Budismo. www.studybuddhism.com.br. Texto de
Alexander Berzin (1944 - ). MEDO: LIDANDO COM EMOÇÕES PERTURBADORAS. O medo é um
dos principais obstáculos para alcançarmos qualquer coisa positiva na vida.
Sendo um estado mental confuso, é baseado na falta de consciência,
especialmente no que diz respeito ao significado da sensação de segurança.
Entretanto, podemos nos livrar das garras paralisantes do medo através de uma
ampla gama de métodos preventivos e emergenciais. MÉTODO DE EMERGÊNCIA PARA TRATAR DO MEDO. No
budismo tibetano, a figura búdica feminina Tara representa o aspecto de um buda
que nos protege do medo. Na verdade, Tara representa os ventos-energia do corpo
e da respiração. Quando purificada, ela representa também a capacidade de agir
e alcançar os nossos objetivos. Este simbolismo sugere diversos métodos de
emergência de se trabalhar com a respiração e com as energias sutis para se
controlar o medo. Os métodos de emergência derivam de
práticas preparatórias (preliminares) que fazemos antes de meditar, de estudar
ou de escutar os ensinamentos. Por si próprias, estas práticas ajudam-nos a
acalmar em emergências, quando estamos com um medo extremo ou começamos a
entrar em pânico. Servem também como os primeiros passos que tomamos antes de
aplicarmos métodos mais profundos. 1. Contar
os ciclos de respiração com os olhos fechados, tomando como ciclo a inspiração
e a expiração, e focalizando na sensação da respiração ao entrar, ao ir para
baixo, ao expandir o abdomen e depois contrair e da expiração. Contar os ciclos de respiração com os
olhos meio-abertos, focalizados frouxamente, olhando para baixo para o
assoalho, tomando como o ciclo a expiração, uma pausa e a inspiração, com o
mesmo foco descrito acima e, um pouco depois, adicionar a consciência da
sensação das nossas nádegas a tocar na cadeira ou no chão. 2. Reafirmar a motivação ou o objetivo
que nós queremos alcançar (tornarmo-nos mais calmos) e o porquê. 3. Imaginar que a mente e a energia
tornam-se em foco como a lente de uma câmara fotográfica. 4. Sem contar a respiração, focalizar no
expandir e contrair da parte de baixo do abdomen consoante a respiração e
sentir que todas as energias do corpo estão a fluir harmoniosamente. O QUE É MEDO? O medo é um
desconforto físico e emocional que sentimos sobre qualquer coisa conhecida ou
desconhecida, sobre a qual sentimos que não temos nenhuma capacidade de
controlar, lidar ou levar ao resultado que desejamos. Queremos livrar-nos
daquilo que temos medo e, por isso, há uma forte repulsão. Mesmo se o medo for
uma ansiedade geral, sem um objecto específico do qual temos medo, mesmo assim
há um desejo forte de nos livrarmos dessa “coisa” indefinida. O medo não é
apenas raiva. No entanto, como a raiva, o medo envolve o exagero das qualidades
negativas do objeto do qual temos medo e um exagerar do “eu.” O medo adiciona à
irritação o fator mental de distinguir ('du-shes,
reconhecimento) que nós não podemos controlar ou lidar com a situação.
Prestamos então atenção (yid-la byed- pa) àquilo que temos medo e a nós
próprios, a partir desse modo de distinguir. Essa maneira de distinguir e de
prestar atenção pode estar correta ou incorreta. O MEDO É ACOMPANHADO PELO NÃO
APERCEBIMENTO. O medo é sempre acompanhado pelo
não-apercebimento (ignorância, confusão) de algum fato da realidade – que
entendemos, ou não, de uma maneira que contradiz a realidade. Vamos considerar
seis variações possíveis. (1) Quando temos medo de não poder
controlar ou lidar com uma situação, o nosso medo pode ser acompanhado pelo
não-apercebimento da causa e efeito e do modo de existir das coisas. Os objetos
conceptualizados (zhen-yul, objeto implícito) a partir do nosso modo
amedrontado de prestar atenção a nós próprios e àquilo a que temos medo são: Um
“eu” que existe de uma forma sólida que, apenas por seu próprio poder deveria
ser capaz de controlar tudo, assim como controlar que a nossa criança não se
venha a magoar uma coisa que existe solidamente. Por
si própria, sem ser influenciada por qualquer outra coisa, que deviamos ser
capazes de controlar apenas através dos nossos próprios esforços, mas que somos
incapazes de o fazer devido a uma falha pessoal. Estas são maneiras impossíveis de existir e
maneiras impossíveis em que a causa e efeito trabalham. (2) Quando temos medo
de não conseguir lidar com uma situação, o não-apercebimento que acompanha esse
medo pode ser sobre a natureza da mente e sobre a impermanência. Temos medo de
não conseguir controlar as nossas emoções ou a perda de uma pessoa amada e não
percebemos que as nossas experiências de dor e de tristeza são meramente o
surgir e a cognição de aparências. São impermanentes e vão passar, assim como a
dor de um dentista a brocar os dentes. (3)
O nosso medo de sermos incapazes de lidar com uma situação pode ser um medo de
não podermos lidar com ela sózinhos. Pode também envolver o medo de se estar
sózinho e da solidão. Pensamos que podemos encontrar alguém que possa aliviar a
situação. Aqui, os objetos conceptualizados são: Um “eu” que existe solidamente e que é
incompetente, inadequado, insuficientemente bom e sem nunca poder aprender uma “outra pessoa” que existe
solidamente, que é melhor do que eu e que me pode salvar. Esta é uma outra forma do
não-apercebimento de como os outros e nós existimos e do não-apercebimento da
causa e efeito. Pode ser correto que não tenhamos, neste momento, conhecimento
suficiente para lidar com algo, tal como com o nosso carro que avariou e outra
pessoa pode ter esse conhecimento e pode ser capaz de nos ajudar. No entanto,
isso não significa que, devido ao processo de causa e efeito, nós não possamos
aprender. (4) Quando estamos com medo de
alguém, por exemplo dos nossos empregadores, é porque não estamos entendendo as
suas naturezas convencionais. Os nossos empregadores são seres humanos, com
sentimentos, assim como nós. Eles querem ser felizes e não querem ser
infelizes, querem ser apreciados e não querem ser rejeitados. Eles têm vidas
fora do escritório que afetam o modo como eles se sentem. Se nós pudermos nos
relacionar com os nossos empregadores em termos humanos, mantendo-nos cientes
das nossas respectivas posições, nós teremos menos medo. (5) Similarmente,
quando temos medo das serpentes ou dos insetos, também não estamos entendendo
que eles são, assim como nós, seres sencientes que querem ser felizes e não
querem ser infelizes. De um ponto de vista budista, podemos não estar
conscientes de que eles sejam a manifestação atual de um fluxo mental
individual sem ter uma identidade inerente como uma espécie ou outra. Não
estamos conscientes de que eles poderiam ter sido nossas mães em vidas
passadas. (6) Quando estamos com medo de falhar ou da doença não estamos
conscientes das nossas naturezas convencionais como seres samsáricos limitados.
Nós não somos perfeitos e, naturalmente, vamos fazer erros e às vezes vamos
falhar ou ficar doentes. “O que é que você espera do samsara?” SENTIRMO-NOS
SEGUROS. Numa perspectiva budista,
sentirmo-nos seguros não envolve: Virarmo-nos para um ser omnipotente que nos
proteja, uma vez que a omnipotência é impossível. A necessidade de satisfazer
esse ser ou fazer ofertas ou sacrifícios a fim de receber proteção ou ajuda,
mesmo se esse ser poderoso nos pudesse ajudar de algum modo. Tornarmo-nos, nós
próprios, omnipotentes. Para nos sentirmos seguros, nós necessitamos: 1. De saber
do que temos medo e de reconhecer a confusão e o não-apercebimento subjacentes
ao medo. 2. De ter uma ideia realista do que significa lidar com aquilo que
tememos, especialmente em termos de nos livrar da confusão subjacente. 3. De
avaliar as nossas capacidades de lidar com aquilo que tememos, tanto no momento
presente como a longo prazo, sem as exagerar ou as diminuir, e aceitando o
estágio atual do nosso desenvolvimento. 4. De implementar, no momento, aquilo
que podemos fazer – se o estivermos a fazer, alegramo-nos; se não o estivermos
a fazer, precisamos de tomar a decisão de o fazer com o melhor das nossas
capacidades e, depois [de tomarmos essa decisão, precisamos de] tentar
realmente fazê-lo. 5. Se neste momento não conseguirmos fazê-lo completamente,
precisamos de saber como chegar ao ponto em que conseguiremos fazê-lo
completamente. 6. De ter como objetivo trabalhar para alcançar esse estágio de
desenvolvimento. 7. De sentir que estamos a seguir uma direção segura. Estas
sete etapas descrevem o que o budismo chama “seguir uma direção segura” (tomar
refúgio). Não é um estado passivo, mas um estado ativo de dar uma direção
segura às nossas vidas – a direção de trabalhar, de uma maneira realista, para
nos livrarmos dos nossos medos. Consequentemente, sentimo-nos seguros e protegidos
porque sabemos que estamos a seguir numa direção positiva e correta na vida que
nos vai eventualmente tornar capazes de nos livrarmos de todos os problemas e
dificuldades. UMA VISÃO REALISTA DE COMO LIDAR COM SITUAÇÕES QUE METEM MEDO. Precisamos de nos lembrar que: O que quer que
seja que aconteça àqueles a quem amamos ou a nós próprios é o amadurecer de uma
enorme rede de forças kármicas individuais, assim como forças históricas,
sociais e econômicas. Irão acontecer acidentes e outras coisas que não queremos
e nós não podemos proteger aqueles que amamos, não obstante o quanto cuidadosos
nós possamos ser e quanto nós os aconselhamos a terem cuidado. Tudo o que nós
podemos fazer é tentar dar bons conselhos e querer-lhes bem. Para superar os
acidentes e o medo, precisamos atingir a cognição não-conceptual da vacuidade.
No entanto, permanecer totalmente absorvido na vacuidade não é enterrar a
cabeça na areia. Não é fugir do medo, mas sim um método de eliminar o
não-apercebimento e a confusão que fazem com que o nosso karma amadureça em
coisas indesejáveis e que fazem com que nós tenhamos medo. Ao trabalharmos com
a cognição não-conceptual da vacuidade para purificar o nosso karma, ainda
continuaremos a experienciar acidentes e medo durante todo o caminho até ao
estágio da liberação do samsara (arhatship). Isto porque a natureza do samsara
é aos altos e baixos. O progresso não é linear; às vezes as coisas correm bem e
às vezes não. Mesmo quando alcançamos a liberação, como um arhat, vamos
continuar a experienciar acidentes e coisas que não queremos que aconteçam. Contudo,
nós vamos experienciá-las sem dor ou sofrimento e sem medo, porque estamos
livres de todas as emoções e atitudes perturbantes. É apenas nesse estágio de
arhatship que nós vamos conseguir lidar completamente e mais profundamente com
todos os nossos medos. Só quando alcançamos a iluminação é que já não
experienciamos acidentes ou acontecimentos de qualquer coisa indesejada. Só um
Buda não receia proclamar. Os seus ou as suas próprias realizações, de todas as
boas qualidades e habilidades. Os seus ou as suas próprias verdadeiras paragens
[cessações] de todas as obscurações que impedem a liberação e a iluminação. As
obscurações das quais os outros precisam se livrar para alcançarem a liberação
e a iluminação. As forças oponentes em que os outros precisam confiar para que
eles próprios se livrem delas. MÉTODOS PROVISIONAIS PARA TRATAR DO MEDO.Reafirmar
a tomada de uma direção segura na vida, através das sete etapas acima
indicadas. 1. Ao enfrentar uma situação assustadora, tal como um teste para o
cancer; imaginar a pior cena que pudesse vir a acontecer e imaginar o que
aconteceria depois e como nós iriamos lidar com isso. Isto ajuda a afugentar o
medo do desconhecido. 2. Antes de empreender algo, tal como chegar ao aeroporto
a tempo de apanhar o avião, ter várias alternativas preparadas de modo a que se
uma falhar, não ficarmos numa situação assustadora de não termos nenhuma outra
forma de alcançar o nosso objetivo. 3. Como Shantideva ensinou, se houver uma
situação assustadora e nós pudermos fazer algo por ela, porquê a preocupação;
faça apenas o que pode fazer. Se não houver nada que possamos fazer, então
porquê a preocupação; ela não ajudará em nada. 4. Uma vez que vamos
experienciar o medo e a infelicidade durante todo o caminho até à liberação,
precisamos de focalizar nas nossas mentes como se elas fossem tão profundas e
tão vastas quanto o oceano e, quando o medo ou a infelicidade surgirem, as
deixar passar como uma onda no oceano. A onda não perturba as profundidades
calmas e quietas do oceano. 5. Se nós tivermos acumulado suficiente força
kármica positiva (mérito) a partir das nossas ações construtivas, podemos
confiar que vamos continuar a ter um precioso corpo humano em vidas futuras. A
melhor proteção ao medo é o nosso próprio kárma positivo, embora precisemos de
ter consciência de que a natureza do samsara é andar aos altos e baixos. 6. Face
a uma situação assustadora, podemos encomendar ou executar um ritual pedindo
ajuda a um protetor do Dharma ou a uma figura búdica tal como a Tara ou o Buda
da medicina. Tais figuras não são seres omnipotentes que nos possam salvar. 6. Nós
pedimos e abrimo-nos à sua influência iluminadora ('phrin-las), por
forma que ela possa agir como um fator de amadurecimento das forças kármicas
das nossas ações construtivas, previamente cometidas e que, de outro modo, não
poderiam ter amadurecido. Um efeito mais seguro é que a sua influência
iluminadora aja como uma circunstância para amadurecer as forças kármicas das
nossas ações destrutivas previamente cometidas em inconveniências triviais que
poderiam, de outro modo, ter amadurecido em sérios obstáculos que iriam impedir
o sucesso. Assim, em vez de termos medo das dificuldades, nós damos-lhes as
boas-vindas como “consumidoras” das forças kármicas negativas. 7. Reafirmar as
nossas naturezas-búdicas. Nós temos os níveis básicos de consciência profunda
para compreender situações difíceis e assustadoras (percepção profunda qual
espelho), para reconhecer padrões (percepção profunda que iguala), para
apreciar a individualidade da situação (percepção profunda que individualiza),
e para saber como agir (que pode incluir o entendimento de que não há nada que
possamos fazer) (percepção profunda que realiza). Temos também o nível básico de
energia para realmente agir. 8. Reafirmar que ter a natureza búdica significa
que temos a base para todas as boas qualidades completamente dentro de nós. Em
termos psicológicos ocidentais, estas qualidades podem ser conscientes ou
inconscientes (podemos ter consciência delas ou não, e elas podem ser
desenvolvidas até níveis diferentes). Frequentemente, projetamos as qualidades
inconscientes como uma “sombra.” Porque o inconsciente é o desconhecido, a
tensão de não estarmos consciente dele manifesta-se como o medo do desconhecido
e, assim, o medo das nossas qualidades inconscientes desconhecidas. Assim,
podemo-nos identificar com o nosso lado intelectual consciente e ignorar ou
negar o nosso lado emocional e sensível desconhecido e inconsciente. Podemos
projetar o lado emocional e sentimental como uma sombra e termos medo de outros
que são muito emocionais. Podemos estar receosos do nosso próprio lado
emocional e sentirmos ansiedade de estarmos alienados dos nossos sentimentos.
Se, conscientes, nos identificarmos com o nosso lado emocional de sentimentos e
negarmos o nosso lado intelectual inconsciente, podemos projetar o lado
intelectual como uma sombra e ficarmos intimidados por aqueles que são
intelectuais. Podemos ter medo de tentar compreender o que quer que seja e
sentir ansiedade de ser um intelectual chato. Assim, precisamos de reafirmar
ambos os lados como completos dentro de nós, como aspectos das nossas naturezas
búdicas. Podemos visualizar os dois lados abraçando-se um ao outro, na forma de
um casal, como numa visualização tântrica, e sentirmos que nós próprios somos o
casal completo, e não apenas um membro do casal. 9. Reafirmar um outro aspecto
das nossas naturezas búdicas, isto é, que a natureza da mente está naturalmente
livre de todos os medos e, assim, experienciar que o medo é meramente um evento
efemero e superficial. 10. Reafirmar ainda um outro aspecto da natureza búdica,
que podemos ser inspirados por outros a ter coragem para enfrentar situações
assustadoras. CONCLUSÃO: Quanto estamos tomados pelo medo, se nos
lembrarmos desses métodos de lidarmos com ele, conseguiremos nos acalmar e
lidar de forma realista com qualquer situação que pareça amedrontadora. www.studybuddhism.com.br. Abraço. Davi
segunda-feira, 30 de março de 2020
domingo, 29 de março de 2020
DEVEMOS IMITAR O EXEMPLO DE CRISTO
Cristianismo.
BÍBLIA SAGRADA. Livro de Hebreus 12. DEVEMOS IMITAR O EXEMPLO DE CRISTO, que
foi perseverante em meio às provações. 1. Portanto, também nós, visto que temos
a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e
do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira
que nos está proposta. 2. Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus,
o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não
fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. 3.
Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos
pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa
alma. As provações revelam o amor paternal de Deus para com seus filhos. 4.
Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue,.
5. E estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco:
Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando
por ele és reprovado. 6. Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo
filho a quem recebe. 7. É para disciplina que perseverais – Deus vos trata como
filhos – pois que filho há que o pai não corrige? 8. Mas, se estais sem
correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não
filhos. 9. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos
corrigiam, e os respeitávamos. Não havemos de estar em muito maior submissão?
10. Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia. Deus,
porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua
santidade. 11. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de
alegria, mas de tristeza. Ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que
têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. 12. Por isso, restabelecei as
mãos descaídas e os joelhos trôpegos. 13. E fazei caminhos retos para os pés,
para que não se extravie o que é manco, antes, seja curado. 14. Segui a paz com
todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. 15. Atentando, diligentemente,
por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus. Nem haja alguma raiz
de amargura que, brotando, vos perturbe. E, por meio dela, muitos sejam
contaminados. 16. Nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por
um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. 17. Pois sabes também que,
posteriormente, querendo herdar a benção, foi rejeitado, pois não achou lugar
de arrependimento, embora, com lágrimas o tivesse buscado. O contraste entre
Sinai e Sião. 18. Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à
escuridão, e às trevas, e à tempestade. 19. E ao clangor (som estridente) da
trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não
se lhes falasse mais. 20. Pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até
um animal, se tocar o monte, será apedrejado. 21. Na verdade, de tal modo era
horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! 22. Mas
tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e
a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia. 23. E a igreja dos
primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos
justos aperfeiçoados. 24. E a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da
aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel. 25. Tende
cuidado, não recuseis ao que fala. Pois, se não escaparam aqueles que recusaram
ouvir quem, divinamente, os advertia sobre a terra. Muito menos nós, os que nos
desviamos daquele que dos céus nos adverte. 26. Aquele, cuja voz abalou, então,
a terra, agora porém, ele promete dizendo: Ainda uma vez por todas, farei
abalar não só a terra, mas também os céus. 27. Ora, esta palavra: Ainda uma vez
por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido feitas.
Para que as coisas que não são abaladas permaneçam. 28. Por isso, recebendo nós
um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo
agradável, com reverência e santo temor. 29. Porque o nosso Deus é fogo
consumidor. Seja constante o amor fraternal. Bíblia Sagrada. Livro de Hebreus
12. Abraço. Davi
sexta-feira, 27 de março de 2020
A ESPADA AFIADA DE PRAJNA
Budismo. www.budavirtual.com.br.
Texto de Judy Lief. A ESPADA AFIADA DE PRAJNA. A sabedoria, diz Judy Lief, não
é sobre respostas. Trata-se do poder de questionar, de desenvolver uma grande
curiosidade que corta toda a solidez e autoengano. Matéria traduzida por Marcos
Bauch do original em inglês publicado na Lions Roar disponível aqui → O Mahayana é conhecido como “o
grande veículo” do budismo porque é vasto e desafiador e aberto a todos. No
coração do caminho mahayana estão a compaixão e a sabedoria, ou prajna.
Para o praticante, o desafio é como juntar estes dois. Prajna é uma palavra sânscrita que,
literalmente, significa “melhor conhecimento” ou “saber melhor”. Prajna é
um natural borbulhar de curiosidade, dúvida e exploração. É preciso, mas, ao
mesmo tempo, é lúdico. O despertar de prajna aplica-se a todos
os aspectos da vida, até os mínimos detalhes. Nosso interesse inquisitivo
engloba todos os níveis, dos mais mundanos, como, por exemplo, ‘como eu ligo
este computador’, até níveis tão profundos quanto ‘qual é a natureza da
realidade?’ Prajna é
simbolizada de muitas maneiras: como um livro, um sol, um vaso com elixir, como
uma centelha catalítica. Uma das principais formas de simbolizar prajna é
como uma espada. Quando você pensa em uma espada, isso pode fazer você se
sentir um pouco desconfortável. Uma espada pode ser perigosa e, se você não
lidar com ela da forma correta, você pode se machucar. Então, simbolizar prajna como
uma espada indica o conhecimento que é ameaçador. Por que prajna é ameaçadora? Porque prajna é
o meio pelo qual percebemos a vacuidade, ou shunyata, ela destroi
nossa própria noção de realidade e os limites que colocamos em nossa visão de
mundo. Nos abrir para a imensidão e a profundidade de shunyata nos
obriga a abandonar completamente nossa mente mesquinha e nosso auto apego.
Muitos sutras lidam com o tema de prajna. Um dos mais
amados é a explicação extremamente concisa e elegante conhecida como o Sutra do
Coração, que é recitada diariamente pelos budistas de muitas tradições. Em
frases tão famosas e provocativas como: “Não tem olhos, nem ouvidos, nem nariz,
nem língua, nem corpo, nem mente (…) não tem sofrimento, nem a origem do
sofrimento, nem cessação do sofrimento, nem caminho … nem sabedoria, nem
realização”, O Sutra do Coração, passo a passo, de forma precisa e sistemática
– quase cirurgicamente – remove todas e quaisquer barreiras que nos separam da
viva experiência de shunyata. O fio afiado de prajna corta
em muitos níveis. No sentido mundano, prajna representa um amolar
da percepção e curiosidade. À medida que vamos seguindo nossas vidas, e
particularmente, quando entramos em um caminho espiritual, estamos sempre
fazendo perguntas. Estamos sempre tentando entender. Em vez de apenas aceitar
um entendimento superficial, pensamos profundamente e perguntamos: “O que eu
realmente entendo? Isso faz algum sentido”? Prajna tem essa
qualidade de dúvida criativa – não apenas aceitando coisas com base em
autoridade ou boatos, mas continuamente cavando mais fundo. Além de serem afiadas, as espadas têm pontas que são capazes de
perfurar. A espada pontuda e afiada de prajna perfura todos os
tipos de delusões, todos os tipos de auto engano, todos os tipos de falsos
entendimentos e falsas visões. Essa qualidade perfurante de prajna é
abrupta e imediata. Ela toma você de surpresa. Talvez você seja um praticante
novo que esteja explorando o dharma, estudando todas essas coisas novas e
interessantes e começando a praticar a meditação. De repente, prajna se
apossa de você e você se sente perfurado. Você foi pego. Prajna pegou
você no ato, seja no ato de auto absorção, de estar envaidecido, ou o ato de
mentir para si mesmo. Prajna é uma zona livre de mentiras.
Sempre que tentamos nos afastar do presente, da realidade imediata das coisas,
estamos nos colocando como um alvo para esta qualidade perfurante de prajna.
Podemos dizer que prajna é um mecanismo de
defesa. Se continuamos a ser cada vez mais arrogantes, em algum momento somos
perfurados pela prajna e tudo entra em colapso. Isso é bom,
mas, ao mesmo tempo, essa qualidade de ser perfurante e cortante pode ser vista
como uma ameaça. Nos sentimos ameaçados pela possibilidade de ser descobertos,
mas, uma vez que prajna é o nosso próprio insight intrínseco,
por quem estamos sendo descobertos? Por nós mesmos! Não é que outra pessoa vá
dizer: “Ah, eu conheço o seu jogo”. Através de prajna, no fundo nós
sabemos o que realmente está acontecendo: conhecemos o nosso próprio jogo. É
preciso esforço para continuar a nos auto enganar. Se não nos esforçarmos para
seguir nos enganando, fingindo que não sabemos o que está acontecendo, então,
mais cedo ou mais tarde, vamos ser perfurados. Você pode ver tudo isso como
uma pequena advertência: assim que você entra no caminho budista, começa a
praticar a meditação e estudar o dharma, você está recolhendo essa espada
de prajna. Agora que você está segurando essa coisa afiada, essa
espada que perfura e corta todas as viagens do ego, você tem que encarar isso.
A espada de prajna tem dois lados afiados, não
apenas um. É uma espada de dois gumes, afiada em ambos os lados, então, quando
você golpeia com prajna, ela corta de duas maneiras. Quando você
corta o engano, você também está cortando o ego que quer levar o crédito por
isso. Você é abandonado no meio do nada, mais ou menos. Quanto mais consciência [mindfulness] você desenvolve, mais
poderosa é a espada da prajna. Uma vez que você tenha essa espada,
ela corta todas as possibilidades de fuga. Mas não tem ninguém fazendo isso com
você – é sua própria inteligência e não um bicho-papão cósmico. O golpe
de prajna é como um hara-kiri. Enquanto você está
segurando a espada, você prepara o contragolpe, pronto para atacar – e aí
descobre que você se cortou em dois. Prajna nunca para de cortar.
Se você está podando uma planta, você pode dizer: “Vou apenas podar, podar,
podar e então vou ter esse galinho que voltará a crescer”. Mas prajna continua
cortando e cortando, até não restar mais nada, apenas esta espada, cortando e
cortando. Prajna não nos
permite criar uma credencial ou fazer de qualquer coisa uma fundamentação.
Podemos criar credenciais de qualquer coisa que fazemos, incluindo a
espiritualidade ou a tradição budista ou a prática da meditação. Poderíamos
usar qualquer uma dessas coisas na nossa maneira usual e convencional de
construir credenciais, construir identidades, tentando ser especiais.
Poderíamos dizer: “Agora sou uma pessoa espiritual que faz bla-bla-bla”. A
resposta de prajna é: “Bom, tudo bem. Você pode até dizer
isso, mas você sabe muito bem que isso não é bem assim. Você sabe que isso não
é lá tão sólido”. A espada da prajna corta nosso apego à uma
base sólida. Outra imagem para prajna é o
sol: o sol de prajna está iluminando nosso mundo. Se somos
curiosos, se estamos atentos, um tipo natural de iluminação acontece. Há luz
brilhando nos cantos escuros e uma sensação de estar em destaque, totalmente exposto.
O engraçado é que, na verdade, pensamos que podemos nos esconder. Como podemos
pensar isso? Como podemos pensar que, na verdade, não sabemos quem somos? Mas
muitas vezes tomamos a abordagem de não querer olhar, para nós mesmos e para
nossas vidas, muito de perto. Nós simplesmente olhamos para o outro lado e
seguimos em frente. No entanto, não há um canto onde o sol da prajna não
brilhe. Prajna é como ter um sol brilhando em todos os
lugares, nunca se pondo. Uma vez que você se abre
para prajna, para essa curiosidade fundamental, ela tende a
explodir em chamas. É como uma pequena centelha jogada em uma pilha de folhas
secas. Uma vez que apareça aquela pequena faísca, aquele pequeno insight,
aquela pequena suspeita de que sabemos mais do que achamos – ela explode, ela
consome tudo. Prajna é
representada iconograficamente pela deidade feminina Prajnaparamita e a deidade
masculina Manjushri. Prajnaparamita é retratada como uma bela deidade feminina
com quatro braços. Dois braços estão dobrados em seu colo, na postura clássica
de meditação, e seus outros dois braços seguram uma espada e um livro. Através
desses gestos, ela manifesta três aspectos da prajna: conhecimento
acadêmico, corte do engano e percepção direta da vacuidade. A divindade masculina personificando o conhecimento, Manjushri,
também é representado segurando uma espada. Às vezes, ele também segura um vaso
cheio com o elixir do conhecimento, que simboliza a visão intuitiva direta. A
espada é a atividade de prajna e o vaso é o aspecto receptivo
da aprendizagem. Às vezes Manjushri segura um livro e uma flor. O livro
simboliza o aprendizado acadêmico e a flor representa o desdobramento orgânico
de prajna, que, como uma flor, naturalmente se abre e floresce. Não
precisa ser forçada. Prajna tem a ver com cultivar a curiosidade da mente, cultivando uma
compreensão profunda que não é uma mera identidade, mas nos transforma
completamente. Como cultivar prajna? O processo de aprofundamento
da nossa compreensão é descrito como os três níveis de prajna, ou
as três prajnas. Que chamamos de ouvir, contemplar e meditar.
A PRIMEIRa PRAJNA: OUVIR. A primeira prajna, ouvir, é
baseada em estar aberto a novas informações, reunir conhecimento e realmente
tentar ouvir. Embora seja chamada de ouvir, além de escutar com seus ouvidos,
também inclui leitura e observação através de todos os nossos sentidos. Quando
você ouve o dharma ou ouve os ensinamentos, você deveria ser como um cervo na
floresta. Você ouve um ruído – passos pisando as folhas – e você não sabe se
esse barulho vem de um caçador ou de um leão de montanha. Naquele momento, seus
sentidos se aguçam completamente. Você está focado e pronto para correr do
perigo, se necessário. Você está absolutamente alerta e sintonizado com o meio
ambiente. Essa qualidade de alerta e atenção refinadas é a qualidade de ouvir.
Você precisa ouvir os ensinamentos como se sua vida dependesse disso. Essa é a
maneira correta de seguir a primeira prajna. A SEGUNDA PRAJNA: CONTEMPLAR. No entanto, neste ponto, vemos
o conhecimento como algo separado de nós, um objeto lá fora com o qual estamos
tentando lidar. Para aprofundar, recorremos à segunda prajna,
contemplar. Uma vez que tenhamos ouvido ou lido ou experimentado algo, o
contemplar significa realmente mastigar isso. Nós continuamente questionamos o
que ouvimos, olhando aquilo de ângulos diferentes, tomando tempo para
explorá-lo. Lembro do meu professor, Chögyam Trungpa Rinpoche, dizendo que, se
você realmente entender os ensinamentos, você deveria ser capaz de descrevê-los
para sua avó de um jeito que ela possa entender. Isso é muito desafiador – você
não pode simplesmente chegar marchando e apresentar sua conversa pré-moldada ou
suas muitas camadas de listas e termos. Você tem que ter mastigado as coisas e
realmente ter pensado sobre isso. Você precisa chegar ao ponto em que você pode
expressar os ensinamentos em suas próprias palavras, suas próprias imagens.
Você precisa encontrar sua voz, e isso leva tempo. Essa é a ideia de
contemplar. Estudar os ensinamentos budistas não é como ir
à escola, onde você tem uma aula depois da outra. Na tradição budista, você
pega uma ou duas coisas e você as estuda repetidamente. Você pega um tópico e
sempre volta nele, vez após vez. Você trabalha com ele toda a sua vida. Vez
após vez você retorna a apenas algumas idéias básicas e a cada vez sua
compreensão se aprofunda. O processo de contemplação é um relacionamento de
longo prazo, como o de um casal velhinho. Isso não acontece rapidamente; leva
tempo. A TERCEIRA PRAJNA:
MEDITAR. A terceira prajna é
chamada de meditar. Este é o ponto em que você estudou algo tão profundamente,
olhou-o tão completamente, que aquilo não está mais separado de você. É parte
de quem você é, encravado em seus próprios ossos até a medula. O prajna da
meditação significa que você realmente digeriu os ensinamentos. Não há
necessidade de tentar acessar o dharma de algum lugar, ou fazer um esforço para
reconstruí-lo, porque já está lá. Está em suas células e seu DNA. Ouvir é como colocar um pedaço de comida na sua boca. Contemplar é
como engolir essa comida e começar a digerir para ver se isso lhe dá indigestão
ou não. Meditar é quando você já digeriu e essa comida faz parte de você. Não
pode ser separada de você; Está completamente incorporada em seu ser. Você
reteve a essência e descartou qualquer coisa que seja irrelevante, o mesmo que
fazemos com a comida que comemos ou com o ar que respiramos. Todo o processo é
tão natural quanto comer. Normalmente pensamos que
conhecimento significa ter todas as respostas, mas a qualidade de prajna está
mais em ter todas as perguntas. A frase que Trungpa Rinpoche (1939-1987) usava
sempre era: “A pergunta é a resposta”. Estamos olhando na direção errada se
pensarmos que algum caminho ou algum professor ou algum livro ou alguma prática
fornecer-nos “a resposta definitiva”. O que deveríamos estar realmente
procurando é a pergunta definitiva. Poderíamos aprender a confiar na nossa
mente questionadora. Poderíamos aprender a confiar no nosso insight, sem
reduzi-lo ou enfiá-lo em nossas categorias convencionais. Na verdade, prajna não
pode ser classificada. Isso seria como tentar colocar o sol em um escaninho.
Simplesmente não é possível. Que conhecimento é esse que não
pode ser possuído, que não podemos segurar, que não é nossas credenciais, que
não é um objeto? Que conhecimento é esse que parece aparecer apenas quando não
estamos tentando alcançá-lo? Que conhecimento é esse que parece vir do nada?
Que conhecimento é esse que é inspirador, mas, ao mesmo tempo, ameaçador? Que
conhecimento é esse que nos desafia a reconhecer o que já sabemos, mas que
preferimos manter enterrado? Que insight penetrante é esse que
nos leva à experiência direta da vacuidade? Fundamentalmente, prajna é
uma grande mente questionadora. É um grande questionamento, nem mesmo mente. www.budavirtual.com.br. Abraço. Davi.
quarta-feira, 25 de março de 2020
UM SONHO ECOLÓGICO
Cristianismo. www.vatican.va. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL. QUERIDA AMAZÔNIA. Do Santo Padre
Francisco. Ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade. Capítulo III.
UM SONHO ECOLÓGICO. 41. Numa realidade cultural como a Amazônia,
onde existe uma relação tão estreita do ser humano com a natureza, a vida
diária é sempre cósmica. Libertar os outros das suas escravidões implica
certamente cuidar do seu meio ambiente e defendê-lo[46] e
– mais importante ainda – ajudar o coração do homem a abrir-se confiadamente
àquele Deus que não só criou tudo o que existe, mas também Se nos deu a Si
mesmo em Jesus Cristo. O Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar
dos nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá de prenda cada dia. Esta
é a primeira ecologia que precisamos. Na Amazónia, compreendem-se melhor as
palavras de Bento XVI, quando dizia que, «ao lado da ecologia da natureza,
existe uma ecologia que podemos designar “humana”, a qual, por sua vez, requer
uma “ecologia social”. E isto requer que a humanidade (…) tome consciência cada
vez mais das ligações existentes entre a ecologia natural, ou seja, o respeito
pela natureza, e a ecologia humana»[47].
Esta insistência em que «tudo está interligado»[48] vale
especialmente para um território como a Amazónia. 42. Se o
cuidado das pessoas e o cuidado dos ecossistemas são inseparáveis, isto
torna-se particularmente significativo lá onde «a floresta não é um recurso
para explorar, é um ser ou vários seres com os quais se relacionar»[49].
A sabedoria dos povos nativos da Amazônia «inspira o cuidado e o respeito pela
criação, com clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso. Abusar
da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e
do Criador, hipotecando o futuro»[50].
Os indígenas, «quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os
cuidam»,[51] desde
que não se deixem enredar pelos cantos das sereias e pelas ofertas
interesseiras de grupos de poder. Os danos à natureza preocupam-nos, de maneira
muito direta e palpável, porque – dizem eles – «somos água, ar, terra e vida do
meio ambiente criado por Deus. Por conseguinte, pedimos que cessem os maus-tratos
e o extermínio da “Mãe Terra”. A terra tem sangue e está sangrando, as
multinacionais cortaram as veias da nossa “Mãe Terra”»[52]. Esse sonho feito de água.
43. Na Amazônia, a água é a rainha; rios e córregos lembram veias, e toda a
forma de vida brota dela: «Ali, no pleno dos estios quentes, quando se diluem,
mortas nos ares parados, as últimas lufadas de leste, o termômetro é
substituído pelo higrômetro na definição do clima. As existências derivam numa
alternativa dolorosa de vazantes e enchentes dos grandes rios. Estas alteiam-se
sempre de um modo assombrador. O Amazonas referto salta fora do leito, levanta
em poucos dias o nível das águas. A enchente é uma paragem na vida. Preso nas
malhas dos igarapés, o homem aguarda, então, com estoicismo raro ante a
fatalidade incoercível, o termo daquele inverno paradoxal, de temperaturas
altas. A vazante é o verão. É a revivescência da atividade rudimentar dos que
ali se agitam, do único modo compatível com uma natureza que se excede em
manifestações dispares tornando impossível a continuidade de
quaisquer esforços»[53]. 44. A água encanta no grande Amazonas, que abraça e vivifica tudo
ao seu redor:
«Amazonas,
capital das sílabas d'água,
pai patriarca, és
a eternidade secreta
das fecundações,
chegam-te rios como pássaros»[54].
capital das sílabas d'água,
pai patriarca, és
a eternidade secreta
das fecundações,
chegam-te rios como pássaros»[54].
45. Além disso é a coluna vertebral que
harmoniza e une: «O rio não nos separa; mas une-nos, ajudando-nos a conviver
entre diferentes culturas e línguas»[55].
Embora seja verdade que, neste território, há muitas «Amazônias», o seu eixo
principal é o grande rio, filho de muitos rios: «Da altura extrema da
cordilheira, onde as neves são eternas, a água se desprende, e traça trémula um
risco na pele antiga da pedra: o Amazonas acaba de nascer. A cada instante ele
nasce. Desce devagar, para crescer no chão. Varando verdes, faz o seu caminho e
se acrescenta. Aguas subterrâneas afloram para abraçar-se com a água que desceu
dos Andes. De mais alto ainda, desce a água celeste. Reunidas elas avançam,
multiplicadas em infinitos caminhos, banhando a imensa planície (...). É a
Grande Amazônia, toda ela no trópico húmido, com a sua floresta compacta e
atordoante, onde ainda palpita, intocada pelo homem, a vida que se foi urdindo
nas intimidades da água (...). Desde que o homem a habita, ergue-se das
funduras das suas águas e dos altos centros de sua floresta um terrível temor:
a de que essa vida esteja, devagarinho, tomando o rumo do fim»[56]. 46. Os poetas populares, enamorados da sua imensa beleza,
procuraram expressar o que este rio lhes fazia sentir e a vida que ele oferece
à sua passagem, com uma dança de delfins, anacondas, árvores e canoas. Mas
lamentam também os perigos que a ameaçam. Estes poetas, contemplativos e
proféticos, ajudam a libertar-nos do paradigma tecnocrático e consumista que
sufoca a natureza e nos deixa sem uma existência verdadeiramente digna: «Sofre
o mundo da transformação dos pés em borracha, das pernas em couro, do corpo em
pano e da cabeça em aço (...). Sofre o mundo da transformação da pá em fuzil,
do arado em tanque de guerra, da imagem do semeador que semeia na do autômato
com seu lança-chamas, de cuja sementeira brotam solidões. A esse mundo, só a
poesia poderá salvar, e a humildade diante da sua voz»[57]. O grito da Amazónia. 47.
A poesia ajuda a expressar uma dolorosa sensação que muitos compartilhamos
hoje. A verdade ineludível é que, nas condições atuais, com este modo de tratar
a Amazónia, tanta riqueza de vida e de tão grande beleza estão «tomando o rumo
do fim», embora muitos pretendam continuar a crer que tudo vai bem, como se
nada acontecesse:
«Aqueles que pensavam que o rio fosse
uma corda para jogar, enganavam-se.
O rio é uma veia muito subtil sobre a face da terra. (…)
O rio é uma corda onde se agarram os animais e as árvores.
Se o puxarem demais, o rio poderia rebentar.
Poderia explodir e lavar-nos a cara com a água e com o sangue»[58].
O rio é uma veia muito subtil sobre a face da terra. (…)
O rio é uma corda onde se agarram os animais e as árvores.
Se o puxarem demais, o rio poderia rebentar.
Poderia explodir e lavar-nos a cara com a água e com o sangue»[58].
48. O equilíbrio da terra depende também
da saúde da Amazônia. Juntamente com os biomas do Congo e do Bornéu, deslumbra
pela diversidade das suas florestas, das quais dependem também os ciclos das
chuvas, o equilíbrio do clima e uma grande variedade de seres vivos. Funciona
como um grande filtro do dióxido de carbono, que ajuda a evitar o aquecimento
da terra. Em grande parte, o solo é pobre em húmus, de modo que a floresta
«cresce realmente sobre o solo e não do solo»[59].
Quando se elimina a floresta, esta não é substituída, ficando um terreno com
poucos nutrientes que se transforma num território desértico ou pobre em
vegetação. Isto é grave, porque, nas entranhas da floresta amazônica, subsistem
inúmeros recursos que poderiam ser indispensáveis para a cura de doenças. Os
seus peixes, frutos e outros dons sobreabundantes enriquecem a alimentação humana.
Além disso, num ecossistema como o amazónico, é incontestável a importância de
cada parte para a conservação do todo. As próprias terras costeiras e a
vegetação marinha precisam de ser fertilizadas por aquilo que o rio Amazonas
arrasta. O grito da Amazónia chega a todos, porque a «conquista e exploração de
recursos (...) hoje chega a ameaçar a própria capacidade acolhedora do
ambiente: o ambiente como “recurso” corre o perigo de ameaçar o ambiente como
“casa”»[60].
O interesse de algumas empresas poderosas não deveria ser colocado acima do bem
da Amazónia e da humanidade inteira. 49. Não basta prestar
atenção à preservação das espécies mais visíveis em risco de extinção. É
crucial ter em conta que, «para o bom funcionamento dos ecossistemas, também
são necessários os fungos, as algas, os vermes, os pequenos insetos, os répteis
e a variedade inumerável de micro-organismos. Algumas espécies pouco numerosas,
que habitualmente nos passam despercebidas, desempenham uma função censória
fundamental para estabelecer o equilíbrio dum lugar»[61].
E isto facilmente se ignora na avaliação do impacto ambiental dos projetos
econômicos de indústrias extrativas, energéticas, madeireiras e outras que
destroem e poluem. Além disso a água, que abunda na Amazônia, é um bem
essencial para a sobrevivência humana, mas as fontes de poluição vão aumentando
cada vez mais[62]. 50. Com efeito, além dos interesses econômicos de empresários e
políticos locais, existem também «os enormes interesses econômicos
internacionais»[63].
Por isso, a solução não está numa «internacionalização» da Amazônia[64],
mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave. Pela mesma
razão, «é louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade
civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive
utilizando legítimos sistemas de pressão, para que cada governo cumpra o dever
próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do
seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais»[65]. 51. Para cuidar da Amazónia, é bom conjugar a sabedoria
ancestral com os conhecimentos técnicos contemporâneos, mas procurando sempre
intervir no território de forma sustentável, preservando ao mesmo tempo o
estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes[66].
A estes, especialmente aos povos nativos, cabe receber, para além da formação
básica, a informação completa e transparente dos projetos, com a sua amplitude,
os seus efeitos e riscos, para poderem confrontar esta informação com os seus
interesses e com o próprio conhecimento do local e, assim, dar ou negar o seu
consentimento ou então propor alternativas[67]. 52. Os mais poderosos nunca ficam satisfeitos com os lucros que
obtêm, e os recursos do poder econômico têm aumentado muito com o
desenvolvimento científico e tecnológico. Por isso, todos deveríamos insistir
na urgência de «criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e
assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas
do paradigma tecno-econômico acabem por arrasá-los não só com a política, mas
também com a liberdade e a justiça»[68].
Se a chamada por Deus exige uma escuta atenta do grito dos pobres e ao mesmo
tempo da terra[69],
para nós «o grito da Amazónia ao Criador é semelhante ao grito do Povo de Deus
no Egito (cf. Ex 3, 7). É um grito desde a escravidão e o
abandono, que clama por liberdade»[70]. A profecia da contemplação. 53. Muitas vezes deixamos que a consciência se torne insensível,
porque «a constante distração nos tira a coragem de advertir a realidade dum
mundo limitado e finito»[71].
Se nos detivermos na superfície, pode parecer «que as coisas não estejam assim
tão graves e que o planeta poderia subsistir ainda por muito tempo nas
condições atuais. Este comportamento evasivo serve-nos para mantermos os nossos
estilos de vida, de produção e consumo. É a forma como o ser humano se organiza
para alimentar todos os vícios autodestrutivos: tenta não os ver, luta para não
os reconhecer, adia as decisões importantes, age como se nada tivesse
acontecido»[72]. 54. Além de tudo isso, quero lembrar que cada uma das diferentes
espécies tem valor em si mesma. Ora, «anualmente, desaparecem milhares de
espécies vegetais e animais, que já não poderemos conhecer, que os nossos
filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas
extingue-se por razões que têm a ver com alguma atividade humana. Por nossa
causa, milhares de espécies já não darão glória a Deus com a sua existência,
nem poderão comunicar-nos a sua própria mensagem. Não temos direito de o fazer»[73]. 55. Aprendendo com os povos nativos, podemos contemplar a
Amazónia, e não apenas analisá-la, para reconhecer esse precioso mistério que
nos supera; podemos amá-la, e não apenas usá-la, para que o amor
desperte um interesse profundo e sincero; mais ainda, podemos sentir-nos
intimamente unidos a ela, e não só defendê-la: e então a Amazônia
tornar-se-á nossa como uma mãe. Porque se «contempla o mundo, não como alguém
que está fora dele, mas dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a
todos os seres»[74]. 56. Despertemos o sentido estético e contemplativo que Deus
colocou em nós e que, às vezes, deixamos atrofiar. Lembremo-nos de que, «quando
não se aprende a parar a fim de admirar e apreciar o que é belo, não surpreende
que tudo se transforme em objeto de uso e abuso sem escrúpulos»[75].
Pelo contrário, se entrarmos em comunhão com a floresta, facilmente a nossa voz
se unirá à dela e transformar-se-á em oração: «Deitados à sombra dum velho
eucalipto, a nossa oração de luz mergulha no canto da folhagem eterna»[76].
Tal conversão interior é que nos permitirá chorar pela Amazônia e gritar com
ela diante do Senhor. 57. Jesus disse: «Não se vendem cinco
passarinhos por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa
despercebido diante de Deus» (Lc 12, 6). Deus Pai, que criou com
infinito amor cada ser do universo, chama-nos a ser seus instrumentos para
escutar o grito da Amazónia. Se acudirmos a este clamor angustiado, tornar-se-á
manifesto que as criaturas da Amazônia não foram esquecidas pelo Pai do céu.
Segundo os cristãos, o próprio Jesus nos chama a partir delas, «porque o
Ressuscitado as envolve misteriosamente e guia para um destino de plenitude. As
próprias flores do campo e as aves que Ele, admirado, contemplou com os seus
olhos humanos, agora estão cheias da sua presença luminosa»[77].
Por todas estas razões, nós, os crentes, encontramos na Amazónia um lugar
teológico, um espaço onde o próprio Deus Se manifesta e chama os seus filhos. Educação e hábitos ecológicos.
58. Assim, podemos dar mais um passo e lembrar que uma
ecologia integral não se dá por satisfeita com ajustar questões técnicas ou com
decisões políticas, jurídicas e sociais. A grande ecologia sempre inclui um
aspeto educativo, que provoca o desenvolvimento de novos hábitos nas pessoas e
nos grupos humanos. Infelizmente, muitos habitantes da Amazónia adquiriram
costumes próprios das grandes cidades, onde já estão muito enraizados o
consumismo e a cultura do descarte. Não haverá uma ecologia sã e sustentável,
capaz de transformar seja o que for, se não mudarem as pessoas, se não forem
incentivadas a adotar outro estilo de vida, menos voraz, mais sereno, mais
respeitador, menos ansioso, mais fraterno. 59. De facto,
«quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos
para comprar, possuir e consumir. Em tal contexto, parece não ser possível,
para uma pessoa, aceitar que a realidade lhe assinale limites; (…) não pensemos
só na possibilidade de terríveis fenómenos climáticos ou de grandes desastres
naturais, mas também nas catástrofes resultantes de crises sociais, porque a
obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm
possibilidades de o manter, só poderá provocar violência e destruição
recíproca».[78]. 60. A Igreja, com a sua longa experiência espiritual, a sua
consciência renovada sobre o valor da criação, a sua preocupação com a justiça,
a sua opção pelos últimos, a sua tradição educativa e a sua história de
encarnação em culturas tão diferentes de todo o mundo, deseja, por sua vez,
prestar a sua contribuição para o cuidado e o crescimento da Amazônia. Isso dá
lugar ao novo sonho, que pretendo partilhar mais diretamente com os pastores e
os fiéis católicos. www.vatican.va. Abraço.
Davi
FIQUEM EM CASA
Editor do Mosaico. Estou aqui em Brasília - Brasil
de "quarentena" em casa com minha esposa, cumprindo a determinação
das autoridade de isolamento social. Essa é a melhor maneira de contribuir à
que o covid 19 não se espalhe exponencialmente. A aproximação humana e o
ajuntamento são meios que nosso inimigo invisível usa para em poucos minutos
infectar milhares de pessoas. O Governo Federal decretou Estado de Calamidade
Pública em todo o território nacional. Assim poderá usar recursos do Tesouro
Nacional, além daqueles previstos na Lei Orçamentária Anual, excedendo o teto
de gastos públicos. Decreto Distrital estabelece a partir de 18 de março o
fechamento de cinemas, teatros, faculdades das redes de ensino público e
privada, academias, museus, zoológicos, parque ecológicos, urbanos e
vivenciais. Também boates, casas noturnas, shoppings centers, feiras populares
e clubes recreativos, cultos e missas de qualquer credo ou religião, além de
salões de beleza e centros esotéricos. Ônibus e metro funcionam com capacidade
reduzida e funcionários públicos foram dispensados para trabalharem em casa -
home office. Só serviços essenciais foram autorizados a abrir as portas:
farmácia, clínicas de saúde, entrega a domicílio delivery, Lojas comerciais
foram fechadas. Tudo para conter a expansão do coronavirus. Uma nova realidade
que estamos nos adaptando para o bem da coletividade. Cada um precisa fazer a
sua parte na confiança que a humanidade atravesse esse difícil momento com
a cabeça erguida e pronta para retomar seu percurso em nosso planeta. Toda essa
situação, leva-nos a refletir sobre em que ponto nós erramos e porque a
abrangência global da pandemia. Posso enumerar alguns pontos em que estamos
faltosos: nossa indiferença em relação as pessoas menos favorecidas, a
concentração de renda entre as famílias mais ricas, a violência física,
psicológica e social em relação aos mais vulneráveis. Nosso descaso em
questões da natureza - fauna e flora. O desmatamento de florestas. eliminação
de nascentes e paraísos ecológicos. Desapropriação de áreas de preservadas e
conservação ambiental para uso de extração mineral. Retirada dos índios de seus
habitats naturais, as densas florestas, para inseri-los em localidades
descontextualizadas com suas culturas. A pouca importância dada pelos governos
nacionais na questão do aquecimento global. Os polos terrestres ártico e
antártico se derretem em milhões de toneladas de gelos depositadas nos oceanos.
Os governos mais ricos (mais poluidores) poucas coisas fazem para impedir este
desastre planetário. As temperaturas globais sobem devido as emissões de gazes
efeito estufa, as consequências sofre o planeta, como derretimento de calotas
de gelo, condições meteorológicas extremas, secas e elevação dos mares, vão
ameaçar populações e meios de subsistências. Segundo dados de cientistas 5
milhões de pessoas morrem a cada ano devido a poluição do ar, fome e doenças
como resultado das mudanças climáticas e das economias como uso intenso do
carbono. Isso se os atuais uso de carbono continuar. Talvez a recente fúria da
natureza contra a humanidade tenha origem nesse desmando de autoridade e falta
de pudor à nossa irmã Natureza. Estabelecida inicialmente nos primeiros dias da
criação. O homem que acha ter o poder absoluto sobre sua irmã, Natureza, foi
terminado bem depois, no sexto dia. As hostes espirituais estão nos incitando a
tomar um novo posicionamento, diante do mundo físico e espiritual. Nossa
atitude de extermínio e esgotamento dos recursos naturais: Biológicos -
vegetais, animais e florestas. Hídricos - lagos, rios, mares e oceanos.
Minerais: minérios, rochas, areias e argilas. Energético: luz solar, ventos e
água. Precisa ser urgentemente abandonada e substituída nossa atitude
predatória em relação a criação divina. Destaco aqui o discurso do Presidente brasileiro
Bolsonaro, em 24/03, na contramão de todas as evidências científicas e
recomendações da OMS no combate ao covid 19. O mandatário nacional
criticou o isolamento social, o fechamento das escolas e comércio para combater
a pandemia. Afirmou que desde o início da pandemia o governo se preocupou em
conter a histeria e pânico, voltando a minimizar a gravidade do covid 19 a
uma gripezinha ou resfriadinho. Culpou a imprensa por espalhar o medo e o
terror entre a população nos noticiários. Num momento em que precisamos de
união nacional para concentrar as medidas para salvar vidas. Nosso Presidente,
polemiza introduzindo temas econômicos - comércio, emprego, renda e normalidade
social como precedência. Parece que não entendeu estarmos numa emergência mundial
(guerra) e vidas humanas tem prioridade em qualquer situação. Todas as nações e
seus respectivos governos tem tratado esta pandemia com seriedade e
responsabilidade. Graças a Deus o Ministério da Saúde no Brasil tem tido uma
atuação precisa dentro das orientação da OMS. Os governadores dos estados, tem
preferido medidas de isolamento social, pois elas são comprovadamente o caminho
para conter a expansão do coronavirus entre a população. A imprensa
televisada tem papel fundamental na informação confiável dessa pandemia local e
no mundo. Contágio pelo mundo. A Itália é um dos países que mais sofre. Já são
mais de 63.000 contagiados e 6.100 mortes. A Espanha tem índices altos de
infecções 47.600 e 3.400 mortes. O Iran é o país muçulmano como mais casos
23.049 contaminados e 2.900 mortes. A França com 20.200 e 860 mortes. Estados
Unidos infectados 55.500 e 800 mortos. Portugal 2.350 contagiados e 34 mortes.
Argentina 387 casos e 6 mortes. Coreia
do Sul 9.137 e 126 mortes. Alemanha 30.010 e 172 mortes. Reino Unido com 8.077
infectados e 442 mortes. A Rússia tem 486 contagiados e registrou a primeira
morte dia 23/03 segundo dados oficiais. O Brasil tem 2.300 infectados e 47
mortes até agora. Brasília - DF consta 160 contagiados e nenhuma morte até
aqui. Desses 6 em estado grave e 5 em estado gravíssimo internados em hospitais. Todas as nações tem tratado a pandemia como situação de calamidade
pública. Queridos leitores se não são profissionais em contato direto na luta
para combater a pandemia, por favor, FIQUEM EM CASA. Essa é a melhor maneira de
se proteger e também resguardar o seu próximo. ORAÇÃO. Mãe Divina a Amada. Tu
que tem consolo e conforto em seu seio de amor e compaixão. Socorre a todos os
seus filhos nessa hora. Clamamos o sangue de teu Filho Jesus Cristo sobre todas
as nações e suas respectivas famílias. Sobre os doentes do
coronavirus infectados ou internados. Sobre as família dos que perderam
seus antes queridos. Sobre os trabalhadores da saúde no mundo inteiro. Sobre os
governos nacionais para que estejam atentos e coordenados no combate dessa
pandemia. Que as medidas adotados surtam o efeito desejado, eliminando a
expansão da contaminação o quanto antes. Divina Providência dá paz e
tranquilidade aos corações de todos os que estão em "quarentena"
voluntária. Pacifica os que temporariamente não estão trabalhando, devido as
medidas adotadas. Sossega o coração dos empresários que tiveram que fechar suas
portas. Também aos que terão dificuldade em saldar as dívidas nos meses
posteriores. Mãe Amada orienta os governos à disponibilizar linhas de crédito a
pequenos e médios empreendedores. Além das pessoas física que não tiverem como
se manter nesses difíceis dias que enfrentamos. Virgem Santíssima e Imaculada
elimina todo medo e pânico. Dá coragem, força e disposição para enfrentarmos
esse penoso (dor e sofrimento) cenário internacional. Temos esperança e certeza
que em breve estaremos do outro lado do rio. Olhando para traz e
percebendo que cruzamos o tenebroso e turbulento rio. Porém, o coração
contrito, reconhecendo ser pura misericórdia e amor divino o livramento que
recebemos. Deus os abençoe queridos amigos. Protegendo e guardando de tudo o mal. Salmo 94,19 "Quando a angústia já controlava todo meu ser, teu consolo trouxe tranquilidade a minha alma". Abraço. Davi.
terça-feira, 24 de março de 2020
AS DEZ PRAGAS DO EGITO
Judaísmo. www.morasha.com.br. AS DEZ PRAGAS DO
EGITO. Dez calamidades castigaram o Egito antes da saída dos filhos de Israel
desta terra. Através delas, D-us demonstrou a toda humanidade o seu infinito
poder. O episódio das Dez Pragas, chamadas em hebraico de Makot Mitzrayim,
literalmente Pragas do Egito, relatado e elucidado na Hagadá de Pessach, consta
no Livro do Êxodo. Numa primeira leitura, a aparente razão para tais
calamidades foi a obstinada recusa do Faraó em obedecer a ordem do Eterno de
libertar Israel. No entanto, se este fosse o único propósito, um único golpe
devastador teria sido suficiente. Por que, então, D'us optou por dez calamidades?
Porque, através das Dez Pragas, o Eterno demonstrou não apenas ser O Criador do
Universo, mas Senhor Único e Absoluto dos Céus e da Terra, Juiz Supremo e Força
Regente da Natureza. No Egito, a contundente revelação da Onipotência Divina
fez com que mesmo os mais incrédulos entre os Filhos de Israel fossem obrigados
a reconhecer o ilimitado Poder Divino. O principal objetivo das múltiplas
pragas foi, portanto, demonstrar a Israel que D'us de seus ancestrais, D'us de
Avraham, Yitzhak e Yaacov, é D'us Único, Senhor sobre a natureza e sobre as
outras nações, e que não há outro além Dele. As pragas serviram também como o
grande castigo pela escravidão, tortura e campanha de genocídio perpetrada
pelos egípcios contra o Povo Judeu. Mas a Torá não é um simples compêndio de
história judaica e o judaísmo não permite celebrar o sofrimento alheio, ainda
que seja o dos inimigos de Israel. As Dez Pragas são relatadas na Torá e na
Hagadá não como celebração da Justiça Divina, mas como fonte de lições
espirituais. A Criação e as Dez Pragas. O primeiro dos Dez Mandamentos
afirma: "Eu sou o Eterno, teu D'us, que te tirou do Egito da casa da
escravidão", e não, "Eu sou o Eterno, teu D'us, que criou o
universo". Explicam nossos Sábios que, através deste primeiro mandamento,
D'us alerta os homens de que Ele não é apenas o Criador, mas está presente e
profundamente envolvido em cada detalhe da vida de cada uma de suas criaturas. O
conceito do Criador do Universo é extremamente abstrato e a Criação é um dos
grandes segredos do universo. O pouco que se sabe a respeito faz parte da
Cabalá e vem sendo transmitido, de geração em geração, para uns poucos
escolhidos entre os líderes espirituais do Povo Judeu. Em geral, o assunto é
inacessível, mesmo aos mais eruditos. Já o episódio das Dez Pragas pode e deve
ser aprendido por todos, inclusive as crianças. A razão é que, ainda mais do
que a Criação, as Dez Pragas demonstram a Onipotência Divina em Suas diferentes
manifestações. E, se durante a Criação, somente o próprio Criador estava
presente, quando dos acontecimentos no Egito, milhões de judeus e egípcios
testemunharam e vivenciaram os milagres realizados por D'us. E para os mais
céticos que não aceitam a Torá como a Palavra de D'us, há documentos egípcios e
evidências históricas e arqueológicas que atestam as terríveis catástrofes que
se abateram sobre o Egito, na época em que ocorreu o Êxodo. No decorrer das Dez
Pragas, o Eterno revelou Seu controle absoluto sobre a natureza. Utilizando-se
de pragas naturais, manifestas, no entanto, de forma sobrenatural, demonstrou,
que está simultaneamente na natureza e acima desta, pois Ele não é limitado por
qualquer elemento de Sua criação. E, não foi simples coincidência o fato de ter
optado por castigar o Egito com pragas relacionadas à natureza, pois, para os
egípcios, o rio Nilo, os animais e o próprio Faraó eram considerados
divindades. O Eterno quis demonstrar que nenhuma suposta divindade poderia
deter Sua vontade, pois que cada elemento da natureza era Seu servo. D'us
queria tirar dos judeus qualquer vestígio de paganismo porventura assimilado em
sua longa permanência naquela terra. Além do mais, no Egito, idolatrava-se a
matéria - a abundância e a fartura - e, ao transformar o Nilo em sangue, ao
destruir as colheitas e os bens egípcios, D'us provou que a Terra inteira Lhe
pertence e que tudo que o homem possui advém Daquele que a tudo criou. Os
castigos que se abateram sobre todo o Egito não atingiram os judeus que lá
viviam ou a terra de Goshem onde habitavam. Ao fazer esta distinção entre o
opressor e o oprimido, manifestou-se no mundo terreno a Justiça Divina. Foi
revelado ao homem que todos seus atos têm consequências, sejam bons ou ruins.
As pragas revelaram, também, o poder e eficácia da oração e da ligação com
D'us, pois foram as orações de Moshê que puseram fim a cada uma das
pestilências. Por que dez? As Dez Pragas castigaram o Egito durante
praticamente um ano, iniciando-se no fim do mês de Iyar e terminando apenas no
dia 15 de Nissan. As primeiras sete pragas constam no Livro do Êxodo, na porção
Va'eirá (7:19-9:35), e as últimas três na porção Bô (10:1-12:33). A sequência
de eventos que antecedem as pragas tem início quando o Faraó se recusa a
obedecer à ordem Divina transmitida por Moshê e Aharon: "Envia Meu povo
para que festejem para Mim no deserto" (5:2). O rei do Egito responde com
insolência: "Quem é o Eterno para que eu escute Sua voz e deixe partir o
Povo de Israel? Não conheço o Eterno e também não despacharei Israel"
(5:2). E, num gesto desafiador, decide afligir ainda mais os Filhos de Israel.
Ordena a seu povo que não mais entreguem aos judeus a palha necessária para a
confecção dos tijolos; a partir de então lhes caberia o esforço adicional de
buscar a matéria-prima para cumprir suas cotas diárias. O não-cumprimento era
punido com tortura física. Seu sofrimento tornara-se ainda mais insuportável e,
ao ser questionado por Moshê, D'us responde: "Agora verás o que farei ao
Faraó". Nosso profeta e toda a humanidade iriam testemunhar como o Eterno
redimiria o Seu povo. A pergunta, porém, permanece: Por que, ao invés de
atingir os egípcios com um único golpe, D'us optou por um processo gradual e
crescente? Por que foram necessárias Dez Pragas? Segundo nossos Sábios, são
inúmeros os motivos. O Midrash revela que cada praga foi consequência direta de
uma ação específica e equivalente mau-trato, tortura ou crueldade perpetrados
pelos egípcios contra os Filhos de Israel. A Justiça Divina determinara que os
egípcios deveriam ser punidos "medida por medida" pelas crueldades
cometidas contra Seu Povo. Além do mais, a sucessão de pragas e os avisos que
as precederam eram necessários para dar ao Faraó a oportunidade e o tempo de
reconsiderar suas ações, arrependendo-se da crueldade perpetrada contra os
judeus. Somente após o rei do Egito ter "endurecido seu coração" e,
repetidamente, se recusado a libertar o povo judeu, as portas do arrependimento
finalmente se fecharam. Maimônides explica que, às vezes, o castigo que D'us
impõe a quem cometeu um grave pecado é privá-lo da possibilidade de se
arrepender. Este é o significado da expressão usada na Torá, "Endurecerei
o coração do Faraó". As Dez Pragas formam um sistema coerente, de
intensidade crescente. A cada recusa do Faraó em atender a ordem Divina de
deixar Israel partir, uma nova calamidade se abate sobre o Egito. As primeiras
nove são divididas em três séries, de três pragas cada, que se sucedem de
acordo com um plano. Cada série aumenta em progressão em direção a um clímax,
sendo que a última serve de prelúdio para a décima praga - a Morte dos
Primogênitos. Em cada série D'us manifesta Seu poder, mudando o curso das leis
da natureza em uma das três esferas da Criação - a terra, a atmosfera e os
céus. Segundo Rabi D. Isaac Abravanel, um dos objetivos das pragas era
convencer o Faraó, seu povo e, consequentemente, toda a humanidade de três
verdades fundamentais sobre D'us: Sua Existência, Sua Divina Providência - ou
seja, que a Mão de D'us está presente em tudo o que acontece na vida dos homens
e das nações - e Sua Onipotência. Por isto, a primeira praga de cada grupo é
precedida por uma declaração que caracteriza um desses princípios. A
primeira série: sangue, rãs e piolhos. "Assim falou D'us: 'Nisto
saberás que sou o Eterno'" (7:17). A afirmação indica que o objetivo da
primeira série é estabelecer a inegável existência de um D'us Único, Criador
Absoluto e Senhor do Universo. A primeira praga atinge o Nilo - considerado
pelos egípcios uma divindade. Rashi, o comentarista clássico da Torá, explica
que, como havia escassez de chuvas no Egito, a principal fonte de água era este
rio que, ao extravasar, irrigava a terra. Por isso os egípcios o consideravam a
divindade responsável pelo seu sustento. Quando, seguindo a ordem Divina,
Aharon golpeia o Nilo com seu cajado, não só suas águas, mas as de todo o
Egito, transformam-se em sangue. A primeira praga veio para demonstrar aos
egípcios que sua "divindade, o rio", não era capaz de deter a Vontade
do Criador. O Midrash explica que, para os judeus, a transformação das águas do
Nilo em sangue foi muito significativa, pois compreenderam que D'us estava
punindo os egípcios por terem jogado nas águas daquele rio o sangue de seus
filhos. Pela segunda vez o Faraó se recusa a libertar Israel. D'us, então,
ordena a Aharon que estenda novamente a mão sobre o Nilo. Rãs, cujo coaxar
enchia os ares, emergem do rio e se multiplicam incessantemente, invadindo as
casas egípcias. A segunda praga era a prova de que não só o Nilo não conseguira
deter a Vontade do Criador, mas que, ao produzir as rãs, o próprio rio estava a
Seu serviço. Uma terceira praga castiga o Egito, após nova recusa do Faraó em
se dobrar perante D'us. Após Aharon ter golpeado o pó com o cajado, seguindo a
ordem Divina, a terra de todo o Egito se transforma em piolhos e pequenos
insetos, que picam mortalmente os egípcios e seus animais. Foi no decorrer
desta terceira praga que os feiticeiros egípcios alertam seu rei que Moisés e
Aharon não eram magos nem tampouco eram "as ocorrências" fruto de
algum tipo de feitiçaria. Eram enviados de D'us. Segundo o Midrash, foi no
final dessa praga que os judeus pararam de trabalhar para os egípcios. Esta
primeira série de pragas foi lançada por Aharon e não por Moshê, porque este
tinha um débito de gratidão com as águas do Nilo e com a terra do Egito. Quando
Moisés nasceu, sua mãe, para salvá-lo do édito infanticida egípcio, colocou-o
numa cesta sobre o rio e as águas o mantiveram vivo, conduzindo-o até Batia,
filha do Faraó, que o resgatou. A terra também o ajudou, pois encobriu o corpo
de um algoz egípcio, que Moshê matara para salvar a vida de um judeu. D'us,
portanto, incumbiu Aharon de lançar as primeiras três pragas, porque, como Ele
próprio afirma, "as águas que cuidaram de ti quando foste lançado ao
Nilo...e a terra que veio em teu auxílio quando mataste o egípcio...não é justo
que por ti sejam amaldiçoadas". Segunda série: animais selvagens, peste
e sarna. Iniciando o segundo grupo,
a quarta praga é precedida pela declaração Divina: "Para que saibas que
sou o Eterno no meio da terra" ( 8:18). Por todo o Egito, bandos de
animais selvagens, cobras e escorpiões atacam os egípcios, mesmo dentro de seus
lares, e destroem tudo que encontram pelo caminho. Mas, como D'us afirmara,
"Separarei nesse dia a terra de Goshem", nenhum destes animais
adentrou na terra onde habitavam os judeus. Segundo Rashi, numa clara
demonstração de Seu Poder, mesmo os judeus que estavam em outros lugares não
foram atacados. A quinta praga é uma peste fatal que mata os animais domésticos
dos egípcios que pastavam nos campos, inclusive os carneiros, que eram
considerados um de seus deuses. No entanto, nenhum animal de qualquer judeu foi
atingido. Segundo Rabi Alkabetz, a partir daquele momento o sofrimento egípcio
se tornou tão intenso, que até o Faraó já estava disposto a ceder. D'us, no entanto,
endureceu-lhe o coração, pois queria que os Filhos de Israel vissem a
totalidade e abrangência de Sua Força e aprendessem a Nele ter fé. A sexta
praga que atinge os egípcios e seus animais, geralmente chamada de sarna, era
na realidade, bolhas que se transformavam em úlceras, causando grande
sofrimento físico. Mesmo os feiticeiros egípcios foram atingidos pela doença. Esta
segunda série de pragas foi uma clara demonstração de que a Providência Divina,
a Mão de D'us, está presente em tudo o que acontece. O fato de nenhum judeu ter
sido atingido era mais uma prova de que D'us controla tudo que ocorre no mundo,
inclusive o comportamento dos animais e as aflições físicas. O terceiro
grupo: granizo, gafanhotos e escuridão. O objetivo desta última série de
pragas, anunciado pela declaração "Para que saibas que não há ninguém como
Eu, em toda a Terra" (9:14), foi demonstrar o infinito poder de D'us. Um
outro propósito para a ação Divina é revelado por Moisés, quando informa ao
Faraó que, apesar de merecer morrer, sua vida fora poupada para que ele
reconhecesse a grandeza de D'us Único e Verdadeiro. "Para que Meu Nome
seja anunciado em toda a terra" (9:16), afirma D'us. E para que fosse
transmitido, de geração em geração, o relato do que estava ocorrendo no Egito,
ou seja, a manifestação explícita de Sua Vontade. Na sétima, uma violenta
tempestade de granizo assola o país. O mundo nunca vira algo igual. Muito menos
o Egito, onde, devido à escassez de chuva, este fenômeno meteorológico era
desconhecido. Havia um aspecto sobrenatural nesta praga: o granizo vinha
acompanhado de fogo. Dois elementos opostos - o fogo e a água - conciliados a
fim de mostrar a Onipotência Divina. Antes da sétima praga, D'us alertou os
egípcios para procurarem abrigo durante a chuva de granizo, pois, nenhum ser
vivo e nenhum vegetal escapariam incólumes. E os que acreditaram nas palavras
de Moisés procuraram abrigo, tanto para si como para seu gado. Na oitava praga,
um vento do leste trouxe em seu bojo nuvens de gafanhotos, que escureceram os
céus. Os insetos devoraram cada folha verde que, porventura, sobrevivera ao
granizo e às pragas anteriores. Invadiram os lares e os campos egípcios e
trouxeram ruína total ao país, já praticamente destruído pelas catástrofes
anteriores. Pela primeira vez, o Faraó reconhece seus erros, mas ainda
permaneceu firme na determinação de não deixar partirem os judeus. Quando a nona
praga se abateu sobre o Egito, uma "escuridão tangível",
impenetrável, tão densa que apagava qualquer luz, envolveu o país por seis
dias. Mais uma vez, um fenômeno natural - a escuridão - se manifestou de forma
sobrenatural, pois enquanto nos lares egípcios não era possível acender uma
luz, nos lares judaicos, havia luz abundante. Os egípcios, tomados de pavor,
permaneceram imóveis onde se encontravam. Ao descrever a praga, a Torá menciona
"escuridão e trevas": escuridão no sentido físico e trevas no sentido
espiritual. A Torá nos ensina que esta praga refletia o egoísmo prevalente no
Egito: "Não via nenhum homem a seu irmão", pois cada egípcio via
somente a si próprio; assim aconteceu durante a praga da escuridão, ninguém se
mexeu para socorrer o outro, pois a ajuda mútua não fazia parte de sua visão de
mundo. A décima praga: a morte dos primogênitos egípcios. A décima e
última praga é amplamente anunciada por Moshê, que alerta o Faraó que, por
volta da meia-noite, D'us, Ele Próprio, passaria sobre o Egito e golpearia
todos os primogênitos - filhos de homens ou de animais. Era o clímax de todas
as anteriores. Seu aspecto de punição é imensamente mais severo do que o das
outras, cujo principal objetivo era incutir nos egípcios a fé em D'us. Durante
esta praga, D'us, Juiz Supremo, executou o castigo, "medida por
medida", pelo decreto de extermínio que o Egito lançara contra o Povo
Judeu. O Faraó, que emitira a ordem de que todo menino judeu fosse afogado no
Nilo, e os egípcios, que a haviam executado, presenciaram a morte de seus
primogênitos na noite que antecedeu o Êxodo. À meia-noite, todos os
primogênitos egípcios, inclusive o filho do Faraó, faleceram a um só tempo. A
única exceção foi o Faraó, ele próprio um primogênito. D'us poupou-lhe a vida
porque, às margens do Mar de Juncos, no episódio da abertura do mar, ele ainda
iria testemunhar, uma vez mais, o ilimitado poder de D'us. (V. Morashá - edição
48 - abril de 2005). Naquela fatídica noite nenhum judeu faleceu; D'us
postergou até mesmo a morte dos que haviam terminado seu tempo na Terra.
Demonstrava assim, mais uma vez, a clara distinção entre os oprimidos e os
opressores. Naquela noite, os Filhos de Israel vivenciaram uma nova dimensão da
Justiça Divina e tiveram a certeza que D'us Misericordioso os libertara da
escravidão. Uma dimensão mística das Dez Pragas. A Cabalá revela que a alma humana é composta
de dez pontos de energia - dez características - que correspondem aos dez
fluxos de Energia Divina, denominados de Sefirot, na Cabalá. Ao ser humano foi dado
o livre arbítrio, a opção de utilizar estas características tanto para o bem
quanto para o mal. O antigo Egito - sociedade baseada na idolatria, imoralidade
e total falta de respeito pela vida e dignidade humana - representa a corrupção
de cada uma das Dez Sefirot. Por este motivo, foram dez as pragas que atingiram
o país. As calamidades foram fruto inevitável da crueldade egípcia,
conseqüências espirituais que se manifestaram fisicamente. Por outro lado,
ensina a Cabalá, os Dez Mandamentos, outorgados 50 dias após o Êxodo do Egito,
no Monte Sinai, são o "antídoto" das Dez Pragas. Pois se as Pragas
refletiram a perversão dos dez atributos da alma humana, os Dez Mandamentos
refletem sua retificação espiritual. O relato das Dez Pragas é fonte de
inúmeras lições espirituais. A principal é que a corrupção espiritual, a
maldade e a injustiça criam entidades espirituais negativas que acabam
voltando-se contra seu próprio criador. Em contraponto, os Dez Mandamentos nos
revelam que a ligação com D'us, a bondade e a justiça são o caminho para que a
alma humana se manifeste em toda a sua harmonia e esplendor, canalizando
bênçãos naturais e sobrenaturais para este nosso mundo físico. www.morasha.com.br. Abraço. Davi
Bibliografia: Hagadá de Pessach, com comentários do Talmud e literatura rabínica,
Fundação J. Safra, 2007. The Call of the Torah - Shemot, Rabbi Elie Munk,
Artscroll Mesorah Series. The Sepharadic Heritage Haggadah, The Sutton Edition,
Rabinos Elie Mansur, David Sutton e Hillel Yarmove, Art Scroll Sepharadic
Mesorah Series, 2006
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