Cristianismo
– O EVANGELHO DE JUDAS – “O Melhor Amigo
de Cristo”. UM DOCUMENTO ENCONTRADO no Egito leva o traidor de Jesus ao papel
de mocinho da história cristã. Um episódio obscuro do Novo Testamento coloca a
fé em xeque e desafia muitas crenças, pela inversão de papel que sugere. E se
Judas, em vez de traidor, tenha sido na verdade o braço direito de Jesus,
aquele em quem o Messias mais confiou? Bem, essa versão tem 50% de chances de
ser a verdadeira, especialmente depois que um grupo de pesquisadores encabeçou
a missão de desvendar um documento antigo que veio à luz em 1978. Pelo menos, é
esse o ano da história mais provável sobre o aparecimento do que seria o
Evangelho de Judas, considerado apócrifo (obra religiosa destituída de
autoridade canônica – não inspirada – mantida na clandestinidade). Tudo inicia
quando um fazendeiro entra em uma caverna, em busca de um tesouro muito
comentado, mas se depara com alguns ossos, o que já seria suficiente para
desistir da busca. No meio dos ossos, uma caixa feita de pedra chama atenção e,
dentro dela, há um livro com capa de couro que, 22 anos depois, mudaria parte
crucial da história de Jesus. O fazendeiro, sem ter ideia do valor histórico do
documento, acabou vendendo a peça em um mercado de antiguidades, onde uma
compradora muito interessada afirmava estar representando um magnata. Isso
porque, agora nas mãos do vendedor, o livro estava muito bem guardado em sua
própria casa, o que fez com que a mulher inventasse a história – assim, poderia
ver o artigo, e alegar que não o compraria por ser uma representante. Contudo
horas depois, a mulher invade o apartamento e furta o tesouro, completando o
que seria a hipótese mais aceita entre os estudiosos para que o livro chegasse
ao conhecimento dos cientistas e do público. Em 1983, agora com base em
depoimentos, a história ganhou veracidade quando o negociante recupera os
papiros e entra em contato com três estudiosos, para que o material seja
avaliado. Contudo, a quantia requerida pelo comerciante é exorbitante e, sem
terem a certeza do que realmente se tratava os manuscritos, os pesquisadores
europeus não querem arriscar entregar o montante nas mãos do vendedor. E ainda
se quisessem, o valor oferecido pelos três representantes de diferentes
universidades, mesmo que somado, não satisfaria o mercador. Tudo muda quando,
desiludido, o vendedor vai para Nova Iorque – Estados Unidos e decide guardar o
livro no cofre de um banco, onde o documento fica por 16 anos, o que seria
péssimo para a “saúde” do que se descobriria mais tarde ser uma preciosidade.
PESQUISA AVANÇADA – A COLECIONADORA FRIEDA NUSSBERGER-TCHACO estava a caminho
do aeroporto quando recebeu um telefonema que mudaria sua vida. Stephen Emmel,
do Instituto de Coptologia e Egiptologia da Universidade de Munster – Alemanha,
acabara de constatar que o livro, depois de tantas viagens era o Evangelho de
Judas, e fez questão de ligar para a colecionadora para dar a notícia. Frieda
foi quem, em 1999, resolveu comprar o documento abandonado no cofre, agora
ainda mais deteriorado pelo tempo, o que reduziria o preço pedido pelo
negociante. Até porque, como já estava desesperançoso de conseguir alguma
vantagem financeira no material, não estava em condições de exigir muito.
Depois de entrar em contato com o mercador que foi ao seu encontro em Nova
Iorque para negociar a peça. Frieda tornou-se proprietária dos manuscritos e
decidiu colocá-lo em mãos seguras, no caso, nas mãos de uma equipe suíça. A
primeira frase decifrada nos papiros dá a grande evidência: “O Evangelho de
Judas” aparece nas traduções dos especialistas. Stephen Emmel foi convidado a
analisar a coleção e relatou que “eram três manuscritos diferentes, dois em grego
e um em cóptico (língua camito-semítica, originário do antigo Egito, escrita
com caracteres derivado do grego, restringindo-se hoje ao uso litúrgico). Agora
restava a dúvida como saber se o documento era mesmo original? Para isso era
preciso analisar se datava dos primeiros séculos, e uma equipe preparada
poderia revelar. Em momentos como esses, deve-se agradecer à tecnologia. Na
Universidade do Arizona – Estados Unidos, os fragmentos do livro foram
queimados e analisados por meio de uma máquina de datação por rádio carbono. Em
menos de 15 horas, chegou-se ao resultado que revelou que os papiros, datavam
do ano 280 DC, com uma margem de erro de 50 anos para mais ou para menos.
Enquanto isso, na Suíça, o material terminava de ser restaurado e o veredicto estava
dado o livro com o título Evangelho de Judas era um legítimo documento do mundo
antigo. Para provar que o texto era autêntico, a fundação Maecenas – Suíça,
reuniu uma equipe de detetives bíblicos, incluindo Stephen. Mesmo antes da
conclusão, ele já acreditava que o documento era autêntico, pelo fato de que
suas características, mesmo antes de ser examinado profundamente, coincidiam
com as de outros documentos da mesma época. A grande dúvida era como os papiros
foram parar no Egito. Acredita-se que, primeiramente, foi escrito em grego, e
mais tarde fora traduzido para o cóptico. Um dos argumentos mais fortes para
que levassem a investigação adiante foi a semelhança do Evangelho de Judas com
a Biblioteca de Nag Hammadi, uma coleção de textos gnósticos, descoberta no
Alto Egito por um camponês em 1945. CRISTÃOS VERSOS GNÓSTICOS – SEM A DELAÇÃO
DE JUDAS, a crucificação poderia não ter acontecido, nos conta a Bíblia que
conhecemos hoje. Mas o livro sagrado não nos fala que Judas pode ter nascido na
Judeia, e não na Galileia, com os outros apóstolos. Ele também pode ter sido o
mais confiável dos apóstolos. A fama de mau paparece em 18 passagens bíblicas,
e ele é assim pintado por ter sido uma vergonha, um vilão influenciado pelo
diabo. O que de tudo isso realmente foi verdade? Em 180 DC, bispo Irineu de
Lyon (130-202) escreveu um ataque sobre o Evangelho de Judas, depois de se
indignar com uma passagem sugestiva, em que Judas, na verdade, não entregou
Jesus a troco de algumas moedas (30 de prata), mas sim por estar seguindo
ordens de seu mestre. Nos 100 primeiros anos (século I) depois de Cristo,
Jerusalém, dividida ente judeus e cristãos. O cristianismo começava a levar
vantagem, a Bíblia não existia e os escritos começaram a ser desenvolvidos
cerca de 60 anos depois da morte de Jesus. Ou seja, se ele realmente foi
crucificado, aos 33 anos, a Bíblia passou a ser organizada a partir do ano 93
DC. As histórias começaram a ser passadas de boca a boca e os evangelhos eram
mais de 30. Isso sem falar que os cristãos não professavam a fé de maneira
heterogênea, e a existência de cristãos gnósticos explica porque Judas
Iscariotes pode perfeitamente ter seguido ordens de Jesus ao entrega-lo para os
romanos. Os gnósticos tinham um quê de misticismo, acreditavam que Deus era
algo intrínseco, que vivia dentro de cada um. Ou seja, cada pessoa teria dentro
de si algo de divino. Achavam que o corpo era uma prisão e por esse motivo a
morte não era vista como algo negativo. Uma passagem do Evangelho de Judas dá
pistas de como a gnose pode estar inserida no contexto. Ela diz que Jesus “uma
vez estava sentado com seus discípulos da Judeia. Quando se aproximou dos
discípulos, que estavam rezando em agradecimento pelo pão. Ele nu”. Os
apóstolos estranham o riso, e Jesus justifica que é pelo fato de que seus
seguidores agradecem ao Deus que criou a Terra, quando para os gnósticos
existia outro Deus, o Deus dentro de cada um. Então, Jesus pede: “deixe a
pessoa perfeita dentro de vocês dar um passo à frente e me encarar”. Apenas
Judas se levanta. O apóstolo conhecido pela traição já havia tido uma visão
sobre o destino de Jesus Cristo na cruz e o mestre decide explicar sua missão,
dizendo ao seguidor que ele, Iscariotes, tem o poder de realiza-la. Mas, ao
contrário dos demais evangelhos, no livro de Judas não há a cena da
crucificação, e se encerra com o que os demais apóstolos descreveram como
traição.Com a comissão da morte e da ressurreição, é criado um embate entre
gnósticos e igreja, mas para aquele grupo a morte não importava. A morte era,
sim, a continuidade do espírito, a libertação da prisão carnal. CRUEL POR
ACIDENTE? – PARTINDO DESTE RACIOCÍNIO, Judas teria sido um grande aliado para
Cristo. E, mesmo assim, foi rechaçado pelas escrituras. Por quê? Em Lyon –
França, 180 DC, Irineu tentava ajudar a “purificar” a mensagem cristã
rejeitando alguns dos evangelhos considerados “apócrifos”. Na época, centenas
de cristãos estavam sendo assassinados por se recusarem a sacrificar animais.
Essa foi uma das atitudes que levou Irineu a tentar entender que fé era aquela
que acabava por levar os cristãos à morte. Para entender o raciocínio do bispo
Irineu é importante observar como Judas vai se tornando vilão a cada evangelho.
Em Marcos, ele ainda não é o retrato encontrado em João, o último dos evangelhos.
No relato de Marcos, Judas não é o foco, mas sim a Santa Comunhão da Ceia, que
provavelmente foi um episódio muito doloroso aos apóstolos – afinal, ali
saberiam que Jesus morreria. Cerca de 20 anos depois, Mateus narra o desespero
de Judas que, ao saber que Pilatos havia lavado suas mãos, se encaminha ao
suicídio. Em João, Judas é a encarnação do mal, e acredita-se que tenha sido
para associar os judeus à margem do personagem bíblico. Ora, se Judas rejeitou
Jesus e era uma figura demoníaca, todos aqueles que o rejeitaram também seriam.
Embora a mensagem seja completamente diferente daquela que Jesus deixou – a
mensagem do amor ao próximo – retratar Judas como uma figura má, de certa
forma, deu origem ao antissemitismo (ódio e preconceito contra o povo judeu e
sua cultura, ou seja uma forma de xenofobismo. Etimologicamente o termo
significa “aversão aos semitas”, que de acordo com a Bíblia, são os
descendentes de Sem, os filhos mais velhos de Noé). EVANGELHO DE JUDAS – JUDAS
SEM CENSURA. ESCOLHIDO COM UM dos doze apóstolos de Jesus, o Judas da Bíblia
atual era quem carregava a bolsa de dinheiro dos apóstolos, e demonstrou seu
apego pelo material na passagem da unção em Betânia, quando Maria ungiu Jesus
com o líquido e Judas sugeriu que o perfume fosse vendido e seu dinheiro dado
aos pobres (João 12,1-7). A passagem ainda mostra que o real interesse por trás
da sugestão era fazer com que o dinheiro obtido da venda fosse parar na bolsa
que carregava, e que costumava furtar. Contudo, a Bíblia também abre precedente
para que se acredite que Judas estava predestinado a trair. ”Pois não era um
inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado (...). Mas eras tu, homem
meu igual, meu guia e meu íntimo amigo”, é a trecho da Tradução Brasileira da
Bíblia, Salmos 55,12-14. Isso indica que o Evangelho de Judas, apesar de ter
sido rejeitado, desmistifica a visão clássica e até injusta para aqueles que o
legitimam, de que Judas foi a ovelha negra do rebanho de Cristo. Livro O Lado
Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.
terça-feira, 30 de maio de 2017
segunda-feira, 29 de maio de 2017
CRISTIANISMO.- CONFLITOS E DISPUTAS PELA SOBERANIA.
Cristianismo.
A trajetória da religião com mais seguidores em todo mundo é recheada de
conflitos e disputas por soberania e poder. A morte, crucificação e
ressurreição de Cristo construíram o momento fundamental em que os seguidores
de Jesus se comprometeram a espalhar a mensagem de seu mestre. Assim surgia o
Cristianismo que se fortaleceu depois que o povo começou a propagar o que o
Messias havia realizado. Surgia também o termo cristão e muitos judeus passaram
a crer que Jesus de Nazaré era realmente o enviado que tanto esperavam.
Contudo, embora os apóstolos pregassem amor, perdão, fé e igualdade em
Jerusalém e na Galileia, como registram as Escrituras, foram perseguidos e
precisaram se dispersar – muitos pelo fato de afirmarem que Jesus era o único
Salvador. Obviamente aqueles que ainda esperavam por um Messias passaram a
condenar os cristãos. Não bastasse a rixa “judeus versos cristãos”, Roma também
não aceitava que outrem fosse adorado que não o imperador Tito Flavio
Vespasiano Augusto (39-81), o homem do império de Roma entre os anos 79 a 81,
tomou Jerusalém, pediu que diversas áreas fossem incendiadas e forçou os
cristãos a fugir, rumando para Europa e Ásia Menor. Seria só o início da saga
dos discípulos de Cristo, que têm uma figura recorrente, Paulo (ou Saulo) de
Tarso, tido como o fundador da Igreja Cristã. Ainda, quando judeu, perseguiu
aqueles que pregavam as palavras do filho da Santíssima Virgem Maria. Segundo
relato bíblico, Jesus apareceu para Paulo durante uma viagem a Damasco – Síria,
aonde rumava com objetivo de perseguir cristãos, e o questionou “Saulo, Saulo,
por que me persegues?. Após um curto diálogo, Paulo, cego, foi conduzido até
Damasco. Chegando à cidade, permaneceu sem visão por três dias, sem se
alimentar ou beber qualquer coisa. Em seguida, o discípulo Ananias foi
convocado por Jesus para fazer com que Paulo voltasse a ver. Apesar do receio,
uma vez que todos os cristãos sabiam que Paulo ali estava para perseguir os
fiéis de Cristo. Ananias obedeceu a seu mestre. Paulo voltou a enxergar, foi
batizado e passou a pregar as mensagens cristãs, edificando muitas igrejas por
onde passou. Conteúdo encontrado em Atos 9,1-31. O apóstolo Paulo realizou três
grandes viagens missionárias com alguns apóstolos a fim de disseminar o
evangelho. Em sua terceira viagem missionária (Atos 18,23 – 21,16), passou por
Galácia, Éfeso e Corinto, seguindo para Roma, que testemunharia uma grande
mudança nos planos social e religioso. Por quase 300 anos, os adeptos do
Cristianismo foram perseguidos por seguirem a doutrina de Jesus, mas
principalmente, por se recusarem a cultuar a imagem “divina” do imperador
romano, o que os levou a serem considerados bárbaros por Roma, o que os levou a
serem considerados bárbaros por Roma. Apesar dos intensos assédios e das
punições severas, a religião se propagou, especialmente na região do Mar
Mediterrâneo e, no ano 313 o imperador Constantino I (274-337) e o imperador
Licínio (263-325), do império romano do Oriente, emitiram o Édito de Milão, que
não somente deu liberdade religiosa à população, mas também devolveu bens que
pertenciam a cristãos e que haviam sido confiscados pelo Estado. O imperador
Teodósio (347-395) foi o primeiro governante de origem cristã a comandar o
Império Romano (entre os anos de 379 a 392). Junto aos imperadores Graciano e
Valentiniano II, publicou um édito na cidade de Tessalônica no ano de 380,
promulgando que todos os súditos deveriam seguir somente a fé do patriarca de
Alexandria e dos bispos de Roma. Dessa maneira, o Cristianismo se transformou
na religião oficial do Império Romano do Ocidente e do Oriente. Entretanto, ao
colocar a religião cristã como a única a ser seguida em todo o território, o
Édito de Tessalônica proibiu a liberdade de culto de outras doutrinas. Assim,
os locais onde os hereges se encontravam não podiam mais ser chamados de
templos, e Teodósio ordenou ao prefeito de Constantinopla que todas as capelas
arianas da cidade fossem fechadas. QUEDA DE BRAÇO – Com duas sedes, uma no Ocidente,
em Roma, e outra no Oriente, na cidade de Constantinopla, a Igreja encontrou
uma distância ideológica entre suas “metades”. Ainda durante o Império Romano,
ficou determinado que a parte Ocidental fosse o centro imperial, o que, apesar
da aparente aceitação, gerou divergências com o lado Oriental. As duas sedes da
Igreja Católica desenvolveram características próprias, chegando, até mesmo, a
diferentes concepções do que seria a fé. Enquanto a Igreja Ocidental recebia
influências do povo germânico, a Igreja Oriental teve mais contato com os
gregos e também com o império Bizantino, além da dinastia russa. A vertente
oriental adotava ainda um sistema de cesaropapismo (sistema de relações entre a
igreja e o estado em que o Chefe do Estado cabia a competência de regular a
doutrina, a disciplina e a organização da sociedade cristã. Entre 533 a 565,
iniciou-se a compilação do direito romano. O Imperador Justiniano (482-565)
consolidou seu poder monárquico por meio do cesaropapismo), que submetia a
Igreja Católica de Constantinopla a um chefe secular. Inevitavelmente o
imperador mostrava-se um líder soberano, apresentando poder e influência para
tomar decisões também no âmbito
religioso. Uma série de conflitos em tono da autoridade, da jurisdição, do
estabelecimento de rituais e da hierarquia culminou na excomunhão do papa por
parte do patriarca de Constantinopla, este também condenado à exclusão pela
autoridade máxima da Igreja Ocidental. As hostilidades entre as duas sedes da
Igreja Católica tiveram seu auge em 1054, quando houve indícios de um conflito
interno de poder entre os cristãos orientais. Para entender a crise e procurar
por uma solução. Roma enviou o cardeal Humberto de Silva Cândida (1015-1061) à
Constantinopla. O enviado romano, em contrapartida, decidiu excomungar o
patriarca Miguel Cerulário (1000-1059), causando a revolta, a excomunhão do
papa Leão IX e fomentando ainda a crise interna pelo poder. Assim, estava
configurado o Cisma do Oriente, episódio histórico que determinou o rompimento
da Igreja Católica. O evento deu origem à Igreja Ortodoxa (no Oriente) e à
Igreja Católica Apostólica Romana (no Ocidente). Embora as divergências entre
os dois lados estivessem ficando cada vez mais claras ao longo da história, foi
somente depois do Cisma que se deu a separação efetiva entre elas. Após a
divisão e com todas as suas crenças bem definidas, a Igreja Católica Apostólica
Romana iniciou um processo de perseguição àqueles que não compartilhavam de
suas ideologias. FÉ SUJA DE SANGUE – Períodos intensos de batalhas, em que
tropas Ocidentais eram enviadas à Terra Santa (Jerusalém) para submetê-la ao
domínio cristão – uma vez que eram os muçulmanos os que ocupavam àquele
território (Palestina) no período – as Cruzadas foram a contraofensiva do
catolicismo à expansão islâmica. Uma vez que o pano de fundo era a palavra de
Cristo, hoje já é consenso que a Igreja Católica sentiu-se ameaçada pela perda
de “suas” terras sagradas para os “infiéis”, como eram pejorativamente chamados
os muçulmanos. Como o cenário era de muitos homens para poucas terras, as
Cruzadas serviram de alternativa no que diz respeito a expansão territorial e a
diminuição populacional. RELIGIÃO DA NOBREZA – A expansão do Cristianismo
continuou a passos largos. Na dinastia Merovíngia, o rei Clovis se converteu e,
em 732, com o rei Carlos Martel, o avanço dos muçulmanos foi detido na Batalha
de Poitiers. Pepino. Herdeiro de Martel, iniciou a dinastia Carolíngia ao ser
coroado rei da França, no ano de 751, e o período foi marcado pela aproximação
entre a Igreja e o Estado, principalmente porque o papa da época precisou
contar com o apoio militar dos francos para derrotar os povos lombardos que
ameaçavam invadir Roma. Além de conseguir vencer a ameaça, Pepino doou
territórios conquistados para a própria Igreja. Quando Pepino faleceu, subiu ao
trono seu filho Carlos Magno em 768. Foi ele quem instrumentalizou a Igreja, no
que diz respeito à organização administrativa. No ano 800, Carlos Magno foi
coroado imperador pelo Papa Leão III (750-816) e esse título unificou o poder
da Igreja e do próprio imperador. A ascensão da dinastia Carolíngia se deu por
uma aliança e isso foi determinante para
o domínio da Igreja e a expansão do Cristianismo, embora mais tarde algumas
cisões fossem inevitáveis. Em 1095, o Papa Urbano II (1042-1099) convocou os
cristãos europeus para combater os muçulmanos que estavam na Terra Santa, para
permitir a peregrinação dos religiosos – que havia sido proibida pelos
seguidores do Islã – e também para defender as fronteiras do Império Bizantino
(apesar de o Império não fazer parte da Igreja Romana, a instituição entendia
que, se os muçulmanos o tomassem, todo o leste europeu estaria vulnerável ao
Islamismo). Após o Concílio de Clermont – França (18 a 28 de novembro de 1095),
aconteceram as Primeiras Cruzadas, no ano seguinte da convocação, seguidas por
mais sete investidas, sem contabilizar a Cruzada Albigense, que aniquilou os
cátaros do Sul da França, e a Cruzada das Crianças, que teve como resultado
cerca de 50 mil crianças mortas ou escravizadas. As Cruzadas não cumpriram seu
objetivo inicial e principal, que era a tomada da Terra Santa. Entretanto, um
processo histórico de quase dois séculos deixou rastros nas civilizações
envolvidas. A Igreja Ortodoxa sofreu inúmeros ataques árabes e turcos, como a
implosão de Constantinopla pelos Turcos Otomanos. A Igreja Católica Ocidental,
por sua vez não teve número excessivo de baixas capaz de estremece-la. Além de
aprofundar as tensões entre cristãos e muçulmanos, a Igreja Católica Apostólica
Romana tornou-se irreconciliável com a Igreja Ortodoxa Grega, além da Russa, a
partir das expedições. BATENDO DE FRENTE – É fácil relacionar fé e jogo de poder. Não fosse pelo poder de
Henrique VIII (1491-1547), por exemplo, a Igreja Anglicana não teria surgido.
Tudo porque a Igreja Católica jamais permitiria que o rei se divorciasse de
Catarina de Aragão (1485-1536) para casar-se novamente com Ana Bolena
(1501-1536). De fato, a Igreja sempre esteve envolvida em enredos bem tramados,
reflexo de tensões religiosas que resultavam em divisões da corrente. Basta
Lembrar um dos primeiros “rachões” promovidos por Martinho Lutero (1483-1546) e
sua reforma protestante. A Instituição católica, como ainda é hoje, embora de
maneira menos expressiva, exercia forte influência sobre a economia na Idade
Média. O Luteranismo nascia neste contexto, e é considerado uma das primeiras
religiões criadas após as Reformas Protestantes. LENHA NA FOGUEIRA – Por meio
do temido tribunal do Santo Ofício, a Igreja perseguiu e condenou aqueles que eram
contra seus dogmas e que ameaçavam a supremacia do cristianismo católico
durante a Idade Média. Em um primeiro momento, o tribunal era um órgão
direcionado a assuntos internos da Igreja, mas no século XII, começou a tomar
outras proporções. Os cátaros, povos também conhecidos como albigenses, viviam
no Sul da França e, apesar de cristãos, possuíam uma religiosidade própria.
Acreditavam que existia um Deus do Bem e um Deus do Mal, sendo este quem havia
criado o mundo material, eram favoráveis ao suicídio, matavam mulheres
grávidas, entre outras práticas consideradas heréticas pela Igreja. Com a
autorização do Papa Inocêncio III (1161-1216), ao albigenses foram massacrados.
O acontecimento seria o estopim para a criação do Tribunal da “Santa”
Inquisição, em 1233 pelo Papa Gregório IX (1145-1241). Em 1252, o Papa
Inocêncio IV (1195-1254) divulgou o Ad Exstirpanda, documento que permitia o
uso de tortura para que fosse feita a conversão. A determinação papal foi
seguida e diversos instrumentos foram criados para castigar os que eram
contrários aos dogmas católicos. Partindo da lógica de que Deus é o único que
poderia ser considerado rei, outro padre conhecido como Thomas Muntzer
(1489-1525) passou a incitar a revolta, desta vez contra a realeza. A luta de
classe entre plebeus e nobres foi armada e violenta em um período que entraria
para a história como a Guerra dos Camponeses, entre 1524 – 1525. Várias terras
foram invadidas, além das igrejas saqueadas, em conflitos que se estenderam até
1555, quando Carlos V (1500-1558) assinou A Paz de Augsburgo, permitindo que
príncipes alemães tivessem autonomia para escolher a orientação religiosa a ser
seguida em seus domínios. A boa intenção de Carlos V não foi capaz de parar os
conflitos religiosos decorrentes da Reforma Protestante. As alianças entre
religião e Estado já não eram engolidas com facilidade, até porque, na passagem
do mundo medieval para o moderno, o poder das monarquias só aumentava. Era o
caso da dinastia Habsburgo (1526 – 1867), até então aliada ao Sacro Império
Romano Germânico. Como se espera depois de cada ataque, a Igreja Católica
respondeu aos levantes protestantes, destruindo muitas igrejas da nova doutrina
durante o reinado de Rodolfo II (1552-1612), no início de 4600. Em 1608,
erguia-se a União Evangélica, em defesa de seus ideais, uma instituição que
encontraria como resposta a Liga Católica – defendendo, por sua vez, seus
conceitos doutrinários. Representantes da dinastia de Habsburgo, Fernando II
(1578-1637), católico entusiasmado, imperava sobre uma população
majoritariamente protestante na região checa da boêmia. Ali, a União Evangélica
marcaria o início dos conflitos que originaram a Guerra dos 30 anos (1616 –
1648), quando em 1618 invadiram, numa ação ousada, o palácio do rei e atiraram
seus protegidos pela janela. Desde então, as batalhas entre católicos e
evangélicos (protestantes) percorreram diversas regiões. Na Boêmia,
especificamente, a vitória foi da União Evangélica. Contudo, a esta altura os
evangélicos já estavam divididos entre calvinistas e luteranos, o que os
deixava vulneráveis ao ataque católico. Ao todo, forma quatro períodos de luta
envolvendo as regiões da Boêmia. Noruega, França, Dinamarca, Suécia e Espanha.
Nos anos finais da Guerra, entre 1635 e 1644, o poder dos Habsburgo foi sendo
minimizado por toda a Europa, levando Fernando II a cogitar os acordos de paz,
que vieram em 1648. Com o fim das lutas, as monarquias se tornavam mais
autônomas e distantes da influência da Igreja, e os países passavam a contar
com direitos internacionais assegurados no papel. REVOLTA EM EXPANSÃO – A
faísca que ateou fogo no circo religioso teve origem no Sacro Império Romano
Germânico, mas se espalhou na história graças a João Calvino (1509-1564),
considerado mais radical do que Martinho Lutero ao ignorar o papa (como
Lutero), dar de ombros para a missa (também a exemplo de Lutero) e pregar que
Deus tinha seus protegidos (escolhidos) que mereceriam a salvação. Para estar
entre eles, seria necessário levar uma vida próspera e de muito trabalho. Provavelmente,
ali nascia a crença de que Deus ajuda quem cedo madruga, uma filosofia que
seduziu rapidamente a burguesia, agora se reconhecendo entre os eleitos do
Senhor. Consequentemente, o caos foi instalado com a expansão do calvinismo.
Desafiando Igreja e nobreza e ousando dizer que até mesmo os reis poderiam
ficar de fora do reino dos céus. Calvino foi obrigado a fugir para Genebra –
Suíça, que acabou virando referência para formação de missionários. Não que a
nova doutrina tivesse passa ilesa pelos conflitos. Na França, por exemplo, os
huguenotes, como eram chamados os seguidores, passaram por poucas e boas. O
Massacre da Noite de São Bartolomeu, ocorrido em 24 de agosto de 1572 foi o
mais sangrento e, embora não haja um número de mortos atestado de maneira
unânime pelos historiadores, os dados oscilam entre 2 mil a 70 mil. Catarina de
Médicis (1519-1589), mãe do rei da França, Carlos IX (1550-1574), mandou
executar os protestantes temendo que o calvinismo dominasse a cultura europeia,
e um possível golpe de Estado dos huguenotes. Para o Papa Gregório XIII
(1502-1585), as mortes, foram motivos de comemoração, tanto que encomendou um
hino para ser cantado nas missas, além de uma medalha com um anjo empunhando
uma espada perto dos huguenotes mortos. APRENDIZ DE APRENDIZ – Conta-se que, em
seu último discurso, Calvino pediu aos pastores que não desistissem de sua
Igreja e garantiu que Deus se encarregaria de perpetuá-la. Dito e feito: o
protestantismo não para de crescer, inclusive no Brasil, onde a população
evangélica aumentou mais de 60% em dez anos. Seguindo os passos do amigo
Calvino, John Knox (1513-1572) iniciou a reforma na Escócia. Isso depois de
passar alguns anos em Genebra – Suíça e pastoreando em igrejas para os
refugiados, que falavam a língua inglesa. Aparentemente, a luta de Knox
influenciou o parlamento com maior facilidade, tanto que em 1560 a Escócia
abria mão do catolicismo e se tornava presbiteriana. Naquele mesmo ano,
constituía-se a primeira Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana, época em que
uma dúzia de pastores integrava a instituição. A rainha Maria Stuart
(1542-1587) bem que tentou trazer o catolicismo de volta ao reino escocês, mas
não teve jeito, foi forçada a abdicar e acabou sendo executada na Inglaterra
anos depois. CADA UM NA SUA – Em 1789, iniciava-se a Revolução Francesa,
movimento que determinou a passagem da Idade Moderna para a Idade
Contemporânea, sendo fundamental para que o indivíduo alcançasse sua plena
liberdade de culto, livre de coações, obrigatoriedade e submissão.
Economicamente, a agricultura estava em declínio e mais da metade da população
trabalhava no campo. Motivos naturais interferiram na atividade, o que fez com
que os preços dos alimentos subissem, trazendo fome para o povo. A indústria
também não ia bem, já que o setor têxtil sofria com a concorrência da
Inglaterra – era comum encontrar produtos ingleses mais baratos do que os
franceses. Para agravar a situação, havia uma crise fiscal, a arrecadação do
Estado era menor do que seus gastos. Para superar a crise, o rei Luís XVI
(1754-1793) propôs, em 1787, que a nobreza também pagasse impostos – notícia
recebida com revolta. Um ano depois, por pressão das classes privilegiadas, o
rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais, que era formada por representantes
dos três estados franceses e não acontecia havia 175 anos. Nessa reunião, a
nobreza e o clero queriam fazer valer o sistema que contava com um voto de cada
camada social. Como os dois sempre estavam unidos, o povo acabaria derrotado. O
terceiro estado francês, que compreendia toda a classe trabalhadora, se
revoltou e pediu o voto individual, já que possuía mais deputados do que os
outros dois juntos. Para que a mudança na votação acontecesse, existia a
necessidade de uma alteração constitucional, o que clero e nobreza não
aceitaram. Esse conflito fez com que o povo saísse dos Estados Gerais e se reunisse para formar a Assembleia
Nacional Constituinte. O terceiro estado (proletariado – trabalhadores) tomou
conta das ruas e, no dia 14 de julho de 1789, os franceses tomaram a Bastilha,
símbolo do absolutismo monárquico. Sem saber como controlar o movimento, o rei
tomou diversas atitudes para agradar os revoltosos, como o fim dos privilégios
para as classes altas. No mesmo ano, a Assembleia Nacional Constituinte
anunciou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que englobava
princípios como liberdade e igualdade perante a lei, direito à resistência
contra opressão política e liberdade de expressão. A Assembleia colocou a
Igreja sob autoridade do Estado e confiscou diversas terras que a instituição
possuía. Em 1790, foi instituída a Constituição Civil do Clero, que o submetia
ao poder civil, declarava eleições para os bispados e promulgava aos clérigos
um juramento de obediência à Constituição em questão. A Igreja, até então
soberana, perdia, com pesar o controle da vida civil que exercia. Livro
Mistérios da Bíblia – O Lado Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.
sexta-feira, 26 de maio de 2017
ALCANÇAR A PAZ ATRAVÉS DA PAZ INTERIOR.
Budismo. Texto de Tenzin Gyatso (O 14º Dalai Lama). VALORES UNIVERSAIS.
Os valores universais da bondade, afetuosidade, sinceridade e compaixão são
apreciados por todas as pessoas. Eles são o segredo das amizades duradouras e
da felicidade. Desconforto Físico e Mental. A
paz é uma preocupação de todos nós, no Oriente, no Ocidente, no Norte ou no
Sul. Ricos ou pobres, todos nós deveríamos estar verdadeiramente preocupados
com a paz. Todos nós somos seres humanos e por isso temos geralmente as mesmas
preocupações: ser feliz, ter uma vida feliz. E todos merecemos uma vida feliz.
Aqui, nós estamos falando a esse nível. Cada um de nós tem a sensação do
"eu" ou do "self" sem entendermos por completo o que é esse
"eu" ou "self". No entanto, apesar disso, temos um forte
sentimento do "eu". Com esse sentimento vem o desejo de sermos
felizes e não sofrermos. Este desejo surge ou aparece automaticamente. Com base
nisto, todos nós temos o direito a ser feliz. No entanto, obstáculos e muitas coisas
desagradáveis irão com certeza acontecer durante as nossas vidas. Existem duas
categorias de sofrimento. Uma delas se deve a causas físicas, como por exemplo
a doenças e ao envelhecimento. Assim como eu, que já tenho alguma experiência
nesta área - já me é difícil ouvir, ver e andar. Estas coisas irão com certeza
acontecer. A outra categoria é principalmente a nível mental. Se, a nível
físico, tudo for confortável e luxuoso, e se apesar disso ainda tivermos stress
e dúvidas interiores, nos sentiremos sós. Teremos ciúmes, medo e ódio, e por isso
nos sentiremos infelizes. Assim, apesar de a nível físico tudo estar bem, a
nível mental podemos estar com muito sofrimento. Para o conforto físico, então, sim,
com dinheiro podemos reduzir um pouco o sofrimento e obter satisfação física.
No entanto, esse [bem estar a] nível físico, que inclui o poder, nome e fama,
não nos pode trazer a paz interior. A verdade é que às vezes ter muito dinheiro
e riquezas só nos traz mais preocupações. Ficamos muito preocupados com o nosso
nome e fama, e isso conduz a alguma hipocrisia, algum desconforto e algum
estresse. Assim, a felicidade mental é menos dependente de recursos externos do
que do nosso modo de pensar interior. Podemos
ver que há pessoas que, embora pobres, são felizes e muito fortes a nível
interior. De fato, se tivermos contentamento interior, podemos tolerar qualquer
tipo de sofrimento físico e conseguimos transformá-lo por mais difícil que
seja. Assim, entre a dor física e a mental, penso que a dor mental é mais
severa porque enquanto o desconforto físico pode ser subjugado pelo conforto
mental, o desconforto mental não pode ser eliminado pelo conforto físico. Os problemas mentais das pessoas são
mais fortes e mais severos do que os dos animais. A nível físico talvez o
sofrimento de ambos seja igual, mas em relação aos seres humanos, por causa da
nossa inteligência, temos dúvidas, inseguranças e estresse. Estes levam à
depressão e tudo isso surge por causa da nossa inteligência superior. Para
contrariá-los devemos usar também a nossa inteligência humana. A nível
emocional, algumas emoções, assim que surgem, fazem com que percamos a nossa
paz de espírito. Certas emoções, por outro lado, ainda nos dão mais força.
Estas são a base da confiança e força interior e nos levam a um estado de
espírito mais calmo e tranquilo. Duas Categorias de Emoções. Temos, portanto, duas categorias de emoções. Uma
delas é muito prejudicial à paz de espírito; são as emoções destrutivas, como a
raiva e o ódio. Não só destroem a nossa paz de espírito aqui e agora, são
também muito destrutivas para a nossa fala e os nossos corpos. Por outras
palavras, elas afetam a nossa maneira de agir, levando-nos a agir de uma forma
prejudicial, sendo portanto destrutivas. Outras emoções, porém, como a
compaixão, trazem-nos paz e força interior. Trazem-nos por exemplo a força do
perdão. Mesmo que em determinado momento possamos ter problemas com alguém, o
perdão eventualmente nos levará à tranquilidade e à paz de espírito. A pessoa
com quem estávamos tão incompatibilizados até poderá tornar-se o nosso melhor
amigo. Paz Exterior. Quando falamos
sobre a paz temos de falar sobre estas emoções e sobre a paz interior. Temos
portanto de descobrir quais são as emoções que levam à paz interior. Mas
primeiro quero falar um pouco sobre a paz exterior. A paz exterior não é apenas a mera
ausência de violência. Durante a Guerra Fria aparentemente tivemos paz, mas
essa paz era baseada no medo, medo de um holocausto nuclear. Ambos os lados
estavam com medo que o outro lançasse as bombas, por isso essa paz não era genuína.
A verdadeira paz tem de vir da paz interior. Sempre que houver um conflito,
acho que devemos encontrar uma solução pacífica e com isto quero dizer através
do diálogo. A paz tem muito a ver com a bondade e o respeito pela vida dos
outros, com o resistir [à vontade de] fazer mal aos outros e com a atitude de
que a vida dos outros é tão sagrada quanto a nossa. Temos que respeitar isso e,
nessa base, se pudermos também ajudar os outros, então tentamos ajudar. Quando enfrentamos dificuldades e
alguém nos vem ajudar, é claro que apreciamos a ajuda. Se alguém estiver
sofrendo, mesmo que proporcionemos uma simples compreensão humana, essa pessoa
irá apreciar e sentir-se muito feliz. Assim, da compaixão interior e paz
mental, todas as ações se tornam pacíficas. Se conseguirmos estabelecer a paz
interior, então conseguiremos também trazer a paz exterior. Como seres humanos, temos sempre
pontos de vista diferentes nas nossas interações com os outros. Mas, com base
em fortes conceitos de "eu" e "eles", então obtemos, além
disso, conceitos de "meu interesse" e "seu interesse". Com
base nisso, podemos até chegar à guerra. Pensamos que a destruição do nosso
inimigo irá ser a causa da nossa vitória. Mas agora temos uma nova realidade.
Somos muito interdependentes uns dos outros sob o ponto de vista económico e
ecológico. Assim, os conceitos de "nós" e "eles" já não são
relevantes. Aqueles que considerávamos "eles" se tornaram agora parte
de "nós". Assim, o factor chave para o desenvolvimento da paz mental
é a compaixão, baseada no reconhecimento de que somos seis bilhões de pessoas
neste planeta e todos nós temos o mesmo direito à felicidade. Com base nisto,
levamos todos a sério e assim devemos conseguir estabelecer a paz exterior. Começar em Pequeno Nível. Precisamos
assim, para a paz, começar a desenvolver a paz em nós próprios, depois em
nossas famílias e a seguir em nossas comunidades. No México, por exemplo, um
amigo meu criou uma "Zona de Paz" na sua própria comunidade. Ele
conseguiu isto fazendo com que todos na sua comunidade concordassem com o
seguinte: tentarem deliberadamente evitar a violência dentro desta Zona de Paz.
Se tivessem que lutar ou discordar, concordarem todos eles em fazê-lo fora dos
limites dessa zona. Isso é muito bom. É
difícil pedir a paz mundial, embora eventualmente, a nível mundial, isso seria
melhor. Mas o que é mais realista é começar agora a um nível pequeno, conosco,
com a família, comunidade, distrito e assim por diante, criando coisas como
essas zonas de paz. A paz interior está, deste modo, muito ligada à compaixão. As coisas estão neste momento a mudar
muito no mundo. Lembro-me de há alguns anos, um amigo alemão, o falecido
Friedrich von Weizsäcker, que considero como meu professor, me ter dito que
quando era jovem, do ponto de vista de cada alemão, os franceses eram
considerados inimigos e, do ponto de vista dos franceses, os inimigos eram os
alemães. Mas agora as coisas estão diferentes. Agora temos uma força unificada,
a União Europeia. Isto é muito bom. Antes, cada Estado, do seu ponto de vista,
considerava a sua própria soberania como algo muito precioso. Mas agora há uma
nova realidade na Europa, há um interesse comum mais importante do que os
interesses individuais. Se a economia melhorar, cada Estado-Membro beneficiará.
Portanto, agora é importante propagar este pensamento aos seis bilhões de
pessoas do planeta. Precisamos de pensar em todos como pertencendo à grande
família humana. Compaixão como fator biológico. Agora,
quanto à compaixão, todos os mamíferos que nascem de mães – seres humanos,
mamíferos, aves, e assim por diante – dependem, para o seu desenvolvimento, do
carinho e afeição. Este é o caso, com a exceção apenas de umas poucas espécies,
como a tartaruga do mar, as borboletas, os salmões que depositam seus ovos e
morrem – estes seres são a exceção. Vejam, por exemplo, as tartarugas marinhas.
As mães colocam na praia os seus ovos e depois vão-se embora, por isso a
sobrevivência das pequenas tartarugas depende unicamente do seu próprio
esforço. Elas não precisam do carinho da mãe e no entanto sobrevivem. Por isso
digo a algumas audiências que seria uma experiência científica muito
interessante colocar juntos a mãe com a tartaruga bebê quando este sai do ovo,
e ver se têm carinho um pelo outro. Eu acho que não teriam. A natureza as criou
assim, por isso não há necessidade de afeto. Mas quanto aos mamíferos, e
especialmente aos seres humanos, sem o cuidado maternal todos nós morreríamos. Cuidar de um bebê recém-nascido exige
algumas emoções, como a compaixão, afeição, o sentimento de dedicação e cuidado
pelos outros. Os cientistas dizem que durante as primeiras semanas após o
nascimento, o toque da mãe é essencial para o desenvolvimento do cérebro do
bebê. Notamos que as crianças que vêm de famílias meigas, carinhosas e afetuosas
tendem a ser mais felizes. Elas são até mais saudáveis a nível físico. Mas as
crianças sem afeto, especialmente quando são pequenas, tendem a ter muitas
dificuldades. Alguns cientistas fizeram
experiências, separando macaquinhos das suas mães e observaram que andavam
sempre brigando e de mau humor. Não brincavam bem com os outros. Mas aqueles
que permaneceram sempre próximos de suas mães eram felizes e brincavam bem com
os outros. E especialmente as crianças humanas que não recebem afeto enquanto
bebês – elas tendem a se tornar frias. Têm dificuldade de demonstrar afeto aos
outros e em alguns casos se tornam violentas com os outros. Por isso o afeto é
um fator biológico, um fator com base biológica. Além disso, acho que, como a
compaixão e as emoções estão relacionadas a este nível biológico e/ou físico,
então, de acordo com alguns cientistas, se andarmos constantemente irritados,
cheios de ódio e medo, isso irá corroer o nosso sistema imunitário tornando-o
mais fraco. Mas a mente compassiva ajuda e fortalece o sistema imunitário. Vejamos outro exemplo. Na área da
medicina, se houver confiança entre as enfermeiras e os médicos por um lado, e
os pacientes por outro, isso é importante para a recuperação dos pacientes. E
qual será o fundamento da confiança? Se do lado do médico e dos enfermeiros
forem demonstradas dedicação e cuidados genuínos pela recuperação dos
pacientes, a confiança surgirá. Mas por outro lado, mesmo sendo o médico um
especialista, se tratar o paciente como uma máquina, então haverá muito pouca
confiança. Bem, se o médico tiver muita experiência pode ser que haja alguma
confiança, mas se o médico for mais compassivo, então haverá ainda mais
confiança. Os pacientes dormirão melhor e sentir-se-ão menos perturbados. Se
estiverem perturbados a um nível mais profundo, tornam-se então muito agitados,
o que afeta a sua recuperação. Mas
na vida os problemas são, naturalmente, inevitáveis. Shantideva, o grande
mestre budista indiano, aconselhou que ao enfrentarmos problemas precisamos de
analisá-los. Se eles puderem ser superados através de qualquer método, então
não se preocupem, basta aplicar o método. Mas se eles não puderem ser
resolvidos, não há necessidade de se preocuparem, pois isso não irá beneficiar
ninguém. Pensar assim é de uma grande ajuda. Mesmo que tenhamos um grande
problema, podemos minimizá-lo se pensarmos desta maneira. Sentimos carinho e compaixão enquanto
precisamos que outros cuidem de nós, quando por exemplo somos bebês. Mas com
mais independência à medida que vamos crescendo, tendemos, na tentativa de
obter o que queremos, a achar que a agressão é mais importante do que a
compaixão. Mas todos os seis bilhões de pessoas vêm das mães. Todos nós
experienciamos felicidade e satisfação com os cuidados do amor materno ou do
afeto de alguém quando somos bebês. Aos poucos, porém, à medida que vamos
crescendo, essas qualidades se tornam mais frágeis e depois tendemos a nos
tornar agressivos, com mais bullying, e criamos mais problemas. A Necessidade de Ver a Realidade. Um
cientista da Suécia disse-me que quando a mente se torna irritadiça e o cérebro
dominado pela ira, é uma projeção mental 90% da aparência horrível da pessoa
sobre quem estamos cheios de raiva. Por outras palavras, 90% da negatividade
são projetados mentalmente. Isso é também semelhante a quando temos apego e um
forte desejo por alguém: vemos essa pessoa como 100% bonita e boa. Mas uma
grande percentagem disso também é projeção mental; não vemos a realidade.
Portanto, é muito importante ver a realidade. Há um outro ponto importante: se ninguém quer
problemas, porque é que os problemas surgem? Devido à nossa ingenuidade, à
nossa ignorância, à nossa abordagem: nós não vemos a realidade. Do nosso ponto
de vista limitado, não conseguimos ver a realidade no seu todo. Vemos apenas duas
dimensões, e isso não é suficiente. Precisamos de ser capazes de ver as coisas
em três, quatro, seis dimensões. A fim de investigarmos objetivamente, primeiro
precisamos de acalmar as nossas mentes. Aqui
também é importante a diferença entre emoções construtivas e destrutivas a fim
de compreendermos todos estes pontos. Quando crescemos, o fator biológico da
compaixão vai diminuindo pouco a pouco. Por isso precisamos da educação e
formação sobre a compaixão para fortalecê-la uma vez mais. O tipo biológico da
compaixão é, no entanto, parcial: é baseado no receber do carinho dos outros.
Mas usando isso como uma base e adicionando-lhe depois a razão e os factores
científicos da nossa investigação, seremos capazes não só de manter este nível
biológico da compaixão como também de aumentá-la. Assim, com treinamento e
educação, a compaixão parcial e limitada se pode transformar numa compaixão
infinita e imparcial, abrangendo seis ou mais bilhões de pessoas. A Importância da Educação. A
chave para tudo isto é a educação. A educação moderna presta atenção ao
desenvolvimento do cérebro e do intelecto, mas isso não é suficiente. Nos
nossos sistemas educacionais também precisamos de ser capazes de desenvolver a
bondade. Precisamos disso desde o jardim de infância à universidade. Na América, alguns cientistas têm
desenvolvido programas de educação para treinar crianças a desenvolverem mais
compaixão e plena atenção. E isso não é feito com o propósito de ajudar essas
crianças a melhorar suas vidas futuras e atingir o nirvana mas sim em benefício
desta vida. Até em algumas universidades já existem alguns programas de
educação para o desenvolvimento da bondade e compaixão. Esse tipo de compaixão
imparcial não está focalizado nas atitudes dos outros, mas simplesmente por eles
serem humanos. Todos nós fazemos parte da população de seis bilhões de pessoas
neste planeta, por isso, com base neste fator de igualdade, todos merecem a
nossa compaixão. Desarmamento Interior e Exterior.
Assim, para a paz interior e a paz
mundial, precisamos do desarmamento interior e do desarmamento exterior. Isto
significa que, a nível interior, desenvolvemos a compaixão e, eventualmente,
com base nela, seremos capazes de desarmar tudo, todos os países, a nível
exterior. É como se tivéssemos a força unificada franco-alemã do Exército
Europeu, isso seria ótimo. Se houvesse uma força unificada para toda a União
Europeia, então não haveria luta armada entre os seus membros. Uma vez, em Bruxelas, houve uma
reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros e eu disse que seria muito útil
no futuro se a sede da União Europeia fosse transferida mais para o leste, para
um dos países do Leste Europeu, por exemplo, a Polónia. Depois, seria
eventualmente bom expandir e incluir também a Rússia, e depois mudar a sede da
OTAN para Moscovo. Se isso viesse a acontecer, então não haveria perigo de
guerra e teríamos realmente paz aqui na Europa. Agora e por enquanto, existem
algumas dificuldades entre a Rússia e a Geórgia, mas precisamos manter nossa
esperança. Com base nesta maior extensão de paz,
então por exemplo a indústria de armamento aqui em França, poderia
eventualmente ser encerrada e poderíamos mudar a economia para coisas mais
produtivas. Em vez de tanques, as fábricas poderiam ser convertidas para por
exemplo a produção de bulldozers! As
nações africanas também precisam muito da nossa ajuda. O fosso entre os ricos e
pobres é um grande problema, não só globalmente como também a nível nacional, e
este fosso entre ricos e pobres é horrível. Na França, por exemplo, há uma
grande discrepância entre os ricos e os pobres. Algumas pessoas estão até
passando fome. Mas somos todos seres humanos e todos temos as mesmas
esperanças, necessidades e problemas. Temos que considerar todos estes pontos
para o desenvolvimento da paz através da paz interior. Sua
Santidade o XIV Dalai Lama - Nantes, França, 15 de Agosto de 2008. Transcrito e
ligeiramente revisado por Alexander Berzin. www.studybuddhism.com.br. Abraço.
Davi.
Editor do Mosaico Espiritual. Nessa semana (23/05), o Isis (estado islâmico) se responsabilizou por praticar mais uma
onda de horror e desumanidade contra civil inocentes e desprotegidos.
Agora o alvo foi crianças, adolescentes e jovens que participavam do show
da cantora pop americana Eriana Grande na Arena – Manchester na Inglaterra. Num
estádio com capacidade para 20.000 pessoas, lotado, ao final do show, quando os
participantes se dirigiam aos portões de saída. O jovem criminoso suicida
terrorista, Salman Abedi de 22 anos, inescrupulosamente levava as costas uma
mochila com artefatos (pregos, pequenos pedaços de ferro e chumbo) de grande
poder de destruição, que estando misturado na multidão que cruzava os portões,
os detonou, matando ao menos 22 pessoas e deixando mais de 64 feridos. Desse
número 20 permanecem hospitalizados em estado grave. Ele era de família libia,
que nos anos 1990 fugiram do regime do ditador Muamar Khadafi (1942-2011)
recebendo asilo político do governo britânico para morar no Reino Unido. A
polícia constatou, que mais pessoas participaram da organização do atentado;
tanto que dois irmãos seus foram presos além do pai e mais alguns suspeitos de
possivelmente fabricarem o objeto. O Mosaico Espiritual repudia e veementemente
rejeita atos ignóbeis e hediondos como esses, cometidos em nome de ideologias
criminosas e organizações despudoradas sem qualquer respeito e consideração à
vida humana. Esses que tais ações cometem e seus mandantes homicidas, não tem
parte com Aláh; não honram o nome do Profeta Muhamad (que seja louvado acima de
todo homem); não são dignos de peregrinar (Hajj) à cidade santa de Meca, nem
beijar a pedra sagrada na Caaba; não são merecedores de abrir as páginas do
Sagrado Alcorão. Sofrerão as terríveis consequências nessa vida e após a
ressurreição das atitudes sórdidas e repugnantes que foram capacidades de
praticar. Aláh seja louvado, e seu Profeta Muhamad abençoado entre
nós. Abraço. Davi.
quinta-feira, 25 de maio de 2017
O EGOISMO - A ÂNSIA DE PRESTÍGIO.
Espiritualidade. Texto de Jiddu krishnamurti
(1895-1986). Capítulo V. O EGOÍSMO – A ÂNSIA DE PRESTÍGIO – OS TEMORES E O MEDO
TOTAL – A FRAGMENTAÇÃO DO PENSAMENTO – A CESSAÇÃO DO MEDO. Antes de irmos mais
adiante, eu quero perguntar-lhe qual é o seu interesse fundamental, constante,
na vida. Pondo de lado quaisquer respostas equívocas, e encarando a questão
direta e honestamente, o que você responderia? Sabe como responder? Não é sua
própria pessoa? Pelo menos é isso o que diria a maioria de nós, se
respondêssemos sinceramente. O que me interessa são os meus problemas, meu
emprego, minha família, o pequeno canto em que estou vivendo, a conquista de
uma posição melhor para mim, mais prestígio, mais poderio, mais domínio sobre
os outros etc. Acho que seria lógico reconhecermos para nós mesmos que está
principalmente interessada a maioria de nós: primeiro “eu”. Diriam alguns que é
mau estarmos interessados principalmente em nós mesmos. Mas que há de mau nisso
senão o fato de o admitirmos tão raramente, decente e honestamente? Se fazemos
isso, sentimo-nos um tanto envergonhados. Eis, portanto, o fato: Cada um de nós
está fundamentalmente interessado em si próprio e, por várias razões, lógicas e
tradicionais, pensa que isso é mau. Mas o que uma pessoa pensa é irrelevante.
Ora, por que introduzir esse fator, o pensar que isso é mau? Isso é uma ideia,
um conceito. O fato é que, fundamentalmente, e perenemente, cada um de nós está
interessado em si próprio. Você dirá que é mais satisfatório ajudar o próximo
do que pensar em si mesmo. Qual a diferença? Isso continua a ser interesse em
si próprio. Se encontra maior satisfação em ajudar os outros, você está
interessado numa coisa que lhe proporciona uma satisfação maior. Por que
admitir qualquer conceito ideológico a esse respeito? Por que essa maneira
dupla de pensar? Por que não dizer: O que realmente desejo é satisfação, seja
sexual, seja ajudando os outros ou tornando-me grande santo, um grande
cientista ou político? Trata-se do mesmo processo, você não acha? Satisfação,
de todas as maneiras, sutis ou óbvias, é o que desejamos. Dizendo que desejamos
liberdade, desejamo-la porque nesse estado se encontra uma satisfação
maravilhosa, e a satisfação máxima, naturalmente, é essa peculiar ideia de auto
realização. O que na verdade estamos buscando é uma satisfação, sem nenhum
vestígio de insatisfação. A maioria de nós aspira à satisfação de ocupar uma
certa posição na sociedade, porque temos medo de ser ninguém. A sociedade é
formada de tal maneira que um cidadão que ocupa uma posição respeitável é
tratado com toda a cortesia, enquanto aquele que não tem posição é tratado a
pontapés. Todos, neste mundo, desejam prestígio, prestígio na sociedade, na
família, ou à direita de Deus-Pai, mas esse prestígio tem de ser reconhecido
por outros, pois, do contrário, não será prestígio. Queremos estar sempre
sentados no palanque. Interiormente, somos remoinhos de aflição e de
malevolência, e, por conseguinte, ser olhado exteriormente como uma grande
figura proporciona imensa satisfação. Esse anseio de posição, de prestígio, de
poder, de ser reconhecido pela sociedade como pessoa de destaque representa uma
vontade de dominar os outros, e essa vontade de domínio é uma forma de
agressão. O santo que busca posição em sua santidade é tão agressivo como as
aves que se bicam num aviário. E, qual a causa dessa agressividade? O medo,
não? O medo é um dos mais formidáveis problemas da vida. A mente que está nas
garras do medo vive na confusão, no conflito, e, portanto, tem de ser violenta,
tortuosa e agressiva. Não ousa afastar-se de seus próprios padrões de
pensamento, e isso gera a hipocrisia. Enquanto não nos livrarmos do medo, ainda
que galguemos o mais lato cume, ainda que inventemos toda espécie de deuses,
ficaremos sempre na escuridão. Vivendo numa sociedade tão corrupta e estúpida,
em que a educação nos ensina a competir – o que gera medo – vemo-nos oprimidos
por temores de toda espécie; e o medo é uma coisa terrível, que torce e
deforma, que ensombra os nossos dias. Existe o medo físico, mas esse é uma
reação herdada do anima. É o medo psicológico que nos interessa aqui, porque,
compreendendo os temores psicológicos em nós profundamente enraizados,
estaremos aptos a enfrentar o medo animal; ao passo que, se primeiramente nos
interessamos no medo animal, jamais compreenderemos os temores psicológicos.
Todos nós temos medo de alguma coisa; não existe o medo como abstração, porém o
medo só existe em relação a alguma coisa. Você sabe quais são os seus temores –
o medo de perder seu emprego, de não ter comida ou dinheiro suficiente, medo do
que pensam de você os vizinhos ou o público, de não ser um “sucesso”, de perder
sua posição na sociedade, de ser desprezado ou ridicularizado; medo da dor e da
doença, de ser dominado por outrem, de não chegar a conhecer o amor, ou de não
ser amado, de perder sua esposa ou seus filhos. Medo da morte ou de viver num
mundo que é igual à morte, um mundo de tédio infinito; medo de que sua vida não
corresponda à imagem que os outros fazem de você; medo de perder a sua fé –
esses e muitos outros incontáveis temores; você conhece seus temores pessoais?
E o que costuma fazer em relação a eles? Não é verdade que foge deles ou que
inventa ideias e imagens para encobri-los? Mas fugir do medo é torna-lo maior.
Uma das causas principais do medo é que não desejamos encarar-nos tais como
somos. Assim temos de examinar tanto os nossos temores como essa rede de vias de
fuga que criamos para nos libertarmos deles. Se a mente, que inclui o cérebro,
procura dominar o medo, se procura reprimi-lo, discipliná-lo, controla-lo,
traduzi-lo em coisa diferente, daí resulta atrito e conflito, e esse conflito é
um desperdício de energia. A primeira coisa, portanto, que devemos perguntar a
nós mesmo é: Que é o medo, e como nasce? Que entendemos pela palavra medo, em
si? Estou perguntando a mim mesmo o que é o medo e não de que é que tenho medo.
Vivo de uma certa maneira; penso conforme um determinado padrão; tenho algumas
crenças e dogmas, e não quero que esses padrões de existência sejam
perturbados, porque neles tenho a minhas raízes. Não quero que sejam
perturbados porque a perturbação produz um estado de desconhecimento de que não
gosto. Se sou separado violentamente das coisas que conheço e em que creio,
quero estar razoavelmente seguro do estado das coisas que irei encontrar. As
células nervosas criaram, pois, um padrão, e essas mesmas células nervosas
recusam-se a criar outro padrão, que pode ser incerto. O movimento do certo
para o incerto é o que denomino medo. Neste momento em que estou aqui sentado,
não estou com medo; não tenho medo do presente, nada está me acontecendo,
ninguém está me fazendo ameaças nem me tomando nada. Mas, além deste momento
presente, uma camada mais profunda da mente está, consciente ou
inconscientemente, pensando no que poderá acontecer no futuro, ou
preocupando-se com algum fato passado que me possa prejudicar. Portanto, tenho
medo do passado e do futuro. Dividi o tempo em passado e futuro. O pensamento
interfere, dizendo: Tenha cuidado, para que isso não torne a acontecer, ou
prepare-se para o futuro! O futuro pode ser perigoso. Agora você tem uma coisa,
mas pode perdê-la. Você pode morrer amanhã. Sua esposa pode abandoná-lo. Você
pode se ver na solidão. Você precisa estar perfeitamente seguro do amanhã.
Considere agora seu temor particular. Olhe-o. Observe suas reações a ele. Pode
olhá-lo em nenhum movimento de fuga, de justificação, condenação ou repressão?
Pode olhar esse medo, sem a palavra que causa medo? Pode olhar a morte, por
exemplo, sem a palavra que suscita medo da morte? A própria palavra produz um
estremecimento; não é verdade? Assim como a palavra amor produz seu
estremecimento, sua imagem peculiar. Pois bem, a imagem que você tem na mente a
respeito da morte, a lembrança de tantas mortes a que assistiu, e o relacionar
a sua pessoa com tais incidentes – é essa a imagem que está criando o medo? Ou,
com efeito, você tem medo do findar e não da imagem que cria o fim? É a palavra
morte que lhe causa medo ou é o próprio findar? Se é a palavra ou a memória que
está lhe causando medo, então não se trata realmente do medo. Você esteve
doente há dois anos, digamos, e a lembrança daquela dor, daquela doença,
persiste, e a memória, agora em funcionamento, diz: Tenha cuidado para não
adoecer de novo. Por conseguinte, a memória, com suas associações, está criando
o medo, e isso não é realmente medo, porque, com efeito, neste momento você
está gozando perfeita saúde. O pensamento, que é sempre velho – pois o
pensamento é reação da memória, e as lembranças são sempre velhas – o
pensamento cria, no tempo, a ideia que lhe faz medo, a qual não é um fato real.
O fato é que você está bem de saúde. Mas a experiência, que permaneceu na mente
como memória, faz surgir o pensamento: Tenha cuidado para não adoecer
novamente. Estamos vendo, pois, que o pensamento engendra uma espécie de medo.
Mas separado desse, existe realmente medo? É o medo sempre resultado do pensamento?
Se é, existe alguma outra forma de medo? Tememos a morte – uma coisa que
acontecerá amanhã ou depois de amanhã, com o tempo. Há uma distância entre a
realidade e o que será. Ora, o pensamento experimentou esse estado: observando
a morte, ele diz: Eu vou morrer. O pensamento cria o medo da morte: e, se não o
cria, existe então realmente o medo? É o medo resultado do pensamento? Se é,
uma vez que o pensamento é sempre velho, o medo é sempre velho. Como dissemos,
não há pensamento novo. Se o reconhecemos, ele já é velho. Portanto, o que
tememos é a repetição do velho – o pensamento sobre o que foi, projetando-se no
futuro. Por conseguinte, o pensamento é o responsável pelo medo. Isso é um fato
que você pode observar por si mesmo. Quando se está diretamente na presença de
alguma coisa, não há medo. Só quando surge o pensamento é que há medo. Por
conseguinte, perguntamos agora: É possível a mente viver de maneira completa,
total, no presente? Só assim a mente não tem medo. Mas, para compreender isso,
você tem de compreender a estrutura do pensamento, da memória e do tempo. E,
compreendendo-a, não intelectual nem verbalmente, porém de maneira real, com
seu coração, sua mente, suas entranhas, você ficará livre do medo; a mente pode
então servir-se do pensamento, sem criar medo. O pensamento, como a memória, é
naturalmente necessário ao viver. É o único instrumento em nossos empregos etc.
O pensamento é a razão da memória, memória acumulada por meio da experiência,
do conhecimento, da tradição, do tempo. Desse acúmulo de memória é que provêm
as nossas reações, e essas reações constituem o pensar. O pensamento, portanto,
é essencial em certos níveis, porém, quando o pensamento se projeta,
psicologicamente, como futuro e como passado, criando o medo bem como o prazer,
a mente se embota e, por conseguinte, torna-se inevitável a inércia. Assim,
pergunto a mim mesmo: Mas por que penso no futuro e no passado em termos de
prazer e de dor, quando sei que esse pensamento gera medo? Não é possível o
pensamento deter-se, psicologicamente, pois de outro modo o medo nunca terá
fim? Uma das funções do pensamento é estar continuamente ocupado com alguma
coisa. Em geral, desejamos ter a mente continuamente ocupada, para nos impedir
de ver-nos como realmente somos. Temos medo de sentir-nos vazios. Temos medo de
encarar os nossos temores. Conscientemente, você pode perceber os seus temores,
mas você está consciente deles nos níveis mais profundos? E como irá descobrir
os temores ocultos, secretos? Pode o medo dividir-se em consciente e
inconsciente? Essa é uma pergunta muito importante. O especialista, o
psicólogo, o analista, dividiram o medo em camadas profundas e camadas
superficiais, mas, se for seguir o que diz o psicólogo ou o que eu digo, você
terá a compreensão de nossas teorias, de nossos dogmas, de nossos
conhecimentos, mas não terá a compreensão de você mesmo. Você não pode se
compreender de acordo com Sigmund Freud (1856-1939), Karl Gustav Jung
(1875-1961) ou de acordo comigo. As teorias de outras pessoas não tem
importância nenhuma. É a você mesmo que deve perguntar se o medo pode ser
dividido em consciente e subconsciente. Ou só existe medo, que você traduz de
diferentes maneiras? Só existe um desejo; só há desejo. Você deseja. Os objetos
do desejo variam, mas o desejo é sempre o mesmo. Assim talvez, da mesma
maneira, só existe o medo. Ao perceber que o medo não pode ser dividido, você
verá que acabou com o problema do subconsciente, pregando uma peça nos
psicólogos e nos analistas. Ao compreender que o medo é um movimento único que
se expressa de diferentes maneiras, e ao ver o movimento e não o objetivo a que
se dirige, você estará então em presença de uma questão imensa: Como olhar o
medo sem a fragmentação que a mente cultivou? Só existe o medo total, mas como
pode a mente que pensa fragmentariamente observar esse quadro total? Pode
observá-lo? Temos levado uma vida de fragmentação e só somos capazes de olhar o
medo através do processo fragmentário do pensamento. Todo o processo do
mecanismo do pensamento é dividir tudo em fragmentos: Eu amo você e eu odeio
você; você é meu amigo, você é meu inimigo; minhas idiossincrasias e
inclinações, meu emprego, minha posição, meu prestígio, minha mulher, meu
filho, minha pátria e sua pátria, meu Deus e seu Deus – tudo isso é fragmentação
do pensamento. E o pensamento olha o estado atual de medo, ou tenta olha-lo, e
o reduz a fragmentos. Vemos, por conseguinte, que a mente só pode olhar esse
medo total quando não há movimentação do pensamento. Você pode observar o medo
sem nenhuma conclusão, sem nenhuma interferência do conhecimento que você
acumulou a seu respeito? Se não pode, então o que está observando é o passado e
não o medo; se pode, nesse caso você está, pela primeira vez, observando o medo
sem a interferência do passado. Só se pode olhar com a mente muito quieta,
assim como só se pode ouvir o que alguém está dizendo, quanto a mente não está
tagarelando, travando consigo um diálogo a respeito de seus problemas e
ansiedades. Você pode, da mesma maneira, olhar o seu medo, sem procurar
dissolvê-lo, sem trazer à cena o seu oposto, a coragem; olhá-lo de fato, e não
tentar fugir dele? Quando diz: Eu tenho de controla-lo, tenho de livrar-me
dele, tenho de compreendê-lo – você está tentando fugir dele. Você pode
observar uma nuvem, uma árvore ou o movimento de um rio, com a mente
relativamente quieta porque essas coisas não são sumamente importantes para
você; mas o observar a si mesmo é muito mais difícil, porque então as
exigências são muito práticas, as reações muito rápidas. Assim, quando você
está diretamente em contato com o medo ou desespero, com a solidão e o ciúme,
ou qualquer outro estado de repulsivo da mente, pode olhar de maneira tão
completa que sua mente fique suficientemente quieta para vê-lo? Pode a mente
receber o medo, e não as diferentes formas de medo; perceber o medo total, e
não aquilo de que você tem medo? Se olhar meramente para os detalhes do medo ou
procurar acabar com os seus temores um a um, você nunca alcançará o ponto
central, que é aprender a viver com o medo. O viver com uma coisa viva, como o
medo, requer uma mente e um coração altamente sutis, que não chegaram a
qualquer conclusão, podendo, portanto, seguir cada movimento do medo. Então, se
você observar o medo, e com ele viver – e isso não leva um dia inteiro, porque
um minuto ou um segundo pode bastar, para se conhecer a inteira natureza do
medo – se viver com ele completamente, você perguntará, inevitavelmente. Qual a
entidade que está vivendo com o medo? Qual a entidade que está observando o
medo, observando cada movimento de todas as formas do medo, e ao mesmo tempo
consciente do fato central do medo? Será o observador uma entidade morta, um
ente estático, que acumula uma grande quantidade de conhecimento e informações
a respeito de si próprio, e essa coisa morta é que está observando e vivendo
com o movimento do medo? Qual é a sua resposta? Não responda a mim, porém a
você mesmo. É você – o observador – uma entidade morta a observar uma coisa
viva, ou você é uma coisa viva a observar outra coisa viva? Porque, no
observador, existem os dois estados. O observador e o censor que não deseja o
medo, o observador é o conjunto de todas as suas experiências relativas ao
medo. E, assim, o observador está separado da coisa a que chama medo; há espaço
entre ambos; está perpetuamente tentando dominá-lo ou dele fugir, e daí provém
essa batalha que é uma enorme perda de energia. Observando-o, você aprenderá
que o observador é meramente um feixe de ideias e lembranças sem validade, sem
substância nenhuma, ao passo que aquele medo é uma realidade; assim, você está
tentando compreender um fato com uma abstração, e isso, naturalmente, você não
pode fazer. Mas será o observador, que diz: tenho medo, diferente da coisa
observada, o medo? O observador é o medo e, uma vez percebido isso, não há mais
dissipação de energia no esforço para livrar-se do medo, e o intervalo de tempo
espaço, entre o observador e a coisa observada, desaparece. Quando perceber que
você é uma parte do medo, que não está separado dele, que você é o medo, então
nada poderá fazer a respeito dele: o medo acabou totalmente. Livro Liberte-se
do Passado. Abraço. Davi
quarta-feira, 24 de maio de 2017
V. CHAMA ETERNA.
Espiritismo.
Texto de Luiz Sérgio. Piscografado por Irene Pacheco Machado. Capítulo 17 VOLTA
ÀS ESCRITURAS – LIVRO DE JÓ – Perguntei a Conrad se visitaríamos outros locais
daquele Departamento. - Não devemos abusar da hospitalidade desses grandes
amigos. Fiquei alguns minutos pensativo e não me contive: - Conrad, esses
músicos ficam aqui neste Conservatório só aprendendo música? Eles não enfrentam
o dia-a-dia da Terra? E no Umbral, eles nem vão? Acho estranho alguém ficar
parado, aprendendo, enquanto existem milhões de mãos estendidas, pedindo
socorro. - Estás sendo injusto, Sérgio. Eles ajudam da maneira que sabem: com a
música. Uma vez por semana reúnem-se e transmitem a todos os vales de
sofrimento a mensagem da música. A beleza é tanta, que as notas musicais formam
um raio de luz brilhante, indo até os recantos trevosos. Eles trabalham e
muito, meu irmão! A música é uma das mensagens de paz. - Fico feliz em sabê-lo
e vou informar aos meus amigos, porque, Conrad, tem muito "nego" na
Terra querendo chegar aqui e se deitar nas redes da ociosidade. - Sofrerão um
grande susto, trabalho é o que não falta aqui. E por falar nele, está na hora
das nossas aulas. Assim, deixamos o Conservatório e voltamos ao nosso
Departamento. Lá estávamos nós, agora, defronte ao nosso painel divino, onde os
fatos bíblicos tomam dimensão tão real, que julgamos vivê-los. O nosso
instrutor, João, relatava a beleza da vida, a força do espírito e a obrigação
do homem em embelezá-lo; explicava o porquê de não precisarmos temer o
sofrimento; dizia do medo que nos assalta apesar de termos conhecimento da
bondade de Deus. A Chama Divina - que é o nosso espírito - continuou João -
estando em sintonia com o bem, dificilmente será atingida pelas trevas. Luz é
luz e será luz eternamente, principalmente porque ela partiu da sapiência de
Deus. Confesso que me apalpei, querendo abraçar o meu espírito, dizendo a ele:
Você é importante, cara, e tem obrigação de se tornar puro. Meus olhos
marejaram de lágrimas pensando em todos nós que negligenciamos a confiança de
Deus. No telão, o Salmo 43, versículos 2 a 4: Por que hei de andar eu
lamentando sob a opressão dos meus inimigos? Envia a tua luz e a tua verdade,
para que me guiem e me levem ao teu santo monte, e aos teus tabernáculos. Então
irei ao altar de Deus, de Deus que é a minha grande alegria. Olhava a tela com
carinho. Os Salmos eram gotas de orvalho da paz em meu espírito. Recordei-me,
então, de outro salmo, que meu avô recitava quando eu ainda me encontrava
hospitalizado na Colônia da Luz Divina. E o 51, versículos 10 a 12: Criarem
mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não
me expulses da tua presença nem me retires do teu Santo Espírito. Restitui-me a
alegria da tua salvação, e sustenta-me com um espírito voluntário. Ali, diante
de um espírito amigo, eu, o aprendiz, me sentia à vontade; ele não era o
professor, era o irmão querido que, sorrindo-me, disse: - Luiz Sérgio, vamos
prestar atenção no estudo? Já estávamos no Livro de Jó! - ele percebera que meu
pensamento voava na distância. Diante de nós as peripécias da vida de Jó: Jó na
sua opulência e Jó na miséria - cenas por demais comoventes. No capítulo 1,
versículos 20 a 22: Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e
lançou-se em terra, e adorou e disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei
ao Senhor; O senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor.
Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma. Notei algo que não
percebera antes. O nosso auditório estava repleto e estranhei a presença de
vários pais, esposos, filhos, enfim, daqueles que se desesperam com a
"morte" dos seus entes queridos. Pelos seus períspiritos notava-se
que eram encarnados levados até ali através do sono. Jó, Capítulo 14,
versículos 1 e 2: "O homem, nascido da mulher, vive breve tempo, cheio de
inquietação. Nasce como a flor e murcha: foge como a sombra e não permanece”.
Em Jó, pudemos sentir a beleza da vida espírita na explicação de cada versículo
desse livro tão belo, repleto de paciência e humildade. Notamos, à certa
altura, que os encarnados se retiravam, ficando somente os alunos da Faculdade.
Várias outras passagens do Evangelho foram ainda explanadas. A saída,
acercamo-nos do nosso irmão João e ele, pacientemente, explicou-nos sobre os
átomos, a viagem sem cessar de um para outro corpo; que os corpos vivos que
hoje compõem a terra são formados da cinza dos mortos. - Irmão - perguntei - os
átomos morrem? - Não, o que morre é o fluido vital, porque se esgota. Desejei
obter maiores informes, porém, sorrindo, respondeu: - Só entendo, e pouco, das
Escrituras . O assunto foge dos meus conhecimentos. Respeitamos o amigo e nos
despedimos, recordando que o Universo é o perfume da vida. Mesmo sem alguém à
minha volta, não me sentia sozinho, as árvores, os pássaros e as flores
faziam-me companhia e eu ia, gradativamente, compreendendo o valor de cada uma;
cheguei bem perto de uma azaleia e fiquei a observá- la, pensando: A
metamorfose é a maior revelação de Deus. Muitos de nós nos assustamos quando os
livros nos revelam que Deus cria incessantemente. E perguntamos: onde vamos
parar? Defronte da bela flor, agradeci a Deus por permitir que nada fique
estacionado. Tudo o que compõe o Universo progride. E aqui onde me encontro,
sinto Deus em mim, tal a beleza que me cerca. Ganhei novo rumo, entrando em
outra sala de aula. Acomodeime defronte de um painel. Bastava apertar um botão
e a instrução vinha através de filmes. O assunto por mim consultado foi: A
terra foi habitada só pelos capelinos? A resposta: - Não. Os anjos decaídos que
aqui chegaram vieram de vários mundos de seres vivos; eram espíritos falidos. -
Nesses mundos, a constituição física é a mesma? - Cada forma é apropriada ao
meio para o qual foi chamada a viver - foi a resposta imediata. - Então existem
mundos onde nos defrontamos com seres deformados, os chamados etês? - Esses
mundos, onde o espírito se vê na obrigação de viver por ter-se comprometido por
demais, estão distantes dos nossos olhos, portanto, poucos têm condição de ir
até eles. Perguntei: E eles vêm até nós? - Sentir-se-iam como peixes fora
d'água. Eles estão vivendo nesses mundos porque Deus é bom. Cada mundo oferece,
ao ser que o habita, condição de vida. - Os terráqueos não podem ir morar na
Lua, não é mesmo? O painel me respondeu: - Não. Tudo obedece à lei universal de
atração magnética. Cada mundo possui os seus fluidos, cujas combinações ainda
ignorais. Diante dessa resposta, pensei: isso somente seria possível se fosse
construída uma base espacial, ou coisa semelhante, na qual pudessem ser
reproduzidas as mesmas condições de vida da Terra, sejam biológicas, químicas,
físicas e até sociais, ou seja, ar respirável, pressão atmosférica suportável,
etc (...). Apertei mais uma vez o botão e nada do painel me responder. Julguei
tê-lo estragado, mas um irmão prontamente me informou que não é permitido
excedermo-nos nas perguntas, do contrário o aluno ali ficaria dia após dia.
Veja que coisa! Eles têm toda razão! Eu, com a minha curiosidade, dali
dificilmente sairia. - Obrigado, amigo, e até logo mais! - falei, sorrindo,
porque o irmão encarregado da sala de aula olhou-me com cara de assombro,
querendo dizer que não podemos abusar dos amigos. Quando ganhei o pátio, senti
vontade de pular, correr, cantar, então resolvi pegar meu violão. Encostado a
uma pedreira, cantei a musica que homenageia minha mãe: Aliso tua face querida
Molhada de lágrimas Tentando te consolar. Males ninguém adivinha Tua dor não
fala, é sozinha, Minha mãe, minha mãezinha, Amor que não se apaga E que me
afaga Levando-me ao infinito. Deixei de ser granito No teu ventre de mulher E
hoje sou teu filho onde estiver. Mãezinha, eu não te esqueci Vives nos castelos
que eu ergui. Mãezinha, eu não te esqueci Vives nos castelos que ergui. Esta
música não fiz sozinho, fui ajudado por uma amiga que também trabalha com
suicidas, poetisa muito amada por todos nós. Ao terminar minha canção, Lourival
já me esperava - íamos ter outra aula. Perguntei, um tanto assustado: - Estou
atrasado? - Não, não estás. Vim te chamar por conhecer-te muito bem e saber que
quando pegas o violão ficas horas a sonhar acordado. E verdade, amigo, então
agora, depois que conheci o Departamento Musical, nada mais me segura, vou-me
tornar um músico. Não sei quando, mas que vou, vou! (...). Ele balançou a
cabeça. - Luiz, tudo te faz feliz, não é? - Sim. Procuro nas pequenas coisas as
grandes e eternas alegrias. Aqui, junto às pedras, recordei que um dia Deus me
ofertou a vida e eu, rolando, transformei-me em flor; e o sol, resplandescente,
beijou-me com tanta intensidade, que desfolhei; tocando o solo, me vi verme e
daí ganhei o reino animal. Acariciado por Maria de Nazaré, tornei-me
criança/homem e me iniciei no jardim, não do Éden, mas na infância da
humanidade. Reparo que já perdi muitos anos, mas Deus sempre me oferta o perdão
e vejo agora claramente com que carinho Ele me tem presenteado com grandes
mestres, sendo o maior deles Jesus Cristo, nosso irmão Maior. Capítulo 18 CORPO
- PERISPÍRITO - ESPÍRITO Depois de várias horas, me vi novamente junto aos meus
amigos. Ia ser ministrada nova aula, ansiosamente esperada por todos nós. João
e Corina iniciaram a leitura do Evangelho. Uma bela prece ressoou sobre o
auditório respeitoso e eu me senti flutuar, era lindo demais! Pouco a pouco as
telas iam ganhando as imagens sagradas do Antigo e do Novo Testamentos. Uma chuva
de pétalas chegou até nós, limpando o nosso corpo. Era o banho de que
necessitávamos para melhor aprender os ensinamentos. Eclesiásticos, Capítulo 5,
versículo 1: Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para
ouvir é melhor de que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem
mal. E no versículo 5: Melhor é que não votes, do que votes e não cumpras.
Sobre este Capítulo foi-nos esclarecido acerca do comportamento do homem em
sociedade, principalmente quando ele ocupa posição de destaque em casas
religiosas. Versículo 6: Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem
digas diante do Mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se
iraria Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as obras de tuas
mãos? Versículo 7: Porque, como na multidão dos sonhos há vaidade, assim também
nas muitas palavras, tu, porém, temes a Deus. Nessa passagem foi-nos mostrado o
perigo das seitas onde o homem, para brilhar, tenta enganar. Ligamos a esses
ensinamentos muitos fatos por nós defrontados., como por exemplo os que usam o
dom da palavra para pregar o desespero e o medo. Através deste Livro do
Eclesiastes, alertaram-nos sobre o perigo do fanatismo não só religioso, mas
também relativo ao poder. Versículo 9: O proveito da terra é para todos, até o
rei se serve do campo. Assim, nós, que estamos acompanhando o crescimento do
Espírito, deparamo-nos com a necessidade de nos tornarmos bons, porque muitas
vezes estamos tão preocupados em consertar o mundo, que nem percebemos que estamos
falando por falar, pregando uma Doutrina diferente. Um dia teremos de prestar
contas de tudo isso. O Consolador prometido não pode ser o espírito que
amedronta e julga com severidade. O homem não tem ainda a sabedoria para se
tornar um bom juiz, por isso as palavras devem ser bem empregadas. Não temos o
direito de ferir o nosso próximo, pois o homem que abusa do seu poder longe
está de compreender o poder de Deus. Hoje recebemos a incumbência de guiar um
rebanho, não porque temos valor, mas porque Deus está-nos oferecendo a
oportunidade de provar que já vencemos a vaidade. O perfume da sabedoria é tão
precioso que emudece quem o possui, portanto, só os tolos ficam nas tribunas
bradando contra seus semelhantes. Por várias horas fomos incentivados a manter
sempre vigilância contra o falar, principalmente quando temos jovens junto a
nós. Não é a eloquência vazia e sim o amor que desperta um coração. Versículo
29: Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em
muitas astúcias. Eclesiastes, Capítulo 7 (e aqui encontramos a Doutrina
Espírita). Fomos criados simples e inocentes. O tempo se encarregou de nos
mostrar o caminho reluzente; quase todos nós optamos pelo mais tortuoso: o das
quedas. De qualquer maneira um dia chegaremos lá e então compreenderemos porque
a chama é eterna. Nesse momento, o painel, que antes expunha um tema bíblico,
foi-nos mostrando outro assunto: a matéria e o espírito. E a ligação
períspirito - corpo físico. Vimos a comunicação do espírito com o períspirito, através
do fluido vital e do sistema nervoso. Indaguei mentalmente: O espírito está
dentro do coroo físico? Resposta: O espírito, sendo chama, luz, não pode ficar
encerrado num corpo. Ele irradia por fora. E tão brilhante, que nenhuma matéria
o retém encarcerado. Os lugares onde ele se faz mais brilhante são o cérebro e
o coração. No primeiro, está o começo das ações, e no outro, se ama e sofre.
Fale-nos sobre essa manifestação. Resposta: o cérebro é um instrumento do
espírito e não o próprio espírito. 0 cérebro é animado por uma força denominada
vida. A vida é uma energia que se utiliza da matéria e a matéria só tem vida
através dessa energia. E o perispírito? Resposta: Ele é o envoltório do
espírito, roupa de que se utiliza o espírito até se tornar puro. Ele é
semelhante ao corpo físico, é a matriz. Não se separa do espírito quando morre
o corpo físico, pelo contrário, torna-se mais atuante. Se há liberdade para
ele, muito mais ainda para o espírito. Ele é matéria? Resposta: Sim, porém bem
mais etérea do que a matéria física. Pena é que aqui a aula acabou, mas graças
a Deus Ele tem-nos ofertado bons mestres. Retiramo-nos, com a certeza de que
somos filhos de Deus, não importando a cor das nossas roupas. Capítulo 19. JOÃO
BATISTA E ELIAS - PÁGINA VIVA OAS VIDAS SUCESSIVAS Por alguns momentos procurei
meditar. João e Corina iniciaram a aula sobre o Antigo Testamento e na tela
surgiu a figura majestosa de Elias. III (1) Reis, Capítulo 18, versículos 21 e
22: Então Elias se chegou a todo povo e disse: Até quando coxeareis entre dois
pensamentos? Se o senhor é Deus, segui-o, se é Baal, segui-o. Porém o povo nada
lhe respondeu. Então disse Elias ao povo: Só eu fiquei dos profetas do Senhor,
e os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta homens. E assim foi surgindo
o diálogo de Elias com os sacerdotes. Elias conquista a confiança do povo,
usando a sua extraordinária força magnética. Médium de efeitos físicos, orando
a Deus, fez com que ocorresse o fenômeno narrado neste Capítulo 18, versículo
38: Então, caiu fogo do Senhor e consumiu todo o holocausto e a lenha e as
pedras e a terra e ainda também a água que estava no rego. Versículo 39: O que
vendo todo o oovo, caíram de rosto em terra e disseram: o Senhor é Deus. O
Senhor é Deus. Versículo 40: Disse-lhes Elias: Lançai mão dos profetas de Baal,
que nem um só deles escape. Lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao
ribeiro de Quison, e ali os matou. Passada, versículo por versículo, a vida de
Elias, um fato me chamou a atenção - A profecia de Miquéias, (2) Capítulo 22,
versículos 21 a 24: (1) I ou III, conforme a Bíblia consultada. N.E. (2)
Miquéias ou Micalas, conforme a Bíblia consultada. N.E. Então saiu um espírito,
e se apresentou diante do Senhor e disse: Eu o enganarei. Perguntou o Senhor
Com que? Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os
seus profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás e assim prevalecerás; sai, e
faze-o assim. Eis que o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes
teus profetas e o Senhor falou o que é mau contra ti. Então Zedequias, filho de
Quenaaná chegou, deu uma bofetada em Miquéias e disse: Por onde saiu de mim o
Espírito do Senhor para falar a ti? Neste Capítulo a doutrina dos espíritos
está bem viva! Só os fracos da verdade colocam o véu na letra para ocultá-la.
Esta passagem vem mostrar, a nós que labutamos na seara espírita, os espíritos
sendo convertidos. O vidente Miquéias alertava o rei de que os seus videntes
estavam sendo presas de espíritos mentirosos. O rei, contrariado com as
palavras de Miquéias, enfurecido, ordena, no versículo 27: Metei este homem no
cárcere, e angustiai-o com escassez de pão e água, até que eu volte em paz.
Fiquei deveras admirado. O Velho Testamento está repleto de comunicações
espíritas; são os fanáticos religiosos que trancam a alma num corpo em
decomposição, fazendo-a dormir em paz até o dia do juízo final. Muito cômodo.
Aqui estamos defronte dos falsos profetas e da comunicação com os chamados
"mortos". Neste Capítulo podemos observar que Miquéias diz aos reis
Acabe e Josafá que não escutassem os profetas do reino porque estes estavam mal
acompanhados. Notamos que o profeta Zedequias, filho de Quenaaná, deu uma
bofetada em Miquéias, e disse: Por que saiu de mim o espírito do Senhor para
falar a ti? (Capítulo 22, versículo 24). Desde aquele tempo existiam falsos
videntes, mal orientados. Todos eles julgavam que os mensageiros fossem o
próprio Deus. Logo que Miquéias fica preso, ocorre a morte do rei de Israel;
ele acreditou em seus profetas e não quis ouvir as palavras dos espíritos de
Deus. Aí, caídos pela dor, procuraram Elias, um profeta mais ciente das
palavras de Deus. Encontramos no Segundo Livro dos Reis, Capítulo 1, versículos
7 e 8: Ele lhes perguntou: Qual a aparência do homem que vos veio ao encontro e
vos falou tais palavras? Eles lhe responderam: Era homem vestido de peles, com
os lombos cingidos dum cinto de couro, então disse ele: E Elias, o tesbita. E
quem desejar conhecer melhor Elias, leia este Segundo Livro dos Reis, ou
melhor, o primeiro e o segundo. Vamos acompanhar Elias que caminhava junto ao
seu discípulo Eliseu. Em certo momento, no Capítulo 2, versículo 11: Indo eles
andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um
do outro: e Elias subiu ao céu num redemoinho. Voltemos a Elias enviando os
espíritos para que ocorra a tempestade com seus trovões e raios. Ele desejava
matar os sacerdotes de Baal e usou o seu dom para ganhar a confiança do povo
fanático. Agora, o mesmo Elias, defronte de um fenômeno atmosférico, teve o seu
corpo físico destruído por um raio. O que Eliseu viu foi o espírito de Elias
livre do invólucro físico. Portanto, na mesma encarnação, como Elias, ele já
sentiu os primeiros reflexos das ações contrárias à sua missão. Desencarnado
Elias, voltamos a encontrar o mesmo Espírito no Novo Testamento. Constatemos em
Lucas, Capítulo 1, versículos 14 e 17: Exultarás com isso de alegria e muitos
rejubilarão com o seu nascimento. Pois ele será grande aos olhos do Senhor, não
beberá vinho nem bebida forte, será cheio do Espírito Santo, desde o seio
materno. Converterá muitos filhos de Israel ao Senhor seu Deus: e irá à sua
frente, com o espírito e a virtude de Elias para atrair o coração dos pais aos
filhos e os sacerdotes a sabedoria dos justos, a fim de preparar para o Senhor
um povo perfeito. Até pulei da cadeira. Como duvidar da reencarnação, se neste
Capítulo ele nos mostra que João é Elias, quando diz: Irá à sua frente, com o
Espírito e a virtude de Elias ? Diante disso, vamos procurar João Batista e o
reconhecemos com os mesmos trajes de que gostava Elias. Primeiro Livro dos
Reis, Capítulo 1, versículo 7: Era homem vestido de peles, com os lombos
cingidos de cinto de couro. Em Mateus, Capítulo 3, versículo 4: João trazia uma
veste de pelo de camelo e um cinto de couro em volta da cintura; alimentava-se
de gafanhoto e mel silvestre. O precursor de Jesus precisou do contato com a
natureza para sentir Deus. Em uma região isolada ele encontrou seu lar e entre
cavernas e rochas renunciou as diversões pela disciplina do deserto; qual
Moisés entre as montanhas de Midiã, João vivia em preces a Deus, preces
ensinadas por seus pais, cientes da missão do filho. Não como o líder de Israel
nas montanhas, porém, no além Jordão. Dizem os livros Sagrados que suas
palavras eram claras; muitos julgavam que ele fosse um dos profetas
ressuscitados. Assemelhava-se, nas maneiras e no vestir, a Elias, o antigo
profeta. Ali, à nossa frente, na tela, quase viva, a figura majestosa de João
Batista. Nesta passagem do Evangelho, quando os escribas e fariseus pediram o
batismo, ele, João, sentiu que os mesmos não eram sinceros. Sendo amigos dele,
pensavam obter favor com o Messias prometido. Aí as palavras de João: Raça de
víboras, quem vos ensinou a fugir à ira futura? mostrando ao homem o valor da
reforma íntima. Não importa o rótulo religioso, importa sim a limpeza interior.
Os seguidores do Cristo terão de dar provas do amor ao próximo. Assim, vamos
lentamente pesquisando a vida do precursor de Jesus. E ninguém melhor que João
Batista para nos colocar frente à frente com a reencarnação. Elias, no corpo
físico de João Batista, fora o primeiro a anunciar a missão de Jesus, e também
o primeiro a sofrer. Apesar de ser considerado justo, mesmo assim foi trancado
na prisão, porque Herodíades furiosa se encontrava com os conselhos de João
Batista; ela que, casada com Felipe, o traía com Herodes. João, preso, dá a
todos nós uma prova de fé, porque compreendia a missão do Cristo. Enquanto os
seus seguidores reclamavam que Jesus nada fazia por João, ele entendia o
trabalho do Mestre. E hoje ainda nos serve a lição: quantos julgam que basta
pronunciar o nome do Salvador para se livrar de contas passadas. E aí
encontramos em Mateus, Capítulo 11, versículo 7: Que foste ver no deserto? Uma
cana agitada pelo vento? Esse Capítulo mostra-nos as altas canas ao lado do
Jordão, agitando-se embaladas pelos ventos. Com isso, quis dizer Jesus que João
não era uma cana que se curvava facilmente; ele era a rocha da verdade. Era
Elias que voltava à terra, trazendo a todos nós as primeiras notícias sobre
Jesus. E no versículo 10: Eis que diante da tua face envio meu anjo, que
preparará diante de Ti o teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de
mulher têm nascido, não apareceu algum maior do que João Batista. Nunca desejou
ele ser o Messias; sempre falou do poder de Jesus. João não fez milagres. E
vemos aqui neste versículo de João, Capítulo 10, versículo 41: João não fez
sinal algum, mas tudo quanto disse. Ele era verdade. Não foi concedido ao
Batista fazer cair fogo do céu, ou ressuscitar mortos, como fizera Elias, ou
empunhar a vara do poder de Moisés em nome de Deus. Ele, João, veio nos trazer
a verdade. Voltou à Terra como João Batista, para aplainar o caminho para Jesus
pregar o Seu Evangelho. Aqui, nesta aula, tratamos de conhecer João Batista, o
precursor de Jesus, e aprendemos que a fé não se compra, lutase para possuí-la;
que o batismo de João Batista era o primeiro contato com o nosso interior, um
momento de reflexão, onde a nossa consciência era despertada para os valores
morais. João Batista nos apresentou o batismo do corpo falível. O Messias nos
ensinaria o batismo do fogo, isto é, a lavagem da alma, para que ela tivesse
vida eterna. João não foi abandonado pelo Mestre; o Senhor não poderia intervir
em uma lei chamada ação e reação - o livre arbítrio. Como Elias, ele abusou da
força mandando decapitar os sacerdotes de Baal; como João, ele recebeu, já
adulto, o cumprimento da prova e os que o obedeceram foram decapitados ainda
crianças: foram as crianças mortas por Herodes. Conquanto João não fora
abandonado por Deus nem por Jesus, tivera sempre a companhia dos Espíritos
Celestiais que lhe intuíram as profecias concernentes a Jesus. Deus não dirige
Seus filhos de maneira diversa daquela pela qual eles próprios prefeririam ser
guiados. Portanto, a reencarnação é um fato! João não só foi o precursor de
Jesus, como a página viva do livro das vidas sucessivas. Ele era o Elias que
teria de vir. Como negar a reencarnação? Jesus disse: Se o quereis reconhecer,
ele mesmo é o Elias que estava para vir. Ouça aquele que tiver ouvidos de
ouvir. (Mateus, Capítulo 11, versículos 14 e 15). Capítulo 20 A
RESPONSABILIDADE DA MULHER A aula havia terminado. Sentia-me feliz, o mundo
espiritual me dava a certeza do amor de Deus. Acompanhando a vida de Elias
senti a grandeza do perdão. Quantas vezes temos negligenciado a palavra de Deus
e, mesmo assim, d'Ele recebido complacência! Jesus, o Sábio dos sábios, quis
deixar bem claro que só veremos o reino de Deus se nascermos de novo. E não só
disse como também nos mostrou a maneira certa de renascermos. Estava pensativo,
quando reencontrei Carlos e Samita(1) e com eles fui saindo. - Por que vocês
dois estão aqui aprendendo as palavras de Deus? - perguntei. - Porque somos
também Seus filhos. - Desculpe-me, é que vocês, como médicos, estão em outra
área de trabalho. - Estamos vivendo um momento muito triste para a Humanidade:
o Departamento da Reencarnação luta para levar os espíritos de volta à terra,
mas os homens os impedem por causa do aborto. - Deve ser decepcionante a gente
se preparar para partir e uns, inconscientemente, dificultarem o que seria a
nossa oportunidade. Nunca o aborto foi tão praticado, não é Carlos? - Nunca. O
sexo livre está fazendo o homem perder o bom senso. A cada dia presenciamos
lamentáveis fatos devido à falta de amor. Samita convidou-me a acompanhá-los.
Eles teriam uma aula sobre os abortados. Confesso que tremi, porque tudo o que
se relaciona com criança, emociona-me bastante, mas acompanheios. O salão já estava
quase repleto. Na portaria, fui apresentado como um trabalhador do livro
espírita, portanto, um repórter, que naquela conferência ficaria como um
informante. A platéia possuía vibração divina: eram os estudiosos da vida
maior. Samita me ofertou aquele sorriso, como a me dizer: "Fica à vontade,
estás entre irmãos." (1) Personagens mencionados no quarto livro da série
Luiz Sérgio, "Na Esperança de Uma Nova Vida". Uma médica iniciou a
preleção, mostrando o funcionamento do Departamento da Reencarnação: os espíritos
indo até ele à procura da oportunidade do reencarne; as fichas sendo estudadas;
as primeiras aulas sobre a necessidade da reencarnação; o que significa ir e
voltar; o valor da vida; a força do espírito. Vários irmãos não passavam das
primeiras aulas, desinteressavam-se, alegando falta de força para voltar ao
corpo físico, mas outros lutavam desesperadamente para conseguir o retorno.
Estes possuíam o perispírito tão frágil, que teriam de continuar com um corpo
deficiente. Notei que eram irmãos bem disformes e por mais que os grandes
cientistas da Espiritualidade se esforçassem, quase nada podiam fazer, por
serem lesões adquiridas por vontade própria. Observei aqueles irmãos
tratando-se para ingressarem no vestibular da vida física e pensei: muitos deles
terão a oportunidade diminuída por uma lei vergonhosa: a do direito de matar um
inocente que nem pode gritar por clemência. Assim ficamos cientes de vários
fatos. Passarei para você só um pouco do grande drama que hoje atinge o
trabalho reencarnacionista. Ao entrarmos no auditório, percebemos que as
mulheres eram maioria e aos poucos meus olhos descobriam fatos novos. No palco,
vários aparelhos nunca vistos eram resguardados, à distância, por espíritos
capacitados. Os aparelhos possuíam uma aura de luz de rara beleza, imantados de
vibrações. A música ambiente recebera letra tirada de diversos provérbios: 9) -
O coração do homem dispõe o seu caminho; mas ao Senhor pertence dirigir seus
passos. 19) - Mais vale ser humilde com os mansos do que repartir despojos com
os soberbos. 22) - A sabedoria é uma fonte de vida para quem a possui; a
ciência dos insensatos é fatuidade. 91 23) - O coração sábio instruirá sua boca
e acrescentará graça a seus lábios. Palavras elegantes são favos de mel; a
doçura da alma é a saúde dos ossos. 17) - Aquele que é amigo o é em todo tempo;
e o irmão conhece-se nas aflições. Ouvindo os provérbios, fui colocando as
ideias em ordem. A assistência se mantinha em absoluto silêncio. Na hora
predita, uma luz azul banhou todos os assistentes e à medida em que nos
atingia, parecia uma garoa refrescante, como se fôssemos banhados por uma
lavanda. Logo depois, deu entrada um senhor de meia idade, que fez uma pregação
sobre a mulher: "Abençoados sejam os seres que já receberam do Senhor a
preciosidade da vida, oportunidade que dá a cada um o direito de viver da
maneira que bem desejar. Analisando a escalada do espírito e sentindo bem
palpável a sapiência de Deus, procuramos essa Chama eterna, por ser divina, e a
encontramos de várias voltagens, umas quase se apagando, e outras tão
iluminadas que ajudam os que se encontram sem forças. E perguntamos: Deus,
sendo bondade, iria criar diferentes alguns dos Seus filhos? Jamais o Senhor
diferenciou um de nós. Ele é tão justo que criou os espíritos iguais, simples e
inocentes, homem e mulher, portanto, ninguém é maior do que o outro na Criação.
0 mesmo ocorre em uma família, uns são bons, outros maus; embora os pais deem a
mesma educação, uns estudam, outros negligenciam qualquer instrução. A culpa é
dos pais? Não. A culpa é de quem fez a escolha. Ouvimos dizer: "Se Deus
nos criou simples e inocentes e falhamos, então algo deve ter acontecido, os
maus são uma obra imperfeita de Deus!" E muito fácil combater algo que não
queremos compreender. O livre arbítrio é uma lei que os justos respeitam e os
fracos adulteram, mas que Deus nos presenteou quando atingimos a maioridade.
Sendo Ele um pai bondoso, espera pacientemente que nós cheguemos ao final da
estrada. Até lá, teremos de estar sempre prestando exames e nem sempre passando
com louvor. Imaginemos uma criança sem passado, sem vidas sucessivas, crescendo
junto à sua família, recebendo dela uma educação cristã, mas relutando em
assimilá-la. De quem é a culpa? Essa criança fez a sua escolha; recordemos que todos
nós já fomos uma criança de Deus, mas um dia encontramos a serpente e comemos a
maçã, não porque nos obrigaram, mas porque, no decorrer da nossa evolução,
fomos adquirindo tendências e, muitas vezes, não muito boas. A serpente é a
imperfeição que se faz viva em nós; e a maçã é o momento em que, acreditando no
prazer do erro, vemos desintegrar a nossa roupa de pureza e nos defrontamos com
nossos corpos nus e não muito belos. Assim deixamos o "paraíso" e
ganhamos a estrada da vida, ora comendo a maçã, ora roubando o pão do próximo.
E o Pai, bondoso, ainda preocupado conosco, manda-nos Seus ministros que,
caridosamente, se fazem visíveis nas palavras divinas, para nos guiar. De outra
forma, as quedas seriam mais terríveis. Não somos obras imperfeitas de Deus!
Somos espíritos livres e, por isso, também temos o dever de arcar com as
consequências dos nossos erros. A caminhada é longa, muitos não se transviam,
mas os que erram sempre encontrarão alguém para lhes indicar a maneira amena de
caminhar em direção à paz. Cada criatura é dona do seu espírito e de seus
corpos, mas nem por isso podemos ir contra a lei que nos rege: a lei do amor, e
quem ama não mata. Por que hoje, no século XX, onde a ciência se faz presente,
o homem deseja endurecer-se em relação a outrem, quando sabemos que o próximo é
a continuação de nós mesmos? E a mulher que no passado era desrespeitada, não
tendo nem o direito de opinar, com o avanço do Planeta se fez dona de si mesma,
em alguns aspectos, porque ainda é prisioneira do prazer. Ela está a matar em
si a mais bela missão, que é a de cooperadora do progresso da Terra. A mulher,
como uma das obras da natureza, é um solo fértil e necessário para a germinação
das sementes divinas. E dia após dia esse solo está sendo contaminado com
detritos amorais, enfraquecendo-o, dificultando-o a receber boas sementes, que
conduzam o Planeta a um maior progresso. Quando a mulher foi escolhida para a
bendita missão de mãe, ela bem conhecia as renúncias que teria de fazer. Deus a
nada nos obriga, mas nos coloca diante de toda a verdade. Portanto, a mulher,
que veio com a missão de cooperadora de Deus, é uma peça valiosa da natureza.
Assim como estamos poluindo os rios, as matas, as nossas reservas ecológicas,
estamos também matando a mulher. Ela está ficando poluída e em rios infectos
não encontramos bons peixes. Muitas mulheres dizem que têm o direito de dizer
não à maternidade, pois são donas de seus corpos. Certo. Não apenas donas dos
seus corpos, porém ainda, o corpo da mulher veio diferente do corpo do homem,
possuindo uma sensibilidade mais apurada; é nele que se encontra o intercâmbio
da vida física com a espiritual; é através da mulher que se faz o transporte
dos seres. A mulher é a barca por onde os espíritos transitam do mundo
espiritual para o físico. Notamos que o corpo, veste do espírito, no ventre
materno se vê rodeado de água, como frágil embarcação à procura de porto firme.
A mulher não é só a espécie feminina, é muito mais. Seu corpo possui
sensibilidade maior, e ela, se respeitá-lo, poderá no futuro realizar fatos que
fugirão às explicações científicas. Volto a dizer: não há diferença entre os
espíritos do homem e da mulher, eles são iguais, pois são chamas eternas. A
diferença .está no corpo físico. A mulher é de uma organização mais adiantada -
não por evolução do espírito, que fique bem claro - mas pela tarefa que tem de
efetuar. Ela é o meio do qual se utiliza o Departamento da Reencarnação para
trazer os espíritos à terra. Veja bem a responsabilidade da mulher. Ela não é
um objeto para ser somente admirado ou cobiçado, é uma fonte energética cujos
raios trarão benefícios se a fonte estiver pura e cristalina. Veja a
responsabilidade, repito, de um espírito com corpo feminino, que somente o está
usando por usar, esquecido de que ao vesti-lo o fez para servir a Deus. A
mulher que, dizendo-se dona de seu destino, proprietária do seu corpo,
assassina um irmão apenas porque não quer ter filhos está impedindo o progresso
da vida. Devemos valorizar a mulher, pois ela tem o direito de lutar por sua
liberdade de fêmea, varando o mundo da matéria e se projetando além da vida
física, em busca dos fluidos magnéticos do Planeta para compor a veste física
dos seus filhos. Se assim proceder, receberá espíritos superiores como filhos,
espíritos que anseiam por ajudar a Terra. Todavia, muitas dificuldades
enfrentam porque as "incubadoras divinas" estão queimadas de vaidade.
A mulher que, ciente da sua responsabilidade, encontrar Deus através da fé e se
dispuser ao serviço de Jesus terá, como teve Maria, a digna tarefa de receber
um espírito em missão. E não ficará só aí. Ela terá de dar ao seu filho uma
educação calcada no Evangelho, porque os espíritos que encarnarem nas condições
de serem consideradas Espíritos mais ou menos elevados, que têm por missão
servir de ponto de partida para a evolução da ciência e fornecer os materiais
necessários aos inventos futuros, precisarão receber educação evangélica. Esses
espíritos, quando encarnados, terão um comportamento diferente: quase não se
alimentarão - assimilarão os elementos nutritivos que a atmosfera contém. Por
conseguinte, a mulher-mãe terá de dar ao filho educação amorosa, mas não
dominadora. “Poucas serão as escolhidas, pecamos a Deus que elas compreendam o
valor da maternidade e não matem em si o germe da vida, porque a morte das
esperanças é dor terrível para um espírito culposo.” Agora vamos à nossa aula
prática, onde nos defrontaremos com a dura realidade, a luta do Departamento da
Reencarnação para levar à terra os espíritos, a falta de amor maternal, enfim,
a realidade de uma época: o corpo sendo adorado, mas o espírito ficando
deformado pela falta de amor. Livro Chama Eterna. Abraço. Davi
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