terça-feira, 30 de maio de 2023

CABALA E O MISTICISMO

 

Judaísmo. www.morasha.com.br. CABALA E O MISTICISMO. Acreditar, como algumas teorias científicas o afirmam, que o universo e o homem são fruto de coincidências moleculares, implica fechar nossa mente e sensibilidade a tudo o que faz de nós seres humanos. O homem, apesar de composto de matéria, não pode ser definido por seu peso e tamanho, ou tipo sanguíneo. Sua personalidade, ideias, anseios, sonhos, amor e ódio não são elementos físicos. A ciência e a razão não conseguem responder às nossas mais angustiantes perguntas: a vida tem sentido? Por que estou vivo? O homem é essencialmente espiritual. É verdade que a espiritualidade não é científica, nem racional e não pode ser quantificada. A arte também não o é, mas ela existe assim como a espiritualidade. Desde seus primórdios, o homem tem olhado tanto para o universo como para dentro si mesmo, procurando um contato com o Divino, o Absoluto. Chamamos de misticismo esta busca efetuada através de elementos intuitivos que estão fora do alcance da razão humana. Misticismo e experiências místicas fazem parte do judaísmo, desde seus primórdios. A Torá nos relata visitas de anjos, sonhos proféticos, conta-nos a transmissão de uma primeira revelação, a tradição oral, que explica como a energia espiritual transita através do cosmo. A Cabalá (da palavra hebraica Kabalah, que significa "recebendo “ou "aquilo que foi recebido") é a parte mística do judaísmo. Ela é também chamada de Chochmat há-Emet, a sabedoria da verdade. O ponto de partida e a meta da Cabalá são o conhecimento de D'us, "o Princípio e o Fim de todas as coisas". Segundo a tradição judaica, nossos patriarcas, através de sua intuição espiritual e suas visões proféticas, passaram a conhecer e seguir a Lei de D'us, e a transmitiram oralmente. Só mais tarde D'us incumbiu Moisés de colocar parte desta tradição por escrito - a Torá escrita; a outra parte continuou sendo transmitida oralmente. Moisés escolheu alguns israelitas, chamados nistarim, a quem ensinou o nível de interpretação mais secreto da Torá, chamado de sod (que significa secreto). Neste nível, a realidade tangível é reduzida a simbolismos, numerologia e forças espirituais. Estes ensinamentos eram recebidos de geração em geração (kibel), por isto o nome de Cabalá. O processo do recebimento da Torá, no Sinai, serve como único e exclusivo critério para qualquer tipo de ensinamento judaico subsequente. O autêntico misticismo judaico é parte integrante da Torá. Assim como o corpo não pode funcionar sem a alma, esta é ineficaz sem o corpo. A alma da Torá (nistar, a parte esotérica) jamais pode ser separada do corpo da Torá (Niglê, a parte revelada, a Halachá). Reduzida a um simbolismo espiritual ou filosófico, ou a um misticismo emotivo, despida do cumprimento das mitzvot, a Cabalá se torna uma concha vazia. Definição. Também chamada de Shalchelet ha-Cabalá "corrente da tradição", a Cabalá é parte de uma revelação original, transmitida oralmente de geração em geração. Uma "corrente" cuja principal característica é sua relação vertical com D'us. Na extremidade superior desta corrente espiritual está D'us, na inferior, neste mundo de ação, o homem. Esta "corrente de tradição" permite estabelecerem-se contatos entre o mundo do homem e D'us. O homem que dedica a vida ao estudo da Cabalá, chamado de mekubal, "aquele que foi recebido", aspira ligar-se à D'us, desejando conhecer Sua Essência. Conhecer no sentido de se aproximar dele, pois o homem tem plena consciência da distância que existe entre ele - ou qualquer outro homem - e o Ser Absoluto. Sabe também que é negada ao homem a posse completa da verdade; a onisciência é inatingível. A Cabalá levanta perguntas sobre a criação do Universo; as leis que governam os mundos; as relações que existem entre D'us, o mundo e o homem; as emanações Divinas, as sefirot; o ser humano, sua alma, a razão pela qual está neste mundo, o impacto que suas ações têm e assim por diante. O estudo da Cabalá. Durante séculos os segredos místicos dos profetas eram conhecidos somente em círculos restritos. Havia vários pré-requisitos para seu estudo: os ensinamentos só podiam ser repassados individualmente para homens de impecável moral, que seguissem a Lei e que dessem provas de responsabilidade. De preferência, com mais de 40 anos, casados, que conhecessem a fundo o Talmud, a Torá, e a Halachá. Para penetrar-se realmente na profundidade de seus ensinamentos é necessário, além de uma vida inteira dedicada ao estudo e às orações, seguir todos os preceitos da Lei Judaica e ter dons intelectuais e espirituais para tanto. Seus textos, além de serem escritos em hebraico antigo ou aramaico, estão codificados o que torna praticamente impossível para os não iniciados entender seu significado. O cuidado era mais no sentido de proteção do que de proibição; nossos sábios temiam que os ensinamentos místicos pudessem ser mal interpretados ou usados de forma inadequada. O perigo da busca mística é colocado por um famoso relato do Talmud sobre quatro rabinos que se aventuraram no pardês, o pomar divino ou paraíso, em uma clara alusão aos quatro níveis de entendimento da Torá. Quatro rabinos entraram no pardês: Ben Azai, Ben Zomá, Acher e Rabi Akiva. Ben Azai olhou de relance e morreu; Ben Zomá olhou de relance e ficou louco. Acher tornou-se herege. Rabi Akiva entrou e saiu em paz. Esta história demonstra o perigo de adentrar-se nos assuntos místicos sem ter-se o preparo adequado. (Para maiores detalhes, ver "Pergunte ao Rabino", Morashá nº 21, páginas 36, 37 e 38). Os temores de nossos sábios sobre a divulgação dos ensinamentos cabalísticos muitas vezes se confirmaram no decorrer da história. Foram usados por falsos messias, distorcidos por místicos não-judeus e por adeptos da ciência do ocultismo. Extremamente populares entre pensadores cristãos no renascimento e Iluminismo, os preceitos da Cabalá foram reinterpretados para se encaixarem aos dogmas do cristianismo. Símbolos cabalísticos foram e são usados fora de contexto em cartas de tarô ou em outras formas de magias, ou adivinhações proibidas pela Torá. Apesar da "Cabalá prática" existir, esta é uma área da Cabalá conhecida por pouquíssimos sábios que não recomendam o seu uso. Porém, os ensinamentos da Cabalá, se aprendidos e usados adequadamente, oferecem ao homem uma fonte inesgotável de sabedoria, ajudando-o a lidar com as realidades da vida. Por isto, grandes rabinos e cabalistas como Rabi Isaac Luria, o Baal Shem Tov, o Gaon de Vilna e, mais recentemente, o Rebe de Lubavitch, encorajaram e ajudaram a difundir o pensamento cabalístico através de ensinamentos acessíveis a todos. Eles acreditavam que sem entrar nas profundezas esotéricas de seus ensinamentos, a sabedoria que a Cabalá incorpora tem o poder de enriquecer de inúmeras formas a vida de todos os judeus e pode ajudar-nos a encontrar a razão de nossas vidas. Origens. Na tradição judaica, a Cabalá não foi um fenômeno, como certos estudiosos alegam, surgido na Idade Média, cerca do século XIII. Sua origem pode ser traçada até Abraão, a quem se atribui a autoria do primeiro texto místico: o Sefer Yetsirá (o livro da Criação). Nele, consta que D´us criou o mundo por meio das 22 letras do alfabeto hebraico e das sefirot, emanações divinas. Segundo a tradição judaica, Abraão havia aprendido os segredos místicos na academia de Shem e Eiver, fundada por Shem, filho de Noé. Isaac e Jacob também lá estudaram, este último durante 14 anos. Judá, um dos filhos de Jacob, fundou-a no Egito e está continuou a funcionar secretamente durante os 400 anos seguintes. Sabemos, portanto, que tanto Noé quanto Adão conheciam os segredos místicos. Adão não era um homem como nós; era essencialmente espiritual, com uma ligação direta com o Divino. Intuitivamente, ele conhecia as 22 forças criativas que moldaram o universo. "Sabia" os diferentes caminhos que elas percorreram para entrar neste mundo, o mundo do "aqui e agora". Adão conseguiu "materializar" os 22 caminhos místicos que "via" em 22 formas distintas, cada uma das quais tornou-se uma letra do alfabeto hebraico. Adão compreendia também as energias associadas a cada uma destas letras. Replicando estas energias individuais através da respiração, criou o som das letras. Cada letra do alfabeto hebraico é, portanto, o portal para uma outra realidade. Por isto a Cabalá dá grande ênfase à análise das palavras, seus valores numéricos, substituição de letras e suas formas. Adão era um ser andrógino com características masculinas e femininas. Só mais tarde D'us separou-o em dois. A maioria dos aspectos masculinos ficaram em Adão e os femininos em Eva. Esta dualidade masculino-feminino permeia toda a Criação, tanto nas energias espirituais que definem a mente e as emoções, nas sefirot, como nas letras do alfabeto hebraico. Abraão, o Ivri, nosso patriarca, a quem é atribuída uma compreensão cósmica, conhecia profundamente o que mais tarde se tornou a Cabalá. Era astrólogo, usava tanto seus poderes místicos como sua sabedoria prática. Homem poderoso, era conhecido no meio onde vivia por ser um sábio místico que tinha estranhas noções sobre a existência de uma Única divindade. Seus contemporâneos diziam que recebia instruções de um D'us misterioso e anjos sussurravam em seu ouvido. Abraão adquirira uma consciência intuitiva da existência de um Criador. Mas a Revelação Divina só se seguiu após sua busca persistente por D'us e por um conhecimento sobre Ele. A partir desse momento D'us lhe revelou seu caráter único e Abraão passou a cumprir as instruções de D'us. Todos os filhos de Abraão receberam uma herança espiritual. Ao afastar de Isaac seus outros filhos, Abraão lhes dá uma bagagem espiritual. Entre os filhos de Abraão, há os que se estabeleceram na Índia (Hodu) e passaram a compartilhar seus conhecimentos com o povo da terra. Não é de estranhar, portanto, os paralelos que existem entre o misticismo judaico, o hinduísmo e o budismo. No quadro abaixo, alguns exemplos extraídos do livro "Practical Kabbalah", do Rabino Laibl Wolf: A Cabalá e a nossa vida. Para sobrevivermos neste mundo como verdadeiros seres humanos devemos recolocar em questão nossa percepção sobre o sentido de nossas vidas. A Cabalá nos ensina que, antes de virmos ao mundo, cada um de nós, cada alma, sabe de todos os segredos místicos. No ato do nascimento, um anjo "realoca" este conhecimento, este "conteúdo" de uma outra realidade espiritual, para o subconsciente. Ao nascermos, "esquecemos" de onde provém nossa alma. O objetivo da Cabalá é trazer à tona esta sabedoria intuitiva e permitir que nossa unicidade possa iluminar a vida daqueles que estão à nossa volta. Cada um de nós tem uma missão na vida, algo que só ele pode fazer; cada acontecimento, no decorrer de nossas vidas, é uma lição a ser aprendida. A Cabalá nos ensina a integrar o material e o espiritual, ensina-nos que somente estando completamente envolvidos neste mundo, cientes de nossas responsabilidades, podemos encontrar nosso verdadeiro "eu". Ensina-nos também que ao compartilharmos o que temos com os outros, criamos "espaço" dentro de nós para recebermos ainda mais. www.morasha.com.br. Abraço. Davi

 

domingo, 28 de maio de 2023

OS ANALECTOS - LIVRO X

 

Confucionismo. www.https//rt.br. OS ANALECTOS – LIVRO X. 1. Na comunidade local, Confúcio era submisso e parecia inarticulado. No templo ancestral e na corte, embora fluente, ele não falava com leveza. 2. Na corte, quando falava com ministros de nível hierárquico mais baixo, ele era afável; quando falava com ministros de nível hierárquico mais elevado, ele era franco, embora respeitoso. Na presença do governante, sua atitude, embora respeitosa, era calma. 3. Quando ele era chamado pelo senhor para receber um convidado, seu rosto adquiria uma expressão séria, e suas passadas tornavam-se vigorosas. Quando ele curvava-se para os seus colegas, esticando os braços para a esquerda ou para a direita, suas vestimentas seguiam os movimentos sem se desalinharem. Ele avançava com passos rápidos, como se tivesse asas. Após a retirada dos convidados, ele invariavelmente relatava: “O convidado foi embora”. 4. Ao atravessar os portões externos até a corte do senhor, ele esgueirava-se para dentro, como se a entrada fosse pequena demais para admiti-lo. Quando ficava parado, não ocupava o centro do portão de entrada [115] ; quando caminhava, não pisava na soleira. Quando ele passava pelo trono do governante, seu rosto assumia uma expressão séria, suas passadas tornavam-se vigorosas, e suas palavras pareciam mais lacônicas. Quando ele erguia a bainha de suas roupas para subir até o salão de audiências, ele se inclinava para a frente e parava de inspirar, como se pudesse prescindir da respiração. Quando ele saía e descia o primeiro degrau, relaxando a expressão, ele não mais parecia tenso. Quando ele chegava ao final dos degraus, seguia adiante com passos mais rápidos, e suas mangas pareciam asas. Quando retomava seu lugar, sua atitude era respeitosa. 5. Quando segurava a tabuleta de jade [116] , ele se inclinava, como se o peso da tabuleta fosse demais para ele. Segurava a parte superior como se estivesse se curvando numa saudação; segurava a parte inferior como se fosse entregar um presente. Sua expressão era solene, como se tivesse medo, e hesitante, e seus passos eram contidos como se seguissem uma linha predeterminada. Quando fazia o discurso, sua expressão era plácida. Em uma audiência privada, mostrava-se descontraído. 6. O cavalheiro evitava usar seda tingida de roxo escuro e marrom para lapelas e mangas. Seda vermelha e violeta não eram usadas para roupas informais. Quando, no verão, ele vestia uma roupa simples, fosse feita de tecido fino ou grosseiro, ele invariavelmente a usava sobre uma roupa de baixo. Por baixo de um casaco preto, ele usava pele de ovelha; sob um casaco branco, ele usava pele de falcão; sob um casaco amarelo, ele usava pele de raposa. Seu casaco de pele de raposa para usar em casa era comprido, mas com a manga direita curta. Ele invariavelmente usava uma roupa de dormir que era tão longa quanto a metade da sua altura. [117] Por serem muito espessas, a pele da raposa e do texugo eram usadas como tapetes. Uma vez terminado o período de luto, ele usava qualquer tipo de ornamento na cintura. A não ser pelo manto cerimonial, tudo mais era costurado a partir de pedaços de tecidos. Casacos de pele de ovelha e gorros pretos não eram usados em visitas de condolências. No dia de Ano-Novo, ele invariavelmente ia à corte em roupas formais. 7. Em períodos de purificação, ele invariavelmente usava uma roupa de ficar em casa feita do material mais barato. Em períodos de purificação, ele invariavelmente seguia uma dieta mais austera e, quando em casa, não sentava no seu lugar habitual. 8. Ele não comia toda a sua porção de arroz refinado, nem comia sua parte de carne finamente cortada. Não comia arroz que ficara azedo ou peixe e carne estragados. Ele não comia alimentos que tivessem perdido a cor ou que tivessem mau cheiro. Ele não comia alimentos que não fossem devidamente preparados, tampouco comia fora de hora. Não comia alimentos que não tivessem sido devidamente cortados, tampouco comia se o molho certo não estivesse disponível. Mesmo quando havia bastante carne, ele evitava comer mais carne do que arroz. Apenas em se tratando de vinho ele não estipulava para si um limite rígido. Ele simplesmente nunca bebia a ponto de ficar confuso. Ele não consumia vinho ou carne comprados em lojas. Mesmo quando o prato de gengibre não era levado embora da mesa, ele não comia mais do que o apropriado. 9. Depois de participar de um sacrifício nos domínios do governante, ele não guardava sua porção da carne sacrificial de um dia para o outro. Em outros casos, ele não guardava a carne sacrificial por mais do que três dias. Se tivesse sido guardada por mais de três dias, ele não mais a comia. 10. Ele não conversava durante as refeições; tampouco falava quando deitado na cama. 11. Mesmo quando uma refeição consistia de apenas uma porção de arroz e caldo de legumes, ele invariavelmente oferecia um pouco em sacrifício e invariavelmente o fazia de modo solene. 12. Ele jamais sentava sobre uma esteira que não estivesse bem esticada. 13. Ao beber em uma reunião da comunidade, ele ia embora na mesma hora que aqueles que usavam bengalas. 14. Quando os camponeses exorcizavam maus espíritos, ele punha suas roupas de corte e postava-se sobre os degraus do leste. [118] 15. Ao enviar uma mensagem para alguém de outro reino, ele curvava-se até o chão duas vezes antes de despachar o mensageiro. 16. Quando K’ang Tzu mandou-lhe remédios de presente, [Confúcio] curvou a cabeça até o chão antes de aceitá-los. Entretanto, disse: “Como não conheço as propriedades destes remédios, não ouso prová-los”. 17. Os estábulos pegaram fogo. O Mestre, ao voltar da corte, perguntou: “Alguém se feriu?”. Ele não perguntou sobre os cavalos. 18. Quando o governante o presenteava com alimentos cozidos, a primeira coisa que ele invariavelmente fazia era prová-los, após ajustar sua esteira. Quando o governante o presenteava com alimentos crus, ele invariavelmente os cozinhava e oferecia aos ancestrais. Quando o governante o presenteava com um animal vivo, ele invariavelmente passava a criar o animal. À mesa do seu governante, quando este havia feito uma oferenda antes da refeição, ele invariavelmente começava pelo arroz. 19. Durante uma doença, quando o governante lhe fez uma visita, ele ficou deitado com a cabeça voltada para o leste, com suas vestimentas de corte abertas sobre si e sua faixa colocada ao lado da cama. 20. Quando chamado pelo governante, ele partia sem esperar que cavalos fossem atrelados à sua carruagem. 21. Quando entrou no Grande Templo, ele fez perguntas sobre tudo. [119] 22. Sempre que morria um amigo que não tinha parentes por quem o corpo pudesse ser levado, ele dizia: “O funeral partirá da minha casa”. 23. Mesmo que o presente dado por um amigo fosse uma carruagem e cavalos, ele não se curvava até o chão – a menos que o presente fosse a carne de um sacrifício. 24. Quando na cama, ele não ficava deitado como um cadáver; tampouco sentava formalmente, como um convidado, quando sozinho. 25. Quando ele encontrava uma pessoa simples em trajes de luto, mesmo que fosse algum conhecido, ele invariavelmente assumia uma atitude solene. Quando ele encontrava uma pessoa vestindo um gorro cerimonial ou alguém cego, mesmo que fossem conhecidos seus, ele invariavelmente mostrava respeito. [120] Ao passar por uma pessoa vestida de luto, inclinava-se para fora da carruagem para mostrar respeito; agia de forma similar para com uma pessoa que carregasse documentos oficiais. Quando um suntuoso banquete era trazido, ele invariavelmente assumia uma expressão solene e punha-se de pé. Quando havia uma repentino troar de trovões ou um vento violento, ele invariavelmente assumia uma atitude solene. [121] 26. Quando subia em uma carruagem, ele invariavelmente punha-se ereto e segurava a maçaneta. Quando na carruagem, ele não se voltava completamente para o lado de dentro, tampouco gritava ou apontava. 27. Assustado, o pássaro levantou-se e volteou antes de pousar. Ele disse: “Como a fêmea do faisão sobre a ponte da montanha sabe o momento certo, como sabe o momento certo, como sabe!”. Tzu-lu juntou as mãos em um gesto de respeito para com o pássaro que, batendo três vezes as asas, voou para longe. www.https//rt.br. Abraço. Davi

sexta-feira, 26 de maio de 2023

O PONTO DE VISTA DOS OUTROS

 

Espiritualidade. Livro O Interesse Humano. Texto de N. Sri Ram (1889-1973). O PONTO DE VISTA DOS OUTROS. Esse tema é especialmente pertinente às condições existentes em toda parte atualmente. Podemos ver quanto do problema, entre nação e nação, raça e raça, comunitário, social e pessoal, deve-se à nossa incapacidade de tratar o ponto de vista dos outros de forma justa. E, frequentemente, quando nos tornamos perceptivos do problema, tratamos com pouca cortesia ou o sujeitamos ao ressentimento e ao desdém. Esta é uma época que se orgulha de direitos e liberdade, mas no exercício da liberdade, tendemos a estabelecer o direito exclusivo e pessoal. Parece pensarmos que o homem tem menos direito a seus pontos de vista do que a seus pertences mais tangíveis. Não compreendemos que ele não pode deixá-los mesmo se quisesse. Essas observações parecem por demais impetuosas? O espírito a que se referem é por demais comum. A diferença em sua prevalência é apenas de grau. A tolerância não é uma virtude difundida, porque é uma virtude da maturidade, e ainda não deixamos o estágio primitivo muito atrás de nós. A aparência de nossa civilização moderna mal oculta as paixões e instintos que, em outras épocas, tinham livre expressão de maneiras diferentes e talvez menos sofisticadas. O outro homem, cujo ponto de vista estou discutindo, pode ser um homem ou mulher de outra raça, nacionalidade ou comunidade; pode ser um rival, um empregador ou empregado, um estranho que por acaso entra num compartimento do trem (metro) que você ocupa, alguém que pisa no seu pé na rua, o vizinho barulhento; ou pode até mesmo ser o seu irmão ou amigo. Ele está em toda parte e continua forçando seu ponto de vista sobre você de todos os lados. A vida em si parece empenhar-se em fazer com que você a entenda. Sendo assim, é uma prática útil nos colocarmos em imaginação na posição do outro e ver como nós próprios sentiríamos em seu lugar. Muitas irritações menores seriam cortadas pela raiz, e muita divergência seria rápida e pacificamente acertada. Se pudéssemos ser um pouco gentis quando buscamos ajustar nossas diferenças, ajudaria muito a lubrificar as engrenagens da vida diária. Devemos lembrar, também, que nosso próprio ponto de vista não é necessariamente certo. Pode ter raízes no preconceito. Nossa razão, que estamos prontos a afirmar que é infalível, normalmente se move sobre a superfície escorregadia de nossos gestos e aversões, mesmo se evita a ladeira da paixão precipitada. Quando dizemos: Este é o meu ponto de vista não dissemos a última palavra em sua justificação. Podemos estar meramente assumindo posição no topo da presunção do qual não desejamos ser desalojados, porque, talvez, nos permita desfrutar um senso de superioridade solitária. Nossa inflexibilidade pode de fato não surgir da presunção, mas pode estar baseada num princípio que buscamos defender; isso não assegura que veremos as coisas numa perspectiva correta ou em seu aspecto próprio; vemos os outros através de uma névoa de preconceito, que tem origem em nossas peculiaridades de temperamento, nossa formação ou circunstâncias. Mesmo que nosso princípio esteja certo, a aplicação pode estar errada. O modo como aplicamos o princípio num determinado conjunto de circunstâncias é tanto um teste de retidão quanto o próprio princípio em abstração. É muito raro encontrar uma pessoa que tenha uma visão tão clara que veja cada coisa como ela é, em sua própria objetividade divina. Quando somos feridos, quando sentimos raiva, ou trabalhamos sob condições de estresse emocional é difícil vermos qualquer outro ponto de vista diferente do nosso. Mas, quando as condições normais retornam, geralmente podemos ver que por causa de nossa visão confusa estivemos aquém daquela pessoa em nosso julgamento final ou em nossa ação. Reciprocamente, se pudermos treinar a nós mesmos para considerar cada situação, à medida que surge, do ponto de vista da outra pessoa além do nosso, evitaremos muita emoção desnecessária e as consequências que surgem do julgamento impulsivo. A regra de ouro. "Faz aos outros o que gostarias que fizessem a ti", é para você se pôr no lugar do outro antes de agir. Quando estamos na situação do outro, é bem provável que vejamos como ele vê, e queiramos o que ele queira. Um ponto de vista pode ser atraente para nós ou repulsivo; mas se é sincero na pessoa com quem temos de lidar, vale a pena nossa consideração. Muitas vezes isso nos torna apreensivos justamente porque é estranho e não estamos acostumados a ele. Mas se nos aproximarmos mais e se o estudarmos, poderemos encontrar por trás dele (tanto quanto do nosso) aquele "toque da Natureza que torna todo o mundo uma família". É tolice implicar com um ponto de vista sem examiná-lo. Mesmo que ele lance uma sombra sobre nós ou sobre os outros, o único meio eficaz de dissipá-lo é lançar sobre ele a luz de nossa compreensão. Estar entrincheirado no próprio ponto de vista é ser um prisioneiro. Estamos nesta posição principalmente por causa da falta de imaginação, e não por falta de bondade inata. Ainda somos seres humanos apesar de nossa estupidez, de nossa paixão e do nosso modo errado de pensar. Existe em cada um de nós uma centelha de indelével bondade que, apesar de nossa imersão na vida diária, permanece intocada. A compreensão é algo que pode ser cultivado, e em sua perfeição ela dá o poder de sintonizar, com a mais perfeita exatidão, com as necessidades e circunstâncias dos outros. A experiência de cada um de nós deve ter-nos ensinado que nosso crescimento sempre foi acompanhado pela mudança, que, à medida que galgávamos o lado da montanha, nossas visões mudavam e se alteravam. Sendo assim, não há razão para supor que devamos aferrar-nos aos nossos pontos de vistas atuais com uma lealdade que poderia ser dedicada a uma causa melhor. Afinal, para a maioria das questões há dois lados ou mais; vivemos num mundo multidimensional, embora vejamos apenas um pouco de cada vez. Antes que possamos atingir a plenitude de compreensão, parece-me necessário ter experimentado a verdade em princípios aparentemente conflitantes. Socialismo e individualismo, santidade e humanidade, liberdade e disciplina e todos os opostos desse tipo devem encontrar reconciliação numa verdade que transcende, mas que expressa todos eles. O ponto de vista da outra pessoa pode desvela-nos profundezas de conhecimento que, de outro modo, estariam ocultas a nós. É desse ponto de vista que ela reage a vida, e suas reações podem expressar qualidades que não possuímos. O ponto de vista de um gênio pode ser o ponto de concentração de todo um esquema filosófico - o topo, por assim dizer, de um sistema de pensamento abrangente em seu escopo. A verdade pode ser encontrada em muitos desses pontos de vista, pois cada um acrescenta algo à totalidade da verdade, e é suficientemente certo até onde vai. Toda a essência ou semente de uma filosofia jaz, muitas vezes, não tanto em uma ideia que é concreta e limitada, mas em um ponto de vista que abrange uma perspectiva de pensamento amplo. Às vezes, mesmo uma pessoa simplória pode mostrar-nos um valor que em nossa sofisticação elaborada podemos não ter percebido. Um ponto de vista pode estar baseado numa atitude ou numa opinião. A atitude importa muito mais do que a opinião. Eu me arrisco a pensar que a maioria de nossas opiniões importa comparativamente pouco, porque nelas existe pouco permanência; em qualquer caso, a verdade tem mais valor do que nossas opiniões. Mas a atitude mental com a qual vivemos faz toda a diferença para a felicidade da sociedade e de nós mesmos. Tendo em conta uma atitude de franqueza, podemos ajudar os outros e a nós mesmos. Essa ajuda demanda compreensão, pois sem compreensão nossos melhores esforços para ajudar apenas atrapalharão; eles não podem obter êxito a não ser que estejamos preparados para considerar favoravelmente o ponto de vista da outra pessoa. A compreensão da mente dos outros não precisa tornar-nos menos capazes de tomar nossas próprias decisões. Nem uma admissão da verdade do ponto de vista de outra pessoa enfraquece a validade do nosso. Tolerância jamais deve significar indiferença ao que é errado, e sim a compreensão de sua causa. O que é preciso é sentir com a pessoa por trás do ponto de vista; se fizermos isso, poderemos viver plena e alegremente, permitindo que os outros discordem de nós, não nos importando pelo fato de serem diferentes. Aliviamos a pressão sobre nós mesmos quando deixamos os outros viverem. A era atual tem sido diferentemente descrita segundo o ponto de vista do qual seu desenvolvimento tem sido visto. Politicamente se acredita que sua característica mais marcante é a evolução da democracia. Embora este princípio tenha está sujeito, em certos lugares, a graves desafios, ele possui um apelo suficientemente amplo para colorir a perspectiva das pessoas de todas as partes do mundo. Mas a democracia, para que seja bem-sucedida, precisa enfrentar certas condições essenciais. Uma delas é que, a cada indivíduo que cumpra seus deveres de cidadania, deve ser garantida a mais plena liberdade compatível com o bem-estar público, viver sua vida segundo suas próprias ideias e fazer sua própria contribuição ao estado. Ele deve não apenas ser respeitado pelo que é em si, mas é necessário que lhe sejam oferecidas oportunidades para desenvolver sua personalidade em todos os estágios; é preciso haver reconhecimento tanto do valor quanto da necessidade de seu estilo de vida e ponto de vista. Nossa busca deve ser por uma ordem onde o ponto de vista de cada pessoa, representando sua experiência, tenha seu lugar na soma total da vida social e nacional. O ponto de vista de cada pessoa é amplamente o produto de sua experiência, e a vida é tão rica em experiência que ninguém obtém exatamente a mesma porção que seu próximo, seja em qualidade ou quantidade. Se o mundo humano não fosse um mundo de vida, e o problema da harmonia social fosse um problema mecânico, seria impossível encaixar com exatidão as diferentes peças do quebra-cabeça. Mas a vida é composta de seres que reúnem um milhão de células de diferentes tipos em um todo perfeito. A sociologia pode ser uma ciência tão verdadeira quanto a biologia, se começarmos com a admissão dos fatos e fundamentá-la sobre princípios naturais. Para consideração, eu sugiro o axioma de que o sucesso na vida coletiva deve depender da medida da plenitude da vida individual. Temperamento, profissão, relacionamentos, circunstâncias têm relação com o ponto de vista adotado por um homem ou mulher a qualquer tempo. Todas essas coisas condicionam sua mentalidade. Se tivéssemos o dom de penetrar a mente da outra pessoa e ver como ela vê, estaríamos perceptivos de muitos aspectos da vida ocultos de nós no presente, e assim nos elevaríamos àquele pináculo de onde esses aspectos são percebidos. Infelizmente a maioria de nós se conhece tão pouco, e não conhecemos sequer nossas limitações nem nossas capacidades. Religião e nacionalidade são influências especializadas que criam distinção e separação. Contudo, os resultados dessa especialização são enriquecimento e diversidade. Deve chegar uma época - na verdade já chegou,  com a derrubada das barreiras materiais - em que haverá a junção dessas diversidades numa unidade. Nos dias de hoje, quando todas as partes do mundo estão unidas, o ponto de vista do outro exige mais atenção e respeito do que talvez estivéssemos preparados para dar nos dias menos prementes do passado. A paz mundial em cada um de seus aspectos - físico, mental e moral - e nosso próprio progresso dependem de lhes darmos o lugar que merecem. Livro O Interesse Humano. Abraço. Davi.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

A HISTÓRIA DE ADÃO E EVA NO ALCORÃO SAGRADO

 

Islamismo. www.iqaraislam.com.br. A HISTÓRIA DE ADÃO E EVA NO ALCORÃO SAGRADO. No entanto, ela possui algumas diferenças das narrativas de outras religiões e diversas lições. O Alcorão descreve Adão e Eva como os primeiros humanos que foram criados por Deus. Eles foram feitos a partir do barro. Deus colocou um Espírito neles e ordenou aos anjos que se prostrassem a Adão em sinal de respeito. Apenas Satanás, que era da espécie dos gênios, não obedeceu a Deus e jurou desencaminhar os humanos fazendo Adão e Eva comerem da arvore proibida. Eles foram tirados do paraíso e destinados a viverem neste mundo. Mas Deus aceitou seu arrependimento.  Adão é considerado o primeiro ser humano, bem como o primeiro profeta do Islam.


A história de Adão e Eva varia ligeiramente entre as religiões abraâmicas, mantendo algumas semelhanças. Este artigo explora a história de Adão e Eva no Alcorão Sagrado. A criação de Adão no Alcorão. A história do profeta Adão é encontrada em vários versículos do Alcorão. Esses versículos não apenas descrevem a criação dos primeiros seres humanos, como também transmite o propósito da vida, entre outros valores importantes.  De acordo com o Alcorão, bem antes da criação de Adão, já havia sido decidido por Allah que a humanidade seria colocada na Terra.  “E [mencione, ó Muhammad], quando seu Senhor disse aos anjos, 'De fato, farei sobre a terra uma autoridade sucessiva.' Eles disseram: 'Você colocará sobre ela alguém que causa corrupção nela e derrama sangue, enquanto nós declaramos Teu louvor e Te santificamos?' Allah disse: 'Na verdade, eu sei o que vocês não sabem.' '” [2:30] Allah informou aos anjos que criaria Adão, o primeiro ser humano, que assumiria o papel de vice gerente ou vice de Allah para prosperar a terra. Isso indica que, muito antes dos eventos em que Adão e Eva foram testados, pretendia-se que a Terra fosse seu destino. Os anjos ficaram curiosos com essa escolha. Por eles serem seres perfeitos, criados para cumprir obedientemente seus papéis, sua pergunta a Deus não era para desafiar, mas para obter um entendimento. A resposta de Deus indicou que Adão teria preferência por uma razão.  Do que Adão foi criado. “De fato, Allah Altíssimo criou Adão de um punhado que Ele tirou de toda a terra. Assim, os filhos de Adão vêm de acordo com a terra, alguns deles vêm vermelhos, brancos e pretos, e entre eles, o fino, o grosso, o imundo e o limpo”. [at-Tirmidhi, 2955] É descrito que Adão foi criado a partir de um punhado de solo que os Anjos foram instruídos a tirar da terra. Este solo variava em cores de vermelho, marrom, preto e branco; variando em texturas de macio, arenoso, sedoso e duro; e variava em atributos como a fertilidade. Isso indica que a descendência de Adão estava destinada a ser diversa. O Alcorão também descreve que Adão foi criado do barro (Alcorão 38:71) ou pó (Alcorão 3:59). Esta gama de descrições traz à luz a história e a ligação fundamental que a humanidade tem com a terra.  “(…) Ele o criou do pó; então Ele lhe disse: 'Sê', e ele foi”. [3:59] Depois de moldada, a alma de Adão, criada por Deus, foi colocada nele. O Alcorão não detalha como isso ocorre e, portanto, é considerado algo fora do escopo da compreensão humana. Adão é homenageado como o primeiro homem. “E nós certamente criamos você, [Ó Humanidade], e lhe demos forma [humana]. Então dissemos aos anjos: 'Prostrai-vos a Adão'; então eles se prostraram, exceto Iblis. Ele não era daqueles que se prostravam.” [7:11] Depois de criar o primeiro humano, Deus ordenou aos anjos que se prostrassem a Adão. Embora a prostração seja um ato de adoração reservado somente a Deus, essa prostração dos Anjos foi um sinal de respeito. Além disso, esse gesto de homenagear o primeiro humano também serviu de teste para Iblis ou satanás que, apesar de estar presente, se recusou a participar.  “[Então mencione] quando seu Senhor disse aos anjos: 'De fato, vou criar um ser humano de barro. Então, quando eu o tiver proporcionado e soprado nele da Minha alma [criada], então abaixe-se para ele em prostração.' Então os anjos se prostraram – todos eles inteiramente. Exceto Iblis; ele foi arrogante e se tornou entre os incrédulos”. [38:71-74] Satanás era da criação chamada gênios e estava entre os anjos devido às suas ações. Como um ser com livre arbítrio que foi elevado nas fileiras, ele se considerava muito maior do que Adão. Sua desobediência estava enraizada no orgulho e no sentimento de superioridade. Ele não podia aceitar Adão como uma criação digna de respeito. No entanto, como Deus havia mencionado anteriormente aos anjos, havia sabedoria em escolher criar Adão e, portanto, escolher a humanidade para o papel de representantes da terra.  “E Ele ensinou os nomes a Adão – todos eles. Então, Ele os mostrou aos anjos e disse: 'Informe-me dos nomes destes, se você é verdadeiro.' Eles disseram: 'Exaltado és Tu; não temos conhecimento, exceto o que Você nos ensinou. De fato, é Você quem é o Conhecedor, o Sábio.' Ele disse, 'Ó Adão, informe-os de seus nomes.' E quando ele os informou de seus nomes, Ele disse: 'Não te disse que conheço os [aspectos] invisíveis dos céus e da terra? E eu sei o que você revela e o que você escondeu.'” [2:31-33] Ao contrário dos anjos, Adão foi criado com livre arbítrio e tinha a capacidade de discernir e tomar decisões. Além disso, Adão recebeu o dom do conhecimento. Esse conhecimento incluía conhecer os nomes, recursos e usos de todas as coisas existentes, animadas ou inanimadas. Esse conhecimento preparou Adão para seu futuro papel na terra. Quando Adão foi instruído a apresentar seu conhecimento aos anjos, ele se assemelhava ao de um professor para os alunos, o que indicava ainda mais sua superioridade. Os anjos vieram a saber que a pureza e a obediência perfeita não eram as únicas qualidades necessárias para ser vice gerente. A adequação de Adão para o papel de vice Regente foi humildemente reconhecida pelos anjos, mas desafiada por Satanás, que foi condenado e banido do céu. A criação de Eva. A esposa de Adão, embora comumente referida como Eva ou Hawa, não é mencionada pelo nome no Alcorão, apesar de ser referida em muitos lugares. Os detalhes sobre como Eva foi criada não são mencionados no Alcorão. No entanto, torna-se evidente que Eva foi criada a partir de Adão.  “Ó humanos, temei o vosso Senhor, que vos criou de uma só alma e dela criou a sua companheira e de ambos dispersou muitos homens e mulheres (…).” [4:1] O hadith ou as tradições do Profeta Muhammad revelam ainda que Eva foi criada da costela de Adão, que foi tirada enquanto ele dormia. As narrações que descrevem essa história da costela são frequentemente usadas para enfatizar ser gentil com as mulheres.  “Ó muçulmanos! Aconselho vocês a serem gentis com as mulheres, pois elas são criadas a partir de uma costela, e a parte mais torta da costela é sua parte superior. Se você tentar endireitá-la, ela quebrará, e se você a deixar, ela permanecerá torta; por isso peço-lhe que cuide das mulheres.” [Sahih al-Bukhari 5185; Sahih Muslim 8:3468] Depois que Eva foi criada, o casal recebeu um lugar no paraíso. “E dissemos: 'Ó Adão, habita, tu e tua esposa, no Paraíso e dele coma em [facilidade e] abundância de onde quiseres. Mas não se aproxime desta árvore, para que você não esteja entre os malfeitores.'” [2:35] Eva foi criada para acompanhar Adão como sua companheira de vida e ambos foram instruídos a viverem juntos em tranquilidade. No céu, Adão e Eva eram livres para comer e desfrutar de tudo, com exceção de uma árvore.  O Alcorão não descreve que tipo de árvore era. No entanto, essa proibição preparou o cenário para o teste que estava por vir. O teste de Adão e Eva. No Alcorão, a árvore proibida serviu de teste para Adão e Eva. Além disso, Deus advertiu Adão e Eva de que o diabo era um inimigo e que eles deveriam estar em guarda.  “Então dissemos: 'Ó Adão, de fato este é um inimigo para você e sua esposa. Então não permita que ele o remova do Paraíso para que você sofra.'” [20:117] Satanás, visando avidamente a fraqueza da humanidade, tentou Adão e Eva, sussurrando em seus corações. Afirmando ser um conselheiro sincero, ele plantou em suas mentes ideias que tornariam atraente a árvore proibida. Os pensamentos sobre a árvore preocupavam tanto Adão quanto Eva. Esquecendo o aviso, eles cederam e erraram. “Mas Satanás sussurrou para tornar aparente o que estava escondido deles em suas partes íntimas. Ele disse: 'Seu Senhor não vos proibiu esta árvore, a não ser que vocês se tornem anjos ou se tornem do imortal.' E ele jurou [por Allah] para eles, 'Na verdade, eu sou para você dentre os conselheiros sinceros.' Então ele os fez cair, através do engano. E quando eles provaram da árvore, suas partes íntimas se tornaram aparentes para eles, e eles começaram a se prender sobre si mesmos das folhas do Paraíso. E seu Senhor os chamou: 'Eu não os proibi daquela árvore e lhes disse que Satanás é para vocês um inimigo claro?'” [7:20-22] Esquecendo-se da ordem de Deus, Adão e Eva assumiram igual responsabilidade por seu erro. Isso também foi um teste para Satanás que, de fato, promoveu sua desobediência explorando a humanidade por meio de seus desejos.  A virtude do arrependimento e da súplicaPor meio desse teste, Deus preparou Adão para seu papel na terra, como zelador e profeta. Essa experiência ensinou a Adão em primeira mão que Satanás era um inimigo enganoso para a humanidade.  Depois de comer da árvore, Adão e Eva ficaram envergonhados e se arrependeram profundamente de suas ações. Eles reconheceram seus erros e buscaram misericórdia, arrependendo-se sinceramente [7:23]. A história de Adão e Eva no Alcorão ensina a virtude do arrependimento e da súplica. Adão e Eva reconheceram seus erros e oraram por perdão. Isso, por sua vez, lhes rendeu o perdão e a orientação de Allah. “Então seu Senhor o escolheu e se voltou para ele em perdão e o guiou.” [20:122] Adão e Eva são enviados a Terra. No Alcorão, Deus consola Adão. Como o pecado de Adão se originou do desejo, e não da arrogância, seu arrependimento foi aceito.  “Então Adão recebeu de seu Senhor [algumas] palavras e aceitou seu arrependimento. De fato, é Ele quem é a Aceitação do arrependimento, o Misericordioso”. [2:37] Apesar de serem perdoados, Adão e Eva não receberam mais os confortos do paraíso e foram enviados para a Terra. É importante notar que, uma vez que Allah mencionou a missão de Adão na Terra muito antes de seu teste, a nomeação de Adão e Eva para a Terra não é vista como punição. Em vez disso, está alinhada com o Plano de Deus. O Alcorão descreve a Terra para Adão e Eva como um lugar para residir e desfrutar por um período, até o dia em que morrerem e ressuscitarem (Alcorão 7:24-25).  “Nós dissemos: 'Desça disso, todos vocês. E quando a orientação vier a você de mim, quem quer que siga Minha orientação - não haverá medo em relação a eles, nem sofrerão. E aqueles que descrerem e negarem nossos sinais – esses serão companheiros do Fogo; eles permanecerão nele eternamente.'” [2:38-39] Além disso, Adão é informado por Deus de que ele e sua progênie receberão orientação durante seu tempo na Terra. Em contraste, Satanás, ao contrário de Adão, não implorou por perdão e, em vez disso, pediu trégua: uma chance de enganar e revelar a inadequação da humanidade. Deus facilitou este pedido, mas advertiu que Satanás seria impotente sobre os crentes.  Portanto, no Alcorão, Adão, Eva e Satanás são todos enviados para a Terra. Na Terra, Adão assume o papel de primeiro Profeta e pai da humanidade.  Lições da história de Adão e Eva. Há muitas lições valiosas a serem extraídas das experiências das pessoas no Alcorão. Da história de Adão e Eva, se aprende que o orgulho e a arrogância são a chave para a perda e a destruição. Outras lições incluem o valor de reconhecer os erros, a virtude do arrependimento e o poder da súplica. O teste no paraíso foi uma lição essencial que demonstrou o livre-arbítrio. Para poder viver na terra, Adão e Eva aprenderam sobre o engano do diabo, as consequências do pecado e a Misericórdia do Criador. www.iqaraislam.com.br. Abraço. Davi

segunda-feira, 22 de maio de 2023

O QUE É O BUDISMO

 

Livro O Budismo Moderno – O Caminho de Compaixão e Sabedoria. Por Geshe Kelsang Gyatso. O QUE É O BUDISMO? Budismo é a prática dos ensinamentos de Buda, também denominados “Dharma”, palavra que significa “proteção”. Praticando os ensinamentos de Buda, os seres vivos ficam permanentemente protegidos do sofrimento. O fundador do Budismo é Buda Shakyamuni, que, em 589 a.C., em Bodh Gaya, na Índia, mostrou como alcançar a meta suprema dos seres vivos, a conquista da iluminação. Por solicitação dos deuses Brahma e Indra, Buda começou, então, a expor seus profundos ensinamentos, ou seja, “girou a Roda do Dharma”. Buda deu 84 mil ensinamentos, e, a partir desses preciosos ensinamentos, o Budismo se desenvolveu neste mundo. Podemos ver, atualmente, muitos tipos diferentes de Budismo, como o Budismo Zen e o Theravada. Esses diferentes aspectos são, todos eles, práticas dos ensinamentos de Buda, e todos são igualmente preciosos: eles são apenas apresentações diferentes. Neste livro, explicarei o Budismo de acordo com a Tradição Kadampa, que eu tenho estudado e praticado. Esta explicação não é dada com o objetivo de um entendimento intelectual, mas para que se obtenham profundas realizações através das quais possamos solucionar os nossos problemas diários das delusões e realizar o verdadeiro sentido de nossa vida humana. Há dois estágios na prática dos ensinamentos de Buda: as práticas de Sutra e as de Tantra, ambas explicadas neste livro. Embora as instruções aqui apresentadas venham de Buda Shakyamuni e de mestres budistas como Atisha, Je Tsongkhapa e de nossos professores atuais, este livro é intitulado Budismo Moderno porque sua apresentação do Dharma foi concebida especialmente para as pessoas do mundo moderno. A minha intenção ao escrever este livro é dar ao leitor um forte encorajamento para que desenvolva e mantenha compaixão e sabedoria. Se cada um praticar sinceramente o caminho da compaixão e da sabedoria, todos os seus problemas serão solucionados e nunca mais voltarão a surgir. Isto, eu posso garantir. Precisamos praticar os ensinamentos de Buda porque não existe nenhum outro método verdadeiro para solucionar os problemas humanos. A tecnologia moderna, por exemplo, não pode ser considerada um método autêntico para solucionar os problemas humanos pelo fato de ela, frequentemente, ocasionar ainda mais sofrimentos e perigos. Embora queiramos ser felizes o tempo todo, não sabemos como conseguir isso e estamos sempre destruindo a nossa própria felicidade gerando raiva, visões negativas e intenções negativas. Até em nossos sonhos, estamos sempre tentando fugir dos problemas, mas não sabemos como nos libertar do sofrimento e dos problemas. Como não compreendemos a verdadeira natureza das coisas, estamos sempre criando o nosso próprio sofrimento e problemas ao executar ações inadequadas ou não virtuosas. A fonte de todos os nossos problemas e sofrimentos do dia a dia é o nosso desejo descontrolado, também conhecido como “apego”. Desde tempos sem início, porque temos tido desejos descontrolados, visando a satisfação dos nossos próprios desejos, executamos diversos tipos de ações não virtuosas – ações que prejudicam os outros. Como resultado, experienciamos continuamente diversos tipos de sofrimento e condições de infelicidade vida após vida, sem-fim. Quando nossos desejos não são satisfeitos, normalmente experienciamos sensações desagradáveis, como infelicidade ou depressão: as sensações desagradáveis são o nosso problema, isto é, o problema que verdadeiramente nos pertence – a razão disso é que somos muito apegados à satisfação dos nossos desejos. Quando perdemos um amigo próximo, experienciamos dor e infelicidade, mas isso somente acontece porque não temos habilidade de controlar nosso desejo. Quando perdemos nossas posses e as coisas de que gostamos, experienciamos infelicidade e ficamos perturbados e com raiva. Isso acontece porque nossos desejos pelas coisas são descontrolados. Se fôssemos capazes de controlar nosso desejo, não haveria base para experienciarmos esses problemas. Muitas pessoas envolvem-se em lutas, ações criminosas e até mesmo em guerras: todas essas ações surgem de seu desejo descontrolado em satisfazer seus próprios desejos. Assim, podemos ver que não há um único problema experienciado pelos seres vivos que não venha de seus desejos descontrolados. Isto prova que, a menos que controlemos nosso desejo, os nossos problemas nunca irão cessar. Portanto, qualquer pessoa – budista ou não budista – que não deseje experienciar problemas e sofrimentos deverão aprender a controlar seu desejo por meio do treino nas meditações específicas que são apresentadas nos ensinamentos de Buda. Precisamos entender que os nossos problemas não existem fora de nós, mas fazem parte da nossa mente, que está experienciando sensações desagradáveis. Por exemplo, quando nosso computador tem um problema, costumamos dizer “eu tenho um problema”, mas na realidade o problema é do computador e não nosso. O problema do computador é um problema exterior, e o problema que verdadeiramente nos pertence – ou seja, a nossa própria sensação desagradável – é um problema interior. Esses dois problemas são totalmente diferentes. Precisamos solucionar o problema do computador consertando-o, e precisamos solucionar o problema que verdadeiramente nos pertence por meio de controlarmos o nosso desejo de que o problema do computador seja solucionado. Mesmo se conseguirmos solucionar o problema do computador, se formos incapazes de controlar nosso desejo pelo computador, continuaremos a experienciar novos problemas relacionados com o computador. O mesmo acontece com a nossa casa, o nosso dinheiro, os nossos relacionamentos, e assim por diante. Como a maioria das pessoas acredita equivocadamente que os problemas exteriores são os seus próprios problemas, elas buscam refúgio em objetos errôneos. Como resultado, o seu sofrimento e os seus problemas nunca acabam. Enquanto formos incapazes de controlar as nossas delusões, como o nosso desejo descontrolado, teremos de experienciar sofrimentos e problemas continuamente nesta vida e vida após vida, sem-fim. Como estamos firmemente atados pela corda do desejo descontrolado que temos pelos prazeres do samsara (o ciclo de vida impura), para nós é impossível ficarmos livres de sofrimentos e problemas a não ser que pratiquemos os ensinamentos de Buda – o Dharma. Entendendo isso, devemos desenvolver e manter o forte desejo de abandonar a raiz do sofrimento – o desejo descontrolado. Esse forte desejo de abandonar a raiz do sofrimento é denominado “renúncia”, e surge da nossa sabedoria. Os ensinamentos de Buda são métodos científicos para solucionar permanentemente os problemas de todos os seres vivos. Colocando os seus ensinamentos em prática, seremos capazes de controlar o nosso desejo e, como consequência disso, ficaremos permanentemente livres de todos os nossos sofrimentos e problemas. Podemos então entender, apenas com esta explicação, como os ensinamentos de Buda – o Dharma – são preciosos e importantes para todos. Como foi mencionado acima, uma vez que todos os nossos problemas vêm do desejo descontrolado, e visto que não existe outro método que não os ensinamentos de Buda – o Dharma – para controlar nosso desejo, fica claro que somente o Dharma é o verdadeiro método para solucionar os nossos problemas do dia a dia. Por praticar os ensinamentos de Buda sobre a visão profunda da vacuidade, apresentados no capítulo Treinar a Bodhichitta Última, podemos solucionar permanentemente nossos problemas diários que surgem do apego, da raiva e da ignorância do agarramento ao em si. A raiz do desejo descontrolado e de todo o nosso sofrimento é a ignorância do agarramento ao em-si, a ignorância sobre o modo como as coisas realmente existe. Sem nos apoiarmos nos ensinamentos de Buda, não conseguiremos identificar essa ignorância; e, sem praticar os ensinamentos de Buda sobre a vacuidade, não poderemos abandoná-la. Consequentemente, não teremos a oportunidade de alcançar a libertação do sofrimento e dos problemas. Por meio desta explicação, podemos compreender que todos os seres vivos precisam praticar o Dharma, uma vez que todos – sejam eles humanos ou não-humanos, budistas ou não- -budistas – desejam ser livres do sofrimento e dos problemas. Não existe outro método para conquistar esse objetivo. Livro O Budismo Moderno – O Caminho de Compaixão e Sabedoria. Abraço. Davi

sábado, 20 de maio de 2023

II. DECLÍNIO E REGENERAÇÃO DAS RELIGIÕES

 

Teosofia. Por Ricardo Lindemann. Livro A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. II. DECLÍNIO E REGENERAÇÃO DAS RELIGIÕES. E exortamos os que são pecadores a entregar-se à consideração das doutrinas que ensinam os homens a não pecar. E aos que são destituídos de entendimentos, aos que engendram sabedoria, e aos que são crianças. A elevar-se em pensamentos até a virilidade, e aos que são simplesmente desafortunados à boa fortuna ou – usando um termo mais apropriado – à bem-aventurança. E quando os que se voltaram para a virtude tiverem feito progresso, mostrando que foram purificados pelo Verbo e levando, tanto quanto puderem, uma vida melhor. E não antes, os convidaremos a participar de nossos Mistérios”. “Pois falamos sabiamente entre os que são perfeitos”. E diz mais: “Não à participação nos Mistérios, pois, e à comunhão na sabedoria oculta num Mistério, que Deus ordenou perante o mundo para a glória de seus santos, não a isso convidamos o homem mau e o ladrão e o arrombador e o envenenador e o que comete sacrilégio e o saqueador de mortos e todos aqueles que Celso possa enumerar, em seu estilo exagerado, mas a esses homens convidamos a que se curem”. Mas, por outro lado: “ ... quem quer que seja puro não só de toda mácula, mas do que é tido como transgressões menores, que seja ousadamente iniciado nos Mistérios de Jesus, os quais com propriedade, são dados a conhecer apenas aos santos e puros. O iniciado de Celso, em conformidade com isso, diz: “Deixai vir aqueles cujas almas não têm consciência de nenhum mal. Mas aquele que age como iniciador, segundo os preceitos de Jesus, dirá aos que foram purificados de coração. Aquele cuja alma de longa data não tem tido consciência do mal e especialmente desde que ele se tenha entregado à cura do mundo, que tal homem ouça as doutrinas que foram reveladas em particular por Jesus a seus discípulos genuínos. Portanto, na comparação que institui entre os procedimentos dos iniciados aos Mistérios gregos e os mestres da doutrina de Jesus. Ele não vê a diferença entre convidar os maus a que se curem e iniciar nos Sagrados Mistérios os que já estão purificados”. É bastante evidente que Clemente e Orígenes de Alexandria (185-253) eram iniciados nos Mistérios Cristãos, pois defendiam abertamente essa estrutura esotérica, com ensinamentos superiores aos exotéricos dados as multidões. Sobre isso, comenta Orígenes: “Falar da doutrina cristã como de um sistema secreto é totalmente absurdo. Mas que existem certas doutrinas não dadas a conhecer às multidões, são (reveladas) depois que as exotéricas tiverem sido ensinadas. Não é peculiaridade apenas do Cristianismo, mas igualmente de sistemas filosóficos nos quais certas verdades são exotéricas e outras esotérica. Temos aqui provas significativas de que os Mistérios Cristãos existiram. Desnecessário seria dizer que esses ensinamentos esotéricos foram perdidos pelo Cristianismo. Provavelmente, esse processo de declínio dos Mistérios Cristãos ocorreu já no século IV, pois sua doutrina foi condenada como herética pelo Papa Anastácio em 400 d.C. No Édito de Justiniano, e, em 553 d.C., no Concílio de Constantinopla II. Eis algumas interpretações de Orígenes que, provavelmente, foram causas de sua condenação. “Que pessoa inteligente imaginaria, por exemplo, que um primeiro, um segundo, um terceiro dia, tarde e manhã, aconteceram em sol, sem lua e sem estrelas. E o primeiro, conforme o chamamos, sem nem mesmo um céu? Quem seria tão infantil a ponto de supor que Deus, como um jardineiro humano, plantou um jardim no Éden, para os lados do Oriente. E formou ali uma árvore, visível e sensível, de tal modo que se conseguisse o poder de viver comento materialmente de seu fruto com os dentes. E ainda que se pudesse participar do bem e do mal, nutrindo-se do que vinha daquela árvore? Se dizem que Deus andava a tarde no jardim e que Adão se escondia sob a árvore. Imagino que ninguém há de questionar serem essas declarações figurativas, asseverando misteriosas verdades por meio de uma semelhante história, e não de fatos que ocorreram de modo material. E Caim, ao se afastar da presença do Senhor, como é simples, e claro para as mentes atentas, incita o leitor a buscar o significado da presença de Deus ou da de alguém que dela se afaste. Que necessidade há de mais, quando todos, até mesmo os atoleimados, podem reunir inúmeros exemplos em que as coisas eram registradas como tendo acontecido, e que, em absoluto, jamais aconteceram num sentido literal? Não, mesmo os Evangelhos estão cheios de expressões da mesma espécie. Como aquela em que o diabo leva Jesus a uma alta montanha, para de lá mostrar-lhe os reinos de todo o mundo e a sua glória. Quem senão um leitor descuidado de tais palavras deixaria de condenar os que pensam que, com olhos da carne. Que necessitavam da altura para ter a visão do que havia abaixo, a grande distância, os reinos dos persas e dos citas e dos índios e dos partos haviam sido vistos, E com eles a glória que os homens concediam aos seus governantes? Incontáveis casos como esses o leitor atento será capaz de observar, que o farão concordar que, com as histórias que ocorreram literalmente, estão entrelaçadas outras coisas que na realidade não aconteceram”. A condenação desse brilhante padre do Cristianismo Alexandrino, três séculos após a sua morte, a total perda dos ensinamentos dos Mistérios Cristãos, que representavam a continuidade viva dos ensinamentos que Jesus teria ministrado somente a seus discípulos. Bastariam para evidenciar o processo de declínio do Cristianismo, mas depois a intolerância cresceu, vieram as Cruzadas e a Santa Inquisição ... Mesmo hoje, a Igreja não tem a vitalidade que tinha na primitiva estrutura de Alexandria. Que dizer então do declínio ocorrido se compararmos ao período em que Cristo estava vivo? Será necessária maior prova de que não é a sofisticação da civilização ou a sua intelectualização que vitaliza uma religião? Sábias são as palavras de Paulo: “A letra mata, mas o espírito vivifica”. Causas e consequências do declínio. As causas do processo de declínio das religiões já foram bastante comentadas no item 4, referente ao fenômeno do declínio. Contudo a citação de Paulo, acima as sintetiza bem: na falta do êxtase, que é a experiência espiritual por excelência, o homem tende a apegar-se à letra, às descrições dos outros. Daí advêm a rigidez, o dogmatismo, a intolerância, o esclerosa mento e o declínio das religiões. Plotino, falecido em 270 dC, de maneira magistral, enfatiza essa distinção fundamental entre o mero conhecimento intelectual e a experiência interior do êxtase, nas Enéadas como segue: “A causa principal da nossa incerteza é que a nossa compreensão do Um não vem pelo conhecimento científico nem pelo pensamento, como conhecimento de outras coisas inteligíveis, mas por um Presença que é superior à ciência. Quando a alma adquire o conhecimento científico de algo, ela se separa da unidade e cessa de ser inteiramente uma. Pois a ciência implica a razão discursiva, e a razão discursiva implica a multiplicidade. Para alcançar a Unidade devemos, portanto, elevarmo-nos acima da ciência e jamais nos apartarmos daquilo que é essencialmente um. Devemos para tanto renunciar à ciência, aos objetos da ciência e a todos os demais direitos, exceto a esse Um. Mesmo à beleza, pois a beleza é posterior a Unidade, e deriva desta como a luz do dia provém do Sol. Eis que Platão diz da Unidade que é indizível e indescritível. Ainda assim, dela falamos e escrevemos sobre ela, mas apenas para estimular nossa alma pela discussão. E para encaminhá-las em direção a esse espetáculo divino, como se indicaria o caminho a alguém que desejasse ver algum objeto. A instrução, na verdade, chega a indicar o caminho e a nos guiar na senda. Mas obter a visão da Divindade é trabalho próprio de quem deseja obtê-la”. “Quem nela tentar fixar os olhos conspurcados pelo vício, olhos tão impuros ou fracos, que não possam suportar o esplendor de objeto tão brilhante. Esses olhos não verão, nem mesmo se lhes for mostrada uma visão fácil de compreender. O órgão da visão deverá primeiro se tornar análogo e semelhante ao objeto que há de contemplar. Os olhos jamais seriam o sol se primeiro não tivessem assumido a sua forma. Do mesmo modo, a alma jamais veria a beleza se ela própria, antes, não se tivesse tornado bela. Para conseguir a visão do belo e da divindade, todo homem deve começar por se tornar belo e divino”. Fica, pois, evidente que não será jamais no plano intelectual que chegaremos a uma prova final sobre a existência de uma alma imortal em nós. Ou de uma alma universal subjacente ao Universo, ou das leis da justiça ou harmonia que governaria a vida. Essas questões essenciais da religião só podem ser resolvidas no êxtase. Que é o meio de obtenção do conhecimento místico. Todavia, como conseguimos evidenciar, pelo menos nos exemplos citados no caso específico da religião cristã, que de fato existe o processo do declínio. A ponto de mesmo uma religião civilizada e filosoficamente rica em suas origens, como a cristã, sofrer as vicissitudes do fanatismo e superstição da Santa Inquisição. Parece justo afirmar que a hipótese das Religiões Comparadas parece mais provável de ser verídica. O medo do diabo, da magia, na Idade Média Cristã, conforme evidenciam os absurdos julgamentos do Santo Ofício. Lembram os tabus dos polinésios, e religiões selvagens semelhantes ao animismo, fetichismo etc. Por outro lado, não parece haver evidência histórica de religiões fetichistas ou animistas que tenham chegado à profundidade filosófica das darshanas hindus ou das Enéadas de Plotino, nem a sublimidade das escrituras budistas ou cristãs. Pelo contrário, o que se pode ver como fato histórico é que a mensagem desses grandes seres sobrevive apesar da ignorância humana, do fanatismo, da estreiteza mental. Do egoísmo, da brutalidade e do declínio dos valores civilizatórios. Será que um homem comum conseguiria ser um consolador e enganador tão eficiente? Por todas essas evidências, parece-nos justo afirmar que a tese das Religiões Comparadas, de que são os homens divinos a causa das grandes religiões. Ou melhor, de que esses homens se divinizaram pelo êxtase a ponto de adquirirem uma sabedoria divina que desafia os milênios. Apesar de só termos fragmentos de segunda mão dos seus ensinamentos, merece ser considerada a tese mais provável, mais próxima da verdade. Causas da Unidade das Religiões. Na medida em que, a partir da evidência dos fatos históricos, verificou-se ser mais fácil as religiões declinarem, e mais difícil se revitalizarem ou evoluírem, pareceu-nos mais provável a tese das Religiões Comparadas. Assim sendo, é interessante retomar a questão da origem comum das religiões a partir da tese das Religiões Comparadas. Sob esse ponto de vista, a origem comum das religiões seria a sabedoria divina ou a Teosofia, como Plotino a chamava. Evidentemente, tal sabedoria não é um conhecimento intelectual. Mas um estado de consciência alcançado pelo êxtase, pelo aumento da percepção da voz do nosso íntimo, que depende de uma absoluta serenidade ou silêncio da mente. Isso implica uma mente sem desejos ou conflitos, totalmente desapegada da transitoriedade da matéria e das sensações que ela produz. Quando um homem chega a esse estado de ser, sua percepção percebe a divindade, e então ele se diviniza. Ele pode então dizer: “Eu e o Pai somos um” João 10,30. Assim, por meio dessa percepção aumentada, ele torna-se onisciente em relação às leis que regem o crescimento das almas, ao ciclo da vida e da morte, ao retorno cíclico das almas para aprendizagem, aos diversos níveis de profundidade e consciência da mente humana etc. Apesar de precisar adequar a sua sabedoria à linguagem e cultura do povo que ele instrui, sua mensagem será, em essência, a mesma sabedoria divina que todos os homens divinizados que o precederam tentaram comunicar aos homens em geral. Daí a semelhança entre as diversas religiões do mundo em seus ensinamentos essenciais. Mais do que uma semelhança oriunda de uma percepção da mesma sabedoria, da mesma verdade divina, alguns levantam ainda outra hipótese mais arrojada. Haveria uma Fraternidade Mística, uma “Comunhão de Todos os Santos” do mundo, que, sendo inspirada pela própria divindade. Velaria pela humanidade, fundando aqui e ali novas religiões, trazendo novos ensinamentos e adequados a cada época e civilização. Tal qual os irmãos mais velhos se organizam para ajudar os mais moços a crescer e aprender. Conclusão. Pelo desenvolvimento deste trabalho e a partir dos fatos históricos verificáveis na história das religiões, parece ser justo afirmar que as grandes religiões declinam com relativa facilidade, resultando em superstição, fanatismo e intolerância. Contudo, as religiões primitivas parecem incapaz de, sofisticando-se a si próprias, conquistarem a profundidade ética e filosófica, altruísta e mística das grandes religiões. Tal verificação nos conduz à conclusão de que a tese das Religiões Comparadas é provavelmente a mais verídica, pois entende que a origem comum das religiões advém da sabedoria divina. Assim, as religiões se assemelhariam a rios que são puros e cristalinos próximos à sua fonte, simbolizando o Fundador inspirado ou divinizado pelo êxtase. Mas que vão se tornando cada vez mais robustos e barrentos à medida que se afastam de sua fonte, pois vão perdendo a vitalidade ao carrearem os pedregulhos da superstição e intolerância e a lama dos desejos e interesses mundanos. Resultando frequentemente em instituições que muito pouco retiveram do espiritual, mas que cresceram em poder temporal. Parece que esse declínio das religiões, que é o declínio da sabedoria divina em contato com as superstições e os desejos humanos, nenhum grande instrutor conseguiu evitar. Talvez seja mesmo mais fácil começar uma nova religião com renovado vigor. Contudo, se é que de fato faz algum sentido dizer que há evidências neste trabalho capaz de sustentar que a religião não é uma mera fuga de realidade.  Mas pode ser um fundo real na experiência direta do êxtase. Também seria forçoso dizer que sem o êxtase nenhuma prova cabal é possível no campo místico, como o próprio trabalho evidenciou. Pois a divindade não pode ser ouvida, nem vista, nem percebida pelos cinco sentidos. Mas pode ser percebida pelo homem desejoso de a perceber. Porém, se tal afirmação for verdadeira, a intensidade que esse desejo precisaria alcançar seria, provavelmente, tal que nenhum outro desejo deveria existir. De modo que, não havendo a menos dispersão de esforço, a energia mental pudesse atingir a sua intensidade máxima, tradicionalmente chamada de êxtase. Livro A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. Abraço. Davi

quinta-feira, 18 de maio de 2023

OS ORIXÁS - EXÚ

 

Religião Afro-brasileira. www.brasilescola.uol.com.br. Por Rainer Sousa. OS ORIXÁS – EXÚ. "A chegada dos escravos africanos ao Brasil foi responsável pela consolidação de uma nova experiência religiosa em nosso território. Contudo, ao contrário do que muitos chegam a imaginar, não podemos supor que esse movimento simplesmente instalou a mesma lógica e as mesmas divindades cultuadas no território africano. Ao mesmo tempo em que alguns deuses ficaram para trás, outros foram criados para compor uma experiência singular. Desse vasto panteão de divindades, os orixás se tornaram os mais conhecidos entre os praticantes e não praticantes das religiões de origem e influência africana. Segundo os ensinamentos do candomblé, todas as pessoas são filhas de orixás. Para que seja possível determinar a quais orixás um indivíduo pertence, ele precisa recorrer aos saberes oferecidos pelo jogo de búzios. O jogo de búzios consiste basicamente no lançamento de dezesseis conchas, também conhecidas como cauris, em uma peneira. O pai de santo é o único capaz de realizar o lançamento das conchas e realizar a correta leitura da posição de cada búzio. Além do jogo, os praticantes do candomblé também associam a pessoa ao seu orixá através das características físicas e psicológicas do praticante. Segundo a crença, cada pessoa recebe a influência de dois orixás principais. O primeiro é conhecido como o “orixá da frente” e o segundo como o “orixá de trás”, “segundo santo” ou “jutó”. Esse casal de divindades promove a proteção de seu seguidor e são reverenciados pelo pai de santo quando, este, toca a testa, para o orixá da frente, e a nuca para o orixá de trás. Além dessas duas divindades, uma pessoa pode incorporar a proteção de outros deuses, completando o número máximo de sete orixás." "No conjunto das religiões afro-brasileiras, os orixás podem assumir diferentes nomenclaturas segundo a crença que o adota. Na umbanda, os orixás não são diretamente incorporados pelas pessoas com aptidões mediúnicas. Geralmente, o orixá envia um representante, o falangeiro, que tem a função de repassar as ordens e orientações do orixá que o domina. Entre os mais conhecidos orixás podemos destacar as figuras de Exu, orixá mensageiro sem o qual nenhuma transformação acontece: Ogum, divindade que está correntemente associada às guerras e à agricultura. Oxossi, reconhecido como irmão de Ogum e associado à caça e proteção. Além disso, podemos destacar Omulu, poderosa divindade responsável pelos poderes de cura e doença. Xangô, senhor dos raios e trovões, Iemanjá, a mãe de todos os orixás. E Oxalá, o grande orixá da criação”.

 

 

"EXÚ. O orixá Exu é uma das entidades da religiosidade afro-brasileira cercada por um acalorado debate teológico. Para alguns, ele é compreendido como uma entidade desprovida de valores morais que pode fazer o bem ou o mal desde que seja previamente recompensado. Além disso, outros realizam uma interpretação rasa do seu significado, dizendo que Exu equivaleria a uma entidade de natureza diabólica.

 

Na observação de sua mitologia, Exu seria uma entidade mensageira responsável pela relação dos homens com os orixás e dos próprios orixás entre si. Dessa forma, a sua importância ganha uma ampla dimensão ao estabelecer o diálogo entre os deuses e viabilizar a proteção de seus adoradores contra outros seres espirituais inferiores e mal-intencionados. De fato, várias religiões compreendem que nenhuma ação pode ser executada sem a ciência e a permissão desta espécie de guardião.

 

Sendo intermediário dos acontecimentos, Exu é sistematicamente associado aos sentidos, à força de viver, à virilidade e ao sexo. Não por acaso, o ogó – instrumento de formato fálico e adornado com cabaços e búzios, que representam os testículos – é empregado na representação da entidade. Paralelamente, apesar de ser descrito como brincalhão, Exu também surge como um disciplinador e portador de um grande senso de justiça"

 

"É justamente nesse último ponto que Exu acaba despertando uma grande polêmica em torno de sua figura. Por conta de sua função articuladora, Exu não aceita que ninguém peça a sua ajuda sem que receba algo em troca. Quando alguém ignora a promoção da oferenda a essa divindade pode responder com terríveis punições. No pensamento religioso das crenças afro-brasileiras, esse comportamento vingativo acaba estreitando os laços entre Exu e os homens, pois também apresentam esse mesmo traço.

 

O papel mensageiro dessa divindade também possibilita a sua associação ao trânsito entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Por esta razão, é comum encontrar oferendas de farofa, galos e cachaça a Exu nos cemitérios e encruzilhadas. No rito angola, Exu parece com o nome de Aluviá. Já entre os praticantes da influência ritual jeje, este deus é nomeado como Bará, Elegbará e Legba." www.brasilescola.com.br. Abraço. Davi

terça-feira, 16 de maio de 2023

I. DECLÍNIO E REGERNERAÇÃO DAS RELIGIÕES

 

Teosofia. Por Ricardo Lindemann. Livro A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. Capítulo 25. I. DECLÍNIO E REGENERAÇÃO DAS RELIGIÕES. 1. Introdução. Este trabalho visa a investigar, inicialmente, se a Religião, enquanto fenômeno humano verificável, fundamenta-se numa experiência real de percepção ampliada da realidade, ou se, em verdade, é um meio de fuga projetado pela mente em busca de segurança e consolo. Para tanto, logo após ser feita uma breve introdução à temática com caracterização das correntes de pensamento, desenvolver-se-á uma análise de pressupostos e doutrinas comuns das religiões mais conhecidas, com ênfase particular no Cristianismo. O que facilitará a investigação histórica, devido à proximidade cultural e facilidade de obtenção de dados e evidências. A partir dessa análise histórica, tentar-se-á descobrir se há, realmente, evidências capazes de sustentar que alguma das hipóteses acima seja a mais provável. 2 Religião: Realidade ou Fuga? Podemos considerar que, do ponto de vista lógico clássico, há somente duas possibilidades: ou a Religião se refere a um fato ou a uma fantasia. As duas alternativas são mutuamente excludentes, incompatíveis, pois uma é a negação da outra. A primeira, de ênfase espiritualista, afirma que existe uma realidade maior referida nas diversas religiões. A segunda, de ênfase materialista, nega que exista essa realidade maior, afirmando que ela não existe de fato. Mas é uma criação mental, um sonho, uma fantasia, uma projeção psicológica de expectativas, enfim, um meio de fuga da realidade concreta que nos cerca, e que é frequentemente dolorosa. Ninguém nega, evidentemente, o fato sociológico e histórico que é a Religião, que assume proporções universais, pois todas as civilizações tiveram religiões, por mais diversas que fossem. Contudo, existem diversas tentativas de se explicar esse fato, esse fenômeno humano que é a Religião. Mesmo que existam esses diversos pensamentos, eles também podem ser classificados, sinteticamente, em duas correntes ou inclinações básicas, segundo sua ênfase. A primeira, que é a tese das Religiões Comparadas, tem uma ênfase espiritualista. A segunda, que é a tese das Mitologias Comparadas, tem uma ênfase materialista. Essas duas correntes investigaram a história das Religiões, pois elas se assemelham por seus grandes ensinamentos, pela nobreza de caráter dos seus fundadores, pelos símbolos que utilizam etc. Esse núcleo comum, que consideraremos a seguir, evidenciam mesmo uma origem comum. As duas correntes não divergem quanto a esses pontos, mas quanto à natureza dessa origem comum. A Mitologia Comparada afirma que a origem comum das religiões é a ignorância humana. A superstição comum seria a causa original tanto das religiões dos povos selvagens e bárbaros quanto das mais transcendentes e metafisicamente elaboradas religiões do mundo, que seriam apenas uma expressão mais aperfeiçoada daquelas. Segundo esse ponto de vista, as grandes religiões teriam surgido ao longo da história pelo aperfeiçoamento do animismo, do fetichismo, do culto da Natureza, do Sol etc. Os deuses são meras personificações das forças da Natureza, sendo um Krishna, um Buda ou um Cristo meros curandeiros sofisticados pela civilização. Que enganam o povo boquiaberto com exibições fraudulentas e nutrem as fantasias humanas com doutrinas consoladoras, que não passam de atraentes fugas da realidade dolorosa que nos cerca. Tudo se resume a dizer que morrer é o nosso destino, e qualquer sentido que se queira dar à vida é mera fantasia, elaboração mental consoladora. A Religião Comparada afirma, em contrapartida, que todas as religiões têm sua origem no ensinamento de “homens divinos”, de homens que tinham sua percepção aberta para uma realidade maior, transcendente aos cinco sentidos. E que, por meio do êxtase, conheciam a realidade dos mundos invisíveis, das leis condicionantes do destino da alma em vida e após a morte, da essência espiritual de todas as coisas. A origem comum das religiões seria, então, a sabedoria divina, sendo que as religiões selvagens, o animismo, o culto da Natureza etc. Seriam meras degenerescências que resultariam de um processo de declínio, “de uma longa decadência, modalidades desfiguradas de crenças religiosas verdadeiras”, como afirma Annie Wood Besant (1847-1933). Delimitado como está o problema nessa divergência quanto à natureza da origem das religiões, precisamos apenas investigar qual das duas hipóteses está mais bem fundada nos fatos históricos. 3 Pressupostos da Religião. Antes de iniciarmos diretamente uma investigação na história das religiões, parece importante que tenhamos em mente, com clareza, o que a própria Religião pressupõe. A palavra Religião, derivada do latim religio, que por sua vez é derivada do verbo ligare, significa, literalmente, reunião, religação. Portanto, a palavra Religião já pressupõe pelo menos duas coisas ou seres de certa forma separados, que são então reunidos, religados. É interessante citar que a palavra Yoga é derivada do radical sânscrito yuj, que significa unir, jungir, ligar por carga ou jugo (derivado do latim jugu, que lembra a raiz sânscrita yuj, da qual é provavelmente derivada). Assim, Yoga significa união, sendo definida como união ou reunião do Jivatma com o Paramatma, ou seja, da alma individual com a alma universal. Por esses exemplos, poderíamos talvez concluir que a Religião pressupõe uma religação ou reintegração da parte com o todo, quer se denomine a esses entes da alma individual e Deus, eu pessoal e Eu Universal, criatura e Criador etc. Conforme a época, nação, cultura e linguagem em que essas ideias de apresentarem ou nas quais forem revestidas. 3.1 Ensinamentos Comuns das Religiões. Como mencionamos anteriormente, é considerado com fato evidente e indiscutível, nos estudos antropológicos, históricos e psicológicos das religiões em geral, que estas possuem um núcleo ou base comum. Sobre esse tema já foram escritos inúmeros tratados, tanto na linha das Mitologias Comparadas quanto na das Religiões Comparadas. Por esse motivo, não é nossa intenção nos alongarmos sobre esse ponto. Porém, algumas deduções intuitivas poderão se mostrar interessantes. Se entendermos Religião como a reunião da alma individual com a Universal, da parte com o todo, isso pressupõe a existência de uma relação entre ambos, que inicialmente estão separados e posteriormente se reúnem. Ou talvez seja melhor dizer que eram inicialmente unidos, estão temporariamente separados, mas podem voltar a se unir: daí reunião. A lei que rege e harmoniza essa relação das partes com o todo e das partes entre si é conhecida no Oriente como lei do karma, ou lei de ação e reação, ou lei de causa e efeito. Nas escrituras cristãs, ela está muito bem sintetizada pelo apóstolo Paulo em Gálatas 6,7 “Não vos iludais, Deus não se deixa escarnecer: porque tudo o que o homem semear, isso também ele colherá”. Já temos, assim, três elementos básicos oriundos da nossa reflexão sobre a palavra Religião, a saber: 1º A alma individual, considerada imortal nas diversas religiões, porque não seria afetada pela transitoriedade da matéria. 2º A alma Universal, totalidade ou Deus, da qual a individual é uma parte e, por isso, persiste a possibilidade da reunião ou religião. 3º A lei que harmoniza essa relação da parte com o todo. Talvez encontremos esses três elementos básicos, mais poeticamente elaborados, no livro Luz no Caminho de Mabel Collins (1851-1927). Há três verdades que são absolutas e não podem ficar perdidas, mas podem permanecer em silêncio por falta de quem as proclame. I. A alma do homem é imortal e o seu futuro é o de algo cujo crescimento e esplendor não tem limites. II. O princípio que dá vida mora em nós e fora de nós. É imortal e eternamente benéfico, não é ouvido, nem visto, nem apreendido pelo olfato. Mas pode ser percebido pelo homem desejoso de o perceber. III. Cada homem é o seu absoluto legislador, o dispensador da glória ou das trevas para si próprio. É o decretador de sua vida, recompensa e punição. Estas verdades, grandes como a própria vida, são simples como a mente do mais simples dos homens. Alimentai com elas os famintos. O Cristianismo, particularmente, antropomorfizou muito a alma Universal ou “princípio que dá a vida”, mas se nos lembrarmos das palavras de Cristo em João 10,34: “Não está escrito na vossa escritura: Eu disse: Vós sois deuses?”. E que Cristo, como Segunda Pessoa da Trindade, é universal porque Ele é “o primogênito de toda criação, porque por Ele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis ...” Então nos lembraremos que Cristo está em nós, é o nosso íntimo que nos julga. Dessa forma, fica fácil compreender é a voz da nossa consciência que nos pune, é o próprio Cristo interno cujo “futuro é o de algo cujo crescimento e esplendor não têm limites”. Pois disse Paulo em Efésios 4,13 “Até que todos cheguemos ... a homem perfeito, à medida completa da estatura de Cristo”. Seja como for, com mais ênfase num ponto ou outro, podemos sempre encontrar, nos ensinamentos das diversas religiões, menção à alma imortal do homem, a uma alma Universal ou princípio que dá vida e a uma lei que rege a relação entre ambas, ou entre a parte e o todo, como se preferir. A ênfase maior ou menor em cada ponto parece estar ligada a condicionantes de passado cultural do povo em que aquela religião particular surgiu. 3.2 A Religião e o Êxtase. Um dos pontos mais misteriosos da Religião, se a entendermos como uma reunião ou reintegração da parte com o todo é o de que a parte já está dentro do todo! Pois, se tudo que existe é o todo, as partes que existirem só poderão existir dentro dele. Porém, então não poderia haver real separação entre a parte e o todo! Como poderemos, se isso for verdadeiro, entender uma reunião, uma Religião? Como pretenderemos reunir o que não está separado? Devemos, então, concluir que há uma contradição inerente na Religião, e, portanto, que ela está edificada sobre a pedra angular da ignorância humana, da superstição, como sustenta a Mitologia Comparada? Não necessariamente. Tal questionamento sobre a reunião da parte com o todo nos levaria a uma contradição, caso nos esquecêssemos de que o nosso consciente não está usualmente integrado harmonicamente com o nosso íntimo, que é a voz da consciência, o todo em nós. Aliás, os seres humanos estão frequentemente em conflito com o seu íntimo, não é verdade? Aí está justamente o núcleo dos conflitos psicológicos ... Porém, se assim entendermos a relação do homem com a divindade, o Cristo interno ou “em vós”, então a Religião passaria a ser, estritamente falando, uma religação consciente com Deus! E isso é exatamente o que os místicos têm chamado de êxtase, samadhi, satori etc. Seria uma ampliação da percepção direta desse “princípio que dá a vida” que “mora em nós e fora de nós”. Que não pode ser percebido pelos cinco sentidos. Mas que pode ser percebi pelo êxtase. A própria razão de ser da Religião seria a busca da superação desse estado de conflito, de vazio, que tanto pesa em nossa alma, pelo descobrimento da plenitude da totalidade em nosso interior, através do êxtase, da iluminação etc. Nesse sentido estrito, a Religião, ou reunião, é esse estado ampliado da consciência em que o eu pessoal se funde com o Eu Universal, mesmo que, em muitos casos, ele dure pouco tempo. Plotino (204-270), o neoplatônico alexandrino do século III, refere-se assim ao êxtase. “Quando um homem é arrebatado pela Divindade, ele perde a consciência de si mesmo. Quando contempla o divino espetáculo que possui dentro de si,, contempla a si mesmo e vê sua imagem embelezada. Por bela que seja, ele deve deixá-la de lado e concentrar-se na Unidade, sem fazer nela nenhuma divisão. Então ele se torna simultaneamente um e tudo com essa Divindade, a qual silenciosamente lhe concede a Sua presença. Então o homem é unido à Divindade, na medida de seu desejo e de sua capacidade. Se, conservando-se puro, ele voltar à dualidade, permanecerá tão perto quanto possível da Divindade e gozará da divina Presença tão logo se volte para Ela”. Sem o êxtase não há Religião, embora possa haver cultos, ritos, dogmas, escrituras sagradas, instituições religiosas etc. Como veremos, sem o êxtase as religiões entram em declínio. 4 O Fenômeno do Declínio. Como disse Van der Leew (1890-1950) “Quando cessa a experiência da verdade viva no interior da consciência do homem, ele é forçado a colocar sua fé na doutrina exterior, substituindo assim a Realidade íntima. A verdade não pode ser exteriorizada, não sendo algo de objetivo, não pode ser contida, mesmo parcialmente, numa declaração ou num livro, por sublime que seja. A verdade é a relação viva das coisas como são e só pode ser compreendida a partir do interior. Desde o momento em que o homem, despojado da inspiração que é a voz interior da verdade, celebra, e seu lugar, o ídolo falso que é o dogma, a luta entre o misticismo ou inspiração e a ortodoxia ou dogmatismo está iniciada”. O apostolo Paulo, que era um homem sábio, conhecia bem essas tendências dogmatizantes da mente humana, pois as sintetizou em uma única frase lapidar em II Coríntios 3,6 “A letra mata, mas o espírito vivifica”, como dizia Jiddu Krishnamurti (1895-1986) “A palavra não é a coisa. As ideias não são a verdade. A verdade é algo que tem de ser experimentado diretamente, de momento a momento”. Infelizmente, a verdade mística só pode ser alcançada pelo êxtase, e, como vimos ao citar Plotino existem condições de capacidade e pureza para que este seja alcançado. Só um homem puro e com enorme capacidade de concentração meditativa pode alcançar o estado máximo de percepção interior que é o êxtase. Só então o homem “é arrebatado pela Divindade”, perdendo “a consciência de si mesmo”, como Plotino referiu. Quando Nenhum adepto de uma certa religião consegue alcançar esse estado de percepção direta, os religiosos ficam restritos à letra e às descrições feitas pelo seu fundador e seus discípulos mais capazes. Ou seja, como disse o apóstolo, essa religião declinará ou morrendo pelo apego à letra, e pela falta de vida que só o êxtase espiritual pode produzir ou desvelar. Começam então as perseguições, o medo das heresias, a fragmentação da religião em uma infinidade de seitas com diferentes linhas de interpretação, o fanatismo etc. E esse é, infelizmente, o quadro de muitas religiões do mundo, fato histórico e atual. Poderíamos citar inúmeros exemplos, entre os quais está a guerra entre o Irã e o Iraque, decorrente da discordância entre os xiitas e os sunitas, que são seguidores de diferentes seitas do Islamismo etc. Preferiremos, contudo, citar um exemplo mais próximo de nossa cultura: o Cristianismo. 4.1. O Caso do Cristianismo. Ao invés de investigarmos os crimes que a Santa Inquisição fez em nome de Deus, ou das Cruzadas, que mataram um número ainda maior de pessoas também em nome do Altíssimo. Ou das lutas atuais na Irlanda entre protestantes e católicos, que seriam fonte de terríveis evidências do declínio do Cristianismo, e que devem fazer com que seu Sábio Fundador se compadeça dos seus ignorantes seguidores. Tentaremos demonstrar com uns poucos indícios, aos quais temos acesso, a grandeza espiritual de algumas linhas do Cristianismo primitivo. Há inúmeras passagens nos evangelhos em que Cristo faz referência aos Mistérios que ele revela somente aos seus discípulos escolhidos. Por exemplo: “E quando se achou só, os que estavam junto dele com os doze interrogaram-no acerca da parábola. E ele disse-lhes: a vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas essas coisas se dizem por parábolas: para que, vendo vejam, e não percebam, e ouvindo, ouçam e não entendam ... Marcos 4,10-12”. “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo estavam aptos a ouvi-la. E sem parábolas nunca lhes falava; mas quando estavam a sós, ele expunha todas as coisas aos seus discípulos. Marcos 4,33-34”. Comparemos essas passagens com esta de Clemente de Alexandria (150-213), na Stromata: “A pureza não é mais que um estado passivo útil, principalmente com condição para adquirir o conhecimento. Aquele que foi purificado no batismo e logo iniciado nos Mistérios Menores adquiriu, por assim dizer, o hábito da reflexão e o domínio de si mesmo. E se encontra maduro para os Mistérios Maiores, para a Epopeia ou Gnosis, ou o conhecimento científico de Deus”. Lembrando que Clemente era Padre da Igreja Cristã de Alexandria, poderíamos perguntar quantos padre de hoje admitem que os Mistérios Cristãos tenham ao menos existidos? “Agora, em resposta a tais declarações, afirmamos que não é a mesma coisa convidar à cura os que estão doentes da alma e os que estão com saúde, ao conhecimento e estudo das coisas divinas. Nós, todavia,  mantendo sob nossas vistas ambas estas coisas, primeiro convidamos todos os homens a serem curados. E exortamos os que são pecadores a entregar-se à consideração das doutrinas que ensinam os homens a não pecar. E aos que são destituídos de entendimentos, aos que engendram sabedoria, e aos que são crianças. A elevar-se em pensamentos até a virilidade, e aos que são simplesmente desafortunados à boa fortuna ou – usando um termo mais apropriado – à bem-aventurança. E quando os que se voltaram para a virtude tiverem feito progresso, mostrando que foram purificados pelo Verbo e levando, tanto quanto puderem, uma vida melhor. E não antes, os convidaremos a participar de nossos Mistérios”. “Pois falamos sabiamente entre os que são perfeitos”. E diz mais: “Não à participação nos Mistérios, pois, e à comunhão na sabedoria oculta num Mistério, que Deus ordenou perante o mundo para a glória de seus santos, não a isso convidamos o homem mau e o ladrão e o arrombador e o envenenador e o que comete sacrilégio e o saqueador de mortos e todos aqueles que Celso possa enumerar, em seu estilo exagerado, mas a esses homens convidamos a que se curem”. Mas, por outro lado: “ ... quem quer que seja puro não só de toda mácula, mas do que é tido como transgressões menores, que seja ousadamente iniciado nos Mistérios de Jesus, os quais com propriedade, são dados a conhecer apenas aos santos e puros. Livro A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. Abraço. Davi.

domingo, 14 de maio de 2023

OS TRÊS TIPOS DE FÉ. SHRADDHA

 

Bhagavad Gita. Comentário de Shri Mataji Devi. OS TRÊS TIPOS DE FÉ. SHRADDHA. Nesse 17º capítulo Arjuna pergunta acerca da posição daqueles que adoram Deus com fé. Em resposta a isso, o Senhor Krishna descreve os três tipos de fé baseadas nas três Gunas e afirma que o caráter de um indivíduo é determinado pela sua fé. A fé do ser humano é determinada pela dominância de uma ou de outra das três qualidades da natureza; vale dizer, Sattva, Rajas e Tamas. As suas preferências em relação aos objetos de adoração, aos alimentos, às atividades, etc; dependerão do tipo de sua fé (Shradha). Tudo aquilo que é feito sem orgulho, mas cuja motivação é o bem dos outros e leva em consideração a graça de Deus é algo com as caraterísticas de Sattva, ou seja, pureza e equilíbrio. Tudo aquilo que é buscado ou feito com desejo, com vaidade ou com a busca de recompensas tem as peculiaridades de Rajas, ou seja, paixão e agitação. Tudo aquilo que é realizado com indiferença, com má vontade ou impensadamente é Tamas. Tal conduta é fútil em relação à evolução mais elevada do ser humano. Os versos de 23 a 28 tratam das sílabas sagradas OM, TAT e SAT, que indicam uma mentalidade impregnada de espiritualidade. Seja o que for que um indivíduo oferecer a Deus, proferindo essas sílabas, promoverá o seu progresso espiritual. Todos os rituais, todos os sacrifícios e todas as ações caritativas não produzirão quaisquer efeitos se não forem alicerçadas pela fé. Segue a Escritura Sagrada. “Então dirigiu Arjuna ao Divino Mestre esta pergunta: Qual é a condição e o estado daqueles homens que com fé oferecem sacrifícios, embora menosprezem os preceitos da Lei escrita? É de Sattwa, Rajas ou Tamas? Respondeu Krishna, o Sublime: De três tipos é a fé inata nos encarnados: pura, passional e tenebrosa (Sattwica, Raj´stica e Tamástica). Escuta o que delas passo a dizer-te. A fé de cada um, Oh príncipe! Reflete o caráter ou a natureza do homem. A fé constitui o homem: assim qual seja a sua fé, tal será o homem. Os homens nós quais predomina a Sattwa veneram seres espirituais elevados, dando-lhes os nomes de deuses e santos; os mais adiantados adoram a Mim, o Deus único. Ao homens rajásticos veneram heróis e outros seres espirituais poderosos. Os tamasicos dirigem o seu culto aos espíritos inferiores, demônios e espectros. Atormentado os elementos vivos nos seus corpos, a Mim mesmo Me atormentam, e associam-se aos demônios. De três espécies são os alimentos apreciados pelos homens, e também de três são os sacrifícios, as austeridades e as esmolas. Escuta como se distinguem. O alimento mais agradáveis ao homem puro é aquele que aumenta a vitalidade, o vigor, a saúde. Preserva da doença, e traz o contentamento e a calma de espírito. Tal alimento tem bom sabor, mata a fome, não é nem demasiado amargo, nem demasiado azedo, nem salgado demais, nem muito quente, picante ou adstringente (contrai, aperta). Os homens rajásticos preferem o que é amargo, azedo, ardente, picante, bem salgado e fortemente temperado. Que lhes excite o apetite e estimule o paladar, porém, finalmente lhes acarreta moléstias, dores e enfermidades. Os homens tamásicos apetecem alimento rançoso, estragado, insulso, putrefato, corrompido e ainda as sobras de comida e outras imundícies. Quanto aos sacrifícios e oferendas, eis a distinção: o homem sáttwico oferece o sacrifício conforme as prescrições das Escrituras, sem desejar recompensas firmemente convencidos de que estão cumprindo um dever. O homem rajásico adora e oferece sacrifícios com a esperança de obter uma vantagem, preferência, prêmio ou recompensa, ou por motivos de vaidade e ostentação. O tamasico pratica os atos de adoração e apresenta oferendas com fé, sem devoção, sem pensamento ou reverência, só porque quer seguir o costume. Eis agora as três espécies de penitência, que são: a penitência corporal, lingual e mental. A penitência corporal consiste em respeitar os seres celestes, os homens santos os iluminados. Os Mestres e guias do conhecimento, os sábios e ser honesto, reto, casto e manso. A penitência lingual consiste em prece silenciosa, e em falar com gentileza e mansidão afavelmente, evitando todas as palavras ofensivas, dizendo o que é verdadeiro e justo. A penitência mental consiste no contentamento e na igualdade de ânimo, temperamento moderado, discrição, devotamento, domínio das paixões e pureza da alma. Estas três espécies de penitência, praticadas com boa fé pelos homens amantes de Deus, que não as fazem com motivos egoístas, pertencem a Sattwa. A penitência, praticada pelos hipócritas e com a esperança de obter vantagens pessoais, honra e boa fama, pertence a Rajas. Esta é incerta e inconstante. A penitência motivada pro algum fim insensato, para atormentar-se a si mesmo ou fazer mal aos outros, pertence a Tamas. Quanto à prática de caridade, também é de três modos. Quando se dá esmola ou auxílio a uma pessoa digna, que não pode retribuí-lo, pelo sentimento de dever, em lugar e tempo próprios, é um ato sáttwico. Quando se dá um presente com a esperança de obter, por isso, recompensa ou vantagem, ou quando se dá com repugnância, é um ato rajástico. E quando se dá esmola sem afabilidade, com desprezo, em lugar e tempo impróprios, ou quando se dá um indigno, é um ato tamástico. AUM – TAT – SAT. Este é o tríplice nome de Brahma. A tríplice designação do Absoluto. A esta força devem a sua existência os mestres e iluminados, as Sagradas Escrituras e a Religião. Por isso, aqueles que conhecem Brahma, pronunciam sempre a palavra AUM, que significa o Eterno Poder Supremo; antes de praticarem qualquer ato religioso ou antes de darem esmola. TAT é o símbolo que indica que todos os entes tem o seu ser eternamente em Deus. Pronuncia-se na prática de vários sacrifícios, penitências e obras de caridade, para evocar a ideia de Unidade. SAT significa verdade e bondade, e pronuncia-se quando se pratica uma boa ação ou quando se observa uma boa qualidade. Por isso, designa-se com a palavra SAT a perseverança, em sacrifício de si mesmo, penitência, renúncia, adoração mental e caridade, e tudo relativo a estes fins. Tudo, porém, que se faz sem fé e sem boa vontade, seja sacrifício, mortificação da carne, abstinência ou esmola chama-se ASAT (nulidade) e não tem valor ou mérito, nem neste mundo nem no outro”. Abraço. Davi.