quinta-feira, 28 de setembro de 2023

CRISTIANISMO E TRANSFORMAÇÃO

 

Cristianismo. Texto de Ian Hookker. CRISTIANISMO E TRANSFORMAÇÃO. A contribuição para a transformação dos seres humanos é um assunto vasto, e, lamentavelmente, os modos como o Cristianismo tem impedido a autorrealização humana é também um tema bastante substancial. Para os propósitos atuais tracemos algumas das influências positivas e discorramos rapidamente sobre algumas delas. Temos de começar com o Pai, o Fundador; temos de começar com a pessoa de Jesus. Existe muito pouco evidência histórica ou literária fora das escrituras cristãs a respeito da vida de Jesus. Desse modo, as quatro breves descrições dos Evangelhos são de grande importância para os cristãos de todas as tendências eclesiásticas. Geração após geração, pessoas sentiram pelas descrições escriturais de Jesus, estar na presença de um personagem eletrizante, de grande poder, encanto e enlevo. Não há como estimar a quantidade de pessoas cujas vidas foram profundamente modificadas por meio da leitura dessas escrituras que remetem à reflexão, e à aspiração. Jesus é claramente revelado, mesmo nessas narrativas breves e fragmentadas, como uma figura arquetípica, um homem de rara estatura, um gigante espiritual; não o único gigante da longa história, certamente, mas verdadeiramente um Ser de grande estatura. Diferentemente dos estudiosos sérios das escrituras de persuasão ortodoxa, com suas engenhosas análises de contexto, de estilo e de evidência arqueológica, aqueles entediados na Tradição da Sabedoria Teosófica têm o recurso de uma fonte adicional de informação, de imensa importância. As autoridades escriturais pertencentes à corrente dominante rejeitaram esta fonte de imediato. A ideia da memória da Natureza, ou dos registros akashicos, acessíveis àqueles com o apropriado treinamento yogue é, tenho certeza, uma noção comum à maioria de nós. Muitos terão estudado com máximo cuidado e atenção. E aprendido a apreciar os relatórios de tais investigações. Acredito que é um conceito familiar. No capítulo “O Cristo Histórico” do livro da doutora Annie Besant, Cristianismo Esotérico, ao lermos o que ela diz a respeito da pessoa de Jesus. Temos a impressão de que ela não está falando de uma posição teológica, nem citando as escrituras. Na realidade, está se esforçando por transmitir sua própria experiência profunda, interior, de observar a impressão indelével no akasha das ações mesmas e da conduta do próprio Jesus. Na verdade, você pode ter lido, estudado atentamente a narrativa a que me refiro, e também, outros trechos que têm origem semelhante. Será que a autora não fala com convicção contagiosa desse Ser Luminoso, da benevolência com que ele recebia as pessoas, e do tremendo poder com o qual curava e inspirava? Na história de Paulo, o grande emissário do Cristianismo ao mundo não judeu, temos, primeiramente, o registro extraordinário de sua conversão, sua total e súbita reviravolta, como é bem sabido. Saulo, como era originalmente chamado, viajava de Jerusalém para Damasco alguns anos após a passagem de Jesus da encarnação física. Você lembrará, também, que Saulo tinha a intenção de suprimir o que ele via como a heresia cristã. Ele era um judeu ortodoxo de persuasão farisaica, com a ardente determinação de aniquilar o que acreditava ser uma nova ameaça que se estava espalhando. Quando se aproximava de Damasco – Síria, ele foi completamente dominado pelo que é descrito no Livro dos Atos como uma grande luz oriunda do céu. Tão brilhante que lhe fez faltar a visão, e ele caiu do cavalo. Instintivamente ele reconheceu uma presença. Em vez de protestar a respeito do que estava acontecendo, ele gritou: “Quem sois, Senhor”? E a resposta foi “Eu sou Jesus, a quem estás perseguindo. Mas levanta-te e entra na cidade, e te será dito o que deves fazer” Atos 9,5-6. É uma história conhecida. Parece que Paulo viu uma grande luz e sentiu a presença de Jesus, mas não o viu. A história se desenvolve a partir daí, falando do recebimento de instruções, da recuperação da visão, de seus heroicos esforços missionários pelo Mestre que se tinha revelado e que o guiava de perto, mesmo dia após dia. Uma leitura cuidadosa do Livros dos Atos dos Apóstolos revelará algo da intimidade e da frequência da orientação super física oferecida a Paulo. É interessante refletir sobre os comentários a respeito de Paulo feitos por William James (1842-1910), o célebre psicólogo americano e autor de The Varieties of Religious Experience (1902), um livro notável que ainda é impresso um século depois. Nessa obra, James insistia que não existe algo chamada conversão súbita, mas uma gradual reorientação ocorrendo subliminarmente, pode subitamente se tornar realização consciente. Esta não é uma explicação total da conversão de São Paulo, uma vez que deixa de lado a iniciativa crucial por parte do Mestre ascendido. No entanto, parece-me um insight útil, que conta parte da história. Uma outra história dramática nos primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos refere-se a Pedro, que, na sequência da morte e ressurgimento de seu Mestre, fora advertido pelas autoridades de que não deveria pregar a respeito de Jesus. Pedro há pouco recusara reconhecer sua submissão a Jesus, e tinha negado três vezes que o conhecia. Agora ele desafiava as autoridades abertamente. Num discurso inflamado, ele acusava as autoridades religiosas do crime de condenar à morte um grande profeta, o homem designado por Deus para ser instrutor de seus discípulos – Atos 2. E, diz o escritor dos Atos, cerca de três mil pessoas juntaram-se ao seu grupo naquele dia. Algo muito dramático tinha acontecido aos discípulos em Pentecostes, algo misterioso e poderoso. Eles que se haviam escondido com medo, subitamente tornaram-se defensores imperiosos e eloquentes da mensagem de seu Mestre. TRANSFORMAÇÃO, deveras. Contudo, MUDANÇA na direção de uma convicção religiosa aprofundada, que leve ao longo do tempo a uma TOTAL TRANSFORMAÇÃO, pode ocorrer gradualmente sem a catarse emocional tradicionalmente aplaudida. William James refere-se a essas pessoas como os uma vez nascidos, e aqueles cuja experiência é mais da natureza de uma grande elevação, como os duas vezes nascidos, expressando sua visão de que esse último tipo de experiência é a mais profunda. Do conhecimento que temos da Tradição Sabedoria, acredito que podemos ver como o firme esforça meditativo e o serviço ativo durante um longo período podem, gradualmente, produzir mudanças na consciência que levam à TRANSFORMAÇÃO. Pessoalmente posso não ver razão para designar a MUDANÇA deste tipo como, de algum modo, sendo menos significativa do que as conversões mais dramáticas experimentadas por pessoas tais como Santo Agostinho (354-430) e Martinho Lutero (1483-1546). As Cartas de São Paulo sugerem que ele teve apenas um conhecimento limitado do Jesus Histórico, porém não há dúvida de que ele tinha uma irresistível percepção da presença desse Instrutor em sua vida. Se buscarmos nos Atos dos Apóstolos encontraremos um número extraordinário de referências ao contato imediato e íntimo de Paulo com Jesus. Além da primeira experiência em Atos 9, Atos 22 diz como, após Paulo ter retornado a Jerusalém, ele caiu em transe enquanto orava no templo, e como Jesus lhe apareceu e lhe advertiu para deixar Jerusalém. Numa outra ocasião, pouco depois, o Senhor aproximou-se dele e disse: “Mantém tua coragem! Pois assim como testemunhaste para mim em Jerusalém, deves prestar testemunho também em Roma” – Atos 23. Anteriormente, Paulo e seus companheiros tinham tentado seguir para o Norte partindo do interior da Ásia Menor – atual Turquia – para Bitínia, aproximando-se da costa do Mar Negro (...) mas o Espírito de Jesus não lhes permitiu” – Atos 16. Numa outra ocasião o Senhor disse a Paulo numa visão: “Não tenhas medo, mas fala e não permanece em silêncio, pois estou contigo e ninguém porá a mão em ti nem te fará mal. Existem muitos na cidade que são o meu povo” – Atos 18,9-10. Presume-se que “e que são o meu povo” é uma referência ao contato prévio entre essas pessoas e Jesus – possivelmente em vidas precedentes (passadas) que levaram a esta vida das vidas, na qual o homem Jesus parece ter sido ofuscado pelo Ser Maior – o Cristo, uma distinção que é encontrada em alguns escritos teosóficos e em algumas antigas heresias, contudo não nos ensinamentos ortodoxos. Esses são apenas alguns dos muitos relatos da transformação radical de vidas humanas que podem ser encontrados na escritura e na tradição cristã, todavia devem bastar para os propósitos atuais. Não obstante a perseguição prolongada, a Igreja expandiu-se rapidamente pelo mundo romano, tendo Paulo estabelecido congregações em locais importantes nas rotas comerciais através do Império Romano. Desse modo, a Igreja expandiu-se e, com o tempo, obteve reconhecimento e até mesmo autoridade, quando o sistema romano de administração entrou em colapso. O modo como o Cristianismo entrou na Idade Média foi muito limitado. Havia alguns videntes, alguns homens e mulheres de visão nos primeiros séculos da Igreja, no entanto, infelizmente, parece, em grande parte, terem sido postos de lado, marginalizados, suprimidos ou martirizados. Santo Agostinho, grande místico que foi, era doutrinariamente limitado. “Não existe salvação”, ensinava ele, “fora da Igreja”. Homens e mulheres, insistia ele, estão predestinados à salvação ou à condenação. Agostinho, evidentemente, conseguia defender ardentemente esta doutrina cruel e pouco amável e engajava-se em estridentes disputas teológicas, sem perder a capacidade de se elevar além da mente e penetrar os profundos estados místicos. A própria luta de Agostinho, uma luta de prolongado conflito moral e intelectual, foi finalmente resolvida em uma intensa convulsão emocional, que levou à catarse, ao insight e à determinação. Esse é um exemplo clássico de uma aparente conversão súbita que, na verdade, estivera amadurecendo subliminarmente por um longo período. Na terminologia de William James, a reversão de orientação de Agostinho estivera sofrendo um processo de incubação subconsciente. Parece um paradoxo que, à medida que o Cristianismo, carregando um forte cunho agostiniano, estendia-se por toda a Europa Ocidental e começava a se deslocar até o Oriente, levasse consigo uma poderosa influência aperfeiçoadora que ajudou a transformar vidas. Refiro-me à atuação invisível do rito da Sagrada Eucaristia ou da Sagrada Missa, e também aos efeitos internos dos outros sacramentos. As pessoas mais sensíveis sentiam que algo notável estava acontecendo, no entanto não sabiam o que era. Havia uma mística definida a qual muitos respondiam, todavia não compreendiam. Indivíduos emocionais respondiam avidamente à atmosfera carregada dos serviços da Igreja sem poderem explicar o que os afetava tanto. Séculos deveriam se passar antes que viesse um vidente que pudesse observar e descrever claramente a influência TRANSFORMADORA INTERIOR que tornava possível as formas sacramentais exteriores. Em 1909, Charles Leadbeater (1854-1934), apresentando o tempo livre de seu trabalho teosófico por razões mais complicadas do que podemos por ora investigar, estava de férias na zona rural da Sicília – Itália, quando percebeu, enquanto caminhava diariamente nos arredores de uma aldeia particular, que a cada manhã uma grande luz difundia-se pela vizinhança. Durante vários dias ele buscou a fonte dessa luz. Finalmente ele a rastreou até a igreja da pequena aldeia, e compreendeu que esse grande fluxo de luz e benção, elevando toda a vizinhança, provinha da celebração diária da missa. Ele investigou ainda mais e descobriu que, à medida que cada serviço era concluído, um campo de força que fora construído pelo florescente ritual de afirmações e ações – sentido apenas fracamente pelos sacerdotes e a congregação – era vertido, sob orientação angélica, sobre a vizinhança, abençoando todos no seu raio de alcance. Pode-se concluir com segurança, portanto, se remontamos à Idade Média – o período de religiosidade devocional e muito frequentemente ignorante, não obstante todas as características negativas, a estreiteza, a superstição, o fanatismo, a ignorância, até mesmo a crueldade – que a Europa Ocidental estava sendo diariamente banhada em graça sacramental. Melhorando a vida das pessoas, refinando-as e purificando-as, mesmo sem o conhecimento delas. A Eucaristia, celebrada em milhares de igrejas, estava construindo, em cada uma delas, um espaço sagrado, e em todas as pessoas desses locais sagrados o ato eucarístico estava diariamente concentrando um intenso campo de força, grande ou pequeno, difundindo benção profunda no mundo. Atualmente cerca de dois terços dos cristãos são católicos, ortodoxos ou anglicanos. Todas essas igrejas celebram a missa ou a Sagrada Eucaristia – fato que foi possível pela transmissão, durante os séculos, via Sucessão Apostólica, isto é, a consagração de seus sucessores para cada geração de bispos. Aparentemente Helena P. Blavatsky (1831-1891) afirmou que a Sucessão Apostólica era uma fraude completa. Investigações posteriores mostraram que a cerimônia de consagração de um bispo, corretamente realizada por um celebrante qualificado, verdadeiramente transmitia ao candidato o poder de, por sua vez, ordenar e consagrar. Podemos, então, presumir com segurança que em todas as igrejas, capelas e oratórios nesses ramos da Igreja Mundial, a benção eucarística tem sido difundida durante muitos séculos. A outra terça parte do Cristianismo, a parte protestante, enfatiza o ministério da palavra e põe grande ênfase sobre o poder da pregação. Todos sabemos disso. Provavelmente já tenhamos assistido aos serviços da igreja protestante ou evangélica – alguns bastante esplêndidos, com música gloriosa, outros nem tanto. Devo confessar ter dormido em um desses últimos, e acordei assustado com o pastor encarando-me e gritando: “Satã, sai de trás de mim!” Um dos proeminentes pensadores protestantes do último século, que geralmente não é visto neste contexto, foi Carl Gustav Jung (1875-1961), o grande psicólogo suíço, que se identificava com a tradição protestante. Em um de seus muitos insights Jung disse: “O que deveríamos estar fazendo não é imitando Jesus, mas sendo nós mesmos tão claramente quanto ele foi ele mesmo”. Um pensamento interessante e útil. Esforçando-me durante alguns anos para obter uma familiaridade com as ideias de Jung, compreendi que ele não tinha qualquer senso de que este Instrutor ainda está aqui. Para Jung, ele era uma figura inspiradora, uma figura simbólica, mítica, na verdade uma figura arquetípica, todavia o grande psicólogo não parecia ter qualquer sendo de uma presença contínua, potente, responsiva às aspirações e às orações das pessoas. E esta é uma diferença crucial. Na literatura da Sociedade Teosófica temos descrições inspiradoras, não apenas do Mestre Jesus e do Senhor Cristo, mas também de outros membros do Governo Interno do Mundo. Temos algumas referências do Grande Chefe da Hierarquia deste planeta, e de alguns daqueles que levam a cabo sua vontade, que guiam e instruem, que ofuscam, todos invisíveis a nós humanos. Temos descrições especialmente desses Grandes Seres, que escolhendo permanecer junto à humanidade, inspiraram a formação desta nossa Sociedade, e guiaram aqueles que se tornaram seus aprendizes para levar adiante certo trabalho em seu nome. Aprendemos deste conjunto de informações que o Ser conhecido no Ocidente como o Senhor Cristo é conhecido no Oriente como o Senhor Maitreya – a próxima encarnação do Budha, um nome que significa compaixão. Um nome indiano – que é um e indivisível qualquer que seja o nome porque o chamemos, e que é visto como a força inspiradora por trás de todo esforço religioso genuíno e sincero neste planeta. Se ele de fato está aqui, e presente, o que dizer de sua natureza? O senhor C. Jinarajadasa (1875-1953), numa palestra apresentada em Londres – Inglaterra em 1933, intitulada “O Trabalho do Cristo no Mundo Atual”, chamou a atenção para a vasta extensão de algo em torno de sessenta bilhões de almas no nosso esquema de evolução – contando os desencarnados e os atualmente encarnados. Ele expressou sua admiração de que “(...) Ele conhece o pensamento das pessoas, e a tal ponto que quando alguém chama ou olha para Ele, Ele responde. (...) Tentando imaginar a consciência que perpassa tudo isso, ele continuou: A coisa parece incrível”. Dizem que o Senhor Cristo pronunciou as seguintes palavras em Mateus 18,20 “Porque, onde estiver dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meu deles”. Essa promessa é vista pelos cristãos mais liberais como validando todas as formas de adoração sincera. Ajudando as pessoas a elevar suas consciências durante certo tempo além do mundano, acima da mente inferior combativa, que se auto engrandece. Isso é algo que São Paulo entendia. Romanos 12,2 “E não sede conformados com este mundo, mas TRANSFORMAI-VOS pela renovação da vossa mente, de modo que possais discernir qual é a vontade de Deus – o que é bom, aceitável e perfeito”. Ele escreveu isso em Roma – Itália. Dizem que São Paulo foi em plenos termos teosóficos, um iniciado avançado. Isso fica evidente, acredito eu, em seus escritos, em sua surpreendente coragem e persistência, e em seu martírio. É virtualmente impossível que ele tenha ouvido falar de Patanjali. Este sábio indiano diz: “O yoga é a cessação das modificações da mente (...) então o vidente estabelece-se em si mesmo”. Contudo o chamado à ação que Paulo faz aos cristãos romanos – “TRANSFORMAI-VOS pela renovação das vossas mentes” – fica evidente que ele compreendia plenamente o poder transformador da mente bem direcionada. Considerando-se a história do Cristianismo, parece que muitos o apreciaram, imitaram seu zelo missionário, e foram inspirados por sua ardente devoção a seu Mestre. Todavia poucos. No entanto poucos compreenderam o que ele nos estava dizendo a respeito do poder transformador da mente. Somos enormemente privilegiados na clareza de nossas diretrizes teosóficas. Nós temos a escolha. A mente pôde voltar-se para o interior e para cima, para manas superior, para budhi, e depois de longo esforço para o atma. Esse é o poder de Deus a que podemos invocar, ou progressivamente invocar a consciência atuante do dia a dia. Ou a mente pode permanecer unida a kama, à paixão, à ganancia, à combatividade e assim por diante. Essa é uma escolha que temos: podemos escolher a TRANSFORMAÇÃO OU ESCOLHER PERMANECER ONDE ESTAMOS, até que a Vida impacte tão fortemente sobre nós que sejamos sacudidos de nossa letargia. Obviamente o Cristianismo teve seu lado negativo. De muitas maneiras retardou a evolução, mas este não é o tópico atual. Do lado positivo, o Cristianismo produziu MUDANÇAS significativas nas vidas de milhões de pessoas. A figura arquetípica de Jesus compreendida como o Cristo, tem sido profundamente inspiradora. Os ensinamentos morais iluminados elevaram – até certo ponto – multidões de cristãos. Evangelistas e videntes ocasionais afetaram aqueles acessíveis a seus ensinamentos e o fluxo penetrante de benção sacramental tem exercido uma influência invisível, porém potente, ao longo de todos os séculos desde a época de Jesus até o presente. Extraído de The Teosophist. Abraço. Davi.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

RESUMO - MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR

 

Bhagavad Gita. Resumo do Capítulo Seis – MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR. Tales Nunes o realizou a partir das aulas de A Essência da Gita da professora Glória Arieira. Este capítulo marca o final da primeira parte do ensinamento de KRISHNA à Arjuna. Da parte que fala sobre o Indivíduo que se vê limitado e que deve descobrir que é pleno, completo e ilimitado. Aqui é apresentado o YOGA como um meio de preparação da mente do indivíduo, como um estilo de vida. Achamos que a meditação tem como objetivo o aquietar a mente, a quietude emocional, a tranquilidade, a paz e nada mais. O objetivo da meditação é fazer com que você possa descobrir a sua verdadeira natureza, aquilo que você é fundamentalmente, livre de limitação. Para isso há todo um estilo de vida que inclui a meditação e que vai conduzir à contemplação. A contemplação é a capacidade de ver a minha natureza fundamental, que está além dos pensamentos. E a contemplação não depende da meditação sentado, de prāṇāyāma. O foco não é a meditação, não é renunciar, é adquirir meios para que a meditação e a renúncia possam acontecer. Eu dou meios para que a mente seja contemplativa. Eu entendo coisas para que eu abra mão de coisas que eu estou apegado e reativo. A atitude contemplativa é equivalente ao amor. Assim como não podemos dizer, agora vou ter uma mente contemplativa, não podemos dizer, agora ame essa pessoa. Essa mente contemplativa tem a capacidade de contemplar qualquer coisa. Pode contemplar BRAHMAN, mas também qualquer outro assunto. Uma vida de YOGA vai nos conduzir a uma mente contemplativa. Porque à medida que agimos, refletimos sobre se a ação foi adequada. Quando o resultado da ação vem, aceitamos e tentamos não reagir, mas agir. Assim a pessoa aprende como funciona a mente e está presente nas ações. Dessa maneira, a pessoa tem a capacidade de escutar, refletir e contemplar o conhecimento de BRAHMAN. Este ensinamento sobre o Todo. É uma questão de entender a veracidade das palavras transmitidas pelo mestre. O que sou eu, o que é o Todo. Através da meditação não tentamos chegar a uma experiência, um estado da mente diferente, um estado alterado de consciência. O objetivo da meditação é o entendimento dessa visão e compreensão de BRAHMAN, do todo como sendo você mesmo. O verdadeiro yogi é um renunciante. Pois ele tem essa atitude mental perante a vida. Uma atitude de não reação, de desapego em relação aos seus desejos e aversões. O yogi é aquela pessoa que abandonou a fantasia da mente. KRISHNA chama essa pessoa com a mente preparada de Yoga āruḍa. Ou seja é a pessoa que dominou YOGA. Ele obteve os resultados de Yoga. Uma mente que tem tranquilidade, firmeza e desapego. Como dominar YOGA? Tendo a capacidade de ter uma tranquilidade para aceitar os resultados das ações. A pessoa que conquistou YOGA é uma pessoa que consegue renunciar qualquer coisa que aconteça na sua mente. Para que você conquiste YOGA, levante o olhar sobre si mesmo. Não se olhe como incapaz, infeliz, incompleto. Eleve-se, não se deixe afogar. Tenha a sua mente como um amigo. O pior inimigo que você pode ter é a sua própria mente. Amigo é aquele que soma, que contribui. A mente amiga é aquela que conquistou a si mesma. Nós temos uma identificação com um eu que é limitado. Essa identificação já vem de muito tempo, dessa vida e de outras. “Eu sou limitado, eu sou mortal, eu sou insuficiente” esse pensamento é uma constante porque é valido para o corpo e para a mente, mas fundamentalmente eu sou livre de limitação. Ainda que entendamos que somos plenos e completos, ao ouvir este ensinamento, parece que ainda falta alguma coisa, falta absorver o conhecimento, porque foi muito tempo de identificação com o contrário. Por habito nós corremos para os objetos, corremos para as situações para nos preencherem porque já chegamos a essa conclusão de que somos limitados e somos insuficientes e automaticamente, sem pensar, vamos atrás de objetos externos achando que vão me fazer mais feliz, que vão me preencher. Para a mudança desse hábito é necessário um tempo, é necessário que eu me veja como livre de limitação, como eterno para que eu possa me libertar desse hábito. A meditação tem basicamente esse objetivo, não o objetivo de produzir uma felicidade, uma tranquilidade, porque se fosse para isso já teríamos os objetos, porque os objetos também produzem felicidade, tranquilidade: uma música, um passeio, uma caminhada, uma viagem. A meditação também dá essa tranquilidade, mas o objetivo último não é produzir alguma coisa e sim me ajudar a assimilar um fato ao meu respeito, que eu já concluo com o estudo e estou preso a essa ideia de que eu sou limitado, que eu sou infeliz e que sou insuficiente. A meditação não é uma ação, não é uma coisa que você faça em um determinado momento. Meditar é uma consequência de uma série de fatores, principalmente de um tipo de mente. No verso 33 Arjuna diz: “KRISHNA, esse YOGA que foi ensinado por você como igualdade; eu não vejo a existência firme dessa igualdade devido à inconstância da mente”. E segue no verso seguinte: “Pois a mente é inconstante, atormentadora, poderosa, obstinada, ó KRISHNA! Eu considero o controle da mente tão difícil como o controle do vento”. Arjuna ficou esperando que KRISHNA respondesse, “é com essa mente não vai dar, acho que você pode mesmo desistir e ir pra montanha”, mas KRISHNA responde no verso 35: “Sem dúvida Arjuna, a mente é inconstante e difícil de ser controlada. Porém, ó Arjuna, a través da repetição e do desapego, ela é disciplinada”. O método apresentado aqui na Gītā para lidar com a mente e a mesma que Patañjali fala no YOGA SUTRAAbhyāsa é a disciplina, a repetição. Eu faço hoje, amanhã eu faço de novo e depois eu faço de novo. Não é ficar distraindo a minha mente, agora eu faço isso, depois aquilo. A mente foge, mas você traz de volta. Ela foge de novo, você traz de volta de novo. À medida que você vai fazendo essa repetição, ao mesmo tempo você vai se desapegando das outras coisas que deseja desapegar. Dessa maneira Abhyāsa traz naturalmente vairāgya. Abhyāsa dentro desse estudo é o escutar, se expor ao conhecimento e refletir sobre o mesmo. Esse é o métido para se chegar ao desapego final. Ao final do capítulo, KRISHNA fala sobre o resultado final do conhecimento. “O yogi, esforçando-se apropriadamente, purificado de impurezas, tendo conquistado sucesso através de inúmeros nascimentos, alcança, então, o mais alto objetivo”. “Entre todos os yogis, aquele que se entrega a mim com a mente absorta em mim, que tem confiança, esse é considerado por mim como o mais elevado”. www.vidadeyoga.com.br. Abraço. Davi.

domingo, 24 de setembro de 2023

O CASAMENTO DO REI SALOMÃO COM A CAMPONESA SULAMITA

 

Cristianismo. Editor do Mosaico. O CASAMENTO DO REI SALOMÃO COM A CAMPONESA SULAMITA. Participei no segundo semestre de 2014 de uma palestra para casais. O conferencista foi um conhecido pastor americano chamado James Kemp. Ele está no Brasil a mais de 45 anos. Tanto que antes do meu casamento (éramos noivos) assistimos uma de suas exposições (1980) sobre relacionamento conjugal. Esse missionário foi o fundador (1968) do grupo vocal Vencedores por Cristo, aqui no Brasil. Muitos de nós, cristãos brasileiros, em nossa adolescência e juventude, cantávamos suas músicas. Seu ministério é voltado para o aconselhamento de casais, relacionamento pais e filhos e a família cristã. Têm vários títulos publicados sobre esses temas em inglês e português. A palestra teve por base o livro de bíblico de Cântico dos Cânticos, no Velho Testamento e o foco da exposição esteve no capítulo 4: 12-15. "Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada. Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes. A hena e o nardo, o nardo e o açafrão, o cálamo e o cinamomo, com toda sorte de árvores de incenso, a mirra e o aloés, com todas as principais especiarias. És fonte dos jardins, poço das águas vivas, torrentes que correm do Líbano!”. Cantares de Salomão é reconhecidamente um poema. É temerário qualquer exegese dogmática e preconcebida. Esse é o motivo por que não é comum explanações (pregações) públicas sobre o assunto. Costuma-se compará-lo ao relacionamento entre Cristo e a Igreja; evidentemente numa conotação espiritual, agrada-se a “sensibilidade” cristã, todavia foge-se da profundidade hermenêutica que o autor da escritura queria passar aos seus leitores, no âmbito da figura entre o povo de Israel e o seu Deus. Mas a verossimilhança reconhecida é que o texto fala do casamento entre o rei Salomão de Israel e a camponesa Sulamita. O ambiente aqui é lua de mel, de núpcias. O casamento judaico era uma festa que demorava duas semanas. Uma celebração regada a vinho, comida, dança, alegria e muitos convidados. Um ritual de introdução do novo casal à comunidade judaica local. A jovem Sulamita por viver no campo e estar sempre exposta ao sol era morena e tinha vergonha da sua cor. Isso só até um homem entrar em sua vida. Ele disse pra ela: "és morena, porém formosa". Não havia discriminação devido a cor. Nossa palavra tem um grande impacto em nossas esposas. Precisamos ter prudência e comedimento ao mencionar qualquer assunto com elas, pois seu humor sempre oscilando mais que o do homem, às vezes, pressupondo escolhas e decisões sem um razoável juízo de causa. Criando situações embaraçosas e difíceis, depois, de serem resolvidas. Todavia em relações a muitos casais a recíproca pode ser verdadeira, para que a justiça seja feita desmistificando o suposto machismo arbitrário e danoso usado por alguns. Salomão era um homem muito rico. Após a festa foi desfrutar do amor de sua querida Sulamita. "Cânticos 1: 2 "Beija-me com os beijos de tua boca, porque melhor é teu amor do que o vinho". Cânticos 4: 16 "Venha o meu amado para o seu jardim e coma os seus frutos excelentes". Sulamita convida seu marido à vida sexual. O sexo foi criado por Deus não apenas para propagar a raça humana, mas para a satisfação sexual do casal. Ereção, orgasmo e clímax tudo para nosso prazer e deleite com nosso cônjuge exclusivamente. Contudo o diabo trouxe maldição para alguns através do sexo de algo tão santo e puro. "Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada". Aqui é falado sobre a noite nupcial. Podemos inferir o aspecto da atração. Pergunto: sua mulher ainda exerce o poder de sedução em você? Pena que em muitos casais isso não mais existe. Trabalharemos agora com quatro conceito retirados do texto chave. O primeiro aspecto é a Fidelidade. A Sulamita era jardim fechado ou virgem. Ela esperou o momento adequado para a relação sexual. James Kemp contou que quando sua filha tinha 14 anos perguntou para ele: o senhor "transou" com mamãe antes do casamento. Ele apesar de seus 24 anos a época e sua mulher Judith com 20 anos tiveram graça para esperar o momento adequado. Muitos jovens não conseguem aguardar o instante propício. Vão para o motel ou casas similares. Temos que orar pela virgindade de nossos filhos, alertou o pastor palestrante. Esta filha de Kemp que disse isso, com 18 foi fazer faculdade na Califórnia. Antes da viagem o pai orou com ela e a advertiu quanto a sua virgindade. Após os 4 anos do curso, um dia depois da festa de formatura, pois James e sua esposa foram prestigiar a colação de grau. Sua filha o leva a uma bela praia em Santa Barbara e conversando os dois, ela lhe confessa que preservou a sua virgindade. O segundo tópico são os Frutos Excelentes. Salomão chamava sua esposa, árvores frutíferas de um pomar. Uma plantação de macieiras, pereiras, videiras, mamoeiros. A ideia apresentada aqui é que há várias maneiras da esposa conquistar o seu marido. Ela precisa dar um abraço apertado e massagem, erotismo sedutor. O terceiro ponto é a Fragrância. "Hena, nardo, cálamo, cinamomo, mirra e aloés". A Sulamita levou um "arsenal" de perfume para a lua de mel. Mulheres pelo amor de Deus se perfumem, Boticário e Natura, para seus esposos. Casamento tem que ter bom cheiro, pois o cheiro ruim acaba os relacionamentos. Problemas de mau hálito em ambos causam ojeriza. Não tenha medo de perguntar para seu cônjuge se você está com esse sintoma. Caso afirmativo procure um médico para o bem do seu casamento. Alguns maridos vão para cama sem tomar banho e ainda obrigam suas esposas a fazer "sexo" com eles. Se satisfazem e criam um terrível ressentimento e frustração nelas. Uma atitude desprezível e desumana de quem comete tal ignomínia. Isso constitui crime com pena de prisão. O quarto item é a Fonte. "És fonte dos jardins, poço das águas vivas". Há uma advertência em Provérbios 5: 1-19 com respeito a meretriz. Tirem tempo para lerem esse precioso texto sagrado. A prostituição está em quase todos os lugares. Desde ambiente requintados e luxuosos, onde clientes pagam até R$ 1.000,00 a hora para ficarem com as garotas de programa, até nas beiras das esquinas das grandes cidades, exemplo São Paulo, aqui no Brasil, onde tristemente constatamos que mulheres se entregam a R$ 50,00 a hora. Todas essas mulheres são carentes do amor e da graça divina em suas vidas e tendo necessidade de uma forte experiência de transformação interior para uma consagração, comunhão e santificação com Deus. Os versículos de 7-14 desse texto é um rogo para que os pais alertem seus filhos quanto a prostituição. Atenção: o conceito de “ficar” entre os adolescentes e jovens é fazer sexo. Provérbio 5: 15-16 "Bebê a água de sua própria cisterna e das correntes do teu poço". Devemos nos saciar com os seios de nossa mulher-esposa unicamente. "Derramar-se iam por fora as suas próprias fontes". As fontes são nossos desejos, prazeres sexuais, emocionais e sentimentais que devem ser derramados naquela que no casamento divide conosco o leito conjugal somente. Lamentavelmente alguns até mesmo vivendo nas igrejas satisfazem seus apetites sexuais em supostas casas de massagens e ainda convidam amigos para fazer sexo grupal, ilicitamente em lugares escusos. Isso é terrível e ultrajante, pecado dos mais aberrantes. "Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade". Sua esposa é sua bênção. "Dar-te-ei o meu amor". O sexo marcado com hora, dia, lugar é maçante e enfadonho. Tende a um mesmismo e futuro desinteresse de ambos. Varie os modos, lugares e maneiras de se deleitar com sua amada. "Saciem-te os seus seios". Esse é um privilégio que só os maridos têm com suas amadas esposas. Jovem, moça, nunca permita seu namorado passar a mão em seus seios. Comer o "fruto excelente" é comer o fruto maduro e não o fruto verde. Esse amadurecimento é apenas no casamento aqui entende-se a formalidade baseada no Código Civil e referendada em Cartório Público). Cânticos 4: 12 "Levanta-te vento norte, e vem tu, vento sul. Assopra no meu jardim". Aqui a Sulamita chama seu amado para fazer sexo. Esposo e esposa devem cultivar um ambiente para a satisfação sexual. Uma mãe dando um conselho para uma filha antes do casamento. Filha você está pronta para carregar a sua cruz. Uma visão de que a vida conjugal é um insuportável fardo. Conversar com os filhos aberta e francamente antes do casamento sobre a vida sexual. É importante que a partir dos 9 anos da menina e dos 12 anos do menino se dialogue sobre temas relacionados a sexualidade. James contou que atendeu em seu consultório uma jovem que era casada a 4 anos e que nunca tivera relação sexual, e que sobre o orgasmo feminino só ouvira falar. Com o transcorrer da terapia se descobriu que quando criança ela havia sido abusada, molestada pelo próprio pai. O abuso leva a repugnância da relação sexual. Relatou também que em uma de suas palestras numa determinada igreja, dois jovens foram surpreendidos fazendo sexo no banheiro. Se você deseja salvar seu filho, então lute por ele. É fundamental que nossos jovens cheguem ao casamento ainda virgens. Nunca force a barra em seus relacionamentos íntimos com seu cônjuge. Isso pode causar danos consideráveis ao psiquismo emocional de ambos. Cânticos 1: 4 "Leva-me após ti, apressemo-nos, o rei me introduziu nas suas recamaras".  O prazer sexual baseia-se na satisfação mútua. I Coríntios 7: 5 "Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vós dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência". O apóstolo Paulo reconhece que quanto ao prazer sexual entre marido e mulher não se impõe nenhuma regra ou dogma. Mesmo para se dedicar a oração ele simplesmente dá sua opinião. O que importa é a decisão dos cônjuges sobre o assunto. Deduz-se do argumento do apóstolo que é melhor em nenhuma hipótese deixar de ter relações sexuais. Evidentemente respeitando-se o parecer de ambos sobre está questão. Aqui se percebe o perigo dos casais, que na mesma casa dormem um no quarto e o outro na sala ou em camas separadas. Tentei ser preciso no que o James Kemp falou. Concordo com o que foi dito. Precisamos de discursos como esses que são totalmente pela família e pela valorização de seus ideais de moralidade, ética e espiritualidade que são propósitos cristãos. Mas reconheço que à medida que o tempo passa, a sociedade cristã e secular começa a agregar nossos valores a esta temática. O assunto da prostituição é um aspecto vicioso da sociedade que requereria um estudo aprofundado para abordá-lo. Mas sinto que preciso dizer algo. A prostituição é uma “instituição” que vem desde os tempos primitivos da sociedade humana, quando se reconheceu a necessidade da propriedade privada e coletiva. Os agrupamentos humanos se organizavam em parcelas de interesses comunitários sejam de família, propriedade, religiosidade, cultura, tradições e outros. Pontuarei alguns aspectos da prostituição baseado numa leitura sócio-histórica. “Pecado ou necessidade? Esse era o grande dilema enfrentado pelos clérigos medievais ao se colocarem na difícil tarefa de converter a Europa bárbara e romana ao cristianismo. Sob a perspectiva formal, as prostitutas infringiam um dos mais importantes tabus da Igreja ao praticarem a fornicação. Por outro lado, as demandas do mundo cotidiano reiteravam, vez após vez, que o banimento da prostituição era uma missão praticamente impossível. Uma das justificativas mais comuns a manterem a prostituição ativa girava em torno do próprio controle de pecados observados como mais graves. O uso que os homens jovens faziam dos bordéis funcionava como meio para que as mulheres respeitáveis não fossem vítimas de sedução ardilosa e estupro. No fim das contas, seria menos grave violar os limites do corpo de uma mulher que já havia caído em pecado do que desgraçar uma casta seguidora dos princípios morais da Igreja. O próprio Santo Agostinho (354-430) advertia que “o banimento da prostituição seria porta de entrada para outros pecados ainda mais controversos”, tal a animalidade e bestialidade incrustadas na natureza humana. Entretanto, alguns clérigos não poupavam esforços para que as prostitutas abandonassem sua vida de erros através do casamento ou ingressando na própria ordenação religiosa, na qualidade de freira. Os medievais se valeram das mais variadas explicações para justificarem o fenômeno da prostituição. Alguns a relacionavam com a tendência natural que alguns têm a degradação moral, outros a ligavam à questão da miséria recorrente em alguns lugares ou à própria viabilidade econômica do ato. Em alguns casos, o concubinato impunha direitos e deveres entre uma prostituta e um terceiro interessado nos seus préstimos. No final das contas, vemos que a prostituição medieval nos revela uma esfera que extrapolava a condição moral daquele tempo. Observando os critérios, medidas e noções sobre a “mais antiga das profissões”, vemos que a Idade Média não esteve incondicionalmente presa às supostas regras de comportamento da Igreja. É no mínimo, instigante observar o choque entre a experiência terrena e as aspirações divinas ocorridas nesse terreno do cotidiano medieval”. http://m.historiadomundo.com.br. Esse trecho mostra que os pressupostos atuais dessa problematização da prostituição continuam os mesmos, e que, solução stricto sensu não teremos, isso reconhecendo nela um organismo do corpo social, mas ao melhorarmos a condição de vida, moral, intelectual e espiritual das pessoas, saberemos como lidar com essa situação de uma maneira compreensiva, fraterna e usando a compaixão. Não incriminando e nem descriminando nenhum indivíduo, por prática que convencionalmente conceituou-se de amoral ou imoral; respeitando-se nesse limite a posição religiosa que prima por nossa condição de pureza e santidade. Em Josué 2:1 "E Josué, filho de Num, enviou secretamente, de Sitim, dois homens a espiar, dizendo: Ide reconhecer a terra de Jericó. Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome era Raabe, e dormiram ali. Então deu-se notícia ao rei de Jerico, dizendo: Eis que esta noite vieram aqui uns homens de Israel, para espiar a terra". Esse episódio bíblico mostra o coração temente a Deus da prostituta Raabe, dentre todos os habitantes de Jerico, talvez a única que ainda tivesse sentimento de compaixão e amor por pessoas, mesmo sendo estrangeiras. Em sua condição de marginalizada da sociedade, sendo vista com maus olhos devido a seu comportamento desviado do padrão social, não teve medo de arrisca sua vida e de sua família para proteger os espias hebreus enviados pelo comandante Josué. Suas informações foram tão úteis e estratégicas, que a conquista de Jerico pelos exércitos de Israel foram um sucesso. Os espias lhe prometeram "salvo conduto", pois quando a cidade de Jerico fosse invadida, ela e seus parentes deveriam permanecer em sua casa, e em sua janela deveria ser colocado um tecido longo de cor escarlate vermelho, como sinal de que aquela casa não deveria ser invadida. E assim aconteceu. O mais impressionante é que pelo seu altruísmo e abnegação a prostituta Raabe foi inserida na comunidade de Israel se incorporando a descendência e a genealogia do Cristo, Mateus 1:5,16 "E Salmon gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede. e Obede gerou a Jessé (...). E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Christo". Desse modo nosso olhar para todas as pessoas e seres deve ser de ternura, carinho e compaixão. Sabendo que a centelha divina que está em cada ser prossegui sua evolução, e no tempo determinado se abrirá para a perfeição e iluminação búdhica. Outro ponto “A questão da virgindade masculina e feminina é um conceito construído pela sociedade, baseado em critérios tanto biológicos quanto sócio culturais. Desta forma pode variar grandemente entre as culturas, sendo muito valorizado em alguns meios sociais ou religiosos, especialmente no que diz respeito à preservação da virgindade antes do casamento. Biologicamente virgindade pode ser definida como o atributo de uma pessoa ou animal, que nunca foi submetida a qualquer tipo de relação sexual, conjugação carnal, e por tal, no caso mais específico das fêmeas, a nenhum contato com esperma e inseminação por meios naturais; conceito estendido atualmente também às inseminações artificiais”. Fonte Wikipédia. A questão da virgindade está intimamente relacionada a religiosidade envolta em tabus, superstições e crenças. Aqui segue minha opinião particular, não tendo propósito algum de dogmatizar esse comportamento. Os cristãos, segundo meu testemunho, têm enormes dificuldades em lidar com essa situação. Pois desde criança as famílias mais ortodoxas e preconceituosas incutem através do medo e severa disciplina a violação desse preceito tradicionalmente relacionado a pessoa da Mãe de Deus – A Virgem Maria. Assim muitos adolescentes e jovens cultivam, não por conhecimento e importância do fato de suas virgindades, mas por temor, culpa, ressentimento e em alguns casos, lhes são ditos que quem tal ato praticar, arderá nas chamas do inferno eterno. Penso que aqueles mais hábeis e dispostos a conservar sua castidade antes do casamento, devem fazê-lo com alegria e discernindo a importância de si preservarem para aquela ou aquele com quem viverão por longos anos. Digamos que isso seja a normalidade dentro do conceito cristão, mas para os que não conseguirem se manter castos, devem tranquilizar-se e confiar na misericórdia e graça divina que abarca todos os seus filhos. Isso não quer dizer que os que têm relação antes do casamento levam desvantagem em relação aos que não tiveram. Vejo isso como uma questão de fórum íntimo que deve ser decidido entre você e Deus. Reconheço que com a secularização da Igreja, muitas coisas têm mudado, inclusive o conceito de virgindade antes do matrimônio como suposta garantia de sucesso para a vida conjugal, coisa que comprovadamente não tem argumento lógico para sustentação. Quanto a fidelidade sou também a favor, mas com ressalva, principalmente, quando as vicissitudes da vida acabam empurrando os casais à uma traição, que a meu ver não é sinônimo de separação ou término do relacionamento, como o senso comum deseja que acreditemos, iniciando um processo de extinção da comunhão entre ambos.  Penso que isso não é o fim, e nem sou a favor de conceder nesses termos, a carta de divórcio, conforme o Antigo Testamento preconiza como único motivo para a separação do casal. Deuteronômio 24:1-3 “Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, divórcio, dando-a na sua mão, e a despedirá da sua casa”. Esse texto bíblico parecer ser essencialmente preconceituoso em relação a mulher, pois a ideia que se passa, quanto a ela, é de inferioridade e uma condição de quase escrava. Isso imaginando que “coisa indecente” seja a infidelidade; não sendo, percebemos o quanto a mulher era desprestigiada e desvalorizado nos tempos da lei do profeta Moisés. Pequenas ninharias eram motivos de repúdio e abandono; coisa gritantemente injusta e sem cabimento. Sendo assim prefiro um olhar mais maleável e menos ortodoxo sobre o assunto. No Novo Testamento as coisas melhoraram um pouco para as mulheres. Contudo mesmo assim, o convencionalismo tradicional arraigado nas mentes dos religiosos, baseadas em crendices e superstições, ainda queriam atirar pedras contra as que eram pegas em adultério. Por que será que só desejavam apedrejar a mulher? O homem adúltero não era mencionado nem inquirido para posterior averiguação ou punição. Em Marcos 10:2-5 temos um interessante texto “E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o. É lícito ao homem repudiar, divorciar-se de sua mulher? Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés? E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Pela dureza dos vossos corações vos deixou ele escrito esse mandamento”. Entendo aqui que o Mestre Jesus eximiu-se de conceder um veredicto em relação a questão do divórcio, ele não via na lei base plausível para um juízo imparcial, fundamentado no amor e na compaixão. Assim sabiamente preferiu não opinar, tomando a redação dogmática, dura e rígida da lei mosaica para condenar alguém por um erro cometido, sem conhecer os antecedentes e os subsequente fatos relacionados a situação apresentada. O Mestre sempre baseava seu juízo no amor e na compaixão. Diante da mulher pega em adultério disse, João 8:7 “E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se e disse-lhes: aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”. Todos os algozes saíram e a mulher retirou salva dos acusadores. Perguntaram lhe certa vez em Mateus 18:21,22 “Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete vezes? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete”. Acho que o nível de amor, perdão e reconciliação entre os casais deve ter a meta dessa profundidade misteriosa e sem precedente. Estaríamos dispostos a assumir um compromisso de compaixão, abnegação e altruísmo como esse? Pelo menos devemos estar abertos a essa disposição, tendo a intenção de praticar um ato tão nobre e sublime que eleva nossa comunhão com Deus. Assim nesses novos tempos de mudança de comportamentos individuais e coletivos devemos estar contextualizado social, econômica, política e historicamente. Uma espiritualidade aberta a modificações e transformações. Os princípios aqui expressos considero de grande valor para a santidade e pureza da família cristã, em contraposição a um mundo secularizado e estigmatizado pelo ceticismo, materialismo, consumismo e a descartabilidade de instituições e indivíduos. Abraço. Davi.   

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR

 

Bhagavad Gita. ATMA SANYAMA YOGA. Capítulo Seis. MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR. Neste capítulo se expõe como se realiza a união com o Ser Supremo, mediante a santificação interior, e a meditação.

 

1. O Verbo Divino: Ouve as minhas palavras, ó Arjuna! Quem cumpre honestamente o seu dever da melhor maneira que lhe é possível, sem nutrir desejos de ser recompensado é, ao mesmo tempo, um asceta e um homem de ação; não aquele que simplesmente prescinde de ritos e sacrifícios.

 

2. Sabe, ó príncipe, que a Reta Ação, praticada com o conhecimento da verdade, é a melhor renúncia, o melhor ascetismo. Porque este consiste em verdade só no desinteresse e, se a ação não é acompanhada pelo conhecimento inteligente da renúncia dos resultados, não merece o nome de Reta Ação.

 

3. Nos primeiros degraus do Caminho da Perfeição, ensina-se que o aspirante deve praticar a reta ação para ganhar os melhores méritos. Quando o discípulo atingiu a sabedoria e o conhecimento, e libertou-se do apego às obras, explica-se que a calma meditação e a paz serena da mente são os melhores para conduzi-lo ao alvo. A cada um dá-se conforme as necessidades e o grau de seu desenvolvimento.

 

4. Quando o homem está livre do apego aos frutos das ações, e à ação mesma, e aos objetos do mundo dos sentidos, então atingiu o mais alto grau da Reta Ação, e tornou-se um yogi perfeito.

 

5. Cada um deve elevar-se espiritualmente pela força que lhe dá o Espírito divino, e não inferioriza-se. O Eu Real, isto é, o Espírito do homem, é o amante do homem e o seu melhor amigo; mas ao ignorante pode parecer que é seu inimigo porque tende a aniquilar o seu sentimento de personalidade separada.

 

6. O Eu Real é o amigo daquele que domina o seu eu pessoal, inferior; porém, se a alma não alcançou ainda o Conhecimento, pode parecer-lhe que o Eu Real é o seu maior inimigo, porque quer libertar a alma ignorante das ilusões e dos erros que se lhe tornaram agradáveis.

 

7. A Alma do homem que chegou ao conhecimento do Eu Real em si mesmo permanece quieta e calma, contente e meiga, não se alterando pelo frio nem pelo calor, nem por sofrimento nem por prazer, nem por aquilo que o mundo chama honra ou desonra.

 

8. O sábio yogi contentá-se com a ciência e com o conhecimento da Humanidade Divina; ele dá igual apreço a um pedaço de barro como ao ouro ou a uma pedra preciosa.

 

9. É afável para com todos, com igual amor e fraternidade a todos trata, sejam amigos ou inimigos, parentes ou não, compatriotas ou estrangeiros, santos ou pecadores, bons ou maus.

 

10. O yogi senta-se num lugar isolado e entrega-se à meditação e a profundos pensamentos. Dominando a mente e o corpo pelo Eu Real, é livre de opiniões e de expectativas egoístas.

 

11. Senta-se num lugar limpo, nem demasiado alto, nem demasiado baixo; cinge-se com um pano ou como o couro de antílope preto, e repousa sobre verbenas (1)

(1). O plano é o símbolo da castidade, o antílope é o símbolo da delicadeza do sentimento; a verbena (erva "kusha") é o símbolo da firmeza. O yogi deve ser casto, delicado e firme.

 

12. Assim sentado, domina a sua mente e dirige o pensamento a um ponto de concentração, retendo, ao mesmo tempo, as impressões dos sentidos e não deixando entrar na mente pensamentos que vagueiam. Nessa posição, conservando calma e persistência, purifica a sua alma, dirigindo a consciência ao Eu Real, ao Absoluto, que é a base de todos os seres.

 

13. Tem sob domínio e imóveis a sua cabeça, a nuca e todo o corpo, de acordo com os costumes tradicionais dos yogis; fixa o olhar no Eterno e Infinito, não olhando para nada do mundo dos sentidos, que o rodeia.

 

14. Com o ânimo tranquilo o sereno, livre do medo, inabalável em seu propósito, refreando a sua vontade, em silêncio permanece, pensando em Mim e em Mim se imergindo.

 

15. O yogi que, desta maneira, se exercita em devoção e, praticando o domínio mental, une-se com o Eu Real, passa para o estado de Paz e Bem-aventurança que só em Mim se encontram.

 

16. A união mística com a Divindade não é atingível, porém, para aquele que é comilão, nem para quem jejua demasiadamente, nem para o dorminhoco, nem para quem se debilita por demasiadas vigílias. Quem quer ser yogi, há de evitar os extremos e seguir o dourado caminho do meio.

 

17. A ciência yogi, que destrói o sofrimento, é realizável para os que observam moderação e temperança em comida e recreio, em ação e descanso; par que aqueles que, fugindo do mal do excesso em ação, não caem no mal oposto do excesso em repressão.

 

18. Quando um homem tem o pleno domínio de si mesmo, e conserva a sua mente fixa no Eu Real, e não anseia nenhum objeto desejável, merece o nome de yukta, "cheio de graça".

 

19. A sua mente tornou-se estável e firme, como a chama da lâmpada que está colocada num lugar aonde não tem acesso o vento.

 

20. A mente do yogi se deleita na contemplação do Eu Real e acha no seu interior o contentamento e a felicidade.

 

21. Cheio de indizíveis delícias, inerentes às esferas espirituais que se estendem além dos sentidos, o yogi permanece firme na contemplação da Verdade.

 

22. Ele sabe que não há coisa melhor, nem maior satisfação, do que esse estado de Paz inabalável, que resulta do Conhecimento da Realidade; nada lhe pode perturbar essa Paz e esse contentamento, nem os maiores sofrimentos, dores e cuidados da vida mundana, porque está acima deles.

 

23. A ausência de sofrimentos, dores e cuidados chama-se Yoga, União Espiritual. Esta Yoga deve ser começada com firme convicção e praticada com alegre disposição mental.

 

24. Atirando longe de ti os vãos desejos da imaginação e dominando por meio da mente, iluminada e guiada pelo Espírito, as inclinações dos sentidos, chegarás, passo a passo, à tranquilidade e calma.

 

25. Quando a mente se fixou uma vez no Eu Real, acha insensato peregrinar em qualquer outra coisa

 

26. Se tua mente não atingiu ainda o necessário grau do domínio das paixões e impressões, anda para cá e para lá, desviando-se de seu Objetivo Supremo, sê vigilante e refreia-a pela força da vontade concentrada, reconduzindo-a sempre ao Alvo.

 

27. O homem, cujo coração encontrou a Paz que ão admite nenhum movimento de paixão, e tornou-se livre daquilo a que se chama "pecado", venceu os erros e entrou no reino da Verdade.

 

28. O yogi, que atingiu assim a Unidade Eterna e cessou de pecar, goza a harmonia da Vida Una e as delícias da união com Deus.

 

29. Ele, cuja alma se uniu assim a Deus, em Deus, e Deus em todas as almas, vê tudo em Deus.

 

30. Em verdade te digo que aquele que Me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca Me abandonará e nunca será por Mim abandonado. Para sempre estará ligado a Mim, pelos laços preciosos do Amor.

 

31. Quem Me reconhece em todos os seres, ama-me e comigo se une, participa da vida eterna do meu ser, qualquer que seja o seu modo de vida exterior neste mundo.

 

32. O verdadeiro yogi, ó Arjuna! É aquele que chegou, pela iluminação interna, a saber que uma só Essência penetra toda a vida e todas as coisas, e conserva o ânimo igual em todas as vicissitudes da vida, reconhecendo a necessidade de equilíbrio entre o prazer e a dor na Natureza.

 

33. Arjuna: Eu não posso achar firmeza, ó Herói valente, nessa submissão, nessa resignação e nesse domínio da mente, de que falas. Eu sei que a mente e o coração são instáveis, inquietos, turbulentos, vacilantes, obstinados e insubmissos à vontade.

 

34. Parece que dominar o coração ou a mente em suas inclinações e seus pensamentos é tão difícil como reter um forte vento.

 

35. KRISHNA: Tens razão, dizendo que é muito difícil dominar a mente, porque é instável e inclina-se ora para um ora para outro objeto; entretanto, quem fortaleceu a sua vontade por meio de exercícios e disciplina, pode ser senhor de seu coração, senhor de sua mente.

 

36. É verdade que a Yoga (União Espiritual) é coisa dificílima para quem tem a mente descontrolada, mas é acessível para quem tenha a mente dominada.

 

37. Arjuna: Qual é, porém, a sorte daquele, ó Mestre, que está cheio de fé, mas não atinge a perfeição em Yoga, porque não domina a sua mente, que se afasta do caminho da disciplina?

 

38. Parecerá, talvez, como uma nuvem despedaçada pelos ventos? Será ele reduzido a nada, sendo repelido tanto deste mundo, como do mundo superior, porque caminha, incerto e inexperiente, pela senda que conduz ao Brahma, ao Absoluto!

 

39. Responde-me, ó Divino, porque tu, unicamente, podes dar-me explicação satisfatória e dissipar as minhas dúvidas.

 

40. KRISHNA: Não, meu caríssimo, não perecerá o homem em tais condições; não será aniquilado nem neste mundo, nem nos vindouros. A fé conserva-o vivo, a sua bondade preserva-o da aniquilação. Não se perde nunca quem vive honestamente e em Mim confia.

 

41. A Alma, cuja devoção é fé, acompanhadas de boas obras, carecem da aquisição da perfeita disciplina, depois da morte do corpo, vai habitar o céu dos justos que ainda não atingiram a Perfeição (1). Ali fica gozando felicidade por inúmeros anos, mas, depois, reencarna-se em casa de um homem bom e nobre, nas condições adaptadas ao seu desenvolvimento e adiantamento. (1). Os teósofos hindus chamam a esse céu - devachan ou morada dos deuses.

 

42. Pode nascer, nesta nova encarnação, como filho de um yogi adiantado, se bem que tal nascimento seja difícil obter-se neste mundo, atrasado moralmente.

 

43. Na sua nova existência, o homem recupera novamente toda a organização espiritual que tinha adquirido na vida passada, e, assim, fica preparado para continuar os estudos e as tarefas que conduzem à Perfeição.

 

44. Com a morte, não se perde nada daquilo que a alma adquiriu. As experiências que o homem fez nas vidas passadas tornam-se instintos e incitam-no ao progresso, até inconscientemente. Mesmo quem só tivesse desejado conhecer Yoga, recupera esse desejo, e com o decorrer do tempo transcende os liames da matéria.

 

45. Trabalhando com paciência, perseverança e aplicação, sendo livre dos erros e plenamente desenvolvido pelas experiências, ganhas em suas múltiplas encarnações, o yogi chega ao alvo procurado, à Paz e à Meta Suprema.

 

46. Como vês, yogi é aquele que procura a Verdade e, confiando na Justiça da Lei Absoluta, sempre faz o melhor que pode. É maior do que um asceta ou fanático que procura obter mérito, impondo-se penas e martírios voluntários a si mesmo. É superior aos eruditos e aos que praticam boas obras com desejo de recompensa. Sê, pois, ó Arjuna! também um yogi, cheio de fé e bondade!

 

47. De todos os yogis, eu prefiro, porém, aquele que me adora com fé e a mim dedica o interior da sua alma; aquele cujo coração transborda meu amor e cuja mente sempre sente a minha presença e, com ela, a Paz Suprema. Livro Bhagavad Gita - A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi.