terça-feira, 30 de abril de 2019

II. ANJOS E DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO


ESPIRITISMO. www.institutoandreluiz.org. Texto de Allan Kardec (1804-1869). II. ANJOS E DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. OS ANJOS SEGUNDO A IGREJA. REFUTAÇÃO. OS ANJOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. ORIGEM DA Espiritismo CRENÇA NOS DEMÔNIOS. OS DEMÔNIOS SEGUNDO A IGREJA. OBJEÇÕES. OS DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. Os demônios segundo a Igreja. 7. Satanás, o chefe ou o rei dos demônios, não é, segundo a Igreja, uma personificação alegórica do mal, mas uma entidade real, praticando exclusivamente o mal, enquanto que Deus pratica exclusivamente o bem. Tomemos, pois, tal qual o representam. Satanás existe de toda a eternidade, como Deus, ou ser-lhe-á posterior? Existindo de toda a eternidade é incriado, e, por consequência, igual a Deus. Este Deus, por sua vez, deixará de ser único, pois haverá um deus do mal. Mas se lhe for posterior? Neste caso passa a ser uma criatura de Deus. Como tal, só praticando o mal por incapaz de fazer o bem e tampouco de arrepender-se, Deus teria criado um ser votado exclusiva e eternamente ao mal. Não sendo o mal obra de Deus, seria contudo, de uma das suas criaturas, e nem por isso, deixava, Deus de ser o autor, deixando igualmente de ser profundamente bom. O mesmo se dá, exatamente, em relação aos seres maus chamados demônios. 8. Tal foi, por muito tempo, a crença neste sentido. Hoje dizem (1): "Deus, que é a bondade e santidade por excelência, não os havia criado perversos e maus. A mão paternal que se apraz imprimir em todas as suas obras o cunho de infinitas perfeições, cumulara-os de magníficos predicados. As qualidades eminentíssimas de sua natureza, juntara as liberalidades da sua graça; em tudo os fizera iguais aos Espíritos sublimes de glória e felicidade; subdivididos por todas as suas ordens e adstritos a todas as classes, eles tinham o mesmo fim e idênticos destinos. Foi seu chefe o mais belo dos arcanjos. Eles poderiam até ter alcançado a confirmação de justos para todo o sempre, e serem admitidos ao gozo da bem-aventurança dos céus. Este último favor, que deverá ser o complemento de todos os outros, constituía o prêmio da sua docilidade, mas dele desmereceram por insensata e audaciosa revolta." As citações seguintes são extraídas da pastoral de Monsenhor Gousset, cardeal-arcebispo de Reims, para a quaresma de 1865: "Qual foi o escolho da sua perseverança? Que verdade desconheceram? Que ato de adoração, de fé, recusaram a Deus? A Igreja e os anais das Santas Escrituras, não o dizem positivamente, mas certo parece que não aquiesceram à mediação do Filho de Deus, nem à exaltação da natureza humana em Jesus-Cristo." "O Verbo Divino, criador de todas as coisas, é também o mediador e salvador único, na Terra como no Céu. O fim sobrenatural não foi dado aos anjos e aos homens senão na previsão de sua encarnação e méritos, pois não há proporção alguma entre a obra dos Espíritos eminentes e a recompensa, que é o próprio Deus. Nenhuma criatura poderia alcançar tal fim, sem esta maravilhosa e sublime intervenção da caridade. Ora, para preencher a distância infinita que separa a sua essência das suas obras, preciso fora reunisse à sua pessoa os dois extremos, associando à divindade as naturezas ou do anjo, ou do homem: e preferiu então a natureza humana. Esse plano, concebido de toda eternidade, foi manifestado aos anjos muito antes da sua execução: o Homem- Deus foi-lhes mostrado como Aquele que deveria confirmá-los na graça e guiá-los à glória, sob a condição de o adorarem durante a missão terrestre, e para todo o sempre no céu. Revelação inesperada, arrebatadora visão para corações generosos e gratos, mas - mistério profundo - humilhante para espíritos soberbos! Esse fim sobrenatural, essa glória imensa que lhes propunham não seria unicamente a recompensa de seus méritos pessoais. Nunca poderiam atribuir a si próprios os títulos dessa glória! Uni mediador entre Deus e eles! Que injúria à sua dignidade! E a preferência espontânea pela natureza humana? Que injustiça! que afronta aos seus direitos!" "E chegarão eles a ver esta Humanidade, que lhes é tão inferior, deificada pela união com o Verbo, sentada à mão direita de Deus em trono resplandecente? Consentirão enfim que ela ofereça a Deus, eternamente, a homenagem da sua adoração?" "Lúcifer e a terça parte dos anjos sucumbiram a tais pensamentos de inveja e de orgulho. São Miguel e com ele muitos exclamaram: "Quem é semelhante a Deus? Ele é o dono de seus dons, o soberano Senhor de todas as coisas. Glória a Deus e ao Cordeiro, que tem de ser imolado à salvação do mundo." O chefe dos rebeldes, porém, esquecido de que a Deus devia a sua nobreza e prerrogativas, raiando pela temeridade, disse: "Sou eu quem ao céu subirá; fixarei residência acima dos astros; sentar-me-ei sobre o monte da aliança, nos flancos do Aquilão, dominarei as nuvens mais elevadas e serei semelhante ao Altíssimo." Os que de tais sentimentos partilharam, acolheram essas palavras com murmúrios de aprovação, e partidários houve em todas as hierarquias. A sua multidão, contudo, não os preserva do castigo."9. Está doutrina suscita várias objeções: 1ª - Se Satã e os demônios eram anjos, eles eram perfeitos; como, sendo perfeitos, puderam falir a ponto de desconhecer a autoridade desse Deus, em cuja presença se encontravam? Ainda se tivessem logrado uma tal eminência gradualmente, depois de haver percorrido a escala da perfeição, poderíamos conceber um triste retrocesso; não, porém, do modo por que os apresentam, isto é, perfeitos de origem. A conclusão é esta: - Deus quis criar seres perfeitos, porquanto os favorecera com todos os dons, mas enganou-se: logo, segundo a Igreja, Deus não é infalível! (1) 2ª - Pois que nem a Igreja e nem os sagrados anais explicam a causa da rebelião dos anjos para com Deus e apenas dão como problemática (quase certa) a relutância no reconhecimento da futura missão do Cristo, que valor - perguntamos - que valor pode ter o quadro tão preciso e detalhado da cena então ocorrente? A que fonte recorreram, para inferir se de fato foram pronunciadas palavras tão claras e até simples colóquios? De duas uma: ou a cena é verdadeira ou não é. No primeiro caso, não havendo dúvida alguma, por que a Igreja não resolve a questão? Mas se a Igreja e a História se calam se a coisa apenas parece certa, claro, não passa de hipótese, e a cena descritiva é mero fruto da imaginação. (2). 3ª As palavras atribuídas a Lúcifer revelam uma ignorância admirável num arcanjo que, por sua natureza e grau atingido, não deve participar, quanto à organização do Universo, dos erros e dos prejuízos que os homens têm professado, até serem pela Ciência esclarecidos.  (1) Esta doutrina monstruosa é corroborada por Moisés, quando diz (Gênese, cap. VI, vv. 6 e 7): "Ele se arrependeu de haver criado o homem na Terra e, penetrado da mais intima dor, disse: Exterminarei a criação da face da Terra; exterminarei tudo, desde o homem aos animais, desde os que rastejam sobre a terra até os pássaros do céu, porque me arrependo de os ter criado." Ora, um Deus que se arrepende do que fez não é perfeito nem infalível; portanto, não é Deus. E são estas as palavras que a Igreja proclama! Tampouco se percebe o que poderia haver de comum entre os animais e a perversidade dos homens, para que merecessem tal extermínio. (2) Encontra-se em Isaías, cap. XIV, Vv. 11 e seguintes: "Teu orgulho foi precipitado nos infernos; teu corpo morto baqueou par terra; tua cama verterá podridão, e vermes tua vestimenta. Como caíste do Céu, Lúcifer, tu que parecias tão brilhante ao romper do dia? Como foste arrojado sobre a Terra, tu que ferias as nações com teus golpes; que dizias de coração: Subirei aos céus, estabelecerei meu trono acima dos astros de Deus, sentar-me-ei acima das nuvens mais altas e serei igual ao Altíssimo! Todavia foste precipitado dessa glória no inferno, até o mais fundo dos abismos. Os que te virem, aproximando-se, encarar-te-ão, dizendo: "Será este o homem que turbou a Terra, que aterrou seus remos, que fez do mundo um deserto, que destruiu cidades e reteve acorrentados os que se lhe entregaram prisioneiros?" Estas palavras do profeta não se relerem à revolta dos anjos,' são, sim, uma alusão ao orgulho e à queda do rei de Babilônia, que retinha os judeus em cativeiro, como atestam os últimos versículos. O rei de Babilônia é alegoricamente designado por Lúcifer, mas não se faz aí qualquer menção da cena supra descrita. Essas palavras são do rei que as tinha no coração e se colocava por orgulho acima de Deus, cujo povo escravizara. A profecia da libertação do povo judeu, da rainha de Babilônia e do destroço dos assírios é, ao demais, o assunto exclusivo desse capítulo. Como poderia, então, dizer que fixaria residência acima dos astros, dominando as mais elevadas nuvens?É sempre a velha crença da Terra como centro do Universo, do céu como que formado de nuvens estendendo-se às estrelas, e da limitada região destas, que a Astronomia nos mostra disseminadas ao infinito no infinito espaço! Sabendo-se, como hoje se sabe, que as nuvens não se elevam a mais de duas léguas da superfície terráquea, e falando-se em dominá-las por mais alto, referindo-se a montanhas, preciso fora que a observação partisse da Terra, sendo ela, de fato, a morada dos anjos. Dado, porém, ser esta em região superior, inútil fora alçar-se acima das nuvens. Emprestar aos anjos uma linguagem tisnada de ignorância, é confessar que os homens contemporâneos são mais sábios que os anjos. A Igreja tem caminhado sempre erradamente, não levando em conta os progressos da Ciência. 10. A resposta à primeira objeção acha-se na seguinte passagem: "A escritura e a tradição denominam céu o lugar no qual se haviam colocado os anjos, no momento da sua criação. Mas esse não era o céu dos céus, o céu da visão beatifica, onde Deus se mostra de face aos seus eleitos, que o contemplam claramente e sem esforço, porque aí não há mais possibilidade nem perigo de pecado; a tentação e a dúvida são aí desconhecidas; a justiça, a paz e a alegria reinam imutáveis, a santidade e a glória imperecíveis. Era, portanto, outra região celeste, uma esfera luminosa e afortunada, essa em que permaneciam tão nobres criaturas favorecidas pelas divinas comunicações, que deveriam receber com fé e humildade até serem admitidas no conhecimento da sua realidade essência do próprio Deus." Do que precede se infere que os anjos decaídos pertenciam a uma categoria menos elevada e perfeita, não tendo atingido ainda o lugar supremo em que o erro é impossível. Pois seja: mas, então, há manifesta contradição nesta afirmativa: Deus em tudo os tinha criado semelhantes aos espíritos sublimes que, subdivididos em todas as ordens e adstritos a todas as classes, tinham o mesmo fim e idênticos destinos, e que seu chefe era o mais belo dos arcanjos. Ora, em tudo semelhantes aos outros, não lhes seriam inferiores em natureza; idênticos em categorias, não podiam permanecer em um lugar especial. Intacta subsiste, portanto, a objeção. 11. E ainda há uma outra que é, certamente, a mais séria e a mais grave. Dizem: "Este plano (a intervenção do Cristo), concebido desde toda a eternidade, foi manifestado aos anjos muito antes da sua execução." Deus sabia, portanto, e de toda a eternidade, que os anjos, tanto quanto os homens, teriam necessidade dessa intervenção. Ainda mais: o Deus onisciente sabia que alguns dentre esses anjos viriam a falir, arcando com a eterna condenação e arrastando a igual sorte uma parte da Humanidade. E assim, de caso pensado, previamente condenava o gênero humano, a sua própria criação. Deste raciocínio não há fugir, porquanto de outro modo teríamos que admitir a inconsciência divina, apregoando a não presciência de Deus. Para nós é impossível identificar uma tal criação com a soberana bondade. Em ambos os casos vemos a negação de atributos, sem a plenitude absoluta dos quais Deus não seria Deus. 12. Admitindo a falibilidade dos anjos como a dos homens, a punição é consequência, aliás justa e natural, da falta; mas se admitirmos concomitantemente a possibilidade do resgate, a regeneração, a graça, após o arrependimento e a expiação, tudo se esclarece e se conforma com a bondade de Deus. Ele sabia que errariam, que seriam punidos, mas sabia igualmente que tal castigo temporário seria um meio de lhes fazer compreender o erro, revertendo ao fim em benefício deles. Eis como se explicam as palavras do profeta Ezequiel: "Deus não quer a morte, porém a salvação do pecador." (1). A inutilidade do arrependimento e a impossibilidade de regeneração, isso sim, importaria a negação da divina bondade. Admitida tal hipótese, poder-se-ia mesmo dizer, rigorosa e exatamente, que estes anjos desde a sua criação, visto Deus não poder ignorá-lo, foram votados perpetuidade do mal, e predestinados a demônios para arrastarem os homens ao mal. 13. Vejamos agora qual a sorte desses tais anjos e o que fazem: "Mal apenas se manifestou a revolta na linguagem dos Espíritos, isto é, no arrojo dos seus pensamentos, foram eles banidos da celestial mansão e precipitados no abismo. Por estas palavras entendemos que foram arremessados a um lugar de suplícios no qual sofrem a pena de fogo, conforme o texto do Evangelho, que é a palavra mesma do Salvador. Ide, malditos, ao fogo eterno preparado pelo demônio e seus anjos. S. Pedro expressamente diz: que Deus os prendeu às cadeias e torturas infernais, sem que lá estejam, contudo, perpetuamente, visto como só no fim do mundo serão para sempre enclausurados com os réprobos. Presentemente, Deus ainda permite que ocupem lugar nesta criação, à qual pertencem, na ordem de coisas idênticas à sua existência, nas relações enfim que deviam ter com os homens, e das quais fazem o mais pernicioso abuso. Enquanto uns ficam na tenebrosa morada, servindo de instrumento da justiça divina contra as almas infelizes que seduziram, outros, em número infinito, formam legiões e residem nas camadas inferiores da atmosfera, percorrendo todo o globo. Envolvem-se em tudo que aqui se passa, tomando mesmo parte muito ativa nos acontecimentos terrenos." Quanto ao que diz respeito às palavras do Cristo sobre o suplício do fogo eterno, já nos explanamos no cap. IV, "O Inferno". (1) Vede 1ª' Parte, cap. VI, nº 25, citação de Ezequiel. 14. Por esta doutrina, apenas uma parte dos demônios está no inferno; a outra vaga em liberdade, envolvendo-se em tudo que aqui se passa, dando-se ao prazer de praticar o mal e isso até o fim do mundo, cuja época indeterminada não chegará tão cedo, provavelmente. Mas, por que uma tal distinção? Serão estes menos culpados? Certo que não, a menos que se não revezem, como se pode inferir destas palavras: "Enquanto uns ficam na tenebrosa morada, servindo de instrumento da justiça divina contra as almas infelizes que seduziram." Suas ocupações consistem, pois, em martirizar as almas que seduziram. Assim, não se encarregam de punir faltas livre e voluntariamente cometidas, porém as que eles próprios provocaram. São ao mesmo tempo a causa do erro e o instrumento do castigo; e, coisa singular, que a justiça humana por imperfeita não admitiria - a vítima que sucumbe por fraqueza, em contingências alheias e porventura superiores à sua vontade, é tanto ou mais severamente punida do que o agente provocador que emprega astúcia e artifício, visto como essa vítima, deixando a Terra, vai para o inferno sofrer sem tréguas, nem favor, eternamente, enquanto que o causador da sua primeira falta, o agente provocador, goza de uma tal ou qual dilação e liberdade até o fim do mundo. Como pode a justiça de Deus ser menos perfeita que a dos homens? 15. Mas, ainda não é tudo: "Deus permite que ocupem lugar nesta criação, nas relações que com o homem deviam ter e das quais abusam perniciosamente." Deus podia ignorar, no entanto, o abuso que fariam de uma liberdade por ele mesmo concedida? Então, por que a concedeu? Mas nesse caso é com conhecimento de causa que Deus abandona suas criaturas à mercê delas mesmas, sabendo, pela sua onisciência, que vão sucumbir, tendo a sorte dos demônios. Não serão elas de si mesmas bastante fracas para falirem, sem a provocação de um inimigo tanto mais perigoso quanto invisível? Ainda se o castigo fora temporário e o culpado pudesse remir-se pela reparação! (...). Mas não: a condenação é irrevogável, eterna! Arrependimento, regeneração, lamentos, tudo supérfluo! Os demônios não passam, portanto, de agentes provocadores e de antemão destinados a recrutar almas para o inferno, isto com a permissão de Deus, que antevia, ao criar estas almas, a sorte que as aguardava. Que se diria na Terra de um juiz que recorresse a tal expediente para abarrotar prisões? Estranha ideia que nos dão da Divindade, de um Deus cujos atributos essenciais são: justiça e bondade soberanas! E dizer-se que é em nome de Jesus, daquele que só pregou amor, perdão e caridade, que tais doutrinas são ensinadas! Houve um tempo em que tais anomalias passavam despercebidas, porque não eram compreendidas nem sentidas; o homem, curvado ao jugo do despotismo, submetia-se à fé cega, abdicava da razão. Hoje, porém, que a hora da emancipação soou, esse homem compreende a justiça, e, desejando-a tanto na vida quanto na morte, exclama: Não é, não pode ser tal, ou Deus não fora Deus. 16. "O castigo segue por toda a parte os seres decaídos: o inferno está neles e com eles: nem paz nem repouso, transformadas em amargores as doçuras da esperança, que se lhes torna odiosa. A mão de Deus, desferiu o castigo no ato mesmo de pecarem, e sua vontade galvanizou-se no mal. "Tornados perversos, obstinam-se em o ser e sê-lo-ão para sempre. "São, depois do pecado, o que é o homem depois da morte. A reabilitação dos que caíram torna-se também impossível; a sua perda é, desde então, irreparável, mantendo-se eles no seu orgulho perante Deus, no seu ódio contra o Cristo, na sua inveja contra a Humanidade. "Não tendo podido apropriar-se da glória celeste pelo desmesurado da sua ambição, esforçam-se por implantar seu império na Terra, banindo dela o reino de Deus. O Verbo encarnado cumpriu, apesar disso, os seus desígnios para salvação e glória da Humanidade. Também por isso procuram por todos os meios promover a perda das almas pelo Cristo resgatadas: o artifício e a importunação, a mentira e a sedução, tudo põem em jogo para arrastá-las ao mal e consumar a perda. "E como são infatigáveis e poderosos, a vida do homem com inimigos tais não pode deixar de ser uma luta sem tréguas, do berço ao túmulo. "Efetivamente esses inimigos são os mesmos que, depois de terem introduzido o mal no mundo, chegaram a cobri-lo com as espessas trevas do erro e do vício; os mesmos que, por longos séculos, se fizeram adorar como deuses e que reinaram em absoluto sobre os povos da antiguidade; os mesmos, enfim, que ainda hoje exercem tirânica influência nas regiões idólatras, fomentando a desordem e o escândalo até no seio das sociedades cristãs. Para compreender todos os recursos de que dispõem ao serviço da malvadez, basta notar que nada perderam das prodigiosas faculdades que são o apanágio da natureza angélica. Certo, o futuro e sobretudo a ordem natural têm mistérios que Deus se reservou e que eles não podem penetrar; mas a sua inteligência é bem superior à nossa, porque percebem de um jacto os efeitos nas causas e vice versa. Esta percepção permite-lhes predizer acontecimentos futuros que escapam às nossas conjeturas. A distância e variedade dos lugares desaparecem ante a sua agilidade. Mais prontos que o raio, mais rápidos que o pensamento, acham-se quase instantaneamente sobre diversos pontos do globo e podem descrever, a distância, os acontecimentos na mesma hora em que ocorrem. "As leis pelas quais Deus rege o Universo não lhes são acessíveis, razão por que não podem derrogá-las, e, por conseguinte, predizer ou operar verdadeiros milagres; possuem no entanto a arte de imitar e falsificar, dentro de certos limites, as divinas obras; sabem quais os fenômenos resultantes da combinação dos elementos, predizem com maior ou menor êxito os que sobrevêm naturalmente, assim como os que por si mesmos podem produzir. Daí os numerosos oráculos, os extraordinários vaticínios que sagrados e profanos livros recolheram, baseando e acoroçoando tantas e tantas superstições. "A sua substância simples e imaterial subtrai-os às nossas vistas; permanecem ao nosso lado sem que os vejamos, interessam-nos a alma sem que nos firam o ouvido. Acreditando obedecer aos nossos pensamentos, estamos no entanto, e muitas vezes, debaixo da sua funesta influência. As nossas disposições, ao contrário, são deles conhecidas pelas impressões que delas transparecem em nós, e atacam-nos ordinariamente pelo lado mais fraco. Para nos seduzirem com mais segurança, costumam servir-se de sugestões e engodos conformes com as nossas inclinações. Modificam a ação segundo as circunstâncias e os traços característicos de cada temperamento. Contudo, suas armas favoritas são a hipocrisia e a mentira." 17. Afirmam que o castigo os segue por toda parte; que não sabem o que seja paz nem repouso. Esta asserção de modo algum destrói a observação que fizemos quanto ao privilégio dos que estão fora do inferno, e que reputamos tanto menos justificado por isso que podem fazer, e fazem, maior mal. É de crer que esses demônios extra infernais não sejam tão felizes como os bons anjos, mas não se deverá ter em conta a sua relativa liberdade? Eles não possuirão a felicidade moral que a virtude defere, mas são incontestavelmente mais felizes que os seus comparsas do inferno flamífero. Depois, para o mau, sempre há um certo gozo na prática do mal, de mais a mais livremente. Perguntai ao criminoso o que prefere: se ficar na prisão, ou percorrer livremente os campos, agindo à vontade? Pois o caso é exatamente o mesmo. Afirmam, outrossim, que o remorso os persegue sem tréguas nem misericórdia, esquecidos de que o remorso é o precursor imediato do arrependimento, quando não é o próprio arrependimento. "Tornados perversos, obstinam-se em o ser, e sê-lo-ão para sempre." Mas desde que se obstinam em ser perversos, é que não têm remorsos; do contrário, ao menor sentimento de pesar, renunciariam ao mal e pediriam perdão. Logo, o remorso não é para eles um castigo. 18. "São, depois do pecado, o que é o homem depois da morte. A reabilitação dos que caíram torna-se, portanto, impossível." Donde provém essa impossibilidade? Não se compreende que ela seja a consequência de sua similitude com o homem depois da morte, proposição que, ao demais, é muito ambígua. Acaso provirá da própria vontade dos demônios? Porventura da vontade divina? No primeiro caso a pertinácia denota uma extrema perversidade, um endurecimento absoluto no mal, e nem mesmo se compreende que seres tão profundamente perversos pudessem jamais ter sido anjos de virtude, conservando por tempo indefinido, na convivência destes, todos os traços da sua péssima índole e natureza. No segundo caso, ainda menos se compreende que Deus inflija como castigo a impossibilidade da reparação, após uma primeira falta. O Evangelho nada diz que com isso se pareça. 19. "A sua perda é desde então irreparável, mantendo-se eles no seu orgulho perante Deus." E de que lhes serviria não manterem tal orgulho, uma vez que é inútil todo o arrependimento? O bem só poderia interessá-los se eles tivessem uma esperança de reabilitação, fosse qual fosse o seu preço. Assim não acontece, no entanto, e pois se perseveram no mal é porque lhes trancaram a porta da esperança. Mas por que lhes trancaria Deus essa porta? Para se vingar da ofensa decorrente da sua insubmissão. E, assim, para saciar o seu ressentimento contra alguns culpados, Deus prefere não somente vê-los sofrer, mas agravar o mal com mal maior; impelir à perdição eterna toda a Humanidade, quando por um simples ato de demência podia evitar tão grande desastre, aliás previsto de toda a eternidade! Trata-se, no caso vertente, de um ato de demência, de uma graça pura e simples que pudesse transformar-se em estimulo do mal? Não, trata-se de um perdão condicional, subordinado a uma regeneração sincera e completa. Mas, ao invés de uma palavra de esperança e misericórdia, é como se Deus dissera: "Pereça toda a raça humana antes que minha vingança." E com semelhante doutrina ainda muita gente se admira de que haja incrédulos e ateus! E é assim que Jesus nos representa seu Pai? Ele que nos deu a lei expressa do esquecimento e do perdão das ofensas, que nos manda pagar o mal com o bem, que prescreve o amor dos nossos inimigos como a primeira das virtudes que nos conduzem ao céu, quereria desse modo que os homens fossem melhores, mais justos, mais indulgentes que o próprio Deus? Os demônios segundo o Espiritismo. 20. Segundo o Espiritismo, nem anjos nem demônios são entidades distintas, por isso que a criação de seres inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, esses seres constituem a Humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; uma vez libertos do corpo material, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos, que povoam os Espaços. Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por escopo a perfeição, com a felicidade que dela decorre. Não lhes deu, contudo, a perfeição, pois quis que a obtivessem por seu próprio esforço, a fim de que também e realmente lhes pertencesse o mérito. Desde o momento da sua criação que os seres progridem, quer encarnados, quer no estado espiritual. Atingido o apogeu, tornam-se puros espíritos ou anjos segundo a expressão vulgar, de sorte que, a partir do embrião do ser inteligente até ao anjo, há uma cadeia na qual cada um dos elos assinala um grau de progresso. Do expresso resulta que há Espíritos em todos os graus de adiantamento, moral e intelectual, conforme a posição em que se acham, na imensa escala do progresso. Em todos os graus existe, portanto, ignorância e saber, bondade e maldade. Nas classes inferiores destacam-se Espíritos ainda profundamente propensos ao mal e comprazendo-se com o mal. A estes pode-se denominar demônios, pois são capazes de todos os malefícios aos ditos atribuídos. O Espiritismo não lhes dá tal nome por se prender ele à ideia de uma criação distinta do gênero humano, como seres de natureza essencialmente perversa, votados ao mal eternamente e incapazes de qualquer progresso para o bem. 21. Segundo a doutrina da Igreja os demônios foram criados bons e tornaram-se maus por sua desobediência: são anjos colocados primitivamente por Deus no ápice da escala, tendo dela decaído. Segundo o Espiritismo os demônios são Espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que, colocados na base da escala, hão de nela graduar-se. Os que por apatia, negligência, obstinação ou má vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas classes inferiores, sofrem as consequências dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga dessa vida penosa e das suas respectivas consequências; eles comparam a sua situação à dos bons Espíritos e compreendem que o seu interesse está no bem, procurando então melhorarem-se, mas por ato de espontânea vontade, sem que haja nisso o mínimo constrangimento. "Submetidos à lei geral do progresso, em virtude da sua aptidão para o mesmo, não progridem, ainda assim, contra a vontade." Deus fornece-lhes constantemente os meios, porém, com a faculdade de aceitá-los ou recusá-los. Se o progresso fosse obrigatório não haveria mérito, e Deus quer que todos tenhamos o mérito de nossas obras. Ninguém é colocado em primeiro lugar por privilégio; mas o primeiro lugar a todos é franqueado à custa do esforço próprio. Os anjos mais elevados conquistaram a sua graduação, passando, como os demais, pela rota comum. 22. Chegados a certo grau de pureza, os Espíritos têm missões adequadas ao seu progresso; preenchem assim todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes categorias. E como Deus criou de toda a eternidade, segue-se que de toda a eternidade houve número suficiente para satisfazer às necessidades do governo universal. Deste modo uma só espécie de seres inteligentes, submetida à lei de progresso, satisfaz todos os fins da Criação. Por fim, a unidade da Criação, aliada à idéia de uma origem comum, tendo o mesmo ponto de partida e trajetória, elevando-se pelo próprio mérito, corresponde melhor à justiça de Deus do que a criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas de dotes naturais, que seriam outros tantos privilégios. 23. A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas, não admitindo a lei do progresso, mas vendo todavia seres de diversos graus, concluiu que seriam produto de outras tantas criações especiais. E assim foi que chegou a fazer de Deus um pai parcial, tudo concedendo a alguns de seus filhos, e a outros impondo o mais rude trabalho. Não admira que por muito tempo os homens achassem justificação para tais preferências, quando eles próprios delas usavam em relação aos filhos, estabelecendo direitos de primogenitura e outros privilégios de nascimento. Podiam tais homens acreditar que andavam mais errados que Deus? Hoje, porém, alargou-se o círculo das ideias: o homem vê mais claro e tem noções mais precisas de justiça; desejando-a para si e nem sempre encontrando-a na Terra, ele quer pelo menos encontrá-la mais perfeita no Céu. E aqui está por que lhe repugna à razão toda e qualquer doutrina, na qual não resplenda a Justiça Divina na plenitude integral da su a pureza. (Allan Kardec, Livro O Céu e o Inferno", edição LAKE).www.institutoandreluiz.org. Abraço. Davi


segunda-feira, 29 de abril de 2019

I. ANJOS E DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO


Espiritismo. www.institutoandreluiz.org. Texto de Allan Kardec (1804-1869). I. ANJOS E DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. OS ANJOS SEGUNDO A IGREJA. REFUTAÇÃO. OS ANJOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. ORIGEM DA CRENÇA NOS DEMÔNIO. OS DEMÔNIOS SEGUNDO A IGREJA. OBJEÇÕES. OS DEMÔNIOS SEGUNDO O ESPIRITISMO. Os anjos segundo a Igreja. 1 - Todas as religiões têm tido anjos sob vários nomes, isto é, seres superiores à Humanidade, intermediários entre Deus e os homens. Negando toda a existência espiritual fora da vida orgânica, o materialismo naturalmente classificou os anjos entre as ficções e alegorias. A crença nos anjos é parte essencial dos dogmas da Igreja, que assim os define (1): 2 - "Acreditamos firmemente, diz um concílio geral e ecumênico (2), que só há um Deus verdadeiro, eterno e infinito, que no começo dos tempos tirou conjuntamente do nada as duas criaturas - espiritual e corpórea, angélica e mundana - tendo formado depois, como elo entre as duas, a natureza humana, composta de corpo e Espírito." "Tal é, segundo a fé, o plano divino na obra da criação, plano majestoso e completo como convinha à eterna sabedoria. Assim concebido, ele oferece aos nossos pensamentos o ser em todos os seus graus e condições." "Na esfera mais elevada aparecem a existência e a vida puramente espirituais; na última ordem, uma e outra puramente materiais e intermediário, uma união maravilhosa das duas substâncias, uma vida ao mesmo tempo comum ao Espírito inteligente e ao corpo organizado." "Nossa alma é de natureza simples e indivisível, porém limitada em suas faculdades. A ideia que temos da perfeição faz-nos compreender que pode haver outros seres simples quanto ela, e superiores por suas qualidades e privilégios." "A alma é grande e nobre, porém, está associada à matéria, servida por órgãos frágeis e limitada no poder e na ação. Por que não haver outras ainda mais pobres, libertas dessa escravidão, dessas peias e dotadas de uma força e atividade maiores e incomparáveis? Antes que Deus houvesse colocado o homem na Terra, para conhecê-lo, servi-lo, e amá-lo, não teria já chamado outras criaturas, a fim de compor a corte celeste e adorá-lo no auge da glória? Deus, enfim, recebe das mãos do homem os tributos de honra e homenagem deste universo: é, portanto, de admirar que receba das mãos dos anjos o incenso e as orações do homem? Se, pois, os anjos não existissem, a grande obra do Criador não patentearia o acabamento e a perfeição que lhe são peculiares; este mundo, que atesta a sua onipotência, não fora mais a obra-prima da sabedoria; nesse caso a nossa razão, posto que fraca, poderia conceber um Deus mais completo e consumado. Em cada página dos sagrados livros, do Velho como do Novo Testamentos, se fez menção dessas inteligências sublimes, já em piedosas invocações, já em referências históricas. A sua intervenção aparece manifestamente na vida dos patriarcas e dos profetas. Serve-se Deus de tal ministério, ora para transmitir a sua vontade, ora para anunciar futuros acontecimentos, e os anjos são também quase sempre órgãos de sua justiça e misericórdia. A sua presença ressalta das circunstâncias que acompanham o nascimento, a vida e a paixão do Salvador; a sua lembrança é inseparável da dos grandes homens, como dos fatos mais grandiosos da antiguidade religiosa. A crença nos anjos existe no seio mesmo do politeísmo e nas fábulas da mitologia, porque essa crença é tão universal e antiga quanto o mundo. O culto que os pagãos prestavam aos bons e maus gênios não era mais que falsa aplicação da verdade, um resto degenerado do primitivo dogma. As palavras do santo concílio de Latrão, ano de 1123, contêm fundamental distinção entre os anjos e os homens: - ensinam-nos que os primeiros são puros Espíritos, enquanto que os segundos se compõem de um corpo e de uma alma, isto é, que a natureza angélica subsiste por si mesma não só sem mistura como dissociada da matéria, por mais vaporosa e sutil que se suponha, ao passo que a nossa alma, igualmente espiritual, associa-se ao corpo de modo a formar com ele uma só pessoa, sendo tal e essencialmente o seu destino." "Enquanto perdura tão íntima ligação de alma e corpo, as duas substâncias têm vida comum e se exercem recíproca influência; daí o não poder a alma libertar-se completamente das imperfeições de tal condição: as ideias chegam-lhe pelos sentidos na comparação dos objetos externos e sempre debaixo de imagens mais ou menos aparentes. Eis por que a alma não pode contemplar-se a si mesma, nem conceber Deus e os anjos sem atribuir-lhes forma visível e palpável. O mesmo se dá quanto aos anjos, que para se manifestarem aos santos e profetas hão de revestir formas tangíveis e palpáveis. Essas formas, no entanto, não passavam de corpos aéreos que faziam mover-se e identificar-se com eles, ou de atributos simbólicos de acordo com a missão a seu cargo." "Seu ser e movimentos não são localizados nem circunscritos a limitado e fixo ponto do Espaço. Desligados integralmente do corpo, não ocupam qualquer espaço no vácuo; mas assim como a nossa alma existe integral no corpo e em cada uma de suas partes, assim também os anjos estão, e quase que simultaneamente, em todos os pontos e partes do mundo. Mais rápidos que o pensamento, podem agir em toda parte num dado momento, operando por si mesmos sem outros obstáculos, senão os da vontade do Criador e os da liberdade humana. Enquanto somos condenados a ver lenta e limitadamente as coisas externas; enquanto as verdades sobrenaturais se nos afiguram enigmas num espelho, na frase de São Paulo, eles, os anjos, veem sem esforço o que lhes importa saber, e estão sempre em relação imediata com o objeto de seus pensamentos. Os seus conhecimentos são resultantes não dá indução e do raciocínio, mas dessa intuição clara e profunda que abrange de uma só vez o gênero e as espécies deles derivadas, os princípios e as consequências que deles decorrem. A distância das épocas, a diferença de lugares, como a multiplicidade de objetos, confusão alguma podem produzir em seus espíritos." "Infinita, a essência divina é incompreensível; tem mistérios e profundezas que se não podem penetrar; mas em lhes serem defesos os desígnios particulares da Providência, ela lhos desvenda quando em certas circunstâncias são encarregados de os anunciarem aos homens. As comunicações de Deus com os anjos e destes entre si, não se fazem como entre nós por meio de sons articulados e de sinais sensíveis. As puras inteligências não têm necessidade nem de olhos para ver, nem de ouvidos para ouvir; tampouco possuem órgão vocal para manifestar seus pensamentos. Este instrumento usual de nossas relações é-lhes desnecessário, pois comunicam seus sentimentos de modo só a eles peculiar, isto é, todo espiritual. Basta-lhes querer para se compreenderem. Unicamente Deus conhece o número dos anjos. Este número não é, sem dúvida, infinito, nem pudera sê-lo; porém, segundo os autores sagrados e os santos doutores, é assaz considerável, verdadeiramente prodigioso. Se se pode proporcionar o número de habitantes de uma cidade à sua grandeza e extensão, e sendo a Terra apenas um átomo, comparada ao firmamento e às imensas regiões do Espaço, força é concluir que o número dos habitantes do ar e do céu é muito superior ao dos homens. E se a majestade dos reis se ostenta pelo brilhantismo e número dos vassalos, dos oficiais e dos súditos, que haverá de mais próprio a dar-nos ideia da majestade do Rei dos reis do que essa multidão inumerável de anjos que povoam céus e Terra, mar e abismos, a dignidade dos que permanecem continuamente prostrados ou de pé ante seu trono?" "Os padres da Igreja e os teólogos ensinam geralmente que os anjos se dividem em três grandes hierarquias ou principados, e cada hierarquia em três companhias ou coros." "Os da primeira e mais alta hierarquia designam-se conformemente às funções que exercem no céu: Os Serafins são assim designados por serem como que abrasados perante Deus pelos ardores da caridade; outros, os Querubins, por isso que refletem luminosamente a divina sabedoria; e finalmente Tronos os que proclamam a grandeza do Criador, cujo brilho fazem resplandecer." "Os anjos da segunda hierarquia recebem nomes consentâneos com as operações que se lhes atribui no governo geral do Universo, e são: as Dominações, que determinam aos anjos de classes inferiores suas missões e deveres; as Virtudes, que promovem os prodígios reclamados pelos grandes interesses da Igreja e do gênero humano; e as Potências, que protegem por sua força e vigilância as leis que regem o mundo físico e moral." "Os da terceira hierarquia têm por missão a direção das sociedades e das pessoas, e são: os Principados, encarregados de reinos, províncias e dioceses; os Arcanjos, que transmitem as mensagens de alta importância, e os Anjos de guarda, que acompanham as criaturas a fim de velarem pela sua segurança e santificação."(1) Extraímos este resumo da pastoral do Monsenhor Gousset, cardeal arcebispo de Reims, para a quaresma de 1864. Por ele podemos, pois, considerar os anjos, assim como os demônios, cujo resumo tiramos da mesma origem e citamos no capítulo seguinte, como última expressão do dogma da Igreja neste sentido. (2) Concílio de Latrão. Refutação. 3 - O princípio geral resultante dessa doutrina é que os anjos são seres puramente espirituais, anteriores e superiores à Humanidade, criaturas privilegiadas e voltadas à felicidade suprema e eterna desde a sua formação, dotadas, por sua própria natureza, de todas as virtudes e conhecimentos, nada tendo feito, aliás, para adquiri-los. Estão, por assim dizer, no primeiro plano da Criação, contrastando com o último onde a vida é puramente material; e, entre os dois, medianamente existe a Humanidade, isto é, as almas, seres inferiores aos anjos e ligados a corpos materiais. De tal sistema decorrem várias dificuldades capitais: Em primeiro lugar, que vida é essa puramente material? Será a da matéria bruta? Mas a matéria bruta é inanimada e não tem vida por si mesma. Acaso referir-se-á aos animais e às plantas? Neste suposto seria uma quarta ordem na Criação, pois não se pode negar que no animal inteligente algo há de mais que numa planta, e nesta, que numa simples pedra. Quanto à alma humana, que estabelece a transição, essa fica diretamente unida a um corpo, matéria bruta, aliás; porque sem alma o corpo tem tanta vida como qualquer bloco de terra. Evidentemente, esta divisão é obscura e não se compadece com a observação; assemelha-se à teoria dos quatro elementos, anulada pelos progressos da Ciência. Admitamos, entretanto, estes três termos: a criatura espiritual, a humana e a corpórea, pois que tal é, dizem, o plano divino, majestoso e completo como convém à Eterna Sabedoria. Notemos antes de tudo que não há ligação alguma necessária entre esses três termos, e que são três criações distintas e formadas sucessivamente, ao passo que em a Natureza tudo se encadeia, mostrando-nos uma lei de unidade admirável, cujos elementos, não passando de transformações entre si, têm, contudo, seus laços de união. Mas essa teoria, incompleta embora, é, até certo ponto, verdadeira, quanto à existência dos três termos; faltam-lhe os pontos de contato desses termos, como é fácil demonstrar. 4. Diz a Igreja que esses três pontos culminantes da Criação são necessários à harmonia do conjunto. Desde que lhe falte um só que seja, a obra incompleta não mais se compadece com a Sabedoria Eterna. Entretanto, um dos dogmas fundamentais diz que a Terra, os animais, as plantas, o Sol e as estrelas e até a luz foram criados do nada, há seis mil anos. Antes dessa época não havia, portanto, criatura humana nem corpórea - o que importa dizer que no decurso da eternidade a obra divina jazia imperfeita. É artigo de fé capital a criação do Universo, há seis mil anos, tanto que há pouco ainda era a Ciência anatematizada por destruir a cronologia bíblica, provando maior ancianidade da Terra e de seus habitantes. Apesar disso, o concílio de Latrão, concílio ecumênico que faz lei em matéria ortodoxa, diz: "Acreditamos firmemente num Deus único e verdadeiro, eterno e infinito, que no começo dos tempos tirou conjuntamente do nada as duas criaturas - espiritual e corpórea." Por começo dos tempos só podemos inferir a eternidade transcorrida, visto ser o tempo infinito como o Espaço, sem começo nem fim. Esta expressão, começo dos tempos, antes uma figura que implica a ideia de uma anterioridade ilimitada. O concílio de Latrão acredita, pois, firmemente, que as criaturas espirituais como as corpóreas foram simultaneamente formadas e tiradas em conjunto do nada, numa época indeterminada, no passado. A que fica reduzido, assim, o texto bíblico que data a Criação de seis mil dos nossos anos? E, ainda que se admita seja tal o começo do Universo visível, esse não é seguramente o começo dos tempos. Em qual crer: no concílio ou na Bíblia? 5. O concílio formula, além disso, uma estranha proposição: "Nossa alma, diz, igualmente espiritual, é associada ao corpo de maneira a não formar com ele mais que uma pessoa, e tal é, essencialmente, o seu destino." Ora, se o destino essencial da alma é estar unida ao corpo, esta união constitui o estado normal, o desígnio, o fim, por isso que é o seu destino. Entretanto, a alma é imortal e o corpo não; a união daquela com este só se realiza uma vez, segundo a Igreja, e ainda que durasse um século, nada seria em relação à eternidade. E sendo apenas de algumas horas para muitos, que utilidade teria para a alma união tão efêmera? Mas, que se prolongue essa união tanto quanto se pode prolongar uma existência terrena e, ainda assim, poder-se-á afirmar que o seu destino é estar essencialmente integrada? Não, essa união mais não é na realidade do que um incidente, um estádio da alma, nunca o seu estado essencial. Se o destino essencial da alma é estar ligada ao corpo humano; se por sua natureza e segundo o fim providencial da Criação, essa união é necessária às manifestações das suas faculdades, forçoso é concluir que, sem corpo, a alma humana é um ser incompleto. Ora, para que a alma preencha os seus desígnios, deixando um corpo preciso se faz que tome um outro - o que nos conduz à pluralidade forçada das existências, ou, por outra, à reencarnação, à perpetuidade. É verdadeiramente estranhável que um concílio, havido por uma das luzes da Igreja, tenha a tal ponto identificado os seres espiritual e material, de modo a não subsistirem por si mesmos, pois que a condição essencial da sua criação é estarem unidos. 6. O quadro hierárquico dos anjos nos mostra que várias ordens têm, nas suas atribuições, o governo do mundo físico e da Humanidade, para cujo fim foram criados. Mas, segundo a Gênese, o mundo físico e a Humanidade não existem senão há seis mil anos; e o que faziam, pois, tais anjos, anteriormente a essa era, durante a eternidade, quando não existia o objetivo das suas ocupações? E teriam eles sido criados de toda a eternidade? Assim deve ser, uma vez que servem à glorificação do Todo-Poderoso. Mas, criando-os numa época qualquer determinada, Deus ficaria até então, isto é, durante uma eternidade, sem adoradores. 7. Diz ainda o concílio: "Enquanto dura esta união tão intima da alma com o corpo." Há, por conseguinte, um momento em que a união se desfaz? Esta proposição contradita a que sustenta a essencialidade dessa união. E diz mais o concílio: "As idéias lhes chegam pelos sentidos, na comparação dos objetos exteriores." Eis aí uma doutrina filosófica em parte verdadeira, que não em sentido absoluto. Receber as ideias pelos sentidos é, segundo o eminente teólogo, uma condição inerente à natureza humana; mas ele esquece as ideias inatas, as faculdades por vezes tão transcendentes, a intuição das coisas que a criança traz do berço, não devidas a quaisquer ensinos. Por meio de quais sentidos, jovens pastores, naturais calculistas, admiração dos sábios, adquirem ideias necessárias à resolução quase instantânea dos mais complicados problemas? Outro tanto pode dizer-se de músicos, pintores e filólogos precoces. "Os conhecimentos dos anjos não resultam da indução e do raciocínio"; têm-nos porque são anjos, sem necessidade de aprendê-los, pois tais foram por Deus criados: quanto à alma, essa deve aprender. Mas se a alma só recebe as ideias por meio dos órgãos corporais, que ideias pode ter a alma de uma criança morta ao fim de alguns dias, se admitirmos com a Igreja que essa alma não renasce? 8. Aqui reponta uma questão vital, qual a de saber-se se a alma pode adquirir conhecimentos após a morte do corpo. Se uma vez liberta do corpo não pode adquirir novos conhecimentos, a alma da criança, do selvagem, do imbecil, do idiota ou do ignorante permanecera tal qual era no momento da morte, condenada à nulidade por todo o sempre. Mas se, ao contrário, ela adquire novos conhecimentos depois da vida atual, então, é que pode progredir. Sem progresso ulterior para a alma, chega-se a conclusões absurdas, tanto quanto admitindo-o se conclui pela negação de todos os dogmas fundados sobre o estacionamento, a sorte irrevogável, as penas eternas, etc. Progredindo a alma, qual o limite do progresso? Não há razão para não atingir por ele ao grau dos anjos, ou puros Espíritos. Ora, com tal possibilidade não se justificaria a criação de seres especiais e privilegiados, isentos de qualquer labor, gozando incondicionalmente de eterna felicidade, ao passo que outros seres menos favorecidos só obtêm essa felicidade a troco de longos, de cruéis sofrimentos e rudes provas. Sem dúvida que Deus poderia ter assim determinado, mas, admitindo-lhe o infinito de perfeição sem a qual não fora Deus, força é admitir que coisa alguma criaria inutilmente, desmentindo a sua justiça e bondade soberanas. 9. "E se a majestade dos reis ostenta o seu brilhantismo pelo número dos vassalos, oficiais e súditos, que haverá de mais próprio a dar-nos ideia da majestade do Rei dos reis do que essa inumerável multidão de anjos que povoam céu e terra, mar e abismos, a dignidade dos que permanecem continuamente prostrados ou de pé ante seu trono?" E não será rebaixar a Divindade confrontá-la com o fausto dos soberanos da Terra? Essa idéia, inculcada no espírito das massas ignorantes, falseia a opinião de sua verdadeira grandeza. Sempre Deus reduzido às mesquinhas proporções da Humanidade! Atribuir-lhe, como necessidade, milhões de adoradores, perenemente genuflexos, é emprestar-lhe vaidade e fraqueza próprias dos orgulhosos déspotas do Oriente! E que é que engrandece os soberanos verdadeiramente grandes? É o número e brilho dos cortesãos? não; é a bondade, é a justiça, é o título merecido de pais do seu povo. perguntareis se haverá algo de mais próprio a dar-nos a ideia da grandeza e majestade de Deus do que a multidão de anjos que lhe compõem a corte (...). Mas, certamente que há, e essa coisa melhor é apresentar-se Deus às suas criaturas soberanamente bom, justo e misericordioso, que não colérico, invejoso, vingativo, exterminador e parcial, criando para sua própria glória esses seres privilegiados, cumulados de todos os dons e nascidos para a felicidade eterna, enquanto a outros impõe condições penosas na aquisição de bens, punindo erros momentâneos com eternos suplícios (...). 10. A respeito da união da alma com o corpo, o Espiritismo professa uma doutrina infinitamente mais espiritualista, para não dizer menos materialista, tendo ao demais a seu favor a conformidade com a observação e o destino da alma. Ele ensina-nos que a alma é independente do corpo, não passando este de temporário invólucro: a espiritualidade é-lhe a essência, e a sua vida normal é a vida espiritual. O corpo é apenas instrumento da alma para exercício das suas faculdades nas relações com o mundo material; separada desse corpo, goza dessas faculdades mais livre e altamente. 11. A união da alma com o corpo, em ser necessária aos seus primeiros progressos, só se opera no período que poderemos classificar como da sua infância e adolescência; atingido, porém, que seja, um certo grau de perfeição e desmaterialização, essa união é prescindível, o progresso faz-se na sua vida de Espírito. Demais, por numerosas que sejam as existências corpóreas, elas são limitadas à existência do corpo, e a sua soma total não compreende, em todos os casos, senão uma parte imperceptível da vida espiritual, que é ilimitada. Os anjos segundo o Espiritismo. 12. Que haja seres dotados de todas as qualidades atribuídas aos anjos, não restam dúvidas. A revelação espírita neste ponto confirma a crença de todos os povos, fazendo-nos conhecer ao mesmo tempo a origem e natureza de tais seres. As almas ou Espíritos são criados simples e ignorantes, isto é, sem conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém, aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim - que é a perfeição - é para todos o mesmo. Conseguem-no mais ou menos prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão direta dos seus esforços; todos têm os mesmos degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros, porquanto é justo, e, visto serem todos seus filhos, não tem predileções. Ele lhes diz: Eis a lei que deve constituir a vossa norma de conduta; ela só pode levar-vos ao fim; tudo que lhe for conforme é o bem; tudo que lhe for contrário é o mal. Tendes inteira liberdade de observar ou infringir esta lei, e assim sereis os árbitros da vossa própria sorte. Conseguintemente, Deus não criou o mal; todas as suas leis são para o bem, e foi o homem que criou esse mal, divorciando-se dessas leis; se ele as observasse escrupulosamente, jamais se desviaria do bom caminho. 13. Entretanto, a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da existência, e daí o ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-lhe meios de adquiri-la. Assim, um passo em falso na senda do mal é um atraso para a alma, que, sofrendo-lhe as consequências, aprende à sua custa o que importa evitar. Deste modo, pouco a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na hierarquia espiritual até ao estado de puro Espírito ou anjo. Os anjos são, pois, as almas dos homens chegados ao grau de perfeição que a criatura comporta, fruindo em sua plenitude a prometida felicidade. Antes, porém, de atingir o grau supremo, gozam de felicidade relativa ao seu adiantamento, felicidade que consiste, não na ociosidade, mas nas funções que a Deus apraz confiar-lhes, e por cujo desempenho se sentem ditosas, tendo ainda nele um meio de progresso. (Vede 1ª Parte, cap. III, "O céu"). 14. A Humanidade não se limita à Terra; habita inúmeros mundos que no Espaço circulam; já habitou os desaparecidos, e habitará os que se formarem. Tendo-a criado de toda a eternidade, Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a suponhamos, outros mundos havia, nos quais Espíritos encarnados percorreram as mesmas fases que ora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do Criador. De toda a eternidade tem havido, pois, puros Espíritos ou anjos; mas, como a sua existência humana se passou num infinito passado, eis que os supomos como se tivessem sido sempre anjos de todos os tempos. 15. Realiza-se assim a grande lei de unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve puros Espíritos, experimentados e esclarecidos, para transmissão de suas ordens e direção do Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes. Tampouco teve Deus necessidade de criar seres privilegiados, isentos de obrigações; todos, antigos e novos, adquiriram suas posições na luta e por mérito próprio; todos, enfim, são filhos de suas obras. E, desse modo, completa-se com igualdade a soberana justiça do Criador. OS DEMÔNIOS. Origem da crença nos demônios.  1. Em todos os tempos os demônios representaram papel saliente nas diversas teogonias, e, posto que consideravelmente decaídos no conceito geral, a importância que se lhes atribui, ainda hoje, dá à questão uma tal ou qual gravidade, por tocar o fundo mesmo das crenças religiosas. Eis por que útil se torna examiná-la, com os desenvolvimentos que comporta. A crença em um poder superior é instintiva no homem. Encontramo-la, sob diferentes formas, em todas as idades do mundo. Mas, se hoje, dado o grau de cultura atingido, ainda se discute sobre a natureza e atributos desse poder, calcule-se que noções teria o homem a respeito, na infância da Humanidade. 2. Como prova da sua inocência, o quadro dos homens primitivos extasiados ante a Natureza e admirando nela a bondade do Criador é, sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato, quanto mais se aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao instinto, como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que exclusivamente o preocupa é a satisfação das necessidades materiais, mesmo porque não tem outras. O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano; mas para compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na Humanidade! Por quantas existências não deve ela passar! Sem nos remontarmos aos tempos primitivos, olhemos em torno a gente do campo e perscrutemos os sentimentos de admiração que nela despertam o esplendor do Sol nascente, do firmamento a estrelada abóbada, o trino dos pássaros, o murmúrio das ondas claras, o vergel florido dos prados. Para essa gente o Sol nasce por hábito, e uma vez que desprende o necessário calor para sazonar as searas, não tanto que as creste, está realizado tudo o que ela almejava; olha o céu para saber se bom ou mau tempo sobrevirá; que cantem ou não as aves, tanto se lhe dá, desde que não desbastem da seara os grãos; prefere às melodias do rouxinol, o cacarejar da galinhada e o grunhido dos porcos; o que deseja dos regatos cristalinos, ou lodosos, é que não sequem nem inundem; dos prados, que produzam boa erva, com ou sem flores. Eis aí tudo o que essa gente almeja, ou, o que é mais, tudo o que da Natureza apreende, conquanto muito distanciada já dos primitivos homens. 3. Se nos remontarmos a estes últimos, então, surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados com a satisfação de necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste mundo somente no que concerne à satisfação ou prejuízo dessas necessidades. Acreditando num poder extra-humano e porque o prejuízo material é sempre o que mais de perto lhes importa, atribuem-no a esse poder, do qual fazem, aliás, uma ideia muito vaga. E por nada conceberem fora do mundo visível e tangível, tal poder se lhes afigura identificado nos seres e coisas que os prejudicam. Os animais nocivos não passam para eles de representantes naturais e diretos desse poder. Pela mesma razão, veem nas coisas úteis a personificação do bem: dai, o culto votado a certas plantas e mesmo a objetos inanimados. Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe parece natural, ao passo que aquele mais o afeta. Nem por outra razão se explica, nos cultos primitivos, as cerimônias sempre mais numerosas em honra ao poder maléfico: o temor suplanta o reconhecimento. Durante muito tempo o homem não compreendeu senão o bem e o mal físicos; os sentimentos morais só mais tarde marcaram o progresso da inteligência humana, fazendo-lhe entrever na espiritualidade um poder extra-humano fora do mundo visível e das coisas materiais. Esta obra foi, seguramente, realizada por inteligências de escol, mas que não puderam exceder certos limites. 4. Provada e patente a luta entre o bem e o mal, triunfante este muitas vezes sobre aquele, e não se podendo racionalmente admitir que o mal derivasse de um benéfico poder, concluiu-se pela existência de dois poderes rivais no governo do mundo. Daí nasceu a doutrina dos dois princípios, aliás lógica numa época em que o homem se encontrava incapaz de, raciocinando, penetrar a essência do Ser Supremo. Como compreenderia, então, que o mal não passa de estado transitório do qual pode emanar o bem, conduzindo-o à felicidade pelo sofrimento e auxiliando o progresso? Os limites do seu horizonte moral, nada lhe permitindo ver para além do seu presente, no passado como no futuro, também não lhe permitia compreender que já houvesse progredido, que progrediria ainda individualmente, e muito menos que as vicissitudes da vida resultavam das imperfeições do ser espiritual nele residente, o qual preexiste e sobrevive ao corpo, na dependência de uma série de existências purificadoras até atingir a perfeição. Para compreender como do mal pode resultar o bem é preciso considerar não uma, porém, muitas existências; é necessário apreender o conjunto do qual - e só do qual - resultam nítidas as causas e respectivos efeitos. 5. O duplo princípio do bem e do mal foi, durante muitos séculos, e sob vários nomes, a base de todas as crenças religiosas. Vemo-lo assim sintetizado em Oromase e Arimane entre os persas, em Jeová e Satã entre os hebreus. Todavia, como todo soberano deve ter ministros, as religiões geralmente admitiram potências secundárias, ou bons e maus gênios. Os pagãos fizeram deles individualidades com a denominação genérica de deuses e deram-lhes atribuições especiais para o bem e para o mal, para os vícios e para as virtudes. Os cristãos e os muçulmanos herdaram dos hebreus os anjos e os demônios. 6. A doutrina dos demônios tem, por conseguinte, origem na antiga crença dos dois princípios. Compete-nos examiná-la aqui tão-somente no ponto de vista cristão para ver se está de acordo com as noções mais exatas que possuímos hoje, dos atributos da Divindade. Esses atributos são o ponto de partida, a base de todas as doutrinas religiosas; os dogmas, o culto, as cerimônias, os usos e a moral, tudo é relativo à ideia mais ou menos justa, mais ou menos elevada que se forma de Deus, desde o fetichismo até o Cristianismo. Se a essência de Deus continua a ser um mistério para as nossas inteligências, compreendemo-la no entanto melhor que nunca, mercê dos ensinamentos do Cristo. O Cristianismo racionalmente ensina-nos que: Deus é único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições. Foi por isso que algures dissemos - (1ª Parte cap. VI, "Doutrina das penas eternas") "Se se tirasse a menor parcela de um só dos seus atributos, não haveria mais Deus, por isso que poderia coexistir um ser mais perfeito." Estes atributos, na sua plenitude absoluta, são, pois, o critério de todas as religiões, estalão da verdade de cada um dos princípios que ensinam. E para que qualquer desses princípios seja verdadeiro, preciso é que não encerre um atentado às divinas perfeições. Vejamos, se é assim, de fato, na doutrina vulgar dos demônios. Livro O Céu E O Inferno. www.institutoandreluiz.org. Abraço. Davi

sexta-feira, 26 de abril de 2019

SOBRE O SAGRADO CORAÇÃO


Catolicismo. www.w2.vatican.na. Encíclica do Papa Pius XI (1857-1939). SOBRE O SAGRADO CORAÇÃO. Aos veneráveis irmãos, Patriarcas, Primatas, Arcebispos, Bispos e outros ordinários de localidades. Tendo paz e comunhão com a Apostólica. Veneráveis Irmãos, Saúde e a Bênção Apostólica. Constrangido pela Caridade de Cristo, na Carta Encíclica Nova impendet no segundo dia de outubro do ano passado, incitamos os filhos da Igreja Católica - e, na verdade, todos os homens de bom coração - a uma piedosa imitação de amor e de ação útil, de modo que os males terríveis que vêm da economia crise, e estão em toda parte oprimindo a sociedade humana, pode ser em certa medida mitigada. O nosso convite foi, de fato, calorosamente recebido com uma unanimidade notável, através da liberalidade ativa de todos. No entanto, uma vez que a angústia está aumentando e as hostes de homens em aflição pela ociosidade forçada estão quase em toda parte cada vez maiores; e desde que os homens sediciosos fazem uso dessas dificuldades e os levam para a vantagem de suas próprias facções, aconteceu que as próprias instituições públicas estão em uma situação crítica, de modo que um grave perigo de distúrbios e de uma sublevação geral está ameaçando a sociedade civil. Neste estado de coisas, veneráveis Irmãos. Instigados, pela mesma caridade de Cristo, mais uma vez dirigimo-nos a todos e aos fiéis comprometidos com os seus cuidados e, na verdade, todos os homens, exortando a todos e a todos que, com todas as suas forças unidas num espírito de caridade, se esforcem por resistir. Por todos os esforços possíveis, as calamidades pelas quais a sociedade civil está agora aflita e aquelas ainda maiores calamidades que a ameaçam no futuro. 2. Qualquer um que considere cuidadosamente a prolongada e amarga série de sofrimentos, a infeliz herança do pecado, pela qual, como por tantos estágios, nós marcamos o curso do homem caído nesta peregrinação mortal, dificilmente encontraremos qualquer ocasião desde o dilúvio, quando a raça do homem era tão profunda e comumente experimentada por tantas e tão grandes aflições de corpo e mente quanto aquelas que lamentamos ver nos problemas atuais; pois até mesmo as mais terríveis calamidades e desastres que deixaram traços indeléveis nos registros e a vida das nações, mas devastaram agora um povo, agora outro. Mas neste tempo conturbado toda a raça humana é tão pressionada pela escassez de dinheiro e pelos estreitos da crise econômica que quanto mais se esforça para se libertar, mais se sente inextricavelmente atrapalhada. E daí vem que agora não há nação, nenhum estado, nenhuma sociedade, nenhuma família, que não seja ela mesma oprimida, mais ou menos gravemente, por essas calamidades, ou então parece provável que seja arrastada para baixo pela ruína dos outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte causa de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado". Isso não é oprimido, mais ou menos gravemente, por essas calamidades, ou parece provável que seja arrastado para baixo pela ruína de outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte causa de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado" (isso não é oprimido, mais ou menos gravemente, por essas calamidades, ou parece provável que seja arrastado para baixo pela ruína de outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte causa de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado" (ou então parece que será arrastado pela ruína dos outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte causa de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado" (ou então parece que será arrastado pela ruína dos outros. Mais ainda, aqueles mesmos homens, muito poucos, que, por serem dotados de imensas riquezas, pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte causa de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado" ( pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte a causa de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado" ( pareciam controlar o governo do mundo, aqueles muito poucos, além disso, que, sendo viciados em ganho excessivo, eram e são em grande parte a causa de tão grandes males; esses mesmos homens - dizemos - são frequentemente, com pouca honra, os primeiros a serem arruinados, apegando-se aos bens e à fortuna de muitos para sua própria destruição; para que possamos ver como o julgamento, falado pelo Espírito Santo concernente aos homens culpados, é agora verificado em todo o mundo: "Por quais coisas um homem peca, pelo mesmo também ele é atormentado" (Sabedoria 11, 17). 3. Lamentando este estado de coisas infeliz do nosso íntimo coração, somos compelidos, por uma certa necessidade, a expressar, segundo a nossa fraqueza, as mesmas palavras que provêm do amor do Sagrado Coração de Jesus, clamando da mesma maneira: "Eu tenho compaixão da multidão" (Marcos 8, 2). Mas, na verdade, a própria raiz da qual surge este estado mais infeliz ainda é mais lamentável; pois se esse julgamento do Espírito Santo, proclamado pelo apóstolo São Paulo, "o desejo do dinheiro é a raiz de todos os males", sempre esteve em estreita concordância com os fatos, isso é mais do que nunca verdade no momento presente. Pois não é essa avidez por bens perecíveis que foi justa e justamente ridicularizada, mesmo por um poeta pagão como a execrável fome de ouro, " auri sacra fames"."; não é aquela busca sórdida pelo próprio benefício de cada um, que é muitas vezes o único motivo pelo qual os vínculos entre indivíduos ou sociedades são instituídos; e, por último, não é essa cupidez, seja qual for o nome ou estilo A principal razão pela qual agora vemos, para nossa tristeza, que a humanidade é trazida à sua atual condição crítica? Pois é daí que surgem os primeiros sinais de uma suspeita mútua que tira a força de qualquer comércio humano; a inveja que considera os bens dos outros uma perda para si mesma, daí vem aquele amor próprio sórdido e excessivo que ordena e subordina todas as coisas a seu próprio benefício, e não apenas negligencia mas atropela a vantagem dos outros; a iníqua perturbação dos negócios e a divisão desigual de "posses, como resultado do que a riqueza das nações é amontoada nas mãos de muito poucos homens privados, que - como advertimos no ano passado, em Nossa Carta Encíclica Quadragésimo ano - controla o comércio de todo o mundo à sua vontade, causando assim um dano imenso ao povo. 4. Agora, se esse amor excessivo de si mesmo e do próprio, por um abuso do cuidado legítimo para o nosso país e uma exaltação indevida dos sentimentos de piedade para com o nosso próprio povo (que piedade não é condenada, mas santificada e fortalecida pelo direito ordem da caridade cristã) invade as relações mútuas e os laços entre os povos, dificilmente há algo tão anormal que não seja considerado livre de culpa; de modo que o mesmo ato que seria condenado pelo julgamento de todos, quando feito por particulares, é considerado honesto e digno de louvor quando é feito pelo amor do país. Deste modo, um ódio, que deve ser fatal para todos, suplanta a lei divina do amor fraterno, que vincula todas as nações e povos numa só família sob o mesmo Pai que está no céu; na administração dos assuntos públicos, as leis divinas, que são o padrão de toda a vida e cultura cívicas, são pisoteadas; os fundamentos firmes do direito e da fé, sobre os quais a commonwealth repousa, são derrubados; e, por fim, os homens corrompem e obliteram os princípios transmitidos por seus antepassados, segundo os quais a adoração a Deus e a estrita observância de Sua lei formam a mais fina flor e o pilar mais seguro do estado. Além disso - e isso pode ser chamado de o mais perigoso de todos esses males - os inimigos de toda ordem, sejam eles chamados comunistas ou por algum outro nome, exagerando as graves dificuldades da crise econômica, nesta grande perturbação da moral, com audácia extrema, direcione todos os seus esforços para um lado, procurando jogar fora todos os freios de seus pescoços, e quebrando as amarras de toda a lei, tanto humana como divina, travar uma guerra atroz contra toda religião e contra o próprio Deus; Nisto é seu propósito desarraigar totalmente todo o conhecimento e senso de religião das mentes dos homens, mesmo da idade mais tenra, pois eles sabem bem que se uma vez a lei Divina e o conhecimento fossem apagados das mentes dos homens, agora Não é nada que eles não possam se arrogar. E assim vemos agora com nossos próprios olhos - o que nós não lemos como acontecendo em qualquer lugar antes - homens ímpios, agitados por uma indescritível fúria, descaradamente gostando de uma bandeira contra Deus e contra toda a religião em todo o mundo. Até mesmo da idade mais tenra, pois eles sabem bem que, se uma vez a lei e o conhecimento divinos fossem apagados das mentes dos homens, não haveria nada que eles não pudessem se arrogar. E assim vemos agora com nossos próprios olhos - o que nós não lemos como acontecendo em qualquer lugar antes - homens ímpios, agitados por uma indescritível fúria, descaradamente gostando de uma bandeira contra Deus e contra toda a religião em todo o mundo. Até mesmo da idade mais tenra, pois eles sabem bem que, se uma vez a lei e o conhecimento divinos fossem apagados das mentes dos homens, não haveria nada que eles não pudessem se arrogar. E assim vemos agora com nossos próprios olhos - o que nós não lemos como acontecendo em qualquer lugar antes - homens ímpios, agitados por uma indescritível fúria, descaradamente gostando de uma bandeira contra Deus e contra toda a religião em todo o mundo. 5. É verdade, de fato, que homens perversos nunca estavam querendo, nem homens que negavam a existência de Deus; mas estes últimos eram muito poucos em número e, estando sozinhos e singulares, ou temiam expressar abertamente sua mente maligna, ou achavam inoportuno fazê-lo. O salmista, inspirado pelo Espírito Divino, parece sugerir isso nas palavras: "O tolo disse em seu coração: Não há Deus" (Salmos 14,1); como se ele nos mostrasse um homem tão ímpio, como um solitário em uma multidão, negando que Deus, seu Criador, existe, mas fechando esse pecado em sua mente mais interior. Mas nesta nossa época, esse erro mais pernicioso é hoje propagado em toda a multidão, insinua-se mesmo nas escolas populares e se mostra abertamente nos teatros; e para que possa se espalhar o mais longe possível, seus defensores buscam a ajuda das últimas invenções, daquelas chamadas de cenas cinematográficas, de concertos e discursos gramo fônicos e radiofônicos; e possuidores de escritórios de impressão próprios, eles imprimem livros em todas as línguas, e, tomando um rumo triunfante, publicamente exibem os monumentos e documentos de sua impiedade. Nem isso é suficiente; para dispersos entre partidos políticos, econômicos e militares, e intimamente associado a eles, por meio de seus arautos, por meio de comitês, quadros e folhetos, e todos os outros meios possíveis, eles trabalham diligentemente na má obra de espalhar suas opiniões entre todas as classes e sociedades, e nos modos públicos; e para levar isso adiante, apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas universidades, eles finalmente conseguem, por meio de uma indústria vigorosa, unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". E todos os outros meios possíveis, eles trabalham diligentemente na má obra de espalhar suas opiniões entre todas as classes e sociedades, e nos modos públicos; e para levar isso adiante, apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas universidades, eles finalmente conseguem, por meio de uma indústria vigorosa, unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". E todos os outros meios possíveis, eles trabalham diligentemente na má obra de espalhar suas opiniões entre todas as classes e sociedades, e nos modos públicos; e para levar isso adiante, apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas universidades, eles finalmente conseguem, por meio de uma indústria vigorosa, unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". Apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas universidades, eles acabam conseguindo, por meio de uma indústria vigorosa, unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". Apoiados pela autoridade e pelo trabalho de suas universidades, eles acabam conseguindo, por meio de uma indústria vigorosa, unir rapidamente aqueles que se permitiram, incautamente, agregar-se ao seu corpo. Quando consideramos todo esse trabalho cuidadoso dedicado à vantagem de uma causa ilegal, a mais triste queixa de Cristo nosso Senhor surge espontaneamente em nossa mente e em nossos lábios: "Os filhos deste mundo são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz". "(Lucas 16,8). 6. Agora, os líderes e autores dessa facção iníqua fazem tudo o que podem para transformar a atual aflição e necessidade de todas as coisas em seu próprio propósito; e eles procuram, por meio de cavernas infames, persuadir o povo de que Deus e a religião são culpados como a causa de todos esses grandes males; e que a cruz sagrada de Cristo, nosso próprio Salvador, o estandarte da pobreza e da humildade, pode ser comparada com as bandeiras do desejo moderno de dominar; como se, por acaso, a religião estivesse unida em união amistosa com aqueles ventrículos de trevas que trouxeram uma massa tão imensa de miséria sobre o mundo inteiro. E por esta linha de argumentação eles se esforçam, não sem um efeito fatal, em misturar a luta pela comida diária, o desejo de possuir uma pequena propriedade, ter um salário justo, um lar honrado e, por último, aquelas condições de vida que não são indignas de um homem, com sua guerra iníqua contra Deus. Pode-se acrescentar que esses mesmos homens, indo além de qualquer medida, tratam igualmente os legítimos apetites da natureza e suas luxúrias desenfreadas, desde que isso pareça favorecer seus planos e instituições ímpias; como se as leis eternas promulgadas por Deus estivessem em conflito com a felicidade do homem, ao passo que as criam e preservam; ou como se o poder do homem, por mais que pudesse ser aumentado pelas últimas invenções da arte, pudesse prevalecer contra a vontade mais poderosa de Deus, o Melhor e o Maior, e dar ao mundo uma nova e melhor ordem. Desde que isso pareça favorecer seus planos e instituições ímpias; como se as leis eternas promulgadas por Deus estivessem em conflito com a felicidade do homem, ao passo que as criam e preservam; ou como se o poder do homem, por mais que pudesse ser aumentado pelas últimas invenções da arte, pudesse prevalecer contra a vontade mais poderosa de Deus, o Melhor e o Maior, e dar ao mundo uma nova e melhor ordem. Desde que isso pareça favorecer seus planos e instituições ímpias; como se as leis eternas promulgadas por Deus estivessem em conflito com a felicidade do homem, ao passo que as criam e preservam; ou como se o poder do homem, por mais que pudesse ser aumentado pelas últimas invenções da arte, pudesse prevalecer contra a vontade mais poderosa de Deus, o Melhor e o Maior, e dar ao mundo uma nova e melhor ordem. 7. E agora, de fato, que é muito para ser lamentado, imensas multidões de homens, tendo perdido completamente o contato com a verdade, adotam essas ilusões, e acreditando que estão lutando pela subsistência e cultura proferem violentas invectivas contra Deus e contra a religião. Tampouco isso é dirigido contra a religião católica. Pois é contra todos aqueles que reconhecem a Deus como o Autor deste mundo visível, e como o Supremo Governante de todas as coisas. Além disso, as Sociedades Secretas, que por sua natureza estão sempre prontas a ajudar os inimigos de Deus e da Igreja - sejam elas quem puderem - estão procurando acrescentar novos fogos a esse ódio venenoso, do qual não há paz nem felicidade. a ordem civil, mas a certa ruína dos estados. 8. Neste sentido, esta nova forma de impiedade, enquanto remove todas as verificações das mais poderosas concupiscências do homem, proclama impudentemente que não haverá paz nem felicidade na terra até que o último vestígio de religião tenha sido arrancado, e os últimos de seus seguidores decapitaram - como se pensassem que o maravilhoso concerto em que todas as coisas criadas "mostram a glória de Deus" (cf. Salmos 18) poderia ser reduzido ao silêncio eterno. 9. Sabemos muito bem, Veneráveis Irmãos, que todos esses esforços serão reduzidos a nada, pois, sem dúvida, e em Seu próprio tempo determinado, "Deus se levantará e seus inimigos serão dispersos" ( Salmos 68,1); Sabemos que as portas do Inferno nunca prevalecerão (cf. Mt 18); Sabemos que o nosso Divino Redentor, como foi predito Dele "ferirá a terra com a vara de sua boca" (cf. Isaías 11,4.); e haverá uma hora terrível para aqueles homens miseráveis, quando eles caírem "nas mãos do Deus vivo" (cf. Hebreus 10, 31). 10. Nossa esperança inabalável nesta completa vitória de Deus e da Igreja recebe confirmação diária (tal é a infinita misericórdia de Deus!) Do nobre ardor de inúmeras almas que vemos virando-se para Deus, em todos os países e em todas as classes da sociedade. Certamente, um afflatus muito poderoso do Espírito Santo está correndo por todas as terras, e está movendo os corações, especialmente os corações dos jovens, a subir para os mais altos cumes da lei cristã, e elevando-os acima da observância vã dos homens, prepara-os para empreender até os atos mais árduos. Essa fonte divina, dizemos, agita as almas de todos, mesmo aquelas que não querem, enchendo-as de uma solicitude íntima, e dá o anseio por Deus mesmo àqueles que não ousam reconhecê-la. De maneira semelhante Nosso convite para leigos, chamá-los a unir-se às hostes da Ação Católica, para que possam se tornar participantes do apostolado da hierarquia, foi aceito pelas multidões de dóceis e magnânimos em todas as terras; e o número daqueles que estão lutando com todas as suas forças para defender a lei cristã e para harmonizar toda a vida da comunidade, cresce diariamente tanto nas cidades como no campo; e esses homens também se esforçam para confirmar os princípios que pregam, pelo exemplo de uma vida sem culpa. Mas quando contemplamos tanta impiedade, tanto pisotear as instituições mais sagradas, tão grande destruição de almas imortais e, por último, tão grande desprezo pela Divina Majestade, não podemos abster-nos, veneráveis Irmãos, de derramar a mais amarga tristeza pelo qual somos oprimidos, e de elevar a nossa voz com toda a força do coração apostólico, em defesa dos direitos ultrajados de Deus e dos santos desejos da alma humana em absoluta necessidade de Deus; E fazemos isso com a maior facilidade, porque essas hostes hostis, enfurecidas com espírito diabólico, não se contentam com a declamação, mas estão se esforçando com todas as suas forças para dar efeito a seus planos nefastos tão rapidamente quanto possível. Ai da raça dos homens se Deus, sendo tratado com tal desprezo pelas naturezas que Ele fez, deveria deixar um curso aberto para estas inundações de devastação, e deveria usá-los como flagelos para punir o mundo com isso! Enlouquecendo com espírito diabólico, não estão contentes com a declamação, mas estão se esforçando com todas as suas forças para dar efeito a seus planos nefastos tão rapidamente quanto possível. Ai da raça dos homens se Deus, sendo tratado com tal desprezo pelas naturezas que Ele fez, deveria deixar um curso aberto para estas inundações de devastação, e deveria usá-los como flagelos para punir o mundo com isso! Enlouquecendo com espírito diabólico, não estão contentes com a declamação, mas estão se esforçando com todas as suas forças para dar efeito a seus planos nefastos tão rapidamente quanto possível. Ai da raça dos homens se Deus, sendo tratado com tal desprezo pelas naturezas que Ele fez, deveria deixar um curso aberto para estas inundações de devastação, e deveria usá-los como flagelos para punir o mundo com isso! 11. É necessário, portanto, Veneráveis Irmãos, que devemos infalivelmente estabelecer "um muro para a casa de Israel" (Ezequiel 13,5), e que nós também devemos unir todas as nossas forças em uma única banda sólida contra essas hostis fileiras que são hostis tanto a Deus quanto à humanidade. Pois nessa luta estamos lutando pela maior questão que pode ser proposta à liberdade humana: seja para Deus ou contra Deus; aqui, novamente, é um debate em que o destino de todo o mundo está em causa; pois em todos os assuntos, na política, na economia, na moral, na disciplina, nas artes, no estado, na sociedade cívica e doméstica, no Oriente e no Ocidente, em todos os lugares nos deparamos com esse debate, e suas consequências são uma questão de momento supremo. E assim acontece que até os mestres dessa seita que tolamente dizem que o mundo nada mais é do que matéria, e se jacta de que já demonstrou com certeza que não há Deus - mesmo estes são constrangidos, repetidas vezes, 12. Portanto, exortamos a todos, tanto aos particulares como aos estados, no Senhor, que agora, quando tais questões graves forem agitadas, questões críticas relativas ao bem-estar de toda a humanidade, deixem de lado aquela consideração sórdida e egoísta vantagem, que enfraquece até mesmo as mais profundas mentes, e corta até mesmo as mais nobres empresas se elas forem um pouco além dos limites estreitos do interesse próprio. Que todos, então, se unam, se necessário, mesmo à custa de perdas sérias, para que possam salvar a si mesmos e a toda a sociedade humana. Nessa união de mentes e forças, aqueles que se gloriam no nome cristão devem certamente ocupar o primeiro lugar, lembrando os exemplos ilustres da era apostólica, quando "a multidão de crentes tinha apenas um coração e uma alma" ( Atos 4, 32), mas, além disso, todos os que sinceramente reconhecem a Deus e o honram de coração devem prestar auxílio para que a humanidade seja salva do grande perigo que está iminente sobre todos. Pois uma vez que toda autoridade humana precisa descansar no reconhecimento de Deus, como no firme fundamento de qualquer ordem civil, aqueles que não têm todas as coisas revogadas e todas as leis revogadas, devem esforçar-se vigorosamente para impedir que os inimigos da religião deem efeito a os planos que eles têm tão abertamente e tão veementemente proclamados. 13. Também não estamos cientes, veneráveis Irmãos, que nesta luta pelos nossos altares devemos também usar todos os braços humanos legítimos que estão prontos para nossas mãos. Por esta razão, na Carta Encíclica Quadragesimo anno, seguindo os passos de Nosso predecessor, Leão XIII (1810-1903) de memória ilustre, Nós lutamos tão vigorosamente por uma divisão mais igualitária de bens terrenos, indicando todas aquelas coisas pelas quais a saúde e o vigor de toda a sociedade humana podem ser restaurados de forma mais eficaz, e paz e a tranquilidade pode ser dada a seus membros trabalhadores. Pois desde que um desejo mais veemente de obter uma certa honra honrosa, mesmo nesta terra, foi implantado pelo Criador de todas as coisas nas mentes dos homens mortais, a lei Cristã sempre considerou com benevolência e ativamente fomentou todos os esforços legítimos para promover o progresso da verdadeira ciência, e conduzir os homens pelo caminho certo para uma condição mais elevada. 14. No entanto, em face deste ódio satânico da religião, que nos lembra do "mistério da iniquidade" (II Tessalonicenses 2,7) referido por São Paulo, meros meios e expedientes humanos não são suficientes, e devemos nos consideramos carentes de nosso ministério apostólico, se não indicássemos à humanidade aqueles maravilhosos mistérios da luz, que por si só contêm a força oculta para subjugar os poderes desencadeados das trevas. Quando Nosso Senhor, descendo do esplendor de Thabor, curou o menino atormentado pelo diabo, a quem os discípulos não tinham conseguido curar, à sua humilde pergunta: "Por que não pudemos expulsá-lo?" Ele fez a resposta nas palavras memoráveis: "Esse tipo não é expulso, mas pela oração e pelo jejum" (Mateus 17. 18-20). Parece-nos, Veneráveis Irmãos, que essas palavras divinas encontram uma aplicação peculiar nos males de nossos tempos, que só podem ser evitados por meio da oração e da penitência. 15. Conscientes, então, de nossa condição, de que somos essencialmente limitados e absolutamente dependentes do Ser Supremo, antes de tudo mais, vamos recorrer à oração. Sabemos pela fé quão grande é o poder da oração humilde, confiante e perseverante. A nenhum outro trabalho piedoso, alguma vez foram anexadas promessas tão amplas, tão universais, tão solenes como a oração: "Peça e lhe será dado, busque e você encontrará, bata e será aberto a você. Para cada um que pede, recebe; e o que procura, acha; e ao que bate, será aberto "( Mateus 7,7). "Amém, amém eu digo a você, se você perguntar ao Pai qualquer coisa em meu nome Ele lhe dará" (João 16, 23). 16. E que objeto poderia ser mais digno de nossa oração, e mais de acordo com a pessoa adorável daquele que é o único "mediador de Deus e dos homens, o homem Jesus Cristo" (I Tim. 2: 5), do que Suplicá-lo a preservar na terra a fé em um Deus vivo e verdadeiro? Essa oração já é parte de sua resposta; pois no próprio ato de rezar um homem se une a Deus e, por assim dizer, mantém viva na terra a ideia de Deus. O homem que reza, meramente por sua humilde postura, professa diante do mundo sua fé no Criador e Senhor de todas as coisas. Juntamente com os outros em oração, ele reconhece que não apenas o indivíduo, mas a sociedade humana como um todo tem sobre ele um supremo e absoluto Senhor. 17. Que espetáculo para o céu e a terra não é a Igreja em oração! Durante séculos, sem interrupção, da meia-noite à meia-noite, repete-se na terra a divina salmodia dos cânticos inspirados; não há hora do dia que não seja santificada por sua liturgia especial; não há etapa da vida que não tenha participado da ação de graças, do louvor, da súplica e da reparação de uso comum pelo corpo místico de Cristo, que é a Igreja. Assim, a oração de si assegura a presença de Deus entre os homens, de acordo com a promessa do divino Redentor: "Onde houver dois ou três reunidos em meu Nome, aí estou eu no meio deles" (Mateus 18,20). 18. Além disso, a oração removerá a causa fundamental das dificuldades atuais, que mencionamos acima, que é a ganância insaciável pelos bens terrenos. O homem que ora olha para cima, para os bens do céu em que medita e que deseja; todo o seu ser mergulha na contemplação da maravilhosa ordem estabelecida por Deus, que não conhece o frenesi dos sucessos terrestres nem as fúteis competições de velocidade cada vez maior; e assim automaticamente, por assim dizer, restabelecer-se-á o equilíbrio entre o trabalho e o repouso, cuja total ausência da sociedade atual é responsável por graves perigos para a vida física, econômica e moral. Se, portanto, aqueles que através da produção excessiva de bens manufaturados caíram no desemprego e na pobreza, decidiram dar o devido tempo à oração, 19. Da mesma forma, o caminho será aberto à paz que desejamos, como São Paulo observa maravilhosamente na passagem em que se une ao preceito da oração aos santos desejos de paz e salvação de todos os homens: "Desejo, portanto, Antes de tudo, que súplicas, orações, intercessões e ações de graças sejam feitas por todos os homens, pelos reis e todos os que estão em alta posição, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica em toda a piedade e castidade. à vista de Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade "(ITimóteo 2, 1-4). Que a paz seja implorada para todos os homens, mas especialmente para aqueles que, na sociedade humana, têm as graves responsabilidades do governo; pois como poderiam eles dar paz a seus povos, se eles mesmos não tivessem? E é precisamente a oração que, de acordo com o apóstolo, trará o dom da paz; oração dirigida ao Pai Celestial que é o Pai de todos os homens; oração que é a expressão comum dos sentimentos familiares, daquela grande família que se estende para além dos limites de qualquer país e continente. 20. Os homens que em todas as nações rezam ao mesmo Deus pela paz na terra não acenderão chamas de discórdia entre os povos; homens que se voltam em oração para a divina Majestade, não estabelecerão em seu próprio país uma ânsia de dominação; nem fomente esse amor desordenado de país que de sua própria nação faz seu próprio deus; homens que olham para o "Deus da paz e do amor" ( 2 Coríntios 11,11), que se voltam para Ele através da mediação de Cristo, que é "nossa paz" (Efésios 14), nunca descansarão até finalmente, aquela paz que o mundo não pode dar, desce do Doador de toda boa dádiva sobre "homens de boa vontade" ( Lucas 2,14). 21. "Paz seja para você" (João 20, 26) foi a saudação de Páscoa de Nosso Senhor aos Seus apóstolos e primeiros discípulos; e esta bem-aventurada saudação desde os primeiros tempos até que o nosso dia tenha encontrado lugar na Sagrada Liturgia da Igreja, e hoje, mais do que nunca, deve consolar e revigorar os corações humanos doloridos e oprimidos. 22. Mas para a oração também devemos nos unir à penitência, ao espírito de penitência e à prática da penitência cristã. Assim nos ensina o nosso divino Mestre, cuja primeira pregação foi justamente a penitência: "Jesus começou a pregar e a dizer: penitência" ( Matth). iv. 17). O mesmo é o ensino de toda tradição cristã, de toda a história da Igreja. Nas grandes calamidades, nas grandes tribulações do cristianismo, quando a necessidade da ajuda de Deus era mais premente, os fiéis, quer espontaneamente, quer mais frequentemente seguindo a liderança e exortações de seus santos pastores, sempre levaram em mãos as duas armas mais poderosas. da vida espiritual: oração e penitência. Por esse instinto sagrado, pelo qual inconscientemente, como se fosse o povo cristão, é guiado quando não é desviado pelos semeadores do joio, e que não é outro senão aquele "espírito de Cristo" (I Cor.. ii. 16) de que fala o apóstolo, os fiéis sempre sentiram imediatamente em tais casos a necessidade de purificar a alma do pecado com contrição de coração, com o sacramento da reconciliação e de apaziguar a justiça divina com obras externas de penitência. 23. Certamente Nós sabemos, e com vocês, Veneráveis Irmãos, Nós deploramos o fato de que em nossos dias a ideia e o nome de expiação e penitência têm com muitos perdido em grande parte o poder de despertar entusiasmo de coração e heroísmo de sacrifício. Em outros tempos eles foram capazes de inspirar tais sentimentos, pois eles apareceram aos olhos dos homens de fé como selados com uma marca divina à semelhança de Cristo e Seus santos: mas hoje em dia há alguns que deixam de lado as mortificações externas como coisas do mundo. Passado; sem mencionar o moderno expoente da liberdade, o "homem autônomo", como é chamado, que despreza a penitência como ostentando a marca da servidão. Como um fato, a noção da necessidade de penitência e expiação é perdida proporcionalmente à medida que a crença em Deus é enfraquecida, 24. Mas nós, por outro lado, Veneráveis Irmãos, em virtude de nosso ofício pastoral, devemos arvorar esses nomes e essas ideias e preservá-las em seu verdadeiro significado, em sua genuína dignidade, e ainda mais em sua prática e necessária. Aplicação à vida cristã. A isto somos instigados pela própria defesa de Deus e da religião, que sustentamos, uma vez que a penitência é, por sua natureza, um reconhecimento e um restabelecimento da ordem moral no mundo, fundada na lei eterna, ou seja, na lei. Deus vivo. Aquele que faz satisfação a Deus pelo pecado, reconhece assim a santidade dos mais altos princípios da moralidade, o seu poder interno de ligação, a necessidade de uma sanção contra a sua violação. Certamente, um dos erros mais perigosos de nossa época é a reivindicação de separar a moralidade da religião, removendo assim toda base sólida para qualquer legislação. Esse erro intelectual talvez tenha passado despercebido e parecesse menos perigoso quando confinado a poucos, e a crença em Deus ainda era patrimônio comum da humanidade, e era tacitamente presumida mesmo no caso daqueles que não mais o professavam abertamente. Mas hoje, quando o ateísmo está se espalhando pelas massas populares, as consequências práticas de tal erro tornam-se terrivelmente palpáveis, e realidades do tipo mais triste aparecem no mundo. No lugar das leis morais, que desaparecem junto com a perda da fé em Deus, impõe-se a força bruta, atropelando todo direito. A fidelidade do tempo antigo e a honestidade de conduta e intercurso mútuo exaltados tanto pelos oradores e poetas do paganismo, agora dão lugar a especulações em um só ' s assuntos próprios como os dos outros sem referência à consciência. De fato, como qualquer contrato pode ser mantido, e que valor pode ter qualquer tratado, no qual falta toda garantia de consciência? E como se pode falar em garantias de consciência, quando toda a fé em Deus e todo o temor de Deus desapareceu? Retire esta base, e com ela cai toda lei moral, e não há remédio para impedir a destruição gradual, mas inevitável dos povos, das famílias, do Estado, da própria civilização. 25. A penitência é, por assim dizer, uma arma salutar colocada nas mãos dos valentes soldados de Cristo, que desejam lutar pela defesa e restauração da ordem moral no universo. É uma arma que atinge diretamente a raiz de todo o mal, isto é, a luxúria material e os prazeres da vida. Por meio de sacrifícios voluntários, por meio de atos práticos e mesmo dolorosos de abnegação, por meio de várias obras de penitência, o cristão de coração nobre subjuga as paixões básicas que tendem a fazê-lo violar a ordem moral. Mas se o zelo pela lei divina e o amor fraterno são tão grandes nele como deveriam ser, então ele não apenas pratica a penitência por si mesmo e por seus próprios pecados, mas toma sobre si a expiação dos pecados dos outros, lo . Eu. 29). 26. Não há, por acaso, Veneráveis Irmãos, neste espírito de penitência também um doce mistério de paz? "Não há paz para os ímpios" ( Is. Iviii. 22), diz o Espírito Santo, porque eles vivem em contínua luta e conflito com a ordem estabelecida pela natureza e pelo seu Criador. Somente quando esta ordem for restaurada, quando todos os povos fielmente e espontaneamente a reconhecerem e professarem, quando as condições internas dos povos e suas relações externas com outras nações forem fundadas nesta base, então somente a paz estável será possível na terra. Mas para criar esta atmosfera de paz duradoura, nem os tratados de paz, nem os pactos mais solenes, nem reuniões internacionais ou conferências, nem mesmo os esforços mais nobres e desinteressados de qualquer estadista serão suficientes, a menos que em primeiro lugar sejam reconhecidos os sagrados direitos natural e divino. Nenhum líder na economia pública, nenhum poder de organização será capaz de trazer condições sociais para uma solução pacífica, a não ser que primeiro no campo da economia triunfem a lei moral baseada em Deus e na consciência. Este é o valor subjacente de todo valor na vida política e também na vida econômica das nações; esta é a melhor taxa de troca.Se for mantido firme, todo o resto será estável, sendo garantido pela imutável e eterna lei de Deus. 27. E mesmo para os homens individualmente, a penitência é o fundamento e portador da verdadeira paz, separando-os dos bens terrenos e perecíveis, elevando-os a bens que são eternos, dando-lhes, mesmo em meio a privações e adversidades, uma paz que mundo com toda a sua riqueza e prazeres não pode dar. Uma das músicas mais agradáveis e alegres já ouvidas neste vale é, sem dúvida, o famoso "Cântico do Sol" de São Francisco. Ora, o homem que a compôs, que a escreveu e a cantou, foi um dos maiores penitentes, o Pobre de Assis, que não possuía absolutamente nada na terra e carregava em seu corpo emaciado os dolorosos Estigmas de Seu Senhor Crucificado. 28. Oração, então, e penitência são as duas potentes inspirações enviadas a nós neste momento por Deus, para que possamos levar de volta a Ele a humanidade que se desviou e vagueia sem um guia: elas são as inspirações que dissiparão e remediarão a primeira e principal causa de toda forma de perturbação e rebelião, a revolta do homem contra Deus. Mas os próprios povos são chamados a decidir-se por uma escolha definida: ou se confiam a essas benevolentes e benéficas inspirações e se convertem, humildes e arrependidos, ao Senhor e ao Pai das misericórdias, ou entregam-se a si mesmos e o pouco que resta de felicidade na terra à mercê do inimigo de Deus, ao espírito de vingança e destruição. 29. Nada resta para nós, portanto, mas para convidar este pobre mundo que derramou tanto sangue, cavou tantos túmulos, destruiu tantas obras, privou tantos homens de pão e trabalho, nada mais resta para nós, Dizemos, mas para convidá-lo nas palavras amorosas da Sagrada Liturgia: "Convertei ao Senhor teu Deus". 30. Que ocasião mais adequada podemos indicar, Veneráveis Irmãos, para tal união de oração e reparação, do que a próxima festa do Sagrado Coração de Jesus? O espírito próprio desta solenidade, como amplamente mostramos há quatro anos em Nossa Encíclica Miserentissimus , é o espírito de reparação amorosa e, portanto, era nossa vontade que naquele dia todos os anos, em perpetuidade, houvesse em todas as igrejas o mundo um ato público de reparação por todas as ofensas que feriram aquele Coração divino. 31. Portanto, este ano, a festa do Sagrado Coração seja, para toda a Igreja, uma santa rivalidade de reparação e súplica. Que os fiéis apressem em grande número ao conselho eucarístico, apressem-se ao pé do altar para adorar o Redentor do mundo, sob os véus do Sacramento, que vocês, Veneráveis Irmãos, terão solenemente exposto naquele dia em todas as igrejas, derramam para aquele Coração Misericordioso que conhece todas as aflições do coração humano, a plenitude de sua tristeza, a firmeza de sua fé, a confiança de sua esperança, o ardor de sua caridade. Que rezem a Ele, interpondo igualmente o poderoso patrocínio da Bem-aventurada Virgem Maria, Mediadora de todas as graças, para si e para suas famílias, para seu país, para a Igreja; que eles orem a Ele pelo Vigário de Cristo na terra e por todos os outros Pastores, que compartilham com ele o terrível fardo do governo espiritual das almas; orem por seus irmãos que creem, por seus irmãos que erram, pelos incrédulos, pelos infiéis, mesmo pelos inimigos de Deus e da Igreja, para que possam se converter, e orem por toda a pobre humanidade. 32. Que este espírito de oração e reparação seja mantido com grande seriedade e intensidade por todos os fiéis durante toda a oitava, a qual dignidade nos agradou levantar esta festa; e durante esta oitava, da maneira que cada um de vocês, Veneráveis Irmãos, de acordo com as circunstâncias locais, achar oportuno prescrever ou aconselhar, haja orações públicas e outros devotos exercícios de piedade, pelas intenções que brevemente mencionamos acima. "para que obtenhamos misericórdia e encontremos graça em auxílio temporário". ( Hebr . Iv. 16.) 33. Que isso seja, de fato, para todo o povo cristão, uma oitava de reparação e de santa austeridade; sejam dias de mortificação e de oração. Que os fiéis se abstenham, pelo menos, de entretenimentos e divertimentos, por mais lícitos que sejam; Que aqueles que estão em circunstâncias mais fáceis, deduzam também algo voluntariamente, no espírito de renúncia cristã, a partir da medida moderada de seu modo usual de vida, concedendo aos pobres o produto dessa contenção, já que a esmola é também um excelente meio de satisfazer a justiça divina. e abatendo as misericórdias divinas. E que os pobres, e todos os que neste momento enfrentam a dura prova do desemprego e da escassez de alimentos, os deixem em semelhante espírito de penitência, ofereçam com maior resignação as privações que lhes são impostas por estes tempos difíceis e pelo estado da sociedade. , que a Divina Providência, em seu plano inescrutável, mas sempre amoroso, lhes atribuiu. Aceitem, com um coração humilde e confiante da mão de Deus, os efeitos da pobreza, tornados mais difíceis pela aflição em que a humanidade está agora lutando; levantem-se mais generosamente até a sublimidade divina da cruz de Cristo, refletindo sobre o fato de que, se o trabalho está entre os maiores valores da vida, foi, no entanto, o amor de um Deus sofredor que salvou o mundo; consolem-se na certeza de que seus sacrifícios e suas provações, carregados em um espírito cristão, concorrerão eficazmente para apressar a hora da misericórdia e da paz. tornado mais difícil pela aflição em que a humanidade está lutando agora; levantem-se mais generosamente até a sublimidade divina da cruz de Cristo, refletindo sobre o fato de que, se o trabalho está entre os maiores valores da vida, foi, no entanto, o amor de um Deus sofredor que salvou o mundo; consolem-se na certeza de que seus sacrifícios e suas provações, carregados em um espírito cristão, concorrerão eficazmente para apressar a hora da misericórdia e da paz, tornado mais difícil pela aflição em que a humanidade está lutando agora; levantem-se mais generosamente até a sublimidade divina da cruz de Cristo, refletindo sobre o fato de que, se o trabalho está entre os maiores valores da vida, foi, no entanto, o amor de um Deus sofredor que salvou o mundo; consolem-se na certeza de que seus sacrifícios e suas provações, carregados em um espírito cristão, concorrerão eficazmente para apressar a hora da misericórdia e da paz. 34. O divino Coração de Jesus não pode senão ser movido pelas orações e sacrifícios de Sua Igreja, e Ele finalmente dirá a Sua Esposa, chorando a Seus pés sob o peso de tantas aflições e tristezas: "Grande é a tua fé; te fez como tu queres. (Mat . Xv. 28). 35. Com esta confiança, fortalecida pela memória da Cruz, símbolo sagrado e precioso instrumento da nossa santa redenção, a gloriosa invenção de que hoje celebramos a vós, veneráveis irmãos, ao vosso clero e povo, a todo o mundo católico Damos com amor paterno a bênção apostólica. Dado em Roma, junto de São Pedro, na festa da Invenção da Santa Cruz, no terceiro dia de maio do ano de 1932, o décimo primeiro do nosso pontificado. www.w2.vatican.na. Abraço. Davi