quinta-feira, 31 de maio de 2018

O QUE É SAMADHI?


Editor do Mosaico.
A reflexão apresenta um dos pontos essenciais, que devemos praticar para expandir nossa Consciência Crística pela Senda Espiritual. Colossenses 4,2 “Perseverai na oração, – meditação – velando nela com ação de graças”. Hoje é celebrado pela Igreja Católica em todo mundo, a festa do Corpus Christi. Instituída pelo Papa Urbano IV no dia 8 de setembro de 1264. A procissão de Corpus Christi lembra a caminhada do povo de Deus, peregrino, em busca da Terra Prometida. O Antigo Testamento diz que o povo é alimentado com maná, no deserto. Com a instituição da eucaristia, o povo é alimentado com o próprio corpo de Cristo. O objetivo desta festa é celebrar o mistério da eucaristia – o sacramento do corpo e do sangue de Jesus Cristo. O pão e o vinho, ambos veneráveis, se transubstanciam nos elementos divinos da comunhão sagrada.  Um propício dia para alguns minutos de meditação e consagração perante a Consciência Cósmica. Namastê.


Espiritualidade. www.espiritualidadeconsciencia.blogspot.com.br. Texto de Paramahansa Yogananda (1893-1952). O QUE É SAMADHI? O Samadhi é a unidade com o Espírito, é o estado mais elevado o qual se consegue através da meditação prolongada e profunda. Samadhi é a expansão da alma no Espírito. Consiste em retirar a mente dos sentidos para unifica-la ao Espírito. Consiste em dissolver a bolha do ego no oceano do Espírito. Consiste em unificar a pessoa que medita, a meditação e o objetivo da meditação, em um só. O Samadhi é uma expansão da consciência humana na Consciência Cósmica. Consiste em retirar a consciência humana do plano dos sentidos para dirigi-la a subconsciência, à supra consciência, à Consciência Crística e, finalmente, ao estado de Consciência Cósmica.

O Samadhi consiste em expandir os poderes dos sentidos e das percepções do corpo de tal forma que esta possa sentir os sucessos que se desenvolvem em qualquer planeta e em qualquer ponto do espaço como se fossem as sensações próprias. Em outras palavras, o estudante avançado, mediante o poder do Samadhi, pode sentir o Universo como se fosse seu próprio corpo.

Um verdadeiro iogue (devoto que une sua alma ao Espírito mediante a meditação correta) pode sentir o céu como se fosse seu corpo e a Energia Cósmica como se fosse o alento de sua vida, e as grandes forças elétricas, térmicas e gravitacionais, como se fosse sua própria circulação. Pode sentir a batida de seu coração em todos os corações. Pode sentir sua mente em todas as mentes. Pode perceber os sentimentos de todos. Pode sentir sua presença em todo movimento.

O Samadhi não é um contato imaginário da alma com o Espírito em um estado de inspiração subconsciente. Não é uma alucinação na qual se podem perceber numerosas forças imaginárias. Não é um estado inconsciente no qual tanto o conhecimento interno como o externo são suspensos.

A inconsciência é um estado de coma no qual o ego não se separa das vibrações da natureza, nem da percepção desta. Durante a inconsciência, a consciência permanece adormecida. A inconsciência é como um clorofórmio mental no qual a atividade da consciência se paralisa por completo. É ocasionada por determinadas condições mentais e físicas.

As dualidades da experiência humana desaparecem através da unidade que se experimenta no Samadhi. No qual se percebe que tudo se transforma em Espírito. Quando se está em Samadhi, pode-se perceber o oceano do Espírito com as ondas da sua criação. Ou também, pode-se contemplar o mesmo oceano espiritual existindo transcendentalmente de forma serena, sem as ondas da criação.

No estado inicial de Samadhi, o iogue (isto é, o que une sua alma ao Espírito mediante a meditação correta) permanece tão absorto no Espírito que esquece o Universo material e o criado. Mas este estado não é inconsciente, pois se fosse supõem-se que haveria uma falta de percepção tanto interna como externa. A consciência espiritual plena do estado de Samadhi só pode ser adquirida mediante a disciplina da meditação regular e contínua e não tem nenhuma relação com a inconsciência.

No estado inicial de Samadhi, o devoto se encontra retraído e absorto (absolvido no estado de êxtase) no Espírito, mas nos estados superiores e grandiosos, não só percebe o Espírito sem a criação. Como também o Espírito manifestado em toda a criação. Este estado de conhecimento se chama Consciência Cósmica. O qual inclui a totalidade do Universo.

O conhecimento do devoto, percebe todo movimento e toda a transformação que ocorre na vida, desde o movimento das estrelas até a queda de um pequeno pardal, assim como a rotação do mais diminuto elétron. Quem assim submerge no estado de Samadhi descobre que os sólidos se fundem nos líquidos, os líquidos no estado gasoso, os gases na energia e a energia se dissolve na Consciência Cósmica.

Ele contempla que os Universos objetivos e subjetivos se unem no Espírito e que seu ser material expandido se unifica ao ser espiritual superior. No lugar de experimentar a suspensão da vida e desta, converte-se na fonte mesma da vida e à alegria suprema eterna. Neste estado, a diminuta bolha da alegria se converte no mesmo Mar do regozijo.

Os diversos graus de Samadhi produzem diversos estados de consciência: alegria perpetuamente renovada, ou sabedoria eterna, ou paz consciente, ou conhecimento da existência onipresente. Estes estados produzem uma unidade da alma com o Espírito, o qual pode ser temporal, semipermanente ou permanente. www.espiritualidadedeconsciencia.blogspot.com.br. Abraço.    


quarta-feira, 30 de maio de 2018

COMPARAÇÕES DO MINISTÉRIO TERRENO DE KRISHNA, BUDHA E JESUS.


Teosofia. Livro Isis Sem Véu, volume IV, páginas 165-170 de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1899). Publicado inicialmente no ano de 1877. COMPARAÇÕES DO MINISTÉRIO TERRENO DE KRISHNA, GAUTAMA BUDHA E JESUS DE NAZARÉ. "Esse credo não decaiu, e sua filosofia oculta, tal como a entendem agora os hindus iniciados, é exatamente a mesma há quase 10.000 anos. Mas podem nossos eruditos esperar seriamente que aqueles a revelem ao primeiro pedido, ou esperam ainda eles penetrar os mistérios da Religião Universal por seus ritos populares exotéricos (exteriores)? Nenhum brâmane ou budista ortodoxo negaria o mistério da encarnação cristã, mas eles a compreendem à sua própria maneira, e como poderiam negá-la? A pedra  fundamental de seu sistema religioso são as encarnações periódicas da Divindade. Sempre que a Humanidade está prestes a cair no materialismo e na degradação moral, um Espírito Supremo se encarna na criatura selecionada para o propósito. O "Mensageiro do Superior" liga-se à dualidade da matéria e da alma, e, completando-se assim a Tríade por meio da união de sua Coroa, nasce um Salvador, que ajuda a Humanidade a retornar ao caminho da verdade e da virtude. A igreja cristã primitiva, imbuída da filosofia asiática, partilhava evidentemente da mesma crença – do contrário, jamais teria erigido em artigo de fé o segundo advento, nem inventado a fábula do Anti Cristo como uma precaução contra as possíveis encarnações futuras. Nem teria imaginado que Melquisedeque foi um Avatar de Cristo. Eles só precisariam folhear a Bhagavad Gita para descobrir Krishna ou Bhagavat dizendo aArjuna: "Aquele que me segue está salvo pela sabedoria e também pelas obras, ( ... ). Assim que a virtude declina no mundo, eu me torno manifesto para salvá-lo". Na verdade, é muito difícil não partilhar essa doutrina das encarnações periódicas. Não tem o mundo testemunhado, em raros intervalos, o advento de personagens tão grandiosos como KrishnaSakyamuni Budha e Jesus? Como estes dois últimos caracteres, Krishna parece ter sido um ser real, deificado por sua escola em algum tempo no alvorecer da história, e inserido no quadro do venerando programa religioso. Comparai os dois Redentores, o hindu e o cristão, separados no tempo por um espaço de alguns milhares de anos, colocai entre eles Sidharta Budha, que reflete Krishna e projeta na noite do futuro a sua própria sombra luminosa, com cujos raios foram esboçadas as linhas gerais do mítico Jesus, e de cujos ensinamentos derivaram os do Christos histórico, e descobrireis que sob uma mesma capa idêntica de lenda poética viveram e respiraram três figuras humanas reais. O mérito individual de cada uma delas ressalta do mesmo colorido mítico, pois nenhum caráter indigno poderia ter sido selecionado para a deificação pelo instinto popular, tão infalível e justo quando desimpedido. O brocardo Vox populi, vos Dei outrora verdadeiro, embora falso quando aplicada à atual massa dominada pelo clero. Kapila, Orfeu, Pitágoras (570 AC 495), Platão (428 AC 347), Basílides (120-145), Marcion (85-160), Amônio Sacca (175-242) e Plotino (204-270) fundaram escolas e semearam os germes de muitos e nobres pensamentos, e, ao desaparecerem, deixaram atrás de si o brilho de semideuses. Mas as três personalidades deKrishna, Gautama Budha e Jesus surgiram como deuses verdadeiros, cada qual em sua época, e legaram à humanidade três religiões edificadas na imperecível rocha dos séculos. O fato de que as três, especialmente a fé cristã, tenham sido adulteradas com o tempo, e de que a última seja quase irreconhecível, não se deve a nenhuma falha dos nobres reformadores. São os clérigos que se intitulam de cultivadores da "vinha do Senhor" que devem prestar contas à posteridade. Purificai os três sistemas da escória dos dogmas humanos, e a pura essência permanecerá a mesma. Mesmo Paulo, o grande, o honesto apóstolo, no ardor de seu entusiasmo, perverteu involuntariamente as doutrinas de Jesus, ou então seus escritos foram desfigurados depois de reconhecidos. O Talmude hebreu, o registro de um povo que, não obstante a sua apostasia do Judaísmo, sentiu-se compelido a reconhecer a grandeza de Paulo como filósofo e teólogo, diz a propósito de Aher (Paulo), no Yerushalmi, que "ele corrompeu a obra daquele homem” – ou seja, Jesus. Entretanto, antes que essa fusão seja realizada pela ciência honesta e pelas gerações futuras, lancemos uma vista de olhos ao quadro atual das três legendárias religiões. As Lendas dos Três Salvadores. (1). Krishna. Época: Incerta. A ciência europeia teme comprometer-se. Mas os cálculos bramânicos a fixam por volta de há 5.000 anos. Krishna descende de uma família real, mas é educado por pastores, é chamado de deus pastor. Seu nascimento e sua ascendência divina são mantidos em segredo deKansa. Encarnação de Vishnu, a segunda pessoa da Trimúrti (Trindade). Krishna foi adorado em Maturã, no rio JummnaKrishna é perseguido por Kansa, tirano de Madura, mas escapa miraculosamente. Na esperança de destruir a criança, o rei mata milhares de varões inocente. A mão de Krishna foi Devaki, uma virgem imaculada (porém que havia dado à luz oito filhos antes de Krishna). Krishna é dotado de beleza, onisciência e onipotência desde o nascimento. Produz milagres, cura os aleijados e cegos, e expulsa demônios. Lava os pés dos brâmanes, e, descendo às regiões inferiores (inferno), liberta os mortos, e retorna aVaikuntha – o paraíso de VishnuKrishna era o próprio Deus Vishnu era o próprio deus Vishnuem forma humana. Krishna cria meninos de carneiros, e vice - versa. Esmaga a cabeça da serpente. Krishna é unitário. Persegue o clero, acusa-o de ambição e hipocrisia, divulga os grandes segredos do Santuário – a  Unidade de Deus e a imortalidade do nosso espírito. A tradição diz que ele caiu vítima de sua vingança. Seu discípulo favorito, Arjuna, nunca o abandona. Há tradições fidedignas segundo as quais ele morreu perto de uma árvore (ou cruz), sendo atingido no pé por uma flecha. Os eruditos mais sérios concordam em que a Cruz irlandesa, em Tuam, erigida muito antes da era cristã, é asiática. Krishna sobe ao Svarga e torna-se Nirguna. (2). Gautama buddha (563 AC 469). Época: Segunda a ciência europeia e os cálculos cingalese, há 2.540 anos. Guatama é o filho de um rei. Seus primeiros discípulos são pastores e mendigos. Segundo alguns, uma encarnação de Vishnu, segundo outros, uma encarnação de um dos Budhas, e mesmo de Adi – Budhas, a Sabedoria Suprema. As lendas budistas estão livres deste plágio, mas a lenda católica que o transforma em São Josafá mostra que seu pai, rei de Kapilavastu, matou inocentes jovens cristãos (ver a lenda dourada). A mãe deBudha foi Maya ou Mayadevi, não obstante o seu casamento, manteve-se virgem imaculada.Budha é dotado dos mesmos poderes e qualidades, e realiza prodígios semelhantes. Passa sua vida com mendigos. Pretende-se que Gautama era diferente de todos os outros Avatares, tendo todo o espírito de Budha em si, ao passo que os demais tinham apenas uma parte da divindade. Gautama esmaga a cabeça da serpente, abole o culto de Naga por fetichismo, mas, como Jesus, faz da serpente o emblema da sabedoria divina. Budha abole a idolatria, divulga os mistérios da Unidade de Deus e o Nirvana, cujo verdadeiro significado era conhecido apenas pelos sacerdotes. Perseguido e expulso do país, escapa da morte reunindo ao seu redor algumas centenas de milhares de crentes em seu Budhado. Finalmente morre, cercado por uma hoste de discípulos, com Ananda, seu primo e amado discípulo, o líder de todos eles. O Brien acredita que a Cruz irlandesa em Tuam diz respeito aBudha, mas Gautama jamais foi crucificado. Em muitos templos ele é representado sentado sob uma árvore cruciforme, que é a "Árvore da Vida". Em outra imagem, ele está sentado sobre Naga, o Raja das serpentes com uma cruz em seu peito. Budha sobe ao Nirvana. Jesus de Nazaré. Época: Supõe-se que tenha sido há 1877 anos. Lembrando que o Livro Ísis Sem Véu foi primeiramente publicado em (1875 a 1877 – então Jesus nasceu a aproximadamente 2017 anos atrás). Seu nascimento e sua ascendência real foram ocultados de Herodes, o tirano. Descende da família real de Davi. É adorado por pastores em seu nascimento, e é chamado de "Bom Pastor". Uma encarnação do Espírito Santo, portanto a segunda pessoa da Trindade, agora a terceira. Mas a Trindade, agora a terceira. Mas a trindade só foi inventada em 325 anos depois de seu nascimento. Foi a Matarea, Egito, e ai produziu os seus primeiros milagres. Jesus é perseguido por Herodes, rei da Judéia, mas escapa para o Egito guiado por um anjo. Para se assegurar de sua morte, Herodes  ordena um massacre de inocentes, e 40.000 crianças são mortas. A mãe de Jesus foi Maria, ou Miriam, casou-se com seu marido José, mas manteve-se virgem imaculada, embora tenha tido várias crianças além de Jesus. Jesus tem os mesmos dons que Budha e Krishna. Passa sua vida com pecadores e publicanos. Expulsa igualmente os demônios. A única diferença notável entre os três é que Jesus é acusado de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu (maioral dos demônios), ao passo que os outros não. Jesus lava os pés de seus discípulos, morre, desce ao inferno, e sobe ao céu, depois de libertar os mortos. Conta-se que Jesus esmagou a cabeça da serpente, de acordo com a revelação original do Gênesis. Também transforma menino em cabritos e cabritos em meninos. Jesus rebela-se contra a antiga lei judaica, denuncia os Escribas e Fariseus, e a sinagoga por hipocrisia e intolerância dogmática. Quebra o Sabbath, e desafia a Lei. É acusado pelos judeus de divulgar os segredos do Santuário. É condenado a morrer numa cruz (uma árvore). Dos poucos discípulos que havia convertido, um o trai, um o nega, e os outros desertam por fim, exceto João, o discípulo que ele amava. Jesus, Krishna e Budha, os três salvadores, morrem sobre ou sob árvores, e estão relacionados com cruzes que simbolizam os tríplices poderes da criação. Jesus sobe ao Paraíso. Como resultado em meados do século XVIII, contavam essas três religiões com os seguintes números de seguidores: De Krishna (Bramanistas) 60.000.000. De Budha (Budista) 450.000.000. De Jesus (Cristãos) 260.000.000. Tal é o estado atual dessas três religiões (isso no final do século XIX). Cada uma das quais se reflete por sua vez em sua sucessora. Tivessem os dogmatizadores cristãos parado aqui, os resultados não teriam sido tão desastrosos, pois teria sido difícil, de fato, fazer um mau credo dos sublimes ensinamentos de Gautama, ou de Krishna com Bhagavad. Mas eles foram adiante, e acrescentaram ao puro Cristianismo primitivo as fábulas de Hércules, Orfeu e Baco. Assim como os muçulmanos não admitem que seu Alcorão se baseia no substrato da Bíblia Judaica, não confessam os cristãos que devem quase tudo às religiões hindus. Mas os hindus têm a cronologia para prová-lo. Vemos os melhores e mais eruditos de nossos escritores lutando inutilmente por mostrar que as extraordinárias semelhanças – no que se refere à identidade – entre Krishna e Cristo se devem aos espúrios Evangelhos da Infância e do de Santo Tomás de Aquino (1225-1274), fiel à política de proselitismo que caracterizou os cristãos primitivos, ao encontrar no Malabar o original do Cristo mítico em Krishna, tentou reunir os dois, e, adotando em seu "evangelho" (do qual todos os demais foram copiados) os detalhes mais importantes da história do Avatarhindu, enxertou a heresia cristã na religião primitiva de Krishna. Para quem estiver familiarizado com o espírito do Bramanismo, a ideia de os brâmanes aceitarem qualquer coisa de um estrangeiro é simplesmente ridículo. Que eles, o povo mais fanático no que respeita aos assuntos religiosos, que, durante séculos, não pôde ser compelido a adotar o mais simples dos costumes europeus, sejam suspeitos de ter introduzido em seus livros sagrados lendas não averiguadas sobre um Deus estrangeiro, eis algo tão absurdamente ilógico que é realmente uma perda de tempo tentar contraditar a ideia! Não examinaremos em profundidade as bem conhecidas semelhanças entre a forma externa do culto budista – especialmente o Lamaísmo – e o catolicismo romano, façanha pela qual pagou caro o pobre Huc – mas, tentaremos comparar os pontos mais vitais. De todos os manuscritos originais que foram traduzidos das várias línguas em que o Budismo está exposto, os mais extraordinários e interessantes são o Dhammapada, ou O caminho da virtude, de Budha, traduzido do pali pelo Coronel Rogers, e A Roda da Lei, que contém as observações de um Ministro de Estado siamês sobre a sua própria religião e as outras, traduzida por Henry Alabaster (1836-1884). A leitura de ambos os livros, e a descoberta neles de semelhanças de pensamentos e doutrina, habilitou o Dr. Inman a escrever muitas das passagens profundamente verdadeiras constantes de uma de suas últimas obras, Ancient Faiths and Modern. "Falo com sóbria sinceridade", escreve esse generoso e franco erudito, "quando digo que após quarenta anos de experiência entre aqueles que professam o Cristianismo, e aqueles que proclamam (...) mais ou menos em silêncio a sua discordância com ele, observei mais virtude e moralidade entre os últimos do que entre os primeiros (...). Conheci pessoalmente muitas pessoas pias e boas cristãs, a quem honro, admiro e talvez gostaria de imitar, mas elas merecem o elogio que assim lhes passo em consequência de seu bom senso, pois ignoram a doutrina da fé de modo quase total, e cultivam a prática das boas obras (...). A meu juízo, os cristãos mais louváveis que conheço são budistas reformados, embora provavelmente nenhum deles jamais tenha ouvido falar de Sidharta Gautama. Entre os artigos de fé e as cerimônias lamaíco – budista e católico – romanas há cinquenta e um pontos que apresentam uma semelhança perfeita e surpreendente, e quatro pontos diametralmente oposto. Como seria inútil enumerar as "semelhanças", pois o leitor pode encontrá-las cuidadosamente anotadas na obra de Inmanacima citada. Citaremos apenas as quatro dessemelhanças, e deixaremos ao leitor a tarefa de tirar suas conclusões: (1). Os budistas afirmam que nada que seja contraditado pela razão pode constituir uma verdadeira doutrina de Budha. Os  cristãos aceitarão qualquer absurdo, desde que promulgado pela Igreja como um artigo de fé. (2). Os budistas não adoram a mãe de Sakyamunni, embora a honrem como uma mulher santa, escolhida por suas grandes virtudes para tal tarefa. Os romanos adoram a mãe de Jesus, e lhe pedem ajuda e intercessão. O culto da Virgem enfraqueceu o de Cristo, e lançou por completo na sombra o do Todo Poderoso. (3). Os budistas não tem sacramentos. Os seguidores do papa têm sete que são: batismo, eucarística, matrimônio, crisma, reconciliação ou penitência, unção dos enfermos, ordem religiosa. (4). Os budistas não acreditam em qualquer perdão para os seus pecados, exceto depois de uma adequada punição para toda má ação, e uma compensação proporcional às partes injuriadas. Os cristãos estão certos de que, se apenas acreditam no "precioso sangue de Cristo", esse sangue oferecido por Ele para a expiação dos pecados de toda a humanidade (leia-se cristãos) reparará todos os pecados mortais. Qual dessas teologias mais se recomenda ao pesquisador sincero, eis uma questão que podemos deixar com segurança ao julgamento do leitor. Uma oferece luz, a outra trevas. Reza A roda da Lei: "Os budistas acreditam que todo ato, palavra ou pensamento tem a sua consequência, que aparecerá mais cedo ou mais tarde no atual estado, ou nalgum futuro. Os atos maus produzirão más consequências, prosperidade neste mundo, ou nascimentos no céu (...) em algum estado futuro". Essa é a justiça correta e imparcial. Essa é a ideia de um Poder Supremo que não pode falhar e que, por conseguinte, não pode ter nem ira nem misericórdia, mas deixa todas as causas, grandes ou pequenas, exercerem seus efeitos invitáveis. "Com a medida com que medirdes sereis medidos", tal sentença, nem pela expressão, nem pela implicação assinala qualquer esperança de um futuro perdão ou salvação por procuração. A crueldade e a misericórdia são sentimentos finitos. A Divindade Suprema é infinita, portanto só pode ser JUSTA, e a justiça deve ser cega. Os pagãos antigos tinham a esse respeito concepções mais filosóficas do que os cristãos modernos, pois representam Têmis de olhos vendados. E o autor siamês da obra em pauta dá mostras novamente de pensamentos: "Um budista poderia acreditar na existência de um Deus Sublime acima de todas as qualidades e atributos, um Deus Perfeito, acima do amor e do ódio, repousando calmamente numa silente felicidade que nada pode perturbar, e de tal Deus nada de mal ele poderia falar. Não pelo desejo de agradá-lo, ou pelo medo de ofendê-lo, mas pela veneração natural. Mas ele não pode compreender um Deus com atributos humanos e na qualidade dos homens, um Deus que ama e odeia e mostra raiva, uma Divindade que, conforme a descrevem os missionários cristão, ou os maometanos, os brâmanes e os judeus, cai sob o seu padrão na categoria de um bom homem comum. Já nos temos surpreendido amiúde com as extraordinárias ideias de Deus e Sua Justiça que parecem ser honestamente defendidas pelos cristãos que cegamente confiam no clero quanto aos assuntos religiosos, e jamais em sua própria razão. Quão estranhamente ilógica é essa doutrina da Expiação. Propomos discuti-la com os cristãos do ponto de vista budista, e mostrar ao mesmo tempo por quais séries  de sofismas, dirigidas para o objetivo único de apertar o jugo eclesiástico sobre o pescoço popular, sua aceitação, como um mandamento divino, foi finalmente efetuada, queremos mostrar também que ela se revelou uma das doutrinas mais perniciosas e desmoralizantes. Diz o clero: "Não importa quão enormes sejam os nossos crimes contra as leis de Deus e do homem, temos apenas que acreditar no auto sacrifício de Jesus para a salvação da humanidade, e Seu sangue lavará todas as máculas. A misericórdia divina é infinita e insondável. É impossível conceber um pecado humano tão abominável que o preço pago em adiantado para a redenção do pecado não o elimine, sendo ainda mil vezes pior. E, além disso, nunca é tarde demais para se arrepender. Mesmo que o pecador espere até o último da hora extrema, do último dia de sua vida mortal, depois de seus descoloridos lábios pronunciarem a confissão da fé, ele estará pronto para ir ao Paraíso. O bom ladrão assim o fez, e assim poderão fazê-lo outros da mesma espécie", tais são os pontos de vista da Igreja. Mas se transpusermos o estrito círculo do credo e considerarmos o universo como um todo equilibrado pelo primoroso ajustamento das partes, como se revoltará a lógica sensata, o mais fraco senso de justiça contra essa Vicária Expiação! Se o criminoso pecou apenas contra si mesmo, e causou mal apenas a si mesmo, se pelo arrependimento sincero ele puder apagar os eventos passados, não apenas da memória do homem, mas também desse registro imperecível, que nenhuma divindade, nem mesmo a Suprema das Suprema, pode fazer desaparecer, então esse dogma não seria incompreensível. Mas afirmar que alguém pode fazer mal a seu companheiro, matar, perturbar o equilíbrio da sociedade, e a ordem natural das coisas, e então, pela covardia, esperança, ou compulsão, não importa, ser esquecido por acreditar que o sangue derramado de alguém lave o outro sangue derramado, isso é ilógico e absurdo! Podem os resultados de um crime ser esquecidos ainda que o crime seja perdoado? Os efeitos de uma causa nunca se limitam ao âmbito da causa, nem podem os resultados de um crime ser confinados ao ofensor e à sua vítima. Toda boa ação, assim como a má, tem seus efeitos, que são tão palpáveis como a pedra que cai num lago de águas claras. A comparação é trivial, mas é a melhor que podemos imaginar, e portanto a empregamos. Os círculos de redemoinhos são maiores e mais rápidos, conforme seja o objeto perturbador maior ou menor, mas o menor pedregulho, ou melhor, a partícula mais fina, provoca suas ondas. E essa perturbação não é visível apenas na superfície. Abaixo, em todas as direções, para fora e para baixo, de modo invisível, gota puxa gota, até que os lados e o fundo sejam tocados pela força. Mais o ar acima da água é agitado, e essa perturbação passa, como nos dizem os físicos, de estrato a estrato no espaço para todo o sempre, um impulso é dado à matéria, e esse nunca se perde, e não pode ser retomado! Ocorre o mesmo com o crime, e com o seu oposto. A ação pode ser instantânea, os efeitos são eternos. Quando, depois de a pedra ter caído no lago, pudermos chamá-la de volta à mão, recolher as ondas, obliterar a força expandida, restaurar as ondas etéreas ao seu estado anterior de não - ser, e apagar todos os traços do ato de atirar a pedra, de modo que o registro do Tempo não possa mostrar o que aconteceu, então, então, poderemos ouvir pacientemente os cristãos defenderem a eficácia dessa Expiação. O times de Chicago - USA, publicou recentemente a lista de  algozes da primeira metade do presente ano (1877), uma longa e chocante lista de assassinos e enforcamentos. Quase todos esses assassinos receberam a consolação religiosa, e muitos anunciaram que haviam recebido o perdão de Deus através do sangue de Jesus, e que estavam indo para o Céu! Sua conversão foi efetuada na prisão. Observai quão ligeira é a balança da Justiça Cristã. Esses sanguinolentos assassinos, incitados pelos demônios da luxúria, da vingança, da cupidez, do fanatismo, ou pela mera sede brutal de sangue, mataram suas vítimas, em muitos casos, sem lhes dar o tempo para se arrependerem, ou chamarem a Jesus para lhes lavar o sangue. Morreram, talvez, em pecado, e, naturalmente, de acordo com a lógica teológica, encontraram a recompensa para as suas ofensas maiores ou menores. Mas o assassino, agarrado pela justiça humana, é aprisionado, chorado pelo sentimentalistas, confessa, pronuncia as encantadas palavras de conversão, e vai ao cadafalso uma redimida criança de Jesus! Se não fosse pelo assassinato, ele não teria sido confessado, redimido, perdoado. Então, esse homem fez bem em matar, pois assim ganhou a felicidade eterna! E quanto à vítima, e sua família, seus parentes, dependentes, e amigos, não tem a Justiça nenhuma recompensa para eles? Devem eles sofrer neste mundo e no próximo, enquanto aquele que lhes fez mal se senta ao lado do "bom ladrão" do e é para sempre abençoado? Sobre essa questão, o clero também mantém um prudente silêncio. Redator do Mosaico. Agora é minha fala. Como viram o texto é enfático, pois a senhora Blavatsky precisou salientar o ensino esotérico do Budismo em relação a expiação da alma humana. Também há todo um contexto histórico de dominação inglesa (séculos XVII a XIX) na Índia que não tenho tempo de abordar, produzindo esse tom incisivo da autora em relação ao cristianismo. Enquanto os budistas imprimem sua própria expiação pessoal baseada na justíssima recompensa das virtudes e punições pelos pecados. Um processo sistemático envolvendo ajustes e reparações cármicas (para cada ação há uma reação) que tem como resultado a redenção completa do discípulo ao longo de futuras encarnações. O cristianismo concebe outro pressuposto para a redenção, basta crer no sacrifício efetuado por Jesus na cruz do calvário e terás todos os pecados e vícios imediatamente cancelados. A filosofia oriental tem tradição espiritualista de compreender os conceitos religiosos baseados na lógica e racionalidade, assim não entendem argumentos dogmáticos que ressaltam a autoridade das doutrinas como imposição de uma fé cega que não suporta ser questionada ou colocada a prova. Isso era o que os missionários jesuítas católicos e posteriormente os protestantes (século XVII e XIX) faziam ao tentar converter os hindus sem argumentos plausível. Evidentemente eles resistiam a essas investidas do colonizador europeu, não vendo razão para trocarem sua maneira lógica de redenção por uma duvidosa, segundo eles, que os jesuítas e protestantes não conseguiam explicar coerentemente, simplesmente diziam que basta crer e ter fé pra ser salvo. Livro Isis Sem Véu.  Abraço. Davi.

terça-feira, 29 de maio de 2018

II. SOBRE TORNAR-SE TOTALMENTE.


Teosofia. Artigo da Revista Theosophy in Australian. Texto de Linda Oliveira. II. SOBRE TORNAR-SE TOTALMENTE HUMANO. ABERTURA. O que será essa ponte ou deveríamos dizer esta abertura? Na terminologia teosófica, a palavra normalmente usada é antahkarana. Helena P. Blavastky (1831-1899) descreve-a como o caminho ou a ponte entre os aspectos mais e menos elevados de manas, que serve como um meio de comunicação entre os dois. Mas também se diz que esse termo refere a diversas pontes ou aberturas deste tipo entre inúmeros centros no ser humano, ligações de “substância de consciência vibrante”. Isso nos dá a impressão de que um antahkarana está muito vivo, em movimento. Se um antahkarana pode unir determinados centros dentro do ser humano, então, de alguma forma, ele desempenha uma função de ligação. Isso nos remete a fohat, aquela essência de eletricidade cósmica ou consciência cósmica, que se diz ser sempre presente do início ao fim de um Universo, aquela energia Universal viva que também possui um efeito de ligação ou união na vida. De forma semelhante, um antahkarana permanentemente aberto pode nos ligar à nossa natureza superior ou interior, reunindo-nos com nossa Fonte. Quando o antahakarana, que liga os dois aspectos de manas, se abre para o interior da mente, podem acontecer grandes insights criativos no ser humano – insights sobre ciência, sobre a vida, a verdade e assim por diante. Surge a questão: como criamos essa abertura, essa ponte? O processo pode acontecer mais conscientemente, quando a mente tem a capacidade de se manter perceptiva, mas silenciosa, tal como quando em contemplação ou meditação reflexiva. Na verdade, este antahkarana pode abrir e fechar com regularidade em pessoas cujo foco de consciência não está completamente imerso no mundo material. DESENVOLVIMENTO E PURIFICAÇÃO RADICAL. Será que a aquisição de poderes auxilia o processo de renovação? Blavatsky tem uma resposta muito interessante e bem relevante para essa pergunta. Alguns podem pensar sobre a jornada do Adeptado como um processo cumulativo – o desenvolvimento de faculdades e poderes adicionais. Contudo, ela diz: Muitas pessoas parecem pensar que o Adeptado não é resultante de um desenvolvimento radical, mas uma construção suplementar. Parecem imaginar que um Adepto é um homem que (...) primeiro adquire um poder e depois outro, mas assim que alcançar um determinado número desses poderes, é imediatamente rotulado de Adepto. Sem titubear, ela define aquisição de poderes para alcançar o Adeptado uma “fantasia equivocada”, embora reconheça que “poderes” como a clarividência e a viagem extra corpo tende a fascinar a maioria. A Sociedade teosófica, observou, não foi fundada para ensinar maneiras novas e fáceis de aquisição de “poderes”. Muito mais do que isso, sua missão é “reacender a tocha da verdade há tanto extinta para todos, exceto para uns poucos, e manter esta verdade viva por meio da formação de uma união fraterna da humanidade, o único solo sobre o qual a boa semente pode germinar. De qualquer maneira, diz-se que determinados poderes interiores se desenvolvem no curso da própria evolução. Se buscarmos seu desenvolvimento, provavelmente será prematuro. Sábio seria focalizar, em vez disso, em criar a união da humanidade, o “único solo sobre o qual a semente pode crescer” – sementes estas que não brotam do solo do eu pessoal. Nessa citação, Blavatsky usou o termo “desenvolvimento radical” para dar ênfase. O que será que significa? Aquilo que é radical é fundamental ou básico. Assim, desenvolvimento radical pode ser considerado como aquela mudança ou desenvolvimento que abre caminho para que a nossa natureza fundamental ou básica venha à tona. Podemos presumir que a abertura ou ponte permanente para a nossa natureza interior, o antahkarana, é formada pelo desenvolvimento radical, que envolve a purificação e transmutação daquilo que já existe dentre de nós, em vez de aumentar nosso estoque de qualidades, poderes e habilidades. Isso nos leva a outro ponto de renovação, que é um aspecto íntimo do desenvolvimento radical (...). AUTOOBERSAÇÃO; Em vez de adquirir poderes, nossa primeira e mais importante lição é, certamente, nos enxergarmos de forma verdadeira. Sri Ram (1889-1973) deu algumas dicas sobre isso numa palestra chamada “Uma Revolução em Si Mesmo”. Ele observou que é preciso estar ciente do conteúdo de nossa consciência, em primeira instância, antes que a mudança radical ocorra (o desenvolvimento radical de Blavatsky). Ele comparou as reações e ideias presentes na mente com um tipo de saco de conteúdo variado, estando a boca do saco quase fechada e cheia de informações sobre o mundo. Ele sugeriu que nosso pensamento se movimenta grandemente ao redor e entre essas ideias. Na verdade, essa perspectiva talvez não seja pouco plausível. Ao virarmos a mente do avesso, nós a esvaziamos, não sendo possível virar a mente do avesso permanentemente, talvez seja possível tentar fazer isso pelo menos temporariamente quando um problema se apresenta. Sri Ram foi além. Disse que quando se deixa ir embora todo conteúdo da mente, a consciência, que é indestrutível e extraordinariamente flexível, é restaurada à sua condição original, sem qualquer distorção, livre de associações com o conteúdo do passado, pura e capaz de refletir a verdade. Isso pode nos parecer quase impossível, mas os momentos de meditação podem gradualmente ajudar a nos prepararmos para este tipo de mente. Em qualquer caso, para a maioria de nós, provavelmente é um processo gradual. Isso nos traz mais um item de renovação HUMILDADE. Talvez o próximo comentário de Sri Ram seja o mais importante: A condição da mente, quando pura, é uma condição de humildade, na qual existe em si a possibilidade da sabedoria. O que humildade significa de fato? Não quer dizer auto depreciação, o que implicaria ter prazer em ser mais importante. Em vez disso, a humildade é comparada por Sri Ram à sombra de um filme ou placa fotográfica extraordinariamente sensível sobre a qual tudo é verdadeiramente refletido. Ele a descreve como um estado de “negatividade magistral na qual todo positivo dentro de seu campo é automaticamente compreendido”. Portanto, qualquer afirmação de si mesmo tem que cessar para a humildade existir. Este é, então, o estado no qual o antahkarana para a nossa natureza interior pode ser totalmente aberto: por meio da pureza e de uma natureza genuinamente humilde. Seis itens importantes de renovação foram sugeridos aqui: descontentamento, esforço, abertura, desenvolvimento/transformação radical, auto-observação e humildade. TORNANDO-SE TOTALMENTE HUMANO – O QUE ISSO PODE SIGNIFICAR? Estes itens podem oferecer assistência. No entanto, parte da maravilha da jornada para a HUMANIDADE total é que de muitas formas ela é um mistério que nos movimenta para a frente. Ela claramente envolve o cultivo de um modo diferente de viver. Os ensinamentos de Sabedoria Perene podem nos ajudar, mas precisam ser perfeitamente integrados em nossas vidas, em vez de impostos por nossa mente. Outro pensamento de Sri Ram é pertinente aqui: A Teosofia tem que ser compreendida pelo coração, mas deve ser expressa pelas mãos, ou seja, em atos de diversas maneiras. Em outras palavras, ela tem que transformar nossa vida. Temos que viver de forma diferente (...) imprimindo uma nova qualidade em cada ato individual de nossas vidas (...). Assim, cada departamento de nossa vida pode ser iluminado, pode ser belo, espiritualizado, recriado, reconfigurado, por esta sabedoria que chamamos Teosofifa – The Theosophical Revolution – A Revolução Teosófica. A jornada para nossa plena humanidade passa, portanto, por uma série de recriações, renascimentos, renascenças e transformações envolvendo cada departamento da vida. Temos o potencial de dar a cada aspecto de nossa vida um novo formato, para espiritualiza-la, para recriá-la. Mas se consideramos cada expansão de consciência como uma conquista fixa sobre a qual podemos construir, então não entendemos bem a mensagem. Pois a transformação parece ser uma experiência de natureza muito mais qualitativa do que quantitativa. Fazendo uma analogia, pode-se pensar em um copo d’água como um símbolo de um ser humano. A quantidade de água não varia. No entanto, podemos alterá-la ao passa-la por filtros. Cada filtro representa um tipo de qualidade. Entretanto, não é possível quantificar exatamente que volume de filtragem deve ocorrer antes que a água (nós) se transforme qualitativamente na mais perfeita representação possível daquilo que ela é em essência. De modo semelhante, o ser humano em evolução, eventualmente, pode tender a adotar uma abordagem de vida muito mais qualitativa do que quantitativa. Como uma nova qualidade de consciência acontece por meio de uma transformação, parece que algo mais morre ou desaparece, ou é pelo menos transmutado. Finalmente, quando morremos para o velho ou para aquilo que é impermanente, transmutamos ou mudamos nossa natureza, abrimo-nos para o que somos em essência, para aquele aspecto de nossa natureza que é mais duradouro. Cada ser humano, em última instância, produz, através de svabhava – auto geração – sua singularidade. QUANDO OCORRE A RENOVAÇÃO HUMANA? Nossa literatura pode sugerir que as mais dramáticas transformações da consciência ocorrem como resultado de nossas experiências na vida física, mas não é incomum acontecer no silêncio, após algum tipo de tempestade interior. Como dito em Luz no Caminho. “Busca a flor que desabrocha durante o silêncio que segue à tormenta, e não antes” (...) enquanto a natureza toda não tiver sido vencida e se tornado submissa ao Eu Interior, a flor não poderá abrir-se. Então, sobrevirá uma calma como a que nos países tropicais sucede a uma chuva torrencial (...) E no silêncio profundo ocorrerá o misterioso sucesso, o qual provará que se encontrou o caminho (...). O silêncio pode durar apenas um momento, ou pode prolongar-se por milhares de anos, porém, terá fim. Contudo, reterás contigo a sua força. Uma e outra vez terás que dar e ganhar a batalha. O repouso da natureza só pode ser um intervalo”. Assim, o processo é repetido diversas vezes até que a partir de um ser humano incipiente surja um ser humano plenamente realizado. Se nos mostrassem uma imagem do que nos tornaríamos como um ser humano plenamente realizado, todos poderiam achar que éramos completamente irreconhecíveis. Tal é, ao que parece, a extensão do efeito regenerativo de se tornar totalmente humano. Então, o que significa ser plenamente humano? Poderíamos dizer, provisoriamente, que ser completamente humano é perceber nossa singularidade, é viver de forma totalmente diferente, tendo uma mente pura e uma natureza genuinamente humilde, sendo uma “simples força benéfica na natureza”, para usar as palavras de Helena P. Blavatsky (1831-1891). É se abrir para a vida do Universo, ser um sistema vivo, ser o que naturalmente somos, internamente, sempre vitalizados pelo que é permanente e puro. O egocentrismo com seus aliados com a agressão, indulgência, ambição etc, seria transmutado em Eu Uno firmemente estabelecido naquele que está dentro de nós, que é Universal, porém único. O ensinamento inspirador sobre a existência de Mahatmas ou Grandes Almas sugerem que, eventualmente, é possível vivenciar uma alegria profunda e permanente que irá permanecer inabalável com as vicissitudes da vida. Tal ser humano realmente será um poderoso centro de paz, expandindo-se para novas perspectivas de evolução que dificilmente poderemos imaginar. Assim, o órfão irá se reunir com sua verdadeira linhagem, seu coração espiritual. E então, somente então, saberemos quem realmente somos. Revista Teosófica – As Coisas Transitórias. Abraço. Davi

segunda-feira, 28 de maio de 2018

I. SOBRE TORNAR-SE TOTALMENTE HUMANO


Teosofia. Artigo da Revista Theosophy in Australian. Texto de Linda Oliveira. I. SOBRE TORNAR-SE TOTALMENTE HUMANO. O ser humano é uma das inumeráveis expressões da Natureza – é único, dotado de mente, um ser ainda enigmático com potencial de elevação ainda por ser descoberto. O que implica ser TOTALMENTE HUMANO? Para o mundo, SER HUMANO pode ser diferente da visão de HUMANIDADE retratada pela tradição da Sabedoria Perene. Para muitos, SER HUMANO pode implicar certo domínio sobre a Terra, levando à competição, agressão e exploração, misturada com uma pequena porção de bondade. Alguns podem pensar que, neste momento, a HUMANIDADE encontra-se em seu pináculo. Mas Emily Sellon (1830-1888), escritora teosófica, chegou a descrever a HUMANIDADE como incipiente, sugerindo que a maior parte de nossa evolução, ou talvez a fase mais significativa de nossa evolução, está ainda por vir. Seja lá como for, parece que temos uma longa jornada à nossa frente. Nesse contexto, é importante lembrar um dos mais conhecidos comentários de um dos Mestres espirituais das Cartas dos Mahatmas para Alfred Percy Sinnett (1840-1921). “(...) É a HUMANIDADE que é a grande Órfã, a única deserdada sobre a Terra, meu amigo” – Carta dos Mahatmas nº 15”. Quais são as características de um órfão? Se a HUMANIDADE é órfã, então ela está separada de seus país, de sua linhagem. Num sentido mais amplo, podemos entender que a HUMANIDADE está separada de suas raízes, de sua linhagem ou herança espiritual. Nesse sentido, podemos dizer que muitos humanos parecem estar distantes de suas raízes. Se isso for verdade, então, em essência, somos desprovidos daquele princípio capaz de nos impulsionar na direção do ar refinado de Atma, do Self, da consciência pura, de nossa essência. Pois é a partir dela, da essência de nosso ser, que todos os princípios humanos emergem e finalmente retornam. Como Shirley Nicholson (1928-  ): “Partimos de nossa casa no Atma numa viagem para adquirir experiência no mundo, retornando a ela enriquecidos pela jornada”. Portanto tornar-se totalmente humano envolve uma jornada – uma peregrinação de proporção monumental. Qual é a essência desta jornada? Podemos descrevê-la como o desdobramento da sabedoria interior em resultado da experiência mundana, o que certamente não é algo que pode ser realizado durante o curso de uma única vida. Será que estamos vivos para a viagem? Como podemos criar um ponto de acesso à essência de nosso ser, que ao mesmo tempo é o início e o fim de nossa jornada – e podemos até dizer, nosso direito de nascimento espiritual? Vamos abordar aqui: 1. O ser HUMANO como um sistema vivo. 2. Como criar uma abertura para que a renovação aconteça. 3. Alguns pensamentos especulativos sobre o que o processo de se TORNAR TOTALMENTE HUMANO pode significar. O SER HUMANO COMO UM SISTEMA VIVO. Nosso Presidente Internacional (da Sociedade Teosófica) usou o termo “regeneração HUMANA” como a essência de todo trabalho teosófico. Regenerar significa “insuflar vida nova” em algo. Talvez seja isso que aconteça durante os últimos estágios da EVOLUÇÃO HUMANA. O que é velho precisa no final das contas tornar-se novo. Portanto, ser vivo, verdadeiramente vivo, é uma parte bem próxima do processo de regeneração. Rohit Mehta (1908-  ) mencionou que os sistemas vivos são fontes de regeneração. Ele observou que, de acordo com o princípio da entropia na ciência física, tudo no Universo está firmemente se deteriorando na direção do equilíbrio termodinâmico, ou da morte e extinção. Esse desgaste envolve uma irreversível perda de energia. No entanto, ele cita o recentemente falecido Llya Prigogine (1917-2013) que, segundo ele, nos deu esperança. Prigogine disse a ordem e a organização podem surgir “espontaneamente” a partir da desordem e do caos, por meio do processo de “auto-organização”. Por exemplo, ele comenta que o corpo HUMANO é capaz de curar uma ferida (pelo menos uma ferida que não seja grande demais). Em outras palavras, existe um livre intercâmbio entre o sistema e o meio ambiente, assim como uma determinada flexibilidade. Um sistema vivo pode se desviar quando necessário, mas logo recupera seu estado original. Além disso, ele é vulnerável, extremamente frágil na verdade, parecendo fácil de quebrar, mas prevenindo rupturas pela sua força inerente. Um sistema vivo recupera sua energia perdida e, na verdade, incorpora o segredo da regeneração. O CORPO HUMANO possui uma habilidade de regeneração física excepcional, de várias maneiras – desde que esteja devidamente mantido e alimentado por seu meio ambiente. Quanto à regeneração ESPIRITUAL HUMANA, talvez seja possível fazer um paralelo como essa descrição de um sistema vivo, que requer um tipo diferente de manutenção. Quais seriam os requisitos de um sistema VIVO HUMANO que contém o potencial de renovação espiritual? INTERCÂMBIO ABERTO/LIVRE: Fomos informados que um sistema vivo envolve um livre intercâmbio com o meio ambiente. Considerem por um momento que a regeneração espiritual requer uma mente (que é o ponto essencial de um sistema de VIDA HUMANO) que não seja fechada ao seu ambiente e que permita um livre fluxo de ideias e percepções – temperança, esperança, por meio de viveka ou discernimento espiritual. Diz-se que a capacidade despertada de manas e sua concomitante autoconsciência nos tornam singularmente humanos. Uma mente viva pode desenvolver grande capacidade. De alguma forma temos que ser capazes de apreender o mundo dentro de nós. Por fim, para usar a terminologia de Helena P. Blavatsky, a mente humana pode “abranger o Universo”. FLEXIBILIDADE: Rohit Mehta disse que um sistema vivo pode ser desviado quando necessário, mas rapidamente recupera seu estado original. Será que é possível tornar-se inerentemente flexível? Esta é uma reminiscência daquela bela afirmação em A Voz do Silêncio que diz que as hastes dos germes sagrados que florescem e se desenvolvem invisíveis na alma do discípulo se fortalecem a cada nova tentativa, vergam como junco, mas jamais se quebram. Quando nos tornamos rígidos, a vida não flui, criamos barreiras para a vida, podendo nos tornar quebradiços e sujeitos à ruptura, incapazes de lidar com as inúmeras mudanças da vida que parecem prosseguir quase exponencialmente nas últimas décadas. VULNERABILIDADE E FORÇA: De acordo com Rohit Mehta, um sistema vivo é vulnerável, até mesmo frágil, embora inerentemente forte. Certamente temos aqui um paradoxo, que também é a linguagem do espírito. Portanto, por analogia, os seres humanos necessitam de duas coisas: precisamos de força para sustentar a inevitável transmutação da personalidade de forma a permitir que o ser interior possa emergir. Sugere-se que esta força seja adquirida por experiência e desafios da vida. Mas também precisamos de uma abertura do coração, para nos tornarmos vulneráveis e sermos capazes de temperar esta força com compaixão e sensibilidade. Assim, atributos como uma mente aberta, flexibilidade, força e vulnerabilidade fornecem um ambiente propício à renovação. Não se trata apenas de fantasia poética. Um sinônimo de “regenerar” é “encorajar”. Portanto, o ser humano regenerado é uma pessoa encorajada, em quem a natureza espiritual  está desperta, um sistema de vida dinâmico de condição elevada. Nesse sentido, talvez se possa afirmar que a maioria dos seres humanos ainda não seja um sistema vivo completo. DICAS PARA CRIAR OPORTUNIDADES DE RENOVAÇÃO. DESSCONTENTAMENTO. O termo “descontentamento Divino” será familiar a muitas pessoas. De alguma maneira, o descontentamento parece ser um elemento importante na Jornada Espiritual Humana. Mas existem diferentes tipos de descontentamento. Frequentemente, o descontentamento pode resultar em atitude destrutiva. No entanto, como Rohit Mehta indicou, a regeneração pode acontecer somente em indivíduos incendiados pelo descontentamento construtivo – e não naqueles bem adaptados ao ambiente reinante. Portanto, a complacência ou satisfação com a própria vida provavelmente não irá levar a mudanças fundamentais. Fica claro também que a natureza deste descontentamento deve ser muito mais construtiva do que destrutiva. A Jornada Espiritual exige uma orientação distante das coisas mundanas enquanto se permanece e se atua no mundo. Alguns podem dar o passo extremo e optar pela vida monástica, mas para as pessoas mais espiritualmente perceptivas o truque é ser capaz de vier uma vida cheia de simplicidade e discernimento inserido no ruído da cultura mundana. Talvez N. Sri Ram (1889-1973) tenha feito eco desta necessidade pelo descontentamento quando escreveu: “aquilo que é estático não pode criar”. Mais: “se estivermos repletos de contentamento, a renovação não é possível”. Escreveu: “A Teosofia deveria ser uma força criativa para nós, uma sabedoria que nos cria novamente. A transformação é iniciada naqueles que são capazes de receber sua chama em seus corações. Presentemente, somos veículos de argila, opacos, ausentes de força e brilho, um meio não condutor”. O que é opaco não transmite luz, não é capaz de transferir luz. Portanto, se formos um tipo de argila ou algo opaco, a luz dos reinos mais sutis não vai ser capaz de penetrar em nossa consciência, muito menos ser transmitida por nós. ESFORÇO: Parece que criar espaço para uma abertura ocorre gradualmente, num primeiro momento, talvez alimentada por este nível de descontentamento construtivo com o mundo ou nossas circunstâncias. Mas esta abertura ou ponte se tornará mais ampla quando o processo de descontentamento se tornar cada vez mais consciente, temperado pelo altruísmo. Parece também que a vida não fica nem um pouco mais fácil neste ponto! Como madame Blavatsky (1831-1899) escreveu sobre o assunto do progresso espiritual. Desde os Vedas e os Upanishads até a recente publicação de Luz no Caminho de Mabel Collins (1851-1927), pesquisado nas bíblias de todas as raças e cultos, foi encontrado somente um único caminho – difícil, doloroso, perturbador, pelo qual o homem pode chegar ao verdadeiro insight espiritual. Sempre disseram que o verdadeiro adepto, o homem desenvolvido, não pode ser construído, deve vir a ser. O processo demanda, portanto, um crescimento por meio da evolução, e deve necessariamente envolver certa quantidade de dor. Por isso, o processo possui seus desafios dolorosos, especialmente durante as últimas etapas da jornada humana. Além disso, claro está que não fomos feitos completamente humanos por algum agente exterior. Trata-se de um processo consciente de cada indivíduo. A ajuda é disponibilizada até um determinado ponto, proveniente dos ensinamentos e mestres espirituais. Entretanto, a própria vida acaba por fornecer as condições para a manifestação da abertura ou ponte, de forma a dar continuidade à evolução espiritual humana. Revista Teosófica – As Coisas Transitórias. Abraço. Davi

sexta-feira, 25 de maio de 2018

ALEGORIAS ASTRONÔMICAS DA BÍBLIA.


Fraternidade Rosa Cruz. www.fraternidaderosacruz.org. Livreto Introdutório aos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Por Max Heindel (1865-1919). ALEGORIAS ASTRONÔMICAS DA BÍBLIA. Temos considerado o homem como uma unidade, mostrando como ele, um Espírito, possui vários corpos ou veículos de consciência, além do Corpo Físico, e como emprega esses corpos para adquirir experiência da mesma forma como faz um operário com suas ferramentas. Vimos, também, que a experiência de cada vida se assimilava depois da morte, entre esta e um novo nascimento, de maneira que em cada vida terrestre possuímos, como faculdades, a soma de todas nossas experiências de vidas anteriores. Vimos também como, desta maneira, estamos progredindo até a gloriosa meta da perfeição, que todos alcançaremos antes de cessarmos de voltar à Terra, na qual cada vida não é mais que um dia de permanência na escola. Quando tenhamos aprendido tudo quanto há que aprender aqui, haverá outras evoluções superiores em que ingressaremos, da mesma forma que um menino passa à escola secundária depois de ter passado pela escola primária. Ante o Ego está um progresso sem fim e toda limitação é inconcebível, porque o Espírito humano é uma chispa do infinito, desenvolvendo todas suas possibilidades. O homem não é somente uma unidade, uma entidade separada, a não ser em sentido relativo, porque é membro de uma família, de uma comunidade, de uma nação, um dos habitantes da Terra, e está por meio desta relacionado a outros mundos e seus habitantes, pois todos estes mundos estão habitados como já afirmaram alguns astrônomos, raciocinando por analogia. Por seu turno, a ciência oculta faz esta mesma afirmação, e este ensinamento está baseado no conhecimento direto obtido e verificado por meio de faculdades que alguns já possuem, porém que em todos estão latentes. Esta visão do Universo e de nossa pequena Terra, por estranho que pareça a muitas pessoas, não é tão difícil de crer como é a história da criação em sete dias, quando interpretada literalmente, pois se DEUS criou a Terra nesse breve período de tempo, deve também haver misturado nela os fósseis, multiplicado os estratos, feito as marcas das geleiras e todas as erosões da água, tudo isso para Sua própria glória e eterna mistificação da humanidade. É muito mais lógico, certamente, sustentar que os diversos corpos celestes são habitados por vidas e formas em evolução e não, apenas, simples lâmpadas penduradas no firmamento para iluminar nossa pequena Terra. Esta relação entre o Sol, a Lua e os planetas se vê em cada uma das diferentes religiões mundiais, incluindo a religião Cristã, e os templos antigos são monumentos de credos religiosos hoje quase esquecidos no mundo ocidental, se bem tão grandes, hoje, como na Antiguidade. A grande pirâmide de Gizeh, que se ergue sobre a planície do grande deserto do Saara, na cabeceira do delta do Nilo, é uma das construções mais antigas da Terra e um eloquente testemunho do conhecimento que tinham os antigos a respeito de suas verdadeiras relações cósmicas, já que essa pirâmide monumental foi construída segundo medidas universais. Lançaram-se muitas teorias a respeito da Idade e da finalidade desta pirâmide. Os astrônomos indicavam que, no ano 2170 A.C., a Alfa-Draconis, a estrela polar da época, apontava diretamente para a entrada do lado norte da pirâmide O professor Proctor assegurava que também se encontrava nesta posição no ano 3350 A. C. Os egiptólogos dizem que isto é exagero e, como última hipótese, tomam em consideração a relação então existente entre a Draconis e a Alcione, que só pode ocorrer uma vez em um ano Sideral (25.868 anos solares), e, como o Zodíaco de Dendera mostra que os antigos egípcios conservavam anais de três anos siderais, a idade da , pirâmide talvez seja de 78.000 anos ou mais. Esta idade tem direito a tanta consideração, por parte dos cientistas, como a mencionada pelo Prof. Proctor. As investigações ocultas que estão baseadas nos imperecíveis registros da "Memória da Natureza", fixam a época de sua construção mais ou menos no ano 250.000 A. C., quando era empregada como templo de iniciação nos Mistérios e era o lugar onde se guardava um grande talismã. A Sra. Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), na "Doutrina Secreta", nos diz que a construção da Pirâmide estava baseada no conhecimento dos Mistérios e da série de iniciações, assim que a Pirâmide era o registro imperecível, na Terra, dessas Iniciações, "assim como os movimentos das estrelas o são no Céu. O ciclo de Iniciações era uma reprodução em miniatura das grandes séries de mudanças cósmicas a que os astrônomos chamam de ano sideral (25.868 anos comuns. "Assim como ao final do grande ciclo do ano sideral, medido pela precessão dos equinócios em torno do círculo do Zodíaco, os corpos celestes voltam a ocupar as mesmas posições relativas, assim também, no final do ciclo de Iniciação, a parte divina do homem recuperava seu prístino estado de divina pureza e conhecimento", do qual partiu para realizar sua peregrinação através da matéria, mas enriquecido pelas experiências então obtidas. Sendo um símbolo, a Pirâmide deve, por certo, compreender tudo ou pelo menos, os aspectos mais significativos do que simboliza. Graças aos trabalhos um tanto limitados dos Professores Charles Piazzi Smyth (1819-1900) e Proctor ambos astrônomos de renome (3), porém antagônicos com respeito à utilização da Pirâmide, temos uma soma esmagadora de provas sobre as medidas das diferentes partes da Pirâmide e sua relação com os ciclos e distâncias cósmicas e terrestres. O testemunho do Professor Proctor é o mais valioso porque ele é contrário à teoria de que a pirâmide tenha sido construída por arquitetos divinos; e fez o que pôde para honestamente refutar tal teoria, atribuindo as numerosas medidas obtidas e sua relação com as medidas cósmicas a "meras coincidências" o que levou Madame Blavatsky a expandir seu raro sarcasmo chamando-o de "campeão das coincidências". Ele admite que "todas as teorias concernentes a sua origem deixam sem explicar os aspectos mais significativos da grande Pirâmide, exceto essa absurda teoria que atribui sua construção a arquitetos divinos" e, também, que "a teoria de que era empregada com finalidades astrológicas está sustentada por todas as evidências conhecidas e ainda que este apoio seja forte" toda sua força deriva do fracasso das demais teorias admissíveis que não podem se sustentar ante ela". Admite, ainda, que a única dificuldade com a teoria astrológica surge de "nossa incapacidade para compreender como o homem pôde ter tanta fé na Astrologia, quanto para dedicar-lhe tantos anos de trabalho e tão grandes somas de dinheiro na persecução de pesquisas astrológicas, ainda que por seu próprio interesse". O filósofo Proclo (412-485) nos diz que, de acordo com a tradição, a Pirâmide em certa época terminava em uma plataforma, com a extremidade da grande galeria projetando-se para cima, no centro, e o Professor Proctor se entusiasma com as possibilidades da Pirâmide con - vertida em observatório, quando ainda nem estava terminada, se bem que astronomicamente em perfeito estado. Finalizando seus elogios diz que, "dotando-a de instrumentos modernos", teria sido o observatório astronômico mais importante do mundo. Assinala o fato de que a abertura da grande galeria aponta para o Zodíaco, e, como o Sol, a Lua e os planetas passam a sua volta no céu, dariam uma sombra na grande galeria com um ângulo diferente cada dia do ano ou mês e desta maneira suas posições poderiam ser medidas de forma a mais eficiente. As medidas mais importantes contidas na grande Pirâmide são as seguintes: 1. Cada lado mede 9131,5 polegadas na base; portanto o perímetro da base são 36.526 polegadas. (Considerando 100 polegadas para cada dia do ano, temos 365 1/4 de dias, exatamente o número de dias do ano e mais um quarto de dia que não contamos a não ser no fim de 4 anos, constituindo o ano bissexto). 2. O comprimento de cada uma das diagonais da base são 12.934 polegadas; logo, sua soma são 25.868 polegadas, equivalente ao número de anos do grande ano sideral. 3. Como a base da pirâmide mede o tempo que leva a Terra para girar em torno do Sol em seu curso anual, é muito clara a dedução de que a Pirâmide deva ter, de altura, a mesma medida indicativa da distância da Terra ao Sol, o que efetivamente se observa. A altura da Pirâmide são 5.819 polegadas, que multiplicada por um milhar de milhões equivale a 91.840.000 milhas e fornece uma medida da distância da Terra ao Sol, que na opinião do Professor Proctor, é mais exata que qualquer outra calculada pelos astrônomos. Portanto, seja observada ou não esta teoria, a evidência está toda a seu favor, confirmando a suposição de que a Pirâmide tenha sido construída por arquitetos divinos, sendo isto o bastante para convencer-nos dessa teoria. As informações ocultas revelam-nos que, num período posterior de sua história, a Pirâmide foi o Templo de Mistérios daquilo que mais tarde se transformou na "Maçonaria" de hoje. Em um de seus rituais o chamado "Portal da Morte" o candidato era atado a uma cruz de madeira e transportado a uma cripta subterrânea, onde permanecia em estado de transe por três dias e meio. Durante esse tempo, enquanto seu corpo denso jazia inerte, o Ego, envolto em seus veículos mais sutis, percorria conscientemente o Mundo do Desejo conduzido por um Hierofante, e era submetido às "provas de fogo, da terra, do ar e da água". Isto é, mostravam-lhe que funcionando em tais veículos nenhum desses elementos podia afetá-lo; que podia atravessar uma montanha com a mesma facilidade com que atravessava o ar; e que podia viver num forno incandescente ou nas profundezas do Grande Abismo sentindo o maior conforto e bem-estar. De modo geral, o neófito receia de início os elementos, portanto, o Iniciador se faz presente para ajudar e infundir-lhe segurança. Ao raiar do quarto dia ele era transportado à plataforma da Pirâmide, onde os raios do Sol nascente despertavam-no daquele sono (em que visitara o Purgatório). Ao despertar era-lhe dada "a Palavra", e passava a chamar-se "primogênito". Este rito ainda subsiste no terceiro grau da Maçonaria: a morte e ressurreição de Hiram Abiff, o "filho da Viúva", o grande Arquiteto do Templo de Salomão e herói da lenda maçônica. Ragon, eminente franco-maçom francês, diz que a lenda de Hiram é uma alegoria astrológica que simboliza o Sol, partindo do solstício de verão e daí para baixo. O Templo de Salomão é o nosso sistema solar que constitui a grande escola da vida para a nossa humanidade em evolução. As linhas mestras de sua história passada, presente e futura, estão escritas nas estrelas onde aquele que busque poderá conhecer em linhas gerais. No esquema microcósmico, o Templo de Salomão é também o corpo humano em cujo interior o espírito individualizado ou o Ego está evoluindo, como Deus o está no Macrocosmos. Hiram Abiff, o Grande Mestre, é o Sol que caminha pelos doze signos do zodíaco, representando aí o drama místico da lenda Maçônica. No equinócio vernal o Sol deixa o signo aquoso de Piscis (que também é feminino e dócil) entrando no beligerante, marcial, enérgico signo ígneo de Áries, o Carneiro ou o Cordeiro, onde sua força está exaltada . Ele enche o universo com o fogo criador imediatamente trabalhado pelos inúmeros bilhões de espíritos da natureza (7) que com ele preparam o "Templo" para o ano seguinte, nas florestas e nos pântanos; as forças fecundantes aplicadas às inúmeras sementes mergulhadas na Terra, produzem a germinação e cobrem a Terra com vegetação luxuriante enquanto os espíritos-grupo acasalam as bestas e os pássaros a seu cargo, para que possam procriar suficientemente, a fim de conservar a fauna do nosso planeta. De acordo com a Lenda Maçônica, Hiram Abiff usava um martelo para chamar seus operários, e é bastante significativo que o símbolo do signo de Áries – onde começa esta maravilhosa atividade criadora – tenha a forma de um duplo chifre de carneiro, forma semelhante à de um martelo. Durante o verão tudo o que respira emite cânticos de gratidão ao Sol. Hiram, que o representa, pode dar a Palavra, quer dizer, vida a tudo. Então entra os signos austrais ao decair o equinócio, a natureza emudece, e Hiram, o Sol, já não pode dar mais a palavra sagrada. Encontra os três assassinos, os signos zodiacais de Libra, Scorpio e Sagitarius, pelos quais passa o Sol em outubro, novembro e dezembro. O primeiro o golpeia com a régua de 24 polegadas que simboliza as 24 horas que tarda a Terra em girar sobre seu eixo. O segundo o golpeia com o esquadro de ferro, que simboliza as quatro estações e, por último, lhe é dado o golpe mortal, pelo terceiro assassino, com um martelo que, sendo redondo, significa que o Sol completou seu círculo e morre para dar lugar ao Sol do ano novo. Os Iniciados dos templos egípcios eram chamados "phree messen", que significa "filhos da luz", porque haviam recebido a luz do conhecimento ; essas palavras se transformaram depois em "Free Mason"(maçom livre ou franco-maçom). Na religião judaica ouvimos falar de um Deus que fez certas promessas a um homem chamado Abraão. Ele prometeu que faria a semente de Abraão tão numerosa como as areias do mar; e nos diz como tratou o neto de Abraão, Jacó, que estava casado com quatro esposas, das quais teve 12 filhos e uma filha. Estes são considerados os pais da nação judia. Esta é também uma alegoria astronômica referente às migrações dos corpos celestes, como se comprovará lendo cuidadosamente o capítulo 49 do Gênesis e o capítulo 33 do Deuteronômio, nos quais as bênçãos de Jacó a seus filhos mostram que estes estavam identificados com os 12 signos do Zodíaco: Simão e Levi representavam o signo de Gemeos e o Signo feminino, Virgem, o atribuía Jacó a sua única filha Dinah. Gad, representa o signo de Áries. Issachar, Touro. Benjamin, Câncer. Judá, Leão .Asher, Libra; Dan, Escorpião; José Sagitário; Naftali, Capricórnio; Rubens, Aquário; e Zebulom, Peixes. As quatro esposas são as quatro fases da Lua e Jacó é o Sol. Isto é análogo aos ensinamentos que encontramos entre os gregos, em que Gaia, a Terra, é a esposa de Apoio, o Sol; e, entre os egípcios, em que o calor e umidade, o Sol e a Lua, estavam personificados por Osiris e Isis. Os rios sagrados Jordão e Ganges estavam, também, relacionados com o Rio Eridano, que é uma das constelações. Significa "fonte de descendência" e para os agricultores, como para esses povos antigos, esses rios eram a fonte das Águas da Vida. Josephus nos diz que os judeus levavam os doze signos do Zodíaco em suas bandeiras, e que acampavam em torno do Tabernáculo onde havia o Candelabro de sete braços representando o Sol e os corpos celestes que giram dentro do círculo formado pelos 12 signos do Zodíaco. Os judeus construíam seus templos de tal forma que os quatro cantos apontavam para o NE, SE, SO e NO. Os lados diretamente ao Norte, Sul, Leste e Oeste. Da mesma forma que os demais templos solares, sua entrada principal estava a Este, de maneira que o Sol nascente iluminasse seu portal e fosse assim o Arauto, cada dia, da vitória da luz sobre os poderes das trevas. Ele trazia assim à humanidade nascente a mensagem de que a luz e a obscuridade, antagônicas no plano material, não eram mais que a contraparte de um antagonismo similar nos mundos mental e moral, em que a alma humana está abrindo caminho para a luz, porque a batalha entre a luz e a obscuridade no mundo material, como todos os demais fenômenos, são sugestões das realidades dos reinos invisíveis. Essas verdades eram dadas ao homem, como mitos, pelos Seres invisíveis que o dirigiam em seu desenvolvimento, até que seu intelecto nascente produziu a arrogância que obrigou seus benfeitores a retirarem-se e deixá-lo aprender mediante os rudes golpes da experiência. Então o homem os esqueceu e começou a olhar essas antigas his tórias de deuses e semideuses como criações imaginárias. Sem dúvida, até a igreja Cristã primitiva estava imbuída desse conhecimento acerca do significado do mito solar, porque a Catedral de São Pedro, em Roma, como todos os demais templos solares, está construída voltada para o Leste, falando à humanidade da "Grande Luz do Mundo", que deve vir para dissipar as trevas espirituais que ainda nos rodeiam, a tocha de Luz que trará Paz sobre a Terra e boa vontade a todos os homens obrigando as nações a converterem suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras. Os judeus saudavam o Sol com o sacrifício matinal e se despediam dele, no poente, de maneira análoga, com uma oblação vespertina, oferecendo em seu "Sabbath" um sacrifício adicional ao "Deus de raça" lunar, Jeová, Também o adoravam com sacrifícios em cada nova Lua. Uma grande festa era a Páscoa, onde celebravam a especial Páscoa Israelita, quando o Sol passava pelo nodo oriental. Deixava, então, o hemisfério austral onde hibernara e começava sua jornada para o norte, em seu carro de fogo, saudado com alegria pelo homem; como o Salvador que o libertará da fome e do frio que, inevitavelmente, se produziriam se permanecesse sempre em sua declinação austral. A última festa dos judeus e a mais importante é a dos Tabernáculos, quando o Sol cruza seu nodo ocidental no outono, depois de haver dado ao homem o pão da vida com o qual podia sustentar seu ser material até a próxima volta do Sol aos céus boreais. Por essas razões, os seis signos que o Sol ocupa no inverno (no hemisfério norte) a saber: Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes, são chamados de "Egito": a "Terra dos Filisteus", etc, nome que significava algo de mau para o "povo de DEUS". Enquanto isso os signos boreais, isto é: Áries, Tauro, Gemeos, Câncer, Leão e Virgem, nos quais está o Sol na estação das frutas, são chamados de "céus", "terra prometida" que "destilava leite e mel". Vemos isto em passagens tais como a que há na celebração da Páscoa dos Judeus, que é "para recordar a saída do Egito". Esta festa não é mais do que um regozijo pela saída do Sol dos signos austrais, que alude, também, ao fato de que Jacó estava com seu filho José, no Egito, quando morreu. No solstício do inverno, o Sol do ano passado que completou sua jornada e alcançou o grau máximo de declinação austral, encontra-se no signo zodiacal Sagitários. Com referência ao Génesis 49,24, quando Jacó agonizante fala do "arco" de José, é bem fácil identificá-lo com o signo Sagitário que está representado por um Centauro no momento, de lançar uma flecha, de sorte que a história de Jacó, morrendo no Egito com José, se efetua a cada ano quando o Sol morre no signo Sagitário, no solstício de inverno ( no hemisfério norte). A história de Sansão é outro aspecto do mito solar. Enquanto o cabelo de Sansão era grande e continuava crescendo, sua força aumentava; Sansão é o Sol, seus cabelos, os raios do Sol. Desde o solstício de inverno, em dezembro, até o solstício de verão, em junho, os raios solares vão crescendo e ganhando em força cada dia. Isto atemoriza os "poderes das trevas", os meses invernais, os filisteus, porque se esse Doador de Luz. Continua, o reino deles terminará. Então conspiram contra Sansão para descobrir em que consiste sua força, se asseguram da cooperação de Dalila, que é o signo de Virgo e quando Sansão, o Sol, passa através deste signo em setembro, diz-se que ele deitou sua cabeça no seio da mulher e a ela confiou seu segredo. Dalila corta seus cabelos, quer dizer, nesta época os raios do Sol se debilitam. Então os filisteus, ou meses invernais, chegam para levar o debilitado gigante para sua prisão, os signos austrais, nos quais está o Sol no inverno. Tiram-lhe os olhos, ou seja, privam-no de sua luz, e por último, levam-no a seu templo, a fortaleza deles, no solstício de inverno. Lá submetem-no a indignidades, crendo terem vencido a luz completamente. Porém, com o restante de suas forças, o acorrentado gigante solar derruba o templo e, embora morra com o esforço despendido, se sobrepõe a seus inimigos, deixando assim lugar para o novo Sol que nascerá para salvar a humanidade do frio e da fome que se seguiriam se permanecesse sempre limitado pelos poderes das trevas, os filisteus, os meses invernais. A vida de todos os salvadores da humanidade está baseada, também, na passagem do Sol em torno do Zodíaco que descreve as provações e os triunfos do Iniciado e este fato deu origem à conclusão errônea de que esses salvadores nunca existiram, sendo essas histórias simples mitos solares, o que é um equívoco. Todos os instrutores divinos, enviados à humanidade, são caracteres cósmicos, e os passos de suas vidas estão de acordo com o caminhar dos astros, que contém, por assim dizer, uma biografia antecipada deles. Todos vieram com luz e conhecimentos espirituais para ajudar o homem a encontrar DEUS, portanto, os acontecimentos de suas vidas estavam de acordo com os que o portador físico da luz, o Sol, encontra em sua peregrinação através do ano. Todos os Salvadores nasceram de uma Virgem imaculada, quando a obscuridade era maior entre a humanidade, assim como o Sol, de cada ano, nasce e começa sua jornada na noite mais longa do ano, quando o signo zodiacal de Virgo, a Virgem, se mantém sobre o horizonte oriental em todas as latitudes entre 22 e 24 horas. Ela permanece tão imaculada como sempre, ainda depois de haver dado à luz a um filho - o Sol. Do mesmo modo vemos a deusa egípcia Isis sentada em uma Lua Crescente, nutrindo seu divino filho, Horus. Astarté, a imaculada senhora da Babilônia com seu filho Tammuz e uma coroa de sete estrelas sobre sua cabeça e vemos Devaki, na índia, com seu filho Krishna. Nossa própria Virgem Maria deu à luz ao Salvador do Mundo Ocidental sob a estrela de Belém. Por todas as partes a mesma história: a mãe imaculada, o filho divino e o Sol, a Lua ou as estrelas. Assim como o Sol material é débil e tem que surgir dos poderes das trevas, assim também todos esses divinos doadores de luz são perseguidos e se vêm obrigados a fugir dos poderes do mundo, e, como o Sol, sempre escapam. Jesus fugiu de Herodes. O Rei Kansa e o Rei Maia são seus paralelos em outras religiões. O batismo ocorre quando o Sol passa através do signo de Aquários, o aguador. Quando passa pelo signo de Piscis, em março, temos o jejum do Iniciado, porque Peixe é o último dos signos austrais e todos os depósitos, preenchidos pelas generosas dádivas do Sol do ano anterior, estão quase esgotados e o alimento do homem escasseia. A alimentação de peixe na Quaresma, que tem lugar nessa época, é mais uma corroboração da origem solar do jejum. No equinócio da primavera, quando o Sol "cruza o equador", tem lugar a "crucificação", porque então o Deus Solar. Começa a dar Sua vida, como alimento, a Seus adoradores, amadurecendo o trigo e a uva que se transformam no "pão e vinho". Para tal é necessário que deixe o equador e siga Sua marcha ascendente no céu. Similarmente a humanidade nada aproveitaria, em termos espirituais, se seus salvadores com ela permanecessem e, por conseguinte, se vão para os céus como "filhos (ou sóis) de justiça e retidão", de lá alimentando os fiéis, assim como faz o Sol, com o homem, quando se eleva no céu. O Sol alcança seu ponto máximo de declinação boreal no solstício de verão; e tão ele se senta no "trono de seu pai", o Sol do ano anterior, porém não pode permanecer ali por mais de três dias, retornando, então para baixo até o seu nodo ocidental. Analogamente os Salvadores da humanidade ascendem até o trono do Pai, para renascerem de vez em quando para o bem da humanidade, cuja verdade está encerrada na sentença do credo niceno: "e de ali voltará". O movimento conhecido sob o nome de "precessão dos equinócios", através do qual o Sol cruza o equador em 21 de março em um ponto sempre diferente a cada ano, estabelece o símbolo do Salvador. A época do nascimento de Jesus, o Sol cruzava o equador próximo quinto grau do signo Aries, o Carneiro. Consequentemente Cristo foi "o Cordeiro de Deus"(João 1:36). Houve, porém, uma controvérsia, pois alguns criam que, devido à chamada órbita de influência, a força do Sol achava-se realmente no signo de Peixes, devendo portanto, ser um peixe o símbolo de Cristo. Como remanescente dessa controvérsia ficou até nossos dias a mitra do Bispo, em forma de cabeça de peixe. Na época de Mithras o Salvador persa o Sol cruzava no signo de Touro, pelo que vemos a Mithras montado em um Touro. Nisto se baseia a veneração do Boi Apis, no Egito. Presentemente o equinócio vernal está próximo aos 10 graus de Pisces, os Peixes, de modo que se um Salvador houvesse nascido agora certamente seria chamado "O Pescador". Como Oannes de Nínive, deturpado por tradução da Bíblia em Jonas e a Baleia. Esta grande alegoria, tal como tantas outras, está gravada também no firmamento, pois primeiramente acontece nos céus, para depois se realizar na Terra, e ainda poderemos ver no céu estrelado "Jonas, a Pomba", e "Cetus, a Baleia". As quatro letras que se diz terem sido afixadas na cruz de Cristo, e o método de fixar a data da Páscoa em comemoração ao acontecimento, mostram igualmente o caráter cósmico do fato. As letras I.N.R.I. são comumente interpretadas como significando Jesus Nazarenus Rex Iudaeorum (Jesus Nazareno Rei dos Judeus). Contudo tais letras são também as iniciais hebraicas dos nomes dos quatro elementos: Iam (água), Nour (fogo), Ruach (ar, ou espírito) e Iabeshah (terra). Seria tolice fixar-se a data de aniversário da morte de um indivíduo conforme é fixada a Páscoa, isto é, pelo Sol e pela Lua, a menos que o fato diga respeito a um evento solar e tenha um caráter cósmico, tudo relacionado ao Sol como doador de Luz espiritual e luminar físico. Quando o Sol deixa o seu trono no solstício de verão, a 21 de junho, entra no signo Leo, o Leão de Judá (de 24 de julho a 23 de agosto).Temos então a festa católica da "Assunção", a 15 de agosto, com o Sol em Leo. Daí ele avança em direção ao seu nodo ocidental e entra no signo de Virgo a 22 de agosto. Assim, é como se a Virgem nascesse do Sol. Isso traz à mente a solução astronômica para aquela passagem da Revelação: "Vi uma mulher vestida do Sol e com a Lua a seus pés" (Apocalipse, Cap. XII). Esse fenômeno ocorre em setembro, logo depois da Lua Nova. Porque, visto da Terra, o Sol cobre ou veste o signo de Virgo por todo setembro, e os pés da Virgem. Ao lermos o que disse João Batista, referindo-se ao Cristo: "Convém que Ele cresça e que eu diminua" (João 3,30), vemos simbolizar o Sol no solstício de verão, quando este decresce em luz durante o seguinte meio ano, enquanto Cristo, por seu nascimento no Natal, é identificado com o Sol recém-nascido que aumenta a amplitude do dia até meados do verão. Vemos assim que o confronto entre a Luz e as Trevas no mundo físico está intimamente relacionado, nas Escrituras das diferentes religiões, com a luta dos poderes da Luz e da vida espirituais contra aqueles da escuridão e da ignorância, e que esta verdade foi universalmente difundida entre todos os povos em todas as épocas. Os mitos dos dragões assassinos e seus matadores encarnam a mesma verdade: os gregos falam da vitória de Apolo sobre Python e de Hércules sobre o dragão das Hespérides. Os escandinavos contam do confronto de Beowulf matando o dragão de fogo; de Siegfried triunfando sobre o dragão Fafner, e nós temos o nosso São Jorge matando o dragão. Em nossa época materialista estas verdades estão sendo temporariamente relegadas ao esquecimento, ou consideradas conto de fadas, sem nenhum apoio verídico. Mas tempo virá, e não está muito longe, em que essas relíquias serão restauradas e novamente respeitadas como corporificação de grandes verdades espirituais. Livreto Introdutório dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. www.fraternidaderosacruz.org.  Abraço. Davi

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A MULHER IOGUE QUE NUNCA SE ALIMENTA


Livro Autobiografia de Um Iogue – Paramahansa Yogananda (1893-1952). A MULHER IOGUE QUE NUNCA SE ALIMENTA. Senhor, para onde vamos esta manhã? O senhor Wright, que dirigia o Ford, afastou os olhos da estrada o tempo suficiente para encarar-me com um piscar de olho interrogativo. Ele raramente sabia, de antemão, que parte de Bengala (região da Índia) descobriria a seguir. Se Deus quiser – repliquei com devoção – estamos a caminho de conhecer a oitava maravilha do mundo: uma santa cujo alimento é o ar puro! Depois de Teresa Neumann (1898-1962), as maravilhas se repetem. Mas mesmo assim o senhor Wright riu ansiosamente e até aumentou a velocidade do carro. Mais material extraordinário para seu diário de viagem! O seu, porém, não era o de um turista comum! Acabávamos de deixar para trás a escola de Ranchi; havíamos nos levantado antes do sol. Além de meu secretário e de mim, três amigos bengalis estavam no grupo. Sorvemos o ar revigorante, o vinho natural da manhã. Nosso motorista guiava o automóvel com todo o cuidado, entre camponeses madrugadores e carretas de duas rodas, puxadas lentamente por zebus de enormes gibas e inclinadas a disputar a estrada com um intruso que buzinava. Senhor, gostaríamos de saber mais a respeito da santa que jejua. Seu nome é Giri Bala – informei aos companheiros. A primeira vez que ouvi sobre ela foi há alguns anos, de um amável erudito, Sthiti Lal Nundy. Ele vinha com frequência à casa de Gaspar Road para dar lições particulares a meu irmão Bishnu. Conheço bem Giri Bala, dissera-me Sthiti Babu. Ela emprega certa técnica iogue que lhe permite viver sem comer. Fui seu vizinho em Nawabganj, perto de Ichapur (1). Decidi observá-la de perto e nunca encontrei evidência de que comesse ou bebesse. Meu interesse cresceu a tal ponto que um dia procurei o Marajá de Burdwan (2) e pedi-lhe que realizasse uma investigação. Espantado com a história, ele a convidou ao seu palácio. Ela concordou em submeter-se a um teste e viveu dois meses fechada numa pequena parte da residência do marajá. Posteriormente, voltou ao palácio para uma permanência de 20 dias e depois para um terceiro teste de 15 dias. O próprio marajá declarou-me que os três rigorosos escrutínios o convenceram, acima de qualquer dúvida, de que ela jamais comia. E concluí: Esta história de Sthiti Babu permaneceu em minha mente por mais de 25 anos. Algumas vezes, nos Estados Unidos, eu me indagava se o rio do tempo não tragaria a yogini (3) antes que eu a pudesse conhecer. Agora ela deve ser bem idosa. Ainda não sei onde mora, nem se ainda está viva. Mas em algumas horas chegaremos a Purulia; o irmão de Giri Bala tem uma casa lá. As dez e meia, nosso pequeno grupo conversava com seu irmão, Lambodar Dey, advogado em Purulia. Sim, minha irmã ainda vive. Às vezes ela fica comigo aqui, mas no momento está na casa de nossa família em Biur. Lambodar Babu lançou um olhar desconfiado ao Ford. Acho, Swamiji, que jamais qualquer automóvel se aventurou em interior tão remoto quanto Biur. Seria melhor se todos se resignassem aos solavancos de uma carreta de bois. Nosso grupo, em uníssono, jurou lealdade ao “Orgulho de Detroit”. O Ford vem dos Estados Unidos – eu disse ao advogado. Seria uma vergonha privá-lo da oportunidade de conhecer o coração de Bengala! Que Ganesh (4) os acompanhe! Disse Lambodar Babu, rindo. E acrescentou cortesmente – Se conseguirem chegar até lá, tenho certeza de que Giri Bala ficará contente em vê-lo. Ela está chegando aos 70 anos, mas continua com excelente saúde. Senhor, diga-me por favor: é realmente verdade que ela não come nada? Olhei diretamente em seus olhos, as reveladoras janelas da alma. É verdade. Seu olhar era franco e leal. Durante mais de cinco década, jamais a vi comer sequer uma migalha. Se o fim do mundo chegasse de repente, eu ficaria menos surpreso do que se visse minha irmã se alimentando! A risada foi geral, devido à improbabilidade desses dois acontecimentos cósmicos. Giri Bala nunca procurou a solidão inacessível para suas práticas de yoga – continuou Lambodar Babu. Viveu a vida inteira cercada pelos parentes e amigos. Todos estão agora perfeitamente acostumados ao seu estado incomum. Qualquer um deles ficaria estupefato se Giri Bala subitamente decidisse comer qualquer coisa! Minha irmã vive em discreto retiro, como convém a uma viúva hindu, mas nosso pequeno círculo em Purulia e Biur sabe que ela é, literalmente, uma mulher “excepcional”. A sinceridade do irmão era evidente. Nosso pequeno grupo agradeceu calorosamente e partiu para Biur. Paramos num mercado para comprar luchis e caril, atraindo um enxame de garotos, que rodearam o senhor Wright para vê-lo comer com as mãos à maneira simples dos hindus (5). Um exigente apetite fez com que nos fortalecêssemos para uma tarde que, sem que suspeitássemos no momento, seria bastante penosa. Nosso caminho agora nos levava para o leste, cruzando arrozais banhados pelo sol, até o distrito Burdwan de Bengala. Prosseguíamos por estradas margeadas por densa vegetação: as canções de mainás e tordos de pescoço listrado brotavam de árvores cujas ramagens se pareciam a enormes guarda-sóis. De vez em quando uma carreta de bois, o chiante rim-rim do eixo e das rodas de madeira com aros de ferro contrastava de forma nítida, em nossa mente, com o rápido e suave deslizar dos pneus no asfalto aristocrático das cidades. Dick, pare! Meu súbito pedido provocou um solavanco de protesto do Ford. Esta mangueira sobrecarregada de frutos está bradando um amável convite! Nós cinco saltamos como crianças para o chão coberto de mangas; a árvore soltara benevolamente os frutos que estavam maduros. Muitas mangas nascem para não serem vistas – parafraseei – e desperdiçam sua doçura no chão pedregoso. Nada igual a isto nos Estados Unidos, hein, Swamiji? Disse rindo Sailesh Mazundar, um de meus estudantes bengalis. Não. Admiti, repleto de mangas e contentamento. Que falta senti desta fruta no Ocidente! Sem mangas, o paraíso para o hindu é inconcebível! Atirei uma pedra e fiz despencar uma beldade orgulhosa do ramo mais alto. Dick – perguntei, entre nacos de ambrosia aquecida ao sol tropical, todas as câmeras fotográficas estão no carro? Sim senhor, no porta-malas. Se Giri Bala for realmente uma santa, quero escrever a respeito dela no Ocidente. Uma yogini hindu com poderes tão inspiradores não deveria viver e morrer desconhecida (...) como a maioria destas mangas. Meia hora mais tarde eu ainda vagava naquela paz silvestre. Senhor, devemos alcançar Giri Bala antes que o sol se ponha se quisermos ter suficiente luz para as fotografias – comentou o senhor Wright, acrescentando com um sorriso. Os Ocidentais são um bando de céticos; sem fotos, não podemos esperar que acreditem nesta senhora! Essa pitada de sabedoria era inquestionável. Dei as costas à tentação e voltei para o carro. Você tem razão, Dick – suspirei, enquanto acelerávamos. Sacrifico o paraíso de mangas no altar do realismo Ocidental. Temos que conseguir fotografias! A estrada se tornou gradativamente mais doentia: rugas na trilha das carretas, verrugas de barro endurecido – as tristes enfermidades da velhice. De vez em quando nosso grupo descia do carro para permitir ao senhor Wright manobrar mais facilmente o Ford, enquanto empurrávamos por trás. Lambodar Babu disse a verdade – reconheceu Sailesh. O carro não está nos carregando; nós é que estamos carregando o carro! O tédio de entrar e sair do carro era amenizado uma vez ou outra pelo aparecimento de uma aldeia, cada uma delas um cenário de pitoresca simplicidade. Nosso caminho se torcia e dava voltas por bosques de palmeiras entre vilarejos antigos e intactos, aninhados à sombra da floresta, registrou o senhor Wright em seu diário de viagem, em 5 de maio de 1936. Muito fascinantes são estes aglomerados de choupanas de barro e sapê, decoradas com um dos nomes de Deus na porta. Muitas criancinhas nuas, brincando inocentemente, param para arregalar os olhos ou fugir precipitadamente desta carreta enorme, preta e sem bois, cortando alucinada a aldeia. As mulheres simplesmente espiam das sombras, enquanto os homens se refestelam preguiçosamente sob as árvores, à margem do caminho, encobrindo sua curiosidade sob um ar de indiferença. Num desses lugares, todos os habitantes tomavam banho alegremente num grande açude (todos vestidos, mas trocando depois as roupas molhadas por outras secas). Mulheres carregando água para casa, em enormes jarras de latão. A estrada nos conduzia por altos e baixos, como em divertida caçada; fomos sacudidos em todas as direções, mergulhamos em pequenos arroios, demos meia-volta para contornar um corredor inacabado. Deslizamos por leitos de rios secos e arenosos, e finalmente, quase às cinco horas da tarde, nos aproximamos do distrito de Bankura, escondida peal proteção da folhagem densa. É inacessível aos viajantes na estação das chuvas, segundo nos disseram: nessa época, os riachos são torrentes furiosas e as estradas parecem serpentes, cuspindo seu veneno, a lama. Pedindo um guia a um grupo de devotos que voltava para casa após as orações no templo (num campo solitário), fomos assediados por uma dúzia de garotos escassamente vestidos, que subiram nos lados do carro, ansiosos para nos levar até Giri Bala. O caminho levava a um bosque de tamareiras que abrigava um grupo de choças de barro, mas antes de alcança-lo, o Ford inclinou-se momentaneamente em ângulo perigoso, arremessou-se para o alto e voltou ao chão. A estreita trilha, contornando árvores e açudes, conduziu-nos por cristas, buracos e sulcos profundos. O carro ficou ancorado em uma moita de arbustos; a seguir, encalhou numa pequena elevação, obrigando-nos a remover parte da terra. Prosseguimos, lenta e cuidadosamente. De súbito, o caminho foi interrompido por um amontoado de galhos no meio da trilha de carretas, sendo necessário um desvio descendente à beira de um precipício que ia terminar num açude seco, do qual fomos resgatados com pás, enxadas e raspadeiras. Repetidas vezes o caminho nos pareceu intransitável, mas a peregrinação precisava continuar; garotos atenciosos buscavam as pás e demoliam os obstáculos (benção de Ganesh) enquanto centenas de crianças e pais olhavam. Logo estávamos em nosso caminho ao longo dos dois antiquíssimos sulcos de carretas – mulheres nos observando com olhos arregalados da porta de suas choupanas, homens seguindo o carro de ambos os lados e por trás, crianças correndo para aumentar a procissão. O nosso carro talvez tenha sido o  primeiro a transitar por estas estradas; o “Sindicato dos Carros de Bois” deve ser onipotente aqui! Que sensação causamos – um grupo pilotado por um americano, pioneiros a bordo de um carro resfolegante a mexer diretamente com a estabilidade da aldeia, invadindo sua antiga privacidade e santidade! Paramos numa viela estreita, a uns 30 metros do lar ancestral de Giri Bala. Sentíamos a vibração da vitória após a longa luta com a estrada, coroada por um último e rude trecho. Acercamo-nos de uma construção grande, de dois andares, de tijolos e argamassa, dominando as choças de adobe à sua volta. A casa estava passando por consertos, pois em torno dela se via o característico andaime tropical de bambus. Com inquieta expectativa e júbilo contido, paramos diante das portas abertas; ali vivia a criatura abençoada pelo Senhor com o toque dos que não têm fome. Sempre boquiabertos mostravam-se os habitantes da aldeia, jovens e velhos, nus e vestidos, mulheres um pouco à distância. Mas também interrogativas, homens e meninos audaciosamente em nosso calcanhares admirando o espetáculo sem precedentes. Logo uma figura de baixa estatura surgiu à soleira da porta – Giri Bala! Estava envolta num traje de seda de um dourado pálido; ao modo tipicamente hindu, avançou, modesta e hesitante. Espiando-nos por sob a dobra superior do pano swadeshi que lhe cobria a cabeça. Seus olhos reluziam como brasas vivas por entre as sombras da roupa; ficamos enamorados por seu rosto de benevolência e auto realização , livre da mácula do apego terrestre. Mansamente ela se aproximou e em silêncio consentiu que tirássemos algumas fotos e a filmássemos (6). Paciente e timidamente suportou nossas técnicas fotográficas, de ajustes de posição e de luz. Por fim, tínhamos guardado para a posteridade muitas imagens da única mulher no mundo que se sabe ter vivido sem comer nem beber pro mais de 50 anos (Teresa Neumann (1898-1962), naturalmente, jejua desde 1923). Muito maternal era a expressão de Giri Bala ao permanecer diante de nós, inteiramente coberta por suas vestes soltas e flutuantes, sem que nada se visse de seu corpo a não ser a face de olhos baixos, as mãos e os diminutos pés. Um rosto de rara paz e de inocente equilíbrio – lábios largos, trêmulos, infantis, um nariz feminino, olhos amendoados e reluzentes, e um sorriso pensativo. Compartilhei das impressões do senhor Wright sobre Giri Bala: a espiritualidade a envolvia, tal qual o seu véu de suave brilho. Ela fez pranam diante de mim, que é o gesto costumeiro de saudação de uma dona de casa a um monge. Seu encanto simples e sorriso quieto nos deram uma acolhida superior a uma oratória melíflua; esquecida ficou a nossa viagem difícil e empoeirada. A pequena santa sentou-se de pernas cruzadas na varanda. Embora demonstrasse os sinais da idade, não tinha aspecto macilento; a pela cor de oliva conservava sua tradicional tonalidade pura e saudável. Mãe – eu disse em bengali – durante mais de 25 anos pensei com ansiedade nesta peregrinação! Sthiti Lal Nundy Babu falou-me sobre sua vida sagrada. Ela concordou com a cabeça, em sinal de reconhecimento: Sim, meu bom vizinho em Nawabganj. Nestes anos todos atravessei os mares, mas nunca esqueci meu plano de vê-la um dia. O drama sublime que a senhora aqui representa modestamente deveria ser proclamado a um mundo que há muito esqueceu o divino alimento interior. A santa ergueu o olhar por um momento, sorrindo com sereno interesse. Baba (venerado pai) sabe o que é melhor – respondeu mansamente. Fiquei contente por ela não se sentir ofendida: nunca se sabe como os iogues e as yoginis reagirão à ideia de publicidade. Via de regra eles a evitam, desejoso de prosseguir em silêncio a profunda investigação da alma. Uma autorização interna, quando chega a hora, lhes permite exibir a sua vida abertamente, em benefício das mentes buscadoras. Mãe – continuei – perdoe-me, então, por sobrecarrega-la com tantas perguntas. Por favor, responda somente às que lhe agradarem; compreenderei seu silêncio também. Ela estendeu as mãos em gesto gracioso. Responderei com prazer, na medida em que uma pessoa insignificante como eu possa dar respostas satisfatórias. Oh não, insignificante não! Protestei sinceramente. A senhora é uma grande alma. Sou a humilde serva de todos – e acrescentou, curiosamente. Gosto de cozinhar e de alimentar os outros. Passatempo estranho, pensei, para uma santa que não come! Que seus próprios lábios me digam, mãe: é verdade que vive sem alimento? É verdade. Ela ficou em silêncio por alguns instantes; seu próximo comentário indicava que estivera lutando com cálculos mentais. Desde a idade de 12 anos e quatro meses até minha idade atual de 68 anos – um período superior de 50 anos – não tenho ingerido alimento sólido nem líquido. Não sente a tentação de comer? Afirmou régia e simplesmente esta verdade axiomática, velha conhecida de um mundo que gira em torno de três refeições por dia! Mas a senhora se alimenta de alguma coisa! Havia em meu tom de voz uma objeção. Entendendo imediatamente, ela sorriu. Sem dúvida! Sua nutrição provém das energias mais refinadas do ar e da luz solar (7) e do poder cósmico que reabastece seu corpo através do bulbo raquiano. Baba sabe. Ela novamente concordou, em seu modo suave e sem ênfase. Mãe, por favor, conte-me sobre os primeiros anos de sua vida, que é de profundo interesse para toda a Índia e até para nossos irmãos e irmãs do exterior. Giri Bala pôs de lado sua reserva habitual, relaxando para a conversa informal. Assim seja. Sua voz era baixa e firme. Nasci nesta região de florestas. Minha infância nada teve de excepcional, a não ser pelo fato de que eu tinha um apetite insaciável. Meu noivado ocorreu aos nove anos de idade. “Filha”, advertia minha mãe frequentemente, “tente controlar sua gula. Quando vier a época de viver entre estranhos na família do seu marido, que pensarão de você se passar os dias apenas comendo”? A calamidade que ela havia previsto aconteceu. Eu tinha apenas 12 anos quando me reuni à família do meu marido em Nawabganj. Minha sogra me humilhava o dia inteiro, falando dos meus hábitos de gulodice. Entretanto, suas censuras foram uma benção disfarçada: despertaram minhas tendências espirituais adormecidas. Certa manhã, sua crítica mordaz foi impiedosa. Logo vou lhe provar, disse eu, sentindo a ferroada até a medula, que nunca mais tocarei em comida enquanto viver. Ah, é? Minha sogra riu com menosprezo. Como pode viver sem comer, quando não pode nem viver sem comer demais? Esse comentário era irrefutável. Contudo, uma resolução de aço tinha entrado no meu coração. Num lugar isolado, procurei meu Pai Celestial. Orei sem cessar: Senhor, por favor, manda-me um guru, alguém que possa ensinar-me a viver de tua luz e não de comida. Um êxtase me sobreveio. Sob encantamento beatífico, parti para o ghat de Nawabganj, à beira do rio Ganges. No caminho encontrei o sacerdote da família do meu marido. Venerável senhor, disse eu confiantemente, faça a gentileza de dizer como se vive sem comida. Ele me olhou fixamente, sem responder. E afinal falou, consoladoramente. Filha, venha ao templo hoje à noite. Conduzirei uma cerimônia védica especialmente para você. Esta resposta vaga não era a que eu procurava, continuei em direção ao ghat. O sol matutino penetrava na água; purifiquei-me no rio Ganges, como se fosse para uma iniciação sagrada. Ao me afastar da margem do rio, com a roupa molhada, em plena luz do dia, vi meu mestre materializar-se à minha frente! Querida pequenina, disse com voa de amorosa compaixão, sou o guru enviado por Deus para satisfazer sua prece urgente. Ele ficou profundamente comovido com a essência incomum da sua oração! De hoje em diante você viverá da luz astral; os átomos do seu corpo serão recarregados pela corrente infinita. Giri Bala silenciou. Tomei o lápis e o bloco de anotações do senhor Wright e traduzi para o inglês alguns itens da conversa a fim de informa-lo. A santa retomou a história, sua voz suave quase inaudível. O ghat estava deserto, mas meu guru lançou em torno de nós uma aura de luz protetora, para que nenhum banhista vagando por ali nos incomodasse. Ele me iniciou numa técnica de Kria Yoga que liberta o corpo da dependência do grosseiro alimento dos mortais. A técnica inclui o uso de certo mantra (8) e um exercício respiratório mais difícil que os realizáveis por uma pessoa comum. Não há magia nem drogas medicinais; nada além da Kria. Imitando o repórter de um jornal americano que, sem perceber, me ensinou seu método de entrevistar, interroguei Giri Bala  sobre muitos assuntos que achei que interessariam ao mundo. Ela me deu, pouco a pouco, as seguintes informações: Nunca tive filhos; fiquei viúva há muitos anos. Durmo muito pouco, já que sono e vigília são iguais para mim. Medito à noite, cumprindo meus deveres domésticos durante o dia. Sinto ligeiramente a mudança de clima de uma estação para outra. Nunca estive doente nem sofri de qualquer moléstia. Sinto apenas uma leve dor quando sou ferida acidentalmente. Não tenho excreções físicas. Posso controlar as batidas de meu coração e minha respiração. Tenho visões frequentes de meu guru e de outras grandes almas. Mãe – perguntei – por que não ensina aos outros o método de viver sem comer? Minhas ambiciosas esperanças para os milhões de famintos do mundo forma rapidamente destruídas. Não – ela negou com a cabeça – Recebi ordens rígidas do meu guru para não divulgar o segredo. Não é desejo dele intrometer-se no drama divino da criação. Os agricultores não me agradeceriam se eu ensinasse muita gente a viver sem comida! As frutas deliciosas jazeriam inutilmente no chão. Parece que a miséria, a fome e a doença são chicotes de nosso karma que, em última instância, nos fazem buscar o verdadeiro significado da vida. Mãe – eu disse devagar – Então de que adianta a senhora ter sido eleita para viver sem alimento? Provar que o homem é Espírito. Seu rosto iluminou-se de sabedoria. Demonstrar que, pelo progresso divino, o homem pode gradualmente aprender a viver da Luz Eterna, e não da comida (9). A santa mergulhou em profundo estado meditativo. Seu olhar se interiorizou; as suaves profundezas de seus olhos tornaram-se inexpressivas. Ela exalou um certo suspiro, prelúdio do transe do êxtase sem respiração. Por algum tempo, voou para o reino onde não há perguntas, ao paraíso da alegria interior! A escuridão tropical descera. A luz de uma pequena lâmpada de querosene tremeluzia com intermitência sobre a cabeça de muitos camponeses que haviam se agachado silenciosamente nas sombras. Coriscantes vagalumes e distantes lamparinas a óleo das choças teciam rútilos e caprichosos arabescos na noite de veludo. Soava o momento doloroso da partida; uma jornada lenta, tediosa, era a perspectiva do pequeno grupo. Giri Bala – disse eu quando a santa abriu os olhos – me dê por favor um lembrança: uma pequena tira de um de seus saris. Logo ela voltou com uma peça de seda de Benares, cidade de Índia, estendendo-a em suas mãos enquanto se prostrava repentinamente no solo. Mãe – disse-lhe com reverência, sou eu que devo pedir para tocar os seus pés abençoados! REFERÊNCIA: (1). No norte de Bengala – Índia. (2). Sua Alteza Sir Bijay Chand Mahtah, já falecido. Sua família possui, sem dúvida, algum registro das três investigações do marajá a respeito de Giri Bala. (3). Mulher iogue. (4). Removedor de obstáculos, o deus da boa sorte. (5). Sri Yukteswar costumava dizer; “O Senhor nos deu os frutos da boa terra. Gostamos de ver nossa comida, cheirá-la e saboreá-la – o hindu também gosta de apalpá-la!” E, se ninguém mais está presente à refeição, não nos desgosta ouvi-la! (6). O senhor Wright também Sri Yukteswar durante seu último Festival do Solstício de Inverno, em Serampore. (7). “O que comemos é radiação, nosso alimento são certos quanta de energia”, disse o doutor George W. Crile (1864-1943) de Clevand – Estados Unidos, numa reunião de médicos em Memphis em 17 de maio de 1933. Trechos de seu discurso foram assim relatados: “Os raios do sol fornecem esta radiação importantíssima aos alimentos, que liberam correntes elétricas no sistema nervosos, ou seja, no circuito elétrico do corpo. Segundo o doutor Crile, os átomos são sistemas solares. São veículos cheios de radiação solar, como molas em espiral. Estes átomos cheios de energia, impossíveis de contar, são ingeridos como alimento. Uma vez no corpo humano, os átomos, estes tensos veículos, são descarregados no protoplasma do corpo, a radiação fornecendo nova energia química, novas correntes elétricas. Seu corpo é feito desses átomos, disse o doutor Crile. Eles são os músculos, cérebro e órgãos sensoriais, como os olhos e ouvidos”. Algum dia os cientistas descobrirão como o homem pode viver diretamente da energia solar. O doutor William L. Laurence escreveu no The New York Times: A clorofila é a única substância conhecida na natureza que possui o poder de agir como armadilha da luz solar. Ela aprisiona a energia do sol, armazenando-a na planta. Sem isso não haveria vida. Nós obtemos a energia necessária para viver da energia solar armazenada no alimento planta que comemos ou na carne dos animais que comem as plantas. A energia que obtemos do carvão ou do petróleo é a energia solar aprisionada pela clorofila na vida vegetal de milhões de anos atrás vivemos do sol por intermédio da clorofila. (8). Poderoso cântico vibratório. A tradução literal do sânscrito mantra é “instrumento do pensamento”. Significa os “sons ideais e inaudíveis que representam um aspecto da criação; quando vocalizado em sílabas, um mantra constitui terminologia universal. (Webster’s New International Dictionary, 2ª ed.). Os poderes infinitos do som derivam de Om, o “Verbo” ou zumbido criador do Motor Cósmico. (9). O estado de não comer atingido por Giri Bala é um poder iogue mencionado nos Yoga Sutras de Patânjali (III,31). Ela emprega certo exercício respiratório que afeta o chakra vishuddha, o quinto centro de energias sutis localizado na coluna. O chakra vishuddha, oposto à garganta, controla o quinto elemento, akash ou éter, infiltrado nos espaços intra-atômicos das células físicas. A concentração neste chakra (roda) capacita o devoto a viver de energia etérica. Teresa Neumann não vive de alimento denso, nem pratica uma técnica iogue científica para não comer. A explicação oculta-se nas complexidades do karma pessoal. Muitas vidas de dedicação a Deus estão por trás de pessoas como Teres Neumann ou Giri Bala, mas seus canais de exteriorização diferem. Entre os santos cristãos que viveram sem comer (apresentavam também os estigmas) pode-se mencionar: Santa Lidwina de Schiedam (1380-1433), a Beata Elisabeth de Rent, Santa Catarina de Siena (1347-1380), Maria Dominica Lazarri (1815-1848), a Beata Angela de Foligno (1248-1309) e Louise Lateau (1850-1883). São Nicolau de Flue (Bruder Klaus, eremita do século XV, cuja súplica apaixonada em favor de uma união salvou a Confederação Suíça), absteve-se de alimento por 20 anos. Livro Autobiografia de Um Iogue – Paramahansa Yogananda. Abraço. Davi