terça-feira, 29 de junho de 2021

RELIGIOSIDADE SEM RELIGIÃO

 

Espiritualidade. www.oshobrasil.com.br. Rajneesh Chandra Mohan Jain –  Osho (1931-1990). RELIGIOSIDADE SEM RELIGIÃO. Osho. É necessário, uma organização, para uma religião sobreviver? Infelizmente é. A religião necessita de algum tipo de organização, embora surjam problemas. A organização em si mesma é uma entidade política; ela não precisa de religião alguma. Para sobreviver, a religião necessita de uma organização. Para sobreviver a organização não necessita de religião alguma. Esse é o xis de todo o problema. No passado ocorreram esforços para se criar religião sem qualquer organização, por se perceber que todas as organizações de algum modo acabam sendo antirreligiosas. Por exemplo, a Igreja Católica – ela é uma organização muito sólida, mas é apenas uma organização, nenhuma religião restou. A religião é uma perturbação para os interesses da hierarquia de uma organização. A religião é um problema contínuo; as pessoas religiosas são problemas. A Igreja Católica colocou para fora todas as pessoas que eram realmente religiosas porque essas pessoas não suportavam esse ato criminoso de destruir a religião. Elas se opuseram a isso, se rebelaram contra isso. Mas a Igreja tem muita autoridade. O chefe da Igreja, o papa, é um chefe religioso e também um chefe temporal, o Vaticano é o seu reinado, uma nação política. Ela já foi grande, vasta. Hoje tem apenas oito milhas quadradas, mas ainda assim, ele é o chefe temporal e o chefe espiritual. Existem religiões em que há separação entre o chefe temporal e o chefe religioso, mas aí surgem conflitos. O chefe temporal tem todo o poder do exército, da lei, do estado e o chefe espiritual não tem poder temporal algum. Por exemplo, no hinduísmo, o Shankaracharya é apenas um chefe espiritual. Mas isso cria outro problema: um conflito contínuo entre o estado e a religião – e naturalmente o estado é mais poderoso. Você tem que se lembrar de que quanto mais elevada é uma coisa, mais frágil ela é. Quanto mais baixa ela for, mais forte ela é. As raízes são fortes e as flores não. Embora as raízes não tenham significado se as flores desaparecerem – as raízes somente têm sentido por causa das flores. Mas a árvore não é tão estúpida como o homem, por isso existe uma harmonia entre as flores e as raízes, não existem conflitos. As flores representam a fragrância espiritual e as raízes representam o estado, o exército e todo o seu poder. As raízes podem negar alimento às flores e elas morrerão e desaparecerão em pouco tempo. Mas nenhuma árvore é tão estúpida: existe uma harmonia; as raízes dão suporte para as flores, para as folhas, para os ramos. E isto não acontece apenas de um lado. As flores, as folhas e os ramos vão recolhendo os raios do sol e o dióxido de carbono no ar, e continuamente os enviam para as raízes. Isso é uma comunhão, não existe a questão de conflito. Mas na religião, isso tem sido um problema. Se você os mantiver separados, logo o estado irá tentar controlar a religião. Por exemplo, na Inglaterra a religião é separada, mas a rainha é na verdade a chefa de ambos; da igreja e do estado. A igreja tem seu próprio chefe, mas existe uma chefa coroada que está acima dele. O que pode o arcebispo de Canterbury fazer contra a rainha? (...) tende a corrompe-lo. Ele pode fazer mau uso do poder; e é quase certo que ele faça mau uso. Em primeiro lugar, se a chefia incluir ambos os poderes, o temporal e o espiritual, as pessoas que são espirituais não farão qualquer esforço para se tornar chefe, porque pessoas espirituais não querem se envolver com o poder político. Então, apenas as pessoas que têm a mente voltada para a política (...). Elas podem usar vestimentas religiosas, podem ser bispos, cardeais ou ministros, podem ter estudado teologia. Mas elas não são pessoas espirituais. Se elas estivessem no mundo, teriam tentado se tornar presidente ou primeiro-ministro; é apenas acidental que elas estão com vestimentas religiosas. A ambição delas somente pode ser preenchida se elas se tornarem papa. Por isso, elas fazem todos os esforços para se tornar papa. Quando elas chegam ao poder, é muito provável que elas façam mau uso dele. Em primeiro lugar, essas pessoas nunca foram espirituais. O hinduísmo tentou uma outra coisa também. Se você fizer de uma pessoa um chefe espiritual, existe a possibilidade de que essa pessoa não seja realmente espiritual. Você pode ter errado, porque não existe critério algum para julgar e isso não pode ser decidido numa eleição, pois as pessoas não tem ideia do que seja espiritualidade. Como elas poderão decidir quem é espiritual? Elas podem apenas nomear. Isso não pode ser escolhido numa eleição – e se houver uma eleição – você atrairá políticos para ela. O papa católico é eleito, por isso, naturalmente, os cardeais que tem a mente voltada para a política fazem todos os esforços para abordarem todas aquelas pessoas – talvez sejam duzentos cardeais que escolhem o papa – assim existe continuamente uma campanha que corre às escondidas, uma campanha eleitoral. Mesmo depois que já existe um papa, a campanha continua porque um papa não vive muito tempo, pela simples razão de que quando uma pessoa se torna papa ela já está próxima dos setenta anos. Assim, você pode esperar que dentro de dois, três, quatro ou cinco anos ele já esteja lindo. (...). O hinduísmo tentou assegurar-se de que sua religião teria muitos chefes; todos seriam nomeados. Mas então outro problema surgiu: uma grande confusão. O hinduísmo é uma grande confusão – você nem pode dizer que é uma religião. São mil e uma religiões juntas, porque não existe nenhum controle central. Qualquer um pode reunir discípulos, tornar-se um chefe e ninguém pode impedi-lo. A ideia era dar liberdade, mas acabou virando uma confusão. Qualquer idiota pode encontrar alguns outros idiotas que sempre estão disponíveis em qualquer lugar. Existem muitas seitas no hinduísmo e cada seita tem muitas sub seitas e cada sub seita tem seu próprio chefe. Eles nem mesmo tem um relacionamento dialogal com os outros chefes da mesma religião. Elas estão continuamente brigando nos tribunais porque algumas vezes acontece de duas pessoas proclamarem que elas é que são as chefes, e se elas puderem dar alguma prova (...). O sânscrito é uma língua que, apenas com um pouco de lógica, tudo pode ser interpretado de muitas maneiras. Cada palavra tem muitos significados; o que lhe dá beleza, lhe dá poesia, pois você pode brincar com as palavras de muitas maneiras, elas não têm um significado fixo. Mas isso também é perigoso: você não pode escrever em sânscrito, senão haverá muitas interpretações, e isso é o que está acontecendo. No Bhagavad Gita existem mil comentários famosos, sem considerar os não famosos, que são outros muitos milhares. Mas existem mil comentários muito famosos. Considera-se que qualquer um que escreva um comentário sobre as três escrituras – os Vedas, os Brahmasutras de Badarayana e o Shrimad Bhagavagita de Krishna – se torna um acharya, um chefe, e ele pode criar um grupo de adeptos. Ora, não é difícil escrever comentários sobre essas três escrituras (...). Por isso, o hinduísmo não é uma religião como o cristianismo, o judaísmo ou o islamismo. No islamismo existe um Profeta, um Deus e um Livro – e isso é tudo. No hinduísmo são milhares de escrituras, todas de tremendo valor, e em cada escritura existem mil comentários, e todo comentário tem algum valor, algum insight. E depois existem os comentários sobre os comentários (...). Shankara escreve um comentário sobre o Gita, então, entre os seguidores de Shankara, um escreve sobre os comentários do Shankara, e um outro seguidor escreve um outro comentário sobre o comentário do comentário do Shankara. Porque o comentário é também tão vulnerável à interpretação quanto o original. Assim os seus discípulos continuarão escrevendo mais comentários (...). Vendo tal situação, os seguidores ortodoxos os Mahavira (...). Eles são chamados digambaras porque eles vivem nus, os seus monges vivem nus. Digambara significa aquele cuja única roupa é o céu – nada existe entre ele e o céu. Para evitar confusão, para evitar comentários, para evitar organização, eles simplesmente destruíram todas as escrituras de Mahavira. Assim, os digambaras não tem qualquer escritura de Mahavira – um ato estranho. Exatamente para preservar seus ensinamentos, eles são repassados aos discípulos palavra por palavra, oralmente, não através de livros. Você não consegue compra-los nas livrarias, ninguém pode escrever um comentário sobre eles. Os ensinamentos seguem silenciosamente, sendo transferidos de uma geração de monges a outra geração de monges. Foi um grande esforço, uma tremenda coragem, destruir todas as escrituras, de modo que você não possa imprimi-las. Mas o que aconteceu foi que mesmo transferindo de um indivíduo a outro indivíduo, existem diferentes versões, porque naturalmente (...). Vocês todos estão me ouvindo, mas se forem para casa e escreverem o que eu disse, vocês acham que irão relatar a mesma coisa? Amanhã de manhã poderão verificar todos os cadernos de anotações e ficarão surpresos pois todo mundo pegou alguma coisa a mais, cada um colocou ênfase em algo que o outro tinha ignorado completamente. O que você ouviu ela nem se preocupou a respeito. Assim, embora eles tentassem evitar escrever as escrituras e permanecer consistente, havia diferentes versões. Atualmente existem apenas vinte e dois monges nus; eu me encontrei com todos os vinte e dois. Eu fiquei confuso, pois todos eles tinham versões diferentes de seus instrutores, e eles estavam dando uma versão diferente a seu discípulo que um dia iria se tornar um monge nu. Eles estavam treinando o discípulo e eles achavam que dessa maneira a pureza da mensagem estava preservada. Mas, eu lhes perguntei: Alguma vez você já comparou os seus comentários com os dos outros vinte e um? Eles disseram: Não, isso nunca foi feito. O que o meu instrutor me deu, eu darei ao meu discípulo-chefe, e ele dará ao seu discípulo-chefe. Mas, eu disse: Eu encontrei todos os vinte e dois e vocês estão dizendo coisas diferentes. Se isto estivesse num livro, pelo menos poderia haver alguma possibilidade de se chegar a um acordo. Agora não tem jeito de se chegar a qualquer acordo. Existem vinte e duas religiões surgindo de um a fonte – a qual eles destruíram. Assim, agora não existe algo para se voltar e conferir; e você não pode provar que alguém está errado e que alguém está certo (...). Para evitar organização, Mahavira disse: “Agora não haverá sucesso a mim”. Mas isso não fez qualquer diferença. Sim, não existe um sucessor para ele, mas existem milhares de chefes de pequenas seitas. Eles não se proclamam sucessores de Mahavira, eles não dizem que são tirthankaras. Eles são instrutores dos ensinamentos de Mahavira. Mas todos esses instrutores estão continuamente em conflito a respeito de tudo. O mesmo aconteceu com Buda. Enquanto estava vivo, ele não permitiu que fosse escrito o que ele estava dizendo – você simplesmente teria que compreendê-lo, experienciá-lo e compartilhar com as pessoas. Senão haveria toda possibilidade de as pessoas venerarem aqueles livros – com os muçulmanos veneram o Alcorão Sagrado, os cristãos a Bíblia Sagrada. Assim, é melhor não terem as minhas palavras, disse Buda aos seus discípulos, em forma de um livro. Quando ele estava ali para dizer isso, naturalmente tudo estava sendo assim. Mas quando ele morreu, os discípulos se viram em dificuldades porque havia muitas pessoas dizendo coisas diferentes. Alguma coisa teria que ser decidida, pois já havia um caos. Então, trezentos discípulos se juntaram e compilaram o que Buda havia dito. A compilação foi feita num local fechado, porque aconteceram muitos conflitos e eles não queriam que as pessoas soubessem que os discípulos-chefes estavam em conflito, brigando: isso não foi dito por Buda. Assim, eles chegaram a um acordo, através de negociações, seguindo o caminho do meio. Se duas pessoas estão dizendo duas coisas, então se chega ao meio e mantém aquilo. Mas aquilo era uma mistura heterogênea. Buda não seria capaz de reconhecer aquilo como sendo as suas palavras. Aquilo era o acordo de trezentas pessoas. Ora, trezentas pessoas em desacordo, chegando a um acordo – você pode imaginar que resultado seria. Sim, para o mundo eles puderam então mostrar que tinham uma escritura. Mas como eles podem enganar aqueles que de fato compreendem? Buda evitou criar qualquer chefe para sua religião. Isso gerou trinta e duas seitas imediatamente após sua morte. Existiram também outros na época de Buda (563 AC 480) e Mahavira (599 AC 497). Um deles foi Sanjay Vilethiputta. Ele evitou até mesmo a iniciação. Ele dizia: Vocês simplesmente me ouçam. Se vocês sentirem que gostam de fazer o que eu estou dizendo, então façam, mas eu não iniciarei vocês. Se eu inicia-los, logo vocês irão criar uma organização. Vocês precisarão de uma organização para manter juntos todos os que são meus discípulos. Existem muitas razões para eles estarem juntos – para sua segurança, para sua proteção, pois eles serão perseguidos pelas outras religiões. E se eles forem sós no vasto oceano de inimigos, eles serão mortos. Assim, Sanjay Vilethiputta dizia: Se eu inicia-los, uma organização será necessária. Eu não lhes darei iniciação, então os outros não irão saber que vocês são meus seguidores. Vocês simplesmente continuam suas vidas, experienciando, fazendo aquilo que eu lhes disser. E se vocês sentirem que querem repassar isso a alguém, vocês podem repassar, mas sem essa questão de iniciação. Mas o que aconteceu? Nós não temos escrituras de Sanjay Vilethiputta. O homem deve ter sido de uma inteligência imensa, pois Buda o criticava, Mahavira o criticava. Caso contrário, Mahavira e Buda não iriam criticar um homem que não tivesse status. Ele deve ter tido um status exatamente igual ao de Buda e Mahavira. Um dos grandes monges hindus, Karpatri (1907-1982), escreveu um livro inteiro contra mim e quando eu vi, fiquei curioso para saber como se conseguiu. Declarações que eu nunca fiz, ele colocou em meu nome, e em seguida criticou-as. Ora, alguém lendo esse livro pensará que ele acabou comigo completamente. E ele nem mesmo tocou-me.  O seu secretário escreveu a introdução ao livro, e parecia ser um homem inteligente porque naquela introdução ele disse: Nós somos agradecidos a Osho porque ele criou esta oportunidade e o desafio para todos aqueles que pensam em reconsiderar tudo e não simplesmente aceitar qualquer coisa sem reconsiderá-la. O secretário é um seguidor de Karpatri e por isso ele lhe agradece por fazer um grande trabalho, aceitando o desafio de Osho e criticando-o. Ele veio pessoalmente me dar o livro. Eu olhei aqui e ali e lhe perguntei: Você é o secretário de Karpatri – ele próprio era um sannyasin hindu – Você observou que essas declarações não são minhas? Muito provavelmente o livro foi ditado por você. Ele disse: Eu estava com medo de que você fosse dizer isso. Eu simplesmente dei uma folheada no livro e lhe disse: Esta declaração não é minha. Não apenas não é minha, ela é contrária a mim, totalmente contrária às minhas confissões. Você é uma pessoa educada, como você permitiu isso acontecer? Você deveria ter impedido, porque este livro é totalmente falso e qualquer um que lê-lo terá um conceito errado de mim. Por isso você não pode confiar nessas pessoas – eu estou comparando o que Buda disse a respeito de Sanjay Vilethiputta com o que foi dito por Mahavira e são coisas diferentes. Buda cita a filosofia de Sanjay Vilethiputta de maneira diferente do que faz Mahavira. Isso mostra certamente que ninguém está descrevendo a outra pessoa cuidadosamente. Isso é desonestidade. A pessoa honesta deve declarar primeiro o argumento da outra pessoa em sua totalidade, em sua força e depois ele pode criticar. Mas, sem uma organização, Sanjay Vilethiputta está completamente perdido – nós não temos qualquer coisa dele para comparar. Não temos qualquer anotação de discípulos porque ele jamais iniciou alguém. Assim, talvez depois de uma ou duas gerações, a coisa deve ter desaparecido – e a contribuição daquele homem deve ter sido de imenso valor. Jiddu Krishnamurti (1895-1986) está fazendo exatamente o que Sanjay Vilethiputta fez. Ele abandonou a organização e por quase sessenta anos ele tem tentado ajudar as pessoas individualmente a compreender – mas nada tem acontecido. Ele tem sido sempre o mestre mais frustrado. E agora, ao chegar a idade de oitenta e cinco anos, ele criou a Fundação Krishnamurti na Inglaterra. Essa foi a sua experiência de sessenta anos – quando compreendeu que no momento em que ele morrer não haverá ninguém para preservar as suas palavras. O que dizer então de sua experiência? Se nem mesmo as suas palavras estão preservadas. O que está acontecendo em torno de mim é totalmente diferente do que tem sido feito até agora, pois nada foi bem sucedido. De uma maneira ou outra todos os esforços fracassaram. Agora, o esforço ao meu redor não é criar uma organização com os católicos, porque então todo o poder se torna concentrado em uma pessoa – e isso e perigoso. Isso cria ambição nos outros para alcançar o posto mais elevado. Eles esquecem tudo a respeito de espiritualidade, crescimento. Daí, todo o esforço passa a ser como se tornar papa. Bem no fundo, aquele desejo. Assim, isso se torna um outro mundo, uma outra política mundana. E é sempre perigoso deixar todo poder nas mãos de uma pessoa. Em torno de mim, o esforço desde o início tem sido o de descentralizar o poder. Por isso, ao meu redor, pouco a pouco, muitas organizações paralelas foram sendo criadas, e cada organização é autônoma, funcionando em uma direção. Por exemplo, a Osho International Foundation estará cuidando das minhas palavras e assuntos com outras religiões. A Academia, uma outra organização, será puramente esotérica. Para a Academia eu criei três círculos de pessoas. Elas serão a Academia – elas terão todo o poder espiritual em minha ausência física. Ela terá tudo que houver de melhor, os sannyasins mais inteligentes estarão nela. A inteligência delas combinada será o suficiente – um poder para si mesmo. Então a comuna terá um corpo separado de si própria (...). Os nossos sannyasins, sob vários aspectos, são pessoas muito inocentes. Eles podem ser muito educados, mas são pessoas inocentes – e depois que se tornaram sannyasins, se tornaram ainda mais inocentes. E por essa razão não existe problema; é preciso um simples senso comum. A organização não pode ser evitada. Nós apenas temos que ser um pouco mais sofisticados, mais científicos e mais matemáticos a respeito disso. Nós temos que usá-la ao invés de sermos usados por ela. Assim, eu não sou contra a organização, mas nós podemos aprender com o passado. Tudo aquilo que aconteceu no passado nós podemos evitar. E nós podemos fazer alguma coisa totalmente nova que nunca foi feita antes. E se você pode ver todas as possibilidades que destroem a religião (...) Antes que elas peguem a minha religião e u vou acabar com todas essas possibilidades. Os sannyasins podem ter uma organização totalmente diferente. Dessa promessa vocês podem sempre se lembrar: eu não vou deixá-los num estado de caos. O que aconteceu no passado? Aquelas pessoas montaram suas organizações no último momento, quando elas estavam morrendo ou a maioria das organizações foram criadas depois que os fundadores estavam mortos, porque enquanto ele estava aqui as coisas caminhavam perfeitamente bem, de modo que ninguém se preocupava com isso. Mas quando o fundador morreu, imediatamente surgiu a necessidade (...). A sua ausência estava ali. E isso era um grande vazio, impossível para as pessoas conectarem. Elas tinham se conectado com o fundador, mas não tinham uma interconexão entre elas mesmas. E isso é na verdade o que a organização é. A palavra é muito significativa; ela vem de órgão. A sua mão é um órgão seu, a sua perna é um órgão seu, o seu nariz, os seus olhos – estes são os seus órgãos. E todo o seu corpo é uma organização. E todos eles funcionam em imensa harmonia. Quantas partes você tem -  todas elas funcionando em harmonia; você nem mesmo tem consciência disso. Tudo está acontecendo tão silenciosamente que os cientistas dizem que se nós tivéssemos que montar um mecanismo que funcionasse tão silenciosamente e fizesse todo o serviço que o corpo faz, precisaríamos pelo menos de uma área de uma milha quadrada para realizar isso dentro de uma fábrica. Mesmo hoje não é possível levar sangue ao cérebro – como o seu corpo faz isso é um milagre que acontece todos os dias. Milhões de células vivas estão dentro de você; você é quase uma cidade. Existem sete milhões de células vivas, talvez cada uma tendo um certo cérebro pequeno próprio, pois o trabalho delas é tão inteligente que não se pode dizer que elas não tenham cérebro. Tudo está sendo substituído e fornecido no local onde é necessário. Os cuidados estão sendo tomados por aquelas pequenas células dentro de você de modo que a nutrição chegue às partes que são mais essenciais. O seu cérebro é alimentado primeiro, as pernas podem esperar um pouco. Mas é apenas questão de minutos – eu acho que são seis minutos – se o seu cérebro não tiver oxigênio, ele começa a se desintegrar. Por isso, primeiro o oxigênio deve alcançar o cérebro. E é um mistério como essas pequenas células estão fazendo e decidindo isso. Depois que as necessidades do cérebro estão satisfeitas, então são os órgãos de segundo grau, de terceiro grau, de quarto grau (...). Dessa maneira ele deve se mover. Vocês são uma cidade de sete milhões de seres vivos. Isso é uma organização e isso é o que deve ser. Todos os nossos órgãos separados devem estar conectados, ajudando uns aos outros, lembrando-se de onde a ajuda é mais necessária. E lembre-se primeiro que todo o seu trabalho é para alcançar a iluminação, por isso a tocha da iluminação permanece acesa. Não existe pausa. Eu estou tomando todos os cuidados para que não exista pausa. Bodhidharma sentirá inveja de mim. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi

domingo, 27 de junho de 2021

ISLAM E FAMÍLIA

 ISL

Islamismo. www.centroimamhussein.com. Imam Sajjad. O Tratado dos Direitos. Ansaryan, Qum, 2000. ISLAM E FAMÍLIA. A unidade familiar é extremamente importante no Islã. Isso se deve ao fato de que o Islã, como a maioria das outras religiões, está preocupado com a coexistência, a progressão e o florescimento da sociedade em nível local e global. A religião do Islã não encoraja o individualismo, nem permite que as pessoas busquem sucesso às custas dos outros. Os Direitos dos Pais no Islã. Foi narrado em um Hadith pertencente a Ahadith Qudsi (ou seja, ditados de Deus que foram gravados através do Profeta (s.a.w) em vez de ser incluído no Alcorão): "Juro por Minha Glória e poder que se alguém for desobediente com seus pais vem até mim com todas as boas ações de todos os profetas, não aceitarei dele." Este ditado demonstra poderosamente que o Islã tem as opiniões dos pais em extrema alta consideração. Também mostra que alguém não pode ser um bom muçulmano sem levar em consideração que o prazer de Deus só pode ser alcançado através do prazer de seus pais. Isso é algo que também é afirmado no Alcorão: "E seu Senhor decretou que você não adora, exceto Ele, e aos pais, um bom tratamento. Se um ou ambos chegam à velhice [enquanto] com você, dizem não a eles [tanto quanto], "uff", e não os repelem, mas falam com eles uma palavra nobre E abaixam-lhes a ala da humildade por misericórdia e dizem: "Meu Senhor, tenha misericórdia deles como eles me trouxeram [quando eu era] pequeno." (17:24-25). Há um princípio distinto na jurisprudência islâmica que reconhece que se a forma mais imperceptível de desrespeito não for permitida, certamente nada pior do que isso também não seria permitido, como é o caso de pronunciar "uff" para os pais. O Quarto Imã, Ali b. al-Husayn (a.s), escreveu um documento conhecido como "O Tratado dos Direitos", que é sem dúvida o primeiro documento islâmico compilado que sistematicamente fornece uma lista dos vários direitos de diferentes grupos de indivíduos entre outras coisas. Ele se expande lindamente sobre alguns direitos específicos da mãe e do pai. É apropriado citar essas explicações e exposições como um resumo adequado dos direitos dos pais no Islã. "O direito de seu pai é que você sabe que ele é sua raiz. Sem ele, você não estaria. Sempre que você vê algo em si mesmo que lhe agrada, saiba que seu pai é a raiz de sua bênção sobre você. Então louve a Deus e agradeça a Ele nessa medida. E não há força salva em Deus." "O direito de sua mãe é que você sabe que ela te carregou onde ninguém carrega ninguém, ela lhe deu do fruto de seu coração que ninguém dá a ninguém, e ela te protegeu com todos os seus órgãos. Ela não se importava se ela passava fome enquanto você comia, se ela estava com sede enquanto você bebia, se ela estava nua enquanto você estava vestida, se ela estava no sol enquanto você estivesse na sombra. Ela desistiu do sono por causa do seu bem, ela te protegeu do calor e do frio, tudo para que você pudesse pertencer a ela. Você não será capaz de mostrar sua gratidão, a menos que através da ajuda de Deus e dando sucesso. (Ali b. al-Husayn, al-Sahifa al-Sajjadiyyah). Embora seja incumbido de desobedecer aos pais se uma criança foi ordenada a cometer algo contrário ao Islã, é necessário buscar o prazer de seus pais em todas as áreas que não fazem com que um comprometa os valores islâmicos. Os Direitos dos Irmãos. Imam Ali b al-Husayn (a.s) resume adequadamente o dever de seus irmãos na seção de seu tratado sobre direitos sobre o irmão. Naturalmente, embora isso seja aplicável principalmente em relação ao irmão de sangue, os conselhos e conselhos dados não se afastam das responsabilidades e direitos que são esperados com os colegas muçulmanos e seus irmãos espirituais: "O direito de seu irmão é que você sabe que ele é sua mão, sua força, e sua força. Tome-o não como uma arma com a qual desobedecer a Deus, nem como equipamento com o qual enganar as criaturas de Deus. Não negligencie ajudá-lo contra seu inimigo ou dar-lhe um bom conselho. Se ele obedece a Deus, bem e bom, mas se não, você deve honrar a Deus mais do que ele. E não há força salva em Deus." Os Direitos da Esposa de Alguém. Em relação aos direitos da esposa, Deus descreveu o exemplo do casal dentro do Alcorão. O exemplo do casal é descrito especificamente como sendo planejado por Alá (s.w.t) como companheiros mutuamente criados um para o outro: "E um dos seus sinais é que Ele criou amigos para vocês mesmos que você pode encontrar descanso neles e Ele colocou entre vocês amor e compaixão; certamente há sinais nisso para um povo que reflete" (30:21) É obrigação islâmica do marido fornecer financeiramente sua esposa e sustentá-la e as necessidades dos filhos. A esposa não é de forma alguma obrigada no Islã a trabalhar para sustentar a família se ela escolher trabalhar, sua renda é, em princípio, seu próprio dinheiro que ela pode gastar como quiser e ainda seria responsabilidade do marido fornecer financeiramente para h Er. Ao descrever as responsabilidades de um homem em relação à sua esposa, imam Ja'far al-Sadiq (a.s) afirma: "Ele deve cumprir todas as suas necessidades básicas e não deve aterrorizar ela ficando com raiva uma e outra vez. Ou seja, depois de satisfazer suas necessidades, é gentil e afetuoso com ela, então eu juro por Alá, ele cumpriu os direitos de sua esposa." Os Direitos de um Marido sobre sua esposa. O profeta Muhammad (s.a.w) resumiu apropriadamente em uma narração, os deveres específicos de uma esposa para seu marido: "A direita do homem sobre sua esposa é que ela deve acender a luz, preparar a comida, e correr para recebê-lo calorosamente quando ele chegar em casa. Ela deve levá-lo um pouco de água e uma toalha, lavar as mãos e não retirar-se dele a menos que ela tenha uma desculpa. No Islã, o Profeta e os Imãs têm repetidamente enfatizado que as responsabilidades da esposa com seu marido são do mesmo nível que as responsabilidades da criança com seus pais. Assim, encontra-se dentro da vida dos Infalíveis, a filha do profeta Muhammad (s.a.w), Fatimah al-Zahra (a.s), permaneceu inteiramente dedicada ao seu pai, bem como seu marido Imam Ali (a.s). Os Direitos das Crianças sobre seus pais O Profeta (s.a.w) é conhecido por ter dito: "Ame seus filhos, e seja gentil e misericordioso com eles. Cumpra suas promessas feitas a eles, já que as crianças consideram seu pai como aquele que prevê seu sustento" Ele também disse dentro do mesmo trabalho: "Beije seus filhos. Há uma elevação em seu posto no Paraíso como recompensa por cada beijo. Cada aumento na hierarquia é de até quinhentos anos. É claro que o Islã dá uma grande ênfase aos pais que sustentam seus filhos e fornecem suas necessidades básicas. Separadamente, os pais também precisam ter um cuidado particular de que não permitem que seus filhos se tornem objeto de ridicularização. Por essa razão, o Imam Ali b al-Husayn (a.s) em seu tratado de direitos estipulou que não se deve nomear seus filhos com os tipos de nomes que se tornarão uma fonte de ridicularização para seus filhos. Outro direito que a criança possui sobre seus pais é o direito à orientação. É responsabilidade dos pais garantir que seus filhos não se desviem por falta de orientação na vida. O conselho dado por Luqman no Alcorão é um exemplo claro de como um pai deve tentar transmitir sua própria experiência e sabedoria para seus filhos, a fim de garantir que seus filhos possam se beneficiar e não cometer os mesmos erros das gerações anteriores. Conclusão. É claro que o Islã dá uma grande ênfase ao conceito da família com atenção também abrangendo o conceito de direitos mútuos e responsabilidades dentro de uma unidade familiar. Dado que uma unidade familiar é um microcosmo da sociedade mais ampla, se o sucesso pode ser alcançado dentro de uma unidade familiar, com base na orientação e preceitos do Islã; também pode ser alcançado e alcançado em um nível macro. Não é coincidência que o Islã tenha geralmente rotulado o Ummah ou o corpo coletivo de crentes como uma grande família. Portanto, se os muçulmanos são bem sucedidos em manter a orientação a nível familiar, então há uma maior probabilidade de que o corpo coletivo dos muçulmanos também receba orientação apropriada. Bibliografia e Leitura Adicional. www.centroimamhussein.com. Abraço. Davi

sexta-feira, 25 de junho de 2021

QUEM AMA CORRIGE

 

Cristianismo. www.ofielcatolico.com.br. QUEM AMA CORRIGE. Como deve o cristão católico proceder diante de um familiar, um amigo ou mesmo algum colega de estudos ou do trabalho que erra, que está em pecado ou, melhor seria dizer, um que persista no erro, imaginando que acerta (já que errar todos nós erramos, pecar todos pecamos). Corrigir os erros alheios pode ser muito difícil. Exige coragem, boa vontade, paciência (...) e principalmente verdadeiro amor fraterno, que é a autêntica caridade cristã. Como diz o querido padre Francisco Faus (1931-  ) em um de seus admiráveis livros (Tornar a Vida Amável, Cultor & Cleofas) "corrigir um amigo – com amor e ânimo de ajudar – é uma das melhores maneiras de compreendê-lo". Antes de entrar na análise da questão, entretanto, importa contextualizá-la. Vivemos hoje o pleno apogeu da temível ditadura do relativismo, contra a qual tanto nos advertia o papa Bento XVI (1927-  ) e que já foi também condenada por Francisco como "a pobreza espiritual dos nossos dias". Vivendo num mundo em que tudo é relativo e tudo se questiona, por todos, o tempo todo, fica muito difícil dizer a um irmão: "Cuidado, não vá cair em tal erro", porque o mundo grita intermitentemente aos nossos ouvidos que absolutamente tudo é relativo e que ninguém possui autoridade para dizer o que é certo e o que é errado. Mais além, nossa geração é extremamente orgulhosa e pendente para o pecado da soberba. Nossos pais e avós aceitavam com mansidão a reprimenda dos pais, mestres e superiores hierárquicos, diferente de nós. Eu mesmo não podia reclamar dos meus professores do ensino fundamental ou médio para meus pais (a não ser que se tratasse de algum problema realmente grave), porque, se o fizesse, ganharia apenas uma nova reprimenda. Meu dever era respeitar sempre, e me esforçar ao máximo para aprender e me aperfeiçoar, e não criticar aquele (a) cuja função é justamente me ensinar e disciplinar. Hoje, se um professor adverte uma criança ou adolescente em sala de aula, terá que responder aos pais, que via de regra já têm como premissa que o aluno, em tudo, está certo, e o professor errado (como aconteceu no caso do professor processado em juízo por ter proibido um aluno de usar o celular durante sua aula). Temos assim, por um lado, que em nossos tempos é muito difícil corrigir alguém, mesmo quando o erro é flagrante. Por outro, que é muito importante saber corrigir. Ninguém gosta de ser repreendido, em especial se a reprimenda for feita publicamente. Ninguém gosta de se sentir desrespeitado e, a não ser que você mesmo seja perfeito, como poderia apontar o dedo para as falhas do seu próximo? Com que autoridade o faria? Mesmo assim, é um erro comum pensar que, pelo fato de Nosso Senhor ter nos exortado a "não julgar", isto seria motivo para a omissão, isto é, deixar cada um cuidar da própria vida, sem se importar com o bem do próximo ou com a defesa do bem, da verdade, da justiça. Aliás, as passagens em que o Cristo ensina a "não julgar" estão entre as mais desvirtuadas das Sagradas Escrituras, que também nos mostram claramente como nosso Salvador (e antes d'Ele os profetas, até São João Batista, e depois d'Ele os santos Apóstolos), apontava com clareza todo erro, onde quer que o encontrasse. Assim é que as Epístolas vão insistentemente nos orientar neste sentido: Exortamos-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos. (1Tessalonicenses 5,14) Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o, com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. (Gálatas 6,1). Acautelai-vos! Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. (Lucas 17,3-4) Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vós, que sois animados pelo Espírito, admoestai-o em espírito de mansidão (Gálatas 6,1). Especial atenção requer a exortação de S. Judas Apóstolo, por muito precisa: "Procurai convencer os hesitantes (compadecei-vos deles); procurai salvá-los, arrebatando-os do fogo (do Inferno); dos outros, tende misericórdia (sede compassivos), mas com temor, detestando até as vestes contaminadas pela carne" (Judas 22-23). O resumo de tudo em 4 pontos bem claros. Nosso dever é: 1) proclamar a Verdade do Evangelho; 2) procurar salvar a todos 3); ter misericórdia dos que vagam sem direção, perdidos no erro, sendo compassivos para com eles; 4) mas nada disso exime de manter o temor de Deus, e nem nos desobriga de detestar radicalmente o pecado. Em resumo, devemos ser "imitadores de Deus", amando os pecadores e odiando o pecado. Muitos confundem as duas coisas: uns são caridosos em excesso, entendendo equivocadamente que, por amarmos os pecadores, deveríamos tolerar também o pecado. Alguns vão tão fundo nesta compreensão espúria que caem no erro ainda mais grave de concluir que até o chafurdar no pecado seria "graça de Deus"(...). Outros, seguindo no sentido contrário e igualmente equivocado, por muito odiar o pecado, confundem-no com o próprio pecador, e assim terminam por trocar o Caminho de Cristo por um caminho de ódio e intolerância. Esquecem-se que a Caridade é como que uma das pernas do caminhar do cristão, sendo a outra perna a própria Verdade: se uma das duas falhar, o andar torna-se manco, e em alguns casos o progresso vai se tornar finalmente impossível. Não basta só a Caridade sem a Verdade. Também os hipócritas e os desonestos são capazes de amar. Já o conhecimento da Verdade, sem a Caridade, será estéril. Assim como os "bonzinhos" e "politicamente corretos" de plantão dos nossos tempos entendem que seria mais próprio do bom católico "compreender" e concentrar todos os nossos esforços apenas e tão somente em perdoar, relevar e "não julgar"; considerando sempre exclusivamente o lado bom da pessoa, outros comportam-se como fariseus, assentados em seus tronos de hipocrisia e apontando seus dedos duros para todos os lados, como se tivessem já, eles próprios, atingido a perfeição cristã. A solução para o problema está no caminho reto, que não se desvia nem para a direita e nem para a esquerda (Provérbios 4,11,27). Nosso Modelo máximo e perfeito, evidente, é o Cristo, e Ele resumiu tudo ao dizer: Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e corrige-o a sós. Se ele te der ouvidos, terás ganho o teu irmão. (Mateus 18,15) Está tudo dito aí, numa única frase: • Deve o cristão repreender o seu irmão, que caiu ou está em pecado; • Deve corrigi-lo com caridade e misericórdia, a sós, sem a pretensão de humilhá-lo ou fazer-se superior a ele; • "Se ele te der ouvidos (...)": é preciso compreender que aquele irmão pode simplesmente não querer ouvir, não considerar a correção, comportar-se com orgulho e persistir no erro. Nesse caso, não cabe querer forçá-lo e sim, simplesmente, deixá-lo seguir seu próprio caminho, pois quem o julgará é Deus, e não nós, que somos também imperfeitos. Jesus, depois de censurar a pessoa que só enxerga o cisco no olho do irmão, fala mais uma vez do dever de corrigir: "Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar o cisco do olho de teu irmão" (Mateus 7,5); • "(...) terás ganho o teu irmão". O objetivo do que corrige não é impor-se, disputar, mostrar que tem razão ou qualquer outra coisa desse tipo, mas sim o bem do outro. É ganhar a sua alma para Cristo e para a vida eterna. Como vemos, o mesmo Cristo que nos ama e perdoa, sempre de novo e de novo, com infinita Misericórdia (louvado seja, por isto, Nosso Senhor!), manda-nos corrigir, exatamente porque quer sempre o nosso bem. Porque nos ama, não hesita em alertar, em corrigir, em repreender, ainda que isso doa, como fez tantas vezes com seus Apóstolos (cf. Mateus 16,23 e 20,25-26), seus amigos mais caros. Nunca é demais lembrar que identificar e acusar os erros é coisa diferente de julgar. Se eu testemunhasse um assassinato, estupro ou tortura, e dissesse que tudo isso é erro, pecado e crime, estaria "julgando"? Não, por certo. Estaria, isto sim, fazendo uso do discernimento racional mais elementar para identificar um comportamento condenável, e nestes casos extremos seria uma obrigação moral denunciar. Julgar tem mais a ver com condenar pessoas do que os atos cometidos por pessoas. Quem não é capaz de alertar um irmão que se está a perder é o egoísta indiferente, que só pensa em si e prefere não se meter com os problemas alheios, repetindo o mantra maldito dos que não conhecem a caridade: "Cada um com os seus problemas"... E, quando o outro se complica de vez, naufragando em meio a mil dores e dificuldades, amortece a própria consciência repetindo para sim mesmo que não teve culpa, afinal, "cada um (...)". Quem não corrige é porque não ama o suficiente, ou não sabe amar; são os frouxos, os covardes, os "mornos" de quem nos fala o Cristo (Apocalipse 3,15-16). Acham que ser bom é aceitar tudo, porque corrigir pode magoar, provocar alguma dor, algum constrangimento (...) "Passa por cima" de tudo e tudo tolera. Nunca adverte nem corrige, por medo de magoar ou da reação do outro. É a atitude típica dos sentimentais e covardes, e contra estes disse o Espírito Santo no Livro dos Provérbios: "Melhor é a correção manifesta do que uma amizade falsa" (Provérbios 27,5). É muito fácil cair na tentação de olhar só as qualidades, dizer sempre somente as coisas boas, os acertos e as virtudes de um parente, um amigo, um colega, um irmão de fé, e fingir que as falhas não existem. Uma falsa tolerância que mais prejudica do que ajuda. Os tolerantes de araque, que são moles de espírito, acham que corrigir alguém vai "traumatizar" ou "tirar a liberdade" do outro, e assim vão todos ficando igualmente moles. Isto é uma grande tragédia dos nossos tempos. Lembro-me bem da primeira reunião que tive com Felipe Marques, um valoroso jovem que desempenha um belo papel em nosso apostolado. Num momento da conversa, perguntei a ele: "O que você acha de ser repreendido? Como reage quando alguém aponta alguma falha em alguma coisa que você fez? O que acharia de ter os seus textos corrigidos, ou mesmo parte deles reescritos?"; ao que ele prontamente, olhando nos meus olhos, com verdade e numa atitude de cavalheiro, respondeu: "É o que eu espero! Eu quero ser corrigido porque quero aprender, e tenho muito que aprender". Naquele momento entendi que estava diante de um verdadeiro fiel católico, um guerreiro de Cristo, um jovem cruzado verdadeiramente disposto a fazer a diferença nesta Igreja combalida. E eu respondi: "Muito bem. Somos homens! Não tenha medo em também me corrigir, quando eu cometer alguma falha". Já se foram alguns anos desta conversa, e de lá para cá a verdade é que temos aprendido um com o outro, sem falsos orgulhos nem vaidades, mas com o amor fraterno que deve existir entre os membros do Corpo de Cristo. Lembremos, por fim, que para corrigir, antes é preciso dar exemplo, e é preciso cultivar um sincero afeto pela pessoa, além de saber perdoá-la no mais íntimo da alma, conscientes de que nós também erramos. É preciso que a motivação e a razão da correção seja sempre o querer o bem do próximo, como quem estende a mão para ajudar. Pense que não é obstáculo para corrigir com eficácia o fato de sentir dificuldade em fazê-lo. Quase sempre custa falar de um defeito diretamente com o interessado; é natural que soframos com o receio de que – ainda que falemos com carinho – o outro não entenda e possa se melindrar. Rezemos, então, antes de falar, pedindo a Luz e a Fortaleza do Espírito Santo. Coragem! O mundo só terá a ganhar se nós, cristãos, nos corrigirmos fraternalmente, uns aos outros. Lembre-se: por mais difícil que seja, isto é melhor –, infinitamente melhor –, do que calar-se na presença daquela pessoa, para depois criticá-la pelas costas. Referindo-se aos comodistas, que preferem calar do que corrigir quando é preciso, disse S. Josemaria Escrivá (1902-1975):  Talvez poupem desgostos nesta vida, mas põem em risco a Felicidade eterna – a própria e a dos outros – pelas suas omissões, que são verdadeiros pecados. (Forja, n. 577). Nós, Igreja, precisamos de homens e mulheres de verdade, guerreiros da fé valorosos e destemidos, que saibam respeitar, sim e sempre, mas igualmente saibam se posicionar e proclamar quem são, em que creem, pelo que lutam. Rogai por nós, São Miguel, São Jorge, São Sebastião, Santa Joana d'Arc (1412-1431)! www.ofielcatolico.com.br. Abraço. Davi

quinta-feira, 24 de junho de 2021

A POSSESSÃO

 

Espiritismo. www.oconsolador.com.br. Por Fernando A. Moreira. Texto de Alan Kardec. (1804-1869). A POSSESSÃO. “Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado”. (Allan Kardec) Há possessos? Existe a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo? O mergulho cronológico nas obras da Doutrina Espírita nos leva ao seu berço, “O Livro dos Espíritos”: 1857. Questão 473 - Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo? – O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material. Kardec retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos respondem: Questão 474 - Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?– Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua nunca sem que aquele que sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos. Os Espíritos, aí, fazem uma nítida distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos. Os verdadeiros são os subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão, necessitando tratamento médico. Comenta ainda Kardec, após a resposta dos Espíritos: “O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a subjuguem”. 1858. Se havia alguma dúvida sobre a opinião do Codificador até aquele momento, ele a desfaz no texto da Revista Espírita, por ele dirigida: “Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a ideia de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação dá uma ideia perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente obsedados, subjugados e fascinados”. Fica bastante claro que, para ele, até aqui, não existia possessão. 1861. O texto acima é parecido com o exarado no “O Livro dos Médiuns”, com uma diferença significativa no parágrafo, qual seja, a troca da palavra “ligação”, por “constrangimento”. 1862. Momentaneamente, temos a impressão de que estariam respondidas as indagações formuladas na inicial, mas, apesar dessas considerações, o termo possessão reaparece na Revista Espírita: “Ninguém ignora que quando o Cristo, nosso muito amado mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje, se apoderavam das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos encarnados mais fracos e menos adiantados (...) é preciso lembrar que os cientistas, os médicos do século de Augusto, trataram, conforme os processos hipocráticos, os infelizes possessos da Palestina e que toda sua ciência esbarrou ante esse poder desconhecido. (Erasto)”. Na mesma revista e no mesmo ano, Kardec, nos “Estudos sobre os Possessos de Morzine”, acrescenta a seguinte consideração: “O paroxismo da subjugação é geralmente chamado de possessão”. 1863. A retomada do termo tinha uma razão, e Kardec é bem incisivo na sua opinião na Revista Espírita, sobre os mesmos Possessos de Morzine, que certamente o impressionaram e influíram na mudança de sua conceituação sobre possessão, e valeram doze citações no índice remissivo da Revista Espírita (1862, 63, 64, 65 e 68), além de outros estudos, na mesma revista, como, por exemplo, quando analisa “Um Caso de Possessão”. Senão vejamos: “Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado. (...) Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis por que todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos (...). Eis um primeiro fato, que o prova, e apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade. (...)”. (O Sr. Charles) Declarou que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o momento em que o Espírito da Sra. A. a sonâmbula, estava afastado do corpo, para tomar-lhe o lugar. (....). Eis algumas de suas respostas. – Já que tomastes posse do corpo da Sra. A poderíeis nele ficar? – Não; mas vontade não me falta. – Por que não podeis? – Porque seu Espírito está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu pregaria uma peça. – Que faz durante este tempo o Espírito da Sra. A. – Está aqui ao meu lado; olha-me e ri, vendo-me em suas vestes. O Sr. Charles (...) era pouco adiantado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da Sra. A. não tinha qualquer intenção má; assim aquela Sra. nada sofria com a situação, a que se prestava de boa vontade. Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão inocente e sem inconvenientes. Na mesma página, no entanto, Kardec descreve um caso de possessão da Sra. Júlia, agora dirigida por um Espírito malévolo e mal intencionado. Há cerca de seis meses tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que sempre corriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu estado normal. Torcia-se, rolava pelo chão, como se se debatesse, em luta com alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apresentava todos os sintomas de estrangulamento. Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, derrubava-o a sopapos, com injúrias e imprecações, apostrofando-o incessantemente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impudica, criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se acalcasse aos pés com raiva, arrancando-lhe as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela própria por Fredegunda, dando em si própria redobrados golpes nos braços, no peito, no rosto, dizendo: “Toma! Toma! É bastante, infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-se em minha caixa, mas eu te expulsarei”. Minha caixa era o termo que se servia para designar o próprio corpo. (...) Um dia, para livrar-se de sua adversária, tomou de uma faca e vibrou contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evitar-se um acidente. Vemos, aí, a luta de dois Espíritos pelo mesmo corpo. Este Espírito, Fredegunda, foi posteriormente evocado em sessões mediúnicas e convertido ao bem. Mas, voltando aos Possessos de Morzine, diz Kardec referindo-se ao perispírito:“Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza. (...) Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica (...)” Estes últimos, sobretudo (os possessos do tempo de Cristo), apresentam notável analogia com os de Morzine. Na mesma revista e no mesmo ano, selecionamos e pinçamos, para dimensionarmos a extensão daquela possessão coletiva: “Os primeiros casos da epidemia de Morzine se declararam em março de 1857 (...) e em 1861 atingiram o máximo de 120. (...)(...) o caráter dominante destes momentos terríveis é o ódio a Deus e a tudo quanto a ele se refere”. 1864. Ainda sobre a possessão da Sra. Júlia, refere-se Kardec na Revista Espírita,: “No artigo anterior (1863) descrevemos a triste situação dessa moça e as circunstâncias que provavam uma verdadeira possessão.” O grau de intensidade das possessões e sua reatividade a tentativa de exorcização, vai bem descrita na Revista Espírita: “Desde que o bispo pisou em terras de Morzine”, diz uma testemunha ocular, “sentindo que ele se aproximava, os possessos foram tomados de convulsões as mais violentas; e (...) soltavam gritos e urros, que nada tinham de humano. (...) As possessas, cerca de setenta, com um único rapaz, juravam, rugiam, saltavam em todos os sentidos. (...) A última resistiu a todos os esforços; vencido de fadiga e de emoção, ele (o bispo) teve que renunciar a lhe impor as mãos; saiu da igreja trêmulo, desequilibrado, as pernas cheias de contusões recebidas das possessas, enquanto estas se agitavam sob suas benções”. (...) Encontramos no Evangelho segundo o Espiritismo a seguinte referência sobre possessão e reforma íntima: “(...) para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para se livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre arbítrio”. No mesmo livro, há considerações sobre as causas da possessão: “O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão.” 1867. Ainda na Revista Espírita encontramos informações de como é esta perda do livre arbítrio e como impedi-la: “Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer sobre esta questão porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, como foi possível constatar em muitas ocasiões. (...) Procedeis em relação aos Espíritos obsessores ou inferiores que desejais moralizar (...) algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis, em torno deles uma toalha fluídica, que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessênciada”. 1868. Em “A Gênese”, Kardec disserta sobre domicílio espiritual, típico caso de coabitação, ou como agora quer Hermínio Miranda, “condomínio espiritual, com síndico e convenção”. “Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado, tomando-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção. De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito serve-se dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra (...)” “Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado”. “Quando é mau o Espírito possessor, (...) ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o (...)” Seguindo ainda, no mesmo livro: “Parece que ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os obsidiados e os possessos (...) Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões”. Com as curas, as libertações do possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus.(...) “Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós.” (São Mateus 12, 22-23)Deduzimos com base no exposto que, para que exista possessão, é preciso que o Espírito obsessor identifique-se com o Espírito encarnado; aquele atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza; o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, pois o encarnado é que atua conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido e portanto aquela dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la; em vez de agir exteriormente ao Espírito encarnado, toma-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois isso só se pode dar pela morte, por isso, a possessão é sempre momentânea, temporária e intermitente. Para se libertar da possessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe para sua própria melhoria, estabelecendo em torno de si uma toalha fluídica, que eles não possam penetrar sem sua permissão, agindo sobre eles pela força moral, por uma ação magnética quintessenciada. Na possessão isto só é possível, com a ajuda indispensável de terceiros. Portanto, respondendo às indagações iniciais deste trabalho, podemos dizer que Kardec analisou todas as facetas e prismas da possessão e concluiu que existe possessão e também coabitação. Uma obra, como a da Codificação Espírita, é indivisível e portanto deve ser analisada como um todo, jamais devendo ser fragmentada ou dividida, na análise de seu conteúdo; existem vários temas, nas obras básicas (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo O Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno) e na Revista Espírita, em que as verdades foram estudadas à luz dos conhecimentos adquiridos no dia-a-dia e suas opiniões, às vezes alteradas, sem que correspondessem a uma mudança de ideia, mas, sim, a uma evolução de verdade em verdade, degrau a degrau na escada ascensional do conhecimento, como convém a um cientista sábio, astuto, inteligente, honesto e, antes de tudo, humilde, coisa rara, aliás. A fé raciocinada sob a égide desta humildade, aconselhada e praticada pelo mestre lionês, levou-o à busca incessante da verdade, que sempre caracterizou suas ações, a correta elucidação conceptual de possessão, incitando-nos também a libertarmo-nos de duas outras, a dos dogmas e a do fanatismo. Tenhamos igual têmpera e nos deixemos contaminar pela sua lição e pelo seu exemplo; a lição inclina, o exemplo arrasta. www.oconsolador.com.br. Abraço. Davi

 

terça-feira, 22 de junho de 2021

O PURGATÓRIO

 

Espiritismo. www.febnet.org.br. Texto de Allan Kardec (1804-1869). Livro O Céu e o Inferno. Capítulo 5. O PURGATÓRIO. O Evangelho não faz menção alguma do purgatório, que só foi admitido pela Igreja no ano de 593. É incontestavelmente um dogma mais racional e mais conforme com a Justiça de Deus que o inferno, porque estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade mediana. O princípio do purgatório funda-se na equidade, pois é a detenção temporária a concorrer com a perpétua condenação. Que julgar de um país que só tivesse a pena de morte para todos os delitos? Sem o purgatório, só há para as almas duas alternativas extremas: a suprema felicidade ou o eterno suplício. E nessa hipótese, que seria das almas somente culpadas de ligeiras faltas? Ou compartilhariam da felicidade dos eleitos, ainda quando imperfeitas, ou sofreriam o castigo dos maiores criminosos, ainda quando não houvessem feito muito mal, o que não seria nem justo, nem racional. 2. Necessariamente, porém, a noção do purgatório deveria ser incompleta, porque apenas conhecendo a penalidade do fogo fizeram dele uma atenuante do inferno, visto que as almas aí também ardem, embora em fogo mais brando. Sendo o dogma das penas eternas incompatível com o progresso, as almas do purgatório não se livram dele por efeito do seu adiantamento, mas em virtude das preces que se dizem ou que se mandam dizer em sua intenção. E se foi bom o primeiro pensamento, outro tanto não acontece quanto às consequências dele decorrentes, pelos abusos que originaram. As preces pagas transformaram o purgatório em mina mais rendosa que o inferno. Nota de Allan Kardec: O purgatório originou o comércio escandaloso das indulgências, por intermédio das quais se vende a entrada no Céu. Este abuso foi a causa primária da Reforma, levando Martinho Lutero (1483-1546) a rejeitar o purgatório. Jamais foram determinados e definidos claramente o lugar do purgatório e a natureza das penas aí sofridas. À Nova Revelação estava reservado o preenchimento dessa lacuna, explicando-nos a causa das terrenas misérias da vida, das quais só a pluralidade de existências poderia mostrar-nos à justiça. Essas misérias decorrem necessariamente das imperfeições da alma, pois se esta fosse perfeita não cometeria faltas nem teria de sofrer-lhe as consequências. O homem que na Terra fosse em absoluto sóbrio e moderado, por exemplo, não padeceria enfermidades oriundas de excessos. O mais das vezes ele é desgraçado por sua própria culpa, porém, se é imperfeito, é porque já o era antes de vir à Terra, expiando não somente faltas atuais, mas faltas anteriores não resgatadas. Repara em uma vida de provações o que a outrem fez sofrer em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, por sua vez, uma correção temporária e uma advertência quanto às imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim de evitar males e progredir para o bem. São para a alma lições da experiência, rudes às vezes, mas tanto mais proveitosas para o futuro, quanto profundas as impressões que deixam. Essas vicissitudes ocasionam incessantes lutas que lhe desenvolvem as forças e as faculdades intelectivas e morais. Por essas lutas a alma se retempera no bem, triunfando sempre que tiver denodo para mantê-las até o fim. O prêmio da vitória está na vida espiritual, onde a alma entra radiante e triunfadora como soldado que se destaca da refrega para receber a palma gloriosa. 4. Em cada existência, uma ocasião se depara à alma para dar um passo avante; de sua vontade depende a maior ou menor extensão desse passo: franquear muitos degraus ou ficar no mesmo ponto. Neste último caso, e porque cedo ou tarde se impõe sempre o pagamento de suas dívidas, terá de recomeçar nova existência em condições ainda mais penosas, porque a uma nódoa não apagada ajunta outra nódoa. É, pois, nas sucessivas encarnações que a alma se despoja das suas imperfeições, que se purga, em uma palavra, até que esteja bastante pura para deixar os mundos de expiação pelos mundos felizes, e, mais tarde estes para gozar da suprema felicidade. O purgatório não é, portanto, uma ideia vaga e incerta; é antes uma realidade material que vemos, tocamos e sentimos. Ele existe nos mundos de expiação como a Terra, onde os homens expiam o passado e o presente, em proveito do futuro. Contrariamente, porém, à ideia que dele se faz, depende de cada um prolongar ou abreviar a sua permanência, segundo o grau de adiantamento e pureza atingido pelo próprio esforço sobre si mesmo. O livramento se dá, não por conclusão de tempo nem por alheios méritos, mas pelo próprio mérito de cada um, consoante estas palavras do Cristo: “A cada um segundo as suas obras”, palavras que resumem integralmente a Justiça de Deus. Aquele, pois, que sofre nesta vida pode dizer-se que é porque não se purificou suficientemente em sua existência anterior, devendo, se o não fizer nesta, sofrer ainda na seguinte. Isto é ao mesmo tempo equitativo e lógico. Sendo o sofrimento inerente à imperfeição, tanto mais tempo se sofre quanto mais imperfeito se for, da mesma forma por que tanto mais tempo persistirá uma enfermidade quanto maior a demora em tratá-la. Assim é que, enquanto o homem for orgulhoso, sofrerá as consequências do orgulho; enquanto egoísta, as do egoísmo. Devido às suas imperfeições, o Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual, sendo-lhe depois facultada a vida corporal como meio de reparação. É por isso que ele se acha nessa nova existência, quer com as pessoas a quem ofendeu, quer em meios análogos àqueles em que praticou o mal, quer ainda em situações opostas à sua vida precedente, como, por exemplo, na miséria, se foi mal rico, ou humilhado, se orgulhoso. A expiação no mundo dos Espíritos e na Terra não constitui duplo castigo para o Espírito, porém um complemento, um desdobramento do trabalho efetivo a facilitar o progresso. Do Espírito depende aproveitá-lo. E não lhe será preferível voltar à Terra, com probabilidades de alcançar o Céu, a ser condenado sem remissão, deixando-a definitivamente? A concessão dessa liberdade é uma prova da sabedoria, da bondade e da Justiça de Deus, que quer que o homem tudo deva aos seus esforços e seja o obreiro do seu futuro; que, infeliz por mais ou menos tempo, não se queixe senão de si mesmo, pois que a rota do progresso lhe está sempre franca. 7. Considerando-se quão grande é o sofrimento de certos Espíritos culpados no mundo invisível, quanto é terrível a situação de outros, tanto mais penosa pela impotência de preverem o termo desses sofrimentos, poder-se-ia dizer que se acham no inferno, se tal vocábulo não implicasse a ideia de um castigo eterno e material. O purgatório 59 Mercê, porém, da revelação dos Espíritos e dos exemplos que nos oferecem, sabemos que o prazo da expiação está subordinado ao melhoramento do culpado. O Espiritismo não nega, pois, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Não nega, outrossim, o purgatório, pois prova que nele nós achamos, e definindo-o precisamente, e explicando a causa das misérias terrestres, conduz à crença aqueles mesmos que o negam. Repele as preces pelos mortos? Ao contrário, visto que os Espíritos sofredores as solicitam; eleva-as a um dever de caridade e demonstra a sua eficácia para os conduzir ao bem e, por esse meio, abreviar-lhes os tormentos. Falando à inteligência, tem levado a fé a muito incrédulo, incutindo a prece no ânimo dos que a escarneciam. O que o Espiritismo afirmar é que o valor da prece está no pensamento, e não nas palavras, que as melhores preces são as do coração, e não dos lábios, e, finalmente, as que cada qual murmura de si mesmo, e não as que se mandam dizer por dinheiro. Quem, pois, ousaria censurá-lo? Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique, tem sempre um termo, próximo ou remoto. Na realidade não há para o Espírito mais que duas alternativas, a saber: punição temporária e proporcional à culpa, e recompensa graduada segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira alternativa, da eterna condenação. O inferno reduz-se à figura simbólica dos maiores sofrimentos cujo termo é desconhecido. O purgatório, sim, é a realidade. A palavra purgatório sugere a ideia de um lugar circunscrito: eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a natureza da expiação terrena tem os caracteres da verdadeira expiação. Melhorados os homens, não fornecerão ao mundo invisível senão bons Espíritos; e estes, encarnando-se, por sua vez só fornecerão à humanidade corporal elementos aperfeiçoados. A Terra deixará, então, de ser um mundo expiatório e os homens não sofrerão mais as misérias decorrentes das suas imperfeições. Aliás, por esta transformação, que neste momento se opera, a Terra se elevará na hierarquia dos mundos. Nota de Allan Kardec: Vede O evangelho segundo o espiritismo, cap. XXVII, item Ação da prece. Nota de Allan Kardec: Idem, cap. III, item Progressão dos mundos. Por que não teria o Cristo falado do purgatório? É que, não existindo a ideia, não havia palavra que a representasse. O Cristo serviu-se da palavra inferno, a única usada, como termo genérico, para designar as penas futuras, sem distinção. Colocasse Ele, ao lado da palavra inferno, uma equivalente a purgatório e não poderia precisar-lhe o verdadeiro sentido sem ferir uma questão reservada ao futuro; teria, enfim, de consagrar a existência de dois lugares especiais de castigo. O inferno em sua concepção genérica, revelando a ideia de punição, encerrava, implicitamente, a do purgatório, que não é senão um modo de penalidade. Reservado ao futuro o esclarecimento sobre a natureza das penas, competia-lhe igualmente reduzir o inferno ao seu justo valor. Uma vez que a Igreja, após seis séculos, houve por bem suprir o silêncio de Jesus quanto ao purgatório, decretando-lhe a existência, é porque ela julgou que Ele não havia dito tudo. E por que não havia de dar-se sobre outros pontos o que com este se deu? www. febnet.org.br. Livro O Céu e o Inferno. Abraço. Davi

segunda-feira, 21 de junho de 2021

O DILÚVIO UNIVERSAL

 

www.adalbernardes.blogspot.com. Postado por Adalberto Bernardes. O DILÚVIO UNIVERSAL. Os "antropologistas" dizem que há mais de 270 narrativas do dilúvio em povos e culturas diferentes do mundo, e todas elas, coincidentemente, são no início destas civilizações. Mas não é somente no Oriente Médio onde ficou persistente um dilúvio que assolou a terra. Com a exclusão das culturas africanas, exceto naturalmente a egípcia, que não costumam referir se ao dilúvio, todas as demais têm constância de que em um dado momento de sua história a água supôs um cataclismo que arrasou o planeta e com ele toda a humanidade. Das quatro vezes que segundo o calendário asteca terminou o mundo, uma foi por causa da água. Os índios americanos, os poucos que restam, pensam que o mundo fica velho e vai se gastando paulatinamente, até que as cordas que o sustentam são rompidas e se afunda irremissivelmente .no oceano que o rodeia, de onde voltará a surgir jovem e pujante. Para a civilização ocidental, a história mais conhecida a respeito do dilúvio é a da Arca de Noé, segundo a tradição judaico-cristã. O Dilúvio também é descrito em fontes americanas, asiáticas, sumérias, assírias, armênias, egípcias, persas, gregas e outras, de forma basicamente semelhante ao episódio bíblico, porém algumas civilizações se relata sobre inundações em vez de chuvas torrenciais: uma divindade  decide limpar a Terra de uma humanidade corrupta, ou imperfeita, e escolhe um homem bom aos seus olhos para construir uma arca para abrigar sua criação enquanto durasse a inundação. Na mitologia judaica, Javé estava disposto a acabar com toda a humanidade, porém Noé foi agraciado por Ele, pois era um varão temente a seu Deus e não se deixou corromper. Após um certo período, a água baixa, a arca fica encalhada numa montanha, os animais repovoam o planeta e os descendentes de tal homem geram todos os povos do mundo. Dilúvio Hebraico. Segundo a Bíblia, Noé, seguindo as instruções divinas, constrói uma arca para a preservação da vida na Terra, na qual abriga um casal de cada espécie animal, bem como a ele e sua família, enquanto Deus, exercendo julgamento sobre os anti diluvianos (povo de ações perversas), inundava toda a Terra com uma chuva que duraria quarenta dias e quarenta noites. Após alguns meses, quando as águas começaram a baixar, Noé enviou uma pomba, que lhe trouxe uma folha de oliveira. A partir daí,os descendentes de Noé teriam repovoado a Terra, dando origem a todos os povos conhecidos. Na esfera cultural hebraica primitiva, o evento do Dilúvio contribuiu para o estabelecimento de uma identidade étnica entre os diferentes povos semíticos (todos descendentes de Sem, filho de Noé), bem como sua distinção dos outros povos ao seu redor (cananeus, descendentes de Canaã, neto de Noé, núbios ou cuxitas, descendentes de Cuxe, outro neto de Noé, etc.).No Antigo Testamento, Noé amaldiçoa Canaã e abençoa Sem, o que serviria mais tarde como uma das justificativas para a invasão e conquista da terra dos cananeus pelas Tribos de IsraelApós o período diluviano, procura-se até os dias de hoje os restos da Arca, que segundo alguns historiadores realmente encontra-se no Monte Ararat. Mas não existe como precisar a localização, já que a região é bem acidentada, e vasta. Dilúvio Sumério. O mito sumério de Gilgamesh conta os feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh, que parte em uma jornada de aventuras em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas pessoas imortais: Utanapistim e sua esposa, estes contam à Gilgamesh como conquistaram tal sorte, esta é a história do dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade ao sobreviver ao dilúvio que consumiu a raça humana. Na tradição suméria, o homem foi dizimado por incomodar aos deuses. Segundo este mito, o deus Ea, por meio de um sonho, apareceu a Utanapistim e lhe revelou as pretensões dos deuses de exterminar os humanos através de um dilúvio. Ea pede a Utanapistim que renuncie aos bens materiais e conserve o coração puro. Utanapistim, então, reúne sua família e constrói a embarcação que lhe foi ordenada por Ea, estes ficam por sete dias debaixo do dilúvio que consome com os humanos. Aqui um techo de tal história: "Eu percebi que havia grande silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da janela chorei, pois as águas haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por terra, somente consegui descobrir uma montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos e ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma pomba, que voou para longe, não encontrando local para pouso retornou (…). Então soltei um corvo, este voou para longe encontrou alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992). Dilúvio Hindu. Nas escrituras védicas da Índia encontramos um rei chamado Svayambhuva Manu, que foi avisado sobre o dilúvio por uma encarnação de Vishnu(Matsya Avatar). Matsya arrastou o barco de Manu e lhe salvou da destruição. Este aviso veio através de um peixe, que foi poupada da morte, que advertiu que se avizinhava um dilúvio de grandes proporções que destruiria a raça humana. Manu construiu uma nave e arrastou-a até o ponto mais alto, e foi assim que ele salvou-se da grande tragédia. Dessa forma ele, fez um sacrifício aos deuses, usando azeite e nata azeda, sobre as águas, de onde da mesma emergiu uma mulher conhecida pelo nome de Filha de Manu, com o qual se uniu e deu início à nova geração da raça humana. Dilúvio Grego. A mitologia grega relata a história de um grande dilúvio produzido por Poseidon, que por ordem de Zeus havia decidido pôr fim à existência humana, uma vez que estes haviam aceitado o fogo roubado por Prometeu do Monte Olimpo. Deucalião e sua esposa Pirra foram os únicos sobreviventes. Prometeu disse a seu filho Deucalião que construísse uma arca e nela introduzisse um casal de cada animal, de forma análoga à Arca de Noé. Assim estes sobreviveram. Ao terminar o dilúvio, a arca de Deucalião pousou sobre o Monte Parnaso, onde estava o Oráculo de Temis. Deucalião e Pirra entraram no templo, para que o oráculo lhes dissesse o que deviam fazer para voltar a povoar a Terra, e a deusa somente lhes disse:"Voltem aos ossos de suas mães" Deucalião e sua mulher adivinharam que o oráculo se referia às rochas. Destas formas, as pedras tocadas por Deucalião se converteram em homens, e as tocadas por Pirra em ninfas ou deusas menores, por que ainda não se havia criado a mulher. Dilúvio Mapuche. Nas tradições do povo Mapuche igualmente existe uma lenda sobre uma inundação do lugar deste povo (ou do planeta). A lenda se refere à história das serpentes, chamadas Tentem Vilu e Caicai Vilu. Dilúvio Pascuense. A tradição do povo da Ilha de Páscoa diz que seus ancestrais chegaram à ilha escapando da inundação de um mítico continente, ou ilha, chamado Hiva. Dilúvio Maia. A mitologia do povo maia relata a existência de um dilúvio enviado pelo deus Huracán. Segundo o Popol Vuh, livro que reúne relatos históricos e mitológicos do grupo étnico maia-quiché, os deuses, após terminarem a criação do mundo, da natureza e dos seres vivos, decidiram criar seres capazes de lhes exaltar e servir. São criados então os primeiros seres humanos, moldados em barro. Porém, esses seres de barro não eram resistentes ao clima e à chuva e logo se desfizeram em lama. Então, os deuses criaram o segundo tipo de seres humanos, à partir de madeira. Essa segunda humanidade, ao contrário da primeira, prosperou e rapidamente se multiplicou em muitos povos e cidades (tudo indica que é nessa época da segunda humanidade que se passam as aventuras dos gêmeos heróis Hunahpú e Ixbalanqué contra os senhores de Xibalba). Mas esses seres feitos de madeira não agradaram aos deuses. Eles eram secos, não temiam aos deuses e não tinham sangue. Se tornaram arrogantes e não praticavam sacrifícios aos seus criadores. Então, os deuses decidem exterminar essa segunda humanidade através de um dilúvio. Ao contrário da maioria dos outros relatos conhecidos sobre dilúvios, nenhum indivíduo foi poupado. Após a catástrofe, a matéria prima utilizada para moldar os novos seres humanos foi o milho. Foram criados quatro casais, que são considerados os oito primeiros índios quiché. Eles deram origem às três famílias fundadoras da Guatemala, pois um dos casais não deixou descendência. Dilúvio Asteca. No manuscrito asteca denominado como Código borgia, há a história do mundo dividido em idades, das quais a última terminou com um grande dilúvio produzido pela deusa Chalchitlicue. Dilúvio Inca. Na mitologia dos incas, Viracocha destruiu os gigantes com uma grande inundação, e duas pessoas repovoaram a Terra (Manco Capac e Mama Ocllo mais dois irmãos que sobreviveram. A religião é um forte elo de ligação entre as várias culturas andinas, sejam elas pré-incaicas ou incas. A imposição do Deus Sol é um forte elemento da crença e dominação através do mental, ou seja daquilo que permanece impregnado por gerações nas concepções e mentalidades destas culturas, adorando o Deus imposto e entendendo ser ele o mais importante. Pedro Sarmiento de Gamboa, cronista espanhol do século XVI, relata como os Incas narravam sua criação e as lendas que eram passadas através da oralidade de geração em geração, desde o surgimento de Viracocha e seus ensinamentos, procurando definir um homem que o venerasse e fosse pregador de seus conhecimentos. Em algumas tentativas de criar este homem, Viracocha acaba punindo-o com um grande dilúvio pela não obediência como comenta Gamboa(2001),: Mas como entre ellos naciesen vicios de soberbia y codicia, traspasaron el precepto del Viracocha Pachayachachi ,que cayendo por esta trasgresión en la indignación suya, los confundió y maldijo. Y luego fueron unos convertidos en piedras y otros en formas, a otros trago la tierra y otros el mar,y sobre todo les envió un diluvio general, al cual llaman uñu pachacuti , que quiere decir “agua que trastornó la tierra”. Y dicen que llovió sesenta días y sesenta noches, y que se anegó todo lo creado, y que solo quedaron algunas señales de los que se convierteron en piedras para memoria del hecho y para ejemplo a los venideros en los edificios de pucara que es sesenta leguas del Cuzco. (p. 40) A narração do dilúvio está presente entre muitos povos e culturas por todo o mundo. O início de tudo, ou seja, a criação, é um fator muito importante para estabelecer relações e explicações sobre o que não se conhece e o que não foi vivido. Assim, os mitos e lendas buscam criar uma ancestralidade, um ponto em comum que defina a origem e o começo do cosmos e tudo existente nele, ou seja, o conhecer de si mesmo, do próprio homem inserido na natureza, buscando sua sobrevivência e continuidade de sua existência e a harmonia com os elementos naturais e sobrenaturais. Dilúvio Uro. O povo uro (ou uru), que habita próximo ao Lago Titicaca, crê numa lenda que diz que depois do dilúvio universal, foi neste lago onde se viram os primeiros raios do Sol. Dilúvio Chinês. Porém onde nos encontramos com uma figura sugestivamente paralela à de nosso bíblico Noé, é na China, onde a água sempre esteve em estreita relação com o nascimento da terra e o gênero humano. Foi o grande herói YÜ, o domador das águas, quem conseguiu que estas se retirassem para ornar, logrando assim que as terras ficassem aptas para o cultivo, contribuindo ao engrandecimento da população. Dos distintos relatos do dilúvio temos o de Fah-le, ocasionado pelo crescimento dos rios ao redor de 2.300 AC. Mas a tradição mais extensa é a que tem a Nu-wah como protagonista, que se salvou junto com sua mulher, seus três filhos e as esposas destes em uma nave construída para eles e para dar capacidade e salvamento a um par de cada espécie animal que habitava a terra. Tão arraigada está a lenda de Nu-wah que hoje em dia é escrita a palavra "nave" em chinês, representada por uma barca com oito bocas dentro, aludindo aos oito navegantes que foram salvos da catástrofe. Também o Gênesis diz que Noé foi salvo juntamente com outras sete pessoas. O DESAPARECIMENTO DE ATLÂNTIDA. Alguns alegam que o Dilúvio foi a causa do desaparecimento de um grande continente que foi engolido pelas águas. No caso nos vem a mente Atlântida, outros referem-se a Lemúria (Império Mu), que é anterior aos atlantes. De qualquer forma parece que todos os povos falam da fatalidade da humanidade com o elemento água. www.adalbernardes.blogspot.com. Abraço. Davi