ESPIRITISMO. www.institutoandreluiz.org. Texto
de Allan Kardec (1804-1869). II. ANJOS E DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. OS
ANJOS SEGUNDO A IGREJA. REFUTAÇÃO. OS ANJOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. ORIGEM DA Espiritismo
CRENÇA NOS DEMÔNIOS. OS DEMÔNIOS SEGUNDO A IGREJA. OBJEÇÕES. OS DEMÔNIOS
SEGUNDO O ESPIRITISMO. Os demônios segundo a Igreja. 7. Satanás, o chefe ou o rei dos demônios, não é,
segundo a Igreja, uma personificação alegórica do mal, mas uma entidade real,
praticando exclusivamente o mal, enquanto que Deus pratica exclusivamente o
bem. Tomemos, pois, tal qual o representam. Satanás existe de toda a
eternidade, como Deus, ou ser-lhe-á posterior? Existindo de toda a eternidade é
incriado, e, por consequência, igual a Deus. Este Deus, por sua vez, deixará de
ser único, pois haverá um deus do mal. Mas se lhe for posterior? Neste caso
passa a ser uma criatura de Deus. Como tal, só praticando o mal por incapaz de
fazer o bem e tampouco de arrepender-se, Deus teria criado um ser votado
exclusiva e eternamente ao mal. Não sendo o mal obra de Deus, seria contudo, de
uma das suas criaturas, e nem por isso, deixava, Deus de ser o autor, deixando
igualmente de ser profundamente bom. O mesmo se dá, exatamente, em relação aos
seres maus chamados demônios. 8. Tal foi, por muito tempo, a crença neste
sentido. Hoje dizem (1): "Deus, que é a bondade e santidade por
excelência, não os havia criado perversos e maus. A mão paternal que se apraz
imprimir em todas as suas obras o cunho de infinitas perfeições, cumulara-os de
magníficos predicados. As qualidades eminentíssimas de sua natureza, juntara as
liberalidades da sua graça; em tudo os fizera iguais aos Espíritos sublimes de
glória e felicidade; subdivididos por todas as suas ordens e adstritos a todas
as classes, eles tinham o mesmo fim e idênticos destinos. Foi seu chefe o mais
belo dos arcanjos. Eles poderiam até ter alcançado a confirmação de justos para
todo o sempre, e serem admitidos ao gozo da bem-aventurança dos céus. Este
último favor, que deverá ser o complemento de todos os outros, constituía o
prêmio da sua docilidade, mas dele desmereceram por insensata e audaciosa
revolta." As citações seguintes são extraídas da pastoral de Monsenhor
Gousset, cardeal-arcebispo de Reims, para a quaresma de 1865: "Qual foi o
escolho da sua perseverança? Que verdade desconheceram? Que ato de adoração, de
fé, recusaram a Deus? A Igreja e os anais das Santas Escrituras, não o dizem
positivamente, mas certo parece que não aquiesceram à mediação do Filho de
Deus, nem à exaltação da natureza humana em Jesus-Cristo." "O
Verbo Divino, criador de todas as coisas, é também o mediador e salvador único,
na Terra como no Céu. O fim sobrenatural não foi dado aos anjos e aos homens
senão na previsão de sua encarnação e méritos, pois não há proporção alguma
entre a obra dos Espíritos eminentes e a recompensa, que é o próprio Deus.
Nenhuma criatura poderia alcançar tal fim, sem esta maravilhosa e sublime
intervenção da caridade. Ora, para preencher a distância infinita que separa a
sua essência das suas obras, preciso fora reunisse à sua pessoa os dois
extremos, associando à divindade as naturezas ou do anjo, ou do homem: e
preferiu então a natureza humana. Esse plano, concebido de toda eternidade, foi
manifestado aos anjos muito antes da sua execução: o Homem- Deus foi-lhes
mostrado como Aquele que deveria confirmá-los na graça e guiá-los à glória, sob
a condição de o adorarem durante a missão terrestre, e para todo o sempre no
céu. Revelação inesperada, arrebatadora visão para corações generosos e gratos,
mas - mistério profundo - humilhante para espíritos soberbos! Esse fim
sobrenatural, essa glória imensa que lhes propunham não seria unicamente a
recompensa de seus méritos pessoais. Nunca poderiam atribuir a si próprios os
títulos dessa glória! Uni mediador entre Deus e eles! Que injúria à sua
dignidade! E a preferência espontânea pela natureza humana? Que injustiça! que
afronta aos seus direitos!" "E chegarão eles a ver esta
Humanidade, que lhes é tão inferior, deificada pela união com o Verbo, sentada
à mão direita de Deus em trono resplandecente? Consentirão enfim que ela
ofereça a Deus, eternamente, a homenagem da sua
adoração?" "Lúcifer e a terça parte dos anjos sucumbiram a tais
pensamentos de inveja e de orgulho. São Miguel e com ele muitos exclamaram:
"Quem é semelhante a Deus? Ele é o dono de seus dons, o soberano Senhor de
todas as coisas. Glória a Deus e ao Cordeiro, que tem de ser imolado à salvação
do mundo." O chefe dos rebeldes, porém, esquecido de que a Deus devia a
sua nobreza e prerrogativas, raiando pela temeridade, disse: "Sou eu quem
ao céu subirá; fixarei residência acima dos astros; sentar-me-ei sobre o monte
da aliança, nos flancos do Aquilão, dominarei as nuvens mais elevadas e serei
semelhante ao Altíssimo." Os que de tais sentimentos partilharam,
acolheram essas palavras com murmúrios de aprovação, e partidários houve em
todas as hierarquias. A sua multidão, contudo, não os preserva do
castigo."9. Está doutrina suscita várias
objeções: 1ª - Se Satã e os demônios eram anjos, eles eram
perfeitos; como, sendo perfeitos, puderam falir a ponto de desconhecer a
autoridade desse Deus, em cuja presença se encontravam? Ainda se tivessem
logrado uma tal eminência gradualmente, depois de haver percorrido a escala da
perfeição, poderíamos conceber um triste retrocesso; não, porém, do modo por
que os apresentam, isto é, perfeitos de origem. A conclusão é esta: - Deus
quis criar seres perfeitos, porquanto os favorecera com todos os dons, mas
enganou-se: logo, segundo a Igreja, Deus não é infalível! (1) 2ª - Pois que nem
a Igreja e nem os sagrados anais explicam a causa da rebelião dos anjos para
com Deus e apenas dão como problemática (quase certa) a relutância no
reconhecimento da futura missão do Cristo, que valor - perguntamos - que valor
pode ter o quadro tão preciso e detalhado da cena então ocorrente? A que fonte
recorreram, para inferir se de fato foram pronunciadas palavras tão claras e
até simples colóquios? De duas uma: ou a cena é verdadeira ou não é. No
primeiro caso, não havendo dúvida alguma, por que a Igreja não resolve a
questão? Mas se a Igreja e a História se calam se a coisa apenas parece certa,
claro, não passa de hipótese, e a cena descritiva é mero fruto da imaginação.
(2). 3ª As palavras atribuídas a Lúcifer revelam uma ignorância admirável num
arcanjo que, por sua natureza e grau atingido, não deve participar, quanto à
organização do Universo, dos erros e dos prejuízos que os homens têm
professado, até serem pela Ciência esclarecidos. (1) Esta doutrina
monstruosa é corroborada por Moisés, quando diz (Gênese, cap. VI, vv. 6 e 7): "Ele
se arrependeu de haver criado o homem na Terra e, penetrado da mais intima dor,
disse: Exterminarei a criação da face da Terra; exterminarei tudo, desde o
homem aos animais, desde os que rastejam sobre a terra até os pássaros do céu,
porque me arrependo de os ter criado." Ora, um Deus que se arrepende do
que fez não é perfeito nem infalível; portanto, não é Deus. E são estas as
palavras que a Igreja proclama! Tampouco se percebe o que poderia haver de
comum entre os animais e a perversidade dos homens, para que merecessem tal
extermínio. (2) Encontra-se em Isaías, cap. XIV, Vv. 11 e seguintes:
"Teu orgulho foi precipitado nos infernos; teu corpo morto baqueou par
terra; tua cama verterá podridão, e vermes tua vestimenta. Como caíste do Céu,
Lúcifer, tu que parecias tão brilhante ao romper do dia? Como foste arrojado
sobre a Terra, tu que ferias as nações com teus golpes; que dizias de coração:
Subirei aos céus, estabelecerei meu trono acima dos astros de Deus,
sentar-me-ei acima das nuvens mais altas e serei igual ao Altíssimo! Todavia
foste precipitado dessa glória no inferno, até o mais fundo dos abismos. Os que
te virem, aproximando-se, encarar-te-ão, dizendo: "Será este o homem que
turbou a Terra, que aterrou seus remos, que fez do mundo um deserto, que destruiu
cidades e reteve acorrentados os que se lhe entregaram prisioneiros?"
Estas palavras do profeta não se relerem à revolta dos anjos,' são, sim, uma
alusão ao orgulho e à queda do rei de Babilônia, que retinha os judeus em
cativeiro, como atestam os últimos versículos. O rei de Babilônia é
alegoricamente designado por Lúcifer, mas não se faz aí qualquer menção da cena
supra descrita. Essas palavras são do rei que as tinha no coração e se
colocava por orgulho acima de Deus, cujo povo escravizara. A profecia da
libertação do povo judeu, da rainha de Babilônia e do destroço dos assírios é,
ao demais, o assunto exclusivo desse capítulo. Como poderia, então, dizer que
fixaria residência acima dos astros, dominando as mais elevadas nuvens?É sempre
a velha crença da Terra como centro do Universo, do céu como que formado de
nuvens estendendo-se às estrelas, e da limitada região destas, que a Astronomia
nos mostra disseminadas ao infinito no infinito espaço! Sabendo-se, como hoje
se sabe, que as nuvens não se elevam a mais de duas léguas da superfície
terráquea, e falando-se em dominá-las por mais alto, referindo-se a montanhas,
preciso fora que a observação partisse da Terra, sendo ela, de fato, a morada
dos anjos. Dado, porém, ser esta em região superior, inútil fora alçar-se acima
das nuvens. Emprestar aos anjos uma linguagem tisnada de ignorância, é
confessar que os homens contemporâneos são mais sábios que os anjos. A Igreja
tem caminhado sempre erradamente, não levando em conta os progressos da
Ciência. 10. A resposta à primeira objeção acha-se na seguinte passagem:
"A escritura e a tradição denominam céu o lugar no qual se haviam colocado
os anjos, no momento da sua criação. Mas esse não era o céu dos céus, o céu da
visão beatifica, onde Deus se mostra de face aos seus eleitos, que o contemplam
claramente e sem esforço, porque aí não há mais possibilidade nem perigo de
pecado; a tentação e a dúvida são aí desconhecidas; a justiça, a paz e a
alegria reinam imutáveis, a santidade e a glória imperecíveis. Era, portanto,
outra região celeste, uma esfera luminosa e afortunada, essa em que permaneciam
tão nobres criaturas favorecidas pelas divinas comunicações, que deveriam
receber com fé e humildade até serem admitidas no conhecimento da sua realidade
essência do próprio Deus." Do que precede se infere que os anjos
decaídos pertenciam a uma categoria menos elevada e perfeita, não tendo
atingido ainda o lugar supremo em que o erro é impossível. Pois seja: mas,
então, há manifesta contradição nesta afirmativa: Deus em tudo os tinha criado
semelhantes aos espíritos sublimes que, subdivididos em todas as ordens e
adstritos a todas as classes, tinham o mesmo fim e idênticos destinos, e que
seu chefe era o mais belo dos arcanjos. Ora, em tudo semelhantes aos outros,
não lhes seriam inferiores em natureza; idênticos em categorias, não podiam
permanecer em um lugar especial. Intacta subsiste, portanto, a objeção. 11. E
ainda há uma outra que é, certamente, a mais séria e a mais grave. Dizem:
"Este plano (a intervenção do Cristo), concebido desde toda a eternidade,
foi manifestado aos anjos muito antes da sua execução." Deus sabia,
portanto, e de toda a eternidade, que os anjos, tanto quanto os homens, teriam
necessidade dessa intervenção. Ainda mais: o Deus onisciente sabia que alguns
dentre esses anjos viriam a falir, arcando com a eterna condenação e arrastando
a igual sorte uma parte da Humanidade. E assim, de caso pensado, previamente
condenava o gênero humano, a sua própria criação. Deste raciocínio não há
fugir, porquanto de outro modo teríamos que admitir a inconsciência divina,
apregoando a não presciência de Deus. Para nós é impossível identificar uma tal
criação com a soberana bondade. Em ambos os casos vemos a negação de atributos,
sem a plenitude absoluta dos quais Deus não seria Deus. 12. Admitindo a
falibilidade dos anjos como a dos homens, a punição é consequência, aliás justa
e natural, da falta; mas se admitirmos concomitantemente a possibilidade do
resgate, a regeneração, a graça, após o arrependimento e a expiação, tudo se
esclarece e se conforma com a bondade de Deus. Ele sabia que errariam, que
seriam punidos, mas sabia igualmente que tal castigo temporário seria um meio
de lhes fazer compreender o erro, revertendo ao fim em benefício deles. Eis
como se explicam as palavras do profeta Ezequiel: "Deus não quer a morte,
porém a salvação do pecador." (1). A inutilidade do arrependimento e a
impossibilidade de regeneração, isso sim, importaria a negação da divina
bondade. Admitida tal hipótese, poder-se-ia mesmo dizer, rigorosa e exatamente,
que estes anjos desde a sua criação, visto Deus não poder ignorá-lo, foram
votados perpetuidade do mal, e predestinados a demônios para arrastarem os
homens ao mal. 13. Vejamos agora qual a sorte desses tais anjos e o que
fazem: "Mal apenas se manifestou a revolta na linguagem dos Espíritos,
isto é, no arrojo dos seus pensamentos, foram eles banidos da celestial mansão
e precipitados no abismo. Por estas palavras entendemos que foram arremessados
a um lugar de suplícios no qual sofrem a pena de fogo, conforme o texto do
Evangelho, que é a palavra mesma do Salvador. Ide, malditos, ao fogo eterno
preparado pelo demônio e seus anjos. S. Pedro expressamente diz: que Deus os
prendeu às cadeias e torturas infernais, sem que lá estejam, contudo,
perpetuamente, visto como só no fim do mundo serão para sempre enclausurados
com os réprobos. Presentemente, Deus ainda permite que ocupem lugar nesta
criação, à qual pertencem, na ordem de coisas idênticas à sua existência, nas
relações enfim que deviam ter com os homens, e das quais fazem o mais
pernicioso abuso. Enquanto uns ficam na tenebrosa morada, servindo de
instrumento da justiça divina contra as almas infelizes que seduziram, outros,
em número infinito, formam legiões e residem nas camadas inferiores da
atmosfera, percorrendo todo o globo. Envolvem-se em tudo que aqui se passa,
tomando mesmo parte muito ativa nos acontecimentos terrenos." Quanto ao
que diz respeito às palavras do Cristo sobre o suplício do fogo eterno, já nos
explanamos no cap. IV, "O Inferno". (1) Vede 1ª' Parte, cap. VI, nº
25, citação de Ezequiel. 14. Por esta doutrina, apenas uma parte
dos demônios está no inferno; a outra vaga em liberdade, envolvendo-se em tudo
que aqui se passa, dando-se ao prazer de praticar o mal e isso até o fim do
mundo, cuja época indeterminada não chegará tão cedo, provavelmente. Mas, por
que uma tal distinção? Serão estes menos culpados? Certo que não, a menos que
se não revezem, como se pode inferir destas palavras: "Enquanto uns
ficam na tenebrosa morada, servindo de instrumento da justiça divina contra as
almas infelizes que seduziram." Suas ocupações consistem, pois, em
martirizar as almas que seduziram. Assim, não se encarregam de punir faltas
livre e voluntariamente cometidas, porém as que eles próprios provocaram. São
ao mesmo tempo a causa do erro e o instrumento do castigo; e, coisa singular,
que a justiça humana por imperfeita não admitiria - a vítima que sucumbe por
fraqueza, em contingências alheias e porventura superiores à sua vontade, é
tanto ou mais severamente punida do que o agente provocador que emprega astúcia
e artifício, visto como essa vítima, deixando a Terra, vai para o inferno
sofrer sem tréguas, nem favor, eternamente, enquanto que o causador da sua
primeira falta, o agente provocador, goza de uma tal ou qual dilação e
liberdade até o fim do mundo. Como pode a justiça de Deus ser menos perfeita
que a dos homens? 15. Mas, ainda não é tudo: "Deus permite que ocupem
lugar nesta criação, nas relações que com o homem deviam ter e das quais abusam
perniciosamente." Deus podia ignorar, no entanto, o abuso que fariam de
uma liberdade por ele mesmo concedida? Então, por que a concedeu? Mas nesse
caso é com conhecimento de causa que Deus abandona suas criaturas à mercê delas
mesmas, sabendo, pela sua onisciência, que vão sucumbir, tendo a sorte dos
demônios. Não serão elas de si mesmas bastante fracas para falirem, sem a
provocação de um inimigo tanto mais perigoso quanto invisível? Ainda se o
castigo fora temporário e o culpado pudesse remir-se pela reparação! (...). Mas
não: a condenação é irrevogável, eterna! Arrependimento, regeneração,
lamentos, tudo supérfluo! Os demônios não passam, portanto, de agentes
provocadores e de antemão destinados a recrutar almas para o inferno, isto com
a permissão de Deus, que antevia, ao criar estas almas, a sorte que as aguardava.
Que se diria na Terra de um juiz que recorresse a tal expediente para abarrotar
prisões? Estranha ideia que nos dão da Divindade, de um Deus cujos atributos
essenciais são: justiça e bondade soberanas! E dizer-se que é em nome de
Jesus, daquele que só pregou amor, perdão e caridade, que tais doutrinas são
ensinadas! Houve um tempo em que tais anomalias passavam despercebidas, porque
não eram compreendidas nem sentidas; o homem, curvado ao jugo do despotismo,
submetia-se à fé cega, abdicava da razão. Hoje, porém, que a hora da
emancipação soou, esse homem compreende a justiça, e, desejando-a tanto na vida
quanto na morte, exclama: Não é, não pode ser tal, ou Deus não fora
Deus. 16. "O castigo segue por toda a parte os seres decaídos: o
inferno está neles e com eles: nem paz nem repouso, transformadas em amargores
as doçuras da esperança, que se lhes torna odiosa. A mão de Deus, desferiu o
castigo no ato mesmo de pecarem, e sua vontade galvanizou-se no mal.
"Tornados perversos, obstinam-se em o ser e sê-lo-ão para
sempre. "São, depois do pecado, o que é o homem depois da morte. A
reabilitação dos que caíram torna-se também impossível; a sua perda é, desde
então, irreparável, mantendo-se eles no seu orgulho perante Deus, no seu ódio
contra o Cristo, na sua inveja contra a Humanidade. "Não tendo podido
apropriar-se da glória celeste pelo desmesurado da sua ambição, esforçam-se por
implantar seu império na Terra, banindo dela o reino de Deus. O Verbo encarnado
cumpriu, apesar disso, os seus desígnios para salvação e glória da Humanidade.
Também por isso procuram por todos os meios promover a perda das almas pelo
Cristo resgatadas: o artifício e a importunação, a mentira e a sedução, tudo
põem em jogo para arrastá-las ao mal e consumar a perda. "E como são infatigáveis
e poderosos, a vida do homem com inimigos tais não pode deixar de ser uma luta
sem tréguas, do berço ao túmulo. "Efetivamente esses inimigos são os
mesmos que, depois de terem introduzido o mal no mundo, chegaram a cobri-lo com
as espessas trevas do erro e do vício; os mesmos que, por longos séculos, se
fizeram adorar como deuses e que reinaram em absoluto sobre os povos da
antiguidade; os mesmos, enfim, que ainda hoje exercem tirânica influência nas
regiões idólatras, fomentando a desordem e o escândalo até no seio das
sociedades cristãs. Para compreender todos os recursos de que dispõem ao
serviço da malvadez, basta notar que nada perderam das prodigiosas faculdades
que são o apanágio da natureza angélica. Certo, o futuro e sobretudo a ordem
natural têm mistérios que Deus se reservou e que eles não podem penetrar; mas a
sua inteligência é bem superior à nossa, porque percebem de um jacto os efeitos
nas causas e vice versa. Esta percepção permite-lhes predizer
acontecimentos futuros que escapam às nossas conjeturas. A distância e
variedade dos lugares desaparecem ante a sua agilidade. Mais prontos que o
raio, mais rápidos que o pensamento, acham-se quase instantaneamente sobre
diversos pontos do globo e podem descrever, a distância, os acontecimentos na
mesma hora em que ocorrem. "As leis pelas quais Deus rege o Universo
não lhes são acessíveis, razão por que não podem derrogá-las, e, por
conseguinte, predizer ou operar verdadeiros milagres; possuem no entanto a arte
de imitar e falsificar, dentro de certos limites, as divinas obras; sabem quais
os fenômenos resultantes da combinação dos elementos, predizem com maior ou
menor êxito os que sobrevêm naturalmente, assim como os que por si mesmos podem
produzir. Daí os numerosos oráculos, os extraordinários vaticínios que sagrados
e profanos livros recolheram, baseando e acoroçoando tantas e tantas
superstições. "A sua substância simples e imaterial subtrai-os às
nossas vistas; permanecem ao nosso lado sem que os vejamos, interessam-nos a
alma sem que nos firam o ouvido. Acreditando obedecer aos nossos pensamentos,
estamos no entanto, e muitas vezes, debaixo da sua funesta influência. As
nossas disposições, ao contrário, são deles conhecidas pelas impressões que
delas transparecem em nós, e atacam-nos ordinariamente pelo lado mais fraco.
Para nos seduzirem com mais segurança, costumam servir-se de sugestões e
engodos conformes com as nossas inclinações. Modificam a ação segundo as
circunstâncias e os traços característicos de cada temperamento. Contudo, suas
armas favoritas são a hipocrisia e a mentira." 17. Afirmam que o
castigo os segue por toda parte; que não sabem o que seja paz nem repouso. Esta
asserção de modo algum destrói a observação que fizemos quanto ao privilégio
dos que estão fora do inferno, e que reputamos tanto menos justificado por isso
que podem fazer, e fazem, maior mal. É de crer que esses demônios extra
infernais não sejam tão felizes como os bons anjos, mas não se deverá ter em
conta a sua relativa liberdade? Eles não possuirão a felicidade moral que a
virtude defere, mas são incontestavelmente mais felizes que os seus comparsas
do inferno flamífero. Depois, para o mau, sempre há um certo gozo na prática do
mal, de mais a mais livremente. Perguntai ao criminoso o que prefere: se ficar
na prisão, ou percorrer livremente os campos, agindo à vontade? Pois o caso é
exatamente o mesmo. Afirmam, outrossim, que o remorso os persegue sem
tréguas nem misericórdia, esquecidos de que o remorso é o precursor imediato do
arrependimento, quando não é o próprio arrependimento. "Tornados
perversos, obstinam-se em o ser, e sê-lo-ão para sempre." Mas desde que se
obstinam em ser perversos, é que não têm remorsos; do contrário, ao menor
sentimento de pesar, renunciariam ao mal e pediriam perdão. Logo, o
remorso não é para eles um castigo. 18. "São, depois do pecado, o que
é o homem depois da morte. A reabilitação dos que caíram torna-se, portanto,
impossível." Donde provém essa impossibilidade? Não se compreende que
ela seja a consequência de sua similitude com o homem depois da morte,
proposição que, ao demais, é muito ambígua. Acaso provirá da própria
vontade dos demônios? Porventura da vontade divina? No primeiro caso a
pertinácia denota uma extrema perversidade, um endurecimento absoluto no mal, e
nem mesmo se compreende que seres tão profundamente perversos pudessem jamais
ter sido anjos de virtude, conservando por tempo indefinido, na convivência
destes, todos os traços da sua péssima índole e natureza. No segundo caso,
ainda menos se compreende que Deus inflija como castigo a impossibilidade da
reparação, após uma primeira falta. O Evangelho nada diz que com isso se
pareça. 19. "A sua perda é desde então irreparável, mantendo-se eles
no seu orgulho perante Deus." E de que lhes serviria não manterem tal
orgulho, uma vez que é inútil todo o arrependimento? O bem só poderia
interessá-los se eles tivessem uma esperança de reabilitação, fosse qual fosse
o seu preço. Assim não acontece, no entanto, e pois se perseveram no mal é
porque lhes trancaram a porta da esperança. Mas por que lhes trancaria Deus
essa porta? Para se vingar da ofensa decorrente da sua insubmissão. E, assim,
para saciar o seu ressentimento contra alguns culpados, Deus prefere não
somente vê-los sofrer, mas agravar o mal com mal maior; impelir à perdição
eterna toda a Humanidade, quando por um simples ato de demência podia evitar
tão grande desastre, aliás previsto de toda a eternidade! Trata-se, no
caso vertente, de um ato de demência, de uma graça pura e simples que pudesse
transformar-se em estimulo do mal? Não, trata-se de um perdão condicional,
subordinado a uma regeneração sincera e completa. Mas, ao invés de uma palavra
de esperança e misericórdia, é como se Deus dissera: "Pereça toda a raça
humana antes que minha vingança." E com semelhante doutrina ainda muita
gente se admira de que haja incrédulos e ateus! E é assim que Jesus nos
representa seu Pai? Ele que nos deu a lei expressa do esquecimento e do
perdão das ofensas, que nos manda pagar o mal com o bem, que prescreve o amor
dos nossos inimigos como a primeira das virtudes que nos conduzem ao céu,
quereria desse modo que os homens fossem melhores, mais justos, mais
indulgentes que o próprio Deus? Os
demônios segundo o Espiritismo. 20. Segundo o Espiritismo, nem anjos
nem demônios são entidades distintas, por isso que a criação de seres
inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, esses seres constituem a
Humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; uma vez libertos do
corpo material, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos, que povoam os
Espaços. Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por escopo a perfeição, com a
felicidade que dela decorre. Não lhes deu, contudo, a perfeição, pois quis que
a obtivessem por seu próprio esforço, a fim de que também e realmente lhes
pertencesse o mérito. Desde o momento da sua criação que os seres progridem,
quer encarnados, quer no estado espiritual. Atingido o apogeu, tornam-se puros
espíritos ou anjos segundo a expressão vulgar, de sorte que, a partir do
embrião do ser inteligente até ao anjo, há uma cadeia na qual cada um dos elos
assinala um grau de progresso. Do expresso resulta que há Espíritos em todos os
graus de adiantamento, moral e intelectual, conforme a posição em que se acham,
na imensa escala do progresso. Em todos os graus existe, portanto, ignorância e
saber, bondade e maldade. Nas classes inferiores destacam-se Espíritos ainda
profundamente propensos ao mal e comprazendo-se com o mal. A estes pode-se
denominar demônios, pois são capazes de todos os malefícios aos ditos
atribuídos. O Espiritismo não lhes dá tal nome por se prender ele à ideia de
uma criação distinta do gênero humano, como seres de natureza essencialmente
perversa, votados ao mal eternamente e incapazes de qualquer progresso para o
bem. 21. Segundo a doutrina da Igreja os demônios foram criados bons e
tornaram-se maus por sua desobediência: são anjos colocados primitivamente por
Deus no ápice da escala, tendo dela decaído. Segundo o Espiritismo os demônios
são Espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que, colocados na base
da escala, hão de nela graduar-se. Os que por apatia, negligência, obstinação
ou má vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas classes inferiores,
sofrem as consequências dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a
regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga dessa vida penosa e das suas
respectivas consequências; eles comparam a sua situação à dos bons Espíritos e
compreendem que o seu interesse está no bem, procurando então melhorarem-se,
mas por ato de espontânea vontade, sem que haja nisso o mínimo constrangimento.
"Submetidos à lei geral do progresso, em virtude da sua aptidão para o
mesmo, não progridem, ainda assim, contra a vontade." Deus fornece-lhes
constantemente os meios, porém, com a faculdade de aceitá-los ou recusá-los. Se
o progresso fosse obrigatório não haveria mérito, e Deus quer que todos
tenhamos o mérito de nossas obras. Ninguém é colocado em primeiro lugar por
privilégio; mas o primeiro lugar a todos é franqueado à custa do esforço
próprio. Os anjos mais elevados conquistaram a sua graduação, passando,
como os demais, pela rota comum. 22. Chegados a certo grau de pureza, os
Espíritos têm missões adequadas ao seu progresso; preenchem assim todas as
funções atribuídas aos anjos de diferentes categorias. E como Deus criou de
toda a eternidade, segue-se que de toda a eternidade houve número suficiente
para satisfazer às necessidades do governo universal. Deste modo uma só espécie
de seres inteligentes, submetida à lei de progresso, satisfaz todos os fins da
Criação. Por fim, a unidade da Criação, aliada à idéia de uma origem
comum, tendo o mesmo ponto de partida e trajetória, elevando-se pelo próprio
mérito, corresponde melhor à justiça de Deus do que a criação de espécies
diferentes, mais ou menos favorecidas de dotes naturais, que seriam outros
tantos privilégios. 23. A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos
demônios e das almas, não admitindo a lei do progresso, mas vendo todavia seres
de diversos graus, concluiu que seriam produto de outras tantas criações
especiais. E assim foi que chegou a fazer de Deus um pai parcial, tudo
concedendo a alguns de seus filhos, e a outros impondo o mais rude trabalho.
Não admira que por muito tempo os homens achassem justificação para tais
preferências, quando eles próprios delas usavam em relação aos filhos,
estabelecendo direitos de primogenitura e outros privilégios de nascimento.
Podiam tais homens acreditar que andavam mais errados que Deus? Hoje, porém,
alargou-se o círculo das ideias: o homem vê mais claro e tem noções mais
precisas de justiça; desejando-a para si e nem sempre encontrando-a na Terra,
ele quer pelo menos encontrá-la mais perfeita no Céu. E aqui está por que lhe
repugna à razão toda e qualquer doutrina, na qual não resplenda a Justiça Divina
na plenitude integral da su a pureza. (Allan Kardec, Livro O Céu e o
Inferno", edição LAKE).www.institutoandreluiz.org. Abraço. Davi
terça-feira, 30 de abril de 2019
segunda-feira, 29 de abril de 2019
I. ANJOS E DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO
Espiritismo.
www.institutoandreluiz.org. Texto de Allan Kardec (1804-1869). I. ANJOS E
DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. OS ANJOS SEGUNDO A IGREJA. REFUTAÇÃO. OS ANJOS SEGUNDO O
ESPIRITISMO. ORIGEM DA CRENÇA NOS DEMÔNIO. OS DEMÔNIOS SEGUNDO A IGREJA.
OBJEÇÕES. OS DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. Os anjos segundo a
Igreja. 1
- Todas as religiões têm tido anjos sob vários nomes, isto é, seres superiores
à Humanidade, intermediários entre Deus e os homens. Negando toda a existência
espiritual fora da vida orgânica, o materialismo naturalmente classificou os
anjos entre as ficções e alegorias. A crença nos anjos é parte essencial dos
dogmas da Igreja, que assim os define (1): 2 - "Acreditamos
firmemente, diz um concílio geral e ecumênico (2), que só há um Deus
verdadeiro, eterno e infinito, que no começo dos tempos tirou conjuntamente do
nada as duas criaturas - espiritual e corpórea, angélica e mundana - tendo
formado depois, como elo entre as duas, a natureza humana, composta de corpo e
Espírito." "Tal é, segundo a fé, o plano divino na obra da
criação, plano majestoso e completo como convinha à eterna sabedoria. Assim concebido,
ele oferece aos nossos pensamentos o ser em todos os seus graus e
condições." "Na esfera mais elevada aparecem a existência e a
vida puramente espirituais; na última ordem, uma e outra puramente materiais e
intermediário, uma união maravilhosa das duas substâncias, uma vida ao mesmo
tempo comum ao Espírito inteligente e ao corpo
organizado." "Nossa alma é de natureza simples e indivisível,
porém limitada em suas faculdades. A ideia que temos da perfeição faz-nos
compreender que pode haver outros seres simples quanto ela, e superiores por
suas qualidades e privilégios." "A alma é grande e nobre, porém,
está associada à matéria, servida por órgãos frágeis e limitada no poder e na
ação. Por que não haver outras ainda mais pobres, libertas dessa escravidão,
dessas peias e dotadas de uma força e atividade maiores e incomparáveis? Antes
que Deus houvesse colocado o homem na Terra, para conhecê-lo, servi-lo, e
amá-lo, não teria já chamado outras criaturas, a fim de compor a corte celeste
e adorá-lo no auge da glória? Deus, enfim, recebe das mãos do homem os tributos
de honra e homenagem deste universo: é, portanto, de admirar que receba das
mãos dos anjos o incenso e as orações do homem? Se, pois, os anjos não
existissem, a grande obra do Criador não patentearia o acabamento e a perfeição
que lhe são peculiares; este mundo, que atesta a sua onipotência, não fora mais
a obra-prima da sabedoria; nesse caso a nossa razão, posto que fraca, poderia
conceber um Deus mais completo e consumado. Em cada página dos sagrados livros,
do Velho como do Novo Testamentos, se fez menção dessas inteligências sublimes,
já em piedosas invocações, já em referências históricas. A sua intervenção
aparece manifestamente na vida dos patriarcas e dos profetas. Serve-se Deus de
tal ministério, ora para transmitir a sua vontade, ora para anunciar futuros
acontecimentos, e os anjos são também quase sempre órgãos de sua justiça e
misericórdia. A sua presença ressalta das circunstâncias que acompanham o
nascimento, a vida e a paixão do Salvador; a sua lembrança é inseparável da dos
grandes homens, como dos fatos mais grandiosos da antiguidade religiosa. A
crença nos anjos existe no seio mesmo do politeísmo e nas fábulas da mitologia,
porque essa crença é tão universal e antiga quanto o mundo. O culto que os pagãos
prestavam aos bons e maus gênios não era mais que falsa aplicação da verdade,
um resto degenerado do primitivo dogma. As palavras do santo concílio de
Latrão, ano de 1123, contêm fundamental distinção entre os anjos e os homens: -
ensinam-nos que os primeiros são puros Espíritos, enquanto que os segundos se
compõem de um corpo e de uma alma, isto é, que a natureza angélica subsiste por
si mesma não só sem mistura como dissociada da matéria, por mais vaporosa e
sutil que se suponha, ao passo que a nossa alma, igualmente espiritual,
associa-se ao corpo de modo a formar com ele uma só pessoa, sendo tal e
essencialmente o seu destino." "Enquanto perdura tão íntima
ligação de alma e corpo, as duas substâncias têm vida comum e se exercem recíproca
influência; daí o não poder a alma libertar-se completamente das imperfeições
de tal condição: as ideias chegam-lhe pelos sentidos na comparação dos objetos
externos e sempre debaixo de imagens mais ou menos aparentes. Eis por que a
alma não pode contemplar-se a si mesma, nem conceber Deus e os anjos sem
atribuir-lhes forma visível e palpável. O mesmo se dá quanto aos anjos, que
para se manifestarem aos santos e profetas hão de revestir formas tangíveis e
palpáveis. Essas formas, no entanto, não passavam de corpos aéreos que faziam
mover-se e identificar-se com eles, ou de atributos simbólicos de acordo com a
missão a seu cargo." "Seu ser e movimentos não são localizados
nem circunscritos a limitado e fixo ponto do Espaço. Desligados integralmente
do corpo, não ocupam qualquer espaço no vácuo; mas assim como a nossa alma
existe integral no corpo e em cada uma de suas partes, assim também os anjos
estão, e quase que simultaneamente, em todos os pontos e partes do mundo. Mais
rápidos que o pensamento, podem agir em toda parte num dado momento, operando
por si mesmos sem outros obstáculos, senão os da vontade do Criador e os da
liberdade humana. Enquanto somos condenados a ver lenta e limitadamente as
coisas externas; enquanto as verdades sobrenaturais se nos afiguram enigmas num
espelho, na frase de São Paulo, eles, os anjos, veem sem esforço o que lhes
importa saber, e estão sempre em relação imediata com o objeto de seus
pensamentos. Os seus conhecimentos são resultantes não dá indução e do
raciocínio, mas dessa intuição clara e profunda que abrange de uma só vez o
gênero e as espécies deles derivadas, os princípios e as consequências que
deles decorrem. A distância das épocas, a diferença de lugares, como a
multiplicidade de objetos, confusão alguma podem produzir em seus
espíritos." "Infinita, a essência divina é incompreensível; tem
mistérios e profundezas que se não podem penetrar; mas em lhes serem defesos os
desígnios particulares da Providência, ela lhos desvenda quando em certas
circunstâncias são encarregados de os anunciarem aos homens. As comunicações de
Deus com os anjos e destes entre si, não se fazem como entre nós por meio de
sons articulados e de sinais sensíveis. As puras inteligências não têm
necessidade nem de olhos para ver, nem de ouvidos para ouvir; tampouco possuem
órgão vocal para manifestar seus pensamentos. Este instrumento usual de nossas
relações é-lhes desnecessário, pois comunicam seus sentimentos de modo só a
eles peculiar, isto é, todo espiritual. Basta-lhes querer para se
compreenderem. Unicamente Deus conhece o número dos anjos. Este número não é,
sem dúvida, infinito, nem pudera sê-lo; porém, segundo os autores sagrados e os
santos doutores, é assaz considerável, verdadeiramente prodigioso. Se se pode
proporcionar o número de habitantes de uma cidade à sua grandeza e extensão, e
sendo a Terra apenas um átomo, comparada ao firmamento e às imensas regiões do
Espaço, força é concluir que o número dos habitantes do ar e do céu é muito
superior ao dos homens. E se a majestade dos reis se ostenta pelo
brilhantismo e número dos vassalos, dos oficiais e dos súditos, que haverá de
mais próprio a dar-nos ideia da majestade do Rei dos reis do que essa multidão
inumerável de anjos que povoam céus e Terra, mar e abismos, a dignidade dos que
permanecem continuamente prostrados ou de pé ante seu
trono?" "Os padres da Igreja e os teólogos ensinam geralmente
que os anjos se dividem em três grandes hierarquias ou principados, e cada
hierarquia em três companhias ou coros." "Os da primeira e mais
alta hierarquia designam-se conformemente às funções que exercem no
céu: Os Serafins são assim designados por serem como que abrasados perante
Deus pelos ardores da caridade; outros, os Querubins, por isso que refletem
luminosamente a divina sabedoria; e finalmente Tronos os que proclamam a
grandeza do Criador, cujo brilho fazem resplandecer." "Os anjos
da segunda hierarquia recebem nomes consentâneos com as operações que se lhes
atribui no governo geral do Universo, e são: as Dominações, que determinam
aos anjos de classes inferiores suas missões e deveres; as Virtudes, que
promovem os prodígios reclamados pelos grandes interesses da Igreja e do gênero
humano; e as Potências, que protegem por sua força e vigilância as leis
que regem o mundo físico e moral." "Os da terceira hierarquia
têm por missão a direção das sociedades e das pessoas, e são: os Principados,
encarregados de reinos, províncias e dioceses; os Arcanjos, que transmitem as
mensagens de alta importância, e os Anjos de guarda, que acompanham as
criaturas a fim de velarem pela sua segurança e santificação."(1) Extraímos este resumo da pastoral do Monsenhor
Gousset, cardeal arcebispo de Reims, para a quaresma de 1864. Por ele podemos,
pois, considerar os anjos, assim como os demônios, cujo resumo tiramos da mesma
origem e citamos no capítulo seguinte, como última expressão do dogma da Igreja
neste sentido. (2) Concílio de Latrão. Refutação. 3
- O princípio geral resultante dessa doutrina é que os anjos são seres
puramente espirituais, anteriores e superiores à Humanidade, criaturas
privilegiadas e voltadas à felicidade suprema e eterna desde a sua formação,
dotadas, por sua própria natureza, de todas as virtudes e conhecimentos, nada
tendo feito, aliás, para adquiri-los. Estão, por assim dizer, no primeiro plano
da Criação, contrastando com o último onde a vida é puramente material; e,
entre os dois, medianamente existe a Humanidade, isto é, as almas, seres
inferiores aos anjos e ligados a corpos materiais. De tal sistema decorrem
várias dificuldades capitais: Em primeiro lugar, que vida é essa puramente
material? Será a da matéria bruta? Mas a matéria bruta é inanimada e não tem
vida por si mesma. Acaso referir-se-á aos animais e às plantas? Neste suposto
seria uma quarta ordem na Criação, pois não se pode negar que no animal
inteligente algo há de mais que numa planta, e nesta, que numa simples
pedra. Quanto à alma humana, que estabelece a transição, essa fica
diretamente unida a um corpo, matéria bruta, aliás; porque sem alma o corpo tem
tanta vida como qualquer bloco de terra. Evidentemente, esta divisão é
obscura e não se compadece com a observação; assemelha-se à teoria dos quatro
elementos, anulada pelos progressos da Ciência. Admitamos, entretanto, estes
três termos: a criatura espiritual, a humana e a corpórea, pois que tal é,
dizem, o plano divino, majestoso e completo como convém à Eterna Sabedoria.
Notemos antes de tudo que não há ligação alguma necessária entre esses três
termos, e que são três criações distintas e formadas sucessivamente, ao passo
que em a Natureza tudo se encadeia, mostrando-nos uma lei de unidade admirável,
cujos elementos, não passando de transformações entre si, têm, contudo, seus
laços de união. Mas essa teoria, incompleta embora, é, até certo ponto,
verdadeira, quanto à existência dos três termos; faltam-lhe os pontos de
contato desses termos, como é fácil demonstrar. 4. Diz a Igreja que esses
três pontos culminantes da Criação são necessários à harmonia do conjunto.
Desde que lhe falte um só que seja, a obra incompleta não mais se compadece com
a Sabedoria Eterna. Entretanto, um dos dogmas fundamentais diz que a Terra, os
animais, as plantas, o Sol e as estrelas e até a luz foram criados do nada, há
seis mil anos. Antes dessa época não havia, portanto, criatura humana nem
corpórea - o que importa dizer que no decurso da eternidade a obra divina jazia
imperfeita. É artigo de fé capital a criação do Universo, há seis mil anos,
tanto que há pouco ainda era a Ciência anatematizada por destruir a cronologia
bíblica, provando maior ancianidade da Terra e de seus habitantes. Apesar
disso, o concílio de Latrão, concílio ecumênico que faz lei em matéria
ortodoxa, diz: "Acreditamos firmemente num Deus único e verdadeiro, eterno
e infinito, que no começo dos tempos tirou conjuntamente do nada as duas criaturas
- espiritual e corpórea." Por começo dos tempos só podemos inferir a
eternidade transcorrida, visto ser o tempo infinito como o Espaço, sem começo
nem fim. Esta expressão, começo dos tempos, antes uma figura que implica a
ideia de uma anterioridade ilimitada. O concílio de Latrão acredita, pois,
firmemente, que as criaturas espirituais como as corpóreas foram
simultaneamente formadas e tiradas em conjunto do nada, numa época
indeterminada, no passado. A que fica reduzido, assim, o texto bíblico que data
a Criação de seis mil dos nossos anos? E, ainda que se admita seja tal o começo
do Universo visível, esse não é seguramente o começo dos tempos. Em qual crer:
no concílio ou na Bíblia? 5. O concílio formula, além disso, uma estranha
proposição: "Nossa alma, diz, igualmente espiritual, é associada ao corpo
de maneira a não formar com ele mais que uma pessoa, e tal é, essencialmente, o
seu destino." Ora, se o destino essencial da alma é estar unida ao corpo,
esta união constitui o estado normal, o desígnio, o fim, por isso que é o seu
destino. Entretanto, a alma é imortal e o corpo não; a união daquela com este
só se realiza uma vez, segundo a Igreja, e ainda que durasse um século, nada
seria em relação à eternidade. E sendo apenas de algumas horas para muitos, que
utilidade teria para a alma união tão efêmera? Mas, que se prolongue essa união
tanto quanto se pode prolongar uma existência terrena e, ainda assim,
poder-se-á afirmar que o seu destino é estar essencialmente integrada? Não,
essa união mais não é na realidade do que um incidente, um estádio da alma,
nunca o seu estado essencial. Se o destino essencial da alma é estar
ligada ao corpo humano; se por sua natureza e segundo o fim providencial da
Criação, essa união é necessária às manifestações das suas faculdades, forçoso
é concluir que, sem corpo, a alma humana é um ser incompleto. Ora, para que a
alma preencha os seus desígnios, deixando um corpo preciso se faz que tome um
outro - o que nos conduz à pluralidade forçada das existências, ou, por outra,
à reencarnação, à perpetuidade. É verdadeiramente estranhável que um concílio,
havido por uma das luzes da Igreja, tenha a tal ponto identificado os seres
espiritual e material, de modo a não subsistirem por si mesmos, pois que a
condição essencial da sua criação é estarem unidos. 6. O quadro hierárquico dos
anjos nos mostra que várias ordens têm, nas suas atribuições, o governo do
mundo físico e da Humanidade, para cujo fim foram criados. Mas, segundo a
Gênese, o mundo físico e a Humanidade não existem senão há seis mil anos; e o
que faziam, pois, tais anjos, anteriormente a essa era, durante a eternidade,
quando não existia o objetivo das suas ocupações? E teriam eles sido criados de
toda a eternidade? Assim deve ser, uma vez que servem à glorificação do
Todo-Poderoso. Mas, criando-os numa época qualquer determinada, Deus ficaria
até então, isto é, durante uma eternidade, sem adoradores. 7. Diz ainda o
concílio: "Enquanto dura esta união tão intima da alma com o corpo."
Há, por conseguinte, um momento em que a união se desfaz? Esta proposição
contradita a que sustenta a essencialidade dessa união. E diz mais o concílio:
"As idéias lhes chegam pelos sentidos, na comparação dos objetos
exteriores." Eis aí uma doutrina filosófica em parte verdadeira, que não
em sentido absoluto. Receber as ideias pelos sentidos é, segundo o
eminente teólogo, uma condição inerente à natureza humana; mas ele esquece as
ideias inatas, as faculdades por vezes tão transcendentes, a intuição das
coisas que a criança traz do berço, não devidas a quaisquer ensinos. Por meio
de quais sentidos, jovens pastores, naturais calculistas, admiração dos sábios,
adquirem ideias necessárias à resolução quase instantânea dos mais complicados
problemas? Outro tanto pode dizer-se de músicos, pintores e filólogos
precoces. "Os conhecimentos dos anjos não resultam da indução e do
raciocínio"; têm-nos porque são anjos, sem necessidade de aprendê-los,
pois tais foram por Deus criados: quanto à alma, essa deve aprender. Mas se a
alma só recebe as ideias por meio dos órgãos corporais, que ideias pode ter a
alma de uma criança morta ao fim de alguns dias, se admitirmos com a Igreja que
essa alma não renasce? 8. Aqui reponta uma questão vital, qual a de
saber-se se a alma pode adquirir conhecimentos após a morte do corpo. Se uma
vez liberta do corpo não pode adquirir novos conhecimentos, a alma da criança,
do selvagem, do imbecil, do idiota ou do ignorante permanecera tal qual era no
momento da morte, condenada à nulidade por todo o sempre. Mas se, ao contrário,
ela adquire novos conhecimentos depois da vida atual, então, é que pode
progredir. Sem progresso ulterior para a alma, chega-se a conclusões absurdas,
tanto quanto admitindo-o se conclui pela negação de todos os dogmas fundados
sobre o estacionamento, a sorte irrevogável, as penas eternas, etc. Progredindo
a alma, qual o limite do progresso? Não há razão para não atingir por ele ao
grau dos anjos, ou puros Espíritos. Ora, com tal possibilidade não se
justificaria a criação de seres especiais e privilegiados, isentos de qualquer
labor, gozando incondicionalmente de eterna felicidade, ao passo que outros
seres menos favorecidos só obtêm essa felicidade a troco de longos, de cruéis
sofrimentos e rudes provas. Sem dúvida que Deus poderia ter assim determinado,
mas, admitindo-lhe o infinito de perfeição sem a qual não fora Deus, força é
admitir que coisa alguma criaria inutilmente, desmentindo a sua justiça e
bondade soberanas. 9. "E se a majestade dos reis ostenta o seu
brilhantismo pelo número dos vassalos, oficiais e súditos, que haverá de mais
próprio a dar-nos ideia da majestade do Rei dos reis do que essa inumerável
multidão de anjos que povoam céu e terra, mar e abismos, a dignidade dos que
permanecem continuamente prostrados ou de pé ante seu trono?" E não
será rebaixar a Divindade confrontá-la com o fausto dos soberanos da Terra?
Essa idéia, inculcada no espírito das massas ignorantes, falseia a opinião de
sua verdadeira grandeza. Sempre Deus reduzido às mesquinhas proporções da
Humanidade! Atribuir-lhe, como necessidade, milhões de adoradores, perenemente
genuflexos, é emprestar-lhe vaidade e fraqueza próprias dos orgulhosos déspotas
do Oriente! E que é que engrandece os soberanos verdadeiramente grandes? É o
número e brilho dos cortesãos? não; é a bondade, é a justiça, é o título
merecido de pais do seu povo. perguntareis se haverá algo de mais próprio a
dar-nos a ideia da grandeza e majestade de Deus do que a multidão de anjos que
lhe compõem a corte (...). Mas, certamente que há, e essa coisa melhor é
apresentar-se Deus às suas criaturas soberanamente bom, justo e misericordioso,
que não colérico, invejoso, vingativo, exterminador e parcial, criando para sua
própria glória esses seres privilegiados, cumulados de todos os dons e nascidos
para a felicidade eterna, enquanto a outros impõe condições penosas na
aquisição de bens, punindo erros momentâneos com eternos suplícios (...). 10. A
respeito da união da alma com o corpo, o Espiritismo professa uma doutrina
infinitamente mais espiritualista, para não dizer menos materialista, tendo ao
demais a seu favor a conformidade com a observação e o destino da alma. Ele
ensina-nos que a alma é independente do corpo, não passando este de temporário
invólucro: a espiritualidade é-lhe a essência, e a sua vida normal é a vida
espiritual. O corpo é apenas instrumento da alma para exercício das suas
faculdades nas relações com o mundo material; separada desse corpo, goza dessas
faculdades mais livre e altamente. 11. A união da alma com o corpo, em ser
necessária aos seus primeiros progressos, só se opera no período que poderemos
classificar como da sua infância e adolescência; atingido, porém, que seja, um
certo grau de perfeição e desmaterialização, essa união é prescindível, o
progresso faz-se na sua vida de Espírito. Demais, por numerosas que sejam as
existências corpóreas, elas são limitadas à existência do corpo, e a sua soma
total não compreende, em todos os casos, senão uma parte imperceptível da vida
espiritual, que é ilimitada. Os
anjos segundo o Espiritismo.
12. Que haja seres dotados de todas as
qualidades atribuídas aos anjos, não restam dúvidas. A revelação espírita neste
ponto confirma a crença de todos os povos, fazendo-nos conhecer ao mesmo tempo
a origem e natureza de tais seres. As almas ou Espíritos são criados simples e
ignorantes, isto é, sem conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém,
aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim
- que é a perfeição - é para todos o mesmo. Conseguem-no mais ou menos prontamente
em virtude do livre-arbítrio e na razão direta dos seus esforços; todos têm os
mesmos degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa
melhor a uns do que a outros, porquanto é justo, e, visto serem todos seus
filhos, não tem predileções. Ele lhes diz: Eis a lei que deve constituir a
vossa norma de conduta; ela só pode levar-vos ao fim; tudo que lhe for conforme
é o bem; tudo que lhe for contrário é o mal. Tendes inteira liberdade de
observar ou infringir esta lei, e assim sereis os árbitros da vossa própria
sorte. Conseguintemente, Deus não criou o mal; todas as suas leis são para
o bem, e foi o homem que criou esse mal, divorciando-se dessas leis; se ele as
observasse escrupulosamente, jamais se desviaria do bom caminho. 13.
Entretanto, a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da
existência, e daí o ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-lhe
meios de adquiri-la. Assim, um passo em falso na senda do mal é um atraso para
a alma, que, sofrendo-lhe as consequências, aprende à sua custa o que importa
evitar. Deste modo, pouco a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na
hierarquia espiritual até ao estado de puro Espírito ou anjo. Os anjos são,
pois, as almas dos homens chegados ao grau de perfeição que a criatura
comporta, fruindo em sua plenitude a prometida felicidade. Antes, porém, de
atingir o grau supremo, gozam de felicidade relativa ao seu adiantamento,
felicidade que consiste, não na ociosidade, mas nas funções que a Deus apraz
confiar-lhes, e por cujo desempenho se sentem ditosas, tendo ainda nele um meio
de progresso. (Vede 1ª Parte, cap. III, "O céu"). 14. A Humanidade
não se limita à Terra; habita inúmeros mundos que no Espaço circulam; já
habitou os desaparecidos, e habitará os que se formarem. Tendo-a criado de toda
a eternidade, Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a Terra existisse e
por mais remota que a suponhamos, outros mundos havia, nos quais Espíritos
encarnados percorreram as mesmas fases que ora percorrem os de mais recente formação,
atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do Criador. De toda
a eternidade tem havido, pois, puros Espíritos ou anjos; mas, como a sua
existência humana se passou num infinito passado, eis que os supomos como se
tivessem sido sempre anjos de todos os tempos. 15. Realiza-se assim a grande
lei de unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve puros
Espíritos, experimentados e esclarecidos, para transmissão de suas ordens e
direção do Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes.
Tampouco teve Deus necessidade de criar seres privilegiados, isentos de
obrigações; todos, antigos e novos, adquiriram suas posições na luta e por
mérito próprio; todos, enfim, são filhos de suas obras. E, desse modo, completa-se
com igualdade a soberana justiça do Criador. OS DEMÔNIOS. Origem da crença nos
demônios. 1. Em todos os tempos os demônios
representaram papel saliente nas diversas teogonias, e, posto que
consideravelmente decaídos no conceito geral, a importância que se lhes
atribui, ainda hoje, dá à questão uma tal ou qual gravidade, por tocar o fundo
mesmo das crenças religiosas. Eis por que útil se torna examiná-la, com os
desenvolvimentos que comporta. A crença em um poder superior é instintiva
no homem. Encontramo-la, sob diferentes formas, em todas as idades do mundo.
Mas, se hoje, dado o grau de cultura atingido, ainda se discute sobre a
natureza e atributos desse poder, calcule-se que noções teria o homem a
respeito, na infância da Humanidade. 2. Como prova da sua inocência, o
quadro dos homens primitivos extasiados ante a Natureza e admirando nela a
bondade do Criador é, sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato,
quanto mais se aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao
instinto, como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens
contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que exclusivamente o
preocupa é a satisfação das necessidades materiais, mesmo porque não tem
outras. O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais
não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem também a sua
infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano; mas para
compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na
Humanidade! Por quantas existências não deve ela passar! Sem nos
remontarmos aos tempos primitivos, olhemos em torno a gente do campo e
perscrutemos os sentimentos de admiração que nela despertam o esplendor do Sol
nascente, do firmamento a estrelada abóbada, o trino dos pássaros, o murmúrio
das ondas claras, o vergel florido dos prados. Para essa gente o Sol nasce por
hábito, e uma vez que desprende o necessário calor para sazonar as searas, não
tanto que as creste, está realizado tudo o que ela almejava; olha o céu para
saber se bom ou mau tempo sobrevirá; que cantem ou não as aves, tanto se lhe
dá, desde que não desbastem da seara os grãos; prefere às melodias do rouxinol,
o cacarejar da galinhada e o grunhido dos porcos; o que deseja dos regatos
cristalinos, ou lodosos, é que não sequem nem inundem; dos prados, que produzam
boa erva, com ou sem flores. Eis aí tudo o que essa gente almeja, ou, o
que é mais, tudo o que da Natureza apreende, conquanto muito distanciada já dos
primitivos homens. 3. Se nos remontarmos a estes últimos, então,
surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados com a satisfação de
necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste mundo somente no que
concerne à satisfação ou prejuízo dessas necessidades. Acreditando num
poder extra-humano e porque o prejuízo material é sempre o que mais de perto
lhes importa, atribuem-no a esse poder, do qual fazem, aliás, uma ideia muito
vaga. E por nada conceberem fora do mundo visível e tangível, tal poder se lhes
afigura identificado nos seres e coisas que os prejudicam. Os animais nocivos
não passam para eles de representantes naturais e diretos desse poder. Pela
mesma razão, veem nas coisas úteis a personificação do bem: dai, o culto votado
a certas plantas e mesmo a objetos inanimados. Mas o homem é comumente mais
sensível ao mal que ao bem; este lhe parece natural, ao passo que aquele mais o
afeta. Nem por outra razão se explica, nos cultos primitivos, as cerimônias
sempre mais numerosas em honra ao poder maléfico: o temor suplanta o
reconhecimento. Durante muito tempo o homem não compreendeu senão o bem e
o mal físicos; os sentimentos morais só mais tarde marcaram o progresso da
inteligência humana, fazendo-lhe entrever na espiritualidade um poder
extra-humano fora do mundo visível e das coisas materiais. Esta obra foi,
seguramente, realizada por inteligências de escol, mas que não puderam exceder
certos limites. 4. Provada e patente a luta entre o bem e o mal,
triunfante este muitas vezes sobre aquele, e não se podendo racionalmente
admitir que o mal derivasse de um benéfico poder, concluiu-se pela existência
de dois poderes rivais no governo do mundo. Daí nasceu a doutrina dos dois
princípios, aliás lógica numa época em que o homem se encontrava incapaz de,
raciocinando, penetrar a essência do Ser Supremo. Como compreenderia,
então, que o mal não passa de estado transitório do qual pode emanar o bem,
conduzindo-o à felicidade pelo sofrimento e auxiliando o progresso? Os limites
do seu horizonte moral, nada lhe permitindo ver para além do seu presente, no
passado como no futuro, também não lhe permitia compreender que já houvesse
progredido, que progrediria ainda individualmente, e muito menos que as
vicissitudes da vida resultavam das imperfeições do ser espiritual nele
residente, o qual preexiste e sobrevive ao corpo, na dependência de uma série
de existências purificadoras até atingir a perfeição. Para compreender como do
mal pode resultar o bem é preciso considerar não uma, porém, muitas
existências; é necessário apreender o conjunto do qual - e só do qual -
resultam nítidas as causas e respectivos efeitos. 5. O duplo princípio do
bem e do mal foi, durante muitos séculos, e sob vários nomes, a base de todas
as crenças religiosas. Vemo-lo assim sintetizado em Oromase e Arimane entre os
persas, em Jeová e Satã entre os hebreus. Todavia, como todo soberano deve ter
ministros, as religiões geralmente admitiram potências secundárias, ou bons e
maus gênios. Os pagãos fizeram deles individualidades com a denominação
genérica de deuses e deram-lhes atribuições especiais para o bem e para o mal,
para os vícios e para as virtudes. Os cristãos e os muçulmanos herdaram dos
hebreus os anjos e os demônios. 6. A doutrina dos demônios tem, por
conseguinte, origem na antiga crença dos dois princípios. Compete-nos examiná-la
aqui tão-somente no ponto de vista cristão para ver se está de acordo com as
noções mais exatas que possuímos hoje, dos atributos da Divindade. Esses
atributos são o ponto de partida, a base de todas as doutrinas religiosas; os
dogmas, o culto, as cerimônias, os usos e a moral, tudo é relativo à ideia mais
ou menos justa, mais ou menos elevada que se forma de Deus, desde o fetichismo
até o Cristianismo. Se a essência de Deus continua a ser um mistério para as
nossas inteligências, compreendemo-la no entanto melhor que nunca, mercê dos
ensinamentos do Cristo. O Cristianismo racionalmente ensina-nos que: Deus é
único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom,
infinito em todas as perfeições. Foi por isso que algures dissemos - (1ª
Parte cap. VI, "Doutrina das penas eternas") "Se se tirasse a
menor parcela de um só dos seus atributos, não haveria mais Deus, por isso que
poderia coexistir um ser mais perfeito." Estes atributos, na sua plenitude
absoluta, são, pois, o critério de todas as religiões, estalão da verdade de
cada um dos princípios que ensinam. E para que qualquer desses princípios seja
verdadeiro, preciso é que não encerre um atentado às divinas perfeições.
Vejamos, se é assim, de fato, na doutrina vulgar dos demônios. Livro O Céu E O
Inferno. www.institutoandreluiz.org.
Abraço. Davi
sexta-feira, 26 de abril de 2019
SOBRE O SAGRADO CORAÇÃO
Catolicismo. www.w2.vatican.na.
Encíclica do Papa Pius XI (1857-1939). SOBRE O SAGRADO CORAÇÃO. Aos veneráveis
irmãos, Patriarcas, Primatas, Arcebispos, Bispos e outros ordinários de
localidades. Tendo paz e comunhão com a Apostólica. Veneráveis Irmãos, Saúde e
a Bênção Apostólica. Constrangido pela Caridade de Cristo, na Carta
Encíclica Nova impendet no segundo dia de outubro do ano passado,
incitamos os filhos da Igreja Católica - e, na verdade, todos os homens de bom
coração - a uma piedosa imitação de amor e de ação útil, de modo que os males
terríveis que vêm da economia crise, e estão em toda parte oprimindo a
sociedade humana, pode ser em certa medida mitigada. O nosso convite foi,
de fato, calorosamente recebido com uma unanimidade notável, através da
liberalidade ativa de todos. No entanto, uma vez que a angústia está
aumentando e as hostes de homens em aflição pela ociosidade forçada estão quase
em toda parte cada vez maiores; e desde que os homens sediciosos fazem uso
dessas dificuldades e os levam para a vantagem de suas próprias facções,
aconteceu que as próprias instituições públicas estão em uma situação
crítica, de modo que um grave perigo de distúrbios e de uma sublevação
geral está ameaçando a sociedade civil. Neste estado de coisas, veneráveis
Irmãos. Instigados, pela mesma caridade de Cristo, mais uma vez
dirigimo-nos a todos e aos fiéis comprometidos com os seus cuidados e, na
verdade, todos os homens, exortando a todos e a todos que, com todas as suas
forças unidas num espírito de caridade, se esforcem por resistir. Por todos os
esforços possíveis, as calamidades pelas quais a sociedade civil está agora
aflita e aquelas ainda maiores calamidades que a ameaçam no futuro. 2. Qualquer
um que considere cuidadosamente a prolongada e amarga série de sofrimentos, a
infeliz herança do pecado, pela qual, como por tantos estágios, nós marcamos o
curso do homem caído nesta peregrinação mortal, dificilmente encontraremos
qualquer ocasião desde o dilúvio, quando a raça do homem era tão profunda e
comumente experimentada por tantas e tão grandes aflições de corpo e mente
quanto aquelas que lamentamos ver nos problemas atuais; pois até mesmo as
mais terríveis calamidades e desastres que deixaram traços indeléveis nos
registros e a vida das nações, mas devastaram agora um povo, agora
outro. Mas neste tempo conturbado toda a raça humana é tão pressionada
pela escassez de dinheiro e pelos estreitos da crise econômica que quanto mais
se esforça para se libertar, mais se sente inextricavelmente
atrapalhada. E daí vem que agora não há nação, nenhum estado, nenhuma
sociedade, nenhuma família, que não seja ela mesma oprimida, mais ou menos
gravemente, por essas calamidades, ou então parece provável que seja arrastada
para baixo pela ruína dos outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito
poucos, que, por serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o
governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em
ganho excessivo, eram e são em grande parte causa de tão grandes
males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca
honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de
muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o
julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora
verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo
também ele é atormentado". Isso não é oprimido, mais ou menos gravemente,
por essas calamidades, ou parece provável que seja arrastado para baixo pela
ruína de outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por
serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o governo do mundo,
aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram
e são em grande parte causa de tão grandes males; esses mesmos homens -
dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados,
apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria
destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito
Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo:
"Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado"
(isso não é oprimido, mais ou menos gravemente, por essas calamidades, ou
parece provável que seja arrastado para baixo pela ruína de outros. Mais
ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por serem dotados de imensas
riquezas, pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além
disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte causa
de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente,
com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna
de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o
julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora
verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo
também ele é atormentado" (ou então parece que será arrastado pela ruína
dos outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por
serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o governo do mundo,
aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram
e são em grande parte causa de tão grandes males; esses mesmos homens -
dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados,
apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria
destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito
Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo:
"Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado"
(ou então parece que será arrastado pela ruína dos outros. Mais ainda, aqueles
mesmos homens, muito poucos, que, por serem dotados de imensas riquezas,
pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que,
sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte causa de tão
grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com
pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna
de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o
julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora
verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo
também ele é atormentado" ( pareciam controlar o governo do mundo,
aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram
e são em grande parte a causa de tão grandes males; esses mesmos homens -
dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados,
apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria
destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito
Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo:
"Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado"
( pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso,
que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte a causa de
tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com
pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna
de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o
julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora
verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo
também ele é atormentado" (Sabedoria 11, 17). 3.
Lamentando este estado de coisas infeliz do nosso íntimo coração, somos
compelidos, por uma certa necessidade, a expressar, segundo a nossa fraqueza,
as mesmas palavras que provêm do amor do Sagrado Coração de Jesus, clamando da
mesma maneira: "Eu tenho compaixão da multidão" (Marcos 8, 2). Mas,
na verdade, a própria raiz da qual surge este estado mais infeliz ainda é mais
lamentável; pois se esse julgamento do Espírito Santo, proclamado pelo
apóstolo São Paulo, "o desejo do dinheiro é a raiz de todos os
males", sempre esteve em estreita concordância com os fatos, isso é mais
do que nunca verdade no momento presente. Pois não é essa avidez por bens
perecíveis que foi justa e justamente ridicularizada, mesmo por um poeta pagão
como a execrável fome de ouro, " auri sacra fames".";
não é aquela busca sórdida pelo próprio benefício de cada um, que é muitas
vezes o único motivo pelo qual os vínculos entre indivíduos ou sociedades são
instituídos; e, por último, não é essa cupidez, seja qual for o nome ou estilo
A principal razão pela qual agora vemos, para nossa tristeza, que a humanidade
é trazida à sua atual condição crítica? Pois é daí que surgem os primeiros
sinais de uma suspeita mútua que tira a força de qualquer comércio humano; a
inveja que considera os bens dos outros uma perda para si mesma, daí vem aquele
amor próprio sórdido e excessivo que ordena e subordina todas as coisas a seu
próprio benefício, e não apenas negligencia mas atropela a vantagem dos outros;
a iníqua perturbação dos negócios e a divisão desigual de "posses, como
resultado do que a riqueza das nações é amontoada nas mãos de muito poucos
homens privados, que - como advertimos no ano passado, em Nossa Carta Encíclica
Quadragésimo ano - controla o comércio de todo o mundo à sua
vontade, causando assim um dano imenso ao povo. 4. Agora, se esse amor
excessivo de si mesmo e do próprio, por um abuso do cuidado legítimo para o
nosso país e uma exaltação indevida dos sentimentos de piedade para com o nosso
próprio povo (que piedade não é condenada, mas santificada e fortalecida pelo
direito ordem da caridade cristã) invade as relações mútuas e os laços entre os
povos, dificilmente há algo tão anormal que não seja considerado livre de
culpa; de modo que o mesmo ato que seria condenado pelo julgamento de
todos, quando feito por particulares, é considerado honesto e digno de louvor
quando é feito pelo amor do país. Deste modo, um ódio, que deve ser fatal
para todos, suplanta a lei divina do amor fraterno, que vincula todas as nações
e povos numa só família sob o mesmo Pai que está no céu; na administração
dos assuntos públicos, as leis divinas, que são o padrão de toda a vida e
cultura cívicas, são pisoteadas; os fundamentos firmes do direito e da fé,
sobre os quais a commonwealth repousa, são derrubados; e, por fim, os
homens corrompem e obliteram os princípios transmitidos por seus antepassados,
segundo os quais a adoração a Deus e a estrita observância de Sua lei formam a
mais fina flor e o pilar mais seguro do estado. Além disso - e isso pode
ser chamado de o mais perigoso de todos esses males - os inimigos de toda
ordem, sejam eles chamados comunistas ou por algum outro nome, exagerando as
graves dificuldades da crise econômica, nesta grande perturbação da moral, com
audácia extrema, direcione todos os seus esforços para um lado, procurando
jogar fora todos os freios de seus pescoços, e quebrando as amarras de
toda a lei, tanto humana como divina, travar uma guerra atroz contra toda
religião e contra o próprio Deus; Nisto é seu propósito desarraigar
totalmente todo o conhecimento e senso de religião das mentes dos homens, mesmo
da idade mais tenra, pois eles sabem bem que se uma vez a lei Divina e o
conhecimento fossem apagados das mentes dos homens, agora Não é nada que eles
não possam se arrogar. E assim vemos agora com nossos próprios olhos - o
que nós não lemos como acontecendo em qualquer lugar antes - homens ímpios,
agitados por uma indescritível fúria, descaradamente gostando de uma bandeira
contra Deus e contra toda a religião em todo o mundo. Até mesmo da idade
mais tenra, pois eles sabem bem que, se uma vez a lei e o conhecimento divinos
fossem apagados das mentes dos homens, não haveria nada que eles não pudessem
se arrogar. E assim vemos agora com nossos próprios olhos - o que nós não
lemos como acontecendo em qualquer lugar antes - homens ímpios, agitados por
uma indescritível fúria, descaradamente gostando de uma bandeira contra Deus e
contra toda a religião em todo o mundo. Até mesmo da idade mais tenra,
pois eles sabem bem que, se uma vez a lei e o conhecimento divinos fossem
apagados das mentes dos homens, não haveria nada que eles não pudessem se
arrogar. E assim vemos agora com nossos próprios olhos - o que nós não
lemos como acontecendo em qualquer lugar antes - homens ímpios, agitados por
uma indescritível fúria, descaradamente gostando de uma bandeira contra Deus e
contra toda a religião em todo o mundo. 5. É verdade, de fato, que homens
perversos nunca estavam querendo, nem homens que negavam a existência de Deus;
mas estes últimos eram muito poucos em número e, estando sozinhos e singulares,
ou temiam expressar abertamente sua mente maligna, ou achavam inoportuno
fazê-lo. O salmista, inspirado pelo Espírito Divino, parece sugerir isso
nas palavras: "O tolo disse em seu coração: Não há Deus" (Salmos
14,1); como se ele nos mostrasse um homem tão ímpio, como um solitário
em uma multidão, negando que Deus, seu Criador, existe, mas fechando esse
pecado em sua mente mais interior. Mas nesta nossa época, esse erro mais
pernicioso é hoje propagado em toda a multidão, insinua-se mesmo nas escolas
populares e se mostra abertamente nos teatros; e para que possa se
espalhar o mais longe possível, seus defensores buscam a ajuda das últimas
invenções, daquelas chamadas de cenas cinematográficas, de concertos e
discursos gramo fônicos e radiofônicos; e possuidores de escritórios de
impressão próprios, eles imprimem livros em todas as línguas, e, tomando um
rumo triunfante, publicamente exibem os monumentos e documentos de sua
impiedade. Nem isso é suficiente; para dispersos entre partidos
políticos, econômicos e militares, e intimamente associado a eles, por
meio de seus arautos, por meio de comitês, quadros e folhetos, e todos os
outros meios possíveis, eles trabalham diligentemente na má obra de espalhar
suas opiniões entre todas as classes e sociedades, e nos modos públicos; e
para levar isso adiante, apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas
universidades, eles finalmente conseguem, por meio de uma indústria vigorosa,
unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu
corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à
vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge
espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo
são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". E todos os outros
meios possíveis, eles trabalham diligentemente na má obra de espalhar suas
opiniões entre todas as classes e sociedades, e nos modos públicos; e para
levar isso adiante, apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas
universidades, eles finalmente conseguem, por meio de uma indústria vigorosa,
unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu
corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à
vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge
espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo
são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". E todos os outros
meios possíveis, eles trabalham diligentemente na má obra de espalhar suas
opiniões entre todas as classes e sociedades, e nos modos públicos; e para
levar isso adiante, apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas
universidades, eles finalmente conseguem, por meio de uma indústria vigorosa, unir
rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu
corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à
vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge
espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo
são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". Apoiados pela
autoridade e pelo trabalho de suas universidades, eles acabam conseguindo, por
meio de uma indústria vigorosa, unir rapidamente aqueles que se permitiram,
incautamente, agregar-se ao seu corpo. Quando consideramos todo esse
trabalho cuidadoso dedicado à vantagem de uma causa ilegal, a mais triste
queixa de Cristo nosso Senhor surge espontaneamente em nossa mente e em nossos
lábios: "Os filhos deste mundo são mais sábios em sua geração do que os
filhos da luz". Apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas
universidades, eles acabam conseguindo, por meio de uma indústria vigorosa,
unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu
corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à
vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge
espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo
são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". "(Lucas 16,8).
6. Agora, os líderes e autores dessa facção iníqua fazem tudo o que podem para
transformar a atual aflição e necessidade de todas as coisas em seu próprio
propósito; e eles procuram, por meio de cavernas infames, persuadir o povo
de que Deus e a religião são culpados como a causa de todos esses grandes
males; e que a cruz sagrada de Cristo, nosso próprio Salvador, o
estandarte da pobreza e da humildade, pode ser comparada com as bandeiras do
desejo moderno de dominar; como se, por acaso, a religião estivesse unida
em união amistosa com aqueles ventrículos de trevas que trouxeram uma massa tão
imensa de miséria sobre o mundo inteiro. E por esta linha de argumentação
eles se esforçam, não sem um efeito fatal, em misturar a luta pela comida
diária, o desejo de possuir uma pequena propriedade, ter um salário justo, um
lar honrado e, por último, aquelas condições de vida que não são indignas
de um homem, com sua guerra iníqua contra Deus. Pode-se acrescentar que
esses mesmos homens, indo além de qualquer medida, tratam igualmente os
legítimos apetites da natureza e suas luxúrias desenfreadas, desde que isso
pareça favorecer seus planos e instituições ímpias; como se as leis
eternas promulgadas por Deus estivessem em conflito com a felicidade do homem,
ao passo que as criam e preservam; ou como se o poder do homem, por mais
que pudesse ser aumentado pelas últimas invenções da arte, pudesse prevalecer
contra a vontade mais poderosa de Deus, o Melhor e o Maior, e dar ao mundo uma
nova e melhor ordem. Desde que isso pareça favorecer seus planos e
instituições ímpias; como se as leis eternas promulgadas por Deus
estivessem em conflito com a felicidade do homem, ao passo que as criam e
preservam; ou como se o poder do homem, por mais que pudesse ser aumentado
pelas últimas invenções da arte, pudesse prevalecer contra a vontade mais
poderosa de Deus, o Melhor e o Maior, e dar ao mundo uma nova e melhor
ordem. Desde que isso pareça favorecer seus planos e instituições ímpias; como
se as leis eternas promulgadas por Deus estivessem em conflito com a felicidade
do homem, ao passo que as criam e preservam; ou como se o poder do homem,
por mais que pudesse ser aumentado pelas últimas invenções da arte, pudesse
prevalecer contra a vontade mais poderosa de Deus, o Melhor e o Maior, e dar ao
mundo uma nova e melhor ordem. 7. E agora, de fato, que é muito para ser
lamentado, imensas multidões de homens, tendo perdido completamente o contato
com a verdade, adotam essas ilusões, e acreditando que estão lutando pela
subsistência e cultura proferem violentas invectivas contra Deus e contra a
religião. Tampouco isso é dirigido contra a religião católica. Pois é
contra todos aqueles que reconhecem a Deus como o Autor deste mundo visível, e
como o Supremo Governante de todas as coisas. Além disso, as Sociedades
Secretas, que por sua natureza estão sempre prontas a ajudar os inimigos de
Deus e da Igreja - sejam elas quem puderem - estão procurando acrescentar novos
fogos a esse ódio venenoso, do qual não há paz nem felicidade. a ordem civil,
mas a certa ruína dos estados. 8. Neste sentido, esta nova forma de impiedade,
enquanto remove todas as verificações das mais poderosas concupiscências do
homem, proclama impudentemente que não haverá paz nem felicidade na terra até
que o último vestígio de religião tenha sido arrancado, e os últimos de seus
seguidores decapitaram - como se pensassem que o maravilhoso concerto em que
todas as coisas criadas "mostram a glória de Deus" (cf. Salmos
18) poderia ser reduzido ao silêncio eterno. 9. Sabemos muito bem,
Veneráveis Irmãos, que todos esses esforços serão reduzidos a nada, pois, sem
dúvida, e em Seu próprio tempo determinado, "Deus se levantará e seus
inimigos serão dispersos" ( Salmos 68,1); Sabemos que as
portas do Inferno nunca prevalecerão (cf. Mt 18); Sabemos
que o nosso Divino Redentor, como foi predito Dele "ferirá a terra com a
vara de sua boca" (cf. Isaías 11,4.); e haverá uma
hora terrível para aqueles homens miseráveis, quando eles caírem "nas mãos
do Deus vivo" (cf. Hebreus 10, 31). 10. Nossa esperança
inabalável nesta completa vitória de Deus e da Igreja recebe confirmação diária
(tal é a infinita misericórdia de Deus!) Do nobre ardor de inúmeras almas que
vemos virando-se para Deus, em todos os países e em todas as classes da
sociedade. Certamente, um afflatus muito poderoso do Espírito Santo está
correndo por todas as terras, e está movendo os corações, especialmente os
corações dos jovens, a subir para os mais altos cumes da lei cristã, e elevando-os
acima da observância vã dos homens, prepara-os para empreender até os atos mais
árduos. Essa fonte divina, dizemos, agita as almas de todos, mesmo aquelas
que não querem, enchendo-as de uma solicitude íntima, e dá o anseio por Deus
mesmo àqueles que não ousam reconhecê-la. De maneira semelhante Nosso
convite para leigos, chamá-los a unir-se às hostes da Ação Católica, para que
possam se tornar participantes do apostolado da hierarquia, foi aceito pelas
multidões de dóceis e magnânimos em todas as terras; e o número daqueles
que estão lutando com todas as suas forças para defender a lei cristã e para
harmonizar toda a vida da comunidade, cresce diariamente tanto nas cidades como
no campo; e esses homens também se esforçam para confirmar os princípios
que pregam, pelo exemplo de uma vida sem culpa. Mas quando contemplamos
tanta impiedade, tanto pisotear as instituições mais sagradas, tão grande
destruição de almas imortais e, por último, tão grande desprezo pela Divina
Majestade, não podemos abster-nos, veneráveis Irmãos, de derramar a mais amarga
tristeza pelo qual somos oprimidos, e de elevar a nossa voz com toda a
força do coração apostólico, em defesa dos direitos ultrajados de Deus e dos
santos desejos da alma humana em absoluta necessidade de Deus; E fazemos
isso com a maior facilidade, porque essas hostes hostis, enfurecidas com
espírito diabólico, não se contentam com a declamação, mas estão se esforçando
com todas as suas forças para dar efeito a seus planos nefastos tão rapidamente
quanto possível. Ai da raça dos homens se Deus, sendo tratado com tal
desprezo pelas naturezas que Ele fez, deveria deixar um curso aberto para estas
inundações de devastação, e deveria usá-los como flagelos para punir o mundo
com isso! Enlouquecendo com espírito diabólico, não estão contentes com a
declamação, mas estão se esforçando com todas as suas forças para dar efeito a
seus planos nefastos tão rapidamente quanto possível. Ai da raça dos
homens se Deus, sendo tratado com tal desprezo pelas naturezas que Ele fez,
deveria deixar um curso aberto para estas inundações de devastação, e deveria
usá-los como flagelos para punir o mundo com isso! Enlouquecendo com
espírito diabólico, não estão contentes com a declamação, mas estão se
esforçando com todas as suas forças para dar efeito a seus planos nefastos tão
rapidamente quanto possível. Ai da raça dos homens se Deus, sendo tratado
com tal desprezo pelas naturezas que Ele fez, deveria deixar um curso aberto
para estas inundações de devastação, e deveria usá-los como flagelos para punir
o mundo com isso! 11. É necessário, portanto, Veneráveis Irmãos, que devemos
infalivelmente estabelecer "um muro para a casa de Israel" (Ezequiel
13,5), e que nós também devemos unir todas as nossas forças em uma única banda
sólida contra essas hostis fileiras que são hostis tanto a Deus quanto à
humanidade. Pois nessa luta estamos lutando pela maior questão que pode
ser proposta à liberdade humana: seja para Deus ou contra Deus; aqui,
novamente, é um debate em que o destino de todo o mundo está em
causa; pois em todos os assuntos, na política, na economia, na moral, na
disciplina, nas artes, no estado, na sociedade cívica e doméstica, no Oriente e
no Ocidente, em todos os lugares nos deparamos com esse debate, e suas
consequências são uma questão de momento supremo. E assim acontece que até
os mestres dessa seita que tolamente dizem que o mundo nada mais é do que
matéria, e se jacta de que já demonstrou com certeza que não há Deus - mesmo
estes são constrangidos, repetidas vezes, 12. Portanto, exortamos a todos,
tanto aos particulares como aos estados, no Senhor, que agora, quando tais
questões graves forem agitadas, questões críticas relativas ao bem-estar de
toda a humanidade, deixem de lado aquela consideração sórdida e egoísta
vantagem, que enfraquece até mesmo as mais profundas mentes, e corta até mesmo
as mais nobres empresas se elas forem um pouco além dos limites estreitos do
interesse próprio. Que todos, então, se unam, se necessário, mesmo à custa
de perdas sérias, para que possam salvar a si mesmos e a toda a sociedade
humana. Nessa união de mentes e forças, aqueles que se gloriam no nome
cristão devem certamente ocupar o primeiro lugar, lembrando os exemplos
ilustres da era apostólica, quando "a multidão de crentes tinha apenas um
coração e uma alma" ( Atos 4, 32), mas, além disso, todos
os que sinceramente reconhecem a Deus e o honram de coração devem prestar
auxílio para que a humanidade seja salva do grande perigo que está iminente
sobre todos. Pois uma vez que toda autoridade humana precisa descansar no
reconhecimento de Deus, como no firme fundamento de qualquer ordem civil,
aqueles que não têm todas as coisas revogadas e todas as leis revogadas, devem
esforçar-se vigorosamente para impedir que os inimigos da religião deem efeito
a os planos que eles têm tão abertamente e tão veementemente proclamados. 13.
Também não estamos cientes, veneráveis Irmãos, que nesta luta pelos nossos
altares devemos também usar todos os braços humanos legítimos que estão prontos
para nossas mãos. Por esta razão, na Carta Encíclica Quadragesimo
anno, seguindo os passos de Nosso predecessor, Leão XIII (1810-1903) de
memória ilustre, Nós lutamos tão vigorosamente por uma divisão mais igualitária
de bens terrenos, indicando todas aquelas coisas pelas quais a saúde e o vigor
de toda a sociedade humana podem ser restaurados de forma mais eficaz, e paz e
a tranquilidade pode ser dada a seus membros trabalhadores. Pois desde que
um desejo mais veemente de obter uma certa honra honrosa, mesmo nesta terra,
foi implantado pelo Criador de todas as coisas nas mentes dos homens mortais, a
lei Cristã sempre considerou com benevolência e ativamente fomentou todos os
esforços legítimos para promover o progresso da verdadeira ciência, e conduzir
os homens pelo caminho certo para uma condição mais elevada. 14. No entanto, em
face deste ódio satânico da religião, que nos lembra do "mistério da
iniquidade" (II Tessalonicenses 2,7) referido por São Paulo, meros
meios e expedientes humanos não são suficientes, e devemos nos consideramos
carentes de nosso ministério apostólico, se não indicássemos à humanidade
aqueles maravilhosos mistérios da luz, que por si só contêm a força oculta para
subjugar os poderes desencadeados das trevas. Quando Nosso Senhor,
descendo do esplendor de Thabor, curou o menino atormentado pelo diabo, a quem
os discípulos não tinham conseguido curar, à sua humilde pergunta: "Por
que não pudemos expulsá-lo?" Ele fez a resposta nas palavras
memoráveis: "Esse tipo não é expulso, mas pela oração e pelo jejum" (Mateus
17. 18-20). Parece-nos, Veneráveis Irmãos, que essas palavras
divinas encontram uma aplicação peculiar nos males de nossos tempos, que só
podem ser evitados por meio da oração e da penitência. 15. Conscientes, então,
de nossa condição, de que somos essencialmente limitados e absolutamente
dependentes do Ser Supremo, antes de tudo mais, vamos recorrer à
oração. Sabemos pela fé quão grande é o poder da oração humilde, confiante
e perseverante. A nenhum outro trabalho piedoso, alguma vez foram anexadas
promessas tão amplas, tão universais, tão solenes como a oração: "Peça e
lhe será dado, busque e você encontrará, bata e será aberto a você. Para cada
um que pede, recebe; e o que procura, acha; e ao que bate, será aberto
"( Mateus 7,7). "Amém, amém eu digo a você, se
você perguntar ao Pai qualquer coisa em meu nome Ele lhe dará" (João 16,
23). 16. E que objeto poderia ser mais digno de nossa oração, e mais de acordo
com a pessoa adorável daquele que é o único "mediador de Deus e dos
homens, o homem Jesus Cristo" (I Tim. 2: 5), do que
Suplicá-lo a preservar na terra a fé em um Deus vivo e verdadeiro? Essa
oração já é parte de sua resposta; pois no próprio ato de rezar um homem
se une a Deus e, por assim dizer, mantém viva na terra a ideia de Deus. O homem
que reza, meramente por sua humilde postura, professa diante do mundo sua fé no
Criador e Senhor de todas as coisas. Juntamente com os outros em oração,
ele reconhece que não apenas o indivíduo, mas a sociedade humana como um todo
tem sobre ele um supremo e absoluto Senhor. 17. Que espetáculo para o céu e a
terra não é a Igreja em oração! Durante séculos, sem interrupção, da
meia-noite à meia-noite, repete-se na terra a divina salmodia dos cânticos
inspirados; não há hora do dia que não seja santificada por sua liturgia
especial; não há etapa da vida que não tenha participado da ação de
graças, do louvor, da súplica e da reparação de uso comum pelo corpo místico de
Cristo, que é a Igreja. Assim, a oração de si assegura a presença de Deus
entre os homens, de acordo com a promessa do divino Redentor: "Onde houver
dois ou três reunidos em meu Nome, aí estou eu no meio deles" (Mateus
18,20). 18. Além disso, a oração removerá a causa fundamental das
dificuldades atuais, que mencionamos acima, que é a ganância insaciável pelos
bens terrenos. O homem que ora olha para cima, para os bens do céu em que
medita e que deseja; todo o seu ser mergulha na contemplação da
maravilhosa ordem estabelecida por Deus, que não conhece o frenesi dos sucessos
terrestres nem as fúteis competições de velocidade cada vez maior; e assim
automaticamente, por assim dizer, restabelecer-se-á o equilíbrio entre o
trabalho e o repouso, cuja total ausência da sociedade atual é responsável por
graves perigos para a vida física, econômica e moral. Se, portanto,
aqueles que através da produção excessiva de bens manufaturados caíram no
desemprego e na pobreza, decidiram dar o devido tempo à oração, 19. Da mesma
forma, o caminho será aberto à paz que desejamos, como São Paulo observa
maravilhosamente na passagem em que se une ao preceito da oração aos santos
desejos de paz e salvação de todos os homens: "Desejo, portanto, Antes de
tudo, que súplicas, orações, intercessões e ações de graças sejam feitas por
todos os homens, pelos reis e todos os que estão em alta posição, para que
possamos levar uma vida tranquila e pacífica em toda a piedade e castidade. à
vista de Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e
cheguem ao conhecimento da verdade "(ITimóteo 2, 1-4). Que
a paz seja implorada para todos os homens, mas especialmente para aqueles que,
na sociedade humana, têm as graves responsabilidades do governo; pois como
poderiam eles dar paz a seus povos, se eles mesmos não tivessem? E é
precisamente a oração que, de acordo com o apóstolo, trará o dom da
paz; oração dirigida ao Pai Celestial que é o Pai de todos os
homens; oração que é a expressão comum dos sentimentos familiares, daquela
grande família que se estende para além dos limites de qualquer país e
continente. 20. Os homens que em todas as nações rezam ao mesmo Deus pela paz
na terra não acenderão chamas de discórdia entre os povos; homens que se
voltam em oração para a divina Majestade, não estabelecerão em seu próprio país
uma ânsia de dominação; nem fomente esse amor desordenado de país que de
sua própria nação faz seu próprio deus; homens que olham para o "Deus da
paz e do amor" ( 2 Coríntios 11,11), que se voltam para
Ele através da mediação de Cristo, que é "nossa paz" (Efésios 14),
nunca descansarão até finalmente, aquela paz que o mundo não pode dar, desce do
Doador de toda boa dádiva sobre "homens de boa vontade" ( Lucas
2,14). 21. "Paz seja para você" (João 20, 26) foi a saudação
de Páscoa de Nosso Senhor aos Seus apóstolos e primeiros discípulos; e
esta bem-aventurada saudação desde os primeiros tempos até que o nosso dia
tenha encontrado lugar na Sagrada Liturgia da Igreja, e hoje, mais do que
nunca, deve consolar e revigorar os corações humanos doloridos e oprimidos. 22.
Mas para a oração também devemos nos unir à penitência, ao espírito de
penitência e à prática da penitência cristã. Assim nos ensina o nosso divino
Mestre, cuja primeira pregação foi justamente a penitência: "Jesus começou
a pregar e a dizer: penitência" ( Matth). iv. 17). O
mesmo é o ensino de toda tradição cristã, de toda a história da
Igreja. Nas grandes calamidades, nas grandes tribulações do cristianismo,
quando a necessidade da ajuda de Deus era mais premente, os fiéis, quer
espontaneamente, quer mais frequentemente seguindo a liderança e exortações de
seus santos pastores, sempre levaram em mãos as duas armas mais poderosas. da
vida espiritual: oração e penitência. Por esse instinto sagrado, pelo qual
inconscientemente, como se fosse o povo cristão, é guiado quando não é desviado
pelos semeadores do joio, e que não é outro senão aquele "espírito de
Cristo" (I Cor.. ii. 16) de que fala o apóstolo, os
fiéis sempre sentiram imediatamente em tais casos a necessidade de purificar a
alma do pecado com contrição de coração, com o sacramento da reconciliação e de
apaziguar a justiça divina com obras externas de penitência. 23. Certamente Nós
sabemos, e com vocês, Veneráveis Irmãos, Nós deploramos o fato de que em nossos
dias a ideia e o nome de expiação e penitência têm com muitos perdido em grande
parte o poder de despertar entusiasmo de coração e heroísmo de
sacrifício. Em outros tempos eles foram capazes de inspirar tais
sentimentos, pois eles apareceram aos olhos dos homens de fé como selados com
uma marca divina à semelhança de Cristo e Seus santos: mas hoje em dia há
alguns que deixam de lado as mortificações externas como coisas do mundo.
Passado; sem mencionar o moderno expoente da liberdade, o "homem
autônomo", como é chamado, que despreza a penitência como ostentando a
marca da servidão. Como um fato, a noção da necessidade de penitência e
expiação é perdida proporcionalmente à medida que a crença em Deus é
enfraquecida, 24. Mas nós, por outro lado, Veneráveis Irmãos, em virtude de
nosso ofício pastoral, devemos arvorar esses nomes e essas ideias e
preservá-las em seu verdadeiro significado, em sua genuína dignidade, e ainda
mais em sua prática e necessária. Aplicação à vida cristã. A isto somos
instigados pela própria defesa de Deus e da religião, que sustentamos, uma vez
que a penitência é, por sua natureza, um reconhecimento e um restabelecimento
da ordem moral no mundo, fundada na lei eterna, ou seja, na lei. Deus
vivo. Aquele que faz satisfação a Deus pelo pecado, reconhece assim a
santidade dos mais altos princípios da moralidade, o seu poder interno de
ligação, a necessidade de uma sanção contra a sua violação. Certamente, um
dos erros mais perigosos de nossa época é a reivindicação de separar a
moralidade da religião, removendo assim toda base sólida para qualquer
legislação. Esse erro intelectual talvez tenha passado despercebido e
parecesse menos perigoso quando confinado a poucos, e a crença em Deus ainda
era patrimônio comum da humanidade, e era tacitamente presumida mesmo no caso
daqueles que não mais o professavam abertamente. Mas hoje, quando o
ateísmo está se espalhando pelas massas populares, as consequências práticas de
tal erro tornam-se terrivelmente palpáveis, e realidades do tipo mais triste
aparecem no mundo. No lugar das leis morais, que desaparecem junto com a
perda da fé em Deus, impõe-se a força bruta, atropelando todo direito. A
fidelidade do tempo antigo e a honestidade de conduta e intercurso mútuo
exaltados tanto pelos oradores e poetas do paganismo, agora dão lugar a
especulações em um só ' s assuntos próprios como os dos outros sem
referência à consciência. De fato, como qualquer contrato pode ser
mantido, e que valor pode ter qualquer tratado, no qual falta toda garantia de
consciência? E como se pode falar em garantias de consciência, quando toda
a fé em Deus e todo o temor de Deus desapareceu? Retire esta base, e com
ela cai toda lei moral, e não há remédio para impedir a destruição gradual, mas
inevitável dos povos, das famílias, do Estado, da própria civilização. 25. A
penitência é, por assim dizer, uma arma salutar colocada nas mãos dos valentes
soldados de Cristo, que desejam lutar pela defesa e restauração da ordem moral
no universo. É uma arma que atinge diretamente a raiz de todo o mal, isto
é, a luxúria material e os prazeres da vida. Por meio de sacrifícios
voluntários, por meio de atos práticos e mesmo dolorosos de abnegação, por meio
de várias obras de penitência, o cristão de coração nobre subjuga as paixões
básicas que tendem a fazê-lo violar a ordem moral. Mas se o zelo pela lei
divina e o amor fraterno são tão grandes nele como deveriam ser, então ele não
apenas pratica a penitência por si mesmo e por seus próprios pecados, mas toma
sobre si a expiação dos pecados dos outros, lo . Eu. 29).
26. Não há, por acaso, Veneráveis Irmãos, neste espírito de penitência também
um doce mistério de paz? "Não há paz para os ímpios" ( Is.
Iviii. 22), diz o Espírito Santo, porque eles vivem em contínua luta e
conflito com a ordem estabelecida pela natureza e pelo seu
Criador. Somente quando esta ordem for restaurada, quando todos os povos
fielmente e espontaneamente a reconhecerem e professarem, quando as condições
internas dos povos e suas relações externas com outras nações forem fundadas
nesta base, então somente a paz estável será possível na terra. Mas para
criar esta atmosfera de paz duradoura, nem os tratados de paz, nem os pactos
mais solenes, nem reuniões internacionais ou conferências, nem mesmo os
esforços mais nobres e desinteressados de qualquer estadista serão suficientes,
a menos que em primeiro lugar sejam reconhecidos os sagrados direitos natural e
divino. Nenhum líder na economia pública, nenhum poder de organização será
capaz de trazer condições sociais para uma solução pacífica, a não ser que
primeiro no campo da economia triunfem a lei moral baseada em Deus e na
consciência. Este é o valor subjacente de todo valor na vida política e
também na vida econômica das nações; esta é a melhor taxa de troca.Se for
mantido firme, todo o resto será estável, sendo garantido pela imutável e
eterna lei de Deus. 27. E mesmo para os homens individualmente, a penitência é
o fundamento e portador da verdadeira paz, separando-os dos bens terrenos e
perecíveis, elevando-os a bens que são eternos, dando-lhes, mesmo em meio a
privações e adversidades, uma paz que mundo com toda a sua riqueza e prazeres
não pode dar. Uma das músicas mais agradáveis e alegres já ouvidas neste
vale é, sem dúvida, o famoso "Cântico do Sol" de São
Francisco. Ora, o homem que a compôs, que a escreveu e a cantou, foi um
dos maiores penitentes, o Pobre de Assis, que não possuía absolutamente nada na
terra e carregava em seu corpo emaciado os dolorosos Estigmas de Seu Senhor
Crucificado. 28. Oração, então, e penitência são as duas potentes inspirações
enviadas a nós neste momento por Deus, para que possamos levar de volta a Ele a
humanidade que se desviou e vagueia sem um guia: elas são as inspirações que
dissiparão e remediarão a primeira e principal causa de toda forma de
perturbação e rebelião, a revolta do homem contra Deus. Mas os próprios
povos são chamados a decidir-se por uma escolha definida: ou se confiam a essas
benevolentes e benéficas inspirações e se convertem, humildes e arrependidos,
ao Senhor e ao Pai das misericórdias, ou entregam-se a si mesmos e o pouco que
resta de felicidade na terra à mercê do inimigo de Deus, ao espírito de
vingança e destruição. 29. Nada resta para nós, portanto, mas para convidar
este pobre mundo que derramou tanto sangue, cavou tantos túmulos, destruiu
tantas obras, privou tantos homens de pão e trabalho, nada mais resta para nós,
Dizemos, mas para convidá-lo nas palavras amorosas da Sagrada Liturgia:
"Convertei ao Senhor teu Deus". 30. Que ocasião mais adequada podemos
indicar, Veneráveis Irmãos, para tal união de oração e reparação, do que a
próxima festa do Sagrado Coração de Jesus? O espírito próprio desta
solenidade, como amplamente mostramos há quatro anos em Nossa Encíclica Miserentissimus ,
é o espírito de reparação amorosa e, portanto, era nossa vontade que naquele
dia todos os anos, em perpetuidade, houvesse em todas as igrejas o mundo um ato
público de reparação por todas as ofensas que feriram aquele Coração divino.
31. Portanto, este ano, a festa do Sagrado Coração seja, para toda a Igreja,
uma santa rivalidade de reparação e súplica. Que os fiéis apressem em grande
número ao conselho eucarístico, apressem-se ao pé do altar para adorar o
Redentor do mundo, sob os véus do Sacramento, que vocês, Veneráveis Irmãos,
terão solenemente exposto naquele dia em todas as igrejas, derramam para aquele
Coração Misericordioso que conhece todas as aflições do coração humano, a
plenitude de sua tristeza, a firmeza de sua fé, a confiança de sua esperança, o
ardor de sua caridade. Que rezem a Ele, interpondo igualmente o poderoso
patrocínio da Bem-aventurada Virgem Maria, Mediadora de todas as graças, para
si e para suas famílias, para seu país, para a Igreja; que eles orem a Ele
pelo Vigário de Cristo na terra e por todos os outros Pastores, que
compartilham com ele o terrível fardo do governo espiritual das
almas; orem por seus irmãos que creem, por seus irmãos que erram, pelos
incrédulos, pelos infiéis, mesmo pelos inimigos de Deus e da Igreja, para que
possam se converter, e orem por toda a pobre humanidade. 32. Que este espírito
de oração e reparação seja mantido com grande seriedade e intensidade por todos
os fiéis durante toda a oitava, a qual dignidade nos agradou levantar esta
festa; e durante esta oitava, da maneira que cada um de vocês, Veneráveis
Irmãos, de acordo com as circunstâncias locais, achar oportuno prescrever ou
aconselhar, haja orações públicas e outros devotos exercícios de piedade, pelas
intenções que brevemente mencionamos acima. "para que obtenhamos
misericórdia e encontremos graça em auxílio temporário". ( Hebr .
Iv. 16.) 33. Que isso seja, de fato, para todo o povo cristão, uma oitava de
reparação e de santa austeridade; sejam dias de mortificação e de
oração. Que os fiéis se abstenham, pelo menos, de entretenimentos e
divertimentos, por mais lícitos que sejam; Que aqueles que estão em
circunstâncias mais fáceis, deduzam também algo voluntariamente, no espírito de
renúncia cristã, a partir da medida moderada de seu modo usual de vida,
concedendo aos pobres o produto dessa contenção, já que a esmola é também um
excelente meio de satisfazer a justiça divina. e abatendo as misericórdias
divinas. E que os pobres, e todos os que neste momento enfrentam a dura
prova do desemprego e da escassez de alimentos, os deixem em semelhante
espírito de penitência, ofereçam com maior resignação as privações que lhes são
impostas por estes tempos difíceis e pelo estado da sociedade. , que a Divina
Providência, em seu plano inescrutável, mas sempre amoroso, lhes
atribuiu. Aceitem, com um coração humilde e confiante da mão de Deus, os
efeitos da pobreza, tornados mais difíceis pela aflição em que a humanidade
está agora lutando; levantem-se mais generosamente até a sublimidade
divina da cruz de Cristo, refletindo sobre o fato de que, se o trabalho está
entre os maiores valores da vida, foi, no entanto, o amor de um Deus sofredor
que salvou o mundo; consolem-se na certeza de que seus sacrifícios e suas provações,
carregados em um espírito cristão, concorrerão eficazmente para apressar a hora
da misericórdia e da paz. tornado mais difícil pela aflição em que a
humanidade está lutando agora; levantem-se mais generosamente até a
sublimidade divina da cruz de Cristo, refletindo sobre o fato de que, se o
trabalho está entre os maiores valores da vida, foi, no entanto, o amor de um
Deus sofredor que salvou o mundo; consolem-se na certeza de que seus
sacrifícios e suas provações, carregados em um espírito cristão, concorrerão
eficazmente para apressar a hora da misericórdia e da paz, tornado mais difícil
pela aflição em que a humanidade está lutando agora; levantem-se mais
generosamente até a sublimidade divina da cruz de Cristo, refletindo sobre o
fato de que, se o trabalho está entre os maiores valores da vida, foi, no
entanto, o amor de um Deus sofredor que salvou o mundo; consolem-se na
certeza de que seus sacrifícios e suas provações, carregados em um espírito
cristão, concorrerão eficazmente para apressar a hora da misericórdia e da paz.
34. O divino Coração de Jesus não pode senão ser movido pelas orações e
sacrifícios de Sua Igreja, e Ele finalmente dirá a Sua Esposa, chorando a Seus
pés sob o peso de tantas aflições e tristezas: "Grande é a tua fé; te fez como
tu queres. (Mat . Xv. 28). 35. Com esta confiança, fortalecida
pela memória da Cruz, símbolo sagrado e precioso instrumento da nossa santa
redenção, a gloriosa invenção de que hoje celebramos a vós, veneráveis irmãos,
ao vosso clero e povo, a todo o mundo católico Damos com amor paterno a bênção
apostólica. Dado em Roma, junto de São Pedro, na festa da Invenção da Santa
Cruz, no terceiro dia de maio do ano de 1932, o décimo primeiro do nosso
pontificado. www.w2.vatican.na. Abraço. Davi
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