sábado, 30 de maio de 2015

Guerra e Paz.



Texto de Ayya Khema (1923-1997). Guerra e paz são a saga épica da humanidade. Elas representam tudo que os nossos livros de história contêm porque são aquilo que está contido nos nossos corações. Se você alguma vez leu Dom Quixote, de Miguel de Cervante (1547-1616) irá se lembrar que ele lutava contra moinhos de vento. Todos estamos fazendo exatamente o mesmo, lutando contra moinhos de vento. Dom Quixote, que foi a invenção da imaginação de um escritor, era um homem que acreditava ser um grande guerreiro. Ele pensava que cada moinho de vento que encontrava era um inimigo e começava a guerrear contra ele. É exatamente isso que fazemos no íntimo dos nossos próprios corações e é por essa razão que essa estória tem um apelo imortal. É uma estória sobre nós mesmos. Escritores e poetas que sobreviveram além da sua própria era, sempre relataram aos seres humanos estórias sobre eles mesmos. A maioria das pessoas não querem ouvir porque não ajuda nada quando outras pessoas nos dizem o que existe de errado conosco, e pouquíssimos se dão ao trabalho de ouvir. Cada um tem que descobrir por si mesmo e a maioria das pessoas não quer fazer isso tampouco. O que realmente significa guerrear contra moinhos de vento? Significa lutar contra tudo que não seja importante ou real, ou seja, só inimigos e batalhas imaginárias. Temas bem insignificantes que convertemos em algo sólido e formidável nas nossas mentes. Podemos dizer: "Eu não posso tolerar isso" e assim começamos a lutar, ou "Eu não gosto dele" e uma batalha se desencadeia, ou "Eu me sinto tão infeliz" e a guerra interior irrompe com furiosidade. Nós nem sabemos direito porque estamos tão infelizes. O tempo, a comida, as pessoas, o trabalho, o lazer, o país, qualquer coisa em geral serve como razão. Porque isso acontece conosco? Por que resistimos à ideia de soltarmo-nos verdadeiramente das coisas e tornarmo-nos aquilo que realmente somos, isto é, nada. Ninguém quer ser nada. Todos querem ser alguma coisa ou alguém, mesmo que seja apenas um Dom Quixote lutando contra moinhos de vento. Ou ainda, alguém que sabe e age, e que irá se tornar alguma outra coisa, alguém que possui certos atributos, concepções, opiniões e idéias. Mesmo as idéias claramente equivocadas são agarradas com firmeza, porque elas fazem com que o "eu" tenha mais solidez. Parece negativo e depressivo ser ninguém e não ter nada. Temos que descobrir por nós mesmos que essa é a sensação mais regozijadora e libertadora que podemos ter. Mas porque tememos que moinhos de vento possam nos atacar, não nos queremos soltar das nossas ideias. Porque não podemos ter paz no mundo? Porque ninguém quer se desarmar. Nenhum país quer assinar um acordo de desarmamento, o que todos nós lamentamos. Mas alguma vez olhamos para ver se nós mesmos na verdade nos desarmamos? Se nós mesmos não fizemos isso, porque nos surpreendermos com o fato de que ninguém mais está preparado para fazer isso também? Ninguém quer ser o primeiro a não ter armas; os outros poderão vencer. Isso realmente importa? Se não houver ninguém que possa ser conquistado? Como pode existir uma vitória sobre ninguém? Deixe que aqueles que lutam vençam todas as guerras, tudo que importa é ter paz no próprio coração. Enquanto resistirmos e rejeitarmos e continuarmos a buscar todo tipo de desculpas racionais para continuar a agir dessa forma, haverá guerras. A guerra se manifesta no exterior através da violência, agressão e morte. Mas como ela se revela internamente? Nós temos um arsenal dentro de nós, não de armas e bombas nucleares, mas que possui o mesmo efeito. E quem se fere é sempre aquele que está atirando, isto é, nós mesmos. Algumas vezes alguma outra pessoa se posiciona dentro da linha de tiro e se ela não for cuidadosa também será ferida. Esse é um acidente deplorável. As principais explosões são as bombas que explodem no próprio coração. A área de desastre é onde elas são detonadas. O arsenal que carregamos conosco consiste na nossa má vontade e raiva, nossos desejos e cobiças. O único critério é que não nos sentimos em paz interiormente. Não precisamos acreditar em nada, só necessitamos verificar se há paz e alegria no nosso coração. Se estiverem ausentes, a maioria das pessoas tentará encontrá-las fora de si mesmas. Assim é como todas as guerras começam. Sempre a culpa é do outro país, e se não houver ninguém em quem colocar a culpa, então a justificativa é a necessidade de mais território para expansão, maior soberania territorial. Em termos pessoais, a pessoa precisa de mais diversão, mais prazer, mais conforto, mais distrações para a mente. Se ela não puder encontrar ninguém mais para culpar pela própria falta de paz, então a pessoa crê que essa é uma necessidade não satisfeita. Quem é essa pessoa que precisa ter mais? Uma invenção da nossa imaginação, lutando contra moinhos de vento. Esse "mais" nunca tem fim. A pessoa poderá ir de país em país, de pessoa em pessoa. Existem bilhões de pessoas neste planeta; é muito improvável que queiramos ver cada uma delas, ou mesmo a centésima parte, uma vida inteira não seria suficiente para isso. Podemos escolher vinte ou trinta pessoas e ir de uma para outra e depois regressar, mudando de uma atividade para outra, de uma ideia para outra. Estamos lutando contra o nosso próprio Dukkha e não queremos aceitar que os moinhos de vento no nosso coração são gerados por nós mesmos. Acreditamos que alguém colocou-os ali contra nós, e se nos movermos iremos escapar deles. Poucas pessoas, por fim, chegam à conclusão de que esses moinhos de vento são imaginários, que é possível removê-los não lhes concedendo força e importância. Que podemos abrir os nossos corações sem temor e de forma gentil, gradual e abandonar as nossas noções e opiniões preconcebidas, concepções e ideias, repressões e respostas condicionadas. Quando tudo isso é removido, o que resta? Um espaço amplo e aberto, que pode ser preenchido com qualquer coisa que se queira. Se a pessoa tiver bom senso, irá preenchê-lo com amor, compaixão e equanimidade. Então não haverá nada mais pelo que lutar. Só o que fica é a felicidade e a paz, que não podem ser encontradas fora de nós mesmos. É impossível tomar algo de fora e colocá-lo dentro de nós. Não dispomos de uma abertura pela qual a paz possa entrar. Temos que começar no nosso íntimo e a partir daí trabalhar para o exterior. A menos que isso se torne claro para nós, estaremos sempre buscando uma nova cruzada. Imagine como era na época das cruzadas! Haviam os nobres cavaleiros que gastavam a sua fortuna para se equipar com as armas mais modernas e avançadas, equipando cavalos e seguidores, e então partindo para levar a religião aos infiéis. Muitos morriam ao longo do caminho devido às dificuldades e às batalhas, e aqueles que chegavam ao fim da jornada, a Terra Santa, ainda assim não obtinham nenhum resultado, apenas mais guerra. Ao analisarmos isso na atualidade, parece algo absolutamente tolo, quase chegando ao ridículo. No entanto, fazemos o mesmo com as nossas vidas. Se, por exemplo, tivéssemos escrito no nosso diário algo que nos tivesse aborrecido há três ou quatro anos atrás e fôssemos ler aquilo agora, pareceria bem absurdo. Não seríamos capazes de lembrar por que razão aquilo poderia ter sido importante. Estamos constantemente engajados nessas tolices com coisas menores e sem importância, e gastamos a nossa energia tentando solucioná-las de forma a satisfazer o nosso ego. Não seria muito melhor esquecer essas formações mentais e dar atenção àquilo que é realmente importante? Existe apenas uma coisa que é importante para todos os seres e isso é um coração feliz e em paz. Isso não pode ser comprado e nem é dado de graça. Ninguém é capaz de dar isso para outrem e nem pode ser achado. Ramana Maharshi (1875-1950), um sábio do sul da Índia, disse: "A paz e a felicidade não são nosso patrimônio de nascença. Qualquer um que as tenha alcançado, assim o fez através do esforço contínuo." Algumas pessoas têm a ideia de que a paz e a felicidade são sinônimos de não fazer nada, não ter tarefas ou responsabilidades, não ter cuidado com os outros. Isso é na verdade resultado de preguiça. Para conquistar a paz e a felicidade é necessário esforço incansável com o próprio coração. Não é possível alcançá-las através da proliferação, tentando obter mais, só querendo menos. Mas tornando-nos cada vez mais vazios, até que reste apenas um espaço vazio, amplo, para ser preenchido pela paz e a felicidade. Enquanto os nossos corações estiverem repletos com gostos e desgostos, como poderão a paz e a felicidade encontrar algum espaço? Uma pessoa pode encontrar paz dentro de si mesma em qualquer situação, qualquer lugar, qualquer circunstância, mas só através do esforço, não através da distração. O mundo oferece distrações e contatos sensuais que são na maioria das vezes muito tentadores. Quanto mais ação houver, mais distraída a mente ficará e menos teremos que observar o próprio Dukkha. Quando há tempo e oportunidade para a introspecção, descobrimos que a realidade interior é distinta daquilo que tínhamos imaginado. Muitas pessoas desviam o olhar com rapidez, elas não estão interessadas nisso. Não é culpa de ninguém que Dukkha existe. A única cura é a renúncia. Na verdade é bem simples, mas poucas pessoas creem nisso a ponto de colocá-la em prática. Existe um conhecido símile da armadilha para macacos. O tipo que é usado na Ásia é um funil de madeira com uma abertura estreita. Na extremidade mais ampla se encontra um doce. O macaco, atraído pelo doce, enfia a pata através da abertura estreita e agarra o doce. No momento de tirar a pata, ele não consegue fazer com que o punho com o doce atravessem a abertura estreita. Ele fica assim aprisionado e o caçador vem e o captura. O macaco não se dá conta que a única coisa que precisa fazer para se libertar é soltar o doce. Assim é a nossa vida. Uma armadilha, porque queremos uma vida doce e agradável. Como não somos capazes de renunciar, ficamos aprisionados no ciclo contínuo de felicidade e infelicidade, sobe e desce, esperança e desespero. Ao invés de tentarmos por nós mesmos, para ver se podemos nos soltar e ser livres, resistimos e rejeitamos essa ideia. No entanto, todos estamos de acordo que aquilo que realmente importa é a paz e a felicidade, que só podem existir numa mente e coração livres. Existe uma estória encantadora de Nazrudin, um Mestre Sufi, que tinha um talento especial para contar estórias absurdas. Certo dia, diz a estória, ele enviou um dos seus discípulos ao mercado e pediu que lhe comprasse uma saco de chiles (espécie de pimentão). O discípulo fez como lhe havia sido pedido e trouxe o saco para Nazrudin, que começou a comer os chiles, um após o outro. Em pouco tempo a sua face ficou vermelha, o nariz começou a escorrer, os olhos começaram a lacrimejar e ele estava engasgando. O discípulo observou isso durante algum tempo cheio de temor e depois disse: "Senhor, a sua face está ficando vermelha, os seus olhos estão lacrimejando e você está engasgando. Porque você não para de comer esses chiles?" Nazrudin respondeu: "Estou esperando encontrar um que seja doce." A ajuda pedagógica dos chiles! Nós, também, estamos esperando por algo, algum lugar que vá criar para nós a paz e a felicidade. Nesse meio tempo, não existe nada além de Dukkha, os olhos estão lacrimejando, o nariz está escorrendo, mas nós não paramos com as nossas próprias criações. Deve haver no fundo do saco uma que seja doce! Não adianta pensar, ouvir ou ler a respeito, a única forma efetiva é olhar para dentro do próprio coração e vê-lo com compreensão. Quanto mais repleto estiver o coração de desejos e cobiças, mais dura e difícil se tornará a vida. Porque lutar contra todos esses moinhos de vento? Eles são construídos por nós mesmos, e nós mesmos podemos removê-los. É uma experiência muito recompensadora investigar o que está criando confusão no próprio coração e mente. Descobrir uma emoção após a outra, não para criar-lhes desculpas e justificativas, mas para compreender que elas constituem os campos de batalha do mundo, e começar a desmantelar as armas para que o desarmamento se torne uma realidade. Budismo Theravada. http://www.nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Budismo e a Psicanálise.



Somos seres simbólicos (...). Seres de imaginação e de identificação. Travamos uma luta conosco e com a vida diariamente. Luta esta, vista e revista em nossas ansiedades, medos e lutos inexoráveis. Vivemos no passado e no "por vir". Nunca estamos presentes no "aqui e agora". A Psicanálise e algumas filosofias orientais, como o Budismo, apresentam várias características singulares, mas também características onipresentes e entrelaçadas entre si. Tanto a Psicanálise quanto o Budismo postulam a "presença" no aqui e agora, de maneira a abraçar o acaso e o novo, sem estar a todo tempo atravessado por "fantasmas" do inconsciente e por ilimitadas lembranças do passado, e nem na expectativa de um futuro criado a todo o momento em nossas mentes ávidas (ganância, impaciência). O Budismo fala muito no conceito de "Vazio". O que é o "Vazio"? Vazio é a presença pura, incondicional e nua da consciência humana. É o estar vivo. É este Vazio que possibilita o "Tudo". Muito diferente do niilismo, que trata da perda de sentido para a vida. Este "estar vivo", esta presença pura e constante, que sempre esteve conosco, mas que de alguma forma nos esquecemos e nos distanciamos, é a presença que nos faz criar, dar sentido ao mundo, nos identificarmos com o mundo, as pessoas, com as coisas, e criarmos conceitos.  Vemos o mundo através de "Filtros". Filtros de percepção. Tanto a Psicanálise, como a Meditação, as religiões e filosofias transcendentes, como o Budismo, tratam de alterar esses filtros, proporcionando uma renovação constante deles, ou eliminação de muitos deles, descatarsezando (purificando) as fixações de nossas mentes, e trazendo a possibilidade de estar no mundo de forma mais relaxada, compassiva e integrada. Apesar disso, o homem sempre será um criador de conceitos, basicamente um ser desejante; se não quer desejar algo, ou não deseja algo, deseja a ideia de não desejar. A Psicanálise vem ocupar um canal de nominar ou dar sentido ao Vazio, através de seus próprios conceitos. Já o caminho do budismo consiste em justamente se liberar dos conceitos, e apenas sentir; é ver a vida a partir de outro nível, que ultrapassa a dualidade Inconsciente Consciente, Ego Não Ego, Coração Mente, Racional Intuitivo, e outras, mostrando-nos a prática do "Percebimento". O que o Princípio de Prazer nos diz? Diz que, após um acúmulo de tensão, nos liberamos dessa tensão através do prazer. Budha disse que o nascimento é sofrimento, envelhecimento e doença são sofrimento, e morte é sofrimento. Mas, ao mesmo tempo, Budha ensinou que existe uma causa para o sofrimento, existe um fim para o sofrimento e existe um caminho de prática que dá fim ao sofrimento. No Budismo toda felicidade ou prazer atingido na vida nada mais é que uma diminuição do sofrimento, mas que é totalmente fugaz e impermanente, sendo o objetivo de dar fim ao sofrimento o verdadeiro objetivo da vida, que é atingido quando chegamos ao "Nirvana", libertação espiritual ou Iluminação. Então podemos ver que Sigmund Freud (1856-1939) e Budha não estavam tão longe em termos de se entender a penúria do homem e as vicissitudes de seus desejos, prazeres e satisfações. Libertação nada mais é que a libertação das emoções negativas. Essa tensão que está enraizada em todos nós nada mais é que a "agressividade" acumulada, e não direcionada para fins positivos. Será que não podemos relacionar isso à chamada "Pulsão de morte", descrita por Freud? Procuramos resgatar um "estado anterior de coisas". Como diz Freud em "Além do Princípio do Prazer": "o objetivo de toda vida é a morte", é o desejo de voltar a ser uma substância inanimada, inorgânica. Freud diz também: "Em última instância, o que deixou sua marca sobre o desenvolvimento dos organismos deve ter sido a história da Terra em que vivemos e de sua relação com o Sol". Isso mostra o que Freud nos quer dizer, ou o que podemos interpretar do que ele disse, que seria o fato de o Sol impor uma "energia", energia essa que criou e desenvolveu a vida. Essa energia podia ser descrita como uma "carga". Uma carga que todos nós procuramos despejar, nos aliviar o tempo todo em nossas vidas. E pode ser liberado através justamente do prazer. Esta "carga" pode tanto compreender essa energia primeva, na qual devemos nos livrar, mas também pode compreender toda a teia organizada em nossa mente, principalmente no inconsciente, que traz todos os traumas conscientes e inconscientes das relações com nossos pais, familiares, amigos, "inimigos" (...), ou seja, todas as fantasmagorias neuróticas existentes essas mentes. Se levarmos em conta esse conceito de "carga", fica uma proximidade muito grande com aquilo que atendemos pelo nome de "Karma". O karma espiritual nada mais é que uma lei de causa e efeito. Esse karma está embutido em nós de tal forma que não tem uma limitação que podemos descrever racionalmente. É uma causa efeito, mas não tão aparente quanto possa parecer. Uma relação que pode ser vista e revista e comparada à Psicanálise é a compulsão à repetição. Na compulsão à repetição todos os nossos comportamentos condicionados entram em jogo, que aparece na gente como se fosse uma trilha inconsciente neuronal, que sempre refaz o mesmo caminho e não deixa espaço para a criatividade e espontaneidade. E uma forma de transformação psíquica disso só pode ser viabilizada por via do Outro, e se "destituindo" de si próprio ou da preocupação excessiva com o próprio Ego ou a auto imagem. O instinto de Eros nos diz que buscamos sempre esta tal de transcendência com o Outro. Procuramos nos ligar ao outro, às pessoas. São os chamados instintos de vida em contrapartida aos instintos de morte ou pulsão de morte. Eis que surge o amor no meio disso tudo , que é o que nos gera e que dá vazão aos nossos sentimentos. O amor respira a vida. Muitos dizem, em relação ao desejo, que a nossa "carne é fraca", mas se vermos a realidade profunda do amor e do desejo, podemos dizer que a inscrição do desejo se encontra na alma, e não na carne. O amor é a forma de encontramos uma certa fusionalidade (mistura) com o outro, uma volta à sensibilidade infantil do amor glorioso e oceânico, que um dia pairou por nós como completude. O amor é a via justamente também da saída da repetição de comportamentos e de certas identidades ao que costumamos chamar de "Eu". Através do amparo e desamparo encontrados na relação amorosa se articula uma série de encontros e desencontros com o outro e consigo mesmo. Como articular uma nova forma de desamparo? Pode haver um descompasso que se trava entre o Sujeito e a sua procura de amparo no amor. A criança, no seu amparo materno, seja no campo intrauterino ou na relação com a mãe não tem absoluta consciência disso, mas essa relação, e respectivas consequências psíquicas advindas dela, comandam e dão princípio a todo o "vir a ser" da pessoa. No amor, há uma procura de fechar esse buraco do desamparo, um chamado "prazer negativo". Negativo, pois procura reparar uma perda. Isso já é um aspecto muito clássico do ponto de vista psicanalítico, mas a questão fundamental em que devemos nos remeter é: Será que existe um ponto onde pode haver uma passagem? Uma espécie de transcendência disso tudo no próprio amor? Existe um mais além no amor? A consciência da experiência no mundo "adulto" é mais absoluta em relação à da criança. Consciência, que se diga aqui, é a plena consciência racional e emocional desse chamado "amor". Wilfred Bion (1897-1979) diz no seu livro "Transformações", que por definição, o termo "consciente" relaciona-se a estados dentro da personalidade: consciência de uma realidade externa é secundária à consciência de uma realidade psíquica interna. Ele ainda diz: "Realmente, consciência de uma realidade externa depende da capacidade da pessoa tolerar ser lembrada de uma realidade interna". Consciência do afeto, do sentimento, das sensações vividas no próprio corpo, e do corpo em contato com o outro. Isso, absolutamente, está longe da expectativa de fusionalidade (mistura). Mas o que de bom pode despertar disso, o que de fato não está ligado nem envolvido com a "agressividade" humana, pode-se dizer que pode haver até uma "agregação" de valor interno e até espiritual muito maior do que pode ter acontecido durante o período da relação mãe bebê. Tal possibilidade de pequena transcendência cotidiana reside no fato da experiência ser um fato consciente, onde existe uma consciência reinante sendo vivida na inter-relação entre duas pessoas. Isso não poderia ser muito mais forte e "real" do que a não lembrada vivência narcísica com a mãe? Vivência essa enlutada e distante (...). Distante do possível prazer presente, prazer esse visível e até positivo, transcendendo a simples cauterização (queimar) do desamparo. Fato este, consciente, dissociando-se da ideia de inconsciente e pré-consciente. Há uma incredulidade; um descrédito dos mais desavisados. Achamos que realmente fomos expulsos do paraíso sem ao menos nunca "realmente" termos estado lá? Enquanto o amor nos chama, o que também clama por nós é a Compaixão. Aliás, o que é compaixão? É entender no outro essa grande falta que nos corrói e constrói. Essa falta que nos move, mas que pode ser compreendida no outro, também. O Outro não é algo que corrupta sua mente. O outro deve ser visto como alguém tão "castrado" (privado total ou parcialmente) quanto você mesmo. No Budismo há a clara intenção de na busca pela transcendência, mostrar que ela pode ser realizada via solidão meditativa. A meditação como investigação e redenção de si mesmo é positiva. Mas isso não tira a necessidade de se estar com o outro, aprender com o outro. A meditação pode transformar toda essa "carga" ou esse karma? O Dharma é o resultado e forma singela dessa transformação. O conceito de Dharma é se doar aos outros, ter compaixão pelas dificuldades dos outros (inconscientes, fantasiosas e reais), e pelo sentimento e sofrimento dos outros. O Dharma é enxergar o lado positivo da vida, res significar, mas não de uma maneira feita por uma tentativa imposta pelo consciente, e sim de uma maneira verdadeira e real, de uma mente já transformada, acolher o outro em sua essência, em seu chamado. Não é gostar da personalidade do outro, mas é compreender incondicionalmente a vida que está fluindo por detrás de todas as máscaras e percepções não reais dos outros, e acolher o outro psiquicamente. Nossa consciência é como um campo. Um campo onde são plantadas várias coisas durante a vida. E tudo o que acontece de bom ou de ruim gera marcas nesse campo da consciência. E a Psicanálise, onde entra nisso tudo? Em tudo, praticamente (...). O Saber da Psicanálise consiste em ir além do Princípio da Causalidade. Então, de que forma essa causalidade se dá em nós? Essa causalidade é atemporal; é uma causalidade de transferência, de posterioridade, associativa, paradoxal, e do acaso, isto é, não se limita a um objeto que pode ser catalogado, digerido, e demonstrado por x + y = z. Nesse jogo de energias estão os instintos de vida e morte. As representações psíquicas são limitadas para dar conta do nível de energia da pulsão de morte. A Pulsão de Morte tenta desfazer as ligações psíquicas. E é característica e tarefa de nossa instância psíquica, nosso "Eu", nunca se satisfazer, justamente para dar conta desta "energia". Isso o Budismo fala claramente, de que não há satisfação mundana. O homem procura a todo o momento a realização, a satisfação, mas logo que há uma certa satisfação, já é necessário outro desejo para cumprir com a tarefa de ser feliz. Ser feliz parece ser sempre uma tarefa a ser cumprida, e nunca apenas "Ser" é o bastante, nunca apenas estar "aqui e agora", com a mente clara e vívida, sem desejos, podendo permanecer "aqui" em um estado de pleno contentamento. http://www.saindodamatrix.com.br. Abraço. Davi.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Budha e o Conceito de Verdade;



“Discípulo: Cada pregador, ao expor seu tema predileto, costuma afirmar, que se aderirmos firmemente ao exposto, seremos salvos, se o rejeitarmos, seremos perdidos e condenados. Disputam os pregadores entre si, chamando-se uns aos outros de "ignorantes" e até mesmo de idiotas. Quem nos há de apontar qual deles seja o certo? Não é possível que todos sejam autoridades conforme alegam. Budha: Se pelo simples fato de discordar de outro, alguém é qualificado de "idiota", nesse caso todas as "autoridades", cheias de teorias, seriam idiotas. Se cada teoria revelasse a verdade e qualificasse o seu expositor como "autoridade", então todos eles seriam autoridades. Não espereis ouvir a verdade daquele que chama os outros de "idiota". Cada um considera a sua própria opinião como "verdadeira" e quem quer que dela discorde é, então, chamado de tolo. Discípulo: O que um deles classifica como "verdade" diz um outro ser "falso", e assim por diante. Como pode ser que estejam sempre a discordar e por que razão não dizem todos eles a mesma coisa? Budha: A verdade é uma só, e por esse motivo, os sábios nada têm que debater. Mas como cada um desses disputantes tem a sua versão pessoal da verdade, as suas contendas são intermináveis. Discípulo: Mas como pode ser que cada uma destas autoridades considere a sua versão pessoal como sendo a própria verdade? Poderá se confiar, nesse caso, que a verdade por ele anunciada tenha realmente sido a verdade? Ou será que inventam, pura e simplesmente, suas teorias? Budha: Não existe verdade alguma além da que é fornecida pela percepção sensorial. No exato momento em que te aferras ao conceito de que algo é "verdadeiro", surge o atrito, porque o conceito oposto terá, então, que ser rotulado de falso. Aquele que se deixa iludir pelo que se vê e pelo que ouve, pela virtude, por suas vitórias e sucessos fixa-se em suas ideias e critica os demais. Ao criticar os outros seu egoísmo se expande, e por se considerar autoridade sem prender-se à crítica, torna-se cada vez mais exagerado. É aí, então, que num transbordamento de auto conceito que de si mesmo faz, vangloria-se de ser "um sábio" e acredita serem os seus conceitos irrefutáveis. Se alguém o chama de confuso, logo replica "confuso é você", embora cada qual, a seu tempo, se considere um "sábio". De cada autoridade, se há de ouvir, a afirmação de que aqueles que seguem uma filosofia diferente da sua não conseguirão jamais atingir a pureza e a perfeição. "Meu método é infalível. É o único que conduz à perfeição". Alardeiam em autopromoção todos esses pseudo sábios. Tais comentários os expõem a ataques por parte das outras autoridade, e consequentemente, há cada vez mais disputas. Desta forma, essas pessoas (cada qual ancorada a sua teoria predileta) prosseguem em suas altercações a vida toda. Abstraí- vos, portanto, de toda e qualquer teorização, com suas inevitáveis disputas. Discípulo: Será que esses dogmatizadores, que afirmam ensinar a única verdade, o que fazem é só acarretar para si a censura, ou será que por vezes eles também mereçam louvores? Budha: O pouco louvor, que porventura consigam é insignificante e não lhes confere paz. Não é com disputas que se atinge a meta. O sábio não dá crédito às teorias passageiras. Por que iria ele se prender? Ele já transcendeu, já ultrapassou a fase de acreditar em tudo o que vê e que ouve. Alguns sábios há que sustentam ser a meta atingível pela prática da virtude e pela execução de  atos meritórios. Ao afirmarem "ser este o caminho", intitulam-se como único mestre. Alguns se tornam obcecados pela importância dos princípios, e se porventura chegam a transgredir uma só regra, por mais insignificante que seja, amofinam-se (aborrecimento), e se preocupam como alguém que houvesse perdido a caravana. Assim sendo, não vos agarreis a código algum que distribua méritos e deméritos, mas sim, ficai independentes. Alguns fazem penosas penitências, outros confiam no que vêm e no que ouvem falar da conquista da pureza nesta vida, e, no entanto, desejam ainda conseguir um renascimento feliz. O desejo acarreta mais desejo. O medo mais medo ainda. Aquele, porém, que não nutre mais o desejo de viver, seja agora ou em outras vidas, não mais teme a morte, nem o renascimento. Discípulo: A filosofia que alguns rotulam de mais elevada, outros consideram desprovida de valor. Todos, porém, consideram-se autoridades. Com qual deles está a razão e a verdade? Budha: É só a sua própria filosofia que cada qual considera como a mais elevada, ao passo que aos demais métodos não empresta valor algum. Deste modo é que surgem as disputas. Se o mero criticar destitui os conceitos filosóficos de qualquer valor, então, todas as suas filosofias não tem valor algum, pois todos vivem a criticar conceitos alheios. Extravagantes se mostram na prática de sua própria filosofia, tal como quando a expõem, porém, todos os seus conceitos levam à mesma coisa. O verdadeiro brâmane, contudo, não copia os demais, tendo transcendido o hábito de disputar, a nenhuma filosofia em particular chama ele de "melhor". Afirmam alguns devotadamente: "A verdade é assim e assim. Eu sei! Eu vejo!". E sustentam que tudo depende de se ter a religião correta. Se, porém, eles realmente "soubessem", não teriam necessidade de religião alguma. O homem vê como nome e forma, mas dizem os sábios, por pouco ou muito que consiga ver, não verá a pureza. Nenhum filósofo querelante (discussão, disputa) poderá alcançar a pureza por meio de sua doutrina pessoal, ele segue uma luz que ele próprio fabricou, por ele autoprojetada, e daí fala que a "vê". O verdadeiro brâmane está além do tempo, não se baseia em conceito algum, nem se submete a qualquer seita (movimento filosófico ou religioso), compreende todas as teorias correntes, mantendo-se, porém, desapegado de qualquer delas. Liberto dos laços do mundo, embora viva ainda no mundo, o sábio segue, tranquilamente, o seu caminho, livre das seitas, em meio aos sectários, livre de agitações, em meio aos agitados, admitindo o que o mundo comete. Tendo transcendido, por compreensão, suas antigas imperfeições, sem adquirir outras novas pela correta vigilância, tendo abandonado o desejo e se libertado de dogmas, e não se deixando mais influenciar por opiniões filosóficas, segue ele seu próprio caminho, sem se deixar impressionar pelo mundo, não se entregando jamais à censura (crítica, condenação). Liberto de todos os conceitos baseados nas coisas vistas e ouvidas, aliviado, pois, de sua carga, não mais está o sábio tranquilo sujeito ao tempo, transcendendo tanto o desejo, quanto a abstinência (ação de privar-se de determinada coisa)”. Retirado do Tripitaka, o livro sagrado do budismo na língua pali, uma língua hindu. Tripitaka significa três cestas, numa referência às três partes do livro o Vinaya, com as regras de conduta, o Sutta, que reúne os discursos do Budha, e o Abhidhamma, que é  mais filosófico. A história desse livro sagrado e do Budismo remonta à trajetória de Sidharta Gauthama (560 AC 480), que abandonou uma vida de fortuna para buscar a sabedoria. Depois de meditar e refletir em contemplação, ele concluiu que o sofrimento era causado pelos desejos que atormentavam a mente dos homens, como a corrupção, o ódio e a ilusão. Para Sidharta, se o homem aniquilasse esses desejos, atingiria o Nirvana, um estado de paz longe de todo o sofrimento. Por causa dessa descoberta, ele tornou-se o Budha, que em sânscrito significa o Iluminado. Ao longo de sua vida, os 84 mil ensinamentos de Budha foram transformados em Sutras, espécie de regras para a vida cotidiana. São elas que compõem o Tripitaka, diz o lama Padma Norbu (1948-   ), do templo Odsai Ling, em São Paulo, Brasil.  http://www.oiluminador.blogspot.com.br. Abraço. Davi.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Suposta Denuncia Contra Extremistas Budistas.



É impressionante como alguns segmentos da mídia, que consideramos cristãos, continuam mantendo ferramentas de dominação, medo, interesses escusos e mentiras infundadas para fomentar a discórdia, indiferença, discriminação e menosprezo à outras religiões e tradições espiritualistas. Muitas dessas, claramente, percebidas como instrumentos de união e sintonia dos povos, pois se mantêm pelo zelo do amor ao próximo, compreensão dos desiguais, diálogo com as ideologias contrárias e abertura à harmonia e fraternidade humana. Um exemplo evidente é o budismo, que os leitores do Mosaico têm apreciado. A "notícia" a seguir é totalmente improcedente e falsa. Um boato pernicioso e com interesses políticos, semeando a discórdia e animosidade entre as tradições religiosas, razão pela qual, senti-me compelido a fazer alguns comentário sobre o assunto. Fico estarrecido por perceber que pessoas que pregam o evangelho do Christo encarnado, sejam capazes de fomentar tal pensamento de beligerância e intolerância em relação ao seu próximo. Pois confiando em boatos, inverossímeis, caem na armadilha de nossos corações malignos e tendenciosos, (Jeremias 17:9 "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso: quem o conhecerá?") à prejudicar aqueles que procuram por meio de boas obras, virtudes, méritos e voluntariado, baseado na compaixão por todos os seres humanos e não humanos alcançar a iluminação e libertação total do ciclo do Samsara. Condescendemo-nos com aqueles, que por falta de perspicácia e interesse de averiguar a verdade, foram ludibriados por essa balela, mexerico, crendo que seus corações são puros, mesmo numa condição de engano explicitamente já certificado. Assim, feita essa introdução exponho o texto dessa hipocrisia, como advertência a todos nós leitores do Mosaico, para continuarmos inquirindo os assuntos abordados, seja aqui, ou em outros site ou blogs, tendo o objetivo de que nossa busca da verdade, usando a pesquisa e a investigação possam obter bom êxito, dentro de parâmetros sadios e verossímeis. Aceitando os desiguais e sendo tolerantes com os diferentes, abrindo nosso flanco esquerdo, onde está nosso coração, para experiência com o Divino, percebendo, que nossa suposta verdade não passa de um fragmento de ideia, que junto com outros pensamentos formam o arco íris da veracidade humana. Segue o texto, e quando necessário farei observações pontuais, tentando trazer luz a obscuridade e cegueira de alguns argumentos inconsistentes.  "Recebemos um pedido de oração da nossa irmã Nilza Siqueira datada de 19 de julho de 2012 redigido nos seguintes termos: “Orai pela Igreja na Índia. Extremistas budistas na Índia incendiaram 20 igrejas na noite passada. Esta noite querem destruir, mais 200 igrejas na província de Olisabang. Eles querem matar 200 missionários, nas próximas 24 horas. Todos os cristãos estão escondidos em aldeias… Ore por eles e envie esta mensagem a todos os cristãos que você conhece. Peça a Deus para ter misericórdia de nossos irmãos e irmãs da Índia.” Quando você receber esta mensagem, por favor, urgentemente enviá-lo para outras pessoas. Orem por eles a nosso Senhor Todo Poderoso, vitorioso. atenciosamente, Nilza Siqueira". Esse e mail na verdade segundo pesquisei, aqui no Brasil, surgiu em 2008, talvez antes, sendo que o site evangélico, http://www.cacp.org.br., tendo o veiculado em sua página de abertura, no dia 22/05, causando apreensão e indignação aqueles que o leem. Sua procedência é temerária, e essa suposta irmã Nilza, parece um nome fictício pois não está arrolada, nem se apresenta sob a tutela de nenhuma agência missionária cristã. O e mail não vem assinado, por seu superior, nem tem certificação oficial atestando a sua validade. Pelo que nos consta, não existe nenhum grupo extremista budista na Índia, um termo inventado maldosamente para comparar essa rica tradição espiritualista a movimentos radicais. Chega ao absurdo de dizer que, serão mortos 200 missionários. O Budismo foi a única "religião", segundo relatos nos Sutras e livros sagrados dessa tradição que em 2500 anos, não derramou uma gota de sangue para converter pessoas, usando a prática do proselitismo. Uma façanha incrivelmente feita pela graça divina, pois seus monges, monjas, bikkus e lamas, das várias Escolas Budistas existentes, sempre pensaram com compaixão e abnegação em relação a todos os seres humanos e não humanos, mesmo os mais desprezíveis insetos, merecem a honra e respeito de viverem e existirem. É corrente na maiorias das Escolas Budistas a filosofia de que, em encarnações passadas fomos humanos, animal, inseto ou um vegetal (planta, ou árvores). Os hindus desde os primórdios da pregação do Budha (565 AC 486) em suas planícies, foram receptivos aos ensinamentos do Iluminado. Mesmo a casta superior dos Bramanes, sacerdotes, com seus favorecimentos e privilégios em relação aos demais hindus, recebiam com respeito e apreciação os ensinamentos do Budha Sakyamuni. Assim a sugestão da inimizade entre budistas e hindus não tem sustentação, tanto que grande parte dos budistas tibetanos vivem em solo da Índia. A suposta agressão aos cristãos e tentativa de mortes, não tem base argumentativa, sendo uma falácia descabida, pois segundo muitas agencias missionárias que mantém trabalhos de evangelização na Índia, o relacionamento entre budistas e cristãos foi sempre amistoso e de companheirismo, em alguns casos havendo cooperação entre ambos, comprovando a falsidade da mensagem.   A partir de agora teremos a intervenção  do pastor Natanael Rinaldi do mesmo site Ministério Apologético. 1. Pastor Natanael como o irmão vê essa perseguição movida por budistas chamados de extremistas contra nossos irmãos cristãos residentes na Índia? "Francamente, estranhamos muito em tomar conhecimento dessas perseguições partidas de budistas, porque sempre tivemos os budistas como um grupo religioso ordeiro e incapaz de fazer o mal para seus semelhantes. Mas, vejo que estava enganado no meu conceito para com eles". Pessoalmente reprovo a atitude do pastor Natanael, pois não se certificando do hipotético e mail profere um veredito, imprudente, sem conhecer a causa e a motivação da fictícia mensagem recebida, criando dúvida e embaraço nos leitores do referido site, por sua resposta apressada, superficial e sem argumentação plausível. Uma suspeita, apenas, foi capaz de desviá-lo de seu nobre conceito sobre o Budismo. 2. Quem foi o fundador do Budismo considerando que se trata de uma religião universal? "O seu fundador foi Siddhartha Gautama. Ele nasceu na realeza na Índia mais ou menos 600 anos antes de Cristo. Como a história conta, ele viveu e cresceu de forma bastante luxuosa; chegou até mesmo a casar e ter filhos com pouca exposição ao mundo externo. Seus pais queriam que ele fosse poupado da influência à religião ou exposição a dor e sofrimento. No entanto, não demorou muito para o seu abrigo ser “invadido” e ele viu rapidamente um homem idoso, um homem doente e um cadáver. Sua quarta visão foi a de um monge sereno e asceta (um que nega qualquer tipo de luxo e conforto). Ao ver sua serenidade, Budha decidiu se tornar asceta também. Ele abandonou sua vida de riquezas e afluência para ir atrás da iluminação através de austeridade. Ora, diante desse modo de pensar e agir era de se esperar que sua religião jamais iria perseguir pessoas de outro credo como é o cristianismo". Pastor Natanael ao iniciar sua resposta à segunda pergunta, infere implicitamente uma crítica a vida palaciana do Budha, esquecendo ele, ou simplesmente querendo omitir, que vários personagens bíblicos tiveram vidas abastadas e confortáveis quando nasceram, sendo exemplos desse fato Moisés, Salomão, Davi dentre outros. Aqui tentou subliminarmos encaixar a vida do Christo como modelo de humildade desde seu nascimento contrapondo-se ao Budha, mas seu argumento não procede pois não há elementos para essa contextualização. Concluindo sua resposta o pastor Natanael, equivocadamente sugere que os adeptos do Budismo estão perseguindo os cristãos, algo divergente em relação a vida do Budha que abandonou a conforto da riqueza, indo de encontro a austeridade, vivendo vida simples e com privações físicas e espirituais à conseguir sua iluminação, entendendo o porque do sofrimento humano. Mais uma vez, apesar de acertadamente comentar a vida do Budha, seus argumentos não condizem com o absurdo desfecho resultando na resposta, pois forçosamente finaliza "advogando" em causa própria, sem provas concretas, quanto a acusação que ele faz insinuando, generalizando, serem os budistas os responsáveis pela agressão aos cristãos.. 3. Ele adotou algum tipo de filosofia para alcançar seus objetivos de encontrar a iluminação? Sim ele descobriu o que ficou conhecido como as quatro nobres verdades: Primeiro, viver é sofrer, Dukha. Segundo, sofrimento é causado pelo desejo,Tanha ou “apego”. Terceiro uma pessoa pode eliminar sofrimento ao eliminar todos os apegos e desejos, e quarto isso é alcançado ao seguir-se o caminho das oito vias nobres. Esse caminho consiste de obter o entendimento correto, o pensamento correto, a palavra correta, a ação correta, o modo correto de existência, ser um monge  (leigo ou monástico), o esforço correto (direcionar as energias corretamente), a atenção correta (meditação) e a concentração correta (foco).” É isto que estamos observando nesses budistas perseguidores dos cristãos. Extremistas budistas na Índia incendiaram 20 igrejas na noite passada. Esta noite (data da notícia recebida) querem destruir, mais 200 igrejas na província de Olisabang. Eles querem matar 200 missionários, nas próximas 24 horas". Pastor Natanael conhece a doutrina exotérica do Budismo, tanto que cita alguns dos processos pelos quais o Budha alcançou a iluminação como as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Octúplo. Mas infelizmente usa seu argumento de forma intransigente e casuísta, pois rotulando os budistas, age parcialmente, quando os incrimina a fatos inverídicos e sem comprovação factível. Assim incorrendo em erro premeditado, levando outros a formarem opiniões inverossímeis e comprometedoras de fatos inexistentes, sendo uma situação que deixa margem a ser levada a consequências últimas como um fórum judicial; caracterizando-se como calúnia, sua fala, que deve possivelmente ser investigada. Um importante detalhe nessa pergunta é que a província citada não existe, pois a Índia não tem província. O fictício nome Olisabang foi inventado não fazendo parte de nenhum registro hindu, mostrando um dos lados da grosseira farsa montada. A Índia, na verdade, é composta de 28 estados e 7 regiões, sendo 6 da União e uma da capital Nova Deli; e suas milhares de cidades. 4. Mas o que os budistas estão fazendo é totalmente contrário ao Caminho das Oito Vias Nobres. O que diz o irmão? "Que tais budistas não passam de hipócritas religiosos como disse Jesus acerca dos líderes religiosos judaicos que atavam fardos pesados sobre os ombros dos outros e se portavam como sepulcros caiados. Mateus 23:4, 14,17 4. "Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; 14. "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. 15."Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós". 16. "Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor". 17. "Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro?". Sinto tristeza e profundo pesar com o comportamento tomado pelo pastor Natanael, pois sem argumentos plausível, toma emprestado as palavras da Escritura Cristã, como pretexto, inadequadamente, para tentar sustentar uma posição contestável sem lógica razoável, sendo totalmente refutável pelo raciocínio elementar. Seu dogmatismo exclusivista, demonstra uma atitude de crendice e superstição em relação a Bíblia, pois as palavras sagradas cristãs, até onde entendo, não se prestam a justificar boatos e rumores que tem o objetivo de fomentar o ódio e inimizade entre religiões. Em Mateus 22:36-40, as palavras do Mestre Jesus são bem claras "Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas". 5. Não é um paradoxo os budistas gozarem de liberdade religiosa em países ocidentais como ocorre no Brasil, construindo templos suntuosos em vários estados do país, e no seu país não oferecem a mesma liberdade aos próprios patrícios? "Vamos atender ao pedido da nossa irmã Nilza Siqueira e orar pela proteção de Deus para nossos irmãos cristãos na Índia que essa perseguição descabida, que revela trevas na vida desses budistas e que recebam a verdadeira luz que emana da pessoa de Jesus Cristo que declarou: João 8:12 “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João, por sua vez, concluiu seu evangelho com as palavras; João 20:30-31 Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. “31. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” Diz ainda João, o apóstolo: João 1:9 “Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo". A quinta pergunta endereçada ao pastor Natanael é capciosa, pois tenta misturar a questão religiosa com a política existe na China Nacionalista. Muitos de nós conhecemos a questão dos direitos humanos na China bem como seu regime político. Não falaremos desse assunto aqui, pois foge ao enfoque principal de nossa abordagem. Mas até onde sei, em território chinês, nenhum templo budista foi saqueador ou destruído a mando do governo central, nem monges ou monjas foram privados de viverem suas vidas monásticas ou leigas professando sua milenar "religião". Existe respeito à tradição espiritual do povo chinês, o budismo, em todos os âmbitos. Também muitas igrejas cristãs, hoje estão realizando seus rituais e comunhão espiritual, em solo chinês; bastando para isso serem autorizadas pelo governo e se adequarem a algumas exigências colocadas pela administração. Há hoje entre os chineses uma grande comunidade de cristãos que supera os 100 milhões de fieis. Prova de que existe liberdade à prática desse religião e o bom relacionamento entre os budistas e cristãos chineses. Exceção largamente conhecida à questão tibetana, quando de sua discutível emancipação política, questionada pelo governo central de Pequim. Os ensinamentos do Budha ao falarem do social comunitário, moral e ética; não os vinculava a aspectos políticos e ideológicos. Assim a tradição budistas procura se abster de questões que envolvam características políticas ou conceitos pertinentes a esse assunto, fazendo-se clara distinção entre espiritualidade e política. Já as religiões ocidentais, catolicismo, islamismo e judaísmo, pensam diferentes, inclusive muitos clérigos e prelados, pedem licença à suas ordens religiosas para concorrerem a cargos públicos, pensamento desse tipo inexiste no budismo e hinduísmo. Lembrando ao amigo que fez a pergunta ao pastor Natanael, que insinua um ante chinêsismo que esse mês de maio de 2015, o governo da China emprestou ao governo do Brasil, US$ 50 bilhões de dólares; a juros abaixo do mercado internacional, sem garantia de fiança. Só para a quase falida Empresa Petrobras, foram US$ 6 bilhões de dólares, além de outros milhares de dólares para fomento em investimentos de intra estrutura, como ferrovia, estradas federais, portos e a base brasileira na Antártida destruída por uma tempestade de neve, será reconstruída com recursos do Banco de Desenvolvimento da China. Não se entendem o porque do pastor persistir em seu argumento falacioso montado sob uma farsa, embuste. 6. A iluminação que Budha buscava no sentido de saber qual a razão do sofrimento humano ele não poderia tê-la encontrado lendo a Bíblia?  Sim. Se tivesse um exemplar do livro de Romanos teria encontrado no capítulo 5.12 estas palavras iluminadoras: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” Aí está a razão do sofrimento humano: a entrada do pecado no mundo e com o pecado a morte. Romanos 6:23 “Porque o salário do pecado é a morte. E mais: que o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” João 5:24 “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Lamentável a atitude dos budistas na perseguição na qual estão envolvidos e porque se tivessem conhecido o cristianismo e oferecimento de Jesus não teriam tempo de perseguir e matar cristãos". Essa sexta pergunta, expõe uma comparação grosseira e descontextualizada. O caminho que o Budha encontrou para trazer o alívio ao sofrimento humano, foi trilhado pelo seu esforço contínuo de se aperfeiçoar na verdade, tendo uma vida estrita em meditação e contemplação. Praticando virtudes e atitudes meritórias alcançou uma profunda e mística sabedoria, entrando assim no estado búdico se livrou dos ciclos dos nascimentos, mortes e renascimentos, tornando se um iluminado. No Budismo aprendemos que o próprio discípulo é o responsável pela sua salvação, evolução espiritual, um processo que inclui os importantes aspectos do carma, nascimentos e renascimentos. A visão cristã é de uma redenção a procuração, pois o discípulo recebe esse direito ao crer em Jesus como aquele que pagou a dívida do pecado, trazendo a salvação até ele. Essa ideia, se pensarmos, é  ilógica, pois se eu pequei, sou eu quem devo pagar pelo erro. Não estou entrando no valor da doutrina, mas mostrando os dois lados de uma verdade de tradições espirituais diferentes, que podem se harmonizar e conviver pacificamente. Deplorável a última fala do pastor Natanael, apontando seu dedo inquisitório e implacável, usando um boato como verdade pra dar um juízo de valor totalmente precipitado e malévolo. Talvez o pastor tenha esquecido de que o colonizador europeu (Portugal e Espanha), aliados ao cristianismo, especificamente a Ordem dos Jesuítas, que sendo o braço espiritual da Companhia de Jesus fundada por Inácio de Loyla (1591-1556) foram os protagonistas do mais cruel e abominável processo de proselitismo e expansão da fé cristã. Essa Ordem Religiosa segundo os pesquisadores da história da igreja, de características militares, cumpria a ferro e fogo, as ordens de seus superiores eclesiásticos para converter os pagãos, infiéis e os "selvagens" usando todos os meios lícitos e ilícitos. Nesse tempo, para facilitar, havia a terrível heresia de que os índios e negros eram considerados meio humanos, pois era recorrente a ideias de que eles não tinham alma. Os manuais de história contam, que nos séculos XVI e XVII, época da colonização da América, mais de 50 milhões de indígenas foram dizimados em nome do evangelho de Cristo, sendo alguns forçados à conversão para que o reino de Deus se estabelecesse nessas terras. Concluo dizendo que essas observações servem para julgamento razoável de futuras situações, que porventura surjam em nosso caminho pela busca da verdade. Tendo sempre como objetivo a harmonia e sintonia com as opiniões divergentes, não nos aferrando a nenhum conceito ou ideia. Sendo essa uma sugestão dado pelo próprio Budha em um dos seus Sutras; tendo complacência àqueles de conhecimento espiritual preconceituoso e supersticioso, parecido com o do pastor Natanael, usando de misericórdia e compaixão à todos os seres humanos e não humanos, que estão conosco nessa atual encarnação nós ajudando a evoluir até chegarmos a libertação total, a completa iluminação. Um site que se atem a colocar em sua página principal, um boate antigo, improcedente e inverossímil, no mínimo, se levanta suspeita de sua validade como transmissor de valores morais, éticos e espirituais, tão importantes para as comunidades sociais que estão carentes de assumirem mais compromisso com a fraternidade universal. Espero que o referido site, hppt://www.cacp.org.br., se desculpe frente ao seus leitores, dando explicações plausíveis que esclareçam esse infeliz incidente, retirando esse pseudo artigo que macula as páginas dessa mídia eletrônica. Voltando a adquirir a credibilidade necessária para desenvolver um trabalho digno e confiável aos que acessam esse veículo de informação.  Abraço. Davi.