Gênesis
29:10-19 “Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi a Harã; E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o
sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu
travesseiro, e deitou-se naquele lugar. E
sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que
os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E
eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus de Abraão
teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à
tua descendência. E a tua descendência
será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte,
e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da
terra. E eis que estou contigo, e te
guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não
te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado. Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o
Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. E
temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa
de Deus; e esta é a porta dos céus. Então
levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por
seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome porém
daquela cidade antes era Luz”. Esse texto bíblico tem na tradição católica a
ideia de progresso espiritual. A escada com seus degraus, sonhada por Jacó,
representa os vários níveis a que o fiel, servo ou seguidor de Cristo, deve se
esforçar para alcançar seu topo como o estado de união com Deus, o Nirvana
budista ou o Moksha hinduísta, que cessará o sofrimento, morte e renascimento.
O desperto, nesse caso, só retornará como um grande ser bodhisattva, avatar,
mahatman ou mestre de sabedoria. Isso é visto na vida de grandes místicos e
mestres espirituais, que chegaram a uma iluminação no cristianismo como São
João da Cruz (1542-1591), Mestre Eckhart (1266-1328), São Francisco de Assis
(1242-1282), Madre Tereza de Calcutá (1910-1997) e outros. A escada no sonho
também tipifica o elemento sagrado, pois os anjos subiam e desciam por ela, e o
próprio Senhor estava nela. Isso nos reporta a importância dos rituais nas
congregações e igrejas, onde os símbolos, principalmente os sacramentos (pão e
vinho) nelas constantes, dão forma, corporificando a presença dos anjos entre a
comunhão da irmandade. Eles como sabemos não têm matéria apenas espírito. Na
filosofia espiritualista oriental os budistas não concebem a ideia de alma,
pois contrapõe-se ao espírito que não reencarna, mas renasce ou transmigra (do latim transmigrare ou mudar a alma de um corpo para outro).
Isso vem do conceito de impermanência e vacuidade postulado pelo Budha, onde o
Eu e o Não Eu sendo transitórios se anulariam nos milhões de vida que
presentificamos em nossa existência. Essa transmigração vêm com elementos
reparados pelo carma positivo e negativo, pois ainda não alcançaram a
retificação definitiva desse nível, precisando ser provados e aprovados na
disciplina pedagógica evolutiva. Nesse estágio o renascimento é precedido por
um período de purgação, purificação, antes de entrar no devachan, o céu
cristão; uma “temporada” de gozo até voltar a renascer. Outros por praticarem
mais méritos e virtudes, vão direto ao devachan, estando por lá, segundo a
doutrina esotérica, por mais ou menos mil e quinhentos anos, voltando a
reencarnar. Algumas individualidade vão ao inferno, e até renascem nele. Isso
sucedesse devido a práticas amorais, imorais e antiéticas com licenciosidade (agir de maneira moral ou sexual desregradamente) em
relação ao próximo e despudor em relação aos pais, que pelo seu vulto
expressivo devem passar por um tratamos mais depurado e consolidado por mais
tempo. Mas, quando esse propósito se justifica pela disciplina, retornam aos
renascimentos completando seus ciclos evolutivos; nada de fogo eterno como
postula o cristianismo.. Os hindus já pensam no Espírito Universal, A Alma
Cósmica, chamada de Atma à qual tudo e todos se convergirão um dia; essa ideia
está representada no sagrado livro do Bhagavad Gita. No hinduísmo o termo reencarnação é aceito,
sendo nossas atitudes e comportamentos virtuosos e viciosos que tomarão um novo
corpo. Dependendo de nossos méritos, será num humano ou acentuando-se mais deméritos em algum dos reinos
inferiores (mineral, vegetal ou animal) da natureza. A ocultista Helena P. Blavatsky (1831-1891) diz em seu livro A Doutrina Secreta que passaremos por 777 encarnações. Talvez uma alusão a passagem bíblica de Gênesis 5: 31 "E foram todos os dias de Lameque setecentos e setenta e sete anos e morreu". Em um dos Sutras o Budha diz que passou por milhões de vidas, antes de chegar ao estado desperto da Iluminação. Lembrando que o princípio crístico e bhúdico está em nós. O ponto comum entre budistas e hinduístas é quanto nossa
evolução, progresso espiritual, que está sendo realizado, em alguns indivíduos
lenta e regressivamente em suas reencarnações e noutro constante e gradualmente
nas recentes reencarnações. Nossa cristificação, o processo de nos tornar
deuses, como o Mestre Jesus disse em João 10:34 “Respondeu-lhes Jesus: Não está
escrito na lei: Eu disse, sois deuses?” é um procedimento que envolve inúmeras
vidas; encarnações que não sabemos precisar a quantidade, mas ao final
alcançaremos a extremidade da escada, nos mesclando a Divindade Suprema;
cumprindo o versículo de João 10:30 “Eu e o Pai somos um”. Nesse aspecto, devemos
fazer alguns esclarecimentos à que tenhamos uma compreensão sensível desse
ensinamento da reencarnação que nos habilita a cristificação, já que em minha
opinião, uma vida apenas, é insuficiente à tornar-nos iluminados ou despertos
como Budha, Krishna, Cristo ou um dos mestre citados acima. Até o século VI da
era cristã a comunidade dos discípulos e seguidores de Jesus, chamado pelos
historiadores de cristianismo primitivo praticavam o esoterismo encontrado nas
páginas das Sagrada Escritura Cristã, claro que de maneira velada, tendo-se
requisitos a acessar esse conhecimento. Essa doutrina segundo um dos país da
igreja chamado Orígenes de Alexandria, discípulo de Clemente de Alexandria
(150-215) tinha fundamentação bíblica. Segundo pesquisadores, Orígenes reunia-se
com uma comunidade desses cristãos, sendo um de seus principais e tendo um
conhecimento enciclopédico, raríssimo para sua época. Sondagens investigativas
mais conservadoras dizem que ele é autor de pelo menos 2000 volumes de estudos
teológicos e religiões comparadas. Em seus estudos filosóficos conciliou o
platonismo com o cristianismo em muitas de suas hipóteses teóricas. Assim
assuntos como metempsicose, transmigração de almas, apocatástase,
clarividência, áudio vidência, projeção de consciência e reencarnação, todos
discutidos por Platão (428 AC 347) em muitos de seus diálogos, eram também
explicados e discutidos na comunidade cristã primitiva. Lembrando que a
comunidade dos primeiros cristãos moravam a relativa distancia da cidade de
Alexandria, onde havia um museu e uma famosa biblioteca com milhares de volumes
do conhecimento mundial em papiros e pergaminhos. Plotino (204-270) e Amônio
Saccas (175-242) que cunharam o termo teosofia ou sabedoria divina, estudaram
nessa biblioteca tornando-se grandes sábios e místicos; deixando muitos
escritos neoplatônicos que foram depois estudados por Orígenes, do qual
postulou toda sua doutrina espiritualistas contidas em quatro famosas obras: De
Príncipes, Exacta, Contra Celsius e Periarcon. Nessa última obra, ele detalha
com mais ênfase os aspectos esotéricos das escrituras cristãs, incluindo a
reencarnação ou transmigração de almas como vista por Platão e os Neoplatônicos
que retiraram dos livros sagrados hindus e budistas seus pressupostos e
conceitos básicos. Infelizmente a obra teológica de Orígenes foi censurada pela
igreja católica de então, e pra piorar, o imperador Justiniano ordenou a
destruição da biblioteca de Alexandria (415) onde estava a maioria de seus
livros, acabando com todo o legado de conhecimento depositado naquela
instituição do saber humano. A censura aos escritos de Orígenes aconteceu no
Concílio de Constantinopla II em 553, pois até essa época o ensino esotérico
dos textos sagrados cristãos eram normalmente explanados em público e aos
iniciados nos mistérios do reino de Deus. Assim a hierarquia superior católica
reunida em conclave para substituir o papa Virgílio (500-553) que tinha posições
liberais, inclusive aceitando as posições esotéricas de Orígenes, bem como a
reencarnação. Eles, nesses encontros, segundo historiadores, sem critérios,
especificações ou consulta as bases eclesiásticas para mensurar o impacto nos
cânones sagrados. Arbitrariamente impuseram suas opiniões, castrando a riqueza
da sabedoria divina advinda das interpretações ocultas de Orígenes, que
aproximava o catolicismo das tradições espiritualista do oriente, dando a
teologia cristã mais riqueza de argumentos, tolerância e universalização;
estando aberta à comunhão e harmonia com outras religiões. Essa posição
extremamente dogmática da igreja em relação aos postulados da escola platônica
desagradou muitos prelados e líderes pelo mundo daquela época, sendo uma das
sementes para o grande cisma da igreja do ocidente e oriente. Essas quatro
obras de Orígenes, citadas acima, foram as únicas de seu volumoso acervo a
resistir milagrosamente as chamas, impetrada pela ira e ódio do imperador
Justiniano (483-565). Há uma controvérsia quanto a obra Peri Arcon que escrita
em grego guarda, segundo os especialistas, os fundamentos originais da doutrina
esotérica de Orígenes em especial a reencarnação. Essa obra original está
disponível em alemão e inglês, mas acontece que a editora católica Paulus, responsável
pela tradução em português desse livro, no Brasil, também segundo os
especialistas, censurou os tópicos referentes a reencarnação e outros assuntos
que o catolicismo já não adota desde o concílio de Constantinopla II. Desse
modo, esse assunto só pode ser lido na versão em inglês ou alemão do Peri Arcon
de Orígenes.. Assim para alcançarmos o estágio falado em Efésios 4:13 “Até que
todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Em uma vida apenas é
impossível; reencarnaremos inúmeras vezes até chegarmos ao topo da escada de
Jacó, sendo considerados homens perfeitos. Aos interessados em aprofundar esse
assunto sugiro pesquisarem na internet: PDF – Dissertação de Mestrado em
Filosofia – Ricardo Lindemann. Reconciliação do platonismo com o cristianismo.
Abraço. Davi.
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
terça-feira, 29 de setembro de 2015
Bhagavad Gita. Bhakti Yoga. União pela Devoção.
Comentário
de Shri Mataji N. Devi (1923-2011). Nesse capítulo 12 Arjuna quer saber agora
de Krishna quem é o melhor Yogue, aquele que segue o Caminho da Devoção
venerando Deus com forma e atributos como o Ser Supremo ou aquele que venera o
Absoluto, Brahma, sem forma e sem atributos. O Senhor assevera que todos os
devotos que veneram Deus com fé e o adoram são louváveis. Entre os dois
caminhos, o que consiste em venerar Deus sem forma é muito difícil de ser
trilhado pelos seres humanos. O Senhor nos assegura que Ele pessoalmente virá
em socorro dos devotos que lhe dedicam todas as ações e que pensam, constante e
exclusivamente Nele. Os verso 8 a 12 tratam da prática da devoção. O Senhor diz
que todos os seres humanos deveriam praticar uma devoção integral oriunda de
seus corações. A concentração pode ser obtida através da prática da Yoga e
quando isso também se tornar difícil, o Senhor diz que podemos executar
qualquer tarefa que agrade a Ele. Quando mesmo isso não for possível, então o
indivíduo pode abrir mão de todos os frutos e vantagens de suas ações e
dedica-los ao Senhor. Tornando-se assim um seu devoto. Uma sincera renúncia aos
frutos e benefícios das ações é algo muito poderoso e gera, instantaneamente,
muita paz. Os versos 13 a 20 definem um Bhakta (devoto) ideal. A prática
efetiva de algumas qualidades pelo ser humano, com devoção e fé plenas, torna-o
extremamente querido por Deus. Essas qualidades tornam o devoto um ser humano
ideal. O devoto ideal é aquele que: 1. É amigo de todos. 2. É livre de egoísmo
e de orgulho. 3. Está sempre satisfeito e alegre. 4. É paciente. 5. É firme em
seu propósito de se auto aperfeiçoar. 6. É plenamente entregue ao Senhor. 7.
Ama e tem afeto sincero por todos. 8. É ciente de que não é autor ou executor
de qualquer ação, mas apenas um instrumento de Deus. 9. Trata os amigos e
inimigos da mesma foram. 10. Considera o mundo inteiro como seu lar. Segue o
texto sagrado. “Arjuna: Dos que desejam estar sempre contigo, e como amor
meditam em ti pelo processo indicado, e daqueles que meditam no Indestrutível e
Imanifestado, quais são os melhores Yogues? Krishna: Considero melhores Yogues
aqueles que buscam a comunhão eterna Comigo, e que, com a mente fixa em Mim,
meditam em Mim com o maior fervor. Aqueles, que me adoram como o Ser Absoluto,
Infinito, Imanifesto, Onipresente, Onipotente, Onisciente, Incognoscível,
Incompreensível, Inefável, Invisível, Eterno, Imutável, Um e Tudo. Que,
dominando os seus sentidos, conservam sempre o ânimo igual, respeitam todos os
seres e se regozijam com o que é bom e belo, onde quer que esteja, desejando o
bem estar a todos, também esses chegarão a Mim. O caminho dos que Me reconhecem
como o Absoluto e Imanifesto, é muito mais árduo do que o caminho dos que Me
adoram como Deus manifesto e possuidor de forma. A concepção de Absoluto,
Infinito é a causa mais difícil para a mente finita do homem. É muito difícil
para o visível conceber o invisível, o finito conceber o infinito. Mas aqueles
que em Mim renunciam todas as suas ações, e meditam em Mim como seu ideal mais
elevado, considerando tal meditação como um fim, sua mente está fixa em Mim.
Prontamente os salvo do oceano, das mortes e renascimentos. Descansa em Mim tua
mente, Oh príncipe! E satura toda a tua mente de Meu Ser, e ao deixares esta
vida, morarás certamente em Mim. Mas, se não és capaz de dominar os teus
pensamentos de tal modo que sejam sempre a Mim dirigidos e em Mim fixados,
esforça-te então por Me alcançar mediante perseverantes exercícios devocionais.
Se, porém, és incapaz de praticar exercícios devocionais, executa meu trabalho
por amor oferecendo-me as tuas obras, alcançarás a meta. E se ainda isso não
fores capaz de fazer, satisfatoriamente, refugia-te então em Mim e dominando-te
a ti mesmo renuncia aos frutos das tuas obras. Pois melhor do que os exercícios
devocionais é a sabedoria, conhecimento espiritual; melhor do que a sabedoria é
a meditação, e melhor do que a meditação é a renúncia aos frutos da ação. Da
renúncia nasce a paz de espírito. Em verdade, te digo, que amo aquele que não
odeia a ninguém e a ninguém faz mal, mas é amigo e amante de toda a Natureza, e
aquele que é bondoso, livre de vaidade, orgulho, e egoísmo, e conserva sempre a
equanimidade, sendo paciente na desventura. Amo aquele que é sempre constante,
afável e piedoso, manso de coração e de firme vontade, e cujos pensamentos em
Mim se concentram. Amo aquele que não tem cuidados mundanos, não teme o mundo e
não é tímido; quem dos Universo inteiro. É intacto o livro, o contém todas as
coisas, em si mesmo é sem qualidades e, contudo, tem o conhecimento de todas as
qualidades e todos os atributos. Está dentro e fora de todos os seres, é
movente e também imovente; é tão sutil que é imperceptível; está perto e ao
mesmo tempo distante. Presente em todos os seres como seus atmas, almas, file
parece fragmentado, mas realmente é indivisível. Conhecei esses atmas como os
sustentadores dos corpos, reproduzindo-os e alentando-os. A Alma, Deus, é a luz
das luzes. Ele é o conhecimento, o conhecedor e o conhecido. Mora nos corações
de todos. Com estas concisas palavras, dei-te a ideia do campo, do conhecimento
e o objeto do conhecimento. Os sábios que isto conhecem, unifica-se Comigo.
Sabe, Oh Arjuna! Que tanto a Matéria, como o Espírito, são sem princípio e sem
fim. Sabe também que da Matéria precedem todas as modificações e qualidades e
que, portanto, transcende a toda matéria. A matéria, estando em contínuo
movimento, produz variadíssimas e mutáveis formas, o Espírito , porém, é a
causa do sentimento de prazer ou dor. O Espírito recebe as impressões das
propriedades que emanam da Matéria. O apego a estas qualidades determina a sua
reencarnação em boas e más matrizes. O Espírito Universal é espectador,
diretor, protetor ou possuidor; Ele é a Alma Universal, a força que fecunda a
Matéria, e permanece intacto no meio das atividades desta. Quem compreende o
que é a Matéria, o Espírito e as propriedades da Matéria, como te expus,
sente-se idêntico com o Espírito, é filho da Luz, e quaisquer que sejam as
condições da sua vida, pertence aqueles que não estão mais sujeitos as
reencarnações. Alguns chegam ao conhecimento do seu Eu Espiritual por meio da
meditação; outros pelo pensar aprofundado; alguns alcançam a percepção mediante
renuncia; outros por meio de boas ações. Há muitos que não descobriram esta
verdade por si mesmos e em si mesmos, mas ouviram a doutrina e os ensinos de
outros, e respeitam-nos; também estes, agindo de acordo com a doutrina, vencem
a morte pela força da fé. Sabe, Oh príncipe! Que cada ser criado, seja animado
ou inanimado, é produzido pela união do campo com o conhecedor do campo. Quem
vê a Alma Universal imanente em todas as coisas, imperecível ainda que em
coisas perecíveis, esse em verdade vê. Vendo a mesma Alma Universal imanente em
todas as coisas, não cai no erro de identificar o seu Eu com os princípios
inferiores, e assim é livre da ilusão da mortalidade, e elabora a sua salvação.
Verdadeiramente vê quem percebe que todas as ações são executadas pelo corpo ou
Matéria, cujas qualidades, Gunas, atuam cada qual à maneira, e não pelo Eu.
Unifica-se com Deus quem vê que as diferenças entre os seres e o aumento da
família provém tão só de um dos dois elementos reunidos, que é o corpo ou
Matéria. O imperecível é Supremo Ser, sem princípio nem qualidades, conquanto
resida no corpo, permanece impassível e inativo. Como o éter que tudo penetra e
nada o afeta sem razão de sua extrema subtilidade, assim nada contamina o
Espírito, ainda que, em todas as partes resida na Matéria ou corpo. Como o Sol
ilumina todo este mundo, assim o Senhor do campo ilumina todo o campo. Alcançam
o Supremo aqueles que com os olhos da sabedoria discernem a diferença entre o
campo e o conhecedor do campo, bem como os meios de se libertarem da Matéria
moldada na forma de um corpo. Abraço. Davi.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Conhece-Te a Ti Mesmo.
Texto do filósofo e espiritualista indiano Jiddu Krishnamurti
(1895-1986). Conhece-te a ti mesmo. O mensageiro da estrela. Penso que não
existe tema mais interessante ou mais prometedor, ou de forma alguma mais
excitante, do que o estudo de nós mesmos. Aos 15 ou 16 anos, estamos submersos
em nós mesmos. Não há nada que nos interesse tanto. Depois apaixonamo-nos por
alguém; mas ainda assim estamos extasiados com nós próprios. Há, descobrimos,
muito mais inteligência no estudo de nós mesmos, e muito pouco pensamento
dedicado aos outros. E de bom grado damos a uma quiromante 15 rúpias, moeda
hindu, para ela nos contar tudo sobre nós. E sentimo-nos bastante confortáveis
com o pensamento de que iremos ser grandes um dia, sem, aparentemente, ter que
lutar por essa grandeza. Existe apenas um tema que nos atrai e esse somos nós
mesmos. Discutimo-nos, e de uma forma não comprovativa consideramos como nos
comportar, de que modo desenvolvermo-nos, e por aí em diante. Parece-me que se
pensarmos inteiramente deste ponto de vista, deste ponto que unicamente nos
interessa a nós, não entenderemos porque é que existimos, ou porque qualquer
coisa neste mundo, de todo, existe. Claro que é verdade que primeiro temos de
nos compreender a nós mesmos antes de querer descobrir seja o que for sobre a
vida em geral. Filosofia, religião e outros temas não possuem real valor, real
controlo sobre um indivíduo, ou apenas têm uma pequena influência, quando
somente apontam como podemos escapar a certas coisas, como evitar o mal, e por
ai fora. Mas aqueles de nós que são membros da Star, ou pertencem a tais
organizações, deverão ter a ideia de um plano definido que está a
desenvolver-se. Estamos em posição de examinar as coisas que nos são mais
valiosas – coisas que produzem em nós o desejo de evoluir. Em todos nós existe
o desejo de descobrir por nós mesmos até onde podemos compreender quem somos e
o que nos afeta. A pessoa comum está de longe mais interessada nela mesma do
que em qualquer outra. Luxúria, conforto, felicidade, tudo tem que apoiar os
seus fins. Quando tudo foi feito para a satisfazer então somente pensa nos
outros. Quando eu tiver comido e dormido o suficiente, voltar-me-ei para pensar
nos outros. Esta é a visão comum. Se tiveste amor em abundância, ou felicidade,
és levado a pensar no outro. Mas para alcançar essa felicidade, devemos
descobrir até onde nos encaixamos num plano definido. Devemos estar cientes de
que há um plano em que cada um de nós tem um papel a representar, e devemos
possuir a determinação na qual agiremos, com a qual deveremos criar o ambiente
no qual caberemos, ou não; e se estivermos dispostos a procurar com a atitude
correta deveremos ser capazes de descobrir até onde nos encaixaremos nesse
plano. Para mim, posso imaginar que os deuses eleitos disseram que Krishna
deverá encaixar-se num certo plano estabelecido, e que o quer que seja que ele
faça, não terá valor, e enquanto encaixar nesse plano, Krishna crescerá e será
feliz. Eu estava interessado e observava-me a mim mesmo, e podia ver de ano
para ano uma mudança definida, uma orientação definida, uma transformação
definida e podia ver qual era o meu definido papel. E assim cada um de nós
deverá descobrir que caminho percorrer e qual a especialidade a ter. Acontece
frequentemente que a maioria de nós está disposta a subir até ao altar e verter
a nossa devoção. A devoção existe, em diversos graus, na maioria de nós, mas
não pode nem deve satisfazer-nos. Se eu fosse ter com a Dr.ª Anne Besant
(1847-1933) e lhe dissesse: Estou disposto a servi-la em qualquer das minhas
capacidades. Estou disposto a sacrificar tudo e o meu único desejo é trabalhar
para obter conforto, independência, e por aí fora, ela diria, Oh, muito bem;
que capacidades trazes contigo. De que modo queres prestar serviço ao Mestre? A
devoção deve ter um escape na atividade física; e desta forma se tivermos de
determinar qual o papel que cada um de nós tem de representar, antes de nos
oferecermos, devemos descobrir quais as capacidades que temos. Quando para um
Teósofo ou um membro da Star ou qualquer outro, o chamamento aparece como
sacrifica tudo e vem ao Mestre, não é suficiente pedir ao Mestre que aceite
somente a nossa devoção; devemos dar-lhe qualquer coisa que lhe permita
guiar-nos. Por outras palavras, devemos trazer perante o Mestre certas capacidades
e não aparecer apenas de mãos vazias. Se eu puder chegar junto do Mestre e
dizer “Eu posso fazer isto ou aquilo, eu posso escrever ou pintar ou compor
música ou representar, Ele dirá: Muito bem, esse é o teu caminho. Vai e
procura, descobre quais são os teus talentos, e logo que os encontres, saberás
como sofrer e servir. Pois existem muito poucos que realmente conseguem dizer,
Eu posso fazer isto; ao longo desta linha reside o meu sacrifício ao serviço do
Mestre. Consideramos que nos sacrificámos quando terminamos sem algo do qual
podemos facilmente abrir mão. Se eu tivesse imaginado algo em particular que o
Mestre quisesse realizado, eu tratá-lo-ia de outro modo. E se eu precisasse de
riquezas, tê-las-ia acumulado, não para mim, mas para o Mestre, e ao
acumula-las, saberia que tinha que me sacrificar, e tinha que suportar enormes
sofrimentos e mal-entendidos. Mas é a atitude que conta. Estamos com medo de
que as nossas capacidades não nos guiem pelo caminho que nos foi preparado.
Assim temos que descobrir antes de servir realmente, de que maneira cada um de
nós pode servi-lo, de que modo podemos oferecer o nosso sacrifício, e ao
descobrir qual o nosso caminho deveremos descobrir a qual tipo pertencemos, se
ao tipo que vai para o mundo e se desenvolve no mundo, por assim dizer, ou é
deixado numa estufa e evolui, como uma planta, igualmente cheio de força. Há
pessoas que trabalham no mundo por vários anos, que trabalham e fazem de tudo
sem descobrir qual o propósito da vida. Descobrem o seu propósito por acaso,
mas acumularam tanto do que o mundo tem para dar que ao entrarem em contato com
as realidades espirituais abrem mão de tudo o que adquiriram, enquanto aqueles
que cresceram numa estufa separados do mundo alcançam o objetivo por outro
caminho. Portanto tal não tem importância desde que tenhamos aprendido o que
ambas as guerras de identidade podem oferecer, e não até então estarão aptos a
servir o mundo. Imaginem apenas uma pessoa que é criada, diga-se, num templo
onde é reprimida, onde desenvolve complexos. Assim que essa pessoa sai lá para
fora para o mundo, tem a melhor das diversões; e é o mesmo com a pessoa que
trabalha cá fora no mundo. Não podemos evoluir ao longo de uma linha definida.
Devemos evoluir em todas as direções e até lá não ajudamos e só atrapalharemos.
Tal como eu conheço o meu próprio caminho, também cada um de nós deverá
descobrir o seu caminho e até essa descoberta ser feita não devemos estar
prontos ou aptos para servir o Mestre. Aqueles de nós que têm imaginação, que
em certo grau têm a capacidade de tomar uma visão impessoal da vida, podem
descobrir isto. Mas a maioria de nós não têm o desejo de servir, nem o desejo
de alcançar o seu caminho ou objetivo. O nosso problema é que tal como no mundo
exterior, temos os nossos direitos adquiridos. E desde que exista o elemento de
egoísmo, não descobriremos o caminho. Cada um de nós quer que o Mestre desça
até si; mas o que não aprendemos foi que, mesmo como imaginamos, se Ele
descesse das nuvens, seríamos incapazes de O servir, porque não nos equipámos
para Lhe prestar serviço. Devemos descobrir de que maneira podemos servir, e
isso implica a completa violação de nós mesmos, das nossas relações, etc. Não é
que não tenhamos o desejo, nem a nostalgia que as grandes pessoas têm; mas em
nós não é constante. Não existe aquela pressão contínua que nos mantêm a andar,
a andar, a andar. Significa verdadeiro sacrifício, significa subjugar-nos em
tudo e não deixar o ego, a personalidade, o eu ficar-se por cima. Então
deixaremos de distorcer as coisas para que se encaixem nos nossos preconceitos,
mas a compreenderemos de um modo total; por outras palavras, tornam-se
realmente simples. Devemos ter a coragem e determinação para desistir; e quando
subimos e atingimos uma certa distância, descobrimos o quanto de tolos somos ao
lutar pelo que é tão trivial, tão simples. Existem tantos temas com os quais
lutamos de uma forma tão complicada; mas se nós apenas nos deixássemos expandir
um pouco, todos estes temas se tornavam simples, todas as complicações desapareceriam.
Mas requer que nos observemos constantemente, que estejamos atentos para ver se
estamos a fazer a coisa certa ou a coisa errada. Cada um de nós sabe destas
coisas de fio a pavio, e mesmo assim se o Mestre chegasse e perguntasse o que
cada um de nós soube fazer, de que modo agimos na sua ausência, de que modo
cumprimos o nosso papel, quais seriam as nossas respostas? É surpreendente como
não conseguimos mudar, como devíamos, tal e qual uma flor. A nossa crença
embora forte, não é a crença de um homem que age com uma determinação fixa.
Essas são, no entanto, as pessoas que o Mestre quer ao Seu serviço, e não
somente aquelas que são apenas devotas, sem que essa devoção as conduza à
ação. Se nós conseguirmos pôr de lado a nossa própria evolução, e trabalhar e
esquecermo-nos de nós mesmos no trabalho, então seremos verdadeiramente servis
e aproximar-nos-emos do Mestre. Pode ser que eu seja jovem, que eu não tenha
sofrido como os mais velhos já sofreram, mas se o sofrimento pode desalentar o
entusiasmo então mais vale não tê-lo. Mas o que foi que nos ensinou o
sofrimento? Como disse no início, não existe nada tão absorvente como o estudo
de nós mesmos. Esse é o único assunto sobre o qual vale a pena pensar; porque
significa mudança. Não existe ninguém para forçar os mais velhos, e portanto
ficam cristalizados. O que interessa é descobrir o que podemos fazer e até onde
nos podemos sacrificar; quanta é a nossa força e quais as nossas capacidades.
Quando vemos pessoas numa atitude de reverência, penso frequentemente no que
terão feito por via do sacrifício. Nos anos que estão para vir, ou temos que
nos adaptar rapidamente à corrente em mudança, ou sair completamente dela.
Quando definitivamente agarrarmos um vislumbre do Plano, por mais passageiro
que seja, e sabendo que devemos continuar, simplesmente continuaremos, porque é
muito mais divertido do que somente marcar o tempo. O que interessa é termos de
fazer qualquer coisa para mudar. A velhice não significa que não podemos mudar.
Por outro lado, é mais fácil para os mais velhos, porque eles já tiveram a
experiência, e o sofrimento; no entanto continuam do mesmo velho modo de
perpétua negligência. Se querem ganhar dinheiro, vão e ganhem milhões, e
deem-nos ao Mestre, e podem fazê-lo se tiverem a atitude correta. E é o mesmo
com tudo o resto que queiram fazer, escrever á maquina, estenografar ou
qualquer outra coisa que desejem que seja o vosso serviço para o Mestre. A
atitude é o que conta e quando chegarem lá todo o resto se seguirá. http://www.jiddu-krishnamurti.net.
Abraço. Davi.
sábado, 26 de setembro de 2015
Renúncia.
Texto de
Ayya Khema
(1923-1997). Para abraçar o caminho espiritual inteiramente, ser capaz de
nele crescer e percorrê-lo com uma sensação de segurança, é necessário
renunciar. Renúncia não significa necessariamente
raspar o cabelo ou vestir mantos. Renúncia significa abandonar todas as
ideias e esperanças às quais a mente desejaria se apegar e reter, ter
interesse e desejo de investigar. A mente deseja ter sempre mais do que
quer que seja que esteja disponível. Se ela
não consegue obter mais, ela então produz fantasias e imaginações e as
projeta sobre o mundo. Isso nunca trará a verdadeira satisfação, paz
interior, que apenas podem ser conquistadas por meio da renúncia.
Abandonar é a palavra chave no caminho Budista, é
a dissolução do desejo. É necessário compreender de uma vez por todas
que mais não é melhor. É impossível chegar ao fim de mais, sempre há
algo que está mais além. Mas com certeza é possível chegar ao fim de
"menos," que é uma abordagem muito mais inteligente.
Porque sentar isolado em meditação e arruinar as possibilidades de
todas as oportunidades que o mundo oferece para o divertimento? Uma
pessoa poderia viajar, dedicar-se a um trabalho desafiador, conhecer
pessoas interessantes, escrever cartas ou ler livros,
desfrutar um período agradável em algum outro lugar e realmente
sentir-se tranquila, ela poderia até mesmo encontrar um caminho
espiritual distinto. Quando a meditação não alcança os resultados
desejados, pode surgir o pensamento: O que é que eu estou fazendo,
porque estou fazendo isso, para que, qual o benefício disso tudo? Então
surge a ideia: Eu na verdade não sou capaz de fazer isso muito bem,
talvez eu devesse tentar outra coisa. O mundo reluz e promete tanto, mas
nunca, nunca cumpre as suas promessas. Cada
um de nós já experimentou inúmeras vezes as suas tentações e nenhuma
delas trouxe real satisfação. A verdadeira satisfação, a plenitude da
paz, sem faltar nada, a completa tranquilidade desprovida de cobiça, não
pode ser satisfeita no mundo. Não há nada que
possa preencher os nossos desejos de forma completa e absoluta.
Dinheiro, posses materiais, uma outra pessoa, embora essas coisas possam
trazer alguma satisfação, no entanto, existe aquela dúvida
incomodativa: Talvez eu encontre alguma outra coisa, mais confortável,
mais fácil, não tão exigente e acima de tudo algo novo. Sempre, aquilo
que é novo promete a satisfação. A mente tem que ser entendida tal como
ela é, mais um meio dos sentidos que tem a sua base no cérebro, da mesma
forma como a visão tem a sua base no olho.
Conforme os momentos mentais surgem e o contato com eles é
estabelecido, passamos a acreditar naquilo que estamos pensando e até
mesmo possuindo aquilo: É meu. Devido a isso, temos muito interesse nos
nossos pensamentos e desejamos cuidar bem deles. É ponto
pacífico que as pessoas cuidam melhor das suas coisas do que das coisas
dos outros e assim, seguimos os nossos momentos mentais e acreditamos
em todos eles. E no entanto, eles nunca trazem felicidade. O que eles
trazem é esperança, preocupação e dúvida. Algumas
vezes eles proporcionam divertimento e em outras depressão. Quando
surgem as dúvidas e estas são levadas adiante, isto é, são acolhidas,
elas podem conduzir- nos até o ponto em que não restará nenhuma prática
espiritual que seja. No entanto, a única forma
de provar que a vida espiritual traz realização é através da prática. A
prova do pudim consiste em comê-lo. Ninguém poderá provar por nós;
desejar que outrem prove de modo que apenas tenhamos que agarrar aquilo e
nos alimentarmos é uma abordagem equivocada.
A satisfação que estamos buscando não é o que podemos conseguir para
rechear esta mente e corpo. O buraco é demasiado grande para ser
preenchido. O único modo de encontrar satisfação é abandonar as
expectativas e desejos em relação a tudo aquilo que ocorre
na mente, sem deixar escapar nada. Então não restará nada para ser
preenchido. O mal entendido, que constantemente se repete, é esta típica
atitude de: Quero que me
dêem. Quero que me dêem
conhecimento, compreensão, amor bondade, consideração. Quero que me
deem o despertar espiritual. Não há nada que possa ser dado para
ninguém, exceto instruções e métodos. É necessário
que cada um faça a sua tarefa diária de prática, para que essa tarefa
resulte em purificação. A ausência de satisfação não pode ser remediada
com o desejo de receber algo novo. Não temos sequer uma
idéia clara de onde isso deve vir. Talvez do
Budha, ou do Dhamma, ou podemos
querer que venha do nosso mestre. Quiçá, talvez gostaríamos de obtê-lo
da nossa meditação, ou de um livro. A resposta não está em obter algo
que esteja fora de nós mesmos, mas sim em descartarmo-nos
de tudo. Do que precisamos nos livrar primeiro? De preferência das
convulsões da mente que constantemente nos contam estórias fantásticas e
inacreditáveis. No entanto, quando as ouvimos, nós mesmos acreditamos
nelas. Uma forma de encará-las e descrer delas
é escrevê-las. Elas parecerão absurdas quando estiverem escritas no
papel. A mente sempre pode imaginar novas estórias, não há um fim nisso.
A renúncia é a chave. Abandonar, soltar-se de tudo. Renunciar também
significa entregarmo-nos àquele conhecimento subjacente,
subconsciente, de que o jeito mundano não funciona, de que há um outro
jeito. Não podemos tentar permanecer no mundo e agregar algo à nossa
vida, mas, ao invés disso, deveríamos desistir completamente das nossas
ambições. Permanecer como somos e adicionar
algo mais a isso, como é possível que isso funcione? Se alguém possui
uma máquina que não funciona direito e apenas agrega uma peça a mais,
não fará com que ela funcione. É necessário recondicionar a máquina
toda. Isso significa aceitar o nosso entendimento
subjacente de que a forma tradicional de pensar não é útil.
Dukkha existe sempre, repetidamente. Nunca para,
não é mesmo? Algumas vezes pensamos: Deve ser devido a uma certa pessoa,
ou talvez seja por causa do tempo. Então o tempo muda ou aquela pessoa
se vai, mas Dukkha continua
presente. Então não era aquilo e precisamos tentar encontrar outra
coisa. Ao invés disso, precisamos nos tornar flexíveis e moldáveis e
estar presentes com aquilo que realmente está surgindo sem todas as
convulsões, conglomerações, proliferações da mente.
Aquilo que surge pode ser puro ou impuro e precisamos saber como lidar
com cada um. Uma vez que comecemos a explicar e racionalizar, todo o
processo novamente deixa de funcionar. Não precisamos pensar que devemos
acrescentar algo para sermos perfeitos. Tudo
deve ser descartado, tudo que é identificável, então nos tornaremos uma
pessoa perfeita. A renúncia está em nos soltarmos da conceituação, do
material mental que reivindica ser a pessoa que sabe. Quem conhece essa
pessoa que sabe? São só
idéias volteando, surgindo e desaparecendo. A
renúncia não é uma manifestação externa, esta é apenas o seu resultado.
A causa é interior, que é o que precisamos praticar. Se pensarmos num
convento de monjas como o lugar para meditar,
nos daremos conta de que a meditação não ocorre sem renúncia.
www.http://nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Iniciação ao Budismo.
Texto de
Hammalawa Saddhatissa (1914-
). Uma característica singular do budismo é a omissão de qualquer
cerimônia semelhante à do batismo. Existe apenas um meio de se tornar
um budista, e este é o de seguir os passos do
Budha e tentar pôr em prática seus
ensinamentos no decorrer da vida. A filosofia budista reconhece certos
obstáculos que impedem o crescimento de um indivíduo em direção a sua
liberação. Um desses obstáculos é a crença em ritos e
rituais, a suposição equivocada de que, através da participação em
cerimônias especiais ou em algumas práticas religiosas, se possa
encontrar a salvação. Não é, pois, de se admirar que não existam
cerimônias de batismo no budismo. Buscai vossa própria liberação,
e não vos importeis em vos associar a quaisquer grupos ou sociedades. O
que, então, marcaria a iniciação ao budismo? A qualidade requerida é o Saddhã, frequentemente traduzido como
Fé, mas dignificando confiança baseada no conhecimento. Como disse o
Budha: a confiança é a companheira do homem, e a sabedoria lhe dá o comando. Outra tradução interessante de Saddhã é a certeza de que há um objetivo a ser alcançado.
Antes que se possa começar a seguir seriamente a trilha do
Budha, é necessário que se tenha dentro de si, ainda que com
certa hesitação, a confiança de que existe um caminho a ser trilhado e
um objetivo a ser alcançado. Essa confiança inicial pode ser reforçada
gradativamente, à medida que a experiência nos
ensine que ela foi bem fundada. Contudo, sempre através da longa
jornada, esta resposta do coração, este despertar da confiança,
precederá, capacitando-nos a dar um novo passo na escuridão. Não há
dúvidas no reconhecimento deste modelo, a confiança inicial
que conduz à vontade de experimentar, o que por sua vez resulta na
confirmação da confiança original e fornece a base a partir da qual um
passo além pode ser contemplado, que a prática budista do Tisarana foi
instituída e desenvolvida. O Tisarana, a busca dos três refúgios, envolve a repetição tríplice da seguinte fórmula:
No
Budha busco refúgio.
No
Dhamma, ensinamento, busco refúgio.
No
Sangha, ordem dos monges, busco refúgio.
Para
o ocidental cético, tal sortilégio, sem dúvida alguma, soa como
idolatria, superstição e passividade oriental. Contudo, buscar
refúgio no Budha não implica qualquer
garantia pessoal de que ele próprio conduza à chegada ao objetivo de
qualquer um de seus seguidores. Ao contrário, ele disse: Por certo fazer
o mal a ti mesmo, por ti mesmo te tornas impuro,
por ti mesmo evitas o mal e te tornas puro. A pureza e a impureza ao
indivíduo pertencem. Ninguém pode purificar o seu próximo. O Tisarana, na verdade, seria provavelmente mais aceitável
para o ocidental se em vez da consagrada expressão refúgio fosse empregada a palavra Guia. Consequentemente, o primeiro refúgio poderia ser então traduzido como eu pretendo usar o exemplo do
Budha para guiar-me em minha busca. O segundo guia é o Dhamma, o ensinamento. O exemplo da própria vida do
Budha é de grande ajuda aos que desejam
atingir um objetivo semelhante, do mesmo modo que a vida de Cristo
oferece um modelo para inspirar e guiar os verdadeiros cristãos; o
budista tem um segundo guia no detalhado ensinamento legado
através dos tempos, assim como os cristãos têm um guia semelhante nos
sermões e parábolas de Cristo registrados nos Evangelhos. O budista é,
entretanto, mais afortunado, no sentido de que o
Budha viveu por muitos anos após sua
iluminação e teve tempo suficiente para desenvolver e aperfeiçoar uma
filosofia detalhada, um código de vida, uma cuidadosa análise lentamente
elaborada do caminho a ser tomado e de vários estágios
a serem atingidos e transcendidos. No decorrer de sua vida de
ensinamentos, o
Budha encontrou milhares de pessoas de diferentes níveis sociais,
de educação, morais e religiosos. Adaptou e aperfeiçoou sua mensagem
para preencher as necessidades e capacidades de reis e mendigos,
prostitutas e ascetas. O budismo atual pode voltar-se,
portanto, confiantemente para o Ensinamento, Dhamma,
em busca de apoio, sabendo que esse ensinamento desenvolveu-se a ponto
de incorporar todos os tipos e condições humanas. Além do mais, na
medida em que o ensinamento é
colocado em prática, o seguidor do Budha passa a ter uma razão mais certa e mais íntima para acreditar no Dhamma. Ele passa a se dar conta de que, apesar
de conhecer pouco, e praticar menos ainda, está começando a ser ajudado e socorrido pelo ensinamento. Ele recorre ao Dhamma em
busca de
apoio, pois começa a descobrir que a sua mensagem está de acordo com a
sua própria experiência adquirida vagarosamente, e provavelmente de um
modo doloroso. O terceiro refúgio é o Sangha,
a comunidade de monges do passado, presente e futuro. O fato de milhões de homens terem seguido o ensinamento do
Budha e terem decidido devotar toda a sua
energia e atenção a ele, e ainda o terem considerado um modo de vida
válido e satisfatório, fez com que se tornassem o terceiro guia do
budista. O
Sangha pode
ser interpretado como comunidade ou ordem de monges, mas pode também
ser interpretado como a amizade daqueles que percorreram os caminhos do
Budha e colheram o fruto de
seu trabalho.
www.nossacasa.net/shunya/. Temos estudado o budismo nesse espaço e percebemos, que essa espiritualidade, tem uma variada e ampla esfera de elementos envoltos em abstração, com a proposta de argumentação lógica e razoável nos princípios que são apresentados. Nós ocidentais de tradição cristã, tendemos a juízos baseados em crenças e dogmas ao refletirmos sobre os assunto da religião. Isso cria certa confusão quando precisamos compreender os conceitos do budismo. Sugiro que nesse tipo de abordagem, procuremos usar os requisito que já temos adquirido ao longo das leituras empreendidas, onde assumimos um olhar de observador e inquiridor como o Budha aconselhou em seus Sutras. Assim, pressuponho que o conhecimento da doutrina budista deve nos conduzir a ponderações objetivas e individuais, em nenhum momento admitindo um conceito como verdade absoluta. Mas evidentemente aceitando a verdade como princípio condutor de nossa evolução espiritual, sendo um dos preceitos fundamentais à produzir nossa iluminação. No budismo não existe uma formalização à que a pessoa seja considerada um adepto ou membro da tradição. O caminho do Budha é simples, liberto e autônomo àquele que deseja trilhar a senda para libertar-se do ciclo indefinido do samsara, renascimento, sofrimento e morte. Esses devem ser observados pelo praticante, com vistas ao aperfeiçoamento de seu dharma, missão divina, com o propósito de também auxiliar todos os seres à sua evolução espiritual. A reflexão trouxe alguns pontos interessante como a saddha ou fé. Esse termo, segundo penso, é intrínseco a nossa individualidade, em momento nenhum sendo usado como instrumento de materialismo ou apegos aos bens transitórios de nossa vida. Fé aqui é específica ao nosso desprendimento terreno, compromisso com a fraternidade e interesse em reparar por atitude meritórias o carma de todos os seres. A sangha ou ordem dos monges, devemos entender de maneira conotativa, havendo o aspecto objetivo e subjetivo do comportamento do seguidor. O Budha também refletiu sobre esse assunto, quando instruía os bhikkhus em seus ensinamento. Desse modo, era observado que muitos assumiriam a vida monástica, necessária a preservação e conservação da tradição e cultura espiritual, mas a grande maioria seguiriam os ensinamento do Budha em sua vida normal e leiga. Assim, fica claro que não a prevalência quanto aos dois aspectos, de um grupo em relação ao outro. Mas seja na vida vocacional ou ordinária, o seguidor deve pelo coração sincero e a mente pura, está imbuído do compromisso com sua iluminação e de todos os demais seres humanos e não humanos. O Budha como refúgio, entendo o princípio que já nos condiciona a uma vida regrada na meditação, conhecimento, procura da sabedoria divina, usar o amor, compaixão, piedade. Praticar o altruísmo e abnegação, desejar a felicidade de todos os seres, nos preparar para entrar no portal do outro mundo. Abraço. Davi.
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