segunda-feira, 29 de agosto de 2022

ONDE ESTÁ DEUS NO MEIO DA TRAGÉDIA

 

Cristianismo. www.suaescolha.com. Por Marilyn Adamson. ONDE ESTÁ DEUS NO MEIO DA TRAGÉDIA? Onde está Deus? Onde podemos encontrar força para lidar com medos, tragédias, desastres e ataques terroristas? Para que exatamente podemos contar com Deus? Onde está Deus? Deus é o criador do universo que anseia para que nós o conheçamos. É por isso que todos nós estamos aqui. É desejo dele que confiemos, experimentemos sua força, amor, justiça, bondade e compaixão. Então ele diz a todos que estão dispostos: “venham a mim”. Diferente de nós, Deus sabe o que acontecerá amanhã, na próxima semana, no próximo ano, na próxima década. Ele diz : “Eu sou Deus, e não há ninguém como eu, declarando o fim desde o início.” (Isaías 46:9) Ele sabe o que acontecerá no mundo. Mais importante, ele sabe o que acontecerá na sua vida e pode ajudá-lo, se você tiver escolhido incluí-lo em sua vida. Ele nos diz que pode ser “nosso refúgio e força, auxílio sempre presente em momentos de dificuldades.” (Salmos 46:1) Mas devemos fazer um esforço sincero para buscá-lo. Ele diz, “vocês me buscarão e me encontrarão, quando me procurarem de todo coração.” (Jeremias 29:13). Isso não quer dizer que aqueles que conhecem a Deus escaparão de momentos difíceis. Não escaparão. Quando um terrorista ataca, causa sofrimento e morte, aqueles que conhecem a Deus estarão envolvidos nesse sofrimento também, mas com eles há uma paz e força que a presença de Deus dá. Um dos seguidores de Jesus colocou isso desta forma: “de todos os lados somos pressionados, mas não desanimados, ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos.” ( 2º Coríntios 4:8-9) A realidade nos diz que experimentaremos problemas na vida. Porém, se nós passamos por eles enquanto conhecemos a Deus, podemos reagir a eles com uma perspectiva diferente e com uma força que não é nossa. Nenhum problema tem a capacidade de ser enorme demais para Deus. Ele é maior que todos os problemas que podem nos atingir, e não somos deixados sozinhos para lidar com eles. A palavra de Deus nos diz: “O Senhor é bom, um refúgio em tempos de dificuldade. Ele cuida daqueles que nele confiam” (Naum 1:7) e, “O senhor está perto de todos que o invocam, de todos que o invocam com sinceridade. Ele realiza os desejos daqueles que o temem; ouve-os gritar por socorro e os salva.” (Salmos 145:18-19). Jesus Cristo disse estas palavras confortantes a seus seguidores: “Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Portanto, não tenha medo; vocês valem mais do que muitos pardais!” (Mateus 10:24-31) Se você se voltar verdadeiramente para Deus, ele cuidará de você como ninguém mais cuida, e de uma forma que ninguém mais pode. Nosso livre arbítrio. Deus criou a humanidade com a habilidade de escolher. Isso quer dizer que não somos forçados a um relacionamento com ele. Ele nos permite rejeitá-lo e nos permite cometer atos ruins da mesma forma. Ele poderia forçar-nos a ser amáveis. Ele poderia forçar-nos a ser bons. Mas então que tipo de relacionamento teríamos com ele? Não seria de jeito nenhum um relacionamento, mas uma obediência forçada e absolutamente controlada. Ao invés disso, Ele nos deu a dignidade humana do livre arbítrio. Naturalmente, nós choramos do fundo das nossas almas… “mas Deus, como você poderia deixar algo desta magnitude acontecer?” Como gostaríamos que Ele agisse? Nós queremos que Ele controle as ações das pessoas? No caso de lidar com ataques terroristas, qual poderia ser um número possivelmente aceitável de mortes para Deus permitir?! Nos sentiríamos melhor se Deus permitisse somente o assassinato de centenas? Nos sentiríamos melhor se Deus permitisse somente a morte de uma pessoa? Mesmo se Deus evitar a morte de uma pessoa, já não há liberdade de escolha. Pessoas escolhem ignorar a Deus, desafiar a Deus, viver à sua própria maneira e cometer atos horríveis contra os outros. Nosso mundo. Este planeta não é um lugar seguro: alguém pode atirar em nós, ou podemos ser atropelados por um carro, ou podemos pular de um prédio atacado por terroristas. Qualquer número de coisas pode acontecer a nós neste momento, neste ambiente duro chamado Terra, o lugar onde a vontade de Deus não é sempre seguida. Mais ainda assim, Deus não está à mercê das pessoas, pelo contrário, nós é que estamos à sua mercê, felizmente. Esse é o Deus que criou o universo com suas estrelas incontáveis, simplesmente ao falar as palavras: “haja luz no firmamento do céu (Gênesis 1:14)esse é o Deus que diz que “reina sobre as nações” (Salmos 47:8); Ele é ilimitado em poder e sabedoria. Embora os problemas pareçam enormes demais para nós, nós temos um Deus incrivelmente capaz que nos lembra: “eu sou o Senhor, o Deus de toda a humanidade. Há alguma coisa difícil demais para mim?” (Jeremias 32:27) De alguma forma, Ele é capaz de manter a liberdade dos homens pecadores, e ainda assim fazer prevalecer sua vontade. Deus claramente diz: “meu conselho prevalecerá, e eu realizarei todo o meu propósito.” (Isaías 46:11) E podemos obter conforto se nossas vidas forem submetidas a Ele, “Deus se opõe aos orgulhosos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4:6). Onde está Deus agora. Muitos de nós – não, todos nós – escolhemos às vezes nos desviar de Deus e seus caminhos. Comparados a outros, a um terrorista por exemplo, podemos até nos considerarmos pessoas respeitáveis e amáveis, mas sinceramente se tivermos que encarar Deus, vamos nos deparar com o conhecimento do nosso pecado. Ao começarmos a direcionar nossas orações a Deus, não somos surpreendidos, paralisados pelo sentido de que Deus conhece bem nossos pensamentos, ações e egocentrismo? Nós temos, com nossas vidas e ações, nos distanciado de Deus. Nós temos geralmente vivido como se pudéssemos levar nossas vidas muito bem sem Ele. A Bíblia diz que “Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho.” (Isaías 53:6). As consequências? Nosso pecado nos separa de Deus, o que afeta mais do que nossa vida aqui e agora. A penalidade por nosso pecado é a morte, ou separação eterna de Deus, no entanto, Deus providenciou uma maneira para sermos perdoados e conhecê-lo. Força interior através do amor de Deus. Deus veio à terra para nos resgatar. “Pois Deus amou o mundo de tal maneira, que enviou seu filho unigênito para que todos os que nele crê não pareça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo pudesse ser salvo através dele.” (João 3:16-17). Deus conhece a dor e o sofrimento que encontramos neste mundo. Jesus deixou o conforto e a segurança do seu lar, e entrou no duro ambiente em que vivemos. Jesus se cansou, conheceu a fome e a sede, sofreu acusações dos outros e foi banido pela família e pelos amigos. Mas Jesus experimentou muito mais que dificuldades diárias. Jesus, o Filho de Deus na forma humana, por vontade própria, levou sobre si todo o pecado e pagou a nossa penalidade de morte: “conhecemos o amor nisto, que ele deu a sua vida por nós.” (1 João 3:16) Ele passou por tortura, morrendo uma morte de sufocação lenta e humilhante na cruz, para que fôssemos perdoados. Jesus disse aos outros antecipadamente que seria crucificado. Ele disse que três dias depois de sua morte, retornaria à vida provando que Ele é Deus. Ele não disse que algum dia iria reencarnar (Quem poderia saber se ele realmente fizesse isso?). Ele disse que, três dias depois de ser enterrado, apareceria vivo fisicamente para aqueles que viram sua crucificação. Naquele terceiro dia, o túmulo de Jesus foi encontrado vazio e muitas pessoas testificaram tê-lo visto. Agora, Ele nos oferece vida eterna. Nós não merecemos; é um dom de Deus oferecido a nós, o qual nós recebemos quando o convidamos a entrar em nossas vidas. “O dom de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo.” (Romanos 6:23) Se nos arrependermos do nosso pecado e nos voltarmos para Deus, nós poderemos ter o dom da vida eterna através de Jesus Cristo. É bem simples: “Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está no seu filho. Quem tem o filho tem a vida, quem não tem o filho de Deus , não tem a vida.” (1 João 5:12) Ele quer entrar em nossas vidas. Força interior através do plano de Deus. E quanto ao céu? A Bíblia diz que Deus “pôs no coração do homem o anseio pela eternidade.” (Eclesiastes 3:11) Talvez isso signifique que nós saibamos, em nossos corações, como um mundo melhor seria. A morte das pessoas que amamos nos convence de que há alguma coisa muito errada com esta vida e este mundo. Em algum lugar no fundo de nossas almas, nós sabemos que deve haver um lugar melhor para viver, livre de dificuldades angustiantes e dor. Tenha certeza, Deus tem sim um lugar melhor, o qual Ele mesmo nos oferece. Lá haverá um sistema completamente diferente, no qual sua vontade é feita o tempo todo. Neste mundo, Deus enxugará toda lágrima dos olhos do seu povo. Não haverá mais tristeza, choro, morte ou dor (Apocalipse 21:8). E Deus, pelo seu Espírito, permanecerá nas pessoas de tal maneira que elas nunca pecarão novamente (Apocalipse 21:27 ; Coríntios 15:28). Os eventos do ataque terrorista nos EUA são horríveis o suficiente. Recusar um relacionamento eterno com Deus, que Jesus oferece a você, seria muito pior. Não só à luz da vida eterna, mas não há nenhum relacionamento que se compare a conhecer a Deus nesta vida. Ele é nosso propósito na vida, nossa fonte de conforto, nossa sabedoria em tempos de confusão, nossa força e esperança. “Provai e vede que o senhor é bom, abençoado é o homem que nele se refugia.” (Salmos 34:8). Alguns dizem que Deus é somente um apoio para os fracos, mas é provável que Ele seja o único confiável. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não como o mundo vos dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize.” (João 14:27). Para aqueles que confiaram em Jesus durante suas vidas, Ele diz que é como construir sua vida em uma rocha. Qualquer que seja a crise que o ataque nesta vida , Ele pode mantê-lo forte. Força interior através do Filho de Deus.  Você pode receber Cristo agora mesmo. ”Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, Deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus. (João 1:12). É através de Jesus Cristo que podemos voltar a Deus. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao pai senão por mim.” (João 14:6) Jesus ofereceu: “Eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.” (Apocalipse 3:20). Agora mesmo você pode convidar a Deus para entrar em sua vida. Você pode fazer isso através da oração. Oração significa conversar honestamente com Deus. Neste momento, você pode falar com Deus dizendo sinceramente algo assim: “Deus, eu me distanciei de ti em meu coração, mas eu quero mudar isso, eu quero conhecê-lo, eu quero receber Jesus Cristo e seu perdão em minha vida. Eu não quero mais ficar separado de ti; seja o Deus da minha vida deste dia em diante. Obrigado, Deus”. Você acabou de convidar a Deus sinceramente a entrar em sua vida agora? Se sim, você tem muito por esperar ansiosamente. Deus promete fazer de sua vida atual a maior satisfação a medida que você o conhece. (João 10:10). Onde está Deus? Ele promete fazer morada em você (João 14:23). E ele lhe dá vida eterna (1 João 5:11-13). Não importa o que aconteça no mundo ao seu redor, Deus pode estar lá por você. Embora as pessoas não sigam os caminhos de Deus, Deus é capaz de tomar circunstâncias horríveis e fazer com que seu plano aconteça de qualquer forma. Deus está completamente no controle dos eventos do mundo. Se você é de Deus, então você pode descansar na promessa de que “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.” (Romanos 8:28). Jesus Cristo disse: “Deixo-lhes a minha paz; a minha paz lhes dou, não a dou como o mundo a dá; nada perturbe o seu coração. Neste mundo, vocês terão aflições, contudo tenham ânimo. Eu venci o mundo.” (João 14:27 e 16:33) Ele promete nunca nos deixar ou nos abandonar. (Hebreus 13:5). Para você crescer no conhecimento de Deus e de sua vontade para sua vida, leia os livros de Mateus, Marcos, Lucas e João na Bíblia. www.suaescolha.com. Abraço. Davi

sábado, 27 de agosto de 2022

OS PRETOS-VELHOS

 

Religião Afro-brasileira. www.terra.com.br. Texto de Ricardo Hida. Astrólogo e Balaorixá. Saiba mais sobre os Pretos-Velhos e peça proteção a essas entidades. OS PRETOS-VELHOS. Entidades pertencentes a Umbanda. Há quem, nunca tendo pisado em um terreiro, fique com medo dos Pretos-Velhos. O sentimento pode ser explicado muito por conta de imagens vendidas que, nem de longe representam a generosidade e bondade desses espíritos de luz. Sim, os Pretos-Velhos são espíritos do bem, seriamente comprometidos com a caridade, o amor e a humildade. E quem já sentiu o abraço, quem já ouviu suas palavras sabe que seus conselhos são pautados pela ética, a justiça e o perdão. O que pouca gente sabe é que muitos desses guias não foram necessariamente negros e muitos não morreram idosos - e aqui valem algumas explicações. Os espíritos evoluídos, quando desencarnam, podem assumir a forma que desejarem. Muitos optam por trabalhar nos centros na forma de ex escravos para valorizar a herança que os africanos deixaram para o Brasil e mostrar que a vaidade nem de longe é característica do bom médium. Apesar disso, muitos sensitivos e canalizadores adoram anunciar que incorporam ou recebem mensagens de pessoas famosas, como escritores, pintores e médicos, como se o título e um nome famoso fosse garantia de evolução espiritual. Porém, poucos são os que reconhecem, atrás de um pai João e uma vó Benedita, a grandeza dos mestres espirituais. Quem disse que nomes importantes da ciência e da medicina, justamente para não chamar atenção, não resolveram adotar a forma simples e humilde dos pretos velhos para trabalhar em um centro, focando na essência da atividade e não na forma como se apresentam? O jeito simples de passar as mensagens permitiu que pudessem falar também com uma camada da população brasileira que não se via representada por espíritos de médicos alemães e tampouco entendiam as palavras difíceis de escritores e filósofos. Os Pretos-Velhos são muito conhecidos por ajudar em questões de saúde, seja física ou emocional, assim como para encontrar emprego e unir família. Suas magias, chamadas de "mirongas", são poderosíssimas e repletas de mistérios milenares. Nas consultas, utilizam técnicas de benzimento e sugerem banhos com ervas. Conhecem, assim como os Caboclos, os segredos de uma infinidade de plantas. No entanto, as ervas que mais utilizam são o manjericão, para melhorar o padrão dos pensamentos; o alecrim, para ajudar em curas físicas diversas; a espada de São Jorge, para proteção espiritual; a arruda, para descarrego; e a guiné, para trabalhar com a prosperidade. Com seus cachimbos ou cigarros de palha, defumam as pessoas que com eles tomam passes. A ação do fogo e do fumo "queima" as energias pesadas - se engana quem pensa que eles precisam do "pito" para alimentar vícios. Já o café, servido sempre frio e sem açúcar, nos trabalhos, ajuda a dar movimento à vida das pessoas. Quanta gente já encontrou trabalho oferecendo um pouquinho da água preta para São Benedito em uma segunda-feira? No passe, ao estalar os dedos, também acionam energias que se encontram paradas no campo vibratório dos assistidos. Os Pretos-Velhos conhecem com profundidade a força de cada Orixá, embora sejam mais relacionados a Obaluaê e Nanã - divindades mais velhas nas religiões de matriz africana. Sabem que são forças da Natureza que, quando se encontram desequilibradas, causam problemas físicos e emocionais nos indivíduos. E movimentam com respeito as energias dessas expressões divinas, sem deixar de lado as rezas e ladainhas católicas e o poderoso rosário que protege os filhos de fé. Não são raros os médiuns que presenciaram uma batida no chão com a bengala espantar exércitos de espíritos perdidos que vinham atrapalhar um ritual.  No plano espiritual, cuidam das crianças que desencarnaram antes de seus pais, e dos animais domésticos. Os Pretos-Velhos podem ser agrupados naqueles de Angola, Luanda, Guiné, Congo ou Aruanda. Não se trata de segmentação geográfica, mas fundamentos nos campos de atuação. Geralmente, se apresentam como pais ou mães velhos, mas podem ser chamados de vovôs, quando optam por formas anciãs, ou ainda de tios, quando escolhem vir em formas mais jovens. Suas cores são o preto e branco e o dia consagrado a eles é a segunda-feira. No dia 13 de maio, as casas de Umbanda celebram esta linha, sem esquecer do dia 26 de julho. Embora sejam doces, não aceitam indisciplina, tampouco falta de palavra. Mas o perdão é grande característica, mostrando que mesmo vivendo o drama do cativeiro, ajudaram inclusive a seus algozes. A grande lição de um Preto-Velho, aliás, está na verdadeira liberdade. Todos eles vêm, nos dias de hoje, mostrar o quanto somos prisioneiros de nossas ilusões - muito mais perigosas que as correntes que os mantinham na escravidão. Adorei as almas! Benção, vovôs! Ritual para pedir proteção aos Pretos-Velhos. Em uma segunda-feira, acenda uma vela palito, metade branca e metade preta. Faça a oração abaixo por nove dias, acendendo as velas diariamente. "Glorioso São Benedito, grande Confessor da fé, com toda confiança venho implorar a vossa valiosa proteção. Vós, a quem Deus enriqueceu com os dons celestes, impetrai-me as graças que ardentemente desejo, para maior glória de Deus. Confortai o meu coração nos desalentos! Fortificai minha vontade para cumprir bem os meus deveres! Sede o meu companheiro nas horas de solidão e desconforto! Assisti-me e guiai-me na vida e na hora da minha morte, para que eu possa bendizer a Deus nesse mundo e gozá-lo na eternidade. Com Jesus Cristo, a quem tanto amastes. Assim seja." Texto: Ricardo Hida - Astrólogo e Babalorixá. www.terra.com.br. Abraço. Davi

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

OS SERES ESPIRITUAIS

 

Religião Afro-brasileira. www.escoladaluz.com.br. Umbanda. Livro A Proto-Síntese Cósmica. Mestre tântrico curador Yamunisiddha Arhapiagha. Médium F. Rivas Neto. Capítulo II. OS SERES ESPIRITUAIS. Seres Espirituais no Cosmo Espiritual – Seres Espirituais no Universo Astral – Individualidade – Atributos do Ser Espiritual. Quando falamos Seres Espirituais, queremos nos referir não apenas aos Espíritos tanto encarnados como desencarnados no Reino Natural ou Universo Astral. Também são Seres Espirituais aqueles que não desceram das infinitas regiões do Cosmo Espiritual ou Reino Virginal onde evoluem. Como vimos, isentos de qualquer veículo composto de Substância Etérica. Tanto os Seres Espirituais Puros, isto é, isentos de qualquer veículo, no Reino Virginal. Como os Seres Espirituais que já estão com veículos de exteriorização de sua consciência, percepção, desejos, através da Substância Etérica. São de uma natureza diferente, quer seja do Espaço Cósmico, quer seja da Substância Etérica ou da energia condensada a vários níveis. É também importante salientar que, ao contrário da matéria, os Seres Espirituais não se desintegram, não estão sujeitos aos processos associativos ou dissociativos tão comuns na matéria. Com isso, afirmamos que os Seres Espirituais são Eternos, Incriados e Indestrutíveis, sendo sua Natureza Vibratória distinta da Sete essência da matéria. Ou seja, os Espíritos não são nada daquilo que seja inerente à matéria, mormente em seus processos de transformação. Tais como as transformações da matéria densa para as mais sutis, como por exemplo no fenômeno da morte física ou desencarne. Os Seres Espirituais ou Espíritos, tal como cada um de nós, pois também somos Seres Espirituais, são eternos. Somos Eternos, pois a origem de nossa natureza Vibratória Espiritual Pura é do conhecimento único da Deidade, sendo, pois, Arcano Divino. Somos, pois, coeternos com a Divindade Suprema. Somos incriados, pois somos da mesma Natureza Vibratória da Divindade, sem sermos a própria Divindade, e muito menos centelha ou fagulha dela. Somos, sim, Espíritos e a Divindade Suprema é o Todo Poderoso — o Supremo e Imaculado Espírito. Somos Incriados, pois não fomos criados. Há quem diga que nós, os Seres Espirituais, fomos criados simples e ignorantes para, após períodos de elevação, na Lei de Causa e Efeito, alcançarmos a relativa perfectibilidade. Esta é uma assertiva que, embora respeitemos, não aceitamos em nossa Corrente Astral de Umbanda. Pois se a aceitássemos estaríamos negando os atributos do Supremo Espírito — Deus. Como um Ser Supremo, infinitamente Justo, infinitamente Bom e Sábio, criaria de Si mesmo seres imperfeitos, tal qual cada um de nós? E mesmo que nos criasse distintos de sua Natureza Vibratória Divina, simples e ignorantes, como dizem alguns, onde estaria Sua Suprema Sabedoria? Para quê criar Seres Espirituais ignorantes que iriam desejar o Universo Astral, ou seja, a descida do Cosmo Espiritual ao Universo Astral. Fazendo-se necessária, como foi, a manipulação da Substância Etérica caótica, transformando-a em Substância organizada, para dar formação ao Universo Astral onde a energia tem domínio? Que Deus caprichoso é esse? Que Pai Sublime é esse, que gostaria de ver Seus Filhos passarem pelas mais difíceis situações, só para que eles aprendessem a dar valor à Sua Superioridade e Perfeição? Claro que nosso bom senso rechaça veementemente essas afirmações. Assim, a Corrente Astral de Umbanda entende que os Seres Espirituais são incriados. Não foram criados por Deus, como se o Supremo Ser pudesse criar algo imperfeito. Embora todos sejamos sujeitos ao aperfeiçoamento, não foi Deus que nos criou imperfeitos. Mas sim, ajustou Leis, para que essas nos regulassem e fizessem com que alcançássemos a perfectibilidade, ou através do Cosmo Espiritual, ou do Universo Astral. Esperamos, pois ter deixado bem claro que nós, Seres Espirituais, não fomos criados pelo Pai Supremo. Como também não somos originários da própria Natureza Divina. Se todos fôssemos de origem divina, por que não seríamos todos iguais? E mesmo que a Divindade nos tivesse criado simples e ignorantes, por que não seríamos todos iguais? Ou será que houve privilégios? Como veem, Filhos de Fé, se quisermos crer que Deus nos criou, chegaremos às raias do absurdo, como o acima citado, de que o Supremo Espírito "fez" seres privilegiados. Assim, a Corrente Astral de Umbanda, em seus Fundamentos, tem como ponto chave que todos os Seres Espirituais são Individualidades. E que como Individualidades têm suas Vibrações Individualizadas próprias. De maneira que a tônica espiritual que lhes seja própria possa se revelar, isso tanto no Cosmo Espiritual como no Universo Astral. Obedecendo aos ditames do livre-arbítrio, prerrogativa do Pai Supremo estendida a todos os Seres Espirituais, para que cada um se revele e evolua segundo sua própria vontade. As Afinidades Virginais, tais como percepção, inteligência, desejos, vontades, são inerentes a cada Ser Espiritual. Sendo que cada um, segundo essas mesmas afinidades virginais, se expressa desta ou daquela forma. Muitos, nessa hora, já devem estar com uma pergunta de há muito na cabeça: Como, se não somos criados por Deus, a Entidade que escreve o livro O chama de Deus Pai? Muito inteligente sua pergunta, Filho de Fé estudioso. Atente para a resposta! Cremos na Paternidade Moral da Divindade, pois temo-lo como o Supremo Espírito. Inacessível, mas infinitamente misericordioso e sábio. Assim, aceitamos a Paternidade Suprema de Deus, no aspecto de ter ele permitido, através de Sua Onisciência e Onipotência, meios para que evoluíssemos, criando Leis Reguladoras para que nos educássemos espiritualmente. Finalizando este pequeno capítulo relativo à nossa Realidade Eternal, como Seres Espirituais ou Espíritos. Queremos que fique bem claro aos Filhos de Fé o seguinte: 1. Todos os Espíritos são imateriais.  Somos isentos de matéria, de energia ou qualquer processo agregativo sobre nós. Não somos compostos atômicos, eletrônicos, fotônicos, quarks, ante matéria etc. Somos apenas Espíritos, com nossa própria Natureza Vibratória Espiritual. 2. Todos os Seres Espirituais são Incriados. Somos incriados, pois nossa origem se perde na Eternidade. Somente a Deidade, Detentora e Conhecedora da Eternidade, é quem sabe nossa origem. Afirmamos também que o Supremo Espírito não nos criou. Quando dizemos que nossa Essência Espiritual é originada da mesma do PAI, não estamos dizendo que é a própria do Pai. 3. Todos os Seres Espirituais são Perfectíveis. Todos nós, indistintamente, caminhamos para o aperfeiçoamento. 4. Não fomos criados por Deus simples e ignorantes. Deus não criaria ninguém simples e ignorante. Esperando que cada um evoluísse e alcançasse a evolução através de duríssimas e penosas provas. A Corrente Astral de Umbanda crê num Deus infinitamente Bom e Justo, e não num Deus sádico e cruel. 5. Cremos inabalavelmente na Suprema Consciência Una, que estende sobre nós, Individualidades Espirituais. O seu beneplácito espiritual. 6. Todos os Seres espirituais podem evoluir em duas regiões distintas: a) Cosmo Espiritual. É o que já definimos como as infinitas regiões do espaço cósmico onde jamais houve, por menor que fosse, interpenetração da matéria ou energia. Nesse campo espiritual ou reino virginal, o Espírito pode evoluir, segundo um karma causal. É óbvio que, nesse lado da "Casa do Pai", os Seres Espirituais estão isentos de "veículos" ou Corpos. Não têm a mínima agregação sobre Si de elementos da matéria ou ante matéria. b) Universo Astral. É o que também já definimos como uma região do espaço cósmico que já foi interpenetrada pela substância etérica ou matéria -energia. Nesse Universo Astral é que há os milhões de galáxias, com seus sistemas solares, e esses com planetas, satélites etc. É nesse Universo Astral que o Espírito pode evoluir segundo um karma constituído. Nesse lado da "Casa do Pai" é que o Ser Espiritual constitui seus sete Corpos ou Veículos de Expressão de sua consciência, percepção, inteligência, sentimentos etc. Através dos Arquitetos Siderais. Esses sete Corpos ou "veículos" do Espírito-Consciência são de Energia-Massa em vários níveis. Obedecendo a sete essência da Matéria. Que não se faça confusão entre Cosmo Espiritual e Universo Astral. Como dissemos, no Universo Astral há os vários níveis energéticos, o Ser Espiritual, dependendo de seu grau evolutivo, em sua jornada evolutiva, ora estará num dado plano. Que lhe caracterizará a necessidade de reajuste no Corpo do plano no propósito imediatamente superior. Ora no plano imediatamente inferior, gerando, como exemplo aqui na Terra, o fenômeno do nascimento e morte, que veremos detalhadamente nos capítulos que se seguem. Livro Umbanda. A Proto-Síntese Cósmica. Abraço. Davi

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

SÔJÔ: ACEITAÇÃO DOS ASPECTOS DA VIDA HUMANA

 

Budismo. www.budismohoje.org.br. Texto de Chodo San. Monje na Daissen Ji. Escola Soto Zen. SÔJÔ: ACEITAÇÃO DOS ASPECTOS DA VIDA HUMANA. Em um programa de entrevistas é mostrada uma cena em que um motorista de ônibus havia encontrado um saco de dinheiro e procurou de todas as formas uma maneira de devolvê-lo ao dono. O entrevistador pergunta entusiasmado ao convidado: “Uma pessoa como está, com essa honestidade, não é certo que coisas boas lhe acontecerão, não é certo que quem faz o bem recebe o bem? ”. O convidado, meio constrangido, olhou para a plateia, pensou um pouco e disse: “Não, não é verdade. Coisas ruins podem acontecer a pessoas boas e coisas boas podem acontecer a pessoas ruins”. A resposta pareceu ter chocado tanto entrevistador quanto plateia, pois gostamos deste pensamento otimista e positivista de que “Quem faz o bem recebe o bem”. Lembro de um amigo que me contou sobre um parente seu, “Uma pessoa maravilhosa”, contou ele “Bom filho, bom amigo, sempre disponível para seus colegas de faculdade e trabalho, não fazia mal a uma mosca”. E este seu parente foi assassinado na saída de um bar em São Paulo por três homens, ele foi agredido violentamente e morreu no local. E esse meu amigo me perguntou “Por que uma pessoa tão boa teve uma morte tão violenta e assim tão novo?”. Afinal, para este meu amigo é certo que coisas boas acontecem para pessoas boas. Acontece que estamos num planeta tendo uma manifestação humana e como humanos estamos sujeitos às coisas dos humanos como violência, racismo, preconceito, homofobia, assaltos e guerras, além é claro de coisas do próprio planeta, como terremotos, tsunami, furacões, enchentes e sujeitos também a mordidas de cães raivosos, vírus ou bactérias. É impossível que aconteçam somente coisas boas o tempo todo ou que tenhamos somente bons pensamentos sempre, apesar de este ser o desejo da maioria das pessoas. Creio que foi Stephen Hawking que disse que “Os estudos e variantes matemáticas nos mostram que é muito difícil a convivência por longo tempo de seres sencientes e inteligentes sem que haja escassez de recursos ou conflitos e guerras, não importa que construamos uma nova sociedade em Marte”. Em outras palavras, podemos até ter lampejos de altruísmo e boa vontade, mas inerentemente somos seres belicosos, então, além de todas as variantes fenológicas ainda temos que lidar com nossa própria propensão à autodestruição, muito embora esse ponto de vista tenha bons argumentos para os dois lados, como do historiador Harari, autor de Sapiens – Uma Breve História da Humanidade que nos diz (não exatamente com estas palavras) que somos herdeiros dos maus, pois foi a partir da Revolução Cognitiva, algo que não ocorreu com outros humanos, que o Sapiens deu um salto na fabricação de armas, organização e aperfeiçoamento, no modo de cooperar entre si para caçar e guerrear, resultando na extinção de muitos animais e de outros humanos como o Homo Erectus e Homem de Neandertal. Já Rutger Breman, em seu livro Humanidade – Uma História Otimista do Homem, diz que o ser humano não é uma besta violenta e que “A crise não faz aflorar o pior dos indivíduos, e sim o seu melhor”. Hannah Arendt, uma filósofa alemã de origem judaica citada no livro de Rutger, acreditava que no fundo nossa necessidade por amor e amizade é maior que nossa propensão ao ódio e a violência. Algumas observações feitas nas armas de soldados mortos em vários conflitos armados mostram que a maioria deles morria sem ter disparado um único tiro ou outros que davam tiros a esmo, sem ter como alvo outro ser humano. Isto pode nos mostrar que não temos, no fundo, qualquer intenção de matar um semelhante, mesmo numa guerra. Costumo responder para quem me pergunta se está tudo bem que “Não, não está. Mas está tudo bem que não esteja tudo bem”, porque a vida é assim, coisas boas e não boas ocorrerão e ambas fazem parte disso que chamamos Vida. Existe uma ordem no caos e a entropia não deve ser compreendida como desorganização ou bagunça, muito pelo contrário, é a maneira de o universo se organizar. Neste sentido, não há nada fora do lugar no Cosmos, tudo que acontece, acontece porque tem que acontecer, porque existe uma causa pregressa. Temos que aprender a conviver com as adversidades e com as coisas que nos desagradam. Querer que o mundo se molde às nossas vontades é estar fadado à eterna tristeza, pois a Vida não dá a mínima para as nossas pequenas e insignificantes vidas, a Vida segue seu fluxo independente de quão mimados e egoístas sejamos, ou de o quanto tentemos controlá-la. Tenho por hábito preparar meu filho para minha morte, ou para a dele e falo frequentemente sobre isso com ele. Digo a ele que tenho menos tempo de vida do que já vivi e constantemente digo para ele atualizar a procuração que passei e lembro das senhas da internet e do banco e ouço dele sempre a mesma coisa “Imagina, pai. Tu és um cara forte, saudável, se alimenta bem, faz exercícios, vais viver muito tempo ainda” e digo a ele sempre a mesma coisa: sou humano e estou sujeito às coisas do humano. Isto não é ser pessimista, é ser realista e aceitar uma condição humana da morte certa que poderá acontecer a qualquer momento. Existe hoje em dia um excesso de positivismo em que uma das premissas é a ideia de que podemos ser felizes, ter boa qualidade de vida, saúde e vida longa se tivermos bons pensamentos para atrairmos coisas boas. Outro ponto deste positivismo exacerbado é a ditadura da felicidade e isto é tão sério que muitos profissionais de Recursos Humanos de empresas colocam o nível de felicidade como um pré-requisito para admissão e segundo Eva Illouz, professora de sociologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, “Muitos governos estão tentando substituir uma redistribuição justa de recursos pelo índice de felicidade”. Se nos apegarmos à definição de saúde da Organização Mundial de Saúde, na qual saúde não é simplesmente ausência de doença, mas um estado de completo bem-estar físico, mental e social, eu me pergunto quem é saudável no mundo contemporâneo? Seguindo o mesmo raciocínio, se a felicidade não é a simples satisfação dos meus desejos individuais e não depende somente de mim, mas é antes o resultado da boa condição social, cultural, política, econômica e de saúde não somente minha, mas de todos os seres, como posso me dizer uma pessoa feliz quando existe no mundo tanto sofrimento, violência, conflitos, guerras e fome? A tirania do pensamento positivo e da felicidade causa muitos danos, pois traz à tona uma confusão cada vez mais evidente: o que é saudável e o que é normalidade. O professor e pesquisador Edgar Cabanas da Universidade Camilo José Cela de Madri afirma que “O discurso dominante da felicidade diz que apenas pessoas felizes são indivíduos bem ajustados e funcionais, enquanto não ser ou não se sentir feliz é um sinal de desajuste pessoal e de saúde, mental e física, ruim”. Isto pode causar grande confusão, não somente para a sociedade em geral, mas também para os profissionais da área de saúde, pois muitas pessoas que se dizem felizes e postam fotos e mensagens felizes na internet, possuem sérios problemas de saúde mental e desajuste social. Assim como a infelicidade, o pensamento negativo tornou-se um estigma social e motivo de vergonha, pois ninguém quer ser taxado de infeliz e pessimista. A psiquiatra americana Anna Lembke, chefe da Stanford Addiction Medicine Dual Diagnosis Clinic, diz que “A ideia de que a vida deve ser uma grande festa e que devemos ser felizes o tempo todo é uma ilusão, mas que nossa cultura comprou. O resultado é que, quando não estamos felizes, pensamos que algo está errado conosco, que estamos doentes, azarados ou alguma combinação desse tipo. A verdade é que a vida é principalmente sobre estar descontente, e momentos de verdadeira felicidade são fugazes, muitas vezes espontâneos”. Madre Tereza de Calcutá dizia que o que mais desejava era pregar a palavra de Deus, porém ela entendia que muitas pessoas tinham outro tipo de fome que não A Palavra e que ela tinha que primeiro satisfazer esta necessidade. Creio que como budistas também devemos entender que ainda que o zazen seja nosso instrumento para o despertar e que o Dharma de Budha seja nosso caminho, existem pessoas, muitas pessoas, com sérias dificuldades para lidar com as questões do humano antes de se aventurar a sentar numa almofada e ouvir o mestre dizer “O ego é uma construção e tudo o que você entende que seja você não existe e não sobrevive à sua morte”. Olhar para a vida e seus revezes sem os filtros da ilusão pode ser muito doloroso e quase impossível para muitos de nós e fica ainda pior com a ditadura da felicidade e do positivismo a nos impor uma realidade utópica que só existe em capas de revista, redes sociais e nas agências de marketing. Texto de Chûdô san. Monge na Daissen Ji. Escola Soto Zen. www.budismohoje.org.br. Abraço. Davi

 

sábado, 20 de agosto de 2022

IDÉIAS DE FÉ, CONDUTA E SALVAÇÃO

 

Cristianismo. www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais. IDEIAS DE FÉ, CONDUTA E SALVAÇÃO em Clemente de Alexandria.  Esse Pai da Igreja morreu em 217 da Era Cristã. Grego de uma família de libertos, nascido em torno do ano 180, no paganismo, Tito Flávio Clemente (mais conhecido por Clemente de Alexandria) encontra a doutrina cristã na juventude e a ela se converte de maneira profunda. Durante anos seguidos, em incessantes viagens da Grécia para a Síria e da Palestina para o Egito, este homem, que veio a ser um ícone da Igreja primitiva, procurou penetrar melhor na doutrina de Cristo, ouvindo atentamente a cristãos e sábios – adquirindo e desenvolvendo conhecimentos. Dentre esses sábios houve um em especial que lhe chamou a atenção, fazendo do alexandrino seu seguidor (pela convergência de ideias). Esse homem chamava-se Panteno (tido como detentor de um conhecimento "superior"), de quem Clemente se tornou aluno, assistente e que, mais tarde, veio a superar aquele que foi conhecido como "abelha da Sicília". Já no ano 200 Clemente teria ido além dos ensinamentos do seu tutor. Sendo padre, mas sem obrigações paroquiais (não era muito afeito a celebrações), Clemente de Alexandria dedica-se inteiramente ao ensino cristão – catequese. Ao mesmo tempo em que fala, segue escrevendo; sempre infatigável, sempre profundo, embora por vezes caótico e difuso na sua linguagem. Dono de um coração largo, espírito de uma cultura enorme, inteligência do mais vasto alcance, que o seu entusiasmo pela doutrina evangélica não impediria de se abrir a tudo (nem mesmo à tão atacada cultura pagã, em especial no que diz respeito à filo dos gregos). Em muitas passagens de suas obras sentimo-nos deveras comovidos: quando fala da virtude e da infância tão dedicadamente, a questão do casamento, e quando se refere a problemas que são sempre do maior interesse; como o das responsabilidades do dinheiro e o da salvação dos ricos (de grande dificuldade), dentre vários outros também de suma importância para nosso conhecimento e para a nossa religião como hoje a temos. Quando a perseguição aos cristãos, promovida pelo imperador Sétimo Severo, fecha, por algum tempo, sua escola, refugia-se na Capadócia, junto de um de seus antigos alunos, onde continua seu fatigante trabalho. Clemente morre em 216, após muito ter contribuído para o desenvolvimento – e mesmo para o surgimento – do que foi denominado "cristianismo primitivo" (é o início da doutrina cristã; da Igreja). Na ótica de Clemente, a vida é um verdadeiro "combate espiritual", ele frisa – prioriza – o lado ascético (práticas de devoção e penitência); isso no que diz respeito à transformação que ocorre na vida das pessoas, que, seguindo o ideal cristão, tentam levar uma vida "santificada". É um dos "pais da Igreja" (patrística), pois fundamentou as suas bases, seu início. "O que o Cristianismo condena é o abuso é o excesso de afeição que o homem tem aos bens da terra e que o obriga a desconhecer o seu verdadeiro sentido e o seu valor limitado". Clemente de Alexandria e muitos outros padres da Igreja primitiva condenam com rigor o luxo, os vestuários de ricos coloridos, "os sapatos bordados a ouro, sobre os quais os pregos se enrolam em espiral", e a gulodice desmedida dos ricos, as gastronomias requintadas, e a "vã habilidade dos pasteleiros". O ensinamento da Igreja é que se deve usar o que Deus legou, mas com moderação e gratidão: o alimento celestial (que é simples por natureza) seria o "único prazer fino e puro", pois nos levaria à salvação. Por vezes, Clemente se referiu e reconheceu que na Igreja havia ricos e pobres – o que não justifica que o lucro e a propriedade sejam condenados. As riquezas da terra são efêmeras, a única riqueza verdadeira é a do céu, visto que essa jamais passará. Temos aí a explicação para, no ideal de Clemente, a dificuldade que os ricos encontravam para entrar no reino dos céus. Tido como "o mais instruído dos padres", Clemente também atacou fortemente os basilidianos e demais hereges que tentavam contra a Igreja, e que sempre buscaram distorcer os ensinamentos de Jesus. O mestre alexandrino utiliza muito a comparação entre ensino / vida cristã e as atividades agrícolas, algo muito comum entre os estoicos. Como nesta passagem sobre o casamento: "Assim, não está certo tornar-se escravo dos prazeres do amor e dedicar-se lascivamente à satisfação dos próprios desejos; da mesma forma que é errado entregar-se à satisfação das paixões irracionais. Como o agricultor, ao homem casado é permitido semear sua semente quando a estação permite" . Clemente não aceita o prazer sexual; o coito serviria apenas para a reprodução. Dessa maneira, o homossexualismo é, também, visto como uma anomalia, uma afronta à moral. "Comete-se adultério com a própria esposa quando se mantém relações sexuais com ela como se fosse uma prostituta". Muitos são os estudiosos que apresentam o cristianismo do alexandrino como sendo uma filo. Embora guarde certo receio frente aos perigos que a cultura mundana oferece, Clemente designa a filo como importante fonte para a aquisição de uma fé melhor fundamentada. A filo grega é vista aqui como um todo, e não haveria o conhecimento, platônico, o aristotélico e tudo mais; apenas a totalidade. Daí, podemos lançar a importância da unidade, também, para a religião. Fé e razão encontram-se interdependentes, onde se a fé não se apresenta como simples demonstração da razão, não pode se constituir, também, em algo que a negue; existe complementaridade. Deve-se buscar uma fé "sincera", através da Lei, da obediência e de uma vida reta em Cristo. Fazendo uso de sua pedagogia, o mestre alexandrino nos passa que: "Uma educação sem castigos se equivoca". Ao contrário do que se possa pensar, os castigos seriam complementares da sabedoria, e tudo é feito por amor. A necessidade da defesa da doutrina cristã é muito presente, pois as pessoas devem tomar cuidado com o que escutam ou falam. Deve-se transmitir a luz a quem convém. É por isso que, em "Stromata", o próprio autor reconhece que o texto contém uma verdade dispersa (mutilada); tudo como forma de defesa. "Como las semillas, de modo que no estén al alcancede los charlatanes, cual grajos. Mas si tienen la suerte de encontrar un bom agricultor, cada una de ésas (semillas) brotará y mostrará lozano el trigo". Mas uma vez agrupada, essa verdade que é anunciada se revela totalmente àqueles aptos a compreendê-la (especialmente aos gnósticos). "Quien reúne de nuevo lo que se ha disseminado y reconstruye la unidad poderá comtemplar con seguridad al Logos, a la Veredad". Deve haver uma mobilização para se combater os hereges, porque "quien no impide una cosa es participante de la misma". Clemente crê na autonomia do espírito humano, em contrapartida com o determinismo de alguns hereges (basílides e sofistas, por exemplo). Vale destacar que mesmo atacando muito os sofistas e seu discurso, Clemente reconhece a importância da dialética para o progresso do conhecimento racional (progresso da fé científica). O pecado é apresentado como sendo uma doença da alma, que deve ser curada através do correto seguimento dos ideais cristãos. E seguindo uma tendência clementina, às vezes torna-se necessário amputar um membro do corpo, para que o todo permaneça saudável. Também a antiguidade do Cristianismo (a tradição) é utilizada pelo padre de Alexandria, em Stromata, para ajudar na defesa contra os infiéis. E Moisés é apresentado em muitas páginas, como sendo mesmo o grande legislador do Senhor na terra – o que evidencia o apego de Clemente ao Antigo Testamento. Religião e filo. Como legítimo representante dos primórdios do Cristianismo, Clemente de Alexandria prega muito a importância da religião e a necessidade de que o povo a compreenda, para que ele adquira boas e corretas palavras que vão norteá-lo rumo à salvação perante Cristo. Altamente influenciado pelos ideais neoplatônicos, o alexandrino não vê, como outros padres do período, apenas aspectos maus na cultura pagã. É bem o contrário, o conhecimento grego vai justamente facilitar que as pessoas compreendam melhor os ensinamentos do Senhor. Clemente chega a atribuir grande importância à filo, a tal ponto de compará-la à Bíblia, em termos da justificação que era lançada sobre gregos e hebreus, respectivamente. Há a valorização da filo sobre as demais ciências. "Antes de la venida del Señor, a filo era necessaria para la justificación de los griegos; ahora, sin embargo, es provechosa para la religión". Para Clemente, havia "níveis" de fé, e as pessoas poderiam ser "fiéis simples" ou com um grau maior de elevação. O grande objetivo do alexandrino era o de fazer surgir uma ciência da religião, tendo a fé como critério racional de juízo, de onde surgiriam os gnósticos – "cristãos superiores" – que associavam conhecimento racional às palavras sagradas: "(...) la filosofía contribuye a la adquisición de la sabiduría (...) es una práctica de la sabiduría". Clemente via a importância de que fosse significativo o número de fiéis gnósticos, mas sabia da dificuldade desse acontecimento: "La gnosis no es patrimonio de todos (...); sin embargo los libros son feitos para las multitudes". Em suma, o gnóstico seria "um cristão ideal, que alcançou a ciência e vida espiritual perfeitas, na medida que podem ser alcançadas neste mundo"; apenas o gnóstico seria capaz de comunicar a doutrina verdadeira sem distorcê-la – exatamente pelo fato de conhecê-la de forma mais profunda. A fé simples é aquela que crê apenas no que diz as Escrituras, sem nenhuma atividade de investigação. A filo, ou qualquer outra forma de conhecimento, vem a ser útil para se ter uma fé mais segura, mais forte; para que se possa distinguir com toda certeza o bem e o mal, "la herejía de la verdad misma". E ainda: "La actividad racional regenera al alma y la orienta hacia una conducta intachable". Através do filo, o espírito humano teria maior predisposição para entender e conhecer melhor asa coisas divinas. E ainda sobre a união fé/filo: "La cuerda más alta (de la lira) se opone a la más baja, pero de ambas resulta una única ía musical; (...) el número par és diferente del impar, y sin embargo ambos son necessarios en la aritmética". Associando-se à filo grega, o Cristianismo proposto por Clemente faria, agora, de aliado um antigo inimigo (representante fundamental da cultura pagã). A defesa da religião frente aos ataques dos hereges e dos sofistas é também fundamental na obra do padre cristão. A sofística, através do seu forte discurso, denigre o verdadeiro em função de algo falso (poder de persuasão); é uma "má arte" no entender do alexandrino. Os sofistas seriam "lobos saqueadores con pieles de oveja, que esclavizam los hombres y suceden con elocuencia a las almas" . O padre alexandrino não admite que a doutrina sagrada seja posta em comparação. Deve-se evitar as palavras desnecessárias: "Quienes pretenden participar de las palavras divinas deben estar muy atentos no sea que refiriendo lo superfluo" . Na sua tarefa de persuasão, a sofística impediria o desenvolvimento do conhecimento a partir das próprias pessoas; elas seriam, assim, guiadas pelo discurso de outrem, onde não haveria espaço para a livre reflexão. Mesmo entendendo a necessidade de não deixar de lado a filo, é importante ressaltar que as palavras santas são bastante superiores ao conhecimento dos gregos. Ou seja, a religião pode sobreviver sem a filo (que é um catalisador, uma facilitadora da religião), mas o contrário não pode ocorrer. "Los filósofos son niños, a menos que se hagan totalmente hombres por obra de Cristo". A junção entre a tradição humana (filo) e a divina (fé) seria, desse modo, de dupla utilidade – tanto para a religião como para a filo. Por fim, temos que a fé seria, também, um filtro para a entrada das palavras sagradas. Seria um subsídio necessário para a compreensão desses conhecimentos: "Se não credes, não compreendereis" . A verdade e a salvação em Cristo. Procurando fazer com que o grande público compreendesse de melhor forma os ensinamentos cristãos, Clemente utiliza uma metodologia bastante simples e repetitiva, para que seus ouvintes o compreendessem – haja vista que o padre alexandrino se dedicou especialmente à catequese. Apesar de seus ensinamentos, o próprio mestre reconhecia que a maioria das pessoas não estava apta ao conhecimento da doutrina de Cristo. Aquele que procura passar conhecimento religioso a outrem (geralmente um padre) deve agir de maneira semelhante a um agricultor, devendo cultivar com esmero em boa terra suas sementes (os fiéis): "Un alma que se une a (otra) alma y un espiritu a (otro) espiritu, cuando se siembra la palavra, hacem crescer la semilla y producem vida; y todo el que es educado viene a ser hijo del educador en virtude de la obediencia". A semente seria, também, símbolo da perseverança que um verdadeiro fiel deve possuir; resistir a tudo, suportar toda forma de agressão estando no estado latente, e germinar quando boas condições forem encontradas. A salvação da alma não é coisa fácil de se alcançar; pois ela só é possível através de muito esforço e dedicação por obra daqueles que a buscam. "La mies es mucha y los operarios son pocos". O alexandrino fala em seus escritos da necessidade de se seguir os passos do Senhor, de se levar uma "vida santa", reta em Cristo – é encontrada essa necessidade no Antigo Testamento. E diz Clemente: "Es necessario, pues, imitar en lo possible al Señor". E está na Bíblia: "O povo de Deus deve ter uma vida santa". Aqueles que ensinam às pessoas devem facilitar a sua compreensão, nada mais que isso, pois os fiéis devem aprender a superar suas dificuldades. Consta em Clemente: "Es razonable ayudar a uno a llevar su carga, sin embargo no lo es ayudar a descargarla". Os detentores do conhecimento devem não guardá-los apenas para si, mas torná-los disponíveis ao público; para que este possa realizar a progressão de sua fé: "Quien habla delante de personas y, con tiempo, las somete a examen (...) difere camiño pedregoso del solo fertil". Também aquele que ensina está aprendendo a cada palavra que profere. A Sabedoria é personificada em Deus, logo, conhecendo-a melhor, as pessoas estariam se aproximando mais de Jesus e da salvação. Na pedagogia clementina, o exercício leva à perfeição e a prática é inimiga do erro. Aqueles que não praticam sua fé perdem-se (eles se atrofiam espiritualmente e se tornam mais aptos aos ataques dos pecadores). Ainda nesse ponto, a tradição oral é valorizada sobre a escrita – é mais segura, uma vez que os perigos da nossa língua são os de permitir várias interpretações; o que é campo fértil para especulações. Quando o assunto é a vida mundana (seu fascínio), Clemente não é tão radical como outros padres da Igreja. Deve-se utilizar a cultura mundana – aquilo que a vida na terra oferece – mas não se pode ficar preso demasiadamente à ela; os atrativos do mundo devem ser usados apenas para o bem. É terrível o fim daqueles que fazem uso do prazer de forma desordenada: "Luego te arrepentirás en la vejez, cuando se consuman las carnes de tu cuerpo. Ese es el fin del placer desordenado". Os ricos encontram muita dificuldade para entrar no reino dos céus, pelo fato de se ligarem muito aos bens materiais; quando já se dizia nesse cristianismo que "Deus está além do material" . O homem que deseja a salvação de sua alma não deve viver na glória de suas posses ou do seu conhecimento; não se deve ter vaidade. "Que no se glorie el sabio de su sabiduría nen el rico de su riqueza" . Existe a consciência de que: " Muchos, en efecto, hay entre nossotros flacos y débiles y bastantes que están dormidos. Si nos juzgásemos a nossotros mismos, no seríamos condenados". Por fim, a importância de se levar uma vida simples e a consequente dificuldade do ingresso dos ricos na salvação fica clara em: "La caridad es la major ley del amor que Cristo ensino". Um grande centro cristão: A Escola de Clemente. Num momento em que a literatura pagã vai sofrendo um período de forte crise, surge a inteligência da Igreja, através, principalmente, dos escritos dos padres. Os dois maiores centros de onde emanavam as idéias cristãs no século III eram o Egito e a África. E dentre os nomes de maior destaque está o de Clemente de Alexandria. A título de curiosidade, Alexandria era uma cidade imensa – das maiores do mundo no período – aglomeração em constante crescimento, cidade de muitas morais, várias religiões. A inteligência era ali muito estimada e dispunha de inumeráveis instrumentos de trabalho: Museu, Biblioteca, Zoológico e tudo mais. Ali se encontrava um clima excitante para o espírito, uma terra de eleição para todas as tentativas sincretistas, e para todas as heresias. Por volta de 200, Alexandria era o centro do aprendizado cristão e gnóstico; o grande cérebro (o ponto de convergência) do mundo ocidental – era onde tudo fluía muito rapidamente. O capitalismo há muito se instalara nesta cidade. Como já foi dito, no século II a fama da cidade torna-se ainda maior. Ao lado das escolas dos filósofos, fundara-se uma instituição "análoga à de São Justino em Roma", uma didascália cristã. Essa escola era, ao mesmo tempo, uma universidade e um cenáculo: muitas matérias, poucos alunos e também poucos mestres. Clemente foi o primeiro desses chefes da escola cristã. Alexandria – situada no Egito – tornara-se, no século III, a então capital do Cristianismo e o mestre Clemente seu principal nome. www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais. Abraço. Davi

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

II.O CAMINHO DO BODHISSATVA

 

Budismo. Livro A Vida de Compaixão. Texto de Tenzin Gyatso (1935-  ), o Décimo Quarto Dalai Lama. II. O CAMINHO DO BODHISSATVA. Superando a raiva e o ódio. Falamos sobre a natureza enganadora e destrutiva das ilusões. O ódio e a raiva são os maiores obstáculos para um praticante do Bodhichita, o desejo altruísta de iluminação. Bodhisattvas nunca deveriam gerar ódio, mas, em vez disso, deveriam se opor a ele. Para isso, a prática da paciência, da tolerância, é crucial. Shantideva começa o sexto capítulo de seu texto, intitulado “A paciência”, explicando a seriedade do dano e do estrago causado pela raiva e pelo ódio: eles nos prejudicam agora e no futuro, e também nos prejudicam destruindo nossa coleção de méritos passado. Já que o praticante da paciência deve se opor ao ódio e derrotá-lo, Shantideva insiste na importância de primeiro identificar os fatores que causam a raiva e o ódio. Suas principais causas são a insatisfação e a infelicidade. Quando estamos infelizes e insatisfeitos, ficamos frustrados com facilidade e isso leva a sentimentos de ódio e raiva. Shantideva explica que é muito importante para aqueles dentre nós que treinam a paciência evitar o surgimento da infelicidade mental – o que é provável acontecer quando você sente que as pessoas de quem gosta estão ameaçadas, quando é acometido pela má sorte ou quanto outros impedem que você atinja seu objetivo. Seus sentimentos de insatisfação e infelicidade nessas horas são o combustível que alimenta o ódio e a raiva. Assim, desde o começo, é importante não permitir que essas circunstâncias perturbem sua paz de espírito. Ele assinala, usando todos os meios à nossa disposição, que deveríamos nos opor e eliminar a instalação do ódio, já que sua única função é nos prejudicar os outros. Esse é um conselho muito profundo. “Tendo encontrado seu combustível de insatisfação; em evitar aquilo que desejo, e em fazer aquilo que não quero. O ódio aumenta e depois me destrói”. Se a manutenção de um estado de espírito equilibrado e feliz mesmo diante da adversidade é um fator chave para prevenir o surgimento do ódio, ainda podemos nos perguntar como conseguir isso. Shantideva diz que, quando se está diante de circunstâncias adversas, sentir-se infeliz não tem utilidade para superar a situação indesejada. Isso não é apenas fútil, na verdade, servirá apenas para aumentar sua ansiedade e causar um estado de espírito desconfortável e insatisfeito. Você perde toda noção de calma e felicidade. A ansiedade e a infelicidade gradualmente o corroem por dentro e afetam seu sono, seu apetite e sua saúde também. Na verdade, se o dano inicial que você sofreu foi infligido por um inimigo, sua infelicidade mental pode até se tornar um motivo de deleite para essa pessoa. Portanto, é inútil se sentir infeliz e insatisfeito quando confrontado à circunstâncias adversas, bem como revidar contra quem lhe tenha feito mal. Em geral, existem dois tipos de ódio ou raiva resultantes da infelicidade e da insatisfação. Um primeiro tipo é quando alguém o prejudica, e como resultado disso você se sente infeliz e gera raiva. O outro é quando, embora ninguém o esteja prejudicando diretamente, ver o sucesso e a prosperidade de seus inimigos o faz sentir-se infeliz e gera raiva por causa disso. Da mesma maneira, geralmente existem dois tipos de danos causados por outras pessoas. Um primeiro tipo é o dano físico direto infligido por outras pessoas e experimentado conscientemente por você. O outro é o dano causado a seus bens materiais, à sua reputação, à sua amizade e assim por diante. Embora não sejam dirigidos a seu corpo, esses atos também são um tipo de dano. Digamos que alguém bata em você com uma vara e você sinta dor e fique com raiva. Você não fica com raiva da vara, fica? Qual é exatamente o alvo da sua raiva? Se a atitude apropriada fosse sentir raiva do fator que causou o ato de bater, então você não deveria ficar com raiva dessa pessoa, mas sim das emoções negativas que levaram essa pessoa a agir. Normalmente, no entanto, não fazemos essas distinções. Pelo contrário, consideramos a pessoa – o agente intermediário entre as emoções negativas e o ato – a única responsável e guardamos rancor em relação a ela, não em relação às dificuldades ou às ilusões. Também deveríamos ter consciência de que, já que possuímos um corpo físico que está sujeito a sentir dor quando atingido por uma vara, nosso próprio corpo contribui em parte para nossa experiência da dor. Por causa de nosso corpo e de sua natureza, algumas vezes experimentamos a dor física mesmo que nenhuma causa externa de dor esteja presente. Está claro que a experiência da dor ou do sofrimento ocorre como resultado de uma interação entre nosso corpo e vários fatores externos. Você também pode refletir sobre como, se a natureza essencial da pessoa que o está machucando é prejudicar os outros, é inútil ficar com raiva, já que não haveria nada que você ou essa pessoa pudessem fazer para mudar sua natureza essencial. Se a verdadeira natureza dessa pessoa fosse realmente causar danos, ela simplesmente seria incapaz de agir de outra maneira. Como afirmou Shantideva: “Mesmo que a natureza destes insensatos, consistisse em fazer mal aos outros. Ainda seria incorreto irritar-se com eles. Pois seria como culpar o fogo, cuja natureza é queimar”. Por outro lado, se prejudicar os outros não for a natureza essencial da pessoa, mas em vez disso seu caráter aparentemente prejudicial for meramente incidental e circunstancial, então ainda não há necessidade de sentir raiva dessa pessoa, já que o problema se deve inteiramente a determinadas condições e circunstâncias imediatas. Por exemplo, ela pode ter perdido a paciência e agido mal, mesmo que não tivesse realmente a intenção de machucar você. Também é possível pensa dessa maneira. Quando você sente raiva de outras pessoas que não lhe estão causando danos diretos, físicos, mas que percebe estarem impedindo que você alcance fama, posição, ganhos materiais e assim por diante, você deveria pensar da seguinte maneira: por que ficaria especialmente irritado ou zangado com relação a esse problema específico? Analise a natureza daquilo que não está conseguindo obter – e examine com cuidado seu benefício para você. Eles são realmente tão importantes? Você descobrirá que não. Já que é esse o caso, por que ficar com tanta raiva dessa pessoa? Pensar dessa maneira também é útil. Quando você ficar com raiva como resultado da infelicidade que sente ao ver o sucesso e a prosperidade de seus inimigos, deveria lembrar que o simples fato de sentir ódio, raiva ou infelicidade não vai afetar os bens materiais ou o sucesso dessa pessoa na vida. Portanto, mesmo desse ponto de vista, é bastante inútil. Além da prática da paciência, os praticantes que se inspiram no texto de Shantideva também buscam desenvolver o bodhichita – o desejo de alcançar a iluminação (nirvana) para o benefício de todos os seres sencientes – bem como a compaixão e o treinamento da mente. Se, apesar de sua prática, eles ainda se sentirem infelizes por causa do sucesso de seus inimigos na vida, deveriam lembrar que essa atitude é deveras inapropriada para um praticante da compaixão. Se essa atitude negativa persistir, o pensamento “Sou um praticante da compaixão; sou uma pessoa que vive segundo os preceitos do treinamento da mente” torna-se meras palavras desprovidas de significado. Em vez disso, um verdadeiro praticante do bodhichita deveira se regozijar pelo fato de outras pessoas terem conseguido alguma coisa sozinhas sem a ajuda de ninguém. Em vez de ficar infelizes e cheios de ódio, deveríamos nos regozijar com o sucesso dos outros. Se investigarmos a questão em um nível ainda mais profundo, descobriremos que, quando os inimigos nos prejudicam, podemos na verdade ser-lhes gratos. Tais situações são oportunidades raras de testar nossa própria prática da paciência. Trata-se de uma ocasião preciosa para praticar não apenas a paciência, mas também os outros ideais do Bodhisattva. O resultado é que temos a oportunidade de acumular mérito nessas situações e receber seus benefícios. O pobre inimigo, por sua vez, por causa da ação negativa de infligir dano a alguém em razão da raiva e do ódio, vai acabar tendo que encarar as consequências negativas de suas próprias ações. É quase como se aqueles que nos prejudicaram se sacrificassem em prol do nosso benefício. Já que o mérito acumulado graças à pratica da paciência só foi possível por causa da oportunidade que nosso inimigo nos proporcionou, estritamente falando deveríamos dedicar nosso mérito ao benefício desse inimigo. É por isso que o Guia Para o Modo de Vida do Bodhisattva fala em gentileza do inimigo. Embora possamos por um lado reconhecer a gentileza do inimigo, podemos, por outro, sentir que o inimigo não teve intenção de ser gentil conosco. Portanto, pensamos, não é necessário que lembremos de sua gentileza de modo algum. Se, para que respeitemos ou valorizemos alguma coisa, é preciso haver intenção consciente da parte do objeto, então esse argumento deveria se aplicar também a outros assuntos. Por exemplo, por si só, a verdadeira cessação do sofrimento e o verdadeiro caminho que leva à cessação – a terceira e a quarta nobres verdades – não têm intenção consciente de serem benéficos. No entanto, como budistas, ainda assim as respeitamos e as reverenciamos. Por quê? Nos trazem benefícios. Se os benefícios recebidos por nós justificam nossa reverência e respeito por essas duas verdades, apesar de elas não terem nenhuma intenção consciente, então esse mesmo raciocínio também deveria se aplicar ao inimigo. No entanto, você pode sentir que há uma diferença importante entre o inimigo e essas duas verdades da verdadeira cessação e do verdadeiro caminho. Ao contrário das duas verdades, o inimigo tem um propósito consciente de prejudicá-lo. Mas essa diferença também não é uma razão válida para não respeitar o inimigo. Na verdade, se ela tem algum efeito, é o de representar mais motivos para reverenciar e ser grato a seu inimigo. De fato, é esse fator especial que torna seu inimigo único. Se infligir dor física fosse suficiente para tornar alguém um inimigo, você deveria ter que considerar seu médico um inimigo, pois ele muitas vezes causa dor durante o tratamento. Agora, como praticante genuíno do Bodhichita, você deve desenvolver a paciência. E de modo a praticar com sinceridade e a desenvolver a paciência, precisa de alguém que o machuque intencionalmente. Assim, essas pessoas nos dão verdadeiras oportunidades de praticar essas coisas. Elas estão testando nossa força interior de uma maneira que nosso guru é incapaz de fazer. Nem mesmo o Budha tem tal potencial. Portanto, o inimigo é o único que nos dá essa oportunidade de ouro. Essa é uma conclusão notável, não? Pensando dessa maneira e usando essas razões, você acabará desenvolvendo um tipo de respeito extraordinário por seus inimigos. Essa é a principal mensagem de Shantideva no sexto capítulo. Quando tiver gerado respeito genuíno por seu inimigo, você poderá então remover com facilidade a maioria dos principais obstáculos para desenvolver o altruísmo infinito. Shantideva menciona que, assim como muitos Budhas nos ajudam a alcançar a iluminação, também existe uma contribuição equivalente dos seres senciente comuns. A iluminação só pode ser alcançada se nos apoiarmos em ambas: a gentileza dos seres senciente e a gentileza dos Budhas. Para aqueles dentre nós que alegam ser seguidores do Budha Sakyamuni e que reverenciam e respeitam os ideais do Bodisattva, Shantideva afirma que é incorreto ter rancor ou ódio em relação a nossos inimigos, quando todos os Budhas e Bodhisattvas levam todos os seres sencientes em seus corações. É claro que nossos inimigos estão incluídos no grupo de todos os seres senciente. Se sentirmos rancor para com aqueles que os Budhas e Budhisattvas levam junto ao coração, contradiremos os ideais e a experiência desses Budhas e Bodhissatvas, justamente os seres que estamos tentando imitar. Até mesmo em termos mundanos, quanto mais respeito e afeição sentirmos pelas pessoas, mais consideração terremos por elas. Tentamos evitar agir de maneiras que elas possam desaprovar, pensando que poderíamos ofendê-las. Tentamos levar em consideração as maneiras de pensar de nossos amigos, seus princípios e assim por diante. Se fizermos isso até mesmo para nossos amigos comuns, então, como praticantes dos ideais do Bodhisattva, deveremos demonstrar o mesmo apreço, senão um apreço ainda maior, pelos Budhas e Bodhissatvas, tentando não ter rancor ou sentimentos de ódio em relação a nossos inimigos. Shantideva conclui esse capítulo sobre paciência explicando os benefícios de sua prática. Em resumo, por meio de prática da paciência, você não apenas irá alcançar um estado de onisciência, mas experimentará seus benefícios práticos até mesmo em sua vida cotidiana. Será capaz de manter sua paz de espírito e de viver uma vida de alegria. Quando praticamos a paciência para superar o ódio e a raiva, é importante estar equipado com a força do esforço entusiasta. Deveríamos ter a habilidade de cultivar esse esforço. Shantideva explica que, assim como devemos prestar atenção ao executar uma tarefa mundana, como travar uma guerra, para infligir a maior destruição possível ao inimigo, ao mesmo tempo em que nos protegemos de seus danos, da mesma maneira, quando praticamos o esforça entusiasta, é importante alcançar o mais alto nível de sucesso ao mesmo tempo em que nos asseguramos de que essa ação não prejudica ou obstrui nossas outras práticas. Eu e outros: Trocando de lugar. No capítulo sobre meditação no Guia Para o Modo de Vida do Bodhissatva, encontramos uma explicação da meditação específica para cultivar a compaixão e o Bodhichita. A explicação segue um método chamado equalizar e trocar o si pelos outros. O equalizar e o trocar a si pelos outros significam desenvolver a atitude que entende que: “Assim como eu desejo a felicidade e desejo evitar o sofrimento; o mesmo se aplica a todos os outros seres vivos, que são infinitos como o espaço; eles também desejam não só a felicidade, como desejam evitar o sofrimento”. Assim como trabalhamos para nosso próprio benefício de modo a alcançar a felicidade e nos proteger do sofrimento, também deveríamos trabalhar pelo benefício dos outros, para ajuda-los a alcançar a felicidade e a libertação do sofrimento. Embora nosso corpo tenha diferentes partes, como a cabeça, os membros e assim por diante, no que diz respeito à necessidade de protegê-las não há diferença entre elas, pois são igualmente parte do mesmo corpo. Da mesma maneira, todos os seres sencientes têm essa tendência natural – desejam alcançar a felicidade e se libertar do sofrimento – e, no que diz respeito a essa inclinação natural, não há nenhuma diferença entre os seres sencientes. Consequentemente, não deveríamos fazer distinção entre nós mesmos e os outros quando trabalhamos, para alcançar a felicidade e superar o sofrimento. Deveríamos refletir e nos esforçar seriamente para eliminar nossa noção de que nós e os outros somos separados e distintos. Vimos que, até agora, no que diz respeito ao desejo de alcançar a felicidade e de evitar o sofrimento, não há nenhuma diferença. O mesmo, se aplica também ao nosso direito natural de sermos felizes; assim como temos o direito de gozar a felicidade e a liberdade sem sofrimento, todos os outros seres vivos têm o mesmo direito natural. Então, onde está a diferença? A diferença está no número de seres sencientes envolvidos. Quando falamos do nosso próprio bem-estar, estamos falando apenas do bem-estar do indivíduo, enquanto o bem-estar dos outros inclui o bem-estar de um número infinito de seres. Desse ponto de vista, podemos entender que o bem-estar dos outros é muito mais importante do que o nosso. Se o nosso próprio bem-estar e o dos outros não tivessem relação nenhuma e fossem independentes um do outro, poderíamos defender o fato de negligenciar o bem-estar dos outros. Mas esse não é o caso. Sempre estou relacionado aos outros e dependo muito deles, não importa qual seja o meu nível de desenvolvimento espiritual: enquanto eu não estiver iluminado, enquanto estiver no caminho e também uma vez que houver alcançado a iluminação. Se refletirmos dessa maneira, a importância de trabalhar em benefício dos outros se torna naturalmente aparente. Você também deveria examinar se, ao permanecer egoísta e autorreferente apesar dos pontos citados acima, ainda pode alcançar a felicidade e realizar seus desejos. Se for esse o caso, então a continuação de seus hábitos egoístas e autorreferente seria um procedimento razoável. Mas não é. A natureza de nossa existência é tal que devemos depender da cooperação e da gentileza dos outros para nossa sobrevivência. É possível observar o fato de que, quanto mais nos preocupamos sinceramente com o bem-estar dos outros e trabalhamos para o seus benefício, mais benefícios obtemos. Você pode ver esse fato por si mesmo. Por outro lado, quanto mais egoísta e autorreferente continuar a ser, mais sozinho e triste se tornará. Você também pode observar esse fato por si mesmo. Portanto, se realmente quiser trabalhar para seu próprio benefício e bem-estar, então é melhor levar em conta o bem-estar dos outros e considerar o bem-estar deles mais importante do que o seu próprio. Ao refletir sobre esses pontos, você sem dúvida será capaz de fortalecer cada vez mais sua atitude de valorização do bem-estar dos outros. Além disso, podemos complementar nossa prática da compaixão e do Bodhichita com meditações sobre os diversos valores da sabedoria. Por exemplo, podemos refletir sobre a natureza do Budha: o potencial de realizar a Bhudeidade  que existe dentro de nós e de todos os seres sencientes. Também podemos refletir sobre a natureza fundamental dos fenômenos, sobre sua natureza vazia, usando o raciocínio lógico para determinar o valor da realidade. Podemos imaginar que a cessação do sofrimento é possível porque a ignorância, que é sua principal causa, é por natureza fortuita e, assim, pode ser separada da natureza essencialmente pura de nossa mente. Ao pensar e meditar sobre os fatores da sabedoria e ao praticar a compaixão e o altruísmo de forma constante, com esforços deliberados, durante um longo período, você verá uma verdadeira mudança em sua mente. Livro A Vida de Compaixão. Abraço. Davi.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

NÓS OS FILHOS PRÓDIGOS

 

Teosofia. Editor do Mosaico. NÓS OS FILHOS PRÓDIGOS. São Lucas 15, 11-31 diz: "E disse um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao Pai: Pai dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por ele a fazenda. E poucos dias depois o filho mais novo ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou os bens vivendo desregradamente. (...) E tornando em si disse: quantos jornaleiros de meu Pai tem abundância de pão e eu aqui pereço de fome. (...) E levantando foi-se para seu Pai, e quando ainda estava longe viu o seu Pai e moveu-se de íntima compaixão e correndo lançando ao pescoço e o beijou". A conhecida parábola do Filho Pródigo é apresentada sob várias interpretações e todas partem do princípio de que o filho que se afastou estava errado ao tomar essa decisão e não deveria sair da proteção da família e nem do regaço - abrigo - de seu pai. Mas nossa versão dessa narrativa tem o propósito de enfatizar a importância das experiências pessoais realizadas através de escolhas legítimas. Baseadas no livre arbítrio dado por Deus, tendo o propósito do crescimento e evolução espiritual. Onde a aprendizagem produz a maturidade humana e uma consciência em transformação aberta a interação com os diferentes reinos da natureza. Confúcio (551 AC 479) disse "Há três métodos para ganhar a sabedoria: primeiro por reflexão que é o mais nobre, segundo por imitação que é o mais fácil e terceiro por experiência que é o mais amargo". Vamos pensar em uma analogia para entendermos a Casa do Pai e o relacionamento com seus filhos. Assim a figura de um ninho de águia é bem recorrente como ilustração, pois os pais águias com seus filhotes vivem em harmonia e convivência. Estando com os olhos para o futuro dos filhotes quando esses terão condições de voar e caçar seu alimento através do esforço pessoal de cada um. Mas até lá muitas coisas irão acontecer que envolverão um treinamento e estágios de adaptação as inúmeras fases que deverão ser percorridas. Primeiro os pais águias fazem seus ninhos nos penhascos mais altos das montanhas. Sendo esse fato importante para a segurança e proteção dos filhotes contra os pássaros predadores que voam em altitudes acima da média. Esses adversários são os corvos, abutres, urubus e falcões. Mas um detalhe curioso e sabido entre os ornitólogos – os que estudam os pássaros - as mamães águias para guardarem seus ninhos voam e caçam em distâncias consideráveis. Elas veem no rochedo seus ninhos e geralmente perseguem suas presas em pleno voo. Deixando para os papais águias a responsabilidade de trazerem alimentos mais consistentes. Eles vão a regiões mais distantes avistando suas presas com suas apuradas visões das alturas. Numa precisão milimétrica dificilmente erram em seus ataques aos predadores voadores. Num certo momento da vida dos filhotes sua mãe começa as aulas de treinamento de voos havendo vários tipos deles como: o planado, o planado térmico e o planado aerodinâmico específicos para aves de grandes portes e avantajada envergadura de asas como as águias. Esse é um esforço na tentativas de erros e acertos para os frágeis filhotes. Nessas aulas, com suas mães, inauguram as aventuras pela existência de classe de animais vertebrados, bípedes, endotérmicos e ovíparos. O momento mais importante desse aprendizado é quando a mamãe águia coloca seu precioso filhote para dar um voo rasante em pleno ar. Vão à procura de uma pequena presa. Estando ela parada no ar como professora observando a performance de seu aluno. O filhote é aprovado no teste quando segura com firmeza o alimento levando-o para ser devorado no ninho. Estando assim apto para sair de casa e constituir sua própria família. Um princípio a destacar entre as águias é sua fidelidade – monogamia – para com seu companheiro. Isso acontecendo até a morte de um deles e não se sabe entre os ornitólogos se elas voltam a se acasalarem novamente. Ressaltando uma etapa fundamental entre essas aves é que num determinado período de suas vidas as garras e picos se fragilizam devido ao desgaste das caças, lutas, e intempéries da natureza. Assim o instinto de sobrevivência lhes ensinou que deveriam buscar refúgio no mais alto penhasco e lá sozinhas começarem o doloroso processo de transformação de suas garras, bicos e renovação de sua plumagem. Esse é realizado quando elas batem na rocha seus bicos até que eles soltem desgrudando de suas faces. As garras são friccionadas contra as pedras até que se despreguem de seus pés. Um sofrimento indescritível para esses pássaros que voluntariamente se submetem a esse processo na solidão da montanha. Esperam pacientemente por novas e vigorosas garras, bicos e plumagem. Assim voltam aos ninhos renovados para continuarem suas vidas no reino animal. Essas aves são realmente misteriosas e dotadas de uma consciência perceptiva bem evoluída em comparação as demais espécies de pássaros existentes. Seu processo de morte é até hoje pouco explicado pelos entendidos e ninguém ainda encontrou um cadáver de águia por aí.  Quando sentem que chegou a hora de partir, elas não se lamentam e nem ficam com medo. Tiram as últimas forças de seu cansaço corporal voando aos picos mais altos quase inatingíveis. Esperando resignadamente o momento final, partindo para a outra vida heroicamente tendo cumprido sua missão aqui na terra. Isso mostra a importância da atitude do filho que saiu da Casa do Pai. O Pai ocultamente aprovou sua atitude sabendo que ele passaria por experiência que trariam sofrimento, medo, perigo, expectativa, escolha, risco, equilíbrio, bom senso, esperança, alegria e maturidade. O primeiro ponto percebido nesse jovem foi sua necessidade de conhecer novos ambientes, novas pessoas, sair do corriqueiro. Enfrentando a vida de peito aberto mostrava que tinha uma boa economia advinda da parte que lhe coube da herança. Porém isso representava apenas o motivo para viver a aventura da existência. Pelo seu próprio esforço e possibilidade se sentir dono de si e criar a esperança de novos caminhos pela tentativa do erro e acerto. Outro aspecto foi sua coragem e determinação numa situação desfavorável. Quando pensamos que ele sai de sua zona de conforto e lançando-se ao desconhecido sem segurança ou expectativa de uma situação cômoda a curto ou médio prazo. Seu desejo de ter experiências que evoluiriam sua espiritualidade dando-lhe o sabor de vencer ou o amargor de ser derrotado. Como precisamos viver essas duas situações reconhecendo a importância delas com diz Abraham Lincoln (1809-1865) "O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer". A princípio, o filho pródigo, teve experiências negativas gastando todo o dinheiro com futilidades e promiscuidade. Cogito  ficar claro a presença oculta do Eterno Mistério em cada situação que ele passou. Mesmo quando buscou as prostitutas para satisfazer seu desejo sexual. Na verdade, esotericamente pensando, não era isso o que ele queria. Tanto que seu carma foi cobrado logo a seguir quando esteve naquela deprimente situação de apascentar porcos. Comendo do que eles comiam. E vivendo naquele "ambiente". Ele tinha um coração simples e amava os animais, mesmo aqueles que a tradição religiosa considerava como imundos. Isso demonstra que percebia não haver no reino animal nenhuma imundície ou coisa parecida. Tão pouco no reino humano pessoas descriminadas inferiores ou desprezíveis por comportamentos tresloucados e não aceitos pela maioria. Esses estereótipos eram descabidos. Ele reconhecia Deus em Suma Bondade e Misericórdia como o Criador e também como a Criação. Sua prece manifestando o desejo de voltar ilustra bem seu coração compungido e contrito. Diz: "Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai, e dir-lhe-ei Pai pequei contra os céus e perante Ti, já não sou digno de ser chamado seu filho faze-me como um dos teus jornaleiros". A experiência do perdão nos situa no microcosmo como seres que dependemos uns dos outros. Estamos conectados pela vida e a consciência evoluída, onde intuição, recordação, imaginação, cognição e abstração dão-nos o direito de escolher pelo livre arbítrio nosso destino. A divindade não impede que tomemos nossa decisão seja qual for, se para o bem ou para o mal. Por isso a importância das circunstâncias vividas. Através delas saberemos distinguir o melhor do pior, o bom do ruim, o doce do amargo, a luz das trevas, a altura do cumprimento, a profundidade da largura. O reencontro com seu Pai é uma expressão do amor altruísta e incondicional. Esse aguardava a volta do filho desde os primeiros minutos que ele saiu de casa. Vendo-o como aquele que "esteve morto e reviveu estava perdido e foi achado". Ocultamente pensando, ele passou dum processo natural humano à evolução espiritual em sua alma. Assim a roupa nova, o anel e as sandálias são símbolos de maturidade e idoneidade manifestados na festa que foi dada pelo seu retorno ao lar. Podemos cogitar esses fatos narrados acima pela filosofia esotérica (ocultismo) percebendo que nossa evolução deve passar por estágios. A princípio inferiores e experiências de sofrimentos, vergonhas, dores e humilhações. Ainda num corpo físico e emocional acentuando-se a personalidade  presa ao mundanismo dos prazeres, desejos egoístas e narcisismos manifestados no nosso centrismo. Assim alguns de nós precisamos passar um período no chiqueiro - porcos -  aprendendo com eles a necessidade de companheirismo e reciprocidade nos relacionamentos. Reconhecendo nossa real constituição viciosa e pecaminosa e percebendo que nossa consciência em muitos casos ainda continua instintiva como a dos animais. Podemos pela vivencia humana mudar essa situação. Evoluindo conscientemente nosso aparelho psíquico (alma) pela observação dos demais reinos da natureza.  Procurando no autoconhecimento, meditação, evocação, solitude e contemplação o sentido para nossa vida humana e espiritual. Saindo do nosso casulo podemos passar pelo processo da metamorfose de lagarta para borboleta. O filho prodigo foi ao fundo do poço. Talvez não precisemos experimentar tantos revezes e sofrimento para mudarmos nossa condição. Que atendamos ao clamor de nossa consciência antes. Uma nova perspectiva agora, não mais uma personalidade rastejante que presencia apenas as coisas superficiais do mundo palpável. Evoluindo, numa consciência pré-intuitiva, aquele que saiu do lar, iniciava numa individualidade superior. Podendo voar para conhecer novas espécies aéreas e flores com fragrâncias indescritíveis as begônias, hortências, lírios e orquídeas. Além de polimerizar outras espécies vegetais. Assim a vida evoluiu para um aspecto mais adiantado na cadeia do progresso existencial. Interagindo de forma orgânica pelos métodos de simbiose e comensalismo com vantagens para todos os integrantes dos níveis tróficos. O retorno a Casa Paterna é um percurso longo e demorado. Precisamos passar por inúmeras estações de tratamento de nossos pecados e iniquidades. São as rondas carmicas na vida atual e nas futuras encarnações que produzirão esse equilíbrio entre os nossos vícios e virtudes, méritos e deméritos, bondade e maldade praticados a favor ou contra nosso próximo. Sobressaindo nossa boa vontade, teremos um momento de gozo e consolo quando - entre vidas - desencarnarmos provavelmente num período de uns mil e quinhentos anos ou mais ou menos. Chamado na tradição budista de devachan que corresponde ao multiplicar do dom da vida dado a nós pelo Espírito Divino. Ou dependendo do vício existencial praticado uma parada, ou várias, na ronda das almas penadas. Deus em sua infinita compaixão nos livre de passar por esse temporário tormento que somos exclusivamente responsáveis. O filho que ficou na Casa do Pai optando pela segurança, comodidade e conforto de tudo que possuía era infeliz e entediado. Não compreendia o verdadeiro motivo da existência humana. Imaginando que uma vida tranquila e inalterada desprovida de experiência boa ou má eram suficientes para agradar o coração do Pai. Nessa condição ele retrocedeu espiritualmente, involuiu, impedindo que o progresso da existência fosse realizado. Custando uma fase de atraso em seu desenvolvimento que deveria ser restituído posteriormente. Ocultamente percebemos que o Pai queria também que esse filho tivesse suas próprias experiências para crescimento e evolução do seu Ego Inferior. Saindo de sua casa para ganhar a idoneidade moral, ética e espiritual pelo sofrimento e a dor de início. A aprendizagem como alvo produziria os "frutos do espírito que são amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fé, benignidade, domínio próprio". Esses são vistos apenas como atitudes do Ego Superior que compartilha com o Ego Divino as bem aventuranças destinadas a todos os seres minerais, vegetais, animais e humanos da natureza. Esses estão debaixo, sobre e acima da terra. A festa com vestes novas, anel no dedo e sandálias nos pés demonstra o último estágio da evolução da alma humana. Esse filho que saiu da Casa do Pai e retornou, interiormente, podemos compará-lo ao próprio Pai - Deus - pois o longo processo evolutivo - homem, Mestre de Sabedoria, Homem Perfeito e Espírito Divino - o mesclara intrinsecamente  a Deidade. Assim estão no Nirvana a completude da consciência humana que viajando pelos vários reinos e planetas de nosso sistema solar chega a seu ponto de origem plenamente aperfeiçoada. Capacitada pelas sucessivas reencarnações vividas em seu processo de inteireza e perfeição cósmica. Isso é o que diz São Paulo em II Timóteo 4, 7-8 "Combati o bom combate acabei a carreira e guardei a fé. Desde agora a coroa da justiça me está guardada a qual o Senhor justo juiz me dará naquele dia, e não somente a mim mas a todos os que amaram a sua vinda". Seria bom se ganhássemos a sabedora pela reflexão ou imitação como disse Confúcio. Porém, sinto em meu caso, que necessito também do caminho amargo da experiência para alcançar esse propósito. Estritamente falando todos saímos da Casa do Pai. Foi o nosso primeiro ambiente de acomodação e suprimento. Tendo essa indestrutível partícula, centelha divina em nós, estamos prosseguindo nossa caminhada espiritual com muitos tropeços é claro. Também enfrentando e vencendo pequenos e grandes obstáculos. Assim chegaremos infalivelmente de volta como seres evoluídos e perfeitos para a Casa do Pai novamente. Abraço. Davi.