quinta-feira, 30 de setembro de 2021

APRESENTAÇÃO I

 

Religião Afrodescendente. Candomblé. Livro O Candomblé da Bahia – Rito Nagô. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018). Capítulo I. APRESENTAÇÃO I. Universidade de São Paulo – USP. Ao longo de todo o litoral atlântico, desde as florestas da Amazônia até a própria fronteira do Uruguai, é possível descobrir, no Brasil, sobrevivências religiosas africanas. Mas a Bahia, com seus candomblés em que, nas noites mornas dos trópicos, as filhas de santo dançam ao martelar surdo dos tambores, permanece a cidade santa por excelência. Os candomblés pertencem a "nações" diversas e perpetuam, portanto, tradições diferentes: Angola, Congo, Gêge (isto é, Ewe), Nagô (têrmo com que os franceses designavam todos os negros de fala yoruba, da Costa dos Escravos), Quê to (ou Ketu), Ijêxa ( ou Ijesha). É possível distinguir estas "nações" umas das outras pela maneira de tocar o tambor (seja com a mão, seja com varetas), pela música, pelo idioma dos cânticos, pelas vestes litúrgicas, algumas vezes pelos nomes das divindades, e enfim por certos traços do ritual. Todavia, a influência dos Yoruba domina sem contestação o conjunto das seitas africanas, impondo seus deuses, a estrutura de suas cerimônias e sua metafísica, a Dahomeanos, a Bantos. Porém é evidente que os candomblés Nagô, Quêto e Ijêxa são os mais puros de todos, e só eles serão estudados aqui. Por outro lado, ''nações" yoruba são encontradas noutras regiões do Brasil: em São Luís do Maranhão, no Recife, no Rio Grande do Sul. O grupo de São Luís, assaz isolado, sofreu a influência da Casa das Minas, dahomeana, que é o grupo dominante da cidade. Deixamo-lo, por essa razão, inteiramente de lado. No entanto, na medida em que as informações do Recife ou do Rio Grande do Sul completam ou confirmam as observações da Bahia, apelaremos algumas vezes para dados tomados aos Xangô do Recife ou às "nações" Nagô e Oyo (esta designada pelo próprio nome da cidade Yoruba) de Porto Alegre. No Rio de Janeiro, as "nações" se fundiram umas nas outras, deixando-se também penetrar profundamente por influências exteriores, ameríndias, católicas, espíritas, dando nascimento a uma religião essencialmente sincrética, a macumba. Porém, há alguns anos atrás, no começo do século XX, existia ali ainda uma religião nagô autônoma, da qual temos algumas descrições, infelizmente assaz sumárias. Tais documentos só apresentam hoje interesse histórico; todavia, não os poremos de lado. Que fique bem claro, no entanto, que este estudo, mesmo levando em consideração por vezes dados recolhidos por nós ou por outros pesquisadores em cidades diferentes, fica centralizado unicamente em torno dos candomblés nagô, quêto ou ijêxa da Bahia. Existiram outrora candomblés em pleno centro da cidade. Próximo à igreja da Barroquinha em Salvador - BA, erguia-se nos fins do século XIX um santuário africano. Na periferia da aglomeração urbana ainda hoje existem, no bairro proletário da Liberdade, em meio às casas de operários, num emaranhamento de ruelas, de muros, de pátios malcheirosos. Mas em geral se agrupam longe do centro, nos valos umbrosos, suspensos aos flancos das colinas ou entre as dunas marinhas, escondidos pelas árvores, pelos renques de bananeiras, abrigando-se sob os coqueiros. Ao longo do Rio Vermelho, em Mata Escura, São Caetano, Cidade da Palha, Língua de Vaca, Pedreiras, Fazenda Grande do Retiro, Fazenda Garcia. Cercam a cidade com uma coroa mística, e a única solução de continuidade é representada pela faixa móvel do oceano. O viajante que à noite erra nesses subúrbios, onde as habitações vão se espaçando, como que se debulhando e cedendo pouco a pouco diante da floresta. Ouve por vezes subir de trás das frondes, do fundo das trevas, o martelar surdo dos tambores sagrados, enquanto foguetes riscam os céus, desenhando neles novas estrelas. Cada foguete que sobe é o sinal de que uma divindade veio da África possuir um de seus filhos na terra do exílio. Cada estrela que repentinamente cintila acima das plantas em germinação indica a quem passa que uma divindade "montou em seu cavalo", fazendo-o reviravoltear em torno do poste central, mergulhando na noite do êxtase. Pois estes deuses só podem viver na medida em que se reencarnam no corpo dos fiéis. Eis porque o ponto central do culto público é a crise de possessão. Constitui seu momento mais dramático e não é de espantar, em tais condições, que a atenção dos pesquisadores se tenha concentrado, antes de mais nada, em torno deste aspecto do candomblé. Tanto mais que a maior parte dos africanistas era constituída de médicos. Veremos que, na realidade, a festa pública não constitui senão pequena parte da vida do candomblé, que a religião africana vai colorir e controlar toda a existência de seus adeptos, que o ritual privado é mais importante do que o cerimonial público e que, na medida em que o negro se sente africano, pertence a um mundo mental diferente. Queremos descrever justamente este mundo das representações coletivas. Não esquecer, porém, que a religião só conseguiu subsistir através das confrarias dos "filhos" e "filhas" de santo (as filhas muitíssimo mais numerosas do que os filhos), e que a função destes filhos e filhas é reencarnar, no desenrolar das grandes festas públicas, os Orixás seus antepassados. Começaremos, pois, nossa apresentação do candomblé pela descrição desta cerimônia central. Cada uma destas festas, dedicada a uma divindade especial, embora todos os Orixás durante ela se manifestem por meio de crises extáticas, apresenta traços particulares. Contudo, podemos deixar por enquanto de lado estes elementos de variação pois não perturbam a unidade das sequências rituais. Enriquecem-nas somente; sobre a mesma talagarça, desenham o bordado dos mitos africanos. Desde a madrugada, quando tem lugar o início da festa, distinguiremos os momentos seguintes: 1. O SACRIFÍCIO. Esta parte do ritual não é propriamente secreta; porém, não se realiza em geral senão diante de um número muito pequeno de pessoas, todas fazendo parte da seita. Teme-se sem dúvida que a vista do sangue revigore entre os não-iniciados os estereótipos correntes sobre a "barbárie" ou o "caráter supersticioso" da religião africana. Uma pessoa especializada no sacrifício, o axôgun ou achôgun, que tem essa função na hierarquia sacerdotal, é quem o realiza ou, na sua falta, o babalorixá, sacerdote supremo. O objeto do sacrifício, que é sempre um animal, muda conforme o deus ao qual é oferecido: trata-se, conforme a terminologia tradicional, ora de um "animal de duas patas", ora de um "animal de quatro patas", isto é, galinha, pombo, bode, carneiro, etc. O sexo do animal sacrificado deve ser o mesmo da divindade que recebe o sangue derramado; e o modo de matar varia igualmente segundo os casos: corta-se a cabeça, esquartejam-se os membros, sangra-se a carótida, dá-se um golpe na nuca. Varia também o instrumento de execução, que algumas vezes deve ser uma "faca virgem". Na realidade, não se trata de um único sacrifício, mas de dois; pois qualquer que seja o deus adorado, Exú deve ser o primeiro servido, por razões que veremos adiante. Há, pois, o primeiro sacrifício de um "animal de duas patas" para Exú, e em segundo lugar, quando o permitem as finanças da casa, de um "animal de quatro patas", para a divindade cuja festa se está celebrando. 2. A OFERENDA. O animal sacrificado passa das mãos do achôgun para as da cozinheira que vai preparar o alimento dos deuses. Moela, fígado, coração, pés, asas, cabeça e, bem entendido, o sangue, pertencem de direito aos deuses; mas o resto do animal não é atirado fora, é cozido e parte dele será posta em travessas ou em pratinhos diante das pedras ou dos pedaços de ferro pertencentes às divindades. Se duas galinhas são mortas, forçosamente uma deve ser cozida e a outra assada. Mas a cozinheira, que se chama iya-bassê ou abassá, e que naturalmente não deve nesse momento estar menstruada, não se limita a preparar o animal sacrificado. Cozinha também tantos pratos quantos forem os deuses chamados no decorrer da cerimônia, o amalá de Xangô, o xinxin de galinha de Oxun, o arroz sem sal de Oxalá. Alimenta então sucessivamente as diferentes pedras sagradas. O resto do alimento será consumido no fim da cerimônia pelos fiéis, e até mesmo pelos simples visitantes. Foram estas descendentes de africanas que mantiveram assim através do tempo a cozinha religiosa africana, a qual, penetrando na cozinha profana, passou em seguida dos santuários para as salas de jantar burguesas, constituindo uma das glórias da Bahia. Arthur Ramos nota que não raro diz a negra ao oferecer tais manjares suculentos, em que o ardume da pimenta se casa tão harmonioso com a doçura do azeite de dendê: "Coma, meu santo”. 3. O PADE DE EXÚ. De manhã, consuma-se o sacrifício; os preparativos culinários e a oferenda às divindades ocupam a tarde; a cerimônia pública propriamente dita começa quando o sol se põe e se prolonga por muito tempo noite adentro. Tem início obrigatoriamente com o padê de Exú, do qual muitas vezes se dá uma interpretação falsa, particularmente nos candomblés bantos: Exú é o diabo; poderá perturbar a cerimônia se não for homenageado antes dos outros deuses, como aliás ele mesmo reclamou. Para que não haja rixas, invasões da polícia (nas épocas em que há perseguições contra os candomblés), é preciso pedir-lhe que se afaste. Daí o termo de despacho, empregado algumas vezes em lugar de padê, despachar significando "mandar alguém embora". Exú é, na verdade, o Mercúrio africano, o intermediário necessário entre o homem e o sobrenatural. O intérprete que conhece ao mesmo tempo a língua dos mortais e a dos Orixá. É, pois ele o encarregado - e o padê não tem outra finalidade - de levar aos deuses da África o chamado de seus filhos do Brasil. O padê é celebrado por duas das filhas de santo mais antigas da seita, a dagã e a sidagã, ao som de cânticos em língua africana, cantados sob a direção da iya têbêxê e sob o controle do babalorixá, diante de um copo d'água e de um prato contendo o alimento de Exú. O copo e o prato serão depois levados para fora da sala em que se desenrolará o conjunto da cerimônia, sendo depositado numa encruzilhada que é dos lugares preferidos de Exú. A festa propriamente dita pode então ter começo. Embora o padê se dirija antes de tudo a Exú, comporta também obrigatoriamente uma oração para os mortos ou para os antepassados do candomblé, alguns dentre eles sendo mesmo designados por seus títulos sacerdotais. 4. O CHAMADO DOS DEUSES. - Não é, todavia, Exú o único intermediário entre os homens e os deuses. Os três tambores do candomblé também o são: o rum, que é o maior; o rumpi, de tamanho médio, e o le, que é o menor. Não são tambores comuns ou, como se diz ali, tambores "pagãos" foram batizados na presença de padrinho e madrinha, foram aspergidos de água benta trazida da igreja, receberam um nome, e o círio aceso diante deles consumiu-se até o fim. E principalmente "comeram" e "comem" todos os anos azeite de dendê, mel, água benta e o sangue de uma galinha (não se lhes oferece nunca "animais de quatro patas"), cuja cabeça foi arrancada pelo babalorixá em cima do corpo do instrumento inclinado. Livro O Candomblé da Bahia – Rito Nagô. Abraço. Davi

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A ASTROLOGIA NA IDADE MÉDIA

 

Astrologia. II. A ASTROLOGIA NA IDADE MÉDIA. Uma Ciência de Monges e Nobre. A Astrologia tem florescido sempre em meios civilizados. Com a queda de Roma e o começo da Idade Média das Trevas, a ciência passou por um eclipse. No entanto, sobreviveu algum interesse nos monastérios e sérios estudos tiveram prosseguimento no Oriente Médio, onde o matemático, astrônomo, astrólogo e filósofo persa Abu Ma’shar al Balkhi (787-886), famoso astrólogo árabe, escreveu: “Só através da observação da grande diversidade dos movimentos planetários podemos compreender as inúmeras variedades de transformações". Gradualmente, na medida em que a Europa avançava mais uma vez para a luz, a Astrologia começou a voltar à consciência do homem – não apenas como um meio de predição, mas como uma forma de revelação e explicação. Filósofos e escritores cristãos, sucessivamente, começaram a redescobrir seus valores. Um dos resultados dessa nova aproximação foi o fato de várias religiões terem sido colocadas sob a proteção dos planetas: o judaísmo era regido por Saturno; o islamismo, de características belicosas e ao mesmo tempo sensuais, por Marte e Vênus. O cristianismo por Mercúrio, dominante em Virgem, o signo da Virgem Maria. Entre os pensadores de importância que sustentaram a teoria da Astrologia destacou-se Alberto Magno (1193-1280), filósofo e cientista experimental alemão. Ele acreditava que as estrelas não podiam influenciar a alma, mas que exerciam controle sobre o corpo, atingindo assim a vontade humana. Tomás de Aquino (1225-1274), discípulo de Alberto, sustentou o debate e foi até mais longe que seu mestre, ao declarar: “os corpos celestes são a causa de tudo o que acontece no mundo sublunar (abaixo da lua). A ASTROLOGIA TORNA-SE UM SUCESSO SOCIAL. Por volta do século XIV, a Astrologia estava firmemente estabelecida nas universidades, apoiada de um lado pela teologia e de outro pela ciência. Em muitas famílias nobres era procedimento regular a elaboração de horóscopos dos recém-nascidos, cujas vidas às vezes eram dominadas pelas notas biográficas resultantes, traçadas antes mesmo deles saberem andar. Há exemplos de horóscopos de cavalos favoritos e até de cachorros de estimação. A Astrologia logo alastrou-se, com a literatura a respeito oscilando desde os populares Livros da Lua até considerações sérias de Dante Alighiere (1265-1321) e Geoffrey Chaucer (1343-1387). Uma ilustração de um livro francês medieval, O Livro das Horas, dispostas em torno de um antigo relógio de Sol, mostrava como cada signo do Zodíaco era associado com um determinado trabalho mensal na Terra. OS SIGNOS DO ZODÍACO NA ERA MEDIEVAL. CÂNCER, O CARANGUEJO. De 21 de junho a 22 de julho. O trabalho tradicional desse mês zodiacal era o corte do capim para o preparo do feno. O trabalhador usava uma foice; de seu cinto pendia uma pedra de amolar. LEO, O LEÃO. De 23 de julho a 22 de agosto. Tempo para ceifar o trigo, trabalho feito manualmente, com o auxílio de uma pequena foice; depois, o trigo era amarrado em feixes e empilhado para secar. VIRGO, A VIRGEM. De 23 de agosto a 22 de setembro. No mês de Virgem, já seco, o trigo era espalhado e debulhado – também a mão – para separar o grão da palha. LIBRA, A BALANÇA. De 23 de setembro a 22 de outubro. Depois da colheita da uva, os bagos eram colocados em tinas (vasilha) largas e rasas – os lagares – e depois amaciados pelos trabalhadores da vinha a fim de lhes extrair o suco. SCORPIO, O ESCORPIÃO. De 23 de outubro a 21 de novembro. A semeadura para a próxima estação era frequentemente feito sob o signo de Escorpião, principalmente em áreas de solo argiloso. SAGITARIUS, O ARQUEIRO. De 22 de novembro a 21 de dezembro. Nessa época do ano o povo do campo derrubava bolotas de carvalho e castanhas doces para engordar seus porcos, que já não tinham muito tempo de vida. CAPRICÓRNIO, O BODE. De 22 de dezembro a 19 de janeiro. Os porcos e outros animais eram abatido quando a forragem tornava-se escassa, e seus corpos salgados para fazer com que a carne durasse mais tempo. AQUARIUS, O CARREGADOR DE ÁGUA. De 20 de janeiro a 18 de fevereiro. Época dos festins, atividades presididas em muitos calendários medievais por Janus, de duas faces, o antigo deus italiano do mês de janeiro. PISCES, OS PEIXES. De 19 de fevereiro a 20 de março. Tempo para aquecer-se; geralmente o frio dificultava os trabalhos das fazendas e os reduzia; os camponeses aproveitavam para passar os dias descansando dentro de casa. ÁRIES, O CARNEIRO. De 21 de março a 19 de abril. No mês zodiacal do Carneiro, uma tarefa importante era desbastar as velhas vinhas. Árvores e galhos eram então podados, na preparação para a nova estação em que se encontravam. TAURUS, O TOURO. De 20 de abril a 21 de maio. A fertilidade estava mais uma vez no ar e o povo recolhia ramos e flores para enfeitar suas ruas e casas para as festividades que eram realizadas no mês de maio. GEMINI, OS GÊMEOS. De 22 de maio a 20 de junho. Caçar com falcões era uma ocupação favorita durante a estação do verão entre as proprietárias de terra nos lânguidos (abatido, sem vigor) dias do século XV. O ZODÍACO E O CORPO. Como os Doze Signos Regem Nossa Anatomia. Hugh de Saint Victor (1096-1141), cuja filosofia e misticismo tiveram grande influência no século XII, salientou o valor da Astrologia natural, que se relaciona com a influência das estrelas sobre os complexos de nosso corpo, a qual varia de acordo com a posição da esfera celeste e atua na saúde e na doença, no bom ou mal tempo, na fertilidade e esterilidade”. Mesmo antes de sua época eram feitas ligações entre os signos do Zodíaco e partes específicas do corpo humano. Na antiga biblioteca de Hermes Trismegisto, por exemplo, aparece a noção de correspondência entre o macrocosmo – o Universo – e o homem: “O macrocosmo engloba os doze signos zodiacais, assim como o homem, de sua cabeça (o Carneiro) a seus pés, que correspondem ao signo de Peixes”. Em anos mais recentes, astrólogos examinaram essa antiga teoria, considerando-a sob a luz de modernos progressos da medicina. Estabeleceram, a partir de suas pesquisas, ligações entre os doze signos e os sistemas glandular e nervoso. Essas ligações atuam ainda através do que se conhece por polaridade, ou atração dos opostos. Assim, as dores de cabeça do ariano podem relacionar-se a uma condição dos rins, estes falhando sob a influência de Libra, o signo oposto a Áries. Nos títulos destas páginas os signos de polaridade aparecem em segundo lugar. ÁRIES/ BALANÇA. Os arianos tendem a ter mais dores de cabeça do que todos, pois essa é a zona de influência do signo; podem também ser “cabeças-duras”, tendo súbitos ataques de raiva. TOURO/ESCORPIÃO. Os taurinos são vulneráveis a resfriados e gripes, pois Touro rege a garganta e o pescoço, é aconselhável proteger a garganta quando o clima é mais frio. CÂNCER/CAPRICÓRNIO. Os cancerianos apresentam tendências para preocupar-se mais que todos e, desde que Câncer rege o estômago, suas tensões podem provocar doenças estomacais e até úlceras. VIRGEM/PEIXES. Virgem rege o sistema nervoso e os intestinos; os nativos do signo (como os de Câncer) tendem a sofrer um pouco do estômago, frequentemente devido a problemas de digestão; muitos virginianos são vegetarianos, e de qualquer maneira devem tomar cuidado com a alimentação. SAGITÁRIO/GÊMEOS. Os sagitarianos têm necessidade de exercícios e as mulheres desse signo devem tomar cuidados especiais, pois engordam muito facilmente nos quadris e coxas. Sagitário rege também o fígado. AQUÁRIO/LEÃO. Os aquarianos que praticam esportes pesados devem tomar cuidado com a canela e tornozelo. Aquário rege ainda a circulação, e podem ocorrer problemas na velhice ligados a essa área (veias varicosas, endurecimento das artérias). PEIXES/VIRGEM. Qualquer coisa que ande errado com os pés de um pisciano imediatamente o irrita; e seus pés apresentam frequentemente um leve defeito de formação. LEÃO/AQUÁRIOS. A forte associação de Leão com o coração pode determinar falhas no funcionamento do órgão nos últimos anos da vida, principalmente se os nativos do signo seguem sua tendência para uma vida movimentada. BALANÇA/ÁRIES. A conexão ente o signo e o fígado é tão grande que qualquer aborrecimento emocional leva imediatamente a um mal-estar do estômago. ESCORPIÃO/TORURO. A associação de Escorpião com os órgãos sexuais pode causar a impotência nos machos; geralmente o efeito é psicológico e os nativos do signo podem ser levados a ações violentas. CAPRICÓRNIO/CÂNCER. O signo rege os joelhos e os dentes; pode ocorrer uma deterioração da arcada dentária, assim com um endurecimento das juntas – aliás, os capricornianos às vezes sofrem de reumatismo. OS PLANETAS E O CORPO. Como os Dez Planetas Influenciam o Nosso Sistema Glandular. Uma importante série de relacionamentos entre áreas específicas do corpo humano e os planetas foi estabelecida há muito tempo. Tais relacionamentos eram usados principalmente com objetivos medicinais. Restringiam-se originalmente ao Sol, à Lua e aos outros cinco planetas conhecidos; mais tarde foram reavaliados para incluir Urano, Netuno e Plutão – quando as características desses planetas “modernos” chegaram a ser devidamente estabelecidas. Embora hoje muitos astrólogos não concordem com suas conclusões, um livro do século XVII, O Julgamento Astrológico das Moléstias, de Nicholas Culpeper (1616-1654), continua digno de interesse, pois estabelece uma relação detalhada da regência de planetas e signos sobre determinadas partes do corpo, da regência dos signos sobre as moléstias e contém anotações para seus diagnósticos. Culpeper criou ainda testes astrológicos para determinar quando um paciente fingia determinados sintomas, além de ter fixado um processo razoável de cura. Nesse processo incluía-se o estudo do planeta regente da moléstia; ao lado dessa consideração astrológica, alinham-se notas apenas médicas, como a leitura de pulsações, condições do sangue e urina e outras. A partir de Culpeper, o progresso da medicina moderna revelou uma zona de influência ainda mais significativa – a dos planetas sobre as glândulas endócrinas. Essas glândulas, pequenas controlam uma grande variedade de funções do corpo humano, desde o modo pelo qual respiramos até a expressão de nossas necessidades sexuais. MERCÚRIO. O cérebro e o sistema nervoso como um todo são regidos por Mercúrio, que exerce influência também na maneira pela qual respiramos. VÊNUS. As paratireoides, que controlam o nível de cálcio nos fluídos do corpo, são regidas por Vênus, que tradicionalmente é relacionado com a garganta, rins e região lombar. O SOL. O Sol é particularmente associado com o timo (glândula endócrina, localizada na porção ântero superior da cavidade torácica e inferior do pescoço, volumosa no recém-nascido. Mantendo-se desenvolvida até a puberdade, para depois começar a regredir, e frequentemente desaparecer no adulto), embora também governe, tradicionalmente o coração, costas e coluna vertebral. JÚPITER. O relacionamento de Júpiter é com o fígado e sua função digestiva, mas afeta também a glândula pituitária, que regula a produção de hormônios e governa nosso desenvolvimento físico. A LUA. A Lua é associada com o sistema alimentar, incluindo o esôfago, estômago, fígado, vesícula, pâncreas e intestinos. Está, portanto, intimamente ligada a dieta; relaciona-se também com os seios (regidos em geral por Câncer). MARTE. Marte é tradicionalmente um planeta de violência, mas é relacionado também com o sexo: não é de surpreender, portanto, sua ligação com as glândulas sexuais (gônadas são os ovários e os testículos que produzem os gametas femininos óvulos e masculino espermatozoides), e também com o sistema muscular em geral. URANO. Urano deve ter tido valor para os animais pré-históricos, para os quais a glândula pineal (uma área do cérebro hoje inativa) era importante. No homem é ligado principalmente com o sistema circulatório e com as gônadas. PLUTÃO. Plutão geralmente reforça a regência de Marte sobre as gônadas; relaciona-se principalmente com a reprodução e a formação de células. NETUNO. O tálamo, estrutura cerebral que se relaciona com a transmissão de estímulos para os órgãos sensoriais ( o tato, por exemplo), é regido por Netuno, que influência também todo o sistema nervoso. SATURNO. Os dentes e ossos são regidos por Saturno, que se relaciona também com a vesícula e baço e com a pele. Age sobre o lóbulo anterior da glândula pituitária, regulando a estrutura óssea e muscular e as glândulas sexuais. Coleção Zodíaco. Bloch Editores. Abraço. Davi.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O DESPERTAR DA ASTROLOGIA

 

Astrologia. I. O DESPERTAR DA ASTROLOGIA. AS MAIS PRIMITIVAS RESPOSTAS DO HOMEM À INFLUÊNCIA CELESTIAL. Mesmo agora na década de 1970, sentimos certa inquietação quando a Lua cobre a face do Sol ocasionando um eclipse total. Ainda hoje, século XXI ano 2016, o Sol e a Lua têm um poderoso efeito físico sobre nossas vidas, mas em épocas pré-históricas esse efeito deve ter sido sentido de modo bem mais forte. Para o homem primitivo, a vida era selvagem e desconfortável. As temperaturas, o calor impiedoso, a fome e as doenças dificultavam a sua sobrevivência. Além disso, ele tinha de enfrentar os animais selvagens e defender-se dos ataques dos seus semelhantes. Quando caçava e pescava, na busca do alimento, ou quando estava frio, o homem sentia o calor do Sol. Observava a alternação de luz e trevas e os, movimentos rítmicos do mar na praia. Sua atenção, naturalmente, era atraída pelos corpos celestes que se moviam constantemente num cenário aparentemente estático. Aqueles corpos eram o Sol, a Lua e os planetas, nitidamente visíveis nas latitudes mesopotâmicas, onde a atmosfera era clara e brilhante e onde a civilização – e a astrologia – começaram. PODER AOS PLANETAS. As estrelas e planetas ofereciam ao homem primitivo um espelho, no qual ele via um mundo superior que não apenas refletia sua própria sorte mas – uma vez que pudesse interpretar os segredos do mesmo – o guiariam positivamente através de tempos difíceis, evitariam desastres e o colocariam nos caminhos certos para a paz e a prosperidade. Quase contemporaneamente aos mais antigos documentos sobre o homem, deparamos com a noção do Sol, da Lua e dos planetas como personalidades, seja comandando a vida humana, seja intervindo nela. O Sol e a Lua formavam um grupo familiar com Mercúrio e Vênus (para designá-los pelos conhecidos nomes que os romanos lhes deram mais tarde). Aos poucos, Mercúrio e Vênus adquiriram a reputação de serem, respectivamente, o bem e o mal. Marte, Júpiter e Saturno constituíram uma família rival, com Júpiter à frente: e porque este, como o líder, só podia ser bom, imaginou-se que os outros dois representavam o mal. Desde cedo os planetas adquiriram características mais ou menos fixas: Mercúrio, o rápido, astuto e manhoso planeta-deus, ficou associado a um tipo de sabedoria arguta (incidentalmente, ele também se tornou bissexual). Marte transformou-se no regente da violência e da guerra. Júpiter virou uma espécie de rei dominador dos homens. Saturno, um deus de certo modo cruel e soturno (sombrio, imerso em trevas). O Sol, Júpiter e Saturno eram particularmente ativos durante o dia, e a Lua, Marte e Vênus, à noite. Aos homens nascidos sob sua influência, quando esses astros ocupavam determinadas posições no céu, era atribuído um conjunto de características planetárias específicas da hora e do lugar de nascimento. OBSERVATÓRIOS ANTIGOS. A Grande Investigação Começa a Utilizar o Mundo Superior. Os antigos já se preocupavam com as posições dos planetas em relação ao ponto de visão do observador na Terra, e também com as relações angulares que eles pareciam formar entre si. Os primeiros astrônomos-astrólogos raciocinavam que, se os planetas deviam ser encarados como humanos e capazes de partilhar emoções como humanos e capazes de partilhar emoções humanas, então se poderia esperar que exercessem certos efeitos uns sobre os outros. Vênus e Mercúrio, por exemplo, teriam condições de discutir com o Sol e modificar os julgamentos deste. Os vizinhos deveriam ter alguma influência sobre a família real, e ao mesmo tempo tenderiam a discutir entre si, tomando partido e até adotando uma posição solitária junto ao bem ou ao mal. No México havia o Observatório Caracol de Chichenltza, onde os astrólogas maias estudavam os planetas. No dia do casamento de um chefe maia, astrólogos observavam uma estrela favorável entrar em seu bastão bifurcado. Na França existem Menires (monumentos formados por blocos de pedras) ou grandes pedras de Carnac, outrora relacionados a poderosos cultos do Sol. TÚMULOS E MEGALITOS. Entretanto, antes que pudesse ser interpretado o sentido oculto das posições tomadas pelos vários planetas, era essencial, evidentemente, que se fosse capaz de determinar essas posições com grande precisão. Para esse tipo de trabalho detalhado, dois métodos forma adotados – megálitos e túmulos. As imensas pedras levadas para os locais megalíticos de Stonehenge, Carnac e outros lugares foram dispostas com um a precisão quase miraculosa, a fim de registrar os movimentos progressivos de vários corpos celestes durante o ano. O princípio do “túmulo” foi aplicado em toda espécie de torres, pirâmides e outras estruturas monumentais que ofereciam uma visão mais vasta do horizonte. Em certos casos, esses “túmulos” continham corredores oblíquos ou janelas de ângulos especiais que serviam como pontos de observação. Os aparecimentos de determinados planetas nessas aberturas eram cuidadosamente registrados, compilando-se mapas celestes e calendários com a informação obtida. É realmente impressionante descobrir-se pelo mundo a fora – na Índia, China, Europa, Oriente Médio e América – a quantidade de estruturas gigantescas que ou foram construídas como observatórios ou torres de vigia, ou de algum modo foram adaptadas para o estudo dos fenômenos celestes – especialmente daqueles que ocorrem ao longo da rota anual do Sol, vista a partir da Terra. Ao longo dessa trajetória, que chamamos agora de eclíptica, fica região do Zodíaco, essa parte central do céu que contém os grupos de estrelas dos quais derivam os doze signos astrológicos, que vão de Áries a Peixes. Em Gizé, no Egito, as estrelas eram observadas dos corredores das pirâmides. Um dos zigurates, ou torres de vigia, de Ur na Caldéia – Mesopotâmia onde os astrólogos babilônicos foram os primeiros a observar que as esferas celestes moviam-se segundo um padrão, no qual estava a chave para a compreensão humana do mundo terrestre. ORIGEM DO ZODÍACO. Os Deuses Estelares Ocupam os Lugares Que Lhes Foram Designados. Num texto babilônico, escrito por volta de 700 AC, há uma referência ao cinturão zodiacal, descrevendo-se 15 constelações como compreendidas no mesmo. Com o tempo, o número de “constelações principais” foi reduzido a 12 e o cinturão zodiacal dividido em 12 seções de 30º cada uma. O Sol, que passa através do Zodíaco uma vez por ano, era então visto como “residindo” em cada signo do Zodíaco, sucessivamente, por um período de 30 dias. As criaturas escolhidas para representar as constelações foram tiradas do mundo cotidiano das civilizações primitivas da região do Mediterrâneo, especialmente as da Babilônia (incluindo a Caldéia) e Assíria. Há sete signos bestiais – Áries, o Carneiro; Touro; Câncer, o Caranguejo; Leão; Escorpião; Capricórnio, o Bode; e Peixes. Quatro signos são humanos – Gêmeos; Virgem; Sagitário, o Arqueiro; e Aquário, o Aguadeiro. (Embora seja metade cavalo, Sagitário é considerado humano por causa da atividade humana – disparando uma flecha – com a qual é associado). Libra, a Balança, não é bestial e nem humano, mas é julgado um signo humano devido à sua preocupação com a justiça. AS CASA. Á medida em que a Terra girava sobre seu eixo a cada 24 horas, os caldeus e outros observadores primitivos viam o Sol, a Lua e os planetas levantarem-se e se porém segundo esse padrão, com todo o céu atravessando um signo zodiacal (ou 30º) em duas horas. Em conjunção com esse movimento diário, os astrólogos desenvolveram um sistema de Casas. A partir da linha do horizonte do observador, a esfera celeste foi dividida em 12 seções. Cada seção representava uma área da vida, como se segue: 1. Vida; 2. Pobreza/riqueza; 3. Irmãos/irmãs; 4. Pais; 5. Filhos; 6. Saúde; 7. Marido/esposa; 8, Morte; 9. Religião; 10. Aspirações; 11. Amizade; 12. Família. Os planetas foram então descritos em termos dos signos e casas que ocupavam no momento do nascimento e determinando, dessa forma, sua influência. Em seu trabalho para documentar os movimentos dos planetas, os primeiros astrólogos da Babilônia e Assíria viram que os fenômenos nos céus se repetiam. Desse modo, criaram as primeiras tabelas dos movimentos planetários. As efemérides (anuário, calendário) mais de que se tem notícia datam do reino de Assurbanipal (669 AC 625). O futuro que os astrólogos previam geralmente não era de indivíduos, e sim dos estados. Eles sabiam que os céus e a Terra eram inter-relacionados, mas não possuíam provas de que um indivíduo podia sofrer influências planetárias determinadas – exceto um homem, o Rei, que era considerado como a corporificação do Estado, e cuja data de nascimento era ponto de partida dos prognósticos para o Estado. Esses prognósticos previam a aproximação de grandes acontecimentos e determinavam seus possíveis efeitos. Os Peixes, de uma pintura mural em Knossos, Creta, centro da civilização da Idade do Bronze. Em Astrologia, os piscianos se sentem, frequentemente, impelidos – como os peixes do seu signo – em direções opostas. Um dos primeiros sagitarianos – um centauro mítico, metade homem, metade cavalo, que aparece geralmente pisando um rival até a morte. Os deuses egípcios pesam a morte. Na religião babilônica, Libra era vinculada ao julgamento das almas. Na Suméria, existia uma tocante imagem dos capricornianos primitivos – um bode feito de ouro e lápis-lazúli. Capricórnio foi estabelecido como um bode com rabo de peixe, conhecido dos babilônios antigos como Ea, o “antílope do oceano subterrâneo” e como Kusarikku, o peixe-carneiro. Em Carnac, Egito, onde fica uma avenida de figuras, a esfinge de cabeça de carneiro era considerada como um símbolo de poder, mistério e sabedoria. Em todas as civilizações o touro era considerado como um símbolo de força e, frequentemente, de energia criativa. Há uma cabeça de touro em Knossos, Creta que representa o deus-touro. ASTROLOGIA CLÁSSICA. Antigo Egito, Grécia e Roma – Uma Nova Era de Horóscopo Para Todos. Os egípcios foram cientistas afamados e observadores entusiastas dos céus, produzindo mapas estelares desde o quinto milênio AC. Sua preocupação com a elaboração de calendários e com a matemática ajudou consideravelmente o progresso da Astrologia: as funções astrológicas das grandes pirâmides são pesquisadas até hoje. Um dos reis-astrólogos, mais famosos foi Ramsés II, “Osimandias, Rei dos Reis que, ao morrer, me 1223 AC, teve sua tumba ricamente decorada com símbolos astrológicos. Foi ele, ainda, quem fixou os quatro signos cardeais – Áries, Libra, Câncer e Capricórnio. Um relevo do templo de Denderá, datado de cerca de 30 AC, mostra a primeira representação pictórica do Zodíaco de que se tem conhecimento; mais precisamente, dois Zodíacos são retratados, um dentro do outro, apoiados em quatro figuras femininas em pé. Vem do Egito também um grupo de manuscritos colecionados sob o nome de Hermes Trismegistus, o fundador de um culto médico-astrológico. Muitos de seus elementos são puramente mágicos e esses documentos se constituem no primeiro exemplo concreto da ligação entre a Astrologia e o culto; uma das mais interessantes ideias contidas nos manuscritos é a de que existe uma correspondência entre o grande mundo exterior, o macrocosmo, e o homem, o microcosmo. A ASTROLOGIA CHEGA AO POVO. Também os gregos deram grande importância à Astrologia, como testemunha grande números de documentos e monumentos decorados com símbolos astrológicos, que se conservaram através dos tempos. Datam da época de Antíoco de Comena (130 AC 68) os primeiros horóscopos de fontes literárias gregas; aproximadamente dos cinco séculos seguintes em diante, cerca de 180 horóscopos individuais chegaram até nós. De fato, a grande contribuição dos gregos para a Astrologia foi racionalizá-la, elaborando mapas de nascimento ao alcance de todos e não apenas como privilégio do dirigente – como representante do Estado. Por volta do ano 280 AC, o astrólogo babilônio Berosus, cujos trabalhos foram encontrados em bibliotecas gregas, teve condições para criar uma escola de Astrologia de grande sucesso na ilha de Cos, e, já então, astrólogos fixavam e racionalizavam em livros para a posteridade a soma total de seus conhecimentos. Essa eclosão de estudos culminou com o primeiro texto moderno de Astrologia, o Tetrabiblos, atribuído ao grande astrônomo, matemático e geógrafo Claudio Ptolomeu, nascido na Grécia por volta de 120 e falecido em 168, que foi um dos maiores pensadores de seu tempo. Seu trabalho como geógrafo e matemático foi radical e revolucionário, e sua Syntaxis sobreviveu por 1400 anos como a fonte mais acessível das ideias gregas sobre Astronomia. O Tetrabiblos é um livro extraordinário, tão revelador como muitos livros modernos (e melhor do que alguns deles); muitos de seus princípios gerais são aceitos até hoje. ESCRAVOS DO DESTINO: ROMA IMPERIAL. Durante os dois primeiros séculos depois de Cristo, a atividade astrológica centralizou-se na Roma Imperial. Naquele tempo, assim que se evidenciava que um homem era candidato ao trono, os astrólogos se concentravam em seu redor. Naturalmente, os imperadores tendiam a monopolizar os astrólogos disponíveis mais convincentes, mais lúcidos e persuasivos, mantendo-os ocupados em torno do centro do poder – mesmo que fosse apenas para desencorajar os pretendentes ao trono. Esses imperadores consideravam qualquer tentativa de consultar um astrólogo como uma atitude extremamente suspeita, e como indicação provável de uma conspiração para tomada do poder. Tibério (reinou de 14 a 37 DC), de todos os imperadores romanos, foi talvez o mais apegado à Astrologia. Sua ascensão e “destino grandioso” haviam sido preditos em seu nascimento e até o fim de sua vida – principalmente durante seu retiro em Capri – Itália, quando seus excessos fizeram-no um dos homens mais desprezados, temidos e odiados – ele foi cercado pelo que Júnio Juvenal (60 -120) chamou de seu “bando de Caldeus”. O imperador Cláudio que reinou de 41 a 54 DC, tinha ideias antiquadas e preferia a adivinhação pelo voo dos pássaros (augúrios = previsão) à Astrologia; aliás, baniu do país os astrólogos – ainda que sua ordem não tenha sido inteiramente cumprida. Mais tarde, um nobre romano foi apanhado ao consultar um astrólogo para saber quando Cláudio morreria – e foi ele quem teve um fim repentino e violento. Nero que reinou de 54 a 68 DC, embora de modo geral não favorecesse nenhuma religião, era excessivamente supersticioso e foi encorajado por seus duvidosos profetas a cometer grande número de atrocidades. Um suposto astrólogo oficial Bilbilus, aconselhou-o a desviar os efeitos maléficos de um cometa massacrando os líderes das maiores famílias de Roma. A IMPERATRIZ E O GLADIADOR. Imperadores de épocas posteriores, ainda que manifestando ocasionalmente opiniões zombeteiras sobre as superstições antiquadas, tinham o cuidado de conservar um astrólogo em casa. Vespasiano exilou oficialmente todos os astrólogos, mas reteve o mais famoso deles para seu serviço pessoal. Seu filho Tito consultava astrólogos estrangeiros e acreditava firmemente na Astrologia. Domiciano confiava totalmente em astrólogos. Demitia e até assassinava nobre encontrados de posse do Horóscopo imperial, e estudava cuidadosamente os mapas de nascimento daqueles que imaginava poderem estar de olho no trono. Durante o fim de seu reinado cresceram seus temores. Um de seus últimos atos foi ordenar a execução de um astrólogo que havia sido especialmente convocado da Alemanha para interpretar uma série de presságios ameaçadores – e cujas respostas, obviamente, haviam chegado muito perto da verdade! Adriano (117-138) promovia uma espécie de soirée (noite) no primeiro dia de cada ano, quando predizia, com detalhes consideráveis, os acontecimentos do ano, chegando mesmo a prognosticar a hora de sua própria morte. O último dos grandes imperadores, Marco Aurélio (160-180), consultou astrólogos sobre a ligação de sua mulher Faustina com um gladiador, cujos músculos ela vinha admirando evidentemente mais de perto do que quando o via lutando em um estádio; esse mesmo imperador parece também ter mantido um “mago egípcio” provavelmente um astrólogo na corte imperial. Coleção Zodíaco. Bloch Editores. Abraço. Davi.

domingo, 26 de setembro de 2021

SEXO, SEXUALIDADE E GÊNERO

 

Budismo Nitiren Daishonin. www.maisbelashistoriasbudistas.blogspot.com.br. SEXO, SEXUALIDADE E GÊNERO. “É menino!, disse a parteira. Mas, o que foi que viu a parteira para lançar semelhante afirmação? Os genitais do bebê, evidentemente”. Isto dos genitais parece ter sido sempre algo muito importante para os pais, que querem saber se o bebê tem boa saúde, se não nasce com algum problema ou malformação e, claro, se é fêmea ou macho. Inclusive no registro obrigatório do nascimento da criança se requer justamente esse dado. O que é? Homem ou mulher? E na realidade o dado sobre os genitais não é algo banal, se levamos em consideração que no futuro terá peso sobre âmbitos tão díspares como a carreira profissional, o possível ingresso nas forças armadas, a escolha de uma pessoa para compartilhar a vida. Dependendo do âmbito cultural e sócio econômico ao qual esta criança pertencer, já desde o seu primeiro choro nos braços da parteira terá se depositado sobre ele uma grande quantidade de anseios diferentes sobre como esta criança se desenvolverá no futuro e o que chegará a ser. Quer dizer que, para muitos de nós, a identidade está intimamente ligada ao gênero sexual. As diferentes culturas e sociedades através da história têm lidado com o tema das condutas sexuais de diversas maneiras, as vezes desde a lei, as vezes pelo costume, as vezes com sanções contra aqueles que romperam os códigos estabelecidos. Os códigos morais tem se transformado e evoluído, decidindo sempre o que pode ser catalogado como correto ou natural e o que não é, e as pessoas têm sido compelidas a aceitar uns ou outros códigos, talvez para pôr um sentido a um tema que não deixa de ser bastante confuso. Dentro dos diferentes contextos culturais, o do Budismo resulta sumamente refrescante se pensamos que não propõe regras sobre o que está bem ou o que está mal, o que é ou não apropriado em relação à conduta sexual. Não existe uma lista do que deve e não deve se fazer para aqueles que praticam o Budismo de Nitiren Daishonin. Pelo contrário, aqui a responsabilidade cai completamente em cada um dos indivíduos que praticamos esta filosofia, que nos assumimos como responsáveis de tudo o que ocorre nas nossas vidas, incluindo a maneira em que decidimos viver a nossa sexualidade. O Budismo ensina que devemos ter um respeito fundamental por cada indivíduo e pela dignidade da vida em si mesma. Não existe nenhum mandamento que nos obrigue a renunciar a nada para poder praticar o Budismo, já que a sabedoria de como devemos comportar-nos emerge, justamente, da prática, quando oramos Nam myoho rengue kyo, compreendendo que cada causa que realizemos terá um efeito sobre nossas vidas. Nitiren Daishonin (1222-1282) nos diz que todos podemos manifestar o estado de Budha  tal como somos. A discriminação.  Partindo de que ninguém é incapaz de atingir a iluminação, está claro que não existe lugar para a discriminação baseada no gênero ou a tendência sexual nos ensinamentos budistas. Em termos do carma, somos quem somos pelas causas realizadas que nos levaram a nascer em determinado âmbito cultural, em determinado momento, com as características particulares que afetam nossa personalidade, habilidades e capacidades físicas e mentais, e também, evidentemente, nossos genitais. Nitiren Daishonin escreve: Não deve haver discriminação entre as pessoas que propagam os cinco caracteres de Myoho rengue kyo durante os Últimos Dias da Lei, sejam homens ou mulheres. Se não fossem Bodhisattvas da Terra, seria impossível recitar este Daimoku". (END, vol. I, pág. 367). Nossa verdadeira entidade não tem forma, mas se manifesta com as características que nos individualizam. Em termos da visão budista da eternidade da vida, temos nascido em diferentes circunstâncias e em diferentes tempos, as vezes como homens e as vezes como mulheres. Nossa entidade não tem gênero, não tem sexualidade, de fato, não tem forma alguma. De qualquer maneira, ao nascer dentro de uma existência em particular, manifestamos características físicas mentais e emocionais próprias, por meio das quais nos relacionamos com o resto da sociedade. A integração. O Budismo ensina que todos e tudo encontra-se inter relacionado no universo. Nossa luta, então, é encontrar o caminho para expressar nossa individualidade enquanto que, ao mesmo tempo, vivemos em harmonia com o resto da sociedade, da qual somos parte integrante. Muitos de nós sofremos ao tentar expressar nossa identidade como indivíduos dentro de uma sociedade na que existem todo tipo de discriminações, a qual muitas vezes ataca aqueles que não se conformam com certas normas. De fato, os papéis sexuais têm variado através da história e nas diferentes culturas. Os costumes de que sejam as mulheres as que se encarreguem de criar as crianças, em vez dos homens, tem sido utilizado muitas vezes para delinear certas normas. Apesar de que, naturalmente, existem fatores biológicos que nos diferenciam a uns de outros, o que é questionável é que o fator biológico em si seja parâmetro para definir nosso papel na sociedade. Troca de papéis. Os papéis costumam mudar de acordo com variações sócio econômicas. Por exemplo, na Grã Bretanha, durante a Primeira Guerra Mundial, as mulheres começaram a executar uma série de tarefas que tradicionalmente realizavam os homens. Esta mudança, que permitiu à mulher assumir maior responsabilidade social na ausência dos homens, resultou crucial na dinâmica posterior da relação homem e mulher. Levou depois a modificações mais profundas como, por exemplo, o voto feminino. As mudanças costumam acontecer a partir das ações daqueles que negam-se a aceitar passivamente essas normas. Se aquele que se opõe resulta ou não discriminado, isso depende do clima social que prevalecer nesse momento. Antes da Primeira Guerra Mundial, os homens e mulheres que lutavam pelo voto feminino, eram socialmente condenados; mais tarde, o meio tinha mudado o suficiente para permitir-lhes o sucesso na sua luta. O grupo que possui maior poder econômico é, geralmente, quem maior influência exerce na definição das normas sociais. O mesmo ocorre numa simples relação entre duas pessoas e pode ser exemplificado também claramente ao fazer uma descrição de classes sociais em qualquer sociedade. Quando existe desequilíbrio aparecem normas doentias que servem para sustentar o abuso de poder. Os papéis de vítimas e vitimário evolucionam em relações que criam uma perpetuação do esquema cristalizando às vítimas numa determinada camada social, ou grupo humano que se sente demasiado débil para reconhecer seu próprio poder e exerce-lo. A ausência de mandamentos no Budismo. No Budismo não existe o conceito de pecado. Todas as pessoas somos igualmente merecedoras de respeito, pois todos possuímos o estado de Budha. Mas só quando tomamos uma completa responsabilidade sobre a nossa situação podemos usar o imenso poder de nosso estado de Budha para modificar nossa situação; então, o vitimário pode modificar seu impulso de gerar sofrimento, e a vítima mudar sua tendência de ser oprimida. Neste sentido, todos somos livres de usar nosso potencial. O Budismo carece de uma lista de mandamentos, porque considera que basear a conduta humana em regras externas pode gerar uma sensação de temor a uma retribuição negativa de origem externa, por parte de um outro que decidiria nosso destino segundo nossa resposta ao código de conduta, o que vai contra a filosofia da Causa e Efeito. Nas religiões que tem este tipo de mandamentos, romper esse código moral equivale a pecar, e isso gera uma sensação de culpa, conceito ao qual também não lhe é dada uma entidade verdadeira no Budismo. Não podemos mudar nossas ações passadas (a série de causas efeitos correspondentes já estão gravados, mas podemos reconhecer de coração o dano que temos causado à dignidade de nossa própria vida ou de outras, e orar ao Gohonzon aceitando plenamente a Lei de Causa e Efeito. Cada recitação sincera do Daimoku o é. E é importante também interiorizar a ideia de que não existe força externa que nos castigue, e sim retribuições cármicas de nossas próprias ações, das quais só nós mesmos somos responsáveis. Somos responsáveis por tudo o que nos acontece. O respeito. Ao abraçar a Lei Mística e orar Nam myoho rengue kyo perante o Gohonzon, estamos expressando um profundo respeito para a função única que tem cada existência no Universo, baseados em que toda vida possui o estado de Budha inerente, latante, cujas qualidades são: benevolência, sabedoria, coragem e força vital. Sobre o equilíbrio numa relação, Nitiren Daishonin comparou a marido e mulher com as asas de uma ave, que deviam movimentar-se harmoniosamente para poder permitir-lhe à ave voar. Isto significa que ambos os integrantes do casal devem basear sua relação no respeito mútuo. Desejos mundanos e sexualidade. O sexo é uma força dominante na vida. Até porque é o meio da nossa perpetuação e sobrevivência e é nesse aspecto no qual muitas sociedades fundamentam seu conceito de que a procriação é a única função legítima da sexualidade. Porém, nós temos notáveis diferenças com o resto do mundo animal. Para começar, não respondemos a estações para a procriação, pelo contrário, somos capazes de manter um sexo ativo a qualquer momento, inclusive após a menopausa feminina. Nosso corpo está coberto de zonas erógenas e, além do mais, expressamos nossas emoções também através da sexualidade. Se dermos uma olhada geral, podemos afirmar sem temor a equivocar-nos que o ser humano não tem se destacado por ser incrivelmente destro na condução da sua sexualidade. Talvez nos custe admiti-lo, porque sabemos que algo muito forte esconde-se detrás de tudo isso que reunimos sob a categoria de sexo. Todos reconhecemos na nossa própria experiência aquele momento de nossa adolescência no qual começamos a lidar com o sexo, aonde ainda nem sequer tratava-se do temor para com o outro, para como acercar-nos ao nosso objeto de desejo, e sim do profundo temor para com nós mesmos, ao perceber essas forças que começavam a mexer-se no nosso interior e com as quais não sabíamos o que fazer. Algumas pessoas mostram-se profundamente contrariadas ao conhecer as práticas sexuais de outros, ainda quando estas pessoas nada tenham a ver com a sua vida. Por quê? Se, por outro lado, os gostos das pessoas com alimentos, decoração, moda, não parecem provocar os mesmos sentimentos nos outros, pelo menos não com o mesmo grau de emoção. O Budismo vê a sexualidade como um dos nossos desejos mundanos, e sabemos, pela filosofia do Budismo de Nitiren Daishonin que, sempre que oramos Nam myoho rengue kyo, os desejos mundanos são a iluminação. Não emite o Budismo juízo algum sobre as virtudes e defeitos da sexualidade. A sexualidade, para o Budismo, não é nem boa nem má, simplesmente é. O fato de que a expressão desta sexualidade seja conduzida por um caminho positivo ou negativo depende unicamente do nosso estado de vida quando damos curso aos nossos desejos (ou quando os reprimimos). Por exemplo, se nos sentimos atraídos para com alguém a quem não respeitamos realmente, seguramente a relação sexual estará baseada em algum dos estados baixos da vida, talvez o de Animalidade. Em tal caso, nosso comportamento será governado unicamente pelos nossos instintos, sem deixar espaço à reflexão sobre a consequência da nossa ação. Se, ao contrário, oramos Daimoku para esclarecer-nos a nós mesmos sobre o manter ou não uma relação, já estamos inscrevendo essa relação desde o estado de Budha. O resultado poderia ser, inclusive, que decidamos não tê-la, ou que decidamos tê-la e o façamos baseados no mútuo respeito. As pessoas somos diferentes, e reagimos de maneira diferente perante circunstâncias similares, dependendo isto dum verdadeiro Cocktail, coquetel, de elementos, no qual o estado de vida é um dos mais importantes. É por isso, também, que no Budismo não poderiam existir mandamentos ou regras fixas, sem contradizer sua própria filosofia. Recitar Daimoku permite-lhe à pessoa tomar a decisão correta para a sua vida, mas esta decisão pode ser completamente diferente num caso e outro, ainda que desde fora as circunstâncias pareçam as mesmas. As ilusões. Naturalmente torna-se extremamente difícil descobrir se estamos deixando guiar pelo estado de Budha ao manter uma relação, ou simplesmente nos conduz à paixão. Talvez se deva a isto que religiões e sociedades têm se encarregado de estabelecer parâmetros com os quais regular uma “sexualidade correta". Claro que podemos compreender que a expressão indiscriminada da sexualidade não seja, provavelmente, uma boa base para a criação de valor; mas o que também devemos saber é que a supressão dos nossos desejos sem examinar a sua natureza pode resultar altamente destrutiva. É justamente a partir deste encontro com os nossos desejos mundanos, de qualquer tipo que sejam, onde atingimos a nossa iluminação. O tema do poder. Nossa filosofia nos ensina que, tentar ser alguém que não somos, nos conduz necessariamente a sentirmo-nos seres inadequados e faltos de poder, sentimentos negativos que inclusive podem gerar problemas de natureza sexual. Por exemplo, uma pessoa que se sente débil e inadequada, pode maltratar a outros para sentir-se poderoso. Sabe-se que a violação sexual é algo que se refere mais ao exercício do poder do que à sexualidade. O poder sexual também pode ser utilizado de maneira subversiva: Um dos dois pode usar os desejos sexuais do outro para conseguir algo concreto em troca. Os que usam o poder sexual desta maneira, sem dúvida desrespeitam a si mesmos e aos envolvidos. Criar valor: o tema da missão. Confundir a nossa identidade atenta contra a nossa missão. Nam myoho rengue kyo, a Lei universal da vida, abraça todas as coisas, pelo que é absolutamente natural orar Daimoku pela nossa sexualidade. A pergunta que necessitamos fazer-nos perante cada relação sexual é: Cria valor?. Esta pergunta vale tanto para quando estamos casados, comprometido ou trata-se de uma relação informal. Os códigos morais vigentes na sociedade da qual somos parte podem nos causar dificuldades a nível pessoal, ou não. Em termos de Budismo, o importante é desenvolver sabedoria para compreender o melhor caminho pelo qual podemos viver nosso papel, e criar valor na sociedade, independente das normas que prevaleçam. Quando conseguimos levar nossa natureza de Budha à todas as áreas da nossa vida, só então, podemos considerar que estamos nos movimentando com verdadeira liberdade. É através da nossa prática que encontraremos a coragem de expressar-nos tal qual somos, formos quem formos. Como nos diz Nitiren Daishonin (1222-1282), a relação entre o nosso estado de Budha e o nosso corpo físico é importante: Em meu coração tenho alguma fé no Sutra de Lótus, mas em meu corpo não sou melhor do que um mortal comum, comendo peixe e carne. Minha vida existe neste tolo corpo, tal como a lua é refletida num lago turvo ou como o ouro é carregado em um saco sujo. (END, vol. I, pág. 200). A nossa natureza de Budha é a nossa verdadeira identidade e manifesta-se através das nossas características físicas e mentais. É quando nos sentimos bem com a nossa identidade que fazemos uma boa contribuição à sociedade da qual somos membros. Quando nossas ações baseiam-se numa identidade forte, podemos criar valor, mas para isso é requisito que a gente se conheça a si mesmo sem negar nenhum aspecto da nossa maneira de ser. O Kossen rufuO Budismo é profundamente não julgador. Ao movimento pelo Kossen rufu podem-se somar socialistas e conservadores, carnívoros e vegetarianos, heterossexuais e homossexuais; homens, mulheres e transexuais. Baseamo-nos no respeito ao estado de Budha inerente ao outro, sem fixar-nos em opiniões prévias que nos levem a sermos preconceituosos. O único que importa realmente é o respeito pela Lei Mística e o respeito pelo próprio estado de Budha. Se ferimos a outra pessoa, estamos desrespeitando o nosso próprio estado de Budha, além do da outra pessoa. Se ferimos a nós mesmos, também desrespeitamos à outra pessoa, porque ela necessita de mim completamente e tal como sou, para que eu possa cumprir com a minha função única no universo, e que a outra necessita de mim. Existe algo claramente proibido no Budismo? Nitiren Daishonin nos orienta para que tenhamos cuidado com a calúnia para com nós mesmos, para com os outros e para com a Lei Mística. Isto está dito com espírito benevolente, porque a calúnia nos causará infalivelmente muito sofrimento, já que quem calunia não respeita a dignidade da vida. Mas mesmo se temos caluniado e sofremos por essa causa, não estamos condenados pela eternidade. Nitiren Daishonin ensina que, por meio de recitar Daimoku perante o Gohonzon, a gente transforma o veneno em remédio. Inclusive o responsável dos atos mais terríveis contra a dignidade da vida pode mudar radicalmente a partir da prática sincera e transformar o seu ambiente. O ensino do Budismo é uma luta constante para conquistar o respeito para si mesmo e para os outros. Em palavras de Ikeda Sensei (1928-  ): Nada é mais digno de respeito que você mesmo, essa é a mensagem do Sutra de Lótus. http://www.belashistoriasbudistas.blogspot.com.br. Abraço. Davi.

sábado, 25 de setembro de 2021

O BÁLSAMO DE GILEADE

 

Editor do Mosaico. Cristianismo. O BÁLSAMO DE GILEADE. É bom conversarmos novamente, refletindo sobre algumas questões da vida. Este dom maravilhoso que o Eterno Pai nos concedeu. Nas Escrituras Sagradas Cristã no livro de Jeremias 8,22 há um interessante texto que se segue “Porventura não há bálsamo em Gileade? Ou não há médico? Porque, pois, não se realizou a cura da filha do meu povo?”. É importante situarmos o contexto histórico em que o profeta Jeremias está incluído. “O profeta Jeremias, que era de uma família de sacerdotes judeus, começou a anunciar mensagens de Deus no ano 627 AC e morreu por volta de 580, provavelmente no Egito. Ele anunciou que Deus ia fazer uma terrível desgraça sobre os israelitas como castigo pelos seus pecados. Jeremias ainda vivia quando suas profecias se cumpriram. Ele estava presente quando o rei Nabucodonosor II (604 AC 562) destruiu a cidade de Jerusalém, incendiou o Templo e levou como prisioneiro para a Babilônia o rei de Judá e grande parte do povo. Mas Jeremias disse que um dia os israelitas iam voltar e que seriam de novo uma nação. Jeremias amava profundamente seu povo. Não era por prazer, mas por obrigação que ele anunciava que Deus ia castigar os israelitas. Mas a palavra de Deus era como um fogo no seu coração, e ele não podia ficar calado. Por outro lado, as autoridades e o povo não recebiam bem a mensagem de Jeremias. Ele foi rejeitado, perseguido, preso e jogado dentro de um poço”. O povo Judeu vivia uma “depravação” espiritual à décadas. Todas as instituições (civil, política, social e religiosa) estavam corrompidas. Os sucessivos reinados, seus soberanos e administradores. mantinham-se a custas de pesados impostos; pagos principalmente pela população pobre, como costumeiro. Os ricos como sempre tinham seus privilégios e regalias. A cidade onde o profeta passou a maior parte de seu ministério foi Jerusalém. A maior cidade do reino de Israel e sua respectiva capital. Ela era o centro de adoração a D’us. De todos os lugares vinham judeus para as festas prescritas na (toráh), os cinco primeiros livros do Antigo Testamento. O grande templo erigido pelo rei Salomão estava lá. Era um símbolo de união nacional, remetendo aos tempos de prosperidade. Ele trazia também a ideia de uma aliança, celebrada com D’us em tempos “distantes”. Aqui especificamente se desenvolve o falar do profeta Jeremias. Ele não era um “emissário” das questões sociais - pobreza e riqueza. Nem se envolvia em situações políticas - igualdade social e distribuição de renda. Não tinha interesse de discutir sobre - propriedade privada. Seu chamamento estava centrado numa situação espiritual. O templo do Senhor que devia ser um ambiente de comunhão e aproximação com Deus, era usado como um amuleto ou talismã. Os Judeus imaginavam que a presença dele (templo) entre eles, os protegeriam de qualquer maldição e, enquanto ele estivesse de pé, a felicidade os acompanhariam de perto e todos os inimigos seriam derrotados. Infelizmente a maldição já estava instalada em todos os repartimentos daquilo que consideravam a “presença divina” entre eles. Os sacerdotes, em muitos casos, recebiam suborno (propina) para oficiarem os ritos sagrados. Até os pobres pagavam esse escandaloso “pedágio”. Haviam outros “deuses” sendo adorado no templo. Animais “defeituosos” eram sacrificados fora do altar. Tinham prostitutas cultuais nos compartimentos do santuário, praticando licenciosidade. Uma contaminação e promiscuidade acentuadas. Uma condição de “miséria e podridão” humana. Bem, vamos tentar falar alguma coisa do versículo proposto. Espero que o que vou falar, revele alguma luz para trilharmos a Senda espiritual. Jeremias lutou corajosamente contra todos estes desmandos espirituais em sua época. Falou desmascarando a farsa que havia. Expôs rei, sacerdotes e a classe dominante à época que era conivente com a situação. Mostrou seus corações perversos e suas mentes egoístas e mesquinhas. Profetizou a destruição do templo que ocorreu no ano de 587 AC. Este é o primeiro templo como se sabe, construído pelo rei Salomão. O segundo foi destruído no ano 70. O texto bíblico mencionado parece um clamor (oração) do profeta. Um desespero que vem de seu íntimo. Ele ousa procurar uma explicação para uma situação tão medonha como àquela em que vivia e, ressente-se de resposta. A maioria dos Judeus tinham um coração endurecido como uma pedra, entretanto ele sabia que havia esperança. Deduzo que no trecho citado há uma ideia de que Jeremias percebia que a natureza humana era “deformada e desregrada”. Ele próprio tentou fugir do chamamento do Eterno. Aqui é a questão do mito; sempre o herói se sente incapaz, e até vacila indeciso quanto a sua missão. Contudo, após uma profunda investigação ponderativa, acaba assumindo corajosamente sua incumbência. Foi assim com o Cristo, que em agonia orou intensamente, correndo em seu rosto lágrimas de sangue. Clamando ao Pai, que se possível passasse dele aquele cálice. Concluiu depois de horas no jardim do Getsêmani, que não se fizesse a sua vontade, mas a do Pai. Outra questão em relação ao herói, é a prova ante de iniciar sua incumbência. O Cristo humano histórico foi provado, levado pelo Espírito Santo ao deserto, em jejum, para ser avaliado através de vários testes. O diabo o tentou à que renegasse sua missão. Disse por três vezes: Se és filho de Deus precipita-se abaixo, que os anjos darão ordens a teu respeito para te guardarem. Levou-o ao pináculo do templo, dizendo que todo o reino do mundo o daria se prostrado o adorasse. Incitou-o a que transformasse pedras em pães. O Cristo heroicamente rejeitou todas as interpolações do maligno. Após esses acontecimentos o diabo o deixou e vieram os anjos para o servir. O herói grego Hércules também foi provado – antes de assumir sua missão em doze trabalhos. 1. Matar o leão de Neméia. 2. Matar a hidra de Lerna. 3. Capturar o javali de Erimanto. 4. Capturar a corça de Cirinéia. 5. Expulsar as aves do lago de Estínfale. 6. Limpar os estábulos do rei Augias. 7. Capturar o touro de Creta. 8. Capturar os cavalos de Diomedes. 9. Obter o cinto de Hipólita. 10. Capturar os bois de Gerião. 11. Obter as maças de ouro do jardim das Hespérides. 12. Capturar Cérbero, o cão do inferno. O profeta Muhamad também foi provado para poder assumir seu especial lugar na história do Islã como o fundador dessa importante tradição espiritual. “Para os muçulmanos Muhhamad (Maomé) foi precedido em seu papel de profeta, por Jesus, Moisés, Davi, Jacó, Isaque, Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas daquilo que viria ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até a Península Ibérica. O Profeta Muhhamad não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim um ser humano; contudo, entre os fieis, ele é visto como um dos mais perfeito ser humano. Nascido em Meca, Maomé (Muhamad) foi durante a primeira parte da sua vida um mercador, que realizou extensas viagens no contexto de seu trabalho. Tinha por hábito retirar-se para orar e meditar nos montes perto de Meca – Arábia Saudita. Os muçulmanos acreditam que em 610, quando Maomé tinha quarenta anos, enquanto realiza um destes retiros espirituais, numa caverna do monte Hira, foi visitado pelo anjo Gabriel que lhe ordenou recitasse uns versos enviados por Deus. Comunicando que Deus o havia escolhido como o último Profeta enviado à humanidade. Muhamad deu ouvido a mensagem do anjo, e após sua morte, esses versos foram reunidos e integrados ao Sagrado Alcorão, durante o califado de Abu Bakr (573-634). Maomé não rejeitou completamente o cristianismo e o judaísmo, duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus para, restaurar os ensinamentos originais das religiões, que tinham sido corrompidos e esquecidos. Muitos habitantes de Meca rejeitaram sua mensagem e começaram a persegui-lo, bem como aos seus seguidores. Parecido com o que acontecerá com o profeta Jesus e seus discípulos, perseguido pela seita dos fariseus, saduceus e herodianos. Em 622 Maomé (Muhamad) foi obrigado a abandonar Meca, numa migração conhecida como Hégira, tendo se mudado para Yatrib, atual Medina. Nessa cidade Maomé tornou-se o chefe da primeira comunidade muçulmana. Seguiram-se uns anos de batalha entre os habitantes de Meca e Medina, que se saldaram em geral na vitória de Maomé e seus seguidores. A organização militar criada durante estas batalhas foi usada para derrotar as tribos da Arábia. Por altura da sua morte, Maomé (Profeta Muhamad) tinha unificado praticamente o território sob o signo de uma nova religião o Islam”.  Jeremias teve sua crise existêncial antes do início de seu ministério. Apresentou obstáculo quanto ao seu chamamento dizendo ser – criança, indefesa e que não sabia falar. No filme chamado Jeremias, é mostrado que o profeta, amou profundamente uma jovem, que não era israelita. Contudo para sua desolação ela, mesmo como pastora de ovelha e prendada no campo, foi capturada por uma tribo nômade em sua propriedade e brutalmente morta pelos vândalos. Jeremias desesperado com esta situação foge para o deserto, vagueando sem destino, até que depois de dias em meditação e oração - retorna a sua cidade com o sentimento fortalecido a cumprir seu desígnio divino. Uma questão difícil de compreender é que parece que o profeta faz tudo sozinho. Um engano, o argumento que estamos analisando mostra que, existiam outros servos de Deus que também lutaram contra as “imundícies” espirituais vigentes em Jerusalém. Apenas não são mencionados com destaque, exemplo os nomes de Baruque (aquele que transcrevia e lia os textos do profeta) e Obede Meleque (o etíope negro) que resgatou o profeta dum poço de lama. Esses ajudaram o profeta em seu ministério. Jeremias reconhece que também precisava do bálsamo de Gileade, assim como os demais do seu povo. A terra de Israel estava desolada, tudo em ruínas. Grande parte do povo foi levado cativo, juntamente com a corte pelo rei Nabucodonosor. Eles começariam um trabalho de recuperação de tudo o que foi destruído. O sentimento nacional foi ferido, e precisariam de um milagre para ajudar numa hora tão decisiva. Ele percebe que se os seus patrícios estão enfermo, assim, de igual modo ele. Todos estão debilitados precisando de cura interior. O amor se expressa em tomarmos o lugar do outro. Tendo por ele compaixão e atitude positiva. A cura aqui é um processo subjetivo. Deveria ser realizada numa mudança de mente e numa transformação interior. Uma questão moral e espiritual que precisava ser reparada e corrigida. Uma alteração do percurso de vida. Mas a dura cerviz impediu o povo Judeu de tocar no amor e na misericórdia do Eterno. Colheram exatamente aquilo que plantaram. A disciplina veio por causa de seus próprios erros. Isso acontece conosco em nossa cotidianidade. Não assumimos nossos fracassos e culpamos Deus ou o diabo por eles. Essa ideia ocidentalizada racional materialista surgiu do dualismo polarizado entre o bem e o mal. A tradição oriental não têm esse “estereótipo” da culpa em outro ou outra situação. Como concebem bem e mal, lados opostos duma mesma substância, são dispostos a assumir o próprio erro e incoerência. Entendendo que absolutamente o indivíduo é o único responsável pelo seu ato. Nossos “ídolos” são interiores e, geralmente não abrimos mãos deles. Essa foi uma questão que envolvia a depravação espiritual dos judeus naqueles dias. Uma advertência I João 5,21 “Filhinhos guardai-vos dos ídolos”. A questão da imagem como representação é tremendamente mal compreendido no mundo cristão. No oriente, ela não tem esse paradigma espiritualizado como no ocidente, notadamente entre os protestantes evangélicos. Também o sentido negativo de blasfêmia ou idolatria visto no judaísmo e islamismo. Na linguagem da psicologia, as imagens funcionam como um arquétipo de nosso inconsciente, reportando o observador para aquilo que foi o personagem aludido em sua virtuosidade moral e atitudes éticas que devem ser imitadas. Além de comportamento e personalidade fundamentados na pureza e santidade, digna dos grandes seres que deixam marcas, bem visíveis, neste mundo onde os exemplos são a melhor maneira para nos espelharmos à viver em integridade e justiça. Após a destruição do templo e a subordinação do povo Judeus aos seus conquistadores os Babilônios. Jeremias seus amigos e os anônimos que Deus usou em todo aquele processo agora eram “médicos” de almas e terapeutas de “plantão”. Passavam o bálsamo curador nas “feridas” dos que ficaram. Não apenas ouviam o choro e angústia dos seus compatriotas, mas escutavam com um terceiro “ouvido”, aquele da reflexão, do sentimento, da emoção, da entrega. Tomando o sofrimento do outro como sendo o seu sofrimento. Penso que podemos transportar a experiência de Gileade para nossos dias. Apliquemos este bálsamo uns nos outros quando necessário. Romanos 12,14-15 “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. Vivei em concórdia entre vós. Não sejais arrogantes, mas adotai um comportamento humilde para com todos. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos (...)”. Fraternal abraço. Davi.   

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

ZAKAT

 

ZAKAT

Islamismo. OS CINCO PILARES DO ISLÃ. SEGUNDO. ZAKAT. É um termo em árabe que não possui um equivalente no nosso idioma, por ter uma série de significados, dentre eles: crescer, aumentar e purificação. O Zakat foi ordenado por Deus no segundo ano da Hégira na cidade de Medina. "E lhes foi ordenado que adorassem sinceramente a Deus, fossem monoteístas, observassem a oração e pagassem o Zakat; esta é a verdadeira religião." Alcorão Sagrado 98. "Praticai a oração, pagai o Zakat e genuflecti (ajoelhe), juntamente com os que genuflectem (ajoelham)." Alcorão Sagrado 2:43. O Zakat fundamenta-se na tese de que o dinheiro, a riqueza e todos os bens materiais, pertencem, na verdade, a Deus. Deus é, portanto, o verdadeiro e o legítimo dono de tudo que existe no Universo. "Seu é tudo o que existe nos céus, o que há na terra, o que há entre ambos, bem como o que existe sob a terra." Alcorão Sagrado 20:6. O dinheiro é uma dádiva de Deus que chega às nossas mãos como uma graça, uma bondade Divina e um favor, sendo o ser humano, dessa forma, apenas um depositário, um encarregado e um usuário destes bens, com os quais Deus nos agraciou. "Crede em Deus e em Seu Mensageiro, e fazei caridade daquilo que Ele vos fez herdar. E aqueles que, dentre vós, crerem e fizerem caridade, obterão uma grande recompensa." Alcorão Sagrado 57:7. "Ele foi Quem vos designou legatários na terra e vos elevou uns sobre outros, em hierarquia, para testar-vos com tudo quanto vos agraciou. Teu Senhor é Destro no castigo, conquanto seja Indulgente, Misericordiosíssimo." Alcorão Sagrado 6:165. Logo, os bens materiais que dispomos deverão ser adquiridos, gastos e distribuídos da maneira pela qual Ele nos orientou. Dessa forma, o pagamento do Zakat é, antes de mais nada, uma forma de agradecimento a Deus por nos ter agraciado com esses bens. "Suas são as chaves dos céus e da terra; prodigaliza e restringe a Sua graça a quem lhe apraz, porque é Onisciente." Alcorão Sagrado 42:12. O Islam também estabelece que o dinheiro de um muçulmano, seus bens e suas propriedades são patrimônio de toda a nação islâmica, pois estabeleceu a unidade da mesma através do seguinte versículo: "E sabei que esta vossa comunidade é única, e que Eu sou o vosso Senhor. Temei-me, pois!" Alcorão Sagrado 23:52. Embora respeite a posse plena, garanta a legítima propriedade e resguarde todos os direitos daí decorrentes. O Zakat na realidade não é mais do que distribuir parte dos bens da nação Islâmica (representada pelos mais abastados) à mesma nação (representada pelos menos abastados), pois o Islam estabelece que todo muçulmano possuidor de uma posse dentro do limite estipulado para tal deve cumprir certas obrigações econômicas em benefício do bem comum. O Zakat é um direito social do grupo junto ao indivíduo, não é um favor, mas um dever. Os bens de que dispomos não são apenas para serem gastos com o nosso próprio conforto e luxo. "E em cujos bens há uma parcela intrínseca, Para o mendigo e o desafortunado." Alcorão Sagrado 70:24-25.

 Obriga-se a se pagar o Zakat sobre 4 categorias de bens:

1- Ouro, prata e dinheiro.

2- O comércio.

3- O que sai da terra como grãos e frutos.

4- Sobre os rebanhos dos animais como carneiros, camelos e gado.

 O índice do Zakat varia de acordo com os bens citados acima, mas no geral corresponde a 2,5%7. E se paga o Zakat uma vez ao ano com exceção do Zakat sobre grãos e frutos que se paga a cada colheita. O Zakat, dentro do conceito da jurisprudência Islâmica, significa a obrigatoriedade de todo muçulmano que tenha atingido a puberdade, seja livre e goze de plenas faculdades mentais e cujas condições financeiras estejam dentro ou acima do teto (nissab) especificado, que é o equivalente à 85g de ouro ou 595g de prata, retirar o correspondente a 2,5% do montante não movimentado durante 1 ano, após saldadas todas as dívidas e satisfeitas todas as necessidades indispensáveis do seu proprietário e da sua família, a distribuir aos seus legítimos beneficiários que são descritos nesse versículo do Alcorão Sagrado: "As esmolas (do Zakat) são tão somente para os pobres, para os necessitados, para os funcionários empregados em sua administração, para aqueles cujos corações têm de ser conquistados, para a redenção dos escravos, para os endividados, para a causa de Deus e para o viajante; isso é um preceito emanado de Deus, porque é Sapiente, Prudentíssimo." Alcorão Sagrado 9:60.

Que serão analisados abaixo:

 

1-Os muçulmanos pobres - São aqueles necessitados que não podem trabalhar ou não conseguem trabalho. 2-Os muçulmanos necessitados - O profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) caracterizou os necessitados dessa forma: "Não é aquele que pede dos outros, satisfazendo-o um ou dois bocados, uma ou duas tâmaras”. Logo, o necessitado é aquela pessoa que não possui o necessário e não é lembrado para receber donativos e não procura pedir dos seus semelhantes. Ou seja, pode ser um chefe de família empregado, mas que o seu salário não dá para que ele satisfaça às necessidades da sua família, e por vergonha não sai por ai pedindo ajuda as pessoas. 3-Os coletores do Zakat (funcionários empregados em sua administração) - São as pessoas encarregadas de fazer a cobrança, a arrecadação e a distribuição do Zakat aos seus legítimos beneficiários. Logo, o seus salários são pagos com o dinheiro do Zakat. Isto só ocorre num Estado Islâmico que efetua esta cobrança, coleta e distribuição. 4-Os simpatizantes do Islam - São não muçulmanos que nutrem simpatia declarada pelo Islam ou recém convertidos ao Islam, que, em decorrência desta conversão, sofreram quaisquer dificuldades, como perda de bens, emprego etc..., lhes é dado do Zakat a fim de protegê-los. 5-Libertar escravos - É destinado o dinheiro do Zakat, a fim de se libertarem-se escravos ou prisioneiros de guerra. 6-Os endividados - São os muçulmanos que não dispõe de recursos para saldar as suas dívidas assumidas devido às pressões das necessidades. 7-Na causa de Deus - Abrange tudo que venha trazer benefício para os muçulmanos no campo social, econômico e religioso. Tanto aos interesses coletivos como públicos. Como por exemplo: construir escolas, hospitais beneficentes, mesquitas, bibliotecas, fornecer bolsas de estudos, investir em atividades de divulgação do Islam e etc. 8-Os viajantes muçulmanos - São aqueles muçulmanos que se encontram longe do seu domicílio, em um país estrangeiro por exemplo, e necessitam de ajuda para retornarem aos seus lares por terem ficado desprovidos de recursos que lhe possibilitem o retorno. E dentro destas categorias, ao distribuirmos o Zakat nós devemos observar certas preferências. Por exemplo, caso tenhamos um muçulmano pobre e ao mesmo tempo enfermo ou inválido, é preferível dar-lhe do Zakat do que a um muçulmano pobre, mas apto a poder vir a ganhar alguma coisa. É proibido destinar o Zakat para os nossos dependentes legais ou seja aquelas pessoas que temos a obrigação de sustentá-las caso não possuam meios para tal, como nossos pais, nossos filhos e nossa esposa. Os detalhes quanto às percentagens, e ao método de distribuição e arrecadação, estão baseados na Sunna do profeta e na prática dos seus companheiros. É obrigação do Estado Islâmico cumprir o seu papel fiscalizador, arrecadando o Zakat dos muçulmanos que atingiram o teto pré - estabelecido para tal, e fazer a sua distribuição para os seus legítimos beneficiários. Dessa forma, ao ser distribuído o Zakat pelo Estado evita-se o constrangimento de quem o está recebendo, agora, na ausência de um Estado Islâmico que cumpra esse papel, essa obrigação recai sobre cada muçulmano, cabendo a ele a função de pagar e distribuí-lo diretamente aos legítimos beneficiários ou a instituições islâmicas ou mesquitas que se responsabilizem em fazer tais distribuições. Ao fazermos a distribuição do Zakat diretamente às pessoas mais necessitadas, devemos ter o cuidado de não as humilharmos ou as ofendermos e seguirmos a recomendação de Deus"Uma palavra cordial e uma indulgência são preferíveis à caridade seguida de agravos, porque Deus é, por si, Tolerante, Opulentíssimo." Alcorão Sagrado 2:263. O crente não deve cumprir a obrigação de se pagar o Zakat para satisfazer o seu orgulho ou alcançar fama, e sim terá que faze-lo o mais secretamente possível, para não se tornar vítima da hipocrisia ou da paixão pela vaidade, que anula todas as boas ações. No entanto, se a revelação do nome da pessoa ou da quantia dada por ela, servir como uma forma de encorajar e estimular outras pessoas a pagarem o Zakat, este procedimento se torna louvável. O Zakat deve ser distribuído na mesma localidade onde for arrecadado a fim de melhorar a situação dos menos favorecidos que ali residem. Os diversos impostos que nós pagamos hoje em dia aos governos não substituem o pagamento do Zakat, pois este é um dever religioso. www.islaemlinha.com.br. Abraço. Davi