sexta-feira, 30 de novembro de 2018

GNOSE E O CRISTIANISMO PRIMITIVO


Gnosticismo. www.gnosisonline.org. Por Ali Onaissi. GNOSE E O CRISTIANISMO PRIMITIVO. Com a descoberta dos evangelhos apócrifos em Qumran (no Mar Morto – Palestina) e em Nag Hammadi (Alto Egito), podemos considerar que estamos vivendo momentos importantes para o redescobrimento da cristandade primitiva, tal como era vivida nos tempos de Jesus. Juntamente com os estudos da moderna Gnose do Mestre Samael Aun Weor, vamos formar uma base sólida a respeito dos acontecimentos que marcaram a passagem do Mestre dos Mestres na Terra, sua doutrina crística, sua missão, e compreenderemos também um pouco mais a respeito da influência dos gnósticos para a formação do verdadeiro cristianismo. As Escolas de Mistérios Maiores sempre existiram no mundo e são representantes da Grande Fraternidade Branca na Terra. Essas escolas cumprem a missão, até os dias de hoje, de formar, ou melhor, iniciar devidamente os Instrutores do mundo de acordo com seu raio de trabalho, para a preconização do trabalho na Grande Obra do Pai. Para não nos distanciarmos muito da questão da cristandade gnóstica, devemos citar apenas que desde a Atlântida estes ensinamentos gnósticos já vinham sendo ensinados e publicados pelas escolas mais antigas. Entre elas, citamos os naga-maias do Tibete, os maias, os incas, os muiscas (da Bolívia), os egípcios etc. Todos eles, herdaram seus conhecimentos dos atlantes. O paganismo, por volta do século 1° AC., estava em plena fase de decadência. Por exemplo, os sacerdotes e os deuses greco-romanos já não eram mais respeitados e venerados pela população ou por seus governantes, os quais se divertiam com peças teatrais que desmoralizavam as divindades correntes. O mestre Samael afirma que naquela época artistas satirizavam em comédias os divinos rituais, imitavam o deus Baco através de uma mulher embriagada ou o caricaturavam como um bêbado pançudo montado em um burro. A deusa Vênus era representada como uma adúltera que andava à procura de prazeres orgiásticos. Nem o deus Marte, o poderoso Deus da Guerra, era respeitado, zombavam dele e o ironizavam. Tal era a decadência do paganismo. Na Europa Ocidental ocorria o mesmo, com a decadência dos ritos druídicos e nórdicos, os quais usavam indiscriminadamente sacrifícios humanos e orgias. Vemos essa mesma decadência também na Pérsia e, enfim, em todos os cantos do Império Romano. A Cristandade Antes de Jesus. Jesus sabia que havia uma nova necessidade religiosa para a época, como afirma o mestre Samael, e na região da Palestina, onde veio afirmar sua missão, já existiam algumas Escolas de Mistérios atuantes, mesmo que timidamente. Dentre essas Escolas algumas tomam maior destaque, como os Essênios, os Batistas (Ordem a qual pertencia João), os Nazarenos etc. Os textos apócrifos atestam a atividade de Jesus entre a casta dos Essênios, que levavam uma vida de restrições materiais. Tinham seus monastérios às margens do Mar Morto. Formavam uma comunidade humilde e esta era uma exigência fundamental para que o candidato fizesse parte da “grei”. Entre os vários procedimentos que deveriam ser praticados pela comunidade, estavam os votos de Pobreza, Castidade e Silêncio, entre outros. No voto de pobreza era exigido que o neófito se despojasse de todos seus bens materiais compartilhando-os com a comunidade, pois, segundo as regras, tudo era de todos e não poderia haver o “meu” e o “teu”. Quando o candidato queria entrar para a casta essênia lhe era exigido também viver decididamente o voto de silêncio. Para isso, ficava afastado pelos menos algumas centenas de metros da comunidade, apenas observando de longe seus costumes e ritos diários. Dizem os historiadores e pesquisadores dos pergaminhos de Qumran que os essênios viviam de sua própria produção de alimentos, ou seja, não compravam ou vendiam, não tinham comércio de forma alguma com as cidades próximas. Vestiam-se muito simplesmente com túnicas de linho de algodão brancas – por isso também eram conhecidos como “os anjos do deserto”. Havia também entre os essênios a prática da cura pela imposição das mãos. Entre outras práticas rituais, era comum entre as comunidades de Qumran “Exercícios com a Energia do Sol”, a Eucaristia, a Santa Unção etc. Aqui não vamos nos aprofundar nestes detalhes, apenas fica a referência para que possamos compreender que os atos de Jesus no evangelho canônico não demonstram nada de novo, ou seja, as cerimônias, as festividades, os ritos crísticos, a eucaristia etc., não constituem uma invenção dos cristãos para a nova religião que se iniciava. Tudo isso, na verdade, é tão antigo como o mundo. Todos os povos da Terra em seus princípios religiosos de uma maneira ou outra sempre praticaram esta gnose iniciática. Por isso dizemos que a Gnose é o Tronco primordial de onde nasceram os múltiplos “galhos” das religiões de todos os tempos. Apesar do voto de castidade, não era proibido o casamento entre os adeptos da mesma comunidade. A dedução lógica é que, se o Mestre Jesus foi membro ativo dessa casta, então, a castidade a que se refere não significa ser o celibato repressor que exclui a mulher de sua vida sexual e sim a Castidade Científica, aquela que trabalha com as forças superiores da Magia Sexual, o Arcano AZF dos alquimistas medievais. Havia também os Batistas, casta gnóstica a qual João Batista pertenceu; os Nazarenos (cuja etimologia vem da palavra “naza”, que significa “homem de nariz reto”). Segundo o mestre Samael, Jesus tinha sangue celta por parte de pai e hebraico por parte de mãe. Daí a desconfiança dos sacerdotes judeus sobre a origem étnica de Jesus; e também a palavra “nazareno” significa “representantes do culto da serpente”. A maioria das seitas gnósticas predica a sabedoria da serpente (Kundalini) e isto é o que diferencia a verdadeira gnose das falsas. Diz um dos textos de Qumran que existiu um grande personagem, antes de Jesus, conhecido como Mestre da Justiça, ou Mestre da Retidão. Esse personagem foi um grande divulgador da doutrina crística nos arredores da Terra Santa. Não sabemos qual sua origem e muito pouco temos de sua história. Acredita-se entre os gnósticos modernos que era uma das encarnações do próprio mestre Jesus, que estava ele mesmo preparando sua volta àquelas regiões. A Formação da Igreja Cristã Pós-Ressurreição de Jesus. Muitos anos se passaram após a ressurreição do Cristo Jesus, e seus apóstolos se espalharam por todo o Oriente e também pelo Ocidente europeu. Levavam a Gnose do Cristo, a mensagem de redenção aos povos pagãos da Grécia, Ásia, Egito, Índia, etc (…). Paulo e Pedro foram pregar na Grécia e em Roma; André foi chegou à Escócia; Tomé se dirigiu à Índia; Marcos ao Egito; Madalena chegou à França; Maria e José foram à Síria e Turquia; Santiago ficou em Jerusalém, etc (…). Cada apóstolo viveu seu drama crístico particular nas regiões a que foi determinado espalhando sua “boa-nova” (Evangelho). Foram perseguidos, humilhados, incompreendidos, presos, torturados e, na maioria dos casos, assassinados. Mas suas mensagens foram bem acolhidas por aqueles poucos fiéis, sedentos de sabedoria divina, e, assim, com o passar dos séculos, o Cristianismo gnóstico foi ganhando força e popularidade. Paralelamente a isto, também, entre os gnósticos foram crescendo gradualmente as correntes cristãs que, por um motivo ou outro, eram contrárias ao ensinamento original e já não concordavam entre si sobre a mesma Gnose. É aí que aparecem no cenário as primeiras divisões entre as seitas emergentes da época, já no decorrer do primeiro século. Citamos aqui uns poucos exemplos para ilustrar melhor aquele período e percebermos a diferença radical entre as seitas cristãs (que viriam a ter o nome de Catolicismo) e os gnósticos: Setianos: Rendiam culto à Sabedoria Divina representada pela Santa Trindade – Caim, a carne- Abel, o mediador- Set, o Deus-sabedoria – Set era considerado igual a Cristo. Os Setianos, segundo o Mestre Huiracocha, foram os primeiros Teósofos; este Mestre afirma que no sarcófago de Set foi achado o Livro dos Mortos e escondido pela Igreja Católica. Naassenos: Conhecidos como ofitas (do grego Ophis) eram “adoradores” da serpente; versados em ciência, acreditavam (esta pode ter sido sua falha) que o líquido da serpente (em sua maior parte venenoso, segundo seus detratores que não conheciam o profundo significado da “serpente e seu veneno”) poderia salvar a humanidade da escravidão do pecado; foram herdeiros dos conhecimentos de Tomé e do Evangelho dos Egípcios; eram astrólogos e tinham o cálice como seu símbolo. Profundos conhecedores da Alquimia. Valentinianos: (São Valentim, morreu no ano 161 DC.) foi expulso da Igreja por heresia; os Valentinianos mantinham contato constante com as congregações cristãs não-gnósticas da época, não eram bem-vistos pelos bispos da Igreja por “participarem das missas e homilias da Igreja e por trás interpretavam tudo diferentemente entre os seus”. Isto é o que afirmava Irineu, o bispo de Lyon em suas ferozes críticas aos gnósticos; Valentim Naboth (1523-1593) foi um grande matemático e a Cabala era sua filosofia de vida; sustentava que Jesus era gnóstico; seus ensinamentos sobre transmutação sexual eram semelhantes aos demais Mestres e escolas gnósticos. Como se pode perceber, os conceitos entre os gnósticos e os “cristãos” eram divergentes. Os gnósticos tiveram um inimigo declarado que os perseguiu até o desaparecimento de quase todas as comunidades gnósticas: Irineu (160-202), conhecido como Bispo de Lyon. Esses personagens, juntamente com Tertuliano (160-220), Policarpo (69-155), Justino (100-165), Inácio e Hipólito, são unânimes em declarar publicamente a “heresia” gnóstica. Naquela época circulavam diversas Escrituras Sagradas provenientes das mais variadas regiões do Oriente. Muitos desses escritos, segundo historiadores contemporâneos, estavam saturados de elementos budistas, gregos, egípcios, hindus etc. Isto se devia a que a cidade de Alexandria, no Egito, era o centro da erudição filosófica. Ali se encontrava de tudo que se referia ao que havia de mais atualizado no mundo da época. Além de capital comercial, Alexandria recebia constantemente filósofos, místicos, membros de quase todas as religiões existentes em outros países, profetas (muitos deles, claro, puros charlatães), magos, visionários etc. Os sacerdotes judeus e também os cristãos faziam de tudo para evitar que os conceitos helenizados contaminassem seus templos dedicados ao Deus antropomórfico. Entre os textos achados em Qumran destaca-se a obra Filósofo Fumena ou O Livro Secreto dos Gnósticos Egípcios, como o nomearam os pesquisadores. Nesse livro, Jesus pede permissão ao seu Pai (Interno) para descer desde o Absoluto até este mundo físico, passando pelos Eons (medidas iniciáticas), e pede para levar o conhecimento revelador através da Gnose. Fica, então, estabelecida a palavra Gnose como representação do Ensinamento Divino, puro, imaculado, sem manchas. Outro texto bastante interessante é o Papiro Nu ou Confissões Negativas, constituído de 42 pontos ou confissões que o neófito declara diante de sua divindade interna, seu “Kaom interior”, seu juiz da consciência. Este é um trabalho psicológico idêntico ao que o mestre Samael Aun Weor ensina para compreendermos e aniquilarmos nossos defeitos psicológicos. Um pequeno exemplo desta confissão: “Hoje não roubei, não matei nenhum ser vivo, não maltratei meu servo, não falei palavras de ironia, não cobicei a mulher do próximo, não adulterei o peso da balança etc.” Eis o trabalho de revolução da consciência ensinado por Samael! Também circulava entre as comunidades gnósticas as palavras de Jesus, após sua ressurreição, no Monte das Oliveiras, quando ainda passou 11 anos instruindo seus discípulos mais próximos, sobre a Gnose. Esses diálogos foram compilados em uma escritura sagrada chamada Pistis Sophia, a bíblia dos gnósticos. Primeiro foi escrita em copta e traduzida para o grego. Muito se tem especulado sobre seu verdadeiro significado, porém (apesar de algumas traduções modernas de boa qualidade), apenas o mestre Samael conseguiu desvelar sua mensagem. Isso só foi possível através de suas “viagens espirituais” dentro do Mundo do Cristo Cósmico. Nessa região crística chegam apenas aqueles que encarnaram o Cristo em si mesmos. E nós, cristãos gnósticos, cremos que Samael Aun Weor é o Cristo desta Era Aquariana que veio nos entregar novamente a doutrina de salvação por meio da Gnose. Segundo a mestra Helena Blavatsky (1831-1891), fundadora da Sociedade Teosófica no século 19, “até o século 4º as igrejas não possuíam altares. Até então, o altar era uma mesa colocada no meio do templo para uso da comunhão ou repasto fraternal”. E continua ela: “A Ceia, como missa, era, em sua origem, feita à noite”. Com o passar dos séculos, as igrejas foram sendo adornadas com cópias de altares da Ara Máxima da Roma pagã. Devemos saber que os primeiros cristãos (gnósticos em sua essência) não adotavam altares ou imagens publicamente. Acreditamos que de acordo com o nível de consciência de seus líderes-sacerdotes, foi-se modificando esse conceito. Isso passou a acontecer já por volta do século 2º. Roma persegue os Cristãos. O Império Romano tinha seus próprios deuses e não sentiam simpatia com a nova religião que crescia sob seus olhos. Genius era o nome dado ao deus criado pelos sacerdotes romanos de acordo com a vontade do imperador, que era tido como um deus entre os cidadãos romanos. Para atender às mais diversas situações do povo, para cada um dos deuses (Apolo, Afrodite, Cibele, Vesta, Vênus etc.) eram feitos festivais e adorações anuais, mensais, semanais etc. Percebe-se, aqui, a cópia das Igrejas Católica e Ortodoxa em suas festividades durante o ano com seus santos venerados pelos fiéis. Obviamente, o Império Romano não admitiria uma ofensa sequer contra suas crenças e seus deuses pagãos vinda de comunidades judaicas helenizadas. A princípio, as comunidades cristãs eram formadas por judeus convertidos que aceitaram Jesus como seu Messias (Enviado). Com o decorrer do tempo, vários povos foram sendo evangelizados pelos discípulos dos apóstolos e aí foram se agregando à nova religião elementos de várias nacionalidades, inclusive romana e grega, que compartilhavam os mesmos deuses em suas crenças. Um exemplo dessas adaptações é a data de 25 de dezembro, considerada até hoje como o dia em que Jesus nasceu na Terra Santa. Na verdade, ninguém sabe o dia correto em que Jesus nasceu. A absorção dessa data deveu-se ao fato de que os pagãos de muitos rincões do Império Romano (tanto no Ocidente quanto no Oriente) rendiam culto ao Deus do Sol e do Fogo nessa data, considerada como o início em que o Sol começa sua viagem de volta à Terra para que Ele, o Deus Sol, nos traga novamente a vida, e a vida em abundância. Com o número crescente de adeptos à nova religião em Roma, o império decidiu que os cristãos representavam um perigo maior para seu poder sobre as massas. Sob essa visão de desconfiança, todo aquele que se confessasse ser cristão era julgado e condenado à morte imediatamente. Irineu, o bispo de Roma, também conta que sofreu com as perseguições romanas. Assistiu a vários de seus “irmãos” cristãos serem queimados, torturados e mortos nas arenas. Enquanto Roma perseguia cristãos, pois para o imperador parecia não haver distinção entre estes e os gnósticos (pois as duas linhas já estavam se separando cada vez com mais destaque), Irineu e seus sequazes perseguiam os gnósticos, num jogo de gato e rato. Irineu e Tertuliano fizeram duros ataques aos gnósticos julgando-os hereges. Afirmavam que a cada dia eles apareciam com um novo evangelho; achavam também um absurdo o fato de as mulheres oficiarem em seus rituais, e que só os homens deveriam fazê-los. Para Irineu e Tertuliano, um grande filósofo da época, os gnósticos hereges deveriam desaparecer da cristandade. Outra coisa que incomodava a Igreja predominante em Roma era o fato de os gnósticos sempre manterem uma postura neutra perante as perseguições que os cristãos sofriam. Essa “indiferença” adotada pelos gnósticos fazia com que Irineu odiasse cada vez mais seus conceitos filosóficos de vida. Entre os vários aspectos do gnosticismo primitivo, algumas escrituras mostram como seus conceitos sobre Deus e o Cristo diferiam daqueles apresentados pela Igreja Católica de Roma. Vejamos alguns exemplos: No Evangelho de Tomé consta que Jesus disse: “Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá”. Este texto nos lembra um koan do zen-budismo, não é? Em outro texto achado em Nag Hammadi, intitulado Trovão, Mente Perfeita, lemos um poema extraordinário na voz da potência feminina de Deus: Pois eu sou a primeira e a última. Eu sou, a reverenciada e a escarnecida. Sou, a promíscua e a consagrada. Sou a esposa e a virgem. Sou a infecunda  e muitos são os meus filho. Sou o silêncio que é incompreensível. Sou a pronunciação do meu nome. Entre os anos 140 e 160, Teódoto, um grande mestre gnóstico, escreveu na Ásia Menor que: “O gnóstico é aquele que chegou a compreender quem éramos e quem nos tornamos; onde estávamos… para onde nos precipitamos; do que estamos sendo libertos; o que é o nascimento, e o que é o renascimento”. Monoimus (150-210), outro mestre gnóstico, dizia: “Abandone a busca de Deus, a criação e outras questões similares. Busque-o tomando a si mesmo como o ponto de partida. Aprenda quem dentro de você assume tudo para si e diga: ‘Meus Deus, minha mente, meu pensamento, minha alma, meu corpo’. Descubra as origens da tristeza, da alegria, do amor, do ódio (…). Se investigar cuidadosamente essas questões, você o encontrará em si mesmo”. Até antes da descoberta dos manuscritos do Mar Morto e de Nag Hammadi, entre outras descobertas passadas, só tínhamos informações sobre os gnósticos através dos violentos ataques escritos por seus opositores. O bispo Irineu, que era responsável pela igreja de Lyon, por volta do ano 180, escreveu cinco volumes intitulados Destruição e Ruína Daquilo que Falsamente se Chama Conhecimentoonde começa prometendo “apresentar as opiniões daqueles que hoje ensinam heresias… e mostrar como suas afirmações são absurdas e incompatíveis com a verdade… Faço isso para que… vocês possam instar todos os seus conhecidos a evitarem esse abismo de loucura e blasfêmia contra Cristo. Como diz o Mestre Huiracocha (1876-1949), bispo da Igreja Gnóstica Ortodoxa nos mundos superiores, que escreveu na sua obra La Iglesia Gnóstica, que os gnósticos não precisam de leis ou dogmas, e sim, de uma senda. E isso contraria as normas da seita católica quando afirma que o corpo de Cristo é formado pelos fiéis e a Igreja Católica espalhada mundo afora. Até o conceito de Criador é diferente entre as duas partes. A Igreja de Roma ainda adota o mesmo conceito dos judeus quando aceitam que Deus e a criatura são distintos entre si. Neste caso, Deus está lá em algum ponto do universo, observando suas criaturas, condenando uns ao Inferno e oferecendo o Paraíso a outros, lançando raios de ira em nossas cabeças, vingativo, caprichoso e cheio de manhas como uma criança enfadonha. Já os gnósticos concebiam, e ainda são assim, que Deus, o Incriado, o não-formado, o Incognoscível, está escondido dentro de sua própria criação, e que só conseguiremos realizá-lo dentro nós quando erradicarmos de nossa psique os elementos indesejáveis que carregamos e que adormecem nossa Consciência. Assim como predicavam os antigos gnósticos, temos de realizar a Gnose dentro e fora de nós. Aí, sim, poderemos conhecer Deus face a face sem morrer. O martírio: a indústria da salvação e a fé em Jesus Cristo. As matanças de cristãos, nas arenas de Roma, viraram um verdadeiro festival semanal de carnificina para o público romano e seus governantes que se divertiam com o sofrimento dos “acusados de se recusarem a cultuar o deus Genius do Império Romano”. Pertencer ao movimento cristão (seja ele católico seja gnóstico ortodoxo) era um perigo que todo fiel sabia. Elaine Pagels (1943-  ), em seu livro Os Evangelhos Gnósticos, cita a Tácito (56-117) e Suetônio (69-141), o historiador da corte imperial (c. 115), que partilhavam, ambos, de desprezo absoluto pelos cristãos, e que ao narrar a vida de Nero, Suetônio menciona as coisas boas que o imperador fez com a “punição imposta aos cristãos, uma classe de pessoas dadas a uma nova e maléfica superstição”. E ainda Tácito elaborou seus comentários sobre o incêndio de Roma: Em primeiro lugar, prenderam-se os que confessavam ser cristãos; depois, pelas denúncias destes, uma multidão inumerável – não tanto por terem participado do incêndio, mas por seu ódio ao gênero humano. O suplício desses miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os cobriram com peles de animais ferozes para ser devorados pelos cães (principalmente pelos ferozes mastins napolitanos), ou foram crucificados, os queimaram de noite para servirem como archotes e tochas ao público. Nero ofereceu seus jardins para esse espetáculo. Para Irineu (140-202), Tertuliano (160-220) e outros líderes da nova igreja, o martírio, apesar da violência imposta, serviu para uma propaganda generalizada em torno da salvação pela fé em Jesus Cristo. Para atingir o sonho de formar uma igreja padronizada em todo o mundo, Irineu e os seus não mediram esforços para fazer com que a doutrina cristã se espalhasse mundo afora através da morte dos fiéis. Encorajavam a todos os cristãos para que tivessem coragem suficiente para expor sua fé, mesmo nas barras dos tribunais romanos. Justino, um filósofo que se converteu ao cristianismo entre os anos 150 e 155, encorajava e defendia, com cartas aos oficiais do império, que a matança dos cristãos e sua coragem de morrer confessando Cristo diante da morte certa era um incentivo àqueles que queriam conhecer esta nova doutrina de perto e saber o porquê de tantos morrerem em nome de Jesus. Exortava também que o martírio era a prova máxima para a redenção dos pecados e que desta maneira estariam, cada um, dentro das mesmas condições que Jesus passou para redimir o mundo. Com esses argumentos, Justino, Irineu, Tertuliano e outros bispos da igreja, encorajavam seus fiéis a serem martirizados por vontade própria. Já os gnósticos mantinham sua neutralidade, mesmo sendo perseguidos e também sendo mortos. Acreditavam que o martírio físico não era o caminho para a salvação da alma. Esse martírio, como uma alegoria, tinha de ser dentro do indivíduo, para que se pudesse purificar seu espírito das vontades terrenas, do apego, do egoísmo etc. Logicamente muitos gnósticos foram mortos pelo poder de Roma, porém, segundo historiadores, os “cristãos” o foram em número muito maior. Enfim, esta propaganda cristã serviu para recrutar em suas fileiras cada vez mais fiéis, que viam com bons olhos todo aquele sacrifício como algo “divino”, digno de admiração. (Então, por que não se afiliar e ganhar o céu?) A institucionalização da Igreja Católica. Por volta do ano 200, a Igreja Católica começa a tomar forma e sua institucionalização foi reforçada pela iniciativa de Irineu em padronizar seus dogmas, rituais, cerimônias, festividades, missas, etc. A ideia era unir todas as igrejas num só estatuto em que se poderia levar a igreja a ser a dona da “verdadeira” doutrina de Cristo. Irineu promoveu várias viagens aos mais longínquos lugares para propor as diretrizes que seriam adotadas por todas as igrejas espalhadas pelo mundo. Dentro dessas propostas estava a canonização dos evangelhos dos apóstolos. Pedro foi o primeiro pontífice da igreja, conforme acreditava-se na época. Isso também o afirma o mestre Samael Aun Weor (1917-1977). Portanto, a igreja seria um meio para se chegar a Deus, passando por seus representantes que eram os bispos, os padres e os diáconos. Dever-se-ia, então, organizar legalmente a igreja, que seria Católica – universal – e, para que o povo ficasse sob as condições e vontades da Igreja, os evangelhos seriam escolhidos a dedo para que a heresia não predominasse dentro dos templos. Textos que exortavam a respeito da reencarnação foram deixados de lado por serem heréticos. Outros textos que fomentavam a adoração da feminilidade/maternidade de Deus também foram rechaçados pelos bispos. Era preciso trazer a multidão para dentro da Igreja e prendê-la psicologicamente aos dogmas, prometendo os céus aos convertidos e batizados e jogando aos infernos eternamente aqueles que escolhiam outras formas de adoração à Divindade que não fossem as impostas pela Igreja dominante. Dentro desses dogmas eclesiásticos também estava claro que a mulher jamais participaria de qualquer ofício sacerdotal que fosse. Nesse caso, Tertuliano, o filósofo, ataca veementemente quando diz: “Não é permitido a nenhuma mulher falar na igreja, nem é permitido que ensine, ou que batize, ou que ofereça a eucaristia, ou que pretenda para si uma parte de qualquer atribuição masculina – para não falar em qualquer função sacerdotal.” Em outro texto, continua a indignação de Tertuliano: “Essas mulheres hereges – como são atrevidas! Carecem de modéstia, e têm a ousadia de ensinar, de discutir, de exorcizar, de curar e, talvez, até de batizar.” E era exatamente esta a participação das mulheres gnósticas em suas congregações (eclésias); participavam em praticamente todos os ofícios do templo. Os bispos católicos odiavam e acusavam de heresia esses procedimentos femininos. Para a Igreja, o que justificava seu conceito era o fato de acreditarem que Deus era masculino e seu filho, Jesus, também. Em 1977 o papa Paulo VI (1897-1978), também chamado de Bispo de Roma, declarou que uma mulher não pode ser padre “porque nosso Senhor era homem!” Diante de tal declaração, não são necessários longos comentários para se dizer que a Igreja Católica continua com suas arcaicas e preconceituosas ideias. Portanto, os textos gnósticos ainda desafiam esse preconceito da Igreja dominante. Irineu encoraja seus fiéis na fé repousada na autoridade absoluta: as escrituras canônicas, o credo, os rituais da Igreja e a hierarquia clerical. Esta medida ganha força com a conversão de Constantino, no século 4°. O imperador Constantino decreta o Cristianismo como religião oficial de Roma. E assim, os católicos ganham força total para a expansão de sua doutrina que, de acordo com certos pesquisadores da teologia cristã, poderíamos chamar de “paulinismo”, porque a formação doutrinária e organização da Igreja começou basicamente com as viagens missionais do apóstolo Paulo a diversas regiões do Oriente e da Ásia Menor – Grécia, Galácia, Corinto, Éfeso etc. – e sabe-se hoje que seu ministério tem como origem a antiga Antioquia – que fica na Turquia. O Gnosticismo, em seus primórdios, teve também suas correntes involutivas. Duas delas são bem conhecidas por historiadores, as quais são denominadas: Marcionismo, de Marcion, e Cerdonistas, de Cérdon. Essas duas correntes gnósticas trilharam pela linha oposta dos gnósticos levando a mensagem do evangelho totalmente distorcida dos originais. A Igreja Católica acusava todas comunidades gnósticas de heresia e prática de paganismo, bruxaria, etc., por se basearem nas práticas involutivas destas correntes involutivas do gnosticismo primitivo. Como exemplo de uma corrente involutiva na gnose contemporânea, citamos o relato de Fernando Salazar Bañol em sua palestra Os Gnósticos Através da História: “Quando realizamos uma visita aos Estados Unidos da América do Norte para investigações e para atividades gnósticas, vimos acontecimentos estranhos. Entre eles, nos deparamos com uma Revista Gnóstica. Essa revista não pertence à linha do mestre Samael, e um fato que demonstra claramente que não está sob o comando de Samael é o ensinamento que entrega. Dentre esses ensinamentos está um que se o denomina Masturbation Tantra, ou seja, a masturbação tântrica. Esse é um ensinamento completamente oposto ao que entrega o mestre Samael. Sob a palavra Gnose, eles ensinam um conhecimento contrário à sua doutrina. Há outra linha que aparece nos Estados Unidos e que se chama “Igreja Gnóstica Católica”. Ela não ensina a transmutação. Ao contrário, ensina a perda da energia criadora, além de ensinar também o vampirismo (homossexualismo tântrico). Trata-se de uma linha que não pertence às nossas instituições, não pertence ao corpo de ensinamentos de Samael. Por isso, em vários países, em certas ocasiões, a Igreja Católica e outras correntes doutrinárias não gostam dos gnósticos porque pensam que a linha da Gnose é como a linha dessas falsas correntes gnósticas”. Existe na Suíça, outra linha gnóstica, bastante degenerada, involutiva, como a dos antigos Marcionistas e Cerdonistas, ensinando que para se chegar ao nono grau de iniciação precisa-se ser homossexual. Toda verdadeira instituição gnóstica caracteriza-se pela transmutação sexual e pela morte  do ego. O Cristianismo, no decorrer dos séculos, sofreu diversas reformas internas e na doutrina. Os Concílios eram encontros de todos os sacerdotes e bispos de todo o Velho Continente onde se decidia o destino dos ensinamentos do Cristo Jesus e dos deixados pelos apóstolos. Muitos dos ensinamentos originais místicos – reencarnação, Deus Mãe, trabalho de psicologia, os 7 corpos, iniciações, etc. – foram banidos para sempre dos preceitos da Igreja Católica. O Grande Concílio do ano 325 talvez tenha sido o mais importante da história do Cristianismo. Ali aconteceu definitivamente a ruptura dos gnósticos do seio da Igreja Católica (dominante) e também definiu-se um outro ramo da igreja: os Ortodoxos Gregos, que até hoje mantêm certas semelhanças com as práticas do catolicismo, porém não aceitam a autoridade dos papas. Dessa separação drástica os gnósticos tiveram de se esconder das perseguições da Igreja Católica, que os condenava por heresia, taxando-os de criminosos por possuírem textos considerados apócrifos, ou seja, que não provam sua autenticidade. Muitos desxes textos foram queimados pela Igreja em sua inquisição bárbara. Os textos que até hoje sobreviveram é porque alguns monges ou monjas o guardaram em locais de difícil acesso para que no futuro alguém pudesse resgatá-los e os Mistérios Crísticos pudessem novamente iluminar o caminho daqueles que se rebelam contra o mundo. O mundo esteve em trevas durante quase 2 mil anos porque prevaleceu sobre a mente do homem o egoísmo, a inveja, a violência, a ignorância, o orgulho da ciência materialista. O Sol havia se ocultado e era revelado apenas para alguns buscadores persistentes da verdadeira Igreja do Cristo. Graças aos Mestres da Santa Igreja Gnóstica dos mundos superiores, temos a oportunidade de ver o Cristo-Sol brilhar novamente para a nossa salvação. O Cristo da Era Aquariana, Samael Aun Weor, Senhor de Marte e Buda Maitreia, nos entrega de forma totalmente desvelada os ensinamentos crísticos que o Grande Cabir Jesus havia deixado aos seus apóstolos para que entregassem à humanidade. Os sinceros seguidores do Cristo Cósmico têm o dever de manter estes ensinamentos em sua pureza original, sem manchas, máculas e fantasias, até que chegue o momento de guardá-los novamente dos olhares profanos. E aí, ao povo se dará o leite (as parábolas) e aos iniciados se dará o manjar (os Mistérios Crísticos). O mestre Samael deixou seu corpo terreno no ano de 1977. Mas está conosco em espírito. Portanto, temos de ser guardiães de seus ensinamentos gnósticos para nosso próprio bem e também o da humanidade. Podemos até nos sentir como nos primeiros tempos de Jesus, em que seus discípulos e estudantes velavam pelas palavras deixadas pelo Cristo Jesus e pelo avatar da Era de Peixes (João Batista). Paz Inverencial. www.gnosisonline.org. Abraço. Davi

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O MUNDO DOS ORIXÁS - OBÁ.


Religião Afrodescendente. Candomble. www.ocandomble.com. O MUNDO DOS ORIXÁS – OBÁ. A missão divina da Mãe Terra (Edan – Onile). Quando a divina e poderosa mãe Edán (Onile Ogboduora) fez sua aparição nesta Terra, ela fez isso com um propósito específico e sagrado. Sua manifestação nesta Terra sinalizou uma nova oportunidade para a humanidade se renovar, progredir e ter uma vida equilibrada. Sua aparição marcou um novo começo para toda a humanidade e não apenas o povo privilegiado dos yorùbá. Seu objetivo e propósito era, e é, de alcance universal. Èdán veio para trazer cura, ordem, harmonia, abrigando preceitos divinos e equilíbrio para as comunidades da Terra em geral e cada ser humano em particular. Você deve se lembrar e ter em mente que Èdán não é um ser humano. Èdán não é yorùbá, chinês, americano, oriental ou ocidental. Èdán é uma personagem divina de habilidades extraordinárias e poderes supra-humanos. Èdán não é deste mundo. Ela vem de um reino glorioso e inconcebível de santidade, beleza e poder. A inteligência, compreensão, força, atratividade e carisma da mãe divina Èdán é extraordinária, penetrante e excepcional. Èdán pode ver a profundidade e a realidade das coisas. Ela não pode ser enganada, manipulada ou subornada, ela não comete erros na administração de sua dispensação (ato de dividir). Ela está além do alcance da influência humana. Ela nunca cairá ou balançará à mesquinhez e a inconstância, que é comum entre a humanidade. Sua visão divina nunca é obstruída e sua atividade não pode ser prejudicada. Sua virtude, caráter, personalidade e carisma são sem igual. Mesmo Ọrúnmìlà reconheceu sua grandeza, eficiência, capacidade e singularidade. Foi, afinal, Ọrúnmìlà quem invocou Èdán, sua amiga e sócia divina para apoio, soluções e alívio! Quando Èdán desceu do reino dos Irunmọlẹ a esta Terra, ela apareceu com a plenitude da autoridade divina, poder e comando. Todos Ajogùn interno, externo e Elénìní fugiram diante dela. Com o poder de sua majestosa personalidade, divinamente atraente, beleza, carisma e àşé ela foi capaz de libertar e entregar os corações e as mentes dos pensamentos negativos, atitudes e energias prejudiciais que oprimiam e dominavam os seres humanos. Èdán foi capaz de desarmar as pessoas de suas preocupações, medos e inseguranças. Para aqueles que faziam, que se deliciavam em fazer o errado, o engano, a opressão e a corrupção ela colocava medo nos seus corações para que talvez eles pudessem mudar suas maneiras sob sua administração do perdão, da ordem, da capacitação e da renovação. Tais era, e é, o poder e a influência da mãe divina Èdán. Juntamente com o inseparável, a importação do ase aos membros sensíveis da humanidade, ela deu preceitos e injunções divinas para seus alunos-discípulos para praticar e implementarem em todos os níveis da sociedade e da vida pessoal. Estes seguidores obedientes e confiáveis ​​de Èdán são os Ogboni porque só existe sabedoria, saúde e longa vida com Èdán se as pessoas obedecerem e praticarem seus preceitos. Do lado de fora uma pessoa constituiria um Ogberi (ignorante) porque aparentemente tinha conhecimento e não praticava a verdade, o que é isso, se não o maior ignorância, infelicidade e loucura. Os princípios divinos de Èdán tornaram-se os veículos de sua divina presença, carisma, poder, apoio e influência-retificando a cura. Ter vivido na época do aparecimento de Èdán sobre esta Terra sagrada foi a experiência mais extraordinária, gratificante e maravilhosa. Isto é, a forma divinamente sancionada, a vida que ela estava revelando à humanidade e continua revelando à humanidade. O teimoso, obstinado e beligerante que não fizer, não vai durar muito tempo sob a administração de Èdán. Èdán é naturalmente amável, justa e compreensiva, como a Sagrada Mãe preciosa e amável que ela é, ela proporcionou a todos o perdão, um novo começo sem referência a erros do passado, uma oportunidade para mudar e a bênção para fazer uso de seu apoio pessoal, garantia, inspiração e poder. Èdán está ciente de nossas fragilidades e fraquezas como seres humanos. Ninguém precisa ter medo por causa de suas fraquezas ou falhas. Èdán não pareceu para fazer-nos ricos e famosos. Èdán apareceu para nos fazer participantes da verdadeira vida, saúde, paz, segurança e prosperidade através da prática de seus ensinamentos claros. Èdán apareceu para nos permitir descobrir a nossa nobre e bela natureza divina. Ela veio para restaurar a dignidade, clareza, transparência, saúde moral e limpeza moral de nossas vidas. Èdán inculca a verdade divina para seus seguidores inteligentes e humildes, quando estamos individual e coletivamente para a direita e para dentro, em seguida, nesta ordem interna, a saúde e a retidão serão reveladas e expressas no mundo. As instruções de Èdán não foram e não são sugestões, mas comandos divinamente concedidos e leis. Eles são vinculativos e obrigatórios para toda a humanidade e especialmente para aqueles que se dedicam a Èdán. Para ser Ogboni significa ser o melhor dos melhores. Significa ser um modelo de impecabilidade, idoneidade e confiabilidade. Para ser Ogboni significa estar pessoalmente convencido a perseguir e fazer o que é certo, correto e adequado independentemente de tempos, lugares e / ou circunstâncias. Para ser Ogboni significa ter auto iniciativa, ser responsável e fazer o que é certo para o bem do amor da verdade e não ser visto, elogiado e aplaudido por outros. Iniciação formal sozinha não faz de você um seguidor de Èdán. O que é importante não é que outras pessoas te chamem de Ogboni, mas que Èdán te reconhece e o aceita como um dos seus verdadeiros, leais e obedientes filhos. O que é importante é que você seja Ogboni 24 horas por dia em seus pensamentos, atitudes, ações e relacionamentos. Ogboni é uma forma global e abrangente de viver. Uma delas é ser Ogboni o tempo todo para que Èdán, ela mesma, possa garantir que você é um Ogboni genuíno, verdadeiro, com honra, humildade, alegria e realização digna. Os ritos de iniciação Ogboni foram desenvolvidos mais tarde por Èdán e seus seguidores, mas, inicialmente, a verdadeira iniciação era uma mudança espiritual de coração, mente e vida como um resultado do encontro com Èdán, sua personalidade, seu caráter, seu carisma, encantamento, inspiração, autoridade e poder, tudo foi expresso e manifestado através de tudo que Èdán fez. Tudo que Èdán fez foi cheio de graciosidade, dignidade e poder. Não foi através de ritos e rituais que Èdán mudou o mundo, mas pela graça divina, pelas maneiras, inteligência e conduta. Èdán por suas maneiras, caráter, personalidade e conduta comandou o respeito, reverência, confiança e obediência de todos aqueles com coração sincero e bom. O verdadeiro símbolo de honra e título de um Ogboni autêntica o caráter, a virtude, a bondade e a imparcialidade que ele pratica. Conformidade exterior e aderência superficial com o protocolo Ogboni para o bem das pessoas não faz de você um Ogboni, não importa o seu título ou o quanto você está velho. Èdán deu seu amor, vida e foco total e dedicação à humanidade. Para ser Ogboni você tem que dar o seu tudo para a missão divina de Èdán e você deve procurar com sua força, habilidade, atividade e meios transferir o conhecimento de Èdán a todos os povos do mundo. Isto é o que é significa ser Ogboni. Ogboni não é uma instituição humana. Ogboni não é um negócio. Ogboni não é um clube. Ogboni é uma vocação divina e sagrada. Èdán era uma revolucionária espiritual, divina, missionária, diplomática e embaixadora da boa vontade e da esperança. Nós também devemos ser isso. Devemos buscar a propagação do Ogbonismo. Não os chamados clubes Ogboni e instituições formais, devemos propagar a verdade e a realidade que Èdán promoveu e instituiu para toda a humanidade. A humildade e o serviço vêm antes da honra, do orgulho, da presunção. Èdán diz que a indiferença precede a queda. Ancestral Pride Temple. Templo Orgulho Ancestral. ORIXÁ OBÁ. Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá, aproxima-os dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, espaços físicos e até horários. Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem os seus deuses vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente. Estes deuses da Natureza são divididos em 4 elementos – Água, Terra, Fogo e Ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo, 100 da Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3 da Terra, 3 do Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 deuses. Eles também estão associados à corrente energética de alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias. No Candomblé cultuam-se muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por serem menos populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito forte para os adeptos dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente cultuados, devido à ligação com trabalhos específicos que regem, para a saúde, morte, prosperidade e diversos assuntos que afligem o dia-a-dia das pessoas. Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus, e por possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer os nossos caprichos, os nossos amores, os nossos desejos. É muito frequente dizer-se que as personalidades dos seus filhos são consequência dos orixás que regem as suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes deuses africanos. Apresento a seguir as descrições dos 16 Orixás mais cultuados. Recordo, no entanto, que existem diversas correntes no Candomblé e por essa razão as informações poderão ser diferentes de acordo com a tradição ou região. ORIXÁ OBÁ. Dia: Quarta-feira. Cores: Marron raiado, Vermelho e Amarelo. Símbolos: Ofange (espada) e Escudo de Cobre, Ofá (arco e flecha). Elementos: Fogo e Águas Revoltas. Domínios: Amor e Sucesso Profissional. Saudação: Obà Siré! Obá é um Orixá ligado à água, guerreira e pouco feminina. As suas roupas são vermelhas e brancas, usa um escudo, uma espada e uma coroa de cobre. O tipo psicológico dos filhos de OBA, constitui o estereotipo da mulher de forte temperamento, terrivelmente possessiva e carente, é mulher de um homem só, fiel e sofrida. São combativas, impetuosas e vingativas. Obá é um ORIXÁ que raramente se manifesta e há pouco estudo sobre ela. Obá é a mulher consciente do seu poder, que luta e reivindica os seus direitos, que enfrenta qualquer homem – menos aquele que tomar o seu coração. Ela abraça qualquer causa, mas rende-se a uma paixão. Obá é a mulher que se anula quando ama. Obá filha de Iemanjá e Oxalá. Em toda a África Obá era cultuada como a grande deusa protetora do poder feminino, por isso também é saudada como Iyá Agbá, e mantém estreitas relações com as Iya Mi. Era uma mulher forte, que comandava as demais e desafiava o poder masculino. Embora Obá se tenha transformado num rio, é uma deusa relacionada ao fogo. Obá é saudada como o Orixá do ciúme, mas não se pode esquecer que o ciúme é o corolário inevitável do amor, portanto, Obá é um Orixá do amor, das paixões, com todos os dissabores e sofrimentos que o sentimento pode acarretar. Obá tem ciúme porque ama. O lado esquerdo (Osì) sempre esteve relacionado à mulher e, por uma razão muito elementar, é o lado do coração. Quando Obá é saudada como guardiã da esquerda, isso quer dizer que é a guardiã de todas as mulheres, aquela que compreende os sentimentos do coração, pois Obá pensa com o coração, por isso dança sempre com a mãe esquerda apontando para o lado esquerdo na altura da orelha, poder genitor feminino, rainha em África da sociedade Elecô, onde homem não entra, as grandes amazonas de Oba. Oba não conhece a cabeça de homem. Ligadas a Oxóssi pela caça e grande arqueira, ligada a Xangô através do fogo a luta pela vida. Como pode uma deusa ligada a esses sentimentos, dedicar-se à guerra? Toda a energia das suas paixões frustradas é canalizada por ela para a guerra, tornando-se a guerreira mais valente, que nenhum homem ousa enfrentar. Obá supera a angústia de viver sem ser amada. Obá troca um palácio por uma cabana, troca todas as riquezas do mundo por uma frase: “Eu te amo”. Características dos filhos de Obá. Os filhos de Obá não têm muito jeito para se comunicar com as pessoas, chegam a ser duros e inflexíveis. Têm dificuldade em ser gentis e estabelecer um canal de comunicação afetiva com os outros; às vezes são brutos e rudes afastando as pessoas. Isso deve-se ao fato de os filhos de Obá, na maioria das vezes, sofrerem um certo complexo de inferioridade achando que as pessoas que se aproximam querem tirar partido de alguma coisa. De facto, isso tende a acontecer com os filhos de Obá. A sua sinceridade chega a ferir; expressam as suas opiniões, fazem críticas e acabam por magoar as pessoas, pois não se preocupam em ser agradáveis. Mas essa agressividade é puramente defensiva. São bons companheiros e amigos fiéis, são ciumentos e possessivos no amor, por isso não têm muita sorte. Quando apaixonados, nunca são senhores da relação, cedem em tudo, abdicam de todas as suas convicções. Algumas vezes infelizes no amor, investem todas as suas cartas nas suas carreiras e, de entre as mulheres que se destacam profissionalmente numa sociedade machista, podem-se encontrar muitas filhas de Obá excelentes juizas, advogadas, comandando quartéis, etc. Muitas vezes despertam a inveja dos seus inimigos e podem sofrer algumas emboscadas, por isso devem vencer a tendência que possuem para a ingenuidade. www.ocandomble.com. Abraço. Davi

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

MESTRE E DISCÍPULO


Budismo Nitiren Daishonin (1222-1282). Texto de Greg Martin. MESTRE E DISCÍPULO. Gostaria de referir-me sobre a relação de Mestre e Discípulo. Tenho vários motivos para escolher este assunto. Em primeiro lugar, porque ouvimos falar muito a respeito disso nesses últimos dias. Na realidade, e na opinião de alguns, ouvimos falar muito sobre o assunto. De fato, passaram-se trinta anos quando comecei a praticar, e já se falava sobre esse assunto, hoje ouço falar muito mais de que naquele tempo e, para ser honesto, este assunto de Mestre Discípulo me incomodou durante muito tempo. Não sei exatamente porque me incomodava, mas posso lhes dizer que me alegrou quando deixamos de chamá-lo "Mestre Discípulo" e passamos a chamá-lo "Mentor Discípulo", me deu um certo alívio. Mas continuava a me preocupar. Somente a ideia do Mentor, a simples imagem dessa pessoa, era muito difícil de aceitar. Mas paralelamente, ao estudar, algo que desfruto fazendo, quando lia o Gosho, quando lia o Sutra de Lótus ou a orientação do presidente Ikeda, ficava evidente que não podia descartar esta parte do ensinamento. Não podia ignorá-la: era importante. Realmente, o Sutra de Lótus na sua totalidade gira em torno da relação, diálogo e interação entre o Budha Sakyamuni e seus discípulos. O Gosho de Nitiren Daishonin é constituído de cartas escritas de um mestre aos seus alunos e pelo diálogo que ele criava nos seus escritos. Defrontava-me, então, com um verdadeiro dilema: por um lado, tinha aqui algo que não podia realmente compreender e que me sentia incomodado. Por outro lado, era consciente da extrema importância de entender este ponto para poder compreender o budismo. Portanto, gostaria de referir-me a alguns aspectos de minha atual (já que ela continua crescendo e desenvolvendo-se) perspectiva sobre a relação Mentor Discípulo. E antes de mais nada desejaria ler um fragmento de uma orientação do presidente Ikeda extraída de Fé em ação: "O sangue vital do Budismo existe somente dentro da fé correta e manifesta-se na Lei. Uma correta fé, veículo da corrente vital do Budismo, só se transmite através da relação Mentor Discípulo. Nitiren Daishonin escreveu no Gosho Advertências sobre os atos contra a Lei: “Se alguém esquecer o mestre original que trouxe a água da sabedoria desde o grande oceano do Sutra de Lótus, para seguir a outro certamente se afundará no interminável sofrimento da vida e da morte. E minha análise sobre o assunto tem me levado à conclusão de que Mestre Discípulo é, de fato, um modelo de fé religiosa válido para o próximo milênio. E não somente para nós, constitui um modelo de postura religiosa orientadora para todas as filosofias. Até agora, o modelo aceito de fé religiosa em quase todas as tradições tem sido aquele de relação entre "ser superior e ser inferior". Com grande frequência o mestre se eleva ao nível de um deus, deixa de ser um ser humano para situar-se num posto elevado. O mesmo encontramos dentro do ser humano em sua postura da fé: olhar para cima procurando alguma entidade maior ou poderosa. Não só "esta pessoa" encontra-se sobre nós, ela é melhor do que nós, mais poderosa do que nós, mais sábia do que nós, mas também supõe que estejamos "aqui embaixo". Esta relação "mais alto e mais baixo" conduz ao modelo básico de fé religiosa: o de adoração. Acaba-se adorando a este ser, esta entidade ou qualquer que seja o nome que queiram lhe dar. Será este o modelo correto de fé religiosa válido para nossos dias, para esta época? Minha conclusão é "Não". No exato momento em que o fundador de uma religião, por mais grandioso que tenha sido, é colocado num pedestal (...) o que acontece conosco? Somos situados embaixo. Isto nada mais é do que o resultado de uma tendência humana profundamente enraizada que é a falta de fé em nós mesmos, e a dificuldade de acreditar nas nossas próprias possibilidades. É algo difícil, certo? Recitamos o Nam myo horengue kyo, fazemos o Gongyo de manhã e à noite, aprendemos que nós somos o Budha (,,,), mas é difícil acreditar. É difícil de vivê-lo colocando em prática. Para os seres humanos é difícil aceitar nossa grandiosidade. Existe uma citação atribuída a Nelson Mandela (1918-2013) que afirma que não é da nossa fraqueza que temos medo, e sim de nossa luz, de nossa grandeza. Tememos que possamos chegar a ser, de fato, muito mais do que acreditamos ser. Temos a tendência de considerar outros como melhores, mais benevolentes, mais sábios, etc, e os colocamos num pedestal. Depositamos neles nossa confiança, esta é a história das religiões humanas. Em algumas tradições religiosas, se o fiel simplesmente pensasse em estar "lá em cima", esta arrogância já constituía uma heresia. Houve uma época na era Cristã em que torturavam e queimavam vivas às pessoas que afirmavam isso. Na A Sabedoria do Sutra de Lótus, o presidente Ikeda trata sobre esse ponto. Em referência ao Budha Sakyamuni (563 AC 480), Sensei cita a Jawaharlal Nehru (1889-1964), discípulo de Gandhi e primeiro governante da Índia após sua independência da Inglaterra em 1947, que afirmou uma vez que: no momento em que Sakyamuni foi elevado ao status de ser sobre humano pelos seus discípulos, sem dúvida cheios de boas intenções, e deixou de ser um ser humano para converter-se num deus, numa divindade, alguém melhor do que vocês e eu, foi nesse instante que desapareceu o humanismo do budismo. As pessoas começaram a venerar e buscar os poderes do Budha e, nesse processo, implicitamente aceitaram que eles mesmos careciam de poder. Viram como funciona? No mesmo instante em que começamos a buscar "fora", já estamos auto negando-nos. E quanto mais o fazemos, mais difícil é acreditar naquilo que poderíamos ser. A maioria das religiões concluem que "nós não somos isso", "nós não podemos fazer" e que a única esperança que podemos ter é que, ao morrer, acabaremos indo para um lugar melhor. Ralph Waldo Emerson (1803-1882) afirmou que nos Evangelhos sempre lemos a respeito da grandiosidade do homem (...), mas na igreja somente escutamos sobre a grandiosidade de Jesus. É aqui onde está o problema: devemos implorar a Jesus que nos devolva o poder, que nos permita que Deus entre em nossas vidas (...). Esta é uma visão muito pessimista da condição humana! Num sábado à noite, há dois anos atrás, estava na minha casa quando recebi um chamado de um membro da Califórnia, ela trabalhava como produtora de um programa de televisão do Reverendo Lawson, um ministro batista de Los Angeles. Um convidado agendado não poderia ir ao programa, então me convidou no lugar dele para o programa do Domingo, que seria transmitido por um canal cristão. "Mas antes de responder a ela, ela advertiu-me" devo lembrá-lo que amanhã é domingo de Páscoa e o Reverendo certamente perguntará: O que pensam vocês os budistas a respeito da ressurreição de Cristo? Respondi a esta senhora: "A verdade é que não pensamos frequentemente sobre este assunto!". Ela disse: "Mas, Greg, esta seria uma grande oportunidade para estabelecer um vínculo, porque você se lembra que o Rev. Lawson, que foi um dos discípulos do famoso libertário Martin Luther King (1929-1968), e já ouvirá falar a respeito da SGI". Então eu disse: "Não tenho a mínima ideia do que possa falar com ele". E ela me respondeu: "Bom, acredito que você pensará em alguma coisa" (conhecia-me muito bem!). Acabei aceitando. Então comecei a orar sobre o assunto e a pensar. E o que eu faço se me fizer esta pergunta? O que vou responder?. Eu acabava de terminar um novo fragmento de "A sabedoria do Sutra de Lótus" que aborda o modelo de fé religiosa de Mestre Discípulo e segundo o qual poderíamos considerar Jesus, sua vida e sua ressurreição como um mestre, um guia, um modelo para nossa própria vida e não como alguém especial a quem não nos parecemos. Então disse a mim mesmo: "Teremos que ir corajosamente onde nenhum budista jamais foi e vejamos no que acontecerá!". Iniciou-se o programa e começamos a conversar, tal como havíamos previsto, olhou-me e me perguntou: "O que os budistas pensam a respeito da crucificação e da ressurreição de Cristo?". Respondi baseando-me no conceito de "Mentor Discípulo" como modelo de fé religiosa para o século XXI. (Nesse momento, o programa estava sendo assistido em 15 milhões de lares nos Estados Unidos, tinha certeza de que haviam vários cristãos me vendo e avisando: "Olha o que vai responder!. De todos os modos, fui em frente: "Bem, meu Mestre ensina que o modelo correto de fé religiosa deveria ser o de Mentor Discípulo e não o de Deus Seres humanos. Portanto, se estudamos a vida e a morte de Jesus como ser humano e modelo de vida para nos ensinar sobre nossas próprias vidas, então podemos ter algumas conclusões. Antes de mais nada, ele foi ressuscitado. Isso significa que a vida não termina com a morte, e sim que há algo além: voltaremos a renascer. E, também, ele ressuscitou em melhores circunstâncias, não é mesmo? Sentou-se à direita de Deus, se meu conhecimento sobre cristianismo não estiver errado: uma esplêndida circunstância para renascer. O que o fez merecedor de tal magnífico renascimento? Como ganhou isso?" E logo acrescentei: "Para compreendê-lo, deveríamos analisar sua vida". "Algumas conclusões são: primeiro, o simples fato de que alguém viva por muitos anos não determina em que condições renascerá. A duração da própria vida não constitui o ponto, porque Jesus não viveu muitos anos. Segundo, quanto sofrimento nós podemos evitar, ou quão fácil e cheia de conforto seja sua vida, também não constitui o ponto, porque Jesus, pelo contrário, viveu e morreu com sofrimento e dificuldades. Em compensação, deveríamos analisar a história de sua vida e tentar perceber a verdadeira mensagem que ela transmite, encontra-se em como ele tratou aos outros, especialmente àqueles que as pessoas ignoravam, discriminavam ou marginalizavam: aos doentes, aos que sofriam, aos pobres, aqueles das camadas mais baixas da sociedade. E a maneira com que ele tratou seus semelhantes é que define a dimensão deste homem. É devido a isso que renasceu numa circunstância melhor". Portanto nós, como budistas, poderíamos considerar Jesus como um grande mestre e encontraríamos sabedoria neste ponto. Podemos extrair o sábio ensinamento de que a maneira como vivemos esta vida determinará a próxima, qualquer que esta seja. E, que o ponto chave é a maneira como atravessamos esta vida, deveríamos seguir seu comportamento, ser nós mesmos Jesus, em vez de venerar seu poder. Por isso, poderíamos considerar Jesus um mestre. O Reverendo Lawson olhou-me firmemente e eu pensei: "Ah aqui vai ter encrenca". Mas disse: "Isto é absolutamente correto! Como lhe ocorreu isso?" Tinha tido a mesma conversa com Dean Carter no fim de semana passado e ele tinha me confessado: "Sim, isto é absolutamente correto. O triste é que a maioria dos cristãos não o sabem". Do ponto de vista do modelo Mentor Discípulo, o Mentor nunca deixa de ser um ser humano, e devido ao Mentor continuar sendo um ser humano, é que faz o modelo transforma-se em algo que podemos alcançar. Não somente temos a possibilidade, mas encontra-se imbuído da imagem de que nós estamos fazendo o mesmo que ele.Assim como o presidente Ikeda diz no "A sabedoria do Sutra de Lótus": a relação de Mentor Discípulo nos desafia como discípulos a ter uma visão fundamentalmente diferente de nós mesmos. Podemos deixar de nos ver como inadequados, incapazes, ou não possuidores das mesmas qualidades que ele. Como discípulos, como estudantes, se optarmos pelo modelo Mentor Discípulo, ao reconhecer que o Mestre põe uma meta muito alta, ele acaba por nos mostrar a incrível capacidade do ser humano. O propósito da vida do Mestre (Sakyamuni, T'ienTai, Nitiren Daishonin, o presidente Ikeda ou quem for) não é dizer: "Olhem como sou grande!". E sim expressar: "Considerem-me como um exemplo de o quão grandes vocês podem chegar a ser!". Isto constitui uma visão completamente diferente do assunto: é um desafio, é difícil de acreditar. Quando admiramos um grande Mentor e aquilo que têm conseguido com o seu incentivo, sua coragem, sua benevolência e sua sabedoria, a primeira coisa que pensamos é dizer: "Ele deve ser diferente de nós" porque sentimos uma lamentável consciência de nossas fraquezas, limitações, maldades, pensamentos negativos e tudo mais, é impossível imaginar, que dentro de nossa vida humana, existam exatamente as mesmas qualidades. Aí reside o ponto: a possessão mútua dos Dez Estados, ela nos ensina que o Budha se manifesta como um mortal comum mesmo que cheio de fraquezas, preguiça e todo tipo de tendências negativas, e que também possui todas as qualidades de um Budha. Sakyamuni no Sutra de Lótus tentava nos ensinar à sua maneira não somente o quanto era grande sua vida, mas o mais importante era que o quanto grande é a vida de cada ser humano individual, já que eternamente possuímos a natureza de Budha e podemos manifestá-la na nossa vida cotidiana. Infelizmente, poucos anos após sua morte, seus discípulos perderam esta visão e começaram a acreditar que Sakyamuni era alguém especial, diferente, alguém que vocês e eu jamais poderíamos alcançar. Foi então, evidentemente, que o Budha histórico foi promovido a algo superior e nós fomos rebaixados, esta é a lacuna que existe entre ele e nós. E quem apareceu convenientemente entre ele e nós? Os sacerdotes: eles mesmos criaram seus próprios empregos. Se eles nos tivessem elevado ao mesmo nível do fundador, não teria existido o negócio. Portanto, se nos basearmos nas suas fracas naturezas, não está entre os principais interesses dos sacerdotes lembrar-nos que nós leigos também possuímos esse poder. Assim foi que os sacerdotes transformaram-se em emissários, em enviados. Eles dizem: "Não se preocupe, irei à cima da montanha e regressarei trazendo-lhe a mensagem do Budha, confie em mim. Lhe contarei o que ele me disse, mas você (...) não, você não pode ir, nãonão não". No instante em que isto aconteceu, o humanismo do Budismo se perdeu. Centralizou-se nos sacerdotes e intermediários, enquanto que para as pessoas comuns, você e eu, que vivemos vidas comuns, o budismo transformou-se em algo impraticável em nossa vida diária, e assim nos tornamos dependentes dos "intermediários", que diziam, interpretavam, ajudavam a entender e nos "concediam" a sabedoria. Pedíamos ajuda a eles, e eles oravam por nós, por algum motivo sua oração era mais poderosa que a nossa. Eles estavam mais próximos de Deus porque encontravam-se sempre em cima da montanha. O mesmo aconteceu com Jesus. O Jesus humano converteu-se assim no "Senhor Jesus Cristo". Um exemplo muito interessante desse modelo de fé religiosa é estabelecido no feudalismo. Do mesmo modo, há um Senhor Jesus Cristo, um Senhor Sakyamuni e nós não somos mais do que os camponeses "vassalos da fé", não é assim? E eternamente permaneceremos como vassalos ou meeiros da fé, por assim dizer. E sempre estaremos endividados com o armazém da companhia e o mesmo acontecerá com os nossos filhos, que herdarão nossa dívida. O Budha possui três virtudes: a de pai, mestre e soberano. Graças ao fato de Nitiren Daishonin inscrever o Gohonzon, este também possui essas três virtudes. Mas isto gera três relações: a de Pai Filho, a de Mestre Estudante a de Amo Subordinado. Então, se o budismo tem a função de pai, então seus discípulos são os filhos do Budha. Frequentemente ouvimos que "todos somos filhos do Budha". Na verdade, se o budismo influenciou o cristianismo, assim como dizem que fez, então isto equivale ao "Filho de Deus". Todos somos filhos e filhas de Deus sob este aspecto. Mas o modelo de Pai Filho é o mais adequado para a fé budista? Apesar de constituir um aspecto importante, para que o Gohonzon funcione como um pai que nos abraça com amor e benevolência, que cumpra as funções que todo pai deve cumprir (...) então deve existir um filho. Portanto, um aspecto da fé consiste em aproximar-se do Gohonzon e à prática, e confiantes como crianças. Não quero dizer que permaneçamos sendo infantis, mas que a pureza e a sinceridade da confiança no Budha constituem um importante aspecto da fé e assim entendemos porque as dúvidas interferem na fé. Se o bebê duvidar do leite materno e falar: "Espera um minuto, quero uma análise disso antes de bebê-lo", então se defrontaria com um verdadeiro problema! Claro que não se trata de fé cega e de confiança cega. Não deveríamos ser incondicionais, mas possuir confiança. Quantas vezes nossos antecessores nos pedem que "confiemos no Gohonzon?". Para ser capaz de confiar, é necessário impedir e ultrapassar as próprias dúvidas, sem escondê-las. Casualmente numa destas noites me perguntava como seria ter uma fé livre de dúvidas. Escutamos muito frequentemente que "Se realmente tivéssemos fé, se verdadeiramente fôssemos sérios, nunca deveríamos duvidar". Então, assim que temos dúvida, nós sentimos envergonhados por isso, ou escondemos, ou queremos suprimir, não podemos contar a ninguém porque estaríamos evidenciando algo que anda mal em nós mesmos. E isto é incorreto. Todos duvidamos. De fato, o Budha usou a dúvida no Sutra de Lótus para despertar o espírito de procura dos seus discípulos e ajudá-los a atravessar o lugar no qual se encontravam crentes de que já tinham atingido um novo estágio na fé. A dúvida constitui o primeiro passo para aprofundar nossa fé, portanto, não deveríamos nos envergonhar de nossas dúvidas, pelo contrário deveríamos ser honestos, assumi-las, enfrentá-las, explorá-las, porque uma fé mais profunda nos aguarda no final desse processo. Quanto mais profundas são nossas dúvidas, mais profunda é a fé que conquistamos uma vez que as vencemos. Portanto, deveríamos nos esforçar para ter uma fé "libertadora de dúvidas". Não livre de dúvidas e sim "libertadora de dúvidas", porque ao aplicar a força de nossa fé e prática para resolver nossas dúvidas nasce uma fé mais profunda. Esse é o verdadeiro aspecto de uma "criança". Mas a relação Pai Filho possui suas implicações. Uma criança depende do seu pai, não é igual ao pai. E, por isso, não constitui o modelo adequado de fé religiosa para nós, já que não desejamos ser dependentes de nosso mentor, sempre obrigados a lhe pedir nosso alimento, sempre escutando o que temos que fazer e necessitando da sabedoria necessária para decidir por nós mesmos. Ser dependente do Mentor também não é o modelo correto de fé. Por outro lado, existe a relação Soberano Súdito. Este é o modelo feudal do senhor e seus vassalos. A função do senhor feudal é proteger. No sistema feudal, os senhores tinham as armas e os soldados e assim protegiam as aldeias. Os vassalos faziam suas tarefas, cultivavam os campos e serviam ao seu senhor feudal. Este, em troca, os protegia. Portanto, a função de proteção surge quando participamos na nossa fé como bons soldados, como bons cidadãos da comunidade budista. Em nossos dias de democracia, predomina o pensamento de que a união dos budistas é o verdadeiro soberano, e não um indivíduo em particular. Na medida em que servimos a um grande objetivo, participando na grande tarefa do Kossen-rufu e concretizando o desejo do Budha como bons cidadãos da comunidade, estaremos protegidos. Mas a relação Soberano Súdito também tem implicações que não são apropriadas para um modelo de fé religiosa. O sujeito, o vassalo, nunca chegará a ser um senhor do sistema feudal: existe uma diferenciação entre classe alta, classe baixa, poderoso e fraco: definitivamente não é uma relação igualitária. Por isso, é importante servir à comunidade isso é correto e não o descartamos, mas também não constitui o modelo principal. O principal modelo de fé religiosa é o de Mestre Estudante porque constitui uma relação humana dentro da qual o estudante pode aspirar não somente se igualar ao seu mestre como também até ultrapassá-lo podendo ir mais longe do que ele. De fato, o desejo do mestre é que o estudante não só alcance ser igual a ele, partindo do que o mestre o ensinou, mas que o leve ainda a um nível mais alto. Este é o modelo correto de fé religiosa. Nós não escolhemos nossos pais, não escolhemos nosso soberano, ainda que desde o ponto de vista cármico o façamos, mas nós escolhemos nosso mestre. É uma escolha voluntária que fazemos e, devido ao fato de ser voluntária, constitui uma das relações mais importantes que podemos vir a ter na nossa vida. Existe um termo japonês chamado "judoshu" que significa "espírito de procura ao longo de uma vida". Não é nada fácil manter o espírito de procura ao longo da vida, é mais fácil quando somos jovens. Mas à medida que envelhecemos, torna-se mais difícil continuar buscando esse espírito, permanecer no caminho sem fim do crescimento pessoal e nunca chegar a um ponto no qual estamos satisfeitos e dizer: "eu consegui". De fato, minha própria experiência me ensina que quando penso que "Consegui" é onde corro mais perigo, isto porque é evidente que não o consegui, pelo contrário estou continuamente "conseguindo". Estou buscando constantemente e este é um aspecto importante de nossa fé. Existe um termo chamado "juji soku ganjin" que significa: abraçamos o Gohonzon com estas três orientações espirituais que acabamos de ver: como crianças, buscamos e confiamos no Gohonzon. Como estudantes, buscamos e confiamos no Gohonzon, buscamos nosso mentor Nitiren Daishonin ou o presidente Ikeda, que encarna o mentor porque é um excelente exemplo do que deve ser um discípulo. O presidente Ikeda está nos mostrando "Assim é como devemos caminhar nesta vida como discípulos de Nitiren Daishonin. Observem-me, eu lhes ensinarei. Lhes explicarei, lhes direi como serem excelentes discípulos". E "excelente discípulo" significa para Sensei "compartilhar o mesmo coração de Nitiren Daishonin". Os discípulos de Sakyamuni Budha, sem dúvida que por causa da sua sincera devoção, o elevaram a um plano especial, como alguém que se encontrava acima do ser humano comum e, nesse momento, a humanidade do budismo perdeu-se de vista. Nitiren Daishonin compreendeu perfeitamente este ponto. No Gosho "Sobre atingir o estado de Budha", Nitiren Daishonin afirma "Jamais pense que os 80.000 ensinos de Sakyamuni, assim como todos os Budhas e Bodhisattvas do universo, existem fora de sua vida". Está enfatizando esse exato ponto. O Budha Sakyamuni não está fora de nós, e sim que ele, o estado deBudha, encontra-se dentro de nós, e repete esta mensagem sempre em todos os seus Goshos. Nitiren Daishonin escreveu o Gosho "A abertura dos olhos" para abrir os olhos das pessoas para o seu próprio estado de Budha. Então, quem é o pai, mestre e soberano de todos os seres vivos? É Nitiren Daishonin. Mas essa não foi a única razão pela qual ele escreveu este tratado, e também o fez para abrir nossos olhos para as nossas próprias possibilidades. Mas, pouco após à sua morte e no fim de poucas gerações, Nitiren Daishonin, um ser humano incrível, benevolente, sábio, etc., mas ser humano em última instância, foi endeusado e nós começamos a nos auto degradar e a ideia do Budha Verdadeiro ou do tesouro do Budha deixou nos excluídos a vocês e a mim. Aquele ser humano converteu-se em algo "especial" e seus discípulos tinham esquecido sua mensagem. O 26º Sumo Prelado, Nitikan Shonin, lembrou isto e retornou ao ponto primordial. Ele disse: "O estado de vida de Nitiren está dentro de vocês, dentro das vidas de todas as pessoas que recitam o Nam myoho renguekyo ao Gohonzon: vocês são Nitiren Daishonin". Mas, logo, esta mensagem voltou a ficar de lado. E então não foi um monge quem a reencontrou, e sim Tsunessaburo Makiguti (1871-1944), e depois a transmitiu para Jossei Todda (1900-1958). E Todda pela sua vez a transmitiu ao presidente Ikeda e ele está hoje tentando transmiti-la a todos nós. A chave é: nunca, mas nunca, jamais permitam a ninguém que se coloque acima de vocês mesmos. A relação Mentor Discípulo constitui um vínculo humano. É verdade que os grandes mentores são pessoas incríveis que elevam os padrões até uma altura que às vezes é difícil de alcançar. Mas o propósito e significado de suas vidas e ensinos não é a respeito deles mesmos, e sim de nós. Trata-se de nos imaginarmos fazendo o mesmo que eles, encontrando dentro de nós suas maravilhosas qualidades. O Mentor nos diz: "Observem-me, lhes mostrarei o que podem chegar a fazer (...) o que podem chegar a ser". Mas, de novo, nos custa acreditar. Muitas vezes tenho ouvido os membros referirem-se ao presidente Ikeda com frases do tipo : "O presidente Ikeda pode fazer isso, mas eu não poderia". Falamos dele como se fosse alguém especial. Sim, é verdade que ele é grande, e eu também sinto-me assim com respeito a ele, mas no mesmo instante em que pensei que ele tem algo que eu não tenho (...) ele realiza e eu ainda estou na possibilidade. E tenho o mesmo potencial dentro de mim ao ponto que posso aprender com ele através de seu exemplo, das suas orientações e das suas ações que me mostram o que posso fazer e como posso desafiar meus próprios limites para chegar a ser um dos milhares de milhões de presidentes Ikeda e Shin iti Yamamoto que vivemos neste planeta. Devo me tornar num deles, não simplesmente buscar seu poder. Neste sentido, a relação Mentor Discípulo é realmente um modelo de fé religiosa. Representa uma orientação diferente e desafia o discípulo a pensar por si mesmo de uma perspectiva completamente diferente, e possuir um paradigma próprio a respeito de si mesmo. Um dia desses li um livro interessante: "Por que o cristianismo deve mudar ou morrer", escrito por um bispo episcopal, um tanto radical, de nome Spong. Ele enumera uma série de pontos importantes: primeiro, Deus deve deixar de ser visualizado ou idealizado sob o que ele chama de "imagens elevadas". Enquanto os cristãos continuarem considerando que Deus está "lá em cima" e "lá fora", a igreja estará condenada a morrer porque fica claro que não há nenhum lugar "lá em cima". E onde mais poderia estar? E responde numa linguagem muito interessante: "Devemos começar a pensar em Deus do ponto de vista de imagens de profundidade, e acrescenta "Devemos pensar em Deus como uma força que emerge da terra". Segundo, devemos deixar de considerar a Jesus como Deus e, ao contrário, começar a vê-lo como um mestre. Na medida em que os cristãos não o façam, a igreja seguirá o caminho para a sua própria morte. Os velhos modelos não funcionam mais. As pessoas já têm evoluído além do modelo feudal". Terceiro, "devemos deixar de pensar na igreja como numa instituição ou uma entidade formal e começar a vê-la como um conjunto de seres humanos". Interessante, não é mesmo? Quando terminei o livro, disse a mim mesmo: "Nós vemos o cristianismo converter-se em budismo porque é exatamente isso o que estamos presenciando. E é precisamente esta a razão pela qual, quando os budistas acabam descobrindo uma linguagem comum, poderemos comunicar-nos com tantos e tantos cristãos. Spongtambém escreve: "Existem milhões que chamamos cristãos no exílio que possuem uma crença básica, mas não conseguem ligarem-se com os ensinamentos que descem do púlpito nos nossos dias". Quando encontrarmos a linguagem precisa que necessitamos usar, quando começarmos a nos ligar à eles, emergindo da terra, e Jesus como mestre e tudo isso, então haverá muitas pessoas que se sentirão como no seu próprio lar conosco. Outro livro, "Soka Gakkai na América", é um estudo de nossa organização realizado por Phillip Hammond (1962-  ) da Universidade de Califórnia em Santa Bárbara. Ele fez um levantamento de nossos membros e conseguiu uma análise muito boa de nossa organização. Há muito para aprendermos e faz uma observação muito interessante: Existem investigações demográficas que mostram a identificação de três linhas básicas de pensamento na América do Norte atualmente. A primeira é representada pelo que se nomeou como "Habitantes Primordiais", que são os fundamentalistas. Essas pessoas tendem a viver à margem das mudanças do mundo. Cerca de 30% dos norte-americanos são "Habitantes Primordiais". Estas pessoas gostariam que retornassem os valores de antigamente, são os que acreditam que o passado é melhor do que o presente e que a questão é regredir àquele tipo de vida. São tradicionalistas, do ponto de vista religioso são fundamentalistas. O segundo grupo constituem os "Modernistas". Cerca de 40% dos norte-americanos são "Modernistas". Essas pessoas acreditam no progresso e na ciência e, vivem atrás do dinheiro e do êxito, e todas essas coisas, acreditam que obtendo-as serão felizes. O restante 30% dos norte-americanos são os denominados "Trans modernistas". Esse grupo acredita na ciência, no progresso e tudo mais, mas sabem que não conseguirão o que o grupo anterior acredita que conseguirá e, por isso, vão além: dão grande importância à espiritualidade. Esse grupo se aproxima de nossas crenças quase que exatamente. Acredita-se que existam aproximadamente 44 milhões de norte-americanos que se poderiam chamar de "pró budistas". Já são budistas, mas ainda não o sabem. Hammond também ressalta que a maioria de nós, quando encontramos o budismo, não experimentamos uma mudança radical de pensamento. Pelo contrário, quando temos encontrado este Budismo, nos sentimos em casa desde o começo. Sentimos: "Isto é o que eu vinha acreditando!". Hammond diz que, surpreendentemente, não existe um processo de conversão definido, mas há um processo de descobrimento e a sensação de que "finalmente encontrei um grupo, um local, um ensinamento de acordo com aquilo que venho acreditando esse tempo todo". Ele acredita que existam 44 milhões de pessoas esperando somente descobrir que nós existimos. É um pensamento muito estimulante se o analisarmos profundamente. Por último, creio que a relação Mentor Discípulo trata principalmente a respeito do desenvolvimento espiritual, moral e de caráter do discípulo. Constitui um desafio para todos nós. É um modelo que nos exige pensemos de maneira diferente, para irmos além de nossos limites. Já rejeitamos o conceito tradicional de ser humano, e também deixamos de implorar a algum poder externo para que nos ajude porque sentimos que não somos capazes em conseguir outro conhecimento. Então, agora o desafio que enfrentamos está em aceitar e olhar no nosso interior e descobrir a grandeza que existe nas profundezas e nos corações de cada um dos seres humanos, as imensas qualidades de coragem, autoconfiança, esperança, sabedoria e perseverança que todos possuímos em idêntica medida, mas que teimamos em negar. Vivíamos na descrença pois nunca tínhamos encontrado um método pelo qual pudéssemos abrir a chave de nosso depósito de grandeza para deixá-lo fluir livremente. Pelo contrário, a religião, a filosofia, a educação, vêm nos ensinando que somos limitados. Que é arrogância pensar o contrário, que tais aspirações estão além de nossas possibilidades humanas. Então acabamos depositando nossa confiança e nossa fé naqueles que acreditamos serem melhores do que nós. É preciso que isto mude. O estado de Budha reside no despertar para o nosso verdadeiro eu. NitirenDaishonin nos transmitiu a prática do auto despertar. Inscreveu sua vida noGohonzon, mas não para que venerássemos sua vida e seu poder, e sim para que, quando defrontamos o Gohonzon, possamos perceber que a chave está ali. E a chave é "Nammyoho rengue kyo Nitiren". Devotem-se com suas mentes, suas vozes, com seus corpos à Lei Mística de causa e efeito e manifestarão a vida de Nitiren Daishonin no seu interior.A Lei e o Budha dentro de nossas vidas são um só. O Gohonzon é uma mensagem às gerações futuras pois Nitiren compreendeu a natureza humana: sabia que a chave se perderia assim que ele desaparecesse. Imagino o que ele se perguntou: "Como posso enviar uma mensagem ao futuro de maneira tal que, ainda que percam a chave, qualquer um possa redescobri-la para revelar o grande significado, o grande poder do Budismo e da prática budista?" Então a colocou diante de nós. Sim, à nossa frente está a chave. Mas se recitarmos daimoku frente ao Gohonzon pensando que o poder está fora de nós, achando que o Gohonzon irá sair por aí para fazer as coisas por nós, então não compreendemos a chave. Com certeza, o clero da Nitiren Shoshu tem mal interpretado a chave. Eles acreditam (e é o que ensinam) que o Dai-Gohonzon constitui a raiz, que o Sumo Prelado é o tronco e que o sacerdote é o galho. Que nosso Gohonzon é a folha e que o poder de nossos Gohonzon provêm dele . Acreditam que Nam myoho renguekyo significa "Eu o tenho" em vez de "Nós o temos". Acham que "Nammyoho rengue kyo Nitiren" significa "Eu sou o Budha Verdadeiro" em vez de "Todos nós somos os BudhasVerdadeiros e Originais". (Diga-se de passagem, as "folhas" de nossos Gohonzon caíram da árvore (segundo disse o reverendo Nagasaki em New York). Obviamente, isto é incorreto. Se vocês leem o Gosho fica claro que não é este o caso. Mas é compreensível porque, nas profundezas dos seres humanos sempre existe esta absurda descrença em nós mesmos, esta falta de vontade e este impulso de confiar em alguém para que dirija nosso leme. "Estou rodeado de todas estas pessoas (os bonzos) que parece que sabem o que fazem, por isso depositarei minha confiança neles". E este é um grande erro. O verdadeiro benefício da problemática do clero reside em que finalmente podemos aprender o verdadeiro modelo de fé religiosa, porque nós, antes desta ruptura, também depositamos nossa fé neles. Se bem que a confiança constitui um aspecto importante da fé, devemos usá-la para confiar nos nossos antecessores, para confiar nas outras pessoas mas, sem perder de vista que, em última instância, nós somos os únicos responsáveis de nossa própria vida. A vida é uma viagem. Existem passageiros e existem motoristas. Mas necessita-se de motoristas. Existem muitas, muitíssimas pessoas que são simples passageiros de suas próprias vidas, deixando sempre que outro as conduza. Quantas vezes a gente diz: "Você está me deixando bravo (...). Chega!"? Quem fala isto é alguém que está atrás do motorista. Esse é um passageiro. O que estamos dizendo é: "Você tem poder sobre às minhas emoções. Não tenho controle. Você conduz minha ira, e enquanto continuar fazendo o que está fazendo, eu continuarei a me sentir irado. Chega!". E assim a vida transforma-se num passageiro que obedece ao motorista. Nós nos vemos obrigados a manipular o comportamento dos outros, a dar-lhes instruções, a pedir-lhes que façam o que necessitamos para que nossas emoções não fujam do controle. É um conceito totalmente absurdo. Não há dúvida de que, com esta maneira de pensar, entregamos o volante de nossa vida a outros, e agora nos sentimos frustrados e furiosos porque não dirigem bem. Recuperemos a direção. Comecemos a conduzir e dirigir nossas próprias vidas. Possuímos o poder mais importante do universo que é o poder que se encontra dentro de nossas vidas, podemos escolher nosso estado de vida. Quando alguém fizer algo que não gostemos, não é necessário que fiquemos bravos. Sempre nos comportamos assim porque acreditávamos que era a única opção, mas temos dez opções. Se alguém faz algo que não gostamos, podemos ir para o Inferno. Podemos comer algo. Vejamos (...) animalidade (...) poderíamos maltratar ou algo parecido, poderíamos ficar irados, essa também é uma escolha. Podemos nos retirar, nos retirar ao nosso quarto, pôr os fone de ouvido e escutar música. Ou entrar em êxtase e dizer: "Oh, adoro quando você faz isso". Ou poderíamos até ser um pouco mais provocadores: "Bom, realmente estou aprendendo graças ao que você faz". E ainda mais, "estou sentindo um despertar", ou poderíamos sentir benevolência "Realmente gostaria de poder te ajudar" (...) ou poderíamos alcançar o estado de Budha. Todas estas opções estão ao nosso alcance. Mas enquanto acreditarmos que não temos opção, estaremos presos nos seis estados mais baixos e continuaremos sendo somente passageiros de nossas próprias vidas. O Nam myoho rengue kyo trata a respeito do instante, de escolher a cada instante, de escolher a cada pequeno e único instante de nossas vidas, de retomar o controle e o poder sobre nossas opções. Nós não determinamos o comportamento dos outros, nem sequer podemos controlá-los. E isto é algo bom porque francamente não acredito que faríamos um bom trabalho controlando a vida de outra pessoa. Recuperemos o controle de nossas vidas. Desejemos ardentemente ao maior. Isto está no nosso interior, não há nada que nos falte. Tudo o que necessitamos para ser absolutamente felizes já se achava em nós desde o primeiro dia das nossas vidas. O que acontece é que não acreditamos nisso. Não confiamos. Nos custa aceitá-lo. Parece que não possuímos, parece que nos falta algo. Pelo motivo de que nós estivemos passando por coisas ruins ao longo dos anos, sentimos que algo anda mal com nós mesmos. Mas não há absolutamente nada de mal em nós. Se existe algo errado é a nossa maneira de pensar, contudo não há nada de errado "conosco". E esta distinção marca a diferença: podemos facilmente mudar nossa maneira de pensar. Mudar a nós mesmos por completo seria muito mais difícil, mas não é necessário, porque não há nada de errado conosco. Os budistas vieram em diferentes medidas, formas e estilos, com muitas variações de caráter e todos vivemos imersos na ilusão. Concluindo, minha esperança é que, de alguma forma, este conceito de Mentor-Discípulo esteja agora um pouco mais claro, ou ao menos um pouco mais fácil de compreender. Creio firmemente que, em última instância, seguimos a Lei. Mas a Lei não nos fala, então precisamos de mestres. Também podemos aprender uns com outros, mas no fim, só resta mesmo eu, meu carma e o Gohonzon. Ninguém mais. Somente eu mesmo posso ultrapassar minhas próprias dificuldades. Somente eu mesmo posso ultrapassar minhas ilusões. Só eu mesmo posso abrir e revelar minha grandeza interior. A prática budista é o método, e é sensacional ter um treinador que nos diga como alcançá-lo. Que nos incentive quando estamos desanimados, sem esperança, quando nos esquecemos, quando não acreditamos que somos Budas. É maravilhoso quando lemos algo que nos incentiva, que nos lembra: "Sim, você é um Buda". É esse o papel de um bom mestre. O Budha é o treinador, mas somos nós os que devemos jogar a partida e ninguém pode jogar por nós. Então, a partir de agora, se ainda vocês não têm conseguido experimentar a relação Mentor Discípulo nas suas vidas, pelo menos, desejo que possam terminar este dia sentindo: "Bom, acho que pelo menos vale a pena tentar". Pode ser que tenha que lutar corpo a corpo com minhas dúvidas e incertezas, talvez tenha que tentar compreender aquilo que me faz sentir incomodado. Não devo disfarçar este assunto, não devo achar que desaparecerá sozinho nem devo encará-lo de maneira superficial ou simplesmente seguir o hábito como os outros". Acredito que a relação Mentor Discípulo é a chave para ter acesso aos nossos tesouros, para nos enxergar de uma perspectiva diferente, para despertar de nosso sonho e descobrir o Budha Verdadeiro, o estado original de Budha que existe dentro de todas as pessoas. Muito obrigado e tenha um grande dia! http://www.maisbelashistoriasbudista.com.br. Abraço. Davi.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

A POSSESSÃO


Espiritismo. www.oconsolador.com.br. Por Fernando A. Moreira. Texto de Alan Kardec. (1804-1869). A POSSESSÃO. “Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado”. (Allan Kardec) Há possessos? Existe a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo? O mergulho cronológico nas obras da Doutrina Espírita nos leva ao seu berço, “O Livro dos Espíritos”: 1857. Questão 473 - Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo? – O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material. Kardec retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos respondem: Questão 474 - Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?– Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua nunca sem que aquele que sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos. Os Espíritos, aí, fazem uma nítida distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos. Os verdadeiros são os subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão, necessitando tratamento médico. Comenta ainda Kardec, após a resposta dos Espíritos: “O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a subjuguem”. 1858. Se havia alguma dúvida sobre a opinião do Codificador até aquele momento, ele a desfaz no texto da Revista Espírita, por ele dirigida: “Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a ideia de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação dá uma ideia perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente obsedados, subjugados e fascinados”. Fica bastante claro que, para ele, até aqui, não existia possessão. 1861. O texto acima é parecido com o exarado no “O Livro dos Médiuns”, com uma diferença significativa no parágrafo, qual seja, a troca da palavra “ligação”, por “constrangimento”. 1862. Momentaneamente, temos a impressão de que estariam respondidas as indagações formuladas na inicial, mas, apesar dessas considerações, o termo possessão reaparece na Revista Espírita: “Ninguém ignora que quando o Cristo, nosso muito amado mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje, se apoderavam das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos encarnados mais fracos e menos adiantados (...) é preciso lembrar que os cientistas, os médicos do século de Augusto, trataram, conforme os processos hipocráticos, os infelizes possessos da Palestina e que toda sua ciência esbarrou ante esse poder desconhecido. (Erasto)”. Na mesma revista e no mesmo ano, Kardec, nos “Estudos sobre os Possessos de Morzine”, acrescenta a seguinte consideração: “O paroxismo da subjugação é geralmente chamado de possessão”. 1863. A retomada do termo tinha uma razão, e Kardec é bem incisivo na sua opinião na Revista Espírita, sobre os mesmos Possessos de Morzine, que certamente o impressionaram e influíram na mudança de sua conceituação sobre possessão, e valeram doze citações no índice remissivo da Revista Espírita (1862, 63, 64, 65 e 68), além de outros estudos, na mesma revista, como, por exemplo, quando analisa “Um Caso de Possessão”. Senão vejamos: “Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado. (...) Não vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis por que todos os obsedados, subjugados e possessos passam por loucos (...). Eis um primeiro fato, que o prova, e apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade. (...)”. (O Sr. Charles) Declarou que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o momento em que o Espírito da Sra. A. a sonâmbula, estava afastado do corpo, para tomar-lhe o lugar. (....). Eis algumas de suas respostas. – Já que tomastes posse do corpo da Sra. A poderíeis nele ficar? – Não; mas vontade não me falta. – Por que não podeis? – Porque seu Espírito está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu pregaria uma peça. – Que faz durante este tempo o Espírito da Sra. A. – Está aqui ao meu lado; olha-me e ri, vendo-me em suas vestes. O Sr. Charles (...) era pouco adiantado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da Sra. A. não tinha qualquer intenção má; assim aquela Sra. nada sofria com a situação, a que se prestava de boa vontade. Aqui a possessão é evidente e ressalta ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão inocente e sem inconvenientes. Na mesma página, no entanto, Kardec descreve um caso de possessão da Sra. Júlia, agora dirigida por um Espírito malévolo e mal intencionado. Há cerca de seis meses tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que sempre corriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu estado normal. Torcia-se, rolava pelo chão, como se se debatesse, em luta com alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apresentava todos os sintomas de estrangulamento. Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, derrubava-o a sopapos, com injúrias e imprecações, apostrofando-o incessantemente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impudica, criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se acalcasse aos pés com raiva, arrancando-lhe as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela própria por Fredegunda, dando em si própria redobrados golpes nos braços, no peito, no rosto, dizendo: “Toma! Toma! É bastante, infame Fredegunda? Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-se em minha caixa, mas eu te expulsarei”. Minha caixa era o termo que se servia para designar o próprio corpo. (...) Um dia, para livrar-se de sua adversária, tomou de uma faca e vibrou contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evitar-se um acidente. Vemos, aí, a luta de dois Espíritos pelo mesmo corpo. Este Espírito, Fredegunda, foi posteriormente evocado em sessões mediúnicas e convertido ao bem. Mas, voltando aos Possessos de Morzine, diz Kardec referindo-se ao perispírito:“Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza. (...) Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica (...)” Estes últimos, sobretudo (os possessos do tempo de Cristo), apresentam notável analogia com os de Morzine. Na mesma revista e no mesmo ano, selecionamos e pinçamos, para dimensionarmos a extensão daquela possessão coletiva: “Os primeiros casos da epidemia de Morzine se declararam em março de 1857 (...) e em 1861 atingiram o máximo de 120. (...). (...) o caráter dominante destes momentos terríveis é o ódio a Deus e a tudo quanto a ele se refere”. 1864. Ainda sobre a possessão da Sra. Júlia, refere-se Kardec na Revista Espírita,: “No artigo anterior (1863) descrevemos a triste situação dessa moça e as circunstâncias que provavam uma verdadeira possessão.” O grau de intensidade das possessões e sua reatividade a tentativa de exorcização, vai bem descrita na Revista Espírita: “Desde que o bispo pisou em terras de Morzine”, diz uma testemunha ocular, “sentindo que ele se aproximava, os possessos foram tomados de convulsões as mais violentas; e (...) soltavam gritos e urros, que nada tinham de humano. (...) As possessas, cerca de setenta, com um único rapaz, juravam, rugiam, saltavam em todos os sentidos. (...) A última resistiu a todos os esforços; vencido de fadiga e de emoção, ele (o bispo) teve que renunciar a lhe impor as mãos; saiu da igreja trêmulo, desequilibrado, as pernas cheias de contusões recebidas das possessas, enquanto estas se agitavam sob suas benções”. (...) Encontramos no Evangelho segundo o Espiritismo a seguinte referência sobre possessão e reforma íntima: “(...) para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para se livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre arbítrio”. No mesmo livro, há considerações sobre as causas da possessão: “O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão.” 1867. Ainda na Revista Espírita encontramos informações de como é esta perda do livre arbítrio e como impedi-la: “Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer sobre esta questão porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, como foi possível constatar em muitas ocasiões. (...) Procedeis em relação aos Espíritos obsessores ou inferiores que desejais moralizar (...) algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis, em torno deles uma toalha fluídica, que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessênciada”. 1868. Em “A Gênese”, Kardec disserta sobre domicílio espiritual, típico caso de coabitação, ou como agora quer Hermínio Miranda, “condomínio espiritual, com síndico e convenção”. “Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado, tomando-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção. De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito serve-se dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra (...)” “Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado”. “Quando é mau o Espírito possessor, (...) ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o (...)” Seguindo ainda, no mesmo livro: “Parece que ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os obsidiados e os possessos (...) Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões”. Com as curas, as libertações do possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus.(...) “Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós.” (São Mateus 12, 22-23). Deduzimos com base no exposto que, para que exista possessão, é preciso que o Espírito obsessor identifique-se com o Espírito encarnado; aquele atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza; o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, pois o encarnado é que atua conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido e portanto aquela dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la; em vez de agir exteriormente ao Espírito encarnado, toma-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono, pois isso só se pode dar pela morte, por isso, a possessão é sempre momentânea, temporária e intermitente. Para se libertar da possessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe para sua própria melhoria, estabelecendo em torno de si uma toalha fluídica, que eles não possam penetrar sem sua permissão, agindo sobre eles pela força moral, por uma ação magnética quintessenciada. Na possessão isto só é possível, com a ajuda indispensável de terceiros. Portanto, respondendo às indagações iniciais deste trabalho, podemos dizer que Kardec analisou todas as facetas e prismas da possessão e concluiu que existe possessão e também coabitação. Uma obra, como a da Codificação Espírita, é indivisível e portanto deve ser analisada como um todo, jamais devendo ser fragmentada ou dividida, na análise de seu conteúdo; existem vários temas, nas obras básicas (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo O Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno) e na Revista Espírita, em que as verdades foram estudadas à luz dos conhecimentos adquiridos no dia-a-dia e suas opiniões, às vezes alteradas, sem que correspondessem a uma mudança de ideia, mas, sim, a uma evolução de verdade em verdade, degrau a degrau na escada ascensional do conhecimento, como convém a um cientista sábio, astuto, inteligente, honesto e, antes de tudo, humilde, coisa rara, aliás. A fé raciocinada sob a égide desta humildade, aconselhada e praticada pelo mestre lionês, levou-o à busca incessante da verdade, que sempre caracterizou suas ações, a correta elucidação conceptual de possessão, incitando-nos também a libertarmo-nos de duas outras, a dos dogmas e a do fanatismo. Tenhamos igual têmpera e nos deixemos contaminar pela sua lição e pelo seu exemplo; a lição inclina, o exemplo arrasta. www.oconsolador.com.br. Abraço. Davi