Gnosticismo. www.gnosisonline.org.
Por Ali Onaissi. GNOSE E O CRISTIANISMO PRIMITIVO. Com a descoberta dos
evangelhos apócrifos em Qumran (no Mar Morto – Palestina) e em Nag Hammadi
(Alto Egito), podemos considerar que estamos vivendo momentos importantes para
o redescobrimento da cristandade primitiva, tal como era vivida nos tempos de
Jesus. Juntamente com os estudos da moderna Gnose do Mestre Samael Aun Weor,
vamos formar uma base sólida a respeito dos acontecimentos que marcaram a
passagem do Mestre dos Mestres na Terra, sua doutrina crística, sua missão, e
compreenderemos também um pouco mais a respeito da influência dos gnósticos
para a formação do verdadeiro cristianismo. As Escolas de Mistérios Maiores sempre
existiram no mundo e são representantes da Grande Fraternidade Branca na Terra.
Essas escolas cumprem a missão, até os dias de hoje, de formar, ou melhor,
iniciar devidamente os Instrutores do mundo de acordo com seu raio de trabalho,
para a preconização do trabalho na Grande Obra do Pai. Para não nos
distanciarmos muito da questão da cristandade gnóstica, devemos citar apenas
que desde a Atlântida estes ensinamentos gnósticos já vinham sendo ensinados e
publicados pelas escolas mais antigas. Entre elas, citamos os naga-maias do
Tibete, os maias, os incas, os muiscas (da Bolívia), os egípcios etc. Todos
eles, herdaram seus conhecimentos dos atlantes. O paganismo, por volta do
século 1° AC., estava em plena fase de decadência. Por exemplo, os sacerdotes e
os deuses greco-romanos já não eram mais respeitados e venerados pela população
ou por seus governantes, os quais se divertiam com peças teatrais que
desmoralizavam as divindades correntes. O mestre Samael afirma que naquela
época artistas satirizavam em comédias os divinos rituais, imitavam o deus Baco
através de uma mulher embriagada ou o caricaturavam como um bêbado pançudo
montado em um burro. A deusa Vênus era representada como uma adúltera que
andava à procura de prazeres orgiásticos. Nem o deus Marte, o poderoso Deus da
Guerra, era respeitado, zombavam dele e o ironizavam. Tal era a decadência do
paganismo. Na Europa Ocidental ocorria o mesmo, com a decadência dos ritos
druídicos e nórdicos, os quais usavam indiscriminadamente sacrifícios humanos e
orgias. Vemos essa mesma decadência também na Pérsia e, enfim, em todos os
cantos do Império Romano. A Cristandade Antes de Jesus. Jesus sabia que havia uma nova
necessidade religiosa para a época, como afirma o mestre Samael, e na região da
Palestina, onde veio afirmar sua missão, já existiam algumas Escolas de
Mistérios atuantes, mesmo que timidamente. Dentre essas Escolas algumas tomam
maior destaque, como os Essênios, os Batistas (Ordem a qual pertencia João), os
Nazarenos etc. Os textos apócrifos atestam a atividade de Jesus entre a casta
dos Essênios, que levavam uma vida de restrições materiais. Tinham seus
monastérios às margens do Mar Morto. Formavam uma comunidade humilde e esta era
uma exigência fundamental para que o candidato fizesse parte da “grei”. Entre os
vários procedimentos que deveriam ser praticados pela comunidade, estavam os
votos de Pobreza, Castidade e Silêncio, entre outros. No voto de pobreza era
exigido que o neófito se despojasse de todos seus bens materiais
compartilhando-os com a comunidade, pois, segundo as regras, tudo era de todos
e não poderia haver o “meu” e o “teu”. Quando o candidato queria entrar para a
casta essênia lhe era exigido também viver decididamente o voto de silêncio.
Para isso, ficava afastado pelos menos algumas centenas de metros da
comunidade, apenas observando de longe seus costumes e ritos diários. Dizem os
historiadores e pesquisadores dos pergaminhos de Qumran que os essênios viviam
de sua própria produção de alimentos, ou seja, não compravam ou vendiam, não
tinham comércio de forma alguma com as cidades próximas. Vestiam-se muito
simplesmente com túnicas de linho de algodão brancas – por isso também eram
conhecidos como “os anjos do deserto”. Havia também entre os essênios a prática
da cura pela imposição das mãos. Entre outras práticas rituais, era comum entre
as comunidades de Qumran “Exercícios com a Energia do Sol”,
a Eucaristia, a Santa Unção etc. Aqui não vamos nos aprofundar nestes detalhes,
apenas fica a referência para que possamos compreender que os atos de Jesus no
evangelho canônico não demonstram nada de novo, ou seja, as cerimônias, as
festividades, os ritos crísticos, a eucaristia etc., não constituem uma
invenção dos cristãos para a nova religião que se iniciava. Tudo isso, na
verdade, é tão antigo como o mundo. Todos os povos da Terra em seus princípios
religiosos de uma maneira ou outra sempre praticaram esta gnose iniciática. Por
isso dizemos que a Gnose é o Tronco primordial de onde nasceram os múltiplos
“galhos” das religiões de todos os tempos. Apesar do voto de castidade, não era
proibido o casamento entre os adeptos da mesma comunidade. A dedução lógica é
que, se o Mestre Jesus foi membro ativo dessa casta, então, a castidade a que
se refere não significa ser o celibato repressor que exclui a mulher de sua
vida sexual e sim a Castidade Científica, aquela que trabalha com as forças
superiores da Magia Sexual, o Arcano AZF dos alquimistas medievais. Havia
também os Batistas, casta gnóstica a qual João Batista pertenceu; os Nazarenos
(cuja etimologia vem da palavra “naza”, que significa “homem de nariz reto”).
Segundo o mestre Samael, Jesus tinha sangue celta por parte de pai e hebraico
por parte de mãe. Daí a desconfiança dos sacerdotes judeus sobre a origem
étnica de Jesus; e também a palavra “nazareno” significa “representantes do
culto da serpente”. A maioria das seitas gnósticas predica a sabedoria da
serpente (Kundalini) e isto é o que diferencia a verdadeira gnose das falsas.
Diz um dos textos de Qumran que existiu um grande personagem, antes de Jesus,
conhecido como Mestre da Justiça, ou Mestre da Retidão. Esse personagem foi um
grande divulgador da doutrina crística nos arredores da Terra Santa. Não
sabemos qual sua origem e muito pouco temos de sua história. Acredita-se entre
os gnósticos modernos que era uma das encarnações do próprio mestre Jesus, que
estava ele mesmo preparando sua volta àquelas regiões. A Formação da Igreja Cristã
Pós-Ressurreição de Jesus. Muitos anos se passaram após a ressurreição
do Cristo Jesus, e seus apóstolos se espalharam por todo o Oriente e também
pelo Ocidente europeu. Levavam a Gnose do Cristo, a mensagem de redenção aos
povos pagãos da Grécia, Ásia, Egito, Índia, etc (…). Paulo e Pedro foram pregar
na Grécia e em Roma; André foi chegou à Escócia; Tomé se dirigiu à Índia;
Marcos ao Egito; Madalena chegou à França; Maria e José foram à Síria e
Turquia; Santiago ficou em Jerusalém, etc (…). Cada apóstolo viveu seu drama
crístico particular nas regiões a que foi determinado espalhando sua “boa-nova”
(Evangelho). Foram perseguidos, humilhados, incompreendidos, presos, torturados
e, na maioria dos casos, assassinados. Mas suas mensagens foram bem acolhidas
por aqueles poucos fiéis, sedentos de sabedoria divina, e, assim, com o passar
dos séculos, o Cristianismo gnóstico foi ganhando força e popularidade.
Paralelamente a isto, também, entre os gnósticos foram crescendo gradualmente
as correntes cristãs que, por um motivo ou outro, eram contrárias ao
ensinamento original e já não concordavam entre si sobre a mesma Gnose. É aí
que aparecem no cenário as primeiras divisões entre as seitas emergentes da
época, já no decorrer do primeiro século. Citamos aqui uns poucos exemplos para
ilustrar melhor aquele período e percebermos a diferença radical entre as
seitas cristãs (que viriam a ter o nome de Catolicismo) e os gnósticos: Setianos: Rendiam culto à Sabedoria Divina
representada pela Santa Trindade – Caim, a carne- Abel, o mediador- Set, o
Deus-sabedoria – Set era considerado igual a Cristo. Os Setianos, segundo o
Mestre Huiracocha, foram os primeiros Teósofos; este Mestre afirma que no
sarcófago de Set foi achado o Livro dos Mortos e
escondido pela Igreja Católica. Naassenos: Conhecidos
como ofitas (do grego Ophis) eram “adoradores” da serpente; versados em
ciência, acreditavam (esta pode ter sido sua falha) que o líquido da serpente
(em sua maior parte venenoso, segundo seus detratores que não conheciam o
profundo significado da “serpente e seu veneno”) poderia salvar a humanidade da
escravidão do pecado; foram herdeiros dos conhecimentos de Tomé e do Evangelho dos Egípcios; eram astrólogos e tinham o
cálice como seu símbolo. Profundos conhecedores da Alquimia. Valentinianos: (São
Valentim, morreu no ano 161 DC.) foi expulso da Igreja por heresia; os
Valentinianos mantinham contato constante com as congregações cristãs
não-gnósticas da época, não eram bem-vistos pelos bispos da Igreja por
“participarem das missas e homilias da Igreja e por trás interpretavam tudo
diferentemente entre os seus”. Isto é o que afirmava Irineu, o bispo de Lyon em
suas ferozes críticas aos gnósticos; Valentim Naboth (1523-1593) foi um grande
matemático e a Cabala era sua filosofia de vida; sustentava que Jesus era
gnóstico; seus ensinamentos sobre transmutação sexual eram semelhantes aos
demais Mestres e escolas gnósticos. Como se pode perceber, os conceitos entre
os gnósticos e os “cristãos” eram divergentes. Os gnósticos tiveram um inimigo
declarado que os perseguiu até o desaparecimento de quase todas as comunidades
gnósticas: Irineu (160-202), conhecido como Bispo de Lyon. Esses personagens,
juntamente com Tertuliano (160-220), Policarpo (69-155), Justino (100-165),
Inácio e Hipólito, são unânimes em declarar publicamente a “heresia” gnóstica.
Naquela época circulavam diversas Escrituras Sagradas provenientes das mais
variadas regiões do Oriente. Muitos desses escritos, segundo historiadores
contemporâneos, estavam saturados de elementos budistas, gregos, egípcios,
hindus etc. Isto se devia a que a cidade de Alexandria, no Egito, era o centro
da erudição filosófica. Ali se encontrava de tudo que se referia ao que havia
de mais atualizado no mundo da época. Além de capital comercial, Alexandria
recebia constantemente filósofos, místicos, membros de quase todas as religiões
existentes em outros países, profetas (muitos deles, claro, puros charlatães),
magos, visionários etc. Os sacerdotes judeus e também os cristãos faziam de
tudo para evitar que os conceitos helenizados contaminassem seus templos
dedicados ao Deus antropomórfico. Entre os textos achados em Qumran destaca-se
a obra Filósofo Fumena ou O Livro Secreto dos Gnósticos Egípcios,
como o nomearam os pesquisadores. Nesse livro, Jesus pede permissão ao seu Pai
(Interno) para descer desde o Absoluto até este mundo físico, passando pelos
Eons (medidas iniciáticas), e pede para levar o conhecimento revelador através da Gnose. Fica, então, estabelecida a palavra
Gnose como representação do Ensinamento Divino, puro, imaculado, sem manchas.
Outro texto bastante interessante é o Papiro Nu ou Confissões Negativas, constituído de 42 pontos ou
confissões que o neófito declara diante de sua divindade interna, seu “Kaom
interior”, seu juiz da consciência. Este é um trabalho psicológico idêntico ao
que o mestre Samael Aun Weor ensina para compreendermos e aniquilarmos nossos
defeitos psicológicos. Um pequeno exemplo desta confissão: “Hoje não roubei,
não matei nenhum ser vivo, não maltratei meu servo, não falei palavras de
ironia, não cobicei a mulher do próximo, não adulterei o peso da balança etc.”
Eis o trabalho de revolução da consciência ensinado por Samael! Também
circulava entre as comunidades gnósticas as palavras de Jesus, após sua
ressurreição, no Monte das Oliveiras, quando ainda passou 11 anos instruindo
seus discípulos mais próximos, sobre a Gnose. Esses diálogos foram compilados
em uma escritura sagrada chamada Pistis Sophia, a
bíblia dos gnósticos. Primeiro foi escrita em copta e traduzida para o grego.
Muito se tem especulado sobre seu verdadeiro significado, porém (apesar de
algumas traduções modernas de boa qualidade), apenas o mestre Samael conseguiu
desvelar sua mensagem. Isso só foi possível através de suas “viagens
espirituais” dentro do Mundo do Cristo Cósmico. Nessa região crística chegam
apenas aqueles que encarnaram o Cristo em si mesmos. E nós, cristãos gnósticos,
cremos que Samael Aun Weor é o Cristo desta Era Aquariana que veio nos entregar
novamente a doutrina de salvação por meio da Gnose. Segundo a mestra Helena
Blavatsky (1831-1891), fundadora da Sociedade Teosófica no século 19, “até o
século 4º as igrejas não possuíam altares. Até então, o altar era uma mesa
colocada no meio do templo para uso da comunhão ou repasto fraternal”. E continua
ela: “A Ceia, como missa, era, em sua origem, feita à noite”. Com o passar dos
séculos, as igrejas foram sendo adornadas com cópias de altares da Ara Máxima da Roma pagã. Devemos saber que os
primeiros cristãos (gnósticos em sua essência) não adotavam altares ou imagens
publicamente. Acreditamos que de acordo com o nível de consciência de seus
líderes-sacerdotes, foi-se modificando esse conceito. Isso passou a acontecer
já por volta do século 2º. Roma persegue os Cristãos. O Império Romano tinha seus próprios
deuses e não sentiam simpatia com a nova religião que crescia sob seus
olhos. Genius era o nome dado ao deus criado pelos
sacerdotes romanos de acordo com a vontade do imperador, que era tido como um
deus entre os cidadãos romanos. Para atender às mais diversas situações do
povo, para cada um dos deuses (Apolo, Afrodite, Cibele, Vesta, Vênus etc.) eram
feitos festivais e adorações anuais, mensais, semanais etc. Percebe-se, aqui, a
cópia das Igrejas Católica e Ortodoxa em suas festividades durante o ano com
seus santos venerados pelos fiéis. Obviamente, o Império Romano não admitiria
uma ofensa sequer contra suas crenças e seus deuses pagãos vinda de comunidades
judaicas helenizadas. A princípio, as comunidades cristãs eram formadas por
judeus convertidos que aceitaram Jesus como seu Messias (Enviado). Com o
decorrer do tempo, vários povos foram sendo evangelizados pelos discípulos dos
apóstolos e aí foram se agregando à nova religião elementos de várias
nacionalidades, inclusive romana e grega, que compartilhavam os mesmos deuses
em suas crenças. Um exemplo dessas adaptações é a data de 25 de dezembro,
considerada até hoje como o dia em que Jesus nasceu na Terra Santa. Na verdade,
ninguém sabe o dia correto em que Jesus nasceu. A absorção dessa data deveu-se
ao fato de que os pagãos de muitos rincões do Império Romano (tanto no Ocidente
quanto no Oriente) rendiam culto ao Deus do Sol e do Fogo nessa data,
considerada como o início em que o Sol começa sua viagem de volta à Terra para
que Ele, o Deus Sol, nos traga novamente a vida, e a vida em abundância. Com o
número crescente de adeptos à nova religião em Roma, o império decidiu que os
cristãos representavam um perigo maior para seu poder sobre as massas. Sob essa
visão de desconfiança, todo aquele que se confessasse ser cristão era julgado e
condenado à morte imediatamente. Irineu, o bispo de Roma, também conta que
sofreu com as perseguições romanas. Assistiu a vários de seus “irmãos” cristãos
serem queimados, torturados e mortos nas arenas. Enquanto Roma perseguia
cristãos, pois para o imperador parecia não haver distinção entre estes e os
gnósticos (pois as duas linhas já estavam se separando cada vez com mais
destaque), Irineu e seus sequazes perseguiam os gnósticos, num jogo de gato e
rato. Irineu e Tertuliano fizeram duros ataques aos gnósticos julgando-os
hereges. Afirmavam que a cada dia eles apareciam com um novo evangelho; achavam
também um absurdo o fato de as mulheres oficiarem em seus rituais, e que só os
homens deveriam fazê-los. Para Irineu e Tertuliano, um grande filósofo da
época, os gnósticos hereges deveriam desaparecer da cristandade. Outra coisa
que incomodava a Igreja predominante em Roma era o fato de os gnósticos sempre
manterem uma postura neutra perante as perseguições que os cristãos sofriam.
Essa “indiferença” adotada pelos gnósticos fazia com que Irineu odiasse cada
vez mais seus conceitos filosóficos de vida. Entre os vários aspectos do
gnosticismo primitivo, algumas escrituras mostram como seus conceitos sobre
Deus e o Cristo diferiam daqueles apresentados pela Igreja Católica de Roma.
Vejamos alguns exemplos: No Evangelho de Tomé consta
que Jesus disse: “Se manifestarem aquilo que têm em si, isso
que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não
manifestarem os destruirá”. Este texto nos lembra um koan do zen-budismo, não é? Em outro texto achado
em Nag Hammadi, intitulado Trovão, Mente Perfeita,
lemos um poema extraordinário na voz da potência feminina de Deus: Pois eu sou a primeira e a última. Eu sou, a reverenciada e a
escarnecida. Sou, a promíscua e a consagrada. Sou a esposa e a virgem. Sou a
infecunda e muitos são os meus filho.
Sou o silêncio que é incompreensível. Sou a pronunciação do meu nome. Entre
os anos 140 e 160, Teódoto, um grande mestre gnóstico, escreveu na Ásia Menor
que: “O gnóstico é aquele que chegou a compreender quem éramos e quem
nos tornamos; onde estávamos… para onde nos precipitamos; do que estamos sendo
libertos; o que é o nascimento, e o que é o renascimento”. Monoimus
(150-210), outro mestre gnóstico, dizia: “Abandone a busca de Deus, a
criação e outras questões similares. Busque-o tomando a si mesmo como o ponto
de partida. Aprenda quem dentro de você assume tudo para si e diga: ‘Meus Deus,
minha mente, meu pensamento, minha alma, meu corpo’. Descubra as origens da
tristeza, da alegria, do amor, do ódio (…). Se investigar cuidadosamente essas
questões, você o encontrará em si mesmo”. Até antes da descoberta
dos manuscritos do Mar Morto e de Nag Hammadi, entre outras descobertas
passadas, só tínhamos informações sobre os gnósticos através dos violentos
ataques escritos por seus opositores. O bispo Irineu, que era responsável pela
igreja de Lyon, por volta do ano 180, escreveu cinco volumes intitulados Destruição e Ruína Daquilo que Falsamente se Chama Conhecimento, onde começa prometendo “apresentar as opiniões daqueles que hoje ensinam heresias… e
mostrar como suas afirmações são absurdas e incompatíveis com a verdade… Faço
isso para que… vocês possam instar todos os seus conhecidos a evitarem esse
abismo de loucura e blasfêmia contra Cristo”. Como diz o Mestre Huiracocha (1876-1949), bispo da
Igreja Gnóstica Ortodoxa nos mundos superiores, que escreveu na sua obra La Iglesia Gnóstica, que os gnósticos não
precisam de leis ou dogmas, e sim, de uma senda. E isso contraria as normas da
seita católica quando afirma que o corpo de Cristo é formado pelos fiéis e a
Igreja Católica espalhada mundo afora. Até o conceito de Criador é diferente
entre as duas partes. A Igreja de Roma ainda adota o mesmo conceito dos judeus
quando aceitam que Deus e a criatura são distintos entre si. Neste caso, Deus
está lá em algum ponto do universo, observando suas criaturas, condenando uns
ao Inferno e oferecendo o Paraíso a outros, lançando raios de ira em nossas
cabeças, vingativo, caprichoso e cheio de manhas como uma criança enfadonha. Já
os gnósticos concebiam, e ainda são assim, que Deus, o Incriado, o não-formado,
o Incognoscível, está escondido dentro de sua própria criação, e que só
conseguiremos realizá-lo dentro nós quando erradicarmos de nossa psique os
elementos indesejáveis que carregamos e que adormecem nossa Consciência. Assim
como predicavam os antigos gnósticos, temos de realizar a Gnose dentro e fora
de nós. Aí, sim, poderemos conhecer Deus face a face sem morrer. O martírio: a indústria da
salvação e a fé em Jesus Cristo. As matanças de cristãos, nas
arenas de Roma, viraram um verdadeiro festival semanal de carnificina para o
público romano e seus governantes que se divertiam com o sofrimento dos
“acusados de se recusarem a cultuar o deus Genius do Império Romano”. Pertencer
ao movimento cristão (seja ele católico seja gnóstico ortodoxo) era um perigo
que todo fiel sabia. Elaine Pagels (1943-
), em seu livro Os Evangelhos Gnósticos,
cita a Tácito (56-117) e Suetônio (69-141), o historiador da corte imperial (c.
115), que partilhavam, ambos, de desprezo absoluto pelos cristãos, e que ao
narrar a vida de Nero, Suetônio menciona as coisas boas que
o imperador fez com a “punição imposta aos cristãos, uma classe de pessoas
dadas a uma nova e maléfica superstição”. E ainda Tácito elaborou seus
comentários sobre o incêndio de Roma: Em primeiro lugar, prenderam-se
os que confessavam ser cristãos; depois, pelas denúncias destes, uma multidão
inumerável – não tanto por terem participado do incêndio, mas por seu ódio ao
gênero humano. O suplício desses miseráveis foi ainda acompanhado de insultos,
porque ou os cobriram com peles de animais ferozes para ser devorados pelos
cães (principalmente pelos ferozes mastins napolitanos), ou foram crucificados, os queimaram de noite para servirem como
archotes e tochas ao público. Nero ofereceu seus jardins para esse espetáculo. Para
Irineu (140-202), Tertuliano (160-220) e outros líderes da nova igreja, o
martírio, apesar da violência imposta, serviu para uma propaganda generalizada
em torno da salvação pela fé em Jesus Cristo. Para atingir o sonho de formar
uma igreja padronizada em todo o mundo, Irineu e os seus não mediram esforços
para fazer com que a doutrina cristã se espalhasse mundo afora através da morte
dos fiéis. Encorajavam a todos os cristãos para que tivessem coragem suficiente
para expor sua fé, mesmo nas barras dos tribunais romanos. Justino, um filósofo
que se converteu ao cristianismo entre os anos 150 e 155, encorajava e
defendia, com cartas aos oficiais do império, que a matança dos cristãos e sua
coragem de morrer confessando Cristo diante da morte certa era um incentivo
àqueles que queriam conhecer esta nova doutrina de perto e saber o porquê de
tantos morrerem em nome de Jesus. Exortava também que o martírio era a prova
máxima para a redenção dos pecados e que desta maneira estariam, cada um,
dentro das mesmas condições que Jesus passou para redimir o mundo. Com esses
argumentos, Justino, Irineu, Tertuliano e outros bispos da igreja, encorajavam
seus fiéis a serem martirizados por vontade própria. Já os gnósticos mantinham
sua neutralidade, mesmo sendo perseguidos e também sendo mortos. Acreditavam
que o martírio físico não era o caminho para a salvação da alma. Esse martírio,
como uma alegoria, tinha de ser dentro do indivíduo, para que se pudesse
purificar seu espírito das vontades terrenas, do apego, do egoísmo etc.
Logicamente muitos gnósticos foram mortos pelo poder de Roma, porém, segundo
historiadores, os “cristãos” o foram em número muito maior. Enfim, esta
propaganda cristã serviu para recrutar em suas fileiras cada vez mais fiéis,
que viam com bons olhos todo aquele sacrifício como algo “divino”, digno de
admiração. (Então, por que não se afiliar e ganhar o céu?) A institucionalização da Igreja
Católica. Por volta do ano 200, a Igreja Católica começa a tomar forma e
sua institucionalização foi reforçada pela iniciativa de Irineu em padronizar
seus dogmas, rituais, cerimônias, festividades, missas, etc. A ideia era unir
todas as igrejas num só estatuto em que se poderia levar a igreja a ser a dona
da “verdadeira” doutrina de Cristo. Irineu promoveu várias viagens aos mais
longínquos lugares para propor as diretrizes que seriam adotadas por todas as
igrejas espalhadas pelo mundo. Dentro dessas propostas estava a canonização dos
evangelhos dos apóstolos. Pedro foi o primeiro pontífice da igreja, conforme
acreditava-se na época. Isso também o afirma o mestre Samael Aun Weor
(1917-1977). Portanto, a igreja seria um meio para se chegar a Deus, passando
por seus representantes que eram os bispos, os padres e os diáconos. Dever-se-ia,
então, organizar legalmente a igreja, que seria Católica – universal – e, para
que o povo ficasse sob as condições e vontades da Igreja, os evangelhos seriam
escolhidos a dedo para que a heresia não predominasse dentro dos templos.
Textos que exortavam a respeito da reencarnação foram deixados de lado por
serem heréticos. Outros textos que fomentavam a adoração da
feminilidade/maternidade de Deus também foram rechaçados pelos bispos. Era
preciso trazer a multidão para dentro da Igreja e prendê-la psicologicamente
aos dogmas, prometendo os céus aos convertidos e batizados e jogando aos
infernos eternamente aqueles que escolhiam outras formas de adoração à
Divindade que não fossem as impostas pela Igreja dominante. Dentro desses
dogmas eclesiásticos também estava claro que a mulher jamais participaria
de qualquer ofício sacerdotal que fosse. Nesse caso, Tertuliano, o filósofo,
ataca veementemente quando diz: “Não
é permitido a nenhuma mulher falar na igreja, nem é permitido que ensine, ou
que batize, ou que ofereça a eucaristia, ou que pretenda para si uma parte de
qualquer atribuição masculina – para não falar em qualquer função sacerdotal.”
Em outro texto, continua a indignação de Tertuliano: “Essas mulheres hereges – como são atrevidas!
Carecem de modéstia, e têm a ousadia de ensinar, de discutir, de exorcizar, de
curar e, talvez, até de batizar.” E era exatamente esta a
participação das mulheres gnósticas em suas congregações (eclésias);
participavam em praticamente todos os ofícios do templo. Os bispos católicos
odiavam e acusavam de heresia esses procedimentos femininos. Para a Igreja, o
que justificava seu conceito era o fato de acreditarem que Deus era masculino e
seu filho, Jesus, também. Em 1977 o papa Paulo VI (1897-1978), também chamado
de Bispo de Roma, declarou que uma mulher não pode ser padre “porque nosso
Senhor era homem!” Diante de tal declaração, não são necessários longos
comentários para se dizer que a Igreja Católica continua com suas arcaicas e
preconceituosas ideias. Portanto, os textos gnósticos ainda desafiam esse
preconceito da Igreja dominante. Irineu encoraja seus fiéis na fé repousada na
autoridade absoluta: as escrituras canônicas, o credo, os rituais da Igreja e a
hierarquia clerical. Esta medida ganha força com a conversão de Constantino, no
século 4°. O imperador Constantino decreta o Cristianismo como religião oficial
de Roma. E assim, os católicos ganham força total para a expansão de sua
doutrina que, de acordo com certos pesquisadores da teologia cristã, poderíamos
chamar de “paulinismo”, porque a formação doutrinária e organização da Igreja
começou basicamente com as viagens missionais do apóstolo Paulo a diversas
regiões do Oriente e da Ásia Menor – Grécia, Galácia, Corinto, Éfeso etc. – e
sabe-se hoje que seu ministério tem como origem a antiga Antioquia – que fica
na Turquia. O Gnosticismo, em seus primórdios, teve também suas correntes
involutivas. Duas delas são bem conhecidas por historiadores, as quais são
denominadas: Marcionismo, de Marcion, e Cerdonistas, de Cérdon. Essas duas
correntes gnósticas trilharam pela linha oposta dos gnósticos levando a mensagem
do evangelho totalmente distorcida dos originais. A Igreja Católica acusava
todas comunidades gnósticas de heresia e prática de paganismo, bruxaria, etc.,
por se basearem nas práticas involutivas destas correntes involutivas do
gnosticismo primitivo. Como exemplo de uma corrente involutiva na gnose
contemporânea, citamos o relato de Fernando Salazar Bañol em sua palestra Os Gnósticos Através da História: “Quando
realizamos uma visita aos Estados Unidos da América do Norte para investigações
e para atividades gnósticas, vimos acontecimentos estranhos. Entre eles, nos
deparamos com uma Revista
Gnóstica. Essa revista não pertence à linha do mestre Samael, e um
fato que demonstra claramente que não está sob o comando de Samael é o
ensinamento que entrega. Dentre esses ensinamentos está um que se o
denomina Masturbation Tantra,
ou seja, a masturbação tântrica. Esse é um ensinamento completamente oposto ao
que entrega o mestre Samael. Sob a palavra Gnose, eles ensinam um conhecimento
contrário à sua doutrina. Há outra linha que aparece nos Estados Unidos e que
se chama “Igreja Gnóstica Católica”. Ela não ensina a transmutação. Ao
contrário, ensina a perda da energia criadora, além de ensinar também o
vampirismo (homossexualismo tântrico).
Trata-se de uma linha que não pertence às nossas instituições, não pertence ao
corpo de ensinamentos de Samael. Por isso, em vários países, em certas
ocasiões, a Igreja Católica e outras correntes doutrinárias não gostam dos
gnósticos porque pensam que a linha da Gnose é como a linha dessas falsas
correntes gnósticas”. Existe na Suíça, outra linha gnóstica, bastante
degenerada, involutiva, como a dos antigos Marcionistas e Cerdonistas,
ensinando que para se chegar ao nono grau de iniciação precisa-se ser
homossexual. Toda verdadeira instituição gnóstica caracteriza-se pela
transmutação sexual e pela morte do ego. O Cristianismo, no decorrer dos
séculos, sofreu diversas reformas internas e na doutrina. Os Concílios eram
encontros de todos os sacerdotes e bispos de todo o Velho Continente onde se
decidia o destino dos ensinamentos do Cristo Jesus e dos deixados pelos
apóstolos. Muitos dos ensinamentos originais místicos – reencarnação, Deus Mãe,
trabalho de psicologia, os 7 corpos, iniciações, etc. – foram banidos para
sempre dos preceitos da Igreja Católica. O Grande Concílio do ano 325 talvez
tenha sido o mais importante da história do Cristianismo. Ali aconteceu
definitivamente a ruptura dos gnósticos do seio da Igreja Católica (dominante)
e também definiu-se um outro ramo da igreja: os Ortodoxos Gregos, que até hoje
mantêm certas semelhanças com as práticas do catolicismo, porém não aceitam a
autoridade dos papas. Dessa separação drástica os gnósticos tiveram de se
esconder das perseguições da Igreja Católica, que os condenava por heresia,
taxando-os de criminosos por possuírem textos considerados apócrifos, ou seja,
que não provam sua autenticidade. Muitos desxes textos foram queimados pela
Igreja em sua inquisição bárbara. Os textos que até hoje sobreviveram é porque
alguns monges ou monjas o guardaram em locais de difícil acesso para que no
futuro alguém pudesse resgatá-los e os Mistérios Crísticos pudessem novamente
iluminar o caminho daqueles que se rebelam contra o mundo. O mundo esteve em
trevas durante quase 2 mil anos porque prevaleceu sobre a mente do homem o
egoísmo, a inveja, a violência, a ignorância, o orgulho da ciência
materialista. O Sol havia se ocultado e era revelado apenas para alguns
buscadores persistentes da verdadeira Igreja do Cristo. Graças aos Mestres da
Santa Igreja Gnóstica dos mundos superiores, temos a oportunidade de ver o
Cristo-Sol brilhar novamente para a nossa salvação. O Cristo da Era Aquariana,
Samael Aun Weor, Senhor de Marte e Buda Maitreia, nos entrega de forma
totalmente desvelada os ensinamentos crísticos que o Grande Cabir Jesus havia
deixado aos seus apóstolos para que entregassem à humanidade. Os sinceros
seguidores do Cristo Cósmico têm o dever de manter estes ensinamentos em sua
pureza original, sem manchas, máculas e fantasias, até que chegue o momento de
guardá-los novamente dos olhares profanos. E aí, ao povo se dará o leite (as
parábolas) e aos iniciados se dará o manjar (os Mistérios Crísticos). O mestre
Samael deixou seu corpo terreno no ano de 1977. Mas está conosco em espírito. Portanto,
temos de ser guardiães de seus ensinamentos gnósticos para nosso próprio bem e
também o da humanidade. Podemos até nos sentir como nos primeiros tempos de
Jesus, em que seus discípulos e estudantes velavam pelas palavras deixadas pelo
Cristo Jesus e pelo avatar da Era de Peixes (João Batista). Paz Inverencial. www.gnosisonline.org. Abraço. Davi
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
O MUNDO DOS ORIXÁS - OBÁ.
Religião Afrodescendente.
Candomble. www.ocandomble.com. O MUNDO
DOS ORIXÁS – OBÁ. A missão divina da Mãe Terra (Edan – Onile). Quando a divina
e poderosa mãe Edán (Onile Ogboduora) fez sua aparição nesta Terra, ela fez
isso com um propósito específico e sagrado. Sua manifestação nesta Terra
sinalizou uma nova oportunidade para a humanidade se renovar, progredir e ter
uma vida equilibrada. Sua aparição marcou um novo começo para toda a humanidade
e não apenas o povo privilegiado dos yorùbá. Seu objetivo e propósito era, e é,
de alcance universal. Èdán veio para trazer cura, ordem, harmonia, abrigando
preceitos divinos e equilíbrio para as comunidades da Terra em geral e cada ser
humano em particular. Você deve se lembrar e ter em mente que Èdán não é um ser
humano. Èdán não é yorùbá, chinês, americano, oriental ou ocidental. Èdán é uma
personagem divina de habilidades extraordinárias e poderes supra-humanos. Èdán
não é deste mundo. Ela vem de um reino glorioso e inconcebível de santidade,
beleza e poder. A inteligência, compreensão, força, atratividade e carisma da
mãe divina Èdán é extraordinária, penetrante e excepcional. Èdán pode ver a
profundidade e a realidade das coisas. Ela não pode ser enganada, manipulada ou
subornada, ela não comete erros na administração de sua dispensação (ato de dividir).
Ela está além do alcance da influência humana. Ela nunca cairá ou balançará à
mesquinhez e a inconstância, que é comum entre a humanidade. Sua visão divina
nunca é obstruída e sua atividade não pode ser prejudicada. Sua virtude,
caráter, personalidade e carisma são sem igual. Mesmo Ọrúnmìlà reconheceu sua
grandeza, eficiência, capacidade e singularidade. Foi, afinal, Ọrúnmìlà quem
invocou Èdán, sua amiga e sócia divina para apoio, soluções e alívio! Quando
Èdán desceu do reino dos Irunmọlẹ a esta Terra, ela apareceu com a plenitude da
autoridade divina, poder e comando. Todos Ajogùn interno, externo e Elénìní
fugiram diante dela. Com o poder de sua majestosa personalidade, divinamente
atraente, beleza, carisma e àşé ela foi capaz de libertar e entregar os
corações e as mentes dos pensamentos negativos, atitudes e energias
prejudiciais que oprimiam e dominavam os seres humanos. Èdán foi capaz de
desarmar as pessoas de suas preocupações, medos e inseguranças. Para aqueles
que faziam, que se deliciavam em fazer o errado, o engano, a opressão e a
corrupção ela colocava medo nos seus corações para que talvez eles pudessem
mudar suas maneiras sob sua administração do perdão, da ordem, da capacitação e
da renovação. Tais era, e é, o poder e a influência da mãe divina Èdán.
Juntamente com o inseparável, a importação do ase aos membros sensíveis da
humanidade, ela deu preceitos e injunções divinas para seus alunos-discípulos
para praticar e implementarem em todos os níveis da sociedade e da vida
pessoal. Estes seguidores obedientes e confiáveis de Èdán são os Ogboni porque só existe
sabedoria, saúde e longa vida com Èdán
se as pessoas obedecerem e praticarem seus preceitos. Do lado de fora uma
pessoa constituiria um Ogberi (ignorante) porque aparentemente tinha
conhecimento e não praticava a verdade, o que é isso, se não o maior
ignorância, infelicidade e loucura. Os princípios divinos de Èdán tornaram-se
os veículos de sua divina presença, carisma, poder, apoio e
influência-retificando a cura. Ter vivido na época do aparecimento de Èdán
sobre esta Terra sagrada foi a experiência mais extraordinária, gratificante e
maravilhosa. Isto é, a forma divinamente sancionada, a vida que ela estava
revelando à humanidade e continua revelando à humanidade. O teimoso, obstinado
e beligerante que não fizer, não vai durar muito tempo sob a administração de
Èdán. Èdán é naturalmente amável, justa e compreensiva, como a Sagrada Mãe
preciosa e amável que ela é, ela proporcionou a todos o perdão, um novo começo
sem referência a erros do passado, uma oportunidade para mudar e a bênção para
fazer uso de seu apoio pessoal, garantia, inspiração e poder. Èdán está ciente
de nossas fragilidades e fraquezas como seres humanos. Ninguém precisa ter medo
por causa de suas fraquezas ou falhas. Èdán não pareceu para fazer-nos ricos e
famosos. Èdán apareceu para nos fazer participantes da verdadeira vida, saúde,
paz, segurança e prosperidade através da prática de seus ensinamentos claros.
Èdán apareceu para nos permitir descobrir a nossa nobre e bela natureza divina.
Ela veio para restaurar a dignidade, clareza, transparência, saúde moral e
limpeza moral de nossas vidas. Èdán inculca a verdade divina para seus
seguidores inteligentes e humildes, quando estamos individual e coletivamente
para a direita e para dentro, em seguida, nesta ordem interna, a saúde e a
retidão serão reveladas e expressas no mundo. As instruções de Èdán não foram e
não são sugestões, mas comandos divinamente concedidos e leis. Eles são
vinculativos e obrigatórios para toda a humanidade e especialmente para aqueles
que se dedicam a Èdán. Para ser Ogboni significa ser o melhor dos melhores.
Significa ser um modelo de impecabilidade, idoneidade e confiabilidade. Para
ser Ogboni significa estar pessoalmente convencido a perseguir e fazer o que é
certo, correto e adequado independentemente de tempos, lugares e / ou
circunstâncias. Para ser Ogboni significa ter auto iniciativa, ser responsável
e fazer o que é certo para o bem do amor da verdade e não ser visto, elogiado e
aplaudido por outros. Iniciação formal sozinha não faz de você um seguidor de
Èdán. O que é importante não é que outras pessoas te chamem de Ogboni, mas que
Èdán te reconhece e o aceita como um dos seus verdadeiros, leais e obedientes
filhos. O que é importante é que você seja Ogboni 24 horas por dia em seus
pensamentos, atitudes, ações e relacionamentos. Ogboni é uma forma global e
abrangente de viver. Uma delas é ser Ogboni o tempo todo para que Èdán, ela
mesma, possa garantir que você é um Ogboni genuíno, verdadeiro, com honra,
humildade, alegria e realização digna. Os ritos de iniciação Ogboni foram
desenvolvidos mais tarde por Èdán e seus seguidores, mas, inicialmente, a
verdadeira iniciação era uma mudança espiritual de coração, mente e vida como
um resultado do encontro com Èdán, sua personalidade, seu caráter, seu carisma,
encantamento, inspiração, autoridade e poder, tudo foi expresso e manifestado
através de tudo que Èdán fez. Tudo que Èdán fez foi cheio de graciosidade,
dignidade e poder. Não foi através de ritos e rituais que Èdán mudou o mundo,
mas pela graça divina, pelas maneiras, inteligência e conduta. Èdán por suas
maneiras, caráter, personalidade e conduta comandou o respeito, reverência,
confiança e obediência de todos aqueles com coração sincero e bom. O verdadeiro
símbolo de honra e título de um Ogboni autêntica o caráter, a virtude, a
bondade e a imparcialidade que ele pratica. Conformidade exterior e aderência
superficial com o protocolo Ogboni para o bem das pessoas não faz de você um
Ogboni, não importa o seu título ou o quanto você está velho. Èdán deu seu
amor, vida e foco total e dedicação à humanidade. Para ser Ogboni você tem que
dar o seu tudo para a missão divina de Èdán e você deve procurar com sua força,
habilidade, atividade e meios transferir o conhecimento de Èdán a todos os
povos do mundo. Isto é o que é significa ser Ogboni. Ogboni não é uma
instituição humana. Ogboni não é um negócio. Ogboni não é um clube. Ogboni é
uma vocação divina e sagrada. Èdán era uma revolucionária espiritual, divina,
missionária, diplomática e embaixadora da boa vontade e da esperança. Nós
também devemos ser isso. Devemos buscar a propagação do Ogbonismo. Não os
chamados clubes Ogboni e instituições formais, devemos propagar a verdade e a
realidade que Èdán promoveu e instituiu para toda a humanidade. A humildade e o
serviço vêm antes da honra, do orgulho, da presunção. Èdán diz que a
indiferença precede a queda. Ancestral Pride Temple. Templo Orgulho Ancestral.
ORIXÁ OBÁ. Os orixás são deuses africanos que
correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão
relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá,
aproxima-os dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como
nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem
ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas,
rezas, ambientes, espaços físicos e até horários. Como resultado do sincretismo que se deu durante o
período da escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico,
devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem os seus deuses
vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos
quais cultuavam apenas aparentemente. Estes deuses da Natureza são divididos em
4 elementos – Água, Terra, Fogo e Ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e
afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo, 100 da
Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3
da Terra, 3 do Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam
um grupo de 16 deuses. Eles também estão associados à corrente energética de
alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da
água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias. No Candomblé
cultuam-se muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por serem menos
populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito
forte para os adeptos dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente
cultuados, devido à ligação com trabalhos específicos que regem, para a saúde,
morte, prosperidade e diversos assuntos que afligem o dia-a-dia das pessoas.
Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus,
e por possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer os
nossos caprichos, os nossos amores, os nossos desejos. É muito frequente
dizer-se que as personalidades dos seus filhos são consequência dos orixás que
regem as suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes deuses
africanos. Apresento a seguir as descrições dos 16 Orixás mais cultuados.
Recordo, no entanto, que existem diversas correntes no Candomblé e por essa
razão as informações poderão ser diferentes de acordo com a tradição ou região.
ORIXÁ OBÁ. Dia: Quarta-feira. Cores: Marron raiado, Vermelho
e Amarelo. Símbolos:
Ofange (espada) e Escudo de Cobre, Ofá (arco e flecha). Elementos: Fogo e Águas
Revoltas. Domínios:
Amor e Sucesso Profissional. Saudação:
Obà Siré! Obá é um Orixá ligado à água, guerreira e pouco feminina. As suas
roupas são vermelhas e brancas, usa um escudo, uma espada e uma coroa de cobre.
O tipo psicológico dos filhos de OBA, constitui o estereotipo da mulher de
forte temperamento, terrivelmente possessiva e carente, é mulher de um homem
só, fiel e sofrida. São combativas, impetuosas e vingativas. Obá é um ORIXÁ que
raramente se manifesta e há pouco estudo sobre ela. Obá é a mulher consciente
do seu poder, que luta e reivindica os seus direitos, que enfrenta qualquer
homem – menos aquele que tomar o seu coração. Ela abraça qualquer causa, mas
rende-se a uma paixão. Obá é a mulher que se anula quando ama. Obá filha de
Iemanjá e Oxalá. Em toda a África Obá era cultuada como a grande deusa
protetora do poder feminino, por isso também é saudada como Iyá Agbá, e mantém
estreitas relações com as Iya Mi. Era uma mulher forte, que comandava as demais
e desafiava o poder masculino. Embora Obá se tenha transformado num rio, é uma
deusa relacionada ao fogo. Obá é saudada como o Orixá do ciúme, mas não se pode
esquecer que o ciúme é o corolário inevitável do amor, portanto, Obá é um Orixá
do amor, das paixões, com todos os dissabores e sofrimentos que o sentimento
pode acarretar. Obá tem ciúme porque ama. O lado esquerdo (Osì) sempre esteve
relacionado à mulher e, por uma razão muito elementar, é o lado do coração.
Quando Obá é saudada como guardiã da esquerda, isso quer dizer que é a guardiã
de todas as mulheres, aquela que compreende os sentimentos do coração, pois Obá
pensa com o coração, por isso dança sempre com a mãe esquerda apontando para o
lado esquerdo na altura da orelha, poder genitor feminino, rainha em África da
sociedade Elecô, onde homem não entra, as grandes amazonas de Oba. Oba não conhece
a cabeça de homem. Ligadas a Oxóssi pela caça e grande arqueira, ligada a Xangô
através do fogo a luta pela vida. Como pode uma deusa ligada a esses
sentimentos, dedicar-se à guerra? Toda a energia das suas paixões frustradas é
canalizada por ela para a guerra, tornando-se a guerreira mais valente, que
nenhum homem ousa enfrentar. Obá supera a angústia de viver sem ser amada. Obá
troca um palácio por uma cabana, troca todas as riquezas do mundo por uma
frase: “Eu te amo”. Características
dos filhos de Obá. Os filhos de Obá não têm muito jeito para se
comunicar com as pessoas, chegam a ser duros e inflexíveis. Têm dificuldade em
ser gentis e estabelecer um canal de comunicação afetiva com os outros; às
vezes são brutos e rudes afastando as pessoas. Isso deve-se ao fato de os
filhos de Obá, na maioria das vezes, sofrerem um certo complexo de
inferioridade achando que as pessoas que se aproximam querem tirar partido de
alguma coisa. De facto, isso tende a acontecer com os filhos de Obá. A sua
sinceridade chega a ferir; expressam as suas opiniões, fazem críticas e acabam
por magoar as pessoas, pois não se preocupam em ser agradáveis. Mas essa
agressividade é puramente defensiva. São bons companheiros e amigos fiéis, são
ciumentos e possessivos no amor, por isso não têm muita sorte. Quando
apaixonados, nunca são senhores da relação, cedem em tudo, abdicam de todas as
suas convicções. Algumas vezes infelizes no amor, investem todas as suas cartas
nas suas carreiras e, de entre as mulheres que se destacam profissionalmente
numa sociedade machista, podem-se encontrar muitas filhas de Obá excelentes
juizas, advogadas, comandando quartéis, etc. Muitas vezes despertam a inveja
dos seus inimigos e podem sofrer algumas emboscadas, por isso devem vencer a
tendência que possuem para a ingenuidade. www.ocandomble.com.
Abraço. Davi
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
MESTRE E DISCÍPULO
Budismo Nitiren Daishonin
(1222-1282). Texto de Greg Martin. MESTRE E DISCÍPULO. Gostaria de referir-me
sobre a relação de Mestre e Discípulo. Tenho vários motivos para escolher este
assunto. Em primeiro lugar, porque ouvimos falar muito a respeito disso nesses
últimos dias. Na realidade, e na opinião de alguns, ouvimos falar muito sobre o
assunto. De fato, passaram-se trinta anos quando comecei a praticar, e já se
falava sobre esse assunto, hoje ouço falar muito mais de que naquele tempo e,
para ser honesto, este assunto de Mestre Discípulo me incomodou durante muito
tempo. Não sei exatamente porque me incomodava, mas posso lhes dizer que me
alegrou quando deixamos de chamá-lo "Mestre Discípulo" e passamos a
chamá-lo "Mentor Discípulo", me deu um certo alívio. Mas continuava a
me preocupar. Somente a ideia do Mentor, a simples imagem dessa pessoa, era
muito difícil de aceitar. Mas paralelamente, ao
estudar, algo que desfruto fazendo, quando lia o Gosho, quando lia o Sutra
de Lótus ou a orientação do presidente Ikeda, ficava evidente que não podia
descartar esta parte do ensinamento. Não podia ignorá-la: era importante.
Realmente, o Sutra de Lótus na sua totalidade gira em torno da relação, diálogo
e interação entre o Budha Sakyamuni e seus discípulos. O Gosho de Nitiren
Daishonin é constituído de cartas escritas de um mestre aos seus alunos e
pelo diálogo que ele criava nos seus escritos. Defrontava-me,
então, com um verdadeiro dilema: por um lado, tinha aqui algo que não podia
realmente compreender e que me sentia incomodado. Por outro lado, era consciente
da extrema importância de entender este ponto para poder compreender o budismo. Portanto,
gostaria de referir-me a alguns aspectos de minha atual (já que ela continua
crescendo e desenvolvendo-se) perspectiva sobre a relação Mentor Discípulo. E
antes de mais nada desejaria ler um fragmento de uma orientação do presidente
Ikeda extraída de Fé em ação: "O sangue vital do Budismo
existe somente dentro da fé correta e manifesta-se na Lei. Uma correta fé,
veículo da corrente vital do Budismo, só se transmite através da relação Mentor
Discípulo. Nitiren Daishonin escreveu no Gosho Advertências
sobre os atos contra a Lei: “Se alguém esquecer o mestre original que trouxe a
água da sabedoria desde o grande oceano do Sutra de Lótus, para seguir a outro
certamente se afundará no interminável sofrimento da vida e da morte. E
minha análise sobre o assunto tem me levado à conclusão de que Mestre Discípulo
é, de fato, um modelo de fé religiosa válido para o próximo milênio. E não
somente para nós, constitui um modelo de postura religiosa orientadora para
todas as filosofias. Até agora, o modelo aceito de fé religiosa em
quase todas as tradições tem sido aquele de relação entre "ser superior e
ser inferior". Com grande frequência o mestre se eleva ao nível de um
deus, deixa de ser um ser humano para situar-se num posto elevado. O mesmo
encontramos dentro do ser humano em sua postura da fé: olhar para cima
procurando alguma entidade maior ou poderosa. Não só "esta pessoa"
encontra-se sobre nós, ela é melhor do que nós, mais poderosa do que nós, mais
sábia do que nós, mas também supõe que estejamos "aqui embaixo". Esta
relação "mais alto e mais baixo" conduz ao modelo básico de fé
religiosa: o de adoração. Acaba-se adorando a este ser, esta entidade ou qualquer
que seja o nome que queiram lhe dar. Será este o modelo correto de
fé religiosa válido para nossos dias, para esta época? Minha conclusão é
"Não". No exato momento em que o fundador de uma religião, por mais
grandioso que tenha sido, é colocado num pedestal (...) o que acontece conosco?
Somos situados embaixo. Isto nada mais é do que o resultado de uma tendência
humana profundamente enraizada que é a falta de fé em nós mesmos, e a
dificuldade de acreditar nas nossas próprias possibilidades. É algo difícil,
certo? Recitamos o Nam myo horengue kyo, fazemos o Gongyo de
manhã e à noite, aprendemos que nós somos o Budha (,,,), mas é
difícil acreditar. É difícil de vivê-lo colocando em prática. Para
os seres humanos é difícil aceitar nossa grandiosidade. Existe uma citação
atribuída a Nelson Mandela (1918-2013) que afirma que não é da nossa fraqueza
que temos medo, e sim de nossa luz, de nossa grandeza. Tememos que possamos
chegar a ser, de fato, muito mais do que acreditamos ser. Temos a tendência de
considerar outros como melhores, mais benevolentes, mais sábios, etc, e os
colocamos num pedestal. Depositamos neles nossa confiança, esta é a história
das religiões humanas. Em algumas tradições religiosas, se o fiel
simplesmente pensasse em estar "lá em cima", esta arrogância já
constituía uma heresia. Houve uma época na era Cristã em que torturavam e
queimavam vivas às pessoas que afirmavam isso. Na A Sabedoria do
Sutra de Lótus, o presidente Ikeda trata sobre esse ponto. Em referência
ao Budha Sakyamuni (563 AC 480), Sensei cita a Jawaharlal Nehru (1889-1964),
discípulo de Gandhi e primeiro governante da Índia após sua independência da
Inglaterra em 1947, que afirmou uma vez que: no momento em que Sakyamuni foi
elevado ao status de ser sobre humano pelos seus discípulos, sem dúvida cheios
de boas intenções, e deixou de ser um ser humano para converter-se num deus,
numa divindade, alguém melhor do que vocês e eu, foi nesse instante que
desapareceu o humanismo do budismo. As pessoas começaram a venerar e buscar os
poderes do Budha e, nesse processo, implicitamente aceitaram que eles
mesmos careciam de poder. Viram como funciona? No mesmo instante em que
começamos a buscar "fora", já estamos auto negando-nos. E quanto mais
o fazemos, mais difícil é acreditar naquilo que poderíamos ser. A maioria das
religiões concluem que "nós não somos isso", "nós não podemos
fazer" e que a única esperança que podemos ter é que, ao morrer,
acabaremos indo para um lugar melhor. Ralph Waldo Emerson
(1803-1882) afirmou que nos Evangelhos sempre lemos a respeito da grandiosidade
do homem (...), mas na igreja somente escutamos sobre a grandiosidade de Jesus.
É aqui onde está o problema: devemos implorar a Jesus que nos devolva o poder,
que nos permita que Deus entre em nossas vidas (...). Esta é uma visão muito
pessimista da condição humana! Num sábado à noite, há dois anos
atrás, estava na minha casa quando recebi um chamado de um membro da
Califórnia, ela trabalhava como produtora de um programa de televisão do
Reverendo Lawson, um ministro batista de Los Angeles. Um convidado
agendado não poderia ir ao programa, então me convidou no lugar dele para o
programa do Domingo, que seria transmitido por um canal cristão. "Mas
antes de responder a ela, ela advertiu-me" devo lembrá-lo que amanhã é
domingo de Páscoa e o Reverendo certamente perguntará: O que pensam vocês os
budistas a respeito da ressurreição de Cristo? Respondi a esta
senhora: "A verdade é que não pensamos frequentemente sobre este
assunto!". Ela disse: "Mas, Greg, esta seria uma grande oportunidade
para estabelecer um vínculo, porque você se lembra que o Rev. Lawson, que
foi um dos discípulos do famoso libertário Martin Luther King (1929-1968), e já
ouvirá falar a respeito da SGI". Então eu disse: "Não tenho a mínima
ideia do que possa falar com ele". E ela me respondeu: "Bom, acredito
que você pensará em alguma coisa" (conhecia-me muito bem!). Acabei
aceitando. Então comecei a orar sobre o assunto e a pensar. E o que
eu faço se me fizer esta pergunta? O que vou responder?. Eu acabava de terminar
um novo fragmento de "A sabedoria do Sutra de Lótus" que aborda o
modelo de fé religiosa de Mestre Discípulo e segundo o qual poderíamos
considerar Jesus, sua vida e sua ressurreição como um mestre, um guia, um
modelo para nossa própria vida e não como alguém especial a quem não nos
parecemos. Então disse a mim mesmo: "Teremos que ir corajosamente onde
nenhum budista jamais foi e vejamos no que acontecerá!". Iniciou-se
o programa e começamos a conversar, tal como havíamos previsto, olhou-me e me
perguntou: "O que os budistas pensam a respeito da crucificação e da
ressurreição de Cristo?". Respondi baseando-me no conceito de "Mentor
Discípulo" como modelo de fé religiosa para o século XXI. (Nesse momento,
o programa estava sendo assistido em 15 milhões de lares nos Estados Unidos,
tinha certeza de que haviam vários cristãos me vendo e avisando: "Olha o
que vai responder!. De todos os modos, fui em frente: "Bem, meu Mestre
ensina que o modelo correto de fé religiosa deveria ser o de Mentor Discípulo e
não o de Deus Seres humanos. Portanto, se estudamos a vida e a morte de Jesus
como ser humano e modelo de vida para nos ensinar sobre nossas próprias vidas,
então podemos ter algumas conclusões. Antes de mais nada, ele foi ressuscitado.
Isso significa que a vida não termina com a morte, e sim que há algo além:
voltaremos a renascer. E, também, ele ressuscitou em melhores circunstâncias,
não é mesmo? Sentou-se à direita de Deus, se meu conhecimento sobre
cristianismo não estiver errado: uma esplêndida circunstância para renascer. O
que o fez merecedor de tal magnífico renascimento? Como ganhou isso?" E
logo acrescentei: "Para compreendê-lo, deveríamos analisar sua vida". "Algumas
conclusões são: primeiro, o simples fato de que alguém viva por muitos anos não
determina em que condições renascerá. A duração da própria vida não constitui o
ponto, porque Jesus não viveu muitos anos. Segundo, quanto sofrimento nós
podemos evitar, ou quão fácil e cheia de conforto seja sua vida, também não
constitui o ponto, porque Jesus, pelo contrário, viveu e morreu com sofrimento
e dificuldades. Em compensação, deveríamos analisar a história de sua vida e
tentar perceber a verdadeira mensagem que ela transmite, encontra-se em como
ele tratou aos outros, especialmente àqueles que as pessoas ignoravam,
discriminavam ou marginalizavam: aos doentes, aos que sofriam, aos pobres,
aqueles das camadas mais baixas da sociedade. E a maneira com que ele tratou
seus semelhantes é que define a dimensão deste homem. É devido a isso que
renasceu numa circunstância melhor". Portanto nós, como budistas,
poderíamos considerar Jesus como um grande mestre e encontraríamos sabedoria
neste ponto. Podemos extrair o sábio ensinamento de que a maneira como vivemos
esta vida determinará a próxima, qualquer que esta seja. E, que o ponto chave é
a maneira como atravessamos esta vida, deveríamos seguir seu comportamento, ser
nós mesmos Jesus, em vez de venerar seu poder. Por isso, poderíamos considerar
Jesus um mestre. O Reverendo Lawson olhou-me firmemente e
eu pensei: "Ah aqui vai ter encrenca". Mas disse: "Isto é
absolutamente correto! Como lhe ocorreu isso?" Tinha tido a mesma conversa
com Dean Carter no fim de semana passado e ele tinha me confessado: "Sim,
isto é absolutamente correto. O triste é que a maioria dos cristãos não o
sabem". Do ponto de vista do modelo Mentor Discípulo, o Mentor nunca deixa
de ser um ser humano, e devido ao Mentor continuar sendo um ser humano, é que
faz o modelo transforma-se em algo que podemos alcançar. Não somente temos a
possibilidade, mas encontra-se imbuído da imagem de que nós estamos fazendo o
mesmo que ele.Assim como o presidente Ikeda diz no "A sabedoria do Sutra
de Lótus": a relação de Mentor Discípulo nos desafia como discípulos a ter
uma visão fundamentalmente diferente de nós mesmos. Podemos deixar de nos ver
como inadequados, incapazes, ou não possuidores das mesmas qualidades que ele.
Como discípulos, como estudantes, se optarmos pelo modelo Mentor Discípulo, ao
reconhecer que o Mestre põe uma meta muito alta, ele acaba por nos mostrar a
incrível capacidade do ser humano. O propósito da vida do Mestre (Sakyamuni, T'ienTai, Nitiren
Daishonin, o presidente Ikeda ou quem for) não é dizer: "Olhem como sou
grande!". E sim expressar: "Considerem-me como um exemplo de o quão
grandes vocês podem chegar a ser!". Isto constitui uma visão completamente
diferente do assunto: é um desafio, é difícil de acreditar. Quando
admiramos um grande Mentor e aquilo que têm conseguido com o seu incentivo, sua
coragem, sua benevolência e sua sabedoria, a primeira coisa que pensamos é
dizer: "Ele deve ser diferente de nós" porque sentimos uma lamentável
consciência de nossas fraquezas, limitações, maldades, pensamentos negativos e
tudo mais, é impossível imaginar, que dentro de nossa vida humana, existam
exatamente as mesmas qualidades. Aí reside o ponto: a possessão mútua dos Dez
Estados, ela nos ensina que o Budha se manifesta como um mortal comum
mesmo que cheio de fraquezas, preguiça e todo tipo de tendências negativas, e
que também possui todas as qualidades de um Budha. Sakyamuni no Sutra
de Lótus tentava nos ensinar à sua maneira não somente o quanto era grande sua
vida, mas o mais importante era que o quanto grande é a vida de cada ser humano
individual, já que eternamente possuímos a natureza de Budha e
podemos manifestá-la na nossa vida cotidiana. Infelizmente, poucos
anos após sua morte, seus discípulos perderam esta visão e começaram a
acreditar que Sakyamuni era alguém especial, diferente, alguém que vocês e
eu jamais poderíamos alcançar. Foi então, evidentemente, que o Budha histórico
foi promovido a algo superior e nós fomos rebaixados, esta é a lacuna que
existe entre ele e nós. E quem apareceu convenientemente entre ele e nós? Os
sacerdotes: eles mesmos criaram seus próprios empregos. Se eles nos tivessem
elevado ao mesmo nível do fundador, não teria existido o negócio. Portanto, se
nos basearmos nas suas fracas naturezas, não está entre os principais
interesses dos sacerdotes lembrar-nos que nós leigos também possuímos esse
poder. Assim foi que os sacerdotes transformaram-se em emissários,
em enviados. Eles dizem: "Não se preocupe, irei à cima da montanha e
regressarei trazendo-lhe a mensagem do Budha, confie em mim. Lhe contarei
o que ele me disse, mas você (...) não, você não pode ir, nãonão não".
No instante em que isto aconteceu, o humanismo do Budismo se perdeu.
Centralizou-se nos sacerdotes e intermediários, enquanto que para as pessoas
comuns, você e eu, que vivemos vidas comuns, o budismo transformou-se em algo
impraticável em nossa vida diária, e assim nos tornamos dependentes dos
"intermediários", que diziam, interpretavam, ajudavam a entender e
nos "concediam" a sabedoria. Pedíamos ajuda a eles, e eles oravam por
nós, por algum motivo sua oração era mais poderosa que a nossa. Eles estavam
mais próximos de Deus porque encontravam-se sempre em cima da montanha. O mesmo
aconteceu com Jesus. O Jesus humano converteu-se assim no "Senhor Jesus
Cristo". Um exemplo muito interessante desse modelo de fé
religiosa é estabelecido no feudalismo. Do mesmo modo, há um Senhor Jesus
Cristo, um Senhor Sakyamuni e nós não somos mais do que os camponeses
"vassalos da fé", não é assim? E eternamente permaneceremos como
vassalos ou meeiros da fé, por assim dizer. E sempre estaremos endividados com
o armazém da companhia e o mesmo acontecerá com os nossos filhos, que herdarão
nossa dívida. O Budha possui três virtudes: a de pai, mestre e
soberano. Graças ao fato de Nitiren Daishonin inscrever o Gohonzon,
este também possui essas três virtudes. Mas isto gera três relações: a de Pai
Filho, a de Mestre Estudante a de Amo Subordinado. Então, se o
budismo tem a função de pai, então seus discípulos são os filhos do Budha.
Frequentemente ouvimos que "todos somos filhos do Budha". Na
verdade, se o budismo influenciou o cristianismo, assim como dizem que fez,
então isto equivale ao "Filho de Deus". Todos somos filhos e filhas
de Deus sob este aspecto. Mas o modelo de Pai Filho é o mais adequado para a fé
budista? Apesar de constituir um aspecto importante, para que o Gohonzon funcione
como um pai que nos abraça com amor e benevolência, que cumpra as funções que
todo pai deve cumprir (...) então deve existir um filho. Portanto, um aspecto
da fé consiste em aproximar-se do Gohonzon e à prática, e confiantes como
crianças. Não quero dizer que permaneçamos sendo infantis, mas que a pureza e a
sinceridade da confiança no Budha constituem um importante aspecto da
fé e assim entendemos porque as dúvidas interferem na fé. Se o bebê duvidar do
leite materno e falar: "Espera um minuto, quero uma análise disso antes de
bebê-lo", então se defrontaria com um verdadeiro problema! Claro
que não se trata de fé cega e de confiança cega. Não deveríamos ser
incondicionais, mas possuir confiança. Quantas vezes nossos antecessores nos
pedem que "confiemos no Gohonzon?". Para ser capaz de confiar, é
necessário impedir e ultrapassar as próprias dúvidas, sem escondê-las.
Casualmente numa destas noites me perguntava como seria ter uma fé livre de
dúvidas. Escutamos muito frequentemente que "Se realmente tivéssemos fé,
se verdadeiramente fôssemos sérios, nunca deveríamos duvidar". Então,
assim que temos dúvida, nós sentimos envergonhados por isso, ou escondemos, ou
queremos suprimir, não podemos contar a ninguém porque estaríamos evidenciando
algo que anda mal em nós mesmos. E isto é incorreto. Todos duvidamos. De fato,
o Budha usou a dúvida no Sutra de Lótus para despertar o espírito de
procura dos seus discípulos e ajudá-los a atravessar o lugar no qual se
encontravam crentes de que já tinham atingido um novo estágio na fé. A dúvida
constitui o primeiro passo para aprofundar nossa fé, portanto, não deveríamos
nos envergonhar de nossas dúvidas, pelo contrário deveríamos ser honestos,
assumi-las, enfrentá-las, explorá-las, porque uma fé mais profunda nos aguarda
no final desse processo. Quanto mais profundas são nossas dúvidas, mais
profunda é a fé que conquistamos uma vez que as vencemos. Portanto,
deveríamos nos esforçar para ter uma fé "libertadora de dúvidas". Não
livre de dúvidas e sim "libertadora de dúvidas", porque ao aplicar a
força de nossa fé e prática para resolver nossas dúvidas nasce uma fé mais
profunda. Esse é o verdadeiro aspecto de uma "criança". Mas
a relação Pai Filho possui suas implicações. Uma criança depende do seu pai,
não é igual ao pai. E, por isso, não constitui o modelo adequado de fé
religiosa para nós, já que não desejamos ser dependentes de nosso mentor,
sempre obrigados a lhe pedir nosso alimento, sempre escutando o que temos que
fazer e necessitando da sabedoria necessária para decidir por nós mesmos. Ser
dependente do Mentor também não é o modelo correto de fé. Por outro lado,
existe a relação Soberano Súdito. Este é o modelo feudal do senhor e seus
vassalos. A função do senhor feudal é proteger. No sistema feudal, os senhores
tinham as armas e os soldados e assim protegiam as aldeias. Os vassalos faziam
suas tarefas, cultivavam os campos e serviam ao seu senhor feudal. Este, em
troca, os protegia. Portanto, a função de proteção surge quando participamos na
nossa fé como bons soldados, como bons cidadãos da comunidade budista. Em
nossos dias de democracia, predomina o pensamento de que a união dos budistas é
o verdadeiro soberano, e não um indivíduo em particular. Na medida em que
servimos a um grande objetivo, participando na grande tarefa do Kossen-rufu e
concretizando o desejo do Budha como bons cidadãos da comunidade,
estaremos protegidos. Mas a relação Soberano Súdito também tem
implicações que não são apropriadas para um modelo de fé religiosa. O sujeito,
o vassalo, nunca chegará a ser um senhor do sistema feudal: existe uma
diferenciação entre classe alta, classe baixa, poderoso e fraco:
definitivamente não é uma relação igualitária. Por isso, é importante servir à
comunidade isso é correto e não o descartamos, mas também não constitui o
modelo principal. O principal modelo de fé religiosa é o de Mestre
Estudante porque constitui uma relação humana dentro da qual o estudante pode
aspirar não somente se igualar ao seu mestre como também até ultrapassá-lo
podendo ir mais longe do que ele. De fato, o desejo do mestre é que o estudante
não só alcance ser igual a ele, partindo do que o mestre o ensinou, mas que o
leve ainda a um nível mais alto. Este é o modelo correto de fé religiosa. Nós
não escolhemos nossos pais, não escolhemos nosso soberano, ainda que desde o
ponto de vista cármico o façamos, mas nós escolhemos nosso mestre. É
uma escolha voluntária que fazemos e, devido ao fato de ser voluntária,
constitui uma das relações mais importantes que podemos vir a ter na nossa
vida. Existe um termo japonês chamado "judoshu" que significa
"espírito de procura ao longo de uma vida". Não é nada fácil manter o
espírito de procura ao longo da vida, é mais fácil quando somos jovens. Mas à
medida que envelhecemos, torna-se mais difícil continuar buscando esse
espírito, permanecer no caminho sem fim do crescimento pessoal e nunca chegar a
um ponto no qual estamos satisfeitos e dizer: "eu consegui". De
fato, minha própria experiência me ensina que quando penso que
"Consegui" é onde corro mais perigo, isto porque é evidente que não o
consegui, pelo contrário estou continuamente "conseguindo". Estou
buscando constantemente e este é um aspecto importante de nossa fé. Existe um
termo chamado "juji soku ganjin" que significa: abraçamos
o Gohonzon com estas três orientações espirituais que acabamos de
ver: como crianças, buscamos e confiamos no Gohonzon. Como estudantes,
buscamos e confiamos no Gohonzon, buscamos nosso mentor Nitiren Daishonin ou
o presidente Ikeda, que encarna o mentor porque é um excelente exemplo do que
deve ser um discípulo. O presidente Ikeda está nos mostrando "Assim é como
devemos caminhar nesta vida como discípulos de Nitiren Daishonin.
Observem-me, eu lhes ensinarei. Lhes explicarei, lhes direi como serem
excelentes discípulos". E "excelente discípulo" significa para Sensei "compartilhar
o mesmo coração de Nitiren Daishonin". Os discípulos
de Sakyamuni Budha, sem dúvida que por causa da sua sincera devoção,
o elevaram a um plano especial, como alguém que se encontrava acima do ser
humano comum e, nesse momento, a humanidade do budismo perdeu-se de
vista. Nitiren Daishonin compreendeu perfeitamente este ponto.
No Gosho "Sobre atingir o estado de Budha", Nitiren Daishonin
afirma "Jamais pense que os 80.000 ensinos de Sakyamuni, assim como
todos os Budhas e Bodhisattvas do universo, existem fora de
sua vida". Está enfatizando esse exato ponto. O Budha Sakyamuni não
está fora de nós, e sim que ele, o estado deBudha, encontra-se dentro de nós, e
repete esta mensagem sempre em todos os seus Goshos. Nitiren Daishonin escreveu
o Gosho "A abertura dos olhos" para abrir os olhos das
pessoas para o seu próprio estado de Budha. Então, quem é o pai, mestre e
soberano de todos os seres vivos? É Nitiren Daishonin. Mas essa não
foi a única razão pela qual ele escreveu este tratado, e também o fez para
abrir nossos olhos para as nossas próprias possibilidades. Mas, pouco após à
sua morte e no fim de poucas gerações, Nitiren Daishonin, um ser
humano incrível, benevolente, sábio, etc., mas ser humano em última instância,
foi endeusado e nós começamos a nos auto degradar e a ideia do Budha Verdadeiro
ou do tesouro do Budha deixou nos excluídos a vocês e a mim. Aquele
ser humano converteu-se em algo "especial" e seus discípulos tinham
esquecido sua mensagem. O 26º Sumo Prelado, Nitikan Shonin,
lembrou isto e retornou ao ponto primordial. Ele disse: "O estado de vida
de Nitiren está dentro de vocês, dentro das vidas de todas as pessoas
que recitam o Nam myoho renguekyo ao Gohonzon: vocês
são Nitiren Daishonin". Mas, logo, esta mensagem voltou a ficar de
lado. E então não foi um monge quem a reencontrou, e sim Tsunessaburo
Makiguti (1871-1944), e depois a transmitiu para Jossei Todda (1900-1958).
E Todda pela sua vez a transmitiu ao presidente Ikeda e ele está hoje
tentando transmiti-la a todos nós. A chave é: nunca, mas nunca, jamais permitam
a ninguém que se coloque acima de vocês mesmos. A relação Mentor Discípulo
constitui um vínculo humano. É verdade que os grandes mentores são pessoas
incríveis que elevam os padrões até uma altura que às vezes é difícil de
alcançar. Mas o propósito e significado de suas vidas e ensinos não é a
respeito deles mesmos, e sim de nós. Trata-se de nos imaginarmos fazendo o
mesmo que eles, encontrando dentro de nós suas maravilhosas qualidades. O
Mentor nos diz: "Observem-me, lhes mostrarei o que podem chegar a fazer
(...) o que podem chegar a ser". Mas, de novo, nos custa acreditar. Muitas
vezes tenho ouvido os membros referirem-se ao presidente Ikeda com frases do
tipo : "O presidente Ikeda pode fazer isso, mas eu não poderia".
Falamos dele como se fosse alguém especial. Sim, é verdade que ele é grande, e
eu também sinto-me assim com respeito a ele, mas no mesmo instante em que
pensei que ele tem algo que eu não tenho (...) ele realiza e eu ainda estou na
possibilidade. E tenho o mesmo potencial dentro de mim ao ponto que posso
aprender com ele através de seu exemplo, das suas orientações e das suas ações
que me mostram o que posso fazer e como posso desafiar meus próprios limites
para chegar a ser um dos milhares de milhões de presidentes Ikeda e Shin iti Yamamoto
que vivemos neste planeta. Devo me tornar num deles, não simplesmente buscar
seu poder. Neste sentido, a relação Mentor Discípulo é realmente um
modelo de fé religiosa. Representa uma orientação diferente e desafia o
discípulo a pensar por si mesmo de uma perspectiva completamente diferente, e
possuir um paradigma próprio a respeito de si mesmo. Um dia desses
li um livro interessante: "Por que o cristianismo deve mudar ou
morrer", escrito por um bispo episcopal, um tanto radical, de nome Spong.
Ele enumera uma série de pontos importantes: primeiro, Deus deve deixar de ser
visualizado ou idealizado sob o que ele chama de "imagens elevadas".
Enquanto os cristãos continuarem considerando que Deus está "lá em
cima" e "lá fora", a igreja estará condenada a morrer porque
fica claro que não há nenhum lugar "lá em cima". E onde mais poderia
estar? E responde numa linguagem muito interessante: "Devemos começar a
pensar em Deus do ponto de vista de imagens de profundidade, e acrescenta
"Devemos pensar em Deus como uma força que emerge da terra". Segundo,
devemos deixar de considerar a Jesus como Deus e, ao contrário, começar a vê-lo
como um mestre. Na medida em que os cristãos não o façam, a igreja seguirá o
caminho para a sua própria morte. Os velhos modelos não funcionam mais. As
pessoas já têm evoluído além do modelo feudal". Terceiro,
"devemos deixar de pensar na igreja como numa instituição ou uma entidade
formal e começar a vê-la como um conjunto de seres humanos". Interessante,
não é mesmo? Quando terminei o livro, disse a mim mesmo: "Nós
vemos o cristianismo converter-se em budismo porque é exatamente isso o que
estamos presenciando. E é precisamente esta a razão pela qual, quando os
budistas acabam descobrindo uma linguagem comum, poderemos comunicar-nos com
tantos e tantos cristãos. Spongtambém escreve: "Existem milhões que chamamos
cristãos no exílio que possuem uma crença básica, mas não conseguem ligarem-se
com os ensinamentos que descem do púlpito nos nossos dias". Quando
encontrarmos a linguagem precisa que necessitamos usar, quando começarmos a nos
ligar à eles, emergindo da terra, e Jesus como mestre e tudo isso, então haverá
muitas pessoas que se sentirão como no seu próprio lar conosco. Outro
livro, "Soka Gakkai na América", é um estudo de nossa
organização realizado por Phillip Hammond (1962- ) da Universidade
de Califórnia em Santa Bárbara. Ele fez um levantamento de nossos membros e
conseguiu uma análise muito boa de nossa organização. Há muito para aprendermos
e faz uma observação muito interessante: Existem investigações demográficas que
mostram a identificação de três linhas básicas de pensamento na América do
Norte atualmente. A primeira é representada pelo que se nomeou como
"Habitantes Primordiais", que são os fundamentalistas. Essas pessoas
tendem a viver à margem das mudanças do mundo. Cerca de 30% dos norte-americanos
são "Habitantes Primordiais". Estas pessoas gostariam que retornassem
os valores de antigamente, são os que acreditam que o passado é melhor do que o
presente e que a questão é regredir àquele tipo de vida. São tradicionalistas,
do ponto de vista religioso são fundamentalistas. O segundo grupo
constituem os "Modernistas". Cerca de 40% dos norte-americanos são
"Modernistas". Essas pessoas acreditam no progresso e na ciência e,
vivem atrás do dinheiro e do êxito, e todas essas coisas, acreditam que obtendo-as
serão felizes. O restante 30% dos norte-americanos são os
denominados "Trans modernistas". Esse grupo acredita na ciência,
no progresso e tudo mais, mas sabem que não conseguirão o que o grupo anterior
acredita que conseguirá e, por isso, vão além: dão grande importância à
espiritualidade. Esse grupo se aproxima de nossas crenças quase que exatamente.
Acredita-se que existam aproximadamente 44 milhões de norte-americanos que se
poderiam chamar de "pró budistas". Já são budistas, mas ainda não o sabem.
Hammond também ressalta que a maioria de nós, quando encontramos o
budismo, não experimentamos uma mudança radical de pensamento. Pelo contrário,
quando temos encontrado este Budismo, nos sentimos em casa desde o começo.
Sentimos: "Isto é o que eu vinha acreditando!". Hammond diz
que, surpreendentemente, não existe um processo de conversão definido, mas há
um processo de descobrimento e a sensação de que "finalmente encontrei um
grupo, um local, um ensinamento de acordo com aquilo que venho acreditando esse
tempo todo". Ele acredita que existam 44 milhões de pessoas esperando
somente descobrir que nós existimos. É um pensamento muito estimulante se o
analisarmos profundamente. Por último, creio que a relação Mentor
Discípulo trata principalmente a respeito do desenvolvimento espiritual, moral
e de caráter do discípulo. Constitui um desafio para todos nós. É um modelo que
nos exige pensemos de maneira diferente, para irmos além de nossos limites. Já
rejeitamos o conceito tradicional de ser humano, e também deixamos de implorar
a algum poder externo para que nos ajude porque sentimos que não somos capazes
em conseguir outro conhecimento. Então, agora o desafio que enfrentamos está em
aceitar e olhar no nosso interior e descobrir a grandeza que existe nas profundezas
e nos corações de cada um dos seres humanos, as imensas qualidades de coragem,
autoconfiança, esperança, sabedoria e perseverança que todos possuímos em
idêntica medida, mas que teimamos em negar. Vivíamos na descrença pois nunca
tínhamos encontrado um método pelo qual pudéssemos abrir a chave de nosso
depósito de grandeza para deixá-lo fluir livremente. Pelo
contrário, a religião, a filosofia, a educação, vêm nos ensinando que somos
limitados. Que é arrogância pensar o contrário, que tais aspirações estão além
de nossas possibilidades humanas. Então acabamos depositando nossa confiança e
nossa fé naqueles que acreditamos serem melhores do que nós. É preciso que isto
mude. O estado de Budha reside no despertar para o nosso
verdadeiro eu. NitirenDaishonin nos transmitiu a prática do auto
despertar. Inscreveu sua vida noGohonzon, mas não para que venerássemos sua
vida e seu poder, e sim para que, quando defrontamos o Gohonzon, possamos
perceber que a chave está ali. E a chave é "Nammyoho rengue kyo Nitiren".
Devotem-se com suas mentes, suas vozes, com seus corpos à Lei Mística de causa
e efeito e manifestarão a vida de Nitiren Daishonin no seu
interior.A Lei e o Budha dentro de nossas vidas são um só. O Gohonzon é
uma mensagem às gerações futuras pois Nitiren compreendeu a natureza
humana: sabia que a chave se perderia assim que ele desaparecesse. Imagino o
que ele se perguntou: "Como posso enviar uma mensagem ao futuro de maneira
tal que, ainda que percam a chave, qualquer um possa redescobri-la para revelar
o grande significado, o grande poder do Budismo e da prática budista?"
Então a colocou diante de nós. Sim, à nossa frente está a chave.
Mas se recitarmos daimoku frente ao Gohonzon pensando que o poder
está fora de nós, achando que o Gohonzon irá sair por aí para fazer
as coisas por nós, então não compreendemos a chave. Com certeza, o
clero da Nitiren Shoshu tem mal interpretado a chave. Eles acreditam
(e é o que ensinam) que o Dai-Gohonzon constitui a raiz, que o Sumo
Prelado é o tronco e que o sacerdote é o galho. Que nosso Gohonzon é a
folha e que o poder de nossos Gohonzon provêm dele . Acreditam que
Nam myoho renguekyo significa "Eu o tenho" em vez de
"Nós o temos". Acham que "Nammyoho rengue kyo Nitiren"
significa "Eu sou o Budha Verdadeiro" em vez de "Todos
nós somos os BudhasVerdadeiros e Originais". (Diga-se de passagem, as
"folhas" de nossos Gohonzon caíram da árvore (segundo disse o
reverendo Nagasaki em New York). Obviamente, isto é incorreto. Se vocês leem
o Gosho fica claro que não é este o caso. Mas é compreensível porque,
nas profundezas dos seres humanos sempre existe esta absurda descrença em nós
mesmos, esta falta de vontade e este impulso de confiar em alguém para que
dirija nosso leme. "Estou rodeado de todas estas pessoas (os bonzos)
que parece que sabem o que fazem, por isso depositarei minha confiança
neles". E este é um grande erro. O verdadeiro benefício da
problemática do clero reside em que finalmente podemos aprender o verdadeiro
modelo de fé religiosa, porque nós, antes desta ruptura, também depositamos
nossa fé neles. Se bem que a confiança constitui um aspecto importante da fé,
devemos usá-la para confiar nos nossos antecessores, para confiar nas outras
pessoas mas, sem perder de vista que, em última instância, nós somos os únicos
responsáveis de nossa própria vida. A vida é uma viagem. Existem passageiros e
existem motoristas. Mas necessita-se de motoristas. Existem muitas,
muitíssimas pessoas que são simples passageiros de suas próprias vidas,
deixando sempre que outro as conduza. Quantas vezes a gente diz: "Você
está me deixando bravo (...). Chega!"? Quem fala isto é alguém que está
atrás do motorista. Esse é um passageiro. O que estamos dizendo é: "Você
tem poder sobre às minhas emoções. Não tenho controle. Você conduz minha ira, e
enquanto continuar fazendo o que está fazendo, eu continuarei a me sentir
irado. Chega!". E assim a vida transforma-se num passageiro que obedece ao
motorista. Nós nos vemos obrigados a manipular o comportamento dos outros, a
dar-lhes instruções, a pedir-lhes que façam o que necessitamos para que nossas
emoções não fujam do controle. É um conceito totalmente absurdo. Não há dúvida
de que, com esta maneira de pensar, entregamos o volante de nossa vida a
outros, e agora nos sentimos frustrados e furiosos porque não dirigem bem. Recuperemos
a direção. Comecemos a conduzir e dirigir nossas próprias vidas. Possuímos o
poder mais importante do universo que é o poder que se encontra dentro de
nossas vidas, podemos escolher nosso estado de vida. Quando alguém fizer algo
que não gostemos, não é necessário que fiquemos bravos. Sempre nos comportamos
assim porque acreditávamos que era a única opção, mas temos dez opções. Se
alguém faz algo que não gostamos, podemos ir para o Inferno. Podemos comer
algo. Vejamos (...) animalidade (...) poderíamos maltratar ou algo parecido,
poderíamos ficar irados, essa também é uma escolha. Podemos nos retirar, nos
retirar ao nosso quarto, pôr os fone de ouvido e escutar música. Ou entrar em
êxtase e dizer: "Oh, adoro quando você faz isso". Ou poderíamos até
ser um pouco mais provocadores: "Bom, realmente estou aprendendo graças ao
que você faz". E ainda mais, "estou sentindo um despertar", ou
poderíamos sentir benevolência "Realmente gostaria de poder te
ajudar" (...) ou poderíamos alcançar o estado de Budha. Todas estas
opções estão ao nosso alcance. Mas enquanto acreditarmos que não
temos opção, estaremos presos nos seis estados mais baixos e continuaremos
sendo somente passageiros de nossas próprias vidas. O Nam myoho rengue kyo trata
a respeito do instante, de escolher a cada instante, de escolher a cada pequeno
e único instante de nossas vidas, de retomar o controle e o poder sobre nossas
opções. Nós não determinamos o comportamento dos outros, nem sequer podemos
controlá-los. E isto é algo bom porque francamente não acredito que faríamos um
bom trabalho controlando a vida de outra pessoa. Recuperemos o controle de
nossas vidas. Desejemos ardentemente ao maior. Isto está no nosso interior, não
há nada que nos falte. Tudo o que necessitamos para ser absolutamente felizes
já se achava em nós desde o primeiro dia das nossas vidas. O que acontece é que
não acreditamos nisso. Não confiamos. Nos custa aceitá-lo. Parece que não
possuímos, parece que nos falta algo. Pelo motivo de que nós estivemos passando
por coisas ruins ao longo dos anos, sentimos que algo anda mal com nós mesmos. Mas
não há absolutamente nada de mal em nós. Se existe algo errado é a nossa
maneira de pensar, contudo não há nada de errado "conosco". E esta
distinção marca a diferença: podemos facilmente mudar nossa maneira de pensar.
Mudar a nós mesmos por completo seria muito mais difícil, mas não é necessário,
porque não há nada de errado conosco. Os budistas vieram em diferentes medidas,
formas e estilos, com muitas variações de caráter e todos vivemos imersos na
ilusão. Concluindo, minha esperança é que, de alguma forma, este
conceito de Mentor-Discípulo esteja agora um pouco mais claro, ou ao menos um
pouco mais fácil de compreender. Creio firmemente que, em última instância,
seguimos a Lei. Mas a Lei não nos fala, então precisamos de mestres. Também
podemos aprender uns com outros, mas no fim, só resta mesmo eu, meu carma e
o Gohonzon. Ninguém mais. Somente eu mesmo posso ultrapassar minhas
próprias dificuldades. Somente eu mesmo posso ultrapassar minhas ilusões. Só eu
mesmo posso abrir e revelar minha grandeza interior. A prática budista é o
método, e é sensacional ter um treinador que nos diga como alcançá-lo. Que nos
incentive quando estamos desanimados, sem esperança, quando nos esquecemos,
quando não acreditamos que somos Budas. É maravilhoso quando lemos algo que nos
incentiva, que nos lembra: "Sim, você é um Buda". É esse o papel de
um bom mestre. O Budha é o treinador, mas somos nós os que devemos jogar a
partida e ninguém pode jogar por nós. Então, a partir de agora, se
ainda vocês não têm conseguido experimentar a relação Mentor Discípulo nas suas
vidas, pelo menos, desejo que possam terminar este dia sentindo: "Bom,
acho que pelo menos vale a pena tentar". Pode ser que tenha que lutar
corpo a corpo com minhas dúvidas e incertezas, talvez tenha que tentar
compreender aquilo que me faz sentir incomodado. Não devo disfarçar este
assunto, não devo achar que desaparecerá sozinho nem devo encará-lo de maneira
superficial ou simplesmente seguir o hábito como os outros". Acredito
que a relação Mentor Discípulo é a chave para ter acesso aos nossos tesouros,
para nos enxergar de uma perspectiva diferente, para despertar de nosso sonho e
descobrir o Budha Verdadeiro, o estado original de Budha que existe
dentro de todas as pessoas. Muito obrigado e tenha um grande dia! http://www.maisbelashistoriasbudista.com.br.
Abraço. Davi.
terça-feira, 27 de novembro de 2018
A POSSESSÃO
Espiritismo. www.oconsolador.com.br. Por Fernando
A. Moreira. Texto de Alan Kardec. (1804-1869). A POSSESSÃO. “Importa que cada
coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a
ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado”. (Allan Kardec) Há possessos? Existe
a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo? O mergulho cronológico
nas obras da Doutrina Espírita nos leva ao seu berço, “O Livro dos Espíritos”: 1857. Questão 473 - Pode um
Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é
introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado
nesse corpo? – O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se
com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os
seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem
atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não
pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer
ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material. Kardec
retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos
respondem: Questão 474 - Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação
de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro
Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de sua vontade vir
a achar-se, de certa maneira, paralisada?– Sem dúvida e são esses os
verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua
nunca sem que aquele que sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por
desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de
exorcismos, têm sido tomados por possessos. Os Espíritos, aí, fazem uma nítida
distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos. Os verdadeiros são os
subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira,
paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão,
necessitando tratamento médico. Comenta ainda Kardec, após a resposta dos
Espíritos: “O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência
absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a
subjuguem”. 1858. Se havia alguma dúvida sobre a opinião do Codificador até aquele
momento, ele a desfaz no texto da Revista Espírita, por ele dirigida:
“Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus
Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a
ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que
não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de
subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a ideia
de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação
ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação dá uma ideia
perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há
simplesmente obsedados, subjugados e fascinados”. Fica bastante claro que, para ele, até
aqui, não existia possessão. 1861. O texto acima é
parecido com o exarado no “O Livro dos Médiuns”, com uma diferença
significativa no parágrafo, qual seja, a troca da palavra “ligação”, por
“constrangimento”. 1862. Momentaneamente, temos a impressão de que estariam respondidas as
indagações formuladas na inicial, mas, apesar dessas considerações, o termo
possessão reaparece na Revista Espírita: “Ninguém ignora que quando o Cristo,
nosso muito amado mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro
Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que,
pela possessão, como hoje, se apoderavam das classes sociais mais ignorantes,
dos Espíritos encarnados mais fracos e menos adiantados (...) é preciso lembrar
que os cientistas, os médicos do século de Augusto, trataram, conforme os processos
hipocráticos, os infelizes possessos da Palestina e que toda sua ciência
esbarrou ante esse poder desconhecido. (Erasto)”. Na mesma revista e no mesmo ano,
Kardec, nos “Estudos sobre os Possessos de Morzine”, acrescenta a seguinte
consideração: “O paroxismo da subjugação é geralmente chamado de possessão”. 1863. A
retomada do termo tinha uma razão, e Kardec é bem incisivo na sua opinião na
Revista Espírita, sobre os mesmos Possessos de Morzine, que certamente o
impressionaram e influíram na mudança de sua conceituação sobre possessão, e
valeram doze citações no índice remissivo da Revista Espírita (1862, 63, 64, 65
e 68), além de outros estudos, na mesma revista, como, por exemplo, quando
analisa “Um Caso de Possessão”. Senão vejamos: “Temos dito que não havia possessos, no
sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta,
porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é,
substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado. (...) Não
vendo senão o efeito, e não remontando à causa, eis por que todos os obsedados,
subjugados e possessos passam por loucos (...). Eis um primeiro fato, que o
prova, e apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade. (...)”. (O Sr.
Charles) Declarou que, querendo conversar com seu velho amigo, aproveitava o
momento em que o Espírito da Sra. A. a sonâmbula, estava afastado do corpo,
para tomar-lhe o lugar. (....). Eis algumas de suas respostas. – Já que tomastes
posse do corpo da Sra. A poderíeis nele ficar? – Não; mas vontade não me falta. – Por que não podeis? – Porque seu Espírito
está sempre ligado ao seu corpo. Ah! Se eu pudesse romper esse laço eu pregaria
uma peça. – Que faz durante este tempo o Espírito da Sra. A. – Está aqui ao meu
lado; olha-me e ri, vendo-me em suas vestes. O Sr. Charles (...) era pouco adiantado
como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Apoderando-se do corpo da
Sra. A. não tinha qualquer intenção má; assim aquela Sra. nada sofria com a
situação, a que se prestava de boa vontade. Aqui a possessão é evidente e ressalta
ainda melhor dos detalhes, que seria longo enumerar. Mas é uma possessão
inocente e sem inconvenientes. Na mesma página, no entanto, Kardec descreve um
caso de possessão da Sra. Júlia, agora dirigida por um Espírito malévolo e mal
intencionado. Há cerca de seis meses tornou-se presa de crises de um caráter estranho,
que sempre corriam no estado sonambúlico, que, de certo modo, se tornara seu
estado normal. Torcia-se, rolava pelo chão, como se se debatesse, em luta com
alguém que a quisesse estrangular e, com efeito, apresentava todos os sintomas
de estrangulamento. Acabava vencendo esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos,
derrubava-o a sopapos, com injúrias e imprecações, apostrofando-o
incessantemente com o nome de Fredegunda, infame regente, rainha impudica,
criatura vil e manchada por todos os crimes, etc. Pisoteava como se acalcasse
aos pés com raiva, arrancando-lhe as vestes. Coisa bizarra, tomando-se ela
própria por Fredegunda, dando em si própria redobrados golpes nos braços, no
peito, no rosto, dizendo: “Toma! Toma! É bastante, infame Fredegunda?
Queres me sufocar, mas não o conseguirás; queres meter-se em minha caixa, mas
eu te expulsarei”. Minha caixa era o termo que se servia para designar o próprio
corpo. (...) Um dia, para livrar-se de sua adversária, tomou de uma faca e vibrou
contra si mesma, mas foi socorrida a tempo de evitar-se um acidente. Vemos, aí, a luta de
dois Espíritos pelo mesmo corpo. Este Espírito, Fredegunda, foi posteriormente
evocado em sessões mediúnicas e convertido ao bem. Mas, voltando aos Possessos
de Morzine, diz Kardec referindo-se ao perispírito:“Pela natureza fluídica e
expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir,
rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza. (...) Como se vê, isto é
inteiramente independente da faculdade mediúnica (...)” Estes últimos,
sobretudo (os possessos do tempo de Cristo), apresentam notável analogia com os
de Morzine. Na mesma revista e no mesmo ano, selecionamos e pinçamos, para
dimensionarmos a extensão daquela possessão coletiva: “Os primeiros casos da
epidemia de Morzine se declararam em março de 1857 (...) e em 1861 atingiram o
máximo de 120. (...). (...) o caráter dominante destes momentos terríveis é o ódio a Deus e a
tudo quanto a ele se refere”. 1864. Ainda sobre a possessão da Sra.
Júlia, refere-se Kardec na Revista Espírita,: “No artigo anterior (1863) descrevemos
a triste situação dessa moça e as circunstâncias que provavam uma verdadeira
possessão.” O grau de intensidade das possessões e sua reatividade a tentativa de
exorcização, vai bem descrita na Revista Espírita: “Desde que o bispo pisou em
terras de Morzine”, diz uma testemunha ocular, “sentindo que ele se aproximava,
os possessos foram tomados de convulsões as mais violentas; e (...) soltavam
gritos e urros, que nada tinham de humano. (...) As possessas, cerca de setenta, com um
único rapaz, juravam, rugiam, saltavam em todos os sentidos. (...) A última
resistiu a todos os esforços; vencido de fadiga e de emoção, ele (o bispo) teve
que renunciar a lhe impor as mãos; saiu da igreja trêmulo, desequilibrado, as
pernas cheias de contusões recebidas das possessas, enquanto estas se agitavam
sob suas benções”. (...) Encontramos no Evangelho segundo o Espiritismo a seguinte referência
sobre possessão e reforma íntima: “(...) para isentá-lo da obsessão, é
preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado
trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para se
livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz
indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque
aí não raro o paciente perde a vontade e o livre arbítrio”. No mesmo livro, há
considerações sobre as causas da possessão: “O Espírito mau espera que o outro, a
quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e assim, menos livre, para mais
facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras
afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo
dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão.” 1867. Ainda na Revista
Espírita encontramos informações de como é esta perda do livre arbítrio e como
impedi-la: “Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o
aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer
sobre esta questão porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças
vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado,
dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado,
como foi possível constatar em muitas ocasiões. (...) Procedeis em relação
aos Espíritos obsessores ou inferiores que desejais moralizar (...) algumas
vezes conscientemente, quando estabeleceis, em torno deles uma toalha fluídica,
que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força
moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessênciada”. 1868. Em “A Gênese”, Kardec
disserta sobre domicílio espiritual, típico caso de coabitação, ou como agora
quer Hermínio Miranda, “condomínio espiritual, com síndico e convenção”. “Na possessão, em vez
de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao
Espírito encarnado, tomando-lhe o corpo por domicílio, sem que este, no
entanto, seja abandonado por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte.
A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um
Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado,
pela razão que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no
momento da concepção. De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito serve-se dele como
se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus
braços conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante,
em que o Espírito encarnado fala transmitindo pensamento de um desencarnado; no
caso da possessão é mesmo o último que fala e obra (...)” “Na obsessão há
sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom
que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo
de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a
outro encarnado”. “Quando é mau o Espírito possessor, (...) ele não toma
moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o (...)” Seguindo ainda, no
mesmo livro: “Parece que ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os
obsidiados e os possessos (...) Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido
aquele país e causado uma epidemia de possessões”. Com as curas, as libertações
do possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus.(...) “Se eu expulso
os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós.” (São
Mateus 12, 22-23). Deduzimos com base no exposto que, para que exista possessão, é preciso
que o Espírito obsessor identifique-se com o Espírito encarnado; aquele atinge
o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o
magnetiza; o aniquilamento do livre arbítrio parece ser completo, porque a ação
aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o
Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas
cujo pensamento jamais é aniquilado, pois o encarnado é que atua conforme quer,
sobre a matéria de que se acha revestido e portanto aquela dominação não se
efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer
por desejá-la; em vez de agir exteriormente ao Espírito encarnado, toma-lhe o
corpo por domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado por seu dono,
pois isso só se pode dar pela morte, por isso, a possessão é sempre momentânea,
temporária e intermitente. Para se libertar da possessão, é preciso fortificar
a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe para sua própria
melhoria, estabelecendo em torno de si uma toalha fluídica, que eles não possam
penetrar sem sua permissão, agindo sobre eles pela força moral, por uma ação
magnética quintessenciada. Na possessão isto só é possível, com a ajuda
indispensável de terceiros. Portanto, respondendo às indagações iniciais deste
trabalho, podemos dizer que Kardec analisou todas as facetas e prismas da
possessão e concluiu que existe possessão e também coabitação. Uma obra, como a da
Codificação Espírita, é indivisível e portanto deve ser analisada como um todo,
jamais devendo ser fragmentada ou dividida, na análise de seu conteúdo; existem
vários temas, nas obras básicas (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O
Evangelho segundo O Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno) e na Revista
Espírita, em que as verdades foram estudadas à luz dos conhecimentos adquiridos
no dia-a-dia e suas opiniões, às vezes alteradas, sem que correspondessem a uma
mudança de ideia, mas, sim, a uma evolução de verdade em verdade, degrau a
degrau na escada ascensional do conhecimento, como convém a um cientista sábio,
astuto, inteligente, honesto e, antes de tudo, humilde, coisa rara, aliás. A fé raciocinada sob
a égide desta humildade, aconselhada e praticada pelo mestre lionês, levou-o à
busca incessante da verdade, que sempre caracterizou suas ações, a correta
elucidação conceptual de possessão, incitando-nos também a libertarmo-nos de
duas outras, a dos dogmas e a do fanatismo. Tenhamos igual têmpera e nos deixemos
contaminar pela sua lição e pelo seu exemplo; a lição inclina, o exemplo
arrasta. www.oconsolador.com.br.
Abraço. Davi
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