sexta-feira, 22 de maio de 2015

Bhagavad Gita. Jnana Yoga. O Conhecimento Espiritual.



Neste quarto capítulo do Bhagavad Gita é mostrado que o homem pode libertar-se da ilusão do Eu Pessoal, e alcançar a união com a Essência Divina, pelo conhecimento interno de si próprio, isto é, pela iluminação interior. Esta força aumenta com a prática, quando se cumpre o dever com abnegação. “Continuou a falar Krishna: Já na mais remota antiguidade a Vivasvat (1). Ele a ensinou a Manu (2), e este a transmitiu a Ikshvaku, o fundador da dinastia solar. (1). Vivasvat é o Sol Espiritual ou a Mente Divina no princípio do mundo. (2). Manu é derivado da raiz sânscrita man, pensar. Aqui se refere ao Filho do Sol e Pai da Raça atual, o primeiro homem bíblico, o andrógino Adan Cádmo; este é o humano primordial tendo sua constituição formada concomitantemente pelos dois sexos masculino e feminino. Isso numa interpretação esotérica de Gênesis 2:7 “E formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o folego da vida, e o homem tornou-se alma vivente”. Sua aparência era estranha quando pensamos o modelo humano atual, pois segundo a ciência oculta, cabala e textos herméticos, possuía quatro pernas, quatro braços, duas cabeças e as genitálias masculina e feminina em lados opostos, sendo um hermafrodita. A separação surgiu depois que Deus criou o Jardim do Éden, com plantas, árvores frutíferas e animais de várias espécies, e nenhum desses animais estava possibilitado de acasalar com o andrógino Adan. Assim é dito em Gênesis 2:21,22 “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu, e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão”. Eram seres puros e perfeitos; esse período é descrito pela teologia cristã como a dispensação da inocência, sem pecados. Vivendo integrados e em harmonia com a natureza, conhecedores de seus mistérios e com poderes sobre humanos, dominando os reinos inferiores (minerais, vegetais e animais) do mundo visível, tendo experiências com o Divino na esfera transcendente. De Ikshvaku passou esta doutrina a outros, e era conhecida pelos Rishis (3); no decorrer dos tempos, entretanto, caiu em esquecimento o sentido espiritual, conservando-se apenas a letra. Tal é a sorte da Verdade entre os homens. (3). Rishis são os reis sábios ou patriarcas. Comparando-se o aspecto da letra com II Coríntios 3:6 é dito “O qual também nos fez capaz de um novo testamento, não da letra, mas do espírito: porque a letra mata, mas o espírito vivifica”. A ti, agora, que és meu amigo dedicadíssimo, quero de novo explicar esta doutrina, que é o mais profundo segredo e a mais velha verdade. Disse Arjuna: Como devo compreender-te Oh! Senhor, quando dizes que ensinaste a Vivasvat? Ele viveu no princípio do Tempo e tu nasceste há poucos decênios (4).  (4). No evangelho de João 8:57,58 diz “Disseram-lhe os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abrãao? Disse-lhe Jesus: Em verdade, vos digo que, antes que Abraão fosse feito, Eu Sou”. Muitas coincidências são encontradas no Bhagavad Gita e a Bíblia Sagrada. Respondeu Krishna, Christo, O Verbo Divino: (5). Muitos foram já os meus nascimentos, e muitos também foram os teus, Oh! Arjuna. Eu sou consciente deles todos, mas tu não o és. (5). João 1:1-3 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez”. Escuta este mistério. Eu Sou superior a nascimento; Sou inato e eterno, Sou o Senhor de todas as criaturas, pois tudo emana de Mim: mas também nasço, gerado por meu próprio poder. Sempre que o mundo declina em virtude e justiça; sempre que imperam o vício e a injustiça, venho Eu, o Senhor, e apareço no meu mundo em forma visível, nascendo e vivendo como homem entre os homens. A minha influência e doutrina destroem o mal e a injustiça, e restabelecem a virtude e a justiça. Muitas vezes, já apareci assim, e muitas vezes aparecerei ainda. Quem me reconhece em minha encarnação, quem me conhece em minha Essência, não precisa reencarna-se mais, ao deixar o seu corpo mortal, e vem morar comigo em meu reino de bem aventurança. Muitos já vieram assim a Mim, tendo-se libertado do medo, ira e paixão. Quem a Mim (6) se dirige com firmeza e em Mim fixa a sua mente, é purificado pela chama sagrado do Amor e da Sabedoria, e livre da atração dos objetos terrenos, torna-se semelhante a Mim, e entra em vinha Vida Espiritual. (6). Jesus, Christo, Krishna disse em Mateus 11:28-30 “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sofre vós o meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". Eu acolho prazenteiro todos os que me procuram e honram, qualquer que seja o caminho que sigam, porque todos os caminhos, todas as formas religiosas, embora de denominações diferentes, a Mim Os conduzem. Até aqueles que adoram os Devas (7), e lhes pedem recompensa por suas ações, encontram o que procuram, pois no mundo dos homens toda ação produz o seu fruto. (7). Devas, o mesmo que anjos ou deuses, tendo também a conotação de divindades regentes da natureza. Não são bons nem maus, mas podem ser manipulados pelos humanos para finalidades boas ou ruins. Em um certo ponto de evolução, eles se individualizam, e podem ser confundidos com anjos, ou fadas. Em um certo estado de consciência, algumas pessoas podem vê-los. Podem se apresentar como gnomos, duendes, fadas, sereias e outros. Na mitologia hindu, os devas equivalem aos anjos do cristianismo. O nome deriva da raiz sânscrita Div, que significa resplandecente, aludido à sua aparência auto luminosa. Como adjetivo significa algo divino, celeste, glorioso. Mas, Eu Sou o Criador da humanidade inteira, em todas as suas fases e formas. De Mim procedem as quatro castas (8), com as suas qualidades e atividades distintas. Sabe que Eu Sou o Criador delas, se bem que, em Mim mesmo, sou imutável e sem qualidades. (8). Na mitologia hindu as castas advêm da “imagem” corporal de Brahma, o criador do universo, representando a mente cósmica.  Elas tipificam a sociedade hindu desde a cabeça dessa Suprema Divindade aos seus pés; inclusive a poeira de seus pés tipifica a mais baixa casta. São elas os Bramanes, sábios; os Kshattriyas, os guerreiros; os Vaisyas, os comerciantes, os Sudras, os operários e os Dalit ou Párias, os relegados da sociedade encarregados de fazer os trabalhos desprezíveis como: coveiros, lixeiros e coletores de dejetos das vacas e animais similares. Já falamos sobre esse injusto sistema social no Mosaico, que o governo da Índia têm combatido com veemência, inclusive a atual Constituição (1949) do país, eliminou esse terrível artigo de suas leis, mas essa tradição ainda está impregnada nas mentes dos hindus, e levará tempo para ser banida de sua cultura. Mahatma Gandhi (1869-1948) lutou bravamente, em seu tempo, para a extinção desse discriminatório sistema social.  Em minha Essência, sou livre dos efeitos das ações e não tenho desejo nenhum de obter recompensas ou gozar os frutos das minhas obras; pois essas coisas são produzidas por meu Poder e não têm influência sobre Mim. Em verdade, digo-te que quem é capaz de achar a solução desse enigma e me percebe com Eu Sou (9) em minha Essência, fica livre dos efeitos das ações. (9). Êxodo 3:14 “E disse Deus a Moisés: Eu Sou O Que Sou. E disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós”. Os sábios antigos que conheceram esta verdade, praticavam ações sem esperar recompensa, e assim alcançaram a Liberdade. Segue também tu o seu exemplo. Poderás dizer que, às vezes, até os sábios não podem definir o que é a ação e o que é a inação. Eu te explicarei, e te ensinarei em que consiste a ação que te libertará do mal e te tornará livre. É preciso distinguir estas três coisas: ação (isto é, reta ação), inação (ou abstenção) e má ação. É difícil discernir-se o caminho da ação. Quem se adiantou de tal maneira, que é capaz de ver ação na inação, e inação na ação, pertence aos sábios de sua raça, e permanece em harmonia enquanto pratica ações. As suas obras são livres dos vínculos de esperanças egoístas, e sua atividade é purificada das espumas dos desejos, pela chama da sabedoria. Tal homem merece o nome de Sábio. Tendo renunciado aos frutos das suas ações, está sempre contente e confia na força divina do seu interior, e assim está em inação, ainda que trabalhe, porque não age para a sua pessoa, mas deixa agir por si a força Divina. Não espera lucro, não receia perda; de nada depende, e conserva os seus sentidos sob o domínio da razão. Assim é senhor do seu sentir e pensar, um rei poderosos no reino interior da alma. Está contente sempre com tudo o que o dia lhe oferece; não se deixa alterar por ventura nem por desventura; é livre da inveja; conserva o ânimo igual e o coração afável, tanto no sucesso como no insucesso; faz sempre o melhor que pode, porém, sem se apegar à obra. Assim, vive puro e imaculado entre os impuros e pecadores. As obras do homem que matou em si todo apego e mantém sua mente firme na sabedoria, são como inexistentes para ele; tudo ele faz no espírito divino, conforme a vontade de Deus, e assim, cada uma de suas ações é um sacrifício no altar do Amor Divino. Deus é Amor (10); Deus mesmo é o sacrificador e o sacrifício; Ele é o fogo e o alimento do fogo. Deus em Deus oferece sacrifício a Deus (11), e assim vem a Deus quem, oferecendo sacrifício, Nele pensa. (10). I João 4:8 “ Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor”. (11). O Mestre Jesus disse em João 6:54-56 “Todo aquele que  comer a minha carne e beber o meu sangue tem vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Aquele que come a minha carne e bebe meu sangue permanece em Mim, e Eu Nele (...)”. Há muitos devotos que invocam os deuses inferiores; outros adoram o Princípio Divino só no fogo do Amor. Outros há que oferecem à Divindade sacrifícios de abnegação, renunciando ao que agrada o ouvido, a vista e os outros sentidos; outros dirigem a Deus preces e hinos pios e elevam ao Altíssimo os corações ardentes. Muitos depõem no altar do coração os prazeres da vida, alimentando o fogo místico de renunciação, pelo qual se lhes comunica a Luz do conhecimento. Outros renunciam à riqueza e fazem votos de penitência e obediência, ou dedicam-se ao estudo e à procura da verdade, meditando no silêncio. Outros praticam a respiração sagrada, e pondo em harmonia o hálito interior e o exterior, dominam a aspiração e a expiração (12) pelo poder da vontade. (12). Aqui, parece, uma referência ao iogue iniciado, no hinduísmo com suas variadas formas de desenvolver a reflexão espiritual. Também uma explícita conotação as diversas formas de meditação no budismo, que dentre outros benefícios apressa nosso processo de iluminação ou libertação completa do ciclo do Samsara. Outros praticam abstinência e jejuns e esforçam-se por sacrificar a vida material, totalmente, à vida espiritual. Todos estes oferecem  sacrifícios, ainda que de diferentes modos; e todos obtêm méritos pelo espírito sacrificial das suas observâncias. Há muita virtude e mérito na moderação e no domínio de si mesmo; e esta é a causa por que os sacrificadores se aproximam de Mim. Sim, aqueles que se alimentam espiritualmente com a parte espiritual do sacrifício que a Deus oferecem, entram em união com Deus. Mas quem nenhum sacrifício oferece, não acha mérito neste mundo nem no outro. Assim vês que há muitas formas de sacrifício e adoração, Oh! Arjuna.. Se compreenderes isto, chegarás a ser livre de erro. Melhor, porém, do que o sacrifício de objetos e coisas, é o sacrifício oferecido pelo saber. O saber ou conhecimento perfeito em si mesmo é o coroamento de todas as ações. Ao saber perfeito, ao conhecimento da Verdade, chegarás, adorando, servindo e investigando. Os sábios que possuem a sabedoria interior estão prontos a ajudar aqueles que procuram a Verdade. Quando tiveres adquirido a Sabedoria, serás livre de confusão, dúvidas, má compreensão e erros; pois verás que tudo o que existe no grande Todo, forma uma só vida, e, por consequinte, é contido em Mim e em si mesmo. Ainda que tivesses sido o maior pecador dentre os homens, a nave do conhecimento da Verdade te conduzirá sem perigo pelo mar dos pecados. Como a chama reluz a lenha a cinzas e o vento dispersa estas, assim a Verdade converte em cinzas o resultado das más ações que cometeste em ignorância e erro. Não há , no mundo, outro agente de purificação igual à chama da Verdade Espiritual. Quem a conhece, quem a ela se dedica, será purificado das manchas da personalidade, e achará o seu Eu Real. O conhecimento da Verdade é dado àquele que vive na força da fé, e domina o Eu Pessoal e as impressões dos sentidos. Quem atingiu este conhecimento e esta Sabedoria, entra na Paz Suprema, no Nirvana. Mas o ignorante e o descrente não podem achar nem o começo do caminho que à Paz conduz. Sem fé (13) não é possível felicidade e paz, nem neste mundo, nem em outros. (13) Em Hebreus 11:6 é falado “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus: porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. Livre dos vínculos das ações é o homem, que mediante o Conhecimento Espiritual, cortem os nós que o ligavam aos frutos das ações, e cujas dúvidas e ilusões todas ficaram destruídas pela Luz do Saber. Levanta-te, pois, em teu poder, Oh! Príncipe, empunha a espada refulgente do conhecimento espiritual e corta todos os vínculos das dúvidas e ilusões que prendem o teu coração e a tua mente. Eleva a Mim a tua alma e executa a Ação que te é determinada”. Em II Timóteo 2:15 é dito "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade". Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Tradução Francisco Valdomiro Lorenz. Editora Pensamentos.  São Paulo – Brasil. Com alguns comentários do redator do Mosaico. Abraço. Davi.

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