quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

DEVOÇÃO A VIRGEM MARIA UNE UCRÂNIA E RÚSSIA

 

Cristianismo. www.acidigital.com.br DEVOÇÃO A VIRGEM MARIA UNE UCRÂNIA E RÚSSIA. Nossa Senhora de Kiev é um dos ícones mais venerados no Oriente, tanto por ucranianos quanto por russos, e é considerado um dos mais famosos do mundo. No entanto, é também conhecida como Nossa Senhora de Vladimir e é um dos ícones mais antigos, tendo chegado ao que hoje é a capital ucraniana em 1134. Além disso, tornou-se um ícone muito significativo por outro motivo importante. Mas, primeiro, um pouco da história contextualizará. "Kiev é uma cidade santa porque é uma cidade mariana 'por excelência'", disse o papa São João Paulo II quando a visitou em 22 de novembro de 1987. "Nela, a Virgem orante é invocada como protetora da cidade", acrescentou o papa, que se referia à "Santa Orante", uma antiga representação em mosaico da Mãe de Deus na catedral de Santa Sofia. A descrição também pode caber à Nossa Senhora de Kiev. O ícone bizantino de Nossa Senhora de Kiev chegou pouco depois que Rus de Kiev, a antiga federação de tribos eslavas, se tornou plenamente cristã em 988. Meio século depois, em 1037, Jaroslau, o Sábio, o Grande Príncipe de Kiev, dedicou a Ucrânia a Maria. Desde então até o presente, Nossa Mãe Santíssima é conhecida como "Rainha da Ucrânia". Nessa época, o ícone de Nossa Senhora de Kiev já havia chegado de Constantinopla em 1034. Segundo a tradição, foi obra de um monge e enviado como presente do patriarca de Constantinopla ao Príncipe Mistislau, filho do rei Volodymyr de Rus Kiev. Entretanto, em 1136 o ícone de Nossa Senhora de Kiev foi transladado cerca de 22 quilômetros ao norte de Vyshorod para a igreja "lar" do príncipe. Os contos ucranianos também chamam este ícone de Virgem de Vyshorod. Naquela época, a imagem já era bem conhecida e venerada. De acordo com Dmytro Stepovyk da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia, na época em que Volodymyr e seus filhos governavam, "dizia-se que este ícone fazia milagres, curando pessoas doentes". As pessoas rezavam por proteção e a imagem "ajudava todos os verdadeiros crentes que imploravam a Nosso Senhor para libertá-los de suas doenças mortais". Mas, por volta do ano 1100, chegou o príncipe Andrey Bogolyubsky, que saqueou e destruiu Kiev. Em seguida, ele estabeleceu a sua residência a cerca de 910 quilômetros de distância, em Vladimir, que fica 193 quilômetros a leste da atual Moscou, e levou com ele o ícone de Nossa Senhora de Kiev. Nesta nova capital, o ícone ficou conhecido como Nossa Senhora de Vladimir e foi colocado na catedral da Assunção, onde permaneceu até cerca de 1395, quando foi levado a Moscou para, segundo conta a história, proteger a cidade dos invasores mongóis. No século XVI, Nossa Senhora de Vladimir foi colocada na catedral da Dormição, na Praça da Catedral de Moscou, até o início do século XX. Foi então levado à Galeria Estadual Tretyakov da cidade. No final do século XX, o ícone encontrou um novo lar, a igreja de São Nicolau em Tolmachi, que está anexa ao museu e onde novamente são realizados os serviços religiosos. Nossa Senhora de Vladimir faz parte da história ucraniana e russa e é também o ícone mais querido da Rússia. Um terceiro nome para este ícone da Virgem Maria. Nossa Senhora da Ternura é também um belo título pelo qual este ícone é chamado em muitos países. Pode ser que os habitantes não saibam seus dois títulos originais, mas conhecem e respondem ao magnetismo espiritual e à profundidade da mensagem que traz esta obra prima da iconografia. O ícone é grande: 78,1 centímetros por 54,6 centímetros. A forma como representa Nossa Senhora e o Menino Jesus estava muito à frente da iconografia bizantina padrão do início do século XII. Tornou-se um dos mais antigos exemplos e modelos do estilo iconográfico de Eleusa. Na imagem, Nossa Senhora expressa ternura ou misericórdia, com o Menino Jesus junto a sua bochecha ou tocando-a. Nossa Senhora mostra grande ternura por seu Menino Jesus – daí o título acrescentado, Nossa Senhora da Ternura. Ao mesmo tempo, há um toque de tristeza ao perceber o que está por vir, mas com a misericórdia que acompanha. "Em seus olhos se vislumbra oração, esperança e dor. Um olhar mais atento ao Menino mostra que ele está olhando para cima, procurando seu Pai", escreveu Stepovyk (1938- ). Junto com a profundidade espiritual, as emoções apresentadas no ícone se afastaram da iconografia mais estrita da época. Tornou-se o modelo para os ícones marianos. Sua influência foi até vista na imagem muito familiar de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que combina dois estilos iconográficos. Mas, além disso, há algo mais a ser considerado acerca do ícone de Nossa Senhora de Vladimir, especialmente ao olhar a situação e os tempos atuais. Monsenhor Stephen Joseph Rossetti (1951- ), exorcista, diz que durante anos rezou diariamente com esta imagem e está “convencido de três coisas”: “A guerra na Ucrânia tem um imenso significado espiritual”. “A fé e a força dos homens e mulheres da Ucrânia são impressionantes”. Abraço. Davi.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

JESUS NO ALCORÃO . Parte II

 

Islamismo. Por Muhammad Ata Ur Rahim. Livro Jesus um Profeta do Islam. Capítulo IX. JESUS NO ALCORÃO. Parte II. A sua infância e adolescência, não são mencionadas. A reação dos homens que se tornaram seus discípulos é também descrita na seguinte passagem: “Ó crentes, sede os auxiliadores de Deus, como disse Jesus, filho de Maria, aos discípulos: Quem são os meus auxiliadores, na causa de Deus? Responderam: Nós somos os auxiliadores de Deus! Acreditou, então, uma parte dos israelitas, e outra desacreditou; então, socorremos os crentes contra seus inimigos, e eles saíram vitoriosos”. (61:14) E de novo, mais pormenorizadamente: “E de que, quando inspirei os discípulos, (dizendo-lhes): Crede em Mim e no Meu Mensageiro! disseram: Cremos! Testemunha que somos muçulmanos. E de quando os discípulos disseram: Ó Jesus, filho de Maria, poderá o teu Senhor fazer-nos descer do céu uma mesa servida? Disseste: Temei a Deus, se sois crentes! Tornaram a dizer: Desejamos desfrutar dela, para que os nossos corações sosseguem e para que saibamos que nos tens dito a verdade, e para que sejamos testemunhas disso. Jesus, filho de Maria, disse: Ó Deus, Senhor nosso, envia-nos do céu uma mesa servida! Que seja um banquete para o primeiro e o último de nós, constituindo-se num sinal Teu; agracia-nos, porque Tu és o melhor dos agraciadores. E disse Deus: Fá-la-ei descer; porém, quem de vós, depois disso, continuar descrendo, saiba que o castigarei tão severamente como jamais castiguei ninguém da humanidade”. (5:111-115) Quando a doutrina de Jesus começou a se espalhar, alguns aceitaram o ensinamento e outros não: “E quando é dado como exemplo o filho de Maria, eis que o teu povo o escarnece! E dizem: Porventura, nossas divindades não são melhores do que ele? Porém, tal não aventaram senão com o intuito de disputa. Esses são os litigiosos! Ele (Jesus) não é mais do que um servo que agraciamos, e do qual fizemos um exemplo para os israelitas”. (43:57-59) “Então, após eles, enviamos outros mensageiros Nossos e, após estes, enviamos Jesus, filho de Maria, a quem concedemos o Evangelho; e infundimos nos corações daqueles que o seguiam compaixão e clemência. No entanto, (agora) seguem a vida monástica, que inventaram, mas que não lhes prescrevemos; (Nós lhes prescrevemos) apenas comprazerem a Deus; porém, não o observaram devidamente. E recompensamos os crentes, dentre eles; porém, a maioria é depravada”. (57:27) A mensagem que ele trouxe era simples: “E quando Jesus lhes apresentou as evidências, disse: Trago-vos a sabedoria, para elucidar-vos sobre algo que é objeto das vossas divergências. Temei, pois, a Deus, e obedecei-me! Deus é meu Senhor e vosso. Adorai-O, pois! Eis aqui a senda reta!” (43:63-64) Os seus milagres são de novo mencionados: “Então, Deus dirá: Ó Jesus, filho de Maria, recorda-te de Minhas Mercês para contigo e para com tua mãe; de quando te fortaleci com o Espírito da Santidade; de quando falavas aos homens, tanto na infância, como na maturidade; de quando te ensinei o Livro, a sabedoria, a Tora e o Evangelho; de quando, com o Meu beneplácito, plasmaste de barro algo semelhante a um pássaro e, alentando-o, eis que se transformou, com o Meu beneplácito, em um pássaro vivente; de quando, com o Meu beneplácito, curaste o cego de nascença e o leproso; de quando, com o Meu beneplácito, ressuscitaste os mortos; de quando contive os israelitas, pois quando lhes apresentaste as evidências, os incrédulos, dentre eles, disseram: Isto não é mais do que pura magia!” (5:110) As circunstâncias do nascimento de Jesus deram origem à falsa concepção de que ele era o "filho de Deus": “Dizem: Deus teve um filho! Glorificado seja Deus; Ele é Opulento; Seu é tudo quanto há nos céus e na terra! Que autoridade tendes, referente a isso? Direis acerca de Deus o que ignorais?” (10:68) “E quando Deus disse: Ó Jesus, por certo que porei termo à tua estada na terra; ascender-te-ei até Mim e salvar-te-ei dos incrédulos, fazendo prevalecer sobre eles os teus prosélitos, até ao Dia da Ressurreição. Então, a Mim será o vosso retorno e julgarei as questões pelas quais divergis. Quanto aos incrédulos, castigá-los-ei severamente, neste mundo e no Outro, e jamais terão protetores. Quanto aos crentes, que praticam o bem, Deus os recompensará; sabei que Deus não aprecia os injustos. Estes são os versículos que te ditamos, acompanhados de prudente Mensagem. O exemplo de Jesus, ante Deus, é idêntico ao de Adão, que Ele criou do pó; então lhe disse: Seja! e foi.” (3:55-59) “Dizem (os cristãos): Deus gerou um filho! Glorificado seja! Pois a Deus pertence tudo quanto existe nos céus e na terra, e tudo está consagrado a Ele. É o Originador dos céus e da terra e, quando decreta algo, basta-Lhe dizer: Seja! e é.” (2:116-117). “E dizem: O Clemente teve um filho! Glorificado seja! Qual! São apenas servos veneráveis (esses a quem chamam de filhos), Que jamais se antecipam a Ele no falar, e que agem sob o Seu comando. Ele conhece tanto o que houve antes deles como o que haverá depois deles, e não poderão interceder em favor de ninguém, salvo de quem a Ele aprouver; ficam temerosos e reverentes perante a Sua glória. E quem quer que seja, entre eles, que disser: Em verdade eu sou Deus, junto a Ele! condená-lo-emos ao inferno. Assim castigamos os injustos. (21:26-29) “Afirmam: O Clemente teve um filho! Sem dúvida que hão proferido uma heresia. Por isso, pouco faltou para que os céus se fundissem, a terra se fendesse e as montanhas, desmoronassem. Isso, por terem atribuído um filho ao Clemente, quando é inadmissível que o Clemente houvesse tido um filho. Sabei que tudo quanto existe nos céus e na terra comparecerá, como servo, ante o Clemente”. (19:88-93) O Alcorão nega a Divindade de Jesus: “São blasfemos aqueles que dizem: Deus é o Messias, filho de Maria. Dize-lhes: Quem possuiria o mínimo poder para impedir que Deus, assim querendo, aniquilasse o Messias, filho de Maria, sua mãe e todos os que estão na terra? Só a Deus pertence o Reino dos céus e da terra, e tudo quanto há entre ambos. Ele cria o que Lhe apraz, porque é Onipotente.” (5:17) “E recorda-te de que quando Deus disse: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu que disseste aos homens: Tomai a mim e a minha mãe por duas divindades, em vez de Deus? Respondeu: Glorificado sejas! É inconcebível que eu tenha dito o que por direito não me corresponde. Se o tivesse dito, tê-lo-ias sabido, porque Tu conheces a natureza da minha mente, ao passo que ignoro o que encerra a Tua. Somente Tu és Conhecedor do desconhecido. Não lhes disse, senão o que me ordenaste: Adorai a Deus, meu Senhor e vosso! E enquanto permaneci entre eles, fui testemunha contra eles; e quando quiseste encerrar os meus dias na terra, foste Tu o seu Único observador, porque és Testemunha de tudo”. (5:116-117) “Os judeus dizem: Ezra é filho de Deus; os cristãos dizem: O Messias é filho de Deus. Tais são as palavras de suas bocas; repetem, com isso, as de seus antepassados incrédulos. Que Deus os combata! Como se desviam! Tomaram por senhores seus rabinos e seus monges em vez de Deus, assim como fizeram com o Messias, filho de Maria, quando não lhes foi ordenado adorar senão a um só Deus. Não há mais divindade além d'Ele! Glorificado seja pelos parceiros que lhe atribuem! Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos. (9:30-32) O Alcorão rejeita o conceito de Trindade: “Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e o Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e não digais: Trindade! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo quanto há nos céus e na terra, e Deus é mais do que suficiente Guardião. O Messias não nega ser um servo de Deus, assim como tampouco o fizeram os anjos próximos (de Deus). Mas (quanto) àqueles que desdenharam adoração a Ele e se ensoberbeceram, Ele os congregará a todos ante Si. Quanto aos crentes que praticarem o bem, Deus lhes retribuirá com recompensas e os acrescentará da Sua graça; quanto àqueles que desdenharem a adoração a Ele e se ensoberbecerem, Ele os castigará dolorosamente e não acharão, além de Deus, protetor, nem defensor algum” (4:171-173) O Alcorão rejeita a crucificação de Jesus, mas refere a sua Ascensão: “E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Deus, embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, mas o confundiram com outro. E aqueles que discordam quanto a isso estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, mas apenas conjecturas para seguir; porém, o fato é que não o mataram. Outrossim, Deus fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo”. (4:157-138) Finalmente: “São blasfemos aqueles que dizem: Deus é o Messias, filho de Maria, ainda quando o mesmo Messias disse: Ó israelitas, adorai a Deus, Que é meu Senhor e vosso. A quem atribuir parceiros a Deus, ser-lhe-á vedada a entrada no Paraíso e sua morada será o fogo infernal! Os injustos jamais terão socorredores. São blasfemos aqueles que dizem: Deus é um da Trindade! porquanto não existe divindade alguma além do Deus Único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo açoitará os incrédulos entre eles. Por que não se voltam para Deus e imploram o Seu perdão, uma vez que Ele é Indulgente, Misericordiosíssimo? O Messias, filho de Maria, não é mais do que um mensageiro, do nível dos mensageiros que o precederam; e sua mãe era sinceríssima. Ambos se sustentavam de alimentos terrenos, como todos. Observa como lhes elucidamos os versículos e observa como se desviam”. (5:72-75) “De tais mensageiros preferimos uns mais que a outros. Entre eles, se encontram aqueles a quem Deus falou, e aqueles que elevou em dignidade. E concedemos a Jesus, filho de Maria, as evidências, e o fortalecemos com o Espírito da Santidade. Se Deus quisesse, a geração subsequente (a eles) não teria combatido entre si, depois de lhes terem chegado as evidências. Mas discordaram entre eles; uns acreditaram e outros negaram. Se Deus quisesse, não se teriam digladiado; porém, Deus faz o que quer”. (2:253) Mas “Constatarás que os piores inimigos dos crentes, entre os humanos, são os judeus e os idólatras. Constatarás que aqueles que estão mais próximos do afeto dos crentes são os que dizem: Somos cristãos! porque possuem sacerdotes e não se ensoberbecem em coisa alguma.” (5:82). Abraço. Davi.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

INTRODUÇÃO AO HINDUISMO. PARTE II

 

Hinduísmo. www.jnanamandiram.org.br. INTRODUÇÃO AO HINDUÍSMO. Parte II. DIVINAS ENCARNAÇÕES. Este capítulo foi escrito no dia de Natal, 25 de dezembro de 1986, na pacífica ilha de Maui, no Havaí. Natal é o dia do nasci­mento de Jesus Cristo, tido pelos cristãos e outros como “O Filho de Deus”, ou seja, Ele é tido como uma Divina Encarnação ou Avatar. Portanto, hoje me pareceu o mais apropriado dia para escrever sobre Avatares ou Divinas Encarna­ções. Um Avatar ou Divina Encarnação é a mais alta manifestação de Deus através do homem. Ele é o mestre de todos os mestres. Um Avatar é como o sol, sua presença é suficiente para iluminar a humanidade. Um simples olhar Seu é suficiente para transfor­mar o vilão em santo. Onde um Avatar estiver presente, todo o ambiente se inundará de vibrações espirituais. Mesmo as monta­nhas e os rios parecerão cantar. As qualidades infinitas de Deus se condensam na forma humana de um Avatar. Somente os mais afortunados entre nós nascem e vivem durante o tempo de vida de um Avatar. Como foi dito no capítulo “A Adoração de Imagens”, é virtual­mente impossível para alguém que não tenha atingido a autorrealização adorar ou visualizar Deus em seu estado não-manifestado. Por isso, muitas pessoas adoram Avatares como Rama ou Krishna. É difícil para um ser humano pensar em Deus de outra maneira que não seja em termos humanos. Portanto, se visualizarmos Deus em termos humanos é melhor adorar a mais alta manifestação de Deus em forma humana, ou seja, um Avatar. A majestade, a bondade, o amor, o poder, a suavidade e inteli­gência de Deus estão todos presentes na forma humana do Avatar. Enquanto estivermos no corpo humano, seremos levados a pensar em Deus em termos humanos – como um rei sentado em celeste trono ou como um pai amoroso com fulgor ao redor da cabeça, tudo são formas humanas. Uma vez compreendido isso, não se criticará mais aqueles que adoram Deus nos Avata­res ou nas imagens. A não ser para uma pessoa autorrealizada, expressões tais como “o não-manifestado”, “o infinito”, “o onipotente” são palavras que não podem ser definidas por outras palavras, isto é, em termos humanos. Como e por que vem um Avatar? O Guita dá uma resposta pode­rosa e direta: “Sempre que a virtude decai e a maldade prevalece, eu manifesto a Mim mesmo. Para restabelecer a virtude, destruir o mal e proteger os bons, Eu venho de época em época”. Sempre que a humanidade se cansa da tirania e clama a uma só voz pela ajuda divina, o misericordioso Senhor se dá a Si mesmo. No campo de luta, um raio de esperança brilha no cora­ção humano, do mesmo modo que, depois de uma noite escura, o raiar do sol no horizonte causa regozijo no coração humano. Quantas vezes vem um Avatar? Há um número limitado de Avata­res? É simples a resposta. Deus é infinito em Si mesmo. Seria infantil sugerir que pode haver somente um ou um número limi­tado de Avatares. Vejamos em poucas palavras algo sobre os Avatares Rama e Krishna. É reconhecido que Rama foi a encarnação da virtude, uma combinação única de superforça e superdelicada. Seu comportamento é modelo próprio para o comportamento humano. Enquanto ser humano, mesmo hinduísta ou não, deve-se ler o Ramayana, no qual se encontra a história de Rama. A vida de Rama serve como exemplo do correto comportamento de cada um em todas as circunstâncias particulares da vida, mesmo sendo um cristão ou muçulmano, sikhi ou hinduísta, sendo um profissional, político ou um soldado, ou um pai, filho, marido ou irmão. A serenidade, a doçura, a força de Rama, e como cada aspecto é aplicado por Rama em sua vida, deve ser estudado com mente imparcial para atingir o auge do êxito como ser humano. Krishna é o amado Avatar de cada hindu. O amor a Krishna é encontrado em toda parte na Índia. A dedicação a Krishna não é restrita a certos movimentos ou sociedades. Krishna é o favorito das crianças e das pessoas de todas as idades, origens e níveis sociais. Céu e Terra, ambos serão seus se você estudar, ler ou ouvir sobre Krishna no Bhagavad Guita – A Canção Divina. A resposta a todos os problemas do mundo é dada no pequeno grande livro de dezoito capítulos. Isto pode causar surpresa ao leitor que não esteja familiarizado com o Guita. Para conhecer por si mesmo o gosto de uma laranja, a melhor coisa a fazer é comê-la. O melhor caminho para descobrir o Guita é ler você mesmo o livro. O Guita de Krishna não é somente para hinduístas, mas para toda a humanidade. Se a pessoa tem fé, então nenhum problema ela tem no presente e, para tal pessoa, muito rara, o Guita pode não ser necessário; mas para todos os outros que se defrontam com a fome, doenças, temores, cólera, depressão e morte, o Guita é o máximo, é um dever conhecê-lo. Mesmo quando criança, Krishna foi um garoto encantador, extremamente brincalhão. Suas danças e brincadeiras com Radha e as Gopis eram cheias de graça. Para certas mentes, as brincadeiras de Krishna em companhia feminina é um mistério e uma preocupação. Para o iluminado, o puro, é simplesmente Deus, brincando Consigo mesmo, com Sua própria Natureza em manifestação. Na mente humana há uma tendência para dividir tudo em masculino e feminino e, de acordo com essa inclinação humana, Deus é o pai, o único macho, e tudo o mais é feminino. O jogo de Krishna com as Gopis na beira do rio significa parte do jogo universal de Deus. Deus brinca consigo mesmo o tempo todo. O universo emanado, saído de Deus, está dentro de Deus. O Senhor, do mesmo modo que sua encarnação – Krishna, está brincando todo o tempo, dançando com sua própria “criação” que, por sua vez, é Ele mesmo. Neste mundo, devemos aprender a ver tudo como “o jogo de Deus”. O estudo das vidas dos Avatares e de seus ensinamentos indicar-nos-ão a direção reta para a autorrealização. O que é autorrealização? Autorrealização é a íntima realização do indivíduo. Ou seja, ele realiza que o Deus eterno e o próprio indi­víduo são Um. Ou, segundo o Senhor Cristo, “Eu e meu Pai somos Um.” Eu e vocês somos um. E é com essa realização que se ganha a eterna bênção. No capítulo II, versículo 20, do Guita, afirma-se que “O Ser nunca nasce, nem morre. O Ser não É, pelo fato de “Vir a existir”. Ele É independente do passado e futuro, eterno, único; mesmo que o corpo esteja morto, a Alma não está!” JNANA YOGA. Não há nada de místico ou mágico na palavra Yoga. Yoga significa simplesmente “união”, e neste contexto quer dizer “unidade com Deus”. Muitos subtítulos podem ser dados ao Yoga, mas o discutiremos sob três nomes: Jnana Yoga – que é o yoga do Conhecimento, da sabedoria do Ser. Karma Yoga – que é o yoga da Ação. Bhakti Yoga – que é o yoga da Devoção. Deve-se entender que há muitas áreas em cada yoga que andam juntas, e é difícil praticar um só yoga exclusivamente. Também devemos nos prevenir sobre pessoas ou instituições que vendem “vários tipos de yoga a 500 dólares por cinco horas de instrução,” ou aqueles que encorajam estudantes a “deixar o apego” doando suas casas e todas suas posses para a institui­ção. Tais instituições não estão interessadas na união com Deus. Seu yoga é a união com o dinheiro! Ainda que seja prudente e sábio aprender meditação de um guru qualificado, até que esse guru venha não é má ideia aprender a meditação do próprio autor do yoga, o Senhor Krishna. Recapitu­lemos o que Ele diz sobre o assunto no capítulo VI do Guita. Primeiro Ele diz que, para meditar, temos que escolher um lugar tranquilo e ficar numa postura que seja ao mesmo tempo firme e confortável, na qual o peito, pescoço e cabeça permaneçam retos. A postura de “lótus” é a recomendada, sentando-se com as pernas cruzadas na dita postura sobre um cobertor e lençol estendidos no chão. Se as pessoas não estão acostumadas a isso, podem usar uma cadeira, de forma tal que as costas fiquem totalmente encostadas no respaldo. A posição deve estar de tal modo assentada, que seja possível esquecer do corpo. A atenção deve ser focalizada no ponto entre as sobrancelhas, e assim deve-se sentar-se em meditação. No início, a mente corre daqui para lá incessantemente e controlá-la parecerá impossível. Contudo, assim como as crianças que depois de correrem o dia todos vão para casa ao entar­decer, seus pensamentos depois de vaguear um tempo acalmar-se-ão também. Sinta-se como uma testemunha, como um observador somente. Não se preocupe se sua mente divagar. Arjuna perguntou ao Senhor Krishna como se pode obter o controle da mente, já que ela é turbulenta como o vento e, portanto, muito difícil de controlar. O Senhor Krishna respondeu simplesmente que é pela prática que a mente pode ser contro­lada. Embora se tenha que criar um hábito regular de sentar-se para meditar, em breve a mais difícil façanha do mundo será sua: o controle da mente! Com isso vem um imenso poder de concentração. O poder de concentração é útil também para os assuntos do mundo, como os negócios. Quando a concentração é dirigida para Deus, então é chamada meditação. Se você necessita repetir uma palavra, medite sobre “OM”, que inclui os sons “AAA”, “UUU” e “MMM”, e simboliza o som do Divino Motor da criação, sustentação e destruição. Se você medita, lembre-se de levar uma vida regulada. Yoga não é para a pessoa que come demais ou come de menos, nem para quem dorme demais ou não dorme. Agora, vejamos um resumo do Jnana Yoga ou yoga do conheci­mento. JNANA YOGA. Como já foi dito, não há mágica no yoga. O Yoga não contradiz a razão e o Jnana Yoga não é exceção a esta regra. O Jnana Yogue percorre uma série de perguntas e respostas a fim de achar a resposta à pergunta: “Quem sou eu?” Ele vai através de várias possibilidades dizendo a si mesmo: “Isto não, isto não”, e assim segue até chegar à conclusão de que ele não é o corpo, não é a mente. Finalmente ele realiza que “Tu és Aquilo” ou “Eu sou Ele”. Chegando a esse estado, ele está contente em sentar-se e contemplar seu Ser. Senta-se, submerge em si mesmo com bem-aventurança. Deus é seu próprio Ser. Nada mais permanece a não ser Deus. Ele olha com igual respeito e amor para um erudito, um próspero homem de negócios, um mendigo, a um animal, um inseto porque eles são seu próprio Ser. Um Jnana Yogue acredita que ele É, simplesmente. Ele não age em absoluto, “mesmo tocando, ouvindo, vendo, cheirando” e assim por diante. Acredita firmemente que ele nada faz e que são simplesmente os sentidos que atuam nos respectivos objetos dos sentidos. O Jnana Yoga não é de fácil prática porque requer uma pessoa de excepcional determinação e penetração. Sua alma deve querer ir além de todas as teorias para ver a Realidade tal como ela é, pela realização de sua identificação com o Ser universal. Um Jnana Yogue é mais que um filósofo. Uma pequena história contada por Swami Vivekananda, primeiro sanyase a visitar o Ocidente, há de verter mais luz nesse assunto: Dois pássaros pousam sobre uma árvore. Um deles está nos galhos mais altos e o outro, nos mais baixos. O pássaro que está no galho mais alto é calmo, silencioso e majestosamente absor­vido na glória de seu próprio Ser. O pássaro que está nos galhos mais baixos come frutas doces e amargas, pula de galho em galho e se torna feliz e infeliz a cada momento. De vez em quando, ele come uma fruta excepcionalmente amarga, ficando muito aborrecido com sua vida. Então, ele olha para cima e vê o sereno e maravilhoso pássaro que não come as frutas doces nem amargas, e assim não sente as flutuações entre felicidade e infe­licidade, que nada vê além de seu próprio Ser. O pássaro de baixo suspira por essa condição mas, como todos nós, nova­mente se envolve na sua rotina diária, comendo os frutos doces e amargos. Continuamente este pássaro tem problemas e olha para o pássaro lá em cima, mas sempre retorna à sua vida roti­neira de prazer e dor, até que um dia sofre com um temporal muito forte e então faz um redobrado esforço e sobe cada vez mais alto na direção do pássaro pousado na rama mais alta da árvore. Logo o brilho do corpo daquele pássaro envolve o outro, que sente uma mudança e começa a “fundir-se”, a unificar-se. Eleva-se ainda mais quando, afinal, entende – ao ter-se unificado totalmente – que ele sempre foi o pássaro de cima e que o pássaro que vivia em baixo era nada mais que a essência ou reflexo do pássaro que vivia no alto. O fato de comer frutos doces e amargos e chorar e ser feliz era tudo um sonho, já que durante todo o tempo o pássaro real estava lá em cima, glorioso e majestoso, acima de toda tristeza. O pássaro de cima é Deus, Senhor deste sonho-universo, e o pássaro de baixo é a alma humana. Cada tipo de yoga corresponde a um determinado temperamento e constituição da pessoa. Enquanto o yoga do Conhecimento é apropriado para alguns, o yoga da ação – Karma Yoga – é consi­derado mais fácil de praticar. No seguinte e penúltimo capítulo, tratar-se-á de Karma Yoga, unificação com Deus pela ação – sacrifício. KARMA YOGA. Todos nós estamos ocupados na ação (Karma).Pelo menos para manter o corpo, a ação é necessária. Muitos de nós não estão inclinados à filosofia, então Jnana Yoga está fora de nossos cui­dados. Muitos de nós não são emocionalmente inclinados ao Bhakti Yoga, assim este está fora de cogitação para nós. Toda­via, enquanto tivermos corpo deveremos agir, e a autorrealização pode ser obtida também pela ação (Karma Yoga). De fato, somente os métodos diferem. Quanto ao resultado último, a autorrealização, tanto Jnana Yoga como Karma Yoga e Bhakti Yoga, são todos um. Ação é uma palavra que encerra complexidade, ainda que não pareça. O Senhor Krishna, no capítulo IV, versículo 18 do Guita, diz: “Aquele que vê inação na ação é um sábio entre os homens, ele é um yogue que cumpriu toda ação.” Isto parece difícil de entender, mas à medida que avançarmos neste capítulo, o sentido irá se aclarando. Tomemos como exemplo uma pessoa que se compromete a jejuar, e faz voto de não comer um dia por semana. Jejuar um dia é muito bom para a saúde, pois desintoxica não só o corpo como também a mente. Mas, se no dia em que você jejua sua mente fica pensando constantemente em comida, seguramente seu jejum é hipócrita, porque nesse dia você pensa muito mais do que você o faria habitualmente, e isto inverte o processo. Antes de entrar na verdadeira essência do Karma Yoga, deve­mos lembrar que nós temos o dever de agir. Por quê? Nós recebemos constantemente benefícios da natureza, como a água, ar, frutos etc., e recebemos ajuda também de outras pessoas, como educação, dinheiro, cuidados, etc.. Se continu­amos a tomar sem retribuir, certamente não somos melhores que ladrões. A pessoa não deve evitar seu dever. Deve, pelo contrá­rio, cumpri-lo. A ação feita em benefício dos outros é considerada sacrifício. Os grilhões causados pela reação do karma não atingem as pessoas que cumprem seu dever sem apego aos resultados ou frutos da ação. De fato, mesmo sobre a comida, o versículo 13 do capítulo III do Guita diz que: “Os virtu­osos que compartem as sobras do sacrifício – depois de ter alimentado os outros – são absolvidos de todos os pecados. Os pecaminosos, que cozinham só para alimentar seu próprio corpo, comem somente pecado.” Que grande conceito este! Se mais pessoas realizassem a verdade deste conceito, a fome e a misé­ria seriam eliminadas deste mundo. Em poucas palavras discutiremos a essência de Karma Yoga, que é a ação sem apego, mas, antes, uma palavra final do porquê devemos nos ocupar com a correta ação. É da natureza humana imitar o que os outros fazem. Assim começou a moda e assim é como os hábitos bons e maus são adquiridos. Suponhamos que um pai beba, fume e use uma linguagem abusiva em casa. Naturalmente os filhos não terão hábitos diferentes daqueles pelos quais são influenciados em sua casa. Se a mãe e o pai praticam caridade, levam uma vida asseada e regularmente se sentam para orar, é perfeitamente possível que os filhos tenham também esses bons hábitos. Portanto, se uma pessoa quer fazer o bem a outras, pode conseguir isso, e não é por fazer grandes discursos, mas por cumprir devidamente suas ações e dar exemplo com sua atitude. Toda ação produz conhecimento. Vejamos agora que tipos de ação produzem o conhecimento de Deus. O fundamento do Karma Yoga consiste na habilidade de separar a ação de seu fruto ou resultado. Acontece frequentemente que, embora você faça o bem a outros, quase sempre, senão sempre, você em troca recebe ingratidão, abuso de confiança e críticas. Por isso, ao pensar em ajudar alguém, você teme o resultado. Muitas vezes você se abstém totalmente de fazê-lo. Desta maneira, a pessoa que necessita de ajuda não será ajudada, e você se priva do sentimento bom que inevitavelmente se tem quando se ajuda os outros. O Karma Yoga requer desapego na ação. O resultado ou fruto da ação deve ser deixado de lado e, assim, o próprio Karma mesmo toma conta dele. Isto não significa que o Karma Yogue aja irracionalmente ou sem motivo . Suponhamos que um pai tenha que trabalhar para sustentar sua família, e assim ele trabalha com esse propósito. Ele sabe que é dever do empregador pagar por seu trabalho. Uma vez que ele renuncie, em sua mente, ao fruto de suas ações, não ficará indevidamente alegre por receber seu pagamento, e não ficará triste se seu patrão estiver falido e impossibilitado de pagar-lhe por duas semanas de trabalho. Por outro lado, se seus filhos apreciam o que ele faz por eles, isto é bom. Do contrário, não se preocupa com isso, porque ele cumpre seu dever o melhor possível, sem esperar algo como retorno. Karma yogue é aquele que somente dá. Ele não toma, dá. Quando se desiste do resultado das ações, imediatamente se obtém total paz na mente. A mente pacificada leva à autorrealização. Só quando a água está serena é que se pode ver claramente o reflexo da lua. Assim, a mente pacificada tem a habilidade de refletir claramente a verdade de Deus. Concluímos este capítulo com o Capítulo V, versículo 17, e a primeira parte do versículo 12 do Guita que diz: “O karma yogue cumpre a ação somente com seus sentidos, mente, intelecto e corpo, retirando o sentimento de “meu” a respeito deles, e sacode fora o apego, simplesmente pela autopurificação da mente. Ao oferecer o fruto da ação a Deus, o karma yogue obtém paz e a suprema realização de Deus. BHAKTI YOGA. Deste Yoga se diz que é próprio para a pessoa de temperamento emocional. Nesse yoga a pessoa trata de obter a autorrealização pela exclusiva devoção a Deus e às vezes, sua devoção parece aos outros quase loucura. Mas a verdade é que o mundo estaria em melhor situação se mais pessoas tivessem essa loucura. Ademais, essa loucura jamais levou alguém a nenhum manicô­mio. Você já amou alguma vez? A pessoa que ama está absorvida pelo pensamento no seu bem-amado. Pode assistir a um jogo de futebol, mas tudo o que pode ver no campo é a forma de seu amado. Pode estar no cinema, mas o único que vê na tela é a imagem de seu amado. Isto é devoção, mas muito maior é a devoção do Bhakta – devoto de Deus. Um devoto vê uma bela flor e de imediato se reporta ao seu Autor e explode numa canção devocional. Ele se deleita adorando Deus nos Bhajans (cânticos devocionais) e nas cerimônias em que, cheio de amor oferece a Deus flores, doces, etc.. Ele é um homem enamorado, enamo­rado da mais alta Realidade! Alguns “filósofos” criticam tais pessoas devocionais. O único resultado de suas críticas, porém é o de expor a sua ignorância. Sri Ramakrishna, o guru de Swami Vivekananda, foi um devoto do aspecto da Mãe Deus. O proce­dimento deste Mestre também foi o de um “homem louco”. As pessoas que o conheceram, inclusive o grande Swami Vivekananda, sabiam que Sri Ramakrishna não era louco embora amasse loucamente a Deus – disso ninguém duvidava. Para um Bhakta, Deus é amor e amor é Deus. Ele vê o amor de Deus em toda parte – no aperto de mão de dois amigos, no abraço da mãe a seu filho, no despontar do sol, e assim por diante. Um amigo pode ficar aborrecido com o devoto, mas este lhe dirá: “Você pode esquecer-me, mas, meu amigo, estou amando. Eu só posso ver Deus em você, e é impossível para mim não amar você.” Um devoto Bhakta sabe de sua unidade com Deus. Contudo, pelo bem de sua adoração, pelo bem de seu amor, ele conserva a pretensa dualidade. Ele se distancia um pouco de Deus a fim de poder adorar e venerar a Deus. Você deve se lembrar que, mesmo sendo um Jnana Yogue, um Karma Yogue ou um devoto – ao mesmo tempo ou separada­mente de qualquer um deles – é preciso brotar em você essa exclusiva e ávida paixão por Deus. Em outras palavras, uma penetrante e absoluta devoção por Deus deve brotar em você. Autorrealização é, afinal, um presente de Deus. Mas, por outro lado, não se pode obter a autorrealização sem tal devoção, tal desejo ardente ou sem essa sede, não importando qual destes sentimentos o aproximam de Deus. O capítulo XII do Guita trata de Bhakti Yoga e aqui estão os poucos e finais versículos deste capítulo. Os versículos 13 a 20 descrevem a mansidão e doçura, a vida equilibrada, a auto submissão e o amor do devoto, e o quanto tal devoto é querido do Senhor: “Aquele que não tem malícia com ninguém, que é amigo e compassivo com todos, que não tem sentimento de “meu”, e está livre do egoísmo; aquele para quem o prazer e a dor são iguais, que por natureza perdoa, que está sempre contente e mentalmente unido a Mim, que controlou seu corpo, mente e sentidos e tem firme determinação, que submeteu sua mente e intelecto a Mim – este devoto Meu, Me é muito querido.” (Vers. 13/14) “Aquele que não é uma fonte de aborrecimento para o mundo, e que nunca se sente ofendido com o mundo, que está acima de prazeres e ira, de perturbação e medo, ele é querido para Mim.”(15) “Aquele que nada almeja, que interna e externamente é puro, hábil e imparcial, e tem superado todas as distrações, que renuncia ao sentimento de “fazedor” que tudo empreende, este devoto é meu querido.” (16) “Aquele que não se regozija nem odeia, não se lamenta nem deseja, que renuncia ao bem e ao mal e está cheio de devoção para Mim, é meu querido.”(17) “Aquele que é equânime com o amigo e o inimigo, na honra e na ignomínia, no calor e no frio, na alegria e na tristeza etc., e é desa­pegado; que toma de igual maneira o elogio e a reprovação, que é dado à contemplação e fica contente com o que vier sem ter pedido, sem apego ao lar, com mente estabelecida em mim e muito devoto meu, esse é meu querido.”(18 e 19)“Aqueles que participam inteiramente deste néctar de sabedoria piedosa, que estão dotados de fé e são devotados exclusivamente a Mim, esses devotos são extremamente queridos para Mim.” (20) Estou chegando ao fim deste texto “Introdução ao Hinduísmo” e só tenho admiração pelo leitor – se ele ou ela é hindu ou não – por ter-me acompanhado ao longo deste humilde trabalho. Para toda pessoa, sua religião é como sua própria mãe. Não importa o tanto de beleza que outra mulher possa ter, não se substitui nossa mãe por essa mulher. O hinduísmo não é uma religião missionária. Se o leitor for hindu, o hinduísmo pede ao leitor que seja um hindu melhor. Se for cristão ou muçulmano, então que seja melhor cristão ou muçulmano. Há diferenças religiosas, como é natural, mas só um Deus. Pela paz e compreensão entre todas as religiões e pelo propósito de ter Deus na vanguarda de nossas vidas, finalizarei este capítulo com uma história escrita pelo santo dos santos, Swami Tilak – discípulo de Sua Santidade Baba Bajarangadasji Maharaj, e meu amigo: “Altas horas da noite, enquanto o monge estava em meditação, algo insólito acontecia… os copos à sua frente começaram a falar. Cada um gabava-se de sua grandeza, até que a água que estava dentro disse: Tolos! Não sejam tão orgulhosos de vocês próprios, pois são apenas recipientes; o conteúdo sou eu. Nenhum recipiente é amado por ser recipiente, mas é amado pelo seu conteúdo. No monge surgiu reveladora e notável verdade: “As religiões são os receptáculos, e Deus o conteúdo. Pelo zelo de conservar bem esses receptáculos, não se deve jogar fora o conteúdo.”

OM PAZ, PAZ, PAZ. Naren Nagin, além de escritor e conferencista de temas ligados à espiritualidade é também advogado. N.Nagin vive em Vancouver – Canadá

Nota JM – As palavras Consciência, Verdade, Todo e Realidade quando grafadas com a inicial maiúscula são aqui utilizadas como sinônimos da palavra Deus.

monastério

Nota JM – Conhecimento com “C” maiúsculo transcende àquele que advém da mera informação, refere-se ao conhecimento do Ser, através da experiência direta.

 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

INTRODUÇÃO I - PARTE II

 

Judaísmo. Por Rabino Isaac Luria (1532-1572) Livro Portal das Reencarnações. INTRODUÇÃO I - Parte II. O Ari explica o princípio da responsabilidade coletiva e mútua que surge na consciência de uma pessoa quando ela se entrega à correção espiritual. É de grande importância transcender a percepção individualista de nosso ser e envolver-se no que está acontecendo em todo o mundo de Assiá, ao qual a nossa Néfesh está conectada. E não se deve pensar que basta corrigir a raiz da Néfesh do indivíduo, ignorando os outros níveis. Esta expansão da consciência é uma preparação para merecer o nível seguinte, que é o Rúach. Isso quer dizer que a pessoa deve se ocupar com a Torá e o cumprimento dos preceitos, que correspondem a todo o mundo de Assiá – e não apenas com aqueles preceitos que correspondem ao local específico ao qual sua Néfesh está ligada. Então, este é o aspecto de estudar a Torá e cumprir os preceitos. O objetivo de uma pessoa entregar-se ao cumprimento da Torá e dos preceitos é para purificar e expandir sua consciência, à medida que ela se torna consciente da unicidade que une a todos os seres humanos. Sendo assim, se a pessoa pecou e causou uma mácula em qualquer parte do mundo de Assiá, mesmo que não seja o local ao qual sua Néfesh está unida, ela precisa corrigir isso. No entanto, se outra Néfesh deixar de cumprir um preceito, que é do mundo de Assiá, ou se ela cometer algum pecado e causar alguma mácula, a primeira Néfesh não tem obrigação de sanar esta falta do cumprimento do preceito. Nem de reparar a mácula causada por esta segunda Néfesh, a não ser que ambas as Nefashot, plural de Néfesh, sejam do mesmo local como será explicado adiante. Pode ser que o conceito do Ticun, processo de retificação por qual a alma passa de uma encarnação a outra, da mácula da transgressão, e não do cumprimento de todos os 248 preceitos positivos, ou, possivelmente, o que é o mais correto, seria conforme o seguinte exemplo, alguém de Malchut de Nucvá de Assiá, o que se chama Néfesh de Assiá, é obrigado a corrigir todos os aspectos de Malchut. O de Néfesh, de Rúach, de Neshamá, de Chaiá e de Iechida de Assiá. Portanto, quem corrigiu apenas Maschut de Assiá, só atinge a Néfesh da Néfesh de Assiá. A pessoa que também corrigiu Zeir Anpin de Assiá atinge tanto a Néfesh quanto o Rúach de Assiá. E se a pessoa corrigiu também a Ima de Assiá, então ela atinge a Néfesh, o Rúach e a Neshamá de Assiá. Isso continua até que a pessoa corrija os cinco Partsufim de Assiá, e nesse caso ela atinge todo NaRanCHal. E cada aspecto dos cinco níveis mencionados está completo quando possui três partes, que são Ibur, Ienicá e Mochin. Só neste momento falamos de uma Néfesh completa de Assiá e a partir daí a pessoa já tem mérito para receber o Rúach de Ietsirá. O processo de correção dos níveis da alma é comparado com o processo e os ciclos da vida: 1. Gestação ou Concepção Espiritual – Ibur. 2. Amamentação – Ienica. 3. Aquisição de consciência ou de amadurecimento espiritual – Mochin. Este é o processo de evolução que vemos no desenvolvimento de uma pessoa desde o estado do feto até se tornar adulta. Cada um dos níveis da alma tem que passar por essas três fases para que ela se torne completa em maturidade e, assim, fique pronta para receber outro nível. Esta parte chamada Rúach também possui os cinco níveis mencionados. Todos eles juntos são chamados de Rúach completo de Ietsirá. Isso vale para a Neshamá de Beriá, para a Chaiá e para Iechidá. Mas aqui não é o local para elaborar sobre isso. Agora precisamos explicar uma diferença que existe entre a Néfesh de Assiá e as outras partes da alma – Neshma – que são de Ietsirá, Beriá e Atsilut. Com isso também explicaremos a difícil questão: Como uma pessoa cuja raiz está em Malchut de Assiá consegue subir para Kéter de Assiá? Porque se é verdade que todo ser humano deve reencarnar até que todo o NaRaNCHal esteja completo. Temo que concluir que todo mundo deve subir até Kéter de Assiá, depois kéter de Ietsirá e, por fim Kéter de Beriá. E se fosse assim, todos os outros níveis não teriam sentido de existir. Isso é impossível, porque é um fato bem conhecido entre nós, que dentro dos filhos de Israel, a principal referência do Ari é aos filhos de Israel. Mas os mesmos princípios podem ser aplicados a todas as nações, existem aqueles que vêm do nível de Malchut, outras do nível de Iessód etc. Como mencionado no começo do Séfer HaTicunim: Existem líderes de milhares de Israel do lado de Kéter, sábios do lado de Chochmá – sabedoria e homens de entendimento do lado de Biná – entendimento. Portanto, é a luz disso que explicamos o seguinte: Existe uma diferença entre Assá e todos os outros três mundos. Isso é conforme o seguinte: Saiba que apenas no mundo de Assiá é dessa forma. A pessoa que tem raiz de alma em Malchut de Assiá é um caso simples, porque sua Néfesh vem de Malcht de Assiá, obviamente. Mesmo assim, ao corrigir suas ações ela consegue purificar sua Néfesh, nível após nível, até atingir e chegar a Kéter de Assiá, onde ela praticamente se integra àquele nível de fato. No entanto, a pessoa deve se refinar antes de poder ascender de fato para Kéter de Assiá, ainda que lá só possa dizer que ela está no aspecto de Malchut de Kéter de Assiá, porque sua raiz é de Malchut. Isso vale para todos os outros níveis de Assiá; sempre se diz que a pessoa só estará de fato no aspecto de Malcht daquele nível. Como a Néfesh é aderida e fortemente ligada ao corpo, então ela é menos flexível e menos transiente do que o Rúach. Como a Néfesh se relaciona com um certo nível, ou Sefirá, no Mundo da ação. Ela é obrigada, por si só, e não outra Néfesh, a subir de um nível, ou Sefirá, para o outro Mundo da Ação e corrigir cada um deles. Este não é o caso uma vez que o Rúach é alcançado. O nível de Ruách é mais flexível e transitório. Já que ele não está tão ligado ao corpo como a Néfesh. Assim, uma pessoa pode adquirir diferentes Ruchot, cada um relativo a um grau diferente, ou Sefirá, no Mundo de Ietsirá, formação. Mesmo assim, é a Néfesh e suas obras que determinam o destino e o nível de evolução de uma pessa. Assim, mesmo que uma pessoa suba para o nível de Rúach, a Néfesh continua ativa e determina a culpa ou mérito dessa pessoa. No entanto, nos mundos de Ietsirá, Beriá e Atsilut, a situação não é essa. A pessoa que tem a raiz de seu Rúach em Malchut de Ietsirá e que corrigiu e completou este nível, indo para Iessód de Ietsirá, receberá também um Rúach do Iessod de Ietsirá em si. O primeiro Rúach que essa pessoa tem de Malchut de Ietsirá permanece abaixo, em Malcut de Ietsirá, já que esse é o seu local. Do mesmo modo, quando a pessoa completa o Hod de Ietsirá, ela deixa o segundo Rúach que ela tinha de Iessod em Iessod de Ietsirá e, em seu lugar, recebe outro Rúach, de Hod de Ietsirá. E isso continua até Kéter de Ietsirá. E isso é assim porque a pessoa corrigiu sua Néfesh em todos os níveis de Assiá, então ela consegue receber o Rúach de todos os níveis de Ietsirá. Ele vai se dar com respeito a Neshamá, que é de Beriá. O fato de que uma pessoa tenha corrigido todos os níveis da Néfesh no Mundo de Assiá, ação, permite que ela continue a evoluir e alcance diferentes Ruchot no mundo de Ietsirá, formação. E assim por diante, até as Neshamot no Mundo de Beriá, criação. É preciso que expliquemos o motivo do que foi dito, que é o seguinte, o fato de que Assiá é o mais baixo dos mundos, fica no meio das Klipot e é rodeado por elas. Consequentemente, mesmo que a pessoa já tenha corrigido a sua Nesfesh conforme o local da raiz dela em Assiá se a Nefesh for deixada ali, existe o receio de que as Klipot a segurem. É por isso que a pessoa deve constantemente refinar seus atos até que chegue o mais alto possível, até o local da sua raiz, em Keter de Assiá. No entanto, no Mundo de Ietsirá, e ainda mais nos outros mundos, que são superiores a ele, não há nenhum receio de que as klipot a seguirem, como ocorria em Assiá. Sendo assim, quando uma pessoa corrige a raiz do seu Rúach em Ietsirá, se ela continuar se corrigindo, o seu primeiro Rúach pode ficar no seu local, na sua raiz, e a pessoa consegue receber um segundo Rúach, de um local mais alto. Isso ocorre sem ter que elevar o primeiro Rúach para um lugar superior, pois o receio, de que as Klipot a seguirem, não existe. Como resultado da Néfesh ser fortemente ligada ao corpo e aos desejos corporais, há sempre um risco de que, apesar de ter se corrigido, ela seja alvo de desejos negativos e fique presa nas Klipot. Esse é o segredo do versículo: “Elohim não favorecerá nenhuma Nésfesh (...) cogitará pensamentos, para que não se desterre Dele”. Isso significa que todo pensamento que Ele cogita é apenas direcionado ao aspecto da Nefesh, por estar em Assiá. Então, existe o receio de abandoná-lo, pois ela ficaria vulnerável as Klipot que ali existem. Sendo assim, o Ticun que ele proporciona para a Nefesh por causa deste receio é que “Elohim não elevará nenhuma Nefesh”. “Para que não se desterre” é um versículo que se refere ao filho do rei Davi, Absalão, em hebraico Avshalom, que fugiu de seu pai depois de matar seu meio-irmão, Amnom, em vingança por violar sua irmã, Tamar. Portanto, este versículo chama pelo rei David, pedindo-lhe para perdoar a Avshalom e permitir que ele volte para casa. O raciocínio por trás deste episódio é que, de qualquer modo, o Santíssimo não vai permitir que a Néfesh suba e atinja o seu Ruach, a menos que expie seus pecados. Mas se abandonada, será sobrepujada e pega pelas Klipot, se perdendo. Então o rei Davi está sendo solicitado a não negar a Avshalom esta oportunidade, e permite-lhe salve a sua Nefesh. Outra explicação é que a Nefesh do rei Davi e a Nefesh de Avshalom vêm da mesma raiz da alma, e, portanto, uma parte da Nefesh do rei Davi estaria perdida entre as Klipot e não subiria. “Elohim não favorecerá nenhuma Nefesh (...) cogitará pensamentos, para que não se desterre dele”. No entanto, não é esse o caso em Ietsirá e nos outros mundos, em que o Ruach, ou sua Neshamá etc, permanecem abaixo, no nível da raiz e a pessoa ganha um Ruach adicional e mais elevado. Condizente com a perfeição dos seus atos, como dissemos antes. Esse é o significado secreto do famoso adágio: “Qualquer pessoa pode ser como Moshé”. Para isso basta que a pessoa esteja disposta a aperfeiçoar seus atos, pois ao fazer isso ela pode adquirir outro Rúach mais elevado, do alto de Ietsirá. De modo similar, uma Neshamá, da parte mais alta de Beriá etc. Aqui o Ari explica como uma pessoa é capaz de mudar o seu destino predeterminado, já que o conceito da dívida cósmica que a deixa presa ao passado se aplica principalmente ao nível da Nefesh. Seguindo esse princípio, quando a pessoa refina e purifica a sua Nefesh ela se torna capaz de se desconectar do passado para assumir um novo futuro. Mas com o novo futuro aparecem mais responsabilidades, conforme a ajuda que ela merece receber dos outros níveis mais elevados de alma. Assim, uma pessoa simples pode receber um Rúach de um grande líder e incorporar as características e as habilidades dessa nova alma para vencer desafios e resolver problemas. Isso é algo que a primeira pessoa jamais seria capaz de fazer. Abraço. Davi.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O CICLO DOS SETE ANOS

 

Espiritualidade. www.oshobrasil.com.br Texto de Osho (1931-1990). Tradução de Sw Bodhi Champak.  O CICLO DOS SETE ANOS. "A vida tem círculos de sete anos, ela se move em círculos de sete anos exatamente como a terra faz uma rotação em seu eixo em vinte e quatro horas. Ninguém sabe por que não são nem vinte e cinco nem vinte e três horas. Não há nenhum jeito de se responder isso. É simplesmente um fato. Assim, não me pergunte por que a vida se move em círculos de sete anos. Eu não sei. O máximo que eu sei é que ela se move em círculos de sete anos. E se você compreender esses círculos de sete anos, você compreenderá uma grande coisa sobre o crescimento humano. Os primeiros sete anos são os mais importantes porque os alicerces da vida estão sendo assentados. É por isso que todas as religiões estão muito preocupadas em agarrar as crianças o mais rápido possível. Os judeus circuncidam as crianças. Que bobagem! Mas eles estão carimbando a criança como uma judia. Essa é uma maneira primitiva de carimbar. Ainda se faz isso com o gado aqui nas redondezas. Aqueles primeiros sete anos são os anos em que você é condicionado, é preenchido com todos os tipos de ideias que irão atormentá-lo ao longo de toda a sua vida, que irão distraí-lo de sua potencialidade, que irão corrompê-lo, que nunca irão lhe permitir ver claramente. Elas sempre virão como nuvens diante de seus olhos e irão fazer com que tudo fique confuso. As coisas são claras, muito claras. A existência é absolutamente clara. Mas os seus olhos têm camadas e mais camadas de poeira. E toda essa poeira foi arranjada nos primeiros sete anos de sua vida, quando você era tão inocente, tão confiante, que qualquer coisa que lhe fosse dita você aceitava como sendo verdadeira. E mais tarde, será muito difícil você descobrir tudo aquilo que entrou em seus alicerces. Terá se tornado quase parte de seu sangue, ossos, de sua própria medula. Você perguntará mil outras questões, mas você nunca perguntará a respeito dos alicerces básicos de suas crenças. A primeira expressão de amor para com a criança é deixá-la absolutamente inocente em seus primeiros sete anos, sem condicionamento, deixá-la por sete anos completamente selvagem, uma pagã. Ela não deveria ser convertida ao hinduísmo, ao islamismo, ao cristianismo. Qualquer um que esteja tentando converter a criança, não tem compaixão, é cruel, está contaminando a própria alma de um viçoso recém-chegado. Antes mesmo que a criança tenha formulado perguntas, ela já terá recebido respostas com filosofias, dogmas e ideologias pré-fabricadas. Essa é uma situação muito estranha. A criança não perguntou a respeito de Deus e você já está lhe ensinando.  Por que tanta impaciência? Espere! Se algum dia a criança demonstrar interesse por Deus e começar a perguntar a respeito, então tente dizer a ela não apenas a sua ideia sobre Deus, porque ninguém tem qualquer monopólio. Coloque diante dela todas as ideias de Deus que estiveram presentes em diferentes povos, em épocas diferentes, por religiões, culturas e civilizações diferentes. E lhe diga: 'Você pode escolher dentre essas aquelas que mais lhe atrai. Ou você pode inventar a sua própria, se nenhuma estiver adequada. Se todas lhe parecerem defeituosas, e você achar que pode ter uma ideia melhor, então invente a sua própria. Ou se você achar que não há jeito de inventar uma ideia sem falhas, então abandone toda essa história, ela não é necessária. Um homem pode viver sem Deus.' Não há qualquer necessidade de que o filho tenha que concordar com o pai. Na verdade, parece muito melhor que ele não tenha que concordar. É assim que a evolução acontece. Se toda criança concordar com o pai, então não haverá qualquer evolução, porque o pai terá concordado com seu próprio pai, e todo mundo estará no ponto em que Deus deixou Adão e Eva: nus e expulsos do jardim do Éden. Todo mundo estará lá. O homem tem evoluído porque os filhos têm discordado de seus pais, dos pais de seus pais e de todas as tradições. Toda essa evolução é uma tremenda divergência com o passado. Quanto mais inteligente você for, mais você irá discordar. Mas os pais valorizam as crianças que concordam e condenam as que discordam. Até os sete anos, se a criança puder ser deixada inocente, não corrompida pelas ideias dos outros, assim tornar-se-á impossível distraí-la de seu crescimento potencial. Os primeiros sete anos da criança são os mais vulneráveis. E elas estão nas mãos dos pais, dos professores, dos padres (...). Como defender as crianças dos pais, dos padres e dos professores é uma questão de tamanha proporção que parece quase impossível de se fazer. Não é uma questão de ajudar a criança. A questão é proteger a criança. Se você tiver uma criança, proteja-a de si mesmo. Proteja a criança dos outros que possam influenciá-la, pelo menos até os sete anos, proteja-a. A criança é como uma pequena plantinha, fraca e suave. Um simples vento forte pode destrui-la, qualquer animal pode comê-la. Você põe um fio protetor ao redor dela, mas não a aprisiona, você está simplesmente protegendo-a. Quando a planta estiver maior, o fio será removido. Proteja a criança de todo tipo de influência de modo que ela possa permanecer ela mesma. E isso é só uma questão de sete anos, porque então o primeiro círculo estará completo. Aos sete anos ele estará bem enraizado, centrado, forte o suficiente. Você não sabe o quanto uma criança de sete anos pode ser forte porque você só tem visto crianças corrompidas. Elas carregam os medos e a covardia de seus pais, mães e familiares. Elas não são elas mesmas. Se uma criança permanecer sem ser corrompida por sete anos (...). Você ficará surpreso ao encontrar tal criança. Ela será tão afiada como uma espada. Seus olhos serão claros, seus insights serão claros. E você verá nela uma tremenda força que você não poderá encontrar nem mesmo num adulto de setenta anos. Se você é um pai (ou mãe), você precisará muito dessa coragem para não interferir. Abra portas para direções desconhecidas de modo que a criança possa explorá-las. Ela não conhece o que ela tem dentro dela, ninguém sabe. Ela terá que tatear no escuro. Não faça com que ela tenha medo do escuro, não faça com que ela tenha medo do fracasso, não faça com que ela tenha medo do desconhecido. Dê a ela suporte. Quando ela estiver indo para uma jornada desconhecida, ofereça a ela todo o seu suporte, com todo o seu amor, com todas as suas bênçãos. Não deixe que ela seja afetada pelos seus medos. Você pode ter medos, mas mantenha-os consigo mesmo. Não descarregue esses medos em cima da criança, porque isso será interferência. Depois dos sete anos, no próximo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, algo novo é acrescentado à vida: os primeiros alvoroços da energia sexual da criança. Mas elas são apenas uma espécie de ensaio. Ser pai é uma tarefa difícil. Assim, a não ser que você esteja pronto para assumir tal tarefa difícil, não se torne um pai. As pessoas simplesmente seguem se tornando pais e mães sem saber o que estão fazendo. Você está trazendo uma vida à existência e todo o cuidado do mundo será necessário. Agora, quando a criança começa a brincar com seus ensaios sexuais, é o tempo em que os pais mais interferem, porque foi assim que fizeram com eles. Tudo o que eles sabem é o que foi feito com eles, assim eles seguem fazendo o mesmo com as suas crianças. As sociedades não permitem ensaio sexual, pelo menos não permitiram até o século XX, exceto nas duas e três últimas décadas em alguns países muito avançados. Agora já existem escolas mistas para as crianças, mas em um país como a Índia, mesmo agora, a educação mista começa a surgir apenas no nível universitário. O menino de sete anos e a menina de sete anos não podem estar no mesmo internato. E este é o momento para eles, sem qualquer risco, sem perigo de gravidez, sem que quaisquer problemas surjam para suas famílias; este é o momento em que lhes deveriam ser permitidas todas as brincadeiras. Sim, isso terá uma conotação sexual, mas será só um ensaio, não se trata de um drama teatral verdadeiro. E se você não permitir a eles nem mesmo esse ensaio, de repente então, um dia a cortina se abrirá e o verdadeiro drama começará (...). E eles não saberão o que está acontecendo e não haverá nem mesmo aquela pessoa escondida no palco para lhes soprar o que devem fazer. Você terá bagunçado a vida deles completamente. Esses sete anos, o segundo círculo da vida, são significantes como um ensaio. Eles se encontrarão, se misturarão, brincarão e se conhecerão. E isso ajudará à humanidade a se livrar de quase noventa por cento das perversões. Se às crianças dos sete aos quatorze for permitido estarem juntas, nadarem juntas, estarem nuas juntas, noventa por cento das perversões e noventa por cento das pornografias irão simplesmente desaparecer. Quem irá dar atenção a essas coisas? Quando um garoto conheceu tantas garotas nuas, que interesse uma revista tipo Playboy poderá ter para ele? Quando uma garota tiver visto tantos garotos nus, eu não vejo qualquer possibilidade de existir curiosidade a respeito do outro. Isso simplesmente desaparecerá. Eles irão crescer juntos naturalmente, não como duas espécies diferentes de animais. É assim que eles crescem agora, como duas espécies diferentes de animais. Eles não pertencem à mesma espécie humana, eles são mantidos separados. Mil e uma barreiras são criadas entre eles, e não lhes permitem qualquer ensaio de sua vida sexual que está chegando (...). Se você tiver feito o dever de casa direitinho, se você tiver brincado com sua energia sexual exatamente com o espírito de um desportista (e naquela idade este é o único espírito que você poderia ter), você não se tornará um pervertido, um homossexual. Todo tipo de coisas estranhas não virá à sua cabeça, porque você está se movendo naturalmente com o outro sexo e o outro sexo está se movendo com você. Não haverá qualquer bloqueio e você não estará fazendo nada errado com quem quer que seja. Sua consciência estará clara porque ninguém pôs nela ideias do que é certo e do que é errado. Você simplesmente está sendo o que você é. Dos quatorze aos vinte e um o seu sexo amadurece. E isso é significante para se entender: se o ensaio tiver sido bom no período dos sete aos quatorze quando o sexo amadurece, acontece uma coisa muito estranha que você nem mesmo deve ter pensado a respeito, porque não lhe foi dada a oportunidade. Eu disse a você que o segundo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, deu a você um vislumbre de antes da peça teatral. O terceiro círculo de sete anos da a você um vislumbre do que vem depois. Você está ainda com garotas ou garotos, mas agora uma nova fase começa em seu ser: você começa a se apaixonar. Não é ainda um interesse biológico. Você não está interessado em procriar, você não está interessado em se tornar marido ou esposa. Esses são os anos dos jogos românticos. Você está mais interessado na beleza, no amor, na poesia, na escultura, que são fases diferentes de romantismo. Dos vinte e um aos vinte e oito é um tempo em que eles podem se acertar. Eles podem escolher um companheiro. E eles são capazes de escolher agora, através de toda a experiência dos dois círculos passados eles podem escolher o companheiro certo. Não há mais ninguém que possa fazer isso por você. Isso é algo como um pressentimento.  Nenhuma aritmética, nenhuma astrologia, nenhuma quiromancia, nenhum I-Ching poderão fazer isso. Isso é um pressentimento: entrando em contato com muitas, muitas pessoas, de repente alguma coisa dá um clique que nunca deu com qualquer outra pessoa. E isso clica com tanta certeza e tão absolutamente, que você não pode nem mesmo duvidar. Mesmo se você tentar duvidar, você não conseguirá. A certeza é tão tremenda. Com esse clique vocês se acertam. Entre os vinte e um e os vinte e oito, em algum lugar, se tudo correr bem do jeito que eu estou dizendo, sem interferência de outros, então vocês se acertam. E o período mais agradável da vida vem dos vinte e oito aos trinta e cinco: o mais alegre, o mais pacífico e harmonioso, porque duas pessoas começam a se derreter e a se fundir uma com a outra. Dos trinta e cinco aos quarenta e dois, um novo passo, uma nova porta se abre. Se até os trinta e cinco você sentiu profunda harmonia, uma sensação orgástica e tiver descoberto a meditação através disso, então, dos trinta e cinco aos quarenta e dois vocês ajudarão um ao outro a ir mais e mais fundo na meditação sem sexo, porque o sexo neste ponto começa a parecer infantil, juvenil. Quarenta e dois anos é o tempo certo quando a pessoa deveria ser capaz de saber exatamente quem ela é. Dos quarenta e dois aos quarenta e nove, ela vai mais fundo e mais fundo na meditação, mais e mais para dentro de si mesmo, e ajuda o companheiro no mesmo caminho. Eles se tornam amigos. Não mais existe marido e não mais há esposa. Esse tempo já passou. Isso já deu a sua riqueza para a sua vida. Agora existe alguma coisa mais alta, mais alta que o amor. Isso é amizade, um relacionamento de compaixão para ajudar o outro a ir mais fundo dentro de si mesmo, a se tornar mais independente, a se tornar mais só, como duas árvores altas, separadas, mas ainda próximas uma da outra, ou dois pilares num templo suportando o mesmo teto, estando tão próximos e tão separados, tão independentes e tão sós. Dos quarenta e nove aos cinquenta e seis, essa solitude (só) se torna o foco de seu ser. Tudo no mundo perde o significado. A única coisa significante que permanece é essa solitude (só). Dos cinquenta e seis aos sessenta e três, você se torna totalmente o que você está para ser: o florescimento potencial. Dos sessenta e três aos setenta, você começa a ficar pronto para deixar o corpo. Agora você sabe que não é o corpo, você sabe que também não é a mente. O corpo era conhecido como separado de você em algum lugar quando você tinha trinta e cinco anos. Que a mente está separada de você foi conhecido em algum lugar quando você tinha quarenta e nove anos. Agora, tudo mais foi deixado de lado exceto a auto-observação. Só a pura consciência, a chama da consciência permanece com você, e isso é a preparação para a morte. Setenta é a duração de vida natural para o homem. E se as coisas se moverem em seu curso natural, então ele morre com tremenda alegria, em grande êxtase, sentindo-se imensamente abençoado porque a sua vida não foi sem significado e que, pelo menos, ele encontrou o seu lar. E por causa dessa riqueza, dessa realização, ele é capaz de abençoar toda a existência. Só por estar perto de tal pessoa, quando ela está morrendo, é uma grande oportunidade. Você sentirá, na medida em que ele deixa o corpo, algumas flores invisíveis caindo sobre você. Embora você não possa vê-las, você poderá senti-las." Osho – From Darkness to light. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi

domingo, 18 de fevereiro de 2024

BEM-AVENTURADO OS HUMILDES DE ESPÍRITO

 

Cristianismo. 44º Sermão do Mestre Eckhart (1260-1328). Tema: BEM-AVENTURADOS OS HUMILDES DE ESPÍRITO. Mateus 5:3 "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus". A felicidade abriu sua boca de Sabedoria e afirmou: Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus. Todos os anjos, todos os santos e tudo que foi nascido deve ficar silente quando a Sabedoria do Pai abre sua boca; pois toda Sabedoria dos anjos e das criaturas é pura loucura diante da Sabedoria insondável de Deus. E foi esta Sabedoria que declarou que são abençoados os pobres. Existem dois tipos de pobreza. A primeira é uma pobreza externa, e isto é útil e deve ser muito elogiada naquele que a prática voluntariamente, por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, pois Ele mesmo tinha isto nesta terra. Sobre esta pobreza eu nada mais direi neste momento. Mas existe uma outra pobreza, que é de natureza interna, e é a esta que se aplicam as palavras de Nosso Senhor quando disse: bem-aventurados os pobres de espírito. Agora, eu rogo ao mel de suas almas que sejam desta forma para que possam compreender este sermão; pois que pela verdade eterna eu digo que a menos que sejam como esta verdade a qual abordaremos neste momento, não será possível que me compreendam. Algumas pessoas indagaram de mim o que vem a ser a pobreza, e o que é um homem pobre. Responderei a tal da seguinte forma: O Bispo Alberto diz que um homem pobre é aquele que se satisfaz com todas as coisas que Deus criou e isto está bendito. Mas vamos falar melhor, tomando a pobreza em um sentido mais elevado. É um pobre aquele que nada quer, que nada sabe e que nada tem. Falemos neste momento sobre estes três pontos, e eu rogo a vocês que compreendam esta Sabedoria se puderem; mas se não puderem compreender, não precisam ficar preocupados, porque vou dizer uma tal verdade que muito poucas pessoas podem compreender. Em primeiro lugar, é um pobre aquele que nada quer. Existem pessoas que absolutamente não compreendem o que isto quer dizer: são aqueles que ficam muito apegados a ascetismos (prática da abstenção dos prazeres e até do conforto material, adotada com o fim de alcançar a perfeição moral e espiritual) e práticas externas, achando que muito fazem ao se submeter a tais práticas. Possa Deus lhes ter em compaixão, pois tão pouco compreendem da verdade divina! Costumam chamar estas pessoas de santas ou de sagradas porque aparentam sê-lo externamente, mas eu digo que por dentro nada mais são que bons idiotas, pois ignoram completamente o que vem a ser a verdade divina. Estas pessoas dizem que o pobre é aquele que nada deseja e explicam isto da seguinte forma: A pessoa deve levar sua vida de tal forma que jamais faça o que quer em nada que seja, mas deve se esforçar por realizar a maravilhosa vontade de Deus. Está tudo bem com estas pessoas porque suas intenções são boas, e podemos até chegar a lhes elogiar estas suas vontades. Possa Deus em sua misericórdia lhes abrir o reino dos céus! Mas pela Sabedoria de Deus eu afirmo que tais pessoas não são de forma alguns pobres, nem se parecem mesmo que seja levemente aos pobres. São muito admirados por aqueles que nada sabem, mas eu digo que não tem o menor valor, são completos idiotas sem qualquer compreensão que seja da verdade divina. Talvez até que ganhem os céus por suas boas intenções, mas da pobreza da qual falaremos agora não tem a menor ideia que seja. Se então, me perguntassem o que vem a ser o pobre que nada quer, eu diria o seguinte: Enquanto que o homem quiser fazer a vontade de Deus através de sua vontade própria, esta pessoa ainda não tem a pobreza a qual mencionamos; pois esta pessoa tem uma vontade para servir a vontade de Deus, e eis que esta não é a verdadeira pobreza! Pois para que a pessoa tenha esta verdadeira pobreza deve estar tão liberta de sua vontade criada com quando ainda não era, isto é, como quando ainda não existia. Pois eu declaro pela verdade eterna, que enquanto tivermos vontade de realizar a vontade de Deus, e enquanto quisermos possuir a eternidade e Deus, ainda não somos pobres; pois o pobre é aquele que nada quer e que nada deseja. Enquanto eu estava ainda em minha primeira causa, eu ainda não tinha nenhum Deus e era minha própria causa; então eu nada queria e nada desejava, pois eu era o ser puro e um conhecedor de mim mesmo no gozo da verdade. Então eu queria a mim e nada queria de mais; o que eu queria eu era, e o que eu queria, e assim estava eu livre de Deus e de todas as coisas. Mas quando deixei meu livre arbítrio para trás e recebi meu ser criado, então eu possuía um Deus. Pois antes que houvessem criaturas, Deus não era Deus. Ele era Aquilo que Ele era. Mas quando as criaturas entraram para a existência e receberam seus seres criados, então Deus não era Deus em Si Mesmo, era Ele Deus nas criaturas. Quando dizemos que Deus enquanto Deus não é o objetivo supremo das criaturas, isto quer dizer que o mesmo status elevado é possuído mesmo pela menor das criaturas de sondar intelectualmente as profundezas eternas de Deus, do ser de Deus, do qual ela mesmo proveio, teríamos que dizer que Deus com tudo aquilo que o torna Deus seria incapaz de satisfazer e de realizar aquela mosca! Portanto rezemos a Deus para que possamos estar livres de Deus, para que possamos com isto ganhar a verdade e gozá-la eternamente, ali onde o anjo mais elevado, a mosca e a alma são perfeitamente iguais, ali onde eu fiquei e queria aquilo que eu era, e era aquilo que queria. Então podemos concluir: se a pessoa é realmente pobre de vontade, deve querer e desejar tão pouco quanto queria e desejava enquanto não era ainda. E é desta forma que a pessoa chega a ser pobre pelo não querer. Em segundo lugar, ele é pobre que nada sabe. Já dissemos algumas vezes que a pessoa deve viver como se não vivesse nem para si mesmo, nem pela verdade e nem por Deus sequer. Mas agora faremos diferentemente e iremos mais além, dizendo: Para que a pessoa possua esta pobreza deve viver de tal forma que não esteja consciente que não viver de tal forma que não esteja consciente que não vive para si mesmo, ou para a verdade, ou para Deus. Deve estar possuído de uma tal falta de todo conhecimento que nem saiba nem reconheça, nem sinta que Deus habite nele; mais ainda, deve estar livre de toda compreensão que nele possa existir. Pois que quando esta pessoa estava no ser eterno de Deus, nada mais habitava nele; o que ali habitava era ele mesmo. Eis pois porque declaramos que a pessoa deve estar tão livre do seu próprio conhecimento quanto naquela época que ele ainda não era. Esta pessoa deve deixar que Deus funcione como desejar, e ele mesmo nada fazer, estando inativo. Pois que tudo que vem de Deus é pura atividade; o trabalho verdadeiro da pessoa é amar e conhecer. Agora a pergunta fica colocada: Onde há bem-aventurança pela sua maior parte? Alguns mestres dizem que está no conhecer, enquanto que outros dizem que está no amor, outros dizem que está em conhecer e em amar e estes são o que melhor dizem. Mas nós dizemos que não é nem em conhecer nem em amar. Pois que existe algo na alma de onde vêm tanto o conhecimento quanto o amor. Mas isto mesmo nem conhece nem ama da forma que o fazem os poderes da alma. Quem conhece isto, conhece a origem da felicidade. Isto não tem um antes ou um depois, nem espera que algo venha a si, pois isto não pode nem ganhar nem perder. E assim isto está privado do conhecimento que Deus esteja nele funcionando; ao invés isto é apenas si mesmo, gozando a si mesmo na forma de Deus. É assim que eu digo que a pessoa deve estar quitada e liberta que nem conheça e nem perceba que Deus esteja nele funcionando, desta forma a pessoa é pobre. Os mestres dizem que Deus é um ser, um ser intelectual que conhece tudo. Mas nós dizemos que Deus não é um ser e que não é intelectual, e que sequer conhece isto ou aquilo. Assim é que Deus está livre de todas as coisas, e assim Ele é todas as coisas. Pra ser pobre de espírito, a pessoa deve estar pobre de todo seu conhecimento; não conhecendo coisa alguma, nenhum Deus, nenhuma criatura, nem a si mesmo. Isto é necessário, que a pessoa não deseje conhecer ou compreender qualquer coisa que seja dos trabalhos de Deus. Assim a pessoa pode chegar a ser pobre de seu próprio conhecimento. Em terceiro lugar ele é um pobre que nada tem. Muitos existem que dizem que a perfeição é realizada quando não mais se tem coisa alguma materialmente na terra e isto é verdade em um sentido, quando é voluntário. Mas não foi este o sentido em que o quis mencionar. Eu já disse antes, aquele que é pobre não é aquele que quer fazer a vontade de Deus, mas aquele que de tal forma vive que está livre de sua própria vontade e da vontade de Deus, assim como estava quando ainda não era. Desta pobreza declaramos que é a mais elevada. Em segundo lugar, dissemos que é o pobre aquele que nada sabe do funcionamento de Deus dentro de si. Aquele que está tão livre do conhecimento e da compreensão de Deus como Deus mesmo está de todas as coisas, esta pessoa então tem a pobreza mais pura. Mas esta terceira pobreza é a mais correta, que é quando a pessoa nada tem, e da qual vamos discorrer nesse momento. Prestem atenção no seguinte! Eu disse com frequência no passado e eminentes autoridades também o fizeram, que a pessoa deve estar de tal forma liberta de todas as coisas e de todos os trabalhos, tanto de dentro como de fora, que possa ser uma casa digna de Deus, onde Deus possa trabalhar. Agora digamos algo de mais além. Se o homem estiver livre de todas as criaturas, de Deus e de Si mesmo e se mesmo Deus achar um lugar nele onde possa funcionar, então declaramos que enquanto isto estiver naquele homem, ele ainda não é pobre na pobreza mais pura. Pois que não é a intenção de Deus em Seus trabalhos que a pessoa deva achar um lugar dentro de Si onde Deus possa funcionar pois a pobreza do espírito quer dizer estar tão livre de Deus e de todos Seus trabalhos que Deus, se desejar trabalhar na alma, é Ele mesmo o lugar onde possa funcionar, o que aliás Ele faz com a maior satisfação. Pois que se Deus achar uma pessoa tão pobre, então Deus realiza Seus trabalhos e a pessoa fica passiva a Deus, então Deus é o próprio lugar onde funciona, sendo Deus como é, um trabalhador. É justamente aqui, nesta pobreza, que a pessoa dá entrada naquela essência eterna que ele foi uma vez, que é agora e que será por todo sempre. Esta é a palavra de São Paulo que diz: "Tido que sou, o sou pela graça de Deus" (I Coríntios 15:10). Este sermão parece se elevar acima da graça e do ser e da compreensão e da vontade e de todo desejo, então como podem ser verdadeiras as palavras de São Paulo? O fato é que são verdadeiras as palavras de São Paulo: era forçoso que a graça de Deus nele se encontrasse, pois a graça de Deus causou com que aquilo que em si era acidental se aperfeiçoasse como essência. Quando a graça terminou seu trabalho, Paulo permaneceu aquilo que ele era. Assim dizemos que a pessoa deve ser tão pobre que nem possua nem tenha qualquer lugar onde Deus possa operar. Preservar um lugar é preservar a distinção. Eis pois que rezo a Deus que me livre de Deus, pois meu ser essencial está acima de Deus, tomando Deus como a origem das criaturas. Pois naquela essência de Deus na qual Deus se encontra acima de ser e de distinção. ali eu era eu mesmo e me conhecia a mim mesmo de tal forma que me constituísse neste homem que aqui está. Portanto, eu sou minha própria causa de acordo com minha essência que é eterna e não de acordo com meu vir a ser, que é temporal. Portanto, sou não nascido, e de acordo com meu modo não nascido, não poderei jamais morrer. De acordo com meu modo não nascido foi eternamente, sou agora e serei para todo sempre. Aquilo que sou por virtude do nascimento, deve por força vir a perecer, já que é mortal. No meu nascimento todas as coisas também nasceram, e eu era a causa de mim mesmo e de todas as coisas; se eu o quisesse, não teria sido. Sou eu a causa de Deus ser Deus; se não tivesse sido, Deus então não teria também sido Deus. Mas vocês não precisam saber disto. Um grande mestre disse que seu abandonar corpo e mente é mais nobre que sua emanação (de onde se inicia alguma coisa, origem ou procedência) e isto é um fato. Quando flui desde Deus, todas as criaturas disseram: "Eis que Deus existe!", mas isto não pode me fazer abençoado, pois que através disto eu me percebo como criatura. Mas no meu abandonar corpo e mente, onde me fico livre de minha vontade, da vontade de Deus e de todos seus trabalhos  e do próprio Deus mesmo, então me encontro acima de todas as criaturas e não sou mais nem Deus nem criatura, mas sim aquilo que era, que deverei para sempre permanecer sendo. Ali é que receberei um selo que me elevará acima de todos os anjos. Com este selo ganharei uma tal riqueza que não ficarei contente com Deus enquanto Deus, ou com todos Seus trabalhos divinos; pois que este abandonar corpo e mente me garante e me confirma que eu e Deus nada mais somos que uma só coisa. Então é que sou o que era, então não sou nem crescimento nem decadência, pois que então sou a causa que não se move e que com isso move todas as demais coisas. Aqui Deus não encontra nenhum lugar no homem, pois que o homem através de sua pobreza ganha para si mesmo o que ele foi eternamente e que deverá para sempre permanecer sendo. Aqui Deus é uma só coisa com o espírito, e esta é a pobreza mais estrita que a pessoa pode realizar. Se alguém houver que não possa compreender isto que foi dito, não precisa se preocupar com nada. Pois enquanto a pessoa não for igual a esta verdade, não pode compreender minhas palavras, pois esta é a verdade nua e crua que proveio diretamente do coração de Deus. Vivamos nós para experimentar isto eternamente, a tal nos ajude Deus. Amém. Abraço. Davi.

 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

INTRODUÇÃO AO HINDUÍSMO. PARTE I

 

Hinduísmo. www.jnanamandiram.org.br. INTRODUÇÃO AO HINDUÍSMO. Parte I. A RELIGIÃO QUE INCLUI TODAS. O Hinduísmo é uma religião tão abrangente que resulta mais fácil dizer o que não é, do que o que é. Não se trata de uma religião inflexível, pois oferece amplo espaço para a liberdade de expressão. É possível aproximar-se dele sob um ponto de vista próprio, individual, e crescer nele de acordo com a própria personalidade. Não é uma religião exclusivista e nem reivindica ser a única verdadeira. A menos que se esteja preparado para aceitar que Deus tenha cometido vários erros, deve-se aceitar que, se uma religião é verdadeira, todas as outras devem ser verdadeiras também. Por isso, a fé hindu, sendo um sistema de sabedoria e um guia para uma vida apropriada, não é só para hinduístas, mas também para pessoas de todos os tempos, países e religiões. A pessoa pode ser um bom hinduísta sendo um bom cristão, um bom muçulmano, um bom comunista, um bom ser humano e mesmo um bom ateu. Embora eu seja hinduísta de nascimento, cresci numa escola católica, e, assim, me mantenho aberto a outras escrituras e fé religiosas. Como resultado de meus antecedentes hinduístas, não sinto aver­são por estar numa igreja ou mesquita. De fato, encontro a mesma elevação espiritual numa igreja cristã como num templo hindu. Não é uma religião missionária e não objetiva a conversão de fiéis. O leitor tem que se sentir livre, sem receio de que sua religião seja enfraquecida quando ficar entendida a verdadeira finalidade destas páginas. Na verdade, compreender o hinduísmo servirá para fortalecer sua própria religião e ajudar a acrescentar harmonia para relacio­nar-se com outras pessoas e culturas. AS ESCRITURAS DO HINDUÍSMO. Enquanto as escrituras de outras religiões derivam sua autori­dade de um Deus pessoal, anjo ou mensageiro especial, os Vedas, que são a escritura básica do hinduísmo, não fazem tal reivindicação. “VID” significa conhecer, e os Vedas representam o conhecimento infinito, não criado, eterno. O conhecimento não pode ser inventado, mas somente descoberto. A soma total do conhecimento é chamada Vedanta, que significa “verdade descoberta”, verdade descoberta pelos Rishis, almas que realizaram sua clarividência e não apenas sua vidência. O Rishi não demanda propriedade ou direitos autorais por seu pensamento ou conhecimento. Nada de novo há no universo. Só os descobrimentos parecem novos. Cristóvão Colombo (1451-1506) descobriu o que já existia: a América. Os Rishis descobriram o sempre existente Conhecimento. Este Conhecimento, representado pelos Vedas não é algo que deva ser aceito só porque está expresso em preto e branco em um livro. Não: o conhecimento dos Vedas pode ser experi­mentado por todo e qualquer ser humano por ser a Verdade. Pela experimentação pessoal pode-se verificar a eterna Verdade encerrada dentro de si mesma. Aliás, este é o desafio do hinduísmo. A fé é, certamente, necessária, mas as asserções dos Vedas não necessitam de aceitação na forma da fé cega. Questione tal conhecimento, experimente-o e, finalmente com perseve­rança, vivencie-o por si mesmo. Não é forçoso ficar satisfeito com o que já está estabelecido como, por exemplo, que “a manga é doce”. O hinduísmo o convida e o encoraja a ir além: morder, provar, sentir seu doce néctar escorrendo pelo seu ser, para saber por você mesmo que “a manga é doce”. Os Vedas – Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda e Atharva Veda – estão divididos em duas partes principais: a do trabalho ou ação, e a do conhecimento. Na parte do trabalho, estão incluídos os deveres da pessoa: deveres como estudante, homem do lar e monge. Já a parte final dos Vedas é chamada Vedanta e contém as UPANISHADES – essência do conhecimento espiri­tual dos Vedas. À semelhança das outras religiões, o hinduísmo possui muitas escolas com várias interpretações das escrituras. Porém, qualquer seita que reivindique ser parte do hinduísmo deve reconhecer a autoridade das Upanishades e dos Vedas. O próprio nome “hindu” é proveniente da Vedanta. Além dos Vedas, o hinduísmo também tem outras escrituras, e um resumo das mais importantes será feito neste capítulo. Presentemente direi que o hinduísmo tem os SMRTIS ou “Códigos da Lei”, cuja origem é humana. Entre os melhores conhecedores que estabeleceram as leis que regulam as sociedades está Manu. O Hinduísmo é uma religião dinâmica, e os Códigos da Lei nos SMRTIS são flexíveis e mudam de tempos em tempos segundo as necessidades do gênero humano. A relação do SMRTI com o SRUTI (Veda) equivale à do corpo com a alma. O corpo é sujeito à mudanças e a alma, não. A alma está além do tempo. O “Ramayana” de Valmiki e o “Mahabharata” de Vyasa são também escrituras do hinduísmo e podem ser descritos como “O Veda Popular” onde histórias e lendas são usadas para ilustrar os princípios da Vedanta. Os Puranas são histórias religiosas que ilustram a verdade do SRUTI, narrando os feitos dos reis, deuses e santos. Entre as maravilhosas histórias dos Puranas estão as de PRAHLADA e DHRUVA. É difícil descrever nossa própria mãe, bem como o BHAGAVAD GUITA. Nós estamos todos no campo de batalha da vida, e o Guita foi apresentado pelo Senhor Krishna ao guerreiro Arjuna num campo de bata­lha. Cada momento de nossa vida requer decisões, e o Bhagavad Guita provê as respostas a milhares de questões e problemas que surgem no decorrer da vida. O que fazer e o que não fazer estão respondidos no Guita. O caminho da devoção, do trabalho e do conhecimento estão ali descritos e unificados. As questões da vida em geral, e as de morte e vida, são abordados nele. O relacionamento entre pessoas, e entre a pessoa e Deus, também. O Guita é a essência das Upanishades. Muitos já disseram que os que estudam constantemente o Guita e vivem a vida nele indicada não necessitam de outro livro. Com frequência as pessoas ficam confusas pela grande quantidade de livros existentes. O Guita responde às questões apresentadas por Arjuna em nome de todos nós. Os conflitos de Arjuna são os mesmos que sempre tivemos e temos hoje. O que foi escrito até aqui é somente um resumo. Para o iniciante seria bom que primeiro lesse uma versão simplificada e conden­sada das várias escrituras a fim de obter uma compreensão inicial e um panorama geral de cada uma delas antes de ler o texto completo. A TEORIA DA CRIAÇÃO. A criação implica algo feito do nada. Diz a lógica que “do nada, nada procede”. “Nada” não pode ser “alguma coisa”. Por isso, “criação” não é a palavra certa para ser usada aqui. Vejamos a definição de espaço. O espaço pode conter planetas, astronaves, estrelas, mas, em si mesmo, não é substância alguma. De fato, ele nada tem a ver com nenhuma dimensão limi­tada. Em outras palavras, o espaço é infinito e a existência de planetas não diminui a infinita dimensão do espaço. Se você olha uma xícara, existe espaço fora dela, espaço dentro dela, espaço nas “paredes”, na base, e na asa da xícara. A existência da xícara não reduz ou contradiz a infinitude do espaço. Nas Escrituras cristãs, com relação à Criação, se diz que “primeiro era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. O conceito hinduísta é semelhante, embora não reco­nheça um começo para a Criação nem um ponto final. O hinduísmo acha a palavra “emanação” mais apropriada do que “criação”. Chame-se a isso natureza ou chame-se a isso Deus. Dessa Verdade sempre existente o universo parece projetado, parece existir, e parece dissolver-se. Tal como as ondas do oceano, “ondas” que aparecem e desaparecem todo o tempo. A continuidade entre essas oscilações é a eternidade. O apare­cimento e o desaparecimento das ondas não afetam de maneira alguma o oceano, e essa emanação e sua retirada ou absorção não atinge a Suprema Verdade a qual é sempre infinita, sempre contínua. Nas escrituras, a palavra “começo” algumas vezes é usada. Refere-se ao início de um ciclo. O que é o mundo do homem? É nada mais que o reflexo de sua própria emanação. Toda poderosa é a vontade humana, e o ambiente ou circunstâncias podem ser determinados por uma constante vontade, seja ela expressa por uma única determina­ção ou pela oração intensa e contínua. A LEI DO KARMA (AÇÃO). A lei da Física estabelece que “para cada ação há uma reação igual e oposta”, e o que é tido como verdade para os físicos também é válido para as ações do homem. O tempo de reação difere devido à diversidade das ações, mas a reação é certa. Vejamos alguns exemplos: dê uma tapa no rosto de sua esposa e você não terá que esperar muito tempo pela sua reação. Uma bofetada em resposta machucará seu rosto em questão de segundos. Claro que isto é apenas um exemplo e, de certo o leitor não precisa fazer essa experiência… Coma mais lentamente, muito mais lentamente do que você necessita, pois a energia atômica da comida é absorvida primeiro na boca. Durante alguns anos, o estômago aceita o abuso, mas, pouco a pouco, deteriorar-se-á a tal ponto que não terá mais condições de comer sequer o necessário. Em geral, atos de bondade não são apreciados pelos outros porque nosso ego, em princípio, é contrário a tudo. E ao que parece eles também nunca são bem retribuídos. Desnecessário dizer que atos de bondade nunca deveriam ser pagos ou retribuídos, já que seu motivo é a bondade. Ainda assim, a lei do Karma age sempre e, quando você menos esperar, sua bondade será retribuída e compensada com uma soma gene­rosa de juros. O que acontece com a lei do Karma quando, por exemplo, uma pessoa comete um assassinato já próximo ao fim de sua vida, e logo depois morre, antes de essa ação ser eliminada ou punida? Por outro lado, o que acontece à pessoa que pratica boas ações e morre antes de ter tempo de desfrutá-las? A lei do Karma opera com base na eterna continuidade da vida. A morte do corpo físico nada mais é do que – de acordo com o Senhor Krishna, no Bhagavad Guita – um deixar do corpo velho e usado e um adquirir de um outro, novo, da mesma maneira com que uma pessoa descarta uma roupa velha em troca de uma roupa nova. A simples troca de “roupas” não cria um indivíduo novo. A alma, com suas qualidades de “ativo e pas­sivo” do Karma, impulsiona a si mesma para o novo corpo. Sua “conta bancária” é transferida para uma nova seção. Todavia, seu saldo bancário e empréstimo permanecem os mesmos para desfrute e remuneração, respectivamente. Então, a ação do assassínio, que não foi eliminada, terá sua punição na vida seguinte. O homem bondoso, que não teve sua recompensa naquela vida, com certeza terá na seguinte. As pessoas que não estão familiarizadas com a lei do Karma criticam dizendo que Deus não é justo, e fazem perguntas tais como “Por que este bebê é cego? Que mal ele pode ter feito a alguém? Por que este homem preguiçoso ganhou um milhão de dólares na loteria?” A pessoa familiarizada com a lei do Karma apenas terá um sorriso para essas questões porque sabe que cada pessoa é responsável por seu próprio destino, já que nós mesmos o criamos. A palavra “destino” leva-me à última parte deste capítulo. Algu­mas pessoas querem tomar a saída mais fácil a este respeito e dizem que, “se tudo nesta vida é determinado pelo destino ou sorte – ou pelo resultado de suas prévias ações – então por que se aborrecer em fazer algo agora?” Elas dizem: “O que tem que acontecer, acontecerá”. É importante compreender a verdade sobre o destino. Fazer o seu próprio destino é um processo contínuo. Dizer que as ações da vida passada vão governar inteiramente esta vida é ignorar o fato de que suas ações presentes também afetam o futuro. Certamente, as ações de suas vidas prévias atingem, afetam você. Mas, a qualquer momento particular de sua vida, você terá o direito e o poder de criar um destino novo e melhor. A vontade humana, tal como eu disse anteriormente, tem grande poder. Você até pode ser influenciado pelas prévias más ten­dências. Todavia, sua vontade pode vencê-las desde que, fortalecendo-a, ela leve você a melhorar e, em consequência, melhorar seu futuro. No hinduísmo não há limites do quanto você pode avançar. Então, se seu esforço é vigoroso e constante, com a graça de Deus a onipresença em você mesmo poderá ser sua recompensa! Maior retribuição, mais desejável recompensa que essa, não existe. A bênção da onipresença! Galgue a montanha e veja o panorama extenso à sua frente, em todas as dimensões. Sinta a bênção da unidade conjuntamente com a expansão do pano­rama. Para vislumbrar a bênção – a infinita e sempre renovada bênção da onipresença, multiplique a “bênção do cume da mon­tanha” um bilhão, um trilhão, um quatrilhão, um quintilhão, um sem-fim de vezes. A ALMA DO HOMEM. Olhe para um ventilador, uma lâmpada elétrica, um aque­cedor. Se suas tomadas não forem ligadas à eletricidade, os aparelhos estarão “mortos”. Serão apenas um amontoado de metais. E se a eletricidade não estivesse permanentemente acessível, o que faria você com esses aparelhos? Certamente os jogaria fora. Quando a “eletricidade” ou a “chispa” que alenta e anima o corpo humano se vai, nós “jogamos fora” o corpo (cremamos ou enterramos). O que é essa “Chispa” que dá vida ao corpo humano? Chame-a por qualquer nome, mas é certo que existe algo que faz diferente o ser vivo, a quem amamos e cuidamos, do corpo morto, o qual não podemos sequer demorar para dele dispor. Qualquer pessoa que tenha visto um ser vivo e um corpo morto não discute se a alma humana existe. É a alma que mora no ouvido, no olho, nos sentidos do tato, gosto e olfato, e na mente. É a alma que permite a você experi­mentar os objetos dos sentidos. Um corpo sem alma – corpo morto – não grita de dor se você o finca com um alfinete ou se você o corta. E não sorri se você sorrir, e não o beija se você o beijar. De uma macieira não crescem peras. Assim, a consciência não provém da inconsciência e a alma somente pode vir da “árvore” da Consciência. Voltemos ao exemplo do ventilador, da lâmpada elétrica e do aquecedor. Nós os ligamos e desligamos, e essa ação completa o circuito elétrico. Então, a “doação da vida”, a energia, passa do gerador aos aparelhos. A mesma energia faz o ventilador girar, a lâmpada iluminar e o aquecedor aquecer, tudo de acordo com seu próprio mecanismo. Sim, a alma humana nunca se separa do “Gerador” da Consci­ência. Chame-o “Gerador”, Deus, Consciência ou Realidade. O circuito é completo. A Consciência humana é una com a Consciência Cósmica. Em cada aparelho circula a mesma eletricidade, e em cada ser humano existe aquela mesma Consciência. O grau de manifestação varia, dependendo do tipo e campo de atividade de cada aparelho. Você pode notar uma grande diferença no grau do brilho da luz entre uma lâmpada de 40 e uma de 100 Watts, embora a mesma eletricidade passe por ambas. A realização de que é a mesma Consciência, a mesma alma em todos os seres humanos, é a base para a fraternidade dos homens. Uma vez realizado que nós somos UM, sem considerar nosso exterior, isto é, se somos brancos, morenos, ou pretos e uma vez realizado que nós nunca poderemos ser felizes enquanto houver outros infelizes, então jamais nos apanharemos mago­ando os outros. E nunca permitiremos aos outros passarem fome, nunca permitiremos que uma palavra cruel escape dos nossos lábios. Pode haver eterna discussão acadêmica sobre religião, mas a realização da unidade da alma humana é a de tratar a todos com amor e bondade – um benefício prático da religião. Não esqueçamos que mesmo nos animais existe a mesma Consciência. Apenas há diferença no grau de manifestação. Por­tanto, nossa bondade para com os animais não deve ser menor. MORTE? A humanidade tem visto o que parece ser a morte milhões de vezes. Todavia, qual homem pode realmente acreditar que ele mesmo morrerá? O fato é que não acreditamos porque, na verdade, nos sentimos eternos. A questão é que, para sermos capazes de considerar a morte (a não-existência), temos que primeiro ter existido. A energia nunca pode ser criada e nem destruída. Isto é afirmado com frequência. Se Eu “sou” não pode ser que Eu “não sou”, com morte ou sem nenhuma morte, minha essência é a alma, e o Senhor Krishna disse no verso 7 do Capítulo XV do Guita: “A alma é uma parte eterna de Mim mesmo – Deus”. A morte sugere término. Mas certamente não pode haver fim para o eterno. O sol brilha no oceano e o vapor d’água se levanta. Enquanto se eleva, o vapor, que é uma parte do mesmo oceano, esfria e forma gotas isoladas que um dia vão retornar ao oceano. E quando atinge o oceano, a gota não é destruída, não termina; pelo contrário, torna-se una com o infinito oceano. Não há nenhuma eliminação de identidade, mas uma expansão infinita da Consciência. Quando uma criança cresce e chega aos vinte e um anos de idade, o evento é celebrado com uma festa pródiga. Não é lamentada de maneira alguma a perda da infância porque chegar a essa idade é cumprir uma etapa para a idade adulta. Faz poucos anos, um homem chamado Swami Tilak, um amigo e santo muito acima de comparações, foi ao encontro de um acidente fatal na Espanha. Mesmo em se tratando de pessoas comuns, com todas suas múltiplas faltas, quando elas morrem sente-se uma sensação de perda. Mas no caso de Swami Tilak, que foi meu mais íntimo amigo, houve algo a mais, pois era ele um homem cuja renúncia não conhecia apego algum. Externamente havia renunciado a todo apego a coisas como dinheiro, roupas e calçados. Nenhum bem material carregava consigo. Vestia somente dois panos de cor ocre e caminhava descalço sobre areias ardentes ou ruas neva­das. Interiormente, nenhum apego tinha quanto à popularidade ou quanto a ter muitos seguidores. Humilde além do que é possível acreditar, era o mesmo para com o pobre e com o rico, o jovem e o velho. Não construiu nenhum ashram ou fundou Instituições. Ele construía um templo no coração de cada pessoa que encontrava e que se sentia tocada pela sua santidade e humildade. De qualquer maneira, o corpo de cada um de nós tem que ir em determinado momento e não há exceções nem para os santos. Como eu disse antes, meu amigo foi ao encontro de um acidente fatal. A notícia desse evento inicialmente chocou-me. Aos poucos, porém, a tranquilidade substituiu o choque e um sorriso pairou nos meus lábios. Para a pessoa que não está totalmente pronta para aceitar a identidade com o Absoluto, a alma arrebata a mente e os senti­dos do corpo moribundo e migra para um corpo novo. Porém, para a pessoa que está preparada – e Swami Tilak estava pronto – nenhuma necessidade há de migrar de corpo em corpo. Para essa pessoa, o pulo no infinito e na eternidade é plenamente acessível. Para essa pessoa, nenhuma espera é necessária para a expansão da identidade com o Todo, algo assim como a onipresença. Então, ela virá e irá “quando quiser e como quiser”. O sorriso pairava nos meus lábios por uma boa razão. Tinha eu perdido o amigo? Não! Minha alma e a dele são simplesmente UMA e suas nobres e santas qualidades são da minha essência. Quando eu gozo ao encontrar alimento, ele, que é meu amigo também goza, porque, querido leitor, é a mesma alma. Ser capaz de ver unidade em toda esta aparente diversidade é ser real­mente capaz de “Ver”. ADORAÇÃO AS IMAGENS. Parece haver algo na natureza humana que faz uma pessoa julgar e criticar os outros sem primeiro examinar a si mesma por faltas semelhantes. A turba aglomerada estava pronta para apedrejar a prostituta até que o Senhor Cristo pediu que “o primeiro homem a atirar uma pedra fosse aquele que nunca tivesse cometido pecado”. Todos nós temos esta tendência de julgar apressadamente sem examinar os fatos. Sem pensar duas vezes. Muitas vezes as pessoas dizem que adorar imagens ou ídolos está errado. Vejamos então os fatos. Todas as religiões concor­dam que Deus é infinito e onipresente. Quem de nós pode imaginar o infinito? Esqueça a referência da infinitude. Quem de nós pode imaginar nossa própria cidade na sua totalidade? Nós não podemos, e, assim, consultamos mapas. Quem de nós pode sequer imaginar o planeta Terra na sua totalidade? Não pode­mos. O que fazemos é usar o mapa globo-terrestre a fim de podermos concentrar nossa mente e falar em termos aceitáveis a respeito de nosso planeta. Todos nós sabemos que o “mapa mundi” não é o planeta e apenas o representa. Adorar a Deus por meio de imagens é semelhante. Um hindu sabe que a imagem não é Deus, que só representa Deus. Um hindu se dá conta de que, para o homem comum, é virtualmente impossível visualizar e imaginar o infinito. Por isso ele usa imagens. Para adorar a Deus, é melhor usar imagens que deixar de fazê-lo, dizendo que “o infinito e a onipresença são muito difíceis para nós”. Adorar imagens está restrito aos hindus? Certamente que não. Vejamos por exemplo a Igreja Católica. A santa Cruz com a está­tua de Cristo está lá. Os católicos sabem que a estátua não é o Cristo e meramente o representa. Por estranho que pareça, a atitude do hindu e do cristão na adoração de imagens é a mesma. Os hinduístas são frequentemente acusados de politeístas. Eles parecem adorar muitos deuses. Mas não é assim. Não são muitos deuses. Eles adoram muitas imagens do mesmo Deus. Para facilitar a mente e adquirir maior concentração num particu­lar aspecto de Deus, os hindus usam uma particular imagem. Ganapati ou Ganesh é adorado no começo de toda oração e de cerimônias a fim de remover obstáculos da mente. Os hinduístas, nesses momentos, concentram seu coração e mente no aspecto de Deus que remove o obstáculo, e chamam esse aspecto de Ganapati. É mais fácil acercar-nos de nossa mãe e fazer-lhe pedidos do que acercar-nos do nosso próprio pai. Por isso os hinduístas adoram Deus em seu aspecto de mãe, e chamam a esse aspecto de Lakshmi – para pedir bem-estar e riqueza. Os hinduístas se dão conta de que o mesmo Senhor é o Criador, o Preservador e o Destruidor, e dá a cada aspecto do mesmo Senhor títulos e imagens como Brahma, Vishnu e Shiva, respectivamente. O objetivo da adoração do hinduísta, isto é, sua finalidade última, é a realização de Deus. Ele usa a imagem em um estágio inicial. Assim é como deve ser. Quando nós somos bebês, segura­mos no dedo de nosso pai para aprender a caminhar. Mesmo tendo obtido a realização, o hinduísta não esquece que a ima­gem de Deus o representa e, por isso, nunca deixa de reverenciar com devoção, humildade e amor quando está na frente de uma dessas imagens, tendo em conta sempre que sua homenagem é para o todo-poderoso Deus que a imagem repre­senta. O hinduísta não tem dificuldade de orar na frente do sol, do oceano ou da montanha. Tudo isso representa a onipotência de Deus para ele. Toda a criação é manifestação da chispa de Sua refulgência. Finalmente, ainda que os hinduístas não sejam politeístas, seu monoteísmo deve ser apropriadamente compreendido. Os hindu­ístas não dizem que existe um só Deus. Todas as religiões declaram que Deus é infinito. Os hinduístas dizem que só existe Deus. E se nós nos sentimos separados desse infinito, se o universo for separado do infinito, então isso significa pôr uma limitação ao infinito. Um infinito no qual não se inclua tudo não é infinito. Ademais, as religiões não podem estar todas erra­das! Nós estamos todos neste infinito, e este infinito é Deus. Existe Deus e Deus. Só. Nada fora de Deus existe. “fora de tua consciência nenhuma verdade existe. Fora de tua consciência, onde está Deus?”. GURU. O hinduísmo enfatiza a auto realização como objetivo de todas as pessoas e criaturas. Até aqui este texto discutiu claramente a filosofia hinduísta. Nos capítulos restantes discutir-se-á o sentido da auto realização. Neste capítulo será discutido o que é um guru, e o que é necessário para ser um guru. Muitos de nós tendem a esquecer que temos tido gurus ao longo de nossas vidas. Quando, a princípio, nós aprendemos a cami­nhar, não o fizemos nós com nossos pais? Que mais podemos acrescentar para dizer que a primeira linguagem aprendida é a dos nossos pais? Na escola, nossos professores são nossos gurus. Aprendemos a dirigir um veículo e o instrutor é nosso guru para tal propósito. Necessitamos aceitar o fato de que nada místico há sobre a palavra guru, que normalmente significa “professor”. Por que necessitamos de um mestre ou guru? Há muitos livros sobre qualquer matéria. Por que não podemos simplesmente ler os livros? Voltemos ao exemplo de como aprender a dirigir um veículo. Pode-se ler muitos livros a respeito, e de fato deve-se ler, mas todos os livros do mundo não podem substituir o instrutor. O instrutor – guru – senta-se no carro quando você nervosamente dá a partida pela primeira vez. Ele está lá para encorajar você com delicadeza e guiá-lo através da parte teórica e prática em todos os degraus do aprendizado. Ele também está lá para impedir e corrigir erros quando você os comete. Ele transforma, faz de você, pouco a pouco, um qualifi­cado motorista que controla seu veículo e não permite que a máquina o domine. Para a auto realização, um mestre ou guru deve atender a um conjunto de bons requisitos. Você pode – e deve – estudar todas as escrituras, mas o livro de estudo, por si só, está cheio de dificuldades e perigos. Imagine uma pessoa começando a diri­gir numa rua movimentada depois de ter lido livros, mas sem ter tomado antes aulas práticas com um professor qualificado. Essa pessoa é uma ameaça para si mesma, para os outros motoristas e para os pedestres. Pior ainda é a situação dos aventureiros da espiritualidade, que creem conhecer tudo depois da leitura de uns poucos livros. Às vezes, o conhecimento de muitos livros de filo­sofia resulta em orgulho, procedimento egoísta e desprezo pela aparente “ignorância” das pessoas. Todos esses riscos são evitados pelo verdadeiro realizado. Os eruditos – pandits – tratam também de ensinar os outros, dando a impressão de que falam pela íntima realização. Aqui citamos o caso do “cego guiando outro cego”, e o resultado é catastrófico. Aquele que busca a auto realização necessita de um mestre ou guru, isto é óbvio. Um guru não é necessariamente uma pessoa que tenha um grande ashram. Um guru não é necessariamente uma pessoa que junte ao redor de si muitos discípulos. Um guru não é necessariamente uma pessoa que tenha avião particular e muitos carros Rolls Royce. Um guru não é necessariamente uma pessoa que tenha se tornado Sanyase ou que seja um monge. Isso não quer dizer que esta pessoa não possa ser um guru. O que queremos dizer é que essas qualidades, por si mesmas, não fazem um guru. Assim como um instrutor de motorista deve ser um competente e hábil motorista, um mestre de auto realização deve ser, ele mesmo, totalmente realizado. Assim como um instrutor de moto­rista deve ter a habilidade de instruir, um mestre deve ter a habilidade de transmitir o conhecimento da auto realização a seu estudante. Assim como um instrutor o dirige um veículo sem ostentação, e com segurança, de acordo com o regula­mento de trânsito, assim também o mestre de auto realização pratica o que ele predica, vivendo uma vida na qual olha para cada um com amor e bondade, vivendo uma vida de humildade e servindo a todos. A santidade destila de cada poro de seu ser, e a luz do Conhecimento brilha em seus olhos. Você não deve se preocupar se não tem ainda um guru. Não deve se preocupar muito em como reconhecer um guru. Mas deve ter sempre em mente o que foi dito acima, perceber o que seja e o que não seja um guru. Não corra para achar um guru que venda “mantras” por dólares. Deus não pode ser comprado. Não fique cego atrás de “milagres”. Se você necessita de um mestre para a auto realização, não se fixe num mestre de “magia” ou de “milagres”. Seja prudente ao pensar que, por ser necessário um guru para a auto realização, então “não se deve fazer nenhum esforço no sentido da auto realização”. Não é isso. Um indivíduo deve fazer todo auto esforço possível para orar, ler livros, estar em boa e santa companhia, ouvir palestras espirituais e levar uma vida boa e moral. O hinduísmo afirma que quando um aspirante está pronto – pelo auto esforço, ele não tem que procurar um guru. Ao contrário, o guru virá a ele. Como um catalisador, esse guru o ajudará a tirar os véus das trevas da ignorância, protegendo o aspirante e, no seu devido tempo, o aspirante, por si mesmo, haverá de experimentar a infinda paz e a comovente autorrealização. Não se demora sendo a soma de conceitos intelectuais. Será a experiência própria! Abraço. Davi