sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

O DILÚVIO UNIVERSAL


Redator do Mosaico. Estou de recesso a partir de amanhã, 29/12/2018. Retorno as atividades da página eletrônica no dia 07/01/2019. Que Alá, Krishna, Muhammad, Mashiache, Brahma, Cristo, Zoroastro, Buda, Shakti. A Santíssima Imaculada Virgem Maria e demais avatares de todas as espiritualidades vos abençoe. Dispensando seu amor, graça e misericórdia nesse final de 2018. Que o ano de 2019 seja marcado pela proteção dos anjos da guarda, enviados por essas divindades mencionadas. Dando a todos sabedoria, coragem e um coração fraterno para amarmos a todos os nossos irmãos humanos e não humanos. Componentes dessa morada terrena, que os deuses nos deu para vivermos em harmônia, tolerância e respeito. Até o próximo ano. www.adalbernardes.blogspot.com. Postado por Adalberto Bernardes. O DILÚVIO UNIVERSAL. Os "antropologistas" dizem que há mais de 270 narrativas do dilúvio em povos e culturas diferentes do mundo, e todas elas, coincidentemente, são no início destas civilizações. Mas não é somente no Oriente Médio onde ficou persistente um dilúvio que assolou a terra. Com a exclusão das culturas africanas, exceto naturalmente a egípcia, que não costumam referir se ao dilúvio, todas as demais têm constância de que em um dado momento de sua história a água supôs um cataclismo que arrasou o planeta e com ele toda a humanidade. Das quatro vezes que segundo o calendário asteca terminou o mundo, uma foi por causa da água. Os índios americanos, os poucos que restam, pensam que o mundo fica velho e vai se gastando paulatinamente, até que as cordas que o sustentam são rompidas e se afunda irremissivelmente .no oceano que o rodeia, de onde voltará a surgir jovem e pujante. Para a civilização ocidental, a história mais conhecida a respeito do dilúvio é a da Arca de Noé, segundo a tradição judaico-cristã. O Dilúvio também é descrito em fontes americanas, asiáticas, sumérias, assírias, armênias, egípcias, persas, gregas e outras, de forma basicamente semelhante ao episódio bíblico, porém algumas civilizações se relata sobre inundações em vez de chuvas torrenciais: uma divindade  decide limpar a Terra de uma humanidade corrupta, ou imperfeita, e escolhe um homem bom aos seus olhos para construir uma arca para abrigar sua criação enquanto durasse a inundação. Na mitologia judaica, Javé estava disposto a acabar com toda a humanidade, porém Noé foi agraciado por Ele, pois era um varão temente a seu Deus e não se deixou corromper. Após um certo período, a água baixa, a arca fica encalhada numa montanha, os animais repovoam o planeta e os descendentes de tal homem geram todos os povos do mundo. Dilúvio Hebraico. Segundo a Bíblia, Noé, seguindo as instruções divinas, constrói uma arca para a preservação da vida na Terra, na qual abriga um casal de cada espécie animal, bem como a ele e sua família, enquanto Deus, exercendo julgamento sobre os anti diluvianos (povo de ações perversas), inundava toda a Terra com uma chuva que duraria quarenta dias e quarenta noites. Após alguns meses, quando as águas começaram a baixar, Noé enviou uma pomba, que lhe trouxe uma folha de oliveira. A partir daí,os descendentes de Noé teriam repovoado a Terra, dando origem a todos os povos conhecidos. Na esfera cultural hebraica primitiva, o evento do Dilúvio contribuiu para o estabelecimento de uma identidade étnica entre os diferentes povos semíticos (todos descendentes de Sem, filho de Noé), bem como sua distinção dos outros povos ao seu redor (cananeus, descendentes de Canaã, neto de Noé, núbios ou cuxitas, descendentes de Cuxe, outro neto de Noé, etc.).No Antigo Testamento, Noé amaldiçoa Canaã e abençoa Sem, o que serviria mais tarde como uma das justificativas para a invasão e conquista da terra dos cananeus pelas Tribos de Israel. Após o período diluviano, procura-se até os dias de hoje os restos da Arca, que segundo alguns historiadores realmente encontra-se no Monte Ararat. Mas não existe como precisar a localização, já que a região é bem acidentada, e vasta. Dilúvio Sumério. O mito sumério de Gilgamesh conta os feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh, que parte em uma jornada de aventuras em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas pessoas imortais: Utanapistim e sua esposa, estes contam à Gilgamesh como conquistaram tal sorte, esta é a história do dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade ao sobreviver ao dilúvio que consumiu a raça humana. Na tradição suméria, o homem foi dizimado por encomodar aos deuses. Segundo este mito, o deus Ea, por meio de um sonho, apareceu a Utanapistim e lhe revelou as pretensões dos deuses de exterminar os humanos através de um dilúvio. Ea pede a Utanapistim que renuncie aos bens materiais e conserve o coração puro. Utanapistim, então, reúne sua família e constrói a embarcação que lhe foi ordenada por Ea, estes ficam por sete dias debaixo do dilúvio que consome com os humanos. Aqui um techo de tal história: "Eu percebi que havia grande silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da janela chorei, pois as águas haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por terra, somente consegui descobrir uma montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos e ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma pomba, que voou para longe, não encontrando local para pouso retornou (…). Então soltei um corvo, este voou para longe encontrou alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992). Dilúvio Hindu. Nas escrituras védicas da Índia encontramos um rei chamado Svayambhuva Manu, que foi avisado sobre o dilúvio por uma encarnação de Vishnu(Matsya Avatar). Matsya arrastou o barco de Manu e lhe salvou da destruição. Este aviso veio através de um peixe, que foi poupada da morte, que advertiu que se avizinhava um dilúvio de grandes proporções que destruiria a raça humana. Manu construiu uma nave e arrastou-a até o ponto mais alto, e foi assim que ele salvou-se da grande tragédia. Dessa forma ele, fez um sacrifício aos deuses, usando azeite e nata azeda, sobre as águas, de onde da mesma emergiu uma mulher conhecida pelo nome de Filha de Manu, com o qual se uniu e deu início à nova geração da raça humana. Dilúvio Grego. A mitologia grega relata a história de um grande dilúvio produzido por Poseidon, que por ordem de Zeus havia decidido pôr fim à existência humana, uma vez que estes haviam aceitado o fogo roubado por Prometeu do Monte Olimpo. Deucalião e sua esposa Pirra foram os únicos sobreviventes. Prometeu disse a seu filho Deucalião que construísse uma arca e nela introduzisse um casal de cada animal, de forma análoga à Arca de Noé. Assim estes sobreviveram. Ao terminar o dilúvio, a arca de Deucalião pousou sobre o Monte Parnaso, onde estava o Oráculo de Temis. Deucalião e Pirra entraram no templo, para que o oráculo lhes dissesse o que deviam fazer para voltar a povoar a Terra, e a deusa somente lhes disse:"Voltem aos ossos de suas mães" Deucalião e sua mulher adivinharam que o oráculo se referia às rochas. Destas formas, as pedras tocadas por Deucalião se converteram em homens, e as tocadas por Pirra em ninfas ou deusas menores, por que ainda não se havia criado a mulher. Dilúvio Mapuche. Nas tradições do povo Mapuche igualmente existe uma lenda sobre uma inundação do lugar deste povo (ou do planeta). A lenda se refere à história das serpentes, chamadas Tentem Vilu e Caicai Vilu. Dilúvio Pascuense. A tradição do povo da Ilha de Páscoa diz que seus ancestrais chegaram à ilha escapando da inundação de um mítico continente, ou ilha, chamado Hiva. Dilúvio Maia. A mitologia do povo maia relata a existência de um dilúvio enviado pelo deus Huracán. Segundo o Popol Vuh, livro que reúne relatos históricos e mitológicos do grupo étnico maia-quiché, os deuses, após terminarem a criação do mundo, da natureza e dos seres vivos, decidiram criar seres capazes de lhes exaltar e servir. São criados então os primeiros seres humanos, moldados em barro. Porém, esses seres de barro não eram resistentes ao clima e à chuva e logo se desfizeram em lama. Então, os deuses criaram o segundo tipo de seres humanos, à partir de madeira. Essa segunda humanidade, ao contrário da primeira, prosperou e rapidamente se multiplicou em muitos povos e cidades (tudo indica que é nessa época da segunda humanidade que se passam as aventuras dos gêmeos heróis Hunahpú e Ixbalanqué contra os senhores de Xibalba). Mas esses seres feitos de madeira não agradaram aos deuses. Eles eram secos, não temiam aos deuses e não tinham sangue. Se tornaram arrogantes e não praticavam sacrifícios aos seus criadores. Então, os deuses decidem exterminar essa segunda humanidade através de um dilúvio. Ao contrário da maioria dos outros relatos conhecidos sobre dilúvios, nenhum indivíduo foi poupado. Após a catástrofe, a matéria prima utilizada para moldar os novos seres humanos foi o milho. Foram criados quatro casais, que são considerados os oito primeiros índios quiché. Eles deram origem às três famílias fundadoras da Guatemala, pois um dos casais não deixou descendência. Dilúvio Asteca. No manuscrito asteca denominado como Código borgia, há a história do mundo dividido em idades, das quais a última terminou com um grande dilúvio produzido pela deusa Chalchitlicue. Dilúvio Inca. Na mitologia dos incas, Viracocha destruiu os gigantes com uma grande inundação, e duas pessoas repovoaram a Terra (Manco Capac e Mama Ocllo mais dois irmãos que sobreviveram. A religião é um forte elo de ligação entre as várias culturas andinas, sejam elas pré-incaicas ou incas. A imposição do Deus Sol é um forte elemento da crença e dominação através do mental, ou seja daquilo que permanece impregnado por gerações nas concepções e mentalidades destas culturas, adorando o Deus imposto e entendendo ser ele o mais importante. Pedro Sarmiento de Gamboa, cronista espanhol do século XVI, relata como os Incas narravam sua criação e as lendas que eram passadas através da oralidade de geração em geração, desde o surgimento de Viracocha e seus ensinamentos, procurando definir um homem que o venerasse e fosse pregador de seus conhecimentos. Em algumas tentativas de criar este homem, Viracocha acaba punindo-o com um grande dilúvio pela não obediência como comenta Gamboa(2001),: Mas como entre ellos naciesen vicios de soberbia y codicia, traspasaron el precepto del Viracocha Pachayachachi ,que cayendo por esta trasgresión en la indignación suya, los confundió y maldijo. Y luego fueron unos convertidos en piedras y otros en formas, a otros trago la tierra y otros el mar,y sobre todo les envió un diluvio general, al cual llaman uñu pachacuti , que quiere decir “agua que trastornó la tierra”. Y dicen que llovió sesenta días y sesenta noches, y que se anegó todo lo creado, y que solo quedaron algunas señales de los que se convierteron en piedras para memoria del hecho y para ejemplo a los venideros en los edificios de pucara que es sesenta leguas del Cuzco. (p. 40) A narração do dilúvio está presente entre muitos povos e culturas por todo o mundo. O início de tudo, ou seja, a criação, é um fator muito importante para estabelecer relações e explicações sobre o que não se conhece e o que não foi vivido. Assim, os mitos e lendas buscam criar uma ancestralidade, um ponto em comum que defina a origem e o começo do cosmos e tudo existente nele, ou seja, o conhecer de si mesmo, do próprio homem inserido na natureza, buscando sua sobrevivência e continuidade de sua existência e a harmonia com os elementos naturais e sobrenaturais. Dilúvio Uro. O povo uro (ou uru), que habita próximo ao Lago Titicaca, crê numa lenda que diz que depois do dilúvio universal, foi neste lago onde se viram os primeiros raios do Sol. Dilúvio Chinês. Porém onde nos encontramos com uma figura sugestivamente paralela à de nosso bíblico Noé, é na China, onde a água sempre esteve em estreita relação com o nascimento da terra e o gênero humano. Foi o grande herói YÜ, o domador das águas, quem conseguiu que estas se retirassem para ornar, logrando assim que as terras ficassem aptas para o cultivo, contribuindo ao engrandecimento da população. Dos distintos relatos do dilúvio temos o de Fah-le, ocasionado pelo crescimento dos rios ao redor de 2.300 AC. Mas a tradição mais extensa é a que tem a Nu-wah como protagonista, que se salvou junto com sua mulher, seus três filhos e as esposas destes em uma nave construída para eles e para dar capacidade e salvamento a um par de cada espécie animal que habitava a terra. Tão arraigada está a lenda de Nu-wah que hoje em dia é escrita a palavra "nave" em chinês, representada por uma barca com oito bocas dentro, aludindo aos oito navegantes que foram salvos da catástrofe. Também o Gênesis diz que Noé foi salvo juntamente com outras sete pessoas. O DESAPARECIMENTO DE ATLÂNTIDA. Alguns alegam que o Dilúvio foi a causa do desaparecimento de um grande continente que foi engolido pelas águas. No caso nos vem a mente Atlântida, outros referem-se a Lemúria (Império Mu), que é anterior aos atlantes. De qualquer forma parece que todos os povos falam da fatalidade da humanidade com o elemento água. www.adalbernardes.blogspot.com. Abraço. Davi


O PURGATÓRIO


Espiritismo. www.febnet.org.br. Texto de Allan Kardec (1804-1869). Livro O Céu e o Inferno. Capítulo 5. O PURGATÓRIO. O Evangelho não faz menção alguma do purgatório, que só foi admitido pela Igreja no ano de 593. É incontestavelmente um dogma mais racional e mais conforme com a Justiça de Deus que o inferno, porque estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade mediana. O princípio do purgatório funda-se na equidade, pois é a detenção temporária a concorrer com a perpétua condenação. Que julgar de um país que só tivesse a pena de morte para todos os delitos? Sem o purgatório, só há para as almas duas alternativas extremas: a suprema felicidade ou o eterno suplício. E nessa hipótese, que seria das almas somente culpadas de ligeiras faltas? Ou compartilhariam da felicidade dos eleitos, ainda quando imperfeitas, ou sofreriam o castigo dos maiores criminosos, ainda quando não houvessem feito muito mal, o que não seria nem justo, nem racional. 2. Necessariamente, porém, a noção do purgatório deveria ser incompleta, porque apenas conhecendo a penalidade do fogo fizeram dele uma atenuante do inferno, visto que as almas aí também ardem, embora em fogo mais brando. Sendo o dogma das penas eternas incompatível com o progresso, as almas do purgatório não se livram dele por efeito do seu adiantamento, mas em virtude das preces que se dizem ou que se mandam dizer em sua intenção. E se foi bom o primeiro pensamento, outro tanto não acontece quanto às consequências dele decorrentes, pelos abusos que originaram. As preces pagas transformaram o purgatório em mina mais rendosa que o inferno. Nota de Allan Kardec: O purgatório originou o comércio escandaloso das indulgências, por intermédio das quais se vende a entrada no Céu. Este abuso foi a causa primária da Reforma, levando Martinho Lutero (1483-1546) a rejeitar o purgatório. Jamais foram determinados e definidos claramente o lugar do purgatório e a natureza das penas aí sofridas. À Nova Revelação estava reservado o preenchimento dessa lacuna, explicando-nos a causa das terrenas misérias da vida, das quais só a pluralidade de existências poderia mostrar-nos à justiça. Essas misérias decorrem necessariamente das imperfeições da alma, pois se esta fosse perfeita não cometeria faltas nem teria de sofrer-lhe as consequências. O homem que na Terra fosse em absoluto sóbrio e moderado, por exemplo, não padeceria enfermidades oriundas de excessos. O mais das vezes ele é desgraçado por sua própria culpa, porém, se é imperfeito, é porque já o era antes de vir à Terra, expiando não somente faltas atuais, mas faltas anteriores não resgatadas. Repara em uma vida de provações o que a outrem fez sofrer em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, por sua vez, uma correção temporária e uma advertência quanto às imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim de evitar males e progredir para o bem. São para a alma lições da experiência, rudes às vezes, mas tanto mais proveitosas para o futuro, quanto profundas as impressões que deixam. Essas vicissitudes ocasionam incessantes lutas que lhe desenvolvem as forças e as faculdades intelectivas e morais. Por essas lutas a alma se retempera no bem, triunfando sempre que tiver denodo para mantê-las até o fim. O prêmio da vitória está na vida espiritual, onde a alma entra radiante e triunfadora como soldado que se destaca da refrega para receber a palma gloriosa. 4. Em cada existência, uma ocasião se depara à alma para dar um passo avante; de sua vontade depende a maior ou menor extensão desse passo: franquear muitos degraus ou ficar no mesmo ponto. Neste último caso, e porque cedo ou tarde se impõe sempre o pagamento de suas dívidas, terá de recomeçar nova existência em condições ainda mais penosas, porque a uma nódoa não apagada ajunta outra nódoa. É, pois, nas sucessivas encarnações que a alma se despoja das suas imperfeições, que se purga, em uma palavra, até que esteja bastante pura para deixar os mundos de expiação pelos mundos felizes, e, mais tarde estes para gozar da suprema felicidade. O purgatório não é, portanto, uma ideia vaga e incerta; é antes uma realidade material que vemos, tocamos e sentimos. Ele existe nos mundos de expiação como a Terra, onde os homens expiam o passado e o presente, em proveito do futuro. Contrariamente, porém, à ideia que dele se faz, depende de cada um prolongar ou abreviar a sua permanência, segundo o grau de adiantamento e pureza atingido pelo próprio esforço sobre si mesmo. O livramento se dá, não por conclusão de tempo nem por alheios méritos, mas pelo próprio mérito de cada um, consoante estas palavras do Cristo: “A cada um segundo as suas obras”, palavras que resumem integralmente a Justiça de Deus. Aquele, pois, que sofre nesta vida pode dizer-se que é porque não se purificou suficientemente em sua existência anterior, devendo, se o não fizer nesta, sofrer ainda na seguinte. Isto é ao mesmo tempo equitativo e lógico. Sendo o sofrimento inerente à imperfeição, tanto mais tempo se sofre quanto mais imperfeito se for, da mesma forma por que tanto mais tempo persistirá uma enfermidade quanto maior a demora em tratá-la. Assim é que, enquanto o homem for orgulhoso, sofrerá as consequências do orgulho; enquanto egoísta, as do egoísmo. Devido às suas imperfeições, o Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual, sendo-lhe depois facultada a vida corporal como meio de reparação. É por isso que ele se acha nessa nova existência, quer com as pessoas a quem ofendeu, quer em meios análogos àqueles em que praticou o mal, quer ainda em situações opostas à sua vida precedente, como, por exemplo, na miséria, se foi mal rico, ou humilhado, se orgulhoso. A expiação no mundo dos Espíritos e na Terra não constitui duplo castigo para o Espírito, porém um complemento, um desdobramento do trabalho efetivo a facilitar o progresso. Do Espírito depende aproveitá-lo. E não lhe será preferível voltar à Terra, com probabilidades de alcançar o Céu, a ser condenado sem remissão, deixando-a definitivamente? A concessão dessa liberdade é uma prova da sabedoria, da bondade e da Justiça de Deus, que quer que o homem tudo deva aos seus esforços e seja o obreiro do seu futuro; que, infeliz por mais ou menos tempo, não se queixe senão de si mesmo, pois que a rota do progresso lhe está sempre franca. 7. Considerando-se quão grande é o sofrimento de certos Espíritos culpados no mundo invisível, quanto é terrível a situação de outros, tanto mais penosa pela impotência de preverem o termo desses sofrimentos, poder-se-ia dizer que se acham no inferno, se tal vocábulo não implicasse a ideia de um castigo eterno e material. O purgatório 59 Mercê, porém, da revelação dos Espíritos e dos exemplos que nos oferecem, sabemos que o prazo da expiação está subordinado ao melhoramento do culpado. O Espiritismo não nega, pois, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Não nega, outrossim, o purgatório, pois prova que nele nós achamos, e definindo-o precisamente, e explicando a causa das misérias terrestres, conduz à crença aqueles mesmos que o negam. Repele as preces pelos mortos? Ao contrário, visto que os Espíritos sofredores as solicitam; eleva-as a um dever de caridade e demonstra a sua eficácia para os conduzir ao bem e, por esse meio, abreviar-lhes os tormentos. Falando à inteligência, tem levado a fé a muito incrédulo, incutindo a prece no ânimo dos que a escarneciam. O que o Espiritismo afirmar é que o valor da prece está no pensamento, e não nas palavras, que as melhores preces são as do coração, e não dos lábios, e, finalmente, as que cada qual murmura de si mesmo, e não as que se mandam dizer por dinheiro. Quem, pois, ousaria censurá-lo? Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique, tem sempre um termo, próximo ou remoto. Na realidade não há para o Espírito mais que duas alternativas, a saber: punição temporária e proporcional à culpa, e recompensa graduada segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira alternativa, da eterna condenação. O inferno reduz-se à figura simbólica dos maiores sofrimentos cujo termo é desconhecido. O purgatório, sim, é a realidade. A palavra purgatório sugere a ideia de um lugar circunscrito: eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a natureza da expiação terrena tem os caracteres da verdadeira expiação. Melhorados os homens, não fornecerão ao mundo invisível senão bons Espíritos; e estes, encarnando-se, por sua vez só fornecerão à humanidade corporal elementos aperfeiçoados. A Terra deixará, então, de ser um mundo expiatório e os homens não sofrerão mais as misérias decorrentes das suas imperfeições. Aliás, por esta transformação, que neste momento se opera, a Terra se elevará na hierarquia dos mundos. Nota de Allan Kardec: Vede O evangelho segundo o espiritismo, cap. XXVII, item Ação da prece. Nota de Allan Kardec: Idem, cap. III, item Progressão dos mundos. Por que não teria o Cristo falado do purgatório? É que, não existindo a ideia, não havia palavra que a representasse. O Cristo serviu-se da palavra inferno, a única usada, como termo genérico, para designar as penas futuras, sem distinção. Colocasse Ele, ao lado da palavra inferno, uma equivalente a purgatório e não poderia precisar-lhe o verdadeiro sentido sem ferir uma questão reservada ao futuro; teria, enfim, de consagrar a existência de dois lugares especiais de castigo. O inferno em sua concepção genérica, revelando a ideia de punição, encerrava, implicitamente, a do purgatório, que não é senão um modo de penalidade. Reservado ao futuro o esclarecimento sobre a natureza das penas, competia-lhe igualmente reduzir o inferno ao seu justo valor. Uma vez que a Igreja, após seis séculos, houve por bem suprir o silêncio de Jesus quanto ao purgatório, decretando-lhe a existência, é porque ela julgou que Ele não havia dito tudo. E por que não havia de dar-se sobre outros pontos o que com este se deu? www. febnet.org.br. Livro O Céu e o Inferno. Abraço. Davi

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

O ÚLTIMO DISCURSO DE ZILDA ARNS


Catolicismo. www.universocatolico.com.br. O ÚLTIMO DISCURSO DE ZILDA ARNS. Agradeço o honroso convite que recebi. Quero manifestar minha grande alegria por estar aqui com todos vocês em Porto Príncipe, Haiti, para participar da assembleia de religiosos. Como irmão de 2 franciscanos e de 3 irmãs religiosas da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, estou muito feliz entre todos vocês. Agradeço a Deus por esse momento. Na realidade, todos nós estamos aqui, nesse encontro, porque sentimos dentro de nós uma forte vontade de divulgar ao mundo a boa notícia de Jesus. A boa notícia, transformada em ações concretas, é luz e esperança na conquista pela paz nas famílias e nas nações. A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem raízes na gestão e na primeira infância, e se transforma na fraternidade e responsabilidade social. A paz é uma conquista coletiva. Acontece quando incentivamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas pela busca de um bem comum, que aprendemos de nosso mestre Jesus. "Eu vim para que todos tenham vida e tenham em abundancia" (João 10.10). Espera-se que os agentes sociais continuem, além das referências éticas e morais da nossa igreja, ser como Ela, mestres em orientar as famílias e comunidades, especialmente nas áreas de saúde, educação e direitos humanos. Deste modo, podemos formar a massa crítica nas comunidades cristãs e de outras religiões, em favor da proteção de uma criança desde a concepção, e mais excepcionalmente até os seis anos, e do adolescente. Devemos nos esforçar para que nossos legisladores elaborem leis e os governos executem políticas públicas que incentivem a qualidade na educação integral das crianças e a saúde, como prioridade absoluta. O povo seguiu Jesus porque ele tinha palavras de esperança. Assim, somos chamados a anunciar nossas experiências positivas e caminhos que levem as comunidades, famílias e o país a serem mais justos e fraternos. Como discípulos e missionários, convidados a evangelizar, sabemos que a força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o amor, expressado na solidariedade fraterna, que é capaz de mover montanhas. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmo”, significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos a favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade. Todo esse caminho precisa da comunicação constante para iluminar, animar, fortalecer e democratizar nossa Missão de Fé e Vida. Acreditamos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quando uma criança se encontra ainda no ventre sagrado de sua mãe. As crianças, quando são bem cuidadas, são sementes da paz e da esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceito que a criança. Não é à toa que Jesus disse: "(...) se vocês não fizerem como essas crianças, não entrarão no Reio dos Céus" (Mateus 18, 3). E "deixem que as crianças venham a mim, pois é deles o Reino dos Céus" (Lucas 18, 16). Hoje, vou dividir com vocês uma verdadeira história de amor e inspiração divina, um sonho que fiz se tornar realidade. Como aconteceu aos discípulos de Emaus (Lucas 24, 13-35), "Jesus caminhava todo o tempo com eles. Ele foi reconhecido a partir do pão, símbolo da vida". Em outra passagem, quando o barco no Mar da Galileia estava a ponto de afundar por causa das ondas violentas, ali estava Jesus com eles, para tranquilizar a tormenta (Marcos 4, 35-41). Com alegria vou contar a vocês o que "vi e o que tenho sido testemunha" ao longo de 26 anos, desde a fundação da Pastoral da Criança em setembro de 1983. Aquele que era uma semente, que começou na cidade de Florestópolis, estado de Paraná, no Brasil, se converteu em Organismos de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, presente em 42 mil comunidades pobres em 7 mil paróquias de todos as Dioceses do Brasil. Por força da solidariedade fraterna, uma rede de 260 mil voluntários - dos quais 141 mil são líderes que vivem em comunidades pobres, 92% são mulheres - participam permanentemente da construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno a serviço da vida e da esperança. Cada voluntário dedica em média 24 horas ao mês a esta missão transformadora de educar as mães e as famílias pobres, dividir o pão da fraternidade e gerar conhecimentos para a transformação social. O objetivo da Pastoral da Criança é reduzir as causas da desnutrição e da mortalidade infantil, promover o desenvolvimento integral das crianças, desde sua concepção até os seis anos de idade. A primeira infância é uma etapa decisiva para a saúde, educação, consolidação dos valores culturais, cultivo da fé e da cidadania, com profundas repercussões ao longo da vida. Um pouco de história: sou a 12ª de 13 irmãos, cinco deles são religiosos. Três irmãs religiosas e dois sacerdotes franciscanos. Um deles é Dom Paulo Evaristo (1921-1916), o Cardeal Arns, Arcebispo emérito de São Paulo, conhecido por sua luta em favor dos direitos humanos, principalmente durante os vinte anos da ditadura militar do Brasil. Em maio de 1982, ao voltar de uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, Dom Paulo me chamou pelo telefone à noite. Naquela reunião, James Grant (1946-  ), então diretor executivo da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), falou com insistência sobre o soro oral. Considerado como o maior avanço da medicina no século passado, esse soro era capaz de salvar da morte milhões de crianças que poderiam morrer por desidratação devido a diarreia, uma das principais causas da mortalidade infantil no Brasil e no mundo. James Grant conseguiu convencer a Dom Paulo para que motivasse a Igreja Católica a ensinar as mães a preparar e administrar o soro oral. Isto podia salvar milhares de vidas. Viúva fazia cinco anos, eu estava, naquela noite história, reunida com os cinco filhos, entre os nove e dezenove anos, quando recebi a chamada telefônica do meu irmão Dom Paulo. Ele me contou o que havia passado e me pediu para refletir sobre ele. Como tornar realidade a proposta da Igreja de ajudar a reduzir a morte das crianças? Eu me senti feliz diante daquele novo desafio. Era o que mais desejava: educar as mães e famílias para que soubessem cuidar melhor de seus filhos! Creio que Deus, de certo modo, havia me preparado para esta missão. Baseada na minha experiência como médica pediatra e especialista em saúde pública e nos muitos anos de direção dos serviços públicos de saúde materna-infantil, entendi que, além de melhorar a qualidade dos serviços públicos e facilitar às mães e crianças o acesso a eles, o que mais falta fazia às mães pobres era o conhecimento e a solidariedade fraterna, para que pudessem colocar em prática algumas medidas básicas simples e capazes de salvar seus filhos da desnutrição e da morte, como por exemplo a educação alimentar e nutricional para as grávidas e seus filhos, a amamentação materna, as vacinas, o soro caseiro, o controle nutricional, além dos conhecimentos sobre sinais e sintomas de algumas doenças respiratórias e como as prevenir. Pensei então na metodologia que utilizou Jesus para saciar a fome de 5 mil homens, sem contar as mulheres e as crianças. Era noite e tinham fome. Os discípulos disseram a Jesus que o melhor era que deixassem suas casas, mas Jesus ordenou: "Dai-lhes vós de comer". O apóstolo Felipe disse a Jesus que não tinham dinheiro para comprar comida para tanta gente. André, irmão de Simão, sinalou a uma criança que tinha dois peixes e cinco pães. E Jesus mandou que se sentassem em grupos de cinquenta a cem pessoas (em pequenas comunidades). Então pensei: Por que morrem milhões de crianças por motivos que podem facilmente ser prevenidos? Quais são as causas que os tornem criminosos e violentos na adolescência? Recordei o começo da minha carreira, quando me desafiei a querer diminuir a mortalidade infantil e a desnutrição. Vieram a minha mente milhares de mães que trocaram o leite materno pela mamadeira diluída em água suja. Outras mães que não vacinam seus filhos, quando não havia ainda cesta básica no Centro de Saúde. Outras mães que limpavam o nariz de todos os seus filhos com o mesmo pano, ou pegavam seus filhos e os humilhavam quando faziam xixi na cama. E ainda mais triste, quando o pai chegava em casa bêbado. Ao ouvir o grito de fome e carinho de seus filhos, os venciam mesmo quando eram muito pequenos. Sabe-se, segundo resultados de pesquisas da OMS (Organização Mundial da Saúde), cuja publicação acompanhei em 1994, que as crianças maltratadas antes de um ano de idade têm uma tendência significativa para violência, e com frequência fazem crimes antes dos 25 anos. A Igreja, que somos todos nós, que devíamos fazer? Tive a seguridade de seguir a metodologia de Jesus: organizar as pessoas em pequenas comunidades; identificar líderes, famílias com grávidas e crianças menores de seis anos. Os líderes que se dispusessem a trabalhar voluntariamente nessa missão de salvar vidas, seriam capacitados, no espírito da fé e vida, e preparados técnica e cientificamente, em ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. Seriam acompanhados em seu trabalho para que não se desanimassem. Teriam a missão de compartilhar com as famílias a solidariedade fraterna, o amor, os conhecimentos sobre os cuidados com as grávidas e as crianças, para que estes sejam saudáveis e felizes. Assim como Jesus ordenou que considerassem se todos estavam saciados, tínhamos que implantar um sistema de informações, com alguns indicadores de fácil compressão, inclusive para líderes analfabetos ou de baixa escolaridade. E vi diante de mim muitos gestos de sabedoria e amor apreendidos com o povo. Senti que ali estava a metodologia comunitária, pois podia se desenvolver em grande escala pelas dioceses, paróquias e comunidades. Não somente para salvar vidas de crianças, mas também para construir um mundo mais justo e fraterno. Seria a missão do "Bom Pastor", que estão atentos a todas as ovelhas, mas dando prioridade àquelas que mais necessitam. Os pobres e os excluídos. Naquela maravilhosa noite, desenhei no papel uma comunidade pobre, onde identifique famílias com grávidas e filhos menores de seis anos e líderes comunitários, tanto católicos como de outras confissões e culturas, para levar adiante ações de maneira ecumênica, pois Jesus veio par que "todos tenham vida e vida em abundância" (João 10,10). Isto é o que precisa ser feito aqui no Haiti: fazer um mapa das comunidades pobres, identificar as crianças menores de 6 anos e suas famílias e líderes comunitários que desejam trabalhar voluntariamente. Desde a primeira experiência, a Pastoral da Criança cultivou a metodologia de Jesus, que é aplicada em grande escala. No Brasil, em mais de 40 mil comunidades, de 7 mil paróquias de todas as 272 dioceses e preladias. Está se estendendo a 20 países. São eles: América Latina e no Caribe: Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Peru, Venezuela, Guatemala, Panamá, República Dominicana, Haiti, Honduras, Costa Rica e México; na África: Angola, Guiné-Bissau, Guiné Conakry e Moçambique e na Ásia: Filipinas e Timor Leste. Para organizar melhor e dividir as informações e a solidariedade fraterna entre as mães e famílias vizinhas, as ações se baseiam em três estratégias de educação e comunicação: individual, de grupo e de massas. A Pastoral da Criança utiliza simultaneamente as três formas de comunicação para reforçar a mensagem, motivar e promover mudanças de conduta, fortalecendo as famílias com informações sobre como cuidar dos filhos, promovendo a solidariedade fraterna. A educação e comunicação individual se fazem através da "Visita Domiciliar Mensal nas Famílias" com grávidas e filhos. Os líderes acompanham as famílias vizinhas nas comunidades mais pobres, nas áreas urbanas e rurais, nas aldeias indígenas e nos quilombos, e nas áreas ribeirinhas do Amazonas. Atravessam rios e mares, sobem e descem montes de encostas íngremes, caminham léguas, para ouvir os clamores das mães e famílias, para educar e fortalecer a paz, a fé e os conhecimentos. Trocam ideias sobre saúde e educação das crianças e das grávidas; ensinam e aprendem. Com muita confiança e ternura, fortalecem o tecido social das comunidades, o que leva a inclusão social. Motivados pela Campanha Mundial patrocinadas pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1999, com o tema "Uma vida sem violência é um direito nosso", a Pastoral da Criança incorporou uma ação permanente de prevenção da violência com o lema "A Paz começa em casa". Utilizou como uma das estratégias de comunicação a distribuição de seis milhões de folhetos com "10 Mandamentos para alcançar a paz na família", debatíamos nas comunidades e nas escolas, do norte ao sul do país. As visitas, entre tantas outras ações, servem para promover a amamentação materna, uma escola de diálogo e compartilhar, principalmente quando se dá como alimento exclusivo até os seis meses e se continua dando como alimento preferencial além do um ano, inclusive além dos dois anos, complementarmente com outros alimentos saudáveis. A sucção adapta os músculos e ossos para uma boa dicção, uma melhor respiração e uma arcada dentária mais saudável. O carinho da mãe acariciando a cabeça do bebe melhora a conexão dos neurônios. A psicomotricidade da criança que mama no peito é mais avançada. Tanto é assim que se senta, anda e fala mais rápido, aprende melhor na escola. É fator essencial para o desenvolvimento afetivo e proteção da saúde dos bebês, para toda a vida. A solidariedade desponta, promovida pelas horas de contato direto com a mãe. Durante a visita domiciliar, a educação das mulheres e de seus familiares eleva a autoestima, estimula os cuidados pessoais e os cuidados com as crianças. Com esta educação das famílias se promove a inclusão social. A educação e a comunicação de um grupo têm lugar cada em cada mês em milhares de comunidades. Esse é o Dia da Celebração da Vida. Momento dedicado ao fortalecimento da fé e da amizade entre famílias. Além do controle nutricional, estão os brinquedos e as brincadeiras com as crianças e a orientação sobre a cidadania. Neste dia as mães compartilham práticas de aproveitamento adequado de alimentos da região de baixo custo e alto valor nutritivo. As frutas, folhas verdes, sementes e talos, que muitas vezes não são valorizados pelas famílias. Outra oportunidade de formação de grupo é a Reunião Mensal de Reflexão e Evolução dos líderes da comunidade. O objetivo principal desta reunião é discutir e estabelecer soluções para os problemas encontrados. Essas ações integram o sistema de informação da Pastoral da Criança para poder acompanhar os esforços realizados e seus resultados através de indicadores. A desnutrição foi controlada. De mais de 50% de desnutridos no começo, hoje está em 3,1%. A mortalidade infantil foi drasticamente reduzida e hoje está em 13 mortos por mil nascidos vivos nas comunidades com Pastoral da Criança. O índice nacional é 2,33, mas se sabe que as mortes em comunidades pobres, onde estão a Pastoral da Criança, é maior que é na média geral. Em 1982, a mortalidade infantil no Brasil foi 82,8 mil nascidos vivos. Estes resultados têm servido de base para conquistar entidades, como o Ministério da Saúde, Unicef, Banco HSBC, e outras empresas. Elas nos apoiam nas capacitações e em todas as atividades básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. O custo criança/mês é de menos de US$ 1. Em relação à educação e à comunicação de massas apresentará três experiências concretas de como a comunicação é um instrumento de defesa dos direitos da infância. Materiais Impressos. O material impresso foi concebido especificamente para ajudar a formação do líder da Pastoral da Criança. Os instrutores e os multiplicadores servem como ferramenta de trabalho na tarefa de guiar as famílias e comunidades sobre questões de saúde, nutrição, educação e cidadania. Além do Guia da Pastoral da Criança, se colocou em marcha publicações como o Manual do Facilitador, Brinquedos e Jogos, Comida e as Hortas Familiares, alfabetização de jovens e adultos e mobilização social. O jornal da Pastoral da Criança, com tiragem mensal de cerca de 280 mil, ou seja 3 milhões e 300 mil exemplares por ano, chega a todos os líderes da Pastoral da Criança. É uma ferramenta para a formação continua. O Boletim Dicas abarca questões relacionadas com a saúde e a educação para cidadania. Este especialmente concebido para os coordenadores e capacitadores da Pastoral da Criança. Cada publicação chega a 7.000 coordenadores. Para ajudar na vigilância das mulheres grávidas, a Pastoral da Criança criou os laços de amor, cartões com conselhos sobre a gravidez e um parto saudável. Outros materiais impressos de grande impacto social é o folheto com os 10 mandamentos para a Paz na Família, 12 milhões de folhetos foram distribuídos nos últimos anos. Além desses materiais impressos, se envia para as comunidades da Pastoral da Criança material para o trabalho de pesagem das crianças, objetos como balanças e também colheres de medir para a reidratarão oral e sacos de brinquedos para as crianças brincarem no dia da celebração da vida. Material de som e vídeo. Outra área em que a Pastoral da Criança produz materiais é de som e a produção de filmes educativos. O Show ao vivo da Rádio da Vida, produzido e gravado no estúdio da Pastoral da Criança, chega a milhões de ouvintes em todo Brasil. Com os temas de saúde, de educação na primeira infância e a transformação social, o programa de rádio Viva a Vida se transmite semanalmente 3.740 vezes. Estamos "no ar", de 2.310 horas semanais em todo Brasil. Além disso, o Programa Viva a Vida também se executa em vários tipos de sistemas de som de CD e aparados nas reuniões de grupo. A Pastoral da Criança também produz filmes educativos para melhorar e dar conhecimento de seu trabalho nas bases. Atualmente há 12 títulos produzidos que sem ocupam na prevenção da violência contra as crianças, comida saudável, na gravidez, e na participação dos Conselhos Municipais de Saúde, na preservação da AIDS e outros. Campanhas. A Pastoral da Infância realiza e colabora em várias campanhas para melhorar a qualidade de vida das mulheres grávidas, famílias e crianças. Estes são alguns exemplos: # Campanhas de sais de reidratação oral. # Campanha de Certidão de Nascimento: a falta de informação, a distância dos cartórios e a burocracia fazem com que as pessoas fiquem sem certidões de nascimentos. # Campanha de Certidão de Nascimento: a falta de informação, a distância dos escritórios e a burocracia fazem com que as pessoas fiquem sem uma certidão de nascimento. A mobilização nacional para o registro civil de nascimento, que une o Estado brasileiro e a sociedade, busca garantir a cada cidadão de pleno direito o nome e os direitos. # Campanha para promover o aleitamento materno: o leite materno é um alimento perfeito que Deus colocou à disposição nos primeiros anos de vida. Permanentemente, a Pastoral da Criança promove o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e, em seguida, continuar, com outros alimentos. Isso protege contra doenças, desenvolve melhor e fortalece a criança. # Campanha de prevenção da tuberculose, pneumonia e hanseníase: as três doenças continuam a afetar muitas crianças e adultos em nosso país. A Pastoral da Criança prepara materiais específicos de comunicação para educar o público sobre sintomas, tratamento e meios de prevenção destas doenças. # Campanha de Saneamento: o acesso à água potável e o tratamento de águas residuais contribuem para a redução da mortalidade infantil. A Pastoral da Criança, em colaboração com outros organismos, mobiliza a comunidade para a demanda por tais serviços a governos locais e usa os meios ao seu dispor para divulgar informações relacionadas ao saneamento. # Campanha de HIV/aids e Sífilis: o teste do HIV/Aids e sífilis durante o pré-natal permite a redução de 25% para 1% do risco de transmissão para o bebê. A Pastoral da Criança apoia a campanha nacional para o diagnóstico precoce destas doenças. # Campanha para a Prevenção da morte súbita de bebês "Dormir de barriga para cima é mais seguro": Com a finalidade de alertar sobre os riscos e evitar até 70% das mortes súbitas na infância, a Pastoral da Criança lançou esta grande campanha dirigida às famílias para que coloquem seus bebês para dormir de barriga para cima. # Campanha de Prevenção do Abuso Infantil: Com esta campanha, a Pastoral da Criança esclarece as famílias e a sociedade sobre a importância da prevenção da violência, espancamentos e abuso sexual. Esta campanha inclui a distribuição de folheto com os dez mandamentos para a paz na família, como um incentivo para manter as crianças em uma atmosfera de paz e harmonia. # Campanha - 20 de novembro, dia de oração e de ação para as crianças: A Pastoral da Criança participa dos esforços globais para a assistência integral e proteção a crianças e adolescentes, em colaboração com a Rede Mundial de Religiões para a Infância (GNRC). Em dezembro de 2009, completei 50 anos como médica e, antes de 2002, confesso que nunca tinha ouvido falar em qualquer programa da Unicef ou da Organização Mundial de Saúde (OMS), ou de outra agência da Organização das Nações Unidas (ONU), que estimulasse a espiritualidade como um componente do desenvolvimento pessoal. Como um dos membros da delegação do Brasil na Assembleia das Nações Unidas em 2002, que reuniu 186 países, em favor da infância, tive a satisfação de ouvir a definição final sobre o desenvolvimento da criança, que inclui o seu "desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo". Este foi um avanço, e vem ao encontro do processo de formação e comunicação que fazemos na Pastoral da Criança. Neste processo, vê-se a pessoa de maneira completa e integrada em sua relação pessoal com o próximo, com o ambiente e com Deus. Estou convencida de que a solução da maioria dos problemas sociais está relacionada com a redução urgente das desigualdades sociais, com a eliminação da corrupção, a promoção da justiça social, o acesso à saúde e à educação de qualidade, ajuda mútua financeira e técnica entre as nações, para a preservação e restauração do meio ambiente. Como destaca o recente documento do papa Bento 16, "Caritas in veritate" (Caridade na verdade), "a natureza é um dom de Deus, e precisa ser usada com responsabilidade." O mundo está despertando para os sinais do aquecimento global, que se manifesta nos desastres naturais, mais intensos e frequentes. A grande crise econômica demonstrou a inter-relação entre os países. Para não sucumbir, exige-se uma solidariedade entre as nações. É a solidariedade e a fraternidade aquilo de que o mundo precisa mais para sobreviver e encontrar o caminho da paz. Final. Desde a sua fundação, a Pastoral da Criança investe na formação dos voluntários e no acompanhamento de crianças e mulheres grávidas, na família e na comunidade. Atualmente, existem 1.985.347 crianças, 108.342 mulheres grávidas de 1.553.717 famílias. Sua metodologia comunitária e seus resultados, assim como sua participação na promoção de políticas públicas com a presença em Conselhos de Saúde, Direitos da Criança e do Adolescente e em outros conselhos levaram a mudanças profundas no país, melhorando os indicadores sociais e econômicos. Os resultados do trabalho voluntário, com a mística do amor a Deus e ao próximo, em linha com nossa mãe terra, que a todos deve alimentar, nossos irmãos, os frutos e as flores, nossos rios, lagos, mares, florestas e animais. Tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua transformação. Neste espírito, ao fortalecer os laços que ligam a comunidade, podemos encontrar as soluções para os graves problemas sociais que afetam as famílias pobres. Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los. Muito obrigada! Que Deus acompanhe a todos! Doutora Zilda Arns Neumann (1934-2010). www.universocatolico.com.br. Abraço. Davi

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

ESTUDO, MEDITAÇÃO E SERVIÇO


Teosofia. Revista Teosófica. Texto de Sushma Webber. ESTUDO, MEDITAÇÃO E SERVIÇO. Que nossas vidas sejam grandiosas e não mesquinhas. A grande vida é a vida feliz, e aquele cujas ideias são grandiosas é ele próprio grandioso; pois a matéria se amolda à vontade do Espírito, e uma vida mesquinha sob o ponto de vista exterior pode ser feita grandiosa pelo esplendor do ideal que a anima. The Theosophic Life. A busca da felicidade parece ser a maior preocupação de muitas pessoas no mundo de hoje. Esforçamos na direção de um estilo de vida confortável, envolvendo variadas formas de entretenimento, com foco em um bem-estar físico, emocional e mental para sermos capazes de curtir o máximo da vida. Será realmente a busca da verdadeira felicidade, ou apenas uma tentativa de obter umas poucas experiências agradáveis para aliviar o peso de uma vida de sofrimento? Annie Besant (1847-1933) trata este tema da felicidade em um nível mais fundamental. Ela chama a atenção para um aspecto da vida raramente discutido hoje em dia: viver de acordo com nossos ideais. Para sermos capazes de defender nossos ideais, teríamos que desenvolver resiliência espiritual para alegremente enfrentar as circunstâncias da vida, sem sermos influenciados por elas. Dizem que os três elementos da vida espiritual são Estudo, Meditação e Serviço, e integrar essas disciplinas em nossa vida nos ajudaria a encontrar os grandes ideais que ressoam em nós, proporcionando-nos a força para viver de acordo com eles, encontrando a maneira de acabar com o sofrimento, vivendo assim uma vida feliz. Recentemente, diversos estudos foram s para descobrir o que nos faz felizes. O Instituto de Pesquisa da Felicidade (Happiness Research Institute), na Dinamarca, conduz pesquisas personalizadas sobre bem-estar, satisfação e qualidade de vida, para capacitar cidades, comunidades e governos a desenvolver estratégias para alcançar maiores níveis de bem-estar para seus cidadãos. O centro de Psicologia Positiva (Positive Psychology Centre), na Pensilvânia, está explorando a ideia de que pessoas podem melhorar seu bem-estar por meio de determinadas práticas tais como o perdão, a gratidão e a reflexão. A maioria dos psicólogos diz que é possível incutir felicidade em nossos cérebros permanecendo totalmente presentes nos momentos de alegria da vida. Mathieu Ricard (1946-  ), escritor e monge budista, diz que é importante “aumentar o patamar” de felicidade, o que é diferente de uma experiência temporária de prazer como quando fazemos coisas de que gostamos como tomar sorvete, sair para correr, ou assistir a um filme. Ricard tem sido alvo de intensos testes clínicos, na Universidade de Wisconsin, sendo frequentemente descrito como o homem mais feliz do mundo. Aumentar o patamar significa treinar a mente e harmonizar as emoções de forma a manter a calma e o equilíbrio em nossos níveis mais profundos. Seríamos calmos como a água nas profundezas do oceano, mesmo durante uma grande tempestade em sua superfície. Uma das razões da ênfase na pesquisa sobre a felicidade nos últimos anos pode ser atribuída ao aumento de casos de angústia emocional (uma “doença mental” como depressão, ansiedade ou psicose), observado desde a década de setenta, especialmente na geração mais jovem. De acordo com Oliver James (1953-  ), psicólogo clínico da infância e autor de Afflueza: How to Be Successful and Stay Sane (Affluenza: Como Ser Bem-Sucedido e Permanecer São). A grande maioria das pessoas das nações de língua inglesa (Grã-Bretanha, Cingapura, Austrália, Canadá, EUA, Nova Zelândia) agora definem suas vidas pelos ganhos, posses, aparências e status de celebridade, o que as está tornando miseráveis, pois isso as impede de satisfazer as necessidades fundamentais. James dá a isso o nome de “Vírus Affuenza”, um conjunto de valores que implica atribuir alto valor à capacidade de ganhar dinheiro e bens, parecer bem aos olhos dos outros, desejando a fama. A China e a Índia urbanas não estão muito longe de adotar esses valores, embora não sejam tão afetadas quanto outras nações. Ele salienta que estar infectado pelo “Vírus Affluenza” aumenta a suscetibilidade à angústia emocional mais comum: depressão, ansiedade, abuso de substâncias e disfunção de personalidade (como o narcisismo “eu, eu, eu”, os estados febris, ou a confusão de identidade). No entanto nem todas as doenças mentais são causadas pela adoção dos valores do “Virus Affluenza”. Podem ser também o resultado do ambiente e das condições criadas por tais valores que a todos afeta. Em 1910, em sua palestra “A Próxima Raça”, Annie Besant mencionou uma causa mais fundamental para a instabilidade mental quando falava do aparecimento de um novo tipo de corpo humano conhecido como a Sexta Raça Raiz. “(...). Quais são as características especiais de corpo e consciência desta Raça. De consciência, claramente a habilidade de reconhecer a unidade. Com esta consciência em desdobramento virá um tipo de corpo já apresentado por muitos entre nós hoje. Quando uma variação é introduzida para iniciar um novo tipo evolucionário, sempre se nota certa instabilidade naqueles em que tal variação é desenvolvida. A instabilidade é marca de progresso, ou de degeneração. Distúrbios nervosos de todos os tipos é demonstrada de diversas maneiras. O mais triste de tudo, no extraordinário aumento de loucura nas nações mais altamente civilizadas do mundo. Naquele tempo, a palavra “loucura” era usada para descrever doenças mentais, especialmente os casos extremos. Mesmo quando o ambiente e as condições, principalmente nas áreas urbanas, são prejudiciais para a evolução de um organismo nervoso mais delicado, ainda assim as forças da Natureza fazem pressão, estando a raça humana preparada para ir adiante ou não. É uma das lições a aprender nesses estudos visando aplicação imediata em nossas vidas. Besant continua: “Estamos vivendo em um ambiente prejudicial à evolução mais elevada e corremos o risco de deixar as coisas como estão (...). Se vamos persistir, teremos que nos adaptar (...). Apesar de Besant ter falado sobre as condições reinantes de 100 anos atrás, a construção de uma Raça Raiz não é trabalho de uns poucos cem anos, mas de milhares. Está em nossas mãos se vamos ajudar ou atrapalhar a evolução da humanidade. Importantes perguntas precisam ser respondidas, se decidimos nos adaptar às forças evolucionárias da Natureza. A solução deve ser procurada em um nível muito mais profundo e além da mente iluminada. Há que se ter foco na “regeneração espiritual do homem”, o elevado propósito pelo qual a Sociedade Teosófica foi fundada 140 anos atrás. Entretanto, existe uma tendência em considerar os princípios e ensinamentos teosóficos como meras teorias ou informações interessantes. Raramente as consideramos como informações que norteiam nossas vidas, atitudes, relacionamentos, deveres e responsabilidades, bem como de outros. Os três elementos da vida espiritual: Estudo, Meditação e Serviço podem nos ajudar no trabalho de regeneração espiritual. No entanto, nenhuma diretriz rigorosa pode ser encontrada na literatura teosófica sobre como estudar, meditar ou prestar serviço. Cabe a cada um de nós fazer o esforço necessário pra aplicar as sugestões feitas em diversos textos e escrituras sagradas, e na literatura teosófica, para encontrar nossa própria maneira de se preparar pra o próximo passo evolucionário. É importante lembrar que a negligência em qualquer item destes três elementos pode conduzir ao fracasso espiritual. Frequentemente enfrentamos questões e desafios que assumimos saber as respostas de como solucioná-los. Entretanto, temos que ir além de nossa mente funcional, dual e fragmentada, possuidora de soluções prontas, detendo-a em suas trilhas para que a solução verdadeira possa emergir. Uma maneira de fazer isso é manter uma mente fixa no “eu não sei”. Pergunta: O que significa “estudar”? É ler textos sagrados? É o estudo do SELF? É reunir informações? Tenho que ler os clássicos teosóficos? Preciso estudar A Doutrina Secreta? Resposta: Eu não sei. Pergunta: O que é “meditação”? É uma técnica? É a observação da respiração? É fixar a atenção em um objetivo? Trata-se de “consciência superior”? Resposta: Eu não sei. Pergunta: O que significa “serviço”? É ser voluntário de organizações como a Cruz Vermelha ou a Sociedade Protetora dos Animais? Devo prestar serviço em um Comitê ou Conselho? Ou é simplesmente ajudar os outros sempre e quando eu poder em minha vida diária? Resposta: Eu não sei. Fazer uma pausa após dizer ou pensar: “Eu não sei” nos ajudará a encontrar uma resposta diferente e inesperada. Pois, se não formos cuidadosos, repetiremos antigos padrões de pensamento e ação. As perguntas acima são apenas exemplos, mas temos que pensar no contexto quando formulamos a pergunta. Será que estamos pensando no contexto do progresso espiritual pessoal, ou da regeneração espiritual da humanidade? Precisamos estar cientes de que o mundo da matéria está constantemente exercendo pressão. Também existe sobre nós a influência advinda dos planos espirituais. Cabe a nós escolher se vamos sucumbir ao mundo da matéria ou nos sintonizar com as influências espirituais. O próximo desafio é para os que gostariam de trabalhar em benefício da humanidade através da Sociedade Teosófica. Como aplicar os princípios: Estudar, Meditar e Servir no trabalho em grupo de nossas Seções, Federações, Lojas/Sucursais, Grupos de Estudo? Novamente, a mente do “eu não sei” pode nos ajudar a encontrar soluções criativas para efetivamente dar continuidade ao trabalho tanto com membros como para com o público em geral. Como esses três elementos podem ser incluídos nas atividades das Lojas/Seções da Sociedade Teosófica? Será que temos que organizar aulas formais, montar grupos de meditação, fazer doações em dinheiro ou oferecer voluntariado coletivo em auxílio de outras organizações de caridade ou comunidades? Resposta: Eu não sei. Qual a finalidade da Sociedade Teosófica? Será meramente compartilhar informações sobre assuntos teosóficos ou existe um objetivo superior? Resposta: Eu não sei. Qual a nossa responsabilidade com nossos irmãos afiliados e o mundo em geral? O que é prioritário, trabalhar com o público, ou ajudar nossos membros a ampliar a compreensão sobre teosofia? Resposta: Eu não sei. Formular perguntas é um exercício interessante. Dizem que só se pode formular uma pergunta quando já se sabe metade da resposta. Somos afortunados por termos à disposição um grande volume de recursos acessíveis na forma de especialistas, livros, bibliotecas, arquivos, professores de meditação, líderes religiosos e filantrópicos, organizações altruístas e assim por diante. Ao longo de anos, os líderes e trabalhadores teosóficos compartilharam suas experiências e sugestões através de livros e artigos publicados. O trabalhador teosófico motivado pode encontrar dicas na revista Thesophist, desde o início do século XX até agora, bem como em revistas de diferentes Seções da época. As pessoas daquela época pareciam ter confiança e clareza quanto aos propósitos da organização. Vale a pena ponderar sobre as sugestões do doutor I. K. Taimni (1898-1978): O trabalho das Lojas, no que se refere aos membros, envolve três itens: A. Ajudá-los a adquirir conhecimento sobre os princípios fundamentais da Teosofia, tomando a palavra teosofia no seu significado mais amplo. B. Prepará-los, tanto quanto possível, para qualquer tipo de serviço para o qual tenham aptidão ou inclinação especial. C. Ajudá-los a desenvolver um caráter forte e nobre e adquirir uma perspectiva espiritual. Devido ao fácil acesso a especialistas em todos os assuntos espirituais, parece que pegamos o caminho mais fácil e colocamos foco sobre assuntos que podem livremente ser tratados sob o guarda-chuva da Teosofia, especialmente com relação ao trabalho público. O comentário usual quando se fala sobre os textos dos antigos líderes teosóficos é que se trata de “coisa velha”. Cada vez menos os membros estão se esforçando para se concentrar nos três elementos acima. Parece que se esquecem de que os princípios teosóficos sempre estarão à frente de seu tempo, pois chamamos a atenção para a Sabedoria Divina que aponta para a inevitável perfeição da humanidade. O doutro Deepak Chopra (1946-  ), em seu discurso aos colaboradores do Google em Seattle – USA, sugeriu que eles haviam auxiliado a consolidação da “Era da Informação” e que agora é hora de inaugurar a “Era da Sabedoria” em tecnologia. Que ideal maior poderíamos pedir do que sermos parceiros no trabalho de inaugurar a “Era da Sabedoria”, não apenas em ciência e tecnologia, mas também na religião, filosofia, vida social, cultura e outros campos de interesse humano. Pois nossa mais profunda compreensão sobre Teosofia irá se revelar em cada aspecto de nossa vida. Existe uma piada sobre um neófito Zen que mais tarde se tornou um dos maiores mestres Zen. Ele disse à pessoa sentada a seu lado no templo, após uma palestra sobre Dharma “Não vim aqui para ouvir do Mestre uma palestra sobre Dharma, mas para ver como ele amarra seus sapatos”. Revista Teosófica. Abraço. Davi

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O NATAL COMO SIMBOLISMO DO RENASCIMENTO


www.psiqueemequilibrio.com.br. Texto da psicóloga jungiana Juliana Pereira dos Santos. O NATAL COMO SIMBOLISMO DO RENASCIMENTO. A mística da gravides. O natal como símbolo do renascimento da nossa criança interior. Em tempos de atitudes polarizadas a necessidade de transformação e renovação se faz presente. Algumas datas específicas são um convite para que algumas reflexões e mudanças possam ser feitas. O natal é uma delas. Segundo a tradição cristã, o natal marca o nascimento de Jesus, o filho de Deus. Independente, de ser ou não cristão, a encarnação do Verbo simboliza psicologicamente para toda a humanidade a síntese dos símbolos fundamentais do universo: o céu e a terra, que une divino e humano. O Cristo, por sua totalidade pode ser considerado o arquétipo do Si mesmo, o centro regulador da psique. Aquele que vem para promover a mudança, restabelecer o equilíbrio e oferecer um novo padrão de consciência, mais adequado às necessidades de amor e preservação. A estrela que guiou os reis magos até o menino, certamente é o símbolo do espírito, farol projetado na noite do inconsciente (Chevalier, 2009). Assim, não seria o natal tempo oportuno para seguirmos a estrela rumo ao nosso interior? Mais do que nos preocuparmos com os presentes ou nos deixarmos seduzir pelas brilhantes estratégias comerciais que querem a todo custo lucrar e lucrar, poderíamos aproveitar deste momento para, assim como os reis magos, levarmos presentes à nossa criança interior. A nossa criança é o lugar da origem onde tudo já existe. Olhar para ela é como voltar onde tudo começou, não no sentido de regressão, mas para se encontrar com a verdade esquecida ou negligenciada por conta de nossos tropeços e falta de consciência. Assim como Maria, é como se estivéssemos todos grávidos, no sentido místico, gerando a criança que nos trará coisas novas. “Eis que faço nova todas as coisas”. Apocalipse 21:6. O local singelo onde ocorreu o nascimento simboliza que precisamos resgatar em nós aqueles aspectos mais simples e para os quais, muitas vezes, não damos o valor devido. Alguns estudos sobre Jesus dizem que ele nasceu numa gruta. Ela simboliza um útero materno. Portanto é o lugar da iniciação. Nas tradições do extremo oriente, a caverna é o símbolo do mundo, a imagem do centro do coração. Simbolicamente, o coração é onde homens e mulheres podem gerar todas as coisas (Chevalier 2009). Há temo para nascer e tempo para morrer. Esta é a proposta do natal. Celebramos com nossos familiares o que pudemos viver, e desejamos um ano novo cheio de sonhos e expectativas. Apesar de em nosso calendário celebramos o dia 25 de dezembro, todos os dias pode ser natal dentro de nós”. http://www.psiqueemequilibrio.com.br. Redator do Mosaico. Nesse texto da Juliana, a meu ver, podemos refletir numa perspectiva humanista dentro da subjetividade (algo trabalhado pelo ser individualmente envolvendo sua sensação, emoção e percepção) espiritual, que sinto devemos singularizar em nossa experiência. A objetividade (o lado do ser marcado pela teleologia, finalidade como o principal fator de motivação existencial. Os ganhos e perdas se misturam num emaranhado do cientificismo e tecnicismo duma praticidade estressante e entediante) que vivenciamos representando nossa fascinação no entendimento embotado. Onde a compreensão é obstaculizada pelo que enxergamos do todo, e ficamos com o fracionamento, um quebra cabeça que geralmente não conseguimos montar. Abordagem diferente costuma abrir nossos olhos para outros panoramas, quebrando nossos paradigmas, tornando-nos maleáveis e em sintonia com o Universo. Não fugimos do princípio da natividade (o nascimento virginal do Cristo) e ganhamos contextualizando o tema para um humanismo contemporâneo. Geralmente tendemos a pensar o natal de fora pra dentro nos preocupando em oferecer algo (presentes) aos nossos queridos familiares e amigos. Além da tradicional festa, com jantar e mesa farta regada a bebidas e outras guloseimas. Completamente fugindo do conceito original, que espiritual, deveria levar-nos a reflexão do nascimento de Jesus, sua condição humilde e vida de privação e sofrimento. Sua entrega a missão divina e seu propósito cumprido à nos resgatar da mundanidade passageira. Isso faz com que percamos de vista o verdadeiro sentido dessa data, que é apresentar ao nosso consciente o caminho da mudança interior, valorizando pela meditação a busca pelo divino e conhecendo maneiras seguras e firmes de produzir nosso desenvolvimento espiritual. Grifarei alguns pontos que a psicóloga compartilhou em sua dissertação. As atitudes polarizadas mencionada é uma realidade que enfrentamos. O eu e o objeto se contrapõem numa dualidade que encerra um materialismo de forte egocentrismo narcisista. Expressamos emoções e sensações distorcidas, pois estão embasadas em apegos e futilidades mundanas. O nascimento de Jesus como a síntese dos símbolos denota o arquétipo  universal em todas as tradições espirituais da união do divino com o humano. A divindade sem forma se humanizou em forma precária e temporária dando-nos a lição de que todos os seres existentes possuem a partícula do Logos Eterno indivisível e indestrutível em sua substância. O Cristo é o princípio do Si mesmo, aquele capaz de trazer a harmonia e equilíbrio ao nosso ser tão envolto em turbulências e inquietação. Efésios 5:18 “(...) enchei-vos do Espírito”. Essa é a medida recomendada à que saiamos da condição de desarmonia interior e assumamos uma rotação condizente com o eixo no qual devemos está fixados. Mas na experiência diária não é fácil desenvolvermos esse processo em nossa convivência. Ora estamos abaixo do nível permitido ora estamos acima dele. Penso ser recorrente a simbologia da estrela com o espírito. Ao olharmos os astros no céu temos a impressão que estão bem perto, não estando imensuravelmente distantes. Ao continuar olhando o espaço sideral, em nosso inconsciente, não diferenciamos perceptivelmente o tempo do espaço. As vezes tendemos a um passado infinito ou um presente infinito, como se fossem a mesma coisa, estando no mesmo plano. Engano grosseiro pois "na relatividade geral postulada por Einstein, tempo e espaço não existem independentemente do Universo ou um do outro. Eles são definidos por medições dentro do Universo, como o número de vibrações de um cristal de quartzo em um relógio ou o comprimento de uma régua. É totalmente concebível que o tempo, dentro do Universo, deva ter um valor mínimo ou máximo, em outras palavras, um início ou um fim. Não faria sentido perguntar o que aconteceu antes do início ou o que acontecerá após o fim, porque tais tempos não seriam definidos". Assim é o espírito que na sua infinitude acoplou-se na finitude humana, sendo um guia em nossos momentos de escuridão. Levar presentes a nossa criança interior passa pela valorização do ser “in natura”, seu estado puro como substancia desarraigada da forma e característica mundana impregnada da sócio cultura moderna. Esse conceito de limpeza espiritual é trabalhado quando assumimos uma postura de desapego a dogmas, crenças e superstições. Chamando para nós a responsabilidade pelo crescimento rumo a uma experiência mística com o Espírito crístico em nossa alma. A criança é a origem onde tudo já existe. Esse conceito é da filosofia orienta, onde é mostrado que em nosso ser interior temos as resposta para todos os questionamento, e caminhos, para nos desvencilharmos das coisas que trazem apegos: desejo, vontade e prazer acima do padrão saudável da vida. Como se estivéssemos todos grávidos, aqui podemos fazer um paralelo com o que a Juliana falou, introduzindo a passagem bíblica de Gálatas 4:19 “Meus filhinhos por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja gerado em vós”. Essa criança precisa ser formada em nosso interior em cada experiência humana e espiritual, simbolizando nossa mudança e transformação até a plenitude de Cristo. Inferimos que o verdadeiro proselitismo (discipulado) deve ser realizado conosco mesmo, devemos formar Cristo em nós que é a esperança da glória é não necessariamente nos outros, pois todos os seres humanos tem Cristo como princípio, bastando ter consciência disso para aprender a gera-lo, transparecendo essa glória a outros. Nossa espirituosidade baseada em supostas verdades e conceitos exclusivistas fecham nossa mente e coração para aqueles que pensam e praticam conceitos diferentes dos nossos. Isso bloqueou nossa comunicação e sintonia em relação aos desiguais em termos de espiritualidade. Perdemos o rico acervo místico depositado em outras culturas e religiosidades. O resgate dos aspectos simples dito pela psicóloga começam, imagino, a partir do momento que conciliamos nossas diferenças com as divergências de noções e pressupostos contrários aos nossos. Esse conceito é um arquétipo da visita dos três reis magos ao menino Jesus, onde os astrólogos Melchior, Gaspar e Baltazar como símbolos do consciente coletivo representam as principais religiões monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. Todas de comum acordo em sintonia, se respeitando e proclamando a divindade suprema, em sua característica e peculiaridade própria com nomes diferentes como Jesus (Cristo), Maomé (Mohammad) ou Messias (Masiach). Entretanto tendo o mesmo Espírito de Luz e revelação para o mundo.  Esse trabalho de interação e prolongamento da “verdade”, visto na revelação de outras culturas pressupõe tempo, mas devemos ter isso em mente. Esta aproximação leva-nos a praticar a fraternidade, coerência e harmonia com os desiguais. Certos de que Cristo, Budha, Aláh e o Messias nascem diariamente em nossos corações nos trazendo felicidade e compaixão para com todos os seres humanos e não humanos. Feliz Natal a todos os amigos do Mosaico.  Abraço. Davi. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A VERDADEIRA NATUREZA DO ESPÍRITO


Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. SANKHYA YOGA. Capítulo Dois. A VERDADEIRA NATUREZA DO ESPÍRITO. Neste capítulo se ensina como se pode, por meio da meditação filosófica, obter a verdadeira concepção do Universo. Isto é, o conhecimento da nulidade e instabilidade de todas as formas que existem no mundo dos fenômenos, em contraste com o Ser Eterno, e como este conhecimento nos conduz ao caminho da liberdade espiritual e da imortalidade.

Continua Sanjaya a contar:
Krishna, cheio de amor, piedade e compaixão, disse a Arjuna, vendo a sua pungente tristeza e as lágrimas nos seus olhos:

Donde te vem, ó Arjuna, essa pusilanimidade? Esta fraqueza, indigna de um homem, faz-te infeliz, pois te fecha as portas do céu (1). (1). O homem que está cheio de medo e dúvidas, afasta-se por si mesmo do céu da bem-aventurança, que é própria a alma que conhece a verdade.

Não te entregues a ela; sacode de ti essa cisma desprezível; levanta-te resoluto e bravo, ó vencedor de inimigos!

Respondeu Arjuna:
Ó meu caríssimo! Como posso eu atacar e combater a Bhishma e Drona, quando a ambos, respeito e estimo?

Seria melhor, para mim, comer o pão seco e sem sabor de mendigo, do que ser o instrumento de morte a estes nobres e respeitáveis homens, que eram meus preceptores e mestres! É verdade que eles são ávidos dos meus bens; mas como poderia eu gozar a riqueza e o poder, sobre os quais há manchas de sangue dos meus queridos?

Não posso dizer se é melhor que nós os vençamos ou que eles nos vençam a nós. Mas sei que eu não desejaria viver nem um minuto mais, se visse morrer os meus parentes e amigos, os filhos do rei Dhritarashtra e o povo de Kuru.

Compaixão e ânsia comprimem o meu coração, e a minha mente vacila diante do problema que se lhe apresenta. Não sei o que devo fazer. Dissipa tu, ó KRISHNA, estas dúvidas; dize-me, qual é o meu dever. Eu sou teu discípulo: prostrado perante ti, peço que me dês as instruções de que careço.

Tão confuso está o meu entendimento, que não posso descobrir nada que acalme a febre da minha mente; o meu interior está em fogo que seca as minhas faculdades. Ainda que eu ganhasse um reino na terra, cujo brilho excedesse a todos os outros reinos como o sol excede às estrelas, ou conseguisse o poder dos deuses e o domínio sobre os exércitos celestes, minha aflição não diminuiria. Não, eu não quero combater.

Continua Sanjaya:
Depois de ter falado assim ao Senhor da Criação, Arjuna caiu em silêncio

Então, KRISHNA, sorrindo ternamente, dirigiu ao desanimado as seguintes palavras, achando-se ambos no meio do espaço entre os dois exércitos:

Palavras do Verbo Divino (1). Sem necessidade te entristeces e afliges; contudo, as tuas palavras têm grãos de verdade. Elas exprimem a sabedoria do mundo exterior (exotérica), mas não satisfazem à mente interior (esotericamente). São, pois, apenas a expressão de um aparte da verdade. Os sábios não se entristecem nem por causa dos vivos nem por causa dos mortos. (1) KRISHNA é o representante do Verbo Divino ou Logos (Cristo em nós).

Sabe, ó príncipe de Pându, que nunca houve tempo em que não existíssemos eu ou tu, ou qualquer destes príncipes da terra. Igualmente, nunca virá tempo em que algum de nós deixe de existir (1). (1) O que no homem é divino, o seu Ser verdadeiro, é eterno. Não nasce nem morte, e forma a sua individualidade, que aparece periodicamente, vestida de corpo material, mas é independente dele.

Assim como a alma, vestindo este corpo material, passa pelos estados de infância, mocidade, virilidade e velhice. Assim, no tempo devido, ela passa a um outro corpo, e em outras encarnações, viverá outra vez. Os que possuem a sabedoria da doutrina esotérica (interior), sabem isto e, não se deixam influenciar pelas mudanças a que está sujeito este mundo exterior.

Os sentidos dão-te, pelas apropriadas faculdades mentais, o sentimento do calor e do frio, do prazer e da dor. Mas estas mudanças vêm e vão, porque pertencem ao temporário, impermanente, inconstante. Suporta-as com equanimidade, valentia e paciência, ó príncipe!

O homem que não se deixa mais atormentar por essas coisas, que se conserva firme e inabalável no meio do prazer e da dor, que possui a verdade igualdade de ânimo. Esse, crê-me, entrou no caminho que conduz à imortalidade.

Aquilo que é irreal, ilusório, não tem em si o Ser Real, não existe na realidade, e sim só na ilusão. E aquilo que é o Ser Real, nunca cessa de ser, nunca pode deixar de existir, apesar de todas as aparências contrárias. Os sábios, ó Arjuna, fizeram pesquisas relativas a isto e descobriram a verdadeira Essência e o sentido interior das coisas (1). Só aquele Ser, no homem que é penetrado pela Verdade, pode conhece-la, porque a Verdade é a sua essência e conhece-se, no homem, a si mesma.

Sabe que o Ser Absoluto, de que todo o Universo tem o seu princípio, está em tudo, e é indestrutível. Ninguém pode causar a destruição desse imperecível (2). (2) O corpo é o instrumento do Espírito, é a sombra incorporizada em que a Luz se esforça por manifestar-se.

Estes corpos caducos, que servem como envoltórios para as almas que os ocupam, são coisas finitas, coisas do momento, e não são o verdadeiro homem real. Eles perecem, como todas as coisas finitas, deixa-os perecer, ó príncipe de Pandu, e, sabendo isto, prepara-te para o combate.

Aquele que pensa, em sua ignorância; Eu mato ou Eu serei morto, procede como criança que não tem conhecimento da verdade, porque o que é na realidade, é eterno, e o Eterno não pode matar nem ser morto.

Conhece esta verdade, ó príncipe! O Homem Real, isto é, o Espírito do homem, não nasce nem morre. Inato, imortal, perpétuo e eterno, sempre existiu e sempre existirá. O corpo pode morrer ou ser morto e destruído; porém, aquele que ocupou o corpo, permanece depois da morte deste (1). (1) O Espírito é a vida mesma, isto é, a Vida Eterna, de que a Vida Exterior, corporal, é só um reflexo, uma manifestação de ordem inferior.

Quem conhece a verdade de que o Homem real é eterno, indestrutível, superior ao tempo, à mudança e os acidentes. Não pode cometer a estultice de pensar que pode matar ou ser morto.

Como a gente tira do corpo as roupas usadas e as substitui por novas e melhores, assim também o habitante do corpo (que é Espírito), tendo abandonado a velha morada mortal, entra em outra, nova e recém-preparada para ele (1). (1) A reencarnação é uma lei universal em toda a natureza. O espírito do homem desencarnado volta, depois de um tempo de descanso, a ocupar um novo corpo, formando assim nova pessoa. Enquanto a alma não tem conhecimento espiritual de si mesma este processo é inconsciente.

O Homem Real, o Espírito, não pode ser ferido por armas, nem queimado pelo fogo: a água não o molha, o vento não o seca nem move. Ele é impermeável, incombustível, indissolúvel, imortal, permanente, imutável, inalterável, eterno, e penetra tudo.

Em sua essência, é invisível, inconcebível, incognoscível (2). Sabendo isto, não te entregues à aflição pueril. (2). Isto é, para o intelecto exterior; mas é cognoscível para a percepção interior de homem espiritualmente iluminado.

Se, porém, não o crês, e pensas que nascimento e morte são coisas reais, mesmo assim te pergunto: por que te lamentas e entristeces?

Pois, em verdade, a morte deriva do nascimento e o nascimento dimana da morte. Não te aflijas, pois, pelo inevitável.

Aqueles que carecem da Sabedoria interior, ignoram de onde vimos e para onde vamos; conhecem só aquilo que é transitório. No Ser Eterno, todas as coisas são compreendidas no estado invisível. Depois se fazem visíveis, e na morte tornam a ser invisíveis. Por que então lamentar?

Quanto à alma, o homem real, Espírito ou Ser Eterno, alguns o tomam por coisa maravilhosa; outros ouvem falar e falam dele como de uma maravilha, com incredulidade e sem compreensão. Mas a mente mortal não compreende esse mistério, nem o conhece em sua natureza verdadeira e essencial, apesar de tudo o que foi dito, ensinado e pensado a seu respeito (1). (1) Só pode compreender o Ser Eterno, quem o realizou em si mesmo.

O Espírito, esse Homem real que habita o corpo, é invulnerável e indestrutível: é a vida mesma. Não há, motivo para te abandonares a aflição e tristeza. Deves estar atento ao teu dever. Tu, que és um príncipe da casa dos guerreiros, tens por dever combater com resolução e heroísmo.

O dever de um soldado é combater, e combater bem. O combate justo honra o guerreiro e abre-lhe a porta do céu.

Se desistires da legítima luta pela verdade e pelo direito, cometerás um grande crime contra a tua honra, contra o teu dever e contra o teu povo.

Os homens de perto e de longe falarão de ti com desprezo, classificando de vergonhoso o teu proceder. E a vergonha e a desonra são piores do que a morte para quem é de nobre nascimento.

Todos os generais pensarão que foi por medo que fugiste do campo de batalha, e te tratarão como covarde. E aqueles que até agora te estimam, desprezar-te-ão.

Os teus inimigos espalharão má fama a teu respeito; com bula e com desdém falarão de ti e de tua falta de coragem. Poderia acontecer-te coisa pior?

Se fores morto em batalha, o céu dos guerreiros será a tua recompensa. Se fores o vencedor, será teu o domínio sobre a terra. Tem, pois, coragem, ó filho de Kunti, e decide-te a combater com ânimo firme!

Com a mente tranquila, aceita como igual o prazer e a dor, o ganho e a perda, a vitória e a derrota. Cinge-te para a peleja, cumpre o teu dever e evita assim o pecado.

O que te expus, ó Arjuna, é a doutrina de Sankya, filosofia especulativa da vida e das coisas. Agora, prepara-te também para ouvir a doutrina de uma escola, chamada Yoga. Se com a devida profundeza e concentração, chegares a compreender estas verdades, libertar-te-ás das cadeias das ações.

Nada de teus esforços se perde neste caminho. Já a menor porção desta ciência e prática (1) nos livra de grande medo e perigo. (1) Yoga significa “união”, não só no sentido de doutrina filosófica, como também na prática; o saber teórico sem a realização prática não tem valor.

Neste ramo de ciência, há um só objeto em que a mente pode concentrar-se com segurança, muito ao contrário de outros campos de esforço mental, cheios de múltiplos ramos, numerosos caminhos e divergentes fins.

Muitos existem, que saciando com as letras (ou com o sentido exterior, superficial) das Sagradas Escrituras e doutrinas, e não podendo perceber o seu verdadeiro sentido interior, acham grande deleite em controvérsias técnicas a respeito do texto, em definições monstruosas e abstrusas interpretações.

Os corações desses homens estão cheios de desejos e esperanças pessoais; o seu mais alto ideal é um céu, onde acham todos os objetos de seus prazeres. A satisfação do seu sensualismo, e não se elevam à altura de onde se percebe a união de todos os seres. Usam palavras floreadas, inventam várias cerimônias e falam muito dos prêmios que esperam aqueles que as observam, e dos castigos em que caem os que são de outras opiniões.

Fica, porém, sabendo que laboram em erro; é-lhes desconhecido o uso de razão concentrada, e estranhas lhes são as alturas da consciência espiritual.

Os Vedas (isto é, as Sagradas Escrituras) tratam das três gunas ou qualidades da Natureza e instruem os pensadores a se elevarem acima delas. Liberta-te, ó Arjuna, dessas gunas. Sê livre dos contrastes das forças opostas da natureza, que pertencem à vida finita e às coisas sujeitas à mudança. Procura para teu descanso a consciência do teu Eu Real, a Verdade eterna. Deixa longe de ti os cuidados mundanos e a avidez de possessões materiais. Concentra-te em ti mesmo, e não te entregues às ilusões do mundo finito.

Como de um tanque, em que de todos os lados aflui água, pode-se tirar o fluido cristalino para encher-se com ele muitos vasos de diferentes formas e dimensões. Assim as doutrinas dos livros sagrados fornecem à mente do estudante sério, tudo aquilo de que ele precisa para chegar ao conhecimento das coisas divinas, conforme o grau e o caráter de seu desenvolvimento.

Seja, pois, o motivo das tuas ações e dos teus pensamentos sempre o cumprimento do dever, e faze as tuas obras sem procurares recompensa, sem te preocupares com o teu sucesso ou insucesso, com o teu ganho ou o teu prejuízo pessoal. Não caias, porém, em ociosidade e inação, como acontece facilmente aos que perderam a ilusão de esperar uma recompensa das suas ações.

Coloca-te no meio entre esses dois extremos, ó príncipe, e cumpre, em tranquila resignação, o dever por ser dever, e não pela expectativa da recompensa. Conserva ânimo igual na ventura ou desventura. Assim é que faz o iogue.

Por muito importante que seja a tua reta ação, o primeiro lugar pertence sempre ao reto pensamento. Procura, portanto, o teu refúgio na paz e na calma do reto pensar, ó Arjuna. Porque aqueles que baseiam o seu bem-estar só nas ações, com estas necessariamente perdem a felicidade e a paz, e caem na miséria e no descontentamento.

Quem atingiu a consciência de iogue é capaz de elevar-se acima dos resultados bons e maus. Esforça-te por atingir esta consciência, porque ela é a chave que abre o mistério da ação.

Os sábios, que renunciam mentalmente os frutos possíveis de suas retas ações, libertam-se das cadeias dos renascimentos e se encaminham para a morada eterna.

Quando te tiveres elevado acima da trama das ilusões, não te inquietaras com os cuidados e questões a respeito das doutrinas, nem com as disputas sobre ritos, cerimoniais e outros enfeites dispensáveis da vestimenta da ideia espiritual.

Livre serás, então, de todas as opiniões alheias, tanto das que se acham nos livros sagrados, como das dos teólogos eruditos ou dos que ousam interpretar o que não compreendem. Em lugar disso, fixarás a tua mente na mais séria contemplação do Espírito, e assim alcançarás a harmonia com o teu Eu Rela, que é a base de tudo.

Diz Arjuna:
Explica-me, ó Mestre cujos raios de saber tudo penetram, quais são os sinais distintivos que caracterizam os homens sábios, aqueles que são firmes e constantes no conhecimento e fixos na contemplação. Como se comportam e como agem? Como se pode reconhece-los?

Fala o Verbo Divino:
Quando um homem, ó príncipe, quebrou os vínculos dos desejos do seu coração e está internamente satisfeito consigo, atingiu a Consciência Espiritual e firmou-se no conhecimento.

A sua mente não é turbada nem pela adversidade nem pela prosperidade. Aceita ambas, sem apagar-se a nenhuma. Nele não tem parte a ira, nem o medo, nem as paixões. Ele merece o nome de sábio.

Com equanimidade suporta as vicissitudes da vida, tanto as favoráveis como as desfavoráveis. Não se entrega nem à alegria excessiva, nem à tristeza. Nada lhe rouba a liberdade.

Quando um homem chegou a possuir a verdadeira sabedoria espiritual, é semelhante à tartaruga que encolhe para dentro da sua casa os seus membros. Assim o homem sábio é capaz de desviar os seus sentidos dos objetos que neles produzem impressão, e abriga-los das ilusões do mundo exterior, protegendo-os pela armadura do Espírito.

É verdade que o homem que se abstém dos excessos sensuais, é capaz de negar a satisfação aos sentidos. Tal homem, porém, ainda é inquietado pelos desejos de gratificação. Mas aquele que achou o seu Eu Real dentro de si é libre até do desejo e de toda tentação que desaparecem como a sombra ante a luz meridiana.

O homem que se abstém, às vezes sucumbe ainda ao ataque repentino de um desejo tumultuoso. Mas quem conhece que o seu Eu Real é a única realidade, esse é senhor de si mesmo, de seus desejos e de seus sentidos.

Tendo vencido os sentidos, pode descansar em minha Divindade, contemplando o Ser Real. O irreal, o ilusório, não existe para ele.

Quem anela objetos dos sentidos, nos quais pensa e os quais contempla, fica atraído e enlaçado por esses objetos. Desta atração e deste enlace provém o desejo, e o desejo gera a paixão

A paixão é a causa da perturbação mental e da temeridade. Estas trazem a confusão e a perda da memória (das verdades já reconhecidas). Da perda da memória resulta, e, com isso, perde-se o homem totalmente.

Mas quem, senhor de si mesmo, encontra os objetos dos sentidos, sem a eles anelar e sem deles fugir, esse alcança a Paz.

E na Paz que é superior a todo intelecto, ele encontra a sua libertação de todas as aflições e dores da vida. Quando, porém, a sua mente está livre destes elementos de inquietação, fica aberta ao influxo da sabedoria e da ciência.

Não podem chegar à verdadeira ciência aqueles que não entraram nessa Paz, pois, sem a Paz e sem a calma não é possível existir sabedoria, nem felicidade.

Onde não há Paz, encontra-se somente a tormenta dos desejos sensuais, que destrói a faculdade do saber. Assim como um feroz vento borrascoso impede o forte navio que caminha pelas ondas no Oceano.

Por isso, ó príncipe, só aquele cujos sentidos são plenamente livres de atração dos objetos sensuais e protegidos pelo saber do Espírito, tem o verdadeiro conhecimento.

Aquilo que parece ser claridade de dia à massa do povo é, para ele, escuridão e ignorância. E aquilo que é noite para a multidão, ele reconhece como luz meridiana. Isto quer dizer que aquilo que à gente do mundo sensorial parece ser real e verdadeiro, para o sábio é ilusão. E aquilo que a maior parte dos homens julga ser irreal e não existente, o sábio conhece como o único que é Real e existente.

O homem, cujo coração é como o Oceano, a que afluem todos os rios e que, apesar disso, permanece constante e não sai dos seus limites. O homem que sente o ímpeto dos desejos, das paixões e inclinações, mas que, todavia, fica imóvel – esse alcança a Paz (1). Aquele, porém, que se entrega aos desejos, não conhece a Paz, e é escravo dos desejos inquietantes. (1) Tal estado, em que todos os desejos e todos os pensamentos “dormem”. Mas em que se sente a mais elevada consciência da Divindade, chama-se (com o termo sânscrito) Samadhi.

Aquele que se separou dos efeitos dos desejos, e abandonou os prazeres da carne, tanto em pensamento como em ação, caminha diretamente para a Paz. Quem deixou atrás de si o orgulho, a vanglória e o egoísmo, caminha diretamente para a Bem-aventurança.

Este é, ó príncipe de Pându, o estado da união com o Ser Real, o estado bem-aventurado da Consciência Espiritual. Quem o atingiu, não se deixa embaraçar nem desviar pela ilusão. E quem, havendo-o atingido, nele permanece na hora da morte, entra diretamente em Nirvana (2), em Brahma, (3), no seio do Pai-Eterno. (2) A palavra Nirvana designa a desaparição de todas as ilusões. É o domínio completo do espírito sobre a matéria. (3) Brahma – Deus Criador. Livro Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi