sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Cântico dos Cânticos. Parte V.

"Já entrei no meu jardim, minha noiva, minha querida. Estou colhendo mirra e outras plantas perfumosas.

Estou comendo o meu favo de mel e bebendo o meu leite.

Vocês que se amam, comam e bebam, até ficarem embriagados de amor!

Eu dormia, mas o meu coração estava acordado. Então ouvi o meu amado bater na porta. Deixe-me entrar, minha querida, meu amor, minha pombinha sem defeito.

A minha cabeça está molhada de sereno, e o meu cabelo está úmido de orvalho.

Eu já tirei a roupa; será que preciso me vestir de novo? Já lavei os pés, por que sujá-los outra vez?

O meu amor passou a mão pela abertura da porta, e o meu coração estremeceu.

Eu já estava pronta para deixar o meu querido entrar. As minhas mãos estavam cobertas de mirra, e os meus dedos também, e eu segurava o trinco da porta.

Então abri a porta para o meu amor, mas ele já havia ido embora. Como eu queria ouvir a sua voz! Procurei-o, porém não o pude achar, chamei-o, mas ele não respondeu.

Os guardas que patrulhavam a cidade me encontraram; eles me bateram e me machucaram, e os guardas das muralhas da cidade me arrancaram a capa.

Prometam, mulheres de Jerusalém: se vocês encontrarem o meu amado, digam que estou morrendo de amor.

Você, a mais bela das mulheres, responda: será que o meu amado é melhor do que os outros? O que é que ele tem de tão maravilhoso para fazermos essa promessa a você?

Entre dez mil homens, o meu amado é o mais bonito e o mais forte.

O seu belo rosto é corado; os seus cabelos são compridos, e ondulados, e pretos como as penas de um corvo.

Os seus olhos são como os olhos das pombas na beira de um riacho; pombas brancas como leite, banhando-se ao lado da correnteza.

O seu rosto é bonito como um jardim de plantas perfumosas. Os seus lábios são como lírios que deixam cair pingos de mirra preciosa.

As suas mãos são bem feitas e enfeitadas com anéis de ouro e pedras preciosas. A sua cintura é como marfim polido, coberto de safiras.

As suas pernas são colunas de mármore assentadas sobre base de ouro puro. O meu amado parece um dos montes Líbanos e é elegante como os cedros.

É doce beijar a sua boca, e tudo nele me agrada. Assim é o meu amado, assim é o meu noivo, mulheres de Jerusalém". Abraço. Davi.


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Cântico dos Cânticos. Parte IV.

Como você é bela, minha querida! Como você é linda! Como os seus olhos brilham de amor atrás do véu!

Os seus cabelos ondulados são como um rebanho de cabras descendo as montanhas de Gileade.

Os seus dentes são brancos como ovelhas com a lã cortada, que acabaram de ser lavadas, nenhum deles está faltando, e todos são bem alinhados.

Os seus lábios são como uma fita vermelha, e a sua boca é linda. O seu rosto corado brilha atrás do véu.

Você tem o pescoço roliço e macio, elegante como a torre de Davi, onde estão pendurados mil escudos, parte das armaduras de soldados valentes.

Os seus seios parecem duas crias, crias gêmeas de uma gazela, pastando entre os lírios.

Eu irei até a montanha da mirra, até a montanha do incenso, enquanto o dia ainda está fresco e a escuridão está desaparecendo.

Como você é linda, minha querida! Como você é perfeita!

Desça comigo dos montes Líbanos, minha noiva!

Desça do alto dos montes, do Amana, do Senir e do Hermom, onde vivem os leões e os leopardos.

Com um só olhar, minha noiva, meu amor, com uma só pérola do seu colar, você me roubou o coração.

Como são deliciosas as suas carícias, minha namorada, minha noiva! O seu amor é melhor do que o vinho.

O seu perfume é o mais agradável que existe.

Os seus lábios têm gosto de mel, minha querida. A sua língua é para mim como leite e mel, e os seus vestidos tem o cheiro dos montes Libanos.

Minha noiva, meu amor, você é como um jardim cercado e fechado; é uma fonte particular.

Nesse jardim as plantas crescem bem. Crescem como um pomar de romãs e dão as melhores frutas. Nele existe hena e nardo.

Existe nardo e açafrão, canela e jasmim azul e todas as espécies de incenso. Há também mirra e alóes, e outras plantas perfumadas.

Você é a fonte do meu jardim a corrente de água doce, o ribeirão que corre dos montes Líbanos.

Levante-se, vento norte! Venha, vento sul! Sopre sobre o meu jardim e encha o ar de perfume.

Deixa que o meu querido venha ao seu jardim e como as suas melhores frutas. Abraço. Davi.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Cântico dos Cânticos. Parte III.

Noites e noites, na minha cama, eu procurei o meu amado; procurei, porém não o encontrei.

Então me levantei e andei por toda a cidade, pelas ruas e pelas praças. Porém não encontrei o meu amado; procurei, mas não o pude achar.

Os guardas que patrulham a cidade me encontraram. e eu perguntei: vocês viram o meu amado?

E, logo que saí de perto deles, eu o encontrei. Eu abracei o meu amado e não o deixei ir embora até que ele foi comigo a casa da minha mãe, ao quarto daquela que me deu a luz.

Mulheres de Jerusalém, prometam e jurem, pelas gazelas e pelas corças selvagens, que vocês não vão perturbar o nosso amor.

O que é aquilo que vem subindo do deserto? parece uma nuvem de fumaça de mirra, e de incenso, e de todo tipo de perfumes vendidos pelos mercadores.

É a liteira do rei Salomão; sessenta soldados, os melhores de Israel, formam a sua guarda pessoal.

Todos eles sabem usar bem a espada e são treinados para a guerra. Cada um está armado com sua espada, por causa dos perigos da noite.

A leteira que o rei Salomão mandou fazer era de madeira da melhor qualidade. As suas colunas eram cobertas de prata, e o seu teto era de tecido bordado a ouro.

As suas almofadas, forradas de fino tecido vermelho, foram feitas com carinho pela mulheres de Jerusalém.

Mulheres de Sião, venham ver o rei! O rei Salomão está usando a coroa que recebeu da sua mãe no dia do seu casamento, naquele dia de tanta felicidade. Abraço. Davi.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Biografia do mistico alquimista Paracelso.

Falarei nessa reflexão sobre a vida de um dos místico e alquimista do século XVI cognominado de Paracelso (1493-1541), sendo seu nome de batismo Felipe Aureolo Teofrasto Bombasto de Hohenheim. O texto foi copiado da internet e tive que realizar alguns ajustes, pois ele continha alguns termos do português arcaico. Ótimo pois enriquecemos nosso vocabulário e temos uma ideia da evolução da língua ao longo do tempo.  Segue a transcrição. Antes de iniciar nosso pequeno tratado de Botânica Oculta — ou seja, o estudo das plantas mágicas — baseado nas teorias do mago Paracelso, do divino Paracelso, conforme muitos o chamam, pedimos vênia (permissão) para traçar, ainda que em largas pinceladas, o perfil do famoso alquimista, do célebre médico revolucionário. Este homem genial, uma das figuras mais proeminentes que surgiram nos albores (começo) da Renascença, nasceu em Einsiedeln cidade da atual Suíça no dia 10 de novembro de 1493. Na pia batismal recebeu o nome de Teofrasto, em memória do pensador grego Teofrasto Tírtamo (372 AC 287), de Éfeso, por quem o doutor Hohenheim, pai do nosso biografado, nutria profunda admiração. Einsiedeln um povoado da Suíça situado no fundo de um formoso vale, ali são fabricados rosários e outros artigos religiosos. Existe também nessa localidade uma célebre abadia de beneditinos, fundada no século IX (801-900), que muitos peregrinos visitam no dia 14 de setembro. O nome de Felipe lhe foi acrescentado, sem dúvida, posteriormente, pois é certo que Paracelso jamais fez uso do mesmo; a alcunha de Aureolus deve ter sido dada por seus admiradores nos últimos anos de sua vida, de vez que até 1538 não o encontramos em nenhum documento relacionado com sua pessoa. Quanto ao nome famoso de Paracelso, existe a opinião de que o mesmo foi dado por seu pai quando ainda jovem, querendo com isto demonstrar que na ocasião já era mais sábio do que Celso, médico célebre contemporâneo do imperador romano Augusto (63 AC 14 DC) e autor de um livro de medicina muito mais avançado de quantos havia em sua época. Já a partir do ano de 1510 ficou conhecido pelo nome de Paracelso e, embora muito raramente o incluí-se em sua assinatura, é certo que o estampou em suas grandes obras filosóficas e religiosas; do mesmo modo seus discípulos o chamavam de Paracelso, nome que sempre apareceu nas controvérsias e nos ataques injuriosos de que foi vítima. Infância de Paracelso. Ele era uma criança baixinha, doentia e com tendência ao raquitismo, razão por que exigia os cuidados mais esmerados, que lhe eram dispensados pelo seu próprio pai, que nutria por ele uma afeição muito grande. O Dr. Hohenheim atribuía uma importância extraordinária aos efeitos salutares do ar livre respirado em plena natureza; por isso, quando o rapaz estava já crescido, fez dele seu companheiro de excursões, conseguindo desta maneira robustecer-lhe o corpo e enriquecer-lhe o espírito. Foi nessas andanças que Paracelso aprendeu os nomes e as virtudes das ervas e plantas medicinais bem como os diversos modos de usá-las; conheceu os venenos e seus antídotos da mesma forma que a arte de preparar toda espécie de poções medicinais. Nessa época, na Europa a Farmácia não era ainda reconhecida, ao contrário do que se dava na China, no Egito, na Judéia e na Grécia, milhares de anos antes da era cristã. Com efeito, a primeira farmacopeia (habilidade ou aptidão para desenvolver medicamentos, livro que se ensina fazer remédios. Catálogos que contem receitas ou formulas de drogas) pertencia a Nuremberg e datava de 1542, no ano seguinte à morte de Paracelso. Por conseguinte, pode-se afirmar que a maioria das ervas medicinais, que se receitam em nossos dias, já era conhecida na Idade Média e os religiosos as cultivavam com todo cuidado e ciosamente nos jardins dos seus conventos; é por isso que foram conservados até hoje alguns conhecimentos a respeito dos seus usos. Nas pradarias e bosques próximos ao Rio Sihl (Suíça), onde existem pântanos em grande quantidade, as sucessivas estações fazem florescer e frutificar grande número de plantas. Nos prados crescem a gerenciana, a margarida, a salva, a anêmona, a camomila, a borragem, a angélica, o funcho, o cominho e a dormideira. Nos bosques abundam as celgas, a aspérula, a beladona, a datura, a violeta e as gramíneas silvestres. Nas ribanceiras, nos declives das grandes elevações de terreno e pelas estradas se encontram a campânula, a dedaleira, a chicória, a centáurea, a verônica, a menta, o tomilho, a verbena, a salsaparrilha, os líquenes, a erva-de-são-joão, a tormentilha, a tanchagem e a aveleira silvestre. Nos terrenos lodosos colhem-se as prímulas com manchas de cor malva e violeta, os miosótis, as plantas vulnerárias, os fetos e o rabo de cavalo. E nos páramos (planície solitária ou deserto), a urze, a rosa dos alpes, a garança do levante, a saxífraga, a luzerna, a pírola e toda espécie de sementes. Das próprias memórias de Paracelso se deduz que seu pai foi seu primeiro mestre de latim, de botânica, de alquimia, de medicina, de cirurgia e de teologia; mas nele atuaram outras influências de educação, que o doutor Hohenheim não pôde infundir. Estas influências foram devidas ao espírito irrequieto da época, da nova era que estava sendo preparada. Cumpre-nos verificar, agora, como foi que esta manifestação de sua época teve relação com o audaz investigador da Natureza e da Medicina, entre a multidão que continuava apegada ferrenhamente aos métodos filosóficos e às crenças religiosas da Idade Média; cumpre-nos ver como foi que sua inteligência vivaz compreendeu que os velhos ensinamentos estavam fadados a desaparecer e a passar por uma renovação, como todas as demais coisas. Indiscutivelmente, foi o espírito da Renascença que deu a Paracelso o grande impulso rumo à indução científica e ao método experimental. O encontro deste espírito científico com as correntes espirituais da Reforma, com sua influência sobre a alma dos homens, graças realmente a Lutero, nos fornecerá a explicação da formação de sua personalidade, aparentemente contraditória. As teorias em voga vinham sendo propagadas ativamente já muito tempo antes de Lutero. Duzentos e cinquenta anos antes uma alma solitária, Roger Bacon (1214-1294), teve uma visão que iluminou as trevas acumuladas por quinze séculos de ignorância e descobriu a chave do divino tesouro da Natureza. Em 1483 nasceu Lutero; dez anos depois, Paracelso; em 1510 veio à luz o famoso médico e filósofo milanês, Jerônimo Cardano (1501-1576), e em 1517 nascia o celebre cirurgião Ambrósio Pare (1510-1590). Nicolau Copérnico (1473-1543), o astrônomo revolucionário, e Pico de Ia Mirándola (1463-1493), foram contemporâneos desta plêiade ilustre. Tudo eclodiu de uma só vez; nova concepção religiosa, nova filosofia, novas ciências, a par de uma grande renovação no mundo da arte.  Iniciação de Paracelso. Ainda muito jovem, Paracelso foi enviado à famosa escola dos beneditinos do mosteiro de Santo André, no Lavantal ( na atual Áustria), a fim de lhe ser ministrada a (iniciação mística) instrução religiosa. Foi aqui que ele se tornou amigo do bispo Eberhard Baum-gartner, que era considerado um dos alquimistas mais notáveis de seu tempo. Tamanho foi o ardor com que Paracelso se dedicou aos seus trabalhos de laboratório, tanta a sua força de observação nos fenômenos que estudava, que imediatamente se viu em condições insuperáveis para  começar a executar um  trabalho  que se antecipava ao seu século. Além disso, teve a dita (felicidade) de contar com o clima da Caríntia (um Estado Austríaco) que favoreceu grandemente seu desenvolvimento físico, logrando com isto desfrutar duma saúde quase perfeita. Logo depois transferiu-se Paracelso para Basileia (Suíça), onde fez grandes progressos no estudo das Ciências Ocultas. Naqueles tempos era impossível dedicar-se à medicina sem conhecer profundamente a astrologia. A ciência experimental estava ainda por nascer. Todos os conhecimentos que se adquiriam nos colégios ou conventos eram puramente dogmáticos: seus ensinamentos eram conservados respeitosamente durante muitos séculos. O misticismo e a magia conviviam com as teorias mais antagônicas e os homens mais célebres lhes rendiam homenagem. William Howitt (1830-1908), um médico notável, escreveu as seguintes palavras: "O verdadeiro misticismo consiste na relação direta entre a inteligência humana e a de Deus. O falso misticismo não procura a verdadeira comunhão entre Deus e o homem. O espírito absorto em Deus está protegido contra todo ataque. A mente que repousa em Deus aclara a inteligência". Este foi o misticismo que Paracelso se esforçou por adquirir: a união de sua alma com o  Espírito Divino, a fim de poder conceber o funcionamento deste Espírito Universal dentro da Natureza. Quando partiu para Basiléia já tinha adquirido a prática das operações cirúrgicas, ajudando seu pai no tratamento de feridos. Em seus Livros e Escritos de Cirurgia nos relata que teve os melhores mestres na dita ciência e que havia lido e meditado os textos dos homens mais célebres, tanto da atualidade como do passado. Pouco se sabe da estadia de Paracelso em Basiléia; consta unicamente que sua passagem por lá se deu em 1510. Na ocasião a Universidade era dirigida pelos escolásticos e pedantes (pessoa que exibe conhecimento os quais não possui. Pessoa que se auto valoriza mostrando conhecimentos ou qualidades superiores ao que realmente dispõe) da época. Paracelso percebeu subitamente que nada sairia ganhando com os ensinamentos estúpidos daqueles doutores. "O pó e as cinzas respeitados por estes espíritos estéreis" - escreve ele - "haviam-se preparado e transformado em matéria importante". Paracelso renunciou altaneiramente a terçar (medir forças) armas numa luta com aqueles sábios, guardiães petrificados da ciência oficial. O que ele queria era a verdade e não a pedanteria; a ordem e não a confusão; a experiência científica e não o empirismo (doutrina filosófica que afirma ser o conhecimento resultado da experiência, restringindo-se ao que pode ser apreendido através dos sentidos ou da introspecção, opondo-se ao racionalismo e à metafísica). Segundo sua própria declaração pública, Paracelso lera as obras manuscritas do abade Johannes Tritêmio (1462-1515), que figuravam na valiosa biblioteca de seu pai, e tão embevecido se sentiu por elas que resolveu transferir-se para Wurzburg (Alemanha), lugar onde o sábio abade se mantinha em contato com seus discípulos. Tritêmio ou Tritemius — era assim que se chamava esse abade, por causa do lugar de seu nascimento, que foi Treitenheim, perto de Trier (Alemanha). Mas seu verdadeiro nome era João Heindemberg. Quando ainda muito jovem já era célebre por sua sabedoria; com a idade de vinte e um anos foi eleito abade de Sponheim (Alemanha). Em 1506 foi designado para o convento de São Jaime, perto de Wurzburg, onde morreu em dezembro de 1516. Afirmava ele que as forças, secretas da Natureza estavam confiadas a seres espirituais (hierarquias superiores dos mundos superiores invisíveis) que os iniciados nos mistérios ocultos tem acesso a seus conhecimtos. Grande era o número de seus discípulos e os que julgava dignos, admitia-os em seu laboratório, onde se manipulava toda espécie de experiências de alquimia e de magia. Conforme dissemos, Paracelso empreendeu sua grande viagem a Wurzburg. Na ocasião tinha um aspecto mais robusto, embora sua compleição continuasse franzina. Quando se fixou na referida cidade, o abade Tritêmio era considerado um bruxo perigoso pela gente ignorante. Conhecera ele certos mistérios da Natureza e do mundo espiritual; pesquisou e investigou alguns fenômenos raros que hoje em dia chamamos de magnetismo e telepatia. Em certas experiências psíquicas obteve êxitos surpreendentes; talvez tenha sido ele o primeiro que nos falou da transmissão do pensamento à distância. Devem-se a ele os primeiros ensaios da criptografia ou escrita secreta. Era também um grande conhecedor da Cabala (os primeiros escritos com referência a Cabala datam do século I. São livretos reunidos numa coleção chamada Heichalot "os Palácios"que versam sobre os passos necessários para ascender em evolução através de sete palácios celestiais, com ajuda de espíritos angelicais. Mas os livros mais importantes da Cabala são o Sefer Yitizirha "livro da Criação" e o Zohar livro do Esplendor, ambos de origem incerta), por meio da qual fornecera profundas interpretações das passagens proféticas e místicas da Bíblia. Por isso colocava as Sagradas Escrituras acima de todos os estudos; seus alunos tinham que dedicar-lhes toda sua atenção e todo seu amor. Com isto, Paracelso ficou influído (entusiasmado) por todo o resto de sua vida, de vez que o estudo da Bíblia constituiu posteriormente uma das tarefas que o ocuparam com mais intensidade. Em seus escritos encontramos o testemunho do seu conhecimento perfeito da linguagem e do profundo significado esotérico do Magno Livro. Embora seja fato inconteste que estudou as Ciências Ocultas com o abade Tritêmio, chegando a conhecer as forças misteriosas do mundo visível e invisível, não é menos certo que abandonou de repente certas práticas mágicas, por julgá-las indignas e contrárias à divina vontade. Tinha aversão, sobretudo, à necromancia (suposta previsão do futuro através da comunicação com espíritos dos mortos. Termo originado de duas palavras gregas que significam cadáver e adivinhação)  praticada por homens pouco escrupulosos, convencido de que por meio dela só se atraíam forças maléficas. Recusou, igualmente, todo ganho pessoal que pudesse auferir do exercício da magia, pois esta, segundo pensamento dele, só era permitida quando visasse curar desinteressadamente ou fazer outro bem qualquer a nossos semelhantes. Foi com este intuito que se lançou às investigações e experiências de Magia Divina. Discernia perfeitamente o alimento mental e espiritual daquele que era impróprio e enganoso, para conseguir a união de sua alma com a divindade. Curar os homens conforme Cristo fizera — nisto consistia todo o seu desejo ardente. E quem sabe se a própria comunhão com o Senhor não o credenciaria com este poder sublime? Entrementes, recebia de Deus a graça de saber procurar e encontrar todos os meios de cura com os quais o Criador provera a Natureza. Paracelso médico e alquimista. Como dissemos anteriormente, Paracelso entregou-se com um ardor e entusiasmo sem limites ao estudo profundo da Alquimia. "A Alquimia" - diz nosso biografado - "não visa exclusivamente obter a pedra filosofal; a finalidade da Ciência Hermética consiste em produzir essências soberanas e empregá-las devidamente na cura das doenças". Contudo, não pôde fugir à preocupação dominante da época e durante algum tempo se ocupou também daquelas práticas alquímicas que ensinam a transformar em ouro os metais "impuros". De acordo com alguns autores, saiu triunfante em seu magno cometimento e, depois que satisfez a sua curiosidade, não prosseguiu em sua obra, pois outro fim não perseguia senão a evidência de certas doutrinas, para poder falar delas com plena convicção, condição que ele acreditava, com toda certeza, indispensável. Ao falarem dele como alquimista, os biógrafos de Paracelso colocam-no na categoria mais elevada. Todos afirmam unanimemente que era dotado de um poder escrutinador (depurador) que lhe permitia penetrar o próprio espírito das coisas da Natureza. Peter Romus escreve: "Paracelso penetra os recônditos mais profundos da Natureza, explora-os e, através de suas formas, sabe ver a influência dos metais, com uma penetração tão sagaz, que chega a extrair deles novos remédios". Melchor Adam, um dos biógrafos de Paracelso que mais estudou sua personalidade do ponto de vista científico, declarou: "No que se refere à filosofia hermética, tão árdua e tão misteriosa, ninguém o igualou". Abandonou ou, para nos expressarmos melhor, rejeitou o estudo da Crisopéia ou seja a arte de "fazer ouro", porque isto repugnava a seu espírito nobre e desinteressado; mas, aproveitou grande número de práticas alquímicas que, a seu critério, podiam ser desenvolvidas e aplicadas à Medicina. Estava convencido de que quase todos os minerais submetidos à análise podiam revelar- nos grandes segredos curativos e vivificantes e levar a novas combinações perfeitamente eficazes para certas doenças mentais ou físicas. Como base própria da divina criação, observou com atenção que toda substância dotada da vida orgânica, embora aparentemente inerte, encerrava grande variedade de potência curativa. Ao contrário do que faziam seus contemporâneos, não qualificava de divina a Alquimia, cujo único objetivo era fabricar ouro. Para ele, os fogos do fornilho crisopéico tinham outras grandes utilidades e aqueles que atuavam sob a divina intuição logo se transformavam em fogos purificadores em benefício da humanidade. Vejamos, agora, algo sobre a bibliografia de Paracelso, que foi muito vasta. Hoje em dia são pagos a peso de ouro os livros deste homem genial, principalmente suas primeiras edições. Todas as suas obras originais foram diversas vezes reeditadas e traduzidas, por sua vez, em todos os idiomas cultos. Não pretendemos, pois, nem sequer fazer um resumo de sua prolixa produção; limitar-nos- emos a citar algumas das obras menos conhecidas: Opera Omnia Medico-Chirurgica tribus voluminibus comprehensa. Genebra, 1658. Três volumes infólio (folhas dobradas em sua encadernação). Nesta obra está reunido quase todo o seu labor. índice: Volume I: Tratados médico, patológico e terapêutico ocultos. Mistérios magnéticos. Volume II: Obras mágicas, filosóficas,   cabalísticas,   astrológicas  e   alquímicas.   Volume  III: Anatomia e cirurgia propriamente ditas. Arcanum Arcanorum seu Magisterium Philosophorum. Leipzig (Alemanha), 1686. Um livro contendo oito volumes. Também esta obra é interessantíssima, por tratar extensamente das Ciências Ocultas. Foi reeditada em Frankfurt (Alemanha), em 1770. Disputationum de Medicina Nova Philippi Paracelsi. Pars prin in qua quias de remediis superstitionis et magicis curationibus ille prodidit, proecipue examinantur a Thoma Erasto, medicina schola Heydelbergenti professore ad ilustris, principium. Liber omnibus quarumeunq; artium et scientiarum studiosis opprime cum necessarius tum utilis. Basileae apud Petrum Perna, sem ano 1536. Um livro contendo quatro volumes. Além de seu alto valor científico, esta obra desperta um interesse muito grande porque nela se encontra a luta travada com Thomás Erasto (1523-1583), o inimigo mais temível de Paracelso. Limitamo-nos a citar apenas estas três obras em latim por julgarmos que com elas se pode formar um juízo perfeito do célebre médico, encarado sob todos os pontos de vista. São muitíssimo mais numerosas as obras que publicou em latim e alemão. Também as suas traduções são numerosas. O Manuel Bibliographique des sciences psichiques, de Alberto L. Caillet, cita mais de trinta títulos e se deve levar em conta que referida bibliografia data de 1913. Temos conhecimento de muitas reimpressões posteriores essa data. Entre as últimas citaremos a seguinte, por considerá-la muito interessante: Paracelse (Théophraste): Les sept Livres de /'Archidoxe Magique, traduits pour Ia première fois en français, texte latin en regard. Paris, 1 929. Um volume in-4.°. Contém numerosos segredos e talismãs preciosos contra a maior parte das doenças, para conseguir uma vida sem inquietudes; sobre a vida dupla, etc. As obras de Paracelso, como todas as que tratavam de ciências ocultas - astrologia, magia, alquimia, etc, -  contêm algumas frases obscuras que somente os iniciados nas ciências esotéricas conheciam em todo o seu valor. Os alquimistas velavam, principalmente, seus segredos por meio de símbolos e frases alegóricas, a que os leigos no assunto atribuíam as mais grotescas interpretações, quando os tomavam ao pé da letra. Iniciado que fora pelo abade Tritêmio, Paracelso (era um mago ou bruxo) adotou sua terminologia, acrescentando, por seu arbítrio, termos originários ora da Índia ora do Egito. No glossário de Paracelso vemos que o princípio da sabedoria se chama Adrop e Azane, que corresponde a uma tradução esotérica da pedra filosofal. Azoth é o princípio criador da Natureza ou a força vital espiritualizada. Cherio   é  a  quintessência  de   um  corpo, seja ele  animal, vegetal ou mineral; é o seu quinto princípio ou potência. Derses é o sopro oculto da Terra que ativa seu desenvolvimento. Ilech Primum é a Força Primordial ou Causal. Magia é a sabedoria, é o emprego consciente das forças espirituais, que visa a obtenção de fenômenos visíveis ou tangíveis, reais ou ilusórios; é o uso benfeitor do poder da vontade, do amor e da imaginação; representa a força mais poderosa do espírito humano empregada em prol do bem. Magia não é bruxaria. Poderíamos encher páginas e mais páginas, citando termos do glossário de Paracelso e dos alquimistas em geral, porém julgamos que são suficientes os que transcrevemos para dar uma idéia do caráter oculto de sua terminologia. A chave, contudo, dessa linguagem misteriosa não se perdeu. Foi guardada zelosamente pelos cabalistas e transmitida oralmente entre os iniciados na filosofia oculta. Atualmente, os possuidores de dita chave são os chamados martinistas e os rosa-cruzenses. Graças a ela, o sistema filosófico religioso de Paracelso pôde ser recuperado em toda a sua integridade. Observamos que ele estabeleceu uma divisão dos elementos a serem estudados nos corpos animais, vegetais ou minerais. Dividiu-os em Fogo, Ar, Água e Terra, conforme tinham procedido também os antigos. Estes elementos se acham presentes em todo corpo, seja ele organizado ou não, e separáveis uns dos outros. Para efetuar a separação eram indispensáveis os laboratórios com material adequado. O fornilho era insuficiente; carecia-se de um fogo capaz de tornar vermelho vivo o crisol para aumentar constantemente o calor quando se tornasse necessário. Necessitava-se de uma contínua provisão de água, de areia, de limalhas de ferro a fim de aquecer gradativamente os fornilhos. Nos armários e mesas dos laboratórios havia balanças perfeitamente aferidas e niveladas, almofarizes, alambiques, retortas,  cadinhos, esmaltados,  vasos  graduados, grande quantidade de vasilhas de cristal, etc. Além de um alambique especial para realizar as destilações. O termo "religioso" aqui empregado não se refere a nenhuma das religiões positivas, e sim ao reconhecimento espiritual da Verdade Divina. Com um laboratório bem equipado, o alquimista capaz de aplicar-se rigorosamente, exercido na minuciosa observação das regras alquímicas, está em condições de verificar as diferentes operações indispensáveis para analisar as substâncias escolhidas e extrair delas a quintessência ( a filosofia oculta propõe que o Éter estudado pelos filósofos da antiga Grécia seja esta quintessência da substância primordial da matéria) ou o Arcana, isto é, as propriedades intrínsecas dos minerais e vegetais. As vezes infinitesimal em quantidade até nos grandes corpos, a quintessência afeta, contudo, a massa em todas as suas partes, da mesma forma que uma única gota de bílis produz o mau humor ou uns centigramas de açafrão são suficientes  para colorir uma grande quantidade de água. Os metais, as pedras e suas variedades trazem em si mesmos a sua quintessência, o mesmo que os corpos orgânicos e, embora sejam considerados sem vida, possuem essências de corpos que viveram. Estamos aqui diante duma notável afirmação, que Paracelso sustenta com sua teoria de transmutação dos metais em substâncias diversas, teoria que também os ocultistas modernos defendem. Que clarividência possuía este homem a respeito do reino mineral! Ninguém poderá negar a Paracelso o título verdadeiro de sábio, pois ele, com suas investigações sutis, soube arrancar os mais recônditos segredos da Natureza, que hoje em dia, sem dúvida, a ciência explica melhor, graças a descobrimentos de observadores que dispõem de maiores meios científicos, como demonstraram Madame Currie (1867-1934) e seus colaboradores. Quando examinamos o novo sistema de filosofia natural desenvolvido por Paracelso, não devemos esquecer que já transcorreram quatro séculos desde o seu aparecimento. Na realidade, foi ele quem concebeu ditas investigações, inspirando com elas os grandes luminares de sua época e das gerações que se seguiram. O momento histórico é de suma importância para a justa apreciação deste descobrimento. É preciso estudar as condições do século XVI (1501-1600) para apreciar suas análises que eram efetuadas por meio de diferentes processos: pelo fogo, pelo vitríolo, pelo vinagre e pela destilação lenta; suas investigações principais ocuparam-se das propriedades curativas dos metais, antecipando-se ao que hoje chamamos de metaloterapia (terapia que consiste na aplicação de placas metálicas sobre a pele da pessoa); contou com a colaboração do famoso bispo Erhard de Lavanthall, o qual incluiu no número dos seus mestres. O bismuto foi uma das substâncias que analisou com preferência, classificando-o de semi-metal; e foi certamente em virtude de dita substância, que previu a existência das propriedades ativas dos minerais, que surgiram os processos da transmutação de partículas atômicas. Descobriu igualmente o reino, que classificou também de semimetal, constituindo-se numa das numerosas contribuições que trouxe à farmácia. Entre estas contribuições temos preparações de ferro, de antimônio, de mercúrio e de chumbo. O enxofre e o ácido sulfúrico foram objeto de interesse e práticas especiais, representando para o seu espírito uma substância fundamental, que materializava a volatilidade. Realizou investigações sobre amálgamas com o mercúrio e com o cobre, sobre o alúmen (sulfato duplo de alumínio e potássio) e seus usos e sobre os gases produzidos pela solução e pela calcinação. Considerava como indestrutível e secreta parte de uma substância aquilo que permanecia em estado de cinza, devido à calcinação: seu sal, incorruptível. É o sal sidérico (que provêm dos astros) dos alquimistas. Estas investigações culminaram em sua Teoria das Três Substâncias, bases necessárias a todos os corpos, a que ele chamou de enxofre, mercúrio e sal, em sua linguagem cifrada. O enxofre significa o fogo; o mercúrio, a água; o sal, a terra. Ou, de outra maneira: a volatilidade, a fluidez, a solidez. Omitiu o ar por considerá-lo produto do fogo e da água. Todos os corpos, orgânicos ou minerais: homem ou metal: ferro, diamante ou planta constituíam, segundo ele, combinações variadas desses elementos fundamentais. Seu ensinamento sobre a base e as qualidades da matéria abrange essa Teoria dos Três Princípios, que considerava como premissas de toda atividade os limites de toda análise e a parte constitutiva de todos os corpos. São eles a alma, o corpo e o espírito de toda matéria, que é única. A potência criadora da Natureza, que ele denominou Archeus, proporciona à matéria uma infinidade de formas, contendo cada uma delas seu álcool, ou seja sua alma animal e, por seu turno, seu Ares, ou seja seu caráter específico. Além disso, o homem possui o Aluech, ou seja a parte puramente espiritual. Em todo o seu valor as realizações de Paracelso, com o fim de se apreender sua alta moralidade, que despertou um ódio feroz em todos os homens de caráter mau, de baixos sentimentos e de mentalidade nada lúcida, e para compreender seu ânimo inalterável diante das rancorosas oposições de seus inimigos.  Esta força criadora da Natureza é um espírito invisível e sublime: é como um artista e artesão que se compraz, variando os tipos e reproduzindo-os. Paracelso adotou os termos Macrocosmo e Microcosmo para expressar o grande mundo (Universo) e o pequeno mundo (o Homem), os quais considera reflexo um do outro. Além das investigações supracitadas, descobriu o cloreto, o ópio, o sulfato de mercúrio, o calomelano (proto cloreto de mercúrio, coletérico, utilizado como laxante e anti sifílitico)  e a flor de enxofre. Em fins do século passado receitava-se ainda às crianças um laxante composto de xarope de morangueiro e uns pós cinzentos, constituindo remédio excelente devido à terapêutica de Paracelso da mesma forma que o unguento de zinco, que nunca deixou de ser receitado, tem sua origem no laboratório paracelsiano. De igual modo, foi ele o primeiro a utilizar o mercúrio e, para certas doenças depauperantes (enfraquece), o láudano (entorpecente). Paracelso escrevia com uma clareza meridiana. Somente em seus escritos sobre alquimia se acham certas frases enigmáticas, como acontece com todos os demais autores que tratam desta matéria. Em seu estilo não se vê nenhuma complicação, nada daquela verbosidade empolada e torturada própria da Renascença. Sua frase é contundente e expressa-se como homem convencido de que conhece a fundo o assunto de que trata. Em algumas de suas obras deparamos com a breve e fecunda expressão de um clarividente   e   seus  pensamentos aparecem   revestidos  de  uma linguagem que os coloca à altura dos aforismos que perduram através dos séculos. "A Fé diz ele é uma estrela luminosa que guia o investigador através dos segredos da Natureza". É preciso que busqueis vosso ponto de apoio em Deus e que coloqueis a vossa confiança num credo divino, forte e puro; aproximai-vos Dele de todo o coração, cheios de amor e desinteressadamente. Se possuírdes esta fé, Deus não vos esconderá a verdade, mas, pelo contrário, vos revelará suas obras de maneira visível e consoladora. A fé nas coisas da terra deve sustentar-se por meio das Sagradas Escrituras e pelo Verbo de Cristo, única maneira de repousar sobre uma base firme." Em nenhum outro dos seus escritos se observa a precisão de estilo que predomina em sua tese sobre os 'Três Princípios", suas formas e seus efeitos. Um pequeno excerto pode dar uma ideia mais aproximada de sua concepção do que muitas páginas descritivas. O livro foi editado em Basiléia (Suíça), em 1563, por Adam de Bodenstein (1528-1577), o qual em seu prólogo diz que Paracelso fora indígnamente caluniado e que muitos médicos que lhe denegriam o nome se haviam aproveitado de suas descobertas e roubaram-lhe muitas de suas ideias. Neste pequeno volume, Paracelso começa com uma exposição de sua teoria dos Três Princípios; sustenta que cada substância ou matéria em crescimento é constituída de Sal, Enxofre e Mercúrio; a força vital consiste na união dos três princípios; existe, portanto, uma ação tríplice, sempre atuante para cada corpo: a ação da purificação por meio do sal, a da dissolução ou consumação pelo enxofre e a da eliminação pelo mercúrio. O sal é um alcalino; o enxofre, um azeite; o mercúrio, um licor (a água), mas cada uma das matérias possui sua ação separadamente das outras. Nas doenças de certa complicação, as curas mistas são indispensáveis. Deve-se ter o maior cuidado no exame de cada doença: identificar se é simples, de duas espécies ou tríplice; se é oriunda do sal, do enxofre ou do mercúrio e que quantidade contém de cada elemento ou de todos; qual a sua relação com a parte adjacente do corpo, a fim de saber se convém extrair dela o álcali (hidróxido de algum metal alcalino sódio, potássio etc), o azeite ou o licor; em resumo, o médico deve procurar não confundir duas doenças. "A virtude acrescenta Paracelso é a quarta coluna do templo da Medicina e não há de fingir; significa o poder que resulta do fato de ser um homem na verdadeira acepção da palavra e de possuir não somente as teorias relativas ao tratamento da doença, mas igualmente o poder de curá-las". Da mesma forma que o verdadeiro sacerdote, o verdadeiro médico é ordenado por Deus. Com respeito a isto assim se expressa Paracelso: Aquele que pode curar doenças é médico. Nem os imperadores, nem os papas, nem os colegas, nem as escolas superiores podem criar médicos. Podem outorgar privilégios e fazer com que uma pessoa, que não é médico, aparentemente o seja; podem conceder-lhe licença para matar, mas não podem dar-lhe o poder de curar; não podem fazer dessa pessoa um médico verdadeiro, se já não foi ordenada por Deus . "O verdadeiro médico não se jactância de sua habilidade nem elogia suas medicinas, nem procura monopolizar o direito de explorar o enfermo, pois sabe que é a obra que há de louvar o mestre e não o mestre a obra". Há um conhecimento que deriva do homem e outro que deriva de Deus por meio da luz da Natureza. Quem não nasceu para ser médico, nunca o será. O médico deve ser leal e caritativo. O egoísta muito pouco fará em favor dos seus enfermos. É muito útil a um médico conhecer as experiências dos demais, mas toda ciência de um livro não é suficiente para tornar um médico, a menos que seja por natureza. Somente Deus dá a sabedoria médica". No capítulo II descreve as três maneiras como o sal limpa e purga o corpo diariamente pela vontade do Archeus ou a força vivificante, inerente a cada órgão. No mundo dos elementos há várias espécies de álcalis, como a cássia, que é doce; o salgema (cloreto de sódio ou sal), que é acre; o acetato de estanho, que é azedo; a colocíntida, que é amarga. Determinados álcalis são naturais enquanto que outros são extratos; e outros ainda se acham coagulados e atuam por expulsão ou por transpiração ou por outros meios. Franz Hartmann (1838-1912): Ciência Oculta da Medicina.  No capítulo III há uma explicação da ação do enxofre corporal. Assim fala ele: "Cada doença resultante do supérfluo no corpo, tem seu antídoto na mistura elemental; de sorte que com a genera das plantas e dos minerais se pode descobrir a origem da doença; uma descobre o outro. O mercúrio absorve o que o sal e o enxofre repelem. É o que sucede com as doenças das artérias, dos ligamentos, das articulações e das juntas. Nestes casos o mercúrio fluido deve ser ministrado com fórmula especial que melhor corresponda à. forma da indisposição. O essencial da doença reclama o essencial que a Natureza indica como remédio. "É preferível diz ele  denominar a lepra doença de ouro, já que com o nome indicamos, em si, o remédio. É igualmente melhor chamar a epilepsia a doença do vitríolof toda vez em que é curada com o vitríolo. "Na verdade, meus predecessores não me esclareceram muito na arte de curar. Esta arte se esconde misteriosamente nos arcanos (operação misterioso dos alquimistas) da Natureza. Por isso me esforço por aprofundá-la e todas as minhas teorias pretendem provar a força vivificante do Archeus". No capítulo V trata das doenças encarnativas e de sua origem. "Estas doenças escreve Paracelso derivam todas do mercúrio. As feridas e úlceras, o câncer, as erisipelas só podem ser curadas pelas várias forças mercuriais dos minerais e das plantas. Cada médico deve esforçar-se por encontrá-las, descobri-las por si mesmo, a fim de que saiba que quantidade de matéria mercurial encerram e possa prepará-las. Ditas forças encontrá-las-á no grau de calor apropriado, com o fim de extrair a essência da massa. "Podereis intitular-vos doutores quando souberdes manejar cada substância para tirar dela o remédio adequado. A prática é indispensável; as teorias não bastam". No capítulo VI trata da destilação dos bálsamos compostos de substâncias absorventes e de percussivos sulfúricos e dá a conhecer uma infinidade de fórmulas, todas elas devidas à sua experiência. Com o capítulo VII termina o livro, fazendo uma longa dissertação sobre o Archeus, o ''coração dos elementos", de força criadora e vivificante. "Devido a esta força, de uma pequena semente nasce a árvore. O poder dos elementos faz com que a planta viva e se desenvolva. Por esta mesma energia os animais nutrem-se e crescem. Esta força reside, também, no corpo humano: cada órgão possui sua energia própria, que o fortifica e renova; se assim não fosse, pereceria. Por isso, a força do Archeus representa, em cada um dos membros do corpo humano; a força criadora e vivificante do Macrocosmo e do Microcosmo. Paracelso o Místico. Sem dúvida, Paracelso foi um místico. Sua filosofia espiritual foi filha de seu precoce conhecimento do neoplatonismo; tinha como base a união com Deus. Mediante esta união o espírito do homem procurava vencer as más influências, descobrir os arcanos da Natureza, conhecer o bem, discernir o mal e viver sempre dentro da fortaleza divina. Paracelso soube identificar a mão de Deus em toda a Natureza: nas entranhas das montanhas, onde os metais esperam a sua vontade; na abóbada celeste, onde "por meio Dele se movem o sol e as estrelas"; nas ribeiras, onde sua liberalidade derrama toda sorte de alimentos e a bebida para o homem; nos verdes prados e nos bosques, onde crescem miríades de ervas e de frutos benfazejos; nas fontes que proporcionam suas propriedades curativas. Enfim, viu que a terra era a grande obra de Deus e que era preciosa a seus olhos. Paracelso era uma inteligência forte e clara. Era bom e também sábio. Sua vida errante jamais o despojou dessa bondade que constantemente fez resplandecer os generosos impulsos de sua alma. Sentia como um artista e pensava como um filósofo; por isso soube irmanar as leis da Natureza com as da alma. Esta sensibilidade artística que nunca o abandonava constituiu a ponte entre Paracelso homem e observador visionário da Realidade, ponte maravilhosa que repousava sobre as travessas de uma nova humanidade: a Renascença. E sobre esta ponte audaz procedeu à construção do Universo, do qual Paracelso foi um de seus maiores arquitetos; pois, outra coisa não foi a declaração dos princípios do progresso espiritual, completada um pouco mais tarde por Giordano Bruno (1548-1600), poeta, filósofo, artista e investigador da Natureza. Como as ondas do mar, o sentimento da Natureza se estendeu de Paracelso até os homens do futuro, entre os quais Comenius (1592-1670) e Van Helmont (1580-1644). Estes compreenderam, igualmente, a consagração das investigações e a alegria inefável de descobrir as Leis Divinas. Paracelso possuía essa propriedade que ainda hoje admiramos nos místicos clássicos. Via a Deus tanto na Natureza como no microcosmo e, pela meditação, foi tocado pela graça divina. Suas conclusões filosóficas formam a moral de um humanismo cristão. A confraternidade íntima dos filhos de Deus deve nascer de uma humanidade bem ordenada, do saber humano e do inapreciável valor da alma, em cada um dos seus membros. Este Universo de formas e forças infinitas e, em sua unidade e em sua interdependência, a revelação das leis de Deus; a Natureza constitui o esteio e o verdadeiro amigo dos enfermos. E esta Natureza se acha em todas as partes: na terra, onde o semeador opera seus milagres, ao confiar-lhe a semente; nas montanhas, onde morrem as árvores velhas para dar lugar às que nascem; nas florestas murmurantes; nas sebes (cerca feitas com arbustos, cerca viva); nos lagos, onde o sol brinca com a água; em todos os lugares está viva e eterna a mãe Natureza. Paracelso emoldurou a Natureza com vistosas imagens, comparações acertadas, engenhosas alegorias e parábolas de sentido profundo. Numa linguagem rica e substanciosa, apresenta-nos o curso das estações, sua proximidade e seu fim. Pinta nos a primavera, quanto os novos ritmos se balançam álacres (que está muito alegre) pelo ar; o verão, quando a jovem vida caminha rumo à colheita e o tempo revela os frutos sazonados (característico de uma estação); o outono, quando o trabalho chega ao seu fim e a vida enlanguesce; e, finalmente, descreve-nos o inverno, fazendo-nos sentir a doce visão de uma morte suave e tranquila. Como bom cristão, seguiu os ensinamentos de Jesus. "O que Deus quer são nossos corações diz no Tratado das Doenças Invisíveis e não as cerimonias, já que com elas a fé Nele perece. Se queremos buscar a Deus, devemos buscá-lo dentro de nós mesmos, pois fora de nós jamais o encontraremos". Toma como ponte de apoio a Vida e a Doutrina de Nosso Senhor, porque nela está a única base de nossa crença: "Ali está ela, na Vida Eterna, descrita pelos Evangelhos e nas Escrituras, onde encontramos tudo o de que necessitamos, tudo em absoluto. "Só em Cristo há estado de graça espiritual e por nossa fé sincera seremos salvos. Basta-nos a fé em Deus e em seu único Filho. O que nos salva é a infinita misericórdia de Deus, que perdoa nossos erros. O Amor e a Fé são uma mesma coisa: o amor deriva da fé e o verdadeiro cristianismo se revela no amor e nas obras do amor." Acreditava que a perfeição da vida espiritual fora designada por Deus para todos os homens e não apenas para alguns anacoretas (religioso que vive na solidão, retirado do convívio social), monges e religiosos que não dispunham de nenhum mandato especial do Senhor para tomar sobre si a exclusividade de uma santidade a que muitos poucos podem chegar. O reino de Deus acrescenta Paracelso  contém uma revelação íntima com nossa vida de fé e de amor, uma infinidade de mistérios que a alma penetrante vai descobrindo um por um. São os mistérios da Providência de Deus, que todo aquele que investigar acabará encontrando; são os mistérios da união com Deus; é o tabernáculo secreto, cujas portas se abrirão para todo aquele que clame. E os homens que sabem perscrutar e chamar são os profetas e os benfeitores de seu reinado. A eles são entregues as chaves que hão de abrir os tesouros da terra e dos céus. E eles serão os pastores, os apóstolos do mundo." Mais adiante fala da medicina,  nos seguintes termos: "A Medicina se fundamenta na Natureza, a Natureza é a Medicina, e somente naquela devem os homens buscá-la. A Natureza é o mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele, e ela existe dentro e fora do homem. Abençoado, pois, aquele que lê os livros do Senhor e que anda pela senda que lhe foi indicada por Ele. Estes são os homens fiéis, sinceros, perfeitos em sua profissão; andam firmes debaixo da plena luz do dia da ciência e não pelos abismos obscuros do erro... Porque os mistérios de Deus na Natureza são infinitos; Ele trabalha onde quer, como quer, quando quer. Por isso devemos investigar, chamar, interrogar. E a pergunta brota: Que categoria de homem deve ser aquele que procura, chama e interroga? Quão verdadeira deve ser a sinceridade de tal homem! Quão verdadeira a sua fé, sua pureza, sua castidade, sua misericórdia! "Nenhum médico pode afirmar que uma doença é incurável. Se isto afirmar, está renegando a Deus, renegando a Natureza, desaprecia o Grande Arcano da Criação. Não existe nenhuma doença, por mais terrível que seja, para a qual   Deus   não   tenha   previsto  a  correspondente  cura." Conforme vimos, Paracelso era um místico e um cabalista perfeito, dentro do mais puro espírito cristão. Aceitou, contudo, muitas das crenças tão em voga em sua época referentes aos poderes ocultos e às forças invisíveis. Acreditava, igualmente, na existência real dos dementais, isto é, nos espíritos do fogo, aos quais dava o nome de acthnici; nos do ar, que chamava de melosinae; nos da água, que chamava de nenufdreni; e nos da terra, que denominava de pigmaci. Além disto admitia a realidade das dríadas (na mitologia grega eram ninfas associadas aos carvalhos. De acordo com uma antiga lenda cada dríade nasceu junto a uma determinada, árvore da qual exala. A dríade vivia na árvore ou próximo dela. Quando a sua divindade era cortada ou morta, a divindade também morria. Os deuses frequentemente puniam quem destruía uma árvore), a que atribuía o nome de durdales, e dos espíritos familiares ( os deuses penates dos romanos), que alcunhava de flagae. Afirmou também a existência do corpo astral do homem, que chamava de aventrum, e do corpo astral das plantas, a que deu o nome de leffas. Do mesmo modo, tratou profundamente da levitação, que por ele foi chamada de mangonaria, e muito especialmente da clarividência, que denominava de nectromantia. Acreditava nos duendes, nos fantasmas e nos presságios. Este último particular tem prejudicado sobremodo a fama de Paracelso, mas, quem sabe se dentro de um futuro não muito distante não servirá para admirá-lo como um visionário que se antecipou às afirmações feitas pelos modernos metapsiquistas comprovadas por esses investigadores do Maís-Além. Seu Arquidoxo Mágico, livro sobre amuletos e talismãs, é também muito interessante, que nele expõe seu conhecimento da imensa força do magnetismo. Combinou metais debaixo de determinadas influências planetárias, com o objetivo de fabricar talismãs contra certas doenças, sendo que o mais eficaz deles é aquele que chama de Magneticum Magicum. Este talismã se compõe de sete metais (ouro, prata, cobre, ferro, estanho, chumbo e mercúrio) e nele estão gravados signos celestes e caracteres cabalísticos. Entendia, também, que as pedras preciosas possuíam propriedades ocultas para curar determinadas doenças. Os anéis e medalhas em que se montavam ditas pedras levaram o nome de gamathei. Cada um desses dixes possuía virtudes especiais. Uma de suas pedras preferidas era a chamada bezoar, que não é oriunda nem das montanhas nem das minas, mas que se forma, no estômago de certos animais herbívoros, por crescimentos justapostos e concêntricos de fosfatos de cálcio, que o estômago não conseguiu expulsar. Suas opiniões a respeito das pedras preciosas foram adotadas pelos membros da Rosa-Cruz, que elaboraram as interpretações físicas e espirituais dos poderes misteriosos do diamante, da safira, da ametista, do topázio, da esmeralda e da opala. A morte de Paracelso. Muitas lendas foram inventadas em torno de sua morte. Uns diziam que os médicos de Salzburgo (Áustria) haviam contratado um rufião para que lhe seguisse os passos por toda parte, durante a noite, com a finalidade de jogá-lo num abismo; outros nos contam que lhe deram de beber vinho envenenado; porém, graças ao testemunho do Dr. Aberle, podemos hoje descartar essas vis suposições. O certo é que adoeceu e que seu mal ia progredindo dia a dia, como progrediu paralelamente sua fortaleza de espírito ante o fim próximo. Pouco antes de morrer ocupava-se ainda em escrever suas meditações sobre a vida espiritual. Um dos últimos fragmentos, que não conseguiu terminar, levava o seguinte título: "Referente à Santíssima Trindade, escrito em Salzburgo, durante a véspera da Natividade de Nossa Senhora". Este fragmento foi publicado por Toxites, em 1570. Junto com o original havia várias passagens selecionadas e comentadas da Bíblia, escritas em folhas volantes. Os rápidos progressos da doença supreenderam-no em tão pacífica ocupação. A morte se introduzia silenciosa e furtivamente para extinguir a chama de seu espírito. Reconheceu a pálida mão que a intrusa lhe estendia e voltou-se para ela de maneira doce e sossegada. Todavia, faltava-lhe realizar o último trabalho. Dispunha de alguns bens: seus livros, suas roupas, suas drogas, suas ervas; e era preciso distribuir tudo isso com equidade, mas via-se impossibilitado de fazê-lo legalmente em seu laboratório de Plaetzl. Alugou então um aposento na Pousada do Cavalo Branco, na Kaygasse, bastante espaçoso para quarto de um doente e ao mesmo tempo de despacho de seus negócios. Mudou-se para lá no dia 21 de setembro, vigília de São Mateus. O escrivão público Hans Kalbsohr e seis testemunhas se reuniram em torno do seu leito para ouvir e atestar suas derradeiras vontades. Paracelso estava sentado em seu leito. O primeiro artigo do seu testamento reza textualmente: "O mui sábio e honorável Mestre Teofrasto de Hohenheim, doutor em Ciências e Medicina, débil de corpo, sentado em seu rústico leito de campanha, porém com espírito lúcido, probo de coração, entrega sua vida, sua morte, sua alma à salvaguarda e proteção do Todo-Podero-so. Sua fé inquebrantável espera que o Eterno Misericordioso não permitirá que os amargos sofrimentos, o martírio e a morte de seu Filho Único, Nosso Senhor Jesus Cristo, sejam estéreis e impotentes para a salvação deste seu humilde servo". Em seguida determinou as disposições concernentes ao seu enterro e escolheu a igreja de São Sebastião, que ficava além da ponte. Para ali teve que ser transportado o seu corpo; quis que lhe entoassem os salmos um, sete e trinta. Entre cada um dos referidos salmos se distribuiria dinheiro   aos   pobres   que   estivessem   em   frente  à   igreja. A escolha dos salmos é algo significativo; constitui a confissão de sua fé e a convicção de que sua vida não tinha que morrer no esquecimento; antes, porém, que tinha que passar para a imortalidade. Depois da solene cena descrita, viveu tão-só três dias. Sem dúvida, expirou na Pousada do Cavalo Branco. A morte não lhe causava horror. Segundo ele, a morte era "o fim de sua jornada trabalhosa e a colheita de Deus". Seu falecimento se deu no dia 24 de setembro, dia de São Ruperto, festa muito celebrada em Salzburgo, que naquele ano calhou ser em dia de sábado. O Príncipe Arcebispo ordenou que os funerais do grande médico se celebrassem com toda pompa. A cidade se achava repleta de forasteiros, pessoas do campo e muitos estrangeiros. Cincoenta anos depois de sua morte, seu túmulo foi aberto; foram retirados os seus ossos para serem trasladados para outra sepultura melhor disposta, encravada numa das paredes da igreja de São Sebastião. O executor testamentário de Paracelso, Miguel Setzna-gel, mandou   colocar  uma   lápide   de   mármore  vermelho sobre o túmulo, com uma inscrição comemorativa, que dizia o seguinte, em latim: "Aqui jaz Felipe Teofrasto de Hohenheim. Famoso doutor em Medicina que curou toda espécie de feridas, a lepra, a gota, a hidropisia e várias outras doenças do corpo, com ciência maravilhosa. Morreu no dia 24 de setembro de 1541". Beijo. Davi.

sábado, 25 de outubro de 2014

Cântico dos Cânticos. Parte II.

"Eu sou a rosa dos campos; sou o lírio dos vales.

Como um lírio entre os espinhos, assim é a minha amada entre as outras mulheres.

Como a macieira entre as árvores da floresta, assim é o meu amado entre os outros homens. Eu me sinto feliz nos seus braços, e os seus carinhos são doces para mim.

Ele me levou ao salão de festas, e ali nós nos entregamos ao amor.

Tragam passas para eu recuperar as minhas forças e maçãs para me refrescar, pois estou desmaiando de amor.

A sua mão esquerda está debaixo da minha cabeça, e a direita me abraça.

Mulheres de Jerusalém, prometam e jurem, pelas gazelas e pelas corças selvagens, que vocês não vão perturbar o nosso amor.

Estou ouvindo a voz do meu amor. Ele vem depressa, descendo as montanhas, correndo pelos montes.

O meu amado é como uma gazela, é como um filhote de corço. O meu querido está ali do lado de fora da nossa casa. Ele está olhando para dentro pelas janelas, está me espiando pelas grades.

O meu amor está falando comigo, Venha estão, minha querida, venha comigo meu amor.

O inverno já foi, a chuva passou.

E as flores aparecem nos campos. É tempo de cantar; ouve-se nos campos o canto das rolinhas.

Os figos estão começando a amadurecer e já se pode sentir o perfume das parreiras em flor. Venha então meu amor. Venha comigo, minha querida.

Você está escondida como uma pomba na fenda de uma rocha.

Mostre-me o seu rosto; deixe-me ouvir a sua voz; pois a sua voz é suave, e o seu rosto é lindo.

Peguem as raposa, apanhem as raposinhas, antes que elas estraguem a nossa plantação de uvas, que está em flor.

O meu querido é meu, e eu sou dele. Ele leva as suas ovelhas para pastarem entre os lírios, enquanto o dia ainda está fresco e a escuridão está desaparecendo.

Meu querido, volte depressa, correndo como uma gazela, como um filhote de corço nos montes de Beter". Abraço. Davi.




sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Zoroastro ou Zaratrusta.


Segue a biografia de Zoroastro retirada da enciclopédia eletrônica livre Wikipédia. Zaratustra, mais conhecido na versão grega de seu nome, Zωροάστρης (Zoroastres, Zoroastro), foi um profeta e poeta nascido na Pérsia (atual Irã), provavelmente em meados do século VII a.C. Ele foi o fundador do Masdeísmo ou Zoroastrismo, a primeira religião monoteísta que se têm notícia, adotada oficialmente pelos Aquemênidas (558330 a.C.). A denominação grega Ζωροάστρης significa contemplador de astros. É uma corruptela do avéstico Zarathustra (em persa moderno: Zartosht ou زرتشت). O significado do nome é obscuro, ainda que, certamente, contenha a palavra ushtra (camelo). Nascimento e infância de Zaratustra. Há muito tempo, nas estepes a perder de vista da Ásia Central perto do Mar de Aral, havia uma pequena vila de casas de adobe, onde vivia a família Spitama. Um dia, no sexto dia da primavera, um menino nasceu naquela família. A sua mãe e seu pai decidiram dar-lhe o nome de Zaratustra. Ao nascer, Zaratustra não chorou, pelo contrário, riu sonoramente. As parteiras, vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto um bebê rir ao nascer. Na vila havia um sacerdote que percebeu que aquele menino viria a ser um revolucionário do pensamento humano e o que enfraqueceria o poder dos "donos" das religiões. Ele então decidiu tomar providências e procurou Pourushaspa, o pai de Zaratustra, com a seguinte conversa: "Pourushaspa Spitama, vim avisar-lhe. Seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao nascer, ele tem um demônio. Mate-o ou os deuses destruirão seus cavalos e plantações. Onde já se viu rir ao nascer nesse mundo triste e escuro! Os deuses estão furiosos!". Pourushaspa não queria ferir seu filho, mas o sacerdote insistiu e impôs uma prova. Na manhã seguinte Pourushaspa fez uma grande fogueira, e à frente de todos colocou Zaratustra no meio do fogo, mas ele não sofreu dano algum. O sacerdote ficou confuso. Zaratustra foi levado então para um vale estreito e colocado no caminho de uma boiada de mil cabeças de gado, para ser pisoteado. O primeiro boi da boiada percebeu o menino e ficou parado sobre ele, protegendo-o, enquanto o resto passava ao lado e o bebê não sofreu um só arranhão. O sacerdote logo arquitetou outro plano. O menino Zaratustra foi colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-lo, cuidou dele até que Dugdav, sua mãe, viesse buscá-lo. Diante de tantos prodígios o sacerdote ficou envergonhado e mudou-se da vila.
Ao crescer, Zaratustra peramburalava pelas estepes indagando-se: "Quem fez o sol e as estrelas do céu? Quem criou as águas e as plantas? E quem faz a lua crescer e minguar? Quem implantou nas pessoas a sua natural bondade e justiça?". Um dia Zaratustra estava meditando às margens de um rio quando um ser estranho lhe apareceu. Ele era indescritível, tal a sua beleza e brilho. Zaratustra perguntou-lhe quem era ele, ao que teve como resposta: "Sou Vohu Mano, a Boa Mente. Vim buscá-lo". E tomou-lhe a mão, e o levou para um lugar muito bonito, onde sete outros seres os esperavam. A Boa Mente disse-lhe então: "Zaratustra, se você quiser pode encontrar em você mesmo todas as respostas que tanto busca, e também questões mais interessantes ainda. Ahura Mazda, Deus que tudo cria e sustenta, assim escolheu partilhar a sua divindade com os seres que cria. Agora, sabendo disso, você pode anunciar essa mensagem libertadora a todas as pessoas.”
Zaratustra contestou: "Por que eu? Não sou poderoso e nem tenho recursos!". Os outros seres responderam em coro: "Você tem tudo o que precisa, o que todos igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações". Zaratustra voltou para casa e contou a todos o que lhe acontecera. A sua família aceitou o que ele havia descoberto, mas os sacerdotes o rejeitaram. Eles argumentaram: "Se é assim nada há de especial em nosso serviço, nada valem nossos sacrifícios e perderemos o poder que nos dão os deuses ciumentos e caprichos que servimos. Estamos sem trabalho e passaremos fome!". Decidiram, então, dar cabo da vida de Zaratustra. Com sua boa mente ele entendeu que tinha que sair dali por uns tempos. Chamou seus vinte e dois companheiros e companheiras de primeira hora e fugiram com tudo o que tinham. Eles viajaram durante várias semanas até chegarem a um lugar cujo governante chamava-se Vishtaspa. Zaratustra procurou Vishtaspa e partilhou com ela a sua descoberta. Vishtaspa respondeu ao seu apelo com uma recusa: "Por que haveria de crer nesse estranho? Meus deuses são, com certeza, mais poderosos que esse Ahura Mazda!".
Após dois anos tentando convencer Vistaspa, e enfrentando a mais cruel oposição, passando, inclusive, um tempo preso, um acidente com o cavalo de Vishtaspa ajudou a resolver a favor de Zaratustra esse impasse. À beira de morte, o cavalo tornou-se o pivot de todas as atenções. Vistaspa chamou sacerdotes, feiticeiros, médicos e sábios para salvar o seu cavalo. Juntos eles tentaram de tudo, inclusive oferecendo aos deuses dezenas de sacrifícios de outros cavalos. Além disso, brigaram entre si, fizeram intrigas, mas nada aconteceu, o cavalo de Vishtaspa só piorava. Zaratustra, que fora criado num ambiente rural, logo percebeu que ele fora envenenado. Procurando Vishtaspa ele sugeriu um remédio muito usado nesses casos em sua terra. Sem alternativas, embora descrente, Vishtaspa aceitou a ideia de Zaratustra e em dois dias seu cavalo estava de pé, sem sinal da doença.
Todos ficaram pasmos e acharam que Zaratustra tinha operado um milagre. Ele respondeu que havia apenas usado a sua boa mente e os conhecimentos que tinha adquirido em casa. Vishtaspa e sua família ficaram encantados com a honestidade e simplicidade de Zaratustra, e dispuseram-se a ouvi-lo de novo, dessa vez com coração e mentes desarmados. Em pouco tempo não só Vishtaspa e sua família haviam sido iniciados, como também grande parte de seu povo.
Embora Zaratustra pudesse ter usado a ocasião da cura do cavalo de Vishtaspa para arrogar-se poderes sobrenaturais ele preferiu ser sincero, e foi isso o que de fato mostrou a Vishtaspa a sublime beleza e profundidade da mensagem. Vida de Zaratustra. Dos 20 aos 30 anos, segundo narrativas que chegaram a nós, Zaratustra viveu quase sempre isolado, habitando no alto de uma montanha, em cavernas sagradas. Não ingeria nenhum alimento de origem animal. Em outros relatos, teria ido ao deserto, onde fora tentado por uma entidade maligna. Após sete anos de solidão completa, regressou ao seu povo, e com a idade de trinta anos recebeu a revelação divina por meio de sete visões ou ideias. Assim começou Zaratustra a sua missão aos trinta anos (a mesma idade em que o Zaratustra de Nietzsche iniciou a dele). Segundo os Masdeístas ele encontrou muita dificuldade para converter as pessoas à sua nova religião. Em dez anos de pregação teve somente um crente: o seu primo. Durante este período, o chamado de Zaratustra foi como uma voz no deserto. Ninguém o escutava. Ninguém o entendia. Foi perseguido e hostilizado pelos sacerdotes e por toda a sorte de inimigos ao longo de dez anos. Os príncipes recusaram dar-lhe apoio e proteção e encarceraram-no porque a sua nova mensagem ameaçava a tradição e causava confusão nas mentes de seus súbditos. Com 40 anos, realizou milagres e preocupava-se com a instrução do povo. Converteu o rei Vishtaspa, que se tornou um fervoroso seguidor da religião por ele pregada, iniciando a verdadeira difusão dos ensinamentos de Zaratustra e de uma grande reforma religiosa. Logo em seguida, a corte real seguiu os passos do rei e, mais tarde, o Masdeísmo chegou a ser a religião oficial da Pérsia. No império dos reis Sassânidas, principalmente no de Artaxes I (227), o chefe religioso era a segunda pessoa no Estado depois do imperador soberano, e este, inteiramente de acordo com o antigo costume, era admitido como divino ou semidivino, vivendo em particular intimidade com Ormuzd.
Aos 77 anos de idade ele teria morrido assassinado enquanto rezava no templo, diante do fogo sagrado. Segundo alguns relatos, o seu túmulo estaria em Persépolis
Cosmogonia. Na doutrina zaratustriana, antes de o mundo existir, reinavam dois espíritos ou princípios antagônicos: os espíritos do Bem (Ahura Mazda, Spenta Mainyu, ou Ormuz) e do Mal (Angra Mainyu ou Arimã). Divindades menores, gênios e espíritos ajudavam Ormuz a governar o mundo e a combater Arimã e a legião do mal. Entre as divindades auxiliares, como consta no Avesta a mais importante era Mithra, um deus benéfico que exercia funções de juiz das almas. No final do século III d.C, a religião de Mithra fundiu-se com cultos solares de procedência oriental, configurando-se no culto do Sol. Arimã é representado como uma serpente. Criador de tudo que há de ruim (crime, mentira, dor, secas, trevas, doenças, pecados, entre outros), ele é o espírito hostil, destruidor, que vive no deserto entre sombras eternas. Ormuzd, no entanto, é o Criador original, organizador do mundo de modo perfeito. Ahura Mazda é representado também como o divino Lavrador, o que mostra o enraizamento do culto na civilização agrícola, na qual o cultivo da terra era um dever sagrado. No plano cosmológico, contudo, ele é o criador do universo e da raça humana, com poderes para sustentar e prover todos os seres, na luz e na glória supremas.

A arte devota zoroastriana apresenta o fundador da religião em roupas brancas e barba comprida. Bem e Mal não são apenas valores morais reguladores da vida cotidiana dos humanos, mas são transfigurados em princípios cósmicos, em perpétua discórdia. A luta entre Bem e Mal origina todas as alternativas da vida do universo e da humanidade. A vitória definitiva de Ormuzde sobre Arimã só poderia ocorrer se Zaratustra conseguisse formar uma legião de seguidores e servidores, forte o bastante para vencer o Espírito Hostil, e expurgar o Mal do universo. Nesse sentido, Bem e Mal são princípios criadores e estruturadores do universo, que podem ser observados na natureza e encontram-se presentes na alma humana. A vida humana é uma luta incessante para atingir a bondade e a pureza, para vencer Angra Mainyu e toda a sua legião de demônios cuja vontade é destruir o mundo criado por Ahura Mazda. A doutrina de Zaratustra é escatológica. De acordo com os seus preceitos, o mundo duraria doze mil anos. No fim de nove mil anos, ocorreria a segunda vinda de Zaratustra como um sinal e uma promessa de redenção final dos bons. Isso seria seguido do nascimento miraculoso do Saoshyant, semelhante ao Messias hebreu, cuja missão seria aperfeiçoar os bons para o fim do mundo, da história humana, enfim, para a vitória do Bem sobre as forças do Mal. A cada mil anos viria um profeta/messias (Saoshyant). Assim, nos últimos três milênios, três Saoshyant preparariam a completude do grande ano cósmico. É neste sentido que Nietzsche menciona Zaratustra como aquele que compreendeu a História em toda a sua completude. Cada série de desenvolvimento da História seria presidida por um profeta, que teria seu hazar, seu reino de mil anos. O Zaratustra histórico, no entanto, anuncia a chegada do tempo em que surgirá da raça persa o Shah Bahram, o Senhor Prometido, o Salvador do Mundo, o Grande Mensageiro da Paz.
No final dos tempos haveria o julgamento derradeiro de todas as almas e a ressurreição dos mortos. Não fica claro se o inferno tem duração eterna, se os maus se agitarão eternamente "nas trevas". Nos Gathas, cantos de Zaratustra, consta também que o mal poderia ser banido para sempre do universo, com o nascimento de um novo mundo, física e espiritualmente perfeito, aqui na Terra. Não seria possível, assim, a coexistência de um mundo físico degradado e um mundo hiperfísico perfeito.
Os gregos enfatizaram, no profeta persa, mais a astrologia e a cosmologia do que o dualismo moral. Para eles, Zoroastro é um ser mítico, um astrólogo, legendário fundador da seita dos magos. Os aspectos cosmológicos, soteriológicos (relativos à parte da Teologia que trata da salvação do homem), teológicos e morais do Masdeísmo estavam contidos nos Pahlavi (principalmente no Denkard), livros baseados no Avesta. Mas esses textos estão perdidos.
Moral. O dualismo cósmico e teogônico do Masdeísmo está intimamente relacionado ao dualismo moral. Zaratustra, com a sua mensagem divina, provocou uma verdadeira transformação no modo de pensar da sua civilização, contrariando o tradicional pensamento dos sábios de sua época. Sua mensagem baseava-se nos Gathas, cantos entoados com o objetivo de serem um guia para a humanidade – continham o triplo princípio de boa mente, boas palavras e boas ações. O Bem e o Mal, para Zaratustra, manifestam-se também na alma humana, e a única forma de poder organizar o mundo e a sociedade é estando o Bem acima do Mal. Este não traz contribuição alguma para a construção de uma vida boa, já que impossibilita uma relação equilibrada entre ser humano, sociedade, natureza e o ser. Zaratustra propõe que o homem encontre o seu lugar no planeta de forma harmoniosa, buscando o equilíbrio com o meio (natural e social), respeitando e protegendo terra, água, ar, fogo e a comunidade. O cultivo de mente, palavras e ações boas é de livre escolha: o indivíduo deve decidir perante as circunstâncias que se apresentam em determinado fato. A boa deliberação, ou seja, uma boa reflexão a respeito de cada ação faz surgir uma responsabilidade social para colaborar com o projeto que Deus propôs ao mundo. Os seres humanos, portanto, possuem livre-arbítrio e são livres para pecar ou para praticar boas ações. Mas serão recompensados ou punidos na vida futura conforme a sua conduta. Os principais mandamentos são: falar a verdade, cumprir com o prometido e não contrair dívidas. O homem deve tratar o outro da mesma forma que deseja ser tratado. Por isso, a regra de ouro do Masdeísmo é: "Age como gostarias que agissem contigo".
Entre as condutas proibidas destacavam-se a gula, o orgulho, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o adultério, o aborto, a calúnia e a dissipação. Cobrar juros a um integrante da religião era considerado o pior dos pecados. Reprovava-se duramente o acúmulo de riquezas.
As virtudes como justiça, retidão, cooperação, verdade e bondade, surgem com o princípio organizador de Deus Ascha, que só se pode manifestar com o esforço individual de cultivar a Tríplice Bondade. Esta prática do Bem leva ao bem-estar individual e, consequentemente, coletivo. A comunidade somente pode surgir quando o indivíduo se vê como autônomo, e desse modo pode descobrir o outro como pessoa. O ego é valorizado como fonte para o reconhecimento do próximo. Cultivado de forma sadia, o ego torna-se forte e poderoso para o homem observar a si próprio como membro da comunidade e capaz de contribuir para o bom relacionamento harmonioso com os outros seres.

Zoroastro (esquerda) em pé sobre o Primeiro Departamento Judicial da Suprema Corte de Nova York. Por isso, eram incentivadas as virtudes econômicas e políticas, entre elas a diligência, o respeito aos contratos, a obediência aos governantes, a procriação de uma prole numerosa e o cultivo da terra, como está expresso na frase: "Aquele que semeia o grão, semeia santidade". Havia também outras virtudes ou recomendações de Ahura Mazda: os homens devem ser fiéis, amar e auxiliar uns aos outros, amparar o pobre e ser hospitaleiros. A doutrina original de Zaratustra opunha-se ao ascetismo. Era proibido infligir sofrimento a si, jejuar e mesmo suportar dores excessivas, visto o fato de essas práticas prejudicarem a alma e o corpo, e impedirem os seres humanos de exercerem os deveres de cultivar a terra e de procriar. Essas prescrições fomentavam a temperança e não a abstinência. Assim, as exortações e interdições destinavam-se a proporcionar aos homens uma boa conduta, além de reprimir os maus impulsos. Doutrina Religiosa. As revelações e profecias de Zaratustra estão contidas nos Gathas, cinco hinos que formam a mais antiga parte do livro do Masdeísmo, o Avesta. Os Gathas datam do final do segundo milênio a.C. Foram escritos numa língua do nordeste do Irã, aparentada ao sânscrito, o avestan gático. Originalmente, esses hinos eram transmitidos oralmente. Grande parte do Avesta original foi destruída, com a invasão de Alexandre Magno e com o domínio posterior do Islamismo. As escrituras sagradas do Masdeísmo, o Avesta ou Zend-Avesta, como se tornaram mais conhecidas no ocidente, significam "comentário sobre o conhecimento".
O Zoroastrismo é uma das religiões mais antigas e de mais longa duração da humanidade. Seu monoteísmo não influenciou as doutrinas judaica, Cristãs e Islâmicas como alguns dizem, pois comparativamente o Zoroastrismo não compartilhou da mesma data da fixação ideologica Judaica, mas é possível que tenha influenciado o Cristianismo por sinal, mas sem provas. Após o domínio Islâmico do Irã, o Masdeísmo passou a ser religião de uma minoria, que passou a ser perseguida pela nova religião hegemônica. Por isso, parte dos seguidores remanescentes migrou para o noroeste da Índia, onde foi estabelecida a comunidade Parsi. No Irã, permanece ainda a comunidade Zardushti. Atualmente, o número total de seguidores do Masdeísmo (Zoroastrismo) não chega a 120 mil, distribuídos em pequenas comunidades rurais. Por ser uma religião étnica, o Masdeísmo geralmente não permite a adesão de convertidos. Na atualidade há uma maior flexibilidade, devido à migração, à secularização e aos casamentos realizados entre etnias distintas. Como já mencionado, a base da doutrina de Zaratustra é o dualismo Bem-Mal. O cerne da religião consiste em evitar o mal por intermédio de uma distinção rigorosa entre Bem e Mal. Além disso, é necessário cultivar a sabedoria e a virtude, por meio de sete ideais, personificados em sete espíritos, os Imortais Sagrados: o próprio Ahura Mazda, concebido como criador e espírito santo; Vohu Mano, o Espírito do Bem; Asa-Vahista, que simboliza a Retidão Suprema; Khsathra Varya, o Espírito do Governo Ideal;Spenta Armaiti, a Piedade Sagrada; Haurvatãt, a Perfeição; e Ameretãt, a Imortalidade. Estes deuses enfrentam constantemente as forças do Mal, os maus pensamentos, a mentira, a rebelião, a doença e a morte. O príncipe destas forças é Angra Mainyu, o Espírito Hostil, também conhecido como Arimã.
A adoração a Ahura Mazda ou Ormuz pode também ser chamada Mazdayasna (Adoração ao Sábio). O culto não requeria templos, pois Deus era representado pelo fogo, considerado sagrado e símbolo de pureza. A chama era mantida constantemente em altares, erguidos geralmente em lugares elevados das montanhas, onde se faziam oferendas. Os magos, detentores de segredos e de verdades reveladas, dirigiam os ritos e os cultos – são referidos na Bíblia, no Novo Testamento. O rei da Pérsia teria enviado a Israel sacerdotes do Zoroastrismo, que seguiram uma estrela até Belém, no intuito de encontrar o Salvador, ou Messias. Zaratustra transmitira, aos magos e adeptos, os segredos e a verdade suprema que lhe foram revelados por Ahura Mazda por meio de um anjo chamado Vohu Manõ. Assim como o Cristianismo, o judaísmo e o islamismo, também no zoroastrismo a revelação divina é elemento essencial. A religião Masdeísta diferencia-se das existentes até então não só pelo dualismo Bem–Mal, mas também pelo caráter escatológico. Entre os seus dogmas, estão a vinda do Messias, a ressurreição dos mortos, o julgamento final e a translação dos bons para o paraíso eterno. Inclui também a doutrina da imortalidade da alma e o seu julgamento.
Conforme os seus méritos ou pecados, elas iriam para o mundo dos justos (paraíso), para a mansão dos pesos iguais (purgatório) ou para a escuridão eterna (inferno). Não sepultavam, incineravam ou jogavam os mortos em rios, mas ficavam expostos em altas torres a céu aberto. Os corpos dos justos, salvos da destruição, secariam; já os dos injustos seriam devorados pelas aves de rapina. Desse modo, Zaratustra pode ser visto como um dos primeiros teólogos da história por ter erigido um sistema de religiosa desenvolvido e estruturado. Enquanto religião ética, o Masdeísmo possuía a missão de purificar os costumes tradicionais de seu povo a fim de erradicar o politeísmo, o sacrifício de animais e a magia. Com isso, o culto poderia atingir uma dimensão ético-espiritual elevada. Zaratustra pregava que o esforço e o trabalho eram atos santos. Eis algumas frases ou ditos a ele atribuídos:
  • "O que vale mais num trabalho é a dedicação do trabalhador".
  • "O que lavra a terra com dedicação tem mais mérito religioso do que poderia obter com mil orações sem nada fazer".
  • "Aquele que diz uma palavra injusta pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus."
  • "Deus está sempre à tua porta, na pessoa dos teus irmãos de todo o mundo."
  • "O que semeia milho, semeia a religião. Não trabalhar é um pecado." Estamos dentro do propósito do Mosaico que é apresentar uma visão geral das doutrinas exotéricas e esotéricas de todas as religiões. Cada uma delas têm seus mistérios e suas "verdades", essenciais a busca humana pela evolução espiritual e o eterno retorno à Consciência Cósmica. Abraço. Davi.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Cântico dos Canticos. Parte I.

O título de Cântico dos Cânticos representa, em hebraico, uma fór­mula de superlativo; significa o mais belo dos cânticos ou o cântico maior e coincide com as duas primeiras palavras do texto. Nessa espécie de introdução, muito sumária, a autoria do livro é atri­buída a Salomão, como acontece com os Provérbios e a Sabedoria. Não sendo verossímil, tal atribuição exprime a fama de sábio que o antigo rei conservou na tradição hebraica (ver 1 Rs 5,12-14). Com este espírito condizem bem algumas conotações salomó­nicas da própria figura do amado. Gênero Literário e  Divisão. Apesar da grande antiguidade do tema da poesia lírica nas culturas orientais, os eruditos tendem atual­mente a situar, com bastante consenso, a origem do texto na época pós-exí­lica recente, possi­vel­mente na Palestina. É
universalmente aceito que o código utilizado para escrever o Cântico dos Cânticos é o de um epitalâmio ou cântico nupcial. Neste género literá­rio, e nesta obra em concreto, estão presentes os modelos de poesia lírica que floresceram no Próximo Oriente Antigo, tanto na Mesopotâmia como no Egito. Talvez este último tenha servido particularmente de modelo para o autor hebraico do Cântico. Derivará ele das canções de divertimento egíp­­­c­­­ias? Teodoro de Mopsuéstia (350-428) tinha alguma razão quando o descrevia como encenação literária das núpcias de Salomão com uma filha do faraó?
Na literatura mesopotâmica temos um paralelo tentador: os textos reli­giosos sobre Dummuzi e Inanna, textos religiosos de comprovada utilização cultual, para simbolizar as grandes questões da fertilidade e da sexuali­dade com um casamento divino que serve de paradigma. Em que medida a dramática da sexualidade deste livro não depende daquela mentalidade hierogâmica? No folclore siro-palestinense há também um ritual de matrimônio cuja ação decorre em sete dias festivos. O núcleo central é constituído pela coroa­ção dos esposos, à semelhança de uma coroação real e sublinhado por cantos vários, exaltando a beleza física dos amantes e os ideais guerreiros do grupo. Por aqui se pode ver a subtileza de sentimentos e emoções na rela­ção amorosa, de que o homem oriental adquirira consciência e que formu­lava como uma dimensão transcendente da sua própria experiência humana. A sublimidade das vivências que integram a experiência do amor constitui, de imediato, e por si mesma, um importantíssimo conteúdo para a leitura do Cântico. O gênero literário da poesia lírica, estruturada segundo o modelo estilís­tico e teatral de um epitalâmio, pode também explicar a composição literá­ria deste poema em quadros, cuja delimitação e atribuição a cada uma das duas principais personagens se torna difícil de fazer. Daí variarem tanto as opiniões sobre a divisão de um texto aparentemente muito simples. A actual divisão em oito capítulos não significa sequer uma repar­tição do texto com maior evidência do que muitas outras já propostas. Para maior facilidade de leitura, identificaremos por “Ele” ou “Ela” a per­sona­gem que cada parte do poema parece sugeri. Teologia e  Leitura Cristã. Apesar do que dissemos acima, a leitura do Cântico dos Cânticos está sobretudo marcada, desde sempre ou quase, por uma transposição de sentido que faz dele uma alegoria, em que o amado é Deus ou o Messias, novo Salomão, e a amada é Israel ou a Igreja, como nova comunidade de Israel. Pode subsistir alguma dificuldade em definir quando é que começou esta leitura alegórica do Cântico. Há quem pense que tal significado já está presente no mo­mento da composição do texto, como intenção primeira do autor. Pelo menos, parece verosímil considerar que a atribuição de tal significado ale­gó­rico tenha constituído a razão prin­cipal para a inclusão definitiva deste livro no Cânon dos livros da Bíblia hebraica, no séc. I d.C. Deste modo, o Cântico dos Cân­ticos transformou-se no principal veículo para exprimir uma antiga concepção bíblica da experiência re­ligiosa, sobre­t­­udo como uma relação amorosa com Deus. Algumas das mais conseguidas formulações ante­riores desta concepção de Deus en­contravam-se em Oseias (Os 2,4-25), em Jeremias (Jr 2,20; 31,1) e Isaías (Is 57,3-33). E assim, para além da leitura mais explí­cita na tradição ju­daica desde a antiguidade, que en­tende o Cântico dos Cânticos como uma grande alegoria messiânica, avul­ta igualmente, e com raízes bí­blicas não menos antigas, a leitura deste poema como a metáfora uni­ver­sal da relação religiosa com Deus. O NT fez a transposição da metá­fora do esposo-esposa do AT para Cristo-Igreja (Ef 5,21-33; ver Jo 3,29; Ap 22,17). Aqui se joga uma subti­lís­sima concepção de Deus, ainda não suficientemente explorada; e aqui se encontra o essencial da leitura mís­tica e poética que o Cântico dos Cân­ticos tem rece­bido na tradição oci­dental e cristã e da qual podemos dar como exemplos maiores as leituras de São Bernardo, na Idade Média, e de São João da Cruz, na Idade Mo­derna. Possivelmente, a grande dificul­dade na leitura do Cântico residiu no desiquilíbrio instaurado por uma espécie de totalitarismo alegórico das inter­­pretações. Só muito tarde se per­mitiu considerá-lo naquilo que ele é: epitalâmio, canto de admiração e de um grande amor entre uma mulher e um homem, onde o desejo e o corpo fazem parte do jogo de sedução e fruição. É este o sentido natural do Cântico dos Cânticos. E, porque não se teme enunciar o sentido das palavras, é que nos podemos abrir à revelação esca­tológica da presença guardada entre elas: a presença de Deus. Achei muito sensata essa introdução do Livro de Cântico dos Cânticos feita pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos da Igreja Católica. Pois caracterizaram o comentário nas tradições espiritualistas do oriente vendo o aspecto estético e poético do texto em contraposição como o teológico.. Citaram importantes místicos do catolicismo como São Bernardo de Claraval (1090-1153) e São João da Cruz (1542-1591) homens de profunda comunhão com O Inefável e uma vida de contemplação e meditação, apoiada na fraternidade humana. A partir desse texto transcreveremos o conteúdo do Cântico dos Cânticos para que os leitores apreciem uma poesia de grande sensibilidade, desfrutando da humanização  sendo priorizada em vez da espiritualização. Usarei o texto da Bíblia Sagrada, nova tradução na linguagem de hoje da Edição Paulinas.

"Este é o Cântico dos Cânticos, a mais bela das canções de Salomão.

Que os seus lábios me cubram de beijos! O seu amor é melhor do que o vinho.

O seu perfume é suave; o seu nome; e o seu nome é para mim como perfume derramado. Nenhuma mulher poderia deixar de amá-lo.

Leva-me como você! Vamos depressa! Seja o meu rei e leve-me para o seu quarto.

Ó rei, ficaremos alegres e felizes por sua causa e cantaremos o seu amor, que é mais agradável do que o vinho. Não é sem razão que o amam, ó rei!.

Mulheres de Jerusalém, eu sou morena, porém bela. Sou morena escura como as barracas do deserto, com as cortinas do palácio de Salomão.

Não fiquem me olhando assim por causa da minha cor, pois foi o sol que me queimou. Meus irmãos ficaram zangados comigo e me fizeram trabalhar nas plantações de uva.

Por isso, não tive tempo de cuidar de mim mesma.

Diga, meu amor: aonde é que você leva as suas ovelhas para pastar? Onde é que elas descansam ao meio dia?

Diga, e assim não terei de andar procurando você entre as ovelhas dos outros pastores.

Se você, a mais belas de todas as mulheres, não sabe o lugar, siga as ovelhas dos outros e assim encontrará pasto para os seus cabritos perto das barracas dos pastores.

Você é tão bela, minha querida, como os animais da carruagem de Faraó.

O seu rosto é lindo no meio de suas tranças, como é formoso o seu pescoço enfeitado de colares!

Vamos fazer para você uma corrente de ouro, toda enfeitada de prata.

Quando o meu rei estava sentado no seu sofá, sentia-se o cheiro agradável do meu perfume.

O meu amado tem cheiro de mirra quando descansa sobre os meus seios.

O meu amado é como as flores do campo nas plantações de uvas que ficam perto das fontes de Gedi.

Como você é bela, minha querida! Como você é linda! Como os seus olhos brilham de amor!

Como você é belo, meu querido! Como é encantador! A grama verde será a nossa cama; os cedros serão as vigas de nossa casa, e os espinheiros serão o telhado". Abraço. Davi.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Eduardo e Monica

Eduardo e Monica


Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E que irá dizer
Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque,
Noutro canto da cidade
Como eles disseram.

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir.
Festa estranha, com gente esquisita:
- Eu não estou legal. Não agüento mais birita.
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa

É quase duas eu vou me ferrar
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard.
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo.
Eduardo e Mônica eram nada parecidos -
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês.
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô.

Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava
No esquema "escola-cinema-clube-televisão".

E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia,
Como tinha de ser.

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia,
Teatro, artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar;
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.
Construíram uma casa uns dois anos atrás,
Mais ou menos quando os gêmeos vieram -
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram.

Eduardo e Mônica voltaram p'rá Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão.
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação.

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?

Compositor brasileiro Renato Russo (1960-1996)