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II. BUDISMO MODERNO – O CAMINHO DE COMPAIXÃO E SABEDORIA. QUEM SÃO OS KADAMPAS?
“Ka” refere-se aos ensinamentos de Buda, e “dam” refere-se às instruções de
Atisha sobre o Lamrim (as Etapas do Caminho à Iluminação, também conhecidas
como Lamrim Kadam). Assim, “Kadam” refere-se à união dos ensinamentos de Buda e
das instruções de Atisha, e os praticantes sinceros do Lamrim Kadam são
denominados “Kadampas”. Existem duas Tradições Kadampa: a antiga e a nova. Os
praticantes da Antiga Tradição Kadampa surgiram para enfatizar mais a prática
de Sutra do Lamrim Kadam do que a de Tantra. Mais tarde, Je Tsongkhapa e seus
discípulos enfatizaram igualmente ambas as práticas, as de Sutra e as de
Tantra, do Lamrim Kadam. Essa nova tradição fundada por Je Tsongkhapa é
denominada Nova Tradição Kadampa. Os kadampas confiam sinceramente em Buda Shakyamuni,
porque Buda é a fonte do Lamrim Kadam; eles confiam sinceramente em
Avalokiteshvara, o Buda da Compaixão, e no Protetor de Sabedoria do Dharma,
indicando que sua prática principal é compaixão e sabedoria; e confiam
sinceramente em Arya Tara, porque ela prometeu a Atisha que, no futuro,
cuidaria especialmente dos praticantes kadampa. Por essa razão, esses quatro
seres sagrados iluminados são chamados de os “Quatro Gurus- -Deidades Kadampa”.
O fundador da Tradição Kadampa é o grande mestre e erudito budista Atisha.
Atisha nasceu como um príncipe em Bengala Oriental, na Índia, em 982. O nome de
seu pai era Kalyanashri (Virtude Gloriosa) e o de sua mãe era Prabhavarti
Shrimati (Radiância Gloriosa). Ele era o segundo de três filhos, e quando
nasceu recebeu o nome Chandragarbha (Essência da Lua). O nome Atisha, que
significa “Paz”, foi-lhe dado mais tarde pelo rei tibetano Jangchub Ö, porque
ele sempre estava calmo e pacífico. Quando ainda era criança, os pais de
Chandragarbha levaram- -no para visitar um templo. Ao longo do caminho,
milhares de pessoas se reuniram para ver se conseguiriam enxergar o príncipe de
relance. Quando as viu, Chandragarbha perguntou “Quem são essas pessoas?”, e os
seus pais responderam “Eles são os nossos súditos”. Compaixão surgiu
espontaneamente no coração do príncipe e ele rezou: “Que todas essas pessoas
desfrutem de uma boa fortuna tão grande quanto a minha”. Sempre que
Chandragarbha se encontrava com alguém, um desejo surgia de modo natural em sua
mente: “Que esta pessoa encontre felicidade e seja livre do sofrimento”. Mesmo
quando ainda era uma criança pequena, Chandragarbha recebia visões de Arya
Tara, um ser iluminado feminino. Algumas vezes, enquanto estava no colo de sua
mãe, flores azuis de upala caiam do céu e ele começava a conversar, como se o
fizesse com as flores. Mais tarde, iogues explicaram para sua mãe que as flores
azuis que ela tinha visto eram um sinal de que Tara estava aparecendo para o
seu filho e conversando com ele. Quando o príncipe cresceu, seus pais desejaram
arranjar um casamento para ele, mas Tara aconselhou-o: “Se te apegares ao teu
reino, serás como um elefante que afundou no lodo e não consegue mais se
levantar por si só porque é demasiado grande e pesado. Não te apegues a esta
vida. Estuda e pratica o Dharma. Foste um Guia Espiritual em muitas de tuas
vidas anteriores e, nesta vida, também irás te tornar um Guia Espiritual”.
Inspirado por essas palavras, Chandragarbha desenvolveu forte interesse em
estudar e praticar o Dharma e determinou-se a obter todas as realizações dos
ensinamentos de Buda. Ele sabia que, para alcançar seu objetivo, precisaria
encontrar um Guia Espiritual plenamente qualificado. Inicialmente,
Chandragarbha procurou um famoso professor budista chamado Jetari, que vivia
nas proximidades, e solicitou instruções de Dharma sobre como encontrar a
libertação do samsara. Jetari deu-lhe instruções sobre refúgio e bodhichitta e
então lhe disse que, se quisesse praticar puramente, deveria ir a Nalanda e
aprender com o Guia Espiritual Bodhibhadra Quando se encontrou com Bodhibhadra,
o príncipe disse: “Eu realizei que o samsara é sem sentido e que somente a
libertação e a plena iluminação valem verdadeiramente a pena. Por favor, dê
instruções de Dharma que me conduzam rapidamente ao estado além da dor, o
nirvana”. Bodhibhadra deu-lhe breves instruções sobre gerar a bodhichitta e
aconselhou: “Se desejas praticar o Dharma puramente, deves procurar o Guia
Espiritual Vidyakokila”. Bodhibhadra sabia que Vidyakokila era um grande
meditador que tinha obtido uma perfeita realização da vacuidade e que era muito
habilidoso em ensinar os estágios do caminho profundo. Vidyakokila deu a
Chandragarbha instruções completas sobre ambos os caminhos, o vasto e o
profundo, e então o enviou para estudar com o Guia Espiritual Avadhutipa.
Avadhutipa não o orientou imediatamente, mas disse ao príncipe que fosse a
Rahulagupta para receber as instruções sobre os Tantras de Heruka e de Hevajra
e, então, retornar para receber instruções mais detalhadas sobre o Tantra, ou Mantra
Secreto. Rahulagupta deu a Chandragarbha o nome secreto de Janavajra (Sabedoria
Indestrutível) e a sua primeira iniciação, que o introduziu na prática de
Hevajra. Depois, disse- -lhe para voltar ao seu lar e obter o consentimento de
seus pais. Embora o príncipe não fosse apegado à vida mundana, para ele ainda
era importante obter a permissão de seus pais para praticar da maneira que
desejava. Assim, ele retornou aos seus pais e disse: “Se eu praticar o Dharma
puramente, então, como Arya Tara predisse, serei capaz de retribuir vossa
bondade e a bondade de todos os seres vivos. Se eu puder fazer isso, minha vida
humana não terá sido desperdiçada. Caso contrário, ainda que eu passe todo o
meu tempo num glorioso palácio, minha vida será sem sentido. Por favor, deem-me
o vosso consentimento para deixar o reino e dedicar toda a minha vida à prática
do Dharma”. O pai de Chandragarbha ficou infeliz ao ouvir o que disse seu filho
e quis impedi-lo de abandonar suas perspectivas de vida como futuro rei, mas
sua mãe ficou deleitada ao saber que o filho desejava dedicar a vida ao Dharma.
Ela relembrou que no nascimento dele haviam acontecido sinais maravilhosos,
como arco-íris, e lembrou-se de milagres como as flores azuis de upala caindo
do céu. Ela sabia que seu filho não era um príncipe comum e deu-lhe sua
permissão sem hesitar. Com o tempo, o rei também concordou com o desejo do seu
filho. Chandragarbha retornou a Avadhutipa e, por sete anos, recebeu instruções
sobre o Mantra Secreto. Ele se tornou tão realizado que, em uma ocasião,
desenvolveu orgulho, pensando: “Provavelmente, eu sei mais sobre o Mantra
Secreto do que qualquer outra pessoa em todo o mundo”. Naquela noite, Dakinis
apareceram em seu sonho e lhe mostraram escrituras raras, que ele nunca havia
visto antes. Elas perguntaram: “O que estes textos significam?”, mas ele não
tinha ideia. Quando acordou, seu orgulho havia desaparecido. Mais tarde,
Chandragarbha começou a pensar que poderia emular o estilo da prática de
Avadhutipa e, como um leigo, esforçar-se para alcançar a iluminação
rapidamente, praticando o Mahamudra na dependência de um mudra-ação. Porém,
recebeu uma visão de Heruka que lhe disse que, se recebesse a ordenação, seria
capaz de ajudar incontáveis seres e difundir o Dharma ampla e extensivamente.
Naquela noite, sonhou que acompanhava uma procissão de monges na presença de
Buda Shakyamuni, que perguntava por que Chandragarbha ainda não havia recebido
a ordenação. Quando acordou do seu sonho, resolveu tornar-se monge. Ele recebeu
ordenação de Shilarakshita, e lhe foi dado o nome de Dhipamkara Shrijana. Do
Guia Espiritual Dharmarakshita, Dhipamkara Shrijana recebeu extensas instruções
sobre Sete Categorias do Abhidharma e Oceano de Grande Explanação – textos
esses escritos do ponto de vista do sistema vaibhashika. Desta maneira, ele
tornou-se um mestre nos ensinamentos hinayana. Ainda insatisfeito, Dhipamkara
Shrijana foi receber instruções detalhadas em Bodh Gaya. Um dia, ouviu sem
querer uma conversa entre duas mulheres que, na verdade, eram emanações de Arya
Tara. A mais jovem perguntou para a mais velha: “Qual é o principal método para
alcançar a iluminação rapidamente?”. A mais velha respondeu: “É a bodhichitta”.
Ouvindo isso, Dhipamkara Shrijana ficou determinado a obter a preciosa bodhichitta.
Mais tarde, enquanto andava ao redor da grande estupa em Bodh Gaya, uma estátua
de Buda Shakyamuni falou com ele, dizendo: “Se desejas alcançar a iluminação
rapidamente, deves ganhar experiência em compaixão, amor e na preciosa
bodhichitta”. Seu desejo em realizar a bodhichitta tornou-se então intenso. Ele
ouviu que o Guia Espiritual Serlingpa, que vivia muito longe num lugar chamado
Serling, em Sumatra, havia alcançado uma experiência muito especial da
bodhichitta e que era capaz de dar instruções sobre os Sutras Perfeição de
Sabedoria. Dhipamkara Shrijana navegou durante treze meses para chegar até
Sumatra. Quando chegou, ofereceu um mandala a Serlingpa e fez-lhe pedidos.
Serlingpa disse-lhe que as instruções levariam doze anos para serem
transmitidas. Dhipamkara Shrijana ficou em Sumatra por doze anos e, por fim,
obteve a preciosa realização da bodhichitta. Então, ele retornou para a Índia.
Confiando em seu Guia Espiritual, Atisha obteve uma compreensão especial sobre
os três conjuntos de ensinamentos de Buda – o conjunto de disciplina moral, o
conjunto dos discursos e o conjunto de sabedoria – e das quatro classes de
Tantra. Ele também dominou as artes e as ciências, tais como poesia, retórica e
astrologia, era um excelente médico e muito habilidoso em tecnologia e ofícios
artesanais. Atisha também alcançou todas as realizações dos três treinos
superiores: o treino em disciplina moral superior, o treino em concentração
superior e o treino em sabedoria superior. Visto que todas as etapas de Sutra
(como as seis perfeições, os cinco caminhos, os dez solos) e todas as etapas de
Tantra (como o estágio de geração e o estágio de conclusão) estão incluídas nos
três treinos superiores, Atisha obteve todas as realizações das etapas do
caminho. Há três tipos de disciplina moral superior: a disciplina moral
superior dos votos Pratimoksha, ou votos de libertação individual, a disciplina
moral superior do voto bodhisattva, e a disciplina moral superior dos votos
tântricos. Os votos para abandonar as 253 quedas, tomados por um monge
plenamente ordenado, estão entre os votos Pratimoksha. Atisha nunca quebrou
nenhum deles. Isso mostra que ele possuía uma contínua-lembrança muito forte e
grande conscienciosidade. Ele também manteve puramente o voto bodhisattva de
evitar as dezoito quedas raízes e as 46 quedas secundárias, e manteve puramente
todos os seus votos tântricos. As aquisições de concentração superior e
sabedoria superior são divididas em comum e incomum. Uma aquisição comum é
aquela que é obtida por praticantes tanto de Sutra quanto de Tantra, e uma
aquisição incomum é aquela obtida somente por praticantes de Tantra. Por ter
treinado em concentração superior, Atisha obteve a concentração comum do
tranquilo-permanecer e, com base nela, clarividência, poderes miraculosos e
virtudes comuns. Ele também obteve concentrações incomuns, como as
concentrações do estágio de geração e do estágio de conclusão do Mantra
Secreto. Treinando em sabedoria superior, Atisha alcançou a realização comum da
vacuidade e as realizações incomuns da clara-luz-exemplo e da
clara-luz-significativa do Mantra Secreto. Atisha dominava tanto os
ensinamentos hinayana quanto os ensinamentos mahayana, e era respeitado por
professores de ambas as tradições. Ele era como um rei, o ornamento-coroa dos
budistas indianos, e reconhecido como um segundo Buda. Antes do tempo de
Atisha, o trigésimo sétimo rei do Tibete, Trisong Detsen (cerca de 754–797),
havia convidado Padmasambhava, Shantarakshita e outros professores budistas da
Índia para irem ao Tibete e, por meio da influência deles, o puro Dharma
floresceu; mas, alguns anos depois, um rei tibetano chamado Lang Darma (cerca
de 836) destruiu o puro Dharma no Tibete e aboliu a Sangha. Até esse momento, a
maioria dos reis havia sido religiosa, mas durante o maléfico reinado de Lang
Darma houve uma era negra. Por volta de setenta anos após a morte desse rei, o
Dharma começou a florescer novamente na parte mais elevada do Tibete por meio
dos esforços de grandes professores, tais como o tradutor Rinchen Sangpo, e também
começou a florescer na parte mais baixa do Tibete por meio dos esforços de um
grande professor chamado Gongpa Rabsel. Gradualmente, o Dharma difundiu-se para
o Tibete Central. Nessa época não havia uma prática pura da união do Sutra e do
Tantra. As duas práticas eram consideradas contraditórias, como fogo e água.
Quando as pessoas praticavam o Sutra, elas abandonavam o Tantra; e ao praticar
o Tantra, elas abandonavam o Sutra, incluindo até as regras do Vinaya. Falsos
professores vieram da Índia, desejando obter um pouco do abundante ouro
tibetano. Passando-se por Guias Espirituais e iogues, eles introduziram
perversões tais como magia negra, criação de aparições, práticas sexuais e
assassinato ritual. Essas práticas deturpadas rapidamente se difundiram. Um rei
chamado Yeshe Ö e seu sobrinho, Jangchub Ö, que viviam em Ngari, no Tibete
Ocidental, estavam profundamente preocupados sobre o que estava acontecendo com
o Dharma em seu país. O rei chorou quando pensou na pureza do Dharma em tempos
passados e comparou-a com o Dharma impuro que estava sendo praticado agora. Ele
estava angustiado por ver quão endurecidas e descontroladas as mentes das
pessoas haviam se tornado. Yeshe Ö pensou: “Que maravilhoso seria se o puro
Dharma florescesse novamente no Tibete para domar as mentes do nosso povo”.
Para satisfazer esse desejo, ele enviou tibetanos à Índia para aprender
sânscrito e treinar no Dharma, mas muitos deles foram incapazes de suportar o
clima quente. Os poucos que sobreviveram aprenderam o sânscrito e treinaram
muito bem o Dharma. Dentre eles estava o tradutor Rinchen Sangpo, que recebeu
muitas instruções e então retornou ao Tibete. Uma vez que esse plano não havia
obtido muito sucesso, Yeshe Ö decidiu convidar um autêntico professor
budista da Índia. Ele enviou um grupo de tibetanos para a Índia com uma grande
quantidade de ouro e deu-lhes a missão de procurar pelo mais qualificado Guia
Espiritual existente na Índia. Aconselhou a todos para estudarem o Dharma e
obterem perfeita compreensão do sânscrito. Esses tibetanos sofreram toda a
dureza do clima e da viagem a fim de alcançarem seu objetivo. Alguns se
tornaram tradutores famosos. Eles traduziram muitas escrituras e as enviaram ao
rei, para seu grande deleite. Quando esses tibetanos retornaram ao Tibete,
informaram a Yeshe Ö: “Na Índia há muitos professores budistas eruditos, mas o
mais ilustre e sublime de todos é Dhipamkara Shrijana. Nós gostaríamos de
convidá-lo para vir ao Tibete, mas ele tem milhares de discípulos na Índia”.
Quando Yeshe Ö ouviu o nome “Dhipamkara Shrijana”, ficou contente e determinado
a convidar esse mestre para vir ao Tibete. Como já havia usado a maior parte do
seu ouro e mais se fazia necessário para realizar o convite a Dhipamkara
Shrijana, o rei saiu numa expedição à procura de mais ouro. Quando chegou a uma
das fronteiras, um rei hostil, não budista, capturou-o e jogou-o na prisão.
Quando as notícias chegaram a Jangchub Ö, ele ponderou: “Sou poderoso o
suficiente para empreender uma guerra contra esse rei, mas se eu fizer isso
muitas pessoas sofrerão e eu terei que cometer muitas ações destrutivas e
danosas”. Assim, ele decidiu fazer um apelo pela libertação de seu tio, mas o
rei respondeu dizendo: “Libertarei teu tio somente se ambos se tornarem meus
súditos ou me trouxerem uma quantidade de ouro que pese tanto quanto o corpo
dele”. Com grande dificuldade, Jangchub Ö conseguiu reunir ouro equivalente ao
peso do corpo do seu tio, com exceção do peso de sua cabeça. Já que o rei
exigia a quantia exata, Jangchub Ö preparou-se para sair em busca de mais ouro,
mas antes de partir ele visitou seu tio. Ele encontrou Yeshe Ö fisicamente
fraco, mas com um bom estado mental. Jangchub Ö disse- -lhe através das barras
da prisão: “Em breve, serei capaz de libertá-lo, pois já consegui juntar quase
todo o ouro”. Yeshe Ö respondeu: “Por favor, não me trate como se eu fosse
importante. Você não deve dar o ouro a esse rei hostil. Envie-o todo à Índia e
ofereça-o a Dhipamkara Shrijana. Este é o meu maior desejo. Darei a minha vida
alegremente pela restauração do puro Dharma no Tibete. Por favor, transmita
esta mensagem a Dhipamkara Shrijana. Deixe-o saber que eu dei a minha vida para
convidá-lo para vir ao Tibete. Visto que ele tem compaixão pelo povo tibetano,
quando receber esta mensagem aceitará o nosso convite”. Jangchub Ö enviou o
tradutor Nagtso junto com alguns companheiros de viagem para a Índia, com o
ouro. Quando encontraram Dhipamkara Shrijana, disseram-lhe o que estava
acontecendo no Tibete e como o povo desejava convidar um Guia Espiritual da
Índia. Eles falaram sobre a quantidade de ouro que o rei havia enviado para ele
como oferenda e como muitos tibetanos haviam morrido com o objetivo de
restaurar o puro Dharma. Eles lhe contaram como Yeshe Ö havia sacrificado sua
vida para trazê-lo ao Tibete. Quando eles fizeram sua solicitação, Dhipamkara
Shrijana refletiu sobre o que haviam dito e aceitou o convite. Embora ele
tivesse muitos discípulos na Índia e estivesse trabalhando arduamente pela
causa do Dharma, ele sabia que no Tibete não existia um Dharma puro. Ele também
havia recebido uma profecia de Arya Tara de que, se ele fosse ao Tibete,
poderia beneficiar incontáveis seres vivos. Compaixão surgiu em seu coração
quando ele pensou em quantos tibetanos faleceram na Índia e ficou especialmente
comovido com o sacrifício de Yeshe Ö. Dhipamkara Shrijana teve que fazer a sua
viagem ao Tibete em segredo, porque, se seus discípulos indianos soubessem que
ele estava deixando a Índia, tentariam impedi-lo. Ele disse que estava fazendo
uma peregrinação ao Nepal, mas do Nepal passou para o Tibete. Quando seus
discípulos indianos finalmente compreenderam que ele não retornaria,
protestaram que os tibetanos eram ladrões e que haviam roubado seu Guia
Espiritual! Naquele tempo, como acontece ainda hoje, era costume saudar em
grande estilo um convidado honrado. Jangchub Ö enviou, então, um séquito de
trezentos cavaleiros juntamente com muitos tibetanos eminentes para a
fronteira, para dar as boas-vindas a Atisha e oferecer-lhe um cavalo para
facilitar a difícil viagem até Ngari. Atisha cavalgou no meio dos trezentos
cavaleiros e, com auxílio de seus poderes miraculosos, sentou-se cinquenta
centímetros acima do dorso do cavalo. Quando viram isso, aqueles que não tinham
respeito por ele desenvolveram uma fé muito forte, e todos disseram que o
segundo Buda havia chegado ao Tibete. Quando Atisha chegou a Ngari, Jangchub Ö
solicitou-lhe: “Ó Compassivo Atisha, por favor, dê instruções para ajudar o
povo tibetano. Por favor, dê conselhos que todos possam seguir. Por favor,
dê-nos instruções especiais a fim de que possamos praticar todos os caminhos,
de Sutra e de Tantra, juntos. Para satisfazer esse desejo, Atisha escreveu e
ensinou Luz para o Caminho à Iluminação, o primeiro texto escrito sobre as
etapas do caminho, o Lamrim. Ele deu essas instruções primeiramente em Ngari e
depois no Tibete Central. Muitos discípulos que ouviram esses ensinamentos
desenvolveram grande sabedoria. Até aqui página 21. www.budismomoderno.org.br.
Abraço. Davi.