segunda-feira, 30 de agosto de 2021

VIDA E OBRA DO BUDA

 

Budismo Theravada. www.nossacasa.net/. VIDA E OBRA DO BUDHA. Texto de Hammalawa Saddhatissa (1914- ). O primeiro ponto a se considerado, se desejarmos evitar qualquer confusão na discussão do budismo, é que o Budha em momento algum pretende ser mais do que um ser humano. Seu ensinamento revolve o problema do sofrimento humano e indica, ou pretende, um caminho, que o homem deve seguir para solucionar esse problema, sem a ajuda de qualquer força externa ou sobrenatural. Budha, significando o que é iluminado ou desperto, foi o nome descritivo dado a um príncipe indiano, Siddharta Gautama, após ter alcançado um estado de compreensão absoluta. É para um estado semelhante de compreensão, e para a libertação do medo e do sofrimento que tal compreensão traz, que a trajetória budista pretende conduzir. O budismo começou nas províncias do Norte da Índia, e simultaneamente veio a prevalecer em toda a Ásia. Durante vinte e cinco séculos, mesclou-se a crenças tradicionais de muitas terras. Atualmente, existem mais de quinhentos milhões de budistas na Índia, Nepal, Butão, China, Japão, Coréia, Tibete, Laos, Vietnam, Cambodja, Malásia, Birmânia, Tailândia e Ceilão; e há evidência de um crescente interesse na América e na Europa. Siddhãrta Gautama parece ter nascido em maio de 663 AC, num dia de lua cheia, em um lugar chamado Jardim Lumbini, atual Nepal, perto das fronteiras do Norte da Índia. Seu pai, Suddhodana, era soberano de Sãkya, um reino situado no sopé do Himalaia. Um dos muitos nomes pelos quais Gautama era conhecido era Sãkya Muni, o sábio dos Sãkyas. Sua mãe chamava-se Mahãmãyã. Muitas estórias miraculosas surgiram em relação ao nascimento da criança e seu desenvolvimento precoce. Essas estórias parecem ser um dos riscos profissionais dos líderes religiosos. Os relatos mais simples estabelecem meramente que, após uma infância exemplar, ele tornou-se um jovem de aspecto nobre, combinando a destreza de um atleta com a inteligência de um erudito. Aos dezesseis anos de idade, casou-se com sua prima, uma princesa de rara beleza chamada Yasodharã. Treze anos mais tarde, seu filho Rãhula nasceu. A estória de como aos vinte e nove anos de idade Siddhãrta Gautama deixou seu lar, sua jovem esposa e seu filho recém-nascido para levar a vida de um monge errante converteu-se, através dos tempos, em mito e lenda. Mais uma vez faremos o relato mais simples. Por aproximadamente trinta anos, o jovem viveu uma vida protegida e provavelmente bastante luxuosa. Sua família era rica e aparentemente culta; e ele era incentivado a buscar quaisquer distrações físicas ou intelectuais que o atraíssem. Gozava de todo esse conforto e segurança que dizem algumas vezes trazer a felicidade. Contudo, de vez em quando, perturbava-se com a doença e a miséria que via à sua volta, e começou a suspeitar de que seu modo de vida fosse vazio. Procurou o conselho daqueles que gozavam de grande reputação de sabedoria e descobriu apenas que estes não possuíam respostas adequadas para suas perguntas. O caminho que Siddhãrta Gautama, em sua inquietude mental, desejou seguir, renunciar ao mundo e viver como um asceta paupérrimo, pode parecer dramático e talvez irresponsável nos dias de hoje. Na Índia de seis séculos antes de Cristo, foi uma escolha extrema, mas não muito incomum. O que faz com que o caso de Gautama seja digno de estudo não é o fato de ele ter escolhido renunciar ao mundo, mas sim o fato de ter, em sua busca incessante da causa e cura da angústia e tensão humanas, renunciado aos caminhos do próprio ascetismo. No princípio sua aproximação foi bastante ortodoxa; consultava as mais altas autoridades sacerdotais da religião bramanista, hindu, de seu povo, embora nenhuma pudesse explicar ou instruir-lhe satisfatoriamente. Nessa época, era costume praticar mortificação corporal a fim de obter a libertação das doenças do corpo e da mente; consequentemente, ele também tentou esse método. Na floresta de Uruvela, perto de Gaya, Índia, praticou as mais intensas formas de austeridade durante seis anos, e foi finalmente trazido às beiras da morte. De repente, deu-se conta de que, em vez de proporcionar a paz e a clareza mental, as graves penalidades que se auto impunha haviam arruinado sua saúde e entorpecido sua mente. Para o desagrado de seus companheiros ascetas, resolveu rejeitar os caminhos da austeridade do mesmo modo que havia rejeitado os caminhos da luxúria, e decidiu, em vez disso, seguir um caminho intermediário entre os dois extremos. Após revitalizar seu corpo com alimento, sentou-se sob uma árvore e começou a meditar. Permaneceu em estado e intensa concentração durante toda a noite, e pela manhã havia vislumbrado duas coisas, que viriam a ser os fundamentos de seus ensinamentos, a verdade da existência do sofrimento e a verdade de que existe um meio de libertação, isto é, um caminho intermediário que evita os extremos. Passou os quarenta e cinco anos restantes de sua vida como um monge itinerante, expondo esse caminho intermediário à todos aqueles que procuravam seus conselhos. Os ensinamentos do Budha iniciaram-se em Benares, Índia, a cidade sagrada dos hindus, lugar para onde se dirigiu logo após sua experiência de Iluminação. Nos limiares da cidade, no parque dos cervos, em Sarnath, pronunciou seu primeiro discurso ou sermão, conhecido como O Giro da Roda da Lei, no qual explicitou em termos simples a estrutura quádrupla de seu ensinamento, geralmente traduzida como As Quatro Nobres Verdades. São elas:

1.A verdade da existência da infelicidade.

2.A verdade de que há uma causa para essa infelicidade.

3.A verdade de que a infelicidade pode cessar.

4.A verdade do caminho que conduz ao cessamento da infelicidade.

Discorreremos sobre alguns dos detalhes e implicações dessas quatro nobres verdades em capítulos posteriores deste livro. O Budha, como todos os verdadeiros líderes religiosos, ensinou que o desejo, a possessividade e a inveja são as causas de muitos males pessoais e sociais; pregou contra a guerra e a escravidão, e denunciou as chamadas práticas sagradas que envolviam o sacrifício de seres humanos ou de animais. Como um mestre, dirigiu-se aos ricos e poderosos bem como aos pobres e fracos. Desconsiderou as distinções de classe do sistema de castas e ajudava pessoas, fossem elas bem nascidas ou não; admitia no seu grupo de seguidores todos aqueles que escolhessem segui-lo. Apaziguava brigas entre proprietários de terra e príncipes. Ajudava aqueles que sofriam da mente ou do corpo a encontrarem uma cura para seus males. Não se tratava aqui de um Deus ou ser sobrenatural; o Budha não acreditava em milagres nem procurava desviar o curso natural dos eventos. Ao contrário, ensinava aos homens como reconhecer a interdependência de causa e efeito, e a compreender que, para erradicar um efeito indesejado, é necessário descobrir e erradicar a causa. O Budha advertiu que um estado de paz poderia ser alcançado e plenamente realizado aqui, nesta vida, não através de sacrifícios aos deuses, nem por meio de orações, mas através de um contínuo esforço e por um desprendimento lentamente aperfeiçoado. O budismo não é uma religião que possa ser aceita cegamente de uma vez por todas; dever ser compreendida e constantemente questionada. O Budha disse: Aceitai minhas palavras somente após haverdes examinado o seu sentido por vós mesmos; não as aceiteis apenas em nome do respeito que tendes por mim. Embora com o decorrer do tempo o budismo tenha sido, algumas vezes, afetado pela tradição, rituais, etc, seu criador não formulou mais do que um método a ser experimentado. A autoconfiança e a tolerância são as chaves do pensamento budista. O Budha afirmou repetidas vezes: Vós mesmos deveis esforçar-vos, o Budha apenas aponta o caminho. O budismo jamais poderia, portanto, ser uma fé proselitista. Na realidade, o seguidor dos ensinamentos do Budha é exortado a usá-los apenas como uma balsa para a travessia de um rio. Uma vez tendo atingido o objetivo, isto é, o Nibbãna, a balsa deve ser abandonada. As últimas palavras do Budha foram: Lute cautelosamente. Tolerar com cautela é ver o mundo e nossos companheiros claramente, sem julgamento, inveja ou ódio. Para sermos capazes disso, é necessário que nos conheçamos intimamente bem como a fonte de felicidade e infelicidade existente dentro de nós. http://www.nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.

 

domingo, 29 de agosto de 2021

COMO ESCOLHER MUDAR.

 

Teosofia. Revista Theosophia. Texto de Tim Boyd (1953-  ). COMO ESCOLHER MUDAR. Quando nos vemos envolvidos em um esforça espiritual, ou caminho, estamos buscando alguma forma de mudança de natureza interior. A menos que sejamos extremamente irrealistas, a mudança necessariamente envolve uma escolha. Não se trata apenas de “queria que isso fosse diferente”, quando a transformação da consciência acontece por estarmos assistindo ao programa de TV. Temos que pensar nos termos da mudança e em como vamos interagir com esse processo. Na tradição sufi, há muitas histórias, sobre um grande Mestre arquetípico. Seu nome é Khidr, ou Al-Khidr. Ele é, às vezes, descrito como o Homem Verde, pois suas vestes foram retratadas nessa cor, simbolizando o frescor do conhecimento “extraído das fontes vivas da vida”. Uma das características de sua magnitude é que dizem que ele é o mestre do profeta Moisés. No islamismo, Moisés era altamente considerado e bem conhecido como um dos grandes profetas e mestres. Muitas pessoas tinham experiências espirituais por causa de suas palavras. Houve ocasiões em que pessoas lhe disseram: “Você tem muito conhecimento, mas busca e, quando finalmente o encontrou, disse: “Gostaria de estudar com você”. Khidr respondeu: “Para mim está bem, mas realmente não sinto que você teria paciência com minha maneira de ensinar, particularmente porque você é incapaz de compreendê-la”. Moisés então respondeu: “Prometo que serei paciente e que vou aprender”. E assim eles começaram a viajar juntos. A história descreve três episódios. Na primeira, eles estavam caminhando ao longo de um rio e tinham que atravessar até a outra margem. Alguns pescadores reconheceram Khidr e disseram: “Venham em nosso barco e não cobraremos a viagem”. Enquanto ainda a bordo, Khidr pegou um machado e abriu um buraco no fundo do barco. Moisés lhe disse: “É assim que você retribui a bondade? Tem alguma coisa errada com isso. O que você está fazendo”? E Khidr disse: “Eu disse que você não conseguiria ser paciente comigo”, ao que Moisés respondeu: “Desculpe-me, não vou fazer isso de novo”, e foram embora depois que o barco afundou. Em seguida encontraram um garoto a brincar com outros meninos. Dessa vez, Khidr se aproximou e matou o menino. Naturalmente, Moisés protestou diante do aparente assassinato e novamente foi lembrado sobre sua paciência. Mais uma vez se desculpou. Na terceira vez, eles chegaram a uma aldeia após viajarem por muito tempo. O costume, nesta parte do mundo, era não evitar estranhos. Praticava-se a hospitalidade. Mas não foi o que fizeram, e Khidir retribuiu reconstruindo um muro que desmoronara na aldeia. E novamente Moisés protestou: “Não nos deram nem uma migalha para comer e aqui está você, reconstruindo o muro. Você poderia ter sido pago, pelo menos!”. E Khidr respondeu: “Esta foi sua última chance!”. Então Khidr explicou: “Quando estávamos com os pescadores, abri um buraco no fundo do barco porque um rei guerreiro se aproximava para tomar os barcos e levar os pescadores, que teriam morrido na batalha por vir. Mas você não podia ver isso. O menino que foi morto pertencia a uma família religiosa e justa, mas o menino era rebelde e desobediente e foi morto porque Deus irá fornecer a essa família outro filho mais correto. Finalmente, debaixo do muro que reconstruí, há um grande tesouro, que foi escondido e deixado para os filhos de um homem que faleceu, deixando os meninos órfãos. Reconstruí o muro para que o tesouro ficasse seguro até que os meninos cheguem à idade e possam resgatá-lo. E com isso, ele e Moisés se separaram. Se insistimos numa interpretação literal da história, cada um dos motivos de Khidr são questionáveis de acordo com nossa ética e moral habituais. Mas talvez na tradução sufi, assim como na Teosofia e em outras tradições e em outras tradições, essas histórias de “ensinamentos” pretendam abrir a consciência de diferentes maneiras. Na tradição sufi, como na teosofia, diz-se que as histórias de ensinamentos possuem sete níveis de interpretação. Um deles é o nível literal e moralista, e este é o que a maioria das pessoas consegue alcançar. Mas há pelo menos duas maneiras alternativas de entender esta história. O barco: um rei guerreiro ia confiscar esta ferramenta, fazendo dela e das pessoas instrumentos de guerra. Em certas tradições, há ideia de ahimsa, ou não violência. Assim, a ideia era eliminar o que seria usado como instrumento de violência pelo rei guerreiro. Quando vistos sob uma perspectiva interior, podemos nos perguntar: “O que existe dentro de nós que gera todo o descontentamento, as guerras e controvérsias em que estamos envolvidos?” Descobrimos que o rei abrigado em nossa mente é muitas vezes descrito como o pequeno ego, ou a mente inferior. Para neutralizar os meios de expressão violenta desse falso regente, que a tudo polariza para o mal dentro de nós, o que podemos usar como ferramentas para lidar com a consciência imprópria? Na tradição oriental, fala-se de órgãos de conhecimento pela maneira que o tocamos, vemos, ouvimos, experimentamos, etc. Os órgãos de ação também são cinco: mãos, pés, olhos, orelhas, língua, órgãos sexuais. São essas as maneiras pelas quais agimos no mundo. Trata-se de uma possível interpretação. A ideia do menino assassinado é mais difícil de compreender. Como justificar tal ação? Se a olharmos como a tomada da vida de um jovem ser humano, não pode haver justificativa. Em a Voz do Silêncio de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) existem muitas frases intensas. Uma frequentemente citada é: “A mente é a assassina do real”. O nível inferior, imaturo,  não desenvolvido da mente obstrui nossa experiência da realidade; está continuamente matando o real, lançando um fluxo constante de pensamentos, imagens e apegos. A Voz continua repetindo: “Você deve matar o assassino”. Novamente, essas são sugestões possíveis de interpretação sobre algo que claramente não deve ser entendido literalmente. Então, há a construção do muro para proteger o tesouro que os órfãos, quando chegarem à sua maioridade, serão capazes de encontrar e utilizar. A ideia básica é que pai e filhos foram separados no falecimento do pai. Os filhos, órfãos no mundo, separados de seu pai, são uma réplica da história bíblia do filho pródigo encontrada em todas as tradições. O filho sai da casa do pai, levando sua riqueza com ele, gasta-a tolamente, viaja para uma terra distante e, finalmente, desperta e volta para casa. O esforço de Khidr em reconstruir o muro é semelhante ao trabalho de todas as grandes personalidades para se tornar uma das “pedras angulares que forma o Muro dos Guardiões”, protegendo a humanidade, protegendo uma humanidade imatura até que a mente chegue à maturidade. Há uma história sobre Khidr chamada Quando as Águas foram Mudadas. Na história, Khidr anunciou à humanidade que ia chegar um tempo, muito em breve, em que todas as águas da terra iam ser mudadas e, no momento em que as novas águas começassem a fluir, aqueles que a bebessem ficariam loucos. Somente aqueles que tivessem armazenado a água original seriam capazes de manter a sanidade. Mas somente uma pessoa em todo o mundo havia prestado atenção e ouvido a informação de Khidr. Ele fez uma grande reserva de água. Chegou o dia em que observou que os rios começaram a secar e os riachos pararam de correr. Ele voltou para seu santuário e esperou, e, em pouco tempo, as novas águas começaram a fluir. Pouco tempo depois, o homem foi se encontrar com as outras pessoas para ver como estavam. Quando lá chegou, observou que todos estavam agindo de maneira fora do normal. Pensou que haviam enlouquecido. E enquanto conversava com eles tentando lhes mostrar que haviam se desviado do que realmente eram, algo muito claro para ele, observou que o estavam olhando estranhamente. Alguns ficaram bastante irritados. Eles não entendiam o que ele estava falando e pareciam pensar que ele era quem parecia louco. Chegaram a acreditar que ele havia perdido a cabeça. Todo dia o homem voltava para buscar água em seu reservatório, até que, em algum ponto, aquela solidão abjeta de ser o único dente todas aquelas pessoas que eram diferentes começou a cobrar seu preço. Concluiu que era melhor ser aceito e fazer parte do resto do que sentir essa dor de ser o único a enxergar as coisas de forma diferente. Então ele tomou um gole da nova água e esqueceu-se de seu estoque de água “guardada”, bem como da realidade, tornando-se um com os outros. Essa história refere-se a diversas esferas. A primeira é que estamos continuamente ocupados neste processo simplesmente porque nascemos neste mundo. Um bebê ainda não está acostumado com o tipo de visão das pessoas ao seu redor. Ele percebe as coisas de forma muito diferente. Mas gradualmente, como nós, ele começa a beber as águas deste mundo, e a cada gole ele vai se tornando “normalizado”, mais habituado, aceitando progressivamente os diversos tipos de identidade que lhe são atribuídas em virtude da família, religião e nação em que nasceu, conformando-se até certo ponto com a realidade desses fatos. Nos estágios iniciais, este processo não está sob nosso controle. Como bebês e crianças, nossa capacidade de fazer escolhas com segurança ainda não surgiu. Em determinado ponto de nosso desenvolvimento interior, embora não necessariamente seja assim em todas as vidas, nossa percepção começa a funcionar de forma diferente. Novas perspectivas começam a se apresentar, mesmo que momentaneamente. Começamos a tomar consciência de algo mais profundo bem abaixo do véu que tendemos a chamar de “normalidade”. À medida que essas perspectivas surgem dentro de nós, a experiência mostra-se em forte contradição com o mundo “normal” que habitamos, frequentemente de forma inquietante. Para a pessoa nessa situação, muitas vezes fica mais fácil beber a água consumida pela multidão, pois o comportamento exigido pela verdadeira percepção da realidade nitidamente contrasta com os comportamentos aceitos em nossa vida “normal”, representando, em algum nível, um problema neste mundo. Essas são as escolhas que fazemos sob um determinado nível de percepção. Mas para sermos perfeitamente honestos, a escolha sincera é impossível sem algum desdobramento interior da consciência. Podemos achar que estamos fazendo escolhas, mas não estamos fazendo grandes mudanças. Seria como trocar uma cadeira de lugar na mesma sala. Reorganizar a mobília na mente ou na consciência não é transformar. Conforme mencionou uma das grandes personalidades do mundo da psicologia do século XX, e membro da Sociedade Teosófica, William James (1842-1910), autor  de As Variedades da Experiência Religiosa e de muitas outras obras: “A maioria das pessoas acredita que está pensando, quanto tudo o que realmente estão fazendo é reorganizar seus preconceitos”. Essa é a atividade necessária de uma consciência ainda não desenvolvida. No Proêmio de A Doutrina Secreta, de Helena P. Blavatsky (1831-1891), três Proposições Fundamentais amplas e transcendentes são discutidas. Uma delas considera o Absoluto, outra fala sobre os Ciclos (como reencarnação, dia e noite, etc., que são inegáveis. Mas terceira fala sobre o que está acontecendo conosco neste peregrinação humana. Ela a descreve como “a peregrinação obrigatória da alma”. A alma encarna na matéria e necessariamente participa de uma diversidade de experiências que finalmente culminam no despertar da consciência. Helena P. Blavatsky descreve as duas fases deste processo de despertar. Ela diz que primeiro ocorre um “impulso natural”. A primeira maneira pela qual a alma começa a revelar sua capacidade é quando é estimulada ou direcionada pela Natureza. Não está respondendo, mas reagindo. Somos estimulados por diversos choques da natureza constantemente presentes ao nosso redor. É assim que começamos a crescer e a desenvolver poderes para direcionar e canalizar as forças da Natureza para que possamos estar protegidos, como tentar-se manter aquecido, quando muito frio, e refrescado, quando muito quente. Uma fase muito diferente vem em sequência. HPB descreve-a como a alma em processo de desdobramento pelos “esforços auto induzidos  e auto planejados”. Entramos na fase de revelação, na qual finalmente podemos fazer escolhas legítimas. Não somos mais reativos, mas responsivos. A ideia de liberdade possui diversos significados. Geralmente, liberdade transmite a ideia de livrar-se de alguma coisa: de regras de ditadores, da imposição de leis ruins, das compulsões da sociedade, as pressões da natureza etc. O significado de ser livre é senso comum, de alguma forma, somos livres quando estamos isolados das influências exteriores. De alguma maneira, esta é uma etapa que necessariamente devemos passar. É muito parecida com a fase de crescimento que os pais descrevem como os “terríveis dois anos”, quando a palavra favorita da criança é “não”. O não desta idade, assim como a rebeldia de um adolescente, são reações usadas para estabelecer uma identidade e uma individualidade próprias, exercidas em oposição a outros tipos de forças; neste caso, os pais e suas regras. Trata-se uma abordagem. À medida que as pessoas se envolvem com o desenvolvimento de uma consciência espiritual mais profunda, uma visão diferente do que significa ser livre começa a surgir. Quando olhamos as vidas dos grandes eres das tradições religiosas como Buda, Jesus, Maomé, Lao Tzu, Confúcio, Platão, Pitágoras, Quetzalcoat entre outros, o que se vê em termos do tipo de liberdade que expressam é que não se trata de estar livre “de” alguma coisa. Nos casos específicos, descobre-se que a consciência abrangente é grandiosa porque inclui a totalidade a seu alcance, não apenas as alegrias, mas as sutilezas, as tristezas e as dores. Os grandes tendem a passar a vida tentando nos comunicar as maneiras pelas quais nós também podemos nos desenvolver. Isso nunca envolve se proteger dos outros, ou se isolar do fluxo da vida ao nosso redor, mas abraça-lo mais integralmente. Muitas vezes acabaram, morrendo por terem tentado passar informações para aliviar o sofrimento de pessoas como nós. Podemos experimenta e compreender a liberdade em diferentes níveis. De muitas maneiras, trata-se de fazer uma escolha para ser livre. Nos ensinamentos budistas, existe algo que HPB comentou muito. Parece um pouco abstrato – os doze nidhanas – que são os elos interdependentes que nos impulsionam para a roda do Samsara, ou a existência cíclica não iluminada. Descrevem doze estágios específicos que ligam a consciência a essa roda. Trata-se de uma ferramenta psicológica extremamente útil, chamada de Roda da Vida, ou Bhava Chakra. No imaginário, a roda é sustentada pelas presas e garras do Senhor da Morte, Yama. Nesta Roda, existem desenhos relacionados ao processo de consciência. No núcleo do círculo está a causa raiz da experiência que vivenciamos, retratada por três símbolos: o porco, a cobra e um determinado pássaro, representando a ignorância, o apego e a aversão. Nessa ordem, forma-se um círculo com cada um segurando a cauda de seu precedente. A ignorância fundamental representada por esta roda não se refere à falta de conhecimento convencional, mas ao fato de que tudo que se pensa saber é entendido incorretamente. Um exemplo frequentemente usado para descrever este tipo de ignorância é o de alguém caminhando em uma estrada, no crepúsculo da noite, e pensando que vê uma serpente logo adiante, reagindo de acordo com a visão: produção de adrenalina, medo, prontidão para fuga ou ataque. A medida que se aproxima, torna-se consciente de que aquilo que pensava ser uma cobra, é realmente uma corda enrolada no meio da estrada. Essa  conclusão provoca o súbito desaparecimento da reação pela percepção da realidade da corda. É este o exemplo usado sobre nossa ignorância fundamental. Não se trata de não saber, mas de má interpretação do que pensamos saber. A partir dos três símbolos centrais da Roda da Vida existe outra roda que a envolve, onde se diz que o Kama deve ser produzido. À proporção que o Karma é produzido, há outra roda, com seis segmentos que significam os diferentes reinos do ser. Na cosmologia budista existem seres infernais, fantasmas famintos, animais seres humanos e dois níveis de deuses. Chega, se, então, ao anel mais interior do círculo, com doze ligações interdependentes que retratam a repetição contínua da existência cíclica. É no primeiro e no sétimo elo desta roda, que há a possibilidade de realmente exercitar nossa capacidade de escolher ou interromper este ciclo repetitivo de nascimento, envelhecimento, morte, renascimento e assim por diante. No primeiro, há a imagem de uma avó cega segurando um bastão, significando nossa ignorância. Este é um ponto possível de mudança. Perceber a realidade corretamente interrompe o ciclo. A seguir, na roda externa, existem formações Kármicas, consciência humana e outros símbolos que descrevem a maneira como a consciência, envolta em ignorância, é conduzida ao longo da roda de samsara, até chegar ao sétimo elo. O sétimo nidhana é descrito como sensação, ou percepção, quando nos damos conta da natureza dual de nosso universo. A imagem usada é a de um homem em pé atingido por uma flecha no olho: a percepção da natureza dual do mundo e o surgimento das forças internas duais do apego e da aversão. O homem ferido pela visão é outro momento onde a escolha é possível. O primeiro dos três grandes princípios, ou verdades, descritos no final de o Idílio do Lótus Branco, de Mabel Collins (1851-1927), é “a alma do homem é imortal e seu futuro é o futuro de algo cujo crescimento e esplendor não tem limite”. Somos ilimitados, por mais que tentemos negar. A terceira dessas verdades fala sobre as raízes por que experimentamos ou não algum grau desta natureza ilimitada. Ou seja, “cada homem é seu próprio legislador absoluto, o administrador de sua própria glória ou trevas, o único a decidir sobre sua vida, sua retribuição, sua punição”. Envolvendo um certo grau de responsabilidade por isso. Na verdade, o propósito do processo de reunião de conhecimento poderia ser descrito como uma preparação para um momento especifico que vamos ver ou perder. Tratar-se de um momento muito recorrente que estamos eternamente perdendo. Há um poema escrito por Jiddu Krishnamurti (1895-1986), em Aos Pés do Mestre, quando ele era um menino de quatorze anos. “Aguardando a palavra do Mestre, vigiando a Luz Oculta, escutando atento às suas ordens mesmo no meio da luta; vendo seu sinal mais leve acima das cabeças da multidão; ouvindo seu sussurro mais leve acima  da mais vivaz terrena canção”. É uma bela descrição do processo de consciência, em sintonia com esses momentos, essas oportunidades de escolher mudar. Fui atleta quando era mais novo. Envolvi-me com o futebol americano na posição de quarterback, o que demandava muito treinamento. Antes de qualquer jogo oficial, os treinadores saiam para fazer reconhecimento das equipes adversárias e elaborar nossa estratégia tática de jogo contra eles. Além disso, como quarterback (jogadores de posição ofensiva no Futebol Americano), fazia parte do meu treinamento observar o tipo de posicionamento em campo dos jogadores adversários, buscando oportunidades únicas. A chave era sempre estar preparado para esses momentos. No meio do jogo, cansado, jogadores se batendo de todos os lados, a gente olha para o campo, vê a formação do adversário e visualiza a oportunidade para a qual fomos treinados. Neste exato momento, com a preparação, o pensamento, o treinamento e a presença integral naquele momento, uma janela se abre para uma oportunidade de ver e fazer uma escolha – escolher mudar o jogo sinalizando aos colegas de equipe. É esta a analogia de prontidão interior que Krishnamurti descreve em seu poema. Algumas tradições trabalham com a visão de que todos os nossos pensamentos e ações no curso da vida neste mundo servem apenas como preparação para um determinado momento, o momento de nossa morte. Algo único acontece nesse momento. Essencialmente, um dos diversos sentidos que nos ligaram a este mundo começa a falir: a visão se vai, o cheiro, o gosto, o toque, tornando-nos mais voltados para o interior, com energia decrescente. Existe um processo de seleção – um despojamento gradual é realizado. Algumas tradições espirituais relatam que um momento especial ocorre quando a Luz Brilhante surge repentinamente. Se nossas mentes não forem turbulentas pelos apegos e desejos cultivados durante nossa vida, seremos capazes de ver a alvorada desta luz quando ela surgir. Se os esforços de nossa vida nos prepararam para vê-la, podemos optar por embarcar profundamente na experiência desta consciência profunda. A forma pela qual nos preparamos para o nosso desdobramento, que não precisa ser no último suspiro, é realizada por inúmeras pequenas e, algumas poucas grandes, escolhas presentes na vida de todos. São estas as ferramentas que vamos usar para nos impulsionar nesta mudança ou transformação. Vivendo no mundo de hoje com suas poderosas exigências e dificuldades, a necessidade por indivíduos transformados nunca foi maior. Aqueles que estão trilhando o que pode ser chamado de caminho espiritual, comprometem-se com uma determinada responsabilidade que se apresenta. Estamos aqui para cultivar um tipo especial de consciência que permitirá a expressão desta vida maior na qual estamos inseridos, vivenciamos e nos movimentamos. Devemos permitir que ela se expresse através de nós. Não é preciso conhecer o plano e a resposta. Nossa missão é estar disponível, perceber a oportunidade, ficar firme e abraça-la. Tudo isso virá por meio das escolhas que fazemos de momento a momento. “O antigo problema humano requer solução através de uma mente que possui amplitude, compreensão e sutil atenção. O problema é como viver em paz e harmonia com outras pessoas, com a natureza, consigo mesmo, e deixar tudo o que existe de melhor em nosso interior se exteriorizar em um estado de beleza e perfeição”. Radha Burnier (1923-2013). Não Há Outro Caminho a Seguir. Extraído: The Theosophist – novembro, 2016. Abraço. Davi

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O QUE É ASTROLOGIA

 

Astrologia – Texto de Ricardo Lindemann. Livro A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistério. Capítulo Um. O QUE É ASTROLOGIA. A astrologia é uma palavra de origem grega, que significa, literalmente, o estudo ou Ciência, dependendo como traduzimos o termo grego logos, dos astros. Astron, mas originalmente se refere à influência dos astros sobre nós, seres humanos, ou sobre os seres vivos de um modo geral, diferentemente da Astronomia que, como a palavra sugere, nómos em grego quer dizer lei, a Astronomia é, literalmente a lei dos astros, referindo-se à lei de movimento que os astros descrevem no céu. A palavra astro é um termo comum que abrange todos os corpos celestes naturais, como ou sem luz própria (estrelas, planetas, satélites, asteroides, cometas, etc). Emma Costet de Mascheville (1903-1980), minha professora, ou Dona Emy, como carinhosamente a chamávamos, costumava comparar a Astronomia como a anatomia do céu, e a Astrologia como a fisiologia do céu. A Astrologia, segundo ela dizia, abrange um sentido da vida que é influenciada através destas energias que os astros irradiam, ou de alguma forma nos influenciam através do seu movimento, enquanto que o mero posicionamento dos astros e suas leis de movimento vêm a ser, originalmente, o estudo da Astronomia. Posteriormente, porém, definiu-se a Astrologia como o estudo da relação entre os fenômenos terrestres e os celestes, incluindo todos os seres nesta Terra, quer essa relação possa ser por influência direta, por sincronicidade ou de qualquer outro tipo. A Astronomia também ampliou, posteriormente, sua esfera de atuação, tornando-se a Ciência que estuda as posições relativas, os movimentos, a estrutura e a evolução dos astros. Outra palavra cujo uso se descaracterizou, em alguma medida, é a palavra Horóscopo. A palavra Horóscopo, derivada da grega Horoskopeo, sendo que o verbo grego skopein significa observar, examinar. Portanto, Horóscopo ou horoscópio, significa, literalmente, observação da hora, assim como microscópio é a observação do pequeno, telescópio é a observação do distante, periscópio é a observação do que está em torno, e assim por diante. Horoscópio, portanto, a observação da hora como uma espécie de fotografia do céu, mas devido ao mau uso e desgaste da palavra, hoje nós usamos mais o termo Carta Astral ou simplesmente Mapa Astral, para designar aquela fotografia, por assim dizer, da posição dos astros no céu no horário de nascimento do indivíduo em relação às linhas de latitude e longitude do lugar onde ele nasceu da Terra. Este contexto é importante porque em torno de 1930, com a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, criou-se, a título apenas de diversão, uma coluna de jornal que tradicionalmente passou a se chamar Horóscopo, mas que na verdade, não levava em consideração o horário de nascimento das pessoas. Por conseguinte, deveríamos chama-la de “Mesóscopo”, como sugeria Dona Emy, pois só leva em consideração o mês de nascimento. Outra alternativa seria chama-la de “Heliologia”, pois só leva em consideração o signo do sol (Hélios), que é o signo do mês em que a pessoa nasceu; para diferenciá-la da verdadeira Astrologia, que seria o estudo dos diversos astros ou a observação da hora do nascimento do indivíduo, o verdadeiro Horóscopo, o Mapa Astral, a “fotografia” com a posição dos diversos astros naquele momento. As pessoas às vezes têm uma noção muito errônea de Astrologia porque veem, por exemplo, numa dessas colunas de jornal sobre o signo de Áries: “Hoje o signo de Áries ganhará na loteria”. 1/12 (um em cada doze) dos brasileiros deveriam ganhar na loteria ao mesmo tempo, portanto o prémio seria irrisório. Verificamos, assim, que não é possível dividir a humanidade apenas em 12 destinos, isso surge apenas de uma má compreensão da Astrologia gerada por essas colunas populares de jornal. A Astrologia serve primeiramente para interpretar num nível individual o Mapa Astral da pessoa, e coletivamente ela pode dar noções gerais das tendências de um país, ou até da humanidade ao longo de uma Era, que é um período de 2.150 anos, como, por exemplo, na Era de Aquário na qual estaríamos ingressando. Talvez a forma mais simples de nós nos aproximarmos desse conceito seja exemplificando, como Dona Emy gostava de fazer, a partir de uma grande obra de Astrologia chamada a Última Ceia, de Leonardo da Vinci (1452-1519). Nós temos aqui um símbolo dos doze signos e no centro a figura do Cristo. Então, cada um dos doze Apóstolos corresponderia a um signo, mas o Cristo não deve ser visto como o décimo terceiro signo, não é este o caso, senão que, um dos pontos importantes para nós é compreender que o Cristo representa o ponto de fuga de todas as linhas de perspectiva do mural, que vão justamente convergir na cabeça do Cristo, simbolizando, portanto, que de alguma maneira ele representa o Centro de todo o Zodíaco, ou seja, o ponto mais sagrado do mural, o ponto em torno do qual tudo o mais gira. Se nós observarmos, assim, a posição do Cristo é totalmente central e nele nós poderíamos pretender caracterizar os três pontos das aberturas iluminadas ao fundo, ou melhor dizendo, talvez três portas, porque nós podemos ver que o mural original está caracterizando aberturas ou portas iluminadas ao fundo em contraposição às janelas opacas laterais. Então, essas três aberturas ou portas ao fundo são aquelas pelas quais passa a luz do Sol. DIAGRAMA DE CORRESPONDÊNCIA DOS 12 SIGNOS COM OS 12 APÓSTOLOS – segundo Emma Costel de Mascheville no livro Luz e Sombra. 1. ÁRIES – Simão. 2. TOURO – Judas Tadeu. 3. GÊMEOS – Mateus. 4. CÂNCER – Felipe. 5. LEÃO – Tiago Menor. 6. VIRGEM – Tomé. 7. BALANÇA – João. 8. ESCORPIÃO – Judas Iscariotes. 9. SAGITÁRIO – Pedro. 10. CAPRICÓRNIO – André. 11. AQUÁRIO – Tiago Menor. 12. PEIXES – Bartolomeu. O Cristo está exatamente no meio, na posição Equinocial. Portanto, ele representa a posição de equilíbrio. Temos aqui as quatro estações simbolizadas, da direita para a esquerda: a primavera, o verão, depois Cristo, no Centro, que representa a posição do Equinócio Outonal e por fim o outono e o inverno. Então, são quatro grapos de três Apóstolos simbolizando os quatro grupos de três signos que caracterizam o Zodíaco Tropical, as quatro estações do ano, cada uma durando três meses. Esta consideração geral passa a se tornar cada vez mais interessante quando nós observamos as mãos de Jesus Cristo no mural,: com a mão esquerda ele dá, com a mão direita ele recolhe. Então, nós vamos verificar que na verdade, das estações do ano, na primavera e no verão o Sol se doa em luz e calor e no outono e no inverno, de alguma forma, proporcionalmente, a luminosidade do Sol se recolhe. Assim temos esse gesto das mãos a simbolizar uma posição de imparcialidade da Divindade perante a Natureza que doa de um lado e recolhe aquilo que ela mesma doou do outro, simbolizando que a Divindade se manifesta de forma equilibrada, imparcial, como se fosse uma contabilidade cósmica, por assim dizer, que precisaria fechar em zero. Portanto, quando a Divindade cria o “mais um”, tem que criar o “menos um”, quando a Divindade cria o “mais dois”, tem que criar igualmente o “menos dois”, e assim por diante. Tal é o caso, usando uma linguagem mais científica e atual, da teoria de conservação de energia, de modo que a integral ou soma final seja zero, sem deixar resíduo. Tal símbolo, portanto, é muito importante, pois nenhum signo é melhor do que o outro, todos os signos são assim, complementares. Esse é o ponto básico da teoria de Emma Costet de Mascheville, nossa professora, em seu livro Luz e Sombra, cuja leitura nós recomendamos. Nesse sentido, foi ela quem descobriu essa correlação da Astrologia com a Última Ceia de Leonardo da Vinci, ou seja, dos doze signos com os doze apóstolos. Outro ponto que gostaríamos de salientar é que a sombra não existe por si mesma senão como ausência de luz, diz até a Escritura que na presença da luz as trevas em luz se transformam (João 1,5). Da mesma forma é um princípio importante para nós, numa análise teosófica da Astrologia, sustentar que o mal não existe por si mesmo senão como o bem adormecido que não teve ainda oportunidade de despertar ou de desenvolver-se. Acrescentaríamos ainda o conceito de que o vício não existe por si mesmo senão como uma virtude em evolução, em desenvolvimento, uma virtude que ainda não teve o tempo de desabrochar, que não teve oportunidade de manifestar sua potencialidade evolutiva; todo ódio é assim apenas um amor não resolvido. A ideia de que o vício é uma virtude em formação dá um colorido completamente diferente a ideia de qualidade e defeito, como dizia um amigo meu: “Defeito quem tem é máquina”. Então nós estamos aqui pretendendo demonstrar a vocês, que de certa maneira os doze signos representam correlações de polaridades opostas, e existe toda uma simbologia astrológica que Carl Gustav Jung (1875-1961) valorizava, ao afirmar: “A Astrologia merece o reconhecimento da Psicologia, porque a Astrologia representa a soma de todo o conhecimento psicológico da antiguidade”. E nesses arquétipos, nesses símbolos que os signos estão a representar nós vamos ter as polaridades da mente humana. Talvez, quem sabe a melhor forma de nós desenvolvermos o assunto seja dando o exemplo do Eixo primeiro do Zodíaco Tropical que é chamado Áries-Libra. Então veremos que neste mural Simão está representando o signo de Áries, enquanto João representa o signo de Libra. Nesse sentido, pergunto, o que é melhor ao andar de bicicleta: Cair para o lado esquerdo ou cair para o lada direito? Suponho que o melhor seja não cair. Quando nós temos duas polaridades opostas a verdade não está apenas numa delas, as duas são complementares, talvez nós tenhamos a metade da verdade em cada lado. É um princípio fundamental da filosofia hermética do antigo Egito, oriunda de Hermes Trimegisto, também chamado pelos Egípcios de Toth, o princípio ou grande axioma de “Como em cima: assim embaixo”. Ele foi extraído da tábua de Esmeralda de Hermes Trimegisto e é talvez o  princípio básico de toda a Astrologia, é chamado genericamente de Lei da Correspondência ou Princípio da Correspondência. E o que ele pretende corresponder? Justamente que há uma relação entre o Homem Celeste e o Homem Terrestre. Nós podemos ver isso neste diagrama que mostra a correlação dos doze signos do Zodíaco, seguindo a ordem com as doze partes do corpo humano. Então, a cabeça corresponde a Áries; o pescoço corresponde a Touro; os braços e os pulmões correspondem a Gêmeos; o estômago, o esôfago e as glândulas mamárias correspondem a Câncer; o coração corresponde a Leão; os intestinos e o fígado correspondem a Virgem: os rins correspondem a Libra; os órgãos sexuais correspondem a Escorpião; os quadris e as coxas correspondem a Sagitário; os joelhos, os ossos e a pele correspondem a Capricórnio; as pernas e os tornozelos correspondem a Aquário, até os pés que correspondem a Peixes. Se nós formos assim observar a pintura de Leonardo da Vinci, chamada Cenacolo ou Última Ceia, que na verdade é um afresco, um mural pintado no refeitório do Convento de Santa Maria dele Grazie – Milão – Itália , nós vamos verificar que este mural dá um destaque para a cabeça de Simão que representa Áries e está na cabeceira da mesa e pode-se observar também que as mãos dele estão em posição de comando em contraposição ao signo de Libra, representado por João que tem a cabeça inclinada e as mãos cruzadas. É verdade que o mural original, que nós ai vemos, está afetado pelos micro-organismos que o atingiram, e por isso a obra já não tem toda a beleza da época em que ela foi pintada (1495-1497). Ela sofreu danificações quando o mencionado refeitório foi transformado em estábulo pelos soldados franceses em 1796. Por outro lado, por ser um mural esta obra se eternizou, ou pelo menos teve mais condições de ser preservada do que talvez uma tela pintada a óleo que pode desaparecer mais facilmente, pegar fogo ou até ser roubada, etc. Infelizmente fizeram até uma porta para ligar o refeitório à cozinha, e para tal destruíram a parte da parede onde estavam pintados os pés de Cristo. Mas o que interessa é que Áries está ali representado com as mãos em posição de comando e com a cabeça exposta à cabeceira da mesa. Em seguida, Judas Tadeu representa Touro com uma concentração de luz no pescoço, e logo depois vemos Mateus com os braços em destaque, caracterizando, como nós vimos na ilustração do Homem Celeste, exatamente a mesma sequência da direita para a esquerda, seguindo assim a ordem dos signos do Zodíaco. Portanto, nós não estamos aqui pretendendo dizer que há uma relação de conexão meramente acidental ou casual, e sim que Leonardo da Vinci tinha a intenção de deixar uma mensagem astrológica nesse mural, ainda que velada em forma de pintura artística. Naquela época, na virada do século XV para o XVI, vigorava ainda a Santa Inquisição até a morte, em praça pública, em Roma, no Campo de Fiori, porque ele acreditava na onipresença de Deus e sustentava a existência da vida em mundos inumeráveis, como não acreditava na existência de vida só no planeta Terra, antes, ele sustentava que não seria digno da grandeza de Deus se só houvesse vida na Terra. Naquela época, falar de Astrologia não era um assunto tão simples, e o cuidado que Leonardo da Vinci teve neste mural foi, justamente, pintá-lo de uma forma cifrada de tal maneira que não fique evidente para o leigo tratar-se de uma obra de Astrologia, muito pelo contrário, parece ser apenas a Sagrada Eucaristia na quinta-feira santa, no momento em que Jesus dividi o pão com os seus discípulos, e abençoa também o vinho. No cristianismo, todo o simbolismo da missa inicia com a Sagrada Eucaristia a partir da quinta-feira santa. Da Vinci escolheu um dos mais sagrados símbolos cristãos para expressar através dele sua mensagem astrológica para as futuras gerações. Alguns cristãos resistem à Astrologia e à Ciência Astronômica, que naquela época  ainda não estavam separadas, porque elas foram trazidas novamente à Europa medieval pelos árabes juntamente com o sextante, o astrolábio, a bússola, etc, que tornaram possível o descobrimento das Américas. Porém, alguns esquecem que a maneira como o nascimento de Jesus foi descoberto pelos chamados Reis Magos, que eram evidentemente astrólogos persas, foi pelo cálculo da posição da Estrela de Belém. Por isso, o Sindicato dos Astrólogos do Rio de Janeiro – Brasil, do qual tive oportunidade de ser um dos membros fundadores, escolheu o dia 6 de janeiro, dia dos Reis Magos, como a data nacional do dia do Astrólogo, porque foi assim, através da Astrologia, que o nascimento de Jesus foi descoberto. Johannes Kepler (1571-1630), o grande Astrônomo e Astrólogo  simultaneamente, na história dos Grandes Cientistas, sustentava que a Estela de Belém era na verdade a conjunção de Júpiter com Saturno, ou seja, a relação do planeta da graça com o planeta do sacrifício, os dois em linha, em conjunção, proporcionariam um brilho extraordinário no céu, a soma do brilho destes dois planetas, resultaria mais tarde na chamada Estrela de Belém. Assim também Edmond Halley ((1656-1742), o descobridor do cometa que levou o seu nome, questionou as bases da Astrologia a Sir Isaac Newton (1643-1727), e ele teria respondido: “Sir, I have studied it, you have not” – “Senhor, eu a tenho estudado, o senhor não” . A Astrologia não é uma questão de crença, por isso esse livro inicia seu título com “A Ciência da Astrologia”, e juntos vamos investigar se há ou não correlação entre os fenômenos celestes e os terrestres. Vejam então, como o signo de Câncer é representado por Filipe, discípulo de Jesus, por não poder, evidentemente, num homem caracterizar as glândulas mamárias, ele tem um gesto maternal de quem traz a si, ao peito, em contraposição ao seu oposto que é André que representa Capricórnio e tem as mãos espalmadas. Dona Emy chamava o primeiro de “Vinde a mim” e o segundo de “Sai de mim”, o primeiro simboliza o calor do verão e o segundo o frio do inverno no Hemisfério Norte, de onde nos vem essa simbologia zodiacal greco-romana. Vamos verificar nessa sequência que Leão rege o coração e temos então o Apóstolo Tiago, aqui, possivelmente Tiago Menor – essa é uma das possíveis áreas de discrepância em saber se é Tiago Maior ou Menor – mas o fato é que ele tem aquela postura de expor o coração. Assim, o mural vai gradualmente demonstrando a exata sequência da direita para a esquerda que nós havíamos justamente indicado na tal correspondência entre o Homem Celeste e o Homem Terrestre. E nós vamos ver que o único apóstolo que tem os pés na luz é justamente o que representa o signo de Peixes, então observamos ali como Bartolomeu é o único que tem os pés na luz. Evidentemente que isso não está de todo nítido no original porque essa é uma das áreas que está na fase de reconstituição, mas porque ele está de pé na cabeceira da mesa pode-se, com as cópias mais próximas da época, verificar que é o único dos apóstolos que tem os pés na luz, como se pode ver na cópia do mural que foi reconstituído na capa do Luz e Sombra de Dona Emy. Nós fizemos essas menções, e vamos aos poucos estudar os signos dois a dois nas suas polaridades ou eixos, para que se possa perceber assim no contexto, que nenhum deles têm só qualidades ou nenhum deles têm só defeitos, senão que de dois a dois eles precisam ser integrados para que nós possamos ter o equilíbrio do todo reconstituído. Então, nossa proposta inicial é estudar os 12 Signos a partir de suas polaridades, depois nós vamos investigar também as 12 Casas Astrológicas, os planetas, buscando descobrir o equilíbrio e a beleza da Natureza no Mapa Astral. Eu citaria uma expressão de Emma Costet de Mascheville: “Através do estudo da Astrologia aprendemos a não culpar, mas a compreender, a não ser infelizes ou revoltados, mas a conhecer a nós mesmos e ao nosso próximo, encontrando a harmonia da vida e religando-nos à Fonte de Luz. Livro A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. Abraço. Davi.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

A ASTROLOGIA NA IDADE MÉDIA

 

Astrologia. Coleção Zodíaco. Bloch Editores. A  ASTROLOGIA NA IDADE MÉDIA. Uma Ciência de Monges e Nobre. A Astrologia tem florescido sempre em meios civilizados. Com a queda de Roma e o começo da Idade Média das Trevas, a ciência passou por um eclipse. No entanto, sobreviveu algum interesse nos monastérios e sérios estudos tiveram prosseguimento no Oriente Médio, onde o matemático, astrônomo, astrólogo e filósofo persa Abu Ma’shar al Balkhi (787-886), famoso astrólogo árabe, escreveu: “Só através da observação da grande diversidade dos movimentos planetários podemos compreender as inúmeras variedades de transformações". Gradualmente, na medida em que a Europa avançava mais uma vez para a luz, a Astrologia começou a voltar à consciência do homem – não apenas como um meio de predição, mas como uma forma de revelação e explicação. Filósofos e escritores cristãos, sucessivamente, começaram a redescobrir seus valores. Um dos resultados dessa nova aproximação foi o fato de várias religiões terem sido colocadas sob a proteção dos planetas: o judaísmo era regido por Saturno; o islamismo, de características belicosas e ao mesmo tempo sensuais, por Marte e Vênus. O cristianismo por Mercúrio, dominante em Virgem, o signo da Virgem Maria. Entre os pensadores de importância que sustentaram a teoria da Astrologia destacou-se Alberto Magno (1193-1280), filósofo e cientista experimental alemão. Ele acreditava que as estrelas não podiam influenciar a alma, mas que exerciam controle sobre o corpo, atingindo assim a vontade humana. Tomás de Aquino (1225-1274), discípulo de Alberto, sustentou o debate e foi até mais longe que seu mestre, ao declarar: “os corpos celestes são a causa de tudo o que acontece no mundo sublunar (abaixo da lua). A ASTROLOGIA TORNA-SE UM SUCESSO SOCIAL. Por volta do século XIV, a Astrologia estava firmemente estabelecida nas universidades, apoiada de um lado pela teologia e de outro pela ciência. Em muitas famílias nobres era procedimento regular a elaboração de horóscopos dos recém-nascidos, cujas vidas às vezes eram dominadas pelas notas biográficas resultantes, traçadas antes mesmo deles saberem andar. Há exemplos de horóscopos de cavalos favoritos e até de cachorros de estimação. A Astrologia logo alastrou-se, com a literatura a respeito oscilando desde os populares Livros da Lua até considerações sérias de Dante Alighiere (1265-1321) e Geoffrey Chaucer (1343-1387). Uma ilustração de um livro francês medieval, O Livro das Horas, dispostas em torno de um antigo relógio de Sol, mostrava como cada signo do Zodíaco era associado com um determinado trabalho mensal na Terra. OS SIGNOS DO ZODÍACO NA ERA MEDIEVAL. CÂNCER, O CARANGUEJO. De 21 de junho a 22 de julho. O trabalho tradicional desse mês zodiacal era o corte do capim para o preparo do feno. O trabalhador usava uma foice; de seu cinto pendia uma pedra de amolar. LEO, O LEÃO. De 23 de julho a 22 de agosto. Tempo para ceifar o trigo, trabalho feito manualmente, com o auxílio de uma pequena foice; depois, o trigo era amarrado em feixes e empilhado para secar. VIRGO, A VIRGEM. De 23 de agosto a 22 de setembro. No mês de Virgem, já seco, o trigo era espalhado e debulhado – também a mão – para separar o grão da palha. LIBRA, A BALANÇA. De 23 de setembro a 22 de outubro. Depois da colheita da uva, os bagos eram colocados em tinas (vasilha) largas e rasas – os lagares – e depois amaciados pelos trabalhadores da vinha a fim de lhes extrair o suco. SCORPIO, O ESCORPIÃO. De 23 de outubro a 21 de novembro. A semeadura para a próxima estação era frequentemente feito sob o signo de Escorpião, principalmente em áreas de solo argiloso. SAGITARIUS, O ARQUEIRO. De 22 de novembro a 21 de dezembro. Nessa época do ano o povo do campo derrubava bolotas de carvalho e castanhas doces para engordar seus porcos, que já não tinham muito tempo de vida. CAPRICÓRNIO, O BODE. De 22 de dezembro a 19 de janeiro. Os porcos e outros animais eram abatido quando a forragem tornava-se escassa, e seus corpos salgados para fazer com que a carne durasse mais tempo. AQUARIUS, O CARREGADOR DE ÁGUA. De 20 de janeiro a 18 de fevereiro. Época dos festins, atividades presididas em muitos calendários medievais por Janus, de duas faces, o antigo deus italiano do mês de janeiro. PISCES, OS PEIXES. De 19 de fevereiro a 20 de março. Tempo para aquecer-se; geralmente o frio dificultava os trabalhos das fazendas e os reduzia; os camponeses aproveitavam para passar os dias descansando dentro de casa. ÁRIES, O CARNEIRO. De 21 de março a 19 de abril. No mês zodiacal do Carneiro, uma tarefa importante era desbastar as velhas vinhas. Árvores e galhos eram então podados, na preparação para a nova estação em que se encontravam. TAURUS, O TOURO. De 20 de abril a 21 de maio. A fertilidade estava mais uma vez no ar e o povo recolhia ramos e flores para enfeitar suas ruas e casas para as festividades que eram realizadas no mês de maio. GEMINI, OS GÊMEOS. De 22 de maio a 20 de junho. Caçar com falcões era uma ocupação favorita durante a estação do verão entre as proprietárias de terra nos lânguidos (abatido, sem vigor) dias do século XV. O ZODÍACO E O CORPO. Como os Doze Signos Regem Nossa Anatomia. Hugh de Saint Victor (1096-1141), cuja filosofia e misticismo tiveram grande influência no século XII, salientou o valor da Astrologia natural, que se relaciona com a influência das estrelas sobre os complexos de nosso corpo, a qual varia de acordo com a posição da esfera celeste e atua na saúde e na doença, no bom ou mal tempo, na fertilidade e esterilidade”. Mesmo antes de sua época eram feitas ligações entre os signos do Zodíaco e partes específicas do corpo humano. Na antiga biblioteca de Hermes Trismegisto, por exemplo, aparece a noção de correspondência entre o macrocosmo – o Universo – e o homem: “O macrocosmo engloba os doze signos zodiacais, assim como o homem, de sua cabeça (o Carneiro) a seus pés, que correspondem ao signo de Peixes”. Em anos mais recentes, astrólogos examinaram essa antiga teoria, considerando-a sob a luz de modernos progressos da medicina. Estabeleceram, a partir de suas pesquisas, ligações entre os doze signos e os sistemas glandular e nervoso. Essas ligações atuam ainda através do que se conhece por polaridade, ou atração dos opostos. Assim, as dores de cabeça do ariano podem relacionar-se a uma condição dos rins, estes falhando sob a influência de Libra, o signo oposto a Áries. Nos títulos destas páginas os signos de polaridade aparecem em segundo lugar. ÁRIES/ BALANÇA. Os arianos tendem a ter mais dores de cabeça do que todos, pois essa é a zona de influência do signo; podem também ser “cabeças-duras”, tendo súbitos ataques de raiva. TOURO/ESCORPIÃO. Os taurinos são vulneráveis a resfriados e gripes, pois Touro rege a garganta e o pescoço, é aconselhável proteger a garganta quando o clima é mais frio. CÂNCER/CAPRICÓRNIO. Os cancerianos apresentam tendências para preocupar-se mais que todos e, desde que Câncer rege o estômago, suas tensões podem provocar doenças estomacais e até úlceras. VIRGEM/PEIXES. Virgem rege o sistema nervoso e os intestinos; os nativos do signo (como os de Câncer) tendem a sofrer um pouco do estômago, frequentemente devido a problemas de digestão; muitos virginianos são vegetarianos, e de qualquer maneira devem tomar cuidado com a alimentação. SAGITÁRIO/GÊMEOS. Os sagitarianos têm necessidade de exercícios e as mulheres desse signo devem tomar cuidados especiais, pois engordam muito facilmente nos quadris e coxas. Sagitário rege também o fígado. AQUÁRIO/LEÃO. Os aquarianos que praticam esportes pesados devem tomar cuidado com a canela e tornozelo. Aquário rege ainda a circulação, e podem ocorrer problemas na velhice ligados a essa área (veias varicosas, endurecimento das artérias). PEIXES/VIRGEM. Qualquer coisa que ande errado com os pés de um pisciano imediatamente o irrita; e seus pés apresentam frequentemente um leve defeito de formação. LEÃO/AQUÁRIOS. A forte associação de Leão com o coração pode determinar falhas no funcionamento do órgão nos últimos anos da vida, principalmente se os nativos do signo seguem sua tendência para uma vida movimentada. BALANÇA/ÁRIES. A conexão ente o signo e o fígado é tão grande que qualquer aborrecimento emocional leva imediatamente a um mal-estar do estômago. ESCORPIÃO/TORURO. A associação de Escorpião com os órgãos sexuais pode causar a impotência nos machos; geralmente o efeito é psicológico e os nativos do signo podem ser levados a ações violentas. CAPRICÓRNIO/CÂNCER. O signo rege os joelhos e os dentes; pode ocorrer uma deterioração da arcada dentária, assim com um endurecimento das juntas – aliás, os capricornianos às vezes sofrem de reumatismo. OS PLANETAS E O CORPO. Como os Dez Planetas Influenciam o Nosso Sistema Glandular. Uma importante série de relacionamentos entre áreas específicas do corpo humano e os planetas foi estabelecida há muito tempo. Tais relacionamentos eram usados principalmente com objetivos medicinais. Restringiam-se originalmente ao Sol, à Lua e aos outros cinco planetas conhecidos; mais tarde foram reavaliados para incluir Urano, Netuno e Plutão – quando as características desses planetas “modernos” chegaram a ser devidamente estabelecidas. Embora hoje muitos astrólogos não concordem com suas conclusões, um livro do século XVII, O Julgamento Astrológico das Moléstias, de Nicholas Culpeper (1616-1654), continua digno de interesse, pois estabelece uma relação detalhada da regência de planetas e signos sobre determinadas partes do corpo, da regência dos signos sobre as moléstias e contém anotações para seus diagnósticos. Culpeper criou ainda testes astrológicos para determinar quando um paciente fingia determinados sintomas, além de ter fixado um processo razoável de cura. Nesse processo incluía-se o estudo do planeta regente da moléstia; ao lado dessa consideração astrológica, alinham-se notas apenas médicas, como a leitura de pulsações, condições do sangue e urina e outras. A partir de Culpeper, o progresso da medicina moderna revelou uma zona de influência ainda mais significativa – a dos planetas sobre as glândulas endócrinas. Essas glândulas, pequenas controlam uma grande variedade de funções do corpo humano, desde o modo pelo qual respiramos até a expressão de nossas necessidades sexuais. MERCÚRIO. O cérebro e o sistema nervoso como um todo são regidos por Mercúrio, que exerce influência também na maneira pela qual respiramos. VÊNUS. As paratireoides, que controlam o nível de cálcio nos fluídos do corpo, são regidas por Vênus, que tradicionalmente é relacionado com a garganta, rins e região lombar. O SOL. O Sol é particularmente associado com o timo (glândula endócrina, localizada na porção ântero superior da cavidade torácica e inferior do pescoço, volumosa no recém-nascido. Mantendo-se desenvolvida até a puberdade, para depois começar a regredir, e frequentemente desaparecer no adulto), embora também governe, tradicionalmente o coração, costas e coluna vertebral. JÚPITER. O relacionamento de Júpiter é com o fígado e sua função digestiva, mas afeta também a glândula pituitária, que regula a produção de hormônios e governa nosso desenvolvimento físico. A LUA. A Lua é associada com o sistema alimentar, incluindo o esôfago, estômago, fígado, vesícula, pâncreas e intestinos. Está, portanto, intimamente ligada a dieta; relaciona-se também com os seios (regidos em geral por Câncer). MARTE. Marte é tradicionalmente um planeta de violência, mas é relacionado também com o sexo: não é de surpreender, portanto, sua ligação com as glândulas sexuais (gônadas são os ovários e os testículos que produzem os gametas femininos óvulos e masculino espermatozoides), e também com o sistema muscular em geral. URANO. Urano deve ter tido valor para os animais pré-históricos, para os quais a glândula pineal (uma área do cérebro hoje inativa) era importante. No homem é ligado principalmente com o sistema circulatório e com as gônadas. PLUTÃO. Plutão geralmente reforça a regência de Marte sobre as gônadas; relaciona-se principalmente com a reprodução e a formação de células. NETUNO. O tálamo, estrutura cerebral que se relaciona com a transmissão de estímulos para os órgãos sensoriais ( o tato, por exemplo), é regido por Netuno, que influência também todo o sistema nervoso. SATURNO. Os dentes e ossos são regidos por Saturno, que se relaciona também com a vesícula e baço e com a pele. Age sobre o lóbulo anterior da glândula pituitária, regulando a estrutura óssea e muscular e as glândulas sexuais. Coleção Zodíaco. Bloch Editores. Abraço. Davi.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

RAMADAN - MÉRITO E BENEFÍCIO

 

Islamismo. OS CINCO PILARES DO ISLÃ. PRIMEIRO. RAMADAN – MÉRITO E BENEFÍCIO. Louvado seja Allah que ordenou os Seus servos a jejuarem. Invoco a paz e a graça de Allah para quem melhor praticou a oração e jejuou, nosso Profeta, Mohammad, para os seus familiares e para seus nobres companheiros. Estamos recebendo um hóspede caro, generoso; um hóspede diferente dos outros hóspedes, pois inclui em suas dobras a misericórdia e a indulgência, a libertação do Fogo do Inferno; um hóspede quando visita é bem-vindo pelos visitados, quando parte, os corações lamentam a sua partida antes do lamento dos olhos. É o mês abençoado de Ramadan. Ó Allah, faça-nos alcançar Ramadan e que se repita por muitos anos e por muito tempo. Bem-vindo seja o mês da satisfação, o mês do Alcorão, o mês de Ramadan. Allah, Ta’ála ordenou os Seus servos crentes jejuarem durante o mês sagrado de Ramadan. Disse, glorificado seja: Ó crentes, está-vos preceituado o jejum como foi prescrito aos vossos antepassados, para que temais (a Allah).” (2:183). O Rassulullah (S) disse: “Quem jejuar durante o mês de Ramadan, obedecendo as suas limitações e se guardando contra o que é proibido todos os seus pecados anteriores serão perdoados.” (Tradição narrada por Bukhári e Musslim). O Jejum possui inumeráveis méritos e benefícios espirituais, físicas e sociais. Vamos citar algo disso em seguida: Alguns Méritos do Ramadan 1. Dentre os méritos do jejum é que Allah acrescentou a recompensa pelo jejum pela sua excelência. O Altíssimo disse no hadice Cudsi: “Todo ato do filho de Adão é dele, menos o jejum, ele pertence a Mim e eu recompenso por ele.” (hadice de consenso). Isso prova que a recompensa pelo jejum é enorme, sem prestação de contas, porque o jejum denota a sinceridade para com Allah, Ta’ála. O jejuador poderia quebrar o jejum ocultamente. Porém, o seu temor e a sinceridade para com Allah o veda fazê-lo. Por isso, merece a excelente recompensa. Allah, Ta’ála, disse no fidedigno hadice cudsi: “A pessoa abandona os desejos, o alimento e a bebida por Minha causa.” Esse é o motivo pelo qual Allah designou o jejum para Ele. 2. Dentre os méritos do jejum é que ele é um escudo. O jejum protege o jejuador, com a anuência de Allah, o Altíssimo, dos pecados e do cometimento do ilícito. O Profeta (S) disse: “O jejum constitui em escudo. Se a pessoa estiver jejuando, não deve censurar nem disputar com ninguém. Se alguém provocá-lo, que diga: estou em jejum.” (Narrado por Ahmad, Musslim e Nassá-i). 3. Dentre os méritos de Ramadan é ser uma das causas do atendimento da súplica. O Rassulullah (S) disse: “O jejuador, quando quebra o seu jejum, faz uma prece irrecusável. (narrada por Ibn Mája e Hákim). Allah, glorificado seja, disse: Quando Meus servos te perguntarem por Mim, dize-lhes que estou próximo e ouvirei o rogo do suplicante quando a Mim se dirigir.” (2:186). 4. Entre os méritos do jejum é que é motivo de penitência dos pecados. No Sahih de Musslim lemos que Abu Huraira (R) relatou que o Profeta (S) disse: “As cinco orações diárias, a oração da sexta-feira, até à seguinte, e o jejum do mês de Ramadan, até ao mês seguinte de Ramadan, são penitências das faltas cometidas durante o transcurso desse tempo, conquanto se evitem os pecados maiores.” (Musslim) Quando o Rassulullah (S) foi perguntado a respeito do jejum durante o dia de ‘Arafa, disse: “Expia o ano anterior e o resto do ano corrente.” Quando foi perguntado a respeito do jejum durante o dia de ‘Achurá (dia dez do mês de Muharram), disse: “Expia as faltas do ano anterior.” (Musslim). 5. Entre os méritos do jejum é que intercederá pelo jejuador no Dia da Ressurreição. O Imam Ahmad compilou o seguinte hadice em seu musnad atestado por Ahmad Chaker, e narrado por Abdullah Ibn Omar (R) de que o Profeta (S) disse: “O jejuum e o Alcorão intercederão. O jejum dirá: “Ó Senhor, vedaste-o de dormir. Por isso, permite que eu interceda por ele.” Disse: “ Irá permitir a intercessão.” 6. Dentre os méritos do jejum de que o jejuador tem duas satisfações. Ele fica satisfeito quando quebra o jejum pela satisfação de Allah, e fica satisfeito pela generosidade e misericórdia de Allah quando O encontra, estando satisfeito com ele. Ele encontra excelente recompensa junto a Allah, exaltado seja. O Profeta (S) disse: “O jejuador tem duas alegrias, ao quebrar o jejum e ao encontrar-se com Allah, jejuando.” 7. Entre os méritos do jejum é que designou uma porta dentre as portas do Paraíso que só a adentrarão os jejuadores. Os dois compêndios fidedignos citam que Sahl Ibn saad (R) que o Profeta (S) disse: “No Paraíso há uma porta chamada de Rayan. No Dia da Ressurreição será anunciado: ‘Onde estão os jejuadores?’ Quando o último entrar, ela será fechada e ninguém mais entrará por ela.”8. Entre as virtudes do jejum é o fato de que o cheiro da boca do jejuador para Allah no Dia da Ressurreição é mais agradável do que o cheiro do almíscar, porque é o resultado da obediência a Allah. A coisa desagradável para as pessoas é agradável para Allah, o Altíssimo, e vice-versa. O Profeta (S) disse: “Por Aquele em Cujas Mãos está a alma de Mohammad, o cheiro da boca do jejuador, no Dia da Ressurreição para Allah é mais agradável do que o cheiro do almíscar.” (Musslim). 9. Entre os méritos do jejum é que protege o jejuador do Fogo do Inferno no Dia da Ressurreição. Isso acontece se ele comparecer e tiver feito o jejum completo juntamente com os outros rituais, se praticar o que Allah e o Profeta ordenaram fazer, evitar o que Allah e o Profeta proibiram. O Rassulullah (S) disse: “Quando a pessoa jejua por um dia, em prol de Deus, Ele transporta o Inferno para uma distância de setenta anos de viagem (da pessoa).” (narrado por todos os tradicionalistas menos por Abu Karim Daoud). 10. Entre os méritos do jejum é o fato de os jejuadores serem recompensados sem prestarem contas. Os bons atos serão recompensados em dobro, e Allah recompensa a quem deseja, pois Ele é Munificente, Onisciente. Quem tiver paciência quanto as dificuldades do jejum será recompensado completamente. Allah, Ta’ála, disse: “Aos perseverantes, ser-lhes-ão pagas, irrestritamente as suas recompensas!” (39:10). Esses méritos serão dos que jejuam sinceramente a Allah, abstendo-se da comida, da bebida, da relação sexual e dos desejos. Que se abstém de ouvir o ilícito, de olhar para o ilícito, de lucrar o ilícito. Esses méritos serão de quem cuja mão se absteve do ilícito, seus pés se abstiveram do ilícito, seus ouvidos e seus olhos se absterem de ouvir e ver o ilícito. Esses méritos serão de quem cujos órgãos se abstiverem dos pecados, sua língua de mentir e caluniar e pronunciar palavras obscenas, de prestar falso testemunho. Esse é o jejum preceituado que merece ser recompensado de forma extraordinária. O Rassulullah (S) disse: “Quem não abandonar o falso testemunho e o agir de acordo com ele, Allah não necessita que abandone a comida e a bebida.” E disse: “Ai do jejuador cujo jejum não passa de abstinência da comida e da bebida. Ai do praticante da oração voluntária da noite cujo ato não passa de vigília” (Narrado por Ahmad e Ibn Mája) Alguns benefícios do Jejum. 1. Ensina o autodomínio e amaina os desejos, pois se todos os desejos da pessoa forem satisfeitos ela irá cometer excessos para satisfazê-los. Quando a pessoa sente fome, ela se acalma, se aquieta, submete-se e se abstém dos desejos. Abdullah Ibn Mass’ud (R) relatou que o Rassulullah (S) disse: “Ó jovens, quem de vocês tiver meios, que case. Quem não tiver, que jejue, que lhe será proteção (contra a prática do ilícito). ”(hadice de consenso). Isso, porque o jejum estimula no indivíduo os méritos e a sinceridade, a confiança e a paciência quanto às dificuldades e as calamidades. Se o jejuador for encaminhado para se proteger contra o ilícito, contra o que quebra o jejum, essa situação é a causa de se abster do ilícito. O jejum estimula o agradecimento das dádivas de Allah para com o Seu servo, porque ele se abstêm da comida, da bebida e das relações sexuais, e isso é segredo entre o servo e seu Senhor. 2. Entre os benefícios do jejum é que insufla na alma do ser humano a misericórdia e a benevolência para com os pobres, e a bondade para com os necessitados. O ser humano, ao sentir a dor da fome e da sede, lembra-se dos pobres famintos e se apressa em ajudá-los, auxiliando-os no necessário. Essa é a verdadeira situação do muçulmano para com o seu irmão muçulmano. 3. O jejum educa a pessoa na indulgência, na calma, na capacidade de suportar as coisas e não se irritar. Ele educa a pessoa também na paciência e a boa conduta. Isso porque ele ensina o comedimento e o afastamento da irritação e do que causa a irritação na pessoa. Quem conhecer a realidade do jejum se abstêm da cólera e do que a causa. Se alguém o insultar lhe diz que está jejuando, como foi-nos ensinado pelo nosso Profeta (S). 4. Dentre os benefícios do jejum há a auto-educação e a sua purificação da má conduta, acostumando-se à obediência, na prática do bem, pois o jejum é um escudo.5. Dentre os benefícios do jejum é que ele limpa o coração e a mente, afina o coração ao ouvir a recitação do Alcorão, ao ouvir as admoestações. Por meio desse comportamento, consegue decorar o que puder, com a anuência de Allah, do Livro de Allah e da Sunna de Seu Profeta, Mohammad (S).6. Dentre os benefícios do jejum é que ele estreita as vias sanguíneas, que são as vias de Satanás para o filho de Adão. Com o jejum aquietam as tentações de Satanás.7. Dentre os benefícios do jejum é o temor a Allah, exaltado seja. Ele diz: “Ó crentes, está vos preceituado o jejum como foi prescrito aos vossos antepassados, para que temais (a Allah).” Ele não disse, para que se recordem, ou para raciocinais. Portanto, o jejum é um meio para se temer a Allah, exaltado seja. O jejum restringe a alma, freia a sua obstinação pelo ilícito. Por isso, o Rassulullah (S) orientou aqueles jovens que não tem meios para se casar que jejuem pelo que abrange de autodomínio e o estímulo de se afastar do ilícito. 8. Dentre os benefícios do jejum é o ser humano reduzir o consumo da comida e da bebida para que tenha o preparo para praticar as orações voluntárias noturnas, recitar o que puder do Alcorão.9. Dentre os benefícios sociais do jejum é que concilia entre os muçulmanos e os acostuma à organização, reduzindo as controvérsias entre eles e estimulando a misericórdia para que o jejum do servo seja aceito. Os Benefícios Físicos do Jejum Allah, Ta’ála, diz:“Ó crentes, está-vos preceituado o jejum como foi prescrito aos vossos antepassados, para que temais (a Allah).” (2:183). E diz: “Se jejuardes será melhor para vós.” (2:184). Será que a ciência moderna descobriu o segredo das palavras: “Se jejuardes será melhor para vós”? A medicina moderna não considera mais o jejum como mera questão de desejo que o ser humano pode adotá-lo ou não. Depois de estudos e pesquisas precisas a respeito do corpo humano e suas funções fisiológicas comprovou-se que o jejum é um fenômeno natural que o corpo deve praticar para que possa exercer as funções vitais com eficácia. Que o jejum é extremamente necessário para a saúde do ser humano exatamente como o alimento, a respiração, o movimento e o sono. A pessoa sofre e adoce se não dormir ou não se alimentar por longo período. Da mesma forma, será acometido por danos no corpo se deixar de jejuar.Em um hadice narrado pelo Nassá-i, baseado em Abu Umáma que pediu ao Rassulullah (S) que o ordenasse a praticar algo que lhe seria benéfico. O Rassulullah (S) lhe disse: “Deve jejuar, porque nada é igual a ele.” Ele também disse: “Jejum que irão sarar.” A causa da importância do jejum para o corpo é que o ajuda a exercer a sua função de digestão, livrando-se das células antigas bem como das excedentes. O sistema de jejum utilizado pelo Islam que abrange quatorze horas, ao menos de fome e sede, com algumas horas apenas para se alimentar, é o sistema exemplar para fortalecer a função de destruir e construir. Isso é o contrário do que as pessoas imaginavam de que o jejum causa enfraquecimento e emagrecimento, com a condição que o jejum seja na proporção razoável, como é o caso no Islam, Os muçulmanos jejuam durante um mês inteiro por ano. É estabelecido para eles o jejum voluntário de três dias por mês, como vemos na Sunna do Profeta (S), no hadice narrado por Ahmad e Nassá-i, baseados em Abu Zar (R): “Quem jejuar três dias de cada mês é como se jejuasse por toda a vida. Allah corroborou isso no Seu Livro Sagrado: ‘Quem tiver praticado o bem receberá o décuplo pelo mesmo’ (6:160). Cada dia por dez.”Tom Branz, da Escola de Jornalismo de Colômbia, disse: “Considero o jejum uma profunda experiência espiritual, mais do que física. Apesar de ter começado a jejuar por motivos físicos, para perder alguns quilos de peso, porém percebi que o jejum é muito útil para queimar gorduras. Ele ajuda a ver com mais clareza, isso na formação de novos pensamentos e a concentração dos sentidos. Alguns dias depois de começar a jejuar na clínica de saúde de “Polang” comecei a sentir que estava passando por uma intensa experiência espiritual. ”Jejuei até agora várias vezes, por períodos entre um a seis dias. O estímulo no início era o desejo de purificar o meu corpo dos vestígios dos alimentos. Agora, porém, jejuo com a intenção de purificar a alma de tudo que a poluiu durante toda a minha vida, principalmente depois de viajar ao redor do mundo por vários meses e vi a injustiça assustadora em que muitos seres humanos vivem. Sinto que sou responsável de uma forma ou de outra pelo que acontece com aquelas pessoas. Por isso, jejuo para expiar isso. ”Quando jejuo, perco completamente a ansiedade pelo alimento e o meu corpo sente uma tranquilidade enorme, sinto me livrar dos sentimentos negativos como a inveja, a cobiça, do domínio, como me livro de sentimentos medo, preocupação, aborrecimento. Não sento nenhum vestígio disso com o jejum. Sinto uma extraordinária interação com as outras pessoas durante o jejum. Talvez tudo que disse é o que faz os muçulmanos, como observei na Turquia, na Síria e na Terra Santa comemorarem o seu jejum durante um mês inteiro por ano, comemoração atrativa espiritual que não vi igual em qualquer outro lugar no Mundo. ”Prevenção Contra os Tumores: O jejum exerce a função do bisturi cirúrgico que remove as células estropiadas e fracas do corpo. A fome que o jejum impõe ao ser humano move os órgãos internos do corpo para consumirem as células fracas para enfrentar a fome, proporcionando ao corpo a oportunidade de ouro de recuperar a sua vitalidade e vigor. Ele consome, também, os órgãos enfermos e renova as suas células. Dessa forma, o jejum constitui prevenção do corpo contra muitos excessos nocivos como a cólica, os resíduos calcários, os excessos carnais, as bolsas de gordura e também os tumores no início de sua constituição. Previne contra a Diabete. Certamente, é melhor oportunidade para reduzir o teor de açúcar no sangue ao nível mais baixo. Por isso, o jejum fornece ao pâncreas uma excelente oportunidade de descanso. O pâncreas expele a insulina que transforma o açúcar em produto feculento e gorduroso que é armazenado nos tecidos. Se houver excesso de alimento sobre a quantidade de insulina secretada, o pâncreas é acometido de sobrecarga e impotência para, finalmente se tornar incapaz de exercer a sua função, acumulando o açúcar no sangue e aumenta gradativamente a sua medida até aparecer a diabete. Foram criadas várias clínicas em várias partes do mundo para tratar da diabete seguindo o sistema dieta por um período de mais de dez horas e menos de vinte, de acordo com a situação de cada um. Então, o enfermo toma refeições leves por um período não menor de três semanas. Esse método apresentou resultados deslumbrantes no tratamento da diabete sem o uso de quaisquer drogas químicas. Médico de Emagrecimento: Sem exagero, é o melhor médico para emagrecimento e o mais barato. O jejum causa certamente emagrecimento, contanto que o jejuador seja comedido nos alimentos na hora de quebrar o jejum. Do contrário, pode ter indigestão com o excesso de comida e bebida após o jejum. O Rassulullah (S) costumava quebrar o jejum com apenas algumas tâmaras, ou com um pouco de água, então praticava a oração. Esse conselho é o melhor para quem jejua durante várias horas. O açúcar existente na tâmara faz a pessoa sentir satisfação porque é absorvido rapidamente pelo sangue. Ao mesmo tempo, fornece ao corpo a energia necessária para conservar a sua costumeira vitalidade.Se você começar a comer, depois de passar fome, carne, legumes e pães, esses produtos demoram para serem digeridos e uma parte deles se transformar em açúcar que faz a pessoa sentir que está satisfeita, e continua comendo e se empanturrando imaginando que ainda está com fome. Assim, o jejum perde a sua admirável função de recuperar a saúde, o bem-estar e a agilidade, tornando-se maléfico para o ser humano uma vez que aumenta a obesidade e a gordura. Allah, Ta’ála, não deseja isso para os seus servos instituindo o jejum a eles. O mês de Ramadan foi o mês em que foi revelado o Alcorão – orientação para a humanidade e evidência de orientação e Discernimento. Por conseguinte, quem de vós presenciar o novilúnio deste mês deverá jejuar; porém, quem se achar enfermo ou em viagem jejuará, depois, o mesmo número de dias. Allah vos deseja a comodidade e não a dificuldade.” (2:185). As Enfermidades de Pele. O jejum ajuda no tratamento das enfermidades de pele. A causa disso é que ele reduz a proporção da água no sangue, e, consequentemente reduz na pele, o que causa: aumento da imunidade da pele e o combate aos micróbios e as doenças gástricas bacteriológicas. Redução da agudeza das doenças de pele que se espalham em vastas superfícies do corpo como a psoríase. Redução das doenças alérgicas e agudeza dos problemas da epiderme. Com o jejum reduzem as secreções dos intestinos das toxinas e reduz a proporção da fermentação que causam abcessos e frequentes pústulas. A senhora Ilham Hussein, uma dona de casa egípcia: “Quando tinha dez anos de idade, fui acometida por psoríase, aquela doença que aparece com machas vermelhas cobertas por uma casca. Não tinha nenhuma esperança, naquele temo de sarar, depois que vários médicos dermatologistas famosos no Egito dizerem aos meus pais: Vocês devem se acostumar com isso e conviverem e a sua filha com a psoríase, porque é um hóspede pesado e de longa permanência. ”Ao atingir os vinte anos de idade, e aproximando-me da idade de casar, comecei a sentir tristeza e isolamento da sociedade, apertando-me o peito de forma insuportável. Um dia, um amigo religioso de meu pai, acostumado a jejuar, disse-me: Tente jejuar um dia sim um dia não. O jejum tratou de muitas doenças da minha esposa que os médicos desconheciam tratamento para elas. Fique sabendo que Allah é Quem cura, que todas as causas da cura estão em suas Mãos. Pede a Ele a cura de sua doença e então jejue depois disso. ”De fato comecei a jejuar, pois estava à procura de qualquer esperança que me tirasse do inferno que me cercava. Com o passar do tempo, acostumei-me a quebrar o jejum com legumes e frutas apenas. Três horas depois, eu me tomava a minha refeição, deixando de jejuar no dia seguinte. A surpresa assombrosa para todos foi que a doença começou a ceder após dois meses de ter iniciado o jejum. Não acreditava em mim mesmo. Via a doença enfraquecendo dia após dia até no final a minha pele parecia não ter sido acometida por aquela doença em toda minha vida.” Prevenção Contra a Gota. Gota é uma doença originária na reumatologia, inflamatória e metabólica, que cursa com hiperuricemia (elevação dos níveis de ácido úrico no sangue) e é resultante da deposição de cristais de ácido úrico nos tecidos e articulações. É causada pelo consumo excessivo da carne. Isso causa alterações na quantidade das proteínas abundantes nas carnes, principalmente na carne vermelha, no interior do corpo. Isso causa o aumento da formação de ácido úrico nas articulações, principalmente primeira metatarso falangeana “dedão” do pé. Quando a articulação é atingida pela gota ela incha e fica vermelha, com dores extremos. O sal da urina aumenta no sangue e passa para os rins, causando cálculo. A diminuição da quantidade do alimento é o tratamento principal dessa doença que esta proliferando rapidamente. Trombose do Coração e do Cérebro. Muitos professores da pesquisa científica e médica – na maioria não muçulmanos – confirmam que o jejum reduz o nível de gordura no corpo. Assim, reduz o colesterol, que se forma nas paredes das artérias. Com o aumento do colesterol com o aumento da gordura do corpo causa o endurecimento das artérias, como causa trombose nas veias do coração e do cérebro. Por isso, não devemos ficar surpresos quando ouvimos as palavras de Allah, glorificado e exaltado seja:  ) “Mas, se jejuardes, será preferível para vós, se quereis sabê-lo.” (2:184). Milhares de pessoas cujos desejos constantes por comida e bebida, causaram-lhes, inadvertidamente, tanto mal. Se tivessem seguido o método de Allah e da Sunna do Profeta Mohammad, sem exagero na comida e na bebida, jejuando durante três dias a cada mês, teriam eliminado suas dores e doenças, reduzindo o seu peso em dezenas de quilogramas. As dores das articulações (artrites)As dores das articulações é uma doença que se agrava com o passar do tempo. As partes atingidas incham causando dores extremos. As mãos e os pés ficam sujeitos a muitas deformações. Essa doença atinge o ser humano a qualquer época da vida. Porém acontece principalmente entre trinta e cinquenta anos. O problema verdadeiro que a medicina moderna não encontrou um tratamento até agora. Porém, foi confirmado pelos testes científica na Rússia que é possível que o jejum poderia ser um tratamento decisivo para a doença. Concluíram que o jejum livra o corpo das toxinas, com um jejum ininterrupto durante três semanas. Nessa situação, os micróbios que causam a doença farão parte do que o corpo irá se livrar durante o jejum. Experiências feitas com vários pacientes confirmaram resultados extraordinários nesse comenos. Sulaiman Rogers, de Nova Iorque, disse: “Fui acometido, três anos atrás, com graves inflamações articulares. Apesar de ser uma inflamação recente, mas era suficiente para me impedir de fazer longas caminhadas e correr (..). Não conseguia sentar mais de meia hora sem sentir adormecimento das pernas. Tentei tratamento por meios diferentes que foram todos em vão. Foi da vontade de Allah que eu conhecesse um amigo negro que me mostrou o caminho da mesquita e me convocou para o Islam. Eram os dias de Ramadan abençoado. Fiquei maravilhado com a ideia do jejum, mas demorei resolver me converter, apesar de ter-me convencido que o Islam estava mais próximo de meu coração por abranger princípios sublimes e justos, que rejeitam a opressão e a descriminação, os problemas mais perigosos que enfrentamos hoje em dia em nossa vida em Nova Iorque. ”Comecei a jejuar antes de me converter. Costumava quebrar o jejum apenas com verduras, frutas frescas e tâmaras. Só tinha uma refeição principal na hora da suhur (consoada). Agora consigo correr, graças a Allah, com velocidade. Todas as minhas dores desapareceram. O método único que encontrei para agradecer a Allah pelas Suas dádivas, foi ingressar no Islam depois de um convencimento total.”Sulaiman termina dizendo: “Devo muito ao jejum. Se vocês verem como recebo todo ano o mês abençoado de Ramadan a todo ano diriam que sou um jovem otimista e alegre e não um homem com mais de quarenta e cinco anos. ”Será que se pode jejuar por benefícios saudáveis apenas? Apesar dos vários benefícios saudáveis que os cientistas descobriram e dos que não foram descobertos ainda, não é permitido ao muçulmano jejuar apenas com a intenção de auferir benefícios saudáveis. A intenção deve ser para a adoração a Allah, com o desejo de se aproximar d’Ele e de obedecê-Lo, glorificado e exaltado seja, porque Ele é Quem nos criou e sabe o que é benéfico para os nossos espíritos, nossos corpo, nossa religião e nosso mundo. www.islaemlinha.com.br. Abraço. Davi.

domingo, 22 de agosto de 2021

COMO ALCANÇAR O EQUILÍBRIO ENTRE O CORPO E A ALMA

 COMO

Judaísmo. www.morasha.com.br. Compilado da palestra por Claudia Altschuller. A convite do Instituto Morasha de Cultura e do beit Chabad Morumbi, esteve novamente no Brasil o rabino Laibl Wolf. Vivendo atualmente na Austrália, além de advogado e psicólogo, é profundo conhecedor da Cabalá e das filosofias orientais. COMO ALCANÇAR O EQUILÍBRIO ENTRE O CORPO E A ALMA. A humanidade está passando por um período de muitos desafios, em que o progresso se dá em velocidade geométrica. No passado, as pessoas costumavam sair de casa, olhar para o horizonte e ver que as coisas permaneciam sempre iguais. Atualmente, em um breve espaço de tempo, pode-se perceber que prédios, ruas e até o céu já não são os mesmos. Antes, vivia-se na mesma casa por cinco gerações enquanto hoje, no decorrer da vida, uma pessoa pode chegar a viver em até cinco lugares diferentes. A informação e a tecnologia se têm multiplicado. A mídia gera imagens que dizem como devemos vestir-nos, comer ou tomar banho. Estas imagens conseguem mudar nossa disposição emocional, fazendo-nos sentir muitas vezes impotentes, como alguém que perdeu a confiança em sua própria capacidade. O que eu gostaria de lhes mostrar é como reconquistar a confiança em sua própria vida. Mostrar como quando cada um de nós adota uma postura de confiança e de fé, sua atitude afeta a todos. Revoluções não se iniciam lá fora, começam dentro de mim e dentro de vocês. Cada um de nós tem a capacidade de mudar o mundo. Atualmente, Cabalá é uma palavra que se tornou muito popular. A "lógica" é simples: "Se Madonna está estudando e praticando a Cabalá, é por que o tema deve ser importante". Ao refletir sobre o interesse da artista ou de outros astros sobre a Cabalá, ficava intrigado ao constatar que os profissionais da indústria cinematográfica e da moda tendem a procurar opções espirituais mais do que os de outras áreas. Provavelmente, quando a vida de alguém depende quase que exclusivamente de sua aparência física, esse alguém percebe, em determinado momento, que há um vazio dentro dele. Sou muito consciente de que há certa exploração do mercado espiritual. Não acredito que colocando um fiozinho vermelho em volta do pulso ou escaneando mentalmente um trecho do Zohar alguém vai-se tornar mais sábio ou melhor preparado para lidar com a vida. Algo precisa ficar muito claro para todos antes de prosseguirmos: a Cabalá é a Torá, é sua alma. Não é possível separá-las. Para podermos entender melhor este conceito básico é preciso voltar no tempo. Este não é o nosso primeiro encontro. Vocês lembram quando nos encontramos pela primeira vez, há cerca de 3.500 anos? Estávamos todos nós, juntos, no Monte Sinai, e Moisés, após receber de D'us a Torá, levou-a aos Filhos de Israel e passou a transmitir suas lições. Ele nos ensinou a Torá em quatro níveis diferentes. Primeiro, falou a todos sobre a explicação simples e literal de toda a Torá. Este tipo de interpretação ficou conhecido como Peshat. Depois selecionou um grupo menor, a quem revelou um nível mais profundo da Torá, que se tornou conhecido como Remez, que significa alusão. A seguir, foi a um nível ainda mais profundo para um grupo mais restrito. Este terceiro nível de interpretação foi denominado Derush. A este, é associada a literatura do Midrash. Finalmente, selecionou um núcleo bem pequeno a quem transmitiu o quarto nível de interpretação da Torá - o mais profundo e secreto: sua parte mística, que ficou conhecida como Sod, que literalmente significa segredo. Esta profunda vastidão ficou conhecida como Cabalá. Estou enfatizando estes pontos para que não haja dúvida de que a Cabalá é parte integrante da Torá. Se alguém fosse ler o Zohar, a obra básica da Cabalá (algo que não aconselho, depois direi o porquê), seria como ler as parashot - os trechos semanais da leitura da Torá em um nível mais profundo, mais místico. Os mestres chassídicos ensinam que a sabedoria que permeia a Cabalá tem o poder de enriquecer a vida de inúmeras formas. Seus ensinamentos, aplicados ao contexto do comportamento diário, podem tornar a vida mais estável e as pessoas mais equilibradas neste mundo cada vez mais complexo. O importante, ensinam os mestres, é conseguir mudar nossa própria natureza de tal forma que passemos a interpretar a realidade de forma diferente, para assim poder responder aos desafios da vida de forma também diferente. Se amanhã cada um de nós ficar igual ao que é hoje, significa que não cresceu, não aprendeu. Há quem afirme que as pessoas não mudam, pois estão geneticamente pré-programadas. Não acredito nesta visão de mundo e não canso de dizer que cada um de nós pode mudar tudo o que quiser em si mesmo, contanto que siga dois pré-requisitos fundamentais. Em primeiro lugar, precisa seguir um método. Em segundo, talvez o mais importante, tem que acreditar que isso é possível. Sem os dois, a pessoa não mudará; continuará sempre a mesma. Há aqueles que meditam profundamente e conseguem até fazer projeções astrais, concentrando-se durante uma hora, todas as manhãs. Mas continuam agnósticos, difíceis, não mudaram nada. Trata-se de uma incongruência, pois não se pode ser alguém espiritual e continuar sendo o mesmo indivíduo. Há alguns anos fui entrevistado por uma emissora de TV, nos Estados Unidos, e me perguntaram o que era Cabalá. Eu respondi que era "mind yoga". A resposta foi espontânea. Porém, refletindo mais tarde, cheguei à conclusão de que fora uma ótima metáfora. A ioga ensina como, praticando a autodisciplina através de técnicas de respiração e de posturas corporais, podemos conseguir que a força vital flua de forma mais forte dentro de nós. A Torá nós ensina como, ao adotar certa postura mental e emocional, podemos conseguir que nossa alma, a neshamá, flua melhor. Não estou aqui para expor a parte esotérica da Cabalá; meu enfoque é muito realista, terreno. Pessoalmente, não creio que algo puramente esotérico ou intelectual tenha uma aplicação real na vida das pessoas. Quero mostrar que dentro da tradição espiritual judaica, especialmente o chassidismo, existe um modelo psicológico sofisticado que, se adotado, ajuda o homem a efetuar uma mudança em seu emocional. Mostrar que é possível treinar a mente e o coração para adotar posturas equilibradas e positivas - para que quando chegar o momento de desafio, ao longo do dia, tenhamos a agilidade mental e emocional para enfrentar positivamente qualquer situação. Para exemplificar, usarei um sentimento comum nas pessoas: a "raiva". Na Torá somos totalmente proibidos de expressar raiva. Geralmente, quando faço esta afirmação, meus interlocutores ficam nervosos e ouço comentários como "É ridículo dizer algo assim; com um mestrado em psicologia, o Rabino não sabe da importância de se extravasar a raiva?" O que a maioria não sabe é que existe uma outra corrente de psicologia que ensina exatamente o oposto e afirma que é melhor não colocar a raiva "para fora"; é melhor conter o sentimento porque vai servir de treinamento para uma próxima ocasião. O judaísmo segue esta segunda linha de pensamento. Quero que aprendam a nunca ficar nervosos. Sabemos hoje que pessoas nervosas, que expressam raiva, têm imunidade mais baixa. Além do mais, esse sentimento prejudica as relações entre os indivíduos, seja em casa ou no trabalho. Não há nada de positivo na raiva. Mesmo assim, quando explica que a Torá diz ser proibido expressar a raiva, as pessoas agem como se lhes estivesse sendo roubado um direito "precioso". A tecnologia médica se desenvolveu a tal ponto que atualmente as várias formas de escanear o cérebro nos permitem observar como a mente funciona. Há cerca de três anos, surgiu uma nova tecnologia de scanning chamada Spect Scan, que mostra a mente em movimento, o que permitiu um insight maravilhoso. O pioneiro da técnica é o Dr. Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, que realizou uma experiência muito interessante. Usando o Spect Scan, ele estudou um grupo de monges tibetanos e outro de franciscanos, observando-os enquanto meditavam e oravam. O cientista chegou à conclusão de que quando estamos envolvidos em uma atividade de meditação e prece, há um aumento drástico da atividade de uma parte do cérebro - a que é responsável por nossa conexão, integração e empatia. Ao mesmo tempo, há grande diminuição da atividade na parte da mente responsável por nosso desligamento do mundo, o ego. Descobriu, também, que quando alguém está envolvido em atividades como meditação e prece, além de uma menor probabilidade de ter depressões e doenças do coração, essa pessoa tem a imunidade aumentada. Outras pesquisas médicas, realizadas nos últimos anos, revelaram que nossa atitude frente a certas circunstâncias ou acontecimentos afeta também as células do corpo. Ou seja, a maneira como nossos pensamentos interpretam a realidade acaba afetando o próprio corpo. E se nós pudéssemos mudar nossa atitude perante a vida, mudar nossa interpretação dos desafios? E se pudéssemos realmente ter um equilíbrio emocional? Na realidade, não é algo tão difícil e nem é necessário ir até o Himalaia ou passar anos com um guru para conseguir transformar o seu "eu". Você pode fazer esta mudança amanhã de manhã! O Dr. Herbert Benson, Professor-Adjunto de Medicina da Harvard Medical School e pioneiro no estudo médico combinado da mente e do corpo - que incorpora a espiritualidade e a cura na Medicina tradicional - afirma que nossas mentes podem produzir doença, saúde, sede, fome, ou seja, tudo aquilo que acreditamos ser a realidade. Segundo ele, a fé pode mudar-nos, desde que você dê a si mesmo a liberdade de mudar. Mas qual é o inimigo dessa liberdade? É o hábito, as respostas automáticas e habituais. Algo que também aprendemos nos últimos anos é que, à medida que nossos sentimentos se repetem, são criados "sulcos" na mente. Nossa mente cria caminhos mais rápidos, ligações mais diretas para executar certas tarefas. Ilustrando a ideia com um exemplo: uma pessoa que tenta tocar piano pela primeira vez, sabe o que quer fazer, mas seus dedos não conseguem acompanhar sua vontade. Só depois de estudar, treinar os dedos e praticar bastante a pessoa conseguirá tirar uma melodia do teclado. Atualmente, através do escaneamento do cérebro, podemos entender este processo, ver como o ato de repetir uma ação faz com que os neurônios fluam de forma mais simples e rápida. Isto vale também no campo emocional. Se você se habituar a ficar inseguro e ter medo de certos pensamentos ou situações, acabará repetindo esta insegurança todas as vezes em que aquela situação se apresentar. Ou seja, o medo torna-se um hábito. Precisamos desfazer os hábitos para criar a liberdade. Até o momento, falo em termos de bom-senso e psicologia. Daqui por diante, traduzirei o que disse em termos espirituais. Quero olhar para a tradição judaica da Cabalá e da Chassidut. Como já foi mencionado, não vale a pena tentar ler o Zohar, obra fundamental da Cabalá. Primeiro porque está escrito em aramaico e não em hebraico. Segundo, porque sua linguagem é hermética, enigmática, propositalmente codificada. Isto torna muito difícil o acesso à sabedoria que encerra. Com o surgimento, no século XVIII, do chassidismo, a sabedoria contida na Cabalá passou a ser transmitida e explicada de maneira a ser colocada em prática por qualquer um, no dia-a-dia. Por isso, aconselho o estudo do Chassidut como uma forma de começar a compreender a parte acessível da Cabalá. Sua parte mais profunda está fora do alcance da maioria, pois, para verdadeiramente compreendê-la, é necessário dedicar a vida toda ao estudo e às preces. Ouve-se com frequência a pergunta: Mas não dizem que só pode estudar a Cabalá um homem acima dos 40 anos, casado, que conheça a fundo o Talmud, a Torá e a Halachá?". No passado, estes eram os pré-requisitos, mas o próprio Zohar alertara sobre a mudança ao afirmar que haveria uma época em que as "fontes da sabedoria" irromperiam, "vindas de cima ou de baixo", mudando para sempre o mundo. A partir desse momento, os homens teriam que acessar a sabedoria interior para manter seu equilíbrio. O mesmo Zohar dá uma data exata de quando essa transformação iria acontecer, como de fato aconteceu. Verifiquem a data e a comparem com a história secular. Verão que nessas datas ocorreram os seguintes fenômenos históricos, que têm íntima relação com a explosão do conhecimento: a Revolução Industrial, a adoção de métodos científicos para as pesquisas, o início dos movimentos nacionalistas que resultaram na Revolução Francesa. E foi nesse mesmo período que surgiu o chassidismo. Este movimento foi iniciado no leste da Europa pelo Rabi Baal Shem Tov, na primeira metade do século XVIII, e disseminado pelos mestres chassídicos. Basicamente, a Chassidut é uma síntese dos ensinamentos da Cabalá e de seus efeitos práticos em nosso cotidiano. Se aprendidos e usados adequadamente, estes ensinamentos oferecem ao homem uma fonte inesgotável de sabedoria, ajudando-o a lidar com as realidades da vida. Por isso, grandes rabinos e cabalistas, como o Baal Shem Tov, e, mais recentemente, o Rebe de Lubavitch, estimularam e ajudaram a difundir o pensamento cabalístico através de ensinamentos acessíveis a todos. Acreditavam que, mesmo sem entrar nas profundezas esotéricas de seus ensinamentos, a sabedoria que a Cabalá incorpora tem o poder de enriquecer a vida, como dissemos acima. A necessidade de acessar esse conhecimento mais profundo se tornou ainda mais premente hoje, quando temos que diariamente enfrentar um mundo cada vez mais complexo. O Rebe de Lubavitch (1902-1994) afirmava que "as mulheres, mais do que os homens, sabem disto". Porque, costumava dizer, hoje em dia, elas têm uma agenda dupla: criam a próxima geração - como sempre o fizeram - e estão totalmente integradas na parte social e econômica da sociedade. À medida que vou percorrendo o mundo, sinto que as pessoas querem algo mais significativo em suas vidas. Quando ocorrem coisas significativas em nossas vidas e no mundo, acordamos para nossa dimensão mais profunda. O último Rebe de Lubavitch dizia que cada um de nós pode projetar seu pensamento para alguém do outro lado do mundo e isto pode afetá-lo material e espiritualmente. Uma pesquisa feita em laboratórios em várias partes do mundo pode ajudar-nos a comprender esta idéia. Durante a experiência, duas pessoas colocadas em dois quartos separados, sem se comunicarem, são submetidas a um eletroencefalograma. Pede-se então, para uma das pessoas tentar transmitir um sentimento de compaixão para a do outro quarto. O eletroencefalograma registra a mensagem de compaixão. Durante outra pesquisa, pedia-se para que uma pessoa observasse um tubo de ensaio com enzimas, que estivesse a um metro e meio de distância, e tentasse interferir no funcionamento das enzimas. Chegou-se à conclusão de que o pensamento pode alterar até mesmo um tubo de ensaio. Estabelecido que o homem tem o poder de afetar até o funcionamento de uma enzima, a grande pergunta é como mudar a nós mesmos? Como atingir um equilíbrio em nossa vida? D'us criou o ser humano com um desafio embutido nele. Para explicar, falarei mais sobre a fisiologia e sobre as descobertas da última década. Sabemos que o ser humano tem três cérebros: a mente animal, responsável por nosso instinto, pela sobrevivência; a mente responsável pelas nossas emoções; e o córtex, responsável pela parte superior da mente. A novidade é a descoberta de que o fluxo de transmissão dos neurônios entre a mente e o corpo e entre o coração e o corpo trabalham em velocidades diferentes. Na verdade, o neurônio trabalha três vezes mais rápido na parte das emoções do que no córtex, ou seja, a pessoa "sente" três ou quatro vezes mais rápido do que "pensa". E é por isso que estamos sempre buscando desculpas. Por exemplo, você passa por uma loja e vê uma roupa que lhe agrada e tem vontade de comprá-la. O que você faz? Pensa em 101 motivos para comprá-la, mesmo que já tenha três iguais em seu guarda-roupa. Como se chama isso? Racionalização do sentimento. É que o coração captura e aprisiona a mente. É o sentimento aprisionado ao raciocínio. O Alter Rebe (1745-1813), o primeiro Rebe de Lubavitch escreveu a obra Tanya com a finalidade, de tornar a Cabalá acessível. A obra ensina algo de extrema importância: "Moach Shalit Al-Halev", isto é, a mente domina o coração. A mente deve dar a forma ao coração. O que é mente? É a direção, uma bússola. O que é emoção? Emoção é a energia. Não podemos usar só a mente e ser uma pessoa inteligente, porém fria e calculista. Por outro lado, não faz sentido ser uma pessoa totalmente emocional. Às vezes os sentimentos não são adequados ou são direcionados ao lado errado. Você pode ser uma pessoa extremamente boa, ter muita compaixão. Mas, se permitir que seus sentimentos fluam de forma errada, pode ferir outra pessoa. Veja o exemplo de pais amorosos que não conseguem controlar seus sentimentos pelo filho. A criança talvez possa ter problemas e os pais tentam compensar dando sempre tudo que ela pede. O resultado é uma criança malcriada. Há amor e compaixão, mas não usados de forma sábia. O Alter Rebe também ensinava: "É preciso que a mente esteja sob o domínio do coração em equilíbrio". E qual é o equilíbrio? Primeiro vem a direção - a mente, moach - e depois os sentimentos. Não confundam! Não estou falando em reprimir sentimentos. Estou falando em reaprender a permitir que nosso coração flua de forma sábia. A emoção é a forma como a alma flui através do coração. Já a mente é a forma como essa mesma alma flui pela fisiologia cerebral. Será que o indivíduo consegue treinar novamente a forma como a alma flui através da mente? Será que consegue fazer o mesmo com a maneira pela qual a alma flui pelo coração? Em outras palavras, será possível reaprender a interpretar a realidade de forma diferente? Sim, é possível! Vamos entender como funciona nosso esquema espiritual: quem somos e onde vivemos espiritualmente. A Cabalá ensina que existem quatro mundos espirituais paralelos. Todos emanaram do Ein Sof, a Fonte Infinita, D'us. O mundo mais distante desta Fonte, o mais baixo, chamado Assiyá, é o único no qual os seres humanos vivem. Neste mundo há tempo, espaço e consciência. No mundo um nível acima do nosso, chamado de Yetsirá, não há tempo nem espaço. O nível acima deste se chama Beryiá. O mais elevado de todos é o Atsilut. Vamos complicar um pouco mais. Nossa alma, a neshamá, é como um cordão umbilical espiritual que transcende os quatro mundos ou planos espirituais. Uma de suas extremidades é conectada à Fonte Divina; a outra ao interior de seu ser espiritual e físico. Segundo a Cabalá, o homem é composto das mesmas "forças fundamentais", da mesma "matéria prima" através das quais D's deu forma e conteúdo a toda a Sua Criação: as 10 Sefirot. Estas se originam no Infinito do Ein Sof e emanam através dos mundos, criando uma "corrente espiritual" que liga todas as coisas. É através das Sefirot que a Energia Divina flui, permeia e se torna parte de cada ser vivente. No homem, a neshamá, a alma, é o condutor para o fluxo das 10 Sefirot. Estas se individualizam em cada ser como dez qualidades da personalidade - os fluxos de nossa mente e emoção. Estes dez fluxos podem ser divididos em dois grupos. As três primeiras Sefirot - Chochmá, Biná e Da'at- representam os processos internos mentais. O segundo grupo, composto das outras sete Sefirot, formam o coração e as emoções humanas. Este fluxos de energia emocionais são Chessed, Guevurá, Tiferet, Netzach, Hod, Yessod e Malchut. É atributo da mente o direcionamento, enquanto que o sentimento não tem direção. A maneira como cada um de nós canaliza os fluxos de energia da mente e da emoção depende de nosso nível de sabedoria. Analisemos alguns destes fluxos para ter uma idéia de como funciona nosso esquema espiritual. Chochmá, por exemplo, a primeira Sefirá da mente, representa o fluxo espiritual responsável pela inspiração e criatividade. Pensem neste fluxo de energia como a forma como o ser humano vai pescar nos lagos do seu subconsciente. Cada um de nós tem seu próprio anzol, sua própria isca e sua própria vara de pescar. A maneira como buscamos alegria e alivio para a dor é representada pela área do lago onde preferimos pescar. Todos procuramos pescar na parte do lago em que nos sentimos seguros. O resultado é que todos pescamos da mesma maneira, na mesma área e pegamos o mesmo peixe. Por isso pensamos sempre da mesma maneira e respondemos da mesma forma aos mesmos estímulos. Um escritor contemporâneo me disse que, todo dia, temos pelo menos 100 mil pensamentos. O triste é que 95 mil são iguais, todos os dias. E, se persistirmos em interpretar a realidade da mesma forma negativa – carregada de dor e medo – então nosso cérebro persistirá em destilar sua carga excessiva de estresse. Cientistas constataram que a memória que o corpo tem do medo é a emoção mais profundamente gravada nos bancos da memória cerebral. O que faz Biná, a segunda Sefirá da mente? É através desta que podemos mudar o padrão de pensamento, porque é o fluxo de energia que gera o entendimento e a compreensão, o raciocínio dedutivo. Este fluxo busca o insight de Chochmá, trazendo do inconsciente para o consciente; alimenta a centelha do pensamento consciente; torna-o tangível e lhe dá direção. A função da Sefirá de Biná é pegar a centelha criativa da reinterpretação (Chochmá) e redirecioná-la segundo a nova maneira de pensar. Aí vem Da'at, que literalmente significa cognição, saber. É a lógica aplicada, a cristalização da consciência em termos de conclusão. Da'at assegura a continuidade do pensamento, pois cria uma ponte entre as atividades cerebrais Chochmá e Biná. Os processos mentais só tomam forma quando são externalizados pelas Sefirot da emoção. E Da'at é responsável pela conexão entre a mente e as emoções. As Sefirot das emoções humanas são divididas em dois grupos. No primeiro, temos Chessed, Guevurá e Tiferet. Vejamos as duas primeiras. Chessed é o fluxo de energia do amor. É esta Sefirá que nos abre para o mundo, para compartilhar, contribuir. É a generosidade, a extroversão, o altruísmo, o dar incondicional. Quando estendemos nossa mão para o outro é o fluxo de Chessed que se manifesta. O fluxo oposto é a Sefirá de Guevurá, que representa poder, força. É a auto-contenção, o recuo das forças para dentro de si. É no fluxo de energia da Guevurá que o ser humano encontra a força e a habilidade de superar sua natureza, suas contradições e conflitos. Nenhum destes dois sentimentos internos são positivos ou negativos; são simplesmente emoções humanas e atitudes que para terem efeitos positivos devem ser guiadas pelas Sefirot da mente. O ideal é que estejam em equilíbrio. Mas como atingir o equilíbrio entre Chessed e Guevurá? Vejam um exercício que costumo usar para treinar esta busca do equilíbrio. Peço aos alunos dos meus cursos que não digam nada a ninguém, nos dez dias seguintes, antes de deixar passar três segundos. É muito difícil conseguir isso. No segundo dia, peço que reduzam de três para dois segundos. No terceiro dia, para um segundo. No quarto, para meio segundo. No quinto, que façam apenas uma pequena pausa, sem passar nem um segundo. Os participantes costumam dizer que este simples exercício opera uma das maiores transformações de sua vida. As palavras são mecanismos de relacionamento, que sempre mudam. Antes de abrir a boca e falar, durante os três segundos, o indivíduo consegue atingir um equilíbrio entre mente e emoção. O resultado final é que se termina falando de uma forma diferente do que de outro modo. É importante lembrar o que foi dito anteriormente: todo ser humano é composto pelas dez Sefirot. Quando em equilíbrio, estes dez canais de energia unem-se como um canal único. Cada pessoa tem a sua Neshamá, seu fluxo individual da alma. Duas pessoas no mundo não têm igual fluxo, nem mesmo dois animais o têm. D'us criou um mundo de individualidade e diferenças. Cada ser humano é diferente do outro e é maravilhoso ser diferente. E o motivo pelo qual cada um de nós é diferente, único, é que cada um de nós é uma dádiva para o mundo. Cada um de nós tem algo que mais ninguém pode oferecer. Esta é a base da auto estima e é isto que devemos ensinar a nossos filhos. Devemos ajudar cada criança a descobrir o que ela tem de especial, seus dons. E quando ela os descobre, o resultado em termos de auto estima consegue transformar sua vida, de todas as formas. Quando a criança não aprecia o que tem de especial, não tem motivação para ter sucesso. E mesmo que o tenha, não tem o equilíbrio. Atingimos a maturidade por volta dos 12 – 13 anos, na época do bar ou bat mitsvá, isto é, quando os processos espirituais causam mudanças no corpo e na mente. O jovem passa a ser menos egoísta, a sentir compaixão e sensibilidade. O porquê é simples: é nossa alma Divina que começa a ser projetada para fora. Há quem não perceba isto de forma consciente e acaba ficando imaturo, egoísta. Por exemplo, na psicologia afirmamos que a imaturidade numa criança se revela quando ela toma os brinquedos do amiguinho. Crianças fazem isso, adultos não deveriam fazer. Mas, acontece que algumas crianças nunca crescem se tornam adultos que continuam a pegar os "brinquedos" do outro. Às vezes, o dinheiro dos outros; em outras, a esposa do outro. Essas pessoas não cresceram, suas almas divinas não conseguiram projetar-se para fora. Falemos, agora, sobre o segredo da felicidade e da satisfação. Olhem para si mesmos. Será que não há algo estranho sobre nós? Por que tudo vem em dobro? Temos dois olhos, duas mãos, duas narinas, dois hemisférios cerebrais. Também olhamos para a realidade de forma dualista: superior versus inferior, direita versus esquerda, positivo versus negativo. Nossa consciência é dualística. Indo mais além com este raciocínio, qual a forma mais poderosa de fazer com que dois se tornem um? É o amor entre um homem e uma mulher. Quando criamos uma ponte entre as diferenças, conseguimos nos unir e dois tornam-se um. Ou seja, vivenciamos a experiência da unidade por algum tempo para depois nos separarmos de novo, porque neste mundo de tempo e espaço não conseguimos manter esta unidade o tempo todo. Aprendemos sobre a transformação de dois em um na primeira parte da Torá. A primeira letra da Torá é o beit, de Bereshit. Cada letra hebraica tem um valor numérico. Alef vale um; beit, dois; guimel, três. E a Torá começa com a letra beit, que tem o valor numérico dois. Por que dois? Para nos ensinar que nossa concepção da realidade é dualística. O propósito da vida é transformar o beit em um alef, ou seja, criar unidade. Esta dualidade está presente também no nível espiritual. Quando a alma flui de lá de cima, de sua Fonte Espiritual, atravessa os vários mundos e chega ao nível de Assiyá. Em nosso mundo físico, divide-se e forma duas almas, dois tipos de consciência, fonte do desafio e do conflito interior: Nefesh Behamit (alma animal) e Nefesh Elokit (alma Divina). O que significa isso? Nefesh Behamit, o lado "animal" da alma, é responsável pelo instinto de autopreservação; é o meu ego, no sentido comum, o egocentrismo. No Nefesh Elokit, o lado "Divino" nos conecta a aspirações mais elevadas; é o nível de consciência que está projetado para o outro. A primeira busca pela sobrevivência física, sustento e auto-importância. A segunda é a compreensão de que há outras coisas na vida. Todos os nossos pensamentos são egocêntricos ou altruístas e os interesses competitivos destas duas tendências afloram face a um desafio ou a uma adversidade. O autocontrole judaico nos ensina a treinar o fluxo que vai da mente ao coração, de tal maneira que este se orienta em direção à alma Divina e não à alma animal. O homem possui o livre-arbítrio, a opção, a escolha do caminho que quer traçar. É este dom de escolha que dá sentido à vida. Como seria o ser humano se não tivesse opção? Ele seria reduzido a um robô, autômato. O indivíduo apenas responderia, de forma instintiva, ao destino. O livre-arbítrio nos dá sentido na vida. É assim que saímos da alma animal e adentramos a positividade, a alma Divina. Sob desta perspectiva, gostaria de dar-lhes alguns conselhos: exercitem o livre-arbítrio de forma sábia; equilibrem a mente; aprendam a treinar de outra maneira a forma como a mente reinterpreta a realidade; todos têm a capacidade de desfazer aquilo que foi criado pela força do hábito. Sigam algum método e acreditem que é possível. Para concluir a palestra, gostaria de ressaltar que a raiva é sempre uma resposta egocêntrica; raiva é desequilíbrio; raiva é uma tentativa de dominar o outro de forma a aliviar seu próprio medo e sua insegurança; raiva é uma tentativa de tornar o outro mais submisso, pois assim o "eu" sente-se mais seguro. Nada justifica a raiva. E isto não significa que não se possa ter emoções fortes. Se você percebe que alguém está ferindo um terceiro, você precisa soltar sua emoção para que a pessoa cresça e você possa ajudá-la. Mas isso não é raiva. Quem já estudou artes marciais, aprende logo nas primeiras lições: "Não fique com raiva, senão você perde". www.morasha.com.br. Abraço. Davi.