Texto de Ayya Khema
(1923-1997). Guerra e paz são a saga épica da humanidade. Elas representam tudo
que os nossos livros de história contêm porque são aquilo que está contido nos
nossos corações. Se você alguma vez leu Dom
Quixote, de Miguel de Cervante (1547-1616) irá se lembrar que ele lutava contra
moinhos de vento. Todos estamos fazendo exatamente o mesmo, lutando contra
moinhos de vento. Dom Quixote, que foi a invenção da imaginação de um escritor,
era um homem que acreditava ser um grande guerreiro. Ele pensava que cada
moinho de vento que encontrava era um inimigo e começava a guerrear contra ele.
É exatamente isso que fazemos no íntimo dos nossos próprios corações e é por
essa razão que essa estória tem um apelo imortal. É uma estória sobre nós mesmos.
Escritores e poetas que sobreviveram além da sua própria era, sempre relataram
aos seres humanos estórias sobre eles mesmos. A maioria das pessoas não querem
ouvir porque não ajuda nada quando outras pessoas nos dizem o que existe de
errado conosco, e pouquíssimos se dão ao trabalho de ouvir. Cada um tem que
descobrir por si mesmo e a maioria das pessoas não quer fazer isso tampouco. O
que realmente significa guerrear contra moinhos de vento? Significa lutar
contra tudo que não seja importante ou real, ou seja, só inimigos e batalhas
imaginárias. Temas bem insignificantes que convertemos em algo sólido e
formidável nas nossas mentes. Podemos dizer: "Eu não posso tolerar
isso" e assim começamos a lutar, ou "Eu não gosto dele" e uma batalha
se desencadeia, ou "Eu me sinto tão infeliz" e a guerra interior
irrompe com furiosidade. Nós nem sabemos direito porque estamos tão infelizes.
O tempo, a comida, as pessoas, o trabalho, o lazer, o país, qualquer coisa em
geral serve como razão. Porque isso acontece conosco? Por que resistimos à
ideia de soltarmo-nos verdadeiramente das coisas e tornarmo-nos aquilo que
realmente somos, isto é, nada. Ninguém quer ser nada. Todos querem ser alguma
coisa ou alguém, mesmo que seja apenas um Dom Quixote lutando contra moinhos de
vento. Ou ainda, alguém que sabe e age, e que irá se tornar alguma outra coisa,
alguém que possui certos atributos, concepções, opiniões e idéias. Mesmo as
idéias claramente equivocadas são agarradas com firmeza, porque elas fazem com
que o "eu" tenha mais solidez. Parece negativo e depressivo ser
ninguém e não ter nada. Temos que descobrir por nós mesmos que essa é a
sensação mais regozijadora e libertadora que podemos ter. Mas porque tememos
que moinhos de vento possam nos atacar, não nos queremos soltar das nossas
ideias. Porque não podemos ter paz no mundo? Porque ninguém quer se desarmar.
Nenhum país quer assinar um acordo de desarmamento, o que todos nós lamentamos.
Mas alguma vez olhamos para ver se nós mesmos na verdade nos desarmamos? Se nós
mesmos não fizemos isso, porque nos surpreendermos com o fato de que ninguém
mais está preparado para fazer isso também? Ninguém quer ser o primeiro a não
ter armas; os outros poderão vencer. Isso realmente importa? Se não houver
ninguém que possa ser conquistado? Como pode existir uma vitória sobre ninguém?
Deixe que aqueles que lutam vençam todas as guerras, tudo que importa é ter paz
no próprio coração. Enquanto resistirmos e rejeitarmos e continuarmos a buscar
todo tipo de desculpas racionais para continuar a agir dessa forma, haverá
guerras. A guerra se manifesta no exterior através da violência, agressão e
morte. Mas como ela se revela internamente? Nós temos um arsenal dentro de nós,
não de armas e bombas nucleares, mas que possui o mesmo efeito. E quem se fere
é sempre aquele que está atirando, isto é, nós mesmos. Algumas vezes alguma
outra pessoa se posiciona dentro da linha de tiro e se ela não for cuidadosa
também será ferida. Esse é um acidente deplorável. As principais explosões são
as bombas que explodem no próprio coração. A área de desastre é onde elas são
detonadas. O arsenal que carregamos conosco consiste na nossa má vontade e
raiva, nossos desejos e cobiças. O único critério é que não nos sentimos em paz
interiormente. Não precisamos acreditar em nada, só necessitamos verificar se
há paz e alegria no nosso coração. Se estiverem ausentes, a maioria das pessoas
tentará encontrá-las fora de si mesmas. Assim é como todas as guerras começam.
Sempre a culpa é do outro país, e se não houver ninguém em quem colocar a
culpa, então a justificativa é a necessidade de mais território para expansão,
maior soberania territorial. Em termos pessoais, a pessoa precisa de mais
diversão, mais prazer, mais conforto, mais distrações para a mente. Se ela não
puder encontrar ninguém mais para culpar pela própria falta de paz, então a
pessoa crê que essa é uma necessidade não satisfeita. Quem é essa pessoa que
precisa ter mais? Uma invenção da nossa imaginação, lutando contra moinhos de
vento. Esse "mais" nunca tem fim. A pessoa poderá ir de país em país,
de pessoa em pessoa. Existem bilhões de pessoas neste planeta; é muito
improvável que queiramos ver cada uma delas, ou mesmo a centésima parte, uma
vida inteira não seria suficiente para isso. Podemos escolher vinte ou trinta
pessoas e ir de uma para outra e depois regressar, mudando de uma atividade
para outra, de uma ideia para outra. Estamos lutando contra o nosso próprio Dukkha e não queremos aceitar que os moinhos
de vento no nosso coração são gerados por nós mesmos. Acreditamos que alguém
colocou-os ali contra nós, e se nos movermos iremos escapar deles. Poucas
pessoas, por fim, chegam à conclusão de que esses moinhos de vento são
imaginários, que é possível removê-los não lhes concedendo força e importância.
Que podemos abrir os nossos corações sem temor e de forma gentil, gradual e
abandonar as nossas noções e opiniões preconcebidas, concepções e ideias,
repressões e respostas condicionadas. Quando tudo isso é removido, o que resta?
Um espaço amplo e aberto, que pode ser preenchido com qualquer coisa que se
queira. Se a pessoa tiver bom senso, irá preenchê-lo com amor, compaixão e
equanimidade. Então não haverá nada mais pelo que lutar. Só o que fica é a
felicidade e a paz, que não podem ser encontradas fora de nós mesmos. É
impossível tomar algo de fora e colocá-lo dentro de nós. Não dispomos de uma
abertura pela qual a paz possa entrar. Temos que começar no nosso íntimo e a
partir daí trabalhar para o exterior. A menos que isso se torne claro para nós,
estaremos sempre buscando uma nova cruzada. Imagine como era na época das
cruzadas! Haviam os nobres cavaleiros que gastavam a sua fortuna para se
equipar com as armas mais modernas e avançadas, equipando cavalos e seguidores,
e então partindo para levar a religião aos infiéis. Muitos morriam ao longo do
caminho devido às dificuldades e às batalhas, e aqueles que chegavam ao fim da
jornada, a Terra Santa, ainda assim não obtinham nenhum resultado, apenas mais
guerra. Ao analisarmos isso na atualidade, parece algo absolutamente tolo,
quase chegando ao ridículo. No entanto, fazemos o mesmo com as nossas vidas.
Se, por exemplo, tivéssemos escrito no nosso diário algo que nos tivesse
aborrecido há três ou quatro anos atrás e fôssemos ler aquilo agora, pareceria
bem absurdo. Não seríamos capazes de lembrar por que razão aquilo poderia ter
sido importante. Estamos constantemente engajados nessas tolices com coisas
menores e sem importância, e gastamos a nossa energia tentando solucioná-las de
forma a satisfazer o nosso ego. Não seria muito melhor esquecer essas formações
mentais e dar atenção àquilo que é realmente importante? Existe apenas uma
coisa que é importante para todos os seres e isso é um coração feliz e em paz.
Isso não pode ser comprado e nem é dado de graça. Ninguém é capaz de dar isso
para outrem e nem pode ser achado. Ramana Maharshi (1875-1950), um sábio do sul
da Índia, disse: "A paz e a felicidade não são nosso patrimônio de
nascença. Qualquer um que as tenha alcançado, assim o fez através do esforço
contínuo." Algumas pessoas têm a ideia de que a paz e a felicidade são
sinônimos de não fazer nada, não ter tarefas ou responsabilidades, não ter
cuidado com os outros. Isso é na verdade resultado de preguiça. Para conquistar
a paz e a felicidade é necessário esforço incansável com o próprio coração. Não
é possível alcançá-las através da proliferação, tentando obter mais, só
querendo menos. Mas tornando-nos cada vez mais vazios, até que reste apenas um
espaço vazio, amplo, para ser preenchido pela paz e a felicidade. Enquanto os
nossos corações estiverem repletos com gostos e desgostos, como poderão a paz e
a felicidade encontrar algum espaço? Uma pessoa pode encontrar paz dentro de si
mesma em qualquer situação, qualquer lugar, qualquer circunstância, mas só
através do esforço, não através da distração. O mundo oferece distrações e
contatos sensuais que são na maioria das vezes muito tentadores. Quanto mais
ação houver, mais distraída a mente ficará e menos teremos que observar o
próprio Dukkha. Quando há tempo e oportunidade para a
introspecção, descobrimos que a realidade interior é distinta daquilo que
tínhamos imaginado. Muitas pessoas desviam o olhar com rapidez, elas não estão
interessadas nisso. Não é culpa de ninguém que Dukkha existe. A única cura é a renúncia. Na verdade
é bem simples, mas poucas pessoas creem nisso a ponto de colocá-la em prática.
Existe um conhecido símile da armadilha para macacos. O tipo que é usado na
Ásia é um funil de madeira com uma abertura estreita. Na extremidade mais ampla
se encontra um doce. O macaco, atraído pelo doce, enfia a pata através da
abertura estreita e agarra o doce. No momento de tirar a pata, ele não consegue
fazer com que o punho com o doce atravessem a abertura estreita. Ele fica assim
aprisionado e o caçador vem e o captura. O macaco não se dá conta que a única
coisa que precisa fazer para se libertar é soltar o doce. Assim é a nossa vida.
Uma armadilha, porque queremos uma vida doce e agradável. Como não somos
capazes de renunciar, ficamos aprisionados no ciclo contínuo de felicidade e
infelicidade, sobe e desce, esperança e desespero. Ao invés de tentarmos por
nós mesmos, para ver se podemos nos soltar e ser livres, resistimos e
rejeitamos essa ideia. No entanto, todos estamos de acordo que aquilo que
realmente importa é a paz e a felicidade, que só podem existir numa mente e
coração livres. Existe uma estória encantadora de Nazrudin, um Mestre Sufi, que
tinha um talento especial para contar estórias absurdas. Certo dia, diz a
estória, ele enviou um dos seus discípulos ao mercado e pediu que lhe comprasse
uma saco de chiles (espécie de pimentão). O discípulo fez como lhe havia sido
pedido e trouxe o saco para Nazrudin, que começou a comer os chiles, um após o
outro. Em pouco tempo a sua face ficou vermelha, o nariz começou a escorrer, os
olhos começaram a lacrimejar e ele estava engasgando. O discípulo observou isso
durante algum tempo cheio de temor e depois disse: "Senhor, a sua face
está ficando vermelha, os seus olhos estão lacrimejando e você está engasgando.
Porque você não para de comer esses chiles?" Nazrudin respondeu:
"Estou esperando encontrar um que seja doce." A ajuda pedagógica dos
chiles! Nós, também, estamos esperando por algo, algum lugar que vá criar para
nós a paz e a felicidade. Nesse meio tempo, não existe nada além de Dukkha, os olhos estão lacrimejando, o nariz
está escorrendo, mas nós não paramos com as nossas próprias criações. Deve
haver no fundo do saco uma que seja doce! Não adianta pensar, ouvir ou ler a
respeito, a única forma efetiva é olhar para dentro do próprio coração e vê-lo
com compreensão. Quanto mais repleto estiver o coração de desejos e cobiças,
mais dura e difícil se tornará a vida. Porque lutar contra todos esses moinhos
de vento? Eles são construídos por nós mesmos, e nós mesmos podemos removê-los.
É uma experiência muito recompensadora investigar o que está criando confusão
no próprio coração e mente. Descobrir uma emoção após a outra, não para
criar-lhes desculpas e justificativas, mas para compreender que elas constituem
os campos de batalha do mundo, e começar a desmantelar as armas para que o
desarmamento se torne uma realidade. Budismo Theravada. http://www.nossacasa.net/shunya/.
Abraço. Davi.
sábado, 30 de maio de 2015
sexta-feira, 29 de maio de 2015
O Budismo e a Psicanálise.
Somos seres simbólicos (...). Seres de imaginação e
de identificação. Travamos uma luta conosco e com a vida diariamente. Luta
esta, vista e revista em nossas ansiedades, medos e lutos inexoráveis. Vivemos
no passado e no "por vir". Nunca estamos presentes no "aqui e
agora". A Psicanálise e algumas filosofias orientais, como o Budismo,
apresentam várias características singulares, mas também características
onipresentes e entrelaçadas entre si. Tanto a Psicanálise quanto o Budismo
postulam a "presença" no aqui e agora, de maneira a abraçar o acaso e
o novo, sem estar a todo tempo atravessado por "fantasmas" do
inconsciente e por ilimitadas lembranças do passado, e nem na expectativa de um
futuro criado a todo o momento em nossas mentes ávidas (ganância, impaciência).
O Budismo fala muito no conceito de "Vazio". O que é o
"Vazio"? Vazio é a presença pura, incondicional e nua da consciência
humana. É o estar vivo. É este Vazio que possibilita o "Tudo". Muito
diferente do niilismo, que trata da perda de sentido para a vida. Este
"estar vivo", esta presença pura e constante, que sempre esteve
conosco, mas que de alguma forma nos esquecemos e nos distanciamos, é a
presença que nos faz criar, dar sentido ao mundo, nos identificarmos com o
mundo, as pessoas, com as coisas, e criarmos conceitos. Vemos o mundo através de "Filtros".
Filtros de percepção. Tanto a Psicanálise, como a Meditação, as religiões e
filosofias transcendentes, como o Budismo, tratam de alterar esses filtros,
proporcionando uma renovação constante deles, ou eliminação de muitos deles,
descatarsezando (purificando) as fixações de nossas mentes, e trazendo a
possibilidade de estar no mundo de forma mais relaxada, compassiva e integrada.
Apesar disso, o homem sempre será um criador de conceitos, basicamente um ser
desejante; se não quer desejar algo, ou não deseja algo, deseja a ideia de não
desejar. A Psicanálise vem ocupar um canal de nominar ou dar sentido ao Vazio,
através de seus próprios conceitos. Já o caminho do budismo consiste em
justamente se liberar dos conceitos, e apenas sentir; é ver a vida a partir de
outro nível, que ultrapassa a dualidade Inconsciente Consciente, Ego Não Ego,
Coração Mente, Racional Intuitivo, e outras, mostrando-nos a prática do
"Percebimento". O que o Princípio de Prazer nos diz? Diz que, após um
acúmulo de tensão, nos liberamos dessa tensão através do prazer. Budha disse
que o nascimento é sofrimento, envelhecimento e doença são sofrimento, e morte
é sofrimento. Mas, ao mesmo tempo, Budha ensinou que existe uma causa para o
sofrimento, existe um fim para o sofrimento e existe um caminho de prática que
dá fim ao sofrimento. No Budismo toda felicidade ou prazer atingido na vida
nada mais é que uma diminuição do sofrimento, mas que é totalmente fugaz e
impermanente, sendo o objetivo de dar fim ao sofrimento o verdadeiro objetivo
da vida, que é atingido quando chegamos ao "Nirvana", libertação
espiritual ou Iluminação. Então podemos ver que Sigmund Freud (1856-1939) e
Budha não estavam tão longe em termos de se entender a penúria do homem e as
vicissitudes de seus desejos, prazeres e satisfações. Libertação nada mais é
que a libertação das emoções negativas. Essa tensão que está enraizada em todos
nós nada mais é que a "agressividade" acumulada, e não direcionada
para fins positivos. Será que não podemos relacionar isso à chamada
"Pulsão de morte", descrita por Freud? Procuramos resgatar um
"estado anterior de coisas". Como diz Freud em "Além do
Princípio do Prazer": "o objetivo de toda vida é a morte", é o
desejo de voltar a ser uma substância inanimada, inorgânica. Freud diz também:
"Em última instância, o que deixou sua marca sobre o desenvolvimento dos
organismos deve ter sido a história da Terra em que vivemos e de sua relação
com o Sol". Isso mostra o que Freud nos quer dizer, ou o que podemos
interpretar do que ele disse, que seria o fato de o Sol impor uma
"energia", energia essa que criou e desenvolveu a vida. Essa energia
podia ser descrita como uma "carga". Uma carga que todos nós
procuramos despejar, nos aliviar o tempo todo em nossas vidas. E pode ser
liberado através justamente do prazer. Esta "carga" pode tanto
compreender essa energia primeva, na qual devemos nos livrar, mas também pode
compreender toda a teia organizada em nossa mente, principalmente no inconsciente,
que traz todos os traumas conscientes e inconscientes das relações com nossos
pais, familiares, amigos, "inimigos" (...), ou seja, todas as
fantasmagorias neuróticas existentes essas mentes. Se levarmos em conta esse
conceito de "carga", fica uma proximidade muito grande com aquilo que
atendemos pelo nome de "Karma". O karma espiritual nada mais é que
uma lei de causa e efeito. Esse karma está embutido em nós de tal forma que não
tem uma limitação que podemos descrever racionalmente. É uma causa efeito, mas
não tão aparente quanto possa parecer. Uma relação que pode ser vista e revista
e comparada à Psicanálise é a compulsão à repetição. Na compulsão à repetição
todos os nossos comportamentos condicionados entram em jogo, que aparece na
gente como se fosse uma trilha inconsciente neuronal, que sempre refaz o mesmo
caminho e não deixa espaço para a criatividade e espontaneidade. E uma forma de
transformação psíquica disso só pode ser viabilizada por via do Outro, e se
"destituindo" de si próprio ou da preocupação excessiva com o próprio
Ego ou a auto imagem. O instinto de Eros nos diz que buscamos sempre esta tal
de transcendência com o Outro. Procuramos nos ligar ao outro, às pessoas. São
os chamados instintos de vida em contrapartida aos instintos de morte ou pulsão
de morte. Eis que surge o amor no meio disso tudo , que é o que nos gera e que
dá vazão aos nossos sentimentos. O amor respira a vida. Muitos dizem, em
relação ao desejo, que a nossa "carne é fraca", mas se vermos a
realidade profunda do amor e do desejo, podemos dizer que a inscrição do desejo
se encontra na alma, e não na carne. O amor é a forma de encontramos uma certa
fusionalidade (mistura) com o outro, uma volta à sensibilidade infantil do amor
glorioso e oceânico, que um dia pairou por nós como completude. O amor é a via
justamente também da saída da repetição de comportamentos e de certas
identidades ao que costumamos chamar de "Eu". Através do amparo e
desamparo encontrados na relação amorosa se articula uma série de encontros e
desencontros com o outro e consigo mesmo. Como articular uma nova forma de
desamparo? Pode haver um descompasso que se trava entre o Sujeito e a sua
procura de amparo no amor. A criança, no seu amparo materno, seja no campo
intrauterino ou na relação com a mãe não tem absoluta consciência disso, mas
essa relação, e respectivas consequências psíquicas advindas dela, comandam e
dão princípio a todo o "vir a ser" da pessoa. No amor, há uma procura
de fechar esse buraco do desamparo, um chamado "prazer negativo". Negativo,
pois procura reparar uma perda. Isso já é um aspecto muito clássico do ponto de
vista psicanalítico, mas a questão fundamental em que devemos nos remeter é:
Será que existe um ponto onde pode haver uma passagem? Uma espécie de
transcendência disso tudo no próprio amor? Existe um mais além no amor? A
consciência da experiência no mundo "adulto" é mais absoluta em
relação à da criança. Consciência, que se diga aqui, é a plena consciência
racional e emocional desse chamado "amor". Wilfred Bion (1897-1979)
diz no seu livro "Transformações", que por definição, o termo
"consciente" relaciona-se a estados dentro da personalidade:
consciência de uma realidade externa é secundária à consciência de uma
realidade psíquica interna. Ele ainda diz: "Realmente, consciência de uma
realidade externa depende da capacidade da pessoa tolerar ser lembrada de uma
realidade interna". Consciência do afeto, do sentimento, das sensações
vividas no próprio corpo, e do corpo em contato com o outro. Isso,
absolutamente, está longe da expectativa de fusionalidade (mistura). Mas o que
de bom pode despertar disso, o que de fato não está ligado nem envolvido com a
"agressividade" humana, pode-se dizer que pode haver até uma
"agregação" de valor interno e até espiritual muito maior do que pode
ter acontecido durante o período da relação mãe bebê. Tal possibilidade de
pequena transcendência cotidiana reside no fato da experiência ser um fato
consciente, onde existe uma consciência reinante sendo vivida na inter-relação
entre duas pessoas. Isso não poderia ser muito mais forte e "real" do
que a não lembrada vivência narcísica com a mãe? Vivência essa enlutada e
distante (...). Distante do possível prazer presente, prazer esse visível e até
positivo, transcendendo a simples cauterização (queimar) do desamparo. Fato
este, consciente, dissociando-se da ideia de inconsciente e pré-consciente. Há
uma incredulidade; um descrédito dos mais desavisados. Achamos que realmente
fomos expulsos do paraíso sem ao menos nunca "realmente" termos
estado lá? Enquanto o amor nos chama, o que também clama por nós é a Compaixão.
Aliás, o que é compaixão? É entender no outro essa grande falta que nos corrói
e constrói. Essa falta que nos move, mas que pode ser compreendida no outro,
também. O Outro não é algo que corrupta sua mente. O outro deve ser visto como
alguém tão "castrado" (privado total ou parcialmente) quanto você
mesmo. No Budismo há a clara intenção de na busca pela transcendência, mostrar
que ela pode ser realizada via solidão meditativa. A meditação como
investigação e redenção de si mesmo é positiva. Mas isso não tira a necessidade
de se estar com o outro, aprender com o outro. A meditação pode transformar
toda essa "carga" ou esse karma? O Dharma é o resultado e forma
singela dessa transformação. O conceito de Dharma é se doar aos outros, ter
compaixão pelas dificuldades dos outros (inconscientes, fantasiosas e reais), e
pelo sentimento e sofrimento dos outros. O Dharma é enxergar o lado positivo da
vida, res significar, mas não de uma maneira feita por uma tentativa imposta
pelo consciente, e sim de uma maneira verdadeira e real, de uma mente já
transformada, acolher o outro em sua essência, em seu chamado. Não é gostar da
personalidade do outro, mas é compreender incondicionalmente a vida que está fluindo
por detrás de todas as máscaras e percepções não reais dos outros, e acolher o
outro psiquicamente. Nossa consciência é como um campo. Um campo onde são
plantadas várias coisas durante a vida. E tudo o que acontece de bom ou de ruim
gera marcas nesse campo da consciência. E a Psicanálise, onde entra nisso tudo?
Em tudo, praticamente (...). O Saber da Psicanálise consiste em ir além do
Princípio da Causalidade. Então, de que forma essa causalidade se dá em nós?
Essa causalidade é atemporal; é uma causalidade de transferência, de
posterioridade, associativa, paradoxal, e do acaso, isto é, não se limita a um
objeto que pode ser catalogado, digerido, e demonstrado por x + y = z. Nesse
jogo de energias estão os instintos de vida e morte. As representações
psíquicas são limitadas para dar conta do nível de energia da pulsão de morte.
A Pulsão de Morte tenta desfazer as ligações psíquicas. E é característica e
tarefa de nossa instância psíquica, nosso "Eu", nunca se satisfazer,
justamente para dar conta desta "energia". Isso o Budismo fala
claramente, de que não há satisfação mundana. O homem procura a todo o momento
a realização, a satisfação, mas logo que há uma certa satisfação, já é
necessário outro desejo para cumprir com a tarefa de ser feliz. Ser feliz
parece ser sempre uma tarefa a ser cumprida, e nunca apenas "Ser" é o
bastante, nunca apenas estar "aqui e agora", com a mente clara e
vívida, sem desejos, podendo permanecer "aqui" em um estado de pleno
contentamento. http://www.saindodamatrix.com.br.
Abraço. Davi.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Budha e o Conceito de Verdade;
“Discípulo: Cada pregador, ao expor seu tema
predileto, costuma afirmar, que se aderirmos firmemente ao exposto, seremos
salvos, se o rejeitarmos, seremos perdidos e condenados. Disputam os pregadores
entre si, chamando-se uns aos outros de "ignorantes" e até mesmo de
idiotas. Quem nos há de apontar qual deles seja o certo? Não é possível que
todos sejam autoridades conforme alegam. Budha: Se pelo simples fato de
discordar de outro, alguém é qualificado de "idiota", nesse caso
todas as "autoridades", cheias de teorias, seriam idiotas. Se cada
teoria revelasse a verdade e qualificasse o seu expositor como
"autoridade", então todos eles seriam autoridades. Não espereis ouvir
a verdade daquele que chama os outros de "idiota". Cada um considera
a sua própria opinião como "verdadeira" e quem quer que dela discorde
é, então, chamado de tolo. Discípulo: O que um deles classifica como
"verdade" diz um outro ser "falso", e assim por diante.
Como pode ser que estejam sempre a discordar e por que razão não dizem todos eles
a mesma coisa? Budha: A verdade é uma só, e por esse motivo, os sábios nada têm
que debater. Mas como cada um desses disputantes tem a sua versão pessoal da
verdade, as suas contendas são intermináveis. Discípulo: Mas como pode ser que
cada uma destas autoridades considere a sua versão pessoal como sendo a própria
verdade? Poderá se confiar, nesse caso, que a verdade por ele anunciada tenha
realmente sido a verdade? Ou será que inventam, pura e simplesmente, suas
teorias? Budha: Não existe verdade alguma além da que é fornecida pela
percepção sensorial. No exato momento em que te aferras ao conceito de que algo
é "verdadeiro", surge o atrito, porque o conceito oposto terá, então,
que ser rotulado de falso. Aquele que se deixa iludir pelo que se vê e pelo que
ouve, pela virtude, por suas vitórias e sucessos fixa-se em suas ideias e
critica os demais. Ao criticar os outros seu egoísmo se expande, e por se
considerar autoridade sem prender-se à crítica, torna-se cada vez mais
exagerado. É aí, então, que num transbordamento de auto conceito que de si mesmo
faz, vangloria-se de ser "um sábio" e acredita serem os seus
conceitos irrefutáveis. Se alguém o chama de confuso, logo replica
"confuso é você", embora cada qual, a seu tempo, se considere um
"sábio". De cada autoridade, se há de ouvir, a afirmação de que
aqueles que seguem uma filosofia diferente da sua não conseguirão jamais
atingir a pureza e a perfeição. "Meu método é infalível. É o único que
conduz à perfeição". Alardeiam em autopromoção todos esses pseudo sábios.
Tais comentários os expõem a ataques por parte das outras autoridade, e
consequentemente, há cada vez mais disputas. Desta forma, essas pessoas (cada
qual ancorada a sua teoria predileta) prosseguem em suas altercações a vida
toda. Abstraí- vos, portanto, de toda e qualquer teorização, com suas
inevitáveis disputas. Discípulo: Será que esses dogmatizadores, que afirmam
ensinar a única verdade, o que fazem é só acarretar para si a censura, ou será
que por vezes eles também mereçam louvores? Budha: O pouco louvor, que
porventura consigam é insignificante e não lhes confere paz. Não é com disputas
que se atinge a meta. O sábio não dá crédito às teorias passageiras. Por que
iria ele se prender? Ele já transcendeu, já ultrapassou a fase de acreditar em
tudo o que vê e que ouve. Alguns sábios há que sustentam ser a meta atingível
pela prática da virtude e pela execução de
atos meritórios. Ao afirmarem "ser este o caminho",
intitulam-se como único mestre. Alguns se tornam obcecados pela importância dos
princípios, e se porventura chegam a transgredir uma só regra, por mais
insignificante que seja, amofinam-se (aborrecimento), e se preocupam como
alguém que houvesse perdido a caravana. Assim sendo, não vos agarreis a código
algum que distribua méritos e deméritos, mas sim, ficai independentes. Alguns
fazem penosas penitências, outros confiam no que vêm e no que ouvem falar da
conquista da pureza nesta vida, e, no entanto, desejam ainda conseguir um
renascimento feliz. O desejo acarreta mais desejo. O medo mais medo ainda.
Aquele, porém, que não nutre mais o desejo de viver, seja agora ou em outras
vidas, não mais teme a morte, nem o renascimento. Discípulo: A filosofia que
alguns rotulam de mais elevada, outros consideram desprovida de valor. Todos,
porém, consideram-se autoridades. Com qual deles está a razão e a verdade?
Budha: É só a sua própria filosofia que cada qual considera como a mais
elevada, ao passo que aos demais métodos não empresta valor algum. Deste modo é
que surgem as disputas. Se o mero criticar destitui os conceitos filosóficos de
qualquer valor, então, todas as suas filosofias não tem valor algum, pois todos
vivem a criticar conceitos alheios. Extravagantes se mostram na prática de sua
própria filosofia, tal como quando a expõem, porém, todos os seus conceitos
levam à mesma coisa. O verdadeiro brâmane, contudo, não copia os demais, tendo
transcendido o hábito de disputar, a nenhuma filosofia em particular chama ele
de "melhor". Afirmam alguns devotadamente: "A verdade é assim e
assim. Eu sei! Eu vejo!". E sustentam que tudo depende de se ter a
religião correta. Se, porém, eles realmente "soubessem", não teriam
necessidade de religião alguma. O homem vê como nome e forma, mas dizem os
sábios, por pouco ou muito que consiga ver, não verá a pureza. Nenhum filósofo
querelante (discussão, disputa) poderá alcançar a pureza por meio de sua
doutrina pessoal, ele segue uma luz que ele próprio fabricou, por ele
autoprojetada, e daí fala que a "vê". O verdadeiro brâmane está além
do tempo, não se baseia em conceito algum, nem se submete a qualquer seita
(movimento filosófico ou religioso), compreende todas as teorias correntes,
mantendo-se, porém, desapegado de qualquer delas. Liberto dos laços do mundo,
embora viva ainda no mundo, o sábio segue, tranquilamente, o seu caminho, livre
das seitas, em meio aos sectários, livre de agitações, em meio aos agitados,
admitindo o que o mundo comete. Tendo transcendido, por compreensão, suas
antigas imperfeições, sem adquirir outras novas pela correta vigilância, tendo
abandonado o desejo e se libertado de dogmas, e não se deixando mais
influenciar por opiniões filosóficas, segue ele seu próprio caminho, sem se
deixar impressionar pelo mundo, não se entregando jamais à censura (crítica,
condenação). Liberto de todos os conceitos baseados nas coisas vistas e
ouvidas, aliviado, pois, de sua carga, não mais está o sábio tranquilo sujeito
ao tempo, transcendendo tanto o desejo, quanto a abstinência (ação de privar-se
de determinada coisa)”. Retirado do Tripitaka, o livro sagrado do budismo na
língua pali, uma língua hindu. Tripitaka significa três cestas, numa referência
às três partes do livro o Vinaya, com as regras de conduta, o Sutta, que reúne
os discursos do Budha, e o Abhidhamma, que é
mais filosófico. A história desse livro sagrado e do Budismo remonta à
trajetória de Sidharta Gauthama (560 AC 480), que abandonou uma vida de fortuna
para buscar a sabedoria. Depois de meditar e refletir em contemplação, ele
concluiu que o sofrimento era causado pelos desejos que atormentavam a mente
dos homens, como a corrupção, o ódio e a ilusão. Para Sidharta, se o homem
aniquilasse esses desejos, atingiria o Nirvana, um estado de paz longe de todo
o sofrimento. Por causa dessa descoberta, ele tornou-se o Budha, que em
sânscrito significa o Iluminado. Ao longo de sua vida, os 84 mil ensinamentos
de Budha foram transformados em Sutras, espécie de regras para a vida
cotidiana. São elas que compõem o Tripitaka, diz o lama Padma Norbu (1948- ), do templo Odsai Ling, em São Paulo, Brasil. http://www.oiluminador.blogspot.com.br.
Abraço. Davi.
terça-feira, 26 de maio de 2015
Suposta Denuncia Contra Extremistas Budistas.
É
impressionante como alguns segmentos da mídia, que consideramos cristãos,
continuam mantendo ferramentas de dominação, medo, interesses escusos e
mentiras infundadas para fomentar a discórdia, indiferença, discriminação e
menosprezo à outras religiões e tradições espiritualistas. Muitas dessas,
claramente, percebidas como instrumentos de união e sintonia dos povos, pois se
mantêm pelo zelo do amor ao próximo, compreensão dos desiguais, diálogo com as
ideologias contrárias e abertura à harmonia e fraternidade humana. Um exemplo
evidente é o budismo, que os leitores do Mosaico têm apreciado. A
"notícia" a seguir é totalmente improcedente e falsa. Um boato
pernicioso e com interesses políticos, semeando a discórdia e animosidade entre
as tradições religiosas, razão pela qual, senti-me compelido a fazer alguns
comentário sobre o assunto. Fico estarrecido por perceber que pessoas que
pregam o evangelho do Christo encarnado, sejam capazes de fomentar tal
pensamento de beligerância e intolerância em relação ao seu próximo. Pois
confiando em boatos, inverossímeis, caem na armadilha de nossos corações malignos
e tendenciosos, (Jeremias 17:9 "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso: quem o conhecerá?") à prejudicar aqueles que procuram por meio de boas obras,
virtudes, méritos e voluntariado, baseado na compaixão por todos os seres
humanos e não humanos alcançar a iluminação e libertação total do ciclo do
Samsara. Condescendemo-nos com aqueles, que por falta de perspicácia e
interesse de averiguar a verdade, foram ludibriados por essa balela, mexerico,
crendo que seus corações são puros, mesmo numa condição de engano
explicitamente já certificado. Assim, feita essa introdução exponho o texto
dessa hipocrisia, como advertência a todos nós leitores do Mosaico, para
continuarmos inquirindo os assuntos abordados, seja aqui, ou em outros site ou
blogs, tendo o objetivo de que nossa busca da verdade, usando a pesquisa e a
investigação possam obter bom êxito, dentro de parâmetros sadios e verossímeis.
Aceitando os desiguais e sendo tolerantes com os diferentes, abrindo nosso
flanco esquerdo, onde está nosso coração, para experiência com o Divino,
percebendo, que nossa suposta verdade não passa de um fragmento de ideia, que
junto com outros pensamentos formam o arco íris da veracidade humana. Segue o
texto, e quando necessário farei observações pontuais, tentando trazer luz a
obscuridade e cegueira de alguns argumentos inconsistentes.
"Recebemos um pedido de oração da nossa irmã Nilza Siqueira datada de 19
de julho de 2012 redigido nos seguintes termos: “Orai pela Igreja na Índia.
Extremistas budistas na Índia incendiaram 20 igrejas na noite passada. Esta
noite querem destruir, mais 200 igrejas na província de Olisabang. Eles querem
matar 200 missionários, nas próximas 24 horas. Todos os cristãos estão
escondidos em aldeias… Ore por eles e envie esta mensagem a todos os cristãos
que você conhece. Peça a Deus para ter misericórdia de nossos irmãos e irmãs da
Índia.” Quando você receber esta mensagem, por favor, urgentemente enviá-lo
para outras pessoas. Orem por eles a nosso Senhor Todo Poderoso, vitorioso. atenciosamente,
Nilza Siqueira". Esse e mail na verdade segundo pesquisei, aqui no Brasil,
surgiu em 2008, talvez antes, sendo que o site evangélico, http://www.cacp.org.br., tendo o veiculado em
sua página de abertura, no dia 22/05, causando apreensão e indignação aqueles que o leem. Sua
procedência é temerária, e essa suposta irmã Nilza, parece um nome fictício
pois não está arrolada, nem se apresenta sob a tutela de nenhuma agência missionária
cristã. O e mail não vem assinado, por seu superior, nem tem certificação
oficial atestando a sua validade. Pelo que nos consta, não existe nenhum grupo
extremista budista na Índia, um termo inventado maldosamente para comparar essa
rica tradição espiritualista a movimentos radicais. Chega ao absurdo de dizer
que, serão mortos 200 missionários. O Budismo foi a única "religião",
segundo relatos nos Sutras e livros sagrados dessa tradição que em 2500 anos,
não derramou uma gota de sangue para converter pessoas, usando a prática do
proselitismo. Uma façanha incrivelmente feita pela graça divina, pois seus
monges, monjas, bikkus e lamas, das várias Escolas Budistas existentes, sempre
pensaram com compaixão e abnegação em relação a todos os seres humanos e não
humanos, mesmo os mais desprezíveis insetos, merecem a honra e respeito de
viverem e existirem. É corrente na maiorias das Escolas Budistas a filosofia de
que, em encarnações passadas fomos humanos, animal, inseto ou um vegetal
(planta, ou árvores). Os hindus desde os primórdios da pregação do Budha (565
AC 486) em suas planícies, foram receptivos aos ensinamentos do Iluminado.
Mesmo a casta superior dos Bramanes, sacerdotes, com seus favorecimentos e
privilégios em relação aos demais hindus, recebiam com respeito e apreciação os
ensinamentos do Budha Sakyamuni. Assim a sugestão da inimizade entre budistas e
hindus não tem sustentação, tanto que grande parte dos budistas tibetanos vivem
em solo da Índia. A suposta agressão aos cristãos e tentativa de mortes, não
tem base argumentativa, sendo uma falácia descabida, pois segundo muitas
agencias missionárias que mantém trabalhos de evangelização na Índia, o
relacionamento entre budistas e cristãos foi sempre amistoso e de
companheirismo, em alguns casos havendo cooperação entre ambos, comprovando a
falsidade da mensagem. A partir de agora teremos a intervenção do
pastor Natanael Rinaldi do mesmo site Ministério Apologético. 1. Pastor
Natanael como o irmão vê essa perseguição movida por budistas chamados de
extremistas contra nossos irmãos cristãos residentes na Índia?
"Francamente, estranhamos muito em tomar conhecimento dessas perseguições
partidas de budistas, porque sempre tivemos os budistas como um grupo religioso
ordeiro e incapaz de fazer o mal para seus semelhantes. Mas, vejo que estava
enganado no meu conceito para com eles". Pessoalmente reprovo a atitude do
pastor Natanael, pois não se certificando do hipotético e mail profere um
veredito, imprudente, sem conhecer a causa e a motivação da fictícia mensagem
recebida, criando dúvida e embaraço nos leitores do referido site, por sua
resposta apressada, superficial e sem argumentação plausível. Uma suspeita,
apenas, foi capaz de desviá-lo de seu nobre conceito sobre o Budismo. 2. Quem
foi o fundador do Budismo considerando que se trata de uma religião universal?
"O seu fundador foi Siddhartha Gautama. Ele nasceu na realeza na Índia
mais ou menos 600 anos antes de Cristo. Como a história conta, ele viveu e
cresceu de forma bastante luxuosa; chegou até mesmo a casar e ter filhos com
pouca exposição ao mundo externo. Seus pais queriam que ele fosse poupado da
influência à religião ou exposição a dor e sofrimento. No entanto, não demorou
muito para o seu abrigo ser “invadido” e ele viu rapidamente um homem idoso, um
homem doente e um cadáver. Sua quarta visão foi a de um monge sereno e asceta
(um que nega qualquer tipo de luxo e conforto). Ao ver sua serenidade, Budha
decidiu se tornar asceta também. Ele abandonou sua vida de riquezas e afluência
para ir atrás da iluminação através de austeridade. Ora, diante desse modo de
pensar e agir era de se esperar que sua religião jamais iria perseguir pessoas
de outro credo como é o cristianismo". Pastor Natanael ao iniciar sua
resposta à segunda pergunta, infere implicitamente uma crítica a vida palaciana
do Budha, esquecendo ele, ou simplesmente querendo omitir, que vários
personagens bíblicos tiveram vidas abastadas e confortáveis quando nasceram,
sendo exemplos desse fato Moisés, Salomão, Davi dentre outros. Aqui tentou
subliminarmos encaixar a vida do Christo como modelo de humildade desde seu
nascimento contrapondo-se ao Budha, mas seu argumento não procede pois não há
elementos para essa contextualização. Concluindo sua resposta o pastor
Natanael, equivocadamente sugere que os adeptos do Budismo estão perseguindo os
cristãos, algo divergente em relação a vida do Budha que abandonou a conforto
da riqueza, indo de encontro a austeridade, vivendo vida simples e com
privações físicas e espirituais à conseguir sua iluminação, entendendo o porque
do sofrimento humano. Mais uma vez, apesar de acertadamente comentar a vida do
Budha, seus argumentos não condizem com o absurdo desfecho resultando na
resposta, pois forçosamente finaliza "advogando" em causa própria,
sem provas concretas, quanto a acusação que ele faz insinuando, generalizando,
serem os budistas os responsáveis pela agressão aos cristãos.. 3. Ele adotou
algum tipo de filosofia para alcançar seus objetivos de encontrar a iluminação?
Sim ele descobriu o que ficou conhecido como as quatro nobres verdades:
Primeiro, viver é sofrer, Dukha. Segundo, sofrimento é causado pelo
desejo,Tanha ou “apego”. Terceiro uma pessoa pode eliminar sofrimento ao
eliminar todos os apegos e desejos, e quarto isso é alcançado ao seguir-se o
caminho das oito vias nobres. Esse caminho consiste de obter o entendimento
correto, o pensamento correto, a palavra correta, a ação correta, o modo
correto de existência, ser um monge (leigo ou monástico), o esforço
correto (direcionar as energias corretamente), a atenção correta (meditação) e
a concentração correta (foco).” É isto que estamos observando nesses budistas
perseguidores dos cristãos. Extremistas budistas na Índia incendiaram 20
igrejas na noite passada. Esta noite (data da notícia recebida) querem
destruir, mais 200 igrejas na província de Olisabang. Eles querem matar 200
missionários, nas próximas 24 horas". Pastor Natanael conhece a doutrina
exotérica do Budismo, tanto que cita alguns dos processos pelos quais o Budha
alcançou a iluminação como as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Octúplo. Mas
infelizmente usa seu argumento de forma intransigente e casuísta, pois
rotulando os budistas, age parcialmente, quando os incrimina a fatos
inverídicos e sem comprovação factível. Assim incorrendo em erro premeditado,
levando outros a formarem opiniões inverossímeis e comprometedoras de fatos
inexistentes, sendo uma situação que deixa margem a ser levada a consequências
últimas como um fórum judicial; caracterizando-se como calúnia, sua fala, que
deve possivelmente ser investigada. Um importante detalhe nessa pergunta é que
a província citada não existe, pois a Índia não tem província. O fictício nome
Olisabang foi inventado não fazendo parte de nenhum registro hindu, mostrando
um dos lados da grosseira farsa montada. A Índia, na verdade, é composta de 28
estados e 7 regiões, sendo 6 da União e uma da capital Nova Deli; e suas
milhares de cidades. 4. Mas o que os budistas estão fazendo é totalmente
contrário ao Caminho das Oito Vias Nobres. O que diz o irmão? "Que tais
budistas não passam de hipócritas religiosos como disse Jesus acerca dos
líderes religiosos judaicos que atavam fardos pesados sobre os ombros dos
outros e se portavam como sepulcros caiados. Mateus 23:4, 14,17 4. "Pois
atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens;
eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; 14. "Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de
prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. 15."Ai de
vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para
fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas
vezes mais do que vós". 16. "Ai de vós, condutores cegos! pois que
dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro
do templo, esse é devedor". 17. "Insensatos e cegos! Pois qual é
maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro?". Sinto tristeza e
profundo pesar com o comportamento tomado pelo pastor Natanael, pois sem
argumentos plausível, toma emprestado as palavras da Escritura Cristã, como
pretexto, inadequadamente, para tentar sustentar uma posição contestável sem
lógica razoável, sendo totalmente refutável pelo raciocínio elementar. Seu dogmatismo
exclusivista, demonstra uma atitude de crendice e superstição em relação a
Bíblia, pois as palavras sagradas cristãs, até onde entendo, não se prestam a
justificar boatos e rumores que tem o objetivo de fomentar o ódio e inimizade
entre religiões. Em Mateus 22:36-40, as palavras do Mestre Jesus são bem claras
"Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a
este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem
toda a lei e os profetas". 5. Não é um paradoxo os budistas gozarem de
liberdade religiosa em países ocidentais como ocorre no Brasil, construindo
templos suntuosos em vários estados do país, e no seu país não oferecem a mesma
liberdade aos próprios patrícios? "Vamos atender ao pedido da nossa irmã
Nilza Siqueira e orar pela proteção de Deus para nossos irmãos cristãos na
Índia que essa perseguição descabida, que revela trevas na vida desses budistas
e que recebam a verdadeira luz que emana da pessoa de Jesus Cristo que
declarou: João 8:12 “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz
do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João,
por sua vez, concluiu seu evangelho com as palavras; João 20:30-31 Jesus, pois,
operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não
estão escritos neste livro. “31. Estes, porém, foram escritos para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome.” Diz ainda João, o apóstolo: João 1:9 “Ali estava a luz verdadeira, que
ilumina a todo o homem que vem ao mundo". A quinta pergunta endereçada ao
pastor Natanael é capciosa, pois tenta misturar a questão religiosa com a
política existe na China Nacionalista. Muitos de nós conhecemos a questão dos
direitos humanos na China bem como seu regime político. Não falaremos desse
assunto aqui, pois foge ao enfoque principal de nossa abordagem. Mas até onde
sei, em território chinês, nenhum templo budista foi saqueador ou destruído a
mando do governo central, nem monges ou monjas foram privados de viverem suas
vidas monásticas ou leigas professando sua milenar "religião". Existe
respeito à tradição espiritual do povo chinês, o budismo, em todos os âmbitos.
Também muitas igrejas cristãs, hoje estão realizando seus rituais e comunhão
espiritual, em solo chinês; bastando para isso serem autorizadas pelo governo e
se adequarem a algumas exigências colocadas pela administração. Há hoje entre
os chineses uma grande comunidade de cristãos que supera os 100 milhões de
fieis. Prova de que existe liberdade à prática desse religião e o bom
relacionamento entre os budistas e cristãos chineses. Exceção largamente
conhecida à questão tibetana, quando de sua discutível emancipação política,
questionada pelo governo central de Pequim. Os ensinamentos do Budha ao falarem
do social comunitário, moral e ética; não os vinculava a aspectos políticos e
ideológicos. Assim a tradição budistas procura se abster de questões que
envolvam características políticas ou conceitos pertinentes a esse assunto,
fazendo-se clara distinção entre espiritualidade e política. Já as religiões
ocidentais, catolicismo, islamismo e judaísmo, pensam diferentes, inclusive
muitos clérigos e prelados, pedem licença à suas ordens religiosas para
concorrerem a cargos públicos, pensamento desse tipo inexiste no budismo e
hinduísmo. Lembrando ao amigo que fez a pergunta ao pastor Natanael, que
insinua um ante chinêsismo que esse mês de maio de 2015, o governo da China
emprestou ao governo do Brasil, US$ 50 bilhões de dólares; a juros abaixo do
mercado internacional, sem garantia de fiança. Só para a quase falida Empresa
Petrobras, foram US$ 6 bilhões de dólares, além de outros milhares de dólares
para fomento em investimentos de intra estrutura, como ferrovia, estradas
federais, portos e a base brasileira na Antártida destruída por uma tempestade
de neve, será reconstruída com recursos do Banco de Desenvolvimento da China.
Não se entendem o porque do pastor persistir em seu argumento falacioso montado
sob uma farsa, embuste. 6. A iluminação que Budha buscava no sentido de saber
qual a razão do sofrimento humano ele não poderia tê-la encontrado lendo a
Bíblia? Sim. Se tivesse um exemplar do livro de Romanos teria encontrado
no capítulo 5.12 estas palavras iluminadoras: “Portanto, como por um homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a
todos os homens por isso que todos pecaram.” Aí está a razão do sofrimento
humano: a entrada do pecado no mundo e com o pecado a morte. Romanos 6:23
“Porque o salário do pecado é a morte. E mais: que o dom gratuito de Deus é a
vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” João 5:24 “Na verdade, na verdade
vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida
eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.”
Lamentável a atitude dos budistas na perseguição na qual estão envolvidos e
porque se tivessem conhecido o cristianismo e oferecimento de Jesus não teriam
tempo de perseguir e matar cristãos". Essa sexta pergunta, expõe uma
comparação grosseira e descontextualizada. O caminho que o Budha encontrou para
trazer o alívio ao sofrimento humano, foi trilhado pelo seu esforço contínuo de
se aperfeiçoar na verdade, tendo uma vida estrita em meditação e contemplação.
Praticando virtudes e atitudes meritórias alcançou uma profunda e mística
sabedoria, entrando assim no estado búdico se livrou dos ciclos dos
nascimentos, mortes e renascimentos, tornando se um iluminado. No Budismo
aprendemos que o próprio discípulo é o responsável pela sua salvação, evolução
espiritual, um processo que inclui os importantes aspectos do carma, nascimentos
e renascimentos. A visão cristã é de uma redenção a procuração, pois o
discípulo recebe esse direito ao crer em Jesus como aquele que pagou a dívida
do pecado, trazendo a salvação até ele. Essa ideia, se pensarmos, é ilógica, pois se eu pequei, sou eu quem devo
pagar pelo erro. Não estou entrando no valor da doutrina, mas mostrando os dois
lados de uma verdade de tradições espirituais diferentes, que podem se
harmonizar e conviver pacificamente. Deplorável a última fala do pastor
Natanael, apontando seu dedo inquisitório e implacável, usando um boato como
verdade pra dar um juízo de valor totalmente precipitado e malévolo. Talvez o
pastor tenha esquecido de que o colonizador europeu (Portugal e Espanha),
aliados ao cristianismo, especificamente a Ordem dos Jesuítas, que sendo o
braço espiritual da Companhia de Jesus fundada por Inácio de Loyla (1591-1556)
foram os protagonistas do mais cruel e abominável processo de proselitismo e
expansão da fé cristã. Essa Ordem Religiosa segundo os pesquisadores da história
da igreja, de características militares, cumpria a ferro e fogo, as ordens de
seus superiores eclesiásticos para converter os pagãos, infiéis e os
"selvagens" usando todos os meios lícitos e ilícitos. Nesse tempo,
para facilitar, havia a terrível heresia de que os índios e negros eram
considerados meio humanos, pois era recorrente a ideias de que eles não tinham
alma. Os manuais de história contam, que nos séculos XVI e XVII, época da
colonização da América, mais de 50 milhões de indígenas foram dizimados em nome
do evangelho de Cristo, sendo alguns forçados à conversão para que o reino de
Deus se estabelecesse nessas terras. Concluo dizendo que essas observações
servem para julgamento razoável de futuras situações, que porventura surjam em
nosso caminho pela busca da verdade. Tendo sempre como objetivo a harmonia e
sintonia com as opiniões divergentes, não nos aferrando a nenhum conceito ou
ideia. Sendo essa uma sugestão dado pelo próprio Budha em um dos seus Sutras;
tendo complacência àqueles de conhecimento espiritual preconceituoso e
supersticioso, parecido com o do pastor Natanael, usando de misericórdia e
compaixão à todos os seres humanos e não humanos, que estão conosco nessa atual
encarnação nós ajudando a evoluir até chegarmos a libertação total, a completa
iluminação. Um site que se atem a colocar em sua página principal, um boate
antigo, improcedente e inverossímil, no mínimo, se levanta suspeita de sua
validade como transmissor de valores morais, éticos e espirituais, tão
importantes para as comunidades sociais que estão carentes de assumirem mais
compromisso com a fraternidade universal. Espero que o referido site,
hppt://www.cacp.org.br., se desculpe frente ao seus leitores, dando explicações
plausíveis que esclareçam esse infeliz incidente, retirando esse pseudo artigo que macula as páginas dessa mídia eletrônica. Voltando a adquirir a
credibilidade necessária para desenvolver um trabalho digno e confiável aos que
acessam esse veículo de informação. Abraço. Davi.
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