terça-feira, 30 de janeiro de 2024

UMBANDA - APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO

 

Religião Afro-brasileiras. Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). Livro Código de Umbanda. APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO. Apresentação. Muitos devem estar achando pretensiosa a obra que ora chega as suas mãos, caro leitor, e nós até entendemos o ceticismo e a inquietação que deve despertar uma obra como estas, que se propõe a comentar as linhas mestras que orientam a ciência, a doutrina e a prática religiosa da Umbanda. Mesmo nós, que estamos completamente envolvidos no trabalho de levar a público as obras inspiradas pelos mestres de luz que assistem ao médium-psicógrafo desta obra, ponderamos acerca do efeito psicológico de se usar um título com o “peso” de um termo como este: “código”. Sim, porque todo código se impõe como um apanhado de ideias e procedimentos destinados a efetivar uma prática, seja ela de que natureza for. Em razão da diversidade de conceitos e práticas que pululam no meio umbandista, em princípio, e mesmo confiando firmemente naquilo que os mestres passavam, achávamos uma temeridade utilizar esse termo, pois a intenção nunca foi ferir suscetibilidades, e parecia-nos muito provável que isso ocorresse. Até aquele momento, a obra ainda não estava perfeitamente delineada e o que tínhamos era uma ideia vaga de um livro abordando alguns fundamentos do mistério “Orixás”, assim como da ciência divina que está por trás de suas manifestações dentro do Ritual de Umbanda Sagrada. Mas os mestres insistiam no termo e, aos poucos, apresentavam desdobramentos do tema original – A Ciência dos Orixás – , que se estendiam até os limites da prática religiosa. Assim, o material que seria editado em quatro livros diferentes foi unido e acrescido de textos formulados pelos mestres e pelo autor material, destinados a serem apresentados em palestras. O resultado foi um conjunto de temas e assuntos tão abrangente que, se não representava formalmente um “código religioso”, tratava-se, no mínimo, de uma “codificação” extensa de vários polos relativos aos fundamentos do Ritual de Umbanda Sagrada, tanto no nível de sua estruturação no astral quanto de consciência religiosa e práticas rituais. Código de Umbanda divide-se em quatro partes: a primeira parte preocupa-se em argumentar a favor da formação de uma “consciência religiosa de Umbanda” para fazer frente aos distrato recebidos de outros setores religiosos, assim como ao descaso que contamina a mídia como um todo. Aborda, também, doutrina e ritual. A segunda parte trata de magia e busca desmistificar a ideia generalizada de que magia de Umbanda é praticada por qualquer um. As duas últimas partes estão voltadas para a exposição das bases científicas sobre as quais se assentam as manifestações dos Orixás dentro do Ritual de Umbanda Sagrada. O “Livro 1 – Doutrina e Ritual de Umbanda”. Confere ao livro como um todo o caráter de “código religioso”, não só pela associação da religião de Umbanda com vários polos da vida civil – sociedade, cultura etc. Como também pela descrição exaustiva dos preceitos que devem ser observados pelos fiéis, tanto em sua vida religiosa quanto em sua vida social. O “Livro 2 – Magia de Umbanda – conhecimento básico e fundamentais”. Os mestres fazem questão de mostrar as possibilidades que se abrem para o médium “autorizado” a penetrar no universo das manipulações magistas, mas deixam de orientar a respeito dos limites colocados para sua utilização. Vale salientar que o livro não ensina ninguém a ser um “mago”, já que está é uma condição que não se adquire por meio da leitura de um livro. O “Livro 3 – Orixás: Os Tronos de Deus”. Mergulha fundo na questão do magnetismo dos Orixás e discute a importância desse polo na formação de pares vibratórios, energéticos, energo magnéticos e magnéticos que atuam sobre os médiuns. E sobre todas as coisas, seres e criaturas nas diversas dimensões do todo planetário, tanto no seu lado cósmico e ativo quanto no seu lado universal e passivo. Na sequência, temos uma descrição de todos os catorze Orixás que formam as sete linhas do Ritual de Umbanda Sagrada. Suas qualidades, atributos e atribuições, bem como seus níveis de intermediação, campos de atuação, banhos e oferendas. Este livro fecha a parte de fundamentos científicos que permeiam as manifestações das hierarquias divinas do Ritual e introduz a importância de uma consciência religiosa de Umbanda. O “Livro 4 – A Ciência dos Orixás – A Ciência dos Entrecruzamentos”. Aprofunda os conhecimentos em torno da ciência dos entrecruzamentos que regula as intermediações dos Orixás nos diversos níveis e sentido da vida. Essa discussão, iniciada nos livros A Tradição Comenta a Evolução e As Setes Linhas de Umbanda, dá subsídios para o entendimento da existência de vários Orixás para apenas umas poucas linhas de ação e de trabalho. A forma clara e didática, auxiliada pelo grande número de gráficos explicativos, faz dessa parte do “Código” um manual acerca de como, a partir da natureza e das polaridades, os Orixás se relacionam e atuam nas várias dimensões da Vida. Código de Umbanda não é, um código no sentido de “um conjunto de regras”. Mas sim no sentido de “um conjunto de conhecimentos, conceitos e preceitos” que devem ser observados para que a prática religiosa se mantenha dentro de padrões que permitam a religião de Umbanda cumprir aquilo para o qual ela foi idealizada: acelerar o processo evolucionista de espíritos encarnados e desencarnados que se encontrarem estacionados nas diversas “encruzilhadas” da vida. Muitos que se interessam exclusivamente por manipulações magistas e por chaves de acesso a compartimentos secretos poderão achar o Livro pouco interessante. Mas não porque ele não abra a possibilidade para aquelas manipulações ou porque não traga as chaves que desejam, porém sim porque coloca como condições fundamentais para qualquer iniciação a retidão, a resignação, a humildade, a fé, o amor e a caridade, que são os preceitos básicos para o exercício do Ritual de umbanda Sagrada. Isso porque: Umbanda é Fé. Umbanda é Amo. Umbanda é Conhecimento. Umbanda é Justiça. Umbanda é Lei. Umbanda é Evolução. Umbanda é Vida. Acreditamos que aqueles que lerem este livro, umbandistas ou não, não hesitarão em afirmar a grandeza e a importância da obra. Como dissemos no princípio de nossa apresentação, não é interesse dos mestres da Luz que orientam o trabalho, nem nosso, que somos seus instrumentos, ferir suscetibilidades ou criar polêmicas infundadas. O livro está colocado para apreciação pública e não é a última palavra a respeito do assunto. Introdução. Este Código de Umbanda traz em si mesmo o poder dos Orixás e a força imanente da Religião de Umbanda, que é espiritualista e espiritualizadora. E que em momento algum deixou de lado suas raízes religiosas, mas tão somente as reinterpretou e as adaptou a sociedade brasileira e á pluralidade religiosa e cultural de um povo em cuja raiz estão os vermelhos indígenas, os negros africanos e os brancos europeus. Ciência e Magia, Religião e Filosofia geram um fator renovador do entendimento das coisas divinas, das divindades e da consciência dos seres humanos. Portanto, orientados pelo sagrados Orixás, já renovados na Religião de Umbanda, que é um ritual religioso aberto, os mestres da Luz Li Mahi Am Seri yê (Senhor Xangô das Cachoeiras e Pai Benedito de Aruanda. Orientados o tempo todo pelo Senhor Ogum Beira Mar e por todos os Senhores Orixás, eis que, finalmente, trazemos a luz do conhecimento do Ritual de Umbanda Sagrada o seu Código de Umbanda! Esta obra traz em si mesma o poder divino dos Orixás e dos Tronos de Deus regentes da natureza, que são as divindades sustentadoras da evolução dos seres, criaturas e espécies. Muito do que falta, porque não abriram toda a ciência divina ao plano material, aqui encontrarão. E vocês descobrirão, neste livro, chaves do Ocultismo, do Hermetismo, da Cabala, do Esoterismo e das religiões, tanto as que já cumpriram suas missões na face da terra quanto as que ainda estão vivas e atuando em benefício da evolução humana. E encontrarão essas chaves porque o Ritual de Umbanda Sagrada é síntese de todas elas e as manifesta por intermédio de suas linhas de ação e trabalhos espirituais, despertadoras de uma nova consciência religiosa. Tenham uma boa leitura e despertem em vocês está nova e renovadora consciência religiosa. Rubens Saraceni. Abraço. Davi

domingo, 28 de janeiro de 2024

UMA AMIZADE SINCERA

 

Texto da escritora e poetisa ucraniana brasileira Clarice Lispector (1920-1977). UMA AMIZADE SINCERA. "Não é que fôssemos amigos de longa data. Conhecemo-nos apenas no último ano da escola. Desde esse momento estávamos juntos a qualquer hora. Há tanto tempo precisávamos de um amigo que nada havia que não confiássemos um ao outro. Chegamos a um ponto de amizade que não podíamos mais guardar um pensamento: um telefonava logo ao outro, marcando encontro imediato. Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos tivéssemos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exaltação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto. Só que o assunto havia de ser grave, pois em qualquer um não caberia a veemência de uma sinceridade pela primeira vez experimentada. Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossas mútuas namoradas também estava fora de cogitação, pois um homem não falava de seus amores. Experimentávamos ficar calados — mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separarmos. Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir um vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes. Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo. Foi quando, tendo minha família se mudado para São Paulo, e ele morando sozinho, pois sua família era do Piauí, foi quando o convidei a morar em nosso apartamento, que ficara sob a minha guarda. Que rebuliço de alma. Radiantes, arrumávamos nossos livros e discos, preparávamos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto — eis nos dentro de casa, de braços abanando, mudos, cheios apenas de amizade. Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação. Mas todos os problemas já tinham sido tocados, todas as possibilidades estudadas. Tínhamos apenas essa coisa que havíamos procurado sedentos até então e enfim encontrado: uma amizade sincera. Único modo, sabíamos, e com que amargor sabíamos, de sair da solidão que um espírito tem no corpo. Mas como se nos revelava sintética a amizade. Como se quiséssemos espalhar em longo discurso um truísmo que uma palavra esgotaria. Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois e três são cinco. Tentamos organizar algumas farras no apartamento, mas não só os vizinhos reclamaram como não adiantou. Se ao menos pudéssemos prestar favores um ao outro. Mas nem havia oportunidade, nem acreditávamos em provas de uma amizade que delas não precisava. O mais que podíamos fazer era o que fazíamos: saber que éramos amigos. O que não bastava para encher os dias, sobretudo as longas férias. Data dessas férias o começo da verdadeira aflição. Ele, a quem eu nada podia dar senão minha sinceridade, ele passou a ser uma acusação de minha pobreza. Além do mais, a solidão de um ao lado do outro, ouvindo música ou lendo, era muito maior do que quando estávamos sozinhos. E, mais que maior, incômoda. Não havia paz. Indo depois cada um para seu quarto, com alívio nem nos olhávamos. É verdade que houve uma pausa no curso das coisas, uma trégua que nos deu mais esperanças do que em realidade caberia. Foi quando meu amigo teve uma pequena questão com a Prefeitura. Não é que fosse grave, mas nós a tomamos para melhor usá-la. Porque então já tínhamos caído na facilidade de prestar favores. Andei entusiasmado pelos escritórios de conhecidos de minha família, arranjando pistolões para meu amigo. E quando começou a fase de selar papéis, corri por toda a cidade — posso dizer em consciência que não houve firma que se reconhecesse sem ser através de minha mão. Nessa época encontrávamo-nos de noite em casa, exaustos e animados: contávamos as façanhas do dia, planejávamos os ataques seguintes. Não aprofundávamos muito o que estava sucedendo, bastava que tudo isso tivesse o cunho da amizade. Pensei compreender por que os noivos se presenteiam, por que o marido faz questão de dar conforto à esposa, e esta prepara-lhe afanada o alimento, por que a mãe exagera nos cuidados ao filho. Foi, aliás, nesse período que, com algum sacrifício, dei um pequeno broche de ouro àquela que é hoje minha mulher. Só muito depois eu ia compreender que estar também é dar. Encerrada a questão com a Prefeitura — seja dito de passagem, com vitória nossa — continuamos um ao lado do outro, sem encontrar aquela palavra que cederia a alma. Cederia a alma? Mas afinal de contas quem queria ceder a alma? Ora essa. Afinal o que queríamos? Nada. Estávamos fatigados, desiludidos. A pretexto de férias com minha família, separamo-nos. Aliás ele também ia ao Piauí. Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso. Mais que isso: que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos, amigos sinceros".  http://www.poesiaspoemaseversos.com.br.

 

Editor do Mosaico. Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, Ucrânia. Depois passou junto com a família pela Bulgária, Rússia, Alemanha e finalmente em 1922 chega ao Brasil. É conhecida por sua franqueza, coragem e sinceridade. Gostava de dizer o que pensava nos momentos oportunos, prezando os ambientes onde se encontrava. Atenta a vida nacional de sua época e contextualizada com as transformações sociais no mundo, procurava com sutilidade introduzir seus pontos de vista através da sua poesia e textos literários. Esse que acabamos que ler mostra um pouco sua extrema sensibilidade quando o assunto diz respeito as emoções e sentimentos. A primeira metade do século XX (1901-2000) foi uma época de agitação política e manifestações reivindicatória. Como exemplo temos as diferenças entre a burguesia (patrões) e o proletariado (trabalhadores), ascensão do capitalismo, surgimento dos movimentos artísticos: expressionismo, cubismo, abstracionismo, surrealismo; legislações trabalhistas e emancipação feminina. O último liderado pela filósofa Simone de Beauvoir (1908-1986) teve reverberação nos escritos de Clarice. Sua obra Felicidade Clandestina mostra a interioridade humana, sua busca por desejos insatisfeitos e comportamentos descobertos que clareiam o horizonte da realização e felicidade. A condição feminina é avaliada em vários episódios descritos nessa obra trazendo a esperança de que a mulher com seu poder de superação e coragem alcançará seu lugar preterido nos extratos sociais, minimizando sua condição até aquela época de inferioridade em relação ao homem. Os escritos da Clarice por serem filosóficos e poéticos trazem dificuldades na sua interpretação. O raciocínio ilumina alguns pontos, mas precisamos usar a abstração e imaginação para decifrar seus mistérios, como ela mesmo disse: "sou tão misteriosa que nem eu me entendo". O tema dessa "dissertação" é a amizade, entretanto, bem diferente daquilo que costumamos entender como amizade. Parece claro que a contrariedade e obstáculo estão presentes nos relacionamentos que envolvem os homens e mulheres. A idealização da amizade como sonho onírico de paz e segurança está longe de ser alcançada na perspectiva da argumentação de Clarice, quando diz "solidão de um ao lado do outro". Mesmo numa amizade sincera teremos a sensação de algo que não foi preenchido, isso depreende-se quando ela se expressa: "eu começava a me sentir um vazio". Podemos inferir que a "amizade sincera" não pressupõe a presença do outro como indispensável. Até chega-se a cogitar que o afastamento, o distanciamento do "objeto" desejado é um sinal positivo dum relacionamento duradouro. A frase: "não queríamos nos rever. E sabíamos que éramos amigos", traz essa conotação. Aqui estamos pensando em amigos e não em casais comprometidos pelo "matrimônio" ou ajuntamento Concorde mente pactuado entre ambos seja homo ou hétero sexual. O sentimento de Clarice na esperança de um reencontro, poeticamente, está na frase "um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto". Aqui é uma figura de linguagem chamada antífrase que consiste em afirmar exatamente o contrário do que foi falado. A partida tinha uma esperança de chegada. O nível elevado de amizade expressa o desapego e renúncia pelo outro. Um “amor” desprovido de interesse, sem egoísmo e nem possessivo, tendo o objetivo de manifestar o altruísmo e abnegação em atitudes, palavras e pensamentos. O apego é o contrário do amor. "Após a sua iluminação, Nirvana, o Budha começou a ensinar exatamente a partir de onde estamos. Ele disse: a vida do jeito que levamos não é satisfatória. Há uma falta interior, um vazio interior; um sentimento interior de falta de sentido que não se pode preencher com coisas ou pessoas. Qual é a causa desta instabilidade inerente, nesse sentido inerente de insatisfação que nos corrói? O Budha ensinou que a razão essencial para esta doença dentro de nós é o nosso apego. Nossa mente cheia de desejos que são baseados em nossa ignorância essencial". A amizade é simples, desimpedida, sem interesse ou recompensa por qualquer "serviço" realizado. A única glória é a disposição em se dar manifestada no amor e compaixão. "Certa vez o discípulo Ananda aproximou-se do Budha e comentou que: metade do caminho está baseado em amizade, companhia e associação com o bem. E o Budha assim respondeu: Ananda, não diga isto. Não meio, mas todo o caminho é estabelecido em amizade, companhia e associação com o bem. Essa passagem demonstra muito bem a ênfase colocada na amizade espiritual". Um companheirismo que propicia a evolução espiritual daqueles que estão envolvidos no relacionamento de progresso e desenvolvimento da interioridade. Manifestada em nossa individualidade superior como parte do Supremo Ser. A escritora compreendeu bem o conceito de amizade que foge ao racional, precisando da imaginação ponderada para um entendimento claro e evidente. A poetisa aborda a delicada noção de homo afetividade ao dizer que "dei um pequeno broche de ouro aquela que é hoje minha mulher". Esse assunto na segunda metade do século XX era um tabu não ousando ser explanado em círculos sociais, pois carregava uma forte motivação discriminatória, inclusive com violência física e moral ao portador desse gênero sexual. Mas Clarice não escondia sua opção sexual dos amigos e dos leitores que apreciavam sua obra. Conforme fala Norma Curi: "diziam que Clarice era sensual como Marlene Dietrich (1901-1992), escrevia como Virgínia Wolf, (1882-1941) era herdeira de Franz Kafka (1883-1924) e melhor que Jorge Luís Borges (1889-1986). Era nativa e estrangeira, judia e cristã, bicho e pessoa, homo afetiva e dona de casa, homem e mulher, bruxa e santa. Clarice veio de um mistério e partiu de outro". Abraço. Davi.  

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

II. O ALCORÃO

 

Islamismo. II. O ALCORÃO. Sua história e origem. Helmei Nasr (1922-2019). Ex-Professor de Língua e Literatura Árabe da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Quanto a isso anote-se que primeiramente que subsistem dúvidas a respeito da penetração de Mohamad em regiões cristãs propriamente ditas, pois no Alcorão se encontram alusões aos caracteres externos do culto cristão, se referindo, entretanto, com maior compreensão a respeito do profundo espírito do Cristianismo oriental. Aliás, certos autores confirmam que as caravanas com as quais seguia Mohamad não se conduziam além de alguns locais determinados pelos negócios . Supondo-se, porém, que ele tenha tido contatos com o Cristianismo. ele não colheria vantagens, pois a religião cristã da época estava num estado lamentável conforme o que Taylor nos afirma. Em condições ainda piores encontrava-se a situação dos árabes convertidos ao Cristianismo, já que conservaram muitos resquícios do paganismo. Cite-se, para tanto, o que Ali afirmou ao se referir a respeito da tribo de Taghlib: "Eles não receberam do Cristianismo senão o hábito de tomar vinho". Assim se identificava o ambiente em que vivia o futuro Profeta e em todas as partes onde ele se dirigia encontrava aberrações a serem eliminadas e desvios a serem retificados de tal forma que em lugar algum poderia ter se defrontado com um modelo moral e religioso do qual teria copiado a sua obra reformadora. Ampliando o campo de nossa investigação poderíamos objetivar a origem do Alcorão em fontes faladas e escritas. A primeira solução possível seria a que supõe que Mohamad teria extraído suas ideias através de uma leitura direta das revelações anteriores, judias, cristãs e outras. Surge-nos, porém, imediatamente uma pergunta: O Profeta Mohamad sabia ler? O Alcorão é uma fonte histórica fidedigna e nos responde negativamente. Com efeito, é uma afirmação indiscutível a de que Mohamad era analfabeto. Todavia, supondo-se mesmo que ele soubesse ler se defrontaria com uma outra dificuldade, ou seja, a de que nesse momento ainda não existia uma Bíblia em árabe, tanto o antigo como o Novo Testamento. "Só alguns séculos mais tarde é que surgiu uma Bíblia em língua árabe e só nos séculos IX e X é que se fez sentir a necessidade de uma tradução árabe do Evangelho". Sendo assim, Mohamad não teve os meios e nem a possibilidade de extrair as suas ideias diretamente dos textos bíblicos, assinalando-se, também, que para as ter extraído indiretamente teria a necessidade de informações metódicas da parte de competentes doutores bilingues. A História, porém, não esclarece sinal algum de um contacto real entre o Profeta e tais sábios antes da Hégira, a fuga de Mohamad da cidade de Meca para Medina – Arábia Saudita. Depois disso ainda nos resta a indagação sobre a origem das ideias de Mohamad. A esse respeito o próprio Alcorão não se cala, ao tratar da novidade de seu ensino em relação aos árabes e ao próprio Profeta. Em várias passagens, mencionando este ou aquele episódio da história sagrada, não deixa de afirmar que antes de ser encarregado de sua missão Mohamad e seu povo não estavam familiarizados com essa história. Permanece para nós o exame de um outro aspecto que poderia intervir nessa questão, ou seja, a clarividência pessoal do Profeta. Com efeito, se pode supor que durante o seu curto isolamento ou durante a sua solidão pastoral esse "sonhador" se entregava à meditações profundas questionando sobre o que seria a verdade nos assuntos religiosos, optando, a seguir, pelas novas ideias. Exige-se, aqui, uma distinção entre os dois níveis do conhecimento humano: o empírico e o racional. A história humana não se dobra à nossa lógica e subsistem absurdidades históricas que contradizem o nosso raciocínio. Não seria ao se curvar sobre si mesmo que Mohamad poderia descobrir que este ou aquele acontecimento decorreu nesta ou naquela data. Ora, é precisamente sobre o paralelismo da história sagrada do Alcorão e dos livros precedentes que sempre se insiste na indagação do meio pelo qual se realizou tal concordância. As meditações racionais, sem efeito sobre o mundo empírico, são sem dúvida uma excelente ajuda para a elucidação das verdades eternas. Qual seria, então, o valor da razão pura em relação à religião? Bem limitado, poderíamos dizê-lo. Ela nos revela, evidentemente, a falsidade, a inanidade e a extravagância da idolatria e da superstição, uma vez, porém, eliminados esses caracteres pagãos, o que então se combateria? Podemos então concluir que nunca uma doutrina se baseia exclusivamente em noções negativas. É verídico o fato de que o ambiente mudou após a Hégira, mas a sua resultante, no tocante ao nosso assunto, permaneceu em mesmo nível. Efetivamente, de um meio pagão, ignorante e oposto, o Profeta transferiu-se para um outro, acolhedor, amigo e culto, e daí em diante permaneceu em contacto com uma comunidade religiosa não apenas organizada, mas também fundamentada em um livro sagrado, ou seja, os judeus de Medina . Agora, poderíamos questionar sobre a fecundidade desse novo ambiente para a objetivação do que procuramos. Consideramos primeiramente a disposição geral do espírito corânico, mesmo antes da Hégira, para verificarmos se ele julgava a nova circunstância como sendo realmente representativa da virtude revelada e consequentemente digna de ser um modelo a ser observado. É curiosa a constatação do espantoso contraste entre a permanente atitude corânica no que se refere ao mundo judeu e ao mundo cristão. Quando fala a respeito do Cristianismo se não faz elogios, pelo menos censura-o num tom relativamente tolerante. Não se verifica o mesmo ao se tratar de judeus, julgando-os como homens que já não seguiam a revelação e sim inspirações satânicas. Fazendo alusões ao suplício pelo fogo que os judeus do Iêmen tinham imposto aos cristãos, ele toma partido destes declarando que tal crime era um atentado contra as verdades da fé. Posteriormente, em Medina, ele não apenas mantém a sua posição, mas multiplica as condenações . Aqueles que receberam o Pentateuco, diz ele, e que ensinam a Escritura, não a observam fielmente, e graças a uma ilusão religiosa eles se permitem à corrupção e à mentira. Não seria espantoso de se supor que esse mesmo povo que o Alcorão julga tão severamente pudesse lhe servir de modelo ou de fonte de ensino? Assim, à luz dos fatos, a hipótese de uma origem humana do Alcorão não pode ser apoiada, e observando o fundador através de sua dupla carreira, “profana” e sagrada, na sua cidade natal e na última residência, na sua capacidade de leitura e na sua disponibilidade de documentação. Conclui-se que todos os meios de investigação se mostram incapazes de nos revelar um caminho natural pelo qual ele tivesse contacto com as verdades sagradas. Graças a uma infinidade de provas coerentes, estão de acordo no reconhecimento ao Profeta de uma sinceridade psicológica convincente e comunicativa. Somente tal sinceridade psicológica não exige necessariamente uma sinceridade real e uma efetiva divindade de suas inspirações . Pode-se admitir, contudo, que um inspirado seja vítima de uma ilusão consciente quando surge bruscamente em seu espírito ideias e expressões que acredita plenamente novas. Enquanto na realidade não representam senão a renovação de antigas colocações, impressas em sua alma e relegadas ao esquecimento. Tais ilusões e essa fraqueza de memória seriam sintomas de um estado mental mais ou menos anormal, o que em hipótese alguma poderia ser aplicado ao caso que analisamos. Com efeito, nenhum resquício revela nele o menor defeito mental, e a melhor prova disso é o que fala Renan: "Nenhuma mente era tão lúcida quanto à sua, O Profeta Mohamad, e nenhum homem possuía melhor pensamento do que o seu". É verdade que um critério subjetivo é incapaz de discernir um estado sonhador ou lúcido. Adormecidos ou acordados achamo-nos igualmente convictos no uso de nossos sentidos e na presença da realidade, mas seria só através de uma confrontação dos dados dos dois estados e pelos graus de sua discordância ou de sua concordância é que poderíamos julgar acertadamente a sua objetividade . É de uma forma completamente lúcida que Mohamad nos fala de seu duplo contacto com o visível e o invisível e para ele esse contacto era uma experiência vivida e mil vozes repetida e verificada. Mas nós, espectadores, não podemos fazer uma experiência subjetiva e viver o que ele viveu. No entanto, temos um meio de verificação para considerarmos se se tratava de uma exaltação alucinatória, de um fenômeno patológico ou se foi mesmo a voz da Verdade que o inspirou. Para tanto devemos levar em consideração não mais a sua afirmação e a sua convicção, mas o próprio conteúdo de seu ensino. Nesse tocante basta-nos o exame de dois aspectos do Alcorão para nos certificarmos de que ele realmente não foi uma obra humana: a)  As verdades religiosas morais e históricas. Ao se observar os preceitos morais do Alcorão vê-se que nenhum entusiasmo pessoal, nenhuma consciência vaga e indireta dos livros sagrados seriam capazes de garantir ao Profeta Mohamad a perfeita concordância do Alcorão com as Escrituras. Isso poderia nos pareceres que ele as tinha constantemente sob os olhos ou que tinha decorado o texto bíblico para ele extrair o ensino necessário a cada ocasião. Ao mesmo tempo dessa identidade essencial pode-se constatar uma independência no tom e na forma com que apresenta as lições. Ou ainda, se se estabelecer um paralelo no assunto dos atributos divinos, dos anjos, dos profetas antigos, da outra vida, se evidenciará um fundo comum de uma espantosa identidade com algumas diferenças secundárias. b) As verdades científicas. Nas suas exortações da fé e da virtude, o Alcorão, porém, não extrai as suas lições exclusivamente do ensino tradicional ou dos acontecimentos decorrentes. Utiliza também os fatos cosmológicos constantes nos chamando a atenção sobre as leis positivas e imutáveis com o objetivo de relembrar o criador. Ora, constata-se que as fórmulas que oferece correspondem exatamente com os últimos dados da ciência como por exemplo a fonte mais recôndita da qual se extrai o elemento genital de nosso ser. As diferentes fases de nossa evolução no seio da mãe. A esfericidade do céu e da terra. A corrida do sol em direção a um ponto fixo. A forma pela qual as sociedades animais em geral vivem em coletividade não menos coerente do que a coletividade humana.  E a fecundação através dos ventos. As verdades que o Alcorão ensina são as que todos os espíritos podem captar e delas tirar um proveito moral, e essa é a razão pela qual ele se coloca acima de todas as particularidades geográficas, raciais, ou outras quaisquer. E porque não nomeia as pessoas e os lugares a que se refere, não retendo deles senão as lições necessárias à educação da humanidade. Tal tom transcendental é por si mesmo uma demonstração de que o Alcorão não é uma obra humana e sim uma revelação própria de um contexto divino.

 

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA. — Alcorão, versão portuguesa de Bento de Castro, Lourenço Marques, 1964. — A. Chahin, Târikh al Koran (A História do Alcorão), ed. Dar Al Kalam, Cairo, 1966. — Al Zurcâni, Ulum al Koran (As Ciências do Alcorão), ed. Al Halabi, Cairo, 1943. — Hassan Ibrahim, Târikh al Iriam (A História do Islão), ed. Al Nahda, Cairo, 1964. — Ibn Hicham, Al Sirah (A Biografia do Profeta), ed. Al Halabi, Cairo, 1955. — Ibn Khaldoun, Al Mukaddima (Os Prolegômenos), ed. Lajnatu Al Bian Al Arabi, Cairo, 1965. — M. A. Draz, Initiation au Koran, ed. Al Maarif, Cairo, 1950. — Vincent Monteil, L'Arabe Moderne, ed. Klincksieck, Paris, 1960. Abraço. Davi

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

BUDISMO TIBETANO

 

Texto produzido por Ricardo Chioro. BUDISMO ESOTÉRICO. O Budismo Tibetano também é chamado de Vajrayana, que significa Veículo do Diamante. É veículo num sentido que ele nos leva à iluminação, então é um precioso transporte à iluminação. O Budismo Tibetano também é chamado de Budismo Esotérico, podendo ser compreendido ou entendido por poucas pessoas, ensinado a um grupo restrito e fechado chamadas de iniciadas nos mistérios. Ele possui muitos elementos esotéricos que temos no esoterismo ocidental como é o caso de visualizações, viagem astral, astrologia, mantras, mandala, hipnose, mediunidade e até coisas que são difíceis de acreditar como telepatia, levitação e clarividência. Apesar de existirem as mesmas práticas esotéricas no Tibete e no ocidente, o Tibete possui suas próprias visualizações, astrologia e mantras, diferentes das visualizações, astrologia e mantras do ocidente. A astrologia, a viagem astral e a mediunidade são práticas espirituais que faziam parte da religião Bon, a principal religião no Tibete antes da entrada do Budismo no país. Essas práticas foram absorvidas pelo Budismo Tibetano que, na minha opinião, ficou muito melhor. Agora falaremos um pouquinho das práticas do Budismo no Tibete: 1) Viagem Astral: É a viagem fora do corpo físico, onde com meditação ou com a mandala a alma consegue sair fora do seu corpo físico e ir para diversos lugares na velocidade do pensamento. Assim como no esoterismo do ocidente já estamos acostumados com a ideia de que o corpo físico está preso na alma por um fio de prata que se estica quanto necessário nas viagens astrais; no Tibete também se fala isso, e eles podem ver este fio quando saem fora do corpo físico. 2) Divindades Meditacionais: Existem no Budismo Tibetano divindades. Assim não se falar num Deus criador do universo, mas sim de divindades que são seres iluminados. As divindades são utilizadas em visualizações para conseguir trabalhar suas próprias emoções, dominar a própria mente, adquirir sabedoria e compaixão. Essas divindades são chamadas de Yidams. 3) Oráculo: O oráculo é o “médium” que incorpora espíritos. Lá no Tibete eles são muito rápidos, a entidade vem, fala o que tem que falar e vai embora. Aqui no ocidente o processo é bem mais demorado. 4) Yôga: O Budismo que penetrou no Tibete é o Budismo Hindu, então o Yoga que é uma prática Hindu também penetrou no Tibete. Lá eles praticam posturas, exercícios de respiração e Meditação do Yoga. 5) Astrologia: É extremamente usada no Budismo Tibetano. Eles conferem à vida das pessoas, para que elas já saibam o que a vida espera delas e quais serão suas missões. Também vêm a vida passada das pessoas. Os signos do Budismo são: Lebre, Dragão, Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Ave, Cão, Porco, Rato, Boi, Tigre e Lebre. Cada um respectivo a um ano. 6) Mantra: O mantra é uma prática espiritual feita com a fala ou o pensamento em uma fala. Por exemplo: a fala do mantra Om Mani Padme Hung. Quando falando o mantra tem mais força, mas quando não se pode falá-lo, se pode fazer em pensamento, que apesar de ser mais fraco o mantra ainda funciona. O mantra mexe com energias invisíveis para os nossos olhos físicos e com outras dimensões, já que enxergamos somente o plano tridimensional. Não é possível ver o mantra, mas é possível senti-lo quando estamos praticando. 7) Mandala (símbolo hindu ou budista do universo; em especial um círculo com um quadrado inscrito, tendo uma divindade a cada lado): Para nossos olhos físicos é apenas uma imagem, mas quando ligada a mente produz energias invisíveis que pode auxiliar as pessoas em diversos processos como limpeza energética, cura, iluminação, resolver problemas etc. 8) Medicina Budista Tibetana: É a medicina com os princípios Budistas unido com a Aiuriveda (Medicina Hindu) e com a Medicina Chinesa, muito conhecida aqui no ocidente. O princípio fundamental é do caminho do meio, que é o equilíbrio, pois o desequilíbrio gera doença. Sendo assim, segundo o budismo a doença nasce da cabeça do ser humano. Eles usam muitas ervas, muito mesmo; algumas até desconhecidas para nós ocidentais. 9) Meditação: Existem muitos métodos de meditação praticados no Budismo Tibetano. Um método muito interessante é que eles se deitam nus no gelo, em Meditação, e o corpo deles aquecem com a Meditação e o gelo em volta deles começa a derreter. Na revista Época de abril de 2006, na Matéria de capa se diz que, sua santidade o Dalai-Lama, Tenzin Gyatso (1935-   ) tem ajudado a ciência em pesquisas que na meditação pode aumentar a temperatura do corpo em até dez graus. 9) Técnicas Secretas: Existe no Budismo Tibetano técnicas que são secretas e só um número pequeno de pessoas as aprendem. Quem aprende essas técnicas são pessoas chamadas de iniciadas, pois elas foram iniciadas no conhecimento secreto. O próprio Dalai Lama já expôs que existe de fato conhecimento secreto, mas não diz que conhecimento é este. Alguns autores escrevem sobre este conhecimento secreto. Muitas pessoas duvidam que este conhecimento se trate de algo real e outros acreditam piamente nele. Estes autores falam sobre hipnose, sono ou transe causado por meios artificiais. Clarividência, visão clara e penetrante das coisas. Telepatia, comunicação de pensamentos, sentimentos ou conhecimentos de uma pessoa para outra, sem o uso dos sentidos da audição, visão, olfato, paladar ou tato. Levitação, ato de levantar um corpo pelo simples poder da vontade. Psicometria, medida da força e duração dos fenômenos mentais, Medida do grau de inteligência. Coisas que são difíceis de acreditar, pois fogem ao conhecimento de mundo que estamos acostumados a pensar desde criança. Falaremos agora destes conhecimentos esotéricos: a) Hipnose: É ensinada somente para pessoas de caráter puro, para que não façam mal uso desta prática. No Tibete, acredito pelo que li a respeito, que a hipnose tibetana é mais avançada que a da ciência ocidental. Lá quando é necessário, com a Medicina Tibetana eles até amputam uma perna sem que a pessoa sinta dor. b) Clarividência: É o dom de enxergar o espiritual ou a energia invisível que fica ao redor da pessoa; a aura, espécie de halo que envolve o corpo, visível somente aos iniciados nas ciências ocultas. A pessoa já nasce com este dom da clarividência, mas costuma ser fraco; a pessoa só consegue ver algumas coisas às vezes. Existem técnicas que podem abrir a terceira visão e a pessoa enxerga quase tudo que lhe passa a frente. É muito útil na Medicina Tibetana, e no aconselhamento, poder enxergar a aura da pessoa, pois ela diz como está o emocional, o mental, o físico e o espiritual. Aqui no ocidente a clarividência é conhecida no Esoterismo, no Espiritismo, na Umbanda e no Candomblé. c) Telepatia: É o dom de ouvir pensamentos. Não sei se ele é natural ou se pode ser desenvolvido. No Budismo Tibetano eles usam os Monges Telepatas em rituais de morte para guiarem os mortos em seus caminhos, pois os mortos se comunicam pelo pensamento, segundo o budismo tibetano, eles não usam a fala. d) Levitação: É uma prática dificílima com meditação. A pessoa estando em meditação adequada pode levitar, mas exige específica técnica espiritual da pessoa. Apenas os iogues iniciados conseguem transpor essa limitação física. Também não é uma prática usual na espiritualidade tibetana. d) Psicometria: É a arte de pegar qualquer objeto ou ser e conseguir extrair qualquer informação dele. Tudo que aconteceu com aquilo desde as mais remotas eras passadas. Necessário dizer aqui, que no budismo há o conceito da evolução de todas as substâncias, minerais, vegetais, animais e humanas visíveis; também os seres imateriais invisíveis evoluem em seus mundos, os quais não acessamos, ainda, mas em nossas sucessivas encarnações perceberemos esse processo, reconhecendo que fazemos parte dele na lei de transmissão cármica. Técnicas fantásticas como estas não foram aprendidas somente no Tibete, mas em outros dois lugares no mundo: O Egito Antigo e a Índia. São lugares cheios de mistérios e de coisas impressionantes, que ninguém consegue explicar sendo tema de muitos filmes como: O Rapto do Menino Dourado, Shangrilá, O Monge a Prova de Balas e O Pequeno Buda. Além destas práticas, o Budismo Tibetano conta com ensinos Budistas como As Quatro Nobres Verdades, O Caminho do Meio, Karma, Dharma, Reencarnação, Temporalidade, Desprendimento, Insatisfação, Sofrimento e muitos outros de mesma importância. Budismo Tibetano no Brasil. O Budismo Tibetano dos templos, aqui no Brasil não possui as práticas similares tibetanas. Nos Templos aqui no Brasil tem Meditações; não as que fazem o gelo derreter, mas existem outras. Tem os Yidams, divindades. As Divindades Meditacionais, tem Yoga, mandalas e mantras, mas não tem viagem astral, levitação, hipnose, clarividência, telepatia e oráculos. Na Antiguidade, a resposta dada pela divindade, quando alguém a consultava. Temos aqui muito pouco da astrologia deles, como os signos do zodíaco e algumas informações mais. Desse modo aqui no Brasil, temos um Budismo Tibetanos peculiar. Naturalmente, é impossível apropriar-se de todos os conhecimentos exotéricos, doutrina, ensino revelado ao público. E esotéricos, os mistérios ocultos que apenas os iniciados da religião tinham acesso do Budismo Tibetano. Sendo esse processo lento e demorado. Talvez muitas encarnações ainda tenham sido necessárias para alcançar a completude dessa vasta riqueza espiritual. O Budismo do Tibete se unifica com outras crenças, uma prova disso é o Namastê, tanto dito por eles, que significa: "meu Deus interno saúda o seu Deus interno". No Budismo não se fala num Deus pessoal como o criador. Para eles Deus é o criador e também a criação. Eles aceitam outras crenças para se completar. No Brasil o Budismo está crescendo de forma fechada, sem se completar com outras crenças, isso não é bom, pois acaba elitizando esse tesouro espiritual. Contudo iniciativas de universalização têm se multiplicado, espalhando o conhecimento budista em outras áreas espirituais como o cristianismo tanto católico como protestante. Assim esses elementos da espiritualidade oriental vão, aos poucos, se incorporando aos dogmas e axiomas das religiões Ocidentais. Existem textos de alguns autores criticando quem acredita em um Deus criador de tudo, dizendo que isto não é possível. Isso demonstra um sentimento dogmático de egoísmo, e ignorância quanto a necessidade de superar os preconceitos, unificando as divindades. Valorizando as concepções diferentes que cada uma prática em seu círculo de comunhão religiosa. Desse modo, criticar a crença dos outros é colocar a sua como melhor. Algo que o Buda reprovou num de seus primeiros ensinos, sutras, logo depois de sua iluminação. Conversando com um grupo de anacoretas, pessoa que leva vida religiosa solitária, retirada do convívio social, as margens de um rio. Os Lamas. No Budismo Tibetano existem os Lamas. Na prática Vajrayana, o lama é frequentemente um guia espiritual tântrico, o guru iogue budistas sacerdotes religiosos do mais alto grau. Acredita-se que a alma de Sidarta Gautama, o Buda, tenha se dividido em milhares de partes e essas partes reencarnam como Lamas para propagar e ensinar o Budismo. Uma crítica pessoal do autor do texto. "Talvez este seja o único erro do Budismo, pois me foi revelado através de oráculo na manifestação de um Buda, um ser iluminado, que diz o que eu penso e o que eu faço sem que eu lhe conte. Que Sidarta Gautama, o Buda, não se dividiu em milhares de seres, mas que tudo existe dentro de nós, e eles usam o Sidarta Gautama dentro deles, fazendo o que ele fazia". Não tenho condições para contra-argumentar a posição do autor dessa dissertação. Todavia, até aqui, os textos que temos lido no Mosaico, não trazem essa perspectiva da fragmentação do Buda. Pelo contrário, percebemos que Buda na experiência de cada indivíduo, deve ser entendido como um estado de consciência, imanente e transcendente, iluminada, que devemos em nossa encarnação atual perseguir como meta para alcançarmos o nirvana em nossa jornada espiritual. Assim, não temos Buda, como uma parte exterior a ser incorporada em nossa experiência. Mas esse aprendizado pedagógico é inerente ao nosso ser, bastando pela pureza, santificação e conhecimento d'alma adentrarmos esse portal da sabedoria divina. Essa é minha opinião quanto a essa crítica feita pelo senhor Ricardo Chioro ao Budismo Tibetano.  O próprio Dalai Lama, que como o nome já diz é um Lama, fala que não tem iluminação suficiente para se tornar um Buda , informação da revista Época de abril de 2006, matéria da capa. Existe ainda a ideia de Lamaísmo dos ensinamentos dos Lamas. Eles dizem que a alma, quando encarna forma um reflexo dela, um fantasma além da alma encarnada. Esse reflexo acontece pelas paixões e apegos das pessoas. Então na alma se forma um duplo etérico. Este conceito hoje é amplamente aceito no Esoterismo e no Espiritualismo Ocidental. Sua Santidade, o Dalai Lama, Tenzin Gyatso (1935- ) é considerado o mais importante de todos os Lamas, sendo o líder do povo tibetano. Fuga do Tibete. Em 1949, começou a ocupação chinesa no Tibete e a intolerância com o Budismo Tibetano. Aproximadamente 1 milhão e 200 mil tibetanos morreram e 6.200 monastérios foram destruídos, restando apenas 13. Infelizmente muitos monges e monjas religiosos foram mortos. A Potala, o palácio mais precioso onde morava o Dalai Lama, é um grande símbolo do Tibete e do Budismo. Em março de 1959, o Dalai Lama fugiu disfarçado como uma pessoa comum para não chamar a atenção, pois os chineses queriam prendê-lo. Nesta época a Potala, palácio onde morava o Dalai Lama na cidade tibetana de Lhasa capital dessa província chinesa. Estava protegida por 400 soldados, e o Dalai Lama conseguiu escapar, enganando essa guarnição militar. Em quinze dias de caminhada o Dalai Lama e diversos tibetanos atravessaram o Tibete chegando à Índia. Em julho deste mesmo ano o número de refugiados para Índia que foram à mesma cidade que o Dalai Lama era de 20 mil pessoas. A cidade se chama Dharmsala, onde os tibetanos se refugiaram, sendo atualmente a morada do Dalai Lama e a sede do governo tibetano no exílio. Abraço. Davi.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

A ARTE DE VIVER

 

Espiritualidade. Escrito por Osho (1931-1990). A ARTE DE VIVER. "O homem nasce para atingir a vida, mas tudo depende dele. Ele pode perdê-la. Ele pode seguir respirando, ele pode seguir comendo, ele pode seguir envelhecendo, ele pode seguir se movendo em direção ao túmulo – mas isso não é vida. Isso é morte gradual, do berço ao túmulo, uma morte gradual com a duração de setenta anos. E porque milhões de pessoas ao redor de você estão morrendo essa morte lenta e gradual, você também começa a imitá-los.  As crianças aprendem tudo daqueles que estão em volta delas e nós estamos rodeados pelos mortos. Então temos que entender primeiro o que eu entendo por “vida”. Ela não deve ser simplesmente envelhecer. Ela deve ser desenvolver-se. E isso são duas coisas diferentes. Envelhecer, qualquer animal é capaz. Desenvolver-se é prerrogativa dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse direito. Desenvolver-se significa mover-se a cada momento mais profundamente no princípio da vida; significa afastar-se da morte – não ir na direção da morte. Quanto mais profundo você vai para dentro da vida, mais entende a imortalidade dentro de você. Você está se afastando da morte: chega a um momento em que você pode ver que a morte não é nada, apenas um trocar de roupas ou trocar de casas, trocar de formas – nada morre, nada pode morrer. A morte é a maior ilusão que existe. Como desenvolver-se? Simplesmente observe uma árvore. Enquanto a árvore cresce, suas raízes crescem para baixo, tornam-se mais profundas. Existe um equilíbrio; quanto mais alto a árvore vai, mais fundo as raízes vão. Na vida, desenvolver-se significa crescer profundamente para dentro de si mesmo – que é onde suas raízes estão. Para mim o primeiro princípio da vida é meditação. Tudo o mais vem em segundo lugar. E a infância é o melhor momento. À medida que você envelhece, significa que você está chegando mais perto da morte, e se torna mais e mais difícil entrar em meditação. Meditação significa entrar na sua imortalidade, entrar na sua eternidade, entrar na sua divindade. E a criança é a pessoa mais qualificada porque ela ainda está sem a carga da educação, sem a carga de todo o tipo de lixo. Ela é inocente.  Mas infelizmente a sua inocência está sendo considerada como ignorância. Ignorância e inocência tem uma similaridade, mas elas não são a mesma coisa. Ignorância também é um estado de não conhecimento, tanto quanto a inocência é. Mas também existe uma grande diferença que passou despercebida por toda a humanidade até agora. A inocência não é instruída – mas também não é desejosa de ser instruída. Ela é totalmente contente, preenchida (...). O primeiro passo na arte de viver será criar uma linha de demarcação entre ignorância e inocência. Inocência tem que ser apoiada, protegida – porque a criança trouxe com ela o maior tesouro, o tesouro que os sábios encontram depois de esforços árduos. Os sábios têm dito que se tornaram crianças novamente, que eles renasceram (...). Sempre que você perceber que perdeu a oportunidade da vida, o primeiro princípio a ser trazido de volta é a inocência. Abandone o seu conhecimento, esqueça as suas escrituras, esqueça as suas religiões, suas teologias, suas filosofias. Nasça novamente, torne-se inocente – e a possibilidade está em suas mãos. Limpe a sua mente de todo conhecimento que não foi descoberto por você mesmo, de todo conhecimento que foi tomado emprestado dos outros, tudo o que veio pela tradição, convenção, tudo o que lhe foi dado pelos outros – pais, professores, universidades. Simplesmente desfaça-se disso. Novamente seja simples, mais uma vez seja uma criança. E esse milagre é possível pela meditação. Meditação é apenas um método cirúrgico não convencional que corta tudo aquilo que não é seu e só preserva aquilo que é o seu autêntico ser. Ela queima tudo o mais e o deixa nu, sozinho embaixo do sol, no vento. É como se você fosse o primeiro homem que tivesse descido na Terra – que nada sabe e que tem que descobrir tudo, que tem que ser um buscador, que tem que ir em peregrinação. O segundo princípio é a peregrinação. A vida deve ser uma busca – não um desejo, mas uma pesquisa: não uma ambição para tornar-se isso, para tornar-se aquilo, um presidente de um país, ou um primeiro-ministro, mas uma pesquisa para encontrar “Quem sou eu?”. É muito estranho que as pessoas que não sabem quem elas são, estão tentando se tornar alguém. Elas nem mesmo sabem quem elas são neste momento! Elas não conhecem os seus seres – mas elas têm um objetivo de vir a ser. Vir a ser é a doença da alma. O ser é você e descobrir o seu ser é o começo da vida. Então cada momento é uma nova descoberta, cada momento traz uma alegria. Um novo mistério abre as suas portas, um novo amor começa a crescer em você, uma nova compaixão que você nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade a respeito da beleza, a respeito da bondade. Você se torna tão sensível que até a menor folha de grama passa a ter uma importância imensa para você. Sua sensibilidade torna claro para você que essa pequena folha de grama é tão importante para a existência quanto a maior estrela; sem essa folha de grama, a existência seria menos do que é. E essa pequena folha de grama é única, ela é insubstituível, ela tem a sua própria individualidade. E essa sensibilidade criará novas amizades para você – amizades com árvores, com pássaros, com animais, com montanhas, com rios, com oceanos, com as estrelas. A vida se torna mais rica enquanto o amor cresce, enquanto a amizade cresce (...). Quando você se torna mais sensível, a vida se torna maior. Ela não é um pequeno poço, ela se torna oceânica. Ela não está confinada a você, sua esposa e seus filhos – ela não é confinada de jeito algum. Toda essa existência se torna a sua família e a não ser que toda essa existência seja a sua família, você não conheceu o que é a vida – por que homem algum é uma ilha, nós estamos todos conectados. Nós somos um vasto continente, unidos de mil maneiras. E se o nosso coração não está cheio de amor pelo todo, na mesma proporção a nossa vida é diminuída. A meditação lhe traz sensibilidade, uma grande sensação de pertencer ao mundo. Este é o nosso mundo - as estrelas são nossas e nós não somos estrangeiros aqui. Nós pertencemos intrinsecamente à existência. Nós somos parte dela, nós somos o coração dela. Em segundo lugar, a meditação irá lhe trazer um grande silêncio – porque todo o lixo do conhecimento foi embora, pensamentos que são partes do conhecimento foram embora também (...). Um imenso silêncio e você é surpreendido – esse silêncio é a única música que existe. Toda música é um esforço para manifestar esse silêncio de algum modo. Os videntes do antigo oriente foram muito enfáticos a respeito da questão de que todas as grandes artes – música, poesia, dança, pintura, escultura – são todas nascidas da meditação. Elas são um esforço para, de algum modo, trazer o incompreensível para o mundo do conhecimento, para aqueles que não estão prontos para a peregrinação – presentes para aqueles que ainda não estão prontos para partirem na peregrinação. Talvez uma canção possa despertar um desejo de ir em busca da fonte, talvez uma estátua. Na próxima vez que em você entrar em um templo de Gautama Budha ou de Mahavira, sente-se silenciosamente e olhe a estátua (...) porque a estátua foi feita de tal forma, em tal proporção que se você olhá-la, você cairá em silêncio. É uma estátua de meditação; não é a respeito de Gautama Budha ou de Mahavira (...). Naquele estado oceânico, o corpo toma uma certa postura. Você próprio já observou isso, mas não estava alerta. Quando você está com raiva, você observou? seu corpo tomou uma certa postura. Na raiva você não pode manter as suas mãos abertas: na raiva, a mão se fecha. Na raiva você não pode sorrir ou você pode? Com uma certa emoção, o corpo tem que seguir uma certa postura. Pequenas coisas estão profundamente relacionadas no interior (...). Uma certa ciência secreta foi usada por séculos, de modo que as gerações futuras pudessem entrar em contato com as experiências das gerações mais velhas – não através de livros, não através de palavras, mas através de algo que vai mais profundo – através do silêncio, através da meditação, através da paz. À medida que seu silêncio cresce, sua amizade cresce, seu amor cresce; sua vida se torna uma dança, momento a momento, uma alegria, uma celebração. Você já pensou sobre o porquê, em todo o mundo, em toda cultura, em toda sociedade, existem uns poucos dias no ano para a celebração? Esses poucos dias para a celebração são apenas uma compensação – porque essas sociedades tiraram toda a celebração de sua vida e se nada é dado para você em compensação, sua vida pode tornar-se um perigo para a cultura. Toda cultura criou alguma compensação e assim você não se sentirá completamente perdido na miséria, na tristeza (...). Mas essas compensações são falsas. Mas no seu mundo interior pode existir uma continuidade de luz, canções, alegria. Sempre lembre-se que a sociedade o compensa quando ela sente que a repressão pode explodir em uma situação perigosa se não for compensada. A sociedade encontra algum jeito de lhe permitir soltar a repressão. Mas isso não é a verdadeira celebração, e não pode ser verdadeira. A verdadeira celebração deveria vir de sua vida, na sua vida. E a celebração não pode estar de acordo com o calendário, que no primeiro dia de novembro você irá celebrar. Estranho, o ano todo você é miserável e no primeiro dia de novembro, de repente, você sai da miséria, dançando. Ou a miséria era falsa ou o primeiro de novembro é falso; ambos não podem ser verdadeiros. E uma vez que o primeiro de novembro se vai, você está de volta em seu buraco negro, todo mundo em sua miséria, todo mundo em sua ansiedade. A vida deveria ser uma celebração contínua, um festival de luzes por todo o ano. Somente então você pode se desenvolver, você pode florir. Transforme pequenas coisas em celebração (...). Tudo o que você faz deveria expressar a si próprio; deveria ter a sua assinatura. Então a vida se torna uma celebração contínua. Inclusive se você adoece e você está deitado na cama, você fará daqueles momentos de repouso, momentos de beleza e alegria, momentos de relaxamento e descanso, momentos de meditação, momentos para ouvir música ou poesia. Não há necessidade de ficar triste porque você está doente. Você deveria estar feliz porque todo mundo está no escritório e você está na cama como um rei, relaxando - alguém está preparando chá para você, o samovar está cantando uma canção, um amigo se oferece para vir e tocar flauta para você. Essas coisas são mais importantes do que qualquer remédio. Quando você está doente, chame um médico. Mas, mais importante, chame aqueles que o amam porque não existe remédio mais importante que o amor. Chame aqueles que podem criar beleza, música, poesia à sua volta, porque não existe nada que cure como uma atmosfera de celebração. O medicamento é o mais baixo tipo de tratamento. Mas parece que nós esquecemos tudo, assim nós temos que depender dos medicamentos e ficar rabugentos e tristes – como se você estivesse perdendo uma grande alegria que havia quando você estava no escritório! No escritório você era miserável – simplesmente um dia de folga, mas você também se agarra à miséria, você não a deixa ir. Faça todas as coisas criativas, faça o melhor a partir do pior – isso é o que eu chamo de arte. E se um homem viveu toda a vida fazendo a todo momento uma beleza, um amor, um desfrute, naturalmente a sua morte será o supremo pico no empenho de toda a sua vida. Os últimos toques (...) sua morte não será feia como ordinariamente acontece todo dia com todo mundo. Se a morte é feia, isso significa que toda a sua vida foi um desperdício. A morte deveria ser uma aceitação pacífica, uma entrada amorosa no desconhecido, um alegre despedir-se dos velhos amigos, do velho mundo (...). Comece com a meditação e muitas coisas crescerão em você – silêncio, serenidade, êxtase, sensibilidade. E o que quer que venha com a meditação, tente trazer para a sua vida. Compartilhe isso, porque tudo o que é compartilhado cresce mais rápido. E quando você atingir o momento da morte, você saberá que não existe morte. Você pode dizer adeus, não existe nenhuma necessidade de lágrima de tristeza – talvez lágrimas de felicidade, mas não de tristeza”. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

WATCHMAN NEE - UM ESTUDO BIOGRÁFICO

 

Cristianismo. www.monergismo.com. Por Huelon Mountfort. WATCHMAN NEE - UM ESTUDO BIOGRÁFICO. Watchman Nee (1903-1972) é considerado um dos mais importantes líderes e pensadores nativos na história do Cristianismo chinês. Há poucos líderes na história do Cristianismo chinês cuja influência é tão prevalecente quanto a de Watchman Nee. Nee produziu mais do que 40 volumes de devocionais, sermões, bem como obras teológicas. Seus escritos foram traduzidos para muitos idiomas orientais, tais como japonês, coreano, indonésio, tagalo, bem como para idiomas ocidentais, tais como inglês, francês, espanhol e português. Seus livros continuam a influenciar muitos grupos cristãos, desde grupos carismáticos renovados até igrejas tradicionais por todo o mundo. Ele é o fundador do “Pequeno Rebanho” [Little Flock], a maior denominação cristã protestante na China na época do regime comunista em 1949. O “Pequeno Rebanho” começou em 1923 com uns poucos membros e em menos de 20 anos cresceu para se tornar uma denominação com mais de 700 congregações e 70.000 membros. Naquele tempo alguns estimam que dentre os aproximadamente 700.000 a 1.000.000 de membros da igreja protestante na China, o “Pequeno Rebanho” tinha 100.000 membros. A despeito dos números, esse movimento cristão de 20 anos de idade provou para si mesmo ser uma tremenda realização. Mesmo debaixo da opressão e perseguição comunista durante os anos 50 e 60, o “Pequeno Rebanho” continuou a crescer. E hoje, o movimento ainda está ativo por toda a China. Além do mais, a teologia, prática e espiritualidade distintiva do “Pequeno Rebanho” está enraizada em muitos círculos cristãos chineses, seja na China ou por todo o mundo. Breve pano de fundo Cristianismo colonial na China. Por volta de 1800, a China estava novamente fechada para o Cristianismo. Durante as décadas passadas das missões protestantes na China, o colonialismo e imperialismo ocidental coincidiram com a obra do evangelho. O Cristianismo foi identificado com o ópio devido ao fato de que muitos missionários ao longo da costa em navios mercantis que carregavam ópio. À medida que a agressão ocidental aumentou, os sentimentos ante estrangeiros se levantaram. Os sentimentos nacionalistas emergiram para formar uma série de movimentos de agressão anti-imperialista. Por volta de 1920, embora a Igreja Protestante tivesse crescimento missionário, a disposição ante estrangeira e anticristã foi despertada pelo crescimento do movimento comunista. Foi durante esse tempo que o surgimento dos movimentos de igreja nativos na China foi proeminente. Esse movimento foi uma expressão de um desejo nacionalista de ser independente do domínio missionário Ocidental. O período até 1930 foi significante para o desenvolvimento de um ensino superior, da organização da igreja e para o surgimento e crescente importância dos líderes chineses. Até a vitória do Comunismo em 1949, o Cristianismo parecia ser crescentemente influente. Subsequentemente, as igrejas e instituições cristãs foram tomadas pelo Estado. Igrejas foram forçosamente fechadas e cristãos foram forçados a se conformarem aos requerimentos e ensinos do Comunismo. Aqueles que desobedeciam às “doutrinas comunistas” eram perseguidos ou fugiam. Foi com esse fundo político e social que a vida, o ministério e o martírio de Watchman Nee foram moldados. A vida de watchman Nee. Watchman Nee nasceu numa família com uma herança cristã. Seu avô, U Cheng Nee, foi um dos primeiros-ministros chineses ordenados das missões Congregacionais na Província Fukien da China. Nee era o terceiro filho de nove, mas o primeiro do sexo masculino. Visto que a tradição chinesa favorece os filhos, os parentes desprezavam famílias com nenhuma criança do sexo masculino. Quando a mãe de Nee estava esperando o terceiro filho, ela orou a Deus fervorosamente, pedindo por um filho e dedicando esse terceiro filho a Deus, se uma maneira similar à Ana em 1 Samuel 1,1-20. Deus ouviu sua oração. Em 4 de Novembro de 1903, Nee Shu-Tsu (mais tarde conhecido como Watchman Nee) nasceu. Nee mais tarde mudou seu nome para “Duo Sheng” (“Watchman” em inglês) significando “som do gongo”, ou uma sentinela [watchman] para levantar o povo de Deus para o serviço. Durante a sua juventude Nee atendeu escolhas fundadas pela Sociedade da Igreja Missionária em Fuzhow, China. E em todas as áreas ele mostrou uma promessa intelectual extraordinária. Quando ele tinha 18 anos de idade, Nee dedicou sua vida à Cristo através da pregação de Miss Dora Yu, (1873-1971) uma ex-estudante de medicina, que deixou uma ocupação lucrativa e dedicou sua vida à pregação da palavra de Cristo. Nee, naquela época, sabia que era tudo ou nada. Quando ele foi batizado, ele declarou: “Senhor, eu deixo meu mundo, para trás. Sua cruz me separa dele para sempre, e já entrei em outro. Eu permaneço onde me colocaste em Cristo!”. Nee e outros estudantes que tinham um zelo comum pela propagação do evangelho entre os jovens na sua cidade, e nas igrejas e colégios locais, uniram-se em oração e para o estudo da Bíblia. Eles arranjaram as suas próprias reuniões e se engajaram num vigoroso evangelismo de rua. Entre os anos de 1923-1928, Nee publicou as revistas Revival [Reavivamento ]e Christian [cristão], bem como o livro The Spiritual Man [O Homem Espiritual]. Outras obras desse autor: O homem que Deus usa. O poder latente da alma. A palavra sagrada para o reavivamento matinal. Autoridade Espiritual. O poder latente da alma.  A liberação do espírito. O vaso de alabastro. Assentados nos lugares celestiais. A oração – Quando a terra governa o céu. Senhor, ensina-nos a contar os nossos dias. Tesouro em vaso de barro. A salvação da alma e outros. Nee foi um instrumento no reavivamento espiritual entre os estudantes nesse período. A formação do pequeno rebanho. Em 1928, Nee mudou seu nome para Watchman e se estabeleceu em Shanghai [Xangai]. Durante esse tempo, ele teve uma boa medida de desdém por parte das igrejas denominacionais daqueles dias. Na revista Revival, ele expressou que cria que a igreja estava impedindo o propósito de Deus. De acordo com Nee, muitos ministérios feitos “para o Senhor”, “em nome de Deus”, para o reino de Deus”, “para a Igreja de Cristo” estavam sendo feitos na carne. As pessoas não estavam buscando a vontade de Deus, mas a sua própria vontade. Ele estava buscando “uma resposta para o problema importado das divisões denominacionais cuja história e valor eram, ele sentia, quase impossíveis de um novo convertido apreciar. Afligindo a Igreja potencial na China com suas diferenças sectárias, as missões tendiam somente a dividir”. Em seu esforço para encontrar uma resposta, ele retornou ao que ele considerava uma obediência simples ao Novo Testamento sugerida pelos escritos de John Nelson Darby (1800-1882) e C. A. Coated. Ele via que as igrejas deveriam ser autogovernadas, autossustentadas e auto propagadoras. Esse conceito “triplo-auto” foi recordatório de uma estratégia de missões adotada por Henry Venn (1841-1873) e Rufus Anderson (1796-1880) no século XIX. Que mais tarde foi usada pelo Partido Comunista Chinês. Foi nesse tempo que estabeleceu a primeira assembleia independente em Hardoon Road em Shanghai. Ele era o principal orador na primeira conferência Shanghai desse novo movimento, que mais tarde ficou conhecido como o “Pequeno Rebanho”. Em 1939, Nee publicou um hino intitulado “A Collective Hymnal of the Little Flock” [Um Hino Coletivo do Pequeno Rebanho]. Assim, o movimento adquiriu o nome de “Pequeno Rebanho”. Nee e seus seguidores, contudo, chamam a si mesmos de “Uma Reunião Local dos Crentes em Nome do Senhor”, ou “Lugar de Reunião Cristã (Nome da Cidade)”. O movimento se espalhou por toda a China, experimentando um genuíno reavivamento. Por volta de 1936 havia 30 assembleias. “Um dos pontos fortes do movimento de Nee era que todo crente era um trabalhador não assalariado. À medida que os crentes se movem para as novas comunidades, seus lares se tornavam centros cristãos”. Cada igreja era uma unidade autônoma liderada por presbíteros. Contudo, Nee também comissionou trabalhadores de tempo integral, aos quais ele chamava “apóstolos”, para se moverem sem restrição tanto para evangelizar como para estabelecer novas igrejas. As tarefas dos “apóstolos”, contudo, eram centralizadamente organizadas. Eles eram treinados, aconselhados e tinham suporte financeiro de Nee e seus associados. O conceito de Nee do “Pequeno Rebanho” era muito influenciado pelos escritos dos Irmãos de Plymouth. Após a formação do “Pequeno Rebanho”, seis Irmãos (Irmãos exclusivos) de Londres representantes do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Austrália, foram para Shanghai para se encontrarem com Nee. Eles se impressionaram com Nee, especialmente com seu conhecimento das Escrituras. Os Irmãos de Londres estavam considerando ter as igrejas de Nee na China como uma parte da sua obra de missão da igreja. Contudo, até mesmo para Nee, os Irmãos de Londres eram muito exclusivos em sua prática de comunhão fraternal. Assim, em 1935, os Irmãos de Londres terminaram a comunhão entre eles e os irmãos de Shanghai. O final da vida de Nee. À medida que a guerra chinesa continuou, a obra de Nee foi afetada mais e mais, e em 1942, Nee, justamente com os seus irmãos, um pesquisador químico, estabeleceu o Laboratório Biológico e Químico da China [China Biological and Chemical Laboratory (CBC)] para apoiar as necessidades financeiras dos seus “apóstolos”. Esses lucros dessa companhia estavam sendo usados para apoiar a sua obra. Contudo, os presbíteros da igreja de Shanghai desaprovaram os envolvimentos de Nee com essa companhia e lhe pediram para não pregar na igreja dele. Com o envolvimento de Nee, o CBC se tornou um dos principais importadores e fabricantes de produtos farmacêuticos manufaturados na China. Apesar de tudo, em 1945, Nee começou a se desligar do CBC e mais tarde virou toda a empresa CBC para a igreja. Essa ação trouxe prosperidade para a igreja, todavia, tornou-se mais tarde o assunto de crítica por parte do Partido Comunista. Em 1 de Outubro de 1949, a República das Pessoas (Popular) da China foi estabelecida. A despeito das súplicas de outros. Ele e sua esposa retornaram novamente para Shanghai. Nee queria estar com seus irmãos e irmãs em Cristo. Nos primeiros dois anos do regime Comunista, Nee ainda era capaz de ministrar, reunido de 3 a 4 mil pessoas por domingo, na igreja de Shanghai. Mas em 10 de abril de 1952, Nee foi preso. Ele foi acusado de espionagem, de atividades contrarrevolucionárias e de irregularidades financeiras e até mesmo morais. A acusação com 2.296 páginas contra Nee tornou-se pública em janeiro de 1956. Muitos dos crentes do Pequeno Rebanho foram presos e as igrejas por todo o país foram fechadas à força. A assembleia de Shanghai foi consequentemente fechada e tornou-se uma fábrica. Nee foi sentenciado a quinze anos de prisão, contudo, ele não foi libertado em 1967, quando sua sentença estava completa. Era comum prisioneiros serem considerados “não-reformados” para dar uma sentença adicional de cinco a sete anos. Assim, em 1 de junho de 1972, logo após ter sido movido da prisão de Shanghai para um campo de trabalho rural, Watchman Nee morreu aos 69 anos de idade. Controvérsia e discussões sobre sua teologia. Embora Nee tenha terminado sua educação formal ao redor por nível universitário júnior, ele provou ser um poderoso pensador e continuou a estudar por toda a sua vida. A teologia de Nee e o desenvolvimento de muitos dos seus pensamentos foi profundamente influenciada pela senhora Margaret E. Barber (1866-1929). Através dela, Nee foi exposto às formulações e pensamentos teológicos ocidentais, que ajudaram a moldar o seu pensamento. Embora Nee tenha lido e sido exposto a uma ampla variedade de formulações teológicas cristãs ocidentais, suas influências podem ser sumarizadas da seguinte forma: Misticismo: As influências místicas foram dos escritos de Madame Jeanne de la Motte Guyon (1648-1717). Nee foi profundamente influenciado pela busca de Madame Guyon por uma “profunda união com Cristo”. Teologia de Keswick: Novamente através da senhora Barber, Nee leu amplamente os escritos de autores da santidade de Keswick, incluindo Jessie Penn-Lewis (1861-1927), Andrew Murray (1828-1917), Evan Roberts (1878-1951), T. Austin Sparks (1888-1971), Frederick B. Meyer (1847-1929), Otto Stockmayer (1838-1917), etc. A ênfase de Nee sobre temas tais como a crucificação e sua visão tricoto mista do homem foram poderosamente expostas nos escritos de Jessie Penn-Lewis. Teologia dos Irmãos: Entre os escritos de diferentes eruditos e autores, as obras dos Irmãos foram as mais influentes. Eles incluem C.A. Coates, John Nelson Darby (1800-1882), George Muller (1805-1898), C.H. Mackintoch, William Kelley (1929-2003), Charles Stanley, George Cutting, etc. Em seu livro, The Orthodoxy of the Church [A Ortodoxia da Igreja], Nee mostra sua dívida aos Irmãos, onde seu sistema de Teologia foi formulado: Eles nos mostraram como o sangue do Senhor satisfez a justiça de Deus; a certeza da salvação; como o crente mais fraco pode ser aceito em Cristo, assim como Cristo foi aceito. Como crer na Palavra de Deus como o fundamento da salvação. Desde que a história da igreja começou, não houve um período quando o evangelho foi mais claro do que em seu tempo. Não somente isso, mas eles também nos mostraram que a igreja não pode ganhar o mundo inteiro, que a igreja tem um chamado celestial, e que a igreja não tem esperança terrena. Foram eles quem também desobstruíram as profecias pela primeira vez, fazendo-nos ver que o retorno do Senhor é a esperança da igreja. Foram eles que abriram o Livro de Apocalipse e o Livro de Daniel e nos mostraram o reino, a tribulação, o rapto e a noiva. Sem eles, conheceríamos hoje uma percentagem muito pequena das coisas futuras. Foram eles também que nos mostraram o que a lei do pecado é, o que é ser livre, o que é estar crucificado com Cristo, o que é ser ressuscitado com Cristo, como ser identificado com o Senhor através da fé e como ser transformado diariamente olhando para Ele. Foram eles quem nos mostraram o pecado das denominações, a unidade do Corpo de Cristo, e a unidade do Espírito Santo. Foram eles quem nos mostraram a diferença entre o judaísmo e a igreja. Na Igrejas Católica Romana e nas igrejas Protestantes, essa diferença não poderia ser prontamente vista, mas eles nos fizeram vê-la novamente. Foram eles também que nos mostraram o pecado da classe mediana, como todos os filhos de Deus são sacerdotes, e como todos podemos servir a Deus. Foram eles também quem nos recuperaram os princípios das reuniões em 1 Coríntios 14, mostrando-nos que o profetizar não é a tarefa de um homem, mas a tarefa de dois ou três, e que o profetizar não é baseada na ordenação, mas no dom do Espírito Santo. Se fossemos enumerar uma a uma das verdades que eles recuperaram, poderíamos dizer também que nas igrejas Protestantes puras de hoje não há uma verdade que não tenha sido recuperada ou aperfeiçoada. Dispensacionalismo: Autores que influenciaram as interpretações dispensacionalistas incluem G.H.Pember (1837-1910), Robert Govett e D.M. Panton. Nacionalismo: O Pequeno Rebanho começou no meio do esforço da China por uma independência total. Foi um tempo quando o sentimento ante estrangeiro e anticristão corriam alto. O povo chinês tinha ligado estreitamente o Cristianismo com o imperialismo Ocidental. Nee estava ciente das formas nas quais o movimento missionário cristão estava compromissado por seu embaraço com o imperialismo Ocidental e com as controvérsias denominacionais. Ele também tinha plena ciência da inabilidade da igreja em geral para satisfazer a necessidade espiritual do povo. Contra tal pano de fundo, Nee desenvolveu um movimento totalmente independente do movimento cristão chinês retornando para um modelo mais simples, o modelo do Cristianismo do Novo Testamento. Portanto, o movimento era a combinação dos antigos princípios bíblicos e o novo e ardente nacionalismo. Os pontos fortes da sua teologia. Cristo como centro: Um dos pontos mais fortes da teologia de Nee é a sua ênfase sobre Cristo. “Além do mais, a ênfase de Nee sobre Cristo oferece nova esperança, força e vitalidade para os cristãos chineses que vivem debaixo de circunstâncias difíceis. Ela continuamente rejuvenesce a força deles, para que possam ser capazes de exercer sua responsabilidade cristã em meio de um ambiente hostil”. Sola Scriptura: Durante uma época na qual a Bíblia era tratada de forma cética, os sinceros esforços de Nee para sustentar o princípio reformado do Sola Scriptura deve ser recomendado. Edificação dos crentes: Nee enfatizou grandemente a edificação dos crentes, o treinamento, o cultivo e o aprofundamento da vida espiritual dos cristãos. Como Stephen Chan escreveu: “Em minha opinião, na obra de pregação do meu tio, ele enfatizou a edificação dos crentes. Sua ênfase em treinar o cristão era igual aos seus esforços evangelísticos. Isso era o que ele e seus cooperadores tinham causado no reavivamentos da Igreja Chinesa, diferentemente das características de outros reavivamentos. Outras igrejas não enfatizam a educação dos crentes (quer na verdade, quer na vida espiritual de um cristão)”O sacerdócio de todos os crentes: Ele enfatizou que, embora os presbíteros governem, ensinem e pastoreiem a congregação, o ministério da igreja é uma coordenação espiritual de todos os crentes no Espírito Santo. Nee escreve: Deus pretende que todo cristão seja um “trabalhador cristão,...”. Os presbíteros não são um grupo de homens que são contratados para fazer a obra no lugar de seus membros; eles são apenas aqueles que supervisionam os assuntos. Nee continua: No Novo Testamento todos salvos são sacerdotes; portanto, todos os salvos devem servir. Se numa igreja somente uma minoria ou uma parte está servindo, há algo errado dentro dessa igreja; ela inda é fraca. Somente quando todos estiverem servindo é que a igreja será forte. Finalmente, Nee disse: Ser um cristão é ser um sacerdote. Não espere que ninguém seja um sacerdote para você. Você mesmo deve desempenhar essa função. Visto que não temos nenhuma classe intermediária entre nós, ninguém te substituirá nas coisas espirituais. Que não haja classes especiais de tais trabalhadores criadas em nosso meio... Todos pregarão o evangelho, todos servirão a Deus. Quanto mais prevalecente for o sacerdócio, melhor a igreja será. Se o sacerdócio não for universal, fracassamos para com Deus; não temos andado corretamente.  Fraqueza da sua teologia. Antropologia. De acordo com J.A. Lee, um especialista na estrutura teológico de Watchman Nee, a teologia de Nee é sistemática, em todos os aspectos, mesmo sua eclesiologia única, centralizando em sua antropologia. Se aceitarmos isso, então entender a sua visão do homem é crucial para o entendimento de seus principais erros sistemáticos. Nee é um tricô tomista. Por todos os seus escritos, ele categorizou o homem em três partes: corpo, alma e espírito. No entendimento de Nee, o espírito tem o valor maior, o corpo físico o menor, e a alma o intermediário. A partir do aspecto da redenção, Nee explica que essas três partes (corpo, alma e espírito) têm “relacionamentos funcionais”. A saber, o espírito controla a alma e o alma controla o corpo. Não somente há um relacionamento funcional entre os três, mas há também um relacionamento hierárquico. O espírito é superior à alma, e a alma é superior ao corpo. A partir desses relacionamentos, Nee determina suas doutrinas da Queda, regeneração e santificação. De acordo com Nee, a intenção original de Deus é que o espírito controle o corpo, através da alma. Contudo, após a queda de Adão e Eva, essa ordem foi revertida. A Queda resultou no corpo controlando a alma do homem, a qual, consequentemente, controla o espírito. A regeneração para Nee envolve somente o espírito, não a alma ou o corpo, pois “o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3,6). A regeneração é, dessa forma, não a realização da salvação, mas o princípio. Nee também desenvolveu uma teologia da “redenção da alma”, de acordo com o Dispensacionalismo. A redenção da alma ocorre quando as pessoas “perdem sua alma” tomando a cruz e sofrendo por causa do Senhor. Esses cristãos serão capazes de reinar com Cristo no Milênio. Nee via que há uma diferença entre “céu” e o “reino”. A redenção do espírito nos garante uma posição na vida eterno no céu, e a redenção da alma, “perdendo-se a alma”, nos garante uma posição no reino futuro. A primeira depende da fé e a última depende das nossas boas obras. Cosmologia. Segundo Lee, Nee sustentava um dualismo ético-religioso. [16] Nee polarizou o reino de Deus e o mundo (cosmos). O mundo e Deus estão em oposição, com o mundo controlado por Satanás. Satanás usa todas as atividades, isto é, cultura, comércio e economia para seduzir os cristãos para o seu sistema mundial e serem os seus escravos. Todavia, porque o mundo já está condenado, os cristãos devem ser salvos do mundo. Assim, nos ensinos de Nee, os cristãos devem se separar do mundo, cortar suas relações com o mundo, Embora os cristãos sejam a luz do mundo, isso diz respeito somente a compartilhar o Evangelho e Cristo ao mundo. Deixe-me apontar também que Nee usa um método exegético alegórico, que é não-histórico. Devido ao método exegético de Nee e sua posição escatológica pre molinista, sua teologia para com o mundo e a cultura era passiva, especialmente durante os tempos turbulentos dos anos 20 na China. Nee não era ativo em suas preocupações com a situação política e social naquele período. Em sua crítica à cosmologia de Nee, Witness Lee (1905-1997) assevera que a posição de Nee carece da consciência do mandato cultural do cristão para este mundo. Todos os cristãos devem cantar, pelo menos em espírito: “Este é o mundo do meu Pai”. Nós temos a Grande Comissão bem como o mandato cultural para estarmos ativamente envolvidos no mundo como sal e luz da terra, protegendo e amando o mundo. Precisamos permanecer em contato com nossa cultura e ao mesmo tempo usar a verdade da Bíblia para iluminar, desafiar e transcender nossa cultura. Lee aponta que o “homem espiritual” de Nee não é alguém que está apenas preocupado com o crescimento do seu espírito, mas com o do seu corpo também; a preocupação com a pessoa toda. Quer alguém separe o homem numa tricotomia ou dicotomia, um homem não está completo se lhe falta qualquer parte de sua mente, emoções e pensamentos. Deus não salva apenas o espírito de alguém, mas Ele salva a pessoa toda, incluindo todos os aspectos de uma pessoa. Eclesiologia. Seu ensino sobre a igreja é muito exclusivo. Chan, sobrinho de Nee, apontou três principais áreas: Ele considerava as denominações como organizações pecaminosas e caídas. Nee, usava, Gálatas 5,19-20, onde Paulo menciona os atos da natureza pecaminosa. Ele cria que “facções” eram as denominações. Se denominações eram organizações pecaminosas, os cristãos deveriam sair dessas organizações imundas e conduzir outros crentes a saírem. Nee cria que a igreja deve ser estabelecida de acordo com sua localidade. Toda epístola na Bíblia foi endereçada à igreja de acordo com sua localização. O apóstolo estabeleceu presbíteros em cada localidade. Especialmente em Apocalipse, as sete igrejas mencionadas tinham cada uma delas seu próprio candeeiro; cada igreja é autônoma e financeiramente independente uma da outra. Nee ensinava que as igrejas em nossa era tinham esquecido os princípios bíblicos. Portanto, devemos voltar à Bíblia e servir a Deus de acordo com os princípios lançados pelos apóstolos. Devemos servir a Deus “no nome do Senhor”, sem igrejas denominacionais. No esforço de Nee para encontrar o único padrão bíblico possível para estabelecer a igreja, o “Pequeno Rebanho” foi encontrado. Contudo, a busca sincera de Nee pelo modo ideal de estabelecimento de igrejas não foi somente divisa, ele, conscientemente ou não, criou outra denominação, mais restritiva do que a maioria. CONCLUSÃO. A influência de Nee sobre as igrejas chinesas não está limitada à Ásia. Suas influências teológicas são vidas e bem até hoje. Sem dúvida Nee foi verdadeiramente um líder cristão dedicado que “não queria nada para si mesmo e tudo para o seu Senhor, que buscou durante toda a sua vida ser um homem espiritual até a morte”. Todavia, assim como qualquer outro líder cristão, ele não era perfeito. Devemos ser profundamente inspirados por seu amor e devoção a Cristo, e ao mesmo tempo sermos plenamente cientes dos aspectos dos seus ensinos que são extremos ao ponto de serem errôneos. Como o sobrinho de Nee escreveu: Muitos líderes espirituais têm falhado e são fracos. Contudo, a Bíblia sempre foi verdadeira, nunca cobrindo as falhas dessas pessoas a quem Deus usou. As falhas de Abraão, Moisés e Gideão estão registradas na Bíblia. Deus não colocou esses eventos para nós vermos quão grandes, bem-sucedidos e dignos de nossa adoração essas pessoas eram, mas para permitir que vejamos que Suas obras maravilhosas manifestadas através de um punhado de vasos inúteis cumprindo Sua boa vontade. Da mesma forma, meu tio teve falhas. Todavia, essas coisas não negam a verdade de como Deus o usou poderosamente. Ele está entre os humildes, os defeituosos, todavia, ele foi verdadeiramente usado por Deus de uma maneira poderosa e foi um vaso cheio do precioso tesouro. www.monergismo.com Abraços. Davi