sexta-feira, 31 de agosto de 2018

ACUSAÇÕES CONTRA O GURU BRASILEIRO SRI PREM BABA.

www.bocaonews.com.br. Data 30/08/2018. ACUSAÇÕES CONTRA O GURU SRI PREM BABA. O guru espiritual brasileiro Sri Prem Baba, 52 anos, está sendo acusado de abusar de discípulas de sua comunidade de seguidores em São Paulo. A denúncia foi feita pelos ex-maridos de duas ex-lideradas em um encontro do mestre hinduísta com cerca de 30 pessoas —que se reuniram no domingo (26) com ele para colocar a questão em pratos limpos. Prem Baba não nega que se relacionou sexualmente com as duas mulheres. Num vídeo divulgado apenas para seus seguidores, dois dias depois do encontro, ele admite que se envolveu “com uma pessoa casada” entre 2008 e 2010 e que teve ainda um segundo relacionamento. A assessoria do líder espiritual rejeita de forma enfática a acusação de abuso e diz que ele nunca negou ter tido relações amorosas. A história vem causando perplexidade na comunidade do mestre. Em várias entrevistas, Prem Baba, que é considerado o guru de celebridades como Bruna Lombardi e Reynaldo Gianecchini e arrebanha milhares de seguidores em diversos países, se declarou celibatário. De acordo com o relato feito por um dos ex-maridos na reunião, o mestre teria abusado da confiança e de seu poder para manter relações sexuais com sua mulher. Ele contou que atravessava uma crise conjugal em 2008 quando, junto com a então esposa, decidiu procurar a ajuda do guru para salvar o casamento. Os dois já faziam parte do grupo de seguidores do líder —ela inclusive o assessorava em questões de agenda. Prem Baba deu conselhos e, depois de um tempo, chamou a discípula para conversar. Num primeiro momento, sempre segundo os relatos do ex-marido, afirmou que faria nela exercícios tântricos. Logo eles evoluíram para relações sexuais. A seguidora, que tinha plena confiança no mestre, acreditou que aquilo a ajudaria, de alguma forma, a se reaproximar do marido. O relacionamento com o líder espiritual, que ela consideraria um tratamento, durou dois anos. Naquele tempo, o então marido chegava a beijar os pés dele em cerimônias como sinal de devoção. O casal acabou se separando. Os dois seguiram na comunidade de Prem Baba. O ex-marido disse no encontro que a ex-mulher sempre acreditou nas boas intenções do líder. Só recentemente, depois de sofrer depressão e síndrome do pânico, ela buscou tratamento psicológico tradicional e teria percebido que foi vítima de abuso. Há cerca de três semanas, a mulher procurou o ex-marido e contou tudo a ele. O escândalo explodiu entre os seguidores do guru. Uma outra história, semelhante, veio à tona. Neste segundo caso, no entanto, o relacionamento não progrediu. A reunião do domingo terminou de forma tensa, com os ex-maridos falando frases como “você é o pai do amor que não sabe amar” e “o pai da verdade que mente compulsivamente”. Fabio Toreta, responsável pelo relacionamento institucional do movimento liderado pelo guru, diz que Prem Baba nunca negou ter tido envolvimentos amorosos. Ele tem uma filha de 15 anos. “Ele nunca negou que se relacionou várias vezes. O que ocorreu agora foi a revelação de uma intimidade, de algo que ocorreu há quase dez anos”, afirma. “A reunião [de domingo] foi uma catarse. Mas é indevido usar a palavra abuso”. “O celibato é uma das traduções possíveis para o brahmacharya [preceito em que a pessoa transcende à sexualidade]. Mas não necessariamente ele é um celibato eterno”, afirma. “Até 2010, Prem Baba estava em uma busca”. Na terça (28), o líder espiritual divulgou o vídeo com a sua versão da história. “Eu precisava conversar com vocês porque tenho recebido muitas mensagens e percebo a dimensão do sofrimento e a necessidade de um posicionamento meu”, diz ele. “Meu amado, eu estou passando por um momento muito desafiador que contém uma oportunidade única para um alinhamento com a verdade”, segue o mestre. “Para isso eu vou precisar abrir meu coração e revelar algumas intimidades do meu processo pessoal de desenvolvimento”. O líder afirma que, quando “despertou”, em 2002, virando um guru, “a sexualidade não desapareceu de uma vez. Eu fui experimentando períodos de celibato, mas de vez em quando eu ainda mantinha relações sexuais”. Segundo diz, “o que ocorreu foi uma mudança de direcionamento. A minha energia se moveu para a meditação e o sexo deixou de ter a mesma importância na minha vida. Mas ainda estava lá”. Ele afirma que o maharaji, seu guru na Índia, o incentivou a perseguir o celibato, mas que, quando estivesse fora das temporadas de busca, “eu poderia me permitir seguir no estudo da sexualidade”. O guru diz que entrou num processo de questionamentos e, “nesse cenário”, acabou se “envolvendo com uma pessoa casada” de sua comunidade, caso que durou dois anos. Depois, o maharaji o redirecionou, nomeou uma companhia feminina para ele, com quem “ocasionalmente me permitia a prática sexual tântrica”. Sua energia teria sido, enfim, “direcionada totalmente para o serviço”. Prem Baba diz que, “no entanto, a relação amorosa que eu tive e uma outra experiência anterior deixaram mágoas profundas e a dor emocional disso tudo explodiu agora”. “Então estou tendo que lidar com tudo isso”, afirma. “Melhor seria se [a história dos relacionamentos] fosse somente entre nós [os envolvidos], mas infelizmente isso acabou se tornando público entre o sangha [comunidade]”. Já perto do fim do vídeo, o guru anuncia que antecipará um “recolhimento” que já estava planejado. “Eu fiquei bem balançado com tudo isso, tomando consciência da decepção que causei em pessoas queridas. Meu coração está devastado por isso e eu vou precisar de um tempo para integrar algo tão intenso”, afirma. Ele finaliza pedindo perdão pelo sofrimento que pode estar causando. “Recebam o meu amor. Namastê”. www.bocaonews.com.br.

Redator do Mosaico Espiritual. O guru brasileiro Prem Baba, é querido e estimado em sua comunidade espiritual, também respeitado e honrado no meio social. O Mosaico Espiritual disponibiliza uma das principais obras do mestre chamada Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos. Está na página, basta fazer uma pesquisa no google. As acusações, graves, criou um mal-estar entre os membros. Como ele próprio diz: “A crise representa uma necessidade de mudanças, um desapego. Significa que algo precisa ir embora. E quanto maior o apego aquilo que precisa ir embora, maior a resistência ao processo de transformação e, consequentemente maior o sofrimento”. Um sentimento de tristeza me invade, quando fico sabendo de fatos desse tipo. Minha mente é levada a pensar na condição humana, sempre falível, inconstante e desconfiável. Mesmo alcançados pela bondade divina, ainda assim, lutamos contra nossos demônios interiores, que segundo o evangelho de Lucas 8,2, na simbologia de Maria Madalena são ao menos sete demônios. Eles estarão conosco, até o último suspiro que dermos nesta Terra. O Bem e o Mal, são aspectos da mesma substância. O Supremo e Divino criador está acima deles. Convivem juntos dentro do ser, plenamente ativos, aguardando o momento oportuno, quando nossa benevolência se manifesta ou esperando a fraqueza ser exposta para humilhação e constrangimento. A parábola do Trigo e Joio ilustra bem esse quadro. O Mestre Jesus diz em Mateus 24,13-30 “(...). Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para ser queimado, mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro”. O problema, é que, esquecemos que ainda estamos entulhados de joio, mesmo praticando boas obras e atos de justiça. Tendemos a imaginar, que nossa fraternidade e voluntariado é suficiente para, extirpar o joio, que é quase “invisível” tal a parecença com o trigo. Somos enganados a todo momento por essa ilusão que a mente realiza, assassinando o real que devemos enxergar propriamente, desenvolvendo, sem mérito ou recompensa, a prática do bem e filantropia. Devemos enxergar no outro, nossa debilidade, envergonhando-nos, já que, a mesma atitude somos potencialmente ativos para realizar. Não tenho intensão de advogar esta causa, contudo, espero que esteja trazendo aos leitores uma impressão, não passional do ocorrido. O óbvio, geralmente, enxergamos com facilidade, sem precisar da opinião se certo ou errado. Porém, o que está encoberto sob camadas do consciente e inconsciente; apenas a luz divina é capaz de revelar. O Tantrismo, como prática e evocação espiritual foi discutida nessa página eletrônica em 08/10/2017 com o título O significado do Tantra. Ali, abordou-se os prós e contra da prática e o perigo de usá-lo como prazer em si mesmo. Foi dito: “toda prática tântrica realizada apenas com a finalidade de prazer sexual, foge ao verdadeiro propósito dos principais textos dessa tradição. O que sumamente tem importância é nosso desejo e vontade de encontrar o Divino em nossos exercícios espirituais, sejam eles, físicos (yoga e tantra) ou devocionais”. Em situação nenhuma, a prática tântrica deve ser realizada fora dum comprometimento conjugal formalizado. O guru especialista na terapia, quando os irmãos da comunidade são casados deve ensinar os exercícios, para que, ambos em seus lares treinem. Chegando ao aperfeiçoamento, tendo o objetivo da união da alma humana com a divina, independente de um terceiro. Sem o constrangimento da presença do terapeuta, que tiraria a intimidade e solicitude do casal. O solteiro (a), caso assuma o compromisso pela consagração na senda espiritual nessa tradição, deverá simular os exercícios com orientação do guru. Não se expondo a prática pela promiscuidade ou luxúria com acompanhante feminino. Situação que faz os principiantes estarem no âmbito da energia negativa dos asuras (demônios). Pois sem controle das sensações do órgão reprodutor, se tornará alvo dos desejos enganosos e mesquinhos do prazer irresponsável que leva a vergonha e desonra humana. Um guru, honesto e comprometido com a sagrada divindade (Shiva, Vishnu e Brahma) em momento algum, se apropriaria da oportunidade de assumir relações sexuais com membra de sua comunidade ou qualquer outra pessoa, que o procure pedindo-lhe ajuda no relacionamento. A acusação de abuso em 2008 e 2010 às duas membras da comunidade, trouxe comoção, angústia e consternação em toda comunidade espiritual liderada pelo guru Prem Baba. Precisará de tempo, um bom tempo, para que esta mancha, negra, seja completamente apagada da mente dos seguidores, simpatizantes e discípulos do mestre. Também, a comunidade em geral, está sendo provada em sua consciência individual e coletiva, pois alguns tenderão a abandonar o movimento, que sofrer junto com os demais esse percalço que atravessam. Contudo, Romanos 12,12 ensina que na hora da angústia devemos “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração”. Prem Baba, no recolhimento antecipado que declarou, enfrentará a “noite escura” da disciplina kármica em seu corpo físico, energético, emocional e mental. Necessária para mensurar nossos atos benévolos e malévolos que atingem a natureza humana, animal, vegetal e mineral. A palavra perdão foi usada no final do texto pelo guru “ele finaliza pedindo perdão pelo sofrimento que pode estar causando”. Essa palavra é carregada de significação quando dita por um coração puro e desejoso da reconciliação com o divino e aqueles para o qual foi dirigida a ofensa. A luz divina que vem brilhando nele; iluminando os caminhantes da senda, é prova de seu compromisso com a fraternidade divina e humana. Espero, que aqueles que estão diretamente sofrendo esta desonra, inexplicável, sejam tomados por um coração generoso e compassivo para com seu mestre. Mateus 11,25-26 “E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas. Lucas 7,47 “Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama”. Espero no divino, que mesmo envolto nesse “escândalo” a comunidade do guru Sri Prem baba, possa passar pela restauração requerida pelos deuses do karma. Humildes e condescendentes com a gravidade que a situação exige, não guardando mágoa, desprezo, ressentimento ou rancor. Todavia, continuem sua trajetória de edificação espiritual a todos os “peregrinos” e buscadores da sabedoria e fraternidade humana. Única, que pavimentará o caminho para o amor, compreensão, tolerância, respeito e resiliência para com todos os povos das diversas culturas e religiosidades espalhas pelo planeta. Como irmãos e membros uns dos outros conforme Romanos 12,5 “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente membros uns dos outros”, rogamos a Mãe Divina Universal, Santíssima e Imaculada, Maria. Que interceda junto a Trindade Divina, nessa hora, fortalecendo todos os membros da comunidade do guru. Orientando e suprindo com encorajamento e disposição a todos, para que, apesar dos obstáculos da vida espiritual, não desistam e enfrentem com firmeza e coragem os reverses. Esses, se tornam experiências preciosas à nossa evolução espiritual. Como ocorrido com o mestre Jesus, relatado em Hebreus 5,2 e 8 “E possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraquezas. Ainda que era filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”. Paz e reconciliação aos filhos de Deus. Abraço. Davi         

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

OS ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ


Gnosticismo. www.gnosisonline.org. Texto de Raul Branco (Membro da Sociedade Teosófica pela Loja Brasília). OS ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ. Comecei a pesquisar os ensinamentos internos do cristianismo primitivo por estar convencido de que Jesus não poderia ter omitido de suas instruções uma metodologia para o caminho espiritual, à semelhança dos métodos conhecidos nas principais tradições orientais. Essas tradições têm atraído milhares de cristãos sinceros mas desiludidos com o receituário do cristianismo tradicional. A riqueza do material encontrado, geralmente pouco conhecido, foi tão surpreendente que resolvi sistematizá-lo e apresentá-lo sob a forma de livro. Ao mergulhar no estudo das tradições orientais, principalmente do budismo, da ioga, da vedanta e de sua versão moderna, a teosofia, descobri que o lado esotérico da tradição cristã tem todos os ingredientes das formas esotéricas dessas outras, e que a devoção realmente caminha de mãos dadas com a razão. Em vista dos ensinamentos transformadores que capacitam a união do buscador com o Supremo Bem, poder-se-ia dizer que esta tradição seria a ioga cristã, bem pouco conhecida dos cristãos, porque é derivada dos ensinamentos reservados de Jesus. Lembramos que ioga é um termo sânscrito que significa união, mas que é usado também, por extensão, para transmitir de forma sistemática a metodologia que visa promover a união da natureza exterior do homem com sua natureza interior. Como o esoterismo cristão é muito rico e a literatura existente muito extensa, o foco deste trabalho foi direcionado para o ponto central dos ensinamentos esotéricos de Jesus, ou seja, a busca do Reino de Deus. Procuraremos elucidar esse tema sobre o qual todo o ministério de Jesus foi baseado, explorando o caminho que leva ao Reino, bem como o método e o instrumental facilitador que capacitam a entrada pela porta estreita e o trilhar do caminho apertado. O mais surpreendente, como será visto a seguir, é que a essência dos ensinamentos mais profundos de Jesus sempre esteve expressa na Bíblia e em outros documentos sem ser devidamente percebida. É como se as joias mais preciosas da mensagem bíblica estivessem escondidas debaixo de nossos olhos sob a aparência de coisas sem maior importância. Dentre essas preciosidades negligenciadas do esoterismo cristão poderíamos mencionar: “Eu e o Pai somos Um,” “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará,” “Já não sou eu que vivo mas é Cristo que vive em mim,” “Quem não nascer de novo não poderá entrar no Reino dos Céus,” “Vinde a mim as criancinhas,” “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto.” Esses exemplos e muitos outros evidenciam que os ensinamentos esotéricos de Jesus foram preservados em dois segmentos: no primeiro, encontram-se as proposições, instruções e acontecimentos da vida do Salvador, que estão descritos na Bíblia e em diversos documentos apócrifos; no outro, estão os detalhamentos dessas instruções, com as explicações de suas razões e as técnicas e métodos para o aprimoramento da vida espiritual. Essas instruções e explanações que não se encontram na Bíblia ou nos documentos apócrifos foram passadas de boca a ouvido, naquilo que se chama de tradição oral, ou mesmo por intermédio de outros métodos que serão abordados posteriormente. Este livro é em grande parte um trabalho de reconstituição dos diferentes aspectos desses ensinamentos. Quando buscamos sintonia com o Mestre em nossas meditações, depois de algum tempo, a confusão inicial cede lugar à simplicidade essencial da mensagem divina, facilitando-nos a tarefa de desenterrar a tradição interna que desconhecíamos. Os objetivos da mensagem salvífica de Jesus começam a aclarar-se, seus métodos de transmissão de instruções fazem-se presentes, e seus ensinamentos surgem como joias preciosas escondidas sob o véu da alegoria. Vivemos na ilusão da separatividade, alimentados pelo egoísmo e pelo orgulho, pensando que criamos de forma separada e independente alguma coisa. A realidade, no entanto, é que cada ser humano é tão somente uma célula no grande organismo da humanidade. Como tal, a mente de cada um nada mais é do que um aspecto da mente universal, também chamada de inconsciente coletivo ou mente divina. Dentro da mente divina, a verdade está eternamente presente em sua forma essencial, embora seja apresentada de diferentes maneiras, pelos inumeráveis aspectos individuais desse grande Todo. Verifiquei que, quanto mais procurava estudar e meditar sobre os ensinamentos de Jesus, mais livros e ideias sobre o assunto iam aparecendo. Percebi que muitas outras almas já haviam decifrado e interpretado boa parte dos ensinamentos do Salvador. Minha tarefa, portanto, foi grandemente facilitada, pois foi possível coligir a essência do que já estava escrito e aproveitar parte do que ainda estava no mundo mental, a espera de ser expresso. Como é natural, minhas deficiências literárias, intelectuais e espirituais explicam as falhas que serão encontradas ao longo do texto. (…). As citações bíblicas são apresentadas em itálico, sendo usada a versão da Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas. O leitor ansioso em obter uma visão de conjunto do livro, antes de mergulhar nos detalhes explicativos e operacionais do processo de transformação interior do homem velho no homem novo, poderá ler a Introdução, o Anexo 1, “Exercícios e práticas espirituais” e os capítulos 4, “Uma visão esotérica do Reino nos ensinamentos de Jesus,” 8, “A peregrinação da alma,” 13, “O instrumental da tradição cristã,” 26, “Transformação, Integração e União” e 27, “A Vida do Cristo como o Caminho.” Uma vez efetuada essa leitura seletiva, esperamos que o verdadeiro buscador da tradição cristã tenha a motivação necessária para efetuar, não mais uma leitura, mas um estudo atento do texto completo. Introdução. O cristão dedicado e sincero, que procura seguir a orientação do Mestre de tomar a sua cruz e segui-lo, pode se questionar como é possível que o entusiasmo da cristandade dos três primeiros séculos, que seguia Jesus com amor e fervor apesar das perseguições implacáveis que ceifaram a vida de milhares de mártires naqueles tempos, possa ter arrefecido e se transformado, para grande parte daqueles que se dizem cristãos, numa mera afiliação religiosa pró forma sem o envolvimento de seu coração. As causas dessa mudança qualitativa da religiosidade do cristão são complexas, mas podem ser em boa parte imputadas ao fato de que a maioria das igrejas atuais distanciaram dos ideais originais, retornando ao comportamento de obediência a rituais externos e a práticas religiosas mecânicas que Jesus havia tão duramente criticado nos fariseus e levitas. São poucos os cristãos no mundo de hoje que procuram realmente entender os ensinamentos de Jesus e, um menor número ainda, seguir o Mestre. Com o passar dos séculos, a mensagem central de Jesus foi progressivamente desvirtuada e acabou sendo esquecida. Em vez de buscarmos o Reino dos Céus aqui e agora, colocamos a nossa esperança num paraíso distante, talvez no outro mundo. Porém, se meditarmos profundamente sobre a essência dos ensinamentos de Jesus, deixando de lado nossas ideias pré-concebidas, chegaremos à conclusão de que somos o próprio filho pródigo e que algum dia retornaremos à Casa do Pai, que é o Reino dos Céus, voltando ao estágio de pureza prístina original de um Filho de Deus, tornando-nos, então, um Cristo (1) e podendo dizer, por experiência própria, que “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Paulo demonstra estar em sintonia com essa realidade ao dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2:20). Esse entendimento do potencial ilimitado do homem e o conhecimento da herança divina podem ser obtidos através do estudo e da vivência do lado esotérico de nossa tradição, que permaneceu esquecido e negligenciado por tantos séculos. O primeiro passo para usufruirmos a herança divina é a decisão de reivindicá-la. Para isso temos que nos desvencilhar dos condicionamentos limitativos impostos por muitos séculos de apatia intelectual e de ausência do exercício da vontade. A verdade sempre esteve ao nosso alcance, mas, por várias razões, deixamos escapar a oportunidade de percebe-la. Podemos, no entanto, reverter esta situação porque o momento atual é extremamente propício para o despertar espiritual. Felizmente, os ensinamentos esotéricos da tradição cristã não foram totalmente perdidos. Eles podem ser recuperados, compreendidos e, se devidamente vivenciados, podem mudar a nossa vida, permitindo que alcancemos “O estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13). O primeiro passo neste estudo dos ensinamentos de Jesus é deixar claro que o cristianismo, em sua essência última, não é uma instituição mas sim uma convicção interior. Essa convicção, a verdadeira fé, deve guiar a conduta de seus seguidores rumo à meta final, o Reino, deixando um rastro de boas obras ao longo do caminho trilhado. Um aspecto pouco conhecido da natureza cíclica da manifestação é o de que, em cada final de século, a Providência Divina aumenta o fluxo de energias espirituais para estimular o progresso da humanidade. Ocorrem também ciclos maiores, como ciclos milenares e ciclos envolvendo as grandes eras. A humanidade está vivendo agora um momento muito especial, a confluência de três ciclos, o centenário, o milenar e o de transição da era de peixes para a era de aquário. Isso pode ser notado pelas pessoas mais sensitivas. O resultado dessa ação energética inusitada se faz sentir no mundo das ideias e do comportamento humano. Nesta virada do terceiro milênio, estamos vivendo um momento extremamente propício para tornar conhecidas as coisas ocultas. Por isso esforçamo-nos para fazer com que os ensinamentos de Jesus entesourados em documentos raros, ao alcance apenas de um limitado círculo de estudiosos, sejam postos à disposição dos cristãos sinceros que ainda não conhecem a inteireza de sua mensagem. Como não podia deixar de ser, essas energias afetaram de forma positiva a vida espiritual do planeta. As estruturas religiosas foram induzidas a alargar seus horizontes para abranger outros grupos e outras etnias. Em virtude da invasão chinesa, que forçou um êxodo de grandes proporções da comunidade monástica tibetana, o budismo tibetano passou a ser conhecido e praticado por centenas de milhares de pessoas em quase todo mundo ocidental, quebrando um milênio de isolamento no Tibete. O sofrimento do povo tibetano foi transmutado em benefício dos buscadores da verdade em todo o mundo, com a tradução das obras dos mestres budistas daquele país e o estabelecimento de centros de ensino do Dharma em vários países do oriente e do ocidente. Até a rígida e arcaica Igreja de Roma mostrou sinais de abertura. Atendendo aos clamores dos fiéis que há muito se sentiam alienados com os serviços religiosos em latim, uma drástica reforma litúrgica foi implementada, permitindo que a missa fosse conduzida na língua de cada povo e com maior participação dos fiéis. O sacerdote, que anteriormente oficiava boa parte da missa de costas para o público, passa agora a voltar-se de frente para os fiéis numa tentativa de quebrar barreiras e promover a comunicação. (2). Porém, a iniciativa conciliadora mais importante do Vaticano foi o movimento ecumênico. Depois de muitos séculos de disputas fratricidas a Igreja de Roma, numa demonstração saudável de humildade, tomou a iniciativa de promover o contato com grupos dissidentes dentro da grande tradição cristã, bem como com outras religiões. (3). A mudança de atitude foi, em grande parte, motivada pelo relativo esvaziamento das igrejas católicas, face ao rápido crescimento das seitas protestantes e de outros movimentos, como o espiritismo e as religiões ou filosofias orientais. Esse processo ecumênico, ainda que tímido e cauteloso, em virtude dos ânimos acirrados por séculos de disputas, muitas vezes sangrentas, promove pontos de união e minimiza os de separação. Esse ecumenismo tem-se mostrado, no entanto, eminentemente externo. Mais importante ainda, com imensas perspectivas de vir a provocar mudanças radicais, inclusive ao nível da espiritualidade das massas de fiéis em todo o mundo, seria um ecumenismo interior, entendido como uma abertura que leve em consideração todos os aspectos da natureza humana. Os cultos de praticamente todas as igrejas cristãs tradicionais, antes e depois da Reforma, baseiam-se num acirramento do aspecto emocional do homem. As liturgias, cânticos, romarias e atos devocionais baseiam-se numa fé emotiva e cega. A questão da verdadeira fé é de grande importância e será examinada posteriormente, pois ela é um dos instrumentos fundamentais do processo transformador da ioga cristã. Mas a emoção é apenas um dos aspectos interiores do homem. O caminho que leva ao Reino dos Céus requer a integração de todos os aspectos do ser humano. Isso significa que a emotividade religiosa tem que abrir espaço para a razão, a fim de que as duas, emoção e razão, possam ser integradas e transcendidas, no seu devido tempo, pela intuição. Isso só ocorre quando o Cristo interior tem condições de despertar no âmago de nossos corações e, progressivamente, assenhorar-se do comando de nossas vidas. Esse processo de integração, ou ecumenismo interior, é a essência dos ensinamentos internos de Jesus. Assim como o aumento da intensidade das energias espirituais neste século se fez sentir ao nível das ideias, dos movimentos e das instituições existentes, com mais razão ainda se fez sentir na alma das pessoas. Milhões de indivíduos em todo mundo passaram a sentir o chamado do alto. Esse chamado, sempre sutil, procura por diversos meios fazer com que o homem entenda que sua meta é o Reino e que, para atingi-la, torna-se necessário um progressivo desapego do mundo material. A forma como os homens, geralmente sentem esse chamado é através da insatisfação com sua vida, mesmo quando estão aparentemente fazendo as coisas certas e vivendo uma vida ética. Essa divina insatisfação deslancha um processo de busca, que, inicialmente, é confuso, pois o homem não consegue identificar exatamente o que está procurando. Busca livros e outras formas de autoajuda, dentro e fora de sua tradição; procura ouvir todo tipo de palestra sobre temas espirituais, enfim; procura por todos os meios saciar sua terrível sede da verdade. Muitos dos que batem às portas das igrejas voltam desapontados com o receituário prescrito pelos seus sacerdotes e pastores. Podemos identificar três áreas principais de insatisfação com a ortodoxia: os dogmas, a conceituação do homem como pecador e de Deus como justiceiro e, finalmente, as práticas espirituais sugeridas. Os dogmas de fé, sempre constituíram-se em obstáculos para o crescente segmento pensante da cristandade. Enquanto o domínio da Igreja de Roma era total sobre seus fiéis, o medo era geralmente suficiente para manter os fiéis e até mesmo os intelectuais em linha. Porém, neste último século, com os grandes avanços na educação das massas e a liberdade de pensamento exercida sem as antigas inibições religiosas, o conflito entre dogma e razão vem levando um número crescente de cristãos a assumir uma posição de coerência com seus sentimentos mais íntimos. Infelizmente, isto tem também levado muitos a rechaçarem, juntamente com os dogmas, toda a doutrina cristã e os ensinamentos corretos da Igreja. A segunda área de conflito com a doutrina ortodoxa já era sentida de forma latente há muitos séculos, como uma repulsa instintiva ao conceito do Deus justiceiro apresentado pelo Antigo Testamento, em sua interpretação literal, que foi encampado pela ortodoxia cristã. Conceber Deus como um Ser sujeito a ataques de fúria que precisam ser aplacados por diversas formas de sacrifícios e holocaustos fere a consciência daqueles que não se recusam a pensar e constitui-se numa verdadeira heresia. A máxima heresia nesse sentido é a proposição de que o Filho de Deus foi oferecido em sacrifício para propiciar o perdão de Deus pelos pecados dos homens, conhecida como doutrina da expiação vicária. Felizmente, em nosso século, com os avanços da psicologia moderna e o entendimento do lado sombra do ser humano, o cristão começou a entender porque sempre se sentiu incomodado por sua caracterização como “vil pecador”. Carl Gustav Jung (1875-1961) mostrou que as negatividades inerentes ao nosso processo de aprendizado terreno devem ser entendidas e superadas através da compreensão e amor e não pelo temor de um Deus implacável que castiga nossas falhas e fraquezas com os tormentos do fogo eterno. (4). Finalmente, muitos dos cristãos que ainda se mantêm fiéis à Igreja mostram seu descontentamento com as práticas espirituais tradicionais da ortodoxia e, em alguns casos, com o significado deturpado dado a elas. A missa, o terço, as romarias e as outras práticas disponíveis aos leigos contrastam com as práticas de outras tradições que, aos poucos, se tornaram conhecidas no Ocidente. Esse descontentamento não se restringe aos católicos mas é sentido, também pelos fiéis das seitas evangélicas e protestantes com sua conhecida inflexibilidade em questões doutrinárias. Apesar de muita resistência interna, a poderosa energia crística atuando nesta época de transição parece ter rachado, em alguns lugares, a espessa muralha do conservadorismo. Assim, algumas aberturas, como o movimento carismático e os movimentos de jovens e de casais da igreja católica resultaram em entusiástica resposta dos leigos e de parte do clero. Também a divulgação, por iniciativa de alguns padres e monges, de certas práticas meditativas e contemplativas, parcialmente inspiradas nos modelos orientais, tiveram excelente acolhida. Porém, para a grande massa dos buscadores, a Igreja permaneceu uma instituição rígida, distante, indiferente e até mesmo alienada das necessidades espirituais de seus fiéis. O resultado tem sido um progressivo desapontamento dos fiéis com a ortodoxia religiosa cristã e consequente êxodo para outros movimentos e tradições não cristãos ou fora dos cânones ortodoxos. Isso explica porque o espiritismo, o budismo, o hinduísmo, a ioga e outros movimentos religiosos e filosóficos no Brasil tiveram tão boa acolhida entre os cristãos insatisfeitos com a postura ortodoxa de sua tradição. Isso ocorre porque, nesses movimentos ou tradições, o buscador encontra práticas espirituais sólidas e doutrinas que não agridem a razão. As tradições budista e da ioga têm exercido grande atração sobre os buscadores ocidentais. Ambas podem ser mais acertadamente consideradas como tradições filosóficas do que religiosas. Seus aspectos doutrinários são extremamente atraentes, englobando conceitos filosóficos e cosmológicos de abrangência e grandeza que fascinam os estudiosos livres de preconceitos. Porém, o ponto que exerce maior atração parece ser a prática espiritual dessas tradições voltadas para a libertação do sofrimento. Dentre essas práticas destaca-se a meditação, com todas suas modalidades e etapas. Até mesmo alguns padres e monges cristãos, como Thomas Merton (1915-1968) (5) e William Johnston (1925-2010), (6) depois de estudarem o budismo, procuraram introduzir suas práticas meditativas nos meios cristãos. Johnston, preocupado com o desinteresse crescente dos fieis pelas práticas devocionais tradicionais (rosário, via sacra e novenas), e verificando a firmeza milenar das práticas budistas, tal como observou no Japão, desabafa: “A velha contemplação cristã destinava-se a uma elite – os franciscanos, os jesuítas, os dominicanos e as pessoas de bem. Mas o pobre leigo, o cidadão de segunda classe, ficava com as contas de seu rosário. De ora em diante, não é preciso que seja assim. Assim como a liturgia ampliou-se para abranger a todos, também o mesmo pode dar-se com a contemplação. O muro infame que separava o cristianismo popular do cristianismo monástico pode ser derrubado de forma a que todos possamos ter as nossas visões, alcançar o nosso samadhi”. (7) A diferença radical de enfoque para a vida espiritual entre a tradição budista e a cristã pode ser aquilatada pela maneira como caracterizam seus membros. Os budistas geralmente se auto denominam “praticantes” no sentido de serem praticantes do dharma, do corpo de ensinamentos do Senhor Buda. Os cristãos, por sua vez, são normalmente caracterizados como “fieis” refletindo o fato de serem supostamente fieis à sua crença no corpo doutrinário da Igreja. Enquanto uns praticam os ensinamentos de seu mestre, outros simplesmente creem passivamente nos dogmas de sua crença, desconhecendo, em geral, os ensinamentos de seu Salvador. Dentro desse contexto de crescente insatisfação com as práticas cristãs ortodoxas e a constatação de que existem alternativas atraentes nas outras tradições, a apresentação das doutrinas e práticas espirituais do lado interno da tradição cristã assume especial importância. Felizmente, quando conseguimos desvelar os ensinamentos esotéricos de Jesus, verificamos que as práticas do cristianismo primitivo nada deixam a desejar às outras tradições orientais tão em voga atualmente. Este livro vem juntar-se a uma crescente literatura sobre o cristianismo primitivo e os aspectos esotéricos da tradição cristã, enfatizando os métodos e práticas espirituais voltados para a transformação interior, tão escondidos no passado. (8) Esses antigos ensinamentos abrangentes, profundos e eternamente atuais, levaram Agostinho, reputado como um dos baluartes da Igreja, a escrever há quinze séculos atrás: “Esta que hoje chamamos de religião cristã existiu entre os antigos e existia desde o começo da raça humana até que o Cristo se fez carne, tempo a partir do qual a verdadeira religião já existente começou a ser denominada de Cristianismo” (9) A postura necessária para o estudo dos ensinamentos esotéricos. Se por um lado existe uma natural curiosidade por parte de todo cristão em conhecer os ensinamentos internos de sua tradição, devemos estar preparados para o fato de que esses ensinamentos nem sempre estarão de acordo com nossas idéias tradicionais. Na verdade, parte dos conceitos ortodoxos deverão ser modificados e, em alguns casos, até mesmo abandonados, à medida que adquirimos um entendimento mais sólido do lado esotérico dos ensinamentos de Jesus. Esse é o processo natural de amadurecimento de todo indivíduo. As noções que governam a atitude das crianças em seus primeiros anos de interação com o mundo exterior, dão geralmente lugar a conceitos mais abrangentes e complexos quando o jovem adulto está suficientemente amadurecido em sua capacidade intelectual e emocional. Um processo semelhante ocorre em nossa vida espiritual. Para que o devoto possa crescer espiritualmente, ele deve aprender a entender o sentido esotérico subjacente às doutrinas anteriormente aceitas literalmente como dogmas de fé. Um dos principais objetivos deste livro é desvelar os ensinamentos escondidos por trás do simbolismo da Bíblia e de outras fontes de nossa tradição. Nessa busca, o leitor deve estar disposto a investigar a simbologia bíblica. Essa disposição implica numa atitude de flexibilidade e tolerância para com ideias e argumentos diferentes dos aceitos até então. O verdadeiro estudioso deve submeter todo conceito e argumento, tanto tradicional como não ortodoxo, ao crivo da razão e, a seguir, à avaliação do coração. O devoto que adotar essa postura espiritualmente sadia estará chamando em seu auxílio o Cristo interior, que derramará suas bênçãos na forma de inspiração para a compreensão mais profunda das verdades transformadoras de nossa tradição. Com isso ele sentirá uma profunda alegria ao efetuar uma leitura crítica, que lhe permitirá construir paulatinamente, e de forma consciente, o arcabouço doutrinário e prático de sua transformação espiritual. Isso significa que o leitor deve adotar a postura do cientista que, ao iniciar um novo projeto de pesquisa, adota uma série de hipóteses de trabalho, que serão investigadas e testadas. Caso essas hipóteses facilitem o avanço da pesquisa e sejam confirmadas por testes posteriores, então, e só então, poderão ser promovidas de hipóteses a premissas para a implementação da parte prática que permitirá a conclusão do trabalho. Essa atitude “científica”, apesar de atraente e lógica, é difícil de ser adotada na prática. Todos nós interagimos com o mundo a partir de um grande número de condicionamentos, a maior parte dos quais inconscientes. Nossa mente racional pode estar disposta a considerar uma determinada linha de raciocínio, porém, nossos sentimentos, que são governados pelo inconsciente, usurpam muitas vezes a atribuição da razão e rejeitam os argumentos lógicos tão logo percebem que esses podem ameaçar a segurança de nossa estrutura de valores. Isso explica a natureza intrinsecamente conservadora de todo ser humano. Resistimos à mudança porque toda mudança implica numa revolução interior que demanda um compromisso inabalável com a verdade. Esse compromisso implica em humildade para aceitar a possibilidade de que alguns de nossos mais estimados conceitos foram construídos sobre a areia e, finalmente, uma coragem extraordinária para enfrentar a resistência inicial de nosso ego orgulhoso e inseguro. Os meandros da mente são muitas vezes desconcertantes para o iniciante. Um profundo estudioso da matéria escreveu: “A mente formal assemelha-se a um ditador de um estado autoritário. Tal dirigente não pode, não ousa, tolerar qualquer interferência de outros no seu despotismo ou sugestão de controle sobre ele, porque se isso prosperasse a sua ditadura eventualmente terminaria. No que concerne à manutenção de seu sistema e ao controle das mentes cegas de seus membros, a ortodoxia religiosa estreita e defensiva está precisamente na mesma posição. Todo dogmatismo em assuntos religiosos surge do medo e desse impulso para o poder e sua preservação.” (10). Para o estudante de esoterismo, toda e qualquer proposição doutrinária ou filosófica deve ser tomada como hipótese de trabalho da mente concreta, até que ele alcance o estado místico que lhe permita conhecer diretamente a verdade. Quando em profunda contemplação ele passar a comungar com a Luz, então, e só então, poderá saber com toda certeza as verdades que transcendem a mente intelectiva e que pertencem ao âmbito do que chamamos de intuição (buddhi, em sânscrito). É esse conhecimento que os antigos chamavam de gnosis, o conhecimento direto da verdade que é alcançado com a iluminação, e que gera uma fé inabalável. Assim sendo, as considerações doutrinárias e de ordem filosófica neste livro devem ser consideradas como de importância secundária. O importante são os ensinamentos transformadores, que poderíamos chamar de metodologia para a transformação do homem velho no homem novo. Quando tivermos nascido de novo, iluminados pelo Cristo interior, estaremos capacitados a reavaliar nossas premissas anteriores para, então, estabelecer nossa fundamentação filosófica com base na Verdade e não mais em hipóteses. O objetivo primordial deste livro é oferecer ao cristão dedicado essa metodologia transformadora que, se devidamente utilizada, pode levar o devoto ao estado experimentado pelo Apóstolo Paulo quando disse “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2:20). Todas as considerações filosóficas ou doutrinárias do livro devem ser consideradas como meras hipóteses, servindo como elementos auxiliares no desenvolvimento de uma estrutura referencial que acreditamos ser lógica e sequenciada. O estudante que estabelecer como meta a sua transformação interior, não se deixando limitar ou intimidar por argumentos filosóficos ou teológicos, poderá deixar para mais tarde as decisões doutrinárias, quando estiver capacitado pela iluminação transformadora a pronunciar-se sobre esses pontos de forma definitiva. O Mestre deve ter tido isso em mente quando nos disse: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Apresentamos a seguir as principais hipóteses que foram usadas para nortear o trabalho. Estas hipóteses serão examinadas com mais detalhes ao longo do texto. 1. O objetivo de todo ministério de Jesus foi alertar a humanidade para a realidade do Reino e ensinar os homens como alcançá-lo, retornando à Casa do Pai. 2. Para chegar ao Reino, ou seja, para alcançar a perfeição, o homem deve encontrar e trilhar o Caminho ao longo de todas as suas etapas. 3. A maioria das pessoas ainda não despertou para a realidade do Caminho, pois estão mergulhadas na vida material e sensual, sem o menor interesse pela vida espiritual. 4. O Caminho tem três grandes etapas, que poderiam ser chamadas de religiosa, espiritual e mística. Essas etapas têm um estreito paralelo com as três grandes fases da vida do homem: infância, vida adulta e maturidade. Nem todos os homens chegam a última etapa em sua plenitude, envelhecendo sem tornarem-se sábios, muitos agindo como crianças em idade avançada. 5. Na infância a criança deve ser conduzida e protegida por seus pais e tutores, enquanto está sendo preparada para enfrentar a vida adulta por seus próprios meios. Nessa etapa a criança caracteriza-se por sua relativa subserviência, passividade e crença no poder e sabedoria de seus mentores, valendo-se principalmente da emoção como instrumento de resposta ao mundo. O caminho religioso tradicional equivale à infância da humanidade, em que os fiéis são conduzidos pelos sacerdotes, como representantes do Pai Celestial e da Madre Igreja, crendo em dogmas e obedecendo os mandamentos e regras estabelecidos. As práticas religiosas são fundamentadas essencialmente no aspecto emotivo da natureza humana. 6. A transformação da criança como adulto ocorre na adolescência um período caracterizado, entre outras coisas, pela rebeldia do jovem. Essa rebeldia, dentro de certos limites, é saudável, pois prepara o jovem para pensar e agir por conta própria, usando a razão e desenvolvendo o discernimento. Um período de transição semelhante também ocorre com o devoto que começa e sentir-se insatisfeito com a vida emocionalmente protegida dentro de sua religião. Ele começa a se rebelar contra a doutrina estabelecida e a obediência às regras e à autoridade religiosa constituída. Esse período é extremamente penoso e eivado de contradições, mas é essencial para a entrada na próxima etapa do Caminho. É caracterizado por uma insatisfação essencial que leva à busca da verdade. 7. A etapa intermediária do Caminho, que chamamos de vida espiritual, equivale a vida do adulto. Nela o buscador deve assumir a responsabilidade por sua vida e procurar viver de acordo com a mais alta ética que seu discernimento lhe dirá ser apropriada para uma vida responsável, harmônica e construtiva dentro da família humana. O aspecto mais importante dessa fase é a constante preocupação com o crescimento espiritual da pessoa, que deverá efetuar diversas mudanças em sua atitude e seu comportamento, para purificar-se e chegar cada vez mais perto da meta. 8. Ao desenvolver um ego forte, lúcido e crítico o homem maduro chegará um dia ao último estágio do Caminho, a etapa mística. Essa etapa também corresponde, de certa forma, ao caminho ocultista, que será descrito mais adiante. O místico é o buscador espiritual que, tendo feito tudo o que podia para a sua autotransformação, reconhece que os esforços do ego não são suficientes para alcançar a meta suprema, o que só pode ser feito com a ajuda do Alto. A Graça Divina não pode ser forçada, mas o terreno para que ela seja concedida pode e deve ser devidamente preparado por uma vida de purificação, meditação e serviço. O místico procura subordinar seu ego desenvolvido para fazer a vontade de Deus e não mais a sua. 9. No Caminho ocorre um drástico afunilamento de uma etapa para a outra, como havia sido indicado por Jesus que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mateus 22:14) e também que “escolherei dentre vós, um entre mil e dois entre dez mil” (Evangelho de Tomé, versículo 23). (11) Portanto, não é de se estranhar que as instruções esotéricas de Jesus eram dirigidas “aos poucos”, enquanto seu ministério público era voltado para “os muitos.” Da mesma forma, dentre os milhares de buscadores que se dedicam a vida espiritual, são poucos os que alcançam as realizações místicas avançadas associadas ao Reino dos Céus. 10. O ministério de Jesus cobriu as três etapas do Caminho. O ensinamento aberto ao povo, mais tarde acrescido das doutrinas e dogmas estabelecidos pela Igreja, visava atender a primeira etapa de desenvolvimento do homem. Seus ensinamentos esotéricos, velados nas parábolas e ministrados diretamente a seus discípulos, tinham por objetivo guiar o homem ao longo da segunda etapa de busca espiritual. Seu método de ensino, incluindo a crítica à sabedoria convencional, ou seja, à religião ortodoxa dos judeus de sua época (que será examinado, em especial, nos capítulos 4 e 10), visava estimular a razão, o discernimento e o senso de responsabilidade do homem em busca do Reino. Esses ensinamentos e, principalmente, os mistérios ou sacramentos que Jesus ministrava aos poucos que estavam preparados para eles, visavam levar o homem à última etapa, a vida unitiva do caminho místico. Nessa etapa o homem aprende que deve morrer para o mundo para alcançar o Reino, ou seja, entregar-se inteiramente a Deus para alcançar a Salvação. Observamos que o Caminho, como tudo na vida, apresenta uma periódica alternância de ciclos. Na primeira etapa a criança tem uma atitude passiva para com a vida, aceitando a orientação de seus superiores. O adulto, ao contrário, para ser bem sucedido, deve assumir uma atitude ativa, buscando sua liberdade para decidir sobre o que julga ser melhor para seus interesses. Na última etapa, o futuro sábio deve mais uma vez retornar à passividade, aguardando com paciência, humildade e perseverança a chegada da Graça, que trará a iluminação. A classificação das três etapas do Caminho como religiosa, espiritual e mística deve ser entendida como indicativa de características básicas do comportamento e atitude dos indivíduos. Para evitar controvérsias semânticas, deve ficar claro que um indivíduo na etapa espiritual ou até mesmo na via mística pode se considerar corretamente como sendo religioso, cristão ou católico. A religião em seu sentido mais amplo deve acomodar almas em todos os estados evolutivos, da mesma forma como o Reino do Pai, que tem muitas moradas. Esta obra foi dividida em sete partes. Na primeira, procuramos identificar o estado atual da vida espiritual do cristão comum, alheio aos ensinamentos internos de Jesus, e indicar porque o momento presente é especialmente propício para resgatar esses ensinamentos, confirmando as palavras do Mestre de que “nada há de oculto que não venha a ser manifesto, e nada em segredo que não venha à luz do dia” (Marcos 4:22). A segunda parte estabelece a definição de ‘tradição interna’, determina as fontes primárias e secundárias dessa tradição e as formas para termos acesso ao seu material. A importância da interpretação do material bíblico é ressaltada. O significado da meta suprema apontada por Jesus, o Reino dos Céus, é o objeto da terceira parte. Contrastando com o conceito de ‘Reino’ na tradição judaica e como ele foi interpretado pelas igrejas ortodoxas, é sugerido que o Reino dos Céus não é um lugar no tempo e no espaço, e que não é atingido somente após a morte, mas que é um estado de espírito que pode e deve ser alcançado aqui e agora. Ao contrário do que muitos creem, só aqueles que alcançam o Reino enquanto encarnados podem gozar da bem-aventurança celestial após a morte. A quarta parte é a descrição do processo de retorno à Casa do Pai, a nossa meta, sendo a Parábola do Filho Pródigo um exemplo de como a interpretação de um mito ou alegoria pode proporcionar a chave para o entendimento dos ensinamentos ocultos de Jesus. Dois outros mitos cosmogônicos ainda mais abrangentes e profundos do que aquela parábola, conhecidos como o Hino da Pérola e o mito de Pistis Sophia, são apresentados em anexo, oferecendo outras fontes para o mesmo ensinamento. Como o objetivo do trabalho não é meramente acadêmico, as questões práticas relacionadas com o método e o instrumental transformador legado pela nossa tradição são enfatizadas, ocupando a maior parte do livro. A quinta parte aborda o método para alcançar o Reino dos Céus, que foi descrito por Jesus como a Porta Estreita e o Caminho Apertado. Em sua essência, o método poderia ser resumido no que a ortodoxia chamou de “arrependimento”, mas que no original grego era metanoia, que tinha um significado bem mais amplo, que era o de mudança dos estados mentais que levam à mudança de consciência pela superação dos condicionamentos e da ignorância anterior. Esse conceito é basicamente psicológico e oferece um paralelo com o enfoque da tradição budista de transformação da mente. Ainda nesta parte são abordados os primeiros passos no caminho espiritual, incluindo o despertar para a realidade última da vida, a eterna busca da felicidade e o papel da aspiração ardente. Finalmente, são examinadas as regras do caminho espiritual, a fundação da verdadeira fé. Dentre essas regras são discutidas a unidade de todas as coisas, a natureza cíclica da manifestação, o objetivo do processo de manifestação, o papel do livre arbítrio e da lei de causa e efeito e a importância do conhecimento de si mesmo. O instrumental transformador de nossa tradição é tão rico e efetivo como o das tradições orientais. Esse instrumental, que se constitui verdadeiramente nas chaves do Reino dos Céus, é examinado na sexta parte. Assim como a Bíblia nos fala dos doze apóstolos de Jesus, a tradição interna legou-nos doze instrumentos transformadores. Os seis primeiros servem como fundação para o processo transformador, promovendo o que os místicos chamam de via negativa ou purgativa e os cristãos primitivos de kenosis, ou esvaziamento que prepara a alma para receber a Graça suprema do Espírito. Esses seis primeiros instrumentos fundamentais são a fé, o amor a Deus, a vontade, a purificação, a renúncia e o discernimento. Os outros seis instrumentos são de natureza mais operativa. São eles: estudo, oração e meditação, lembrança de Deus, atenção, rituais e sacramentos e, finalmente, a prática das virtudes. A sétima e última parte do livro examina algumas questões de interesse para aqueles que começam a trilhar o caminho. Dentre elas destacam-se a integração entre a natureza superior e a inferior do homem, semelhante ao processo de individuação descrito por Jung, como necessária para que ocorra o verdadeiro crescimento espiritual. Verifica-se que o amor e a verdade são os elementos integradores mais importantes no processo. De interesse especial para o devoto são os indícios de que a transformação está ocorrendo e está levando-o progressivamente à união com o Supremo Bem, a meta de todo esforço. Um fato de especial interesse para o devoto é que a vida do Cristo, pode ser vista como uma alegoria do caminho acelerado, em que os marcos de seu nascimento, batismo, transfiguração, morte e ressurreição e, finalmente, a ascensão representam as cinco grandes iniciações. Com o objetivo de tornar este livro o mais prático possível para o buscador determinado a entrar pela Porta Estreita e trilhar o Caminho Apertado, reunimos no Anexo 1 algumas práticas e exercícios espirituais, decorrência natural dos instrumentos transformadores examinados ao longo do texto. Um glossário também é apresentado no Anexo 4, numa tentativa de facilitar o entendimento da terminologia cristã e esotérica. www.gnosisonline.org. Abraço. Davi

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

II SUFISMO


Islamismo. www.islamreligion.com. II SUFISMO. PRINCÍPIOS DO SUFISMO. “Submissão total e voluntária ao sheik” é provavelmente o lema do Sufismo.  Em um relance, é claro que um laço especial e completo é formado entre o líder da ordem sufi (o “sheik”) e o murid (seguidor); o entendimento dos princípios do Sufismo reside no entendimento de sua estrutura básica.  Sobre o que ele é? Basicamente o seguidor faz um voto de aliança no qual se compromete a obedecer ao sheik e, por sua vez, o sheik promete livrar o seguidor de todo problema ou calamidade que recair sobre ele.  O sheik também oferece ao seguidor sincero benefícios adicionais lucrativos.  Uma vez que o seguidor concorde, ele é abençoado e lhe é designado um conjunto de Dhikr (cânticos). O seguidor também deve viver sua vida de uma maneira especificada pela ordem sufi.  Se surgir um conflito entre seus deveres com a ordem e seus deveres externos, o seguidor, deve agir de acordo com as instruções do sheik.  Dessa forma, o controle do sheik sobre o seguidor se torna absoluto. De todas as maneiras o seguidor é separado do mundo exterior e é explorado de várias formas.  Como muçulmanos acreditamos que nenhum humano tem um poder ou habilidade especial para nos livrar das calamidades do túmulo ou da Vida Eterna.  Cada um de nós se apresentará perante Deus e será julgado individualmente. Deus nos diz: “Nenhuma alma receberá outra recompensa que não for a merecida, e nenhuma pecador arcará cm culpas alheias.” (Alcorão 6:164). Também acreditamos que como muçulmanos não devemos nos submeter ou entregar a ninguém além de Deus, Todo-Poderoso.  Além do Criador, tudo o mais está sujeito a cometer erros.  O Profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, afirmou: “Todo filho de Adão comete erros e o melhor deles é aquele que se arrepende.” (Tirmidthi). O SHEIK. Ele é a “autoridade suprema”, o líder de distribuição de “tarefas” dentro da ordem e dá a cada um dos seguidores seu Dhikhr necessário.  É a esse indivíduo que o seguidor promete obediência total e plena; consequentemente, as duas leis universais do elo sheik-seguidor entrarão em efeito: a. O seguidor não deve nunca argumentar com o sheik, nem pedir a ele uma prova em relação aos atos que ele faz. b. Quem quer que se oponha ao sheik terá quebrado a “aliança” e fica assim privado de todos os benefícios adicionais oferecidos pelo sheik, mesmo se for um amigo próximo dele. Como muçulmanos acreditamos que todos os atos de adoração são “Tawqeefiyah”, ou seja, não é sujeito a opinião; então devem ser substanciados com evidências textuais que são autênticas e decisivas.  Deus, Todo-Poderoso, nos diz: “Mostrai vossa prova se estiverdes certos.” (Alcorão 2:111). Acreditamos que não existe intermediário entre Deus e Seus servos.  Dirigimos a Ele diretamente.  Deus nos diz: “E o vosso Senhor disse: Invocai-Me, que vos atenderei! Em verdade, aqueles que se ensoberbecerem, ao Me invocarem, entrarão, humilhados, no inferno.” (Alcorão 40:60). No Sufismo considera-se o sheik como “o homem inspirado para cujos olhos os mistérios do oculto foram desvelados, porque os sheiks vêm com a luz de Deus e sabem quais pensamentos e confusões estão nos corações dos homens. Nada lhes pode ser ocultado.” Ibn Arabi (1165-1240) alegou que costumava receber revelação direta de Deus, semelhante à forma como o Profeta fazia, e suas palavras foram citadas: “Alguns trabalhos que escrevi no comando de Deus me foram enviados durante o sono ou através de revelações místicas”. M. Ibn Arabi, “The Bezels of Wisdom,” pp.3. Acreditamos que o conhecimento do oculto é restrito somente a Deus.  Quem quer que reivindique o conhecimento do oculto, mente.  Deus nos diz: “Haverá alguém mais iníquo do que quem forja mentiras acerca de Deus, ou do que quem diz: Sou inspirado, quando nada lhe foi inspirado?” (Alcorão 6:93). O Profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, afirmou: “Não forjem mentiras contra mim, porque aquele que o faz entra no Inferno.” (Saheeh Muslim). A ALIANÇA. Essa é uma cerimônia interessante que, de longe, é o princípio mais importante do Sufismo já que é comum entre todas as ordens sufis.  Aqui o sheik e o seguidor dão as mãos e fecham seus olhos em meditação solene.  O seguidor espontaneamente e de todo coração promete respeitar o sheik como seu líder e guia para o caminho de Deus.  Ele também promete aderir aos rituais da ordem ao longo de sua vida e nunca se afastar dela. Junto com isso o seguidor promete fidelidade completa e incondicional, obediência e lealdade ao sheik. Depois disso o sheik recita: “Em verdade, aqueles que te juram fidelidade, juram fidelidade a Deus.” (Alcorão 48:10). Então é dado ao seguidor seu Dhikr específico.  O sheik pergunta ao seguidor: “Aceitou-me como seu sheik e guia espiritual perante Deus, Todo Poderoso?” Em resposta, o seguidor deve dizer “aceitei” e o sheik responde dizendo “nós aceitamos”. Ambos recitam o Testemunho de Fé e a cerimônia termina com o seguidor beijando a mão do sheik. A cerimônia inteira era desconhecida durante a vida do Profeta e as três melhores gerações que o sucederam.  O Profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, afirmou: “Quem quer que viva depois de mim verá muitas diferenças (ou seja, inovações religiosas); então se apeguem a minha Sunnah e à Sunnah dos meus Califas Bem Guiados.” (Abu Dawood). O Profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, também afirmou: “Em verdade, o melhor dos discursos é o Livro de Deus e a melhor das orientações é a orientação do Profeta Muhammad e o mal de todos os assuntos religiosos são as inovações. Toda inovação (em religião) é uma bidah e cada bidah é desorientação, e toda desorientação levará ao Inferno.” (Saheeh Muslim). O imame Malik (711-795), que Allah lhe conceda Sua Misericórdia, disse: “Aquele que introduz uma inovação na religião do Islã e a considera uma coisa boa de fato alega que Muhammad traiu (a confiança de transmitir) a Mensagem Divina”. O DHIKR. Também é conhecido como o “Wird” e no Sufismo é a prática de repetir o nome de Deus e a repetição de um número estabelecido de invocações.  Essas invocações podem incluir suplicar aos mortos ou buscar a ajuda de outros além de Deus para necessidades que somente Deus Todo-Poderoso pode conceder. Ahmad at-Tijani, um ancião sufi, alegou que o wird era realizado pelo Profeta Muhammad, mas que ele não o ensinou a nenhum de seus Companheiros.  At-Tijani alegou que o Profeta sabia que chegaria uma época em que o wird seria tornado público, mas a pessoa que faria isso ainda não existia.  Como consequência, os sufis acreditam que existe uma cadeia de transmissão em andamento entre o Profeta Muhammad e seu sheik atual. O Dhikr é categorizado pelos anciões sufis em três categorias: A. Dhikr do homem comum, em que repetem ‘La ilaaha ill-Allah Muhammad-ur-Rasoolullah’ (ou seja, não existe outra divindade merecedora de adoração exceto Allah e Muhammad é o servo de Deus.) B. Dhikr da alta classe, que é repetir o nome de Deus, “Allah”. C. Dhikr da elite, que é repetir o pronome divino “Hu” (ou seja, Ele). Às vezes o Dhikr é cantado em hinos melódicos com os olhos fechados, música rica pode ser tocada (para alguns isso é essencial); além disso alguns dançam perante o sheik enquanto recitam o Dhikr.  Muitas vezes o Dhikr inclui politeísmo notório (o maior pecado no Islã).  Deus nos diz: “Já te foi revelado, assim como aos teus antepassados: Se idolatrares, certamente tornar-se-á sem efeito a tua obra, e te contarás entre os desventurados.” (Alcorão 39:65). INTERPRETAÇÃO DO ALCORÃO SAGRADO. No Sufismo estudar a exegese do Alcorão ou ponderar sobre os significados de seus versículos é desencorajado e, às vezes, até proibido.  Os sufis alegam que todo versículo do Alcorão tem um significado manifesto e um significado interior.  O significado interior é conhecido somente pelos anciões sufis.  Com base nisso os sufis introduziram conceitos e palavras que são totalmente estranhos aos ensinamentos do Islã. No Alcorão, Deus Todo-Poderoso nos encoraja a entender corretamente Suas palavras.  Deus nos diz: “(Eis) um Livro Bendito, que te revelamos, para que os sensatos recordem os seus versículos e neles meditem.” (Alcorão 38:29). A exegese do Alcorão é realizada pelo estudo do Alcorão junto com a Sunnah; essas duas fontes da lei islâmica devem ser consideradas uma unidade integral. Compreendemos e interpretamos o Alcorão e a Sunnah da forma que foram compreendidos pelas primeiras gerações. CONCLUSÃO. Como pode ser visto do que foi mencionado acima, o Sufismo difere de forma muito drástica do verdadeiro espírito do Islã.  O Sufismo inculca no seguidor a vontade de parar de usar as faculdades básicas dadas a ele por Deus, o Criador do mundo, e a se submeter a uma forma de escravidão. O Islã, por outro lado, é muito simples; não há necessidade de intermediários ou quaisquer santos entre o homem e Deus e só se deve submeter e entregar a Deus, Todo-Poderoso. www.islamreligion.com. Abraço. Davi.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

I SUFISMO


Islamismo. www.islamreligion.com. I SUFISMO. Introdução. Através de um documentário na TV ou um site belamente projetado, a maioria das pessoas já ouviu algo sobre “sufis” e “Sufismo”. Programas na TV têm divulgado, anfitriões de programas de entrevista fazem menção a eles e políticos passaram a ter um forte interesse nesse grupo (...) basta apenas digitar a palavra “sufi” em qualquer programa de busca para ser soterrado com vídeos e fotos disponíveis.  No espaço cibernético podem-se ver imagens e vídeos de místicos e anciões sufis dançando em formas rítmicas ao som de melodias vibrantes.  Imagens perturbadoras de anciões místicos sufis furando suas cabeças com facas ou se submetendo a várias formas de tortura são muito comuns também.  Uma pessoa interessada no Islã pode ter uma ideia errada sobre o Islã e os muçulmanos, porque para o ocidente “sufis” e “Sufismo” é apenas um sinônimo de Islã e muçulmano. A pergunta que surge é se eles são realmente muçulmanos e se estão praticando o Islã. Antes de continuar tenho que mencionar que existem muitos sites, artigos e livros que foram escritos e compilados, mas a maioria fala sobre Sufismo de forma emotiva, dando a impressão que são imparciais.  Nessa humilde empreitada tento escrever sobre “Sufismo” de maneira informativa, longe de qualquer preconceito. Embora sejam somente uma pequena minoria, sufis podem ser encontrados em muitos países, islâmicos e não-islâmicos.  Mas contrário à crença de que o Sufismo é um “grupo”, o sufismo é dividido em “ordens”; cada um difere da outra em termos de crença e prática.  Alguns grupos são maiores que outros e alguns grupos acabaram com a passagem do tempo.  Entre os grupos sobreviventes hoje existe a ordem Tijani, a ordem Naqshabandi, a ordem Cadirita e a ordem Chatili. ORIGEM DO SUFISMO. Em sua forma inicial os ensinamentos do Sufismo salientavam que um indivíduo deve dar mais ênfase aos aspectos espirituais do Islã, como resultado de muitos perderem de vista esse grande objetivo do Islã.  Depois de um período de tempo, entretanto, anciões infames sufis introduziram práticas estranhas ao Islã que foram bem recebidas por seus seguidores.  Práticas introduzidas incluíam dançar, tocar música e até consumir haxixe. O sábio Ibn al-Jawzi (116-1201) escreveu em seu livro ‘Talbis Iblis’ sobre a origem do nome usado por esse grupo, dizendo: “São chamados por esse nome em referência a primeira pessoa que dedicou sua vida à adoração ao redor da Caaba, cujo nome era Sufah”. De acordo com isso, aqueles que queriam imitá-lo se chamavam “sufis”. Ibn al-Jawzi também menciona outra razão: “usavam roupas feitas de lã”. Lã em árabe é chamado “soof” e roupas de lã eram o sinal de um asceta naquela época, uma vez que a lã era a forma mais barata de vestimenta e era muito áspera sobre a pele; em resumo, era um símbolo de ascetismo.  Em qualquer caso, a palavra sufi não estava presente na época do Profeta Muhammad e seus companheiros e apareceu pela primeira vez por volta do ano 200 da Hégira (200 anos depois da migração do Profeta de Meca para Medina). Ibn Taymiyyah (1263-1328), o sábio bem conhecido, menciona que o primeiro surgimento do Sufismo foi em Basrah, no Iraque, onde algumas pessoas foram a extremos na adoração e no afastamento da vida mundana, como não era visto em outras terras. ENTÃO, O QUE É SUFISMO? O Sufismo é uma série de conceitos e práticas que passam pela pobreza, reclusão, ilusão, privação da alma, cantar e dançar; e é baseado em uma mistura de muitas religiões e filosofias diferentes, como a filosofia grega, Zoroastrismo, Budismo, Hinduísmo e também no Islã.  Frequentemente os próprios sufis ou os orientalistas se referem ao Sufismo como o “misticismo islâmico”, para dar a impressão de que o Islã é no todo ou em parte uma religião dogmática com um conjunto de rituais sem sentido.  A própria natureza do Sufismo (ou Tasawwuf) se opõe ao que um muçulmano deve acreditar, o que será explicado mais adiante quando eu fizer menção às crenças sufis em geral. CARACTERÍSTICAS DE UM MUÇULMANO. Um muçulmano sempre recorre ao Alcorão e às narrações do Profeta Muhammad, que as bênçãos e misericórdia de Deus estejam sobre ele, chamada Sunnah, em questões de religião.  Deus nos diz no Alcorão: “Não é dado ao crente, nem à crente, agir conforme seu arbítrio, quando Deus e Seu Mensageiro é que decidem o assunto. Sabei que quem desobedecer a Deus e ao Seu Mensageiro desviar-se á evidentemente”. (Alcorão 33:36). O Profeta Muhammad enfatizou a importância de seguir o Alcorão e a Sunnah e o perigo de introduzir quaisquer inovações no Islã.  É sabido que o Profeta disse: “Aquele que fizer um ato que não está de acordo com meus comandos (ou seja, a Lei Islâmica), deve ser rejeitado”. (Saheeh Muslim). Ibn Mas’ood (um companheiro do profeta), que Deus esteja satisfeito com ele, disse: “O Mensageiro de Deus, que as bênçãos e misericórdia de Deus estejam sobre ele, fez uma linha reta no chão com sua mão e então disse: “Este é a senda reta de Deus.” Depois ele fez uma linha curta de cada lado da linha reta e então disse: “Em cada uma dessas linhas curtas existe um demônio convidando as pessoas para elas”. Então ele recitou o versículo do Alcorão: “Esta é a Minha senda reta. Segui-a e não sigais as demais, para que estas não vos desviem da Minha senda.” (Alcorão 6:153) Saheeh: relatado por Ahmad e an-Nasaae’e. Um muçulmano, portanto, deve obedecer a Deus e Seu Mensageiro.  Esta é a autoridade mais alta no Islã.  Não se deve seguir cegamente líderes religiosos; ao contrário, como humanos devemos usar as faculdades que nos foi dada por Deus, para pensar e raciocinar.  O Sufismo, por outro lado, é uma ordem que retira da pessoa o livre pensar e o critério pessoal e a coloca a mercê do sheik da ordem... como foi dito por alguns anciões sufis, “deve-se comportar com seu sheik como uma pessoa morta se comporta ao ser lavada”, ou seja, não deve argumentar nem se opor à opinião do sheik, e deve demonstrar obediência e submissão totais a ele. Verdadeiros muçulmanos estão satisfeitos com o nome “muçulmano” dado a eles por Deus Todo-Poderoso, como Ele diz: “E não vos impôs dificuldade alguma na religião, porque é o credo de vosso pai, Abraão. Ele vos denominou muçulmanos, antes (nas escrituras sagradas anteriores) e neste livro (Alcorão).” (Alcorão 22:78). Os sufis podem insistir que são muçulmanos, mas ao mesmo tempo alguns insistem em se identificarem como sufis ao invés de como muçulmanos. CRENÇAS ISLÂMICAS EM UM RELANCE: CRENÇA EM DEUS. Resumidamente, um muçulmano acredita na unicidade de Deus.  Ele não tem parceiros e nada e ninguém é semelhante a Ele.  Deus, Todo-Poderoso, diz: “Nada é igual a Ele, e Ele é Ouniouvinte, Onividente.” (Alcorão 42:11). Deus é separado de Sua criação e não uma parte dela. Ele é o Criador e tudo o mais é Sua criação. Os sufis têm uma variedade de crenças em relação a Deus, Todo-Poderoso; entre essas crenças estão as seguintes: a) Al-Hulool: Essa crença denota que Deus, Todo-Poderoso, habita em Sua criação. b) Al-It’tihaad: Essa crença denota que Deus, Todo-Poderoso, e a criação são uma presença única, unida. c) Wahdatul-Wujood: Essa crença denota que não se deve diferenciar entre o Criador e a criação, porque ambos, Criador e criação, são uma entidade. Mansur al-Hallaaj, uma figura muito reverenciada pelos sufis, disse: “Sou Aquele a Quem amo”, exclamou, “Aquele a Quem amo sou eu; somos duas almas que coabitam um corpo. Se você vir a mim, O verá e se O ver verá a mim.” Muhiyddin Ibn Arabi, outra figura reverenciadas no Sufismo, foi infame por suas declarações: “O que está sob minha vestimenta não é nada, exceto Deus,” “O servo é o Senhor e o Senhor é um servo.” Essas crenças acima contradizem fortemente a crença islâmica na unicidade de Deus, porque o Islã é um estrito monoteísmo.  Essas doutrinas cardinais sufis não estão distantes de algumas das crenças cristãs ou da crença hindu de reencarnação. S.R. Sharda em seu livro “Sufi Thought” (Pensamento Sufi) disse: “A literatura sufi do período pós Tamerlão mostra uma mudança significativa na essência de pensamento.  É PANTEÍSTA.  Depois da queda do poder da ortodoxia muçulmana no centro da Índia por aproximadamente um século, devido à invasão de Tamerlão, o Sufismo ficou livre do controle da ortodoxia muçulmana e se associou com santos hindus, que os influenciaram a uma extensão surpreendente.  Os sufis adotaram o monismo, a devoção extremada e práticas Bhakti e iogues da escola vedântica Vaishnava.  Naquela época a popularidade do panteísmo vedântico entre os sufis alcançou seu apogeu”. CRENÇA NO PROFETA DE DEUS. Um muçulmano acredita que o Profeta Muhammad foi o profeta final e mensageiro de Deus.  Não era divino e não é para ser adorado, mas é para ser obedecido. Não se pode adorar Deus exceto da forma que foi sancionada pelo Profeta Muhammad, que as bênçãos e misericórdia de Deus estejam sobre ele. As ordens sufis adotam uma ampla variedade de crenças em relação ao Profeta Muhammad, que as bênçãos e misericórdia de Deus estejam sobre ele.  Entre eles existem os que crêem que ele ignorava o conhecimento que os anciões sufis possuem.  Al-Bustami, um sheik sufi, disse: “Entramos em um mar de conhecimento na margem em que os profetas e mensageiros pararam”. Outros sufis atribuem algum tipo de divindade ao Profeta, que as bênçãos e misericórdia de Deus estejam sobre ele, dizendo que toda a criação foi criada da “luz” do Profeta Muhammad.   Alguns até acreditam que ele foi a primeira criação e que está descansando sobre o trono de Deus, que é a crença de Ibn Arabi (1165-1240) e outros sufis que vieram depois dele. CRENÇA NO PARAÍSO E INFERNO. De forma resumida, os muçulmanos acreditam que o Inferno e Paraíso existem agora e são duas moradas reais.  O Inferno é onde uma pessoa pecadora será punida e o Paraíso é onde uma pessoa piedosa será recompensada. Os sufis em geral acreditam que ninguém deve pedir a Deus que lhes garanta o Paraíso; até alegam que o Wali (guardião) não deve buscar o Paraíso, porque é um sinal de falta de intelecto.  Para eles “Paraíso” tem um significado imaterial, que é o de receber o conhecimento do oculto de Deus e se apaixonar por Ele. Quanto ao Inferno, os sufis acreditam que ninguém deve tentar escapar dele.  De acordo com eles, um verdadeiro sufi não deve temer o Fogo.  Alguns até acreditam que se um ancião sufi cuspir sobre o Fogo ele será apagado, como Abu Yazid al-Bustami alegou. www.islamreligion.com. Abraço. Davi

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

TRANSCENDÊNCIA


Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1965-  ). TRANSCENDÊNCIA. Capítulo Seis. DESPERTAR O AMOR – EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, o propósito é um só. O propósito da alma individual é também o propósito de toda a humanidade e de tudo que existe, pois ele se relaciona com a própria essência da criação. Manifestar o propósito significa exalar a fragrância do Ser que nos habita. E essa fragrância é o amor que se encontra adormecido em nós. O propósito só pode se manifestar quando já despertamos pelo menos um tanto desse amor. Ao mesmo tempo em que o amor desperta, o propósito vai se revelando, e ao mesmo tempo em que o propósito se revela, o amor se expande. Quando falo de amor, estou me referindo ao sentido verdadeiro da palavra, e não ao amor, condicionado pelos desejos e caprichos do ego. Refiro-me ao amor real, que é desinteressado e incondicional. O amor real ama, independentemente daquilo que recebe em troca. Ele não depende do amor do outro para existir. Ele não quer recompensas, promessas e garantias, ele simplesmente ama. SERVIR É AMAR – AMAR, EM ÚLTIMA instância, é servir. Existe uma profunda conexão entre o amor e o serviço, pois quem ama, naturalmente, serve, e quem serve, naturalmente, ama. Da mesma forma que não existe amor sem liberdade, não pode haver serviço sem amor. Amar e servir desinteressadamente representam a mais elevada forma de consciência que pode haver neste planeta. Para alguns, isso pode parecer até mesmo um pouco romântico, mas é contrário. Estou me referindo a uma realidade: nós não estamos aqui a passeio. Não viemos para fazer umas compras no shopping, namorar um pouco, casar, deixar alguns filhos no mundo e depois ir embora. Viemos para servir. E enquanto não acordarmos para essa realidade, seguiremos fracassando em nossas tentativas de encontrar a paz e a felicidade. Enquanto acharmos que estamos aqui apenas para satisfazer os desejos do ego, estaremos fadados ao sofrimento. Nós viemos para servir, mas costumo dizer apenas que viemos para amar, pois é uma forma mais fácil de assimilar e compreender. O que ocorre é que, para muitos, serviço é uma palavra que carrega conotações negativas. Normalmente, o servir é associado a um fazer subordinado, a um senso de inferioridade. E o ego se incomoda muito com isso. Inclusive, um dos elementos a serem purificados através da prática do seva (serviço desinteressado) é justamente esse orgulho, essa falta de humildade. O ego é quem se sente inferior. Ele sempre quer estar em posições especiais, fazendo somente coisas legais que julga serem mais importantes. E é exatamente isso que precisa ser transformado. É preciso compreender o significado mais profundo dessa prática tão mal interpretada que é, na verdade, uma das mais elevadas virtudes da alma. Servir de forma desinteressada, representa um alto grau de desenvolvimento espiritual. Entretanto, principalmente no Ocidente, onde a cultura glorifica o ego e alimenta uma postura arrogante diante das coisas, servir é sinônimo de rebaixamento. Já na Índia e em outras culturas em que as principais tradições espirituais se baseiam na relação mestre discípulo, servir está entre as práticas mais avançadas e elevadas. Eu sei que ao falar de serviço desinteressado, de renúncia da autoria e do resultado das ações, entrega espiritual e relação mestre discípulo, estou tocando em temas delicados, justamente por serem de difícil compreensão. Tudo isso é muito misterioso para a mente racional. Para alguns, esses temas geram até mesmo certa aversão. Isso ocorre porque nos lugares onde a cultura foi basicamente influenciada pelo racionalismo, a mente e a razão têm predomínio sobre o coração e a intuição. A mente raciocina e tenta entender, mas não consegue, porque não é possível compreender com a mente o que está além dela. E certos aspectos da entrega espiritual estão muito além da mente. Para aqueles cuja configuração mental foi rigidamente formatada pela razão e que estão condicionados ao hábito de questionar e duvidar, antes de conhecer e confiar, entender o fenômeno da entrega de um discípulo para um mestre é algo extremamente difícil. Mas, independentemente do que a mente consegue entender, é fato que algumas almas vêm com o propósito mais específico de servir a um mestre. Alguns servirão através da sua profissão, dos seus projetos pessoais ou sociais, da sua arte. Outros servirão através da entrega a um mestre, o que significa que colocarão seus dons e talentos diretamente a serviço da missão que vieram realizar. E entre estes, alguns serão levados a estar dentro de uma comunidade espiritual, vivendo uma vida de renúncia, mas estes serão poucos, até porque estamos sendo chamados a integrar a espiritualidade à vida material. A maioria dos buscadores espirituais, mesmo estando sob a direção de um mestre, precisa viver a espiritualidade de uma forma prática, que permita que estejam na cidade, trabalhando em empresas e sustentando a família. Mas, ao contrário do que muitos acreditam, essa configuração de vida não impede que haja uma relação profunda entre um mestre e um discípulo. Muito pelo contrário. Muitas vezes a conexão é ainda mais forte quando não se está perto do corpo do mestre, porque essa proximidade física, além de gerar purificações muito intensas, também pode causar uma série de projeções que se tornarão obstáculos na jornada. Isso ocorre porque alguns não compreendem a dimensão humana do mestre e acabam se perdendo em idealizações. O importante é saber que a relação mestre discípulo independe da presença física, até porque é uma relação que se dá no plano do espírito. O encontro entre um mestre e um discípulo é um fenômeno extremamente raro e precioso que muitos não poderão ter o privilégio de experimentar, justamente porque envolve elementos que ultrapassam os limites da razão humana. E um desses elementos é a devoção. A devoção é uma esfera do amor incondicional um tanto incompreendida e julgada pela mente cética. É um aspecto mais refinado do amor, que não se pode explicar – só se pode vivenciar. Somente a arte pode tentar expressar o que a devoção representa, pois trata-se de um mistério a ser desvendado pelo coração. Não é possível pensar em devoção, apenas sentir devoção. Não é possível convencer alguém sobre a devoção, pois é algo a ser experienciado. Quando o amor amadurece, a devoção naturalmente floresce. Até um determinado momento, a sua devoção pode ser focada em alguma forma divina, alguma imagem, algum nome ou algum mestre, mas o aspecto mais elevado da devoção é quando o amor vai além da forma ou das questões pessoais e deixa de ter um endereço ao qual corresponder. É, quando isso acontece, o serviço deixa de ser uma purificação, um remédio que você usa para curar doenças. O serviço flui simplesmente porque ele se tornou a razão maior da vida. Muitos, porém, confundem a devoção com o fanatismo, o que é um tremendo engano. Devoção e fanatismo são dimensões radicalmente opostas. A devoção nasce da experiência da verdade e o fanatismo nasce da imaginação. Ele é um produto da mente condicionada, pois se baseia em crenças, aquele que não conhece a verdade acredita na verdade – a verdade criada pela sua própria mente. O fanático acredita ser o dono da verdade sem nem mesmo ter tido um vislumbre dela. No fundo, ele se esconde da Verdade através de uma suposta fé. Qualquer expressão que negue a sua vontade é vista como uma ameaça; qualquer um que não acredite no que ele acredita é visto como inimigo. E isso ocorre justamente porque, no fundo, ele nega a Verdade. Sua fé é baseada em crenças e verdades emprestadas – e uma falsa fé. O fanatismo é, portanto, uma expressão do falso eu. Ele se disfarça atrás de uma máscara de devoto, mas não é nada além de uma distorção do amor. O verdadeiro devoto é aquele que,  tendo passado pelo deserto do ceticismo e pelas provas da dúvida e dos questionamentos que ela traz, teve um vislumbre da Verdade. E através dessa experiência desenvolveu as virtudes da autêntica fé e do serviço desinteressado, o que envolve humildade, e aceitação e gratidão, assim como dedicação, retidão e foco. Aquele que se torna um devoto da vida acorda pela manhã e pergunta ao Mistério: “Como posso servir? Ele se coloca à disposição do amor para servir a divindade na forma de todos os seres vivos, na forma da vida. Esse é o sentido mais profundo de tornar-se um canal puro do amor. E isso é o que podemos chamar de entrega espiritual. PROPÓSITO COMUM – QUANDO A DEVOÇÃO E o serviço desinteressado se encontram, ocorre uma poderosa alquimia. Tenho sido testemunha de muitas belas manifestações que nascem dessa combinação, principalmente quando esse fenômeno ocorre num grupo de pessoas. Quando uma alma se doa para realizar a meta maior através do amor, isso é algo realmente valoroso, mas quando muitas almas se reúnem em torno do mesmo propósito, movidas pela devoção, coisas extraordinárias acontecem. Extraordinário é superar limitações e vencer desafios:: é manifestar a luz em meio à escuridão; é conseguir amar o outro mesmo quando ele está sendo canal do mais profundo ódio e da ignorância; é estar unido ao outro mesmo quando tudo leva à separação. Isso é TRANSCENDÊNCIA, ou seja, é ir além do egoísmo e manifestar o altruísmo. E o que possibilita a manifestação disso que estou chamando de extraordinário é a união. Sem união, não há TRANSCENDÊNCIA. A união é capaz de realizar verdadeiros milagres, porque quando unimos nossas forças (nossos potenciais e virtudes) em torno da mesma meta, nos tornamos verdadeiramente poderosos. E essa é a força que tem um sangha, que é uma comunidade de pessoas unidas em torno de um mestre espiritual para a realização de um propósito comum. O sangha é um organismo vivo que vai expandindo conforme cada indivíduo da comunidade vai se curando e amadurecendo. E na medida em que o sangha expande e se fortalece, ele vai se transformando em refúgio de cura e conexão para todos aqueles que estão em busca da verdade. É por isso que o sangha é visto pelos budistas como uma das joias sagradas do caminho da iluminação. O sangha é o corpo do mestre. E o que permite a saúde do corpo do mestre é a capacidade do sangha de trabalhar em união, amizade e harmonia, pois é através do sangha que o mestre realiza a sua missão no mundo. Um mestre só pode realizar seu propósito por meio da realização do propósito daqueles que o acompanham, pois é parte da sua missão guia-los para essa realização. Um dos aspectos do trabalho de um mestre é justamente acordar a lembrança do propósito e ativar as potencialidades latentes daqueles que escolhem trilhar o caminho com ele, para que possam se colocar a serviço do bem maior. Na medida em que esse trabalho é feito e o discípulo começa a doar seus dons e a entregar os presentes que trouxe para o mundo, o mestre também é presenteado, pois o maior presente para um mestre espiritual  é ver o seu aluno se realizar. Na relação mestre discípulo, apesar de o mestre ter a função de guiar, ambos estão crescendo juntos: um vai expandindo através da expansão do outro. E quando esse movimento ocorre por meio da união de muitas almas, verdadeiros saltos quânticos de expansão da consciência coletiva se tornam possíveis. Consciência é sinônimo de luz, de iluminação. O sangha funciona como uma grande bolha luminosa que, à medida em que cresce, dissipa a escuridão. É um dos mais poderosos instrumentos do caminho da autorrealização. SER O AMOR – AUTORREALIZAÇÃO OU REALIZAÇÃO de si mesmo significa tomar consciência de quem somos, significa despertar do sonho da separação criado pelo ego e voltar à percepção da Unidade. Em última instância, realizar-se significa retornar à própria essência amorosa: assim como um rio se funde no mar, a consciência humana se funde na consciência divina. A consciência é única, mas por causa da natureza ilusória deste plano, ela parece estar fragmentada. Como já vimos ao encarnarmos na Terra para viver essa experiência material, através de um corpo e de um ego, somos envolvidos por um véu ilusório que nos faz acreditar que estamos separados. Ter um ego implica, necessariamente, na existência de uma ideia de eu. Portanto, faz parte do jogo neste planeta ter esse senso de separação. Faz parte do aprendizado da alma encarnada num corpo acreditar que é uma gotinha de água enquanto é o próprio oceano. E, assim como acreditamos ser uma gota, também nos esquecemos do oceano. Na filosofia hindu, aquele que se liberta da ilusão da separação e toma consciência da sua verdadeira identidade é chamado de jivanmukta (alma livre). Esse é o caminho que estamos percorrendo. O caminho da autorrealização ou da libertação – o caminho do encontro da gota com o oceano. E o que possibilita essa lembrança é o amor desperto. Sem amor, não há expansão da consciência. E sem expansão da consciência, não pode haver lembrança. Lembrar significa iluminar, trazer para o campo de visão. E esquecer significa escurecer, retirar do campo de visão. Quando nos esquecemos de alguma coisa, é como se aquilo não existisse. O amor é a luz que nos habita, é o que nos move neste plano. Todos os males deste mundo existem por causa do amor adormecido em nós. E quando falo adormecido, estou me referindo a um estado inativo. Quer dizer que o amor está presente, porém adormecido ou desativado. Assim como uma semente que não é plantada não pode transformar-se numa árvore e dar frutos, o amor adormecido não pode cumprir sua meta de expansão da consciência. Portanto, chegamos ao final do nosso estudo concluindo que estamos aqui para despertar o amor adormecido. Não somente em nós, mas em todos os seres, até porque o amor desperta em nós quando queremos ver o outro despertar. Acredito que, nesse ponto do nosso estudo, já deve estar claro que só é possível brilhar quando trabalhamos para que o outro também brilhe; só é possível se curar, quando trabalhamos para que todos se curem; só é possível realizar o nosso propósito quando trabalhamos para a realização do propósito do outro. O amor é a semente e ao mesmo tempo o fruto maduro da árvore da consciência. Ele é  a própria seiva da vida, é a nossa essência. Assim como o perfume da rosa é inseparável da rosa, o amor é inseparável do Ser. Quando amamos de verdade, estamos exalando a fragrância do Ser. Assim como o propósito do Sol é iluminar e aquecer, o propósito do ser humano é amar. Por isso eu sempre digo que tudo se resume ao amor. Livro Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.