quarta-feira, 30 de setembro de 2020

I OS OITO CAMINHOS DO TAO

 

Taoísmo. Texto do acadêmico Inty Scoss Mendoza. I OS OITO CAMINHOS DO TAO. O  conceito do “Tao”  é tão antigo quanto complexo e seria inviável trata-­lo  aqui em todas  as suas implicações para o pensamento filosófico, experiência religiosa e concepções  políticas  ao longo da história chinesa, portanto, me restrinjo ao enfoque de dois  autores  contemporâneos  de língua chinesa que buscaram traduzir –  não para as  línguas ocidentais, mas para o pensamento ocidental –  esse conceito amplo, profundo e misterioso (para utilizar-­me de alguns adjetivos frequentemente atribuídos a ele). São os  autores: Zhang Dainian  张岱年 e Zhang Liwen  张立文. O  primeiro é um aclamado estudioso do pensamento chinês  do século XX na República Popular da China. Nasceu em 1909 e faleceu em 2004 tendo, portanto, vivido  as transformações  intensas  que ocorreram naquele país no século passado. Filho de um  erudito chinês do final da Dinastia Manchu  e formado em Educação na Universidade de Beijing em 1933, quando, então, se tornou  professor assistente da área de filosofia da Universidade de Qinghua e professor titular no ano de 1951. Profundamente influenciado  pelo irmão mais velho, Zhang Songnian, um professor de filosofia ocidental, entrou  em  contato com a Filosofia Analítica – Bertrand Russel (1872-1970), G. E. Moore (1873-1958) e Wittgenstein (1889-1951) – que se tornou um dos seus grandes referenciais teóricos. Um outro referencial teórico presente em sua obra, entretanto um pouco  controverso, é o marxismo. Tal questão é percebida no livro consultado para esse artigo:  “Os Tópicos da Filosofia Chinesa” [中国哲学大], considerado leitura obrigatória em  todos os cursos de filosofia chinesa da República Popular da China. Onde no prefácio da primeira edição, em 1937, Zhang Dainian faz uma breve menção ao método dialético  quando descreve um dos objetivos do livro:  O enfoque no desenvolvimento histórico sempre será útil para definir as origens e a evolução (...); para compreender profundamente uma determinada linha de pensamento é preciso enxergar seu  percurso de desenvolvimento, buscar suas origens  e transformações. Poder­-se-­ia dizer que isso  significa utilizar o  método  dialético para analisar a filosofia chinesa (Zhang 1997, p.19). Entretanto, nas edições  posteriores  consta ainda uma “auto­crítica dos  estudos  anteriores da filosofia chinesa” escrita em 1957, onde Zhang Dainian aponta a falha teórica de não ter se apoiado solidamente no pensamento marxista: “Há vinte anos, quando  escrevi esse livro, não tinha ainda um conhecimento profundo do marxismo ­leninismo, por esse motivo, graves falhas não puderam ser evitadas”. As falhas  citadas  situam-­se na interpretação do campo conceitual que se cria na intersecção entre as noções  complexas do pensamento chinês e as categorias analíticas do pensamento ocidental, pois  esse autor buscou aplicar o citado método dialético (esforço acompanhado por toda uma geração de historiadores, filósofos e sociólogos chineses dos últimos 60 anos) e o método  analítico absorvido em suas  leituras da filosofia de língua inglesa, como recurso de traduzir a dimensão filosófico ­religiosa (para usar mais uma vez as categorias ocidentais) do povo chinês  em termos  em que se possa confrontar China e Ocidente no campo do  pensamento. Haveria, então uma interpretação marxista ­leninista e outras  não, e para sorte do leitor os  adendos  pós ­autocrítica de Zhang  Dainian são separados  do texto  original permitindo as múltiplas leituras de seu trabalho. O  segundo autor citado nesse artigo, que também  realiza essa aproximação  conceitual do Tao para categorias  do pensamento  ocidental, é Zhang Liwen, um  igualmente respeitado pesquisador da filosofia chinesa. Nascido em 1935, é professor das  áreas  de filosofia e religião chinesas  e diretor do Instituto Confúcio da Universidade Popular da China. Organizou  uma coleção intitulada “As  categorias  essenciais  da filosofia chinesa” [中国哲学范畴精粹丛书], onde há um tomo específico para o Tao. No prefácio dessa obra, de 1987, Zhang Liwen descreve o contexto em que um  esforço teórico dessa natureza se inscreve:  Em tempos idos, muitos grandes pensadores empreenderam uma reflexão histórica sobre a cultura tradicional chinesa. Olhando para a história chinesa nesses últimos  cem anos vemos a invasão das nações poderosas e a emergência de toda a sorte de calamidades  em nosso país. Um grupo de homens corajosos  e benevolentes, preocupados com o povo e a nação, não mediram esforços em buscar a verdade no  Ocidente, enquanto as nações do ocidente irromperam na sociedade chinesa com o  uso da força militar e religiosa. Isso gerou os conflitos entre “pensamento chinês” e “pensamento ocidental”, “pensamento antigo” e “pensamento moderno”, ou  ainda as noções de “base chinesa e aplicação ocidental”. [中体西用] ou “ocidentalização  completa”. Apesar da discussão ter sido acirrada, não conseguiu resolver a séria questão de acudir o povo e fortalecer a China. Os ecos desse debate permanecem  até os dias de hoje. (Zhang L. org 1996, p.I). Como fica claro no posicionamento desses  dois  autores, o empreendimento de análise dos  conceitos  chineses  com categorias  do pensamento filosófico ocidental tem  para a China dos séculos XX e XXI claras conotações político ­ideológicas, entretanto não  é a intenção desse artigo enfocar tais  questões, me restringindo aqui às  contribuições  desses autores na aproximação desses dois pensamentos, e, como ocidental, busco nesses  pensadores chineses interlocutores que estejam nessa mesma orientação, China ­Ocidente, mesmo que em sentidos  contrários. Considero esse um movimento fundamental nos  tempos  atuais, não como mero exercício de comparação, mas  principalmente como um  esclarecedor jogo de espelhos  em que se ver refletido no reflexo do outro descortina os  limites do próprio pensamento. Perceber a triunfante “razão ocidental” em apuros ao lidar com conceitos  que teimam em não se tornar “analisáveis”, mas  que, mesmo assim se diferenciam no momento em que adentram o cenário  de suas  múltiplas  aplicações, diz  muito a respeito das nossas – e dos autores citados aqui – mais íntimas convicções. Apresentarei aqui de forma sucinta os oito significados atribuídos historicamente ao termo Tao, com base na síntese de Zhang Liwen contida no início do livro que analisa a presença e o desenvolvimento desse conceito na história chinesa, pontuando com  algumas contribuições da estrutura conceitual proposta por Zhang Dainian. TAO COMO O CAMINHO  –  为道路. O  significado primeiro da palavra chinesa “Dao”  se relaciona à noção de caminho. Na escrita oracular, a mais antiga encontrada em sítios arqueológicos e que eram  gravadas  em cascos  de tartaruga ou  ossos  de animais, 6. 甲骨文 datados  da Dinastia Shang (1046 AC ao século XVII), não se encontra tal ideograma, mas um outro – Tu   – para indicar “caminho”. A forma primitiva do ideograma “Dao” surge na fase seguinte do  desenvolvimento da escrita, aquela encontrada em peças de bronze (jinwen  金文) – sinos  e caldeirões rituais  –  e que datam da dinastia Zhou (ou Chou, de 1046  e 256  a.C.). O  ideograma “Dao”  seria formado por três  outros  ideogramas:  shou, xing,  zhi. O primeiro tem uma gama maior de sentidos, podendo ser traduzida nos seus usos no  chinês moderno como: cabeça, líder, “o que vai à frente”. O segundo tem o significado de “trilhar”, e o terceiro é: parar, fincar, enraizar, ou  por extensão “pé”. Algumas  fontes  associam somente as duas primeiras partes na formação do ideograma “Dao” (“cabeça” e “trilhar”, ou seja, a fusão de sabedoria e prática), no entanto a junção desses três sentidos  oferece mais subsídios para compreender o Tao como Caminho. O Shuowen  Jiezi  说文解字, o primeiro dicionário etimológico dos  ideogramas  chineses, escrito entre 100  e 121, apresenta as seguintes  definições  para tais  componentes  do Tao: “Shou  , a realização (meta) da ação (trajeto)”;  “Xing  , o  caminhar do ser humano”; “Zhi  , fincar-­se, como as plantas que brotam a partir de um  local, por isso zhi é a base (pé)”. A definição do Tao contida nesse dicionário é uma síntese desses três ideogramas originais: “uma meta (ou ‘atingir’ uma meta, ou destino, ou  ainda ‘realização’) é o Tao” [ 一达谓之道] (Zhang L. org. 1996, pp. 19 e 20). Portanto, a primeira característica do Tao como Caminho é ter um sentido, um destino determinado e é justamente esse caráter de determinação que passou a ser desenvolvido nos sistemas de pensamento anteriores à unificação do primeiro Imperador da dinastia Qin   (221 AC 207)) como uma ideia de princípio universal ao qual todas as coisas estão sujeitas, ou seja, um sentido inelutável. Essas filosofias  pré ­Qin são as  grandes  escolas  de pensamento  chinês, como Confucionismo, Taoísmo, Moísmo e o Legismo. O  Tao é, portanto, nesse primeiro significado apontado por Zhang Liwen, um curso trilhado pelos pés humanos  e que tem uma meta ou uma realização definida. Tal realização está para a trajetória assim  como a cabeça está para o resto do corpo: é a sua orientação. Contudo, antes  do surgimento desse significado filosófico para “Caminho”, o  ideograma “Dao” já aparecia em alguns dos clássicos mais antigos da história chinesa –  como “Livro da Poesia” [诗经] (as partes mais antigas datam de cerca de 1000 AC), ou  no “Livro das Mutações” [] (o Zhou Yi, uma das seções dessa obra, dataria do início  dinastia Zhou, 1046 AC) –  com o significado de “caminho” e “curso”, sem maiores  implicações  metafísicas, ao  menos  não explicitamente como em clássicos  e textos  filosóficos de períodos posteriores (Zhang L.org 1996 pp. 19 e 20). Poder-­se-­ia contestar o caráter estritamente objetivo deste significado do “Tao como Caminho”  pois  esses  mesmos  clássicos  (‘Poesia’ e ‘Mutações’) são a fontes  de inspiração das  mais  sutis  metafísicas. TAO COMO A RAIZ E ORIGEM DE TODAS AS COISAS.  为万物之本体或本原. É tributada ao sábio Lao ­Tsé 老子 (‘Laozi’  na transliteração oficial) a nomeação  do princípio que rege o Universo. Nada mais estaria acima desse princípio, nenhuma outra manifestação poderia ser concebida fora dele, e de tão intangível, ele não poderia ter um  nome. Explicá-­lo seria não entende-­lo, busca-­lo seria perde-­lo. Entretanto, lá está ele  “isolado!”, “eclipsado!”, “ofuscante!”, “escondido!” (Tao Te King  – Dao de jing, cap. 21). 8 . “Eu não sei seu  nome;  dou-­lhe a grafia:   (Dao)” (cap. 25). Essa foi uma ‘nomeação’ tão fundamental para o pensamento chinês que surge a partir dela uma longa tradição que a carrega: o Taoísmo. Contudo, tal nomeação se apoia em determinados  conceitos  que a tornam mais  complexa –  se é que isso é possível  –  que um nome acidental para uma dimensão  intangível. Lao ­Tsé divide em sua definição do Tao duas  questões fundamentais: o que pode ser dito ou descrito e o que é permanente, constante ou eterno. A eternidade aqui se relaciona ao ordinário, ao simples, ao que está tão constantemente presente que sequer percebe-se sua existência, diferentemente das descrições humanas, do domínio da palavra. As duas frases iniciais do Tao Te King são categóricas nesse sentido:  “O Tao que pode ser manifesto (explicado), não é o Tao eterno. O Nome que pode ser nomeado, não é o nome eterno” (Cap. 1). Portanto, a metafísica aqui é o que está além da palavra, o que remete a uma intensa discussão da época em que a relação entre os  nomes  e a realidade lançava os  pensadores  em todas as direções possíveis desse dilema. Aqui se expressa a visão que o  nome não alcança a realidade última, sequer alcança a realidade última do próprio nome  enquanto tal. Uma observação em relação à língua chinesa se faz importante para uma maior aproximação do campo onde esses  conceitos  estão postos: não há, principalmente no chinês clássico, distinção entre verbo, substantivo ou adjetivo na própria palavra, isto é, não há ao nível da forma – morfológico – qualquer flexão que indique sua classe, sendo  essa entendida, portanto, como uma função e ficando ao encargo do contexto a sua interpretação. Um exemplo é o ideograma traduzido como “meta”, “destino”, na seção  anterior: da  . Em determinados  contextos  ele pode assumir o sentido de “atingir”, “alcançar”, ou seja, a ação de chegar ao objetivo. Em outros, é o “alcançado”. Ou pode ainda assumir o caráter do que foi realizado, sendo então um distintivo de uma virtude  “realizada”, por exemplo. No pensamento, tal característica da língua chinesa torna esse dilema “nominalista ­realista” diferente de um esforço de descrever ou estabelecer uma definição  da realidade, pois como a proposição chinesa “nome realidade” coloca de maneira clara, se trata aqui de encontrar o nome verdadeiro e, portanto, “ouvir” a realidade das coisas. Tais nomes sintetizam dentro de si as dimensões de substância, de atributos e de ação e, sendo indivisíveis, constituem o que, em nosso sistema de pensamento, reconheceríamos  como o “Ser”. Isso falaria da raiz, da estrutura primeira (ou última) das coisas, conceitos  esses  que são uma tradução aproximada da expressão chinesa benti 本体 contida no  título dessa seção. No jogo de espelhos  das  traduções  do pensamento da China para o  Ocidente e vice-­versa, encontramos um interessante reflexo, pois, quando se buscou uma tradução do termo “ontologia” para o chinês, escolheu­-se justamente essa expressão benti para o “óntos” grego. É  possível que os  taoístas  não se reconheçam nesse espelho  “ontológico” ou os aristotélicos nesse espelho “bentilógico”. Zhang Dainian conceitua essa dimensão da estrutura radical das coisas através da ideia de leis que as regem. Dada a multiplicidade de fenômenos, algo que o pensamento  chinês procurou regular em suas  cosmovisões, haveria então uma multiplicidade de leis  para regê-­las. A questão seria: qual é a Lei que rege essa multiplicidade de leis? Esse seria o  caráter do Tao de Lao ­Tsé, ou seja, é um princípio unificador que não poderia ser abordado  no nível da diversidade da palavra e das nomeações humanas (Zhang D. 1997, p.20). O surgimento de algo depende de uma lei, sem a qual tal existência seria impossível. Ora, as leis  que regem cada coisa, não são independentes  umas das  outras. Todas essas leis se remetem a uma unidade, isto é, estão unidas em uma lei mais radical. As  leis, portanto, seguem uma grande lei, última e Universal, e sendo partilhada por todas as  coisas, é única e não­ dual, eterna e imutável, e poderia ser chamada de: Lei Geral. TAO COMO UM.  为一 Em concepções desenvolvidas nos períodos posteriores à “nomeação” do Tao por Lao­ Tsé os  pensadores  chineses  iniciaram um longo percurso de descrição do que seria esse nomeado inominável. A definição do “Tao como Um” surge em dois  tratados  influenciados pelo pensamento de Lao ­Tsé no início da dinastia Han (206 AC 220):  Lüshi Chungqiu 吕氏春秋 e Huainanwang shu  淮南王, e que tomaram como base uma passagem do Tao Te King: “O TAO GERA O UM, O UM GERA O DOIS, O DOIS GERA O TRÊS, O TRÊS GERA TODAS AS COISAS.” (cap. 42). Em ambos os tratados o Tao passa a ser definido  como Tai yi [太一], o “SUPREMO UM”, um estado indiferenciado anterior ao surgimento de todas as coisas. Esse ponto inicial, o caos original, seria o Um de onde são gerados o Céu  e a Terra (o Dois), e então os três princípios de YIN , YANG , e CHONGQI  [] (o  sopro circulante, o princípio dinâmico), e então todas as coisas (Zhang D. 1997 p. 21). Tal enfoque prioriza a visão da gênese do Universo, que, segundo Zhang Dainian, não seria fiel à colocação original de Lao ­Tsé em termos da ordem dessa criação:  No Lüshi Chunqiu  o “Supremo” e o “Um” foram unidos  em um nome próprio, sendo uma outra denominação para o Tao: “O Tao é suma essência, não tem forma, não pode ser nomeado, se forçado a nomeá-­lo o chamaria de “SUPREMO UM’”. Em  Huainanwang shu, o “UM” é ainda mais  claramente utilizado como um pronome  para o Tao: “O UM é a raiz das dez mil coisas, não é outro senão o Tao”, o que não  está em harmonia com colocação de Lao­ Tsé: “O  Tao gera o Um”. (idem p. 22, grifo meu) Um dos tratados citados, o Huainan wang shu, altera inclusive a frase original de Lao­ Tsé ao dizer que: “O Tao inicia com o Um” (Zhang L. org 1996, p.2). Tal questão  aponta para um dos  mais  pungentes  dilemas  do pensamento chinês: a raiz de todas  as  coisas é existente ou não­ existente, ou seja, vazia. É curioso que em Lao­ Tsé essa questão  é posta em termos  de não contradição, pois  o Tao está além da existência e da não­ existência, sendo ambas apenas faces dessa raiz primeira, inominada e indefinível. Apesar disso o fato de se estabelecer uma hierarquia metafísica aparentemente abriu espaço para pensar o que é isso que está além da existência e da não ­existência. Uma das opções  filosóficas na história da China foi afirmar uma existência não­ material e impossível de ser percebida pelo sentidos, um caldo original de onde todas as coisas emergiram a uma existência definida, chamado: “SUPREMO UM”.

 

Referências bibliográficas: LAO ­TSÉ. Os escritos do Curso e sua Virtude. São Paulo: Mandruvá, 1997. ZHANG, Dainian. 中国哲学大  Os  tópicos  da Filosofia Chinesa. Beijing: Academia Chinesa de Ciências Sociais, 1997. ZHANG, Liwen.  Dao. Beijing: Universidade Popular da China, 1996. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – SP – Brasil.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A ESSÊNCIA DO BHAGAVAD GITA.

 

Espiritualidade. www.jardimdosmestres.com.br. A ESSÊNCIA DO BHAGAVAD GITA. O Bhagavad Gita, quinto livro do grande épico hinduísta Mahabarata, narra os ensinamentos que Krishna dá para Arjuna. Estes ensinamentos começam a ser transmitidos no campo de batalha, quando a guerra entre Pandavas e Kauravas está para iniciar e Arjuna sente-se oprimido e incapaz de lutar contra seus parentes e amigos. Nestes ensinamentos Krishna revela verdades transcendentais a Arjuna. O primeiro ponto importante do Bhagavad Gita é exatamente o momento inicial. Arjuna diz que não lutaria, diz preferir renunciar ao reinado a ver todos mortos, e questiona se seria correto matar. Assim, angustiado, Arjuna pede que Krishna oriente-o. Arjuna representa o caminhante e seu vacilo é o de todos nós diante da guerra contra nossos inimigos internos, contra o desejo, os maus hábitos, os prazeres dos sentidos. Esta hesitação está em nosso derrotismo, em nossas justificativas, em nossas debilidades. As primeiras palavras de Krishna são: “Não cedas a fraqueza que de nada serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és!”. E então o Senhor Supremo fala da imortalidade a alma, da impermanência do mundo material, do dharma. Mostra que o não agir de Arjuna era covarde e somente quem tem o poder, a capacidade de fazer algo é que pode realmente renunciar, quem ainda não tem, deve primeiro conquistá-lo, deve primeiro aprender a resistir ao mal e, neste caso, resistir ao mal era seu dever. Explica que Arjuna deveria agir sem desejar ou repudiar os frutos da ação, sempre com perfeição, entusiasmo e alegria e que só aquele que permanece sereno e imperturbável diante do prazer e da dor alcança a libertação. Diz Krishna: “Aceitando prazer e dor, ganho e perda, vitória e derrota com a mesma serenidade de espírito, entra na peleja e não perderás!” Logo adiante o Senhor Supremo diz: “Agir é teu dever; mas não deves visar aos frutos de tua ação. Não permitas que tua ação seja inspirada pelo desejo dos frutos, mas também não caias na inatividade!” Deste modo, a essência do Bhagavad Gita é o reto agir, o dharma, o karma-yoga, o serviço desinteressado. Mais adiante no diálogo, Arjuna pergunta sobre como é aquele que atingiu a sabedoria perfeita e então Krishna fala da importância do autoconhecimento e de controlar os sentidos e mente, diz Ele: “Os sentidos descontrolados, ó Arjuna, arrebatam com violência até mesmo a mente daquele que tem discernimento e se esforça em controlá-los.”. Em seguida o Senhor Supremo explica que aquele que dominou os sentidos e a mente, que é capaz de não rejeitar e nem se apegar a nada, alcançou a sabedoria perfeita. Mais adiante Krishna fala das várias formas de salvação e indica a devoção, o serviço devocional como a forma mais elevada. O Bhagavad Gita é o primeiro livro a falar da devoção como caminho para libertação. No Bhagavad Gita, Krishna diz que se alguém conseguir manter sua mente nele no momento da morte, então vai ter com Ele. Mas isso só pode acontecer se nossas mentes estiverem acostumadas a lembrar dos Santos nomes de Deus, se todas as nossas ações forem atos de adoração. Pois, no momento da morte, nossos corações e mentes vão para onde estão acostumados, para onde as paixões os atraem. Quanto aos atos de devoção, diz Sri Krishna: “Se alguém, com fé e amor, oferecer-me algo, por menor que seja – uma folha, uma flor, uma fruta, um gole de água –, eu aceitarei com prazer. O que quer que fizeres ou deres, ó príncipe – sejam austeridades, doações ou atos comuns –, oferece-me sempre com o coração cheio de devotamento.” É no Bhagavad Gita que Krishna se revela e fala de suas qualidades, atributos e sua transcendência como Deus Supremo. Diz Sri Krishna: “Eu sou a Essência Espiritual que habita nas profundezas da alma e no íntimo de cada criatura. Sou o príncipio, o meio e fim de tudo. Entre os sábios sou a sabedoria; entre as palavras sagradas sou o AUM; entre as montanhas sou o Himalaia; das preces dos santos sou o êxtase. Eu sou a força dos fortes, a beleza dos belos, a astúcia dos astutos, o saber da inteligência dos sábios; dos mistério sou o silêncio. Ó Arjuna! Sem limites é a plenitude de meu ser, imensa é minha grandeza. O que te disse não passa de pequenina parcela. Em todo universo, onde quer que haja algo glorioso ou belo, bom ou poderoso, saiba, ó principe, que emana de uma pequena centelha de Meu esplendor.” Contudo, Arjuna diz que deseja conhecer o Senhor Supremo em sua forma Cósmica e então Sri Krishna, o Senhor Supremo, o Todo Misericordioso, diz: “Contempla-me, ó Arjuna!” e revela-se a ele. E Arjuna viu ilimitadas visões maravilhosas; viu que a Forma estava decorada de muitos ornamentos celestiais e armar divinas; viu que Ela usava guirlandas e vestes celestiais; viu o resplendor de centenas de milhares de sóis; tudo era maravilhoso, brilhante, ilimitado e não parava de expandir-se. Perplexo e atônito, Arjuna prosterna-se em reverência, adora o Senhor e canta Suas glórias. Deste modo, a essência do Bhagavad Gita é a devoção, o bakti-yoga, a entrega, é, antes de tudo, o próprio Krishna, o Senhor Supremo. Depois Krishna fala dos diferentes tipos de devotos e das diferentes formas de devoção. Mais adiante fala das qualidades daquele que alcançou a libertação. E um pouco mais adiante fala das qualidades daqueles que andam pelo caminho, diz o Senhor Supremo: “Destemor, purificação da própria existência; cultivo de conhecimento espiritual; caridade; autocontrole; execução de sacrifícios; estudo dos Livros Sagrados; austeridade; simplicidade; não violência; veracidade; estar livre da ira; renúncia; tranquilidade; não gostar de achar defeitos; compaixão para com todas as entidades vivas; estar livre da cobiça; gentileza; modéstia; firme determinação; vigor; clemência; fortaleza; limpeza, estar livre da inveja e da paixão pela honra.” No último capítulo, Krishna fala da renúncia aos objetos dos sentidos, diz o Senhor Supremo: “Aquilo que no começo pode parecer veneno, mas que no final é tal qual néctar e que causa o despertar da auto realização, diz-se que é bem-aventurança. A felicidade que deriva do contato dos sentidos com seus objetos e que parece néctar no começo, mas no final é um veneno, diz-se que é da natureza da paixão.” Depois diz: “Assim, Eu lhe expliquei o conhecimento bem mais confidencial. Delibere sobre isto detidamente, e então faça o que você deseja fazer. Porque você é Meu queridíssimo amigo, estou falando para você Minha instrução suprema, o mais confidencial de todos os conhecimentos. Ouça enquanto falo isto, pois é para seu benefício. Pense sempre em Mim e converta-se em Meu devoto. Adore-Me e ofereça-Me suas homenagens. Assim, você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isto porque você é Meu amigo muito querido.” No final do Bhagavad Gita diz o narrador: “Quando me recordo deste magnífico e santo diálogo transcorrido entre Krishna e Arjuna, sinto-me em júbilo; grande é minha alegria, indizível a beatitude que enche de entusiasmo minha alma. Onde quer que esteja Krishna, o Senhor de todos os místicos, e onde quer que esteja Arjuna, o arqueiro supremo, com certeza também haverá opulência, vitória, poder extraordinário e moralidade.” Deste modo, a essência do Bhagavad Gita é a inspiração, a amor ao Divino, a devoção. A essência do Bhagavad Gita é antes de tudo, o próprio Krishna, o Senhor Supremo. www.jardimdosmestres.com.br. Abraço. Davi

domingo, 27 de setembro de 2020

OS ANALECTOS - LIVRO XVII

 

Confucionismo. www.https//rt.br. OS ANALECTOS – LIVRO XVII. 1. Yang Huo queria ver Confúcio e, quando Confúcio recusou-se a ir vê-lo, ele mandou a Confúcio um leitão de presente. [180] Confúcio mandou alguém vigiar a casa de Yang Huo e foi agradecer o presente durante a ausência dele. No caminho, calhou de ele encontrar Yang Huo, que lhe disse: “Venha, agora. Preciso falar com você”. Então ele continuou: “Pode ser chamado de benevolente o homem que, enquanto esconde seus tesouros, permite que o reino se extravie? Eu diria que não. Pode ser chamado de sábio o homem que, ao mesmo tempo que é ávido por participar da vida pública, constantemente deixa passar a oportunidade? Eu diria que não. Os dias e os meses passam. O tempo não está do nosso lado”. Confúcio disse: “Muito bem. Aceitarei um cargo”. 2. O Mestre disse: “Os homens são próximos por natureza. É o hábito que os separa”. 3. O Mestre disse: “Apenas os mais sábios e os mais estúpidos não mudam”. 4. O Mestre foi até Wu Ch’eng. Lá ele ouviu o som de instrumentos de cordas e de cantoria. O Mestre abriu um sorriso e disse: “Para que usar um cutelo de boi para matar uma galinha?”. Tzu-yu respondeu: “Há algum tempo ouvi do senhor, Mestre, que o cavalheiro instruído no Caminho ama seus semelhantes e que os homens vulgares instruídos no Caminho são fáceis de serem comandados”. O Mestre disse: “Meus amigos, o que Yen diz é correto. Minha observação de ainda há pouco foi apenas uma brincadeira”. 5. Kung-shan Fu-jao, usando Pi como baluarte, iniciou uma revolta. [181] Ele chamou o Mestre para juntar-se a ele, e o Mestre quis ir. Tzu-lu não gostou e disse: “Pode ser que não tenhamos nenhum lugar para ir, mas por que devemos ir a Kung-shan?”. O Mestre disse: “O homem que me chama deve ter algo a dizer. Se se trata de uma oferta de emprego, não poderia eu, talvez, criar outra dinastia Chou no leste?”. 6. Tzu-chang perguntou a Confúcio sobre benevolência. Confúcio disse: “Há cinco coisas, e qualquer um que seja capaz de colocá-las em prática no Império é, com certeza, ‘benevolente’”. “Posso perguntar que coisas são essas?” “Elas são o respeito, a tolerância, a coerência com as próprias palavras, a rapidez e a generosidade. Se um homem é respeitoso, ele não será tratado com insolência. Se é tolerante, ele conquistará o povo. Se é coerente com as próprias palavras, seus semelhantes confiarão nele. Se é rápido, atingirá resultados. Se é generoso, ele será bom o suficiente a ponto de ser colocado em uma posição acima de seus semelhantes.” 7. Pi Hsi mandou chamar o Mestre, e o Mestre ficou tentado a ir. Tzu-lu disse: “Há algum tempo ouvi do senhor, Mestre, que o cavalheiro não entra nos domínios daquele que não pratica o bem. Agora Pi Hsi está usando Chung Mou como baluarte para iniciar uma revolta. Como o Mestre pode querer ir até lá?”. O Mestre disse: “É verdade, falei isso. Mas não foi dito ‘Duro, de fato, é aquilo que pode suportar a opressão’? Não foi dito ‘Branco, de fato, é aquilo que pode resistir ao tingimento preto’? Além disso, como posso admitir que eu seja tratado como um melão que, em vez de ser comido, serve de ornamento?”. 8. O Mestre disse: “Yu, você ouviu sobre as seis qualidades e sobre os seis erros dos quais devemos nos resguardar?”. “Não.” “Sente-se e eu vou dizê-lo. Amar a benevolência sem amar o aprendizado pode levar à tolice. Amar a esperteza sem amar o aprendizado pode levar ao desvio do caminho correto. Amar a coerência com as próprias palavras sem amar o aprendizado pode levar a um comportamento destrutivo. Amar a determinação sem amar o aprendizado pode levar à intolerância. Amar a coragem sem amar o aprendizado pode levar à insubordinação. Amar a força sem amar o aprendizado pode levar à indisciplina.” [182] 9. O Mestre disse: “Por que nenhum de vocês, meus jovens amigos, estuda as Odes? Uma correta citação das Odes pode servir para estimular a imaginação, para demonstrar cultura, para superar dificuldades dentro de um grupo e para dar vazão a reclamações. “Dentro da família, permitem que sirva-se ao próprio pai; fora da família permitem que sirva-se ao senhor; proporcionam também a aquisição de um amplo conhecimento sobre nomes de pássaros e animais, plantas e árvores”. [183] 10. O Mestre disse para Po-yü: “Você estudou o Chou nan e o Shao nan? [184] Ser um homem e não estudá-los é, eu diria, como ficar com a cara colada na parede”. [185] 11. O Mestre disse: “Diz-se ‘Os ritos, os ritos’, mas o ritos não significam apenas presentes de jade e seda. Diz-se ‘Música, música’, mas música não é apenas sinos e tambores”. [186] 12. O Mestre disse: “Um homem covarde que veste uma máscara de braveza é como o ladrão que invade uma casa ou que trepa pelos muros”. 13. O Mestre disse: “Os respeitáveis de um vilarejo são a ruína da virtude”. [187] 14. O Mestre disse: “Os fofoqueiros são párias da virtude”. 15. O Mestre disse: “É realmente possível trabalhar lado a lado com um homem mau ao serviço de um senhor? Antes que ele consiga o que quer, ele se preocupa com a possibilidade de não consegui-lo. Depois de consegui-lo, ele se preocupa com a possibilidade de perdê-lo, e quando isso acontecer, nada o deterá”. 16. O Mestre disse: “Na Antiguidade, as pessoas comuns tinham três defeitos, mas hoje nem mesmo esses elas têm. Na Antiguidade, ao serem selvagens os homens eram incontroláveis; hoje, eles simplesmente desviam-se do bom caminho. Na Antiguidade, por serem orgulhosos, os homens eram inconfiáveis; hoje, ao serem orgulhosos, eles são apenas temperamentais. Na Antiguidade, mesmo ao serem tolos, eles eram sinceros; hoje, a tolice é apenas uma impostura”. 17. O Mestre disse: “É raro, de fato, que um homem com palavras ardilosas e um rosto bajulador seja benevolente”. [188] 18. O Mestre disse: “Detesto o púrpura por deslocar o vermelho. Detesto as melodias de Cheng por corromperem a música clássica. [189] Detesto homens de fala esperta que derrubam reinos e famílias nobres”. 19. O Mestre disse: “Estou pensando em desistir da fala”. Tzu-kung disse: “Se o senhor não falasse, o que haveria para nós, seus discípulos, transmitirmos?”. O Mestre disse: “O que fala o Céu? E, no entanto, quatro estações se sucedem e centenas de criaturas continuam a nascer. O que fala o Céu?”. 20. Ju Pei queria ver Confúcio. Confúcio recusou-se a vê-lo, dizendo que estava doente. Assim que o mensageiro pôs os pés do lado de fora da porta do Mestre, este tomou seu alaúde e cantou, certificando-se de que o homem estava ouvindo. 21. Tsai Wo perguntou sobre o luto de três anos, dizendo: “Até mesmo um ano é demais. Se o cavalheiro desiste da prática dos ritos durante três anos, os ritos com certeza ficarão em ruínas; se ele abandonar a prática da música durante três anos, a música com certeza entrará em colapso. Um ano inteiro de luto é o suficiente. Afinal de contas, ao longo de um ano, tendo-se usado o grão velho, o grão novo germina, e nova madeira é utilizada para o fogo”. [190] O Mestre disse: “Você, então, seria capaz de saborear seu arroz [191] e vestir suas melhores roupas?”. “Sim, eu seria.” “Se você se sente confortável com isso, então faça-o. O cavalheiro de luto não vê sabor na comida, prazer na música nem conforto em sua própria casa. É por isso que ele não come seu arroz nem veste suas melhores roupas. Já que você se sente confortável com isso, faça-o, por favor.” Depois que Tsai Wo foi embora, o Mestre disse: “Quão insensível é Yü. Uma criança deixa o colo dos pais apenas quando tem três anos de idade. O luto de três anos é observado em todo o Império. Os pais de Yü não lhe deram três anos de amor?”. 22. O Mestre disse: “Não é fácil para um homem que está sempre de barriga cheia usar a cabeça em algo útil. Não existem coisas como po e yi [192]? Até mesmo jogar esses jogos é melhor do que não fazer nada”. 23. Tzu-lu disse: “O cavalheiro considera a coragem uma qualidade suprema?”. O Mestre disse: “Para o cavalheiro, é a moralidade que é suprema. Com coragem mas desprovido de moralidade, um cavalheiro causará problemas, ao passo que um homem vulgar sem moralidade se tornará um bandido”. 24. Tzu-kung disse: “Até mesmo o cavalheiro tem seus desafetos?”. O Mestre disse: “Sim. O cavalheiro tem seus desafetos. Ele detesta aqueles que chamam a atenção para o mal em outros. Ele detesta aqueles que difamam seus superiores. Ele detesta aqueles a quem, embora possuam coragem, falta o espírito dos ritos. Ele detesta aqueles cuja determinação não é temperada pela compreensão”. O Mestre acrescentou: “Você, Ssu, também tem os seus desafetos?”. “Detesto aqueles cujo plágio passa por sabedoria. Detesto aqueles cuja insolência passa por coragem. Detesto aqueles cuja crítica aos outros passa por retidão.” 25. O Mestre disse: “Em casa, é com as mulheres e com os homens vulgares que é difícil de se lidar. Se permitir que se aproximem demais, eles se tornarão insolentes. Se os mantiver à distância, eles reclamarão”. 26. O Mestre disse: “Se, à idade de quarenta anos, um homem ainda tem inimigos, então não resta esperança para ele: continuará assim até o fim”. www.https//rt.br. Abraço. Davi

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O CAMINHO DE CAIM

 

Cristianismo. www.graodetrigo.com Texto de David W. Dyer. O CAMINHO DE CAIM. Há muito tempo atrás, no Jardim do Éden, o primeiro homem, Adão e a sua esposa, Eva, caíram. Eles haviam pecado contra o Altíssimo, fazendo a única coisa que Ele havia ordenado que não fizessem. Agindo assim, estas duas primeiras pessoas danificarem seu relacionamento com Deus e tiveram ciência de sua própria nudez. Embora tivessem tentado se cobrir juntando folhas de figueira, quando ouviram a voz do Senhor que passeava pelo jardim na viração do dia, eles se esconderam e estavam assustados. O homem, que havia sido criado por Deus e gozado de doce comunhão com Ele, agora estava se escondendo de Deus, nu e envergonhado. Conforme nós sabemos agora, isto não foi uma surpresa para o Senhor. Ele sabia de antemão que o homem que criou iria desobedecer a Seu mandamento e cair em pecado. Já que Deus não é limitado pelo tempo e compreende simultaneamente tanto o princípio como o final de todas as coisas, Ele já havia preparado o caminho da salvação. Neste exemplo, em favor deste primeiro homem, Deus deve ter matado algum tipo de animal, porque somos ensinados que Ele fez roupas de pele para o casal. Foi tirando a vida de uma outra criatura que Deus providenciou uma cobertura que Adão e Eva tão desesperadamente necessitavam. Agora gostaria de sugerir a vocês que o animal morto por Deus era um cordeiro. Embora isto não possa ser provado, sinto que existe uma grande possibilidade. Harmoniza lindamente com o resto da Escritura e com o supremo plano de redenção de Deus. Esta atitude, sem dúvida, estava apontando para o tempo em que Ele permitiria que Seu único Filho, o Cordeiro de Deus, fosse morto como cobertura para os nossos pecados – escondendo nossa nudez e rebelião contra Deus. Também mais adiante, no livro de Gênesis, temos uma insinuação de que talvez fosse mesmo um cordeiro que foi morto por causa de Adão e Eva. Quando examinamos rigorosamente as escrituras, surge um quadro. Aprendemos que Abel era um pastor, enquanto Caim era um lavrador da terra, um agricultor. Já que Deus não havia permitido ao homem que comesse carne antes do dilúvio, mas eram herbívoros (Veja Gênesis 1:29,30 e 9:2,3), podemos indagar porque Abel estava zelando de cuidar por cordeiros. Por que ele gastou seu tempo cuidando de animais se não podia comê-los? A resposta é, muito provavelmente, encontrada na ideia de que estes animais eram usados para fornecer vestimentas. Estas ovelhas devem ter sido criadas por causa de sua lã ou por causa de sua pele, que eram usadas como cobertura, dando assim, suporte à ideia que foi Deus quem havia dado o exemplo a eles. Tanto Caim quanto Abel, provavelmente, tinham conhecimento do que havia ocorrido com seus pais no Jardim do Éden. Estou certo que, como pais fiéis, os dois compartilharam com seus filhos tudo o que ocorrera e tentaram instruí-los na maneira correta de caminhar com Deus. Quando lia no livro de Gênesis que Deus rejeitou a oferta de Caim, eu me preocupava porque esta rejeição parecia arbitrária. Não conseguia compreender como Ele podia julgar entre esses dois homens se ambos estavam agindo puramente por instinto. Entretanto, agora sinto que Caim sabia tanto quanto Abel o tipo de sacrifício que Deus requeria. Ele sabia, pelo testemunho de seus pais, que eles haviam sido cobertos pela morte de um cordeiro e que Deus exigira o derramar do sangue para a expiação do pecado. Todavia, Caim escolheu seguir seu próprio caminho, embora sabendo da justa exigência de Deus. Ele deliberadamente O desobedeceu, ignorando o que havia sido evidentemente providenciado. Em vez disso, ofereceu algo de sua própria invenção, algo de sua própria imaginação, algo que ele mesmo podia produzir. Ele pode ter pensado algo assim: “Porque eu devo oferecer um cordeiro? Os vegetais que eu plantei são ótimos, não há nada de errado com eles. De fato, eles são os melhores vegetais das redondezas. Por que não posso oferecer a Deus o que tenho de melhor? Não é bom o bastante? Não há dúvida que Ele vai reconhecer isto e recebê-lo.” Mas, como lemos em Gênesis 4:5, Deus rejeitou a oferta de Caim. Não importava quão boa ela era, não importava o quão maravilhosa parecia ser. Ainda que Caim houvesse trazido o seu melhor, Deus não estava satisfeito. Ele já havia demonstrada qual era o sacrifício necessário. Ele já havia estipulado o formato para que os verdadeiros adoradores O seguissem e era apenas através da obediência que o Seu prazer e favor poderiam ser ganhos. UMA MENSAGEM PARA HOJE. O que esta história tão antiga nos fala hoje? Como é que nós, crentes, podemos aprender da experiência destes primeiros homens e evitar o caminho de Caim? No Novo Testamento, assim como no Velho, Deus determinou a todos os crentes o modo adequado de adoração. Vemos no livro de João 4:23,24 a seguinte declaração: Jesus diz, “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade.” Por favor, notem o tempo do verbo aqui. As Escrituras não dizem que “podem” ou mesmo “talvez devessem”, mas afirma especificamente que aqueles ADORARÃO a Deus no espírito. Tal adoração não é opcional. Qualquer coisa menos que isto não atinge o objetivo do claro mandamento de Deus. Você vê, tanto no Novo como no Velho Testamento, um cordeiro foi morto para a cobertura de pecados. Deus tinha providenciado um Cordeiro! E este Cordeiro deve ser a nossa oferta. Nada mais é adequado. Não importa quão bom possa parecer; não importa quão correto “segundo as Escrituras” possa aparentar; não importa quão reverente, adornado ou musicalmente excelente possa ser; nenhuma outra coisa será satisfatória. Somente o Cordeiro irá satisfazê-los. Este fato tem uma importante aplicação para nós, como cristãos. Quando nos reunimos para adorar o Pai, precisamos adorá-lo em Espírito. Quando estamos juntos, é essencial que entremos no Espírito de Jesus Cristo para que nossa adoração e nosso louvor e, na verdade tudo o que fazemos, se origine Nele. Ele é quem deve estar dirigindo nossas reuniões na igreja. Além disso, é este Cordeiro que deve ser a essência deles. Mas, o que significa “estar no Espírito”? Significa que estamos em um certo estado de ânimo? Será que ele indica que entramos na emoção de uma determinada situação? Não. Significa que nós realmente entramos na presença de Deus através do Santo Espírito. Significa que estamos “plenos” do Espírito de Jesus Cristo e sendo dirigidos por Ele. Vemos nos Evangelhos: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mateus 18:20). Jesus não vem às nossas reuniões como um espectador. Ele não vem para nos ouvir em nossas cerimônias ou “serviços”. Cristo tem aparecido como nosso Sumo Sacerdote, para nos dirigir em louvor e adoração ao nosso Deus. Quando Jesus vem para o nosso meio, vem como Aquele que vai dar origem a todas as coisas. É Ele quem deve estar escolhendo as músicas e é Ele mesmo quem deve Se derramar em nossas orações e através delas. É o Espírito de Jesus quem deve emanar da ministração da Palavra. Deus Se satisfaz apenas com a oferta de Seu Filho e é somente quando nos reunimos e oferecemos a Ele tudo o que flui de Jesus Cristo que o Pai se agrada. Qualquer coisa menos que isto é apenas “vegetal”. Talvez alguns acreditem que o objetivo em nossos encontros deve ser que os mesmos sejam de acordo com a Bíblia. Imaginam que, se simplesmente imitarmos aquilo que achamos que os crentes do Novo Testamento faziam, Deus se sentirá satisfeito. Isto leva tantos cristãos em seus encontros a tentar encontrar as bênçãos de Deus através de “fazer adoração” ou de pregação. Isto é uma prática muito incerta. Às vezes, parece que acertamos, outras vezes, não. Quando as coisas não correm muito bem, é comum os líderes culparem os que se assentam nos bancos pela falta de entusiasmo ou consagração. Mas o problema com esta prática é o seguinte: Quais das milhares de coisas das escrituras Jesus deseja que façamos hoje? A Igreja primitiva fazia muitas coisas. A Bíblia está repleta de coisas que Deus deseja que digamos ou façamos em uma determinada situação. Então, sabendo como Ele está nos liderando agora é a única maneira de obter a benção. Para acertar isto, precisamos estar no Espírito. Precisamos ter um relacionamento real e íntimo com Ele. Deste modo, podemos sentir Sua liderança, segui-Lo naquilo que Ele está fazendo e, assim, alcançar a satisfação da verdadeira adoração espiritual. Quão frequentemente nós, povo de Deus, temos ido pelo caminho de Caim! (Judas 11). Quantas vezes nos reunimos e oferecemos a Deus o que se origina exclusivamente em nossos próprios corações! Nossas próprias ideias, invenções dos homens, coisas que têm uma mera qualidade da alma, têm sido colocadas no lugar de Cristo, como substitutas. Temos erradamente suposto que, se o que fazemos é bom, se é suficientemente bíblico, se é bastante elaborado, se é suficientemente melodioso, Deus estará satisfeito. Não há dúvida que nós, como seres humanos, oferecemos a Deus o que temos de melhor. Tudo o que fazemos tem as melhores intenções, humanamente falando. Entretanto, mesmo com todas estas coisas, Deus não Se satisfaz. Ele não pode Se satisfazer. Ele mesmo nos ensinou o Caminho e nós temos que andar Nele. MUITAS OBRAS MARAVILHOSAS. Oh, as catedrais que têm sido construídas, as liturgias que têm sido formuladas, os arranjos musicais que têm sido criados, as mensagens que têm sido pregadas, as peças de teatro, dança, mímica, etc. que têm sido feitas – tudo em nome da adoração! Entretanto, Deus não aprova nenhuma destas coisas se não foram iniciadas por Ele. Elas e muitos outros itens desta natureza, são realizações tremendas, porém humanas. Não estou tentando diminuir a excelência de nenhuma delas. Ainda assim, o seu valor é nulo se comparado com a beleza e a glória do que Deus providenciou. Muitas destas coisas são apenas obras humanas, as melhores que podemos produzir. Ainda assim elas não podem atingir o alvo, a exigência de Deus. É comum que os homens apreciem tais coisas com sua alma, seus sentidos e frequentemente confundam esta apreciação com alguma bênção espiritual. Entretanto, Lucas 16:15 afirma que “...pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus”. Coisas meramente naturais não têm absolutamente valor espiritual. Elas nada fazem para intensificar nossa adoração ou para atrair a presença de Deus. A razão pela qual Deus rejeita tais coisas é que elas são uma substituição humana para a verdadeira oferta que Ele providenciou. Consequentemente, o espírito do homem é deixado sem ministração quando estas coisas naturais predominam em nossas reuniões cristãs. Quantas vezes você saiu de um culto insatisfeito? Quantas vezes você ouve muitas mensagens em muitos encontros, conseguindo apenas umas migalhas da mesa do Senhor? Quantas vezes nossa adoração a Deus é formal, “religiosa”, até energética mas espiritualmente morta? Tudo isto somente serve para provar que temos seguido o caminho de Caim. Temos oferecido nossos melhores vegetais a Deus. Nenhuma de nossas ideias ou invenções, não importa quão boas ou “corretas” elas possam ser, poderá satisfazer a Deus. E quando Deus não está satisfeito, nós também não poderemos estar espiritualmente satisfeitos. Oh, mas que diferença há no Filho! Quando o povo de Deus se reúne e se abre para Ele, permitindo que o Seu Espírito Se mova em nosso meio, permitindo que o Sumo Sacerdote de nossa confissão dirija a adoração, o louvor e o ministério, quão satisfatórios estes encontros podem se tornar! Como serão cheios do Espírito e de Verdade! Como estes encontros serão ungidos e agradáveis! O homem se satisfaz porque Deus está satisfeito, tendo visto e aceito a oferta de Seu Filho. FOGO ESTRANHO No Velho Testamento temos um outro exemplo da vã religião humana. Nadabe e Abiu eram filhos do Sumo Sacerdote. Eram os filhos mais velhos de Arão e foram consagrados a Deus juntamente com ele para ser sacerdotes ao Senhor. Os dois tinham bastante experiência em adorar ao Senhor e até chegaram a ver fogo cair do céu sobre os sacrifícios que ofereciam (Lv 9:24). Então, começaram a achar que tinham um bom domínio no negócio da religião. Pensavam que já eram capazes de inventar algo para adorar a Deus. Tiveram a ideia de colocar um pouco de incenso em seus incensórios e foram para o santo tabernáculo. O resultado foi desastroso. Veio fogo do céu e os consumiu. Esta foi a reação de Deus às suas inovações (Levítico 10:1,3). Talvez estas coisas podem falar algo para nós hoje. Como homens, temos uma profusão de ideias para contribuir com as reuniões das igrejas – apresentações dramáticas, danças, mímica, adoração pré planejada, performances musicais, práticas tradicionais, muitos dos adereços e formatos que achamos tão normais hoje na religião cristã – todas estas coisas podem ser apenas fogo estranho oferecido ao Senhor. Nós, povo de Deus, deveríamos chegar diante Dele com temor reverente. Deveríamos tomar cuidado para não seguirmos o caminho de Caim! É essencial que nossa adoração seja algo verdadeiramente espiritual, que venha do próprio Deus jorrando dentro de nós e Se derramando através de nós! Não é suficiente que, quando estamos juntos, sejamos simplesmente informados, emocionalmente estimulados ou entretidos. Ele, tão somente Ele, é a fonte de genuína oferta espiritual. Deus pode tolerar nossos exercícios religiosos hoje em dia. Hoje, Ele não manda fogo do céu para destruir estas coisas que muitos de nós estamos fazendo. Entretanto, somos ensinados que um dia nossas obras passarão pelo teste do fogo e, se estivemos construindo com madeira, feno e palha, nossa obra será consumida. Lemos que o Senhor virá repentinamente ao Seu Templo e irá purificar os filhos de Levi de modo que sua oferta seja feita em justiça (Malaquias 3:1-3). Por favor, não me entendam mal. Não há dúvida que Deus pode nos conduzir em nossa adoração enquanto cantamos, dançamos ou fazemos muitas outras coisas. O Rei Davi dançou diante do Senhor com toda a sua força (2 Samuel 6:14). Débora, Moisés e muitos outros, compuseram canções de louvor. Entretanto, fizeram estas coisas porque estavam transbordando de unção do Espírito Santo. Não fizeram isto por achar “apropriado”, “sagrado”, “bonitinho”, ou “comovedor”. Aquilo que se origina em Deus e as invenções dos homens podem parecer iguais. Podem até mesmo ter a mesma forma e aparência. Entretanto, há um universo de diferença! A questão não é realmente sobre a forma, mas sobre a fonte destas coisas. Se a fonte não é Deus, não importa o quão maravilhoso possa parecer, não importa que a doutrina possa estar correta, não importa que seja bom de se ver, isto é rejeitado por Ele. Por outro lado, tudo o que é inspirado pelo Espírito Santo, é importante e deveria ser incluído em nossa adoração. Como nós, os filhos de Deus, precisamos aprender a discernir entre o sagrado e o profano, entre o limpo e o sujo (Ezequiel 22:26)! É triste, mas é verdade que muitos cristãos não aprenderam a discernir entre a alma e o espírito (Hebreus 4:12). Muitos passaram tão pouco tempo na presença de Deus meditando sobre as escrituras que nunca experimentaram a Sua espada do Espírito separando o que é natural e humano daquilo que é espiritual. Frequentemente, não temos crescido em nosso discernimento para sabermos o que Deus está pedindo. E, agindo assim, temos falhado em atingir Seus objetivos – adoração em Espírito e em verdade. Há uma tendência entre alguns homens de apreciar coisas com as quais estão habituados ou que existem há muito tempo. Outros gostam de inovações em sua adoração. Entretanto, tudo deve ser levado ao controle do Espírito Santo e somente Ele deve ser soberano sobre tudo o que fazemos. Além disso, já que Jesus é uma pessoa viva, as práticas e experiências em que Ele nos lidera, poderá mudar. Assim como o nosso relacionamento com outras pessoas está em constante transformação, assim também a misericórdia de Deus se renova a cada manhã (Lamentações 3:22,23). Portanto, devemos estar em constante comunhão com Ele de maneira que possamos sentir e seguir o que Ele está fazendo hoje. É possível que muitas pessoas não compreendam o que estou dizendo e se sintam ofendidas por minhas palavras. Porém, meu alvo não é ser ofensivo, mas é que todos possam experimentar cada vez mais da realidade do Espírito Santo em suas vidas. Por favor, reveja a passagem em Lucas que declara o quanto o Pai do Céu deseja derramar de Seu Espírito sobre aquele que Lhe pedir (Lucas 11:11-13). Ele anseia que saibamos a diferença entre o que é espiritual e o que é natural, para que possamos ofertar coisas que são aceitáveis e agradáveis a Ele! Deus nos ama muito. Ele derramou sobre nós o Seu Espírito. Ele nos ofereceu o Seu único Filho. Deus não guardou de nós nada que fosse necessário para uma verdadeira adoração e um puro relacionamento com Ele. Como nós, como homens, precisamos aproveitar tudo que Deus nos tem dado! Oh, que tenhamos o discernimento para saber o que se origina na alma e o que vem do Espírito. É em nosso espírito que  ligamos-nos a Deus (1 Coríntios 6:17). E é somente através do Espírito Santo que podemos oferecer um sacrifício que seja aceitável. Para conseguir encontros genuinamente espirituais nós, assim como nosso devoto antecessor Abel, precisamos estar trabalhando durante a semana naquilo que Deus providenciou – o Cordeiro. Se chegamos de mãos vazias aos nossos encontros na igreja, se não estivemos na presença do Senhor nos alimentando e não temos tidos o Seu Espírito Se movendo dentro de nós durante a semana, não teremos nada para oferecer. Se não nos empenharmos nas escrituras em andar em comunhão com o Cordeiro em nossa vida diária, como podemos trazêLo como uma oferta? Nesta situação, muitos cristãos são tentados a oferecer vegetais. Talvez pela falta de experiências espirituais, talvez pela falta de um relacionamento íntimo com o próprio Deus, eles são deixados sem o Cordeiro e só podem oferecer aquilo que cresce do solo – algo terreno, algo natural. Estas coisas são espiritualmente insatisfatórias. O fato que o Pai procura homens e mulheres que O adorem em Espírito deveria realmente nos impressionar. Agora mesmo Ele está procurando por adoradores! Seu coração hoje está ansiando por verdadeiros adoradores que ofereçam sacrifícios de louvor, o fruto de seus lábios, aqueles que irão oferecer a Ele o que Deus forjou neles através de Jesus Cristo. Oh, como precisamos orar, como necessitamos procurar a Sua face para que possamos experimentar este tipo de adoração! Não pode ser difícil. Na verdade, não deveria ser, porque Cristo morreu para que fosse assim. Nada tem sido negado a nós. O sacrifício do próprio Deus está completamente à nossa disposição. Portanto, vamos chegar até Ele e nos encher com o Cordeiro de Deus de maneira que, quando estivermos reunidos e Ele estiver no meio de nós, possamos oferecer um doce aroma, santo e agradável a Deus. Que possamos ser, como Paulo diz: “(...) a circuncisão, que adoramos a Deus em Espírito” (Filipenses 3:3). Irmãos e irmãs, eu oro sinceramente para que estas coisas se tornem a sua realidade. www.graodetrigo.com.  Abraço. Davi.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O SIGNIFICADO DE NOSSOS ATOS

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. O SIGNIFICADO DE NOSSOS ATOS. “Tu Te recordas do que foi feito no mundo desde a eternidade e Te recordas de todas as criaturas desde os tempos mais remotos. Diante de Ti são desvendados todos os mistérios e os numerosos segredos desde o começo da Criação; pois não há esquecimento ante o trono de Tua glória, nem há segredo diante de Teus olhos. Tudo é revelado e conhecido por Ti, Eterno nosso D’us (…). Pois Tu decretaste o momento da recordação para que sejam lembrados toda alma e todo espírito, para que sejam recordadas as múltiplas ações e as inúmeras criaturas de maneira infinita... (Oração de Mussaf em Rosh Hashaná). Rosh Hashaná – o Ano Novo judaico – é um momento de Julgamento Divino. Durante os dois dias dessa festividade, D’us inicia o processo de julgamento – que perdura até o final da festa de Sucot – que determinará o destino de cada ser humano para o ano que se inicia. Nossos Sábios empregam várias metáforas para transmitir a ideia de que a Corte Celestial julga todos os seres humanos em Rosh Hashaná. Uma dessas metáforas descreve a maneira como o “arquivo” de cada pessoa é levado perante D’us. Falando de forma metafórica, D’us “abre” esses arquivos, lê e analisa seu conteúdo e, então, faz seu julgamento, decidindo o destino de cada pessoa para o novo ano. Muitos se esquecem do fato de que Rosh Hashaná é o momento em que D’us inicia seu julgamento. Essas pessoas estão felizes, com a falsa impressão de que Rosh Hashaná é o dia 1o de janeiro do Judaísmo: um feriado alegre no qual mergulhamos a maçã no mel e nos reunimos com os familiares e amigos para comer e beber, a nosso bel prazer. Esse conceito é comum, mas errôneo e perigoso, pois muitas pessoas não celebram Rosh Hashaná com a seriedade de corpo e alma que a data exige: estão totalmente desligadas do fato de que todos nós estamos diante da Corte Celestial e talvez não estejamos preparados para essa solene intimação. A realidade é que os dois dias de Rosh Hashaná são a antítese do dia 1o de janeiro. Não são um momento de folia, mas sim, os dois dias mais sérios do ano. Em Rosh Hashaná, o destino do mundo e de cada um dos indivíduos está pendurado na balança. E se estamos infelizes com a situação em que se encontra o mundo, temos de agir em Rosh Hashaná da maneira como o Juiz Supremo espera que nos comportemos. Rosh Hashaná não é, apenas, um momento em que todos os povos e o mundo inteiro são julgados, coletivamente, para o novo ano. Como deixa claro a oração de Mussaf de Rosh Hashaná, o Julgamento Divino é individual. A Corte Celestial julga os atos, bons ou ruins, que cada um de nós cometeu no ano que se encerra. Mas a ideia de que D’us julga cada um de nós individualmente, e que Ele escrutiniza todos os nossos pensamentos, palavras e atos, traz à tona uma pergunta teológica: Estará D’us de fato interessado nos atos de cada ser humano? Serão nossas palavras – inclusive nossas orações – e nossas ações diárias dignas de Sua atenção? Relacionando-se com um D’us Infinito. Muitas pessoas, inclusive as com alto grau de moralidade, têm uma determinada noção sobre as “coisas pequenas” da vida – os detalhes do cotidiano e os atos menores que todo ser humano realiza, com regularidade. E costumam perguntar: “Você acredita que D’us realmente se preocupa com esses detalhes pequenos? Você acredita que D’us se importa com o que acontece na intimidade de nosso lar, nossa cozinha e nosso trabalho?” O conceito de “pequenas coisas” obviamente é muito subjetivo: o que uma pessoa considera “pequeno” ou “grande” depende do ambiente cultural e social da pessoa. Contudo, ainda que as pessoas costumem discordar sobre o que é importante e o que não o é, podemos generalizar que a maioria dos seres humanos acredita que, na vida, as “coisas grandes” importam, ao passo que as “coisas pequenas” não importam tanto – se é que importam. Os pequenos detalhes que as pessoas costumam deixar de lado não são, necessariamente, coisas às quais se opõem, em princípio. Os pequenos detalhes podem também ser coisas que causam indiferença, na pessoa, ou mesmo que elas considerem benéficas; contudo, não são especialmente importantes. Essas “pequenas coisas” são parte de qualquer religião – e certamente do Judaísmo. Podem ser atos positivos, tais como colocar algumas moedas em uma caixa de Tzedacá, ou podem ser negativos, como contar uma mentira branca. Em muitos casos, a atitude de não se preocupar com as “pequenas coisas” na vida pode apenas ser uma fachada para a preguiça. Mas a questão se D’us se importa ou não com os pequenos detalhes é uma pergunta religiosa válida. E merece ser feita. De fato, essa pergunta está no cerne do que trata a festividade de Rosh Hashaná – quando, metaforicamente, o Tribunal Celestial examina o “arquivo” de cada ser humano e o julga, segundo seus atos. A liturgia de Rosh Hashaná nos conta que D’us examina e julga todos os nossos atos. Mas, por que razão o Todo Poderoso deveria se importar com nossas ações cotidianas, os pequenos detalhes, bons ou maus, da vida? Pode-se argumentar que D’us poderia se importar com o que é notícia – guerras e terrorismo, uma pandemia mundial, eleições em Israel – eventos que afetam a vida de milhões ou bilhões de pessoas. Mas por que Ele deveria se importar se um único indivíduo come casher? Por que Ele deveria se preocupar se a pessoa diz uma bênção antes de comer um pedaço de chocolate, cumpre os mandamentos do Shabat, coloca Tefilin, ouve o toque do Shofar em Rosh Hashaná ou come na sucá durante a festa de Sucot? Por que Ele deveria se importar se uma pessoa jejua ou não em Yom Kipur? Afinal, D’us é o Senhor do universo, onde corpos imensos, planetas e estrelas, movimentam-se como meros pontinhos dentro de uma miríade de galáxias. Cada um de nós, na Terra, é apenas um indivíduo entre bilhões de outros, e mesmo o planeta e a galáxia onde habitamos são minúsculos se comparados ao restante do universo. Dentro de nossa estrutura, muito limitada – nossa família, amigos e talvez nossa comunidade –, cada um de nós pode ser importante. Mas quando olhamos para o mundo a partir de uma perspectiva mais ampla de tempo e espaço, nossas atividades diárias e mesmo nossa própria existência parecem insignificantes. Portanto, não faz sentido crer que o Senhor do Universo pudesse ou devesse se importar com cada um de nós e com os pequenos detalhes de nossa vida – nossos pequenos atos, bons ou ruins. Por que razão D’us, que dirige e supervisiona o universo todo, deveria se preocupar com um detalhe como se um indivíduo vai à sinagoga, faz doações para um necessitado ou anima um amigo deprimido? Essa pergunta é igualmente válida no tocante à oração. Quando uma pessoa invoca a D’us, quais as chances de ser ouvido? Não seria presunçoso crer que o Senhor do Universo pode-se dedicar a ouvir as palavras e pedidos de cada um de nós? A pergunta se D’us presta atenção a cada pessoa – e especialmente aos detalhes de sua vida – é um problema teológico fundamental e profundo. Muitos optam por ignorar essa pergunta, enquanto outros agem como se não houvesse respostas à mesma. Em quase todos os casos, a origem dessa pergunta teológica – e toda a confusão que gera – é a imagem infantil de D’us que os adultos geralmente “pintam” para as crianças e que, por sua vez, permanece conosco mesmo depois de crescermos. Essa imagem infantil de D’us é alguém com uma longa barba branca, sentado em algum lugar dos Céus, milhares de quilômetros acima de nós, com relâmpagos em uma mão e um saco de balas na outra. Quando adultos, muitos de nós substituem essa imagem, compreendendo que é infantil e até uma blasfêmia, com a ideia de que D’us é como o diretor de uma grande empresa. Em grandes empresas, um funcionário mediano tem pouco ou nenhum contato com o diretor. Os funcionários são apenas uma pequena peça em uma grande engrenagem. O funcionário teria de fazer algo extraordinariamente bom ou ruim para ter a atenção do diretor. Na falta de qualquer dos dois cenários, é provável que o diretor nunca vá a ter contato com o funcionário, mesmo que este trabalhe para ele. À medida que subimos a cadeia hierárquica, esse padrão é amplificado. Por exemplo, o Primeiro Ministro de Israel é responsável pela segurança e bem-estar de todos os cidadãos do país, ainda que não os conheça pessoalmente nem se importe com a vida pessoal deles. Quando um cidadão escreve uma carta ao Primeiro Ministro, é algum secretário quem responde. Talvez apenas pessoas muito famosas, excepcionais, recebam às vezes uma resposta pessoal. E pode-se entender a razão para ser assim. Se o Primeiro Ministro fosse responder a cada uma das cartas que lhe são enviadas, não teria tempo nem forças para executar seu trabalho. Os Chefes de Estado desempenham um papel vital e têm o poder de impactar a vida de milhões de pessoas. No entanto, até eles funcionam dentro de uma esfera limitada de poder e influência, comparada ao universo inteiro. Evidentemente, nenhum deles pode ser comparado a D’us – Criador e Mestre de tudo o que existe. Mas pode-se conjeturar que se um Chefe de Estado não pode relacionar-se com os cidadãos de seu país individualmente – e muito menos preocupar-se com os detalhes da vida de cada um – imaginem o quanto mais essa ideia se aplica a D’us, o responsável não apenas por nosso planeta, mas por todo o universo. Se um Chefe de Estado é inacessível aos cidadãos, como pode o Senhor de todo o universo estar acessível a cada um de nós? Aqueles que imaginam D’us como um líder muito poderoso julgam que assim fazendo estão expressando profundo respeito pelo Altíssimo. Desdenham a ideia de que D’us não tenha nada melhor a fazer do que intrometer-se nos mínimos detalhes da vida de cada ser humano. Pois mesmo um pai, o quanto ele sabe da vida de seus filhos, o quanto isso o preocupa? São tantos os mínimos detalhes sobre coisas que desconhecemos totalmente. De modo geral, os seres humanos se preocupam com o que é grande e ao pensar na vastidão do universo, imaginam que D’us, que é incomparavelmente mais importante do que o ser humano mais poderoso, certamente não tem como preocupar-se com detalhes. Mas quando dizemos que D’us não está interessado ou envolvido com detalhes – com as “coisas pequenas” que fazemos ou deixamos de fazer, na realidade, estamos imaginando o Altíssimo de acordo com as nossas medidas. Independentemente do quão aumentemos a concepção Divina, continua sendo a nossa concepção, a nossa medida. Podemos ver D’us como sendo particularmente importante. No entanto, por maior que seja a nossa concepção de D’us, continua sendo uma projeção muitíssimas vezes aumentada de nossa figura humana finita. Em nossas orações e bênçãos, referimo-nos a D’us como Melech haOlam, Rei do Mundo. E, de fato, o reinado Divino é um dos principais temas de Rosh Hashaná. Contudo, precisamos ter cuidado para não interpretar erroneamente essa metáfora. Há uma diferença fundamental entre D’us e qualquer ser humano, por mais importante e poderoso que seja – um Chefe de Estado, ou até mesmo um rei. A razão para um Chefe de Estado não estar a par das preocupações diárias dos cidadãos de seu país é por ele ter uma mente limitada, além de tempo e energia limitados. Independentemente de quão talentoso e cheio de energia seja, há um limite no que ele consegue fazer em um dia limitado a 24 horas. Por essa razão, ele precisa saber fazer suas escolhas. O líder de um país, ou qualquer pessoa que esteja no alto de uma cadeia hierárquica, só consegue concentrar-se em questões macro – no que é mais importante; ele não se pode dar ao luxo de dedicar seu tempo e sua mente a detalhes pequenos, senão seu funcionamento será prejudicado. Qualquer líder, até o mais capaz e batalhador, deve delegar os assuntos importantes a seus ministros ou pessoas de confiança – sozinho não consegue fazer tudo. No entanto, diferentemente de Chefes de Estado, D’us é Infinito. A infinitude é um conceito difícil de ser entendido, mesmo na Matemática. O infinito não tem limites:  é ilimitado o número de detalhes que pode conter. Além disso, uma constatação matemática básica prova que em relação ao infinito, qualquer outro número é zero e qualquer outro tamanho é igual. Um ou um trilhão, se comparados com o infinito, são exatamente iguais a zero. Sob o ponto de vista teológico, o fato de que D’us é Infinito significa que para Ele, todos os detalhes são iguais em importância ou falta de importância, independentemente de seu tamanho. Comparada ao Infinito, uma galáxia, com todas as suas estrelas, é exatamente igual às menores partículas de um átomo. Assim sendo, não faz sentido algum que D’us se preocupe com o que ocorre em uma galáxia e não com o que ocorre a um tufo de grama. Comparado a D’us Infinito, sua magnitude é exatamente igual. Se D’us se preocupa com todo o universo, – que, por maior que seja, é finito e limitado –, pode-se dizer que todas as suas partes mais ínfimas têm igual importância para Ele. O conceito de que, para um D’us Infinito, não há o grande e o pequeno, é um dos temas das orações de Rosh Hashaná: quando o Chazan repete a oração de Mussaf, ele recita um trecho que afirma que D’us “trata na igual medida o grande e o pequeno”. Essa é uma das maneiras de expressar a ideia de que as diferenças entre grande e pequeno, importante e sem importância, são insignificantes para Aquele que é Infinito, que está além de todas as limitações, Aquele para Quem as limitações nada representam. De forma semelhante, diz o Salmo 139: “Tu perscrutas meu íntimo e me conheces totalmente. Sabes quando me sento ou levanto e antecipas meu pensamento onde quer que eu esteja. Estás comigo quando repouso ou caminho, e Te são conhecidos todos os meus passos.... Se aos céus eu ascendesse, lá Te encontraria, e se às profundezas me lançasse, também lá estarias”. Esse Salmo indica que D’us está ciente de onde estamos e de tudo o que fazemos, e que para Ele, os Céus e as profundezas, o distante e o próximo, a escuridão e a luz, é tudo igual. O Rabi Avraham Ibn Ezra (1089-1164) – um dos maiores poetas e filósofos da Idade Média – escreveu que esse salmo é o mais importante que há no Livro dos Salmos. O Salmo 113, o primeiro da oração de Hallel, expressa uma ideia similar. Por um lado, declara: “Muito acima de todas as nações está o Eterno, e acima dos céus Sua glória”. A noção de que D’us está acima e além de tudo é indiscutível: não pode haver semelhança ou comparação entre D’us e Suas criações. Mas, o Salmo continua: “Quem é como o Eterno, nosso D’us, que habita nas Alturas e vê o que se passa nos Céus e na Terra?”. O que esse Salmo nos diz é que, por mais elevado que seja D’us, Ele está ciente de tudo o que transpira nos Céus e na Terra. Algumas pessoas querem louvar D’us dizendo que Ele é tão vasto e tão santificado que Sua glória está nos Céus. Contudo, ao afirmar isso, eles também deixam implícito que D’us se encontra apenas nos Céus, e, portanto, aqui na Terra e especialmente na privacidade de nosso lar e nosso trabalho, podemos fazer o que bem quisermos. Se fosse verdade que D’us se encontra apenas nos Céus e se preocupa apenas com as questões macro do universo, nós poderíamos facilmente fazer pequenas coisas erradas, “por trás de suas costas”, de forma escondida, pois esse grande D’us, que é tão ocupado com as coisas importantes, pode não me ouvir, mas tampouco Ele irá me repreender. Mas esse Salmo desfaz, em pedacinhos, a ilusão de que D’us é grande demais para estar ciente e envolvido nos detalhes mínimos do universo. O Salmo nos diz que D’us cuida dos Céus e da Terra. O Infinito está em toda parte. Portanto, Céu e Terra são iguais para Ele. Comparado a D’us Infinito, um camundongo não é menos importante que um arcanjo. Mas para nós, criaturas pequenas e limitadas que somos, há uma diferença tremenda entre uma galáxia e um átomo. Para D’us, essa diferença e todas as demais são insignificantes. Em outras palavras, a capacidade de ver todos os detalhes é parte da Infinitude: constitui uma das definições de ser Infinito. Assim como nada é grande demais para D’us, nada é pequeno demais para Ele. Nada é insignificante ou pequeno demais para passar despercebido, pois D’us tem uma visão plenamente abrangente, que contém tudo que se possa imaginar. Assim sendo, a crença de que algo é tão insignificante que pode escapar da atenção Divina é pior do que uma blasfêmia – é um absurdo total. Mas o fato de que para um D’us Infinito tudo é igualmente significativo ou sem significado, levanta uma questão fundamental: será possível que tudo seja igualmente sem significado para D’us? Em outras palavras, será que D’us chega a se importar? E por que Ele o faria? A resposta é que se D’us se preocupou em criar o mundo, com regras tão elaboradas – às quais chamamos de “leis da natureza” – para que esse mundo pudesse funcionar, então isso significa que sim, D’us deve se importar. Mesmo se desconsiderássemos a Revelação Divina no Sinai e a entrega da Torá – que nos permitiu ter um vislumbre da Sabedoria e Vontade Divinas, o simples fato de que D’us criou e mantém o universo é uma forte indicação de que Ele se preocupa com toda a existência. Portanto, se o universo tem significado e importância para D’us, todos os seus detalhes têm igual significado. Assim sendo, D’us está igualmente ciente até do ato mais ínfimo de cada um dos seres humanos, seja ele positivo ou negativo. D’us está atento a cada ato negativo, por menor que seja, mas também a cada uma das boas ações, independentemente de seu tamanho. O choro de uma criancinha é ouvido por D’us e Lhe é tão importante quanto o que um Chefe de Estado possa dizer em público, sendo ouvido por milhões de pessoas. É somente a idolatria de reduzir D’us a um tamanho finito, com conhecimento finito – vendo-o como um tipo de Chefe de Estado celestial – o que dá origem à pergunta “será que D’us se importa?”. São conceitos errôneos sobre D’us como este ou similares a este o que gera tanta confusão na mente e no coração dos seres humanos. O fato de se ter uma noção mais madura e mais abstrata sobre D’us não O distancia de nós. Pelo contrário, aproxima-nos d’Ele. Ao aceitarmos a premissa de que D’us tudo sabe e tudo ouve, torna-se evidente que Ele está ciente de todos os nossos pensamentos, palavras e atos. E isso, obviamente, inclui todas as orações que recitamos e os mandamentos da Torá que cumprimos. Muitas pessoas que vão às sinagogas em Rosh Hashaná e participam das longas orações desses dias, podem pensar: “Será que D’us realmente ouve minhas preces e meus pedidos? Será que Ele se preocupa com o que sente o meu coração?”. Tais perguntas estão na base da religião. Todas as preces se resumem a um ponto básico que é o fato de nos estarmos dirigindo a D’us com a convicção de que Ele está presente e nos ouve. Se temos Alguém com quem falar, podemos rezar. Se não tivermos com quem falar – se D’us está distante de nossa vida ou se Ele não se importar, então de que valem todas as orações e todos os mandamentos? A base do Judaísmo, portanto, é a consciência da presença Divina e o entendimento de que Ele vê tudo o que fazemos, ouve tudo o que dizemos e sabe tudo o que pensamos. A dificuldade que muitas pessoas encontram em se relacionar com D’us advém de um entendimento errôneo sobre Sua grandeza. A pessoa que pensa que D’us é muito ocupado com assuntos grandiosos e não se preocupa com uma criança que clama por Ele ao recitar os Salmos, não vê, de fato, a grandeza Divina. Para a Onisciência Divina não há grande nem pequeno, significativo ou insignificante na infinitude do universo. Para o Altíssimo, não há diferença entre os mundos. Assim sendo, para D’us não há orações que passem sem ser ouvidas, nem atos, bons ou ruins, que passem despercebidos. Devemos ter isso em mente não apenas em Rosh Hashaná, mas em todos os dias de nossa vida. O entendimento de que D’us está diante de cada um de nós deve-nos forçar, sempre, a sermos mais atentos a nossos pensamentos, palavras e ações. Essa percepção da constante Presença Divina é primordial para o progresso espiritual e moral. Portanto, a abordagem correta à vida é viver como se todo dia fosse Rosh Hashaná. Diariamente, em qualquer dia do ano, antes de realizar uma ação – mesmo que seja uma ação comum, rotineira -, a Torá nos alerta para que lembremos que estamos diante do Altíssimo. D’us não está, como muitos acreditam, em um outro mundo ou nos Céus, tampouco em um reino espiritual invisível aos seres humanos. Ele está aqui e em toda parte, preenchendo toda a existência com Sua Essência Divina. www.morasha.com.br. Abraço. Davi

BIBLIOGRAFIA. Rabi Adin (Even Israel) Steinsaltz,.Simple Words – Thinking About What Really Matters in Life. Simon & Schuster. Pebbles of Wisdom from Rabbi Adin Steisaltz – Collected and with Notes by Arthur Kurzweil – Jossey-Bass.