sexta-feira, 30 de julho de 2021

ESPECIFICAÇÕES DO ISLÃ

 

Islamismo. www.ibeipr.com.br. ESPECIFICAÇÕES DO ISLÃ. O Islã é a mensagem celestial que Deus revelou ao profeta Mohammad ibn Abdallah (S.A.A.S.) (1) através do anjo Gabriel. É o resumo de todas as mensagens celestiais e tem como base o Alcorão Sagrado. O objetivo desta mensagem é ligar Deus ao ser humano e este a Deus, e baseado nisso, ele preenche todos os campos da vida humana. O Islã tem dois aspectos: o espiritual e o jurídico. Por isso, ele está relacionado com todos os campos da vida, tanto materiais quanto espirituais. A dimensão espiritual do Islã consiste em: A) O MONOTEÍSMO. O Islã sempre pregou e confirmou o Monoteísmo e negou qualquer tipo de divindade criada pelo ser humano. Seu principal lema é "O testemunho sobre a divindade de Deus, o único". Ele é único, eterno, absoluto, jamais gerou ou foi gerado e ninguém é comparável a Ele. Por isso, somente Deus é a fonte da jurisprudência e da legislação que envolvem o ser humano, em qualquer lugar e época. A Casa Sagrada de Deus em Meca, no Hijaz (Arábia Saudita). Por meio desta crença, o ser humano faz uma aliança com o seu Senhor e com a Profecia. Por isso, podemos dizer que testemunhar que "não há divindade além de Deus" (La ilaha illa Allah) é uma filosofia de vida e não apenas palavras na língua ou teorias na mente. B) A JUSTIÇA. A injustiça é um atributo maléfico e por Deus ser isento deste atributo, representa a justiça em si e nos convida sempre a praticá-la e a pregá-la, bem como a verdade. Com isso, combate qualquer tipo de injustiça e opressão dentro da sociedade. Assim, a Doutrina Islâmica objetiva uma vida cheia de paz e segurança para toda a humanidade. Perante o Islã não há diferença entre as classes sociais, entre o pobre e o rico, o subordinado e o soberano, o negro e o branco. O profeta Mohammad (S.A.A.S.) disse: "Os seres humanos são tal qual o pente, todos os dentes estão nivelados". Por isso, o Islã condena o terrorismo em todas as suas formas, seja na figura de uma pessoa, de grupos ou de um Estado, pois o terrorismo significa a ofensa sobre o direito dos outros, tanto materiais quanto espirituais. C) A PROFECIA.A Profecia é o meio de comunicação entre o ser humano e Deus. É através dele que são reveladas as jurisprudências divinas para o ser humano. Aceitar o profetismo é uma das crenças mais fortes e importantes da religião Islâmica. Crer no profeta Mohammad (S.A.A.S.) é crer em todos os profetas, já que eles foram enviados com a finalidade de ensinar aos seres humanos o que Deus quer deles, o que Ele proibiu e autorizou, por isso o segundo testamento mais importante no Islam é "Testemunhar que Mohammad é o mensageiro e servo de Deus", já que ele é o último dos profetas e mensageiros e é também o resumo de todos eles. Foi ele quem nos revelou o Alcorão Sagrado, este que não foi redigido por ele, mas dito por Deus e revelado ao seu profeta e mensageiro Mohammad (S.A.A.S.) por intermédio do anjo Gabriel durante 23 anos. Mesquita onde se encontra enterrado o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) em Medina, Arábia Saudita. D) O IMAMATO. Para que a última mensagem divina revelada pelo concludente dos profetas (S.A.A.S.) continue como foi exposta, foram nomeados e escolhidos, por Deus, dozeImames (líderes espirituais) e sucessores para dar continuidade à função do profeta Mohammad (S.A.A.S.) de divulgar, proteger e ensinar os fundamentos do Islã para a humanidade. O profeta Mohammad (S.A.A.S.) anunciou, sob a ordem de Deus, a vinda destes doze Imames (A.S.) para liderar a Nação Islâmica e para serem protetores e conservadores desta grande mensagem. Ele disse: " Os Imames depois de mim serão doze, o mesmo numero dos apóstolos de Jesus”. A nomeação dos sucessores após sua morte é algo muito relevante e lógico pelo tamanho da importância que o Islã representa na vida do ser humano e para que a Nação e a população não entrem em conflito. O Alcorão Sagrado e o profeta Mohammad (S.A.A.S.) os nomeiam comoAhlul Bait (A.S.), que em português significa "Gente da Casa", ou seja, são seus familiares e seus descendentes (A.S.). O Islã crê que o décimo segundo Imam, chamado de "Al-Mahdi", nascido em 868 está vivo entre nós. Entretanto, está oculto de nossos olhares. Ele está vivo por um milagre divino, da mesma forma que o profeta Noé (A.S.), que viveu por mais de mil anos, e o profeta Jesus Cristo (A.S.), que também vive até agora. O Imam(A.S.) observa todos os acontecimentos do mundo e na sua ausência a liderança pertence aos líderes tementes, sábios, que governam sob o conhecimento e as jurisprudências Islâmicas, que se baseiam nos ensinamentos do Alcorão Sagrado e na Tradição do profeta Mohammad (S.A.A.S.). No final dos tempos, é justo que a verdade seja vitoriosa e a integridade tome conta deste mundo. É isto que a humanidade aguarda e deseja. Com a força de Deus e com a Sua proteção, o Imam Al-Mahdi (A.S.) será o salvador que aparecerá com a ordem de Deus. Junto dele virá o profeta Jesus Cristo (A.S.), que rezará atrás dele. Deus disse no seu livro Sagrado: "Temos prescrito, nos Salmos, depois da Mensagem (dada a Moisés), que a terra, herdá-la-ão os Meus servos virtuosos" (Alcorão Sagrado - 21:105). E) O JUÍZO FINAL. Crer na Ressurreição após a morte, pois Deus fará com que o espírito volte para o corpo, não para viver novamente na Terra, mas para ser julgado e viver eternamente. Assim, Deus nos julgará por nossos atos e nos compensará ou nos castigará. Recompensará os fieis, crentes, obedientes e aos seus seguidores o Paraíso estará reservado. Castigará os infiéis, desobedientes, os injustos e os punirá com o fogo do Inferno. Isto foi pregado pelos profetas e confirmado por todas as mensagens celestiais. É aconselhável, então, ao ser humano, praticar o desejo de Deus, pois assim seguirá ao Paraíso e não ao Inferno, uma vez que todos seremos julgados por nossos atos e atitudes. Depois da morte, o ser humano não se transforma somente em pó e acaba, mas é julgado no Dia do Juízo Final e recompensado ou castigado por todas as suas obras, sejam elas pequenas ou grandes. Deus disse no Alcorão Sagrado: "Quem tiver feito o bem, quer seja do peso de um átomo, vê-lo-á; e quem tiver feito o mal, quer seja do peso de um átomo, vê-lo-á " (99:7-8). Convidamos a todos a seguir o caminho da verdade, o caminho que Deus quer. Assim, saberemos o que agrada a Deus e o que não O agrada, afastando-nos do mal e, consequentemente da ira divina. AS ESPECIFICAÇÕES DO ISLÃ.  A religião conservada e protegida: A Religião Islâmica esteve conservada e protegida de qualquer tipo de modificação e desvios e continuará assim para toda a eternidade. Seus princípios e regulamentos nunca foram modificados, desde o dia de sua revelação e permanecerá assim até o Dia do Juízo Final. Deus, louvado seja, disse no Alcorão Sagrado: "Nós revelamos a Mensagem e somos o seu Preservador" (15:9). Tudo isto atribui força para o Islã prosseguir sua caminhada na vida terrena. A conservação do Alcorão Sagrado. A conservação desta grandiosa mensagem é resultado da conservação dos versículos do Alcorão Sagrado, que há catorze séculos permanece intacto. Este Livro Sagrado contém 114 capítulos e 6.348 versículos que tratam dos mais diversos assuntos: históricos, jurídicos, educacionais, sociais, econômicos, políticos, relativos à crença e tudo que está relacionado a esta vida também. O Alcorão Sagrado foi revelado pelo arcanjo Gabriel ao profeta Mohammad (S.A.A.S.) que, obedecendo a sua função, repassou o conhecimento a toda a humanidade. O Islã não é religião de um povo eleito e muito menos defende este ponto de vista. Todos somos criados por Deus e a Ele retornaremos. O primeiro sucessor do profeta Mohammad (S.A.A.S.), Imam Ali (A.S.), uniu e registrou, de acordo com a revelação, todo o Alcorão Sagrado revelado por Deus ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.). A Casa Sagrada de Deus (Caaba). Os muçulmanos rezavam, primeiramente, na direção da Mesquita de Al-Aqsa, localizada na Palestina, na cidade de Al-Qods (também conhecida por Jerusalém). Ela é a primeira Qiblah (ou seja, "Direção") das orações dos muçulmanos e o terceiro templo sagrado para o Islã. Porém, o Profeta Mohammad (S.A.A.S.) estava sendo pressionado pelos judeus pelo fato de os muçulmanos rezarem na direção desta Mesquita. Por isso, um certo dia, Deus, louvado seja, ordenou que o Profeta se direcionasse à Caaba. Isso foi registrado no Alcorão Sagrado: "Vimos-te (ó Mensageiro) orientar o rosto para o céu; portanto, orientar-te-emos até uma Qiblah que te satisfaça. Orienta teu rosto (ao cumprires a oração) para a Sagrada Mesquita (de Meca)! E vós (crentes), onde quer que vos encontreis, orientai vossos rostos até ela. Aqueles que receberam o Livro, bem sabem que isto é a verdade de seu Senhor; e Allah não está desatento a quanto fazem” (2:144). Entre a Sagrada Mesquita daCaaba e a Mesquita de Al-Aqsa ocorreu a viajem noturna do profeta Mohammad (S.A.A.S.). Deus disse no seu Livro Sagrado: "Glorificado seja Aquele que, durante a noite, transportou o seu servo, tirando-o da Sagrada Mesquita (em Meca) e levando-o à Mesquita de Al-Aqsa, cujo recinto bendizemos, para mostrar alguns dos Nossos sinais. Sabei que Ele é o Oni ouvinte, o Onividente" (17:1). Este acontecimento milagroso também foi registrado no Alcorão Sagrado e é chamado de Al-Isra'. Atualmente, todos os muçulmanos do mundo rezam as cinco orações diárias e obrigatórias em direção à Caaba, localizada em Meca, na Arábia Saudita. Esta Casa Sagrada, que foi construída pelo profeta Abraão (Ibrahim) junto com seu filho Ismael (A.S.), é considerada o Templo Sagrado mais antigo da Terra. Nesta Sagrada Mesquita existe a fonte de água chamadaZam-Zam, que surgiu sob os pés do profeta Ismael (A.S.) e existe até agora. Há também na Mesquita o Maqam Ebrahim. "Recinto de Ibrahim" - que representa o local onde o profeta Abraão (A.S.) orava. Como também existe Hejer Ismail - "O Canto de Ismael" - onde o profeta Abraão (A.S.) residia com a sua família. Este é o destino de milhões de peregrinos muçulmanos de todos os continentes, em todos os anos. Deus disse no Alcorão Sagrado: A primeira Casa (Sagrada), erguida para o gênero humano, é a de Bakka (2), bendita seja, servindo de orientação para a humanidade. Encerra sinais evidentes: lá está a Estância de Abraão, e quem quer que nela entre estará em segurança. A peregrinação à Casa é um dever para com Allah, por parte de todos os seres humanos que estejam em condições de empreendê-la, entretanto, quem se negar a isso saiba queAllah pode prescindir de todas as criaturas" (2:96-97). Em uma das quatro colunas de Caaba está engastada a Pedra do Paraíso, Al-Hajar Al-Assuad - "A Pedra Negra". A Caaba foi reconstruída inúmeras vezes, em diferentes épocas, como na época do avô do profeta Mohammad (S.A.A.S.), Qussai ibn Kilab, e também antes de o Profeta receber a Mensagem Islâmica. As reconstruções continuaram e, atualmente, a Mesquita de Caaba suporta mais de um milhão de fieis. Estas ampliações e reformas que atingiram a Mesquita de Caaba incluíram, dentro do seu território, dois montes: Safa e Marwa. Na cidade de Meca e em diferentes regiões próximas existem outros sítios históricos que são considerados sagrados e religiosos e que recebem a visita, em todos os anos, de milhões de fiéis. A religião do diálogo. Islã é a mensagem da mente, da razão e da ciência, do diálogo e do esclarecimento, uma vez que elucida qualquer coisa. No Islã não existe uma pergunta sem resposta e por isso o Islã não aceita a imposição de uma opinião ou teoria sobre outrem. A religião ampla, que contém tudo. O Islã inclui em si todos os campos da vida. Baseia-se no equilíbrio entre diversos setores tanto materiais quanto espirituais. Assim, a Doutrina Islâmica liga a mesquita à universidade, o trabalho à casa, a devoção à política, infiltra-se em diversas áreas, tais como a medicina, a sociologia, a educação, a devoção, a política, a economia, o esporte, os planejamentos do estado, os direitos e deveres, a legislação. A Religião Islâmica é, também, um código de conduta completo e influi em tudo. O Islã é uma religião completa e preenche o vazio que a sociedade e o ser humano possuem no que tange à sua materialidade e espiritualidade. A religião da virtude e da ética. Um dos atributos mais importantes do Islã é sua amplitude moral e ética, sempre presente em nossa política, governo, trabalho, casa, escritório, arte, criatividade, medicina, família, relacionamentos, escola, rua, e em todos os outros campos da vida. Ao mesmo tempo, o Islã nos convida a nos afastar dos maus atributos. A religião da sabedoria e do conhecimento. Os primeiros versículos revelados ao profeta Mohammad (S.A.A.S.) são: "Lê, em nome do teu Senhor que criou; criou o homem de algo que se agarra (coágulo). Lê, que o teu Senhor é o mais Generoso, que ensinou através da pena; Ensinou ao homem o que este não sabia". (96:1-5). Buscar o conhecimento é obrigatório no Islã. Conhecimentos que trazem benefícios à sociedade, que não sejam maléficos e destrutivos. Estes conhecimentos são proibidos e pecado no Islã. Ele nos convida a não seguir cegamente os costumes e a cultura dos antepassados, mas incentiva a meditação, o pensamento e o equilíbrio mental. Pois somente assim não seremos ignorantes e sempre seguiremos a verdade. Ele nos ordena a evoluir nos nossos pensamentos, incentiva a descoberta e o estudo das ciências para que possamos correlacionar o ser humano ao seu Criador. A religião que ilumina os povos. O Islã tem uma grande contribuição em levantar e ensinar as nações fortes que carregam a bandeira da orientação e da verdade. Isso não se limita somente à época e ao lugar de sua revelação. O Islã despertou, ensinou e levantou as nações e os povos do mundo todo, nunca restringindo sua grande civilização. O Islã desenvolveu enormemente a química, medicina, física, matemática, astrologia e outras ciências, divulgando todo este imenso conhecimento para toda humanidade. Deste modo, a Civilização Islâmica foi seguindo até chegar à Europa, fazendo evoluir os povos, orientando-os para o caminho da felicidade. O Islã teve um grande papel na instrução e civilização dos povos. Por isso, proibiu a destruição da alma, do corpo, do organismo, da mente e do espírito humanos, pois proíbe o consumo de qualquer tipo droga, qualquer alimento impura, que contamine a alma e acabe tendo como resultado um ser humano criminoso e não saudável. A religião da vida. A Religião Islâmica não é uma religião baseada somente na devoção, mas está ligada a toda a vida do ser humano, do estado e do Governo. O Islã está ligado a todos os aspectos do ser humano: seja no plano individual, social e político. A religião praticada pelo seu revelador. O Islã foi ponto de partida de todas as atitudes e práticas do profeta Mohammad (S.A.A.S.). Ele se baseou nas leis e jurisprudências islâmicas para fundar um Estado e um Governo Islâmico, que protegesse os oprimidos, injustiçados, pobres e fracos. O Islã é a única religião que transformou seus lemas e palavras em verdades e em matérias tocáveis, que poderiam ser vividas entre os indivíduos. Então, fundou o primeiro governo "Divino" na face da Terra, na cidade de Medina, em Hijaz, no século VII d.C. A religião universal. O Islã não está limitado em sua geografia, na cor, na nacionalidade, no idioma, na raça, no sexo e na idade. Ele inclui qualquer ser humano. Os ensinamentos islâmicos são uma mensagem universal. O Islã é a religião completa, que se baseia no amor e nos pontos em comum entre os seres humanos, respeitando as diferenças por todos nós sermos da mesma criação.O Islã e o respeito à vida. O Islã considera a vida humana sagrada. A ofensa sobre esta vida é considerada uma ofensa sobre a humanidade. O Islã proibiu matar a inocente alma humana - mesmo um bebê recém-nascido ou dentro do útero da mãe (aborto). Como considerou também ferir a si próprio um insulto sobre toda humanidade, porque o ser humano não tem poder sobre si - este poder é de Deus. Por isso, o Islã crê que o assassino permanecerá eternamente no inferno. Deus disse no seu Livro Sagrado, o Alcorão: "Quem matar uma pessoa, sem que esta tenha cometido homicídio ou semeado a corrupção na Terra, será considerado como se tivesse assassinado toda humanidade" (5:32). O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) ensinou: "Para Deus acabar com o universo todo é mais fácil do que testemunhar o derramamento de sangue sem justiça". Todo ser humano deve ser respeitado. Qualquer ofensa sobre cor, raça, sexo, situação física ou financeira e idade é considerado pecado e crime no Islã. A religião contínua e eterna. O Islã, por ser a última mensagem monoteísta divina, foi preservada por Deus, permanecendo intacta para todas as épocas e lugares, até o final dos tempos. Esse é o grande milagre do Profeta Mohammad (S.A.A.S.), o Alcorão Sagrado, ao contrário de mensagens anteriores, que revelavam milagres limitados a determinados lugares e a uma dada época. A promessa divina será cumprida em toda a face da Terra quando oImam Al-Mahdi (A.S.) e o profeta Jesus Cristo (A.S.) voltarem e fundarem o Estado e o Governo justo e verdadeiro no mundo todo. http://www.ibeipr.com.br. Abraço. Davi.

 

quarta-feira, 28 de julho de 2021

O PONTO DE VISTA DOS OUTROS

 

Espiritualidade. Texto de N. Sri Ram (1889-1973). O PONTO DE VISTA DOS OUTROS. Esse tema é especialmente pertinente às condições existentes em toda parte atualmente. Podemos ver quanto do problema, entre nação e nação, raça e raça, comunitário, social e pessoal, deve-se à nossa incapacidade de tratar O PONTO DE VISTA DO OUTRO de forma justa. E, frequentemente, quando nos tornamos perceptivos do problema, tratamos com pouca cortesia ou o sujeitamos ao ressentimento e ao desdém. Esta é uma época que se orgulha de direitos e liberdade, mas no exercício da liberdade, tendemos a estabelecer o direito exclusivo e pessoal. Parece pensarmos que o homem tem menos direito a seus PONTO DE VISTA do que a seus pertences mais tangíveis. Não compreendemos que ele não pode deixá-los mesmo se quisesse. Essas observações parecem por demais impetuosas? O espírito a que se referem é por demais comum. A diferença em sua prevalência é apenas de grau. A tolerância não é uma virtude difundida, porque é uma virtude da maturidade, e ainda não deixamos o estágio primitivo muito atrás de nós. A aparência de nossa civilização moderna mal oculta as paixões e instintos que, em outras épocas, tinham livre expressão de maneiras diferentes e talvez menos sofisticadas. O outro homem, cujo PONTO DE VISTA estou discutindo, pode ser um homem ou mulher de outra raça, nacionalidade ou comunidade; pode ser um rival, um empregador ou empregado, um estranho que por acaso entra num compartimento do trem (metro) que você ocupa, alguém que pisa no seu pé na rua, o vizinho barulhento; ou pode até mesmo ser o seu irmão ou amigo. Ele está em toda parte e continua forçando seu PONTO DE VISTA sobre você de todos os lados. A vida em si parece empenhar-se em fazer com que você a entenda. Sendo assim, é uma prática útil nos colocarmos em imaginação na posição do outro e ver como nós próprios sentiríamos em seu lugar. Muitas irritações menores seriam cortadas pela raiz, e muita divergência seria rápida e pacificamente acertada. Se pudéssemos ser um pouco gentis quando buscamos ajustar nossas diferenças, ajudaria muito a lubrificar as engrenagens da vida diária. Devemos lembrar, também, que nosso próprio PONTO DE VISTA não é necessariamente certo. Pode ter raízes no preconceito. Nossa razão, que estamos prontos a afirmar que é infalível, normalmente se move sobre a superfície escorregadia de nossos gestos e aversões, mesmo se evita a ladeira da paixão precipitada. Quando dizemos: Este é o meu PONTO DE VISTA não dissemos a última palavra em sua justificação. Podemos estar meramente assumindo posição no topo da presunção do qual não desejamos ser desalojados, porque, talvez, nos permita desfrutar um senso de superioridade solitária. Nossa inflexibilidade pode de fato não surgir da presunção, mas pode estar baseada num princípio que buscamos defender; isso não assegura que veremos as coisas numa perspectiva correta ou em seu aspecto próprio; vemos os OUTROS através de uma névoa de preconceito, que tem origem em nossas peculiaridades de temperamento, nossa formação ou circunstâncias. Mesmo que nosso princípio esteja certo, a aplicação pode estar errada. O modo como aplicamos o princípio num determinado conjunto de circunstâncias é tanto um teste de retidão quanto o próprio princípio em abstração. É muito raro encontrar uma pessoa que tenha uma visão tão clara que veja cada coisa como ela é, em sua própria objetividade divina. Quando somos feridos, quando sentimos raiva, ou trabalhamos sob condições de estresse emocional é difícil vermos qualquer outro ponto de vista diferente do nosso. Mas, quando as condições normais retornam, geralmente podemos ver que por causa de nossa visão confusa estivemos aquém daquela pessoa em nosso julgamento final ou em nossa ação. Reciprocamente, se pudermos treinar a nós mesmos para considerar cada situação, à medida que surge, do ponto de vista da outra pessoa além do nosso, evitaremos muita emoção desnecessária e as consequências que surgem do julgamento impulsivo. A regra de ouro. "Faz aos OUTROS o que gostarias que fizessem a ti", é para você se pôr no lugar do OUTRO antes de agir. Quando estamos na situação do OUTRO, é bem provável que vejamos como ele vê, e queiramos o que ele queira. UM PONTO DE VISTA pode ser atraente para nós ou repulsivo; mas se é sincero na pessoa com quem temos de lidar, vale a pena nossa consideração. Muitas vezes isso nos torna apreensivos justamente porque é estranho e não estamos acostumados a ele. Mas se nos aproximarmos mais e se o estudarmos, poderemos encontrar por trás dele (tanto quanto do nosso) aquele "toque da Natureza que torna todo o mundo uma família". É tolice implicar com um PONTO DE VISTA sem examiná-lo. Mesmo que ele lance uma sombra sobre nós ou sobre os outros, o único meio eficaz de dissipá-lo é lançar sobre ele a luz de nossa compreensão. Estar entrincheirado no próprio PONTO DE VISTA é ser um prisioneiro. Estamos nesta posição principalmente por causa da falta de imaginação, e não por falta de bondade inata. Ainda somos seres humanos apesar de nossa estupidez, de nossa paixão e do nosso modo errado de pensar. Existe em cada um de nós uma centelha de indelével bondade que, apesar de nossa imersão na vida diária, permanece intocada. A compreensão é algo que pode ser cultivado, e em sua perfeição ela dá o poder de sintonizar, com a mais perfeita exatidão, com as necessidades e circunstâncias dos outros. A experiência de cada um de nós deve ter-nos ensinado que nosso crescimento sempre foi acompanhado pela mudança, que, à medida que galgávamos o lado da montanha, nossas visões mudavam e se alteravam. Sendo assim, não há razão para supor que devamos aferrar-nos aos nossos PONTOS DE VISTAS atuais com uma lealdade que poderia ser dedicada a uma causa melhor. Afinal, para a maioria das questões há dois lados ou mais; vivemos num mundo multidimensional, embora vejamos apenas um pouco de cada vez. Antes que possamos atingir a plenitude de compreensão, parece-me necessário ter experimentado a verdade em princípios aparentemente conflitantes. Socialismo e individualismo, santidade e humanidade, liberdade e disciplina e todos os opostos desse tipo devem encontrar reconciliação numa verdade que transcende, mas que expressa todos eles. O PONTO DE VISTA da OUTRA PESSOA pode desvela-nos profundezas de conhecimento que, de outro modo, estariam ocultas a nós. É desse ponto de vista que ela reage a vida, e suas reações podem expressar qualidades que não possuímos. O PONTO DE VISTA de um gênio pode ser o ponto de concentração de todo um esquema filosófico - o topo, por assim dizer, de um sistema de pensamento abrangente em seu escopo. A verdade pode ser encontrada em muitos desses PONTOS DE VISTA, pois cada um acrescenta  algo à totalidade da verdade, e é suficientemente certo até onde vai. Toda a essência ou semente de uma filosofia jaz, muitas vezes, não tanto em uma ideia que é concreta e limitada, mas em um PONTO DE VISTA que abrange uma perspectiva de pensamento amplo. Às vezes, mesmo um pessoa simplória pode mostrar-nos um valor que em nossa sofisticação elaborada podemos não ter percebido. UM PONTO DE VISTA pode estar baseado numa atitude ou numa opinião. A atitude importa muito mais do que a opinião. Eu me arrisco a pensar que a maioria de nossas opiniões importa comparativamente pouco, porque nelas existe pouco permanência; em qualquer caso, a verdade tem mais valor do que nossas opiniões. Mas a atitude mental com a qual vivemos faz toda a diferença para a felicidade da sociedade e de nós mesmos. Tendo em conta uma atitude de franqueza, podemos ajudar OS OUTROS  e também a NÓS MESMOS. Essa ajuda demanda compreensão, pois sem compreensão nossos melhores esforços para ajudar apenas atrapalharão; eles não podem obter êxito a não ser que estejamos preparados para considerar favoravelmente O PONTO DE VISTA da OUTRA PESSOA. A compreensão da mente dos OUTROS não precisa tornar-nos menos capazes de tomar nossas próprias decisões. Nem uma admissão da verdade do PONTO DE VISTA de OUTRA PESSOA enfraquece a validade do nosso. Tolerância jamais deve significar indiferença ao que é errado, e sim a compreensão de sua causa. O que é preciso é sentir com a pessoa por trás do PONTO DE VISTA; se fizermos isso, poderemos viver plena e alegremente, permitindo que OS OUTROS discordem de nós, não nos importando pelo fato de serem diferentes. Aliviamos a pressão sobre nós mesmos quando deixamos os OUTROS VIVEREM. A era atual tem sido diferentemente descrita segundo o PONTO DE VISTA do qual seu desenvolvimento tem sido visto. Politicamente se acredita que sua característica mais marcante é a evolução da democracia. Embora este princípio tenha esta sujeito, em certos lugares, a graves desafios, ele possui um apelo suficientemente amplo para colorir a perspectiva das pessoas de todas as partes do mundo. Mas a democracia, para que seja bem sucedida, precisa enfrentar certas condições essenciais. Uma delas é que, a cada indivíduo que cumpra seus deveres de cidadania, deve ser garantida a mais plena liberdade compatível com o bem-estar público, viver sua vida segundo suas próprias ideias e fazer sua própria contribuição ao estado. Ele deve não apenas ser respeitado pelo que é em si,mas é necessário que lhe sejam oferecidas oportunidades para desenvolver sua personalidade em todos os estágios; é preciso haver reconhecimento tanto do valor quanto da necessidade de seu estilo de vida e PONTO DE VISTA. Nossa busca deve ser por uma ordem onde o PONTO DE VISTA  de cada pessoa, representando sua experiência, tenha seu lugar na soma total da vida social e nacional. O PONTO DE VISTA de cada pessoa é amplamente o produto de sua experiência, e a vida é tão rica em experiência que ninguém obtém exatamente a mesma porção que seu próximo, seja em qualidade ou quantidade. Se o mundo humano não fosse um mundo de vida, e o problema da harmonia social fosse um problema mecânico, seria impossível encaixar com exatidão as diferentes peças do quebra-cabeça. Mas a vida é composta de seres que reúnem um milhão de células de diferentes tipos em um todo perfeito. A sociologia pode ser uma ciência tão verdadeira quanto a biologia, se começarmos com a admissão dos fatos e fundamentá-la sobre princípios naturais. Para consideração, eu sugiro o axioma de que o sucesso na vida coletiva deve depender da medida da plenitude da vida individual. Temperamento, profissão, relacionamentos, circunstâncias têm relação com o PONTO DE VISTA adotado por um homem ou mulher a qualquer tempo. Todas essas coisas condicionam sua mentalidade. Se tivéssemos o dom de penetrar a mente da outra pessoa e ver como ela vê, estaríamos perceptivos de muitos aspectos da vida ocultos de nós no presente, e assim nos elevaríamos àquele pináculo de onde esses aspectos são percebidos. Infelizmente a maioria de nós se conhece tão pouco, e não conhecemos sequer nossas limitações nem nossas capacidades. Religião e nacionalidade são influências especializantes que criam distinção e também separação. Contudo, os resultados dessa especialização são enriquecimento e diversidade. Deve chegar uma época - na verdade já chegou,  com a derrubada das barreiras materiais - em que haverá a junção dessas diversidades numa unidade. Nos dias de hoje, quando todas as partes do mundo estão unidas, O PONTO DE VISTA DO OUTRO exige mais atenção e respeito do que talvez estivéssemos preparados para dar nos dias menos prementes do passado. A PAZ MUNDIAL em cada um de seus aspectos - físico, mental e moral - e nosso próprio progresso dependem de lhes darmos o lugar que merecem. Livro O Interesse Humano. Abraço. Davi.

terça-feira, 27 de julho de 2021

ENTRE O BEM E O MAL

 

Judaísmo. www.pt.chabad.org. Por Rabi Dov Greenberg. ENTRE O BEM E O MAL. "Vale a pena se apegar a alguns pedaços de terra às custas da paz com nossos vizinhos árabes?" Yaabdol: "Por que os israelenses pensam que são donos do mundo? Ursalam [Jerusalém] é o centro para Alah!" "Desejo fazer algumas doações para as famílias das vítimas israelenses do terrorismo. Para quem posso enviar o cheque?" O premiado Nobel Elie Wiesel (1928-2016) certa vez foi perguntado se o mundo tinha aprendido alguma coisa com o Holocausto. Wiesel respondeu: "Sim – que se pode escapar impune." Se Wiesel estiver certo – e a fúria internacional contra a existência coletiva judaica em Israel nos últimos anos parece confirmar suas palavras – então para os judeus, a lição deve ser exatamente o oposto: jamais permitir que ocorra outro Holocausto. Isso significa antes de mais nada e acima de tudo que Israel deve ser forte no sentido espiritual, moral e militar. Um lar e um poder. Entre 1939 e 1945 o regime nazista, com ajuda de milhões de outros europeus, mataram quase todos os judeus daquele continente. Se na década de 1930 Israel já existisse, um número incontável de judeus poderia ter sido salvo. Eis porquê: A princípio, Adolf Hitler (1889-1945) queria meramente expulsar os judeus; somente mais tarde ele decidiu matá-los. Quando as nações do mundo se reuniram em Evian na França em 1938, plenamente conscientes do perigo que ameaçava os judeus europeus, um país após o outro declarou: Não temos lugar para os judeus. Desde o início da Segunda Guerra, o mundo foi dividido em dois tipos de países: aqueles que expulsaram ou assassinaram judeus, e aqueles que rejeitaram os judeus que tinham sido expulsos ou tinham fugido de algum outro lugar. Se Israel já existisse, teria havido um país disposto a aceitar os refugiados judeus quando os Estados Unidos, Inglaterra e outras nações se recusaram. Um segundo motivo pelo qual a magnitude do Holocausto teria diminuído é que, ao contrário dos Aliados, que com toda a sua potência não conseguiram separar alguns aviões para bombardear os trilhos para Auschwitz e outros campos da morte, Israel o teria feito. Em seu livro Uma Paz Duradoura, Benjamin Netanyahu (1949-  ) colocou isso de maneira simples: "Até que fui a Birkenau, jamais percebi como aquilo tudo era pequeno e mundano. A fábrica da morte poderia ter sido posta fora de ação por uma única bomba. Na verdade os Aliados chegaram a bombardear alvos estratégicos a alguns quilômetros de distância. Se a ordem tivesse sido dada, teria bastado um piloto fazer uma ligeira correção na rota para acabar com a matança. Porém a ordem nunca foi dada." A lição de Entebe. Em 4 de julho de 1946, quarenta e dois sobreviventes do Holocausto que tinham retornado a Kielce, sua aldeia de origem na Polônia, foram assassinados num brutal pogrom pelos seus vizinhos poloneses cristãos. Trinta anos depois, 4 de julho de 1976, mais de cem judeus que estavam para ser mortos em Entebe, Uganda, foram salvos pelo exército israelense numa das missões de resgate mais ousadas da história. Mais que qualquer outra coisa, Entebe demonstrou a importância de uma Força de Defesa Israelense competente. Quando os judeus não têm força militar, são mortos com impunidade. Com forças armadas, pela primeira vez em 2000 anos, judeus que estavam no limiar da morte não precisaram confiar na boa vontade de outros. Quando o Papa Paulo VI (1987-1978) criticou a "violência" de Israel durante uma audiência privada com Golda Meir (1898-1978), ela respondeu: "Você sabe qual é minha lembrança mais antiga? Um pogrom em Kiev. Quando fomos piedosos e quando não tínhamos país e quando éramos fracos, fomos levados para as câmaras de gás."  "Mama!". Ao visitar Israel, um professor amigo meu encontrou um ministro americano que começou a lhe fazer perguntas e comentários hostis sobre Israel, e finalmente perguntou: "O que é que vocês judeus realmente desejam?" Meu amigo respondeu com a seguinte história: Em Stolpce, na Polônia, a 23 de setembro de 1942, o gueto foi cercado por soldados alemães. Fossos haviam sido cavados na aldeia próxima, aonde os judeus seriam levados e fuzilados. Os alemães entraram no gueto, procurando os judeus. Um sobrevivente, Eliezer Melamed, relembrou mais tarde como ele e sua namorada conseguiram entrar num local e se esconder atrás de uns sacos de farinha. Uma mãe com três crianças os seguiram para dentro da casa. A mãe se escondeu num canto e as três crianças no outro. Os alemães entraram e descobriram as crianças. Uma delas, um menino pequeno, começou a gritar: "Mama! Mama!". Enquanto os alemães os arrastavam para fora. Porém outra criança, com apenas quatro anos, gritou para o irmão em yidish: Zog nit Mameh. Men vet ir oich zunemen. ("Não diga Mamãe. Eles a levarão, também."). O menino parou de chorar. A mãe ficou em silêncio. Os filhos foram levados. A mãe foi salva. "Eu sempre escutarei aquilo" – recorda Melamed – "especialmente à noite. 'Zog nit Mameh' – Não diga Mamãe (...). E sempre me lembrarei daquela mãe. Seus filhos foram arrastados pelos alemães. Ela estava batendo a cabeça contra a parede, como se punindo a si mesma por ficar em silêncio, por desejar viver." Após concluir sua história, o professor contou ao ministro: "O que nós judeus queremos realmente? Bem, vou lhe dizer o que eu quero. Tudo que desejo é que nossos netos possam chamar 'Mama' sem medo. Tudo que quero é que o mundo nos deixe em paz." Os judeus detestam guerras. Talvez nenhum outro povo reze tanto e tão fervorosamente pela paz. Mas num mundo impenitente, às vezes precisamos pegar em armas para defendermos a própria vida. Lembre-se! Em seu discurso da posse em janeiro de 1961, o Presidente John F. Kennedy (1917-1963) declarou: "Não ousamos tentá-los [os inimigos dos Estados Unidos] com fraqueza. Pois somente quando nossas armas estiverem além da dúvida, podemos ter certeza de que elas jamais serão usadas." O mesmo se aplica ainda com mais força ao minúsculo Estado Judeu. Israel é a única nação do mundo cuja própria existência é ameaçada por inimigos apoiados por uma maioria nas Nações Unidas. É o único país do mundo que enfrenta tanto ameaças constantes à sua existência quanto críticas por reagir contra estas ameaças. É a única nação no mundo ameaçada por genocídio, cujo propósito não é somente a vitória militar, mas a exterminação. Alguém pode duvidar que haveria um entusiasmo generalizado entre as massas árabes e islâmicas se, o Céu não o permita, o Oriente Médio ficasse livre de judeus? Amos Oz (1939-  ), o novelista israelense, resumiu melhor a realidade da nossa situação atual: "Nos anos 1930, nossos inimigos diziam: 'Os judeus para a Palestina.' Agora eles dizem: Judeus fora da Palestina. Eles não nos querem aqui. Não querem que estejamos lá. Não querem que estejamos em lugar nenhum." O mundo jamais deve se esquecer que um único erro estratégico israelense pode significar não apenas uma derrota militar, mas a aniquilação que o mundo não poderia, mesmo se quisesse, deter. Toda decisão israelense deveria ser considerada contra esta horrenda realidade. Poucos dos críticos de Israel parecem entender a determinação judaica de evitar outro Holocausto, desta vez em seu próprio país. Poucos entendem por que Israel não pode, e não deveria, confiar sua sobrevivência a países que assistiram informalmente enquanto milhões de judeus inocentes foram dizimados. Há nações demais que parecem dispostas a deixar Israel assumir riscos potencialmente fatais em troca de uma paz regional incerta que elas próprias jamais assumiriam. Obviamente, as arenas políticas, militares ou econômicas não são os únicos, ou sequer os mais importantes, fatores a garantir a continuidade judaica. Nossa solene fé em D'us e Sua Torá são o que nos sustentou durante quase quatro milênios. Sem isso, seríamos hoje pouco mais que uma peça de museu, junto com os canaanitas, moabitas e os outros povos do antigo Oriente Próximo que desapareceram. Porém sugerir que não precisamos de forte armamento para garantir a segurança do país é um erro. Um dos dogmas básicos do Judaísmo é que não confiamos em milagres, e que devemos empregar todos os meios naturais para proteger e salvar vidas humanas, ocasionalmente até as nossas. Estamos obrigados pela memória daqueles que morreram simplesmente por serem judeus a aceitar seriamente a perspectiva da vulnerabilidade judaica. Devemos todos tomar parte na defesa de Israel e do povo judeu, seja no campo de batalha físico ou na guerra de palavras e idéias. Honramos as vítimas recordando-as e dizendo: Aquilo pelo qual elas morreram, viveremos para perpetuar – o direito de ser, o direito de os judeus viverem como judeus e serem uma bênção para a humanidade. Para que as crianças judias vivam sem medo, para cultivar o tipo de comunidade que as crianças merecem. Uma comunidade na qual todo judeu, crianças e adultos, tenha a oportunidade de ser exposto à grandeza e majestade da História Judaica, à fascinante percepção e sensibilidade especial do pensamento judaico, à santidade e significado da existência judaica, ao poder e profundidade da Torá e mitsvot. Aqueles que não se lembram, disse Mauro Santayana (1932-  ), estão destinados a repetir. Sem memória, a história humana se torna um CD riscado, repetindo-se interminavelmente. A Bíblia hebraica está repleta de ordens para lembrar. A palavra zachor, lembra-te, ocorre em suas várias formas na Torá, em impressionantes 169 vezes. Consideramos a lembrança como um dever sagrado. Não porque vivemos no passado, mas exatamente porque precisamos aprender com ele se quisermos construir um futuro. Que jamais esqueçamos a Shoah, assegurando que Israel seja forte para sempre. Quem nas futuras gerações nos perdoará se nós, que vivemos no século do Holocausto, não nos erguermos para impedir a morte de judeus inocentes? Vamos invocar o grande imperativo moral da lembrança. E que nosso grito "Nunca Mais" signifique "Nunca Mais". www.pt.chabad.org. Abraço. Davi



domingo, 25 de julho de 2021

O MUNDO DOS ORIXÁS - IBEJI

 

Religião Afrodescendente. Candomble. www.ocandomble.com. O MUNDO DOS ORIXÁS – IBEJI. A missão divina da Mãe Terra (Edan – Onile). Quando a divina e poderosa mãe Edán (Onile Ogboduora) fez sua aparição nesta Terra, ela fez isso com um propósito específico e sagrado. Sua manifestação nesta Terra sinalizou uma nova oportunidade para a humanidade se renovar, progredir e ter uma vida equilibrada. Sua aparição marcou um novo começo para toda a humanidade e não apenas o povo privilegiado dos yorùbá. Seu objetivo e propósito era, e é, de alcance universal. Èdán veio para trazer cura, ordem, harmonia, abrigando preceitos divinos e equilíbrio para as comunidades da Terra em geral e cada ser humano em particular. Você deve se lembrar e ter em mente que Èdán não é um ser humano. Èdán não é yorùbá, chinês, americano, oriental ou ocidental. Èdán é uma personagem divina de habilidades extraordinárias e poderes supra-humanos. Èdán não é deste mundo. Ela vem de um reino glorioso e inconcebível de santidade, beleza e poder. A inteligência, compreensão, força, atratividade e carisma da mãe divina Èdán é extraordinária, penetrante e excepcional. Èdán pode ver a profundidade e a realidade das coisas. Ela não pode ser enganada, manipulada ou subornada, ela não comete erros na administração de sua dispensação (ato de dividir). Ela está além do alcance da influência humana. Ela nunca cairá ou balançará à mesquinhez e a inconstância, que é comum entre a humanidade. Sua visão divina nunca é obstruída e sua atividade não pode ser prejudicada. Sua virtude, caráter, personalidade e carisma são sem igual. Mesmo Ọrúnmìlà reconheceu sua grandeza, eficiência, capacidade e singularidade. Foi, afinal, Ọrúnmìlà quem invocou Èdán, sua amiga e sócia divina para apoio, soluções e alívio! Quando Èdán desceu do reino dos Irunmọlẹ a esta Terra, ela apareceu com a plenitude da autoridade divina, poder e comando. Todos Ajogùn interno, externo e Elénìní fugiram diante dela. Com o poder de sua majestosa personalidade, divinamente atraente, beleza, carisma e àşé ela foi capaz de libertar e entregar os corações e as mentes dos pensamentos negativos, atitudes e energias prejudiciais que oprimiam e dominavam os seres humanos. Èdán foi capaz de desarmar as pessoas de suas preocupações, medos e inseguranças. Para aqueles que faziam, que se deliciavam em fazer o errado, o engano, a opressão e a corrupção ela colocava medo nos seus corações para que talvez eles pudessem mudar suas maneiras sob sua administração do perdão, da ordem, da capacitação e da renovação. Tais era, e é, o poder e a influência da mãe divina Èdán. Juntamente com o inseparável, a importação do ase aos membros sensíveis da humanidade, ela deu preceitos e injunções divinas para seus alunos-discípulos para praticar e implementarem em todos os níveis da sociedade e da vida pessoal. Estes seguidores obedientes e confiáveis ​​de Èdán são os Ogboni porque só existe sabedoria, saúde e longa vida com Èdán se as pessoas obedecerem e praticarem seus preceitos. Do lado de fora uma pessoa constituiria um Ogberi (ignorante) porque aparentemente tinha conhecimento e não praticava a verdade, o que é isso, se não o maior ignorância, infelicidade e loucura. Os princípios divinos de Èdán tornaram-se os veículos de sua divina presença, carisma, poder, apoio e influência-retificando a cura. Ter vivido na época do aparecimento de Èdán sobre esta Terra sagrada foi a experiência mais extraordinária, gratificante e maravilhosa. Isto é, a forma divinamente sancionada, a vida que ela estava revelando à humanidade e continua revelando à humanidade. O teimoso, obstinado e beligerante que não fizer, não vai durar muito tempo sob a administração de Èdán. Èdán é naturalmente amável, justa e compreensiva, como a Sagrada Mãe preciosa e amável que ela é, ela proporcionou a todos o perdão, um novo começo sem referência a erros do passado, uma oportunidade para mudar e a bênção para fazer uso de seu apoio pessoal, garantia, inspiração e poder. Èdán está ciente de nossas fragilidades e fraquezas como seres humanos. Ninguém precisa ter medo por causa de suas fraquezas ou falhas. Èdán não pareceu para fazer-nos ricos e famosos. Èdán apareceu para nos fazer participantes da verdadeira vida, saúde, paz, segurança e prosperidade através da prática de seus ensinamentos claros. Èdán apareceu para nos permitir descobrir a nossa nobre e bela natureza divina. Ela veio para restaurar a dignidade, clareza, transparência, saúde moral e limpeza moral de nossas vidas. Èdán inculca a verdade divina para seus seguidores inteligentes e humildes, quando estamos individual e coletivamente para a direita e para dentro, em seguida, nesta ordem interna, a saúde e a retidão serão reveladas e expressas no mundo. As instruções de Èdán não foram e não são sugestões, mas comandos divinamente concedidos e leis. Eles são vinculativos e obrigatórios para toda a humanidade e especialmente para aqueles que se dedicam a Èdán. Para ser Ogboni significa ser o melhor dos melhores. Significa ser um modelo de impecabilidade, idoneidade e confiabilidade. Para ser Ogboni significa estar pessoalmente convencido a perseguir e fazer o que é certo, correto e adequado independentemente de tempos, lugares e / ou circunstâncias. Para ser Ogboni significa ter auto iniciativa, ser responsável e fazer o que é certo para o bem do amor da verdade e não ser visto, elogiado e aplaudido por outros. Iniciação formal sozinha não faz de você um seguidor de Èdán. O que é importante não é que outras pessoas te chamem de Ogboni, mas que Èdán te reconhece e o aceita como um dos seus verdadeiros, leais e obedientes filhos. O que é importante é que você seja Ogboni 24 horas por dia em seus pensamentos, atitudes, ações e relacionamentos. Ogboni é uma forma global e abrangente de viver. Uma delas é ser Ogboni o tempo todo para que Èdán, ela mesma, possa garantir que você é um Ogboni genuíno, verdadeiro, com honra, humildade, alegria e realização digna. Os ritos de iniciação Ogboni foram desenvolvidos mais tarde por Èdán e seus seguidores, mas, inicialmente, a verdadeira iniciação era uma mudança espiritual de coração, mente e vida como um resultado do encontro com Èdán, sua personalidade, seu caráter, seu carisma, encantamento, inspiração, autoridade e poder, tudo foi expresso e manifestado através de tudo que Èdán fez. Tudo que Èdán fez foi cheio de graciosidade, dignidade e poder. Não foi através de ritos e rituais que Èdán mudou o mundo, mas pela graça divina, pelas maneiras, inteligência e conduta. Èdán por suas maneiras, caráter, personalidade e conduta comandou o respeito, reverência, confiança e obediência de todos aqueles com coração sincero e bom. O verdadeiro símbolo de honra e título de um Ogboni autêntica o caráter, a virtude, a bondade e a imparcialidade que ele pratica. Conformidade exterior e aderência superficial com o protocolo Ogboni para o bem das pessoas não faz de você um Ogboni, não importa o seu título ou o quanto você está velho. Èdán deu seu amor, vida e foco total e dedicação à humanidade. Para ser Ogboni você tem que dar o seu tudo para a missão divina de Èdán e você deve procurar com sua força, habilidade, atividade e meios transferir o conhecimento de Èdán a todos os povos do mundo. Isto é o que é significa ser Ogboni. Ogboni não é uma instituição humana. Ogboni não é um negócio. Ogboni não é um clube. Ogboni é uma vocação divina e sagrada. Èdán era uma revolucionária espiritual, divina, missionária, diplomática e embaixadora da boa vontade e da esperança. Nós também devemos ser isso. Devemos buscar a propagação do Ogbonismo. Não os chamados clubes Ogboni e instituições formais, devemos propagar a verdade e a realidade que Èdán promoveu e instituiu para toda a humanidade. A humildade e o serviço vêm antes da honra, do orgulho, da presunção. Èdán diz que a indiferença precede a queda. Ancestral Pride Temple. Templo Orgulho Ancestral. ORIXÁ IBEJI. Dia: Domingo. Cores: Azul, Rosa e Verde. Elemento: Ar. Domínios: Nascimento e Infância. Símbolos: 2 Bonecos Gémeos, 2 Cabacinhas. Saudação: Bejiróó! Ibeji é o Orixá-Criança, em realidade, duas divindades gémeas infantis, ligadas a todos os orixás e seres humanos. Por serem gémeos, são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e nasce: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas, etc. Ibeji na nação Ketu, ou Vunji nas nações Angola e Congo. É o Orixá Erê, ou seja, o Orixá criança. É a divindade da brincadeira, da alegria; a sua regência está ligada à infância. Ibeji está presente em todos os rituais do Candomblé pois, assim como Exú, se não for bem cuidado pode atrapalhar os trabalhos com as suas brincadeiras infantis, desvirtuando a concentração dos membros de uma Casa de Santo. É o Orixá que rege a alegria, a inocência, a ingenuidade da criança. A sua determinação é tomar conta do bebé até à adolescência, independentemente do Orixá que a criança carrega. Ibeji é tudo o que existe de bom, belo e puro; uma criança pode-nos mostrar o seu sorriso, a sua alegria, a sua felicidade, o seu falar, os seus olhos brilhantes. Na natureza, a beleza do canto dos pássaros, nas evoluções durante o voo das aves, na beleza e perfume das flores. A criança que temos dentro de nós, as recordações da infância. Feche os olhos e lembre-se de um momento feliz, de uma travessura, e você estará a viver ou revivendo uma lenda deste Orixá. Pois tudo aquilo de bom que nos aconteceu na nossa infância, foi regido, gerado e administrado por Ibeji. Portanto, Ibeji já viveu todas as felicidades e travessuras que todos nós, seres humanos, vivemos. A lenda e a história de Ibeji, acontece a cada momento feliz de uma criança. Ao menos para manter vivo este importante Orixá, procure dar felicidade a uma criança. Faça você mesmo o encantamento de Ibeji. É fácil: faça gerar dentro de si a felicidade de estar vivo. Transmita esta felicidade, contagie o seu próximo com ela. Encante Ibeji com a magia do sorriso, com o amor de uma criança. E seja Ibeji, feliz! ORIXA IBEJI. Características dos filhos de Ibeji. Os filhos de Ibeji são pessoas com temperamento infantil, jovialmente inconsequentes; nunca deixam de ter dentro de si a criança que já foram. Costumam ser brincalhões, sorridentes, irrequietos – tudo, enfim, o que se possa associar ao comportamento típico infantil. Muito dependentes nos relacionamentos amorosos e emocionais em geral, podem revelar-se teimosamente obstinados e possessivos. Ao mesmo tempo, a sua leveza perante a vida revela-se no seu eterno rosto de criança e no seu modo ágil de se movimentar, a sua dificuldade em permanecer muito tempo sentado, extravasando energia. Podem apresentar bruscas variações de temperamento, e uma certa tendência a simplificar as coisas, especialmente em termos emocionais, reduzindo, às vezes, o comportamento complexo das pessoas que estão em seu torno a princípios simplistas como “gosta de mim – não gosta de mim”. Isso pode fazer com que se magoem e se decepcionem com alguma facilidade. Ao mesmo tempo, as suas tristezas e sofrimentos tendem a desaparecer com facilidade, sem deixar grandes marcas. Como as crianças, em geral, gostam de estar no meio de muita gente, das atividades desportivas, sociais e das festas. www.ocandomble.com.br. Abraço. Davi

sábado, 24 de julho de 2021

A DISCIPLINA ESPIRITUAL

 

Espiritualidade. www.oshobrasil.com.br. Rajneesh Chandra Mohain Jain – Osho – foi líder religioso de uma seita de tradição dhármica. Mestre na arte de meditação e do despertar da consciência. Texto de Osho (1931-1990). A DISCIPLINA ESPIRITUAL. O fundamento básico da meditação é purificar e experienciar a natureza verdadeira do corpo, dos pensamentos e das emoções. (...). O estado sem corpo é o oposto da identificação com o corpo. Você está identificado com o corpo. Você não sente ‘Este é o meu corpo’, ao contrário, em algum nível você continua sentindo que ‘Eu sou o corpo’. (...). Para abandonar a identificação com o corpo você tem que fazer algumas coisas. Você tem que aprender como abandoná-la. E quanto mais puro for o corpo, mais fácil será abandonar a identificação com ele. Quanto mais o corpo estiver num estado de pureza, mais rapidamente você se torna consciente de que você não é o corpo. Por isto, a pureza do corpo é a base e o estado sem corpo é o fruto final. Como você pode aprender que você não é o corpo? Você terá que experienciar isto. Quando estiver de pé, sentado, dormindo ou andando, tente se lembrar, e se houver uma atenção correta, se houver um pouco de consciência das funções do corpo, você terá dado o primeiro passo para criar o vazio. Quando você estiver caminhando, olhe profundamente dentro de si, e você verá que existe alguém internamente que não está caminhando. Você está caminhando, suas mãos e pés estão se movendo, mas existe alguma coisa dentro de você que não está caminhando, que está apenas observando você caminhar. Quando você tiver alguma dor na mão ou no pé, quando você tiver machucado o pé, então olhe para dentro, com atenção. Você está machucado ou é o seu corpo que está machucado e você está ficando identificado com a dor? Quando existir alguma dor no corpo, fique consciente: se a dor está acontecendo a você ou se você está simplesmente sendo uma testemunha da dor. Quando você sentir fome, olhe com consciência para ver se você está com fome, ou se seu corpo está com fome, e você é apenas uma testemunha disto. E quando houver felicidade, também observe e sinta se essa felicidade está realmente acontecendo. Com tudo o que estiver acontecendo em sua vida, enquanto você estiver de pé, sentado, andando, dormindo ou despertando; o que precisa ser lembrado é estar atento para fazer um esforço constante e ver onde as coisas estão realmente acontecendo. Elas estão acontecendo verdadeiramente com você, ou você é apenas uma testemunha? O seu hábito de identificação é profundo. Você pode até mesmo começar a chorar enquanto estiver assistindo um filme ou uma peça, ou pode começar a rir. Quando as luzes do teatro acendem, você secretamente enxuga as lágrimas para que ninguém as veja. Você chorou, ficou identificado com o filme. Você ficou identificado com o herói, o personagem, alguma coisa dolorida aconteceu com ele e você se identificou com esta dor e começou a chorar. Uma mente, ao pensar que tudo que ocorrer ao corpo está ocorrendo com você, está em estado de miséria e dor. E existe apenas uma causa para toda a sua miséria: a sua identificação com o corpo. E existe também apenas uma causa para felicidade: é quando sua identificação com o corpo se desmancha e você se torna consciente de que não é o corpo. Para isto é preciso a lembrança correta, atenção correta e observação correta das atividades do corpo. É um processo; o estado sem corpo acontecerá através da observação correta do corpo. É necessário observar o corpo. À noite, quando você for para a cama, é importante estar consciente de que o seu corpo está indo para a cama, não você. E pela manhã, ao sair da cama, é importante estar consciente de que seu corpo está saindo da cama, não você. Não foi você que dormiu, foi apenas o seu corpo. Quando você comer, esteja consciente de que seu corpo está comendo e quando você vestir roupas, esteja consciente de que as roupas estão cobrindo apenas o seu corpo, não você. Então, quando alguém machucá-lo, você será capaz de se lembrar de que é o corpo que está sendo machucado, não você. Desta maneira, com constante lembrança, num determinado ponto haverá uma explosão e a identificação será quebrada. Você sabia que quando está sonhando não há consciência de seu corpo? Você sabia que quando está em sono profundo você permanece inconsciente de seu corpo? Você se lembra de seu rosto? Quanto mais profundo você for dentro de si, mais você se esquece de seu corpo. Quando a consciência começa a retornar, a sua identificação com o corpo gradualmente retorna. De manhã, quando você acorda de repente, olhe para dentro e você será capaz de ver claramente que a sua identificação com o corpo também está acordando. Existe um experimento para quebrar esta identificação com o corpo. Se você fizer continuamente uma ou duas vezes por mês, ele irá ajudá-lo a quebrar a identificação. Tente compreender este experimento. Relaxe o corpo da mesma maneira que nós estamos fazendo para a meditação da noite: faça com que o quarto fique escuro, dê sugestões a cada chakra, relaxando o corpo e entrando em meditação. Quando o corpo estiver relaxado e o seu ser estiver se tornado silencioso, sinta como se você estivesse morto. E torne-se consciente dentro de si, de que você está morto, de que as pessoas queridas estão se reunindo ao seu redor. Observe a imagem delas se reunindo em sua volta, o que elas estão fazendo, quais delas estão chorando, quem grita, quem está aflito. Observe-as com grande clareza; elas estarão visíveis para você. Então veja que todas as pessoas da vizinhança, da localidade, assim como todas as pessoas queridas, se juntaram e amarraram seu corpo no caixão. Observe também isto. Veja as pessoas carregando o caixão e deixe que elas cheguem até o crematório, e então permita que elas o coloquem na pira funerária. Observe tudo isto. Tudo é imaginação, mas se você experimentar tudo isto em sua imaginação, você será capaz de ver com clareza. E verá que elas puseram o seu corpo morto numa pira funerária; as chamas começaram a subir e o seu corpo morto começou a desaparecer. Quando a sua imaginação alcançar o ponto em que o corpo morto desapareceu e a fumaça alcançou o céu, as chamas desapareceram no ar, e somente sobraram cinzas, imediatamente, com total consciência, olhe para dentro de si e veja o que está acontecendo. Naquele exato momento, de repente você descobre que não é o corpo, naquele momento a identificação será totalmente quebrada. Depois que já tiver feito este experimento muitas vezes, quando você levantar, quando você caminhar, quando você conversar, você saberá que você não é o corpo. Nós chamamos este estado de estado sem corpo. Alguém que venha a se conhecer através deste processo, se torna sem corpo. Se você fizer isto todo o tempo, vinte e quatro horas por dia, caminhando, levantando-se, sentando-se, conversando e permanecendo consciente de que não é o corpo, então o corpo será simplesmente um vazio. É uma preciosidade rara saber que você não é o corpo. Nada é mais raro e nada é mais precioso que tornar-se não identificado com o corpo. Depois que você fizer com o seu corpo este experimento do estado sem corpo, acontecerá dos seus pensamentos e suas emoções estarem purificados. E então, muitas mudanças começarão a acontecer em sua vida. Todos os seus erros e todos os seus atos inconscientes  estão conectados com o corpo. Você não comete um engano ou um ato errado que não esteja conectado ao corpo. E se você se tornar consciente de que não é o corpo, não haverá mais qualquer possibilidade de miséria em sua vida. Então se alguém cortá-lo com uma espada, você verá que ele cortou o seu corpo e estará consciente de que nada aconteceu a você. Você permanecerá intocado. Naquele momento você será como uma folha de lótus sobre a água. No momento em que você se torna consciente de seu estado sem corpo, a sua vida se tornará cheia de paz e sem perturbação. Então, evento algum, trovão ou tempestade, irá tocá-lo porque eles poderão tocar apenas o seu corpo. O impacto deles é apenas no seu corpo, eles afetarão apenas o corpo. Mas você pensa erroneamente que o impacto é em você, é por isto que você sofre e sente dor ou alegria. Este é o primeiro estágio da disciplina espiritual: aprender a tornar-se livre do corpo. Não é difícil aprender e aqueles que se esforçam certamente conseguem experienciar. O segundo elemento da disciplina espiritual é a libertação dos pensamentos. Assim como eu disse que o estado sem corpo acontece através da observação correta do corpo, a liberdade dos pensamentos acontece através da observação correta dos pensamentos. O elemento básico da disciplina espiritual é a observação correta. Nesses três estágios você tem que olhar com atenção correta e observação correta tanto o corpo, como a mente e as emoções. Torne-se um observador da corrente de pensamentos que fluem através de sua consciência. Assim como alguém sentado ao lado de um rio observa o fluxo das águas, sente-se ao lado de sua mente e observe. Ou simplesmente como alguém sentado na floresta a observar os pássaros que voam enfileirados, sente-se e observe. Ou da mesma maneira que alguém observa o movimento das nuvens no céu, observe as nuvens de pensamento se movendo no céu de sua mente. Os pássaros de pensamentos voando, os rios de pensamento fluindo (...) da mesma maneira, silenciosamente nas margens, você simplesmente senta e observa o fluxo dos pensamentos. Não faça coisa alguma, não interfira, não os interrompa de maneira alguma, não os reprima. Se um pensamento estiver chegando, não o interrompa, se ele não estiver chegando, não o force a chegar. Você é simplesmente um observador. E nesta simples observação, você verá e experienciará que seus pensamentos e você são separados – porque você consegue ver que aquele que está observando os pensamentos está separado deles, é diferente deles. E quando você se torna consciente disto, uma paz estranha o envolve, porque você passa a não ter mais qualquer preocupação. Você poderá estar no meio de todos os tipos de preocupações, mas as preocupações não serão suas. Você poderá estar no meio de muitos problemas, mas os problemas não serão seus. Você poderá estar cercado por pensamentos, mas você não será os pensamentos. E se você se tornar consciente de que você não é seus pensamentos, a vida desses pensamentos começará a se enfraquecer, eles se tornarão cada vez mais sem vida. O poder de seus pensamentos está no fato de que você pensa que eles são seus. Quando você discute com alguém você diz, ‘Meu pensamento é (...)’. Nenhum pensamento é seu. Todos os pensamentos são distintos de você, separados de você. Seja apenas um observador deles.” Osho International Fundation. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.

terça-feira, 20 de julho de 2021

AGOSTINHO E A SANTÍSSIMA TRINDADE

 

Cristianismo. www.ministeriofiel.com.br. AGOSTINHO E A SANTÍSSIMA TRINDADE. Estimulados pelos escritos de Karl Barth (1886-1968), o teólogo que mais explorou o mistério trinitário no século XX,1 várias obras importantes sobre a doutrina da Trindade foram escritas. Nas duas décadas finais do século XX Karl Rahner (1904-1984), Jürgen Moltmann (1926-  ), Leonardo Boff (1938-  ), Wolfhart Pannenberg (1928-2014, Colin Gunton (1941-2003) e Millard Erickson (1932-  ), buscaram refletir e reaplicar a doutrina trinitária, produzindo um grande número de estudos dogmáticos, bíblicos e históricos.2 O alvo deste ensaio é expor a compreensão da doutrina trinitariana como formulada por Santo Agostinho (354-430) de Hipona, que produziu uma obra seminal sobre este tema, A Trindade, com a qual todos estes escritores interagem.

 

Santo Agostinho e A Trindade.

Foi Santo Agostinho quem deu à tradição ocidental a sua expressão madura e final acerca da Trindade. Não obstante ser Agostinho mais conhecido através de obras como as Confissões (sua autobiografia, publicada em 400) ou A Cidade de Deus (publicada em 426), provavelmente sua obra prima é o tratado conhecido por A Trindade, que ele demorou dezesseis anos para redigir – entre 400 e 416. Esta obra está dividida em duas partes, bem distintas. A primeira, com uma ênfase bíblica, vai do livro I ao VII. É a seção teológica propriamente dita. A segunda parte, do livro VIII ao XV apresenta um caráter especulativo psicológico e filosófico, no gênero analógico. Conforme suas palavras: “Sendo ainda muito jovem, iniciei a elaboração destes meus livros sobre a Trindade, que é o Deus sumo e verdadeiro. Agora, entrado em anos, trago-os a público”.3 De fato, A Trindade é a obra de sua maturidade. Agostinho pressupôs como uma verdade bíblica que existe um só Deus que é Trindade, e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são simultaneamente distintos e co-essenciais, numericamente um quanto à substância: O Pai, o Filho e o Espírito Santo, isto é, a própria Trindade, una e suprema realidade, é a única Coisa a ser fruída [una quaedam summa res], bem comum de todos. Se é que pode ser chamada Coisa e não, de preferência, a causa de todas as coisas – se também puder ser chamada causa. Não é fácil encontrar um nome que possa convir a tanta grandeza e servir para denominar de maneira adequada a Trindade. A não ser que se diga que é um só Deus, de quem, por quem e para quem existem todas as coisas (Rm 11,36). Assim, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são, cada um deles, Deus. E os três são um só Deus. Para si próprio, cada um deles é substância completa e, os três juntos, uma só substância. O Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo. O Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. O Pai é só Pai, o Filho unicamente Filho, e o Espírito Santo unicamente Espírito Santo. Os três possuem a mesma eternidade, a mesma imutabilidade, a mesma majestade, o mesmo poder. No Pai está a unidade, no Filho a igualdade e no Espírito Santo a harmonia entre a unidade e a igualdade. Esses três atributos todos são um só, por causa do Pai, todos são iguais por causa do Filho e todos são conexos por causa do Espírito Santo.4 Em nenhum lugar Agostinho tentou demonstrar biblicamente estas afirmações. “Trata-se de um dado da revelação que, para ele, as Escrituras proclamam quase a cada página, e que a ‘fé católica’ (fides catholica) transmite aos fiéis”.5 Em seu entendimento, Deus é incompreensível, mas não incognoscível, havendo duas vias de conhecimento de Deus: a via da eliminação, ou negação (apofática), que consiste em suprimir de Deus todos os defeitos das criaturas, e a eminência (catafática), que consiste em atribuir a Deus, elevando-as ao infinito, todas as perfeições: “Todo aquele que refletir sobre Deus desse modo, embora não chegue a conhecer plenamente o que ele é, contudo – enquanto pode – como homem piedoso, evitará pensar dele, o que ele não é”.6 Como delineia John Norman Davidson Kelly (1909-1997), seu “imenso esforço teológico é uma tentativa de compreensão, sendo esse o exemplo supremo de seu princípio de que a fé deve preceder a compreensão (praecedit fides, sequitur intellectus)”. A fé busca, o entendimento encontra; por isso diz o profeta: Se não crerdes, não entendereis (Is 7.9). Doutro lado, o entendimento prossegue buscando aquele que a fé encontrou, pois, Deus olha do céu para os filhos dos homens, como é cantado no salmo sagrado: para ver se alguém que tenha inteligência e busque a Deus (Sl 13.2). Logo, é para isto que o homem deve ser inteligente: para buscar a Deus. 7Portanto, nesta obra, Agostinho, pressupondo a veracidade do testemunho bíblico sobre o ensino acerca do Deus trino e baseando-se nas decisões conciliares estabelecidas em Nicéia e Constantinopla, construiu o primeiro tratado verdadeiramente sistemático da doutrina da Trindade. São contínuas as orações cheias de amor e confiança que Agostinho dirige a Deus, no correr de sua tarefa de investigar o mistério da Trindade. E são um testemunho da dependência e ardente súplica, tão características da oração agostiniana. Constata-se assim estar toda obra teológica de Agostinho elaborada em clima de oração. Nele está unido a sapientia (“a sabedoria refere-se à contemplação”) e a scientia (“a ciência diz respeito à ação”), o esforço na busca de sabedoria espiritual.8

 

1. A Santíssima Trindade

Seguiremos aqui os pontos básicos do resumo que John Norman Davidson Kelly fez da exposição da doutrina trinitária em Agostinho.9 Esta é inteiramente fundamentada nas Escrituras, porém, em contraste com a tradição oriental, que fez da pessoa do Pai o seu ponto de partida, Agostinho principia com a natureza divina em si mesma. É esta simples e imutável natureza ou essência que é Trindade.10 A unidade da Trindade é assim claramente asseverada, eliminando-se rigorosamente “o arianismo e o subordinacionismo da sua doutrina da Trindade”.11 Portanto, tudo o que é afirmado de Deus é afirmado igualmente de cada uma das três pessoas da deidade: “O Deus único e verdadeiro não é somente o Pai, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.12 Como Kelly nota, diversas consequências se seguem desta ênfase na unidade da natureza divina. Primeiro, as pessoas da Trindade não são três indivíduos separados, antes “cada uma das pessoas divinas é idêntica às demais ou à própria substância divina”, e deve-se afirmar “que cada uma das pessoas habita nas outras ou é inerente às outras”. Como Agostinho escreveu: Creia o homem no Pai, no Filho e no Espírito Santo, como um só Deus, grande, onipotente, bom, justo, misericordioso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, e tudo o mais que dele se possa dizer digna e verdadeiramente, conforme a capacidade da inteligência humana. E quando ouvir dizer que o Pai é um só Deus, não separe o Filho e o Espírito Santo, porque com ele são um só Deus. Quando ouvir dizer que o Filho é um só Deus é mister entender assim, mas sem separá-lo do Pai e do Espírito Santo. E de tal modo diga que existe uma só essência, e não considere a essência de um ser maior ou melhor do que a do outro e diferente em algum aspecto. Contudo, não pense que o Pai é o Filho ou Espírito Santo ou qualquer coisa que uma pessoa em separado diga relação às outras, como por exemplo, o termo ‘Verbo’ aplica-se somente ao Filho, e Dom afirma-se somente a respeito do Espírito Santo.13 Segundo, “tudo o que pertence à natureza divina como tal” deve, numa linguagem exata, “ser expresso no singular, já que esta natureza é única”. Portanto, embora cada uma das três pessoas seja incriada, infinita, onipotente, eterna, não há três incriados, infinitos, onipotentes e eternos, mas apenas um. Os diferentes nomes aplicados a cada uma das três pessoas na Trindade, traduzem relação recíproca, tais como: Pai e Filho, e o Dom de ambos, o Espírito Santo. Com efeito, não se pode dizer que o Pai é a Trindade, ou que o Filho é a Trindade, nem o Dom ser a Trindade. O que é dito, porém, de cada um dos três em relação a si mesmo, é dito não no plural, mas no singular, pois referente a uma única realidade: a própria Trindade.14 Terceiro, “a Trindade possui uma única e indivisível ação e uma única vontade”. Em outras palavras, sua operação é “inseparável”,15 isto é, em relação à ordem contingente as três pessoas atuam como “um único princípio (unum principium)”16 e como as pessoas são inseparáveis, “assim também operam inseparavelmente”.17 Como exemplo disto, de acordo com Kelly, Agostinho argumenta que as teofanias, manifestações de Deus registradas no Antigo Testamento, não devem ser consideradas como manifestações exclusivamente do Filho. Algumas vezes as teofanias podem ser atribuídas ao Filho, ou ao Espírito Santo, algumas vezes ao Pai, outras vezes a todas as três pessoas da deidade. Outras vezes ainda é impossível decidir a qual das três pessoas atribui-las.18 A dificuldade que esta teoria sugere é que ela parece ignorar os diversos papéis das três pessoas. A isto Agostinho responde que, embora seja verdade que o Filho, embora distinto do Pai, nasceu, sofreu e ressuscitou, “é igualmente verdade que o Pai cooperou com o Filho” na realização da encarnação, paixão e ressurreição. Era conveniente para o Filho, entretanto, “em virtude de sua relação com o Pai, manifestar-se e fazer-se visível”.19 Logo, já que cada uma das pessoas possui a natureza divina de uma maneira particular, é apropriado “atribuir a cada uma delas, na operação externa da Divindade, o papel que lhe é próprio em virtude de Sua origem”.20

 

2. A distinção das pessoas

Segundo Agostinho, a distinção das pessoas se fundamenta nas “suas relações mútuas dentro da Divindade”. Embora consideradas enquanto substância divina, as pessoas sejam idênticas, o Pai se distingue enquanto Pai por gerar o Filho, e o Filho se distingue enquanto Filho por ser gerado. Com respeito às relações mútuas na Trindade, se aquele que gerou é principio do gerado, o Pai é principio em referência ao Filho, porque o gerou. Entretanto não é uma investigação de pouca importância inquirir se o Pai é também principio com relação ao Espírito Santo, pois está escrito: procede do Pai. Se assim for, é principio não somente do que gera ou faz (o Filho), mas também da pessoa que ele dá (o Espírito). Isso lançaria uma possível luz sobre a questão que a muitos preocupa, sobre a possibilidade de dizer-se que o Espírito Santo também seja Filho, já que sai do Pai, como se lê no Evangelho (Jo 15.26). Saiu do Pai, sim, mas não como nascido, mas como Dom, e por isso, não se pode dizer filho, já que não nasceu como o Unigênito e nem foi criado como nós, que nascemos para a adoção filial pela graça de Deus.21 O Espírito Santo, semelhantemente, distingue-se do Pai e do Filho enquanto “outorgado” por eles, sendo o “dom comum” (donum) de ambos, “uma espécie de comunhão de Pai e Filho (quaedam patris et filii communiio), ou, então, o amor que, juntos, Eles derramam em nossos corações”.22 Surge então a questão: “o que são, na verdade, os três”? Agostinho reconhece que tradicionalmente eles são designados como pessoas, mas ele fica descontente com o termo. Provavelmente a expressão lhe trazia a conotação de indivíduos separados. Mas ele consente em usar a expressão, por causa da necessidade de afirmar a distinção dos três contra o modalismo, e com um profundo sentido da inadequação da linguagem humana.23 Sua teoria positiva, original e muito importante para a história subsequente da doutrina da Trindade no ocidente, foi a de que “os três são relações reais ou subsistentes”. Em outras palavras, toda distinção nas pessoas divinas consiste numa relação subsistente, mútua, entre elas. O motivo que levou Agostinho a esta colocação foi o dilema colocado pelos arianos.24 Estes, baseando-se no esquema aristotélico das categorias, afirmaram que as distinções na Divindade, se elas existissem, teriam que “ser classificadas sob a categoria de substância ou de acaso”.25 Na categoria do acaso não poderia sê-lo, porque em Deus não há nada acidental; se o fossem, porém, na categoria da substância, então a conclusão seria que existem três deuses. Agostinho nega ambas as alternativas, explicando que a categoria da relação é uma alternativa possível. Os três, ele passa a afirmar, são relações tão reais e eternas como o “gerar, ser gerado e proceder (ou ser outorgado)”, que fundamentam as relações dentro da Divindade. Não há, pois, senão um bem simples e, consequentemente, senão um bem imutável – Deus. E este bem criou todos os bens que, não sendo simples, são, portanto, mutáveis. Digo, precisamente, criou, isto é, fez, e não gerou. É que o que é gerado de um ser simples é simples como ele e é o mesmo que aquele que o gerou. A estes dois seres chamamos Pai e Filho e um e outro com o seu Santo Espírito são um só Deus. A este Espírito do Pai e do Filho se chama nas Sagradas Escrituras Espírito Santo por uma espécie de apropriação deste nome. É, porém, distinto do Pai e do Filho, pois não é nem o Pai nem o Filho. Disse que é distinto mas não é outra coisa, porque também Ele é igualmente simples, igualmente imutável e co-eterno. E esta Trindade é um só Deus e não deixa de ser simples por ser Trindade. (…) É por isso que se chama simples a natureza que nada tem que possa perder; ou é simples a natureza em que aquele que tem se identifica com aquilo que tem. [Portanto] chama-se simples as perfeições que, por excelência e na verdade, constituem a natureza divina: porque nelas não é a substância uma coisa e a qualidade outra coisa. 26 O Pai, o Filho e o Espírito Santo são assim relações, “no sentido de que tudo aquilo que cada um é, Ele é em relação a um dEles ou a ambos”.27

3. A processão do Espírito Santo

Agostinho também procurou explicar o que é a processão do Espírito Santo, ou “em que ela difere da geração do Filho”.28 Ele considerou como certo que o Espírito Santo é o amor mútuo do Pai e do Filho (communem qua invicem se diligunt pater et filius caritatem), o amor comum pelo qual o Pai e o Filho se amam mutuamente.29 Assim, Agostinho afirma que “o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho, mas somente o Espírito Santo do Pai e do Filho, igual ao Pai e ao Filho e pertencente à unidade da Trindade”.30Desta maneira, em relação ao Espírito Santo, o Pai e o Filho formam um único princípio, o que é inevitável, “pois a relação de ambos” para com o Espírito Santo “é idêntica e onde não há diferença de relação, a operação dEles é inseparável”. Agostinho, portanto, ensinou a doutrina da dupla processão do Espírito Santo do Pai e do Filho (filioque).31 Então, de acordo com Agostinho, o Pai é autor da processão do Espírito Santo porque Ele gerou o Filho, e ao gerá-lo tornou-o também fonte a partir do qual o Espírito procede e já que tudo o que o Filho tem, o tem do Pai, do Pai tem também que dEle proceda o Espírito Santo. Daqui, porém, não se deve concluir, ele nos adverte, que o Espírito Santo tenha duas fontes ou princípios.32 Pelo contrário, “a ação do Pai e do Filho” na processão do Espírito “é comum, assim como é a ação de todas as três pessoas na criação”. Além disso, não obstante a dupla processão, o Pai permanece “a fonte primordial”, na medida em que é dEle que deriva a capacidade do Espírito Santo de proceder do Filho.33 Entenda também que, assim como o Pai tem a vida em si mesmo, para que dele proceda o Espírito Santo, assim deu ao Filho para que dele também proceda o mesmo Espírito Santo; o qual procedeu de ambos, fora do tempo. E pelo fato de dizer-se que o Espírito Santo procede do Pai, deve-se entender que o Filho recebe-o do Pai, e então, o Espírito Santo procede também do Filho. Pois o que o Filho tem, recebe-o do Pai, e assim recebe do Pai para que dele proceda, o mesmo Espírito Santo.34

Portanto, o Espírito Santo é algo comum ao Pai e ao Filho. “O Pai é apenas o Pai do Filho, e o Filho apenas o Filho do Pai; o Espírito, entretanto, é o Espírito tanto do Pai como do Filho, unindo-os em um vínculo de amor”. Portanto, o Espírito Santo é o “elo que une, por um lado, o Pai e o Filho, e, por outro lado, Deus e os cristãos. O Espírito é um dom, dado por Deus, o qual une os cristãos a Deus e aos demais cristãos. O Espírito Santo forma os elos de união entre os cristãos, dos quais depende fundamentalmente a unidade da igreja. A igreja é o ‘templo do Espírito Santo’, e em seu interior o Espírito Santo habita. O mesmo Espírito que une o Pai e o Filho, tornando-os um, também une os cristãos em uma só igreja”.35

 

4. A formulação das “analogias psicológicas”

De acordo com John Norman D. Kelly, “o uso de analogias tiradas da estrutura da alma humana”, ainda que afirmada timidamente, é, provavelmente, “a contribuição mais original de Agostinho à teologia trinitária”.36 A função destas analogias não é demonstrar que Deus é Trindade, já afirmada nas Escrituras, mas aprofundar nosso entendimento do mistério da absoluta unidade e também da distinção real dos três. No sentido estrito, de acordo com Agostinho, há vestígios da Trindade em todo o lugar, porque as criaturas, na medida em que existem, “existem por participar das ideias de Deus; portanto, tudo deve refletir”, embora de forma tênue, a Trindade que as criou.37

Para buscar a verdadeira imagem da Trindade, entretanto, o homem deve olhar primeiramente dentro de si, porque as Escrituras representa Deus dizendo: “Façamos [isto é, os três] o homem à nossa imagem e à nossa semelhança”. Portanto, mesmo o homem exterior, isto é, o homem considerado em sua natureza sensível, fornece “uma certa figura da Trindade” (quandam trinitatis effigiem).38 De acordo com Kelly, “o processo de percepção, por exemplo, revela três elementos distintos que são ao mesmo tempo intimamente ligados, dos quais o primeiro, em certo sentido, gera o segundo, enquanto que o terceiro mantém aos outros dois unidos”.39 Por exemplo, o objeto externo (res quam vivemus, a coisa que vemos), a representação sensível da mente (visio), e a intenção ou ato de focalizar a mente (intentio; voluntas; intentio voluntatis, a intenção da vontade). Quando o objeto externo é removido temos uma segunda trindade, que lhe é superior, pois é localizada inteiramente dentro da mente.40 Neste sentido, Agostinho fala da impressão da memória (memoria), a imagem interna da memória (visio interna), e a intenção ou disposição da vontade  (voluntas). Para a imagem real, entretanto, da Trindade, devemos olhar no homem interior, ou alma. Ao comentar a pergunta do Salmo, “por que estás triste, ó minha alma? E por que me perturbas?”, ele escreveu: “Entendemos, então, que temos algo onde se encontra a imagem de Deus, a saber, a mente, a razão. A mente invocava a luz de Deus e a verdade de Deus. Com ela entendemos o que é justo e o que é injusto, discernimos o verdadeiro do falso… Nosso intelecto, por conseguinte, fala a nossa alma”.41 Como Kelly afirma, frequentemente tem sido dito que a principal analogia trinitária do A Trinitate é a do amante (amans), do objeto amado (id quod amatur) e do amor que os une (amor).42 Porém a discussão de Agostinho desta trindade é bastante curta, e é apenas “uma transição” para aquela que ele considera sua mais importante analogia, a da “atividade da mente enquanto dirigida para si mesma ou, melhor ainda, para Deus”. Quem poderá compreender a Trindade onipotente? E quem não fala dela, ainda que não a compreenda? É rara a pessoa que, ao falar da Santíssima Trindade, saiba o que diz. Discute-se, debate-se, mas ninguém é capaz de contemplar essa visão, sem paz interior. Quisera meditassem os homens sobre três coisas que tem dentro de si mesmos, as três bem diferentes da Trindade. Indico-as, para que se exercitem, e assim experimentem e sintam quão longe estão desse mistério. Aludo à existência, ao conhecimento e à vontade. De fato existo, conheço e quero. Existo, sabendo e querendo; sei que existo e quero; quero existir e conhecer. Repare, quem puder, como é inseparável a vida nessas três faculdades: uma só vida, uma só inteligência, uma só essência. Como são inseparáveis os objetos dessa distinção. Distinção, no entanto, que existe! Cada um está diante de si mesmo. Estude-se, veja e responda-me. Contudo, mesmo que reflita e me responda, não julgue ter compreendido a essência deste Ser imutável que está acima de todas as criaturas, o Ser que imutavelmente existe, imutavelmente sabe e imutavelmente quer. Será porventura graças a essas três faculdades que há em Deus a Trindade, ou essa tríplice faculdade existe em cada uma das três pessoas, de modo a serem três em cada uma? Ou ambas as coisas se realizam de modo admirável, numa simplicidade múltipla, sendo a Trindade o seu próprio fim infinito, pela qual existe, se conhece e se basta imutavelmente, na grande abundância de sua Unidade? Quem poderia exprimir facilmente esse conceito? Quem teria palavras para o exprimir? Quem, de algum modo, ousaria pronunciar-se temerariamente a esse respeito?43 Esta última analogia fascinou Agostinho por toda a sua vida, as trindades resultantes sendo: a) a mente (mens), seu conhecimento de si mesma (notitia) e seu amor de si mesma (amor);44 b) a memória (memoria), ou, mais propriamente, “o conhecimento latente que a mente tem de si mesma”; o entendimento (intelligentia), isto é, “sua apreensão de si mesma à luz das razões eternas”; e a vontade (voluntas), ou amor de si mesma, “pela qual este processo de autoconhecimento é posto em atividade”;45 c) a mente, enquanto lembrando, conhecendo e amando ao próprio Deus.46 “É, contudo, a última das três analogias que Agostinho considera a mais satisfatória”. Agostinho considera que somente quando a mente focalizou a si mesma com todas as suas potências de lembrança, entendimento e amor em seu Deus é que a Sua imagem que ela traz em si, corrompida como está pelo pecado, pode ser plenamente restaurada. Embora se demorando nestas analogias, Agostinho não tem ilusões quanto às suas imensas limitações. Primeiro, “a imagem de Deus na mente do homem é, de qualquer maneira, uma imagem remota e imperfeita”. Segundo, “embora a natureza racional do homem exiba as trindades acima mencionadas, (…) elas representam faculdades ou atributos que o ser humano possui, enquanto que a natureza divina é perfeitamente simples”. Terceiro, a memória, entendimento e vontade operam no homem separadamente, enquanto que as três pessoas divinas “pertencem-se mutuamente e Sua ação é perfeitamente una e indivisível”. Finalmente, em Deus os três membros da Trindade são pessoas, mas o mesmo não ocorre na mente humana. Parafraseado o próprio Agostinho, a imagem da Trindade se encontra numa pessoa, mas a suprema Trindade é ela própria três pessoas: o que é um paradoxo, quando alguém reflete que, não obstante isso, os três são mais inseparavelmente um do que a trindade da mente.47 O fundamento para seguir esta religião [cristã] é a história e a profecia. Aí se descobre a disposição da divina Providência, no tempo, em favor do gênero humano, para reformá-lo e restaura-lo, em vista da posse da vida eterna. Crendo nisso, a mente vai se purificando num modo de vida ajustado aos preceitos divinos. Isso a habilitará à percepção das realidades espirituais. Essas realidades não são nem do passado, nem do futuro, mas são sempre idênticas a si mesmas, imunes de qualquer mudança temporal. Trata-se do mesmo e único Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Conhecida essa Trindade – o quanto é possível na vida presente – sem dúvida alguma a mente percebe que toda criatura intelectual, animal e corporal, recebe dessa mesma Trindade criadora: o ser para ser o que é; a sua forma; e a direção dentro da perfeita ordem universal. Não se entenda por aí, porém, que apenas parcela das criaturas é feita pelo Pai, outra pelo Filho e outra ainda pelo Espírito Santo. O certo é que todas e cada uma das naturezas individuais recebe a criação do Pai pelo Filho, no dom do Espírito Santo. Visto que todas as coisas, substância, essência, natureza ou qualquer termo mais adequado, que se dê possui ao mesmo tempo estas três propriedades: é algo único, distingue-se por sua forma das demais coisas, e está dentro da ordem universal. 48

 

Conclusão: louvor a Deus

Para encerrar, podemos resumir as contribuições de Agostinho à doutrina trinitariana: (a) Na explicação da Trindade, ele concebe a natureza divina, antes das pessoas, separadamente. Sua formula da Trindade é: uma só natureza subsistindo em três pessoas. Ao contrário, a dos gregos era: três pessoas tendo uma mesma natureza. Em Agostinho, a divindade única aparece logo. A igualdade das pessoas divinas também aparece com mais brilho. (b) Outro progresso da doutrina trinitariana de Agostinho é a insistência em fazer de todas as operações ad extra a obra indistinta das três pessoas, isto é, as operações exteriores são atribuídas ou apropriadas ao Pai, Filho e Espírito Santo.49 (c) Enfim, Agostinho lançou os fundamentos da teoria psicológica das processões, concernentes à origem do Filho e à do Espírito Santo. Agostinho, juntamente com os maiores teólogos que lograram vislumbrar as dimensões do mistério trinitário, costumavam terminar suas obras como orações ardorosas, de louvor e agradecimento, sempre conscientes de suas limitações: “Ó minha fé, vai avante na tua confissão. Diz ao Senhor teu Deus: santo, santo, santo é o Senhor meu Deus. Fomos batizados em teu nome, Pai, Filho e Espírito Santo”.50 O silêncio reverente da razão deixa o coração extravasar sua admiração. Deus está envolto em mistério “na luz inacessível” (1Tm 6.13-16):

Portanto, quando chegarmos à tua presença, cessará o muito que dissemos, mas muito nos ficará por dizer e tu permanecerás só, tudo em todos (1Cor 15.28), e então eternamente cantaremos um só cântico, louvando-te em um só movimento, em ti estreitamente unidos. Senhor, único Deus, Deus Trindade, tudo o que disse de ti nestes livros, de ti vem. Reconheçam-no os teus, e se algo há de meu, perdoa-me e perdoem-me os teus. AMÉM.51