sábado, 30 de abril de 2016

Renascimento de um Bodhissatva.

Budismo. Uma vez, na cidade de Mithila,  havia um rei que tinha dois filhos. O filho mais velho chamava-se Fruta Ruim e seu irmão mais novo, Fruta Pobre. Enquanto eles eram ainda bem jovens, o rei coroou o mais velho como príncipe. Ele era o segundo em comando e o próximo na lista para o trono. O príncipe não coroado, Fruta Pobre, tornou-se comandante do exército. Finalmente o velho rei morreu e o Príncipe Fruta Ruim tornou-se o novo rei, enquanto seu irmão Fruta Pobre passou a ser o príncipe coroado. Pouco depois, um certo servente tomou-se de antipatia pelo príncipe coroado e foi ao rei Fruta Ruim contar-lhe uma mentira, que seu irmão estava planejando matar a ele, o rei. A princípio, o rei não acreditou nele, mas de tanto o servente repetir essa mentira o rei ficou amedrontado e então mandou acorrentar o Príncipe Fruta Pobre e trancá-lo na masmorra do palácio. O Príncipe pensou, Eu sou um homem bom e não mereço estas correntes. Nunca quis matar meu irmão. Nem sequer zangado com ele eu estava. Portanto agora eu invoco o poder da verdade. Se o que eu digo é verdadeiro, que estas correntes se soltem e as portas da masmorra sejam abertas!. Miraculosamente a corrente se quebrou em pedaços, a porta se abriu, e o príncipe fugiu para uma afastada vila.  O povo de lá o reconheceu e o ajudou, uma vez que o respeitavam, e o rei não pôde capturá-lo. Apesar de viver escondido, o príncipe coroado tornou-se o mestre daquela remota região. Com o tempo ele formou um grande exército e pensou, "Embora no início eu não tenha sido um inimigo do meu irmão, agora devo sê-lo." Então, ele tomou seu exército e cercou a cidade de Mithila. Mandou uma mensagem para o Rei Fruta Ruim. "Eu não era seu inimigo, mas você me tornou um. Apesar de que eu vim para fazer guerra contra você, lhe dou uma chance, dê-me sua coroa e seu reino, ou venha para fora e lute”. Ouvindo isto, a maioria do povo da cidade saiu e juntou-se ao príncipe. O Rei Fruta Ruim decidiu pela guerra, pois ele faria qualquer coisa para manter seu poder. Antes de sair com seu exército, ele foi despedir-se da sua rainha principal. Ela estava grávida, esperando um nenê para muito breve. Ele lhe disse: "Meu amor, ninguém sabe quem irá vencer esta guerra, portanto se eu morrer você deve proteger esta criança dentro do seu útero”. Então, bravamente ele partiu para a guerra e foi rapidamente morto pelos soldados de seu irmão inimigo.  A novidade sobre a morte do rei se espalhou através da cidade. A rainha disfarçou-se de uma pobre e suja mendiga, cobrindo-se de velhos farrapos de pano e lambuzando-se de sujeira. Colocou algum ouro do rei e as suas mais preciosas joias numa cesta e as cobriu com arroz sujo de modo que ninguém pudesse querer roubar. Então ela deixou o palácio carregando a cesta na mão. O sol ainda nem havia nascido e ninguém a reconheceu. Ela deixou a cidade pelo portão do norte. Como havia vivido sempre dentro da cidade, não tinha a mínima ideia para onde ir. Ela tinha ouvido falar de uma cidade chamada Kampa, então, sentou-se ao lado da estrada e começou a perguntar se alguém estava indo para Kampa.Acontece, porém, que aquela criança que estava para nascer não era um nenê comum. Não seria esta sua primeira vida nem seu primeiro nascimento. Milhões de anos atrás,  tinha sido um seguidor de um mestre, há muito esquecido,  Budha, o  Iluminado.  Ele havia desejado de todo o coração se tornar um Budha justamente como seu amado mestre. Ele havia renascido em muitas vidas, algumas vezes como pobres animais, algumas vezes como antigos deuses viventes e outras vezes como seres humanos. Ele sempre tentou aprender com seus próprios erros a desenvolver as Dez Perfeições, de modo a poder purificar sua mente e remover as três raízes causadoras da perniciosidade; os venenos da avidez, ira, e a ilusão de um ego separado. Desenvolvendo a Perfeição, ele poderia algum dia ser capaz de substituir os venenos com as três purezas, desapego, gentileza e sabedoria. Este Grande Ser havia sido um humilde seguidor do esquecido Budha. Seu intento era alcançar a mesma iluminação de um Budha, a experiência da Verdade completa. De modo que as pessoas o chamavam de Bodhisattva, que significa um Ser Iluminado.  Ninguém sabe na verdade sobre quantas milhões de vidas foram vividas por este grande herói, mas muitas histórias têm sido contadas, incluindo esta sobre uma rainha grávida que estava para trazê-lo à luz. Após muitos outros mais renascimentos, ele tornou-se o Budha que é lembrado e amado nos dias de hoje em todo o mundo. Na época desta nossa história, o Ser Iluminado já havia completado as Dez Perfeições, portanto, a glória de seu próximo nascimento causou um estremecimento em todos os mundos celestes, incluindo o Céu dos 33 reinos governado pelo ReiSakka. Sendo um deus, quando ele sentiu o estremecimento, sabia que isto fora causado pelo nenê ainda por nascer, dentro do ventre da disfarçada Rainha de Mithila. Também sabia que este seria um ser de grandes méritos. Então ele decidiu ir, e ajudar. O Rei Sakka fez uma carruagem coberta, colocou uma cama dentro, e apareceu no lado da estrada em frente a grávida rainha, como um simples homem velho e gritou, "Alguém precisa de uma carona até Kampa?". A desabrigada rainha respondeu, "Eu desejo ir para lá, gentil senhor”. O velho homem disse: "Então venha comigo”. A rainha grávida estava bem pesada com sua barriga, uma vez que o nascimento estava próximo. Ela disse: "Não posso subir na carruagem. Simplesmente carregue minha cesta e eu irei caminhando atrás." O velho homem, o rei dos deuses, respondeu, "Não se preocupe! Eu sou o mais sabido motorista por aqui, portanto apenas entre na minha carroça!". Eis que, assim que ela levantou o pé, magicamente o Rei Sakka fez o chão sob ela subir e então facilmente ela conseguiu subir na carruagem!.  Imediatamente ela percebeu que este devia ser um deus, e adormeceu. Sakka dirigiu a carruagem até chegar a um rio. Então ele acordou a senhora dizendo, "Acorde filha, e banhe-se neste rio. Vista-se nestas finas roupas que eu lhe trouxe e depois coma um pouco de arroz”. Ela o obedeceu e depois deitou-se para dormir um pouco mais. À tardinha ela acordou e viu casas e paredes altas e perguntou, "Que cidade é esta, pai?”. Ele respondeu, "Esta éKampa”. Ela perguntou novamente, "Em tão pouco tempo?, eu havia ouvido falar que o caminho para Kampa era bem longo”. Rei Sakkarespondeu: "Eu tomei um atalho. Agora que estamos no portão do sul da cidade, você pode entrar a salvo. Eu devo seguir adiante para minha distante vila”. Então eles se separaram e Sakka desapareceu na distância, retornando ao seu mundo celeste. A rainha entrou na cidade e sentou-se numa hospedaria.  Ali em Kampa vivia um sábio homem que recitava palavras encantadas e dava conselhos para ajudar as pessoas doentes ou desafortunadas. Ao caminhar para se banhar no rio, com os seus 500 seguidores, ele viu a linda rainha à distância. A grande bondade do ser ainda não nascido dentro dela dava-lhe um doce e caloroso brilho, notado apenas pelo sábio homem. De pronto ele sentiu um carinho e uma gentil amizade por ela, como se ela fosse sua própria irmã mais nova. Então ele deixou seus seguidores no lado de fora e entrou na hospedaria. Ele perguntou-lhe: "Irmã, de qual vila você vem?". Ela respondeu: "Eu sou a rainha principal do Rei Fruta Ruim de Mithila." Ele perguntou: "Por que você veio aqui, então?". Ela disse, "Meu marido foi morto pelo exército de seu irmão, Príncipe Fruta Pobre, e eu estava com medo e decidi fugir para proteger o filho não ainda nascido que trago dentro de mim”. O sábio homem perguntou, "Você tem algum parente nesta cidade?". Ela disse, "Não, senhor." Então ele disse, "Não se preocupe de jeito nenhum. Eu nasci numa rica família e eu próprio sou rico e tomarei conta de você como o faria pela minha própria irmã mais nova. Agora, você deve chamar-me de irmão, agarre-se aos meus pés e grite."  Quando ela assim o fez, os seguidores vieram para dentro. O sábio homem então explicou-lhes que ela era sua irmã mais nova, desaparecida há muito tempo. Disse aos seus seguidores mais próximos que a levassem para sua casa numa carruagem coberta e que dissessem a sua esposa que esta era sua irmã, e que necessitava ser cuidada. Eles fizeram exatamente como ele disse. A esposa a recebeu, deu-lhe um banho quente, e a fez descansar na cama. Após banhar-se no rio o sábio homem retornou à casa. Durante o jantar ele convidou sua irmã para juntar-se a eles. E, após o jantar ele a convidou a hospedar-se em sua casa. Em apenas poucos dias a rainha deu à luz a um maravilhoso menino e deu-lhe o nome de Fértil. Ela disse ao sábio homem que este era o nome do avô do menino, o qual uma vez fora Rei deMithila. http:www.maisbelashistoriasbudi
sta. Abraço. Davi.


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Islamismo e Cristianismo.



Islamismo e Cristianismo. Alcorão 16:93 “Se Deus quisesse, ter-vos-ia constituído em um só povo; porém, Ele desvia quem quer e encaminha quem lhe apraz. Por certo que sereis interrogados sobre tudo quanto tiverdes feito”. Cada qual tem um objectivo traçado por Ele. O princípio básico é Amar a Deus sobre todas as coisas; mas para que seja completo tem que continuar-se: E ao teu próximo como a ti mesmo, por amor a Deus. Como resultado da crença em Deus e na fraternidade dos seres humanos, a humanidade deverá, necessariamente, viver uma vida de amor, concórdia, cooperação e paz. Todas as leis de Deus foram reveladas com o objetivo de enfatizar este aspecto. Os Profetas de Deus, paz esteja com eles, em épocas diferentes, mostraram à humanidade que a religião de Deus é sempre a mesma, que os homens são irmãos, sem nenhuma inimizade ou conflito entre eles, que a força da sua mensagem é sempre a mesma; que Quem os elevou foi Um e que o fundamento da sua religião é só um, sem possibilidade de contradição ou diferença entre eles. O Alcorão diz:

Ele ordenou para vocês a religião que encomendou a Noé, a que te revelou a ti (Muhammad), a que ordenou a Abraão, Moisés e Jesus, dizendo: 'Estabelecei a religião e não vos dividis nela. Alcorão 42:13

Este texto, sem dúvida alguma, é um testemunho de que a religião de Deus é a mesma, em todos os tempos. No Alcorão há muitos exemplos a este respeito, como:

Na verdade inspiramos-te tal como inspiramos Noé e os Profetas que o sucederam; E também inspiramos Abraão, Ismael, Isaac, Jacob e as tribos, Jesus, Josué, Jonas, Aarão, Salomão, e concedemos os Salmos a David. Alcorão 4:163

Na verdade, Nós mandamos os Nossos apóstolos com provas claras, e enviámos com eles o Livro e a balança (do bem e do mal) para que os homens possam observar a medida justa. Alcorão 57:25

Dizei: 'Cremos em Deus, no que nos tem sido revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaque, a Jacob e as tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi dado aos Profetas procedente do seu Senhor. Não fazemos distinção alguma entre eles, e nos submetemos a Deus. Alcorão 2:136

Concedemos o Livro a Moisés, e depois dele enviamos muitos Mensageiros, e concedemos a Jesus, filho de Maria, sinais claros, e o fortalecemos com o Espírito Santo. Alcorão 2:87

Os fiéis, os judeus, os sabeus e os cristãos, que creem em Deus, no Dia do Juízo Final e praticam o bem, não serão presas de temos, nem se atribularão. Alcorão 5:69

Ó humanidade! Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em tribos e nações, para que se conheçam uns aos outros. Alcorão 49:13

Para Nós será o regresso deles. Então caberá a Nós chamá-los para as contas. Alcorão 88:25/26

Qualquer pessoa que leia o Alcorão, poderá ver que os Suras (capítulos) mais longos do Alcorão enobrecem e dignificam Jesus e a Virgem Maria. O Alcorão também menciona e clarifica alguns dos milagres de Jesus (paz esteja com ele) e narra outros milagres que não se encontram no próprio Evangelho, como por exemplo pássaros feitos de barro aos quais deu vida através de um sopro, com a permissão de Deus, e também menciona o fato de que Jesus falava às pessoas ainda no seu berço. Outros dos longos capítulos do Alcorão referem--se a Jesus: o primeiro é “Maria” e o segundo é “A família de Imran”, que era a família de Maria. Nestes capítulos conta-se como Maria, que era imaculada, deu à luz a Jesus e como foi também uma concepção imaculada:

E quando os anjos disseram: "Ó Maria! Deus te elegeu e te purificou e te preferiu de entre todas as mulheres da humanidade... 'Ó Maria! Por certo que Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Ungido (Messias), Jesus, filho de Maria; nobre neste mundo e no outro; e que se contará entre os diletos de Deus. Ele falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos. Alcorão 3:42/46

O Alcorão dirige-se aos Povos do Livro para mostrar com clareza o alto cargo que ocupa Jesus perante Deus:

Ó povos do Livro! Não exagereis na vossa religião nem digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um Mensageiro de Deus e o Seu Verbo que Ele insuflou em Maria. É um Espírito vindo d'Ele. Crede, pois, em Deus e nos Seus Mensageiros e não digais: “Trindade”! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Um só. Glorificado seja Ele! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo quanto há nos céus e na terra; e Deus é mais do que suficiente Guardião. Alcorão 4:171

Estas crenças com respeito a Jesus que são incutidas aos muçulmanos, abrem-lhes os corações aos seus ensinamentos e facilitam a convergência e a cooperação entre muçulmanos e cristãos. O Alcorão mostra claramente que os cristãos são os que se encontram mais próximos dos muçulmanos devido à moral e às virtudes que partilham com eles:

Verás que os que estão mais próximos em afecto àqueles que acreditam são os que dizem: 'Somos cristãos'. Isto acontece porque entre eles há sacerdotes e monges e não são soberbos. Alcorão 5:82 (a)

O Profeta Muhammad (s.a.w.) disse:
“Muçulmanos, conquistareis o Egito! Quando o fizerdes, sede amáveis para com os cristãos”. O quarto Califa, Ali (r.a.), costumava dizer aos cristãos: “Nós não queremos evitar que creiam no Cristianismo, mas sim sugerir-vos que de fato lhe obedeçais (ao verdadeiro Cristianismo)”. E há incontáveis exemplos como estes. O próprio Profeta Muhammad (s.a.w.) dispôs na sua Mesquita em Medina, espaço para os seus convidados cristãos orarem. E quando os muçulmanos fizeram da grande Mesquita Omíada, em Damasco, um templo comum para muçulmanos e cristãos, que entravam pela mesma porta, mas tinham a mesquita dividida em dois e juntos faziam habitualmente as orações. Este foi o resultado inevitável do entendimento, a aproximação e o respeito que existia entre estas duas religiões reveladas, naqueles tempos. Coincidiam em propósitos e objetivos, e não havia oposição na sua essência e origem. É igualmente bem sabido, a este respeito, que Omar, o segundo Califa, quando entrou em Jerusalém, recusou a oferta de orar no Santo Sepulcro, para evitar que os muçulmanos, no futuro, tentassem converter a Igreja ou parte dela numa Mesquita. O Profeta Muhammad (s.a.w.) ordenou aos muçulmanos que fossem amáveis com os judeus e cristãos, pois eram seguidores das duas religiões reveladas antecedentemente (Povos do Livro). E disse: “Quem causar mal a um cristão ou a um judeu será meu inimigo no dia do Juízo e pagará por isso”, acrescentando: “Sede amáveis com os cristãos”. Se a humanidade em geral não é capaz de libertar-se dos seus preconceitos e trabalhar no sentido da tolerância religiosa, a situação será espantosa e Deus nos repreenderá no Além por cada um dos nossos erros, pelo nosso fanatismo e discórdia, pois são estas as que promovem a devastação, a agonia e o derramamento de sangue. A melhor conclusão para esta minha intervenção, digamos sobre o diálogo inter-civilizacional, seriam as palavras da Senhora Schmael, quando terminou o seu discurso dizendo: O meu hábito não é o de fazer declarações ou escrever panfletos e não é o da excitação e dos discursos tormentosos. Eu creio que a água pura no seu incessante correr irá, através do tempo que passa, vencer as rochas sólidas. Mas eu acrescento a minha gratidão — enquanto desejo obter ajuda para a causa da paz — à qual Goethe faz a sua alusão nos seus Poemas Orientais:

«A Allah pertence o Oriente
E também o Ocidente,
O Hemisfério Norte
E o Sul.
Estão calma e pacificamente perante Ele;
Só Ele é o Justo;
Ele deseja o bem para os Seus adoradores;
De entre centenas de nomes Seus,
Tomem este para vós.»

Que Deus nos ilumine a todos.



(a) O significado não é que eles se intitulavam meramente cristãos, mas que eram cristãos sinceros, que apreciavam as virtudes dos muçulmanos, como aconteceu com os abissínios, ao rei dos quais (conhecido por Negus), os muçulmanos pediram refúgio durante a perseguição ocorrida em Meca (ár. Makkah), que ficou considerada como a primeira migração dos muçulmanos de Meca. http://www.estudos-biblicos.net/ . Abraço. Davi.

Lisboa – Portugal
Março de 2010

terça-feira, 26 de abril de 2016

Yom Kipur e o Poder do Perdão.



Judaísmo. Rabino Gabriel Aboultboul. Yom Kipur é a oportunidade dada por D’us de virar a página de nossa vida e acreditar em nossa capacidade de melhorar. Devemos corrigir os erros, mas não nos tornarmos reféns do passado, incapazes de olhar para o futuro. Durante os dias que antecedem o Yom Kipur, o Dia da Expiação, recitamos antes das orações matinais as Selichot, os pedidos de perdão a D’us. Sempre nos referimos a essas orações no plural, Selichot, e não no singular, Selichá. Nossos Sábios explicam que isso significa que o pedido de perdão tem duas vias: não apenas pedimos perdão, mas, também, perdoamos. A quem precisamos perdoar? Às outras pessoas, a D’us e a nós mesmos. Na língua hebraica, há várias palavras que significam perdão. As preces de perdão foram chamadas de Selichot porque o valor numérico de Selach é 98, que é o número de maldições mencionadas na Torá (os cinco primeiros livros da bíblia chamada Tanake em hebraico). Isso para nos ensinar que o perdão tem o poder de transformar a maldição em bênção, neutralizando tudo o que há de negativo no mundo. Mas o que significa perdoar, de acordo com o judaísmo? O que significa perdoar?. Na Torá, há mandamentos que determinam tanto nossa relação com D’us quanto com relação a outros seres humanos. Consequentemente, há dois tipos de erros que o homem pode cometer contra: D’us e contra seus semelhantes. O que significa pedir perdão a D’us pelos erros e transgressões cometidas contra Ele? Significa reconhecer que, ao longo do ano, nem sempre cumprimos Seus mandamentos. Em Yom Kipur, D’us pode perdoar-nos apenas por esse tipo de transgressões e não pelas faltas que cometemos contra outros seres humanos. E o que implica pedir perdão a uma pessoa? Não significa apenas dizer Me perdoe, apesar disto ser um bom começo. Pedir perdão implica procurar reparar o erro. Se tivermos prejudicado alguém financeiramente, devemos devolver o que devemos ou, no mínimo, admitir a dívida. Se tivermos denegrido a imagem de alguém, devemos tomar as medidas necessárias para redimi-la. Vale ressaltar, porém, que quando ofendemos ou prejudicamos outra pessoa, é necessário um pedido de perdão duplo, tanto a ela quanto a D’us. Pois ofender, ferir ou prejudicar outra pessoa de qualquer forma é, também, uma transgressão dos mandamentos Divinos, que nos ordenam amar a todos, fazer o bem e nunca fazer mal a ninguém. Portanto, para se obter o perdão em Yom Kipur, precisamos procurar consertar nosso relacionamento tanto com D’us como com as outras pessoas. Porém, não adianta bater no peito e confessar os pecados, e esperar que D’us nos perdoe inclusive pelos erros que cometemos contra os outros. Para sermos perdoados desses erros, precisamos, antes do início de Yom Kipur, pedir desculpas àqueles que, de alguma forma, prejudicamos ou magoamos. Precisamos fazer de tudo para retificar nossos erros, tanto com atos como com palavras. A verdade é que cada um de nós precisa pedir perdão e também perdoar os outros. Assim como quem falhou com outra pessoa deve pedir perdão, cabe à pessoa que recebeu um pedido de desculpas perdoar, contanto que o pedido dela seja sincero e de fato faça o possível para corrigir o erro cometido. Acima, mencionamos que há três tipos de perdão. Devemos perdoar as outras pessoas, devemos perdoar a D’us e devemos perdoar a nós mesmos. Para muitos, é mais fácil perdoar aos outros seres humano e a D’us do que a si próprio. Muitas pessoas se condenam por suas falhas e são incapazes de se perdoar. Esta inabilidade é algo negativo, pois nossa vida fica presa ao passado. O auto perdão é uma demonstração de humildade, pois demonstra que reconhecemos que somos humanos e não infalíveis. A grandeza de Rosh Hashaná e Yom Kipur é que D’us instituiu um dia no qual temos a oportunidade de “virar a página”. Precisamos estar cientes de nossos erros, e fazer todo o possível para corrigi-los, mas não podemos permitir que eles nos definam. Não podemos nos tornar reféns dos erros do passado, incapazes de olhar para frente. Yom Kipur não é o dia em que falamos para D’us que somos “inocentes”, e sim, em que admitimos nossa culpa. Mas é, também, o dia em que expressamos o desejo de melhorar. Assumir nossos erros já é parte integrante da obtenção do perdão. Há uma enorme diferença entre o que a pessoa é, e o que ela faz. Fazer algo errado não significa ser errado. Um mau comportamento, uma má atitude não pode definir quem a pessoa é. Isso, evidentemente, não significa que nossos atos não sejam importantes e significativos. Significa que eles não podem nos definir: talvez erramos ontem, talvez erramos hoje, mas amanhã podemos agir corretamente. O fato de uma pessoa errar não significa que ela não deva ser perdoada ou que não possa modificar-se. Rabi Shneur Zalman de Liadi (1745-1812), o Alter Rebe, fundador do movimento Chabad Lubavitch, explica o significado de um verso nos Salmos que, aparentemente, não faz sentido. Está escrito que “D’us nos perdoa para que possamos temê-Lo”. À primeira vista, esse conceito parece ser ilógico: se alguém sabe que será perdoado, deveria ter menos medo de pecar. O Alter Rebe explica esse verso com uma metáfora. Suponhamos que alguém tomou um grande empréstimo no banco para investir em um negócio. Infelizmente, não teve sucesso. Se o gerente do banco for exigir a devolução do empréstimo, além do pagamento de todos os juros, ele fará com que a dívida se torne impagável. Mesmo se o devedor quisesse pagar a dívida, não conseguiria. Consequentemente, ele não fará qualquer tentativa para devolver o dinheiro que tomou emprestado. Contudo, se o gerente do banco estiver disposto a negociar, se oferecer um plano viável para o devedor pagar o que deve, haverá mais chance de o banco recuperar o empréstimo. Um fenômeno parecido ocorre no relacionamento entre o homem e D’us. Se D’us fosse excessivamente exigente, se Ele cobrasse todo pecado cometido, romperíamos a relação com Ele: passaríamos a fugir Dele, a ignorá-Lo. O Eterno, então, propõe um acordo. Ele nos perdoa e facilita o pagamento de nossa dívida com Ele, para que seja possível manter o relacionamento. Muitas pessoas acreditam que perdoar é um sinal de fraqueza. Na realidade, é exatamente o oposto. A falta de perdão é sinal de fraqueza e insegurança enquanto perdoar é um ato de coragem, de força. Perdoar não significa dar permissão para que a pessoa volte a cometer o mesmo erro. Significa ter fé que a pessoa que errou não voltará a errar no futuro. Perdoar alguém significa acreditar nela. D’us nos perdoa porque Ele acredita em nós: Ele confia que nosso futuro será melhor que nosso passado. Em muitos casos, não conseguimos compreender por que alguém deveria merecer ser perdoado: por que deveria ter uma segunda ou até uma terceira chance. Daí ocorre que D’us nos faz passar por algo parecido, nós, também, acabamos falhando, e clamamos por perdão, algo que não queríamos dar a outra pessoa. Muitas pessoas não querem perdoar os outros, mas a pergunta que se deve fazer a elas é: se fosse você que tivesse errado, você também gostaria de não ser perdoado? Nossos Livros Sagrados nos ensinam que D’us se comporta conosco da forma como nos comportamos com as outras pessoas. Se formos tolerantes com outros, Ele será tolerante conosco. Por outro lado, se formos excessivamente rigorosos com as outras pessoas, Ele será excessivamente rigoroso conosco. O Baal Shem Tov (1698-1760), fundador do Movimento Chassídico, ensinou que depois que a pessoa deixa este mundo, é ela própria que decreta seu próprio veredicto perante a Corte Celestial. Mostram a ela os atos de uma pessoa, sem revelar que se trata dela mesmo, e se lhe pergunta: Qual deve ser o veredicto?. Após a pessoa julgar o caso, é revelado a ela que se trata dela própria. Isso significa que as pessoas que estão acostumadas a julgar os outros favoravelmente acabarão julgando-se favoravelmente perante a Corte Celestial. Por outro lado, aqueles que são demasiadamente rigorosos com os outros, arriscam-se a se autocondenar. Quando alguém é rigoroso demais, esse rigor acaba se voltando contra si próprio. O que impede o ato de perdoar ou de pedir perdão? Orgulho, arrogância e medo. E esses sentimentos estão entrelaçados. Muitas pessoas não pedem perdão às outras por motivo de orgulho: Por que eu deveria pedir perdão a tal pessoa? Afinal, sou muito mais importante, mais experiente, mais inteligente, mais bem-sucedido do que ela (...). O outro motivo é o medo da resposta. Muitos temem não serem atendidos e que isso seja motivo de vergonha, ou seja, de orgulho ferido. Em Yom Kipur, pedimos perdão a D´us, mas, também, precisamos perdoar D’us. Conta-se a seguinte história sobre um grande mestre chassídico, o Rabi Elimelech de Lijensk (1717-1787). Na noite que antecede Yom Kipur, ele enviou um de seus alunos a certo botequim, para que este aprendesse o significado do perdão duplo. Ao chegar ao botequim, o aluno nota que o dono pede à sua esposa uma caderneta. Ela leva uma caderneta para o marido onde ele havia recordado, ao longo do ano, tudo que D’us fizera de errado com ele: todos os sofrimentos que ele tinha passado durante o ano. Após terminar de ler essa caderneta, ele pede à sua esposa uma outra caderneta onde ele havia escrito todos os pecados que ele fizera contra D’us, ao longo do ano. Após ler essa caderneta, o dono do botequim se dirige a D’us, diz: Le Chaim e toma uma dose de bebida. Aí, diz: D’us, você me perdoa por tudo que eu fiz de errado com o Senhor ao longo do ano e eu O perdoo por tudo de mal que o Senhor fez comigo ao longo do ano. Essa história pode fazer as pessoas sorrirem, mas é algo sério. Cada um de nós falha contra D’us ao longo da vida, mas todos nós temos, também, nossas chateações e ressentimentos em relação a Ele. Às vezes, brigamos com D’us, mesmo quando certas coisas acontecem em nossa vida que não têm nenhuma ligação com Ele. Por exemplo, brigamos com alguém na sinagoga, e deixamos de frequentá-la, ou algo não ocorre como esperávamos e deixamos de colocar Tefilin (caixinhas de couro). Em certos casos, porém, é justificado o sentimento de que D’us nos desapontou. Muitos de nós carregamos esse tipo de sentimento, principalmente, quando coisas difíceis acontecem ao longo do ano. Infelizmente, esse tipo de sentimento negativo acaba tomando conta de nosso coração. Yom Kipur é o período do ano em que devemos livrar-nos desse tipo de sentimento. Yom Kipur, e os dias que antecedem essa data, é a época do ano para abrir um espaço para D’us em nossa vida, mesmo se acharmos que Ele “não merece”: mesmo se acreditamos que Ele não foi tão bom conosco no ano que se passou. Muitas pessoas pensam, Fiz tantas coisas boas e como é possível que D’us permitiu que tal coisa ruim acontecesse comigo? Na realidade, nenhum de nós tem noção da Contabilidade Celestial e do que é, de fato, bom ou ruim para nós. De qualquer forma, vale ressaltar que mesmo esse tipo de ressentimento contra D’us é uma grande mostra de fé. Pois nós não nos zangamos com alguém em quem não acreditamos, tampouco nos chateamos com alguém de quem não esperamos nada de bom. As pessoas se chateiam com D’us porque acreditam Nele e esperam que Ele faça apenas o bem. Portanto, decepcionar-se com D’us é um sinal de grande fé, tanto na existência como na bondade infinita Dele. Mas apesar desses sentimentos serem um sinal de fé, precisamos removê-los do nosso coração, pois eles obstruem nosso caminho e nossa felicidade. Sentimentos de dor, raiva e ressentimento, mesmo que totalmente justificáveis, são um grande obstáculo para tudo de bom na vida. Sentir raiva é o mesmo que tomar um copo de veneno e desejar que outra pessoa morra. Quem se prejudica é quem sente raiva, não o objeto da raiva. Como então, lidar com a dor, principalmente quando ela é profunda? A forma de lidar com a dor é tentar enxergar as coisas de forma diferente. Yom Kipur é o dia de lembranças. Nesse dia, lembramo-nos de Amalek (o arqui inimigo histórico do Povo Judeu), do mal, do Holocausto, das perseguições, dos 10 mártires que foram assassinados por Roma. Em Yom Kipur, lembramo-nos de nossos entes queridos que não mais estão entre nós. Quando nos lembramos desses entes queridos, podemos lembrar a dor causada pela perda e pela ausência ou podemos nos lembrar dos momentos alegres com eles. Quando se recita o Hashkabah  ou Yizkorem Yom Kipur lembramos as almas que partiram deste mundo, devemos nos lembrar dos momentos preciosos que passamos com elas e do privilégio de as termos tido entre nós. O Midrash (é uma maneira de interpretar histórias bíblicas que vai além de simples destilação de ensinamento religioso, legal ou moral. Ele preenche muitas lacunas deixadas na narrativa bíblica sobre eventos e personalidades que são apenas insinuados) nos ensina o seguinte: Quando Moshé Rabenu ensinou ao Povo de Israel o verso da Torá, Lembre-se o que Amalek fez quando você saiu do Egito, o povo disse a ele: Moshé, nosso mestre. Um verso da Torá afirma, Lembre-se o que Amalek fez para ti. Outro verso diz: Lembre-se do dia do Shabat para santificá-lo. Como se cumprem ambos os versos? Um nos ordena lembrar e o outro, também. Moshé respondeu: Um copo de vinho não é o mesmo que um copo de vinagre, mas esse é um copo e aquele também é um copo. Existe a lembrança do Shabat e a lembrança de Amalek. Esse Midrash contém lições profundas. O vinagre é um derivado do vinho, mas este é doce e aquele é azedo. Ambos, o vinho e o vinagre, advêm da uva e ambos são bebidos em um copo. Na vida, temos a opção de beber um copo de vinho ou de vinagre. Tudo depende de como enxergamos as coisas, como lidamos com as lembranças. Isso é uma lição muito importante para esta e para as futuras gerações de judeus. Evidentemente, elas precisam aprender sobre a dor que nosso povo passou, as perseguições, o Holocausto. Mas também precisam aprender que o judaísmo é um copo de vinho e não de vinagre. Quando o pai traz o filho à sinagoga, deve ser não apenas em Yom Kipur, mas em Simchat Torá também, para que o filho aprenda que o judaísmo não se restringe a orações e jejuns, mas é também, um modo de vida baseado na alegria. De fato, um dos fundamentos da Torá é o mandamento de servir a D´us com alegria. Mas para poder viver com alegria, precisamos aprender a perdoar. Precisamos perdoar a D’us, as outras pessoas e a nós mesmos. Uma história verídica. Cabe relatar uma história verídica, que expressa as ideias transmitidas acima. Em certa ocasião, um judeu religioso, um rabino, estava viajando pela British Airways para Nova York. Ao lado dele, estava sentado um homem que, após o avião decolar, vira-se para ele e diz: Shalom, e revela, também, ser judeu. Ambos passam a conversar e descobrem que ambos estão a caminho de Israel. O rabino, que estava viajando para passar Rosh Hoshaná e Yom Kipur em Israel, começa a falar de religião, mas o judeu sentado ao lado dele diz: Não me fale de D’us. Tenho raiva Dele. Não posso perdoá-Lo pelo que Ele me fez. Este homem, que tinha 70 anos de idade, havia passado pelo Holocausto. Ele teve um filho, mas tinha sido separado dele durante a guerra e presumia que havia morrido. Disse ao rabino que nunca perdoaria D’us por lhe ter tirado seu filho. O rabino pergunta: Por que então você vai a Israel? E o homem responde. Não quero saber de D’us, mas o Povo Dele é ótimo. Não existe lugar no mundo como Israel. O rabino tenta convencer o homem a ir à sinagoga, em Israel, durante as Grandes Festas, diz que a sinagoga que frequenta em Israel é pequena, mas possui um ótimo chazan (cantor litúrgico treinado para recitar as orações e benção com a congregação). O homem se recusa. Dias mais tarde, o rabino está em Israel. É Yom Kipur. Após a leitura da Torá, ele sai da sinagoga, durante o curto intervalo em que é recitado o Yizkor. Ele vai a uma pracinha e nota que há alguém fumando: é o seu amigo da viagem. Ele se aproxima dele e tenta convidá-lo à sinagoga. Venha rezar um pouco, diz o rabino. Mas o homem se recusa. O rabino diz o seguinte: Pelo menos entre para recitar o Yizkor pelo seu filho. Sim, você brigou com D’us, mas por que seu filho deveria sofrer por isso? Todos serão lembrados no Yizkor, seu filho deveria ser um deles. O homem responde que por seu filho faria tudo, inclusive ir à sinagoga para o Yizkor. Era uma sinagoga pequena. E por ser pequena, havia o costume de que quem quisesse, podia ir ao chazan, dar o nome do falecido e o próprio chazan recitava o nome da pessoa cuja memória seria lembrada. Ao entrar na sinagoga, esse senhor se aproxima do chazan que lhe pergunta o nome do filho. Quando o chazan ouve o nome, ele olha para esse senhor, fica pálido e grita em iídiche: Pai! Durante muitos anos, esse senhor pensou que seu filho havia morrido no Holocausto. Na realidade, seu filho havia sobrevivido, imigrara para Israel e se tornara um judeu religioso. Ele manteve as tradições que aprendeu com o pai, a mesma pessoa que desde a guerra não queria mais se relacionar com D’us. Se o pai nunca tivesse entrado em uma sinagoga em Yom Kipur, se não tivesse dado essa brecha para D’us, ele passaria o restante da vida acreditando que seu filho havia morrido. No momento em que ele deu uma chance a D´us e entrou na sinagoga em Yom Kipur, mesmo que fosse apenas para recitar Yizkor pelo seu filho, ele reencontrou aquilo na vida de mais caro, que ele acreditava ter perdido. Essa história, além de verídica, serve também como metáfora. O pai da história é D’us e todos nós somos Seus filhos. Yom Kipur é o dia em que nos reencontramos; em que Ele e nós descobrimos que Ele não nos perdeu. Yom Kipur é o dia em que vamos à sinagoga para dizer a D’us que ainda estamos juntos e que assim continuaremos, eternamente. Mas como na história relatada acima, esse nível de ligação e conexão com D´us só é alcançado quando retiramos de nós sentimentos negativos contra Ele, contra outras pessoas e contra nós mesmos. Yom Kipur é o dia mais sagrado do ano. É o momento em que se revela a essência de nossa alma. Nesse dia, revela-se o nível de conexão essencial que existe entre nós e D’us. Nesse dia do Perdão não interessa o que fizemos, e sim, o que somos. Ao tomarmos consciência de quem somos, torna-se possível expressar a essência do nosso ser. Por que as pessoas que não vão à sinagoga o ano inteiro fazem questão de ir em Yom Kipur? Há judeus que praticamente não cumprem nenhuma mitzvá, mas jejuam em Yom Kipur. A única explicação é que em Yom Kipur, o dia mais importante do ano, revelamos quem, na verdade, somos. Nesse dia, é revelado que nossa conexão com D’us é atemporal e independente de nossas ações. Em Yom Kipur, nós nos sentimos conectados com D’us, com a comunidade judaica e também com as almas dos falecidos. É na sinagoga que recitamos o Yizkor e nos lembramos dos falecidos, porque no Mundo da Verdade, as almas desejam ser lembradas em um lugar sagrado, na sinagoga. Yom Kipur é, portanto, um dia de amor: amor a D’us e amor às outras pessoas, as que se encontram conosco e as que estão no Mundo da Verdade. Sabe-se que quando um pai deseja fazer uma festa de aniversário, ele quer que todos os seus filhos estejam presentes, independentemente de onde vivam. Se todos os filhos não puderem comparecer, o pai prefere que não haja festa. Yom Kipur é o dia em que nosso Pai deseja que todos os Seus filhos venham à sinagoga. É por esse motivo que antes de se iniciarem as orações em Yom Kipur, o chazan recita uma frase, Anu Matirim, afirmando que todos, mesmo aqueles que cometeram grandes pecados e renunciaram ao judaísmo, podem rezar juntos na sinagoga naquele dia. Pois nesse momento, o Pai convoca todos os Seus filhos. Ele não quer apenas alguns deles, os que se comportaram bem. Ele quer todos eles. Em Yom Kipur, recita-se o Avinu Malkenu, Nosso Pai, nosso Rei. O Baal Shem Tov transmitiu um ensinamento a respeito dessa prece, que nos ajuda a ter uma percepção bastante diferente a respeito do Yom Kipur. De fato, é um dia em que somos julgados. Por que, então, é um dia de tanta alegria, felicidade e união? Porque o Juiz é o nosso Pai. Diz-se que nunca se sabe o que pode sair da cabeça de um juiz, mas se o Juiz é o próprio Pai, podemos ficar tranquilos. D’us é nosso Rei, que nos julga, mas antes de ser Rei, Ele é Pai. Por esse motivo, falamos Avinu Malkenu, não Malkenu Avinu. E um pai é sempre misericordioso e bondoso com seus filhos. Yom Kipur é o Dia da Expiação, o Dia do Perdão. Pedimos perdão a D’us e perdoamos aos outros, mas só podemos perdoar a D’us quando sabemos que Ele é nosso Pai, pois quando é nosso Pai quem fala, ouvimos apenas bênçãos. http://morasha.com.br. Abraço. Davi.