal
recebida. Ele revelou o plano a meu irmão mais velho, recém-chegado para
visitar papai. Em vez de sorrir com tolerância do projeto impraticável de um
menino. Ananta aproveitou o fato para me ridicularizar. Onde está sua túnica
alaranjada? Você não pode ser um swami sem ela. Suas palavras, porém,
provocaram em mim inexplicável comoção. Fizeram com que visse uma nítida
imagem: de mim mesmo como monge, percorrendo a Índia. Talvez as palavras de
Ananta despertassem lembranças de uma vida anterior, em todo caso, percebi com
que naturalidade eu usaria a túnica daquela ordem monástica, de fundação
antiquíssima. Conversando certa manhã com Dwarka, senti que o amor por Deus
descia sobre mim com a força de uma avalanche. Meu companheiro mal prestou
atenção à eloquência que se seguiu, mas eu me ouvia atentamente. Fugi naquela
tarde para Naini. Tal, no sopé do Himalaia. Ananta perseguiu-me com
determinação; fui forçado a regressar tristemente a Bareilly. A única
peregrinação permitida era o passeio habitual à arvore sheoli todas as
madrugadas. Meu coração chorava pelas duas mães perdidas, a humana e a Divina.
A morte de mamãe deixou no tecido da família um rasgão irreparável. Papai nunca
voltou a se casar nos quase quarenta anos que ainda viveu. Assumindo o difícil
papel de pai e mãe de seu pequeno rebanho, ele se tornou perceptivelmente mais
terno, mais acessível. Com serenidade e discernimento, resolvia os vários
problemas da família. Após as horas de trabalho no escritório, retirava-se como
um eremita à cela de seu quarto, praticando KRYA YOGA em doce tranquilidade.
Muito depois da morte de mamãe, tentei contratar uma enfermeira inglesa para
cuidar dos detalhes que tornariam mais confortável a vida de meu pai. Mas ele
abanou a cabeça negativamente. Os cuidados para comigo terminaram quando sua
mãe se foi. Seus olhos estava distantes, cheios de devoção perpétua. Não
aceitarei os serviços de nenhuma outra
mulher. Catorze meses depois da partida de minha mãe, eu soube que ela havia me
deixado uma importante mensagem. Ananta estivera presente no seu leito de morte
e registrara suas palavras. Embora ela tivesse recomendado que a revelação me
fosse feita um anos após sua morte, meu irmão a retardou. Em breve ele partiria
de Bareilly para Calcutá, para casar-se com a jovem escolhida por mamãe (2).
Uma noite, chamou-me para junto dele. Mukunda, tenho relutado em dar-lhe uma
estranha mensagem. Sua voz tinha um tom de resignação. Temi avivar seu desejo
de abandonar a casa. Mas, de qualquer jeito, você está revestido de fervor
divino. Quando o capturei recentemente a caminho do Himalaia, tomei uma
resolução definitiva: não adiarei por mais tempo o cumprimento de uma promessa
solene. Entregando-me uma caixinha, meu irmão transmitiu a mensagem de mamãe.
Deixe que estas palavras sejam minha benção final, meu amado filho Mukunda!
Dissera minha mãe. Chegou a hora em que devo relatar alguns fenômenos
extraordinários acontecidos após o seu nascimento. Conheci a Senda reservada a
você quando ainda era um bebê em meus braços. Naquela época, levei-o no colo à
casa de meu guru em Benares. Eu mal podia ver Lahiri Mahasaya, sentado em
meditação profunda, quase escondido atrás de uma multidão de discípulos.
Enquanto o acalentava, eu orava para que o grande guru nos percebesse e
abençoasse. À medida que meu silencioso pedido devocional crescia em
intensidade, ele entreabriu os olhos e fez sinal para que me aproximasse. Os
outros abriram caminho; curvei-me diante dos pés sagrados. Lahirir Mahasaya
colocou você no colo dele, pousando a mão em sua fronte, à guisa de batismo
espiritual. Mãezinha, teu filho será um iogue. Como uma locomotiva espiritual,
levará muitas almas ao reino de Deus. Meu coração saltou de alegria ao perceber
que minha súplica secreta tinha sido atendida pelo guru onisciente. Pouco antes
de seu nascimento, Mukunda, Lahiri Mahasaya me disse que você seguiria o
caminho dele. Mais tarde, meu filho, sua visão da Grande Luz foi testemunhada
por mim e por sua irmã Roma; de um quarto próximo, nós observávamos você imóvel
na cama. Seu rostinho iluminou-se; sua voz soou com determinação férrea quando
falou em ir para o Himalaia em busca do Divino. Por esses meios, filho querido,
eu soube que seu caminho está muito além das ambições mundanas. O mais singular
evento de minha vida trouxe-me confirmação posterior – um evento que agora me
impele a dar-lhe esta mensagem em meu leito de morte. Foi uma entrevista com um
sábio, no Punjab. Quando nossa família, vivia em Lahore, a criada entrou certa
manhã em meu quarto. Senhora, um estranho sadhu (3) está aqui. Ele insiste em
ver a mãe de Mukunda. Estas singelas palavras tocaram uma corda profunda dentro
de mim. Fui imediatamente cumprimentar o visitante. Curvando-me a seus pés,
senti que estava na presença de um verdadeiro homem de Deus. Mãe – disse ele –
os grandes mestres desejam que saiba que sua permanência na Terra não será
longa. Sua próxima doença será a última (4). Houve um silêncio durante o qual
não me senti alarmada, apenas senti uma vibração de grande paz. Finalmente ele
voltou a falar. A senhora deve ser a guardiã de certo amuleto de prata. Não lhe
darei o talismã hoje; para demonstrar a veracidade de minhas palavras, ele vai
se materializar em suas mãos, amanhã, quando estiver meditando. De seu leito de
morte, deverá instruir seu filho mais velho, Ananta, para que guarde o amuleto
durante um ano e então o entregue a seu segundo filho. Mukunda entenderá o
significado do talismã, proveniente de grandes seres. Ele deve recebe-lo na
época em que estiver pronto para renunciar a todas as esperanças mundanas e
começar a sua busca vital de Deus. Depois de haver conservado o amuleto por
vários anos e quando ele tiver servido a seu propósito, desaparecerá. Mesmo que
esteja guardado no esconderijo mais secreto, voltará ao lugar de onde veio. Ofereci
esmolas (5) ao santo e me inclinei diante dele com grande reverência. Sem
aceitar minha oferenda, abençoou-me e partiu. Na noite seguinte, quando eu
estava sentada em meditação, um amuleto materializou-se entre as palmas de
minhas mãos entrelaçadas, tal como o sadhu prometera. Fez-se notar por seu
contato liso e frio. Guardei-o zelosamente durante mais de dois anos, e agora o
deixo sob a custódia de Ananta. Não lamente minha partida, pois serei
introduzida por meu grande guru nos braços do Infinito. Adeus, meu filho: a Mãe
Cósmica o protegerá. Um raio de iluminação desceu sobre mim quando peguei o
amuleto, muitas recordações adormecidas despertaram. O talismã, redondo e
autenticamente antigo, estava coberto de caracteres sânscritos. Compreendi que
procedia de mestres de vidas anteriores, que invisivelmente guiavam meus
passos. Havia outro significado ainda, mas não se pode revelar completamente a
essência de um amuleto (6). Como o talismã afinal desapareceu em meio a
circunstâncias profundamente infelizes de minha vida, e como a sua perda foi o
arauto da chegada de um guru, não será contado neste capítulo. O menininho,
frustrado em suas tentativas de chegar ao Himalaia, apesar disso viajava para
longe, todos os dias, nas asas de seu amuleto. REFERÊNCIAS: 1. Swa, a raiz
sânscrita de Swami, significa – aquele que se uniu ao seu Eu. 2. O costume
indiano segundo o qual os pais escolhem o cônjuge de seus filhos tem resistido às rudes investidas do tempo.
Elevada é a percentagem de casamentos indianos felizes. 3. Anacoreta – pessoa
dedicada ao ascetismo e à disciplina espiritual. 4. Quando descobri, por essas
palavras, que mamãe tinha conhecimento secreto da breve duração de sua vida,
compreendi pela primeira vez por que ela insistira tanto em apressar os planos
para o casamento de Ananta. Embora ela tivesse morrido antes do casamento, seu
desejo materno natural fora o de assistir aos ritos. 5. Um gesto habitual de
respeito para com os sadhus. 6. O amuleto era um objeto produzido astralmente.
De estrutura evanescente, tais objetos precisam um dia desaparecer do nosso
mundo físico. Inscrito no talismã havia um mantra ou letra de um cântico
sagrado. Em nenhuma outra parte os poderes do som e de yach, a voz humana,
foram tão profundamente pesquisados quanto na Índia. A vibração de OM que
reverbera em todo o Universo – o Verbo ou Voz de muitas águas – da Bíblia, tem
três manifestações ou gunas: criação, preservação e destruição: Taittirya
Upanishad 1,8. Sempre que o homem pronuncia uma palavra, aciona uma das três
qualidades de OM. Esta lei está por trás do mandamento que, em todas as
Escrituras, diz que o home deve falar a verdade. O mantra sânscrito inscrito no
amuleto, quando pronunciado de modo correto, possuía uma potência vibratória
espiritualmente benéfica. O alfabeto sânscrito, de construção ideal, compreende
50 letras, tendo cada qual uma pronúncia determinada, fixa. George Bernard Shaw
(1856-1950) escreveu um ensaio sagaz e, logicamente, satírico sobre a
inadequação fonética do alfabeto Inglês de base latina. No qual 26 letras se
esforçam para carregar, sem êxito, o pesado fardo do som. Com sua habitual
impiedade – “se a apresentação de um alfabeto inglês, para o idioma inglês,
custar uma guerra civil – não o lamentarei. O senhor Shaw insistia na adoção de
um novo alfabeto de 42 letras – ver seu prefácio no livro The Miraculous Birth
of Language. Semelhante alfabeto se aproximaria da perfeição fonética do
sânscrito, cujo emprego de 50 letras evita erros de pronúncia. Livro
Autobiografia de um Iogue – Paramahansa Yogananda. Abraço. Davi
sexta-feira, 30 de março de 2018
quinta-feira, 29 de março de 2018
A RESISTÊNCIA JUDAICA DURANTE O HOLOCAUSTO.
Judaísmo. www.morasha.com.br. A RESISTÊNCIA JUDAÍCA
DURANTE O HOLOCAUSTO. Recentemente os historiadores passaram a considerar o
número de judeus brutalmente assassinados pelo Terceiro Reich em torno de
7milhões – e não mais 6 milhões. A pergunta muitas vezes feita é por que estes
não resistiram? Por que não lutaram? Por que se deixaram levar “como ovelhas”?
Quem pergunta tem a objetividade do tempo transcorrido desde então e nenhuma
vivência pessoal de um horror que a mente humana não consegue assimilar. Mas a
pergunta precisa ser respondida. Uma guerra sem fronteiras havia sido declarada
pela Alemanha de Hitler contra o Povo Judeu, sem restrição de homens ou
armamentos. O fato colocava os judeus numa situação extremamente difícil. Eles não
possuíam um Estado, tampouco forças de combate treinadas; e nem aliados. Eram
uma minoria civil desarmada, espalhada em todos os países da Europa. No Leste
Europeu eram desprezados. Hoje, temos provas e testemunhos de que houve
centenas de atos, individuais e de grupo, de resistência judaica aos nazistas
nos países da Europa Ocidental e Oriental. Essa resistência se manifestou de
forma diferente dependendo do país, do grau de antissemitismo da população
local e do momento histórico. Um dos grandes desafios na historiografia da
resistência judaica durante o Holocausto é a definição do que deve ser
considerado como “resistência” a um poder opressor. Deve-se considerar apenas a
ação armada? Historiadores concordam que há duas categorias básicas: a resistência
civil, não violenta, e a armada. E, mesmo a armada é subdividida entre a
ofensiva e a chamada acorrentada. A resistência ofensiva inclui operações
armadas não convencionais, ações de guerrilheiros ou de sabotagem. Um exemplo
da resistência ofensiva foi a luta dos partisans1 nos
territórios sob domínio alemão. A acorrentada, por sua vez, implica em ações
armadas em situações em que são praticamente nulas as esperanças de
sobrevivência. O Levante do Gueto de Varsóvia, há 75 anos, em abril de 1943,
assim como os levantes ocorridos em outros guetos e campos de concentração, são
exemplos de resistência acorrentada. Há testemunhos sobre centenas de atos
individuais de mulheres e homens judeus, que, sendo levados à morte, tentaram
ferir seus algozes com facadas e até mesmo mordidas. E, é um fato histórico de
que dezenas de milhares de judeus participaram da resistência armada,
engrossando as fileiras dos movimentos nacionais de resistência, os partisans, na
luta contra o inimigo comum. (Apenas em território polonês, com raríssimas
exceções, os grupos de resistência não aceitavam judeus em suas fileiras). Nunca
é demais enfatizar que os partisan superavam apenas em ações de
guerrilhas. Um enfrentamento aberto, com armas em punho, contra os alemães
ocorreu em apenas três ocasiões – em Varsóvia, Paris e Eslováquia, no final do
verão europeu de 1944. Nas três ocasiões os resistentes sabiam que as forças
Aliadas estavam próximas. Em toda a Europa sob domínio nazista foram muito
frequentes os casos de ajuda por parte de judeus a seus correligionários “em
perigo ou em fuga”, de salvamento de crianças, de proteção aos que se
escondiam. E, enquanto aumentavam os esforços nazistas para erradicar os judeus
da História, dia após dia eles registravam a vida sob ocupação nazista,
inclusive nos campos de concentração. Escrever era uma forma de resistir, era
deixar a prova dos crimes nazistas. Na Polônia, trancafiados em guetos,
isolados e sem qualquer meio de comunicação com o exterior, os judeus criaram
uma ativa resistência civil, entre outras, organizações assistenciais,
religiosas e educacionais clandestinas. E conseguiram realizar levantes armados
em cinco dos principais guetos, em 45 dos menores, em cinco campos de
concentração e extermínio, e em 18 campos de trabalhos forçados. A fuga era uma
maneira de resistir. Mas, mesmo quando os judeus tinham os meios e a
oportunidade, as dificuldades eram enormes. A pergunta era “para onde ir? ”.
Praticamente nenhum país lhes abrira suas portas. Os que tiveram tempo de
escapar para outros países da Europa não foram rápido ou longe o suficiente;
judeus alemães e austríacos foram capturados na França, Bélgica e assim por diante.
Sem ajuda era quase impossível se esconder, e sobreviver. A população não
judaica muitas vezes era hostil; no melhor dos casos, indiferente a eles e à
sua sorte. Em sua caça aos judeus, os nazistas contavam com a ajuda
entusiasmada de ucranianos, lituanos e poloneses. E aquele que decidisse ajudar
um judeu, sabia que, se descoberto, seria executado. Ademais, qualquer tipo de
resistência por parte de uma nacionalidade qualquer era fortemente inibido pela
polícia nazista e seus métodos de terror. Porém, aos judeus os nazistas
reservavam um “tratamento especial”. A punição a um não judeu suspeito de um
ato de resistência era, em muitos casos, a execução sumária; a tortura era
usada para extrair informações. Porém, para um resistente judeu a execução sumária
era a melhor opção, pois, via de regra, ele devia “ser morto da maneira que
mais conduzisse à disciplina e que impedisse qualquer outro tipo de
resistência”. O sadismo nazista não teve limites. No Leste da Europa, os
resistentes judeus eram esfolados, queimados vivos, jovens judias recebiam
injeções de veneno que provocavam espasmos musculares antes da morte. Em
Minsk, o comandante das SS cegava os judeus capturados com ferro em brasa e os
enviava de volta para seus companheiros, como um “alerta”. Mas, acima de tudo,
a resistência era inibida pela política alemã de “responsabilidade coletiva”.
Essa tática de retaliação atribuía a responsabilidade a famílias, até a
comunidades inteiras por atos individuais de resistência. No caso judaico, a
retribuição podia atingir todos os habitantes de um gueto. Caso um judeu fosse
encontrado fugindo, de posse de um rádio, um telefone ou uma arma, dezenas ou
até centenas de judeus eram assassinados em represália. E, na eventualidade de
um judeu ferir ou matar um alemão, os números chegavam a milhares. Portanto, a
pergunta a ser feita é “como pôde haver uma resistência? ”. NA EUROPA
OCIDENTAL. Nos países da Europa Ocidental são muitos os exemplos de
resistência judaica – individual e organizada, civil e armada. Na França, por
exemplo, às vésperas da eclosão da 2ª Guerra, quando as autoridades francesas
anunciaram que evacuariam crianças francesas de Paris, os líderes dos Éclaireurs
Israélites, (Escoteiros Judeus) organizaram a saída das crianças judias das
famílias de imigrantes e montaram lares de infância coletivos no sul da França.
Os Éclaireurs Israélites e outros movimentos judaicos juvenis
tiveram papel crucial quando a perseguição ativa aos judeus chega ao país. Por
toda a Europa havia judeus engajados em ajudar seus correligionários “em perigo
ou em fuga”. A partir da França, a entidade judaica Oeuvre de Secours
aux Enfants (OSE), adotando o lema “Il faut sauver les enfants!
” (É preciso salvar as crianças), organizou uma rede clandestina de
resgate de crianças judias de toda Europa, que ficou conhecida como Circuit
Garel. A OSE os transportava para o sul da França, acomodando-os em lares e
orfanatos. Em 1943, com a intensificação das deportações, conseguiram
contrabandeá-las para a Suíça. Como mencionamos acima, milhares de judeus
combateram nas fileiras dos movimentos nacionais de resistência na França,
Bélgica, Itália, Iugoslávia, Grécia e Eslováquia. Na França, foi grande o
número de judeus na Resistência Francesa, La Résistance. Muitos
inclusive ocuparam posições de liderança. Um dos grupos da Résistance era
a Armée Juive (Exército Judeu), que operava no sul da França. Quando
os britânicos criaram a Special Operations Executive (SOE)
para espionar os inimigos e organizar os movimentos de resistência, entre os
agentes de campo infiltrados atrás das linhas alemãs havia muitos judeus,
principalmente mulheres. Na Grécia, o rabino Barzilai e os líderes comunitários
que faziam parte do Judenrat de Atenas decidiram não atender
nenhuma exigência nazista e agiram rapidamente. Foram queimadas todas as
informações sobre a comunidade, o rabino raspou a barba, juntando-se aos partisans nas
montanhas e incentivando todos os judeus a fugir. Entre os que se juntaram
aos partisans gregos, destacam-se 40 indivíduos integrantes do
grupo que explodiu a ponte da principal ferrovia, ligando o norte ao sul da
Grécia. A RESISTÊNCIA NÃO ARMADA NO LESTE EUROPEU. Os guetos no Leste
Europeu eram centros de morte lenta. Os judeus morriam de fome e de frio, pois
a quantidade oficial de alimentos e combustível que os nazistas destinavam a
eles era ínfima e constantemente reduzida. Morriam nas ruas por nenhum motivo
além de serem judeus. Em Varsóvia, a taxa de mortalidade chegou a mil por
semana. Os judeus procuraram resistir à política nazista de inanição e
desumanização. No início do seu confinamento – quando ninguém podia sequer
imaginar a possibilidade de um extermínio em massa ou de câmaras de gás – a
preocupação girava em volta da sobrevivência física, moral e espiritual. Na
maioria dos guetos maiores, uma “comunidade paralela”, uma rede de organizações
sócias, assistências, e políticas underground, incluindo movimentos juvenis,
passou a funcionar. Seus líderes haviam saído das fileiras das instituições
judaicas, dos movimentos juvenis sionistas e dos partidos de esquerda do
pré-guerra. Alimentos, mercadorias e medicamentos eram contrabandeados para
dentro dos muros do gueto, muitas vezes por crianças. Era o contrabando que
mantinha o gueto vivo. A “comunidade paralela” criou refeitórios, orfanatos,
clínicas e abrigos para refugiados e os mais pobres. Organizava ensino
clandestino e atividades culturais. Em Varsóvia, os “comitês das residências”
atuavam para cuidar dos que moravam em seus complexos habitacionais. Em muitos
casos, as atividades sociais davam cobertura a movimentos políticos ilegais. Sendo
a prática da religião judaica proibida, uma resistência religiosa entra em ação
para ajudar os judeus a observarem leis e feriados religiosos. Em casa de
orações clandestinas havia diariamente minyanim; apenas em Varsóvia
eram cerca de 600. Os rabinos continuavam a lecionar, a escrever comentários, a
realizar casamentos, Brit milot, Bar Mitzvás. Jovens
continuaram a estudar em yeshivot clandestinas. Os médicos
judeus não tinham acesso a medicamentos para salvar os doentes já enfraquecidos
pela fome. Ao se dar conta de que a guerra contra a fome estava perdida,
passaram a estudar os efeitos da inanição em seu próprio corpo e nos cadáveres.
Suas conclusões foram publicadas após a guerra, em Paris. Sob domínio nazista
era “ilegal” que os judeus possuíssem rádio, telefone ou que publicassem um
jornal. No entanto, a maioria dos grupos políticos clandestinos lutava contra o
isolamento judaico publicando jornais e boletins clandestinos. As notícias eram
compiladas de transmissões soviéticas ou da BBC, em rádios escondidos. Muitos,
judeus e não judeus, registram a vida sob julgo nazista, mas os arquivos mais
completos foram coletados pelo grupo “Oyneg Shabbes “, fundado em
Varsóvia pelo historiador Emanuel Ringelblum (1900-1944). As palavras de ordem
de Ringelblum eram “reunir material, juntar impressões e registrá-las,
imediatamente”. Ele acreditava que os arquivos permitiriam ao mundo pós-guerra
ouvir as vozes dos que foram silenciados. Eram registros dos crimes cometidos
pelos nazistas, e da vida, e morte dos judeus no gueto de Varsóvia e no resto
da Polônia. Um parêntese precisa ser aberto a respeito dos Judenrats,
os Conselhos Judaicos criados pelos nazistas para executarem suas ordens. As
atitudes de vários desses Conselhos são até hoje questionadas e criticadas, mas
não cabe aqui analisar suas ações ou razões. Porém, é preciso ressaltar que
muitos foram forçados a assumir o cargo, sob pena de morte, e que os Conselhos
eram impotentes frente aos nazistas. Suas tentativas de aliviar as condições de
vida nos guetos raramente tinham sucesso. O PONTO DE INFLEXÃO. A
operação Barbarossa, a invasão da União Soviética iniciada em junho de 1941,
marcou o ponto de inflexão da política alemã em relação aos judeus. Com a
invasão, dá-se início à matança rápida e indiscriminada de todo e qualquer
judeu, independente de idade ou sexo. Crianças de colo não eram poupadas. A
velocidade, e sigilo e ardis usados pelos alemães e seus colaboradores eram
essenciais para o “bom andamento das operações”. Quando havia qualquer tipo de
resistência, esta era brutal e imediatamente silenciada. Dia após dia, cidade
após cidade, os nazistas destruíram sistematicamente comunidades judaicas
inteiras. Não foram poucas as vezes em que foram “ajudados” pela população
local. Os alemães sabiam e exploraram ao máximo o antissemitismo reinante no
Leste europeu. Apesar do esforço alemão para manter a “Solução Final” em sigilo
absoluto, alguns judeus rastejaram com vida das valas onde os nazistas os havia
jogado junto com centenas de outros que haviam sido mortos a tiro. Eles
revelavam aos judeus que os encontraram “o crime sem nome” que vivenciaram. A
princípio, a maioria dos líderes dos movimentos judaicos clandestinos receberam
os relatos dos assassinatos em massa com ceticismo; os que acreditaram não conseguiram
interpretar o verdadeiro alcance dos acontecimentos. Em 1942, os testemunhos de
judeus que haviam fugido de campos de extermínio fizeram-nos estremecer. A
resistência polonesa também alertara seus contatos em Varsóvia sobre o que
acontecia com os judeus em Treblinka. Um dos membros do Bund é então enviado
para investigar, e volta com a confirmação de que se tratava de um campo de
morte, onde os judeus eram assassinados em câmaras de gás. Outros couriers,
foram despachados paraaveriguar e repassar as informações. Eles também voltam
com a confirmação dos massacres. Esses jovens, em sua maioria mulheres, haviam
criado uma rede de comunicação para conectar vários guetos. Com documentos
falsos viajavam por toda a Polônia levando informações, jornais clandestinos e
dinheiro; compravam e contrabandeavam armas para dentro dos guetos e
organizavam rotas de fuga. Ao receber confirmação dos assassinatos em massa e
das câmaras de gás, as lideranças compreenderam a realidade da “Solução Final”.
Perceberam que para evitar uma revolta em massa, os judeus eram ludibriados de
forma a pensar que apenas estavam sendo levados a campos de trabalho. Os
nazistas eram “ajudados” pela tendência do ser humano de racionalizar e de
negar o pior. “Por que os nazistas nos matariam se podiam explorar nossa mão de
obra? Vamos trabalhar nas piores condições possíveis, como escravos, mas vamos
sobreviver”. Para os movimentos clandestinos, a estratégia de não-provocação
até então adotada, facilitava os planos dos nazistas. Decidiram que era
imprescindível convencer outros judeus a resistir às deportações,
convencendo-os de que eram o passo inicial para a liquidação judaica. E
decidiram que era preciso enviar as informações para os Aliados, na esperança
de que algo fosse feito em seu socorro. Iludiam-se pensando que a falta de
ajuda decorria da falta de conhecimento (...). RESISTÊNCIA ARMADA. Vimos
acima que a ferramenta nazista mais potente contra a resistência era a tática
da “responsabilidade coletiva”. A pessoa podia estar decidida a lutar, a
enfrentar a tortura e a morte. Mas estaria preparado para ver que suas decisões
levaram os nazistas a assassinar seus familiares, seus amigos, quem sabe, o
gueto inteiro? Os inimigos eram implacáveis e as represálias, selvagens. E, o
crime supremo – matar um alemão – era vingado com rios de sangue judaico. Os
exemplos não terminam. Em Dolhyhnov, próximo a Vilna, toda a população do gueto
foi assassinada após a fuga de dois meninos que se recusaram a voltar atrás. Em
Bialystok os alemães atiraram em 120 judeus, em plena rua do gueto, após um
judeu ter matado um policial alemão, e ameaçaram destruir o gueto inteiro se
ele não se rendesse – o que acabou acontecendo (...). Os movimentos juvenis e
os partidos de esquerda e o Judenrat – que diferiam em muitos
assuntos – estavam de acordo em que uma resistência armada só poderia acabar em
morte para os judeus. E, enquanto houvesse a possibilidade de sobrevivência,
ainda que para uma minoria, teriam que aguardar. Mas eles se preparariam (...).
Em 1942 são criadas organizações de resistência armada. A primeira delas, a
FPO, Organização dos Partisans Unidos, foi formada em Vilna.
Um de seus comandantes, o poeta Abba Kovner, foi um dos primeiros a entender as
intenções nazistas. Num discurso inflamado em uma reunião underground,
Kovner conclama seus irmãos, judeus, a resistir. “Não acredite naqueles que
pretendem enganar-nos (...). O plano de Adolf Hitler (1889-1945) é eliminar
todos os judeus da Europa. É melhor cair como guerreiros do que viver à mercê
dos assassinos. Levantem-se! Ergam-se com suas últimas forças” O ZOB (Zydowska
Organizacja Bojowa, Organização de Combatentes Judeus, em polonês) deu seus
primeiros passos em Varsóvia, em 1942, após a Grande Deportação. Esse movimento
de resistência seria decisivo na organização do Levante do Gueto de Varsóvia. A
finalidade e velocidade da Solução Final deixava duas opções aos grupos de
resistência – que sobreviveram às deportações: organizar fugas em massa ou
ficar nos guetos e lutar. Os que optaram pela fuga, procuraram abrigo nas
florestas. Alguns juntaram-se às unidades de partisans soviéticos,
outros conseguiram formar grupos separados. Mas, muitos morreram de fome ou
pelas mãos de partisans ou camponeses poloneses: o ódio da
população em relação aos judeus era mais forte do que o ódio que nutriam pelos
alemães. A situação dos que ficaram para lutar era desesperadora e o tempo
corria contra eles. Rodeados por uma força militar alemã treinada e equipada
estavam em inferioridade numérica e seu “armamento” era irrisório; e era
extremamente difícil e perigoso obter armas. Os combatentes judeus não recebiam
armas, alimentos ou remédios “caídos dos céus”, jogados pelos Aliados, como os
demais grupos de resistência. Os couriers ou os judeus que
viviam no lado “ariano” tinham que comprar ou roubar armas, e contrabandeá-las
para dentro dos guetos sem serem detectados. No entanto, estavam preparados
para lutar e morrer; sua honra e a honra do Povo Judeu estavam em jogo. Sabiam
que não sobreviveriam, mas “por que não resistir quando a alternativa era a
morte em momento e local escolhidos pelos nazistas? escreveu um dos combatentes
do Levante do Gueto de Varsóvia, “Estamos sendo impelidos pelo desespero aliado
ao desejo de vingança. Nossos familiares foram abatidos como gado e atirados em
covas sem nome. O simples pensamento de dar um fim à vida de alguns alemães,
que fosse, já é um poderoso incentivo”. Nos guetos maiores, os combatentes das
organizações clandestinas sabiam que não podiam contar, de modo geral, com o
apoio dos Judenrat, nem com a população geral do gueto. Muitos
líderes desses conselhos eram ambivalentes quanto a ajudar a resistência porque
esperavam que a maior parte da população do gueto pudesse ser salva com seu
trabalho, e viam a rebelião armada como um plano suicida. Apenas em Kovno e Minsk,
os líderes do Judenrat cooperaram com o movimento clandestino.
A resistência mais bem-sucedida, uma fuga em massa, ocorreu em Minsk. Entre 6
mil a 10 mil judeus fugiram para as densas matas, e alguns milhares
sobreviveram até o final da guerra. Em muitos guetos menores, nos territórios
ocupados no leste da Polônia e da então URSS, os membros dos Judenrat eram
atuantes no movimento ou cooperavam com a resistência. Em muitos desses guetos
irromperam revoltas espontâneas durante sua liquidação final. O exemplo mais
famoso e dramático de resistência judaica armada durante o Holocausto foi o
Levante do Gueto de Varsóvia, em abril e maio de 1943, que assumiu um
significado muito além da revolta em si. Tornou-se um momento decisivo na
História Judaica, como reconheceu Mordechai Anielewicz, líder da ZOB, ao
escrever sua derradeira carta duas semanas antes de sua morte. REVOLTA NOS
CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO. Durante a Guerra, no período de 1939-1945, milhões
de pessoas passaram por uma extensa rede de milhares de diferentes campos erguidos
na Alemanha e nos países europeus ocupados por esse poder. Acredita-se que 5,7
milhões de judeus, entre homens, mulheres e crianças foram mortos nos campos
nazistas. A maioria foi envenenada por gás Zyklon-B logo após sua chegada em um
dos seis campos de extermínio estabelecidos em território polonês: Chelmno,
Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz-Birkenau e Majdanek. A atmosfera de total
terror e isolamento, nos campos, bem como a inanição crônica da maioria dos
prisioneiros inibiram completamente sua vontade e suas possibilidades de
resistir. A rotina diária nos campos era organizada de forma brutal. Incluía um
sistema elaborado de duros castigos pelas menores “infrações”, vigilância
acirrada e intermináveis chamadas para a contagem dos prisioneiros. Cercas de
arame farpado e de alta voltagem, cães selvagens amestrados e torres de
segurança deixavam pouca esperança de fuga. Quem tentava resistir ou fugir era
morto de imediato. Mas, apesar desses enormes obstáculos, houve vários atos de
resistência em diversos campos. Mesmo nos de extermínio, à sombra das câmaras
de gás e crematórios, os judeus encontraram formas de resistir a seus
opressores: lutar contra a desumanização. Havia tentativas organizadas pelos
movimentos clandestinos para informar ao mundo a brutalidade nazista, as cruéis
condições físicas e a sistemática aniquilação de judeus nesses campos do
inferno. Os judeus rezavam, acendiam velas de Chanucá; um par
de tefilin era um bem precioso (...). Três levantes corajosos
e ousados ocorreram nos centros de morte de Treblinka, Sobibor e
Auschwitz-Birkenau. De forma semelhante às rebeliões nos guetos, as revoltas
organizadas nesses centros, onde a humanidade chegou ao seu nível mais baixo,
surgiam do puro desespero e desesperança. Yehuda Bauer (1926- ), Professor Emérito de História e Estudos do
Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, e Consultor Acadêmico no Yad
Vashem, é um dos historiadores e pesquisadores que, em seu livro Rethinking
the Holocaust (“Repensando o Holocausto”), respondeu à pergunta: “Por
que os judeus não resistiram? ”. Ele escreveu: “A análise sobre a reação ativa
judaica à opressão nazista poderia resumir-se de maneira quase triunfalista:
havia uma resistência não armada, havia a santificação da vida, havia a
resistência armada (...). Ao se revoltar contra o regime hitlerista, que visava
exterminar toda a população judaica, os judeus não se envolveram em um ato de
heroísmo. Eles simplesmente quiseram preservar a substância moral e material de
nosso povo. Seu sucesso lhes garantiu a imortalidade”. www.morasha.com.br. Abraço. Davi
quarta-feira, 28 de março de 2018
SOMOS ETERNOS
Rosa
Cruz. www.fraternidaderosacruz.org.
Livreto Introdutório aos Ensinamentos da Sabedoria do Ocidente. Texto de Max
Heindel (1865-1919). SOMOS ETERNOS.
“Numa nuvem tormentosa sibilando; na asa de Zéfiro, O coro do espírito canta os
hinos sacros do mundo, alegremente Escuta! Ouve suas vozes: "Pelas portas
da morte nós passamos, a Morte não existe; alegrai-vos a vida continua
eternamente". Somos, sempre fomos e sempre o seremos. Somos uma parte da
Eternidade, Mais velha que a Criação, a parte de Um Grande Todo, Cada Alma é
Individual, na sua imortalidade. No tear farfalhante do Tempo, nossa roupagem
formamos, A rede do Pensamento urdidos eternamente; O que é modelada na Terra,
é no céu que planejamos E ao nascer, nossa raça e nossa pátria, já as trazemos
na mente. Brilhamos em uma joia e sobre a onda dançamos e cintilamos em pleno
fogo, a tumba desafiamos através de formas várias em tamanho, gênero e nome A
essência individual é a mesma, é a que sempre carregamos. E quando alcançarmos
o mais elevado grau, 29 A gradação do crescer com nossas mentes relembraremos
para que, elo por elo, possamos juntá-los todos E passo a passo tragar o
caminho que percorremos. Com o tempo saberemos, o que realmente foi feito O que
eleva e enobrece, o certo e a verdade Sem malicia com ninguém, sempre agindo
com bondade, Em e através de nós, a Deus será feita a Vontade”. Aventuramo-nos
a dizer que há somente um pecado: a ignorância; e só uma salvação: o
conhecimento aplicado. Ainda o mais sábio dentre nós sabe muito pouco de tudo
quanto se pode aprender, e ninguém alcançou a perfeição, nem esta pode ser
conseguida numa só e curta vida. Mas observamos que tudo na Natureza tende a se
desenvolver lenta e persistentemente, procurando alcançar estados cada vez mais
elevados; a esse processo chamamos de Evolução. Uma das principais
características da evolução está no fato de que ela se manifesta em períodos
alternados de atividade e repouso. O ativo verão, no qual todas as coisas sobre
a Terra se multiplicam e procriam, é seguido pelo descanso e a inatividade do
inverno. As atividades do dia alternam-se com a quietude da noite. O fluxo dos
oceanos é seguido pelo refluxo das marés. Assim, como todas as coisas se movem
em ciclos, não é razoável supor-se que a vida, que se manifesta sobre a Terra
durante uns poucos anos, se acabe, quando a Morte chega, mas que tão
seguramente como o Sol reaparece pela manhã, depois de ter-se ocultado ao
chegar a noite, também a vida que terminou com a morte de um corpo há de
manifestar-se outra vez num novo veículo e num ambiente diferente. Nossa Terra
pode ser comparada a uma Escola a qual voltamos, vida após vida, para aprender
novas lições, da mesma forma que nossos filhos vão à escola, dia após dia, para
aumentar seus conhecimentos. A criança dorme durante a noite que medeia entre
dois dias de escola, e o espírito também tem seu descanso da vida ativa entre a
morte e um novo nascimento. Há, também, diferentes classes nesta escola do
mundo, que correspondem aos diferentes graus, desde o jardim de infância até a
Universidade. Nas classes inferiores encontramos Espíritos que só frequentaram
a Escola da Vida poucas vezes; estes são os atuais selvagens, mas com o tempo,
far-se-ão mais sábios e melhores do que nós somos agora, e nós mesmos
progrediremos em vidas futuras a alturas espirituais que atualmente nem podemos
conceber. Se formos aplicados na aprendizagem das lições da vida, progrediremos
muito mais depressa nessa escola da vida do que se folgarmos e desperdiçarmos
nosso tempo. Isso obedece aos mesmos princípios que governam nossas
instituições de ensino. Nós não estamos aqui pelo capricho de Deus. Ele não
colocou uns num jardim e outros num deserto, nem tampouco deu a alguns corpos
saudáveis, de modo a poderem viver livres de dores e enfermidades, enquanto
outros foram colocados em pobres circunstâncias que nunca se vêm livres da dor.
Mas o que somos devemos à nossa diligência ou negligência, e o que seremos no
futuro dependerá do que queiramos ser, e não do capricho de um Deus ou de um
destino inexorável. Não importa quais sejam as circunstâncias; está em nós
mesmos o poder de dominá-las, ou seremos dominados por elas, de acordo com a
nossa vontade. Sir Edwin Arnold (1832-1904) exprime esta ideia de modo
magnífico em seu livro A Luz da Ásia: "Os Livros dizem bem, meus Irmãos a
vida de cada homem de sua anterior existência vemos bem o resultado; Trazem
dores e misérias os erros que praticaram, trazem bênçãos infinitas, os acertos
do passado. Cada um tem sua dignidade, como os mais altivos a tem 30 ao redor,
acima e abaixo, com poderes ao dispor, sobre toda a humanidade e sobre tudo o
que vive cada um livremente age causando alegria ou dor. Quem labutou, um
escravo, como príncipe poderá voltar por virtudes alcançadas e por nobre
merecer, quem governou, um rei, em farrapos poderá vagar por todas as coisas
que fez e as que deixou de fazer." Ou então, como disse Ella Wheeler
Wilcox (1850-1919): "Um barco sai para Leste e para o Oeste um outro sai
com o mesmo vento que sopra, numa única direção. E a posição certa das velas e
não o sopro do vento que determina, por certo, o caminho em que eles vão. Os
caminhos do destino são como os ventos do mar conforme nós navegamos ao longo e
através da vida. É a ação da alma que a meta nos vai levar e não a calmaria ou
o constante lutar." Quando queremos que alguém se encarregue de uma
determinada missão, escolhemos uma pessoa que nos pareça particularmente
capacitada para cumpri-la e, assim, havemos de supor que um Ser Divino usaria
pelo menos o mesmo bom-senso, e não escolheria qualquer um para levar esta
mensagem se não estivesse capacitado para isso. Assim, pois, quando lemos na
Bíblia que Sansão foi escolhido para destruir os Filisteus, e que Jeremias foi
predestinado a ser profeta, é muito lógico supor-se que estavam particularmente
aptos para levar a cabo sua missão. João, o Batista, também nasceu para ser o
arauto do Salvador que estava para chegar e para pregar o Reino de Deus, que
deve ocupar o lugar do reinado dos homens. Se essas pessoas não tivessem
recebido uma preparação prévia, como poderiam ter-se desenvolvido para cumprir
suas várias missões e, se foram treinadas, de que modo o foram, se não em vidas
anteriores? Os judeus acreditavam na Doutrina do Renascimento ou, do contrário,
não perguntariam a João, o Batista, se ele era Elias, como está no primeiro
Capitulo do Evangelho de são João. Os Apóstolos de Cristo também sustentavam
essa crença, como podemos ver pelo incidente relatado no Cap.16 de são Mateus,
onde Cristo pergunta-lhes: "Que dizem os homens que Eu, o Filho do Homem,
sou?" E os apóstolos responderam: "Alguns dizem que Tu és João
Batista, outros que es Elias, e outros que es Jeremias, ou um dos
profetas". Nesta ocasião, Cristo assentiu tacitamente com o ensino do
Renascimento, porque não corrigiu seus discípulos, como seria seu dever, em sua
qualidade de Mestre, se verificasse que seus discípulos tinham uma ideia
errônea. Mas a Nicodemos Ele disse inequivocamente: "A não ser que um
homem nasça outra vez, não poderá ver o reino de Deus", e no Cap.11 de São
Mateus, no versículo 14, disse Cristo, referindo-se a João, o Batista:
"Este é Elias". No Cap.17 de São Mateus, no versículo 12, Ele disse:
"Elias já veio, e eles não o conheceram, mas fizeram com ele o que
quiseram...". "então os discípulos compreenderam que Ele lhes falava
de João, o Batista." Assim, pois, nós sustentamos que a Doutrina do
Renascimento oferece para o problema da vida a única solução que está em
harmonia com as Leis da Natureza, que responde aos requisitos éticos da
questão, e nos permite amar a Deus sem anular nossa razão, diante das
desigualdades da vida e das circunstâncias diversas que dão comodidade e
bem-estar, saúde e riqueza a poucos, enquanto tudo isso é negado a tantos
outros. A teoria da hereditariedade, lançada pelos materialistas, aplica-se somente
à forma pois, da mesma maneira que um carpinteiro usa material de determinada
pilha de madeira para construir uma casa na qual há de viver, também o espírito
toma de seus pais a substância com a qual há de construir sua casa. O
carpinteiro não poderia construir uma casa resistente e durável usando madeira
imprópria; e da mesma maneira, o espírito só pode construir um corpo semelhante
ao daqueles de quem tirou o material. Mas a teoria da hereditariedade não se
aplica ao plano moral, pois é fato notório que nas galerias dos criminosos da
América e da Europa não há um caso em que estejam juntos pai e filho. Assim,
embora os filhos dos criminosos tenham herdado tendências para o crime, podem
manter-se fora das malhas da Lei. A hereditariedade também não é vitoriosa no
plano intelectual, porque podem ser citados muitos casos em que um gênio e um
idiota saem da mesma origem. O grande Cuvier, cujo cérebro era aproximadamente
da mesma capacidade do de Daniel Webster (1782-1852) e cujo intelecto foi
igualmente grande, teve cinco filhos que morreram de paralisia geral. O irmão
de Alexandre, o Grande, foi um idiota; em suma, nos sustentamos que deve ser
encontrada outra solução que possa esclarecer esses fatos da vida. A Lei do
Renascimento, junto com sua companheira, a Lei da Causa, explicam tais fatos
satisfatoriamente. Depois de morrermos, após uma vida, tornamos a voltar mais
tarde a Terra, sob circunstâncias determinadas pelo modo pelo qual vivemos
antes. O jogador é atraído para os cassinos e para os hipódromos, para
associar-se a outros de igual gosto; o músico é atraído para as salas de
concertos e conservatórios, para Espíritos que lhe são afins, e o Ego que volta
traz consigo os gostos e aversões que o obrigam a procurar seus pais entre
aqueles da classe a que ele pertence. Mas alguém pode nos apontar agora casos
em que se encontram juntas pessoas de gostos inteiramente diversos, vivendo
vidas torturadas, pelo fato de se verem agrupadas na mesma família, forçadas
pelas circunstâncias a permanecerem ali contra a sua vontade. Isso, porém, não
invalida a Lei, de modo algum. Em cada vida contraímos certas obrigações que
não podemos cumprir na ocasião. Talvez tenhamos fugido a um dever como, por
exemplo, o de atender a um parente inválido, e a morte chegou antes de termos a
compreensão desse nosso erro. Esse parente, por sua vez, pode ter sofrido muito
por nossa negligência e armazenou contra nós uma grande dose de amargura, antes
que a morte terminasse o seu sofrimento. A morte, e a consequente mudança para
outro ambiente, não liquida nossas dívidas desta vida, assim como a mudança de
uma cidade na qual vivemos atualmente não liquida as dívidas que tenhamos
contraído antes da mudança. É, portanto, perfeitamente possível que aqueles
dois que se prejudicaram mutuamente, como descrevemos, venham a ser reunidos
como membros de uma mesma família. Então, mesmo que não se lembrem do mal que
fizeram, a antiga inimizade se manifestará e fará com que se odeiem novamente,
até que a aflição resultante os obrigue a se tolerarem mutuamente e, por fim,
talvez, aprendam a se amar, em vez de se odiarem. Na mente do pesquisador
também se apresenta essa pergunta: Seja estivemos aqui antes, por que não nos
lembramos disso? Mas a essa pergunta podemos responder que, embora a maioria das
pessoas não seja consciente do modo pelo qual passaram suas vidas anteriores,
outras há que tem nítida lembrança de suas vidas passadas. Uma amiga do autor,
por exemplo, quando vivia na França, começou, certo dia, a descrever a seu
filho coisas a respeito de uma certa cidade na qual iam fazer uma excursão de
bicicleta, e o menino exclamou: "Mãe, não precisa me dizer nada disso; eu
conheço essa cidade, porque nela vivi, e nela me mataram". E começou a
descrever a cidade, falando de certa ponte. Posteriormente, o rapaz levou a mãe
até essa ponte e mostrou-lhe o lugar onde havia encontrado a morte há alguns
séculos. Outra amiga, por ocasião de uma viagem a Irlanda, viu uma cena que
reconheceu, e também descreveu aos companheiros uma paisagem que seria vista atrás
de uma volta do caminho, que ela nunca havia visto antes nesta vida; assim, é
preciso admitir que ela havia conservado a memória de uma vida anterior.
Inúmeros outros exemplos poderiam ser citados, nos quais essas minúcias de
memória e vislumbres repentinos revelam-nos fatos de uma vida anterior. O caso
comprovado, no qual uma menina de três anos de idade, em Santa Bárbara,
descreveu sua vida e sua morte já foi relatado no Conceito Rosacruz do Cosmos.
Esta é, talvez, a evidência mais positiva, pois se baseia na narração de uma
menina demasiado pequena para que pudesse ter aprendido a mentir. Porém, essa
teoria da vida não repousa em mera especulação. Este é um dos primeiros fatos
da vida demonstrados ao discípulo de uma Escola de Mistérios. Ensina-o a observar
uma criança a hora da morte, e depois de observá-la no mundo invisível dia após
dia, até que ela volte a renascer um ou dois anos mais tarde. Então, ele sabe
com absoluta certeza que nós voltaremos a Terra, para colher numa vida futura o
que semeamos agora. A razão de escolher-se uma criança de preferência a um
adulto é porque a criança renasce muito rapidamente, pois sua curta vida na
Terra deu muito poucos frutos, e estes são logo assimilados, enquanto o adulto,
que viveu uma longa vida e tinha muita experiência, permanece nos mundos
invisíveis por séculos, de modo que o discípulo não poderia observá-lo desde a
morte até o renascimento. A causa da mortalidade infantil será explicada
posteriormente. Por enquanto, só queremos deixar bem assentado o fato de que
está dentro das possibilidades de cada homem, sem exceção, tornar-se capaz de
chegar ao conhecimento direto daquilo que aqui estamos ensinando. O intervalo
médio entre duas vidas terrestres é de cerca de mil anos. Isto é determinado
pelo movimento do Sol, chamado pelos astrônomos de precessão dos equinócios,
movimento pelo qual o Sol se move através de cada um dos Signos do Zodíaco
cerca de 2.100 anos aproximadamente. Durante esse tempo, as condições sobre a
Terra terão mudado de tal maneira que o Espírito encontrará aqui experiências
inteiramente novas e por isso voltará. Os Grandes Guias da Evolução sempre
conseguem o máximo benefício através das condições que Eles planejam e, como as
experiências nas mesmas condições sociais são muito diferentes para o homem e
para a mulher, o Espírito Humano renasce duas vezes durante os 2.100 anos
medidos pela precessão dos equinócios acima mencionada, nascendo uma vez como
homem e outra como mulher. Esta é a regra, mas ela está sujeita às modificações
que sejam necessárias a fim de facilitar a ceifar aquilo que o Espírito semeou,
como requer a Lei da Causa, que atua em conjunto com a Lei do Renascimento.
Desse modo, um espírito pode ser levado a renascer muito tempo antes que haja
expirado os mil anos, a fim de cumprir certa missão, ou pode ser retido nos
mundos invisíveis até depois do tempo em que deveria renascer, se essa lei
fosse uma lei cega. Mas as Leis da Natureza não são cegas. São Grandes
Inteligências que sempre subordinam as considerações de menor importância aos
fins superiores, e sob sua benéfica orientação estamos progredindo
constantemente, vida após vida, nas condições exatamente adaptadas a cada
indivíduo, até que, com o tempo, alcancemos uma evolução mais elevada e nos
convertamos em Super homens. Oliver Wendel Holmes (1809-1894) expressou tão
magistralmente esta aspiração e sua realização nestas linhas: "Oh!
Minh'alma, constrói para ti mansões mais majestosas, enquanto as estações
passam ligeiramente! Abandona o teu invólucro finalmente; Deixa cada novo
templo, mais nobre que o anterior com cúpula celeste, com domo bem maior, e que
te libertes, decidida, largando tua concha superada nos agitados mares desta
vida." Da obra “Mistérios Rosacruzes”, Cap. II, Max Heindel. Ed.
Pensamento. Livro imprescindível na compreensão da Fraternidade Rosacruz,
Escola Preparatória para a Ordem Rosacruz, a Escola de Mistérios do Ocidente
Nos anos 1907-1908, após ser testado em sinceridade de propósitos,
desprendimento e desejo de servir a humanidade, Max Heindel foi escolhido pelos
Irmãos da Rosa Cruz para divulgar publicamente os Ensinamentos da Sabedoria
Ocidental que ajudariam a preparar a humanidade para a próxima Era de
Fraternidade Universal. Através de intensa autodisciplina e devoção ao serviço,
conquistou o grau de Irmão Leigo ( Iniciado ) na augusta Ordem Rosacruz, a
Escola de Mistérios do Mundo Ocidental. A LEI DIVINA E NOSSAS NECESSIDADES
COTIDIANAS. A LEI de consequência ou de Causa e Efeito é, sem dúvida alguma, a
mais fundamental das leis no destino humano. Convém lembrar, todavia, que não é
uma lei estática. Frequentemente a utilizamos para acionar novas causas que
irão criar novo destino para equilibrar e melhorar o antigo destino que
trouxemos do passado. A Lei de Consequência está intimamente ligada à Lei do
Renascimento, chamada também como de Lei da Reencarnação. Todos nós já vivemos,
no passado, muitas outras vidas na Terra, e haveremos, no futuro, de viver
muitas outras ainda. Em cada uma delas pusemos em ação diversas causas, algumas
das quais só efeitos. Tais efeitos são denominados dívidas do destino. Assim é
que estamos pagando débitos e colhendo prêmios do passado. É a isso que damos o
nome de destino mau ou bom. Cabe nos compreender desde logo, que "caráter
é destino". Destino é reflexo de caráter. Nosso meio ambiente é um espelho
no qual vemos o nosso caráter refletido. Não obstante, existe uma exceção a
essa regra geral. É que em nosso último renascimento pudemos certamente
haver-nos reformado de tal sorte que agora possuímos o que se pode chamar de um
bom caráter, embora possamos continuar tendo sofrimentos e dívidas na presente
existência, apesar de havermos remodelado nossa índole. Isto se deve ao fato de
termos trazido débitos anteriores, os quais estamos pagando, e, como é do
conhecimento geral, quando alguém resgata o que deve, considera, geralmente,
que tal processo é restritivo, limitado e desagradável. Tem, contudo, o consolo
de saber que as dívidas, uma vez quitadas, não mais podem ser pagas outra vez,
ficando, portanto, livre delas por todas as vidas futuras. As tendências de
caráter que mais frequentemente causam mal destino são: a cólera, o temor, o
orgulho, o ódio, a vingança, a sensualidade, o egoísmo, a inveja e a
intolerância. Por conseguinte, a primeira coisa a fazer é analisar nossos
pensamentos habituais e ver se mostram algumas dessas tendências, ainda que
seja em pequena escala. Se assim acontece, comecemos imediatamente a trabalhar
para eliminá-las. Os dois meios principais para obtê-los são uma mudança de
pensamentos e de ação, especialmente para com as demais pessoas. O
"pensamento" é o primordial, e se corrigirmos veremos quase
automaticamente que nosso modo de agir está de acordo com esse pensamento. Isto
nos leva a um fator mais importante da situação, ou seja, o PODER CRIADOR DO
PENSAMENTO. Este poder é o fator mais potente e fundamental da vida humana. O
ditado, segundo o qual "os pensamentos são coisas tangíveis" quase
palpáveis, é uma verdade incontestável. Cada vez que pensamos em algo criamos
uma forma de pensamento que se pode converter em uma força vivente. Flutuam em
redor de nós, em nossa aura, e se torna parte de nossa atmosfera mental, por
consequência, integrante de nossa própria vida. O passo seguinte é a atividade
do pensamento criador que se reveste da substância do desejo e da emoção. Isso
apresenta dois efeitos: primeiro, que pode conduzir-nos à ação correspondente;
segundo, as formas de pensamento que não são acionadas de imediato se armazenam
na memória como normas para uso futuro. Temos-lhes acesso a qualquer tempo.
Podem, portanto, surgir como realidades físicas em nosso meio ambiente,
tornando o bom ou mau, conforme o pensamento que as criou. Assim, se você
deseja mudar a atmosfera em que vive e sua sorte, "mude seus
pensamentos". Desse modo você estará elaborando para si mesmo um novo e
melhor destino que oportunamente surgirá e se manifestará de forma melhor ou de
meio abundante e capaz de suprir as necessidades de sua existência. Os desejos
destrutivos, como sejam, a cólera, a vingança, o ódio, o ressentimento,
principalmente a cólera e o egoísmo, desfiguram e destroem as boas formas de
pensamento que tenhamos formado previamente, retardando-se, desse modo, sua
materialização. Quando nos deixamos arrastar pela cólera ou pela vingança, por
exemplo, dissipando alguma edificante criação mental, a configuração da
correspondente forma de pensamento deve esforçar-se no sentido de uma
restauração para concretizar o bem que anelamos, cuja marcha fora interrompida.
Isso demanda tempo e faz retardar o período em que possa ocorrer uma mudança
favorável em nossa vida, em nossa situação e em nosso ambiente geral. Veja,
então, a grande importância de vigiar nossos pensamentos e emoções. Alguns
perguntarão: "Como possa evitar os maus pensamentos e desejos, mantendo-os
distantes de minha mente?" De fato, às vezes parece impossível evitar que
se infiltrem em nós, mas a resposta é "substituição de pensamentos".
Esta prática se funda no fato de que dois pensamentos não podem ocupar ao mesmo
tempo a mente, à semelhança daquele princípio de física que diz que dois corpos
não podem simultaneamente ocupar o mesmo espaço. Quando você se sentir
perturbado por maus pensamentos de qualquer índole, "substitua-os"
simplesmente "por outros" e concentre -se nestes tão positivamente que
o pensamento ruim ali não possa penetrar. É muito simples e requer apenas
prática para comprovar a singeleza do tratamento. Os maus desejos são excluídos
da mente pelo mesmo processo. O PODER INTERNO – A existência desse poder é o
próximo e mais importante ponto a considerar. Isso é algo acerca do qual os
homens em sua maioria não possuem o mínimo conhecimento, de cuja realidade
sequer suspeitam. Não obstante, o PODER INTERNO é um estupendo fator na vida
humana e sobre ele se apóia o êxito na vida. O PODER INTERNO é o Ego, o
Espírito, o Eu Superior, a Vida que vem de Deus e o poder essencial que mantém
o homem ativo. O PODER INTERNO é o Deus Interno, e o Deus Interno é parte do
Deus Externo, o DEUS do Universo. O PODER INTERNO é o traço pessoal que nos une
a Deus. Para tanto, reflita quão poderoso é este Eu Superior. É
"Onipotente", porque é parte do DEUS do Universo. Esta onipotência,
contudo, está mais ou menos, latente na humanidade de hoje. É função da
evolução desenvolver e converter numa positiva e dinâmica onipotência. Eis o
que gradativamente estamos aprendendo a fazer em nossa vida diária e por meio
de sucessivos renascimentos. Este Poder Interno afeta a personalidade e a vida
cotidiana da seguinte maneira: O Deus Interno que é onipotente e possuidor ao
mesmo tempo de toda sabedoria, está de contínuo enviando mensagem à mente
consciente em forma de intuições, inspirações e idéias originais. Elas nos
dizem o que nosso Eu Superior, em sua sabedora, deseja que façamos. Se
seguirmos essas sugestões e as praticarmos, os resultados em nossa vida serão
construtivos. O fracasso se transformará em vitória, os obstáculos que se
apresentam desaparecerão aos poucos e veremos que tudo começa a atuar
conjuntamente para o bem e para o êxito em todas as coisas da vida. Se não
fizermos caso das intuições do Poder Interno e seguirmos nossos desejos
inferiores, bem como as extraviadas inclinações da personalidade, observaremos
que nossas dificuldades aumentarão e nossa caminhada pela vida será mais árdua.
Vemos quão importante é estar alerta para captar as ideias e intuições do Poder
Interno e pô-las em execução. Essas mensagens podem perceber-se de modo mais
efetivo, quando a mente consciente se acalma e, muito em particular, quando
estabelece momentos de quietude absoluta para a meditação, a fim de que, uma
vez repousada a mente, o Poder Interno possa falar-nos e "nós
ouvi-lo". Não obstante, esse Poder nos fala e envia-nos mensagens durante
todo o tempo, apesar de estarmos ativos. A Consciência é outra das mensagens do
Poder Interno que faríamos bem em obedecer. Se seguíssemos exclusivamente as
direções desse Poder, cada vez se tornariam mais claros seus tons, reformando
gradualmente nossas vidas e convertendo em sucessos nossos fracassos. Devemos
cultivar a crença na existência do Poder Interno e acreditar em sua habilidade
para transformar nossas vidas. Esta crença é o cabo, o circuito elétrico que
nos põe em contato com o referido Poder. Se estabelecemos nítida ligação entre
esse Poder e nossa consciência (mente consciente) os resultados serão melhores
porque então o Ego pode emitir suas mensagens com maior limpidez e efetividade.
O descrer dessas coisas fundamentais impede a ligação e pode ainda chegar a
destruí-la. Então isso nos deixa mais ou menos sem a orientação e a sabedoria
do Deus Interno, ficando ao desamparo e expostos a todas as decepções. Veja
como a crença nesse Poder é de grande importância. Alguns o chamam FÉ, fé em
DEUS; porém, é a mesma coisa, ou seja, fé no Deus Interno e em seu poder, que é
parte integrante do DEUS Externo e Sua Onipotência. Se ouvirmos e obedecermos
às sugestões e direções que emanam do Poder Interno, o temor e a ansiedade
desaparecem por completo e obtemos equilíbrio, fator indispensável para um
desfecho feliz. Perdemos todo temor à vida e mesmo à morte. Sabemos que tudo
está determinado com sabedoria e que o resultado será BOM. Por estar o Banco
Universal amparado pelo Universo jamais poderá falir. Você nunca pode rá perder
ou ser iludido em algo que realmente lhe pertence. "Só se realizará a
própria vontade". Não há, em hipótese alguma, erros no crédito cósmico, no
qual esse Banco se desenvolve e opera. Se seu destino e seu progresso não são o
que você gostaria que fossem é sem dúvida porque seu crédito no Banco Universal
esgotou-se temporariamente. Neste caso, não há outro remédio senão apressar-se
a fazer novos depósitos. Como já dissemos, os depósitos a seu favor se realizam
por meio de um trabalho edificante, altruísta e autodisciplinado. Você pode
estar certo de que seu empenho nesse sentido logo melhorará grandemente AS
OPORTUNIDADES E AS CIRCUNSTÂNCIAS. Veja você como seu destino é criado
"por você mesmo", que a sorte e a casualidade são apenas aparentes e
que na realidade foram criadas por você no passado. Você está envolto na materialização
de seus próprios atos e pensamentos. Vencer tendências indesejáveis e
reconstruir e reformar seu caráter, eis o meio mais indicado para efetuar
depósitos no BANCO UNIVERSAL. O "provimento universal" do qual falam
tão frequentemente os estudantes de Metafísica é simplesmente outro dos nomes
do BANCO UNIVERSAL. Muitos estudantes parecem acreditar que podem obter um
provimento completo de tudo o que necessitam com o só repetir algumas
afirmações. Enganam-se, todavia, quando julgam que podem sacar contra o BANCO
sem fazer antes a cobertura necessária. Isto equivale a "procurar obter as
coisas gratuitamente". Ninguém deve exigir a concretização de um desejo
específico sem antes deixá-lo em mãos do Senhor, que pode atuar sabiamente. Nós
não possuímos nem o direito nem a Sua Sabedoria. Porque, se exigirmos a
realização de alguns de nossos pensamentos, expomo-nos a equivocar-nos e obter
algo que "verdadeiramente" não desejamos. Algumas pessoas não
conseguem ter progresso espiritual e material, porque inconsciente ou
ignorantemente violam a Lei de Causa e Efeito, a Suprema Lei de DAR E RECEBER.
Há, sem dúvida, uma lei cósmica administrada por Forças Invisíveis, segundo a
qual para receber é necessário primeiro dar. Compartindo o que possuímos,
abrimos o canal que nos permite uma inundação de coisas almejáveis em nossas
vidas. CRISTO, o Divino Mestre do gênero humano, ensina a existência desta lei
no Evangelho de S. Lucas, quando diz "Dai e ser-vos-á dado; boa medida
concentrada, sacudida e transbordante vos deitarão no vosso regaço, porque com
a mesma com que medirdes também vos medirão" (6-38). A compreensão, a
aceitação desta lei e um esforço inteligente por obedecê-la trarão, a seu
devido tempo, mudança favorável em nossas vidas. A Regra de Ouro (Lucas 6-31)
"E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma forma fazei-lhes
vós" contém, igualmente, um importante princípio psicológico. Esta regra é
inequívoca; ela nos diz em definitivo que façamos sempre o bem aos demais,
sejam quais forem as circunstâncias, apesar do que eles nos façam a nós. A
regra é impessoal; a conduta de outrem nada tem a ver com nosso caso. Se
desrespeitarmos essa regra, obteremos infalivelmente maus resultados. Pondo -a
em execução, à época oportuna ela nos trará um efetivo melhoramento em nosso
ambiente e em nossas condições materiais e espirituais. Ela nos dá
individualidade atrativa, magnética, o que nos torna atraentes para os demais
e, ao mesmo tempo, não nos deixará faltar ajuda e a cooperação na realização de
nossos projetos e anseios. Cria ainda uma força magnética que é o meio de
aumentar o êxito sob todos os aspectos. Não permitamos nunca que o rancor por
alguma desconsideração que tenhamos recebido nos impeça de fazer o que
gostaríamos que outros nos fizessem. É realmente benéfico seguir a Regra de
Ouro, que não é um simples ideal religioso. Há outros dois ou três princípios
metafísicos ou psicológicos que devemos conhecer e que aumentarão nosso
progresso em matéria de trabalho, bem como no abastecimento de nossas necessidades
de ordem material e espiritual. Procurar o BEM em todas as coisas e em todas as
situações, apesar da adversidade das aparências é um deles. O simples fato de
BUSCAR O BEM constrói uma forma de pensamento que com o tempo se converterá em
um bem maior, mais sucesso e condições favoráveis. BUSCAR O BEM é como começar
uma bola de neve que aumenta de tamanho à medida que desce de uma montanha.
Essa é também a propriedade de toda forma pensamento. Todas as da mesma índole
se combinam e crescem rapidamente. Isso se aplica na busca do bem, o qual pode
ser aumentado, em nossa esfera social, de modo definido, com a prática desse
princípio. O elogio ao Bem, é uma extensão do mesmo princípio e um raio de sol,
a luz da alma. Ele propicia o bom augúrio e o êxito a tudo que é superior.
Incentive tudo de bem que encontre nas demais pessoas, ainda que o motivo seja
insignificante e, sobretudo, não se esqueça de louvar e agradecer ao PODER
INTERNO, cada dia, por sua vida, sua orientação e pelo abastecimento de todas as
necessidades espirituais e materiais. Tudo se origina desse PODER. O PERDÃO é
outra prática que não devemos esquecer. O perdão é científico. Ele traz consigo
as forças dos planos invisíveis que nos cercam. Dissolve as formas de
pensamento de ódio, vingança, egoísmo e má vontade, assim como impede que se
materialize em adversidade. O rancor, a inveja, o egoísmo, a vindita
frequentemente se transmudam em alguma das condições mais infelizes da vida,
especialmente se se continua habitualmente a emitir pensamentos nesse sentido.
O ódio é a força mais destrutiva do Universo, e o rancor e a vingança são fases
do ódio. A vingança é a mais mortal das paixões, é absolutamente certo que
impede o sucesso em todos os campos. Apesar do que possa acontecer, não se deve
ter rancor nem ceder a pensamentos negativos. Você pode ter certeza de que se
alguém lhe fez injustiça, a Lei invisível trará a ele merecida retribuição. Diz
a Bíblia "Amados, não vos vingueis. Eu recompensarei a cada um, segundo o
seu merecimento", disse o Senhor. Não tome a vingança por suas próprias
mãos, porque a única coisa que você obterá é desencadear forças psicológicas
que mais tarde ou mais cedo reagirão sobre você mesmo, com desvantagem. Diz a
regra: "Perdoa tudo e mantém-te perdoando sempre, apesar de toda
inclinação pessoal, e nada perderás, como erroneamente possas supor". Isso
evoca à mente um princípio de vital importância e interesse sobre o êxito:
"Fazer a vontade de outra é o ácido para provar o amor". A Bíblia o
confirma ao ensinar: "Faze as pazes com teu adversário". A vontade
própria é o amor próprio e o amor próprio é uma fase do ódio para com os
outros. A aplicação deste princípio é particularmente valiosa quando queremos
evitar desmandos e extinguir os que tenha começado. Naturalmente não devemos
fazer a vontade a quem comete uma injustiça conosco ou em relação a terceiros.
Devemos sacrificar as nossas inclinações e vantagens, ajustando-nos quanto
possível às ideias de nosso adversário, satisfazendo-lhe o sentido de justiça.
Por esse meio converteremos em nosso amigo. Fazer com que predomine sempre a
nossa vontade é obstruir o restabelecimento do êxito da cooperação amistosa.
Muito se tem falado sobre a CONFISSÃO. É provável que você não conceda a menor
importância. Deve ter pensado, com certeza, que confessar as más ações a um
sacerdote ou a um ministro não tem qualquer efeito. Não obstante, há notável
princípio metafísico oculto na confissão, que é o seguinte: a confissão faz
desaparecer a força emocional constituída por formas de pensamento sobre as
nossas faltas do passado, liberando e ajudando-nos a restaurar o equilíbrio e a
calma. Quando se comete uma falta que produz temor, vergonha, cólera, etc, essa
forma de pensamento penetra profundamente na subconsciência e ali fermenta.
Especialmente se o mal não foi sanado na época oportuna. Formas de pensamento
de tal natureza podem fermentar no subconsciente durante anos e com o tempo
gerar o que se conhece por "complexos" e "neuroses". Se
temos muitos desses complexos enterrados na subconsciência, perdemos
gradativamente o equilíbrio e nos tornamos nervosos e neuróticos. Eis onde a
confissão atua. Por seu intermédio liberta-se a energia emocional dos complexos
que se dissolvem, não voltando a molestar-nos. A confissão não precisa ser
necessariamente feita a um sacerdote ou ministro de qualquer religião. Pode-se
fazer diretamente à pessoa a quem se prejudicou ou ainda a alguém de absoluta
confiança. Podemos também auto confessarmos ao EU SUPERIOR. Chamamos a esse
confessório de "Retrospecção". Devemos realizá-lo toda as noites ao
deitar-nos, começando por analisar os últimos acontecimentos do dia té chegar
aos primeiros da manhã. Para que a Retrospecção surta efeito é indispensável o
maior sentimento de contrição, uma vez que através dele nos purificamos,
desfazendo a força emocional contida nos complexos ocultos. Grande número de
pessoa têm encontrado na confissão, em qualquer da formas, alívio incrível, e
sempre é seguida por singular aumento de êxito em todos os setores da vida.
Donde se conclui que será uma ideia excelente a de estender o princípio da
confissão ou retrospecção aos anos anteriores de nossa existência, a fim de
esclarecer os complexos que penetram em nosso subconsciente, impedindo -nos
totalmente qualquer evento feliz. Tal processo pode chamar-se de retrospecção
retardada, conforme ensina a Filosofia Rosacruz. A melhor forma de efetuá-la
será por escrito. Sente -se e escreva em linhas gerais os acontecimentos do
passado que lhe tenham causado temor, cólera, vergonha, etc, etc. Faça o máximo
possível cada vez e assim continue até que haja revisado toda a sua vida. Aos
poucos notará maravilhoso alívio mental e emocional, que oportunamente se
refletirá em forma de melhoria das condições materiais e espirituais. Esses
escritos devem fazer-se em segredo, omitindo os nomes de seus personagens.
Terminada, essa autoconfissão escrita deve ser destruída. Durante a vida não se
pode obter êxito verdadeiro se não se possui razoável saúde, motivo por que
devemos considerar a SAÚDE como fator de importância para a satisfação das
necessidades de ordem material. Devemos ter sempre em mira a força vital
emanada de nosso PODER INTERNO, o Ego. Se algo se interpõe entre a influência
desta vida em nosso corpo e nossa personalidade, isso acarretará uma saúde
precária. É possível aprisionar o Ego atrás de uma nuvem de errôneas formas de
pensamento, falsas crenças, etc., de sorte que a corrente constitutiva da
força, da vida do Ego, se reduz decididamente. Se emitirmos formas de
pensamentos destrutivas, como temor, cólera, sensualidade, egoísmo, etc. que
limitam e se acreditarmos no poder do mal sobre nós, tudo isso tende a encerrar
o Ego, e "como crê" que está limitado na vida, realmente o estará.
Para a SAÚDE é necessário que a pessoa, a mente e a vontade cooperem com o Ego
e se repilam toda forma de pensamento restritivo. Além disso, é possível
construir um instrumento com o qual se perfure e destrua a atual nuvem de
pensamentos. Tal instrumento são NOVAS formas mentais de fé, de fortaleza, de
otimismo, de onipotência do PODER INTERNO, do êxito e de certeza de que todas
as coisas boas são atingíveis. Construa novas formas de pensamentos nessa
direção e elas se combinarão entre si, constituindo uma forma de grande
potência e força. Eis o instrumento que perfurará essa nuvem mental e libertará
o Ego. Fique certo de que apenas pensamentos errôneos podem bloquear esse
poder. Mude, pois, seus pensamentos, e essa faculdade o livrará, operando
milagres em sua vida. Restaurará sua saúde. Modificará suas condições mentais.
Use a IMAGINAÇÃO para criar quadros de saúde abundante e de grande poder do Ego
interno e esses quadros se confundirão com outras formas de pensamento de força
e valor, convertendo-se em parte do instrumento de libertação. Então,
verificará que terá deixado de ser um escravo da falta da saúde. Você verá que
ela é complemento normal do repouso (calma) e de outras condições emocionais
equilibradas. Juntamente com esse estado sadi o virá maior disposição para o
êxito no trabalho de ordem material e espiritual. A FELICIDADE RESIDE APENAS NA
MENTE - As condições externas têm uma influência na felicidade somente onde se
lhes tenha permitido afetar as formas de pensamento. Essas formas têm a
propriedade de cobrir-se com essa substância do plano invisível que conhecemos
como Emoção. Se pensamos em otimismo e felicidade, substância emocional dessa
natureza invade-nos a mente, e somos FELIZES, apesar de todas as condições
materiais ou corporais. Se, ao contrário, elaboramos formas mentais de temor e
de fracasso, elas constroem substância emocional de infelicidade e seremos
infelizes, ainda que tenhamos todas as riquezas do mundo e uma saúde perfeita.
Fica, portanto, demonstrado que a FELICIDADE só reside na mente e que pelo
controle dos pensamentos e substituição deles temos sempre a chave da
felicidade e do progresso. Em conclusão, dar-lhes-emos três pequenas fórmulas
para ajuda própria que estão baseadas em sadios princípios metafísicos e que
têm demonstrado sua valia. PRIMEIRO, PENSAMENTO CONSTRUTIVO, POSITIVO –
Mantenha sua mente sempre positiva e aberta, não imóvel e inerte. O pensamento
construtivo fecha automaticamente a receptividade ao enxame de pensamentos que,
impedidos de entrar, cessam de influir na vida, e as criações mentais melhoram
consideravelmente através da decisão de concretizar as boas coisas. SEGUNDO, A
CHAVE DE OURO – Quando você se achar em dificuldades, quando tema perder algo
valioso, não continue a construir formas mentais negativas, porque elas apenas
contribuirão para que você se deprima. Ao contrário, inverta o processo e não
faça senão PENSAR EM DEUS. Ele envolve todas as coisas desejáveis. Recusando-se
a pensar na desgraça e pensando em Deus, você estará construindo pensamentos de
força, bondade e sucesso, ainda que não perceba. Eles, a seu tempo, se
concretizarão em forma de bem, e a calamidade que você temia se terá dissipado.
TERCEIRO, O PODER DO DEVER – O Dever cumprido um dia, e oportunamente, tem o
poder de criar bem suficiente para acompanhá-lo durante o dia inteiro. E amanhã
será outro dia no qual você pode repetir o processo. Os deveres cumpridos com
amor são um caminho para a libertação. Esta é uma chave vital de êxito em todos
os planos, material e espiritual, conforme prega a Filosofia Rosacruz, para
qualquer outro período da vida. O sucesso que se obtém como resultado do dever
cumprido não será sempre a classe do êxito que você mesmo teria escolhido, mas
será o verdadeiro êxito sob o ponto de vista do Espírito, e isso é o que
importa. Ainda mais, examinado a seu tempo, este êxito se converterá em uma
forma tal que será facilmente reconhecida e admitida como a melhor. Entretanto,
você estará livre do temor e da ansiedade porque saberá, finalmente, que
"tudo" sairá BEM. Assim, por intermédio do poder do dever cumprido,
você se capacitará para VIVER PELA FÉ NO PODER INTERNO, que é o segredo
fundamental do êxito da vida, e no cumprimento das necessidades ordinárias da
existência material e espiritual. www.fraternidaderosacruz.org. Abraço. Davi
terça-feira, 27 de março de 2018
MEUS PAIS E MINHA INFÂNCIA
Livro
Autobiografia de Um Iogue. Paramahansa Yogananda (5 de janeiro de 1893 a 7 de
março de 1952) foi um iogue e guru indiano. É considerado um dos maiores
emissários da antiga filosofia da Índia para o Ocidente. Através da Self
Realization Fellowship (SRF), a organização que fundou ao chegar aos Estados
Unidos da América. Foi pioneiro ao promover a prática da meditação por meio das
lições que os estudantes recebiam em casa, pelo correio, para cumprir a sua
missão mundial de difundir as técnicas de KRIYA YOGA. Paramahansa Yogananda
teve sua singular história de vida imortalizada no best-seller Autobiografia de
um Iogue. Capítulo 1. MEUS PAIS E MINHA INFÂNCIA. OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS
DA CULTURA INDIANA têm sido, desde sempre, a busca das verdades últimas e a
concomitante relação entre guru (1) e discípulo. Meu próprio caminho
conduziu-me a um sábio semelhante a CRISTO. Sua bela vida foi modelada para o
benefício de todas as épocas. Foi ele um dos grandes mestres que constituem a
mais autêntica riqueza da Índia e que, surgindo em todas as gerações, ergueram
as fortificações que evitaram para sua terra o destino que sofreram o antigo
Egito e a Babilônia. Minhas recordações mais antigas abrangem traços
anacrônicos de uma encarnação anterior. Lembro-me claramente de uma existência
longínqua em que era um iogue (2) entre as neves do Himalaia. Esses lampejos do
passado, por alguma ligação não dimensionável, permitiram-me também vislumbres
do futuro. Antes me lembro das indefesas humilhações da infância. Era com
ressentimento que eu tinha consciência de ser incapaz de me locomover e de me
expressar livremente. Sucessivas ondas de oração erguiam-se dentro de mim ao
reconhecer essa impotência física. Minha forte vida emocional exprimiu-se
mentalmente em palavras de muitas línguas. Entre a confusão interna de idiomas,
habituei-me, pouco a pouco, a ouvir as sílabas bengalis do meu povo. Como se
enganam os adultos ao avaliar o alcance da mente infantil considerando-a
limitada aos brinquedos e aos dedinhos dos pés! A efervescência psicológica e
meu corpo desobediente levaram-me a muitas e obstinadas crises de choro.
Recordo-me da desorientação e do assombro que meu desespero provocava em toda a
família. Lembranças mais felizes também se acumulam: os caminhos de minha mãe,
as primeiras tentativas que fiz para balbuciar frases e dar os primeiros
passos. Esses triunfos infantis, normalmente logo esquecidos, nos dão,
entretanto, um alicerce natural de autoconfiança. O grande alcance de minha
memória não é caso único. Sabe-se de muitos iogues que conservaram
ininterruptamente a consciência de si mesmos durante a dramática transição da
VIDA para a MORTE e de uma VIDA para OUTRA. Se o homem é apenas um corpo, a
perda desse corpo realmente seria para ele o fim de sua identidade. Se, porém,
no decurso de milênios os profetas falaram a verdade, o homem é essencialmente
uma ALMA, INCORPÓREA e ONIPRESENTE. Apesar de insólitas, recordações nítidas da
primeira infância não são extremamente raras. Durante minhas viagens por
numerosos países, ouvi, de lábios de homens e mulheres verazes, o testemunho de
recordações que remontam à mais tenra idade. Nasci em 5 de janeiro de 1893,
Gorakhpur, no nordeste da Índia, perto das montanhas do HIMALAIA. Ali passei
meus primeiros oito anos. Éramos oito irmãos: quatro meninos e quatro meninas.
Eu, Mukunda Lal Ghosh (3), fui o quarto a nascer e o segundo varão. Meu pai e
minha mãe eram bengalis, da casta xátria (4). Ambos foram abençoados com uma
natureza santa. O mútuo amor que os uniu, tranquilo e digno, nunca se expressou
com frivolidade. Sua harmonia conjugal perfeita era o foco de serenidade em
torno do qual girava o tumulto de oito filhos pequenos. Meu pai, Bhagabati
Charan Ghosh, era bondoso, sério, as vezes rigoroso. Embora lhe tivéssemos
muito amor, nós crianças mantínhamos para com ele certa distância que beirava a
reverência. Excepcional em matemática e lógica, ele guiava-se principalmente
por seu intelecto. Minha mãe, porém, era uma rainha de coração e nos educou
inteiramente pelo amor. Depois que ela morreu, papai externou mais sua afeição
interior. Notei que seu olhar muitas vezes parecia metamorfosear-se no olhar de
minha mãe. Foi em presença de mamãe que travamos os primeiros contatos
agridoces com as Escrituras. Ela recorria ao Mahabharata e ao Ramayana (5) para
dali retirar histórias adequadas às exigências disciplinares. Nessas ocasiões,
instrução e castigo caminhavam de mãos dadas. Em sinal de respeito por meu pai,
mamãe nos vestia cuidadosamente, todas as tardes, para recebe-lo ao regressar
do escritório. O cargo por ele ocupado era equiparável ao de vice-presidente,
em uma das maiores companhias ferroviárias da Índia – a de Bengala Nagpur. Seu
trabalho implicava fazer viagens; nossa família viveu em diversas cidades
durante minha meninice. Mamãe tinha mão aberta para os necessitados. Papai
também era caridoso, mas seu respeito à lei e à ordem se estendia ao orçamento
doméstico. Certa quinzena, mamãe gastou, alimentando os pobres, mais do que a
renda mensal de papai. Por favor, tudo o que peço é que seja caridosa dentro de
limites razoáveis. Mesmo uma repreensão suave de seu esposo era de suma
gravidade para minha mãe. Sem revelar aos filhos seu desacordo com papai, ela
fez vir uma carruagem de aluguel. Adeus, vou-me embora para a casa de minha
mãe. Antiquíssimo ultimato! Rompemos em lamentos, estupefatos. Nosso tio
materno chegou no momento oportuno. Segredou a meu pai algum sábio conselho,
certamente provindo de priscas eras. Depois de papai ter pronunciado algumas
palavras de conciliação, mamãe alegremente dispensou a carruagem. Assim
terminou a única divergência de que tive conhecimento entre meus pais. Mas
recordo-me de uma discussão característica: Por favor, preciso de dez rupias
para dar a uma pobre mulher que veio bater à nossa porta. O sorriso de mamãe
era persuasivo. Por que dez rúpias? Uma é o bastante. Papai acrescentou uma
justificação. Quando meu pai e meus avós faleceram subitamente, eu soube pela
primeira vez o que era a pobreza. De manhã, comia unicamente uma pequena banana,
antes de caminhar vários quilômetros até a escola. Mais tarde, na Universidade,
sofri tantas privações que me vi forçado a pedir a um abastado juiz o auxílio
de uma rupia por mês. Ele recusou, declarando que mesmo uma rupia era importante.
Com que amargura você se lembra da recusa dessa rupia! O coração de
minha mãe teve uma lógica instantânea. Você quer que essa mulher também se
lembre dolorosamente da recusa das dez rupias que ela necessita com urgência?
Você ganhou! Com o gesto imemorial dos derrotados, meu pai abriu a carteira.
Aqui está uma nota de dez rupias. Entregue-a com os meus votos de felicidade.
Papi tinha a tendência de primeiro dizer “não” a qualquer proposta nova. Sua
atitude perante aquela desconhecida, que tão depressa conquistara a compaixão
de minha mãe, era um exemplo de sua cautela habitual. Na verdade, a aversão à
aceitação imediata é apenas uma homenagem ao princípio da “reflexão
necessária”. Sempre achei meu pai justo e equilibrado em seus julgamentos. Se
eu pudesse reforçar meus numerosos pedidos com um ou dois bons argumento, ele
invariavelmente poria ao meu alcance o objetivo ambicionado – fosse uma viagem
de férias ou uma nova motocicleta. Meu pai foi um austero disciplinador de seus
filhos quando pequenos. Mas sua atitude para consigo mesmo era verdadeiramente
espartana. Por exemplo, nunca frequentou o teatro, mas buscava recreação em
várias práticas espirituais e na leitura do Bhagavad Gita (6). Repudiando
qualquer luxo, usava um mesmo par de sapatos velhos até que se tornassem
imprestáveis. Seus filhos compraram automóveis depois que seu uso se tornou
popular, mas papai contentava-se com o bonde para ir diariamente ao escritório.
Ele não tinha interesse em acumular dinheiro por amor ao poder. Certa ocasião,
depois de organizar o Banco Urbano de Calcutá, recusou beneficiar-se disso e
não guardou para si nenhuma das ações do banco. Desejara apenas cumprir um
dever cívico nas horas de folga. Vários anos depois de meu pai ter-se
aposentado, um contador veio da Inglaterra para a Índia a fim de examinar os
livros da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur. Surpreso, o auditor descobriu que
papai jamais havia requerido suas bonificações vencidas. Ele fez sozinho o
trabalho de três homens! O contador informou à companhia. Tem em haver 125.000 rupias
– 41.250 dólares de remunerações atrasadas. O tesoureiro enviou-a papai um
cheque com esse valor. Meu pai deu tão pouca importância ao assunto que se
esqueceu de mencioná-lo à família. Muito tempo depois, meu pai foi interrogado
por Bishnu, meu irmão mais moço, que havia notado a grande quantia depositada
ao ver um extrato do banco. Por que me exaltar com lucro material? Papai
respondeu. Quem procura alcançar a serenidade mental não se rejubila com o
lucro nem se desespera com a perda. Sabe que o homem chega sem dinheiro a este
mundo e dele parte sem levar uma única rupia! Pouco depois de seu casamento,
meus pais tornaram-se discípulos do grande mestre Lahiri Mahasaya (1828-1895),
de Benares. Essa associação fortaleceu o temperamento naturalmente ascético de
meu pai. Certa ocasião, mamãe fez uma confidência notável à minha irmã mais
velha, Roma: Seu pai e eu nos unimos como maridos e mulher apenas uma vez por
ano, com o intuito de termos filhos. Meu pai conheceu pela primeira vez Lahiri
Mahasaya por intermédio de Abinash Babu (7), funcionário de um ramal da Estrada
de Ferro Bengala-Nagpur. Em Gorakhpur, Abinash Babu instruía meus jovens
ouvidos com cativantes histórias sobre muitos santos da Índia. Concluía,
invariavelmente, prestando tributo às glórias superiores de seu próprio guru.
Alguma vez lhe contaram em que circunstâncias extraordinárias seu pai se tornou
discípulo de Lahiri Mahasaya? Era uma
preguiçosa tarde de verão e estávamos sentados na varanda de minha casa quando
Abinash fez esta pergunta em tom intrigante. Neguei com a cabeça, sorrindo,
antecipadamente de satisfação. Anos atrás, antes de você nascer, supliquei a
meu chefe – seu pai – uma licença de sete dias a fim de visitar meu guru em
Benares. Seu pai ridicularizou meu plano. Vai se converter num fanático
religioso? Perguntou-me. Concentre-se em seu trabalho no escritório, se quiser
progredir. Naquele dia, voltando tristemente para casa por uma vereda no
bosque, encontrei-me com seu pai, que era transportado numa liteira. Ele
dispensou servidores e a liteira, passando a caminhar a meu lado. Procurando me
consolar, começou a discorrer sobre as vantagens de lutar pelo sucesso mundano.
Mas eu o escutava sem prestar atenção. Meu coração repetia: Lahiri Mahasaya,
não posso viver sem te ver. O caminho levou-nos à orla de um campo tranquilo,
onde os raios do Sol ao entardecer coroavam a ondulante elevação do capim)
bravo. Paramos, em admiração. E ali, no campo, a alguns metros de nós, apareceu
subitamente a forma de meu grande guru (8). Bhagabati, você é muito duro com
seu funcionário”” A voz ressoava em nossos ouvidos atônitos. Meu guru
desapareceu tão misteriosamente como viera. De joelhos, eu exclamava: Lahiri
Mahasaya! Lahiri Mahasaya! Durante alguns momentos seu pai ficou imobilizado
pelo assombro. Abinash, além de conceder a sua licença, concedo também a minha,
a fim de irmos amanhã para Benares. Preciso conhecer esse grande Lahiri
Mahasaya, capaz de se materializar à vontade para interceder por você! Levarei
minha esposa e pedirei a esse mestre que nos inicie na Senda Espiritual.
Levarei minha esposa e pedirei a esse MESTRE que nos inicie na Senda
Espiritual. Você nos levará até ele? Sem dúvida! Eu transbordava de alegria
ante a resposta miraculosa à minha prece e a rápida e favorável alteração no
curso dos acontecimentos. Na noite seguinte seus pais e eu viajamos de trem
para Benares. Chegando lá no outro dia, contratamos um trole para cobrir parte
do caminho, e depois tivemos de andar por ruelas estreitas para chegar à
isolada moradia de meu guru. Entrando em sua pequena sala, fizemos uma
reverência ao mestre, firme na habitual postura de lótus. Ele piscou os olhos
penetrantes e os fixou em seu pai: Bhagabati, você é muito duro com seu
funcionário! As palavras eram as mesmas pronunciadas dois dias antes no campo
de Gorakhpur. E acrescentou: Alegro-me por haver permitido a Abinash visitar-me
e terem vindo, você e sua esposa, em companhia dele. Para alegria dos dois,
iniciou-os na prática KRYIA YOGA (9). Seu pai e eu, condiscípulos espirituais, temos
sido amigos íntimos desde o memorável dia da visão. Lahiri Mahansaya manifestou
particular interesse em seu nascimento, Mukunda. Sua vida estará certamente
relacionada com a dele; as bênçãos do mestre nunca falham. Lahiri Mahasaya
deixou este mundo pouco depois de eu nele haver entrado. Seu retrato, em
moldura ornamentada, sempre honrou o altar de nossa família nas várias cidades
para onde meu pai era transferido pelo escritório. Muitas manhas e noites nos
encontraram, à minha mãe e a mim, em meditação ante o improvisado altar,
oferecendo flores aromatizadas com pasta de sândalo. Juntando incenso e mirra
às nossas devoções, honrávamos a Divindade que se manifestara plenamente em
Lahiri Mahasaya. Sua fotografia teve influência extraordinária em minha vida. A
medida que eu crescia, o pensamento focalizado no mestre crescia comigo. Em
meditação, via com frequência sua imagem fotográfica destacar-se da pequena
moldura e, assumindo forma vivente, sentar-se diante de mim. Quando tentava
tocar os pés de seu corpo luminoso, ele voltava a se transformar em fotografia.
Com o passar da infância para a adolescência, Lahiri Mahasaya deixou de ser em
minha mente uma pequena imagem emoldurada, passando a ser presença viva e
iluminadora. Eu frequentemente orava para ele nos momentos de provação ou
confusão, encontrando em meu interior sua orientação confortadora. No início,
sofria por ele não mais estar fisicamente vivo. Quando comecei a descobrir sua
secreta onipresença, não me lamentei mais. Ele muitas vezes escrevia aos
discípulos demasiadamente ansiosos em visita-lo: Por que vir me contemplar em
carne e osso, quando estou sempre dentro do raio de visão de seu Kutastha (olha
espiritual)? Aos oito anos de idade aproximadamente, fui abençoado com uma cura
maravilhosa graças ao retrato de Lahiri Mahasaya. Essa experiência,
intensificou meu amor. Quando estávamos na propriedade familiar de Ichapur, em
Bengala, contraí a cólera asiática. Fui desenganado pelos médicos, que nada
podiam fazer. A minha cabeceira, mamãe incitava-me freneticamente a olhar para
a fotografia de Lahiri Mahasaya presa à parede, acima de minha cabeça. Curve-se
diante dele mentalmente! Ela sabia que eu estava fraco demais, até para erguer
as mãos em saudação. Se realmente mostrar sua devoção e se ajoelhar interiormente
diante dele, sua vida será poupada! Olhei fixamente a fotografia e vi uma luz
cegante, que envolvia meu corpo e o quarto inteiro. O enjoo e outros sintomas
incontroláveis desapareceram: eu estava curado. Imediatamente senti força
suficiente para inclinar-me e tocar os pés de minha mãe, em gesto de
reconhecimento por sua fé incomensurável no guru. Minha mãe comprimiu a cabeça
várias vezes contra o pequeno retrato: Ó Mestre Onipresente, agradeço-te por
sua luz ter curado meu filho! Compreendi que ela também havia presenciado o
resplendor luminoso que tinha me recuperado instantaneamente de uma doença
quase sempre fatal. Um de meus bens mais preciosos é essa mesma fotografia.
Dada a meu pai pelo próprio Lahiri Mahasaya, ela irradia uma santa vibração. O
retrato teve origem miraculosa. Ouvi a história contada por Kali Kumar Roy,
condiscípulo espiritual de meu pai. Parece que Lahiri Mahasaya tinha aversão a
ser fotografado. Sob seus protestos, certo dia tiraram um retrato do mesmo com
um grupo de devotos, inclusive Kali Kumar Roy. Foi com surpresa que o fotógrafo
descobriu que a chapa, que continha nítida imagens de todos os discípulos,
revelou apenas um espaço vazio no centro, onde ele logicamente esperava que
aparecesse a figura de Lahiri Mahasaya. O fenômeno foi muito comentado. Ganga
Dhar Babu, discípulo e fotógrafo perito, gabou-se de que o vulto fugidio não
lhe escaparia. Na manhã seguinte, quando o guru estava em posição de lótus num
assento de madeira com um biombo por trás. Ganga Dhar Babu chegou com seu
equipamento. Tomando todas as precauções para ser bem-sucedido, sofregamente
bateu doze chapas. Em todas, encontrou a impressão do assento de madeira com o
biombo, mas de novo faltava a figura do mestre. Em lágrimas e com o orgulho
despedaçado. Ganga Dhar Babu apelou ao guru. Passaram-se muitas horas antes que
Lahiri Mahasaya quebrasse o silêncio com um significativo comentário. Eu sou
Espírito. Pode sua câmera fotográfica refletir o invisível Onipresente? Vejo
que é impossível! Mas, santo senhor, desejo amorosamente um retrato de seu
templo corpóreo. Minha visão era limitada: até hoje não tinha percebido que o
Espírito habita plenamente no senhor. Então regresse amanhã de manhã. Posarei
para você. O fotógrafo novamente focalizou sua máquina. Desta vez a sagrada
figura, não coberta de imperceptibilidade misteriosa, apareceu nítida na chapa.
O mestre jamais posou para outro retrato; pelo menos, eu nunca vi outro. A
fotografia é reproduzida neste livro (10). Os traços fisionômicos de Lahiri
Mahasaya, de casta universal, dificilmente indicam a raça a que pertencia. A
alegria da comunhão com Deus é ligeiramente revelada em seu sorriso enigmático.
Seus olhos, semiabertos para indicar um interesse nominal pelo mundo externo,
também estão semicerrados, revelando sua absorção na bem-aventurança interior.
Alheio às insignificantes atrações do mundo, ele estava sempre plenamente
alerta aos problemas espirituais dos que buscavam sua generosidade. Pouco
depois de minha cura por meio do poder da fotografia do guru, tive uma visão
espiritual que muito me influenciou. Sentado em minha cama certa manhã, entrei
em profundo devaneio. Que haverá por trás da escuridão dos olhos fechados? Este
pensamento inquiridor entrou com força em minha mente. Um imenso clarão de luz
manifestou-se instantaneamente em minha visão interior. Divinas figuras de
santos, sentados na postura de meditação em cavernas de montanhas, passavam,
como imagens de um filme em miniatura na grande tela brilhante dentro de minha
testa. Quem são vocês? Perguntei em voz alta. Somos iogues do Himalaia. É
difícil descrever a resposta celestial; meu coração vibrava. Ah, como anseio ir
ao Himalaia e tornar-me um de vocês! A
visão desapareceu, mas os raios prateados expandiram-se em círculos cada vez
maiores, até o infinito. Que maravilhoso esplendor é este? Eu sou Ishwara (11).
Eu sou Luz! A voz era de nuvens murmurantes. Quero unir-me a Ti! Do lento
desvanecer-se do meu êxtase divino ficou-me um legado permanente de inspiração
para buscar a Deus. Ele é Alegria Eterna, sempre renovada” Esta lembrança
perdurou longamente após o dia do arrebatamento místico. Outra recordação de
minha infância é literalmente marcante, tanto que carrego sua cicatriz até
hoje. Certa manhã, bem cedo, minha segunda irmã mais velha. Uma, estava sentada
comigo sob uma árvore em nossa casa de Gorakhpur. Ela me ajudava no estudo de
minha primeira cartilha em bengali (idioma hindu), nos momentos em que eu
consentia desviar minha vista de alguns papagaios que, ali perto, bicavam os
frutos maduros da amargoseira. Queixou-se Uma de inchaço em sua perna e foi
buscar um frasco de unguento. Untei meu antebraço com um pouco da pomada. Por
que esfrega remédio num braço sadio? Bem, mana, sinto que amanhã vou ter um
furúnculo. Estou experimentando o unguento no lugar onde a inflamação vai
aparecer. Seu mentirosinho! Mana, não me chame de mentiroso até ver o que
acontecerá amanhã. A indignação tomou conta de mim. Sem se deixar impressionar,
Uma repetiu três vezes a ofensa. Uma resolução inflexível soou em minha voz
quando lhe disse lentamente. Pelo poder da vontade em mim, afirmo que amanhã
terei um enorme furúnculo exatamente neste lugar de meu braço. E o seu
furúnculo estará duas vezes mais inchado que hoje! A manhã seguinte me
encontrou com um robusto furúnculo no lugar indicado, o de Uma tinha duplicado
suas dimensões. Com um grito, minha irmã correu para mamãe. Mukunda
converteu-se em adepto da magia negra! Muito séria, mamãe instruiu-me a jamais
usar o poder da palavra para fazer o mal. Sempre recordei seu conselho e o
segui. Um cirurgião lancetou meu furúnculo. Uma cicatriz visível até hoje
mostra onde o médico fez a incisão. Em meu antebraço direito existe um
constante lembrete do poder existente na pura palavra humana. Aquelas frases
simples e aparentemente inofensivas a Uma, pronunciadas com profunda
concentração, tiveram suficiente força oculta para explodir como bambas e
produzir efeitos definidos, embora prejudiciais. Mais tarde compreendi que o
explosivo poder vibratório da fala poderia ser sabiamente dirigido para
libertar nossa vida de dificuldades e, assim, operar sem deixar cicatrizes ou
censuras (12). Nossa família transferiu-se pra Lahore, no Punjab (um estado a
noroeste da Índia). Lá comprei uma gravura da Mãe Divina sob a forma de Deusa
Kali (13), que santificou um pequeno altar informal na sacada de nossa casa.
Fui tomado pela inequívoca convicção de que todas as orações que eu fizesse
naquele lugar sagrado seriam atendidas. Certo dia, de pé na sacada, em
companhia de Uma, observei dois meninos empinando pipas sobre o telhado de dois
edifícios vizinhos, separados de nossa casa por uma rua extremamente estreita.
Por que está tão quieto? Perguntou-me Uma, dando-me um empurrão de
brincadeira. Estou pensando como é
maravilhoso que a Mãe Divina me dá tudo o que quero. Suponho que Ela lhe daria
aquelas duas pipas! Minha irmã riu, caçoando de mim. Por que não? Inicie
silenciosas orações para obtê-las. Na índia, os meninos fazem competições com
pipas cujas linhas são recobertas de cola e vidro moído. Cada jogador procura
cortar a linha de seu adversário. Uma pipa solta voa sobre os telhados, é muito
divertido ir apanhá-la. Estando Uma e eu numa sacada interna, recoberta de
telhas, parecia impossível que uma pipa solta viesse cair em nossas mãos; sua
linha naturalmente passaria flutuando sobre o telhado. Do outro lado da
estreita viela os competidores começaram o combate. Uma das linhas foi cortada,
imediatamente a pipa flutuou em minha direção. Em razão de uma súbita ausência
de brisa, a pipa permaneceu imóvel por um momento. Nessa pausa, a linha
enroscou-se em um cacto que havia no terraço da casa em frente. Um longo e
perfeito laço se formou para que eu a pegasse. Passei o troféu para Uma. Foi
apenas um acidente fora do comum, não uma resposta à sua oração. Se a outra
pipa vier até você, então acreditarei. Os olhos negros de minha irmã
denunciavam mais assombro que suas palavras. Continuei a orar intensamente. Um
puxão mais forte do outro jogador causou a brusca perda de sua pipa. Ela veio
em minha direção, dançando com o vento. Meu prestativo ajudante, o cacto,
novamente prendeu a linha da pipa com o
laço suficientemente longo para que meu braço a alcançasse. Apresentei o
segundo troféu a Uma. Realmente a Mãe Divina o escuta! É tudo misterioso demais
para mim! E minha irmã disparou a correr como uma corça assustada. REFERÊNCIAS:
1. Mestre Espiritual. O Guru Gita (verso 17) descreve de modo adequado o guru
como “o que dissipa as trevas” (do sânscrito gu, “trevas” e ru “o que
dissipar”). 2. Praticante de yoga,
“união”, antiga ciência de mediação em Deus. (Ver capítulo 26 “A ciência da
KRYIA YOGA). 3. Meu nome de família foi substituído pelo de Yogananda em 1915,
quando ingressei na antiga ordem monástica dos Swamis. Em 1935, meu guru
conferiu-me um título religioso mais elevado, o de Paramahansa. 4. A segunda
casta, tradicionalmente de governantes e guerreiros. 5. Esses antigos poemas
épicos são um tesouro da história, mitologia e filosofia da Índia. 6. Este
nobre poema sânscrito, que faz parte do épico Mahabharata, é a Bíblia hindu.
Mahatma Gandhi (1869-1948) escreveu: “Aqueles que meditarem no Bhagavad Gita
retirarão dele novas alegrias e novos significados todos os dias. Não há nenhum
emaranhado espiritual que o Gita não possa desembaraçar”. 7. Babu (senhor) é
colocado ao final dos nomes em bengali. 8. Os fenomenais poderes possuídos
pelos grandes mestres são explicados no capítulo 30: “A lei dos milagres”. 8.
Os fenomenais poderes possuídos pelos grandes mestres são explicados no
capítulo 30 – A Lei dos Milagres. 9. Uma técnica iogue ensinada por Lahiri
Mahasaya, acalma o tumulto sensorial, permitindo ao homem alcançar identidade
crescente com a consciência cósmica. 10. Ver página 360. Quando foi à Índia em
1935-6, Sri Paramahansa Yogananda deu instruções a um artista bengali para que
pintasse uma reprodução da foto original (ver página 392). Designando-a mais
tarde como o retrato formal de Lahirir Mahasaya a ser usado nas publicações da
SRF – Self Ralization Fellowship. Este quadro encontra-se em Mount Washington –
Kentucky – USA, na sala de estar de Paramahansa Yogananda. 11. Nome sânscrito
para indicar Deus em seu aspecto Regente Cósmico, da raiz is, reger. As
Escrituras hindus contém milhares de nomes para designar Deus. Cada um
correspondendo a um diferente matiz de significado filosófico. Deus, sob o
aspecto de Ishwara, é quem cria e dissolve por sua vontade todos os universos,
em ciclos regulares. 12. As potencialidades infinitas do som derivam do Verbo
Criador. OM, o poder cósmico vibratório por trás de toda energia atômica.
Qualquer palavra proferida com clara compreensão e concentração profunda tem
valor materializante. A repetição oral ou silenciosa de palavras inspiradoras
provou sua eficácia em sistemas psicoterápicos como o de Emile Coué (1857-1926).
O segredo reside em introduzir um “crescendo” na frequência vibratória da
mente. 13. Kali – é um símbolo de Deus sob o aspecto da Eterna Mãe Natureza.
Livro Autobiografia de Um Iogue – Paramahansa Yogananda. Abraço. Davi
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