segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O CANTAR DOS NOMES DE DEUS

 

Hinduísmo. www.voltaaosupremo.com.br. Hare Krishna. Texto de A. C. Bhaktivedanta Swami Phabhupada. Um processo acessível, eficiente e não sectário. O CANTAR DOS NOMES DE DEUS. De acordo com a literatura védica, o universo opera em um ciclo de quatro eras, que se repetem como os meses de um calendário. A primeira era se chama Satya, e se caracteriza pela presença de virtude, sabedoria e religião, praticamente não existindo ignorância e vícios. A era seguinte se chama Treta, e é quando vícios passam a ser introduzidos na sociedade. Na próxima era, de nome Dvapara, acontece um declínio ainda maior na virtude e na religião e um aumento ainda maior nas perversões. Por fim, existe a era de Kali, que é a era em que vivemos no momento. Nesta era, abundam desavenças, falta de conhecimento, descrença em tópicos espirituais e maus hábitos. Esta era, portanto, não é de modo algum adequada para a autorrealização, como costumava ser a era de Satya, também conhecida como “era de ouro”, ou mesmo as eras de Treta ou Dvapara, as quais também são conhecidas como “era de prata” e “era de cobre”, respectivamente. Para a auto realização, as pessoas na era de Satya, vivendo uma duração de vida de cem mil anos, podiam meditar por um longo tempo. Na era de Treta, quando a duração de vida era de dez mil anos, a autorrealização era alcançada pela realização de grandes sacrifícios. Na era de Dvapara, por sua vez, a duração de vida era de mil anos, e a autorrealização era alcançada pela adoração ao Senhor. Na era de Kali, porém, a duração máxima de vida, como já dito, é de apenas cem anos, e isso combinado a várias outras dificuldades. Nesta era, portanto, o processo recomendado para a auto realização é ouvir e cantar o santo nome de Deus. Aqueles que estão ocupados em serviço devocional puro ao Senhor, começando por ouvir e cantar os Seus santos nomes, são capazes de livrar-se das desavenças desta era complicada. Os líderes do povo estão muito ansiosos por viver em paz e amizade, mas não têm informação do método simples de ouvir as glórias do Senhor. Ao contrário, tais líderes opõem-se à propagação das glórias do Senhor e decretam variados planos anualmente, mas, devido às insuperáveis complexidades da natureza material, todos esses planos para ο progresso estão sendo constantemente frustrados. Eles não têm olhos para ver que suas tentativas de paz e amizade estão fracassando. No entanto, aqui está a sugestão para a superação dos obstáculos: Se quisermos verdadeira paz, teremos que abrir caminho para a compreensão do Senhor Supremo e, então, glorificá-lo. Continue com Sua Religião, Continue com Sua Profissão. Quando nos escutam cantar o mantra Hare Krishna, alguém talvez pense que esses nomes de Deus são hindus. Existem algumas pessoas sectárias que pensam assim, mas a instrução do Movimento da Consciência de Krishna é esta: “Não importa o nome que você cante. Se você tem outro nome de Deus que seja fidedigno, você pode cantar esse nome. Em todo caso, cante o nome de Deus.” Não pense que este Movimento está tentando converter você de cristão para hindu. Permaneça cristão, judeu ou muçulmano. Isso não faz diferença alguma. Nós não estamos ensinando nenhum tipo particular de religião. E você não tem que mudar sua situação social. Se você é estudante, permaneça estudante. Se você é um homem de negócios, permaneça homem de negócios. Mulher, homem, negro, branco – qualquer um pode cantar Hare Krishna. É um processo simples e não se cobra nada. Não estamos dizendo: “Deem-nos tantos dólares e daremos a vocês este mantra Hare Krishna.” Não. Nós o estamos distribuindo publicamente. Você simplesmente tem que o adotar e experimentá-lo. Você chegará rapidamente à plataforma transcendental. Quando você ouve o cantar, isso é meditação transcendental. Você não precisa fazer mudanças externas, mas, se você quer realmente tornar sua vida perfeita, tente desenvolver seu amor dormente, seu amor por Deus, pois essa é a perfeição da vida. Amparo Escritural e Filosófico. Na escritura de nome Kali-santarana Upanishad, declara-se: “Após buscar por toda a literatura védica, não se conseguirá encontrar um método de religião mais sublime para esta era de Kali do que cantar Hare Krishna.” Na Narayana-samhita, também encontramos: “Na era de Dvapara, as pessoas devem adorar o Senhor apenas pelos princípios reguladores do Narada-pancharatra e de outros livros similarmente autorizados. Na era de Kali, entretanto, as pessoas devem simplesmente entoar o santo nome da Suprema Personalidade de Deus.” A importância de cantar o santo nome do Senhor também é declarada no seguinte verso do Srimad-Bhagavatam (12.3.51): “Embora a era de Kali seja repleta de defeitos, ainda há uma boa qualidade em relação a ela. Simplesmente por entoar o maha-mantra Hare Krishna, o sujeito pode se livrar do condicionamento material e ser promovido ao reino transcendental.” Portanto, o processo do cantar é um princípio autorizado pela literatura védica. Nós do Movimento para a Consciência de Krishna não somos sentimentalistas; temos muitos livros: Bhagavad-gita Como Ele ÉSrimad-BhagavatamOs Ensinamentos do Senhor Chaitanya, Ishopanishad e outros. E temos nossa revista também: Volta ao Supremo. Ninguém deve pensar que somos sentimentalistas, pois estamos amparados por um pensamento altamente filosófico. Efeitos Experimentados. Como mostramos, não estamos introduzindo este sistema do cantar por meio de nossa invenção mental, para tornar as coisas fáceis. A literatura védica o recomenda, e é prático. Se você praticar, você verá que está se elevando à plataforma transcendental. As pessoas estão obtendo bons resultados hoje, e não apenas na Índia, mas aqui no ocidente também. Essa vibração sonora transcendental imediatamente transportará você à plataforma transcendental, sobretudo se você tentar ouvir absorvendo sua mente no som. Assim, nosso pedido é que você tenha uma experiência com o cantar. Simplesmente cante – em casa ou em qualquer lugar. Não há restrição de tempo, circunstâncias ou lugar. Em qualquer lugar, a qualquer momento, você pode meditar através do canto de Hare Krishna. Nenhuma outra meditação é possível enquanto você caminha pela rua, mas essa meditação é possível. Você está trabalhando com suas mãos? Você pode cantar Hare Krishna. É maravilhoso. O Significado do Mantra Hare Krishna. Krishna é o nome perfeito para Deus. A palavra sânscrita krishna significa “o todo-atrativo”. E rama, por sua vez, significa “o prazer supremo”. Se Deus não é todo-atrativo e pleno de prazer supremo, que sentido há em Deus? Deus tem que ser a fonte do prazer supremo; de outro modo, como você poderia estar satisfeito com Ele? Seu coração está ansiando por muitíssimos prazeres. Se Deus não pode satisfazer você com todos os prazeres, como Ele pode ser Deus? E Ele também tem que ser todo-atrativo. Se Deus não é atrativo a toda pessoa, como pode ser Deus? A palavra hare indica a energia do Senhor Supremo. Tudo está sendo feito pela energia do Senhor Supremo. Os planetas são uma criação da energia do Sol; similarmente, toda a manifestação material e espiritual é uma criação da energia do Senhor Supremo. Então, quando cantamos Hare Krishna, estamos orando à energia do Senhor Supremo e ao próprio Senhor Supremo: “Por favor, erguei-me. Por favor, erguei-me. Estou no conceito corpóreo de vida. Estou nesta existência corpórea. Estou sofrendo. Por favor, erguei-me à plataforma espiritual a fim de que eu seja feliz”. Restabelecendo Nossa Consciência. Como almas espirituais, nós todos somos originalmente entidades conscientes de Krishna, mas, devido à nossa associação com a matéria desde tempos imemoriais, a nossa consciência está adulterada pela atmosfera material. A atmosfera material, na qual todos nós estamos agora vivendo, é chamada de maya, ou ilusão. Maya significa “aquilo que não é”. E o que é essa ilusão? A ilusão é que nós todos estamos tentando ser senhores da natureza material, ao passo que a verdade é que estamos sob o jugo de suas leis estritas. Quando um servo artificialmente tenta imitar o mestre todo-poderoso, é dito que ele está em ilusão. Tentamos explorar os recursos da natureza material, mas, na verdade, nós ficamos cada vez mais atados, enredados em suas complexidades. Portanto, embora ocupados em uma árdua luta para conquistar a natureza, estamos sempre mais dependentes dela. Essa luta ilusória contra a natureza material pode ser parada de uma só vez ao revivermos a nossa eterna consciência de Krishna, e nenhum outro meio de perfeição espiritual é tão efetivo nesta era de desavenças e hipocrisia quanto o cantar do maha-mantra. www.voltaaosupremo.com.br. Abraço. Davi

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

MARIA SANTÍSSIMA - ÁPICE DOS MILAGRES DE DEUS

 

Cristianismo. Revista Arautos do Evangelho. Maio de 2022. MARIA SANTÍSSIMA – ÁPICE DOS MILAGRES DE DEUS. Na bula sobre o dogma da Imaculada Conceição, o Papa Pio IX (1792-1878) enaltece as incontáveis virtudes e privilégios de Nossa Senhora. Ciente de que nada basta para exaltar aquela que é superior a todo louvor humano e angélico. O Deus inefável – cuja conduta é misericórdia e verdade, cuja vontade é onipotência e cuja sabedoria abarca tudo com fortaleza. Dispondo suavemente todas as coisas – previu desde toda a eternidade a lamentabilíssima ruína de todo o gênero humano, proveniente de Adão. Por isso, tendo decretado, com misterioso plano oculto desde toda a eternidade, levar até o fim a primitiva obra de sua misericórdia por meio da Encarnação do Verbo. Escolheu e preparou desde o princípio e antes dos tempos, num plano mais secreto ainda, uma Mãe. Nela se encarnando, seu Filho Unigênito nasceria na ditosa plenitude dos tempos, para que não perecesse o homem impelido ao pecado pela astúcia da diabólica maldade e para que aquilo que no primeiro Adão havia de cair fosse restaurado de modo mais esplêndido no segundo. De tal modo Deus a amou acima de todas as criaturas que só nela se comprouve com assinaladíssima benevolência (...). A criatura mais unida Deus. A gloriosíssima Virgem Maria, na qual operou grandes coisas o Onipotente, reluziu com tal abundância de todos os dons celestiais, com tal plenitude de graça e com tal inocência que ela é como um inefável milagre de Deus. Mais ainda, como o ápice de todos os milagres, em suma, a digna Mãe de Deus. Unindo-se o mais possível ao seu Criador, tanto quanto lhe permitia a condição de criatura, ascendeu a um patamar superior a todo louvor humano e angélico. A Virgem reluz com tal abundância de dons celestiais e tal plenitude de graça, que ela é como um inefável milagre de Deus. Em consequência, para atestar original inocência e a santidade da Mãe de Deus, os Padres da Igreja não só a compararam muito amiúde com Eva ainda virgem, ainda inocente, ainda incorrupta e não enganada pelos mortíferos artifícios da astuciosíssima serpente. Como também a elevaram, Virgem Maria, acima daquela com maravilhosa variedade de palavras e pensamentos. Pois Eva, miseravelmente complacente com a serpente, caiu da inocência original e se tornou sua escrava. Mas a Virgem Maria Santíssima, aumentando incessantemente o dom original e nunca dando ouvidos à serpente, arrasou até aos alicerces, pela virtude divina recebida do alto, sua poderosa força. Maria Santíssima, imaculada e toda formosa, esmagou a cabeça venenosa dá cruel serpente e trouxe ao mundo a salvação. Por isso eles nunca deixaram de dar à Mãe de Deus o nome de: lírio entre os espinhos, terra absolutamente intacta, virginal, sem mancha, imaculada, sempre bendita e livre de toda mancha de pecado, da qual se formou o novo Adão. Paraíso imaculado, atraentíssimo, ameníssimo, esmeradamente feito de inocência, de imortalidade e de delícias, plantado pelo próprio Deus e protegido de toda intriga da venenosa serpente. Árvore imperecível que jamais foi carcomida pelo verme do pecado, fonte sempre límpida e marcada pela virtude do Espírito Santo. Diviníssimo templo, tesouro de imortalidade, única filha, não da morte, mas da vida, germe não da ira, mas da graça que, por singular providência de Deus, floresceu sempre viçosa de uma raiz corrompida e deteriorada, fora das leis ordinariamente estabelecidas. Contudo, como se esses títulos, embora muito gloriosos, não fossem suficientes, declararam eles, com expressões adequadas e precisas que, tratando-se de pecado, não cabia fazer sequer mínima menção à Santíssima Virgem Maria. A quem se concedeu mais graça para vencê-lo totalmente. Professam, ademais os Padres da Igreja, que a gloriosíssima Virgem foi reparadora de sua raça e fonte de vida para o gênero humano. Eleita desde a eternidade, preparada por Deus para si próprio, prenunciada por Ele quando disse à serpente em Gênesis 3,15 “Porei inimizade entre ti e a mulher (...). Esplendor e baluarte da Santa Igreja. A Santíssima Virgem, imaculada e toda formosa, esmagou a cabeça venenosa da cruel serpente e trouxe ao mundo a salvação. Ela é a glória dos profetas e dos Apóstolos, honra dos mártires, alegria e coroa dos Santos. É refúgio seguro e auxiliadora invencível de todos quantos estão em perigo, medianeira e conciliadora de todo o orbe terrestre perante seu Filho único – Jesus Cristo – é glória, esplendor e baluarte da Santa Igreja. Sempre destruiu as heresias, livrou das maiores calamidades e de toda espécie de males os povos fiéis e as nações. E a nós mesmo livrou de inúmeros perigos que nos assaltavam. Assim, temos firmíssima esperança e absoluta confiança de que esta nossa poderosa protetora fará com que – removidos todos os obstáculos e vencidos todos os erros – a Santa Igreja Católica, nossa Mãe, se fortifique e floresça cada dia mais em todos os povos e todas as nações, reine de um mar ao outro, desde o grande rio até os confins da terra conforme Salmos 7,8. Que desfrute de toda paz, tranquilidade e liberdade para que possam obter perdão os pecadores, remédios aos doentes, força de alma os fracos, consolação aos aflitos, socorro aos periclitantes. E para que os transviados, vendo dissiparem-se as trevas de seu espírito, retornem ao caminho da verdade e da justiça e assim haja um só rebanho e um só pastor. Sob seu amparo nada temos a temer. Ouçam essas nossas palavras nossos amadíssimos filhos da Igreja Católica e com fervor cada vez mais ardente de piedade, religião e amor, continuem a venerar, invocar, orar à Bem-Aventurada Virgem Maria. Concebida sem pecado original, recorram sempre com inteira confiança a esta doce Mãe de graça e misericórdia, em todos os perigos, angústias, necessidades, em todas as situações obscuras e tremendas da vida. Nada temos a temer, nada de que nos desesperarmos, quando caminhamos sob a guia, a proteção e o amparo daquela que, tendo por nós um coração de Mãe e ocupando-se da obra de nossa salvação, estende a todo o gênero humano sua maternal solicitude. Suas preces maternais têm enorme poder, pois foi constituída pelo Senhor Rainha do Céu e da terra, exaltada acima de todos os coros dos Santos. Entronizada à direita de seu Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela sempre obtém o que pode, nunca roga em vão. Excertos de PIO IX. Ineffabilis Deus, 08/12/1854. Tradução: Arautos do Evangelho. Abraço. Davi.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

OS ORIXAS - NANÃ

 

Religião Afro-brasileira. www.brasilescola.uol.com.br. Por Rainer Sousa. OS ORIXÁS. "A chegada dos escravos africanos ao Brasil foi responsável pela consolidação de uma nova experiência religiosa em nosso território. Contudo, ao contrário do que muitos chegam a imaginar, não podemos supor que esse movimento simplesmente instalou a mesma lógica e as mesmas divindades cultuadas no território africano. Ao mesmo tempo em que alguns deuses ficaram para trás, outros foram criados para compor uma experiência singular. Desse vasto panteão de divindades, os orixás se tornaram os mais conhecidos entre os praticantes e não praticantes das religiões de origem e influência africana. Segundo os ensinamentos do candomblé, todas as pessoas são filhas de orixás. Para que seja possível determinar a quais orixás um indivíduo pertence, ele precisa recorrer aos saberes oferecidos pelo jogo de búzios. O jogo de búzios consiste basicamente no lançamento de dezesseis conchas, também conhecidas como cauris, em uma peneira. O pai de santo é o único capaz de realizar o lançamento das conchas e realizar a correta leitura da posição de cada búzio. Além do jogo, os praticantes do candomblé também associam a pessoa ao seu orixá através das características físicas e psicológicas do praticante. Segundo a crença, cada pessoa recebe a influência de dois orixás principais. O primeiro é conhecido como o “orixá da frente” e o segundo como o “orixá de trás”, “segundo santo” ou “jutó”. Esse casal de divindades promove a proteção de seu seguidor e são reverenciados pelo pai de santo quando, este, toca a testa, para o orixá da frente, e a nuca para o orixá de trás. Além dessas duas divindades, uma pessoa pode incorporar a proteção de outros deuses, completando o número máximo de sete orixás." "No conjunto das religiões afro-brasileiras, os orixás podem assumir diferentes nomenclaturas segundo a crença que o adota. Na umbanda, os orixás não são diretamente incorporados pelas pessoas com aptidões mediúnicas. Geralmente, o orixá envia um representante, o falangeiro, que tem a função de repassar as ordens e orientações do orixá que o domina. Entre os mais conhecidos orixás podemos destacar as figuras de Exu, orixá mensageiro sem o qual nenhuma transformação acontece: Ogum, divindade que está correntemente associada às guerras e à agricultura. Oxossi, reconhecido como irmão de Ogum e associado à caça e proteção. Além disso, podemos destacar Omulu, poderosa divindade responsável pelos poderes de cura e doença. Xangô, senhor dos raios e trovões, Iemanjá, a mãe de todos os orixás. E Oxalá, o grande orixá da criação”.

 

NANÃ. "Nanã é um importante orixá feminino relacionado com a origem do homem na Terra. O seu domínio se relaciona com as águas paradas, os pântanos e a terra úmida. Do ponto de vista divino, sua relação com o barro, mistura de água e terra, coloca essa divindade nos domínios existentes entre a vida e a morte. Isso porque a água é o elemento que se liga à vida e a terra, à morte. É daí que compreendemos o seu trânsito entre essas duas poderosas realidades. O mito de Nanã apareceu quando Olorum encarregou Oxalá da missão de fazer o modelo que daria forma ao homem. Entre tantas alternativas, o orixá encarregado tentou fazer uso do vento, da madeira, da pedra, do fogo, do azeite e até do vinho. Contudo, apesar de tanto esforço, ele percebia que nenhum material era maleável o suficiente para que ele executasse a tarefa. Foi quando Nanã retirou uma porção de barro do fundo do lago em que morava. Utilizando aquele material, Oxalá conseguiu finalmente dar forma ao homem. Logo em seguida, Olorum pegou o modelo e com um sopro lhe concedeu força vital para realizar tarefas. Depois disso, os outros orixás se encarregaram de ajudar o homem a povoar as terras do mundo. Sendo feito de um elemento que pertence à Nanã, os homens têm que morrer. Afinal de contas, ela cobra de volta aquilo que um dia ofereceu para que o homem viesse a existir. Ligada ao princípio e ao fim da existência, Nanã é costumeiramente reverenciada com cânticos que rogam pela extensão da vida e o adiamento da morte. Em alguns rituais, Nanã é evocada pelas mulheres que apresentam dificuldade para engravidar. Quando tem o seu pedido atendido, essas mães costumam acrescentar o nome da deusa no nome de seus filhos. Esse seria um gesto de gratidão que também reforça o poder de vida ligado a esse importante orixá. Os cultos de adoração à Nanã estão cercados de todo um cuidado. Os envolvidos devem estar livres de qualquer tipo de prática que seja vista como impura. Não raro, os participantes ficam um tempo sem praticar sexo ou consumir drogas. Em seu culto observamos que o ibiri (espécie de vassoura produzida a partir das folhas da palmeira) é o objeto que solenemente indica a sua presença. De forma comparativa, podemos ver que Nanã ocupa um espaço simbólico semelhante ao que a lendária Grande-Mãe ocupa em outras religiões existentes. www.brasilescola.com.br. Abraço. Davi

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

REENCARNAÇÃO DO BOGD

 

Budismo. www.oglobo.globo.com. REENCARNAÇÃO DO BOGD. Menino de 8 anos pode liderar budismo em meio a disputa entre China e o Dalai Lama na Mongólia. A Altannar vive pressão de proteger a fé budista no país contra a pressão do Partido Comunista Chinês. Por David Pierson Em The New York Time. Em 04/10/2023. O menino parecia destinado a uma vida de riqueza e atividades terrenas. Nascido na família por trás de um grande conglomerado de mineração na Mongólia, ele poderia ter sido escolhido para algum dia liderar a empresa a partir da sua sede de aço e vidro na capital do país. Em vez disso, a criança de 8 anos está agora no centro de uma disputa entre o Dalai Lama e o Partido Comunista Chinês. Ele não era muito mais do que um bebê quando tudo mudou. Em uma visita a um vasto mosteiro na capital Ulaanbaatar, conhecido por uma imponente estátua de Buda dourada em ouro, seu pai levou ele e seu irmão gêmeo para uma sala onde eles e outros sete rapazes foram submetidos a um teste secreto. As crianças viram uma mesa repleta de objetos religiosos. Alguns deles se recusaram a sair do lado dos pais. Outros foram atraídos por doces coloridos colocados como distração. Esse garoto, A. Altannar, era diferente. Ele escolheu um conjunto de contas de oração e colocou-o em volta do pescoço. Ele tocou um sino usado para meditação. Ele caminhou até um monge na sala e subiu em suas pernas de brincadeira. — Esses sinais eram muito especiais — disse Bataa Mishigish, um estudioso religioso que observou o menino com dois monges experientes. — Nós apenas nos entreolhamos e não dissemos uma palavra. Eles haviam encontrado a décima reencarnação de Bogd, uma das três figuras mais importantes do budismo tibetano e, para muitos, o líder espiritual da Mongólia, onde quase metade da população é budista. Pelos sete anos seguintes, os monges mantiveram em segredo a identidade do Bogd, conhecido formalmente como Jebtsundamba Khutughtu. Então, em março, o Dalai Lama apresentou o menino em uma cerimônia na Índia diante de uma multidão de fiéis, seu corpo minúsculo coberto por uma veste tradicional da Mongólia, com olhos de corça e corte de cabelo espetado aparecendo acima de uma máscara cirúrgica branca. A notícia da escolha do 10º Bogd foi motivo de comemoração na Mongólia. O Bogd é um símbolo da identidade da Mongólia, uma posição que remonta há quase 400 anos aos descendentes do imperador mongol Kublai Khan, que abraçou o budismo tibetano e ajudou a espalhá-lo pela China e outras terras conquistadas. No início do século 20, Bogd nascido no Tibete era o governante teocrático da Mongólia, reverenciado como uma figura de rei deus. Hoje, o título adorna bancos, boutiques de caxemira e concessionárias de automóveis. Quando alguém espirra, os mongóis dizem “Bogd abençoe você”. Mas quem será o Bogd é uma questão delicada com implicações para a Mongólia, a China e o Tibete. O Partido Comunista Chinês tem procurado afirmar a sua autoridade sobre o budismo tibetano, mesmo fora das fronteiras da China, como parte de uma longa campanha para reforçar o seu controlo sobre o Tibete. A China considera o Dalai Lama, de 88 anos – que fugiu do Tibete em 1959 e vive exilado na Índia desde então – como um inimigo determinado a libertar o Tibete do domínio chinês. Embora oficialmente ateu, o partido afirmou que só ele pode nomear a sua reencarnação e a de outros altos lamas. Após a morte do último Bogd, em 2012, houve a preocupação de que a China tentasse escolher ou influenciar a seleção do próximo. Em 1995, a China sequestrou um menino que o Dalai Lama nomeou como Panchen Lama, a segunda figura mais reconhecida no budismo tibetano. Assim, quando o Dalai Lama apareceu em público com A. Altannar este ano, foi uma afirmação desafiadora da sua influência sobre a fé e um desafio às reivindicações de Pequim sobre a sucessão. E colocou a Mongólia em uma situação difícil, prejudicando a sua delicada relação com a China, um vizinho muito maior e mais rico. Depois, há a questão de saber se a tradição de ungir crianças como lama reencarnadas faz sentido e ainda tem lugar na Mongólia moderna. Alguns também se queixaram de que as famílias da elite, como a do rapaz, desfrutam de demasiados privilégios. Enquanto isso, seus pais, educados nos EUA, estão enfrentando uma luta séria sobre desistir de suas esperanças e sonhos, para que seu filho sirva uma vocação religiosa que eles não escolheram. O menino, um aluno da terceira série que gosta de TikTok e videogames, enfrentará agora décadas de treinamento teológico, uma vida inteira de celibato e a grave responsabilidade de ter que defender o budismo mongol contra a pressão chinesa. E, de certa forma, seu irmão gêmeo também. Para ocultar a identidade de A. Altannar e protegê-lo de adoradores fanáticos ou pior, os gêmeos Achildai Altannar e Agudai Altannar, que são idênticos, raramente são vistos em público um sem o outro. Na verdade, nem o Dalai Lama nem os pais disseram publicamente qual o rapaz que foi apresentado na cerimônia. — Queremos que o nosso filho cresça num ambiente normal, não sob pressão, nem sob o escrutínio de ensinamentos pesados — disse Munkhnasan Narmandakh, de 41 anos, a mãe do menino. — Se ele quer jogar videogame, ele deveria.  Quando Bataa, o estudioso religioso, e os líderes do Mosteiro Gandan, em Ulaanbaatar, partiram em busca do próximo Bogd, ficaram perplexos. O processo de encontrar uma reencarnação quase se perdeu no tempo. Tiveram de tirar o pó de antigos textos religiosos dos Arquivos Nacionais e consultar especialistas do escritório do Dalai Lama em Dharamsala, na Índia. A equipe retirou 80 mil nomes da lista de meninos nascidos em Ulaanbaatar em 2014 e 2015, anos após a morte do último Bogd. Eles seguiram um antigo costume de analisar visões místicas e astrológica para reduzir a seleção a 11 fazndo o teste secreto – embora as famílias de apenas nove meninos tenham respondido. Naquela tarde, os objetos que A. Altannar recolheu — o colar e o sino — pertenciam ao Nono Bogd. O monge em quem ele escalou era o assistente do Nono Bogd. De muitas maneiras, os desafios da busca sublinharam o estado enfraquecido do budismo tibetano na Mongólia. Já se passaram quase 300 anos desde que o título de Bogd pertencia a um mongol. Depois que os mongóis se submeteram ao Império Chinês Qing, no final do século XVII, o imperador decidiu que todas as futuras reencarnações do Bogd seriam encontradas no Tibete, para evitar uma revolta mongol. Os mongóis há muito pensavam que a linhagem Bogd havia terminado com o Oitavo, um lama nascido no Tibete que foi reverenciado por declarar independência dos Qing em 1911, e que morreu em 1924. Quando a era Stalin começou, pouco depois, os governantes comunistas na Mongólia declararam um fim da linhagem Bogd. Ao longo de 70 anos de regime socialista, as autoridades suprimiram a religião, mataram lamas e monges e arrasaram templos. Após a revolução democrática da Mongólia, em 1990, muitos ficaram surpresos no país quando o Dalai Lama revelou que, em 1936, um menino de 4 anos no Tibete tinha sido secretamente nomeado o Nono Bogd. Ele e o Dalai Lama eram amigos, ambos fugiram da China em 1959, e ele vivia escondido na Índia. Ao longo dos anos, com o incentivo do Dalai Lama, o budismo se restabeleceu na Mongólia. Antigos mosteiros foram restaurados e os praticantes saíram das sombras. E o Nono Bogd mudou-se para lá em 2011. Quando ele morreu, um ano depois, aos 79 anos, seu testamento exigia que sua reencarnação fosse mongol, em vez de tibetana. O pedido aproximaria o lama do povo que ele deveria liderar. SOMBRA DO ELITISMO. Antes de A. Altannar ser identificado como líder espiritual da Mongólia, ele nasceu na realeza empresarial da Mongólia. A sua avó, Garamjav Tseden, é a fundadora de uma das empresas privadas mais bem-sucedidas do país, a Monpolymet, que começou na mineração de ouro e desde então expandiu-se para a produção de cimento. Sua mãe, diretora executiva da empresa, já atuou como jurada na versão mongol de “Shark Tank”, o reality show voltado para negócios. Mas o sucesso da família e o antigo papel da matriarca Garamjav como representante no Parlamento levantaram questões sobre o privilégio e o elitismo que se infiltram no processo de encontrar um Bogd. Alguns, incluindo Khulan Tsoodolyn, uma poeta famosa no país, criticaram a seleção de A. Altannar como um exemplo do monopólio da elite sobre o poder e o prestígio. Ela foi presa em janeiro sob acusações não especificadas de espionagem e condenada em julho a nove anos de prisão. Pouco depois de A. Altannar ter sido apresentado pelo Dalai Lama, Unurtsetseg Naran, uma jornalista independente, escreveu no Facebook: “Porque foi selecionada uma criança rica?” Os pais do menino dizem que as postagens de Unurtsetseg provocaram ameaças on-line contra a família. E rejeitam qualquer sugestão de que compraram a posição do filho. A riqueza é um tema delicado na Mongólia, onde o abismo entre ricos e pobres continua grande. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que em Ulaanbaatar, onde um quarto dos residentes da cidade vive na pobreza – muitas vezes em bairros decrépitos formados por tendas nômades nos arredores da cidade, longe dos centros comerciais e hotéis luxuosos que são monumentos ao boom do mineiro no país. Historicamente, os lamas tibetanos muitas vezes vêm da nobreza. Alguns observadores dizem que os jovens lamas de famílias ricas se beneficiam por terem uma educação melhor – e que a sua riqueza é um sinal potencial de uma vida passada que foi justa. Mas sempre houve queixas de que as escolhas dos lamas tinham a ver com política e, por vezes, com corrupção. No final do século XVIII, o imperador Qianlong da China tentou resolver isso sorteando uma urna de ouro para lamas selecionados. O Partido Comunista Chinês ressuscitou o sistema da “Urna de Ouro” na sua tentativa de controlar a seleção dos lamas budistas e limitar a influência do Dalai Lama, embora poucos fora do país o considerem legítimo. “MUDANÇA SÍSMICA” NO PODER CENTRAL. A nomeação de uma reencarnação do lama mongol garante que a Mongólia será aprofundada no jogo de xadrez político entre a China e o Dalai Lama. A Mongólia depende da China para comprar as suas exportações e investir em infraestrutura. A marca da China está exposta em Ulaanbaatar, em um viaduto sinuoso de quatro faixas concebido para aliviar o trânsito intenso da cidade, e em uma arena desportiva com um logotipo em relevo que diz: “China Aid For Shared Future”. Para a Mongólia, uma medida errada aos olhos de Pequim custaria caro. Foi em 2016, durante uma visita à Mongólia, que o Dalai Lama disse pela primeira vez em uma conferência de imprensa que o Bogd tinha sido descoberto no país – um anúncio bombástico. A resposta da China foi rápida: fechou as passagens fronteiriças entre os dois países, impôs tarifas e cancelou as conversações bilaterais. O Dalai Lama não voltou a visitar a Mongólia desde então. Ele agora tem meios de estabelecer uma posição na Mongólia e expandir o alcance do seu cargo, disse Munkhnaran Bayarlkhagva, analista que trabalhou no Conselho de Segurança Nacional da Mongólia. A seleção de um mongol para o papel foi uma “mudança sísmica no centro de poder do budismo tibetano” de Dharamsala para Ulaanbaatar, disse ele. Também existem ramificações potenciais para o governo dos Estados Unidos. A. Altannar nasceu em Washington, o que o torna um cidadão americano. Isso alimentou especulações de que ele foi escolhido porque a sua cidadania norte-americana poderia proporcionar alguma proteção adicional da China. A China não comentou publicamente sobre a escolha de A. Altannar, mas responsáveis mongóis e estrangeiros, falando sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto, dizem que Pequim alertou a Mongólia sobre as consequências se Bogd se aproximar demasiado do Dalai Lama. Telo Tulku Rinpoche, representante do Dalai Lama na Mongólia, acusou a China de querer “controlar o budismo a nível global”. Ele negou que A. Altannar tenha sido escolhido por razões políticas e disse que o gabinete do Dalai Lama teria pouco contato com o rapaz. — Esta é uma questão espiritual — disse ele. VIDA DE CRIANÇA. O telefonema para a família do menino com a notícia da sua seleção veio de ninguém menos que o então presidente da Mongólia, Tsakhia Elbegdorj, um sinal do significado nacional do cargo. Mas Munkhnasan, mãe de A. Altannar, disse que sua resposta imediata foi uma rejeição total da ideia. Os pais esperavam que um dia seus filhos estudassem engenharia e assumissem o império empresarial da família. — Dissemos: ‘Isso não pode acontecer’ —lembrou Munkhnasan. — Meu filho ainda era um bebê na época e não houve nenhum tipo de aviso prévio ou qualquer comunicação sobre o que estava prestes a acontecer. Munkhnasan e o seu marido, Altannar Chinchuluun, escreveram ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), apelando por ajuda. O processo de reencarnação, argumentaram eles, roubou os direitos do filho. A família correu para Ulaanbaatar após a ligação com o presidente e exigiu que os monges encontrassem outro menino. Os monges disseram que tentariam, mas o Dalai Lama disse que não. Em vez disso, ele recomendou dar tempo à família para pensar, na esperança de que mudassem de ideia. Entretanto, os monges prometeram não revelar o nome do menino. Mesmo assim, o casal sofreu com a situação. Altannar, 43 anos, matemático da Universidade Nacional da Mongólia, temia estar virando as costas ao seu país ao recusar-se a restaurar uma orgulhosa instituição mongol. Munkhnasan temia atrair um mau carma para sua família se negasse aos budistas tibetanos um líder sagrado. Eventualmente, os dois decidiram que tentariam encontrar um equilíbrio. Os monges poderiam instruir o menino se ele também continuasse com a educação regular. Mais importante ainda, eles insistiram que caberia ao filho, quando ele completar 18 anos, decidir se deseja continuar sendo o Bogd. — A decisão é dele — disse Munkhnasan. Até então, A. Altannar terá uma infância como nenhuma outra. E não foi apenas a sua própria vida que mudou, a do irmão dele também. Os gêmeos se vestem de forma idêntica e recebem o mesmo treinamento religioso como se ambos fossem Bogd. Munkhnasan disse que não queria “sacrificar” um filho pelo outro – ter um gêmeo vivendo à sombra de seu irmão. Mas ela disse que a família teria que se virar até estar mais confiante sobre a segurança de A. Altannar. O menino parece atravessar seus dois mundos com crescente facilidade. Quando visitou Dharamsala para ser apresentado pelo Dalai Lama, ficou sentado durante horas ouvindo seus ensinamentos. Em um dia da semana recente, ele estava atento na escola e brincalhão com seus colegas, exibindo um largo sorriso enquanto participava de uma corrida de revezamento para a aula de educação física. Mais tarde, ele vestiu uma roupa tradicional da Mongólia para receber instrução religiosa regular no mosteiro de Gandan. Na presença dos monges, sua energia juvenil foi substituída por uma aura de calma e maturidade enquanto ele lia sutras e praticava rituais. — É claro que, como menino, ele não entende tudo o que está acontecendo, mas definitivamente não está rejeitando isso — disse Munkhnasan. — Ele está muito confortável. É como se fosse uma segunda natureza para ele. www.oglobo.globo.com. Abraço. Davi

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

INTRODUÇÃO AO BHAGAVAD GITA

 

Hinduísmo. www.vedantacuritiba.org.br. INTRODUÇÃO AO BHAGAVAD GITA. Este texto foi traduzido por Swami Vijoyananda (1898-1973), monge da Ordem Ramakrishna. Foi discípulo de Swami Ramakrishna (1863-1922), sendo o pioneiro da Vedanta na América do Sul e líder espiritual da Rama Krishna.   O Bhagavad Gita, ou Canto do Senhor, pertence à Grande Epopeia Mahabharata dos Hindus. Este texto sagrado tem dezoito capítulos (25 a 42) do Bhisma Parva desta Epopeia. O livro completo tem 250.000 versos. Também o chamam Gita ou Canto porque é um diálogo em verso entre Krishna, a Encarnação Divina e Arjuna. O Gita é um dos mais importantes textos espirituais do mundo. O hindu instruído, culto e de temperamento espiritual lê este texto com profunda reverência e encontra através de seus versos sua pergunta respondida, sua dúvida dissipada, recobrado o seu ânimo e claro é iluminado o seu caminho; e assim prossegue com passos seguros sua marcha ao seu Ideal de vida. Krishna, o instrutor do Gita, é o amigo ideal, o sábio preceptor, o grande yogui, o guerreiro invencível, o conhecedor perfeito, o estadista consumado da época; em sua pessoa todas as belas qualidades humanas estão harmonizadas. O fato de que este texto muito sagrado tenha como marco o campo de batalha, chama a atenção de muitos leitores, especialmente ocidentais, que sincera, mas desfavoravelmente, criticam a personalidade de Krishna como Encarnação Divina. Dizem: Como é possível que a Encarnação de Deus instigue a seu melhor amigo a levantar seu arco e matar as pessoas? Como Deus, o misericordioso, pode ser a causa direta ou instrumental da matança? Isto necessita certo esclarecimento. Antes de tudo compreendamos uma coisa com toda clareza: Krishna jamais disse à Arjuna que matasse a todos inimigos por algum fim pessoal; Ele o fez recordar seu dever de kshatriya, o guerreiro que protege a causa da retidão e justiça. Os adversários de Arjuna eram adictos (afeiçoado, dependente) de seu primo, que havia usurpado o trono de seu irmão mais velho. Esse primo havia tentado matá-los e lhes havia dito que teriam que reconquistar o trono no campo de batalha. Assim que não era o momento de demonstrar sua compaixão a estes injustos e ser morto por eles, dando-lhes a oportunidade de propagar a injustiça e a irreligiosidade. Muito diferentemente do que professam os crentes ocidentais, especialmente os cristãos, o hindu acha muito razoável a ideia de que Deus se encarne no corpo humano tantas vezes como sinta ser necessário. No Gita lemos: “Toda vez que declina a religião e prevalece a irreligião, Me encarno de novo.” Sem nós perdermos nas infrutíferas discussões dogmáticas das diferentes escolas de teologia, nas quais a lógica e o bom senso estão subordinados às opiniões sectárias, vamos ouvir o que diz o hindu em apoio de seu conceito sobre a Encarnação. Diz: Deus impessoal e sem qualidades é um conceito tão sumamente elevado que a maioria dos seres humanos não podem nem compreender nem sentir. Só pouquíssimos seres, que se liberaram de todo tipo de desejos e necessidades, que superaram a vida objetiva, que pela absoluta pureza de coração e pela devoção, dedicando seu corpo, mente e alma a Deus, puderam apagar completamente a diferença entre eles e seu Bem Amado Deus e assim gozar da Suprema Bem Aventurança do estado da Beatitude, Só eles podem dizer, por sua realização, que Deus é Impessoal; porque neste estado já não existe o conceito de personalidade, nem subjetiva nem objetivamente. Mesmo estes Bem-aventurados Seres, ao baixar de seu elevado estado de supra consciência, aceitam que o Deus Impessoal é também Pessoal como Ser Universal. Ele é tudo, o que existe objetivamente é Sua manifestação; Ele está em todos os seres animados e inanimados. O resto da humanidade, os que vivem a vida de necessidades e sua satisfação, para quem a individualidade é a realidade, necessitam de um exemplo objetivo, um ser humano que com sua vida pura e absolutamente abnegada e por sua realização espiritual se una definitivamente com o Princípio Divino e viva como a própria figura da misericórdia e declare, com sua autoridade, a existência de Deus. Essa personificação humana da Divindade é a Encarnação, que vive de época em época “para proteger aos bons, destruir aos maus e restabelecer a Eterna Religião". Ninguém sabe a data exata da criação deste mundo ou de sua aparição como um processo evolutivo da natureza, a qual nada faz mecanicamente. A natureza é inteligente e todas as suas modificações levam a marca desta inteligência. O hindu diz que a natureza, individual e coletiva, é Deus em Manifestação; a natureza é parte do Onipresente. Tampouco conhecemos exatamente quando apareceu pela primeira vez o homem sobre esta terra. Todas as datas que propõem os antropólogos e outros homens de ciência são aproximadas, são conjecturas. Hoje é muito arriscado opinar que nossos irmãos de sete ou oito mil anos atrás eram menos avançados que nós em conceitos morais e espirituais. Os Upanishades, os textos de Yoga, o sistema do Samkhya, demonstram que os seres humanos daquela época, ainda que vivessem com menos artigos de luxo, tinham conceitos espirituais muito elevados. Alguns deles já sabiam que Deus é Universal, que Deus é Existência Conhecimento Bem-aventurança Absoluta, que Deus é Pessoal e Impessoal; sabiam que o homem, pelo caminho do controle interno e externo pode gozar da Bem Aventurança Eterna pela Misericórdia Divina; sabiam que todo o sofrimento humano é devido a que o homem ignora sua própria natureza divina. De maneira que não podemos dizer que o homem, antes da era cristã, não necessitou nem teve a bênção da presença das Encarnações. É ilógico, insensato e dogmático dizer que antes da aparição de Jesus Cristo a raça humana não recebia a graça divina e que com a Encarnação de Deus no corpo de Jesus se abriu, pela primeira vez, a porta da salvação. Salvação é ser consciente da eterna presença de Deus. Além disso, o hindu diz que, como todas as ideias e normas, as da Religião prosperam também, durante certo tempo e depois decaem, as pessoas afastadas dos seres humanos não podem nem compreender nem sentir. Só pouquíssimos seres, que se liberaram de todo tipo de desejos e necessidades, que superaram a vida objetiva, que pela absoluta pureza de coração e pela devoção, dedicando seu corpo, mente e alma a Deus, puderam apagar completamente a diferença entre eles e seu Bem Amado Deus e assim gozar da Suprema Bem Aventurança do Estado da Beatitude, só eles podem dizer, por sua realização, que Deus é Impessoal; porque neste estado já não existe o conceito de personalidade, nem subjetiva nem objetivamente. Mesmo estes Bem-aventurados Seres, ao baixar de seu elevado estado de supra consciência, aceitam que Deus Impessoal é também Pessoal como Ser Universal. Ele é tudo, o que existe objetivamente é Sua manifestação; Ele está em todos os seres animados e inanimados. O resto da humanidade, os que vivem a vida de necessidades e sua satisfação, para quem a individualidade é a realidade, necessitam de um exemplo objetivo, um ser humano que com sua vida pura e absolutamente abnegada e por sua realização espiritual se una definitivamente com o Princípio Divino e viva como a própria figura da misericórdia e declare, com sua autoridade, a existência de Deus. Essa personificação humana da Divindade é a Encarnação, que vive de época em época "para proteger aos bons, destruir aos maus e restabelecer a Eterna Religião". Ninguém sabe a data exata da criação deste mundo ou de sua aparição como um processo evolutivo da natureza, a qual nada faz mecanicamente. A natureza é inteligente e todas as suas modificações levam a marca desta inteligência. O hindu diz que a natureza, individual e coletiva, é Deus em Manifestação; a natureza é parte do Onipresente. Tampouco conhecemos exatamente quando apareceu pela primeira vez o homem sobre esta terra. Alguns deles já sabiam que Deus é Universal, que Deus é Existência Conhecimento Bem-aventurança Absoluta, que Deus é Pessoal e Impessoal; sabiam que o homem, pelo caminho do controle interno e externo pode gozar da Bem Aventurança eterna pela misericórdia divina; sabiam que todo o sofrimento humano é devido a que o homem ignora sua própria natureza divina. Além disso, o hindu diz que, como todas as ideias e normas, as da Religião prosperam também, durante certo tempo e depois decaem, as pessoas afastadas de seu Ideal, se tornam egoístas e mesquinhas, se esquecem de amar à Deus e à seu próximo, vivem a vida puramente sensual, de luta e competição. Quando se generaliza este estado, certos amantes da Divindade rogam fervorosamente pela salvação de seus irmãos ignorantes e a misericórdia se condensa em uma forma humana. Este fato místico, esta manifestação de Puro Amor, ocorreu antes e ocorrerá no futuro. Em qualquer parte do mundo, para o homem comum, a religião consiste só em cumprir alguns deveres morais. O dever varia segundo o ambiente e posição social da pessoa. Aparentemente o dever do pai é bem diferente do dever do filho. O dever de um rei ou governante de um povo é velar com zelo pelo bem estar físico, moral e espiritual de cada pessoa do povo. Esta magna tarefa se cumpre com êxito quando o governante leva uma vida abnegada e dedicada. Se seu povo é atacado por inimigos, ele tem que derrotá-los sem considerações e se for necessário, oferecer sua própria vida no campo de batalha. Este é seu dever primordial, esta é sua religião. Por esta ação abnegada, o rei ou governante se purifica de suas limitações e se aproxima de Deus. Através do cumprimento do dever o homem consciente, o homem que não vive uma vida egoísta e puramente sensual, descobre que a felicidade é mais apreciável que o momentâneo prazer, que se goza mais fazendo felizes aos demais, que jamais esteve separado do resto da humanidade, que a felicidade moral é muito mais duradoura que a alegria corpórea e que o homem como Ser é sempre universal. A individualidade é um conceito puramente objetivo. Mesmo o homem comum, de mentalidade limitada, quando pensa em si mesmo, o faz em relação com seus familiares ou parentes imediatos, o que demonstra que, subjetivamente, ele jamais pode limitar-se nesta forma que é vista pelos outros; o homem subjetivamente é sempre o reflexo do Universal, é um aspecto indivisível da Divindade. As pessoas comuns têm muitas ideias confusas sobre o conceito do dever; estas confusões não se aclaram enquanto o homem leva uma vida objetiva; enquanto a opinião alheia, o anelo de ganhar méritos, de receber o elogio das pessoas, a ostentação, o logro do prazer sensório e o medo, constituírem o motivo ou motivos de suas ações e pensamentos. Este medo, ainda que pareça um paradoxo para muitos, é o principal impulso na vida. Este medo nos persegue de diversas maneiras: medo da opinião pública, medo de perder os bens, a reputação, a posição social, os familiares e o medo da morte. Este medo fabricou a ilusória individualidade, nos tem amarrados a ela e nos obriga a crer que somos criaturas de nascimento, juventude, velhice e morte. Frequentemente vemos que o homem, confundido e assustado, fala demasiado de valor, compaixão e desapego que ele realmente não sente nem demonstra nos fatos. Algo muito parecido aconteceu à Arjuna no campo de batalha e, justamente por isso, Krishna lhe deu conselhos apropriados sobre o dever, o yoga, a renúncia, os diversos caminhos espirituais e a liberação. O Bhagavad Gita não é um tratado de teologia, nem um livro de orações devocionais e nem um texto de um sistema filosófico. Este sagrado texto, de forma sintética, ilumina a consciência humana, aclara os complexos problemas sobre o dever, o propósito da vida, a diferença entre o amor e o apego, a ciência do yoga, a prática da devoção e do difícil caminho do discernimento pelo qual, o homem de renúncia, logra o conhecimento direto do UM sem segundo, a Existência Conhecimento Bem Aventurança Absoluta. Lendo este livro, aquele que realmente tenha inquietude espiritual, descobre com assombro e certa alegria que muitas, senão todas, as perguntas de Arjuna, são ou poderiam ser as suas e que certas respostas de Krishna retiram todas suas dúvidas, lhe dão ânimo e convicção, lhe preparam para seguir firmemente o caminho espiritual e fazem eco ao dito final de Arjuna: “Me sinto firme, minhas dúvidas desapareceram. Cumprirei Tua ordem". Temos que advertir ao nosso leitor, se é um aspirante espiritual, sobre algo muito importante. Será muito difícil compreender o verdadeiro significado deste texto se não possui de antemão os imprescindíveis requisitos da vida espiritual. Antes de tudo, deve ter a capacidade de discernir entre o Real e o irreal; depois deve ter a firme determinação de renunciar à irrealidade; deve possuir as seis virtudes seguintes: controle dos sentidos, controle da mente, fortaleza para suportar as aflições, saber retirar-se dos objetos e conceitos que o perturbam no caminho espiritual, fé inquebrantável na própria capacidade e na Existência Divina, concentração e por último, o anelo de liberar-se desta irreal existência objetiva, deste conjunto de ideias e formas transitórias. Sem tais requisitos, a leitura deste texto espiritual não servirá muito ao nosso leitor. Talvez lhe ajude algo em sua carreira de erudição, agregando outra flor em sua cesta de ecletismo. O leitor deve saber muito bem que a vida de “parecer” é absolutamente distinta e contrária à vida de “ser” e que unicamente pelo caminho de “ser”, da sinceridade e retidão, se compreende a grande importância da vida espiritual. A espiritualidade ou religião transforma totalmente a vida; a leitura dos tratados espirituais não é para satisfazer uma mera curiosidade intelectual, seu propósito é levantar o homem de seu equivocado e pernicioso estado animal e fazê-lo recordar constantemente sua natureza divina, prepará-lo para viver uma vida de plenitude e ao final conduzi-lo à união completa com Deus, seu verdadeiro Ser. Os caminhos a este magno e único ideal são vários. Os hindus os chamam de “yogas”. Os principais yogas são quatro: Karma yoga ou yoga da ação, Raja yoga ou yoga do controle interno e externo, Bhakti yoga, ou yoga da devoção e Jnana yoga ou yoga do conhecimento do Supremo. Yoga também significa “união”, o que nos une com Deus. De maneira que yoga é ao mesmo tempo a base e o grande Ideal de todas as religiões. Os grandes sábios, santos e profetas de todas as religiões foram, são e serão yoguis; em suas vidas notamos a maravilhosa fusão das belas qualidades humanas com a Divindade Universal. Um verdadeiro yogui transcendeu as limitações individuais, personifica ao Conhecimento e seus sentimentos são Universais; através de sua personalidade transparente a Divindade chega a nós diretamente. Por natureza um yogui é equânime (em que há constância, tranquilidade e justiça), desapegado, misericordioso, sempre ativo e vive fazendo o bem à todos. Conhecedor do segredo da vida e da morte, unido definitivamente com Deus, sua presença santifica tudo. Só o verdadeiro yogui sabe que a vida e a morte são como borbulhas, flutuando no eterno oceano da imortalidade. O Gita é conhecido também como Brahma Vidhia, o conhecimento do Supremo e como Moksha Shastra, o tratado sobre a emancipação final. Ainda que o texto comece com a persuasão de Arjuna, para que cumpra com seu dever de liderar a causa da retidão, vemos em seguida que a mensagem de Krishna é a Suprema Verdade. Os problemas tratados neste sagrado texto são essencialmente espirituais e as soluções dadas pelo Senhor nos preparam para a Verdade, só pela qual poderemos liberar-nos de nossa errônea identificação com o mundo relativo e transitório e recuperar nossa esquecida Divindade. Krishna responde claramente as perguntas de Arjuna sobre Deus, o ser individual, a vida ou a existência após a morte, a evolução, a matéria, a alma, o dever, etc. Aqui o homem foi tratado como uma entidade integral; suas ações e seus pensamentos não podem ser separados de sua existência. Seu pensamento fugaz ou sua ação trivial não podem ser avaliados se não conhecemos a base de sua existência. Como qualquer ação sua, seu pensamento, expressado ou não, produz o efeito correspondente e se é egoísta o ata ainda mais a esta roda de nascimento (reencarnações), sofrimento e morte; o contrário o conduz à liberação. O propósito dos ensinamentos de Krishna é eliminar as dúvidas e ideias ilusórias que oprimem ao homem em sua vida diária. Estas dúvidas, estas ilusões, irão só pela realização da Verdade; então o homem sentindo intimamente a presença de Deus em seu coração enfrentará todos os problemas relacionados ao dever. O Gita declara que Deus é universal, que o universo é Sua manifestação. Disse Krishna: “Suas mãos e pernas estão em toda parte; Seus olhos, cabeças e rostos estão em toda parte; Seus ouvidos estão em todos os pontos; Sua existência interpenetra e cobre tudo o que existe”. Ao mesmo tempo, para o necessitado que pede socorro, Deus é a misericórdia, a meta e o suporte; Ele é o Senhor e a Eterna Testemunha de Sua própria manifestação; Ele é a morada de todos, o refúgio acolhedor e o Amigo. Disse Krishna: “Sou a Origem e o Fim”. (Impressionante esta fala de Krishna dita a 8000 anos atrás, pois o apóstolo João no século I de nossa era diz no Apocalipse 22:3 "Eu sou o Alfa e o Ômega o Princípio e o Fim". Krishna e Christo são identificáveis e semelhantes em vários aspectos). Deus é a força impessoal por trás do universo; Ele é a luz das luzes; é Sua a luz que está no sol, na lua e no fogo; é Ele o que ilumina o universo. Ele está no coração do homem como Conhecedor e como o Conhecimento; só Ele conhece o homem em diversas formas e idéias. Ele suporta (perscruta) ao macrocosmo e ao microcosmo. Mas Sua verdadeira natureza é Transcendental e está além da compreensão humana; só uma fração Sua está manifestada como o Universo. Esta Suprema Consciência, esta existência transcendental, por Sua própria vontade aparece diante do homem e lhe diz: “Ó Kounteya, declara ao mundo que Meu devoto jamais perece”. Ele diz ao Seu devoto: “Aceito tudo o que Me ofereces com devoção, seja uma folha, uma flor, uma fruta ou ainda uma gota de água”. É a pura devoção que leva ao homem primeiro à Deus Pessoal e em seguida, purificando-o de toda limitação individual, o une com Deus Impessoal e o libera definitivamente da ignorância, do medo e da morte. Existem intelectuais que opinam que a religião atua como ópio (frase dita por Karl Marx (1818-1883): "A religião é o ópio do povo"), que adormece ao homem e o faz esquecer a realidade da vida. À eles aconselhamos cuidadosa leitura do Bhagavad Gita sem ideias preconcebidas. Aqui o instruído encontrará que o Senhor recomenda ao iniciante espiritual a ação abnegada, contínua e incessantemente; esta ação é que purifica o coração de um homem e ao mesmo tempo o salva de mais apegos. Somente as ações abnegadas e altruístas produzem resultados bons e duradouros. A advertência de  Krishna para aqueles que confundem a vida espiritual com a inércia (apatia, frieza, indiferença) é: “Teu motivo para trabalhar não deve ser a ansiedade de obter o fruto da ação, nem deve aderir-te à inação (falta de ação, indecisão)”. A vida religiosa separada da vida diária é uma coisa estéril, algo sem sentido, talvez um adorno vistoso, uma ação sobreposta, um gesto de ostentação. Se o significado de "ser religioso" é pertencer nominalmente a uma instituição religiosa, sem fazer o esforço de sentir a viva presença de Deus no coração, então toda sua ida aos templos foi em vão, toda sua leitura das Escrituras Sagradas foi inútil e sua vida de “parecer” teve muitas complicações. Frequentemente estes religiosos, em seu afã de apresentar sua doutrina particular, se tornam fanáticos e inconscientemente causam a ruína e fazem sofrer aos demais. Apesar de tanta prédica religiosa, a maioria dos religiosos, vivendo uma vida afastada de Deus, não sentem a fraternidade humana porque não compreendem nem aceitam que Deus Pessoal ou Impessoal é Sempre Universal e que todos os seres humanos e não humanos (sencientes) são Sua Manifestação. A inércia, a indolência (indiferença) e a inadvertência são os três inimigos mais poderosos do ser humano. São mais daninhos que a maioria dos atos pecaminosos. Krishna queria salvar à Arjuna de seu desejo encoberto de escapar de seus deveres, com o pretexto de levar a vida pacifica de um ermitão (indivíduo que, através da penitência, habita lugares despovoados ou isolados; evitando o contato social e tendendo a viver sozinho). Como todos os homens estão convencidos da limitada ideia de individualidade, também o grande Arjuna pensava que não lutando poderia transformar imediatamente seu caráter de guerreiro e apagar de sua mente todas as impressões passadas. Com paciência Krishna convenceu à Arjuna de que cumprindo desapegadamente com seu dever imediato de destruir aos inimigos que representavam a injustiça, entenderia melhor o ideal humano e para isso era melhor enfrentar a crua e desapiedada realidade. Ensinando à Arjuna o poder das ações passadas, Krishna lhe diz: “Ó Kounteya, alucinado, o que não queres fazer agora, depois o farás mesmo assim, pois estás atado ao teu karma (impulso da vida passada), nascido de tua natureza”. Atuar ou cumprir desapegadamente o dever de cada um, segundo o ambiente em que nasceu, não é contraproducente na vida espiritual. Se o instrutor espiritual, cumprindo desapegadamente seu dever de ensinar se emancipa, o açougueiro que serve ao povo matando animais, cumprindo com seu dever sem apego, logrará idêntica emancipação. O verdadeiro inimigo da vida espiritual é a ignorância (falta de conhecimento) que nos faz esquecer que somos seres sempre livres e nos faz acreditar que somos limitados e mortal. Essa ignorância é a mãe do apego, do medo, da ilusão, da debilidade, da dependência e de todos os tipos de limitações. O dilema principal de Arjuna se apresentou com respeito ao dever. Quando no campo de batalha viu com seus próprios olhos, que entre os inimigos estavam seus parentes e amigos, até seu próprio instrutor; (Jesus disse Mateus 10:36 que os inimigos do homem serão os de sua própria família) lhe surgiram as seguintes ideias: É necessário e benéfico cumprir com os deveres mundanos, quando produzem pesar e sofrimento à si mesmo e aos demais? Não seria melhor abandonar estes deveres e seguir o caminho da renúncia? Um momento antes, decidido, Arjuna havia ido disposto a lutar; um momento antes ele sabia muito bem quem eram seus adversários que, segundo ele, eram representantes da injustiça e colaboradores de seu primo que havia usurpado o trono de seu irmão mais velho. Mas quando os viu frente a frente, Arjuna esqueceu seu dever, seu coração se encheu de medo e falsa compaixão e muito deprimido começou a falar com muita emoção, sentimento e raciocínio adequado. Através de suas palavras, aparentemente sábias, mas realmente egoístas, demonstrando seu grande apego, confusão e ilusão, Arjuna queria convencer Krishna de que ele preferia a morte a matar aos seus inimigos. Mas o onisciente Krishna viu a momentânea debilidade de Arjuna e por isso, quando este se sentou no carro de guerra e soluçando disse: “Ó Govinda, não vou lutar”, Krishna lhe respondeu com firmeza: “De onde vem esta tua indigna debilidade, não ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial? Você está lamentando-se pelos que não o merecem, no entanto falas como um sábio. Os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos". Krishna não predicou à Arjuna o ideal dos estóicos, cumprir o dever só pelo dever; porém predicou que o cumprimento do dever tem um só propósito: purificar o coração para desfrutar da infinita Bem Aventurança da Presença Divina. Deus é imanente no Universo, como a alma de todos os seres e objetos. Cumprir o dever equivale à adoração de Deus. Ao que considera o dever desta forma, pouco lhe molestam as ideias de êxito ou fracasso, ele desfruta como um instrumento vivente nas mãos de Deus e não sofre nem se desespera pensando de antemão em sua própria morte e na dos demais; seu conhecimento por estar em contato com Deus é uma ditosa percepção permanente. Ainda que o Gita seja um compendio de todas os yogas, no entanto Krishna recomenda como disciplina espiritual o Karma yoga, o caminho da ação. Para o aspirante espiritual a ação deve ser abnegada, desapegada e sem esperar os frutos. Este tipo de ação destrói radicalmente todas as limitações do Ser. Viver significa atuar, pensar é atuar; pela ação o homem expressa a si mesmo. Krishna disse: “Ó Partha, Eu não tenho nenhum dever que cumprir, não há nada nos três mundos que não haja logrado ou que Me falte lograr, no entanto, atuo constantemente”. Talvez seja possível para o egoísta retirar-se da ação, cobiçando o estado de inércia, mas para aquele que ama a humanidade não há descanso possível e por isso vemos que as Encarnações jamais deixam de atuar. Como não têm nenhum motivo pessoal, a ação para as Encarnações é dar curso à misericórdia que às vezes nos alenta e outras vezes nos corrige com severidade. Em troca o homem comum tem diferentes motivos. Segundo o motivo progride ou retrocede; quando trabalha para sua auto satisfação, robustece seu egoísmo e inconscientemente retrocede, de modo gradual, à animalidade. Em troca, quando atua de forma abnegada, como instrumento de Deus, sabendo muito bem que o único ator é Deus, então todo sua ação é para agradar à Deus, Seu Bem Amado. Toda ação ou pensamento egoísta forja um novo elo na grande corrente com que estamos atados à dolorosa existência deste mundo de nascimento e morte e toda ação ou pensamento dedicado a Deus, como uma ininterrupta adoração, rompe esta corrente, nos conduz à emancipação final, à ditosa união com Deus. O Karma yogui conhece o segredo da ação, é equânime, desapegado, não espera, nem aceita, nem rechaça o fruto da ação. Krishna ensinou à Arjuna que qualquer ação pode ser feita como yoga, mesmo a ação de “matar” que objetivamente parece cruel, violenta e desapiedada, sempre que se faça como uma prática de yoga, sentindo-se como um instrumento de Deus, sem temor, sem esperar a vitória para si mesmo ou para uma comunidade particular e atuando só para estabelecer a Verdade, a retidão; estão, esta ação, em lugar de produzir demérito, purifica ao homem e o conduz à emancipação. (Nós como cristãos não devemos estranhar essa fala de Khrisna, pois a Bíblia está repleta de relatos onde Deus ordena que se mate mulheres e crianças; como em Números 31:17,18 "Agora, pois, matai todo homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele". Este mundo transitório de aparência, nome e forma está constituído de pares de opostos: bem e mal, prazer e dor, virtude e vício, calor e frio, vida e morte. Como a frente e o verso de uma mesma medalha, cada parte depende de sua contraparte. Nosso conhecimento ou percepção de qualquer ideia ou objeto deste mundo é indireto e comparativo; conhecemos ao homem comparando-o aos outros seres não humanos, sentimos o frio comparando-o com o calor. Não há dúvida de que o mundo é imperfeito. O muito desejado mundo perfeito é ilógico porque chegando à perfeição, o mundo se diluirá em sua origem: Deus. Tudo que é objetivo é imperfeito, só Deus, o Eterno Sujeito, é Perfeito. Progresso significa a transformação do objeto no sujeito. Deus, o eterno imã, está nos atraindo continuamente, nosso dever é purificar-nos. O sábio hindu diz que nossa origem é Deus e que existimos em Deus. Deus, em seu estado manifestado, não perde Sua Divindade. No Bhagavad Gita, Krishna reforça a ideia do Swa Dharma, o Dharma de cada um. A palavra Dharma é difícil de traduzir. A religião, a retidão e o dever, nos dão certa ideia aproximada de seu significado. Dharma é o que suporta ao homem na vida e ao mesmo tempo o ajuda a realizar sua verdadeira natureza: a Divindade. O grande erro do homem é continuar considerando-se como um objeto composto de aspectos ou entes biológicos, fisiológicos e psicológicos. Para corrigir este grande erro, o homem necessita praticar o Swa Dharma. As tendências atuais de cada homem são o resultado de seus próprios pensamentos e ações em vidas passadas. Cada pensamento ou ação produz uma impressão que forma parte da natureza subconsciente do homem. Este estado subconsciente não se destrói com a morte física, este estado é o Eu do homem. A atual encarnação do homem foi causada pelo impulso dessas impressões; são elas que determinam seu caráter, seu dever, sua ideia de religião, seu critério de bom e de mal, do correto e do injusto. Nenhum homem nasce com a mente absolutamente pura, mesmo o nascimento das encarnações demonstra que elas, voluntariamente aceitam certa impureza. A diferença entre a individualidade da Encarnação e a de qualquer homem é que a Encarnação é sempre consciente de Seu estado universal e de Seu voluntário e momentâneo estado individual. Em troca, o homem comum é inconsciente de ambos estados. Terminada a missão com que vem ao mundo, a encarnação deixa Sua individualidade. Ao homem comum, ao princípio, custa muito desfazer-se de sua individualidade, mas logo o faz pela misericórdia Divina, que age como o grande destruidor da ignorância. A educação ou o impacto do ambiente ajuda ao homem a desenvolver as qualidades que ele mesmo fabricou e com as quais veio ao mundo. Seus pais são causas instrumentais, que lhe proporcionam o meio físico para dar curso ao seu Dharma. Eles são como os ceramistas e a roda que dá forma ao vaso. Assim o Dharma de cada ser humano é a base de seu pensamento e ação; ele não pode desfazê-lo. Ir contra este Dharma é criar confusão. Arjuna ficou confundido quando quis deixar o Swa Dharma do kshatriya, cujo dever é proteger aos corretos e destruir aos injustos. Sua confusão surgiu, quando esquecendo seu Dharma, quis levar vida de ermitão. Tampouco devemos esquecer o outro aspecto do Dharma, o que nos ajuda a realizar nossa Divindade, senão Dharma significaria desapiedada fatalidade. A lição de Krishna é que ninguém deve agir contra o Swa Dharma, o dever do ambiente em que nasceu. Cumprindo abnegadamente com o dever, o homem gasta o impulso com que nasceu e dedicando toda sua ação a Deus, não cria novos impulsos. Então compreende que o supremo dever é adorar a Deus. Diz Krishna: “Renunciando a todos os deveres, refugie-se em Mim unicamente. Não te aflijas, Eu o salvarei de todos os pecado”. http://www.vedantacuritiba.org.br. Abraço. Davi.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

PEREGRINANDO DENTRO DE UM OLHAR

 

Cristianismo. Revista Arautos do Evangelhos – maio 2022. Por Plínio Corrêa de Oliveira (1908-1995). Ao tomar contato com a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que derramara milagrosas lágrimas em 1972. Doutor Plínio elevou um cântico de amor e admiração cuja unção marcou quantos o conheceram. PEREGRINANDO DENTRO DE UM OLHAR. Fisionomia igual não conheço. Tenho-a bem diante de mim e, movido pelo hábito inveterado de tudo observar e explicar para meu próprio uso, fito-a com atenção. E de repente percebo que entro dentro dela. Sim, essa fisionomia única como que deflui da face e especialmente dos olhos. Evolve-me no ambiente que ela cria. Ao mesmo tempo, convida-me a entrar fundo no seu olhar. Que olhar! Nenhum é tão límpido, tão franco, tão puro, tão acolhedor. Em nenhum se penetra com tal facilidade. Contudo, nenhum também apresenta profundidades que se perdem em tão longínquo horizonte. Quanto mais dentro desse olhar se caminha, tanto mais ele atrai para um indescritível ápice interior e profundo. Que ápice? O estado de alma que eu seria tentado a dizer cheio de paradoxo, se a palavra paradoxo, da qual tanto se abusa na linguagem corrente, não me morresse nos lábios por desrespeitosa. Toda perfeição – diz a Escola – resulta do equilíbrio e contrários harmônicos. De nenhum modo é um equilíbrio precário entre contradições flagrantes – e, dizendo-o, penso nesta pobre paz, esclerosada e vacilante, que o mundo contemporâneo procura preservar à custa de tantas concessões e tantas vergonhas – , mas uma harmonia suprema entre todas as formas de bem. É precisamente este vértice, no qual todas as perfeições se conjugam, que vejo erguer-se no fundo desse olhar. Vértice incomparavelmente mais alto do que as colunas que sustentam o firmamento. Vértice do alto do qual um imperativo cristalino, categórico, irresistível, exclui toda forma de mal, por mais leve e miúdo que seja. Pode alguém passar a vida inteira caminhando dentro desse olhar, sem jamais tocar nesse vértice – Caminho inútil? Não. Dentro desse olhar não se anda; voa-se. Não se passeia; faz-se peregrinação. Aquela montanha sagrada, súmula de todas as perfeições criadas, o peregrino, sem jamais alcançá-la, cada vez a vê mais claramente à medida que voa em direção a Ela. Ao longo desta peregrinação da alma, o olhar no qual voa já não o envolve, apenas. Mas penetra nele. Quando o peregrino cerra os olhos, julga vê-lo à maneira de luz no mais profundo de si mesmo. Tenho a impressão de que, se durante toda a vida ele for fiel nesse voo, quando cerrar definitivamente os olhos, esta luz brilhara no fundo de sua alma por toda a eternidade. O olhar é a alma da fisionomia. Que fisionomia essa, que tenho diante de mim! A um tolo pareceria inexpressiva. A um observador destro ela manifesta uma plenitude de alma maior do que a História, porque toca na eternidade. Maior do que o universo, porque espelha o infinito. A fonte parece conter cogitações que, a partir de um presépio e a terminar em uma Cruz, abarcam todo o acontecer humano. A face toda, o nariz, cuja linha possui um charme “mais belo do que a beleza” segundo diz o poeta. Os lábios silenciosos, mas que dizem tudo a todo momento, parecem louvar a Deus em cada criatura segundo as características de cada uma. E pedir a Deus por toda miséria como se estivesse a condoer-se das peculiaridades de cada uma delas... Estes lábios têm uma eloquência perto da qual a de Demóstenes ou a de Cícero não seriam senão barulheira. O que dizer da cútis: nívea? O qualificativo diz tudo e não diz nada. Pois, para descrevê-la seria preciso imaginar um níveo que deixasse reluzir em sua profundidade, com discrição infinita, todos os matizes do arco-íris. E com isso mesmo inspirasse na alma de quem a contempla todos os encantos da pureza. Sim, peregrinei neste olhar tão cheio de surpresas. E, inesperadamente, percebo que o olhar peregrina ao mesmo tempo dentro de mim. Pobre e misericordiosa peregrinação, não de esplendor, mas de carência a carência, de miséria a miséria. É só abrir-me a ela que, para cada defeito, ele me oferece um remédio, para cada obstáculo uma ajuda, para cada aflição uma esperança. Mas, afinal, quem tenho diante de mim? Uma imagem de madeira como tantas outras, sem nenhum valor artístico especial. É só a fitar, entretanto, que, sem mover-se, sem a mínima transformação, essa imagem começa a fazer luzir todos esses esplendores. Como? Não sei também. É a imagem de Nossa Senhora de Fátima, a qual verteu lágrimas em Nova Orleans – USA, a propósito dos pecados dos homens e dos castigos que estes assim acumulam sobre si. Por toda parte ode vai, a imagem atrai multidões. Insisto, leitor. Se crês na descrição que fiz, convido-te a que faças por tua vez esta magnífica peregrinação dentro do olhar da Virgem. Reza então por ti. Reza pela Santa Igreja conturbada e atormentada como nunca. E por esse enorme Brasil e Mundo de Maria.

 

Em julho de 1972, uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima esculpida sob a orientação da Irmã Lúcia, vidente das aparições, verteu lágrimas por treze vezes na cidade de Nova Orleans, Estados Unidos da América. No dia 21 do mesmo mês O Jornal Folha de São Paulo - Brasil estampava uma impressionante fotografia da imagem em cujos olhos se podia distinguir com nitidez o brilho das lágrimas, uma das quais já pendia da ponta do nariz, prestes a cair. Tal fato foi o início de um relacionamento intenso do doutor Plínio com essa representação de Nossa Senhora que, a partir daquele momento, ele passaria a chamar de Sagrada Imagem. Revista Arautos dos Evangelhos – maio de 2022. Abraço. Davi.