sexta-feira, 29 de março de 2024

II. O CAMINHO DE CAIM

 

Cristianismo. www.graodetrigo.com. Texto de David W. Dyer. II. O CAMINHO DE CAIM. Muitas obras maravilhosas. Oh, as catedrais que têm sido construídas, as liturgias que têm sido formuladas, os arranjos musicais que têm sido criados, as mensagens que têm sido pregadas, as peças de teatro, dança, mímica etc. que têm sido feitas – tudo em nome da adoração! Entretanto, Deus não aprova nenhuma destas coisas se não foram iniciadas por Ele. Elas e muitos outros itens desta natureza, são realizações tremendas, porém humanas. Não estou tentando diminuir a excelência de nenhuma delas. Ainda assim, o seu valor é nulo se comparado com a beleza e a glória do que Deus providenciou. Muitas destas coisas são apenas obras humanas, as melhores que podemos produzir. Ainda assim elas não podem atingir o alvo, a exigência de Deus. É comum que os homens apreciem tais coisas com sua alma, seus sentidos e frequentemente confundam esta apreciação com alguma bênção espiritual. Entretanto, Lucas 16:15 afirma que “(...) pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus”. Coisas meramente naturais não têm absolutamente valor espiritual. Elas nada fazem para intensificar nossa adoração ou para atrair a presença de Deus. A razão pela qual Deus rejeita tais coisas é que elas são uma substituição humana para a verdadeira oferta que Ele providenciou. Consequentemente, o espírito do homem é deixado sem ministração quando estas coisas naturais predominam em nossas reuniões cristãs. Quantas vezes você saiu de um culto insatisfeito? Quantas vezes você ouve muitas mensagens em muitos encontros, conseguindo apenas umas migalhas da mesa do Senhor? Quantas vezes nossa adoração a Deus é formal, “religiosa”, até energética, mas espiritualmente morta? Tudo isto somente serve para provar que temos seguido o caminho de Caim. Temos oferecido nossos melhores vegetais a Deus. Nenhuma de nossas ideias ou invenções, não importa quão boas ou “corretas” elas possam ser, poderá satisfazer a Deus. E quando Deus não está satisfeito, nós também não poderemos estar espiritualmente satisfeitos. Oh, mas que diferença há no Filho! Quando o povo de Deus se reúne e se abre para Ele, permitindo que o Seu Espírito Se mova em nosso meio, permitindo que o Sumo Sacerdote de nossa confissão dirija a adoração, o louvor e o ministério, quão satisfatórios estes encontros podem se tornar! Como serão cheios do Espírito e de Verdade! Como estes encontros serão ungidos e agradáveis! O homem se satisfaz porque Deus está satisfeito, tendo visto e aceito a oferta de Seu Filho. Fogo Estranho. No Velho Testamento temos um outro exemplo da vã religião humana. Nadabe e Abiu eram filhos do Sumo Sacerdote. Eram os filhos mais velhos de Arão e foram consagrados a Deus juntamente com ele para ser sacerdotes ao Senhor. Os dois tinham bastante experiência em adorar ao Senhor e até chegaram a ver fogo cair do céu sobre os sacrifícios que ofereciam (Levítico 9:24). Então, começaram a achar que tinham um bom domínio no negócio da religião. Pensavam que já eram capazes de inventar algo para adorar a Deus. Tiveram a ideia de colocar um pouco de incenso em seus incensórios e foram para o santo tabernáculo. O resultado foi desastroso. Veio fogo do céu e os consumiu. Esta foi a reação de Deus às suas inovações (Levítico 10:1,3). Talvez estas coisas podem falar algo para nós hoje. Como homens, temos uma profusão de ideias para contribuir com as reuniões das igrejas – apresentações dramáticas, danças, mímica, adoração pré-planejada, performances musicais, práticas tradicionais, muitos dos adereços e formatos que achamos tão normais hoje na religião cristã – todas estas coisas podem ser apenas fogo estranho oferecido ao Senhor. Nós, povo de Deus, deveríamos chegar diante Dele com temor reverente. Deveríamos tomar cuidado para não seguirmos o caminho de Caim! É essencial que nossa adoração seja algo verdadeiramente espiritual, que venha do próprio Deus jorrando dentro de nós e Se derramando através de nós! Não é suficiente que, quando estamos juntos, sejamos simplesmente informados, emocionalmente estimulados ou entretidos. Ele, tão somente Ele, é a fonte de genuína oferta espiritual. Deus pode tolerar nossos exercícios religiosos hoje em dia. Hoje, Ele não manda fogo do céu para destruir estas coisas que muitos de nós estamos fazendo. Entretanto, somos ensinados que um dia nossas obras passarão pelo teste do fogo e, se estivemos construindo com madeira, feno e palha, nossa obra será consumida. Lemos que o Senhor virá repentinamente ao Seu Templo e irá purificar os filhos de Levi de modo que sua oferta seja feita em justiça (Malaquias 3:1-3). Por favor, não me entendam mal. Não há dúvida que Deus pode nos conduzir em nossa adoração enquanto cantamos, dançamos ou fazemos muitas outras coisas. O Rei Davi dançou diante do Senhor com toda a sua força (2 Samuel 6:14). Débora, Moisés e muitos outros, compuseram canções de louvor. Entretanto, fizeram estas coisas porque estavam transbordando de unção do Espírito Santo. Não fizeram isto por achar “apropriado”, “sagrado”, “bonitinho” ou “comovedor”. Aquilo que se origina em Deus e as invenções dos homens podem parecer iguais. Podem até mesmo ter a mesma forma e aparência. Entretanto, há um universo de diferença! A questão não é realmente sobre a forma, mas sobre a fonte destas coisas. Se a fonte não é Deus, não importa o quão maravilhoso possa parecer, não importa que a doutrina possa estar correta, não importa que seja bom de se ver, isto é rejeitado por Ele. Por outro lado, tudo o que é inspirado pelo Espírito Santo, é importante e deveria ser incluído em nossa adoração. Como nós, os filhos de Deus, precisamos aprender a discernir entre o sagrado e o profano, entre o limpo e o sujo (Ezequiel 22:26)! É triste, mas é verdade que muitos cristãos não aprenderam a discernir entre a alma e o espírito (Hebreus 4:12). Muitos passaram tão pouco tempo na presença de Deus meditando sobre as escrituras que nunca experimentaram a Sua espada do Espírito separando o que é natural e humano daquilo que é espiritual. Frequentemente, não temos crescido em nosso discernimento para sabermos o que Deus está pedindo. E, agindo assim, temos falhado em atingir Seus objetivos – adoração em Espírito e em verdade. Há uma tendência entre alguns homens de apreciar coisas com as quais estão habituados ou que existem há muito tempo. Outros gostam de inovações em sua adoração. Entretanto, tudo deve ser levado ao controle do Espírito Santo e somente Ele deve ser soberano sobre tudo o que fazemos. Além disso, já que Jesus é uma pessoa viva, as práticas e experiências em que Ele nos lidera, poderá mudar. Assim como o nosso relacionamento com outras pessoas está em constante transformação, assim também a misericórdia de Deus se renova a cada manhã (Lamentações 3:22,23). Portanto, devemos estar em constante comunhão com Ele de maneira que possamos sentir e seguir o que Ele está fazendo hoje. É possível que muitas pessoas não compreendam o que estou dizendo e se sintam ofendidas por minhas palavras. Porém, meu alvo não é ser ofensivo, mas é que todos possam experimentar cada vez mais da realidade do Espírito Santo em suas vidas. Por favor, reveja a passagem em Lucas que declara o quanto o Pai do Céu deseja derramar de Seu Espírito sobre aquele que lhe pedir (Lucas 11:11-13). Ele anseia que saibamos a diferença entre o que é espiritual e o que é natural, para que possamos ofertar coisas que são aceitáveis e agradáveis a Ele! Deus nos ama muito. Ele derramou sobre nós o Seu Espírito. Ele nos ofereceu o Seu único Filho. Deus não guardou de nós nada que fosse necessário para uma verdadeira adoração e um puro relacionamento com Ele. Como nós, como homens, precisamos aproveitar tudo que Deus nos tem dado! Oh, que tenhamos o discernimento para saber o que se origina na alma e o que vem do Espírito. É em nosso espírito que nos ligamos a Deus (1 Coríntios 6:17). E é somente através do Espírito Santo que podemos oferecer um sacrifício que seja aceitável. Para conseguir encontros genuinamente espirituais nós, assim como nosso devoto antecessor Abel, precisamos estar trabalhando durante a semana naquilo que Deus providenciou – o Cordeiro. Se chegamos de mãos vazias aos nossos encontros na igreja, se não estivemos na presença do Senhor, alimentando-nos e não temos tidos o Seu Espírito Se movendo dentro de nós durante a semana, não teremos nada para oferecer. Se não nos empenharmos nas escrituras em andar em comunhão com o Cordeiro em nossa vida diária, como podemos trazê-Lo como uma oferta? Nesta situação, muitos cristãos são tentados a oferecer vegetais. Talvez pela falta de experiências espirituais, talvez pela falta de um relacionamento íntimo com o próprio Deus, eles são deixados sem o Cordeiro e só podem oferecer aquilo que cresce do solo – algo terreno, algo natural. Estas coisas são espiritualmente insatisfatórias. O fato que o Pai procura homens e mulheres que O adorem em Espírito deveria realmente nos impressionar. Agora mesmo Ele está procurando por adoradores! Seu coração hoje está ansiando por verdadeiros adoradores que ofereçam sacrifícios de louvor, o fruto de seus lábios, aqueles que irão oferecer a Ele o que Deus forjou neles através de Jesus Cristo. Oh, como precisamos orar, como necessitamos procurar a Sua face para que possamos experimentar este tipo de adoração! Não pode ser difícil. Na verdade, não deveria ser, porque Cristo morreu para que fosse assim. Nada tem sido negado a nós. O sacrifício do próprio Deus está completamente à nossa disposição. Portanto, vamos chegar até Ele e nos encher com o Cordeiro de Deus de maneira que, quando estivermos reunidos e Ele estiver no meio de nós, possamos oferecer um doce aroma, santo e agradável a Deus. Que possamos ser, como Paulo diz: “(...) a circuncisão, que adoramos a Deus em Espírito” (Filipenses 3:3). Irmãos e irmãs, eu oro sinceramente para que estas coisas se tornem a sua realidade. www.graodetrigo.com. Abraço. Davi

quarta-feira, 27 de março de 2024

A PALAVRA SECRETA. Parte II

 

Budismo. www.sotozencuritiba.org.br. Por Ryotan Tokuda (1938-  ). A PALAVRA SECRETA. Parte II. O Pai tornou-se Filho, mas isso não significa que é algo ocorrido entre criaturas. Quando falamos "criatura", há imediatamente duas individualidades "criador" e "criatura", e há ainda o tempo. Quando falamos no tempo, surgem todos os defeitos deste mundo. O que nasce, já está condenado a morrer. Somos mortais. Viver eternamente significa transcender. Quando mestre Eckart (1260-1328) usa esta palavra "nascimento", para ele isto significa que Deus nasceu neste mundo sem perder a qualidade de ser Deus que foi capaz de viver a simultaneidade original, transcendental, e a simultaneidade histórica. Jesus Cristo viveu neste mundo por trinta e três anos. Nasceu em Nazaré e morreu. Mas nasceu, viveu e morreu durante esse tempo em uma simultaneidade, ou seja, naquele lugar fundo no chão onde há o absoluto e eterno. Mostrou para nós o corpo físico, sofreu igualmente na cruz, mas alguma coisa mostrou-se transcendente. Dizer que o único filho de Deus nasce dentro da alma limitada significa a possibilidade de nos tornarmos o único filho de Deus. Tornar-se Deus, ou seja, viver neste mundo desde a eternidade. Isto chama-se "satori" ou "iluminação" no Budismo. Isto tem que ocorrer nesta vida. Muitos perguntam, "existe a reencarnação ou não?", ou, "você acredita na reencarnação?". A resposta é "sim e não". De uma certa maneira sim, mas quando há a experiência de nirvana, de silêncio, a experiência do deserto, instala-se a dimensão do eterno e absoluto, então não há mais reencarnação. Jesus Cristo ou esse marido que furou os olhos escolheram este mundo, voltaram para cá, descendo. Em lugar de dizer, "venham até aqui em cima", o que seria difícil para as pessoas, Deus disse, "eu vou", é muito fácil. Deus faz isto quando você está preparado para tal. O que é necessário para a preparação? Apenas que você entre no silêncio, que abandone a si próprio. É necessário abandonar o ego. Abandonar corpo e mente é a experiência fundamental de mestre Dogen. Mestre Eckart também fala, "é preciso abandonar". Abandonar é difícil por quê? Porque há compreensão errada, distorcida. E com isto se sofre. Mestre Eckart diz que abandonar a si próprio não ê sofrimento, é o caminho mais rápido para encontrar com Deus, e então a palavra secreta revela-se. Na verdade, a realidade última deste mundo não está nada escondida. Por isso se diz aqui que Makakasho não escondeu nada. Essa verdade está presente dentro de nós. O paraíso não se dá após a morte, está aqui. Vocês não vêm porque sua visão está contaminada com a ideia de ego, vocês praticam a consciência kármica. É preciso sair disto, arrancando este "olho de ego" e colocando o "olho-de-Buda". Os budistas falam que existem cinco tipos de olhos: olho físico, olho de Darma, olho de sabedoria, olho de Buda e olho de ser. Temos apenas um olho, o físico, e este está contaminado. O que está vendo, será que está vendo verdadeiramente? Está vendo apenas a projeção de sua mente, de sua consciência e de seu inconsciente também. Você vê o que quer. Você não vê o que existe e vê o que não existe, e assim, segue projetando suas consciências. Isso é o que chamamos de karma. Você não consegue ver de nenhuma outra maneira, isto é, o karma. Praticando o silêncio, pratica-se a purificação. O silêncio é escuridão, noite. Como o místico espanhol São João da Cruz (1542-1591), na subida do monte Carmelo, fala na noite da consciência, na noite das ideias, na noite da vontade, na noite das lembranças, na noite do espírito, noite da alma etc., e com isto, subindo montanhas em processo de meditação, passa pelo processo de purificação e chega ao topo da montanha. Na verdade, o topo da montanha está aí, embaixo dos seus pés. Nunca esteve escondido. Nosso problema não é que Deus tenha escondido algo, você é que tem a culpa por sua consciência contaminada que dá nascimento e suporte ao ego. Quando se vivencia a consciência de ego, sente-se, "eu estou aqui e você está aí". Surge imediatamente a dualidade a multiplicidade e a corporalidade. E a questão do físico. Estou tomando este espaço com este corpo, este espaço você não pode tomar, de jeito nenhum. Isso é bom, mas ao mesmo tempo é um limite. Então chega o momento de transcender a corporalidade, a temporariedade e a multiplicidade. Nesse momento ocorrem o deserto, a morte, a unidade - o uno. O rei Salomão encontrou aquela lendária flor, o lírio. Ele tinha enormes riquezas, mas foi justamente dentro de uma flor que encontrou mais riquezas do que todas as suas riquezas reunidas. Por quê? Deus estava ali presente. Deus é um, além dele nada há. Se você entende isto, mesmo dentro de um mosquito você encontrará Deus, e este mosquito, o pernilongo, se tornará, então, mais sublime do que quaisquer dos anjos mais elevados. Nada está escondido, apenas não vemos. Conta-se que um monge estava passando pela frente de um açougue e escutou o diálogo do freguês com o açougueiro. O freguês perguntou, nesta carne é fresca? O açougueiro respondeu, "na minha loja nada há que não seja fresco, de boa qualidade". Quando o monge escutou, "na minha loja é tudo bom, toda a carne é boa", nesse instante atingiu a iluminação. Neste mundo é tudo bom. Nada tem defeito. Por que então tantas dificuldades, tantos problemas entre nós? Porque a mente cria problemas, oculta a verdade. Cria o bem, o bom, o mau. Na verdade, não existe o bem e o mal, isto é apenas uma dualidade, uma discriminação. É preciso penetrar a não discriminação. Tudo está em seu lugar no mundo do Darma, do absoluto. Nada falta. Nós, no entanto, fazemos a discriminação, "isso é bom, isso é ruim" Cada um constrói seu próprio sofrimento ao fazer essa discriminação. Você mesmo sofre com isso. Neste mundo está tudo perfeito, o problema é você mesmo. Aqui e agora você pode encontrar o absoluto, o eterno. Está tudo perfeito, nada há para se queixar. O fato de muitos japoneses terem os olhos puxados conduz muitos a terem complexos. Uma pessoa diz, "eu sou brasileiro, nasci aqui", outro fala, "eu nasci no Japão, sou japonês, tenho olhos puxados", surge então o complexo, "tenho cabelo preto, liso e por isso quero tingir de outra cor, mas isso me deixa mais feio". Quando você aceita os olhos puxados, com isto pode manifestar a glória de Deus! As coisas todas são diferentes umas das outras, as plantas são diferentes entre si, essas diferenças revelam a glória de Deus. Uns são baixinhos, outros feios, uns ricos, outros pobres, ou aleijados, mancos; isso não importa, cada um revela a glória de Deus. Em um determinado momento, repentinamente tudo muda. Tudo se revela, nada permanece escondido. Então o mestre chamou, "ministro!", e este imediatamente respondeu, "sim, mestre!" O que está acontecendo aqui? Nós temos tudo. Há um outro episódio em que um ministro visitou um outro mestre. O mestre estava assando batata-doce nas brasas e assoprava continuamente para avivar o fogo. O ministro chamou, "mestre, mestre!" O mestre, ocupado com o fogo e a batata-doce, e com o nariz que pingava sem parar, não atendeu imediatamente. O ministro zangou-se e, virando-se começou a sair. O mestre então chamou, "ministro!". Este imediatamente parou e voltou-se. Então o mestre concluiu, "porque você respeita os ouvidos e não respeita os olhos?". O ministro ouviu e, sentindo a força da lição, inclinou-se ao mestre. "O que é o caminho?", perguntou então. O mestre respondeu, "está vendo? Nuvens estão no céu e algo está dentro da garrafa". O segredo não tem nenhum segredo. Um monge Zen procura seu mestre e pede-lhe, "por favor, ensine-me o segredo do Budismo". O mestre responde, "sim, se você quiser; quando todos houverem saído, ninguém mais estiver aqui, procure-me aqui e eu lhe ensinarei". O monge responde, "ah, sim", e mais tarde volta e sussurra, "mestre, agora não há mais ninguém aqui, por favor, ensine-me o segredo!" O mestre então leva o discípulo ao jardim e diz, "está vendo? Esta árvore é muito alta e essa outra é muito baixa, entendeu?". "Árvores altas e árvores baixas", com isso ele mostra tudo! Num canteiro, plantando sementes de ameixeiras, cerejeiras, crisântemos ou o que seja, ele lida com estas variedades de plantas. Plantando bambu, é bambu que crescerá, ninguém tem o poder de trocar isso. É isso aí - nós é que complicamos a nós mesmos querendo classificar as coisas e mudar tudo. Eu estava falando sobre os vários tipos de sermões: o sermão da luz radiante, o sermão da atividade com o corpo e ações (...), mas há outro sermão, o sermão de "um tom" ou "uma voz". Quando Buda falava, todos entendiam de acordo com seu estado de consciência e compreensão. Estas histórias podemos também encontrar dentro da Bíblia. Quando Jesus Cristo apareceu e recebeu o Espírito Santo, havia muitas pessoas provenientes de países de línguas diferentes, mas, ainda assim, quando falou com o Espírito Santo, todos entenderam. Lembram dessa passagem? Como pode ocorrer isso? Um tom, um som, uma voz. Até pedras entendem, até paredes e portas escutam, porque é o Darma. Isto é a "palavra secreta". Quando você vai purificando sua mente e torna-se residente do deserto, alguém passa a falar-lhe internamente. Quem é este alguém? É você mesmo! O primeiro capítulo do Evangelho de São João diz: "no princípio era o Verbo". "No princípio" significa o quê? Princípio do tempo? Não! "No princípio significa "origem", o período antes de Deus haver criado este mundo. Jesus Cristo estava à direita de Deus Pai, ele estava vendo o Pai criar o mundo. Ele mesmo estava lá. Daisetz Suzuki (1870-1966) certa vez dirigiu-se a vários pensadores cristãos, dizendo: "Tenho uma pergunta para vocês, cristãos: quando Deus estava criando o mundo, quem estava vendo isso?" Ninguém respondeu e então ele mesmo ofereceu a resposta: "eu". Sempre é importante esta atitude, "eu, agora, aqui". Deus criou este mundo - criou é passado, mas está ainda criando agora, neste exato momento. Estamos constantemente criando o mundo a cada instante. E esta mesa, existe ou não? Não existe? E o que estamos vendo? Se voltarmos aqui amanhã e a encontrarmos? E se morrermos nesse espaço de tempo? Alguém vai vê-la. Mas, ainda assim, esta mesa está sendo criada por nós, agora, a cada momento, a cada instante. Fitando o espelho, vemos nosso envelhecimento. Alguns ficam tristes por ficarem velhos. Não precisam ficar tristes, não. Mestre Eckart diz, "dez anos antes nosso rosto era liso e bonito; agora, dez anos se passaram e apareceram muitas rugas, e surge então a tristeza". Não é preciso olhar assim, essa não é a realidade! Hoje estamos encontrando um novo rosto e fitando-o como da primeira vez, é uma e experiência totalmente nova. Amanhã será também um novo rosto e assim por diante! A cada vez fitamos uma forma totalmente original, a cada vez nos defrontamos com o absoluto! Criamos constantemente o mundo, neste exato momento fazemos isso. Tudo vai mudando sempre, isto é criar. "Um tom", Sermão de "um tom". O que é este "um tom"? Mestre Eckart diz, "escutei a palavra do Pai e vou falar para vocês", Ele mesmo tem que se tornar a palavra e a palavra mesma tem que falar! Não é a boca que fala a palavra, a palavra se fala. A palavra secreta, a palavra de Deus, ela mesma fala a palavra - aí está a diferença. O sermão geralmente apresenta muitas histórias, ensinamentos - a boca está falando. Às vezes eu minto, apenas falo o que aprendi, mas o importante aqui é tornar-me as palavras. Isto significa que aquilo que estava oculto aparece, mostra-se, revela-se. Esta é a função das palavras. Então em "Gotheit", origem de Deus, o Pai está lá, escondido. Quem vê Deus tem que morrer. O Pai entrou no Filho, veio a este mundo, apareceu com corpo físico, nós pudemos ver. Se o único Filho de Deus nasce dentro de sua alma, você escuta a palavra secreta e torna-se o Filho de Deus. Escutando a palavra, você recebe todas as potencialidades, todas as forças. Você pode falar a palavra, pois não mais será a boca apenas que fala, você mesmo é a palavra e fala. Nesse momento você vive este mundo realmente, isso é a realização de si próprio. Há um capítulo do Shobogenzo que diz assim, "você sabe pintar a primavera? Então pinte!" Como é isso? Pintou. "Deixe-me ver (...). Ah, isto não é primavera, é flor de cerejeira (...)" - no Japão as cerejeiras florescem na primavera. "Isto não é primavera não, isto é flor de primavera, isto é flor de cerejeira, por favor, pinte a primavera!" Como pode a primavera ser pintada? Nova tentativa. "Isto é flor de ameixeira, não é primavera." Como podemos pintá-la? Entendeu? Estamos vivendo este mundo, vivendo condenados à morte, mas muitos vivem como uma fumaça, como uma faísca, como espuma ou como uma sombra, não estão vivendo não. Para viver realmente, tem que ser capaz de pintar a primavera, e não cerejeiras ou ameixeiras. E preciso pintar a primavera mesmo. Como? O mestre toma então o pincel, "ah, já pintei a primavera". "Como? O que é isto? Isto é a primavera? Isto é flor de cerejeira, isto é flor de ameixeira!?" "Sim, quando a primavera está presente, a flor de ameixeira abre, a flor de cerejeira desabrocha, então, dentro da flor de ameixeira e de cerejeira está presente a primavera!" Dentro de você, de seu corpo, sejam altos ou magros, baixos, gordos, inteligentes, ignorantes, aí está a primavera, a presença de Deus, de Buda. Fora daí não existem nem a primavera, nem Deus, nem Buda - nada encontrará. Vazio apenas, vasto nada Quando Madalena visitou o corpo sem vida de Cristo, encontrou dois anjos. "O que está procurando?", perguntaram eles. "Se você está procurando aquele Jesus Cristo que morreu, não vai encontrar." Mestre Eckart interpreta essa passagem assim: "Deus não é encontrado em nenhum lugar; para a parte mais elevada da alma, Deus não está em lugar algum, mas para a parte inferior da alma, Deus está presente em todos os lugares." Então, em sua própria vida, você, encontrando-se consigo mesmo, pode manifestar a glória de Deus, revelar o que é Deus. Com dificuldade, com sofrimento, com defeitos. É com isso mesmo que você pode mostrar. Muitas pessoas estão constantemente vivendo com a mente no futuro ou no passado. Jovens dizem, "ah, sou muito pobre, preciso estudar, é importante que eu me forme como engenheiro, como médico, como advogado, etc., só assim vou ganhar dinheiro e estarei realizado (...)". Isto é ainda o futuro, ainda não chegou. Os velhos dizem, "ah, eu já fiz muito nessa vida, sou muito importante, tenho cargos importantes". Isso tudo é passado. E como estão agora todos, velhos e moços, no exato momento presente, neste exato instante? Como estão todos, fora do referencial do tempo passado e do tempo futuro, fora da temporariedade, como estão frente à eternidade? Nada podem mostrar, não estão realizados, vivem confusões apenas! Plenitude é preencher tudo aqui e agora. Com isso se chega ao estado. Isso depende da mente. A mente é que faz o sofrimento, a alegria, a felicidade. www.sotozencuritiba.org.br. Texto gentilmente cedido pelo Centro de Estudos Budistas Bodisatva. Abraço. Davi

domingo, 24 de março de 2024

A SEMEADURA DE UMA RELIGIÃO - Os Orixás

 

Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). A SEMEADURA DE UMA RELIGIÃO – Os Orixás. Capítulo II. Muitos se tem escrito a respeito dos sagrados Orixás e muito ainda terão de escrever, já que os Orixás são mistérios divinos e, dependendo de quem os descreve, assumem as mais diversas feições. E, ainda que mantenham suas qualidades essenciais, de “essência” ou elementais de “elementos”, no entanto, cada um os descreve como os interpreta,  entende ou idealiza. As idealizações, ainda que sejam divergentes, são necessárias pois, mais dias menos dias, uma delas se imporá em definitivo sobre todas as outras e, daí em diante, todos os umbandistas rezarão pela mesma “cartilha”. Mas, enquanto isso não acontecer, não tenham dúvidas de que continuarão os estímulos para que lancem idealizações, as mais próximas possíveis do nível consciencial da maioria dos adeptos de Umbanda. Os próprios Orixás Regentes estimulam as idealizações pelos praticantes instrutores, pois ou alcançam uma concepção ideal ou os umbandistas nunca falarão a mesma língua. Lembrem-se de que a Umbanda é uma religião nova e neste seu primeiro século de vida tudo é experimental. Não pensem que os Orixás sagrados estão alheios ao que ocorre, pois não estão. Eles observam todas as idealizações humanas que tentam torná-los compreensíveis a todos os umbandistas e tem amparado os idealizadores, não negando a oportunidade de propagarem suas concepções acerca do mistério “Orixás”. Uns idealizadores são mais felizes e alcançam um número respeitável de adeptos. Mas outros, por causa das numerosas dificuldades inerentes à missão de semeador de conhecimentos. Logo desistem e decepcionam-se com a pouca acolhida aos seus escritos. Isso é assim mesmo e não pensem que com os idealizadores de outras religiões as coisas foram diferentes, pois não foram. Para não irmos muito longe, saibam que o Cristianismo, em seu início, teve muitos idealizadores, e cada um descreveu Jesus Cristo segundo sua visão, concepção, entendimento e compreensão do mistério divino que ele era e é em si mesmo. Não pensem que para os idealizadores do Cristianismo as coisas foram fáceis, pois eles também não conseguiram impor-se sobre a maioria dos cristãos. Tanto escreveram a respeito de Jesus Cristo que foi preciso um concílio para que ordenassem a confusão reinante nos três primeiros séculos da Era Cristã. Hoje é fácil para um cristão, ao folhear o Novo Testamento, visualizar um Jesus Cristo divino e humano ao mesmo tempo em que lê suas mensagens ou sermões. Mas será que ele era visualizado assim, facilmente, no início do Cristianismo? É claro que não! O que sustentou a nascente religião foram os prodígios e os fenômenos religiosos, conversões e milagres, que ocorreram por toda parte, e sempre em nome de Jesus Cristo. Prodígios e fenômenos são as chaves de toda semeadura religiosa e com a Umbanda não seria diferente, pois eles acontecem a todo instante por todo o Brasil e surpreendem os descrentes, os ateus, os zombeteiros e até ... os fiéis umbandistas, já acostumados a eles nos seus trabalhos rituais. Saibam que, em se tratando de coisas divinas, os prodígios e os fenômenos são coisas comuns e acontecem em todas as religiões, e só assim o senso comum cede lugar a fé e permite que toda uma vida desregrada seja reordenada e colocada na senda luminosa da evolução espiritual e consciencial. Afinal,  de nada adianta só a teoria acerca dos Orixás, se as práticas religiosas realizadas em seus nomes não suplantarem o senso comum arraigado como “normal”, religiosamente falando.  Neste aspecto, a Umbanda tem sido pródiga, bem como os prodígios de alguns médiuns e os fenômenos realizados pelos mentores espirituais provam a todos que por trás do visível está o invisível, Deus. E se fôssemos listar os prodígios e fenômenos, nunca terminaríamos, porque estes estão se renovando a todo instante em lugares distantes, e sem qualquer ligação material entre si. Mas se assim o é, é porque assim acontece com todas as semeaduras religiosas. Alguns médiuns mais afoitos endeusam quem realiza prodígios e não entendem que o correto seria meditarem no porquê de eles estarem acontecendo. Não percebem que os prodígios visam a dar provas concretas dos mistérios ocultos regidos pelos sagrados Orixás e que estes visam a fornecer meios mais “terra” para a propagação horizontal da religião umbandistas. A Umbanda ainda é muito recente para prescindir dos prodígios e dos fenômenos. E nós esperamos que nunca os dispense, sendo que as pessoas mais arredias ou descrentes só se convencem da existência dos poderes divinos quando se deparam com os prodígios realizados pelos médiuns. Aí, sim deixam de lado o senso comum, despertam para a fé e dedicam parte do tempo a religião. A Umbanda é nova e talvez daqui a uns três séculos os seus dirigentes se reúnam e, tendo muitas idealizações sobre suas mesas, optem por uma que mais fale aos corações dos umbandistas de então. E porque três séculos demoram para passar, as idealizações existentes até o momento são muito “pessoais”. Então vamos colocar a nossa à disposição para análise e, quem sabe, ela possa ser adotada, no todo ou em parte, quando forem comentar nossa religião. Mas não esqueçam que, se os primeiros cristãos são vistos como exemplo a ser cultivado no campo religioso do Cristianismo pelos eu desprendimento, fé inabalável e tenacidade na defesa da religião que adotaram. Vocês, os umbandistas de hoje, serão vistos, no futuro, pela forma que se portarem diante das dificuldades que esta nova religião está encontrando, considerando que ela é combatida pelas mais velhas com todas as armas, recursos e truculências que têm a disposição. Afinal, os romanos tinham o circo onde atiravam os cristãos de então aos leões. Os novos cristãos de hoje têm a disposição a televisão, na qual atiram os umbandistas às hienas mercadoras da fé em Jesus Cristo. Ou não é verdade que aqueles mercadores da fé, travestidos em “bispos”, divertem-se à custa dos humildes umbandistas, colocados a todo instante diante de inúmeras dificuldades econômicas para levarem adiante. E com dignidade, amor e respeito, a fé nos sagrados Orixás, enquanto eles se locupletam com o desespero e a aflição de pessoas humildes e de boa-fé, que acorrem aos seus templos movidos pelas promessas miraculosas de enriquecimento rápido em nome de um tal “desafio a Deus”? Quem, em sã consciência, ousaria colocar as questões de fé e religiosidade nesses termos, senão as mesmas hienas famintas que afluíam ao circo romano em busca de prazer? Quem, em sã consciência, ousaria colocar a religiosidade diante de Deus como uma prova de enriquecimento material, senão mercadores da fé? Quem, senão apóstatas, ousaria levantar a Bíblia Sagrada e desafiar a Deus a enriquecê-los, se nesta mesma Bíblia estão escritas, com o fogo da fé. O sangue da vida e as lágrimas dos humildes, as santificadas palavras de Jesus Cristo. “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico, materialista, entrar no reino do céu” Mateus 19,24. Quem, senão os mercadores do templo, ousaria subverter a pregação de Cristo ao rico, conclamando-o a deixar tudo para trás, até mesmo sua ambição, luxúria e apego aos bens materiais, e só assim poderia segui-lo e conquistar um lugar à direita de Deus Pai? Irmãos umbandistas, tudo se repete em religião. E, se bem já fez alguém quando disse que da primeira vez é uma tragédia, porém da segunda é uma comédia, então tudo está se repetindo, como os primeiros cristãos eram lançados aos leões nos circos romanos. Já os primeiros umbandistas, que somos nós, estamos sendo lançados, às hienas da televisão. Dos mercadores do templo, expulsos por Jesus a dois mil anos atrás, mas que, travestidos de novos cristãos, estão – até disso – desafiando Deus a enriquecê-los! Que Deus se apiede do espírito destes vis mercadores que envergonham o próprio Jesus Cristo, usando de seu nome para locupletarem-se à custa do sofrimento humano, diante de tantas injustas sociais. Que não são menores do que as que se abatiam sobre a sofrida plebe romana. Irmãos em Oxalá, atentem bem para o que acabamos de externar e fortaleçam sua fé, pois os sagrados Orixás são eternos e vocês os estão renovando a fé e a religiosidade de milhões de irmãos desencantados com as religiões mais velhas. E tão comprometidas com o atual estado de coisas que não conseguem, com os recursos da fé, alterar as injustiças sociais ou despertar a religiosidade no coração de seus fiéis atuais. Tenham consciência do momento atual de sua religião e portem-se a altura do que de vocês esperam os sagrados Orixás, já renovados no Ritual de Umbanda Sagrada. E, creiam, daqui a alguns séculos as hienas se terão calado, então terão encontrado a resposta de Deus a seus desafios. Mas, até que isso aconteça, fortaleçam sua fé no amor aos sagrados Orixás, pois eles são as divindades regentes desse nosso abençoado planeta. E, se não são chamados de “encantados” é porque encantam a quem a eles se consagra e não se deixam abater pelas críticas sofridas. Pelas zombarias assacadas ou pela falta de uma literatura umbandista mais incisiva para o momento atual e mais esclarecedora acerca dos mistérios divinos que são os Orixás. Correspondam ao momento atual de sua religião e, no futuro, quando todos rezarem por uma mesma cartilha, aí se realizarão e dirão: “Meus amados Orixás, valeu a pena minha tenacidade, resignação, humildade, amor e fé, pois minha religião prosperou entre os homens!”. Saravá, meus Orixás! Saravá, irmãos em Oxalá! Abraço. Davi

 

 

 

sexta-feira, 22 de março de 2024

HINDUISMO - INTRODUÇÃO

 

Hinduísmo. O Livro das Religiões. Por Globo Livros (2014). 1700 a.C. A tradição védica começa a se desenvolver na Índia. 1200-1900 a.C. Os quatro Vedas são escritos – Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda – as Escrituras hindus mais remotas e o mais antigo texto em sânscrito. Século VI a.C. Surgem ideias bramânicas com base no conceito de brahman, o poder supremo. Século VI a.C. É escrito o primeiro dos Upanishads, uma abordagem filosófica à religião. Século VI a.C. Mahavira torna-se uma grande figura no desenvolvimento do jainismo. Século VI a.C. Nasce Siddartha Gautama, mais tarde conhecido como Buda numa família hindu. 500-100 a.C. O poeta Valmiki escreve o épico hindu Ramayana. Século II a.C. O Mahabharata, incluindo o Bhagavad-Gita (Canção do Senhor) apresenta modelos de vida para os hindus. Século II a.C. Os Yoga Sutras - principais textos sobre Yoga, uma escola da filosofia hindu – são compilados. Século VI d.C. Surge o Bhakti, um movimento hindu que enfatiza a devoção pessoal. 788-820 d.C. Adi Shankara funda a escola de filosofia hindu não dualista Advaita Vedanta. 1526. O Império Mongol Islâmico é fundado, controlando partes da Índia até a chegada do Raj Britânico em 1858. 1836-1886. Sri Ramakrishna aparece como líder da reforma hindu. 1788-1860. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) começa a incorporar crenças indianas em sua filosofia idealista. 1869-1948. Mahatma Gandhi (1869-1948). Mistura religião e política em sua resistência pacífica à injustiça e à discriminação. Conseguiu a independência da Índia que estava subordinada a Inglaterra sem usar a violência. Data da independência da Índia 15 de agosto de 1947.

Embora o hinduísmo possa ser considerado a religião mais antiga dentre as existentes hoje em dia, o termo é relativamente novo, dando a impressão equivocada de uma fé unificada, com um único conjunto de crenças e práticas religiosas. As origens do hinduísmo remontam a Idade do Ferro, mas a palavra “hinduísmo” é mais um hiperônimo conveniente para denominar a maior parte das religiões do subcontinente indiano. Apesar de apresentarem características em comum, essas religiões diferem bastante quanto a prática, abrangendo uma grande variedade de tradições. Em algumas dessas tradições, a fé manteve-se substancialmente inalterada desde tempos primordiais. Mais de três quartos da população da Índia (população da Índia em 2021: 1.408.000.000) se diz “hinduísta”, mas a definição de um conjunto tão desconexo de credos é mais política do que religiosa. A palavra “hindu” (cuja raiz é a mesma do rio Indo, na Índia) significa “indiano” e diferencia as religiões nativas daquelas introduzidas no país, como o Islã, e religiões “desertoras” mais recentes, como o jainismo e o budismo. A dificuldade de definir o hinduísmo foi sintetizada numa sentença normativa do Supremo Tribunal Indiano em 1995 “(...) a religião hindu não reconhece profetas, não cultua deuses, não segue dogmas, não acredita em conceitos filosóficos e não professa ritos religiosos de ninguém. Na verdade, o hinduísmo não se limita às características de nenhuma religião ou credo, podendo ser descrito, em termos gerais, como uma forma de vida e nada mais que isso”. Crenças comuns. Algumas ideias, porém, são centrais em praticamente todas as vertentes do hinduísmo, sobretudo a noção de samsara (o ciclo de morte e renascimento do atman, a alma) e a crença na possibilidade de moksha, ou libertação desse ciclo infinito. O segredo para atingir essa libertação é resumido na palavra dharma, que costuma ser traduzida como “virtude”, “lei natural”, “retidão ou adequabilidade”. Inevitavelmente, o assunto sujeita-se  a um grande número de interpretações. Contudo existem três formas principais de alcançar o moksha – conhecidas coletivamente como marga. Jnana-marga – conhecimento ou insight. Karma-marga – bom comportamento. Bhakti-marga – devoção aos deuses. O marga abre espaço para as mais variadas vertentes religiosas praticarem suas tradições, entre rituais, meditação, ioga e devoção diária, puja. Conceito de deus. Quase todas as ramificações do hinduísmo acreditam na existência de um deus criador supremo. Brahma, que, junto com Vishnu, o preservador e Shiva, o destruidor, forma a principal trindade ou trimurti. Muitas tradições, todavia, têm seus próprios panteões ou acrescentam divindades locais e pessoais ao conjunto. Para confundir um pouco, até os três maiores deuses – e vários outros menores – costumam ter aparências diferentes. E assim, embora possa parecer que o hinduísmo é uma religião politeísta, em muitas tradições seria mais correto dizer que os adeptos acreditam em um deus supremo. Amparado por divindades menores com poderes especiais e responsabilidades específicas. Textos sagrados. As diferentes tradições hindus estão todas compiladas nos quatro Vedas, um conjunto de textos sagrados de 1200-900 a.C. Os Brahmanas, comentários sobre os Vedas, e depois os Upanishads, constituem a base teórica da religião, enquanto outros textos – principalmente os dois poemas épicos indianos, o Mahabharata e o Ramayana – tratam de história, mitologia, religião e filosofia. Uma das principais características das tradições hindus é a tolerância. Em decorrência de invasões, primeiro pelos gregos sob a liderança de Alexandre, o Grande (356 a.C. – 323 a.C.), e depois por muçulmanos e cristãos, o hinduísmo sofreu algumas influências. No entanto, apesar de terem surgido movimentos de reforma como resultado dessas influências, batizar de hinduísmo o conjunto de religiões da Índia lhes deu coesão política e um vinculo nacionalista. Tal medida chegou a um ponto crítico na luta pela independência indiana, no século XX, quando Mahatma Gandhi defendeu o uso da resistência pacífica e desobediência civil sem arma, estabelecendo uma Índia independe, onde todas as religiões não são apenas toleradas, todavia são também admitidas. Abraços. Davi 

www.opensador.com. Alguns frases de Mahatma Gandhi. "A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita". "A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável". "As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguirmos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo caminho". "Olho por olho e o mundo acabará cego". "Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: Controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo". "O fraco jamais perdoa. O perdão é uma característica do forte". "Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível". 


 

quarta-feira, 20 de março de 2024

MARIA NO ISLÃM. PARTE III - O NASCIMENTO DE JESUS

 

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O Nascimento de Jesus

No início de seu parto, ela estava em profunda dor, tanto mental quanto física.  Como poderia uma mulher de tal piedade e nobreza ter um filho fora do casamento?  Nós devemos mencionar aqui que Maria teve uma gravidez normal que não foi diferente das outras mulheres, e teve o seu filho como as outras também.  Na crença cristã, Maria não sofreu as dores do parto, porque o Cristianismo e o Judaísmo consideram a menstruação e o parto como uma maldição sobre as mulheres pelo pecado de Eva[1].  O Islã não suporta essa crença, nem a teoria de ‘Pecado Original’, mas ao contrário enfatiza fortemente que ninguém deve carregar o pecado de outros:

“Nenhuma alma peca exceto contra si mesma, e nenhuma alma pecadora arca com o pecado de outra.” (Alcorão 6:164)

Não apenas isso, mas nem o Alcorão nem o Profeta Muhammad, que Deus o exalte, sequer mencionam que foi Eva quem comeu da árvore e instigou Adão.  Ao contrário, o Alcorão culpa ou apenas a Adão ou a ambos:

“E Satanás lhes sussurrou, e os desencaminhou com artifício.  Então quando ambos provaram da árvore, o que estava oculto de suas vergonhas (partes íntimas) se tornou manifesto para eles"  (Alcorão 7:20-22)

Maria, devido à sua angústia e dor desejou que nunca tivesse sido criada, e exclamou:

“Quem dera tivesse morrido antes disso, e tivesse sido esquecida.” (Alcorão 19:23)

Após o parto do bebê, e quando sua angústia não podia ser maior, o bebê recém-nascido, Jesus, que Deus o exalte, milagrosamente falou abaixo dela, lhe tranquilizando e reassegurando de que Deus a protegeria:

“E abaixo dela uma voz chamou-a, ‘Não te entristeças, porque o teu Senhor fez correr abaixo de ti um regato.  E move em tua direção o tronco da tamareira; ela fará cair sobre ti tâmaras maduras, frescas.  Então come e bebe e fica feliz.  E se vês alguém, dize, ‘De fato fiz votos de silêncio ao Misericordioso e hoje não falarei com pessoa alguma.’” (Alcorão 19:24-26)

Maria se tranquilizou.  Esse foi o primeiro milagre realizado nas mãos de Jesus.  Ele falou tranquilizando sua mãe em seu nascimento, e uma vez mais quando as pessoas a viram carregando seu bebê recém-nascido.  Quando eles a viram eles a acusaram dizendo:

“Ó Maria, com efeito, fizeste uma coisa assombrosa!” (Alcorão 19:27)

Ela simplesmente apontou para Jesus e ele milagrosamente falou, como Deus tinha prometido a ela na anunciação.

“Ele falará aos homens ainda no berço, e na maturidade, e será dos virtuosos.’ (Alcorão 3:46)

Jesus disse às pessoas:

“Eu sou de fato um servo de Deus.  Ele me concedeu o Livro e fez de mim um Profeta, e Ele me fez abençoado onde quer que eu esteja.  Ele me recomendou as orações, a caridade, enquanto eu viver. Ele me fez carinhoso com a minha mãe, e Ele não me fez insolente, infeliz.  E que a Paz esteja sobre mim no dia em que nasci, e no dia em que morrer, e no dia em que eu for ressuscitado.” (Alcorão 19:30-33)

A partir daqui começa o episódio de Jesus, seu esforço de uma vida para chamar as pessoas para adorar a Deus, escapando das conspirações e planos daqueles judeus que se empenhariam em matá-lo.

Maria no Islã

Nós já discutimos a grande posição que o Islã concede à Maria.  O Islã dá a ela a posição de ser a mais perfeita das mulheres criadas.  No Alcorão, nenhuma mulher recebe mais atenção do que Maria embora todos os profetas, com exceção de Adão, tivessem mães.  Dos 114 capítulos do Alcorão, ela está entre as oito pessoas que têm um capítulo com o seu nome: o capítulo dezenove, “Mariam”, que é Maria em árabe.  O terceiro capítulo no Alcorão tem o nome do pai dela, Imran (Heli).  Os capítulos Mariam e Imran estão entre os capítulos mais bonitos no Alcorão.   Além disso, Maria é a única mulher especificamente mencionada pelo nome no Alcorão.  O Profeta Muhammad disse:

“As melhores mulheres do mundo são quatro: Maria a filha de Heli, Aasiyah a esposa do Faraó, Khadija bint Khuwaylid (a esposa do Profeta Muhammad), e Fátima, a filha de Muhammad, o Mensageiro de Deus.” (Al-Tirmidhi)

Apesar de todos esses méritos que mencionamos, Maria e seu filho Jesus foram somente humanos, e não tinham características que fossem além do campo da humanidade.  Ambos foram seres criados e ambos ‘nasceram’ nesse mundo.  Embora eles estivessem sob o cuidado especial de Deus que os prevenia de cometer pecados graves (proteção total – como outros profetas – no caso de Jesus, e proteção parcial como outras pessoas virtuosas no caso de Maria, se adotarmos a posição de que ela não foi uma profetisa), eles ainda estavam sujeitos a cometer erros.  Ao contrário do Cristianismo, que considera Maria como irrepreensível[2], ninguém recebeu essa qualidade de perfeição exceto Deus.

O Islã ordena a crença e implementação de monoteísmo estrito; de que ninguém tem quaisquer poderes sobrenaturais além de Deus, e que apenas Ele merece adoração e devoção.  Embora milagres tenham ocorrido nas mãos dos profetas e pessoas virtuosas durante suas vidas, eles não tinham poder para se ajudar, quanto mais a outros, após sua morte.  Todos os humanos são servos de Deus e precisam de Sua ajuda e misericórdia.

Ele é verdadeiro para Maria. Embora muitos milagres tenham ocorrido na presença dela, tudo cessou após sua morte.  Quaisquer alegações que as pessoas fizeram de que viram aparições da Virgem, ou que pessoas foram salvas do perigo após invocá-la, como as mencionadas em literatura apócrifa como “Transitus Mariae”, são meras aparições feitas por Satanás para desencaminhar as pessoas da adoração e devoção ao Único Verdadeiro Deus.  Devoções como a “Ave Maria” recitada sobre o rosário e outros atos de engrandecimento, como a devoção de igrejas e festas específicas para Maria, levam as pessoas a engrandecer e glorificar outros além de Deus.  Devido a essas razões, o Islã proibiu estritamente inovações de qualquer tipo, assim como a construção de locais de adoração sobre túmulos, tudo para preservar a essência de todas as religiões enviadas por Deus, a mensagem pura para adorá-Lo somente e deixar a falsa adoração de todos os outros além Dele.

Maria foi uma serva de Deus, e ela foi a mais pura de todas as mulheres, especialmente escolhida para o nascimento milagroso de Jesus, um dos maiores de todos os profetas.  Ela foi conhecida por sua piedade e castidade, e continuará a ser mantida nessa alta consideração através dos tempos que estão por vir.  Sua estória tem sido relatada no Glorioso Alcorão Sagrado desde o advento do Profeta Muhammad, e continuará assim, inalterada em sua forma pura, até o Dia do Juízo. Abraço. Davi

segunda-feira, 18 de março de 2024

MARIA NO ISLÃ. PARTE II - SUA ANUNCIAÇÃO

 

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Sua Anunciação

Deus nos informa de quando os anjos deram à Maria as boas novas de uma criança, a posição de seu filho na terra, e alguns dos milagres que ele realizaria:

“Quando os anjos disseram, ‘Ó Maria!  Certamente Deus te dá as boas novas de um Verbo (Sua palavra, ‘Sê’) Dele, cujo nome é o Messias, Jesus, filho de Maria, honorável nesse mundo e no Outro, e entre os próximos a Deus.  Ele falará aos homens ainda no berço, e na maturidade, e será dos virtuosos.’  Ela disse, ‘Meu Senhor, como poderei ter um filho se nenhum homem me tocou?’  Ele disse, ‘Assim é, Deus cria o que Ele quer.  Quando Ele decreta algo, apenas diz-lhe ‘Sê’, e é.  E Ele lhe ensinará o Livro e a Sabedoria, e o Torá e o Evangelho.” (Alcorão 3:45-48)

Isso se parece muito com as palavras mencionadas na Bíblia:

“Não tenhas medo, Maria, porque fostes favorecida por Deus. Muito em breve ficarás grávida e terás um menino, a quem chamarás Jesus.”

Atônita, ela respondeu:

“Mas como posso ter um filho, se sou virgem?” (Lucas 1:26-38)

Essa situação foi um grande teste para ela, porque sua grande piedade e devoção eram conhecidas por todos.  Ela previu que as pessoas a acusariam de não ser casta.

Em outros versículos do Alcorão, Deus relata mais detalhes da anunciação por Gabriel de que ela daria à luz a um Profeta.

“E menciona no Livro, Maria, quando ela se isolou de seu povo em um lugar na direção do oriente.  E colocou um véu entre ela e eles; então nós enviamos Nosso Espírito (Gabriel), e ele apareceu como um homem em todos os aspectos.  Ela disse, ‘Verdadeiramente eu me refúgio no Misericordioso (Deus) contra ti, temes a Deus.’  Ele disse, ‘Eu sou apenas um mensageiro de teu Senhor, (para te anunciar) a dádiva de um filho virtuoso.’ (Alcorão 19:17-19)

Uma vez, quando Maria foi ao templo para os seus afazeres, o anjo Gabriel apareceu para ela na forma de um homem.  Ela ficou assustada devido à proximidade do homem, e buscou refúgio em Deus. Gabriel então disse a ela que ele não era um homem comum, mas um anjo enviado por Deus para anunciar a ela que ela teria uma criança muito pura.  Atônita, ela exclamou

“Ela disse, ‘Como poderei ter um filho, se nenhum homem me tocou e eu nunca fui mundana?!’” (Alcorão 19:19-20)

O anjo explicou que era um Decreto Divino que já tinha sido decretado, e que de fato era algo fácil para Deus o Todo-Poderoso.  Deus disse que o nascimento de Jesus, que Deus o exalte, seria um sinal de Sua Onipotência, e que, assim como Ele criou Adão sem pai ou mãe, Ele criou Jesus sem pai.

“Ele disse, ‘Assim será,’ teu Senhor disse: ‘Isso é fácil para Mim, e farei dele um sinal para os homens, e Misericórdia de Nossa parte, e essa é uma questão que já foi decretada.’” (Alcorão 19:21)

Deus soprou em Maria o espírito de Jesus através do anjo Gabriel, e Jesus foi concebido em seu ventre, como Deus disse em um outro capítulo:

“E Maria a filha de Heli, que guardou sua castidade. Nós sopramos nela através de Nosso Espírito (Gabriel).” (Alcorão 66:12)

Quando os sinais de gravidez se tornaram aparentes, Maria ficou ainda mais preocupada com o que as pessoas falariam sobre ela.  As notícias sobre ela se espalharam, e como era inevitável, alguns começaram a acusá-la de não ser casta.  Ao contrário da crença cristã de que Maria era casada com José, o Islã mantém que ela não era noiva ou casada, e foi isso que causou a ela tal angústia.  Ela sabia que as pessoas chegariam à única conclusão lógica em relação à sua gravidez, de que tinha acontecido fora do casamento.  Maria se isolou das pessoas e partiu para uma outra terra.  Deus diz:

“E ela o concebeu, e se isolou com ele em um lugar remoto.  As dores do parto a levaram ao tronco de uma palmeira.” (Alcorão 19:22-23)

 

sábado, 16 de março de 2024

MARIA NO ISLÃ. PARTE I - A INFÂNCIA DE MARIA

 

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Maria, a Mãe de Jesus, detém uma posição muito especial no Islã, e Deus a proclama como a melhor mulher entre toda a humanidade, a quem Ele escolhe sobre todas as outras mulheres devido à sua religiosidade e devoção.

“E lembra-lhes, Muhammad, de quando os anjos disseram, ‘Ó Maria!  Por certo Deus te escolheu e te purificou, e te escolheu sobre todas as outras mulheres dos mundos.  Ó Maria!  Sê devota a teu Senhor e prostra-te e curva-te com os que se curvam (em oração).’” (Alcorão 3:42-43)

Ela também foi um exemplo de Deus, como Ele disse:

“E (Deus propõe o exemplo para aqueles que creem) de Maria, a filha de Heli, que guardou sua castidade; então sopramos nela Nosso Espírito (ou seja, Gabriel), e ela acreditou nas palavras de seu Senhor e Seus Livros e foi devotadamente obediente.” (Alcorão 66:12)

De fato, ela foi uma mulher adequada a trazer um milagre como o de Jesus, que nasceu sem pai.  Ela era conhecida por sua religiosidade e castidade, e se fosse diferente, ninguém teria acreditado em sua alegação de ter dado à luz enquanto mantinha seu estado de virgindade, uma crença e fato que o Islã considera verdadeiros.  Sua natureza especial foi um dos muitos milagres provados em sua tenra infância.  Deixe-nos contar o que Deus revelou em relação à bela estória de Maria.

A Infância de Maria

“Por certo Deus escolheu Adão, Noé e a família de Abraão e a família de Heli sobre todas as outras da criação.  São descendentes, uns dos outros, e Deus é Oniouvinte, Onisciente.  Lembra quando a esposa de Heli (Hannah; também Ana) disse: ‘Ó meu Senhor!  Eu consagro a Ti o que há em meu ventre para ser dedicado aos Teus serviços (servir Teu Lugar de adoração); então aceita-o de mim.   Verdadeiramente, Tu és O Ouniouvinte, O Onisciente.” (Alcorão 3:33-35)

Maria nasceu para Heli e sua esposa Hannah, que era de descendência davídica vindo, portanto, de uma família de profetas, de Abraão a Noé, a Adão, que a Paz e as Bênçãos de Deus estejam sobre todos eles.  Como mencionado no versículo, ela nasceu para a família escolhida de Heli, que nasceu na família escolhida de Abraão, que também nasceu em uma família escolhida.  Hannah era uma mulher estéril que desejava uma criança, e ela prometeu a Deus que, se Ele a concedesse um filho, ela o consagraria a Seu serviço no Templo.  Deus respondeu à sua invocação, e ela concebeu uma criança.  Quando ela deu à luz, ela se entristeceu, porque sua criança era uma menina e geralmente eram os meninos que prestavam serviço no Bait-ul-Maqdis.

“E quando deu à luz, ela disse, ‘Meu Senhor!  Eu tive uma menina...e o menino não é igual à menina.”

Quando ela expressou sua tristeza, Deus a repreendeu dizendo:

“Deus sabe melhor o que ela deu à luz...”  (Alcorão 3:36)

(...) porque Deus escolheu sua filha, Maria, para ser a mãe de um dos maiores milagres da criação:o nascimento virginal de Jesus, que Deus o exalte.  Hannah chamou a sua filha de Maria (Mariam em árabe) e invocou a Deus que a protegesse e à sua criança de Satanás:

“E eu a chamei de Maria (Mariam), e a entrego e à sua descendência à Tua proteção, contra o maldito Satanás.” (Alcorão 3:36)

Deus de fato aceitou essa súplica, e Ele deu a Maria e seu filho que estava por vir, Jesus, um tratamento especial – que não foi dado a ninguém antes e nem a ninguém depois; nenhum dos dois foi afligido pelo toque de Satanás ao nascer.  O Profeta Muhammad, que Deus o exalte, disse:

“Todos que nascem Satanás toca ao nascer, e a criança nasce chorando por causa de seu toque, exceto Maria e seu filho (Jesus).” (Ahmed)

Aqui, nós podemos ver imediatamente à similaridade entre essa narrativa e a teoria cristã da “Imaculada Conceição” de Maria e Jesus, embora aqui exista uma grande diferença entre as duas.  O Islã não propaga a teoria do ‘pecado original’ e, portanto, não aceita essa interpretação de como eles eram livres do toque de Satanás, mas ao contrário essa foi uma graça dada por Deus à Maria e seu filho Jesus.  Como outros profetas, Jesus foi protegido de cometer pecados graves.  Quanto à Maria, mesmo se adotarmos a posição de que ela não era uma profetisa, ela, todavia recebeu a proteção e orientação de Deus que Ele concede aos crentes piedosos.

“Então seu Senhor acolheu-a com bela acolhida, e fê-la crescer em pureza e beleza, e a confiou aos cuidados de Zacarias.” (Alcorão 3:37)

No nascimento de Maria, sua mãe Hannah a levou a Bait-ul-Maqdis e a ofereceu àqueles no templo para crescer sob sua tutela.  Conhecendo a nobreza e religiosidade de sua família, eles discutiram sobre quem teria a honra de educá-la.  Eles concordaram em tirar a sorte, e não foi ninguém menos que o profeta Zacarias o escolhido.  Foi sob o seu cuidado e tutela que ela foi educada.

Milagres em sua Presença e Visitação dos Anjos

Enquanto Maria crescia, até mesmo o profeta Zacarias notou as suas características especiais, devido aos vários milagres que ocorreram na presença dela.  Maria, durante o seu crescimento, recebeu um quarto recluso dentro do templo onde ela devia se devotar à adoração de Deus.  Toda vez que Zacarias entrava na câmara para ver o que ela precisava, ele encontrava frutas abundantes, e fora da estação, na presença dela.

“Cada vez que Zacarias entrava na câmara, ele a encontrava provida com sustento.  Ele disse, ‘Ó Maria!  De onde te provém isso?’  Ela respondia, ‘De Deus.’  Certamente Deus concede sustento sem medida a quem Ele quer.” (Alcorão 3:37)

Ela foi visitada pelos anjos em mais de uma ocasião.  Deus nos diz que os anjos a visitaram e a informaram de sua condição louvável entre a humanidade:

“Quando os anjos disseram, ‘Ó Maria!  Deus te escolheu e te purificou (devido à tua adoração e devoção), e te escolheu (fazendo-te mãe do profeta Jesus) sobre todas as mulheres dos mundos.  Ó Maria!  Ore a teu Senhor devotadamente, e te prostra e te curva com aqueles que se curvam.’” (Alcorão 3:42-43)

Devido a essas visitações dos anjos e por ela ter sido escolhida sobre as outras mulheres, alguns consideram que Maria foi uma profetisa.  Mesmo se ela não foi, o que é matéria de debate, o Islã a considera detentora da posição mais alta entre todas as mulheres da criação devido à sua piedade e devoção, e devido ao fato dela ter sido escolhida para o nascimento milagroso de Jesus.

quinta-feira, 14 de março de 2024

A PALAVRA SECRETA. Parte I

 

Budismo. www.sotozencuritiba.org.br. Por Ryotan Tokuda (1938- ). A PALAVRA SECRETA. Parte I. Mestre Daisetz Suzuki (1870-1966) foi quem apresentou o Zen ao Ocidente, no livro Mística Cristã e Budismo. Nesse livro, mestre Suzuki fala muito em mestre Eckart (1260-1328). Assim, quando se fala em mestre Eckart, todos lembram do Zen-Budismo. Quando orientais tomaram contato com a obra do mestre Eckart sentiram-se como que lendo textos budistas. Sua linguagem, apesar de falar em Deus, expressa o Budismo, especialmente o Zen. (Monge Tokuda - 25 de outubro de 1989). Hoje vou falar sobre a "palavra secreta". Esta expressão "palavra secreta" é o título de um capítulo do livro de mestre Dogen, o Shobogenzo. Mestre Eckart diz: Eu vou em primeiro lugar falar das palavras da sabedoria eterna. Quem quer que me ouça não fique envergonhado. Quem quiser ouvir a sabedoria eterna do Pai deve estar dentro e em casa; deve ter se tornado uno. Então ele pode ouvir a sabedoria eterna do Pai. Existem três coisas que nos impedem de ouvir a palavra eterna: a primeira é a corporalidade, a segunda é a multiplicidade e a terceira é a temporariedade. Se o homem conseguisse transcender estas três coisas, ele moraria na eternidade. Ele moraria no mundo do espírito, ele moraria na unidade e no deserto, e ali ele ouviria a palavra eterna. Agora, Nosso Senhor diz "não há quem ouça a minha palavra ou o meu ensinamento a menos que tenha abandonado a si mesmo, pois para ouvir palavra de Deus é preciso um absoluto perder do ego". Portanto, Nosso Senhor diz "Quem quiser ser meu discípulo, que abandone seu próprio ego. Não existe quem possa ouvir as minhas palavras ou o meu ensinamento a menos que tenha abandonado o ego. Todas as coisas nada são em si mesmas, por isso, abandonem este nada e assumam o perfeito ser no qual a vontade é justa. Aquele que abandonou toda a sua vontade, saboreia o ensinamento e ouve as minhas palavras. "Vivendo neste mundo, isso não é tão fácil. Os budistas usam a expressão "mundo saha", e "saha" significa terra de paciência, ainda que não totalmente infeliz. Um pouco infeliz, mas também onde se vivencia alguma felicidade. Não há só sofrimento, mas também felicidade - um pouco de cada. Eu sempre brinco, em primeiro lugar é importante ter paciência, em segundo lugar paciência e em terceiro também paciência; em quarto lugar, ah, em quarto nada, e em quinto, sim, novamente paciência (risos...). Neste mundo a gente precisa de muita paciência. Muitas pessoas sofrendo suas dores vão visitar as igrejas e rezam para Deus. Você, rezando, pedindo, alguma vez escutou a voz de Deus? Talvez sim, ou, tendo ouvido algumas respostas, pense que sim. Muitas pessoas perguntam o que é realmente a palavra de Deus. Alguns respondem: é silêncio. Mas mestre Eckart diz que não, este é um método ainda, não é exatamente a palavra de Deus. Muitos amam a Deus como se ama uma vaca, esperando leite e queijo. Então rezam a Deus esperando uma coisa em troca. Este não é, entretanto, o verdadeiro amor a Deus. As pessoas têm medo de Deus, agradecem a Deus ou recebem muita coisa de Deus, mas as vezes têm dúvidas. Deus é isto? Deus existe? Onde está? A finalidade tanto cristã como budista é encontrar Deus, encontrá-lo intimamente. Isto é muito importante. Por isso, praticar através de livros sagrados é muito importante, mas é necessário praticar também através da contemplação, mas contemplar realmente. Rezar interiormente; isto já é meditação, concentração, e então nós podemos encontrar com Deus. Nesse momento podemos escutar a voz de Deus, a palavra de Deus. Na teologia cristã, a palavra de Cristo é a palavra de Deus, ele veio a este mundo para revelar o que é Deus. Aqui temos também a palavra de mestre Dogen e de mestre Eckart. Mestre Eckart diz: Há uma afirmação comum a todos sábios: "quando tudo estava em meio ao silêncio, desceu a mim uma palavra secreta, desde o trono real do alto." A alma onde isto acontece deve ser mantida completamente pura e viver de maneira nobre completamente em posse de si mesma e voltada inteiramente para dentro. Em primeiro lugar vamos tomar as palavras "em meio ao silêncio foi falada uma palavra secreta". Mas, meu caro Senhor, onde está o silêncio e onde está o lugar onde a palavra é falada ? Corno acabei de dizer, está no lugar mais puro onde a alma é capaz de chegar, na parte mais nobre, no chão de fato, na essência mesma da alma, que é justamente a parte mais secreta da alma. Ali é que está o silencioso meio, pois nenhuma criatura, nenhuma imagem jamais entrou ali. Nem a própria alma teve desse lugar qualquer compreensão, portanto, ela não está consciente ali de nenhuma imagem, quer seja de si mesma ou de qualquer outra criatura. Mestre Eckart fala que para escutar a voz ou a palavra de Deus existem três tipos de obstáculos, primeiro a corporalidade, depois a multiplicidade e a temporariedade. É necessário transcender esses três obstáculos. A grande dificuldade é que neste mundo é exatamente com esses três aspectos que existimos. Com a corporalidade nascemos, recebemos este corpo até morrer. Com isto você existe, com isto eu estou aqui, você está aí. Já o tempo instala-se quando nascemos, e depois nos conduz à morte. Assim, para viver eternamente você não pode nascer. Quando nasce há morte. Por isso o Zen usa a expressão "não-nascido". Antes de nascer, qual era sua face original? Antes de seus pais nascerem, qual era sua face original? Como é sua face original? A busca do Zen é isto: o chão, a origem de onde você veio. Corporalidade, temporariedade e multiplicidade, ou seja, dualidade. Eu sofri tanto com isso! Estou aqui e você está aí. Então há o conflito. Todas as coisas apresentam isso. Bem e mal, rico e pobre, velho e moço, etc (...). Neste mundo tudo, tudo se apresenta assim. Como podemos transcender isso? Mestre Eckart diz: "quando tudo estava em meio ao silêncio, então desceu a mim a palavra secreta." Este silêncio é nirvana. A gente encontra o silêncio em todas as linhas de religião e filosofia. Fase silêncio é uma preparação para se ter esta experiência que é original, a experiência religiosa, mística. Existem dois tipos de religiões, as religiões místicas - de busca e contato direto - e as outras, as religiões de profetas, com muitas regras, etc, que todos devem seguir. O Zen é talvez mais ligado à experiência mesmo de união com Deus. Neste caso é necessário o silêncio; meditação é silêncio, e com isto ocorre a experiência mística. Quando há internamente aquele silêncio, aquela tranquilidade, aquela calma, nesse momento você vai ouvir a voz de Deus. Este estado, nirvana, mestre Eckart compara com o deserto, com o deserto cheio de areias. Hoje em dia vemos os documentários da televisão sobre o deserto e vemos que é cheio de vida, de insetos e plantas pequeninas. Mas deserto, deserto mesmo, não tem nenhuma vida, é morto. Esta é a experiência de morte religiosa. Não falando fisicamente, mas espiritualmente morte religiosa é uma experiência muito forte, muito importante, só assim é possível o verdadeiro renascimento. Nesta vida é necessário aprender a esquecer, desligar, perder até; isso é doloroso, mas depois ganha-se a verdadeira vida. É como na corrida de maratona: quando se chega em certo ponto, surge a crise, parece impossível prosseguir, há dificuldade de respiração, dores, cansaço, o cor arece não poder ir além, isto é chamado de "dead point", ponto-da-morte seria o significado. Quando, no entanto, ultrapassa-se esse ponto, tudo fica leve e fácil e pode-se correr até o final. Mesmo os jogadores de tênis, nadadores ou jogadores de futebol passam por treinamento, dificuldades e superações. O zazen também apresenta dores, dificuldades. Os joelhos doem com as pernas cruzadas, as costas doem, mas é preciso viver esta experiência. Mestre Dogen nasceu exatamente no ano de 1200 e morreu com 53-54 anos, relativamente moço. Já mestre Eckart nasceu em 1263. Um morreu, o outro nasceu. Apesar de viverem em países diferentes, ambos falam da mesma experiência. Mestre Dogen começou a escrever livros em língua japonesa numa época em que os monges escreviam sempre em chinês. Hoje em dia os pesquisadores de literatura japonesa clássica estudam o Shobogenzo como literatura, não apenas como o livro sagrado do Zen. Com mestre Eckart ocorreu algo semelhante. Hoje os estudiosos da língua germânica debruçam-se sobre a obra de mestre Eckart porque ele dava seus sermões e aulas na língua da época e não no latim que era a língua oficial. Ele tem estudos feitos em latim também, mas costumava usar a língua germânica para seus sermões e obras e seus contatos com discípulos, freiras e leigos. O que ele diz é o seguinte: "É difícil falar alguma coisa sobre Deus; tudo o que pode ser dito sobre Deus são enganos. Quando não se fala sobre Ele, é verdade." Mas, de outro lado, mestre Eckart também diz, "eu gosto de falar de Deus". Não se pode falar, mas ele quer e gosta de falar. Aí há um conflito de energias - é por viver certo tipo de experiência que ele não pode ficar calado. Mesmo que não exista ninguém aqui, eu quero falar com esta mesa. Quero falar. Há este impulso, mas o que se pode falar sobre Deus? O que não se pode falar? Isto o Zen-Budismo, de certo modo, desenvolveu: a clareza do aspecto limitado da linguagem e das palavras. Esse capítulo do Shobogenzo sobre a palavra secreta fala sobre isto. Em outro capítulo, de título curioso, "0 sermão dos seres insensíveis", também mestre Dogen (1200-1253) fala sobre isto. Buda ganhou a iluminação - Budakaia. Surgiu-lhe então aquela dúvida: "Eu consegui isto, este Darma, mas quem poderia compreendê-lo? Este Darma é muito diferente das coisas do mundo. Totalmente diferente, muito difícil de entender." Ele então procurou dois de seus primeiros professores, mas estes já haviam morrido. Aí lembrou-se de seus cinco últimos companheiros. Quando Buda se tornou monge, o rei, seu pai, mandou cinco companheiros treinar com ele. Depois de seis anos de treinamento como asceta, Gotama abandonou o treinamento porque compreendeu que esse não era o verdadeiro caminho. Abandonou o ascetismo, e, por conta própria, começou a prática de zazen sob a árvore Bodhi, atingindo assim a iluminação e libertação completas. Hoje em dia, abrindo o mapa, de Budagaia a Sarnath - onde houve o primeiro sermão para os cinco monges - há muita distância mesmo para quem for de carro, muito mais se considerarmos que Buda foi a pé. Quando estava chegando em Sarnath, um dos seus ex discípulos disse: "Lá vem Gotama. Ele abandonou a prática ascética, mas se quiser voltar para nós não há problema, a gente deixa, mas já não precisamos respeitá-lo como antigamente pois ele abandonou a prática." Mas enquanto Buda aproximava-se mais e mais, mesmo nada tendo feito, os cinco monges levantaram-se, um preparou água para lavar seus pés, o outro preparou um lugar para ele se sentar, o outro logo trouxe alguma comida ou chá, e assim todos os cinco, mesmo sem notar, estavam preparando e dando as boas-vindas ao Buda. Por que isso? É algo fora do comum. Isso é reconhecido como o sermão da luz radiante. Antes que ele começasse a falar, já havia a luz radiante. Esse foi o primeiro sermão. Com isso as pessoas já estavam preparadas inconscientemente, levantando-se e dando as boas-vindas. Assim, percebendo inconscientemente a luz radiante, eles estavam já preparados para o que Buda iria dizer. Esse sermão da luz radiante mostra que o sermão não é apenas o que sai pela boca. E eles começaram falando, "você, Gotama", e Sakiamuni disse: "Não, de agora em diante vocês não devem mais chamar-me de bo (você), mas de Buda ou Tatagata". "Tatagata" significa "aquele que vem e que vai". Como é o nome de Deus? Deus é Deus, não tem nome. Da mesma forma Buda, não sendo uma pessoa, responde, "eu sou Tatagata". E a seguir o Tatagata começou a falar as quatro nobres verdades. Imediatamente um dos discípulos entendeu; no segundo dia dois ou três compreenderam e finalmente todos os cinco entenderam, ganharam a iluminação, tornaram-se Arhats. Então Buda prosseguiu sua vida de sermões e ensinamentos. É preciso lembrar, no entanto, que antes do sermão com as palavras, já ocorrera o sermão da luz radiante. Para nós, monges Zen, o importante não é a boca que fala. As pessoas falam, falam, falam e não fazem o que falaram. O importante é observar o "sermão do corpo físico", o "sermão da atitude", o "sermão da atividade do corpo físico". Com atitude não se pode mentir, já a palavra, às vezes para impressionar, mistura mentiras. Às vezes eu falo o que não faço com a própria experiência. Isso é mentira. A boca pode mentir, mas com as "costas" não se pode mentir. O que as costas falam não contém mentiras. As crianças têm problemas, o pai e a mãe chegam e dizem, "meus filhos têm problemas". Mas os filhos fazem exatamente o que pai e mãe fazem! Não adianta dizer, "você não pode fazer isto, meu filho", o pai e a mãe estão praticando aquilo também, e os filhos apenas imitam exatamente o que vêm. O pai fala, mas nas suas costas, inconscientemente, a mensagem é diferente e o filho está vendo isso. Chegando ao mosteiro, o noviço pensa que vai ouvir grandes sermões, grandes aulas, mas nada disso acontece. O mosteiro mantém silêncio e até os mestres mantêm a prática de agricultura, com enxada e foice. Vendo aquela maneira de limpar o jardim, sente-se que é diferente; mesmo na limpeza com vassoura nota-se a diferença. Ele se dá com qualquer tipo de atividade e é a característica das artes marciais. Quando se vê alguém praticando o katá, há quantos anos a pessoa repete o mesmo katá, o mesmo golpe? No primeiro ano está praticando o katá, depois, no segundo ano, no terceiro; no quinto ano já há algo diferente. Com a prática de zazen se dá o mesmo. Eu gosto de usar esta imagem: no início, quando uma pessoa começa o hábito de tomar cachaça, a pessoa e a cachaça são duas coisas separadas. Depois há um segundo estado, a cachaça toma cachaça. Você toma cachaça, fica um pouco bêbado e o coração fica grande. No início você diz, "quero apenas um pouquinho, bem pouquinho, é só, obrigado", depois você diz, "é gostoso, traga outra garrafa"(...). Aí a cachaça, ela mesmo já está chamando mais cachaça. No início ele bebia a cachaça, agora, neste momento, a cachaça passa a bebê-lo... (risos). Assim, é o processo de treinamento. No início é necessário esforço, fazendo zazen, acordando cedo, aguentando dores, etc. Você está fazendo zazen, fica contente, mostra orgulho etc. (...) - a dualidade ainda está presente. Depois, com a continuidade da prática de zazen, da mesma forma que a cachaça chama a cachaça, o zazen chama o zazen. Não sei bem por que, mas fica o costume de sentar-se constantemente em zazen. Ás vezes eu não tenho vontade, estou cansado, com preguiça, mas onde eu vou - é meu karma - existem grupos de zazen esperando para a prática de zazen. Então digo, "vamos sentar". Não posso dizer, "ah, estou cansado, a viagem foi muito cansativa, preciso dormir mais, etc (...)", devo estar de acordo, sentar junto. Algumas vezes durante o zazen chego a dormir (risos), mas acompanho o zazen. Neste caso eu sou fraco, e o Darma é forte. Olhando de outro lado, isto é bom. Quanto mais fraco você for, melhor. Sendo forte, há o ego, você diz, "eu sou forte, pratico o zazen" (...) o ego está presente. Bem, mas estava falando sobre a palavra secreta (...). No Shobogenzo se conta, "(...) uma vez o mestre Ungan Donjo recebeu um ministro". Naquela época acontecia isto, ministros, escritores, artistas praticavam zazen. Como aconteceu também nos Estados Unidos, com muitos hippies, poetas e cantores que praticavam meditação, na época do movimento contra a guerra do Vietnam (1955-1975). Então, na história, um ministro chegou ao mosteiro e perguntou ao mestre: "Falam que Buda Gotama transmitiu a palavra secreta a Makakasho, que a compreendeu e não a escondeu; o que significa isto, a palavra secreta de Buda?" Então o mestre Ungan Donjo dirigiu-se ao ministro dizendo, "ministro!" E este respondeu, "sim!" O mestre completou: "É só isto, entendeu? Se você entendeu, entendeu, e então Makakasho não escondeu. Se você não entendeu, pode então compreender por que esta é chamada de a palavra secreta de Buda." Vocês entenderam? (risos ...) Isto é um koan. Este é um típico koan Zen - fica-se tonto. É preciso voltar atrás e lembrar um pouco a história toda dessa transmissão contínua do Darma. O importante, o essencial na vida do Zen é a transmissão do Darma, este ensinamento que vem de Buda diretamente, e após, de mestre a discípulo através dos budas e patriarcas. O primeiro foi o Buda Gotama, que transmitiu para seu discípulo Makakasho. Desde o momento em que Buda ganhou a iluminação, com 35 anos, até finalizar sua vida, com 80 anos de idade, não se fixou em nenhum lugar, sempre andando, andando, pregando o ensinamento durante 45 anos em mais de 360 lugares diferentes. Na última parte de sua vida, ficando velho, uma vez uma pessoa ofereceu-lhe uma flor e pediu, "por favor, dê um sermão com esta flor". Essa flor chamada "udombara" abre uma vez a cada cem anos ou uma vez a cada mil anos, ou seja, é algo muito raro. "Por favor, dê-nos um sermão sobre esta flor", pediu a pessoa. Buda aceitou a flor e todos ficaram esperando o que haveria ele de dizer. Nesse momento Buda não falou nada, apenas mostrou a flor diante da congregação dos monges. Mas aconteceu que entre os monges estava Makakasho, um dos primeiros de seus discípulos e posteriormente seu sucessor, que então, em meio à assembleia, abriu um grande sorriso. Geralmente Makakasho fazia um treinamento muito duro. Ele tinha nascido em uma família da elevada casta dos brâmanes, e mantinha o treinamento de simplicidade de vida, tanto em roupa como em comida e moradia. Não buscava luxo, nem comida de monges, apenas aceitava o que ganhava. Assim era o seu esforço: treinamento duro, cara fechada. No entanto, ele abriu o sorriso! Vendo isso, vendo o sorriso de Makakasho, Buda disse: "Eu tenho o Shobogenzo, o tesouro que é o Olho do Darma Correto, e transmiti tudo a Makakasho". Assim foi transmitido a Makakasho o ensinamento essencial de Buda; todos viram, mas nada entenderam do que havia efetivamente se passado. Então Buda passou, como símbolo de transmissão, o kesa, ou seja, o seu manto dourado, e uma tigela que ele usava sempre. Além de Makakasho ter recebido a tigela e o manto, recebeu uma coisa especial, a palavra secreta! Já Mestre Eckart diz: "0 que eu ouvi do Pai, não escondi de vocês." É isto. Mestre Eckart viveu aquela experiência original, escutou a palavra de Deus e por isso dispôs-se a falar sobre essa palavra. Mas para falar essa palavra ele tem que tê-la ouvido e tem que ter a força para que a pessoa possa também a ouvir. Os que quiserem ouvir devem estar preparados. Precisam de silêncio, precisam estar afastados da prática do ego, só nesse momento você pode escutar. O koan do mestre Ungan Donjo ao ministro se dá no contexto desta experiência de transmissão. Assim, além da transmissão via tigela e manto, houve algo muito especial transmitido, como entre pai e filho, somente como entre pai e filho. Outra pessoa, mesmo vendo, não compreende. Mas Mestre Eckart diz, "do que ouvi nada escondi para vocês". E assim, na verdade, para escutar essa palavra você tem que se retirar. Nesse momento, então, o que acontece? Unidade! Unidade é intimidade. Buda torna-se "um" com o discípulo. O pai treina o filho, é isto, e assim o filho torna-se o pai também. Trindade é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, mas mestre Eckart diz "Gotheit", origem de Deus. Antes de termos as três coisas se aradas temos uma unidade aonde retornamos. Então o Pai tornou-se Filho. Há uma outra história que mestre Eckart conta. Havia um casal, marido e mulher, e por acidente ou doença ela perdeu a visão. Ficou muito triste, mas o marido a tratava com muito carinho, e a consolava. A esposa falou, "estou triste não porque perdi a visão, mas porque por isso vou perder o seu amor". Mas o marido disse, "você não precisa preocupar-se, eu gosto de você, eu a amo", e, tomando uma agulha, furou seus olhos e disse "bem, agora estou cego igual a você". Da mesma forma, Deus está lá, absoluto, eterno, paz infinita, mas escolhe fazer-se carne e vir ao mundo, e, perdendo a visão, fica igual a nós. Jesus Cristo é Pai, Filho e Espírito Santo. Jesus Cristo é Pai também. É assim que mestre Eckart expressa como nasceu o único Filho de Deus. O Cristianismo tem certas dificuldades quanto a este aspecto; pode gente tornar-se Deus? Não. Já no Budismo não há isto. Buda significa "desperto". Todos temos a natureza de Buda e então temos a possibilidade de tornarmo-nos Buda também. Pode o Cristianismo dizer que as criaturas venham a tornar-se Deus? Parece difícil. Mas para Eckart, sim! Quando escutar a palavra de Deus, a palavra secreta, oculta, eterna, interna, você se torna o único Filho de Deus. Tornar-se Filho significa adquirir a capacidade de ser Pai. Neste mundo, todos querem viver eternamente, mesmo sabendo que devem morrer. Então como fazem? Casando-se (...), virão os filhos. Como os filhos até certo ponto têm a mesma qualidade dos pais, ao crescer vão casar-se e por sua vez terão filhos. Dessa forma algo transmite eternamente. O desejo sexual não é só prazer não, é a necessidade imensa de viver eternamente. Com a religião é diferente, é entrar naquela dimensão absoluta onde não há mais nascimento e morte, é o estado eterno, absoluto. Isto é nirvana, e vivendo-se este estado de nirvana não há mais vida e morte. Religião é isso, e dessa maneira vive-se eternamente. Texto gentilmente cedido pelo Centro de Estudos Budistas Bodisatva. www.sotozencuritiba.org.br. Abraço. Davi.