sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

III. MUHAMMAD - O MENSAGEIRO DE DEUS

 

Islamismo. III. MUHAMMAD – O MENSAGEIRO DE DEUS. 12 - A PEREGRINAÇÃO DA DESPEDIDA. Quando o mês de RAMADAN chegou, em 632, MUHAMMAD resolveu, ele mesmo, dirigir o cerimonial da PEREGRINAÇÃO. Ele saiu de MEDINA em 20 de fevereiro de 632 em direção a MECA, seguido por uma imensa multidão de fiéis, alguns a pé e outros montados em camelos, numa fila que se perdia no horizonte. A ÚLTIMA PEREGRINAÇÃO DE MUHAMMAD é de uma importância fundamental para todos os MUÇULMANOS. Tudo o que ele fez nessa ocasião histórica foi posteriormente incorporado ao RITUAL que é seguido até os dias atuais. O seu SERMÃO também é um legado para toda a humanidade, uma vez que trata de questões éticas e morais que devem nortear o comportamento dos seres humanos, independente de RAÇA, COR, CREDO. Ele DISCURSOU para a multidão reunida e entre os vários pontos enfatizados estão os de que NÃO SE DEVE mentir, roubar, trair, cometer adultério, ingerir drogas, explorar quem quer que seja. Isto é, os mesmos princípios morais trazidos por todos os MENSAGEIROS DE DEUS que o antecederam. Disse ainda a todos que a vida e a propriedade de todo MUÇULMANO são responsabilidades sagradas; que não causassem dano a ninguém e que ninguém lhes causasse danos. E que a partir daquele momento NÃO DEVERIA HAVER exploração econômica e nem a prática da usura e sim a COOPERAÇÃO entre todos. Também disse que as MULHERES deveriam ser tratadas com BONDADE, pois Deus as tinha confiado a seus MARIDOS. Que os homens tinham certos direitos sobre elas, mas que elas também tinham certos direitos sobre os homens. É uma VIA DE duas mãos. Um complementa O OUTRO, ao invés de serem adversários. Todo MUÇULMANO é irmão de todos os MUÇULMANOS. O orgulho da raça ou das origens era PERVERSO e deveria ser ABOLIDO. Ele também ensinou que toda a humanidade VEIO de ADÃO e EVA e que NÃO HÁ PREFERÊNCIA de um ÁRABE sobre um NÃO ÁRABE, ou de um não árabe sobre um árabe; de um NEGRO sobre um BRANCO ou de um branco sobre um negro. O melhor entre todos é o MAIS PIEDOSO, o mais temente e o que é o melhor EM CARÁTER. Também disse que não viria outro apóstolo ou mensageiro depois dele e que havia deixado para os muçulmanos e para toda a humanidade, duas coisas, e que quem as seguisse jamais se desviaria: o AlCORÃO e a SUNNAH. Pediu a seus seguidores que levassem esta mensagem a todas as pessoas da TERRA. E assim eles o fizeram, percorrendo o mundo, principalmente como mercadores, professores, como pessoas que chegavam para partilhar sua experiência religiosa. E o ISLAM se ESPALHOU pelo mundo, mais PELA FORÇA DO EXEMPLO, da TOLERÂNCIA do que pela força da espada. Cada detalhe do ritual foi indicado pelo PROFETA, o ritual de atirar as pedras, o sacrifício de animais em Mina, as voltas em torno da KAABA e a VESTIMENTA ESPECIAL do peregrino. Ao final de seu sermão, MUHAMMAD disse aos presentes, "eu não disse a vocês o que fazer e que completei minha missão?" Todos responderam em voz alta "Sim, por Deus que você o fez". A seguir, ele levantou os olhos para o céu e disse "Deus, dou o meu testemunho". Por fim, ele se despediu dos peregrinos e voltou para Medina. Nunca mais ele veria Meca de novo. Essa peregrinação de MUHAMMAD passou para a história muçulmana como a PEREGRINAÇÃO DA DESPEDIDA. 13 - O ÚLTIMO SERMÃO DO PROFETA MUHAMMAD. Após louvar e agradecer a Deus, ele disse: "Oh! gente, ouvi-me atentamente porque não sei se estarei entre vós depois deste ano. Portanto, ouvi o que tenho a dizer com muita atenção e levai essas palavras àqueles que não puderam estar presentes aqui, hoje. Oh! gente, da mesma forma que guardai este mês, este dia, esta CIDADE como SAGRADOS, respeitai também a vida e propriedade de todo MUÇULMANO, como uma responsabilidade sagrada. Devolvei os bens que vos foram confiados aos seus legítimos donos. NÃO FERI NINGUÉM porque assim ninguém vos ferirá. Lembrem-se de que verdadeiramente vós vos encontrareis com o vosso Senhor e que Ele ajustará as contas. DEUS proibiu a USURA (juros), portanto, todas as obrigações decorrentes de juros devem ser postas de lado. Vosso CAPITAL, no entanto, cabe a vós mantê-lo. Jamais imponhais e nem sofreis qualquer espécie de iniquidade. Deus sentenciou que não haverá juros e que todos os juros devidos a Abbas ibn 'Abd'al Muttalib (tio de Muhammad) SERÃO ANULADOS. Cuidado com Satanás, para segurança de VOSSA RELIGIÃO. Ele perdeu toda a esperança de que pudesse desviar-vos das grandes coisas, portanto, cuidado para não segui-lo nas pequenas. Oh! gente, é verdade que vós tendes certos direitos em relação a vossas mulheres, mas elas também têm direitos sobre vós. Lembrai-vos de que vós as tomastes por esposas na confiança de ALLAH e com a SUA PERMISSÃO. Se elas forem fiéis então a elas pertence o direito de serem alimentadas e vestidas com bondade. TRATAI SUAS MULHER BENS E SEDE GENTIS COM ELAS porque elas são vossas PARCEIRAS e auxiliares comprometidas. E é vosso direito que elas não façam amizade com quem não aproveis, e que elas jamais sejam impuras. Oh! gente, levai-me a sério, adorai ALLAH, fazei as CINCO PRECES diárias (SALAT), JEJUAI no mês de RAMADAN e DISTRIBUIS de vossos bens em ZAKAT. Fazei o HAJI (PEREGRINAÇÃO) desde que possível. Toda a humanidade provém de ADÃO e EVA, um árabe não é superior a um não árabe, nem um não árabe é superior a um árabe; o branco também não é superior ao negro, nem o negro tem qualquer superioridade sobre o branco, exceto quanto à justiça e aos bons atos. Sabei que todo muçulmano é um irmão de todo muçulmano e que os muçulmanos CONSTITUEM UMA IRMANDADE. Nada que pertença ao irmão muçulmano é lícito para outro muçulmano, a menos que seja dado livremente e de boa vontade. Portanto, NÃO PRATICAIS A INJUSTIÇA entre vocês. Lembrai-vos de que um dia vós estareis diante de Deus e respondereis por vossos atos. Portanto, cuidado, não vos desvieis do CAMINHO DA JUSTIÇA depois que eu tiver partido. Oh! gente, nenhum profeta ou apóstolo virá depois de mim e nem surgirá uma nova fé. Raciocinai bem e compreendei as palavras que vos estou transmitindo. Deixo-vos duas coisas, o Alcorão e o meu exemplo, as sunnas, e se seguirdes esses dois, jamais vos desviareis. Todos que me ouvem deverão difundir minhas palavras para os outros, e estes para outros, e assim por diante, e que o último que as ouvir possa compreender minhas palavras melhor do que aqueles que agora me ouvem diretamente. Sede minha testemunha, ó Deus, de que eu transmiti Vossa mensagem ao Vosso povo.” A MORTE DE MUHAMMAD (SAWS) Em maio de 632, depois da PEREGRINAÇÃO. MUHAMMAD (saws) recrutou os homens para uma expedição à Síria. Um dado curioso dessa expedição é que Usama, filho de Zaid ibn Haritha (581-629), foi indicado o comandante, embora ele só tivesse 20 anos e nenhuma experiência de comando. A indicação provocou uma grande crítica, especialmente entre os veteranos mais experimentados, que se viram substituídos por um rapaz imberbe. Não há registros a respeito dos resultados dessa expedição. Ibn Ishaq (704-608) tem uma nota curta onde relata o fato de que eles fizeram alguns prisioneiros num porto, provavelmente do mar Vermelho. Certa noite de junho de 632, MUHAMMAD (saws) chamou um de seus libertos e lhe disse que ALLAH (swt) tinha ordenado ir ao cemitério e rezar pelos mortos. Acompanhado deste homem, ele saiu e quando estava entre os túmulos, dirigiu-se aos mortos: "Que a paz esteja com vocês, ó povo dos túmulos. Felizes são vocês porque estão muito melhor do que os homens daqui. As divergências chegaram como ondas de escuridão, uma após a outra, sendo a última pior do que a primeira.” Quando ele acabou de rezar, chamou seu liberto e voltou para casa. Na manhã seguinte, sentiu uma violenta dor de cabeça. Ele tentou visitar suas esposas, indo a casa de cada uma delas, mas desmaiou na casa de Maimuna. As mulheres se reuniram em volta dele e lhe deram permissão para que, durante sua doença, ele fosse cuidado na casa de Aisha. Devagar os homens estavam terminando os preparativos para se juntarem à expedição de Usama, ainda ressentidos com a indicação dele. MUHAMMAD (saws), no entanto, estava forte o suficiente para realizar a cerimônia de apresentação de Usama com a bandeira de guerra, um ritual introduzido pela primeira vez por Qusai. Então, ele amarrou um lenço em volta de sua cabeça para acalmar a dor que incomodava muito e fez um esforço para entrar na mesquita para as preces. A partida da expedição de Usama foi retardada, tendo em vista do estado de saúde de MUHAMMAD (saws). Ele estava com muita febre. Não conseguindo dirigir as preces públicas, pediu a Abu Bakr (573-634) que o substituísse. Certa vez, na ausência de Abu Bakr, Omar ibn al Khattab (579-644) foi quem dirigiu as preces. Ao reconhecer a voz de Omar, pois a porta do quarto de Aisha dava diretamente para a mesquita, ele gritou de sua cama, "não, não, somente Abu Bakr." Talvez ele quisesse enfatizar o respeito que tinha por Abu Bakr como o mais velho. Algumas de suas esposas se reuniram com outras mulheres e decidiram forçá-lo a tomar um remédio. MUHAMMAD (saws) perguntou-lhes porque elas estavam agindo assim e elas disseram que estavam com receio de que pudesse ser pleurisia. Mas ele respondeu que ALLAH (swt) não o afligiria com uma doença tão diabólica. Na verdade, à luz dos modernos conhecimentos, PARECE PROVÁVEL que MUHAMMAD (saws) tenha MORRIDO DE PNEUMONIA. Talvez ele tivesse se RESFRIADO quando saiu para REZAR NO CEMITÉRIO, pois na manhã seguinte ele acordou com uma terrível dor de cabeça e a partir daí sua febre não baixou mais. No décimo dia de sua doença, a febre atingiu seu ponto mais alto, ele ficou parcialmente consciente e seu corpo estava atormentado pela dor. Então, na manhã seguinte, quando Abu Bakr estava dirigindo a prece, a porta do quarto de Aisha rapidamente se abriu e MUHAMMAD (saws) APARECEU SORRINDO NO PÁTIO DA MESQUITA. Ele acenou para OS FIÉIS para que continuassem A PRECE e SE SENTOU NO CHÃO para descansar. Quando as PRECES acabaram, Abu Bakr se aproximou dizendo: FELIZ "Ó APÓSTOLO DE ALLAH (swt), vejo que hoje você está gozando DAS BENÇÃOS DE ALLAH (swt), como todos NÓS QUEREMOS." Achando que MUHAMMAD (saws) estava recuperado, ele pediu para visitar sua família, que vivia do outro lado do oásis. MUHAMMAD (saws) voltou para sua cama, deitou-se com a cabeça no peito de Aisha. Limpou seus dentes energicamente e voltou a deitar-se. De repente, Aisha percebeu que sua cabeça tinha ficado mais pesada. "SENHOR, CONCEDA-ME O PERDÃO", disse ele. Seus olhos ficaram fixos. O MENSAGEIRO DE ALLAH (swt) tinha ido encontrar-se com SEU SENHOR. 14 – O ÚLTIMO PROFETA PARA A HUMANIDADE. A crença dos MUÇULMANOS de que o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), É O ÚLTIMO PROFETA DE DEUS, foi mal entendida por muitos povos, pelo que merece ser explicada. Esta crença, EM CASO ALGUM QUER DIZER que DEUS fechou as portas da Sua MISERICÓRDIA ou se ausentou, não impõe restrição à ascensão das grandes personalidades religiosas. NEM LIMITA O APARECIMENTO DOS GRNDES LÍDERES ESPIRITUAIS, ou que OBSTRUA A EVOLUÇÃO dos grandes HOMENS PIEDOSOS. NEM QUER DIZER que DEUS preferiu os árabes, dos quais o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), foi o escolhido. DEUS NÃO É PARTIDÁRIO de qualquer RAÇA, POVO ou GERAÇÃO e a PORTA DA SUA GRAÇA ESTÁ ABERTA e sempre ACESSÍVEL aos que a PROCURAM. Ele fala ao ser humano por qualquer destas formas: PRIMEIRO. Por INSPIRAÇÃO que ocorre na forma de sugestões ou ideias colocadas por DEUS nos CORAÇÕES E PENSAMENTOS dos seres humanos que são piedosos. SEGUNDO. Por DETRÁS DE UM VÉU que aparece na forma de VISÕES quando aquele que está qualificado para as receber está acordado ou num estado de transe. TERCEIRO. Através do MENSAGEIRO CELESTIAL, GABRIEL (que a Paz esteja com Ele), que foi mandado a TERRA com PALAVRAS DIVINAS concretas para transmitir ao escolhido MENSAGEIRO HUMANO. Está última forma é a mais elevada e aquela em que o ALCORÃO SAGRADO foi transmitido ao PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), está LIMITADA SÓ AOS PROFETAS, dos quais o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), FOI O ÚLTIMO E O SELO. Há outros pontos específicos os quais mostram porque o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), é o ÚLTIMO PROFETA DE DEUS para toda a humanidade. PRIMEIRO. O ALCORÃO SAGRADO declara em palavras inequívocas que o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), É ENVIADO A TODOS os seres humanos como APÓSTOLO DE DEUS, a Quem pertence o domínio dos céus e da terra. Diz DEUS NO ALCORÃO: ''Dize: Ó humanos, sou o Mensageiro de Deus, para todos vós; Seu é o reino dos céus e da terra. Não há mais divindade além d`Ele. Ele é Quem dá a vida e a morte! Crede, pois, em Deus e em Seu Mensageiro, o Profeta iletrado, que crê em Deus e nas Suas palavras; segui-o, para que vos encaminheis.'' (7ª Surata, versículo 158). Também estabelece que o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), FOI ENVIADO só como UMA GRAÇA DE DEUS a todas as criaturas, humanas e não humanas, igualmente. Diz Deus no Alcorão: ''E não te enviamos, senão como misericórdia para a humanidade.'' (21ª Surata, versículo 107). E disse ainda: ''Em verdade, Muhammad não é o pai de nenhum de vossos homens, mas sim o Mensageiro de Deus e o pós termo dos Profetas; sabei que Deus é Onisciente.'' (33ª Surata, versículo 40). O ALCORÃO SAGRADO É A PALAVRA DE DEUS, e tudo o que diz é a verdade de Deus que todos os muçulmanos defendem e em que todos os seres humanos devem refletir. A MENSAGEM DO PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), não é simplesmente um renascimento nacional ou um monopólio racial ou uma entrega temporária à escravidão e opressão. Nem foi uma mudança abrupta ou uma reversão de tendências da história, a MENSAGEM DO PROFETA MUHAMMAD (que a paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele). Foi e certamente que ainda é, um renascimento universal, uma benção comum, uma herança para toda a humanidade e uma entrega espiritual duradoura. É uma continuação que evolui de mensagens prévias e uma bem balançada incorporação de todas as revelações anteriores. Transcende todas as limitações de raça, cor, e caracteres regionais, é dirigida a humanidade de todos os tempos e é precisamente o que o ser humano precisa. Assim, um MUÇULMANO ACREDITA que o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), é o ÚLTIMO PROFETA porque o ALCORÃO SAGRADO nos dá o testemunho verdadeiro disso. E porque a MENSAGEM DO PROFETA tem as mais alta qualidade de uma fé verdadeiramente universal e concludente. SEGUNDO. O próprio PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), declarou que era o ÚLTIMO PROFETA DE DEUS, um muçulmano, ou qualquer outro, sobre este assunto não pode duvidar da verdade desta revelação. Durante a sua vida, o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), foi conhecido como o mais VERDADEIRO, HONESTO E MODESTO. A sua INTEGRIDADE e a sua VERDADE estiveram fora de dúvida não só nas visões dos muçulmanos, mas também nas mentes dos seus oponentes mais aguerridos. O seu CARÁTER, os seus CONHECIMENTOS ESPIRITUAIS, e as suas reformas na sociedade, não tiveram paralelo em toda a história da humanidade. E resta saber se a história pode produzir alguma coisa igual ao PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele). Ele disse que era o ÚLTIMO PROFETA, porque está foi a verdade de Deus, e não porque ele quisesse qualquer glória pessoal ou visto nisso ganhos pessoais. A vitória não alterou a sua conduta, o triunfo não enfraqueceu a suas excelentes virtudes, e a força não corrompeu o seu caráter, ele foi INCORRUPTÍVEL, CONSISTENTE e INACESSÍVEL a qualquer noção de ganho pessoal ou glória, as suas palavras espalhavam deslumbrante luz de sabedoria e verdade. TERCEIRO. O PROFETA MUHAMMAD (que A paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), foi o ÚNICO PROFETA que cumpriu a sua missão e completou o seu trabalho em LEVAR A PALAVRA DE DEUS aos seres humano em vida, antes de morrer. O ALCORÃO SAGRADO expressou que a RELIGIÃO DE DEUS tinha sido aperfeiçoada, o FAVOR DE DEUS aos crentes tinha sido completo e a verdade da revelação tinha sido guardada e será preservada com toda a segurança. Quando o PROFETA MUHAMMAD (Que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) faleceu, a RELIGIÃO DO ISLAM foi completada e a comunidade muçulmana crente, ficou bem estabelecida. O ALCORÃO SAGRADO foi registrado durante a sua vida e preservado na sua total e original versão. Todas estas ideias, de que a RELIGIÃO DE DEUS, tanto no conceito como na aplicação, e que o REINO DE DEUS tinham sido estabelecidos aqui na TERRA, foram completadas por MUHAMMAD (que a Paz e Bênção de Deus estejam sobre ele). A missão do PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e Bênção de Deus estejam sobre ele), o seu exemplo e os seus conhecimentos provaram o ponto de vista de que o REINO DE DEUS não é um ideal que não se possa atingir ou alguma coisa só do outro mundo. CONTUDO é alguma coisa deste mundo também, alguma coisa que existiu e floresceu no tempo do PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e Bênção de Deus estejam sobre ele), e pode existir e florescer em qualquer época enquanto houver crentes sinceros e homens de fé. QUARTO. A ORDEM DE DEUS É de que o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), é o ÚLTIMO PROFETA é baseada na original  e pura autenticidade do ALCORÃO SAGRADO. Nos concludentes e únicos conhecimentos do PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), na universalidade do ISLAM, e na aplicabilidade dos ensinamentos do ALCORÃO SAGRADO para todas as situações, todas as idades e todos os homens. Esta é a RELIGIÃO que transcende todas as fronteiras e consegue penetrar, apesar de todas as barreiras de raça, cor, idioma, idade e estatutos de opulência ou prestígio. É a RELIGIÃO que assegura a todos os seres humanos, igualdade, fraternidade, liberdade, dignidade, paz, honra, guia e salvação. Esta é a ESSÊNCIA PURA da RELIGIÃO DE DEUS. Louvado Seja, e a forma de ajuda que Ele na Sua Misericórdia sempre estendeu ao ser humano desde o início da história. Com o PROFETA MUHAMMAD (que a paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) e o ALCORÃO SAGRADO, culminou a evolução religiosa. No entanto, não significa o fim da história, ou que terminou a NECESSIDADE HUMANA DO GUIA DIVINO. Isto é só o início de uma nova aproximação, a inauguração de uma nova era, na qual o homem foi suficientemente provido de encaminhamento DIVINO e de exemplos práticos de que necessitava. Este DIVINO GUIA esta contido no ALCORÃO SAGRADO, como a mais autêntica e incorruptível REVELAÇÃO DE DEUS. E estes exemplos são encontrados na personalidade do PROFETA MUHAMMAD (SWAS). QUINTO. Deus ordenou que o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), deverá ser o ÚLTIMO PROFETA. TODAVIA, esta DIVINA ORDEM foi uma antecipação dos grandes acontecimentos históricos que se seguiram. Proclamou boas notícias para os seres humanos que deveria entrar em um novo grau de maturidade intelectual. E elevação espiritual que deveria ter de fazer ele próprio, sem novos profetas ou novas revelações. Ajudado pelos ricos legados dos PROFETAS E REVELAÇÕES, tais como as encontradas no PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e seus predecessores. Foi em antecipação deste fato que as culturas, raças e regiões de todo o mundo se tornaram mais fechadas aos outros que o gênero humano poderia fazer. Bem com uma RELIGIÃO UNIVERSAL na qual Deus ocupa a Sua reta posição e o ser humano se sinta realizado. Foi um testemunho solene para o grande papel que os conhecimentos avançados e os sérios compromissos intelectuais influenciaram em termos de levar o ser humano até Deus. É a verdade que o ser humano pode combinar os seus conhecimentos avançados e o seu forte potencial intelectual com os ensinamentos morais e adaptar-se as LEIS DE DEUS. A história DA ASCENSÃO DOS PROFETA acabou com o PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), para dar ao ser humano a evidência de que ele pode amadurecer na sua iniciativa própria. Para dar à ciência uma oportunidade para funcionar devidamente e explicar o vasto domínio de DEUS. E dar a mente humana uma oportunidade para refletir e aprofundar. A natureza do ISLAM é tal que tem uma grande flexibilidade e praticabilidade e pode resolver qualquer situação, a natureza do ALCORÃO SAGRADO é sem dúvida universal, sempre reveladora e segura o seu encaminhamento. A natureza da mensagem do PROFETA MUHAMMAD (que a paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) é tal que é dirigida a todos os seres humanos e a todas as gerações. O PROFETA MUHAMMAD (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), não foi meramente um líder racial ou um libertador nacional, ele foi, e ainda é, um HOMEM DA HISTÓRIA E O MODELO daquele que PROCURA DEUS. Nele todos os exemplos podem encontrar alguma coisa para aprender, EXEMPLOS excelentes de BONDADE e PIEDADE para serem SEGUIDOS. www.ccib.com.br. Abraço

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

III. BOA CONDUTA

 

Teosofia. Por Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Livro Aos Pés do Mestre. III. BOA CONDUTA. Os seis pontos sobre a conduta, especialmente exigidos pelo Mestre, são: 1. Domínio da Mente. 2. Domínio da Ação. 3. Tolerância. 4. Contentamento. 5. Perseverança (unidade de ação para o fim visado). 6. Confiança. Sei que algumas dessas qualidades são frequentemente expressas de modo diferente; porém, em todo caso, usei as designações que o próprio Mestre empregou ao explica-las). 1. DOMÍNIO DA MENTE. A qualidade da ausência do desejo mostra que o corpo astral precisa ser dominado; o mesmo acontece em relação ao corpo mental. Isto significa domínio do temperamento, de modo a não poderes sentir cólera ou impaciência; domínio da própria mente, a fim de que o pensamento seja sempre calmo e sereno e, através da mente, o domínio dos nervos, a fim de que sejam o menos irritáveis possível. Este último objetivo é difícil de atingir, porque, quando tentas preparar-te para a Senda Espiritual, não podes deixar de tomar o teu corpo mais sensitivo; de sorte que os seus nervos podem ser facilmente abalados por um som ou um choque, e sentir de modo agudo qualquer pressão. Faz, porém, o melhor que te for possível. A mente calma implica, também, coragem, a fim de afrontares sem medo as provas e dificuldades da Senda Espiritual; implica, outrossim, firmeza, para suportares as pequenas perturbações inerentes à vida diária e evitar os aborrecimentos incessantes, oriundos de pequenas coisas em que muita gente consome a maior parte do seu tempo. O Mestre ensina que não tem a menor importância o que ao homem acontece exteriormente; tristezas, perturbações, doenças, perdas – tudo isso deve ser nada para ele e não deve permitir que lhe afetem a calma mental. São o resultado das ações passadas e, quando chegam, devem ser suportadas alegremente, com a lembrança de qe todo mal é transitório e que é teu dever permanecer sempre contente e sereno. Pertencem às tuas vidas anteriores e não a esta; não podes alterá-las, portanto é inútil que com elas te preocupes. Pensa antes no que estás, agora, fazendo e que determinará os acontecimentos de tua próxima vida, pois essa podes modificar. Não cedas nunca à tristeza e ao desalento. O desalento é mau, porque contamina os outros e torna as suas vidas mais difíceis, o que não tens o direito de fazer. Portanto, sempre que venha a ti, deves repeli-lo imediatamente. Deves ainda dominar o teu pensamento de outro modo; não o deixes vaguear. Fiz o teu pensamento naquilo que estiveres fazendo, a fim de que seja feito com perfeição; não deixes a tua mente ociosa, porém, mantém sempre bons pensamentos em reserva, prontos a avançar quando ela estiver livre. Emprega, diariamente, o poder do teu pensamento em bons propósitos. Sê uma força orientada para a evolução. Pensa cada dia em alguém que saibas estar imerso na tristeza e no sofrimento, ou necessitando de auxílio e derrama sobre ele teus pensamentos de amor. Preserva a tua mente do orgulho, porque o orgulho provém somente da ignorância. O homem que não sabe, pensa ser grande por ter feito alguma grande coisa; mas o homem sábio compreende que só Deus é grande e que toda boa obra é feita só por Ele. 2. DOMÍNIO DA AÇÃO. Se o teu pensamento for o que deve ser, encontrarás pouca dificuldade na ação. Lembra-te que para ser útil à humanidade, o pensamento deve traduzir-se em ação. Nada de indolência, mas uma constante atividade no trabalho útil. Deves, porém, cumprir o teu próprio dever e não o de outrem, a não ser com a sua devida permissão e no intuito sempre de ajuda-lo. Deixa que cada homem execute o seu trabalho a seu modo; mantém-te sempre pronto a oferecer auxílio onde ele for necessário, porém nunca te intrometas. Para muita gente a coisa mais difícil deste mundo é aprender a ocupar-se de seus próprios negócios; é, porém, isto exatamente o que deves fazer. Pelo fato de empreenderes um trabalho de ordem superior, não deves esquecer os teus deveres comuns, pois enquanto os não cumprires, não estarás livre para outro serviço. Não tomes sobre ti novos deves para com o mundo; porém, daqueles que já te encarregaste, desempenha-te perfeitamente – os deveres definidos e razoáveis, que tu próprio reconheces, e não os deveres imaginários que porventura alguém pretenda impor-te. Se queres pertencer ao Mestre, deves executar o teu trabalho comum melhor e não pior do que os outros, porque deves fazer também isto por amor a Ele. 3. TOLERÂNCIA. Deves sentir perfeita tolerância por todos e um sincero interesse pelas crenças dos de outras religião, tanto quanto pelas tuas próprias. Pois a religião dos outros é um Caminho para o Supremo, da mesma forma que a tua. E, para auxiliar a todos, é preciso tudo compreender. Mas a fim de alcançares esta perfeita tolerância, deves tu próprio, em primeiro lugar, libertar-te da superstição e da beatice. Precisas aprender que não há cerimônias indispensáveis; de outro modo te suporias  um pouco melhor do que aqueles que as não cumprem. Não condenes, porém, os que ainda se apegam às cerimônias. Deixa-os fazer o que lhes aprouver, contanto que se não intrometam no que concerne a ti que conheces a verdade -  pois não devem tentar forçar-te àquilo que já ultrapassastes. Sê indulgente com todos; sê benévolo em tudo. Agora que os teus olhos foram abertos, algumas das tuas antigas crenças e cerimônias podem parecer-te absurdas; talvez, na realidade, o sejam. Apesar, porém, de não poderes mais tomar parte nelas, respeita-as por amor às boas almas para quem elas são ainda importantes. Têm o seu lugar e a sua utilidade, assemelham-se às dupla linhas que, quando criança, te guiavam para escrever em linha reta e na mesma altura, até que aprendeste a escrever muito melhor e mais livremente sem elas. Houve tempo em que delas necessitaste; esse tempo, porém, já passou. Um grande Instrutor escreveu certa vez: “Quando eu era criança, falava como criança, entendia como criança; porém, quando me tornei homem, abandonei os modos infantis”. No entanto, aquele que esqueceu a sua infância e perdeu a simpatia pelas crianças não é o homem que as possa instruir e ajudar. Assim, olha a todos bondosamente, gentilmente, tolerantemente; porém, a todos da mesma forma, quer sejam budistas, jainos, hindus, judeus, cristãos ou muçulmanos. 4. CONTENTAMENTO. Deves suportar o teu Karma alegremente, qualquer que ele seja, tendo o sofrimento como uma honra, pois demonstra que os Senhores do Karma te acham digno de auxílio. Por muito duro que ele seja, mostra-te agradecido por não ser ainda pior. Lembra-te que de muito pouca utilidade serás para o Mestre, enquanto o teu mau Karma não for esgotado e não estiveres livre. Oferecendo-te a Ele, pediste que o teu Karma fosse apressado e assim, em uma ou duas vidas esgotas aquilo que, de outro modo, exigiria uma centena delas. Para maior proveito, porém, deves suportá-lo alegremente. Há outro ponto de importância. Abandona todo sentimento de posse. O Karma pode arrebatar-te aquilo de que mais gostas, mesmo as pessoas que mais amas. Ainda assim deves ficar contente – pronta a separar-te de tudo e de todos. Frequentemente, o Mestre necessita transmitir Sua força a outros através do Seu servo. Ele não o poderá fazer se o servo ceder ao desânimo. Assim, o contentamento é indispensável. 5. PERSEVERANÇA. A coisa única que deves manter sempre presente, em tua mente, é o trabalho do Mestre. Qualquer outra coisa que surja em teu caminho, não te deve fazê-lo esquecer. Na verdade, nenhuma outra coisa poderá surgir diante de ti, pois todo trabalho útil e desinteressado é trabalho do Mestre e tu deves executá-lo por amor a Ele. E precisas dedicar-lhe toda a tua atenção, a fim de ser o que de melhor possas fazer. O mesmo Instrutor escreveu também: “O que quer que faças, faze-o de boa vontade, como sendo para o Senhor e não para os homens”. Pensa como executarias um trabalho se soubesses que o Mestre viria vê-lo imediatamente. É justamente nestas condições que deves executar tudo. Aqueles que sabem, melhor compreenderão o significado deste versículo. Há um outro, semelhante porém muito mais antigo: “Em tudo o que a tua mão fizer aplica toda a tua força”. A perseverança significa, também, que nada deverá afastar-te por um momento sequer da Senda Espiritual em que entraste. Nem tentações, nem os prazeres do mundo, nem as afeições mundanas, mesmo, devem jamais desviar-te. Pois tu mesmo deves unificar-te com a Senda Espiritual; ela deve tornar-se de tal modo parte da tua própria natureza que a percorras sem nisso teres que pensar e sem te desviares. Tu, a Mônada, assim o decidiste; separares-te da Senda Espiritual equivaleria a te separes de ti mesmo. 6. CONFIANÇA. Deves confiar em teu Mestre; deves confiar em ti mesmo. Se já viste o Mestre, nele confiarás plenamente através de muitas vidas e mortes. Se ainda não O viste, deves tentar averiguar a Sua existência e confiar Nele – porque se o não fizeres, nem mesmo Ele te poderá ajudar. Sem que haja perfeita confiança não poderá haver perfeita efusão de amor e poder. Necessitas confiar em ti mesmo. Dizes que te conheces muito bem? Se assim pensas, não te conheces; conheces apenas o débil envoltório externo que frequentemente tem caído na lama. Porém tu – Eu Real – és uma centelha do fogo Divino e Deus, que é Todo Poderoso, está em ti e, por este motivo, nada existe que não possas fazer, se quiseres. Dize a ti mesmo; “O que o home fez, o homem pode fazer. Eu sou um homem, porém sou também o Deus que está no homem; eu posso fazer isto e quero fazê-lo”. Pois se quiseres trilhar a Senda Espiritual, a tua vontade deve ser como aço de boa têmpera. Do Livro Aos Pés do Mestre. Abraço Davi.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

AS RAÍZES DA BÍBLIA SAGRADA

 

Cristianismo. Livro O Mistério da Bíblia – O Lado Oculto do Livro Sagrado. Ciência e Religião Juntas. AS RAÍZES DA BÍBLIA SAGRADA.  Muitos dos seguidores da Bíblia consideram seu conteúdo como metafórico. A Bíblia contém a Palavra de Deus codificada em 66 livros, sendo 39 do Velho Testamento e 27 do Novo Testamento. O guia de vida de milhões de pessoas no mundo todo e seus escritos são levados ao pé da letra por uma boa parcela dos seguidores do cristianismo. A unificação do Antigo com o Novo Testamento passou a ser chamada de Bíblia Sagrada pela primeira vez com São Jerônimo de Stridon (340-420), o padroeiro dos bibliotecários e o tradutor dos textos, que estavam no grego antigo e no hebraico, e passou para o latim. A edição produzida pelo santo é chamada de Vulgata, que ainda é usada pela Igreja Católica.  Essa tradução foi pedida pelo papa Damaso I (305-384), contemporâneo do famoso imperador Constantino, que tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Independentemente da língua original em que foi escrito, a Bíblia deve ser estudada em seu contexto original. Os deuterocanônicos (determinados livros, como os de Tobias, Judite, Eclesiástico e Baruque) são considerados pelas religiões que adotam a Bíblia, mas que não são católicas, como obras sem inspiração divina, porém reconhecem o valor histórico de criações como o Livro dos Macabeus (I e II). Calcula-se que, para sua redação, devem ter sido gastos 1600 anos e consumido o trabalho de 40 homens de diversas origens culturais, profissões e posições sociais. Como todo livro sagrado, há quem siga a Bíblia ao pé da letra e leve seus ensinamentos a ferro e fogo. Mas vale lembrar que nem todos os que adotam essa obra como mentora da vida comungam desse ponto de vista. De fato, a grande maioria daqueles que a seguem considera muito de seu conteúdo ou como sendo metafórico ou como registro de hábitos da antiguidade, hoje desatualizados. Uma análise mais profunda dos historiadores revela que o alfabeto fenício, do qual se derivou o hebraico, já existia no século XIII AC, quando os hebreus chegaram a Canaã (há documentos históricos que sugerem que o alfabeto fenício já existia na região no século anterior). Além dos componentes da Bíblia, há textos hebraicos antigos conhecidos que datam de épocas remotas como o Calendário de Gezér, uma espécie de “almanaque” que mostrava as datas em que os agricultores deviam fazer seu plantio. Esse documento datado de 1000 AC, é o mais antigo encontrado na Palestina. Há também inscrições datadas dos séculos XIV ou XV AC, no sarcófago do rei Airam na cidade fenícia de Biblos. Além desses, há textos semelhantes aos conhecidos Salmos datados do mesmo período desse sarcófago em tabuletas encontradas em Ugarit, atual Lataquia – Síria, uma antiga cidade portuária. OS IDIOMAS E AS VERSÕES.  Desde o começo, os idiomas que foram usados para registrar a Bíblia foram três: o hebraico, o grego e o aramaico. O Antigo Testamento foi inteiramente escrito no chamado hebraico consonantal (uma forma da língua que como diz o nome, é desprovida de vogais). A exceção é o grupo dos deuterocanônicos (que possuem alguns textos redigidos em grego) e alguns capítulos do livro de Daniel. Redigidos em aramaico. Já o grego também foi usado para escrever os livros do Novo Testamento, embora haja algumas discrepâncias. A tradição cristã, por exemplo, afirma que o Evangelho de Mateus foi redigido primeiro em hebraico, que seria a escolha mais lógica para alcançar a doutrina dos judeus. TRECHO DO PAI NOSSO DO CONCÍLIO DE NICEIA – aprovado em 19 de junho de 325, dizia: “Cremos em um só Deus, Pai Todo Poderoso, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, unigênito do Pai, da substância do Pai; Deus de Deus. Luz de luz. Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por quem foram criadas todas as coisas que estão no céu ou na Terra (...)”. O curioso é que mesmo o hebraico usado na Bíblia apresenta diferenças. Em alguns livros, há a predominância do hebraico clássico, como nos livros de Reis (I e II) e Samuel (I e II), enquanto em outros se pode ver um hebraico mais rudimentar e em outros é mais fácil de identificar influências de línguas da vizinha palestina. O grego usado no registro do Novo Testamento é chamado de grego “Koiné”, termo que significa “comum” ou vulgar, e que era o segundo idioma mais falado do Império Romano. Os pergaminhos mais antigos conhecidos como parte da Bíblia Sagrada datam em sua maioria dos séculos III e IV DC. DISCUSSÕES. Essa antiguidade toda leva as pessoas a admirarem a Bíblia também como um documento histórico. Os pergaminhos mais antigos conhecidos como parte da obra datam em sua maioria dos séculos III a IV DC. Isso se deve ao fato de muitos dos manuscritos serem trabalhos de monges copistas que faziam cópias de obras literárias. Esse é mais um aspecto que leva a discussões, visto que, por mais que um copista seja dedicado ao seu trabalho, está sujeito a erros e modificações, quer sejam voluntários ou involuntários. Imaginem só o que tamanha manipulação não produziria nem texto complexo como o das Escrituras. A prova é que os historiadores conseguiram identificar versões dos textos que permitem múltiplas interpretações de um mesmo trecho, o que derruba a tese de que a Bíblia se manteve intocada com o passar dos séculos. Esses especialistas, cujo trabalho é conhecido como Crítica Textual, tem por objetivo comparar as várias versões dos textos e a seleciona-las. Sabe-se, por exemplo, que o texto massorético (é o texto hebraico dá Bíblia utilizado com a versão universal da Tanake para o judaísmo moderno) é a grande fonte hebraica para o Antigo Testamento. Esse texto foi estabelecido como massoretas, que tinham por função realizar cópias do original com extrema fidelidade. Seu trabalho incluía  a vocalização das versões hebraicas e sua posterior cópia. Como o hebraico tornou-se uma língua morta por volta do século VII DC, tornou-se necessário marcar os locais das vogais com certos sinais. Até hoje, esse texto é considerado como a fonte mais confiável para o texto bíblico original. Porém, por mais perfeito que seja, o texto massorético, como é conhecido, possui certas deficiências que os pesquisadores procuraram suprir com o uso de outros textos de referência. Um dos mais conhecidos é o chamado Pentateuco Samaritano, originado entre os samaritanos, uma divisão dos hebreus que possuía comunidades étnicas e religiosas à parte com templos e cultos próprios. Eles só consideravam como sagrados os livros do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio). Outro texto de referência complementar é o chamado septuaginta grega (sigla LXX = 70 em algarismo romano), ou versão dos setenta. É composta pela Bíblia Hebraica e pelos deuterocanônicos (refere-se a um conjunto de sete livros (Judite, Tobias, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruc e I e II Macabeus) que estão presentes na septuaginta, antiga tradução em grego dos livros da Antigo Testamento. Alguns grupos cristãos comumente os Protestantes, não aceitam por acreditarem que não são canônicos ou inspirados). Foi elaborada entre os séculos IV e II AC, e é a tradução grega do Antigo Testamento feita na célebre cidade de Alexandria, no Egito. Tem esse nome graças a uma (lenda) história que afirma que foi o resultado do trabalho de 70 eruditos judeus, cuja inspiração veio diretamente de Deus. Esta é a versão mais antiga do Velho Testamento conhecida e é importante por ter sido adotada pelos cristãos desde o início da religião e citada na maior parte no Novo Testamento. O Novo Testamento apresentou cerca de quatro mil manuscritos em grego. Esses documentos também apresentaram variantes, mas não há neste caso uma versão de referência como no Antigo Testamento. O pesquisador tem que se contentar com alguns manuscritos importantes que são a base da Crítica Textual. O importante é lembrar que, mesmo com todas as suspeitas e versões existentes, a Bíblia Sagrada foi traduzida para 2403 línguas diferentes no total, o que a torna também o livro mais traduzido do mundo. É um panorama bem diferente do que gerou a Reforma Protestante, por exemplo, quando a Igreja se preocupava com as traduções dos textos para outras línguas que não fossem o então adotado latim. PESSOA DIVINA? O Concílio de Nicéia (20 de maio a 19 de junho do ano de 325) ficou famosos por ter sido um ponto de virada, por assim dizer, na história do cristianismo e da própria Bíblia. Esse Concílio, oficialmente conhecido como o primeiro ocorrido naquela cidade (o segundo aconteceria no ano  787), aconteceu durante o reinado do primeiro imperador romano cristão Constantino. É considerado como a primeira conferência de caráter ecumênico (ou seja, mundial) dos bispos da então emergente Igreja Cristão. Nicéia (nome de origem grega) era uma cidade que fazia parte da Anatólia, região do sudoeste da Ásia que corresponde hoje a porção asiática da atual Turquia. Hoje possui o nome de Iznik. Corria então o ano de 325 quando os religiosos se reuniram para discutir algumas das questões que mais preocupavam a fé cristã, como a opinião dos arianos (nome dado a uma corrente de pensamento teológica liderada por Arius, um presbítero cristão oriundo da cidade de Alexandria no Egito), que simplesmente negavam a existência de uma mesma natureza entre Jesus e Deus, que os igualasse. Para os arianos, Cristo era um homem, não uma “pessoa divina” por definição. Outras questões foram motivos de debate, como estabelecer os parâmetros para a celebração da Páscoa, o destino dos prisioneiros feitos durante a perseguição aos cristãos estabelecidas pelo imperador Licínio, cunhado de Constantino e que foi retirado por este do poder; o batismo dos heréticos, que na época começavam a se mostrar em grande número, e, claro, a escolha dos evangelhos inspirados que figurariam com oficiais na Bíblia. ALGUNS LIVROS APÓCRIFOS CONHECIDOS DO NOVO TESTAMENTO: Evangelho Árabe de Infância de Jesus – Atos de André – Atos de Pedro – Atos de Pedro e André – Atos de Pedro e Paulo – Atos de Tadeu – Atos de Tomé – Epístola aos Laodicenses – Epístola de Herodes – À Pôncio Pilatos – Epístola de Jesus ao rei – Epístola de Pedro a Filipe – Evangelho de Nicodemos – Evangelho de Pedro e outros. Além de oferecer as bases para a crença cristão o Concilio de Nicéia também foi importante justamente porque as perseguições, que não foram poucas, haviam recentemente terminado. Tudo parecia caminhar para o estabelecimento de uma Igreja forte e poderosa como ficou conhecida nos anos seguintes. Para muitos historiadores que pesquisam não só a Bíblia, mas também a história da Igreja, este é um momento que leva a muitas desconfianças sobre as verdadeiras intenções do recém convertido imperador. O surgimento do chamado Credo de Nicéia, também chamado de credo Niceno Constantinopolitano, é outro produto daquela reunião. Aceito pelas Igrejas católicas, ortodoxa, anglicana e pelas principais Igrejas protestantes, marca o pensamento que predominava na reunião e o único deste tipo em que ortodoxos e católicos concordaram em todos os pontos que aparecem na oração. A Igreja Católica sofreu vários cismas (divisões); o principal foi o de 1054, colocando em lados oposto da autoridade de Roma, as Igrejas Apostólica Ortodoxa Russa, a Igreja de Constantinopla, A Igreja Copta do Egito e a Igreja Grega todas com seus (papas) patriarcas. A POLÊMICA DOS APÓCRIFOS. Mas o que levou os livros apócrifos a terem toda a fama que possuem hoje? Bem, se analisarmos, friamente os canônicos, veremos que, apesar de serem muito parecidos uns com os outros, há discrepâncias neles, principalmente quando abordam o período entre a infância de Jesus e o início de seu ministério. Além disso, os quatro oficiais (Mateus, Marcos, Lucas e João) não dão muitos detalhes sobre a vida dos demais integrantes da família de Jesus. Muitos dos especialistas acreditam que a mola propulsora que levou os primeiros cristãos, desde eles Orígenes de Alexandria (185-254) a adotarem os apócrifos foi justamente a vontade de deixar o relato mais completo com a adição de vários detalhes biográficos sobre os quais os canônicos simplesmente se calam. Assim, esses textos recusados traziam detalhes como o fato de José ser viúvo e ter vários filhos; a Virgem Maria, quando criança, não tocar o chão ao caminhar; ou ainda o Menino fazer milagres para esconder suas travessuras. Vejamos um dos episódios mais interessante narrado pelos apócrifos. É uma versão bem diferente do nascimento de Jesus, basta reparar nos detalhes da narrativa. Quando o imperador Augusto ordenou a realização de um censo em todo o império romano, José foi de Nazaré a Belém para recensear-se. Levou consigo Maria, que contava com nove meses de gravidez e que ia montada num asno (jumento). Quando já estavam perto de Belém, um anjo apareceu a Maria e disse que a hora do parto havia chegado. José interrompeu a caminhada e, sem ter onde acomodar a esposa, instalou-a numa gruta e partiu em busca de uma parteira. Nesse interim, apareceu na gruta uma luz muito intensa que, quando se foi, deixou Maria com o menino Jesus em seus braços. Quando José voltou com a parteira, de nome Salomé, Maria contou como foi o parto e que ela permanecia virgem. Salomé, descrente, disse que jamais acreditaria se não introduzisse seu dedo e comprovasse. Maria permitiu e ela assim o fez. Mas quando retirou sua mão viu que a mesma estava carbonizada. A parteira chorou desoladamente e Maria a fez acariciar o menino. Foi quando viu que a mão ficara curada. Foi por causa de episódios assim que os textos apócrifos seriam considerados perigosos. Porém, sua utilidade para entender a então nascente religião cristã foi discutida exaustivamente por pesquisadores e religiosos em diversas oportunidades com o passar dos anos, da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947 e 1956, ao recentemente divulgado Evangelho de Judas, em 2006. Livro O Mistério da Bíblia – O Lado Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

BUDISMO E CRISTIANISMO

 

Budismo. www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. BUDISMO E CRISTIANISMO. Texto de Greg Marin (1984-  ). Esta abordagem inicia uma nova série que enfocará esclarecer dúvidas frequentes que surgem entre os que propagam o Budismo Nitiren no ocidente. Durante muito tempo, os membros têm procurado assistência para responder perguntas a respeito da visão budista sobre Deus, Jesus, Satanás, o céu, etc. Durante os próximos meses, nosso foco será oferecer-lhes respostas diretas. Ao examinar sob a perspectiva budista palavras e significados fundamentais da fé cristã, esperamos que esta série ajude aos membros da SGI (comunidade budista americana) a transmitir da melhor maneira o Budismo Nitiren aos seus familiares e amigos cristãos. Esperamos também ajudar aos membros com antecedentes culturais cristãos a compreender melhor o Budismo Nitiren, as semelhanças e diferenças deste Budismo com o Cristianismo, e igualmente esperamos que o resultado seja uma melhoria na eficácia da prática budista. Além disso, desejamos estabelecer pontes que ajudem os cristãos e não membros em geral a compreender melhor e criar vínculos com o Budismo, e talvez para alguns facilitar-lhes a transição para a prática do Budismo. Porém, antes de começar, gostaria de oferecer algumas explicações para esclarecer o contexto de nossa análise. Primeiro, nos focaremos no que acreditamos são princípios do Cristianismo geralmente aceitos, sem deixar de reconhecer que dentro da fé cristã existe uma grande diversidade de opiniões. Dentro do alcance desta série, seria impossível examinar plenamente todas as variantes da doutrina cristã. Solicitamos a indulgência (tolerância) do leitor ou leitora pelas inevitáveis generalizações no que refere-se a conceitos que obrigatoriamente nosso enfoque tem que adotar. Segundo, nossa intenção também não é assumir um enfoque de refutação perante o Cristianismo. Não vemos a necessidade, nem o valor, em tentar socavar uma tradição religiosa que tem ampla aceitação e é de valor palpável. Ao mesmo tempo, não podemos evitar a evidência histórica dos aspectos menos nobres desta tradição (cristianismo), aspectos que deram lugar à propagação violenta e à Inquisição, assim como o uso desta tradição como ferramenta de colonização e subjugação. Finalmente, não assumimos uma posição exclusivista, aquela de que o Budismo Nitiren é o único veículo capaz de levar seus seguidores e seguidoras aos pináculos da verdade e à beira da felicidade. Ao mesmo tempo que certamente acreditamos que existe uma única realidade máxima, reconhecemos que as principais tradições religiosas, desde distintos níveis, também buscam e entendem esta verdade.  E mais, a maioria das tradições religiosas compartilham com o Budismo Nitiren a intenção de levar os praticantes para esta verdade e para atingir o objetivo de conquistar o desenvolvimento humano, assim como estabelecer uma comunidade harmoniosa. Portanto, ao mesmo tempo que não reclamamos ser os únicos possuidores da verdade (de todos modos, quem pode possuí-la?), o que mais nos interessa é o grau em que a tradição religiosa possa cumprir com o que promete. Na realidade, quantas pessoas podem superar suas tendências mais obscuras e viver segundo as doutrinas daquilo no que acreditam, para assim transformar-se em pessoas de caráter genuinamente digno, com intenções sábias, e comportamento benevolente? Serve uma prática religiosa em particular como veículo maior ou como um veículo menor no caminho para conquistar estas metas? Desde há muito tempo, nós budistas temos discutido este ponto com o uso de analogias tais como a de uma balsa para atravessar o mar do sofrimento, ou como a de um veículo para fazer a viagem para a iluminação. Por exemplo, em vez de rejeitar como falsos os ensinos dos anciãos na fé, os Budistas do Mahayana caracterizavam as práticas desses anciãos como práticas de “veículo menor” que somente podia levar a uns poucos, monges e monjas de muita dedicação, para alcançar o objetivo da iluminação. Em contraste, com o enfoque em desenvolver práticas para monásticos, leigos e leigas, e igualmente com a intenção de incluir todas as pessoas na viagem, a designação de “veículo maior”, ou Mahayana, aplicou-se às práticas e ensinos posteriores. Neste contexto, todas as religiões principais são veículos; alguns maus, alguns bons, e alguns melhores que os outros, mas veículos em última instância. Nós também acreditamos que não existe veículo maior que o Budismo de Nitiren Daishonin, o veículo capaz de incluir nessa viagem a todas as pessoas, e não somente a uns poucos. Para a maioria daqueles que ainda não estão familiarizados com o Budismo, a ideia de que a viagem para a iluminação é algo que somente uns poucos podem fazer e que está reservado para santos e sábios tem se convertido numa crença amplamente aceita. Isto sugere que para a maioria das pessoas, a própria existência de um grande veículo para alcançar a Budicidade e a felicidade absoluta é um conceito alheio que não faz parte da experiência religiosa cotidiana. Porém, atualmente no Budismo Nitiren, o veículo para fazer esta viagem está disponível para todas as pessoas, sem importar gênero sexual, raça, condição social, nível de escolaridade ou econômico, preferência sexual, nem idade. E assim, com isto como pano de fundo, comecemos a examinar nossa primeira interrogante. Os budistas Nitiren acreditam em Deus? Como conceituamos, Deus tem grande peso na resposta a esta pergunta. Uma pesquisa informa que 99% dos norte-americanos declara acreditar em Deus. Porém, não obstante a magnitude da religiosidade nos USA, a ascendente taxa de criminalidade, crescente adição aos narcóticos, epidemia de aflições mentais, e o reatamento da pena capital, para só enumerar alguns sintomas, não são exemplos de uma sociedade espiritualmente saudável. Por outra parte, os europeus apresentam um crescente vácuo, um vazio com forma de deus, onde uma vez existiu Deus na consciência humana. Algo que também parece estar claro é que o conceito de Deus não é algo uniforme. Existem tantas versões de Deus como pessoas que acreditam nessas versões, já que o conceito de Deus nunca tem sido algo estático. Tal e como escreve Karen Armstrong (1944-   ) em A History of God (Uma história de Deus): “Porém, parece que criar deuses é algo que os seres humanos sempre têm feito. Quando uma ideia de deus deixa de funcionar, simplesmente é substituída. Estas ideias desaparecem tranquilamente e sem grandes estardalhaços, tal e como aconteceu com a ideia do Deus do Firmamento. Em nossos tempos atuais, muitas pessoas diriam que o Deus adorado durante séculos por judeus, cristãos e muçulmanos tornou-se tão distante como o Deus do Firmamento”. Armstrong conclui como segue: “Os seres humanos não podem resistir o vácuo e a desolação, e preencherão esse vácuo com a criação de um novo foco para dar sentido às coisas. Os ídolos do fundamentalismo não são bons substitutos para Deus. Se devemos criar uma vibrante nova fé para o século 21, talvez deveríamos ponderar a história de Deus para extrair algumas lições e alertas. Quanto aos budistas nos perguntam se acreditamos em Deus, tendemos a responder com nossa própria pergunta: A que Deus se refere? Trata-se do Deus de Abraham, o Deus do Velho Testamento? Este deus era um pai rigoroso, criador, protetor, que castigava e outorgava leis. Este deus também exigiu a Abraham que sacrificasse seu filho, Isaac, e autorizou a conquista e chacina de milhares de pessoas. Trata-se do Deus de Santo Agostinho (354-430), o Deus da Igreja Cristã primitiva? Este era o deus da igreja poderosa, herdeira dos remanescentes do império romano. Este Deus julgava à toda a humanidade, baseado no pecado original de Adão. A religião baseada neste deus exige que nos consideremos como fundamentalmente falhos e originalmente pecaminosos. Trata-se do Deus de Michelangelo (1475-1564), um deus pessoal, tal e como aparece pintado no teto da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma - Itália? Este conceito de Deus ajudou a desenvolver o humanismo liberal tão altamente valorizado no Ocidente. Ajustou-se bem a uma Europa que despertava e expandia-se. Este deus ama, julga, castiga, vê, ouve, cria e destrói, tal e como nós o fazemos. Este deus inspira. Porém, isto também poderia significar um impedimento se presumimos que este deus quer o que nós queremos, e detesta o que nós detestamos, o que validaria nossos preconceitos, em vez de incentivar-nos a superá-los. O fato de que este Deus “pessoal” é homem (e usualmente da raça branca) tem criado profundos problemas existenciais tanto para as mulheres, como para aqueles que não são de raça branca. Trata-se do Deus onipotente que alguns teólogos acreditam morreu em Auschwitz, o campo de concentração alemão que exterminou milhões de judeus em suas câmara de gás e fornos a carvão vegetal extremamente aquecidos. Uma atrocidade que a humanidade nunca esquecerá. Para alguns, a ideia de um Deus todo sapiente e todo poderoso é difícil de reconciliar com a maldade do Holocausto. Isto é assim, já que se Deus é verdadeiramente onipotente, ele poderia ter evitado essa desgraça. E se não conseguiu evitá-la, é impotente; e se podia evitá-la, mas optou por não fazê-lo, não é benevolente. Igualmente, nosso rápido avanço no conhecimento científico sobre o universo  torna aparente que Deus já não está “lá em cima”, nem “lá fora”.  Nos céus parece estar ausente a protetora, julgadora, e zelosa presença divina, tal e como a concebia o mundo antigo. Segundo John Shelby Spong (1931-  ), bispo episcopal e autor de Why Christianity Must Change or Die (Por quê o Cristianismo tem que mudar ou morre), o resultado disto é que dezenas de milhões de pessoas são “crentes no exílio”, que têm perdido contato com estas imagens de Deus, tal e como são ensinadas desde os púlpitos tradicionais; porém, esses mesmos crentes não estão preparados para abandonar o conceito de Deus em sua totalidade. Tal e como uma serpente muda a pele no processo de crescimento, no presente, somos testemunhas do crescimento de nosso conceito coletivo de Deus, ao deixar para trás a antiga, e para alguns, inadequada noção que tínhamos, enquanto nasce um novo conceito que ainda não está claro? Há quem acredita que, de fato, nesta era pós-moderna uma nova visão de Deus está em processo de emergir. Esta visão deixa para trás as imagens do teísta, histórico e externo Deus das alturas, e as substitui por imagens com profundidade interna de um deus que não está fora, mas que é parte integrante e fundamental de nós. Esta é uma perspectiva muito consistente com o conceito budista da Lei Mística. Esta Lei Mística é a entidade ou verdade máxima que impregna todos os fenômenos no universo, e não é um ser personificado. O ser humano e esta Lei máxima são supremamente inseparáveis, não existe brecha alguma entre os seres humanos (todos, sem exceção) e esta ideia de Deus como uma Lei Mística. Esta verdade eterna e inalterável que reside dentro de nós é a fonte onde podemos obter a sabedoria benevolente que concorda com as circunstâncias cambiantes (transformadora), assim como conquistar a coragem e confiança para viver de acordo com essa sabedoria. É mística, e não mágica, já que a totalidade desta Lei está além da concepção humana, e os esforços por enquadrá-la em forma humana, por assim dizê-lo, somente a restringe e a limita. É uma lei porque é manifestamente verificável nas vidas cotidianas de cada ser humano. Esta realidade máxima, verdade máxima, pureza máxima, existe nas profundezas de cada ser humano. Por isto nós budistas consideramos que toda pessoa é sagrada e está  igualmente dotada com o potencial de atingir a iluminação e ser maravilhosamente feliz. Não existe tal coisa como nós aqui e eles lá, nem tampouco os fiéis e os incrédulos, todos somos filhos e filhas de Deus, entidades da Lei Mística. Enquanto outros olharam para os céus, Budha olhou para dentro e encontrou a inestimável joia da maravilha e o potencial humano. Reconheceu que nós também somos feitos da “matéria prima” divina da qual é feito o universo. Simplesmente, esquecemos quem éramos. Portanto, acreditamos em Deus? Segundo a maioria das definições tradicionais, não. Mas em termos de como um crescente número de cristãos conceitua Deus, acreditamos sim. Nosso nome para Deus é Nam myoho rengue kyo, a Lei Mística. Acreditamos que existe tanto “aqui dentro”, como “lá fora”, e que esta luz interior pode brilhar de dentro quando nos conscientizamos dela e lhe abrimos nosso coração através do ato de recitar Nam myoho rengue kyo. Certamente, haverá muita gente para quem esta maneira de compreender Deus será inaceitável. Tudo bem. Mas também haverá muitos, e segundo um estudo esta cifra alcança algo como 25% de todos os adultos dos USA, para os quais isto repercutirá. Gente que encontrará que realmente deixou de aceitar as versões iniciais de Deus; que têm começado a conceber o universo de forma diferente; e que o conceito de Deus como Lei Mística equipara-se com o entendimento que têm alcançado por conta própria. Descobrirão, tal e como podem testemunhá-lo a maioria dos membros da SGI-USA, uma comunidade budista americana que procura promover a paz e o relacionamento entre as religiões, que de maneira muito precisa, em nosso ser espiritual a Lei Mística pode preencher o vácuo com forma de deus. http://maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

QUEM SÃO OS SEMIDEUSES ?

 

Hinduísmo. www.ptkrishna.com. Por Raja vidya Dasa. QUEM SÃO OS SEMIDEUSES ? As escrituras Védicas representam uma concepção consistentemente pessoal do mundo. Em outras palavras, elas assumem que todos os eventos dentro do cosmos, todos os fenômenos naturais, todas as obras dos elementos e dos planetas bem como todas as atividades dos seres humanos estão sendo causadas ou supervisionadas por seres super-humanos inteligentes específicos. Em sânscrito, esses seres são chamados "devas", e a tradução mais apropriada para o português desse termo seria "semideuses". O dever dos semideuses é encarregar-se de uma porção da administração do universo e assegurar que tudo dentro da manifestação cósmica funcione perfeitamente. Elas são os responsáveis por manter a lei e a ordem dentro do universo. Outro de seus deveres é organizar as reações kármicas individuais e coletivas dos humanos, i.e. sua felicidade e sofrimento de acordo com suas próprias ações anteriores. (A ciência astrológica estuda essas reações como elas são representadas pelas constelações planetárias no momento do nascimento.) A esse respeito, a visão de mundo Védica corresponde à das culturas avançadas dos antigos Egípcios, Gregos, ou Romanos, bem como às das religiões naturais dos Índios de pele vermelha, os Africanos ou os Aborígines Australianos. A maioria das tradições pré-Cristãs aceita o conceito de assistentes administrativos do Senhor gerenciando os assuntos do Universo. Alguns exemplos de diferentes semideuses famosos são os seguintes. O Senhor Brahma é o criador do universo e o primeiro ser criado; o Senhor Shiva é o destruidor do universo; Rei Indra é o rei dos planetas celestiais e o controlador do clima; Vayu é o semideus encarregado do ar e dos ventos; Candra é o controlador da lua e da vegetação; Agni é o deus do fogo; Varuna é o senhor dos oceanos e mares; Yamaraja é o deus da morte; e por aí vai. Há milhares de semideuses que estão controlando todas as diferentes atividades dos corpos das entidades vivas e o funcionamento dos elementos. Há Apenas Um Deus. Mas ainda, e aqui está a diferença crucial, ninguém pode sustentar que as escrituras Védicas contêm uma concepção politeísta ou panteísta no sentido usual desses termos. No fim das contas, as escrituras Védicas representam uma concepção de Deus puramente monoteísta. Elas claramente estabelecem que acima de todas as diferentes variedades de semideuses, há apenas um Deus supremo que é o criador e mantenedor não apenas dos humanos, mas também dos semideuses e do cosmos inteiro. Este único, supremo Deus é is certamente descrito e adorado não apenas pela religião Védica ou Hindu, mas por todos os sistemas religiosos autenticamente monoteístas do mundo. Em Sânscrito, Ele tem ilimitados nomes que descrevem Suas incontáveis qualidades e passatempos. Os nomes Sânscritos mais populares de Deus são Krishna, Rama, Hari, Narayana ou Vishnu. Todos eles referem-se à mesma Suprema Personalidade. É importante entender que Deus não é Hindu ou Cristão, ou Moslem ou Judeu. Deus não é limitado e não está preso a nenhuma tradição religiosa. Deus é Deus, e o variados sistemas de crença são diferentes formas de entrar em contato com esse um Deus. Elas podem diferir em sua abordagem e em sua compreensão da realidade; elas podem também diferir em seus métodos práticos, rituais, regras e regulações, mas na verdade elas pretendem conectar o homem com Deus, e esse Deus é um para todas os sistemas religiosos genuínos. Em Sânscrito, esse único Deus é chamado Krishna ou Vishnu. É um fato que em diferentes tradições religiosas, Deus é chamado por diferentes nomes (como Yahweh, Allah, Jehovah, Adonai, etc.), e Ele é compreendido e adorado em muitos aspectos diferentes. Mas isso não significa que Ele é inconsistente ou que os vários sistemas de crença contradizem ou excluem uns aos outros. Na verdade, esses fatos não são nada exceto evidência da diversidade e grandiosidade ilimitada de Deus. A Trimurti: Brahma, Vishnu e Shiva. Quando falamos sobre a religião Védica e seu conceito de Deus, nós às vezes ouvimos a expressão "trimurti". Literalmente, o termo "trimurti" significa "possuindo três formas", e refere-se às três principais personalidades dentro da manifestação cósmica: Brahma, Vishnu e Shiva. Desses três, Brahma é responsável pela criação do mundo, Vishnu por sua manutenção, e Shiva por sua destruição no final de cada ciclo cósmico. É importante, no entanto, notar que dentre esses três, Brahma e Shiva são considerados os principais semideuses, ao passo que Vishnu é considerado como o próprio Deus. As partes esotéricas das escrituras Védicas claramente explicam que a Suprema Personalidade de Deus, que reside em Sua própria morada no mundo espiritual, muito além desta criação material, é chamado Krishna. A forma de Krishna tem dois braços, e para o propósito de criar o mundo material, Ele Se expande na forma de Vishnu, com quatro braços. Esta forma de Deus como Vishnu é responsável pela manutenção da ordem cósmica, e é sob Sua supervisão que as outras duas principais deidades, Brahma e Shiva, realizam suas respectivas obrigações. O Senhor é descrito como tendo quatro cabeças, e ele é a primeira entidade viva criada dentro de cada ciclo universal. Ele é diretamente nascido do Senhor Vishnu. Sua responsabilidade é criar os vários planetas do universo inteiro, bem como todas as formas de vida específicas nesses planetas. Para esse propósito, ele antes de tudo cria os principais semideuses que, por sua vez, criam mais uma prole para popular o universo. Brahma é assim considerado o pai e criador de todas as criaturas vivas e o chefe de todos os semideuses. O Senhor Shiva é, além do Senhor Vishnu, provavelmente a deidade mais popular no Hinduísmo. Ele aparece como um filho direto do Senhor Brahma, e ele tem uma variedade de funções e obrigações, e então também uma variedade de nomes. Por exemplo, ele é chamado: Nataraja, "o senhor da dança" (porque, no momento da devastação universal, ele he executa sua dança cósmica para destruir os planetas); Rudra, "o furioso", ou Bhutanatha, "o senhor dos fantasmas e espíritos". Na Índia, ele é freqüentemente adorado em sua forma como Shiva-linga, o símbolo combinado do agente gerador de Shiva, o pai da natureza material, e sua esposa, Parvati, a mãe. Como com todas as deidades, Brahma, Vishnu e Shiva têm cada um sua própria consorte feminina, em Sânscrito chamada "shakti", ou "energia". Eles também têm seu próprio veículo pessoal ou animal de tração (chamado "vahana") assim como algumas características ou símbolos específicos.

Deidade
Consorte (
shakti)
Veículo (
vahana)

Vishnu (mantenedor do universo)
Lakshmi (deusa da fortuna)
Garuda (águia)

Brahma (criador do universo)
Saraswati (deusa da sabedoria, do aprendizado e da música)
Hamsa (cisne)

Shiva (destruidor do universo)
Parvati, também chamada Durga ou Kali (personificação do mundo material)

Nandi (touro)

Na Índia atual, além de Vishnu e Shiva, são adoradas como as principais deidades principalmente Lakshmi e Durga, bem como o filho de Shiva e Parvati chamado Ganesha (um auspicioso semideus com a cabeça de um elefante). Demais Semideuses. Como mencionado previamente, as escrituras Védicas descrevem não apenas as três deidades da "trimurti" e suas respectivas consortes e veículos pessoais, mas também um grande número de várias outras personalidades que são responsáveis pela administração universal. Eles são chamados semideuses, e eles vivem em sistemas planetários acima da Terra (os chamados "planetas celestiais"). Todos eles se consideram servos de Vishnu que, em Seu nome, executam tarefas gerenciais pelo bem-estar dos seres vivos do universo. Nas escrituras Védicas, nós encontramos a informação de que há 33 semideuses principais e milhões de semideuses e sub-semideuses subordinados, ambos masculinos e femininos. Nós podemos analisar esse panteão Védico nas seguintes categorias: — Senhores dos elementos (p.ex. Varuna, o senhor dos mares de das águas; Agni, o deus do fogo; Vayu, o senhor dos ventos e do ar). — Senhores dos planetas (p.ex. Bhumi, a deusa da Terra; Surya, o deus sol; Candra, o deus da lua; Brihaspati, o senhor de Jupiter, que também é o mestre espiritual dos semideuses; Shukra, o senhor de Venus). — Sábios entre os semideuses (p.ex. Narada, os Kumaras, os Maruts, os Sapta-rishis; Vyasadeva, o compilador dos Vedas). — Semideuses com funções específicas nos planetas celestiais (p.ex. Indra, o rei dos semideuses, que também é responsável pelas nuvens e pelo clima na Terra; Kuvera, o tesoureiro dos semideuses; os Ashvini-kumaras, os deuses dos tratamentos médicos; Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses). — Semideuses com funções específicas no relacionamento com os seres humanos (p.ex. Yamaraja, o deus da morte e da justiça; Skanda ou Karttikeya, o deus da guerra; Kama, o deus da luxúria). — Semideuses subordinados (como anjos, centauros etc.). — Deuses e deusas de montanhas e rios e outros fenômenos naturais. A maioria desses semideuses tem sua respectiva consorte a seu lado e seu próprio veículo pessoal. Nós não podemos nomear a todos, já que isso iria muito além do escopo deste ensaio. Uma palavra final no relacionamento entre semideuses e os seres humanos: Os semideuses são nutridos pelas oferendas derramadas no fogo de sacrifício pelos humanos e, então, quando eles estão satisfeitos, eles irão retribuir concedendo todas as coisas desejadas ou necessitadas para a sociedade humana. Dessa maneira, os humanos são completamente dependentes dos semideuses com relação a sua saúde, bem-estar, prosperidade e paz. Claro, todas essas bênçãos também podem ser obtidas diretamente por aproximar-se do "Deus dos deuses", a Suprema Personalidade de Deus. Se alguém se empenha na adoração de Deus, os semideuses, que são eles mesmos totalmente dependentes de Deus, ficam automaticamente satisfeitos e bem-dispostos com relação à humanidade. No Bhagavad-gita, Krishna explica que aqueles que adoram os semideuses recebem frutos que são temporários e limitados. As pessoas na verdade deveriam buscar adorar a Suprema fonte de todos os semideuses, Krishna, mas por serem influenciados por desejos luxuriosos por ganhos materiais, eles adoram os semideuses sem verdadeiro conhecimento. Portanto, os humanos são geralmente aconselhados por todas as tradições religiosas a respeitar essas personalidades poderosas, os semideuses, e a satisfaze-los engajando-se no serviço à Suprema Personalidade de Deus, Vishnu ou Krishna. Se alguém satisfaz Krishna, a raiz de toda a criação, então todos os semideuses são também automaticamente satisfeitos e fornecem generosamente todas as coisas necessárias à humanidade. Quando a raiz de uma árvore está satisfeita por água, então as folhas e galhos também estão satisfeitos ao receber água da raiz. Similarmente, quando Krishna está satisfeito então Suas partes, os semideuses, também estão satisfeitas. Assim, não há necessidade de adorar os semideuses. Se alguém adorar apenas Krishna, sua vida será perfeita. www.ptkrishna.com. Abraço. Davi

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

ALGUMAS LINHAS DE ORIENTAÇÃO E AÇÃO

 

Cristianismo. www.vatican.va. CARTA ENCÍCLICA. LAUDATI SI. Do Santo Padre Francisco. SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM. Capítulo Cinco. ALGUMAS LINHAS DE ORIENTAÇÃO E AÇÃO. 163. Procurei examinar a situação actual da humanidade, tanto nas brechas do planeta que habitamos, como nas causas mais profundamente humanas da degradação ambiental. Embora esta contemplação da realidade em si mesma já nos indique a necessidade duma mudança de rumo e sugira algumas acções, procuremos agora delinear grandes percursos de diálogo que nos ajudem a sair da espiral de autodestruição onde estamos a afundar. 1. O diálogo sobre o meio ambiente na política internacional. 164. Desde meados do século passado e superando muitas dificuldades, foi-se consolidando a tendência de conceber o planeta como pátria e a humanidade como povo que habita uma casa comum. Um mundo interdependente não significa unicamente compreender que as consequências danosas dos estilos de vida, produção e consumo afectam a todos, mas principalmente procurar que as soluções sejam propostas a partir duma perspectiva global e não apenas para defesa dos interesses de alguns países. A interdependência obriga-nos a pensar num único mundo, num projecto comum. Mas, a mesma inteligência que foi utilizada para um enorme desenvolvimento tecnológico não consegue encontrar formas eficazes de gestão internacional para resolver as graves dificuldades ambientais e sociais. Para enfrentar os problemas de fundo, que não se podem resolver com acções de países isolados, torna-se indispensável um consenso mundial que leve, por exemplo, a programar uma agricultura sustentável e diversificada, desenvolver formas de energia renováveis e pouco poluidoras, fomentar uma maior eficiência energética, promover uma gestão mais adequada dos recursos florestais e marinhos, garantir a todos o acesso à água potável. 165. Sabemos que a tecnologia baseada nos combustíveis fósseis – altamente poluentes, sobretudo o carvão mas também o petróleo e, em menor medida, o gás – deve ser, progressivamente e sem demora, substituída. Enquanto aguardamos por um amplo desenvolvimento das energias renováveis, que já deveria ter começado, é legítimo optar pela alternativa menos danosa ou recorrer a soluções transitórias. Todavia, na comunidade internacional, não se consegue suficiente acordo sobre a responsabilidade de quem deve suportar os maiores custos da transição energética. Nas últimas décadas, as questões ambientais deram origem a um amplo debate público, que fez crescer na sociedade civil espaços de notável compromisso e generosa dedicação. A política e a indústria reagem com lentidão, longe de estar à altura dos desafios mundiais. Neste sentido, pode-se dizer que, enquanto a humanidade do período pós-industrial talvez fique recordada como uma das mais irresponsáveis da história, espera-se que a humanidade dos inícios do século XXI possa ser lembrada por ter assumido com generosidade as suas graves responsabilidades. 166. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo caminho, enriquecido pelo esforço de muitas organizações da sociedade civil. Não seria possível mencioná-las todas aqui, nem repassar a história das suas contribuições. Mas, graças a tanta dedicação, as questões ambientais têm estado cada vez mais presentes na agenda pública e tornaram-se um convite permanente a pensar a longo prazo. Apesar disso, as cimeiras mundiais sobre o meio ambiente dos últimos anos não corresponderam às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes. 167. Dentre elas, há que recordar a Cimeira da Terra, celebrada em 1992 no Rio de Janeiro. Lá se proclamou que «os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável».[126] Retomando alguns conteúdos da Declaração de Estocolmo (1972), sancionou, entre outras coisas, a cooperação internacional no cuidado do ecossistema de toda a terra, a obrigação de quem contaminar assumir economicamente os custos derivados, o dever de avaliar o impacto ambiental de toda e qualquer obra ou projecto. Propôs o objectivo de estabilizar as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera para inverter a tendência do aquecimento global. Também elaborou uma agenda com um programa de acção e uma convenção sobre biodiversidade, declarou princípios em matéria florestal. Embora tal cimeira marcasse um passo em frente e fosse verdadeiramente profética para a sua época, os acordos tiveram um baixo nível de implementação, porque não se estabeleceram adequados mecanismos de controle, revisão periódica e sanção das violações. Os princípios enunciados continuam a requerer caminhos eficazes e ágeis de realização prática. 168. Como experiências positivas, pode-se mencionar, por exemplo, a Convenção de Basileia sobre os resíduos perigosos, com um sistema de notificação, níveis estipulados e controles, e também a Convenção vinculante sobre o comércio internacional das espécies da fauna e da flora selvagens ameaçadas de extinção, que prevê missões de verificação do seu efectivo cumprimento. Graças à Convenção de Viena para a protecção da camada de ozono e a respectiva implementação através do Protocolo de Montreal e as suas emendas, o problema da diminuição da referida camada parece ter entrado numa fase de solução. 169. No cuidado da biodiversidade e no contraste à desertificação, os avanços foram muito menos significativos. Relativamente às mudanças climáticas, os progressos são, infelizmente, muito escassos. A redução de gases com efeito de estufa requer honestidade, coragem e responsabilidade, sobretudo dos países mais poderosos e mais poluentes. A Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, chamada Rio+20 (Rio de Janeiro 2012), emitiu uma Declaração Final extensa mas ineficaz. As negociações internacionais não podem avançar significativamente por causa das posições dos países que privilegiam os seus interesses nacionais sobre o bem comum global. Aqueles que hão-de sofrer as consequências que tentamos dissimular, recordarão esta falta de consciência e de responsabilidade. Durante o período de elaboração desta encíclica, o debate adquiriu particular intensidade. Nós, crentes, não podemos deixar de rezar a Deus pela evolução positiva nos debates actuais, para que as gerações futuras não sofram as consequências de demoras imprudentes. 170. Algumas das estratégias para a baixa emissão de gases poluentes apostam na internacionalização dos custos ambientais, com o perigo de impor aos países de menores recursos pesados compromissos de redução de emissões comparáveis aos dos países mais industrializados. A imposição destas medidas penaliza os países mais necessitados de desenvolvimento. Assim, acrescenta-se uma nova injustiça sob a capa do cuidado do meio ambiente. Como sempre, a corda quebra pelo ponto mais fraco. Uma vez que os efeitos das mudanças climáticas se farão sentir durante muito tempo, mesmo que agora sejam tomadas medidas rigorosas, alguns países com escassos recursos precisarão de ajuda para se adaptar a efeitos que já estão a produzir-se e afectam as suas economias. É verdade que há responsabilidades comuns, mas diferenciadas, pelo simples motivo – como disseram os bispos da Bolívia – que «os países que foram beneficiados por um alto grau de industrialização, à custa duma enorme emissão de gases com efeito de estufa, têm maior responsabilidade em contribuir para a solução dos problemas que causaram».[127] 171. A estratégia de compra-venda de «créditos de emissão» pode levar a uma nova forma de especulação, que não ajudaria a reduzir a emissão global de gases poluentes. Este sistema parece ser uma solução rápida e fácil, com a aparência dum certo compromisso com o meio ambiente, mas que não implica de forma alguma uma mudança radical à altura das circunstâncias. Pelo contrário, pode tornar-se um diversivo que permite sustentar o consumo excessivo de alguns países e sectores. 172. Para os países pobres, as prioridades devem ser a erradicação da miséria e o desenvolvimento social dos seus habitantes; ao mesmo tempo devem examinar o nível escandaloso de consumo de alguns sectores privilegiados da sua população e contrastar melhor a corrupção. Sem dúvida, devem também desenvolver formas menos poluentes de produção de energia, mas para isso precisam de contar com a ajuda dos países que cresceram muito à custa da actual poluição do planeta. O aproveitamento directo da energia solar, tão abundante, exige que se estabeleçam mecanismos e subsídios tais, que os países em vias de desenvolvimento possam ter acesso à transferência de tecnologias, assistência técnica e recursos financeiros, mas sempre prestando atenção às condições concretas, pois «nem sempre se avalia adequadamente a compatibilidade dos sistemas com o contexto para o qual são projectados».[128] Os custos seriam baixos se comparados com os riscos das mudanças climáticas. Em todo o caso, trata-se primariamente duma decisão ética, fundada na solidariedade de todos os povos. 173. Urgem acordos internacionais que se cumpram, dada a escassa capacidade das instâncias locais para intervirem de maneira eficaz. As relações entre os Estados devem salvaguardar a soberania de cada um, mas também estabelecer caminhos consensuais para evitar catástrofes locais que acabariam por danificar a todos. São necessários padrões reguladores globais que imponham obrigações e impeçam acções inaceitáveis, como o facto de empresas ou países poderosos descarregarem, sobre outros países, resíduos e indústrias altamente poluentes. 174. Mencionemos também o sistema de governança dos oceanos. Com efeito, embora tenha havido várias convenções internacionais e regionais, a fragmentação e a falta de severos mecanismos de regulamentação, controle e sanção acabam por minar todos os esforços. O problema crescente dos resíduos marinhos e da protecção das áreas marinhas para além das fronteiras nacionais continua a representar um desafio especial. Em definitivo, precisamos de um acordo sobre os regimes de governança para toda a gama dos chamados bens comuns globais. 175. A lógica que dificulta a tomada de decisões drásticas para inverter a tendência ao aquecimento global é a mesma que não permite cumprir o objectivo de erradicar a pobreza. Precisamos duma reacção global mais responsável, que implique enfrentar, contemporaneamente, a redução da poluição e o desenvolvimento dos países e regiões pobres. O século XXI, mantendo um sistema de governança próprio de épocas passadas, assiste a uma perda de poder dos Estados nacionais, sobretudo porque a dimensão económico-financeira, de carácter transnacional, tende a prevalecer sobre a política. Neste contexto, torna-se indispensável a maturação de instituições internacionais mais fortes e eficazmente organizadas, com autoridades designadas de maneira imparcial por meio de acordos entre os governos nacionais e dotadas de poder de sancionar. Com afirmou Bento XVI, na linha desenvolvida até agora pela doutrina social da Igreja, «para o governo da economia mundial, para sanar as economias atingidas pela crise de modo a prevenir o agravamento da mesma e consequentes maiores desequilíbrios, para realizar um oportuno e integral desarmamento, a segurança alimentar e a paz, para garantir a salvaguarda do ambiente e para regulamentar os fluxos migratórios urge a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial, delineada já pelo meu predecessor, [São] João XXIII».[129] Nesta perspectiva, a diplomacia adquire uma importância inédita, chamada a promover estratégias internacionais para prevenir os problemas mais graves que acabam por afectar a todos. 2. O diálogo para novas políticas nacionais e locais 176. Há vencedores e vencidos não só entre os países, mas também dentro dos países pobres, onde se devem identificar as diferentes responsabilidades. Por isso, as questões relacionadas com o meio ambiente e com o desenvolvimento económico já não se podem olhar apenas a partir das diferenças entre os países, mas exigem que se preste atenção às políticas nacionais e locais. 177. Perante a possibilidade duma utilização irresponsável das capacidades humanas, são funções inadiáveis de cada Estado planificar, coordenar, vigiar e sancionar dentro do respectivo território. Como pode a sociedade organizar e salvaguardar o seu futuro num contexto de constantes inovações tecnológicas? Um factor que actua como moderador efectivo é o direito, que estabelece as regras para as condutas permitidas à luz do bem comum. Os limites que uma sociedade sã, madura e soberana deve impor têm a ver com previsão e precaução, regulamentações adequadas, vigilância sobre a aplicação das normas, contraste da corrupção, acções de controle operacional sobre o aparecimento de efeitos não desejados dos processos de produção, e oportuna intervenção perante riscos incertos ou potenciais. Existe uma crescente jurisprudência que visa reduzir os efeitos poluentes dos empreendimentos. Mas a estrutura política e institucional não existe apenas para evitar malversações, mas para incentivar as boas práticas, estimular a criatividade que busca novos caminhos, facilitar as iniciativas pessoais e colectivas. 178. O drama duma política focalizada nos resultados imediatos, apoiada também por populações consumistas, torna necessário produzir crescimento a curto prazo. Respondendo a interesses eleitorais, os governos não se aventuram facilmente a irritar a população com medidas que possam afectar o nível de consumo ou pôr em risco investimentos estrangeiros. A construção míope do poder frena a inserção duma agenda ambiental com visão ampla na agenda pública dos governos. Esquece-se, assim, que «o tempo é superior ao espaço»[130] e que sempre somos mais fecundos quando temos maior preocupação por gerar processos do que por dominar espaços de poder. A grandeza política mostra-se quando, em momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo. O poder político tem muita dificuldade em assumir este dever num projecto de nação. 179. Nalguns lugares, estão a desenvolver-se cooperativas para a exploração de energias renováveis, que consentem o auto-abastecimento local e até mesmo a venda da produção em excesso. Este exemplo simples indica que, enquanto a ordem mundial existente se revela impotente para assumir responsabilidades, a instância local pode fazer a diferença. Com efeito, aqui é possível gerar uma maior responsabilidade, um forte sentido de comunidade, uma especial capacidade de solicitude e uma criatividade mais generosa, um amor apaixonado pela própria terra, tal como se pensa naquilo que se deixa aos filhos e netos. Estes valores têm um enraizamento muito profundo nas populações aborígenes. Dado que o direito por vezes se mostra insuficiente devido à corrupção, requer-se uma decisão política sob pressão da população. A sociedade, através de organismos não-governamentais e associações intermédias, deve forçar os governos a desenvolver normativas, procedimentos e controles mais rigorosos. Se os cidadãos não controlam o poder político – nacional, regional e municipal –, também não é possível combater os danos ambientais. Além disso, as legislações municipais podem ser mais eficazes, se houver acordos entre populações vizinhas para sustentarem as mesmas políticas ambientais. 180. Não se pode pensar em receitas uniformes, porque há problemas e limites específicos de cada país ou região. Também é verdade que o realismo político pode exigir medidas e tecnologias de transição, desde que estejam acompanhadas pelo projecto e a aceitação de compromissos graduais vinculativos. Ao mesmo tempo, porém, a nível nacional e local, há sempre muito que fazer, como, por exemplo, promover formas de poupança energética. Isto implica favorecer modalidades de produção industrial com a máxima eficiência energética e menor utilização de matérias-primas, retirando do mercado os produtos pouco eficazes do ponto de vista energético ou mais poluentes. Podemos mencionar também uma boa gestão dos transportes ou técnicas de construção e restruturação de edifícios que reduzam o seu consumo energético e o seu nível de poluição. Além disso, a acção política local pode orientar-se para a alteração do consumo, o desenvolvimento duma economia de resíduos e reciclagem, a protecção de determinadas espécies e a programação duma agricultura diversificada com a rotação de culturas. É possível favorecer a melhoria agrícola de regiões pobres, através de investimentos em infra-estruturas rurais, na organização do mercado local ou nacional, em sistemas de irrigação, no desenvolvimento de técnicas agrícolas sustentáveis. Podem-se facilitar formas de cooperação ou de organização comunitária que defendam os interesses dos pequenos produtores e salvaguardem da predação os ecossistemas locais. É tanto o que se pode fazer! 181. Indispensável é a continuidade, porque não se podem modificar as políticas relativas às alterações climáticas e à protecção ambiental todas as vezes que muda um governo. Os resultados requerem muito tempo e comportam custos imediatos com efeitos que não poderão ser exibidos no período de vida dum governo. Por isso, sem a pressão da população e das instituições, haverá sempre relutância a intervir, e mais ainda quando houver urgências a resolver. Para um político, assumir estas responsabilidades com os custos que implicam não corresponde à lógica eficientista e imediatista actual da economia e da política, mas, se ele tiver a coragem de o fazer, poderá novamente reconhecer a dignidade que Deus lhe deu como pessoa e deixará, depois da sua passagem por esta história, um testemunho de generosa responsabilidade. Importa dar um lugar preponderante a uma política salutar, capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos, que permitam superar pressões e inércias viciosas. Todavia é preciso acrescentar que os melhores dispositivos acabam por sucumbir, quando faltam as grandes metas, os valores, uma compreensão humanista e rica de significado, capazes de conferir a cada sociedade uma orientação nobre e generosa. 3. Diálogo e transparência nos processos decisórios. 182. A previsão do impacto ambiental dos empreendimentos e projectos requer processos políticos transparentes e sujeitos a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum projecto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem ao dever de informar e a um debate profundo. 183. Um estudo de impacto ambiental não deveria ser posterior à elaboração dum projecto produtivo ou de qualquer política, plano ou programa. Há-de inserir-se desde o princípio e elaborar-se de forma interdisciplinar, transparente e independente de qualquer pressão económica ou política. Deve aparecer unido à análise das condições de trabalho e dos possíveis efeitos na saúde física e mental das pessoas, na economia local, na segurança. Assim os resultados económicos poder-se-ão prever de forma mais realista, tendo em conta os cenários possíveis e, eventualmente, antecipando a necessidade dum investimento maior para resolver efeitos indesejáveis que possam ser corrigidos. É sempre necessário alcançar consenso entre os vários actores sociais, que podem trazer diferentes perspectivas, soluções e alternativas. Mas, no debate, devem ter um lugar privilegiado os moradores locais, aqueles mesmos que se interrogam sobre o que desejam para si e para os seus filhos e podem ter em consideração as finalidades que transcendem o interesse económico imediato. É preciso abandonar a ideia de «intervenções» sobre o meio ambiente, para dar lugar a políticas pensadas e debatidas por todas as partes interessadas. A participação requer que todos sejam adequadamente informados sobre os vários aspectos e os diferentes riscos e possibilidades, e não se reduza à decisão inicial sobre um projecto, mas implique também acções de controle ou monitoramento constante. É necessário haver sinceridade e verdade nas discussões científicas e políticas, sem se limitar a considerar o que é permitido ou não pela legislação. 184. Quando surgem eventuais riscos para o meio ambiente que afectam o bem comum presente e futuro, esta situação exige «que as decisões sejam baseadas num confronto entre riscos e benefícios previsíveis para cada opção alternativa possível».[131] Isto vale sobretudo quando um projecto pode causar um incremento na exploração dos recursos naturais, nas emissões ou descargas, na produção de resíduos, ou então uma mudança significativa na paisagem, no habitat de espécies protegidas ou num espaço público. Alguns projectos, não apoiados por uma análise bem cuidada, podem afectar profundamente a qualidade de vida dum lugar, devido a questões muito diferentes entre si, como, por exemplo, uma poluição acústica não prevista, a redução do horizonte visual, a perda de valores culturais, os efeitos do uso da energia nuclear. A cultura consumista, que dá prioridade ao curto prazo e aos interesses privados, pode favorecer análises demasiado rápidas ou consentir a ocultação de informação. 185. Em qualquer discussão sobre um empreendimento, dever-se-ia pôr uma série de perguntas, para poder discernir se o mesmo levará a um desenvolvimento verdadeiramente integral: Para que fim? Por qual motivo? Onde? Quando? De que maneira? A quem ajuda? Quais são os riscos? A que preço? Quem paga as despesas e como o fará? Neste exame, há questões que devem ter prioridade. Por exemplo, sabemos que a água é um recurso escasso e indispensável, sendo um direito fundamental que condiciona o exercício doutros direitos humanos. Isto está, sem dúvida, acima de toda a análise de impacto ambiental duma região. 186. Na Declaração do Rio, de 1992, afirma-se que, «quando existem ameaças de danos graves ou irreversíveis, a falta de certezas científicas absolutas não poderá constituir um motivo para adiar a adopção de medidas eficazes»[132] que impeçam a degradação do meio ambiente. Este princípio de precaução permite a protecção dos mais fracos, que dispõem de poucos meios para se defender e fornecer provas irrefutáveis. Se a informação objectiva leva a prever um dano grave e irreversível, mesmo que não haja uma comprovação indiscutível, seja o projecto que for deverá suspender-se ou modificar-se. Assim, inverte-se o ónus da prova, já que, nestes casos, é preciso fornecer uma demonstração objectiva e contundente de que a actividade proposta não vai gerar danos graves ao meio ambiente ou às pessoas que nele habitam. 187. Isto não implica opor-se a toda e qualquer inovação tecnológica que permita melhorar a qualidade de vida duma população. Mas, em todo o caso, deve permanecer de pé que a rentabilidade não pode ser o único critério a ter em conta e, na hora em que aparecessem novos elementos de juízo a partir de ulteriores dados informativos, deveria haver uma nova avaliação com a participação de todas as partes interessadas. O resultado do debate pode ser a decisão de não avançar num projecto, mas poderia ser também a sua modificação ou a elaboração de propostas alternativas. 188. Há discussões sobre problemas relativos ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. Repito uma vez mais que a Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política, mas convido a um debate honesto e transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum. 4. Política e economia em diálogo para a plenitude humana. 189. A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana. A salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente cura. A crise financeira dos anos 2007 e 2008 era a ocasião para o desenvolvimento duma nova economia mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da actividade financeira especulativa e da riqueza virtual. Mas não houve uma reacção que fizesse repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo. A produção não é sempre racional, e muitas vezes está ligada a variáveis económicas que atribuem aos produtos um valor que não corresponde ao seu valor real. Isto leva frequentemente a uma superprodução dalgumas mercadorias, com um impacto ambiental desnecessário, que simultaneamente danifica muitas economias regionais.[133] Habitualmente, a bolha financeira é também uma bolha produtiva. Em suma, o que não se enfrenta com energia é o problema da economia real, aquela que torna possível, por exemplo, que se diversifique e melhore a produção, que as empresas funcionem adequadamente, que as pequenas e médias empresas se desenvolvam e criem postos de trabalho. 190. Neste contexto, sempre se deve recordar que «a protecção ambiental não pode ser assegurada somente com base no cálculo financeiro de custos e benefícios. O ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente».[134] Mais uma vez repito que convém evitar uma concepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos. Será realista esperar que quem está obcecado com a maximização dos lucros se detenha a considerar os efeitos ambientais que deixará às próximas gerações? Dentro do esquema do ganho não há lugar para pensar nos ritmos da natureza, nos seus tempos de degradação e regeneração, e na complexidade dos ecossistemas que podem ser gravemente alterados pela intervenção humana. Além disso, quando se fala de biodiversidade, no máximo pensa-se nela como um reservatório de recursos económicos que poderia ser explorado, mas não se considera seriamente o valor real das coisas, o seu significado para as pessoas e as culturas, os interesses e as necessidades dos pobres. 191. Quando se colocam estas questões, alguns reagem acusando os outros de pretender parar, irracionalmente, o progresso e o desenvolvimento humano. Mas temos de nos convencer que, reduzir um determinado ritmo de produção e consumo, pode dar lugar a outra modalidade de progresso e desenvolvimento. Os esforços para um uso sustentável dos recursos naturais não são gasto inútil, mas um investimento que poderá proporcionar outros benefícios económicos a médio prazo. Se não temos vista curta, podemos descobrir que pode ser muito rentável a diversificação duma produção mais inovadora e com menor impacto ambiental. Trata-se de abrir caminho a oportunidades diferentes, que não implicam frenar a criatividade humana nem o seu sonho de progresso, mas orientar esta energia por novos canais. 192. Por exemplo, um percurso de desenvolvimento produtivo mais criativo e melhor orientado poderia corrigir a disparidade entre o excessivo investimento tecnológico no consumo e o escasso investimento para resolver os problemas urgentes da humanidade; poderia gerar formas inteligentes e rentáveis de reutilização, recuperação funcional e reciclagem; poderia melhorar a eficiência energética das cidades... A diversificação produtiva oferece à inteligência humana possibilidades muito amplas de criar e inovar, ao mesmo tempo que protege o meio ambiente e cria mais oportunidades de trabalho. Esta seria uma criatividade capaz de fazer reflorescer a nobreza do ser humano, porque é mais dignificante usar a inteligência, com audácia e responsabilidade, para encontrar formas de desenvolvimento sustentável e equitativo, no quadro duma concepção mais ampla da qualidade de vida. Ao contrário, é menos dignificante e criativo e mais superficial insistir na criação de formas de espoliação da natureza só para oferecer novas possibilidades de consumo e de ganho imediato. 193. Assim, se nalguns casos o desenvolvimento sustentável implicará novas modalidades para crescer, noutros casos – face ao crescimento ganancioso e irresponsável, que se verificou ao longo de muitas décadas – devemos pensar também em abrandar um pouco a marcha, pôr alguns limites razoáveis e até mesmo retroceder antes que seja tarde. Sabemos que é insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem cada vez mais, enquanto outros ainda não podem viver de acordo com a sua dignidade humana. Por isso, chegou a hora de aceitar um certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes. Bento XVI dizia que «é preciso que as sociedades tecnologicamente avançadas estejam dispostas a favorecer comportamentos caracterizados pela sobriedade, diminuindo as próprias necessidades de energia e melhorando as condições da sua utilização».[135] 194. Para que apareçam novos modelos de progresso, precisamos de «converter o modelo de desenvolvimento global»[136], e isto implica reflectir responsavelmente «sobre o sentido da economia e dos seus objectivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações».[137] Não é suficiente conciliar, a meio termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. Trata-se simplesmente de redefinir o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso. Além disso, muitas vezes a qualidade real de vida das pessoas diminui – pela deterioração do ambiente, a baixa qualidade dos produtos alimentares ou o esgotamento de alguns recursos – no contexto dum crescimento da economia. Então, muitas vezes, o discurso do crescimento sustentável torna-se um diversivo e um meio de justificação que absorve valores do discurso ecologista dentro da lógica da finança e da tecnocracia, e a responsabilidade social e ambiental das empresas reduz-se, na maior parte dos casos, a uma série de acções de publicidade e imagem. 195. O princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceptual da economia: desde que aumente a produção, pouco interessa que isso se consiga à custa dos recursos futuros ou da saúde do meio ambiente; se o derrube duma floresta aumenta a produção, ninguém insere no respectivo cálculo a perda que implica desertificar um território, destruir a biodiversidade ou aumentar a poluição. Por outras palavras, as empresas obtêm lucros calculando e pagando uma parte ínfima dos custos. Poder-se-ia considerar ético somente um comportamento em que «os custos económicos e sociais derivados do uso dos recursos ambientais comuns sejam reconhecidos de maneira transparente e plenamente suportados por quem deles usufrui e não por outras populações nem pelas gerações futuras».[138] A mentalidade utilitária, que fornece apenas uma análise estática da realidade em função de necessidades actuais, está presente tanto quando é o mercado que atribui os recursos como quando o faz um Estado planificador. 196. Qual é o lugar da política? Recordemos o princípio da subsidiariedade, que dá liberdade para o desenvolvimento das capacidades presentes a todos os níveis, mas simultaneamente exige mais responsabilidade pelo bem comum a quem tem mais poder. É verdade que, hoje, alguns sectores económicos exercem mais poder do que os próprios Estados. Mas não se pode justificar uma economia sem política, porque seria incapaz de promover outra lógica para governar os vários aspectos da crise actual. A lógica que não deixa espaço para uma sincera preocupação pelo meio ambiente é a mesma em que não encontra espaço a preocupação por integrar os mais frágeis, porque, «no modelo “do êxito” e “individualista” em vigor, parece que não faz sentido investir para que os lentos, fracos ou menos dotados possam também singrar na vida».[139] 197. Precisamos duma política que pense com visão ampla e leve por diante uma reformulação integral, abrangendo num diálogo interdisciplinar os vários aspectos da crise. Muitas vezes, a própria política é responsável pelo seu descrédito, devido à corrupção e à falta de boas políticas públicas. Se o Estado não cumpre o seu papel numa região, alguns grupos económicos podem-se apresentar como benfeitores e apropriar-se do poder real, sentindo-se autorizados a não observar certas normas até se chegar às diferentes formas de criminalidade organizada, tráfico de pessoas, narcotráfico e violência muito difícil de erradicar. Se a política não é capaz de romper uma lógica perversa e perde-se também em discursos inconsistentes, continuaremos sem enfrentar os grandes problemas da humanidade. Uma estratégia de mudança real exige repensar a totalidade dos processos, pois não basta incluir considerações ecológicas superficiais enquanto não se puser em discussão a lógica subjacente à cultura actual. Uma política sã deveria ser capaz de assumir este desafio. 198. A política e a economia tendem a culpar-se reciprocamente a respeito da pobreza e da degradação ambiental. Mas o que se espera é que reconheçam os seus próprios erros e encontrem formas de interacção orientadas para o bem comum. Enquanto uns se afanam apenas com o ganho económico e os outros estão obcecados apenas por conservar ou aumentar o poder, o que nos resta são guerras ou acordos espúrios, onde o que menos interessa às duas partes é preservar o meio ambiente e cuidar dos mais fracos. Vale aqui também o princípio de que «a unidade é superior ao conflito».[140] 5. As religiões no diálogo com as ciências. 199. Não se pode sustentar que as ciências empíricas expliquem completamente a vida, a essência íntima de todas as criaturas e o conjunto da realidade. Isto seria ultrapassar indevidamente os seus confins metodológicos limitados. Se se reflecte dentro deste quadro restrito, desaparecem a sensibilidade estética, a poesia e ainda a capacidade da razão perceber o sentido e a finalidade das coisas.[141] Quero lembrar que «os textos religiosos clássicos podem oferecer um significado para todas as épocas, possuem uma força motivadora que abre sempre novos horizontes (...). Será razoável e inteligente relegá-los para a obscuridade, só porque nasceram no contexto duma crença religiosa?»[142] Realmente, é ingénuo pensar que os princípios éticos possam ser apresentados de modo puramente abstracto, desligados de todo o contexto, e o facto de aparecerem com uma linguagem religiosa não lhes tira valor algum no debate público. Os princípios éticos que a razão é capaz de perceber, sempre podem reaparecer sob distintas roupagens e expressos com linguagens diferentes, incluindo a religiosa. 200. Além disso, qualquer solução técnica que as ciências pretendam oferecer será impotente para resolver os graves problemas do mundo, se a humanidade perde o seu rumo, se esquece as grandes motivações que tornam possível a convivência social, o sacrifício, a bondade. Em todo o caso, será preciso fazer apelo aos crentes para que sejam coerentes com a sua própria fé e não a contradigam com as suas acções; será necessário insistir para que se abram novamente à graça de Deus e se nutram profundamente das próprias convicções sobre o amor, a justiça e a paz. Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar. Muitas vezes os limites culturais de distintas épocas condicionaram esta consciência do próprio património ético e espiritual, mas é precisamente o regresso às respectivas fontes que permite às religiões responder melhor às necessidades actuais. 201. A maior parte dos habitantes do planeta declara-se crente, e isto deveria levar as religiões a estabelecerem diálogo entre si, visando o cuidado da natureza, a defesa dos pobres, a construção duma trama de respeito e de fraternidade. De igual modo é indispensável um diálogo entre as próprias ciências, porque cada uma costuma fechar-se nos limites da sua própria linguagem, e a especialização tende a converter-se em isolamento e absolutização do próprio saber. Isto impede de enfrentar adequadamente os problemas do meio ambiente. Torna-se necessário também um diálogo aberto e respeitador dos diferentes movimentos ecologistas, entre os quais não faltam as lutas ideológicas. A gravidade da crise ecológica obriga-nos, a todos, a pensar no bem comum e a prosseguir pelo caminho do diálogo que requer paciência, ascese e generosidade, lembrando-nos sempre que «a realidade é superior à ideia».[143]. www.vatican.va. Abraço. Davi