Auto
Conhecimento. V. Existe uma corrente que passa através de tudo. Ela é a base do
Universo, existe em todo o seu mundo físico. Alguns têm conhecimento dessa
Energia, mas a maioria dos seres humanos a desconhece. No entanto, todos são
afetados por ela. Quando você começar a tomar consciência dessa Energia
Essencial que é a base de todas as coisas, passará a entender tudo sobre sua
própria experiência. Compreenderá também mais claramente as experiências das
pessoas ao seu redor. I. Uma fórmula consistente traz resultados consistentes.
Tomar consciência dessa Energia e entende-la lhe dará uma fórmula para
compreender seu mundo e obter resultados consistentes. Eles serão de tal forma
concretos que você será muito mais capaz de prever suas experiências futuras e
de compreender suas experiências passadas de outra maneira. Você nunca mais se
sentirá como vítima, no passado ou no futuro, nunca mais terá medo de que
coisas indesejadas apareçam repentinamente em sua vida. Finalmente, entenderá
que é capaz de controlar sua própria experiência. E se dará conta do seu poder
criador ao perceber que tudo converge para ajuda-lo a realizar seus próprios
desejos. Todos têm esse potencial, alguns o estão realizando, e você vai
aprender como fazê-lo. Será extremamente gratificante saber que cada um dos
seus desejos pode ser totalmente realizado! 2. Você é um Ser Vibrátil em um
ambiente vibrátil. Você pode sentir se está permitindo sua conexão completa com
a Energia Essencial. Sabe como? Já falamos disso: quanto melhor você se sente,
mais está permitindo a conexão; quanto pior você se sente, menos está
permitindo. Sentir-se bem é sinal de que você está permitindo a conexão;
sentir-se mal é sinal de que você está resistindo à conexão com a sua Fonte.
Você é um “Ser Vibrátil”, e tudo que experimenta em seu ambiente físico é
vibrátil. Com os olhos, por exemplo, você converte a vibração em algo que vê.
Com os ouvidos, converte a vibração nos sons que ouve. O nariz, a língua e as
pontas dos dedos estão convertendo as vibrações nos cheiros, gostos e toques
que o ajudam a entender o seu mundo. As emoções são os mais sofisticados
intérpretes das vibrações. VI. A Lei da Atração é a mais poderosa do Universo.
Todo pensamento vibra, todo pensamento emite um sinal e todo pensamento atrai
de volta um sinal correspondente. Chamamos esse processo de Lei de Atração. Em
que consiste? Leia com bastante atenção, pois este é um ponto importante e, no
entanto, simples: coisas com vibrações
semelhantes se atraem. Um exemplo para você entender melhor. É o mesmo
princípio que atua quando você liga o rádio e o ajusta para receber o sinal de
uma torre de transmissão. Você não espera que uma música transmitida na
frequência 101 FM seja recebida quando o rádio estiver sintonizado em 98,6 FM.
Você sabe que as frequências do rádio devem coincidir. O mesmo acontece com a
Lei de Atração. Como suas experiências fazem com que você emita seus desejos em
forma de vibração, você deve encontrar maneiras de manter-se em harmonia
vibrátil com esses desejos para que eles se realizem. De que forma! 1. A que
você está dando atenção? Aquilo a que você está dando atenção fará com que você
emita uma vibração. Essas vibrações correspondem ao seu pedido. Aqui se
encontra seu ponto de atração. Se você deseja algo que no momento não tem,
basta concentrar sua atenção nessa coisa. Segundo a Lei da Atração, ela virá
até você, pois, ao pensar positivamente na coisa ou na experiência que deseja
ter, você emite uma vibração que faz com que essa coisa ou experiência venha
até você. Mas o contrário pode acontecer quando, ao desejar algo, você
concentra sua atenção no fato de não tê-lo. Nesse caso, a Lei da Atração
continuará a corresponder à vibração de não ter o que deseja, e ele não virá. É
assim que a Lei funciona. 2. Como posso saber o que estou atraindo? Então, o
segredo para atrair algo que você deseja é entrar em harmonia vibrátil com esse
desejo. Sabe qual é a forma mais fácil de fazer Isso? É imaginar-se tendo essa
determinada coisa. Faça de conta que ele já faz parte da sua experiência e
deixe seus pensamentos fluírem rumo ao
prazer de experimentá-la. A medida que você praticar esses pensamentos e começar a oferecer essa vibração
regularmente, estará permitindo que o objeto do desejo venha pra você. Preste
atenção para ver se está concentrando sua atenção na posse do objeto do seu
desejo ou na ausência dele. Quando a vibração dos seus pensamentos corresponde
ao seu desejo, você se sente bem, suas emoções são de contentamentos,
expectativa otimista e alegria. Mas, se você se concentrar na falta daquilo que
deseja, sentirá pessimismo, preocupação, desânimo, raiva, insegurança e
depressão. Vamos repetir isso até você ficar bem consciente. A medida que tomar
consciência de suas emoções, saberá como está lidando com seu Processo Criador
e passará a entender por que as coisas acontecem dessa ou daquela maneira. Suas
emoções lhe oferecem um sistema de orientação maravilhosos Se prestar atenção
nelas, será capaz de direcionar-se para tudo o que desejar. 3. Você consegue
aquilo em que pensa, querendo ou não. Segundo a poderosa Lei Universal da
Atração, você atrai para si a essência daquilo que ocupa predominantemente seus
pensamentos. Por isso, se pensar intensamente nas coisas eu deseja, sua
experiência de vida refletirá essas coisas. Mas, se estiver pensando
constantemente nas coisas que não deseja, sua experiência de vida também
refletirá essas coisas. Pensar em qualquer coisa é como planejar um evento
futuro. Quando você pensa com gosto, está planejando. Quando pensa com
preocupação, também está planejando. Mas preocupar-se significa usar a
imaginação para criar algo que você não deseja. Não se esqueça: todo
pensamento, toda ideia, todo Ser, tudo é vibrátil. Por isso, quando você
concentra sua atenção em algo, mesmo que por um breve período, a vibração do
seu Ser começa a refletir a vibração daquilo a que você está dando atenção.
Quanto mais você pensa em uma coisa, mais vibra com ela; e quanto mais você
vibra como ela, mais a atrai. Enquanto
sua vibração não for diferente, essa tendência continuará a aumentar. Quando
sua vibração mudar, as coisas que correspondem a essa nova vibração serão
atraídas para você por você. Quando você entende a Lei da Atração, nunca é
surpreendido pelo que ocorre em sua vida, pois compreende que, através do seu
próprio processo de pensamento, convidou cada pedacinho daquela experiência
para entrar. Nada pode acontecer em sua experiência de vida sem o convite que
parte do seu pensamento. Como não há exceções à poderosa Lei da Atração, é
fácil entende-la. Quando você compreender que obtém o que pensa, e quando se
der conta do que está pensando, você se tornará capza de controlar totalmente
sua própria experiência. 4. Qual é o tamanho de suas diferenças vibráteis? Veja
dois exemplos. Existe uma enorme diferença vibrátil entre os pensamentos de
amor por seu parceiro e os pensamentos do que você rejeita e gostaria que fosse
diferente nele ou nela. O relacionamento entre vocês dois reflete sempre seus
pensamentos predominantes, pois, mesmo que não tenha consciência deles, são os
que criam a relação. O desejo de melhorar sua situação financeira não poderá se
realizar enquanto você sentir inveja da sorte do seu vizinho, pois a vibração
do seu desejo e a vibração dos seus sentimentos de inveja são diferentes.
Compreender o poder de suas vibrações ajuda você a criar deliberadamente sua
própria realidade. Com o tempo e a prática, descobrirá que todos os seus
desejos podem ser realizados, pois, como já dissemos não há nada que você não
possa ser, fazer ou ter. 5. É você quem convoca sua energia vibrátil. Você é
Consciência. Você é Energia. Você é Vibração. Você é Eletricidade. Você é a
Fonte de Energia. Você é Criador. Você é Líder dos seus pensamentos. Embora
possa lhe parecer estranho, é importante começar a aceitar a ideia de que você
é um Ser Vibrátil, porque vive em um Universo Vibrátil em que as leis que
governam são vibráteis. Depois que você se harmonizar conscientemente com as
Leis do Universo e entender por que as coisas respondem de uma determinada
forma, dúvidas e medos darão lugar a conhecimento e confiança, insegurança
serão substituídas por certezas, e a alegria voltará, como premissa básica da
sua experiência. 6. Quando seus desejos e crenças são vibrações
correspondentes. Vamos repetir para que você absorva: Os semelhantes se atraem,
por isso a vibração do seu Ser deve corresponder à vibração do seu desejo, para
que a manifestação concreta dele seja totalmente recebida por você. Você não
pode se concentrar na ausência daquilo que deseja e achar que vai recebe-lo,
pois a frequência vibrátil da ausência é diferente da frequência vibrátil da
presença. Isto é: as vibrações de seus desejos e de suas crenças devem estar
sintonizadas para que você receba o que deseja. Quando você identifica,
consciente ou inconscientemente, suas preferências pessoais, a Fonte que adora
você e o escuta responde imediatamente à vibração de seu pedido, seja ou não
colocado em palavras. Por isso, não importa o que você peça, seja de que forma
for, seu pedido é ouvido e respondido todas as vezes, sem exceções. Quando
pede, você é sempre atendido. 7. Redescoberta da arte de permitir seu Bem Estar
natural. Vamos entrar agora numa questão da maior importância; a Arte da
Permissão. Ela consiste em permitir que o Bem Estar do Universo flua de forma
constante e irrestrita para sua experiência. É a arte de permitir que o Bem
Estar, que constitui cada partícula do que você é, continue a fluir pelo seu
ser enquanto você viver. A Arte da Permissão é a arte de não resistir ao Bem
Estar que você merece; o Bem Estar que é natural; o Bem Estar que é o seu
legado, a sua Fonte e o seu Ser verdadeiro. 8. Abra as comportas e deixe o Bem
Estar fluir para dentro de você. No lugar onde você se encontra neste exato
momento, veja-se como o beneficiário do poderoso Fluxo do Bem Estar. Tente
imaginar que está se deixando levar pela corrente desse fluxo formidável.
Sorria e procure aceitar que você o merece. É claro que essa capacidade de
sentir que merece o poderoso Fluxo do Bem Estar depende do que esteja
acontecendo na sua vida. Em algumas circunstâncias, você se sente uma pessoa de
muita sorte: em outras, nem tanto. Preste atenção! Quando você se sente uma
pessoa de sorte e espera que boas coisas fluam para você, isso indica que se
encontra num estado de permissão. Mas quando se sente perseguido, e não espera
receber boas coisas, está num nível de resistência. Desejamos que ao continuar
a ler e reler nossa mensagem você consiga ir se libertando de qualquer hábito
de pensamento que o leve a rejeitar o Fluxo do Bem Estar. Queremos que entenda
que, se não fossem os pensamentos resistentes, aqueles adquiridos durante o
trajeto físico e que não estão em alinhamento vibrátil com o Fluxo do Bem
Estar, você seria um receptor total desse fluxo, pois você é uma extensão
literal dele. Portanto, você é totalmente responsável por permitir, ou não, a
entrada do Bem Estar. Não estamos dizendo que seja fácil, pois os
acontecimentos e as pessoas que o cercam podem influenciá-lo para permitir ou
rejeitar esse fluxo. Mas, de fato, só depende mesmo de você. Você pode abrir as
comportas e deixar o Bem Estar entrar, ou pode escolher pensamentos que você
decida resistir a ele, o fluxo está correndo constantemente para você. Ele
nunca acaba, nunca se cansa, está sempre à sua espera. 9. Você está na posição
perfeita para começar. Nada precisa mudar nas circunstâncias que o cercam para
você começar a permitir deliberadamente sua conexão com o Fluxo do Bem Estar.
Você pode estar na cadeia, com uma doença terminal, falido, ou em meio a um
divórcio. Ainda assim, está no lugar perfeito para começar. Também queremos que
entenda que isso não requer muito tempo. Requer apenas uma compreensão simples
das Leis do Universo e uma determinação para avançar rum ao estado de permitir
a conexão. Quando você dirige seu carro de um lugar para outro, tem consciência
de quais são o ponto de partida e o de chegada. Você sabe e aceita que não pode
chegar ao seu destino instantaneamente, que será necessário percorrer uma
determinada distância, num certo tempo. Embora possa ficar ansiosos para chegar
logo, e talvez até se canse com a viagem, você enfrenta o percurso sem pensar
em dar meia volta e retornar ao ponto de partida. Você não anuncia aos quatro
ventos sua incapacidade de realizar a jornada. Você aceita a distância ente o ponto
de partida e o lugar para onde deseja ir e continua seguindo na direção dele.
Você sabe o que deve fazer e faz o que é necessário. O mesmo acontece com o
trajeto entre o lugar onde você está agora e aquele aonde deseja chegar. Do
Livro Peça e Será Atendido. Aprendendo a manifestar seus desejos. Abraço. Davi.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
II. O Sufismo como Dimensão Mística do Islã.
Islamismo.
Continuamos com o artigo do professor Carlos Frederico Barboza de Souza.
"Existem objeções contra a lista de termos acima, (estão no final da Parte
I) pois eles são citados uma única vez no Corão, o que parece desproporcional
se atribuir a eles o desenvolvimento de uma mística complexa como a Sufi.
Porém, estes termos são os muitos bih t, isto é, termos ambíguos, que prendem o
leitor e exigem dele uma istinb t, isto é, releitura constante e global do
texto, uma ruminação sobre ele para uma melhor compreensão do mesmo. Estes são
termos difíceis, mas importantes, uma vez que, elucidados, oferecem a chave de
leitura do texto corânico. Portanto, muitas vezes sua leitura se dedica
explicitamente à compreensão destes termos. Ainda no Corão se encontram as
alegorias típicas do Sufismo como: fogo e claridade de Deus, os véus de luz e
trevas colocados sobre o coração, o pássaro, símbolo da ressurreição e
imortalidade da alma, a água do céu, a árvore, representação da vocação humana
e seu destino, o vinho, a salvação, símbolos da entronização dos santos
privilegiados no Paraíso, correlativo do itinerário místico safar neste mundo.
Temas como o Juízo Final, o Jardim do Paraíso, e o fogo do inferno, presentes
no Corão, também foram importantes para os antigos ascetas, que concentravam,
muitas vezes, suas meditações nessas temáticas. Porém, um tema muito
desenvolvido pelos Sufis foi o do "pacto" que Deus realizou com a
humanidade antes da criação, pois seu conteúdo é sempre associado a uma relação
amorosa com Deus, já iniciada na eternidade, antes de qualquer coisa existir. A
voz de Deus, ouvida neste momento primordial, é ecoada nas orações rituais
salat, nos dikr e em todas as vozes e cânticos entoados em seu serviço. Mesmo
os "sam" sãoi entendidos como uma tentativa de retornar ao movimento
do contato primordial com Allah. Também a psicologia mística do Sufismo é
marcada pela linguagem corânica, uma vez que o árabe nele presente emprega uma
gama variada de termos para descrever os diversos aspectos do Eu Interior. Além
do termo nafs, são utilizados termos como sadr (o peito, parte mais externa do
coração e sede das emoções), qalb (parte mais interna do ser que representa o
coração), fuad (pericárdio) e lubb (o coração interior), ruh (espírito) que
Deus insuflou no ser humano. Fora esta forte presença do léxico corânico nos
termos técnícos Sufis, em suas metáforas e temáticas, o Corão também é marcante
em seu ritmo pautado pelo duplo movimento da descida da revelação e da
"ascensão" do Profeta. Uma segunda fonte da experiência mística Sufi
é a figura do Profeta Muhammad que formata o compromisso do gnóstico como um
juramento de fidelidade ao Profeta, principalmente baseado na passagem corânica
no qual se lê que " ( ... ) aqueles que te juram fidelidade, a juram, em
realidade, a Deus". Segundo Annemarie Schimmel (1922-2003), o Profeta
Maomé, através de sua luz corresponde à substância primitiva criada por Deus.
Assim, ele foi o primeiro ente criado e sua forma original é um caminho seguro
que conduz a Deus. É a mística da "Luz de Muhammad", ou Luz
Muhammadiana, que aborda a questão da luz divina, os místicos interpretam que a
lamparina que ilumina o mundo é o Profeta Muhammad. Por isso muitos Sufis, até
hoje, cultivam a integração à sua substância luminosa. Sua "viajem
noturna" é outro elemento que se insere no Sufismo a partir de uma
compreensão esotérica. Ela significa a ascensão que todo Sufi deve fazer rumo à
Verdade, à "haqsqa". Além disso, Muhammad é o modelo da união com a
divindade, sendo o ser humano que mais se aproximou de Deus. Também Nars (1966)
lembra que o Profeta "(...) assinala o estabelecimento da harmonia e
equilíbrio entre todas as tendências presentes no homem, sensuais, sociais,
econômicas e políticas, que não podem ser superados, a menos que o próprio
estado humano seja transcendido". Sua qualidade de analfabeto revela sua
dimensão de aniquilamento, receptividade passiva e aberta diante da Verdade, a
semelhança de Maria que após a anunciação do anjo Gabriel, virgem; gerou u
filho. E o papel de Muhammad no Sufismo chega a tal ponto que o aniquilamento
em Deus tem como trajetória quase que obrigatória o aniquilamento em Seu
Profeta, itinerário de realização do amor de Deus. Um último aspecto que
assevera a centralidade do Profeta junto aos Sufis e a reverência que se
tributa a sua descendência, tanto entre os partidários do Sufismo quanto entre
os do Sunismo, uma vez que, com exceção da Ordem Naqsbandi, todas as demais se
remetem a pelo menos um "Iman" shiita em sua genealogia "silsila".
Principais Elementos Constituintes de Sua Proposta Espiritual. Desde os
primórdios do Islã, os seguidores do Profeta acreditavam que as observâncias
externas só tinham valor se acompanhadas de um sentido interior, de um desejo
de obedecer aos mandamentos de Deus, de uma experiência do reconhecimento da
grandeza dele e da pequenez do ser humano. Esta forma de conceber o seguimento
do Islã envolvia a totalidade da vida da pessoa, incluindo observâncias morais
e espirituais. O desejo de pureza de intenção, com o passar do tempo, deu
origem a práticas ascéticas, talvez sob influência dos monges cristãos
orientais. Buscava-se uma forma de relação com Deus que passasse pelo amor e
pela purificação do coração. Embora o surgimento destas concepções ascéticas
tenha provocado reações anti místicas, elas darão origem, mais tarde, ao
Sufismo. Este caminho "salik" de interioridade e purificação do
coração que é o "Tasawwuf", no entanto, é concebido como sendo
dividido em vários estágios e fases, que conduzem o Sufi através da
"saria", para entrar na "tariqa" e atingir o haqsqa. A
saria representa a prática exotérica da busca de um crente muçulmano. É a
prática dos princípios básicos da Lei Islâmica como pressuposto para
adentrar-se no Caminho. A 'tarsqa', de acordo com sua etimologia árabe, é o
caminho, o meio para se chegar a algum lugar e, portanto, o método que se segue
neste percurso. Implica em uma trajetória de busca esotérica e, como tal, se
caracteriza por propor a adesão à guia e ao ensinamento de um sayh e aos
métodos que ele e sua escola propõem como meios para se atingir a Haqsqa. Já
significa em concreto o seguimento de uma proposta de vida caracterizada pela
orientação Sufi. A saria representa o caminho largo, destinado a todos os
homens, a tarsqa é um caminho mais estreito e supõe um passo a mais para os que
se propõem chegar ao estado de Homem Perfeito na concepção Sufi, a plena
realização das potencialidades humanas. Assim, pois, por meio da tarsqa, o
gnóstico atinge a haqsqa, isto é, a Realidade última e absoluta por ele ansiada.
Porém, apesar de serem momentos distintos na via Sufi, estas três etapas
configuram uma unidade em si e não são vistos como momentos estanques e
isolados na trajetória espiritual. Segundo Rums, há uma intimidade dos laços
existentes entre a Lei Sagrada saria, o Caminho que os Sufis devem seguir
tarsqa e a Realidade última que é buscada haqsqa. Entretanto, como há
diversidade de temperamentos e de capacidades espirituais, os caminhos dentro
da divisão tripartite acima representada são muitos. Supõem estágios que podem
ser divididos e classificados em moradas, estações, e estados. Junto a estes
estágios e fases vem o termo técnico waqt, tempo, que é utilizado para designar
o momento presente, isto é, o momento no qual uma graça é dada. Por isso o Sufi
é chamado também de ibn al waqt, o filho do momento presente, aquele que se
entrega completamente ao momento presente e recebe o que Deus lhe envia e
permite no aqui e agora. As diversas Escolas Sufis definem vários tipos de
estações que seus adeptos devem percorrer. Entretanto, estas divisões não são
uniformes e ainda dependem, para serem percorridas, da capacidade do gnóstico e
da ação de Deus neste percurso. Porém, mais que procurar atingir estágios, o
Sufi deve procurar o próprio Deus. Dai que é condenável a atitude de taqyid,
isto é, a atitude de todo aquele que se prende a um desses estágios e o associa
à Realidade Divina, como se esta se identificasse plenamente com o que se
experimenta em um estágio particular. Os meios que os Sufis utilizam para avançar
nestes estágios são vários. Além da ascese e do jejum, pode-se citar a
rememoração contínua de Deus, prática esta realizada principalmente por meio da
recitação do dikr e da prática da meditação: também não se pode esquecer do
agir conforme as prescrições contidas no Corão, do cultivo da "arte da
conversação" (prática de troca de experiência espiritual e de busca
conjunto no discernimento do caminho), da leitura de textos sagrados e da
fraternidade pautada pelas regras da "cavalaria espiritual", centrada
no amor, na interdependência e no sacrifício heroico. Os métodos Sufis
insistem ainda na educação da sensibilidade espiritual, cordial e racional,
além de uma busca de equilíbrio corporal por meio de movimentos rítmicos
pautados na respiração e na percepção corporal visando ao favorecimentos da
concentração e consciência interior. O dikr é a repetição dos Nomes de
"Allah" com o objetivo de propiciar a rememoração dos mesmos,
penetrando vivencialmente em seus significados profundos e assumindo-os na própria
personalidade, do mundo e se libertar para o voo da união com Deus " ( ...
) na recordação de Deus, sossegam-se os corações". Pode ser um
recolhimento por meio da recitação destes Nomes ou um recolhimento no coração
interiorizando o sentido dos mesmos. Pode também ser uma recitação silenciosa,
acompanhada de técnicas de respiração, concentração em partes do corpo ou no
Profeta ou no "Sayh" e visualizações. Pode realizar-se durante
o dia e em meio as atividades cotidianas, mas na maioria das vezes se realiza
em um ritual coletivo mahlis ou hadra, praticado regularmente em certos dias da
semana e acompanhado de música, poesias e danças, o que o tornaria um sam. Um
suporte importante para a prática do dikr é a halwa, o retiro espiritual
solitário para a invocação do Nome Divino e que pode durar horas ou até dias.
Se a repetição de orações pode ser considerada extensão e intensificação de
práticas comuns a todo muçulmano, o desenvolvimento de técnicas de meditação
que utilizam os Nomes Divinos é original do Sufismo. Nelas se estabeleceram
inumeráveis técnicas relacionadas a cada estágio espiritual. É comum também
utilizar-se de um instrumento semelhante ao rosário cristão que é chamado wird,
subha ou tasbsh. Porém, a condição sine qua non (impreterível) para a
realização do dikr é uma absoluta sinceridade para recordar a Deus sem
distrações e a busca da prática das virtudes. Esta experiência pode ser
acompanhada de graças tanto emocionais como vivencias experiências. Neste
sentido, o que sobressai no Sufismo é o seu caráter experimental. Embora sejam
escritores e grandes produtores de literatura, inclusive uma literatura
exigente em termos de capacidade de compreensão, os Sufis são, em geral,
críticos das mesmas, pois a prática Sufi não é algo que se possa adquirir por
meio da erudição, mas antes por meio de uma experiência do Sagrado. O órgão
para se ter acesso a essas experiência é o coração qalb. O conhecimento
intelectual sozinho é insuficiente, pois, mesmo a marifa - diferentemente da
concepção ocidental que centraliza o conhecimento no intelecto e na razão - tem
seu centro no coração, que lhe permite um conhecimento em contínua
transformação. A este respeito, Nuri Al Said (1888-1958), de Bagdad (Iran) e
Ibn Arabs (1165-1240), de Múrcia (Espanha) afirmam que, diante da infinidade de
atributos divinos, somente um órgão espiritual como o coração, com sua
plasticidade, seria capaz de assumir diversas formas para receber o coração, em
sua essência, é mudança contínua, perpétua transformação taqallub, e não se prende
a nenhuma configuração definitiva. A ideia do caminho Sufi ainda implica
uma concepção de que o ser humano não é somente servo de Deus, mas pode se
tornar também seu amigo wali, esposo de Deus sendo seu perfume sobre a terra.
Com isto, surge em seu meio uma teoria dos amigos de Deus ou da santidade
wilaya. Sempre haverá amigos de Deus no mundo, que serão responsáveis por
mantê-lo em seu eixo. Os amigos de Deus intercedem junto d Ele pela humanidade
e seu poder espiritual pode permanecer mesmo após sua morte, o que propicia a
crença na permanência de sua baraka junto a seu túmulo e, portanto, a prática
da visita aos mesmos, transformados agora em locais sagrados, que contêm,
segundo hipótese de Ibn Arabs, uma concentração espiritual, himma. Em contraste
com a missão privada e secreta. Para se chegar a ser um amigo de Deus Wali, o
viajante deve adquirir algumas virtudes, como a pureza do coração e o desapego.
Segundo uma metáfora, o coração humano é como um espelho que tem que ser polido
para que possa refletir a beleza do Ser Divino. Para isto, deve se livrar do
egoísmo, ambição, orgulho, vaidade e hipocrisia, entre outras coisas. Deve se
libertar também de seus apegos. Ele deve realizar um processo de
desidentificação com as coisas do mundo e uma busca de identificação com Deus.
Por isto, no meio Sufi se valoriza a qualidade de faqsr, isto é, de pobreza, de
desapego de todas as coisas materiais e espirituais para que o viajante seja
livre na sua busca do Real. Direcionando-se rumo a este objetivo, o Sufi deve
aprender a confiar em Deus e dele depender, esperando o despertar espiritual,
no qual o próprio Deus se revelaria a ele, produzindo uma aniquilação fan no
seu ser, propiciando a união mística com a Divindade e a subsistência no
Divino, quando, então, ele seria capaz de vivenciar o tawhsd, a confissão
existencial de que Deus é Um. Neste momento, o gnóstico acessa a
experiência profunda de al haqq, o que equivale dizer que ele chegou a haqsqa.
Segundo Al Gaz Is, exitem quatro graus no monoteísmo islâmico que representam
estágios na apreensão da Unicidade Divina: o primeiro é quando se diz com os
lábios o Sah da, o segundo atinge-se quando o coração de quem pronuncia o Sah
da nele crê, o terceiro é quando o ser humano vê a Unicidade de Deus por via de
revelação mediante a luz do Verdadeiro, e o quarto é alcançado a partir do
momento que o ser humano não vê no que existe a não ser Um Único. A partir dai,
abre-se para o crente o caminho da meditação dos belos Nomes de Deus e da
superação da multiplicidade aparente da realidade. Em seu percurso, os Sufis
devem ser acompanhados por um mestre Sayh ou Pir, submeter-se a um processo de
iniciação, que consiste em um juramento de aliança ao Sayh, recebimento de um
manto especial hirqa, recebimento de uma oração secreta wird ou hizb e
recebimento de um ritual do dikr. Assim, a relação do discípulo com o mestre
ocorre na forma de um pacto que envolve ahirqa, a fórmula do dikr e a companhia
do mestre, suhbat. Da parte do iniciante, este pacto implica no abandono completo
nas mãos de seu orientador, que é o representante do Profeta e intermediário
entre ele e Deus. O mestre ou sayh, escolhido por All h, é considerado um
especialista no caminho justamente pelo fato de tê-lo já trilhado, e pode
ensinar aos seus discípulos os desafios do mesmo. O contato com ele adquire um
caráter profundo e especial, pois desta relação depende a travessia rumo a
haqsqa, pois do sayh emana a luz que ilumina o coração de seu seguidor. No
entanto, o Sufismo não é uniforme em suas propostas espirituais e acerca de seu
método e concepções metafísicas e filosóficas. Assim é que, quanto à forma de
se viver a experiência religiosa, surgem em seu interior algumas tendências. No
tocante à relação com a religião islâmica e suas verdades, segundo Miguel Asin
Palácios (1871-1944), pode-se afirmar a existência de um Sufismo Ortodoxo cujo
expoente é Junayd, o grande mestre dos Sufis de Bagdad, enfatiza o estado de
sobriedade sahw, que prioriza as virtudes, em oposição ao estado de embriaguez
ou intoxicação sukr, que caracteriza-se pelos êxtases, locuções teopáticas,
iluminações e pela aniquilação fan em Deus. Desta segunda tendência, chamada
por Palácios de Sufismo Heterodoxo, dois nomes são significativos: bistami e
Hallaj, que foi discípulo de Junayd e terminou sua vida preso e condenado à
morte, incompreendido e visto como herege pela ortodoxia muçulmana. Quanto à
questão da foram de aproximação do Sagrado, uma outra distinção possível
caracteriza, o Sufismo em Metafísico - cujo representante mácimo foi Ibn Arabs
(1165-1240) - e outro que se concentra na experiência amorosa como meio para a
união mística, tendo como representantes Rabi a al Adawiyya, Du I Num al Misri
e Rãms. Quanto à questão da concepção acerca da finalidade do Sufismo, ou seja,
a união mística com Deus, também se pode distinguir, segundo Louis Gardet
(1904-1986), duas tendências, já observadas por Ibn Haldun, uma de irradiação
da vida divina no coração do fiel, tjalli, segundo a qual o fiel deve ter seu
coração polido como um espelho para irradiar da melhor forma a Divindade e seus
atributos, e outra, a wahda, que apregoa a unidade ou identidade de substância
entre a Divindade e o fiel. A primeira identifica-se com a união intencional de
amor e de vontades, a segunda, com a união de substâncias, embora isto não
signifique, a priori, a afirmação de um monismo substancial. Na primeira
concepção se encontram os Sufis anteriores ao século XIII (Rabi a, Hallaj,
Hasan Basri (642-728)). A partir deste período, crescem os adeptos da segunda
concepção, wahada, que enfatiza o aniquilamento do eu fan frente à potência
divina e , simultaneamente. Encontram-se nesta tendência Ibn al Farid
(1181-1235) e Ibn Arabs (1165-1240). Conclusão. O Sufismo possui uma íntima
relação com a tradição islâmica. Isto pode ser afirmado a partir do léxico de
sua terminologia técnica e também a partir de sua espiritualidade, que bebem no
Corão e na tradição do Profeta. Ao mesmo tempo, é importante perceber sua
singularidade no enfoque da tradição islâmica, pois sua interioridade e
interpretação do Corão possuem configurações bem particulares. Da mesma
maneira, vale ainda ressaltar a diversidade de formatos por meio dos quais ele
se apresenta, com seus métodos e formas de organização diversos. Porém, em meio
a esta diversidade, a tradição Súfica encontra sua unidade na busca pela
experiência e não pelo racional do Sagrado e na concepção de que este, em sua
Unidade, se manifesta em todas as coisas. E para que esta busca possa propiciar
o resultado desejável que é a união com a Divindade, a presença do sayh assim
como sua orientação são essenciais, juntamente com a prática do dikr. O Sufismo
não é feito só de prática espiritual. Ou melhor, sua prática espiritual engloba
toda a vida do Sufi, pois é entendida como não sendo desvinculada dos outros
contextos da vida humana, como o político, o social, as relações inter
subjetivas, etc. Ele inclui em seu bojo uma cosmo visão que possui várias
dimensões complexas e conexas entre si: metafísica, cosmológica, psicológica e
escatológica. Por isto, ao discorrer sobre as diversas dimensões com as quais o
Sufismo se envolve. Seyyed Hossein Nars (1933- ) afirma que o
Tasawwuf aborda essencialmente três elementos: a natureza de Deus, a natureza
do ser humano e a natureza de suas virtudes espirituais. O seu término é Deus,
o seu princípio é o homem na condição terrena: a via, o caminho, é aquilo que
une o homem a Deus, isto é, o método que desenvolve a virtude espiritual da
alma e a doutrina que delineia os contornos do universo através do qual o
peregrino, o místico, deve completar a viagem para atingir a Divina Presença e
conseguir a verdadeira imortalidade. Esta complexidade que envolve o Sufismo
precisa ser aprofundada. Cabe aos investigadores da atualidade, portanto,
procurar ampliar o contato com o mesmo e o conhecimento a seu respeito, assim
como acreditar na busca de seus seguidores. Para isto, torna-se importante a
construção de referenciais adequados bem como desenvolver atitudes cognitivas e
epistemológicas que propiciem um acesso o mais adequado possível à sua
realidade. É necessário, sobretudo, o abandono do etnocentrismo a fim de que se
possua um olhar mais afinado com sua realidade, suas crenças e práticas.
Somente munido de tais pré requisitos é que tal conhecimento propiciará
um enriquecimento de nossa cultura, pois saberá acerca de mais uma
possibilidade humana de se realizar". Que Allah seja com o coração, mente
e emoções de todos. Referencias consultados pelo autor para a pesquisa do
artigo: Mística e Política. São Paulo: Loyola, 1994. Os Fundadores das Grandes
Religiões. Petrópolis: Vozes, 2000. Introduzione alle dottrine esoteriche dell
Islam. Roma: Edizione Mediterranne, 1987. Cristianismo e Islamismo. Porto:
Editorial Perpétuo Socorro, 1991. El Corán. Barcelona: Helder, 2002. II Grande
Libro della Sapienza Sufi. Milão: Mondadoria Editrice, 2000. Promessas do Islã.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. O Sufismo como Dimensão Mística do Islã.
Belo Horizonte. 2005. Nova Luz sobre a Antropologia. Rio de Janeiro:
Zahar, 2001. Uma História dos povos Árabes. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. Abraço. Davi.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
I. O Sufismo Com Dimensão Mística do Islã.
Islamismo. Amigos
leitores passo a transcreve a pesquisa acadêmica feita pelo professor Carlos
Frederico Barboza de Souza com o título: O Sufismo como Dimensão Mística do
Eslã. Ao final menciono a referencia bibliográfica. Como introdução digo que o
Islamismo é sabidamente uma doutrina religiosa com várias vertentes
filosóficas. Acontece que o mundo ocidental, mais notadamente o senso comum, em sua perversa generalização
estereotipou a religião Islâmica, comparando-a aos diferentes grupos radicais e extremistas
(e suas facções) que usam a força, brutalidade e desumanidade para impor suas ideologias
políticas, sociais e doutrinas dogmáticas. Distorcendo os santos mandamentos do Alcorão e da Sharia para seus benefícios escusos e malignos. Exemplos temos a AlQaeda e o Estado Islâmico combatido com ferocidade por 34 país muçulmanos liderados pela Arábia Saudita no norte da África e península Arábica. Também o Irã cooperar ativamente para combater esse banditismo terrorista juntamente com a coalizão internacional liderada pelos americanos no Oriente Médio, Síria e Iraque. Mas existem inúmeros seguimentos
muçulmanos espiritualistas que proclamam o amor, a paz, a compreensão, a
tolerância e a fraternidade humana. Esses nobres movimentos da religião do
profeta Maomé em momento algum ganham destaque na mídia, falada, escrita ou nos
tele jornais do ocidente. Uma religião que precisamos conhecer para melhor
respeitá-la, valorizando seus conceitos, pressupostos e mistérios. Entendendo
que Allá O Eterno Bem da Humanidade a concedeu como dádiva divina, dentre
tantas, à todos os povos que o buscam com um coração sincero e contrito. Allá
seja conosco nessa leitura. Resumo da dissertação. "Diante da
realidade islãmica contemporânea e buscando estar atento às diversas vozes
presentes no "outro", este artigo tem em vista apresentar de forma
sucinta o que é o Sufismo, pensando-o como uma possibilidade entre muitas de
concretização das crenças islâmicas. Para tal, iniciar-se-á procurando
compreender como a notícia acerca de sua existência chega ao Ocidente, ou seja,
como os ocidentais o "descobrem". A seguir, centrar-se-á na busca de
compreender o Sufismo a partir de sua relação com o Islamismo por meio de suas
fontes primordiais: o Alcorão e o Profeta Muhammad (ou Maomé). Por fim, este
artigo apresentará brevemente alguns elementos que compõem e caracterizam o
repertório de crenças e práticas de várias Escolas Sufis tais como a busca da
Unicidade Divina, a prática meditativa da recitação dos Nomes Divinos e a
submissão à orientação de um "Sayh". " De maneira geral, a mídia
apresenta uma face quase que unilateral acerca do Islã, baseada em algumas pré
compreensões simplistas do mesmo ou compreensões exclusivas de grupos mais
radicais no seguimento e interpretação da Lei Religiosa e em questões sócio
políticas. Assim, sendo, na maior parte das vezes, é incapaz de captar sua
singularidade enquanto experiência religiosa e, ao mesmo tempo, a diversidade
que compõe o seu espectro. Infelizmente, muitas pessoas, ao não terem acesso a
uma leitura mais ampla acerca da história e constituição da tradição muçulmana
e dos diversos grupos e concepções que a compõem, acabam desenvolvendo
comportamentos e posições intolerantes e preconceituosas sem ao menos se
colocarem a questão de que a maior parte do preconceito surge do
desconhecimento do outro ou de um conhecimento insuficiente e limitado por
paradigmas que não se encaixam em seu universo de sentido. Diante de tal
situação, o primeiro passo é o conhecimento, pois este é a primeira forma de
aproximação da singularidade e alteridade que constitui o outro enquanto
outro.porém, este esforço de aproximação cognitiva do diverso pode ter seu
resultado malogrado devido às perspectivas com que uma pessoa se mune na
realização de tal tarefa. Portanto, algumas posturas são importantes e
necessárias. Respeito e acolhida ao outro, aceitando-o como um ser distinto e
valorizando sua alteridade, que em si é uma riqueza, pois aponta para a
liberdade humana capaz de construir diversas posturas frente ao cosmo e á
realidade sócio político cultural, indicando a possibilidade de que se pode ser
diferente, de que não se é "obrigado" a ser sempre do mesmo jeito.
Além do mais, o contato com esta riqueza que a diversidade propicia gera uma
aprendizagem sobre si mesmo e sobre o locus de onde se parte e no qual cada um
se situa. Também se faz necessário munir-se de humildade, reconhecendo-se
pequeno diante da infinitude absoluta do Sagrado que ultrapassa as crenças de
cada tradição religiosa. Uma atitude como esta pode propiciar uma busca sincera
da Verdade que está para além das tematizações acerca do Divino que cada
religião elabora ou se percebe inspirada a elaborar. Assim, novas e inusitadas
manifestações compreensões acerca da própria tradição religiosa e acerca das
manifestações do Sagrado são possibilidades. Por fim, faz-se necessário
munir-se de gratuidade, pois não é uma busca de conhecimento acerca do outro
para convertê-lo, ou seja, torná-lo semelhante a nós e acabar com a diferença.
Ouvir a voz do "outro" significa entrar na relação face a face com
ele e além dos interesses pessoais de quem com ele estabelece interlocução
sócio político cultural; e permitir, assim, a revelação de seu rosto às
concepções preconcebidas e ao sistema dominante. Diante da realidade Islâmica
contemporânea e buscando estar atento às diversas vozes presentes no outro,
este artigo tem em vista apresentar de forma sucinta o que é o Sufismo,
pensando-o como uma possibilidade; entre muitas, de concretização das crenças
Islâmicas. Para tal, iniciar-se-á procurando compreender como a notícia
acerca de sua existência chega ao Ocidente, ou seja, como os ocidentais o
"descobrem". A seguir centrar-se-á na busca de compreender o Sufismo
a partir de sua relação com o Islamismo por meio de suas fontes primordiais: o
Corão ou Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos) e o profeta Muhammad ou Maomé.
Por fim, este artigo apresentará brevemente alguns elementos que compõem e
caracterizam o repertório de crenças e práticas de várias Escolas Sufis. A
Descoberta do Sufismo pelo Ocidente. O Sufismo tem uma longa história e é
cercado de um certo interesse pelo mundo ocidental. Já na Idade Média, o
contato entre cristãos e árabes ocorreu mediado pela filosofia. Textos de origem
árabe judaica provocarão uma transformação no pensamento ocidental: novos
métodos, novos conhecimentos, novos problemas, que exigirão um esforça enorme
de razão cristã. O próprio pensamento Aristotélico chega ao ocidente, de forma
sistemática e sob uma ótica neoplatônica, por meio do filósofo persa Avicena
(980-1037). Depois, os que continuaram a trazer a obra aristotélica para o
Ocidente foram os tradutores, dentre os quais tiveram um papel
significativo o Collegium de Toledo, fundado pelo arcebispo Raymond de Sauvetat
(1126-1151), e que traduziu o texto aristotélico a partir de versões siríacas e
árabes. Não se pode esquecer também o intenso debate no seio da cristandade com
o chamado "averroismo latino", movimento que interpretava Aristóteles
a partir do prisma de Averrois (Ibn Rusd) e tinha como seus principais
representantes Boécio de Dácia (1200-1299) e Siger de Brabante (1240-1284).
Mais tarde, o catalão Raimundo Lúlio (1316) parecia haver sofrido uma
influência dos místicos Sufis. Também Joinville chanceler de Luis IX, levou em
1638, levou para a Europa o conhecimento da figura de Rab a Al Adawiyya,
no final do século XIII. No século XVII, em 1638, Fabricius, da Rostoch
University, editou e traduziu pela primeira vez o poema do místico
egípcio Ibn al Farid. E em 1651, Adam Olearius (1599-1671) fez a primeira
tradução para o alemão dos livros favoritos da intelectualidade européia.
Porém, é principalmente a partir da era moderna que o interesse de intelectuais
do ocidente pelo Sufismo aumenta, pois a modernidade é o marco a partir do qual
surge a preocupação ocidental mais ampla. A motivação desta curiosidade se
relaciona com o progressivo empreendimento colonial, mormente à medida que este
vai se tornando, em termos políticos, um dos principais escopos das nações
euporéias. O Sufismo como Dimensão mística do Islã. 1. O intuito de conhecer a
religião dos povos "colonizados" era propiciar um melhor meio de
dominá-los, pois muitos de seus mestres possuíam, em vários países, lugar de
destaque e, em outros, muitas rebeliões estavam associadas a suas lideranças.
Para isto, investiu-se em especialistas sua língua e cultura, o que gerou
vários volumes de estudos e traduções de vários de seus textos, além de gerar
uma especialidade científica: o orientalismo. 2. Assim, "Naqueles
ambientes, o estudo do Sufismo se tornava uma via mediana entre a constituição
de um dossiê policial e a análise de cultos perigosos". O início dos
estudos ocidentais modernos sobre o Sufismo se encontra ao redor do século
XVIII, quando se criaram os conceitos fundamentais que condicionaram a
compreensão a seu respeito, e se estende pelo século XIX. Os primeiros
trabalhos se baseiam nos relatos fragmentários de viajantes europeus pelos
territórios árabes e que viam os Sufis como um grupo exótico e referindo-se
vagamente ao Islã. Sua terminologia sublinhava o elemento bizarro e os
comportamentos que mais se distanciavam dos comportamentos europeus. Neste
sentido, os termos mais utilizados para se referir a seus adeptos foram a
palavra árabe faqsr e a persa dervish, que significam, ambas, pobre. Porém, a
utilização destes termos também era marcada pelo exotismo. Para se abordar os
dervishes por exemplo, ressaltavam-se os grupos urlantes, dançantes e
rodopiantes. Quanto ao termo faqsr, a confusão era maior. Além de não se faer a
diferenciação entre os ascetas não muçulmanos e os muçulmanos, o termo se
assemelhava à palavra inglesa "faker", falsificador, o que deixava
uma impressão de que os Sufis eram charlatães e impostores. Nesta ambiência de
forte cunho político, surge o termo Sufismo, proveniente de
"Sooffess", forma como os ingleses nomeavam os adeptos da
"Tasawwuf", palavra pela qual estes grupos se autodenominavam em
árabe "Safs e Safiyya". Diferentemente de "faqsr e
dervish", embora se referisse a mesma realidade, este termo
"Sooffess" era carregado de um sentido positivo. Eram admirados por
sua pesia, música e danças. Além do mais, eram vistos como livres pensadores
que tinham pouco a ver com a "rígida fé muçulmana". A palavra Sufismo,
portanto, surge no fim do século XVIII como uma forma de apropriação de alguns
aspectos que os europeus achavam atraentes na cultura oriental. Porém, seu
conhecimento ainda era insuficiente. Não se percebia nitidamente sua relação
como o Islã, além de se associá-lo, muitas vezes, ao Hinduísmo e cristianismo.
O primeiro livro escrito sobre o Sufismo por um ocidental foi o tratado deo
teólogo alemão Tholuck (1799-1877). Este livro, escrito em latim e publicado em
1821, reconhece o papel dos ingleses na "descoberta" do Sufismo e
afirmava a relação débil entre este e o Islã. Citando um registro missionário
de 1818, no qual se afirma a existência de um número ao redor de oitenta mil
pessoas na Pérsia (atual Irã), chamados Sufi, que cerca de 10 ou 12 anos atrás,
abertamente repudiou o maometismo, ainda retrata o desejo ocidental de separar
sua realidade da religião islâmica. Segundo Carl W. Ernst
(1950- ), este desejo é presente também na leitura que
Tholuck faz do mesmo, imprimindo-lhe conceitos bem ocidentais como Panteísmo e
Teosofia. Embora Tholuck reconheça a eixtência junto a Muhammad (Maomé) de
seguidores que cultivavam elementos do que mais tarde seria chamado de Sufismo,
ele acredita que o mesmo havia se distanciado das propostas originárias do Profeta.
O principal problema destas primeiras leituras é que, ao separar o
"Tasawwuf" do Islã, não reconhecem o papel fundamental que tem o
Corão ou Alcorão, o Profeta, a Sarsa e os ritos islâmico para sua
espiritualidade mística. Porém, após estes estudos, a aproximação aos textos
Sufis começa a crescer e um número maior deles passa a ser traduzido ou editado
em suas línguas originais, seja em países muçulmanos ou ocidentais. Todavia,
ainda é pequeno o conhecimento dos mesmos, principalmente se pensarmos que, segundo
Carl Ernst, escrevendo em 1977, só se tem acesso a menos de dez por cento dos
manuscritos árabes, sem falar nos manuscritos persas, turcos, swahili, urdus e
em outras línguas utilizadas na região. Definição. Segundo Annemarie Schimmel
(1922-2003) o Sufismo é a dimensão mística do Islã. Isto quer dizer que ele se
centra no aspecto esotérico, interior da religião muçulmana, distinguindo-se de
outros grupos que se centram mesmo sem perder sua dimensão de interioridade, no
aspecto exotérico, exterior. É como a contemplação da realidade espiritual que
se distingue da observância estrita da lei religiosa recebida por meio dos
rituais, textos sagrados e autoridades religiosas. Como tradição mística do
Islã, não é uma espiritualidade distinta e aparte dele, pois procura assumir os
seus preceitos, suas leis e pilares, seu livro sagrado, enfatizando, no
entanto, a perspectiva de interioridade que isto tudo propicia. Como nos afirma
Roger Garaudy (1913-2012), o Sufismo é uma dimensão da fé muçulmana: sua dimensão
de interioridade. Qualquer tentativa para fazer dele uma corrente autônoma, ou
uma função separado, degrada-o inevitavelmente ( ... ). Seria, portanto, falso
identificar o Sufismo com a mística cristã ou com a meditação hindu. Sem
dúvida, devido à própria expansão do Islã, houve contatos e trocas com os
padres do deserto e sua mística cristã, como os gnósticos de Alexandria e os
escritos de Plotino (204-270), com as sabedorias da Índia e a ascese budista.
Essa fecundação recíproca pôde enriquecer a visão de cada um, mas as origens
profundas do Sufismo continuam no Corão. Em árabe, o Sufismo é denominado
"Tasawwuf" e deriva da palavra "sãf", que significa
"lã" e se relaciona com a veste utilizada pelos primeiros Sufis, que
era associada, segundo a tradição,à predileção da maioria dos profetas por tais
tipos e vestimentas. Neste etimologia está a contestação do mundo, útil
particularmente nos primeiros tempos islâmicos, quando as conquistas muçulmanas
criaram um ambiente de fartura e de uma vida voltada aos prazeres e bens
materiais. também se encontra nesta relação com a veste de lã o valor que os
Sufis dão à pobreza e ao despojamento de tudo o que não é Deus. Por isso, são
também chamados de "faqsr" ou "derivsh". Outras tentativas
de explicação associam a origem de seu nome à pureza "safa" e a
banco, "suffa". O primeiro significado corresponderia a busca de
descrever o Sufismo como a "purificação dos corações", tasfiyat al
qulub". Já a palavra "suffa" procura estabelecer uma
correspondência entre os Sufis e o "Povo do Banco ou Povo do
Caminho", um grupo de seguidores do Profeta Maomé que não possuía moradia
e dormia em banco, criando uma comunidade que partilhava tudo entre si. Também
houve a associação, por parte de al Biruni, de "Tasawwuf" à palavra
grega "sophos" sabedoria, o que filologicamente não faz sentido. O
termo "Tasawwuf" significa o processo de se tornar Sufi. É um termo
dinâmico que permite a captação do assumir uma identidade religiosa. Por isso,
a denominação de Sufi pode ser utilizada tanto para quem está percorrendo o
caminho a tarsqa, quanto para quem já alcançou a haqsqa a doutrina proveniente
da iluminação da Verdade. Portanto, os Sufis desenvolvem uma caminho e uma
doutrina, nos quais porpõem um método de iniciação que prepara o fiel para o recebimento
da bênção "baraka" e, ao mesmo tempo, um conhecimento esotérico.
Porém, mesmo utilizando-se de uma única palavra, Sufismo, a realidade a qual
ele se refere é pluriforme. Ele adquiriu, ao longo de sua história,
configurações variadas, a ponto de não existir uma única expressão Sufi, mas
várias escolas e tradições, com variadas nuanças e especificidades. Fontes
Principais do Sufismo. Fontes Principais do Sufismo. As fontes da linguagem
mística Sufi assim como de sua experiência são variadas, sendo que as
primordiais se referem ao mundo muçulmano. Neste sentido, sua fonte primordial
é o Corão. Os Sufis se caracterizam por uma aproximação ao Corão baseada numa
releitura frequente do mesmo e na sua recitação global, qira ah, cujas
principais características são a recitação em comum e em voz alta, instituição
de sessões regulares de recolhimento e sessões com temas corânicos para
meditação. Estas sessões podem se desenvolver rumo a um tipo de concertos
espirituais ou oratórios. Os muçulmanos devem meditar e recitar continuamente o
Corão com a finalidade de adquirir a ciência da istinb, ou seja, a elucidação
imediata do sentido profundo de cada versículo. Segundo Louis Massignon
(1883-1962), os textos do Corão são a base dos termos técnicos do Sufismo.
Assim, são comuns em todo o Sufismo termos como recitação, segredo, mistério do
coração, desvelamento, revelação, irradiação, manifestação. A paz divina que
habita em um santuário ou no coração do crente, arrependimento. Continuamos na
parte II. Abraço. Davi.
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