segunda-feira, 4 de maio de 2015

Bhagavad Gita. O Combate entre o Bem e o Mal.



Neste primeiro capítulo se descreve o combate entre o Bem e o Mal, que provêm do rompimento da Unidade, tanto no Homem como na Natureza. O Homem em evolução, representado por Arjuna, acha-se rodeado de ilusões que pertencem à sua natureza inferior, mortal, e deve vencê-las; porém, como se acostumou a identificar-se com elas, falta-lhe o necessário ânimo. Disse Dhritarâshtra (2), rei dos Kurus (1), falando com o fiel Sanjaya: Conta-me, ó Sanjaya, os feitos dos meus guerreiros e os do exército dos Pândavas (3), quando se reuniram para se combaterem no sagrado campo dos Kuros.    (2). Representa a vida material e as forças cegas; (1) representam as forças inferiores da alma. (3). Significam as forças superiores. Pôs-se a relatar Sanjaya: Quando o teu filho Duryôdhana (4), o comandante supremo dos teus exércitos, ó rei, avistou as falanges dos Pandavas, preparadas para o combate, se aproximou do seu preceptor Dro-na, o filho de Bharadvaja, e disse:    (4). Dificilmente vencível, obstinado. Vê, ó Mestre, as poderosas multidões dos filhos de Pându, que constam de vastas fileiras de guerreiros experientes e audaciosos, comandadas pelo valente e sábio filho de Drupada, teu discípulo. Vê como é grande o número daqueles combatentes fortes que ali estão em seus carros de guerra e com seus arcos e flechas. Há, entre eles, heróis iguais a Bhima (5), e Arjuna (6).    (5). É a vontade espiritual. (6). É o homem em seu desenvolvimento. Lá estão: Virâta, Yuyudhâna, Drupada, Dhristakêtu, Chekitâna, o rei dos Kasis, Purujit, Kuntiboja, Saivya. Ali estão: o audaz Yudhâmanyo, o forte Uttamauja, o filho de Subhadra e todos os filhos de Drupada (7).    (7). Os heróis mencionados aqui e nos seguintes versículos representam forças intelectuais, faculdades, paixões, artes e ciência. Os "carros" são os corpos pelos quais essas forças se manifestam no homem. As forças inferiores são servidoras do egoísmo e do instinto cego, ao passo que as superiores agem em harmonia com a Vontade Divina. Porém, igualmente do nosso lado, sob o meu comando, encontras os melhores generais e heróis do nosso povo. Aqui estás tu mesmo, e conosco se Vê Bhishma, Karna, Kripa, Asvatthâman, Vikarna, Somadatti. Todos estes e muitos outros guerreiros fortes, valentes e experimentados, trazendo as suas armas favoritas, prontos estão para combater por nossa causa, e com entusiasmo, arriscarão a vida por mim. Porém, ó Mestre hei de confessar-te que este nosso exército, se bem que muito valente e comandado por Bhishma (8), na minha opinião não tem o número e a força suficiente, enquanto em nossa frente está o inimigo, comandado por Ma, em posição ameaçadora, e muito mais forte (...) (8). É o egoísmo. O exército dos Kurus, isto é, as forças inferiores, tem por chefes o Egoísmo e a Obstinação; o exército Pândava, isto é, as forças espirituais superiores, obedecem a Vontade Divina. Ordena, pois, aos capitães do meu exército que todos ocupem os seus lugares e que se preparem para auxiliar e defender o nosso comandante Bhima. Soprou então Bhima, o velho chefe dos Kurus, em sua grande corneta e o seu toque soou como o rugido do leão, excitando a coragem e o ânimo de seus guerreiros. E, em resposta, imediatamente se ouviu o som tumultuoso de inumeráveis outras cornetas e conchas, címbalos, tambores e trombetas, nas falanges os Kurus. Igualmente deram sinal bélico. Krishna, a encarnação de Deus, e Arjuna, filho de Pându, que estavam em seu magnífico carro de guerra, ornado com ouro e pedras preciosas, e puxado por cavalos brancos (9). E responderam os instrumentos dos Pândavas em som repetido o desafiador, como o som de trovão violento.    (9). É o símbolo da pureza; cavalo, o símbolo da força e da obediência. A corneta que tocava Krishna, o dominador dos sentidos, fora feita de osso de gigante. O nome da corneta de Arjuna era Devadatta (dom de Deus). O forte bhima tocava a corneta com o nome de Paundra (o povo). Yudishtira, filho de Kunti, a (Vitória), Nakula e Sahadeva tocavam a Harmonia e a Glória. Ouvia-se o toque dos famosos guerreiros Kâsya, Sikhandin, Dhrishtadyumna, Virâta, Sâ-tyakij. E de Drupada e seu povo, e dos filhos valentes de Subhadra. E vibrou o ar, como quando se prepara uma horrível tempestade, e a superfície da terra vibrou no mesmo ritmo. E o povo de Khritarâshtra estremeceu aterrorizado. Então Arjuna, em cuja cimeira figurava um macaco (10), vendo que os Kurus estavam já em ordem de batalha, e que as flechas começavam a voar pelos ares, tomou na mão o seu arco e disse a krishna, que estava com ele no carro:    (10). Tomado como símbolo de audácia e empenho. Fazei parar, ó Imutável, o nosso carro no meio do espaço entre estes dois exércitos opostos. Quero ver de perto os que aqui estão reunidos com o desejo de nos matarem, e com os quais devo travar sangrento combate. Deixa-me ver os meus inimigos, os partidários insensatos, os partidários insensatos do malicioso e vingativo filho de Dhritarâshtra. Quando Arjuna assim falou, Krishna fez parar o carro no meio do espaço entre os dois exércitos contrários (11). (11). Antaskârana, a ponte ou o caminho entre a terrena e a divina parte da mente. E viu Arjuna, que divididos em dois partidos bélicos, ali estavam seus parentes: pais e filhos, irmãos, cunhados, avós e netos, tios e sobrinhos, sogros e genros. Notou também que mestres, benfeitores, amigos e camaradas ali estavam, preparados para se combaterem reciprocamente (12).    (12). Também as forças inimigas são nossos amigos e mestres, pois por meio delas é que alcançamos a experiência; elas são os degraus pelos quais o homem sobe até o conhecimento perfeito de si mesmo. E quando Arjuna viu isso, entristeceu-se no seu nobre coração e, cheio de aflição e dó, proferiu estas palavras: Óh Senhor, vendo eu as faces e os vultos dos parentes que querem lutar uns contra os outros, sinto exaustos de forças os meus membros e sem sangue o meu coração. As minhas pernas tremem, os meus braços não me obedecem; a minha face está em agonia; a febre queima-me a pele; os pensamentos se confundem no meu cérebro; todo o meu corpo está em convulsões de horror; o arco cai das minhas mãos. Mais sinais vejo nos ares, e estranhas vozes ouço falar ao redor de mim; estou todo confuso e indeciso. Não vejo nada de bom em matar em guerra os meus parentes e meus companheiros. Não desejo a glória de vencedor, Oh! Krishna! Não aspiro nem ao reino nem aos prazeres, nem ao domínio; para que me serve o domínio, a riqueza ou a vida mesma? Todas estas coisas me parecem muito vãs e sem agrado, enquanto que aqueles para quem tudo isso seria desejável a própria  vida! Tutores, pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, primos, cunhados, mestres e companheiros vejo perante mim; não quero matá-los, embora eles tenham sede do meu sangue. Não quero matá-los, embora com isso obtivesse o reino dos três mundos, quanto mais pelo governo de um pedaço de terra! Se eu matar os meus consanguíneos, os filhos de Dhritarâshtra, que felicidade ou gozo poderia me alegrar! Se nós os derrotarmos, o remorso seria o nosso companheiro contínuo. Penso que devemos abster-nos de matarmos os nossos parentes e consanguíneos; porque como poderemos ser felizes, se exterminamos a nossa própria raça? Não podemos desculpar-nos dizendo que eles são tão depravados e sedentos de sangue, que não vêm mal algum em derramarem o sangue de seus parentes e amigos. Tal argumento não nos justifica, porque nós sabemos melhor que a matança dos parentes é grande pecado e horror. Tem-nos sido ensinado que, com o extermínio de uma geração, se destrói a virtude, e com a destruição da virtude e da religião de um povo, apoderam-se de toda a raça o vício e a impiedade. Onde reina a impiedade, corrompem-se também as mulheres nobres, e onde a mulher está corrompida, desaparece a pureza do sangue. A adulteração do sangue é precursora do esquecimento dos ritos devidos aos antepassados, e estes (se as doutrinas do povo são verdadeiras) (13), sendo privados dos sacrifícios de que se sustentam, caem das alturas celestes.    (13). A tradição, que prescrevia o respeito à família, aos parentes, aos instrutores, aos ritos, a instituição e deveres das castas (14), sem o que a alma cairia em condições   piores, antes e depois da morte. Terminam aqui as palavras do primeiro capítulo. Bhagavad Gita. A mensagem do Mestre. Tradução Francisco Valdomiro Lorenzo. Editora Pensamento. São Paulo -  Brasil. A seguir faremos um breve resumo, (14) do sistema de castas hindu. O Sistema de Castas (Varna) Indiano é dividido de acordo com a estratificação do corpo de Brahma, sendo quatro principais as seguintes: A cabeça (Brahmanes) representa os sacerdotes, filósofos e professores. Os braços (Xátria) são os governantes e lideranças sócio comunitárias. As pernas (Vaixás) são os comerciantes e os agricultores. Os pés (Sudras) são os artesãos, os operários e os camponeses. A "poeira dos pés", não foram originados do corpo de Brahma, por isso pertencem às castas, são os Dalit ou Párias, chamados de intocáveis a quem Mahatma Gandhi (1869-1948), que combateu com todas as suas forças esse injusto e ultrajante sistema social, deu o nome de Harijan ou os filhos de Deus. Esses são considerados "impuros", e ninguém ousa tocar-lhes. Os Harijan ou Párias. fazem os trabalhos considerados mais desprezíveis como: recolha de resíduos (lixo), dejetos das vacas, coveiros, talhantes, etc. Na sequência das invasões Mongóis na Índia (século XIII) milhões de Párias converteram-se ao Islamismo, uma religião que não os ostracizava (discriminava). Oficialmente, desde quando a Índia adotou uma Constituição (1950), o Sistema de Castas foi abolido em todo seu território. Contudo as tradições e a forte religiosidade ainda resistem as ações governamentais e transformações econômicas, que atingem a realidade presente dos indianos. Enquanto isso o regime tradicional já contabilizou mais de três mil classes e sub classes que organizam esse complexo sistema de estratificação social. Infelizmente as injustiças sociais estão presentes em todos os continentes e países, sejam eles ricos ou pobres. Vejamos na Europa os recentes imigrantes que chegam do continente africano, ilegalmente, sendo traficados por homens avarentos e corruptos, que por quantias ilícitas e extorquindo essas pessoas fazem-nas seguir viagem em botes, precariamente instalados ou em barcos sem nenhum aparelhamento de segurança. Esses indivíduos pobres, simples e humildes, enganados, em muitos casos com famílias; arriscam suas vidas na travessia pelo mar Mediterrâneo para chegarem à costa italiana ou suas ilhas transcontinentais da Córsega, Sardenha e Sicília. O inescrupuloso e temível líder líbio deposto Moama Kadaffi (1969-2011), quando vivo, fazia algo de positivo, pois sendo a Líbia uma rota ilegal de tráfico humano, mais acessível a viagem pelo mar, "negociava" com os governos europeus cotas de imigrantes africanos à viagem para países do Velho Mundo com um mínimo de segurança em embarcações vistoriadas por seu governo. Desse modo os incidentes em alto mar eram menos frequentes, e essas pessoas chegavam com documentos e em alguns casos passaportes, como garantia de entrada, para seus respectivos países de destino. Mas hoje, as coisas mudaram. A Líbia está fracionada em várias regiões governada por rebeldes de facções contrárias, não havendo consenso em coisas básicas e a população civil sofre com a fome, o medo e a insegurança com esse desgoverno; e o pior sem perspectiva de uma reconciliação nacional a curto ou médio prazo. Assim temos assistido pela TV, os noticiários relatarem as tragédias em que grande parte desses imigrantes africanos  morrem em alto mar; e lamentavelmente poucos os que são resgatados pela guarda costeira italiana, conseguindo chegar ao continente em segurança. E os que alcançam seu intento, quando não têm documentação pessoal são presos e repatriados. Uma condição claramente percebível de "casta social", pois ao chegarem acabam vivendo em "guetos" ou favelas coletivas nesses países, devido a não terem profissões e não balbuciando nada em suas línguas; como agravante às condições sócio profissionais entre os europeus está cada vez mais difícil. Exceção feita, talvez, a Alemanha, mas seu alto padrão científico não comporta trabalhadores desqualificados em seu mercado formal de emprego concorrido e restrito. Evidentemente esse grande contingente humano que chega não tem mão de obra habilitada, causando problemas sócios culturas e acirrando a xenofobia entre os europeus. Esse problema tem sido compartilhado por países da União Europeia, sendo uma questão humanitária ajudar esses africanos que fogem de seus territórios por causa das guerras tribais, fome, epidemias, endemias, desemprego, mortalidade infantil, desgovernos nacionais, levantes de rebeldes, terrorismo do Boko Haram no norte da África e outras situações. O mínimo que a Europa pode fazer é estender a mão para consolo e esperança desses pessoas e seus familiares, que buscam uma mínima condição social em lugares estranhos à seu habitat normal. Isso é uma ótima maneira de diminuir o carma negativo nacional, acrescentando méritos e beatitudes para as futuras gerações de seus párias. Outro exemplo gritante de "castas sociais" acontece atualmente no Estado de Israel. Segue a notícia no http://www1.folha. uol. com.br. "Uma manifestação anti racismo promovida por judeus etíopes no centro da capital de Israel, Tel Aviv, neste domingo (03/04/15) terminou em conflito com a cavalaria israelense, que resultou em mais de 50 feridos; 46 policiais e 7 manifestantes segundo a polícia, sendo que 26 manifestantes foram presos. O estopim do ato que reuniu mais de 3000 pessoas, foi a divulgação, na última semana, do vídeo de uma câmara de circuito fechado que mostrou policiais espancando um soldado negro de origem etíope. Dois soldados foram suspenso e estão sendo investigados por uso excessivo da força. Os participantes do protesto viraram um carro policial e atiraram pedras e garrafas contra integrantes da tropa de choque da polícia israelense que estavam na praça Rabin, no coração da cidade. Os policiais usaram canhões d'água e bombas de efeito moral pra dispersar a multidão. Segundo a TV de Israel foram usadas bombas de gás lacrimogênio; informação que a polícia não confirmou. "Chega desse comportamento da polícia. Não confiou mais neles; quando vejo um policial eu cuspo no chão, declarou um manifestante, que não se identificou ao Canal 2 de Israel antes da intervenção da polícia montada. "Nossos pais foram humilhados por anos. Não estamos dispostos a esperar mais tempo para ser reconhecidos como cidadãos iguais", afirmou outro dos participantes do protesto ao Canal 10. Dezenas de milhares de judeus etíopes foram levados a Israel em operações secretas nas décadas de 80 e 90, batizadas de Operação Moisés e Operação Salomão, para resgatá-los da fome e da instabilidade política na África. A comunidade etíope israelense, cerca de 135 mil dos mais de 8 milhões de habitantes do país, queixa-se de discriminação, pobreza, raras oportunidades no mercado de trabalho formal, dificuldades de inserção nas escolas e universidades, baixos remuneração em comparação aos demais israelenses. Tudo isso agravado por episódio de brutalidade policial como o registrado no vídeo. O premiê de Israel, Benyamin Netanyahu (1945-   ), pediu calma e prometeu conversar com o soldado espancado e com os atividades etíopes nesta segunda feira (04/05). "Todas as reclamações serão ouvidas, mas não há justificativas para o uso da violência, declarou Netanyahu". A ligação de Israel com a Etiópia como os leitores do Mosaico sabem é desde os tempos bíblicos. A rainha de Sabhá visitou o rei Salomão para conhecer sua afamada sabedoria divina e o esplendor de seu reino, recebendo desse presentes e riquezas; também o rei mandou construir em homenagem a esta visita um palácio para a rainha na Etiópia. Especula-se entre o misticismo da cabala e o esoterismo dos ortodoxos judeus que o original da Arca da Aliança, confeccionada pelo profeta Moisés, sob as ordens de D'us, relatadas no Êxodo 22:10-22 estão na Etiópia. Verossimilhança é confirmada pela Igreja Ortodoxa Etíope que assevera que a Arca da Aliança foi levada à Etiópia por Menelik I, filho do rei Salomão com Makeda, a famosa rainha de Sabhá. A Arca estaria guardada, secretamente, numa capela da Igreja de Santa Maria de Sion na cidade de Aksum, no norte da Etiópia, onde um único sacerdote pode vê-la. A narrativa desta tradição etíope, encontra-se no Kebra Negast, o Livro da Glória dos Reis da Etiópia. O rei etíope Haile Selassie (1892-1975), que governou a Etiópia de 1930 a 1974, segundo algumas hipóteses tem sua ascendência na Tribo de Judá, uma das doze tribos oriundas do Patriarca Hebreu Jacó. Assim as reivindicações dos judeus etíopes é justa, pois passaram-se mais de três décadas e continuam numa subliminar (não explícita) situação de "casta social". Em nome da tradição histórica, fraternidade e solidariedade humanas, eles precisam expandir suas conquistas tendo acesso aos bens materiais, direitos e obrigações que os demais judeus israelenses e árabes já tem assegura legalmente através (Constituição) das Leis Básicas de Israel. Os quase 1 milhão e meio de árabes israelenses, são um capítulo a parte nessa questão. Com menos voz, os árabes em território israelense vivem hoje um regime de segregação parecido com o apartheid; têm menos direitos políticos, cidadãos e sociais. Não votam em todas as eleições, vivem em zonas mais pobres e, em geral, ocupam posto de trabalho menos qualificados, em setores como construção, serviços (garçons, faxineiros, cozinheiros), e em menor número na agricultura. De um modo geral, os judeus em Israel ganham mais do que os árabes que vivem em território israelense, que, por sua vez, ganham mais que os árabes que vivem na Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Abraço. Davi.
 

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