quinta-feira, 29 de outubro de 2020

DISCERNIMENTO ESPIRITUAL

 

Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. VIJNANA YOGA. Capítulo Sete. DISCERNIMENTO ESPIRITUAL. Neste e nos seguintes cinco capítulos expõe-se a doutrina de KRISHNA e a melhor maneira de praticar RAJA-YOGA. Esta parte trata do conhecimento espiritual. Isto é, do despertar da consciência da Divindade no homem. Deus é Amor, e por conseguinte, pode-se obter a consciência da Divindade só pela força do Amor Divino.

 

KRISHNA, o Verbo Divino, continua: Escuta as minhas palavras, ó Arjuna, para saberes como verdadeiramente e sem dúvida me conhecerás, se fixares em mim a tua mente e em mim descansares o teu coração

 

Eu te instruirei na sabedoria maravilhosa dos homens e dos deuses, sem reserva nem restrição; aprendendo estes ensinos, adquirirás o saber perfeito, e saberás tudo o que pode ser sabido por um homem.

 

Poucos são os homens que, no meio dos milhares da raça, têm suficiente discernimento para desejar chegar a PERFEIÇÃO. E, destes poucos, tão raros são os que a procuram com sucesso, que se acha apenas, cá e lá, alguém que me conhece em minha natureza essencial.

 

Em minha natureza, há oito formas elementais, conhecidas como: Terra, Água, Fogo, AR, ETER, MENTE, RAZÃO e CONSCIENCIA INDIVIDUAL.

 

Mas, além destas formas da minha natureza material, possuo uma natureza espiritual SUPERIOR e MAIS NOBRE: é o PRINCÍPIO que VIVIFICA E SUSTENTA O UNIVERSO.

 

Sabe que os elementos de que falei são a matriz de toda a CRIAÇÃO. Eu, porém, sou a fonte de que toda a CRIAÇÃO provém e à qual tudo volta: EU SOU o PRINCÍPIO DA CRIAÇÃO e da DISSOLUÇÃO DO UNIVERSO.

 

Acima de mim, não há nada. Todos os objetos do UNIVERSO dependem de mim e por mim são sustentados, assim como as pérolas dependem do fio que passa por elas todas, unindo-as e sustentando-as.

 

EU SOU o líquido da água; EU SOU a luz do Sol e da Lua; EU SOU a sílaba sagrada AUM (1); EU SOU o cântico dos livros sagrados; EU SOU a harmonia dos sons que vibram no ÉTER; EU SOU a virilidade dos homens. (1). Aum é o símbolo do Ser Supremo. A, simboliza o Criador ou Pai. U, o Conservador, Salvador ou Filho. M, tipifica o Destruidor, Renovador ou Espírito Santo.

 

EU SOU o perfume da Terra e o esplendor do Fogo; EU SOU a vida de todos os vivos; EU SOU a YOGA, a santidade dos santos.

 

EU SOU a semente eterna e imortal de todos os seres. EU SOU a sabedoria dos sábios, a razão dos racionais, a glória dos gloriosos, a nobreza dos nobres.

 

EU SOU a força dos fortes, livres de toda a avidez e paixão. EU SOU o AMOR PURO em todos os seres, que não pode ser proibido por lei alguma.

 

AS TRÊS QUALIDADES da minha natureza: a HARMONIA, a ATIVIDADE e a INATIVIDADE, as quais também se manifestam como a LUZ da VERDADE, o desejo da paixão e as trevas da ignorância, em mim têm o PRINCÍPIO e estão em mim, mas EU NÃO dependo delas (2). (2). Deus é superior natureza. A natureza não é Deus, mas é uma manifestação da força Divina. Deus está na natureza, mas não se limita a ela.

 

O mundo dos homens, achando, achando-se sob o domínio da ilusão dessas três qualidades da natureza, não compreende que EU SOU superior a elas, e conservo-me intacto e imutável no meio dos inúmeros acontecimentos e mudanças

 

Esta ilusão é muito forte, e tão denso é o seu véu que é difícil aos olhos humanos penetrá-lo. Só aqueles que a mim se dirigem e se deixam iluminar pela CHAMA que está detrás da fumaça vencem a ILUSÃO e chegam até mim.

 

Malfeitores e tolos não me procuram; nem aqueles que nutrem pensamentos baixos; nem aqueles que vêm, no vasto espetáculo da natureza, somente o jogo das forças, sem diretor. Nem aqueles que extinguiram em si a CENTELHA DA VIDA ESPIRITUAL e se tornaram plenamente materiais.

 

HÁ QUATRO CLASSES DE GENTE que a mim se dirigem: os INFELIZES, os que INVESTIGAM A VERDADE, os BONDOSOS e os SÁBIOS.

 

De todos eles, ó Arjuna! os SÁBIOS SÃO OS MELHORES, porque me reconhecem como o SER UNO, e incessantemente, a mim dedicando a sua VIDA, amam-me sobre tudo, e EU OS AMO com o mais intenso AMOR.

 

Todos os que me adoram são bons e todos a mim chegarão; mas o SÁBIO que se me entrega todo, sujeitando-se em tudo à minha vontade, é como o meu PRÓPRIO EU, repousando em mim, que SOU o seu alvo final.

 

Depois de MUITAS VIDAS, em que ACUMULEI SABEDORIA, vem o SÁBIO A MIM, e, realizando a sua UNIÃO COMIGO, compreende que o HOMEM PERFEITO é idêntico ao UNIVERSO (3). Poucos há que chegaram a este grau de adiantamento. (3).  O homem perfeito é chamado nas Escrituras Sagradas védicas de Vasudeva – Filho do Homem.

 

Os outros, por falta de conhecimento, impelidos a esta ou aquela deidade, com vários ritos e cerimoniais, vão a outros deuses. Todos acham o que procuram, DE ACORDO com a sua natureza.

 

Hás de saber, entretanto, ó Arjuna, que a VERDADE, apesar de ser desconhecida pelos FANÁTICOS e INTOLERANTES, é esta: Que, ainda que os homens adorem vários deuses e várias imagens, e tenham diferentes concepções da deidade adorada, e até pareçam as suas ideias ser contraditórias entre si, TODA A SUA FÉ SE INSPIRA EM MIM.

 

A SUA FÉ, em seus deuses e imagens não é senão a alvorecer da FÉ EM MIM; adorando essas formas e concepções, eles querem adorar A MIM, sem o saberem. E, em VERDADE te digo, EU ACEITO e recompenso essa fé e adoração, uma vez que seja honesta e conscienciosa. Esses homens fazem o melhor que podem, conforme o estado de seu desenvolvimento, e receberão os benefícios que procuram, CONFORME SUA FÉ. Todo benefício, porém, EMANA DE MIM. Tal é o MEU AMOR, a MINHA RAZÃO e a MINHA JUSTIÇA.

 

Mas lembra-te, ó príncipe, que as recompensas desses desejos momentâneos, finitos, perecíveis, são igualmente de POUCO DURAÇÃO. Os homens que adoram os deuses inferiores, as caricaturas e sombras IMPERFEITAS DE DIVINDADE, vão aos MUNDOS DAS SOMBRAS, governados por esses deuses-sombras. Mas aqueles que são sábios e capazes de me conhecer COMO SOU, UM e TUDO, vêm A MIM, ao MEU MUNDO DE REALIDADE, onde não há sombras, onde tudo é real. Até mesmo a CHAMA que faz a SOMBRA desaparecer.

 

Entre os homens, há muitos que, faltando-lhes o DISCERNIMENTO, pensam de MIM – O IMANIFESTO EM ESSÊNCIA – como se EU fosse manifesto e visível a seus olhos. Sabe, porém, ó Arjuna, que, em MINHA ESSÊNCIA, NÃO SOU manifesto ou VISÍVEL aos homens.

 

Detrás das minhas FORMAS EMANADAS, EU permaneço INDESCOBERTO e INVISÍVEL ao ignorante. INATO E IMORTAL SOU EU, mas o mundo obscurecido pela ilusão não o discerne, pensando que a sombra é a SUBSTÂNCIA.

 

EU BEM conheço todos os inumeráveis seres que existiram no vasto UNIVERSO, em todas as épocas passadas. Igualmente conheço todos os que existem presentemente; e, além disso – GRANDE MISTÉRIO para os homens, ó príncipe – conheço todos os que, no FUTURO, hão de aparecer no CAMPO DA EXISTÊNCIA. Mas todos os seres, passados, presentes ou futuros NENHUM ME CONHECE plenamente. EU OS TENHO todos em minha MENTE, mas as suas mentes não podem conter-me em minha essência.

 

Os seus olhos vivem enganados pela DUALIDADE DOS CONTRASTES, ó Arjuna, e em vez da UNIDADE, vêm as FORMAS OPOSTAS e de gosto e desgosto, simpatia e antipatia, desejo e aborrecimento.

 

Porém, não são todos assim; há um pequeno número de homens que se libertaram dessa ILUSÃO DA DUALIDADE DOS CONTRASTES, vencendo o EGOÍSMO e os PECADOS. Estes me conhecem como UM e TUDO e, firmes em sua vontade, constantes em SEU AMOR e sua DEVOÇÃO, comigo se unem e a MIM pertencem.

 

Os que em MIM se refugiam e a MIM pertencem, repousando EM MIM como a criança no seio da MÃE, esforçam-se por se libertar dos VÍNCULOS DA MORTALIDADE e reconhecem-me como BRAHMA, como o EU REAL, o INFINITO, O ETERNO, o ABSOLUTO.

 

 

Eles sabem que EU SOU Adhyatman – A ALMA DAS ALMAS. Karma – a LEI DA CAUSALIDADE. Adhibhuta – PRINCÍPIO UNIVERSAL DA VIDA. Adhidaiva – DEUS dos DEUSES, a Deidade Suprema. Adhiyajna – o Supremo Sacrifício. Quem assim me conhece, e com o CORAÇÃO cheio de AMOR e COM A MENTE FIRME em MIM pensa, na hora da morte comigo se UNIRÁ PARA SEMPRE. Livro Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi.

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

OS QUATRO COMPARTIMENTOS DO COSMO II

 

Religião Afro-brasileira. Candomblé. Livro O Candomblé da Bahia Rito Nagô. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018). OS QUATRO COMPARTIMENTOS DO COSMO II. O papel dos Orixá é, pois, estabelecer uma classificação das plantas no caos da natureza selvagem, de tal modo que permita o uso racional delas pelo Olosaim. Esta classificação é certamente muito diferente da de um Linneu, mas não deixa de ser uma tentativa de interpretação do mundo vegetal ao mesmo título que a daquele sábio. Obedece a outras regras, mas obedece a regras. Podemos distinguir duas utilizações das "ervas", a utilização religiosa como por exemplo na lavagem da cabeça yauô, e a utilização medicinal. No primeiro caso, a regra em ação é simbólica, no segundo caso a regra é participante. As ervas estão ligadas a esta ou àquela divindade, de acordo com as analogias que podem apresentar para com ela. Por exemplo, a cor de Oxalá sendo o branco, o tapete de Oxalá cujas folhas são circundadas por uma espécie de pelo branco, e o algodão, que no arrebentar das sementes deixa escapar a brancura imaculada de seus flocos, são atribuídos a Oxalá. A folha de fogo, que tem um colorido avermelhado, a dormideira vermelha ( mas somente a desta cor) são atribuídas a Xangô e a Yansan porque a cor destes dois santos é o vermelho. Existe também certo parentesco entre a cor das vestes, a das contas do colar e o das ervas de cada divindade. Outras vezes, porém, é a forma em lugar da cor que se leva em consideração; por exemplo, a espada de Ogun tem a forma de uma faca, o Ogun é o deus de ferro, o rei da guerra, o padroeiro dos assassinos; a casadinha apresenta sobre as folhas uma espécie de montículos, como que verrugas que lhe dão o aspecto das pústulas cobrindo o corpo de Omolú, o santo da varíola. E se a urtiga é igualmente atribuída a esta divindade, é porque quem nela se esfrega apanha coceiras semelhantes às de diversas dermatoses. Os olhos de Santa Luzia pertencem a Yemanjá Porque parecem, na verdura dos campos, pedaços minúsculos ao mar mirando o azul do céu. Noutros casos o que importa é o perfume, pois pode-se estabelecer correspondências entre os perfumes (os que saneiam a atmosfera, os acres, os voluptuosos) e o caráter das divindades de purificação - Oxalá; de luta - Ogun; da sensualidade - Oxun. Note-se que o emprego religioso das plantas não tem nada em comum com seu emprego medicinal. O rosmaninho, por exemplo, pertence a Oxalá devido ao perfume purificador e não às propriedades terapêuticas, pois não há ligação alguma entre a tosse, curada com infusões de rosmaninho, e o deus do céu. Se a espada de Ogun está ligada ao deus da guerra, é devido à sua forma e não por ser diurética. Eis porque os dados dos ervanários não podem nos servir para penetrar no mundo mental dos adeptos dos candomblés. Todavia, os Olosaim não são chamados apenas para preparar os banhos das yauô, mas também para curar os doentes. Existe, então, uma classificação medicinal das ervas; mas, como veremos, ela obedece também a outras preocupações diferentes das dos ervanários. Os Orixá estão ligados às várias partes do corpo humano. Existe uma anatomia mística, também, do mesmo modo que existe uma geografia mística do espaço. Esta anatomia vai responder à lei das correspondências, o microcosmo reflete o macrocosmo. Exú guarda as entradas, vigia as aberturas, é colocado no limiar da porta; comandará, pois, todas as vias bucais e das outras aberturas do corpo. Eis porque se ligará à carrapateira cujos grãos servem para fabricar rosários destinados a fazer desaparecer os papos, ou cuja infusão é empregada contra as inflamações dos gânglios do pescoço. Ou ainda ao caruru, que é considerado desobstruente, laxativo. Xangô é divindade do fogo; pune, pois, aqueles que lhe querem mal mandando-lhes febre, e as ervas que lhe serão atribuídas serão tidas como folhas febrífugas: folha de fogo, betis cheirosa. Oxalá considerado como abóboda celeste que cobre o mundo e também como divindade suprema correspondente à cabeça do homem; terá para si as plantas que combatem as cefaleias e outras doenças da cabeça: rosmaninho basilisco. Omulu corresponde à pele e castiga os que lhe querem mal enviando-lhes todas as doenças que a ela atacam, ou que atacam superficialmente a carne: dermatoses, erisipela, varíola, lepra. Como tais doenças começam muitas vezes a se manifestar por vômitos, terá sob sua guarda as plantas estomacais. Ou ainda, como as erupções cutâneas são interpretadas pelo povo como efeito do "sangue ruim" que quer sair, terá também sob sua jurisdição as diversas plantas depurativas, como o valame. Yemanjá e Oxun, divindades úmidas, comandam o ventre, e a última principalmente o baixo ventre; castigam enviando cólicas, atacando as partes genitais; pelas mesmas razões governarão, principalmente Oxun, as ervas antissépticas, desinflamatório como o malmequer. A virtude medicinal das plantas silvestres não é, pois, ignorada e neste ponto a arte do olosaim encontra a do ervanário; ou a dos curandeiros brancos e caboclos que abundam no sertão do Brasil, ao mesmo tempo demasiado extenso e muito pouco povoado para que o médico possa nele facilmente se integrar. Mas, enquanto o curandeiro ou o ervanário se interessam unicamente pelas propriedades terapêuticas, o olosaim formula a respeito uma explicação, tomando-as um elemento da teoria dos Orixá. Introduz imediatamente a planta num sistema classificatório e de correspondências: entre uma divindade e uma parte do corpo humano, entre esta parte do corpo humano e a planta salvadora, finalmente entre esta planta e seu Orixá correspondente. De tal modo que se fecha o círculo. Este pode ser percorrido em dois sentidos: da planta para o Orixá, e é assim que ela encontra seu lugar no sistema; do Orixá para a planta, e é assim que se compreende a gênese de sua virtude medicinal. Pois o santo faz adoecer e cura; é todo poderoso em relação a parte do corpo que lhe pertence; quando não lhe dispensam homenagens, pode desencadear sobre ele sua cólera; no entanto, se o devoto mostra arrependimento, concede a erva que cicatrizará a própria carne que feriu. Como se vê, o mundo dos homens, o mundo da floresta constituem dois reinos diferentes; mas um e outro estão presos ao mundo das divindades. Há ligação entre os acontecimentos vividos, as plantas selvagens, os Orixá que estão no céu. Estes últimos constituem o princípio de classificação que engloba em suas malhas todo o real, através da concepção das dependências. Nada tem de estranho este jogo de reflexos, uma vez que céu e terra são duas meias cabaças, sendo a de baixo simétrica da de cima. O domínio dos mortos, ao contrário, é radicalmente diferente. Lembremos que vivem no círculo de água que, no local exato em que ambas as cabaças se unem, encerra-lhes os bordos. Se, em lugar de partirmos da imagem concreta do mundo, tomarmos por base sua imagem "falada", isto é, a cruz formada pelos quatro odu e desenhada no capítulo precedente, chegamos à mesma conclusão. O braço de baixo é o reflexo do de cima na superfície tranquila da água, mas a linha vertical corta a linha horizontal em duas metades antagônicas, a do dia e a da obscuridade. Não há mais aqui imagem refletida, há direção em dois sentidos contrários. E possível objetar que a morte figura entre os odu. Mas é preciso não confundir morte que é acontecimento, com mortos que são seres, desencarnados sem dúvida, mas em todo o caso, seres. De tal modo que a ligação entre o terceiro reino, o dos babaloge, e os outros dois, não se realiza senão pela intervenção de Yansan. Mas note-se que esta ligação é uma relação de luta: Yansan combate contra os Egun. E ela, porém, que sai vitoriosa

da batalha, e assim a supremacia dos Orixá sobre o conjunto do cosmos permanece apesar de tudo assegurada, malgrado a heterogeneidade dos compartimentos em que está repartido. Na África, os Orixá são deuses de clãs; são considerados como antepassados que outrora viveram na terra e que foram divinizados depois da morte. Mas ao mesmo tempo constituem forças da natureza, fazem chover, reinam sobre a água doce, ou representam uma atividade sociológica bem determinada, a caça, a metalurgia; não são, pois, adorados apenas pelos descendentes, membros do clã, mas ainda por todos os que necessitam de seu apoio - camponeses que desejam boas colheitas, pescadores, ferreiros. Estes dois caracteres não são contraditórios. Seria lícito imaginar, seguindo a linha de pensamento de Mauss, por exemplo, a sociedade primitiva como formada por certo número de clãs, cada clã possuindo função ritual bem especializada que seria exercida a bem do interesse geral, do interesse do conjunto da tribo. Um clã estaria encarregado dos ritos de chuva, outro dos ritos da fecundidade animal, outro do apaziguamento do mar (...). Isto explicaria como e porque os antepassados míticos dos diversos clãs, depois de terem sido os donos das "magias" que agiam sobre as forças da natureza, acabavam por simbolizar estas próprias forças. A religião entraria na lei das trocas, dos dons e dos contra dons; ver-se-ia envolvida nesta complementaridade de serviços, e a unidade da etnia teria por base a divisão do trabalho religioso. Todavia, há ainda algo mais; sempre continuando na linha desta interpretação do pensamento de Mauss, e agora também de Durkheim, compreende-se a organização clânica da sociedade como o modelo da organização do cosmos; cada clã se vê ligado não apenas a um ritual apropriado, de que é o possuidor - sob condição de utilizá-lo em benefício da coletividade maior - mas também a toda uma série de cores, de plantas, de animais, a uma direção do espaço, a uma estação do ano. A estrutura social fornece o primeiro modelo para a estrutura do cosmos. Contudo, como dissemos em nosso prefácio, não queremos colocar problemas de gênese; além disso, nada nos permite supor que o social preceda em existência ao místico. A distribuição das coisas entre os clãs precederia ou não a distribuição dos clãs entre os deuses? Percebemos bem que existe um sistema estrutural ao qual estão presos ao mesmo tempo os grupos humanos e os grupos cósmicos; não podemos adivinhar se foi o metafísico ou o sociológico que serviu de primeiro princípio a esta classificação; se as coisas estão englobadas na classificação social; ou se o social se insere na classificação das coisas. Em todo caso, quando passamos da África para o Brasil, os clãs africanos desaparecem na confusão das misturadas étnicas, no caos das relações sexuais A escravidão destruí a sociedade tribal. o regime das grandes fazendas misturam raças e clãs. Os Orixá conservam, sim, seus mitos de antepassados divinizados, mas não são mais deuses de clãs; são deuses das confrarias religiosas especializadas. Perdem pois seus caracteres de chefes de linhagens. Aparecem daí por diante unicamente como personificações da tempestade, da guerra, do vento e do arco-íris. São personificações das diversas forças da natureza. Isso é o que os distingue das plantas de Ossaim. O que os torna um reino à parte do cosmos - se dirigem as forças da natureza, dirigem-nas do alto. Do céu em que habitam. Do céu de que formam a corte real. Se os laços entre os Orixá e os clãs se romperam persistem todavia os laços entre esses mesmos Orixa e as cores, as estações, etc. Mesmo aceitando a hipótese de Mauss e Durkheim sobre a origem social das primeiras classificações de conceitos, e não considerando o social como inserido numa categoria que lhe seria anterior. Aqui o fato é inelutável: no Brasil, a classificação não apresenta mais caráter sociológico; é puramente religiosa. Deixemos, pois, de lado hipóteses que não seriam de nenhum auxílio em nosso caso, e nem tentemos resolver o problema insolúvel da gênese. Nossa tarefa consiste somente em analisar o sistema dos Orixa, do ponto de vista de sistema classificatório das coisas. Todo santo está ligado a determinada cor, a certos metais, a certos animais, a certos fenômenos meteorológicos e também, como vimos, a certos acontecimentos e a certas plantas. Assim também a determinado espaço (mar, floresta ...) e a determinado tempo (este ou aquele dia da semana). É claro que não conhecemos todas as ligações; à medida que vamos mais e mais penetrando no mundo dos mitos, das lendas, ou que observamos melhor os comportamentos e atitudes dos membros do candomblé, seremos certamente levados a complicar, a aumentar o número de ligações já conhecidas. Mas mesmo não podendo afirmar que nosso quadro esteja terminado, é todavia suficientemente amplo para tornar bem evidente o caráter classificat6rio dos Orixá. Toda uma série de lendas explica ou justifica estas ligações por meio da própria história do santo. Basta tomar um único exemplo para dar ideia desta mitologia classificatória; nosso exemplo será Xangô. Se a cor de Xangô é a mistura de vermelho e branco é porque de direito o vermelho lhe pertence, como senhor do fogo; mas carregou nos braços seu velho pai Oxalá quando este, com os membros alquebrados, saía da prisão; daí por diante, em recordação deste gesto de afeição filial, mistura o branco, que é a cor de Oxalá, ao vermelho de suas vestes, entrelaça contas brancas às contas vermelhas de seus colares; mas o giz que lhe é consagrado permanece vermelho (o giz branco só serve para os desenhos de Oxalá). Na Bahia me foi contado outro mito que explica de maneira diversa a mistura das duas cores: Xangô estava muito enamorado de Oxun, filha de Oxalá, mas esta não consentiu em desposar o deus do raio senão sob condição de que este transportaria nas costas o velho pai que, devido à idade, estava incapaz de andar para ir à festa nupcial. Desde esta aliança, o vermelho de Xangô se casa ao branco de Oxalá. Se o carneiro é o seu animal, foi porque Xangô o encarregou de se apoderar pela astúcia do martim-pescador, com o fito de puni-lo de sua indiscrição pois, muito falador, contava tudo o que se fazia em casa. Se Xangô adora quiabos (Hibiscus esculentus), é porque este alimento lhe fez esquecer a rivalidade com Ogun e até mesmo seu amor por Oxun. Assim, as menores participações, as menores ligações estão sempre justificadas por histórias apropriadas. E o que acabamos de dizer para Xangô, vale naturalmente para todos os outros Orixá. Estas biografias dos deuses não interessam ao nosso trabalho. Podemos deixá-las de lado para examinar apenas a classificação das coisas em categorias divinas. Ora, aqui deparamos com uma primeira dificuldade. Cada Orixá é múltiplo: há, por exemplo, doze Xangôs, dezesseis Oxun, dezessete Yansan, vinte e um Exú. Como explicar esta multiplicidade e a determinação dos diferentes algarismos? Uma ialorixá a quem coloquei a questão, deu-me interpretação sociológica: os africanos trazidos como escravos pertenciam a múltiplas tribos, cada

qual com seu Oxalá, seu Omolú, seu Ogun. No Brasil, estas etnias mantiveram seus cultos, reconhecendo que, sob nomes diferentes, adoravam no fundo as mesmas divindades. Daí a justaposição dos nomes e a multiplicidade dos Orixá. Há algo de certo nesta explicação. Cada candomblé pertence a uma "nação" e cada "nação" dá nomes diferentes aos seus deuses. Por exemplo, Oxalá se chama Lembá nos terreiros Congo, Lembarengangá nos terreiros Angola. Exú é denominado Legba nos candomblés de origem Dahomeana e Bombonjira nos de origem Banto. Assim como Oxun tem o nome de Aziri nos primeiros de Kissimbi nos segundos. Mas não são estas designações étnicas que constituem problema para nós; além destas variações de "nação" para ''nação", há pluralidade de Xangô, de Ogun, de Exú, dentro de uma mesma etnia. E por outro lado, se a sociologia oferecesse a chave do problema, não encontraríamos algarismos diferentes ao passar de uma divindade para outra. Pois somente um acaso extraordinário faria se terem reunido indivíduos pertencentes a 12 clãs de Xangô, 7 clãs de Ogun, dezesseis clãs de Oxun, tanto mais que os algarismos destas divindades são justamente doze, sete e dezesseis. Cada uma das sub divindades possui seus mitos especiais. Por exemplo, o mais velho de todos os Xangô, Aira, é que foi encarregado de reconduzir o velho Oxalá ao reino de seu filho, Oxaguian. Oxun Ioni é o centro de um mito que não encontramos na história de outras Oxun: Oxun era rainha de um grande e rico território. Este foi invadido pelos Ioni, atraídos pelo renome desta riqueza fabulosa. Triunfaram da rainha, se apoderaram da capital, saquearam o país, tomaram conta da fortuna da soberana. Oxun, para não ser aprisionada, foi obrigada a fugir aproveitando a escuridão da noite; subiu numa jangada e dirigiu a deus uma oração fervorosa. Depois, sob inspiração divina, pediu a seus súditos que preparassem abará e deixassem nas margens. Quando os invasores chegaram à beira da praia, estavam famintos, se precipitaram sobre os abará, que comeram. Dentro não havia veneno e sim força divina. Todos caíram mortos. E assim Oxun pode retomar posse, ao mesmo tempo de sua fortuna e de seu território. Daí por diante, devido à vitória, tomou o nome de Oxun-Ioni. Esta diversidade de nomes e de lendas permite-nos alvitrar que cada uma destas sub divindades deve desempenhar função diferente; com efeito, é o que parece se dar. Por exemplo, vimos que a apetebi era forçosamente uma filha de Oxun, mas não de qualquer Oxun: unicamente de Yaba Omi. Vimos igualmente que Yansan tinha vencido a morte e que por esta razão intervinha no axêxê e na sociedade dos Egun; mas aqui também não se trata de qualquer Yansan e sim de uma das dezessete Yansan cujo nome não me disseram, mas que talvez seja Muria-Yansan (nome do personagem que a representa na festa de Egun). Do mesmo modo, entre os vinte e um Exú, existe um que está encarregado do que se passa na rua, é Olodé, outro é escravo de Oxalá, AteJú; um vela sobre os portões, outro reina sobre as encruzilhadas; um é malvado, outro é protetor das habitações. Página 203. Abraço. Davi

terça-feira, 27 de outubro de 2020

O CARMA É ALGO CRIADO POR NÓS. E TUDO O QUE É CRIADO PODE SER ALTERADO

 

Budismo. www.odsalling.org. Entrevista do Lama Tsering concedida ao site Vya Estelar. “O CARMA É ALGO CRIADO POR NÓS. E TUDO O QUE É CRIADO PODE SER ALTERADO”. Vya Estelar - O que são e quais são os venenos da mente? Lama Tsering - Os venenos da mente são divididos em três categorias principais. A primeira é o apego ou desejo, que inclui o ficar preso física ou mentalmente a pessoas, objetos e fenômenos. A segunda é a raiva, que significa rejeitar, não querer, afastar algo de você. O terceiro é a ignorância, que significa não ter uma noção clara da vida, não compreender a natureza verdadeira das coisas. Estes venenos agem de maneira interdependente. O que ocorre é que, quando não temos uma visão real da vida, acabamos criando desejos e apegos. E quando não conseguimos o que queremos, criamos aversão e ficamos com raiva. Os venenos da mente agem como toxinas, criando energias mentais negativas. Estas energias são expressas em nossas ações, palavras e pensamentos, causando um sofrimento cíclico, em cadeia, que se repete infinitamente. Vya Estelar - Existem 84.000 venenos na mente? Lama Tsering - Sim. Eles são uma combinação dos três venenos principais, sendo que podemos adicionar a eles o orgulho e a inveja. Estas combinações vão ficando cada vez mais sofisticadas e representam as diferentes formas errôneas com que nossa mente pode atuar. Vya Estelar - A raiva seria o principal veneno da mente? Lama Tsering - A raiva é o veneno mais grosseiro e o que traz as conseqüências mais terríveis, cruas e diretas. O desejo é mais sutil e, em nossa sociedade atual, é até mesmo considerado uma coisa boa, apesar de trazer tanto sofrimento. Mas o veneno fundamental, realmente, é a ignorância, é o não reconhecimento da natureza verdadeira dos fenômenos. Não podemos dizer que a ignorância seja o pior veneno, mas ele é o primeiro, o que dá origem a todos os outros. Vya Estelar - Como fazer para eliminar a raiva ou domá-la? Lama Tsering - Há várias formas para começar a lidar com nossos venenos mentais. A primeira coisa a ser feita é reeducar-nos, no sentido de identificar os venenos em nossa própria mente, suas conseqüências e o que podemos esperar deles. Parece óbvio dizer que temos que nos reeducar, mas não é. Por exemplo, achamos que é OK ficar com raiva quando alguém faz algo errado conosco, nos fere, é injusto. E não é OK. A raiva é um veneno mental e produz experiências dolorosas para quem a sente, não importando se o motivo que a tenha criado seja "aparentemente justificável". Você tem que ser educado para saber que não deve tomar veneno de rato, por exemplo. Se você entender isso, vai saber que, se tomar veneno de rato, ainda que o gosto seja doce, sofrerá um dano imenso. Vya Estelar - Há um senso comum entre as pessoas de que devemos expressar nossa raiva, "pôr para fora". O Budismo acredita nisso de alguma forma? Lama Tsering - Não, o Budismo não acredita nisso, porque os venenos da mente agem como um bumerangue. Se você atirar sua raiva adiante, o que você vai receber de volta é mais raiva. Nós compreendemos que nossas ações, palavras e pensamentos são como bumerangues, e não como uma bola, que jogamos em direção a alguém e lá ela fica. O bumerangue é atirado adiante e ele volta. Quando não entendemos essa regra básica, nos tornamos nossas próprias vítimas e, feridos e ignorantes, jogamos o bumerangue de volta, causando sofrimento atrás de sofrimento. O Senhor Buda ensinou que é importante termos paciência, mesmo quando momentos difíceis acontecem, porque estes momentos são resultado de bumerangues lançados por nós mesmos, anteriormente. Se um bumerangue estiver voltando, aceite-o, tenha paciência, deixe que ele caia. Não atire mais três ou quatro de volta, porque eles também vão voltar. Vya Estelar - É melhor "engolir" a raiva? Lama Tsering - Melhor engolir do que cuspir de volta. Mas engolir também não ajuda. Por isso, precisamos nos reeducar. Temos que refletir e contemplar as consequências dos venenos mentais, para começamos a obter elementos para lidar com eles. No entanto, o que precisamos realmente é cortar esses venenos. E isso conseguimos fazer através da meditação. Mas, enquanto não desenvolvermos estas técnicas de contemplação e meditação, precisamos evitar a raiva. Se ainda não tivermos os meios hábeis para lidar com a situação, é melhor correr do que reagir. Ou talvez você deva segurar sua respiração por um instante e esperar a raiva passar. Quando você estiver um pouco mais treinado, talvez não precise correr nem prender a respiração, e consiga converter a situação negativa em amor e compaixão. Talvez consiga transformar a raiva, lembrando-se de que todos querem ser felizes, e as pessoas fazem o que fazem porque acham que aquilo trará felicidade. Ao lembrar-se disso, pode cultivar a compaixão e ver que você e aquela pessoa não são diferentes: você já agiu raivosamente antes porque achava que aquilo o faria feliz. E, compassivo pelo fato de que aquela pessoa não sabe das consequências que a raiva traz, você converte sua emoção negativa em emoções positivas, como amor e compaixão. E mais tarde, quando você já estiver ainda mais treinado, poderá não apenas converter o negativo em positivo, mas liberar as emoções negativas em sua própria essência, cuja natureza é a perfeição. Grandes mestres e praticantes lidam com sua raiva dessa forma. A raiva ocorre, mas ela é livre, assim como as nuvens, que ocorrem mas dançam livres no céu. Vya Estelar - O que é a impermanência? Lama Tsering - Encare sua vida como se fosse um banco no parque, em uma tarde de clima ameno. Você vai até lá passar algumas horas, sentado, aproveitando tudo ao máximo: a brisa fresca, os pássaros cantando, as borboletas, o sol batendo no rosto. Tudo aquilo dura pouco tempo e vai chegar ao fim. Por isso, você deve aproveitar o momento e criar boas condições. Você não deve se apegar ao banco. Não tente colocar uma etiqueta nele com o seu nome, querendo mantê-lo para você! Isso vai impedi-lo de sentir o prazer e a liberdade de estar lá, simplesmente sentado. E se alguém se sentar com você, seja gentil, tratando-a com amor e compaixão. Não brigue com esta pessoa. Seu tempo é muito curto. Vocês estão ali apenas de passagem. Ao lembrarmos de que tudo na vida é impermanente e chega ao fim, podemos ser generosos com ela, sabendo que provavelmente ela nunca pensa no fato de que terá que deixar o banco em breve, assim como você. Todos nós queremos manter as coisas e não conseguimos. Temos que ter compaixão por elas, e por nós mesmos. Compreender a impermanência nos faz ricos: temos tudo neste momento e podemos ser generosos, abertos, decididos a fazer o que pudermos para beneficiar a todos com o nosso amor, sem medo de perder. Vya Estelar - É possível reduzir o carma? Lama Tsering - Sim, o carma é purificável através da educação e da meditação. O carma é algo criado por nós, e tudo o que é criado pode ser alterado. Só o que está além da criação - como a natureza absoluta da nossa mente - não pode ser alterado. Há duas formas de eliminar o carma negativo: uma delas é experienciar as situações da vida sem rejeitá-las, e recebê-las com amor e compaixão, transformando carma negativo em positivo; a outra forma é purificar o carma negativo antes de vivenciá-lo, e ir além do carma, não importando se ele é positivo ou negativo. Esta segunda maneira de abordar a questão é crucial, mas só pode acontecer depois de treinarmos nossa mente através de avançadas técnicas de meditação. De maneira mais imediata, a melhor coisa a ser feita é transformar carma negativo em carma positivo. Mas precisamos ter em mente que produzir carma positivo não é uma solução absoluta para nosso sofrimento. Porque todo carma, positivo ou negativo, é impermanente. Isso significa que, seja qual for o resultado positivo que você crie, ele também vai mudar, mais cedo ou mais tarde. É um ciclo: o que é positivo se transforma em negativo e o que é negativo, em positivo. A única saída é obter a realização da iluminação e tirar você e sua mente deste sistema cíclico de existência. Enquanto isso não ocorre, faça seu melhor e crie condições positivas para suas experiências futuras, aceitando o seu carma, vivendo-o da melhor forma possível e o purificando. Vya Estelar - Como fazer para terminar um relacionamento com alguém com quem não combinamos muito, sem criar carma negativo e nem sofrimento? Lama Tsering - Podemos dizer que a principal religião de nossa sociedade atual é o amor - nossas músicas, nossos filmes e nossos anseios são todos a respeito de relacionamentos - e, no entanto, nós nem ao menos sabemos o que é o amor. As pessoas se preocupam muito com os relacionamentos mas, na verdade, elas se preocupam mesmo é consigo mesmas. Elas querem ter um amor porque isso fará com que elas se sintam bem.

E o Budismo traz um novo paradigma a este respeito: amar é querer que o outro seja feliz. Ao amar, devemos nos preocupamos com o bem-estar do outro e não em atender aos nossos interesses. Se você está com uma pessoa, é por causa do carma. Enquanto estiver com ela, você deve fazê-la o mais feliz possível. E se você deve terminar ou não o relacionamento, vai depender se isso vai fazê-la mais feliz ou mais infeliz. Sua preocupação não deve ter nada a ver com a sua própria felicidade. Se você tiver isto em mente, é mais provável que tome a decisão mais correta. O relacionamento vai acabar de um jeito ou de outro. Lembre-se da impermanência: você e a outra pessoa não duram para sempre. O próprio relacionamento é impermanente e vai acabar naturalmente, quando não houver mais carma entre vocês. Então, aproveite o momento, e não se esqueça de pensar no bem-estar dos demais, mais do que no seu próprio. Isso é libertador. Entrevista de Lama Tsering concedida ao site Vya Estelar. www.odsalling.org. Abraço. Davi

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR

 

Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. ATMA SANYAMA YOGA. Capítulo Seis. MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR. Neste capítulo se expõe com se realiza a união com o Ser Supremo, mediante a santificação interior, e a meditação.

 

1. O Verbo Divino: Ouve as minhas palavras, ó Arjuna! Quem cumpre honestamente o seu dever da melhor maneira que lhe é possível, sem nutrir desejos de ser recompensado é, ao mesmo tempo, um asceta e um homem de ação; não aquele que simplesmente prescinde de ritos e sacrifícios.

 

2. Sabe, ó príncipe, que a Reta Ação, praticada com o conhecimento da verdade, é a melhor renúncia, o melhor ascetismo. Porque este consiste em verdade só no desinteresse e, se a ação não é acompanhada pelo conhecimento inteligente da renúncia dos resultados, não merece o nome de Reta Ação.

 

3. Nos primeiros degraus do Caminho da Perfeição, ensina-se que o aspirante deve praticar a reta ação para ganhar os melhores méritos. Quando o discípulo atingiu a sabedoria e o conhecimento, e libertou-se do apego às obras, explica-se que a calma meditação e a paz serena da mente são os melhores para conduzi-lo ao alvo. A cada um dá-se conforme as necessidades e o grau de seu desenvolvimento.

 

4. Quando o homem está livre do apego aos frutos das ações, e à ação mesma, e aos objetos do mundo dos sentidos, então atingiu o mais alto grau da Reta Ação, e tornou-se um yogi perfeito.

 

5. Cada um deve elevar-se espiritualmente pela força que lhe dá o Espírito divino, e não inferioriza-se. O Eu Real, isto é, o Espírito do homem, é o amante do homem e o seu melhor amigo; mas ao ignorante pode parecer que é seu inimigo porque tende a aniquilar o seu sentimento de personalidade separada.

 

6. O Eu Real é o amigo daquele que domina o seu eu pessoal, inferior; porém, se a alma não alcançou ainda o Conhecimento, pode parecer-lhe que o Eu Real é o seu maior inimigo, porque quer libertar a alma ignorante das ilusões e dos erros que se lhe tornaram agradáveis.

 

7. A Alma do homem que chegou ao conhecimento do Eu Real em si mesmo permanece quieta e calma, contente e meiga, não se alterando pelo frio nem pelo calor, nem por sofrimento nem por prazer, nem por aquilo que o mundo chama honra ou desonra.

 

8. O sábio yogi contentá-se com a ciência e com o conhecimento da Humanidade Divina; ele dá igual apreço a um pedaço de barro como ao ouro ou a uma pedra preciosa.

 

9. É afável para com todos, com igual amor e fraternidade a todos trata, sejam amigos ou inimigos, parentes ou não, compatriotas ou estrangeiros, santos ou pecadores, bons ou maus.

 

10. O yogi senta-se num lugar isolado e entrega-se à meditação e a profundos pensamentos. Dominando a mente e o corpo pelo Eu Real, é livre de opiniões e de expectativas egoístas.

 

11. Senta-se num lugar limpo, nem demasiado alto, nem demasiado baixo; cinge-se com um pano ou como o couro de antílope preto, e repousa sobre verbenas (1)

(1). O plano é o símbolo da castidade, o antílope é o símbolo da delicadeza do sentimento; a verbena (erva "kusha") é o símbolo da firmeza. O yogi deve ser casto, delicado e firme.

 

12. Assim sentado, domina a sua mente e dirige o pensamento a um ponto de concentração, retendo, ao mesmo tempo, as impressões dos sentidos e não deixando entrar na mente pensamentos que vagueiam. Nessa posição, conservando calma e persistência, purifica a sua alma, dirigindo a consciência ao Eu Real, ao Absoluto, que é a base de todos os seres.

 

13. Tem sob domínio e imóveis a sua cabeça, a nuca e todo o corpo, de acordo com os costumes tradicionais dos yogis; fixa o olhar no Eterno e Infinito, não olhando para nada do mundo dos sentidos, que o rodeia.

 

14. Com o ânimo tranquilo o sereno, livre do medo, inabalável em seu propósito, refreando a sua vontade, em silêncio permanece, pensando em Mim e em Mim se imergindo.

 

15. O yogi que, desta maneira, se exercita em devoção e, praticando o domínio mental, une-se com o Eu Real, passa para o estado de Paz e Bem-aventurança que só em Mim se encontram.

 

16. A união mística com a Divindade não é atingível, porém, para aquele que é comilão, nem para quem jejua demasiadamente, nem para o dorminhoco, nem para quem se debilita por demasiadas vigílias. Quem quer ser yogi, há de evitar os extremos e seguir o dourado caminho do meio.

 

17. A ciência yogi, que destrói o sofrimento, é realizável para os que observam moderação e temperança em comida e recreio, em ação e descanso; par que aqueles que, fugindo do mal do excesso em ação, não caem no mal oposto do excesso em repressão.

 

18. Quando um homem tem o pleno domínio de si mesmo, e conserva a sua mente fixa no Eu Real, e não anseia nenhum objeto desejável, merece o nome de yukta, "cheio de graça".

 

19. A sua mente tornou-se estável e firme, como a chama da lâmpada que está colocada num lugar aonde não tem acesso o vento.

 

20. A mente do yogi se deleita na contemplação do Eu Real e acha no seu interior o contentamento e a felicidade.

 

21. Cheio de indizíveis delícias, inerentes às esferas espirituais que se estendem além dos sentidos, o yogi permanece firme na contemplação da Verdade.

 

22. Ele sabe que não há coisa melhor, nem maior satisfação, do que esse estado de Paz inabalável, que resulta do Conhecimento da Realidade; nada lhe pode perturbar essa Paz e esse contentamento, nem os maiores sofrimentos, dores e cuidados da vida mundana, porque está acima deles.

 

23. A ausência de sofrimentos, dores e cuidados chama-se Yoga, União Espiritual. Esta Yoga deve ser começada com firme convicção e praticada com alegre disposição mental.

 

24. Atirando longe de ti os vãos desejos da imaginação e dominando por meio da mente, iluminada e guiada pelo Espírito, as inclinações dos sentidos, chegarás, passo a passo, à tranquilidade e calma.

 

25. Quando a mente se fixou uma vez no Eu Real, acha insensato peregrinar em qualquer outra coisa

 

26. Se tua mente não atingiu ainda o necessário grau do domínio das paixões e impressões, anda para cá e para lá, desviando-se de seu Objetivo Supremo, sê vigilante e refreia-a pela força da vontade concentrada, reconduzindo-a sempre ao Alvo.

 

27. O homem, cujo coração encontrou a Paz que ão admite nenhum movimento de paixão, e tornou-se livre daquilo a que se chama "pecado", venceu os erros e entrou no reino da Verdade.

 

28. O yogi, que atingiu assim a Unidade Eterna e cessou de pecar, goza a harmonia da Vida Una e as delícias da união com Deus.

 

29. Ele, cuja alma se uniu assim a Deus, em Deus, e Deus em todas as almas, vê tudo em Deus.

 

30. Em verdade te digo que aquele que Me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca Me abandonará e nunca será por Mim abandonado. Para sempre estará ligado a Mim, pelos laços preciosos do Amor.

 

31. Quem Me reconhece em todos os seres, ama-me e comigo se une, participa da vida eterna do meu ser, qualquer que seja o seu modo de vida exterior neste mundo.

 

32. O verdadeiro yogi, ó Arjuna! É aquele que chegou, pela iluminação interna, a saber que uma só Essência penetra toda a vida e todas as coisas, e conserva o ânimo igual em todas as vicissitudes da vida, reconhecendo a necessidade de equilíbrio entre o prazer e a dor na Natureza.

 

33. Arjuna: Eu não posso achar firmeza, ó Herói valente, nessa submissão, nessa resignação e nesse domínio da mente, de que falas. Eu sei que a mente e o coração são instáveis, inquietos, turbulentos, vacilantes, obstinados e insubmissos à vontade.

 

34. Parece que dominar o coração ou a mente em suas inclinações e seus pensamentos é tão difícil como reter um forte vento.

 

35. KRISHNA: Tens razão, dizendo que é muito difícil dominar a mente, porque é instável e inclina-se ora para um ora para outro objeto; entretanto, quem fortaleceu a sua vontade por meio de exercícios e disciplina, pode ser senhor de seu coração, senhor de sua mente.

 

36. É verdade que a Yoga (União Espiritual) é coisa dificílima para quem tem a mente descontrolada, mas é acessível para quem tenha a mente dominada.

 

37. Arjuna: Qual é, porém, a sorte daquele, ó Mestre, que está cheio de fé, mas não atinge a perfeição em Yoga, porque não domina a sua mente, que se afasta do caminho da disciplina?

 

38. Parecerá, talvez, como uma nuvem despedaçada pelos ventos? Será ele reduzido a nada, sendo repelido tanto deste mundo, como do mundo superior, porque caminha, incerto e inexperiente, pela senda que conduz ao Brahma, ao Absoluto!

 

39. Responde-me, ó Divino, porque tu, unicamente, podes dar-me explicação satisfatória e dissipar as minhas dúvidas.

 

40. KRISHNA: Não, meu caríssimo, não perecerá o homem em tais condições; não será aniquilado nem neste mundo, nem nos vindouros. A fé conserva-o vivo, a sua bondade preserva-o da aniquilação. Não se perde nunca quem vive honestamente e em Mim confia.

 

41. A Alma, cuja devoção é fé, acompanhadas de boas obras, carecem da aquisição da perfeita disciplina, depois da morte do corpo, vai habitar o céu dos justos que ainda não atingiram a Perfeição (1). Ali fica gozando felicidade por inúmeros anos, mas, depois, reencarna-se em casa de um homem bom e nobre, nas condições adaptadas ao seu desenvolvimento e adiantamento. (1). Os teósofos hindus chamam a esse céu - devachan ou morada dos deuses.

 

42. Pode nascer, nesta nova encarnação, como filho de um yogi adiantado, se bem que tal nascimento seja difícil obter-se neste mundo, atrasado moralmente.

 

43. Na sua nova existência, o homem recupera novamente toda a organização espiritual que tinha adquirido na vida passada, e, assim, fica preparado para continuar os estudos e as tarefas que conduzem à Perfeição.

 

44. Com a morte, não se perde nada daquilo que a alma adquiriu. As experiências que o homem fez nas vidas passadas tornam-se instintos e incitam-no ao progresso, até inconscientemente. Mesmo quem só tivesse desejado conhecer Yoga, recupera esse desejo, e com o decorrer do tempo transcende os liames da matéria.

 

45. Trabalhando com paciência, perseverança e aplicação, sendo livre dos erros e plenamente desenvolvido pelas experiências, ganhas em suas múltiplas encarnações, o yogi chega ao alvo procurado, à Paz e à Meta Suprema.

 

46. Como vês, yogi é aquele que procura a Verdade e, confiando na Justiça da Lei Absoluta, sempre faz o melhor que pode. É maior do que um asceta ou fanático que procura obter mérito, impondo-se penas e martírios voluntários a si mesmo. É superior aos eruditos e aos que praticam boas obras com desejo de recompensa. Sê, pois, ó Arjuna! também um yogi, cheio de fé e bondade!

 

47. De todos os yogis, eu prefiro, porém, aquele que me adora com fé e a mim dedica o interior da sua alma; aquele cujo coração transborda meu amor e cuja mente sempre sente a minha presença e, com ela, a Paz Suprema. Livro Bhagavad Gita - A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi.

 

 

Bhagavad Gita. Resumo do Capítulo Seis – MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR. Tales Nunes o realizou a partir das aulas de A Essência da Gita da professora Glória Arieira. Este capítulo marca o final da primeira parte do ensinamento de KRISHNA à Arjuna. Da parte que fala sobre o Indivíduo que se vê limitado e que deve descobrir que é pleno, completo e ilimitado. Aqui é apresentado o YOGA como um meio de preparação da mente do indivíduo, como um estilo de vida. Achamos que a meditação tem como objetivo o aquietar a mente, a quietude emocional, a tranquilidade, a paz e nada mais. O objetivo da meditação é fazer com que você possa descobrir a sua verdadeira natureza, aquilo que você é fundamentalmente, livre de limitação. Para isso há todo um estilo de vida que inclui a meditação e que vai conduzir à contemplação. A contemplação é a capacidade de ver a minha natureza fundamental, que está além dos pensamentos. E a contemplação não depende da meditação sentado, de prāṇāyāma. O foco não é a meditação, não é renunciar, é adquirir meios para que a meditação e a renúncia possam acontecer. Eu dou meios para que a mente seja contemplativa. Eu entendo coisas para que eu abra mão de coisas que eu estou apegado e reativo. A atitude contemplativa é equivalente ao amor. Assim como não podemos dizer, agora vou ter uma mente contemplativa, não podemos dizer, agora ame essa pessoa. Essa mente contemplativa tem a capacidade de contemplar qualquer coisa. Pode contemplar BRAHMAN, mas também qualquer outro assunto. Uma vida de YOGA vai nos conduzir a uma mente contemplativa. Porque à medida que agimos, refletimos sobre se a ação foi adequada. Quando o resultado da ação vem, aceitamos e tentamos não reagir, mas agir. Assim a pessoa aprende como funciona a mente e está presente nas ações. Dessa maneira, a pessoa tem a capacidade de escutar, refletir e contemplar o conhecimento de BRAHMAN. Este ensinamento sobre o Todo. É uma questão de entender a veracidade das palavras transmitidas pelo mestre. O que sou eu, o que é o Todo. Através da meditação não tentamos chegar a uma experiência, um estado da mente diferente, um estado alterado de consciência. O objetivo da meditação é o entendimento dessa visão e compreensão de BRAHMAN, do todo como sendo você mesmo. O verdadeiro yogi é um renunciante. Pois ele tem essa atitude mental perante a vida. Uma atitude de não reação, de desapego em relação aos seus desejos e aversões. O yogi é aquela pessoa que abandonou a fantasia da mente. KRISHNA chama essa pessoa com a mente preparada de Yoga āruḍa. Ou seja é a pessoa que dominou YOGA. Ele obteve os resultados de Yoga. Uma mente que tem tranquilidade, firmeza e desapego. Como dominar YOGA? Tendo a capacidade de ter uma tranquilidade para aceitar os resultados das ações. A pessoa que conquistou YOGA é uma pessoa que consegue renunciar qualquer coisa que aconteça na sua mente. Para que você conquiste YOGA, levante o olhar sobre si mesmo. Não se olhe como incapaz, infeliz, incompleto. Eleve-se, não se deixe afogar. Tenha a sua mente como um amigo. O pior inimigo que você pode ter é a sua própria mente. Amigo é aquele que soma, que contribui. A mente amiga é aquela que conquistou a si mesma. Nós temos uma identificação com um eu que é limitado. Essa identificação já vem de muito tempo, dessa vida e de outras. “Eu sou limitado, eu sou mortal, eu sou insuficiente” esse pensamento é uma constante porque é valido para o corpo e para a mente, mas fundamentalmente eu sou livre de limitação. Ainda que entendamos que somos plenos e completos, ao ouvir este ensinamento, parece que ainda falta alguma coisa, falta absorver o conhecimento, porque foi muito tempo de identificação com o contrário. Por habito nós corremos para os objetos, corremos para as situações para nos preencherem porque já chegamos a essa conclusão de que somos limitados e somos insuficientes e automaticamente, sem pensar, vamos atrás de objetos externos achando que vão me fazer mais feliz, que vão me preencher. Para a mudança desse hábito é necessário um tempo, é necessário que eu me veja como livre de limitação, como eterno para que eu possa me libertar desse hábito. A meditação tem basicamente esse objetivo, não o objetivo de produzir uma felicidade, uma tranquilidade, porque se fosse para isso já teríamos os objetos, porque os objetos também produzem felicidade, tranquilidade: uma música, um passeio, uma caminhada, uma viagem. A meditação também dá essa tranquilidade, mas o objetivo último não é produzir alguma coisa e sim me ajudar a assimilar um fato ao meu respeito, que eu já conclui com o estudo e estou preso a essa ideia de que eu sou limitado, que eu sou infeliz e que sou insuficiente. A meditação não é uma ação, não é uma coisa que você faça em um determinado momento. Meditar é uma consequência de uma série de fatores, principalmente de um tipo de mente. No verso 33 Arjuna diz: “KRISHNA, esse YOGA que foi ensinado por você como igualdade; eu não vejo a existência firme dessa igualdade devido à inconstância da mente”. E segue no verso seguinte: “Pois a mente é inconstante, atormentadora, poderosa, obstinada, ó KRISHNA! Eu considero o controle da mente tão difícil como o controle do vento”. Arjuna ficou esperando que KRISHNA respondesse, “é com essa mente não vai dar, acho que você pode mesmo desistir e ir pra montanha”, mas KRISHNA responde no verso 35: “Sem dúvida Arjuna, a mente é incostante e difícil de ser controlada. Porém, ó Arjuna, a través da repetição e do desapego, ela é disciplinada”. O método apresentado aqui na Gītā para lidar com a mente e a mesma que Patañjali fala no YOGA SUTRAAbhyāsa é a disciplina, a repetição. Eu faço hoje, amanhã eu faço de novo e depois eu faço de novo. Não é ficar distraindo a minha mente, agora eu faço isso, depois aquilo. A mente foge, mas você traz de volta. Ela foge de novo, você traz de volta de novo. À medida que você vai fazendo essa repetição, ao mesmo tempo você vai se desapegando das outras coisas que deseja desapegar. Dessa maneira Abhyāsa traz naturalmente vairāgya. Abhyāsa dentro desse estudo é o escutar, se expor ao conhecimento e refletir sobre o mesmo. Esse é o métido para se chegar ao desapego final. Ao final do capítulo, KRISHNA fala sobre o resultado final do conhecimento. “O yogi, esforçando-se apropriadamente, purificado de impurezas, tendo conquistado sucesso através de inúmeros nascimentos, alcança, então, o mais alto objetivo”. “Entre todos os yogis, aquele que se entrega a mim com a mente absorta em mim, que tem confiança, esse é considerado por mim como o mais elevado”. www.vidadeyoga.com.br. Abraço. Davi.