segunda-feira, 31 de julho de 2017

DIREITO COMERCIAL ISLÂMICO.

Islamismo. Texto de Zuhra Mohd El Hanini. NOÇÃO DE DIREITO ISLÂMICO. DIREITO COMERCIAL ISLÂMICO. COMPRA E VENDA. O ISLAM É UMA RELIGIÃO que regula a relação entre o Criador e suas criaturas mediante a prescrição de ritos de adoração que elevam a alma e purificam o coração, e também, organiza as relações sociais de todo o tipo, como por exemplo a compra e venda, o matrimônio, a herança e as penalidades, com o fim de que os homens tenham uma vida de irmandade cheia de segurança, justiça e compaixão. Os contratos são de três classes: 1. CONTRATOS BILATERAIS, como as compra e vendas, as locações de bens e serviços e algumas sociedades, por exemplo. 2. CONTRATOS PURAMENTE GRATUITOS, como as doações, as caridades etc. 3. CONTRATOS QUE PODEM ser onerosos ou gratuitos, como os empréstimos de consumo, por exemplo. A compra e venda pertence à primeira classe de contratos. Trata-se de contratos bilaterais, onde uma das partes se obriga a transferir à outra a propriedade de uma coisa, e esta por sua vez, a pagar por ela um preço determinado em dinheiro ou bens. Essas operações possibilitam às pessoas satisfazerem seus interesses mediante a aquisição de qualquer bem que outro possua, pagando por ele um preço estipulado em dinheiro. Os juristas islâmicos são unânimes quanto à classificação da compra e venda como um tipo de negócio lícito e permitido pela Shariah, com estipulação expressa no Alcorão Sagrado em 2,275 "Deus consente o comércio e veda a usura". Se tal espécie de negócio não fosse regulado e legalizado por Deus através da Shariah, ocorreria o caos na humanidade, pois as pessoas recorreriam à saques, roubos, frandes e inclusive à guerra para tomar posse do que os outros possuíssem. No entanto existem condições básicas para que a compra e venda seja válida  conforme a Shariah, tais condições são: 1. O CONSENTIMENTO DE AMBAS as partes, salvo quem seja obrigado por direito. 2. A CAPACIDADE LEGAL de ambos, ou seja, que tenham aptidão para cumprir os preceitos religiosos e discernimento. 3. QUE O BEM OU O OBJETO da operação seja lícito. Não está permitido pela Shariah comprar ou vender bebidas alcoólicas, carne suína etc. 4. QUE O OBJETO SEJA propriedade do vendedor e este goze de autorização para vendê-lo no momento do contrato. 5. QUE A COISA, OBJETO do contrato, seja determinada, seja através da visualização da mesma ou de sua descrição. 6. QUE O PREÇO DA COISA, objeto do contrato, seja possível de entregar pelo vendedor ao comprador. Não se pode vender, por exemplo, peixes que se encontrem no mar ou aves que se encontrem no ar, pela existência de risco no cumprimento do estipulado. Todas estas condições são necessárias para evitar que alguma das partes especule com o aleatório da operação em prejuízo da outra. As proibições na legislação islâmica são de duas classes: 1. PROIBIÇÕES REFERIDAS A DETERMINADOS elementos, como por exemplo, à venda de carne do animal morto por uma causa natural, do sangue, da carne suína e das imundícies. Alcorão Sagrado 5,3 "Estão vos vedados: a carniça, o sangue, a carne de suíno e tudo o que tenha sido sacrificado com a invocação de outro nome que não seja o de Deus; os animais estrangulados, os vitimados a golpes, os mortos por causa de uma queda, ou chifrados, os abatidos por feras, salvo se conseguirdes sacrificá-los ritualmente". 2. PROIBIÇÕES REFERIDAS A determinadas ações, tais como a usura (agiotagem - juros excessivo), os jogos de azar, as apostas, os monopólios (carteis, trustes), a fraude, as vendas aleatórias e demais ações injustas que levam a apropriação ilícita dos bens alheios. Alcorão Sagrado 5,90-91 "Ó fieis, as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação as pedras e as adivinhações com setas. são manobras abomináveis de Satanás. Evitai-os, pois, para que prospereis. Satanás só ambiciona infundir-vos a inimizade e o rancor, mediante as bebidas inebriantes e os jogos de azar, bem como afastar-vos da recordação de Deus e da oração. Não desistireis, diante disso? O Islam permitiu todo acordo que acarrete benefício lícito. Segundo esta premissa, proibiu as operações comerciais cujo objeto sejam prestações especulativas, incertas, prejudiciais para os comerciantes em geral, fraudulentas, enganosas, nocivas para a saúde psicofísica das pessoas e também todas aquelas que gerem ódio e rancor entre as partes. As compras e vendas baseadas na incerteza estão proibidas pela Shariah, uma vez que se trata de falta de conhecimento seguro, claro e evidente da contratação e seu objeto. A incerteza e o azar nas relações contratuais estão proibidas, pois provocam a ruína muitas pessoas, a quebra de grandes comércios, o enriquecimento ilícito e injusto por parte de algumas pessoas e o empobrecimento injusto de muitas outras. Deus disse no Alcorão Sagrado 5,91 "Satanás só ambiciona infundir-vos a inimizade e o rancor, mediante as bebidas inebriantes e os jogos de azar, bem como afastar-vos da recordação de Deus e da oração. Não desistireis, diante disso?. As vendas que contém algum tipo de incerteza acarretam dois grandes prejuízos para a sociedade: 1. A APROPRIAÇÃO DOS BENS ALHEIOS ilicitamente, pois nestas operações uma das partes sempre se vê prejudicada, sem obter nenhuma ganância enquanto a outra se vê favorecida, sem sofrer nenhuma perda pois é mais que uma aposta e uma forma azarosa de contratar. Como exemplo destas operações, podemos citar a venda que se concretiza quando o vendedor diz ao comprador: "Jogue esta pedra sobre a mercadoria e o objeto sobre a qual ela cair lhe venderei por tal valor". Esta operação não terá validade pela existência de especulação e incerteza. Outro exemplo são os contratos de seguro seja de mercadorias, seja de vida, estão todos proibidos pela Shariah devido a incerteza que gera.2. A INIMIZADE E O ÓDIO as partes, que muitas vezes pode ter resultados drásticos. DIREITO DE RETRATAÇÃO DE COMPRA E VENDA. A SHARIA permite a retratação de um contrato e venda, e a evidência está no Hadith do Profeta Muhamad apud Tuwaijri onde ele estabelece: As partes envolvidas em uma operação de compra e venda tem o direito de retratarem-se enquanto não se separarem". As partes estabelecem no contrato a possibilidade de se retratarem dentro de um determinado prazo, a cláusula será válida. Aceitar a retratação ou rescisão de um contrato é valorizado no Islam como uma boa ação de uma pessoa referente à outra, por este motivo o Profeta incentivou tal ato ao dizer; "Quem aceitar a retratação de um irmão muçulmano, Deus lhe perdoará as faltas no Dia da Ressurreição. PARCERIA E ARRENDAMENTO RURAL. SEGUNDO A SHARIAH, a Parceria trata-se de um tipo de contrato mediante o qual uma pessoa cede à outra sua plantação para este a cuide e conserve em troca de uma porcentagem previamente determinada de seus frutos colhidos, como por exemplo, a metade ou um quarto. Já o arrendamento rural trata-se de um contrato onde o proprietário da terra cede a outro a terra, em troca de uma porcentagem previamente determinada de sua produção. O Profeta Muhammad disse: "A todo muçulmano que plantar uma árvore frutífera lhe será registrada uma caridade por cada ave, animal ou homem que coma dela". A Shariah considera tais espécies de contratos como legais e lícitos, uma vez que muitas vezes ocorre o fato de uma possuir campos com plantações, mas não cuida dos mesmos seja por falta de conhecimento ou por estarem ocupados em outros assuntos, enquanto outros, ao contrário sabem trabalhar nos campos, mas não possuem terras. Por este motivo, o Islam contemplou estes dois tipos de contratos para que cada uma destas pessoas possam se beneficiar mutuamente e assim a terra será trabalhada para sua produção, cumprindo com sua função social, contribuindo para que o poder aquisitivo das pessoas aumente e existam mais fontes de trabalho para aqueles que têm experiência no trabalho rural, mas não possuem terras nem capital para investir nesta área. O pré-requisito exigido para que estes contratos tenham validade é que estes sejam efetuados através do mútuo consentimento, e o mesmo é exigido para a extinção das obrigações contraídas pelo contrato. Por este motivo, esses contratos devem ter expressamente estipulados um prazo determinado, mesmo que este seja prolongado. É lícito unir essas duas espécies de contratos sobre um mesmo terreno, como por exemplo, que a parte reque as plantações de uma parte do terreno em troca de uma porcentagem das frutas colhidas e ao mesmo tempo trabalhe na terra de outra parte do terreno, lavrando-a em troca de outra porcentagem da colheira. A evidência da Shariah para a legalização dos contratos de arrendamento e parceria está no fato de que o Profeta Muhammad certa vez estabeleceu um contrato de arrendamento com judeus habitantes de uma tribo chamada "Khaibar", o contrato consistia que estes trabalhariam nas terras pertencentes aos muçulmanos em troca da metade da produção total de grãos e frutos. LOCAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS. SEGUNDO ESTABELECIDO PELA SHARIAH, haverá locação quando duas partes se obrigarem reciprocamente, uma a conceder por um tempo determinado o uso e gozo de uma coisa ou prestar um serviço, e a outra a pagar por este uso e gozo ou serviço um preço justo em dinheiro. Por ser este um contrato recíproco, uma vez manifestado o consentimento das partes encontrar-se-á efetuado o contrato, e por este motivo não poderá ser rescindido de forma unilateral. Este contrato é um meio de haver intercâmbio de bens e serviços entre as pessoas, e poderem assim, cumprirem com suas demandas. A Shariah permitiu que tais contratos fossem estabelecidos entre as pessoas com o fim de ampliar os recursos que as pessoas possam se utilizar para satisfazer suas necessidades e se beneficiarem mutuamente: A locação pode ser de duas classes: 1. LOCAÇÃO DE BENS, como por exemplo, alugar um automóvel. 2.LOCAÇÃO DE SERVIÇOS, como por exemplo, serviços mecânicos. As condições fundamentais para a validez do contrato de locação são: 1. QUE AMBAS AS PARTES gozem de capacidade legal para contratar. 2. QUE O OBJETO da locação seja determinado, como por exemplo, a locação de um imóvel determinado ou serviço específico. 3. QUE O VALOR QUE SE pagará pela locação esteja estipulado no contrato. 4. QUE O OBJETO DA LOCAÇÃO seja lícito. Está vedado pela Shariah alugar uma propriedade para a venda de bebidas alcoólicas ou para a prática da prostituição, por exemplo, ou qualquer outra coisa vedada pelo Islam. É lícito ao proprietário se beneficiar do objeto da locação seja para si ou o alugue a uma terceira pessoa, sempre que o uso que o sublocatário faça seja igual ou menor que o acordado com o locador. No caso de locação de serviços, o trabalhador contratado terá o direito de cobrar sua remuneração assim que haja finalizado completamente o serviço da forma acordada, devendo o locador cumprir com o pagamento, como estipula um hadith do Profeta, "antes que seu suor seque". O Profeta Muhammad apud Tuwajri transmitiu de Deus o seguinte hadith: "Disse Deus: Eu Me enfrentarei com três classes de pessoas no Dia do Juízo Final: Aquele que jura por Mim e não cumpre com seu juramento, aquele que vende uma pessoa livre e obtém o dinheiro e aquele que contrata um trabalhador e quando este termina seu trabalho não lhe paga sua remuneração". Não é permitido pela Shariah alugar um local ou imóvel para aqueles que o utilizarão para comercializar o ilícito ou para práticas ilícitas, tais como, por exemplo, alugar um imóvel para que o locatário abra uma boate, ou outras atividades proibidas pela Shariah. Isso porque Deus proibiu que um muçulmano contribuísse para a propagação do pecado e da corrupção da sociedade. Disse Deus no Alcorão Sagrado 5,2 "Auxiliai-vos na virtude e na piedade. Não vos auxilieis mutuamente no pecado e na hostilidade". É permitido às partes estabelecerem cláusulas penais no contrato em caso do descumprimento do mesmo dentro do tempo estipulado. Se as cláusulas penais forem abusivas, caberá ao juiz desconsiderá-las e tomar uma decisão equitativa e moderada. Por exemplo: é estipulado em um contrato de locação de serviços que "A" deverá construir uma casa para "B" no período de um ano pelo valor de R$ 100.000,00, com a condição de que se ultrapassar o período estipulado, "A" deverá pagar uma multa de R$ 1.000,00 por cada mês de atraso. Então se "A" atrasar quatro meses a construção da casa, sem um motivo válido, estará obrigado a pagar R$ 4.000,00 de multa a "B". A FIANÇA. SEGUNDO O CONCEITO DADO PELA SHARIAH, fiança é uma obrigação que uma pessoa contrai frente a um credor de um terceiro de cumprir com a dívida pelo devedor quando este não a cumpra. Este é um recurso para ajudar as pessoas a solucionarem seus problemas quando se encontram em situações de necessidade. Trata-se de um contrato considerado lícito pela jurisprudência islâmica, e também considerado uma obra de solidariedade e cooperação. As condições fundamentais para a sua validez são duas: a primeira é que o fiador goze de capacidade legal e segundo que a operação aconteça com seu consentimento, este deve ser com a manifestação expressa do fiador. A fiança pode ser estabelecida por um montante determinado ou indeterminado e também por qualquer outra obrigação que sirva para saldar o compromisso assumido pelo devedor, esteja este vivo ou não. Se uma pessoa se obrigar a responder pela dívida de outra, tanto o devedor quanto o fiador serão responsáveis solidariamente pela dívida. Ou seja, o credor poderá demandar contra qualquer um dos dois. O fiador ficará livre da obrigação perante o credor quando o devedor cumprir com sua dívida através de seus próprios meios. USURA. A SHARIH PROIBI CATEGORICAMENTE  A USURA e considera-a um pecado capital e grave delito. Isto porque a usura não é nem comércio nem lucro, e sim um meio de exploração e concentração de riqueza. As colocações do Alcorão Sagrado são claras a respeito: 2,278-279 "Ó crentes! temei a Deus e abandonai o que ainda vos resta de usura se sois crentes! Mas, se tal não acatares, esperai a hostilidade de Deus e do seu Mensageiro; porém se vos arrependerdes, reavereis apenas o vosso capital. Não defraudeis e não sereis defraudados". Em 3,130 "Ó crentes, não exerçais a usura, multiplicando , o emprestado, e temei a Deus para que prospereis". Também em 3,39 "Quando emprestardes algo com usura, para que vos aumente, em bens, às expensas dos bens alheios, não aumentará perante Deus, contudo, o que derdes em zakat, anelando contemplar o Rosto de Deus, ser-vos-á aumentado". A usura é a base do capitalismo moderno. É completamente contrária ao estipulado pelo Islam que o zakat (é um tributo religioso - o seu pagamento é anual e obrigatório para todos os muçulmanos. De uma maneira geral incide sobre 2,5% da riqueza de cada pessoa. Cada muçulmano pode escolher a altura mais adequada do ano para pagar o zakat, mas muitos optam por fazê-lo no mês sagrado do Ramadan); pois este canaliza a riqueza do rico para o pobre enquanto a usura leva o provento do pobre para o rico. Deus amaldiçoou aquele que cobra juros, aquele que os paga, aquele que redige o contrato e aquele que testemunha a transação. E disse, Tuwaijri: "Abstenham-vos dos sete pecados mais graves! Então lhe perguntaram: E quais são esses pecados, ó Mensageiro de Deus? Ele respondeu: Atribuir parceiros a Deus, praticar a magia, causar a morte, a menos que seja em cumprimento de uma sentença firme emanada daqueles que administram a Justiça, lucrar com a Usura, apropriar-se dos bens dos órfãos, fugir do campo de batalha na hora do combate e acusar de adultério a uma mulher decente". A proibição da Usura se baseia no fato de que este provoca o enriquecimento injusto em detrimento dos mais fracos economicamente. Trata-se de apropriação ilícita dos bens alheios o que acarreta a suspensão progressiva do comércio, a produção e as fontes de trabalho que são necessárias às pessoas, uma vez que aqueles que lucram com a usura se enriquece sem esforço, em detrimento de quem tem necessidade. Um Estado islâmico deve tentar gradualmente mudar o sistema presente. É preciso um cuidadoso e sistemático planejamento. Deus não nos impõe algo impossível. Uma economia livre de usura será uma dádiva para todos os povos do mundo. Universidade da Região da Campanha. Campus do Curso de Direito, Bagé - RS - Brasil. Abraço. Davi.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

A DOUTRINA DA REENCARNAÇÃO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO.

Cristianismo. Editor do Mosaico. Esse texto é fruto de considerações que fiz assistindo a uma palestra na Sociedade Teosófica aqui em Brasília - Brasil. Você já pensou por que foi nascer no país em que atualmente mora? Por que constituiu a família que tem hoje ou que vive nela agora?  Em São João 9: 1-3 lemos "E passando Jesus viu um cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este eu seus pais para que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele pecou nem seus pais, mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus". Essa escritura bíblica é para introduzirmos alguns pressupostos da reencarnação, pois a primeira parte dele traz uma indicação de que o homem nasceu cego devido a uma anterior situação que não fora resolvida em sua encarnação passada. Se pensarmos logicamente perceberemos que não há injustiça em Deus, sendo ele justo, por que a cegueira do homem? não tem sentido imaginar, que foi para que ele não visse o quanto o mundo é injusto, e muitas pessoas são egoístas havendo mais sofrimento que conforto. É razoável que exista coerência no sofrimento, pois do contrário perde-se o significado da vida e o por que estamos vivendo nesse mundo. Sem respostas racionais ficamos presos aos conceitos dogmáticos e superstições do céus e inferno eterno, pouco, para certezas quanto ao sentido da vida. Não vejo razão para duvidar da existência de Deus, pois o mundo não existe por acaso, e indubitavelmente uma inteligência superior anterior a tudo fê-lo surgir controlando e mantendo esse processo evolutivo cósmico. Quando observamos particularmente as pessoas, reconhecemos que para algumas as coisas são mais fáceis  e para outras são difíceis, sendo isso uma evidencia de que há um destino (determinismo) expresso por leis de fatos e causas, onde os primeiros resultam no segundo e nas mesmas condições à recíproca é verdadeira. Mas também o livre arbítrio é um ingrediente importante nesse sistema de desenvolvimento da vida e essa premissa  foi postulada  por Charles Darwin (1809-1882) "A evolução é o plano que particulariza a vida". Orígenes (182-254) de Alexandria considerado um dos Pais da Igreja defendeu em suas apologias a ideia da reencarnação. Ele se reunia com uma comunidade de cristãos primitivos tendo uma vida casta e piedosa, rigorosamente na observância dos preceitos de santidade e pureza. Sua erudição e inteligência acima do normal, o levou a escrever uma gigantesca obra que segundo fonte fidedignas incluíam mais de 3 mil volumes de próprio punho. Trocou correspondências com Clemente de Alexandria (150-215), Hipólito de Roma (199-217) e Irineu de Lyon (130-202) falando sobre o tema da transmigração da alma, reencarnação e a apocatástase. Orígenes conceituava a apocatástase - doutrina que representa a redenção e salvação final de todos os seres, inclusive os que habitam o inferno; dedutivamente esse lugar para Orígenes não é eterno, mas transitório e temporário, sendo um evento posterior ao próprio Apocalipse. A Apocatástase sintetizaria o poder do Logos ou Verbo Encarnado, ou seja, o próprio Christo como poder redentor e salvador que não conheceria limite algum. Essa proposta levanta uma série de questões interessantes para o cristianismo. (1). Leva a supor que não há um único mundo criado, o que principia no Gênesis e finda no Apocalipse, como sugerido pelas Sagradas Escrituras. Ao contrário, em sua atividade criadora, Deus cria infinitamente uma sucessão de mundos visíveis e invisíveis, que só se esgotaria na apocatástase, quando todos os seres repousassem definitivamente em Deus. (2). Nesse contexto os demônios e o diabo caso aceitassem o seu próprio processo de expiação evolutiva, poderiam ser salvos em sucessivas encarnações nos mundos superiores invisíveis retornando a sua verdadeira origem que é Deus. (3). Orígenes com essa hipótese sugere que seja estabelecido uma distinção entre o Logos ou o Verbo e sua diferenciação como Christo. Uma vez que Cristo é uma encarnação histórica neste mundo em particular, estaria aberta a possibilidade de outra encarnação futura do Logos ou Verbo. Suponho compatível com os textos sagrados cristãos, que falam de uma volta do Logos ou Verbo, contudo, permitem questionar a divindade de Cristo, dogma comum “absoluta verdade” no catolicismo e protestantismo. (4). Séculos após a morte de Orígenes também chamado de O Cristão, no segundo Concílio de Constantinopla no ano de 553, como veremos abaixo, os aspectos de sua doutrina que permitiriam subordinar a figura de Christo ao Logos e ao Pai, sendo assim humano e não Deus, rompendo também com o dogma da Santíssima Trindade foram considerados errôneos nesse conclave de cardeais e arcebispo. Isso se deu sem nenhum procedimento teológico que mensurasse tão importante questão, fundamentando as possíveis contradições na tradição ou exegese bíblica. Segundo a verossimilhança de alguns estudiosos sobre esse tema da Apocatástase, ela foi temerariamente combatida sem argumentos razoáveis que pudessem condená-la como “heresia”. Desde então o cristianismo se refere ao Apocalipse e não a Apocatástase, mas até 553 os cristãos consideravam a salvação de todos os seres no juízo final como a infinita misericórdia e graça do Eterno Deus. As cartas trocadas por Orígenes com Clemente, Hipólito e Irineu (originais) estão guardadas em alguns museus da Europa, segundo pesquisadores e investigadores da história da Igreja. Essas cartas são um capítulo à parte que envolvem a política dos interesses pessoais e eclesiásticos da Igreja Católica; que manipulando-as impediu o ensino sobre a reencarnação nas comunidade primitivas e dioceses nos anos posteriores ao Concílio que aludimos, pois segundo consta os originais que falam sobre esse assunto foram alterados por um certo padre chamado Rufino de Aquiléia (344-410); fato determinante no Concílio de Constantinopla II como uma suposta contraprova da autenticidade dos escritos de Orígenes sobre esse tema. A doutrina da reencarnação foi adotada como dogma pela Igreja até o século VI quando no referido Concílio em 553 a questão deveria ser revisada dando-se um parecer favorável ou desfavorável terminativo. O Imperador Romano do Oriente  na época era Justiniano I (482-565) que indiretamente exercia a chefia oficial da Igreja Cristã Bizantina. O Papa Silvério I (480-557) por simpatizar com a doutrina da reencarnação, e não queremos assinar o edito para que ela fosse retirada da ortodoxia clerical foi destituído do cargo e condenado por traição, morrendo no exílio (deixado sem pão e nem água) por inanição. Justiniano I para referendar o Concílio de Constantinopla II (553) nomeou o Papa Virgílio (537-555) que desobedecendo a ordem do Imperador não compareceu à sessão do Concílio que decidiria o veto contra a doutrina da reencarnação. Assim o Papa Virgílio foi também deposto acusado de perjuro (o que jura falsamente); exilado por 8 anos e de regresso à Roma morre ante de chegar a cidade. Assim O Colégio de Cardeais sem seu representante máximo decidiram à revelia excluir dos dogmas oficiais da Igreja a doutrina da reencarnação em 5 de maio de 553. Esse é mais um triste capítulo da história do cristianismo que sob ameaças, intrigas e mortes aprovaram uma lei que convinha aos interesses pessoais de alguns Cardeais e do soberano que representava o Império Romano naqueles dias. Nada mais trivial e questionável como uma decisão desse tipo, sem critério e desprovida de uma análise séria e conscienciosa. Além do que a autoridade envolvida para referendar o edito era contra, sendo perseguido, humilhado e morto. Os interesses políticos, escusos e oportunistas foram os verdadeiro financiadores dessa fraude teológica. São Mateus 5: 18 "Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido". O ensino da reencarnação que tem pressupostos bíblicos foi desde então (553) retirado da ortodoxia oficial da Igreja Cristã. Falamos agora a pouco dos originais do livro alterado por Rufino, é a famosa obra De Príncipiis de Orígenes. A obra publicada em latim com tradução para o português pela editora católica Paulus, está desconforme nos pontos que tematizam a reencarnação da obra em grego com o título Peri Arcon traduzida para o inglês. Assim a versão Inglesa do original grego é a mais indicada para leitura, pois expressa o pensamento real do filósofo cristão do século II. Evidentemente não há interesse que o público cristão em geral, leia uma literatura de um dos pais da Igreja que defenda em suas postulações a transmigração de almas. Orígenes adotou a doutrina de Platão (428-347) quanto a reencarnação, que em seu livro A República diz: "Quanto a virtude a responsabilidade é de quem escolha Deus está isento disso. Você é que a estima ou despreza". Desse modo virtude e vício colhem alegria ou sofrimento, segundo Platão uma lei universal imutável. Como dito nas Escrituras em Gálatas 6:8 "Tudo o que o homem semear isso também ceifará". O pagamento é proporcional a dívida. Nossas dívidas (vícios e pecados) é finita no tempo, sendo ilógico cobrar-se juros infinitos na danação (inferno) eterna. O que pensar de um Pai (Deus) que condena seus filhos a tortura eterna, como é dito em Marcos 9:43-47 "Se tua mão te escandalizar corta-a. Melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. onde o seu bicho não morre e o fogo nunca se apaga". Não sei o que dizer de um versículo tão estranho (terrível) e incompreensível racionalmente. Nos textos da República e nos diálogos Fédon e Menon Platão também pensou a transmigração das almas, o qual Orígenes assume em suas apologias. As almas existem antes dos corpos. Assim anjos, demônios e homens (mulheres) são numa visão geral entidades que evoluíram, de mundos ou reinos inferiores como minerais, vegetais e animais, de acordo com seus méritos e deméritos no tempo em que singularizaram seus comportamentos e atitudes nos mundos visíveis e invisíveis em que existiram. Desse modo os anjos são aqueles que praticaram mais virtudes e beatitudes, os demônios exteriorizaram mais os vícios e pecados e os homens num estágio apressado em relação aos dois grupos, expiam (redimem) seus corpos para evoluírem ou regredirem conforme as práticas realizadas pelos pensamentos, palavras e atitudes. Nessa perspectiva a humanidade está em um processo de redenção individual, em que os vários mundos possibilitarão esse ajuste ou reparação de contas à pagar e à receber. Essa era também a visão dos Estóicos (século III AC) que afirmavam que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos Divino, noção tomada de Heráclito (535 AC 475) de Éfeso. A alma está identificada com este princípio divino como parte de um todo ao qual pertence. Este Logos ou (Razão Universal) ordena todas as coisas. Tudo surge de acordo com Ele, graças a Ele o mundo é um cosmo que em grego significa harmonia. Dos Estóicos é passado a ideia de que os fins tem que ser igual ao começo. Da gigantesca obra de Orígenes infelizmente apenas 3 volumes resistiram as chamas que destruíram a famosa Biblioteca de Alexandria e seu Museu em (415) pulverizando o acervo inestimável de milhares de pergaminhos e papiros que compreendiam a sabedoria humana e divina disponível  para todos os interessados e iniciados nos mistérios menores e nos mistérios maiores da ciência oculta. A história credita esse incêndio ao autoritarismos do imperador romano Constantino II, em comum acordo com a Igreja, que no século V em Alexandria, no Egito, haviam três comunidades que disputavam a hegemonia religiosa e política da cidade: os judeus, cristãos e pagãos. Os últimos incluíam os filósofos e conhecedores do saber humano, que a iniciativa e preservação da biblioteca fora-lhes conferida. Como o culto antropomórfico destes, causava inquietação nos demais grupos (judeus e cristãos) instalou-se uma querela, que resumindo, foi resolvida arbitrariamente pela igreja, expulsando os judeus e pagãos da cidade, e não contentes apenas com esse fato, mandaram destruir a biblioteca de Alexandria queimando seu valioso e inestimável acervo (pergaminhos e papiros) bibliográfico. Os 3 volumes escritos por Orígenes disponível em português são: Sobre os Princípios, Exacta e Contra Celsius onde ele sustentava a doutrina da reencarnação, da preexistência da alma, da transmigração da alma e da apocatástase (a redenção e salvação de todos os seres inclusive os que estavam no inferno). Orígenes pensava  não haver um inferno eterno, mas sim um lugar de disciplina temporária e após esse estágio todos continuariam evoluindo para encontrarem o Logos Eterno. São Lucas 15: 20-22 "E levantando-se foi para seu pai, e quando ainda estava longe viu o pai, e se moveu de íntima compaixão e correndo, lançou-se ao seu pescoço e o beijou”. Outro aspecto do ensino esotérico de Orígenes é que ele concebia a interpretação das Escrituras em três níveis. Primeiro o corpo que era a nível superficial, aquele que as Escrituras dizem II Coríntios 3:6 "a letra mata", onde o observador cria doutrinas exclusivistas e dogmas absolutos misturados as crenças e superstições. Segundo a alma um estado mais evoluído de decifrar o texto sagrado, mas ainda intermediário apenas nos primeiros estratos da epiderme espiritual, não se vislumbrando a aplicabilidade objetiva do enunciado proposto. Terceiro o espiritual entrando na interpretação profunda e mística do texto sagrado. Nessa terceira fase se perceba que é necessário adentra o portal dos mistérios ocultos, Mateus 13:11 "a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus", para retirar das Escrituras sua simbologia e tipologia oculta que representa a essência daquilo que O Espírito deseja falar ao discípulo. O primeiro nível é a literalidade exteriorizado por crenças e superstições. O segundo é a conveniência para nosso próprio interesse e bem estar. O terceiro é a interpretação lógica e intuitiva compreendendo as alegorias e tipologias não como verdades, mas princípios e conceitos que podem ser usados em todas as religiões e espiritualidade. Nesse terceiro nível há mistérios que somente os iniciados místicos, cabalistas, sufistas, gnósticos tem acesso, pois fogem ao senso comum da religiosidade. E alguns mistérios das Escrituras de todas as religiões estão selados não permitidos à revelação, apenas no momento oportuno. Lucas 15:21  “E o filho lhe disse: pai pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado seu filho". Em uma vida não temos como pagar todo o nosso carma negativo, é necessário outras vidas, para que o ajuste e reparação possam acontecer e continuemos nosso processo evolutivo dentro das fases que distinguem nossos corpos (energético, emocional e mental) sutis. O inferno eterno era relativizado por Orígenes em seus escrito quando ele usa a referência de Isaías 50: 11 "Eis que todos vós que acendeis fogo e vos cingis com faíscas, andai entre as labaredas dos vossos fogos, e entre as faíscas que acendestes. Isso vos ocorrerá pela minha mão e em tormentos morareis". Esse texto é claro pois não há uma argumentação quanto a perenidade infernal, e em todo o Antigo Testamento segundo os melhores exegetas bíblico, não existe a ideia de um inferno eterno. Os judeus povo precursor desse sagrado testamento, acreditam na reencarnação, inclusive usando textos cabalístico de um famoso rabino Isaac Luria Arizal (1534-1572) para comprovar teologicamente essa doutrina. A editora judaica Sefer, radicada em São Paulo, Brasil, publicou recentemente o livro Portal das Reencarnações, escrito por Joseph Saitoun, tratando especificamente desse tema. Uma leitura recomendável aqueles que desejarem se aprofundar no assunto.  Orígenes era flexível quanto a interpretações de textos bíblicos onde se percebiam um juízo sumário e executório preferindo uma alegoria e metáfora representativa para fugir do dogmatismo, preconceito e crença cega. A interpretação neo platônica da reencarnação foi ensinada pelos Pais da Igreja. São Mateus 11: 11 "Em verdade em verdade vos digo que dentre os que de mulher têm nascidos, não apareceu alguém maior do que João Batista, mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele". A reencarnação tem a premissa de voltar à vida para reparar ou compensar o aspecto negativo ou positivo do carma, continuando  o processo evolutivo numa perspectiva de aprendizado, no âmbito negativo, para não incorrer nos mesmos erros em renascimentos posteriores. Esses estágios não estão restritos aos humanos, mas alcançam todos os reinos orgânicos evidenciados nos minerais, vegetais e animais, e o mundo invisível, dentro de suas restritas constituições de matérias e formas conscientemente primitivas e mais adiantadas. Podemos inferir um silogismo: A reencarnação contem a lei da ação e reação, carma, pois para cada causa existe um efeito produzindo evolução meritória ou involução, se demérito. Sendo mérito (virtudes e beatitudes) tem como resultado o homem perfeito; sendo demérito (vícios e pecados) retardamos o processo para ascender ao Logos Eterno. São Mateus 5: 48 "Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso pai que está nos céus". Orígenes foi discípulo de Amônio Saccas (175-242) um mestre místico que viveu em Alexandria na primeira  metade do século III e na época era corrente dizer-se que "Amônio o que aprendeu com Deus". Ele foi o fundador do sistema eclético, nascido de pais cristãos, mas renunciou à sua religião nativa e voltou-se à filosofia "pagã". Pelo fato de ter encontrado a Sabedoria Divina em seu próprio interior, foi chamado "Theodidaktos" ou ensinado por Deus, mas ele preferia o termo "Phialethes", ou amante da verdade. Seus discípulos eram também conhecidos como "Filaleteus". Não deixou escritos, ensinamentos orais e seus pupilos foram submetidos ao voto de segredo, como de costume nas Escolas de Mistério. Por conseguinte, ele fez uma distinta tentativa de beneficiar o mundo através do ensinamento daquelas partes da Ciência Secreta que lhe eram permitidas ser reveladas por seus guardiães diretos daqueles tempos.  Outro mestre que influenciou Orígenes  foi Plotino (204-270) que dizia: "O Único (O Deus Supremo) é exaltado acima do Nous e das ideias. Ele está absolutamente acima da existência escapando a razão. Permanecendo sempre em repouso. Ele faz jorrar de Sua própria plenitude como um raio uma imagem de Si mesmo, chamada Nous e que forma o conjunto das ideias do mundo inteligível". Plotino foi discípulo direto de Amônio Saccas, com o qual permaneceu onze anos. O que Platão (428 AC 347) foi para Sócrates (469 AC 399), e o apóstolo João para Jesus, Plotino foi em relação a Amônio. Naqueles dias participou em uma expedição à Ásia na esperança de alcançar a Índia, mas não foi bem sucedido. Seguiu a Roma, onde despendeu o resto de sua vida ensinando e escrevendo. Seu principal trabalho, as Enéadas, incorporam suas ideias teosóficas. Plotino combinou uma das maiores capacidades intelectuais com a profunda iluminação mística, e sua vida foi baseada na autodisciplina e purificação. Sua intensa aspiração espiritual resultou no êxtase, uma sublime condição de existência absorta na Vida Divina, o Samadhi da filosofia hindu. Seu discípulo Porfírio (234-305) relata que Plotino gozou tal experiência em seis ocasiões durante sua vida. Seus ensinamentos tiveram uma duradoura e profunda influência não somente no pensamento filosófico dos séculos posteriores, mas também na teologia cristã. A Igreja tomou sua seminal doutrina da Trindade dos escritos de Plotino. Helena Blavatsky (1831-1899) diz: "Tudo que é grande e nobre na teologia cristã provém do Neo platonismo". Orígenes teve um fim como de todos os mártires por suas ideias iluminadas que se opunham a crendice, fé cega e dogmatismo vigente na Igreja cristã dos primeiros séculos, sendo torturado (física e psicologicamente) e morto no ano de 254. O conceito de Teosofia ou Sabedoria Arcana foi pensado inicialmente  em Alexandria no século III pelos dois mestres de Orígenes que citamos acima. Romanos 8: 28 "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem aqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito". Abraço. Davi.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

O DESÂNIMO DE ARJUNA.

Bhagavad Gita. AUM (1) Capítulo Um. O DESÂNIMO DE ARJUNA. Neste capítulo se descreve o combate entre o BEM e o MAL, que provém do complemento da UNIDADE, tanto no Homem como na Natureza. O Homem, representado por Arjuna, acha-se rodeado de Ilusões que pertencem à sua  natureza inferior, mortal, e deve vencê-las; porém, como se acostumou a identificar-se com elas, falta-lhe o necessário ânimo
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1. Disse Dhritarashtra (2), rei dos Kurus, falando com o fiel Sanjaya: Conta-me, ó Sanjaya, os feitos dos meus guerreiros e os do exército dos Pandavas, quando se reuniram para se combaterem no sagrado campo dos Kurus.
(1) Em nome de Deus! Palavra Sagrada entre os hindus, alusiva à Trindade Divina -Vishnu, Shiva e Brahma. Sendo KRISHNA considerado a oitava encarnação de Vishnu. (2) Representante da Vida material - forças cegas.

2. Pôs-se a relatar Sanjaya: Quando o teu filho Duryodhana (1), o comandante supremo dos teus exércitos, ó rei, avistou as falanges dos Pandavas (2), preparadas para o combate, se aproximou do seu Drona, o filho de Bharadvaja, e disse:
(1)Dificilmente vencível; obstinação. (2) Os Kurus representam as forças inferiores da alma humana - nossos defeitos; os Pandavas (ou filhos de Panda), as forças superiores - nossas virtudes.

3. Vê, ó Mestre, as poderosas multidões dos filhos de Pandu, que constam de vastas fileiras de guerreiros experientes e audaciosos, comandadas pelo valente e sábio filho de Drupada, teu discípulo

4. Vê como é grande o número daqueles combatentes fortes que ali estão em seus carros de guerra e com seus arcos e flechas. Há, entre eles, heróis iguais a Bhima (3) e Arjuna (4).
(3) Bhima - terrível, é a vontade espiritual. (4) Arjuna é o homem em seu desenvolvimento.

5.Lá estão: Virata, Yuyudhana, Drupada, Dhristaketu, Chekitana, o rei dos Kasis, Purujit, Kuntiboja, Saivya.

6. Ali estão: o audaz Yudhamanyo, o forte uttamauja, o filho de Subhadra e todos os filhos de Drupada (1).
(1) Os heróis  mencionados aqui e nos seguintes versículos representam forças intelectuais, inclinações, faculdades, paixões, artes e ciência. Os "carros" são os corpos pelos quais essas forças se manifestam no homem. As forças inferiores são servidoras do egoísmo e do instinto cego, ao passo que as superiores agem em harmonia com a Vontade Divina.

7. Porém, igualmente do nosso lado, sob o meu comando, encontras os melhores generais e heróis do nosso povo.

8. Aqui estás tu mesmo, e conosco se Vê Bhishma, Karna, Kripa, Asvatthaman, Vikarna, Somadatti.

9. Todos estes e muitos outros guerreiros fortes, valentes e experimentados, trazendo as suas armas favoritas, prontos estão para combater por nossa causa e, com entusiasmo, arriscarão a vida por mim.

10. Porém, ó Mestre, hei de confessar-te que este nosso exército, se bem que muito valente e comandado por Brishma (2), na minha opinião não tem o número e a força suficientes, enquanto em nossa frente está o inimigo, comandado por Bhima, em posição ameaçadora, e muito mais forte.
(2) Bhishma - terror, é o egoismo. O exército dos Kurus, isto é, as forças inferiores (nossos defeitos), têm por chefes o Egoismo e a obstinação; o exército pandava (nossas virtudes), é as forças espirituais superiores, obedecem à vontade Divina.

11. Ordena, pois, aos capitães do meu exército que todos ocupem os seus lugares e que se preparem para auxiliar e defender o nosso comandante Bhishma.

12. Soprou então Bhishma, o velho chefe dos kurus, em sua grande corneta e o seu toqu soou como o rugido do leão, excitando a coragem e o ânimo de seus guerreiros.

13. E, em resposta, imediatamente se ouviu o som tumultuoso de inumeráveis outras cornetas e conchas, címbalos, tambores e trombetas, nas falanges dos Kurus.

14. Igualmente deram sinal bélico KRISHNA, a encarnação de Deus, e Arjuna, filho de Pandu, que estavam em seu magnífico carro de guerra, ornado com ouro e pedras preciosas, e puxado por cavalos brancos (1). E responderam os instrumentos dos Pandavas em som repetido e desafiador, como o som de trovão violento. (1) Branco é o símbolo da pureza; cavalo, o símbolo da força e da obediência.

15. A corneta que tocava KRISHNA, o dominador dos sentidos, fora feita de osso de gigante. O nome da corneta de Arjuna era Devadatta (dom de Deus).

16. O forte Bhima tocava a corneta com o nome de Paundra (o Povo). Yudishtira, filho de Kunti, a "Vitória"; Nakula e Sahadeva tocavam a "Harmonia" e a "Glória".

17. Ouvia-se o toque dos famosos guerreiros Kasya, Sikhandin, Dharishtadymna, Virata, Sattyaki;

18. E de Drupada e seu povo, e dos filhos valentes de Subhadra.

19. E vibrou o ar, como quando se prepara uma horrível tempestade, e a superfície da Terra vibrou no mesmo ritmo. E o povo de Dhritarashtra estremeceu aterrorizado.

20. Então Arjuna, em cuja cimeira figurava um macaco (1), vendo que os Kurus estavam já em ordem de batalha, e que as flechas começavam a voar pelos ares, tomou na mão o seu arco e disse a KRISHNA, que estava com ele no carro:
(1) Tomado como símbolo da audácia e engenho.

21. Faze parar, ó Imutável, o nosso carro no meio do espaço entre estes dois exércitos opostos.

22. Quero ver de perto os que aqui estão reunidos com o desejo de nos matarem, e com os quais devo travar sangrento combate.

23. Deixa-me ver os meus inimigos, os partidários insensatos do malicioso e vingativo filho de Dhitarashtra.

24. Quando Arjuna assim falou, KRISHNA fez parar o carro no meio do espaço entre os dois exércitos contrários (2).
(2) Antaskarana, a "ponte" ou o "caminho" entre a terrena e a divina parte da mente.

25. Ali, em frente de Bhishma, Dronn e dos outros principais da Terra, disse KRISHNA a Arjuna: Vê, ó filho de Prithi, a família dos Kurus ali reunida!

26. E viu Arjuna que, divididos em dois partidos bélicos, ali estavam seus parentes: pais e filhos, irmãos, cunhados, avós e netos, tios e sobrinhos, sogros e genros.

27. Notou também que mestres, benfeitores, amigos e camaradas ali estavam, preparados para se combaterem reciprocamente (1).
(1) Também as forças "inimigas" são nossos amigos e mestres, pois por meio delas é que alcançamos a experiência: elas são os degraus pelos quais o homem sobe até ao conhecimento perfeito de si mesmo.

28. E quando Arjuna viu isso, entristeceu-se no seu nobre coração e, cheio de aflição e dó, proferiu estas palavras:

29. Ó Senhor, vendo eu as fases e os vultos dos parentes que querem lutar uns contra os outros, sinto exaustos de forças os meus membros e sem sangue o meu coração.

30. As minhas pernas tremem, os meus braços não me obedecem; a minha face está em agonia; a febre queima-me a pele; os pensamentos se confundem no meu cérebro; todo o meu corpo está em convulsões de horror; o arco cai das minha mãos.

31. Maus sinais vejo nos ares, e estranhas vozes ouço falar ao redor de mim; estou todo confuso e indeciso. Não vejo nada de bom em matar em guerra os meus parentes e meus companheiros.

32. Não desejo a glória de vencedor, ó KRISHNA! Não aspiro nem ao reino nem aos prazeres, nem ao domínio; para que me serve o domínio, a riqueza ou a vida mesma?

33. Todas estas coisas me parecem muito vãs e sem agrado, enquanto que aqueles para quem tudo isso seria desejável desprezam a própria vida!

34. Tutores, pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, primos, cunhados, mestres e companheiros vejo perante mim: não quero matá-los, embora eles tenham sede do meu sangue.

35. Não quero matá-los, embora com isso obtivesse o reino dos três mundos, quanto mais pelo governo de um pedaço de Terra!

36. Se eu matar os meus consanguíneos, os filhos de Dhritarashtra, que felicidade ou gozo poderia me alegrar? Se nós os derrotarmos, o remorso seria o nosso companheiro contínuo.

37. Penso que devemos abster-nos de matarmos os nossos parentes e consanguíneos: porque, como poderemos ser felizes, se exterminamos a nossa própria raça?

38. Não podemos desculpar-nos dizendo que eles são tão depravados e sedentos de sangue, que não vêm mal algum em derramarem o sangue de seus parentes e amigos.

39. Tal argumento não nos justifica, porque nós sabemos melhor que a matança dos parentes é grande pecado e horror.

40. Tem nos sido ensinado que, com o extermínio de uma geração, se destrói a virtude, e com a destruição da virtude e da religião de um povo, apoderam-se de toda a raça, o vício e a impiedade.

41. Onde reina a impiedade, corrompem-se também as mulheres nobres, e onde a mulher está corrompida, desparece a pureza do sangue.

42. A adulteração do sangue é  precursora do esquecimento dos ritos devidos aos antepassados, e estes (se as doutrinas do povo são verdadeiras) (1), sendo privados dos sacrifícios de que se sustentam, caem das alturas celestes.
(1) A tradição, que prescrevia o respeito à família, aos parentes, aos instrutores, aos ritos, à instituição e a deveres das castas, sem o que a alma cairia em condições piores, antes e depois da morte.

43. A consequência de tal corrupção é o aniquilamento dos destruidores da raça e dos direitos eternos da família.

44. Os homens que destroem a religião da família vão para o inferno. Assim nos ensinam os nossos livros sagrados.

45. Ai de mim! Ai de nós, que nos estamos preparando para cometer o horrível crime de matar os próprios parentes e consanguíneos pela bagatela de obter o domínio pelo desejo do poder!

46. Eu preferiria entregar o meu peito descoberto às armas dos Kurus, e deixá-los beber o sangue do meu coração. Eu preferiria esperar a sua chegada, desarmado, e receber deles o golpe mortal, sem me defender. De certo, isto seria melhor para mim do que cometer esse horrível crime! Ai de mim! Ai de nós todos!


47. Assim clamando, sentou-se Arjuna no banco do carro e deixou cair o arco e as flechas da sua mão, todo entregue à aflição e ao desespero que lhe consumiam o coração. Livro Bhagavad Gita - A Mensagem do Mestre.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

II. MAÇONARIA.

Maçonaria. Texto de Lourivaldo Perez Baçan. A CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON. Capítulo Quatro. Publicada em 1723, a Constituição de Anderson, ou Constituição dos Francos-Maçons, marcou a divisa entre a Maçonaria operativa e a especulativa. Seu subtítulo é bastante significativo: "Constituição, História, Leis, Obrigações, Ordens, Regulamentos e Usos de Muito Respeitável Fraternidade dos Maçons-Livres aceitos, coligida dos seus Registos Gerais e das suas fiéis tradições de muitas épocas." Foi escrita por James Anderson (1679-1739), um Maçom inglês, com dedicatória de Jean-Théophile Desaguliers (1683-1744), filósofo natural francês, que oferece a obra: À Sua Graça o Duque de Montagu. Na sequência da dedicatória, detalha o trabalho feito pelo autor: "Não necessito dizer a Vossa Graça o trabalho que se tomou nosso erudito Autor para compilar e codificar este Livro dos Antigos Arquivos, e com quanta escrupulosidade comparou e expôs tudo o concernente a História e a Cronologia, afim de que estas Novas Constituições sejam uma justa e exata descrição da Maçonaria desde o princípio do mundo até o Grão-Mestrado de Vossa Graça, conservando todo o verdadeiramente autêntico nas antigas; porque alegrará a obra a todo Irmão que saiba que Vossa Graça a leu e aprovou, e se imprime agora para uso das Lojas, depois de aprovada pela Grande Loja, quando Vossa Graça era Grão-Mestre." A obra apresenta uma breve história da arte da construção, baseada nas tradições, os antigos deveres ou leis fundamentais que regiam a arte e as antigas obrigações ou Regulamentos Gerais. Na Constituição de Anderson ficam DEFINIDOS OS PRINCÍPIOS BÁSICOS que, daquela época em diante, disciplinariam a prática da nova Maçonaria, como se percebe nos breves resumos a seguir. Capítulo I - Respeitando a Deus e à Religião "Um Maçom é obrigado, pela sua condição, a obedecer à lei moral. E, se compreende corretamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso." Capítulo II - Do Magistrado Civil supremo e subordinado "Um Maçom é um súdito tranquilo do Poder Civil, onde quer que resida ou trabalhe e nunca deve imiscuir-se em planos e conspirações contra a paz e o bem-estar da nação, nem se comportar indevidamente para com os magistrados inferiores." Capítulo III - Das Lojas "Uma Loja é o local onde se reúnem e trabalham os Pedreiros." (...) "As pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser homens bons e leais, nascidos livres e de idade madura e discreta, nem escravos, nem mulheres, nem homens imorais ou escandalosos, mas de boa reputação." Capítulo IV - Dos Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes "Toda a promoção entre Pedreiros é baseada apenas no valor real e no mérito pessoal, a fim de que os senhores possam ser bem servidos, os irmãos não expostos à vergonha e a arte real não seja desprezada." (...) "Fiquem apenas sabendo os candidatos que nenhum mestre deve tomar aprendiz a menos que tenha ocupação bastante para ele e a menos que se trate de um jovem perfeito, sem mutilação nem defeito no corpo que o torne incapaz de aprender a arte, de servir o Senhor do seu Mestre, e de ser feito Irmão e depois Companheiro em tempo devido, mesmo após ter servido o número de anos consoante requeira o costume do país; e que ele provenha de pais honestos; de maneira que, quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser Vigilante, depois Mestre da Loja, Grande Vigilante e, por fim, Grão-Mestre de todas as Lojas, conforme o seu mérito." Capítulo V - Da Gestão do Ofício no Trabalho "Todos os Maçons trabalharão honestamente nos dias úteis para que possam viver honradamente nos dias santos; e observar-se-á o tempo prescrito pela lei da terra ou confirmado pelo costume. O mais apto dos Companheiros será escolhido ou nomeado Mestre ou inspetor do trabalho do Senhor; e será chamado Mestre por aqueles que trabalham sob ele. Os Obreiros devem evitar toda a linguagem grosseira e não se tratar por nomes descorteses, mas sim por Irmão ou Companheiro; e devem comportar-se com urbanidade dentro e fora da Loja." Capítulo VI - Da Conduta "Nenhum outro trabalhador será empregado no trabalho próprio da Maçonaria; nem os Maçons-Livres trabalharão com aqueles que não forem livres, salvo necessidade urgente; nem ensinarão trabalhadores e Maçons não aceitos como ensinariam um Irmão ou um Companheiro." 1. Na Loja, enquanto constituída Não organizareis comissões privadas nem conversações separadas sem permissão do Mestre; nem falareis de coisas impertinentes nem indecorosas; nem interrompereis o Mestre nem os Vigilantes nem qualquer Irmão que fale com o Mestre; nem vos comportarei jocosamente nem em zombaria enquanto a Loja estiver ocupada com assuntos sérios e solenes; nem usareis de linguagem indecente sob qualquer pretexto que seja; mas antes manifestareis o respeito devido aos vossos Mestre, Vigilantes e Companheiros e venerá-los-eis. Se surgir alguma queixa, o Irmão reconhecido culpado ficará sujeito ao juízo e à decisão da Loja."(...) 2. Conduta depois de a Loja ter encerrado e antes dos irmãos terem partido "Podeis divertir-vos com alegria inocente, convivendo uns com os outros segundo as vossas possibilidades. Evitai, porém, todos os excessos, sem forçar um Irmão a comer ou a beber para além dos seus desejos, sem o impedir de partir quando o chamarem os seus assuntos e sem dizer ou fazer qualquer coisa ofensiva ou que possa tolher uma conversação afável e livre." 3. Conduta quando Irmãos encontram-se sem estranhos, mas não em Loja formada "Deveis cumprir. 4. Conduta quando Irmãos encontram-se sem estranhos, mas não em Loja formada "Deveis cumprimentar-vos uns aos outros de maneira cortês, como vos ensinarão, chamando-vos uns aos outros `Irmãos', dando-vos livremente instrução mútua quando tal parecer conveniente, sem serdes vistos nem ouvidos e sem vos ofenderdes uns aos outros nem vos afastardes do respeito que é devido a qualquer Irmão, mesmo que não fosse Maçom." 5. Conduta na presença de estranhos não Maçons "Sereis prudentes nas vossas palavras e atitudes, a fim de que o mais penetrante dos estranhos não seja capaz de descobrir ou achar o que não convém sugerir; por vezes desviareis a conversa e conduzi-la-eis com prudência, para honra da augusta Fraternidade." 6. Conduta em casa e para com os vizinhos "Deveis proceder como convém a um homem moral e avisado; em especial, não deixeis família, amigos e vizinhos conhecer o que respeita à Loja etc." 7. Conduta para com um Irmão estranho "Deveis examiná-lo com cuidado, da maneira que a prudência vos dirigir de forma que não vos deixeis enganar por um ignorante e falso pretendente, a quem rejeitarei com desprezo e escárnio, evitando dar-lhe quaisquer sinais de reconhecimento." Seguem-se os Regulamentos Gerais, em número de 39, e o subtítulo é elucidativo desse conteúdo: "Compilados inicialmente pelo Sr. George Payne (1799-1860), no ano de 1720, quando era então Grão-Mestre, e aprovados pela Grande Loja no dia de São João Batista, ano 1721, na Stationer's Hall, Londres, quando o grande e nobre Príncipe John, Duque de Montagu, foi unanimemente escolhido nosso Grão-Mestre para o ano seguinte; ele escolheu John Beal (1909-1997) M. D., seu Deputado Grão-Mestre, e o Senhor Josiah Villeneau e o Senhor Thomas Morris, escolhidos pela Loja como Grandes-Vigilantes. E agora, sob o comando de nosso dito Mui Venerável Grão-Mestre Montagu, o autor deste livro os comparou aos antigos Arquivos e Usos Imemoriais da Fraternidade, e os ordenou segundo esse novo método, com muitas explicações apropriadas, para o uso das Lojas dentro e fora de Londres e Westminster. LANDMARKS. Capítulo Cinco. A tradução mais compreensível da palavra "landmark" talvez seja mesmo "marco territorial" ou, explicando melhor, marcos que separam terrenos distintos. Em Maçonaria, foi citada pela primeira vez em 1720, nos Regulamentos Gerais compilados por George Payne. A partir de 1721, eles passaram a ser usados como lei orgânica. Na Constituição de Anderson ela é o último quesito dos Regulamentos Gerais: `XXXIX - Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em beneficio desta Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks."(..) Um dos princípios fundamentais dos Landmarks é sua imutabilidade, mas isso não impediu que mais de 60 versões surgissem ao longo do tempo, gerando inúmeras controvérsias na Maçonaria. Nessas versões, o número de Landmarks varia entre três e 54. Uma dessas controvérsias pôs em confronto dois Maçons norte-americanos, Albert Pike (1809-1891) e seu discípulo, Albert Mackey (1807-1881). A versão de Pike é considerada a mais sensata dentre elas. Pike reconhecia apenas cinco Landmarks, enquanto que Mackey, 25, versão, inclusive, adotada pela maioria das potências da América Latina. LANDMARKS DE PIKE 1. A necessidade dos Maçons reunirem-se em Lojas. 2. O governo de cada Loja por um Venerável Mestre e dois Vigilantes. 3. A crença no Grande Arquiteto do Universo (não necessariamente Deus, mas afigura divina em que acredita o participante) em uma vida futura. 4. A cobertura dos trabalhos da Loja, ou seja, o trabalho a portas fechadas. 5. A proibição da divulgação dos segredos da Maçonaria, isto é, o sigilo maçônico. LANDMARKS DE MACKEY. 1. Os processos de reconhecimento são os mais legítimos e inquestionáveis de todos os Landmarks. Não admitem mudança de qualquer espécie, pois, sempre que isso se deu, funestas consequências vieram demonstrar o erro cometido. 2. A divisão da Maçonaria Simbólica em três Graus é um Landmark que, mais do que nenhum, tem sido preservado de alterações, apesar dos esforços feitos pelo daninho espírito inovador. Certa falta de uniformidade sobre o ensinamento final da Ordem, no grau de Mestre, foi motivada por não ser o terceiro grau considerado como finalidade. 3. Lenda do Terceiro Grau é um Landmark importante, cuja integridade tem sido respeitada. Nenhum Rito existe na Maçonaria, em qualquer país ou em qualquer idioma, em que não sejam expostos os elementos essenciais dessa Lenda. 4. O governo da Fraternidade por um Oficial que a preside, denominado Grão Mestre, eleito pelo povo maçônico, é o quarto Landmark da Ordem. 5. A prerrogativa do Grão-Mestre de presidir a todas as reuniões maçônicas realizadas onde e quando se fizerem é o quinto Landmark. 6. A prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença para conferir graus em tempos anormais é outro importantíssimo Landmark. Os estatutos maçônicos exigem um mês, ou mais, para o tempo em que deva transcorrer entre a proposta e a recepção de um candidato. O GrãoMestre, porém, tem o direito de permitir a Iniciação imediata de qualquer candidato. 7. A prerrogativa que tem o Grão-Mestre de autorização para fundar e manter Lojas é outro importante Landmark. Em virtude dele, pode o Grão-Mestre conceder, a número suficiente de Mestres Maçons, o privilégio de se reunirem e conferirem graus. 8. A prerrogativa do Grão-Mestre deformar Maçons, por sua deliberação, é outro importante Landmark, que carece ser explicado, controvertida como tem sido a sua existência. 9. Outro Landmark é o que afirma a necessidade de os Maçons se congregarem em Lojas. Sempre se prescreveu que os Maçons deviam congregar-se com o fim de se entregarem a tarefas operativas e que a essas reuniões fosse dado o nome de "Loja". 10. Governo da Fraternidade, quando congregado em Lojas, por um Venerável e dois Vigilantes é também um Landmark. A presença de um Venerável e dois Vigilantes é tão essencial que, no dia da congregação, é considerada como uma Carta Constitutiva. 11. A necessidade de estar uma Loja `a coberto" quando reunida é um importante Landmark, que não deve ser descurado. O cargo de Guarda do Templo que vela para que o lugar das reuniões esteja absolutamente vedado à intromissão de profanos, independe, em absoluto, de qualquer lei de Grande Loja ou de Lojas subordinadas. 12. Direito representativo de cada Irmão nas reuniões gerais é um importante Landmark. Nas reuniões gerais, outrora chamadas de Assembleias Gerais, todos os Irmãos, mesmo os simples Aprendizes, tinham o direito de tomar parte. Na Grande Loja só tem direito de assistência os Veneráveis e os Vigilantes, na qualidade de representantes de todos os Irmãos da Loja. 13. Direito de recurso de cada Maçom das decisões de seus Irmãos, em Loja, para a Grande Loja ou Assembleia Geral dos Irmãos é um Landmark essencial para a preservação da justiça e para prevenir a opressão. 14. Direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja é um inquestionável Landmark da Ordem. É o consagrado direito de visitar, que sempre foi reconhecido como um direito inerente que todo Irmão exerce, quando viaja pelo Universo. É a consequência de encarar as Lojas como meras divisões por conveniência da Família Maçônica Universal. 15. Nenhum visitante, desconhecido dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à visita, sem que, antes de tudo, seja examinado, conforme os antigos costumes. Esse exame só pode ser dispensado se o Maçom for conhecido de algum Irmão do Quadro que por ele se responsabilize. 16. Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam respeito a outras, nem conferir graus a Irmãos de outros Quadros. 17. Todo Maçom está sujeito às Leis e Regulamentos da jurisdição maçônica em que residir, mesmo não sendo membro de qualquer Loja. A falta de filiação já é, em si, uma falta maçônica. 18. Por este Landmark os candidatos à Iniciação devem ser isentos de defeitos físicos ou mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher ou um escravo não pode ingressar na Ordem. 19. A crença no Grande Arquiteto do Universo é uma dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação desta crença é impedimento absoluto e insuperável para Iniciação. 20. Subsidiariamente a esta crença é exigida a crença na prevalência do espírito sobre a matéria e em uma nova vida. 21. É indispensável a existência, no Altar, de um Livro da Lei - o Livro que, conforme a crença, supõe-se conter a Verdade Revelada pelo G. A. D. U. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas peculiaridades de fé religiosa de seus membros, esses livros podem variar de acordo com os credos. 22. Todos os Maçons são absolutamente iguais dentro da Loja, sem distinções de prerrogativas profanas, de privilégios que a sociedade confere. A Maçonaria a todos nivela nas reuniões maçônicas. 23. Este Landmark prescreve a conservação secreta dos conhecimentos havidos por Iniciação, tanto dos métodos de trabalho como de suas Lendas e Tradições, que só podem ser comunicadas a outros Irmãos. O sigilo dos trabalhos em Loja é perpétuo. 24. A fundação de uma ciência especulativa, segundo métodos operativos, o uso simbólico e a explicação dos ditos métodos e dos termos neles empregados, com propósito de ensinamento moral, constitui outro Landmark. A preservação da Lenda do Templo de Salomão é o fundamento deste Landmark. 25. Último Landmark é o que afirma a inalterabilidade dos anteriores, nada podendo ser-lhes acrescido ou retirado, nenhuma modificação podendo ser-lhes introduzida. Assim como de nossos antecessores os recebemos, assim os devemos transmitir aos nossos sucessores. Nolonun Leges Mutari. O MANUSCRITO DE COOK. Capítulo Seis. O documento conhecido como Manuscrito de Cook foi descoberto por Matthew J. Cook e impresso em 1861. Desconhece-se sua autoria e a data em que foi redigido. Contém 930 linhas em prosa, com 19 itens que descrevem a história da Geometria e da Arquitetura, deveres, história da Maçonaria e regulamentos do trabalho e da organização dele, conselhos de ordem moral e religiosa e regras da vida social dos Maçons. No texto, pela primeira vez é utilizado o termo "especulativo", referindo-se a um aparentado do rei Athelstan, o mesmo citado no Poema Regius. Estima-se que tenha sido escrito na primeira metade do século XV. O Manuscrito inicia-se com uma louvação a Deus que "fez todas as coisas para ser obedecido, e muitas delas em benefício da Humanidade. Ordenou a essas coisas que se submetessem ao homem, porque todas as coisas que são comestíveis e de boa qualidade servem para sustentar o homem. Também deu ao homem inteligência e habilidade em diversas coisas, e a Arte, por meio da qual podemos viajar por este Mundo para procurarmos a subsistência, para fazer muitas coisas para a Glória de Deus e também para nossa tranquilidade e proveito." Na continuação, o autor propõe-se a narrar de que maneira começou a Ciência da Geometria e quem foram seus criadores. Para isso, discorre sobre as sete Ciências Liberais, assim chamadas porque delas derivam as demais ciências e artes do mundo. Define Geometria como "a medida da Terra" e explica sua importância: `Não te maravilhes de que eu tenha dito que todas as Ciências vivem só pela Ciência da Geometria." Dentro da Geometria, insere a Arte da Construção como a de maior importância, pois foi a primeira a ser criada. Para isso, cita Gênesis 4:17 (`E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e teve a Enoque: e ele edificou uma cidade..."). Nesse capítulo da Bíblia há, também, a menção à fundação de outras artes, como a dos Metais, dos Tecidos e da Música. O texto avança pelo Dilúvio, a Torre da Babilônia, chegando até Euclides. A Arte da Construção é situada na França e, dali, na Inglaterra, com o rei Athelstan. Nesse ponto a narrativa é semelhante à do Poema Regius quanto à organização da Maçonaria, fornecendo mais detalhes, no entanto. Difere, porém, na quantidade de Artigos e de Pontos fixados na Assembleia convocada pelo Rei. Importante, também, destacar neste texto o entendimento da palavra Vigilante, com que são denominados os dois membros mais importantes da Loja, abaixo do Mestre, usado na Maçonaria operativa e incorporado pela especulativa. OS ARTIGOS. Primeiro Artigo. Cada Mestre desta arte deve ser sábio e leal para com o Senhor a quem serve e não pagar a nenhum obreiro mais do que pensa que ele mereça, distribuindo seus benefícios verdadeiramente como gostaria que fossem distribuídos os seus, tendo em vista a escassez de grãos e de víveres no país, não outorgando nenhum favor, para que todos sejam recompensados segundo seu trabalho. Segundo Artigo, Cada mestre desta arte deve ser informado antes de entrar em sua Comunidade; que sejam recebidos como convém; que não podem ser perdoados pela ausência, senão por algum motivo válido. Se forem julgados rebeldes pela Comunidade, ou culpados, de algum modo, de dano a seus Senhores, não serão perdoados de modo algum e serão julgados e se fará sua expulsão. Caso se encontrem em perigo de morte ou enfermos, sem risco de morte, o mestre que preside a Assembleia de julgamento deverá ser avisado. Terceiro Artigo. Nenhum Mestre tomará um Aprendiz por um período menor de sete anos, pelo menos, porque em prazo menor não dominará propriamente a sua Arte e, por conseguinte, será incapaz de servir lealmente a seu Senhor e de compreender a Arte como deve um Maçom. Quarto Artigo. Nenhum mestre tomará para instruir sem proveito um aprendiz que esteja preso por vínculos de sangue (um servo), já que a causa de seu Senhor, à qual está ligado, o distrairá de sua Arte e este poderá chama-lo diante de si, fora de sua Loja e do lugar onde trabalha. Talvez seus companheiros o ajudem e combatam por ele, o que poderia terminar em um homicídio, e é proibido. E também porque sua Arte iniciou-se com os filhos dos grandes Senhores nascidos livres, como já foi dito. Quinto Artigo. Nenhum mestre enviará seu aprendiz, durante o tempo de sua aprendizagem, a outro, pois nenhum proveito pode resultar disso. Ainda que pense que possa agradar seu novo Senhor, mais importante é o proveito que poderá tirar do Senhor do local onde foi adestrado em sua aprendizagem. Sexto Artigo. Nenhum Mestre, por cobiça ou proveito, tomará Aprendizes para ensinar-lhes coisas imperfeitas nem aqueles mutilados, que não possam trabalhar realmente como deveriam. Sétimo Artigo. Nenhum Mestre será visto ajudando, protegendo ou sustentando algum ladrão noturno que, prejudicados por seu furto, seus Companheiros não possam cumprir o trabalho diário ou não possam organizar-se. Oitavo Artigo. Nenhum Maçom, que seja perfeito e hábil, busque trabalho e encontre um modo de ser imperfeito e incapaz. O Mestre do lugar acolherá o Maçom perfeito e despedirá o imperfeito para vantagem de seu Senhor. Nono Artigo. Nenhum mestre tomará o posto de outro, porque foi dito que, na Arte da Construção, ninguém deverá terminar um trabalho começado por outro, para vantagem de seu Senhor. Assim, quem começou tem o direito de terminar o trabalho a seu modo, sejam quais forem seus métodos. OS PONTOS. Primeiro Ponto. É necessário que todos aqueles que desejam ser membros da citada arte jurem por Deus, pela Santa Igreja e por todos os Santos, diante de seu Mestre e de seus Companheiros e Irmãos. Segundo Ponto. O Maçom deve cumprir seu trabalho diário na mesma medida com que é pago. Terceiro Ponto. O Maçom deve aceitar as resoluções de seus companheiros na Loja, na Câmara ou em qualquer outro lugar. Quarto Ponto. O Maçom não enganará sua arte, nem a prejudicará ou sustentará afirmações contra ela ou contra alguém dela e a manterá com dignidade. Quinto Ponto. Quando um Maçom receber seu pagamento, o fará humildemente, já que o mestre estabeleceu o tempo do trabalho e tudo que por ele foi ordenado será permitido. Sexto Ponto. Se surgir uma discórdia qualquer entre um Maçom e seus Companheiros, deverá obedecer humildemente e permanecer às ordens do Mestre ou, em sua ausência, do Vigilante designado pelo Mestre. Na próxima festa religiosa, ele se porá à disposição de seus Companheiros. Não o fará em dia de trabalho, prejudicando-o e ao seu Senhor. Sétimo Ponto. Um Maçom não deverá desejar a mulher nem a filha de seu Mestre ou de seus Companheiros. Se estiver casado, que não tenha concubina, porque isso poderia gerar discórdia. Oitavo Ponto. Se for nomeado Vigilante por seu Mestre, que seja um seguro transmissor entre seu Mestre e seus Companheiros. Na ausência do Mestre, que o substitua com empenho, pela honra dele e para vantagem do Senhor a quem ele serve. Nono Ponto. Se for mais sábio e arguto que o companheiro que trabalha com ela na Loja ou em qualquer outro lugar e se perceber que o outro deve deixar a pedra em que está trabalhando por falta de habilidade, e que pode ensiná-lo a corrigir a pedra, deverá instruí-lo para que o amor cresça entre eles e o trabalho do Senhor não se perca. ASSEMBLEIAS DE JUSTIÇA. Finalizando, o texto do Manuscrito de Cook discorre sobre o funcionamento da Assembleia de justiça, estabelecendo o que se poderia chamar de ritual, amplamente utilizado pela Maçonaria em suas Lojas. Dessas Assembleias deviam participar o Mestre e seus Companheiros, devidamente convidados. Com eles estavam presentes o Mestre da Assembleia, o xerife do condado, o prefeito da cidade e o Conselheiro mais velho da cidade para auxiliarem contra os acusados e preservar o direito do Reino. Eis o cerimonial do encontro: `Inicialmente, entram no recinto os jovens que nunca foram acusados, de forma que não sejam ladrões ou cúmplices deles, e que realizam seu trabalho diário pela recompensa que recebem de seu Senhor. Farão a seus Companheiros um verdadeiro resumo das coisas que devem ser explicadas e ouvidas e que o façam com amor. Devem ser fiéis ao rei da Inglaterra e ao reino, e aterem-se, com todas as suas forças, aos artigos mencionados. Depois disto, indagar-se-á se algum Mestre ou Companheiro, que tenha sido instruído, infringiu algum artigo e ali estabelecer-se- á se fez ou não tais coisas. Vale dizer que caso algum Mestre ou Companheiro, que tenha sido avisado da acusação antes de vir à Assembleia, rebele-se e não apareça, ou que tenha transgredido algum artigo, deverá renegar sua permanência na Maçonaria e não poderá jamais usar sua arte. Se ousar praticá-la, o xerife do país em que venha a ser encontrado deverá prendê-lo e pôr todos os seus bens nas mãos do Rei até que seja mostrada e concedida a graça. Por este motivo, os participantes desta Assembleia estabelecerão que tanto o mais baixo quanto o mais alto devem ser servidores leais de sua arte em todo o reino da Inglaterra." A MAÇONARIA NO BRASIL. Capítulo Sete. O GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Em 1815, estudantes brasileiros que voltavam da Universidade de Coimbra, em Portugal, onde haviam sido iniciados como Maçons, se comprometeram decididamente com a luta política pela independência das províncias de Portugal na América do Sul, que constituíam o reino do Brasil, cuja capital era o Rio de Janeiro. Nesta cidade, desde 1808, se havia refugiado a família real portuguesa, que tinha saído da Europa, no início da invasão napoleônica. Pelo menos desde 1797 haviam sido criadas algumas Lojas Maçônicas no Brasil. É importante citar a criação da Loja "Comércio e Artes", em novembro de 1815, por Maçons que estavam comprometidos com a independência política das províncias brasileiras. Em cumprimento ao Decreto Real de 30 de março de 1818, que proibia o funcionamento de sociedades secretas no Brasil, fechou-se essa Loja e queimaram-se seus arquivos, conforme consta na "Ata da Sessão de Reinstalação", que teve lugar em 24 de junho de 1821, quando a Loja foi rebatizada como "Comércio e Artes na Idade do Ouro". Esta Loja constitui a origem do Grande Oriente do Brasil, já que decidiu, na reunião de 17 de junho de 1822, criar outras duas Lojas, mediante a divisão, por sorteio, do total de seus membros. Assim foram criadas as Lojas "Esperança de Niterói" e "União e Tranquilidade". Com estas três Lojas metropolitanas, formou-se o Grande Oriente. Entre os integrantes daquela Loja se destacam as figuras de Joaquim Gonçalves Ledo e do sacerdote e maestro Januário da Cunha Barbosa, ambos ativistas no processo da independência política do Brasil. José Bonifácio de Andrada e Silva, o "Patrono da Independência", foi eleito Primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, contando com Joaquim Gonçalves Ledo como seu vice e com Januário da Cunha Barbosa como Orador. O motivo principal da criação do Grande Oriente foi o de comprometer a Maçonaria, como instituição, com a luta pela independência política do Brasil. Esta determinação consta, de maneira explícita, nas atas das primeiras reuniões da Organização que se estava criando, que somente admitia a iniciação ou a filiação, em suas Lojas, de pessoas que se comprometessem com o ideal da independência do Brasil. Em junho de 1822, a família real portuguesa já havia retornado a Lisboa e deixado, como Príncipe Regente, a Dom Pedro de Alcântara, filho de Dom João VI (1767-1826), rei de Portugal. O príncipe Dom Pedro, que era jovem e voluntarioso, viu-se rodeado por Maçons, que constituíam a elite intelectual e econômica da época. Por proposta do Grão-Mestre, José Bonifácio de Andrada e Silva, o príncipe foi iniciado em uma Assembleia Geral do Grande Oriente, em 2 de agosto de 1822, adotando o "nome heroico" de "Guatimozim", nome este do último imperador asteca, assassinado por Cortez, no México, em 1522. Dom Pedro integrou-se à Loja "Comércio e Artes". Na reunião seguinte do Grande Oriente, realizada em 5 de agosto, o príncipe foi elevado à categoria de Mestre Maçom, por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo, que ocupava a presidência. Numa jogada política, Gonçalves Ledo fez com que Dom Pedro fosse "eleito" Grão-Mestre do Grande Oriente, em lugar de Andrada e Silva, sendo instalado em 4 de outubro de 1822. Apesar de todas as pessoas influentes ao redor de Dom Pedro serem Maçons e membros do Grande Oriente, a única organização maçônica que existia nessa época, havia uma enorme rivalidade política entre eles. A disputa pelo poder provocou sérias lutas. Dom Pedro proclamou a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822 e assumiu o título de Imperador, com o nome de Dom Pedro I. Exatamente um mês e meio depois, em 21 de outubro, determinava, "primeiro como Imperador, depois como Grão-Mestre" o fechamento "temporário" do Grande Oriente. Esse fechamento se manteve em vigor durante todo o seu reinado, que acabou quando abdicou, em 7 de abril de 1831 e se dirigiu a Portugal para recuperar o trono português, que estava em poder de seu irmão Dom Miguel, coisa que acabou conseguindo, sendo coroado como Dom Pedro IV de Portugal. Desde 1830, os Maçons do Rio de janeiro tentavam reiniciar seus trabalhos, que estavam praticamente parados, e haviam fundado um novo Grande Oriente, que foi instalado em 24 de junho de 1831, com o nome de Grande Oriente Brasileiro, aquele que seria conhecido com o nome de Grande Oriente do Passeio, nome da rua onde estava localizado. Em outubro de 1831, um grupo de Maçons originários do primeiro Grande Oriente reinstalou aos integrantes das três Lojas metropolitanas primitivas e elegeu o primeiro Grão-Mestre, Andrada e Silva, para dirigi-lo. O Grande Oriente foi reinstalado em 23 de novembro de 1831. Em consequência, durante 30 anos funcionaram no Rio de janeiro dois Grandes Orientes. Em 1861, o Grande Oriente do Passeio deixou de existir e suas Lojas foram absorvidas pelo Grande Oriente do Brasil. O Grande Oriente do Brasil sofreu diversas secessões durante sua existência, a maioria delas como consequência de disputas durante as eleições de Grão-Mestre. Todas as secessões que ocorreram até 1927 terminaram por ser reabsorvidas ao longo do tempo e suas Lojas e Irmãos se reincorporaram ao Grande Oriente do Brasil. AS GRANDES LOJAS ESTADUAIS. Em 1927 teve lugar, no seio do Grande Oriente do Brasil, uma secessão que teria consequências históricas importantes. Desde 1854 e até 1951, o Grande Oriente do Brasil era uma "organização dupla", denominada Supremo Conselho e Grande Oriente do Brasil. Seu Grão-Mestre era o diretor da Maçonaria Simbólica e dirigia os "altos graus" já que era o "Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Rito Escocês". O Grão Mestre e Soberano Grande Comendador para o período de 1922 a 1925, Mário Marinho de Carvalho Behring - o cargo de "Supremo Grande Comendador" era exercido automaticamente pelo Grão-Mestre, sem que houvesse uma eleição específica-, renunciou no final de seu mandato, declarando, todavia, que se manteria como Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho. Vicente Neiva foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, tendo como adjunto Fonseca Hermes. Vicente Neiva morreu em 18 de fevereiro de 1926 sem haver podido resolver o problema criado por Mário Behring. Seu posto foi assumido por Fonseca Hermes, que era amigo de Behring e que firmou com ele um Tratado, em 22 de outubro de 1926, no qual se reconhecia a independência do Supremo Conselho. Em 21 de março de 1927, Octavio Kelly foi instalado como Grão Mestre Adjunto e em 6 de junho desse mesmo ano, pressionado, Fonseca Hermes se afastou de seu cargo e Octavio Kelly se tornou Grão-Mestre. Em 17 de junho de 1927, Mário Behring, que sabia que Octavio Kelly não dividiria o poder com ele, convocou uma reunião do Supremo Conselho com apenas 13 de seus 33 membros e o declarou separado do Grande Oriente do Brasil. Para apoiar seu Supremo Conselho do Rito Escocês, Behring estimulou a criação de Grandes Lojas nos Estados, que já vinham sendo instaladas sigilosamente e às quais outorgava Cartas Constitutivas emitidas por seu Supremo Conselho. Foi dessa maneira que se criaram as Grandes Lojas da Bahia, fundada em 22 de maio de 1927, do Rio de Janeiro, fundada em 18 de junho de 1927, e de São Paulo, em 2 de julho de 1927, às quais outras se seguiram. Estas Grandes Lojas dos Estados e as Lojas que as compõem existem até hoje como organizações independentes umas das outras. Para dar-lhe um caráter nacional, foi criada uma entidade denominada Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, que é presidida de forma rotativa anual pelos Grãos Mestres das diversas Grandes Lojas dos Estados. OS GRANDES ORIENTES INDEPENDENTES. Em 1973 se registrou a última cisão no seio do Grande Oriente do Brasil, com o surgimento, também por problemas eleitorais, dos Grandes Orientes Estaduais Independentes, que reuniam Lojas que não concordavam com o resultado das eleições para Grão-Mestre. A princípio a cisão teve grande repercussão, mas ao longo dos anos muitas Lojas que então se rebelaram acabaram retornando ao Grande Oriente do Brasil. Muitas das reclamações das Lojas em relação à estrutura de poder no Grande Oriente do Brasil foram superadas com as alterações que ocorreram posteriormente, especialmente a mudança de sede, em 1978, da cidade do Rio de janeiro para a nova capital federal, Brasília. Ainda assim, existem várias centenas de Lojas reunidas em torno desses Grandes Orientes Estaduais na maioria dos Estados Brasileiros. Como sua posição inicial eram contra a Federação Maçônica nacional, esses Grandes Orientes são independentes entre si. No entanto, dada a necessidade de ter um caráter nacional, terminaram constituindo uma entidade denominada Colégio de Grãos Mestres, que hoje em dia é chamada Confederação Maçônica Brasileira - COMAB, sob a presidência rotativa anual dos Grãos Mestres dos Grandes Orientes Independentes. O Livro Secreto da Maçonaria. Abraço. Davi.

terça-feira, 25 de julho de 2017

I, MAÇONARIA.

Maçonaria. Texto de Lourivaldo Perez Baçan. Este livro contém uma série de relatos históricos a respeito da Maçonaria desde os primeiros registros, o Poema Regius, a Constituição de Anderson e o Manuscrito Cook, além do estabelecimento da Maçonaria no Brasil, das Leis Anti-Maçônicas na Europa e as farsas envolvendo a instituição com o Satanismo. Também estão presentes a descrição dos ritos maçônicos e da hierarquia de cargos. INTRODUÇÃO À MAÇONARIA. Capítulo Um. Mitos, lendas e desinformação cercam a Maçonaria como instituição. Para os leigos, ela é cercada de mistérios e é considerada elitista. Informações nem sempre fidedignas ligam suas atividades ao sobrenatural e ao satânico. É importante, portanto, esclarecer alguns aspectos para melhor entendimento do assunto. A Maçonaria é uma ordem cujas doutrinas básicas são amor fraterno, auxílio mútuo, filantropia e busca constante da verdade. Os maçons esforçam-se para desfrutar da companhia de seus irmãos, ajudando-se em tempos de dificuldade pessoal e reforçando valores morais essenciais. Um antigo provérbio maçom diz que "a Maçonaria ensina os homens a serem bons e os que já o são, ela os torna melhores". Oferece uma oportunidade para um contato regular e agradável com homens de caráter, reforçando o próprio desenvolvimento pessoal e moral, num clima de companheirismo e fraternidade. Para manter essa fraternidade, é proibida a discussão de religião e política dentro das Lojas, uma vez que estes assuntos dividiram frequentemente os homens ao longo da História. A Maçonaria encoraja um homem a ser religioso sem defender uma religião em particular, tanto quanto incentiva que ele seja ativo na comunidade, sem defender um sistema ou partido político em particular. Os Maçons, também conhecidos como Pedreiros, não encontram na Maçonaria ensinamentos sobre a arte da construção, como o faziam os Maçons operativos da Idade Média. Assim, as ferramentas comuns, usadas nos canteiros medievais, como o maço, o cinzel, o nível, o prumo e outros têm cada uma um significado simbólico na Maçonaria e visam o aperfeiçoamento moral dos Maçons. A Maçonaria se distingue de outras ordens fraternais por sua ênfase no caráter moral, no seu sistema de rituais e na sua longa tradição, com uma história que data aproximadamente do século XVII. Há três graus em Maçonaria. Outros corpos conferem graus adicionais, até o 330 no Rito Escocês, mas nas Lojas normais ou simbólicas, têm-se apenas os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. A maioria das Lojas tem reuniões regulares e semanais e congregam-se em Potências Maçônicas, chamadas Grandes Orientes ou Grandes Lojas. Essas reuniões são feitas seguindo um ritual próprio. Nos países da América Latina, o rito mais praticado é o Rito Escocês Antigo e Aceito. É um corpo de normas que regem os trabalhos de uma Loja, quando em reunião regular. O rito mais praticado no mundo, no entanto, é o Rito de York ou Rito Emulação. As diferenças entre eles não chegam a ser significativas. Outros ritos, como o Brasileiro, o Moderno e o Adonhiramita convivem com os dois primeiros. A relação entre ritual e religião é muito frequente, provocando uma certa confusão na definição da Maçonaria. Alguns julgam, por isso, que se trata de uma religião, mas analisando-se o assunto, nota-se que os rituais são uma parte do homem que pouco é notado. Ritual é simplesmente a maneira como algumas coisas são feitas, uma espécie de procedimento padrão para impor ordem e disciplina aos trabalhos. Uma reunião de condôminos obedece uma ordem determinada, da mesma forma como uma reunião de pais e mestres em um colégio. Sem essa sequência de atos a serem vencidos tem-se a baderna e a perda de tempo. 0 resultado será sempre questionável. Há rituais sociais ou convenções que dizem como deve-se apresentar às pessoas, como participar de uma conversação, como enfrentar uma fila, com paciência, sem empurrar ou tentar passar na frente com algum tipo de artifício. A Maçonaria usa um ritual porque é um modo efetivo para ensinar ideias importantes. Além disso, o ritual maçônico é muito rico e muito antigo, remontando aos primórdios de sua criação. As reuniões regulares de uma Loja Maçônica são realizadas em um local chamado Templo. Essas reuniões, nos seus primórdios, não eram feitas em um local específico. A partir da construção do Fremason's Hall, na Inglaterra, em 1776, as reuniões ganharam um local fixo. Muitas Lojas, em função do tamanho de seu quadro, utilizam as instalações ou Templos de outras Lojas. O Templo não tem caráter religioso. A Maçonaria preocupa-se não apenas com o aperfeiçoamento moral do adulto, mas também com o desenvolvimento dos jovens, preparando-os para a vida e, muitas vezes, para a futura renovação de seus quadros. Entre essas instituições, destacam-se duas delas. A Ordem Internacional DeMolay é uma organização fraternal que congrega jovens entre 13 e 21 anos, fundada na cidade de Kansas, Missouri, em 24 de Março de 1919, por Frank Sherman Land. Os Capítulos DeMolay são patrocinados por Lojas Maçônicas, cujos membros fazem parte do seu Conselho Consultivo. Os Capítulos DeMolay celebram reuniões semanais, valendo-se de um ritual próprio para direcioná-las. Além disso, promovem atividades que incluem torneios, eventos sociais, filantrópicos e cívicos. Seu nome vem de Jacques DeMolay, que foi o último dos Cavaleiros Templários a ser executado pela Inquisição, em 18 de Março de 1314. A Ordem Internacional Arco-íris para Meninas é uma organização para garotas de 11 a 20 anos, sendo a correspondente feminina da Ordem DeMolay, com a qual frequentemente desenvolve atividades conjuntas, com o mesmo objetivo fraterno. Durante as reuniões regulares de uma Loja Maçônica, os membros paramentam-se com um avental simbólico. Na cerimônia de iniciação, o Maçom é revestido com um avental branco, símbolo do trabalho. Ao atingir o grau de Mestre, esse avental é trocado por um outro, com as cores do rito, normalmente vermelho e/ou azul. Assim como os antigos Pedreiros utilizavam seu avental como proteção, simbolicamente o Maçom, quando em Loja, usa-o para realizar seus trabalhos rotineiros. Para a Maçonaria, todos os homens foram feitos iguais, não havendo, entre seus membros, distinção de raça, crença ou cor. Isso confunde os leigos, que julgam ser uma instituição elitista. Considerando que apenas são convidados a participar da Maçonaria homens virtuosos e representativos da sociedade, pode-se dizer que ela é uma elite, embora o correto seja afirmar que ela impõe critérios rigorosos para a iniciação de um novo membro. No homem comum, honestidade e caráter são virtudes, no Maçom, obrigação. Um mito também muito frequente afirma que o Maçom, uma vez iniciado, jamais poderá deixar a Ordem. Não há esse impedimento. Desejando afastar-se da Maçonaria, basta que o Maçom requeira o afastamento de sua Loja, pois isso é um direito seu. A Maçonaria preza a liberdade de seus membros e defende-a tanto quanto luta para preservar a liberdade dos cidadãos em geral. Outra confusão permanente afirma que a Maçonaria é uma sociedade secreta, o que não é verdade. A localização de seus templos é conhecida e pode ser encontrada facilmente em qualquer lista telefônica. Suas reuniões são secretas, pois são reservadas apenas aos membros efetivos, diferentemente de uma sociedade secreta, cuja existência é desconhecida ao público e negada por seus participantes. As reuniões são fechadas para preservar os segredos maçônicos, que são principalmente seus modos de reconhecimento, como sinais, cumprimentos e frases pelos quais os Maçons reconhecem-se um ao outro. Um dos requisitos para um leigo tornar-se Maçom é a crença em um Ser Supremo, a que dá-se o nome de GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO. Assim, apesar de não ser uma religião, a Ordem defende a existência de um Ser Superior ou Princípio Criador. Uma religião é muito mais complexa, implicando detalhes como a existência de um plano para salvação ou caminho pelo qual se alcança uma recompensa depois da vida. Implica também uma teologia que tenta descrever a natureza de Deus e divulga a descrição de modos ou práticas pelo qual um homem ou uma mulher podem buscar comunicar-se com Ele. A Maçonaria não faz nenhuma dessas coisas. Apenas abre e fecha seus trabalhos com uma oração e ensina que nenhum homem deveria começar qualquer empresa importante sem antes buscar apoio espiritual. Contudo, não ensina aos homens como devem rezar ou o que devem pedir. Prega apenas que cada um tem que achar as respostas para suas grandes perguntas na sua própria fé, na sua Igreja, na sua Sinagoga ou em seu Templo Religioso. Para tornar-se um Maçom, é necessário, inicialmente, que o candidato prime pela moral e pelos bons costumes. Deve ter uma profissão definida que lhe garanta a subsistência. Ele deve ser indicado por um Mestre Maçom e ter sua iniciação aprovada pela Loja. Ninguém se inscreve para ser Maçom, embora admita-se que um candidato procure um membro da Loja e manifeste sua intenção. Normalmente, por suas qualidades, ele é notado por um Maçom que o indica. Todo um processo de admissão é desenvolvido, o candidato é entrevistado, bem como sua família. Nessa fase, são prestadas informações preliminares sobre a Ordem Maçônica, seus objetivos e atividades. Nada impede que um religioso seja aceito como Maçom. O que jamais se verá, no entanto, é um ateu sendo recebido na Maçonaria, pois um dos princípios básicos para admissão na Ordem é a crença em um Ser Supremo. HISTÓRIA DA MAÇONARIA. Capítulo Dois. Muitas polêmicas cercam a origem da Maçonaria que, no entanto, é muito fácil de ser explicada e entendida. Basta ter em mente que Maçom e construtor, aqui englobando o Pedreiro e o arquiteto, são sinônimos. Assim, quando o primeiro homem adaptou uma caverna para lhe servir de abrigo, estava dando os primeiros passos nessa arte e tornando-se o primeiro Maçom da História da Humanidade. Depois, quando começaram a construir abrigos com suas próprias mãos, é lógico deduzir que alguns tinham mais habilidades do que os outros nisso. Uns eram ótimos caçadores, outros eram pescadores, outros agricultores, mas alguns, construíam. Logo perceberam que eram uma classe distinta dos outros e, assim como os caçadores trocavam informações, passaram a fazer o mesmo. Com a experiência, veio a sofisticação. A arte de construir evoluiu e, para aprender seus segredos, era preciso tempo e, obviamente, habilidades. Regras foram criadas e seguidas, pois, afinal, um caçador podia perder uma flecha, mas um construtor jamais poderia permitir que uma casa caísse por sua culpa. Qualquer registro histórico mostrará, com riqueza de detalhes, a quantas chegou essa arte. Dos Templos Sumérios às pirâmides egípcias, das construções bíblicas aos Templos Gregos e Romanos, a arte de construir atingiu proporções sagradas. Em algum ponto da História, porém, o sagrado e o profano separaram-se. A arte de construir tornou-se um negócio para criar meios de abrigar a população em suas necessidades de moradia, de trabalho e de lazer. A arte de ser um construtor de mentes tornou-se um dos maiores segredos, pois toda a mítica da construção de obras físicas foi transformada em símbolos para o aperfeiçoamento moral da humanidade. Até a Idade Média, tínhamos uma Maçonaria de detentores de ofícios formada por pedreiros e arquitetos. Era a chamada Maçonaria operativa, voltada ao trabalho de talhar a pedra bruta para torná-la cúbica e ordená-la de forma a obter um resultado: o edifício pronto. Exigia aprendizado e tempo para que se ganhasse experiência e perfeição. Talvez houvesse desorganização e concorrência, mas é certo que se alguém tivesse habilidade, encontraria quem lhe ensinasse o ofício. Nada mais se sabe, além disso, mas é certo que a partir de um determinado período, os construtores começaram a organizar-se, estruturando seu trabalho, criando regras, como uma auto-regulamentação do ofício. Por volta de 1200, tornaram-se fortes e unidos, na Inglaterra, principalmente, potência econômica reconhecida na época. E seguiram com seu trabalho, até que a arte de construir começou a cair em decadência, por volta do século XVIII. Para fortalecer seu poder, as organizações fechadas de Maçons passaram a permitir o ingresso de nobres, pessoas importantes, mas alheias ao ofício. A Maçonaria deixava de ser operativa e passava a ser especulativa, entrando em seu período esotérico e moderno. Era a Maçonaria de adoção. Os Mestres, profissionais da arquitetura e da construção, misturaram-se com burgueses e nobres. Especular, segundo o dicionário, é "ver, olhar atentamente, vigiar; observar; inquirir; estudar; meditar sobre qualquer matéria e fazer dela estudo teórico". Foi isso que os Maçons, agora membros de uma organização chamada Maçonaria, passaram a fazer. Dedicavam-se, agora, não ao estudo dos segredos do conhecimento operativo, mas sim à revelação dos conhecimentos especulativos e espirituais. No século XVIII, reuniram-se as Lojas existentes e institucionalizou-se a Grande Loja de Londres, mais tarde Grande Loja Unida da Inglaterra, berço da Maçonaria Universal, pregando a crença em um Grande Arquiteto do Universo e o respeito ao poder civil da Coroa. A Maçonaria especulativa dividiu-se, multiplicou-se, deu frutos. Na atualidade, polariza-se em Grandes Orientes, Grandes Orientes Independentes e Grandes Lojas, além de inúmeras organizações de Altos Graus, que vão além dos três graus iniciais (Aprendiz, Companheiro e Mestre). Multiplicou-se em diversos ritos (York, Escocês Antigo e Aceite, e o Rito Francês ou Moderno, entre outros). Espalhou-se pelo mundo, estando presente praticamente em todos os pontos do planeta, institucionalizada e legalizada em seus templos, publicando livremente suas ideias, invadindo a Internet, mantendo obras sociais e preparando gerações futuras em organizações específicas, como a feminina Ordem da Estrela do Oriente, a Ordem DeMolay, para rapazes, e as Filhas de Jó ou Arco-íris, para meninas. OS PRIMEIROS REGISTRO. Capítulo Três. Em 1356, um Código de Regulamentos Maçônicos surgiu em Londres, na Inglaterra, constituindo-se na primeira referência sobre a Maçonaria como organização. Em 1390, surge um poema, chamado Poema Regius, que detalha a criação de um ofício especializado a ser realizado por artífices construtores chamados de Maçons. Nesse poema, o Rei Athelstan (895-935), coroado rei da Inglaterra em 925, promove uma reunião de Maçons, estabelecendo normas e regras para o exercício desse ofício. O poema apresenta essas normas e regras, além de noções de obrigações morais. É conhecido também como Manuscrito de Halliwell, em referência ao descobridor, James Orchard Halliwell-Phillips (1820-1889), e Manuscrito Régio, por ter pertencido à Biblioteca Real Inglesa. Há que diferenciar, no entanto, que nos seus primórdios a Maçonaria era operativa, congregando trabalhadores, como uma organização de classe, diferente da Maçonaria atual, especulativa, dedicada ao estudo e ao aprimoramento do homem. Escritores fantasiosos remontam as origens da Maçonaria aos Tempos Bíblicos, o que, vista sob a ótica de organização operativa, não deixa de ter um fundo de verdade, já que havia, naqueles Templos, construtores. Um documento conhecido como Manuscrito de Cook, de 1410, estabelece a primeira ligação entre os maçons e a construção do Templo do Rei Salomão. Em II Crônicas 2:1-18 são detalhadas as providências iniciais para a construção do Templo, incluindo a presença de artesãos e marceneiros especializados para formar a equipe de trabalho. As Grandes Pirâmides também são exemplos do trabalho desses maçons operativos, pois a tecnologia utilizada em suas construções, até hoje, provoca admiração. Não há dúvidas de que eram operários altamente especializados. Foi só por volta do século XVI que começaram a surgir as primeiras referências a uma Maçonaria especulativa, com a admissão de leigos nos quadros da Loja de Edimburgo. Acredita-se que os Maçons operativos reuniam-se para assembleias e encontros nos próprios canteiros de obras, em barracões, de onde surgiu a palavra "Loja" para designar o local dessas reuniões. As atribuições desses Maçons operativos, como descritas no Poema Regius, foram sintetizadas numa Constituição por Anderson e, para regulamentar o funcionamento das Lojas, estabeleceram-se os chamados Landmarks, palavra sem uma tradução específica em português, mas que pode ser entendida como "marcos territoriais". Em Maçonaria, no entanto, refere-se a regras imutáveis que norteiam a existência da Ordem. O Poema Regius, a Constituição de Anderson, os Landmarks e o Manuscrito de Cook são documentos imprescindíveis para quem deseja conhecer um pouco mais essa organização. O simbolismo maçônico atual e as regras de atuação dos maçons e das Lojas estão intimamente ligados a eles. O Poema Regius foi escrito em inglês medieval, atualizado posteriormente, e traduzido para todas as línguas onde atua a Maçonaria. Com isso, perdeu-se a riqueza do poema, mas o conteúdo foi preservado, fornecendo informações sobre o modo de pensar e agir dos Maçons operativos. Na versão que se segue, o texto em prosa foi compilado, para melhor entendimento, apresentando seu aspecto mais importante: "as regras do ofício de Maçom". É interessante observar que, no poema, há referências a Maçons "Irmãos" e "Irmãs", dando a entender que homens e mulheres trabalhavam juntos. A Maçonaria especulativa tornar-se-ia iminentemente masculina. O poema explica porque a Maçonaria é conhecida como Arte Real, pois era praticada exclusivamente por nobres. O POEMA REGIUS Em seu prólogo, o autor narra que nobres senhores, no Egito, preocupados com o futuro dos filhos, contrataram um sábio para ensinar-lhes o ofício da Maçonaria. Euclides foi o escolhido, tornando-se célebre por isso. A arte foi implantada na Inglaterra quando reinava ali o rei Athelstan. Ele mandara construir castelos, Templos e edificações, mas não ficara satisfeito com os resultados, por isso convocou Maçons de Ofício. Promoveu uma reunião com homens de diferentes classes, duques, condes, barões, cavaleiros, escudeiros, burgueses e muitos outros para definir os estatutos dos Maçons. Eles uniram seus espíritos e desempenharam bem sua tarefa. Anunciaram quinze artigos e determinaram quinze pontos a serem seguidos. No poema, a arte da construção é entendida como a Arte da Geometria. OS ARTIGOS. Artigo Primeiro. O primeiro artigo da Geometria: pode-se confiar em um Mestre Maçom, pois ele é firme, sincero e verdadeiro. Ele não será contestado se pagar os seus companheiros após a refeição conforme o valor habitual. Ele deverá remunerá-los equitativamente segundo a boa fé e os méritos deles sem nunca levar vantagem. Eles gastarão o que ganharem e não economizarão por avareza ou por medo da falta. Eles não servirão mais de um senhor e um senhor não terá mais de um mestre. Nada devem tomar de seus senhores, agindo dentro da justiça, dando a cada um de acordo com seu mérito. Artigo Segundo. Todo Mestre Maçom deve comparecer às assembleias gerais. Ele deve, portanto, saber onde a assembleia será realizada. A essa reunião ele assistirá, exceto em caso de justificativa válida, sob pena de ser reputado rebelde ao ofício e sem honra. Se adoecer e não puder ir, isso será uma justificativa válida que a assembleia aceitará como tal. Artigo Terceiro. O Mestre não aceitará nenhum Aprendiz que ele não tenha certeza de empregar durante ao menos sete anos. Em um tempo inferior a isso não trará proveito para o senhor nem para ele próprio. Artigo Quarto. O Mestre não poderá tomar um servo como Aprendiz ou emprega-lo como engodo do lucro, pois seu senhor poderá buscar o Aprendiz onde quer que vá. Se ele for recrutado na Loja, poderia haver desordem. Um caso desses prejudicaria a todos. Todos os Maçons seriam atingidos. Para a paz e a harmonia, devem admitir um Aprendiz de boa-condição. O Aprendiz deveria ser de alta linhagem, assim, filhos de grandes senhores aprenderam a Geometria, fonte de benefícios. Artigo Quinto. O Aprendiz não pode ser bastardo. O Mestre nunca admitirá como Aprendiz uma cabeça perturbada. Ele deve ter os membros em bom estado. O ofício padecerá se entrar um amputado, um coxo, pois um homem enfraquecido não poderá cumprir sua tarefa. O ofício demanda homens fortes. Um homem mutilado não tem força suficiente. Artigo Sexto. O Mestre não pode prejudicar o Senhor, solicitando ao Senhor, para seu Aprendiz, o que ele dá aos demais companheiros, pois estes são formados, enquanto que o outro ainda não o é. Seria contrário à razão dar-lhe o salário completo. O artigo diz ainda que o Aprendiz deve solicitar menos que os Companheiros, que conhecem o ofício. O Mestre deve instruir seu Aprendiz para que seu salário possa ser aumentado. Quando ele tiver cumprido seu tempo, assim será feito. Artigo Sétimo. Nenhum Mestre, por favor ou medo, deverá vestir ou alimentar um ladrão. Ele nunca acolherá um ladrão, nem um assassino, nem alguém com reputação duvidosa, pois isso envergonharia o ofício. Artigo Oitavo. Diante de um homem do ofício que não tenha capacidade suficiente, o Mestre pode substituí-lo e colocar em seu lugar alguém mais competente, pois um homem que tenha fraquezas pode prejudicar o ofício. Artigo Nono. O Mestre deve ser ao mesmo tempo escutado e temido. Ele não iniciará nenhum trabalho se não estiver certo de conduzi-lo bem. Isso para o benefício do senhor e do ofício. Ele verificará as fundações e zelará para que não oscilem, nem desabem. Artigo Décimo. Nenhum Mestre deve sobrepujar um outro, mas construir juntos, como irmã e irmão, sob a direção de um deles. Ele não intrigará quem tiver realizado um trabalho. Se isso ocorrer, ele pagará uma multa de dez libras, exceto se aquele que chefiava a obra for julgado culpado. Nenhum Maçom poderá assumir o trabalho de um outro, exceto se este ameaçar a obra. Um Maçom pode, então, assumir a obra para o benefício do Senhor. Nesse caso, nenhum Maçom poderá se opor, mas, em verdade, aquele que escavou as fundações, se for um verdadeiro Maçom, certamente conduzirá a obra a bom termo. Artigo Décimo Primeiro. Nenhum Maçom deve trabalhar durante a noite, exceto para dedicar-se ao estudo pelo qual poderá aperfeiçoar-se. Artigo Décimo Segundo. Todo Maçom deve ser honesto. Ele nunca deve criticar o trabalho dos demais se quiser manter sua honra. Seu comentário será honesto, pois o saber vem de Deus. Todos devem trabalhar juntos para aperfeiçoar o ofício. Artigo Décimo Terceiro. Se o Mestre admitir um Aprendiz, ele o instruirá da melhor forma possível, transmitindo-lhe seu saber. Assim ele conhecerá o ofício e poderá trabalhar, não importa em que lugar da terra. Artigo Décimo Quarto. O Mestre não admitirá um Aprendiz se não tiver utilidade para ele. Durante o aprendizado, ele lhe ensinará os diferentes pontos do ofício. Artigo Décimo Quinto. O Mestre não deve ter para com os outros homens um comportamento hipócrita, nem seguir os companheiros no caminho do erro, qualquer que seja o benefício que possa ter. Ele nunca deverá fazer um falso juramento e com amor deverá preocupar-se com sua alma, sob pena de trazer para o ofício a vergonha e para si a repreensão. OS PONTOS. Primeiro Ponto. Quem quiser aprender o ofício e abraçá-lo deverá amar a Deus e a Santa Igreja, assim como seu Mestre e demais Companheiros. Segundo Ponto. O Maçom trabalhará nos dias úteis da melhor forma possível, a fim de merecer seu salário e os dias de repouso, pois quem tiver feito bem seu trabalho merecerá sua recompensa. Terceiro Ponto. O Aprendiz deverá guardar segredo sobre os ensinamentos de seu Mestre e de seus companheiros. Ele jamais trairá as decisões da Câmara nem revelará o que se faz na Loja. Tudo o que ouvir, na Loja ou na floresta, guardará para si, honradamente, sem o que mereceria uma repreensão e grande vergonha abater-se-ia sobre o ofício. Quarto Ponto. Nenhum Maçom deve mostrar-se pérfido para com o ofício. Se cometer um erro que possa prejudicá-lo, deverá cessar. Ele não fará nenhum dano ao Mestre ou aos Companheiros. O Aprendiz, com respeito, obedecerá às mesmas leis. Quinto Ponto. Quando o Maçom receber seu salário do Mestre, como foi acertado, ele o receberá humildemente. O Mestre terá cuidado em avisá-lo antes do meio-dia se não quiser mais empregá-lo. Sexto Ponto. Se por inveja ou ira surgir uma disputa entre os Maçons, o Mestre, se isso estiver em seu poder, deverá lhes fixar uma data, após a jornada de trabalho, para que possam se explicar. Eles só tentarão fazer as pazes após o término de sua jornada de trabalho. Durante os dias de licença, poderão usar o tempo livre para se reconciliar. Se for marcada a conciliação para um dia de trabalho, isso acabará por perturbar a obra. Sétimo Ponto. O Maçom deve manter honesta a vida que Deus dá. Assim como Ele ordena, um Maçom não dormirá com a mulher de seu Mestre nem de seus Companheiros. Isso não é digno de um homem e prejudicará o oficio. Isso também deve ser feito em relação à concubina de seus Companheiros, pois não gostaria que fizessem o mesmo com a sua. A punição para essa falta será permanecer Aprendiz durante sete anos completos. Quem esquecer um desses pontos será duramente castigado. Oitavo Ponto. Se um Maçom receber uma tarefa, qualquer que seja ela, ao Mestre deve permanecer fiel. Deve agir como um leal intermediário entre o Mestre e os Companheiros. Nono Ponto O nono ponto refere-se ao intendente da casa. Se dois Maçons estiverem em casa, um deverá servir o outro com moderação e dedicação. Todos devem saber que na sua vez serão intendentes. Ser intendente é servir os outros como Irmãs e Irmãos. Nunca tentar escapar dessa tarefa e exercê-la como se deve. O intendente não se esquecerá de pagar convenientemente quem lhe vendeu provisões para que não possa ter queixas contra ele nem contra seus Companheiros, homem ou mulher. Deverão ser pagos de acordo com seus méritos. Além disso, dará ao companheiro o detalhamento de seu salário, a fim de evitar qualquer confusão. Agindo assim, não será repreendido. Por sua vez, deverá manter controle exato dos bens que tiver recebido, das despesas feitas para os Companheiros, das quais prestará contas quando os lhe solicitarem. Décimo Ponto. Explica como viver bem sem confusão nem discussão. Se algum dia um Maçom for colocado em posição difícil, se ele cometer um engano em sua obra e inventar desculpas, ele desonrará seus Companheiros. Por causa de tais infâmias o ofício poderá ser censurado. Se ele aviltar o ofício, nada lhe será poupado e os demais devem tentar afastá-lo do vício, sob pena de verem nascer guerras e conflitos. Não lhe será permitido nenhum repouso, até que o tenham convencido a comparecer diante dos demais, de boa ou má vontade. Durante a assembleia, ele comparecerá diante de todos os seus companheiros reunidos. Se ele se recusar, será excluído do ofício e castigado de acordo com o código dos anciãos. Décimo Primeiro Ponto. Um Maçom que conhece o ofício, que vê seu companheiro talhar uma pedra e ameaçar desperdiçá-la, deve corrigi-lo se puder e ensiná-lo como realizar o talhe para que não seja maltratada a obra do Senhor. Isso deve ser feito com amor e palavras adequadas, cultivando a amizade. Décimo Segundo Ponto. No local onde será realizada a assembleia haverá Mestres, Companheiros, grandes senhores e também o xerife, o prefeito da cidade, cavaleiros e escudeiros e mestres de aferição. Todas as ordens dadas por eles serão respeitadas ao pé da letra pelos homens do ofício. Se ocorrer alguma contestação, eles têm poder de decisão. Décimo Terceiro Ponto. Um Maçom nunca deve roubar nem auxiliar um ladrão com o objetivo de receber uma parte do roubo. Ao cometer esse pecado, ele prejudicará a si e a sua família. Décimo Quarto Ponto. O Maçom deve prestar juramento diante de seu Mestre e de seus Companheiros. Obedecerá com zelo às ordens, a seu senhor, ao rei, aos quais será fiel. Todos os pontos enumerados devem ser respeitados e jurados, queira ele ou não. Se alguém vier a esquecê-los, qualquer que seja sua posição, será detido e conduzido diante desta assembleia. Décimo Quinto Ponto. Os pontos enumerados são obra dos senhores e Mestres citados acima. Foram redigidos para impedir que se prejudique o ofício. Aqueles que recusarem esta constituição e seus artigos, se tiverem suas faltas provadas diante da assembleia, e não quiserem emendar-se, deverão renunciar ao ofício e jurar abandoná-lo. A menos que reconheçam sua culpa, eles não farão mais parte dele. E se recusarem-se a obedecer, o xerife os deterá imediatamente e os lançará em uma escura prisão. Seus bens e seu gado serão confiscados pelo tempo que aprouver ao rei. UM OUTRO REGULAMENTO. O poema continua: Ordena-se que anualmente uma assembleia seja realizada para verificar e retificar os erros do oficio no país. Todos os anos, ou a cada três anos, conforme o caso, será assim no local por eles escolhido. Data e local serão fixados, assim como a localização exata. Todos os homens do oficio assistirão a ela assim como os Senhores para corrigir os erros do oficio. Todos aqueles que pertençam ao oficio deverão jurar manter puros os estatutos tal como foram redigidos pelo rei Athelstan. Esses estatutos, por mim encontrados, devem ser respeitados no território, fiéis à realeza que devo a minha dignidade. Em cada assembleia, venham sentar-se junto de seu rei, afim de encontrar nele a graça para que ela permaneça em vocês. Eu confirmo os estatutos do rei Athelstan que os ditou para o oficio. Na sequência, o autor narra a lenda dos quatro mártires coroados: Claudius, Castorius, Simphoranius e Nicostratus. Os quatro eram reconhecidamente cristãos. Recusaram-se a talhar uma imagem para o Imperador Diocleciano, que desejava ser adorado como a um deus, por isso foram mortos. Seguem-se uma narrativa bíblica sobre a construção da Torre da Babilônia, depois comentários sobre as sete Ciências Liberais reverenciadas na época: Gramática, Dialética, Retórica, Música, Astronomia, Aritmética e Geometria. O poema finaliza com regras de comportamento. Várias práticas adotadas na Maçonaria operativa, como o sigilo, a discrição, a obediência às leis e a boa conduta, foram incorporadas pela Maçonaria especulativa, só que com um novo significado, dentro das premissas da nova Ordem. O Livro Secreto da Maçonaria. Abraço. Davi.