quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O Progresso Espiritual.



Gênesis 29:10-19 “Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi a Harã; E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu travesseiro, e deitou-se naquele lugar. E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência. E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado. Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus. Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome porém daquela cidade antes era Luz”. Esse texto bíblico tem na tradição católica a ideia de progresso espiritual. A escada com seus degraus, sonhada por Jacó, representa os vários níveis a que o fiel, servo ou seguidor de Cristo, deve se esforçar para alcançar seu topo como o estado de união com Deus, o Nirvana budista ou o Moksha hinduísta, que cessará o sofrimento, morte e renascimento. O desperto, nesse caso, só retornará como um grande ser bodhisattva, avatar, mahatman ou mestre de sabedoria. Isso é visto na vida de grandes místicos e mestres espirituais, que chegaram a uma iluminação no cristianismo como São João da Cruz (1542-1591), Mestre Eckhart (1266-1328), São Francisco de Assis (1242-1282), Madre Tereza de Calcutá (1910-1997) e outros. A escada no sonho também tipifica o elemento sagrado, pois os anjos subiam e desciam por ela, e o próprio Senhor estava nela. Isso nos reporta a importância dos rituais nas congregações e igrejas, onde os símbolos, principalmente os sacramentos (pão e vinho) nelas constantes, dão forma, corporificando a presença dos anjos entre a comunhão da irmandade. Eles como sabemos não têm matéria apenas espírito. Na filosofia espiritualista oriental os budistas não concebem a ideia de alma, pois contrapõe-se ao espírito que não reencarna, mas renasce ou transmigra (do latim transmigrare ou mudar a alma de um corpo para outro). Isso vem do conceito de impermanência e vacuidade postulado pelo Budha, onde o Eu e o Não Eu sendo transitórios se anulariam nos milhões de vida que presentificamos em nossa existência. Essa transmigração vêm com elementos reparados pelo carma positivo e negativo, pois ainda não alcançaram a retificação definitiva desse nível, precisando ser provados e aprovados na disciplina pedagógica evolutiva. Nesse estágio o renascimento é precedido por um período de purgação, purificação, antes de entrar no devachan, o céu cristão; uma “temporada” de gozo até voltar a renascer. Outros por praticarem mais méritos e virtudes, vão direto ao devachan, estando por lá, segundo a doutrina esotérica, por mais ou menos mil e quinhentos anos, voltando a reencarnar. Algumas individualidade vão ao inferno, e até renascem nele. Isso sucedesse devido a práticas amorais, imorais e antiéticas com licenciosidade (agir de maneira moral ou sexual desregradamente) em relação ao próximo e despudor em relação aos pais, que pelo seu vulto expressivo devem passar por um tratamos mais depurado e consolidado por mais tempo. Mas, quando esse propósito se justifica pela disciplina, retornam aos renascimentos completando seus ciclos evolutivos; nada de fogo eterno como postula o cristianismo.. Os hindus já pensam no Espírito Universal, A Alma Cósmica, chamada de Atma à qual tudo e todos se convergirão um dia; essa ideia está representada no sagrado livro do Bhagavad Gita.  No hinduísmo o termo reencarnação é aceito, sendo nossas atitudes e comportamentos virtuosos e viciosos que tomarão um novo corpo. Dependendo de nossos méritos, será num humano ou acentuando-se mais deméritos em algum dos reinos inferiores (mineral, vegetal ou animal) da natureza. A ocultista Helena P. Blavatsky (1831-1891) diz em seu livro A Doutrina Secreta que passaremos por 777 encarnações. Talvez uma alusão a passagem bíblica de Gênesis 5: 31 "E foram todos os dias de Lameque setecentos e setenta e sete anos e morreu". Em um dos Sutras o Budha diz que passou por milhões de vidas, antes de chegar ao estado desperto da Iluminação. Lembrando que o princípio crístico e bhúdico está em nós. O ponto comum entre budistas e hinduístas é quanto nossa evolução, progresso espiritual, que está sendo realizado, em alguns indivíduos lenta e regressivamente em suas reencarnações e noutro constante e gradualmente nas recentes reencarnações. Nossa cristificação, o processo de nos tornar deuses, como o Mestre Jesus disse em João 10:34 “Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na lei: Eu disse, sois deuses?” é um procedimento que envolve inúmeras vidas; encarnações que não sabemos precisar a quantidade, mas ao final alcançaremos a extremidade da escada, nos mesclando a Divindade Suprema; cumprindo o versículo de João 10:30 “Eu e o Pai somos um”. Nesse aspecto, devemos fazer alguns esclarecimentos à que tenhamos uma compreensão sensível desse ensinamento da reencarnação que nos habilita a cristificação, já que em minha opinião, uma vida apenas, é insuficiente à tornar-nos iluminados ou despertos como Budha, Krishna, Cristo ou um dos mestre citados acima. Até o século VI da era cristã a comunidade dos discípulos e seguidores de Jesus, chamado pelos historiadores de cristianismo primitivo praticavam o esoterismo encontrado nas páginas das Sagrada Escritura Cristã, claro que de maneira velada, tendo-se requisitos a acessar esse conhecimento. Essa doutrina segundo um dos país da igreja chamado Orígenes de Alexandria, discípulo de Clemente de Alexandria (150-215) tinha fundamentação bíblica. Segundo pesquisadores, Orígenes reunia-se com uma comunidade desses cristãos, sendo um de seus principais e tendo um conhecimento enciclopédico, raríssimo para sua época. Sondagens investigativas mais conservadoras dizem que ele é autor de pelo menos 2000 volumes de estudos teológicos e religiões comparadas. Em seus estudos filosóficos conciliou o platonismo com o cristianismo em muitas de suas hipóteses teóricas. Assim assuntos como metempsicose, transmigração de almas, apocatástase, clarividência, áudio vidência, projeção de consciência e reencarnação, todos discutidos por Platão (428 AC 347) em muitos de seus diálogos, eram também explicados e discutidos na comunidade cristã primitiva. Lembrando que a comunidade dos primeiros cristãos moravam a relativa distancia da cidade de Alexandria, onde havia um museu e uma famosa biblioteca com milhares de volumes do conhecimento mundial em papiros e pergaminhos. Plotino (204-270) e Amônio Saccas (175-242) que cunharam o termo teosofia ou sabedoria divina, estudaram nessa biblioteca tornando-se grandes sábios e místicos; deixando muitos escritos neoplatônicos que foram depois estudados por Orígenes, do qual postulou toda sua doutrina espiritualistas contidas em quatro famosas obras: De Príncipes, Exacta, Contra Celsius e Periarcon. Nessa última obra, ele detalha com mais ênfase os aspectos esotéricos das escrituras cristãs, incluindo a reencarnação ou transmigração de almas como vista por Platão e os Neoplatônicos que retiraram dos livros sagrados hindus e budistas seus pressupostos e conceitos básicos. Infelizmente a obra teológica de Orígenes foi censurada pela igreja católica de então, e pra piorar, o imperador Justiniano ordenou a destruição da biblioteca de Alexandria (415) onde estava a maioria de seus livros, acabando com todo o legado de conhecimento depositado naquela instituição do saber humano. A censura aos escritos de Orígenes aconteceu no Concílio de Constantinopla II em 553, pois até essa época o ensino esotérico dos textos sagrados cristãos eram normalmente explanados em público e aos iniciados nos mistérios do reino de Deus. Assim a hierarquia superior católica reunida em conclave para substituir o papa Virgílio (500-553) que tinha posições liberais, inclusive aceitando as posições esotéricas de Orígenes, bem como a reencarnação. Eles, nesses encontros, segundo historiadores, sem critérios, especificações ou consulta as bases eclesiásticas para mensurar o impacto nos cânones sagrados. Arbitrariamente impuseram suas opiniões, castrando a riqueza da sabedoria divina advinda das interpretações ocultas de Orígenes, que aproximava o catolicismo das tradições espiritualista do oriente, dando a teologia cristã mais riqueza de argumentos, tolerância e universalização; estando aberta à comunhão e harmonia com outras religiões. Essa posição extremamente dogmática da igreja em relação aos postulados da escola platônica desagradou muitos prelados e líderes pelo mundo daquela época, sendo uma das sementes para o grande cisma da igreja do ocidente e oriente. Essas quatro obras de Orígenes, citadas acima, foram as únicas de seu volumoso acervo a resistir milagrosamente as chamas, impetrada pela ira e ódio do imperador Justiniano (483-565). Há uma controvérsia quanto a obra Peri Arcon que escrita em grego guarda, segundo os especialistas, os fundamentos originais da doutrina esotérica de Orígenes em especial a reencarnação. Essa obra original está disponível em alemão e inglês, mas acontece que a editora católica Paulus, responsável pela tradução em português desse livro, no Brasil, também segundo os especialistas, censurou os tópicos referentes a reencarnação e outros assuntos que o catolicismo já não adota desde o concílio de Constantinopla II. Desse modo, esse assunto só pode ser lido na versão em inglês ou alemão do Peri Arcon de Orígenes.. Assim para alcançarmos o estágio falado em Efésios 4:13 “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Em uma vida apenas é impossível; reencarnaremos inúmeras vezes até chegarmos ao topo da escada de Jacó, sendo considerados homens perfeitos. Aos interessados em aprofundar esse assunto sugiro pesquisarem na internet: PDF – Dissertação de Mestrado em Filosofia – Ricardo Lindemann. Reconciliação do platonismo com o cristianismo. Abraço. Davi.   

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Bhagavad Gita. Bhakti Yoga. União pela Devoção.



Comentário de Shri Mataji N. Devi (1923-2011). Nesse capítulo 12 Arjuna quer saber agora de Krishna quem é o melhor Yogue, aquele que segue o Caminho da Devoção venerando Deus com forma e atributos como o Ser Supremo ou aquele que venera o Absoluto, Brahma, sem forma e sem atributos. O Senhor assevera que todos os devotos que veneram Deus com fé e o adoram são louváveis. Entre os dois caminhos, o que consiste em venerar Deus sem forma é muito difícil de ser trilhado pelos seres humanos. O Senhor nos assegura que Ele pessoalmente virá em socorro dos devotos que lhe dedicam todas as ações e que pensam, constante e exclusivamente Nele. Os verso 8 a 12 tratam da prática da devoção. O Senhor diz que todos os seres humanos deveriam praticar uma devoção integral oriunda de seus corações. A concentração pode ser obtida através da prática da Yoga e quando isso também se tornar difícil, o Senhor diz que podemos executar qualquer tarefa que agrade a Ele. Quando mesmo isso não for possível, então o indivíduo pode abrir mão de todos os frutos e vantagens de suas ações e dedica-los ao Senhor. Tornando-se assim um seu devoto. Uma sincera renúncia aos frutos e benefícios das ações é algo muito poderoso e gera, instantaneamente, muita paz. Os versos 13 a 20 definem um Bhakta (devoto) ideal. A prática efetiva de algumas qualidades pelo ser humano, com devoção e fé plenas, torna-o extremamente querido por Deus. Essas qualidades tornam o devoto um ser humano ideal. O devoto ideal é aquele que: 1. É amigo de todos. 2. É livre de egoísmo e de orgulho. 3. Está sempre satisfeito e alegre. 4. É paciente. 5. É firme em seu propósito de se auto aperfeiçoar. 6. É plenamente entregue ao Senhor. 7. Ama e tem afeto sincero por todos. 8. É ciente de que não é autor ou executor de qualquer ação, mas apenas um instrumento de Deus. 9. Trata os amigos e inimigos da mesma foram. 10. Considera o mundo inteiro como seu lar. Segue o texto sagrado. “Arjuna: Dos que desejam estar sempre contigo, e como amor meditam em ti pelo processo indicado, e daqueles que meditam no Indestrutível e Imanifestado, quais são os melhores Yogues? Krishna: Considero melhores Yogues aqueles que buscam a comunhão eterna Comigo, e que, com a mente fixa em Mim, meditam em Mim com o maior fervor. Aqueles, que me adoram como o Ser Absoluto, Infinito, Imanifesto, Onipresente, Onipotente, Onisciente, Incognoscível, Incompreensível, Inefável, Invisível, Eterno, Imutável, Um e Tudo. Que, dominando os seus sentidos, conservam sempre o ânimo igual, respeitam todos os seres e se regozijam com o que é bom e belo, onde quer que esteja, desejando o bem estar a todos, também esses chegarão a Mim. O caminho dos que Me reconhecem como o Absoluto e Imanifesto, é muito mais árduo do que o caminho dos que Me adoram como Deus manifesto e possuidor de forma. A concepção de Absoluto, Infinito é a causa mais difícil para a mente finita do homem. É muito difícil para o visível conceber o invisível, o finito conceber o infinito. Mas aqueles que em Mim renunciam todas as suas ações, e meditam em Mim como seu ideal mais elevado, considerando tal meditação como um fim, sua mente está fixa em Mim. Prontamente os salvo do oceano, das mortes e renascimentos. Descansa em Mim tua mente, Oh príncipe! E satura toda a tua mente de Meu Ser, e ao deixares esta vida, morarás certamente em Mim. Mas, se não és capaz de dominar os teus pensamentos de tal modo que sejam sempre a Mim dirigidos e em Mim fixados, esforça-te então por Me alcançar mediante perseverantes exercícios devocionais. Se, porém, és incapaz de praticar exercícios devocionais, executa meu trabalho por amor oferecendo-me as tuas obras, alcançarás a meta. E se ainda isso não fores capaz de fazer, satisfatoriamente, refugia-te então em Mim e dominando-te a ti mesmo renuncia aos frutos das tuas obras. Pois melhor do que os exercícios devocionais é a sabedoria, conhecimento espiritual; melhor do que a sabedoria é a meditação, e melhor do que a meditação é a renúncia aos frutos da ação. Da renúncia nasce a paz de espírito. Em verdade, te digo, que amo aquele que não odeia a ninguém e a ninguém faz mal, mas é amigo e amante de toda a Natureza, e aquele que é bondoso, livre de vaidade, orgulho, e egoísmo, e conserva sempre a equanimidade, sendo paciente na desventura. Amo aquele que é sempre constante, afável e piedoso, manso de coração e de firme vontade, e cujos pensamentos em Mim se concentram. Amo aquele que não tem cuidados mundanos, não teme o mundo e não é tímido; quem dos Universo inteiro. É intacto o livro, o contém todas as coisas, em si mesmo é sem qualidades e, contudo, tem o conhecimento de todas as qualidades e todos os atributos. Está dentro e fora de todos os seres, é movente e também imovente; é tão sutil que é imperceptível; está perto e ao mesmo tempo distante. Presente em todos os seres como seus atmas, almas, file parece fragmentado, mas realmente é indivisível. Conhecei esses atmas como os sustentadores dos corpos, reproduzindo-os e alentando-os. A Alma, Deus, é a luz das luzes. Ele é o conhecimento, o conhecedor e o conhecido. Mora nos corações de todos. Com estas concisas palavras, dei-te a ideia do campo, do conhecimento e o objeto do conhecimento. Os sábios que isto conhecem, unifica-se Comigo. Sabe, Oh Arjuna! Que tanto a Matéria, como o Espírito, são sem princípio e sem fim. Sabe também que da Matéria precedem todas as modificações e qualidades e que, portanto, transcende a toda matéria. A matéria, estando em contínuo movimento, produz variadíssimas e mutáveis formas, o Espírito , porém, é a causa do sentimento de prazer ou dor. O Espírito recebe as impressões das propriedades que emanam da Matéria. O apego a estas qualidades determina a sua reencarnação em boas e más matrizes. O Espírito Universal é espectador, diretor, protetor ou possuidor; Ele é a Alma Universal, a força que fecunda a Matéria, e permanece intacto no meio das atividades desta. Quem compreende o que é a Matéria, o Espírito e as propriedades da Matéria, como te expus, sente-se idêntico com o Espírito, é filho da Luz, e quaisquer que sejam as condições da sua vida, pertence aqueles que não estão mais sujeitos as reencarnações. Alguns chegam ao conhecimento do seu Eu Espiritual por meio da meditação; outros pelo pensar aprofundado; alguns alcançam a percepção mediante renuncia; outros por meio de boas ações. Há muitos que não descobriram esta verdade por si mesmos e em si mesmos, mas ouviram a doutrina e os ensinos de outros, e respeitam-nos; também estes, agindo de acordo com a doutrina, vencem a morte pela força da fé. Sabe, Oh príncipe! Que cada ser criado, seja animado ou inanimado, é produzido pela união do campo com o conhecedor do campo. Quem vê a Alma Universal imanente em todas as coisas, imperecível ainda que em coisas perecíveis, esse em verdade vê. Vendo a mesma Alma Universal imanente em todas as coisas, não cai no erro de identificar o seu Eu com os princípios inferiores, e assim é livre da ilusão da mortalidade, e elabora a sua salvação. Verdadeiramente vê quem percebe que todas as ações são executadas pelo corpo ou Matéria, cujas qualidades, Gunas, atuam cada qual à maneira, e não pelo Eu. Unifica-se com Deus quem vê que as diferenças entre os seres e o aumento da família provém tão só de um dos dois elementos reunidos, que é o corpo ou Matéria. O imperecível é Supremo Ser, sem princípio nem qualidades, conquanto resida no corpo, permanece impassível e inativo. Como o éter que tudo penetra e nada o afeta sem razão de sua extrema subtilidade, assim nada contamina o Espírito, ainda que, em todas as partes resida na Matéria ou corpo. Como o Sol ilumina todo este mundo, assim o Senhor do campo ilumina todo o campo. Alcançam o Supremo aqueles que com os olhos da sabedoria discernem a diferença entre o campo e o conhecedor do campo, bem como os meios de se libertarem da Matéria moldada na forma de um corpo. Abraço. Davi.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Conhece-Te a Ti Mesmo.



Texto do filósofo e espiritualista indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Conhece-te a ti mesmo. O mensageiro da estrela. Penso que não existe tema mais interessante ou mais prometedor, ou de forma alguma mais excitante, do que o estudo de nós mesmos. Aos 15 ou 16 anos, estamos submersos em nós mesmos. Não há nada que nos interesse tanto. Depois apaixonamo-nos por alguém; mas ainda assim estamos extasiados com nós próprios. Há, descobrimos, muito mais inteligência no estudo de nós mesmos, e muito pouco pensamento dedicado aos outros. E de bom grado damos a uma quiromante 15 rúpias, moeda hindu, para ela nos contar tudo sobre nós. E sentimo-nos bastante confortáveis com o pensamento de que iremos ser grandes um dia, sem, aparentemente, ter que lutar por essa grandeza. Existe apenas um tema que nos atrai e esse somos nós mesmos. Discutimo-nos, e de uma forma não comprovativa consideramos como nos comportar, de que modo desenvolvermo-nos, e por aí em diante. Parece-me que se pensarmos inteiramente deste ponto de vista, deste ponto que unicamente nos interessa a nós, não entenderemos porque é que existimos, ou porque qualquer coisa neste mundo, de todo, existe. Claro que é verdade que primeiro temos de nos compreender a nós mesmos antes de querer descobrir seja o que for sobre a vida em geral. Filosofia, religião e outros temas não possuem real valor, real controlo sobre um indivíduo, ou apenas têm uma pequena influência, quando somente apontam como podemos escapar a certas coisas, como evitar o mal, e por ai fora. Mas aqueles de nós que são membros da Star, ou pertencem a tais organizações, deverão ter a ideia de um plano definido que está a desenvolver-se. Estamos em posição de examinar as coisas que nos são mais valiosas – coisas que produzem em nós o desejo de evoluir. Em todos nós existe o desejo de descobrir por nós mesmos até onde podemos compreender quem somos e o que nos afeta. A pessoa comum está de longe mais interessada nela mesma do que em qualquer outra. Luxúria, conforto, felicidade, tudo tem que apoiar os seus fins. Quando tudo foi feito para a satisfazer então somente pensa nos outros. Quando eu tiver comido e dormido o suficiente, voltar-me-ei para pensar nos outros. Esta é a visão comum. Se tiveste amor em abundância, ou felicidade, és levado a pensar no outro. Mas para alcançar essa felicidade, devemos descobrir até onde nos encaixamos num plano definido. Devemos estar cientes de que há um plano em que cada um de nós tem um papel a representar, e devemos possuir a determinação na qual agiremos, com a qual deveremos criar o ambiente no qual caberemos, ou não; e se estivermos dispostos a procurar com a atitude correta deveremos ser capazes de descobrir até onde nos encaixaremos nesse plano. Para mim, posso imaginar que os deuses eleitos disseram que Krishna deverá encaixar-se num certo plano estabelecido, e que o quer que seja que ele faça, não terá valor, e enquanto encaixar nesse plano, Krishna crescerá e será feliz. Eu estava interessado e observava-me a mim mesmo, e podia ver de ano para ano uma mudança definida, uma orientação definida, uma transformação definida e podia ver qual era o meu definido papel. E assim cada um de nós deverá descobrir que caminho percorrer e qual a especialidade a ter. Acontece frequentemente que a maioria de nós está disposta a subir até ao altar e verter a nossa devoção. A devoção existe, em diversos graus, na maioria de nós, mas não pode nem deve satisfazer-nos. Se eu fosse ter com a Dr.ª Anne Besant (1847-1933) e lhe dissesse: Estou disposto a servi-la em qualquer das minhas capacidades. Estou disposto a sacrificar tudo e o meu único desejo é trabalhar para obter conforto, independência, e por aí fora, ela diria, Oh, muito bem; que capacidades trazes contigo. De que modo queres prestar serviço ao Mestre? A devoção deve ter um escape na atividade física; e desta forma se tivermos de determinar qual o papel que cada um de nós tem de representar, antes de nos oferecermos, devemos descobrir quais as capacidades que temos. Quando para um Teósofo ou um membro da Star ou qualquer outro, o chamamento aparece como sacrifica tudo e vem ao Mestre, não é suficiente pedir ao Mestre que aceite somente a nossa devoção; devemos dar-lhe qualquer coisa que lhe permita guiar-nos. Por outras palavras, devemos trazer perante o Mestre certas capacidades e não aparecer apenas de mãos vazias. Se eu puder chegar junto do Mestre e dizer “Eu posso fazer isto ou aquilo, eu posso escrever ou pintar ou compor música ou representar, Ele dirá: Muito bem, esse é o teu caminho. Vai e procura, descobre quais são os teus talentos, e logo que os encontres, saberás como sofrer e servir. Pois existem muito poucos que realmente conseguem dizer, Eu posso fazer isto; ao longo desta linha reside o meu sacrifício ao serviço do Mestre. Consideramos que nos sacrificámos quando terminamos sem algo do qual podemos facilmente abrir mão. Se eu tivesse imaginado algo em particular que o Mestre quisesse realizado, eu tratá-lo-ia de outro modo. E se eu precisasse de riquezas, tê-las-ia acumulado, não para mim, mas para o Mestre, e ao acumula-las, saberia que tinha que me sacrificar, e tinha que suportar enormes sofrimentos e mal-entendidos. Mas é a atitude que conta. Estamos com medo de que as nossas capacidades não nos guiem pelo caminho que nos foi preparado. Assim temos que descobrir antes de servir realmente, de que maneira cada um de nós pode servi-lo, de que modo podemos oferecer o nosso sacrifício, e ao descobrir qual o nosso caminho deveremos descobrir a qual tipo pertencemos, se ao tipo que vai para o mundo e se desenvolve no mundo, por assim dizer, ou é deixado numa estufa e evolui, como uma planta, igualmente cheio de força. Há pessoas que trabalham no mundo por vários anos, que trabalham e fazem de tudo sem descobrir qual o propósito da vida. Descobrem o seu propósito por acaso, mas acumularam tanto do que o mundo tem para dar que ao entrarem em contato com as realidades espirituais abrem mão de tudo o que adquiriram, enquanto aqueles que cresceram numa estufa separados do mundo alcançam o objetivo por outro caminho. Portanto tal não tem importância desde que tenhamos aprendido o que ambas as guerras de identidade podem oferecer, e não até então estarão aptos a servir o mundo. Imaginem apenas uma pessoa que é criada, diga-se, num templo onde é reprimida, onde desenvolve complexos. Assim que essa pessoa sai lá para fora para o mundo, tem a melhor das diversões; e é o mesmo com a pessoa que trabalha cá fora no mundo. Não podemos evoluir ao longo de uma linha definida. Devemos evoluir em todas as direções e até lá não ajudamos e só atrapalharemos. Tal como eu conheço o meu próprio caminho, também cada um de nós deverá descobrir o seu caminho e até essa descoberta ser feita não devemos estar prontos ou aptos para servir o Mestre. Aqueles de nós que têm imaginação, que em certo grau têm a capacidade de tomar uma visão impessoal da vida, podem descobrir isto. Mas a maioria de nós não têm o desejo de servir, nem o desejo de alcançar o seu caminho ou objetivo. O nosso problema é que tal como no mundo exterior, temos os nossos direitos adquiridos. E desde que exista o elemento de egoísmo, não descobriremos o caminho. Cada um de nós quer que o Mestre desça até si; mas o que não aprendemos foi que, mesmo como imaginamos, se Ele descesse das nuvens, seríamos incapazes de O servir, porque não nos equipámos para Lhe prestar serviço. Devemos descobrir de que maneira podemos servir, e isso implica a completa violação de nós mesmos, das nossas relações, etc. Não é que não tenhamos o desejo, nem a nostalgia que as grandes pessoas têm; mas em nós não é constante. Não existe aquela pressão contínua que nos mantêm a andar, a andar, a andar. Significa verdadeiro sacrifício, significa subjugar-nos em tudo e não deixar o ego, a personalidade, o eu ficar-se por cima. Então deixaremos de distorcer as coisas para que se encaixem nos nossos preconceitos, mas a compreenderemos de um modo total; por outras palavras, tornam-se realmente simples. Devemos ter a coragem e determinação para desistir; e quando subimos e atingimos uma certa distância, descobrimos o quanto de tolos somos ao lutar pelo que é tão trivial, tão simples. Existem tantos temas com os quais lutamos de uma forma tão complicada; mas se nós apenas nos deixássemos expandir um pouco, todos estes temas se tornavam simples, todas as complicações desapareceriam. Mas requer que nos observemos constantemente, que estejamos atentos para ver se estamos a fazer a coisa certa ou a coisa errada. Cada um de nós sabe destas coisas de fio a pavio, e mesmo assim se o Mestre chegasse e perguntasse o que cada um de nós soube fazer, de que modo agimos na sua ausência, de que modo cumprimos o nosso papel, quais seriam as nossas respostas? É surpreendente como não conseguimos mudar, como devíamos, tal e qual uma flor. A nossa crença embora forte, não é a crença de um homem que age com uma determinação fixa. Essas são, no entanto, as pessoas que o Mestre quer ao Seu serviço, e não somente aquelas que são apenas devotas, sem que essa devoção as conduza à ação. Se nós conseguirmos pôr de lado a nossa própria evolução, e trabalhar e esquecermo-nos de nós mesmos no trabalho, então seremos verdadeiramente servis e aproximar-nos-emos do Mestre. Pode ser que eu seja jovem, que eu não tenha sofrido como os mais velhos já sofreram, mas se o sofrimento pode desalentar o entusiasmo então mais vale não tê-lo. Mas o que foi que nos ensinou o sofrimento? Como disse no início, não existe nada tão absorvente como o estudo de nós mesmos. Esse é o único assunto sobre o qual vale a pena pensar; porque significa mudança. Não existe ninguém para forçar os mais velhos, e portanto ficam cristalizados. O que interessa é descobrir o que podemos fazer e até onde nos podemos sacrificar; quanta é a nossa força e quais as nossas capacidades. Quando vemos pessoas numa atitude de reverência, penso frequentemente no que terão feito por via do sacrifício. Nos anos que estão para vir, ou temos que nos adaptar rapidamente à corrente em mudança, ou sair completamente dela. Quando definitivamente agarrarmos um vislumbre do Plano, por mais passageiro que seja, e sabendo que devemos continuar, simplesmente continuaremos, porque é muito mais divertido do que somente marcar o tempo. O que interessa é termos de fazer qualquer coisa para mudar. A velhice não significa que não podemos mudar. Por outro lado, é mais fácil para os mais velhos, porque eles já tiveram a experiência, e o sofrimento; no entanto continuam do mesmo velho modo de perpétua negligência. Se querem ganhar dinheiro, vão e ganhem milhões, e deem-nos ao Mestre, e podem fazê-lo se tiverem a atitude correta. E é o mesmo com tudo o resto que queiram fazer, escrever á maquina, estenografar ou qualquer outra coisa que desejem que seja o vosso serviço para o Mestre. A atitude é o que conta e quando chegarem lá todo o resto se seguirá. http://www.jiddu-krishnamurti.net. Abraço. Davi.

sábado, 26 de setembro de 2015

Renúncia.

Texto de Ayya Khema (1923-1997). Para abraçar o caminho espiritual inteiramente, ser capaz de nele crescer e percorrê-lo com uma sensação de segurança, é necessário renunciar. Renúncia não significa necessariamente raspar o cabelo ou vestir mantos. Renúncia significa abandonar todas as ideias e esperanças às quais a mente desejaria se apegar e reter, ter interesse e desejo de investigar. A mente deseja ter sempre mais do que quer que seja que esteja disponível. Se ela não consegue obter mais, ela então produz fantasias e imaginações e as projeta sobre o mundo. Isso nunca trará a verdadeira satisfação, paz interior, que apenas podem ser conquistadas por meio da renúncia. Abandonar é a palavra chave no caminho Budista, é a dissolução do desejo. É necessário compreender de uma vez por todas que mais não é melhor. É impossível chegar ao fim de mais, sempre há algo que está mais além. Mas com certeza é possível chegar ao fim de "menos," que é uma abordagem muito mais inteligente. Porque sentar isolado em meditação e arruinar as possibilidades de todas as oportunidades que o mundo oferece para o divertimento? Uma pessoa poderia viajar, dedicar-se a um trabalho desafiador, conhecer pessoas interessantes, escrever cartas ou ler livros, desfrutar um período agradável em algum outro lugar e realmente sentir-se tranquila, ela poderia até mesmo encontrar um caminho espiritual distinto. Quando a meditação não alcança os resultados desejados, pode surgir o pensamento: O que é que eu estou fazendo, porque estou fazendo isso, para que, qual o benefício disso tudo? Então surge a ideia: Eu na verdade não sou capaz de fazer isso muito bem, talvez eu devesse tentar outra coisa. O mundo reluz e promete tanto, mas nunca, nunca cumpre as suas promessas. Cada um de nós já experimentou inúmeras vezes as suas tentações e nenhuma delas trouxe real satisfação. A verdadeira satisfação, a plenitude da paz, sem faltar nada, a completa tranquilidade desprovida de cobiça, não pode ser satisfeita no mundo. Não há nada que possa preencher os nossos desejos de forma completa e absoluta. Dinheiro, posses materiais, uma outra pessoa, embora essas coisas possam trazer alguma satisfação, no entanto, existe aquela dúvida incomodativa: Talvez eu encontre alguma outra coisa, mais confortável, mais fácil, não tão exigente e acima de tudo algo novo. Sempre, aquilo que é novo promete a satisfação. A mente tem que ser entendida tal como ela é, mais um meio dos sentidos que tem a sua base no cérebro, da mesma forma como a visão tem a sua base no olho. Conforme os momentos mentais surgem e o contato com eles é estabelecido, passamos a acreditar naquilo que estamos pensando e até mesmo possuindo aquilo: É meu. Devido a isso, temos muito interesse nos nossos pensamentos e desejamos cuidar bem deles. É ponto pacífico que as pessoas cuidam melhor das suas coisas do que das coisas dos outros e assim, seguimos os nossos momentos mentais e acreditamos em todos eles. E no entanto, eles nunca trazem felicidade. O que eles trazem é esperança, preocupação e dúvida. Algumas vezes eles proporcionam divertimento e em outras depressão. Quando surgem as dúvidas e estas são levadas adiante, isto é, são acolhidas, elas podem conduzir- nos até o ponto em que não restará nenhuma prática espiritual que seja. No entanto, a única forma de provar que a vida espiritual traz realização é através da prática. A prova do pudim consiste em comê-lo. Ninguém poderá provar por nós; desejar que outrem prove de modo que apenas tenhamos que agarrar aquilo e nos alimentarmos é uma abordagem equivocada. A satisfação que estamos buscando não é o que podemos conseguir para rechear esta mente e corpo. O buraco é demasiado grande para ser preenchido. O único modo de encontrar satisfação é abandonar as expectativas e desejos em relação a tudo aquilo que ocorre na mente, sem deixar escapar nada. Então não restará nada para ser preenchido. O mal entendido, que constantemente se repete, é esta típica atitude de: Quero que me dêem. Quero que me dêem conhecimento, compreensão, amor bondade, consideração. Quero que me deem o despertar espiritual. Não há nada que possa ser dado para ninguém, exceto instruções e métodos. É necessário que cada um faça a sua tarefa diária de prática, para que essa tarefa resulte em purificação. A ausência de satisfação não pode ser remediada com o desejo de receber algo novo. Não temos sequer uma idéia clara de onde isso deve vir. Talvez do Budha, ou do Dhamma, ou podemos querer que venha do nosso mestre. Quiçá, talvez gostaríamos de obtê-lo da nossa meditação, ou de um livro. A resposta não está em obter algo que esteja fora de nós mesmos, mas sim em descartarmo-nos de tudo. Do que precisamos nos livrar primeiro? De preferência das convulsões da mente que constantemente nos contam estórias fantásticas e inacreditáveis. No entanto, quando as ouvimos, nós mesmos acreditamos nelas. Uma forma de encará-las e descrer delas é escrevê-las. Elas parecerão absurdas quando estiverem escritas no papel. A mente sempre pode imaginar novas estórias, não há um fim nisso. A renúncia é a chave. Abandonar, soltar-se de tudo. Renunciar também significa entregarmo-nos àquele conhecimento subjacente, subconsciente, de que o jeito mundano não funciona, de que há um outro jeito. Não podemos tentar permanecer no mundo e agregar algo à nossa vida, mas, ao invés disso, deveríamos desistir completamente das nossas ambições. Permanecer como somos e adicionar algo mais a isso, como é possível que isso funcione? Se alguém possui uma máquina que não funciona direito e apenas agrega uma peça a mais, não fará com que ela funcione. É necessário recondicionar a máquina toda. Isso significa aceitar o nosso entendimento subjacente de que a forma tradicional de pensar não é útil. Dukkha existe sempre, repetidamente. Nunca para, não é mesmo? Algumas vezes pensamos: Deve ser devido a uma certa pessoa, ou talvez seja por causa do tempo. Então o tempo muda ou aquela pessoa se vai, mas Dukkha continua presente. Então não era aquilo e precisamos tentar encontrar outra coisa. Ao invés disso, precisamos nos tornar flexíveis e moldáveis e estar presentes com aquilo que realmente está surgindo sem todas as convulsões, conglomerações, proliferações da mente. Aquilo que surge pode ser puro ou impuro e precisamos saber como lidar com cada um. Uma vez que comecemos a explicar e racionalizar, todo o processo novamente deixa de funcionar. Não precisamos pensar que devemos acrescentar algo para sermos perfeitos. Tudo deve ser descartado, tudo que é identificável, então nos tornaremos uma pessoa perfeita. A renúncia está em nos soltarmos da conceituação, do material mental que reivindica ser a pessoa que sabe. Quem conhece essa pessoa que sabe? São só idéias volteando, surgindo e desaparecendo. A renúncia não é uma manifestação externa, esta é apenas o seu resultado. A causa é interior, que é o que precisamos praticar. Se pensarmos num convento de monjas como o lugar para meditar, nos daremos conta de que a meditação não ocorre sem renúncia. www.http://nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Iniciação ao Budismo.

Texto de Hammalawa Saddhatissa (1914-  ). Uma característica singular do budismo é a omissão de qualquer cerimônia semelhante à do batismo. Existe apenas um meio de se tornar um budista, e este é o de seguir os passos do Budha e tentar pôr em prática seus ensinamentos no decorrer da vida. A filosofia budista reconhece certos obstáculos que impedem o crescimento de um indivíduo em direção a sua liberação. Um desses obstáculos é a crença em ritos e rituais, a suposição equivocada de que, através da participação em cerimônias especiais ou em algumas práticas religiosas, se possa encontrar a salvação. Não é, pois, de se admirar que não existam cerimônias de batismo no budismo. Buscai vossa própria liberação, e não vos importeis em vos associar a quaisquer grupos ou sociedades. O que, então, marcaria a iniciação ao budismo? A qualidade requerida é o Saddhã, frequentemente traduzido como Fé, mas dignificando confiança baseada no conhecimento. Como disse o Budha: a confiança é a companheira do homem, e a sabedoria lhe dá o comando. Outra tradução interessante de Saddhã é a certeza de que há um objetivo a ser alcançado. Antes que se possa começar a seguir seriamente a trilha do Budha, é necessário que se tenha dentro de si, ainda que com certa hesitação, a confiança de que existe um caminho a ser trilhado e um objetivo a ser alcançado. Essa confiança inicial pode ser reforçada gradativamente, à medida que a experiência nos ensine que ela foi bem fundada. Contudo, sempre através da longa jornada, esta resposta do coração, este despertar da confiança, precederá, capacitando-nos a dar um novo passo na escuridão. Não há dúvidas no reconhecimento deste modelo, a confiança inicial que conduz à vontade de experimentar, o que por sua vez resulta na confirmação da confiança original e fornece a base a partir da qual um passo além pode ser contemplado, que a prática budista do Tisarana foi instituída e desenvolvida. O Tisarana, a busca dos três refúgios, envolve a repetição tríplice da seguinte fórmula:
No Budha busco refúgio.
No Dhamma, ensinamento,  busco refúgio.
No Sangha, ordem dos monges, busco refúgio.
Para o ocidental cético, tal sortilégio, sem dúvida alguma, soa como idolatria, superstição e passividade oriental. Contudo, buscar refúgio no Budha não implica qualquer garantia pessoal de que ele próprio conduza à chegada ao objetivo de qualquer um de seus seguidores. Ao contrário, ele disse: Por certo fazer o mal a ti mesmo, por ti mesmo te tornas impuro, por ti mesmo evitas o mal e te tornas puro. A pureza e a impureza ao indivíduo pertencem. Ninguém pode purificar o seu próximo. O Tisarana, na verdade, seria provavelmente mais aceitável para o ocidental se em vez da consagrada expressão refúgio fosse empregada a palavra Guia. Consequentemente, o primeiro refúgio poderia ser então traduzido como eu pretendo usar o exemplo do Budha para guiar-me em minha busca. O segundo guia é o Dhamma, o ensinamento. O exemplo da própria vida do Budha é de grande ajuda aos que desejam atingir um objetivo semelhante, do mesmo modo que a vida de Cristo oferece um modelo para inspirar e guiar os verdadeiros cristãos; o budista tem um segundo guia no detalhado ensinamento legado através dos tempos, assim como os cristãos têm um guia semelhante nos sermões e parábolas de Cristo registrados nos Evangelhos. O budista é, entretanto, mais afortunado, no sentido de que o Budha viveu por muitos anos após sua iluminação e teve tempo suficiente para desenvolver e aperfeiçoar uma filosofia detalhada, um código de vida, uma cuidadosa análise lentamente elaborada do caminho a ser tomado e de vários estágios a serem atingidos e transcendidos. No decorrer de sua vida de ensinamentos, o Budha encontrou milhares de pessoas de diferentes níveis sociais, de educação, morais e religiosos. Adaptou e aperfeiçoou sua mensagem para preencher as necessidades e capacidades de reis e mendigos, prostitutas e ascetas. O budismo atual pode voltar-se, portanto, confiantemente para o Ensinamento, Dhamma, em busca de apoio, sabendo que esse ensinamento desenvolveu-se a ponto de incorporar todos os tipos e condições humanas. Além do mais, na medida em que o ensinamento é colocado em prática, o seguidor do Budha passa a ter uma razão mais certa e mais íntima para acreditar no Dhamma. Ele passa a se dar conta de que, apesar de conhecer pouco, e praticar menos ainda, está começando a ser ajudado e socorrido pelo ensinamento. Ele recorre ao Dhamma em busca de apoio, pois começa a descobrir que a sua mensagem está de acordo com a sua própria experiência adquirida vagarosamente, e provavelmente de um modo doloroso. O terceiro refúgio é o Sangha, a comunidade de monges do passado, presente e futuro. O fato de milhões de homens terem seguido o ensinamento do Budha e terem decidido devotar toda a sua energia e atenção a ele, e ainda o terem considerado um modo de vida válido e satisfatório, fez com que se tornassem o terceiro guia do budista. O Sangha pode ser interpretado como comunidade ou ordem de monges, mas pode também ser interpretado como a amizade daqueles que percorreram os caminhos do Budha e colheram o fruto de seu trabalho. www.nossacasa.net/shunya/. Temos estudado o budismo nesse espaço e percebemos, que essa espiritualidade, tem uma variada e ampla esfera de elementos envoltos em abstração, com a proposta de argumentação lógica e razoável nos princípios que são apresentados. Nós ocidentais de tradição cristã, tendemos a juízos baseados em crenças e dogmas ao refletirmos sobre os assunto da religião. Isso cria certa confusão quando precisamos compreender os conceitos do budismo. Sugiro que nesse tipo de abordagem, procuremos usar os requisito que já temos adquirido ao longo das leituras empreendidas, onde assumimos um olhar de observador e inquiridor como o Budha aconselhou em seus Sutras. Assim, pressuponho que o conhecimento da doutrina budista deve nos conduzir a ponderações objetivas e individuais, em nenhum momento admitindo um conceito como verdade absoluta. Mas evidentemente aceitando a verdade como princípio condutor de nossa evolução espiritual, sendo um dos preceitos fundamentais à produzir nossa iluminação. No budismo não existe uma formalização à que a pessoa seja considerada um adepto ou membro da tradição. O caminho do Budha é simples, liberto e autônomo àquele que deseja trilhar a senda para libertar-se do ciclo indefinido do samsara, renascimento, sofrimento e morte. Esses devem ser observados pelo praticante, com vistas ao aperfeiçoamento de seu dharma, missão divina, com o propósito de também auxiliar todos os seres à sua evolução espiritual. A reflexão trouxe alguns pontos interessante como  a saddha ou fé. Esse termo, segundo penso, é intrínseco a nossa individualidade, em momento nenhum sendo usado como instrumento de materialismo ou apegos aos bens transitórios de nossa vida. Fé aqui é específica ao nosso desprendimento terreno, compromisso com a fraternidade e interesse em reparar por atitude meritórias o carma de todos os seres. A sangha ou ordem dos monges, devemos entender de maneira conotativa, havendo o aspecto objetivo e subjetivo do comportamento do seguidor. O Budha também refletiu sobre esse assunto, quando instruía os bhikkhus em seus ensinamento. Desse modo, era observado que muitos assumiriam a vida monástica, necessária a preservação e conservação da tradição e cultura espiritual, mas a grande maioria seguiriam os ensinamento do Budha em sua vida normal e leiga. Assim, fica claro que não a prevalência quanto aos dois aspectos, de um grupo em relação ao outro. Mas seja na vida vocacional ou ordinária, o seguidor deve pelo coração sincero e a mente pura, está imbuído do compromisso com sua iluminação e de todos os demais seres humanos e não humanos. O Budha como refúgio, entendo o princípio que já nos condiciona a uma vida regrada na meditação, conhecimento, procura da sabedoria divina, usar o amor, compaixão, piedade. Praticar o altruísmo e abnegação, desejar a felicidade de todos os seres, nos preparar para entrar no portal do outro mundo. Abraço. Davi.