sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Entender a Base do Universo Faz com que Tudo se Encaixe.



Auto Conhecimento. V. Existe uma corrente que passa através de tudo. Ela é a base do Universo, existe em todo o seu mundo físico. Alguns têm conhecimento dessa Energia, mas a maioria dos seres humanos a desconhece. No entanto, todos são afetados por ela. Quando você começar a tomar consciência dessa Energia Essencial que é a base de todas as coisas, passará a entender tudo sobre sua própria experiência. Compreenderá também mais claramente as experiências das pessoas ao seu redor. I. Uma fórmula consistente traz resultados consistentes. Tomar consciência dessa Energia e entende-la lhe dará uma fórmula para compreender seu mundo e obter resultados consistentes. Eles serão de tal forma concretos que você será muito mais capaz de prever suas experiências futuras e de compreender suas experiências passadas de outra maneira. Você nunca mais se sentirá como vítima, no passado ou no futuro, nunca mais terá medo de que coisas indesejadas apareçam repentinamente em sua vida. Finalmente, entenderá que é capaz de controlar sua própria experiência. E se dará conta do seu poder criador ao perceber que tudo converge para ajuda-lo a realizar seus próprios desejos. Todos têm esse potencial, alguns o estão realizando, e você vai aprender como fazê-lo. Será extremamente gratificante saber que cada um dos seus desejos pode ser totalmente realizado! 2. Você é um Ser Vibrátil em um ambiente vibrátil. Você pode sentir se está permitindo sua conexão completa com a Energia Essencial. Sabe como? Já falamos disso: quanto melhor você se sente, mais está permitindo a conexão; quanto pior você se sente, menos está permitindo. Sentir-se bem é sinal de que você está permitindo a conexão; sentir-se mal é sinal de que você está resistindo à conexão com a sua Fonte. Você é um “Ser Vibrátil”, e tudo que experimenta em seu ambiente físico é vibrátil. Com os olhos, por exemplo, você converte a vibração em algo que vê. Com os ouvidos, converte a vibração nos sons que ouve. O nariz, a língua e as pontas dos dedos estão convertendo as vibrações nos cheiros, gostos e toques que o ajudam a entender o seu mundo. As emoções são os mais sofisticados intérpretes das vibrações. VI. A Lei da Atração é a mais poderosa do Universo. Todo pensamento vibra, todo pensamento emite um sinal e todo pensamento atrai de volta um sinal correspondente. Chamamos esse processo de Lei de Atração. Em que consiste? Leia com bastante atenção, pois este é um ponto importante e, no entanto, simples:  coisas com vibrações semelhantes se atraem. Um exemplo para você entender melhor. É o mesmo princípio que atua quando você liga o rádio e o ajusta para receber o sinal de uma torre de transmissão. Você não espera que uma música transmitida na frequência 101 FM seja recebida quando o rádio estiver sintonizado em 98,6 FM. Você sabe que as frequências do rádio devem coincidir. O mesmo acontece com a Lei de Atração. Como suas experiências fazem com que você emita seus desejos em forma de vibração, você deve encontrar maneiras de manter-se em harmonia vibrátil com esses desejos para que eles se realizem. De que forma! 1. A que você está dando atenção? Aquilo a que você está dando atenção fará com que você emita uma vibração. Essas vibrações correspondem ao seu pedido. Aqui se encontra seu ponto de atração. Se você deseja algo que no momento não tem, basta concentrar sua atenção nessa coisa. Segundo a Lei da Atração, ela virá até você, pois, ao pensar positivamente na coisa ou na experiência que deseja ter, você emite uma vibração que faz com que essa coisa ou experiência venha até você. Mas o contrário pode acontecer quando, ao desejar algo, você concentra sua atenção no fato de não tê-lo. Nesse caso, a Lei da Atração continuará a corresponder à vibração de não ter o que deseja, e ele não virá. É assim que a Lei funciona. 2. Como posso saber o que estou atraindo? Então, o segredo para atrair algo que você deseja é entrar em harmonia vibrátil com esse desejo. Sabe qual é a forma mais fácil de fazer Isso? É imaginar-se tendo essa determinada coisa. Faça de conta que ele já faz parte da sua experiência e deixe seus pensamentos fluírem  rumo ao prazer de experimentá-la. A medida que você praticar esses pensamentos  e começar a oferecer essa vibração regularmente, estará permitindo que o objeto do desejo venha pra você. Preste atenção para ver se está concentrando sua atenção na posse do objeto do seu desejo ou na ausência dele. Quando a vibração dos seus pensamentos corresponde ao seu desejo, você se sente bem, suas emoções são de contentamentos, expectativa otimista e alegria. Mas, se você se concentrar na falta daquilo que deseja, sentirá pessimismo, preocupação, desânimo, raiva, insegurança e depressão. Vamos repetir isso até você ficar bem consciente. A medida que tomar consciência de suas emoções, saberá como está lidando com seu Processo Criador e passará a entender por que as coisas acontecem dessa ou daquela maneira. Suas emoções lhe oferecem um sistema de orientação maravilhosos Se prestar atenção nelas, será capaz de direcionar-se para tudo o que desejar. 3. Você consegue aquilo em que pensa, querendo ou não. Segundo a poderosa Lei Universal da Atração, você atrai para si a essência daquilo que ocupa predominantemente seus pensamentos. Por isso, se pensar intensamente nas coisas eu deseja, sua experiência de vida refletirá essas coisas. Mas, se estiver pensando constantemente nas coisas que não deseja, sua experiência de vida também refletirá essas coisas. Pensar em qualquer coisa é como planejar um evento futuro. Quando você pensa com gosto, está planejando. Quando pensa com preocupação, também está planejando. Mas preocupar-se significa usar a imaginação para criar algo que você não deseja. Não se esqueça: todo pensamento, toda ideia, todo Ser, tudo é vibrátil. Por isso, quando você concentra sua atenção em algo, mesmo que por um breve período, a vibração do seu Ser começa a refletir a vibração daquilo a que você está dando atenção. Quanto mais você pensa em uma coisa, mais vibra com ela; e quanto mais você vibra como ela, mais  a atrai. Enquanto sua vibração não for diferente, essa tendência continuará a aumentar. Quando sua vibração mudar, as coisas que correspondem a essa nova vibração serão atraídas para você por você. Quando você entende a Lei da Atração, nunca é surpreendido pelo que ocorre em sua vida, pois compreende que, através do seu próprio processo de pensamento, convidou cada pedacinho daquela experiência para entrar. Nada pode acontecer em sua experiência de vida sem o convite que parte do seu pensamento. Como não há exceções à poderosa Lei da Atração, é fácil entende-la. Quando você compreender que obtém o que pensa, e quando se der conta do que está pensando, você se tornará capza de controlar totalmente sua própria experiência. 4. Qual é o tamanho de suas diferenças vibráteis? Veja dois exemplos. Existe uma enorme diferença vibrátil entre os pensamentos de amor por seu parceiro e os pensamentos do que você rejeita e gostaria que fosse diferente nele ou nela. O relacionamento entre vocês dois reflete sempre seus pensamentos predominantes, pois, mesmo que não tenha consciência deles, são os que criam a relação. O desejo de melhorar sua situação financeira não poderá se realizar enquanto você sentir inveja da sorte do seu vizinho, pois a vibração do seu desejo e a vibração dos seus sentimentos de inveja são diferentes. Compreender o poder de suas vibrações ajuda você a criar deliberadamente sua própria realidade. Com o tempo e a prática, descobrirá que todos os seus desejos podem ser realizados, pois, como já dissemos não há nada que você não possa ser, fazer ou ter. 5. É você quem convoca sua energia vibrátil. Você é Consciência. Você é Energia. Você é Vibração. Você é Eletricidade. Você é a Fonte de Energia. Você é Criador. Você é Líder dos seus pensamentos. Embora possa lhe parecer estranho, é importante começar a aceitar a ideia de que você é um Ser Vibrátil, porque vive em um Universo Vibrátil em que as leis que governam são vibráteis. Depois que você se harmonizar conscientemente com as Leis do Universo e entender por que as coisas respondem de uma determinada forma, dúvidas e medos darão lugar a conhecimento e confiança, insegurança serão substituídas por certezas, e a alegria voltará, como premissa básica da sua experiência. 6. Quando seus desejos e crenças são vibrações correspondentes. Vamos repetir para que você absorva: Os semelhantes se atraem, por isso a vibração do seu Ser deve corresponder à vibração do seu desejo, para que a manifestação concreta dele seja totalmente recebida por você. Você não pode se concentrar na ausência daquilo que deseja e achar que vai recebe-lo, pois a frequência vibrátil da ausência é diferente da frequência vibrátil da presença. Isto é: as vibrações de seus desejos e de suas crenças devem estar sintonizadas para que você receba o que deseja. Quando você identifica, consciente ou inconscientemente, suas preferências pessoais, a Fonte que adora você e o escuta responde imediatamente à vibração de seu pedido, seja ou não colocado em palavras. Por isso, não importa o que você peça, seja de que forma for, seu pedido é ouvido e respondido todas as vezes, sem exceções. Quando pede, você é sempre atendido. 7. Redescoberta da arte de permitir seu Bem Estar natural. Vamos entrar agora numa questão da maior importância; a Arte da Permissão. Ela consiste em permitir que o Bem Estar do Universo flua de forma constante e irrestrita para sua experiência. É a arte de permitir que o Bem Estar, que constitui cada partícula do que você é, continue a fluir pelo seu ser enquanto você viver. A Arte da Permissão é a arte de não resistir ao Bem Estar que você merece; o Bem Estar que é natural; o Bem Estar que é o seu legado, a sua Fonte e o seu Ser verdadeiro. 8. Abra as comportas e deixe o Bem Estar fluir para dentro de você. No lugar onde você se encontra neste exato momento, veja-se como o beneficiário do poderoso Fluxo do Bem Estar. Tente imaginar que está se deixando levar pela corrente desse fluxo formidável. Sorria e procure aceitar que você o merece. É claro que essa capacidade de sentir que merece o poderoso Fluxo do Bem Estar depende do que esteja acontecendo na sua vida. Em algumas circunstâncias, você se sente uma pessoa de muita sorte: em outras, nem tanto. Preste atenção! Quando você se sente uma pessoa de sorte e espera que boas coisas fluam para você, isso indica que se encontra num estado de permissão. Mas quando se sente perseguido, e não espera receber boas coisas, está num nível de resistência. Desejamos que ao continuar a ler e reler nossa mensagem você consiga ir se libertando de qualquer hábito de pensamento que o leve a rejeitar o Fluxo do Bem Estar. Queremos que entenda que, se não fossem os pensamentos resistentes, aqueles adquiridos durante o trajeto físico e que não estão em alinhamento vibrátil com o Fluxo do Bem Estar, você seria um receptor total desse fluxo, pois você é uma extensão literal dele. Portanto, você é totalmente responsável por permitir, ou não, a entrada do Bem Estar. Não estamos dizendo que seja fácil, pois os acontecimentos e as pessoas que o cercam podem influenciá-lo para permitir ou rejeitar esse fluxo. Mas, de fato, só depende mesmo de você. Você pode abrir as comportas e deixar o Bem Estar entrar, ou pode escolher pensamentos que você decida resistir a ele, o fluxo está correndo constantemente para você. Ele nunca acaba, nunca se cansa, está sempre à sua espera. 9. Você está na posição perfeita para começar. Nada precisa mudar nas circunstâncias que o cercam para você começar a permitir deliberadamente sua conexão com o Fluxo do Bem Estar. Você pode estar na cadeia, com uma doença terminal, falido, ou em meio a um divórcio. Ainda assim, está no lugar perfeito para começar. Também queremos que entenda que isso não requer muito tempo. Requer apenas uma compreensão simples das Leis do Universo e uma determinação para avançar rum ao estado de permitir a conexão. Quando você dirige seu carro de um lugar para outro, tem consciência de quais são o ponto de partida e o de chegada. Você sabe e aceita que não pode chegar ao seu destino instantaneamente, que será necessário percorrer uma determinada distância, num certo tempo. Embora possa ficar ansiosos para chegar logo, e talvez até se canse com a viagem, você enfrenta o percurso sem pensar em dar meia volta e retornar ao ponto de partida. Você não anuncia aos quatro ventos sua incapacidade de realizar a jornada. Você aceita a distância ente o ponto de partida e o lugar para onde deseja ir e continua seguindo na direção dele. Você sabe o que deve fazer e faz o que é necessário. O mesmo acontece com o trajeto entre o lugar onde você está agora e aquele aonde deseja chegar. Do Livro Peça e Será Atendido. Aprendendo a manifestar seus desejos. Abraço. Davi.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

II. O Sufismo como Dimensão Mística do Islã.



Islamismo. Continuamos com o artigo do professor Carlos Frederico Barboza de Souza. "Existem objeções contra a lista de termos acima, (estão no final da Parte I) pois eles são citados uma única vez no Corão, o que parece desproporcional se atribuir a eles o desenvolvimento de uma mística complexa como a Sufi. Porém, estes termos são os muitos bih t, isto é, termos ambíguos, que prendem o leitor e exigem dele uma istinb t, isto é, releitura constante e global do texto, uma ruminação sobre ele para uma melhor compreensão do mesmo. Estes são termos difíceis, mas importantes, uma vez que, elucidados, oferecem a chave de leitura do texto corânico. Portanto, muitas vezes sua leitura se dedica explicitamente à compreensão destes termos. Ainda no Corão se encontram as alegorias típicas do Sufismo como: fogo e claridade de Deus, os véus de luz e trevas colocados sobre o coração, o pássaro, símbolo da ressurreição e imortalidade da alma, a água do céu, a árvore, representação da vocação humana e seu destino, o vinho, a salvação, símbolos da entronização dos santos privilegiados no Paraíso, correlativo do itinerário místico safar neste mundo. Temas como o Juízo Final, o Jardim do Paraíso, e o fogo do inferno, presentes no Corão, também foram importantes para os antigos ascetas, que concentravam, muitas vezes, suas meditações nessas temáticas. Porém, um tema muito desenvolvido pelos Sufis foi o do "pacto" que Deus realizou com a humanidade antes da criação, pois seu conteúdo é sempre associado a uma relação amorosa com Deus, já iniciada na eternidade, antes de qualquer coisa existir. A voz de Deus, ouvida neste momento primordial, é ecoada nas orações rituais salat, nos dikr e em todas as vozes e cânticos entoados em seu serviço. Mesmo os "sam" sãoi entendidos como uma tentativa de retornar ao movimento do contato primordial com Allah. Também a psicologia mística do Sufismo é marcada pela linguagem corânica, uma vez que o árabe nele presente emprega uma gama variada de termos para descrever os diversos aspectos do Eu Interior. Além do termo nafs, são utilizados termos como sadr (o peito, parte mais externa do coração e sede das emoções), qalb (parte mais interna do ser que representa o coração), fuad (pericárdio) e lubb (o coração interior), ruh (espírito) que Deus insuflou no ser humano. Fora esta forte presença do léxico corânico nos termos técnícos Sufis, em suas metáforas e temáticas, o Corão também é marcante em seu ritmo pautado pelo duplo movimento da descida da revelação e da "ascensão" do Profeta. Uma segunda fonte da experiência mística Sufi é a figura do Profeta Muhammad que formata o compromisso do gnóstico como um juramento de fidelidade ao Profeta, principalmente baseado na passagem corânica no qual se lê que " ( ... ) aqueles que te juram fidelidade, a juram, em realidade, a Deus". Segundo Annemarie Schimmel (1922-2003), o Profeta Maomé, através de sua luz corresponde à substância primitiva criada por Deus. Assim, ele foi o primeiro ente criado e sua forma original é um caminho seguro que conduz a Deus. É a mística da "Luz de Muhammad", ou Luz Muhammadiana, que aborda a questão da luz divina, os místicos interpretam que a lamparina que ilumina o mundo é o Profeta Muhammad. Por isso muitos Sufis, até hoje, cultivam a integração à sua substância luminosa. Sua "viajem noturna" é outro elemento que se insere no Sufismo a partir de uma compreensão esotérica. Ela significa a ascensão que todo Sufi deve fazer rumo à Verdade, à "haqsqa". Além disso, Muhammad é o modelo da união com a divindade, sendo o ser humano que mais se aproximou de Deus. Também Nars (1966) lembra que o Profeta "(...) assinala o estabelecimento da harmonia e equilíbrio entre todas as tendências presentes no homem, sensuais, sociais, econômicas e políticas, que não podem ser superados, a menos que o próprio estado humano seja transcendido". Sua qualidade de analfabeto revela sua dimensão de aniquilamento, receptividade passiva e aberta diante da Verdade, a semelhança de Maria que após a anunciação do anjo Gabriel, virgem; gerou u filho. E o papel de Muhammad no Sufismo chega a tal ponto que o aniquilamento em Deus tem como trajetória quase que obrigatória o aniquilamento em Seu Profeta, itinerário de realização do amor de Deus. Um último aspecto que assevera a centralidade do Profeta junto aos Sufis e a reverência que se tributa a sua descendência, tanto entre os partidários do Sufismo quanto entre os do Sunismo, uma vez que, com exceção da Ordem Naqsbandi, todas as demais se remetem a pelo menos um "Iman" shiita em sua genealogia "silsila". Principais Elementos Constituintes de Sua Proposta Espiritual. Desde os primórdios do Islã, os seguidores do Profeta acreditavam que as observâncias externas só tinham valor se acompanhadas de um sentido interior, de um desejo de obedecer aos mandamentos de Deus, de uma experiência do reconhecimento da grandeza dele e da pequenez do ser humano. Esta forma de conceber o seguimento do Islã envolvia a totalidade da vida da pessoa, incluindo observâncias morais e espirituais. O desejo de pureza de intenção, com o passar do tempo, deu origem a práticas ascéticas, talvez sob influência dos monges cristãos orientais. Buscava-se uma forma de relação com Deus que passasse pelo amor e pela purificação do coração. Embora o surgimento destas concepções ascéticas tenha provocado reações anti místicas, elas darão origem, mais tarde, ao Sufismo. Este caminho "salik" de interioridade e purificação do coração que é o "Tasawwuf", no entanto, é concebido como sendo dividido em vários estágios e fases, que conduzem o Sufi através da "saria", para entrar na "tariqa" e atingir o haqsqa. A saria representa a prática exotérica da busca de um crente muçulmano. É a prática dos princípios básicos da Lei Islâmica como pressuposto para adentrar-se no Caminho. A 'tarsqa', de acordo com sua etimologia árabe, é o caminho, o meio para se chegar a algum lugar e, portanto, o método que se segue neste percurso. Implica em uma trajetória de busca esotérica e, como tal, se caracteriza por propor a adesão à guia e ao ensinamento de um sayh e aos métodos que ele e sua escola propõem como meios para se atingir a Haqsqa. Já significa em concreto o seguimento de uma proposta de vida caracterizada pela orientação Sufi. A saria representa o caminho largo, destinado a todos os homens, a tarsqa é um caminho mais estreito e supõe um passo a mais para os que se propõem chegar ao estado de Homem Perfeito na concepção Sufi, a plena realização das potencialidades humanas. Assim, pois, por meio da tarsqa, o gnóstico atinge a haqsqa, isto é, a Realidade última e absoluta por ele ansiada. Porém, apesar de serem momentos distintos na via Sufi, estas três etapas configuram uma unidade em si e não são vistos como momentos estanques e isolados na trajetória espiritual. Segundo Rums, há uma intimidade dos laços existentes entre a Lei Sagrada saria, o Caminho que os Sufis devem seguir tarsqa e a Realidade última que é buscada haqsqa. Entretanto, como há diversidade de temperamentos e de capacidades espirituais, os caminhos dentro da divisão tripartite acima representada são muitos. Supõem estágios que podem ser divididos e classificados em moradas, estações, e estados. Junto a estes estágios e fases vem o termo técnico waqt, tempo, que é utilizado para designar o momento presente, isto é, o momento no qual uma graça é dada. Por isso o Sufi é chamado também de ibn al waqt, o filho do momento presente, aquele que se entrega completamente ao momento presente e recebe o que Deus lhe envia e permite no aqui e agora. As diversas Escolas Sufis definem vários tipos de estações que seus adeptos devem percorrer. Entretanto, estas divisões não são uniformes e ainda dependem, para serem percorridas, da capacidade do gnóstico e da ação de Deus neste percurso. Porém, mais que procurar atingir estágios, o Sufi deve procurar o próprio Deus. Dai que é condenável a atitude de taqyid, isto é, a atitude de todo aquele que se prende a um desses estágios e o associa à Realidade Divina, como se esta se identificasse plenamente com o que se experimenta em um estágio particular. Os meios que os Sufis utilizam para avançar nestes estágios são vários. Além da ascese e do jejum, pode-se citar a rememoração contínua de Deus, prática esta realizada principalmente por meio da recitação do dikr e da prática da meditação: também não se pode esquecer do agir conforme as prescrições contidas no Corão, do cultivo da "arte da conversação" (prática de troca de experiência espiritual e de busca conjunto no discernimento do caminho), da leitura de textos sagrados e da fraternidade pautada pelas regras da "cavalaria espiritual", centrada no amor, na interdependência e no sacrifício heroico. Os métodos  Sufis insistem ainda na educação da sensibilidade espiritual, cordial e racional, além de uma busca de equilíbrio corporal por meio de movimentos rítmicos pautados na respiração e na percepção corporal visando ao favorecimentos da concentração e consciência interior. O dikr é a repetição dos Nomes de "Allah" com o objetivo de propiciar a rememoração dos mesmos, penetrando vivencialmente em seus significados profundos e assumindo-os na própria personalidade, do mundo e se libertar para o voo da união com Deus " ( ... ) na recordação de Deus, sossegam-se os corações". Pode ser um recolhimento por meio da recitação destes Nomes ou um recolhimento no coração interiorizando o sentido dos mesmos. Pode também ser uma recitação silenciosa, acompanhada de técnicas de respiração, concentração em partes do corpo ou no Profeta  ou no "Sayh" e visualizações. Pode realizar-se durante o dia e em meio as atividades cotidianas, mas na maioria das vezes se realiza em um ritual coletivo mahlis ou hadra, praticado regularmente em certos dias da semana e acompanhado de música, poesias e danças, o que o tornaria um sam. Um suporte importante para a prática do dikr é a halwa, o retiro espiritual solitário para a invocação do Nome Divino e que pode durar horas ou até dias. Se a repetição de orações pode ser considerada extensão e intensificação de práticas comuns a todo muçulmano, o desenvolvimento de técnicas de meditação que utilizam os Nomes Divinos é original do Sufismo. Nelas se estabeleceram inumeráveis técnicas relacionadas a cada estágio espiritual. É comum também utilizar-se de um instrumento semelhante ao rosário cristão que é chamado wird, subha ou tasbsh. Porém, a condição sine qua non (impreterível) para a realização do dikr é uma absoluta sinceridade para recordar a Deus sem distrações e a busca da prática das virtudes. Esta experiência pode ser acompanhada de graças tanto emocionais como vivencias experiências. Neste sentido, o que sobressai no Sufismo é o seu caráter experimental. Embora sejam escritores e grandes produtores de literatura, inclusive uma literatura exigente em termos de capacidade de compreensão, os Sufis são, em geral, críticos das mesmas, pois a prática Sufi não é algo que se possa adquirir por meio da erudição, mas antes por meio de uma experiência do Sagrado. O órgão para se ter acesso a essas experiência é o coração qalb. O conhecimento intelectual sozinho é insuficiente, pois, mesmo a marifa - diferentemente da concepção ocidental que centraliza o conhecimento no intelecto e na razão - tem seu centro no coração, que lhe permite um conhecimento em contínua transformação. A este respeito, Nuri Al Said (1888-1958), de Bagdad (Iran) e Ibn Arabs (1165-1240), de Múrcia (Espanha) afirmam que, diante da infinidade de atributos divinos, somente um órgão espiritual como o coração, com sua plasticidade, seria capaz de assumir diversas formas para receber o coração, em sua essência, é mudança contínua, perpétua transformação taqallub, e não se prende a nenhuma  configuração definitiva. A ideia do caminho Sufi ainda implica uma concepção de que o ser humano não é somente servo de Deus, mas pode se tornar também seu amigo wali, esposo de Deus sendo seu perfume sobre a terra. Com isto, surge em seu meio uma teoria dos amigos de Deus ou da santidade wilaya. Sempre haverá amigos de Deus no mundo, que serão responsáveis por mantê-lo em seu eixo. Os amigos de Deus intercedem junto d Ele pela humanidade e seu poder espiritual pode permanecer mesmo após sua morte, o que propicia a crença na permanência de sua baraka junto a seu túmulo e, portanto, a prática da visita aos mesmos, transformados agora em locais sagrados, que contêm, segundo hipótese de Ibn Arabs, uma concentração espiritual, himma. Em contraste com a missão privada e secreta. Para se chegar a ser um amigo de Deus Wali, o viajante deve adquirir algumas virtudes, como a pureza do coração e o desapego. Segundo uma metáfora, o coração humano é como um espelho que tem que ser polido para que possa refletir a beleza do Ser Divino. Para isto, deve se livrar do egoísmo, ambição, orgulho, vaidade e hipocrisia, entre outras coisas. Deve se libertar também de seus apegos. Ele deve realizar um processo de desidentificação com as coisas do mundo e uma busca de identificação com Deus. Por isto, no meio Sufi se valoriza a qualidade de faqsr, isto é, de pobreza, de desapego de todas as coisas materiais e espirituais para que o viajante seja livre na sua busca do Real. Direcionando-se rumo a este objetivo, o Sufi deve aprender a confiar em Deus e dele depender, esperando o despertar espiritual, no qual o próprio Deus se revelaria a ele, produzindo uma aniquilação fan no seu ser, propiciando a união mística com a Divindade e a subsistência no Divino, quando, então, ele seria capaz de vivenciar o tawhsd, a confissão existencial  de que Deus é Um. Neste momento, o gnóstico acessa a experiência profunda de al haqq, o que equivale dizer que ele chegou a haqsqa. Segundo Al Gaz Is, exitem quatro graus no monoteísmo islâmico que representam estágios na apreensão da Unicidade Divina: o primeiro é quando se diz com os lábios o Sah da, o segundo atinge-se quando o coração de quem pronuncia o Sah da nele crê, o terceiro é quando o ser humano vê a Unicidade de Deus por via de revelação mediante a luz do Verdadeiro, e o quarto é alcançado a partir do momento que o ser humano não vê no que existe a não ser Um Único. A partir dai, abre-se para o crente o caminho da meditação dos belos Nomes de Deus e da superação da multiplicidade aparente da realidade. Em seu percurso, os Sufis devem ser acompanhados por um mestre Sayh ou Pir, submeter-se a um processo de iniciação, que consiste em um juramento de aliança ao Sayh, recebimento de um manto especial hirqa, recebimento de uma oração secreta wird ou hizb e recebimento de um ritual do dikr. Assim, a relação do discípulo com o mestre ocorre na forma de um pacto que envolve ahirqa, a fórmula do dikr e a companhia do mestre, suhbat. Da parte do iniciante, este pacto implica no abandono completo nas mãos de seu orientador, que é o representante do Profeta e intermediário entre ele e Deus. O mestre ou sayh, escolhido por All h, é considerado um especialista no caminho justamente pelo fato de tê-lo já trilhado, e pode ensinar aos seus discípulos os desafios do mesmo. O contato com ele adquire um caráter profundo e especial, pois desta relação depende a travessia rumo a haqsqa, pois do sayh emana a luz que ilumina o coração de seu seguidor. No entanto, o Sufismo não é uniforme em suas propostas espirituais e acerca de seu método e concepções metafísicas e filosóficas. Assim é que, quanto à forma de se viver a experiência religiosa, surgem em seu interior algumas tendências. No tocante à relação com a religião islâmica e suas verdades, segundo Miguel Asin Palácios (1871-1944), pode-se afirmar a existência de um Sufismo Ortodoxo cujo expoente é Junayd, o grande mestre dos Sufis de Bagdad, enfatiza o estado de sobriedade sahw, que prioriza as virtudes, em oposição ao estado de embriaguez ou intoxicação sukr, que caracteriza-se pelos êxtases, locuções teopáticas, iluminações e pela aniquilação fan em Deus. Desta segunda tendência, chamada por Palácios de Sufismo Heterodoxo, dois nomes são significativos: bistami e Hallaj, que foi discípulo de Junayd e terminou sua vida preso e condenado à morte, incompreendido e visto como herege pela ortodoxia muçulmana. Quanto à questão da foram de aproximação do Sagrado, uma  outra distinção possível caracteriza, o Sufismo em Metafísico - cujo representante mácimo foi Ibn Arabs (1165-1240) - e outro que se concentra na experiência amorosa como meio para a união mística, tendo como representantes Rabi a al Adawiyya, Du I Num al Misri e Rãms. Quanto à questão da concepção acerca da finalidade do Sufismo, ou seja, a união mística com Deus, também se pode distinguir, segundo Louis Gardet (1904-1986), duas tendências, já observadas por Ibn Haldun, uma de irradiação da vida divina no coração do fiel, tjalli, segundo a qual o fiel deve ter seu coração polido como um espelho para irradiar da melhor forma a Divindade e seus atributos, e outra, a wahda, que apregoa a unidade ou identidade de substância entre a Divindade e o fiel. A primeira identifica-se com a união intencional de amor e de vontades, a segunda, com a união de substâncias, embora isto não signifique, a priori, a afirmação de um monismo substancial. Na primeira concepção se encontram os Sufis anteriores ao século XIII (Rabi a, Hallaj, Hasan Basri (642-728)). A partir deste período, crescem os adeptos da segunda concepção, wahada, que enfatiza o aniquilamento do eu fan frente à potência divina e , simultaneamente. Encontram-se nesta tendência Ibn al Farid (1181-1235) e Ibn Arabs (1165-1240). Conclusão. O Sufismo possui uma íntima relação com a tradição islâmica. Isto pode ser afirmado a partir do léxico de sua terminologia técnica e também a partir de sua espiritualidade, que bebem no Corão e na tradição do Profeta. Ao mesmo tempo, é importante perceber sua singularidade no enfoque da tradição islâmica, pois sua interioridade e interpretação do Corão possuem configurações  bem particulares. Da mesma maneira, vale ainda ressaltar a diversidade de formatos por meio dos quais ele se apresenta, com seus métodos e formas de organização diversos. Porém, em meio a esta diversidade, a tradição Súfica encontra sua unidade na busca pela experiência e não pelo racional do Sagrado e na concepção de que este, em sua Unidade, se manifesta em todas as coisas. E para que esta busca possa propiciar o resultado desejável que é a união com a Divindade, a presença do sayh assim como sua orientação são essenciais, juntamente com a prática do dikr. O Sufismo não é feito só de prática espiritual. Ou melhor, sua prática espiritual engloba toda a vida do Sufi, pois é entendida como não sendo desvinculada dos outros contextos da vida humana, como o político, o social, as relações inter subjetivas, etc. Ele inclui em seu bojo uma cosmo visão que possui várias dimensões complexas e conexas entre si: metafísica, cosmológica, psicológica e escatológica. Por isto, ao discorrer sobre as diversas dimensões com as quais o Sufismo se envolve. Seyyed Hossein Nars (1933-    ) afirma que o Tasawwuf aborda essencialmente três elementos: a natureza de Deus, a natureza do ser humano e a natureza de suas virtudes espirituais. O seu término é Deus, o seu princípio é o homem na condição terrena: a via, o caminho, é aquilo que une o homem a Deus, isto é, o método que desenvolve a virtude espiritual da alma e a doutrina que delineia os contornos do universo através do qual o peregrino, o místico, deve completar a viagem para atingir a Divina Presença e conseguir a verdadeira imortalidade. Esta complexidade que envolve o Sufismo precisa ser aprofundada. Cabe aos investigadores da atualidade, portanto, procurar ampliar o contato com o mesmo e o conhecimento a seu respeito, assim como acreditar na busca de seus seguidores. Para isto, torna-se importante a construção de referenciais adequados bem como desenvolver atitudes cognitivas e epistemológicas que propiciem um acesso o mais adequado possível à sua realidade. É necessário, sobretudo, o abandono do etnocentrismo a fim de que se possua um olhar  mais afinado com sua realidade, suas crenças e práticas. Somente munido de tais  pré requisitos é que tal conhecimento propiciará um enriquecimento de nossa cultura, pois saberá acerca de mais uma possibilidade humana de se realizar". Que Allah seja com o coração, mente e emoções de todos. Referencias  consultados pelo autor para a pesquisa do artigo: Mística e Política. São Paulo: Loyola, 1994. Os Fundadores das Grandes Religiões. Petrópolis: Vozes, 2000. Introduzione alle dottrine esoteriche dell Islam. Roma: Edizione Mediterranne, 1987. Cristianismo e Islamismo. Porto: Editorial Perpétuo Socorro, 1991. El Corán. Barcelona: Helder, 2002. II Grande Libro della Sapienza Sufi. Milão: Mondadoria Editrice, 2000. Promessas do Islã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. O Sufismo como Dimensão Mística do Islã. Belo Horizonte. 2005. Nova Luz sobre a Antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. Uma História dos povos Árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Abraço. Davi.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

I. O Sufismo Com Dimensão Mística do Islã.



Islamismo. Amigos leitores passo a transcreve a pesquisa acadêmica feita pelo professor Carlos Frederico Barboza de Souza com o título: O Sufismo como Dimensão Mística do Eslã. Ao final menciono a referencia bibliográfica. Como introdução digo que o Islamismo é sabidamente uma doutrina religiosa com várias vertentes filosóficas. Acontece que o mundo ocidental, mais notadamente o senso comum, em sua perversa generalização estereotipou a religião Islâmica, comparando-a aos diferentes grupos radicais e extremistas (e suas facções) que usam a força, brutalidade e desumanidade para impor suas ideologias políticas, sociais e doutrinas dogmáticas. Distorcendo os santos mandamentos do Alcorão e da Sharia para seus benefícios escusos e malignos. Exemplos temos a AlQaeda e o Estado Islâmico combatido com ferocidade por 34 país muçulmanos liderados pela Arábia Saudita no norte da África e península Arábica. Também o Irã cooperar ativamente para combater esse banditismo terrorista juntamente com a coalizão internacional liderada pelos americanos no Oriente Médio, Síria e Iraque. Mas existem inúmeros seguimentos muçulmanos espiritualistas que proclamam o amor, a paz, a compreensão, a tolerância e a fraternidade humana. Esses nobres movimentos da religião do profeta Maomé em momento algum ganham destaque na mídia, falada, escrita ou nos tele jornais do ocidente. Uma religião que precisamos conhecer para melhor respeitá-la, valorizando seus conceitos, pressupostos e mistérios. Entendendo que Allá O Eterno Bem da Humanidade a concedeu como dádiva divina, dentre tantas, à todos os povos que o buscam com um coração sincero e contrito. Allá seja conosco nessa leitura.  Resumo da dissertação. "Diante da realidade islãmica contemporânea e buscando estar atento às diversas vozes presentes no "outro", este artigo tem em vista apresentar de forma sucinta o que é o Sufismo, pensando-o como uma possibilidade entre muitas de concretização das crenças islâmicas. Para tal, iniciar-se-á procurando compreender como a notícia acerca de sua existência chega ao Ocidente, ou seja, como os ocidentais o "descobrem". A seguir, centrar-se-á na busca de compreender o Sufismo a partir de sua relação com o Islamismo por meio de suas fontes primordiais: o Alcorão e o Profeta Muhammad (ou Maomé). Por fim, este artigo apresentará brevemente alguns elementos que compõem e caracterizam o repertório de crenças e práticas de várias Escolas Sufis tais como a busca da Unicidade Divina, a prática meditativa da recitação dos Nomes Divinos e a submissão à orientação de um "Sayh". " De maneira geral, a mídia apresenta uma face quase que unilateral acerca do Islã, baseada em algumas pré compreensões simplistas do mesmo ou compreensões exclusivas de grupos mais radicais no seguimento e interpretação da Lei Religiosa e em questões sócio políticas. Assim, sendo, na maior parte das vezes, é incapaz de captar sua singularidade enquanto experiência religiosa e, ao mesmo tempo, a diversidade que compõe o seu espectro. Infelizmente, muitas pessoas, ao não terem acesso a uma leitura mais ampla acerca da história e constituição da tradição muçulmana e dos diversos grupos e concepções que a compõem, acabam desenvolvendo comportamentos e posições intolerantes e preconceituosas sem ao menos se colocarem a questão de que a maior parte do preconceito surge do desconhecimento do outro ou de um conhecimento insuficiente e limitado por paradigmas que não se encaixam em seu universo de sentido. Diante de tal situação, o primeiro passo é o conhecimento, pois este é a primeira forma de aproximação da singularidade e alteridade que constitui o outro enquanto outro.porém, este esforço de aproximação cognitiva do diverso pode ter seu resultado malogrado devido às perspectivas com que uma pessoa se mune na realização de tal tarefa. Portanto, algumas posturas são importantes e necessárias. Respeito e acolhida ao outro, aceitando-o como um ser distinto e valorizando sua alteridade, que em si é uma riqueza, pois aponta para a liberdade humana capaz de construir diversas posturas frente ao cosmo e á realidade sócio político cultural, indicando a possibilidade de que se pode ser diferente, de que não se é "obrigado" a ser sempre do mesmo jeito. Além do mais, o contato com esta riqueza que a diversidade propicia gera uma aprendizagem sobre si mesmo e sobre o locus de onde se parte e no qual cada um se situa. Também se faz necessário munir-se de humildade, reconhecendo-se pequeno diante da infinitude absoluta do Sagrado que ultrapassa as crenças de cada tradição religiosa. Uma atitude como esta pode propiciar uma busca sincera da Verdade que está para além das tematizações acerca do Divino que cada religião elabora ou se percebe inspirada a elaborar. Assim, novas e inusitadas manifestações compreensões acerca da própria tradição religiosa e acerca das manifestações do Sagrado são possibilidades. Por fim, faz-se necessário munir-se de gratuidade, pois não é uma busca de conhecimento acerca do outro para convertê-lo, ou seja, torná-lo semelhante a nós e acabar com a diferença. Ouvir a voz do "outro" significa entrar na relação face a face com ele e além dos interesses pessoais de quem com ele estabelece interlocução sócio político cultural; e permitir, assim, a revelação de seu rosto às concepções preconcebidas e ao sistema dominante. Diante da realidade Islâmica contemporânea e buscando estar atento às diversas vozes presentes no outro, este artigo tem em vista apresentar de forma sucinta o que é o Sufismo, pensando-o como uma possibilidade; entre muitas, de concretização das crenças Islâmicas. Para tal, iniciar-se-á  procurando compreender como a notícia acerca de sua existência chega ao Ocidente, ou seja, como os ocidentais o "descobrem". A seguir centrar-se-á na busca de compreender o Sufismo a partir de sua relação com o Islamismo por meio de suas fontes primordiais: o Corão ou Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos) e o profeta Muhammad ou Maomé. Por fim, este artigo apresentará brevemente alguns elementos que compõem e caracterizam o repertório de crenças e práticas de várias Escolas Sufis. A Descoberta do Sufismo pelo Ocidente. O Sufismo tem uma longa história e é cercado de um certo interesse pelo mundo ocidental. Já na Idade Média, o contato entre cristãos e árabes ocorreu mediado pela filosofia. Textos de origem árabe judaica provocarão uma transformação no pensamento ocidental: novos métodos, novos conhecimentos, novos problemas, que exigirão um esforça enorme de razão cristã. O próprio pensamento Aristotélico chega ao ocidente, de forma sistemática e sob uma ótica neoplatônica, por meio do filósofo persa Avicena (980-1037). Depois, os que continuaram a trazer a obra aristotélica para o Ocidente foram os  tradutores, dentre os quais tiveram um papel significativo o Collegium de Toledo, fundado pelo arcebispo Raymond de Sauvetat (1126-1151), e que traduziu o texto aristotélico a partir de versões siríacas e árabes. Não se pode esquecer também o intenso debate no seio da cristandade com o chamado "averroismo latino", movimento que interpretava Aristóteles a partir do prisma de Averrois (Ibn Rusd) e tinha como seus principais representantes Boécio de Dácia (1200-1299) e Siger de Brabante (1240-1284). Mais tarde, o catalão Raimundo Lúlio (1316) parecia haver sofrido uma influência dos místicos Sufis. Também Joinville chanceler de Luis IX, levou em 1638, levou para a Europa o conhecimento da figura de  Rab a Al Adawiyya, no final do século XIII. No século XVII, em 1638, Fabricius, da Rostoch University, editou e traduziu  pela primeira vez o poema do místico egípcio Ibn al Farid. E em 1651, Adam Olearius (1599-1671) fez a primeira tradução para o alemão dos livros favoritos da intelectualidade européia. Porém, é principalmente a partir da era moderna que o interesse de intelectuais do ocidente pelo Sufismo aumenta, pois a modernidade é o marco a partir do qual surge a preocupação ocidental mais ampla. A motivação desta curiosidade se relaciona com o progressivo empreendimento colonial, mormente à medida que este vai se tornando, em termos políticos, um dos principais escopos das nações euporéias. O Sufismo como Dimensão mística do Islã. 1. O intuito de conhecer a religião dos povos "colonizados" era propiciar um melhor meio de dominá-los, pois muitos de seus mestres possuíam, em vários países, lugar de destaque e, em outros, muitas rebeliões estavam associadas a suas lideranças. Para isto, investiu-se em especialistas sua língua e cultura, o que gerou vários volumes de estudos e traduções de vários de seus textos, além de gerar uma especialidade científica: o orientalismo. 2. Assim, "Naqueles ambientes, o estudo do Sufismo se tornava uma via mediana entre a constituição de um dossiê policial e a análise de cultos perigosos". O início dos estudos ocidentais modernos sobre o Sufismo se encontra ao redor do século XVIII, quando se criaram os conceitos  fundamentais que condicionaram a compreensão a seu respeito, e se estende pelo século XIX. Os primeiros trabalhos se baseiam nos relatos fragmentários de viajantes europeus pelos territórios árabes e que viam os Sufis como um grupo exótico e referindo-se vagamente ao Islã. Sua terminologia sublinhava o elemento bizarro e os comportamentos que mais se distanciavam dos comportamentos europeus. Neste sentido, os termos mais utilizados para se referir a seus adeptos foram a palavra árabe faqsr e a persa dervish, que significam, ambas, pobre. Porém, a utilização destes termos também era marcada pelo exotismo. Para se abordar os dervishes por exemplo, ressaltavam-se os grupos urlantes, dançantes e rodopiantes. Quanto ao termo faqsr, a confusão era maior. Além de não se faer a diferenciação entre os ascetas não muçulmanos e os muçulmanos, o termo se assemelhava à palavra inglesa "faker", falsificador, o que deixava uma impressão de que os Sufis eram charlatães e impostores. Nesta ambiência de forte cunho político, surge o termo Sufismo, proveniente de "Sooffess", forma como os ingleses nomeavam os adeptos da "Tasawwuf", palavra pela qual estes grupos se autodenominavam em árabe "Safs e Safiyya". Diferentemente de "faqsr e dervish", embora se referisse a mesma realidade, este termo "Sooffess" era carregado de um sentido positivo. Eram admirados por sua pesia, música e danças. Além do mais, eram vistos como livres pensadores que tinham pouco a ver com a "rígida fé muçulmana". A palavra Sufismo, portanto, surge no fim do século XVIII como uma forma de apropriação de alguns aspectos que os europeus achavam atraentes na cultura oriental. Porém, seu conhecimento ainda era insuficiente. Não se percebia nitidamente sua relação como o Islã, além de se associá-lo, muitas vezes, ao Hinduísmo e cristianismo. O primeiro livro escrito sobre o Sufismo por um ocidental foi o tratado deo teólogo alemão Tholuck (1799-1877). Este livro, escrito em latim e publicado em 1821, reconhece o papel dos ingleses na "descoberta" do Sufismo e afirmava a relação débil entre este e o Islã. Citando um registro missionário de 1818, no qual se afirma a existência de um número ao redor de oitenta mil pessoas na Pérsia (atual Irã), chamados Sufi, que cerca de 10 ou 12 anos atrás, abertamente repudiou o maometismo, ainda retrata o desejo ocidental de separar sua realidade da religião islâmica. Segundo Carl W. Ernst (1950-    ), este desejo é presente também na leitura que Tholuck faz do mesmo, imprimindo-lhe conceitos bem ocidentais como Panteísmo e Teosofia. Embora Tholuck reconheça a eixtência junto a Muhammad (Maomé) de seguidores que cultivavam elementos do que mais tarde seria chamado de Sufismo, ele acredita que o mesmo havia se distanciado das propostas originárias do Profeta. O principal problema destas primeiras leituras é que, ao separar o "Tasawwuf" do Islã, não reconhecem o papel fundamental que tem o Corão ou Alcorão, o Profeta, a Sarsa e os ritos islâmico para sua espiritualidade mística. Porém, após estes estudos, a aproximação aos textos Sufis começa a crescer e um número maior deles passa a ser traduzido ou editado em suas línguas originais, seja em países muçulmanos ou ocidentais. Todavia, ainda é pequeno o conhecimento dos mesmos, principalmente se pensarmos que, segundo Carl Ernst, escrevendo em 1977, só se tem acesso a menos de dez por cento dos manuscritos árabes, sem falar nos manuscritos persas, turcos, swahili, urdus e em outras línguas utilizadas na região. Definição. Segundo Annemarie Schimmel (1922-2003) o Sufismo é a dimensão mística do Islã. Isto quer dizer que ele se centra no aspecto esotérico, interior da religião muçulmana, distinguindo-se de outros grupos que se centram mesmo sem perder sua dimensão de interioridade, no aspecto exotérico, exterior. É como a contemplação da realidade espiritual que se distingue da observância estrita da lei religiosa recebida por meio dos rituais, textos sagrados e autoridades religiosas. Como tradição mística do Islã, não é uma espiritualidade distinta e aparte dele, pois procura assumir os seus preceitos, suas leis e pilares, seu livro sagrado, enfatizando, no entanto, a perspectiva de interioridade que isto tudo propicia. Como nos afirma Roger Garaudy (1913-2012), o Sufismo é uma dimensão da fé muçulmana: sua dimensão de interioridade. Qualquer tentativa para fazer dele uma corrente autônoma, ou uma função separado, degrada-o inevitavelmente ( ... ). Seria, portanto, falso identificar o Sufismo com a mística cristã ou com a meditação hindu. Sem dúvida, devido à própria expansão do Islã, houve contatos e trocas com os padres do deserto e sua mística cristã, como os gnósticos de Alexandria e os escritos de Plotino (204-270), com as sabedorias da Índia e a ascese budista. Essa fecundação recíproca pôde enriquecer a visão de cada um, mas as origens profundas do Sufismo continuam no Corão. Em árabe, o Sufismo é denominado "Tasawwuf" e deriva da palavra "sãf", que significa "lã" e se relaciona com a veste utilizada pelos primeiros Sufis, que era associada, segundo a tradição,à predileção da maioria dos profetas por tais tipos e vestimentas. Neste etimologia está a contestação do mundo, útil particularmente nos primeiros tempos islâmicos, quando as conquistas muçulmanas criaram um ambiente de fartura e de uma vida voltada aos prazeres e bens materiais. também se encontra nesta relação com a veste de lã o valor que os Sufis dão à pobreza e ao despojamento de tudo o que não é Deus. Por isso, são também chamados de "faqsr" ou "derivsh". Outras tentativas de explicação associam a origem de seu nome à pureza "safa" e a banco, "suffa". O primeiro significado corresponderia a busca de descrever o Sufismo como a "purificação dos corações", tasfiyat al qulub". Já a palavra "suffa" procura estabelecer uma correspondência entre os Sufis e o "Povo do Banco ou Povo do Caminho", um grupo de seguidores do Profeta Maomé que não possuía moradia e dormia em banco, criando uma comunidade que partilhava tudo entre si. Também houve a associação, por parte de al Biruni, de "Tasawwuf" à palavra grega "sophos" sabedoria, o que filologicamente não faz sentido. O termo "Tasawwuf" significa o processo de se tornar Sufi. É um termo dinâmico que permite a captação do assumir uma identidade religiosa. Por isso, a denominação de Sufi pode ser utilizada tanto para quem está percorrendo o caminho a tarsqa, quanto para quem já alcançou a haqsqa a doutrina proveniente da iluminação da Verdade. Portanto, os Sufis desenvolvem uma caminho e uma doutrina, nos quais porpõem um método de iniciação que prepara o fiel para o recebimento da bênção "baraka" e, ao mesmo tempo, um conhecimento esotérico. Porém, mesmo utilizando-se de uma única palavra, Sufismo, a realidade a qual ele se refere é pluriforme. Ele adquiriu, ao longo de sua história, configurações variadas, a ponto de não existir uma única expressão Sufi, mas várias escolas e tradições, com variadas nuanças e especificidades. Fontes Principais do Sufismo. Fontes Principais do Sufismo. As fontes da linguagem mística Sufi assim como de sua experiência são variadas, sendo que as primordiais se referem ao mundo muçulmano. Neste sentido, sua fonte primordial é o Corão. Os Sufis se caracterizam por uma aproximação ao Corão baseada numa releitura frequente do mesmo e na sua recitação global, qira ah, cujas principais características são a recitação em comum e em voz alta, instituição de sessões regulares de recolhimento e sessões com temas corânicos para meditação. Estas sessões podem se desenvolver rumo a um tipo de concertos espirituais ou oratórios. Os muçulmanos devem meditar e recitar continuamente o Corão com a finalidade de adquirir a ciência da istinb, ou seja, a elucidação imediata do sentido profundo de cada versículo. Segundo Louis Massignon (1883-1962), os textos do Corão  são a base dos termos técnicos do Sufismo. Assim, são comuns em todo o Sufismo termos como recitação, segredo, mistério do coração, desvelamento, revelação, irradiação, manifestação. A paz divina que habita em um santuário ou no coração do crente, arrependimento. Continuamos na parte II. Abraço. Davi.