terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tarde em Itapuã.

Tarde em Itapuã

Um velho calção de banho
Um dia prá vadiar
O mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar

Depois, na Praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de côco
É bom!

Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha

E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda rodar
É bom!

Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz que diz que macio
Que brota dos coqueirais

E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
É bom!

Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Compositor brasileiro Toquinho (1946-    )

domingo, 28 de setembro de 2014

Tudo o Que se Quer.

Tudo o que se quer

Olha nos meus olhos
Esquece o que passou
Aqui neste momento
Silêncio e sentimento

Sou o teu poeta
Eu sou o teu cantor
Teu rei e teu escravo
Teu rio e tua estrada

Vem comigo, meu amado amigo
Nessa noite clara de verão!
Seja sempre o meu melhor presente
Seja tudo sempre como é
É tudo que se quer

Leve como o vento
Quente como o sol
Em paz na claridade
Sem medo e sem saudade

Livre como o sonho
Alegre como a luz
Desejo e fantasia
Em plena harmonia

Eu sou teu homem
Sou teu pai, teu filho
Sou aquele que te tem amor

Sou teu par, o teu melhor amigo
Vou contigo, seja aonde for
E onde estiver estou

Vem comigo meu amado amigo
Sou teu barco neste mar de amor
Sou a vela que te leva longe
Da tristeza, eu sei, eu vou!

Onde estiver estou
E onde estiver estou

Compositor brasileiro Emílio Santiago (1946-2013)

sábado, 27 de setembro de 2014

Cristianismo Pagão. Liturgia. A Realidade das manhãs Dominicais. Parte I.

Do livro Cristianismo Pagão. Capítulo 1: Liturgia.  O cristão que frequenta a igreja moderna observa a mesma superficialidade litúrgica cada vez que vai à igreja. Não importa qual denominação protestante ele pertença - seja batista, metodista, reformada, presbiteriana, evangélica livre, igreja de Cristo, discípulos de Cristo, pentecostal, carismática ou não denominacional - o serviço da igreja nas manhãs de domingo é virtualmente o mesmo em todas as igrejas protestantes. Mesmo entre as denominações chamadas "vanguardistas" as variantes são mínimas. Algumas igrejas utilizam cânticos contemporâneos, outras usam hinos. Em algumas igrejas a congregação levanta as mãos. Em outras as mãos nunca se elevam da cintura. Algumas igrejas celebram a Ceia do Senhor (Eucaristia) semanalmente. Outras trimestralmente. Em algumas igrejas a liturgia (ou ordem de adoração) vem escrita em boletim. Em outras não há qualquer liturgia escrita, mas é tão mecânica e previsível como se tivesse. Apesar destas pequenas variações, a liturgia é essencialmente a mesma em todas as igrejas protestantes do mundo. A Liturgia Dominical. Desconsidere detalhes superficiais que distinguem os cultos e você encontrará a mesma prescrição litúrgica. Veja o que encontramos: O cumprimento: quando você entra no salão da igreja, você é abordado por um porteiro ou coisa que o valha - sorridente! Depois você recebe um boletim ou papel com anúncios. Note: se você é membro da denominação, você pode sentar, tomar café e comer bolachas, antes do início do culto. Leitura Bíblica ou Oração: Usualmente feita pelo pastor ou líder dos músicos. Cânticos: um músico profissional, coro, ou equipe de louvor dirige a congregação nos cânticos. Se você é membro de uma igreja do estilo carismático esta parte do culto dura de 30 a 40 minutos. Caso contrário, dura menos tempo. Anúncios: usualmente dados pelo pastor ou algum outro líder da igreja. Coleta: as vezes chamada "oferta", é usualmente acompanhada por um cântico especial entoado pelo coro, equipe de louvor, ou um solista. Sermão: normalmente é um discurso de 30 a 50 minutos proferido pelo pastor. Depois do Sermão segue-se uma ou mais das seguintes atividades: oração pastoral, convite para vir diante do altar, mais cânticos dirigidos pelo coro ou equipe de músicos. Ceia do Senhor, oração pelos enfermos e aflitos. Anúncios finais: geralmente pelo pastor ou algum afortunado "leigo" autorizado a dizer algo no culto. Benção: depois desta benção o culto termina. Os pastores apressam-se à porta de saída para cumprimentar a todos que estão indo embora. Com algumas pequenas modificações, esta é a férrea liturgia observada religiosamente semana após semana por cerca de 360 milhões de protestantes no mundo. Fato que nos últimos 500 anos ninguém parece questionar. olhe novamente para a liturgia dominical. Note que esta contém uma estrutura tripla: 1. cânticos, 2. sermão e 3. oração ou cântico final. esta liturgia é tida como sacrossanta aos olhos da maioria dos cristãos modernos. Mas por que? Simplesmente devido ao titânico poder da tradição. Herdamos esta liturgia através de uma consistente e envolvente tradição. Essa tradição petrificou a liturgia por cinco séculos ( ... ). E esta nunca mais mudou!. A Origem da Liturgia Protestante. Os pastores falam rotineiramente a suas congregações, "fazemos tudo conforme a Bíblia", contudo, praticam esta férrea liturgia. Eles não agem corretamente. Acredito que esta falta de veracidade deve-se mais à ignorância do que a má fé. Verifique sua Bíblia do começo ao fim, você não encontrará nada semelhante a isso. Os cristãos do século I nada sabiam sobre tais coisas. Na realidade, essa liturgia protestante tem tanto apoio bíblico quanto à Missa católica! Nenhuma das duas tem qualquer ponto de contato com o Novo Testamento. Em meu livro: Repensando o Odre, descrevo as reuniões da igreja primitiva. Estas reuniões eram marcadas pelo funcionamento de cada membro, numa espontânea, livre, vibrante e aberta participação. Era um encontro fluido, não um ritual estático. E era imprevisível, bem diferente do culto da igreja moderna. Ademais, a reunião da igreja do século I não foi adotada dos cultos da sinagoga judaica, como alguns autores têm recentemente sugerido. Pelo contrário, era totalmente inédita naquela cultura. Então, de onde vem a liturgia do culto protestante? Esta tem suas raízes principais na Missa Católica. A Missa não teve origem no Novo Testamento e isso é significativo. A Missa saiu do antigo Judaísmo e do "Paganismo". Segundo o famoso historiador Will Durant (1885-1981), a Missa Católica foi baseada em parte no culto do Templo Judaico, e em parte nos místicos rituais de purificação dos gregos, o sacrifício substituto, e a participação ( ... ). Gregório O Grande (540-604) é o homem mais responsável pela formação da Missa Medieval. Gregório foi um homem incrivelmente supersticioso, cujo pensamento foi influenciado pelos conceitos mágicos dos "pagãos". Ele personificou a mente Medieval, que era uma mistura de "paganismo", magia e cristianismo. Não é uma casualidade quando Durant descreve Gregório com o primeiro homem completamente Medieval. A Missa Medieval refletia a mente de seu padre, Gregório. Foi uma combinação de rituais pagãos e judaicos borrifados com teologia católica e vocabulário cristão. Durant destaca que a Missa estava profundamente mergulhada tanto no pensamento mágico "pagão" com no drama grego. Ele escreveu, "a mente grega, moribunda, teve uma sobrevida na teologia e liturgia da igreja, o idioma grego, após reinar por séculos sobre a filosofia, chegou a ser o veículo da literatura e do ritual cristão, o misticismo grego foi passado adiante pelo impressionante misticismo da Missa. Com efeito, a Missa Católica que se desenvolveu do século IV até o século VI foi essencialmente pagã. Os cristãos copiaram as vestimentas dos sacerdotes "pagãos", o uso do incenso e da água benta nos ritos de purificação, a queima de velas durante a adoração, a arquitetura da basílica romana em seus edifícios de igreja, a lei romana como base da "lei canônica", o título Pontifex Máximus (Sumo Pontífice) para o bispo principal, e os rituais "pagãos" para a Missa Católica. Quando as mais variadas demoninações protestantes nasceram, todas ajudaram a reformar a liturgia católica contribuindo com um único elemento. No que toca à crônica da reforma litúrgica, trata-se de uma vasta e complexa jornada. Aprofundar nesse tema requer um grosso volume. Neste capítulo, examinaremos a história básica. Depois que Gregório estabeleceu a Missa no século VI, esta permaneceu praticamente intacta, com poucas variações durante mais de mil anos. Mas essa água parada da liturgia experimentou sua primeira revisão quando Martinho Lutero (1483-1546) entrou em cena. A Contribuição de Lutero. No ano 1520, Lutero lançou uma violenta campanha contra a Missa Católica Romana. O ponto culminante da Missa sempre foi a Eucaristia, também conhecida como "Comunhão" ou "Ceia do Senhor". Tido é direcionado para o momento mágico quando o sacerdote parte o pão e o distribui para as pessoas. Da perspectiva da mente católica Medieval, oferecer a Eucaristia era Jesus Cristo se sacrificando novamente. Desde Gregório o Grande (540-604) a igreja católica ensinava que Jesus Cristo é novamente sacrificado através da Missa. Lutero repudiava (muitas vezes de uma maneira vulgar) as mitras e os báculos dos papistas, e seus ensinos sobre a Eucaristia. O erro cardeal da Missa, disse Lutero, era que esta foi uma obra humana baseada numa falsa compreensão do sacrifício de Cristo. Então, em 1523, Lutero enunciou sua própria revisão da Missa Católica. Esta revisão é o fundamento de toda adoração protestante. O núcleo dela é: Em vez de Eucaristia, Lutero colocou a pregação no centro da reunião. Por conseguinte, no culto de adoração dos protestantes modernos o púlpito é o elemento central e não a mesa do altar. A mesa do altar é onde se coloca a Eucaristia nas igrejas católicas. Lutero recebe o crédito por fazer com que o sermão seja o ponto culminante do culto protestante. Leia suas palavras Uma congregação cristã nunca deve reunir-se sem a pregação da Palavra de Deus e a oração, não importa quão exíguo seja o tempo da reunião. A pregação e o ensino da Palavra de Deus é a parte mais importante do culto divino. A crença de Lutero no que diz respeito à pregação como ponto culminante do culto de adoração permanece até nossos dias. Todavia tal crença não tem nenhuma procedência bíblica. Como disse um historiador, "o púlpito é o trono do pastor protestante". É por esta razão que os ministros protestantes ordenados são ordinariamente chamados de pregadores. Mas, considerando estas modificações, a liturgia de Lutero variava bem pouco da Missa Católica. Por conseguinte, se alguém comparar a liturgia de adoração elaborada por Lutero com a liturgia de Gregório, verá que é praticamente a mesma! Basicamente, Lutero reinterpretou muitos dos rituais da Missa. Mas, ele preservou o cerimonial, julgando-o apropriado. por exemplo, Lutero manteve o ato que marcava o ponto culminante da Missa Católica: quando o sacerdote levanta o pão e o cálice, elevando-os, teve início no século XIII. É uma prática construída principalmente com base na superstição. Contudo continua sendo observada por muitos pastores em nossos dias. Da mesma maneira, Lutero fez uma drástica cirurgia na oração Eucarística, mantendo apenas as "palavras sacramentais". Tais palavras são as de I Coríntios 11:23 em diante "O Senhor Jesus na noite em que foi traído, tomou o pão ( ... ) e disse: tomai e comei, este é o meu corpo ( ... )". Até hoje os pastores protestantes recitam religiosamente este texto antes de ministrar a comunhão. Enfim, a liturgia de Lutero era nada menos que uma versão truncada da Missa Católica. A Missa de Lutero detinha os mesmos problemas da Missa Católica. Os paroquianos continuaram sendo espectadores passivos (com a exceção de poderem cantar), e toda liturgia era dirigida por um clérigo ordenado (o pastor tomando o lugar do sacerdote). Segundo as próprias palavras de Lutero: "nunca foi nossa intenção eliminar completamente o culto litúrgico a Deus, mas purificar o que já está em suso dos vinculos que o corrompem ( ... )". Tragicamente, Lutero não se deu conta de que o vinho novo não pode ser guardado em odres velhos. Em nenhum momento Lutero (e nenhum outro dos principais reformadores) demonstrou desejo de voltar às práticas da igreja do século I. Estes homens meramente se dedicaram a reformar a teologia da igreja católica. Em suma, as maiores mudanças duradouras feitas por Lutero na Missa Católica foram as  seguintes: 1. Ele realizou a Missa na linguagem do povo. 2. Deu ao sermão uma posição central na reunião. 3. Ele introduziu a música na congregação 4. Ele eliminou a ideia de que a Missa era um sacrifício de Cristo. 5. Permitiu que a congregação participasse no pão e no vinho (em vez de limitá-lo exclusivamente ao sacerdote como faz a prática católica). A parte destas diferenças, Lutero manteve a mesma liturgia como se vê na Missa Católica! Pior que isso, embora Lutero falsse muito sobre "sacerdócio de todos os crentes", ele nunca abandonou a prática de ordenação do clero. De fato, sua crença era tão forte em um clero ordenado que escreveu, "o ministério público da Palavra deve ser estabelecido pela ordenação santa como a mais importante das funções da igreja". Sob a influência de Lutero, o pastor protestante simplesmente substituiu o sacerdote católico. Em sua maior parte, houve pouca diferença prática na maneira como funcionaram estas duas instituições. Isto não foi modificado por longa data como veremos mais adiante. Agora segue a ordem da adoração elaborada por Lutero. Você deve conhecer bem este resumo geral, por ser a principal raiz do culto dominical matutino: Música. Oração. Sermão. Anúncios à Congregação. Santa Ceia. Música. Oração depois da Comunhão. Despedida (Bênção). Contribuição de Ulrico Zwinglio (1484-1531). Com a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg (1398-1468) por volta de 1450, o aumento na produção de livros litúrgicos acelerou as mudanças litúrgicas que os reformadores tentavam efetuar. Estas mudanças então foram implementadas através de tipos imóveis e impressas em quantidades massivas. Zwinglio, o reformador suíço, aos poucos introduziu sua própria reforma, que ajudou a desenhar a ordem de adoração de hoje. Ele substituiu a mesa do altar por algo chamado "mesa da comunhão", onde se ministrava o pão e vinho. Ele também ordenou que se levasse o pão e o vinho à congregação em seus bancos utilizando bandejas de madeira e taças. A maioria das igrejas protestantes tem tal mesa. Originalmente a mesa continha duas velas, um costume que veio diretamente da corte dos Imperadores Romanos! A maioria leva o pão e o vinho à congregação sentada em seu banco. Zwinglio também recomendou que a Santa Ceia fosse observada trimestralmente (quatro vezes por ano). Fez isso em oposição ao tomá-la semanalmente como outros reformadores haviam recomendado. Muitos protestantes imitam a observação trimestral da Santa Ceia hoje. Alguns a observam mensalmente. Zwinglio também é nominado como o paladino da abordagem da Santa Ceia enquanto "memorial". Este ponto de vista é apoiado pela corrente principal do protestantismo estadunidense. O pão e o vinho são meramente símbolos do corpo e do sangue de Cristo. Todavia, aparte destas novidades, a liturgia de Zwinglio não diferia muito da de Lutero. Como Lutero, Zwinglio enfatizou a centralidade do sermão. Tanto que ele e seus colegas pregavam tão frequentemente como um canal de notícias televisivo, catorze vezes por semana! A Contribuição de Calvino e Companhia. Os reformadores João Calvino da Alemanha (1509-1564), João Knox da Escócia (1513-1572) e Martin Bucer da Suíça (1491-1551) alongaram o formato litúrgico. Estes homens criaram suas próprias ordens de adoração ou liturgias entre os anos 1537 e 1562. Embora suas liturgias fossem seguidas em diferentes partes do mundo, elas eram praticamente idênticas. Eles simplesmente fizeram algumas modificações na liturgia de Lutero. A mais notável foi a coleta de dinheiro após o sermão. Como Lutero, João Calvino (1509-1564) enfatizou a centralidade da pregação durante o culto de adoração. Ele acreditava que cada crente tinha acesso a Deus através da Palavra pregada e não através da Eucaristia. Devido a seu gênio teológico, a pregação na igreja de Calvino em Gênova era intensamente teológica e acadêmica. Também foi altamente, uma característica que nunca foi eliminada no Protestantismo. A igreja de Calvino em Gênova foi o modelo para todas as igrejas reformadas. Portanto, suas ordens de adoração se estenderam por toda parte. Isto explica o caráter intelectual da maioria das igrejas protestantes hoje, especialmente a Reformada e a Presbiteriana. Pelo fato dos instrumentos musicais não serem mencionados explicitamente no Novo Testamento, Calvino eliminou o órgão e os coros. Todo cântico era entoado sem instrumentos (a capela). Alguns protestantes modernos como a igreja de Cristo, por exemplo, segue o rígido estilo de Calvino, sem instrumentos. Apesar disso, os Puritanos (seguidores de Calvino na Inglaterra) continuaram no espírito de Calvino, condenando a música instrumental e o uso de coros. Provavelmente, a característica mais nociva da liturgia de Calvino foi dirigir a maior parte do culto de cima do púlpito. O cristianismo nunca se recuperou disso. Hoje, o pastor atua como mestre de cerimônias e diretor executivo do culto dominical matutino, da mesma forma que o sacerdote da Missa Católica! Outra característica que Calvino acrescentou à ordem de adoração é a atitude sombria que se ensinava à congregação ao entrar no salão. Essa atmosfera carrega consigo um sentimento de auto degradação diante de um Deus soberano e austero. A Martin Bucer também se atribui ter promovido esta atitude. Ao início de cada culto, os Dez Mandamentos eram lidos para criar um sentido de veneração. Desta mentalidade saíram algumas práticas escandalosas. Um certo pastor Puritano inglês ficou famoso por multar as crianças que sorriam dentro da igreja! Agregue-se a isto a criação do "Homem Dízimo" que despertava com um grande bastão os paroquianos que dormiam no culto! Tal modo de pensar é um passo atrás mesmo diante do velho pietismo Medieval. Todavia isso foi aceito e mantido vivo por Calvino e Bucer. Um costume adicional que os reformadores copiaram da Missa foi a prática do clero caminhar em direção a seus assentos designados no princípio do culto enquanto a congregação ficava em pé, cantando. Esta prática teve início no século IV quando os bispos entravam em suas magníficas basílicas. Que por sua vez foi uma prática copiada diretamente do cerimonial da corte imperial "pagã". Quando os magistrados romanos entravam na sala da Corte, os presentes se colocavam em pé e cantavam. Esta prática ainda é observada em muitas igrejas protestantes. Todavia ninguém a questiona. Concluo com uma observação quanto a um termo do livro de Frank Viola sendo este "pagão ou paganismo" que é usado aparentemente com conotação negativa. Fiz questão de colocá-lo entre aspas ao transcreve-lo, para explicar que atualmente a historiografia sócio antropológica não mais usa o termo em sentido estereotipado, mas o insere num contexto de criação e formação cultural necessário na origem e no desenvolvimento das tradições filosófico religiosas antigas. Sigmund Freud (1856-1939) em obras como Totem e Tabu, e Moisés e o Monoteísmo já dava sentido positivado aos conceitos e elementos do paganismo. Sugerindo que sem eles as culturas e tradições ocidentais, seriam empobrecidas e vazias de formas e práticas. O antropólogo Levi Strauss (1908-2009) em uma celebre obra chamada O Pensamento Selvagem, também traz elementos do paganismo antigo onde vários povos europeus se serviram dele em sua formação sócio cultural. Como Frank Viola bem observa que as tradições espiritualistas ocidentais tiveram no paganismo uma rica fonte de conhecimento teórico e práticas espirituais que num certo sentido foram adaptadas ao modernismo espiritualista, e estão sendo usadas até os nossos dias. Continuamos na parte II. Abraço. Davi.    

Tocando em Frente.

Tocando em Frente

Ando Devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manha
E as manhã
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

E preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Poeta brasileiro Almir Sater (1956-   )

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Comparações dos Ministérios Terrenos de Krishna, Buddha e Jesus de Nazaré.

 Algumas ponderações do livro Ísis de Véu, volume IV, páginas 165-170 de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1899) enfatizando as comparações dos ministérios terrenos de Krishna, Gautama Buddha e Jesus de Nazaré. "Esse credo não decaiu, e sua filosofia oculta, tal como a entendem agora os hindus iniciados, é exatamente a mesma de há 10.000 anos. Mas podem nossos eruditos esperar seriamente que aqueles a revelem ao primeiro pedido, ou esperam ainda eles penetrar os mistérios da Religião Universal por seus ritos populares exotéricos? Nenhum brâmane ou budista ortodoxo negaria o mistério da encarnação cristã, mas eles a compreendem à sua própria maneira, e como poderiam negá-la? A pedra  fundamental de seu sistema religiosa são as encarnações periódicas da Divindade. Sempre que a Humanidade está prestes a cair no materialismo e na degradação moral, um Espírito Supremo se encarna na criatura selecionada para o propósito. O "Mensageiro do Superior" liga-se à dualidade da matéria e da alma, e, completando-se assim a Tríade por meio da união de sua Coroa, nasce um Salvador, que ajuda a Humanidade a retornar ao caminho da verdade e da virtude. A igreja cristã primitiva, imbuída da filosofia asiática, partilhava evidentemente da mesma crença - do contrário, jamais teria erigido em artigo de fé o segundo advento, nem inventado a fábula do Anti Cristo como uma precaução contra as possíveis encarnações futuras. Nem teria imaginado que Melquisedeque foi um avatar de Cristo. Eles só precisariam folhear a Bhagavad Gita para descobrir Krishna ou Bhagavat dizendo a Arjuna: "Aquele que me segue está salvo pela sabedoria e também pelas obras, ( ... ). Assim que a virtude declina no mundo, eu me torno manifesto para salvá-lo". Na verdade, é muito difícil não partilhar essa doutrina das encarnações periódicas. Não tem o mundo testemunhado, em raros intervalos, o advento de personagens tão grandiosos como Krishna, Sakyamuni Buddha e Jesus? Como estes dois últimos carcteres, Krishna parece ter sido um ser real, deificado por sua escola em algum tempo no alvorecer da história, e inserido no quadro do venerando programa religioso. Comparai os dois Redentores, o hindu e o cristão, separados no tempo por um espaço de alguns milhares de anos, colocai entre eles Siddharta Buddha, que reflete Krishna e projeta na noite do futuro a sua própria sombra luminosa, com cujos raios foram esboçadas as linhas gerais do mítico Jesus, e de cujos ensinamentos derivaram os do Christos histórico, e descobrireis que sob uma mesma capa idêntica de lenda poética viveram e respiraram três figuras humanas reais. O mérito individual de cada uma delas ressalta do mesmo colorido mítico, pois nenhum caráter indigno poderia ter sido selecionado para a deificação pelo instinto popular, tão infalível e justo quando desimpedido. O brocardo Vox populi, vos Dei outrora verdadeiro, embora falso quando aplicada à atual massa dominada pelo clero. Kapila, Orfeu, Pitágoras (570 AC 495), Platão (428 AC 347), Basilides (120-145), Marcion (85-160), Amônio Sacca (175-242) e Plotino (204-270) fundaram escolas e semearam os germes de muitos e nobres pensamentos, e, ao desaparecerem, deixaram atrás de si o brilho de semideuses. Mas as três personalidades de Krishna, Gautama e Jesus surgiram como deuses verdadeiros, cada qual em sua época, e legaram à humanidade três religiões edificadas na imperecível rocha dos séculos. O fato de que as três, especialmente a fé cristã, tenham sido adulteradas com o tempo, e de que a ultima seja quase irreconhecível, não se deve a nenhuma falha dos nobres reformadores. São os cléricos que se intitulam de cultivadores da "vinha do Senhor" que devem prestar contas à posteridade. Purificai os três sistemas da escória dos dogmas humanos, e a pura essência permanecerá a mesma. Mesmo Paulo, o grande, o honesto apóstolo, no ardor de seu entusiasmo, perverteu involuntariamente as doutrinas de Jesus, ou então seus escritos foram desfigurados depois de reconhecidos. O Talmude, o registro de um povo que, não obstante a sua apostasia do Judaísmo, sentiu-se compelido a reconhecer a grandeza de Paulo como filósofo e teólogo, diz a propósito de Aher (Paulo), no Yerushalmi, que "ele corrompeu a obra daquele homem" - ou seja, Jesus. Entretanto, antes que essa fusão seja realizada pela ciência honesta e pelas gerações futuras, lancemos uma vista de olhos ao quadro atual das três legendárias religiões. As Lendas dos Três Salvadores. (1). Krishna. Época: Incerta. A ciência européia teme comprometer-se. Mas os cálculos bramânicos a fixam por volta de há 5.000 anos. Krishna descende de uma família real, mas é educado por pastores, é chamado de deus pastor. Seu nascimento e sua ascendência divina são mantidos em segredo de Kansa. Encarnação de Vishnu, a segunda pessoa da Trimúrti (Trindade). Krishna foi adorado em Maturã, no rio Jummna. Krishna é perseguido por Kansa, tirano de Madura, mas escapa miraculosamente. Na esperança de destruir a criança, o rei mata milhares de varões inocente. A mão de Krishna foi Devaki, uma virgem imaculada (porém que havia dado à luz oito filos antes de Krishna). Krishna é dotado de beleza, onisciência e onipotência desde o nascimento. Produz milagres, cura os aleijados e cegos, e expulsa demônios. Lava os pés dos brâmanes, e, descendo às regiões inferiores (inferno), liberta os mortos, e retorna a Vaikuntha - o paraíso de Vishnu. Krishna era o próprio Deus Vishnu era o próprio deus Vishnu em forma humana. Krishna cria meninos de carneiros, e vice - versa. Esmaga a cabeça da serpente. Krishna é unitário. Persegue o clero, acusa-o de ambição e hipocrisia, divulga os grandes segredos do Santuário - a Unidade de Deus e a imortalidade do nosso espírito. A tradição diz que ele caiu vítima de sua vingança. Seu discípulo favorito, Arjuna, nunca o abandona. Há tradições fidedignas segundo as quais ele morreu perto de uma árvore (ou cruz), sendo atingido no pé por uma flecha. Os eruditos mais sérios concordam em que a Cruz irlandesa, em Tuam, erigida muito antes da era cristã, é asiática. Krishna sobe ao Svarga e torna-se Nirguna. (2). Gautama buddha (563 AC 469). Época: Segunda a ciência européia e os cálculos cingalese, há 2.540 anos. Guatama é o filho de um rei. Seus primeiros discípulos são pastores e mendigos. Segundo alguns, uma encarnação de Vishnu, segundo outros, uma encarnação de um dos Buddhas, e mesmo de Adi - Buddhas, a Sabedoria Suprema. As lendas budistas estão livres deste plágio, mas a lenda católica que o transforma em São Josafá mostra que seu pai, rei de Kapilavastu, matou inocentes jovens cristãos (ver a lenda dourada). A mão de buddha foi Maya ou Mayadevi, não obstante o seu casamento, manteve-se virgem imaculada. Buddha é dotado dos mesmos poderes e qualidades, e realiza prodígios semelhantes. Passa sua vida com mendigos. Pretende-se que Gautama era diferente de todos os outros Avatares, tendo todo o espírito de Buddha em si, ao passo que os demais tinham apenas uma parte da divindade. Gautama esmaga a cabeça da serpente, abole o culto de Naga por fetichismo, mas, como Jesus, faz da serpente o emblema da sabedoria divina. Buddha abole a idolatria, divulga os mistérios da Unidade de Deus e o Nirvana, cujo verdadeiro significado era conhecido apenas pelos sacerdotes. Perseguido e expulso do país, escapa da morte reunindo ao seu redor algumas centenas de milhares de crentes em seu Budado. Finalmente morre, cercado por uma hoste de discípulos, com Ananda, seu primo e amado discípulo, o líder de todos eles. O Brien acredita que a Cruz irlandesa em Tuam diz respeito a Buddha, mas Gautama jamais foi crucificado. Em muitos templos ele é representado sentado sob uma árvore cruciforme, fque é a "Árvore da Vida". Em outra imagem, ele está sentado sobre Naga, o Raja das serpentes com uma cruz em seu peito. Buddha sobe ao Nirvana. Jesus de Nazaré. Época: Supõe-se que tenha sido há 1877 anos. Lembrando que o Livro Ísis Sem Véu foi primeiramente publicado em (1875 a 1877). Seu nascimento (de Jesus) e sua ascendência real foram ocultados de Herodes, o tirano. Descende da família real de Davi. É adorado por pastores em seu nascimento, e é chamado de "Bom Pastor". Uma encarnação do Espírito Santo, portanto a segunda pessoa da Trindade, agora a terceira. Mas a Trindade, agora a terceira. Mas a trindade só foi inventada em 325 anos depois de seu nascimento. Foi a Matarea, Egito, e ai produziu os seus primeiros milagres. Jesus é perseguido por Herodes, rei da Judéia, mas escapa para o Egito guiado por um anjo. Para se assegurar de sua morte, Herodes  ordena um massacre de inocentes, e 40.000 crianças são mortas. A mãe de Jesus foi Maria, ou Miriam, casou-se com marido José, mas manteve-se virgem imaculada, embora tenha tido várias crianças além de Jesus. Jesus tem os memsos dons que Buddha e Krishna. Passa sua vida com pecadores e publicanos. Expulsa igualmente os demônios. A única diferença notável entre os três é que Jesus é acusado de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu, ao passo que os outros não. Jesus lava os pés de seus discípulos, morre, desce ao inferno, e sobe ao céu, depois de libertar os mortos. Conta-se que Jesus esmagou a cabeça da serpente, de acordo com a revelação original do Gênesis. Também transforma menino em cabritos e cabritos em meninos. Jesus rebela-se contra a antiga lei judaica, denuncia os Escribas e Fariseus, e a sinagoga por hipocrisia e intolerância dogmática. Quebra o Sabbath, e desafia a Lei. É acusado pelos judeus de divulgar os segredos do Santuário. É condenado a morrer numa cruz (uma árvore). Dos poucos discípulos que havia convertido, um o trai, um o nega, e os outros desertam por fim, exceto João, o discípulo que ele amava. Jesus, Krishna e Buddha, os três salvadores, morrem sobre ou sob árvores, e estão relacionados com cruzes que simbolizam os tríplices poderes da criação. Jesus sobe ao Paraíso. Resultado em meados do século XVIII, contavam essas três religiões com os seguintes números de seguidores : De Krishna (Bramanistas ) 60.000.000. De Buddha (Budista) 450.000.000. De Jesus (Cristãos) 260.000.000. Tal é o estado atual dessas três religiões (isso no final do século XIX). Cada uma das quais se reflete por sua vez em sua sucessora. Tivessem os dogmatizadores cristãos parado aqui, os resultados não teriam sido tão desastrosos, pois teria sido difícil, de fato, fazer um mau credo dos sublimes ensinamentos de Gautama, ou de Krishna com Bhagavat. Mas eles foram adiante, e acrescentaram ao puro Cristianismo primitivo as fábulas de Hércules, Orfeu e Baco. Assim como os muçulmanos não admitem que seu Alcorão se baseia no substrato da Bíblia Judaica, não confessam os cristãos que devem quase tudo às religiões hindus. Mas os hindus têm a cronologia para prová-lo. Vemos os melhores e mais eruditos de nossos escritores lutando inutilmente por mostrar que as extraordinárias semelhanças - no que se refere à identidade - entre Krishna e Cristo se devem aos espúrios Evangelhos da Infância e do de Santo Tomás de Aquino (1225-1274), fiel à política de proselitismo que caracterizou os cristãos primitivos, ao encontrar no Malabar o original do Cristo mítico em Krishna, tentou reunir os dois, e, adotando em seu "evangelho" (do qual todos os demais foram copiados) os detalhes mais importantes da história do Avatar hindu, enxertou a heresia cristã na religião primitiva de Krishna. Para quem estiver familiarizado com o espírito do Bramanismo, a ideia de os brâmanes aceitarem qualquer coisa de um estrangeiro é simplesmente ridículo. Que eles, o povo mais fanático no que respeita aos assuntos religiosos, que, durante séculos, não pôde ser compelido a adotar o mais simples dos costumes europeus, sejam suspeitos de ter introduzido em seus livros sagrados lendas não averiguadas sobre um Deus estrangeiro, eis algo tão absurdamente ilógico que é realmente uma perda de tempo tentar contraditar a ideia! Não examinaremos em profundidade as bem conhecidas semelhanças entre a forma externa do culto budista - especialmente o Lamaísmo - e o catolicismo romano, façanha pela qual pagou caro o pobre Huc - mas, tentaremos comparar os pontos mais vitais. De todos os manuscritos originais que foram traduzidos das várias línguas em que o Budismo está exposto, os mais extraordinários e interessantes são o Dhammapada, ou O caminho da virtude, de Buddha, traduzido do pali pelo Coronel Rogers, e A Roda da Lei, que contém as observações de um Ministro de Estado siamês sobre a sua própria religião e as outras, traduzida por Henry Alabaster. A leitura de ambos os livros, e a descoberta neles de semelhanças de pensamentos e doutrina, habilitou o Dr. Inman a escrever muitas das passagens profundamente verdadeiras constantes de uma de suas últimas obras, Ancient Faiths and Modern. "Falo com sóbria sinceridade", escreve esse generoso e franco erudito, "quando digo que após quarenta anos de experiência entre aqueles que professam o Cristianismo, e aqueles que proclamam ( ... ) mais ou menos em silêncio a sua discordância com ele, observei mais virtude e moralidade entre os últimos do que entre os primeiros ( ... ). Conheci pessoalmente muitas pessoas pias e boas cristãs, a quem honro, admiro e talvez gostaria de imitar, mas elas merecem o elogio que assim lhes passo em consequência de seu bom senso, pois ignoram a doutrina da fé de modo quase total, e cultivam a prática das boas obras ( ... ). A meu juízo, os cristãos mais louváveis que conheço são budistas reformados, embora provavelmente nenhum deles jamais tenha ouvido falar de Siddharta. Entre os artigos de fé e as cerimônias lamaíco - budista e católico - ramanas há cinquenta e um pontos que apresentam uma semelhança perfeita e surpreendente, e quatro pontos diametralmente oposto. Como seria inútil enumerar as "semelhanças", pois o leitor pode encontrá-las cuidadosamente anotadas na obra de Inman acima citada. Citaremos apenas as quatro dessemelhanças, e deixaremos ao leitor a tarefa de tirar suas conclusões: (1). Os budistas afirmam que nada que seja contraditado pela razão pode constituir uma verdadeira doutrina de Buddha. Os  cristãos aceitarão qualquer absurdo, desde que promulgado pela Igreja como um artigo de fé. (2). Os budistas não adoram a mãe de Sakyamunni, embora a honrem como uma mulher santa, escolhida por suas grandes virtudes para tal tarefa. Os romanos adoram a mãe de Jesus, e lhe pedem ajuda e intercessão. O culto da Virgem enfraqueceu o de Cristo, e lançou por completo na sombra o do Todo Poderoso. (3). Os budistas não tem sacramentos. Os seguidores do papa têm sete que são: batismo, eucarística, matrimônio, crisma, reconciliação ou penitência, unção dos enfermos, ordem,(4). Os budistas não acreditam em qualquer perdão para os seus pecados, exceto depois de uma adequada punição para toda má ação, e uma compensação proporcional às partes injuriadas. Os cristãos estão certos de que, se apenas acreditam no "precioso sangue de Cristo", esse sangue oferecido por Ele para a expiação dos pecados de toda a humanidade (leia-se cristãos) reparará todos os pecados mortais. Qual dessas teologias mais se recomenda ao pesquisador sincero, eis uma questão que podemos deixar com segurança ao julgamento do leitor. Uma oferece luz, a outra trevas. Reza A roda da Lei: "Os budistas acreditam que todo ato, palavra ou pensamento tem a sua consequência, que aparecerá mais cedo ou mais tarde no atual estado, ou nalgum futuro. Os atos maus produzirão más consequências, prosperidade neste mundo, ou nascimentos no céu ( ... ) em algum estado futuro". Essa é a justiça correta e imparcial. Essa é a ideia de um Poder Supremo que não pode falhar e que, por conseguinte, não pode ter nem ira nem misericórdia, mas deixa todas as causas, grandes ou pequenas, exercerem seus efeitos invitáveis. "Com a medida com que medirdes sereis medidos", tal sentença, nem pela expressão, nem pela implicação assinala qualquer esperança de um futuro perdão ou salvação por procuração. A crueldade e a misericórdia são sentimentos finitos. A Divindade Suprema é infinita, portanto só pode ser JUSTA, e a justiça deve ser cega. Os pagãos antigos tinham a esse respeito concepções mais filosóficas do que os cristãos modernos, pois representam Têmis de olhos vendados. E o autor siamês da obra em pauta dá mostras novamente de pensamentos: "Um budista poderia acreditar na existência de um Deus Sublime acima de todas as qualidades e atributos, um Deus Perfeito, acima do amor e do ódio, repousando calmamente numa silente felicidade que nada pode perturbar, e de tal Deus nada de mal ele poderia falar. Não pelo desejo de agradá-lo, ou pelo medo de ofendê-lo, mas pela veneração natural. Mas ele não pode compreender um Deus com atributos humanos e na qualidade dos homens, um Deus que ama e odeia e mostra raiva, uma Divindade que, conforme a descrevem os missionários cristão, ou os maometanos, os brâmanes e os judeus, cai sob o seu padrão na categoria de um bom homem comum. Já nos temos surpreendido amiúde com as extraordinárias ideias de Deus e Sua Justiça que parecem ser honestamente defendidas pelos cristãos que cegamente confiam no clero quanto aos assuntos religiosos, e jamais em sua própria razão. Quão estranhamente ilógica é essa doutrina da Expiação. Propomos discuti - la com os cristãos do ponto de vista budista, e mostrar ao mesmo tempo por quais séries  de sofismas, dirigidas para o objetivo único de apertar o jugo eclesiástico sobre o pescoço popular, sua aceitação, como um mandamento divino, foi finalmente efetuada, queremos mostrar também que ela se revelou uma das doutrinas mais perniciosas e desmoralizantes. Diz o clero: "Não importa quão enormes sejam os nossos crimes contra as leis de Deus e do homem, temos apenas que acreditar no auto sacrifício de Jesus para a salvação da humanidade, e Seu sangue lavará todas as máculas. A misericórdia divina é infinita e insondável. É impossível conceber um pecado humano tão abominável que o preço pago em adiantado para a redenção do pecado não o elimine, sendo ainda mil vezes pior. E, além disso, nunca é tarde demais para se arrepender. Mesmo que o pecador espere até o último da hora extrema, do último dia de sua vida mortal, depois de seus descoloridos lábios pronunciarem a confissão da fé, ele estará pronto para ir ao Paraíso. O bom ladrão assim o fez, e assim poderão fazê-lo outros da mesma espécie", tais são os pontos de vista da Igreja. Mas se transpusermos o estrito círculo do credo e considerarmos o universo como um todo equilibrado pelo primoroso ajustamento das partes, como se revoltará a lógica sensata, o mais fraco senso de justiça contra essa Vicária Expiação! Se o criminoso pecou apenas contra si mesmo, e causou mal apenas a si mesmo, se pelo arrependimento sincero ele puder apagar os eventos passados, não apenas da memória do homem, mas também desse registro imperecível, que nenhuma divindade, nem mesmo a Suprema das Suprema, pode fazer desaparecer, então esse dogma não seria incompreensível. Mas afirmar que alguém pode fazer mal a seu companheiro, matar, perturbar o equilíbrio da sociedade, e a ordem natural das coisas, e então, pela covardia, esperança, ou compulsão, não importa, ser esquecido por acreditar que o sangue derramado de alguém lave o outro sangue derramado, isso é ilógico e absurdo! Podem os resultados de um crime ser esquecidos ainda que o crime seja perdoado? Os efeitos de uma causa nunca se limitam ao âmbito da causa, nem podem os resultados de um crime ser confinados ao ofensor e à sua vítima. Toda boa ação, assim como a má, tem seus efeitos, que são tão palpáveis como a pedra que cai num lago de águas claras. A comparação é trivial, mas é a melhor que podemos imaginar, e portanto a empregamos. Os círculos redemoinhantes são maiores e mais rápidos, conforme seja o objeto perturbador maior ou menor, mas o menor pedregulho, ou melhor, a partícula mais fina, provoca suas ondas. E essa perturbação não é visível apenas na superfície. Abaixo, em todas as direções, para fora e para baixo, de modo invisível, gota puxa gota, até que os lados e o fundo sejam tocados pela força. Mais o ar acima da água é agitado, e essa perturbação passa, como nos dizem os físicos, de estrato a estrato no espaço para todo o sempre, um impulso é dado à matéria, e esse nunca se perde, e não pode ser retomado! Ocorre o mesmo com o crime, e com o seu oposto. A ação pode ser instantânea, os efeitos são eternos. Quando, depois de a pedra ter caído no lago, pudermos chamá-la de volta à mão, recolher as ondas, obliterar a força expandida, restaurar as ondas etéreas ao seu estado anterior de não - ser, e apagar todos os traços do ato de atirar a pedra, de modo que o registro do Tempo não possa mostrar o que aconteceu, então, então, poderemos ouvir pacientemente os cristãos defenderem a eficácia dessa Expiação. O times de Chicago - USA, publicou recentemente a lista de  algozes da primeira metade do presente ano (1877), uma longa e chocante lista de assassinos e enforcamentos. Quase todos esses assassinos receberam a consolação religiosa, e muitos anunciaram que haviam recebido o perdão de Deus através do sangue de Jesus, e que estavam indo para o Céu! Sua conversão foi efetuada na prisão. Observai quão ligeira é a balança da Justiça Cristã. Esses sanguinolentos assassinos, incitados pelos demônios da luxúria, da vingança, da cupidez, do fanatismo, ou pela mera sede brutal de sangue, mataram suas vítimas, em muitos casos, sem lhes dar o tempo para se arrependerem, ou chamarem a Jesus para lhes lavar o sangue. Morreram, talvez, em pecado, e, naturalmente, de acordo com a lógica teológica, encontraram a recompensa para as suas ofensas maiores ou menores. Mas o assassino, agarrado pela justiça humana, é aprisionado, chorado pelo sentimentalistas, confessa, pronuncia as encantadas palavras de conversão, e vai ao cadafalso uma redimida criança de Jesus! Se não fosse pelo assassinato, ele não teria sido confessado, redimido, perdoado. Então, esse homem fez bem em matar, pois assim ganhou a felicidade eterna! E quanto à vitima, e sua família, seus parentes, dependentes, e amigos, não tem a Justiça nenhuma recompensa para eles? Devem eles sofrer neste mundo e no próximo, enquanto aquele que lhes fez mal se senta ao lado do "bom ladrão" do e é para sempre abençoado? Sobre essa questão, o clero também mantém um prudente silêncio. Agora é minha fala. Como viram o texto é enfático, pois a senhora Blavatsky precisou salientar o ensino exotérico do Budismo em relação a expiação da alma humana. Também há todo um contexto histórico de dominação inglesa na Índia que não tenho tempo de abordar, que produz esse tom incisivo da autora em relação ao cristianismo. Enquanto os budistas imprimem sua própria expiação pessoal baseada na justíssima recompensa das virtudes e punições pelos pecados. Um processo sistemático envolvendo ajustes e reparações carmicas (para cada ação há uma reação) que tem como resultado a redenção completa do discípulo ao longo de futuras encarnações. O cristianismo concebe outro pressuposto para a redenção, basta crer no sacrifício efetuado por Jesus na cruz do calvário e terás todos os pecados e vícios imediatamente cancelados. A filosofia oriental tem tradição espiritualista de compreender os conceitos religiosos baseados na lógica e racionalidade, assim não entendem argumentos dogmáticos que ressaltam a autoridade das doutrinas como imposição de uma fé cega que não suporta ser questionada ou colocada a prova. Isso era o que os missionários jesuítas católicos e posteriormente os protestantes (século XVIII e XIX) faziam ao tentar converter os hindus sem argumentos plausível. Evidentemente eles resistiam a essas investidas do colonizador europeu, não vendo razão para trocarem sua maneira lógica de redenção por uma duvidosa, que os jesuítas e protestantes não conseguiam explicar coerentemente, simplesmente diziam que basta crer e ter fé.  Abraço. Davi.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Soneto da Separação.

Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencio e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto


De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama


De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste  o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.


Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Poeta brasileiro Vinicius de Moraes (1913-1980).



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Pátria Minha.

Pátria Minha.

A minha pátria é como se não fosse.
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo.
É minha pátria. Por isso, no exílio.
Assistindo dormir meu filho.
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria.
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água.
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa.
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria.
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos.
Vontade de mudar as cores do vestido (auri verde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos.
E sem meias pátria minha.
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento.
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço.
Em contato com a dor do tempo, eu elemento.
De ligação entre a ação e o pensamento.
Eu fio invisível no espaço de todo adeus.
Eu, o sem Deus!

Tenho te no entanto em mim como um gemido.
De flor; tenho-te como um amor morrido.
A quem se jurou; tenho-te como uma fé.
Sem dogma; tenho-te em tudo a que não me sinto a jeito.
Nesta sala estrangeira com lareira.
E sem pé direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra.
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra.
E eu vi Alfa e Beta de Centauro escalarem o monte até o céu.
Muitos me surpreenderam parados no campo sem luz.
A espera de ver surgir a cruz do sul.
Que eu sabia, mas amanheceu ( ... ).

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha.
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada.
O não poder dizer-te: aguarda ( ... ).
Não tardo!

Quero rever-te pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizonte
Fiquei simples, sem fontes

Pátria minha ( ... ). A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num enxame escrito:
"Libertas que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão ( ... )
Que vontade de adormecer-me
Em teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, pátria minha
Não rima com mãe gentil!
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a ilha
Brasil, talvez

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Ao sabiá
Para levar presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama ( ...)
Vinícius de Moraes".

Poeta brasileiro Vinícius de Moraes ( 1913-1980)
 







Soneto da Felicidade.

Soneto da Felicidade.

De tudo ao meu amor serei atento.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto.
Que mesmo em face do amor encanto.
Dele se encante mais o meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento.
E em seu louvor ei de espalhar meu canto.
E rir meu riso e derramar meu pranto.
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure.
Quem sabe a morte, angústia de quem vive.
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama.
Mas que seja infinito enquanto dure.

Poeta brasileiro Vinícius de Moraes ( 1913-1980)




terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cristianismo Pagão. Introdução.

Transcreverei alguns capítulos do livro Cristianismo Pagão (2002) de Frank Viola. Acho importante os leitores do Mosaico terem subsídios para um juízo razoável da historicidade e ensinos exotéricos praticados no Cristianismo desde épocas remotas. As pesquisas e investigações tem o objetivo de elucidar assuntos que nos causam dúvidas desde suas origens, abrindo nossos olhos para uma realidade que foi velada. Recorrentes para pensarmos os vários aspectos que fundamentaram e desenvolveram os dogmas e credos atualmente praticados no Cristianismo Moderno. Introdução. "Vivemos realmente de acordo com as Escrituras? Sócrates (469 AC 399), "Vida sem questionamento é vida sem valor". Agimos conforme a Palavra de Deus! O Novo Testamento é nosso guia de fé e prática! Vivemos ( ... ). E morremos ( ... ) pela Bíblia! Estas foram as palavras que saíram da boca do Pastor Farley enquanto pregava seu sermão dominical matutino. O senhor Winchester Spudchecker, um membro da igreja do Pastor Farley, escutara tais sermões dezenas de vezes antes. Mas desta vez foi diferente. Trajando seu terno azul, congelado no último banco com sua esposa. Trudy Spudchecker, Winchester mirava fixamente o teto da igreja enquanto o Pastor Farley trovejava sobre "fazer tudo de acordo com a Bíblia Sagrada". Uma hora antes do Pastor Farley iniciar seu sermão, Winchester brigara feio com Trudy. Isso acontecia sempre que Winchester, Trudy, e suas três filhas, Felícia, Gertrude, e Zanóbia, se aprontavam para ir à igreja nas manhãs de domingo. Sua mente relembrava o ocorrido ( ... ). "Truuuddyy! Por que as meninas ainda não estão prontas!? Sempre nos atrasamos! Por que não as arruma em tempo!?" Gritou Winchester. A resposta de Trudy era tipicamente a mesma. "Se você me ajudasse, isso não aconteceria sempre! Por que não começa a dar uma mão nesta casa!? "O bate boca continuou até que Winchester voltou-se contra as meninas: "Zanóbia Spudchecker! ( ... ). Por que não nos respeita e se apronta em tempo!? ( ... ). Felícia, quantas vezes tenho que lhe pedir para desligar seu "play station" antes das 9 horas!? "Muitas vezes uma ou mais das três meninas choravam diante destas acusações, criando um tema ainda mais tenso. Vestidos em sua melhor roupa domingueira, a família Spudchecker disparava em direção à igreja a toda velocidade (Winchester odiava chegar atrasado e recebera três multas no último ano por excesso de velocidade, todas referentes aos domingos pela manhã! Enquanto corriam em direção ao edifício da igreja, o silêncio no carro era lúgubre. Winchester se acalmara. TrudY estava magoada. Cabisbaixas, as três irmãs Spudchecker preparavam suas mentes para algo que detestavam ( ... ). Aguentar mais uma hora chata de Escola Dominical! Ao chegarem no estacionamento lotado da igreja, Winchester e Trudy saem radiantes do carro, abrindo um enorme sorriso. Entram abraçados, saúdam os demais membros da igreja com um sorriso nos dentes fingindo que tudo vai bem. Felícia, Gertrudes e Zanóbia seguem seus pais com os narizes empinados. Estas foram as recentes e dolorosas lembranças vindas à mente de Winchester na manhã de domingo enquanto o Pastor Farley proferia seu sermão. Carregado de culpa, Winchester começou a questionar-se: "Por que estou aqui vestido com minha melhor roupa fingindo ser um bom cristão quando apenas uma hora antes me comportei como qualquer pagão?". Quantas outras famílias passaram por esta triste experiência nesta manhã? Estamos bem perfumados, mas agradamos a Deus?. Tais questões nunca haviam passado antes pela consciência de Winchester. Observando a esposa e os filhos do Pastor Farley sentados com uma atitude afetada no primeiro banco, Winchester matutava: "Será que o Pastor Farley também esculachou sua esposa e filhos esta manhã!? Humm ( ... ). A mente de Winchester vagava nessa direção enquanto observava o Pastor Farley golpear o púlpito e levantar sua Bíblia com a mão direita. O Pastor trovejava ( ... ). "Nós da Primeira Igreja da Comunidade Bíblica do Novo Testamento fazemos tudo por este Livro! Tudo! Esta é a Palavra de Deus, não podemos nos desviar dela ( ... ) nem mesmo um milímetro! Enquanto o Pastor Farley vociferava, ocorreu um pensamento inédito em Winchester: não se recordo de haver lido na Bíblia que os cristãos devem vestir a melhor roupa para ir à igreja. Isto está nas Escrituras!? Este único pensamento desencadeou uma torrente de outras questões cruciais. Observando aquelas fileiras de gélidos espectadores sentados em seus bancos, a mente de Winchester foi inundada por questionamentos. Perguntas que quase nenhum cristão formula. Questões como: Será que sentar nesse banco duro e ver cinco fileiras de cabeças à nossa frente durante 60 minutos nos faz agir segundo a Bíblia? Por que gastar tanto dinheiro mantendo este edifício para passar aqui algumas poucas horas e apenas duas vezes por semana? Por que a congregação fica tão sonolenta quando o Pastor Farley? Por que minhas filhas odeiam tanto a Escola Dominical? Por que passamos por este mesmo ritual, previsível, mecânico, sonolento, a cada manhã de domingo? Se estou cansado dessa igreja que não me acrescenta nada espiritualmente, por que a frequento? por que coloco esta gravata incômoda cada domingo pela manhã enquanto ela carta a circulação de sangue para meu cérebro? Winchester lutava consigo mesmo enquanto estas questões martelavam sua mente. Ele sentiu-se como que contaminado e sacrílego por pensar tais coisas. Sem dúvida alguma coisa diferente estava acontecendo dentro dele que o compelia a colocar em dúvida toda sua experiência eclesiástica. Tais pensamentos estiveram inativos por anos no subconsciente de Winchester, e agora vieram à tona. Curiosamente, os questionamentos de Winchester naquele dia, praticamente nunca atingem a maioria dos cristãos. Tais dúvidas simplesmente nunca assaltam nossos cérebros. A realidade é que os olhos de Winchester se abriram. Pode soar estranho, mas quase tudo aquilo que é feito em nossa igreja moderna não tem qualquer base bíblica. Enquanto os pastores rugem do alto de seus púlpitos sobre seguir a Bíblia e trilhar a pura Palavra de Deus, suas palavras lhes atraiçoam. É alarmante  a terrível diferença entre nosso moderno cristianismo e as práticas da Igreja do século I. Questões que nunca formulamos. Sócrates (469 AC 399) é considerado por alguns historiadores como o pai da filosofia. Nascido e criado em Atenas, ele tinha o hábito de ir até a cidade e implacavelmente fazer questionamentos e analisar assuntos. Com audácia, Sócrates colocava em dúvida os pontos de vista do povo de seu tempo. Ele livremente discorria sobre temas que seus contemporâneos atenienses temiam discutir. A mania de Sócrates de formular perguntas penetrantes às pessoas, fazendo-as participar e questionar criticamente acerca de seus costumes, eventualmente acabou provocando sua morte. Seus contínuos questionamento do conjunto das tradições fizeram com que os líderes atenienses o acusassem de "corromper a juventude". Como resultado, eles mataram Sócrates. Uma clara mensagem foi enviada aos cidadãos atenienses: Todos que ameaçarem os costumes estabelecidos terão o mesmo destino. Sócrates não foi o único filósofo a sofrer represálias pelo seu inconformismo: Aristóteles (384 AC 322) foi exilado Baruch de Spinoza (1632-1677) foi excomungado e Giordano Bruno (1548-1600) foi queimado vivo. Sem mencionar os milhares de cristãos torturados e assassinados pela igreja institucional por se atreverem a desafiar seus ensinos. Como cristãos, somos ensinados por nossos líderes a crer em ideias e nos comportar de determinada maneira. Temos a Bíblia, claro. Mas estamos condicionados a lê-la com as cômodas lentes da tradição cristã a qual pertencemos. Nos ensinaram a obedecer nossa denominação (ou movimento) e jamais desafiar tais ensinos. Neste momento todos os corações rebeldes estão aplaudindo e tramando usar os parágrafos anteriores para criar estragos em suas igrejas. Se este é o seu caso, querido coração rebelde, quero acrescentar algo para você em minha introdução. Longe de recomendar que faça isso, meu conselho é: Deixe sua igreja silenciosamente para não causar divisões ou viva em paz com ele. Há uma grande distância entre adotar uma postura rebelde e ficar do lado da verdade. A verdade é que nós cristãos nunca colocamos em dúvida aquilo que fazemos. Pelo contrário, cumprimos alegremente nossas tradições religiosas, sem verificar de onde elas vieram. A maioria dos cristãos que afirma apoiar-se na Palavra de Deus nunca investiga se aquilo que faz a cada domingo tem base bìblica. Como sei isto? Porque se eles investigarem chegarão a conclusões bem incômodas. Conclusões que compeliriam suas consciências a abandonar tudo que fazem. Como veremos adiante, o pensamento e a prática da igreja contemporânea sofreram mais influência de eventos históricos pós bíblicos do que pelos imperativos e exemplos do Novo Testamento. A maioria dos cristãos não tem consciência desta influência. Tampouco se dá conta de que eventos históricos pós bíblicos criaram montanhas de tradições. Um convite assustador. Agora convido o leitor  seguir-me por uma estrada inédita. Trata-se de uma terrível jornada onde você será obrigado a responder questões que provavelmente nunca entraram em seu pensamento consciente. Questões bem difíceis de responder, recorrentes, surpreendentes. Você será confrontado com respostas perturbadoras. Respostas que deixarão você diante das melhores coisas que um cristão pode conhecer. Nas próximas páginas você ficará atônito quando descobrir que aquelas coisas que nós, cristãos, fazemos nas manhãs de domingo, não vieram de Jesus Cristo, dos apóstolos ou das Escrituras Sagradas. Nem mesmo vieram do Judaísmo. Sendo mais específico, a maior parte daquilo que fazemos na "igreja" foi absorvido diretamente da cultura pagã no período pós apostólico. Sendo mais específico, a maior parte das nossas práticas eclesiásticas foi introduzida durante três períodos de tempo: após Constantino (324-600), no tempo da Reforma Protestante (século XVI), e na era do Reavivamento (século XVIII e XIX). Cada capítulo mostrará as tradicionais práticas eclesiásticas. Depois revelará a história de onde vieram tais práticas. E o mais importante, explicará como estas práticas sufocam e obstaculizam o funcionamento de seu corpo. Se você não está disposto a examinar seriamente seu cristianismo, não mais leia estas páginas. Doe imediatamente este livro a algum sebo! Livre - se do incômodo de ter sua vida cristã virada de cabeça para baixo. Não obstante, se você optar por "tomar a pastilha rubra" e averiguar até onde vai a toca do coelho, verá remontado os efeitos daninhos de uma igreja que foi influenciada por sua cultura em vez de uma igreja que influencia sua cultura. O filósofo Soren Kerkegaard disse que o cristianismo moderno é essencialmente falsificado. Se você quer aprender a verdadeira história das origens de suas práticas cristãs, se está disposto a desvendar o véu da igreja moderna e desafiar fortemente suas tradicionais pressuposições, então você encontrará aqui uma obra perturbadora, informativa e possivelmente transformadora de vida. Em outras palavras, se você é um cristão de igreja institucional que leva o Novo Testamento a sério, o que você lerá mais adiante o levará a uma crise de consciência. Você será confrontado por fatos históricos irrefutáveis. Por outro lado, se você é um desses raros indivíduos que congrega com outros cristãos à margem do cristianismo organizado, você redescobrirá que não apenas as Escrituras, mas também a história está a seu lado". Continuamos no capítulo 1. Liturgia: A Realidade das Manhãs Dominicais. Abraço. Davi.       

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Humanidade de Jesus.



Bom dia Alfa. Estive sábado a noite no Encontro na casa do Yod e Gama. Na nova casa que eles construíram no Guanambi, por sinal muito bonita (requintada) de três pavimentos e projetada para ter elevador. Cinco quartos, sete banheiros, closed, salão de festa, sala enorme e outros. Mais de quinhentos metros quadrados de área construída, apesar de ainda não está pronta. Segundo o Yod 70% do acabamento foi concluído. As vezes me pergunto, uma residência tão grande para três pessoas? O casal e seu filho Zayin. A filha está em adrianópolis - MG cursando graduação em Medicina. Mas, o importante é que eles estão muito felizes e com um coração aberto e cheio de amor para receber os amigos e irmão nos Encontros. Estávamos num pequeno grupo (os irmãos anfitriões, mais Teta, Epsilon, Lâmed, Kapa e eu) e tivemos uma conversa informal com um ótimo conteúdo. Na minha opinião o tema central foi a humanidade de Jesus. Tentarei enumerar alguns pontos que foram referidos. Teta contou duas experiências interessam. Primeiro conhece um amigo professor que mora no Olímpia, já aposentado, com um pomposo salário, tendo vários imóveis, mas percorre a cidade com uma moto velha, morando numa casa original no Guanambi. Veste-se como um maltrapilho e nunca teve vontade de casar. Outra amiga do Senado Federal (uma moça) com 70 anos ganhando mais que o teto constitucional, morando num enorme apartº no Sudoeste sozinha, e segundo ela é ainda virgem, e nem pensa em casamento. Cogitamos nessas situações apresentadas e percebemos, que o egoísmo humano se acentua a medida que a sociedade se distancia de princípios e valores individuais e morais. A vida coletiva se restringe a grupos sociais tradicionais fechados (igreja, família, escola, trabalho) obrigando as pessoas em alguns casos a se isolarem para particularizarem seu modelo de vida. Vimos também que isso tem haver com situações passadas, herdadas de suas gerações que não foram devidamente resolvidas. Lembra das Escrituras quando diz a respeito daquele cego: "quem pecou esse ou seus pais para que nascesse cego". Em outra parte é dito: "visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração". Esses pressupostos mostram que enquanto vivermos nessa terra precisamos resolver as situações pendentes em nossa convivência com o próximo. Perdão, confissão, arrependimento, vícios e pecados precisam ser reparados, pois do contrário essa justa medida alcança nossos descendentes diretos. Percebeu que não completei o texto sagrado que diz: "nem ele pecou nem seus pais, mas para que se manifestasse nele a glória de Deus", e outro texto acrescenta: "faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam". Mas, isso a meu ver estar dentro do princípio revelado da retificação e ajuste de contas, do contrário comprometemos aqueles que vêm depois da nossa vida.  Nesse aspecto alguns falaram que muitas pessoas alimentam ainda aquele sonho do casamento perfeito, o encontrar a outra metade. Mas, vimos no sábado que isso é uma utopia. Nos casamos com uma pessoa inteira, e devemos aprender a lidar com as desigualdade e diferenças advindas do parceiro completamente distinto de nós. Pois ele nasceu em família, cultura, tradição, comportamento, herança genética e hábitos diversos do que adquirimos. Gama falou que no sábado anterior no Dálet foi "discutido" um importante assunto sobre incorreções e incoerências em alguns textos das Escrituras Sagradas. Mostrou-se a dificuldade de se encontrar a verossimilhança (razoável verdade) daquilo que é autêntico em alguns texto que suscitam dúvida dos estudiosos. Como exemplo Jonas sendo engolido pelo (baleia) grande peixe, “preparou, pois, o Senhor um grande peixe, que tragasse a Jonas, e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe”. Sendo aparentemente uma alegoria e não uma "verdade" inquestionável. Dar a entender que essa história foi copiada de outras tradições, possivelmente Persas ou Babilônicas e adaptado as Escrituras para exemplificar a misericórdia e o amor dO Inefável quando temos um coração de humilhação e arrependimento. Assim seria difícil afirmar categoricamente que a Bíblia é em todos os seus pormenores a "verdade". Pois das traduções da Septuaginta de Alexandria, feita por setenta rabinos judeus no III século AC, copiando o texto sagrado para a língua hebraica. Passando pela tradução da Vulgata do latim para o grego popular, muita coisa pode ter sido omitida ou acrescentada para a conveniência dos contextos sócios culturais das tradições vigentes. Essa tradução foi realizado por São Jerônimo (347-420) um teólogo erudito e conhecedor das línguas originais: grego, hebraico e latim a pedido de um bispo do alto clero romano. Esse trabalho foi efetuado no século IV DC nos dez últimos anos de sua vida. A época os oitenta e dois livros apócrifos eram considerados canônico, fazendo parte do escopo dos inspirados pelo Espírito Santo. Depois eles passaram pelo crivo do Concílio de Calcedônia é apenas sete sobreviveram (Tobias, I e II Macabeus, Eclesiástico, Sabedoria, Baruc e Judith. Penso que logicamente há mais autenticidade acadêmica na tradução dos livros do Velho Testamento realizada por um grupo de pessoas, do que o Novo Testamento feita por um único indivíduo. Tendo um material maior para manuseio, e complexidade de temas que a filosofia gnóstica, impregnou nas epístolas Paulinas. Não que subestimemos a erudição de São Jerônimo, mas historicamente a Vulgata foi mais alterada em seus textos originais (omissão e acréscimo), pois havia a necessidade de adequar o texto sagrado aos novos conceitos que eram praticados pelo cristianismo emergente. Nossa Bíblia Sagrada era para ser bem mais volumosa que a atual. Mesmo que admitamos, e com certeza por sermos cristãos concordamos com o texto sagrado que diz "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça". Sem dúvida a Bíblia continua sendo e sempre será o manancial de princípios éticos, morais e espirituais, que devem nortear nossas vidas. Sua leitura é indispensável e essencial à todo o cristão. Assim os irmãos disseram naquele noite no Paranoá que nós devemos ser a Bíblia e escreve-la com nossa vida. Como é dito: "vós sóis a carta aberta escrita e lida por todos os homens". Gama falou que alguns saíram naquela noite sem entender realmente o que se estava ponderando. Falamos sábado a noite (Guanambi) da humanidade de Jesus, um assunto que quando ventilado acaba trazendo dúvidas e questionamentos. Kapa reconheceu a simplicidade e simpatia de Jesus para com as criança quando é dito: "deixai vir a mim as crianças e não as impeçais, porque dos tais é o reino dos céus". Ela disse que o Mestre Jesus tinha sensibilidade e carinho para com as pessoas. Falou também que o Mestre Jesus deixava que seu discípulo amado recostasse sua cabeça em seu peito.. “Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus”. O Mestre em sua humanidade quebrou várias vezes as regras sociais e morais do judaísmo para externar seu amor e carinho pelo próximo.  Epsilon nesse contexto trouxe uma passagem profunda baseada em Levíticos quando fala: "os sacerdotes, um dos quais tomará dela um punhado da flor de farinha, e do seu azeite com todo o seu incenso, e o sacerdote queimará como memorial sobre o altar". Ela falou que essa fina flor de farinha foi o processo pela qual a humanidade de Jesus foi depurada se oferecendo como sacrifício à todos os homens. Gama lembrou que Jesus tinha muitos amigos e gostava de chama-los mais assim que de irmãos. Como Ele diz: já não vós chamo servo, mas sim de amigos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor". Quando o Mestre ia na casa de seu amigo Lázaro,"Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono", tinha com ele e suas irmãs uma convivência fraternal. Segundo Gama Ele queria comer uma gostosa comida e conversar sobre as situações que enfrentava em seu ministério como: oposição, dissidência, perseguição e a alegria de está servindo a humanidade com seus queridos discípulos. Um livro que li esse ano do escritor português José Saramago (1922-2010) com o título O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991). O livro é um romance e conta uma história humanizada da vida de Jesus, aludindo a um eventual relacionamento com Maria Madalena. O livro diz: "foi com ela que Jesus conheceu o amor da carne e nele se reconheceu homem". Aqui é mostrada a ideia de que Jesus se relacionou sexualmente tendo uma vida ativa nessa questão como qualquer mortal, digno de viver nessa terra desfrutando um dos prazeres humanos, resultado de nossas paixões e desejos, num ambiente de normalidade e tradição familiar. Ao adaptar essa perspectiva histórica de Cristo, distante da representação tradicional do Evangelho, Saramago coloca que a propagada histórica crucificação de Jesus, "um repulsivo forte, qualquer coisa interminável de ferro e de sangue, de fogo e de cinzas, um mar infinito de sofrimento e de lágrimas". Como é um filósofo ateísta Saramago diz que de acordo com sua visão de mundo, segundo a qual "por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o mais horrendo e cruel, e que, no fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama". Ele denuncia as religiões, todas as religiões, por nocivas à humanidade. Foram palavras duras ditas nesse livro que suscitaram reação de diversos setores da comunidade católica, sendo perseguido em seu país Portugal. Foi obrigado a se exilar forçosamente fixando residência na ilha de Lanzarote - Ilhas Canárias. Algumas citações desse romance evangelho de Saramago. "O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo". O argumento aqui não é contra a concepção virginal do filho de Deus sua encarnação por obra e graça do Espírito Santo, mas Saramago dar uma opção para o fato do nascimento de Jesus, sendo essa natural, resultado do relacionamento sexual entre Maria e José seus pais humanos. Teta ficou reticente quanto a esse assunto preferindo pensar mais a deidade do Cristo que comporta sua plenitude e glória, do que sua fragilidade e insegurança como um homem que tem medo e chora. Ela acha que devemos viver mais a divindade de Cristo desfrutando de sua plenitude e majestade junto ao Pai. É bom esse ambiente de diversidade quando temos entendimento e compreensão do que falamos. Yod recordou que a Bíblia não menciona tudo sobre a vida de Jesus, quando é dito: "a porém, ainda muitas coisas que Jesus fez, e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo inteiro poderia conter os livros que se escrevessem". Esse texto mostra que podemos pensar e inferir a humanidade de Jesus, como homem de carne e osso que teve todos os sentimentos e emoções humanas. Temos dificuldade em imaginar essa possibilidade por achar que o diminuamos como Deus comparando-o a um frágil mortal. Mas, argumentos nas Sagradas Escrituras mostram que esse mistério pode ser aberto, por aqueles que desejam conhecer a essência divina na humanidade de Jesus. Textos das Escrituras como: "Chegando o tentador disse: Se és o Filho de Deus, manda que essas pedras se tornem em pães". E "E disse-lhe: Se es o Filho de Deus, lança-te aqui abaixo, porque está escrito que aos seus anjos dará ordem a teu respeito". Mostram que os demônios e os seres dos mundos invisíveis inferior não tinham problemas quanto a Divindade de Jesus, mas quanto a sua humanidade desconheciam os mistérios de sua encarnação. Estando-lhes velado até hoje, e infelizmente nós cristãos sabemos tão pouco desse processo da humanização de Deus. A teologia tradicional com os pais da Igreja desde tempos imemoráveis, não permitiu que muitos fatos relativos a vida de Jesus viesse a público. A ignorância e o medo desses fatos castrou nosso conhecimento da verdade. Enquanto não penetrarmos os portais desse mistério da humanidade de Jesus, seu lado que se identifica conosco, permanecerá inacessível e obscuro. Sinto que nossa ignorância e falta de ousadia espiritual é a grande responsável por desconhecermos esse importante legado (humanidade de Jesus) histórico e religioso referente a pessoalidade do Mestre. Temos a nosso desfavor a ortodoxia teológica que engessando nosso pensar, nos programou para racionalizarmos apenas a divindade de Cristo. Assim precisamos passar por uma reprogramação de nossas ideias com relação a esse tema. Adquirindo uma visão eclética (diversificada) desvinculada de crendices e dogmas exclusivistas, que nos capacitarão a uma abertura com vistas a novos horizontes nesse milenar conceito que fundamenta o cristianismo. Pena que o cristianismo viva de verdades absolutas, infelizmente uma viga de seu edifício sendo removida ou refeita pode derrubar toda a casa.  Mas O Inefável sabe de todas as coisas e tudo está debaixo de seu governo e senhorio.  Todos acreditam no Jesus Deus, mas quando mencionamos o Jesus Homem o mistério continua velado. Gama disse com propriedade que quando conhecermos mais da humanidade de Jesus abriremos caminho para conhecer melhor a natureza humana. Alfa, eu poderia falar mais de nossos diálogos naquele sábado a noite, mas vou parar, imaginando que deu para você alcançar os principais tópicos. Não sei se fui fidedigno ao que falamos no sábado (13/09). Pelo menos ousei ser.. Se Iota tiver feito prova de concurso (domingo) ontem, desejo que tenha tido um ótimo rendimento. Uma excelente semana. Mais um pouco de José Saramago. "A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: "não há mais o que ver", saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se virá no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caia, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre". Abraço, de seu amigo. Davi. 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A Crença na Pessoalidade do diabo. Parte II.

Continuamos o assunto da Crença na Pessoalidade do diabo. Como falei estou transcrevendo da obra de Helena P. Blavatsky (1831-1899) usando o livro Ísis Sem Véu, volume IV páginas 135-140. "Deus ordena a ela, (a serpente no jardim do Éden), arrastar-se eternamente sobre seu ventre, e comer a poeira do chão. "Uma sentença", observa Eliphas Levi (1810-1875), "que em nada se parece às tradicionais chamas do inferno". Não levaram em consideração os autores dessa alegoria que a serpente zoológica real, criada antes de Adão e Eva, arrastava-se sobre seu ventre e comia a poeira do chão, antes que existisse qualquer pecado original. Por outro lado, não foi Ophion, o Daimôn ou diabo, como Deus, chamado Dominus? A palavra Deus (deidade0 deriva da palavra sânscrita Deva, e diabo provém do persa daêva, palavra substancialmente semelhantes. Hércules, filho de Jove e de Alcmena, um dos deuses sóis mais elevados e também o Logos manifesto, e, não obstante. representado numa natureza dupla, como todos os outros. O Agathodimôn, o daêmon beneficente, o mesmo que encontramos posteriormente entre os ofitas com a denominação de Logos, ou sabedoria divina, era representado por uma serpente que se mantinha ereta sobre uma vara, nos mistérios das bacanais. A serpente com cabeça de falção está entre os emblemas egípcios mais antigos e representa a mente divina, diz Deane. Azâzel é Moloch e Samuel, diz Movers, e Aaron, o irmão do grande legislador Moisés, faz sacrifícios idênticos a Jeová e Azâzel. "E a Aarão deita sortes sobre os dois bodes, uma para o Senhor (Toth no original) e outra para o bode emissário (Azâzel). No Velho Testamento, Jeová exibe todos os atributos do velho saturno, apesar de suas metamorfoses de Aoni em Elói e em Deus dos deuses, Senhor dos senhores. Jesus é tentado na montanha pelo diabo, que lhe promete reino e glória se se prostrasse e o adorasse (Mateus 4: 8,9), Buda (563 AC 483) é tentado pelo demônio Wasawartti-Mâra, que lhe diz, no momento em que deixava o palácio de seu pai: "Fica, que possuíras as honras que estiverem ao teu alcance. Não vás, não vás". E com a recusa de Gautama em aceitar suas oferendas, rangeu seus dentes com raiva e prometeu vingar´se. Como Cristo, buda triunfa sobre o diabo. Nos mistérios báquicos, um cálice consagrado, chamado cálice de Agathodaimôn, passava de mão em mão entre os fiéis após o jantar. O rito ofita de mesma descrição foi evidentemente tomado desses mistérios. A comunhão, que consistia de pão e vinho, foi usada na adoração de quase todas as divindades importantes. Em relação com o sacramento semi mítrico adotado pelos marcosianos, uma outra seita gnóstica, totalmente cabalística e teúrgica, há uma estranha história oferecida por Epifânio como uma ilustração das artimanhas do diabo. Na celebração da sua Eucaristia, os  marcosianos traziam traziam três grandes vasos do cristal mais fino e mais claro para o meio da congregação e os enchiam de vinho branco. No transcorrer da cerimônia, à vista de todos, esse vinho era instantaneamente mudado para vermelho sangue, para púrpura e depois para azul celeste. "Então o Mago", diz Epifânio, "entrega um desses vasos para uma mulher da congregação e lhe pede que o abençoe. Feito isso, o mago despeja o seu conteúdo num vaso de maior capacidade, formulando o seguinte pedido: "Possa a graça de Deus, que está acima de tudo, é inconcebível e inexplicável, preencher o teu interior e aumentar o conhecimento daquele que está dentro de ti semeando o grão de mostarda em terreno fértil, Depois disso o licor do vaso maior aumenta e aumenta até chegar à borda. Em relação com muitas divindades pagâs que, após a morte, e antes de sua ressurreição, descem ao inferno, seria útil comparar as narrativas pré cristãs com as pós cristãs. Orfeu fez a sua viagem, e Cristo foi o último desses viajantes subterrâneos. No Credo dos Apóstolos, que está dividido em doze frases ou artigos, que foram inseridos cada um por um apóstolo em particular, segundo Santo Agostinho (354-430), a frase "Desceu ao inferno, no terceiro dia ressurgiu dos mortos" é atribuída a Tomé, talvez como uma expiação da sua incredulidade. Seja como for, diz-se que a frase é uma falsificação e não há evidencia "De que esse Credo tenha sido modelado pelos apóstolos, ou pelo menos que existisse como credo em sua época. Trata-se da adição mais importante que foi efetuada no Credo dos Apóstolos e data do ano 600. Esse artigo não era conhecido na época de Eusébio. O bispo J. Pearson diz que ele não fazia parte dos credos antigos ou das regras de fé. Irineu de Lyon (130-202), Orígenes de Alexandria (182-254) e Tertuliano (160-220) não parecem conhecê-lo. Não é mencionado em nenhum dos Concílios realizados antes do século VII. Theodoreto (393-457), Epifânio (310-403) e Sócrates (469-399) silenciam-se a seu respeito. Difere do credo de Santo Agostinho. Rufino afirma que, em sua época, ele não constava nem dos credos romanos nem dos orientais. Mas o problema se resolve quando lemos que séculos atrás Hermes falou da seguinte maneira a Prometeu, acorrentado no rochedo árido do Cáucaso. "Teu tormento não cessará até que Deus o substitua em tua aflição e desça ao lúgubre hades e às profundezas sombrias do tártaro. Esse deus era Hérculaes, o "Unigênito", e o salvador. E é ele que foi escolhido como modelo pelos padres engenhosos. Hércules, chamado Alexikakos porque converteu os malvados à virtude, Soter, ou Salvador, também chamado Neulos Eumélos, o Bom Pastor, astrochitón, o vestido de estrelas, e o senhor do fogo. "Ele não sujeitou as nações pela força, mas pela sabedoria divina e pela persuasão", diz Luciano. "Hércules disseminou cultura e uma religião suave e destruiu a doutrina da punição eterna expulsando Cérbero (demônio do poço - era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço, que guardava a entrada do inferno - mundo inferior. O reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem). E, como vemos, foi também Hércules quem libertou Prometeu (o Adão dos pagãos), pondo um fim à tortuta infligida a ele por suas transgressões, descendo ao hades e ao tártaro. Como cristo, ele apareceu como um substituto para as aflições da humanidade, oferecendo-se em sacríficio numa pira funerária. "Sua imolação voluntária", diz Bart, "augurou o novo nascimento etêreo dos homens, ( ... ). Com a libertação de Prometeu, e a ereção de altares, vemos nele um mediador entre os credos antigos e os novos, ( ... ). Ele aboliu o sacrifício humano onde quer que fosse praticado. Desceu ao reino sombrio de Plutão, como uma sombra ( ... ) ascendeu como espírito a seu pai, Zeus, no Olimpo. A antiguidade estava tão marcada pela lenda de Hércules, que até mesmo os judeus monteístas daquela época, para não serem ultrapassados pelos seus contemporâneos, utilizaram-na na manufatura das fábulas originais. Hércules é acusado, em sua mito biografia, de uma tentativa de roubo do oráculo de Delfos. No Sepher Toledoth Yeshu, os rabinos acusam Jesus de roubar do seu santuário o Nome Inefável! Portanto, nada há de estranho em suas numerosas aventuras, mundanas e religiosas, tão fielmente espelhadas na Descida do Inferno. Por uma extraordinária ousadia de embuste e um plágio despudorado, o Evangelho de Nicodemo, só agora proclamado apócrifo, ultrapassa tudo que já lemos. Que o leitor julgue. No começo do capítulo XVI, Satã e o "Príncipe do Inferno" são apresentados conversando, amigavelmente. De repente, ambos são colhidos por "uma voz como de trovão" e pelo assalto dos ventos, que lhes ordenam abrir as portas para que "O Rei da Glória possa entrar". Logo após o Príncipe do Inferno ter ouvido esta ordem, "começa a discutir com Satã por não ter sido prevenido para tomar as precauções necessárias contra essa visita". A discussão termina como o príncipe lançando Satã "para fora de seu inferno", ordenando ao mesmo tempo que seus oficiais impiedosos "cerrassem as portas brônzeas da crueldade e as aferrolhassem com barras de ferro e lutassem corajosamente para não sermos tomados como prisioneiro". Mas "quando toda a companhia de santos( no inferno?) ouviu isto, todos eles disseram com voz encolerizada ao príncipe do inferno "Abre as portas, deixa O Rei da Glória entrar", provando que o príncipe precisava de arautos. "E o profeta Davi gritou: "Acaso não profetizei em verdade quando estava na terra?" Após isso, outro profeta, chamado Isaías, falou da mesma: "Não profetizei eu em verdade?", etc. Então, a companhia dos santos e profetas, deposi de se jactar por um capítulo inteiro e de comparar as notas de suas profecias, iniciou um tumulto, o que fez o príncipe do inferno, observar que "os mortos nunca se comportaram tão insolentemente, fingindo ignorar sobre quem estava pedindo admissão". Paramos por aqui quanto a transcrição do livro Ísis Sem Véu. Lembrando aos leitores que devem fazer seus juízos particulares dentro de suas perspectivas religiosas e espirituais. Não tenho a pretensão de formar opiniões com meus argumentos e nem influenciar nenhum de vocês. Considero-os corajosos por lerem alguns artigos do Mosaico, como esse, que desmistifica alguns dogmas milenares impostos pela Igreja para em muitos casos oficializar e fundamentar doutrinas baseadas em superstições e crendices. Aos amigos de outros países, no Brasil temos enormes problemas com esse tema específico, pois vemos em Igrejas Cristãs Protestante, shows com a invocação de espírito dos mundos inferiores. Onde eles se manifestam e criam um ambiente de engano e subordinação de todos os participantes, desde os líderes (pastores) que supostamente praticam o exorcismo, até os simples do povo que vão em busca de curas, alívio para suas dores, bençãos materiais e felicidade eterna. Assim, podemos tristemente assistir esses espetáculos na TV, nos cultos presenciais, e, campanhas missionárias organizadas por Igrejas Neo Pentecostais que usam mais esse tipo de artifício para atrair multidões necessitadas de refrigério para seus sofrimentos. O que é dito no texto com outras palavras "o diabo toma o lugar de Deus" é verdadeiro quando observamos os rituais de expulsão de demônios nesses ambientes carregados de emocionalismos e sensacionalismos exacerbados. Outro aspecto da demonização é culpar o demônio por todas as coisas negativas que nos acontecem, e creditar a Deus os sucessos que obtivemos em nossas convivências sociais, profissionais e espirituais. Isso representa nossa covardia e pulsilanimidade, pois não querendo assumir nossas escolhas certas ou erradas e nossas decisões em igual valor, jogamos a culpa no demônio que não tem nada haver com nossa maneira desidiosa de expressar nosso comportamento estereotipado. Assim descumprimos as Escrituras quando dizem: "O reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo". Essas coisa são sutil e precisamos da intuição vinda dO Inefável para abarcarmos seu sentido completo. Não tendo medo de encarar de frente a questão e dando um basta nesse codinome, disfarçado de santo, com a essência e substância de demônio dos mundos inferiores. A pessoalidade desses seres (vulgarmente chamados de demônios) que habitam os mundos inferiores, divididos em hierarquias são representações de nosso inconsciente, vindas das correntes dos mundos das ideias e pensamentos. Tomo esse argumento da filosofia de Platão (428 AC 347) que baseia-se no mundo ideal e real. O real é esse mundo físico, material, grosseiro, enquanto que o mundo ideal é justamente o mundo dos pensamentos, das ideias, das coisas abstratas. Para Platão o corpo é o cárcere da alma que precisa se libertar para alcançar seu "eu" ideal, de modo a possuir seu verdadeiro conhecimento. Então, enquanto estivermos presos ao corpo (mundo real, físico) veremos demônios agindo por todos os lados e supostamente influenciando nossa vida, pois em uma condição corrupta seremos tendentes a negociar nossa culpa e ressentimento, como os demônios ou outros seres que nos iludam com suas dissimulações. Precisamos transcender  para o mundo ideal, dos pensamentos com nossa alma migrando das coisas fúteis e ilusórias da vida para uma dimensão de fraternidade e amor ao próximo.  Assim seremos nós mesmos no mundo, evoluindo com o que temos e somos. As vezes involuindo devido aos vícios e deméritos, mas conscientes que o processo de desenvolvimento da divindade em nosso ser é nossa total responsabilidade e somos o auto fiador desse sistema de completude cósmica. Abraço. Davi.