A Palavra Secreta
Ryotan Tokuda (1938 - )
Budismo. www.sotozencuritiba.org.br. A PALAVRA SECRETA.
Mestre Daisetz Suzuki (1870-1966) foi quem apresentou o Zen ao Ocidente, no
livro Mística Cristã e Budismo. Nesse livro, mestre Suzuki fala muito em mestre
Eckart (1260-1328). Assim, quando se fala em mestre Eckart, todos lembram do
Zen-Budismo. Quando orientais tomaram contato com a obra do mestre Eckart
sentiram-se como que lendo textos budistas. Sua linguagem, apesar de falar em
Deus, expressa o Budismo, especialmente o Zen. (Monge Tokuda - 25 de outubro de
1989). Hoje vou falar sobre a "palavra secreta". Esta expressão
"palavra secreta" é o título de um capítulo do livro de mestre Dogen,
o Shobogenzo. Mestre Eckart diz: Eu vou em primeiro lugar falar das
palavras da sabedoria eterna. Quem quer que me ouça não fique envergonhado.
Quem quiser ouvir a sabedoria eterna do Pai deve estar dentro e em casa; deve
ter se tornado uno. Então ele pode ouvir a sabedoria eterna do Pai. Existem
três coisas que nos impedem de ouvir a palavra eterna: a primeira é a
corporalidade, a segunda é a multiplicidade e a terceira é a temporariedade. Se
o homem conseguisse transcender estas três coisas, ele moraria na eternidade.
Ele moraria no mundo do espírito, ele moraria na unidade e no deserto, e ali
ele ouviria a palavra eterna. Agora, Nosso Senhor diz "não há quem ouça a
minha palavra ou o meu ensinamento a menos que tenha abandonado a si mesmo,
pois para ouvir palavra de Deus é preciso um absoluto perder do ego".
Portanto, Nosso Senhor diz "Quem quiser ser meu discípulo, que abandone
seu próprio ego. Não existe quem possa ouvir as minhas palavras ou o meu
ensinamento a menos que tenha abandonado o ego. Todas as coisas nada são em si
mesmas, por isso, abandonem este nada e assumam o perfeito ser no qual a
vontade é justa. Aquele que abandonou toda a sua vontade, saboreia o
ensinamento e ouve as minhas palavras. "Vivendo neste mundo, isso não é
tão fácil. Os budistas usam a expressão "mundo saha", e
"saha" significa terra de paciência, ainda que não totalmente
infeliz. Um pouco infeliz, mas também onde se vivencia alguma felicidade. Não
há só sofrimento, mas também felicidade - um pouco de cada. Eu sempre brinco,
em primeiro lugar é importante ter paciência, em segundo lugar paciência e em
terceiro também paciência; em quarto lugar, ah, em quarto nada, e em quinto,
sim, novamente paciência (risos...). Neste mundo a gente precisa de muita
paciência. Muitas pessoas sofrendo suas dores vão visitar as igrejas e rezam
para Deus. Você, rezando, pedindo, alguma vez escutou a voz de Deus? Talvez
sim, ou, tendo ouvido algumas respostas, pense que sim. Muitas pessoas
perguntam o que é realmente a palavra de Deus. Alguns respondem: é silêncio.
Mas mestre Eckart diz que não, este é um método ainda, não é exatamente a
palavra de Deus. Muitos amam a Deus como se ama uma vaca, esperando leite e
queijo. Então rezam a Deus esperando uma coisa em troca. Este não é,
entretanto, o verdadeiro amor a Deus. As pessoas têm medo de Deus, agradecem a
Deus ou recebem muita coisa de Deus, mas as vezes têm dúvidas. Deus é isto?
Deus existe? Onde está? A finalidade tanto cristã como budista é encontrar
Deus, encontrá-lo intimamente. Isto é muito importante. Por isso, praticar
através de livros sagrados é muito importante, mas é necessário praticar também
através da contemplação, mas contemplar realmente. Rezar interiormente; isto já
é meditação, concentração, e então nós podemos encontrar com Deus. Nesse
momento podemos escutar a voz de Deus, a palavra de Deus. Na teologia cristã, a
palavra de Cristo é a palavra de Deus, ele veio a este mundo para revelar o que
é Deus. Aqui temos também a palavra de mestre Dogen e de mestre Eckart. Mestre
Eckart diz: Há uma afirmação comum a todos sábios: "quando tudo estava em
meio ao silêncio, desceu a mim uma palavra secreta, desde o trono real do
alto." A alma onde isto acontece deve ser mantida completamente pura e
viver de maneira nobre completamente em posse de si mesma e voltada
inteiramente para dentro. Em primeiro lugar vamos tomar as palavras "em
meio ao silêncio foi falada uma palavra secreta". Mas, meu caro Senhor,
onde está o silêncio e onde está o lugar onde a palavra é falada ? Corno acabei
de dizer, está no lugar mais puro onde a alma é capaz de chegar, na parte mais
nobre, no chão de fato, na essência mesma da alma, que é justamente a parte
mais secreta da alma. Ali é que está o silencioso meio, pois nenhuma criatura,
nenhuma imagem jamais entrou ali. Nem a própria alma teve desse lugar qualquer
compreensão, portanto, ela não está consciente ali de nenhuma imagem, quer seja
de si mesma ou de qualquer outra criatura. Mestre Eckart fala que para escutar
a voz ou a palavra de Deus existem três tipos de obstáculos, primeiro a
corporalidade, depois a multiplicidade e a temporariedade. É necessário
transcender esses três obstáculos. A grande dificuldade é que neste mundo é
exatamente com esses três aspectos que existimos. Com a corporalidade nascemos,
recebemos este corpo até morrer. Com isto você existe, com isto eu estou aqui,
você está aí. Já o tempo instala-se quando nascemos, e depois nos conduz à
morte. Assim, para viver eternamente você não pode nascer. Quando nasce há
morte. Por isso o Zen usa a expressão "não-nascido". Antes de nascer,
qual era sua face original? Antes de seus pais nascerem, qual era sua face
original? Como é sua face original? A busca do Zen é isto: o chão, a origem de
onde você veio. Corporalidade, temporariedade e multiplicidade, ou seja,
dualidade. Eu sofri tanto com isso! Estou aqui e você está aí. Então há o
conflito. Todas as coisas apresentam isso. Bem e mal, rico e pobre, velho e
moço, etc (...). Neste mundo tudo, tudo apresenta-se assim. Como podemos
transcender isso? Mestre Eckart diz: "quando tudo estava em meio ao silêncio,
então desceu a mim a palavra secreta." Este silêncio é nirvana. A gente
encontra o silêncio em todas as linhas de religião e filosofia. Fase silêncio é
uma preparação para se ter esta experiência que é original, a experiência
religiosa, mística. Existem dois tipos de religiões, as religiões místicas - de
busca e contato direto - e as outras, as religiões de profetas, com muitas
regras, etc, que todos devem seguir. O Zen é talvez mais ligado à experiência
mesmo de união com Deus. Neste caso é necessário o silêncio; meditação é
silêncio, e com isto ocorre a experiência mística. Quando há internamente
aquele silêncio, aquela tranquilidade, aquela calma, nesse momento você vai
ouvir a voz de Deus. Este estado, nirvana, mestre Eckart compara com o deserto,
com o deserto cheio de areias. Hoje em dia vemos os documentários da televisão
sobre o deserto e vemos que é cheio de vida, de insetos e plantas pequeninas.
Mas deserto, deserto mesmo, não tem nenhuma vida, é morto. Esta é a experiência
de morte religiosa. Não falando fisicamente, mas espiritualmente morte
religiosa é uma experiência muito forte, muito importante, só assim é possível
o verdadeiro renascimento. Nesta vida é necessário aprender a esquecer,
desligar, perder até; isso é doloroso, mas depois ganha-se a verdadeira vida. É
como na corrida de maratona: quando chega-se em certo ponto, surge a crise,
parece impossível prosseguir, há dificuldade de respiração, dores, cansaço, o
cor arece não poder ir além, isto é chamado de "dead point",
ponto-da-morte seria o significado. Quando, no entanto, ultrapassa-se esse
ponto, tudo fica leve e fácil e pode-se correr até o final. Mesmo os jogadores
de tênis, nadadores ou jogadores de futebol passam por treinamento,
dificuldades e superações. O zazen também apresenta dores, dificuldades. Os
joelhos doem com as pernas cruzadas, as costas doem, mas é preciso viver esta
experiência. Mestre Dogen nasceu exatamente no ano de 1200 e morreu com 53-54
anos, relativamente moço. Já mestre Eckart nasceu em 1263. Um morreu, o outro
nasceu. Apesar de viverem em países diferentes, ambos falam da mesma
experiência. Mestre Dogen começou a escrever livros em língua japonesa numa
época em que os monges escreviam sempre em chinês. Hoje em dia os pesquisadores
de literatura japonesa clássica estudam o Shobogenzo como
literatura, não apenas como o livro sagrado do Zen. Com mestre Eckart ocorreu
algo semelhante. Hoje os estudiosos da língua germânica debruçam-se sobre a
obra de mestre Eckart porque ele dava seus sermões e aulas na língua da época e
não no latim que era a língua oficial. Ele tem estudos feitos em latim também,
mas costumava usar a língua germânica para seus sermões e obras e seus contatos
com discípulos, freiras e leigos. O que ele diz é o seguinte: "É difícil
falar alguma coisa sobre Deus; tudo o que pode ser dito sobre Deus são enganos.
Quando não se fala sobre Ele, é verdade." Mas, de outro lado, mestre
Eckart também diz, "eu gosto de falar de Deus". Não se pode falar,
mas ele quer e gosta de falar. Aí há um conflito de energias - é por viver
certo tipo de experiência que ele não pode ficar calado. Mesmo que não exista
ninguém aqui, eu quero falar com esta mesa. Quero falar. Há este impulso, mas o
que se pode falar sobre Deus? O que não se pode falar? Isto o Zen-Budismo, de
certo modo, desenvolveu: a clareza do aspecto limitado da linguagem e das
palavras. Esse capítulo do Shobogenzo sobre a palavra secreta
fala sobre isto. Em outro capítulo, de título curioso, "0 sermão dos seres
insensíveis", também mestre Dogen (1200-1253) fala sobre isto. Buda ganhou
a iluminação - Budakaia. Surgiu-lhe então aquela dúvida: "Eu
consegui isto, este Darma, mas quem poderia compreendê-lo? Este
Darma é muito diferente das coisas do mundo. Totalmente diferente, muito
difícil de entender." Ele então procurou dois de seus primeiros
professores, mas estes já haviam morrido. Aí lembrou-se de seus cinco últimos
companheiros. Quando Buda tornou-se monge, o rei, seu pai, mandou cinco
companheiros treinar com ele. Depois de seis anos de treinamento como asceta,
Gotama abandonou o treinamento porque compreendeu que esse não era o verdadeiro
caminho. Abandonou o ascetismo, e, por conta própria, começou a prática de
zazen sob a árvore Bodhi, atingindo assim a iluminação e libertação completas.
Hoje em dia, abrindo o mapa, de Budagaia a Sarnath -
onde houve o primeiro sermão para os cinco monges - há muita distância mesmo
para quem for de carro, muito mais se considerarmos que Buda foi a pé. Quando
estava chegando em Sarnath, um dos seus ex-discípulos disse:
"Lá vem Gotama. Ele abandonou a prática ascética, mas se quiser voltar
para nós não há problema, a gente deixa, mas já não precisamos respeitá-lo como
antigamente pois ele abandonou a prática." Mas enquanto Buda aproximava-se
mais e mais, mesmo nada tendo feito, os cinco monges levantaram-se, um preparou
água para lavar seus pés, o outro preparou um lugar para ele sentar, o outro
logo trouxe alguma comida ou chá, e assim todos os cinco, mesmo sem notar,
estavam preparando e dando as boas-vindas ao Buda. Por que isso? É algo fora do
comum. Isso é reconhecido como o sermão da luz radiante. Antes que ele
começasse a falar, já havia a luz radiante. Esse foi o primeiro sermão. Com
isso as pessoas já estavam preparadas inconscientemente, levantando-se e dando as
boas-vindas. Assim, percebendo inconscientemente a luz radiante, eles estavam
já preparados para o que Buda iria dizer. Esse sermão da luz radiante mostra
que o sermão não é apenas o que sai pela boca. E eles começaram falando,
"você, Gotama", e Sakiamuni disse: "Não, de agora em diante
vocês não devem mais chamar-me de bo (você), mas de Buda ou Tatagata".
"Tatagata" significa "aquele que vem e que vai".
Como é o nome de Deus? Deus é Deus, não tem nome. Da mesma forma Buda, não
sendo uma pessoa, responde, "eu sou Tatagata". E a seguir o Tatagata
começou a falar as quatro nobres verdades. Imediatamente um dos discípulos
entendeu; no segundo dia dois ou três compreenderam e finalmente todos os cinco
entenderam, ganharam a iluminação, tornaram-se Arhats. Então Buda prosseguiu
sua vida de sermões e ensinamentos. É preciso lembrar, no entanto, que antes do
sermão com as palavras, já ocorrera o sermão da luz radiante. Para nós, monges
Zen, o importante não é a boca que fala. As pessoas falam, falam, falam e não fazem
o que falaram. O importante é observar o "sermão do corpo físico", o
"sermão da atitude", o "sermão da atividade do corpo
físico". Com atitude não se pode mentir, já a palavra, às vezes para
impressionar, mistura mentiras. Às vezes eu falo o que não faço com a própria
experiência. Isso é mentira. A boca pode mentir, mas com as "costas"
não se pode mentir. O que as costas falam não contém mentiras. As crianças têm
problemas, o pai e a mãe chegam e dizem, "meus filhos têm problemas".
Mas os filhos fazem exatamente o que pai e mãe fazem! Não adianta dizer,
"você não pode fazer isto, meu filho", o pai e a mãe estão praticando
aquilo também, e os filhos apenas imitam exatamente o que vêm. O pai fala, mas
nas suas costas, inconscientemente, a mensagem é diferente e o filho está vendo
isso. Chegando ao mosteiro, o noviço pensa que vai ouvir grandes sermões,
grandes aulas, mas nada disso acontece. O mosteiro mantém silêncio e até os
mestres mantêm a prática de agricultura, com enxada e foice. Vendo aquela maneira
de limpar o jardim, sente-se que é diferente; mesmo na limpeza com vassoura
nota-se a diferença. O mesmo se dá com qualquer tipo de atividade e é a
característica das artes marciais. Quando se vê alguém praticando o katá,
há quantos anos a pessoa repete o mesmo katá, o mesmo golpe? No
primeiro ano está praticando o katá, depois, no segundo ano, no
terceiro; no quinto ano já há algo diferente. Com a prática de zazen se dá o
mesmo. Eu gosto de usar esta imagem: no início, quando uma pessoa começa o
hábito de tomar cachaça, a pessoa e a cachaça são duas coisas separadas. Depois
há um segundo estado, a cachaça toma cachaça. Você toma cachaça, fica um pouco
bêbado e o coração fica grande. No início você diz, "quero apenas um
pouquinho, bem pouquinho, é só, obrigado", depois você diz, "é
gostoso, traga outra garrafa"(...). Aí a cachaça, ela mesmo já está
chamando mais cachaça. No início ele bebia a cachaça, agora, neste momento, a
cachaça passa a bebê-lo... (risos). Assim, é o processo de treinamento. No
início é necessário esforço, fazendo zazen, acordando cedo, aguentando dores,
etc. Você está fazendo zazen, fica contente, mostra orgulho, etc (...) - a
dualidade ainda está presente. Depois, com a continuidade da prática de zazen,
da mesma forma que a cachaça chama a cachaça, o zazen chama o zazen. Não sei
bem por que, mas fica o costume de sentar constantemente em zazen. Ás vezes eu
não tenho vontade, estou cansado, com preguiça, mas onde eu vou - é meu karma -
existem grupos de zazen esperando para a prática de zazen. Então digo,
"vamos sentar". Não posso dizer, "ah, estou cansado, a viagem
foi muito cansativa, preciso dormir mais, etc (...)", devo estar de
acordo, sentar junto. Algumas vezes durante o zazen chego a dormir (risos), mas
acompanho o zazen. Neste caso eu sou fraco, e o Darma é forte. Olhando de outro
lado, isto é bom. Quanto mais fraco você for, melhor. Sendo forte, há o ego,
você diz, "eu sou forte, pratico o zazen" (...) o ego está presente.
Bem, mas estava falando sobre a palavra secreta (...). No Shobogenzo se
conta, "(...) uma vez o mestre Ungan Donjo recebeu um ministro".
Naquela época acontecia isto, ministros, escritores, artistas praticavam zazen.
Como aconteceu também nos Estados Unidos, com muitos hippies, poetas e cantores
que praticavam meditação, na época do movimento contra a guerra do Vietnam
(1955-1975). Então, na história, um ministro chegou ao mosteiro e perguntou ao
mestre: "Falam que Buda Gotama transmitiu a palavra secreta a Makakasho,
que a compreendeu e não a escondeu; o que significa isto, a palavra secreta de
Buda?" Então o mestre Ungan Donjo dirigiu-se ao ministro dizendo,
"ministro!" E este respondeu, "sim!" O mestre completou:
"É só isto, entendeu? Se você entendeu, entendeu, e então Makakasho não
escondeu. Se você não entendeu, pode então compreender por que esta é chamada
de a palavra secreta de Buda." Vocês entenderam? (risos ...) Isto é
um koan. Este é um típico koan Zen - fica-se
tonto. É preciso voltar atrás e lembrar um pouco a história toda dessa
transmissão contínua do Darma. O importante, o essencial na vida do Zen é a
transmissão do Darma, este ensinamento que vem de Buda diretamente, e após, de
mestre a discípulo através dos budas e patriarcas. O primeiro foi o Buda
Gotama, que transmitiu para seu discípulo Makakasho. Desde o momento em que
Buda ganhou a iluminação, com 35 anos, até finalizar sua vida, com 80 anos de
idade, não se fixou em nenhum lugar, sempre andando, andando, pregando o
ensinamento durante 45 anos em mais de 360 lugares diferentes. Na última parte
de sua vida, ficando velho, uma vez uma pessoa ofereceu- lhe uma flor e pediu,
"por favor, dê um sermão com esta flor". Essa flor chamada "udombara"
abre uma vez a cada cem anos ou uma vez a cada mil anos, ou seja, é algo muito
raro. "Por favor, dê-nos um sermão sobre esta flor", pediu a pessoa.
Buda aceitou a flor e todos ficaram esperando o que haveria ele de dizer. Nesse
momento Buda não falou nada, apenas mostrou a flor diante da congregação dos
monges. Mas aconteceu que entre os monges estava Makakasho, um dos primeiros de
seus discípulos e posteriormente seu sucessor, que então, em meio à assembleia,
abriu um grande sorriso. Geralmente Makakasho fazia um treinamento muito duro.
Ele tinha nascido em uma família da elevada casta dos brâmanes, e mantinha o
treinamento de simplicidade de vida, tanto em roupa como em comida e moradia.
Não buscava luxo, nem comida de monges, apenas aceitava o que ganhava. Assim
era o seu esforço: treinamento duro, cara fechada. No entanto, ele abriu o
sorriso! Vendo isso, vendo o sorriso de Makakasho, Buda disse: "Eu tenho
o Shobogenzo, o tesouro que é o Olho do Darma Correto, e transmiti
tudo a Makakasho". Assim foi transmitido a Makakasho o ensinamento
essencial de Buda; todos viram, mas nada entenderam do que havia efetivamente
se passado. Então Buda passou, como símbolo de transmissão, o kesa, ou seja, o
seu manto dourado, e uma tigela que ele usava sempre. Além de Makakasho ter
recebido a tigela e o manto, recebeu uma coisa especial, a palavra secreta! Já
Mestre Eckart diz: "0 que eu ouvi do Pai, não escondi de vocês." É
isto. Mestre Eckart viveu aquela experiência original, escutou a palavra de
Deus e por isso dispôs-se a falar sobre essa palavra. Mas para falar essa
palavra ele tem que tê-la ouvido e tem que ter a força para que a pessoa possa
também ouvi-la. Os que quiserem ouvir devem estar preparados. Precisam de
silêncio, precisam estar afastados da prática do ego, só nesse momento você
pode escutar. O koan do mestre Ungan Donjo ao ministro se dá
no contexto desta experiência de transmissão. Assim, além da transmissão via
tigela e manto, houve algo muito especial transmitido, como entre pai e filho,
somente como entre pai e filho. Outra pessoa, mesmo vendo, não compreende. Mas
Mestre Eckart diz, "do que ouvi nada escondi para vocês". E assim, na
verdade, para escutar essa palavra você tem que se retirar. Nesse momento,
então, o que acontece? Unidade! Unidade é intimidade. Buda torna-se
"um" com o discípulo. O pai treina o filho, é isto, e assim o filho
torna-se o pai também. Trindade é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, mas mestre
Eckart diz "Gotheit", origem de Deus. Antes de termos as três coisas
se aradas temos uma unidade onde retornamos. Então o Pai tornou-se Filho. Há
uma outra história que mestre Eckart conta. Havia um casal, marido e mulher, e
por acidente ou doença ela perdeu a visão. Ficou muito triste, mas o marido a
tratava com muito carinho, e a consolava. A esposa falou, "estou triste
não porque perdi a visão, mas porque por isso vou perder o seu amor". Mas
o marido disse, "você não precisa preocupar-se, eu gosto de você, eu a
amo", e, tomando uma agulha, furou seus olhos e disse "bem, agora
estou cego igual a você". Da mesma forma, Deus está lá, absoluto, eterno,
paz infinita, mas escolhe fazer-se carne e vir ao mundo, e, perdendo a visão,
fica igual a nós. Jesus Cristo é Pai, Filho e Espírito Santo. Jesus Cristo é
Pai também. É assim que mestre Eckart expressa como nasceu o único Filho de
Deus. O Cristianismo tem certas dificuldades quanto a este aspecto; pode gente
tornar-se Deus? Não. Já no Budismo não há isto. Buda significa
"desperto". Todos temos a natureza de Buda e então temos a
possibilidade de tornarmo-nos Buda também. Pode o Cristianismo dizer que as
criaturas venham a tornar-se Deus? Parece difícil. Mas para Eckart, sim! Quando
escutar a palavra de Deus, a palavra secreta, oculta, eterna, interna, você se
torna o único Filho de Deus. Tornar-se Filho significa adquirir a capacidade de
ser Pai. Neste mundo, todos querem viver eternamente, mesmo sabendo que devem
morrer. Então como fazem? Casando (...), virão os filhos. Como os filhos até
certo ponto têm a mesma qualidade dos pais, ao crescer vão casar e por sua vez
terão filhos. Dessa forma algo transmite eternamente. O desejo sexual não é só
prazer não, é a necessidade imensa de viver eternamente. Com a religião é
diferente, é entrar naquela dimensão absoluta onde não há mais nascimento e
morte, é o estado eterno, absoluto. Isto é nirvana, e vivendo-se este estado de
nirvana não há mais vida e morte. Religião é isso, e dessa maneira vive-se
eternamente. O Pai tornou-se Filho, mas isso não significa que é algo ocorrido
entre criaturas. Quando falamos "criatura", há imediatamente duas
individualidades "criador" e "criatura", e há ainda o
tempo. Quando falamos no tempo, surgem todos os defeitos deste mundo. O que
nasce, já está condenado a morrer. Somos mortais. Viver eternamente significa
transcender. Quando mestre Eckart usa esta palavra "nascimento", para
ele isto significa que Deus nasceu neste mundo sem perder a qualidade de ser
Deus que foi capaz de viver a simultaneidade original, transcendental, e a
simultaneidade histórica. Jesus Cristo viveu neste mundo por trinta e três
anos. Nasceu em Nazaré e morreu. Mas nasceu, viveu e morreu durante esse tempo
em uma simultaneidade, ou seja, naquele lugar fundo no chão onde há o absoluto
e eterno. Mostrou para nós o corpo físico, sofreu igualmente na cruz, mas
alguma coisa mostrou-se transcendente. Dizer que o único filho de Deus nasce
dentro da alma limitada significa a possibilidade de nos tornarmos o único
filho de Deus. Tornar-se Deus, ou seja, viver neste mundo desde a eternidade.
Isto chama-se "satori" ou "iluminação" no Budismo.
Isto tem que ocorrer nesta vida. Muitos perguntam, "existe a reencarnação
ou não?", ou, "você acredita na reencarnação?". A resposta é
"sim e não". De uma certa maneira sim, mas quando há a experiência de
nirvana, de silêncio, a experiência do deserto, instala-se a dimensão do eterno
e absoluto, então não há mais reencarnação. Jesus Cristo ou esse marido que
furou os olhos escolheram este mundo, voltaram para cá, descendo. Em lugar de
dizer, "venham até aqui em cima", o que seria difícil para as
pessoas, Deus disse, "eu vou", é muito fácil. Deus faz isto quando
você está preparado para tal. O que é necessário para a preparação? Apenas que
você entre no silêncio, que abandone a si próprio. É necessário abandonar o
ego. Abandonar corpo e mente é a experiência fundamental de mestre Dogen.
Mestre Eckart também fala, "é preciso abandonar". Abandonar é difícil
por quê? Porque há compreensão errada, distorcida. E com isto se sofre. Mestre
Eckart diz que abandonar a si próprio não ê sofrimento, é o caminho mais rápido
para encontrar com Deus, e então a palavra secreta revela-se. Na verdade, a
realidade última deste mundo não está nada escondida. Por isso se diz aqui que
Makakasho não escondeu nada. Essa verdade está presente dentro de nós. O
paraíso não se dá após a morte, está aqui. Vocês não vêm porque sua visão está
contaminada com a ideia de ego, vocês praticam a consciência kármica. É preciso
sair disto, arrancando este "olho-de-ego" e colocando o
"olho-de-Buda". Os budistas falam que existem cinco tipos de olhos:
olho físico, olho de Darma, olho de sabedoria, olho de Buda e olho de ser. Temos
apenas um olho, o físico, e este está contaminado. O que está vendo, será que
está vendo verdadeiramente? Está vendo apenas a projeção de sua mente, de sua
consciência e de seu inconsciente também. Você vê o que quer. Você não vê o que
existe e vê o que não existe, e assim, segue projetando suas consciências. Isso
é o que chamamos de karma. Você não consegue ver de nenhuma outra maneira, isto
é, o karma. Praticando o silêncio, pratica-se a purificação. O silêncio é
escuridão, noite. Como o místico espanhol São João da Cruz, na subida do monte
Carmelo, fala na noite da consciência, na noite das ideias, na noite da
vontade, na noite das lembranças, na noite do espírito, noite da alma, etc., e
com isto, subindo montanhas em processo de meditação, passa pelo processo de
purificação e chega ao topo da montanha. Na verdade, o topo da montanha está
aí, embaixo dos seus pés. Nunca esteve escondido. Nosso problema não é que Deus
tenha escondido algo, você é que tem a culpa por sua consciência contaminada
que dá nascimento e suporte ao ego. Quando se vivencia a consciência de ego,
sente-se, "eu estou aqui e você está ai. Surge imediatamente a dualidade a
multiplicidade e a corporalidade. E a questão do físico. Estou tomando este
espaço com este corpo, este espaço você não pode tomar, de jeito nenhum. Isso é
bom, mas ao mesmo tempo é um limite. Então chega o momento de transcender a
corporalidade, a temporariedade e a multiplicidade. Nesse momento ocorrem o
deserto, a morte, a unidade - o uno. O rei Salomão encontrou aquela lendária
flor, o lírio. Ele tinha enormes riquezas, mas foi justamente dentro de uma
flor que encontrou mais riquezas do que todas as suas riquezas reunidas. Por
quê? Deus estava ali presente. Deus é um, além dele nada há. Se você entende
isto, mesmo dentro de um mosquito você encontrará Deus, e este mosquito, o
pernilongo, se tornará, então, mais sublime do que quaisquer dos anjos mais
elevados. Nada está escondido, apenas não vemos. Conta-se que um monge estava
passando pela frente de um açougue e escutou o diálogo do freguês com o
açougueiro. O freguês perguntou, nesta carne é fresca? O açougueiro respondeu,
"na minha loja nada há que não seja fresco, de boa qualidade". Quando
o monge escutou, "na minha loja é tudo bom, toda a carne é boa",
nesse instante atingiu a iluminação. Neste mundo é tudo bom. Nada tem defeito.
Por que então tantas dificuldades, tantos problemas entre nós? Porque a mente
cria problemas, oculta a verdade. Cria o bem, o bom, o mau. Na verdade, não
existe o bem e o mal, isto é apenas uma dualidade, uma discriminação. É preciso
penetrar a não-discriminação. Tudo está em seu lugar no mundo do Darma, do
absoluto. Nada falta. Nós, no entanto, fazemos a discriminação, "isso é
bom, isso é ruim" Cada um constrói seu próprio sofrimento ao fazer essa
discriminação. Você mesmo sofre com isso. Neste mundo está tudo perfeito, o
problema é você mesmo. Aqui e agora você pode encontrar o absoluto, o eterno.
Está tudo perfeito, nada há para se queixar. O fato de muitos japoneses terem
os olhos puxados conduz muitos a terem complexos. Uma pessoa diz, "eu sou
brasileiro, nasci aqui", outro fala, "eu nasci no Japão, sou japonês,
tenho olhos puxados", surge então o complexo, "tenho cabelo preto,
liso e por isso quero tingir de outra cor, mas isso me deixa mais feio".
Quando você aceita os olhos puxados, com isto pode manifestar a glória de Deus!
As coisas todas são diferentes umas das outras, as plantas são diferentes entre
si, essas diferenças revelam a glória de Deus. Uns são baixinhos, outros feios,
uns ricos, outros pobres, ou aleijados, mancos; isso não importa, cada um
revela a glória de Deus. Em um determinado momento, repentinamente tudo muda.
Tudo se revela, nada permanece escondido. Então o mestre chamou,
"ministro!", e este imediatamente respondeu, "sim, mestre!"
O que está acontecendo aqui? Nós temos tudo. Há um outro episódio em que um
ministro visitou um outro mestre. O mestre estava assando batata-doce nas
brasas e assoprava continuamente para avivar o fogo. O ministro chamou,
"mestre, mestre!" O mestre, ocupado com o fogo e a batata-doce, e com
o nariz que pingava sem parar, não atendeu imediatamente. O ministro zangou-se
e, virando-se começou a sair. O mestre então chamou, "ministro!".
Este imediatamente parou e voltou-se. Então o mestre concluiu, "porque
você respeita os ouvidos e não respeita os olhos?". O ministro ouviu e,
sentindo a força da lição, inclinou-se ao mestre. "O que é o
caminho?", perguntou então. O mestre respondeu, "está vendo? Nuvens
estão no céu e algo está dentro da garrafa". O segredo não tem nenhum
segredo. Um monge Zen procura seu mestre e pede-lhe, "por favor, ensine-me
o segredo do Budismo". O mestre responde, "sim, se você quiser;
quando todos houverem saído, ninguém mais estiver aqui, procure-me aqui e eu
lhe ensinarei". O monge responde, "ah, sim", e mais tarde volta
e sussurra, "mestre, agora não há mais ninguém aqui, por favor, ensine-me
o segredo!" O mestre então leva o discípulo ao jardim e diz, "está
vendo? Esta árvore é muito alta e essa outra é muito baixa, entendeu?".
"Árvores altas e árvores baixas", com isso ele mostra tudo! Num
canteiro, plantando sementes de ameixeiras, cerejeiras, crisântemos ou o que
seja, ele lida com estas variedades de plantas. Plantando bambu, é bambu que
crescerá, ninguém tem o poder de trocar isso. É isso aí - nós é que complicamos
a nós mesmos querendo classificar as coisas e mudar tudo. Eu estava falando
sobre os vários tipos de sermões: o sermão da luz radiante, o sermão da
atividade com o corpo e ações (...), mas há outro sermão, o sermão de "um
tom" ou "uma voz". Quando Buda falava, todos entendiam de acordo
com seu estado de consciência e compreensão. Estas histórias podemos também
encontrar dentro da Bíblia. Quando Jesus Cristo apareceu e recebeu o Espírito
Santo, havia muitas pessoas provenientes de países de línguas diferentes, mas,
ainda assim, quando falou com o Espírito Santo, todos entenderam. Lembram dessa
passagem? Como pode ocorrer isso? Um tom, um som, uma voz. Até pedras entendem,
até paredes e portas escutam, porque é o Darma. Isto é a "palavra
secreta". Quando você vai purificando sua mente e torna-se residente do
deserto, alguém passa a falar-lhe internamente. Quem é este alguém? É você
mesmo! O primeiro capítulo do Evangelho de São João diz: "no princípio era
o Verbo". "No princípio" significa o quê? Princípio do tempo?
Não! "No princípio significa "origem", o período antes de Deus
haver criado este mundo. Jesus Cristo estava à direita de Deus Pai, ele estava
vendo o Pai criar o mundo. Ele mesmo estava lá. Daisetz Suzuki (1870-1966)
certa vez dirigiu-se a vários pensadores cristãos, dizendo: "Tenho uma
pergunta para vocês, cristãos: quando Deus estava criando o mundo, quem estava
vendo isso?" Ninguém respondeu e então ele mesmo ofereceu a resposta:
"eu". Sempre é importante esta atitude, "eu, agora, aqui".
Deus criou este mundo - criou é passado, mas está ainda criando agora, neste
exato momento. Estamos constantemente criando o mundo a cada instante. E esta
mesa, existe ou não? Não existe? E o que estamos vendo? Se voltarmos aqui
amanhã e a encontrarmos? E se morrermos nesse espaço de tempo? Alguém vai
vê-la. Mas, ainda assim, esta mesa está sendo criada por nós, agora, a cada
momento, a cada instante. Fitando o espelho, vemos nosso envelhecimento. Alguns
ficam tristes por ficarem velhos. Não precisam ficar tristes, não. Mestre
Eckart diz, "dez anos antes nosso rosto era liso e bonito; agora, dez anos
se passaram e apareceram muitas rugas, e surge então a tristeza". Não é
preciso olhar assim, essa não é a realidade! Hoje estamos encontrando um novo
rosto e fitando-o como da primeira vez, é uma e experiência totalmente nova.
Amanhã será também um novo rosto e assim por diante! A cada vez fitamos uma
forma totalmente original, a cada vez nos defrontamos com o absoluto! Criamos
constantemente o mundo, neste exato momento fazemos isso. Tudo vai mudando
sempre, isto é criar. "Um tom", Sermão de "um tom". O que é
este "um tom"? Mestre Eckart diz, "escutei a palavra do Pai e
vou falar para vocês", EIe mesmo tem que se tornar a palavra e a palavra
mesma tem que falar! Não é a boca que fala a palavra, a palavra se fala. A
palavra secreta, a palavra de Deus, ela mesma fala a palavra - aí está a
diferença. O sermão geralmente apresenta muitas histórias, ensinamentos - a boca
está falando. Às vezes eu minto, apenas falo o que aprendi, mas o importante
aqui é tornar-me as palavras. Isto significa que aquilo que estava oculto
aparece, mostra-se, revela-se. Esta é a função das palavras. Então em "Gotheit",
origem de Deus, o Pai está lá, escondido. Quem vê Deus tem que morrer. O Pai
entrou no Filho, veio a este mundo, apareceu com corpo físico, nós pudemos ver.
Se o único Filho de Deus nasce dentro de sua alma, você escuta a palavra
secreta e torna-se o Filho de Deus. Escutando a palavra, você recebe todas as
potencialidades, todas as forças. Você pode falar a palavra, pois não mais será
a boca apenas que fala, você mesmo é a palavra e fala. Nesse momento você vive
este mundo realmente, isso é a realização de si próprio. Há um capítulo
do Shobogenzo que diz assim, "você sabe pintar a
primavera? Então pinte!" Como é isso? Pintou. "Deixe-me ver (...).
Ah, isto não é primavera, é flor de cerejeira (...)" - no Japão as
cerejeiras florescem na primavera. "Isto não é primavera não, isto é flor
de primavera, isto é flor de cerejeira, por favor, pinte a primavera!"
Como pode a primavera ser pintada? Nova tentativa. "Isto é flor de
ameixeira, não é primavera." Como podemos pintá-la? Entendeu? Estamos
vivendo este mundo, vivendo condenados à morte, mas muitos vivem como uma
fumaça, como uma faísca, como espuma ou como uma sombra, não estão vivendo não.
Para viver realmente, tem que ser capaz de pintar a primavera, e não cerejeiras
ou ameixeiras. E preciso pintar a primavera mesmo. Como? O mestre toma então o
pincel, "ah, já pintei a primavera". "Como? O que é isto? Isto é
a primavera? Isto é flor de cerejeira, isto é flor de ameixeira!?"
"Sim, quando a primavera está presente, a flor de ameixeira abre, a flor
de cerejeira desabrocha, então, dentro da flor de ameixeira e de cerejeira está
presente a primavera!" Dentro de você, de seu corpo, sejam altos ou
magros, baixos, gordos, inteligentes, ignorantes, aí está a primavera, a
presença de Deus, de Buda. Fora daí não existem nem a primavera, nem Deus, nem
Buda - nada encontrará. Vazio apenas, vasto nada Quando Madalena visitou o
corpo sem vida de Cristo, encontrou dois anjos. "O que está
procurando?", perguntaram eles. "Se você está procurando aquele Jesus
Cristo que morreu, não vai encontrar." Mestre Eckart interpreta essa
passagem assim: "Deus não é encontrado em nenhum lugar; para a parte mais
elevada da alma, Deus não está em lugar algum, mas para a parte inferior da
alma, Deus está presente em todos os lugares." Então, em sua própria vida,
você, encontrando-se consigo mesmo, pode manifestar a glória de Deus, revelar o
que é Deus. Com dificuldade, com sofrimento, com defeitos. É com isso mesmo que
você pode mostrar. Muitas pessoas estão constantemente vivendo com a mente no
futuro ou no passado. Jovens dizem, "ah, sou muito pobre, preciso estudar,
é importante que eu me forme como engenheiro, como médico, como advogado, etc.,
só assim vou ganhar dinheiro e estarei realizado (...)". Isto é ainda o
futuro, ainda não chegou. Os velhos dizem, "ah, eu já fiz muito nessa
vida, sou muito importante, tenho cargos importantes". Isso tudo é
passado. E como estão agora todos, velhos e moços, no exato momento presente,
neste exato instante? Como estão todos, fora do referencial do tempo passado e
do tempo futuro, fora da temporariedade, como estão frente à eternidade? Nada
podem mostrar, não estão realizados, vivem confusões apenas! Plenitude é
preencher tudo aqui e agora. Com isso se chega ao estado. Isso depende da
mente. A mente é que faz o sofrimento, a alegria, a felicidade. www.sotozencuritiba.org.br.
Abraço. Davi
Texto gentilmente cedido pelo Centro de
Estudos Budistas Bodisatva
www.bodisatva.org